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Psicologia da Educação
1ª Edição
Brasília/DF - 2019
Autores
Sabrina Lins Bonfatti
Revisor
Amanda Damasceno
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e
Editoração
Sumário
Organização do Livro Didático........................................................................................................................................4
Introdução...............................................................................................................................................................................6
Capítulo 1
O Desenvolvimento Humano e suas Dimensões.................................................................................................9
Capítulo 2
Escola Comportamental............................................................................................................................................ 14
Capítulo 3
Freud e a Psicanálise.................................................................................................................................................. 32
Capítulo 4
Jean Piaget e a Epistemologia Genética............................................................................................................. 51
Capítulo 5
Lev Vygotsky e a Teoria Interacionista.................................................................................................................. 69
Capítulo 6
Mais Algumas Bases Psicológicas para Educação............................................................................................ 83
Referências.........................................................................................................................................................................109
Organização do Livro Didático
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e
coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros
recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também,
fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático.
Atenção
Cuidado
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
Importante
Observe a Lei
Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem,
a fonte primária sobre um determinado assunto.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa
e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio.
É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus
sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas
conclusões.
4
Organização do Livro Didático
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Saiba mais
Sintetizando
Posicionamento do autor
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
5
Introdução
Como se faz um homem? Falar de psicologia da educação é ter como objeto de investigação
o sujeito que está comprometido com seu processo de construção do conhecimento.
Ora, ao falarmos de processo estamos, portanto, colocando foco em um ser em eterna
constituição. Um ser que embarca numa viagem muito própria, mas com um trilho
universal, que nem por isso é livre de surpresas e percalços.
6
formas diversas de interação com o meio, em todas as faixas etárias, denominando-as
estágios ou períodos. Os estágios representam as aquisições típicas de cada idade, que
determinarão a maneira como a criança irá agir no mundo, construindo, assim, a sua
inteligência. “Cada estágio constitui uma forma particular de equilíbrio, efetuando-se
a evolução mental no sentido de uma equilibração sempre mais completa e de uma
interiorização progressiva.” (RAPPAPORT, 1981, v.1, p. 65.). Apoiaremos nossa reflexão
nos seguintes estágios: Sensório-motor (0-24 meses), pré-operacional (2-7 anos) e
operatório-concreto (7-11, 12 anos).
Nosso quinto capítulo traz Vygotsky e sua Teoria Sociointeracionista. Trataremos dos
processos mentais, considerados pelo autor como a principal característica da espécie
humana, abordando conceitos como pensamento, inteligência, consciência e linguagem.
A teoria de aprendizagem de Vygotsky dá destaque ao papel das relações sociais no
desenvolvimento intelectual. Para ele, o homem é um ser que se forma em contato com a
sociedade.
Já Howard Gardner traz a novidade das Inteligências Múltiplas. Ele revolucionou o cenário
da psicologia e da educação, ao afirmar que o sujeito pode desenvolver diversos tipos de
inteligência, dependendo do estímulo que recebe e do contexto em que vive.
Objetivos
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8
CAPÍTULO
O DESENVOLVIMENTO HUMANO E
SUAS DIMENSÕES 1
Introdução
Quando falamos de uma ligação entre a Psicologia e a Educação, o primeiro conceito que
nos vem à cabeça é o da Psicopedagogia, não é mesmo? E qual seria, então, o objeto de
estudo da Psicopedagogia? De acordo com Almeida e Silva (2006), esse objeto é o homem
como ser em processo de construção do conhecimento. Para entendermos, então, como se
dá a aprendizagem, precisamos considerar o ser humano como um ser pluridimensional,
com uma dimensão racional, também chamada de dimensão cognitiva, uma dimensão
afetiva e uma dimensão relacional.
Entendermos o sujeito como um ser pluridimensional não quer dizer que acreditamos na
concepção individualista, na qual o homem é um sujeito absoluto e único construtor de
seu conhecimento. Tampouco acreditamos na concepção mecanicista e objetiva que vê
o homem como sujeito passivo, cuja única função é registrar o conhecimento que lhe foi
passado. Aqui, trataremos de um modelo baseado no princípio da interação do sujeito, em
que tanto sujeito quanto objeto atuam um sobre o outro.
Importante
Um objeto não corresponde apenas a coisas e pessoas. Aqui, ele também significa ideias, fatos, ideologias, cultura
e conteúdos transmitidos durante a aprendizagem. Ou seja, entendemos como objeto tudo o que não é sujeito na
relação cognitiva.
Isso significa que jamais o sujeito será passivo no processo de aprendizagem. Ele é
sempre ativo, na medida em que introduz algo de si no conhecimento. Como o sujeito é
determinado por suas dimensões – afetiva, relacional e racional – podemos afirmar que
elas são constituintes no processo de construção do conhecimento.
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CAPÍTULO 1 • O Desenvolvimento Humano e suas Dimensões
Objetivos
Dimensão afetiva
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O Desenvolvimento Humano e suas Dimensões • CAPÍTULO 1
Dimensão racional
Provocação
“A ação precede o conhecimento e este consiste numa organização, sempre mais rica e coerente, das operações que
prolongam a ação no sujeito.” (PIAGET, 1983 p. 148)
Posicionamento do autor
A dimensão racional é constituinte do processo de construção do conhecimento, pela ação do sujeito sobre o objeto
e pela estruturação do vivido dessa ação, formulada em percepções, discriminações, organizações, concepções,
conceitos e enunciados, que ficam mais complexos, formando estrutura própria que prepara para a etapa seguinte.
Dimensão relacional
O sujeito aprende na interação com o meio e com os outros, construindo sua identidade,
para alcançar o conhecimento e a autonomia. Sendo um ser contextualizado e determinado
por suas condições biológicas, ele interage de maneira particular, estabelecendo vínculos.
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CAPÍTULO 1 • O Desenvolvimento Humano e suas Dimensões
Essas relações vinculares positivas ou negativas são marcadas por relações anteriores e
representativas e, por isso mesmo, podem ser resgatadas.
Ser constituido a partir das relações traz diversas consequências no que tange ao
conhecimento. A maneira de se perceber o mundo à sua volta e de se distinguir
determinados elementos estão intrinsicamente ligadas à maneira pela qual o sujeito
constrói seus conhecimentos. Como percebemos, o mundo também depende dos valores
que recebemos da família e da sociedade em que estamos inseridos. Esse julgamento,
como veremos no próximo capítulo, pode ser consciente ou inconsciente e determina
as ações sobre o objeto, sem as quais o conhecimento não se constrói.
A dimensão relacional interpessoal caracteriza o ser das relações. Ela se articula com as
dimensões afetiva e racional, pois em toda a ação buscamos o reconhecimento do outro,
ou melhor, do desejo do outro; do que o outro espera de nós. A dimensão relacional
12
O Desenvolvimento Humano e suas Dimensões • CAPÍTULO 1
Concluímos que as distorções que aparecem nas articulações entre as dimensões prejudicam
a estruturação e a organização do meio. Assim, as ações do sujeito se tornam limitadas,
pouco criativas, conservadoras e/ou conformistas. Isto está completamente relacionado a
como o sujeito irá aprender e como ele irá agir dentro de uma sala de aula. Para entendermos
melhor as dificuldades enfrentadas pelos nossos alunos, o primeiro passo é compreender
que esse aluno é constituído por muitas dimensões. O segundo é tentar entender como
as três dimensões (afetiva, relacional e racional) se articulam e se há predominância de
alguma delas naquele momento.
Sintetizando
13
ESCOLA COMPORTAMENTAL
CAPÍTULO
2
Introdução
Objetivos
Estímulo Resposta
14
Escola Comportamental • CAPÍTULO 2
Behaviorismo(S)
Aprimorando suas observações, Pavlov fez um experimento com seus cães, tocando, primeiro,
um sino. Isso não provocava nenhuma resposta de comportamento do cachorro. Depois,
passou a tocar o sino e colocar, em seguida, o pote de comida. Após algumas repetições,
o cão passava a salivar (resposta nata) ao tocar o sino.
Sendo assim, Pavlov afirmava que, para além dos reflexos inatos, podemos desenvolver
reflexos aprendidos podendo, então, proceder uma alteração no comportamento. Esses
reflexos aprendidos, chamados de reflexos condicionados, são produzidos pela associação
de um estímulo novo, que não produzia, a princípio, nenhuma resposta específica (por
exemplo, o andar do assistente) ao estímulo antigo (o pote de comida chegando). O
Prêmio Nobel foi recebido quando ele comprovou que é no córtex cerebral que os reflexos
condicionados se formam, modificam-se e desaparecem.
Saiba mais
Neste momento, a psicologia, que também poderia ser chamada de Reflexologia, estava limitada ao estudo dos
reflexos. Isso quer dizer que os reflexos – inatos e condicionados – são o fundamento das respostas do indivíduo aos
estímulos provenientes do meio. A partir dos seus estudos sobre condicionamento, Pavlov constrói a sua teoria da
aprendizagem, sobretudo no que tange à linguagem.
15
CAPÍTULO 2 • Escola Comportamental
Importante
Condicionamento: apresentando repetidamente o estímulo novo (ambiental), seguido do estímulo antigo (inato),
o condicionado passa a ser semelhante ao inato. Após um determinado número de repetições, basta apresentar o
estímulo condicionado para se obter a resposta apresentada pelo estímulo inato.
Foram os estudos de Pavlov que inspiraram John B. Watson a escrever, em 1913, o artigo
“A Psicologia como um behaviorista a vê”, dando início a uma área da psicologia que
desperta interesse e crítica até os dias de hoje.
Dos tempos de Watson até o momento atual, muitos ramos da psicologia comportamental
surgiram, como veremos a seguir:
I. Behaviorismo Clássico:
Provocação
Saiba mais
A psicologia como uma área do saber foi desenvolvida a partir dos trabalhos de Wilhelm Wundt. Foi o primeiro a
construir um laboratório de psicologia experimental, seguindo os modelos dos laboratórios de ciências naturais.
Tanto para Wundt quanto para os seguidores do Estruturalismo, as operações mentais resultam da organização das
sensações elementares que se relacionam com as estruturas do sistema nervoso.
Wundt determina como objeto da psicologia o estudo da mente, da experiência consciente do Homem.
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Escola Comportamental • CAPÍTULO 2
Cuidado
Watson não negava a importância dos processos mentais na psicologia, mas apenas os considerava pouco
práticos para a realização de estudos objetivos.
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CAPÍTULO 2 • Escola Comportamental
Saiba mais
Pesquisas empíricas são aquelas realizadas através da observação. Para a ciência, empírica é um tipo de
evidência inicial para comprovar alguns métodos científicos em que o primeiro passo é a observação,
para então fazer uma pesquisa, que é o método científico. Nas ciências, muitas pesquisas são realizadas
inicialmente através da observação e da experiência.
John Broadus Watson nasceu em 9 de Janeiro de 1878, na Carolina do Sul, Estados Unidos.
Embora tenha crescido em uma família religiosa, na idade adulta se opôs declaradamente
à religião. Cursou Psicologia na Universidade de Chicago, onde começou a desenvolver sua
teoria, baseada nos preceitos de Pavlov. Em 1903, recebeu o PhD em Neuropsicologia, após
apresentar sua tese sobre a relação entre o comportamento dos ratos de laboratório e o
sistema nervoso central. Após o doutorado, permaneceu na Universidade de Chicago, como
pesquisador, até ser convidado a lecionar Psicologia Experimental e Comparada na Johns
Hopkins University em Baltimore. Lá, instalou um um laboratório de Psicologia Animal.
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Escola Comportamental • CAPÍTULO 2
Após sua demissão, o casal se mudou para Nova York, mas Watson não conseguiu se realocar
em universidades. Sendo assim, ingressou em uma agência de publicidade, chegando ao
cargo de presidente da J. Walter Thompson, uma das maiores empresas de publicidade dos
Estados Unidos. Contudo, não deixou suas pesquisas, aproveitando o novo conhecimento em
marketing para divulgar suas teorias.
Após a sua aposentadoria, em 1945, John Watson passou a levar uma vida reclusa em uma
fazenda em Connecticut. Em 1957, recebeu o Prêmio da APA: Pelas Contribuições para a
Psicologia. Pouco antes de sua morte, queimou grande parte de seus documentos e escritos
inéditos. John Watson faleceu em Nova Iorque, Estados Unidos, no dia 25 de setembro de 1958.
Behaviorismo clássico
Já vimos anteriormente que Watson foi influenciado por Pavlov e trabalhou a partir do
conceito de estimulo-resposta e condicionamento clássico. Também vimos que Watson
investiu nos estudos do condicionamento de crianças.
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CAPÍTULO 2 • Escola Comportamental
Posicionamento do autor
Sendo assim, Watson sugeriu que a relação estímulo-resposta pode ser usada como uma
forma de controle e previsão do comportamento humano. Em contrapartida, uma estimulação
anormal pode provocar o aparecimento de “modelos” de comportamento mal adaptados. Por
isso a relação mãe e filho é fundamental para que ocorra a estimulação infantil.
O tipo de estimulação vai depender da situação social da família e isso vai determinar as
possibilidades de aprendizado e pensamento abstrato da pessoa em desenvolvimento. É
importante considerar essas informações, para que possamos entender que as pessoas
de classes sociais menos privilegiadas não têm menos capacidade de aprender e de se
desenvolver do que as que possuem uma condição social melhor, elas apenas são menos
estimuladas porque, provavelmente, seus pais têm um repertório comportamental mais
limitado e a escola ou creche a que estão vinculadas também estimulam de forma precária
a criança em questão, interferindo no seu desenvolvimento.
Nessa linha teórica, o ser humano é descrito como um objeto a ser observado e analisado
pela Psicologia, o que lhe coloca em uma posição secundária. Como o ser humano é o
resultado da sua capacidade de resposta, compete à Psicologia Comportamental predizer
qual é a resposta produzida em decorrência do estímulo adequado e ainda predizer o
estímulo antecedente dado à resposta, já que o homem é uma máquina estímulo-resposta.
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Escola Comportamental • CAPÍTULO 2
Cabe ressaltar que a teoria behaviorista de Watson não se dedicou ao estudo do cérebro,
chamado de “caixa misteriosa”. Isso porque ele acreditava que o comportamento não era
restrito ao sistema nervoso. Suas pesquisas foram mais voltadas para os comportamentos
humanos mais complexos e sua interação como o meio ambiente.
Voltemos aos experimentos do casal Watson... Você se lembra de que eles acreditavam ser
possível a criação científica dos filhos? Watson sonhava em tornar a criação de filhos em
uma profissão, baseada no conhecimento científico, corrigindo, assim, os caminhos que
a civilização americana seguia na época. Parece absurdo para você? Mas foi a partir desta
hipótese que Watson passou observar o comportamento das crianças.
