Você está na página 1de 26

Tertuliano

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Saltar para a navegaçãoSaltar para a pesquisa
Tertuliano

Tertuliano

Nome Quintus Septimius Florens


completo Tertullianus

Nascimento 160
Cartago na província
romanada África

Morte 220 (60 anos)


Cartago na província
romanada África

Tertuliano (em latim: Quintus Septimius Florens Tertullianus; c. 160 —


c. 220 (60 anos))[1] foi um prolífico autor das primeiras fases do Cristianismo, nascido
em Cartago na província romana da África Proconsular.[2] Ele foi o primeiro autor cristão a
produzir uma obra literária (corpus) em latim. Ele também foi um notável apologista cristão
e um polemista contra a heresia.
Ele organizou e avançou a nova teologia da Igreja antiga. Ele é talvez mais famoso por ser
o autor mais antigo cuja obra sobreviveu a utilizar o termo "Trindade" (em latim: Trinitas) e
[a]

por nos dar a mais antiga exposição formal ainda existente sobre a teologia trinitária.[1][3] É
um dos Padres latinos.
Algumas das ideias de Tertuliano não eram aceitáveis para os ortodoxos e, no fim de sua
vida, ele se tornou um montanista.
Vida[editar | editar código-fonte]

Tertuliano

Pouquíssima informação confiável existe sobre a vida de Tertuliano. A maior parte do que
sabemos sobre ele vem de seus próprios escritos.
De acordo com a tradição, ele foi criado em Cartago[4] e acreditava ser o filho de
um centurião romano, um advogado treinado e um padre ordenado. Estas assertivas se
baseiam principalmente em Eusébio de Cesareia na sua História Eclesiástica (livro II, cap
2[5]) e em São Jerônimo, em De Viris Illustribus (cap. 53 [6]).[7] Jerônimo alegou que o pai de
Tertuliano tina a posição de centurio proconsularis no exército romano na África. Porém,
não está claro se esta posição sequer existiu nas forças militares romanas.[8]
Adicionalmente, acredita-se que Tertuliano foi um advogado por causa do uso que ele faz
de analogias legais e de uma identificação dele com o jurista Tertulianus, que foi citado
no "Digesta seu Pandectae". Embora Tertuliano utilize conhecimentos da lei romana em
seus escritos, seu conhecimento legal não é — de forma demonstrável — superior ao que
se esperaria de um romano com educação suficiente.[9] Dos escritos de Tertulianus, um
advogado com o mesmo cognome, existem apenas fragmentos e eles não demonstram
uma autoria cristã. E Tertulianus só foi confundido com Tertuliano muito depois, por
historiadores cristãos.[10] Finalmente, também é questionável se ele era ou não um padre.
Em suas obras sobreviventes, ele jamais se descreve como ordenado[8] pela Igreja e
parece se colocar como leigo em trechos de "Exortação à Castidade" (7.3[11]) e "Sobre a
Monogamia" (12.2[12]).
A África era famosa por ser terra de oradores. Esta influência pode ser percebida no estilo
de Tertuliano, permeado de arcaísmos e provincialismos, suas imagens brilhantes e o seu
temperamento apaixonado. Ele era um estudioso de grande erudição, tendo escrito pelo
menos dois livros em grego. Neles, ele se refere a si mesmo, mas nenhum sobreviveu até
hoje. Sua principal área de estudo era a jurisprudência e sua forma de raciocinar revela
algumas marcas de um treinamento jurídico mais formal.

Conversão[editar | editar código-fonte]


Sua conversão ao cristianismo aconteceu por volta de 197–198 (de acordo com Adolf
Harnack, Bonwetsch e outros), mas seus antecedentes imediatos são desconhecidos,
exceto o que pode ser conjecturado a partir de seus escritos. O evento deve ter sido
repentino e decisivo, transformando de uma vez sua própria personalidade. Ele escreveu
que não podia imaginar uma vida verdadeiramente cristã sem um ato consciente e radical
de conversão:

“ Nós somos da mesma laia e natureza: cristãos são feitos e não nascidos

— Apologia, Tertuliano [13].
Dois livros endereçados à sua esposa confirmam que ele foi casado com cristã.[14]
No meio de sua vida (por volta de 207 d.C.), ele foi atraído pela "Nova profecia"
do Montanismo e parece ter deixado o ramo principal da Igreja. No tempo de Santo
Agostinho, um grupo de "tertulianistas" ainda tinham uma basílica em Cartago que, nesta
mesma época, passou para a Igreja. Não sabemos se esta é apenas uma outra
denominação para os montanistas e se significa que Tertuliano rompeu também com os
[b]

montanistas e fundou seu próprio grupo. Tertuliano tinha um temperamento violento e


enérgico, quase fanático, lutador empedernido e muitos dos seus escritos são polémicos.
Este temperamento, impressionado com o exemplo dos mártires, que o levou à conversão,
permite compreender a sua passagem ao montanismo.
Jerônimo [6] diz que Tertuliano morreu com idade bastante avançada, mas não há outra
fonte confiável que ateste sua sobrevivência além do ano estimado de 220 d.C.. À
despeito de seu cisma com a ortodoxia da Igreja, ele continuou a escrever contra
as heresias, especialmente o Gnosticismo. Assim, através de suas obras doutrinárias que
publicou, Tertuliano se tornou professor de Cipriano de Cartago e o predecessor de Santo
Agostinho que, por sua vez, se tornou o principal fundador da teologia latina.

Obras[editar | editar código-fonte]

Opera omnia, 1598

Podemos dividir o conjunto das suas obras em três grandes grupos:

 Escritos apologéticos (de defesa da fé contra os opositores): Aos pagãos,


Apologeticum (a sua obra mas conhecida), O testemunho da alma, Contra Escápula,
Contra os judeus.
 Escritos polémicos: A prescrição dos hereges, Contra Marcião, Contra Hermógenes,
Contra os valentinianos, O baptismo, Scorpiace, A carne de Cristo, A ressurreição da
carne, Contra Práxeas, A alma.
 Escritos disciplinares, morais e ascéticos: Aos mártires, Os espectáculos, O vestido
das mulheres, A oração, A paciência, A penitência, À esposa, A exortação da
castidade, A monogamia, O véu das virgens, A coroa, A fuga na perseguição, A
idolatria, O jejum, A pudicícia, O manto.

Teologia[editar | editar código-fonte]


Apesar de ser considerado por muitos o fundador da teologia ocidental, a verdade é que
tal designação é exagerada, porque Tertuliano não tem propriamente um sistema
teológico. De facto, para isso faltou-lhe o equilíbrio necessário para organizar os vários
artigos da fé, assim como a preocupação pela coerência, pois não era do seu interesse
conciliar a fé com a razão humana.
A fé e a filosofia[editar | editar código-fonte]
Para Tertuliano, a questão das relações entre a fé e a filosofia nem sequer se colocavam,
pois entre ambas nada existia de comum. A filosofia era vista como adversária da fé, e
os filósofos antigos como patriarcas dos hereges. Para ele, de facto, fé e razão opõem-se,
e podemos encontrar na filosofia a origem de todos os desvios da fé. No entanto, é forçado
a reconhecer que algumas vezes os filósofos pensaram como os cristãos, e denuncia
algumas influências de correntes filosóficas antigas, nomeadamente do Estoicismo.
É bem conhecida a frase "credo quia absurdum". Apesar de ela não se encontrar nos
escritos de Tertuliano, mas apenas algumas semelhantes, ela condensa bem o seu
pensamento acerca da razão. Note-se que o seu significado é não apenas "creio embora
seja absurdo", mas sim "creio porque é absurdo". A verdadeira fé tem de se opor à razão.
A teologia e o direito[editar | editar código-fonte]
Tertuliano era jurista, advogado, e isso se refletiu em sua teologia e em seus escritos de
duas maneiras:

 quanto ao método argumentação:


Nascia na Igreja a procura de uma argumentação precisa e cerrada, sem falhas, à
imagem daquela usada nos tribunais. Foi Tertuliano que usou contra os hereges o
argumento da prescriptio, que mostrava que apenas a Igreja unida
a Roma provinha das origens, enquanto todos os outros teriam surgido depois e
seriam, por isso, falsificadores;
 quanto à linguagem:
Tertuliano introduziu na teologia latina, e na da Igreja em geral, uma série de
termos e conceitos provenientes do direito. Concebeu a vida cristã e a salvação à
semelhança de um processo penal, em que Deus é o legislador, o Evangelho a lei,
quem obedece recebe a compensação, quem desobedece torna-se culpado e é
castigado. Tertuliano introduziu ou consagrou algumas distinções importantes,
como por exemplo a de preceito e conselho evangélico.
A regra da fé[editar | editar código-fonte]
Para Tertuliano, a regra da fé constitui-se como lei da fé. Nos seus escritos
encontramos fórmulas de dois elementos, com menção do Pai e do Filho, e outras
de três, que acrescentam o Espírito Santo. As várias fórmulas apresentadas por
Tertuliano, semelhantes entre si na forma e no conteúdo, mostram a existência
dum resumo da fé próximo do símbolo baptismal.
A Trindade[editar | editar código-fonte]

A "Apologia" de Tertuliano no Códice Balliolensis.

