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Brasília-DF.
Elaboração
Paulo Lima
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE I
PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO............................................................................................. 9
CAPÍTULO 1
CONCEITUAÇÃO...................................................................................................................... 9
CAPÍTULO 2
A HERMENÊUTICA E A INTERPRETAÇÃO NA HISTÓRIA................................................................ 21
CAPÍTULO 3
A HERMENÊUTICA E O NOVO TESTAMENTO ............................................................................. 33
UNIDADE II
HERMENÊUTICA D.C............................................................................................................................. 44
CAPÍTULO 1
HERMENÊUTICA APÓS CRISTO................................................................................................. 44
CAPÍTULO 2
CONCEITOS INTERPRETATIVOS ................................................................................................ 54
CAPÍTULO 3
FALÁCIAS EXEGÉTICAS............................................................................................................ 59
CAPÍTULO 4
HERMENÊUTICA CONTEMPORÂNEA......................................................................................... 69
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 82
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
5
Atenção
Saiba mais
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
6
Introdução
A hermenêutica não se restringe somente às Escrituras, tampouco a livros considerados
sagrados, históricos, entre outros estereótipos, mas se estende a áreas do conhecimento
de maneira extremamente vasta. Qualquer formato interpretativo de texto envolve
hermenêutica, seja ela na Filosofia, e especialmente no Direito, seja nos extremos do
grande campo da Biologia Molecular, princípios quânticos, física de partículas etc.
A Bíblia será o cerne, no entanto, métodos dos quais trataremos, bem como demais
conceitos servirão também de base para a análise crítica de textos em outros fins.
Lógica e coerentemente sabemos da impossibilidade de, mesmo nos restringindo às
concepções sagradas, temos por certo que a abordagem feita não é completa em si e,
deste modo, o Para (Não) Finalizar é tão essencial.
Esmiuçar cada método de emprego hermenêutico, conceitos e passos para uma boa
interpretação exegética das palavras do Velho e Novo Testamento é fundamental. Leituras
de livros correlacionados (principalmente os que estão contidos em nossas referências
bibliográficas) trarão ao aluno dedicado uma abordagem mais próxima do esperado
possível. Com isto é pedido: não negligencie as sugestões.
Objetivos
»» Compreender o que é Hermenêutica.
»» Despertar e instigar o pensamento e posicionamento.
»» Analisar os principais métodos de interpretação.
»» Reconhecer a importância interpretativa dentro de um contexto
»» histórico.
CAPÍTULO 1
Conceituação
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UNIDADE I │PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO
3. a filosofia, que, dentro daquilo em que ela opera em uma cultura qualquer,
envolve a hermenêutica.
Se nos atermos a um único autor, muito provavelmente teremos informações que tendem
a objetivar a linha de raciocínio de sua obra, e com isto nos limitaremos ao conteúdo
objetivado por ele. Como um setor comercial empresarial precisa fazer, geralmente,
três orçamentos para verificar qual é o mais pertinente, adotemos a mesma estratégia.
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PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO│ UNIDADE I
confirmando por todos – filho de Zeus e Maia, cujo ofício era ser o mensageiro dos
deuses. Teria ele sandálias com asas, um chapéu de abas largas e ainda seguraria uma
vara (caduceu) na qual duas serpentes se enrolavam.
Para conhecer mais sobre Hermes é preciso pesquisar Mercúrio, seu simulacro em
Roma, uma divindade que tinha a incumbência de levar as mensagens de Júpiter (termo
em latim: Iuppiter, o deus romano do dia, equivalente ao deus Zeus). Com semelhanças
a Hermes, Mercúrio também possuiria uma bolsa, sandálias e um capacete com asas,
uma varinha de condão e o caduceu; era também o deus da eloquência e da inteligência,
do comércio, dos viajantes e dos ladrões (CHAGAS, 2011).
E de fato, como lembrado pelo o autor, existe o episódio em Atos que “aparecem”
Júpiter e Mercúrio. Barnabé foi chamado de Júpiter – o deus pai – e Paulo, por sua vez,
de Mercúrio – o mensageiro (At 14.12). Esta palavra bíblica nos primeiros séculos do
Cristianismo corrobora com a probabilidade de Hermenêutica ser proveniente do deus
grego/romano.
Objetivos e definições
Para Berkhof (2004, p. 9-10), a Hermenêutica é:
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UNIDADE I │PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO
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PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO│ UNIDADE I
Pode-se falar em dois sentidos de um ponto de partida ético na hermenêutica, pois este
pode existir, de acordo com Berger (1999, p.9):
Desta maneira ainda, ele nos dá explanações que nos orientam em diferentes pontos de
vista, vejamos:
Quadro 1
a) A aplicação não parte, primordialmente, da pergunta de como se poderia tornar um texto como um todo compreensível hoje ou como ele
deveria ser traduzido. A aplicação não é uma atividade acadêmica visando tornar a mensagem compreensível para si mesmo (transposição
de “concepções” para o “presente”), mas um compreender relacionado com o agir. Nesse sentido, a própria aplicação é uma ação de
extrema responsabilidade.
b) O modelo para o procedimento não é partir do “direito da palavra de Deus” agora – a teologia principia, ante, “a partir de baixo”,
experiência da necessidade ou aflição, e seu critério não reside numa adequação suposta ou real ao texto bíblico, mas numa função prática
efetiva, “libertadora”. A teologia, neste caso, não se entende primordialmente como advogada da “palavra soberania de Deus”, mas orienta-
se, antes, pelo modelo do serviço terreno de Jesus.
c) O início da aplicação é a evidência do apelo resultante da situação em que surge a necessidade de uma ação, à qual não é possível
fechar se e à qual não se pode reprimir ideologicamente.
d) As consequências práticas resultam deste enfoque são: o intérprete sabe que seleciona textos da Escritura e também admite isso
abertamente. Decisivo tornam-se o objetivo e o efeito do texto da aplicação a ser constituído. O proclamador pergunta por aquilo que o
impressionou e que, a partir disso, é capaz de levar outros a consolar-se ou a agir.
e) Temos o seguinte princípio bem comum com a teologia da libertação: não interpretar o mundo a partir do evangelho, não encarar o
mundo como um caso para aplicação de uma norma geral preservada na Escritura. Explorar o evangelho a partir da situação (isto é, entre
outras, também a partir da situação social), redescobrir ou deixar que se revele a importância do evangelho a partir dessa base.
Fonte: Adaptado de BERGER (1999, p.10-11).
Os três passos para o estudo de uma homilética bíblica, pelo que vimos até são: (1)
observação; (2) interpretação e (3) aplicação, podendo variar de autor para autor o grau
de importância de cada, bem como a ampliação do escopo técnico hermenêutico.
Desta maneira, observar um texto bíblico é examiná-lo com atenção tanto em seu
todo como em suas partes. Para uma boa observação, o texto deve ser lido por completo
diversas vezes com atenção. Para munir-se de cada palavra a ser interpretada, faz-se
necessário fazer perguntas ao texto. Anote as respostas e os respectivos versículos.
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UNIDADE I │PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO
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PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO│ UNIDADE I
Ao nos depararmos com textos diversos, precisamos saber o que se quer explicar, não
olvidando a experiência do autor, bem como o intuito final de seu texto. Contudo,
experiências que contam também a ação do intérprete dividem opiniões. Nosso objetivo
aqui, portanto, é mostrar o máximo de pensamentos divisórios possíveis para que
alcancemos um panorama maior (possível) sobre nosso tema.
Em Dilthey (1984), aborda-se uma experiência total, a qual possa ecoar em nós a
globalidade da experiência do autor, adentrando-se em seu sentir total (emotivo
e passional).
Por sua vez, em Schleiermacher (2006), filósofo e teólogo, insiste-se que devemos nos
ater à experiência somente do autor, afirmando-se que “para compreender um texto
devemos entrar na mente do autor, identificar-nos com ele”.
Devemos, portanto, considerar vários aspectos, como, por exemplo, a intenção do autor,
a inserção em seu contexto literário e época que este está inserido, as escolas das quais
os autores fazem parte etc. Chegando a um patamar hermenêutico de aplicabilidade
exclusiva ao texto literário, vejamos os conceitos:
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UNIDADE I │PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO
Stein (1999) nos dá um panorama bastante didático dos diferentes papéis e funções em
uma interpretação de texto. Nos seus diversos moldes, existem variáveis que não podem
ser desconsideradas, do contrário, haverá um pobre e cambaleante modo interpretativo
do contexto extraído; vejamo-los:
O papel do autor
Figura 2.
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PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO│ UNIDADE I
alguém dispôs-se a escrevê-los para dizer alguma coisa a quem assim os lesse. Os textos
bíblicos estão fundamentados na História. Foram escritos no passado e dele fazem
parte, no entanto isso não altera o que o autor objetivava transmitir, bem como não
mudam os eventos nos quais se basearam. O propósito da interpretação bíblica não
implica exclusivamente a concepção exclusiva da consciência do autor, mas também o
princípio ou forma de significado que ele ambicionou passar. Tem-se repetido o termo
“consciente” (ou “conscientemente”), relacionando-o ao significado aspirado pelo
autor, com a finalidade de desviar-se de dois erros.
A função do texto
Figura 3.
O texto consiste em uma coletânea de símbolos verbais, que podem ser vários tipos de
letras, pontuação, acentos (grego) ou pontuação de vogal (hebraico). Ao escrever, um
autor bíblico poderia ter usado o símbolo que almejasse. Todavia, poderia ter concebido
uma linguagem que somente ele e aqueles que escolhessem compreendessem. São
criados, códigos especiais ou secretos com esse propósito, por autores que querem
cultivar o texto inacessível à maioria das pessoas. O texto, contudo, pode conduzir-nos
a algum lugar muito mais distante do que somente seu significado. É capaz de abrir ao
leitor vastas áreas de informação: histórica, psicológica, sociológica, cultural,
geográfica.
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UNIDADE I │PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO
A função do leitor
Figura 4.
Berkhof (2004) afirma que os elementos podem ajudar em grande medida o expositor
em uma interpretação teológica. São divididos em duas partes:
Eles partem de um princípio de que a Palavra de Deus é uma unidade orgânica, em que
tudo e todas as partes são entre si relacionadas, desta forma, subservientes ao todo da
revelação de Deus; e também que, em última análise, a Bíblia interpreta a própria Bíblia
(veremos muito desse princípio ao longo de nosso material).
Os Paralelos Reais ou Paralelos de Ideias dividem-se em: (1) Paralelos Históricos; (2)
Paralelos Didáticos; Citações do Antigo Testamento e Novo. Contudo, vejamos melhor
abaixo:
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PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO│ UNIDADE I
1) Alguns têm o propósito de mostrar que as predições do Antigo Testamento, diretas ou indiretas, foram cumpridas no Novo Testamento.
4) Finalmente, algumas citações com propósito retórico ou para ilustrar alguma verdade.
Analogia da fé ou da escritura
A) Há dois graus de analogia da fé com os quais o intérprete da Bíblia:
Diretamente baseada nas passagens escriturísticas. Consiste daqueles ensinamentos da Bíblia que
1. Analogia positiva são expressos de modo tão claro e objetivo, e apoiados por tantas passagens que não pode haver
dúvida quanto ao seu significado e valor.
Ela repousa em declarações explícitas da Bíblia, mas na extensão óbvia e no significado dos seus
2. Analogia geral
ensinamentos como um todo, e nas impressões religiosas que deixam na humanidade.
B) Analogia da fé nem sempre têm o mesmo grau de valor evidente e autoridade. Dependendo de quatro fatores:
A unanimidade ou correspondência
O valor da analogia será proporcional à concordância das passagens em que é encontrada
das diferentes passagens
C) Ao usar a analogia na interpretação da Bíblia, o intérprete deve se lembrar das seguintes regras:
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UNIDADE I │PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO
1) Uma doutrina claramente amparada pela analogia da fé não pode ser contradita por uma passagem obscura e contrária.
2) Passagem não amparada nem contradita pela analogia da fé pode servir como uma base positiva para uma doutrina, desde que seja clara no
seu ensino. Todavia, a doutrina estabelecida não tem a mesma força do que a baseada na analogia da fé.
3) Quando uma doutrina é amparada apenas por uma passagem obscura da Bíblia, e não encontra apoio na analogia da fé, só pode ser aceita com
grande reserva.
4) Nos casos em que a analogia da Escritura leva ao estabelecimento de duas doutrinas que parecem ser contraditórias, ambas as doutrinas devem
ser aceitas como escritores dicas na crença confiante de que elas se resolvem numa unidade maior.
Fonte: Adaptado de BERKHOF (2004, p. 120-125).
