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Introdução

Este livro oferece um guia completo sobre tamental, abrangendo desde a identificação
como fazer terapia cognitiva com crianças do problema até as técnicas para criar um
em idade escolar e com adolescentes. Além diálogo socrático com crianças, passando por
de ensinar muitas técnicas, também enfatiza formas de intervenção cognitivo-comporta-
os princípios orientadores que moldam a te- mental amistosas à criança. Cada capítulo lida
rapia cognitiva de Beck. Ao longo do texto, com a aplicação desses métodos a crianças e a
este livro leva em consideração as questões de adolescentes. Além disso, capítulos individu-
desenvolvimento e multiculturais. A sensibili- ais tratam das abordagens cognitivo-compor-
dade desenvolvimentista é fundamental para tamentais para jovens deprimidos, ansiosos e
o trabalho cognitivo-comportamental bem- disruptivos, bem como para aqueles diagnos-
-sucedido com crianças (Ronen, 1997; Sil- ticados com o transtorno do espectro autista
verman & Ollendick, 1999). Assim, questões (TEA). O Capítulo 15 detalha o trabalho com
desenvolvimentistas sociais são delineadas os pais, para ajudá-los a se tornarem treina-
adiante, neste capítulo introdutório. dores, consultores ou assessores terapêuticos
Aplicar técnicas cognitivo-comportamen- para seus filhos. No Capítulo 16, sobre terapia
tais na ausência de uma conceitualização de cognitivo-comportamental (TCC) familiar, é
caso é um dos principais erros clínicos (J. S. apresentada a questão de que os pais ou cui-
Beck, 2011). Além disso, técnicas desvincula- dadores se tornam coclientes. Concluímos
das de teoria fracassam. Nesse sentido, a con- com um epílogo oferecendo conselhos sobre
ceitualização de caso é um esquema básico como melhorar a prática e adquirir sabedoria
para o sucesso na terapia cognitiva (J. S. Beck, clínica. Ao longo dos capítulos, resumimos os
2011; Persons, 1989); os aspectos básicos que pontos importantes em “Quadros-Síntese”.
usamos para construir uma formulação de
caso são apresentados no Capítulo 2. O QUE É TERAPIA COGNITIVA?
O empirismo colaborativo e a descoberta A terapia cognitiva baseia-se na teoria da
guiada, fios condutores da terapia cognitiva, aprendizagem social e utiliza uma mescla de
são definidos no Capítulo 3 e ilustrados no técnicas, muitas das quais baseadas em mo-
decorrer do texto. A estrutura da sessão que delos de condicionamento operante e clássico
caracteriza a terapia cognitiva é descrita no (Hart & Morgan, 1993). Em resumo, a teo-
Capítulo 4. ria da aprendizagem social (Bandura, 1977;
Os Capítulos 5 a 14 descrevem várias es- Rotter, 1982) parte do pressuposto de que o
tratégias de tratamento cognitivo-compor- ambiente, as características temperamentais e

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o comportamento situacional de uma pessoa interagem mutuamente entre si, criando um


determinam-se reciprocamente e que o com- sistema dinâmico e complexo.
portamento é um fenômeno dinâmico, em Sintomas cognitivos, comportamentais,
constante evolução. Os contextos influenciam emocionais e fisiológicos ocorrem em um
o comportamento, e este, por sua vez, molda contexto interpessoal e ambiental. Portanto, o
os contextos. Às vezes, os contextos podem modelo incorpora explicitamente as questões
ter a mais poderosa influência sobre o com- de contexto sistêmico, interpessoal e cultural
portamento de uma pessoa, ao passo que, em que são tão essenciais à psicoterapia infantil.
outras ocasiões, as preferências, disposições e Os sintomas não ocorrem por acaso; por isso,
características pessoais determinarão o com- os clínicos deveriam considerar as circunstân-
portamento. cias particulares ao avaliar e tratar uma crian-
Imagine que uma criança precise esco- ça ou adolescente. Em geral, embora consi-
lher um instrumento para tocar na banda da derando o contexto, os terapeutas cognitivos
escola. Se todos os instrumentos estiverem intervêm em nível cognitivo-comportamental
disponíveis, a escolha (p. ex., saxofone) será para influenciar padrões de pensamentos,
feita principalmente em função de suas ca- ações, sentimentos e reações corporais (Alford
racterísticas individuais. No entanto, se ape- & Beck, 1997).
nas alguns instrumentos estiverem disponí- Por exemplo, Alice é uma jovem branca de
veis (p. ex., trompetes, flautas e clarinetes) 16 anos que mora com a mãe biológica e o pa-
e muitos alunos estiverem competindo por drasto em um bairro pobre, onde as escolas
esses instrumentos, os fatores contextuais são inadequadas. Nascida de uma gravidez
predominarão. A avaliação da criança sobre indesejada, ela é abertamente rejeitada e tra-
cada situação moldará o seu comportamento tada como bode expiatório pelos pais. Nesse
posterior. Por exemplo, sua participação nas contexto, Alice apresenta sintomas fisioló-
atividades musicais da escola pode aumentar gicos (dores estomacais, sono excessivo), de
ou diminuir (“Esta escola é um tédio. Ela não humor (depressão, sentimentos de inutilida-
tem saxofones.” ou “Uau, vou tocar trompe- de), comportamentais (passividade, evitação,
te!”). Esse comportamento moldará poste- retraimento) e cognitivos (“Sou inútil.”). Em-
riormente o contexto em que os instrumen- bora grave, esse exemplo ilustra que os sinto-
tos musicais são apresentados. Nitidamente, mas precisam ser considerados no contexto
a teoria da aprendizagem social, de modo das circunstâncias ambientais e disposições
explícito e implícito, incentiva os clínicos a pessoais que iniciam, exacerbam e mantêm o
examinarem a influência mútua e dinâmica sofrimento.
entre os indivíduos e o contexto mais am- A forma como crianças interpretam suas
plo em que eles se comportam. Além disso, experiências molda profundamente seu fun-
a teoria da aprendizagem social examina a cionamento emocional. Suas percepções são
forma como o comportamento afeta as cir- um dos focos principais do tratamento. A for-
cunstâncias atuais. ma como crianças e adolescentes constroem
A terapia cognitiva sustenta que cinco ele- “barreiras mentais” em relação a si mesmos,
mentos inter-relacionados estão envolvidos aos relacionamentos com outras pessoas, às
na conceitualização de dificuldades psicoló- experiências e ao futuro influencia suas rea-
gicas humanas (A. T. Beck, 1985; J. S. Beck, ções emocionais. As crianças e os adolescen-
2011; Padesky & Greenberger, 1995). Esses tes não recebem os estímulos ambientais nem
elementos são o contexto interpessoal/am- respondem a eles de modo passivo. Em vez
biental, a fisiologia, o funcionamento emocio- disso, constroem as informações ativamente,
nal, o comportamento e a cognição do indiví- selecionando, codificando e explicando as
duo. Esses aspectos distintos se modificam e coisas que acontecem a si e aos outros.

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A PRÁTICA CLÍNICA DA TERAPIA COGNITIVA COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES   3

Esse sistema de processamento de infor- de distorção. Susan é incapaz de extrair do