O maior contributo de Tertuliano para a teologia foi a sua reflexão acerca


do mistério trinitário. Criou um vocabulário que passou a fazer parte da linguagem
oficial da teologia cristã. Foi ele que introduziu a palavra “Trinitas”, como
complemento da “Unitas”. Segundo Tertuliano, Pai, Filho e Espírito Santo são um
só Deus porque uma só é a substância, um só estado (status) e um só poder.
Mas, por outro lado, distinguem-se, sem separação, pelo grau, pela forma e pela
espécie (manifestação). Tertuliano introduz assim o termo “pessoa”, (persona),
para significar cada um dos três, considerado individualmente. Este vocabulário
passou a vigorar, até hoje, para referir as realidades trinitárias. No entanto,
Tertuliano deixa transparecer alguma influência subordinacionista. Ao falar da
geração do Filho, sem querer comprometer a sua divindade, admite uma certa
gradação, desde uma fase anterior à criação, em que o Logos de Deus se
contempla a Si mesmo, para passar a contemplar a economia salvífica, e é
engendrado de forma imanente em Deus, até à criação, em que a Palavra se
realiza como tal ao ser proferida. Cristo é, assim, o primogénito do Pai, gerado
antes de todas as coisas, mas não é eterno. O Filho é como que uma porção ou
emanação do Pai.
Tertuliano, apesar de ter dotado a teologia trinitária dum vocabulário preciso, e de
ter procurado a exactidão, não se livrou de algumas ambiguidades e deficiências.
Cristologia[editar | editar código-fonte]
Tertuliano formulou algumas doutrinas relativas à pessoa de Cristo, que haviam de
ser reconhecidas mais tarde em concílios, de tal modo que podemos dizer que a
sua cristologia tem os méritos da sua teologia trinitária, sem os seus defeitos.
Tertuliano afirma com clareza as duas naturezas de Cristo, sem confusão entre as
duas, nem redução de alguma delas. Nisso, proclama já o que mais tarde havia de
ser solenemente afirmado no Concílio de Calcedónia (451).
Mariologia[editar | editar código-fonte]
Na sequência da sua cristologia, Tertuliano acentua que Maria deu realmente à luz
o Verbo Encarnado. Reconhece que ela era virgem quando concebeu mas, para
lutar contra a cristologia doceta, que defendia que o nascimento de Jesus tinha
sido apenas aparente, nega a virgindade de Maria no parto e após o parto (pois
isso parecia-lhe dar argumentos ao adversário). Do mesmo modo, entende que os
“irmãos de Jesus” são filhos de Maria.
Apesar de tudo, Tertuliano proclama Maria como a nova Eva.
Eclesiologia[editar | editar código-fonte]
Tertuliano considera a Igreja como Mãe, numa expressão de extremo respeito e
veneração. Tal como Eva foi formada da costela de Adão, também a Igreja teve a
sua origem na chaga do lado de Cristo. A Igreja é guardiã de Fé e da Revelação.
Assim, as Escrituras pertencem-lhe, e só ela mantém o ensinamento
dos Apóstolos e pode transmiti-lo. Esta concepção, do período católico de
Tertuliano, é ortodoxa, e semelhante à defendida por Ireneu de Lyon. Na sua
fase montanista, porém, torna-se visivelmente herege, concebendo a Igreja como
um corpo puramente espiritual, de tal modo que bastam dois ou três cristãos para
que se possa dizer que se manifesta a totalidade da Igreja una. Essa seria a Igreja
do Espírito, oposta à “Igreja dos bispos”. É por esta teoria que Tertuliano,
já herege, substitui a da sucessão apostólica.
A penitência[editar | editar código-fonte]
Tertuliano fornece-nos pormenores importantes acerca da disciplina penitencial da
Igreja, mas a sua teologia da penitência sofre das mesmas contradições e
insuficiências da sua eclesiologia. Mas é o primeiro a descrever concretamente
com clareza o processo e as formas da penitência. Há possibilidade duma nova
conversão após o baptismo, conseguida na sequência duma confissão pública do
pecado. Ao pedir perdão, o pecador usufrui da intercessão da Igreja e recebe
a absolvição final pela pessoa do bispo. Na sua fase católica, Tertuliano mostra
considerar que todo o pecador, por maior que fosse, tinha direito a esta penitência.
Distinção entre pecados, só entre corporais e espirituais, consumados ou de
desejo, mas todos eles podendo ser perdoados através da Igreja. Quando se torna
montanista, porém, passa a considerar alguns pecados irremissíveis, tais como
a fornicação, a idolatria e o homicídio. Isto é um dado novo, sem precedentes na
disciplina primitiva, e testemunha o aparecimento duma facção rigorista, sob a
influência do montanismo. Os católicos argumentavam com a Escritura, mostrando
que Cristo perdoou todos os pecados, mesmo os “irremissíveis”. Tertuliano
responde a isto dizendo que perdoar tais pecados era um poder pessoal e
exclusivo do Salvador, não transmitido à Igreja. Para Tertuliano, por conseguinte,
só Deus perdoa os pecados. Confrontado com a passagem do Evangelhoem que
Cristo concede o poder de ligar e desligar, Tertuliano nega que assim a Igreja
detenha o poder das chaves, pois tal poder foi dado pessoalmente só a São
Pedro, não a todos os bispos. Quando muito, para o Tertuliano montanista, o
poder de perdoar os pecados pertence a “homens espirituais”, não aos bispos.
A Eucaristia[editar | editar código-fonte]
Tertuliano emprega vários nomes para referir a Eucaristia. São contudo poucas as
suas referências explícitas a esse mistério. Ao falar dos sacramentos da iniciação
cristã, diz que “a carne é alimentada com o Corpo e Sangue de Cristo, para que a
alma seja saciada de Deus (De resurrectione mortuorum, 8). Isto manifesta a sua
fé na presença real de Cristo na Eucaristia. O mesmo se torna patente quando
manifesta a sua indignação por alguns se aproximarem indignamente do Corpo do
Senhor.
Tertuliano testemunha também o carácter sacrificial da Eucaristia. Fá-lo ao referir
o temor que alguns tinham de quebrar o jejum ao receberem o pão eucarístico.
Tertuliano refere o costume de levar a espécie eucarística para casa e tomá-la
privadamente. É esta uma das mais antigas alusões à reserva eucarística.
Apesar de algumas palavras ambíguas, Tertuliano manifesta a fé na presença
real, que acontece mediante as palavras da instituição, mas salvaguarda a sua
natureza sacramentalpois refere as espécies como sinal e representação (no
sentido de tornar presente). A fé nessa presença real exprime-se ainda na
condenação daqueles que negam a realidade do corpo crucificado de Cristo, mas
celebram a Eucaristia: tal comportamento é absurdo, pois trata-se da mesma
coisa.
Escatologia[editar | editar código-fonte]
Tertuliano admite a ideia duma penitência da alma após a morte. Somente
os mártires escapam a ela. Todos os outros têm um tempo de espera até ao juízo
final, e só a intercessãodos vivos lhes pode valer. Tal como os milenaristas,
Tertuliano considera que, no fim, os justos, ressuscitados, reinarão durante mil
anos com Cristo. Depois do juízo final, os justos estarão com Deus, enquanto que
os ímpios irão para o fogo eterno.

[ocultar]

Gregório de Nazianzo
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Saltar para a navegaçãoSaltar para a pesquisa
Nota: Para o pai, veja Gregório de Nazianzo, o Velho. Para outros significados,
veja Gregório.

São Gregório de Nazianzo

Gregório de Nazianzo (à direita), acompanhado por outro Padre da


Igreja, João Crisóstomo (à esquerda).

No Ocidente: Patriarca de Constantinopla; Doutor da


Igreja e Padre capadócio
No Oriente: Grande Hierarca e
Professor Ecumênico

Nascimento c. 329[1] em Arianzo,[a] Capadócia


Morte 25 de janeiro de 389 (60 anos)[1] em Arianzo,
Capadócia

Veneração por Igreja Católica


Igreja Ortodoxa
Igrejas ortodoxas orientais

Principal templo Catedral de São Jorge (sede do Patriarcado


Ecumênico de Constantinopla)

Festa litúrgica Igreja Ortodoxa e Igrejas Católicas Orientais:


25 de janeiro (dia principal) e 30 de janeiro
(Três Grandes Hierarcas)
Igreja Católica Latina: 2 de janeiro

Atribuições vestes de bispo como o omofório; segurando


um Evangelho ou rolo. Iconograficamente,
ele aparece calvo com uma grande barba
branca.

Portal dos Santos

Gregório de Nazianzo, ou Gregório Nazianzeno (perto de Nazianzo, Capadócia, Ásia


[a]

Menor, 329 – 389), foi um Patriarca de Constantinopla, teólogo e escritor cristão.