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CAPÍTULO 2
A hermenêutica e a interpretação na
história
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UNIDADE I │PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO
De modo equivocado, Fee e Stuart (2011) alegam que os cristãos que leem o Velho
Testamento esperam que tudo na Bíblia se aplique inteiramente como instrução para
suas próprias vidas particulares. A Bíblia é um grande recurso. Contém tudo quanto um
cristão realmente carece em termos de orientação para viver.
Deus fala através do Velho Testamento também, no entanto, não quer dizer que cada
narrativa individual é para ser percebida, de algum modo, como uma palavra direta de
Deus para cada um de nós individualmente, ou como um ensino de lições morais por
meio de exemplos.
É desta forma que eles listam vários dos erros bastante comuns de interpretação ao ler
as narrativas bíblicas — não se limitando somente às narrativas. Vejamos:
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PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO│ UNIDADE I
Essa é a suposição de que os princípios para a vida podem ser derivados de todas as passagens.
Com efeito, o leitor moralizante sempre propõe a questão: “qual é a moral da história?” no fim de
cada narrativa individual. Um exemplo seria: “o que podemos aprender sobre como lidar com a
Moralização adversidade baseada no sofrimento dos israelitas na época da escravidão no Egito?” A falácia dessa
abordagem é que ela ignora o fato de as narrativas terem sido escritas para demonstrar o progresso
da história da redenção, e não para ilustrar princípios. Elas são narrativas históricas, não narrativas
ilustrativas.
Também conhecida como individualização, refere-se à leitura da Escritura do modo como foi
sugerido acima, supondo que qualquer um das partes ou todas elas se aplicam a você ou a seu
grupo de uma forma que não se aplica a mais ninguém. De fato, trata-se de uma leitura egocêntrica
Personalização
da Bíblia. Os exemplos de personalização seriam: “A história de Balaão falando com a jumenta me
lembra de que eu falo demais”. Ou “a história da reconstrução do templo é o modo como Deus nos
diz que temos de construir uma nova igreja”.
Esse erro está estritamente relacionado à personalização. Trata-se de uma apropriação do texto
para propósitos que são bastante estranhos à narrativa bíblica. Isso é o que acontece quando, com
Apropriação indevida base em Juízes 6.36-40, “provam” a Deus como uma forma de encontrar a vontade divina! E claro
que isso é tanto uma apropriação indevida como uma descontextualização, uma vez que o narrador
assinala que Deus salvou Israel através de Gideão, apesar de sua falta de confiança na palavra divina.
Essa é uma outra forma de descontextualização. É ler nas narrativas bíblicas sugestões ou ideias
provenientes da cultura contemporânea, que são simultaneamente estranhas ao propósito do
narrador e contrárias ao seu ponto de vista. O principal exemplo disso é encontrar qualquer “alusão”
ao relacionamento homossexual entre Davi e Jônatas em l Samuel 20, por causa do versículo 17
Falsa apropriação (“porque Jônatas o amava com todo o amor da sua alma”, ARA) e do versículo 41 (“e beijaram-
se um ao outro”, ARA — algo que claramente nessa cultura não refere a beijo na boca!). Mas tal
“alusão” não só não está no texto, como também é algo totalmente incoerente com ponto de vista
do narrador. Seu amor implica aliança e se assemelha ao amor de Deus (v. 14 e 42), ele narra a
história do grande rei de Israel, e pressupõe a lei de Israel, que proíbe tal comportamento.
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UNIDADE I │PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO
Essa abordagem combina elementos daqui e dali numa passagem e tira uma lição da sua
combinação, ainda que os próprios elementos não estejam diretamente vinculados entre si na própria
passagem. Um exemplo extremo desse erro de interpretação, demasiadamente comum, seria a
conclusão de que o relato da tomada de Jerusalém por Davi em 2 Samuel 5.6,7 deve ter sido
uma retomada dessa cidade, uma vez que Juízes 1.8 — uma parte mais antiga da mesma grande
Falsa combinação narrativa, que abrange toda a trajetória de Josué até 2 Reis — diz que ela já havia sido conquistada
pelos israelitas. O que você precisa saber (i.e., o que o narrador original e seus ouvintes sabiam)
é que há duas Jerusaléns — a grande Jerusalém e, dentro dela, a cidade murada de Jerusalém
(também conhecida como Sião). Juízes 1.8 se refere à conquista da primeira; e Davi conquistou
a última, finalmente completando a conquista centenas de anos depois de ter começado e, então,
vacilado. Finalmente, cumpriram-se as promessas dadas a Abraão (Gn 15.18-21).
Quando o sentido claro do texto deixa as pessoas sem emoções, não produz nenhum deleite
espiritual imediato, ou diz alguma coisa que não querem ouvir, muitas vezes elas são tentadas a
redefini-lo para dizer outra coisa. Um exemplo é o uso frequente que se faz da promessa de Deus
dada a Salomão em 2Crônicas 7.14,15. O contexto claramente relaciona a promessa ao lugar
“neste lugar” (o templo em Jerusalém) e “sua terra” (Israel, a terra de Salomão e dos israelitas). Mas
Redefinição porque muitos cristãos modernos anseiam que essa promessa se torne verdade em sua terra —
seja onde for, eles vivem no mundo moderno —, eles tendem a ignorar o fato de que a promessa
de Deus, “ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra”, se referia apenas à
pátria terrena do povo de Deus, que poderia sempre chamá-la de “sua”, a terra de Israel do Antigo
Testamento. Na nova aliança, o povo de Deus não possui nenhum país terreno que seja “sua terra”.
O país a que eles pertencem é celestial (Hb 11.16).
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PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO│ UNIDADE I
Mais do que construir a história em torno do “caráter” de qualquer uma das personagens, o modo predominante
da narrativa hebraica é o “cênico”. A ação é desenvolvida por uma série de cenas que juntas perfazem o todo. Isso
se compara a um drama de cinema ou televisão que conta uma história através de uma sucessão de cenas. Cada
Cena(s) cena tem sua própria inteireza, mas é a combinação progressiva das cenas que perfazem a história como um todo.
São as “cenas”, separadas e unidas, que proporcionam o movimento da narrativa. Uma outra característica cênica
da narrativa é que em muitas cenas só duas ou três personagens (ou grupos) estão em foco. Mais do que isso iria
interferir no enredo principal da história.
Na natureza cênica da narrativa hebraica, as personagens são o elemento absolutamente central. Duas
características de caracterização se sobressaem: (1) Muitas vezes as personagens aparecem tanto em contraste
Personagens
como em paralelo. (2) O modo predominante de caracterização ocorre nas palavras e ações das personagens, e
não nas próprias descrições do narrador.
O diálogo é uma característica crucial da narrativa hebraica e um dos métodos principais de caracterização.
Em primeiro lugar, o primeiro ponto do diálogo é muitas vezes uma dica significante tanto para o enredo da história
como para a caracterização do falante.
Diálogo
Em segundo lugar, o diálogo contrastante muitas vezes também funciona como uma forma de caracterização.
Em terceiro lugar, muitas vezes o narrador enfatizará as partes cruciais da narrativa por meio da repetição e do
resumo da narrativa feito por uma das personagens em um discurso.
Uma narrativa não pode funcionar sem um enredo e sem um desfecho. Em outras palavras, isso significa que a
narrativa deve ter começo, meio e fim, que juntos têm como foco o crescimento da tensão dramática que, no
momento oportuno, é libertada. E comum que o enredo seja desencadeado por alguma forma de conflito, que
produz interesse em sua resolução. Você perceberá que o enredo na narrativa hebraica se desenvolve com um ritmo
Enredo muito mais rápido do que muitas narrativas modernas — mesmo no caso do gênero “conto”. Dessa forma, procure
encontrar o enredo principal e seu desfecho em qualquer narrativa e esteja alerta para os diversos recursos usados
pelo narrador para diminuir o ritmo da história. Isso comumente acontece pela inserção de diálogo, pela elaboração
súbita de detalhes ou por outras formas de repetição. Com muita frequência, a diminuição do ritmo é um sinal
indicativo do foco ou do ponto de vista do narrador.
De uma forma que muitos de nós em um ambiente moderno dificilmente apreciariam, a narrativa hebraica usou uma
série de características estruturais para prender a atenção do leitor e mantê-lo preso à narrativa. A razão para essas
características é algo que, com frequência, nos escapa e, portanto, nos faz ignorá-las. Em outras palavras, falamos
Características do fato de que as narrativas, mesmo quando foram escritas, eram principalmente designadas para ouvintes, e não
para leitores.
da estrutura
Repetição. A repetição, que permeia a narrativa hebraica, pode assumir várias formas.
Inclusão. A “inclusão” é um termo técnico para a forma de repetição em que a narrativa é iniciada e levada à
conclusão com a mesma menção ou do mesmo modo.
Fonte: Adaptado de FEE e STUART (2011, p.114-120).
Em larga escala, o Velho Testamento serve de base para o Novo Testamento. Para
entendermos a concepções divinas sobre a Criação, Queda e Restauração da humanidade
faz-se necessário a leitura do Velho Testamento por completo.
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UNIDADE I │PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO
Então vejamos diretamente nas palavras de William White Jr. no excelente Dicionário
Vine o que ele nos informa sobre esta língua tão profundamente arraigada no meio das
crenças judaico-cristãs:
Emergiu algum tempo depois de 1500 a.C. na região da Palestina, ao longo da costa oriental do mar
Mediterrâneo. Quando Alexandre, o Grande, subiu ao poder, de cerca de 330 a.C. a 323 a.C. ele uniu
as cidades-estados gregas sob a influência da Macedônia. Alexandre e seus generais virtualmente
aniquilaram as estruturas sociais e as línguas das sociedades antigas que o império tinha absorvido. Os
babilônicos, aramaicos, persas e egípcios deixaram de existir como civilizações distintas; só a cultura
grega (helenística) permaneceu. O judaísmo foi a única religião antiga eu hebraico a única língua antiga
que sobreviveram a esta investida furiosa. O hebraico está relacionado com o aramaico, o siríaco e com
outros idiomas modernos como o etíope e o árabe (antigo e moderno). O mais antigo idioma semítico
O lugar do hebraico na História conhecido é o acadiano, que foi escrito no sistema de sinais em “forma de cunha” ou cuneiforme. Os
textos acadianos mais recentes foram escritos em tabuinhas de barro com cerca de 2400 a.C. William
acredita que parece que a evidência mais recente para as origens das línguas “semítica ocidentais”, é
uma inscrição da antiga cidade de Ebla. A série mais completa conhecida e recente, dos textos pré-
hebraico vem da antiga cidade cananéia de Ugarite. Diversos textos de várias partes do Oriente Próximo
contêm palavras e frases semíticas ocidentais. As mais importantes desta tabuinha são da antiga cidade
egípcia de Amarna. A língua hebraica entrou em resistência provavelmente durante o período patriarcal,
cerca de 2000 a.C. Convertida em escrita em 1250 a.C., e a mais antiga inscrição hebraica existente
data de aproximadamente 1000 a.C.
A tradição grega assevera que os fenícios inventaram o alfabeto. De fato, isso é só parcialmente
verdade, visto que o sistema de escrita fenícios não era o alfabeto como conhecemos hoje. Era um
A origem do sistema de escrita sistema silabário simplificado. O sistema de escrita hebraico foi mudando pouco a pouco no decorrer
hebraica dos séculos. De 1000 a.C. a 200 a.C., foi usada uma escrita arredondada (antigo estilo fenício). Depois
que os judeus voltaram do cativeiro babilônico, eles passaram a usar a escrita quadrada do idioma
aramaico que era a língua oficial do Império Persa.
26
PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO│ UNIDADE I
Muitas palavras arcaicas demonstram que Moisés utilizou dos documentos cuneiformes antigos para
compilar o seu relato da história. Provavelmente os escribas da corte real de Davi e Salomão revisaram
o texto e atualizaram expressões dúbias. É provável que a mensagem dos profetas oi escrita algum
tempo depois que os profetas entregaram a mensagem. Também se admite que o Antigo Testamento
foi revisado durante o tempo do rei Josias, depois que o livro foi descoberto (II Re 22-27; II Cr 24-35).
Evento que ocorreu cerca de 620 a.C. Há evidência de que o texto do antigo testamento foi revisado
mais de uma vez nesta época. Os Targus e a Septuaginta foram traduzidos dos manuscritos hebraicos.
Havia diferenças significativas entre as duas versões, e os rabinos judeus empreenderam grandes
esforços para explicar tais diferenças. Após a queda de Jerusalém hoje versus o general romano
Tito, os estudiosos bíblicos judeus foram todos espalhados para o mundo inteiro antigo, com isto, o
conhecimento do hebraico começou a declinar.