Provocação
“Ninguém sabe o suficiente para criar uma criança. O mundo seria consideravelmente melhor se parássemos de
ter filhos por vinte anos (exceto aqueles criados com propósitos experimentais) e começássemos novamente com
fatos suficientes para se fazer o trabalho com algum grau de habilidade e precisão” (WATSON, J.; WATSON, R.,
1928, p. 12).
[...] uma criança que nunca chora a menos que furado por uma ponta,
ilustrativamente falando que se perde no trabalho e nas brincadeiras que
rapidamente aprende a superar pequenas dificuldades em seu ambiente sem
correr para a mãe, pai, enfermeira ou outro adulto [...] que aplica aqueles hábitos
de polidez, conforto e limpeza de modo que os adultos fiquem dispostos a ficar
perto dele ao menos parte do dia; crianças que se disponham a ficar perto dos
adultos sem lutar incessantemente para serem notadas [...] que passa pela
adolescência tão bem equipado que essa adolescência é apenas um trecho dos
anos férteis e que consegue finalmente entrar na fase adulta tão fortificado,
com trabalho estável e hábitos emocionais, que nenhuma adversidade pode
sobrepujá-lo (WATSON, J.; WATSON, R., 1928. p. 12.
Analisando esse trecho de sua obra, fica evidente que os Watson não estavam preocupados
em proporcionar uma felicidade subjetiva, ou seja, para aquela criança especificamente.
21
CAPÍTULO 2 • Escola Comportamental
Sua intenção era que as crianças fossem capazes de superar as dificuldades da vida de modo
autônomo, sem demostrar sofrimento. Para eles, essa seria a concepção de felicidade!
Provocação
O medo pode ser ensinado tão facilmente quanto ler e escrever, construir com blocos ou desenhar. Ele pode ser
ensinado adequadamente ou inadequadamente. Quando ensinado cientificamente a vida emocional está então
sob “controle” (WATSON, J.; WATSON, R., 1928, p. 68).
“[...] o amor excessivo cria um invalidismo. Quando adultos temos muitos mal-estares e dores vagos [...] Na exata
medida em que você dispensa tempo mimando e acariciando [...] você furta da criança o tempo que ela deveria
estar dedicando na manipulação do universo, adquirindo técnica com os dedos, mãos e braços [...] Mimar é um
experimento perigoso.” (WATSON, J.; WATSON, R., 1928, pp. 76-80).
Para eles, os contatos físicos deveriam se resumir à higiene das crianças (o que deveria ser-lhes ensinado o quanto
antes). Caso a mãe sentisse muita necessidade de beijar o filho que o fizesse na testa antes de dormir. Para os Watson,
as mães que exageram no contato físico (que eram a maioria das mães americanas) com o filho o fazem motivadas
por suas próprias necessidades de amor (que devem ter sido condicionadas na infância dessas mães.
Todavia, a previsão de que o “supercondicionamento” do amor não era um evento saudável, e especialmente
a previsão de que esses eventos levariam ao desenvolvimento de um adulto inseguro e dependente, não eram
derivados diretamente de observações ou experimentos.
Atualmente, essa teoria de Watson só se perpetua pela curiosidade histórica, tendo pouco a ver com a base científica
do estímulo-resposta construída no início de sua carreira.
Burrhus Frederic Skinner, um dos autores mais renomados da área da psicologia, defendia
a tese de que o ambiente consiste no principal responsável pelo comportamento humano,
sendo precursor do chamado Behaviorismo Radical, distanciando-se um pouco dos conceitos
iniciais trazidos por Watson.
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Escola Comportamental • CAPÍTULO 2
Skinner escreveu vários livros e centenas de artigos sobre teoria do comportamento, reforço
e teoria da aprendizagem. Seu radicalismo, ao rejeitar a maioria das teorias no campo da
psicologia, levantou diversas polêmicas em seu país. Sua maior crítica foi contra o pensamento
de Sigmund Freud. Ele acreditava que examinar os motivos inconscientes era inútil, pois o
único fato passível de investigação é o comportamento. As ideias de impulsos internos com
Id, Ego e Superego, que veremos em um outro capítulo, eram vistas como absurdas.
Saiba mais
» Skinner, B. F. The behavior of organisms. New York: Appleton-Century, 1938. (Comportamento dos Organismos).
» SKINNER, Burrhus Frederic. Walden II: uma sociedade do futuro. 2. Ed. São Paulo: EPU, 2009.
» SKINNER, B. F. (1984). Contingências do reforço: Uma análise teórica. In: Os pensadores (Vol. 51, pp. 158-396). São
Paulo, SP: Abril Cultural. (Original publicado em 1969).
» SKINNER, B. F. (1982). Sobre o behaviorismo. São Paulo, SP: Cultrix. (Original publicado 1974).
» SKINNER, B. F. (1978). O comportamento verbal. São Paulo, SP: Cultrix. (Original publicado em 1957).
» SKINNER, B. F. (1983). O mito da liberdade. São Paulo, SP: Summus. (Original publicado em 1971).
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CAPÍTULO 2 • Escola Comportamental
Sua teoria, conhecida como “Behaviorismo Radical”, era contra causas internas (mentais) para
explicar a conduta humana. Mas não foi somente a psicanálise o alvo de suas críticas. Negou
a realidade e a atuação dos elementos cognitivos, opondo-se à concepção de Watson. Para
ele, o indivíduo era um ser único, homogêneo e não um todo construído de corpo e mente.
Saiba mais
Skinner criou um experimento que ficou conhecido como “Caixa de Skinner”. Nessa caixa, foi colocado um rato,
privado de alimento. Quando o rato se aproximava de uma barra perto da parede, Skinner colocava uma gota
de água na caixa, através de um mecanismo, e o rato bebia. As gotas seguintes foram dadas quando o rato se
aproximou mais da barra, depois quando encostou o nariz na barra, depois as patas e foi seguindo essa lógica. Como
consequência, o rato começou a pressionar a barra dezenas de vezes até saciar completamente a sua sede. Com
esse princípio, Skinner passou a modelar diferente padrão comportamentais em diferentes espécies, inclusive em
humanos.
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Escola Comportamental • CAPÍTULO 2
Vários fatores podem influenciar a rapidez com que uma resposta é aprendida e a força
da resposta. Skinner propôs um “cronograma de reforço” para que o comportamento seja
aprendido mais rapidamente e eficazmente. Com que frequência a resposta é reforçada,
conhecida como um cronograma de reforço, pode desempenhar um papel importante na
rapidez com que o comportamento é aprendido e quão forte a resposta se torna. O tipo de
reforçador usado também pode ter um impacto na resposta.
Skinner faz uma distinção entre os conceitos de reforço e punição. Em ambos, cabem os
termos positivo e negativo. Para ele, o reforço aumenta as chances do comportamento voltar
a ocorrer. Já a punição diminui as chances do comportamento voltar a acontecer.
Tabela 1. Reforço X Punição.
Reforço Punição
» Apresentação de um » Apresentação de uma
estímulo agradável após um consequência desagradável
comportamento desejável. após a realização de um
Positivo comportamento indesejável.
» Aumento da frequência de um
comportamento. » Diminuição da frequencia do
comportamento.
» Remoção de um evento » Remoção de um evento
desagradável após o agradável após a realização de
Negativo comportamento desejável. um comportamento indesejável.
» Aumento da frequência do » Diminuição da frequência do
comportamento. comportamento.
Fonte: Elaboração própria da autora.
Atenção
Os termos “positivo” e “negativo” são usados para se referir à ausência ou à presença de estímulos, e não a valores
como “bom” ou “ruim”. O conceito está ligado a termos matemáticos de adição e subtração.
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CAPÍTULO 2 • Escola Comportamental
Skinner propôs uma nova sociedade, substituindo suas regras tradicionais pela Teoria
do Reforço!
Behaviorismo cognitivo
Com base no que foi visto até agora, podemos perceber claramente as diferenças
existentes entre os behavioristas e os cognitivistas. A primeira diferença parece estar
no nível de rigor científico, ou melhor, do que se entende por científico.
Para os behavioristas radicais, aceitar o uso da palavra “cognição” seria aderir a uma
postura dualista, constituindo um sério problema metodológico. Seria retroceder ao
que eles mais criticavam nas teorias, como a psicanálise, chamadas de mentalistas.
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Escola Comportamental • CAPÍTULO 2
Volta-se a se falar de “processos mentais” que, segundo essa visão, não são observáveis,
portanto, não devem ser considerados enquanto método científico. A referência às
reações cognitivas como “comportamentos encobertos” foi uma estratégia brilhante de
Skinner que estendeu o modelo operante à compreensão de fenômenos mais complexos.
Críticas ao Behaviorismo
Desde o seu desenvolvimento até os dias atuais, o behaviorismo constitui uma das
mais influentes teorias da psicologia, no entanto ele não é o único modelo de estudo
psicológico e existem diversos críticos de seus métodos e conclusões. Contudo, se fizermos
uma análise detalhada das críticas empregadas a essa abordagem, verificaremos que há
falta de informação sobre os avanços obtidos ao longo do tempo. A maioria das críticas
falam da abordagem clássica, de Pavlov e Watson. Skinner, por ser, talvez, o teórico mais
conhecido, acaba sendo criticado sem que se compreenda a evolução feita por ele na teoria
behaviorista. Inclusive, o termo radical empregado (Behaviorismo radical) fala, justamente,
da radicalidade contra a abordagem clássica.
A crítica mais vista nos meios acadêmicos acusa o behaviorismo de ser reducionista e de
tratar o homem como uma máquina, desprovida de pensamento, que somente responde a
estímulos ambientais. Contudo, isso é uma postura claramente do behaviorismo clássico de
Watson. Skinner afirma que os homens agem sobre o mundo, modificando-o e, por sua vez,
são modificados pela consequência de sua ação. Ou seja, sua teoria não se apoia unicamente
no conceito de comportamento respondente, adotando o conceito de condicionamento
operante.
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CAPÍTULO 2 • Escola Comportamental
Cabe ressaltar que não se trata de um modelo determinista e sim probabilista. Ou seja, não
há a certeza de que um comportamento, que apresente consequências satisfatórias, voltará
a ocorrer. O que se espera é que, se isso ocorrer, haverá uma probabilidade maior desse
comportamento se repetir. Mais uma prova de que o comportamentalismo não trata do
indivíduo como robô é a afirmativa de Skinner de que o que é satisfatório para uma pessoa
pode não ser para todos. Assim também ocorre com as punições. Skinner via o Homem como
produto da filogênese (história de sua espécie), da ontogênese (sua história individual) e
da cultura. Considerar filogênese, ontogênese e cultura, para Skinner, diferencia os gostos
e valores de cada indivíduo, visto que as pessoas têm histórias de vida diferentes.
Isso nos leva à maior crítica, quando falamos da Escola Comportamental: a de que ela não
leva em consideração a subjetividade. Falam que ela nega a existência de sentimentos,
sensações e outros processos mentais. O que Skinner dizia é que a subjetividade e o
pensamento não são passíveis de observação; logo, não dá para se basear neles para
produzir ciência.
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Escola Comportamental • CAPÍTULO 2
» As perguntas devem ser simples, para que os alunos cometam poucos erros. Cabe
ressaltar que as avaliações servem muito mais como reforçadores do que como
um instrumento de aferição escolar. É um treinamento para melhoramento do
rendimento.
29
CAPÍTULO 2 • Escola Comportamental
É i m p o r t a n t e l e m b r a r q u e, a o c o n t r á r i o d o c o n d i c i o n a m e n t o o p e r a n t e, o
condicionamento clássico não pode ser suprimido apenas por força de vontade. As
reações ligadas ao condicionamento clássico são involuntárias. É possível suprimir
comportamentos, mas não os impulsos associados a eles. Por exemplo, se um
professor usa doces para reforçar as respostas corretas positivamente, os alunos
associarão o sucesso com o gosto do açúcar. Se em seguida o professor parar de
usar doces, mesmo que explique o motivo da mudança, os alunos provavelmente
ainda ansiarão pelo açúcar ao darem respostas positivas.
30
Escola Comportamental • CAPÍTULO 2
Sintetizando
31
CAPÍTULO
FREUD E A PSICANÁLISE 3
Introdução do Capítulo
Neste capítulo, conheceremos um dos maiores ícones do século XX, Sigmund Freud, que
nos deixou como legado a Teoria Psicanalítica. Conheceremos um conceito inovador e
fundamental para entender o sujeito da aprendizagem, o Inconsciente. Abordaremos sua
teoria da personalidade e refletiremos sobre as fases do desenvolvimento psicossexual,
base da teoria psicanalítica freudiana.
Te convido, caro aluno, a fazer uma viagem ao tão falado, mas ao mesmo tempo
desconhecido, inconsciente humano. Saber que não somos senhores absolutos dos
nossos pensamentos e das nossas ações é intrigante, fascinante e desafior. Entender
cada fase do desenvolvimento sob o viés do que não percebemos “a olho nú”, mas que
influencia todo nosso percursso é a proposta deste capítulo. Perceber que nossos alunos
são regidos por forças que eles próprios desconhecem nos faz ter outra visão do processo
de construção de conhecimento.
Objetivos
32
Freud e a Psicanálise • CAPÍTULO 3
No capítulo anterior, buscamos entender o sujeito em suas três dimensões, cognitiva, afetiva
e relacional. Entendo ser importante buscarmos compreender todo e qualquer indivíduo com
quem nos relacionamos de forma integral, por isso, acredito ser relevante não só buscarmos a
compreensão dos nossos alunos, enquanto sujeitos únicos, constituídos por três dimensões, mas
também compreendermos o processo de ensino-aprendizagem dos teóricos que influenciam
a nossa maneira de agir com nossos alunos.
Comecemos, então, por esta pessoa fantástica que deixou como legado para a posteridade
um dos maiores marcos do século XX: a psicanálise.
Sigmund Freud nasceu em 6 de Maio de 1856, em Freiberg, Moravia. Viveu a maior parte de sua
vida em Viena, Áustria. Como era judeu, Freud encontrou grandes dificuldades em sua vida e,
como era de imaginar, seus estudos foram comprometidos pelo momento que vivia.
Contudo, sua demora em concluir a faculdade de medicina, em 1881, não se deve às suas
dificuldades pessoais. Sua grande curiosidade científica levava-o a acompanhar cursos
de grandes cientistas e pensadores da época. Adorava o curso de Filosofia, lecionado por
Brentano. Acompanhou tais aulas por três anos, possibilitando a Freud dar uma base bem
humanística para sua teoria psicanalítica.
Também é fato que Freud não se interessou muito pela medicina prática, preferindo o
campo da pesquisa e do ensino. A Neurologia foi a única área da medicina que lhe despertou
desejo. Contudo, após se formar e com a perspectiva de um casamento, foi impelido a
deixar seus projetos acadêmicos para depois e investir na clínica médica.
