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Interpretação e Produção de Texto

Brasília-DF.
Elaboração

Marcelo Whately Paiva

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

Apresentação.................................................................................................................................. 5

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa..................................................................... 6

Introdução.................................................................................................................................... 8

Unidade i
Conceito de texto............................................................................................................................. 9

Capítulo 1
Texto e redação.................................................................................................................... 9

Capítulo 2
Relações lógicas de coesão........................................................................................... 13

Capítulo 3
A linguagem........................................................................................................................ 16

Capítulo 4
Vícios de comunicação.................................................................................................... 19

Unidade iI
Gêneros e estilos............................................................................................................................. 23

Capítulo 1
Gêneros textuais................................................................................................................. 23

Capítulo 2
Texto literário e não literário........................................................................................... 26

Capítulo 3
Tipos de discursos.............................................................................................................. 29

Capítulo 4
Estilos................................................................................................................................... 32

Unidade iII
Prática de interpretação e produção.......................................................................................... 35

Capítulo 1
Ideias explícitas e ideias implícitas..................................................................................... 35
Unidade iV
Estruturação de um texto............................................................................................................... 50

Capítulo 1
O ato de redigir.................................................................................................................. 50

Capítulo 2
O período adequado......................................................................................................... 53

Capítulo 3
O parágrafo adequado.................................................................................................... 57

Capítulo 4
Estruturas textuais............................................................................................................... 61

Referências................................................................................................................................... 67
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao
profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução
científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

6
Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

7
Introdução

Este módulo objetiva aprofundar seus conhecimentos relacionados à interpretação e


produção de textos. Assim, abordaremos o conceito de interpretação, análise, texto,
redação etc. Estudaremos as qualidades e os defeitos de um texto para nos tornarmos
capazes de interpretar e produzir com competência.

O conteúdo foi elaborado de forma didática para explorar cada conteúdo de forma
específica e necessária ao nosso estudo. A finalidade é apresentar conceitos práticos e
não meramente acadêmicos.

Espero que o módulo lhe seja útil para desenvolver cada vez mais sua capacidade de
expressar e interagir com toda a sociedade.

(Marcelo Paiva)

Objetivos
»» Desenvolver a capacidade de interpretar adequadamente diferentes
modelos de texto.

»» Perceber os principais erros que provocam análise equivocada de um


texto.

»» Estimular a capacidade de produzir textos com clareza, objetividade e


organização.

»» Desenvolver a capacidade de sintetizar ideias.

8
Conceito de Unidade i
texto

Capítulo 1
Texto e redação

Ler é um ato que nos remete a um diálogo com o mundo do autor. É um ato
que nos coloca frente a frente a uma realidade que muitas vezes é totalmente
desconhecida por nós, o que pode dificultar o seu entendimento. O texto, por
outro lado, representa o pensamento humano de um tempo, de uma época
histórica. É, portanto, a expressão de um modo de viver, pensar, sentir, ver a
realidade como se apresenta historicamente em seus aspectos sociais, políticos,
econômicos, culturais e ideológicos. Podemos, então, entender que um texto
é a obra do homem que auxilia os seus semelhantes a conhecer e entender o
mundo. Entretanto, por representar um momento histórico, não é algo acabado,
pronto, definitivo e absoluto.

(Geraldo Antonio Betini)

Mas por que essa preocupação em saber ler, analisar e interpretar um texto?
Vivemos em um mundo de avanços tecnológicos significativos, de grandes
transformações e com novas formas de organização do trabalho, aliados a um
sistema de vida pautado pelo individualismo e pela competitividade, legados
pelo neoliberalismo, que moldam a vida material e cultural de todo cidadão. É
nessa realidade que vivemos e para a qual devemos nos preparar para modificá-
la, atuando como sujeitos de nossa história.

Em uma sociedade que se transforma tão rapidamente, de tantas informações


e conhecimentos gerados pela ciência e pela tecnologia, é necessário que as
pessoas aprendam a pensar. E pensar é saber discernir e traçar o seu próprio
caminho em meio a tantas perspectivas que o mundo apresenta.

Sendo assim, ler, analisar, interpretar um texto de forma crítica nos ensina a
pensar e saber pensar nos leva a interpretar uma leitura, sobretudo, estabelecer

9
UNIDADE I │ Conceito de texto

relação com uma realidade de forma crítica. Visão crítica mais ação podem
transformar a realidade social, política, econômica, cultural de um indivíduo e
de uma sociedade. Entretanto, não é tão fácil interpretar um texto. Esse é um
dos grandes desafios de muitos professores hoje em nossas escolas superiores.
Deparamo-nos com alunos que não foram preparados para uma educação
emancipadora, crítica, que os colocassem como corresponsáveis pela sua
formação. Aprenderam mais pela linguagem oral do que pela linguagem escrita,
tornando-se dependentes no processo de aprendizagem. Receberam uma
quantidade enorme de informações e conhecimentos, mas não sabem relacioná-
los com os diversos saberes da escola e da vida. Foram ensinados a ouvir e não
a participar, falar, criticar. Tornaram-se objetos e não sujeitos de sua educação.

Mas como podemos melhorar a capacidade de pensar criticamente, tornando o


indivíduo um leitor ativo, participativo, sujeito?

(Geraldo Antonio Betini)

Existe uma diferença conceitual entre redação e texto. Nosso interesse no curso será
abordar as duas ideias para que você se sinta preparado para interpretar e produzir
conforme sua necessidade.

O uso do termo redação é muito comum no ensino médio e em provas. Isso ocorre desde
a edição do Decreto no 79.298, em 24 de fevereiro de 1977, que determinou a inclusão
obrigatória da redação nos provas públicas do atual ensino médio e vestibulares. Com
isso, perdeu-se a noção mais completa do termo “texto”. A preocupação passou apenas
a fazer um trabalho escrito para aprovação de um professor ou banca.

Fazer uma redação passou a significar um conjunto de parágrafos – em alguns


casos apenas períodos – organizados em torno de uma ideia com coerência, coesão,
objetividade, clareza e correção gramatical. O interesse é observar a capacidade de
defender uma abordagem com argumentos embasados adequadamente. Trataremos
desse tipo de texto em nossas aulas.

Texto, no entanto, envolve um conceito mais amplo. Ele abrange a ideia de que a pessoa
não apenas busca se comunicar, mas também persuadir com a ideia transmitida.
Escrever um texto, assim, não é apenas se preocupar em transmitir uma ideia com
correção gramatical e organização textual. Fazer um texto é convencer o leitor ou
ouvinte de sua ideia e influenciá-lo com o discurso apresentado.

O escritor e pesquisador italiano Umberto Eco, em sua obra ‘Conceito de Texto’, analisa
a noção de texto como fundamental para se entender o processo de comunicação. Fazer
uso competente da língua é a capacidade de ler e produzir adequadamente textos diversos,

10
Conceito de texto │ UNIDADE I

produzidos em situações diferentes e sobre diferentes temas. Pensar em texto é pensar


em nossa vida diária. Sempre estamos envolvidos em leituras, escritas, observações e
análise. Quantas decisões importantes não dependem, única e exclusivamente, de uma
boa leitura ou redação de texto?

O que é interpretar um texto?


A palavra interpretar vem do latim interpretare e significa explicar, comentar ou
aclarar o sentido dos signos ou símbolos. Tal vocábulo corresponde ao grego análysis,
que tem o sentido de decompor um todo em suas partes, sem decompor o todo, para
compreendê-lo melhor.

Interpretar um texto é entendê-lo, penetrá-lo em sua essência, observar qual é a ideia


principal, quais os argumentos que comprovam a ideia do autor, como o texto está
escrito e outros detalhes. Não é tarefa fácil, pois vivemos em um mundo que não
privilegia a compreensão profunda de nossa própria existência.

Saber ler corretamente


Quando se diz que uma pessoa deve saber ler, esta afirmação pode parecer simples, a
não ser que esclareça melhor o sentido da expressão “saber ler”. Ler adequadamente é
mais do que ser capaz de decodificar as palavras ou combinações linearmente ordenadas
em sentenças. Deve-se aprender a “enxergar” todo o contexto denotativo e conotativo.
É preciso compreender o assunto principal, suas causas e consequências, críticas,
argumentações, polissemias, ambiguidades, ironias etc.

Ler adequadamente é sempre resultado da consideração de dois tipos de fatores: os


propriamente linguísticos e os contextuais ou situacionais, que podem ser de natureza
bastante variada. Bom leitor, portanto, é aquele capaz de integrar esses dois tipos de
fatores.