Conhecido também por Gregório Teólogo ou Gregório, o Teólogo, é amplamente
considerado como o mais talentoso retórico da era patrística[2]:21. Como um orador treinado
nos clássicos e um filósofo, ele infundiu o helenismo na igreja antiga[2]:24.
Gregório teve um impacto significativo na formação da teologia trinitária tanto entre os
teólogos latinos como entre os gregos, e é lembrado como o "teólogo trinitário". Muito de
sua obra teológica continua influenciando os teólogos modernos, especialmente no que diz
respeito à relação entre as três pessoas da Trindade. É um dos Padres da Igreja que,
juntamente com seus irmãos Basílio Magno e Gregório de Níssa, são
denominados Padres Capadócios.
Gregório é denominado, pela Igreja Ortodoxa, num testemunho do seu imenso apreço,
pelo cognome "o Teólogo". Para a Igreja Católica, Gregório também é um doutor da Igreja.

Índice

 1Biografia
o 1.1Primeiros anos e educação
o 1.2Sacerdócio
o 1.3Episcopado em Sásima e Nazianzo
o 1.4Gregório em Constantinopla
o 1.5Segundo Concílio Ecumênico e aposentadoria em
Arianzo
 2Legado
o 2.1Pensamento teológico
o 2.2Influência
o 2.3Obras
 3Relíquias
 4Ver também
 5Notas
 6Referências
 7Bibliografia

Biografia[editar | editar código-fonte]


Primeiros anos e educação[editar | editar código-fonte]
Gregório nasceu em Arianzo, perto de Nazianzo, no sudoeste da Capadócia[3]:18. Seus
pais, Gregório e Nona, eram ricos proprietários de terra. No ano de 325, Nona converteu
seu marido (um hipsistariano) ao Cristianismo e ele foi, em seguida, consagrado bispo de
Nazianzo em 328 ou 329[2]:7. O jovem Gregório e seu irmão, Cesário primeiro estudaram
em casa com o tio, Anfilóquio. Gregório seguiu estudando retórica avançada e filosofia em
Nazianzo, Cesareia, Alexandria e Atenas. Nesta última, formou uma forte amizade com
seu companheiro de estudos, Basílio de Cesareia, e também foi apresentado a Flávio
Cláudio Juliano, que depois se tornaria o imperador romano conhecido como Juliano, o
Apóstata[3]:19,25. Em Atenas, Gregório estudou com os famosos retóricos Himério de
Prusa e Proerésio[4]. Ao terminar sua educação, lecionou brevemente em Atenas.
Sacerdócio[editar | editar código-fonte]
Em 361, Gregório retornou a Nazianzo e foi ordenado presbítero por seu pai, que queria
que ele o ajudasse a cuidar da comunidade cristã local[2]:99–102. O jovem Gregório, que
estava considerando a vida monástica, ressentiu-se da decisão de seu pai de forçá-lo a
escolher entre os serviços sacerdotais e uma existência solitária, chamando-a de "ato de
tirania"[5]. Deixando a sua casa após alguns dias, ele se encontrou com o amigo Basílio
em Annesoi, onde os dois viveram como ascetas[2]:102. Porém, Basílio o incitou a voltar para
casa para ajudar seu pai, o que ele fez somente no ano seguinte. Chegando a Nazianzo,
Gregório encontrou a comunidade dividida por diferenças teológicas e seu pai sendo
acusado de heresia por monges locais[2]:p. 107. Gregório então ajudou a resolver a divisão
através de uma combinação de diplomacia pessoal e de sua oratória.
Nesta época, o imperador Juliano tinha se declarado publicamente contra o
cristianismo[2]:ª107. Em resposta à rejeição do imperador pela fé cristã, Gregório
compôs Ofensiva contra Juliano entre 362 e 363. Ofensiva afirma que o Cristianismo irá
superar governantes imperfeitos como Juliano através do amor e da paciência. Esse
processo descrito por Gregório é a manifestação pública do processo de deificação
(theosis), que leva à elevação espiritual e à união mística com Deus[2]:121. Juliano resolveu,
no final de 362, perseguir violentamente Gregório e outros críticos cristãos. Porém, o
imperador faleceu no ano seguinte durante uma campanha contra os persas[2]:125–6. Com a
morte do imperador, Gregório e as Igrejas orientais não estavam mais sob a ameaça
de perseguição, uma vez que o novo imperador Joviano era um cristão declarado e
defensor da igreja[2]:130.
Gregório passou os anos seguintes combatendo o arianismo, que ameaçava dividir a
região da Capadócia. Neste ambiente tenso, Gregório intercedeu em favor de seu
amigo Basílio com o bispo Eusébio de Samósata[2]:138–42. Os dois amigos então entraram
num período de colaboração fraternal muito próxima enquanto participavam da grande
disputa retórica da igreja de Cesareia iniciada pela chegada de talentosos teólogos e
retóricos arianos à região[2]:143. Nos debates públicos subsequentes, presididos por agentes
do imperador Valente, Gregório e Basílio emergiram triunfantes.Esse sucesso confirmou
para os dois que o seu futuro agora residia na administração da Igreja cristã[2]:143. Basílio,
que há muito já demonstrava inclinação para o episcopado, foi eleito bispo
da Sé de Cesareia, na Capadócia, em 370.
Episcopado em Sásima e Nazianzo[editar | editar código-fonte]
Ícone de São Gregório
Afresco da Igreja de São Salvador em Chora (atualmente o Museu Kariye),Istambul, Turquia

Gregório foi consagrado bispo de Sásima em 372[2]:190–5, uma Sé recentemente criada por
Basílio para reforçar sua posição na disputa contra Antimo, bispo de Tiana[4]. As ambições
do pai de Gregório de ver o seu filho subir na hierarquia da Igreja e a insistência de seu
amigo Basílio convenceram Gregório a aceitar esta posição, apesar de suas reservas
pessoais. Gregório iria depois se referir à esta consagração episcopal como tendo sido
forçada sobre ele por seu teimoso pai e por Basílio[2]:187–92. Descrevendo seu novo bispado,
Gregório lamentou que ele não passava de um "buraquinho apertado, completamente
horrível; uma irrisória parada de cavalos na estrada principal... sem água, vegetação ou a
companhia de cavalheiros... esta era a minha igreja em Sásima!"[6].Ele fez pouco para
administrar sua nova diocese, reclamando a Basílio que ele teria preferido, ao invés disto,
ter continuado a perseguir a vida contemplativa[3]:38–9.
Já no final de 372, Gregório retornou a Nazianzo para ajudar seu pai, no leito de morte,
com a administração de sua diocese[2]:199. Isso acabou por afetar a relação com Basílio, que
insistia que Gregório reassumisse o seu posto em Sásima.Gregório respondeu que ele não
tinha intenção alguma de voltar a ser um peão para avançar os interesses de Basílio[7]. Ao
invés disso, ele focou sua atenção em suas novas tarefas como coadjutor de Nazianzo.
Foi ali que Gregório pregou a primeira de suas famosas orações episcopais . [b]

Após as mortes de seu pai e de sua mãe em 374, Gregório continuou a administrar a
diocese de Nazianzo, mas recusou ser nomeado bispo. Doando a maior parte de sua
herança aos necessitados, ele viveu uma existência austera[4]. No final de 375, ele se
retirou para um mosteiroem Selêucia Isaura (atual Silifke), vivendo ali por três anos. Perto
do final deste período, seu grande amigo Basílio faleceu. Embora a saúde de Gregório não
tenha permitido que ele participasse do funeral, ele escreveu uma comovente carta de
condolências para o irmão de Basílio, Gregório de Níssa, e compôs dois poemas
memoriais dedicados à memória de seu finado amigo . [c]

Gregório em Constantinopla[editar | editar código-fonte]


Para mais detalhes sobre este tópico, ver: Controvérsia ariana
O imperador romano Valente morreu em 378. A ascensão de Teodósio, um firme defensor
da ortodoxia de Niceia, foi uma ótima notícia para os que desejavam
livrar Constantinopla do arianismo e do apolinarismo[2]:235. O exilado partido
niceno gradualmente pôde retornar à cidade. Em seu leito de morte, Basílio os lembrou
das habilidades de Gregório e provavelmente recomendou seu amigo para ser o campeão
da causa trinitária em Constantinopla[2]:235–6[8][9].
Em 379, o Concílio de Antioquia e seu arcebispo, Melécio, convidaram Gregório até
Constantinopla para liderar a campanha para conquistar a cidade em nome da ortodoxia
nicena[3]:42. Após muita hesitação, Gregório acabou concordando.Sua prima, Teodósia,
ofereceu-lhe sua vila para que lá morasse e Gregório imediatamente transformou-a quase
que inteiramente numa igreja, chamando-a de "Anastasia", "uma ceia para a ressurreição
da fé"[2]:241[10] . Desta pequena capela, ele pregou cinco poderosos discursos sobre a
[d]

doutrina nicena, explicando a natureza da Trindade e a unidade da divindade[4]. Refutando


a negação da divindade do Espírito Santo pregada pelos eunomeanos, Gregório ofereceu
este argumento:


Vejam estes fatos: Cristo nasce, o Espírito Santo é seu precursor.Cristo é batizado, o
Espírito testemunha... Cristo realiza milagres, o Espírito os acompanha. Cristo
ascende, o Espírito toma Seu lugar. Que grandes coisas existem na ideia de Deus que
não estão em Seu poder? Que títulos pertinentes à Deus não se aplicam também a Ele,
exceto por "Não-criado" e "Criado"? Eu tremo quando eu penso em tal abundância
de títulos, e quantos Nomes eles blasfemam, estes que se revoltam contra o Espírito! ”
— Oração 31, Gregório de Nazianzo
As homilias de Gregório foram bem recebidas e atraiam uma multidão crescente até
Anastasia. Temendo sua popularidade, seus oponentes resolveram atacar. Na vigília
da Páscoa, em 379, uma multidão ariana invadiu a igreja durante a missa, ferindo Gregório
e matando um outro bispo. Escapando da turba, Gregório em seguida foi traído por seu até
então amigo, o filósofo Máximo, o Cínico. Máximo, que tinha uma aliança secreta
com Pedro, o bispo de Alexandria, tentou tomar para si a posição de Gregório e fazer-se
consagrar como bispo de Constantinopla. Chocado, Gregório decidiu renunciar ao seu
posto, mas a facção ainda fiel a ele o induziu a ficar e Máximo foi expulso.Porém, o
episódio o envergonhou e o expôs às críticas dos que o acusavam de ser um simplório,
incapaz de aguentar as intrigas da corte imperial[3]:43.
A situação em Constantinopla continuou confusa, pois a posição de Gregório ainda não
era oficial e padres arianos ocupavam ainda muitas igrejas importantes. A chegada do
imperador Teodósio em 380 resolveu a questão a favor de Gregório. O imperador,
determinado a eliminar o arianismo, expulsou o bispo Demófilo e Gregório foi
subsequentemente entronizado como bispo de Constantinopla na Basílica dos Apóstolos,
no lugar de Demófilo[3]:45.
Segundo Concílio Ecumênico e aposentadoria em Arianzo [editar | editar
código-fonte]
Um ícone mostrando os Três Grandes Hierarcas: (esq. para dir.:)Basílio Magno, São João
Crisóstomo e Gregório, o Teólogo

Teodósio queria unificar ainda mais o Império Romano sob a posição ortodoxa e decidiu
convocar um concílio da Igreja para resolver os assuntos de fé e disciplina[3]:45. Gregório
queria o mesmo e desejava sanar os cismas vigentes na Cristandade. Na primavera de
381, reuniram o Primeiro Concílio de Constantinopla (Segundo Concílio Ecumênico), que
teve a presença de cento e cinquenta bispos orientais. Após a morte do bispo que presidia
os trabalhos, Melécio de Antioquia, Gregório foi selecionado como líder. Na esperança de
reconciliar as várias Igrejas orientais e a ocidentais, se ofereceu para
reconhecer Paulino como Patriarca de Antioquia. Os bispos das províncias
romanasdo Egito e Macedônia, que apoiavam Máximo, chegaram atrasados para o
concílio. Porém, uma vez lá, se recusaram a reconhecer a posição de Gregório como
chefe da igreja de Constantinopla, argumentando que sua transferência da Sé de Sásima
fora canonicamenteilegítima[2]:358–9.
Gregório estava fisicamente exaurido e preocupado em perder a confiança dos bispos e do
imperador[2]:359. Em vez de pressionar ainda mais sua posição e arriscar uma divisão maior,
ele decidiu renunciar: "Que eu seja o profeta Jonas! Eu fui o responsável pela tempestade
e seria capaz de sacrificar-me para a salvação da embarcação. Agarrem-me e me atirem
ao mar... Eu não estava feliz quando ascendi ao trono e com alegria eu desceria dele."[12].
Ele chocou o concílio com a sua renúncia surpreendente e deu um dramático discurso
para Teodósio pedindo que o liberasse de suas funções. O imperador, movido por suas
palavras, aplaudiu, elogiou seu trabalho e lhe concedeu a renúncia. O concílio pediu-lhe
que aparecesse uma vez mais para um ritual de despedida e orações celebratórias.
Gregório utilizou esta ocasião para proferir seu discurso final (Oração 42 ) e partiu[2]:361.
[e]

Retornando à sua terra natal na Capadócia, Gregório uma vez mais assumiu sua posição
como bispo de Nazianzo. Passou o ano seguinte combatendo os apolinaristas locais e
lutando contra uma doença recorrente. Também começou a compor De Vita Sua, seu
poema autobiográfico[3]:50. No final de 383, se considerou debilitado demais para continuar
as suas tarefas episcopais. Gregório então consagrou Eulálio como bispo da cidade e se
retirou para a solidão de Arianzo. Após de gozar cinco pacíficos anos retirado nas terras
[a]

da família, morreu em 25 de janeiro de 389

Legado[editar | editar código-fonte]


A produção literária de Gregório de Nazianzo não é muito abundante. Nela se podem
encontrar discursos, poemas e cartas. Não escreveu nenhum comentário bíblico, nem
nenhum tratado dogmático. Contudo, quer na prosa, quer na poesia, brilha por cima de
todos os seus contemporâneos pela perfeição exemplar do seu estilo[13].
Pensamento teológico[editar | editar código-fonte]
“ ”
Cristo dá-nos a conhecer, pelo seu amor, um só Deus numa Trindade: é de três
infinitos a infinita conaturalidade. Deus integralmente, cada um considerado em Si
mesmo (...) Deus, os Três considerados juntamente
— Orações XL, 41, Gregório de Nazianzo[14].
A mais significativa contribuição teológica de Gregório vem de sua defesa da
doutrina nicena da Santíssima Trindade. Ele é especialmente lembrando pelas
contribuições no campo da pneumatologia — o estudo da natureza do Espírito Santo[15].
Sobre este assunto, Gregório foi o primeiro a utilizar a ideia de processão [proceder de]
para descrever a relação entre o Espírito Santo e a Divindade: "O Espírito Santo é
realmente um Espírito, vindo realmente do Pai, mas não da maneira do Filho, pois não é
por geração e sim por 'processão', uma vez que eu preciso cunhar uma nova palavra pelo
bem da clareza."[11]. Embora Gregório não tenha desenvolvido completamente o conceito, a
ideia da "processão" iria formatar a maior parte do pensamento posterior sobre o assunto
(Veja cláusula Filioque)[16].
Ele enfatizou que Jesus não deixou de ser Deus quando se tornou homem, nem perdeu
nenhum dos seus atributos divinos quando tomou a natureza humana. Além disso,
Gregório afirmou que Jesus Cristo era completamente humano, incluindo ter uma alma
humana completa. Ele também proclamou a eternidade do Espírito Santo, dizendo que
Suas ações estavam como que escondidas no Antigo Testamento, mas que passaram a
aparecer muito mais claramente desde a ascensão de Jesus ao Céu e a descida do
Espírito Santo na festa de Pentecostes.

Urnas com as relíquias de Gregório e São João Crisóstomo,


Igreja de São Jorge (Hagios Georgius)Istambul

Em contraste com a crença neo-ariana de que o Filho é ahomoios, ou "dissimilar" ao Pai, e


com a afirmação semi-ariana de que o Filho é homoiousios, ou "similar" ao Pai, Gregório e
seus companheiros capadócios mantinham o credo de Niceia de homoousia,
ou consubstancialidade do Filho com o Pai[17]:9,10. Os Padres capadócios afirmaram que a
natureza divina é incompreensível para o homem; ajudaram a desenvolver a estrutura
da hipóstase, ou três pessoas unidas em uma Divindade; e explicaram o conceito
de theosis, a crença de que todos os cristãos podem ser assemelhados com Deus
em "imitação do Filho encarnado como o divino modelo"[17]:10.
Reflectiu ainda, de modo profundo, sobre a natureza e dignidade
do sacerdócio ordenado como prolongamento da vida de entrega e de serviço de Jesus
Cristo. Acerca deste último tema é de realçar a "Oração II", conhecida pelo seu nome
latino, "Apologeticus de fuga".
Alguns dos textos teológicos de Gregório sugerem que, como seu amigo Gregório de
Níssa, ele pode ter apoiado alguma forma da doutrina da apocatástase, a crença de que
Deus, no final, irá colocar toda a criação em harmonia com o Reino dos Céus[18]. Esta tese
levou alguns dos universalistas cristãos do final do século XIX, como John Wesley
Hanson e Philip Schaff, a descreverem a teologia de Gregório como sendo universalista[19].
Esta visão de Gregório também é suportada por alguns teólogos modernos, como John
Sachs, que disse que Gregório tinha "inclinações" em direção à apocatástase, mas de
forma "cautelosa e não dogmática"[20]. Porém, não é universalmente aceite que Gregório
tenha aceitado esta doutrina[21].
Influência[editar | editar código-fonte]
Nicóbulo, sobrinho-neto de Gregório, serviu como seu auxiliar literário, conservando e
editando a maior parte de seus escritos. Um primo, Eulálio, publicou suas obras mais
importantes em 391[2]:11. Já no ano 400, Rufino começou a traduzir suas orações para
o latim. Os seus escritos e orações influenciaram o pensamento teológico, à medida que
eles foram circulando por todo o império. Seus discursos foram citados com autoridade
no Concílio de Éfeso em 431 e, em 451, foi chamado de "Gregório, o Teólogo",
pelo Concílio de Calcedônia[2]:11 — um título que compartilha com o apóstolo João[4] e
com Simão o Novo Teólogo. Porém, "teólogo" neste contexto implica um significado
mais cristológico do que se esperaria. Ele é muito citado pelos teólogos da Igreja
Ortodoxa e é tido na mais alta estima como defensor da fé cristã. Suas contribuições para
a teologia trinitária também foram influentes e com frequência é também citado nas Igrejas
ocidentais . Paul Tillich atribui a Gregório de Nazianzo "ter criado as fórmulas definitivas
[f]