Dedicou sua prática à Psiquiatria. Depois de anos, concluiu que os conhecimentos existentes
sobre o tema não davam conta da complexidade dos pacientes psicóticos. Deslizou, então,
sua prática para a dermatologia, dedicando-se ao estudo da sífilis e de várias moléstias do
sistema nervoso.
Entre as décadas de 1880 e 1890, Freud se fixa como neurologista. Dissertou sobre diversos
campos do conhecimento, tornando-se um neurologista de renome. Sua dedicação culminou
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CAPÍTULO 3 • Freud e a Psicanálise
em um trabalho sobre paralisia cerebral infantil, que lhe assegurou um lugar histórico na
medicina.
Seu interesse pela psiquiatria, que estava adormecido, despertou e Freud ganhou uma bolsa
para estudar com Martin Charcot, em Paris. Ele havia trazido, novamente, ao cenário da
psiquiatria, o método da hipnose para pacientes histéricas. Defendia a ideia de que, através
da hipnose, era possível eliminar temporariamente as manifestações dos sintomas histéricos,
bem como introduzir um novo sintoma. Da observação, estudo e prática com Charcot, Freud
descobriu que os fenômenos histéricos eram frutos não de causas físicas, como uma lesão
neural, mas manifestações de um processo sugestivo, como na hipnose.
Apesar da grande contribuição de Charcot para a psicanálise, foi Josef Breuer, médico
vienense, que também se utilizava da hipnose para tratar suas pacientes histéricas, o
grande colaborador do início da teoria psicanalítica. Isso porque, uma paciente histérica
de Breuer se tornou o primeiro caso clínico da teoria Psicanalítica. Ela havia se curado de
seus sintomas histéricos pela fala, após reconstituir cenas traumáticas de seu passado,
esquecidos há tempos de sua consciência. O método de eliminar os sintomas, recordando
cenas traumáticas passadas, ficou conhecido como Método Catártico. Freud e Breuer
atuaram juntos por muitos anos, a partir da elaboração do Método Catártico. A ruptura da
parceria só se deu com a elaboração da teoria da sexualidade de Freud. A partir daí, Freud
voou. Construiu, ao longo de cinquenta anos, uma linda e complexa teoria.
Saiba mais
» Os estudos sobre a histeria. In: Obras completas. Vol.II– 2ª edição. Rio de Janeiro: Imago, 1989.
» A interpretação dos sonhos. In: Obras completas. Vol.II– 2ª edição. Rio de Janeiro: Imago, 1989.
» Psicopatologia da vida cotidiana. In: Obras completas. Vol.VI– 2ª edição. Rio de Janeiro: Imago, 1989.
» Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: Obras completas. Vol. VII– 2ª edição. Rio de Janeiro: Imago, 1989.
» Os três casos clínicos (O Pequeno Hans, O “homem dos ratos” e O caso Shereber). In: Obras completas. Vol. VIII– 2ª
edição. Rio de Janeiro: Imago, 1989.
» Os instintos e seus destinos. In: Obras completas. Vol. XI– 2ª edição. Rio de Janeiro: Imago, 1989.
» Mais além do princípio do prazer. In: Obras completas. Vol. XVIII– 2ª edição. Rio de Janeiro: Imago, 1989.
» O Ego, o Id e seus destinos. In: Obras completas. Vol. XIX– 2ª edição. Rio de Janeiro: Imago, 1989.
» Inibição, sintoma e angústia. In: Obras completas. Vol. XIX– 2ª edição. Rio de Janeiro: Imago, 1989.
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Freud e a Psicanálise • CAPÍTULO 3
Você já ouviu falar do inconsciente? Esse é um conceito, elaborado por Freud, que hoje já é
aceito, tanto pela comunidade científica e acadêmica, como pela sociedade de modo geral.
Contudo, esse foi um conceito muito polêmico, sobretudo na época em que foi concebido. O
próprio Freud fala que é natural rejeitarmos a ideia de que somos dominados por processos
psíquicos que desconhecemos. A descoberta do inconsciente tira do homem o domínio de
sua própria vida.
Para refletir
A imagem, aqui ilustrada, faz uma analogia bem interessante sobre a estrutura do inconsciente. Como se sabe, os
icebergs são blocos de gelo que flutuam sob águas geladas, deixando, apenas, 10% de seu volume para fora da água.
Ela nos apresenta uma consciência como se fosse a ponta do iceberg. Tudo que está submerso é aquilo que não
conseguimos acessar, mas que exerce forte influência em quem somos e que, como não são vistos “a olho nu”,
tendem a trazer inúmeros transtornos, de ordem física e emocional.
35
CAPÍTULO 3 • Freud e a Psicanálise
Baseado em seus estudos sobre a histeria, Freud criou o método da associação livre, para
trazer esses sentimentos recalcados no inconsciente à consciência. Isso porque a psicanálise
diz que a recordação trazida à tona, através da fala, à consciência, produz uma descarga de
emoções reprimidas, fazendo com que o sintoma desapareça.
E o que o inconsciente tem a ver com a aprendizagem? Vou além na nossa reflexão,
perguntando-lhes o que o inconsciente nos fala sobre o processo de ensino- aprendizagem?
Precisamos entender que esse processo se dá, justamente, na troca entre dois sujeitos: o
aluno e o professor. O aluno é composto não só pela sua dimensão cognitiva, mas também
pela relacional e afetiva. Logo, ele será influenciado por seu inconsciente, por seus desejos,
sentimentos e emoções recalcados.
Mas e o professor? Ele também não tem seus desejos, sentimentos e emoções recalcados,
influenciando o processo de ensino – aprendizagem? Será que as dificuldades de
aprendizagem dos alunos não esbarram, justamente, em mecanismos de defesa
inconscientes, tanto do aluno quanto do professor? Termino este tópico, reforçando a
ideia de que o sujeito é regido pelo seu cognitivo, suas relações sociais e pelo seu afeto,
seja ele consciente ou não!
Importante
Para Freud, a aprendizagem se estabelece na relação entre alguém que ensina e alguém que aprende, sendo a
transferência a força motriz desse processo. Segundo Laplanche e Pontalis (1998, p. 514), transferência:
36
Freud e a Psicanálise • CAPÍTULO 3
Estruturas da personalidade
Figura 8. A Trindade da Mente Humana.
Id
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CAPÍTULO 3 • Freud e a Psicanálise
Para refletir
Um bom exemplo para pensarmos sobre essa fonte de energia, que nos mobiliza para o mundo, através de objetos
que saciam nossas necessidades, que nos trazem satisfação e prazer, é a relação estabelecida com o seio materno.
Quando o bebê está com fome, ele é impulsionado ao seio da mãe (objeto de prazer).
Quando a criança fantasia a imagem do seio para a sua satisfação, não é só sobre fome que estamos falando. Também
é trabalhada a ligação afetiva com este seio, a construção da figura da mãe, as relações de bom e mau estabelecidas, a
adequação do processo mãe – criança, a confiança no mundo exterior etc. (RAPAPPORT, 1981p. 21)
Figura 9. Amamentação.
Nos primórdios da psicanálise, vimos que Freud definiu o inconsciente como o conjunto
de desejos reprimidos e as relações que esses desejos estabelecem com o mundo interno e
externo, não é mesmo? Pois bem, este conceito de inconsciente é abarcado pelo do Id, no
novo modelo de estruturação da personalidade. Mas o Id está para além, na medida em que
ele também é a fonte de energia psíquica e o gerador das imagens (seio, por exemplo) que
organizam a canalização dessa energia.
Ego
Em seu texto “O Ego e o Id” (1923), Freud coloca o Ego como a instância psíquica que serve
de intermediária entre o desejo e a realidade. Afirma, também, que o Ego é, acima de tudo,
corporal, ou seja, biológico. Esse é o ponto em que Freud e Piaget têm pensamentos similares.
Ambos acreditam que há uma formação instintiva inicial que se desdobra em estruturas mais
sofisticadas a partir do momento em que o sujeito vai construindo sua realidade.
Ao contrário do Id, que é regido pelo princípio de prazer, o Ego, diante do desejo, se mobiliza
para que ele seja satisfeito pela realidade. Isso quer dizer que o Ego funciona a partir do
38
Freud e a Psicanálise • CAPÍTULO 3
Uma característica importante, no que tange à aprendizagem, é que todas as funções lógicas
do funcionamento mental são atribuições do Ego, incluindo a memória e o desenvolvimento
do pensamento logico e operatório. Ou seja, é o Ego quem se apresenta na escola, na figura
do aluno. O tão falado “ofício do aluno” é executado por essa parte da psiquê. Cabe lembrar
que o conhecimento epistemológico da construção da realidade é o foco da obra de Piaget.
Para Freud, ao contrário, a organização dessas funções precisa ser entendida após sofrer as
influências afetivas, tanto conscientes quanto inconscientes.
Superego
Essa é a instância psíquica responsável pela estruturação interna dos valores morais. Através
do Superego, o sujeito internaliza as normas sociais e é capaz de discernir aquilo que é
moralmente proibido e aquilo que deve ser valorizado e buscado.
Porém, apesar de necessário para a convivência em grupo, quando ele se torna exagerado,
tende a imobilizar ou mesmo adoecer o sujeito. Quando as exigências são muito altas, o
sujeito passa a se sentir incapaz de cumpri-las. Se fizermos uma análise para a vida acadêmica,
conseguiremos entender aquele aluno que se desinteressa do estudo, por passar a acreditar
que é burro, que é menos capaz do que seus colegas.
Ela é, portanto, uma energia voltada para a obtenção de prazer. Nesse sentido é que Freud
dizia que a libido é uma energia sexual. É preciso entender que o termo sexualidade tem
um conceito mais amplo na psicanálise. Ela abarca todas as evoluções das ligações afetivas
39
CAPÍTULO 3 • Freud e a Psicanálise
Fase oral
Figura 10. Fase Oral.
Apesar desse estágio compreender o período de zero a dois anos, é necessário começarmos
nossa narrativa na vida intrauterina. A relação estabelecida nesse período é caracterizada
por uma relação simbiótica entre a mãe e seu filho. O feto respira e se alimenta atraves da
mãe. Já há processos que acontecem dentro do útero, como se alimentar do que é necessário
e excretar o que é prejudicial.
A hora do nascimento traz grande angústia ao bebê. E não estamos falando, aqui, dos traumas
físicos sofridos. Estamos falando de uma dor emocional, a dor da separação.
Saiba mais
40
Freud e a Psicanálise • CAPÍTULO 3
Com o corte do cordão umbilical, corta-se, também, o transporte de oxigênio trazido da mãe.
Nesse momento, trava- se uma luta pela sobrevivência. É preciso que o bebê reaja, respire:
inspire e expire. É a primeira troca com o meio ambiente. Ou ele recebe o que é externo, dentro
de si, ou não sobreviverá. A criança terá, necessariamente, que enfrentar o mundo. E e desse
enfrentamento, dessa troca, dessa relação que ela terá a oportunidade de construir, passo a
passo, estágio a estágio, suas relações afetivas e cognitivas. Respirar é apenas a primeira de
várias etapas até a aquisição de sua identidade, marcando o início da independência humana.
Dito isso, passemos para a fase oral, propriamente dita. Nessa fase do desenvolvimento, a
estrutura sensorial mais desenvolvida é a boca. Através dela começamos a conhecer e a “provar”
o mundo. É a partir dela que estabelecemos nossa primeira e mais importante descoberta
afetiva, o seio materno.
Fonte: <http://cdn3.mamaeonline.com.br/wp-content/uploads/2013/12/amanetacao-o-que-nao-fazer-620x413.jpg>.
Acesso em: 19/4/2019.
Em um primeiro momento, o bebê ainda não consegue entender que o seio constitui aquele
que vai se tornar seu maior objeto de afeto, a mãe. A figura da mãe vai se construindo,
justamente, a partir da ligação afetiva que o recém-nascido estabelece com o seio. É seu
primeiro objeto de ligação infantil, que lhe desperta amor, quando a fome é saciada, e o
ódio, quando sente fome. Quando a criança bebe o leite, é o momento em que ela sente
ter a mãe dentro dela. Surge o vínculo inicial entre o bebê e sua mãe.
Importante
Freud percebeu que, para além da necessidade física de alimentação, a criança sente um grande prazer no ato de
mamar. Neste momento, a libido está organizada em torno da zona oral.
Ressaltamos que o conceito psicanalítico de fase pressupõe a organização da libido em torno de uma zona erógena. A
fase é caracterizada por uma zona erógena alvo da libido. A da fase oral é a boca.
41
CAPÍTULO 3 • Freud e a Psicanálise
Fase anal
Figura 12. Fase Anal.
Esta fase é denominada de anal porque a libido passa a se organizar sobre a zona erógena do
ânus. Ela acontece entre 18 e 24 meses e perdura até os 3 anos de vida, aproximadamente.
Esse é o momento da vida em que se dá a maturação da organização psicomotora básica.
É o período em que a criança começa a andar, a falar e que começamos a controlar nosso
esfíncter.
Dois processos psicológicos se organizam nesse momento. O primeiro, fala das fantasias
que o sujeito elabora sobre os primeiros produtos que, genuinamente, produzem as fezes.
Pensem bem, é algo que vem de dentro do próprio corpo, que faz “parte” da criança, e que
presenteia aos pais.
Para refletir
Desde que a criança nasce, nasce também a preocupação parental quanto às fezes de seu bebê. Passam pelo
momento dos gases: os pais precisam massagear a barriguinha, fazer exercícios com as pernas para que sejam
liberados. Há a preocupação se o bebê está ou não evacuando... Em seguida vem o temido desfralde. Vemos mães
ensinando suas crianças a utilizarem o “troninho” e, quando a criança, enfim, consegue evacuar de maneira
adequada, é elogiada, parabenizada. As fezes são recebidas com honrarias por toda a família! A criança passa a
querer mostrar aos pais aquele objeto, aquela sua conquista, e é recompensada pelo seu esforço. Agora, imagine,
por exemplo, um extraterrestre em visita à Terra. O que ele pensaria a respeito deste ritual? No mínimo, acharia uma
loucura, não é mesmo?
Outros exemplos podem ser citados como, já na fase adulta, observamos nossas fezes antes de dar descarga. E os
banheiros, transformados em salão de estar, com música, revistas e, até mesmo, sofás? E as meninas, principalmente,
que adoram ir ao banheiro acompanhadas de suas amigas?
Um bom exemplo antropológico são as tribos que defecam em cima do tumulo de entes queridos em sinal de
respeito. Já pararam para reparar que o odor de nossas fezes não nos parece tão ruim quanto para outras pessoas que
o sentem?