Unidade
Um texto só pode ser considerado como tal se possuir uma unidade de entendimento. A
simples expressão não caracteriza o texto em si. A origem do termo “texto” está relacionada
a “novelo”, ou seja, um emaranhado de assuntos. Assim, todo o texto perpassa uma ideia
maior desenvolvida em partes. Observe como isso se dá no texto a seguir.

Destruir a natureza é a forma mais fácil de o homem se aniquilar da face


da terra. Dizimando certas espécies de animais, por exemplo, interfere na

11
UNIDADE I │ Conceito de texto

cadeia alimentar, causando desequilíbrios que produzirão a extinção de


seres essenciais à harmonia do planeta. Jogando diariamente toneladas
de produtos químicos poluentes, o ser humano causa a destruição do
meio ambiente.

Perceba que o texto anterior está dividido em três períodos, cada um com uma ideia
específica. No entanto, o tema principal é a destruição do meio-ambiente. Aí está a
nossa unidade.

Clareza
Clareza é a capacidade que o autor teve de construir um texto facilmente compreensível
pelo leitor. Durante o módulo, abordaremos em detalhes a clareza na interpretação e
na produção de textos.

Coerência
Coerência é a lógica e a organização da estrutura do texto. Ela envolve o texto como um
todo de forma que o leitor o entenda. O primeiro aspecto a ser observado é em relação
à organização. Observe o texto a seguir.

A cidade do Rio de Janeiro já foi sede de três representações significativas


do poder público: prefeitura municipal, governo estadual e governo
federal. O governo estadual (...). A prefeitura municipal (...). O governo
federal (...).

O autor citou as três sedes em ordem crescente e abordou de forma desorganizada.


Falha de coerência.

O segundo aspecto em relação à coerência está na lógica. Observe o trecho a seguir.

Brasília é a melhor cidade do Brasil. A qualidade de vida apresenta dados


que se destacam no cenário nacional: baixa criminalidade, alto poder
aquisitivo e boas opções de lazer. Também o clima propicia agradáveis
dias durante o ano inteiro. Infelizmente, muitas pessoas que moram
aqui reclamam dos preços cobrados nos aluguéis de apartamentos
apertados.

O parágrafo aborda inicialmente uma visão positiva em relação à cidade e, no final,


explora uma ideia contrária à ideia principal.

12
Capítulo 2
Relações lógicas de coesão

A coerência e a coesão são os tijolos que unem as partes de um texto. A coerência mantém
a lógica durante todo o texto. Ser coerente é manter ideias racionais compreensíveis e
aceitas como pertinentes ou possíveis. Enquanto a coerência mantém a ideia organizada
logicamente, a coesão une os pensamentos por meio de conectivos, pronomes e tantos
outros recursos. Observe alguns elementos de coesão gramatical e referencial.

1. Conjunção: Paula estudou muito, portanto passou.

»» Principais conjunções
›› Aditivas (adição): e, nem, mas também, como também, bem como,
mas ainda.
›› Adversativas (adversidade, oposição): mas, porém, todavia, contudo,
antes (= pelo contrário), não obstante, no entanto, entretanto, senão.
›› Alternativas (alternância, exclusão, escolha): ou, ou ... ou, ora ... ora,
quer ... quer.
›› Conclusivas (conclusão): logo, portanto, pois (depois do verbo), por
conseguinte, por isso.
›› Explicativas (justificação): pois (antes do verbo), porque, que,
porquanto.
›› Causais: porque, visto que, já que, uma vez que, como, desde que,
porquanto, haja vista.
›› Comparativas: como, (tal) qual, assim como, (tanto) quanto, (mais ou
menos +) que.
›› Condicionais: se, caso, contanto que, desde que, salvo se, sem que (=
se não), a menos que.
›› Consecutivas (consequência, resultado, efeito): que (precedido de tal,
tanto, tão etc. – indicadores de intensidade), de modo que, de maneira
que, de sorte que, de maneira que, sem que.
›› Conformativas (conformidade, adequação): conforme, segundo,
consoante, como.

13
UNIDADE I │ Conceito de texto

›› Concessivas: embora, em que pese, conquanto, posto que, por muito


que, se bem que, ainda que, mesmo que.
›› Temporais: quando, enquanto, logo que, desde que, assim que, mal (=
logo que), até que.
›› Finais: a fim de que, para que, que, com objetivo, com vista a;
›› Proporcionais: à medida que, à proporção que, ao passo que, quanto
mais (+ tanto menos).

2. Pronome relativo: O rapaz que estudou passou.

3. Perífrase, antonomásia, epítetos: ocorre com o uso de um termo ou expressão


que se relaciona à ideia anteriormente apresentada.

Brasília é uma cidade muito boa. A capital do Brasil apresenta uma qualidade de
vida que se destaca em todo o Brasil.

Xuxa apresentará novo programa. A rainha dos baixinhos pretende inovar com
um musical.

4. Nominalização: um substantivo é empregado no sentido de um verbo já usado.

O candidato estudou a noite inteira. O estudo o encheu de esperança.

5. Repetição vocabular: como o nome diz, é o uso de termos repetidos.

O Congresso acusou o governo de descontrole nos gastos. No entanto, o governo se


defendeu no mesmo dia.

6. Um termo síntese: uso de uma expressão que resume a ideia anterior.

Doação ilegal de verbas públicas, compras de deputados e senadores, diversas


irregularidades – o mensalão não pode ocorrer em nosso país.

7. Pronomes: tipo de coesão muito empregado.

Isabela e Rosa chegaram. Esta tem 29 anos; aquela, 4.

Conheço o rapaz que acabou de chegar.

8. Numerais: eles podem se relacionar a outras ideias no texto.

O deputado afirmou duas coisas: a primeira era que não iria renunciar. A segunda,
que tudo era mentira.

9. Advérbios: também os advérbios podem retomar ou antecipar ideias.

Morarei em Portugal. Lá, conheci uma linda mulher.

14
Conceito de texto │ UNIDADE I

10. Elipse: omissão de um termo ou expressão que pode ser facilmente depreendida
em seu sentido pelas referências do contexto.

Lígia abriu o armário e encontrou seu livro.

11. Repetição de parte do nome próprio: para não repetir o nome inteiro, recorre-
se a uma parte que faça referência.

Li Machado de Assis ontem. Machado é realmente sensacional.

12. Metonímia: relação lógica entre ideias por extensão.

O Congresso acusou o governo de descontrole nos gastos. O Planalto se defendeu


no mesmo dia.

13. Termo anafórico: quando o item de referência retoma um signo já expresso no


texto.

Maria é excelente amiga. Ela sempre me deu provas disso.

14. Termo catafórico: quando o item de referência antecipa um signo ainda não
expresso no texto.

Só desejo isto: que você não se esqueça de mim.

15. Sinônimo: é obtida pela reiteração de itens lexicais idênticos ou que possuem o
mesmo referente.

Lucas é meu filho mais velho. Meu primogênito é muito inteligente.

Fernando Henrique Cardoso não tem dado muitas entrevistas. O ex-presidente


prefere o silêncio.

16. Hiperônimo: quando o termo mantém com o referente uma relação todo-parte,
classe-elemento.

Pedro comprou uma moto. O veículo é branco com faixa azul.

17. Hipônimo: quando o termo mantém com o referente uma relação parte-todo,
elemento-classe.

Gosto muito de cidades grandes. São Paulo é maravilhosa.

Na fazenda, tenho muitos animais. Tenho uma vaca grande.

15
Capítulo 3
A linguagem

A linguagem surgiu da necessidade de expressão e comunicação. Pode-se afirmar que


ela é a forma propriamente humana da comunicação, da relação com o mundo e com os
outros, da vida social e política, do pensamento e das artes.

O estudo da linguagem sempre fascinou filósofos e estudiosos de diversas correntes.


Por exemplo, Aristóteles defendia a ideia de que o homem é um animal político, pois,
embora outros animais tenham voz, apenas o ser humano tem a capacidade de exprimir
valores que viabilizam vida social e política.

Nosso conceito será o de destacar a linguagem como um sistema de sinais usados para
indicar a função comunicativa entre pessoas e para a expressão de ideias, valores,
intenções e sentimentos. Quanto às características, podemos extrair as seguintes
afirmações em relação à linguagem:

»» é um sistema estruturado com princípios próprios;

»» possui signos ou sinais;

»» possui palavras que têm função de apontar coisas que elas significam –
função indicativa ou denotativa;

»» tem uma função comunicativa – mediante palavras estabelecemos


relações com os outros seres humanos;

»» exprime pensamentos, sentimentos e valores – função conotativa, ou de


conhecimento e expressão;

»» permite a compreensão e interpretação do contexto social, econômico e


cultural.

