Comportamental
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8
UNIDADE I
TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC .................................................................................. 13
CAPÍTULO 1
ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA TCC................................................................................... 13
CAPÍTULO 2
APRESENTAÇÃO GERAL DOS PRINCÍPIOS TEÓRICOS DA TERAPIA COGNITIVA
COMPORTAMENTAL................................................................................................................ 17
UNIDADE II
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL......................................................................... 26
CAPÍTULO 1
DELINEAMENTO DAS PRINCIPAIS TÉCNICAS, SUAS METAS E SEUS OBJETIVOS............................. 26
CAPÍTULO 2
APRESENTAÇÃO DE TÉCNICAS COGNITIVAS COMPORTAMENTAIS COMPLEMENTARES.............. 38
CAPÍTULO 3
CONSIDERAÇÕES REFERENTES ÀS TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL E O
PÚBLICO ADOLESCENTE E INFANTIL.......................................................................................... 50
UNIDADE III
O PSICÓLOGO NA TCC....................................................................................................................... 57
CAPÍTULO 1
AS COMPETÊNCIAS DO TERAPEUTA.......................................................................................... 57
UNIDADE IV
A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL........................................................................ 61
CAPÍTULO 1
ESTUDO SOBRE O TEMA DA CONCEITUALIZAÇÃO DE CASOS................................................... 61
CAPÍTULO 2
O DIAGRAMA DE CONCEITUALIZAÇÃO COGNITIVA................................................................. 64
CAPÍTULO 3
PRINCÍPIOS ORIENTADORES PARA A CONCEITUALIZAÇÃO DE CASOS....................................... 74
CAPÍTULO 4
PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES DO PROCESSO DE CONCEITUALIZAÇÃO...................................... 77
REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 83
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
6
Saiba mais
Sintetizando
7
Introdução
Na década de 1960, nos Estados Unidos, a terapia cognitiva fundamentou-se empírica
e conceitualmente por meio dos estudos de Aaron Beck. Seus trabalhos eram voltados,
principalmente, para a análise dos quadros depressivos. A partir deles, tornou-se
possível a identificação e descrição quanto aos aspectos do funcionamento das estruturas
cognitivas de diversos transtornos psicológicos, ou seja, a “vertente beckiniana” lançou
luz no que diz respeito a inúmeras informações dos processos cognitivos relacionados
aos problemas psicológicos (BECK, 1997).
Nesse sentido, a terapia cognitiva vem ganhando cada vez mais espaço e se desenvolvendo
de maneira progressiva em todo o mundo, sendo utilizada no tratamento de múltiplos
problemas psicológicos e de populações (FALCONE, 2001). Com suas diferentes
modalidades, ela trouxe várias inovações e obteve um crescimento significativo nos
últimos anos, quando comparada com outras formas de psicoterapia (KNAPP; ROHDE;
LYSZKOWSKI; JOHANNPETER, 2002).
Figura 2.
Emoção
Situação
Pensamento Comportamento
Crenças
Si Mesmo
Mundo
Futuro
9
Destarte, de modo abrangente, as técnicas da terapia cognitiva-comportamental visam
trabalhar, em termos de ajustes cognitivos, os padrões e modos de funcionamentos
prejudiciais aos indivíduos, considerando o sistema de mútua influência entre
pensamento, emoção e comportamento. Dessa forma, por meio de registros de
pensamentos disfuncionais, técnicas de reestruturação cognitiva e sistemas de
análise das crenças irracionais, busca-se a reformulação ou ressignificação dos
padrões disfuncionais por padrões mais funcionais do pensamento, algo que, por
sua vez, refletirá também nas emoções e no comportamentos da pessoa (ABREU;
GUILHARDI, 2004).
Nesse sentido, de acordo com Beck (1964), a forma como as pessoas interpretam e
significam os fatos de certo contexto determina o que elas pensam, e não a situação por si
só. Mais ainda, diante de novas situações, o processo de pensamento extrai padronizações
observadas de cada acontecimento, de modo que transforma similaridades percebidas
em padrões gerais de interpretação. Tais padrões constituem uma rede de significados
em nossa estrutura cognitiva, caracterizadas como crenças ou esquemas pela terapia
cognitiva, de modo que englobam padrões indutores e orientadores da percepção e
interpretação da experiência (ABREU; GUILHARDI, 2004).
10
Objetivos
»» Apresentar, de modo geral, os princípios e conceitos da terapia
cognitiva-comportamental, discutindo-se a forma como essa abordagem
compreende o funcionamento do indivíduo e discorrendo, brevemente,
sobre a literatura nesta área.
11
12
TERAPIA COGNITIVO UNIDADE I
COMPORTAMENTAL – TCC
CAPÍTULO 1
Origem e desenvolvimento da TCC
Nesse contexto, Aaron Beck descreveu de forma mais profunda o quadro depressivo,
como resultado de interpretações tendenciosas dos acontecimentos, estas atribuídas
à ativação de representações negativas de si mesmo, do mundo e do futuro. Como
resultado, surgia um dos princípios da terapia cognitiva: a tríade cognitiva, a qual
engloba as três principais visões que o indivíduo atribui significado, sendo que
essa percepção causará impacto em seus sentimentos, pensamentos e ações (BECK,
1997).
13
UNIDADE I │ TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC
Figura 3.
Indivíduo
Cognições
negativas
Sobre Sobre
Si o
Mesmo Mundo
Sobre
o
Futuro
Por meio dessas considerações, na hipótese do indivíduo ter uma visão negativa de si
próprio, do mundo e do futuro faz sentido pressupor que ele vai se sentir deprimido
e consequentemente indisposto para agir construtivamente, o que reforçará mais
ainda as cognições negativas, que por sua vez manterá esse ciclo vicioso, que o modelo
cognitivo apresenta como base para a compreensão relacionada ao funcionamento dos
transtornos mentais (BECK; RUSH; SHAW; EMERY, 1997).
14
TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC │ UNIDADE I
1. Catastrofização – pensar que o pior de uma situação irá acontecer, sem levar em consideração a possibilidade de outros desfechos. Acreditar
que o que aconteceu ou irá acontecer será terrível e insuportável. Exemplos: “Perder o emprego será o fim da minha carreira”. “Eu não suportarei a
separação da minha mulher”. “Se eu perder o controle será o fim”.
2. Raciocínio emocional (emocionalização) – presumir que sentimentos são fatos. Pensar que algo é verdadeiro porque tem uma emoção
(na verdade, um pensamento) muito forte a respeito. Deixar os sentimentos guiarem a interpretação da realidade. Presumir que as reações
emocionais necessariamente refletem a situação verdadeira. Exemplos: “Eu sinto que minha mulher não gosta mais de mim”. “Eu sinto que meus
colegas estão rindo às minhas costas”. “Sinto-me desesperado, portanto a situação deve ser desesperadora”.
3. Polarização (pensamento tudo-ou-nada, dicotômico) – ver a situação em duas categorias apenas, mutualmente exclusivas, ao invés
de um continuum. Perceber eventos ou pessoas em termos absolutos. Exemplos: “Deu tudo errado na festa”. “Devo sempre tirar a nota máxima, ou
serei um fracasso”. “Ou algo é perfeito, ou não vale a pena”. “Tudo foi uma perda de tempo total”.