42
Freud e a Psicanálise • CAPÍTULO 3
Todo esse ritual desenvolve na criança o sentimento de que coisas suas são boas e que
ela pode apresentar, ou mesmo presentear ao outro. Assim como ela dá ao outro, ela
também nega.
O segundo processo diz respeito ao modelo de retenção nas relações estabelecidas com o
mundo. Um exemplo deste comportamento é o andar ou falar. Quando a criança se sente
amedrontada ou constrangida com a presença de um estranho, ela trava. Ou seja, se o
ambiente lhe parece hostil, seus presentes são negados. Essa etapa é conhecida como
retentiva, proporcionando a base para os mecanismos psicológicos ligados ao controle.
Qu a n d o o d e s e n vo l v i m e n t o é n o r m a l , a c r i a n ç a s e n t e - s e a m a d a p e l o s p a i s,
presenteando-os com seus produtos, que são valorizados e entendidos como algo
bom. Isso desenvolve no sujeito um sentimento de adequação e de mais valia.
Assim, ele é livre e estimulado a produzir sempre mais. Freud associava o sucesso
deste estágio ao aumento da capacidade artística
No entanto, há aquelas mães que entram em pânico toda vez que o filho suja as fraldas. Ou
aquelas que repreendem o filho quando “escapa” e a criança não faz suas necessidades no
local que ELA acha adequado. Isso pode gerar angústia forte no que diz respeito às relações
de amor. Pode trazer, também, sentimento de fracasso e desenvolver comportamentos
paranoicos ou obsessivos no sujeito.
Em relação à aprendizagem, podemos, agora, compreender melhor aquele aluno que não
consegue produzir com eficiência suas atividades. Alunos que desistem frente ao novo, por
acharem que não são capazes de realizar algo bom, algo que o outro vai valorizar. Podemos
entender melhor o comportamento agressivo daqueles que introjetaram que seus produtos
constituem armas destrutivas que agridem o mundo toda vez que são produzidos.
Fase Fálica
Figura 13. Fase Fálica.
43
CAPÍTULO 3 • Freud e a Psicanálise
Aos três anos, aproximadamente, a libido passa por nova organização sendo dirigida aos
genitais. A criança passa a discriminar o feminino e o masculino, a partir da comparação
entre esses orgãos.
Para refletir
As crianças desta idade tendem a reproduzir essa comparação, inclusive, em objetos. Você já observou uma criança
de 3 ou 4 anos? Elas são capazes de pensar: o avião tem pipi? Ah, se não tem, é menina! Percebe que a pergunta é
sempre se tem ou não tem pênis?
Freud nos diz que, nessa fase do desenvolvimento, o masculino e o feminino são
caracterizados pela presença ou ausência do pênis. Ou seja, homens são marcados pela
presença do falo e mulheres por sua ausência.
Importante
Vimos que, na fase oral, a criança tem a fantasia da incorporação do afeto através do seio. Incorporando, pela boca, o
leite materno, se estabelece sua relação com o mundo.
Na fase anal, a fantasia infantil está no campo do controle. Através de seu esfincter, a criança pode escolher a quem
dar, ou recusar, seu produto de afeto, as fezes.
Aqui, na fase fálica, a fantasia é a presença ou ausência do pênis. Sua tarefa básica é a construção da relação entre os
homens e as mulheres.
A princípio, as crianças acreditam que o clitóris é o pênis feminino, e que ele irá crescer
também. Quando elas percebem que, ao contrário, há uma ausência, meninos passam a ter
medo da castração. Aqui se estabelecem conflitos nas relações interpessoais, pois o homem
passa a ter medo de ser castrado. Já as meninas passam a ter inveja deste pênis, e suas relações
são estabelecidas a partir do desejo de se ter o falo ou de compensar sua ausência no campo
da fantasia.
44
Freud e a Psicanálise • CAPÍTULO 3
Já entendemos que na fase fálica a libido erotiza os genitais. A fantasia básica é fálica. Os
genitais erotizados buscam a satisfação do desejo nos órgãos sexuais. Mas cabe lembrar,
também, que estamos falando de fantasias infantis. A procura de parceiros para relações
sexuais só acontecerá na fase genital quando já adultos. Aqui, o que é definido é o modo
como as relações são constituídas. É uma etapa de socialização importante na vida do
sujeito, pois estabelece a relação homem-mulher.
Um sentimento de amor e ódio passa a ser dirigido ao pai. O menino passa a ter o desejo de
eliminar o pai, estabelencendo, aqui, o que Freud chamou de Complexo de Édipo. Como,
na fantasia infantil o pai é mais forte, dono da mãe, a criança passa a temer que o pai lhe
castre, obrigando-o a reprimir sua atração sexual pela mãe. Dessa angústia de castração vem
a resolução da crise edipiana.
Provocação
Aqui vale lembrarmos a poesia de Shakespeare “Você aprende”: “Com o tempo você descobre que há muito mais
do seus pais em você do que você supunha”. Disponível em: <https://cemgrilos.blogspot.com/2006/12/william-
shakespeare-voc-aprende.html>. Acesso em: 11/5/2019.
Ou nosso saudoso Renato Russo em sua música Pais e Filhos: “Você culpa seus pais por tudo. Isso é absurdo! São
crianças como você. O que você vai ser, quando você crescer”.
45
CAPÍTULO 3 • Freud e a Psicanálise
Com essa repressão, encerra-se a fase fálica, possibilitando ao sujeito ingressar no período
de latência.
E nas meninas, como se dá esse processo? O Complexo de Édipo feminino é um dos temas
mais controversos entre os continuadores da psicanálise. Desde que Freud falou sobre este
complexo até os dias atuais, tem sido alvo de críticas e de releituras. O próprio Freud se
posicionou algumas vezes, dizendo que lhe faltavam elementos confirmadores acerca da
sexualidade feminina.
Dentro de seu grupo familiar, é o pai quem possui o objeto fálico. Sendo assim, a
menina passa a dirigir sua afetividade para esse pai, símbolo de força e poder. Não há
uma atração física, como acontece na relação da mãe com o filho, mas a busca por essa
pessoa poderosa, fálica, representada na figura do pai.
Quando fica claro para a menina o vínculo afetivo existente entre a mãe e o pai, a
menina passa, então, a imitar a mãe em uma tentativa de atrair o pai. É a mãe quem
sabe como conquistar o falo do pai, e é com ela que a menina deverá aprender como
ter o sonhado pênis. Com isso, a menina passa a desenvolver sua feminilidade,
introjetando os valores femininos passados pela sua mãe.
Sendo assim, o Édipo nas mulheres é iniciado na descoberta de sua castração, mas
perdura durante o período de latência. A identidade feminina e a organização da
sexualidade são graduais, possuindo dois desfechos: a transição da libido do clitóris
para a vagina e a vinda do filho. Freud acreditava que a solução do Complexo de Édipo
é mais satisfatória com a vinda do filho homem, quando a mulher, em sua fantasia,
obtém um pênis.
Período de Latência
Figura 15. Período de Latência.
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Freud e a Psicanálise • CAPÍTULO 3
Nesse momento, não há formação de novas modalidades de relações objetais, não há novas
organizações quanto a estruturas afetivas também. Surge um sentimento de ternura no
que tange às relações, substituindo a libido sexual. Surgem, também, aspirações morais
e estéticas, bem como o pudor. Todos frutos da superação do Complexo de Édipo e da
cristalização do Superego.
Com o fim da fase fálica e todo o progresso no desenvolvimento afetivo construído nas
fases oral, anal e fálica, a criança usa o período de latência para se preparar para o seu
desenvolvimento em relação ao mundo exterior. Para que isso aconteça, ela precisa retirar
sua libido das fontes sexuais para se dedicar a essas relações, já que conhecer não está
mais ligado à obtenção imediata de prazer. Assim, a criança fica mais focada em resolver
suas questões de socialização e o conhecimento epistemológico. Não por coincidência, o
período de latência acontece, justamente, quando a criança ingressa na educação básica.
Contudo, as questões que surgiram ao longo das fases anteriores e as evoluções emocionais
inadequadas refletirão em sintomas, no período de latência, refletindo na socialização
e no aprendizado da criança. Podemos encontrar, por exemplo, uma forte resistência
ao aprendizado, um temor à aquisição de novos conhecimentos, transformando-se em
uma incapacidade real para conhecer. Isso acontece porque, em períodos anteriores à
escolarização, não há uma cobrança formal de conhecimento. A criança que já apresentava
uma defasagem, sem que isso fosse percebido ou valorizado, será cobrada nas avaliações
escolares, confirmando sua incapacidade para aprender.
47
CAPÍTULO 3 • Freud e a Psicanálise
No período de latência, a criança começa a elaborar suas primeiras saídas reais em grupos
sociais fora do âmbito familiar. Nas fases anteriores, a criança era sempre mediada por um
adulto em suas relações sociais. Poucas eram as conquistas reais efetuadas. Elas não tinham
acesso a grupos sociais com suas regras próprias, por isso as dificuldades e os conflitos
não eram resolvidos sozinhos pelo grupo de crianças.
Uma vez constituído o próprio grupo, o conflito pelo poder e pela liderança é estabelecido.
Demostrações de força, inteligência e coragem começam a surgir, chegando, às vezes, a
níveis de crueldade. Cada membro do grupo buscará stentar suas melhores habilidades em
detrimento das qualidades dos outros. Não raro, observamos episódios de agressividade
e segregação. Porém, em um grupo sadio, tudo isso acontecerá, mas, no fim, prevalecerá
o espírito de união, camaradagem, proteção daqueles que eles julgam mais frágeis e de
perseverança em busca de objetivos únicos.
A fomação de um grupo de crianças também tem como objetivo a criação de uma fortaleza
contra os adultos. Este é o momento em que o sujeito busca se afastar de seu núcleo familiar, na
tentativa de construir a sua própria identidade. É perceptível que muitos dos comportamentos
de bravura e enfrentamento são a tentativa de confrontar as regras de proteção impostas pelos
pais. Mas, para aquela criança com um desenvolvimento tido como normal, apesar de todo
o esforço e tentativa de camuflagem, os valores parentais sempre prevalecerão.
Fase genital
Figura 16. Fase Genital.
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Freud e a Psicanálise • CAPÍTULO 3
Essa nova composição acaba por personificar o modo de ser do sujeito, assim como
suas relações específicas com o próprio corpo e, qualitativamente, suas interações
relacionais sociais. Dessa forma, o sujeito supera o autoerotismo das fases anteriores,
redirecionando sua energia libidinal a um objeto externo, ou seja, a outro indivíduo.
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CAPÍTULO 3 • Freud e a Psicanálise
Importante
Nos Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, Freud fala sobre a fase genital:
Sintetizando
» A teoria do desenvolvimento psicossexual e suas fases: oral, anal, fálica, período de latência e genital.
A teoria do desenvolvimento que nos ajuda a compreender sobre o vínculo com a aprendizagem de cada sujeito.
50
CAPÍTULO
JEAN PIAGET E A EPISTEMOLOGIA
GENÉTICA 4
Introdução do Capítulo
Neste capítulo, conheceremos um pouco da história de Jean Piaget, uma das principais
influências no pensamento da Psicologia do século XX, possibilitando-nos refletir sobre o
próprio processo de construção do conhecimento, que culminou na Epistemologia Genética.
Abordaremos conceitos importantes para entendermos a teoria do desenvolvimento, como
inteligência, hereditariedade, adaptação e esquemas, bem como a teoria da equilibração
e refletiremos sobre os estágios de desenvolvimento humano.
Objetivos
» Ampliar a compreensão sobre o desenvolvimento humano na perspectiva da
Epistemologia Genética.
» Conhecer sobre o processo de aprendizagem.
» Identificar, reconhecer e compreender as etapas de desenvolvimento lógico do
nascimento até a idade adulta.
» Promover estratégias adequadas a cada fase da criança para seu desenvolvimento
e aprendizagem.
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CAPÍTULO 4 • Jean Piaget e a Epistemologia Genética
Quem nunca ouviu falar de Piaget e de sua teoria do desenvolvimento humano, não é
mesmo? Em todo este material, reforço a importância de entendermos o sujeito único, em
todas as suas dimensões, para compreendermos como se dá o processo de aprendizagem
em determinado indivíduo em particular. Sendo assim, que tal voltarmos nosso olhar para
o processo que levou Piaget a desenvolver a sua teoria?
A vida que precisa ser sonhada parece ter estado, desde muito cedo, na certeza de Jean
Piaget. Sonhada e realizada. Nascido em 1896, na Suíça, o precoce investigador, que aos
7 anos já revelava o desejo de saber, passaria grande parte dos 84 anos de sua existência
mergulhado em estudos sobre a inteligência do homem. Considerado uma das principais
influências no pensamento da Psicologia do século XX, ele criou um arcabouço teórico
complexo e consistente, que ficou registrado em 70 livros e inúmeros artigos. Frutos
esses, em grande parte, das investigações clínicas de Piaget, que aprimorou um método de
entrevistas, inspirado na Psiquiatria, para utilizá-lo com crianças e buscar compreender
seu objeto de estudo.
Atenção
Neste período, desenvolveu a convicção de que tanto as ações externas, como os processos do pensamento, admitem
organizações lógicas e que essas surgem de uma espécie de organização dos atos.
Foi após concluir seu doutorado em Ciências Naturais, em 1918, que Piaget buscou
conhecer mais profundamente, através de estudos e experiências, o campo da psicologia.
Fez cursos na Sorbonne e observou práticas em uma clínica psiquiátrica. A partir daí,
desenvolveu o que chamou de “método clínico”, característico de seu trabalho.
52
Jean Piaget e a Epistemologia Genética • CAPÍTULO 4
Para refletir
Certa vez, ao levar para minha terapia a angústia que eu vivia com algumas discordâncias na teoria psicanalítica, que
me levavam a buscar novos referencias teóricos para minha prática profissional, minha analista disse uma frase que
me marcou: “Uma vez conhecedor da psicanálise, para sempre seu olhar para o outro carregará essa marca.”
Entender o funcionamento do inconsciente e sua influência na forma de agir e pensar de cada sujeito, de fato,
muda nossa visão e, nossa perspectiva sobre a pessoa. Sendo assim, acredito que, mesmo abandonando a teoria
psicanalítica, Piaget nunca poderia abandonar seu “olhar psicanalítico” em suas teorias.
Entre 1940 e 1950, em colaboração com sua esposa, novos progressos na investigação de
Piaget aconteceram a partir de uma série de estudos feitos na observação detalhada da
conduta espontânea de seus próprios filhos. Tais observações foram fundamentais na coleta
dos dados necessários sobre os fundamentos do desenvolvimento cognitivo a e organização
das fases do desenvolvimento humano. Foi a partir desse estudo que Piaget realizou sua
pesquisa sobre as propriedades estruturais do pensamento.
