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Psicologia do Trabalho

Material Teórico
Motivação e Comprometimento

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Dra. Gisele L. Fernandes

Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
Motivação e Comprometimento

• O Que é Motivação?
• O Que Não é Motivação
• Motivação e a Psicologia
• Ciclo Motivacional
• Satisfação, Compensação e Frustração

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Distinguir e descrever as etapas do ciclo motivacional, reconhecendo
os possíveis resultados do comportamento motivado pela necessidade:
satisfação, compensação e frustração.
· Reconhecer a motivação como intrínseca ao ser.
· Desmistificar considerações errôneas sobre motivação.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
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estudos sempre
organizados.
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Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
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Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

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Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Motivação e Comprometimento

O Que é Motivação?
Motivação é, sem dúvida, um dos temas mais estudados na Psicologia. Entender
o que motiva o homem é assunto que tem ocupado muitos pensadores. Entretanto,
a despeito da quantidade de estudos e de teorias que cercam o tema, há ainda
muita divergência no modo como a motivação humana é estudada e explicada.

Todorov e Moreira (2005), em artigo que trata do conceito de motivação na


Psicologia, apresentam e analisam diferentes definições acerca desse conceito.
Veja a seguir algumas das definições encontradas por esses autores:
Um motivo é uma necessidade ou desejo acoplado com a intenção
de atingir um objetivo apropriado (apud KRENCH; CRUTCHFIELD,
1959, p. 272).

Entendemos por motivo algo que incita o organismo à ação ou que


sustenta ou dá direção à ação quando o organismo foi ativado (apud
HILGARD; ATKINSON, 1967, p. 118).

O estudo da motivação é a investigação das influências sobre a ativação,


força e direção do comportamento (apud ARKES; GARSKE, 1977, p. 3).

Para cada ação que uma pessoa ou animal executa, nós perguntamos:
“Por que ele ou ela fez aquilo”. Quando fazemos esta pergunta, estamos
perguntando sobre a motivação daquela pessoa ou animal... Questões
sobre motivação, então, são questões sobre as causas de uma ação espe-
cífica (apud MOOK, 1987, p. 3).

Os motivos são concebidos [...] como forças que são moldadas pela
experiência (apud DWECK, 1999, p. 134).

A motivação tem sido entendida ora como um fator psicológico, ou conjunto


de fatores, ora como um processo. Existe um consenso generalizado entre
os autores quanto à dinâmica desses fatores psicológicos ou do processo,
em qualquer atividade humana. Eles levam a uma escolha, instigam,
fazem iniciar um comportamento direcionado a um objetivo [...] (apud
BZUNECK, 2004, p. 9).

Fonte: adaptado de Todorov e Moreira (2005).

Ao analisar as diferentes definições acerca da motivação, Todorov e Moreira


(2005) concluem que há uma “miscelânea conceitual”, o que, na opinião desses
estudiosos, evidencia a falta de consenso acerca do tema motivação. E, para
evidenciar a confusão existente, citam Milenson (1975, p. 337), o qual comenta
que, embora comumente a motivação tenda a ser entendida como “[...] o conjunto
de determinantes ou causas do comportamento [...]”, entender o que determina
ou o que causa o comportamento é “[...] o campo de toda a Psicologia”. Ou seja,
na busca por definir motivação, muitos têm erroneamente confundido tal conceito
com os objetivos da própria Psicologia, enquanto Ciência do comportamento.

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Como se pode notar, essa não é uma discussão nova e tampouco simples. E,
na realidade, esta Unidade não pretende esgotar o assunto, até porque este não
é o nosso objetivo principal e talvez nem se possa esgotá-lo, uma vez que, como
já notado, são várias as formas de se compreender e explicar tal conceito. Mas
procuraremos aqui, esclarecer um pouco mais sobre do que se trata a motivação.

Para começar, é importante clarificar duas ideias equivocadas sobre o que


é motivação.

