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Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8
UNIDADE I
IMAGEM CORPORAL............................................................................................................................ 11
CAPÍTULO 1
A EVOLUÇÃO DO MODELO DE CORPO NA SOCIEDADE.......................................................... 11
CAPÍTULO 2
ONDE O BELO É DETERMINADO PELA CULTURA E PELO MOMENTO HISTÓRICO......................... 21
CAPÍTULO 3
A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE CORPO NA PSICOLOGIA...................................................... 25
UNIDADE II
A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA SOCIEDADE................................................................... 34
CAPÍTULO 1
COMPREENDENDO O CONCEITO DE IMAGEM CORPORAL..................................................... 34
CAPÍTULO 2
DO ESQUEMA CORPORAL À FORMAÇÃO DA IMAGEM CORPORAL......................................... 40
CAPÍTULO 3
IMAGEM CORPORAL E A CONSCIÊNCIA DO PRÓPRIO CORPO: AUTOPERCEPÇÃO,
AUTOESTIMA E AUTOCONSCIÊNCIA......................................................................................... 45
UNIDADE III
A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA PSICOLOGIA.................................................................. 53
CAPÍTULO 1
O EGO CORPORAL DE FREUD................................................................................................. 53
CAPÍTULO 2
A REPRESENTAÇÃO CORPORAL DAS EMOÇÕES EM REICH...................................................... 56
CAPÍTULO 3
PROCESSOS MENTAIS E CORPORAIS EM JUNG........................................................................ 61
UNIDADE IV
TRANSTORNO ALIMENTAR E ESTÉTICA.................................................................................................... 65
CAPÍTULO 1
O CORPO SIMBÓLICO E A POSSIBILIDADE DE RECONSTRUÇÃO DA IMAGEM CORPORAL......... 65
CAPÍTULO 2
A PERCEPÇÃO DO CORPO E O CONTATO COM O OUTRO: EXPERIÊNCIA DE EUTONIA............ 71
CAPÍTULO 3
TRANSTORNOS ALIMENTARES E ESTÉTICA.................................................................................. 75
REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 85
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
6
Saiba mais
Sintetizando
7
Introdução
Esta disciplina pretende abordar conceitos que nos faça refletir acerca do corpo e da
construção mental que fazemos durante o percurso de nossas vidas. Falaremos da
concepção do corpo para psicanálise, abordaremos os conceitos de imagem corporal,
imagem especular e imagem mental. Ainda, iremos compreender sobre representação
mental, a construção e o entendimento do eu.
Veremos ainda que a teoria será neste caso, um norteador, empolgante e desafiador para
o nosso incansável interesse em alcançar o paciente em sua totalidade. Aqui poderemos
voltar o pensamento para a criança e a construção do seu mundo, o modo como ele
passa a conhecer-se como sujeito e de que forma a sua Psique vai se desenvolvendo
diante dos tantos desafios que ela enfrenta na fase do desenvolvimento corporal e
consequentemente mental.
Por fim, é necessário relembrar que esse caderno de estudo serve como um guia
para orientar a sua pesquisa mais aprofundada sobre os temas levantados, uma vez
que a bibliografia é vasta e lhe será apresentada. Aconselhamos ao aluno, quando
possível, pesquisar diversas fontes e aprofundar suas leituras, a fim de aprimorar seu
conhecimento, estabelecer conexões com as teorias apresentadas e escolher o seu
próprio caminho.
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Objetivos
»» Facilitar a compreensão de conceitos complexos sobre imagem corporal
e construção da Psique ou processo mental.
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IMAGEM CORPORAL UNIDADE I
CAPÍTULO 1
A evolução do modelo de corpo na
sociedade
Figura 1.
Fonte: <http://gordativismo.com.br/2015/06/23/onde-esta-a-linha-entre-magro-e-gordo-ou-quem-tem-privilegio-magro/>
Acessado em: maio de 2016.
Hegel
Barbosa et al (2011) reflete que para o conhecimento de tudo que foi construído acerca
do corpo humano no presente é preciso que haja um retorno, ainda que breve, pela
história, a fim de observar as formas diferenciadas com as quais foram tratados o corpo,
a sexualidade e os gêneros.
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UNIDADE I │ IMAGEM CORPORAL
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IMAGEM CORPORAL │ UNIDADE I
o andarem nus nos ginásios e o andar na cidade com vestes soltas por serem
capazes de absorver calor e manter o equilíbrio térmico, dispensando o uso da
proteção das roupas; aos corpos femininos, impunha-se o uso de roupas em
casa, considerando-se que estas seriam suficientes e para a saída à rua os seus
corpos deviam ser cobertos (TUCHERMAN, 2004).
O grego desconhecia o pudor físico, o corpo era uma prova da criatividade dos
deuses, era para ser exibido, adestrado, treinado, perfumado e referenciado,
pronto a arrancar olhares de admiração e inveja dos demais mortais. Mas não se
tratava apenas de narcisismo, de paixão desmedida por si mesmo. Os corpos não
existiam apenas para mostrar-se, eles eram também instrumentos de combate.
Tudo na natureza era luta, era obstáculo a ser transposto, era espaço ou terra a
conquistar. A vida, diziam os deuses, não era uma graça, mas sim um dom a ser
mantido. As corridas, os saltos, os halteres, os discos, os dardos, os carros, eram
as provas que as divindades exigiam deles para que se mostrassem dignos de
terem sido premiados. Os deuses pagãos, afinal, não passavam de seres humanos
melhorados, eram a excelência do que era possível alcançar. Saliente-se que,
por meio desta forma idealizada de pensar e viver o corpo se define, também,
formas de estar na sociedade e princípios filosóficos e sociais que assentam na
visão como sentido primordial, no olhar, no espelho, como fundamentais para o
funcionamento de uma sociedade (CUNHA, 2004).
É interessante verificar como esta forma de ler a realidade ainda hoje se mantém,
esta primazia do olhar. Segundo Foucault (1994), nos séculos I e II, os filósofos
enfatizavam a necessidade dos indivíduos terem cuidado consigo mesmos,
pois seria dessa forma que alcançariam uma vida plena. Eles cuidavam tanto
do corpo como da alma, recomendando a leitura, as meditações e a regimes
rigorosos de atividade física e dietas. Ressalva, ainda, que esse cuidar de si
provocou no mundo helenístico e romano um individualismo, no sentido em
que as pessoas valorizavam as regras de condutas pessoais e voltavam-se
para os próprios interesses, tornando-se menos dependentes uns dos outros
e mais subordinadas a si mesmas. Instaura-se então o que Foucault chama de
cultura de si.
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UNIDADE I │ IMAGEM CORPORAL
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IMAGEM CORPORAL │ UNIDADE I
lidar bem com a dor do corpo, que seria mais importante do que saber lidar com
os prazeres (TUCHERMAN, 2004). Evidencia-se a separação do corpo e da alma,
prevalecendo a força da segunda sobre o primeiro.
Na Idade Média o corpo serviu, mais uma vez, como instrumento de consolidação
das relações sociais. A característica essencialmente agrária da sociedade feudal
justificava o poder da presença corporal sobre a vida quotidiana; características
físicas como a altura, a cor da pele e peso corporal, associadas ao vínculo que o
indivíduo mantinha com a terra, eram determinantes na distribuição das funções
sociais. O homem medieval era extremamente contido, a presença da instituição
religiosa restringia qualquer manifestação mais criativa. O cristianismo dominou
durante a Idade Média, influenciando, portanto, as noções e vivências de corpo
da época. A união da Igreja e Monarquia trouxe maior rigidez dos valores morais
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UNIDADE I │ IMAGEM CORPORAL
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IMAGEM CORPORAL │ UNIDADE I
Encontramos, assim, uma visão dupla do corpo na Idade Média, que se prende
essencialmente na forma como encara o corpo feminino. De fato, embora ambas
as noções de corpo estejam ligadas ao mundo material, a versão feudal, ligada
aos princípios cristãos, considera isso bastante negativo, daí a persistência das
mulheres em viver uma vida religiosa e em transcender o corpo material. Por
outro lado, numa versão mais popular, da poesia trovadoresca e do amor cortês,
o valor da mulher é ampliado, havia um corpo a exaltar, objeto de experiências
que o libertam (CUNHA, 2004; TUCHERMAN, 2004). O amor provençal opunha-se
a todas as morais e basicamente a moral cristã, criando um sistema de valores
independente, que libertava o corpo para uma experiência de intensidade
e artifício. Como nos diz Tucherman (2004, p. 67) “em diferentes épocas e em
diferentes sociedades, o amor foi inventado e reinventado, assim como o
corpo que o suporta e o experimenta.” Finalmente, e no que se refere ao corpo,
de meados da Idade Média até ao final do séc. XVIII, não parece haver uma
modificação profunda do seu significado, o que não indica que não tenha sido
submetida a diferentes vivências e movimentos.