4. Abstração seletiva (visão em túnel, filtro mental, filtro negativo) – um aspecto de uma situação complexa é o foco da atenção,
enquanto outros aspectos relevantes da situação são ignorados. Uma parte negativa (ou mesmo neutra) de toda uma situação é realçada, e todo
restante positivo não é percebido. Exemplos: “Veja todas as pessoas que não gostam de mim.” “A avaliação do meu chefe foi ruim” (focando apenas
um comentário negativo e negligenciando todos os comentários positivos).
5. Leitura mental – presumir, sem evidências, que sabe o que os outros estão pensando, desconsiderando outras hipóteses possíveis. Exemplos:
“Ela não está gostando da minha conversa”. “Ele está me achando inoportuno”. “Ele não gostou do meu projeto”.
6. Rotulação – colocar um rótulo global, rígido em si mesmo, numa pessoa, ou situação, desconsiderando outras hipóteses possíveis. Exemplos:
“Sou incompetente”. “Ele é uma pessoa má”. “Ela é burra”.
7. Minimização e maximização – características e experiências positivas em si mesmo, no outro ou nas situações são minimizadas enquanto o
negativo é magnificado. Exemplos: “Eu tenho um ótimo emprego, mas todo mundo tem”. “Obter notas boas não quer dizer que eu sou inteligente, os
outros obtém notas melhores do que eu”.
8. Imperativos (“Deveria” e “Tenho-que”) – interpretar eventos em termos de como as coisas deveriam ser, ao invés de simplesmente focar
em como as coisas são. Afirmações absolutistas na tentativa de prover motivação ou modificar um comportamento. Demandas feitas a si mesmo,
aos outros e ao mundo para evitar as consequências do não cumprimento dessas demandas.
Exemplos: “Eu tenho que ter controle sobre todas as coisas”. “Eu devo ser perfeito em tudo que faço”. “Eu não deveria ficar incomodado com minha
esposa”.
Entende-se, assim, que a forma como o indivíduo estrutura suas experiências tem
relação direta com a forma que ele se sente e se comporta. É importante ressaltar que
não é a situação que determina os sentimentos e sim a forma como a pessoa a interpreta.
Com essas informações, torna-se ainda mais evidente a existência de uma relação entre
pensamentos, emoções e comportamentos, de forma que um tem capacidade de afetar,
manter e modular o outro (KUNZLER, 2011).
15
UNIDADE I │ TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC
Figura 4.
Pensamento
Sentimento Comportamento
Fonte: <http://www.casulepsicologia.com.br/especialidades>. Acesso em: 25/1/2017.
Ainda sobre essa relação, de acordo com Knapp (2004,) existe interação de reciprocidade
entre pensamentos, sentimentos e comportamentos, fisiologia e ambiente, e a
transformação em qualquer um desses fatores tem poder de iniciar mudanças nos
demais.
No Brasil, a terapia cognitiva teve seu início no final da década de 1980 e, como sua
prática combina reestruturação cognitiva com técnicas cognitivo-comportamentais,
desenvolveu-se o termo terapia cognitiva comportamental. Atualmente, mais de 300
ensaios clínicos controlados evidenciam a sua eficácia (KUNZLER, 2011).
16
CAPÍTULO 2
Apresentação geral dos princípios
teóricos da terapia cognitiva
comportamental
Sendo assim, para a teoria da terapia cognitiva é possível identificar três níveis de
cognição: os pensamentos automáticos, as crenças intermediárias e as crenças centrais
(ARAÚJO; SHINOHARA, 2002).
Figura 5.
Pensamentos automáticos
Crenças intermediárias
(pressupostos e regras)
Crenças nucleares
(esquemas)
17
UNIDADE I │ TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC
De acordo com J. Beck (1997), é importante ressaltar que, no caso das pessoas que
estão sofrendo de alguma disfunção psicológica, a checagem da realidade, por meio do
monitoramento e resposta aos pensamentos automáticos, pode se tornar um exame
crítico, difícil de engajamento. No entanto, por meio das técnicas da terapia cognitiva,
torna-se possível que aos poucos o indivíduo consiga ir aprendendo a realizar esse
processo. Inclusive, isso engloba um dos objetivos da terapia: ajudar o paciente a se
conscientizar quanto aos seus pensamentos automáticos e sua inferência nas emoções
e comportamentos.
Nesse sentido, já adiantando, de modo breve, questões sobre o papel do profissional dessa
área, é essencial que o terapeuta cognitivo comportamental dê ênfase na observação
e classificação dos pensamentos apresentados pelo cliente, de modo conjunto com
o mesmo, em termos de grau de ajustamento psicossocial e cultural, considerando
também a sua interação com o meio ambiente em que vivencia. Mais ainda, analisar
como ele se adapta aos valores que apresenta e o quanto esse sistema o beneficia ou o
prejudica, no que se refere ao alcance de seus mais diversos objetivos, considerando que
é por meio desse processo que o levantamento inerente às propostas de intervenções
psicológicas surge. Na tabela abaixo, visualiza-se a classificação e análise de alguns
pensamentos automáticos disfuncionais, assim como a apresentação dos mesmos no
modelo funcional:
Quadro 2.
Invariante Variável
“Sempre serei uma pessoa injusta” “Minha injustiça varia conforme a situação”
Irreversibilidade Reversibilidade
“Nada mudará” “Posso aprender a mudar”
Fonte: NETO et al. (2003).
18
TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC │ UNIDADE I
No caso das crenças centrais, elas dizem respeito a entendimentos que são tão
fundamentais e profundos, que os indivíduos não os articulam frequentemente, nem
para si próprios. Podemos falar que elas são representadas como verdades absolutas e
se mantêm mesmo de forma não adaptativa e funcional, pois a pessoa possui a tendência
de focar selecionando dados que confirmem a crença central, desconsiderando
informações contrárias. Esses dados explicam também o porquê dessas crenças serem
caracterizadas como globais, supergeneralizadas e rígidas (BECK, 1997).
19
UNIDADE I │ TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC
De acordo com J. Beck (2007), pessoas com crenças centrais negativas, a respeito de si
próprias, apresentam, de modo geral, funcionamento dentro de categorias voltadas ao
conteúdo de desamparo, desamor e desvalorização. O primeiro refere-se ao sentimento
de incompetência, o segundo ao desmerecimento de amor e o terceiro ao significado
negativo atribuído à própria natureza. Alguns exemplos de crenças centrais negativas
sobre si, os quais podem ser identificados nessas três diferentes categorias de crenças
negativas, podem ser vistos a seguir:
Quadro 4.
Categorias de crenças
centrais negativas Exemplos de crenças centrais negativas sobre si.
sobre si.
Sou incapaz, inadequado, ineficiente, fraco, descontrolado, uma vítima, vulnerável, sem recursos, passível de
maus-tratos, inferior, um fracasso, um perdedor.
Desamparo.
Não consigo me proteger, não consigo mudar, não tenho atitude/objetivo, não sou bom o suficiente, não sou igual
aos outros.
Sou indesejável, indigno de amor, diferente, feio, defeituoso, imperfeito, monótono, negligenciado, rejeitado,
Desamor. abandonado, sozinho, relegado à própria sorte.
Não sou amado, querido, bom o suficiente para ser amado.
Sou sem valor, inaceitável, mau, louco, derrotado, um nada, um lixo, cruel, perigoso, venenoso, maligno.
Desvalorização.
Não mereço viver, receber atenção.