O Que Não é Motivação


Muitas pessoas acreditam que motivação se refere a um traço de personalidade.
Ou seja, não é rara a crença de que algumas pessoas sejam mais motivadas do
que outras.
É claro que as pessoas são diferentes umas das outras, que lidam com as diversas
situações com as quais se deparam de forma diferente, mas isto não quer dizer que
motivação seja um traço de personalidade, uma característica nata do indivíduo.
Cada história de vida, com suas experiências, pode fazer com que o indivíduo
responda a determinadas situações de uma maneira que possa ser interpretada
como mais positiva, quando comparada às respostas de outra pessoa diante da
mesma situação. Contudo, mais uma vez, isto não faz desse indivíduo uma pessoa
mais ou menos motivada.
Há pessoas que enfrentam uma situação difícil com muita força e determinação,
mas que não sabem, por exemplo, lidar com um elogio, não festejam vitórias. Agir
com determinação em uma situação difícil ou comemorar uma vitória são ações
entendidas, no senso comum, como próprias de pessoas motivadas.
Note, pelos exemplos acima, que a motivação está mais relacionada a uma situação
específica, à sua história de vida, ao seu repertório, do que a traços de personalidade.
Uma pessoa mais expansiva, mais comunicativa não pode ser vista como mais
motivada do que outra mais retraída e reservada. Alguém que reage de forma
mais impetuosa e empreendedora não pode ser considerado mais motivado do
que outro que reage de modo mais prudente e cauteloso. As motivações de ambos
estão além dessas características.
Outro erro comum é entender motivação com o que nos satisfaz. Um exemplo
típico é a nossa relação com o dinheiro. O dinheiro não nos motiva. Esta afirmação
parece estranha para você?
Vejamos: o dinheiro não nos motiva, o que nos motiva é a necessidade que temos
desse recurso. Precisamos de “coisas” que podem ser compradas com dinheiro e
a necessidade dessas “coisas” é que faz com que procuremos obter dinheiro para
poder possuí-las. Assim, não é o dinheiro que nos motiva, mas o dinheiro pode
satisfazer algumas de nossas necessidades.

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UNIDADE Motivação e Comprometimento

Do mesmo modo que não é a água que nos motiva a bebê-la, mas a nossa sede,
nossa compreensão de que precisamos nos manter hidratados, e assim por diante.
A água satisfaz a nossa sede.

Motivação não é sinônimo de satisfação, ao contrário, quando se está satisfeito,


não há motivação. Não há motivo para a ação ou, como explica Abraham
Maslow (1954, p. 38), um dos mais importantes teóricos da motivação, “[...] uma
necessidade que está satisfeita, não é mais uma necessidade [...]”.
“Mas um desejo que está satisfeito não é mais um desejo. O organismo
é dominado e seu comportamento organizado apenas por necessidades
insatisfeitas. Se a fome for satisfeita, torna-se sem importância na dinâmica
atual do indivíduo” (MASLOW, 1954, p. 38).

É importante que você compreenda estes dois pontos para prosseguirmos:


i) motivação não é um traço de personalidade que faz com que algumas pessoas
sejam mais motivadas do que outras; e ii) motivação não é sinônimo de satisfação.

Motivação e a Psicologia
Outro aspecto importante sobre motivação é que esta se trata de um fator
intrínseco – e não extrínseco. Ou seja, é interno, encontra-se na própria pessoa.
Não é algo que vem de fora.

Embora seja muito comum ouvirmos sobre técnicas de motivação, como se


alguém pudesse motivar o outro, ninguém motiva ninguém. A motivação é intrín-
seca, encontra-se no interior de cada um de nós. Portanto, ninguém motiva nin-
guém. Nisso nos deparamos, como Casado (2002) descreve, com o fato de que tal
determinação coloca o gestor diante de uma exigência impossível de ser atendida.

A impotência do gestor na tarefa de motivar a equipe deve ser superada por meio
da compreensão mais profunda dos “[...] aspectos internos do ser humano [...]”
(CASADO, 2002, p. 248).

Enquanto para a Psicanálise a energia psíquica que resulta na motivação é


compreendida como um processo homeostático, para a Análise do Comportamento
o conceito de motivação relaciona-se às operações estabelecedoras.

Psicanálise e Análise do Comportamento são algumas das principais escolas da Psicologia.


Explor

A Psicanálise foi desenvolvida por Sigmund Freud e a Análise do Comportamento tem como
seu principal pensador Burrhus Frederic Skinner.

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A Psicanálise compreende a personalidade como constituída por três instân-
cias: id, ego e superego. A primeira, id, é compreendida como a principal repre-
sentação do “mundo interno” do ser humano, sendo formada por “[...] instintos,
representações psicológicas do desejo que geram tensão [...]” (CASADO, 2002,
p. 248).