De 200 d.C. até perto de 900 d.C., grupo de estudiosos procuraram inventar sistemas de marcas
vocálicas (depois chamadas pontos) para ajudar os leitores juntas que já não falavam em hebraico. Os
estudiosos que fizeram tal grandioso trabalho, são chamados de massoretas, e a marca que inventaram
é chamada de Massorá. O texto massorético que produziram representa as consoantes que tinham sido
preservadas desde cerca de 100 a.C.
Lamentavelmente não temos um texto completo da Bíblia Hebraica que seja mais antiga que o século
X d.C. A primeira edição completa impressa da Bíblia Hebraica foi preparada por Félix Pratensis e
publicada por Daniel Bomberg, em Veneza, em 1516. Uma edição mais extensa da Bíblia Hebraica
foi editada pelo estudioso judeu-cristão Jacob ben Chayyim, em 1524. Alguns estudiosos continuam
usando o texto de ben Chayyim como a Bíblia Hebraica impressa básica.
Não tem uma estrutura contida e concisa. O AT foi escrito ao longo de tamanho espaço de tempo e
não se pode esperar uma tradição linguística uniforme. Certamente o hebraico possuem três principais
seções no Antigo Testamento.
São elas:
À medida que Israel passava de uma confederação de tribos para o reino dinástico, a língua mudou de
linguagem de pastores e comerciantes para a língua literária de uma população estabelecida. No Novo
Testamento utiliza se o dialeto do grego de um período de cerca de 75 anos. Enquanto que o Antigo
Testamento evoluiu por quase 2000 anos.
27
UNIDADE I │PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO
Pela razão de ser o hebraico uma língua semítica, sua estrutura e função são bastante diferentes das
línguas indo-europeias, como o francês, alemão, espanhol, português e inglês. Diversas consoantes
hebraicas não podem ser transformadas exatamente ele letras portuguesas. Boa parte das palavras
Característica da Língua hebraicas é construída com base em raízes de três consoantes. Uma mesma raiz pode aparecer em um
Hebraica substantivo, um verbo, um adjetivo e um advérbio - todos com o mesmo significado básico. Também
difere de outras línguas na variação da forma de uma única classe de palavras. Certas línguas indo-
europeias possuem uma forma de determinado substantivo ou verbo, enquanto que o hebraico pode ter
uma ou mais formas da mesma classe de palavra básica.
Inicialmente a palavra básica hebraica consiste em uma raiz de três consoantes e três vogais - duas
internas e uma final (contudo, a vogal final não é muitas vezes pronunciada). Poderíamos esquematizar a
palavra hebraica típica desta maneira:
C1 + V1 + C2 + V2 + C3 + V3
K + A + T+ A + B + ____
As formas diferentes das palavras hebraicas sempre mantêm as três consoantes nas mesmas posições
relativas, mas eles mudam as vogais inseridas em ver as consoantes. Por exemplo, kõteb é o particípio
kãtab, enquanto kãtôb é o infinitivo.
Raiz = KTB
Às vezes, um escritor dobra uma consoante enquanto mantém as três consoantes básicas na mesma
posição, tomando a raiz de KTB e fazendo com que a palavra wayyiketõb signifique “e ele foi levado a
escrever”.
O escritor hebraico também podia acrescentar várias terminações ou sufixos diferentes para que um
verbo básico produzir ser uma cláusula inteira.
28
PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO│ UNIDADE I
A ordem normal das palavras de uma oração verbal em uma passagem hebraica em narrativa ou prosa:
É interessante notar que a ordem das palavras hebraicas para uma oração nominal pode corresponder
A ordem das palavras hebraicas a esta do português:
Os escritores hebraicos se afastavam do arranjo verbal em prol da em fazer. Contudo, uma oração
hebraica raramente pode ser traduzida palavra por palavra, uma vez que o seu resultado ficaria sem
nenhum sentido. Ao longo dos séculos, os tradutores desenvolveram módulos padronizados de
expressar essas formas peculiares de pensamento semítico na língua indo-europeia.
As palavras estrangeiras em
hebraico (sumério-acadiano) Sumer = Sinar (hebraico)
Diversos termos egípcios também aparecem na narrativa de José, da mesma forma que termos
babilônicos aparecem nos escritos de Isaías e Jeremias, bem como palavras persas no livro de Daniel.
O texto hebraico do antigo testamento nos dá dois problemas imediatos, quando na leitura de alguém
não-iniciado.
2) O fato de que o hebraico escrito é um sistema complicado de símbolos e sílabas, cada uma das
O texto escrito da Bíblia quais tendo três componentes, que são:
Hebraica
29
UNIDADE I │PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO
Os cristãos têm estudado o idioma hebraico com variados graus de intensidade, desde
a fundação da igreja. Durante a era da Igreja Apostólica e Primitiva (40-150 d.C.), os
cristãos tiveram forte interesse pela língua, e isto se dá até os dias de hoje. Comparando as
línguas acadiana, ugarítica, aramaica e hebraica, os estudiosos modernos conseguiram
entender o significado das palavras hebraicas.
São alguns:
É frequente dizer que o melhor comentário da Escritura é a própria Escritura. A famosa frase “Bíblia interpreta
a própria Bíblia”, nunca foi tão verdadeiro no que condiz aos às palavras em hebraico. O melhor método para
determinar o significado de qualquer palavra hebraica é estudá-las em seu próprio contexto. Se aparece em
muitos contextos diferentes, então o significado da palavra pode ser encontrado com mais precisão. Para palavras
que aparecem com muito pouca frequência (quatro vezes ou menos), os hebraicos não bíblicos ou textos
semíticos podem nos ajudar a estabelecer o significado da palavra.
2) O significado do
contexto
Atenção! Nunca é sensato usar uma palavra obscura para determinar o significado de outra palavra obscura.
As palavras mais difíceis são os que só ocorrem uma vez no texto do Antigo Testamento; estas são chamadas
de hápax legomena (em grego, “lidas uma vez”). Afortunadamente, todas as palavras hebraicas de significado
teológico ocorrem com bastante frequência.
O paralelismo poético
O terço completo do Antigo Testamento é poesia. Esta quantidade de texto é igual ao Novo Testamento inteiro. Os tradutores tenderam a ignorar
a estrutura poética de longas passagens do Antigo Testamento, como Isaías 40 a 66 e todo o Livro de Jó; mas a complexidade da poesia
hebraica são vitais para a nossa compreensão do Antigo Testamento. Isto pode ser visto estudando uma versão moderna da Bíblia que imprime as
passagens poéticas como tais. Diversos versículos dos salmos e luz também a estrutura subjacente da poesia hebraica.
Atenção! Não há ritmo e métrica na poesia hebraica, pelo contrário. As maiorias das poesias portuguesas conhecidas desenvolvem-se dessa
forma.
A poesia hebraica repete as ideias ou a relação das ideias em sucessivas, como podemos ver:
(I) Engradecei ao SENHOR comigo,
(II) e exaltemos o seu nome juntos.
30
PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO│ UNIDADE I
Observa-se que, virtualmente, cada classe de palavra na Linha I pode ser atribuída por seu equivalente na Linha II. Os estudiosos designam as
palavras individuais na Linha I (ou hemistíquio I) como palavras “A”, enquanto que as palavras da Linha II (ou hemistíquio II) de palavras “B”. Assim
percebemos o padrão nestes linhas (levemente adaptadas) do Salmo 34.3:
Hemistíquio I: EngradeceiA ao SENHORA comigo,A
Hemistíquio II: e exaltemosB o seu nomeB juntosB
Como facilmente é visto, a palavra “A” pode ser substituída pelas palavras “B” sem mudar o significado da linha, o contrário também é verdadeiro.
Essa característica da poesia chamada de paralelismo. Nos estudos eruditos da poesia hebraica, as palavras paris numa estrutura paralela são
marcadas com barras paralelas inclinadas para mostrar:
a) Qual apalavra ocorre normalmente primeiro – quer dizer, a palavra “A”.
b) O fato de as duas palavras formarem um par paralelo e;
c) Qual palavra é em geral a segunda ou a “B”.
Com isto, pode-se mostrar o Salmo 34.3 desta forma:
Engradecei // exaltemos; ao SENHOR // o seu nome; comigo // juntos.
Teorias de tradução
Afetam grandemente nova interpretação das palavras hebraicas. Pode-se descrever as atuais teorias dominantes de tradução como segue:
Tal método presume que se encontrará somente uma palavra portuguesa para representar cada palavra hebraica
que aparece no texto do Antigo Testamento. Considerando algumas palavras hebraicas não possuem equivalência
a nenhuma palavra na língua portuguesa, elas são simplesmente transliteradas (transformadas em caracteres
O método da
portugueses). O leitor, neste caso, deve ser instruído sobre o que o termo transliterado realmente significa.
equivalência direta Este método era usado nas traduções mais antigas do Novo Testamento, que tentavam trazer os equivalentes
latinos das palavras gregas diretamente para o português. Foi assim que as primeiras versões adotaram grande
quantidade de terminologia teológica latina, como justificação, santificação e concupiscência.
Este método procura encontrar um número limitado de termos em português que expressem adequadamente o
significado de um termo hebraico em particular. Um estudioso que usa esse método estuda o registro histórico de
O método histórico-
como a palavra foi usada e dá preferência ao seu significado mais frequente no texto. Este método foi usado na
linguístico preparação do Dicionário do autor que estamos nos utilizando (Vine – O Significado Exegético e Expositivo das
Palavras do Antigo e do Novo Testamento).
Não procura fazer uso consciente de uma palavra portuguesa por uma palavra hebraica específica. Pelo contrário,
esforça-se para mostrar o impulso ou ênfase de uma palavra hebraica em cada contexto específico. Assim,
proporcionar uma tradução muito livre e coloquial de passagens do Antigo Testamento. Isso permite que os leitores
leigos obtenham o âmago real do significado de uma passagem em particular, mas torna o estudo das palavras
O método da bíblicas praticamente impossíveis.
equivalência
dinâmica
O exemplo que se pode dar é a comparação entre a Bíblia Viva e a Almeida, Revista e Corrigida (ARC) mostrará a
diferença nos métodos de tradução. A Bíblia Viva usa muitas palavras mais específicas para refletir a sutis acepções
do texto hebraico, tornando impossível traçar como determinada palavra hebraica foi usada em contextos
diferentes.
31
UNIDADE I │PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO
Tenha sempre em mãos boas edições de pelo menos três versões em português
do Antigo Testamento. Uma versão ARC, edição de 1995, da ARA (Almeida Revista
e Atualizada) e uma versão coloquial como A Bíblia Viva. Não descurar de uma
boa concordância bíblica. Esforce-se por ser consistente ao traduzir determinada
palavra hebraica em contextos diferentes. Busque o menor número de palavras
portuguesas que são semelhantes, com tons equivalentes. Comparação e frequência
são fatores determinantes no estudo de palavras bíblicas. Escreva a passagem
que você está comparando. Sem medo de observar as ocorrências de certa
palavra, o tempo “gasto” com a Bíblia é tempo ganho.
32
CAPÍTULO 3
A Hermenêutica e o Novo Testamento
Antes de tudo, precisamos fazer uma ponte entre o Antigo (AT) e o Novo Testamento
(NT), a fim de tornar nosso estudo o mais didático e cronológico possível. Obviamente
não conseguiremos nos aprofundar em temas tão importantes, uma vez que são
contextos vastos e com muitos tentáculos. Por ora, então, vejamos as principais relações
entre o AT e NT que Berkhof (2004, p.102-105) nos traz:
IV. Por outro lado, o intérprete deve cuidar para não ver o antigo testamento
porque não está lá.
33
UNIDADE I │PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO
»» Para cada palavra e frase, deve-se estar alerta quanto ao contexto literário que depende do significado da
passagem em relação às frases e parágrafos imediatamente ao seu redor. O que significa essa passagem
Terceira Parte
no seu contexto? Por que Paulo disse isso a essa altura do seu argumento? Por que o salmista inclui estas
palavras de lamentação ou esse clamor por justiça, exatamente nesse momento da sua oração ou louvor?
A Bíblia é o livro sagrado da religião cristã, porém, de acordo com o filósofo Luís Felipe
Pondé, a variedade de autores, de estilos e o tempo em que seus escritos foram produzidos
dificultam a leitura fundamentalista das Sagradas Escrituras. Na verdade, dificultam
qualquer tipo de leitura e igualmente a interpretação. O material do presente curso faz
essas colocações destacando o abismo cultural, linguístico, histórico e filosófico entre o
tempo dos autores e o leitor atual.