mações é hierarquicamente organizado em ambiente dados desconfirmatórios. A escola
camadas, consistindo em produtos, opera- provavelmente continuará sendo uma situa-
ções (ou processos) e estruturas cognitivos ção que a expõe à pressão de desempenho e à
(A. T. Beck & Clark, 1988; Dattilio & Padesky, autodepreciação. Por sua vez, a menina pro-
1990; Ingram & Kendall, 1986; Padesky, vavelmente continuará a abominar pressões
1994). Pensamentos automáticos são os pro- de desempenho.
dutos cognitivos nesse modelo (A. T. Beck & Os esquemas cognitivos representam es-
Clark, 1988); constituem os pensamentos ou truturas centrais de significado que direcio-
as imagens do fluxo de consciência que são nam a codificação de atenção e a lembrança
específicos da situação e passam pela mente (Fiske & Taylor, 1991; Guidano & Liotti, 1983,
das pessoas durante uma mudança de humor. 1985; Hammen, 1988; Hammen & Zupan,
Portanto, Bárbara pode convidar uma amiga 1984). Os esquemas induzem operações e
para brincar durante o recreio e a amiga pode produtos cognitivos. Essas estruturas cogniti-
recusar, dizendo que prefere brincar com vas refletem as convicções mais básicas que os
outra criança (situação). Bárbara fica triste indivíduos mantêm. Kagan (1986) descreveu
(emoção) e interpreta a situação dizendo a si o esquema como “a unidade cognitiva que
mesma: “Judy não é mais minha amiga. Ela armazena experiência de uma forma tão fiel
não gosta de mim” (pensamento automático). que a pessoa consegue reconhecer um evento
Relativamente fáceis de identificar, os pensa- passado” (p. 121).
mentos automáticos têm recebido muita aten- Imagine um jovem de 15 anos, com an-
ção na literatura de terapia cognitiva. Entre- siedade social, que recorda ter sido humilha-
tanto, eles representam apenas um elemento do em um encontro de escoteiros-lobinhos
no modelo cognitivo. quando tinha 6 anos. Toda vez que ele entra
As distorções cognitivas também têm em uma nova situação social, seu esquema
recebido considerável atenção (J. S. Beck, o leva de volta à humilhação original, dan-
2011; Burns, 1980) e, nesse modelo, refle- do-lhe a sensação de estar revivenciando
tem os processos cognitivos (A. T. Beck & o evento. Talvez isso explique o fenômeno
Clark, 1988). As distorções transformam as clínico em que os clientes se mostram tão
informações recebidas, de modo a manter regredidos e imaturos quando estão severa-
intactos os esquemas cognitivos. As distor- mente angustiados. No caso desse menino de
ções cognitivas funcionam por meio de pro- 15 anos, sempre que seus botões esquemáti-
cessos de assimilação e mantêm a homeos­ cos são acionados, ele olha para si e para o
tasia. Por exemplo, o esquema de Susan mundo com os olhos de um escoteiro-lobi-
reflete uma percepção de incompetência: nho de 6 anos desprezado.
ela acredita que não consegue fazer nada di- O material esquemático é relativamen-
reito e, por isso, sente-se ansiosa (emoção) te inacessível e, com frequência, permane-
em situações de desempenho. Assim, Susan ce latente até ser ativado por um estressor
pode alcançar uma nota alta na prova de (Hammen & Goodman-Brown, 1990; Zupan,
matemática (situação) e acreditar que a nota Hammen, & Jaenicke, 1987). Na teoria cogni-
não importa, pois a prova estava muito fácil tiva, os esquemas podem representar um fa-
(pensamento automático). Ou seja, a crian- tor de vulnerabilidade que predispõe crianças
ça está depreciando o seu sucesso (distorção a sofrimentos emocionais (A. T. Beck, Rush,
cognitiva). A informação que é discrepante Shaw, & Emory, 1979; Young, 1990). De modo
de sua crença central é invalidada. Dessa conceitual, um estilo atributivo pessimista
forma, o esquema cognitivo permanece in- pode ser considerado uma diátese para a de-
tacto, consumando-se por meio do processo pressão na infância (Gillham, Reivich, Jaycox,

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& Seligman, 1995; Jaycox, Reivich, Gillham, & tendem a explicar eventos desfavoráveis por
Seligman, 1994; Nolen-Hoeksema & Girgus, meio de uma percepção autocrítica (“Eu sou
1995; Nolen-Hoeksema, Girgus, & Seligman, um idiota.”), uma percepção negativa sobre
1996; Seligman, Reivich, Jaycox, & Gillham, suas experiências com outras pessoas (“Tudo
1995). Os esquemas desenvolvem-se cedo na está perdido. Ninguém vai gostar de mim.”)
vida, tornam-se reforçados com o passar do e uma percepção pessimista sobre o futuro
tempo e, devido a repetidas experiências de (“Vai ser assim para sempre.”). Os pensamen-
aprendizagem, consolidam-se por volta da tos de uma pessoa deprimida tendem a ser
adolescência e do início da vida adulta (Gui- direcionados ao passado e representam temas
dano & Liotti, 1983; Hammen & Zupan, 1984; que enfocam perda (A. T. Beck, 1976; Clark
Young, 1990). O primeiro material esquemá- et al., 1999).
tico pode ser codificado em nível pré-verbal, A ansiedade é caracterizada por grupos
podendo conter imagens não verbais, além de cognições diferentes daqueles da depres-
de material verbal (Guidano & Liotti, 1983; são (A. T. Beck & Clark, 1988; Bell-Dolan &
Young, 1990). Os esquemas das crianças ten- Wessler, 1994; Kendall, Chansky, Friedman,
dem a não estar tão bem consolidados quanto & Siqueland, 1991). Na ansiedade, a catastro-
os esquemas adultos. Por exemplo, Nolen- fização é comum: os pensamentos de indiví-
-Hoeksema e Girgus (1995) concluíram que duos ansiosos tendem a ser direcionados ao
o estilo atributivo pessimista é determinado futuro e caracterizados por previsões de pe-
por volta dos 9 anos de idade, mas os efeitos rigo (A. T. Beck, 1976). O Capítulo 6, sobre
nocivos desse estilo talvez só apareçam vários
identificação de pensamentos e sentimentos,
anos mais tarde. De fato, Turner e Cole (1994)
detalha a hipótese da especificidade do con-
verificaram que a diátese cognitiva era mais
teúdo e sua aplicação clínica.
notável em alunos do oitavo ano do que em
De modo geral, esses princípios da terapia
alunos do quarto ou do sexto ano.
cognitiva são bastante pesquisados e sólidos
Como a maioria dos terapeutas percebe,
do ponto de vista teórico. Como consequên-
reconhecer quando as cognições significa-
cia, a teoria cognitiva fornece uma base se-
tivas foram identificadas não é tão simples
como superficialmente aparenta. Você preci- gura para trabalhar com crianças e leva a in-
sa de um guia ou mapa. A terapia cogniti- tervenções motivadas pela teoria, com base
va nos fornece um modelo útil por meio da na conceitualização de caso. Por exemplo,
compreensão da hipótese da especificidade focalizamos os sistemas de processamento
do conteúdo, segundo a qual diferentes esta- de informações da criança como forma de
dos emocionais são caracterizados por cog- identificar os pensamentos automáticos e
nições distintas (Alford & Beck, 1997; A. T. os esquemas cognitivos dela. A hipótese da
Beck, 1976; Clark & Beck, 1988; Clark, Beck, especificidade do conteúdo fornece uma es-
& Alford, 1999; Laurent & Stark, 1993). trutura para reconhecer os pensamentos au-
Aspectos da hipótese de especificidade de tomáticos que mantêm e perpetuam esque-
conteúdo foram submetidos a investigações mas mal-adaptativos, bem como um método
empíricas que a apoiam (Jolly, 1993; Jolly para determinar a relação desses esquemas
& Dykman, 1994; Jolly & Kramer, 1994; com a estimulação afetiva negativa da crian-
Laurent & Stark, 1993; Messer, Kempton, ça. Compreendendo-se a teoria cognitiva,
Van Hasselt, Null, & Bukstein, 1994). os processos e as estratégias de intervenção
De acordo com a hipótese da especificida- adequadas, é possível desenvolver os conhe-
de do conteúdo, a depressão é caracterizada cimentos básicos e as habilidades necessárias
pela clássica tríade cognitiva negativa (A. T. para conduzir uma terapia cognitiva eficaz
Beck et al., 1979). Indivíduos deprimidos com crianças.