O superego é constituído pela interiorização das regras e normas da sociedade.


Enquanto o id não traz características de moralidade, sendo considerado amoral, o
superego constitui o componente moral e social da personalidade.

Já o ego é regido pelo princípio da realidade, pela razão. Tem como papel
principal no ser o de harmonizar os desejos do id e as normas do superego. É o
componente moral que atua mediando a amoralidade do id e o componente moral
e social do superego.

Como tais instâncias do ser se relacionam à motivação? De acordo com a


Psicanálise, o desejo provoca aumento de tensão, o que não é tolerado pelo id.
Frente à tensão gerada pelo aumento do desejo por algo, o id buscará satisfazer a
necessidade a fim de baixar a tensão, ou seja, buscará reestabelecer a estabilidade
do organismo, que é chamado de homeostase. Para tanto, forçará o ego a buscar
por aquilo que é desejado. O ego,
por sua vez, buscará, como já
mencionado, equilibrar as ações de Id → princípio do prazer; ego → princípio da
realidade; superego → componente moral.
comando do id às exigências morais
do superego.

O conceito de operação estabelecedora, desenvolvido por Keller e Schoenfeld


(1974), define a motivação na abordagem da Análise do Comportamento. De
acordo com tal teoria, tratam-se de operações motivacionais que afetam o ser –
seja humano ou animal –, de modo com que sua relação com os reforçadores seja
momentaneamente alterada.

Vamos a um exemplo, em experimentos bastante comuns com camundongos,


estes são privados de água por um determinado período de tempo. Isso se dá em
função de a privação de água tornar esse reforço, água, mais efetivo. Se o animal,
no caso o camundongo, está com sede, emitirá com maior frequência respostas
que resultem no evento reforçador água. Outro exemplo é a privação de alimento,
que torna esse estímulo – o alimento – mais efetivo.

Para Keller e Schoenfeld (1974),


assim como para os demais analistas
do comportamento, a motivação, Operação estabelecedora → operação que
ainda que interna, pode ser mani- torna um estímulo efetivamente reforçador.
pulada a partir de certas “operações
estabelecedoras”.

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UNIDADE Motivação e Comprometimento

Se voltarmos ao passado, encontraremos a definição do psicólogo francês Henri


Piéron, em seu Vocabulaire de Psychologie, quem definiu motivação, ainda em
1964, como “[...] uma modificação do organismo que o faz mover-se, até que se
reduza essa modificação [...]” (apud CASADO, 2002).

Figura 1 – Henri Piéron, psicólogo francês, autor de obras como


Vocabulaire de Psychologie e Traité de Psychologie Apliquèe
Fonte: collections.nlm.nih.gov

Podemos, ainda que com visões bastante diferentes, considerar que, quer a
Psicanálise, quer a Análise do Comportamento, ambas consideram que para a
existência da motivação, torna-se necessário que algo aconteça, que haja alguma
alteração no organismo que o impulsione a reagir de forma a reduzir essa mudan-
ça, reestabelecendo, assim, seu estado inicial.

Você consegue pensar em algo assim? Criar uma


situação que provoque no organismo alguma mudança Motivar é criar um
motivo para a ação.
de modo a fazer com que tenha que reagir buscando
recuperar seu estado inicial?

Do entendimento, da motivação como um motivo para a ação, ou ainda da


motivação como uma alteração no organismo que o faz mover-se até reduzir essa
modificação, passamos a analisar o ciclo motivacional.

Ciclo Motivacional
A proposta do ciclo motivacional surgiu da Escola das Relações Humanas, que
propôs uma nova concepção de homem, reconhecendo a sua complexidade e
particularidades. Esse novo modelo desencadeou transformações no modo como a
motivação humana passou a ser compreendida.

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De acordo com a Escola das Relações Huma-
nas, todo comportamento é motivado. Mas o que
isso quer dizer?
Equilíbrio
De acordo com o psicólogo Kurt Lewin (1942), Interno
o organismo tende a se manter em um estado de
equilíbrio interno, ou mais especificamente, equi-
líbrio de forças psicológicas (Figura 2).

