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Contextualização histórica

Profª Msª Patrícia Ivanca


Disciplina Psicologia Social
Psicologia Social
• Disciplina relativamente recente, adquiriu seu status no começo do
século XX;

• Desde o início foi marcada por uma relativa falta de consenso acerca
do seu objeto de estudo

Ainda assim, é possível observar o binômio indivíduo-sociedade. O


estudo das relações que os indivíduos mantêm entre si e com a
sociedade ou a cultura esteve frequentemente no centro das
preocupações.

(FERREIRA, 2011)
Psicologia e Psicologia Social
• PSICOLOGIA se preocupa fundamentalmente com os
comportamentos que individualiza o ser humano

Ao mesmo tempo procura leis gerais que, a partir de características da


espécie, dentro de determinadas condições ambientais preveem os
comportamentos decorrentes.
Ex: Aprendizagem

(LANE, 2006)
• PSICOLOGIA SOCIAL tem como foco o comportamento de
indivíduos no que ele é influenciado socialmente (desde o
nascimento, ou mesmo até antes do nascimento, enquanto
condições históricas)

Esta influencia histórica-social se faz primordialmente pela aquisição da


linguagem. As palavras, através do significado atribuído por um grupo
social, cultura etc.

Psicologia Social estuda a relação essencial entre o indivíduo e a sociedade, esta


entendida historicamente, desde como seus membros se organizam para garantir
sua sobrevivência até seus costumes, valores e instituições necessários para a
continuidade da sociedade.

(LANE, 2006)
• A ênfase maior dada ao indivíduo ou a sociedade vai acompanhar a
evolução das teorizações no campo da psicologia social, levando a
caracterizar de duas modalidades:

Psicologia Social Psicologia Social


Psicológica Sociológica

(FERREIRA, 2011)
Psicologia Social Psicológica x Psicologia Social Sociológica

• PSO Psicológica: Interesse pelo estudo dos aspectos intraindividuais;

• Definição clássica de Allport;

• Behaviorismo e experimentalismo;

• Tendência predominante no cenário norte-americano.


Psicologia Social Psicológica x Psicologia Social Sociológica

• PSO Sociológica: Tendem a privilegiar os fenômenos que


emergem dos diferentes grupos e sociedades;

• Níveis de análise diferentes;

• Binômio indivíduo – sociedade;

• Tendência predominante no contexto europeu.


• A história “oficial” da psicologia social foi contada nos capítulos do
Handbooks of Social Psychology – Allport. Sofreu críticas por ser uma
história parcial;

• A expressão Psicologia Social foi utilizada a primeira vez em 1908.

(FERREIRA, 2011)
A Psicologia
Social em crise
A Psicologia Social em “crise”
• No final da década de 60 muitos psicólogos sociais latino-americanos
iniciaram um forte movimento de questionamento à psicologia social
psicológica norte-americana

Psicologia social mais contextualizada, isto é, mais voltada


para os problemas políticos e sociais que a região vinha
enfrentando.

• Estimulados pela arbitrariedade dos regimes militares e pela grande


desigualdade social do continente, esses psicólogos defendem uma
ruptura radical com a psicologia social tradicional.

(FERREIRA, 2011)
• A psicologia social realizada na América Latina igual outras ciências
sociais, foi se construindo a partir da revolução e confrontação
histórica de diversas correntes de pensamento social que foram se
cristalizando de maneira heterogênea em cada área geográfica;

• Dentre as diversas correntes teóricas que tiveram uma influencia


destaca-se: 1) Psicanálise 2) Escola de Frankfurt 3) Representações
sociais 4) Socioconstrucionismo 5) Sociologia da ciência 6)
Neopragmatismo 7) Análise do discurso.

(ALVÁRO e GARRIDO, 2011)


... a “crise” da PSO
• O problema da relevância “social” e “prática”

• Demasiada relevância à teorização;

• Falta de aplicabilidade do conhecimento produzido;

• Excessiva individualização da PSO psicológica;

• Pouco interesse sobre os problemas sociais concretos;


Maior relevância dada à teoria

Conhecimento
(Teoria)

Atividade Realidade
Prática
Maior relevância dada aos problemas sociais
concretos
Conhecimento
(Teoria)

Atividade Realidade
Prática
O problema do método

• Artificialidade dos experimentos conduzidos em


laboratórios;

• Ênfase na validade interna dos efeitos obtidos;

• Descuido ou desinteresse pela validade externa


(ecológica – estudos de campo);

• Excessiva fragmentação dos modelos teóricos.