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A PRÁTICA CLÍNICA DA TERAPIA COGNITIVA COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES   5

QUAIS SÃO AS SEMELHANÇAS da terapia e fazer progressos significativos;


ENTRE A TERAPIA COGNITIVA COM contudo, por várias razões, seus pais encer-
ADULTOS E A TERAPIA COGNITIVA ram o tratamento. Em outros casos, as crian-
COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES? ças podem evitar o processo terapêutico e até
recear a terapia, mas circunstâncias externas
Embora a terapia cognitiva precise ser adap- (p. ex., determinação de juizado de menores,
tada para adequar-se às características in- exigência da escola, pais) podem forçá-las a
dividuais das crianças, vários princípios continuar. Em nenhum dos casos essas crian-
originalmente estabelecidos pelo trabalho ças controlam o processo. Embora muitas
com adultos ainda se aplicam (Knell, 1993). crianças possam aceitar de bom grado a opor-
Por exemplo, o empirismo colaborativo e a tunidade de revelar pensamentos e sentimen-
descoberta guiada são úteis com crianças. tos a um adulto, para outras, a experiência de
A estrutura da sessão também pode ser fle- ir à psicoterapia para falar com um adulto em
xivelmente aplicada com crianças. Assim, o uma posição de autoridade cria um volume
estabelecimento da agenda e a evocação de significativo de ansiedade. De modo espera-
feedback são princípios centrais que orientam do, as crianças costumam verbalizar um senso
a terapia cognitiva com crianças. Spiegler e realístico de incontrolabilidade. Portanto, de-
Guevremont (1995) observam corretamente ve-se trabalhar com diligência para envolver a
que a tarefa de casa é um elemento central criança no processo de tratamento e aumen-
nas terapias cognitivo-comportamentais, um tar sua motivação.
elemento que permite às crianças experimen- A terapia cognitiva com crianças baseia-se
tarem habilidades em contextos da vida real. geralmente em uma abordagem vivencial, do
A terapia cognitiva com crianças permanece “aqui e agora” (Knell, 1993). Uma vez que as
focalizada no problema, ativa e orientada ao crianças são orientadas à ação, elas aprendem
objetivo (Knell, 1993), assim como a terapia com facilidade fazendo. Associar habilidades
com adultos. de enfrentamento a ações concretas provavel-
mente ajuda as crianças a prestar atenção ao
QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS ENTRE A comportamento desejado, lembrar-se dele e
TERAPIA COGNITIVA COM ADULTOS realizá-lo. Além disso, a ação na terapia é esti-
E A TERAPIA COGNITIVA COM mulante. A motivação das crianças aumentará
quando elas estiverem se divertindo.
CRIANÇAS E ADOLESCENTES?
As crianças funcionam dentro de sistemas
Ao mesmo tempo, a terapia cognitiva com como famílias e escolas (Ronen, 1998). Ronen
crianças difere da terapia cognitiva com adul- observou acertadamente que “o foco da TCC
tos. Em primeiro lugar, poucas crianças vêm está no tratamento de crianças no âmbito de
para a terapia por vontade própria (Leve, seu ambiente natural, seja com a família, na
1995). Em geral, elas são trazidas para trata- escola ou com o grupo de colegas” (p. 3). Des-
mento pelos responsáveis, devido a problemas se modo, os terapeutas devem avaliar as ques-
que talvez elas nem admitam que tenham. tões sistêmicas complexas que circundam os
Além disso, a experiência clínica sugere que, problemas das crianças e elaborar planos de
na maioria das vezes, as crianças são encami- tratamento adequados às suas necessidades.
nhadas para terapia porque suas dificuldades Sem considerar as questões sistêmicas, os
psicológicas criam problemas a algum siste- terapeutas ficam “voando às cegas”. Os siste-
ma (p. ex., família, escola). mas nos quais as crianças funcionam podem
As crianças raramente iniciam o tratamen- reforçar ou extinguir habilidades de enfrenta-
to, assim como não podem escolher quando mento adaptativas. O envolvimento da famí-
ele termina. Em alguns casos, podem gostar lia e reuniões com a escola são cruciais para o

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sucesso do início, da manutenção e da genera- pensamento são facilmente entendidos pe-


lização dos ganhos terapêuticos. las crianças (Wellman, Hollander, & Schult,
As crianças diferem em relação aos adultos 1996). Portanto, as variáveis sociocognitivas
em suas capacidades, limitações, preferências orientam quais, como e quando vários pro-
e interesses. Sentar em uma cadeira olhando cedimentos cognitivo-comportamentais são
outra pessoa e falar sobre problemas psico- utilizados.
lógicos pode parecer estranho e perturbador A capacidade linguística influenciará o
para os mais jovens. Como a terapia cognitiva quanto as crianças se beneficiarão de inter-
com crianças baseia-se em capacidades ver- venções verbais diretas (Ronen, 1997, 1998).
bais e cognitivas, deve-se considerar cuida- Com crianças com menos fluência verbal, po-
dosamente as idades das crianças, bem como dem ser indicados desenhos, fantoches, brin-
suas habilidades sociocognitivas (Kimball, quedos, jogos, trabalho manual e outras tare-
Nelson, & Politano, 1993; Ronen, 1997), e fas que exigem menos mediação verbal. Ler e
adaptar o nível de intervenção à idade e às ca- contar histórias com essas crianças podem ser
pacidades do seu desenvolvimento. Crianças estratégias para conseguir aumentar sua so-
tendem a beneficiar-se de técnicas cognitivas fisticação verbal. Além disso, filmes, música e
simples, como autoinstrução e intervenções programas de televisão são mídias que podem
comportamentais, ao passo que adolescentes facilitar uma maior mediação verbal. Adaptar
provavelmente se beneficiarão de técnicas as tarefas para que estejam à altura da capa-
mais sofisticadas, que exigem análises racio- cidade linguística das crianças é um desafio
nais (Ronen, 1998). clínico crucial.
A idade, embora importante, é uma vari- Vários autores delinearam importantes
ável inespecífica (Daleiden, Vasey, & Brown, variáveis e tarefas de desenvolvimento a
1999). Portanto, devemos permanecer cons- serem consideradas por terapeutas cogni-
cientes sobre as variáveis sociocognitivas, tivos (Kimball et al., 1993; Ronen, 1997).
como linguagem, habilidade de tomada de De modo apropriado, Ronen (1998) obser-
perspectiva, capacidade de raciocínio e ap- va que, a fim de determinar se o compor-
tidões de regulação verbal (Hart e Morgan, tamento de uma criança é problemático, é
1993; Kimball et al., 1993; Ronen, 1997, 1998). preciso compreender as tarefas de desen-
Quando as exigências da tarefa terapêutica volvimento necessárias com as quais essa
excedem as capacidades sociocognitivas das criança se defronta:
crianças, elas podem equivocadamente pa-
recer resistentes, esquivas e até incompeten- À medida que as crianças crescem, espera-se
tes (Friedberg & Dalenberg, 1991). Mischel que obtenham controle de suas bexigas, que
(1981) defendia corretamente que “as crian- aprendam que seus pais sempre voltam e pa-
rem de chorar quando eles saem; espera-se
ças são psicólogos intuitivos potencialmente
que adquiram gradualmente as habilidades
sofisticados (embora falíveis) que passam a de autocontrole, desenvolvam a positividade
conhecer e a usar princípios psicológicos para e uma capacidade de autoavaliação e apren-
entender o comportamento social, regular sua dam a conduzir a comunicação e a nego-
própria conduta e alcançar domínio e con- ciação verbal, em vez de chorar sempre que
trole sobre seus ambientes” (p. 240). Tarefas desejam alguma coisa. (p. 7)
terapêuticas simples e significativas, sensíveis
ao nível de desenvolvimento, envolvem com Quando o comportamento das crianças se
sucesso inclusive crianças mais novas na tera- desvia significativamente das expectativas de
pia cognitivo-comportamental (Friedberg & desenvolvimento, os clínicos trabalham para
Dalenberg, 1991; Knell, 1993; Ronen, 1997). corrigir esses processos descarrilados. Com
Por exemplo, diários que incluem balões de frequência, orientar crianças e suas famílias

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A PRÁTICA CLÍNICA DA TERAPIA COGNITIVA COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES   7

em meio a esses desvios de desenvolvimento é O reforço explícito é uma parte central


um dos focos principais do tratamento. desse trabalho com crianças e adolescentes
Neste livro, tentamos mostrar uma forma (Knell, 1993). É ressaltado com as crianças a
lúdica e divertida de trabalhar com as crian- importância de arrumar seus brinquedos na
ças. Embora muitas das questões psicológicas sala de jogos, completar a tarefa de casa, re-
que desafiam as crianças sejam dolorosas e velar seus pensamentos e sentimentos, e as-
penosas para elas, temas desconfortáveis po- sim por diante. As recompensas comunicam
dem ser abordados de maneiras imaginativas, expectativas e exercem funções de motivação,
criativas e envolventes. A nossa experiência atenção e retenção (Bandura, 1977; Rotter,
indica que, quanto mais as crianças estiverem 1982). Em suma, as recompensas envolvem as
envolvidas e comprometidas, menos a terapia crianças, direcionando-as ao que é importan-
parece um trabalho. te e ensinando-lhes o que deve ser lembrado.

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ARTIGO DE REVISÃO

Fundamentos e aplicações da Terapia Cognitivo-


Comportamental com crianças e adolescentes

Juliana da Rosa Purezaa


Agliani Osório Ribeirob
Janice da Rosa Purezac
Carolina Saraiva de Macedo Lisboad

a
Psicóloga e mestre em Psicologia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (São Leopoldo/RS).

b
Psicóloga e especialista em Psicologia Clínica pela WP Centro de Psicoterapia Cognitivo-Comportamental
(Porto Alegre/RS).

c
Psicóloga e doutoranda em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Porto
Alegre/RS).

d
Psicóloga e professora-pesquisadora na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Porto
Alegre/RS).