20
TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC │ UNIDADE I
Kuyken, Padesky e Dudley (2010) ensinam que uma forma de detectar a presença de
uma crença central é observando os pensamentos que são acompanhados de emoções
intensas, que não se transformam mesmo diante de evidencias contraditórias. Esses
autores também se referem às crenças centrais como aquelas que as pessoas têm a
respeito de si própria, dos outros/do mundo e do futuro, fatores estes que nos remetem
novamente ao conceito de tríade cognitiva, o qual engloba essas três percepções que o
indivíduo significa de forma única.
Alguns autores referem-se à crença central como sendo o nosso DNA ou algo visceral,
que não se consegue expressar ou traduzir em palavras o exato valor do conteúdo dessa
crença (ARAÚJO; SHINOHARA, 2002).
Considerando os aspectos dos três níveis de cognição analisados, observa-se que eles se
inter-relacionam. Uma crença central origina crenças intermediárias que, por sua vez,
traz pensamentos automáticos, também disfuncionais, em situações de desempenho.
Assim, cada distúrbio psicológico de cada indivíduo tem relação com um conjunto
de crenças centrais, crenças intermediárias e pensamentos automáticos específicos
(FREEMAN; DATTILIO, 1998).
A relação apresentada a seguir ilustra o modelo cognitivo, que tem como crença
central o tema voltado ao fracasso/incompetência, de modo que lança luz a respeito
dos aspectos discutidos nos parágrafos anteriores, apontando a ligação existente
entre crenças centrais e intermediárias, com os pensamentos automáticos, emoções e
comportamentos de um indivíduo, em determinado contexto:
21
UNIDADE I │ TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC
Quadro 5.
Crença central
Eu sou incompetente.
↓
Crença intermediária
↓
Situação → Pensamentos Automáticos → Reações
Ler este livro → Isso é difícil demais. → Emocional
Tristeza
→ Comportamental
Fecha o livro
→ Fisiológica
Peso no abdômen
Fonte: Beck (1997).
22
TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC │ UNIDADE I
em sua vida. Esse conjunto ou sistema pode ser comparado a uma rede estruturada
e inter-relacionada de crenças e pensamentos, que guiam o indivíduo em suas ações,
em vários eventos do seu cotidiano, e que pode ser descrito também como esquema
(KNAPP, 2004).
23
UNIDADE I │ TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC
Podemos concluir, por meio dessas colocações, que, na prática, a formulação funciona
como um guia apontando o funcionamento do indivíduo e estruturando o curso do
tratamento, de forma a unificar e priorizar os sintomas, influenciar na escolha das
intervenções e o momento de utiliza-las e, ainda, possibilitar a prevenção de possíveis
problemas (ARAÚJO; SHINOHARA, 2002).
24
TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TCC │ UNIDADE I
25
TÉCNICAS DA
TERAPIA COGNITIVA UNIDADE II
COMPORTAMENTAL
CAPÍTULO 1
Delineamento das principais técnicas,
suas metas e seus objetivos
As formas de terapia cognitiva que têm por base o modelo Beck, realizam o tratamento
por meio do processo de formulação cognitiva de um transtorno específico e sua
aplicação à conceituação ou compreensão do paciente individual. Como já discutido
anteriormente, o objetivo primordial de tal processo envolve a produção de mudança
cognitiva, no que se refere ao pensamento e sistema de crenças da pessoa, em busca da
transformação emocional e comportamental (BECK, 1997).
Não existe uma receita pronta com estratégias e técnicas, as quais devem ser utilizadas de
modo isolado, mecânico e generalizável com qualquer paciente. Como afirmado antes,
26
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II
Pergunta básica:
27
UNIDADE II │ TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL
28
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II
Instruções: Quando você notar seu humor ficando pior, pergunte-se: O que está passando no meu pensamento? E anote, logo que possível, o
pensamento (ou imagem mental) na coluna Pensamento Automático. Identifique, então, qual a emoção, sentimento ou estado de humor que você
sentiu quando teve este pensamento. A seguir, verifique quão realistas ou verdadeiros são estes pensamentos e construa uma resposta mais racional,
com pensamentos alternativos mais adequados para a situação.
Avalie quanto mudou seu pensamento e sua emoção original.
29
UNIDADE II │ TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL
Com relação a isso,Beck (1997) afirma que avaliar a utilidade e validade dos pensamentos
automáticos, considerando a produção e o desenvolvimento de respostas adaptativas a
eles, é capaz de gerar uma mudança de afeto com conteúdo positivo.
30
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II
Nos quadros a seguir podemos entender de modo mais claro a utilização da ferramenta
da escala de intensidade emocional, a qual auxilia na classificação quanto ao grau de
emoções vivenciadas, em situações diversas do paciente. O primeiro refere-se ao quadro
geral da escala, o qual sempre é apresentado aos pacientes, direcionando-os quanto à
forma de identificação inerente à intensidade de suas emoções. Já o segundo quadro
apresenta a escala de intensidade discutida no parágrafo anterior, a qual é utilizada nos
casos que envolvem dificuldades, por parte dos pacientes, na identificação do grau de
suas emoções.
Quadro 9.
Sem tristeza alguma Um pouco triste Medianamente triste Bastante triste O mais triste que eu já
estive ou poderia imaginar
estar
Fonte: Beck (1997).
Quadro 10.
31
UNIDADE II │ TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL
Percebe-se que por meio da técnica do registro de pensamento automático, trabalha-se com
as emoções e os comportamentos decorrentes, o que torna o terapeuta capaz de observar
pensamentos tendenciosos nesses ciclos, também levantando crenças irracionais as quais
fazem parte do funcionamento do paciente. Nesse sentido, o autor Albert Ellis elaborou
uma lista com crenças irracionais, que auxiliam quanto ao entendimento a respeito dos
pensamentos disfuncionais e suas características, as quais já foram discutidas acima
(ELLIS, 1976; ELLIS, 1994; ELLIS; LANGE, 1994).
De acordo com o autor estimado acima, os dez (10) exemplos delineados abaixo
representam cognições bastante comuns, apontando erros de pensamentos que são
possíveis de serem identificados e trabalhados, a partir das intervenções da terapia
cognitiva comportamental:
3. “As pessoas e as coisas devem ser sempre como eu quero que sejam – se
não forem, será o fim, terrível, insuportável”.
32
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II
10. “Pessoas e coisas ruins não deveriam existir e, quando existem, devem
me perturbar seriamente!”.
Essa técnica levanta questionamentos a respeito das evidências reais que o paciente
possui quanto as suas declarações, ajudando-o a avaliar e testar seus pensamentos
automáticos, de forma a comprovar a realidade e obter uma perspectiva mais realista
dos acontecimentos. Esse teste de realidade permite que os pensamentos se tornem
33
UNIDADE II │ TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL
hipóteses, que serão testadas e, muitas vezes, os pacientes são surpreendidos trazendo
uma nova perspectiva para os seus anseios (ARAÚJO; SHINOHARA, 2002).
Tal questionamento, no início, acontece por meio do auxílio do terapeuta, que irá
ajudar nesse processo de testar a validade das ideias inadequadas e buscar respostas
mais racionais para os problemas. O conteúdo das perguntas e respostas englobam
buscas por evidências que comprovem ou contradigam o pensamento, também
podendo envolver explicação alternativa sobre certa situação, como se observa nos
exemplos das perguntas que o quadro anterior demonstra. Mais ainda, os pensamentos
também são analisados em termos de utilidade, levando o paciente a refletir em torno
das desvantagens e vantagens ao acreditar plenamente em determinado ponto de vista
(PEÇANHA, 2005).