Tal equilíbrio é rompido por estímulos ao or- Figura 2 – Estado de equilíbrio


ganismo, os quais podem se originar de fatores ou homeostase do organismo
internos e/ou externos ao organismo (Figura 3). Fonte: Adaptado de Lewin (1942)

Equilíbrio Estímulo
Interno (Incentivo)

Figura 3 – Estímulo que age sobre o organismo


Fonte: Adaptado de Lewin (1942)

Os estímulos externos e/ou internos rompem o estado de equilíbrio do organis-


mo, desencadeando uma tensão (Figura 4).

Equilíbrio Estímulo
Interno (Incentivo)

Tensão

Figura 4 – Tensão gerada pela ação do estímulo interno e/ou externo sobre o organismo
Fonte: Adaptado de Lewin (1942)

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UNIDADE Motivação e Comprometimento

A tensão gerada pelo rompimento do desequilíbrio interno provoca uma


necessidade (Figura 5) que levará o organismo a algum movimento na tentativa de
recuperar o equilíbrio.

Equilíbrio Estímulo
Interno (Incentivo)

Tensão

Necessidade
(Motivo)

Figura 5 – Necessidade ou motivo gerado pela tensão


Fonte: Adaptado de Lewin (1942)

Enfim, na visão da Escola das Relações Humanas, a motivação, no sentido


psicológico, é gerada por essa tensão que desequilibra o organismo, fazendo com
que o mesmo reaja na busca por reestabelecer o equilíbrio das forças psicológicas.
Ou seja, partindo do entendimento de que a motivação se dá em decorrência de
uma modificação no organismo, podemos pensar na motivação como uma tensão
que nos tira do estado de equilíbrio, de tranquilidade e nos leva a uma forma de ação
em busca do equilíbrio interno, compreendido como a ausência de necessidade.

Imagine, então, que tal ciclo tem início a partir de uma desestruturação de nosso
equilíbrio interno, evento provocado por um estímulo interno ou externo. Esse
estímulo ou incentivo, interno ou externo, interrompe nosso equilíbrio interno,
criando uma tensão na qual, por sua vez, gera uma necessidade e nos impulsiona
à alguma ação. Então, o indivíduo tenderá a reagir de forma a procurar restaurar
o equilíbrio interno. Esse processo de rompimento do equilíbrio interno, o estopim
de uma tensão que desencadeia uma ação, é denominado ciclo motivacional, o
qual é apresentado na Figura 6:

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Equilíbrio Estímulo
Interno (Incentivo)

Ciclo
Compor-
Motivacional
tamento
(Ação)
Tensão

Necessidade
(Motivo)

Figura 6 – Ciclo Motivacional


Fonte: Adaptado de Lewin (1942)

Você se lembra da definição do psicólogo Piéron para motivação? “Uma


modificação do organismo que o faz mover-se, até que se reduza essa modificação”
(apud CASADO, 2002). É exatamente isso que é representado no ciclo motivacional.

Pensemos novamente no exemplo da sede: seu corpo está hidratado; de repente,


sente a sua garganta seca e isto começa a incomodá-lo(a). A secura na garganta pode
ser entendida como um estímulo, neste caso, interno. Tal estímulo gera uma tensão
e, consequentemente, uma necessidade, resultando em uma ação: beber água.

Figura 7
Fonte: iStock/Getty Images

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UNIDADE Motivação e Comprometimento

A ação de beber água reestabelecerá o equilíbrio interno.

É importante destacar que, no exemplo acima, o equilíbrio foi rompido por um


estímulo interno, mas poderia ser externo.

Seguindo esse exemplo – da relação sede e água –, você consegue imaginar o


resultado da estória se decidisse não beber água? Consegue pensar no caso de,
embora com sede, com a garganta seca, estivesse fazendo algo tão importante
como, por exemplo, concluir um relatório de trabalho e, neste caso, preferisse
continuar com a sede e terminar a tarefa?

A proposta desse novo final da estória serve ao intuito de reforçar que a motiva-
ção é intrínseca. Lembra-se?

Pode existir a motivação ou o motivo para a ação, mas o indivíduo é quem


decidirá como se comportar. Nesse novo exemplo, podemos imaginar que concluir
o relatório seja mais motivador do que “matar a sede”. Ou, em outras palavras,
a tensão provocada pela falta do relatório é significativamente maior do que a
provocada pela garganta seca e, por isto, concluir o trabalho passa a ser prioritário.