Instituição:Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Resumo

Embora a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) com crianças e adolescentes esteja crescendo


significativamente no contexto das psicoterapias, atualmente ainda são poucos os profissionais que têm
conhecimento de como é realizada a terapia de crianças e adolescentes na abordagem cognitivo-
comportamental. Este artigo tem como objetivo apresentar um panorama geral sobre os aspectos teóricos

REVISTA BRASILEIRA DE PSICOTERAPIA 2014;16(1):85-103


86 JULIANA DA ROSA PUREZA, AGLIANI OSÓRIO RIBEIRO, JANICE DA ROSA PUREZA, CAROLINA SARAIVA DE MACEDO LISBOA

e práticos da TCC com crianças e adolescentes. São apresentadas as características da TCC com crianças e
adolescentes, assim como as principais diretrizes para a avaliação da TCC na infância e adolescência e para
o treino de pais. Ainda, são descritas as principais intervenções cognitivas e comportamentais na infância
e adolescência, de modo a desfazer mitos e confusões acerca da aplicação das técnicas. Em seguida é
apresentado o caso clínico de uma criança atendida em TCC, de modo a servir como exemplo ilustrativo e
proporcionar um maior entendimento acerca do manejo e adequação das técnicas aos objetivos da TCC
com crianças e adolescentes.

Palavras-chave: Terapia Cognitivo-Comportamental; Crianças; Adolescentes.

Abstract

Although cognitive-behavioral therapy - CBT focused on children and adolescents has been growing
significantl1y in the context of psychotherapy, still nowadays there are few professionals who have
adequate knowledge of how cognitive- behavioral approach for children and adolescents is performed.
This article aimed to present an overview of the theory and practice of CBT with children and adolescents.
The characteristics of CBT with children and adolescents were presented, as well as the main guidelines
for the evaluation of CBT in childhood and adolescence and training programs for parents. Still, the main
cognitive and behavioral interventions in childhood and adolescence have been described in order to
demystify myths and confusion about the application of techniques. Then a clinical case of a child that has
received psychological treatment in CBT was described in order to serve as an example and provide a
greater understanding of the management and adequacy of the interventions and techniques with the
goals of CBT with children and adolescents.

Keywords: Cognitive behavior therapy; Children; Teenagers.

Introdução

A psicoterapia com crianças é uma área que vem sendo foco de interesse nos últimos anos,
especialmente no âmbito de promoção e prevenção1. De fato, recentemente o tratamento psicológico de
crianças e adolescentes tem sido considerado não apenas como uma medida terapêutica, mas
principalmente como uma forma de prevenção de doenças mentais e de promoção de saúde2. Soma-se
também a esses fatos o movimento em defesa e de valorização de diagnósticos precoces na infância
visando a tratamentos mais eficazes e prevenção de psicopatologias na vida adulta1.

REVISTA BRASILEIRA DE PSICOTERAPIA 2014;16(1):85-103


FUNDAMENTOS E APLICAÇÕES DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES 87

Uma das abordagens teóricas atuais que tem apresentado propostas terapêuticas no que se refere
ao atendimento de crianças e adolescentes é a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). No contexto das
psicoterapias, a TCC é uma abordagem teórica que pode ser considerada recente, desenvolvida nos anos
60 por Aaron Beck a partir do pressuposto de que o modo como o paciente processa e interpreta as
situações é o que gera o sofrimento 3. O objetivo da Terapia Cognitivo-Comportamental é atingir a
flexibilidade e ressignificação dos modos patológicos de processamento da informação, uma vez que se
postula que os indivíduos não sofrem pelos fatos e situações em si, mas pelas interpretações distorcidas
e rígidas que fazem dos mesmos4. Já é possível encontrar na literatura evidências científicas de que essa
modalidade de tratamento é eficaz para um grande número de patologias psiquiátricas e demandas
psicológicas5,6.

Essa abordagem teórica orientada para a clínica foi primordialmente direcionada para o atendimento
de adultos, uma vez que algumas das técnicas inicialmente utilizadas requerem certo grau de maturação
cognitiva4,7. Entretanto, observa-se que, a partir da década de 1980, os trabalhos relacionados à Psicoterapia
Cognitivo-Comportamental com crianças e adolescentes começam a crescer e apresentar maior
consistência8, o que pode estar relacionado aos modelos construtivistas dentro da abordagem cognitivo-
comportamental9,10,11, que enfatizam o papel proativo e dinâmico dos indivíduos em suas experiências.
Essas abordagens retomam a importância das intervenções focadas nas emoções e do caráter interpessoal
de construção do conhecimento. A chamada terceira onda em Terapia Cognitivo-Comportamental12, que
propõe intervenções que enfocam o papel adaptativo das emoções, possibilitou uma ampliação de visão
e aprimoramento dos tratamentos em TCC com crianças e adolescentes.

Nessa mesma linha de raciocínio, observam-se, no senso comum, algumas crenças equivocadas que
sustentam que a abordagem cognitivo-comportamental não possa embasar a psicoterapia com crianças e
adolescentes. Essa dificuldade em vislumbrar a aplicabilidade da TCC na infância acabou gerando diversos
“mitos” acerca de sua realização, o que muitas vezes dificulta a divulgação e o acesso à psicoterapia
infantil e adolescente nessa abordagem teórica e também pode estar relacionado a esta ser uma área que
ainda necessita de desenvolvimento e investimento. Os principais mitos sobre a TCC na infância e
adolescência podem ser identificados no Quadro 1.

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88 JULIANA DA ROSA PUREZA, AGLIANI OSÓRIO RIBEIRO, JANICE DA ROSA PUREZA, CAROLINA SARAIVA DE MACEDO LISBOA

Ao contrário do que muitas vezes é imaginado acerca da TCC com crianças e adolescentes, existem
diversas semelhanças no que se refere a essa abordagem de atendimento com a abordagem utilizada com
adultos. Principalmente, destaca-se, por exemplo, o foco no presente, o objetivo de mudança
comportamental e cognitiva, a utilização de sessões estruturadas, entre outros. Todavia, a abordagem
com crianças e adolescentes difere-se no que tange ao tipo de intervenção realizada, que terá como base
a criação de linguagens (muitas vezes não verbais) para acessar o funcionamento cognitivo da criança e
adolescente. Além disso, o tratamento com crianças também tem outros pontos diferencias, como a
intervenção com os pais, que muitas vezes consiste em uma grande, e às vezes até maior, parte do
tratamento. Assim sendo, o foco das intervenções em TCC com crianças e adolescentes, além de centrar
na ativação e entendimento das emoções – as quais os jovens têm dificuldade de diferenciar dos
pensamentos –, também deve trabalhar em termos de pensamentos adaptativos e não adaptativos (“que
ajudam e não ajudam”)4,14.

Atualmente ainda são poucos os profissionais da psicologia que têm conhecimento e realizam
atendimentos com crianças e adolescentes na abordagem cognitivo-comportamental. Ainda existem muitas
crenças distorcidas que complicam a interlocução entre diferentes linhas teóricas, dificultando, muitas

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FUNDAMENTOS E APLICAÇÕES DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES 89

vezes, a discussão de casos e o encaminhamento de pacientes. O desconhecimento de como é possível de


realizar TCC com crianças e adolescentes é reforçado pela crença distorcida de que a TCC com jovens seria
uma transposição direta das técnicas utilizadas com adultos, o que certamente não tornaria esse campo
de intervenção efetivo. A ainda escassa divulgação de estudos científicos sobre efetividade de técnicas
específicas para crianças e adolescentes, assim como protocolos de intervenção cientificamente
desenvolvidos e testados, também favorece esse desconhecimento e as dificuldades de encaminhamento
dos jovens para a clínica em TCC. Dessa forma, o objetivo deste artigo é apresentar um panorama geral
sobre os aspectos teóricos e práticos da TCC com crianças e adolescentes.