Linguagem simbólica e conceitual


A linguagem simbólica opera por analogias e por metáforas; realiza-se como imaginação;
é inerente aos mitos, à religião, à poesia, ao romance, ao teatro; fascina e seduz, por ser
fortemente emotiva e afetiva; oferece imagens ou sínteses imediatas; oferece palavras
polissêmicas, ou seja, carregadas de múltiplos sentidos simultâneos e diferentes, tanto
sentidos semelhantes e em harmonia, quanto sentidos opostos e contrários; faz a criação

16
Conceito de texto │ UNIDADE I

de outro mundo, análogo ao nosso, porém mais belo ou terrível do que o real; destaca a
memória e imaginação, focalizando um futuro ou passado possíveis.

A linguagem conceitual procura dar às palavras sentido direto e não figurado, evitando
analogia (semelhança entre palavras e sons) e metáfora (uso de palavras para substituir
outras, criando sentido poético para expressão do sentido); evita o uso de palavras
carregadas de múltiplos sentidos, procurando fazer com que cada palavra tenha sentido
próprio e que seu sentido vincule-se ao contexto no qual a palavra é empregada; procura
convencer e persuadir por meio de argumentos, raciocínios e provas; busca definir
o mundo real, decifrando-o e superando as aparências; busca focalizar o presente, a
atualidade.

Elementos da comunicação
»» Emissor: emite, codifica a mensagem.

»» Receptor: recebe, decodifica a mensagem.

»» Mensagem: conteúdo transmitido pelo emissor.

»» Código: conjunto de signos usado na transmissão e recepção da


mensagem.

»» Referente: contexto relacionado a emissor e receptor.

»» Canal: meio pelo qual circula a mensagem.

Funções da linguagem
O modelo a seguir foi proposto por Roman Jakobson no livro ‘Linguística e Comunicação’.

»» Função emotiva (ou expressiva): centralizada no emissor, revelando


sua opinião, sua emoção. Nela, prevalece a 1a pessoa do singular,
interjeições e exclamações. É a linguagem das biografias, memórias,
poesias líricas e cartas de amor.

»» Função referencial (ou denotativa): centralizada no referente,


quando o emissor procura oferecer informações da realidade. Objetiva,
direta, denotativa, prevalecendo a 3a pessoa do singular. Linguagem
usada nas notícias de jornal e livros científicos.

17
UNIDADE I │ Conceito de texto

»» Função apelativa (ou conativa): centraliza-se no receptor; o emissor


procura influenciar o comportamento do receptor. Como o emissor se
dirige ao receptor, é comum o uso de tu e você, ou o nome da pessoa,
além dos vocativos e verbos no modo imperativo. Usada nos discursos,
sermões e propagandas que se dirigem diretamente ao consumidor.

»» Função fática: centralizada no canal, tendo como objetivo prolongar ou


não o contato com o receptor, ou testar a eficiência do canal. Linguagem
das falas telefônicas, saudações e similares.

»» Função poética: centralizada na mensagem, revelando recursos


imaginativos criados pelo emissor. Afetiva, sugestiva, conotativa, ela é
metafórica. Valorizam-se as palavras, suas combinações. É a linguagem
figurada apresentada em obras literárias, letras de música, em algumas
propagandas etc.

»» Função metalinguística: centralizada no código, usando a linguagem


para falar dela mesma. A poesia que fala da poesia, da sua função e do
poeta, um texto que comenta outro texto. Principalmente os dicionários
são repositórios de metalinguagem.

Importante salientar que um mesmo texto pode conter várias funções da linguagem.
Procure saber qual a função predominante no texto, para então defini-lo.

18
Capítulo 4
Vícios de comunicação

Os vícios de comunicação podem ocorrer tanto na interpretação como na produção.


Observe os principais. No último módulo, retomaremos o assunto na produção textual.

Extrapolar
Trata-se de um erro muito comum, ocorre quando saímos do contexto, acrescentando
ideias que não estão presentes, com isso, a interpretação fica comprometida.
Frequentemente, relacionamos fatos reais a outros contextos.

Reduzir
Trata-se de um erro oposto à extrapolação. Ocorre quando damos atenção apenas a
uma parte ou aspecto do texto, esquecendo a totalidade do contexto. Destacamos, desse
modo, apenas um fato ou uma relação que podem ser verdadeiros, porém insuficientes
se levarmos em consideração o conjunto das ideias.

Contradizer
Ocorre quando chegamos a uma conclusão que se opõe ao texto. Associamos ideias que,
embora no texto, não se relacionam entre si.

Prolixidade
É importante que se eliminem as expressões supérfluas e os pormenores excessivos.
Muitas vezes, o autor acredita que, escrevendo bastante, utilizando frases de efeito,
tornará o texto mais rico. Na verdade, isso só atrapalha. Elimine as ideias sem
importância, as repetições, os exemplos demasiados, os adjetivos supérfluos. Observe
exemplo de texto prolixo no Manual de Estilo da Editora Abril.

Nada mais justo do que os milhões de jovens brasileiros não adultos,


de norte a sul e leste a oeste, poderem exercer seu legítimo direito
de cidadania, tendo direito ao voto para todos os cargos políticos, de
vereador, de prefeito, de deputado e, inclusive, de presidente, influindo

19
UNIDADE I │ Conceito de texto

dessa maneira nos destinos tão obscuros da nossa querida e amada


Nação, chamada Brasil, nome recebido justamente por causa de um
produto da natureza também bonito.

Frases feitas
Os lugares-comuns e os clichês demonstram falha de estilo e linguagem limitada.
Observe exemplos: Porque o futuro é de todos nós; Devemos unir nossos esforços;
Fechar com chave de ouro; Chegar a um denominador comum; Deixar a desejar;
Estourar como uma bomba; Fortuna incalculável; Inserido no contexto; Levantar a
cabeça e partir para outra; A esperança é a última que morre; Os jovens são o futuro
da nação.

Falta de paralelismo
Quando se coordenam elementos (substantivos, adjetivos, advérbios, orações), é
necessário que eles apresentem estrutura gramatical idêntica. Observe:

Inadequado: Procuravam-se soluções para satisfazer os operários e que agradassem


aos empresários.

Adequado: Procuravam-se soluções para satisfazer os operários e agradar aos


empresários.

Inadequado: As cidades paulistas e as cidades do Paraná apresentam muitas


afinidades.

Adequado: As cidades paulistas e as paranaenses apresentam muitas afinidades.

Inadequado: Ocorrem distúrbios devido à revolta dos estudantes e porque não


atenderam suas reivindicações.

Adequado: Ocorrem distúrbios devido à revolta dos estudantes e ao não atendimento


de suas reivindicações.

Queísmo
O uso reiterado do “que” pode constituir erro de estilo e prejudicar a clareza do texto.
Observe exemplos inadequados.

20
Conceito de texto │ UNIDADE I

O jornalista que redigiu a reportagem que apareceu no jornal receberá o prêmio


que todos desejavam.

Você tem que ter uma letra que todos possam entender o que está escrito.

O diretor afirmou que o relatório que foi escrito denuncia que tudo foi feito errado.

Ambiguidade
Ambiguidade, na frase, é a obscuridade de sentido. Frases ambíguas permitem duas
ou mais interpretações diferentes, devendo, por isso, ser evitadas em textos que devem
primar pela clareza e precisão, conforme é o caso dos textos legais e dos expedientes
administrativos. Exemplo de frase de sentido ambíguo:

Ambíguo: O Deputado discutiu com o Presidente da Comissão o seu descontentamento


com a aprovação do projeto.

A ambiguidade dessa frase está no pronome possessivo seu: o descontentamento é do


Deputado ou do Presidente da Comissão? Para que o sentido fique claro, o pronome
deve ser eliminado.

Claro: O Deputado, descontente com a aprovação do projeto, discutiu o assunto com


o Presidente da Comissão.

Claro: O Deputado discutiu com o Presidente da Comissão o descontentamento deste


com a aprovação do projeto.

Ambíguo: O Líder comunicou ao Deputado que ele está liberado para apoiar a matéria.

Claro: Liberado para apoiar a matéria, o Líder comunicou o fato ao Deputado.

Claro: O Líder liberou o Deputado para apoiar a matéria.

Pleonasmo
Pleonasmo é a redundância ou a repetição de um termo ou de uma ideia. Seu emprego é
legítimo quando, com fins de ênfase, o emissor quer realçar uma ideia ou uma imagem,
como nos exemplos:

»» O Deputado quis ver os acontecimentos com os próprios olhos.

21
UNIDADE I │ Conceito de texto

»» Um sonho que se sonha coletivamente está fadado a transformar-se em


realidade.

