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LIBERTAÇÃO DA

IMORALIDADE SEXUAL
3ª Edição

Campina Grande - Paraíba


Natan Rufino | 2018
LIBERTAÇÃO DA
IMORALIDADE SEXUAL
Copyright © Natan Rufino, 3ª Edição, 2018

ISBN 978-85-902941-4-6

Diagramação e Capa: Natan Rufino


Revisão: Fabiana Oliveira

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Almeida (Sociedade Bíblica do Brasil), exceto quando especificada outra versão.
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a Natan Rufino
Sumário
Capa
Folha de Rosto
Ficha Técnica
Sumario
Agradecimentos
Introdução

Capítulo 1
O engano do pecado
Um pouco da minha história
Três problemas principais
“Aquele que está em pé, veja que não caia"
Entendendo melhor o problema
Como o cristão deve enfrentar uma situação assim?
O vício sexual e a prisão espiritual

Capítulo 2
Prisão diabólica

Capítulo 3
Repreensão
A vergonha
Repreendido por homens, abençoado por Deus
Pecado, repreensão, arrependimento
O Senhor repreende a quem ama
O propósito da repreensão
Quando a pessoa não se arrepende
Deilia
Eeulabeia
Phobos
O temor do Senhor
Quem teme não será aperfeiçoado no amor?
O aperfeiçoamento do amor
O que é o amor perfeito?
O amor maduro

Capítulo 4
Arrependimento
A tristeza e o arrependimento
Um cristão afastado da graça
Afligí-vos, lamentai e chorai
Ouro refinado pelo fogo, para te enriqueceres.
Vestiduras brancas para te vestires
Colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas.
Conversão do riso em pranto
O valor do arrependimento
O arrependimento aplaca a ira de deus
Tempo para se arrepender
Reprovação divina
As lágrimas de Esaú
Obediência à verdade
Deus vos exaltará
A purificação das mãos
Dupla intenção
Entristecimento consciente
Humilhação e exaltação

Capítulo 5
Perdão
Para que Satanás não alcance vantagem sobre nós
A realidade do problema
O perigo de desprezar os outros
Aprendendo com os erros dos outros
“Justiceiros de deus”
Quem foi perdoado, perdoa
Raiz de amargura
Quem precisa de perdão, perdoa
Por quê nem todas as orações são atendidas?
Não condeneis e não sereis condenados
Quem planta, colhe
Autor
Parceria
AGRADECIMENTOS

À liderança Nacional do Ministério Verbo da Vida que tem sido


uma bênção na minha vida desde 1994.
À minha esposa Ana que tem me ajudado nos pequenos
detalhes da vida e me feito feliz com seu jeitinho gracioso. Te amo
coisa linda.
À minha irmã pelo apoio e amor. Tu és uma bênção maninha.
Sou também grato a Deus que tem me concedido a oportunidade de
ter amigos que o amam acima de tudo.
Que Deus abençoe aos queridos Marquinhos e Érica. Vocês têm
participação nas boas coisas que temos feito pela graça de Deus
através dos dons que ele nos tem dado. “Conceda o Senhor
misericórdia à sua família, porque, muitas vezes, me deu ânimo. O
Senhor lhe conceda, naquele Dia, achar misericórdia da parte do
Senhor” (2 Timóteo 1.16,18).
INTRODUÇÃO

Sou cristão já a mais de 20 anos, e, ao longo da minha


caminhada, tenho enfrentado dificuldades que, em algumas
ocasiões, pareceram intransponíveis. Alguns momentos foram tão
difíceis que se tivessem me contado antecipadamente o que eu
poderia vir a enfrentar, talvez, eu tivesse tido sérias dúvidas se
pretenderia realmente continuar nesse caminho cristão. Graças a
Deus que ninguém nunca soube dizer claramente quais os desafios
reais que um cristão genuíno pode vir a enfrentar num mundo tão
entregue ao pecado. Digo “graças a Deus” pelo simples fato de
naquela época não saber se estaria pronto para fazer uso do poder
de Deus para que assim viesse a superar cada um dos momentos
difíceis que ainda iriam surgir.
Um dos milagres mais significativos para mim foi a forma como
Deus me tirou das trevas da loucura para o reino do filho do seu
amor. Literalmente louco, preso no mundo invisível da esquizofrenia
paranóide, internado em manicômio (na “Casa de Repouso Nosso
Lar”, na Avenida da Reitoria em Fortaleza) eu não compreendia
mais a vida real e tudo se perdeu naquele labirinto intransponível de
imagens, sons e sensações irreais.
Sabendo que a loucura sempre esteve presente em minha
família, minha mãe e meu pai agora tinham que lidar com a dura
realidade de que seu filho também estava louco como os demais.
Meu tio Joaquim viveu na loucura desde a sua juventude, e na
loucura morreu. Dois dos seus filhos: André e Daniel, meus primos,
também tiveram o mesmo infortúnio, um deles vindo a falecer ainda
jovem. Outro primo meu, chamado Fernando, filho da tia Francisca,
do qual me recordo desde minha infância, andava 24h por dia louco:
gritando, cantando, e rezando num idioma inventado por ele mesmo,
que era uma espécie de mistura entre o latim, o russo e o
português. Minha mãe dizia: “eu sempre tive medo que a mesma
loucura que esteve presente na minha família também pegasse em
você”. E, finalmente, ela veio com força avassaladora sobre mim por
volta dos meus 17 anos de idade.
Não pretendo aqui contar os detalhes daquilo que aconteceu
comigo naquela época, coisa que posso vir a fazer depois, mas o
fato é que durante aquele tempo em que eu quase morri,
literalmente falando, eu tive uma das melhores experiências de toda
minha vida: conheci a história real de Jesus Cristo e aprendi sobre a
relação que há entre a vida dele e a minha. Usando um termo bem
conhecido da grande maioria dos cristãos, eu “nasci de novo”. De
fato, uma nova vida começava a tomar forma a partir do mais íntimo
do meu ser, moldando todo o meu exterior. Meus parentes, que
acompanharam um pedaço da história da minha vida nessa época,
que o digam: Franácio, irmão de Fernando e Neno, o irmão caçula
dos dois. Meus pais e minha irmã Naína foram testemunhas
oculares do que o poder de Deus é capaz de fazer na vida de um
jovem que se abre ao poder do Espírito Santo.
Daquele dia em diante minha vida como um todo foi um
progresso contínuo. A cada novo mês eu me tornava uma pessoa
solidamente melhor.
Obviamente que enfrentei pequenas e grandes dificuldades ao
longo destes vinte e poucos anos; e isso nas diversas aéreas com
as quais temos que lidar nesta vida: emocional, intelectual, social,
profissional, etc. Mas, de forma geral, a graça do mesmo Deus que
me salvou daquele mundo sombrio da loucura e perturbação mental,
esteve comigo me sustentando e me amparando em cada passo
dessa jornada.
Com o passar do tempo, tornei-me um jovem preletor presente
em seminários e conferências bíblicas nos quais falava sobre Deus
e todas as outras coisas pertencentes a esta nova vida. Hoje,
casado já a 11 anos com minha linda esposa Ana Gaia, posso dizer
que sou um homem abençoado e verdadeiramente feliz.
Durante um bom tempo, mesmo depois de casado, uma única
coisa ainda esteve apunhalando meu coração e tentando me fazer
afundar na velha prisão deste mundo: o desejo sexual ilícito.
Obviamente falarei um pouco mais sobre isso no decorrer do livro.
Meu objetivo não é descrever tudo aquilo que já passei ou já sofri
secretamente nessa área enquanto dava meus passos com Cristo.
Acredito que desde a minha conversão boa parte dos meus anos
foram divididos entre a procura pelo prazer sexual ilícito e a intensa
busca por servir a Deus com dedicação.
Estive por tanto tempo enfrentando a tentação sexual que já não
sabia o que poderia fazer para conseguir superar aquela dificuldade.
Minha esposa até sabia superficialmente da minha fraqueza e
conhecia algumas das minhas lutas, mas coisa alguma durante
todos aqueles anos foi capaz de trazer a verdadeira libertação como
eu tanto queria.
Eu não estou dizendo que “simplesmente” adulterei, acredito que
fiz coisas muito piores do que o adultério. Eu vivi uma espécie de
compulsividade sexual, completamente subjugado pelo poder da
imoralidade, da masturbação e da depravação sexual. Estive
lutando contra isso bravamente, porém sem sucesso, durante anos.
Experimentei alguns momentos de sucesso durante alguns períodos
da minha vida, mas até pouco tempo atrás, eu ainda não tinha
experimentado o milagre da libertação interior. Porém, quando um
destes pecados veio ao conhecimento da minha liderança, eu fui
biblicamente repreendido e punido da mais justa forma. Fui
desligado das minhas responsabilidades e excluído do quadro de
ministros da instituição que fazia parte.
Os dias que se seguiram a essa reunião, foram dias de
quebrantamento profundo e verdadeiro diante de Deus, na sala da
minha casa. Foram dois dias ininterruptos de aflição, lamento e
choro (Tiago 4.8,9). Um momento abençoador de conversão do riso
em pranto, da alegria em tristeza, de auto-humilhação na presença
de Deus.
A repreensão que recebi por parte da minha liderança,
juntamente com a vergonha pelos pecados que já houvera
cometido, e outras coisas associadas, me conduziram ao verdadeiro
arrependimento bíblico: íntimo e curador. Foi quando eu senti a raiz
do desejo sexual ilícito sendo arrancada de dentro do meu coração.
Deus seja louvado pela sua santa palavra! Deus seja
engrandecido pelo poder do seu santo Espírito! Deus, meu pai, que
sempre cuidou de mim desde os primeiros dias da minha caminhada
com ele, providenciou um meio pelo qual eu pudesse passar por
esta experiência que tanto precisava. Nem sempre a forma de Deus
conseguir nossa atenção ou nos dar aquilo que precisamos é
exatamente a forma que gostaríamos que fosse, mas louvo ao
Senhor meu Deus que por meio de muitas lágrimas, fortes
convicções de culpa e vergonha, ele arrancou de dentro do meu
peito a raiz deste mal que me fez escravo da imoralidade sexual por
tanto tempo.
Recuperei minha paz com Deus e estou pleno da alegria do
Espírito Santo em minha vida. Tenho pesar pela dor que alguns
podem sentir por saberem que eu tive problemas nessa área, mas
espero que minha história sirva de auxílio e incentivo para outros
que buscam ajuda neste mesmo contexto.
Paulo disse que a disciplina (ou a repreensão) pode fazer com
que Deus conceda o arrependimento à pessoa repreendida, e,
consequentemente, fazê-la retornar à sensatez, livrando-se das
algemas do diabo, tendo sido feita cativa por ele para fazer o que
ele quer (2 Timóteo 2.25).
Sei que esse não é o tipo de texto que alguns esperam ler vindo
de um jovem escritor de livros cristãos como eu, mas o alívio
espiritual e emocional que tenho agora em minha vida precisa ser
compartilhado com aqueles a quem tenho acesso. Se meu breve
testemunho trouxer alguma esperança para meus amigos que
sofrem calados em suas casas ao longo da sua vida terá valido a
pena cada linha escrita neste singelo livro.
Um das razões pelas quais estou tornando isto público é porque
quero louvar a Deus publicamente pela experiência profunda que
tive com o Senhor nessa área. Sei que a libertação de cada um se
dará de forma específica por contextos e históricos de vida
específicos, mas a fonte do poder para a multiforme manifestação
desta libertação vem de um mesmo lugar: do trono da graça de
Deus.
“Desintoxicação” é a melhor palavra que posso usar para
descrever o processo pelo qual passei. Como bem expressou Tim
Challies em seu livro Desintoxicação Sexual: Um guia para homens
que querem fugir da imoralidade sexual, da editora Vida Nova
(2001):
Desintoxicação é um termo geral que descreve a remoção de substâncias
tóxicas do corpo. É uma das funções mais importantes do fígado, trato
gastrointestinal inferior e rins, mas também pode ser feita artificialmente
através de técnicas como a diálise. Na verdade, a desintoxicação é um
processo natural que acontece em nosso corpo todos os dias, à medida
que vários órgãos transformam ou eliminam aquilo que não é bom para
nós. Em casos específicos, quando alguém é quimicamente envenenado
ou exposto a muita radiação, o corpo precisa de ajuda, e a desintoxicação
se torna um pouco mais dirigida, feita de forma intencional, mais como um
procedimento médico. Um terceiro tipo de desintoxicação, que de certa
forma, seja talvez o mais popular, é o tipo que ocorre quando alguém está
tentando se libertar do vício das drogas ou do álcool.
Em cada um desses casos, a ideia básica é a mesma: algo entrou em
você que não lhe pertence e precisa ser eliminado (expulso). Se
permanecer em seu organismo ou aumentar de quantidade, você só vai
ficar mais doente, podendo até morrer. Desintoxicação, portanto, é uma
volta à normalidade, um retorno à saúde. É a reversão de um processo de
corrupção e poluição, e o levará de volta para o lugar onde deveria estar.

Embora hoje eu seja conhecido por muitos que sequer imaginam


onde fica a Rua 21 de Abril, no bairro da Bela Vista em Fortaleza,
lugar onde cresci e conheci a Jesus Cristo, o mesmo poder que me
tirou das trevas mais ou menos entre 1989 e 1990, é o mesmo
poder que finalmente tirou as trevas de mim. E, agora, posso dizer
em paz de espírito mais uma vez: Maranata Senhor Jesus!
CAPíTULO 1
O ENGANO DO PECADO

Hebreus 3.13
Exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se
chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido
pelo ENGANO DO PECADO.
Tecnicamente falando, tentação e pecado são duas coisas
diferentes. Nem sempre uma pessoa que é tentada chega a cometer
o pecado. Todos nós sabemos que não é pecado ser tentado,
contudo, qualquer pecado só chega a se tornar uma realidade
depois que surge alguma tentação. E não raramente, a sutileza da
tentação é tamanha que nem percebemos quando começamos a
pecar e pensamos que ainda estamos sendo tentados. Envolver-se
intencionalmente com os sentimentos que surgem durante o período
que chamamos de tentação já é pecado! Em outras palavras,
poderíamos dizer que não é pecado ser tentado, mas “curtir as
sensações e vontades que surgem durante a tentação”, é.
A este elemento de sutileza envolvente que há na tentação a
Bíblia chama de “engano do pecado”. Quando Paulo contava um
pouco da sua história antes de ter conhecido a Cristo, ao referir-se a
um determinado momento da sua vida, ele disse: “o pecado me
enganou e me matou” (Romanos 7.11). O pecado seduz e engana.
Exatamente o que Paulo disse: “o pecado me enganou!”.
Uma das razões pelas quais o pecado engana se deve ao fato
dele se esconder por trás de coisas normais, por trás de
necessidades básicas que foram criadas pelo próprio Deus.
Todo cristão sabe que qualquer obra da carne também pode ser
chamada de pecado. Todavia, o que às vezes não percebemos é
que cada obra da carne listada por Paulo em Gálatas é, na verdade,
uma perversão de alguma necessidade autêntica que Deus criou.
Vejamos: prostituição, impureza, lascívia, são perversões do
desejo sexual inventado por Deus e colocado em meio aos
“instintos” de todo ser humano. A idolatria acontece quando alguém
dá prioridade a qualquer outra coisa em sua vida que não seja à
pessoa de Deus e isso pode ser o trabalho, a diversão, o dinheiro ou
o sexo. O desejo sexual é algo normal, mas o desejo descontrolado
e desmedido, não.

Feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias,


dissensões, facções e invejas são distúrbios ou perversões das
necessidades que temos de nos relacionarmos com outras pessoas.
Deus nos criou para vivermos em harmonia com os nossos
semelhantes, mas quando esta inclinação divina, presente no
homem, sai do controle, o pecado da discórdia e da inveja, e todos
os outros associados, se manifestam. Desejar compartilhar coisas
em comum com amigos é normal, mas permitir o desenvolvimento
de ciúmes, inveja e inimizades por discordâncias que surjam, não.

Acredito que qualquer cristão poderia explicar que a bebedice e a


glutonaria são o resultado de alguém que basicamente não soube
controlar sua necessidade por alimentação. Sempre voltado mais
para os prazeres da vida do que para Deus, o homem se entrega à
busca pelo prazer que suas inclinações naturais podem lhe dar,
inclusive por meio da comida e da bebida: os chamados “prazeres
da mesa”. Desejar comer certas coisas pode ser normal, mas perder
o domínio sobre os desejos que surgem, não.
Se cada obra da carne pode ser considerada pecado, fica fácil
entender porque a Bíblia diz que o pecado engana. Afinal de contas,
cada pecado se esconde atrás de alguma inclinação humana que
Deus mesmo criou. O pecado está sempre disfarçado, se
escondendo atrás de alguma coisa normal e não se mostrará
sobremaneira maligno em suas primeiras manifestações mais sutis.
Por isso o pecado ludibria e seduz, levando a pessoa a ir além do
limite estabelecido por Deus, numa tentativa diabólica de alcançar
objetivos proibidos.
Hebreus 3.13

Exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se


chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja ENDURECIDO
pelo engano do pecado.

Existem mais algumas coisas interessantes no versículo acima.


O texto sagrado diz “exortai-vos mutuamente cada dia, durante o
tempo que se chama hoje”. Ora, ninguém vive no amanhã, todos
nós só vivemos no hoje. Quando o amanhã chegar, para que
possamos vivê-lo, ele vai se transformar em “hoje” também. O que o
texto quer dizer com isso é que o cuidado que devemos ter com o
pecado tem que ser constante, ininterrupto, diário. A razão disso,
pelo que parece, é porque nunca saberemos qual tentação poderá
nos induzir ao erro.

Outra coisa que o texto também diz é que devemos “nos


encorajar uns aos outros”, que devemos servir de incentivo aos
nossos irmãos para que em momento algum, ou por causa de
circunstância alguma, um cristão com quem convivemos venha a
esfriar em seu coração se deixando levar pelo engano do pecado. O
texto diz que devemos nos ajudar uns aos outros. A ajuda oferecida
na luta contra o pecado deve ser uma coisa mútua: você me ajuda e
eu ajudo você! Todos ajudam e todos precisam de ajuda.
Este apoio mútuo que devemos partilhar entre nós como irmãos
em Cristo tem uma finalidade: que nenhum de nós seja
ENDURECIDO pelo engano do pecado! O pecado seduz, engana e
endurece o coração.

Este endurecimento fala sobre uma insensibilidade espiritual que


será adquirida. O engano do pecado tem, potencialmente, esta
capacidade de endurecer o coração de qualquer cristão.
Ao falar sobre Moisés como um homem já feito, as Escrituras
dizem que ele recusou ser chamado filho da filha de Faraó, pois
preferiu ser maltratado junto com o povo de Deus em vez de usufruir
dos PRAZERES TRANSITÓRIOS DO PECADO (Hebreus 11.24,25).
O texto de Hebreus que se refere à escolha feita por Moisés não
fala especificamente sobre prazeres sexuais, mas todo prazer que
qualquer pecado possa trazer, sempre vai ser um prazer transitório
a ser usufruído por pouquíssimo tempo.

Mesmo quando um cristão se envolve com a prostituição ou em


um caso ilícito duradouro, todo prazer usufruído em relações dessa
natureza tem prazo de validade muito curto. Pode durar um ou dez
anos, a sensação no coração sempre vai ser de perda de tempo e
desperdício. Mesmo assim o texto sagrado não deixa de citar a
força do engano por trás da qual se esconde o pecado: Prazeres!

Que a verdade seja dita: o cristão que peca tem prazer, enquanto
o cristão que resiste ao pecado sofre! No entanto, é importante
saber que existem sofrimentos prazerosos e prazeres que trazem
sofrimentos dolorosos.

A Bíblia diz que é bem aventurado aquele que sofre a tentação,


afinal, aquele que cede à tentação não a sofrerá, pelo contrário, terá
prazer. É um prazer ilusório e transitório, mas é exatamente nisto
que consiste o engano do pecado. Jesus, por outro lado, sofria a
tentação conforme nos ensina o texto de Hebreus 2.18.
Quando um cristão finalmente se entrega ao prazer que o
pecado sexual proporciona, ele passa a conviver com o pecado de
forma amistosa. Baixa-se a guarda e não há mais empenho contra o
pecado, pois agora o pecado já se tornou um lugar comum. O
cristão que se entregou ao prazer do pecado sexual já se
acostumou a não mais confessar o seu erro, pois ele já sabe em seu
coração que voltará a praticá-lo novamente.
Quando um cristão se encontra nessa condição, e eu digo isso
por experiência própria, ele sempre tem a esperança de que um dia
abandonará toda a imoralidade sexual, que um dia voltará à pureza
cristã na qual já viveu, mas, infelizmente, na maioria dos casos, não
passará de uma esperança que a cada dia será adiada para um
futuro cada vez mais remoto. A não ser que haja alguma
intervenção divina, o cristão que já se acostumou com o pecado
sexual dificilmente se livrará sozinho dessa situação.
Entenda que eu não estou falando sobre um cristão que ainda
resiste à tentação na área sexual, eu estou falando sobre aquele
que não enfrenta mais, que não luta mais contra o pecado; ao
contrário disso, ele acredita que já perdeu essa luta e por isso
mesmo já se entregou voluntariamente à masturbação, à
pornografia e a todo tipo de prazer sexual disponível.
Jesus disse que em situações como estas a Palavra de Deus
chega a ser sufocada e que os frutos produzidos pela semente da
Palavra ficam imperfeitos ou atrofiados, nunca chegam a
amadurecer realmente.
Lucas 8:14 - (NVI)
As [sementes] que caíram entre espinhos são os que ouvem,
mas, ao seguirem seu caminho, SãO SUFOCADOS pelas
preocupações, pelas riquezas e PELOS PRAZERES desta
vida, e não amadurecem.
Ao usar a expressão “preocupações ou cuidados desta vida”,
Jesus deixa implícito que existem muitas coisas que podem sufocar
a palavra e impedi-la de frutificar como esperado, inclusive
preocupações autênticas e saudáveis que exigem a atenção de
qualquer pai ou mãe de família responsável. Mas entre os exemplos
que Jesus usou para mencionar aquilo que pode obstruir o poder de
produzir resultados que a palavra tem, ele citou: as preocupações,
as riquezas e os PRAZERES.
Creio sinceramente que Jesus se referia a deleites e prazeres
que não são necessariamente pecados, mas que muitas vezes
roubam nossa atenção e são distrações que nos impedem de
darmos mais qualidade ao nosso tempo de comunhão com Deus.
Não sei dizer se nessa ocasião, especificamente, Jesus tinha em
mente os prazeres sexuais com os quais todo homem tem que lidar,
mas acredito que estaremos fazendo justiça à interpretação bíblica
se incluirmos a busca desenfreada pelo prazer sexual ou a busca
pelo prazer sexual ilícito, como alguns “dos prazeres desta vida” que
são capazes de sufocar a palavra de Deus no coração de uma
pessoa.
Um cristão que está praticando o pecado sexual habitualmente,
que já baixou a guarda e não se preocupa mais em sequer
confessar o seu pecado na expectativa de ser perdoado e ter a
purificação da sua injustiça, pode muito bem se encaixar na
descrição de alguém que está sendo “mais amigo dos prazeres do
que amigo de Deus” (2 Timóteo 3.4). Afinal, mesmo sendo cristão,
ele vive “escravo das paixões e dos prazeres” (Tito 3.3).
Eu sei que a expressão “ESCRAVO das paixões e dos prazeres”
usada por Paulo é muito forte, sei também que se refere
primariamente aos infiéis mundanos que nunca abriram seus
corações para o Senhor, contudo, infelizmente, a imoralidade sexual
pode mesmo aprisionar até um cristão nascido de novo. Você não
entendeu errado, foi isso mesmo que eu disse: aprisionar!
Falar simplesmente que um cristão realmente nascido de novo
jamais se deixaria prender em um pecado dessa natureza
demonstra ignorância e falta de temor. Não me entenda mal, eu não
estou aqui tentando advogar em causa própria, pois eu também não
tinha muito conhecimento a respeito da gravidade da situação, ainda
que tivesse praticado pecados sexuais regularmente durante um
bom período da minha vida cristã. Afinal, uma coisa é você ter um
determinado comportamento e outra coisa é você entender o
comportamento que tem.
Até pouco tempo atrás eu tinha bastante consciência dos
problemas que EU enfrentava, mas nunca tinha sequer lido qualquer
livro sério que falasse especificamente sobre o assunto.
UM POUCO DA MINHA HISTÓRIA
De fato, eu recebi Jesus como Senhor da minha vida por volta de
1990, com 16 ou 17 anos, quando fui milagrosamente curado de
esquizofrenia após ter passado um período internado na Casa de
Repouso Nosso Lar na cidade de Fortaleza, capital do Ceará.
Depois de pouco tempo eu já estava devorando as Escrituras
durante as minhas madrugadas. Durante um período de mais ou
menos dois ou três anos eu fiquei firme em minha vida de
comunhão com Deus. Mesmo não sendo instruído por outra pessoa,
decidi não namorar e passei alguns anos assim. Além disso,
ingenuamente pensava também em não me casar para viver
dedicado à obra de Deus. Sem ter tido uma vida mundana muito
devotada ao sexo e com base na minha experiência cristã até então,
aquele almejo de ter uma vida celibatária não parecia ser para mim
uma coisa impossível de se viver.
Acontece que algum tempo depois de fazer os meus 18 anos o
prazer da amizade com alguém do sexo oposto começou a estar
mais presente em minha vida e, mesmo sem fazer planos a respeito
do assunto, comecei a me pegar pensando constantemente sobre
uma amiga cristã com a qual eu tinha certa proximidade.
Não demorou muito e já estava aceitando a ideia da
possibilidade de ter um namoro com alguma irmã com quem eu
viesse a me casar um dia.
Não muito depois, ocasionalmente, comecei a namorar uma
moça cristã. Ficamos juntos por um bom tempo, ao longo do qual o
relacionamento foi paulatinamente evoluindo, fomos ficando mais
amigos e mais íntimos. O problema é que a intimidade sem
responsabilidade abre portas para o desejo sexual que são muito
difíceis de serem fechadas se o jovem cristão não for muito bem
acompanhado ou instruído a respeito desses assuntos - e era
exatamente este o meu caso.
Eu tive um relativo sucesso nos meus três anos iniciais de
caminhada cristã até entrar naquele relacionamento, mas a
intimidade que tolamente eu havia desenvolvido me havia deixado
vulnerável a uma força da natureza que eu não iria evitar. Por causa
dos erros cometidos e da irresponsabilidade com que levei aquele
relacionamento, o desejo sexual se tornou maior do que a minha
capacidade de controlá-lo. Foi quando então, pela primeira vez, tive
uma experiência sexual mais profunda acompanhada não só de
orgasmo, mas também de envolvimento e compromisso emocional.
Até então eu só tinha tido relações sexuais com uma única
menina, quando éramos ainda muito novos e mesmo assim, nunca
havia experimentado orgasmo naquelas experiências. Muito embora
eu sentisse atração e gostasse de ter algum contato com aquela
garota, a experiência para mim chegava a ser um pouco infantil.
Mesmo tendo vivido uma vida mundana recheada de drogas,
álcool e muitas festas em meio a colegas que buscavam a mesma
coisa que eu, na verdade nunca cheguei a ter uma vida sexual ativa
durante meu período não cristão. Eu conhecia a masturbação, mas
durante boa parte da minha adolescência, antes de me converter, eu
estava mais envolvido numa busca espiritual sobre o sentido da
vida. Até cheguei a ler o livro hindu “Bhagavad Gita” e me esforcei
para “voltar para Deus” através das meditações e práticas
ensinadas por Krishna.
O resultado é que fiquei completamente louco, inclusive tentando
matar minha irmã enforcada certa noite. Naquela mesma noite,
depois de muita confusão e gritaria, eu acabei sendo internado
pelos meus pais em um manicômio.
Quando finalmente minha mãe me tirou do hospício, ao voltar
para casa, percebi que minha irmã tinha “virado crente” e minha
mãe também estava indo para a igreja. Levou ainda um bom
número de meses até que eu viesse a nascer de novo, e até esse
dia eu ainda tomava remédios controlados regularmente.
Para encurtar a história, depois de levantar a mão cinco vezes e
ir à frente da igreja para “receber Jesus”, finalmente eu nasci de
novo na casa de um amigo e, naquela noite, meu espírito foi
recriado. Enquanto eu ia para casa normalmente com a minha irmã,
eu sentia como se estivesse andando sem pisar no chão. Tudo
havia mudado radicalmente. Mesmo sem saber o que estava
acontecendo, eu tinha me tornado (conforme viria a descobrir
depois) uma “nova criatura”.
Cerca de três anos depois eu estaria noivo, mas não apenas
isso, depois de um ano e meio de relacionamento eu também
estaria começando a ter uma vida sexual ativa fora dos padrões da
Palavra.
Mesmo pensando que iria me casar em alguns meses com
aquela moça, aquele comportamento me fez dar ao sexo um lugar
que ele não deveria ter na minha vida. Pelo menos não daquela
forma, tendo que pecar para poder usufruir dele.
Para piorar a situação, no dia 25 de dezembro de 1994, perto
das 20 horas, minha noiva me devolveu a aliança e disse que não
iríamos mais nos casar. Na ocasião eu fiquei desesperado, sem
entender o porquê. Ainda tentei inutilmente convencê-la de que não
deveríamos nos separar devido ao compromisso que já tínhamos.
Nada do que eu dizia parecia ter algum efeito nela, o que me fazia
ficar ainda mais desolado.
Não se passou muito tempo até que eu descobrisse que a
grande frustração decorrente daquele rompimento me afetaria
profundamente. Para transformar uma história longa em curta, basta
dizer que passei três meses de desespero e angústia, sem saber se
matava ou se morria.
O fato é que desde então eu tive muita dificuldade ao tentar
vencer o desejo pela busca do prazer sexual. A grande parcela de
pecados sexuais que cometi em minha vida aconteceu durante o
período em que eu já era crente e não antes disso.
Eu sinto muita tristeza ao dizer isso, mas aquela experiência de
ceder à tentação naquele relacionamento e praticar o pecado
sexual, ainda que se tratasse de um relacionamento sólido, colocou
uma semente do mal em minha vida que ainda iria germinar e
produzir muitos frutos desagradáveis, frutos estes dos quais não
conseguiria me livrar durante muitos anos ainda.
Não estou querendo dizer que por causa de frustrações
amorosas as pessoas se tornarão promíscuas. Ainda que
experiências dessa natureza possam contribuir para isso, acredito
que cada situação tem as suas próprias particularidades, e que isso
não deve ser usado como desculpa para dar vazão ao desejo
sexual.
Em meu caso, eu não passei a viver uma vida completamente
promíscua desde então simplesmente porque minha experiência
com Deus no novo nascimento tinha sido muito forte. Desde o
começo da minha caminhada cristã eu tive uma vida de oração
muito consistente, chegando a orar por 3 horas, duas ou três vezes
por semana. Mas, sem dúvida alguma, uma coisa era minha vida
antes de ter cedido ao pecado sexual e outra coisa foi o que ela se
tornou depois daquilo.
Aceitar a possibilidade de me masturbar “uma vez ou outra”
pensando em alguma moça atraente cuja imagem ficara em minha
mente já era suficiente para me fazer querer pecar mais. O
resultado é que cheguei a ficar obcecado em masturbação e
pornografia durante muito tempo, e por longos períodos eu estive
apenas procurando satisfazer aquele desejo diabólico.
Durante muitos anos eu estive sempre “tentando” vencer a busca
pelo prazer sexual. Em algumas ocasiões eu tinha sucesso e
noutras ocasiões, nem tanto. Passava um certo período exercendo
algum controle, somente para depois, voluntariamente, procurar na
pornografia alguma coisa que pudesse saciar o meu desejo pelo
pecado sexual.
Ainda com os meus vinte e poucos anos, já com sérios
problemas em relação à masturbação, eu tinha vergonha de
comprar qualquer livro em uma livraria evangélica cujo tema falasse
a respeito de pecado sexual. Se fosse um livro que tratasse sobre
sexo no casamento ou sobre namoro, casamento e sexo, eu o
comprava sem problema algum. Todavia, se o livro fosse
especificamente voltado para o debate ou explicação do PECADO
sexual, eu tinha vergonha até mesmo de deixar alguém me ver
segurando-o ou folheando as suas páginas em uma livraria.
Não que eu encontrasse tantos livros sobre esse assunto
naquela época. Pode ser que eu esteja enganado, mas eu tenho a
impressão de que não havia muitos livros dessa natureza no meio
cristão alguns anos atrás. Lembro que encontrávamos facilmente
livros que falavam sobre “namoro cristão”, sobre casamento e sexo
e alguns até que se propunham a falar sobre masturbação, mas não
me recordo de ter visto livros que falassem explicitamente sobre o a
imoralidade sexual.
Embora hoje em dia os livros estejam abundantemente
disponíveis aos cristãos, o maior problema para um crente “viciado”
na imoralidade sexual se deve ao fato de que ele está preso e, até
certo ponto, incapacitado de tomar uma iniciativa de qualidade que o
faça dar os passos necessários rumo à sua libertação e purificação.
Posso testemunhar, falando por mim, que até certo tempo atrás,
mesmo em casa, sozinho, eu não conseguia ler os poucos livros
que tinha que tratavam sobre o assunto. Eu me distanciava não
apenas do livro, mas da própria IDEIA de começar a lê-lo. Da
mesma forma, quando me deparava com passagens da Bíblia que
tratassem sobre impureza, pecados sexuais e coisas semelhantes,
eu me sentia profundamente incomodado e muito desconfortável.
Todas as vezes postergava uma possível leitura séria sobre o
problema para algum dia distante.
Não sei se existe algum cristão que pense que os problemas de
imoralidade sexual, que porventura enfrente, serão resolvidos
quando ele finalmente se casar; mas, para aqueles que pensam
assim, deixo meu conselho: é melhor encarar a realidade — o
casamento não resolverá o seu problema de imoralidade sexual, ao
invés disso, você levará o problema para dentro do casamento e
pode até estragá-lo.
Ana tem sido uma bênção na minha vida desde o dia que nos
casamos e a verdade é que somos felizes, temos uma vida
harmoniosa a despeito dos pecados sexuais contra os quais eu
lutava secretamente. Costumo dizer que ela poderia ter se casado
com qualquer outro homem melhor do que eu, mas provavelmente
eu não teria conseguido uma mulher tão maravilhosa quanto ela.
No início do nosso casamento consegui abafar por um tempo os
desejos sexuais ilícitos, mas como o problema não tinha sido
realmente resolvido, nas primeiras oportunidades ele viria à tona
novamente, como de fato aconteceu já nos primeiros anos de
casado.
Nunca se esqueça disso: se você não se decidir por parar o
pecado, um dia ele vai conseguir parar você! Tratar o pecado como
se fosse um bichinho que pode ser adestrado poderá ser mortal
para o ingênuo treinador. Mais cedo ou mais tarde a natureza
selvagem e feroz do pecado se revelará com toda a sua força.
Acredite, até coisas que hoje parecem pequenas e sem muita
importância poderão se tornar trampolins para um mal maior no
futuro. Já tive a oportunidade de ler livros e ouvir preleções de
alguns orientadores sexuais falando em defesa da masturbação.
Todavia, mesmo que alguém acredite que consiga se masturbar
sem pensar em alguma coisa pecaminosa, apenas através da
fricção e do contato, é bom lembrar que o sexo criado por Deus tem
como sentido primário a expressão de amor e interação entre duas
pessoas que se unem através do matrimônio. Quando o cônjuge
toca o órgão genital do outro, isso não deveria ser chamado de
“masturbação”, pois é na verdade uma carícia, parte integrante no
processo do ato sexual. A masturbação é o ato isolado, individual e
mesmo que alguém se masturbe “pensando em sua esposa”, este
comportamento não reflete a expressão sexual originalmente criada
por Deus para ser partilhada pelos dois no casamento.

Além do mais, alguns estudiosos declaram que quando alguém


se habitua à prática da masturbação isso afetará o “registro mental”
deste individuo em relação ao caminho percorrido até alcançar o
prazer. A masturbação tem em si, pelos elementos que a
constituem, todos os fatores que a fazem ser uma forte concorrente
para o próprio ato sexual. A pressão devidamente exercida no toque
da mão, a facilidade no controle do ritmo e todos os outros
pormenores, fazem com que a experiência da masturbação registre
na mente humana uma referência irreal daquilo que será o ato
sexual quando ele acontecer. Em alguns casos o resultado será a
frustração e a decepção, fazendo inclusive que alguns alcancem
mais prazer na masturbação do que no sexo real.