O Cristianismo, por possuir uma história difícil e paradoxal na sua relação com o
corpo, foi, por muito tempo, reticente na interpretação, crítica e transformação
destas imagens duplamente globalizadas do corpo, independentemente e para
além do discurso do pecado e do controle do corpo, este é um tema essencial da
teologia e da espiritualidade cristã.
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UNIDADE I │ IMAGEM CORPORAL
a saúde corporal. Agora, com o declínio final dos sacerdotes que condenavam
a vida na terra, vemos a sua redenção. Um neopaganismo ressurge e a carne
intensa, ativa, ainda carregando cicatrizes do estigma, volta a ser soberana, quer
mostrar-se. A obtenção do corpo sadio dominava o indivíduo: a prática física
domava a vontade, contribuindo para tornar o praticante subserviente ao Estado
(PELEGRINI, 2006). O dualismo corpo-alma norteava a concepção corporal do
período, demonstrando a influência das concepções da antiguidade clássica.
Na realidade, o filósofo Descartes parece ter instalado definitivamente a divisão
corpo-mente; o homem era constituído por duas substâncias: uma pensante, a
alma, a razão e outra material, o corpo, como algo completamente distinto da
alma. Mesmo se já se pensasse o ser humano como constituído por um corpo
físico e uma outra parte subjetiva, a partir de Descartes essa divisão foi realmente
instituída e o físico passou a estar ao serviço da razão.
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IMAGEM CORPORAL │ UNIDADE I
Chegando ao século XIX, temos uma sociedade anónima, uma vasta população
de gente que não se conhece. O trabalho, o lazer, o convívio com a família são
atividades separadas, vividas em compartimentos a ela destinados. O homem
procura proteger-se do olhar dos outros… (2004, p. 69)
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UNIDADE I │ IMAGEM CORPORAL
Fonte: BARBOSA, R. M.; MATOS, P. M.; COSTA, M. E. Um olhar sobre o corpo: o corpo ontem e
hoje. Psicologia & Sociedade , 23, 24-34, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/psoc/
v23n1/a04v23n1>. Acesso em: maio 2016
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CAPÍTULO 2
Onde o belo é determinado pela
cultura e pelo momento histórico
Figura 2.
Fonte: <http://guia.uol.com.br/belo-horizonte/noticias/2014/01/23/intervencoes-e-pinturas-de-manuel-carvalho-estao-em-
exposicao-gratuita.htm>. Acessado em: maio 2016.
Vimos na cultura Grega, por exemplo, que a estética, a beleza e a perfeição do corpo
eram essenciais tanto na construção das relações sociais como para obtenção do poder.
Os valores corporais, a força, a agilidade eram itens importantes não só para obtenção
de uma vida política de sucesso e reconhecimento, mas também como atributo de
pessoas vencedoras, socialmente aceitas e bem-sucedidas.
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UNIDADE I │ IMAGEM CORPORAL
eram determinantes para as condições sociais. Mais a frente com as mudanças de uma
sociedade capitalista, com relações trabalhistas, foi que o corpo passou a ser visto numa
perspectiva de ganho econômico, cuja depreciação levou a importância do corpo para
um plano subjugado.
Nos parece na atualidade que a ideia de felicidade, sucesso, dinheiro e aceitação perpassa
pelo caminho da beleza estética em que a boa saúde já não é mais contemplada com
interesse, uma vez que o corpo é visto como algo de projeção social.
Quanto mais perto corpo estiver da Juventude, beleza, boa forma, mas
autuação valor de troca (FEATHERSTONE, 1991). A imagem veiculada
pela mídia usar corpos de homens e mulheres esculturas para vender
através de anúncios publicitários. “Músculos perfeitos” impulsionando
seres perfeitos a vender produtos perfeitos. O músculo hoje é um
modo de vida. Os meios de comunicação contribuem incentivando a
batalha pelo “belo”. Atualmente ao ligar a televisão ou folhear uma
revista o jornal, garotas perfeitas com curvas delineadas ligar o Toes
de porte atlético tentam vender um carro, um eletrodoméstico, um
tênis, estabelecendo os padrões estéticos. Isto faz com que as pessoas
tornam-se escravas de um ideal, ressaltando o narcisismo e impondo
para si mesmas Uma disciplina extremamente severa, por vezes
dolorosa.
A época atual, pois nos destaca em relação ao belo a percepção, vista de fora, de que
estamos enraizados a padrões que uma vez dentro dos mesmos somos vistos como iguais,
ao contrário somos segregados à uma classe menosprezada pelo que não conseguiu
ou optou pelo melhor, pelo padrão. Veiga-Neto (2002), neste sentido, afirma que essa
época somos continua e maciçamente massacrados por marcadores de identidade
que eximem os que estão fora dos padrões estabelecidos, vivemos no lugar em que os
sentimentos de pertença estão em constante mudança tornando-os de difícil analise.
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IMAGEM CORPORAL │ UNIDADE I
Com efeito, os cuidados físicos revelam-se, invariavelmente, como uma forma de estar
preparado para enfrentar os julgamentos e expectativas sociais. Da mesma forma, todo
o investimento destinado aos cuidados pessoais com a estética vincula-se à visibilidade
social que o sujeito deseja atingir – evitar o olhar do outro, ou a ele se expor, está
diretamente relacionado às qualidades estéticas do próprio corpo!
Segundo Malysse (1997), esforçamo-nos o ano todo com exercícios massacrantes, para
no verão termos a recompensa de poder ir à praia expor nosso corpo sem vergonha.
Disciplinamos o corpo a frequentar uma academia de ginástica, a fim de que, às custas
de muito suor e calorias perdidas, consigamos reconhecimento social e aprovação
(NOVAES, 2003, p. 17).
Faz-se mister perceber que vivemos uma fase em que a sociedade reconhece um
modelo padrão de os corpos perfeitos que se estabeleceram na mentalidade da vida
moderna. As pessoas passaram a criar expectativas em relação aos padrões de beleza
que de algum modo relacionam-se com fenômenos patológicos surgidos nos últimos
tempos, como é o caso dos transtornos alimentares, atividades físicas realizadas em
acesso e cirurgias plásticas e estéticas viralizadas.
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UNIDADE I │ IMAGEM CORPORAL
Figura 3.
Se a Beleza está nos olhos de quem vê, é certo que esse olhar é influenciado
pelos padrões culturais de quem observa. Afinal, o que é beleza? O que é arte?
Gosto se discute? A Beleza deve ser analisada friamente ou livre das amarras da
razão? Umberto Eco propõe essas indagações em seu livro, “História da Beleza”,
um ensaio sobre as transformações do conceito do Belo através dos tempos.
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CAPÍTULO 3
A evolução do conceito de corpo na
psicologia
Figura 4.
Vimos que o corpo pode ser compreendido de diversas formas dependendo do campo
de investigação, por exemplo, se no situarmos na história do mundo veremos que a
compreensão sobre o corpo é utilizada para entendimento de diversas áreas da sociedade
como foi no caso da Grécia. Tudo isso porque a cultura é capaz de diferenciar e pontuar
várias concepções sociais, inclusive a do corpo.
Neste sentido, ao que estamos buscando, pensar em corpo como matéria exclusivamente,
não satisfaz o debate que aqui nos propomos. Vimos em algum ponto que a linguagem
atribui valor a conceituação, a compreensão e a elaboração do significado do corpo, pois
o corpo não é uma matéria de significantes orgânicos quando se trata de uma concepção
psicológica.
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UNIDADE I │ IMAGEM CORPORAL
Paim e Kruel (2012, p.162) explicam que o corpo no registro do imaginário delineia-se no
estádio do espelho. É de suma importância ter em mente que a construção da imagem
corporal se dá graças à relação que o ser humano experimenta nos primeiros momentos
de vida, no estádio do espelho, por volta dos seis aos dezoito meses. Nesse período, a
criança contempla sua própria imagem no espelho, e recebe de um outro, no caso a
mãe, a autenticação de que aquela imagem que se reflete no espelho é sua. Essa imagem
unificadora do corpo vai antecipar na criança uma percepção da forma total de seu corpo,
mesmo que seu aparato neurofisiológico ainda não esteja inteiramente desenvolvido.