Avaliação da TCC na infância

Cada vez mais se pode constatar que crianças e adolescentes chegam aos consultórios de psicologia
buscando auxílio para problemas emocionais e comportamentais, que podem acarretar prejuízos para a
sua qualidade de vida e desenvolvimento subsequente. Nesse sentido, é fundamental que os terapeutas
procurem obter uma compreensão global do funcionamento da criança nos seus diversos contextos e
consigam identificar os aspectos e/ou sintomas que dificultam sua adaptação na rotina diária, assim como
o papel que os aspectos cognitivos exercem na etiologia desses problemas e transtornos2. Ressalta-se
também o caráter focal e diretivo da TCC, que demanda uma avaliação diagnóstica devidamente
conduzida3,4.

Por conseguinte, a prática da avaliação infantil na TCC necessita que alguns aspectos importantes
sejam considerados: a) identificação e compreensão das queixas da criança e/ou do adolescente e b)
processo de conceitualização cognitiva. Normalmente, os porta-vozes das queixas e sintomas são os pais
e/ou cuidadores. Torna-se importante a realização de uma completa entrevista de anamnese, pois é
através desse processo que se obtém uma melhor compreensão de aspectos emocionais (vínculos
estabelecidos, humor prevalente, como reage às diversas situações vivenciadas), psicossociais
(relacionamento familiar, interpessoal, acadêmico) e que são planejadas e direcionadas futuras condutas.
A prática clínica da TCC demonstra que, quanto mais completa for a anamnese a respeito da criança e do
adolescente, melhor será o planejamento e a condução do caso. Essa etapa da avaliação infantil permite
a utilização de escalas e questionários a serem respondidos pelos pais e, muitas vezes, pela própria
criança, professor ou outro profissional específico que tenha contato direto com a mesma4,2.

Mais especificamente, na realização de uma avaliação infantil no atendimento da TCC, devem-se


investigar os dados relativos à história pregressa da criança –gestação, parto puerpério, doenças maternas
e outras intercorrências –, assim como as condições do seu desenvolvimento – desenvolvimento
neuromotor e linguagem, alimentação, hábitos desenvolvidos pela criança e história familiar (condições
de saúde, econômica, ocupacional, religião e outros). Além disso, compreender como a criança se relaciona

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90 JULIANA DA ROSA PUREZA, AGLIANI OSÓRIO RIBEIRO, JANICE DA ROSA PUREZA, CAROLINA SARAIVA DE MACEDO LISBOA

com seus pais, irmãos e outros membros da família é extremamente útil para a construção das hipóteses
diagnósticas do caso15.

A vida escolar (no caso da criança já frequentar maternal ou escola regular) também deve constar
num trabalho de avaliação infantil, pois o desempenho acadêmico e o relacionamento com pares fornecem
dados que podem contribuir de maneira específica nesse processo. Como a criança se comporta na sala de
aula, como é sua relação com figuras de autoridade e como ela se adapta às normas específicas da instituição
escolar são dados valiosos no processo investigativo dos aspectos cognitivos e comportamentais das
crianças e adolescentes. É fundamental que essa anamnese busque a identificação dos primeiros sintomas
e da evolução das dificuldades cognitivas e comportamentais apresentadas pela criança. A investigação
da história pregressa contribui de forma significativa para a caracterização do surgimento dos sintomas e
dificuldades comportamentais apresentadas pela criança e pelo adolescente no atendimento da TCC16.

A partir da realização da anamnese, o próximo passo do tratamento consiste na conceitualização


cognitiva do caso. Na TCC esse processo é fundamental para um perfeito entendimento e planejamento
das práticas terapêuticas a serem trabalhadas com o paciente2,17. A conceitualização cognitiva na TCC da
infância e adolescência denota alguns aspectos diferenciados no que se refere ao mesmo processo na TCC
para pacientes adultos, pois devem ser consideradas, sempre, as características da criança, assim como a
etapa do desenvolvimento em que esta se encontra e o contexto em que está inserida2.

Como a TCC tem como foco o papel que os aspectos cognitivos exercem na etiologia das dificuldades
e/ou transtornos emocionais e comportamentais nas crianças, é comum a utilização de protocolos
específicos no processo de conceitualização cognitiva. De modo geral, esses protocolos procuram abarcar,
principalmente, as seguintes demandas: a) identificação das dificuldades atuais da criança; b) fatores
importantes da infância; c) a percepção que a criança tem de si e dos outros, assim como a percepção que
a família tem da criança, sempre procurando identificar as principais emoções, pensamentos e
comportamentos relativos à criança e seus familiares, assim como as crenças relacionadas, as estratégias
compensatórias e as consequências de cada situação8,18.

Os protocolos de conceitualização cognitiva infantil devem ser revisados e reavaliados durante


todo o processo de atendimento psicoterápico, já que a TCC de crianças e adolescentes é um processo
dinâmico e sofre alterações constantes, mais rápidas às vezes do que no atendimento de adultos, o que é
mais um ponto que reforça a importância da psicoterapia com jovens nessa abordagem teórica. Alguns
autores ressaltam modelos de conceitualização cognitiva que enfatizam o enfoque nas diferentes
intensidades emocionais específicas de cada situação, assim como a capacidade para a resolução de
problemas nas diferentes situações conflitivas. Nessa investigação, deve-se ter como foco central os
pensamentos relacionados aos problemas atuais da criança e quais as dificuldades no processamento das
informações relativas aos comportamentos disfuncionais da criança2.

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FUNDAMENTOS E APLICAÇÕES DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES 91

Esse processo de realização da conceitualização cognitiva é fundamental para a realização do


diagnóstico na TCC infantil, assim como para o planejamento terapêutico a ser implementado. No caso da
TCC infantil, algumas técnicas e recursos podem ser utilizados no processo de conceitualização e
diagnóstico, como desenhos, brinquedos, jogos e outros. Deve-se levar em conta qual a forma de acesso
cognitivo é mais eficaz com determinado paciente. Um recurso bem interessante e disponível para os
terapeutas cognitivos da infância e adolescência vem a ser os Baralhos das Emoções, Pensamentos e
Comportamentos, instrumentos que facilitam ao terapeuta o acesso aos conteúdos cognitivos da
criança19,20,21,7.

Intervenções terapêuticas com crianças e adolescentes

Trabalhando com os pais

As intervenções com pais na TCC de crianças e adolescentes podem ocorrer de diferentes formas e
em diferentes momentos do tratamento, de acordo com a demanda. De um modo geral, com crianças de
0 a 6 anos o trabalho com os pais é indispensável, muitas vezes constituindo a grande ou maior parte do
tratamento 2. A partir dessa idade, com crianças mais velhas e com adolescentes, esse trabalho é
considerado desejável, sendo um fator de fortalecimento e de sucesso do tratamento.

Os pais e cuidadores, ao participarem do atendimento da criança ou do adolescente, podem


desempenhar diferentes papéis no tratamento:facilitadores –a intervenção é predominantemente focada
na criança, e os pais são envolvidos apenas para tomarem consciência das intervenções que estão sendo
realizadas com as crianças; coclínicos –o papel dos pais é mais ativo no tratamento, com a finalidade de
entender a intervenção, acompanhar e fiscalizar o uso de estratégias clínicas e auxiliar na realização do
atendimento; clientes – o foco do tratamento será direto no funcionamento cognitivo e comportamental
dos pais, e estes serão ajudados a reavaliar suas crenças sobre os filhos e mudar seus padrões
comportamentais2.

É fundamental ressaltar a importância do vínculo do terapeuta com os pais como um fator


fundamental e imprescindível de qualquer atendimento de TCC para crianças e adolescentes. Nessa
modalidade de atendimento, os pais serão a principal fonte de dados do terapeuta, muitas vezes os
principais agentes de mudança na vida da criança, além de serem responsáveis de forma concreta (no que
tange ao comparecimento e pagamento) pelo tratamento, sendo o rompimento do vínculo com os pais
um dos principais fatores de risco para o abandono do atendimento15,7.

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Treino de pais

Dentro dessa perspectiva acerca do trabalho com os pais na psicoterapia de crianças e adolescentes,
é comum a realização de programa de treino de pais (TP) no tratamento cognitivo-comportamental de
crianças de adolescentes. O TP possibilita ao terapeuta investigar, focar e modificar aspectos cognitivos e
comportamentais dos pais no que se refere ao comportamento do seu filho. Na prática clínica, é possível
observar mudanças positivas, às vezes mais rápidas, no comportamento infantil quando os pais conseguem
compreender os sintomas e o funcionamento da criança e atuar de forma positiva nesse processo,
possibilitando mudanças nas ações e atitudes dos seus filhos.