Enquanto alguns tinham conhecimento de alguns dos meus erros


e outros suspeitavam, eu ia levando as coisas sem muita esperança
real de libertação. Em alguns momentos da minha vida cheguei a
esboçar uma conversa sobre o assunto com algum amigo e até
mesmo com Ana, minha esposa, mas nada tão profundo ou mesmo
que seguisse algum padrão bíblico que pudesse realmente resolver
a situação de forma permanente.
Somente hoje eu sei com propriedade, e posso afirmar com
conhecimento a respeito do assunto, sobre o que aconteceu
comigo: depois de alguns anos abrindo exceções e dando lugar à
carne, eu estava me viciando na imoralidade sexual. E só
recentemente fui ler os primeiros livros evangélicos que tratam
específica e abertamente a respeito dessa questão.
Uma coisa é certa: Todo pecado cometido e não tratado
(positivamente resolvido), sempre abre alas para um próximo
pecado que chegará depois, como em uma corrida de revezamento.
De fato, quanto mais o homem peca, mais o homem quer pecar.
Não existe a possibilidade de você “pecar logo tudo de uma vez”
para no futuro não ter mais vontade.
Para o homem, cristão ou não, o pecado sexual é uma espécie
de areia movediça cujo caminho se deve evitar, pois se aventurar a
pisar sobre esta areia na esperança de apenas ter alguma aventura
para contar aos amigos, pode ser uma tolice grande demais da qual
você nem sequer terá tempo para poder se arrepender. Como
alguém preso em areia movediça, você poderá tentar sair sozinho
se debatendo para lá e para cá, fazendo apenas com que você
afunde mais e mais.
Chega um ponto na vida daquele que se vicia na imoralidade
sexual que somente com a ajuda de outros ele conseguirá sair
daquele buraco no qual foi se meter. Acredite, se você entrar numa
situação como essa, precisará ser socorrido por alguém para sair de
lá ou precisará de alguma situação que interfira no curso da sua
vida lhe trazendo salvação desse buraco.
Quando o problema ainda está no começo e você ainda sente o
peso das acusações da sua consciência, é possível refrear aquele
apetite sexual enquanto ele ainda não tem domínio sobre você. Mas
a partir do momento em que o prazer efêmero de uma simples
masturbação pode proporcionar se torna uma motivação maior do
que agradar a Deus e viver à luz da sua palavra, então você já está
beirando o limite da desgraça inevitável.
TRÊS PROBLEMAS PRINCIPAIS
Eu penso que qualquer cristão que acaba se tornando obcecado
em imoralidade sexual passa pelo mesmo processo a seguir; ainda
que estes princípios possam ser aplicados em qualquer outro
contexto.
Número 1
Primeiro a pessoa se descuida imperceptivelmente com a ordem
de prioridades que ela tem na vida. Na teoria tal pessoa poderia
definir muito bem sua ordem de valores: primeiro Deus, segundo o
próximo e por último eu. No entanto, na prática, as coisas já não são
mais assim há algum tempo. Aquilo que tem o primeiro lugar em sua
vida, é aquilo sobre o que você gasta mais tempo pensando, é
aquilo para o que você volta constantemente de forma intuitiva, é
aquilo ao redor do que você está gravitando mesmo sem perceber.
Às vezes é um namorado, até um ministério cristão, ou qualquer
outra atividade.
Quando um cristão não tem o relacionamento íntimo com Deus
como prioridade absoluta em sua vida, ele sempre estará em
território vulnerável. Quanto mais as “coisas da vida” vão tomando
mais espaço do que deveriam, mais ele se aproxima do seu limite
como cristão.
“AQUELE QUE ESTÁ EM PÉ,
VEJA QUE NÃO CAIA”
Há tempos atrás escrevi um texto em minha página no facebook
onde compartilhava singelamente um pouco da minha experiência
com o pecado da imoralidade sexual e também da libertação que
obtive pela graça de Deus. Na ocasião, alguns amigos querendo
demonstrar interesse e cuidado com a minha vida, se solidarizavam
dizendo: “Amém, irmão Natan, isso poderia ter acontecido com
qualquer um, pois a Bíblia diz aquele que está em pé, veja que não
caia”. Antes de qualquer coisa eu quero dizer que compreendi
perfeitamente a intenção daqueles que usaram esse texto na
tentativa de demonstrar amor ou cuidado para comigo, mas acredito
que a aplicação que alguns fizeram desse versículo estava pelo
menos, um pouco fora do contexto.
Paulo não estava querendo dizer com isso que qualquer um
poderia simplesmente cair, afinal se o fosse, as coisas estariam
muito confusas na cabeça dele, pois logo em seguida, no próximo
versículo, ele ACRESCENTA: “Não vos sobreveio tentação que não
fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados
além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação,
vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar” (1 Coríntios
10.13).
Como ele poderia estar dizendo que qualquer um que está em pé
pode cair se, logo em seguida ele diz que na vida não
experimentamos tentação acima das nossas forças e que Deus,
além disso, ainda nos dá o livramento para que a possamos
suportar? Como qualquer um poderia cair se todos poderiam
suportar?
Uma leitura cuidadosa do contexto de 1 Coríntios 10 nos fará
compreender o que Paulo tinha em mente ao ter falado daquela
forma.
Desde o final do capítulo 9 Paulo vinha falando sobre a
importância de exercer controle sobre as inclinações do nosso
corpo, as inclinações carnais; e ao iniciar o capítulo 10 ele ainda não
mudou de assunto. Em outras palavras é como se Paulo estivesse
dizendo o seguinte: “meu objetivo ao tratar sobre essas coisas é
porque não quero que vocês ignorem o fato de que nossos
antepassados também tiveram sua própria experiência com Deus e
mesmo assim fracassaram ao longo da caminhada. E podemos
dizer que eles também tiveram um tipo de batismo e um tipo de
alimentação espiritual, assim como nós também temos, contudo,
Deus não se agradou da maioria deles”.
Por que Paulo parecia acreditar que o exemplo dos israelitas
tivesse alguma utilidade para os cristãos de hoje em dia? Ele
mesmo explica: “o que acontece é que essa história serve de
exemplo para nós, AFIM DE QUE NÃO COBICEMOS AS COISAS
MÁS, como eles cobiçaram”. Entenda que o texto está na verdade
dizendo que “Deus não se agradou da maioria deles” somente
depois de eles terem cobiçado essas coisas más. E Paulo ainda diz
claramente que “isto é um exemplo para nós!” (1 Coríntios 10.5,6).
Os que caíram, na história que serve de exemplo, ou, como
Paulo diria, “ficaram prostrados no deserto”, são aqueles que não
agradaram a Deus porque em sua vida outras coisas tinham mais
importância do que servi-lo fielmente. Seus desejos e inclinações
carnais os controlavam mais do que sua vontade em ter comunhão
com Deus. O que precisamos entender é que esse estado de
fraqueza espiritual se desenvolve gradualmente à medida que
vamos alterando nossa ordem de prioridades.
Não vos façais, pois, idólatras, como alguns deles; porquanto
está escrito: O povo assentou-se para comer e beber e
levantou-se para divertir-se (1 Coríntios 10.7).
A idolatria acontece na vida do cristão quando alguma coisa tem
mais espaço para acontecer do que o seu relacionamento com
Deus. Na prática, aquilo que tem o primeiro lugar em sua vida é
aquilo sobre o que você gasta mais tempo pensando, é aquilo para
o que você volta constantemente de forma intuitiva, é aquilo ao
redor do que você está gravitando mesmo sem perceber. O que
para você se torna muito precioso controlará o seu coração (Mateus
6.21). Pode ser um relacionamento, um trabalho, os cuidados desta
vida e até mesmo as saudáveis distrações deste mundo: “comer,
beber, divertir-se”.
Do versículo 7 ao versículo 10 , Paulo dá alguns exemplos
práticos de algumas coisas erradas que os israelitas fizeram:
idolatria, imoralidade, tentar a Deus, murmurar. Então, ainda em tom
de advertência, ele chama a atenção dos irmãos em Corinto para se
autoavaliarem, pois se alguém PENSA que está em pé, como
alguns daqueles também pensavam que estavam, é melhor terem
mais cuidado, à luz do exemplo dado, para que TAMBÉM não
caiam.
Se um cristão mantém suas prioridades em ordem, sempre
mantendo a comunhão com Deus em primeiríssimo lugar, ele jamais
irá dar espaço a qualquer substituto ou concorrente desta
comunhão. Desta forma, e somente desta forma, o cristão poderá
experimentar o que Paulo diz no versículo 13: “A tentação não será
maior que as vossas forças e Deus vos dará livramento para toda e
qualquer tentação que vocês possam vir a enfrentar”. Por isso
devemos pensar com mais carinho sobre o que pode estar sendo
um concorrente à nossa comunhão com Deus nos padrões da
Palavra, e assim, amados irmãos, fugirmos da tentação.
Como havia dito, quando um cristão não trata o relacionamento
íntimo com Deus como prioridade absoluta em sua vida, mais ele se
aproxima do seu limite como cristão. Um bom exemplo disso é o
que na navegação marítima eles chamam de “linha de carga
máxima”: uma espécie de “linha limite” em relação à segurança da
navegação que se fará através de determinado navio.
Todos os navios construídos têm um limite de carga máxima
como medida de segurança e condição de trabalho. Para tal, em
todos existem representações gráficas pintadas no casco do navio
indicando as linhas de flutuação acima das quais não se deve
carregar mais peso, caso contrário ficará comprometida a segurança
do navio.

As regras para determinar a linha de carga máxima de um navio


servem para evitar o excesso de carga cujas medidas têm sido
regulamentadas desde os tempos do Império Romano.

Na Idade Média os estatutos das antigas repúblicas italianas


mais diretamente ligadas ao mar como Veneza e Génova, incluíam
normas reguladoras para evitar excesso de carga a fim de
resguardá-las dos naufrágios motivados por tais excessos.

Assim também para que “não sejamos tentados além das nossas
forças”, precisamos respeitar os “limites de carga máxima” que
podemos suportar. Pois será relativamente difícil continuarmos “de
pé” ao tentarmos resistir às tentações que surgirem se estivermos
sobrecarregados.

Somente por meio de um relacionamento íntimo e diário com


Deus poderemos nos manter na condição espiritual necessária para
usufruir dos livramentos divinos, de sorte que possamos suportar
toda e qualquer tentação.

Número 2

O segundo problema que experimentei nessa linha de


degradação espiritual foi uma espécie de cuidado desmedido com o
meu próprio bem estar. Quanto menos o cristão se dedica ao
relacionamento íntimo com Deus, mais ele se concentra em si
mesmo.
Não existe cristão que vá conseguir viver realmente em paz se
estiver muito focado em sua própria vida, buscando de alguma
forma realizar seus sonhos e projetos pessoais.

Obviamente que não estou defendendo o cristão preguiçoso e


que não tem objetivo na vida. Claro que existe o aspecto saudável
em relação aos projetos pessoais na vida do cristão, mas quando as
coisas estão em desequilíbrio, isso pode se tornar uma fuga que se
mostrará decepcionante no futuro.

Sei que isso pode soar insignificante para alguns, mas somente
quando você mantém uma vida de oração constante e de meditação
na Palavra é que você percebe o quanto pode ser superficial em seu
estilo de vida cristão. E é exatamente por isso que sentimos as
pressões que a vida oferece com muito mais impacto do que
deveriam ter em nossas emoções.

Quando estamos vivendo assim, ficamos ressentidos com as


pessoas com muito mais facilidade, afinal, alguém nos feriu, alguém
nos criticou, alguém não nos valorizou. Exatamente porque nosso
foco principal está mais em nós mesmos do que em Deus, ficamos
ridiculamente sensíveis e desnecessariamente preocupados com a
nossa aceitação diante dos outros.

Preciso dizer o quanto isso pode ser perigoso para um cristão? A


vulnerabilidade causada pela inversão de valores espirituais e pela
supervalorização dos seus sentimentos e do seu bem-estar será o
cenário ideal para que o cristão esteja pronto para pecar com mais
dedicação. Inclusive, às vezes achando que tem uma boa
explicação do porquê chegou a cometer aquele pecado sexual,
POIS, “estava muito mal e ficou vulnerável”, afinal, “seu cônjuge não
lhe valorizou como ele merecia”.
É verdade que quando alguém está se sentindo mal consigo
mesmo fica mais vulnerável, e, se, além disso, busca a aceitação
dos outros, estará mais propício para as seduções de prazeres
mundanos. No entanto, toda essa instabilidade emocional começa
quando o cristão se habitua a inverter as coisas na sua vida
espiritual, esquecendo-se que as primeiras coisas devem vir em
primeiro lugar!
Depois do meu processo de arrependimento por causa de
pecados sexuais, em uma das madrugadas de oração eu falava
com Deus particularmente a respeito de mágoa, ressentimentos e
orgulho. Pude ouvir claramente o Senhor falando em meu coração
pelo seu Espírito: “o remédio para o orgulho e para o ressentimento
é o amor.” E quanto mais eu orava, mais isso ficava claro para mim.
Quando realmente entramos em sintonia com o coração de Deus
por meio da oração podemos ter um vislumbre do tipo de
pensamento que ele tem pelos homens. Em condições assim, fica
difícil ter raiva ou guardar ressentimentos de alguém, pois o amor
que Deus tem por aquela pessoa você acabou de sentir qual é.
Pude perceber que se alguém ama os outros, se realmente se
importa com o bem-estar alheio e espera realmente que Deus lhes
conceda bênçãos e momentos de alegria, não sobrará espaço para
ficar triste porque uma destas pessoas o “ofendeu” ou “criticou”.
Se alguém disser alguma coisa que contrarie meus interesses ou
que vá de encontro ao que sinto, isso não me afetará com tanta
força como poderia se eu estiver andando em amor e tiver real
interesse pela felicidade na vida dos outros. O orgulho desaparece e
os ressentimentos se tornam inexistentes, pois o amor de Deus
compartilhado ao meu coração me fará ver as pessoas como Deus
as vê e o sentimento mais natural que brotará quando alguém agir
errado para comigo será de compaixão e misericórdia.
“Quem ama é paciente e bondoso, nunca desiste. Quem ama
se preocupa mais com os outros que consigo mesmo, por isso
não é ciumento, nem orgulhoso, nem vaidoso. Quem ama não
quer o que não tem. Quem ama não é esnobe, nem grosseiro,
nem egoísta; não fica irritado, nem guarda mágoas, pois
quem ama não se impõe sobre os outros e não age na base
do “eu primeiro”. Quem ama não contabiliza os pecados dos
outros, muito menos festeja quando os outros rastejam, e o
seu único prazer está no desabrochar da verdade. Quem ama
tolera qualquer coisa e nunca desiste, pois sempre confia em
Deus e sempre procura o melhor. Quem ama nunca olha para
trás, mas prossegue até o fim. O amor é eterno e quem ama
nunca morre”.
Paráfrase de 1 Coríntios 13.4-8 mesclando as versões “A
Mensagem” e “Nova Tradução na Linguagem de Hoje”.
Número 3
Particularmente em meu caso, o terceiro problema nessa ordem
decadente de Cristianismo foi o próprio “vício” na imoralidade
sexual. Com outras pessoas o problema talvez se manifeste em
uma área diferente.
Mas o fato é que por causa do meu descuido pessoal pude
desenvolver uma condição espiritual e emocional por meio da qual o
prazer sexual tornou-se uma atração forte demais para conseguir
resistir. Posteriormente no livro pretendo falar mais sobre libertação
da imoralidade e também demonstrar pelas Escrituras o que o
Senhor tem me ensinado a respeito do assunto.
Eu não tinha o entendimento a respeito do vício sexual como
tenho hoje. Mesmo trazendo todos os sinais de alguém inclinado ao
vício sexual, até então eu pensava que aquele comportamento se
tratava apenas de mais um pecado que deveria ser vencido. Mas
como disse anteriormente, quando um cristão se habitua a pecar e a
este pecado volta regularmente por vontade própria, especialmente
na área sexual, este cristão está na verdade tecendo cordas
diabólicas das quais dificilmente conseguirá sair sozinho no futuro.
De fato, alguns profissionais da área de saúde juntamente com
especialistas cristãos, argumentam que a dependência do prazer
sexual pode chegar a ser maior que a dependência química
convencionalmente conhecida e asseguram que, em certos casos,
se trata de um problema difícil de ser vencido sem a administração
de remédios.
ENTENDENDO MELHOR O PROBLEMA
Em algumas situações mais graves, os especialistas receitam
antidepressivos, medicamentos que atuam no sistema nervoso e
rebaixam a libido. Alguns defendem que os remédios podem
também ser coadjuvantes da psicoterapia.
É possível depender de sexo como de cocaína ou crack?
Enquanto alguns ainda pensam que não, para alguns cientistas isto
é fato, pois entendem que as pessoas podem viciar-se em sexo e
em outros tipos de comportamentos. As alterações químicas do
cérebro durante a masturbação com base em pornografia justificam
essa interpretação mais ampla da dependência. A ânsia e o desejo
sexual ativam, no cérebro, de forma semelhante que as drogas, o
mesmo circuito do prazer, e, da mesma forma, também liberam a
mesma substância neurotransmissora, a dopamina.
Assim como em todas as outras necessidades básicas do corpo
humano, se o prazer sexual é mantido dentro de um padrão de
normalidade, isso jamais chegará a ser um problema. Mas como em
todas as outras “obras da carne”, se a pessoa perde o controle e se
entrega ao prazer indo além do limite, a situação poderá ficar bem
complicada.
Já está cientificamente provado que a compulsividade sexual
(assim como qualquer droga) pode modificar a estrutura e a função
do circuito cerebral relacionado ao prazer, gerando as
características da dependência: aumento de tolerância à substância,
crise de abstinência, compulsão e recaída.
O “aumento de tolerância” significa que a pessoa envolvida em
tal prática necessitará cada vez de uma quantidade maior (ou
buscará novas modalidades de imoralidade) para sentir o mesmo
prazer, a exemplo do que acontece com o viciado em drogas que
depois de certo tempo, pequenas quantidades já não fazem mais
efeito.
Alguns pensam que ainda não há estudos suficientes que
mostrem que o sexo seja capaz de promover esse tipo de alteração
neurológica, mas especialistas em anatomia e fisiologia tem feito
alertas convincentes a respeito do tema. O professor Gary Wilson
tem feito palestras e dado entrevistas sobre o assunto e tem
afirmado categoricamente que a masturbação com o uso da
pornografia tem, de fato, causado mudanças anatômicas no cérebro
humano.
Há motivos para acreditar que fatores biológicos também tenham
participação no descontrole sexual. Alguns tipos de demência, por
exemplo, podem causar um aumento do desejo por sexo. Outro
exemplo é que certos remédios usados no tratamento de mal de
Parkinson também podem elevar a libido. Eles alteram o efeito da
dopamina, o mesmo neurotransmissor associado à busca pelo
prazer sexual. “Isso reforça a ideia de que existe algo diferente no
funcionamento do cérebro de quem é compulsivo por sexo”, diz o
psiquiatra Marco de Tubino Scanavino, responsável pelo
Ambulatório de Impulso Sexual Excessivo do Hospital das Clínicas
(HC), em São Paulo.
A dependência física, também chamada no meio científico de
dependência química, é considerada uma doença crônica,
progressiva e potencialmente fatal quando não tratada.
Alguns dos programas de aspecto meramente natural que são
utilizados para a libertação do compulsivo por sexo são semelhantes
aos que funcionam com drogados e alcoólatras. Mas, ao contrário
do caso desses vícios, o dependente sexual não visa a recuperação
através da abstinência total, mas sim o fim do comportamento
doentio e compulsivo.
“A procura dos homens por ajuda é brutalmente maior do que a
das mulheres”, diz o psiquiatra Aderbal Vieira Júnior. Isso não
significa, porém, que só eles enfrentem o problema. Embora se
avalie que a compulsão seja mais típica no sexo masculino, muitas
mulheres deixam de buscar auxílio por puro preconceito.
O comportamento de um compulsivo sexual é determinado por
um conjunto de fatores e não está ligado necessariamente ao
número exagerado de parceiros. Uma pessoa com esse problema,
por exemplo, pode não ter relações há muito tempo, mas consumir
pornografia de forma desmedida. Os sinais da dependência podem
incluir também masturbação excessiva, prática de muito sexo
casual, entre outros sinais.
Um dos sinais que merecem atenção é o uso de pornografia ou
vídeos eróticos, especialmente on-line. Alguns especialistas
chegaram a dizer que o mundo digital é o “crack da compulsão
sexual”. Até certo tempo atrás para que uma pessoa obtivesse
acesso a material pornô (gráfico ou vídeo), ela teria que se deslocar
até uma banca de revistas, locadora ou sex shop e expor-se
pessoalmente para solicitar o conteúdo imoral; o que, até certo
ponto, inibia o impulso sexual indevido. Hoje, no anonimato e
praticidade da sua casa, o indivíduo pode entregar-se à pornografia
com certa facilidade. Essa é uma das razões do porquê este mal
tem proliferado nos dias de hoje.
Segundo Rico, presidente do grupo DASA (Dependentes de
Amor e Sexo Anônimos) no Brasil “as histórias dos viciados em sexo
são diferentes, mas os sentimentos são os mesmos”. Segundo ele,
os casos têm pontos em comum, mas cada pessoa desenvolve o
problema de uma forma, e cada um deles com origens também
diferentes. “O resultado emocional pode chegar ao mesmo ponto de
alguém que foi estuprado”, assim ele avalia.
“Dependência de sexo”, “comportamento sexual compulsivo” e
“transtorno hipersexual” são alguns dos termos usados no meio
científico e entre os profissionais da área de saúde quando se
referem ao problema em questão.
Ainda existem algumas dúvidas sobre como classificar o distúrbio
a respeito do qual estamos falando. O debate sobre o que aflige os
viciados em sexo acontece há mais de um século. A primeira
referência vem do psiquiatra alemão Richard von Krafft-Ebing, em
seu livro Psicopatias Sexuais, de 1886. Na obra, ele tenta
categorizar o que chama de “desvios sexuais”. Discute a
homossexualidade, o sadismo, o fetichismo e o que antigamente se
chamava de ninfomania, o excesso feminino de sexo.
O “desejo sexual excessivo” entrou para o rol do Código
Internacional de Doenças, publicado pela Organização Mundial da
Saúde. A quarta edição do Manual Estatístico de Doenças Mentais
(DSM, na sigla em inglês), que é a referência dos diagnósticos
psiquiátricos, não tem uma categoria própria para o problema. Cita o
comportamento sexual excessivo entre os “transtornos sexuais não
especificados”. A próxima edição do DSM, prevista para 2013,
deverá incluir uma menção a “transtorno hipersexual”.
Alguns especialistas da área de saúde declaram que
dependentes sexuais normalmente não procuram ajuda por conta
própria e que as chances de recuperação são maiores quando a
família compreende que se trata de um problema mais sério do que
parece e contribui no processo de tratamento.
O psiquiatra Aderbal Vieira Jr., especializado em dependências
não químicas, vê a internação em clínicas como a última opção.
“Acho que se o comportamento não está adequado na sua vida,
para refazê-lo o paciente tem que estar em contato com o mundo.
Porém, ficar fora do cotidiano pode auxiliar a romper um ciclo e se
reorganizar”, assim defende1.
COMO O CRISTÃO DEVE ENFRENTAR
UMA SITUAÇÃO COMO ESTA?
Steve Gallagher, Fundador e Presidente do Ministério Vida Pura,
comenta em seu livro “No Altar da Idolatria Sexual”, publicado no
Brasil pela Graça Editorial:
“Vício é um conjunto de hábitos pecaminosos de
pensamentos e ações que se transformam em um estilo de
vida. Assim, existem aqueles que desenvolvem um estilo de
vida de satisfação sexual e tornam-se viciados no ‘clímax’
associado à atividade sexual, da mesma maneira que outros
se viciam na euforia do álcool ou das drogas.
Quando os homens enfatizam demasiadamente a importância
do sexo na vida deles, este começa a ditar-lhes um estilo de
vida e eles ficam obcecados por pensamentos sexuais. No
fim, perdem o controle sobre com que frequência, com quem
e sob quais circunstâncias terão relações sexuais. Eles
tornam-se prisioneiros de um comportamento sexual
compulsivo. O que começa como ‘apenas se divertir um
pouco’ ou ‘satisfazer os desejos normais’, gradualmente os
atrai cada vez mais fundo para o lodo da escravidão. Se
continuarem sem se arrepender, Deus irá entregar-lhes a um
sentimento perverso (Rm 1.28).
Da mesma forma que o traficante do bairro induz alguém com
maconha de graça, com a intenção de conduzi-lo ao uso de
drogas pesadas, Satanás atrai sutilmente uma vítima
desprevenida para suas garras com algumas experiências
sexuais satisfatórias. Contudo, a Bíblia assegura que o gozo
do pecado durará somente por pouco tempo (Hb 11.25)”.2
Steve Gallagher, cujo ministério é essencialmente voltado para a
libertação da imoralidade sexual de cristãos, é um dos autores que
chamaram minha atenção devido à sua lucidez e maturidade ao
lidar sobre o assunto. Tendo sido compulsivo por sexo durante anos
em uma vida degradante que ia de mal a pior, o irmão Gallagher
chegou finalmente a alcançar sua vitória depois de alguns períodos
de altos e baixos. Desde então ele tem sido uma bênção não só
para explicar com maestria a respeito deste tipo de pecado, como
também para trazer a vitória para centenas de pessoas que foram
libertas nas casas de recuperação que fazem parte do Ministério
Vida Pura nos Estados Unidos.
Alguns dizem “eu sei que tenho esse comportamento, mas eu
não sou viciado, eu posso parar quando quiser”. O principal
problema, no entanto, é que na grande maioria dos casos, aquele
que está preso nesse círculo vicioso de pecado raramente chegará
a cogitar por si mesmo a possibilidade de QUERER parar! Em
muitas ocasiões esse é o verdadeiro problema: a falta de motivação
ou vontade que leve a pessoa a abandonar aquele comportamento.

Um dos problemas comuns de qualquer viciado é a negação. É


não reconhecer o problema e não passar a enfrentá-lo; e isso,
obviamente, contribui para mantê-lo preso na situação de sempre.
Por outro lado, como tratarei mais adiante neste livro, o contrário
também é verdadeiro, ou seja, é exatamente o reconhecimento, a
confissão, que contribuirá para o real processo de libertação. E
quando falo de libertação me refiro a uma resolução espiritual
decisiva para resolver o problema. Pois em alguns casos, sem as
medidas apropriadas serem tomadas, podemos tratar apenas AS
CONSEQUÊNCIAS e não tratar O COMPORTAMENTO.
Conseguimos livrar-nos dos “efeitos colaterais”, mas não atingimos
o cerne do problema promovendo a mudança radical e permanente
que todo cristão precisa.
O VÍCIO SEXUAL E A PRISÃO ESPIRITUAL

Existe um pregador Norte-Americano chamado K.W. Hagin que


costuma dizer que a “união do natural com o sobrenatural produzirá
uma grande força explosiva para o reino de Deus”, querendo com
isso dar a entender que se a parte natural e a sobrenatural de
determinado projeto ou acontecimento estiverem essencialmente
em linha com a vontade de Deus, um grande poder se manifestará a
favor de tal projeto. Eu penso que esta é uma grande verdade.
Todavia, a frase não deixa de ser verdadeira também no sentido
negativo: “a união do natural com o sobrenatural produzirá uma
grande força para o reino das trevas” caso as duas partes
envolvidas (a natural e a sobrenatural) estejam em linha com os
projetos e desígnios de Satanás.

Todos os aspectos naturais que mencionamos anteriormente


(incluindo os conceitos relacionados à patologia) unidos às forças
espirituais de Satanás (que se aproveita da brecha concedida pelos
homens que se entregaram ao pecado) fazem com que uma grande
força se apodere do indivíduo que tenha caído nesse laço.

Como já disse antes, eu entendo que ao ceder regularmente ao


pecado sexual o cristão estará se colocando numa prisão da qual
não conseguirá sair tão facilmente. “Prisão” talvez seja a melhor
palavra para descrever o estado daquele que se encontra viciado
em masturbação, pornografia ou qualquer outra prática sexual
indevida.

Eu penso que mais do que uma doença, o vício sexual é, acima


de qualquer outra coisa, uma prisão espiritual. E como qualquer
outro pecado, a prática regular da imoralidade sexual dará a
Satanás a FORÇA NECESSÁRIA para manter a pessoa debaixo de
um jugo do qual dificilmente ela sairá sem empreender muito
esforço.

Existem aqueles que pecam abertamente, cujo estilo de vida


pecaminoso não é segredo algum pois eles não se incomodam mais
com isso; há também aqueles que pecam, mas escondem tais
pecados o quanto podem, pois sentem-se envergonhados pelo que
fazem. A despeito dos pormenores e das implicações de cada caso,
podemos dizer que estes homens estão “presos no pecado”. Jesus
disse que “todo que comete pecado é escravo do pecado” (João
8.34).

Pedro, se referindo a um certo grupo de pessoas, disse que os


tais eram “escravos da corrupção” (2 Pedro 2.19), que é o mesmo
que “escravos do pecado”. Em Tito 3.3 vimos que Paulo usou a
expressão “escravos das paixões” e “escravos dos prazeres”.
A princípio, todas as expressões mencionadas acima, tais como
“escravo do pecado”, “escravos da corrupção” e “escravos das
paixões e dos prazeres” são usadas em conexão com o pecador
não regenerado; mas não é óbvio que o cristão que está subjugado
pelo vício e pela compulsão sexual está preso também?
Observe o texto a seguir:
Romanos 6.11-13
11
Considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus,
em Cristo Jesus. 12 NÃO REINE, portanto, O PECADO EM
VOSSO CORPO MORTAL, DE MANEIRA QUE OBEDEÇAIS
ÀS SUAS PAIXÕES; 13 NEM OFEREÇAIS cada um OS
MEMBROS DO SEU CORPO AO PECADO, como
instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus, como
ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus,
como instrumentos de justiça.
Sabemos que no texto de Romanos 6 Paulo está se dirigindo aos
cristãos nascidos de novo, que em Cristo foram legalmente libertos
do pecado. Muito embora os cristãos sejam libertos, Paulo
atentando para o lado prático da vida os adverte para que “o pecado
não reine em seu corpo mortal” e também diz para “não oferecerem
os membros do corpo ao pecado”, pois não devem “obedecer às
suas paixões”.
Ora, cada uma das coisas que Paulo diz que NÃO DEVE
acontecer, PODE ACONTECER se os cristãos não seguirem suas
instruções e não fizerem aquilo que for devido.
Romanos 6.16
Não sabeis que dAQUELE A QUEM VOS OFERECEIS
COMO SERVOS PARA OBEDIÊNCIA, DESSE MESMO A
QUEM OBEDECEIS SOIS SERVOS...?
A palavra grega doulos, que no versículo acima da versão que
estou usando é traduzida por “servo”, também significa “escravo”, e
é traduzida exatamente assim nos versículos 17 e 20 deste mesmo
capítulo 6 do livro de Romanos. Com exceção do versículo 16, todas
as outras ocasiões entre os versículos 17 e 22 onde aparecem a
mesma palavra, por alguma razão misteriosa, os organizadores
desta versão ao traduzirem a palavra optaram por “servos” quando o
texto se refere a Deus, e por “escravos” quando se refere ao
pecado. No entanto, a palavra traduzida é exatamente a mesma.

Outras versões da língua portuguesa como NTLH, NVI, BÍBLIA


VIVA, EDIÇÃO PASTORAL, entre outras, fazem uso apenas da
palavra “escravo ou escravos” em todas as ocasiões em que a
palavra doulos (ou derivados) aparece. Em tais versões a tradução
por “escravos ou escravidão” é a preferência absoluta em todas as
ocorrências nos versículos 16,17,18,19,20 e 22.

Tanto é possível que um cristão genuinamente renascido possa


se tornar escravo do pecado que Paulo diz que “daquele a quem o
cristão se oferecer para servir, desse mesmo ele será escravo”.

Paulo está dizendo literalmente no versículo acima que o cristão


será escravo daquilo a que ele se oferecer, inclusive do pecado! Na
continuação do versículo 16 ele explica que o cristão pode mesmo
vir a ser escravo do pecado: “Desse mesmo a quem obedeceis sois
servos, seja do pecado... ou...”. Paulo está falando em poucas
palavras o seguinte: “se vocês obedecerem ao pecado, vocês serão
escravos do pecado”.

Nesta situação de conflito existente entre as inclinações do


espírito recriado e as inclinações da carne, quando o cristão cede
espaço aos desejos do corpo com descontrole cada vez maior, mais
ele estará se tornando servo obediente daquilo que não deve. As
instruções de Paulo para que isso não chegue a acontecer são as
seguintes:

1. Não reine o pecado no vosso corpo.


2. Não ofereça os membros ao pecado.
3. Não obedeça às paixões do pecado.
4. Não se ofereça como escravo.

Lembrando que tudo isso que Paulo diz que não deve acontecer,
pode, sim, acontecer! E quando digo “pode” eu me refiro ao sentido
de ser “possível”. Por favor, não pense que esta é uma declaração
negativa que vai atrair o mal sobre a vida de alguém; antes, é um
reconhecimento de uma verdade da qual não se pode esquecer,
pois não existe força divina nos bastidores da vida que vá nos
proteger da nossa própria vontade de nos oferecermos ao pecado.

É uma situação triste, mas é algo que acontece com muito mais
frequência do que gostaríamos de admitir, especialmente no que diz
respeito ao pecado sexual. Somente reconhecendo a dura realidade
dos fatos poderemos ter maturidade para lidar com problemas
dessa natureza quando nos depararmos com eles e também
teremos mais maturidade para tratar com irmãos que forem
surpreendidos em algum pecado (Gálatas 6.1).

Por outro lado, quando somos ignorantes a respeito do assunto,


supondo que “crente de verdade” não fica escravizado por pecado
algum, nos afastaremos assustados sem nem mesmo saber o que
fazer em relação a algum irmão surpreendido em alguma falta. Isso
sem comentar que se o crente que está preso ao pecado sexual
ouvir os irmãos dizendo que ele “nunca se converteu de verdade” ou
que ele “nunca nasceu de novo” ou coisas semelhantes, se ele não
tiver muito conhecimento da pessoa de Deus, talvez ele até abra
mão do Cristianismo de uma vez por todas. Assim, nosso
Cristianismo consistirá em estarmos sempre tentando salvar todas
as pessoas do mundo desejando vê-las na igreja, mas não teremos
maturidade para ajudar a tirar o mundo de uma única pessoa salva
que já na igreja se encontra. Entretanto, não falarei sobre isso
agora, esse é um assunto que abordarei mais na frente.

Romanos 6.17-19
17
Mas graças a Deus porque, outrora, ESCRAVOS DO
PECADO, contudo, viestes a OBEDECER DE CORAÇÃO À
FORMA DE DOUTRINA a que fostes entregues; 18 e, uma vez
LIBERTADOS DO PECADO, fostes feitos servos da justiça. 19
Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa carne.
Assim como oferecestes os vossos membros para a
ESCRAVIDÃO DA IMPUREZA e da maldade para a maldade,
assim OFERECEI, AGORA, OS VOSSOS MEMBROS PARA
SERVIREM À JUSTIÇA PARA A SANTIFICAÇÃO.

Quando estávamos no mundo, sem Cristo, éramos “escravos do


pecado” (Romanos 6.17), quando um dia obedecemos de coração à
forma de doutrina a que fomos entregues, fomos “libertados do
pecado” (Romanos 6.18). E hoje, como cristãos, devemos oferecer
os nossos membros para servirem à justiça para a santificação
(Romanos 6.19).

Não obstante à libertação alcançada, como já vimos


anteriormente, quando o cristão insiste em desobedecer à doutrina à
qual fora entregue, ele experimentará o processo inverso da
libertação: ao oferecer novamente seus membros para a escravidão
da impureza, ele ficará cativo!

Paulo está explicando que outrora escravos do pecado os


cristãos foram libertos dele por obedecerem de coração à doutrina a
que foram entregues (versos 17 e 18), por outro lado a
desobediência no coração trará de volta a escravidão ao mesmo
pecado do qual tinham sido libertos antes.
Obviamente que não perderá sua salvação por causa disso, pelo
menos não a princípio; é o que podemos entender com base no
texto de 1 Coríntios 5 que trata sobre o irmão que vivia em pecado
sexual com a mulher do seu pai. A respeito do qual, Paulo,
preocupado com sua salvação, disse que seria melhor entregá-lo a
Satanás, para a destruição da carne, a fim de que o espírito dele
fosse salvo no dia do Senhor. Paulo estava dizendo que seria
melhor que ele morresse fisicamente do que ficar vivo tempo
suficiente para prejudicar a salvação do seu espírito. Melhor morrer
mais cedo fisicamente do que morrer mais tarde espiritualmente.
Sim, eu sei que é um fim horroroso mas é melhor que um horror
sem fim.
O irmão que oferece seus membros à serviço do pecado ainda
continuará sendo um cristão, mas vivendo um Cristianismo
medíocre. Ele continuará salvo, mas sempre arrastado pelos
prazeres mundanos. Ele continuará crente, mas muito facilmente se
guiará na vida tomando por base as inclinações carnais.
1 Partes da matéria publicada por Letícia Sorg pela revista época em 03/02/2012
2 Steve Gallagher, No Altar da Idolatria Sexual, Graça Editorial, Brasil 2003, p.21
CAPÍTULO 2
PRISÃO DIABÓLICA

No final do capítulo anterior comecei a introduzir o conceito de


prisão diabólica associado à prática da imoralidade sexual. Acredito
que poderíamos usar a ideia de “prisão” em muitos contextos e
abordagens diferentes, mas o meu objetivo aqui é mostrar um dos
aspectos bíblicos que faz associação entre o pecado repetitivo e a
força de Satanás para manter até mesmo um cristão cativo em uma
condição deplorável.
Em Romanos 6 vimos que Paulo dá recomendações diretas e
claras sobre o tipo de comportamento que os cristãos devem ter
depois que foram libertos do pecado ao nascer de novo. Pelo
próprio texto de Paulo percebemos que a razão dele dar tais
recomendações é porque espera que os irmãos não voltem a ser
escravos do pecado mais uma vez, depois de terem sido libertos
dele.
Em outras palavras, Paulo diz ser possível que um cristão que
uma vez já fora liberto possa vir a ser cativo novamente, pelo menos
em certa medida. Mesmo não sendo possível que um cristão
regenerado seja escravizado por Satanás em seu espírito, alma e
corpo, Paulo parecia acreditar que se o cristão mantivesse um
padrão de comportamento pecaminoso ele poderia, sim, vir a se
tornar escravo novamente, pelo menos no corpo.

As próprias expressões usadas por Paulo ensinam muita coisa


sobre a declaração que acabei de fazer no parágrafo anterior:
“Não reine o pecado em vosso corpo” – isso quer dizer que a
responsabilidade para que o pecado não venha a reinar sobre mim,
é minha! Eu tenho que fazer alguma coisa a respeito, mas se eu não
fizer, o pecado será o rei!
“Não obedeçam às paixões do pecado” – isso quer dizer que
está em minhas mãos tomar as providências necessárias para que
eu não obedeça às paixões, mas é completamente possível não
fazer o que é devido, e assim, vir a prestar-lhe obediência.
“Não ofereçam os membros do corpo ao pecado” – isso quer
dizer que eu não devo oferecer as partes do meu corpo a desejos
pecaminosos! Não oferecer os membros do corpo ao pecado é o
dever de todo crente e não necessariamente a realidade do dia a
dia, ou seja, é possível fazer exatamente o contrário da
recomendação bíblica!
Ainda que o cristão não tenha o direito moral de se oferecer
como escravo do pecado, ainda assim, ele tem a capacidade real de
fazê-lo (Romanos 6.16).
Quando o cristão se entrega ao pecado, ou como diria Paulo “se
oferece” ao pecado, ele se torna “escravo do pecado” ou “escravo
da impureza” (Romanos 6.16,19). Penso que Paulo não está falando
necessariamente de acidentes na vida de um cristão que por um
motivo qualquer, chega a cometer algum deslize do qual se
arrependerá logo em seguida. Ao usar expressões como “oferecei-
vos a Deus” e “daquele a quem vos ofereceis como servos”, Paulo
parece indicar um comportamento voluntário, um comportamento
deliberado e consciente por parte daquele que se oferece. Por isso
declarei no início deste capítulo que o pecado repetitivo ou
habitualmente praticado pelo cristão o colocará numa prisão
diabólica.
O cristão que hoje está preso na imoralidade sexual começou
ingenuamente se oferecendo às paixões carnais por vontade
própria, mas depois de certo tempo dando lugar ao diabo, o próprio
Satanás por meio do direito que lhe fora dado, passou a exercer
uma força espiritual sobre o cristão prendendo-lhe num cativeiro
espiritual.
Para o cristão que já está preso possa livrar-se do cativeiro é
necessário que haja uma intervenção divina, seja por meio de outro
cristão (usando os princípios da palavra que conduzem o homem ao
arrependimento), seja por meio de uma situação em sua vida que o
afete profundamente fazendo com que ele seja levado ao
arrependimento. Ainda assim, é importante dizer que, mesmo
quando o cristão pecador é repreendido, pode acontecer dele até
sentir-se envergonhado, sentir certo remorso pelos seus erros, mas
não vivenciar o arrependimento em si. Nesta condição é muito
provável que o cristão continue preso ao desejo pelo prazer do
pecado e mais cedo ou mais tarde ele volte ao mesmo
procedimento sujo e doentio.
Quando o arrependimento acontece, a unção do Senhor vem
sobre o cristão arrependido e as cadeias diabólicas são quebradas.
No capítulo onde trato especificamente sobre arrependimento
voltarei a falar sobre isso em mais detalhes.
Continuando com o assunto da prisão de Satanás, gostaria de
lembrar que a raiz da palavra grega traduzida em Romanos 6 por
“servos”, “escravos” e “escravidão” é uma só, e que a mesma
palavra grega que em certo versículo aparece traduzida por SERVO
é a mesma que noutro versículo aparece traduzida por ESCRAVO.
Isso me faz pensar sobre a época sombria da escravidão negra
da qual conhecemos um pouco aqui no Brasil. Uma vez que o
homem era capturado e arrancado do convívio dos seus familiares
ele já não tinha mais controle sobre a sua própria vontade e estaria
sujeito à vontade daquele que, petulantemente, ousava se chamar
de seu “senhor”. É exatamente isso o que Satanás faz com o cristão
que se deixa capturar por ele!