»» A questão foi debatida por horas, sem que se chegasse a uma conclusão
final.

Entretanto, quando a redundância ou repetição é desnecessária, ou seja, quando não


traz reforço algum à ideia, o pleonasmo é antes um vício de linguagem que denota
ignorância quanto ao sentido das palavras e desleixo para com a língua.

Barbarismo
Consiste em usar uma palavra errada quanto à grafia, pronúncia, significação,
flexão ou formação. Podem ser gráficos (hontem, proesa, conssessiva), ortoépicos
(carramanchão, subcistir), prosódicos (rúbrica, filantrópo), semânticos (tráfico – por
tráfego), morfológicos (cidadões, uma telefonema, proporam).

Solecismo
Erros que atentam contra as normas de concordância, de regência ou de colocação: a
gente vamos, eles assistiram o filme.

22
Gêneros e estilos Unidade iI

Capítulo 1
Gêneros textuais

O estudo dos gêneros textuais procura identificar estruturas linguísticas de textos


em situações diversas. De acordo com a estrutura e com a finalidade, os especialistas
classificaram os textos em gêneros textuais. Destacamos que um texto pode apresentar
diversos gêneros ao mesmo tempo. Geralmente, um gênero se destaca em relação aos
demais de acordo com o interesse do autor.

O objetivo do autor é de muita importância para estabelecer a comunicação desejada e


apresenta características básicas dos gêneros textuais. Assim, o editorial de um jornal
possuirá características diferentes de um romance, por exemplo.

Romance
Possui um núcleo principal, mas outras tramas se desenvolvem também. É um texto
longo, tanto na quantidade de acontecimentos narrados quanto no tempo em que se
desenrola o enredo.

Novela
Narrativa menos longa que o romance e se utiliza de menos enredos paralelos.

Conto
Narrativa curta. O tempo em que se passa é reduzido e contém poucas personagens que
existem em função de um núcleo.

23
UNIDADE II │ Gêneros e estilos

Crônica
Por vezes é confundida com o conto. A diferença básica entre os dois é que a crônica
narra fatos do dia a dia, relata o cotidiano das pessoas, situações que presenciamos e já
até prevemos o desenrolar dos fatos.

Fábula
Semelhante a um conto em sua extensão e estrutura narrativa. O diferencial se
dá, principalmente, no objetivo do texto, que é o de dar algum ensinamento, uma
moral. Outra diferença é que as personagens são animais, mas com características de
comportamento e socialização semelhantes às dos seres humanos.

Parábola
Versão da fábula com personagens humanas. O objetivo é o mesmo, o de ensinar algo.
Para isso, são utilizadas situações do dia a dia das pessoas.

Apólogo
Semelhante à fábula e à parábola, mas pode utilizar-se das mais diversas e alegóricas
personagens: animadas ou inanimadas, reais ou fantásticas, humanas ou não. Da
mesma forma que as outras duas, ilustra uma lição de sabedoria.

Anedota
Tipo de texto produzido com o objetivo de motivar o riso. É geralmente breve e depende
de fatores como entonação, capacidade oratória do intérprete e até representação.
Nota-se então que o gênero se produz na maioria das vezes na linguagem oral, sendo
que pode ocorrer também em linguagem escrita.

Lenda
História fictícia a respeito de personagens ou lugares reais; sendo assim, a realidade dos
fatos e a fantasia estão diretamente ligadas. A lenda é sustentada por meio da oralidade,
torna-se conhecida e só depois é registrada por meio da escrita. Portanto, o autor é o

24
Gêneros e estilos │ UNIDADE II

tempo, o povo e a cultura. Normalmente fala de personagens conhecidas, santas ou


revolucionárias.

Editorial
Textos de uma publicação periódica em que o conteúdo expressa a opinião da empresa,
da direção ou da equipe de redação, sem a obrigação de se ater a nenhuma imparcialidade
ou objetividade. Geralmente, grandes jornais reservam um espaço predeterminado
para os editoriais em duas ou mais colunas logo nas primeiras páginas internas.

Notícia
A notícia apresenta características descritivas e narrativas de determinado fato ou
acontecimento com informações sobre quem, onde, o que, quando, por que e como.

Reportagem
A reportagem é o gênero textual do jornalismo, com características mais dissertativas
com enfoque expositivo. Seu objetivo é informar por meio de linguagem denotativa e de
forma mais detalhada que a simples notícia.

Entrevista
Gênero textual em que se reproduz o diálogo entre pelo menos duas pessoas, com
enfoque em assuntos específicos. A entrevista ocorre no jornalismo, no pedido de
emprego e em outras situações em que haja necessidade do diálogo com objetivos
específicos. Geralmente, há um entrevistador e um entrevistado. Assim, não basta
apenas a reprodução do diálogo. Alguém faz perguntas e o outro responde.

25
Capítulo 2
Texto literário e não literário

A classificação como literário ou não depende do objetivo principal do autor. A


preocupação com a comunicação de dados objetivos, conhecimentos científicos, notícias,
determina um texto não literário. É o caso do jornalismo, das revistas semanais, das
teses acadêmicas, das receitas, do conteúdo que aprendemos em diversas matérias
escolares. A função referencial predomina no texto não literário.

Já o texto literário não tem essa função nem esse compromisso com a realidade
exterior: é expressão da realidade interior e subjetiva de seu autor. São textos escritos
para emocionar, que utilizam a linguagem poética. As funções emotiva e poética
predominam no texto literário. Exemplos de texto literário são o romance, o poema, o
conto e a novela.

Texto literário de Machado de Assis em poesia.

Círculo Vicioso
Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
- Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
que arde no eterno azul, como uma eterna vela!
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

- Pudesse eu copiar o transparente lume,


que, da grega coluna à gótica janela,
contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

- Misera! tivesse eu aquela enorme, aquela


claridade imortal, que toda a luz resume!
Mas o sol, inclinando a rutila capela:

- Pesa-me esta brilhante aureola de nume...


Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Porque não nasci eu um simples vaga-lume?

26
Gêneros e estilos │ UNIDADE II

Texto literário de Machado de Assis em prosa do livro Memórias Póstumas de Brás


Cubas.

Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe exponho e realço a


minha mediocridade; advirta que a franqueza é a primeira virtude de
um defunto. Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a
luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os
rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz
à consciência; e o melhor da obrigação é quando, a força de embaçar os
outros, embaça-se um homem a si mesmo, porque em tal caso poupa-
se o vexame, que é uma sensação penosa e a hipocrisia, que é um vício
hediondo. Mas, na morte, que diferença! que desabafo! que liberdade!
Como a gente pode sacudir fora a capa, deitar ao fosso as lentejoulas,
despregar-se, despintar-se, desafeitar-se, confessar lisamente o que
foi e o que deixou de ser! Porque, em suma, já não há vizinhos, nem
amigos, nem inimigos, nem conhecidos, nem estranhos; não há plateia.
O olhar da opinião, esse olhar agudo e judicial, perde a virtude, logo que
pisamos o território da morte; não digo que ele se não estenda para cá, e
nos não examine e julgue; mas a nós é que não se nos dá do exame nem
do julgamento. Senhores vivos, não há nada tão incomensurável como
o desdém dos finados.

Texto não literário publicado na revista Veja em 6 de junho de 2015.

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) contempla assuntos


de dez disciplinas, que, por sua vez, agrupam centenas de conteúdos
trabalhados nos três anos do ciclo médio de ensino. É uma montanha
de conhecimentos a dominar, portanto. Uma análise cuidadosa das
provas, contudo, pode facilitar a tarefa dos estudantes. A pedido de
VEJA.com, a equipe do AppProva – startup especializada em simulados
para o Enem – realizou um estudo inédito que revela quais são os
conteúdos que mais caíram nas provas realizadas entre 2009 e 2014, e
as competências mais requisitadas.

O levantamento analisou 1.080 questões (180 de cada edição da


prova). Interpretação de texto, da disciplina de língua portuguesa,
foi a habilidade mais cobrada: desde 2009, 135 questões exigiram o
domínio dessa técnica. “Interpretação de textos é um ponto essencial
porque revela se o estudante é capaz de compreender ideias e o mundo
ao seu redor. Por isso, é muito visada no Enem”, diz Luciene de Fátima

27
UNIDADE II │ Gêneros e estilos

Ribeiro, professora do Colégio Agostiniano Nossa Senhora de Fátima,


de Goiás, parceiro do AppProva.

É importante lembrar que o Enem agrupa o conhecimento em um


formato diferente daquele apresentado na escola. As 180 questões
são dividias em quatro grandes áreas: ciências humanas, ciências
da natureza, matemática e língua portuguesa. Disciplinas escolares
tradicionais como física, química e biologia, são testadas na prova de
ciências da natureza, enquanto história, geografia, sociologia e filosofia
estão reunidas em ciências humanas.