da doutrina da Trindade"[22].
Obras[editar | editar código-fonte]

Gregório e os miseráveis.
Miniatura no mosteiro Agiou Panteleimonos, emMonte Atos, cod. 6.

Devido à tendência de Gregório de comentar aspectos de sua vida pessoal em suas obras,
elas são facilmente identificáveis e mostram claramente a evolução de seu pensamento[23].
Seus discursos (Orationes: abreviado aqui como "Orat.") foram organizados de maneira
cronológica para publicação integral por Tillemont e Maurini: abarcam a vida de Gregório
desde 362 até 383. No total, foram 44 (com uma finalmente sendo rechaçada
como espúrio). A edição de Migne (Patrologia Grega) os publicou nos volumes 35 e 36 . A
edição crítica, já com apenas os 43 discursos comprovados como autênticos foi publicada
pelas Sources Chrétiennes[24]. É possível identificar retoques feitos pelo autor, o que
implica que Gregório já imaginava publicar estes discursos. Rufino de Aquileia foi um dos
primeiros a traduzir alguns deles para o latim. No primeiro, Gregório pede desculpas por
fugir da ordenação sacerdotal. No segundo, fala do sacerdócio com um texto que
claramente influenciou a obra posterior de João Crisóstomo, os "Seis livros do
sacerdócio"[25]:386. Os famosos "Discursos Teológicos" sobre a Trindade se encontram sob
os números 27–31 na obra de Migne: o título foi sugerido pelo próprio Gregório (cf. Orat.
28, 1). Os discursos em que ele se dedicou a combater Juliano, o Apóstata foram escritos
no ano de 370 (cf. Orat. 4 e 5).
Suas cartas foram colecionadas por Migne no volume 37 de sua Patrologia Grega. São
249, ainda que com algumas espúrias. Datadas a partir de 359, muitas foram dirigidas
a Basílio Magno. Três cartas teológicas sobre o apolinarismo foram publicadas
por Sources Chrétiennes no volume 208 de sua coleção.
Sua obra poética se divide em Carmina dogmatica (38 poemas), Carmina moralia (40
poemas), sobre si mesmo (99 poemas), sobre seus amigos (8 poemas), epitáfios (129
poemas) e epigrammata (94 poemas). Todos estão no volume 37 de Migne. Um poema
sobre a Paixão de Cristo é considerado apócrifo (cf. SC vol. 149.), ainda que seja um tema
de debates em que autores como Francesco Trisoglio ou André Tuilier defendem que ele é
de fato obra de Gregório[25]:389.
Juntamente com Basílio, Gregório compôs uma edição de textos
de Orígenes chamada "Filocália". Além do tema da apocatástase, já tratado, outro ponto
de contato entre Gregório e Orígenes é a sua avaliação positiva do uso da cultura clássica
no cristianismo. A comparação utilizada por Orígenes, de que assim como
os judeus levaram consigo os tesouros dos egípcios em sua fuga, também os cristãos
deveriam tomar da cultura greco-latina aquilo que fosse necessário para a propagação do
Evangelho, também foi utilizada por Gregório nesta obra[26].

[ocultar]

Gregório de Níssa
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Saltar para a navegaçãoSaltar para a pesquisa
Nota: Para bispo de Níssa, veja Gregório.

São Gregório de Níssa

Padre capadócio
Nascimento c. 335 em Cesareia, Capadócia

Morte após 394 em Níssa, Capadócia

Veneração Comunhão Anglicana


por Igreja Ortodoxa Oriental
Igreja Luterana
Igreja Ortodoxa
Igreja Católica

Festa litúrgica 10 de janeiro (Igreja Ortodoxa Oriental)


9 de março (Igreja Católica)
14 de junho, com Macrina(Igreja Luterana)
19 de julho, com Macrina (Comunhão
Anglicana)

Atribuições Vestido como bispo

Portal dos Santos

Gregório de Níssa (Cesareia, Capadócia:330 -395): Teólogo, místico e escritor


cristão. Padre da Igreja e irmão de Basílio Magno, faz parte, com este e com Gregório
Nazianzeno, dos assim denominados padres capadócios. É neto de Santa Macrina Maior,
filho de Basílio, o Velho e irmão de Santa Macrina, a Jovem.

Índice

 1Esboço biográfico
 2A obra teológica
 3Traços de um pensamento
o 3.1Teologia e filosofia
o 3.2A Trindade
o 3.3Cristologia
o 3.4Mariologia
o 3.5Antropologia
o 3.6Escatologia
 4Misticismo
o 4.1A imagem de Deus no homem
o 4.2Intuição de Deus
o 4.3A ascensão mística
 5Bibliografia
 6Ligações externas

Esboço biográfico[editar | editar código-fonte]


Educado pelo seu irmão mais velho, Basílio Magno, Gregório de Níssa. Influenciado pelos
trabalhos de Orígenes e Platão, foi professor de retórica. Havia sido casado com Teosébia,
a Diaconisa. Desiludido com a função de professor, tornou-se padre e eremita, sendo que
sua mãe e uma irmã já haviam abraçado a vida monástica. Após um período em que se
dedicou à vida espiritual em Neocesareia, foi consagrado bispo de Níssa, na Capadócia -
actual Turquia - em 371 e depois arcebispo de Sebaste. Personalidade benevolente e
compassiva, foi violentamente atacado pelos adeptos do arianismo. Esteve preso por
ordem de Demóstenes, governador do Ponto; escapou e foi deposto de sua sé episcopal,
por se recusar a entrar em contendas que em pouco abonavam à caridade cristã. Depois
da morte do imperador Valente, adepto desta corrente cristã herética, reassumiu o cargo
em 378. Participou activamente no Primeiro Concílio de Constantinopla, realizado em 381.
Combateu a heresia meleciana.

A obra teológica[editar | editar código-fonte]

De virginitate

Gregório de Níssa é, dos padres capadócios, o mais versátil e o que teve mais êxito. Os
seus escritos revelam uma grande profundidade de pensamento. Contudo, apesar de
mostrar influências da retórica, o seu estilo é muitas vezes pesado e sobrecarregado.
De entre as suas obras devem ser realçadas: "A Grande Catequese"; "Diálogo com
Macrina sobre a Alma e a Imortalidade"; "Sobre a Virgindade"; "Sobre a Criação do
Homem"; "Comentário ao Cântico dos Cânticos e às oito bem-aventuranças"; "Sobre o
amor dos Pobres"; "Sobre a Divindade do Filho e do Espírito Santo"; "A Vida de Moisés".

Traços de um pensamento[editar | editar código-fonte]


Gregório de Níssa é superior aos outros padres capadócios no que se refere à teologia
especulativa e à mística. Depois de Orígenes, é o primeiro a fazer uma exposição orgânica
e sistemática da fé.
Teologia e filosofia[editar | editar código-fonte]
“ A Solicitude amorosa de Deus:
Doente, nossa natureza precisava ser curada; decaída, ser reerguida; morta, ser ressuscitada.
Havíamos perdido a posse do bem, era preciso no-la restituir. Enclausurados nas trevas, era preciso
trazer-nos à luz; cativos, esperávamos um salvador; prisioneiros, um socorro; escravos, um
libertador. Essas razões eram sem importância? Não eram tais que comoveriam a Deus a ponto de
fazê-lo descer até nossa natureza humana para visitá-la, uma vez que a humanidade se encontrava
em um estado tão miserável e tão infeliz?.”
— Grande Catequese 15.