2 Timóteo 2.24-26
24
Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a
contender, e sim deve ser brando para com todos, apto para
instruir, paciente, 25 disciplinando com mansidão os que se
opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o
arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, 26
mas também O RETORNO À SENSATEZ, LIVRANDO-SE
eles dos laços do diabo, tendo sido FEITOS CATIVOS por ele
PARA CUMPRIREM A SUA VONTADE.
Há muitas verdades importantes nesse texto de 2 Timóteo, mas
por enquanto ficaremos apenas com a parte do versículo 26.
Observe a precisão usada por Paulo ao tratar sobre a situação
espiritual destes a respeito dos quais ele espera uma possível
libertação:

1. Estão em laços do diabo;


2. Foram feitos cativos pelo diabo;
3. Cumprem a vontade do diabo.

É importante lembrar que Paulo está falando sobre pessoas que


ele espera que RETORNEM à sensatez (v.26). Tais pessoas,
através de um processo gradativo, foram-se entregando ao pecado
como escravos e finalmente chegaram a uma condição de estarem
espiritualmente aprisionadas por Satanás.
Os laços do diabo, como a própria expressão já diz, se refere a
correntes ou algemas diabólicas pelas quais a pessoa se encontrará
presa, sem condições de sair dali por meios naturais.
A pessoa que foi feita cativa por Satanás já não tem mais a
liberdade de antes e, ainda que pense que está no controle da
situação, por não perceber o cativeiro no qual se encontra, ela na
verdade não passa de uma escrava. Trata-se de uma verdadeira
prisão sem muros.
Usufruindo do direito legal que lhe fora dado, Satanás maltratará
e humilhará o cristão levando-o a fazer aquilo que ele quer! Quando
o cristão está cativo na imoralidade sexual ele pode até não
perceber, mas muitos dos desejos que lhe ocorrem vêm daquele
que se assenhorou da sua vida e ele apenas responde
positivamente às ordens de Satanás para que assim cumpra a sua
vontade.
Por alguma razão às vezes não consideramos a realidade da
força espiritual satânica que pode até mesmo alterar as condições
fisiológicas do corpo humano. As Escrituras ensinam claramente
que Satanás tem a capacidade, quando o devido espaço lhe é dado,
de até impossibilitar o perfeito funcionamento de partes do corpo
através do seu poder.
Lucas 13.11
E veio ali uma mulher possessa de um espírito de
enfermidade, havia dezoito anos; andava ela encurvada, sem
de modo algum poder endireitar-se.
Acredito que o Espírito do Senhor escolheu as melhores palavras
possíveis para narrar este episódio de forma que pudéssemos ter
uma visão nítida do que realmente estava acontecendo ali. As
Escrituras dizem que a mulher NÃO PODIA DE MODO ALGUM
ENDIREITAR-SE. Isso significa que ela já tinha tentado endireitar-
se, já tinha feito esforço para endireitar-se, mas não conseguia de
jeito nenhum.
Se alguém lhe perguntasse: “Senhora, o que você tem?”, muito
provavelmente nem ela mesma saberia explicar a sua situação
corretamente. Os médicos podem chamar de artrite ou de
reumatismo a moléstia que tira a mobilidade das juntas, mas a
causa real é um espírito encarcerador do diabo.
O termo médico próprio para a surdez pode ser “nervos auditivos
mortos”, mas o problema real é um espírito de surdez (Marcos 9.25).
A ciência médica pode diagnosticar o caso de um menino que não
pode falar como sendo proveniente de “cordas vocais atrofiadas”,
mas o termo bíblico é um espírito de mudez (Marcos 9.25). O
especialista pode dizer que o “glaucoma” ou “cataratas” são a causa
da cegueira de uma pessoa, mas Jesus o chamou de demônio da
cegueira (Mateus 12.22).
Talvez aquela mulher de Lucas 13 nem sequer tivesse
consciência de que aquilo poderia ser o resultado de alguma
influência diabólica. Muito menos, talvez, pudesse ela admitir que se
tratasse de um cativeiro de Satanás:
Lucas 13. 16
Por que motivo não se devia livrar deste cativeiro, em dia de
sábado, esta filha de Abraão, a quem Satanás trazia presa há
dezoito anos?

Ela não estava endemoninhada. Ela não era possessa por um


espírito imundo em seu coração, ela mantinha o controle sobre as
suas faculdades mentais. Contudo, não devemos negar que havia
uma atuação diabólica em sua vida. Mesmo que o cativeiro de
Satanás, como disse Jesus, fosse uma força espiritual que atuasse
somente em seu corpo, ainda assim era um cativeiro de Satanás!

Ela não podia endireitar-se de modo algum porque estava presa


em um cativeiro diabólico! Existem casos e casos, mas como
cristãos interessados em ministrar libertação na vida de outros é
importante que reconheçamos que algumas vezes a libertação
somente ocorrerá quando os laços do diabo forem finalmente
quebrados.

Jesus citando o texto de Isaías disse “o Espírito do Senhor está


sobre mim, pelo que me ungiu para proclamar LIBERTAÇÃO AOS
CATIVOS e para PÔR EM LIBERDADE OS OPRIMIDOS” (Lucas
4.18). o texto de Isaías fala sobre “libertação aos cativos e liberdade
aos algemados” (Isaías 61.1 ).

Sim, estamos aprendendo que existem laços do diabo que


prendem pessoas que foram feitas cativas por ele para cumprirem a
sua vontade; mas, ao mesmo tempo, as Escrituras nos ensinam
também que a unção do Espírito Santo é o poder de Deus e uma
ferramenta divina para trazer libertação para os cativos, algemados
e oprimidos pelo diabo. Glória a Deus por isso!

Quero citar mais um texto bíblico que também traz


esclarecimento sobre como forças espirituais demoníacas podem
exercer algum tipo de controle sobre o homem.

Marcos 5.5
4
porque, tendo sido muitas vezes PRESO COM GRILHÕES E
CADEIAS, AS CADEIAS FORAM QUEBRADAS POR ELE, e
OS GRILHÕES, DESPEDAÇADOS. E NINGUÉM PODIA
SUBJUGÁ-LO. 5 Andava sempre, de noite e de dia, clamando
por entre os sepulcros e pelos montes, ferindo-se com
pedras.

As amarras e correntes não eram suficientes para a força


sobrenatural que atuava sobre ele, que de forma extraordinária,
conseguia quebrar as cadeias e despedaçar os grilhões.
Humanamente falando, seria impossível que aquele homem
conseguisse tal façanha! É exatamente por causa da natureza
assustadora da situação em si, que o episódio é citado na Bíblia
com a menção destes detalhes. É o tipo da coisa que, por tão
curiosa, não poderia deixar de ser mencionada.
A força espiritual de Satanás que estava APRISIONANDO
aquele homem era tamanha que conseguia alterar a sua condição
física lhe tornando capaz de destruir cadeias. Isso nos dá uma ideia
do tipo da força espiritual exercida sobre ele FISICAMENTE para
prendê-lo naquele cativeiro diabólico!
Um cristão renascido jamais seria dominado por Satanás
completamente, ou seja: espírito, alma e corpo; mas, como já vimos,
um cristão pode se oferecer ao pecado como escravo e desta forma
ir dando lugar ao diabo para agir sobre sua vida.
Consequentemente, o cristão estará preso em laços diabólicos,
tendo sido feito cativo para cumprir a vontade de Satanás; e, ainda
que tal prisão seja meramente física, ainda é uma prisão.
Alguns textos das Escrituras nos mostram o tipo de acesso que
Satanás pode ter na vida de um cristão se este lhe der espaço:
Em Atos dos Apóstolos as Escrituras dizem que SATANÁS
ENCHEU O CORAÇÃO de um discípulo para que este se
comportasse dissimuladamente (Atos 5.3 ).
Paulo, falando sobre a situação da vida de algumas irmãs, diz,
claramente, que algumas delas se desviaram POR TEREM
SEGUIDO A SATANÁS (1 Timóteo 5.15).
Paulo também diz que alguns chegarão a abandonar a fé por
OBEDECEREM A ESPÍRITOS ENGANADORES (1 Timóteo 4.1) .
Paulo diz que da mesma forma como A SERPENTE ENGANOU
a Eva com a sua astúcia, assim também é possível que UM
CRISTÃO TENHA A SUA MENTE CORROMPIDA e desta forma ele
se afaste da pureza cristã (2 Coríntios 11.3). Não deixa de ser
interessante observar que Satanás cega o entendimento dos
incrédulos, mas que tenta corromper a mente dos cristãos.
Escrevendo à igreja de Corinto, Paulo diz aos irmãos que não
quer que eles SE ASSOCIEM com os demônios (1 Coríntios 10.20).
De fato, ao escrever para os irmãos em Éfeso, diz que devemos
lutar contra eles, aos quais também chama de FORÇAS
ESPIRITUAIS DO MAL (Efésios 6.12).
Paulo costumava dar recomendações sobre como os cristãos
deveriam proceder em sua vida para que assim SATANÁS NÃO
ALCANÇASSE VANTAGEM SOBRE eles (2 Coríntios 2.11).
Curiosamente o próprio Paulo diz que certo dia SATANÁS
CONSEGUIU até mesmo BARRAR O SEU CAMINHO, quando teve
a intenção de fazer certa viagem e não foi possível. (1
Tessalonicenses 2.18).
Acredito que o grau de influência ou alcance que Satanás poderá
ter sobre a vida de um cristão é algo que nenhum de nós conseguirá
medir. Porém, acredito que se vivermos uma vida de pureza diante
de Deus nos guardando no temor do Senhor, o Espírito Santo nos
garantirá o maior êxito possível.
Capítulo 3
REPREENSÃO

A VERGONHA
Normalmente o cristão que peca tem vergonha do pecado
cometido. Em certo sentido, o simples fato dele sentir-se mal por
causa do erro que praticou é um indício de que ele ainda pode ser
restaurado.
Quando um cristão já não se envergonha dos pecados que
comete e até chega a se orgulhar numa roda de amigos sobre
alguns deles, a situação está ficando grave. Pior ainda ficará
quando um cristão já cansado de esconder os pecados aos quais
volta regularmente decide abandonar o convívio da igreja e se
entrega despudoradamente a uma vida pública de pecados.
Muitas vezes assistimos alguns dos nossos irmãos percorrem
toda essa caminhada descrita acima sem sequer demonstrarmos
qualquer interesse em ajudar.
Às vezes não conseguimos ajudar porque simplesmente não
sabemos das particularidades da vida íntima de cada um. Mas, e
quando ficamos sabendo? Como reagimos? Que tipo de abordagem
fazemos em situações como estas? Afinal de contas, existe algum
tipo de padrão bíblico para a abordagem que deve ser feita por um
cristão a outro que for surpreendido em algum pecado?
Sim, graças a Deus nós temos instruções nas Escrituras sobre a
maneira bíblica para restaurar irmãos surpreendidos em algum
pecado ou mesmo presos em vícios como o do pecado sexual!
No encerramento da segunda carta de Paulo aos
Tessalonicenses ele comenta rapidamente sobre uma situação
desagradável que soubera estar acontecendo naquela comunidade
cristã. Ele diz que foi informado de que alguns dos irmãos estavam
andando desordenadamente, que não trabalhavam e ainda usavam
o tempo livre para ficar se metendo na vida dos outros (2
Tessalonicenses 3.11).
Paulo já tinha dado algumas instruções a respeito desse assunto
quando estivera presente com eles, e, agora, por meio da epístola,
volta a reforçar a mesma coisa que já tinha dito (2 Tessalonicenses
3.10,12). No entanto, visando uma possível correção por parte
daqueles que porventura insistissem no erro, ele acrescenta:
2 Tessalonicenses 3.14,15
14
Caso alguém não preste obediência à nossa palavra dada
por esta epístola, notai-o; nem vos associeis com ele, para
que fique envergonhado. 15 Todavia, não o considereis por
inimigo, mas adverti-o como irmão.
No verso 6 do mesmo capítulo Paulo já tinha dito que os irmãos
deveriam se apartar daquele que estivesse com um comportamento
desordenado; e agora nos versículos 14 e 15 ele praticamente
repete a mesma coisa acrescentando mais algumas informações
importantes. Paulo disse que os irmãos não se associassem com
ele PARA QUE FICASSE ENVERGONHADO.
A vergonha sentida por um cristão por causa de um pecado
cometido pode surtir um efeito abençoador. Paulo tinha um objetivo
em mente quando deu as instruções que acabamos de ler. Havia um
propósito divino!
Triste é quando os irmãos não têm essa mesma motivação, o
mesmo interesse, e a única razão pela qual se afastam de alguém
na igreja é porque não querem ser vistas próximas de um irmão que
“foi apanhado em pecado”. Muitos até se afastam dos que andam
desordenadamente, não por seguirem as recomendações de Paulo
na tentativa de sensibilizar o irmão apanhado em erro, mas porque
estão mais preocupadas com a sua própria imagem.
Acredito que Paulo sabia tanto que as pessoas são assim que
ele já vai logo dizendo: “Façam o que eu recomendei, mas não é
para deixar de ter consideração por ele! Não vão agir carnalmente e
considerá-lo como um inimigo. O propósito é fazer uma advertência
de irmão!”
Talvez seja por isso que tanta gente não tem sido restaurada
como poderia. Talvez estejam faltando pessoas mais espirituais na
igreja que saibam como aplicar uma correção sem se deixar levar
pelas emoções do momento. É preciso ser realmente espiritual para
corrigir a vida de alguém carnal ou que está cedendo aos desejos
da carne (Gálatas 6.1).
Se realmente queremos nos apoiar uns aos outros de forma que
sejamos uma bênção para todos, precisamos tratar as faltas dos
irmãos com conhecimento e bondade. Só o conhecimento poderá
nos deixar “duros” demais; por outro lado, bondade, somente,
poderá nos deixar “moles” demais. É preciso um equilíbrio
apropriado para que possamos nos admoestar uns aos outros como
convém no Senhor.
Romanos 15.14
E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito,
de que estais possuídos de BONDADE, cheios de todo o
CONHECIMENTO, APTOS PARA VOS ADMOESTARDES
UNS AOS OUTROS.
A aptidão necessária para praticarmos a admoestação bíblica
vem da mistura destes dois elementos: bondade e conhecimento.
Outra coisa que penso ser importante mencionar é que quando
Paulo fala aos irmãos de Tessalônica que tenham certo
procedimento para com aquele irmão ocioso e fofoqueiro, o objetivo
está bem definido: para que ele fique envergonhado. Obviamente
que o sentido de tudo isso é para que aquele tratamento o faça
pensar, para que possa rever a sua vida, arrepender-se do
comportamento desordenado e mudar.
A partir do momento que o resultado esperado seja alcançado, é
imperativo que os irmãos o tratem com atenção e amor como
sempre o fizeram. Os irmãos não se associariam com ele enquanto
estivesse vivendo desordenadamente, mas a partir do momento que
aquele irmão aceitasse a correção e mudasse, os irmãos que
estavam seguindo as instruções de Paulo de se afastar, deveriam
mudar também!
O objetivo de tudo isso é abençoar a vida do irmão que está
vivendo desordenadamente. A correção, a disciplina, é uma grande
bênção na vida daquele que dela precisa. Assim como um pai que
corrige um filho porque o ama e não porque deseja trucidá-lo por
meio de açoites, a disciplina bíblica visa o arrependimento e a
salvação dos filhos de Deus.
Se a dosagem no tratamento dos irmãos para com aquele que
estava em pecado for além do limite bíblico e saudável, em vez de
surtir o efeito positivo que as Escrituras sugerem, é possível que
aquele irmão seja consumido por demasiada tristeza.
2 Coríntios 2.6-8 (Bíblia Viva)
6
Ele já foi suficientemente castigado com a reprovação
unânime de todos vocês. 7 Agora é o momento de perdoá-lo e
confortá-lo. Do contrário, ele poderá ficar tão amargurado e
tão desanimado que não será capaz de reabilitar-se. 8 Assim,
eu lhes peço que mostrem a ele agora que vocês
verdadeiramente ainda o estimam muito.
REPREENDIDO POR HOMENS,
ABENÇOADO POR DEUS
Existem casos em que o cristão tomará a decisão por si só de
fazer aquilo que é certo, abandonando assim o comportamento
desordenado; mas nem sempre as coisas funcionam assim. Em
inúmeras situações precisaremos da ajuda dos outros para que
possamos corrigir os erros que porventura estejamos cometendo.
2 Tessalonicenses 3.11
Pois, de fato, ESTAMOS INFORMADOS de que, entre vós, há
pessoas que andam desordenadamente...
É interessante observar que Paulo disse que foi informado.
Somente após a informação que lhe chegou a respeito do problema
ele pôde tomar a decisão do que fazer para resolver a questão.
Se vamos aceitar a participação dos irmãos em nosso progresso
como cristãos, mesmo que isto tenha que acontecer por meio de
alguma correção ou repreensão, é preciso tirar os olhos dos homens
e aceitar o tratamento que vem da parte de Deus.
A este respeito, duas coisas importantes devem ser observadas:
Primeiro: a pessoa que será repreendida precisa aceitar a
participação dos irmãos no seu processo de restauração,
mesmo quando esta participação envolve a repreensão por
algum erro cometido, pois o objetivo de tudo isso é corrigir o
comportamento inadequado ou pecaminoso para que assim
ele possa viver uma vida cada vez mais digna.
Segundo: os irmãos ou pastores que aplicarão a disciplina
precisam acreditar que a correção ou repreensão aplicada
surtirá o efeito esperado, ou seja, a mudança de vida (mesmo
que isso não tenha acontecido antes do pecado ser
descoberto e a repreensão recebida).
Não seria muito saudável se o irmão faltoso de Tessalônica
mantivesse a atitude de “querer saber quem foi avisar a Paulo sobre
o que ele estava fazendo de errado” ou de “querer prestar contas
com aquele que foi entregar o seu comportamento desordenado
para o pastor”. Se o irmão que vai ser repreendido mantém uma
atitude como esta, o que poderia acontecer é que ele talvez até
revolvesse seu problema pelo qual foi corrigido, mas geraria outros
que o acompanhariam dali para frente: o rancor, a mágoa e o
sentimento de vingança. Se ele vai aceitar a correção e mudar a sua
vida diante de Deus, a primeira coisa que ele tem que fazer é
realmente tirar os seus olhos dos homens e aceitar que tudo o que
está acontecendo é uma demonstração do cuidado do próprio Deus
pela sua vida.
Mas ainda existe outro probleminha relacionado a essa situação.
O fato é que alguns irmãos não se dão por satisfeitos mesmo que o
cristão pecador seja repreendido com toda justiça. Alguns se
precipitarão em dizer: “Ah, ele não se arrependeu coisa nenhuma!
Se estivesse mesmo arrependido, teria mudado sua vida antes do
pecado ser descoberto. Ele só se arrependeu porque os irmãos
estão sabendo e agora tem que passar pela disciplina”.
Como dissemos anteriormente, o cristão que mantém seu
coração sensível e não permite que ele seja sobrecarregado com as
coisas da vida, terá condição de se arrepender facilmente e logo em
seguida, redirecionar seus caminhos. Mas quando o cristão vai se
permitindo andar na carne cada vez mais e se habitua a praticar
certos pecados, inicialmente ele ficará espiritualmente insensível e
posteriormente ficará preso em laços do diabo, e, em casos assim,
ele precisará de uma intervenção divina, mesmo que seja por meio
de outras pessoas.
Alguns pensam que “não se arrependeram de verdade” aqueles
que se arrependem somente depois do pecado ser descoberto. O
fato é que não existe arrependimento verdadeiro ou arrependimento
falso. Se alguém chegar a se arrepender realmente, então a
experiência será verdadeira. Além disso, a Bíblia está cheia de
exemplos em que os homens se arrependeram somente depois que
seus pecados foram descobertos e confrontados.
Nossa pergunta principal não deveria ser: Como foi possível
acontecer tal pecado? Em vez disso, deveríamos perguntar: Como
Deus lida com situações dessa natureza? Uma análise das
Escrituras revela que o Senhor estabeleceu um modo claro e
previsível de resolver os problemas humanos.
Podemos ver em toda a extensão da Bíblia o Pai celestial lidando
sempre de modo firme com a iniquidade quando ela acontece.
Quando Adão e Eva comeram o fruto proibido, o Criador
imediatamente os admoestou. Diante da transgressão dos filhos de
Israel no deserto, Moisés chamou-lhes a atenção. Na rebelião do rei
Saul, o profeta Samuel o confrontou. Natã desafiou Davi, após seu
adultério com Bate-Seba. Em toda a história de Israel, observamos
as respostas consistentes de Deus ao pecado e à rebelião,
reprovando seu povo por intermédio dos profetas, visando
arrependimento e compromisso com ele.
É importante ter consciência disto, pois saberemos que estamos
seguindo um padrão bíblico para a restauração dos irmãos. O
próprio texto de Tessalonicenses é um exemplo essa questão:
primeiro Paulo fora informado sobre o erro de alguns irmãos, e, por
causa disso, tomou providências para repará-lo.
Nos textos do Novo Testamento também encontramos o mesmo
princípio do arrependimento somente após o confronto e a
repreensão: o próprio Paulo no caminho de Damasco, e Pedro, após
ter negado Jesus, foram questionados pessoalmente por ele. Além
destes casos, temos outras passagens que fazem uso do mesmo
princípio:

1. Alguém comete um pecado;


2. Deus o confronta com a verdade;
3. A pessoa é conduzida ao arrependimento.
PECADO, REPREENSÃO, ARREPENDIMENTO
Lucas 17.3
Acautelai-vos. SE TEU IRMÃO PECAR contra ti,
REPREENDE-O; SE ELE SE ARREPENDER, perdoa-lhe.
Nesta passagem Jesus nos ensina muitos princípios importantes
relacionados a uma vida cristã nos padrões da sua vontade. A
primeira coisa interessante é Jesus dizer que devemos “ter cuidado”
ou “ter acautela”. Muito provavelmente ele não estava falando sobre
termos cuidado com a vida dos outros, mas é bem provável que
Jesus estivesse advertindo sobre o cuidado que devemos ter com
nossa própria vida e nossos próprios sentimentos. A razão do
porquê podemos pensar assim é que logo em seguida ele
acrescenta que se um irmão pecar contra nós, devemos repreendê-
lo; todavia se ele se arrepender, DEVEMOS PERDOAR!
É como se Jesus estivesse dizendo: “cuidado para que vocês
não caiam na tentação de guardar ressentimentos de alguém pelo
fato dele ter cometido algum pecado contra vocês”. Em seguida
Jesus diz claramente a forma para resolver problemas dessa
natureza dentro dos próprios padrões dele: Repreendam o que
cometeu pecado!
Que bom saber que Jesus acreditava que ainda existe solução
para os irmãos que pecam contra outros! Por isso não podemos
deixar de abençoá-los da forma que Jesus ordenou: repreendendo-
os! A repreensão é uma ferramenta divina que tem todos os
elementos necessários para produzir o arrependimento. Porém, não
podemos negar o fato de que o próprio Senhor Jesus disse que
mesmo com a repreensão, ainda existem irmãos que podem estar
tão duros em seus corações que ainda assim não se arrependerão:
“SE ele se arrepender...”.
Não podemos fazer com que aconteça o arrependimento na vida
dos outros por meio da nossa repreensão, mas podemos esperar
que eles se arrependam por terem sido repreendidos. A própria
forma de Jesus falar traz a ideia de que devemos fazer apenas a
nossa parte em relação àqueles que porventura pecarem contra
nós. A nossa parte é:

Repreendermos quem pecou;


E não guardar mágoas contra ele, ou seja, temos que
perdoar!

Finalmente, mas não menos importante, o texto também nos


indica que aquilo que a Bíblia chama de arrependimento é o
verdadeiro remédio para os pecados dos homens. Nos padrões de
Jesus, se o irmão tiver se arrependido, o assunto está resolvido e
por isso deve haver perdão!
Alguns “investigadores” cristãos desejam ir além daquilo que
Jesus ensinou e tentam “descobrir” se o irmão se arrependeu
mesmo ou não. Mas isso não compete a qualquer um de nós, é algo
entre ele e Deus. Alguns argumentam da seguinte forma: “Ah, mas
como poderei perdoá-lo se Jesus disse que só posso perdoar se ele
se arrepender? Então, preciso ter certeza que ele se arrependeu
primeiro, não é verdade?”. Talvez tenha sido pensando em pessoas
com atitudes como estas que Jesus tenha dito no início do versículo
“tenham cuidado com a vida de vocês”. De fato, alguém que se
deixa levar pela ideia de que pode administrar o arrependimento dos
outros só mostra a sua imaturidade. É preciso cuidar primeiro da
própria vida.
Se aquele que pecou não tiver realmente passado pelo
arrependimento e continuar desafiando a Deus com uma vida
desordenada de pecados, você pode ter certeza que chegará um
dia de juízo para este irmão. Não está em nossas mãos, mas nas
mãos de Deus. Pode até ser que alguém zombe da nossa atitude
em perdoar como Jesus ordenou, mas por outro lado, as Escrituras
testemunham que de Deus não se zomba. Isto é algo que está nas
mãos de Deus pela sua exclusiva autoridade.
Além do mais, Jesus não disse para investigar antes, esperar os
frutos dignos de arrependimento, e que, somente depois de acurada
investigação, e o tempo necessário percorrido, o perdão fosse
liberado. O que ele disse foi: “Se, por sete vezes no dia, pecar
contra ti e, sete vezes, vier ter contigo, DIZENDO: Estou
arrependido, perdoa-lhe” (Lucas 17.4).
Trocando em miúdos é o seguinte: Alguém pecou contra você?
Tenha compaixão do seu irmão e repreenda-o para que ele possa
corrigir suas falhas! Após a repreensão ele disse que estava
arrependido? Então você tem a obrigação de perdoar!
Se você pensa que não, observe o que Jesus passa a dizer aos
seus discípulos por meio de comparações: “Se algum de vocês tem
um servo que está trabalhando na lavoura ou com o gado, e ele
chega a casa depois do rojão do trabalho, você porventura diz para
ele: vai logo comer, bebe uma água, descansa um pouco aí, depois
tu me serve para eu comer também? Claro que não! Mesmo você
sabendo que ele chegou de um trabalho pesado, você não manda
primeiro ele fazer o que você quer? Tendo o servo obedecido suas
ordens, você precisa agradecê-lo por não ter feito a própria vontade
dele, mas a vontade do seu senhor?” (Lucas 17.7-9). Então Jesus
conclui com o seguinte argumento:
Lucas 17.10 (Bíblia Viva)
Assim, pois, se vocês obedecerem tudo o que foi mandado,
não devem achar que merecem elogios. Porque vocês
apenas cumpriram o seu dever.
O SENHOR REPREENDE A QUEM AMA
Quando João, na ilha de Patmos, recebeu as mensagens que
deveria escrever para as sete igrejas, para quase todas havia uma
nota de alerta, uma repreensão seguida de um apelo para o
arrependimento. O próprio teor de algumas das mensagens que
João deveria enviar já era uma repreensão por si só, mas em
algumas ocasiões o Senhor deixava isso ainda mais claro dizendo
que era exatamente disto que se tratava.
Apocalipse 3.19
Eu REPREENDO e disciplino a quantos amo. Sê, POIS,
zeloso e ARREPENDE-TE.
Deus repreende a quem ama, por isso o cristão zeloso se
arrepende. A repreensão demonstra o amor de Deus pelo cristão
em pecado ou com a vida desordenada. O arrependimento
demonstra o zelo do cristão pelo seu Deus após ser repreendido.
Observe que o verso acima traz o mesmo princípio sobre o qual
temos falado: Repreensão e arrependimento. Se algum cristão está
vivendo desordenadamente, a ação divina para resolver o problema
vem por meio da repreensão, que por sua vez, causará o
arrependimento.
Apocalipse 2.5

Lembra-te, pois, de onde caíste, ARREPENDE-TE e volta à


prática das primeiras obras; e, SE NÃO, venho a ti e moverei
do seu lugar o teu candeeiro, CASO NÃO TE ARREPENDAS.

A repreensão expressa no próprio conteúdo da mensagem


enviada à igreja de Éfeso, como vemos acima, dá o tom para o
arrependimento necessário.

“Lembra-te de onde caíste” é uma repreensão direta e clara. A


razão pela qual o Senhor Jesus faz a repreensão é porque deseja
ver a sua igreja com as práticas saudáveis de sempre. “Caso não te
arrependas”, é uma frase que nos mostra que para o Senhor o único
impedimento para o crente receber a graça de Deus DEPOIS de ter
pecado ou de estar vivendo desordenadamente, está no fato dele
resistir à repreensão e não se arrepender.

Isso nos mostra que quando a repreensão é recebida pelo crente


de coração aberto, o arrependimento esperado acontece e o Senhor
Jesus se dá por satisfeito. Se para Deus a repreensão e o
arrependimento resolvem o problema de uma vida desordenada,
leviana ou envolvida no pecado, isso deve ser usado pela igreja
para apontar a vontade de Deus para os cristãos que estão
precisando.
Observe mais algumas passagens das Escrituras que mostram o
quanto a repreensão bíblica pode abençoar a vida de um cristão que
abre o coração para ela:
Tito 1.12,13
12
Foi mesmo, dentre eles, um seu profeta, que disse:
Cretenses, sempre mentirosos, feras terríveis, ventres
preguiçosos. 13 Tal testemunho é exato. Portanto,
REPREENDE-OS severamente, PARA QUE SEJAM SADIOS
na fé.

A repreensão justa, e bem aplicada, com base na Palavra de


Deus, e feita no Espírito Santo, poderá produzir frutos para Deus.
Pelo que vemos, a repreensão pode reparar as deficiências da vida
cristã de alguém. Por isso Paulo diz “repreende-os severamente
para que sejam sadios”.

Toda a Escritura é inspirada por Deus e ÚTIL PARA A


REPREENSÃO... A FIM DE que o homem de Deus SEJA
PERFEITO e perfeitamente habilitado para toda boa obra (2
Timóteo 3.16,17). As Escrituras são úteis para serem usadas em
uma abordagem de repreensão a fim de que o homem de Deus seja
perfeito. O resultado da repreensão é o aperfeiçoamento!
Paulo disse que ADVERTIA e ensinava a todo homem, A FIM DE
QUE apresentasse todo homem PERFEITO em Cristo (Colossenses
1.28). Vemos novamente que a repreensão bíblica pode ajudar no
processo de aperfeiçoamento dos santos.

1 Tessalonicenses 5.14

Exortamo-vos, também, irmãos, a que ADMOESTEIS OS


INSUBMISSOS, consoleis os desanimados, ampareis os
fracos e sejais longânimos para com todos.

No texto acima Paulo dá diretrizes específicas para problemas


específicos. Para cada tipo de problema ele apresenta uma solução
diretamente associada ao caso. Os desanimados devem ser
consolados, pois Paulo parece acreditar que o consolo resolverá o
problema do desânimo. Se os fracos tiverem amparo da parte dos
irmãos, é possível que da fraqueza eles tirem a força. Da mesma
forma, a bênção de Deus para os insubmissos e desobedientes se
encontra na repreensão!
O PROPÓSITO DA REPREENSÃO

Acredito que depois de todos os versículos mencionados até aqui


já deve ter ficado claro que: o servo de Deus que porventura tenha
entrado em algum comportamento inapropriado, poderá ter sua vida
com Deus restaurada por meio do arrependimento, que em muitos
casos, é impulsionado pela repreensão bíblica.

Muito embora tenhamos tantos versículos que explicam a


utilidade da repreensão na vida de um cristão que realmente deseja
conhecer e viver a vontade de Deus, ainda assim muitos parecem
rejeitar conscientemente tais Escrituras ou talvez estejam fugindo
inconscientemente desta verdade bíblica por receio do desconforto
que será gerado pelo confronto.

Em muitas ocasiões Deus alcançará o crente que precisa de


repreensão através de outros irmãos do Corpo de Cristo. Alguns
que têm a responsabilidade de conduzir e liderar uma congregação
provavelmente terão que lidar com isso mais frequentemente do que
outros. Mas, independente de qual seja o caso, é importante que
aquele que vai se deixar usar por Deus para repreender o irmão que
precisa abandonar o pecado tenha em mente qual o intuito da
admoestação. Portanto, se não formos cuidadosos, poderemos
deixar nossas emoções falarem mais alto e impossibilitaremos o
verdadeiro agir de Deus na situação.

1 Timóteo1.5

Ora, O INTUITO DA presente ADMOESTAÇÃO VISA ao amor


que procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé
sem hipocrisia.

A admoestação tem o mesmo significado que advertência,


reprimenda, censura, repreensão ou reprovação. Infelizmente até
mesmo alguns cristãos ainda não têm a compreensão do porquê a
repreensão bíblica pode ser uma coisa positiva na vida do ser
humano; talvez porque pensem que a única finalidade da
admoestação é “punir” o infrator; mas como vemos no versículo
acima, a repreensão tem um objetivo maior. Existe um alvo a ser
alcançado. É exatamente este alvo que devemos ter em mente
quando repreendemos ou quando somos repreendidos.

No texto acima Paulo fala sobre o intuito da admoestação, isto é,


o propósito, o objetivo, a finalidade. Logo em seguida ele demonstra
que a repreensão bíblica tem como objetivo a produção de um amor
que mantenha o padrão de qualidade divino. O resultado que ele
espera obter após a repreensão é: O Amor que procede de um
coração puro, de uma consciência boa e de uma vida de fé não
fingida. O que nos faz entender que a repreensão deverá causar um
efeito positivo NO CORAÇÃO e NA CONSCIÊNCIA do cristão
repreendido.

O coração que antes poderia estar sobrecarregado, após a


repreensão ficará puro. A consciência que antes poderia estar
dormente ficará boa. A fé que poderia estar com prazo de
validade vencido, voltará a ser solidamente verdadeira, sem
fingimento. Por isso o amor que procederá da vida deste
irmão após a repreensão também poderá ser considerado
puro e bom.

A repreensão é uma ferramenta divina capaz de trazer pureza de


volta ao coração de um cristão e capaz de resolver os problemas de
consciência com os quais ele estivera lidando, além de eliminar o
fingimento da sua vida de uma vez por todas. A repreensão é uma
bênção e não devemos menosprezar o poder que ela contém (1
Timóteo 1.5).

Às vezes até dizemos que amamos os outros, mas nossa


consciência naquele momento pesa, pois ela sabe quando
guardamos ressentimentos e não temos pureza em nosso coração a
respeito do que pensamos ou sentimos em relação aos outros.
Somente a repreensão bíblica, recebida humildemente, pode corrigir
isso e nos reorientar no mandamento divino de amarmos os outros
como Jesus nos amou. Este é o amor que procede de um coração
puro e de uma consciência boa.

Observe o texto a seguir:


2 Timóteo 2.25,26
24
Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a
contender, e sim deve ser brando para com todos, apto para
instruir, paciente, 25 DISCIPLINANDO com mansidão os que
se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o
ARREPENDIMENTO para conhecerem plenamente a
verdade, 26 mas também O RETORNO À SENSATEZ,
livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos
por ele para cumprirem a sua vontade.

Às vezes alguns irmãos passam anos lutando contra certos


padrões de comportamento reprováveis e mesmo tentando
inúmeras coisas, nem sempre conseguem vencê-los. Como diria
Paulo, alguns até já se encontram em verdadeiros laços do diabo.