Falamos da noção de imagem corporal e para isso nos utilizamos diversos conceitos
da psicanálise uma vez que é uma linha teórica que observa o corpo embutido de
significados individuais relacionados ao que a Psique constrói em relação ao que sente
sobre o mesmo. Essa construção se dá mediante as percepções, as representações, as
fantasias mentais, os investimentos libidinais e a pulsão. (NASIO, 2009)
É fato que a concepção de corpo está enraizada em uma estrutura sociológica que
percebe as tendências do grupo social cuja valorização de modelos corporais, funções
e papeis sociais, vestimentas, comportamentos e atitudes são formadores de uma
comunicação inconsciente coletiva. Portanto, a experiência que se tem com a imagem
do corpo em si está diretamente relacionada a experiência com o outro e a relação ao
seu próprio corpo.
Sabemos ainda que a psicologia não se esgota por si só no fenômeno psicológico, uma vez
que dentro dela mesma podemos encontrar várias linhas de raciocínio que induzem ao
pensamento. No caso do conceito do corpo, iremos apreciar a posição fenomenológica
acerca do que estamos tratando com profundidade psicanalítica.
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IMAGEM CORPORAL │ UNIDADE I
Para tal pensemos que a fenomenologia, que tem como método a descrição das
experiências vivenciadas pelo sujeito respeitando os aspectos idiossincráticos e o
significado central das questões particulares, veria o corpo diferentemente dos métodos
psicanalíticos cujo foco na interpretação das introjeções ou vivencias subjetivas a partir
de um processo contratransferencial, ou seja, com a visão do que aquele fenômeno
acende no outro. Por assim dizer a visão sobre a sensação ou conceituação do corpo
fenomenológico faz com que o sujeito elabore o significado de sua vivência corporal
sujeitando a sua reflexão a consciência atual.
A Psicossomática
[...] assim como não é possível tentar a cura dos olhos sem a da cabeça,
nem a da cabeça sem a do corpo, do mesmo modo não é possível tratar
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UNIDADE I │ IMAGEM CORPORAL
Não iremos aqui adentrar muito na história e nos aspectos médicos que outrora já
estudamos, mas iremos nos prender na história médica-psicológica em que o corpo é
visto de maneira mais integrada após passar pela ideia do dualismo mente-corpo de
Descartes.
A ideia que Lieberman nos traz é a de que a evolução do corpo na história da sociedade
passou por algumas transições, dentre a que nos interessa nesse contexto pensaremos
sobre as advindas da Revolução Agrícola (quando as pessoas começaram a cultivar
seus alimentos) e a Revolução Industrial (quando máquinas começaram a substituir
o trabalho humano e a produzir alimentos). É possível pensar que essas revoluções
tiveram grande importância dentro da história do corpo humano uma vez que alteraram
consideravelmente o modo como nos alimentamos, trabalhamos, dormimos, nos
movimentamos, interagimos e consequentemente pensamos acerca do nosso próprio
corpo. Sem dúvidas não estamos falando apenas de transformações maléficas, uma vez
que benefícios foram alcançados por meio das transformações ocorridas com a evolução
do mundo e a transformação do modo de vida e suas influências para com o corpo, no
entanto, o autor é enfático quando trata o nosso modo de vida adaptado. Em entrevista
à Revista Época, o autor diz: “Se quisermos prevenir doenças em vez de apenas tratar
os sintomas, precisamos refletir sobre nosso passado evolutivo”. Ainda nessa mesma
matéria ele comenta:
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IMAGEM CORPORAL │ UNIDADE I
Não evoluímos para ser saudáveis. Fomos selecionados para ter o maior
número possível de filhos sob condições desafiadoras. Adaptações são
características moldadas por seleção natural que promovem relativo
sucesso reprodutivo. As adaptações só evoluem para promover saúde,
longevidade e felicidade na medida em que essas qualidades beneficiam
a capacidade de um indivíduo de ter mais filhos sobreviventes.
Lieberman, 2015.
Para alguns pensadores do século XIX o corpo era um pedaço de matéria, um feixe de
mecanismos. O século XX restaurou e aprofundou a questão da carne, isto é, a questão do
corpo animado. Aprimorando a referência da mente, como processo estrutural ocorrido
no cérebro e que vai além da concepção mecânica do pensamento e comportamento,
mas de uma concepção psicológica.
Pensemos que a medicina psicossomática trabalha com a ideia de que mente e corpo
estão interligados sendo que o organismo explica a patologia de origem psíquica, ou
melhor, somática. No entanto, ao entender essa união a medicina anuncia a necessidade
de integrar igualmente o tratamento e aliar a medicina orgânica com a psicologia
dos sintomas psicológicos prevalentes no corpo. Assim, dividiu-se a história da
psicossomática, em duas vertentes: de um lado, as inspiradas nas teorias psicanalíticas
que se baseavam no conceito de doença psicossomática; de outro lado, a de orientação
biológica, alicerçada no conceito de stress. (CERCHIARI, 2000).
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UNIDADE I │ IMAGEM CORPORAL
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IMAGEM CORPORAL │ UNIDADE I
entre as propostas teóricas dos referidos autores. Todavia, ambos postulam que
esses sujeitos se caracterizam por uma marcante restrição da capacidade de
elaboração psíquica. Em função disso, tanto Marty quanto McDougall entendem
as afecções orgânicas potencializadas pelo pensamento operatório ou pela
desafetação como manifestações desprovidas de valor simbólico.
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UNIDADE I │ IMAGEM CORPORAL
Por fim, vale destacar que Marty e McDougall estão de acordo que, nos casos
em que a figura materna não cumpre de forma apropriada a função de para-
excitação, os sinais pré-verbais que o bebê emite não são inseridos em um
código linguístico. As experiências que a criança vive não serão, portanto,
devidamente simbolizadas e seu corpo se apresentará como a via privilegiada
de exteriorização de seus conflitos, engendrando o desenvolvimento de
somatizações. Em suma: para ambos, o corpo anatômico se torna erógeno como
resultado de um processo gradativo e complexo que tem início nos primeiros
meses de vida.
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IMAGEM CORPORAL │ UNIDADE I
33
A EVOLUÇÃO DO
CONCEITO DO CORPO UNIDADE II
NA SOCIEDADE
CAPÍTULO 1
Compreendendo o conceito de
imagem corporal
Figura 5.
O conceito de Imagem Corporal foi tratado desde muito cedo não apenas pelos autores
psicanalistas ou ligados à área da psicologia. Falar sobre imagem corporal estava
dentro da rotina médica nos tempos do século XVI na Europa, quando na França um
médico explorou a questão, trazida por seu paciente, acerca da sensação da existência
de um membro amputado. A alucinação do membro fantasma, como é chamado até
os dias de hoje, levou os médicos a pensarem que a imagem que o cérebro tem deixa
marcas corpóreas, e a ideia então era descobrir modos de tratá-las (GORMAN, 1965).
E então, na Inglaterra os estudos sobre imagem corporal foram sendo analisados com
maior profundidade nos ramos da neurologia, e psicologia. Com o neurologista Henry
Head descobriu-se um padrão de esquema corporal que nada mais seria do que a ideia
que cada sujeito teria de si próprio, ajudando-os no processo de manutenção de uma
aprendizagem e padronização dos movimentos corporais.
34
A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA SOCIEDADE │ UNIDADE II
Nasio (2009) relata que o psicanalista Paul Ferdinand Schilder utilizou o a expressão
“imagem do corpo” por volta de 1930 antes mesmo de Freud aludir ao termo em
suas teorias. Para Schilder esse fenômeno psicológico explica o modo como a mente
compreende o corpo, uma vez que a sugestão do autor preconiza que a imagem que se
é construída do próprio corpo na mente se dá a partir dos sentidos, do toque da pele,
das sensações causadas que em sua maioria são formações inconscientes que se iniciam
desde cedo e se transformam ao longo da vida, sendo, pois, um fenômeno psíquico
contínuo e multifacetado. Schilder revela que a imagem corporal passa do orgânico
para o psicológico e social. Pois não é apenas uma construção que permeio a escopo da
cognição, mas envolve uma relação direta com os desejos pessoais, atitudes emocionais
e as interações ambientais. (FISHER, 1990)
Sobre a ideia do recalque, apenas para não passar em branco podemos apontar ao que
nos disse Freud em uma de suas obras Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
Completas.