Piaget utilizava um método de conversação livre com a criança sobre um tema específico,
pedindo que ela justificasse sua resposta, explicando o porquê de seu pensamento. Tal
método foi empregado exaustivamente por ele e seus colaboradores, juntamente com a
pura observação. Entretanto, ao contrário da psiquiatria, que tem como alvo de estudo a
psicopatologia, ou da psicanálise, que traz luz sobre os processos inconscientes, Piaget,
desde cedo, faz uma opção clara e coerente: “.... preferindo sempre o estudo dos casos
normais e do funcionamento do intelecto ao das malícias do inconsciente” (PIAGET apud
DOLLE, 2000. p. 146).
Quando paramos para pensar em toda a trajetória de Piaget, podemos dividir seus
estudos em três grandes categorias. A primeira, investiga espaço, tempo, probabilidade,
movimento etc. Publicou alguns livros, com seus colaboradores, sobre o emprego de tarefas
quantitativas (constância de massa, peso e volume), como instrumento de diagnóstico
destinado a provar a capacidade de pessoas com deficiência intelectual. Também foi a
partir desses estudos que dissertou sobre o raciocínio adolescente, em que é feita uma
análise teórica completa das operações concretas, formais e da relação entre as duas.
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CAPÍTULO 4 • Jean Piaget e a Epistemologia Genética
Epistemologia genética
Saiba mais
Epistemologia vem do grego ἐπιστήμη [episteme] – conhecimento, ciência; λόγος [logos] – estudo de, ou seja, estudo
do conhecimento.
Porém, Piaget visava a responder a uma pergunta muito mais empírica. Ele quis ir para além
das hipóteses da esfera do pensamento, tão caras à Filosofia, e que tornam a epistemologia,
ainda hoje, muitas vezes objeto de especulação pura. Piaget situou sua obra no campo da
experiência científica. Ao falar de GENÉTICA, foge do sentido usual desse termo e põe em
foco a gênese e a evolução do conhecimento. Sua maior preocupação, objeto de estudo, era
o sujeito epistêmico, ou seja, aprofundou- se no estudo dos processos de pensamento que
acompanham o sujeito desde a infância até a velhice.
Ele nos ensina que não há conhecimento predeterminado, nem na estrutura do sujeito,
nem nas características preexistentes do objeto, já que o conhecimento é adquirido da
interação entre sujeito e objeto.
54
Jean Piaget e a Epistemologia Genética • CAPÍTULO 4
Importante
Conceito de Interacionismo Piagetiano: é no contexto de uma interação entre o sujeito e o objeto que se situa a
problemática, que se constrói um conhecimento.
As principais perguntas que acompanharam Piaget, ao longo de seus estudos, e que ele tentou
responder foram:
Uma vez que as crianças são seres que essencialmente constroem conhecimento, Piaget contou
com elas para a sua investigação. Através da criança, mostrou que o ser humano está em um
processo ativo e contínuo de interações, buscando explicar quais os mecanismos mentais que
o sujeito utiliza em todas as etapas de seu desenvolvimento para construir seu conhecimento.
Para Piaget, a adaptação à realidade externa depende basicamente do conhecimento
Sugestão de estudo
Quer saber mais sobre a obra de Jean Piaget? Acesse: Vídeo: Coleção Grandes Educadores – Jean Piaget, em: <https://
www.youtube.com/watch?v=rRLukE2HGzA>.
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CAPÍTULO 4 • Jean Piaget e a Epistemologia Genética
Hereditariedade
Será que herdamos nossa inteligência? Para Piaget, o sujeito herda estruturas biológicas,
sensoriais e neurológicas, mas não inteligência. Essas estruturas herdadas, que amadurecem
em contato com o meio ambiente, resultarão em estruturas cognitivas que funcionarão
por toda a vida do sujeito de maneira semelhante.
Paremos, agora, para pensar o que entendemos por “meio ambiente”. O meio ambiente
abarca aspectos físicos, como o local onde você mora – casa, bairro, cidade e país – por
exemplo. Contudo, ele é constituído, também, por aspectos sociais, como comportamentos,
conceitos e valores.
Sendo assim, a criança precisará desenvolver sua inteligência para solucionar uma variedade
de situações, para viver em um determinado ambiente social. Pensemos, por exemplo, se uma
criança que nasce na Noruega precisará desenvolver as mesmas habilidades e competências
de uma criança no Congo. Aquela que nasceu em uma família de artistas desenvolverá as
mesmas habilidades que outra nascida em uma família de corredores de carros?
O termo “assimilação” – com toda a sua fundamentação – foi extraído da Biologia. Mas o que
é assimilar? Em contato com um objeto de conhecimento, o homem extrai dele informações,
incorporando-as a partir da e à estrutura preexistente: “(...) em todos os casos a adaptação
intelectual comporta um elemento de assimilação, isto é, de estruturação por incorporação
da realidade externa a formas devidas à atividade do sujeito” (PIAGET apud DOLLE, 2000, p.
59). Ou seja, assimilar é criar sentido, tendo como ponto de partida os conceitos formados
anteriormente por aquele sujeito específico, tornando seus alguns elementos do mundo. Isso
faz com que as coisas nunca sejam conhecidas em si mesmas, mas a partir do que aquele
sujeito assimila delas. Nesse processo, informações ficam para trás em detrimento de outras
mais complexas.
56
Jean Piaget e a Epistemologia Genética • CAPÍTULO 4
Ora, a assimilação não pode ser pensada dissociada da Acomodação. Afinal, é preciso que
o sujeito modifique suas estruturas mentais, reorganizando-as (acomodando-as) para
açambarcar a singularidade do objeto.
Importante
Dessa forma, a construção da inteligência se dá de modo dinâmico por um processo de desequilíbrio e equilibração
presente ao longo de toda a vida do sujeito.
57
CAPÍTULO 4 • Jean Piaget e a Epistemologia Genética
Estágios do desenvolvimento
Antigamente, acreditava-se que um bebê não tinha inteligência, já que não tem o instrumento
da linguagem. Foi Piaget, com sua teoria, que mostrou ao mundo que crianças com idade
entre 0 e 2 anos possuem, sim, inteligência. Só que essa é sem representações, sem fala, sem
linguagem verbal. Ou seja, é uma inteligência prática, pautada na ação. Todo o conhecimento
adquirido visa ao êxito e não à verdade. Falta à criança dessa idade a função simbólica.
Assim, a construção do real se dá através da percepção e da ação. Por isso, esse estágio é
chamado de Sensório (percepção) – Motor (ação).
Há três conceitos básicos que Piaget utilizou para entendermos o processo de construção
do conhecimento nesse período:
1. OBJETO: construção da noção de objeto. Nessa fase, a criança e o objeto são uma só
coisa, indiferenciados. Outra característica importante é que para ela, a princípio, só
existe aquilo que ela vê.
58
Jean Piaget e a Epistemologia Genética • CAPÍTULO 4
Segundo De La Taille (2003 p. 38), na obra piagetiana, “a criança nasce em um universo para ela
caótico, habitado por objetos evanescentes (que desapareceriam uma vez fora do campo da
percepção), com o tempo e o espaço subjetivamente sentidos e causalidade reduzida ao poder
das ações, em uma forma de onipotência”. No recém-nascido, portanto, as funções mentais
limitam-se ao exercício dos aparelhos reflexos inatos. Assim sendo, o universo que circunda a
criança é conquistado mediante a percepção e os movimentos, como, por exemplo, na sucção
e no movimento dos olhos.
Para o bebê recém-nascido o que é do seu corpo e o que é do meio exterior não se distinguem.
Há, nessa fase, uma onipotência infantil. Tudo gira em torno da sua própria ação. Mesmo quando
o bebê já começa a diferenciar o objeto de si, ainda demora a entender que as coisas são regidas
por normas e regras próprias. Para a criança, as coisas acontecem como num passe de mágica
e sempre atreladas a ela. Ainda não há a noção de causalidade.
Outra característica importante dessa fase da vida é que não há construção do objeto
permanente. Para o bebê, tal permanência é estabelecida apenas enquanto a ação está em
curso.
A partir dos 12 meses, o bebê não se satisfaz mais com a repetição do comportamento
original, mas experimenta variações. Buscar novidades é a marca desse período. A criança
inventa novas formas de ação para atingir um objetivo almejado. São comuns, por exemplo,
comportamentos como deixar cair inúmeras vezes o brinquedo no chão, saboreando novas
formas de jogá-lo para descobrir flutuações nos resultados. Também é nessa fase que a
59
CAPÍTULO 4 • Jean Piaget e a Epistemologia Genética
criança começa a construir o conceito de objeto permanente. Mesmo sem vê-lo, ela sabe que
o objeto existe e passa a procurá-lo. Agora, ela está preparada para entrar numa nova fase.
Saiba mais
Imitação diferida é a repetição de um comportamento atrasado em um momento posterior ao que ele realmente
ocorreu. Este fenômeno foi descrito pela primeira vez pelo psicólogo Jean Piaget que observou que essa
capacidade surgiu em crianças com idades entre 18 e 24 meses. Bebês e crianças muito jovens são incapazes
de manter memórias de comportamentos e recuperá-las mais tarde. Crianças, eventualmente, desenvolvem a
capacidade de representar mentalmente o comportamento em sua mente e repeti-lo.
» Quando a criança pega as panelas de casa e imita, dizendo que está fazendo comida.
» Quando a criança em idade pré-escolar imita a professora, dando aula para suas bonecas.
60
Jean Piaget e a Epistemologia Genética • CAPÍTULO 4
É nesse período que percebe sua imagem refletida no espelho. Ela sabe que aquela imagem
não é outra criança e que, tampouco, é ela. Contudo, as representações ainda não são
coerentes. O mundo não se distribui em categorias lógicas, mas em elementos particulares,
individuais, em relação com a sua experiência pessoal (egocentrismo intelectual).
A criança não sabe pensar a generalidade. Está encerrada na particularidade. Quando fala,
vê o que enuncia tão fortemente que sua linguagem é mais alusiva que informativa. É como
se o adulto pudesse ver como ela o que ela evoca. Meninos e meninas, aqui, constroem
o mundo a partir de si mesmos. Por isso, essa fase é tão fantasiosa. Aquilo que a criança
sente e vê é realidade. Podemos afirmar que não há conceitos, e sim, pré-conceitos, uma
vez que a criança evoca realidades particulares.
O raciocínio infantil não é nem dedutivo nem indutivo, mas transdutivo, indo do público
ao particular. O juízo não é lógico, porque está centrado no sujeito, em suas experiências
passadas e nas relações subjetivas que estabelece em função das mesmas.
Assim, apesar de a criança desse estágio trabalhar com representações, ainda não tem
capacidade de organizá-las de maneira coerente. Essas lacunas e dificuldades serão
superadas, justamente, no estágio posterior.
61
CAPÍTULO 4 • Jean Piaget e a Epistemologia Genética
Fonte: <http://psicopedagogiacuritiba.com.br/fases-desenvolvimento-infantil-parte-4-estagio-operatorio-concreto/>.
Acesso em: 20/4/2019.
62
Jean Piaget e a Epistemologia Genética • CAPÍTULO 4
compreende que a fileira perceptivelmente maior tem menos objetos porque sabe que sete
é menos que nove. Desse modo, ela aplica seu raciocínio lógico ao problema concreto.
» Seriação: ordenação de acordo com as diferenças (tamanho, altura, distância, peso etc.).
Como podemos perceber, são muitas as conquistas adquiridas pela criança no estágio
operatório concreto, uma vez que ela descentra suas percepções e acompanha as
transformações, alcança a reversibilidade das operações mentais e passa a ser cada vez
mais social e menos egocêntrica, tanto no pensamento quanto na linguagem. A qualidade
63
CAPÍTULO 4 • Jean Piaget e a Epistemologia Genética
Embora, neste estágio, a criança desenvolva operações lógicas, estas têm emprego apenas
na solução de problemas que envolvam objetos e fatos concretos (reais, observáveis) no
presente imediato. Em geral, a criança ainda não pode aplicar a lógica a problemas hipotéticos,
puramente verbais ou abstratos. Além disso, também não consegue raciocinar corretamente
sobre problemas concretos que envolvam muitas variáveis.
O estágio operatório concreto pode ser entendido como um período de transição entre o
pensamento pré-lógico (pré-operatório) e a capacidade de pensamento totalmente lógico,
própria das crianças mais velhas, que atingiram as operações formais.
Fonte: <http://noticias.universia.com.br/educacao/noticia/2016/5/12/1139398/universidades-90-dias-criar-cotas-pos-
graduacao.html>. Acesso em: 20/4/2019.
Nesse estágio, a criança constrói o tipo de raciocínio e a lógica que possibilitam a solução de
todos os tipos de problemas. O pensamento se liberta da experiência direta e as estruturas
cognitivas da criança adquirem maturidade.
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Jean Piaget e a Epistemologia Genética • CAPÍTULO 4
O raciocínio hipotético vai além da percepção e da memória e lida com objetos dos quais
não temos conhecimento direto, ou seja, objetos hipotéticos. O dedutivo é aquele que vai das
premissas à conclusão, ou do geral para o específico. O raciocínio hipotético-dedutivo é o
que implica deduzir conclusões de premissas que são hipóteses em vez de deduzir fatos que
o sujeito tenha realmente verificado
São características deste tipo de raciocínio: (1) a capacidade de raciocinar sobre hipóteses
verdadeiras chegando a conclusões lógicas e (2) a capacidade de raciocinar sobre hipóteses
não verdadeiras chegando a conclusões lógicas. No primeiro caso, temos como exemplo
a seguinte afirmação: “Maria é menor que João e João é menor que Carlos”. A criança
operatória formal consegue concluir logicamente que Maria é menor que Carlos. Já a
criança operatória concreta não consegue resolver esse problema. No segundo caso, a partir
da frase “Suponha que o carvão é branco”, a criança operatória concreta diz que o carvão
é preto e que a questão não pode ser respondida, enquanto a criança operatória formal
aceita a hipótese de o carvão ser branco e aplica o raciocínio lógico sobre o argumento.
65
CAPÍTULO 4 • Jean Piaget e a Epistemologia Genética
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Jean Piaget e a Epistemologia Genética • CAPÍTULO 4
Quanto à formação da personalidade, é na adolescência que ela se define. Piaget faz uma
distinção entre personalidade e eu. O eu começa o seu desenvolvimento no primeiro
ano de vida e se orienta para o indivíduo. Refere-se ao auto interesse e não implica em
obrigação para com os outros além do eu. Diferentemente do eu, que se dirige para o
indivíduo, a personalidade se dirige para a sociedade e para tornar-se parte dela. Refere-
se ao “papel que o indivíduo desempenha na sociedade ou ao papel que o(a) jovem se
atribui e que deseja desempenhar.” (Piaget, 1963, p.177) A personalidade é, então, um
produto do desejo e do esforço ativo para tornar-se um adulto, enquanto afirmação da
autonomia e dos valores.