34
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II
Quadro 12.
Instrução: Quando você perceber o seu humor piorando, pergunte a si mesmo “O que está passando pela minha cabeça agora?” e, assim que
possível, anote o pensamento ou imagem mental na coluna Pensamento Automático.
Data/ Hora Situações Pensamento(s) Emoção(ões) Respostas Resultado
automático(s) adaptativas
1. Que evento 1. Que pensamento(s) 1. Que emoção(ões) 1. (opcional) Que distorção1. Quanto você
real, fluxo de e/ou imagem(ns) passou (tristeza/ansiedade/ cognitiva você realizou? acredita agora em
pensamentos, pela sua cabeça? raiva etc.) você sentiu cada pensamento
2. Use as perguntas abaixo
devaneios ou no momento? automático?
2. Quanto você para compor uma resposta
recordações
acreditou em cada um 2. Quão intensa ao(s) pensamento(s) 2. Que emoção(ões)
levaram à emoção
no momento? (0-100%) foi a automático(s). você sente agora? Quão
desagradável?
emoção? intensa (0-100%) é a
3. Quanto você acredita
2. Qual (se houver) emoção?
em cada resposta?
sensação física
3. O que você fará (ou
aflitiva você teve?
fez)?
Sexta, 8/2003 Pensando sobre Ele não vai querer ir Triste 75%. (Erro de adivinhação). 1. P.A. – 50%.
perguntar ao Bob comigo.
3h da tarde Na realidade eu não sei se 2.Tristeza – 50%.
se ele quer tomar
90%. ele quer ou não (90%).
café. 3. Ansiedade – 50%.
Ele é afetuoso comigo na
aula (90%).
A pior coisa que
acontecerá é que ele dirá
não e eu me sentirei mal
por algum tempo (90%).
O melhor é que ele dirá
sim (100%).
O mais realista é que
ele pode dizer que está
ocupado, mas ainda agir
de forma amigável (80%).
Se eu continuar supondo
que ele não quer sair
comigo, eu não terei
nenhuma chance com ele
(100%).
Eu deveria apenas levantar
e perguntar a ele (100%).
O que é que tem de mais,
de qualquer forma? (75%).
Perguntas para ajudar a compor uma resposta alternativa: (1) Qual é a evidência de que o pensamento automático é verdadeiro? Falso? (2) Há
uma explicação alternativa? (3) O que é o pior que poderia acontecer? Eu poderia superar isso? O que é o melhor que poderia acontecer? Qual é o
resultado mais realista? (4) Qual é o efeito de eu acreditar no pensamento automático? Qual poderia ser o efeito de eu mudar o meu pensamento?
(5) O que eu deveria fazer em relação a isso? (6) Se __________ [nome do amigo] estivesse na situação e tivesse esse pensamento, o que eu
diria para ele?
Fonte: Beck (1997).
ela engloba a consideração de experiências que podem ser realizados dentro ou fora do
consultório, sendo aplicadas sozinhas ou ao mesmo tempo em que o questionamento
socrático (KNAPP, 2004).
Quadro 13.
Eu não sei o que dizer para ele. A paciente dramatiza a si mesma enquanto o terapeuta interpreta a
outra parte.
Eu não consigo [me fazer] telefonar para marcar uma consulta no A paciente faz a chamada telefônica do consultório.
médico.
Não há empregos para os quais eu seja qualificada. A paciente revisa anúncios classificados com o terapeuta.
Seu eu ficar cada vez mais tonta eu desmaiarei. A paciente fica tonta através da hiperventilação enquanto gira em
uma cadeira (CLARK, 1989).
36
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II
37
CAPÍTULO 2
Apresentação de técnicas cognitivas
comportamentais complementares
Vale ressaltar que as técnicas complementares também deverão ser levadas em conta a
partir da análise do terapeuta quanto a conceituação geral, metas e objetivos específicos
de seu paciente.
Resolução de problemas
Essa técnica envolve a criação, de modo conjunto com o paciente, de uma lista de
problemas, no qual o terapeuta vai indagando a respeito dos problemas que surgem em
seu cotidiano, encorajando-o a agir diante de resoluções a respeito desses contratempos,
à medida que sugere algumas soluções possíveis e o instrui oferecendo algumas
orientações.
38
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II
A tomada de decisões
Essa técnica envolve uma intervenção bastante simples, sendo desenvolvida a partir
da consideração quanto à dificuldade de alguns pacientes no processo de tomar
decisões.
Nesse trabalho, o terapeuta solicita que o cliente classifique as desvantagens, bem como
as vantagens, de cada contexto considerado na sessão que está lhe gerando dúvida.
Posteriormente, ambos desenvolvem um sistema que considerará cada item e situação
levantada e seus aspectos associados à vantagem e desvantagem, lançando luz diante
de informações essenciais para a extração de uma conclusão, no que se refere à melhor
opção a ser acatada (BECK, 1997). A lista a seguir mostra a análise de vantagens e
desvantagens, voltadas a situações relacionadas ao emprego e curso de férias de uma
paciente.
39
UNIDADE II │ TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL
Quadro 15.
Fazer a análise quanto a dois ou mais itens é importante, haja vista, que ao examinar
as vantagens e desvantagens de um, o paciente é favorecido a lembrar alguns aspectos
relacionados ao outro item. O cliente e terapeuta continuam esse exercício até que
o primeiro afirme que sente que registrou de modo completo e preciso o mesmo (J.
BECK, 1997).
O próprio nome dessa técnica acusa sua principal função: monitorar as atividades do
paciente. Contudo, ela pode ser acompanhada de duas tabelas: a primeira se restringe
mais à anotação de todas as suas tarefas diárias, juntamente com o grau de realização
(R) e prazer (P) que ela sentiu ao vivenciar cada uma, em cada horário detalhado na
coluna correspondente; já na segunda, ela engloba uma escala que especifica, de modo
bem mais claro, as tarefas que lhe provocam mais o sentimento de realização e prazer,
possibilitando reflexões diante dessas questões (BECK, 1997).
Assim, diante das informações coletadas acima, o trabalho pode ser direcionado à
monitoração e medição de humores negativos, ao agendamento referente às atividades
mais prazerosas ou mais difíceis, além da verificação das previsões. Os dados
levantados são essenciais para mudanças significativas ocorrerem, as quais melhoram
significativamente seu humor, pois permitem a identificação quanto à existência de
padrões e pensamentos automáticos aflitivos (BECK, 1997).
40
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II
41
UNIDADE II │ TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL
Tabela 2.
Essa técnica pode auxiliar o paciente a planejar de modo mais produtivo o seu tempo,
encoraja-lo no sentido de se comprometer com relação a mudanças necessárias e
identificar os pensamentos que lhe prejudicam em seus processos de transformações.
Tudo isso ocorre de forma colaborativa com o terapeuta, o qual utiliza a tabela de
atividade para observar pensamentos automáticos que interferem nas questões
do prazer, podendo trabalhar com o cliente em direção a novos pensamentos, que
teriam afetado de modo mais positivo seu humor, propondo novas atividades e novos
pensamentos para a tabela de atividades do paciente, aprimorando-a a partir das
singularidades do mesmo (BECK, 1997).