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UNIDADE II │ A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA SOCIEDADE
Para tal poderíamos nos perguntar: o que é imagem? E imediatamente responder que
seria tudo aquilo que podemos ver, perceber, sentir, tocar, tudo aquilo que nos provoca
algum tipo de emoção ou sensação e fica guardado em nós, como uma marca, poderia
ser entendido como imagem. Nasio nos aponta para uma visão interessante e difundida
no meio psicanalítico sobre três tipos de imagem: uma mental, uma visual e outra que
ele chama imagem-ação.
36
A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA SOCIEDADE │ UNIDADE II
ver, uma vez que o cérebro e toda sua gama de representações compactuam para o
feito de uma imagem completamente influenciável. Então, para finalizar, diríamos que
a “imagem corporal e a representação simbólica podem ser analisadas em conjunto no
trabalho constante do ser humano ou no desenvolvimento psíquico de qualquer um que
queira obter um crescimento constante”. (MAURI, 2011. p. 193)
A imagem do corpo propriamente dita é aquela que você observa a partir do espelho,
como bem explica Lacan no “estágio do espelho” é o como você se vê a partir do espelho.
Já a imagem mental é aquela que não é necessariamente observada por você, mas a
imaginada, a construída por suas impressões sensoriais, seus sentimentos a respeito do
corpo registrado em sua consciência.
Para uma melhor compreensão sobre o entendimento da imagem do corpo Nasio (pp.
54-55) explica que a considera como substância do nosso “eu”, para ele “Nós somos
nosso corpo em carne e osso, somos o que sentimos e vemos de nosso corpo: sou o
corpo que sinto e o corpo que vejo” aponta ele. Portanto, podemos inferir que a imagem
mental que temos, ou melhor, a idealização ou representação mental do que sentimos
e percebemos como nosso corpo, que são continuamente influenciadas pela imagem do
copo – aquela do espelho – são ambas as que nos formam como modelo de nós mesmos.
No entanto, vale ressaltar que o “eu” é parte do que construímos para além desse
modelo de imagem corporal e não é por si só a imagem corporal. Ou seja, o “eu” ou
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UNIDADE II │ A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA SOCIEDADE
Ego, é muito mais complexo, pois envolve sentimentos que vão além das sensações,
e perpassam por campos subjetivos que qualificam o sujeito como um ser existente,
dotado de sentimentos intermináveis e inconstantes e dependentes das experiências.
Por isso o “eu” é individual, e consequentemente a imagem corporal, que envolve o
“eu”, ou o modo como esse “eu” age no funcionamento da percepção dessa imagem do
corpo, é igualmente subjetiva.
Figura 6.
Voltando para Dolto (2015) a fim de agregar mais conteúdo a nossa tentativa de
compreensão sobre Imagem Corporal, vamos nos remeter a imagem do corpo trazida
por ela como um processo elaborado “como uma rede de segurança linguageira com
a mãe. Esta rede personaliza as expectativas da criança, quanto ao olfato, a visão, a
audição, as modalidades do tocar, segundo os ritmos específicos dos aspectos exterior
materno. Mas, ela não individualiza a criança quanto a seu corpo” (p. 122, grifos do
autor).
Neste caso Dolto nos demonstra que o início desse processo, lá na primeira infância, tem
aspectos fundamentais ainda no tempo em que criança e mãe vivem simbioticamente,
ou seja, não há uma separação entre os limites do bebê enquanto ao que ele é e pertence
38
A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA SOCIEDADE │ UNIDADE II
a ele e ao que é da mãe e pertence a mãe. Somente após as rupturas (vivenciadas pelos
períodos de desmame, separação etc.) que podem ser vistas como castrações, é que
há uma relativa individuação capaz de separar mentalmente a criança fazendo-a
perceber-se um ser dissociado do outro com uma própria estrutura corporal em
construção, assim como estará a sua própria imagem inconsciente.
Acreditamos na imagem corporal, assim como disse Nasio, como um código íntimo,
idiossincrático a cada um e que deve ser compreendida pelos psicanalistas na intenção
do acesso a compreensão da construção do próprio modelo de eu da pessoa ou paciente.
Teria sua importância na psicanálise como ponte de acesso transferencial, quando o
psicanalista é levado a intervenção, e, no entanto, necessita de uma intervenção segura,
eficaz, que seja fidedigna ao sentimento e vivência do paciente. Sendo assim, recorrer à
imagem do inconsciente do corpo, assinalado inúmeras vezes pelo próprio paciente de
modo inconsciente, e acessar as emoções expressadas por ele, sentindo-as num processo
de identificação, captura e tradução é o que irá estabelecer o diálogo e a comunicação,
grosso modo.
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CAPÍTULO 2
Do esquema corporal à formação da
imagem corporal
Figura 7.
40
A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA SOCIEDADE │ UNIDADE II
Ainda conforme Dolto o esquema corporal representa o indivíduo como espécie, o faz
ser parte de algo, de algum lugar, de uma época e lhe permite as condições nas quais
ele vive. Seria, pois, um fenômeno que se forma de modo consciente, pré-consciente e
inconsciente.
Nesse aspecto Nasio deixa claro que esquema corporal não é o mesmo que imagem
corporal inconsciente uma vez que “esquema corporal é a representação pré-consciente
que cada um faz de seu corpo e que lhe serve de referência no espaço” (p. 140)
Fonseca, 2008, p. 28
41
UNIDADE II │ A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA SOCIEDADE
Fonte: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAJAMAD/nocoes-fundamentais-neuroanatomia-relevantes-a-psicologia-visao-
funcional-a-evolucao-teorica-tentativa-correlatos-neurais-a-subjetividade?part=5> Acessado em: 29 abril de 2016.
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A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA SOCIEDADE │ UNIDADE II
De todo modo a imagem corporal nos parece vinda dos aspectos simbólicos que se
originaram na vivencias e foram significando as experiências sentidas pelo corpo, e
portanto, a imagem corporal entra no contexto da fantasia, da imagem que se forma no
simbólico. (JERUSALINSKY, 1996)
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UNIDADE II │ A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA SOCIEDADE
Fonte: PAIM, Fernando Free; KRUEL, Cristina Saling. Interlocução entre psicanálise e fisioterapia:
conceito de corpo, imagem corporal e esquema corporal. Psicol. Cienc. Prof., Brasília ,
v.32, no 1, pp. 158-173, 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1414-98932012000100012&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: maio de 2016
44
CAPÍTULO 3
Imagem Corporal e a consciência
do próprio corpo: Autopercepção,
Autoestima e Autoconsciência
Figura 9.
Tavares (2003) aborda a imagem corporal por um prisma neurológico e considera esse
fenômeno como parte de um procedimento psíquico que ocorre a partir da estimulação
em diferentes áreas do cérebro na zona cortical. Esse fenômeno que ocorre a partir das
imagens mentais que se formam a partir da estimulação dos objetos ou da relação entre
eles com uma carga emocional presente ativam o reconhecimento e a identificação das
experiências vividas anteriormente e estimulam a revivência do que essas experiências
trouxeram e deixaram como marcas emocionais.
Para nos dar uma visão dos aspectos trazidos por Paul Schilder um dos pioneiros da
ideia de imagem corporal que a partir de suas reflexões de casos clínicos levantou as
seguintes proposições, conforme Tavares (2003):
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UNIDADE II │ A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA SOCIEDADE
As sensações que nos colocam em contato com o mundo e com nós mesmos ficam
memorizadas em nosso córtex cerebral e em nosso corpo, criando uma espécie de
mosaico perceptivo. Esse mosaico contém sensações táteis, auditivas, visuais, olfatórias,
proprioceptivas, motoras e tantas quantas forem as experiências corporais armazenadas
combinadas com componentes emocionais e cognitivos que se contextualizam no tempo
e espaço. Todos esses fatores são acionados quando captamos a imagem corporal na
46
A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA SOCIEDADE │ UNIDADE II
nossa mente. A regulação desse processo depende do sistema límbico que se encontra
distribuído em diferentes áreas corticais. Fazem parte desse sistema áreas do diencéfalo
(tálamo, hipotálamo e epitálamo), telencéfalo e componentes corticais como giro do
cíngulo, hipocampo, área pré-frontal, relacionadas com a memória, as emoções e com
as atitudes de comportamento social. As áreas temporoparietal, responsáveis pela
noção de esquema corporal também participam da formação da imagem corporal, já
que a imagem corporal se constrói sobre o esquema corporal (TAVARES, 2003).