Gregório de Níssa foi, no século IV, aquele que mais utilizou a filosofia nas suas reflexões.
Tal como Orígenes, critica a esterilidade da filosofia pagã, mas advoga um discreto uso
dela, ao serviço da teologia cristã, a fim de resgatar a sabedoria pagã (a que reconhece a
existência), e dar-lhe um fim elevado. Considera que a filosofia não pode ser independente
ou absoluta, pois deve harmonizar-se com a Escritura.
Gregório de Níssa recorre muito a filósofos pagãos, mas mantendo sempre uma atitude
cristã. Foi influenciado sobretudo por Platão, pelo neoplatonismo e também por
elementos estoicos. Era convicção sua que devia utilizar a razão para procurar demonstrar
os mistérios da Revelação. Contudo, na impossibilidade de o fazer, considerava que a fé
havia que ser transmitida tal como fora recebida.
A Trindade[editar | editar código-fonte]
Para explicar este mistério, Gregório de Níssa recorre a Platão, enveredando por uma
explicação demasiado realista: compara a natureza divina à humana, referindo que ao
dizermos “homem” queremos referir a natureza humana, de modo que não poderemos
dizer “três homens”. Com isto, mostra admitir a ideia platónica de que há uma só essência
para muitos indivíduos, confundindo o abstracto com o concreto. Para explicar a Trindade,
defende que a ideia universal é algo real.
A distinção das pessoas divinas dá-se somente nas suas relações imanentes. A acção
externa é una e comum às três pessoas. A distinção dá-se no imanente, entre o que gera
e o que é gerado. O Espírito Santo procede do Pai através do Filho, contudo, o Espírito de
Deus é também Espírito do Filho. Gregório de Níssa vai mais além do que os outros no
aprofundamento das relações entre o Espírito Santo e Cristo.
Cristologia[editar | editar código-fonte]
Gregório de Níssa apresenta uma nítida distinção entre as duas naturezas de Cristo. Não
existe confusão quando consideramos cada uma delas em si mesma. Assim, nem a carne
existe desde sempre, nem o Verbo começou a existir no fim dos tempos. Em relação aos
restantes atributos de Cristo, conserva-se esta distinção, podendo uns ser atribuídos à sua
natureza humana e outros à sua natureza divina. No entanto, Gregório de Níssa admite
totalmente a communicatio idiomatum: por causa da união, os atributos próprios de cada
uma das naturezas pertencem a ambas.
As duas naturezas continuam distintas mesmo após a exaltação de Cristo. Mas, apesar
destas duas naturezas, existe em Cristo uma só pessoa.
Mariologia[editar | editar código-fonte]
Gregório de Níssa, como vimos, defende a realidade da natureza humana e divina de
Cristo. Ora, o Filho de Deus tomou a natureza humana a partir da Virgem Maria. Assim,
ela pode com propriedade ser chamada Mãe de Deus (Teótoco).
Gregório de Níssa defende ainda a virgindade de Maria, mesmo durante o parto, dizendo
que nem o nascimento destruiu a virgindade, nem a virgindade impediu o nascimento.
Antropologia[editar | editar código-fonte]
A antropologia de Gregório de Níssa caracteriza-se pela descrição do Homem como o
ponto de convergência da natureza e do espírito. Criado e plasmado à semelhança de
Deus, o Homem é um ser privilegiado pois foi dotado pelo Criador, por Deus, de todos os
bens. Criado para ser participante, pela Graça, da divindade, é dotado de livre arbítrio que,
ao mesmo tempo, o dota de uma certa inconstância. Por o livre arbítrio ser criado, é
igualmente propenso para a mutabilidade, isto é, para a possibilidade de fazer o Homem
escolher o bem ou o mal ("A Grande Catequese" 6, 28 C). Para Gregório o mal é,
precisamente, esta escolha livre de optar contra Deus: não é "algo", mas a inexistência de
algo que deveria existir, a saber, a decisão por Deus ("A Grande Catequese" 5, 24 C). Este
estado não é, porém, irreversível, pois - como aduz continuamente ao longo da
sua Teologia -, segundo a Bíblia todo o Homem foi chamado a uma Nova Vida em Jesus
Cristo que o pode levar, ao cooperar com os dons deste, à restauração da semelhança
com Deus perdida pelo pecado. Para Gregório, Jesus só pôde salvar o Homem na medida
em que, como atestam incoativa, mas inequivocamente, os textos bíblicos,
era «verdadeiramente Homem e verdadeiramente Deus», pois «aquilo que Deus não
assumiu, não redimiu».
Escatologia[editar | editar código-fonte]
Gregório de Níssa, neste ponto, mostra-se bastante fiel a Orígenes. Contudo, diferencia-se
dele nalgumas doutrinas: nega ideias como a da pré-existência ou transmigração
das almas, e ainda que a sua união ao corpo se deva a um castigo pelo pecado. Partilha
com Orígenes, porém, a doutrina da apocatástase. Para S. Gregório, as
penas infernais nunca poderão ser eternas, mas apenas temporárias, e têm um sentido de
purificação. Apesar de ameaçar, nos seus escritos, os pecadores com o fogo eterno, tal
expressão tem para ele o significado dum longo período de tempo, pois não pode
conceber uma separação definitiva entre Deus e as suas criaturas. No fim dos tempos, virá
a restauração completa, em que Deus será tudo em todos, e essa será a conclusão de
toda a história da salvação (enquanto para Orígenes era apenas um fim dum ciclo,
devendo repetir-se tudo de novo)

Misticismo[editar | editar código-fonte]


A teologia mística é, em Gregório de Níssa, um dos pontos cimeiros. Ultimamente, foi dada
a importância devida a esta dimensão da sua obra, reconhecendo-se o seu contributo para
a mística cristã e a sua influência, directa ou indirecta, em muitos teólogos místicos
posteriores.
A imagem de Deus no homem[editar | editar código-fonte]
À semelhança de variados filósofos, S. Gregório concebe o homem como um
microcosmos: ele exibe em si, na devida proporcionalidade, a mesma ordem que
encontramos no universo. Contudo, a sua maior grandeza está, não em ser à imagem do
universo, mas sim à imagem de Deus. O homem é ícone de Deus, devido aos dons com
que a sua alma está dotada: razão, livre arbítrio e virtude. Por isso, o homem é superior a
todas as criaturas do mundo, porque nenhuma, senão ele, foi feita à imagem de Deus.
Intuição de Deus[editar | editar código-fonte]
A semelhança com Deus permite ao homem conhecê-Lo, pois, como diziam os antigos (e
S. Gregório partilha a ideia), o “semelhante é conhecido pelo semelhante”. A imagem de
Deus que existe em cada homem supera todas as insuficiências da sua humana
fragilidade e permite alcançar a visão mística de Deus.
“A divindade é pureza, ausência de toda a paixão e separação de todo o mal. Se em ti
existe tudo isto, Deus está efectivamente em ti. Por conseguinte, se o teu pensamento não
tem mistura de mal e está livre de toda a paixão e livre de mancha, és feliz pela tua
clarividência, pois, por estares purificado, podes perceber o que é invisível para os que
não estão purificados” (6º sermão sobre as bem-aventuranças)
Esta visão mística é antecipação da visão beatífica, “uma divina e sóbria embriaguez”,
graça que só pode ser dada a quem estiver disposto a uma purificação total, a fim de
encontrar Deus dentro de si.
A ascensão mística[editar | editar código-fonte]
A partir de tudo isto, é possível ao homem subir ao Céu, para junto de Deus. Ao tornar-se
semelhante a Deus, pela prática das virtudes, o homem passa automaticamente à vida
celeste, pois o Céu não é um lugar físico. A escolha do bem comporta de imediato a posse
do mesmo bem; ao escolher Deus, o homem tem Deus consigo. E se tem Deus consigo,
está em Deus, onde Deus está. O convite divino é a passarmos para outro lugar.
Basílio de Cesareia
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Saltar para a navegaçãoSaltar para a pesquisa
Nota: "São Basílio" redireciona para este artigo. Para outros significados, veja São
Basílio (desambiguação).

São Basílio Magno

São Basílio Magno numa miniatura do século XVem Monte Atos

No oriente: Grande Hierarca e Professor Ecumênico


No ocidente: Padre capadócio; Arcebispode Cesareia e Doutor da
Igreja

Nascimento 329 ou 330[1] em Cesareia, Capadócia, Império Romano

Morte 1 de
janeiro de 379 (50 anos).[2] em Cesareia, Capadócia, Império
Romano

Festa 1 de janeiro (festa do santo)[3][4] e 30 de janeiro(Três


litúrgica Grandes Hierarcas)[5][6]na Igreja Ortodoxa
2 de janeiro na Igreja Católica,[7] Igreja Anglicana[8] e
na Igreja Luterana[8]
15 de janeiro (16 em anos bissextos) na Igreja Ortodoxa
Copta e na Igreja Ortodoxa Etíope Tewahedo[8]
14 de junho na Igreja Episcopaliana Americana[8]

Atribuições vestes de bispo, com o omofório, segurando


um Evangelho ou um rolo. Em ícones, como um homem
magro e asceta com uma longa barba negra.