A leitura da Bíblia demanda humildade, por parte do leitor, uma vez que em havendo
um abismo filosófico, cultural, linguístico e histórico entre este e os autores, há que
manter uma constante abertura para os novos dados que poderão trazer maior luz ao
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PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO│ UNIDADE I
texto. A explicação para a norma supracitada justifica-se pelo fato de que as premissas
que o intérprete traz a respeito do caráter e validade do texto, por si só já influenciam
na postura do mesmo.
No que tange a hermenêutica reformada, esta zela pelo sentido histórico gramatical
do texto. Isto foi feito com o fim de possibilitar ao povo a livre leitura. Neste aspecto
a hermenêutica de Lutero é de fundamental importância para o acesso, por parte do
povo, ao conteúdo das Escrituras.
Com o avanço da ciência e da técnica não demorou muito para que todas as ciências em
nascimento, inclusive a teologia, se rendessem á sedução dos pressupostos científicos,
o que resultou em uma teologia que removia o elemento sobrenatural da Bíblia.
35
UNIDADE I │PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO
Segundo Shaeffer, este modelo ainda que empregue palavras com aparente conotação
cristã, na verdade as usa de forma ambígua, e com outras significações. O resultado é
uma hermenêutica que não traduz sequer a experiência existencial, quiçá a Bíblia.
1. Uma narrativa do Antigo Testamento, em geral, não ensina diretamente uma doutrina.
2. Uma narrativa do Antigo Testamento, em geral, ilustra uma doutrina ou doutrinas que são apresentadas em uma proposição registrada em
outros lugares.
3. Narrativas relembram o que aconteceu — e não necessariamente o que devia ter acontecido ou o que deve acontecer todo o tempo.
Portanto, nem todas as narrativas têm uma aplicação moral que possa ser identificada.
4. O que as pessoas fazem nas narrativas não necessariamente é um bom exemplo para nós. Muitas vezes, é justamente o oposto.
5. Muitas das personagens das narrativas do Antigo Testamento estão longe de serem perfeitas — do mesmo modo que suas ações.
6. Nem sempre contamos, no fim de uma narrativa, se o que aconteceu foi bom ou ruim. Esperamos ser capazes de julgar o que aconteceu
com base no que Deus nos ensina, de forma direta e categórica, em outros lugares das Escrituras.
7. Todas as narrativas são seletivas e incompletas. Nem todos os detalhes relevantes são sempre apresentados (cf. Jo 21.25). O que se
registra na narrativa é tudo aquilo que o autor inspirado pensou ser importante para nós sabermos.
8. As narrativas não são escritas para responder a todas as nossas questões teológicas. Elas têm um propósito particular, específico e
limitado, e lidam com certos assuntos, deixando os outros serem trabalhados em outros lugares e de outras formas.
9. As narrativas podem ensinar tanto de forma explícita (claramente declarando algo) como de forma implícita (deixando algo claramente
implícito, sem realmente declará-lo).
10. No final da análise, Deus é o herói de todas as narrativas bíblicas.
Fonte: Adaptado de FEE e STUART (2001, p.129-130).
36
PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO│ UNIDADE I
IV) Por outro lado, o intérprete deve cuidar para não ver o antigo
testamento porque não está lá.
37
UNIDADE I │PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO
Era bem mais intenso, de modo que o Antigo Testamento era interpretado à luz dos ensinos do Novo,
e este à luz das doutrinas da Igreja. Como exemplo, após a definição da doutrina da Trindade, mesmo
Tipologia textos bíblicos que não se referiam à Trindade passavam a ser interpretados à luz dessa doutrina, tais
como o plural em Gênesis 1.26, ou as menções ao Anjo do Senhor no Pentateuco, que era visto como
o próprio Senhor Jesus.
Neste terceiro modo, o grau de reinvenção do texto era ainda maior, de modo que o recurso tipológico
era estendido aos próprios detalhes do texto (por exemplo, uma interpretação excessivamente alegórica
Alegórico
procurava nas parábolas um significado específico para cada detalhe: o assaltado na parábola do
Samaritano era o incrédulo, a estalagem a igreja, o samaritano Jesus, etc.
O autor ainda nos auxilia a entender os métodos acima expostos nos tempos medievais.
Vejamos, portanto, em Zabatiero et al. (2011, p.29, grifos nossos):
Em Berger (1999, p.17-18), autor que utilizaremos em certa medida neste subitem,
temos alguns pontos sistemáticos que devem ser considerados em uma interpretação:
a) A percepção de situações na verdade não acontece “sem antecedentes”, mas pressupõe a educação para a sensibilidade, como ela pode, em
parte, muito bem ter sido transmitida no arco da história dos efeitos produzidos pelo cristianismo. Importante é que quem produz a aplicação não
é a leitura da Escritura por si mesma, a aplicação pressupõe, antes, uma percepção sensível da situação. Esse tipo de percepção poderia muitas
vezes já ter sido transmitido pelo cristianismo para a solidariedade e à liberdade.
b) Decisivo é que a sensibilidade espontânea não seja encoberta por desculpas secundárias (ideológicas), as quais representam, em vista do
comprometimento com a humanidade sentido espontaneamente, uma tentativa de “sair pela tangente”.
c) Entretanto, a mera “sensibilidade” não é o bastante; ao contrário, para uma aplicação realmente bem-sucedida uma análise (histórico-crítica)
exata ou um profundo conhecimento de causa é no mínimo tão necessário quanto o “senso de compromisso” a partir disso explique.
38
PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO│ UNIDADE I
d) Em vista do que foi percebido com tanta atenção, levanta-se então a pergunta: em que é a Escritura pode ajudar nessa situação (como apelo,
como promessa, consolo, crítica – aqui pode ser mencionada todos os gênios da história da forma)? Este é justamente o campo da inovação.
e) Se realmente se quer que a reação corresponda à situação, deve-se levar em conta não só pergunta “por quê?”, mas também “para quem?”.
Isto é, na resposta à situação é necessário considerar também o destinatário de minha ação. Por essa razão, há o dever de realizar uma crítica
precedente da recepção. Trata-se, portanto, de um abrangente processo de recepção de diversas fases, o qual não consiste simplesmente em
inserir-se num processo de transmissão. O ato de partir das condições e possibilidades da recepção deve ser acompanhado de uma análise
cuidadosa.
Fonte: Adaptado de BERGER (1999, p.18-19).
Apenas reforçando, o tópico inovação também traz outros tipos de concepções. Por
exemplo, o intérprete pode trazer consigo dentro de um procedimento aplicado à
lembrança recente ou latente de uma necessidade atual; como também essa lembrança
concretiza-se uma forma nova em contato com o texto, adquirindo com isto o novo
acento que leva em conta àquele que interpretou texto.
Todavia, Berger (1999) afirma que não se pode concluir que a situação de necessidade
tenha somente sido reconhecida baseada no texto, mas também que o quadro da
situação pode ganhar novas formas. Análise da situação deve produzir, por sua vez, o
resultado muito semelhante para o campo da inovação ao ser realizada igualmente e
modo praticamente histórico-crítico. Não somente isto, demonstrar o rico conteúdo do
texto também é um possível etos do exegeta.
»» santidade;
»» radica0
Não poderíamos nos esquecer, já que estamos tratando de uma interpretação do Novo
Testamento neste tópico, das parábolas.
39
UNIDADE I │PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO
soma das inter-relações entre o nível inicial e o nível de imagem pode ser designada de
“encadeamento semântico” de maior ou menor grau entre elas.
A consequência para aplicação, aplicando tal modelo à relação entre texto bíblico
situação atual, aplica se em ambos os casos, dentro de um contexto que tem função
emolduradora e circundante, está localizado um texto especialmente destacado que lhe
é estranho, Berger (1999, p.185) traz que:
Ele explica:
40
PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO│ UNIDADE I
Não podemos, outrossim, olvidar algumas perguntas base para a aplicação correta dos
critérios hermenêuticos:
41
UNIDADE I │PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO
Importante é que o critério fundamental a ser mencionado aqui é o da autocontradição, o qual funciona,
portanto, com base na lógica. Os critérios aqui inquiridos deveriam ter algo a ver com aspectos que,
para a religião cristã, pelo visto são muito importantes. O critério seria então a contradição em relação à
própria religião em elementos decisivos, constitutivos dessa realidade.
O critério da autocontradição
religiosa A pergunta por critérios não é aqui direcionada simplesmente para metanormas éticas, mas para as
articulações entre a religião e a ética, para os elementos de ligação entre ambas, que são tão importantes
que ambas dependem deles, que uma coisa não é possível sem a outra. Trata-se, então, de medidas
para normas que possam ser discutidas “no marco da religião cristã”.
Não se trata de tais situações “metafóricas”, mas de pontos de ligação entre os dois âmbitos,
que, como pontos de ligação, são eles mesmos somente um objeto, uma realidade.
Por causa do ponto de partida ético da presente hermenêutica não se pode tratar somente de um critério
religioso fundamental, mas precisa tratar-se de um critério religioso e, ao mesmo tempo, ético. Essa
escolha certamente também é condicionado do ponto de vista da história da igreja. O critério da verdade
Fundamentação para a
no cristianismo sofreu um deslocamento em relação à Antiguidade e à Idade Média. Um sintoma desse
escolha do ponto de partida deslocamento é a relação entre pluralismo e compromissividade. Enquanto que antes o acento estava no
caráter compromissivo da dogmática, neste campo, já há muito tempo, o pluralismo tem a preferência;
enquanto que antes a ética e a teologia moral tinham pouco espaço, é justamente nesse campo que se
espera hoje compromisssividade da igreja.
Fonte: Adaptado de BERGER (1999, p.35-37).
42
PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO│ UNIDADE I
A validação, por sua vez, tem por objetivo sancionar de forma direta a interpretação
particular do texto. Portanto, as técnicas de estudo da Bíblia são importantes na
exegese: “a observação, interpretação e aplicação, nesta ordem, são a base da
abordagem indutiva da exegese”, como tanto estamos abordando e abordaremos até o
final de nosso material.
43
HERMENÊUTICA UNIDADE II
D.C.
Existem diversos pontos elementares hermenêuticos os quais seguramente podemos
chamar de “armadilhas de interpretação” hermenêutica, não somente no mundo antigo,
mas chegando aos tempos modernos, acarretando, com isto, profundos e acalorados
debates teológicos e doutrinários. Tentaremos fazer uma abordagem nesta Unidade dos
principais pontos “escorregadios” a fim de evitar ao máximos intepretações profanas e
heréticas dos Textos Sagrados.
CAPÍTULO 1
Hermenêutica após Cristo
44
HERMENÊUTICA D.C │UNIDADE II
Um dos primeiros intérpretes da Idade Média é João Cassiano, que morreu no século V. Monge e escritor
asceta do sul da Gália, Cassiano foi um dos maiores defensores do semi pelagianismo naquela época.
Ele escreveu um livro intitulado Institutas de Coenobia, no qual explica e regulamenta a vida nos mosteiros
no Egito valendo-se de uma interpretação bastante alegórica das Escrituras. É atribuído a João Cassiano
O uso da quadriga a famosa distinção entre os quatros sentidos da Escritura, também chamada de “quadriga”: Histórico ou
literal: o sentido evidente e óbvio do texto; alegórico ou cristológico: o sentido mais profundo, geralmente
apontando para Cristo; tropológico ou moral: o sentido que determinava as obrigações do cristão e a sua
conduta; anagógico ou escatológico: o sentido que apontava para as coisas vindouras que o cristão deveria
esperar.
Outra preocupação dos intérpretes desse período era a prática. O período das polêmicas havia passado
após o Concílio de Calcedônia (451 d.C.) sobre a pessoa de Cristo. Como exemplo, podemos citar Gregório,
o Grande (Papa, séc. VI). Gregório tinha um alto apreço pela Escritura como a Palavra de Deus, dada para
Aplicações práticas instruir os homens quanto à sua salvação. Porém, era seguidor do método alegórico de Orígenes. Isso o
levou a procurar o sentido espiritual, interior, oculto por detrás da letra, determinando três níveis de sentido
para cada passagem (histórico ou literal, alegórico ou típico e moral). Desses, estava mais preocupado com o
sentido moral, pois era um pregador com audiência enorme.
Com o objetivo de proteger a usurpação hierárquica, os monges, bispos e padres exageraram o fato de que
existem passagens obscuras na Bíblia e assim a mantiveram longe das multidões. Transformaram-na em
um livro fechado, cujo sentido somente os bispos e monges podiam desvendar. A interpretação alegórica
Ênfase na obscuridade de Jó 1:1-5 feita por Gregório é bem representativa: Jó teve 7 filhos e 3 filhas; o número 7 representa
das Escrituras os apóstolos, já que 7 é composto de 4 e 3, que multiplicados dão 12. Os números 3 e 4 indicam que a
Trindade é pregada nos 4 cantos da terra. AS 3 filhas representam os 3 santos de Ezequiel 14:14, Noé,
Daniel e Jó, que por sua vez representam os sacerdotes, o celibato e o que é fiel no casamento. (LOPES,
2013, p. 152).