A fim de localizar e explorar essas tensões corporais a Gestalt elaborou exercícios que
seriam realizados a partir da utilização de um inventário.
Inventário do corpo
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UNIDADE II │ A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA SOCIEDADE
Consciências
4. Feito nos momentos de folga durante o dia, este exercício permitirá que
você separe e avalia a diferença real entre os mundos interno e externo.
Examinando o corpo
Figura 10.
Feche os olhos... Comece com os dedos dos pés e vá subindo pelo corpo...
Pergunte-se: “Aonde estou tenso?”... Sempre que descobrir uma área de tensão,
intensifique-a ligeiramente para poder ficar consciente dela... Perceba os músculos
que estão tensos... Então, diga-se “Estou tensionando os músculos do pescoço...
Estou me prejudicando... Estou criando tensão em meu corpo”... Observe que
toda tensão muscular é criada por nós mesmos... Neste ponto, fique consciente
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A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA SOCIEDADE │ UNIDADE II
de qualquer situação que possa estar provocando tensão no seu corpo e o que
você pode fazer para modificá-la.
Soltando o corpo
Figura 11.
A consciência corporal passa a ser percebida como imagem corporal por alguns
autores existencialista, no entanto, a retórica é diferente quando com William James,
por exemplo, falar sobre consciência corporal é citar uma consciência que flui, uma
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UNIDADE II │ A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA SOCIEDADE
consciência que não é estática e vai acontecendo, assim como a realidade. Para ele
é preciso tomar consciência da consciência, e isso é apenas uma questão de técnica.
Como sair da corrente da consciência a fim de poder perceber como se estivéssemos
fora dela? Nesses termos podemos inferir que de uma maneira singular a consciência
que flui como uma corrente de um rio vai captando as passagens relacionadas às falas,
aos pensamentos, as visões... Talvez como anteriormente tenhamos visto na percepção
simbólica de uma imagem inconsciente do corpo. (GAIARSA, 2006)
Autopercepção
Figura 12.
Não é muito difícil de entender que a autopercepção é um termo usado para definir o
modo como nos percebemos, como nos avaliamos. Um termo que segundo os autores
está ligado a diversos fatores, dentre eles ao próprio corpo, a autoimagem e ao que
pensamos ser por meio das percepções que temos de nós mesmos.
Harter (1993, p,1 apud PAPALIA; OLDS, 2000) exemplifica o autoconceito como a
percepção de nossa própria imagem, sendo, pois, uma construção do que acreditamos
ser, aquilo que não é mais apenas como somos visualmente, mas que abrange um
conjunto do nossos traços e personalidade. Esse processo cognitivo, portanto, com
aspectos emocionais e que permeia o mundo do comportamento influenciando-o e
sendo influenciado, determina como nos sentimos sobre nós mesmo e nos orienta em
virtude das ações que tomamos. O autopercepção que seria essa consciência, então,
de que “eu” como ser único, apresento traços particulares, gostos distintos, ideais e
opiniões que podem partir tão somente de mim devido ao que aprendi, vi, ouvi ou
percebi.
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A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA SOCIEDADE │ UNIDADE II
A autoimagem e a relação com a autoestima também sofrem mudança uma vez que
os aspectos sociais se tornam relevantes e os amigos assumem um importante papel
nesse contexto. Há uma notável separação de gênero entre as amizades femininas que
geralmente são mais intensas e íntimas e as masculinas que fazem amizade em maior
número e menor intensidade de afetos.
AutoEstima
Figura 13.
Autoestima é o julgamento que uma pessoa faz de si própria, não acerca de suas
habilidades ou traços de personalidade, mas acerca de seus valores.
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UNIDADE II │ A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA SOCIEDADE
Autoconsciência
Figura 14.
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A EVOLUÇÃO DO
CONCEITO DO CORPO UNIDADE III
NA PSICOLOGIA
CAPÍTULO 1
O Ego Corporal de Freud
Figura 15.
53
UNIDADE III │ A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA PSICOLOGIA
A ideia de que haveria conteúdos que rompiam a barreira psíquica do consciente para
uma zona desconhecida chamada inconsciente já alertava os curiosos, tanto mais vinda
juntamente com a ideia de que esse processo se dá devido a fenômenos patológicos.
Para Freud a teoria psicanalítica intervém e assevera que a razão pelas quais as ideias
não podem tornar-se conscientes é que uma certa força se lhes opõe. Um meio pelo
qual essas ideias podem vir à tona é por meio da técnica psicanalítica, meio pelo qual a
força opositora é removida e as ideias tornam-se conscientes. É com essa exposição que
Freud apresenta o termo da repressão, que são os conteúdos levados à inconsciência e
que permanecem lá por meio de outra força chamada resistência, força que durante a
análise é a força opositora para os conteúdos virem à tona. (FREUD, 1923-1925)
Figura 16.
Assim como podemos analisar na figura, o Ego parece exercer uma força ao Id, numa
outra leitura, como se fosse todo o peso que ele recebe do mundo externo, tentando
aplicar parte desse peso ao Id, que guarda todo o conteúdo do prazer, ao que Freud
chamou “princípios de prazer”. Ou seja, o Ego força o Id a receber uma parte do
“princípio da realidade”, mas ao Id cabe o instinto e não a realidade, ainda, a ele cabe a
satisfação. A partir dessa compreensão vemos o Ego representando o que chamamos de
razão, o senso da realidade é função, portanto, do Ego, àquele que mantem o controle.
Enquanto ao Id coube a área dos prazeres, das paixões, dos desejos instintuais e
primitivos. Muitos dos quais por eventos traumáticos foram reprimidos ou tornaram-
se sintomas.
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A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA PSICOLOGIA │ UNIDADE III
Esse eu, formado pelo conjunto de representações psíquicas do simbólico e do real, que
não são constantes em termos de equilibração, mas que tem uma função reguladora
do sujeito (eu) em termos das relações que mantem com ele próprio e com o mundo.
Para isso, toma posse dos atributos da memória que registrarão as marcas deixadas
pelas sensações. E por isso podemos concluir que temos um Ego corporal, que se
utiliza das relações que estabelece no mundo real e no mundo paralelo (do fantástico
e do simbólico) e que fazem projeções mentais das marcas registradas na pele, pelas
sensações corporais causadas de maneira endógena ou exógena. (DE-CAMPOS, 2010)
Freud trabalha com a ideia de que a constante tensão produzida pelas necessidades
do Id leva a pessoa desenvolver respostas próprias que a conduzem a redução dessa
tensão, modo de adaptar-se a questão realística trazida pelo Ego. E assim, nesse
processo, a personalidade do homem vai se desenvolvendo, concomitantemente
com suas experiências corporais vivenciadas ao longo das fases da vida que ele vai
registrando. Alguns autores especulando sobre as formulações teóricas de Freud em
direção a construção da teoria de personalidade como George Klein, precursor da teoria
freudiana, comenta que a mesma parece mecanicista e organicista não se enquadrando
nos preceitos de uma psicologia mais humanizada, que busca conhecer o homem em
sua totalidade. Allport (1967, p. 679) arrisca dizer que a vida exige que nós conheçamos
o pior da pessoa e com isso façamos o melhor. Deste modo, pensando numa teoria
existencialista, podemos buscar estabelecer um contraponto entre a teoria freudiana a
fim de encontrar um novo tipo de psicologia, uma psicologia integradora que preserve
a existência da concepção do homem como um ser que não apenas reage as pressões
externas, mas que se mistura consigo mesmo, corpo e mente, pensamento e sensações,
argumentos e sentimentos, voracidade e serenidade, capacidade e medo, e tantos outros
conflitos, fatores e aspectos que o formam esse ser complexo e corporal.
55
CAPÍTULO 2
A representação corporal das emoções
em Reich
Figura 17.
56
A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA PSICOLOGIA │ UNIDADE III
Reich mapeou o corpo humano e passou a ser reconhecido por utilizar-se de uma técnica
de terapia corporal. O corpo seria então a representação da história do indivíduo e iria
revelar que o caráter de uma pessoa se forma a partir dos traumas sofridos em etapas
do desenvolvimento psicoemocional. São esses traumas que irão definir o caráter da
pessoa e sua forma de responder às demandas da vida, de modo a expressá-las no corpo.
Figura 18.