Padroeiro Rússia; Capadócia; administradores hospitalares;


reformadores; monges;[8]

Portal dos Santos

Basílio de Cesareia, também chamado São Basílio Magno ou Basílio, o


Grande (em grego: Ἅγιος Βασίλειος ὁ Μέγας), foi o bispode Cesareia,
na Capadócia (atualmente a cidade de Kayseri, na Turquia), e um dos mais
influentes teólogos a apoiar o Credo de Niceia. Foi também adversário das heresias que
surgiram nos primeiros anos do cristianismo como religião oficial do Império Romano,
lutando principalmente contra o arianismo e os seguidores de Apolinário de Laodiceia. Sua
habilidade em balancear suas convicções teológicas com suas conexões políticas fez de
Basílio um poderoso advogado da posição nicena.
Além de sua obra como teólogo, Basílio ficou conhecido por seu cuidado com os pobres e
necessitados. Ele estabeleceu padrões para a vida monástica com foco na comunidade,
na oração e no trabalho manual. Juntamente com São Pacômio, é lembrando como pai
do monasticismo comunal no cristianismo oriental.
Basílio, Gregório de Nazianzo e Gregório de Níssa são conhecidos como Padres
Capadócios. A Igreja Ortodoxa e a Igreja Católica Oriental agrupam Basílio com Gregório
de Nazianzo e João Crisóstomo como os Três Grandes Hierarcas. Ele é reconhecido
como Doutor da Igreja na tradição oriental e ocidental.

Índice

 1História
o 1.1Primeiros anos e educação
o 1.2Anexos
o 1.3Cesareia
 2Obras
 3Legado
o 3.1Contribuições litúrgicas
o 3.2Influências no monasticismo
 4Devoção
 5Referências
 6Bibliografia
 7Ligações externas

História[editar | editar código-fonte]


Primeiros anos e educação[editar | editar código-fonte]
Basilii Magni Opera, 1540

Basílio nasceu na rica família de Basílio, o Velho, um famoso retórico,[9] e Emélia por volta
de 330 em Cesareia na Capadócia.[10] Seus pais eram conhecidos por sua piedade[11] e sua
avó materna era uma mártir, executada antes da conversão de Constantino I.[12][13]Entre os
irmãos de Basílio, quatro são geralmente venerados como santos: Macrina, a Jovem, São
Naucrácio, Pedro de Sebaste e Gregório de Níssa.
Logo após o nascimento de Basílio, a família se mudou para as terras de sua avó Macrina,
perto da cidade de Neocesareia. Lá, Basílio foi educado em casa por seu pai e pela avó,
que havia sido aluna de Gregório Taumaturgo e acabou exercendo grande influência sobre
ele.[14] Após a morte de seu pai, ainda em sua adolescência, Basílio retornou para Cesareia
para começar a sua educação formal.[15]Lá, encontrou Gregório de Nazianzo, que se
tornaria um amigo pela vida toda.[16] Juntos, Basílio e Gregório foram estudar
em Constantinopla, onde puderam ouvir as palestras de Libânio. Finalmente, os dois
passaram quase seis anos em Atenas, começando por volta de 349, onde conheceram um
companheiro de estudos que viria a se tornar o imperador romano Juliano, o Apóstata,
grande inimigo do cristianismo.[17][18]
Basílio deixou Atenas em 356 e, depois de viajar pelo Egito e Síria, retornou para
Cesareia, onde, por cerca de um ano, advogou e ensinou retórica.[10] Um ano depois, a
vida de Basílio mudaria radicalmente depois de se encontrar com Eustácio de Sebaste, um
bispo carismático e asceta.[19] Basílio logo abandonou as suas profissões de docente e
advogado para dedicar sua vida a Deus. Descrevendo o seu despertar espiritual, Basílio
disse:

“ ”
Muito tempo eu desperdicei com vaidades e gastei quase toda a minha juventude com
o trabalho que tive adquirindo uma sabedoria que Deus tornou vã. Então, de repente,
como alguém que acorda de um sono profundo, virei meus olhos para a maravilhosa
luz da verdade do Evangelho e percebi a inutilidade da sabedoria dos príncipes deste
mundo, que se transformou em nada.
— Basílio de Cesareia, Epístola 223.2[20].
Anexos[editar | editar código-fonte]
Basílio, juntamente com Gregório de Nazianzo e João Crisóstomo, é um dos Três Grandes
Hierarcas, reverenciados na Igreja Ortodoxa.
século XVI. Ícone russo.

Após receber o sacramento do batismo, Basílio viajou em 357 para a Palestina, Síria e
a Mesopotâmia para estudar o monasticismo e o ascetismo.[21][22] Mesmo impressionado
com a piedade dos ascetas eremitas, o ideal da vida de solitária contemplação tinha pouco
apelo para ele.[23] Por outro lado, ele se interessou muito pela vida religiosa comunitária.
Após doar sua riqueza aos pobres, foi viver solitariamente por um curto período
em Neocesareia no Íris.[21]Basílio logo se cansou e, por volta de 359, juntou à sua volta um
grupo de discípulos, incluindo seu irmão, Pedro. Juntos, fundaram um mosteiro nas terras
da família perto de Anesos, no Ponto.[24] Estavam ali também sua mãe, Emélia, já viúva,
sua irmã Macrina e diversas outras mulheres que se dedicaram também à vida piedosa de
oração e às obras de caridade. Eustácio de Sebaste já tinha trabalhado na região em prol
da vida anacoreta e Basílio o reverenciou por isso, embora os dois divergissem sobre
diversos pontos dogmáticos, o que gradualmente os separou.[25]
Foi lá que Basílio escreveu suas obras sobre a vida monástica comunitária, que são
consideradas fundamentais para o desenvolvimento da tradição monásticas na Igreja
Ortodoxa e que o levaram a ser chamado de "Pai do monasticismo comunal
ortodoxo".[26] Em 358, escreveu para o seu amigo, Gregório de Nazianzo, pedindo-lhe que
se juntasse a ele em Anesos.[27] Gregório eventualmente concordou e para lá se foi; juntos,
colaboraram na "Filocalia", uma antologia das obras de Orígenes.[28] Depois deste período,
Gregório decidiu voltar para junto de sua família em Nazianzo.
Basílio também esteve no Concílio de Constantinopla de 360 e foi lá que se juntou pela
primeira vez com os homoiousianos (vide controvérsia ariana), uma facção semi-
ariana que ensinava que o Filho era de uma substância similar à do Pai, não a mesma
('tese dos homoousianos) e nem outra distinta (tese dos arianos).[29] Entre os membros do
grupo estava Eustácio, o mentor de Basílio no ascetismo. Os homoiousianos se opunham
ao arianismo de Eunômio, mas se recusavam a se juntar aos que apoiavam o Credo de
Niceia. Esta posição o colocou em atrito com o seu bispo, Diânio, que era um niceno
convicto. Anos mais tarde, Basílio abandonaria os homoiousianos e se tornaria um
defensor dos nicenos.[29]
Cesareia[editar | editar código-fonte]
Gregório de Nazianzo, grande amigo e colaborador de Basílio, co-escreveu com ele a "Filocalia".
século XI. Afresco na Igreja de Chora, em Istambul.