O tipo de interpretação praticado durante a Idade Média era na maioria dos casos arbitrariamente alegórico,
como os exemplos anteriores demonstram. Isso não quer dizer que não havia nesse período quem
Presença de uma
defendesse uma leitura da Bíblia em seu sentido natural e óbvio. Por exemplo, o monge alemão Tomás de
tradição hermenêutica
Kempis, do século XV, famoso por sua obra Imitação de Cristo, recomenda no capítulo V de seu livro que se
gramático-histórica leia a Bíblia com simplicidade. Podemos dizer que uma nova apreciação pelo sentido literal das Escrituras
surgiu no período medieval.
Trata-se dos pais da igreja que viveram nos séculos 4 e 5, cujas obras foram escritas em
Latim. São destacados Tertuliano (155-220), Jerônimo (347-420), tradutor da Vulgata
Latina, e Agostinho (354-430), o famoso bispo de Hipona.
45
UNIDADE II │HERMENÊUTICA D.C
A interpretação em Calvino
Na época de Calvino, uma tarefa foi marcada como mais do que necessária: a
interpretação bíblica, uma vez que havia traços apologéticos claros. Havia
confronto frontal com os anabatistas e os antinomistas, por um lado, e a diversidade
de interpretações da Bíblia no movimento da reforma, de outro (mas que sequer era
lida na época de Lutero). Interpretar didaticamente o conteúdo da fé tornou-se então,
urgente em Calvino. Zabatiero (2011, p.61-62, grifos nossos) ressalta:
46
HERMENÊUTICA D.C │UNIDADE II
Ainda o autor nos chama a atenção afirmando que toda ciência possui três fundamentos:
1. a fé;
2. a esperança e;
3. o amor.
Cabendo-nos deduzir que, em toda obediência a regras, no que se refere ao que se faz
necessária para penetrar nos meandros das passagens das Sagradas Escrituras só pode
vir de uma mente consciente de si mesma e perfeita por definição, a saber: Deus. Afirma
ainda que quem quiser aproximar-se da Bíblia com amor e cautela lerá, no primeiro
momento, todos os livros canônicos, para adquirir ao menos algum conhecimento
deles, mesmo que ainda não entenda todo o conteúdo. Por meio desse caminho, ela se
47
UNIDADE II │HERMENÊUTICA D.C
Era uma abordagem que em rigor não poderia ser chamada de “gramático-histórica”, visto que este termo só
1. SENSIBILIDADE E
apareceu após a Reforma. Entretanto, os princípios que caracterizavam este tipo de interpretação já estavam
ATENÇÃO AO SENTIDO
presentes em Antioquia: procurar alcançar o sentido do texto por meio da busca da intenção do seu autor
LITERAL DO TEXTO (daí estudar-se o sentido óbvio das palavras, gramma em grego), considerando o texto histórico em si.
Desenvolveu-se em Antioquia o conceito de teoria. Esse termo designa o estado mental dos profetas que
2. THEORIA recebiam as visões, em oposição à alegoria. É uma intuição ou visão pela qual o profeta pode ver o futuro
por meio das circunstâncias presentes.
Os antioquianos não negavam o caráter metafórico de algumas passagens: reconheciam que havia um
3. HISTORICIDADE DOS sentido mais profundo nas profecias do Antigo Testamento e que havia tipologias, como a que Paulo fez em
RELATOS Gálatas 4:21-31. Entretanto, afirmavam a historicidade da narrativa veterotestamentária e procuravam em
seguida descobrir o sentido teológico da mesma.
Ainda buscavam determinar a intenção do autor pela atenção cuidadosa ao sentido histórico das palavras
4. INTENÇÃO AUTORAL em seu contexto original. Nesse sentido, eram contra descobertas arbitrárias de Cristo no Antigo Testamento,
como as feitas pela alegorese alexandrina.
Adaptado de LOPES (2013, p.135-136).
48
HERMENÊUTICA D.C │UNIDADE II
49
UNIDADE II │HERMENÊUTICA D.C
1. O abismo temporal.
2. O abismo geográfico.
3. O abismo cultura.
4. O abismo linguístico.
Se estes abismos forem de fato considerados, é muito provável que a interpretação
alcance patamares mais elevados de fidelidade.
Mazotti (2010, p.3-8) nos auxilia na compreensão das diferenças entre dizer, explicar
e traduzir:
O primeiro sentido de hermenêutica é exprimir, ou dizer. Tal função está estritamente relacionada com
a tarefa de Hermes em aos homens as mensagens do Olimpo [...]. Note-se que dizer uma palavra
não é o mesmo que explicar ou debater a mesma. A tarefa sacerdotal era nitidamente a utilizar da
Dizer vivacidade da linguagem oral para proferir belos e emocionados sermões, a fim de provocar adesão
das massas aos dogmas da fé cristã. Não se deve olvidar que segundo os ditames da Igreja Católica
a própria razão divina era vista como inacessível aos olhos dos mortais cabendo a este é o papel de
meros ouvintes dos sermões proferidos pelos homens estimados por Deus.
Essa é a utilização moderna e mais usual da palavra hermeneuein, que se refere ao ato de determinar e
clarificar o sentido de algo. É sabido que antigamente a Igreja Católica, para bem organizar e auxiliar na
difusão do Texto Sagrado, escrevia obras bíblica de exegese nas quais se inseriam comentários sobre
suas passagens, determinando explicitamente quais eram as verdades divinas de cada uma delas.
Explicar
Não cabe à Hermenêutica determinar o que era verdade e o que é equívoco. O sentido encontrado deve
ser justificado ora pela intenção do autor, ora pela forma como o intérprete o conteúdo. A quem se
refira ainda à força própria do texto, como se esse possuísse vida autônoma face aos sujeitos criadores
e interpretativos, conferindo significado a si mesmo.
A função de traduzir um texto torna-se explícita quando se trata da compreensão de uma língua
estrangeira. É o que Hermes fazia quando traduzia as mensagens divinas para a linguagem dos
homens. Entretanto, pode-se dizer que a tradução mesmo quando texto e intérprete dominam o mesmo
idioma. Não há diferença estrutural de apreensão do conteúdo de um discurso quando ele é escrito em
Traduzir língua materna ou estrangeira.
Todo idioma, independentemente de sua denominação, é um repositório cultural que nos remete a
certas qualificações, por exemplo, históricas e regionais. Entender o substrato de determinado idioma,
seus vocábulos e suas expressões próprias, é essencial na tarefa da compreensão.
50
HERMENÊUTICA D.C │UNIDADE II
Assim como toda a história do conhecimento é moldada por pequenas junções de blocos,
com a hermenêutica não poderia ser diferente. Desta forma vemos ao longo do tempo
linhas diferentes de metodologias e abordagens do entendimento da interpretação e
forma de aplicação da mesma nos diversos estudos exegéticos.
É desta maneira que veremos abaixo esses “blocos” desmembrados em escolas, exposto
em quadro para facilitar o processo de absorção, aprendizagem e manuseio:
Quadro 12: Escolas hermenêuticas.
Os estudos de interpretação da Bíblia foram os primeiros a utilizar o termo hermenêutica para descrever atividade
de investigação de sentido a partir do estudo de um texto. Não se deve olvidar, todavia, que os clássicos já vi um
pensado em formas de se apreender o sentido de um discurso, mas estavam a isto o nome de interpretação, e,
muitas vezes, a estudavam junto a poesia e a retórica.
Escola Bíblica
A diferença entre a exegese bíblica e a hermenêutica moderna se origina somente com o Iluminismo [...]. O
intérprete sacro estava então totalmente desprovido de liberdade para descobrir os sentidos das passagens bíblicas.
A Escola da Exegese Bíblica, rigorosamente falando, não criou um método hermenêutico propriamente dito, tomado
aqui no sentido de um sistema de regras e procedimentos para a interpretação de um texto. Entretanto, revelou a
necessidade de tornar claras passagens textuais consideradas obscuras.
As portas abertas pela teologia bíblica permitiram que inúmeros intelectuais do período racionalista-iluminista buscar
em um método que permitiria um maior entendimento das obras clássicas, relida avidamente naquela época [...].
Não era conveniente tratar a hermenêutica de uma forma universal, já que os próprios teólogos consideravam que
Escola Filológica é a prática interpretativa deveria ser reservada aos textos sacros. Sendo assim, para esses intelectuais sedentos de
interpretação, o estudo da filologia passou a ser a chave-mestra. A ciência das línguas, semântica dos vocábulos,
das regras gramaticais, morfologia etc. Se demonstrou como a forma mais racional possível de se alcançar o sentido
de um texto.
Somente com Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher, filósofo alemão do século XVIII e início do XIX, a hermenêutica
é concebida como um procedimento universal que visa a interpretar qualquer tipo de texto independente da ciência
aqui está adstrito seu conteúdo. Sua ideia é de que no diálogo entre os homens, a estranheza (Fremdheit) é uma
constante, na medida em que a carga de vida e as experiências particulares constroem os seres humanos diversos
Schleiermacher um dos outros. Contrariando a ordem iluminista da existência de uma razão pura e superior, considera o discurso à
(1768-1834) luz da sua subjetividade e do psicologismo de seu autor.
Para Schleiermacher, a compreensão deve mover-se dentro deste círculo, formado por uma relação dialética entre o
todo e as partes. O retorno de uma parte a outra é fundamental para que se ampliem cada vez mais está o círculo e
aprofunde-se a compreensão
Com o desenvolvimento da filologia e da hermenêutica romântica, a historiografia encontrou bases sólidas para
trabalhar metodologicamente o seu tema central: a história universal. Seus estudos se alicerçam na pesquisa das
correlações existentes entre os fatos históricos individuais, de forma que estes viabilizem uma compreensão integral
da história [...]. A historiografia assume uma posição hermenêutica na medida em que realiza essa mediação entre
o passado factual-individual e o todo-histórico, descrevendo e interpretando suas relações dialéticas. A partir de tal
concepção, o estudo de um texto não pode mais ser compreendido unicamente por meio de seus vocábulos que
Escola Histórica acabam por limitar semanticamente os sentidos possíveis, nem ao menos como uma investigação psicológica da
produção originária do autor. O sentido do texto deverá ser extraído por meio de sua análise metodológica com os
nexos históricos mais amplos, que justificaram as razões de seu existir como tal. O texto é visto como uma parte,
deve ser lida em razão de um todo (história), dada a relação de concordância e coerência que os permeia.
Wilhelm Dilthey (1833-1911) é uma importante figura que ajuda compreender melhor os meandros da escola
histórica hermenêutica.
51
UNIDADE II │HERMENÊUTICA D.C
As ações propostas pela historiografia filosofia em termos de uma hermenêutica de alta compreensão e superação
das contradições do tempo, somente poderão ser mais bem elaboradas com o surgimento da fenomenologia [..]. A
investigação fenomenológica é ontológica, pois busca responder à questão do sentido do ser visto em sua própria
existencialidade, não como sinônimo de realidade, de uma coisa que está no mundo e pode ser empiricamente
constatável. Na fenomenologia, o sentido do ser não é trabalhado como sentido de algo que é, mas sim o próprio
Escola é. Portanto, o compreender do sujeito se torna um compreender-se, pois o homem vê o seu ato de compreensão
Fenomenológica também “são” e deverão ser compreendidos. O compreender volta sobre si mesmo para realizar a sua própria
compreensão. É como ser sujeito e objeto se fundissem em uma relação original em que um sujeito para a ser
também objeto e interpreta-se.
Husserl (1859-1938), Martin Heidegger (1889-1976), Hans-Georg Gadamer (1900-2002) são importantes figuras
que nos ajudam compreender melhor a escola fenomenológica.
Se afasta da Escola Fenomenológica, ele resgata uma definição hermenêutica mais próxima de sua intenção
originária. Ricoeur efetua um profundo estudo da fenomenologia e das teorias modernas da linguagem (com
imersões na psicanálise), partindo do ponto que existem dois polos dialéticos nas manifestações linguísticas:
Paul Ricoeur (1913- referência (acerca do quê do discurso) e o sentido (o quê do discurso). Essa investigação conduz Ricoeur aos
2005) ensinamentos de Nietsche, Marx e Freud. Ricoeur utiliza uma lógica de probabilidades, subjetiva, não empírica, é
essencialmente argumentativa para realizar um arbitramento dos sentidos e alcançar um acordo sobre eles. Logo, o
círculo hermenêutico será sempre progressivo, nunca vicioso, pois os sentidos inválidos são retirados de seu campo
de dialeticismos, e o solipsismo infinito não ocorre.