Questionamento das bases conceituais e metodológicas da
PSO psicológica

• Validade, relevância e capacidade de generalização;

• Linguagem científica cada vez mais neutra (?);

• Modelos e teorias incapazes de contribuir para a


explicação da nova realidade que surgia.
... no Brasil e na América Latina
• O clamor pelo “social” na Europa ≠ da América Latina;

• Na Europa este clamor não significou necessariamente uma ruptura com


o método experimental;

• A crise no Brasil se instaurou nos anos 1980;

• Fundação da ABRAPSO, em 1980, conflitante com os ideais da ALAPSO,


fundada anteriormente (década de 60-70).
“Psicologia do coqui” (LOPES, 1985)

Martin-Baró, quando utilizava este conceito, pretendia realizar uma psicologia critica que,
partindo de sua própria realidade social que vivem os diversos povos latino-americanos,
fosse construído um conhecimento teórico relevante.

Páez (1994) vai defender uma psicologia transcultural que seja


capaz de delinear a fronteira entre a contextualização teórica e a
universalidade de conhecimento psicossocial.
Que a cultura se torne o “laboratório” onde se poderia mensurar a
amplitude ou pretensa universalidade de nossas teorias.

(ALVÁRO e GARRIDO, 2011)


Martin-Baró: em direção a uma psicologia social da
libertação
• Sua obra e concepção da psicologia social não pode ser entendida sem
uma referência a situação social, política e econômica da América Latina;

• Sua elaboração teórica foi orientada pelo seu compromisso com a


mudança social, entre seus temas: aglomerações, machismo, fatalismo,
saúde mental, violência e a guerra.

• História –A psicologia social não pode abstrair seu objeto da história, pois é
a história social concreta que dá sentido a atividade humana como
atividade ideológica.

• O enfoque de Martin-Baró enquadra-se dentro de uma concepção mais


sociológica da psicologia social.

(ALVÁRO e GARRIDO, 2011)


• Na aplicação do conhecimento psicossocial encontramos diferenças
significativas entre os psicólogos sociais latino-americanos

Aroldo Rodrigues Martin-Baró


Constituiu uma ciência de caráter A função do psicólogo social é a de
universal, mas também pelo papel elaborar uma psicologia da
que atribuem ao psicólogo social. libertação, o que o tornaria um ator
O psicólogo social não deve se das transformações sociais pelo seu
preocupar tanto com a envolvimento como cientista social.
aplicabilidade de seu
conhecimento, pois esta é uma
tarefa que não é ele que vai
determinar.
(ALVÁRO e GARRIDO, 2011)
Anos de 1960-1970
• O objetivo era promover o desenvolvimento da Psicologia Social mainstream
na América Latina;

• Influência de Aroldo Rodrigues e Jacob Varela;

• Defesa da PSO como uma ciência básica, focada no indivíduo e nos aspectos
intra e interindividuais;
• Para Bomfim (2003 apud NEIVA e TORRES, 2015) três fatores fazem
parte do contexto da evolução da psicologia social no Brasil:
1) Os relacionados com os avanços de áreas afins, como sociologia,
antropologia, educação, história social e a própria psicologia;
2) O progresso da psicologia social em países da Europa, Estados
Unidos e na América Latina;
3) Condições históricas, sociais e econômicas mundiais e nacionais.

• Na década de 1950 – As demandas desenvolvimentistas tornam-se


mais prementes no país. Foram criados órgãos como CNPQ, CADES.

(NEIVA e TORRES, 2015)


• 1960 a psicologia social foi atravessada por uma crise que
questionava seu caráter teórico e ideológico, colocando em cheque
tanto sua metodologia como teorizações utilizadas.

• Essa crise teórica, de caráter internacional, residiu principalmente nas


dúvidas sobre o método experimental e sobre sua adequação à
complexidade e as exigências do objeto de estudo.