Isso não reduz a eficiência do levantamento do AppProva: ou seja,


estudar interpretação de texto, conjuntos numéricos e porcentagem,
além dos demais conteúdos, é uma excelente forma de preparação para
a prova oficial.

Simulado - Em parceria com o AppProva, VEJA.com realiza a partir


deste sábado o primeiro simulado preparatório para o Enem 2015. A
prova reproduz exatamente as características do exame oficial: são duas
provas de 90 questões cada, totalizando 180 testes divididos igualmente
pelas quatro grandes áreas do Enem. Todas as questões são inéditas
e foram elaboradas pela equipe pedagógica do AppProva. Não haverá
prova de redação.

Os participantes podem iniciar cada uma das provas no horário que


desejarem – atentando para a data de encerramento do simulado:
23h59 do dia 27 de abril. Assim como no exame federal, é preciso
completar cada uma das provas de 90 questões em até 4 horas e meia.
Não é possível interromper o teste e retomá-lo depois.

28
Capítulo 3
Tipos de discursos

O texto narrativo geralmente apresenta discursos de personagens. Tais discursos podem


ser divididos em direto, indireto ou indireto-livre.

Direto
O narrador reproduz a fala da personagem por meio das palavras exatamente
pronunciadas. Não há interferência do autor na transcrição e ela é feita diretamente.
Observe exemplos.

Exemplo 1:

Ele afirmou: “Não sei se conseguirei!”

Exemplo 2:

Deixou a moça falar, desejosa de desprender-se de suas preocupações e


embalar-se ao rumor dessa voz que ouvia, sem compreender. Sabia que
a viúva conversava acerca do baile; mas não acompanhava o que ela
dizia. De repente, porém, interrompeu-a:

- Que tal achou a Amaralzinha, D. Firmina?

A velha fez semblante de recordar-se.

- A Amaralzinha?... É aquela moça toda de azul?

- Com espigas de prata nos cabelos e nos apanhados da saia; simples e


de muito bom gosto.

- Lembra-me. É uma menina bem galante! afirmou a viúva.

- E bem-educada. Dizem que toca piano perfeitamente, e que tem uma


voz muito agradável.

- Mas não costuma aparecer na sociedade. É a primeira vez que a


encontramos; não me lembro de a ter visto antes.

- Foi a primeira vez!

29
UNIDADE II │ Gêneros e estilos

Pronunciando estas palavras, a moça parecia de novo sentir sua alma


refranger-se atraída imperiosamente por esse pensamento recôndito
que a absorvia.
(José de Alencar, Senhora)

Indireto
O narrador usa suas palavras para reproduzir uma fala de outrem. Geralmente, é escrito
em terceira pessoa. O autor do texto transcreve os discursos de forma indireta (com
suas palavras e não exatamente as do personagem).

Exemplo 1:

Ele afirmou que não sabe se conseguirá.

Exemplo 2:

Elisiário confessou que estava com sono.

Indireto-livre
O narrador produz um texto em que retira propositadamente o conectivo, provocando
um elo psicológico no discurso. A fala da personagem (que seria um discurso direto,
mantém suas características diretas) é desenvolvida como parte do texto narrativo do
narrador e não da própria personagem.

Exemplo 1:

Ele afirmou que não era cachorro. Quem ele pensa que é? Quem ele pensa que sou?

Exemplo 2:

Aperto o copo na mão. Quando Lorena sacode a bola de vidro a neve sobe tão leve.
Rodopia flutuante e depois vai caindo no telhado, na cerca e na menininha de capuz
vermelho. Então ela sacode de novo. ‘Assim tenho neve o ano inteiro’. Mas por que
neve o ano inteiro? Onde é que tem neve aqui? Acha lindo a neve. Uma enjoada.
Trinco a pedra de gelo nos dentes.
(Lygia Fagundes Telles, As Meninas.)

30
Gêneros e estilos │ UNIDADE II

Exemplo 3:

Quincas Borba calou-se de exausto, e sentou-se ofegante. Rubião acudiu, levando-lhe


água e pedindo que se deitasse para descansar; mas o enfermo após alguns minutos,
respondeu que não era nada. Perdera o costume de fazer discursos é o que era.
(Machado de Assis, Quincas Borba.)

31
Capítulo 4
Estilos

Estilística (do alemão Stilistik, pelo francês stylistique) é o ramo da linguística que
estuda os recursos de expressão de uma determinada língua. Estudam-se, assim, as
características que promovem sugestões e emoções no receptor da comunicação. Alguns
estudiosos consideram-na uma parte da gramática.

A estilística surgiu como estudo próprio em princípios do século XX, por meio das
propostas feitas pelo alemão Karl Vossler e pelo suíço Ferdinand de Saussure, com base
em conhecimentos clássicos, como a retórica ensinada pelos gregos.

Figuras de estilo
Figuras de linguagem (Brasil) ou figuras de estilo (Portugal) são recursos literários que
o autor pode aplicar no texto para conseguir um efeito determinado na interpretação
do leitor. São formas de expressão mais localizadas em comparação às funções da
linguagem, que são características globais do texto. Podem relacionar-se com aspectos
semânticos, fonológicos ou sintáticos das palavras afetadas. Por exemplo: Tenho-lhe
chamado um milhão de vezes! (exemplo de hipérbole).

As figuras de sintaxe (estilística da frase e da enunciação) podem ser construídas por:

»» Assíndeto: orações ou palavras que deveriam vir ligadas por conjunções


coordenativas aparecem justapostas ou separadas por vírgulas: Fere,
mata, derriba denodado....

»» Elipse: omissão de um termo facilmente percebido: O jogo será no


Morumbi.

»» Zeugma: termo já expresso no contexto. É um tipo de elipse: José tem


30 anos; Maria, 25.

»» Anáfora: repetição intencional de palavras no início de um período,


frase ou verso: Grande no pensamento, grande na ação, grande na
glória, grande no infortúnio, ele morreu desconhecido e só.

»» Pleonasmo: repetição da mesma ideia, isto é, redundância de significado:


morrerás morte vil. Saiu para fora.

32
Gêneros e estilos │ UNIDADE II

»» Polissíndeto: repetição enfática de uma conjunção coordenativa mais


vezes do que exige a norma gramatical (geralmente a conjunção e): Vão
chegando as burguesinhas pobres, e as criadas das burguesinhas ricas
e as mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.

»» Hipérbato: inversão de membros da frase: Passeiam, à tarde, as belas


na Avenida.

»» Anacoluto: interrupção do plano sintático com que se inicia a frase,


alterando-lhe a sequência lógica. A construção do período deixa um ou
mais termos desprendidos dos demais e sem função sintática definida:
Essas empregadas de hoje, não se pode confiar nelas.

»» Silepse: a concordância não é feita com as palavras, mas com a ideia a


elas associada.

›› Silepse de gênero: discordância entre os gêneros gramaticais: São


Paulo é poluída.

›› Silepse de número: discordância envolvendo o número gramatical:


Esta gente está furiosa e com medo; por consequência, capazes de
tudo.

›› Silepse de pessoa: discordância entre o sujeito expresso e a pessoa


verbal: Ambos recusamos praticar este ato.

As figuras de pensamento são recursos de linguagem que se referem ao significado das


palavras, ao seu aspecto semântico.

»» Antítese: aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos:


Amigos e inimigos estão, amiúde, em posições trocadas.

»» Paradoxo: não apenas na aproximação de palavras de sentido oposto,


mas de ideias que se contradizem. É uma verdade enunciada com
aparência de mentira: O mito é o nada que é tudo.

»» Eufemismo: palavra ou expressão empregada para atenuar uma


verdade tida como penosa, desagradável ou chocante: Passou desta para
uma melhor.

»» Gradação: sequência de palavras que intensificam uma mesma ideia:


Ele caminhou, correu, disparou.

33
UNIDADE II │ Gêneros e estilos

»» Hipérbole: exagero de uma ideia, a fim de proporcionar uma imagem


emocionante e de impacto: Rios te correrão dos olhos, se chorares!

»» Ironia: pelo contexto, pela entonação, pela contradição de termos,


sugere-se o contrário do que as palavras ou orações parecem exprimir.
A intenção é depreciativa ou sarcástica: Moça linda, bem tratada, três
séculos de família, burra como uma porta: um amor.

»» Prosopopeia: atribuir movimento, ação, fala, sentimento, enfim,


caracteres próprios de seres animados a seres inanimados ou imaginários:
Um frio inteligente [...] percorria o jardim... .