53
CAPÍTULO 2
Conceitos interpretativos
O método-histórico crítico
Em uma perspectiva dos diversos graus de fidelidade em relação ao texto bíblico,
considera-se a fidelidade estrita, uma característica do etos da exegese histórico-crítica
no momento da reconstrução. Segundo J. A. Filho:
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HERMENÊUTICA D.C │UNIDADE II
LEALDADE
Não se trata, de modo algum, de um procedimento apenas técnico, mas de uma atitude ética básica,
fonte poder justiça que faz a intermediação entre duas reivindicações - as do texto inicial e as da situação.
a) Em analogia ao etos do exegeta Característica especial desse etos a relação entre liberdade e vinculação. Trata-se de aprender o autor bíblico,
como irmão mais velho e mestre, algo sobre os primórdios cristãos, preservando a peculiaridade deles e a
própria. Trata-se, portanto, ao mesmo tempo de comunhão através do ouvir e de duas liberdades.
b) A vinculação do intérprete leal Situa-se entre a fidelidade este da reconstrução exegética e à liberdade da mera associação.
A mesma não pode ser demonstrada -, mas pode dar-se com base na validade canônica do texto. Ou seja, a
lealdade pode se dar quando a função eclesiológica do texto é aceita: ele é para a igreja ou meio constitutivo
c) A lealdade não parte de uma
e único do eclesiologicamente indispensável reportar-se a Jesus Cristo. Por causa disso, o texto tem para ela
suposta exigência do texto ao
uma primazia de autoridade histórica. Esta não ser expressa como exigência demonstrável por determinados
intérprete
métodos, mas como encargo ao intérprete. Lealdade significa o respeitar livre e apropriado dessa
validade anterior.
Significa, portanto: o intérprete (como intérprete) só está livre da vinculação em nível de conteúdo com o
d) Lealdade texto a ser interpretado na medida em que a situação dada ou torne necessário. Por isso, o dever de lealdade
é dado por princípio - mas ele está em tensão com a necessária liberdade.
Significa poder antes esperar pelo kairós de um texto do que descartá-lo precipitadamente, ser capaz de
e) Procedimento leal
autocrítica sobre o modo de lidar com ele e disposição para partilhar com outros para fazer-lhe justiça.
Fonte: Adaptado de BERGER (1999, p.197-198).
Zanatiero (2011) nos respalda a entender que em uma “tradição normativa” se procura
transmitir os conteúdos a fim de garantir-se contra desfigurações e falsificações,
bem como buscar as atualizações indispensáveis (quando necessária). Tal modelo de
interpretação entende a validade de uma tradição normativa dada anteriormente
e está, quase sempre, em função de sua aplicação como autoridade. Apesar disso,
quando um contexto de compreensão dado de antemão e, até então evidente, por uma
ou outra razão é questionado, surgem novas colocações hermenêuticas, as quais por
sua vez, exigem novas conexões com a tradição quebrada. Ainda continua:
55
UNIDADE II │HERMENÊUTICA D.C
56
HERMENÊUTICA D.C │UNIDADE II
Interpretação
Sensibilidade interpretativa
Desta maneira, Berger (1999, p.29) cita algumas medidas necessárias que devem ser
consideradas neste contexto:
57
UNIDADE II │HERMENÊUTICA D.C
Inculcar a Como alvo ético mais importante da pedagogia, para despertar um senso de
Sensibilidade justiça e proporcionalidade, a coragem e a paixão.
Como reflexão constante sobre a relação entre realidade, ação e aquilo que
Atenção e vigilância poderia ser necessário fazer de novo em cada momento (“ a vontade de deus em
cada situação”).
Outras pessoas em solidariedade crítica para com elas; ao que tudo indica um
- critério importante para uma potencial aprovação “pública” é se pessoas bem
diferentes de posições bastante divergentes podem concordar.
58
CAPÍTULO 3
Falácias exegéticas
De acordo com Carson (2001), a falácia do radical, um dos erros mais comuns, concebe que
toda palavra realmente tem um sentido que se liga à sua forma ou a seus componentes. Dessa
maneira, o significado é verificado pela etimologia, isto é, pela raiz ou raízes de uma palavra [...].
A busca de significados ocultos somada à etimologia torna-se ainda mais grotesca quando duas
palavras com significados totalmente díspares dividem a mesma etimologia. O autor acrescente
que é preciso deixar claros três pontos?
1. A falácia do radical
1) Não significa que qualquer palavra pode significar qualquer coisa.
Esta falácia ocorre quando um significado mais atualizado de alguma palavra é conduzido para a
bibliografia antiga. No nível mais simples, isso ocorre dentro de um mesmo idioma, de igual modo
2. Anacronismo aos pais da igreja primitiva grega, utilizavam-se uma palavra de uma forma não comprovadamente
semântico imaginada por aqueles que escreveram o Novo Testamento [...]. Isto não é simplesmente uma
reprodução da velha falácia do radical. Mas pior: é uma reivindicação de um tipo de etimologia
reversa, uma falácia do radical combinada com o anacronismo.
Esta falácia, em alguns aspectos, é a imagem elucubrada pelo anacronismo semântico.
Neste caso, o intérprete atribui a uma determinada palavra de seu texto uma definição que o
termo tratado costumava ter em tempos passados, porém, não mais encontrado dentro de um
3. Obsolescência
campo semântico hodierno da palavra; isto é, o significado é semanticamente obsoleto.
semântica Em suma, pode-se dizer que as palavras alteram o significado ao longo do tempo. Atualmente, é
conhecido que a força dos sufixos diminutivos já havia sido amplamente dissipada na época em
que o Novo Testamento foi escrito.
4. Reivindicação Existem diversos exemplos nesta quarta falácia. Alguns se originam de análises escassas, talvez
fornecendo créditos estranhos sem a devida averiguação das fontes originais; outros nascem do
de significados
anseio de legitimar certa interpretação, fazendo com que automaticamente o estudioso deixe de
desconhecidos ou ser imparcial. Em alguns casos, um sentido intrinsecamente improvável ou mal examinado recebe
improváveis uma defesa delineada, podendo até firmar-se na igreja.
Ainda que os limites desta quinta falácia sobreponham-se aos da quarta, até certo ponto eles são
5. Negligência no uso de
mais amplos. Pode haver um uso inadequado de material de apoio não envolvendo um sentido
material de apoio intrinsecamente improvável.
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UNIDADE II │HERMENÊUTICA D.C
Samuel Sandmel elucidou o termo paralelomania para designar a intenção a qual muitos do
setor de estudos bíblicos têm a aludir “paralelismos” de valor duvidoso. Uma subdivisão é a
6. Paralelomania verbal
paralelomania verbal — onde a enumeração de paralelismos verbais de alguma obra literária
como se esses meros fenômenos demonstrassem elos conceituais ou mesmo dependência.
O cerne desta falácia é a suposição de que qualquer língua limita de tal forma os métodos
7. A associação entre
mentais de seus nativos, forçando as pessoas a ter certos padrões de pensamento a fim de se
língua e mentalidade proteger de terceiros.
8. Falsas pressuposições Aqui o intérprete conjectura incorretamente que uma palavra sucessivamente ou quase sempre
sobre significados possui uma determinada definição técnica — um sentido comumente proveniente de uma
técnicos subdivisão da evidência ou ainda da teologia sistemática interpessoal do leitor.
Há duas falácias principais e relacionadas. A primeira surge do fato de que os termos Sinonímia
e equivalência são tão pouco compreendidos por muitos de nós que nem sempre distinções
adequadas são mantidas. A falácia é a crença injustificada de que “sinônimos” são idênticos de
formas mais variadas do que a evidência permite. Já no segundo, tipo de estudo que tenta isolar
9. Problemas envolvendo os componentes do significado (isto é, os componentes semânticos) de palavras (em geral). No
caso de muitas palavras, a lista de “componentes” semânticos toma-se de fato muito extensa e
sinônimos e análise de
problemática. Além disso, não há nenhum procedimento unânime para a análise de termos quanto
componentes a seus componentes; portanto, diferentes estudiosos às vezes chegam a resultados bastante
desiguais — o que não é muito animador. Mas, mesmo quando duas análises de um termo estão
de acordo, normalmente não se tenta alistar todos os elementos cabíveis no significado da palavra
em questão, já que em geral a análise de componentes apresenta somente os elementos do
significado referencial.
11. Disjunções e Não são poucos os estudos vocabulares que oferecem ao leitor alternativas do tipo “e/ou” e
restrições semânticas então forçam uma decisão. Em outras palavras, exigem uma disjunção semântica, quando talvez a
injustificadas complementação fosse possível.
Neste caso, a falácia está na suposição de que o significado de uma palavra em determinado
13. Adoção injustificada
contexto é muito mais amplo do que o contexto em si permite, podendo trazer consigo todo o
de um campo semântico
campo semântico do termo em questão. “Às vezes, esta medida é chamada-transferência ilegítima
expandido da totalidade”.
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HERMENÊUTICA D.C │UNIDADE II
Há uma extensa série de questões difíceis que podem ser agrupadas sob esse título e uma
lista correspondente de falácias. Os tipos de problemas que Carson tem em mente podem
ser revelados fazendo-se algumas perguntas retóricas: até que ponto o vocabulário do Novo
14. Problemas relativos Testamento grego é configurado pelas línguas semíticas que, presume-se, dão-lhe a base de
ao contexto semítico do longos trechos (especialmente os evangelhos e trechos de Atos)? Até que ponto o campo
Novo Testamento grego semântico normal das palavras do Novo Testamento grego é alterado pelo impacto dos
antecedentes semíticos pessoais de algum escritor do Novo Testamento, por sua leitura do Antigo
Testamento hebraico, quando pertinente, ou pela influência indireta do Antigo Testamento hebraico
sobre a Septuaginta, que por sua vez influenciou o Novo Testamento?
15. Negligência
injustificada de Neste caso, a falácia está na falsa suposição de que o uso predominante de qualquer palavra
particularidades em um dos escritores do Novo Testamento é basicamente o mesmo em todos os outros; quase
distintivas de um grupo nunca isso acontece.
de palavra
Referência ou denotação é a representação de alguma entidade não linguística por meio de um
16. Associação símbolo linguístico. Nem todas as palavras são referenciais. Contudo, o sentido ou significado
injustificada de sentido de uma palavra não é seu referente, mas sim o conteúdo mental com o qual esse termo está
e referência associado. Algumas palavras, notavelmente os adjetivos abstratos, têm significado, mas nenhum
referente (e,g., “belo”).
Fonte: Adaptado de CARSON (2001, p.26-60).
Podemos, ainda sim, nos depara com alguns problemas interpretativos, os quais nos
são válidos ter em mente:
61
UNIDADE I │PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO
62
PANORAMA CONCEITUAL HERMENÊUTICO│ UNIDADE I
Apesar de o assunto ainda ser polêmico, não pode haver dúvida de que o padrão de uso, tanto
nos Estados Unidos como em outros países, mudou um pouco em relação à inclusão, quando se
quer alcançar homens e mulheres ou quando estes estão em vista [...]. A fim de evitar a exclusão
das mulheres em passagens também voltadas a elas ou a pessoas em geral, alguns consideram
necessário pluralizar certas passagens que estão expressas no singular (embora isso, em geral,
não seja relevante). Muitas vezes, “pluralizar” não é algo particularmente prejudicial, sendo o
6. Questões de gênero.
problema muito mais uma questão de se adaptar à mudança na gramática da língua-alvo. Em
sentenças declarativas que começam com “se alguém” ou “quem” ou “quando alguém”, a regra
que aprendemos no período escolar era que esses pronomes devem ser seguidos por um pronome
no singular, naturalmente sempre no masculino. Mas essa regra não era seguida por todos, pois se
verifica que vários autores bem conhecidos do século XIX frequentemente usaram em seus romances
sentenças como essas seguidas de pronomes no plural (os, as).
Falácias gramaticais
»» A morfologia é simplificada.
Contudo, o que nos importa na prática é o fato que a gramática da época do grego
clássico, parcialmente mais estruturada, não pode ser esboçada de uma só vez de
maneira fidedigna ao Novo Testamento grego. Os resultados das maiores descobertas
papirológicas que ressaltam os estudiosos do Novo Testamento para este fato foram
largamente difundidos particularmente ao final do século passado.
63
UNIDADE II │HERMENÊUTICA D.C
O que nos importa é que os comentários técnicos sobre o texto do Novo Testamento
grego, os quais foram escritos muito antes deste período, são falíveis em diversos pontos
gramaticais.