O TP na TCC da infância e adolescência vem a ser um programa de psicoeducação e orientação dos


pais e tem por meta ajudar e estimular os mesmos no manejo e condução das crianças com dificuldades de
comportamento que apresentam prejuízos em seu funcionamento e qualidade de vida. Essa abordagem
instrumentaliza os pais para o aprendizado e o uso de técnicas e estratégias para o manejo de situações
específicas, favorecendo a aprendizagem de comportamentos mais adaptativos para pais e crianças22,23.

Na prática, pode-se perceber que os programas de TP trazem alguns benefícios para a TCC infantil:
a) possibilitam aos pais uma melhor compreensão do papel dos mesmos no tratamento do seu filho(a); b)
fornecem um espaço “adequado” para que eles possam trocar informações e falar a respeito das
dificuldades vivenciadas na criação e educação das crianças; c) propiciam a transferência do controle do
terapeuta para os pais, pois, com o aprendizado, estes acabam gerenciando de modo mais adequado e
eficaz as diversas situações envolvendo seus filhos24.

De modo geral, os programas de TP vêm demonstrando eficácia no manejo de situações específicas,


como comportamentos disfuncionais (birras, intransigência, comportamento opositor), e propiciam um
melhor desenvolvimento de habilidades sociais em crianças com dificuldades de relacionamento
interpessoal e problemas comportamentais4,22,23. Além disso, podem ser aplicadas às mais diversas
condições clínicas, como: transtornos disruptivos, principalmente o Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade (TDAH) e Transtorno Desafiador Opositor (TDO), transtornos de ansiedade, transtornos
alimentares, transtornos globais do desenvolvimento, dificuldades de aprendizagem e outros, estimulando
e promovendo o desenvolvimento de competências funcionais nessas famílias25,23.

A prática clínica demonstra que os transtornos disruptivos são os quadros clínicos que mais vêm
sendo contemplados por programas de TP, pois essas abordagens auxiliam os pais na aquisição de recursos
importantes para o relacionamento familiar, estimulando as capacidades de comunicação, assertividade
e civilidade22,26. Esses transtornos costumam ocasionar prejuízos antissociais importantes, gerando
comprometimento nas áreas familiar, social e escolar, sendo também uma das causas de evasão escolar
para as crianças que apresentam tais sintomas e comportamentos24.

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FUNDAMENTOS E APLICAÇÕES DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES 93

Devido à importância desse recurso na TCC de crianças e adolescentes, os programas de treinamento


parental podem apresentar modalidades diferenciadas, dependendo do quadro clínico em tratamento.
No que se refere à modalidade de atendimento, o mais comum é a utilização de programas de atendimento
grupais de TP, porém esses treinamentos podem também ser realizados no modo individual, abarcando
somente a criança e seus pais25,23. Os protocolos de TP costumam seguir alguns pressupostos, como:
avaliação das características das crianças e suas famílias, apresentação do programa para os pais, processo
de psicoeducação parental a respeito das condições clínicas e comportamentais das crianças, ensinamento
de técnicas e manejos específicos para cada situação ou quadro clínico, com o objetivo de estimular
comportamentos mais adaptativos e saudáveis nas crianças e seus pais. Por último, é realizada uma
avaliação geral do programa e seus efeitos na vida das famílias participantes. Nesse processo, o terapeuta
pode fazer uso de instrumentos diversos, como escalas, questionários, inventários, entrevistas e outros,
assim como protocolos específicos podem ser desenvolvidos ou adaptados, sendo o mais utilizado o
modelo de Barkley (1997) nos programas de TP23,27.

Entre as temáticas mais trabalhadas nos programas de TP, encontram-se as técnicas de Manejo de
Contingências e o Treinamento de Habilidades Sociais, assim como o processo de Psicoeducação Parental.
Porém, a escolha das técnicas específicas depende do quadro clínico em questão e dos objetivos do
programa, e muitos recursos encontram-se à disposição do terapeuta, como estimulação de habilidades
para Resolução de Problemas, Monitoramento de Comportamentos (economia de fichas), Manejo de
Ansiedade e Estresse, entre outros28,29,30,31,32.

Em geral, os programas de treinamento parental são desenvolvidos em um período de tempo


específico, sendo comum o total de 12 sessões, que ocorrem uma vez por semana. Além disso, considerando-
se as novas configurações familiares comuns na atualidade, é necessário comentar que esses treinamentos
podem contar com a participação de outros membros da família, como avós, tios e outra pessoa diretamente
ligada ao comportamento infantil, assim como a comunidade escolar, pois a mudança de comportamento
da criança no meio escolar pode ser um dos objetivos na TCC23.

Trabalhando com a criança

O trabalho do terapeuta na TCC com crianças e adolescentes começa antes da chegada do paciente,
já na preparação da sala e na eleição dos brinquedos. A sala deve contemplar alguns cuidados básicos
(como a presença de um banheiro, por exemplo), além de brinquedos variados, que possam auxiliar a
criança em processos de expressão (como, por exemplo, desenhos e argilas), processos de identificação
(como bonecos da família, animais e outros personagens), além de jogos estruturados (tanto cooperativos
quanto competitivos, que permitem a avaliação dos processos da criança). Além disso, pode ser
interessante também a presença de brinquedos úteis para metáforas no trabalho de reestruturação
cognitiva (como lentes de aumento, óculos, balanças, entre outros). É importante, ao iniciar o atendimento,

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sempre verificar a preferência e história da criança, de modo a adaptar os materiais e brinquedos antes da
sessão. Ainda, como a criança é capaz de entender a lógica das coisas, mas seu pensamento ainda está em
desenvolvimento, recursos para representação concreta dos conceitos também são necessários7. É
fundamental que, na primeira sessão com a criança, os pais sejam orientados a explicar para ela o porquê
de ela estar indo a um psicoterapeuta. É interessante incluir toda a família no problema, de modo a
eliminar o aspecto punitivo do tratamento. A partir dessa primeira sessão, conforme a demanda e o
diagnóstico da criança, serão aplicadas as técnicas cognitivas e comportamentais, que serão descritas
mais detalhadamente a seguir.

Intervenções com crianças e adolescentes

Técnicas para identificação de pensamentos e sentimentos

É durante a primeira infância que as emoções humanas começam a se desenvolver, formando um


padrão característico e atuando na formação da personalidade33. Independentemente do diagnóstico da
criança, é importante que ela saiba identificar suas emoções e as dos outros, pois isso interferirá nos tipos
de relacionamento que serão estabelecidos ao longo da vida. As emoções são um misto de sensações
subjetivas e de estados fisiológicos os quais todas as pessoas vivenciam e expressam de diferentes
maneiras e, ainda que as emoções sejam respostas subjetivas do indivíduo, elas são praticamente as
mesmas em todas as culturas do mundo34.

Para ajudar as crianças a conhecer e identificar as emoções, Caminha e Caminha (2011) desenvolveram
o Baralho das Emoções. Esse baralho é formado por 24 cartas, cada uma contendo a expressão de uma
emoção.Entre elas estão incluídas seis cartas com as emoções básicas, ou seja, as primeiras emoções
sentidas desde muito pequeno, que são o amor, a tristeza, a alegria, a raiva, o medo e o nojo. Essas
emoções vão se estendendo para emoções mais complexas ao longo do desenvolvimento da criança33.

Outra maneira que pode ser utilizada para ajudar as crianças a identificarem suas emoções e também
seus pensamentos é a técnica chamada de Relógio dos Pensamentos-Sentimentos. Esse relógio é feito
durante a sessão juntamente com o paciente, e no lugar dos números o paciente vai desenhar pequenos
rostos representando as emoções. A ideia é ajudar a criança a perceber e entender seus sentimentos e
mostrar a ela que as emoções mudam e passam assim como mudam as horas. Através dos ponteiros, a
criança pode indicar o que está sentindo naquele momento, e o terapeuta pode ajudá-la a identificar que
pensamentos a estão levando a sentir-se assim35.

Quando se trabalha com crianças, deve-se levar em consideração a idade em que se encontra e a
etapa do seu desenvolvimento para a escolha da técnica ou intervenção mais adequada. Crianças pequenas

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FUNDAMENTOS E APLICAÇÕES DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES 95

costumam não corresponder bem a perguntas ou assuntos diretivos. Por isso, para essas crianças
conseguirem identificar suas emoções, podem-se utilizar Técnicas de Elaboração de Histórias. Essas histórias
devem ser parecidas com a situação vivenciada pela criança e que está gerando determinadas emoções
no seu cotidiano. Os personagens podem ser animais ou qualquer personagem que não se remeta
diretamente ao paciente. Dessa forma, a criança consegue se identificar com a situação e o personagem,
podendo dizer, mesmo que indiretamente, o que está sentindo ou mesmo pensando.