Fonte: ANARUMA, 2010. Disponível em: <http://pt.slideshare.net/Anaruma/teoria-de-wilhelm-reich>. Acesso em: maio de 2016
O segmento visual, que representa a couraça dos olhos, é representado pela expressão
“vazia” dos olhos e a contratura no musculo da testa, expressão de uma rigidez facial que
pode ser transponível com a mobilização dos músculos que envolvem a região ocular
por meio de exercícios comandados.
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UNIDADE III │ A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA PSICOLOGIA
58
A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA PSICOLOGIA │ UNIDADE III
que deve fluir pelo corpo (a compressão e a pressão de pontos tensos da musculatura);
e por fim, buscando motivar o paciente a lidar com todas as suas resistências ou
restrições emocionais de modo mais flexível, menos resistente e mais consciente.
(ROMERO, 2008)
Figura 19.
O que para Reich parecia distinto no contexto psicanalítico era que os analisados nem
sempre conseguiam resolver seus dilemas ou externalizar suas angústias e acessar suas
lembranças reprimidas, com base nas expressões reprimidas de algum comportamento
instintual. Por isso, ele iniciou sua investigação tentando encontrar a cura por meio do
uso da percepção das relações vivenciadas no corpo, e não na estrutura do caráter, na
posição do Ego corporal. Reich então justificava que alguns pacientes apresentavam
sintomas que quando tratados na base da representação corporal, cuja mente não se
dissocia do corpo, de tal modo que, as expressões corporais representam a própria
pessoa e o sintoma. É quando há uma busca de conteúdos igualmente inconscientes,
como na teoria psicanalítica freudiana, mas que aqui se dá não pela compreensão da
linguagem falada, mas pela expressão do corpo, atitudes, gestos, que seriam, pois,
evidências do processo emocional. (VOLPI; VOLPI, 2003)
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UNIDADE III │ A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA PSICOLOGIA
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CAPÍTULO 3
Processos Mentais e Corporais em Jung
Figura 20.
Jung com a vivência experiência com pacientes psicóticos cujo consciente parecia
fragmentado e distorcido, passou a pensar numa organização psíquica unificada. Ao
colocar o psiquismo numa extensão fora da psicose apurou que o sujeito é um Complexo
de Ego e consciência que se formam a partir de um conjunto de representações afetivas
com base na aquisição de experiências, lembranças, afetos e aspectos relacionados a
hereditariedade. (HUMBERT, 1985)
Figura 21.
Ego Psiquismo
Consciência
Si-mesmo....
Realidade
Hereditariedade
C
O
R
P
O
O ser humano possui muitas coisas que nunca adquiriu por si mesmo,
mas que herdou de seus ancestrais. Não nasce tabula rasa, mas
simplesmente inconsciente. Traz ao nascer sistemas organizados
especificamente humanos e prontos a funcionar, que deve aos milhares
de anos da evolução humana... ao nascer, o homem traz o desenho
fundamental de seu ser, não só de sua natureza individual, mas
também de sua natureza coletiva. Os sistemas herdados correspondem
às situações humanas que prevalecem desde os tempos mais antigos, o
que significa que há juventude e velhice, nascimento e morte, filhos e
filhas, pais e mães, a acasalamento... etc. A consciência individual vivi
esses diversos fatores pela primeira vez. Para o sistema corporal e para
o inconsciente, não é novidade.
Humbert, 1985, p. 95
62
A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA PSICOLOGIA │ UNIDADE III
Vemos o Ego em Jung como um centro contínuo de consciência, cuja presença se faz
sentir desde os tempos da infância. Ele, portanto, não é o sujeito, mas é o conteúdo da
consciência, e dentro do complexo está composto por um conjunto de representações,
afetos, lembranças, hereditariedade e experiências adquiridas.
63
UNIDADE III │ A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO CORPO NA PSICOLOGIA
Para Jung e col (2001, p.197) o self é o núcleo mais profundo da Psique. Ele não
está inteiramente contido na nossa experiência consciente de tempo (dimensão
espaço-tempo), no entanto é onipresente, ou seja, manifesta-se como um ser humano
gigantesco e simbólico que envolve e pode representar todo o cosmo. Para melhor
entendermos, toda a realidade psíquica interior de cada um de nós é orientada, em
última instância, em direção a este símbolo arquetípico do self.
O self central (arquétipo - origem primeira) representa tudo o que está relacionado
ao Ego sendo a união do consciente e inconsciente. Já o inconsciente pessoal é o que
está reprimido por serem experiências não cabíveis ao Ego, que requer uma ordem
do sentido de identidade, continuidade e coerência. Dessa forma podemos perceber
o self como uma entidade que ultrapassa a forma e não está contido nos aspectos da
personalidade, mas que vai muito além do inteligível.
64
TRANSTORNO
ALIMENTAR E UNIDADE IV
ESTÉTICA
CAPÍTULO 1
O corpo simbólico e a possibilidade de
reconstrução da imagem corporal
Figura 22.
O corpo biológico não reflete exclusivamente a nossa proposta de discussão uma vez que
pretendemos aqui construir ou refletir sobre o conceito de um corpo que vai além da
matéria. Esse corpo dividido em corpo físico e corpo simbolizado por meio da experiência
e captado pela Psique do indivíduo é o mesmo corpo sujeitado aos ataques midiáticos e
a simbolização maciça criada por um modelo inacessível e despersonalizado. Vivemos,
pois, em tempos que não basta ter um corpo, é preciso ter um corpo que atinja padrões
de exigências, é preciso ter um corpo esculpidamente perfeito, mesmo que para isso
sejam usadas ferramentas.
65
UNIDADE IV │ TRANSTORNO ALIMENTAR E ESTÉTICA
Barbosa, 2013.
Nasio (2009) trabalha com a ideia de corpo real para descrever o corpo que sente
por meio das sensações internas e externas, um corpo constituído por pulsão, fantasia,
que se define no erógeno, que se usa dele mesmo para atingir um outro e mergulhar
nas sensações do que o outro causa. O corpo do prazer, do gozo, que emana energia
psíquica e somática.
O corpo são as pulsões de vida que nos ligam ao mundo, bem como
as pulsões de morte que nos separam de tudo que ameaça nossa
integridade; os dois grupos de pulsões, de vida e de morte, trabalham
a serviço da vida. É o corpo pulsional que denominamos corpo real ou
corpo sentido.
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TRANSTORNO ALIMENTAR E ESTÉTICA │ UNIDADE IV
Psicologicamente falando é importante salientar que o bebê ainda vive em sua Psique
dentro de um espaço confuso e sem delimitações quando o seu eu ainda não formado
se confunde com o eu existente na mãe e até, digamos “emprestado” ao bebê. Neste
caso Winnicott (1971) revela que a mãe inspira confiança ao bebê e essa confiança
quando vivenciada por um período suficientemente longo, será fundamental para esse
momento de separação entre o não-eu e o estabelecimento de um eu (self) autônomo
no estádio inicial.
Nunca percebemos nosso corpo tal como é, mas tal como o imaginamos;
o percebemos como fantasia, isto é, mergulhado nas brumas de nossos
sentimentos, reavivado na memória, submetido ao julgamento do Outro
interiorizado e percebido através da imagem familiar que já temos dele.
Nasio, 2009, p. 63
Quadro 1. Quadro comparativo entre a imagem inconsciente do corpo concebida por Dolto e a imagem
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UNIDADE IV │ TRANSTORNO ALIMENTAR E ESTÉTICA
Primado da imagem inconsciente do corpo até os três anos, depois Primado da imagem especular desde sua descoberta e durante toda a
recalcamento em prol da imagem especular. vida.
A imagem especular mostra à criança que ela tem uma forma humana,
fazendo-a sentir que ela é uma entidade distinta e acreditar que é uma
unidade.
Figura 23.
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TRANSTORNO ALIMENTAR E ESTÉTICA │ UNIDADE IV
Nasio (2009) revela que a imagem do nosso corpo não é apenas inconsciente, mas
evolutiva, porque se constrói, desenvolve, se renova e regenera ao longo da vida.
Importante destacar as quatros características trazidas por Nasio da imagem:
I. ela é inconsciente;
II. é evolutiva;
Assim como a imagem mental que trazemos do nosso corpo sofre mudanças constantes
e está sempre em evolução assim também é o nosso processo que carregamos ao longo
da vida acerca de nossa imagem corporal, uma vez que está em constante processo de
construção. Até mesmo quando pensamos que há uma adequação acerca da construção
da imagem corporal com a qual estamos vivendo que se enquadram nos padrões
estabelecidos por nós, pela sociedade, suprindo nossas necessidades, ainda assim,
haverá um espaço aberto no tempo real em que iremos nos remodelar em relação a
essa imagem.