Reflita acerca de outras motivações conflitantes. Considerando o que vimos até aqui, ou
Explor

seja, que a motivação surge de um motivo para a ação, de um estímulo e mesmo se tratando
de algo interno, você consegue analisar e pensar em outros exemplos de necessidades
conflitantes e como tende a reagir diante das quais?

Vamos a um exemplo real, que contempla o desenvolvimento de recursos huma-


nos: uma empresa de porte médio do ramo automotivo, a fim de atender às novas
diretrizes organizacionais, avalia a necessidade de qualificar a sua equipe e decide,
em parceria com uma instituição de ensino, implantar na organização uma escola
técnica. Os funcionários, em horário diferente ao de trabalho, poderiam realizar o
Curso Médio com Formação Técnica, sem custos financeiros e no local de trabalho.

Figura 8
Fonte: iStock/Getty Images

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A equipe de recursos humanos e os gerentes da área técnica realizam, então,
campanhas de sensibilização junto aos funcionários, demonstrando a importância
da capacitação tanto para os colaboradores como para a organização. Contudo,
passado o período de inscrições e matrículas no curso, as adesões são insignificantes,
frustrando os objetivos da empresa.

Após algumas reuniões e, diante da evidente necessidade de capacitação da mão


de obra, os gestores percebem que não há como atingir suas metas sem contar
com colaboradores mais bem preparados. Decidem, então, estabelecer um período
para que, pelo menos, 70% de seus profissionais da área técnica tenham algum
tipo de capacitação.

A novidade espalha-se rapidamente pela empresa, fazendo com que, em um


curto período de tempo, muitos dos colaboradores decidam iniciar o curso de
capacitação.

Embora bastante resumida, trata-se de uma história baseada em fatos e,


certamente, não é um episódio exclusivo dessa empresa.

Podemos entender que a situação dos funcionários era de total equilíbrio


interno. Não sentiam necessidade de qualificação. Tanto que os estímulos externos
“estude”, “capacite-se”, emitidos pelos dirigentes da organização não provocaram
nenhuma reação, não desencadearam tensão e, consequentemente, não geraram
necessidade. Ou seja, não tiraram os funcionários da situação de equilíbrio interno.

Contudo, quando os estímulos deixaram de ser somente “estude”, “capacite-se”,


para se tornarem “estude, capacite-se para manter o seu emprego”, passaram a
gerar tensão, provocando, assim, necessidade nos funcionários, os quais rapida-
mente passaram à ação de matrícula no curso.

É evidente que ainda assim, alguns continuaram sem se interessar pelo curso,
enquanto outros já tinham feito a matrícula quando esta não estava relacionada à
manutenção do emprego. Lembre-se que cada caso é um, é próprio do indivíduo,
está relacionado à história de vida da pessoa.

Mais dois aspectos merecem destaque:

Primeiramente, nem sempre o comportamento levará à satisfação da neces-


sidade, de modo que podem existir barreiras ou obstáculos que impeçam que a
necessidade seja realmente satisfeita.

Ademais, o que é necessidade para uma pessoa, pode não ser para outra. Não
podemos julgar as necessidades dos outros a partir das nossas, pois se trata de
questão social, econômica e cultural. Por isso as pessoas podem ter necessidades
que para nós podem parecer excessivas, mas que para as quais são realmente
necessárias – ou o contrário. Por exemplo, podemos suprir as nossas necessidades
de canetas com modelos esferográficos ou entender que tais necessidades serão
supridas apenas quando houver legítimas canetas Montblanc.

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UNIDADE Motivação e Comprometimento

Explor
Montblanc é uma das marcas mais luxuosas do mundo. A empresa, que fabrica diversos
produtos, tem em suas canetas o sonho de consumo de muitas pessoas.

Figura 9
Fonte: Divulgação

Por isso, vale ressaltar que um estímulo pode ser poderoso para gerar tensão e
necessidade em algumas pessoas, mas não em outras.

Satisfação, Compensação e Frustração


Mais um aspecto sobre o ciclo motivacional merece ser comentado: refere-se
ao resultado que o comportamento pode desencadear, que poderá ser satisfação,
frustração ou compensação da necessidade, conforme ilustra a Figura 10:

Equilíbrio Estímulo
Interno (Incentivo)

Ciclo
Satisfação Compor-
Motivacional
tamento
(Ação)
Tensão
Frustração

Necessidade
Compensação (Motivo)

Figura 10 – Possíveis resultados do ciclo motivacional


Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images

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O comportamento, a ação desencadeada pela tensão, pode satisfazer nossa
necessidade, devolvendo-nos o equilíbrio interno. No entanto, como sabemos,
nem sempre conseguimos tudo o que queremos, ou seja, nem sempre obtemos
satisfação. Podemos, em alguns momentos, frustrar-nos, ou seja, não satisfazer a
nossa necessidade a despeito da ação adotada. A frustração mantém a tensão, que
fica acumulada no organismo, permanecendo no estado de desequilíbrio interno.