Técnicas para psicoeducação

A psicoeducação tem a importante função de orientar o paciente quanto a seu funcionamento,


diagnóstico, sintomas e sobre o próprio tratamento, facilitando o processo de mudança15. Na psicoterapia
infantil, a técnica da psicoeducação costuma ser feita tanto com os pais quanto com a própria criança, mas
a forma como será feita deverá respeitar a idade e o grau de desenvolvimento em que o paciente se
encontra. Com crianças menores, pode-se fazer uso de uma Psicoeducação Indireta, ou seja, através
metáforas, de histórias ou de personagens que não se refiram diretamente a elas. Para comportamentos
agressivos, por exemplo, pode-se trabalhar com a Metáfora do Super-Herói Incrível Hulk*2, por exemplo,
identificando, juntamente com a criança, o sentimento de raiva, como aparece no corpo e o que ele faz
quando se sente assim. Também se pode utilizar a Metáfora do Vulcão, que representa o corpo humano,
e a lava como sendo a raiva, pois o vulcão começa a esquentar até que entra em erupção e de dentro dele
sai a lava.

O contato com histórias é comum na infância, o que faz com que as crianças sintam-se à vontade
lidando e conversando sobre histórias e contos15. A história “De minha boca saem cobras e lagartos”, por
exemplo, fala sobre um menino que vai sendo dominado por cobras e lagartos que saem de sua boca a
todo instante, e assim as outras pessoas começam a se afastar dele. Através dessa história, pode ser feita
a psicoeducação da agressividade, dos sentimentos do menino e da repercussão que seus comportamentos
têm diante de outras crianças36.

Uma Psicoeducação Diretiva também pode ser bastante útil com crianças, contanto que mantenha
o caráter lúdico da infância. Para psicoeducar como os sentimentos aparecem no corpo, a criança pode,
por exemplo, desenhar o formato do corpo ou desenhar um menino ou menina, escolher uma cor que
represente as emoções mais frequentes e pintar onde elas aparecem no corpo, o tamanho em que aparecem
e o formato com que a representam.

*
O Incrível Hulk é um personagem de histórias em quadrinhos que representa o perigoso alter-ego do Dr. Robert Bruce
Banner, um cientista atingido por raios gama durante uma operação científica para salvar um adolescente durante o
teste militar de uma bomba desenvolvida por ele.

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Técnicas para solução de problemas

Uma técnica comumente utilizada na TCC com adultos é a Técnica de Resolução de Problemas, que
consiste em especificar um problema, de modo a projetar soluções viáveis e dessa foram selecionar uma
solução, seguida da implementação e avaliação de sua efetividade3. Essa técnica pode ser adaptada para
a utilização com as crianças, tendo em vista que nessa fase do desenvolvimento elas estão começando a
aprender a resolver problemas de diferentes complexidades, e muitas vezes costumam apresentar
dificuldades de solução desses problemas.

Entre as técnicas adaptadas para crianças, existe a Máscara do Herói, na qual o paciente escolhe um
herói, podendo ser personagens, pessoas famosas ou mesmo pais e professores, e cola a figura desse
herói em uma máscara. Ao usar a máscara e “transformar-se” no herói, a criança passa a ver o problema
sobre outra perspectiva e pode sentir-se empoderada. Ela é incentivada pelo terapeuta a explorar todas
as alternativas para seu problema e selecionar a melhor opção para resolvê-lo. Sendo um herói, a criança
consegue questionar crenças disfuncionais e reconhecer recursos que possui para lidar com a situação,
gerando autoconfiança35.

Técnicas comportamentais

As técnicas comportamentais são muito utilizadas no tratamento com crianças e adolescentes, pois,
dependendo da idade e da demanda da criança, esta pode apresentar mais dificuldades em prestar atenção
em suas cognições e monitorá-las do que os adultos, sendo preferível a utilização de intervenções
comportamentais15. Nesse sentido, as técnicas comportamentais reduzem a intensidade e frequência
dos comportamentos disfuncionais e aumentam os comportamentos desejados.

Dentre as técnicas comportamentais, as Técnicas de Relaxamento são bastante úteis a pacientes


com diferentes demandas, mas principalmente em pacientes ansiosos, pois, além dos processos
psicológicos, essas técnicas influenciam em respostas fisiológicas que atuam sobre os sintomas físicos da
ansiedade15. O relaxamento muscular progressivo amplamente utilizado em adultos também é utilizado
em crianças de uma maneira adaptada. É uma técnica em que os pacientes são levados a tensionar e
relaxar diferentes músculos por vez. Para ser utilizada com crianças, essa técnica deve ser adaptada para
que se obtenha uma maior adesão do paciente. Existem algumas adaptações como imaginar o corpo rígido
como um robô, depois mole como um boneco de pano e em seguida pedir que a criança descreva como se
sentiu em cada uma das vezes38.

Outra técnica importante é o Treino de Respiração Diafragmática, que também ajuda no relaxamento.
Para isso, é indicado que o paciente inspire e expire de forma lenta e profunda. Com as crianças, podem
ser utilizadas bolhas de sabão, pois, para que as bolhas se formem, deve-se assoprar de forma lenta, o que

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FUNDAMENTOS E APLICAÇÕES DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES 97

ajuda na regularização da respiração e distração dos sintomas físicos ocasionados pela ansiedade. As
bolhas de sabão também podem ser utilizadas com crianças que tenham dificuldade de tolerar frustrações,
o que gera irritação e raiva36.

A Exposição Graduada, técnica muito utilizada com adultos ansiosos que objetivam atingir uma
meta, mas não se sentem capazes3, é fundamental no tratamento de crianças com diferentes tipos de
ansiedade. O uso de metáforas nesse caso também ajuda a criança a se engajar na técnica. Em primeiro
lugar se define a meta, depois divide-se a meta em um “passo a passo”, explicando-se para criança que
será, por exemplo, como uma escadaria em que ela subirá degrau por degrau até atingir o topo, ou mesmo
como um jogo de videogame que ela terá que vencer cada fase, como um desafio. Juntamente com o
paciente,estabelece-se uma hierarquia quanto ao grau de dificuldade. A cada etapa alcançada, o terapeuta
deve reforçar o paciente, incentivando-o a continuar.

Outra técnica comportamental muito útil no tratamento infantil é a Economia de Fichas. Ela serve
para ajudar as crianças a aumentarem os comportamentos adequados através de uma atenção positiva
dos pais para esses comportamentos. A técnica funciona como um sistema de pontos e recompensas, em
que primeiro selecionam-se os comportamentos desejados. Deve-se iniciar com poucos comportamentos,
de um a três, dependendo da idade, então se estabelece um número de pontos para cada comportamento.
Cada vez que a criança emitir o comportamento desejado, ela recebe fichas com os pontos relativos39,40. O
terapeuta irá definir quantos pontos mínimos ela deve juntar semanalmente para poder trocar por
recompensas preestabelecidas. Cada recompensa também tem valores diferentes; então, quanto mais
fichas ela juntar, melhores serão as recompensas. É sempre importante lembrar que não é recomendado
que as recompensas sejam alimentos, dinheiro ou qualquer bem material de alto valor financeiro. O ideal
é que sejam atividades de lazer e de preferência junto à família39,40.

Técnicas cognitivas

As técnicas cognitivas têm sido cada vez mais desenvolvidas e adaptadas para a terapia infantil.
Existem diferentes técnicas cognitivas utilizadas com crianças, entre elas a Analogia do Semáforo, que foi
desenvolvida através do Programa FRIENDS. Essa técnica ensina a criança a identificar e classificar os
diferentes tipos de pensamentos em: “pensamentos vermelhos”,aqueles improdutivos, negativos e que
impedem o bem-estar; “pensamentos amarelos”, que servem para refletir; e os “pensamentos verdes”,
que são produtivos e que incentivam o bem-estar41.

Para ajudar as crianças a compreenderem e transformarem pensamentos disfuncionais em


pensamentos funcionais, pode também ser utilizada a Analogia da Lagarta. Nesse caso a lagarta, que são
os pensamentos negativos, vai se transformando em uma borboleta, que são os pensamentos positivos42.