69
UNIDADE IV │ TRANSTORNO ALIMENTAR E ESTÉTICA
Portanto, para nós cuidadores, responsáveis pelos nossos filhos, pelos nossos pacientes
e desejosos por adentrar no mundo da fantasia, ou melhor, do fantasiado, do recalcado,
do outro, devemos ter em mente que, internamente, na relação sujeito-objeto,
observaremos uma imagem marcada pelos aspectos de um objeto ora amado, ora odiado,
ora desejado, ora rejeitado, ora querido, ora temido. Portanto, no âmbito psicológico e
utilizando das diferentes técnicas possíveis para o tratamento com pessoas em situação
de distorção de sua imagem corporal, iremos seguir o pensamento de Dolto (2015) e
nos atermos a clínica da escuta. O psicanalista, por exemplo, irá escutar a demanda do
sofrimento e irá atentar-se para os conteúdos que dizem respeito à imagem corporal,
que se apresentam a partir da palavra a ser decodificada, ou seja, analisada durante
um processo. É preciso que as palavras estejam recheadas de emoções e situadas nas
experiências do paciente, e ainda, que elas sejam captadas por meio de um processo
transferencial que reconheça as marcas do corpo deixadas no inconsciente.
70
CAPÍTULO 2
A percepção do Corpo e o Contato
com o Outro: Experiência de Eutonia
Figura 24.
Abordaremos a percepção a partir de uma visão que foge do objetivismo dos campos
cognitivistas da psicologia e abriremos espaço a uma perspectiva fenomenológica
trazida por Merleau-Ponty (1994) que busca a compreensão da percepção sob um
prisma cultural, histórico, subjetivo, saído das relações sociais, predominado pelas
emoções mais expressivas do sujeito. Para ela a percepção está fundamentada nessa
relação do sujeito corporal e ativo que se expressa e recebe os estímulos de modo
sensorial, simbólico. Esta experiência é puramente corporal e se realiza mediante o
sentir e o nosso posicionamento no mundo, ou seja, o movimento. Entenderemos,
pois, a experiência perceptiva como um sentir e movimentar-se por meio das relações
efetuadas com o mundo que nos impele à ser, realizar, gesticular, representar, criar,
interpretar, participar das diferentes situações.
A Eutonia foi criada por Gerda Alexander, filha de uma família burguesa alemã de
antes da Segunda Guerra. Teve uma excelente educação para os moldes da época.
Cresceu ouvindo Mozart tocado por seu pai que era pianista e desejou ser dançarina,
porém ainda na juventude foi assolada por uma doença que a obrigou a reaprender a
movimentar-se com economia de esforços. Foi desenganada pelos médicos e a partir
daí sublimou o sofrimento causado pelas dores e partiu para uma busca criativa
de recuperação de sua vida, foi quando a partir da percepção corporal correta e do
entendimento de que o corpo é um aparato psicofísico, desenvolveu a Eutonia.
71
UNIDADE IV │ TRANSTORNO ALIMENTAR E ESTÉTICA
A palavra Eutonia tem como sentido literal o significado de bom tônus, sendo esse
um estado no qual todo movimento deve ser realizado com um mínimo de energia e o
máximo de eficácia, permitindo que as funções vitais possam prosseguir normalmente.
Os trechos a seguir são explicações vindas de duas fontes que podem ser pesquisadas por
vocês na internet. Para adquirir o texto na íntegra é só seguir a indicação na referência.
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TRANSTORNO ALIMENTAR E ESTÉTICA │ UNIDADE IV
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UNIDADE IV │ TRANSTORNO ALIMENTAR E ESTÉTICA
74
CAPÍTULO 3
Transtornos alimentares e estética
Figura 25.
Em seu artigo Araújo e Lotufo Neto (2014) fazem uma breve explanação dos aspectos
anteriormente apresentados no DSM-IV e hoje substituídos ou reorientados, por meio
de pesquisas, a um novo paradigma ou prisma do mesmo transtorno. No capítulo
Alimentação e Transtornos Alimentares o DSM-5 reúne os diagnósticos
descritos no DSM-IVTR no capítulo dos Transtornos de Alimentação, juntamente
com os Transtornos de Alimentação da Primeira Infância que anteriormente se
apresentavam no capítulo dos Transtornos Geralmente Diagnosticados pela Primeira
Vez na Infância ou na Adolescência já não existentes nessa nova versão. Já para os
diagnósticos de Pica e Transtorno de Ruminação mantiveram-se critérios semelhantes,
que foram revisados a fim de serem aplicados a indivíduos de qualquer idade. No
antigo Transtorno da Alimentação da Primeira Infância DSM-5 passou a ser chamado
de Transtorno de Consumo Alimentar Evitativo/Restritivo. No entanto, esse atual
diagnóstico é caracterizado como um distúrbio alimentar manifestado por um fracasso
persistente em atender às necessidades nutricionais ou energia necessária, associado
75
UNIDADE IV │ TRANSTORNO ALIMENTAR E ESTÉTICA
Ao que concerne a Anorexia Nervosa não houve alterações conceituais, mas seus
critérios foram reescritos para melhor compreensão. A presença de comportamentos
persistentes que interferem no ganho de peso foi adicionada ao Critério B, que descrevia
o medo intenso de ganhar peso ou engordar.
O diagnóstico de Bulimia Nervosa sofreu uma alteração no que diz respeito a frequência
exigida de crises bulímicas e comportamentos compensatórios. No DSM-IV-TR
eram necessárias pelo menos duas crises por semana, por três meses, já no DSM-5 a
exigência cai para uma vez por semana, por três meses. O autor continua, embora a
APA argumente que as características e evolução clínica dos pacientes com esse limiar
sejam semelhantes, muitos profissionais criticaram a mudança pelo possível risco de
superestimar a incidência do transtorno.
Quadro 2.
Pica
Critérios Diagnósticos
A. Ingestão persistente de substâncias não nutritivas, não alimentares, durante um período mínimo de um mês.
B. A ingestão de substâncias não nutritivas, não alimentares, é inapropriada ao estágio de desenvolvimento do indivíduo.
C. O comportamento alimentar não faz parte de uma prática culturalmente aceita.
D. Se o comportamento alimentar ocorrer no contexto de outro transtorno mental (p. ex., deficiência intelectual [transtorno de desenvolvimento
intelectual], transtorno do espectro autista, esquizofrenia) ou condição médica (incluindo gestação), é suficientemente grave a ponto de necessitar de
atenção clínica adicional.
Nota para codificação: o código da CID-9-MC para Pica é 307.52 e é usado para crianças e adultos. Os códigos da CID-10-MC para habitação
(F98.3) em crianças e (F50.8) em adultos.
Especificar se:
Em reemissão: Depois de terem sido preenchidos os critérios para Pica, esses critérios não foram mais preenchidos por um período de tempo
sustentado.
76
TRANSTORNO ALIMENTAR E ESTÉTICA │ UNIDADE IV
Transtorno de Ruminação
Critérios Diagnósticos 307.53 (F98.21)
A. Regurgitação repetida de alimento durante um período mínimo de um mês. O alimento regurgitado pode ser remastigado, novamente deglutido ou
cuspido.
B. A regurgitação repetida não é atribuível a uma condição gastrintestinal ou a outra condição médica (p. ex., refluxo gastroesofágico, estenoso do
piloro).
C. A perturbação alimentar não ocorre exclusivamente durante o curso de anorexia nervosa, bulimia nervosa, transtorno de compulsão alimentar ou
transtorno alimentar restritivo/evitativo.
D. Se os sintomas ocorrerem no contexto de outro transtorno mental (p. ex., deficiência intelectual [transtorno do desenvolvimento intelectual] ou
outro transtorno do neurodesenvolvimento), eles são suficientemente graves para justificar atenção clínica adicional.
Especificar se:
Em remissão: Depois de terem sido preenchidos os critérios para o transtorno de ruminação, esses critérios não foram mais preenchidos por um
período de tempo sustentado.
Anorexia Nervosa
Critérios Diagnósticos
A. Restrição da ingestão calórica em relação às necessidades, levando a um peso corporal significativamente baixo no contexto de idade, gênero,
trajetória do desenvolvimento e saúde física. Peso significativamente baixo é definido como um peso inferior ao peso mínimo normal ou, no caso de
crianças e adolescentes, menor do que o minimamente esperado.