Há cerca de vinte anos, Frank Stagg escreveu um artigo sobre o uso inadequado do aoristo. Stagg via um
problema no fato de que, a partir da presença de um verbo no aoristo, estudiosos competentes estavam
deduzindo que a ação referida era “definitiva” ou “completa”. A dificuldade surge em parte porque o aoristo é
frequentemente descrito como o tempo pontilear. Gramáticos cuidadosos, claro, entendem e explicam que isto
não significa que o aoristo poderia ser usado apenas para ações pontuais. Afinal, o nome aoristo é adequado:
é a-oristo, sem lugar, indefinido. Ele simplesmente refere-se à ação em si, sem especificar se é única, repetida,
ingressiva, instantânea, passada ou completa. Já os melhores gramáticos compreendem bem isto e usam o
O tempo aoristo termo pontilear de maneira muito semelhante à de um matemático com relação ao termo ponto em geometria
— para se referir a um local sem dimensão. A principal razão pela qual o tempo aoristo pode, em suas relações
com contextos específicos, expressar uma imensa variedade de tipos de ação é justamente o fato de ser
mais maleável que os outros tempos verbais. Ele tem uma estrutura semântica menos definida — isto é, seu
valor semântico não-marcado é simplesmente a ação do verbo. Devemos apenas lembrar que o rótulo aoristo
constativo não pretende transmitir os resultados de informações morfológicas ou mesmo de informações
semânticas, que são atributos exclusivos do próprio verbo no aoristo, mas sim de informações semânticas
próprias do verbo no tempo aoristo em sua relação com o restante daquele contexto em particular.
Começamos pela seguinte pergunta: o que é um subjuntivo deliberativo? Quando ele é usado?
Tradicionalmente, a resposta é que o subjuntivo deliberativo é o emprego da primeira pessoa (singular ou plural)
do subjuntivo em orações interrogativas que tratam do que é necessário, desejável, possível ou duvidoso. Deve-
se decidir a respeito do curso apropriado da ação; às vezes, a pergunta é retórica; outras vezes, espera-se uma
resposta. A definição típica de subjuntivo deliberativo (e há diversas variações) de fato abrange três categorias
bastante distintas. O verdadeiro deliberativo, como o subjuntivo hortativo, é intramural — isto é, a primeira
pessoa (singular ou plural) indicada pelo sujeito do verbo faz uma pergunta que deve ser respondida por ela
mesma. O dono da vinha pergunta a si próprio: “Que farei?” (Lc 20.13), e o resultado dessa deliberação é sua
A primeira pessoa do própria resposta, expressa na decisão de enviar seu filho. Há somente sete casos deste verdadeiro subjuntivo
aoristo do subjuntivo deliberativo no Novo Testamento.
A segunda e terceira categorias são pseudodeliberações. O sujeito na primeira pessoa do subjuntivo não faz a
pergunta para si mesmo — o que seria um verdadeiro subjuntivo deliberativo; ou ele fala com um interlocutor,
esperando uma resposta direta (subjuntivo pseudodeliberativo de pergunta direta), ou então simplesmente faz a
pergunta como recurso para introduzir uma declaração, sem haver nenhuma sugestão de deliberação ou de que
ele está buscando uma resposta de outra pessoa (subjuntivo pseudodeliberativo retórico). E três, existe ainda
muito território gramatical a ser vencido, os resultados podem ser exegeticamente proveitosos e, entretanto, não
poucas categorias gramaticais tanto ocultam quanto revelam.
A falácia mais comum ligada à voz média é a suposição de que praticamente todo ponto em que ela ocorre é
reflexivo ou sugere que o sujeito age por si só. E claro que os gramáticos competentes não são tão ingênuos,
A voz média
mas ainda assim esta falácia tem aparecido em muitas obras e, normalmente, surge com o propósito de
sustentar alguma doutrina preferencial.
Fonte: Adaptado de CARSON (2001, p.65-73).
64
HERMENÊUTICA D.C │UNIDADE II
Falácias lógicas
Ainda em Carson (2001), temos quatro sentidos em que a palavra lógica é usada:
Neste último sentido, pode uma lógica confrontar outra, tal como a lógica do comunismo
e a lógica do capitalismo as quais concorrem em diversos níveis. Desta maneira, vejamos
algumas falácias lógicas interpretativas que o autor nos traz:
2. Deixar de Um bom exemplo desta falácia — aquela que argumenta que, por serem semelhantes em certos aspectos,
reconhecer distinções eles são semelhantes em todos os aspectos.
De forma geral, quanto mais complexa e/ou sentimental a questão, maior a tendência de selecionar somente
3. Uso de evidência parte da evidência, construir precipitadamente uma grade e então filtrar através dela o resto da evidência
seletiva despojada de qualquer substância. E preciso imparcialidade, juntamente com um desejo maior de fidelidade do
que de originalidade na interpretação das Escrituras.
4. Uso inadequado de A falácia consiste em achar que certos argumentos são bons, quando uma breve reflexão mostra que não têm
silogismos valor algum.
A falácia consiste em alguém acreditar que a experiência e a interpretação da realidade individuais de uma
5. Confusão de pessoa são a estrutura adequada para se interpretar o texto bíblico; na verdade, porém, se examinarmos além
cosmovisões do nível superficial, pode haver diferenças tão profundas que descobrimos que estão sendo usadas diferentes
categorias, e a lei do termo médio excluído pode ser aplicada.
65
UNIDADE II │HERMENÊUTICA D.C
Esta é uma subdivisão da falácia anterior. A pergunta: “Quando você parou de bater em sua mulher?” pode
6. Falácias de estrutura provocar sorrisos, porque impinge uma situação desconfortável sobre o homem a quem a pergunta é dirigida.
interrogativa Se ele nunca bateu em sua mulher, uma indagação sobre quando parou é irrelevante. Aquele que fez a
pergunta impôs seu entendimento da situação à pessoa a quem a pergunta é feita.
7. Confusão
Às vezes, a veracidade das Escrituras é depreciada devido à sua demonstrável imprecisão. Contudo, é uma
injustificada entre
falácia confundir essas duas categorias ou achar que há algum tipo de vínculo entre os dois conceitos.
verdade e precisão
8. Apelos puramente É claro que não há nada intrinsecamente errado com a emoção. A falácia está na crença de que a emoção
emotivos pode substituir a razão ou tem valor lógico.
9. Generalização
Neste caso, a falácia consiste na crença de que uma proposição particular pode ser generalizada apenas
e demasiada
porque se adapta ao que queremos que o texto transmita, ou na crença de que um texto diz mais do que na
especificação verdade diz.
injustificadas
Se uma proposição é verdadeira, isto não significa necessariamente que uma inferência negativa a partir dessa
10. Inferências proposição também seja verdadeira. A inferência negativa pode ser verdadeira; mas isto não deve ser tomado
negativas como certo, e em qualquer caso ela nunca é verdadeira porque é uma inferência negativa. Isto pode ser
facilmente demonstrado de forma silogística,
11. Inferências Ela ocorre quando uma palavra ou expressão desencadeia uma ideia, conceito ou experiência associados que
injustificadas não têm nenhuma relação direta com o texto em questão, mas mesmo assim são usados para interpretá-lo.
É surpreendente a frequência com que livros ou artigos dão informações falsas; e se nos basearmos demais
em tais obras, nossa exegese será mal direcionada. Até mesmo eruditos que geralmente são cuidadosos
12. Falsas declarações
cometem erros, às vezes porque se baseiam em fontes secundárias incertas, outras porque a própria memória
os enganou.
Este caso diz respeito a conclusões que “não seguem” da evidência e dos argumentos apresentados. Há muitas
formas, com frequência facilmente apresentadas pelos silogismos que já construí diversas vezes neste capítulo;
13. O non sequitur
mas há diversos exemplos que parecem ser o resultado de pensamentos confusos ou falsas premissas que não
são fáceis de analisar.
Neste caso, a falácia consiste em pensar que o argumento de um opositor já foi realmente discutido, quando na
14. Rejeição arrogante
verdade foi apenas colocado de lado.
15. Falácias baseadas
Com este título geral, Carson se refere a argumentos que não podem ser considerados errados, mas que
em argumentações
mesmo assim são imperfeitos, equívocos, insatisfatórios, Eles alegam proferir mais do podem.
equívocas
A falácia aqui está na suposição de que determinada analogia esclarece um texto ou tema bíblico quando, na
16. Analogias verdade, ela é comprovadamente inadequada ou imprópria. Analogias sempre incluem elementos tanto de
inadequadas continuidade quanto de descontinuidade junto com o que se propõem a explicar; mas para que uma analogia
seja de alguma forma válida, os elementos de continuidade devem predominar no momento da explicação.
17. Uso impróprio E perfeitamente adequado que um comentarista use expressões como “obviamente”, “nada pode ser mais
evidente” ou algo assim, quando ele já dispôs evidências tão irrefutáveis que a grande maioria dos leitores
de expressões como
concordaria que o assunto abordado é evidente ou que o argumento é logicamente conclusivo. Contudo, é
“obviamente” e outras impróprio usar tais expressões quando argumentos opostos ainda não foram refutados definitivamente, e é uma
semelhantes falácia achar que as expressões em si acrescentam algo significativo à argumentação.
Pode-se reivindicar a autoridade de ilustres eruditos, pastores respeitados ou autores célebres, a opinião da
maioria e várias outras. A falácia consiste na crença de que recorrer à autoridade de outros justifica determinada
18. Reivindicações interpretação de um texto; na verdade, porém, a menos que as razões de tal autoridade sejam expostas, a
simplistas de única coisa que tais reivindicações demonstram é que o escritor está sob a influência daquela autoridade
autoridade importante! O máximo de contribuição que isso pode dar a um argumento é o empréstimo da reputação geral
da autoridade para apoiá-lo; mas isso é mais um tipo de referência de caráter acadêmico do que uma defesa
ou explanação refletida.
Fonte: Adaptado de CARSON (2001, p. 88-116).
66
HERMENÊUTICA D.C │UNIDADE II
Quando se fala em falácias históricas, o próprio Carson aduz que o ideal a ser feito
é ler David Hackett Fischer; os que se interessam em falácias de pressupostos
devem estudar de modo extremamente aprofundado epistemologia, a fim de
atingir minimamente uma abrangência satisfatória.
Contudo, veremos algumas, uma vez que elas exercem um importante papel na exegese
bíblica. A exegese envolve uma linha de pensamento e argumentação sistematizada;
uma vez que onde houver tal raciocínio sistematizado, aí também encontraremos
falácias de pressupostos (CARSON, 2001).
Vamos a elas:
Falácias de motivação podem ser consideradas uma subdivisão das falácias causais. A proporção mais
alta de falácias de motivação surge hoje em alguns estudos radicais da crítica da redação do Novo
Testamento. Cada mudança de redação deve ter uma razão subjacente; assim, gasta-se muita energia
Falácias de motivação
criativa para apresentar tais razões. Elas são muito difíceis de refutar mas, com exceção dos casos onde
o próprio texto fornece evidências ricas e inconfundíveis, raramente essas razões são algo mais do que
meras especulações.
A paralelomania conceitual é atraente para aqueles que fizeram estudos avançados em um campo
Paralelomania especializado, mas que não têm mais do que um sério conhecimento de escola dominical das Escrituras.
conceitual Muitos especialistas que caem nessas falácias são cristãos sinceros que querem relacionar a Bíblia à sua
disciplina.
Falácias que surgem da
falta de distanciamento
A mais óbvia destas é a transferência de uma teologia pessoal para o texto.
no processo
interpretativo
Há muitos. Nossas definições modernas de “parábola” ou “alegoria” podem não ser exatamente o que os
escritores antigos queriam dizer com esses termos. A nova hermenêutica estabeleceu muito de sua teoria
Problemas relativos ao
estudando parábolas, as quais, nas mãos de Jesus, muitas vezes pretendiam tanto chocar e “interpretar” o
gênero literário ouvinte para si mesmo tanto quanto ser interpretadas por ele; mas as teorias funcionam bem menos em
um tratado ou discurso.
Problemas relativos Estes incluem a natureza da autoria do Antigo Testamento quando a correlação é tipológica, o risco de
ao uso que o Novo uma reivindicação puramente fideísta nas passagens difíceis, a questão de a citação pretender ou não (e
Testamento faz do quando) trazer consigo o contexto do Antigo Testamento e muito mais. Todos esses problemas provocam
Antigo falácias de vários tipos.
67
UNIDADE II │HERMENÊUTICA D.C
Os eruditos geralmente reconhecem que os argumentos a partir do silêncio são fracos; mas são mais
Argumentos a partir do
fortes se podemos alegar que, em qualquer contexto particular, poderíamos ter esperado comentários
silêncio adicionais por parte do falante ou narrador.