Relaxamento
42
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II
Essa técnica é bastante utilizada nos casos de fobia social, transtorno do pânico e/ou
psicopatologias que envolvam intensos sintomas fisiológicos de ansiedade em situações
cotidianas, não se restringindo á situações de desempenho (OST; JERREMALM;
JOHANSSON, 1981).
Cartões de enfrentamento
Os cartões de enfrentamento constituem pequenos cartões que os pacientes devem
ler frequentemente, normalmente três vezes por dia, e, por isso, devem deixa-los
em lugares de fácil e constante acesso. Eles contêm informações a respeito de um
pensamento automático ou crença, com respostas adaptativas de um lado e do outro
com estratégias comportamentais para utilização em casos problemáticos específicos,
compondo autoinstruções para motivas o paciente (BECK, 1997).
Quadro 16.
CARTÃO DE ENFRENTAMENTO 1
(Lado 1)
Pensamento automático:
Eu não consigo fazer isso.
(Lado 2)
Resposta adaptativa:
Bem, eu poderia sentir que eu não consigo fazer isso, mas isso pode não ser verdade. Muitas vezes, no passado, eu pensei que não conseguiria
ler e entender esse texto, mas se eu realmente continuo e abro o livro e começo a ler, eu de fato entendo, pelo menos até certo ponto. Pode ser
difícil, mas provavelmente não é verdade que eu não consigo fazer isso. O pior que pode acontecer é que eu começarei a ler e não entenderei, mas,
então, posso parar ou perguntar para alguém sobre isso ou fazer outro trabalho em vez desse. Isso seria melhor do que simplesmente não tentar.
Pensamento negativo apenas abala a minha motivação. Eu deveria continuar e testar a ideia de que eu não consigo fazer isso.
Fonte: Beck (1997).
43
UNIDADE II │ TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL
Existe um segundo tipo de cartão de enfrentamento, mais voltado para o cliente passar
por situações que julga serem as mais difíceis. Dessa forma, de modo também conjunto
com o terapeuta, estratégias e sugestões, que possam ser úteis para o cliente enfrentar
as situações que mais teme, são desenvolvidas para o mesmo sempre ter em mãos os
aspectos mais importantes que devem ser lembrados nas situações mais delicadas. Isso
pode ser descrito como cartão de enfrentamento dois (2) e, no quadro a seguir, elucida-se
um exemplo, diante de uma situação que envolve o sentimento de ansiedade,
Quadro 17.
CARTÃO DE ENFRENTAMENTO 2
Estratégias para quando eu estou ansiosa
1. Fazer um Registro de Pensamento Disfuncional.
2. Ler os cartões de enfrentamento.
3. Ligar para um amigo.
4. Sair para caminhar ou correr.
Fonte: Beck (1997).
Quadro 18.
CARTÃO DE ENFRENTAMENTO 3
Quando eu desejo pedir ajuda ao professor
1. Relembrar a mim mesmo que isso não é grande coisa. O pior que pode acontecer é ele ser indelicado.
2. Lembrar que isso é uma experiência. Mesmo que ela não funcione desta vez, é uma boa prática para mim.
3. Se ele for indelicado, provavelmente isso não tem nada a ver comigo. Ele pode estar ocupado ou irritado com alguma outra coisa.
4. Mesmo que ele não possa me ajudar, e daí? Será um fracasso dele como professor, não meu como aluno. Isso significa que ele não está fazendo
o trabalho dele de forma adequada.
5. Então, eu deveria ir procura-lo agora. Lembre-se, na pior das hipóteses, é uma boa prática.
Fonte: Beck (1997).
44
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II
Exposição graduada
Quando se trata de alcançar uma meta, constantemente os pacientes tornam-se
confusos, ansiosos e desmotivados, ao dar foco na enorme distância que ainda existe
para alcançarem esse processo. Por isso, ao se discutir as etapas e os passos necessários
para se chegar em determinado objetivo, enfatiza-se aspectos voltados para o período
mais atual e presente, sendo frequentemente mais tranquilizador para o cliente
(BECK, 1997).
Dessa forma, atividades que estão associadas a baixos ou moderados níveis de ansiedade,
por exemplo, são consideradas para o paciente coloca-las em prática primeiramente
e em modo gradual. Desse modo, elabora-se uma hierarquia entre as atividades que
serão realizadas, propondo-se a realização de cada tarefa em momentos diferentes e
por etapas, a fim de obter uma queda na ansiedade do cliente ao realizar as de menor
dificuldade, até que ele possa fazer a atividade, que julga lhe gerar mais ansiedade, com
relativa facilidade (BECK, 1997).
Figura 6.
Expressar
sua opinião
em classe
Responder
a uma
pergunta
em aula
Fazer uma
pergunta
em aula
Fazer uma
pergunta ao
professor depois
da aula
45
UNIDADE II │ TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL
De acordo com J. Beck (1997), nessa técnica, o paciente pode ser estimulado a trabalhar
mais em uma hierarquia ou exposição graduada, se preencher uma tabela ou gráfico
de atividades. Esse instrumento pode ser simples, apresentando espaços para o
preenchimento de informações relacionadas à data, atividade e nível de ansiedade.
Contudo, pode ser mais elaborado, como mostra o quadro a seguir, contento espaços
para o preenchimento de dados voltados às técnicas de enfrentamento utilizadas, bem
como para a anotação das previsões percebidas, ou seja, dos pensamentos que ele previu
e não ocorreram, tarefa esta que contribui para a reflexão do paciente com relação à
falta de precisão que muitos de seus pensamentos apresentam, algo que, por sua vez,
facilita o seu processo de questionamento e ressignificação.
Quadro 19.
Role-play (dramatização)
O role-play envolve uma técnica que pode auxiliar o processo de aprendizagem e prática
de algumas habilidades sociais do paciente, além de contribuir na identificação de
pensamentos automáticos, no desenvolvimento de resposta racional e na modificação
de crenças intermediárias e centrais no trabalho psicoterápico. O terapeuta avalia as
habilidades que o paciente já apresenta, para depois decidir como usar essa técnica,
diante da escolha quanto à habilidade que deve ser desenvolvida. Por exemplo, o
profissional pode fazer uso dessa técnica para identificar pensamentos automáticos ou
para ensinar habilidades de assertividade (BECK, 1997).
Nessa direção, durante a sessão, o terapeuta propõe um problema, trazido pelo cliente,
o qual envolve alguma dificuldade de relacionamento interpessoal ou dificuldade do
cliente em participar de algum contexto. A técnica, assim, funciona como uma espécie
de ensaio comportamental, de modo que se encena ou simula a situação-problema, o
paciente e o terapeuta desempenhando papéis de acordo com a situação que o cliente
trouxe como queixa para a sessão, tentando simular o contexto hipotético da forma
mais próxima a que aconteceu de fato (SOUZA; ORTI; SILVA, 2012).
46
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II
Esse tipo de dramatização possibilita que emoções e atitudes surjam, as quais poderão
ser trabalhadas a partir de suas análises, possibilitando o paciente a representar e
enfrentar possíveis bloqueios e inibições (SOUZA; ORTI; SILVA, 2012).
Figura 7.
Diversão Amigos
Amigos
Lado intelectual
escola/trabalho
Lado intelectual
escola/trabalho
47
UNIDADE II │ TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL
Esse tipo de técnica também pode possibilitar a visão do paciente quanto às causas
existentes para alguns resultados que surgem em sua vida, ou seja, o gráfico aponta tal
processo de causalidade. No caso de um paciente que atribua incapacidade para uma
nota ruim que tirou em uma prova, o terapeuta investiga e estimula outras explicações
existentes possíveis, as quais também merecem ser consideradas no sentido de terem
influenciado o resultado obtido (BECK, 1997). Podemos observar na imagem a seguir
um exemplo do gráfico em forma de torta para causalidade.