B. Medo intenso de ganhar peso ou de engordar, o comportamento persistente que interfere no ganho de peso, mesmo estando com peso
significativamente baixo.
C. Perturbação no modo como o próprio peso ou a forma corporal é vivenciada, influência indevida do peso ou da forma corporal na autoavaliação
ou ausência persistente de reconhecimento da gravidade do baixo peso corporal atual.
Nota para codificação: o código da CID-9-MC para anorexia nervosa é 307.1 atribuído independentemente do subtipo. O código da CID-10-
MC depende do subtipo (ver a seguir).
(F 50.01) tipo restritivo: durante os últimos três meses, o indivíduo não se envolveu em episódios recorrentes de compulsão alimentar ou
comportamento purgativo (i.e., vômitos autoinduzidos ou uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas). Esse subtipo descreve apresentações nas
quais a perda de peso seja conseguia dar essencialmente por meio de dieta, jejum e/ou exercício excessivo.
(F50.02) tipo compulsão alimentar purgativa: nos últimos três meses, o indivíduo se envolveu em episódios recorrentes de compulsão
alimentar purgativa (i.e., vômitos autoinduzidos ou uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas).
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UNIDADE IV │ TRANSTORNO ALIMENTAR E ESTÉTICA
Anorexia Nervosa
Critérios Diagnósticos
Especificar se:
Em remissão parcial: depois de terem sido preenchidos previamente todos os critérios para anorexia nervosa, o critério A (baixo peso corporal)
não foi mais satisfeito por um período sustentado, porém ou o critério B (medo intenso de ganhar peso ou de engordar ou comportamento que
interfere no ganho de peso), ou o critério C (perturbações na autopercepção do peso e da forma) ainda está presente.
Em reemissão completa: depois de terem sido satisfeitos previamente todos os critérios para anorexia nervosa, nenhum dos critérios foi mais
satisfeito por um período sustentado.
Especificar a gravidade atual:
O nível mínimo de gravidade baseia-se, em adultos, no índice de massa corporal (IMC) atual (ver a seguir) ou, para crianças e adolescentes, no
percentil do IMC. Os intervalos a sehuir são derivados das categorias da Organização Mundial da Saúde para baixo peso em adultos; para crianças
e adolescentes, os percentis do IMC correspondentes devem ser usados. O nível de gravidade pode ser aumentado de maneira a refletir sintomas
clínicos, o grau de incapacidade funcional e a necessidade de supervisão.
Leve: IMC 17 kg/m2
Moderada: IMC 16-16,99 kg/m2
Grave: IMC 15-15,99 kg/m2
Extrema: IMC < 15 kg/m2
Bulimia Nervosa
Critérios Diagnósticos
A. Episódios recorrentes de compulsão alimentar. Um episódio de compulsão alimentar é caracterizado pelos seguintes aspectos:
»» Em gestão, em um período de tempo determinado (p.ex., dentro de cada período de 2h00), de uma quantidade de alimento definitivamente
maior do que a maioria dos indivíduos consumiria no mesmo período sob circunstâncias semelhantes.
»» Sensação de falta de controle sobre a ingestão durante o episódio (p.ex., sentimento de não conseguir parar de comer ou controlar o que e o
quanto se está ingerindo).
B. Comportamentos compensatórios inapropriados recorrentes a fim de impedir o ganho de peso, como vômitos autoinduzidos; uso indevido de
laxantes, diuréticos ou outros medicamentos; jejum; ou exercício em acesso.
C. A compulsão alimentar e os comportamentos compensatórios inapropriados ocorrem, em média, no mínimo uma vez por semana durante três
meses.
Especificar se:
Em remissão parcial: depois de todos os critérios para bulimia nervosa terem sido previamente preenchidos, alguns, mas não todos os critérios,
foram preenchidos por um período de tempo sustentado.
Em remissão completa: depois de todos os critérios para bulimia nervosa terem sido previamente preenchidos, nenhum dos critérios foi preenchido
por um período de tempo sustentado.
O nível mínimo de gravidade baseia-se na frequência dos comportamentos compensatórios inapropriados (ver a seguir). O nível de gravidade pode
ser elevado de maneira a refletir outros sintomas e o grau de incapacidade funcional.
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Figura 26.
Aisthesis é o nome grego pelo qual se origina a palavra que conhecemos como estética,
significa, portanto, a percepção do mundo sensível ou a sensação. Nessa linha Platão
define a palavra grega como uma excitação [pathos] da alma e do corpo, que leva ao
conhecimento do mundo sensível (KIRCHOF, 2013, pp. 27-30).
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anos, e ganharam forma de toda ordem de intuições sobre o belo e a arte, a criação e a
sensação artística.
Talvez, de acordo com as teses de Hazel, tenha havido uma grande influência na
visão da estética como disciplina, e no século XX, ela tenha passado a limitar-se à
investigação do belo artístico. Zimmerman, pesquisador alemão relata que o conceito
de estética abrange teorias de níveis distintos de abstração, quando falamos de estética
podemos nos relacionar a uma simples filosofia geral do belo e da arte, até concepções
de artistas isolados. A estética pode representar, ainda, teorias que abordam somente
um nível artístico, como a estética da literatura. E também, pode se falar de estética
nos campos de estudo externos a arte, como a estética da natureza, e as disciplinas e
métodos científicos, como a estética sociológica. De todo modo vermos pensemos que
o uso do conceito estética veio sendo modificado até a atualidade, e por isso, é preciso
ser compreendido a partir do tempo histórico, cultural e da referência a qual tipo de
conhecimento do mundo sensível ela está tratando.
Estética na contemporaneidade
A incansável busca do corpo perfeito na sociedade moderna associados com um
padrão de beleza eterna estabelecido e que tem sido corroborado pela indústria dos
cosméticos e dos tratamentos estéticos e cirúrgicos em prol da imagem ideal e jovem,
vem crescendo na atualidade, revelando a construção do culto ao corpo. Ida (2007)
lembra que atualmente nas cidades urbanas podemos perceber o grande aumento de
academias de ginástica, lojas de alimentos nutricionais com uma proposta de redução
de ingestão de alimentos, clínicas de estética e centro de cirurgia plástica de fácil acesso
e menor custo, em comparação ao passado. Ainda, o bombardeio de informações ou
mensagens que nos fazem a lembrar, a todo tempo, a respeito do corpo e do modo
como estamos nos alimentando, encontrado nas ruas, está também nas mídias sociais,
capas de revistas impressas e expostas em livrarias e bancas de jornais, além da mídia
televisiva.
A pergunta aqui é: há uma real necessidade moderna de promover uma mudança cultural
nos padrões alimentares para o desenvolvimento de uma boa saúde e qualidade de vida?
Ou há por trás dessa ideia uma campanha industrial que pretende estimular o aumento
de padrões de beleza social a fim do aumento do consumo? Além dessas muitas outras
perguntas poderiam surgir, mas o fato é que massificados por uma tendência universal
que vende a imagem do corpo ideal como pílula da felicidade a população vai adoecendo
mentalmente, desenvolvendo distúrbios, entrando em crise, caindo em depressão e
aumentando o índice populacional dos portadores de transtornos alimentares.
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Weinberg (2010, p. 232) vai ainda mais longe e traz à guisa de comprrender a anorexia
nervosa com um olhar da psiquiatria médica e do ênfoque psicanalítico como uma
forma dinâmica da Psique reacionar contra a patogenia ou origem dos sentimentos
mal-adaptados encontrados na estrutura familiar e que são reprimidos. No entanto,
os sintomas característicos dos transtornos alimentares pareciam servir como escape,
como a somatização, um comportamento vinculado aos aspectos básicos do sentido de
si mesmo. Ou ainda, uma defesa contra o sentimento de estar vinculado à sua própria
fraqueza, que não a permitiu vinvenciar as necessidades do Id, e foram reprimidos
desenvolvendo um Ego sem identidade, um Ego que não encontrou outro modo de
equilibrar o prazer com a realidade e foi submetido a pressão do superego aprisionador.
Além disso a autora relata dados de pesquisas no Brasil com pacientes com transtornos
alimentares que atingem meninas não apenas de classe mais elevadas, mas também
meninas de classe com renda baixa e de família em extrema pobreza, em busca dos
ideais de beleza das classes abastadas.
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