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A proposta dessa técnica é ensiná-las a classificar os pensamentos como aqueles que nos ajudam e aqueles
que nos atrapalham, sempre de uma forma ilustrativa e concreta.

A Balança das Vantagens e Desvantagens, técnica utilizada para tomada de decisões, é importante
no tratamento infantil. Para essa técnica, o terapeuta pode recortar uma pequena balança de papel,
deixando os dois braços móveis para a pesagem. Em um dos lados o paciente escreve as vantagens e do
outro as desvantagens. Cada item ou argumento escrito nela faz a balança pender para baixo, estando no
final mais voltada para o lado que tem mais argumentos, auxiliando, assim, na decisão a ser tomada.

Apresentação de um caso clínico de TCC na infância

Fernando**3 tem 9 anos, mora com os pais e o irmão mais velho. Os pais de Fernando procuraram
ajuda para o filho porque ele está tendo dificuldade de ficar em sala de aula ou em outro lugar em que
precise ficar longe dos pais ou do irmão mais velho, de 15 anos. Fernando é muito ansioso e, toda vez que
fica longe dos pais ou do irmão, pensa que algo ruim pode acontecer a eles ou a si próprio.Quando estão
por perto, consegue manter-se mais tranquilo.

Segundo os pais, o menino sempre foi assim, mas a ansiedade e a preocupação têm aumentado
cada vez mais. Durante a aula ele liga para a mãe muitas vezes para saber como ela está, chegando a ligar
cinco vezes em meia hora. Liga também no final da aula para se certificar de que estão indo buscá-lo. A
ansiedade que Fernando sentia encontra-se em nível tão elevado que chega a chorar e vomitar na escola,
e muitas vezes os seus pais precisavam buscá-lo antes.

Fernando não tem problemas de aprendizagem e tira boas notas. Segundo os professores, ele
possui alguns amigos, mas não tem conseguido interagir, ficando, geralmente, sozinho. Em casa, isto
também acontece: fica muito ansioso quando alguém demora a chegar, pede para telefonar e verificar se
está tudo bem. Não quer ficar sozinho nem mesmo para sua mãe descer para levar o lixo. O pai de
Fernando também sofre de ansiedade, mas nunca fez tratamento. A mãe é superprotetora para com o
filho, assim como com o irmão mais velho.

A partir das sessões realizadas com Fernando, foi realizado o diagnóstico de Ansiedade de Separação.
Após a realização do diagnóstico, foi trabalhada a confecção do diagrama de conceitualização cognitiva,
que culminou no Quadro 2.

**Os responsáveis consentiram na apresentação do caso, e os dados pessoais e a descrição do paciente foram
alterados pelos autores de modo a garantir o anonimato da criança e impossibilitar sua identificação.

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FUNDAMENTOS E APLICAÇÕES DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES 99

Quadro 2

Diagrama de Conceitualização Cognitiva de um Caso Clínico

Dados relevantes da HistóriaPai ansioso. Mãe superprotetora. Irmão mais velho superprotetor.

Crença Central”Sou vulnerável.” “O mundo é perigoso.”

Crenças Condicionais”Se sou vulnerável, então devo ficar junto aos meus pais.””Se o mundo é
perigoso, então minha família e eu devemos permanecer juntos o tempo inteiro.”

Estratégias CompensatóriasNão quer ficar sozinho ou longe dos pais ou irmão; controla o tempo
quando alguém sai; liga para os pais para se certificar de que está tudo bem; preocupa-se com a
segurança da família.

No início do tratamento com Fernando, foi utilizado o Baralho das Emoções. Pediu-se que Fernando
selecionasse as cartinhas com as emoções que mais estivesse sentindo ultimamente. Ele selecionou as
cartas referentes à “preocupação” quando pensa que alguma coisa ruim pode acontecer com ele ou com
os pais; “medo” de ficar sozinho ou que alguém estranho faça mal a ele; “alegria” quando está junto à
família; e “orgulho” quando consegue ir para escola sem medo.

Em seguida foi feita uma Psicoeducação Diretiva acerca do medo e das preocupações. Pediu-se que
Fernando escolhesse cores para representar essas emoções e que pintasse, no desenho de um menino,
onde essas emoções apareciam no seu corpo e que tamanho tinham. Fernando pintou de preto e vermelho
em toda a extensão do abdômen do menino, ressaltando o coração. Também foi solicitado que Fernando
imaginasse seus medos e preocupações como tendo uma forma e como ela seria. Então, o paciente
desenhou um “monstro bem feio” (sic) em preto e vermelho e o chamou de Monstro das Preocupações.
Foi fundamental nesse caso que o paciente tenha conseguido externalizar suas emoções de uma forma
criativa e como algo separado de si mesmo e que, consequentemente, pode enfrentar.

Posteriormente, foi explicado a Fernando que esse monstro parece muito grande, e, cada vez que
ele foge do monstro, ele se fortalece e cresce ainda mais, mas que, se ele resolvesse enfrentar o monstro,
ele se tornaria tão pequeno que caberia na palma da sua mão. Então, paciente e terapeuta desenharam
ambas as situações: de ele fugindo e o monstro ficando enorme e depois de ele enfrentando e o monstro
ficando bem pequeno. Para poder enfrentar o monstro através da Exposição Graduada, Fernando teria
que passar por diversas etapas e, quando ele alcançasse a última etapa, ele venceria o monstro e ganharia
uma medalha como recompensa.

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Para ajudá-lo a enfrentar suas tarefas, foi ensinada a ele a Respiração das Bolhas de Sabão para fazer
sempre que estivesse ansioso. Foi feita uma lista com cada etapa a ser superada. A primeira das etapas era
Fernando ficar um dia da semana, no mínimo, sem ligar para a mãe no final da aula. Ele conseguiu cumprir
essa etapa. Nas semanas seguintes foram aumentando os dias sem poder ligar, depois ele também passou
a não poder ligar para a mãe no intervalo da aula. Em seguida, ele foi com a turma em um passeio da escola
e, aos poucos, foi conseguindo superar seus medos.

Com o tempo, Fernando já estava conseguindo fazer o que mais gostava, que era jogar futebol com
os colegas de aula e se divertir. Então, como combinado, Fernando ganhou sua medalha dourada. O
terapeuta pediu que ele desenhasse o Monstro das Preocupações agora que ele havia conseguido enfrentá-
lo. Então Fernando o desenhou preso com grades e correntes em uma ilha deserta, rodeado por tubarões
de onde ele não sairia tão cedo.

Considerações finais

Este artigo teve como objetivo apresentar um panorama geral sobre os aspectos teóricos e práticos
da TCC com crianças e adolescentes e finalizar com a ilustração acerca de um caso clínico. A partir da
apresentação das características da TCC com crianças e adolescentes, assim como das principais diretrizes
para a avaliação da TCC na infância e intervenções cognitivas e comportamentais na infância e adolescência,
buscou-se desfazer mitos e confusões acerca da TCC com crianças e adolescentes, reforçando essa prática
clínica e a efetividade dessa abordagem teórica. A descrição do caso clínico de uma criança atendida em
TCC relatado teve como objetivo servir como exemplo ilustrativo e fomentar a reflexão, proporcionando
um maior entendimento acerca da aplicação e adequação das técnicas aos objetivos do tratamento.

Assim como em outras abordagens teóricas, a clínica com jovens deve ser fomentada e estimulada
no sentido preventivo e também aumentando e valorizando a atenção ao sofrimento psíquico na infância
e adolescência, que, infelizmente, pode existir e que, por mais difícil que seja identificá-lo, não pode ser
negligenciado. Além de ser de fundamental importância para a promoção da resiliência em uma fase
inicial da vida, que pode garantir um desenvolvimento saudável ao longo do ciclo vital, o trabalho cognitivo-
comportamental com crianças e adolescentes é dinâmico, estimula a criatividade e é extremamente
gratificante. Nesse contexto, o terapeuta cognitivo da infância e adolescência deve exercer sua prática
com sensibilidade e criatividade, com a certeza de que cada criança é um ser único e especial e que o
trabalho na infância pode contribuir significativamente para o enriquecimento clínico e pessoal do
profissional.

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Correspondência
Juliana da Rosa Pureza
Av. Ipiranga, 6681, Partenon, prédio 11, 9º andar
90619-900 Porto Alegre/RS
julianapureza@yahoo.com.br

Submetido em: 01/01/2014


Solicitação de reformulações em: 15/01/2014
Retorno dos autores em: 29/01/2014

Aceito em: 05/02/2014

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