Figura 8.
#7
Incapacidade #1
O professor não
ensina bem
#6 #2
Depressão e ansiedade O teste estava
reduziram minha
difícil
concentração
#3
#5
Algum material #4 Má sorte
não-ensinado Pediu
em aula emprestado
anotações de
aula
48
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II
(Coisas que eu fiz que foram positivas ou foram um pouco difíceis, mas as fiz assim mesmo)
1. Tentei acompanhar o que foi dito na sala de aula de estatística.
2. Terminei de digitar o meu trabalho e o entreguei.
3. Conversei com Júlia no almoço.
4. Liguei para Jon para confirmar o trabalho de química.
5. Preparei o jantar em vez de ir dormir.
6. Li o capítulo 5 do livro de economia.
Fonte: Beck (1997).
Essa técnica possui ainda mais relevância considerando que ela tem capacidade de
preparar o paciente a questionar as crenças centrais, observadas no progresso da terapia,
estimulando seu potencial em analisar pensamentos e situações positivas alternativas,
as quais lhe auxiliarão no processo de questionamento e reelaboração de novas crenças,
que refletirão em um modo de funcionamento mais adaptativo.
49
CAPÍTULO 3
Considerações referentes às técnicas
da terapia cognitiva comportamental e
o público adolescente e infantil
Nesse sentido, a terapia também assume como foco o auxílio para o indivíduo
reconhecer e transformar padrões de pensamentos distorcidos, emoções negativas
e comportamentos disfuncionais, ou seja, segue os mesmos princípios que a terapia
com os adultos, considerando a premissa de que existe influência e interação entre
pensamentos, sentimentos e comportamentos da pessoa. Mais, ainda, reconhece que
as variáveis cognitivas, afetivas e comportamentais assumem grande importância nos
desenvolvimentos e manutenções dos transtornos (HELDT et. al., 2013).
Dependendo dos fatores citados acima, torna-se possível trabalhar, durante as sessões,
com a utilização de metáforas, as quais podem servir de comparação e reflexão diante
de fatos que ocorrem e/ou ocorreram na vida do paciente, com jogos, que englobem
aspectos de disputa, perda ou ganho, podendo trazer à tona aspectos de suas relações
50
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II
interpessoais e com qualquer outro tipo de brincadeira, a qual envolva uma linguagem
mais acessível e compreensível, no caso das crianças, e mais característica da fase
adolescente. Tais cuidados podem contribuir para seus os pensamentos, sentimentos e
comportamentos emergirem de forma mais clara, durante o processo psicoterapêutico,
de modo que o profissional também poderá participar e se inserir, inclusive, nas
questões relacionadas aos sonhos e fantasias, aspectos presentes nessa fase de vida
(BALIEIRO JUNIOR, 2001).
Nessa direção, uma sala que contenha diversos materiais interativos, como, por exemplo,
massa para modelar, bonecos, jogos, tintas, fantoches e lápis de cor, bem como alguns
quadros de super-heróis, personagens de desenhos e séries, infantis e juvenis, podem
criar um ambiente no qual a criança e o adolescente se sintam mais à vontade, pois
tendem a se identificar e reconhecer mais o ambiente que possui características em
comuns com as de seu cotidiano (PETERSEN; WAINES et al., 2011).
51
UNIDADE II │ TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL
Figura 9.
A inclusão dos pais no âmbito da psicoterapia com crianças e adolescentes, que tenham
problemas comportamentais e emocionais, aumenta a chance de obtenção de benefícios
a partir do tratamento. Os pais podem participar por meio de duas formas, como
colaboradores ou como consultores, no processo psicoterapêutico. Na primeira forma,
eles se envolvem com a implementação dos programas de tratamento, já na segunda
forma eles fornecem suporte que auxiliam no sentido de buscar uma determinação
quanto à natureza da dificuldade da criança ou adolescente (KENDALL, 2006).
52
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II
Com relação aos pensamentos automáticos, para as crianças pode-se utilizar a técnica
de desenhar balões em branco, os quais serão preenchidos por ela e depois os conteúdos
serão discutidos com o terapeuta, a fim de que haja um aprimoramento quanto à visão
da situação e do pensamento registrado. O Baralho das Emoções, o qual é composto por
quarenta e duas (42) cartas, sendo que metade é voltada para meninos e a outra metade
para meninas, apresenta desenhos expressando emoções específicas, que também pode
ser utilizado ao longo do tratamento, no sentido de auxiliar o profissional a trabalhar,
com mais propriedade, na identificação das emoções infantis. Em se tratando dos
adolescentes, o profissional pode solicitar a criação de um diário e/ou caderno de
anotações, em que eles devem descrever, de forma sucinta, pensamentos que surgem
em determinadas situações. Assim, a partir de todas essas intervenções, o terapeuta
poderá identificar padrões, destacar aspectos que considera mais importantes, além
de propor a reflexão dos pais e dos pacientes diante de alguns conteúdos registrados
nesses instrumentos (STALLARD, 2010).
53
UNIDADE II │ TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL
54
TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE II
Figura 10.
55
UNIDADE II │ TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL
56
O PSICÓLOGO NA TCC UNIDADE III
CAPÍTULO 1
As competências do terapeuta
O primeiro deles ressalta que a terapia deve se basear em uma formulação contínua do
funcionamento do paciente e seus problemas, ou seja, ao longo da terapia, o terapeuta e
o cliente analisam as experiências deste último por meio do modelo cognitivo (KUYKEN
et al., 2010).
Esse primeiro princípio é considerado como um dos fatores que diferencia a terapia
cognitiva-comportamental de outras terapias, pois aponta o processo contínuo da
formulação de caso e a possibilidade da participação do cliente nesse processo (ROSO,
2011). Desde o início, o terapeuta identifica o pensamento presente, mantenedor de
sentimentos negativos, para, posteriormente, verificar possíveis fatores que precipitam
e influenciam as percepções disfuncionais do paciente. Desse modo, ele levanta hipótese
quanto a padrões persistentes de interpretações, que podem predispor a pessoa a
respostas menos adaptativas (BECK, 1997).
O terapeuta, em seu primeiro encontro, delineia sua formulação a partir dos dados da
sessão primária e refina essa conceituação continuamente, ao longo da terapia, diante
de novos dados que vão surgindo. Ele compartilha a conceituação com o paciente, de
57
UNIDADE III │ O PSICÓLOGO NA TCC
modo que verifica se está indo na direção correta, como também auxilia o paciente a
enxergar sua experiência por meio do modelo cognitivo, algo que, por sua vez, contribui
para que ele próprio perceba os pensamentos ligados a seus afetos angustiantes e
formule novas respostas, estas mais funcionais, frente a eles (BECK, 1997).
No processo citado acima, observa-se que os problemas são abordados por meio de
metas voltadas para o aqui e agora, fator este que representa um quinto princípio.
58
O PSICÓLOGO NA TCC │ UNIDADE III
O forte foco voltado aos problemas atuais, os quais são identificados pela avaliação
mais realista das experiências que são, no momento, angustiantes, frequentemente
conduzem à redução dos sintomas (BECK, 1997).