O texto acima nos ensina que a disciplina paciente, aplicada com


mansidão no Espírito Santo, pode ocasionar o arrependimento, que,
por sua vez, trará o irmão arrependido de volta à sensatez, e, se for
o caso, libertá-lo-á até mesmo dos laços do diabo. Não é bom e
reconfortante saber que existe tal poder presente na repreensão e
no arrependimento bíblicos?
Existem razões diferentes que levam pessoas a menosprezarem
algumas das verdades mais importantes que se encontram nas
Escrituras. Por outro lado, existem acontecimentos em nossas vidas
que nos levam a perceber a verdade a respeito de certas coisas que
até então não víamos. Alguns até podem tentar minimizar a
importância deste fato, mas existe um valor muito grande no efeito
que uma repreensão pode causar em alguém. Observe o texto
abaixo:
2 Coríntios 7.8-10
8
Porquanto, ainda que vos tenha CONTRISTADO com a
carta, não me arrependo; embora já me tenha arrependido
(vejo que aquela carta vos CONTRISTOU por breve tempo), 9
agora, me alegro não porque fostes CONTRISTADOS, mas
porque fostes CONTRISTADOS para arrependimento; pois
fostes CONTRISTADOS segundo Deus, para que, de nossa
parte, nenhum dano sofrêsseis. 10 Porque a TRISTEZA
segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a
ninguém traz pesar; mas a TRISTEZA do mundo produz
morte.
Não sei se você observou isso, mas no texto acima Paulo está
falando a respeito da mesma verdade sobre a qual temos tratado
neste capítulo: o quanto uma repreensão bíblica pode causar
benefício na vida de um cristão.
No versículo 8 lemos: “ainda que vos tenha contristado por carta,
não me arrependo”. Paulo escrevera uma carta aos irmãos em
Corinto cujo teor, segundo ele mesmo diz, casou tristeza aos
irmãos. A carta que os repreendia por alguns de seus erros causou
a tristeza mencionada aqui. Alguns podem pensar que toda e
qualquer tristeza sempre deve ser evitada e que ficar triste sempre
tem alguma relação com a falta de conhecimento da vontade de
Deus. Porém, isto não é verdade.
Acima, no versículo 10, Paulo ensina claramente que existe uma
tristeza que vem de Deus e uma tristeza que vem do mundo. Uma
deve ser evitada, a outra deve ser apreciada. Devemos procurar a
“tristeza segundo Deus” sempre que se fizer necessário. Se um
cristão está vivendo em algum padrão de comportamento
inadequado e for repreendido por isso, o normal é que ele se
entristeça. De fato, é bom que se entristeça mesmo, pois
normalmente o filho de Deus vai se entristecer por ter que ser
repreendido. Nem sempre um ímpio se envergonhará ou se
entristecerá por ter sido repreendido tal como um crente, mas
aquele que deseja agradar a Deus receberá a repreensão com
grande pesar. Mais fundo entra a repreensão no prudente do que
cem açoites no insensato (Provérbios 17.10).
“A tristeza que vem de Deus produz arrependimento, ao passo
que a tristeza que vem do mundo produz morte”. Paulo faz esta
comparação antagônica de forma proposital com a intenção de
mostrar que um tipo de tristeza é mortal, mas o outro é divino e traz
vida. Eu não posso seguir em frente sem antes enfatizar isso e ter
certeza de que o querido leitor entendeu bem: Paulo declarou que
esta tristeza segundo Deus PRODUZ o arrependimento!
Sim, eu sei que Paulo disse “arrependimento para salvação”,
mas obviamente ele não está falando sobre um pecador que se
arrepende para ser salvo. A salvação é também um processo
contínuo que deve ser desenvolvido na vida do crente (Filipenses
2.12). Eu não precisaria ter que explicar isso aqui, mas como hoje
em dia qualquer palavra presente na Bíblia faz alguns irmãos
declararem que aquele texto não é para cristãos e sim para
pecadores, resolvi acrescentar esse pequeno comentário.
Voltando ao assunto, vimos que Paulo disse “ainda que vos
tenha contristado com a carta, não me arrependo” e praticamente
logo em seguida ele repete a mesma afirmação: “vejo que aquela
carta vos contristou” (v.8). Isto seria suficiente para que
entendêssemos que Paulo os contristou, que ele os entristeceu com
as coisas que disse na carta mencionada. No entanto, Paulo
demonstra a grande sabedoria contida em situações como estas
quando diz que, apesar das palavras na carta terem sido dele, o
tratamento no coração dos coríntios fora realizado pelo próprio
Deus: “pois fostes contristados por Deus, para que, de nossa parte,
nenhum dano sofrêsseis”. Como diria o irmão T. L. Osborn: “os
homens usam métodos, mas Deus usa os homens”.
Quando leio esta passagem de 2 coríntios eu me pego
pensando: Como nos sentiríamos se tivéssemos a oportunidade de
ouvir a um destes irmãos da igreja de Corinto contar seu
testemunho sobre como “Deus o havia corrigido e lhe concedera a
chance de ter uma vida em paz e em comunhão com ele através do
arrependimento que aquela repreensão lhe causou?” Nós o
criticaríamos dizendo que “não tinha sido Deus coisa nenhuma”,
mas que ele só estava arrependido porque Paulo o tinha
repreendido?
Aquele irmão de Corinto estaria errado em dizer que Deus tinha
tratado com ele? Estaria errado em pôr o foco do seu
arrependimento na misericórdia e na graça de Deus pela sua vida?
Afinal, não fora a tristeza que viera de Deus que lhe abençoara com
o arrependimento para a salvação?
Precisamos acreditar que Deus nos usa para abençoar os outros
mais do que estamos acostumados a imaginar. Precisamos
aprender a respeitar as ferramentas que Deus usa para tocar o
coração de um dos seus filhos que precisa de correção e
arrependimento.
O cristão que necessita de correção, por sua vez, precisa ser
humilde o suficiente para enxergar a ação de Deus através daqueles
que porventura o repreendam e lhe causem alguma tristeza por
causa disto. É perfeitamente bíblico ter o entendimento de que
mesmo quando somos repreendidos por homens, somos
abençoados por Deus.
Salmo 119:67,71,75,76
67
Antes de ser afligido, andava errado, mas agora guardo a
tua palavra. 71 Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para
que aprendesse os teus decretos. 75 Bem sei, ó SENHOR, que
os teus juízos são justos e que com fidelidade me afligiste. 76
Venha, pois, a tua bondade consolar-me, segundo a palavra
que deste ao teu servo.
QUANDO A PESSOA NÃO SE ARREPENDE
O que vimos nos parágrafos acima põe o foco na possibilidade
do irmão em pecado receber a repreensão como uma maneira do
próprio Deus alcançar seu coração, trazendo-lhe assim o pesar
necessário para a produção do arrependimento, como disse Paulo
muito bem. Isto fala da condição ideal, mas nem sempre é a
situação real.
Anteriormente neste capítulo vimos que o próprio Senhor Jesus
afirmou que se alguém peca e é repreendido, pode ou não se
arrepender (Lucas 17.3). Qual o procedimento bíblico a ser tomado
pela liderança quando não há arrependimento?
Mateus 18:15-17
15
Ora, se teu irmão pecar, vai, e repreende-o entre ti e ele só;
se te ouvir, terás ganho teu irmão; 16 mas se não te ouvir, leva
ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três
testemunhas toda palavra seja confirmada. 17 Se recusar ouvi-
los, dize-o à igreja; e, se também recusar ouvir a igreja,
considera-o como gentio e publicano.
No texto acima Jesus apresenta passos a serem tomados
durante a tentativa de restauração daquele que cometera algum
pecado. O primeiríssimo passo, como já vimos parcialmente em
momento anterior, é aplicar uma reprimenda pessoal ao irmão que
dela precisa. Jesus disse “vai até o irmão e repreende-o”. É bíblico
tomar a iniciativa de abordar o irmão que comete pecado. Mas o que
não podemos perder de vista é o objetivo dessa abordagem: “se ele
te ouvir, terás ganhado o teu irmão”.
A repreensão tem por finalidade tocar o coração do irmão que
pecou visando o arrependimento, para que assim, pela graça de
Deus, ele seja ganho.
Quando um pai repreende um filho, o objetivo é educá-lo para
que ele não se perca. Semelhantemente quando repreendemos os
irmãos, devemos fazê-lo na intenção de ganhá-los e não com a
atitude que demonstra que não nos importamos se porventura
iremos perdê-los.
Se ele “não ouvir”. Digamos que ele ouviu tudo, mas não aceitou,
não foi tocado, não se entristeceu e não houve arrependimento.
Jesus acrescenta o próximo nível na tentativa de ganhá-lo: leva
contigo um ou dois outros irmãos.
O objetivo ao se levar mais uma ou duas pessoas na abordagem
que há de ser feita não é simplesmente para “confirmar” o fato de
que ele não se arrependeu quando foi repreendido pela primeira
vez. Algumas pessoas poderiam pensar isso por causa do texto
“para que pela boca de duas ou três testemunhas toda palavra seja
confirmada”. Porém, o objetivo ainda é o mesmo: repreendê-lo para
que se arrependa e finalmente seja ganho. Isso fica mais claro
quando lemos o que Jesus comenta logo em seguida: “Se recusar
ouvi-los”. Se o irmão que praticou a ofensa “tivesse ouvido” a
repreensão desde a primeira abordagem, não se faria necessário
passar para os próximos níveis. Contudo, todos os outros passos
que Jesus apresenta como possíveis soluções para a situação têm
o mesmo objetivo: “ganhar o irmão”.
Às vezes, para aquele que pecou, uma repreensão feita por uma
única pessoa em particular, não surte muito efeito. Isso é muito
relativo e depende muito da situação espiritual de cada um. Não
podemos estabelecer uma regra fixa a este respeito, mas podemos
seguir a regra estabelecida por Jesus: se ele se arrepender, ótimo!
Mas quando isso não surte o efeito esperado, aumentar o número
de pessoas que sabem sobre o episódio em uma segunda ou
terceira abordagem, fará com que o irmão que cometeu pecado
tenha uma sensação de aumento de intensidade na
responsabilidade que ele tem diante de Deus e dos homens.
Depois de tudo, mas não menos importante, Jesus apresenta
uma derradeira tentativa para a abordagem que venha a gerar o
arrependimento - desta vez sugerindo que torne o assunto público
para membros da igreja. A regra continua a mesma: se ouvir a
repreensão e se arrepender, terá sido ganho; se não ouvir e recusar
arrepender-se passamos para o próximo passo, que neste caso, é
considerá-lo como um homem que não tem a Deus. Depois de todas
as tentativas, vem a rejeição.
Dando recomendações a Tito sobre a forma que este deveria
tratar com certos homens que eram contrários à liderança da igreja
ou à doutrina cristã, Paulo diz que somente depois de duas
abordagens corretivas ele poderia considerá-los como facciosos.
“Evita o homem faccioso, depois de admoestá-lo primeira e segunda
vez, pois sabes que tal pessoa está pervertida e vive pecando e por
si mesma está condenada” (Tito 3.10,11). Somente depois de todas
as tentativas, vem a rejeição.
Em outra ocasião Paulo fala sobre a repreensão a ser aplicada
na vida de presbíteros ou líderes cristãos. Observe:
1 Timóteo 5.19-20
19
Não aceites denúncia contra presbítero, senão
exclusivamente sob o depoimento de duas ou três
testemunhas. 20 Quanto aos que vivem no pecado repreende-
os na presença de todos, para que também os demais
temam.
Paulo diz que a denúncia deve ser aceita sob o depoimento de
duas ou três testemunhas. Eu entendo que isto não diz respeito
apenas à fidelidade da acusação que esteja sendo feita, mas que
provavelmente também faça alusão aos princípios ensinados por
Jesus sobre o processo de repreensão a ser seguido. Talvez o caso
já tenha sido tratado em particular com outras duas ou três pessoas
presentes durante abordagens anteriores. Mas se o presbítero
insiste em não se arrepender, ou seja, continua fazendo a mesma
coisa errada de antes, é preciso passar para o próximo nível.
Quando Paulo diz que tais presbíteros “vivem em pecado”,
provavelmente isto não significa que estivessem vivendo uma vida
pública de pecados, onde agissem abertamente sem a vergonha de
serem vistos. Acredito que se fosse este o caso, Paulo teria
sugerido medidas mais enérgicas ao lidar com a situação. Os
exemplos que temos nas Escrituras nos ajudam a ter uma noção do
que Paulo poderia ter optado por fazer: 1 Timóteo 1.20 e 1 Coríntios
5.3-5.
É interessante considerar o argumento que Paulo usa ao sugerir
a disciplina: “Quanto aos que vivem no pecado, repreende-os na
presença de todos, para que também os demais temam”.
Quero destacar três elementos importantes na declaração acima:

1. Repreensão;
2. Na presença dos outros;
3. Para que temam.

Já vimos muita coisa nas Escrituras que mostram a importância


da repreensão no processo de correção de algum cristão que esteja
precisando de mudança em sua vida; e aqui não é diferente, tem o
mesmo objetivo e tem o mesmo efeito.

Quando Paulo fala sobre “repreender os presbíteros na presença


de todos”, mesmo que em certas circunstâncias chegue a ser
possivelmente necessário fazer isto em uma congregação de
crentes, diante de toda a igreja, acredito que isso também se
aplique a um contexto mais restrito: que conte apenas com a
presença de “todos” os presbíteros, e, não necessariamente, diante
de “todo e qualquer membro da igreja”.

Paulo disse que a repreensão na presença dos outros tem uma


finalidade dupla: “para que também OS DEMAIS temam”. Ora, o
texto diz “TAMBÉM os demais”, ou seja, o líder repreendido deverá
adquirir temor, mas não apenas ele, os demais TAMBÉM temerão!
Mas o objetivo claro é trazer temor sobre os irmãos. Sim, isso
mesmo, temor!

Eu sei que alguns menosprezam certos textos da Bíblia quando


estes não se harmonizam com suas ideologias de Cristianismo, mas
aqueles que amam e consideram a Palavra do Senhor hão de achar
interessante o fato de que há muito nas Escrituras a respeito da
importância deste santo temor na vida do servo de Deus.

A palavra traduzida por “temor” no versículo citado acima é a


palavra grega “phobos” ou “fobos” de onde vem a palavra “fobia” da
língua portuguesa, todavia, existem pelo menos três palavras
gregas que são sinônimas entre si e que são traduzidas por “temor”
ou “medo” ao longo do Novo Testamento. Estas palavras são
“Deilia”, “Eulabeia” e “Phobos”.
DEILIA
A palavra “Deilia” (δειλία) e seus derivados aparecem nas
páginas do Novo Testamento mais comumente associadas ao
sentido de timidez e covardia, ainda que em algumas versões em
Português tenha sido também utilizada a palavra “medo”. Seu
sentido sempre parece indicar um tipo de medo que deve ser
evitado. Alguns dos exemplos de quando esta palavra é empregada
podem ser observados a seguir:
João 14.27
Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a
dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se
ATEMORIZE.
Marcos 4.40
Então, [Jesus] lhes disse: Por que sois assim TÍMIDOS?
Como é que não tendes fé?
2 Timóteo 1.7
Porque Deus não nos tem dado espírito de COVARDIA, mas
de poder, de amor e de moderação.
Apocalipse 21.7,8
7
O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele
me será filho. 8 Quanto, porém, aos COVARDES, aos
incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros,
aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte
que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a
saber, a segunda morte.
EULABEIA
“Eulabeia” (εύλάβεια) e derivados também são usados para
retratar o temor em relações humanas, como no caso de Atos 23.10
quando diz que “o comandante temia que Paulo fosse despedaçado
pelo povo”. No entanto, das três palavras gregas traduzidas por
“medo” ou “temor” no Novo Testamento, esta é mais frequentemente
empregada num sentido religioso, usada em conexão com homens
santos ou devotos ao Senhor, dando a ideia de reverência, piedade
ou temor a Deus. Veja alguns exemplos:
Hebreus 11.7
Pela fé, Noé, divinamente instruído acerca de acontecimentos
que ainda não se viam e sendo TEMENTE a Deus, aparelhou
uma arca para a salvação de sua casa; pela qual condenou o
mundo e se tornou herdeiro da justiça que vem da fé.
A versão Revista e Corrigida de João Ferreira de Almeida traz
parte deste versículo da seguinte forma: “Noé, divinamente avisado,
TEMEU, e, para salvação da sua família, preparou a arca”.
Hebreus 12.28 (Versão Revisada)
Pelo que, recebendo nós um reino que não pode ser abalado,
retenhamos a graça pela qual sirvamos a Deus
agradavelmente, com reverência e TEMOR.
Lucas 2.25

Ora, havia em Jerusalém um homem cujo nome era Simeão;


e este homem, justo e TEMENTE a Deus, esperava a
consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele.
Hebreus 5.7
Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte
clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da
morte e tendo sido ouvido por causa da sua PIEDADE.
Algumas versões também traduzem a palavra “eulabeia”, usada
no versículo acima, por “reverência” e “temor”, em vez de “piedade”.
PHOBOS
A terceira palavra grega que mencionamos, também traduzida
por “medo” ou “temor”, é a palavra que mais foi usada pelos
escritores neotestamentários. A sua aparição nas páginas do Novo
Testamento é incomparavelmente superior em número em relação
às outras duas. “Phobos” (φόβοζ), traduzida comumente por “medo”
ou “temor”, é uma palavra usada para designar os dois aspectos do
temor, tanto o positivo quanto o negativo. A mesma palavra pode ser
usada para designar temor a homens, ao diabo ou a Deus. O
sentido do seu uso é determinado pelo contexto.
As palavras em maiúsculo nos versículos abaixo indicam a
utilização da palavra “phobos”, cada uma em seu próprio contexto.
Hebreus 2.14,15 (Versão Revisada)
14 Portanto, visto como os filhos são participantes comuns de
carne e sangue, também ele [Jesus] semelhantemente
participou das mesmas coisas, para que pela morte
derrotasse aquele que tinha o poder da morte, isto é, o Diabo;
15 e livrasse todos aqueles que, COM MEDO DA MORTE,
estavam por toda a vida sujeitos à escravidão.
Mateus 10.28
Não temais os que matam o corpo e não podem matar a
alma; TEMEI, antes, aquele [que é Deus] que pode fazer
perecer no inferno tanto a alma como o corpo.
Em outras palavras, simplificando aquilo que Jesus está dizendo
no versículo acima, sua declaração é: “Não temam os homens,
temam a Deus”. É importante que se diga que a mesma palavra
“phobos” é usada no texto acima para fazer referência tanto ao
temor aos homens, quanto ao temor a Deus.
O TEMOR DO SENHOR
Alguns cristãos hoje em dia estão tão apavorados quanto ao uso
da palavra “medo” ou “temor” no meio cristão, que alguns chegam a
aparentar que tem medo de ter medo.
Vimos anteriormente a menção positiva que Paulo fez ao temor
quando tratava sobre a importância da repreensão na vida dos
presbíteros que porventura estivessem vivendo em pecado.
Quando a Bíblia diz que aqueles presbíteros viviam em pecado,
isso demonstra que eles estavam vivendo sem muito temor a Deus.
Sei que alguns hoje em dia supõem que se um cristão está vivendo
em pecado, provavelmente ele nunca nasceu de novo. Mas ao
observarmos passagens como esta, entendemos que é possível um
crente nascido de novo viver no pecado. Deus, porém, pela sua
graça, provê os meios pelos quais seus filhos podem ser
restaurados a uma vida em comunhão com ele em temor e
santidade provenientes da verdade.
A repreensão provida por Deus é uma demonstração clara da
sua graça, do seu amor e da sua preocupação com a vida dos seus
filhos. Não poderíamos estar convencidos de que Deus nos ama se
ele não se desse ao trabalho de nos repreender quando
precisamos.
A repreensão ou reprovação de Deus promove o processo de
arrependimento e mudança na vida do crente. Paulo disse:
“Repreende-os para que sejam sadios” (Tito 1.13), “repreende-os
para que temam” (1 Timóteo 5.20).
Hebreus 12:5-6
Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, nem te
desanimes quando por ele és repreendido; pois o Senhor
corrige ao que ama, e açoita a todo o que recebe por filho.
O temor da reprovação, ou mesmo o temor de uma possível
punição, pode ajudar a conservar a vida do cristão nos padrões da
Palavra de Deus. Observe os argumentos de Paulo no texto abaixo:

Romanos 13.1-5
1
Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores;
porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as
autoridades que existem foram por ele instituídas. 2 De modo
que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de
Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação.
3
Porque os magistrados não são PARA TEMOR, quando se
faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu NÃO
TEMER a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, 4 visto
que a autoridade é ministro de Deus para teu bem.
Entretanto, se fizeres o mal, TEME; porque não é sem motivo
que ela traz a espada; pois é MINISTRO DE DEUS,
VINGADOR, PARA CASTIGAR o que pratica o mal. 5 É
necessário que lhe estejais sujeitos, NÃO SOMENTE POR
CAUSA DO TEMOR DA PUNIÇÃO, mas TAMBÉM por dever
de consciência.

No texto acima Paulo diz claramente que os cristãos devem fazer


aquilo que é correto, inclusive com respeito às suas obrigações
civis, NÃO APENAS POR CAUSA DO TEMOR DA PUNIÇÃO, mas
também por causa do dever que nos impõe a nossa própria
consciência.
Nesta passagem de Romanos 13 aprendemos que devemos
fazer o que é certo NÃO SOMENTE por causa do temor; mas, o
texto não sugere, de forma alguma, que devemos ser pessoas sem
temor algum. O temor da punição é uma ferramenta divina que pode
ser muito útil para ajudar o cristão a andar nos trilhos. É pelo temor
de ser atropelado que uma pessoa de bom senso não atravessa
uma grande avenida sem antes olhar para os dois lados. É pelo
temor de ser eletrocutado que uma pessoa prudente trata a
eletricidade com muita cautela. Este temor natural como instinto de
autopreservação nos mantém vivos e alertas. O temor do Senhor
funciona da mesma forma no sentido espiritual.
Lucas 12.4,5
4
Digo-vos, pois, amigos meus: NÃO TEMAIS os que matam o
corpo e depois disso, nada mais podem fazer. 5 Eu, porém,
vos mostrarei A QUEM DEVEIS TEMER: temei aquele que,
depois de matar, tem poder para lançar no inferno. Sim, digo-
vos, A ESSE DEVEIS TEMER.
O que Jesus diz nos versos acima é uma verdade repetida em
vários lugares das Escrituras: “Um só é Legislador e Juiz, AQUELE
QUE PODE salvar e FAZER PERECER; tu, porém, quem és, que
julgas o próximo?” (Tiago 4.12). Deus pode salvar. Deus pode
destruir.
Jesus Cristo disse: “Vos mostrarei a quem deveis temer”. Pelo
que me parece todo discípulo de Cristo DEVE ter este temor.
A consciência do cristão o mantém na linha sempre que ele
permite que ela trabalhe em seu favor e pelo temor do Senhor os
homens evitam o mal (Provérbios 16.6).
A palavra grega “Phobos” aparece em inúmeros lugares nas
Escrituras Sagradas em associação ao comportamento piedoso do
povo de Deus. Abaixo listarei apenas alguns dos versículos do Novo
Testamento que fazem menção positiva a respeito deste temor na
vida do cristão:
Filipenses 2.12
Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não
só na minha presença, porém, muito mais agora, na minha
ausência, DESENVOLVEI A VOSSA SALVAÇÃO COM
TEMOR e tremor.
2 Coríntios 7.1
Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de
toda impureza, tanto da carne como do espírito,
APERFEIÇOANDO A NOSSA SANTIDADE NO TEMOR DE
DEUS.
1 Pedro 1.17
Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de
pessoas, julga segundo as obras de cada um, PORTAI-VOS
COM TEMOR durante o tempo da vossa peregrinação.
2 Coríntios 5.10,11
10
Porque IMPORTA QUE TODOS nós compareçamos
PERANTE O TRIBUNAL DE CRISTO, para que cada um
receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do
corpo. 11 E ASSIM, CONHECENDO O TEMOR DO SENHOR,
persuadimos os homens...
Apocalipse 11.18
Na verdade, as nações se enfureceram; chegou, porém, a tua
ira e o tempo determinado para serem julgados os mortos,
para se dar o galardão aos teus servos, os profetas, aos
SANTOS E AOS QUE TEMEM O TEU NOME, tanto aos
pequenos como aos grandes e para destruíres os que
destroem a terra.
1 Pedro 2.17
Tratai todos com honra, amai os irmãos, TEMEI A DEUS,
honrai o rei.
Atos 5.5
Ouvindo estas palavras, Ananias caiu e expirou,
SOBREVINDO GRANDE TEMOR A TODOS OS OUVINTES.
Atos 2.42,43
42
E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão,
no partir do pão e nas orações. 43 EM CADA ALMA HAVIA
TEMOR; e muitos prodígios e sinais eram feitos por
intermédio dos apóstolos.
Atos 9.31
A IGREJA, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e
Samaria, edificando-se e CAMINHANDO NO TEMOR DO
SENHOR e no conforto do Espírito Santo, crescia em número.
Atos 10.2
[Cornélio era] piedoso e TEMENTE A DEUS com toda a sua
casa e fazia muitas esmolas ao povo e de contínuo orava a
Deus.
Atos 10.34,35
34
Falou Pedro dizendo: Reconheço, por verdade, que Deus
não faz acepção de pessoas; 35 pelo contrário, em qualquer
nação, aQUELE QUE O TEME e faz o que é justo lhe É
ACEITÁVEL.

Romanos 11.20
Pela sua incredulidade, [os judeus] foram quebrados; tu,
porém, mediante a fé, estás firme. Não te ensoberbeças, MAS
TEME.
Romanos 13.7 (Versão Revisada)
DAI A CADA UM O QUE LHE É DEVIDO: a quem tributo,
tributo; a quem imposto, imposto; A QUEM TEMOR, TEMOR;
a quem honra, honra.
Efésios 6.5
Quanto a vós outros, servos, OBEDECEI A VOSSO SENHOR
segundo a carne COM TEMOR e tremor, na sinceridade do
vosso coração, como a Cristo.
Colossenses 3.22
Servos, OBEDECEI EM TUDO AO VOSSO SENHOR
SEGUNDO A CARNE, não servindo apenas sob vigilância,
visando tão-somente agradar homens, mas em singeleza de
coração, TEMENDO AO SENHOR.
Efésios 5.21
Sujeitando-vos uns aos outros NO TEMOR DE CRISTO.
Apocalipse 19.5
Saiu uma voz do trono, exclamando: DAI LOUVORES AO
NOSSO DEUS, todos os seus servos, OS QUE O TEMEIS, os
pequenos e os grandes.
Apocalipse 15.4
QUEM NÃO TEMERÁ E NÃO GLORIFICARÁ O TEU NOME,
Ó SENHOR? Pois só tu és santo; por isso, todas as nações
virão e adorarão diante de ti, porque os teus atos de justiça se
fizeram manifestos.
Eu sei que mesmo diante de todos os textos que vimos acima,
sem falar de outros que não foram citados, ainda assim alguns
irmãos seriam capazes de procurar algum versículo, ou até mesmo
metade dele, para usarem como desculpa do porquê não querem
aceitar ou praticar este temor a Deus.
De vez em quando surgem doutrinas que são construídas com
base apenas em partes de verdades da Bíblia e são levadas ao
extremo por aqueles que se aventuram a ter uma devoção seletiva
pelas Escrituras. Hoje em dia, por exemplo, está muito em moda o
tipo de mensagem que menospreza todo e qualquer ensinamento
sobre juízo da parte de Deus ou que ensine sobre qualquer
responsabilidade atribuída ao cristão.
Camuflados por trás de palavras como “graça” e outras
semelhantes, ou mesmo usando versículos da Bíblia como pretexto,
muitos irmãos são capazes de ignorar todos os 18 versículos que
vimos acima por causa de um ou dois relativamente mal
interpretados.
A capacidade do filho de Deus de poder sentir vergonha, de
sentir-se culpado por algum pecado cometido, a bênção de ser
capaz de sentir o peso de uma repreensão por algum
comportamento indevido, são virtudes cristãs que não podem ser
perdidas no Corpo de Cristo.
Se um pai repreende ou reprova o procedimento de um filho e
este simplesmente dá as costas com um riso zombeteiro nos lábios,
sem nem mesmo sentir-se mal por ter desagradado o pai, o que
você me diria a respeito deste comportamento? O que se poderia
dizer sobre tal atitude? Um filho desordeiro e rebelde que “não
perde a sua paz” independente do número de reprovações ou
reprimendas que sejam feitas por seus pais, sofrerá as
consequências da sua irresponsabilidade mais cedo ou mais tarde.
Se as Escrituras nos estimulam a olharmos para formigas para
que aprendamos lições espirituais de valor, por que não podemos
observar a relação familiar entre pais e filhos para aprendermos
sobre nossa relação espiritual com nosso Pai Celeste?
O reconhecimento da nossa pequenez e fragilidade como seres
humanos diante da grandeza e invulnerabilidade do nosso Deus e
Pai nos constrange como seus filhos a lhe prestarmos submissão,
obediência e temor.
QUEM TEME
NÃO SERÁ APERFEIÇOADO NO AMOR?
Já vi alguns irmãos se apegarem ao texto de 1 João 4, de onde a
frase acima fora equivocadamente elaborada, para fazerem
declarações extremistas sobre o amor de Deus e sobre o “temor”
que, supostamente, todo crente deveria descartar.
1 João 4. 18
No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o
medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme
não é aperfeiçoado no amor.
Existem muitos pontos importantes a serem considerados no
texto acima para que o entendamos corretamente sem destoá-lo do
restante das Escrituras.
A palavra grega que no verso 18 é traduzida por “medo” é a
palavra “phobos” e a palavra “teme” foi traduzida de um derivado da
mesma palavra. Como vimos anteriormente, a palavra “phobos”
pode ser usada no sentido positivo ou no sentido negativo e o seu
sentido aqui é estritamente negativo. Ainda assim, existem algumas
coisas interessantes a se considerar sobre esta declaração feita por
João.
A primeira coisa que eu quero que você observe é que João diz
duas frases no mesmo versículo que têm praticamente o mesmo
significado:

O perfeito amor lança fora o medo;


Aquele que teme não é aperfeiçoado no amor.

Eu tenho percebido que a segunda frase está sendo muitas


vezes compreendida ao contrário do seu sentido real. Alguns
pensam que João está dizendo que se alguém permitir a presença
do medo em sua vida, o amor não será aperfeiçoado. Mas o que ele
está dizendo realmente é que aquele que não é aperfeiçoado tem
medo.
Claro que o problema é uma simples má interpretação de texto
por causa de uma versão cuja frase pode apresentar duplo sentido,
como no caso da versão que acabamos de ler.
Na versão da Bíblia de Jerusalém esta parte do versículo 18,
sobre a qual estamos falando, está da seguinte forma: “O que teme
não chegou à perfeição do amor”. Na versão Almeida 21 diz: “Quem
tem medo não está aperfeiçoado no amor”. Na versão de J. B.
Philips em sua Edição de língua portuguesa em Cartas Para Hoje
diz: “O homem que vive com medo ainda não foi aperfeiçoado em
seu amor”. Na versão do Novo Testamento Judaico diz: “Quem tem
medo não alcançou a maturidade relativa ao amor”.
O texto não está falando de forma alguma que quem tem medo
não será aperfeiçoado, é exatamente o contrário: Não é pela
ausência do medo que o amor se aperfeiçoará; é pelo
aperfeiçoamento do amor que o medo sairá. Basta olhar para a
primeira frase que diz que “o amor perfeito elimina o medo” e não
que “a ausência do medo aperfeiçoa o amor”.
Por causa desta equivocada interpretação de 1 João 4.18 muitas
pessoas tem se esforçado em pregar contra qualquer tipo de temor
na vida dos cristãos. Sem perceberem, estão colocando tudo em um
único pacote sem distinção alguma e jogando fora como se tudo
fosse lixo. Se alguém der um banho em um bebê numa banheira,
depois terá que jogar a água fora, mas não pode se esquecer de
tirar o menino antes. Assim também não podemos pegar
indiscriminadamente qualquer menção à palavra temor e rotulá-la de
negativa e descartável. Não se esqueça dos inúmeros versículos
que vimos que são favoráveis a uma vida de temor a Deus.
Voltando ao assunto, no caso de 1 João 4.18, o que ele está
dizendo na verdade é que “aquele que tem medo é porque NÃO FOI
ainda aperfeiçoado no amor” e não que “se alguém tem medo NÃO
SERÁ aperfeiçoado no amor”. Daqui a pouco trataremos a respeito
do que seria esse medo.
O APERFEIÇOAMENTO DO AMOR
A segunda coisa para a qual eu gostaria de chamar a sua
atenção é a qualidade do amor que João menciona que eliminará o
medo: “O PERFEITO AMOR lança fora o medo”. No início do verso
18 ele diz que no amor não existe medo, mas logo em seguida
qualifica o tipo de amor que lançará o medo fora: o amor perfeito!
Esta não foi a primeira vez que João mencionou a ideia de um
aperfeiçoamento do amor neste capítulo. Veja que nos versículos 12
e 17 ele já tinha feito menções a isto:

1 João 4.12
Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros,
Deus permanece em nós, E O SEU AMOR É, EM NÓS,
APERFEIÇOADO.
1 João 4.17
NISTO É EM NÓS APERFEIÇOADO O AMOR, para que no
Dia do Juízo mantenhamos confiança; pois, segundo ele é,
também nós somos neste mundo.
João fala de certa forma que nos faz entender que é preciso
manter um padrão de comportamento dentro da vontade de Deus
para que o seu amor se aperfeiçoe (1 João 4.13,15,16). No verso 12
ele diz: SE AMARMOS UNS AOS OUTROS, DEUS PERMANECE
EM NÓS E o seu amor será aperfeiçoado na gente.

1. Primeiro ele diz: “SE amarmos uns aos outros”;


2. Depois acrescenta: “Deus permanecerá em nós”;
3. E finaliza: “Seu amor será em nós aperfeiçoado”.

O amor de Deus poderia se aperfeiçoar em um cristão que


insiste em se indispor com seus irmãos? Que insiste em guardar
mágoa e rancor em seu coração contra aqueles por quem Jesus
morreu? Você acredita que o amor de Deus se aperfeiçoa em
crentes que se alegram com os infortúnios de outros membros do
Corpo de Cristo?
Precisamos seguir as diretrizes do Senhor, fazendo aquilo que
lhe agrada para que “Deus permaneça em nós” (versículos 12, 13,
15,16) E “o seu amor seja aperfeiçoado” (verso 12).
O que João diz no verso 17 é que se o amor perfeito estiver
presente na vida do cristão ele não terá medo em relação ao dia que
tiver que ser julgado! Só o aperfeiçoamento do amor me dará
confiança para o dia do juízo e eliminará o medo por completo.
O QUE É O AMOR PERFEITO?
1 João 4.17
Nisto é em nós APERFEIÇOADO O AMOR, PARA QUE NO
DIA DO JUÍZO, mantenhamos confiança...
1 João 4. 18
No amor não existe medo; antes, O PERFEITO AMOR lança
fora o MEDO. Ora, O MEDO PRODUZ TORMENTO...
Acho interessante João usar a ideia de perfeição para designar o
tipo de amor que afugentará o medo em relação ao juízo. Sei que
poderíamos usar a ideia do aperfeiçoamento do amor em diversos
contextos diferentes, mas na passagem que estamos estudando,
João a associou ao dia do juízo. Isto por si só já nos orienta na
interpretação mais plausível sobre o significado da expressão “amor
aperfeiçoado”.
O tormento que antecipa o juízo comumente recai sobre
desobedientes e rebeldes. O juízo não ameaça nem afeta ao justo
obediente cujo procedimento é exemplar. A única forma de se ter
confiança para o dia do juízo e não viver atormentado pelo medo do
que pode acontecer, é estar certo de antemão que meu
procedimento é irrepreensível.
É exatamente isso que João quer dizer no versículo 17 quando
diz que somos como Jesus neste mundo: “Nisto é em nós
aperfeiçoado o amor, para que, no Dia do Juízo mantenhamos
confiança; POIS, SEGUNDO ELE É, TAMBÉM NÓS SOMOS
NESTE MUNDO”. Ou seja, se eu for aperfeiçoado no amor de Deus
e eu for neste mundo TAL COMO ELE É, eu não temerei juízo
algum, pelo contrário, terei total confiança!
Observe mais uma vez este versículo em outra versão:
1 João 4.17 (King James Português)
Dessa forma, o amor é aperfeiçoado em nós, a fim de que
tenhamos total segurança no dia do juízo, pois, assim como
ele é, nós semelhantemente somos neste mundo.

João está dizendo que quando somos aperfeiçoados no amor,


somos semelhantes ao Senhor neste mundo.

Quando João fala sobre o “aperfeiçoamento do amor”, entenda


que ele não se refere a um suposto aperfeiçoamento do amor de
Deus por nós e sim sobre o aperfeiçoamento do seu amor EM nós.

Nos versículos 12 e 17 fica claro que o amor é aperfeiçoado EM


NÓS, e ao chegar ao versículo 18 lemos João dizer que O CRENTE
que NÃO É APERFEIÇOADO no amor, tem medo do juízo. Enfim,
NÓS É QUE SOMOS APERFEIÇOADOS NESTE AMOR, que daria
no mesmo de dizer que o amor está ficando perfeito em nós.

Neste ponto poderia surgir a seguinte pergunta: O que João está


falando nestes versículos sobre o aperfeiçoamento do nosso amor,
se refere ao nosso amor por Deus ou nosso amor pelos outros?
Bom, se a sua pergunta não estiver motivada pela intenção de não
querer amar os irmãos, você não precisará se preocupar com isso.
Afinal, quem realmente ama a Deus, ama tudo que nasce dele (1
João 5.1). E, de fato, as duas coisas se misturam, pois quem ama a
Deus guardará seus mandamentos, e seus mandamentos é que
amemos os outros, então se formos realmente aperfeiçoados no
amor, amaremos igualmente a Deus e aos homens, seremos
semelhantes a Jesus nesse aspecto.
À luz de tudo isso, podemos afirmar que aquilo que traz
confiança ao cristão para o dia do juízo é o seu constante
amadurecimento no amor de Deus, certo? Mas como saber
realmente se o amor de Deus está em nós? A Bíblia responde:

João 14.21

Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, ESSE É


O QUE ME AMA.
João 14.15

SE ME AMAIS, guardareis os meus mandamentos.

2 João 1.6

E O AMOR É ESTE: QUE ANDEMOS SEGUNDO OS SEUS


MANDAMENTOS.

1 João 5.3

Porque eSTE É O AMOR DE DEUS: QUE GUARDEMOS OS


SEUS MANDAMENTOS; ora, os seus mandamentos não são
penosos.

João 15.10

SE GUARDARDES OS MEUS MANDAMENTOS,


PERMANECEREIS NO MEU AMOR; assim como também eu
tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor
permaneço.