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CAPÍTULO 4 • Jean Piaget e a Epistemologia Genética
ESTÁGIO AFETIVIDADE
Sensório-motor Surgem os sentimentos primitivos de gostar e não gostar.
A afetividade é investida no “eu”.
(0-2 anos)
Pré-operatório Tem início o verdadeiro comportamento social: cooperação.
Intencionalidade ausente nos julgamentos morais.
(2-7 anos)
Operatório Concreto Aparecimento da vontade e início da autonomia.
A intencionalidade é construída.
(7-11 anos)
Operatório Formal Emergência dos sentimentos idealistas e formação da personalidade.
Início da adaptação ao mundo adulto.
(11-15 anos)
Fonte: Elaboração própria da autora.
Sintetizando
» A inteligência não é hereditária, e sim construída a partir dos estágios do desenvolvimento humano.
68
CAPÍTULO
LEV VYGOTSKY E A TEORIA
INTERACIONISTA 5
Introdução do Capítulo
Neste capítulo, conheceremos a obra do psicólogo Lev Vygotsky e sua Teoria Interacionista. Para
isso, refletiremos sobre o contexto histórico em que seu pensamento foi elaborado, a Revolução
Russa de 1917, entendendo o papel de destaque dado à cultura em sua teoria.
Por fim, traçaremos um paralelo entre a obra de Piaget e Vygotsky, buscando reconhecer
suas semelhanças e diferenças.
Objetivos
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CAPÍTULO 5 • Lev Vygotsky e a Teoria Interacionista
Saiba mais
Tão importante quanto Piaget, Vygotsky é conhecido por sua obra tanto no campo da Psicologia como no da
Educação. Contudo, poucos sabem que o eminente psicólogo bielo-russo escreveu uma das obras fundamentais da
crítica shakespeariana.
Paulo Bezerra, notório tradutor e crítico literário brasileiro, conhecido principalmente pelas traduções de diversas
obras de Fiódor Dostoiévski para a língua portuguesa, traduziu A Tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca em
1999, com acesso público (Vygoysky, Lev. A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca. São Paulo: Martins Fontes,
1999).
Segundo Vygotsky, Hamlet passa por um processo de transformação psicológica e existencial a partir da morte de
seu pai. Tal transformação se completa quando o filho se encontra com o fantasma, entendendo o encontro como
um segundo nascimento ou um divórcio da razão, da vida e do mundo. A partir daí, todas as coisas vislumbradas
pelo príncipe da Dinamarca passam a ser da ordem do incompreensível. Vygotsky conclui dizendo que a alma do
personagem rapta e conduz os outros personagens a um automatismo trágico de grande força magnética, capaz de
atraí-los para o fim igualmente trágico ao dele, como acontece com Ophelia, Guildenstern e Rosencrants. Aliás, o
único personagem que não morre é Horatio, que após as súplicas de Hamlet, não se suicida.
Segundo Vygotsky, ao invés de ter um efeito catártico, como acontece nas tragédias clássicas, o desfecho de Hamlet
transtorna o espectador, sem nada expurgar. Para ele, não há, propriamente, um fim nessa história. Há algo, um
“resto”, que o protagonista não revela, levando-o consigo para o túmulo. Para ele, isso faz com que todos nós,
espectadores, nascidos e cúmplices da tragédia, ao contemplá-la vejamos reproduzida em cena a culpa de havermos
nascido; a culpa de existirmos e nos identificamos com a dor desta tragédia. (Vygotsky, 1999, p. 185) E, talvez,
sejamos, TODOS, acometidos pela vontade de tomarmos o veneno que ainda sobra na taça, tal qual o personagem
Horatio.
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Lev Vygotsky e a Teoria Interacionista • CAPÍTULO 5
Quando nos propomos a conhecer o legado que Vygotsky nos deixou, não podemos deixar
de pensar no contexto socioemocional em que vivia, afinal, a cada capítulo deste material,
reforço a importância de pensarmos o sujeito de maneira integral, em suas dimensões
cognitiva, afetiva e relacional. É preciso, portanto, analisar a conjuntura intelectual e sócio-
política em que se encontravam nossos teóricos influenciadores.
Nascido sob o regime dos czares russos, Vygotsky acompanhou de perto, como estudante e
intelectual, os acontecimentos que levaram à revolução comunista de 1917. O período que se
seguiu foi marcado por um clima de efervescência intelectual, com a abertura de espaço para
as vanguardas artísticas e o pensamento inovador nas ciências, além de uma preocupação
em promover políticas educacionais eficazes e abrangentes.
Tanto a revolução de 1917 quanto o período que a sucede marcam de forma significativa
todo o pensamento vygotskyano. Visitou comunidades rurais, nas quais pesquisou a relação
entre nível de escolaridade e conhecimento e a influência das tradições no desenvolvimento
cognitivo.
Influenciado por Marx, Vygotsky usou a dialética para sua teoria de aprendizado, mas sua
análise da importância da esfera social no desenvolvimento intelectual era criticada por não
se basear na luta de classes, como se tornara obrigatório na produção científica soviética.
Cabe ressaltar que Vygotsky não foi um teórico do marxismo, mas um pensador marxista.
Essa sutil diferença representa um fator determinante dentro da sua configuração intelectual,
posto que o pensamento marxista representava o substrato teórico sobre o qual Vygotsky
construiu a sua psicologia, mas não os limites aos quais ela estava circunscrita.
Influenciado, também, pelo socialista Friedrich Engels, Vygotsky utiliza a tese filosófica
do materialismo histórico-dialético como ferramenta em seu modelo científico de estudo
dos fenômenos psíquicos.
71
CAPÍTULO 5 • Lev Vygotsky e a Teoria Interacionista
Saiba mais
O materialismo dialético, teoria criada por Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), é uma corrente
filosófica que utiliza o conceito de dialética para entender os processos sociais ao longo da história. A dialética é uma
forma de discurso entre duas ou mais pessoas que possuem diferentes pontos de vista sobre um mesmo assunto, mas
que pretendem estabelecer a verdade através de argumentos fundamentados e não simplesmente vencer um debate
ou persuadir o opositor.
A premissa básica do materialismo dialético é “O movimento é o modo de existência da matéria”. Isto quer dizer que
a história, quando é analisada como algo em movimento, torna-se transitória e, por sua vez, pode ser transformada
pelas ações humanas.
Por meio dessa relação dialética entre o ambiente, o organismo e os fenômenos físicos, os seres humanos, a cultura e
a sociedade criam o mundo, ao mesmo tempo que são modelados por ele.
Com a ascensão ao poder de Josef Stalin, em 1924, o ambiente cultural ficou cada vez mais
limitado. Neste mesmo ano, Vygotsky começa a trabalhar no Instituto de Psicologia em
Moscou e um ano depois alguns de seus trabalhos começam a ser reconhecidos e publicados
em meios acadêmicos.
No entanto, a maior parte de sua obra, suas principais ideias, foram publicadas postumamente,
pois Vygotsky morreu aos 38 anos, vítima de tuberculose. Em 1936, dois anos após a sua
morte, toda a obra de Vygotsky foi censurada pela ditadura de Stalin e assim permaneceu
por 20 anos.
Figura 24. Lenin discursando em Moscou.
Teoria Sociointeracionista
72
Lev Vygotsky e a Teoria Interacionista • CAPÍTULO 5
Ele afirma, também, que o único momento em que fatores biológicos prevalecem sobre
fatores sociais é no início da vida. Depois disso, cada sujeito segue seu caminho a partir das
suas vivências, das suas relações sociais. Por isso o sujeito é único. Por isso, mesmo nascendo
da mesma mãe e do mesmo pai, por exemplo, cada irmão age de uma forma totalmente
distinta. Mesmo gêmeos univitelinos, que apresentam o mesmo DNA, não passam pelo
mesmo processo de aprendizagem. Cada um deles tem a sua própria experiência, pois as
pessoas, mesmo os gêmeos univitelinos, interagem de maneira diferente com o ambiente.
Eles entendem o mundo e se relacionam com ele, a partir do seu entendimento pessoal,
que é único.
Sugestão de estudo
» VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores 7ª ed. –
São Paulo: Martins Fontes, 2007.
» Vygotsky, L.S. O desenvolvimento psicológico na infância. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
73
CAPÍTULO 5 • Lev Vygotsky e a Teoria Interacionista
Vygotsky dedicou grande parte de seus estudos à descrição dos processos mentais
superiores, considerados por ele a principal característica da espécie humana.
Atenção
O estudo sobre o pensamento foi a base para a teoria de Vygotsky. Ele acreditava que
este era estimulado e transformado pelo contexto social e pela constante comunicação
que se estabelece entre a criança e uma outra pessoa. A interação da criança com outro
adulto, ou com uma criança mais experiente, estimula o processo de pensamento, por
isso a escola assume papel de destaque, como veremos a seguir.
Para Vygotsky, o sujeito não é apenas ativo, mais interativo por excelência, porque forma
conhecimento e se constitui a partir de relações intra e interpessoais.
O processo de aprendizagem é resultado, portanto, das trocas sociais, afetivas, no dia a dia,
no trabalho, enfim, na própria vida. Formamos nossa consciência e conhecimento através
da internalização de informações, papéis e funções sociais.
74
Lev Vygotsky e a Teoria Interacionista • CAPÍTULO 5
Importante
Vygotsky introduz o conceito de internalização, dizendo ser fundamental para o desenvolvimento do funcionamento
psicológico humano. Ela envolve uma atividade externa que deve ser modificada para tornar-se uma atividade
interna. Tal processo pressupõe que um movimento de apropriação da realidade, que inicialmente é interpessoal, ou
seja, social, torne-se, progressivamente, intrapessoal e individual.
Para refletir
Você já ouviu falar do complexo de vira lata, termo criado por Nelson Rodrigues? Comumente, ouvimos esse termo
para denominar o brasileiro. Ele significa que nós, os brasileiros, estamos sempre com um discurso de nos diminuir,
comparando-nos, por exemplo, a sociedades tidas como “mais civilizadas”. São alguns exemplos do discurso que
ouvimos:
Que tal pensarmos neste discurso sobre a ótica da teoria Sociointeracionista e do conceito de internalização?
Desde o descobrimento do Brasil, ouvíamos que os portugueses eram uma sociedade civilizada, disposta ao trabalho,
ao novo. Os nativos, que aqui viviam, a saber, os índios, eram vistos como preguiçosos, ruins para o trabalho. Depois
trouxeram os negros, escravizados, para o trabalho. Esses eram vistos como arredios, transgressores da ordem e dos
bons costumes.
Como se constituiu o povo brasileiro? Fomos formados por índios – preguiçosos – negros – transgressores – e pelos
portugueses libidinosos, que ousaram se relacionar com os outros povos que aqui viviam.
Durante séculos, esse estereótipo de brasileiro foi internalizado por nós! Essa é a realidade construída por todos os
brasileiros. Internalizamos esse discurso e hoje ele se tornou um fato, sem muito questionamento. Por isso, vivemos
nos diminuindo frente a outras culturas.
Nessa mesma linha de pensamento podemos refletir sobre o racismo, questões de gênero, homofobia e muitos outros
preconceitos que permeiam a nossa vida.
75
CAPÍTULO 5 • Lev Vygotsky e a Teoria Interacionista
Ainda hoje, suas ideias acerca do pensamento e da linguagem são influência no meio
acadêmico. O caráter contemporâneo das ideias de Vygotsky são:
76
Lev Vygotsky e a Teoria Interacionista • CAPÍTULO 5
Atenção
Quando vai para o ambiente escolar, ela se familiariza com esse mundo e sai da zona de
desenvolvimento real para, com auxílio do professor, atingir seu desenvolvimento potencial.
A cultura ao redor do indivíduo é uma das principais influências nesse processo. Pela
interação social, cada pessoa aprende, se desenvolve, cria formas de agir no mundo e
amplia os meios de atuar no complexo contexto que a cerca.
Aprendizagem escolar
Diante de tudo que já foi falado, podemos afirmar que os ensinamentos de Vygotsky têm
grande peso nas rupturas de construção das ideias pedagógicas. Isto porque a base de seus
estudos é a psicologia evolutiva e a perspectiva usada para concebê-los é a da função social
do professor, pois será ele o mediador da zona de desenvolvimento proximal.
77
CAPÍTULO 5 • Lev Vygotsky e a Teoria Interacionista
estudante igual a outro. As habilidades individuais são distintas, o que significa também
que cada criança avança em seu próprio ritmo.
À primeira vista, ter como missão lidar com tantas individualidades parece assustador. Mas
o que realmente está ao alcance do professor é uma excelente oportunidade de promover
a troca de experiências. Através da diversidade, da troca com o novo, o desconhecido, a
criança aprende novos conceitos e novas formas de agir. Vygotsky, inclusive, defendia o
convívio em sala de aula de crianças mais adiantadas com aquelas que ainda precisam de
maior apoio. Para ele, o convívio em classe de alunos mais velhos, com mais conhecimentos,
com aqueles com menor conhecimento é riquíssimo para ambos.
Frente as diferenças em sala de aula, o professor tem duas opções: olhar para trás avaliando
as deficiências do aluno e aquilo que já foi, ou não, aprendido por ele, ou olhar para frente,
tentando trazer à tona seu potencial. Muito mais importante do que avaliar a deficiência
buscando eliminar tal deficiência, a fim que ele consiga “acompanhar” os seus colegas de
turma, o professor deve estimular as diferenças, buscando transformar isso em aprendizado
para todos. Esse conceito é promissor porque sinaliza novas estratégias em sala de aula.
Depois que Vygotsky dissertou sobre o tema, a integração de crianças em diferentes níveis
de desenvolvimento passou a ser encarada como um fator determinante no processo de
aprendizado. Nessa troca de experiência proposta, o professor deixa de ser a única fonte de
saber na sala de aula. Porém, seu papel enquanto mediador continua sendo decisivo. Cabe
a ele identificar os diferentes níveis de conhecimento de seus alunos e propor, por exemplo,
grupos de trabalhos formado por todos os tipos de alunos.
A principal vantagem de promover essa mescla, na concepção vygotskyana, é que todos saem
ganhando. Por um lado, o aluno menos experiente se sente desafiado pelo que sabe mais e,
com a sua assistência, consegue realizar tarefas que não conseguiria sozinho. Por outro, o
mais experiente ganha discernimento e aperfeiçoa suas habilidades ao ajudar o colega. Além
disso, quando um aluno mais experiente ajuda aqueles com menos experiência, dá lugar para
que o professor possa investir naqueles alunos com mais dificuldades e que precisam da sua
orientação mais próxima.