• Ao final de 1970 esse movimento se intensifica na America


Latina em oposição à psicologia social psicológica norte-americana.
• Até os anos 70, a psicologia social psicológica norte-americana
também esteve dominante, de modo semelhante ao o que ocorreu
no resto da América Latina;

• A partir da década de 70, o campo da psicologia continuava


crescendo com a implantação dos primeiros cursos de mestrado
específicos em psicologia social na PUC-SP;

• Pelo fato da psicologia social no Brasil crescer em meio às


conturbações políticas e sociais internas, houve também uma
preocupação com o caráter aplicado da psicologia social com ações
pautadas em intervenções em comunidade e em ONG’s.
• A psicologia brasileira foi marcada por duas tendências em oposição:

1. Aroldo Rodrigues e Dela Coleta (empirista, adotando uma


abordagem mais experimental –cognitiva, preocupada com
processos individuais que se relacionam com o contexto social);

2. Silvia Lane (Marxista e sócio-histórica)


Anos de 1980-1990

• Silvia Lane e Wanderley Codo (1984);

• Defendia que não se podia separar ciência básica (teoria) e


aplicada (prática);

• Rodrigues separava psicologia de política, defendendo a neutralidade


científica e a liberdade acadêmica;

• Lane advogava a necessidade de a psicologia transformar a realidade social.


• Maior propulsora da Psicologia Social Crítica no Brasil;

• Inaugura a abordagem dominante na PSO Brasileira;

• Ao nível dos temas: Psicologia Comunitária e Psicologia


Política;

• Ao nível dos métodos: Aproximação à Antropologia Cultural;


• O movimento de ruptura com a Psicologia Social tradicional se tornou
forte no Brasil a partir do final da década de 1970, com a publicação
em 1984 do livro Psicologia social: o homem em movimento escrito
por Silvia Lane e Wanderley Codo.

A psicologia deve assumir um caráter


de compromisso com a criação da
consciência entre os atores sociais,
considerando principalmente o
contexto da luta de classes.
Psicologia no Brasil
• Vídeo – Silvia Lane
Anos de 1980-1990
• Rompimento de um grupo de psicólogos com a ALAPSO e a
consequente criação da ABRAPSO;

• Forte reatividade à PSO veiculada na ALAPSO;

• Perspectiva latino-americana: “[...] desenvolver estudos sobre


conceitos psicossociais, com o objetivo de abrir caminhos teóricos e
metodológicos comprometidos com os grandes problemas sociais
vividos na América Latina”.
• Julho de 1980

Com o propósito de redefinir o campo da psicologia social e de contribuir para a


construção de um referencial teórico orientado pela concepção de que o ser
humano se constitui em um produto histórico-social, de que individuo e
sociedade se implicam mutualmente.

http://www.abrapso.org.br/
Anos de 1980-1990
• “Construir uma psicologia social separada do individualismo
americano e profundamente comprometida com os grupos mais
desfavorecidos (Torres & Álvaro, 2013);

• Esse posicionamento levou ao desenvolvimento de diversas


perspectivas, muitas basicamente marxistas.
PSO Latino-Americana
• Congresso da Sociedade Interamericana de Psicologia – SIP (1979):
Críticas incisivas e propostas concretas de redefinição do modelo da
PSO Latino-Americana;

• Criação do Núcleo de Psicologia Comunitária (reuniu profissionais de


toda a AL) e de Associações Nacionais de PSO;

• Ruptura real com a visão de uma psicologia adaptativa e individualista


sobre o homem e a vida social;
Posicionamento Metodológico

• Desconhecimento do método experimental;

• Negação da quantificação como informação útil para o estudo


de fenômenos psicossociais;

• Utilização de procedimentos de coleta e análise de dados


qualitativos;
Os principais tipos de pesquisa são:

• Estudos de Caso;
• Relatos de História de Vida;
• Pesquisa-Participante e Pesquisa-Ação;

“Apenas estes estudos permitem analisar a subjetividade


do indivíduo se manifestando no conjunto de suas relações
sociais e no cotidiano de suas ações” (Lane, 2001).
... a nova “crise” da Psicologia Social
Efeito Stapels (2011)

• Quem é Diederik Stapel?

• Por que ele conseguiu manter a fraude


acadêmica/científica por tanto tempo?