Você diz que ama a Deus? Você deseja ser aperfeiçoado neste
amor? Então guarde os mandamentos de Jesus Cristo! Agora,
curiosamente, seus principais mandamentos também estão
relacionados ao amor. ELE ORDENA que nos amemos uns os
outros COMO ELE nos amou (João 13.34, João 15.12).
Ora, quando eu amo a Deus eu guardo os seus mandamentos
(João 14.15). Por sua vez seus mandamentos me ordenam amar os
outros (João 13.34). Quando eu amo os outros, o amor de Deus é
aperfeiçoado em mim (1 João 4.12).
É um verdadeiro ciclo divino de amor e obediência. Tudo se
resume nisto. De 1 João 4.19 em diante ele deixará cada vez mais
claro que o amor que temos pelos outros é uma consequência direta
da descoberta deste amor que Deus teve por nós. Como ponto de
partida amamos inicialmente a Deus, porque ele nos amou primeiro:
1 João 4.19
Nós amamos porque ele nos amou primeiro.
E se pensamos que amamos a Deus mas não estamos
conseguindo amar os irmãos, então antes de sermos chamados de
mentirosos é melhor pensarmos novamente se realmente
conhecemos este amor (1 João 4.20, 1 João 4.8). Pois a grande
verdade é que todo aquele que nasceu de Deus não apenas ama ao
Deus que lhe gerou, como naturalmente amará todos os que
também nascerem dele:
1 João 5.1
Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus;
E TODO AQUELE QUE AMA AO QUE O GEROU TAMBÉM
AMA AO QUE DELE É NASCIDO.
Que fique claro que temos um mandamento: Quem ama a Deus,
ame também a seu irmão! (1 João 4.21).
Por outro lado, se alguém disser “Ah, mas eu amo muito a Deus”
e na verdade mantiver ódio em seu coração contra um irmão, ele
não é nada mais do que um mentiroso, pois aquele que não ama a
seu irmão a quem vê, não conseguirá amar a Deus a quem não vê,
e mentirosos não tem condição de estar confiantes diante do Juiz de
toda a terra (1 João 4.20). Até porque aquele que odeia a seu irmão
é assassino e todo mundo sabe que um assassino não tem a vida
eterna permanente em si (1 João 3.15).
1 João 3.18,19
18
Filhinhos, não AMEMOS de palavra, nem de língua, mas
DE FATO E DE VERDADE. 19 E nisto conheceremos que
somos da verdade, bem como, PERANTE ELE,
TRANQUILIZAREMOS O NOSSO CORAÇÃO.
Este versículo retrata um apelo para os filhos de Deus (a quem
ele chama de “filhinhos”). Não é para pecadores, pois eles nem
sequer tem condição de cumprir esta obrigação. Veja também que
este texto traz alguns dos elementos que já lemos um pouco acima.
Aqui João está dizendo que “se amarmos de verdade
tranquilizaremos nosso coração diante de Deus”. É semelhante a 1
João 4.12 e 17 que diz: “se amarmos uns ao outros o seu amor será
aperfeiçoado em nós e no dia do juízo teremos confiança”.
Ora, isso não faz todo o sentido? O temor da punição pressupõe
que houve desobediência a um mandamento, mas se o
mandamento que me fora dado é amar os outros, então, se me
aperfeiçoo neste amor, eu estarei na verdade me aperfeiçoando na
obediência do mandamento que me fora dado, LOGO, o “perfeito
amor”, que é o mesmo que “perfeita obediência”, lançará fora todo o
medo! Afinal, quem cumpre o mandamento não teme nenhum mal!
(Eclesiastes 8.5).
O AMOR MADURO
Para João a importância do amor no Cristianismo é tamanha que
somente em sua primeira epístola ele fez uso da palavra “amor”, em
suas diversas formas, mais de 40 vezes. Somente entre 1 João 4.7
e 1 João 5.3 a palavra amor aparece 32 vezes no original grego.
A palavra “perfeito” usada por João para classificar o amor que
devemos ter significa maduro, adulto, completo, finalizado ou pleno.
Podemos comparar o aperfeiçoamento do amor de um cristão ao
seu Deus com o amadurecimento do amor e da obediência de um
filho ao seu pai.
Quando a criança nasce o seu pai a ama, mas a criança ainda
não ama o seu pai, pelo menos não plenamente. Mas à medida que
esta criança se desenvolve, o seu amor amadurecerá juntamente
com ela.
Quando o filho é ainda criança ele não tem maturidade para
assimilar o porquê das diretrizes e ordens que lhe são dadas pelo
pai. Sabemos que a ignorância está apegada a alma da criança,
mas a vara da correção resolverá esse problema (Provérbios 22.15).
Nesta fase do relacionamento a criança aprenderá através da
correção e da disciplina, inclusive por meio da vara. Pode não ser a
melhor maneira, mas para aquele ponto na vida da criança, em seu
processo de crescimento, talvez seja a única forma possível. Assim,
a criança muitas vezes aprenderá a obedecer por medo da punição
de uma possível desobediência.
À medida que este filho amadurece e se torna homem feito, com
o caráter formado, ele terá um comportamento compatível com a
educação que recebeu. Mas nesta fase da sua vida, ele terá um
procedimento correto não por temer ser punido por seu pai, mas
porque aquilo agora faz parte do que ele é. Este talvez seja um bom
exemplo daquilo que a epístola de João ensina sobre o
“aperfeiçoamento do amor”.
Capítulo 4
ARREPENDIMENTO

Como vimos no capítulo anterior, o arrependimento é a resposta


para todos os problemas de uma vida desordenada e também a
solução para todo aquele cujo comportamento é marcado por
pecados cometidos regularmente.
Quando algumas pessoas ouvem uma declaração como esta,
pensam que estamos minimizando a gravidade do problema
comportamental de alguns cristãos rendidos ao pecado. Mas ao
contrário, pessoas que pensam assim é que estão minimizando o
poder divino presente no arrependimento.
À medida que você progride na leitura deste capítulo mantenha
isto em mente: o arrependimento é a solução! O que nos falta é
compreensão sobre o que a Bíblia chama de arrependimento, e, às
vezes, nos falta o entendimento de como cooperar com Deus para
promover este arrependimento na vida daqueles que precisam.
Enquanto alguns cristãos pensam que arrependimento é uma
atitude de autocomiseração indiscriminada, sem objetivo claro ou
específico, outros irmãos supõem que o arrependimento é uma
coisa na qual não se deve gastar muito tempo, pois “não passa de
uma ‘simples’ mudança de mente”, como se o processo de mudança
mental fosse algo ridiculamente simples ou que não exigisse uma
força divina capaz de promover este feito.
A palavra grega traduzida por arrependimento pode sim significar
“mudança de mente”, mas apenas saber de um dos possíveis
significados para uma palavra em outro idioma nem sempre é
suficiente. Alguns que se apegam unicamente ao possível
significado da palavra acabam por desprezar o mais importante para
entendê-la: a sua aplicação contextual! Aí está o ponto da questão.
Vemos que algumas pessoas se apegam a uma mera tradução ou
interpretação da palavra grega usada para arrependimento e não
prestam atenção às histórias e aos textos na Bíblia onde a palavra
aparece ou onde seu significado é mencionado.
A TRISTEZA E O ARREPENDIMENTO
2 Coríntios 7.8-10
8
Porquanto, ainda que vos tenha CONTRISTADO com a
carta, não me arrependo; embora já me tenha arrependido
(vejo que aquela carta vos CONTRISTOU por breve tempo), 9
agora, me alegro não porque fostes CONTRISTADOS, mas
porque fostes CONTRISTADOS PARA ARREPENDIMENTO;
pois fostes CONTRISTADOS segundo Deus, para que, de
nossa parte, nenhum dano sofrêsseis. 10 Porque a TRISTEZA
segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a
ninguém traz pesar; mas a TRISTEZA do mundo produz
morte.
Sei que já vimos este texto no capítulo anterior, mas se eu
pudesse repeti-lo em todos os capítulos deste livro eu o faria
alegremente para ter a desculpa de colocá-lo o maior número de
vezes possível diante do querido leitor.
Vimos anteriormente que no versículo 10 Paulo ensina
claramente que existe uma tristeza que vem de Deus e uma tristeza
que vem do mundo. Uma deve ser evitada, mas a outra deve ser
experimentada quando se fizer necessário.
Se um cristão está vivendo em algum padrão de comportamento
inadequado e for repreendido por isso, o esperado é que ele se
entristeça. Esta tristeza que vem de Deus produz o arrependimento,
enquanto a tristeza que vem do mundo produzirá a morte.
Paulo comparou estes dois tipos de tristeza para mostrar que um
tipo é mortal, mas o outro é divino e traz vida. Nunca se esqueça
disso: a tristeza segundo Deus PRODUZ o arrependimento!
Como sabemos, Paulo os entristeceu com o teor da carta que
lhes escreveu ao repreendê-los. A tristeza causada pela repreensão
produziu o arrependimento para a salvação, e do resultado final de
tudo isso ninguém jamais se arrependeria, pois fora uma bênção de
Deus para os irmãos da igreja de Corinto.
A importância da tristeza e do pesar no coração daquele que há
de se arrepender é imprescindível para a experiência real do
arrependimento bíblico. A palavra grega que foi traduzida por
tristeza no texto acima aparece por 7 vezes entre os versículos 8 e
10 no texto grego. Em português é traduzida cinco vezes por
“contristados” e duas vezes por “tristeza”. Os eruditos dizem que
esta palavra grega tem em si a ideia de tristeza, dor, angústia,
aflição ou pesar.
De forma objetiva poderíamos até dizer que arrepender-se é
mudar a mentalidade, mas não podemos ignorar que existe um lado
subjetivo no exato momento em que o arrependimento está sendo
experimentado. Cada pessoa sabe do que tem que se arrepender,
mas além disso, o grau do pesar no coração da pessoa (que é um
dos principais elementos motivadores no processo de
arrependimento) é diretamente proporcional ao grau de
procedimento pecaminoso mantido pelo indivíduo.
O nível do pesar no arrependimento será sempre compatível ao
nível do pecado cometido. No meio evangélico é comum se dizer
que não existe “pecadinho e pecadão, pois tudo é pecado diante de
Deus”, mas esta não é uma completa verdade à luz das Escrituras.
João diz que mesmo que toda injustiça seja pecado, ainda assim
existem pecados que não são para a morte daquele que o pratica (1
João 5.17). Isto por si só já revela uma distinção entre pecados e
pecados.
Além disso, João acrescenta que se um irmão cometer um
pecado que não é para a morte, outro poderá orar por ele e Deus
lhe concederá vida; por outro lado, se o pecado do irmão for para a
morte, João aconselha a não orar por ele (1 João 5.16).
Jesus disse que todo pecado será perdoado aos homens, mas o
pecado da blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoado,
nem neste mundo, nem no porvir (Mateus 12.31,32). E em João
19.11, ao debater sobre algumas questões teológicas com Pilatos,
Jesus lhe disse: “aquele me entregou a ti, MAIOR PECADO TEM”.
Ou seja, em relação aos diversos pecados com os quais teremos
que lidar, a Bíblia ensina que por uns podemos orar, mas por outros
não. Ensina que alguns pecados não são para morte, mas outros
são. Ensina que alguns pecados serão perdoados, mas nem todos
serão. Ensina ainda que há pecado que não será perdoado nem
neste mundo, nem no porvir. Sim, há pecado maior que outro! Ora,
tudo isto torna evidente que há certa classificação em relação à
gravidade dos pecados que podem ser cometidos.
O irmão Kenneth E. Hagin costumava dizer que Deus trata os
pecados espirituais com mais severidade do que os pecados carnais
e citava exemplos por meio de histórias que costumava contar. O
que não é difícil de compreender uma vez que consideremos alguns
textos da Bíblia que façam alusão a estes princípios.
João diz que todo aquele que odeia a seu irmão é assassino e
que um assassino não tem a vida eterna permanente em si. Um
motorista que atropela e mata um motociclista que atravessa
irresponsavelmente um sinal vermelho não pode ser considerado
assassino. Por outro lado, um irmão que odeia outro pode ser
considerado como tal (1 João 3.15). Eu sei que às vezes não
pensamos desta forma, mas pecados, como mágoa, sentimento de
vingança, ódio, falta de perdão e coisas semelhantes, à luz das
Escrituras, tem um peso maior do que imaginamos.
Sabemos também que cada pecado praticado sempre abre
espaço para outros pecados serem cometidos posteriormente. É
raro alguém dar lugar ao pecado em sua vida em determinada área
sem que aquilo afete alguma outra área também. Por isso em
muitas situações de arrependimento a compulsão que leva o cristão
a se arrepender pode causar uma mudança que afetará mais áreas
de sua vida do que se poderia esperar.
De fato, tudo isso nos mostra que o tipo de procedimento
pecaminoso do cristão determinará o grau de tristeza e
arrependimento que ele terá quando finalmente for confrontado com
a verdade e perceber que precisará reorganizar sua vida.
Se um cristão perde o controle no trânsito e pratica alguma
carnalidade, no primeiro momento em que ele se conscientizar da
besteira que fez, se entristecerá, se arrependerá e reassumirá sua
postura de filho de Deus. Acredito que todos compreendam que o
arrependimento para alguém nesta situação não envolva o mesmo
grau de quebrantamento pelo qual passará alguém envolvido em
adultério.
Assim, pecados mais “leves” também serão vencidos por meio
do arrependimento, e o pesar do coração neste processo será
proporcional ao pecado cometido. Todavia, quando o pecado
envolve questões de maior gravidade ou quando o pecado se torna
um procedimento regular na vida do cristão, o arrependimento
envolverá níveis maiores de comoção.
Durante o processo de arrependimento o cristão não deve se
questionar por sentir pesar e angústia ao lembrar-se dos erros
cometidos. Deveria ter se questionado antes, quando pela primeira
vez aceitou em sua mente a ideia de praticar o pecado. Mas uma
vez que errou, a tristeza e a angústia pelo reconhecimento de ter
pecado contra o Senhor faz parte da solução divina para restaurar a
pureza no coração do filho de Deus. Paulo se mostrava feliz por
saber que a sua carta tinha entristecido os irmãos em Corinto
fazendo-os se arrependerem: “me alegro porque fostes contristados
para arrependimento” (2 Coríntios 7.9). É perfeitamente bíblico ser
conduzido a esta tristeza divina que produz o arrependimento
restaurador.
Se você observar os conselhos dados por Tiago no início do
capítulo 4 da carta que leva o seu nome, você perceberá que ele
está falando especificamente sobre os problemas que o pecado
pode gerar na vida dos cristãos. Ele fala de conflitos de
relacionamento quando usa as palavras “guerras” e “contendas”. Ele
fala sobre o egoísmo como uma doença presente nos irmãos
fazendo-os cobiçar, invejar e matar a influência daqueles de quem
discordam. De fato, Tiago diz que eles “viviam a lutar e fazer
guerras”. Em nossa forma de falar diríamos que eles “viviam
fazendo confusão”.
Tiago está repreendendo duramente a cristãos pecadores cujo
padrão de comportamento demonstrava muita semelhança com o
padrão mundano. Este tipo de familiaridade com sentimentos
mundanos danificará o relacionamento com Deus, e se o crente
persistir em menosprezar o Senhor dessa forma, Tiago diz que tal
pessoa estará se constituindo inimiga de Deus. Isto já seria
suficiente para causar constrangimento nos irmãos que receberam
sua repreensão, afinal, quem gostaria de ser inimigo de Deus? Até
este ponto Tiago tinha dito apenas que a pessoa se constituiria
inimiga do Senhor, mas ainda não tinha falado qual seria a posição
de Deus em relação a isso. Porém, ele deixa a situação bem clara
quando diz: Deus resistirá aos soberbos!

Os soberbos neste contexto de Tiago eram aqueles que


resistiam à voz de Deus e se rendiam aos prazeres do mundo. Eram
soberbos porque resistiam ao que Deus desejava realmente fazer
em suas vidas e em vez de sujeitarem-se a ele, desprezaram seus
conselhos divinos e davam lugar à carne, fazendo tudo que lhes
dava vontade, sem qualquer restrição. Por isso Tiago emenda
dizendo que eles deveriam resistir não a Deus, mas ao diabo, pois o
relacionamento para com Deus deve ser de sujeição.

No entanto, se aqueles irmãos insistissem em continuar


resistindo a Deus, fazendo somente aquilo que lhes dava vontade
por impulsos carnais, o próprio Deus em pessoa iria resisti-los
também! A verdade é que Deus resiste a quem resiste, mas ele se
chega aos que se chegam.

Todavia, antes de alguém se chegar a Deus e poder usufruir de


uma intimidade real com ele, será preciso trabalhar a pureza em seu
coração. Para isso um cristão cujo comportamento esteja sendo
carnal em certa fase da sua vida, precisará se arrepender primeiro,
para poder usufruir da comunhão com Deus depois. Exatamente por
isso Tiago apresenta a única solução possível para os irmãos
carnais aos quais dirigiu suas duras palavras de repreensão nos
versículos iniciais do capítulo 4:
Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre,
limpai o coração. Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o
vosso riso em pranto, e a vossa alegria, em tristeza. Humilhai-
vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará (Tiago 4.8-10).
UM CRISTÃO AFASTADO DA GRAÇA
Antes de explicarmos mais detalhadamente o texto de Tiago
capítulo 4, é importante que entendamos a diferença entre a graça
de Deus experimentada por um pecador que se arrepende e
confessa Jesus como seu Senhor e a graça divina disponível para
um cristão que se entregou ao pecado e necessita de
arrependimento.
A Bíblia ensina que todos nós éramos inimigos de Deus em
nosso entendimento (Colossenses 1.21). Não tínhamos
conhecimento sobre a pessoa de Deus, nem de qual seria a sua
vontade para nossa vida. No entanto, Deus provou o seu amor para
conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando ainda
éramos pecadores (Romanos 5.8). Esta graça de Deus se
manifestou salvadora a todos os homens e foi por meio dela que
nós fomos salvos (Tito 2.11, Efésios 2.8).
Depois de salvos e transportados do império das trevas para
dentro do reino de Deus, não somos mais ignorantes a respeito da
sua vontade nem das suas leis. Agora o papel da graça de Deus em
nossa vida é outro: sua função agora será nos socorrer e nos
impulsionar ao desenvolvimento da salvação. Contudo, ainda temos
o controle das nossas escolhas e decisões. Não viramos marionetes
evangélicas ou fantoches cristãos porque nos convertemos a Cristo.
Ainda temos o controle do nosso arbítrio e da nossa vontade.
Exatamente por isso que ainda conseguimos pecar mesmo depois
de regenerados. Porém, o fato de ser possível pecar, mesmo depois
de regenerados, não significa que as escolhas ou ações que
tomarmos não terão as devidas consequências.
A graça não desfaz automaticamente as consequências naturais
ou espirituais advindas dos pecados cometidos por cristãos. A graça
não é a permissão divina, adquirida em Cristo, para pecar com
liberdade. A graça não inocenta o culpado pelo simples fato dele ser
evangélico. A graça não torna desnecessário o arrependimento ou a
confissão de pecados, em vez disso, a graça torna o
arrependimento e o reconhecimento dos erros uma experiência
possível.
Como cristãos, temos recursos divinos que nos foram doados por
Deus para que possamos viver uma vida santa e sem pecados.
Todavia, se porventura cometermos algum pecado, é necessário
que sejamos criteriosos em reconhecer o erro como uma anomalia
em relação à natureza de Deus que está em nós; porque, se em vez
disso, fizermos pouco caso do pecado, desconsiderando-o como
uma falta grave, usando a desculpa de que Jesus já resolveu os
problemas das consequências que ele poderia nos trazer, iremos
gradativamente, e irresponsavelmente, nos separando da graça de
Deus por meio de tais atitudes e procedimentos carnais.
Por isso o autor da epístola aos cristãos hebreus disse que
devemos ser diligentes ao cuidar do andamento de nossa
espiritualidade, para que não façamos escolhas que nos levem ao
caminho oposto ao da graça de Deus:
Hebreus 12.15
Atentando, diligentemente, por que ninguém seja faltoso,
separando-se da graça de Deus...
A princípio Deus não tomará a iniciativa de afastar sua graça da
nossa vida; mas, como não somos robôs evangélicos pré-
programados para a glória, nós podemos fazer escolhas erradas
que nos afastem da graça dele. Deus resiste a quem resiste, mas
Deus se chega a quem se chega (Tiago 4.6,8).
Um tipo de vida que conduza a essa situação não é o padrão
ideal para um cristão, mas é uma triste possibilidade na vida de
qualquer um. É preciso ter um comportamento espiritualmente
saudável e responsável para que não percamos aquilo que nos foi
dado. Existem forças contrárias ao plano de Deus para nossas vidas
e se não formos cuidadosos, a graça que nos foi dada poderá ser
ofuscada e até perdida. Precisamos reter a graça!
Hebreus 12.28
Por isso, recebendo nós um reino inabalável, RETENHAMOS
A GRAÇA, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável,
com reverência e santo temor.
Se o texto acima diz que devemos reter a graça é porque devem
existir forças mundanas que trabalham contra a sua permanência
em nossa vida.
Ainda que não deva, um cristão pode chegar a ultrajar o espírito
da graça (Hebreus 10.29). Sem mencionar que as Escrituras
ensinam que uma vida cristã irresponsável entristecerá o Espírito
Santo no qual fomos selados para o dia da redenção (Efésios 4.30).
Um cristão que se permite continuar vivendo assim fará exatamente
o contrário do conselho que Paulo deu para a igreja de não extinguir
o Espírito Santo (1 Tessalonicenses 5.19).
Ora, se o procedimento inapropriado de um cristão pode afetar
de tal forma o relacionamento do Espírito Santo com ele, de onde
surgiu essa ideia na cabeça de alguns que uma vida de pecados
não afetará em nada a graça de Deus em seu favor?
O Espírito da graça pode ser ultrajado, mas a própria graça em si
nunca é afetada? O Espírito Santo de Deus pode ser entristecido,
mas a graça jamais será abalada? O Espírito pode ser apagado,
extinguido, mas a graça é tão superior em força à “Segunda Pessoa
da Trindade” que ela mesma jamais se esgotará?
A imagem que alguns fazem da graça que Deus supostamente
dispensa para seus filhos é exatamente a mesma de um pai cuja
atitude irresponsável deixa seu filho mimado fazer tudo que ele quer,
sem permitir que ele sofra as consequências dos seus erros. Ainda
que isso fosse uma realidade espiritual incontestável — o que não é
— sabemos que até mesmo um pai irresponsável, que não sabe o
valor da disciplina na formação de seus filhos, perde a motivação de
agradá-los ou protege-los quando eles insistem em fazer alguma
coisa que vai diretamente contra o que é certo.
AFLIGI-VOS, LAMENTAI E CHORAI
O que um cristão que se acostumou com o pecado deve fazer
para restaurar sua comunhão com Deus e voltar a desfrutar da
intimidade do seu Espírito? Tiago já deu a resposta:
Tiago 4.8-10
8
Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo
dobre, limpai o coração. 9 AFLIGI-VOS, LAMENTAI E
CHORAI. Converta-se o vosso RISO EM PRANTO, e a vossa
ALEGRIA, EM TRISTEZA. 10 Humilhai-vos na presença do
Senhor e ele vos exaltará.
Observe que os passos sugeridos por Tiago para a restauração
de um cristão, cujo comportamento esteja desordenado, são
explicitamente contrários a esta noção distorcida da graça.
Enquanto este ensinamento equivocado da graça induz os crentes a
fingirem que nada aconteceu, as Escrituras ordenam a enfrentar o
problema de frente, sem covardia e sem fingimento: AFLIGI-VOS,
LAMENTAI E CHORAI!
É preciso que haja o rompimento! Este quebrantamento
pesaroso, e prazeroso, não apenas diante de Deus, mas também no
Espírito de Deus, é o único remédio capaz de libertar um cristão
viciado na imoralidade sexual. Não apenas isso, mas também capaz
de libertá-lo de qualquer outro desvio de comportamento adquirido
antes ou após a conversão. No próprio contexto da carta de Tiago
ele fala sobre irmãos carnais que tinham sérios problemas de
relacionamento, de ganância e egoísmo.
Não são em todas as comunidades cristãs que ouvimos
ensinamentos sobre a importância da tristeza no processo de
restauração espiritual na vida de um filho de Deus. De fato em
alguns lugares, falar sobre isso pode ser motivo para zombaria ou
desprezo por parte de alguns, ainda que este texto de Tiago não
seja o único nas Escrituras a tocar nesse assunto, como já
sabemos.
Alguns irmãos que estão sofrendo secretamente com pecados
sexuais não sabem muitas vezes o que fazer para resolver tais
problemas porque simplesmente nunca foram ensinados a respeito.
Às vezes tentam inutilmente “confessar que são mais que
vencedores” ou que “a abundância da graça os fará reinar em vida”
e outras coisas semelhantes, mas nunca imaginaram que deveriam
ter se entristecido, lamentado, chorado e se arrependido, ainda que
este seja o caminho mais lógico e mais eficaz. Há tempo para todo
propósito debaixo do céu: tempo de chorar e tempo de rir; tempo de
prantear e tempo de saltar de alegria (Eclesiastes 3.1,4).
Mas esta situação que mencionei acima não é ainda a pior coisa
que podemos encontrar por falta de ensinamento claro sobre estas
questões. Um problema ainda mais grave acontece quando o cristão
se acostuma com o pecado de uma forma tal que ele passa a usar
de “confissões de fé” ou da suposta “revelação da graça” para tentar
abafar a condenação presente em seu coração recriado. Depois de
um tempo a condenação não terá mais força, ele estará dormente
aos alertas que vinham do próprio espírito e se acomodará com a
ideia de que está tudo bem, que tem suprimentos divinos para a sua
vida e não precisa de mais nada além da graça de Deus e do seu
amor.
Acredito que uma pessoa que entra numa situação como esta
corre um grave perigo, do qual, muitas vezes, sequer tem
consciência. Penso que a repreensão abaixo, tirada do livro de
Apocalipse, retrata muito bem aquilo sobre o que estamos falando:
Apocalipse 3.17-18
17
[Tu que] dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa
alguma e nem sabes que tu és INFELIZ, sim, MISERÁVEL,
POBRE, CEGO e NU. 18 Aconselho-te que de mim compres
ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras
brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a
vergonha da tua nudez e colírio para ungires os olhos, a fim
de que vejas.
“Tu és um infeliz miserável!”. Se esta fosse uma declaração feita
por um inimigo talvez não merecesse qualquer atenção. Se fosse
alguém que claramente se opõe a qualquer um de nós dizendo-nos
isso, acredito que desprezaríamos propositalmente. A questão é que
a forte declaração que acabamos de ler é feita por aquele que mais
tem interesse em nossa vida. Por esta razão estas palavras têm
bastante peso, têm grande relevância e não podemos desprezar
verdades bíblicas como esta em nome da fé ou da graça.
Não consigo imaginar como se sentiria um filho de Deus que
tomasse consciência de que o seu Pai Celestial estivesse lhe
dirigindo pessoalmente estas palavras A NÃO SER com um
profundo sentimento de tristeza, de aflição, lamento e choro.
Provavelmente por isto mesmo o Senhor tenha sido tão duro em sua
repreensão direta, pois sabemos que a repreensão causa a tristeza
que produz o arrependimento. E isto fica ainda mais evidente
quando o Senhor declara no versículo seguinte:
Apocalipse 3.19,20
19
Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e
arrepende-te. 20 Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir
a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei
com ele, e ele, comigo.
Ouvir a voz de Deus não é suficiente. Saber que ele está à porta
batendo para entrar não é suficiente. Do ponto de vista de Deus, o
que vai resolver o problema é o arrependimento! Por isso ele diz:
“seja zeloso e arrependa-se”. É assim que abrimos a porta para ele
entrar e cear conosco: através do arrependimento. Arrepender-se
depois de ter pecado é um sinal de zelo pelas coisas de Deus.
No versículo 18 o Senhor Jesus também dá outro conselho:
“Compre de mim ouro, roupas e colírio”. No ponto de vista de Deus
este cristão estava pobre, nu e cego. Porém, ao mesmo tempo em
que Deus pensava assim sobre ele, o cristão ainda não tinha
assumido que alguma coisa estava errada, pois DIZIA “Estou rico e
abastado e não preciso de coisa alguma”. Você não fica curioso por
querer entender como é que Deus desaprova o estilo de vida de um
dos seus filhos enquanto este mesmo filho ainda diz que está tudo
bem? A resposta vem logo em seguida: “NEM SABES que tu és...”
(versículo 17). Dizer que está tudo bem não fará com que tudo
esteja bem. Viver uma vida espiritualmente pobre e confessar que é
rico não resolverá o problema. É preciso SABER a realidade dos
fatos, sem fingimento e encará-los!
Quando o Senhor diz “não sabes que tu és infeliz, pobre, cego e
nu” ele se refere à falta de percepção do cristão em ver as coisas
sob a ótica divina. Às vezes somente o confronto com a verdade por
meio de uma repreensão ou de uma situação inusitada o fará ver as
coisas como Deus vê. Exatamente por isso o Senhor envia a
repreensão através desta carta de forma dura e direta, e ainda
explica a razão pela qual fez isso: “Eu repreendo a quem eu amo,
por isso tenha zelo com as coisas de Deus e se arrependa”.
Se você tem problemas com a mentira, assuma o pecado e não
tente vencê-lo por meio da negação do problema, isto seria apenas
outra mentira. Se você tem problemas de ganância, reconheça a
verdade da situação e se arrependa. Se você tem problemas na
área da imoralidade sexual, assuma o problema e enfrente-o com a
graça de Deus e tudo se resolverá como ele pré-determinou.
Outro ponto importante a respeito da passagem de Apocalipse
que estamos tratando é o fato do Senhor ter dito: “Aconselho-te que
de mim compres...” (Apocalipse 3.18).
Quando o Senhor diz que o cristão deve comprar o ouro, as
roupas e o colírio, é porque isto significa que existe algo a ser feito
para que o problema espiritual seja resolvido. Usando a mesma
figura de linguagem presente no contexto podemos dizer que a
aquisição dos bens espirituais que Deus oferece “demanda um
esforço”, “exige um preço a ser pago”. O Senhor é aquele que
venderá os produtos que sugere, o cristão será aquele que
comprará as coisas que precisa.
Não seja crítico quando digo que “existe um preço a ser pago”.
Eu não estou sugerindo que possamos barganhar com Deus ou que
possamos alcançar as bênçãos espirituais por meio de esforço
próprio. A única razão pela qual usei esta expressão foi para não
fugir do linguajar figurativo escolhido pelo próprio Senhor Jesus,
cujo objetivo claro é indicar que a mudança depende de uma
participação ativa por parte do filho de Deus - Ele precisa comprar!
O Senhor disse “ACONSELHO-TE que compres”, ou seja, é um
conselho e como tal, pode ou não ser seguido. O Senhor não
forçará a transformação. Não será Deus que fará com que as coisas
corram para o seu devido lugar. A restauração sugerida é da
vontade de Deus, este é um conselho divinamente orientado, mas e
daí? Isto por si só não resolverá os problemas do cristão; ele precisa
“pagar o preço” para adquirir o que o Senhor está lhe oferecendo. O
preço a ser pago não é outro a não ser submeter-se zelosamente ao
processo de arrependimento que causa a transformação.
Observe também que os elementos que o Senhor oferece são
classificados cada um com características específicas:
OURO REFINADO PELO FOGO, PARA TE ENRIQUECERES.
A refinação do ouro pelo fogo é sempre usada nas Escrituras
como figura de purificação ou melhoramento, comumente através de
sofrimentos e tribulações piedosas. A aflição, o lamento e o choro
fazem parte deste processo de enriquecimento espiritual na vida do
cristão.
VESTIDURAS BRANCAS PARA TE VESTIRES, A FIM DE QUE
NÃO SEJA MANIFESTA A VERGONHA DA TUA NUDEZ.
As vestes brancas são mencionadas nas Escrituras para fazer
referencia à santidade e à pureza que, no caso do texto de
Apocalipse, apontam para o oposto daquilo que o cristão
repreendido estava vivendo na ocasião. Segundo o texto, quem está
vestido com elas não se envergonhará nem diante de Deus, nem
diante dos homens.
COLÍRIO PARA UNGIRES OS OLHOS, A FIM DE QUE VEJAS.
O colírio mencionado no texto de Apocalipse tem a finalidade de
ajudar aquele que será ungido por ele a recuperar a visão. Sem esta
unção sobre os olhos espirituais, o cristão continuará vendo as
coisas de forma imperfeita, pois não terá a mesma visão do seu
Senhor.
Todo o processo que envolve o sentido bíblico de
arrependimento trará ao cristão a riqueza espiritual que é
comparada ao ouro mais puro, as vestes brancas que cobrirão toda
e qualquer vergonha em sua vida e o colírio que lhe dará de volta a
visão espiritual necessária para andar neste mundo com
discernimento debaixo da graça de Deus.
CONVERSÃO DO RISO EM PRANTO
Se você é uma das pessoas que sofre secretamente com o
pecado sexual e a masturbação, ou com qualquer outra variação de
imoralidade sexual e já não sabe mais o que fazer para se libertar
de forma definitiva desta situação, preste bastante atenção no que
estou dizendo aqui. Se você acatar estas palavras em seu coração,
posso lhe garantir que você estará no caminho certo para alcançar
sua libertação.
O quebrantamento por parte daquele que percebe o quão errado
esteve vivendo durante certo período é a força motora que o leva a
desprender-se dos laços do diabo e a recolocá-lo de volta à íntima
comunhão com Deus. A tristeza, a angústia de espírito, o lamento e
o choro são frequentemente mencionados quando os textos das
Escrituras falam sobre arrependimento por parte dos servos de
Deus. Não é por outra razão que Tiago descreve claramente o
processo pelo qual devem passar os filhos de Deus que estiverem
habituados com o erro: “Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o
vosso riso em pranto, e a vossa alegria, em tristeza. Humilhai-
vos...”.
Um cristão que cometeu algum pecado pode até chorar sem
chegar a se arrepender, mas é improvável que um cristão que tenha
cometido algum pecado grave se arrependa e não chore em seu
processo de comoção para mudança.
Diversas passagens que fazem alusão a esta verdade podem ser
encontras em inúmeros lugares das Escrituras. Uma que gostaria de
citar mostra claramente a ideia do lamento e da conversão do riso
em pranto quando o Senhor usa a expressão “rasgar o coração”:
Joel 2.12,13
12
Ainda assim, agora mesmo, diz o SENHOR: CONVERTEI-
VOS a mim de todo o vosso coração; E ISSO COM JEJUNS,
COM CHORO E COM PRANTO. 13 RASGAI O VOSSO
CORAÇÃO, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao
SENHOR, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e
compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e
se arrepende do mal.
Observe que no final do versículo acima o Espírito diz que o
Senhor é misericordioso, compassivo, grande em benignidade e se
arrepende do mal. O que o texto quer dizer é que se o seu povo
seguir seus conselhos em relação ao arrependimento, ele mudará
de ideia quanto ao castigo que enviaria sobre eles. Na Nova
Tradução da Linguagem de Hoje o texto fora traduzido da seguinte
forma:
Joel 2.12,13
12
O SENHOR Deus diz: “Mas agora voltem para mim com
todo o coração, jejuando, chorando e se lamentando. 13 Em
sinal de arrependimento, não rasguem as roupas, mas sim o
coração”. Voltem para o SENHOR, nosso Deus, pois ele é
bondoso e misericordioso; é paciente e muito amoroso e
ESTÁ SEMPRE PRONTO A MUDAR DE IDEIA E NÃO
CASTIGAR.
Deus está sempre pronto para mudar de ideia com relação ao
mal que haverá de enviar sobre aquele que peca. Isso mostra a
perspectiva de Deus quanto ao poder presente no arrependimento,
pois ele pode mudar os planos de Deus quanto ao juízo que ele iria
executar.
Uma passagem bem popular no meio cristão a respeito do poder
presente no arrependimento se encontra no livro de Crônicas:
2 Crônicas 7.14
Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, SE
HUMILHAR, E ORAR, E ME BUSCAR, E SE CONVERTER
DOS SEUS MAUS CAMINHOS, então, eu ouvirei dos céus,
perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra.
Quando um cristão se dispõe a abandonar hábitos pecaminosos
e se humilha com dedicação na presença de Deus, este mesmo
cristão andará com cabeça erguida diante dos homens. Vez por
outra talvez até sinta vergonha quando se encontrar com algum
conhecido, mas ao mesmo tempo terá confiança diante de Deus em
sua vida privada e em sua vida particular de oração.
O VALOR DO ARREPENDIMENTO
O arrependimento é o elemento base para a transformação de
todo e qualquer ser humano. Seja ele um vil pecador mundano ou
um cristão que se acostumou com o pecado, o arrependimento é o
único remédio divino que trará a pureza interior que Deus aceita.
Observe abaixo algumas das passagens das Escrituras que tratam
sobre o valor do arrependimento aos olhos de Deus:
Lucas 24.46,47
46
Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e
ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia 47 e que em seu
nome se pregasse ARREPENDIMENTO PARA REMISSÃO
DE PECADOS a todas as nações, começando de Jerusalém.
As Escrituras ensinam que um homem pecador será aceito por
Deus como seu filho e como cidadão do reino dos Céus se este
ouvir a mensagem do Evangelho e passar pelo arrependimento,
pois somente assim estará disponível para ele a remissão de
pecados. Observe a expressão “arrependimento PARA remissão de
pecados”. O arrependimento é tão importante e significativo para
Deus que a remissão dos pecados se tornará uma realidade prática
na vida do homem quando este finalmente passar por este divino
processo de transformação: o arrependimento.
Lucas 5.31,32
31
Respondeu-lhes Jesus: OS SÃOS NÃO PRECISAM DE
MÉDICO, e sim os doentes. 32 Não VIM CHAMAR justos e sim
PECADORES, AO ARREPENDIMENTO.
Jesus disse claramente que veio chamar os pecadores ao
arrependimento. Este é o chamado divino para a resolução dos
problemas espirituais na vida de qualquer um: Arrepender-se!
Também é interessante observar que Jesus faz uma ligação entre o
arrependimento para remissão de pecados e o remédio para cura
dos doentes. Falando em termos figurativos podemos dizer que “o
arrependimento é o remédio de Deus para curar o homem enfermo
pelo pecado”.
Lucas 15.7
Digo-vos que, assim, haverá MAIOR JÚBILO NO CÉU por um
PECADOR QUE SE ARREPENDE do que por noventa e nove
justos que não necessitam de arrependimento.
Esta é uma daquelas raras passagens bíblicas onde temos uma
revelação direta sobre aquilo que se passa no céu por causa de
acontecimentos terrenos. Jesus disse que há júbilo no céu por um
pecador que se arrepende. Não encontramos muitos textos que
façam menção ao estado de alegria ou júbilo celestial por causa de
atitudes humanas na terra, e, este texto, como um dos poucos que
se encontram nesta categoria, fala especificamente sobre
arrependimento.
O texto não está dizendo que não existe alegria no céu pelos
justos que não precisam de arrependimento, mas deixa bastante
claro que a alegria causada pelo arrependimento de um pecador é
MAIOR que a alegria por causa dos justos que não têm de que se
arrepender.
Não obstante o que lemos no versículo acima, sabemos que um
cristão também pode cometer pecados e se este for o caso, ele
também precisará se arrepender para restaurar sua comunhão com
Deus e a sua espiritualidade, para somente depois, seguir em frente
em sua caminhada. Alguns irmãos desconhecem o que a Bíblia
ensina a respeito deste tipo de assunto, mas como temos dito
repetidamente, o arrependimento é a solução número um provida
por Deus para a restauração dos homens e quando cristãos pecam
e não se arrependem, é motivo de tristeza. Paulo expressou isso
claramente no texto abaixo:
2 Coríntios 12.20,21
20
Temo, pois, que, indo ter convosco, não vos encontre na
forma em que vos quero, e que também vós me acheis
diferente do que esperáveis, e que haja entre vós contendas,
invejas, iras, porfias, detrações, intrigas, orgulho e tumultos. 21
Receio que, indo outra vez, o meu Deus me humilhe no meio
de vós, E EU VENHA A CHORAR POR MUITOS QUE,
outrora, PECARAM E NÃO SE ARREPENDERAM da
impureza, prostituição e lascívia que cometeram.
Jesus disse que há júbilo no céu quando um pecador se
arrepende e aqui nós lemos Paulo dizendo que choraria por cristãos
que pecassem e não se arrependessem. Assim como o
arrependimento deve ser motivo de alegria, a impenitência deve ser
motivo de tristeza. Acredito que todo filho de Deus espiritualmente
sensível se alegrará com aqueles que se arrependem e se
entristecerá com aqueles que resistem à repreensão que promove o
arrependimento.
Lucas 3.8
Produzi, pois, frutos DIGNOS DE ARREPENDIMENTO e não
comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão;
porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar
filhos a Abraão.
Sabemos que todo aquele que se arrepende sofre uma profunda
transformação interior que somente o arrependimento tem
capacidade de proporcionar e o resultado será uma nova
perspectiva de vida pela frente e um novo padrão de
comportamento.
Muitas vezes usamos a expressão “frutos dignos de
arrependimento” para nos referirmos ao procedimento correto que
exigimos de uma pessoa que diz ter se arrependido, mas o fato é
que se alguém realmente se arrepende, o procedimento correto
desta pessoa será um fruto que brotará naturalmente. O que na
verdade a expressão “frutos dignos de arrependimento” revela é que
os frutos sempre deverão estar à altura da dignidade que um
arrependimento possui.
Se você examinar o contexto imediato de Lucas 3.8 verá que
João Batista está falando sobre fugir de uma ira futura e depois
acrescenta que se não houver produção de bons frutos, o machado
será posto à raiz das árvores que serão cortadas e lançadas ao
fogo. Em outras palavras, ele está dizendo que quem estiver
fingindo ter se arrependido não escapará. Por outro lado, pelo
mesmo texto, também entendemos que somente o arrependimento
livrará o homem da ira vindoura, do juízo e do fogo.
O ARREPENDIMENTO
APLACA A IRA DE DEUS
Romanos 2.5
Mas, segundo a tua dureza e coração impenitente, acumulas
contra ti mesmo ira para o dia da ira e da revelação do justo
juízo de Deus.
No versículo acima Paulo explica que um homem de coração
duro e impenitente acumulará a ira de Deus contra a sua própria
vida. A palavra grega traduzida por “impenitente” é formada por uma
partícula de negação e um possível derivado da palavra grega para
arrependimento. O homem de coração impenitente é aquele que
tem a atitude exatamente oposta a de um homem arrependido.
Repetindo, o texto está dizendo que o homem duro de coração, que
não se arrepende, acumulará a ira de Deus sobre a sua própria
vida. Por outro lado, isso nos ensina que o arrependimento aplacará
a ira de Deus a despeito dos pecados que ele tenha antes cometido.
Alguns cristãos morrem prematuramente por meio da execução
de um juízo divino porque insistem em viver no pecado e não se
arrependem quando Deus lhes concede a oportunidade. Paulo fala
sobre isso no texto da primeira carta aos Coríntios:
1 Coríntios 11.28-32
28
EXAMINE-SE, pois, O HOMEM A SI MESMO e assim,
coma do pão, e beba do cálice; 29 pois quem come e bebe
sem discernir o corpo, COME E BEBE JUÍZO PARA SI. 30 EIS
A RAZÃO por que há entre vós muitos fracos e doentes e não
poucos que dormem. 31 Porque, se nos julgássemos a nós
mesmos, NÃO SERÍAMOS JULGADOS. 32 Mas, QUANDO
JULGADOS, somos DISCIPLINADOS PELO SENHOR, para
não sermos condenados com o mundo.
Se nos julgarmos a nós mesmos e nos arrependermos seremos
poupados por Deus, mas se insistirmos no pecado e não nos
arrependermos quando formos confrontados com a verdade,
estaremos correndo perigo de morte. Além de manter o coração do
cristão sempre sensível, o arrependimento também o livrará de
futuros juízos divinos que lhe trariam a devida punição de seus atos.