»» Perífrase/Antonomásia: uso de características para expressar uma


ideia: O rei dos animais rugia alto diante da ameaça.

As figuras de palavras consistem no emprego de um termo com sentido diferente daquele


convencionalmente empregado, a fim de se conseguir um efeito mais expressivo na
comunicação.

»» Comparação: estabelecer aproximação entre dois elementos que se


identificam, ligados por conectivos comparativos explícitos – feito, assim
como, tal, como, tal qual, tal como, qual, que nem – alguns verbos –
parecer, assemelhar-se e outros: Ela é bonita como você.

»» Metáfora: termo substitui outro por meio de uma relação de semelhança


resultante da subjetividade de quem a cria. A metáfora também pode ser
entendida como uma comparação abreviada, em que o conectivo não está
expresso, mas subentendido: O tempo é uma cadeira ao sol, e nada mais.

»» Metonímia: relação lógica por meio de extensão do significado: Comprei


Machado de Assis.

»» Catacrese: uso de um ermo inadequado por esquecimento ou falta do


termo original: folha de papel, braço da carteira.

As figuras de harmonia se relacionam com a sonoridade.

»» Aliteração: repetição da mesma consoante ou de consoantes similares,


geralmente em posição inicial da palavra: Chove chuva choverando.

»» Assonância: repetição da mesma vogal ao longo de um verso ou poema:


Sou Ana, da cama, da cana, fulana, bacana. Sou Ana de Amsterdam.

»» Onomatopeia: repetição ou sugestão de um som: miau, au-au.

34
Prática de
interpretação e Unidade iII
produção

Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer é porque um dos dois
é burro.

(Mário Quintana)

Capítulo 1
Ideias explícitas e ideias implícitas

Um bom texto apresenta uma ideia principal e outras que a comprovam, exemplificam
ou ampliam (secundárias). Todas as ideias devem estar organizadas e concentradas ao
redor de uma ideia central para formar um raciocínio. Observe o exemplo a seguir.

Ao cuidar do gado, o peão monta e governa os cavalos sem


maltratá-los. O modo de tratar o cavalo parece rude, mas o vaqueiro
jamais é cruel. Ele sabe como o animal foi domado, conhece as
qualidades e defeitos do animal, sabe onde, quando e quanto exigir do
cavalo. O vaqueiro aprendeu que paciência e muitos exercícios são os
principais meios para se obter sucesso na lida com os cavalos, e que não
se pode exigir mais do que é preciso.

Logo no início, o autor procura enfatizar a ideia que abordará no parágrafo. Após a ideia
principal, seguem as ideias secundárias que exemplificam a primeira ideia. Observe
outro exemplo.

A distribuição de renda no Brasil é injusta. Embora a renda


per capita brasileira seja estimada em US$ 2.000 anuais, a maioria
do povo ganha menos, enquanto uma minoria ganha dezenas ou
centenas de vezes mais, conforme informação do IBGE. A maioria
dos trabalhadores ganha o salário mínimo, que vale cerca de US$ 65
mensais; muitos nordestinos recebem a metade do salário mínimo.

35
UNIDADE III │ Prática de interpretação e produção

Dividindo essa pequena quantia por uma família onde há crianças e


mulheres, a renda per capita fica ainda mais reduzida; contando-se o
número de desempregados, a renda diminui um pouco mais. Há pessoas
que ganham cerca de US$ 10.000 mensais; outras ganham muito mais,
ainda. O contraste entre o pouco que muitos ganham e o muito que
poucos ganham prova a distribuição de renda em nosso país é injusta.

Agora, o autor apresenta sua ideia principal e busca, por meio de ideias secundárias,
argumentar o porquê de sua abordagem inicial.

O texto pode exigir do leitor apenas a percepção do que está literalmente escrito. Outras
vezes, no entanto, o leitor se vê obrigado a explorar sua capacidade de interpretar as
informações literais e observar conexões lógicas possíveis em sua interpretação. O autor
pode não ter literalmente escrito uma ideia, mas fez uso de inferências ou deduções
para que o leitor alcance o entendimento desejado. Observe alguns modelos de textos
com ideias explícitas e outros com ideias explícitas e implícitas.

Observe o texto da educadora Enoe Magalhães.

Ler é um hábito poderoso que nos faz conhecer mundos e ideias.


Descubra a importância da leitura para todas as idades!

A leitura frequente ajuda a criar familiaridade com o mundo da


escrita. A proximidade com o mundo da escrita, por sua vez, facilita a
alfabetização e ajuda em todas as disciplinas, já que o principal suporte
para o aprendizado na escola é o livro didático. Ler também é importante
porque ajuda a fixar a grafia correta das palavras.

Quem é acostumado à leitura desde bebezinho se torna muito mais


preparado para os estudos, para o trabalho e para a vida. Isso quer dizer
que o contato com os livros pode mudar o futuro dos seus filhos. Parece
exagero? Nos Estados Unidos, por exemplo, a Fundação Nacional de
Leitura Infantil (National Children’s Reading Foundation) garante que,
para a criança de 0 a 5 anos, cada ano ouvindo historinhas e folheando
livros equivale a 50 mil dólares a mais na sua futura renda.

Observe texto agora sobre a corrupção presente na Wikipédia.

Segundo Raymundo Faoro, a corrupção é um “vício” herdado do


mundo ibérico, resultado de uma relação patrimonialista entre Estado
e Sociedade. O nepotismo já teria desembarcado no Brasil a bordo da
primeira caravela, sendo apontado como exemplo a Carta a El-Rei
D. Manuel escrita por Pero Vaz de Caminha, onde solicita ao rei que

36
Prática de interpretação e produção │ UNIDADE III

mandasse “vir buscar da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro”.
Para ocupar e administrar o novo território, tarefa bastante complicada
pela distância geográfica e precariedade das comunicações, a coroa
portuguesa teve de oferecer incentivos e relaxou na vigilância de seus
prepostos. Isso gerou um ambiente de tal modo favorável à prática da
corrupção, que já no século XVII, o padre Antônio Vieira denunciou-o
através do ‘Sermão do Bom Ladrão’, onde expõe corajosamente os
desmandos praticados por colonos e administradores no Brasil:

O ladrão que furta para comer, não vai, nem leva ao inferno; os que não
só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões, de maior calibre
e de mais alta esfera. (...) os ladrões que mais própria e dignamente
merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos
e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades,
os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os
outros ladrões roubam um homem: estes roubam cidades e reinos; os
outros furtam debaixo do seu risco: estes sem temor, nem perigo; os
outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam.

Análise explícita
Leia os textos a seguir e responda às questões. O gabarito aparece no final do
capítulo.

Texto I

No mundo, tal como a Física o descreve, nada pode ocorrer que seja
verdadeiramente e intrinsecamente novo. Inventar-se-á, talvez, um novo engenho,
mas sempre será possível, através de análise, ver nele uma nova combinação de
elementos que serão isto ou aquilo, mas não serão novos. Novidade, em Física, é
simples novidade de arranjos e combinações. Em oposição a esse ponto, insiste
o historicismo, a novidade social, assim real, irredutível ao novo dos arranjos. Na
vida social, os mesmos fatores, postos em arranjo novo, nunca serão realmente os
mesmos velhos fatores. Onde nada se pode repetir com exatidão, a novidade real
estará sempre emergindo. E sustenta-se que esse é um significativo traço a ter em
conta quando se focaliza o desenvolvimento de novos estágios ou períodos da
História, cada um dos quais diferirá intrinsecamente de qualquer outro.

(Karl Popper, A miséria do historicismo)

37
UNIDADE III │ Prática de interpretação e produção

1. O texto de Karl Popper nos permite afirmar:

a. no mundo, nada pode ocorrer que seja verdadeiramente e


intrinsecamente novo.

b. em Física, poucas coisas são novas.

c. no mundo, tal como a Física o descreve, é possível ver o novo como


simples novidade de arranjos e combinações.

d. as novidades intrínsecas das leis da Física implicam novidades na vida


social.

e. a Física e a História descrevem o novo da mesma forma.

2. Podemos também concluir, com base no texto, que:

a. o historicismo se apõe às novidades da Física.

b. de acordo com o historicismo, a novidade social é novidade real,


irredutível ao novo dos arranjos.

c. as novidades da vida social obrigam os físicos a rever suas posições.

d. a vida dos físicos é complicada pelas novidades sociais, pois eles estão
habituados ao rigor de imutáveis leis da Física.

e. o historicismo surgiu após a Física.