Em 362, Basílio foi ordenado diácono pelo bispo Melécio de Antioquia. Ele foi convocado
por Eusébio e foi ordenado presbítero da Igreja em 365, um ato que foi provavelmente o
resultado de suas discordâncias com seus superiores eclesiásticos.[21]
Basílio e Gregório de Nazianzo passaram os anos seguintes combatendo a heresia ariana,
que ameaçava dividir a região da Capadócia[30]. Os dois amigos entraram num período de
cooperação fraternal muito próxima conforme participavam de grandes debates e disputas
retóricas causados pela chegada de habilidosos teólogos e retóricos arianos na
região.[31] Quase sempre presididos por agentes do imperador Valente, Gregório e Basílio
emergiram vitoriosos, confirmando para ambos que o futuro para eles estava na
administração da Igreja.[31]
Basílio assumiu uma posição na administração da Diocese de Cesareia.[26] Relata-se que
Eusébio teria se enciumado da reputação e influência que Basílio rapidamente conquistou
e permitiu-lhe que voltasse para sua vida reclusa anterior. Posteriormente, porém,
Gregório persuadiu Basílio a retornar, o que ele fez, e se tornou um gestor muito eficiente
da diocese por muitos anos, mesmo dando quase todo o crédito a Eusébio.[32]
Em 370, Eusébio morreu e Basílio foi escolhido para sucedê-lo, sendo consagrado bispo
em 14 de junho de 370.[33] Seu novo posto como bispo de Cesareia também lhe deu
poderes de exarca no Ponto e bispo metropolitano de cinco bispos sufragâneos, muitos
dos quais foram contra a sua eleição como sucessor de Eusébio.[32]
Suas cartas mostram que Basílio trabalhou ativamente tentando reformar ladrões e
prostitutas. Elas também mostram-no encorajando o clero a não serem tentados pelas
riquezas ou pela vida comparativamente mais fácil de um padre, e que ele pessoalmente
escolhia candidatos dignos das ordens sagradas. Basílio também teve a coragem de
criticar funcionários públicos que falhavam na tarefa de prover a justiça ao povo e pregava
todas as manhãs e tardes em sua própria igreja para grandes congregações de fiéis. E,
por fim, ele construiu um grande complexo nas redondezas de Cesareia, chamado
de Basilíada, que incluía um abrigo para os pobres, um hospícioe um hospital.[34]
Seu zelo pela ortodoxia doutrinária não evitou que ele visse os pontos positivos nas teses
de seus adversários e, com o objetivo de manter a paz e a caridade, contentava-se em
dispensar o uso da terminologia ortodoxa quando ela podia ser evitada sem sacrificar a
verdade. O imperador Valente, que era ariano, enviou seu prefeito Modesto para tentar ao
menos uma solução de compromisso com a facção nicena. A contundente resposta
negativa de Basílio fez com que Modesto lhe dissesse que ninguém jamais o havia tratado
desta forma, ao que Basílio respondeu "Talvez você jamais teve que lidar com um bispo
antes". Modesto fez seu relato a Valente afirmando acreditar que nada além de violência
seria suficiente contra Basílio. O imperador aparentemente não estava inclinado a usar de
violência e, em vez disso, emitiu repetidas ordens para que Basílio fosse banido, nenhuma
delas efetiva. Valente então foi ele mesmo a uma celebração da liturgia da Festa
da Epifania e, na época, ficou tão impressionado com Basílio que doou-lhe terras para a
construção do Basiliad.[35]
Basílio entrou em contato com o ocidente e, com a ajuda de Atanásio de Alexandria,
tentou superar a sua atitude de desconfiança em relação aos homoousianos. As
dificuldade tinham se acentuado quando entrou no debate a questão
da essência do Espírito Santo. Embora Basílio defendesse objetivamente
a consubstancialidade do Espírito com o Pai e com o Filho, ele era dos que, fiéis à tradição
oriental, não tolerava que o predicado homoousios ao Pai. Por esta aproximação, ele foi
admoestado pelos mais tradicionais ortodoxos, principalmente os monges, mas foi
defendido por Atanásio. Ele manteve sua relação com Eustácio de Sebaste, apesar das
diferenças dogmáticas. Por outro lado, Basílio foi gravemente ofendido pelos aderentes
mais extremados do homoousianismo, que pareciam para ele estar revivendo a
heresia sabeliana (que, no afã de defender a consubstancialidade da Trindade, beiravam
eliminar a distinção entre Pai, Filho e Espírito Santo).[32]
Ele também se correspondeu com o papa Dâmaso I na esperança de ter um bispo de
Roma condenado a heresia onde quer que ela estivesse. A aparente indiferença
do papaperturbou Basílio e ele se voltou para a tristeza e preocupação. É ainda tema de
controvérsia o quanto ele acreditava que sé romana poderia ajudar as igrejas do oriente,
com muitos teólogos católicos romanos[36] alegando a primazia para o bispo de Roma
sobre as demais igrejas, tanto em doutrina quanto em poderes eclesiásticos.

Obras[editar | editar código-fonte]


Estátua de São Basílio na Igreja da Teótoco do Sinal, em Moscou.

As principais obras teológicas de Basílio são "Sobre o Espírito Santo", um lúcido e


edificante apelo às Escrituras e às tradições cristãsprimitivas (para provar a divindade
do Espírito Santo), e "Refutação da Apologia do Ímpio Eunômio", escrita em 363 ou 364,
em três volumes contra Eunômio de Cízico, o principal defensor da forma mais extremada
do arianismo conhecida como anomoeanismo.[32]
Famoso pregador, muitas de suas homilias, incluindo a série de palestras sobre a Grande
Quaresma no Hexamerão ("Seis Dias"), e uma exposição sobre os Salmos foram
preservadas. Algumas, como a contra a usura e a contra a carestia em 368, são valiosas
pela história moral; outras ilustram a honra devida aos mártires e às relíquias; o "Discurso
aos Jovens Gregos sobre a Literatura Grega" da literatura clássica mostra que Basílio foi
fortemente influenciado por sua educação, que ensinou-lhe a apreciar a
importância propedêutica dos clássicos.[37]
Em suas exegeses, Basílio foi um grande admirador de Orígenes e da necessidade da
interpretação espiritual das Escrituras, como sua co-edição da "Filocalia" com Gregório de
Nazianzo testemunha. Em sua obra sobre o Espírito Santo, ele afirma que "tomar o sentido
literal e parar é como ter o coração coberto pelo véu do literalismo judaico. Lâmpadas são
inúteis quando o sol está brilhando."Ele frequentemente enfatizava a necessidade de
reserva em assuntos doutrinários ou sacramentais. Ao mesmo tempo, Basílio era contra
as alegorias mais ousadas de alguns de seus contemporâneos. Sobre isto, ele escreveu:
“ ”
Eu conheço as leis da alegoria, embora menos por meu esforço do que pelas obras de
outros. Há os que, verdadeiramente, não admitem o senso comum das Escrituras,
para os quais água não é água, mas alguma outra coisa, que se vê numa planta, num
peixe, o que quer que desejem, que mudam a natureza dos répteis e das bestas para se
adequarem às suas alegorias, como os intérpretes de sonhos que explicam visões para
fazê-las servirem seus próprios propósitos
— Basílio de Cesareia, Hexamerão 9.1[38].
A maior parte de suas obras e umas outras poucas espúrias atribuídas a ele estão
disponíveis no volume XXXVI da Patrologia Grega, que inclui traduções para o latim de
variada qualidade. Diversas obras também apareceram no final do século XX na
coleção Sources Chrétiennes.[39]

Legado[editar | editar código-fonte]


Contribuições litúrgicas[editar | editar código-fonte]
A maior parte das liturgias que trazem o nome de Basílio não são inteiramente obra do
santo na forma atual, mas elas preservam, ainda assim, uma lembrança da atividade de
Basílio na reformulação das orações litúrgicas e na promoção da música sacra.
Acadêmicos patrísticos concluíram que a chamada "Litúrgia de São Basílio" "traz,
inequivocamente, a mão, a pena, a mente e o coração de São Basílio Magno".[40]
Influências no monasticismo[editar | editar código-fonte]

Igreja principal do Mosteiro da Grande Lavra, em Monte Atos, onde estaria preservada a cabeça de
Basílio.

Através de seus exemplos e ensinamentos, Basílio promoveu uma notável moderação nas
práticas austeras que eram características anteriores da vida monástica.[41] A ele também
se credita a coordenação das tarefas de trabalho e oração para assegurar um balanço
correto entre os dois.[42]
Basílio é lembrado como o mais influente autor no desenvolvimento do monasticismo
cristão. Não apenas ele é reconhecido como pai do monasticismo ortodoxo, mas
historiadores reconhecem que o seu legado se estende também para a igreja ocidental,
principalmente pela influência que ele teve sobre São Bento.[43] Acadêmicos patrísticos,
como Meredith, afirmam que o próprio Bento teria reconhecido esta influência quando ele
escreveu no epílogo de sua "Regra" que seus monges, além da Bíblia, deveriam ler "as
confissões dos Padres e seus institutos e suas vidas e a 'Regra de nosso Santo Padre,
Basílio'".[44]
Os ensinamentos sobre monasticismo, como aparecem suas obras, como seu Small
Asketikon, foram transmitidos para o ocidente por Rufinono final do século IV.[45]
Como resultado desta influência, diversas ordens religiosas no cristianismo oriental trazem
o nome de Basílio. Na Igreja Católica Romana, os padres basílios, também conhecidos
como Congregação de São Basílio, também homenageiam o santo.
Devoção[editar | editar código-fonte]
Há diversas relíquias de São Basílio por todo o mundo. Uma das mais importantes é a sua
cabeça, que estaria preservada até hoje no Mosteiro da Grande Lavra, em Monte Atos,
na Grécia.[46]
Sobre ele, assim se manifestou o papa Bento XVI:

“ ”
Na realidade, São Basílio criou uma vida monástica muito particular: não fechada à
comunidade da Igreja local, mas aberta a ela. Seus monges formavam parte da Igreja
particular, eram seu núcleo animador que, precedendo aos demais fiéis no
seguimento de Cristo e não só da fé, mostrava sua firme adesão a Cristo - o amor a
ele -, sobretudo com obras de caridade. Estes monges, que tinham escolas e hospitais,
estavam ao serviço dos pobres; assim mostraram a integridade da vida cristã..[47]

O papa João Paulo II, falando da vida monástica, escreveu:


Muitos opinam que essa instituição tão importante em toda a Igreja como é a vida monástica
ficou estabelecida, para todos os séculos, principalmente por São Basílio ou que, pelo menos,
a natureza da mesma não teria ficado tão propriamente definida sem a sua decisiva
aportação.[47]

Você também pode gostar