Paulo ensina que o cristão deve CONSERVAR o espírito, a alma


e o CORPO até a vinda do Senhor Jesus (1 Tessalonicenses 5.23).
Porém, em outro lugar, Paulo diz que qualquer outro pecado que o
homem comente é fora do corpo, mas aquele que pratica
imoralidade sexual peca CONTRA O próprio CORPO (1 Coríntios
6.18). Finalmente, Paulo deixa clara a sua posição a respeito do
juízo que poderá vir sobre o cristão que insiste em pecar
sexualmente sem se arrepender: Ele diz que o cristão que vive em
pecado sexual e não se arrepende poderá ter seu CORPO destruído
por meio de morte prematura. (1 Coríntios 5.5).

O juízo poderá vir sobre qualquer cristão que insistir no


procedimento pecaminoso, porém a graça de Deus envolverá a vida
de todo aquele que se humilhar na presença de Deus reconhecendo
seus pecados e aceitando o remédio de Deus para os seus
problemas espirituais: o arrependimento.

Observe com atenção:

Apocalipse 2.16

Portanto, ARREPENDE-TE; e, se não, venho a ti sem demora


e contra eles pelejarei com a espada da minha boca.

Apocalipse 2.22

Eis que a prostro de cama, bem como em grande tribulação


os que com ela adulteram, CASO NÃO SE ARREPENDAM
das obras que ela incita.
Apocalipse 2.5
Lembra-te, pois, de onde caíste, ARREPENDE-TE e volta à
prática das primeiras obras; e, SE NÃO, venho a ti e moverei
do seu lugar o teu candeeiro, CASO NÃO TE ARREPENDAS.
Todos os textos que lemos acima demonstram um possível juízo
sobre o cristão que insistir em seus erros sem se arrepender.
Porém, os pecados poderão ser perdoados, e suas consequências
esquecidas, se houver arrependimento. Abaixo mais um texto que
aponta para esta mesma verdade sobre a qual temos tratado:
Mateus 11.21-23
21
Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e
em Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se
fizeram, HÁ MUITO QUE ELAS SE TERIAM ARREPENDIDO
COM PANO DE SACO E CINZA. 22 E, contudo, vos digo: no
Dia do Juízo, haverá menos rigor para Tiro e Sidom do que
para vós outras. 23 Tu, Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura,
até ao céu? Descerás até ao inferno; porque, se em
SODOMA se tivessem operado os milagres que em ti se
fizeram, TERIA ELA PERMANECIDO ATÉ AO DIA DE HOJE.
Veja que Jesus disse que se em Tiro e Sidom se tivessem
operado certos milagres ELES TERIAM SE ARREPENDIDO com
pano de saco e cinza. A alusão ao pano de saco e cinza se refere
àquele pesar e angústia espiritual, sobre os quais temos falado, que
se fazem presente naquele que se arrepende. A aflição, o lamento e
o choro estão inseridos na expressão “pano de saco e cinza”.
Você percebeu também que Jesus disse que não apenas as
cidades de Tiro e Sidom, mas inclusive a cidade de Sodoma não
teria sido destruída se também tivesse presenciado os mesmos
milagres?
Jesus disse que Sodoma não teria sido destruída, mas teria
permanecido até ao dia de hoje se tivesse a oportunidade de se
arrepender! Pense nisso: o pecado traz o juízo, mas o
arrependimento aplaca a ira de Deus.
É importante observar o quanto as Escrituras reprovam a
impenitência, contudo, não mais do que louvam o arrependimento.
Devemos nos lembrar também que o arrependimento é aquele
processo de compulsão interior que acontece depois que o homem
desvia-se, de alguma forma, da verdade da Palavra. Ou seja,
arrependimento é um remédio apenas para quem peca.
TEMPO PARA SE ARREPENDER
Vimos um pouco acima que o próprio Senhor Jesus disse que se
tivesse havido arrependimento em Sodoma aquela cidade não teria
sido destruída como consequência do juízo divino. A insistência
numa vida de pecados preparará o cenário para a execução do justo
juízo de Deus. O que muitas vezes não entendemos é que existe
certo limite para a tolerância de Deus em relação aos pecados que
os homens insistem em praticar. Sejam eles cristãos ou não.
Apocalipse 2.21,22
21
DEI-LHE TEMPO PARA QUE SE ARREPENDESSE; ela,
todavia, NÃO QUER ARREPENDER-SE da sua prostituição.
22
Eis que a prostro de cama, bem como em grande tribulação
os que com ela adulteram, CASO NÃO SE ARREPENDAM
das obras que ela incita.
Se você observar bem o que o Senhor Jesus diz no texto acima,
você perceberá que existe uma espécie de “tempo limite” para que o
crente se arrependa de qualquer comportamento errado que ele
esteja praticando. Caso não se arrependa, o cristão acabará
sofrendo as consequências de seus pecados.
Vimos Paulo falando em 1 Coríntios 11 que a morte prematura de
alguns irmãos da igreja de Corinto era uma manifestação do juízo
divino. Deus é longânimo e não quer que nenhum dos seus filhos
pereça, pois deseja que todos cheguem ao arrependimento.
2 Pedro 3.9
Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam
demorada; pelo contrário, ele é longânimo para CONVOSCO,
não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem
ao arrependimento.
O contexto da passagem acima se refere ao cumprimento da
promessa da volta do Senhor Jesus. Todavia, é interessante
observar como Pedro fala claramente sobre os princípios que
estamos discutindo aqui. Pedro fala sobre a suposta demora do
Senhor para cumprir a sua promessa e explica que a perspectiva
mais correta a respeito da questão não deveria ser essa. Ele diz que
“a demora” não é porque o Senhor estaria retardando o
cumprimento da sua promessa, mas o tempo que estava passando,
ainda que parecesse demorado para alguns, era uma demonstração
da longanimidade divina em querer que durante este período seus
servos chegassem ao arrependimento.
Como diria o texto de Apocalipse 2.21: o Senhor Jesus dá tempo
aos seus servos para que se arrependam! Infelizmente, porém, em
alguns casos, acontecerá o mesmo que diz no restante do versículo:
O cristão pode não querer se arrepender.
Algumas passagens trazem elementos que nos ajudam a
entender o ponto de vista de Deus em seu relacionamento com os
homens no desenrolar do tempo. Paulo fala que não devemos
desprezar a sua tolerância e longanimidade, pois é nesta bondade
que o homem é conduzido ao arrependimento (Romanos 2.4).
Noutro lugar Paulo diz, inclusive, que foi por causa da sua tolerância
que Deus deixou impunes os pecados anteriormente cometidos
(Romanos 3.25). Paulo também diz que Deus suportou com muita
paciência os vasos de ira (Romanos 9.22). A despeito da tolerância
divina, não podemos esquecer também que a dureza do homem e o
seu coração impenitente acumularão ira sobre sua vida para o dia
do justo juízo de Deus (Romanos 2.5).
Veja também as passagens abaixo e observe como as Escrituras
parecem indicar uma espécie de tempo limite para a tolerância
divina em relação ao comportamento pecaminoso dos homens:
Gênesis 15.14-16
14
Mas também eu julgarei a gente a que têm de sujeitar-se; e
depois sairão com grandes riquezas. 15 E tu irás para os teus
pais em paz; serás sepultado em ditosa velhice. 16 Na quarta
geração, tornarão para aqui; PORQUE NÃO SE ENCHEU
AINDA A MEDIDA DA INIQUIDADE dos amorreus.
1 Tessalonicenses 2.15,16
15
[os judeus] não somente mataram o Senhor Jesus e os
profetas, como também nos perseguiram, e não agradam a
Deus, e são adversários de todos os homens, 16 a ponto de
nos impedirem de falar aos gentios para que estes sejam
salvos, A FIM DE IREM ENCHENDO SEMPRE A MEDIDA
DE SEUS PECADOS.
Mateus 23.31-33
31
Assim, contra vós mesmos, testificais que sois filhos dos
que mataram os profetas. 32 ENCHEI VÓS, POIS, A MEDIDA
DE VOSSOS PAIS. 33 Serpentes, raça de víboras! Como
escapareis da condenação do inferno?
REPROVAÇÃO DIVINA

2 Coríntios 13.5

Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé;


provai-vos a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus
Cristo está em vós? SE NÃO É QUE JÁ ESTAIS
REPROVADOS.

Paulo aconselha os irmãos a se examinarem e se avaliarem para


terem certeza se ainda permanecem nas bases da fé cristã. Em
seguida ele faz um comentário simples, mas ao mesmo tempo
bastante significativo: “Se não é que já estais reprovados”.

Não sei se você percebeu, mas Paulo está claramente falando


sobre a possibilidade de uma reprovação divina.

Nós vimos anteriormente que as Escrituras ensinam que os


cristãos devem se julgar a si mesmos e que se fizerem isso, não
serão julgados por Deus (1 Coríntios 11.31,32). A morte prematura
mencionada por Paulo no texto de Coríntios 11 era, segundo ele, o
resultado de um juízo divino sendo executado porque os irmãos não
haviam se julgado a tempo e não haviam se arrependido.

Nós temos uma história interessante no Antigo Testamento que


fala sobre o juízo de Deus sendo executado sobre a família de um
sacerdote chamado Eli. Essa história ilustra bem o que estamos
falando aqui sobre o tempo limite para o arrependimento acontecer
antes que haja reprovação divina e venha o juízo. Observe:
1 Samuel 3.12,13
12
Naquele dia, suscitarei contra Eli tudo quanto tenho falado
com respeito à sua casa; começarei e o cumprirei. 13 Porque
já lhe disse que julgarei a sua casa para sempre, pela
iniquidade que ele bem conhecia, porque seus filhos se
fizeram execráveis, e ele não os repreendeu.
Pelo texto acima, compreendemos de forma objetiva o seguinte:

Os filhos de Eli tinham se tornado desprezíveis,


abomináveis;
O pecado era bem conhecido;
Eli não os repreendeu pelos seus pecados para que se
arrependessem e fossem restaurados;
Deus estava declarando ao jovem Samuel que finalmente
executaria o seu juízo sobre a casa de Eli.

Isso não é o tipo de coisa que acontece da noite para o dia.


Levou-se um tempo para que a situação chegasse a esse ponto.
Porém o que mais me chama a atenção nessa história se encontra
no que está escrito nos versículos abaixo:
1 Samuel 2.22-24
22
Era, porém, Eli já muito velho e ouvia tudo quanto seus
filhos faziam a todo o Israel e de como se deitavam com as
mulheres que serviam à porta da tenda da congregação. 23 E
disse-lhes: Por que fazeis tais coisas? Pois de todo este povo
ouço constantemente falar do vosso mau procedimento. 24
Não, filhos meus, porque não é boa fama esta que ouço;
estais fazendo transgredir o povo do SENHOR.
No primeiro texto que lemos de 1 Samuel 3, Deus disse que uma
das razões que o faria executar o seu juízo era porque “Eli não tinha
repreendido os seus filhos”, porém, quando lemos o texto acima,
que é anterior ao capítulo 3, vemos Eli claramente repreendendo os
seus filhos nos versículos 23 e 24. Afinal, Eli tinha ou não tinha
repreendido seus filhos?
Como eu dizia anteriormente, as Escrituras parecem indicar que
existe um tempo limite para a tolerância de Deus em relação aos
pecados cometidos pelos homens. Uma tolerância para o
arrependimento. Extrapolado este limite, o que resta é a reprovação
divina. Muito provavelmente quando Eli chegou a repreender seus
filhos o tempo para a tolerância de Deus já havia se esgotado em
relação àquela situação. É o que o versículo abaixo nos faz
entender:
1 Samuel 2.25
Pecando o homem contra o próximo, Deus lhe será o árbitro;
pecando, porém, contra o SENHOR, quem intercederá por
ele? ENTRETANTO, NÃO OUVIRAM A VOZ DE SEU PAI,
PORQUE O SENHOR OS QUERIA MATAR.
Pelo que vemos, Eli chegou a repreender os seus filhos mas não
a tempo para se arrependerem. Por isso que no capítulo seguinte do
livro de 1 Samuel Deus diz que “Eli conhecia muito bem os seus
pecados e não os repreendeu”, ou seja, no ponto de vista de Deus,
o tempo para a repreensão e para o arrependimento já havia
passado e a repreensão que Eli fizera no capítulo anterior não
contava mais.
Outra verdade muito importante que devemos observar neste
versículo 25 é o seguinte: “Os filhos de Eli não ouviram a
repreensão de seu pai, PORQUE o Senhor já estava decido a matá-
los”. Isto quer dizer que se o tempo para o arrependimento ainda
estivesse disponível, ao ouvirem a repreensão de seu pai muito
provavelmente teriam se quebrantado e se arrependido, o juízo não
teria sido executado e teriam continuado vivos. Como o tempo limite
já havia chegado, eles não conseguiram ouvir a voz de repreensão
do seu pai, PORQUE DEUS JÁ ESTAVA DECIDIDO A MATÁ-LOS.

Não somos mais fortes que o Senhor e não devemos provocá-lo


à ira. Ser obstinado no pecado, mesmo sendo filhos de Deus, fará
com que mais cedo ou mais tarde o juízo divino venha sobre nós,
CASO NÃO HAJA ARREPENDIMENTO. Não podemos esquecer
que as Escrituras nos ensinam a considerar a bondade e a
severidade de Deus (Romanos 11.22).

Da mesma forma como Deus parece ter fechado os ouvidos dos


filhos de Eli para não ouvirem a voz de repreensão de seu pai e se
arrependerem, encontramos outras passagens onde Deus parece
abrir o coração de algumas pessoas para ouvirem a mensagem e se
arrependerem:

Atos 16.14

Certa mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora


de púrpura, temente a Deus, nos escutava; O SENHOR LHE
ABRIU O CORAÇÃO PARA ATENDER ÀS COISAS QUE
PAULO DIZIA.

2 Timóteo 2.24

Disciplina com mansidão os que se opõem, NA


EXPECTATIVA DE QUE DEUS LHES CONCEDA O
ARREPENDIMENTO...

Nós não sabemos o que há entre o coração de uma pessoa e


Deus. Não podemos julgar a vida de ninguém, pois não sabemos de
fatores ocultos para um julgamento justo no padrão divino. Não nos
compete decidir quem estará apto para se arrepender ou quem já
extrapolou os limites da longanimidade divina para sua vida.
1 Coríntios 4:5
Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor
venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas,
e manifestará os DESÍGNIOS DOS CORAÇÕES; e então
cada um receberá de Deus o louvor.
Quando o texto acima diz que não devemos julgar “antes do
tempo” significa que o tempo certo para participarmos dos
julgamentos dos homens chegará. No entanto, não pode ser agora,
por isso Paulo disse aos cristãos que não julguem ATÉ que o
Senhor venha.
A razão pela qual teremos condição de julgar o mundo naquele
tempo futuro é porque o Senhor revelará coisas importantes para
um julgamento justo. Coisas das quais não sabemos hoje porque
“estão ocultas”. Mas, quando o Senhor vier, ele “manifestará os
desígnios dos corações”. Hoje, somente o Senhor, que conhece os
corações, poderá executar um juízo justo em relação a cada pessoa
individualmente.
Você nunca se questionou porque pessoas como Paulo e
Cornélio foram agraciadas com a possibilidade de ouvirem o
Evangelho de uma forma onde o favor de Deus parecia se mostrar
mais forte do que em outras situações ou para com outras pessoas?
Ora, Deus conhece os corações! E o Senhor há de interagir com
cada um individualmente à luz daquilo que só ele conhece.
Atos 15.8
Ora, DEUS, QUE CONHECE OS CORAÇÕES, LHES DEU
TESTEMUNHO, CONCEDENDO O ESPÍRITO Santo a eles,
como também a nós nos concedera.
O que cada pessoa recebe da parte de Deus, seja um juízo
reprobatório ou uma graça divinamente concedida, servirá de
testemunho daquilo que o Senhor conhece sobre a sua vida e do
que ele pensa a respeito da situação.
Algumas pessoas poderiam concluir equivocadamente que isto
seria acepção de pessoas, mas é exatamente o contrário. Se Deus
nos trata de acordo com nossas atitudes, isto significa que ele não
está fazendo acepção, e sim, interagindo com os homens de acordo
com o procedimento de cada um.
Pedro falou: “Reconheço, por verdade, que Deus não faz
acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele
que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável” (Atos 10.34,35).
Obviamente que Deus, por ser uma pessoa, gostará de certas
coisas e não gostará de outras. Existem coisas que o alegram e
coisas que o entristecem. A reação de Deus para com cada pessoa
será com base naquilo que ele sabe a respeito de cada um, e como
ele conhece o mais profundo do coração, seu julgamento será justo
e verdadeiro.
Deus não é obrigado a ter misericórdia de todos os homens
porque se encontra na posição de juiz. No entanto, seu
conhecimento privilegiado a respeito dos corações dos homens lhe
dá condições de ter misericórdia daqueles cuja atitude atende a
seus critérios divinos. Assim, Deus se agrada de uns e se enfurece
com outros, tem misericórdia de uns e executa o juízo sobre outros.
Romanos 9.18
Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece
a quem lhe apraz.
O endurecimento do coração dos filhos de Eli, que os impediu de
ouvir as palavras de repreensão do seu pai, demonstra claramente
como Deus já estava decidido a executar seu juízo sobre eles. É
praticamente a mesma coisa que aconteceu com Faraó quando este
se envaideceu pensando que poderia resistir a Deus por se achar
grande coisa:
Exôdo 7.3,4,13 (ARC)
3
Eu, porém, ENDURECEREI O CORAÇÃO DE FARAÓ e
multiplicarei na terra do Egito os meus sinais e as minhas
maravilhas. 14 FARAÓ, POIS, NÃO VOS OUVIRÁ; e eu porei
minha mão sobre o Egito, e tirarei meus exércitos, meu povo,
os filhos de Israel, da terra do Egito, COM GRANDES
JUÍZOS. 13 Porém O CORAÇÃO DE FARAÓ SE
ENDURECEU, E NÃO OS OUVIU, como o SENHOR tinha
falado.
Como tenho dito, parece haver um tempo limite para a tolerância
divina enquanto ele aguarda o arrependimento dos homens que
estão vivendo em pecado; e como vimos, a distinção entre os
pecadores mundanos e os cristãos que pecam não é muito grande.
No caso dos filhos de Eli, quando o tempo limite da tolerância divina
se esgotou, eles não conseguiram sequer ouvir a palavra de
repreensão proferida pelo pai porque Deus já tinha decidido exercer
seu juízo sobre eles.
Existem várias passagens que parecem dar a mesma ideia do
que lemos na história dos filhos de Eli ou no caso de Faraó: que
existe uma espécie de endurecimento ou limitação divina
estabelecida na vida do pecador que há de sofrer o juízo:
Romanos 11.8
Deus lhes deu espírito de entorpecimento, olhos para não ver
e ouvidos para não ouvir...
Romanos 1.28
E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o
próprio Deus os entregou a uma disposição mental
reprovável, para praticarem coisas inconvenientes.
2 Tessalonicenses 2.11
É por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do
erro, para darem crédito à mentira.
Quando o homem se torna obstinado no pecado e extrapola os
limites de tolerância divina, ele será finalmente reprovado por Deus,
que o entregará a esta disposição mental entorpecida,
impossibilitando-o de fugir do juízo.
A não ser que tenhamos uma revelação clara e precisa da parte
de Deus a respeito das pessoas, não podemos nos precipitar em
julgá-las indiscriminadamente com base apenas no que nosso
conhecimento limitado nos diz.
Na história dos filhos de Eli Deus revelou o que sabia e
manifestou o juízo. Na história de Moisés com Faraó Deus revelou o
que sabia e manifestou o juízo. Na história de Ananias e Safira Deus
revelou o que sabia e manifestou o juízo.
Não sabemos o que há no coração dos homens e por isso, como
disse Paulo, devemos apenas fazer a nossa parte: “Disciplinar com
mansidão na expectativa de que Deus conceda o arrependimento”.
Observe como podemos encontrar o mesmo princípio no texto a
seguir:
Atos 8.18-23
18
Vendo, porém, Simão que, pelo fato de imporem os
apóstolos as mãos, era concedido o Espírito [Santo],
ofereceu-lhes dinheiro, 19 propondo: Concedei-me também a
mim este poder, para que aquele sobre quem eu impuser as
mãos receba o Espírito Santo. 20 Pedro, porém, lhe
respondeu: O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois
julgaste adquirir, por meio dele, o dom de Deus. 21 Não tens
parte nem sorte neste ministério, porque o TEU CORAÇÃO
NÃO É RETO DIANTE DE DEUS. 22 ARREPENDE-TE, POIS,
DA TUA MALDADE E ROGA AO SENHOR; TALVEZ TE
SEJA PERDOADO O INTENTO DO CORAÇÃO; 23 pois VEJO
que estás em fel de amargura e LAÇO de iniquidade.
Pedro não precisou receber uma revelação especial do Espírito
Santo para dizer que o coração de Simão não estava reto diante de
Deus, pois as palavras de Simão deixavam aquilo muito claro diante
de todos! Pedro não teve uma revelação especial como no caso de
Ananias e Safira, ele simplesmente concluiu que Simão não estava
bem espiritualmente por causa daquilo que Simão mesmo falou. No
versículo 23 Pedro disse: “VEJO que estás em fel de amargura e
laço de iniquidade”.
São palavras fortes, mas são palavras verdadeiras. Por causa do
teor das palavras usadas por Pedro contra Simão neste momento,
algumas pessoas poderiam se questionar se ele realmente era
cristão, nascido de novo, pois Pedro diz que ele estava em “laço de
iniquidade” e nem sempre associamos esta condição a um cristão
regenerado. Em outras palavras, ele quis dizer que Simão estava
“preso no pecado”. Contudo a Bíblia diz que “creu até o próprio
Simão; e, sendo batizado, ficou de contínuo com Filipe; e, vendo os
sinais e as grandes maravilhas que se faziam, estava atônito” (Atos
8.13). A palavra grega usada nesta passagem para dizer que Simão
creu (πιστεύω) é a mesma usada em todos os lugares que falam
positivamente sobre a fé, inclusive em Romanos 10.9.
Se Pedro tivesse recebido uma revelação a respeito da situação,
provavelmente as palavras que as Escrituras teriam registrado aqui
seriam outras completamente diferentes. Mas como não havia
revelação alguma envolvida, após tê-lo repreendido (verso 21),
Pedro simplesmente disse: “te arrepende da tua maldade e ora ao
Senhor, pois talvez você seja perdoado”.
Não é interessante que Pedro tenha dito que “TALVEZ Simão
fosse perdoado?”. Acredito que Pedro não poderia dizer qualquer
outra coisa diferente sem uma revelação clara de Deus a respeito
do assunto, pois ele apenas percebeu que Simão estava num “laço
de iniquidade e fel de amargura”. Tudo que Pedro poderia fazer era
repreendê-lo na expectativa de que Deus lhe concedesse o
arrependimento e assim ele conhecesse plenamente a verdade
retornando à sensatez e livrando-se dos laços do diabo (2 Timóteo
2.25,26). Mas isto seria uma coisa que só poderia ser resolvida
entre ele e Deus!
Atos 8.24,25
24
Respondendo, porém, Simão lhes pediu: Rogai vós por mim
ao Senhor, para que nada do que dissestes sobrevenha a
mim. 25 Eles, PORÉM, havendo testificado e falado a palavra
do Senhor, VOLTARAM PARA JERUSALÉM e evangelizavam
muitas aldeias dos samaritanos.
Veja que quando Simão ficou assustado com a declaração de
Pedro, ele pediu aos irmãos que orassem por ele para que o pior
não acontecesse, mas a continuação da história diz: “PORÉM,
Pedro e João voltaram para Jerusalém”. Ou seja, não oraram por
ele, pois Pedro já tinha dito o que ele deveria fazer: “Ele mesmo
deveria orar e buscar o arrependimento se ainda fosse possível”.
Se um cristão se arrepender enquanto é tempo, poderá ser útil
na obra de Deus e uma bênção para aqueles que precisam de
ajuda, como diria o salmista: “Purifica-me com hissopo e ficarei
limpo; lava-me e ficarei mais alvo que a neve. Esconde o rosto dos
meus pecados e apaga todas as minhas iniquidades. Não me
repulses da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito.
Então, ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e os
pecadores se converterão a ti” (Salmo 51,7,9,11,13).
2 Timóteo 2.21
Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar destes erros,
será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor,
estando preparado para toda boa obra.
AS LÁGRIMAS DE ESAÚ
Hebreus 12.17
Pois sabeis também que, posteriormente, querendo herdar a
bênção, foi rejeitado, pois não achou lugar de
arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado.
Eu penso que esta passagem sobre Esaú no texto de Hebreus
tem sido um pouco mal interpretada. Parece-me que a construção
do versículo, nessa versão que lemos, passa uma ideia de que Esaú
tenha tentado se arrepender, inclusive chorando, mas que não tenha
conseguido.
No entanto, quando lemos o texto ao qual Hebreus está fazendo
referência, em Gênesis 27 do versículo 30 ao 38, nós vemos que
Esaú na verdade tentou receber a bênção do seu pai, mas o pai já
tinha abençoado Jacó. O texto diz que Esaú insistiu muito pedindo
que seu pai lhe abençoasse, inclusive com lágrimas, mas o seu pai
disse que já tinha proferido a bênção da primogenitura e não iria
fazê-lo novamente. Ou seja, Esaú tentou fazer com que seu pai o
abençoasse, mas o PAI “NÃO SE ARREPENDEU”, “não mudou de
ideia” com respeito a sua decisão de não proferir a bênção
novamente. É disso que o texto está realmente falando. Leia
Gênesis 27 e confira com estas outras versões abaixo:
Hebreus 12.17 (Bíblia Ave Maria)
E sabeis que, desejando ele em seguida receber a bênção do
herdeiro, lhe foi recusada. E não bastaram todas as súplicas e
lágrimas para que seu pai mudasse de sentimento.
Hebreus 12.17 (NTLH)
Como vocês sabem, depois ele quis receber a bênção do seu
pai. Mas foi rejeitado porque não encontrou um modo de
mudar o que havia feito, embora procurasse fazer isso até
mesmo com lágrimas.
Hebreus 12.17 (Bíblia difusora)
Sabeis que, desejando depois herdar a bênção, foi rejeitado,
porque não encontrou possibilidade de mudança, apesar de a
ter pedido com lágrimas.
O texto de Hebreus parece estar falando sobre o fato de que o
pai de Esaú não se arrependeu em relação a sua decisão de não
proferir a bênção novamente. O foco não é se Esaú se arrependeu
de verdade ou não, mas demonstrar que as escolhas erradas e a
desvalorização do que é espiritual e mais importante podem
acarretar em situações irreversíveis.
OBEDIÊNCIA À VERDADE
Você já se deparou com uma sala cheia de coisas espalhadas
nos mais diversos lugares? Inúmeros livros em cima da mesa,
brinquedos das crianças espalhados pelo chão da sala ou do quarto,
sapatos e outras coisas em lugares diferentes?
Quando você pensa em começar a arrumar as coisas e levar
cada coisinha para o seu devido lugar, você já pressente que vai ter
certo trabalho, não é mesmo? Em alguns momentos chega a ser
desgastante.
O interessante é que quando estamos espalhando as coisas pela
casa, não é com facilidade que percebemos que estamos
“desarrumando” a casa, pois não é cansativo desarrumar, afinal,
apenas pomos um livro em cima da mesa, o sapato em determinado
lugar, uma mochila num canto da casa e assim por diante. Não é
cansativo, nem desgastante, desarrumar, pois, não exige esforço
mental, não temos que planejar ou projetar onde cada coisa deve
ser colocada. Simplesmente vamos largando as coisas
instintivamente.
O processo de arrumação, porém, se torna desgastante porque
exige da nossa atenção enquanto fazemos uma seleção mental
determinando onde cada coisa deve ser colocada.
Assim também é o processo de reorganização do
comportamento depois que nos libertamos de hábitos ruins ou
pecados que praticávamos regularmente. O arrependimento, sem
sombra de dúvida, traz a libertação de forma definitiva mas o
fortalecimento do caráter é um processo mais lento e vai
acontecendo gradativamente ao longo dos dias.
1 Pedro 1.22
Tendo PURIFICADO A VOSSA ALMA, PELA VOSSA
OBEDIÊNCIA À VERDADE, tendo em vista o amor fraternal
não fingido, amai-vos, de coração, uns aos outros
ardentemente.
A obediência à verdade a cada novo dia, a cada nova semana, é
um processo de consolidação da vitória conquistada através do
arrependimento. Isto firmará a pureza espiritual e emocional
necessária para que o cristão possa galgar novas conquistas em
suas experiências com Deus na oração e nas atividades do dia a
dia.
Tiago 1.2-4
2
Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes
por várias provações, 3 sabendo que a provação da vossa fé,
uma vez confirmada, produz perseverança. 4 Ora, a
perseverança deve ter ação completa, para que sejais
perfeitos e íntegros, em nada deficientes.
Por qual motivo um cristão se alegraria pelo fato de passar por
várias provações? Bem, uma das razões poderia ser porque o
cristão terá uma nova oportunidade para provar para si mesmo que
está firme em seu propósito de agradar a Deus e viver inteiramente
para ele. É uma segunda chance que lhe é dada para fazer as
coisas de uma forma diferente.
Além disso, não é o simples fato de passar pela provação em si
que será motivo de alegria, mas a razão desta alegria por parte do
cristão se encontra naquilo que Tiago acrescenta no versículo
seguinte: “sabendo que a provação da fé produz perseverança”.
Quando eu sei que a provação produzirá perseverança, obviamente,
será motivo de alegria poder passar por várias provações.
O que o texto está dizendo é que ao passar pela provação com
sucesso, ao obter êxito no meio daquela prova, isto me impulsionará
a seguir em frente cada vez mais. A vitória na provação me dará
experiência, que por sua vez me fará perseverar em outras futuras
situações semelhantes. Depois Tiago acrescenta que a
perseverança deve ter ação completa para que assim o cristão seja
perfeito e íntegro, em nada deficiente. A perfeição vem depois da
vitória sobre a provação e não o contrário; ou seja, não é aquele que
é perfeito que vencerá a provação. E sem a vitória sobre a provação
não poderei saber se realmente sou íntegro, em nada deficiente.
Todo cristão precisa primeiro passar pela prova, para depois ser
aprovado.
Se um aluno fosse aprovado sem passar pela prova, isto
certamente seria muito ruim para o progresso do próprio aluno e
geraria suspeitas sobre o caráter do professor ou da instituição.
Assim também no sentido espiritual, o cristão que suporta as
provações e é aprovado, se fortalece espiritualmente e avança nos
planos de Deus para sua vida.
Tiago 1.5-8
5
Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a
Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e
ser-lhe-á concedida. 6 Peça-a, porém, com fé, em nada
duvidando; pois o que duvida é semelhante à onda do mar,
impelida e agitada pelo vento. 7 Não suponha esse homem
que alcançará do Senhor alguma coisa; 8 homem de ânimo
dobre, inconstante em todos os seus caminhos.
Porém, diz Tiago que se alguém carece de sabedoria para lidar
com essa situação de “ter alegria na prova”, “passar pela prova para
ter perseverança” e “perseverar completamente para ser íntegro e
perfeito”, só tem uma forma de resolver a situação: Peça a Deus
sabedoria para lidar com isso, pois ele dará a todos que lhe pedirem
sem lhes passar isso em rosto.
Mas tem uma ressalva: Se vai pedir sabedoria para lidar com
essa situação, peça com convicção de que é isso que você quer!
Pois se estiver oscilando entre a vontade de “baixar a guarda” e a
vontade de fazer o que Deus quer, nem suponha que alcançará do
Senhor alguma coisa. Pois o homem de “alma dupla”, que abriga
duas vontades em si, será sempre inconstante em todos os seus
caminhos.
DEUS VOS EXALTARÁ
Cada etapa do processo de reconhecimento do pecado e
arrependimento diante de Deus é importante e deve ser
experimentado de forma consciente. Quando enumeramos cada
coisinha mencionada no texto de Tiago capítulo 4 a beleza nos
detalhes deste processo se torna ainda mais evidente. Ele fala
sobre:

A purificação das mãos;


O ânimo dobre e a necessária limpeza do coração;
Aflição, lamento e choro;
A conversão do riso em pranto;
A conversão da alegria em tristeza;
A auto-humilhação na presença de Deus;
E a consequência derradeira: Deus vos exaltará.

Percebemos que este momento de arrependimento envolve uma


contrição pessoal sincera e profunda diante de Deus. Pode não ser
a experiência cristã mais desejável que encontremos nas Escrituras,
mas quando existem pecados que exigem este grau de
arrependimento, é a coisa mais saudável e mais reconfortante que
poderemos experimentar. Há tempo para tudo debaixo do sol e se
este for o tempo certo para sua vida, não desperdice essa
oportunidade tentando vencer sem usar as ferramentas corretas.
Os sete pontos listados acima formam a ideia completa do
processo de arrependimento, incluindo ao fim a aprovação de Deus,
que promove a vida do cristão que tenha passado por todas as
etapas com dedicação.
A PURIFICAÇÃO DAS MÃOS
As mãos são frequentemente retratadas nas Escrituras como
símbolos do procedimento do indivíduo, suas ações. As “mãos
santas” simbolizam uma vida cujo procedimento é santo. “Purificar
as mãos” representa o processo de purificação no comportamento
pelo qual a pessoa deve passar, traz a ideia de uma mudança: o
abandono do procedimento pecaminoso em prol do comportamento
santo e irrepreensível. O cristão é admoestado a purificar as suas
mãos!
DUPLA INTENÇÃO
A expressão “ânimo dobre” diz respeito a uma intenção ou
desígnio vacilante. Aos que se encontram nessa situação Tiago diz:
“limpem o coração”. Isto faz referência ao crente que permite a
intenção pecaminosa em seu coração. Em outras palavras, Tiago
está falando sobre um cristão que, ora deseja viver em santidade,
ora deseja praticar o pecado.
Na versão Revisada da Imprensa Bíblica, este versículo está da
seguinte forma: “Chegai-vos para Deus, e ele se chegará para vós.
Limpai as mãos, pecadores; e, vós de espírito vacilante, purificai os
corações” (Tiago 4.8).
No Novo Testamento e Salmos das Edições Paulinas em sua
Edição Pastoral, este texto foi traduzido assim: “Aproximem-se de
Deus, e ele se aproximará de vocês. Pecadores, purifiquem as
mãos! Indecisos, purifiquem o coração!” (Tiago 4.8).
“Ânimo dobre”, “espírito vacilante”, “indecisos” são expressões
que retratam a vida de um cristão que está espiritualmente fraco e
que vacila entre a vontade de Deus e a vontade da carne.
Mesmo com o espírito recriado, o homem ainda pode vir a
cometer algum pecado. É óbvio que se o crente estiver realmente
fortalecido em seu coração ele nunca irá pecar, mas o fato é que
quando o cristão permite o pecado em seu coração, é impossível
que este não aconteça. No entanto, a própria permissividade em
seu coração para com o pecado, já é por si só, considerada pecado;
ou seja, a própria intenção de pecar já é pecado.
O que Tiago está dizendo neste texto é praticamente a mesma
coisa que Paulo falava em suas cartas quando tratava sobre
santidade e pureza. Ele está falando que a pureza na vida do cristão
deve envolver tanto os procedimentos cotidianos quanto as
intenções secretas do coração. Por isso ele falou sobre a purificação
das mãos e sobre a limpeza do coração.
A mensagem das Escrituras sobre santidade envolve os dois
aspectos da vida humana: a carnal e a espiritual. Observe:

2 Coríntios 7.1

Tendo, pois, ó amados, tais promessas, PURIFIQUEMO-NOS


de toda impureza, TANTO DA CARNE COMO DO ESPÍRITO,
APERFEIÇOANDO A NOSSA SANTIDADE no temor de
Deus.