Texto II

O enriquecimento (ampliação) de uma língua consiste em “usar”, “praticar” a


língua. As palavras são como peças de um complicado jogo. Jogando a gente
aprende. Aprende as regras do jogo. As peças usadas são as mesmas, mas nunca
são usadas da mesma maneira. No deixar-se carregar pelo jogo do uso somos
levados às inúmeras possibilidades da língua. As possibilidades são sempre
diferentes, nunca iguais. Mas todas as diferenças cabem na mesma identidade.
Todas as palavras figuram nos vários discursos como diferentes: diferentes são
as palavras no discurso científico, literário, filosófico, artístico, teológico. Mas
cabem sempre na mesma identidade. São expressões possíveis da linguagem.
(Arcângelo R. Buzzi, Introdução ao Pensar)

3. De acordo com o texto:

a. as palavras da língua correspondem às peças do jogo.

b. as palavras da língua correspondem às regras do jogo.

38
Prática de interpretação e produção │ UNIDADE III

c. as peças do jogo correspondem às regras do jogo.

d. jogos diferentes exigem peças diferentes.

e. frases diferentes exigem palavras diferentes.

4. Segundo o texto:

a. quem joga combina palavras.

b. quem joga combina regras.

c. quem fala combina peças.

d. quem fala combina palavras.

e. tanto quem fala como quem joga combina regras.

5. O texto afirma que:

a. seria útil aplicar, na aprendizagem das regras do jogo, o mesmo


método que se emprega ao aprender uma língua.

b. aprender uma língua é tão complicado como aprender as regras de


um jogo.

c. as línguas são complicadas porque a maioria de suas regras são


comparáveis a jogos complexos.

d. o conhecimento das regras de jogos complicados facilita o


entendimento das regras da língua.

e. se chega às possibilidades da língua da mesma forma que às regras do


jogo, praticando.

Texto III

A televisão procura atender ao gosto da população a que se dirige. Assim,


acomoda essa grande massa de consumidores a antigos hábitos e tradições,
em vez de propor, aos que assistem a ela, inquietações novas e uma visão mais
crítica do mundo em que vivem.

6. Segundo o texto:

a. porque se dirige a um público desinteressado, a televisão não se


preocupa com a qualidade de seus programas.

b. a televisão não se preocupa em elevar o nível de seus programas já


que o público que a ele assiste não se interessa por problemas sérios.

39
UNIDADE III │ Prática de interpretação e produção

c. embora resulte do gosto de um público inquieto com seus valores, a


televisão nega-se a mudar o aspecto formal dos programas.

d. o interesse de baixo nível cultural merece uma televisão que não


questiona em profundidade os problemas do mundo.

e. o interesse do público determina os conteúdos veiculados pela


televisão que, assim, se furta às propostas culturais novas.

7. Conclui-se do mesmo texto que:

a. a tendência dos espectadores é interessarem-se por programas de


televisão que vêm ao encontro de seus hábitos e tradições.

b. assistir à televisão implica a aceitação de hábitos e tradições que


favorecem o surgimento das ideias que mudam a face do mundo.

c. o público normal da televisão prefere que os programas venham de


encontro a seus hábitos e tradições.

d. o papel principal da televisão consiste em criar inquietações nos


telespectadores.

e. a televisão em alguns lugares propicia uma visão crítica do mundo.

Gabarito:

1. c

2. b

3. a

4. d

5. e

6. e

7. a

Análise explícita e implícita


Leia os textos a seguir e responda às questões.

Texto IV

Porque os homens olhavam demais para a sua mulher, mandou que descesse
a bainha dos vestidos e parasse de se pintar. Apesar disso, sua beleza chamava

40
Prática de interpretação e produção │ UNIDADE III

atenção, e ele foi obrigado a exigir que eliminasse os decotes, jogasse fora os
sapatos de saltos altos. Dos armários tirou as roupas de seda, da gaveta tirou
todas as joias. E vendo que, ainda assim, um ou outro olhar viril se acendia à
passagem dela, pegou a tesoura e tosquiou-lhe os longos cabelos.

Agora podia viver descansado. Ninguém a olhava duas vezes, homem nenhum
se interessava por ela. Esquiva como um gato, não mais atravessa praças. E
evitava sair.

Tão esquiva se fez, que ele foi deixando de ocupar-se dela, permitindo que fluísse
em silencio pelos cômodos, mimetizada com os móveis e as sombras.

Uma fina saudade, porém, começou a alinhavar-se em seus dias. Não saudade de
mulher. Mas do desejo inflamado que tivera por ela.

Então lhe trouxe um batom. No outro dia um corte de seda. À noite tirou do
bolso uma rosa de cetim para enfeitar-lhe o que restava dos cabelos.

Mas ela tinha desaprendido a gostar dessas coisas, nem pensava mais em lhe
agradar. Largou o tecido numa gaveta, esqueceu o batom. E continuou andando
pela casa de vestido de chita, enquanto a rosa desbotava sobre a cômoda.

(Marina Colasanti)

1. Assinale a opção incorreta em relação ao texto acima.

a. Pode-se inferir do texto que a posição da mulher no lar e na sociedade


é muitas vezes definida em contraste com a posição do homem.

b. O texto reflete sobre a condição humana, destacando a opressão que


a mulher pode sofrer em seu casamento

c. O fato de o homem e a mulher não terem sido nomeados pode revelar


desejo da autora em dar um tratamento universal ao tema tratado.

d. Os eventos narrados obedecem a uma ordem cronológica.

e. Em “tosquiou-lhe os longos cabelos” e “nem pensava mais em lhe


agradar”, os dois pronomes átonos possuem a mesma função sintática.

2. Assinale a opção incorreta em relação ao texto anterior.

a. Por meio de discurso direto, o leitor conhece a personalidade das


personagens deste texto.

41
UNIDADE III │ Prática de interpretação e produção

b. Há exemplo de sinestesia na expressão “fina saudade” e metáfora em


“olhar viril”.

c. Pode-se inferir que o corte de seda está para sensualidade e o prazer,


assim como o vestido de chita está para a repressão da femilidade.

d. No segundo período do primeiro parágrafo, a vírgula antes do “e”


ocorre devido à mudança de sujeito entre as orações.

e. O texto, de certa forma, ironiza as relações em que predominam o


ciúme, a vaidade e a submissão.

Texto V

Não se sabia bem onde nascera, mas não fora decerto em São Paulo, nem no
Rio Grande do Sul, nem no Pará. Errava quem quisesse encontrar nele qualquer
regionalismo: Quaresma era antes de tudo brasileiro. Não tinha predileção por
esta ou aquela parte de seu país, tanto assim que aquilo que o fazia vibrar de
paixão não eram os pampas do Sul com o seu gado, não era o café de São Paulo,
não eram o ouro e os diamantes de Minas, não era a beleza da Guanabara, não
era a altura da Paulo Afonso, não era o estro de Gonçalves Dias ou o ímpeto de
Andrade Neves – era tudo isso junto, fundido, reunido, sob a bandeira estrelada
do Cruzeiro.

Logo aos dezoito anos quis fazer-se militar; mas a junta de saúde julgou-o
incapaz. Desgostou-se, sofreu, mas não maldisse a Pátria. O ministério era liberal,
ele se fez conservador e continuou mais do que nunca a amar a “terra que o viu
nascer”. Impossibilitado de evoluir-se sob os dourados do Exército, procurou a
administração e dos seus ramos escolheu o militar.

Era onde estava bem. No meio de soldados, de canhões, de veteranos, de


papelada inçada de quilos de pólvora, de nomes de fuzis e termos técnicos de
artilharia, aspirava diariamente aquele hálito de guerra, de bravura, de vitória, de
triunfo, que é bem o hálito da Pátria.

Durante os lazeres burocráticos, estudou, mas estudou a Pátria, nas suas


riquezas naturais, na sua história, na sua geografia, na sua literatura e na sua
política. Quaresma sabia as espécies de minerais, vegetais e animais, que o Brasil
continha; sabia o valor do ouro, dos diamantes exportados por Minas, as guerras
holandesas, as batalhas do Paraguai, as nascentes e o curso de todos os rios.
Defendia com azedume e paixão a proeminência do Amazonas sobre todos os
demais rios do mundo. Para isso ia até ao crime de amputar alguns quilômetros

42
Prática de interpretação e produção │ UNIDADE III

ao Nilo e era como este rival do “seu” rio que ele mais implicaria. Ai de quem
o citasse na sua frente! Em geral, calmo e delicado, o major ficava agitado e
malcriado, quando se discutia a extensão do Amazonas em face da do Nilo.