A terapia cognitiva também visa educar e ensinar o paciente a ser seu terapeuta,
enfatizando a prevenção de recaída. Destarte, o terapeuta o auxilia no estabelecimento
de metas, na identificação e avaliação de pensamentos e crenças disfuncionais e no
planejamento de mudanças comportamentais, ensinando-o a forma de realizar cada um
desses processos. Assim, o sexto princípio dessa abordagem destaca o fato de a terapia
cognitiva ser educativa, apontando também o papel do terapeuta no que se refere a
encorajar o cliente no registro de ideias importantes, que possam servir de apoio após
o encerramento do trabalho (BECK, 1997).
J. Beck (1997) fala que, como regra, a terapia cognitiva objetiva ter um tempo limitado,
tendo um número de sessões mais ou menos padronizado. No entanto, esse sétimo
princípio varia, considerando que alguns pacientes requerem muito mais ou muito
menos tempo de terapia, ou seja, o caso de cada paciente é extremamente singular.
Assim, o terapeuta deve avaliar e analisar o progresso de cada trabalho psicoterápico,
já que crenças disfuncionais, que apresentam características muito rígidas e padrões
comportamentais contribuintes para a angústia crônica, indicam necessidade de mais
tempo de terapia, por exemplo.
59
UNIDADE III │ O PSICÓLOGO NA TCC
Finalmente, o décimo e último princípio afirma que a terapia cognitiva faz uso de técnicas
variadas para modificar humor, pensamento e comportamento. As estratégias cognitivas
são centrais na terapia, como a descoberta orientada e o questionamento socrático,
mas outras orientações também são utilizadas pelos terapeutas, principalmente as das
abordagens comportamental e gestalt, que são consideradas a partir de uma estrutura
cognitiva. A ênfase no tratamento irá depender do transtorno e do paciente trabalhado
em questão, devendo o terapeuta estipular técnicas tendo por base seus objetivos nas
sessões e sua formulação de caso, esta última envolve nossa próxima discussão na
unidade seguinte (BECK, 1997).
60
A PRÁTICA NA
TERAPIA COGNITIVA UNIDADE IV
COMPORTAMENTAL
CAPÍTULO 1
Estudo sobre o tema da
conceitualização de casos
61
UNIDADE IV │ A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL
62
A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE IV
De forma sucinta, para a formulação ser efetiva, o profissional deverá procurar aspectos
específicos com o seu cliente, como, por exemplo, o diagnóstico clínico, os anseios
atuais do paciente, bem como os fatores estressores precipitantes desses problemas,
suas predisposições genéticas e familiares, os pensamentos automáticos e as crenças
intermediárias e centrais apresentadas no caso dele (KNAPP; ROCHA, 2003).
Todos esses pontos são trabalhados e reavaliados no curso da terapia, por meio de
relatos de aspecto subjetivo do paciente e dos instrumentos objetivos disponíveis ao
terapeuta (RANGÉ, 2001a).
Assim, a conceitualização não deve ser tomada como verdade sobre o paciente,
envolvendo, portanto, hipóteses sobre o seu funcionamento e que poderão ser
reanalisadas posteriormente (ARAÚJO; SHINOHARA, 2002).
63
CAPÍTULO 2
O Diagrama de Conceitualização
Cognitiva
64
A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE IV
Figura 11.
DIAGRAMA DE CONCEITUALIZAÇÃO COGNITIVA
CRENÇAS NUCLEARES
PRESSUPOSTOS / REGRAS
ESTRATÉGIAS COMPENSATÓRIAS
65
UNIDADE IV │ A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL
Nesse sentido, as utoras citadas acima propõem uma sistematização quanto ao processo
de conceitualização, discorrendo sobre seis etapas importantes, no que se refere ao
preenchimento do diagrama em questão. A primeira etapa, a qual já foi citada no
parágrafo anterior, ocorre quando o terapeuta já realizou o levantamento de informações
a respeito da história de vida do paciente. As demais etapas serão apresentadas no
decorrer da discussão deste capítulo, haja vista que englobam reflexões direcionadas
ao auxílio dos profissionais, no que se refere ao desenvolvimento de habilidades para a
conceitualização cognitiva de casos.
Desse modo, o paciente também pode participar dessa tomada de decisão, construindo
também a conceitualização com o terapeuta. Essa participação é importantíssima no
processo terapêutico, já que, quando o cliente se percebe cognitivamente, sua motivação
e colaboração melhoram sensivelmente e os resultados também, consequentemente
(KUYKEN et al., 2010).
66
A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE IV
para essa situação específica. Diante de um diagnóstico desse tipo, aconselha-se ao seu
não compartilhamento, visto que esse relato tende a atrapalhar mais do que ajudar o
processo terapêutico. Assim, nessas situações, podem-se discutir as características e o
modo de funcionamento cognitivo-comportamental do cliente, sem evidenciar o nome
do transtorno descoberto, pois dessa forma o trabalho terapêutico poderá ter maior
benefício diante desse processo.
67
UNIDADE IV │ A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL
Dessa forma, o terapeuta coleta dados que vão apresentando uma conceitualização
abrangente do cliente. Para facilitar esse processo discutido no paragrafo anterior,
criou-se um mapa de situações por área da vida, o qual pode ser visto na tabela seguinte:
Tabela 3.
Situação 1:
Pensamento Automático
(PA):
Significado do PA:
Emoção e Reação
fisiológica (RF):
Comportamento:
Sobre os
outros/mundo Situação 2:
Pensamento Automático
(PA):
Significado do PA:
Emoção e Reação
fisiológica (RF):
Comportamento:
Situação 1: Situação 2:
Pensamento Automático Pensamento Automático (PA):
(PA):
Sobre o Significado do PA: Significado do PA:
futuro Emoção e Reação Emoção e Reação fisiológica (RF):
fisiológica (RF):
Comportamento: Comportamento:
68
A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE IV
Destarte, por meio do mapa pode-se antes sistematizar a coleta de dados, apresentando
uma visão mais extensa de uma dificuldade ou sintoma presente na vida dele,
coletando situações suficientes para a elaboração da conceitualização cognitiva do
cliente na sessão. O terapeuta, nesse sentido, é estimulado a analisar todas as áreas
da vida do cliente. Assim, o paciente coleta muitas informações sobre o cliente, de
modo que o auxilia no processo de identificação quanto aos pensamentos, emoções e
comportamentos em cada situação, levantando sua maneira de pensar, sentir e agir.
Esse processo é bastante singular, pois o profissional vai encontrar formas de explicar o
modelo cognitivo e o sistema de crenças, a partir do diagrama, que façam sentido para
cada cliente (NEUFELD; CAVENAGE, 2010).
No caso das crianças, a utilização de uma linguagem mais lúdica e simples torna-se
mais eficaz, enquanto que para alguns adultos os termos técnicos ou palavras eruditas
podem ser utilizadas. Contudo, cada caso apresentará uma demanda específica quanto
a explicação e linguagem necessária para auxiliar o paciente na identificação dos
pensamentos automáticos, principalmente, e na compreensão do modelo cognitivo.
Assim, nesse instrumento, devem-se estar incluídos os três grupos de crenças centrais,
que constituem a tríade cognitiva. Dessa forma, as crenças sobre si mesmo, sobre
os outros e/ou sobre o mundo e sobre o futuro devem estar presentes no mesmo
(NEUFELD; CAVENAGE, 2010).