1 Coríntios 7.34

Também a mulher, tanto a viúva como a virgem, cuida das


coisas do Senhor, PARA SER SANTA, ASSIM NO CORPO
COMO NO ESPÍRITO.

1 Coríntios 6.20 (ARC)

Porque fostes comprados por bom preço; GLORIFICAI, pois,


a Deus NO VOSSO CORPO, E NO VOSSO ESPÍRITO, os
quais pertencem a Deus.

É interessante que se diga também que moralidade não é


sinônimo de santidade. Um homem pode ser moralmente correto,
mas não ter seu coração reto diante de Deus.

Lembre-se também que o conceito de pecado não é unicamente


ligado aos desvios cometidos na área sexual; o conceito bíblico
sobre pecado abrange o ódio, a mágoa, falta de perdão, falta de
amor, sentimento de vingança e outras coisas semelhantes. Se
desejarmos agradar a Deus como cristãos devemos não apenas
manter o nosso corpo sob disciplina mas também manter puros os
nossos corações.
ENTRISTECIMENTO CONSCIENTE
Aflição, lamento, choro, conversão do riso em pranto e da alegria
em tristeza são expressões que retratam o momento em que o
cristão, consciente da sua situação desfavorável aos olhos de Deus,
percebe que não pode mais viver em fingimento e se quebranta,
considerando nesse momento a única pessoa que lhe importa:
Deus, que tudo vê e tudo sabe.
HUMILHAÇÃO E EXALTAÇÃO
O cristão reconhece sua pequenez diante do Deus Todo-
Poderoso e se humilha em seu interior num ato voluntário de
prostração e rendição espiritual. Por fim, o próprio Deus, que
conhece os corações, exaltará seu servo em testemunho da sua
graça dispensada para a sua vida (Atos 15.8).
Capítulo 5
PERDÃO

O perdão é a decisão de alguém que está em paz com Deus e


não depende do que os outros lhe façam para manter seu
relacionamento com o Pai inabalável.
Mais do que um estilo de vida que mantém a saúde daquele que
o pratica, o perdão é também uma ordenança divina para todos os
que se dizem filhos de Deus. De forma geral, podemos dizer que em
certas situações não é fácil perdoar. Porém, mesmo quando não é
fácil, para o cristão, continua sendo obrigatório.
Todas as bases do Cristianismo estão naquilo que a Bíblia define
como amor e na sua relevância em nossa vida.
O perdão é uma expressão de amor. Quem tem mais amor em
seu coração, terá mais facilidade em perdoar os outros. Logo, assim
como o nosso amor pode aumentar, a nossa capacidade em
perdoar também pode (Filipenses 1.9).
Dizer que perdoa não é a mesma coisa que perdoar. O perdão
vai além das palavras. Perdoar é permitir humildemente que um
pouco daquilo que Deus é, em sua natureza eterna, esteja presente
em sua vida através do que você faz pelos outros.
Como cristãos, sabemos que devemos amar os nossos inimigos,
mas como poderemos agradar ao coração de Deus fazendo isso, se
somos tão mesquinhos que não conseguimos sequer perdoar
nossos amigos? (Mateus 5.43-48).
Se você não consegue perdoar alguém por entender o quanto
ele é importante aos olhos de Deus, perdoe-o por amor à sua
própria vida, pois se a falta de amor e perdão não lhe causarem
prejuízo ainda nesta vida, certamente se acertarão com você na
eternidade. Os galardões que os cristãos almejam receber no porvir
não se limitam às atividades de pregação ou evangelismo, mas
estão relacionados também à vida cristã vivida em sua essência.
É de se esperar que um cristão sinta nojo e repulsa pelo pecado.
Também é compreensível e natural que um cristão se entristeça ao
tomar conhecimento de algum pecado praticado por um irmão em
Cristo. Tristeza ainda maior devemos sentir quando sabemos de
irmãos que pecaram e não se arrependeram daquilo que fizeram.
Por outro lado, não podemos desprezar as instruções da Palavra
de Deus por causa dos sentimentos de repulsa que possamos
experimentar. Como vimos anteriormente, a Bíblia ensina o que
deve ser feito nos casos em que um cristão peca e não se
arrepende, mas ela também instrui sobre o que fazer quando o
crente aceita a repreensão e se arrepende dos erros que cometeu.
É curioso notar que, quando a maioria dos cristãos conversam
com os membros de sua família que pecaram e ainda não
receberam Jesus, eles os tratam com compaixão e
condescendência. Contudo, depois que eles se convertem e
passam a fazer parte da Igreja, o fato de pecarem novamente pode
parecer motivo para que sejam enviados de volta ao inferno sem
qualquer explicação.
Precisamos de equilíbrio e maturidade para lidar com a infeliz
presença do pecado no meio da Igreja. Devemos ser firmes e fortes
ao reprová-lo, mas ao mesmo tempo amáveis e brandos ao perdoar
o irmão arrependido.
PARA QUE SATANÁS NÃO ALCANCE VANTAGEM SOBRE NÓS
Existem casos em que as pessoas entram e saem de situações
de pecado e os outros não tomam conhecimento do ocorrido.
Existem outras situações onde algumas pessoas até descobrem o
pecado sexual praticado por outros, mas agem com maturidade
cristã e lidam com a situação sabiamente, sem causar maiores
danos ao Corpo de Cristo, tratando do assunto apenas com as
pessoas diretamente envolvidas.
Infelizmente sabemos que a vida não é um mar de rosas, e em
certas situações algumas pessoas terão prazer em compartilhar a
“última novidade” a respeito do pecado alheio. Se você for o
protagonista do boato espalhado precisará estar preparado para
lidar com a fúria dos irmãos. Como diria um amigo meu: “É por
causa dessas e de outras que não podemos dar lugar ao diabo, nem
aos irmãos”. Em algumas ocasiões, aquilo que o diabo começa, só
os irmãos têm a capacidade de terminar. Por isso é muito melhor
viver em santidade e dormir sossegado, protegido de todos os
ataques e acusações.
Creio que deve haver repreensão dura para com aquele que
peca, na expectativa de que ele se arrependa e retorne à sensatez.
No entanto, se o irmão realmente está arrependido é preciso que a
igreja seja madura o suficiente para demonstrar seu amor para com
ele, a fim de que não o desmotive, causando-lhe uma tristeza que
vá além da medida, como diria Paulo:
Ele já foi suficientemente castigado com a reprovação
unânime de todos vocês. Agora é o momento de perdoá-lo e
confortá-lo. Do contrário, ele poderá ficar tão amargurado e
tão desanimado que não será capaz de reabilitar-se. Assim,
eu lhes peço que mostrem a ele agora que vocês
verdadeiramente ainda o estimam muito. E lhes escrevi
daquele modo para poder verificar até que ponto vocês iriam
em obediência a mim. Quando vocês perdoam alguém, eu
também o faço. E tudo quanto eu perdoei (até onde aquilo me
atingiu também), perdoei-o pela autoridade de Cristo, e para o
bem de vocês.
Uma outra razão para perdoar é que, assim, não deixamos
Satanás, com sua astúcia, obter vantagem sobre nós; pois bem
sabemos o que ele sempre está procurando fazer (2 Coríntios 2.6-
11).
Isto é importante para qualquer comunidade cristã, pois se não
agirmos como Paulo recomenda, estaremos sendo ignorantes a
respeito do que o diabo pode fazer a partir desta situação e,
obviamente, seremos vencidos por ele (2 Coríntios 2.10,11).
Em seu livro “Amor, o caminho para a vitória”, o irmão Hagin diz
acreditar que o irmão mencionado em 2 Coríntios 2 é o mesmo
mencionado por Paulo em 1 Coríntios 5. Aquele irmão estivera
praticando pecados sexuais abertamente, sem qualquer restrição.
Note que, mesmo aquele irmão tendo vivido em pecado por
algum tempo, Paulo demonstra reconhecer o fato de que ele
também tinha sentimentos que não poderiam ser desprezados pela
irmandade cristã. Às vezes desprezamos tanto o pecado, que sem
perceber dispensamos o mesmo ódio para aquele que o praticou.
Alguns agem de uma forma que parecem querer perguntar:
“Afinal, quem ele pensa que é, para achar que tem o direito de se
sentir mal por lhe desprezarmos completamente?”.
O que deve ser lembrado, no entanto, é que somos irmãos em
Cristo e é dever mútuo tratar-nos assim como o Pai nos trataria.
O salmo 31 traz um relato emocionado de Davi quando este se
encontrava numa situação de dor e angústia por causa dos pecados
que havia cometido. Ele revela o pavor que estava sentindo pelos
seus adversários, assim como a profunda amargura pela reação de
alguns dos seus conhecidos. Sei que nem todos gostariam de ouvir
um homem que “acabara de pecar” contar sobre sua perspectiva
espiritual a respeito do episódio, mas creio que este texto, como
muitos outros que trazem as mesmas características, tenha sido
considerado sagrado com um propósito divino. Observe:
Davi reconhece que Deus é o único refúgio confiável para o
qual deveria correr no momento da angústia:
1
EM TI, SENHOR, ME REFUGIO; NÃO SEJA EU JAMAIS
ENVERGONHADO; livra-me por tua justiça. 2 Inclina-me os
ouvidos, LIVRA-ME DEPRESSA; sê o meu castelo forte,
CIDADELA FORTÍSSIMA QUE ME SALVE. 3 Porque tu és a
minha rocha e a minha fortaleza; por causa do teu nome, tu
me conduzirás e me guiarás. 4 Tirar-me-ás do laço que, às
ocultas, me armaram, pois tu és a minha fortaleza.
Davi reconhece seu pecado e mesmo assim não poupa
palavras de louvor a Deus por saber que ele é bondoso e mui
compassivo:
5
NAS TUAS MÃOS, ENTREGO O MEU ESPÍRITO; tu me
remiste, Senhor, DEUS DA VERDADE. 6 Aborreces os que
adoram ídolos vãos; eu, porém, confio no Senhor. 7 EU ME
ALEGRAREI E REGOZIJAREI NA TUA BENIGNIDADE, pois
tens visto a MINHA AFLIÇÃO, CONHECESTE AS
ANGÚSTIAS DE MINHA ALMA 8 e não me entregaste nas
mãos do inimigo; firmaste os meus pés em lugar espaçoso. 9
COMPADECE-TE DE MIM, SENHOR, PORQUE ME SINTO
ATRIBULADO; DE TRISTEZA OS MEUS OLHOS SE
CONSOMEM, E A MINHA ALMA E O MEU CORPO. 10 Gasta-
se a minha vida na tristeza, e os meus anos, em gemidos;
debilita-se a minha força, POR CAUSA DA MINHA
INIQUIDADE, e os meus ossos se consomem.
Davi desabafa a Deus sobre a dor que sentia pela forma
como os homens lhe tratavam por saberem do pecado que
cometera:
11
Tornei-me opróbrio para todos os meus ADVERSÁRIOS,
espanto para os meus VIZINHOS e horror para os meus
CONHECIDOS; OS QUE ME VÊEM NA RUA FOGEM DE
MIM. 12 ESTOU ESQUECIDO NO CORAÇÃO DELES, COMO
MORTO; sou como vaso quebrado. 13 POIS TENHO OUVIDO
A MURMURAÇÃO DE MUITOS, terror por todos os lados;
conspirando contra mim, tramam tirar-me a vida. 14 Quanto a
mim, confio em ti, Senhor. Eu disse: tu és o meu Deus. 15 Nas
tuas mãos, estão os meus dias; livra-me das mãos dos meus
inimigos e dos meus perseguidores. 16 Faze resplandecer o
teu rosto sobre o teu servo; salva-me por tua misericórdia. 17
NÃO SEJA EU ENVERGONHADO, SENHOR, POIS TE
INVOQUEI; ENVERGONHADOS SEJAM OS PERVERSOS,
emudecidos na morte. 18 EMUDEÇAM OS LÁBIOS
mentirosos, que FALAM INSOLENTEMENTE contra o justo,
COM ARROGÂNCIA E DESDÉM.
Mesmo aflito e recebendo o desprezo dos homens, Davi
reconhece que a intimidade com o Senhor era o seu
esconderijo contra as palavras ferinas:
19
Como é grande a tua bondade, que reservaste aos que te
temem, da qual usas, perante os filhos dos homens, para com
os que em ti se refugiam! 20 NO RECÔNDITO DA TUA
PRESENÇA, TU OS ESCONDERÁS DAS TRAMAS DOS
HOMENS, NUM ESCONDERIJO OS OCULTARÁS DA
CONTENDA DE LÍNGUAS. 21 Bendito seja o Senhor, que
engrandeceu a sua misericórdia para comigo, numa cidade
sitiada!
Davi reconhece que a misericórdia de Deus é infinita e que
todo aquele que se arrepende e confia em Deus não será
excluído da sua presença:
22
EU DISSE NA MINHA PRESSA: ESTOU EXCLUÍDO DA
TUA PRESENÇA. NÃO OBSTANTE, OUVISTE A MINHA
SÚPLICE VOZ, QUANDO CLAMEI POR TEU SOCORRO. 23
Amai o Senhor, vós todos os seus santos. O Senhor preserva
os fiéis, mas retribui com largueza ao soberbo. 24 SEDE
FORTES, E REVIGORE-SE O VOSSO CORAÇÃO, VÓS
TODOS QUE ESPERAIS NO SENHOR.
No final de tudo, ele ainda tem a generosa capacidade de
concluir seu “salmo-desabafo” com uma palavra de incentivo aos
santos que porventura se identifiquem com ele na situação descrita
no texto: “Sede fortes e revigore-se o vosso coração, vós que
esperais no Senhor”.
Os “amigos” podem desaparecer do convívio daquele cujo
pecado se torna conhecido. Davi passou por isso e qualquer servo
de Deus que se encontrar na mesma situação também passará.
Não estou dizendo, entretanto, que todos os amigos sumirão, pois
sei que alguns mais maduros, ainda que sofram e se entristeçam
pela situação, procurarão agir como Paulo recomenda: “corrigindo a
pessoa com espírito de brandura, ajudando a levar as cargas dos
irmãos para cumprir a lei de Cristo” (Gálatas 6.1,2). Alguns, porém,
se distanciarão por não saber como agir, pois não é todo cristão que
continua em paz sabendo que os outros lhe chamarão de “amigo de
pecadores”.
Se você é crente e cometeu algum pecado, se arrependeu e
consertou sua vida diante de Deus e dos homens, mas alguns ainda
lhe tratam como pecador e falam com desdém sobre você, a melhor
atitude que você ode ter nessa situação é a seguinte:

Primeiro:
Assuma a responsabilidade. Se não queria que as
pessoas falassem mal de você, que não tivesse feito o
que fez. Lembre-se do ditado do meu amigo: “Não
devemos dar lugar ao diabo, nem aos irmãos”.

Segundo:
Não erre por causa das pessoas. Se os outros cristãos
erram por tratarem a situação de uma forma carnal,
você, contudo, não pode interromper sua própria
restauração espiritual por causa deles. Não perca sua
paz e não entre na carne. Um erro não justifica outro.

Terceiro:
Não os julgue. As pessoas podem pensar
erroneamente que possuem o direto de falar mal de
quem pecou, por se julgarem corretos. No entanto, uma
vez que você despertou para as coisas de Deus e não
deseja aborrecer ao Senhor com atitudes reprováveis,
viva como quem sabe que não deve falar mal de um
irmão em Cristo. Não os critique, não os ataque, não os
julgue. Guarde o seu coração de atitudes mesquinhas.

Se você é cristão e pecou de alguma forma e seu pecado foi


descoberto, ou se, ingenuamente, você o compartilhou com alguém
na esperança de ser ajudado, e se num caso ou no outro, aquilo se
espalhou como as penas de um travesseiro rasgado e jogado ao
vento, você precisará crescer no amor de Deus para poder vencer
essa situação.
Se você realmente estiver interessado em ser uma pessoa
melhor como filho de Deus, então terá que se esforçar
diligentemente para amar e perdoar a todos que lhe magoarem.
Não teria muito proveito ser liberto de pecados sexuais para, logo
em seguida, cair em uma armadilha do diabo tão velha quanto a
mágoa e seus equivalentes – o ressentimento, a falta de perdão,
etc. O cristão liberto da imoralidade que se deixa prender nos
ressentimentos, apenas troca uma prisão por outra.
A REALIDADE DO PROBLEMA
Um servo de Deus que passe por uma situação semelhante à
vivida por Davi, conforme lemos no salmo 31, e não ponha os olhos
em Deus ao longo de todo o processo que há de enfrentar, talvez
não consiga sair da situação vitorioso.
Neste último capítulo, meu objetivo é falar a respeito da
importância do perdão na vida de um cristão que deseja
sinceramente desfrutar o melhor de Deus para sua vida e também
agradar ao Senhor. Contudo, gostaria de mencionar a existência de
dois lados para esta questão:

1. O perdão a ser liberado por aqueles que foram feridos por


causa de pecados praticados por outros.
2. O perdão a ser liberado por aqueles que pecaram e
sofreram alguma hostilização por parte de outros.

Claro que toda e qualquer verdade bíblica sobre perdão pode ser
aplicada por qualquer um que realmente queira estar em paz com
Deus e agradá-lo por meio do seu procedimento correto. Por isso é
de grande relevância estes ensinamentos para todo cristão.
Depois de liberto do pecado sexual, o filho de Deus precisará
vencer a mágoa que porventura tenha deixado se estabelecer em
seu coração por causa da forma como alguns tenham lhe tratado
por causa do seu pecado.
Sei que alguns acreditam que o cristão que peca não tem direito
a ter sentimentos, e mesmo que os tenha, não merecem ser
considerados. No entanto, a verdade é bem diferente deste
sentimento de revolta por parte de alguns. Todo ser humano tem
sentimentos, inclusive o cristão arrependido, e em momentos de
grande comoção, durante um período de correção e disciplina, suas
emoções podem ficar à flor da pele. Lembre-se de como se sentiu
Davi, conforme nos revelou o Salmo 31.
Por incrível que pareça, a mágoa e o ressentimento poderão se
tornar alguns dos obstáculos mais difíceis de superar no processo
de restauração da espiritualidade do cristão que se libertou da
imoralidade. Vou explicar o porquê.
Quando alguém que esteve preso à imoralidade verdadeiramente
se liberta e passa a viver uma vida de comunhão com Deus,
normalmente se torna muito interessado em manter uma vida de
oração e meditação na Palavra. Se não tomar cuidado, poderá se
sentir tão santo por sua nova vida de integridade para com Deus e
os homens, que pode terminar menosprezando aqueles que estão
incorrendo no erro de julgá-lo.
É importante ser cuidadoso para não olhar para os fofoqueiros
com desprezo e perder a misericórdia para com aqueles que não
controlam a língua. Os irmãos que o condenaram não devem se
tornar objeto da sua ira e indignação, pois se você não perdoar os
que supostamente não lhe perdoaram, poderá ficar atrofiado em sua
caminhada espiritual.
Quão triste seria vencer o pecado sexual e deixar de crescer em
sua vida espiritual por falta de amor e perdão.
O PERIGO DE DESPREZAR OS OUTROS
Jesus contou uma parábola para combater precisamente essa
atitude da qual estamos falando. Este sentimento de
desconsideração pelos outros, que pode surgir quando nos
santificamos e passamos a ter uma vida correta diante de Deus.
Lucas 18.9-14
9
Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si
mesmos, POR SE CONSIDERAREM JUSTOS, E
DESPREZAVAM OS OUTROS: 10 Dois homens subiram ao
templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o outro,
publicano. 11 O fariseu, posto em pé, orava de si para si
mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque NÃO
SOU COMO OS DEMAIS HOMENS, roubadores, injustos e
adúlteros, nem ainda como este publicano; 12 jejuo duas vezes
por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. 13 O
publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda
levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó
Deus, sê propício a mim, pecador! 14 Digo-vos que este
desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o
que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será
exaltado.
Veja que o objetivo da parábola é bastante claro e direto, pois o
texto diz que Jesus a contou aos que confiavam em si mesmos!
Por que ousavam confiar em si mesmos? Ora, quando você
compreende o cenário ilustrativo que Jesus monta em torno da vida
destes (versículos 11 e 12), fica fácil de entender o motivo: eles
faziam tudo aquilo que se podia esperar de homens piedosos. Por
isso tinham esta confiança de que seu comportamento os protegia
de qualquer reprovação divina.
Por não fazerem absolutamente nada de errado, se
consideravam justos, e ainda por cima desprezavam os outros. Mas
não entenda isso errado, eles não desprezavam “qualquer outro”,
mas somente aqueles que não fossem tão íntegros quanto eles. Por
fora, tudo parecia bom e belo, mas Jesus revela que, por dentro,
eles tinham um grande problema de ego, fazendo com que “se
considerassem justos e desprezassem os outros”.
Não acredito que se considerar justo seja o verdadeiro problema,
mas sim o fato de, se julgando superior, não se misturar com os
demais que não estão à altura do seu “pedigree espiritual”. A justiça
em si nunca será um problema, mas desprezar outros homens por
causa dela, sim!
Ser justo é bom, mas o desprezo aos outros é uma injustiça.
Além disso, se a razão de alguém desprezar uma pessoa é porque
se considera justo, a situação é ainda mais grotesca!
Acho muito interessante o modo como Jesus Cristo expõe a
perspectiva humana em relação ao que Deus pensa. Ao contar a
parábola acima, ele usa deliberadamente dois símbolos sociais e
religiosos conhecidos da sua época: o fariseu e o publicano.
Por falta de familiaridade com o real significado dos termos
usados por Jesus nesta parábola, talvez não tenhamos uma clara
ideia daquilo que ele quis dizer. Se realmente nos interessa
conhecer o seu ponto de vista a respeito das coisas, vale a pena
pensar um pouco mais sobre o assunto.
Diferentemente do que poderíamos imaginar, o fariseu na história
de Jesus retrata o aspecto politicamente correto da vida religiosa. É
aquele homem cujo comportamento é impecável, piedoso e de
procedimento irrepreensível. Basta você conferir os pormenores que
Jesus apresenta sobre ele nos versículos 11 e 12. Ele não era como
os demais homens. Não roubava, não era injusto e não era adúltero.
Além disso, jejuava duas vezes por semana e dava o dízimo de
tudo.
Embora Jesus tenha reprovado a superficialidade religiosa dos
fariseus (razão pela qual hoje consideramos a palavra fariseu como
sinônimo de coisa ruim), você precisa entender que em termos
gerais, o segmento farisaico era um dos mais respeitados e sérios
em relação às verdades das Escrituras naquela época.
Quando Paulo quis falar sobre sua antiga posição privilegiada em
meio à sociedade judaica, ele mencionou o fato de que ser fariseu
era algo positivo na sua vida social e religiosa. Em meio às
características que ele enumerou, lá estava a designação franca e
aberta de que ele fora fariseu: “circuncidado ao oitavo dia, da
linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus;
quanto à lei, fariseu... mas o que para mim era lucro, considerei
perda por causa de Cristo” (Filipenses 3.5,7). Como o próprio Paulo
diz claramente, ser fariseu era lucro, uma relativa vantagem.
Noutra ocasião, devido a uma circunstância peculiar, Paulo não
estava deixando de ser verdadeiro ao se identificar com os fariseus
dizendo-se partidário da mesma visão doutrinária deles: “varões,
irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseus! No tocante à esperança e à
ressurreição dos mortos sou julgado!” (Atos 23.6).
Até o próprio Jesus, em determinados momentos revelou o lado
relativamente positivo no segmento religioso farisaico: “Na cadeira
de Moisés, se assentaram os escribas e os fariseus. Fazei e
guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém nãos os imiteis
nas suas obras; porque dizem e não fazem” (Mateus 23.1-3).
Observe que Jesus disse “façam e guardem tudo que eles
disserem”.
Obviamente que poderíamos escrever outro livro apenas falando
sobre os aspectos negativos relacionados ao estilo de vida farisaico,
mas a razão pela qual fiz os comentários acima é para ajudar a
entender porque Jesus usou o exemplo de um fariseu junto ao de
um publicano na história que ele contou.
O fariseu representava o homem bom naquela sociedade judaica
tão impregnada de conceitos religiosos. Por sua vez, o publicano
era o símbolo daqueles que os judeus consideravam a mais
rejeitada escória em seu meio. Os publicanos eram considerados os
representantes oficiais da banda pobre de todos os judeus, e eram
comumente classificados junto com os gentios, pecadores e
prostitutas:
Mateus 18.17
“Se recusar ouvir a igreja, considera-o como GENTIO E
PUBLICANO”.

Lucas 15.1

“Aproximavam-se de Jesus todos os PUBLICANOS E


PECADORES para o ouvir”.

Mateus 21.31

“Em verdade vos digo que PUBLICANOS E PROSTITUTAS


vos precedem no reino de Deus”.

Os publicanos eram cobradores de impostos que prestavam


serviço ao império romano em diferentes níveis. Tiravam do seu
próprio povo para entregar aos estrangeiros gentios. Como se isso
não bastasse para receberem a antipatia do povo judeu, as
Escrituras deixam implícito que eram corruptos e que não faltavam
casos de extorsão e roubalheira para lhes aumentar a má fama:

Lucas 3.13

“Foram também publicanos para serem batizados e


perguntaram-lhe: Mestre, o que havemos de fazer?
Respondeu-lhes [João Batista]: Não cobreis mais do que o
estipulado”.

Lucas 19.2,8

“Eis que um homem, chamado Zaqueu, maioral dos


publicanos e rico se levantou e disse ao Senhor: Senhor,
resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se
nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo quatro
vezes mais”.
Jesus os usou como exemplo de pessoas egoístas que pensam
apenas em si mesmos: “Se amardes os que vos amam, que
recompensa tendes? Não fazem os publicanos o mesmo?” (Mateus
5.46).
Em tese, Jesus estava se referindo a um homem aparentemente
justo e a outro homem massivamente considerado como pecador.
Peço ao Senhor a graça não de apenas lermos e decorarmos esta
passagem, mas também de compreendermos em nosso coração
aquilo que o Senhor tinha em mente com tudo isso.
Veja que na história os dois se dirigiram ao templo com o
propósito de orar. Talvez até pudéssemos dizer que eram membros
de uma mesma congregação. O fato é que o fariseu frequentava o
templo e o publicano também. O fariseu orava e o publicano
também. Porém, o fariseu se considerava justo, mas o publicano se
considerava pecador. Quanto a isso, o fariseu estava parcialmente
certo, já o publicano, não estava nem um pouco errado. O fariseu
desprezava e humilhava os outros. O publicano SE desprezava e
SE humilhava. O fariseu foi desprezado por Deus, ao passo que o
publicano foi aceito e reconhecido.
O que fez a diferença na vida dos dois? Aquela parte da vida que
ninguém vê. Aquele lugar secreto que somente Deus enxerga. Ali
estava o grande diferencial. O homem vê a aparência, Deus vê o
coração.
APRENDENDO COM
OS ERROS DOS OUTROS
Após todos os pecados que Davi havia cometido em relação a
Bate-Seba, durante o seu processo de arrependimento, ele disse
algo inspirado pelo Espírito de Deus que nos é útil até o dia de hoje:
Salmo 51.17
“Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado.
Um coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó
Deus”.
Não se escandalize porque eu disse que Davi foi inspirado por
Deus mesmo após ter cometido pecados tão hediondos quanto
aqueles. Contudo, que isto sirva de exemplo de como a graça de
Deus pode salvar da miséria todo aquele que se apega ao Senhor
de todo coração.
Quando pensamos na história da repreensão feita pelo profeta
Natã, o curioso é que, até o dia do confronto, Davi ainda não havia
se quebrantado e se arrependido, mesmo que estivesse consciente
de que seu comportamento não tinha sido exemplar. Quando,
porém, veio o profeta Natã e contou-lhe a respeito de um homem
injusto, Davi conseguiu enxergar a maldade na vida daquele
personagem da história e se posicionou duramente contra ele.
Somente quando ele se indignou contra o pecador da história
contada, foi que o profeta declarou: “tu és este homem!” (2 Samuel
12.1-13).
Às vezes nossos erros estão tão próximos de nós que não
conseguimos enxergá-los apropriadamente. Da mesma forma como
quando tentamos ver a pintura de um quadro a apenas 20
centímetros do nosso nariz não conseguimos discernir coisa alguma
porque estamos próximos demais, assim também precisamos nos
afastar um pouco da situação na qual estamos inseridos para
vermos os nossos erros com toda clareza. Esse é o poder que a
parábola tem. Esse é o poder que as histórias da Bíblia têm quando
as lemos.
Quando uma história apresenta uma pessoa que possui os
mesmos defeitos que nós temos, percebemos o quão errado é
aquele comportamento – e quando temos a graça de perceber que
somos iguais a ela, a parábola terá surtido efeito em nossa vida.
Olhando para os outros nós conseguimos enxergar claramente
seus pecados, depois disso, basta-nos apenas perceber que talvez
sejam alguns dos nossos próprios erros também. É assim que
aquela parábola contada por Jesus sobre “o grande defeito invisível”
daquele fariseu piedoso pode ser uma bênção para todos nós.
“JUSTICEIROS DE DEUS”
Lucas 18.11-14
11
O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta
forma: Ó Deus, graças te dou porque NÃO SOU COMO OS
DEMAIS HOMENS, roubadores, injustos e adúlteros, nem
ainda como este publicano; 12 jejuo duas vezes por semana e
dou o dízimo de tudo quanto ganho. 13 O publicano, estando
em pé, longe, NÃO OUSAVA NEM AINDA LEVANTAR OS
OLHOS AO CÉU, MAS BATIA NO PEITO, dizendo: Ó Deus,
sê propício a mim, pecador! 14 Digo-vos que este desceu
justificado para sua casa, e não aquele; porque TODO O QUE
SE EXALTA SERÁ HUMILHADO; MAS O QUE SE HUMILHA
SERÁ EXALTADO.

Existem situações em nossa vida que “estar em pé” diante das


dificuldades pode ser uma postura louvável, pois demonstra
confiança em Deus. Neste contexto específico, entretanto, a soma
de fatores mencionados por Cristo, incluindo a postura ereta do
fariseu, é abordada em tom de reprovação. Na sequência das
coisas que Jesus fala sobre ele, observamos que se nos apresenta
a imagem de um homem soberbo e arrogante.

Por outro lado, ao falar do publicano Jesus diz que, mesmo


estando em pé, ele “ficava de longe”, “não ousava nem ainda
levantar os olhos ao céu” e ainda “batia no peito” dizendo-se um
pecador e clamando por misericórdia a Deus.

Não se assuste com o que vou dizer agora, mas Jesus


claramente reprovou a atitude do primeiro e elogiou a atitude do
segundo.

Outro aspecto interessante nesta história, é que o fariseu dava


graças a Deus por não ser como os outros. Já pensou? Um homem
justo que se torna orgulhoso por ser justo? O pior de tudo, todavia, é
que, segundo Jesus, o homem vivia tão certinho que tinha ousadia
para “jogar na cara” de Deus, sem qualquer hesitação, que não
roubava, que não cometia adultério, que fazia jejuns duas vezes por
semana e que dava o dízimo de tudo que ganhava.

É importante notar que Jesus não faz parecer que o homem era
falso ou hipócrita. Ao contrário, ele parece querer mostrar que o
homem realmente fazia tudo aquilo. O problema central não é que o
homem vivesse “duas vidas” ou que apenas parecesse ser correto
quando na verdade era um pecador miserável. O problema era um
só: ele se considerava justo e por isso desprezava os outros!

Quero repetir: ser justo é bom, mas desprezar os outros por


causa disso é muito ruim. É por isso que é muito importante libertar-
se dos pecados, mas manter o coração limpo de preconceitos e
sentimentos de reprovação por aqueles que ainda estão com
problemas em suas vidas.