No caso da frustração, a tensão represada tenderá a escapar pela via psicológica


ou fisiológica. A frustração pode resultar em: i) desorganização do comportamento,
ou seja, em comportamentos sem explicação aparente; ii) agressividade física,
verbal, simbólica, entre outras formas de manifestação irascível; ou mesmo iii)
reações emocionais inadequadas, tais como ansiedade, aflição, angústia, insônia,
entre outras.

Contudo, podemos também ter como resultado uma terceira possibilidade, a


compensação. Ou seja, quando não obtemos a satisfação e não queremos nos
frustrar, tendemos a buscar a compensação.

A compensação se dá a partir da satisfação de outra necessidade complementar.


Dito de outra forma, não sendo possível a satisfação de uma determinada
necessidade, o indivíduo poderá buscar satisfazer outro desejo, mais fácil de ser
alcançado, a fim de reduzir a tensão, evitando a frustração.

Enfim, o ser sempre procurará eliminar a tensão e satisfazer a necessidade


existente, ainda que apenas seja possível compensá-la.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Leitura
Operações Estabelecedoras: Um Conceito de Motivação
CUNHA, Rachel Nunes da; ISIDRO-MARINHO, Geison. Operações estabelecedoras:
um conceito de motivação. In: ABREU-RODRIGUES, Josele; RIBEIRO; Michela
Rodrigues (Org.). Análise do comportamento: pesquisa, teoria e aplicação. Porto
Alegre, RS: Artmed, 2007.
https://goo.gl/1dLOSj
O Modelo Estrutural de Freud e o Cérebro: Uma Proposta de Integração entre a Psicanálise e a Neurofisiologia
LIMA, Andréa Pereira de. O modelo estrutural de Freud e o cérebro: uma proposta de
integração entre a Psicanálise e a Neurofisiologia. Revista Psiquiatria Clínica, São
Paulo, v. 37, n. 6, 2010.
https://goo.gl/YCJOOi
Importância da Motivação dentro das Organizações
PEDROSO, Daniel Oesley de Oliveira et al. Importância da motivação dentro das
organizações. Revista Ampla de Gestão Empresarial, Registro, SP, v. 1, n. 1, p.
60-76, 2012.
https://goo.gl/wwBdIw
O Conceito de Motivação na Psicologia
TODOROV, João Cláudio; MOREIRA, Márcio Borges. O conceito de motivação na
Psicologia. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva. São Paulo,
v. 7, n. 1, 2005.
https://goo.gl/c5AV9b

20
Referências
CASADO, T. A motivação e o trabalho. In: FLEURY, M. T. L. F. (Org.). As pessoas
na organização. São Paulo: Gente, 2002.

KELLER, F. S.; SCHOENFELD, W. N. Princípios de Psicologia: um texto


sistemático na Ciência do comportamento. Trad. Carolina Maria Bori; Rodrigo
Azzi. São Paulo: EPU, 1974.

LEWIN, K. (1942). Field theory and learning. In N. Henry (editor), The forty-first
yearbook of the National Society for the Study of Education: Part II, The
psychology of learning (pp. 215-242). Chicago: University of Chicago Press.

MASLOW, A. H. Motivation and personality. 3th ed. New York: Harper, 1954.
Disponível em: <http://s-f-walker.org.uk/pubsebooks/pdfs/Motivation_and_
Personality-Maslow.pdf>. Acesso em: mar. 2017.

MILLENSON, J. R. Princípios de análise do comportamento. Trad. Aline de


Almeida Souza Dione de Rezende. Brasília, DF: Editora de Brasília, 1975.

TODOROV, J. C.; MOREIRA, M. B. O conceito de motivação na Psicologia.


Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva. São Paulo, v. 7, n.
1, 2005. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext
&pid=S1517-55452005000100012>. Acesso em: mar. 2017.

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