Podem existir falácias relacionadas não só ao modo pelo qual versículos isolados são interpretados, mas
Problemas relativos à
também ao modo pelo qual diversas passagens são associadas — e então igualmente à maneira como
justaposição de textos uma associação dessas afeta a interpretação do próximo versículo examinado.
Muitas avaliações estatísticas são estruturadas em parte por decisões da crítica da redação que dependem
de números — a frequência com que certa palavra ou expressão aparece em um corpo literário
Problemas relativos a
específico, se aparece em um texto não ambíguo ou em algum outro lugar, e assim por diante. Contudo,
argumentos estatísticos há muitas falácias metodológicas ligadas a argumentos estatísticos, falácias das quais muitos eruditos do
Novo Testamento estão apenas vagamente conscientes.
O surgimento do Uma nova geração de falácias vem sendo criada à medida que esta disciplina relativamente jovem é
estruturalismo aplicada aos estudos bíblicos.
Problemas na distinção E muito comum encontrarmos interpretações que tomam o literal pelo figurado ou vice-versa. A teologia
entre o figurado e o de algumas seitas depende de tais leituras errôneas. James W. Sire enfatiza que a Ciência Cristã apresenta
literal interpretações figuradas de um grande número de palavras
Fonte: Adaptado de CARSON (2001, p.127-130).
68
CAPÍTULO 4
Hermenêutica contemporânea
Uma leitura obvia não é leitura bíblica. Os olhos passam pelos versos e
as sentenças voam pela mente, mas não é uma leitura verdadeira. Um
velho pregador costumava dizer que a palavra hoje em dia tem um curso
livre e poderoso, pois entra em um ouvido e sai pelo outro; as pessoas
podem ler muito, mas na verdade não leram nada (SPURGEON, 2010,
p. 70).
Destaca-se aqui que, para este pregador e pensador cristão, a pessoa que lê sem interpretar
na verdade não lê. Para Spurgeon, a leitura da Bíblia é um ato de interpretação. Esta
abordagem está em acordo com o conceito lexical de leitura.
Muito do véu que cobre as Escrituras não tem a finalidade de esconder o significado
daquele que é diligente, mas sim, tem como objetivo estimular a mente a ser produtiva,
pois a diligência do coração na ânsia por conhecer a mente divina faz com que ele seja
aperfeiçoado, sendo isto melhor do que o conhecimento em si mesmo (SPURGEON,
2010, p. 70).
69
UNIDADE II │HERMENÊUTICA D.C
Métodos contemporâneos
Exemplificando como isso funciona na prática, o texto que fala da fuga de José para o
Egito, como também o texto do profeta Oséias em seu respectivo contexto. O profeta
vaticina: quando Israel era menino, eu o amei e do Egito chamei meu filho (Os 11. 1 -
Almeida Revista e Atualizada).
Aprofundando-se no contexto de Oséias, ali indica que Israel é comparado a uma vide
luxuriante. Tal comparação remonta à fala profética que compara Israel com uma
vide plantada por Deus. Como na mensagem de Jeremias: “eu mesmo te plantei como
vide excelente, da semente mais pura, como, pois te tornaste para mim uma planta
degenerada, como vide brava?” (Jr 2. 21 ARA).
Deus plantou Israel, mas Israel não deu os frutos esperados (Is 5. 1 – 7; Lc 13. 6 – 9).
Estes relatos mostram que onde Israel, o filho de Deus errou, Jesus, o Filho do Deus
vivo triunfou, por meio de sua obediência até a morte (Fp 2. 6 – 11). Por este motivo
ele exclama: “Eu Sou a videira verdadeira, e o meu pai é o agricultor” (Jo 15. 1 ARA).
Desta forma, este tipo de interpretação resolve alguns problemas entre Velho e Novo
Testamento sem ter de recorrer às alegorizações e tipologizações das escolas de
interpretação primitivas e da Hermenêutica medieval. O resultado é que Jesus cumpre
as expectativas depositadas outrora sobre Israel.
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HERMENÊUTICA D.C │UNIDADE II
Podemos ver que o conceito de ideologia é primordial na arte da suspeita, visto que ele
permite identificar quando uma exegese que segue todas as formalidades das teologias
ortodoxas é instrumentalizada para mascarar uma realidade, ou encobrir a situação de
opressão. Porém nem tudo é tão simples quanto parece.
Profecias
Jesus afirmou ser o Único Caminho que leva ao Pai, muitos teólogos argumentam que
antes da vinda do Messias, o que salva é a fé em vinda (profética) do Messias. O que
para uns a Lei justificava e salvava, para outros o sendo o cumprimento completo da Lei
impossível segue-se que todos pereceram mesmo sendo justificados pela Lei.
Como este não é ponto (discorrer sobre a salvação do Antigo Testamento), foquemo-
nos ainda dentro deste contexto, nas profecias.
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UNIDADE II │HERMENÊUTICA D.C
a. As palavras dos profetas devem ser aceitas no sentido literal usual a não
ser que o contexto o modo do qual foram cumpridas indiquem claramente
que tenha um significado simbólico.
Pacto
No século XX, muitas pesquisas foram feitas para com assuntos concernentes aos pactos
bíblicos, os quais descobriram, na literatura antiga do Oriente Próximo, principalmente
na literatura e hitita, dois tipos principais de pactos.
De acordo com Stein (1999), a diferença entre eles vai depender da relação dos
envolvidos. Se a relação envolve igualdade (como em I Sm 18.3; I Rs 5.12), resulta-se
em um pacto de “paridade”. Neste tipo de pacto, ambas as partes concordam entre si,
obedecendo às mesmas cláusulas gerais básicas. Outra forma é denominada pacto de
“suseranato”.
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HERMENÊUTICA D.C │UNIDADE II
São as obrigações e responsabilidades de grupos inferiores, envolvendo coisas, como: proibição das relações
Cláusulas gerais estabelecidas e tratados com outras nações (“Não terás outros deuses diante de mim” — Êx 20.3); apoio ao
básicas suserano; obrigação de odiar os inimigos; várias proibições e ordens semelhantes. Estas obrigações não eram
condições para associar-se ao pacto, mas para viver o pacto. A principal estipulação envolvia lealdade ao suserano.
Prescrição de
lembrança Esta era projetada para assegurar a familiaridade com o pacto através do povo e de seus descendentes.
contínua
Relação de Frequentemente, o suserano apelava para os deuses (conforme no Antigo Testamento, “céu e terra”) como testem
testemunhas unhas para o estabelecimento do pacto.
Bênção e
São contingentes sobre a obediência ou desobediência dos súditos.
maldição
Juramento Os súditos juram lealdade ao pacto e às suas obrigações.
Fonte: Adaptado de STEIN (1999, p.202-203).
Lei
Gênesis...................Bereshit – תישארב
Êxodo......................Shemót – תומש
Levítico....................Vayikrá – ארקיו
Números..................Bamidbar – רבדמב
Deuteronômio..........Devarim – םירבד
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UNIDADE II │HERMENÊUTICA D.C
As leis da Bíblia têm sido classificadas, de acordo com suas formas, em dois
tipos: leis casuísticas e leis apodíticas. O padrão é uma lei caso por
caso, cujo procedimento é o seguinte: “Se A ocorre, então B terá a mesma
consequência”. Lei casuística geralmente envolve assuntos do tipo material ou
civil. Lei apodítica, contudo, é declarativa e categórica. Tende a compreender
proibições, mandamentos e instruções. Estas leis são frequentemente inábeis
e tendem, na realidade, a ficar no âmbito religioso. A maior parte das leis
do antigo Oriente Próximo tendem a ser casuísticas. Isto também é verdade
com relação ao Antigo Testamento [...]. Outra distinção feita frequentemente
entre as várias leis nem ao menos envolvem a forma ou o conteúdo delas.
Estas são, frequentemente, divididas em três classes: leis éticas (como os
Dez Mandamentos — Êx 20.1; 34.27,28; Dt. 4.13; 10.4); leis de veneração
(como as leis rituais que envolvem sacrifícios, qualificações para obediência
sacerdotal, proibição de comidas impuras etc.) e leis civis (penalidades para
crimes, regulamentos de herança etc). Pelo fato de o Antigo Testamento não
fazer uma distinção explicita, muitas pessoas não têm concordado com esta
divisão tripla, pois tais leis sobrepõem tal classificação. As leis que regulavam
a doença e a purificação
(Lv 13—15) eram leis de veneração ou civil? Ou eram ambos? Pelo fato de
envolverem sacerdotes e sacrifícios, não é fácil determinar. Porém, a distinção
entre as dimensões éticas, de veneração e civil das leis, é a base da distinção
feita no Novo Testamento. Jesus observou a distinção entre a dimensão de
veneração e ética da lei
O autor ainda nos lembra da importância de nos atentarmos para alguns pontos
importantes, segundo seu ponto de vista, quando na interpretação das leis bíblicas. Em
primeiro lugar:
Com isto lembra-nos da famosa frase: “não obedeço para ser salvo, mas porque estou
salvo obedeço”.
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Ele explica:
É certo que a autoria do Pentateuco é atribuída a Moisés, mas existem três diferentes
redações do Pentateuco:
1. A judaica.
2. A samaritana.
3. A grega.
»» Onkelos (Targum).
»» Rashbam.
»» Baal Haturim.
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»» As do Talmud e do Midrash.
Não vamos nos aprofundar na Torá, tampouco na hermenêutica das leis mosaicas, as
quais, conforme a tradição judaica, o profeta Moisés explicou a Torá em 70 idiomas. No
entanto, para o aluno dedicado, o aprofundamento da Torá é útil para si e para o ensino
das Escrituras em todos os aspectos.
Salmos
Certamente, cada salmo bíblico deve ser estudado por completo, uma vez que pode ser
usado de diferentes formas, dentro de um mesmo cabeçalho. Muito remetem a Davi
sendo o único escritor de Salmos, isto não é verdade. Moisés, Salomão, Asafe e outros
escreveram alguns também. Se for “lamed de autoria”, é certo que temos algumas
tradições que remetem a:
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»» Salmos de Lamentações.
»» Salmos de Realeza.
»» Salmos de Peregrinos.
»» Salmos de Entronização.
»» Salmos de Sabedoria.
Existe um consenso bastante sólido com relação à originalidade dos salmos. O texto
em hebraico envie seu original, está preservado no Texto Massorético (TM), o qual
evidentemente é o tipo superior de texto, dados suas características de autenticidade
em seus contextos.
A tradução grega é extremamente útil por conta do significado dos versos e seus
respectivos contextos. Ao invés de preservar o original rude, geralmente eles sua vida
as dificuldades, utilizando-se de palavras familiares ou palavras genéricas em lugar de
específicas, esclarecendo, com isto, estruturas complexas.
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Para (não) finalizar
»» Método lógico-sistemático.
»» Método histórico.
»» Método teleológico.
»» Método sociológico.
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PARA (NÃO) FINALIZAR
Links úteis:
A Hermenêutica de Calvino
A Hermenêutica de Lutero
A Hermenêutica de Agostinho
Disponível em:
<http://revistas.pucsp.br/index.php/culturateo/article/view/15389/11495>.
A Hermenêutica de Paulo
Disponível em:
<http://www.scielo.org.ve/scielo.php?pid=S1315-52162009000400004&script=sci_
arttext>.
79
PARA (NÃO) FINALIZAR
Disponível em:
<http://www.napec.org/apologetica/hermeneutica-e-exegese/>.
Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/hermeneuticas/hermA_01.pdf>.
Disponível em:
<http://www.teologiacontemporanea.com.br/index.php?pg=dinamic-
subcontent&&id=120>.
Regras hermenêuticas
Disponível em:
<http://www.cacp.org.br/hermeneutica/>.
Disponível em:
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PARA (NÃO) FINALIZAR
<http://www.baptistlink.com/creationists/hermeneuticahuckabee.pdf>.
Disponível em:
<http://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/21665/21665.PDF>.
Há, portanto, muito a estudar e como diria Ovídio (43 a.C -18 d.C), Finis coronat Opus2.
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Referências
FEE, Gordon; STUART, Douglas. Entendes o que lês? Um guia para entender a
Bíblia com auxílio da exegese e da hermenêutica. 3. ed. São Paulo: Vida Nova, 2011.
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REFERÊNCIAS
LUND, E; NELSON, C. Hermenêutica. 11. Ed. São Paulo: Editora Vida, 1999.
_____. Hermenêutica e crítica. Trad. Aloísio Ruedell. Ijuí: Editora Unijuí, 2005.
STEIN, Robert. Guia básico para a interpretação da Bíblia. Rio de Janeiro: Casa
Publicadora das Assembleias de Deus, 1999.
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