Fonte: <https://novaescola.org.br/conteudo/4911/entrevista-o-desafio-de-organizar-e-mediar-o-trabalho-em-grupo-
rachel-lotan>. Acesso em: 20/4/2019.
78
Lev Vygotsky e a Teoria Interacionista • CAPÍTULO 5
Provocação
Há um ponto que não pode ser negligenciado. A zona de desenvolvimento proximal tem limite, além do qual a
criança não consegue realizar tarefa alguma, nem com ajuda ou supervisão de quem quer que seja. É papel do
professor determinar o que os alunos podem fazer sozinhos ou o que devem trabalhar em grupos, avaliar quais
atividades precisam de acompanhamento e decidir quais exercícios ainda são inviáveis mesmo com assistência (por
exigir saberes prévios que ainda não estão consolidados ou acessíveis).
Porém, quando o conceito de zona de desenvolvimento proximal não é levado em conta pelo
professor, isso pode acarretar alguns problemas no desenvolver das aulas. Ao ignorar o limite
proximal, muitas propostas em sala de aula acabam colocando os alunos diante de desafios
impossíveis. Isso pode acarretar o desestímulo do grupo ou mesmo uma baixa autoestima de
alguns alunos os impossibilitando de adquirir novos conhecimentos.
Diante de tudo que aprendemos neste capítulo, podemos afirmar que o aluno não é somente o
sujeito da aprendizagem. Ele é o sujeito que aprende a partir da troca com o outro, a partir do
que o seu grupo social produz, como valores, linguagem e o próprio conhecimento.
Vygotsky e Piaget
Tanto Piaget quanto Vygotsky são pessoas notórias quando falamos de psicologia do
desenvolvimento. Suas teorias influenciaram acadêmicos e profissionais da educação e
psicologia, desde os clássicos até os modernos. Graças aos dois, podemos entender como as
crianças se desenvolvem a partir de uma perspectiva ampla.
Cabe ressaltar que Piaget e Vygotsky desenvolveram suas teorias separados um do outro,
em épocas distintas e em países diferentes. Já sabemos que contexto histórico, pessoal e
emocional determinam a aprendizagem do sujeito, e com eles não seria diferente. Porém, é
interessante perceber como chegaram a ideias similares sobre o processo de desenvolvimento
e onde suas ideias divergem.
79
CAPÍTULO 5 • Lev Vygotsky e a Teoria Interacionista
A partir deste momento, suas teorias começam a se separar. Em primeiro lugar, eles
recorrem a fatores distintos como principal fonte de conhecimento. Para Vygotsky, o
importante era a interação com o ambiente social, ao passo que Piaget achava fundamental
a ação individual.
Por aceitar que os fatores internos preponderam sobre os externos, Piaget postula que o
desenvolvimento humano segue uma sequência fixa e universal de estágios. Para ele, o
desenvolvimento é fruto de reorganizações internas do indivíduo, tendo como bases suas
manipulações objetivas, sem necessidade de ajuda por parte de uma fonte externa.
Já Vygotsky, ao dissertar sobre o ambiente social em que a criança nasceu, reconhece que,
em se variando esse ambiente, o desenvolvimento também variará. Neste sentido, não se
pode aceitar uma visão única, universal, de desenvolvimento humano. Ele está relacionado
à contínua internalização dos meios e recursos cognitivo-culturais adquiridos através da
interação com o contexto social.
Uma das maiores divergências entre os autores diz respeito a importância da cultura
empregada em cada teoria. Vygotsky faz uma distinção entre o “desenvolvimento natural”
e o “desenvolvimento cultural”. Esta dicotomia criada por Vygotsky é um bom exemplo do
caráter dualista dessa abordagem. Sua teoria é pautada em conceitos contrapostos, como o
crescimento biológico (amadurecimento) X desenvolvimento cultural (aprendizagem). Piaget,
por sua vez, rejeita veementemente a distinção entre desenvolvimento natural e cultural.
Sua perspectiva, ao contrário, é monista. Ou seja, o sujeito é unificador do contraste social/
biológico.
A direção do desenvolvimento proposta por cada um dos teóricos, talvez, seja a maior
divergência proposta por eles. Para Piaget, o desenvolvimento avança no sentido de
80
Lev Vygotsky e a Teoria Interacionista • CAPÍTULO 5
Outra diferença entre eles diz respeito à construção do real. Piaget acreditava que os
conhecimentos são elaborados espontaneamente pela criança, de acordo com o estágio de
desenvolvimento em que se encontra. A visão egocêntrica que as crianças mantêm sobre
o mundo vai, progressivamente, aproximando-se da concepção dos adultos, tornando-se
socializada e objetiva.
Em relação à aprendizagem, Vygotsky acredita que tanto ela quanto o desenvolvimento são
processos que se influenciam reciprocamente, de modo que, quanto mais aprendizagem,
mais desenvolvimento. Já Piaget preconiza que a aprendizagem está subordinada ao
desenvolvimento, tendo pouco impacto sobre ele. Ou seja, enquanto Piaget minimiza o
papel da interação social, Vygotsky postula.
Sobre a linguagem, para Piaget o pensamento é anterior, sendo, apenas, uma das formas
de expressão. Ou seja, a formação do pensamento não é atrelada à linguagem, e sim aos
esquemas sensório-motores. A linguagem só é alcançada depois que o sujeito alcançou
determinado nível de habilidades mentais, estando, desta forma, subordinada aos processos
de pensamento.
Piaget estabeleceu uma clara separação entre as informações que podem ser passadas
por meio da linguagem e os processos que não parecem sofrer qualquer influência
dela. Este é o caso das operações cognitivas que não podem ser trabalhadas por meio
de treinamento específico feito com o auxílio da linguagem. Por exemplo, não se pode
ensinar, apenas usando palavras, a classificar, a seriar, a pensar com responsabilidade.
81
CAPÍTULO 5 • Lev Vygotsky e a Teoria Interacionista
Mas, quem teria razão entre os dois? São pontos de vista diferentes. E o são, justamente,
porque a unidade de análise é o ponto de referência e, por isso, não tem uma posição
verdadeira. Seria tentar ver uma figura geométrica a partir de ângulos diferentes. Um
cilindro, por exemplo, visto por um lado pode parecer um círculo. Visto de outro lado, pode
parecer um quadrado. Mas, ele nunca deixará de ser um cilindro. Cabe a nós, aproveitarmos
cada olhar, cada diferença e semelhança, aprimorando nossos conhecimentos e tornando
nossa prática educacional mais rica.
Sintetizando
82
CAPÍTULO
MAIS ALGUMAS BASES PSICOLÓGICAS
PARA EDUCAÇÃO 6
Introdução do Capítulo
Baseado em sua história pessoal e experiência profissional, Henri Wallon criou a Teoria
Psicogenética. Observaremos que sua teoria defende o processo de evolução, dependendo
tanto da capacidade biológica do sujeito quanto do ambiente que o afeta de alguma forma.
Entenderemos que a dimensão afetiva ocupa lugar central, tanto do ponto de vista da
construção da pessoa quanto do conhecimento. Para ele, a gênese da inteligência é
genética e organicamente social. Refletiremos, a partir de seus conceitos, sobre as fases
do desenvolvimento humano.
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Objetivos
Wallon defende que a vida psíquica é formada por três dimensões: motora, afetiva e
cognitiva. Essas dimensões coexistem e atuam de forma integrada.
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Lá atuou como médico, acompanhando soldados com lesões neurológicas graves. Essa
experiência fez com que revisse algumas convicções quando trabalhava com as crianças
com deficiência. Após a guerra, até 1931, trabalhou em instituições psiquiátricas.
Saiba mais
O primeiro trabalho de Wallon se chama Delírio da Perseguição. O delírio Crônico na base da interpretação, publicado
em 1909. A maioria de sua obra não foi traduzida para o português, apenas algumas, são elas:
Wallon também teve uma vida política muito agitada, era marxista convicto e criticava
a forma agressiva de ensino aplicada em sua época. Filiou-se ao partido socialista e em
1931 viaja para Moscou, convidado para integrar o Círculo da Rússia Nova. Esse grupo era
formado por intelectuais, para aprofundar o conhecimento sobre o materialismo dialético,
buscando possibilidades para a integração dessa ideia aos campos da ciência. Em 1942
filia-se ao Partido Comunista, mantendo relação com o partido até sua morte, em 1962.
Atenção
Teoria psicogenética
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É nesse ponto que Wallon discorda da teoria behaviorista. Enquanto estes acreditam que a
aprendizagem é um processo de modelagem, no qual vários comportamentos são condicionados
e posteriormente extintos, Wallon afirma que o comportamento aprendido não é extinto, mas
sim integrado a outra aprendizagem.
Na teoria de Wallon, a dimensão afetiva ocupa lugar central, tanto do ponto de vista da
construção da pessoa quanto do conhecimento. Ele afirma que a emoção é a exteriorização
da afetividade. A emoção, antes da linguagem, é o meio utilizado pelo recém-nascido para
estabelecer uma relação com o mundo externo. Os movimentos de expressão evoluem de
fisiológicos a afetivos, em que a emoção cede terreno aos sentimentos e, depois, às atividades.
A emoção precede as condutas cognitivas. Ela é um processo corporal que, quando intenso,
prejudica a percepção do exterior. Portanto, com um bom desenvolvimento cognitivo a
razão prepondera sobre a emoção.
Em sua obra, Wallon demostra que não é possível separar um único aspecto da vida do ser
humano, pois seu desenvolvimento acontece dentro de vários campos funcionais – afetivo,
motor e cognitivo – de forma integrada.
Fases do desenvolvimento
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Impulsivo-emocional
Este estágio ocorre no primeiro ano de vida e está relacionado a questões internas,
emocionais e motoras da criança, especificamente no desenvolvimento do seu “EU”.
Quando nasce, a criança é totalmente dependente do meio externo, mostrando-se incapaz
de sobreviver sozinha, necessitando do meio social para dar significado e trazer respostas
para ela. Consequentemente necessita de adultos, que os cercam de reações de cunho afetivo
e de natureza emocional, que os trazem as respostas de suas necessidades e estabelecem
paulatinamente a interação entre a criança e o meio externo.
Aqui, o bebê ainda não consegue distinguir o “eu” do outro. Através das trocas ocorridas
nas relações estabelecidas com seus cuidadores é que a criança irá se diferenciar de seu
meio, constituindo seu eu diferenciado do outro.
Wallon subdividiu esta fase do desenvolvimento em dois momentos. No primeiro, que vai
de 0 a 3 meses de idade, o bebê é quase um organismo puro, e suas atividades se baseiam
em reflexo e movimentos impulsivos. Para este momento, Wallon chamou de Impulsividade
Motora.
Tais atividades são da ordem fisiológica e não são mais atendidas automaticamente como
no período fetal, causando lhe momentos de espera, ansiedade e desconforto. Nesse
momento ocorrem descargas motoras que são os movimentos reflexo, que servem como
a primeira comunicação entre a criança e o meio exterior.
Esta troca entre o bebê e seu cuidador é uma troca essencialmente afetiva e, inicialmente,
sem relação intelectual. Após experiência de trocas, o bebê passará a estabelecer
associações aprendendo a interpretar os significados que recebe do meio. A partir desse
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momento, suas atitudes passam a ser intencionais. Suas ações passam a ter como objetivo
não só a satisfação das necessidades básicas, mas a construção de novas relações sociais,
com o predomínio da emoção sobre as demais atividades. Quanto melhor a qualidade
das interações emocionais maior o horizonte da criança levando-a a ultrapassar sua
subjetividade e se inserir no social.
Sensório-motor e projetivo
Ocorre entre 1 e 2 anos, quando a criança já possui coordenação motora que a impulsiona
a manipular objetos. Inicialmente, a manipulação de objetos se restringe ao espaço bucal,
por ser a boca o único local que possui movimentos coordenados. Com o desenvolvimento
do aparato motor, a criança coordena o movimento das mãos e braços, realizando a
manipulação de objetos, com intencionalidade em suas ações. Nesse período, a função
dominante é a sensório-motora, que desencadeia dupla função: a manipulação de objetos
e a imitação, que possibilita a representação e o pensamento.
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Personalismo
Contudo, nem sempre a criança sai vencedora do “duelo” com o outro. Isso lhe causa
ressentimentos e diminuição da autoestima. A alternância entre a vitória e a derrota
causam uma crise no sujeito necessária para a construção do eu. Os sentimentos de
ciúme, a posse extensiva aos objetos e as cenas para chamar a atenção dos que estão ao
seu redor são características essenciais para se distinguir dos outros.
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Categorial
Essa etapa estende-se dos 7 aos 11 anos de idade, ocorrendo uma predominância
funcional. Tanto a função simbólica quanto a inteligência são concretizadas nessa
etapa. Nela a criança direciona suas atenções para a aquisição e para o entendimento
do mundo exterior. Assim como no Estágio Sensório-Motor, essa etapa é guiada pelas
relações cognitivas com o meio, predominando, assim, o aspecto cognitivo.
» O que é a chuva?
» A chuva é vento.
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» Não.
» O que é a chuva?
» O que é o vento?
» É a chuva.
» É o vento.
» O que é o vento?
» É céu.
Assim como no Estágio Sensório-Motor, esta etapa é guiada pelas relações cognitivas com
o meio, predominando, assim o aspecto cognitivo.
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CAPÍTULO 6 • Mais Algumas Bases Psicológicas para Educação
Adolescência
Esse estágio inicia-se a partir dos 12 anos, quando a relação da criança e do adulto é
rompida começando uma crise a que Wallon denominou crise da puberdade. Essa fase
afeta todos o sentimento do adolescente.
O jovem expressa seus sentimentos com o corpo. A prova disso é que o espelho se torna
uma companhia constante, proporcionando momentos de prazer e de grande inquietação.
Wallon afirma que o jovem pode procurar satisfazer suas necessidades de conquista
e aventuras não em sonhos ou fantasia, mas em ações reais cujos efeitos podem ser
positivos ou negativos dependendo das opções de ordem social e moral que o jovem faça
nessa fase de desenvolvimento. Trata-se, portanto, de uma escolha de valores morais
que o jovem precisa fazer e implica o estabelecimento de relações com a sociedade que
podem se adequados ou não, conforme orientação recebida dos adultos e do meio à
qual está inserido.
Aprendizagem
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Assim, o acesso à cultura é função primordial da educação formal, pois ela é a expressão
do florescimento das criações e das aptidões, sejam manuais, corporais, estéticas,
intelectuais ou morais.
A escola tem como função primordial dar acesso à cultura. É a partir dela que o sujeito
se desenvolve e se constitui, devendo intervir nesse processo de maneira a promover o
desenvolvimento de tantas aptidões quantas forem possíveis. Só assim o homem poderá
se desenvolver de maneira completa, aprendendo a compreender, ponderar e escolher.