69
UNIDADE IV │ A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL
Nesse sentido, de modo sucinto, observa-se que o diagrama de J. Beck (1997) pode
ser considerado uma conceitualização na qual se reúnem os dados referentes às
situações-problema do cliente e englobam as estratégias comportamentais, bem como as
informações importantes da sua infância, sendo facilmente compreensível tanto para o
cliente quanto para o terapeuta. Dessa forma, tal diagrama mostra-se bastante útil, podendo
servir de instrumento didático para o paciente, o qual poderá entender suas dificuldades
sob o ponto de vista do modelo cognitivo junto ao terapeuta (KUYKEN et al., 2010).
Ressalta-se, nesse ponto, que existe uma infinita gama de possibilidades de crenças
intermediárias, para uma mesma crença central, algo que caracteriza os sistemas
70
A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE IV
Quadro 21.
Evita emoção negativa Exibe intensas emoções (por exemplo, para atrair atenção)
Tenta ser perfeito Propositalmente demonstra-se incompetente ou desamparado
É exageradamente responsável Evita responsabilidade
Evita intimidade Busca intimidade inadequada
Busca reconhecimento Evita atenção
Evita confronto Provoca outros
Tenta controlar as situações Abdica do controle para outros
Age de forma infantil Age de forma autoritária
Tenta agradar os outros Distancia-se dos outros ou tenta agradar apenas a si mesmo.
Fonte: Beck (1997).
Na sexta e última etapa, retoma-se uma visão dos conteúdos identificados, sendo
importante discutir com o paciente que o diagrama apresenta uma parte de seu
funcionamento, atentando-se para o possível surgimento do sentimento de culpa diante
dos aspectos discutidos quanto à sua cognição. Com relação a isso, refletir em cima da
explicação quanto a sua consciência frente a tais aspectos, constituir uma ferramenta
importante, no que diz respeito ao trabalho contra a ativação disfuncional de alguma
dessas crenças e padrões comportamentais, pode trazer a tona o sentimento de conforto
e esperança para o mesmo (NEUFELD; CAVENAGE, 2010).
Com todas essas considerações, é importante ressaltar que após o fechamento parcial
da conceitualização cognitiva, continua sendo constantemente reelaborada durante o
trabalho com o cliente. Por meio das reflexões anteriores, evidencia-se, mais uma vez,
71
UNIDADE IV │ A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL
Figura 12.
DIAGRAMA DE CONCEITUALIZAÇÃO COGNITIVA
Crença Central
Eu sou inadequada.
Suposições Condicionais/Crenças/Regras
Comportamento
Comportamento Comportamento
Fechou o livro; parou de
- Chorou.
estudar.
Estratégia(s) Compensatória(s)
Desenvolver padrões altos/Procurar falhas e corrigi-las/Trabalhar muito
arduamente/Evitar pedir ajuda/Preparar-se bem.
72
A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE IV
A partir dessa figura, para finalizar esse tópico, é relevante destacar que as estratégias
observadas, as quais têm capacidade de trabalhar as crenças disfuncionais mais
centrais da construção cognitiva do paciente devem ser escolhidas com prioridade, em
todo e qualquer caso de trabalho psicoterapêutico, tendo em vista que é a partir das
intervenções que possam provocar mudanças nas mesmas é que o ciclo disfuncional,
que elas ativam, podem ser potencialmente cortados (BECK, 1997).
73
CAPÍTULO 3
Princípios orientadores para a
conceitualização de casos
74
A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE IV
nos estágios desse processo. Enquanto os clientes observam e dão feedback, mantendo
a conceitualização na direção esperada, o terapeuta usa teorias e pesquisas mais
relevantes para descrever e explicar os anseios dos pacientes (KUYKEN et al., 2010).
Figura 13.
De acordo com Neufeld e Cavenage (2010), o terceiro e último princípio defende que
o terapeuta trabalhe e identifique os pontos fortes do cliente, nos estágios do processo
de formulação. Isso permite um maior engajamento com a terapia e ainda dispõe a
vantagem de aproveitar esse ponto forte no decurso de mudança, em direção a uma
recuperação duradoura.
Quadro 22.
75
UNIDADE IV │ A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL
76
CAPÍTULO 4
Principais contribuições do processo de
conceitualização
Figura 14.
77
UNIDADE IV │ A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL
78
A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL │ UNIDADE IV
diversas vantagens, pois, dando ênfase aos pontos fortes, ampliam-se os resultados
potenciais da terapia, ocorrendo uma diminuição do sofrimento de forma conjunta
a uma recuperação do funcionamento normal do paciente, em direção à melhoria da
qualidade de vida. A conversa a respeito dos pontos fortes do paciente geralmente
fortalece a aliança terapêutica (KUYKEN et al., 2010).
79
UNIDADE IV │ A PRÁTICA NA TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL
Figura 15.
80
Para (não) Finalizar
Não existe dúvida quanto à abordagem cognitiva, desenvolvida por Aaron Beck.
Representar uma mudança teórica significativa no que diz respeito à compreensão e ao
tratamento dos transtornos psicológicos.
81
PARA (NÃO) FINALIZAR
Assim, ressalta-se mais uma vez que, para a aplicação correta desse pertinente recurso,
é necessário o domínio quanto às técnicas e conhecimento quanto aos pressupostos
e teoria subjacente. Destarte, estudos e pesquisas, relacionados a essa ferramenta
fundamental, devem continuar sendo produzidos e desenvolvidos, levando em conta as
grandes contribuições ao trabalho terapêutico, que seus conceitos e técnicas possibilitam
à terapia cognitivo-comportamental.
Tendo em vista o importante papel que os profissionais dessa área assumem, ressalta-
se a importância dos conteúdos e temas levantados, por meio desse trabalho, serem
permanentemente reconsiderados e discutidos, contribuindo para a produção de novas
ideias, as quais aprimorem o papel do profissional e sua possibilidade de auxilio no que
diz respeito aos seres-humanos, responsabilidade e função de enorme nobreza.
Figura 16.
82
Referências
BECK, A.T. & ALFORD, B.A. O poder integrador da terapia cognitiva. Porto
Alegre: Artes Médicas, 2000.
BECK, A.T.; DAVIS, D. D.; FREEMAN, A (Org.). Terapia Cognitiva dos Transtornos
de Personalidade. Porto Alegre: Artmed, 2005.
BECK, A.T.; RUSH, A.J.; SHAW, B.F.; EMERY, G. Terapia cognitiva da depressão.
Porto Alegre: Artmed, 1997.
83
REFERÊNCIAS
ELLIS, A. Rational – Emotive Therapy. In.: BINDER, V.; BINDER, A.; RIMLAND, B..
(Orgs.). Modern Therapies. EUA: Spectrum Book, 1976.
ELLIS, A.; LANGE, A. Fique frio! Como manter a calma em meio às pressões. São
Paulo: Best Seller, 1994.
84
REFERÊNCIAS
OST, L. G., JERREMALM, A.; JOHANSSON, J. Individual responses patterns and the
effect of diferente behavioral methods in the treatment of social phobia. Behaviour
Research and Therapy, vol.19, no 1, pp. 1-16, 1981.
85
REFERÊNCIAS
Sites
<https://scholar.google.com.br/>
<http://www.usp.br/rbtcc/index.php/RBTCC>
<http://www.scielo.br/>
<http://www.periodicos.capes.gov.br/>
86