Mantenha em seu coração o alvo de, ao crescer em santidade,


tornar-se cada vez mais amável e misericordioso para com os
pecadores. Faça disso uma meta em sua vida. Não se permita
sentir-se melhor do que os outros porque os pecados deles são
diferenes dos seus ou porque você já não peca tanto quanto eles
agora e está vivendo uma vida digna diante de Deus. Não existe
justiça ou santidade que justifique a falta de consideração pelos
outros, por mais pecadores que sejam. Guarde as palavras dos
ensinamentos de Jesus em seu coração e lembre-se que de nada
valerá se santificar, se o seu sentimento quanto à santificação se
tornar a base para um problema que mereça a repreensão do
Senhor.
O problema é que alguns irmãos sentem-se, equivocadamente,
incumbidos da missão de supervisionar e reprovar os que estiverem
num nível de espiritualidade abaixo do esperado. É como se
sentissem que estão numa missão dada por Deus para atacar os
que estão lhe desagradando. Assim, em vez de viverem a justiça de
Deus, atuam no papel de “justiceiros de Deus”.
Quero destacar algo: peca aquele que julga, não perdoa e fala
mal daquele que estava preso na imoralidade e foi descoberto. Mas
peca também aquele que, uma vez liberto da imoralidade, julga, não
perdoa e fala mal daqueles que lhe julgaram. Seja qual for a sua
posição na história, saiba que: julgar, não perdoar e difamar, são
atitudes pecaminosas!
Nosso papel como cristãos, ao sermos julgados ou magoados
por quem quer que seja, não é de retribuir o mal com o mal.
Precisamos tomar cuidado com a atitude do nosso coração para
com aqueles que nos feriram por meio de palavras. É imperativo
que cresçamos espiritualmente e nos santifiquemos, mas desprezar
os outros, motivados por nossa suposta santidade e maturidade,
nada mais é do que uma tolice.
QUEM FOI PERDOADO, PERDOA
Mateus 18.21,22
21
Então, Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até
quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe
perdoe? Até sete vezes? 22 Respondeu-lhe Jesus: Não te digo
que até sete vezes, mas até setenta vezes sete.
Quando Jesus ensinava que seus discípulos deveriam perdoar
até 490 vezes se fosse necessário, ele não estava sendo literal
nesta declaração. Ele não tinha em mente que os cristãos ficassem
tomando nota de quantas vezes já tinham perdoado para saberem
qual a próxima atitude que deveriam ter quando lhe ferissem. Jesus
deu aquele número com o objetivo de mostrar que não deve haver
limite no coração do filho de Deus para liberar perdão. Era isto o que
ele realmente tinha em mente.
Às vezes penso que se os irmãos fossem um pouquinho mais
legalistas e realmente contassem o número de vezes que perdoam
os outros, limitando-se a perdoá-los somente até 490 vezes na vida,
talvez fosse até melhor do que “deixar o amor de Deus fluir”, como
dizem. Infelizmente muitos não conseguem perdoar uma vez
sequer, quanto mais 490 vezes! E o que dizer de manter uma
atitude divina em seu coração que imite o amor que está no coração
de seu Deus e Pai? (Efésios 5.1, Mateus 5.43-48).
Na parábola que leremos a seguir, Jesus fala exatamente sobre
o quão importante é para o cristão manter em seu coração a mesma
atitude perdoadora que há no coração de Deus, deixando implícita,
inclusive, a ideia de uma possível punição para quem não seguir
esse padrão:
Mateus 18.21-23
21
Então, Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até
quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe
perdoe? Até sete vezes? 22 Respondeu-lhe Jesus: Não te digo
que até sete vezes, mas até setenta vezes sete. 23 Por isso, o
reino dos céus é semelhante a um rei que resolveu ajustar
contas com os seus servos.
A parábola que eu disse que leríamos só começa a ser contada
por Jesus no versículo 23. A conversa registrada nos versículos 21
e 22 não fazem parte da parábola, nem são textos meramente
ilustrativos. É o registro de uma conversa real entre Pedro e Jesus
Cristo.
Como sabemos, o diálogo dos dois trata especificamente sobre o
limite aceitável para o cristão liberar perdão para alguém que lhe
feriu. Pedro, talvez tentando demonstrar grandeza de espírito,
sugere que um servo de Deus poderia ser generoso e, assim,
perdoar alguém até no máximo sete vezes. Para surpresa dele,
como também de muitos até hoje, Jesus diz que não sete vezes,
mas setenta vezes sete, sim.
Portanto, veja que a razão de Jesus contar a parábola foi
justamente esta conversa sobre o limite para se perdoar alguém.
Mateus 18.23,24
23
Por isso, o reino dos céus é semelhante a um rei que
resolveu ajustar contas com os seus servos. 24 E, passando a
fazê-lo, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos.
Jesus deliberadamente optou por usar essa quantia exorbitante
de dez mil talentos. O talento era a mais alta unidade monetária da
moeda corrente. Havia talentos de prata e ouro. Um talento de prata
correspondia a seis mil denários. O talento de ouro, por sua vez,
valia pelo menos 30 vezes mais do que o de prata. Supondo que o
talento da história contada por Jesus fosse de prata, que é o de
menor valor, a dívida do homem equivaleria a 60 milhões de
denários.
Conhecedores do assunto dizem que um trabalhador comum na
época de Jesus ganhava um denário por jornada diária de trabalho.
Se tomarmos por base esta indicação, veremos que o servo da
história de Jesus precisaria trabalhar mais ou menos uns 150.000
anos ganhando essa quantia, para que pudesse pagar os dez mil
talentos que devia àquele senhor. Veja bem, não seriam 150 anos,
mas sim 150 MIL ANOS!
O que Jesus queria enfatizar é que aquele homem possuía uma
dívida impossível de ser paga.
Mateus 18.25,26
25
Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou o senhor
que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo quanto
possuía e que a dívida fosse paga. 26 Então, o servo,
prostrando-se reverente, rogou: Sê paciente comigo, e tudo te
pagarei.
Era uma dívida tão exorbitante, que o rei ordenou a venda dele,
da mulher e dos filhos como escravos, além da venda de tudo que
ele possuía, para que a dívida fosse paga.
O servo então desesperado ajoelhou-se diante do senhor. Jesus
não diz apenas que o homem se ajoelhou, mas menciona o fato de
que ele se ajoelhou COM REVERÊNCIA. é interessante observar
estes pequenos detalhes das parábolas pois eles acrescentam
verdades importantes para a moral das histórias.
O homem não parecia ser um irresponsável e irreverente
qualquer. Até o momento, este homem não apresenta qualquer
traço de maldade, muito pelo contrário, parecia ser um pai de família
responsável que se importava com o bem estar dos seus familiares.
Quando ele se ajoelha reverentemente perante o rei, ele não o faz
para pedir a anulação da dívida ou para dizer que seria impossível
pagá-la, ou mesmo que a cobrança era injusta. Ele não pede para
ser perdoado, ele pede paciência ao seu credor para poder pagar o
que deve.
Comovido com a situação dos seus familiares, não importando o
quão utópica fosse a sua promessa, aquele homem se humilhou e
pediu tempo para que pudesse tentar resolver a situação. A
promessa do devedor de quitar a sua dívida era absolutamente
impossível de ser cumprida, mas a sua atitude diante do rei tocou o
coração do soberano.
Mateus 18.27-30
27
E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o
embora e perdoou-lhe a dívida. 28 Saindo, porém, aquele
servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem
denários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: Paga-me o
que me deves. 29 Então, o seu conservo, caindo-lhe aos pés,
lhe implorava: Sê paciente comigo, e te pagarei. 30 Ele,
entretanto, não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até
que saldasse a dívida.
O que tocou o coração do rei não foi outra coisa senão a atitude
comovente de humildade e reverência que o servo tomou. Mesmo
que fosse impossível cumprir a promessa de quitar a dívida, sua
atitude foi suficiente para que o rei tivesse compaixão da sua vida.
Que história linda teria aquele homem para contar ao chegar em
casa! Ele viraria o herói dos seus filhos e teria o respeito e a
admiração da sua mulher. Esta história seria passada aos seus
netos e de geração em geração.
Acredito que a ideia clara na história é tentar mostrar o quão
maravilhosamente aquele homem havia sido agraciado pelo rei e de
como isto, por si só, deveria ser suficiente para que ele tivesse uma
vida totalmente diferente a partir de então. Uma vida meditativa por
meio da qual pudesse refletir a sabedoria que teria absorvido da sua
experiência pessoal.
Alguém que um dia foi humilhado sabe a dor que sente aquele
que passa por humilhação. O normal é esperar que aquele que foi
humilhado não humilhe. Quem um dia passou fome não tem prazer
em ver alguém na mesma situação porque sabe como é se sentir
assim. De fato, é possível que esta pessoa não consiga ficar
indiferente ao sofrimento do outro. Normalmente, quem passou
fome não quer que outros passem. Semelhantemente, quem um dia
foi perdoado conhece o refrigério interior que é proporcionado pelo
amor expresso através do perdão. O natural é esperar que aquele
que foi perdoado, perdoe.
O rei desta história representa o Senhor Deus Todo-Poderoso, e
Jesus revela graciosamente o seu coração generoso e pronto para
perdoar. No entanto, a intenção clara de Jesus é mostrar que todo
aquele que tem a experiência de provar a compaixão de Deus, deve
passá-la adiante tendo compaixão pelos outros também.
A compaixão é, sem dúvida, um dos mais belos atributos divinos
com o qual temos o privilégio de conviver. Não apenas somos
privilegiados em poder usufruir dela, quando Deus é compassivo
conosco, como somos ainda mais privilegiados quando assumimos
“o papel de Deus” e a liberamos sobre a vida de um semelhante.
No verso 28, Jesus conta que aquele homem perdoado
encontrou um conhecido que lhe devia apenas 100 denários, e no
mesmo instante, aquele admirável homem justo e reverente que
conhecemos, desapareceu por completo. Jesus diz que ele mal
tinha saído da presença do rei e já passou a agarrar e sufocar o seu
devedor. Que situação triste. Não dá vontade de chorar?
O que eram 100 denários em comparação aos 60 milhões de
denários dos quais ele havia sido perdoado?
Além do mais, quando o seu conservo lhe pediu paciência,
prometendo-lhe pagar a dívida, era uma declaração crível,
totalmente possível. Situação bem diferente da sua quando esteve
diante do rei. No caso da dívida do conservo, em pouco mais de três
meses tudo estaria pago!
Mesmo que o homem que fora perdoado não passasse para
frente a mesma compaixão perdoando completamente a dívida do
seu devedor, se ele simplesmente tivesse sido paciente e gentil com
ele, esperando que lhe pagasse, não seria considerado um homem
mau. Porém, Jesus propositalmente contou a história do jeito que a
conhecemos porque sabia bem como é a natureza humana. Seu
objetivo era ensinar exatamente como os homens costumam fazer
com os outros, mesmo tendo sido perdoados por Deus.
O conservo implorava por paciência. Ele não queria o perdão da
dívida, só queria tempo até que tudo fosse resolvido. Porém, o servo
que fora abençoado, que agora poderia também abençoar,
simplesmente NÃO QUIS fazê-lo!
Isso é muito corriqueiro, infelizmente. Recebemos o perdão de
Deus para uma dívida que não teríamos como pagar e hoje, quando
temos a chance de igualmente perdoar alguém que nos feriu, nós
simplesmente NÃO QUEREMOS.
Jesus, com sabedoria cirúrgica, compara o pecado dos homens
contra os seus semelhantes com uma pequena dívida que poderia
ser paga em três meses. No entanto, compara o pecado dos
homens contra Deus como uma dívida que levaria 1.875 vidas de 80
anos para ser paga! Deus quis nos perdoar e perdoou. Nós, por
outro lado, tão mesquinhos e fúteis, não queremos perdoar o outro e
muitas vezes acabamos realmente não perdoando.
O protagonista da história contada por Jesus fora tão reverente
na hora de se prostrar e de pedir compaixão por si e pelos seus, que
poderíamos admirá-lo pela sua coragem e compromisso em
proteger a sua família. No entanto, quando teve a oportunidade de
pôr em prática o que tinha aprendido com o perdão da sua dívida,
ele deixou o mal presente na natureza humana prevalecer.
O comportamento daquele homem inicialmente nos fez pensar
que ele amava a sua vida e sua família de forma nobre, mas o seu
comportamento para com os outros nos mostrou que ele não
passava de um egoísta. Sua única preocupação estava em sua
própria vida e no seu mundinho particular.
Pessoas assim parecem estar focadas em como podem tirar
proveito de qualquer situação. Se elas são favorecidas, ótimo, mas
na cabeça delas isso não quer dizer que tenham de favorecer
alguém. Elas conseguem apreciar o perdão recebido, mas não
estão prontas para proporcionar a mesma alegria na vida de outras
pessoas perdoando também, pois não conseguem ver o que
ganhariam com isso. Em suma, uma pessoa egoísta acredita que é
maravilhoso e divino receber perdão, desde que esta pessoa seja
ela mesma.
Acontece também que, em algumas ocasiões, a pessoa que se
sente incapaz de perdoar age assim porque sabe que o perdão fará
bem a quem lhe feriu, e ela simplesmente não quer isso –
principalmente se continua se sentindo mal pelo que lhe fizeram. A
pessoa não suportaria ver o “algoz” feliz enquanto ela ainda
estivesse triste e magoada.
Eu sei que é um sentimento muito feio, e causa certo desconforto
ter que deixá-lo tão explícito como estamos fazendo, mas é
exatamente por causa de sentimentos como este que não
conseguimos perdoar aos que nos ofenderam ou nos magoaram. O
melhor que temos a fazer é reconhecer a face do problema para que
o enfrentemos se ele estiver presente. Bem melhor do que fingir que
ele não existe e sermos depois repreendidos por Cristo por causa
disso.
Mateus 18.31-35
31
Vendo os seus companheiros o que se havia passado,
ENTRISTECERAM-SE MUITO e foram relatar ao seu senhor
tudo que acontecera. 32 Então, o seu senhor, chamando-o, lhe
disse: SERVO MALVADO, PERDOEI-TE aquela dívida toda
porque me suplicaste; 33 NÃO DEVIAS TU, IGUALMENTE,
COMPADECER-TE do teu conservo, COMO TAMBÉM EU me
compadeci de ti? 34 E, indignando-se, o seu senhor o entregou
aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida. 35 ASSIM
TAMBÉM MEU PAI CELESTE VOS FARÁ, SE DO ÍNTIMO
NÃO PERDOARDES CADA UM A SEU IRMÃO.
Eu não sei se as pessoas vão me perdoar por algum erro que eu
possa vir a cometer, mas o Senhor me falou claramente que se eu
quero agradar o seu coração, eu não posso deixar de perdoar
aqueles que não me perdoarem por causa daqueles erros.
Quando uma pessoa não perdoa outra, a tendência é que a
pessoa não perdoada fique ressentida com aquela que não exerceu
compaixão sobre a sua vida. Acredite, isso acontece com muito
mais frequência do que se imagina. Mesmo que tenham cometido
algum pecado, pessoas que não são perdoadas acabam se
magoando por causa do tratamento duro dos irmãos e ficam
ressentidas, não perdoando também. Todavia, este é um problema
que deve ser considerado com bastante seriedade por aqueles que
se arrependeram de erros passados e agora desejam viver uma
vida que receba a aprovação de Deus.
No versículo 34 Jesus encerra a sua parábola, mas no versículo
35 ele apresenta a moral da história aplicada na vida real: “Assim
também meu pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada
um a seu irmão”.
Jesus disse com toda a clareza necessária para quem tiver
ouvidos para ouvir: “O Pai revogará o seu perdão sobre a nossa
vida se não perdoarmos aos outros como nós fomos perdoados!”.
A dívida de dez mil talentos representa a gravidade dos pecados
contra Deus; a dívida de 100 denários representa a gravidade dos
pecados contra outros homens. Jesus está ensinando que se Deus
perdoa aquilo que é mais grave para ele, nós devemos perdoar aos
homens que nos ferem com gravidade infinitamente menor.
Eu já disse isso antes, mas faço questão de repetir: Não vale a
pena se libertar de pecados de qualquer tipo (não apenas pecados
sexuais), para depois ficar preso por mágoas e falta de perdão.
Não permita que palavras proferidas contra você roubem a sua
tão preciosa paz com Deus. Não se deixe levar pelo ressentimento,
perdoe aos que lhe atacaram, perseguiram e disseram todo mal
contra você. Não é uma questão deles merecerem seu perdão, mas
de você querer a bênção de Deus sobre a sua vida.
Não seja mais um dos que vivem dizendo pelos templos do
mundo: “Senhor eu te amo tanto”, mas quando surge a oportunidade
de provar isto, não fazem aquilo que ele manda (Lucas 6.46).
Perdoe como Jesus disse que deve ser feito no versículo 35: do
fundo do seu coração (do íntimo).
Como disse C.S. Lewis: “É fácil falar sobre o perdão até que se
tenha alguém para perdoar”.
RAIZ DE AMARGURA
Hebreus 12.15
Atentando, diligentemente, por que ninguém seja faltoso,
separando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de
amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela,
muitos sejam contaminados.
No texto acima, o autor da epístola aos Hebreus fala sobre o
cuidado que os cristãos devem ter com aquilo que ele chama de
“raiz de amargura”. Em seguida, ele fala sobre a possiblidade desta
raiz produzir frutos amargos e muitos irmãos serem contaminados
por eles. Pelo linguajar usado, percebemos que ele está falando
nitidamente sobre algo muito ruim que pode acontecer em meio a
uma comunidade cristã, através de uma única raiz.

A amargura e a angústia podem criar raízes no coração de uma


pessoa que se recusa a perdoar. Assim como uma raiz fica
escondida na terra, o ressentimento se esconde no coração. Mesmo
que esta raiz nunca “brote” para contaminar outros, ela estará
espalhando seu mal no interior daquele que a plantou.

O versículo acima diz que se a raiz brotar, ela perturbará a


muitos. No entanto, ainda que não brote, ela continuará perturbando
aquele que a possui em seu interior.

O que o autor pretende com o texto acima é evitar que o mal se


espalhe de forma irremediável dentro da Igreja, destacando a
responsabilidade de cada cristão em manter sua própria vida livre
de qualquer amargura.

Ele explica tudo o que pode acontecer em uma comunidade


cristã quando este mal chamado falta de perdão começa a produzir
os seus frutos através da vida de alguém. Não obstante, o objetivo
do texto é impedir que “haja qualquer raiz de amargura”. Não deve
haver sequer a raiz!
Na pior das hipóteses, supondo que você não tenha a sorte de
conviver em uma comunidade cristã onde as pessoas pratiquem o
amor a qualquer custo, você deve fazer de tudo para, no mínimo,
não ser contaminado por aqueles que pensam que podem guardar
amargura em seus corações sem sofrer as consequências.

Siga o padrão bíblico do texto abaixo e assim você estará se


guardando de qualquer raiz de amargura e outros sentimentos
nocivos que certamente afetarão seu progresso espiritual:

Romanos 12.14-21
14
ABENÇOAI OS QUE VOS PERSEGUEM, abençoai e não
amaldiçoeis. 15 ALEGRAI-VOS COM OS QUE SE ALEGRAM
e chorai com os que choram. 16 TENDE O MESMO
SENTIMENTO UNS PARA COM OS OUTROS; em lugar de
serdes orgulhosos, CONDESCENDEI COM O QUE É
HUMILDE; não sejais sábios aos vossos próprios olhos. 17
NÃO TORNEIS A NINGUÉM MAL POR MAL; ESFORÇAI-
VOS POR FAZER O BEM PERANTE TODOS os homens; 18
se possível, QUANTO DEPENDER DE VÓS, TENDE PAZ
com todos os homens; 19 NÃO VOS VINGUEIS a vós
mesmos, amados, mas dai lugar à ira [de Deus]; porque está
escrito: A mim me pertence a vingança; EU É QUE
RETRIBUIREI, DIZ O SENHOR. 20 Pelo contrário, SE O TEU
INIMIGO TIVER FOME, DÁ-LHE DE COMER; se tiver sede,
dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas
vivas sobre a sua cabeça. 21 Não te deixes vencer do mal,
MAS VENCE O MAL COM O BEM.

O que nós lemos acima é um retrato do lado prático daquele que


está decidido a viver em amor para com todos os homens. Você
pode perceber que em cada declaração feita por Paulo nós
podemos identificar uma característica de um verdadeiro cristão. Um
comportamento tal qual está esboçado acima só é possível ser
vivido por aquele que está decidido a permitir que o amor possua a
sua vida completamente.
QUEM PRECISA DE PERDÃO, PERDOA
Perdoar é mais importante para uma vida cristã bem sucedida do
que muitos gostariam de aceitar. Sei que todos gostam de
colecionar passagens bíblicas que falam das promessas de Deus
para sua vida, e é verdade que alguns irmãos põem o seu foco
apenas em alguns dos aspectos da vontade de Deus para os seus
filhos, mas, para o nosso próprio bem, é importante considerar o
quadro completo. Uma das promessas que não é tão valorizada
quanto outras, é que Deus nos perdoará os nossos pecados quando
nós perdoarmos aos que nos feriram de alguma forma:
Marcos 11.25
E, quando estiverdes orando, SE TENDES ALGUMA COISA
CONTRA ALGUÉM, PERDOAI, PARA QUE VOSSO PAI
CELESTIAL VOS PERDOE as vossas ofensas.
Como você se sente quando se lembra desta maravilhosa
promessa que lemos acima? Você sorri e salta de alegria por saber
que terá o perdão de Deus? Ou você se entristece e murmura por
saber que terá que perdoar?
O irmão Charles R. Swindoll, em seu livro “Davi, um homem
segundo o coração de Deus”, ao falar sobre o tema do perdão, faz o
seguinte comentário:
Em vez de perdão completo, oferecemos perdão
condicional: “Perdoo você SE...” ou: “Perdoo você LOGO
QUE...”. “Se você voltar e acertar tudo, eu perdoo você”, ou:
“Se você admitir a sua parte no problema, então o perdoarei”.
Isso é perdão condicional. Ele significa: “Estou esperando,
como um tigre abanando o rabo. Você faz o seu movimento e
eu vou determinar se está na hora de recuar ou atacar e
morder”.
O segundo tipo de perdão que é menos que perfeito, é o
perdão parcial: “Perdoo você, mas não espere que eu
esqueça”, ou: “Perdoo você, mas saia da minha vida”. Ou
ainda: “Vou perdoá-lo até a próxima vez”. Há muita gente
disposta a perdoar... desde que não tenha de ver novamente
a pessoa.

O terceiro tipo é o perdão adiado. “Vou perdoar você, mas


dê-me um tempo. Algum dia vou acabar perdoando você”.
Esta é a reação comum de alguém que foi profundamente
ferido... e cultivou essa mágoa durante longo tempo.

Você talvez se sinta muito confortável estabelecendo limites e


condições para perdoar os que lhe devem “cem denários”, pois julga
estar no controle da situação e acredita piamente que não deve
nada a ninguém. Mas me permita lhe fazer a seguinte pergunta:
Como você se sentiria se Deus, a quem você deve “dez mil
talentos”, também impusesse condições ao seu perdão? E mais: Se
a condição para Deus lhe perdoar sua dívida fosse você ter que
perdoar DO ÍNTIMO alguém que você julga não merecer seu amor e
atenção? Pois bem, acho melhor você começar a descobrir como se
comporta quanto a isso, pois a condição divina para o seu perdão já
foi estabelecida:

Marcos 11.26

Mas, se não perdoardes, também vosso Pai celestial não vos


perdoará as vossas ofensas.

A passagem acima faz parte de um contexto onde Jesus


ensinava sobre o poder da fé através de um coração convicto, que
não tem dúvidas a respeito daquilo que diz ou faz.
Jesus explicava que a fé tanto funcionará por meio de uma
declaração feita no dia a dia, sem necessariamente estarmos em
um momento de oração (Marcos 11.23), como também funcionará
quando estivermos orando (Marcos 11.24). No entanto, não foi por
acaso que Jesus achou oportuno explicar sobre a importância do
amor e do perdão neste momento em que ensinava sobre o que a fé
pode fazer pelo homem. Um homem que realmente tem fé
dificilmente não terá amor e vice-versa, pois são características
divinas que andam de mãos dadas.
Quando estivermos em nossos momentos de oração, precisamos
sondar nossos corações para descobrir se não estamos guardando
mágoa contra alguém. Jesus disse em Marcos 11.25: “SE TENDES
alguma coisa contra alguém, perdoai”. A primeira coisa boa que
aprendemos com esta declaração é que Jesus parecia acreditar que
PODEMOS VIVER SEM TER MÁGOA de outras pessoas. Não há
nada de complicado nisso, veja bem: Uns têm mágoas, outros não.
Se tendes, perdoai. Simples assim! Nem todo cristão tem problema
com isso, graças a Deus. Por outro lado, se você é um daqueles
que tem alguma coisa contra alguém, faça a sua parte e perdoe
enquanto é tempo!
Outra coisa importante de se observar é que Jesus disse: “Se
[VÓS] tendes alguma coisa CONTRA ALGUÉM”. Não interessa se
alguém tem alguma coisa contra você! O ponto aqui não é esse.
Cada um prestará contas de si mesmo diante de Deus. Não adianta
se justificar explicando o porquê você está magoado ou ferido com
alguém, pois aos olhos de Deus não há justificativas.
O fato é que aquilo que a pessoa fez ou disse contra você não é
justificativa para você dizer ou fazer coisas contra ela. Lembre-se
que Deus sonda os corações e ele sabe muito bem como andam
seus sentimentos e atitudes para com seus irmãos. No que
depender de você, tenha paz com todos os homens (Romanos
12.18).
A instrução de Jesus é que, quando você for orar, se tiver alguma
coisa contra alguém, perdoe. Se você não for perdoar, nem ore.
Com esta atitude de desprezo aos outros, sua oração seria como a
daquele fariseu da parábola de Jesus: de si para si mesmo, mas
com certeza não seria para Deus (Lucas 18.11).
POR QUÊ NEM TODAS
AS ORAÇÕES SÃO ATENDIDAS?
Jó 35.9,12,13
9
Por causa das muitas opressões, os homens clamam,
CLAMAM POR SOCORRO contra o braço dos poderosos. 12
Clamam [a DEUS], PORÉM ELE NÃO RESPONDE, POR
CAUSA DA ARROGÂNCIA dos maus. 13 SÓ GRITOS VAZIOS
DEUS NÃO OUVIRÁ, nem atentará para eles o Todo-
Poderoso.
O texto acima está dizendo que “Os homens clamam a Deus por
socorro, MAS ELE NÃO RESPONDE”.
Deus não responde por causa da arrogância dos maus! Esta é a
declaração direta e pontual das Escrituras para orações não
respondidas. A primeira coisa que aprendemos é que arrogantes
também oram. Arrogantes também buscam a Deus e esperam que o
Todo-Poderoso os ajude no momento da angústia.
Observe que os “maus e arrogantes” do versículo 12 não se
referem aos poderosos opressores do versículo 9, e sim aos
homens oprimidos que estão clamando por socorro. Veja que é
possível estar sendo oprimido e mesmo assim ser arrogante. É
possível estar sendo oprimido e ser mau. Assim como nem todo
homem poderoso é essencialmente mau, nem todo homem oprimido
é essencialmente bom.
Sei que como cristãos mergulhados na graça esse não é o tipo
da coisa que gostaríamos de ouvir num período tão maravilhoso
quanto esse chamado Nova Aliança. Mas o conhecimento desta
verdade pode tornar-se uma bênção para nossas vidas, se nos levar
ao arrependimento em relação à nossa arrogância.

Arrogância é o sentimento que caracteriza a falta de humildade.


No contexto cristão, podemos dizer que o arrogante é aquele que
não se submete à Palavra de Deus para tirar proveito dos seus
conselhos.

As Escrituras Sagradas estão cheias de passagens que mostram


que Deus não responde a toda e qualquer oração que lhe é dirigida.
Não é porque clamam que ele ouvirá. Não é porque querem que ele
atenderá.

O texto de Jó que citamos diz “clamam, mas Deus não responde”


(verso 12). Pedro explica que existem atitudes que podemos manter
contra os outros que são capazes de “interromper as nossas
orações” (1 Pedro 3.7). Pedro também declarou que os ouvidos do
Senhor estão abertos às súplicas de homens justos, mas que o seu
rosto é contra os que praticam males (1 Pedro 3.12). Tiago, por sua
vez, afirmou que muitos cristãos pedem coisas a Deus, mas não
recebem porque não se importam com os outros e só buscam uma
forma de viver os prazeres do seu universo particular (Tiago 4.3).

Queremos ser ouvidos por Deus, mas nunca estamos dispostos


a ouvir os que precisam da nossa atenção. Queremos ser
perdoados incondicionalmente, mas estabelecemos inúmeras
condições para liberar o perdão. E se existir uma lei de semeadura e
colheita? Se for verdade que aquele que planta colhe? Isso não
significará que afetaremos nossa relação com Deus pela forma que
nos relacionamos com os outros?
NÃO CONDENEIS
E NÃO SEREIS CONDENADOS
Abaixo leremos outra passagem das Escrituras onde Jesus
ensinava novamente sobre oração. Nesta ocasião ele estabelece os
princípios básicos de toda oração que deve ser feita pelos que se
dispuserem a ser seus seguidores:
Mateus 6.9-13
9
Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus,
santificado seja o teu nome; 10 venha o teu reino; faça-se a tua
vontade, assim na terra como no céu; 11 o pão nosso de cada
dia dá-nos hoje; 12 e perdoa-nos as nossas dívidas, ASSIM
COMO NÓS temos perdoado aos nossos devedores; 13 e não
nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal [pois teu é
o reino, o poder e a glória para sempre. Amém]!

Santificar o nome.
Desejar a vinda do reino.
Pedir em oração para que a vontade de Deus se cumpra
tão bem na Terra quanto ela acontece no céu.
Confiar em Deus para o seu sustento diário.
Depender de Deus para ser sustentado no momento da
tentação acreditando que ele nos livrará do mal.

Tudo isso é bom e proveitoso aos cristãos, mas não podemos


esquecer da parte onde ele diz: “Perdoa-nos as nossas dívidas,
ASSIM COMO nós temos perdoado aos nossos devedores”.

Não sei se todos entendem corretamente o que Jesus quis dizer


com isso, mas é muito interessante observarmos bem. Ele está
dizendo que no momento da oração o cristão deve orar com
confiança. Note que Jesus não está sugerindo uma oração de
incerteza e de possibilidades, em vez disso, ele sugere que o cristão
tenha convicção sobre o perdão que receberá de Deus sempre que
se fizer necessário. Para isso, Jesus disse que devemos ter uma
vida de misericórdia e compaixão pelos outros de uma forma tal,
que quando formos orar tenhamos a ousadia de poder dizer a Deus:
“Pai, me perdoa do mesmo jeito que eu tenho perdoado”. Quanta
ousadia! Quanta confiança!
É surpreendente a expectativa de Jesus em relação aos seus
seguidores. Ele esperava deles uma vida de amor e misericórdia
num nível tão elevado que não os induziu a orar para perdoar como
Deus, mas orar para Deus perdoar como eles! Você percebeu isso?
“Pai, me perdoa como eu tenho perdoado”. Isso também é
Cristianismo.
Como dissemos anteriormente, a forma que tratamos os outros
afeta o nosso relacionamento com Deus e isto para o bem ou para o
mal. Tem coisa melhor do que ter uma vida de oração sem
condenação? Nada melhor do que ter certeza de que Deus está
atento a tudo aquilo que eu digo.
Veja que o ensino de Jesus sobre oração termina no versículo
13, mas o assunto do perdão vai além. A falta de perdão é algo que
pode afetar tanto a nossa vida, que mesmo depois de ter encerrado
o ensino específico sobre o que devemos querer ou dizer em
nossas orações, ele volta ao tema do perdão nos versículos 14 e 15:
Mateus 6.14,15
14
Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas,
também vosso Pai celeste vos perdoará; 15 se, porém, não
perdoardes aos homens [as suas ofensas], tampouco vosso
Pai vos perdoará as vossas ofensas.
Se eu perdoar, serei perdoado. Se eu não perdoar, não serei
perdoado.
Como você se sente a respeito disso? Você sente vontade de
pular de alegria por ter certeza que receberá seu perdão uma vez
que você está sempre pronto a perdoar? Ou você tem vontade de
murmurar por não saber como Deus reprovará suas atitudes já que
você não está disposto a perdoar?
“Ah, mas isso é algo muito pessoal, irmão Natan”. Pois é, eu
concordo e inclusive penso que Deus tratará sobre isso com cada
de um nós de forma bem pessoal também.
Lucas 6.36,37
36
Sede misericordiosos, como também é misericordioso
vosso Pai. 37 Não julgueis e não sereis julgados; não
condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis
perdoados;
Veja que no texto acima Jesus mantém o mesmo padrão de
raciocínio de todos os textos que lemos anteriormente. É simples e
ao mesmo tempo muito profundo:

Não julgueis e não sereis julgados.


Não condeneis e não sereis condenados.
Perdoai e sereis perdoados.

Na sequência do texto Jesus acrescenta: “dai, e dar-se-vos-á;


boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente
vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos
medirão também” (Lucas 6.38). O contexto desta citação tão
conhecida não é outro senão o do relacionamento com os homens e
a importância de sermos misericordiosos e compassivos para com
todos. Leia depois todo o texto de Lucas capítulo 6 do versículo 27
ao 49 e sonde o seu coração para ver como se sente quanto a tudo
que está escrito lá. E lembre-se: com a mesma medida que nós
medirmos os homens, seremos medidos posteriormente.
“Ah, irmão Natan, isso era na época da Lei, Jesus não sabia o
que estava dizendo e se soubesse, não estava falando para a
Igreja, pois ele ainda não tinha morrido pelos meus pecados e
ressuscitado para a minha justificação. Hoje eu não tenho mais que
perdoar ninguém, eu já estou na bênção da graça”.
Bom, se é assim que você prefere pensar, pode ficar à vontade
em sua teologia. Eu, particularmente, penso que praticar a
compaixão e o perdão aos que me ferem não me priva de coisa
alguma. O fato de andar em amor jamais me privará das bênçãos
que me foram doadas em Cristo Jesus. Por outro lado, já não sei se
posso dizer o mesmo de um comportamento contrário.
O que eu desejo mostrar é que, ainda que eu esteja errado em
minhas convicções, e Deus realmente me abençoe a despeito da
atitude que eu tenha em relação aos outros, certamente não serei
privado das bênçãos de Deus por fazer mais do que o necessário.
Por outro lado, se você pensa que não precisa perdoar a quem lhe
fere, mas estiver errado, na melhor das hipóteses você poderá ter
suas orações impedidas.
Em suma, estando certo ou errado, eu saio ganhando. E você,
que pensa que não precisa perdoar? Será mesmo prudente viver
nessa incerteza, confiando apenas naquilo que disse o seu pregador
predileto?
1 João 3.18,19
Filhinhos, não AMEMOS de palavra, nem de língua, mas DE
FATO E DE VERDADE. E nisto conheceremos que somos da
verdade, bem como, PERANTE ELE, TRANQUILIZAREMOS
O NOSSO CORAÇÃO.
1 João 4.17
O AMOR É APERFEIÇOADO EM NÓS, para que, NO DIA DO
JUÍZO, MANTENHAMOS CONFIANÇA; pois, do jeito que ele
é, nós também somos neste mundo.
QUEM PLANTA COLHE
No texto de Lucas 6.37 nós vimos que Jesus falava sobre o
princípio áureo da semeadura e da colheita. Em algumas ocasiões,
quando alguns irmãos falam sobre semear e colher parecem dar a
ideia de que isto só funciona para a área financeira, contudo, há
mais na Bíblia falando sobre este princípio a respeito de outras
áreas da nossa vida do que especificamente na área das finanças.
Observe:
Lucas 6.37
Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não
sereis condenados; perdoai e sereis perdoados.
Mateus 26.52
Jesus lhe disse: embainha a tua espada; pois todos os que
lançam mão da espada à espada perecerão.
Quando criança, minha mãe costumava citar inúmeras vezes
certo adágio popular que diz: “Quem com ferro fere, com ferro será
ferido”. Somente depois de conhecer a Cristo e começar a estudar
as Escrituras foi que percebi que aquilo havia sido extraído da
Bíblia. Pelo versículo acima e pelo versículo abaixo você pode ver
de onde saiu o adágio.
Apocalipse 13.10
Se alguém leva para cativeiro, para cativeiro vai, se matar à
espada, necessário é que seja morto à espada.
Colossenses 3.25
Pois aquele faz injustiça receberá em troco a injustiça feita; e
nisto não há acepção de pessoas.
Obadias 1.12,15
12
Mas tu não devias ter olhado com prazer para o dia de teu
irmão, o dia da sua calamidade; nem ter-te alegrado sobre os
filhos de Judá, no dia da sua ruína; nem ter falado de boca
cheia, no dia da angústia; 15 Porque o Dia do SENHOR está
prestes a vir sobre todas as nações; como tu fizeste, assim se
fará contigo; o teu malfeito tornará sobre a tua cabeça.
Claro que este assunto nas Escrituras não se resume ao que
lemos nos versículos acima, mas acredito que isto seja suficiente
para nos dar uma noção do quanto a Bíblia fala sobre a “lei da
semeadura e colheita”. Nos versículos acima nós lemos:

Não julgueis e não sereis julgados.


Não condeneis e não sereis condenados.
Perdoai e sereis perdoados.
Quem lança mão da espada, à espada perecerá.
Quem leva para cativeiro, para cativeiro vai.
Se matar à espada, necessário é que seja morto à
espada.
Quem faz injustiça receberá em troco a injustiça feita, sem
acepção de pessoas.
Como tu fizeste, assim se fará contigo.
O teu mal feito tornará sobre a tua cabeça.

Será uma atitude sábia determinar hoje mesmo que você não
permitirá que qualquer sentimento ruim contra outra pessoa entre ou
permaneça em sua vida. Se você acredita que está sendo ou foi
injustiçado de alguma forma, e por isso se acha justificado dos
sentimentos de mágoa ou rancor que tem guardado, pense uma
segunda vez e procure seguir a sabedoria contida nos versículos
abaixo:
1 Pedro 2.23
Pois [Jesus], quando ultrajado, não revidava com ultraje;
quando maltratado, não fazia ameaças, mas ENTREGAVA-
SE ÀQUELE QUE JULGA RETAMENTE
1 Samuel 24.12
JULGUE O SENHOR ENTRE MIM E TI e VINGUE-ME o
SENHOR a teu respeito; PORÉM A MINHA MÃO NÃO SERÁ
CONTRA TI.
Romanos 12.19,20
19
não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à
ira [de Deus]; porque está escrito: A MIM ME PERTENCE A
VINGANÇA; EU É QUE RETRIBUIREI, DIZ O SENHOR. 20
Pelo contrário, SE O TEU INIMIGO TIVER FOME, DÁ-LHE
DE COMER; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo
isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. 21 Não te
deixes vencer do mal, MAS VENCE O MAL COM O BEM.
Não temos tempo aqui para falar de todos os textos que ensinam
sobre o fato de Deus ser o juiz e o vingador contra todos aqueles
que praticam males, mas você pode dar uma olhada em alguns
deles se julgar necessário (Romanos 13.4, 1 Tessalonicenses 4.6, 2
Tessalonicenses 1.8, Hebreus 10.27, Hebreus 10.30).
A questão é que somente o arrependimento diante de Deus
poderá banir das nossas vidas quaisquer castigos que porventura
mereçamos. Não devemos correr de Deus, devemos correr para
Deus. Ele é o único que pode nos socorrer no momento da angústia:
“Voltem para o Senhor, nosso Deus, POIS ELE É BONDOSO E
MISERICORDIOSO; É PACIENTE E MUITO AMOROSO E ESTÁ
SEMPRE PRONTO A MUDAR DE IDEIA E NÃO CASTIGAR” (JOEL
2.13).
O que eu percebo é que muitas pessoas, quando feridas, dizem
que não guardam rancor da pessoa que lhes feriu, mas pelo
desprezo e indiferença que lhes dispensam, fica claro que elas
podem estar vivendo qualquer coisa, exceto o amor de Deus. Não
odiar um irmão em Cristo é apenas uma parte da história, mas se
alimentamos a indiferença e o desprezo por ele é bom lembrar que
tais atitudes são incompatíveis com a natureza de Deus que está
dentro de nós.
Muitas vezes a indiferença chega a ser pior do que o ódio.
Quando alguém sente ódio, talvez queira discutir, confrontar e, se
pela misericórdia de Deus houver um pacificador entre os irmãos, a
situação pode chegar a ser resolvida. A indiferença, entretanto, leva
o irmão ressentido a desconsiderar a existência do outro. É como se
tal pessoa tivesse morrido para ele. Comumente não se sente ódio
por alguém que já morreu, pois é indiferente.
Infelizmente existem alguns cristãos com sentimentos deste tipo
em seus corações, e o que podemos fazer é pedir ao Pai que tenha
misericórdia e os ajude enquanto é tempo.
Lucas 6.31-33
31
Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós
também a eles. 32 Se amais os que vos amam, qual é a vossa
recompensa? Porque até os PECADORES AMAM AOS QUE
OS AMAM. 33 Se fizerdes o bem aos que vos fazem o bem,
qual é a vossa recompensa? Até OS PECADORES FAZEM
ISSO.
1 João 3.14,16
14
Nós sabemos que JÁ PASSAMOS DA MORTE PARA A
VIDA, PORQUE AMAMOS os irmãos; aquele que não ama
permanece na morte. 16 Nisto conhecemos o amor: que Cristo
deu a sua vida por nós; e DEVEMOS DAR NOSSA VIDA
PELOS IRMÃOS.
Temos sido iguais aos pecadores ou temos entregado nossa vida
pelos irmãos? Nossas atitudes e comportamento revelam a resposta
a esta pergunta, independente daquilo que dizem nossos lábios.
Em 2 Coríntios 5.18 a 20, Paulo afirma que Deus nos fez
embaixadores da reconciliação e que para desempenharmos bem
este papel nos foi confiada a mensagem daquilo que
representamos: a palavra da reconciliação. Oro a Deus para que
possamos dar testemunho a respeito desta grande verdade por
meio da nossa atitude para com os outros e não apenas com as
nossas palavras. Se vamos pregar a reconciliação, que a vivamos
também! Que sejamos reconciliadores e pessoas facilmente
reconciliáveis.
“Todo aquele que odeia a seu irmão é assassino e vocês
sabem que um assassino não tem a vida eterna permanente
em si”
1 João 3.15
“Ter sido um criminoso, não é uma vergonha.
Mas seguir em frente na vida sendo um, é”
Malcolm X
SOBRE O AUTOR

Natan Rufino é casado com Ana Gaia e pai do Theo. Exerce um ministério de
ensino da Palavra de Deus desde 1991 após ter sido milagrosamente curado de
esquizofrenia paranóide. Após um período hospitalizado e quase um ano de
remédios controlados, a revelação da Palavra de Deus trouxe-lhe finalmente a
cura. Além da formação técnica em programação de computadores, é tradutor,
escritor, Bacharel em Teologia e viaja pelo Brasil ministrando seminários em
diversas instituições cristãs.
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Sumário
Capa
Folha de Rosto
Ficha Técnica
Sumario
Agradecimentos
Introdução

Capítulo 1
O engano do pecado
Um pouco da minha história
Três problemas principais
“Aquele que está em pé, veja que não caia"
Entendendo melhor o problema
Como o cristão deve enfrentar uma situação assim?
O vício sexual e a prisão espiritual

Capítulo 2
Prisão diabólica

Capítulo 3
Repreensão
A vergonha
Repreendido por homens, abençoado por Deus
Pecado, repreensão, arrependimento
O Senhor repreende a quem ama
O propósito da repreensão
Quando a pessoa não se arrepende
Deilia
Eeulabeia
Phobos
O temor do Senhor
Quem teme não será aperfeiçoado no amor?
O aperfeiçoamento do amor
O que é o amor perfeito?
O amor maduro

Capítulo 4
Arrependimento
A tristeza e o arrependimento
Um cristão afastado da graça
Afligí-vos, lamentai e chorai
Ouro refinado pelo fogo, para te enriqueceres.
Vestiduras brancas para te vestires
Colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas.
Conversão do riso em pranto
O valor do arrependimento
O arrependimento aplaca a ira de deus
Tempo para se arrepender
Reprovação divina
As lágrimas de Esaú
Obediência à verdade
Deus vos exaltará
A purificação das mãos
Dupla intenção
Entristecimento consciente
Humilhação e exaltação

Capítulo 5
Perdão
Para que Satanás não alcance vantagem sobre nós
A realidade do problema
O perigo de desprezar os outros
Aprendendo com os erros dos outros
“Justiceiros de deus”
Quem foi perdoado, perdoa
Raiz de amargura
Quem precisa de perdão, perdoa
Por quê nem todas as orações são atendidas?
Não condeneis e não sereis condenados
Quem planta, colhe
Autor
Parceria

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