Wallon acreditava que todos deveriam ter oportunidades iguais, mas respeitando a
singularidade de cada um. Para isso, seria necessário haver escola para todos, em que
cada um pudesse encontrar, segundo suas aptidões, todo o desenvolvimento intelectual,
estético e moral que fosse capaz de assimilar.
Muitos são os autores que dialogam sobre a educação e suas nuances. Um dos mais
renomados e reconhecidos internacionalmente é Howard Gardner, psicólogo cognitivo
e educacional e professor na Universidade Harvard. Seu interesse pelos processos
de aprendizado já estava presente nos primeiros estudos de pós-graduação, quando
pesquisou as descobertas do suíço Jean Piaget (1896-1980). Gardner causou forte impacto
na área educacional com sua teoria das inteligências múltiplas, divulgada no início da
década de 1980.
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CAPÍTULO 6 • Mais Algumas Bases Psicológicas para Educação
importantes”, mas ele acredita que é possível resolver problemas ou fazer coisas
importantes de maneiras diferentes.
A morte do irmão e as origens judaicas eram tabus na família Gardner. Mas o próprio dizia
que ambos os eventos impactaram sobre sua obra, pois o conhecimento é construído a partir
das experiências vividas. (GARDNER, 1994. pág. 22) A dedicação à música e às artes, que
começou na infância, levou-o a supor que as noções consagradas a respeito das aptidões
intelectuais humanas eram parciais e insuficientes.
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Saiba mais
Erik Erikson defendeu, em seu livro Infância e Sociedade, publicado em 1950, a ideia de que as sociedades criam
mecanismos institucionais que propiciam e enquadram o desenvolvimento da personalidade, embora as soluções
específicas para problemas similares variem de cultura para cultura.
Erikson publicou livros sobre Martinho Lutero, Gandhi e Hitler e escreveu ensaios em que relaciona a psicanálise com
a história, política, filosofia e teologia, tais como A história da vida e o momento histórico (1975).
Criador da expressão “crise de identidade”, Erik Erikson morreu em 12 de maio de 1994, em Harwich, estado de
Massachusetts. As suas concepções revolucionaram a psicologia do desenvolvimento, influenciando acadêmicos e
clínicos nos dias de hoje.
Howard Gardner mudou de curso, passando a estudar Ciências Sociais, uma combinação
de psicologia, sociologia e antropologia, com particular interesse em psicologia clínica.
Novamente troca de curso, após conhecer o psicólogo cognitivo Jerome Bruner, que se
dedicava aos estudos sobre o processo de educação, graduando-se em psicologia em 1965.
Dentre emoção e cognição, optou por estudar a cognição, dando destaque à obra
de Piaget. Também se interessava em estudar as manifestações artísticas modernas.
Passou a se dedicar aos estudos sobre a inteligência humana, dedicando-se ao estudo
da criatividade, das competências e do talento das pessoas.
Em seus primeiros estudos, observou a inteligência dos superdotados., depois, a das pessoas
com lesões ou disfunções cerebrais. Assim, ele foi formulando hipóteses sobre habilidades
individuais e sobre qual região do cérebro reagia a tipos diferentes de estímulos.
Em 1966 começou seu doutorado, também em Harvard, escrevendo sua tese sobre a
sensibilidade e estilo nas crianças. Em 1967 passou a integrar a equipe do Projeto Zero, na
área de educação artística, permanecendo lá até hoje.
Saiba mais
O Projeto Zero é composto por equipes multidisciplinares e tem como objetivo estudar as relações entre inteligência,
compreensão e ensino.
Seu primeiro grande livro, A Mente Quebrada, foi escrito em 1975. Depois desse, mais de
15 livros foram publicados. Howard Gardner é atualmente Hobbs Professor de Cognição e
Educação da Escola Superior de Educação de Harward e professor adjunto de neurologia
da Universidade de Boston School of Medicine.
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Saiba mais
» ________.Mentes Que Mudam - A Arte e a Ciência de Mudar. São Paulo: Artmed, 2005.
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O primeiro dos testes de sucesso escolar foi realizado e desenvolvido pelo psicólogo
Alfred Binet, em 1900, conhecido como teste de QI (quoeficiente de inteligência). Esse
teste tinha por finalidade diagnosticar crianças com e sem deficiência mental e também
foi usado para medir a inteligência dos soldados, após a primeira guerra mundial.
Acreditava-se que era possível medir quantitativamente a inteligência. Mesmo hoje em
dia, o senso comum, e alguns acadêmicos, ainda creem neste tipo de avaliação para
medir a inteligência.
O que leva as pessoas a desenvolverem suas inteligências são a educação que recebem e as
oportunidades que encontram. Para Gardner, cada indivíduo nasce com um vasto potencial
de talentos, ainda não moldado pela cultura, o que só começa a ocorrer por volta dos 5
anos. Segundo ele, a educação costuma errar, ao não levar em conta os vários potenciais
de cada um. Além disso, é comum que essas aptidões sejam sufocadas pela tendência das
escolas de nivelar seus alunos. Estimular as aptidões individuais de cada aluno é a proposta
do autor para termos escolas de excelência.
Em sua publicação mais conhecida, Estruturas da Mente, Gardner propôs sete dimensões da
inteligência. Depois, acrescentou mais duas, totalizando 9 dimensões, a saber:
Inteligência linguística:
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Inteligência lógico-matemática
São sujeitos voltados para conclusões baseadas em dados numéricos e na razão. As pessoas
com essa inteligência possuem facilidade em explicar o mundo, utilizando-se de fórmulas
e números. Costumam fazer contas de cabeça rapidamente.
Inteligência musical
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A inteligência musical é a capacidade de discernir entre ritmo, timbre e tom. Permite que
as pessoas reconheçam, criem, reproduzam e reflitam sobre música, como demonstrado
por compositores, maestros, músicos, vocalistas e ouvintes sensíveis. Curiosamente,
muitas vezes há uma ligação afetiva entre música e emoções. Além disso, inteligências
matemáticas e musicais podem compartilhar processos de pensamento comuns. Adultos
jovens com esse tipo de inteligência são geralmente muito conscientes de sons que outros
podem não notar.
Inteligência naturalista
Figura 38. Inteligência Naturalista.
Inteligência existencial
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Inteligência interpessoal
Inteligência corporal-cenestésica
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Competência para manipular objetos e usar uma variedade de habilidades físicas. Essa
inteligência também envolve um senso de tempo certo e perfeição de habilidades através da
união mente-corpo. A pessoa com essa inteligência pode utilizar o corpo para se expressar.
Inteligência intrapessoal
Inteligência espacial
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CAPÍTULO 6 • Mais Algumas Bases Psicológicas para Educação
O papel da escola
Após a obra de Gardner, algumas escolas se esforçam para mudar seus procedimentos,
buscando valorizar todos os tipos de inteligências. Elas tentam estimular todas as
habilidades potenciais dos alunos, quando se está ensinando um mesmo conteúdo.
As melhores estratégias partem da resolução de problemas. Gardner diz que não há
como compensar totalmente a desvantagem genética com um ambiente estimulador
da habilidade correspondente, mas condições adequadas de aprendizado sempre
suscitam alguma resposta positiva do aluno - desde que elas despertem o prazer do
aprendizado.
Para Gardner, a escola tem duas funções primordiais: modelar papéis sociais e transmitir
valores. “A missão da educação deve continuar a ser uma confrontação com a verdade,
a beleza e a bondade, sem negar as facetas problemáticas dessas categorias ou as
discordâncias entre diferentes culturas”, (Atividades Iniciais de Aprendizagem. 2001,
p.37) escreveu. Pela própria natureza de suas descobertas, o trabalho de Gardner favorece
uma visão integral de cada indivíduo e a valorização da multiplicidade e da diversidade
na sala de aula.
David Paul Ausubel dizia que, quanto mais sabemos, mais aprendemos. Famoso por ter
proposto o conceito de aprendizagem significativa, afirmava que o fator isolado mais
importante que influencia o aprendizado é aquilo que o aprendiz já conhece.
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David Ausubel nasceu em 1918, em Nova York, Estados Unidos. Filho de imigrantes, de
família judia e pobre, imigrantes da Europa Central, cresceu insatisfeito com a educação
que recebera. Seu interesse pela forma de aprendizagem surgiu a partir do sofrimento
vivido na escola.
Revoltado contra os castigos e humilhações pelos quais passara, afirmava que a educação
é violenta e reacionária. Ele contava que, certa vez, ao falar um palavrão, sua professora
lavou sua boca com sabão e o manteve em pé em um canto da sala, o dia inteiro, para que
servisse de exemplo para a turma com cinquenta alunos assustados. Para ele, a escola é
um cárcere para meninos. O crime de todos é a pouca idade e por isso os carcereiros lhes
dão castigos.
Após sua formação acadêmica, vai viver no Canadá, buscando pensar nas melhorias
necessárias ao verdadeiro aprendizado. Totalmente contra a aprendizagem puramente
mecânica, torna-se um representante do cognitivismo, e propõe uma aprendizagem que
tenha uma “estrutura cognitivista”, de modo a intensificar a aprendizagem como um
processo de armazenamento de informações que, ao agrupar-se no âmbito mental do
indivíduo, seja manipulada e utilizada adequadamente no futuro, através da organização
e integração dos conteúdos aprendidos significativamente.
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CAPÍTULO 6 • Mais Algumas Bases Psicológicas para Educação
Baseado em sua história de vida, sua obra leva em consideração a história do sujeito e
ressalta o papel dos docentes como facilitadores da aprendizagem. De acordo com ele, há
duas condições para que ocorra uma aprendizagem significativa: o conteúdo a ser ensinado
deve ser potencialmente revelador e o estudante precisa estar disposto a relacionar o
material de maneira consistente e não arbitrária
Ensinar sem levar em conta o que a criança já sabe, segundo Ausubel, é um esforço vão,
pois o novo conhecimento não tem em que se ancorar. Mas há outro requisito, que se
refere ao desafio diário de tornar a escola um ambiente motivador. Pode-se preparar
a melhor atividade, mas é o aluno que determina se houve ou não a compreensão do
tema. Não adiantaria o professor criar uma aula divertida se ela não trouxer a reflexão
e a negociação de significados para seus alunos.
Aprendizagem significativa
Figura 45. Aprendizagem Significativa.
Um dos aspectos mais importantes da obra de David Ausubel foi a sua preocupação em
construir uma teoria de ensino que pudesse ajudar os professores no seu desempenho
em sala de aula. Quem aqui não se lembra do seu próprio período escolar? De quais
conteúdos que você ainda se lembra? E aqueles que esqueceu? Que fez questão de
esquecer? Isso nos mostra que nem tudo que nos ensinam, aprendemos de maneira igual.
A aprendizagem profunda só acontece, quando derivada de um tema de nosso interesse.
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Mais Algumas Bases Psicológicas para Educação • CAPÍTULO 6
Sua teoria é uma das que melhor explicam como ocorre a aprendizagem profunda. Para
que haja uma aprendizagem significativa dos conteúdos escolares, é fundamental que
eles façam algum sentido para o aluno. Também deverá ser uma aprendizagem construída
e relacionada com os conhecimentos prévios, na qual o sujeito adquire um papel ativo,
reestruturando e organizando a informação.
Aqueles conteúdos que não absorvemos de fato, que esquecemos com o passar do tempo,
são baseados na memória literal, sem um significado para quem está aprendendo. É difícil
que uma aprendizagem literal ou superficial modifique as representações do sujeito, não
sendo, portanto, uma aprendizagem real. Precisamente, nasce desse questionamento a
necessidade de entender o que é a aprendizagem significativa.
O primeiro conceito que devemos ter em mente, quando falamos de uma aprendizagem
significativa, é que ela é relacional. Ou seja, está relacionada com os conhecimentos
prévios e experiências vividas. Ela precisa modificar ou complementar nossos
esquemas ou representações da realidade, para que se torne uma aprendizagem
profunda. Muito mais do que dados memorizados, ela precisa ser um marco conceitual
sobre como interpretamos a realidade que nos rodeia.
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CAPÍTULO 6 • Mais Algumas Bases Psicológicas para Educação
Fica, então, claro que nesta perspectiva, o conhecimento prévio – a estrutura cognitiva do
aprendiz – é a variável crucial para a aprendizagem significativa.
Para tanto, Ausubel sugere para esse processo, a utilização de organizadores prévios para,
de fato, ancorar a nova aprendizagem, levando o aluno ao desenvolvimento de conceitos
subsunçores, isto é, conceitos relevantes, preexistentes na estrutura cognitiva do aprendiz,
de modo a facilitar a aprendizagem seguinte.
Saiba mais
Mas o que são organizadores prévios? Segundo o autor, são informações e recursos introdutórios, que devem ser
apresentados antes dos conteúdos da matriz curricular, uma vez que têm a função de servir de ponte entre o que
o aluno já sabe e o que ele deve saber, para que o conteúdo possa ser realmente aprendido de forma significativa.
Os organizadores se tornarão mais eficazes, se forem apresentados no início das tarefas de aprendizagem, para
que suas propriedades possam integrar-se como elemento atrativo para o aluno, visando a provocar o interesse e
desejo de aprender. Sua formulação deve contar com um vocabulário bastante familiar ao aluno, de modo que, sua
organização, bem como a aprendizagem sejam consideradas como material de valor pedagógico.
Atenção
Para que a aprendizagem significativa ocorra, o autor assinala duas condições essenciais:
2. O material didático desenvolvido, que deve ser, sobretudo, significativo para o aluno.
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IV. Proporcionar atividades em que o aluno possa opinar e debater sobre o conteúdo.
O conhecimento deve ser construído pelo próprio sujeito, pois é ele, através de
seu marco conceitual, quem irá interpretar a realidade material.
VI. Ser o guia do processo cognitivo do aluno. Como o aluno é livre para construir
seu conhecimento, cabe ao professor supervisionar o processo, orientando seu
aluno, quando o mesmo cometer algum erro conceitual.
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CAPÍTULO 6 • Mais Algumas Bases Psicológicas para Educação
Sintetizando
» A Psicogenética, teoria criada por Henri Wallon defende o processo de evolução, dependendo tanto da capacidade
biológica do sujeito quanto do ambiente, que o afeta de alguma forma.
» Assim como Piaget, Wallon divide o desenvolvimento em etapas. Contudo, sua pesquisa estava centrada na criança
enquanto sujeito contextualizado.
» Na teoria de Wallon, a dimensão afetiva ocupa lugar central, tanto do ponto de vista da construção da pessoa
quanto do conhecimento.
» Segundo Gardner, o que leva a pessoa a desenvolver suas inteligências é a educação que recebem e as
oportunidades que encontram.
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