• Qual o impacto que ele teve para a credibilidade da


psicologia social?
Efeito Stapels (2011)

• ... o relatório de Levelt

• “Falha mais geral de crítica científica na comunidade de pares”

• “Cultura de pesquisa excessivamente orientada para a confirmação


acrítica de suas próprias ideias”

• “Encontrar resultados atraentes, mas superficiais”



Formação Acadêmica em
Psicologia Social no Brasil e
na América Latina
Lima & Techio (2013)
• Recorte de um estudo online realizado entre 2011 e 2012, que
contou com a participação de 545 psicólogos sociais da América
do Sul, Central e Europa;

• Comparar dados do Brasil (n = 149) com outros países da América


do Sul (Argentina, Colômbia, Venezuela, Chile, Peru, Paraguai e
Uruguai) (n = 139);

• Definição de Psicologia Social, teorias adotadas em sua atividade


de ensino e o tempo dedicado à pesquisa, ensino e extensão;
2 eixos temáticos

2 eixos estruturais

EIXO 1 (≠) Ab. Clássicas


• Classe 1: PSO Sociológica
• Classe 4: PSO Psicológica

EIXO 2 (=) Ab. Alternativas


• Classe 2: Subjetividade
• Classe 3: Intersubjetividade
• Classes 2 e 3: “Enfrentamos uma perspectiva da PSO sem grupos, contexto, indivíduo e
psicologia”;

• “Psicologia Social antipsicológica no Brasil”.


• Teorias que adotam em suas atividades de ensino:

• 65% dos brasileiros e 47% dos outros não souberam responder;


• Predomina-se metateorias ou abordagens, com ênfase na abordagem socio-
histórica (8,4%);
• Os sul-americanos mencionaram mais teorias (menções a Teoria das
Representações Sociais e Teoria da Identidade Social);

• Grau de importância das teorias (1 a 4):

• No Brasil: Abordagem socio-histórica (M =


2,67) e TRS (M = 2,61);

• América do Sul: Construcionismo social (M =


3,16) e Abordagem socio-histórica (M =
2,99);
• Todas as teorias mencionadas são mais valorizadas pelos psicólogos
sociais da América do Sul em suas pesquisas do que por psicólogos
sociais brasileiros;

• “Pesquisa sem quadros teóricos claramente definidos”;

• Excesso de atividades de ensino pelos psicólogos sociais


brasileiros;

• A falta de ênfase na pesquisa é o ponto crucial dos principais


problemas na formação acadêmica em PSO no Brasil.

O PROBLEMA DA
INTERNACIONALIZAÇÃO DA
PSICOLOGIA SOCIAL
BRASILEIRA
• Revistas Latino-Americanas (13) e Europeias (11);

• Nos últimos cinco anos, apenas 76 artigos foram publicados em periódicos


estrangeiros, o que significa que, em geral, a divulgação no exterior de pesquisas
realizadas no Brasil ainda é mínima;

• Psicologia Social brasileira marcada por uma profunda diversidade teórico-


metodológica e uma visibilidade internacional mínima.
• Nota-se a dificuldade de sistematização das produções brasileiras no campo
da Psicologia Social, o que, por seu turno, impede o fortalecimento de um
programa de pesquisa que, além de responder as demandas locais, ganhe
visibilidade internacional.
Referências
Álvaro, J. L. & Garrido, A. (2007). Psicologia Social: Perspectivas Psicológicas e Sociológicas. São Paulo:
McGraw-Hill.

Camino, L. & Torres, A. R. (2013). Origens e desenvolvimento da psicologia social. In: Camino, L., Torres, A.
R. R., Lima, M. E. O. & Pereira, M. E. (Orgs.). Psicologia Social: Temas e Teorias (pp. 31-107). Brasília:
TechnoPolitik.

Ferreira, M. C. (2010). A Psicologia Social contemporânea: principais tendências e perspectivas nacionais e


internacionais. Psicologia: teoria e pesquisa, 26 (Volume Especial), 51-64.

Lima, M. E. & Techio, E. (2013). Academic training in social psychology in Brazil and South America.
Estudos de Psicologia, 18(1), 75-82.

Rodrigues, A. (1978). A crise de identidade da psicologia social. Arquivos Brasileiros de Psicologia


Aplicada, 30(4), 3-11.

Pessoa da Silva, Camilla Veras. (2013). Psicologia Latino-Americana: desafios e possibilidades. Psicologia: Ciência e
Profissão, 33(spe), 32-41..

Torres, A. R. R., & Álvaro, J. L. (2013). Brazilian social psychology in the international setting. Estudos de
Psicologia, 18, 69-74.
Profª Msª Patrícia Ivanca
ivancapatricia@gmail.com

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