Havia um ano a esta parte que se dedicava ao tupi-guarani. Todas as manhãs,


antes que a “Aurora, com seus dedos rosados abrisse caminho ao louro Febo”,
ele se atracava até ao almoço com o Montoya, Arte y diccionario de la lengua
guarani ó más bien tupi, e estudava o jargão caboclo com afinco e paixão. Na
repartição, os pequenos empregados, amanuenses e escreventes, tendo notícia
desse estudo do idioma tupiniquim, deram não se sabe por que em chamá-lo
Ubirajara. Certa vez, o escrevente Azevedo, ao assinar o ponto, distraído, sem
reparar quem lhe estava às costas, disse em tom chocarreiro: “Você já viu que
hoje o Ubirajara está tardando?”.

Quaresma era considerado no Arsenal: a sua idade, a sua ilustração, a modéstia


e honestidade de seu viver impunham-no ao respeito de todos. Sentindo que a
alcunha lhe era dirigida, não perdeu a dignidade, não prorrompeu em doestos
e insultos. Endireitou-se, concentrou e pince-nez, levantou o dedo indicador no
ar e respondeu:

– Senhor Azevedo, não seja leviano. Não queira levar ao ridículo aqueles que
trabalham em silêncio, para a grandeza e a emancipação da Pátria.

(Lima Barreto, Triste Fim de Policarpo Quaresma. Rio de Janeiro: Record, 1998)

3. Em Triste Fim de Policarpo Quaresma, romance publicado originalmente


em 1915, Lima Barreto narra uma história ocorrida durante os primeiros
anos da República brasileira. Com base no fragmento dessa obra
apresentada acima, assinale a opção correta para uma possível inferência
do conteúdo textual.

a. Quaresma era, na verdade, carioca, pois vivia na cidade do Rio de


Janeiro.

b. Quaresma gostava de comer carne do Sul e de tomar café de São Paulo.

c. Quaresma era muito religioso, por isso imaginava o Brasil unificado.

d. Ao se ver recusado pela junta de saúde do Exército, Quaresma tornou-


se conservador, em oposição ao governo que era então liberal.

e. Quaresma queria ser militar por causa dos excelentes salários pagos
pelo Exército.

43
UNIDADE III │ Prática de interpretação e produção

4. Tendo como referência as ideias contidas no texto, assinale a opção incorreta.

a. Não obstante o seu modo pacato de viver, Quaresma perdia a calma


quando se discutiam certos assuntos de seu interesse.

b. Quaresma passou a estudar tupi-guarani para poder trabalhar junto


aos índios, incutindo-lhes o sentimento patriótico que o dominava.

c. Infere-se do texto que os estudos feitos por Quaresma sobre o Brasil


poderiam tê-lo influenciado na assimilação de um sentimento ufanista.

d. No quarto parágrafo, o narrador usou aspas para enfatizar o


sentimento de posse e de nacionalismo da personagem em relação
ao rio Amazonas.

e. Quaresma antipatizava com o rio Nilo por ser este mais extenso que o
rio Amazonas.

5. Ainda com base no texto, assinale a opção correta.

a. Todas as manhãs, Quaresma discutia com Montoya, um colega de


trabalho que vivia zombando do interesse do herói pelo estudo do
tupi-guarani.

b. Infere-se do texto que o antropônimo “Ubirajara” é de origem indígena.

c. Quaresma não gostava da língua espanhola, por isso a classificava de


“jargão caboclo”.

d. Foi o escrevente Azevedo que deu a Quaresma a alcunha de “Ubirajara”.

e. Por causa de suas excentridades, Quaresma não gozava do respeito de


seus colegas de trabalho.

6. No texto, não constitui qualidade característica de Quaresma a:

a. modéstia.

b. cultura.

c. honestidade.

d. jocosidade.

e. respeitabilidade.

44
Prática de interpretação e produção │ UNIDADE III

7. No texto, por uma questão de elegância de estilo, alguns pronomes foram


usados em substituição a seus referentes. Assinale a opção que apresenta
associação incorreta entre o pronome destacado e o referente.

a. “terra que o viu nascer” (segundo parágrafo) / Quaresma.

b. “Ai de quem o citasse” (quarto parágrafo) / o rio Nilo.

c. “deram não se sabe por que em chamá-lo” (quinto parágrafo) /


Quaresma.

d. “impunham-no ao respeito de todos” (sexto parágrafo) / Quaresma.

e. “Sentindo que a alcunha lhe era dirigida” (sexto parágrafo) / escrevente


Azevedo.

8. No que se refere à colocação dos pronomes, seria gramaticalmente correto


substituir:

a. se sabia (primeiro parágrafo) / por sabia-se.

b. o fazia (primeiro parágrafo) / por fazia-o.

c. julgou-o (segundo parágrafo) / por o julgou.

d. lhe estava (quinto parágrafo) / por estava-lhe.

e. Endireitou-se (sexto parágrafo) / por Se endireitou.

9. No que diz respeito à tipologia textual, assinale a opção incorreta.

a. Apesar de conter passagens narrativas, o texto é fundamentalmente


uma descrição de Policarpo Quaresma.

b. Há, no texto, ocorrências de discurso direto.

c. Em “do Amazonas em face da do Nilo” (quarto parágrafo), o trecho


entre aspas não se identifica com o estilo predominante no texto.

d. A expressão “louro Febo” (quinto parágrafo) é uma alusão ao Sol.

e. o texto é predominantemente dissertativo com forte argumentação


nacionalista.

Gabarito:

1. e

2. a

45
UNIDADE III │ Prática de interpretação e produção

3. d

4. e

5. b

6. d

7. e

8. c

9. e

Leia o texto a seguir e responda às questões.

Texto VI

Em qualquer acampamento ou ocupação de sem-terra que se visite, uma


constatação é inevitável: grande parte dessas pessoas que vivem embaixo de
lonas pretas nas estradas e fazendas saiu das franjas sujas e maltrapilhas das
grandes cidades.

Expulsos do campo por um processo cruel de concentração de terras, milhões


de trabalhadores rurais buscaram redenção sob o gás néon (o termo, de origem
grega, significa novo) das metrópoles. Queimaram asas feito mariposas. Caíram
numa espécie de vácuo social – a favela intransponível.

Sem emprego, sem saúde, sem teto, sem instrução, esse povo desgraçado pelo
descaso das autoridades descobriu no Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem-Terra (MST) o que alguns buscam em entidades e organizações como as
novas seitas e igrejas: esperança. Mais pragmaticamente, trabalho, comida, teto
e, se sobrar, educação e saúde.

(Correio Braziliense, com adaptações)

Em relação ao emprego dos elementos no texto, julgue os itens a seguir


como Verdadeiros ou Falsos.

1. A palavra franjas, no primeiro parágrafo, está empregada em sentido


figurado e significa periferia, ou seja, a região mais afastada do centro
urbano, em geral carente em infraestrutura e serviços urbanos, e que
abriga os setores de baixa renda da população.

46
Prática de interpretação e produção │ UNIDADE III

2. A palavra redenção, no segundo parágrafo, significa salvação eterna,


perdão, fé.

3. As palavras vácuo e saúde, que aparecem no texto, são acentuadas com


base na mesma regra ortográfica.

4. A expressão Queimaram asas feito mariposas, no segundo parágrafo,


constitui uma metáfora do insucesso, do fracasso, da melancolia, da
nostalgia, da saudade.

5. O vocábulo teto está empregado metonimicamente, significando casa,


moradia, habitação.

6. A repetição intencional da preposição sem, no início do terceiro parágrafo,


constitui um recurso estilístico de ênfase.

7. A expressão Mais pragmaticamente, no terceiro parágrafo, significa mais


objetivamente, mais concretamente, de forma mais direcionada para a
ação prática.

Texto VII

Os velhos das cidadezinhas do interior parecem muito mais plenamente velhos


que os das metrópoles. Não se trata da idade real de uns e outros, que pode até
ser a mesma, mas dos tempos distintos que eles parecem habitar. Na agitação
dos grandes centros, até mesmo a velhice parece ainda estar integrada na
correria; os velhos guardam alguma ansiedade no olhar, nos modos, na lentidão
aflita de quem se sente fora do compasso. Na calmaria das cidades pequeninas,
é como se a velhice de cada um reafirmasse a que vem das montanhas e dos
horizontes, velhice quase eterna, pousada no tempo.

Vejam-se as roupas dos velhinhos interioranos: aquele chapéu de feltro


manchado, aquelas largas calças de brim cáqui, incontavelmente lavadas, aquele
puído dos punhos de camisas já sem cor – tudo combina admiravelmente com
a enorme jaqueira do quintal, com a generosa figueira da praça, com as teias no
campanário da igreja. E os hábitos? Pica-se o fumo de corda, lentamente, com
um canivete herdado do século passado, enquanto a conversa mole se desenrola
sem pressa e sem destino.

Na cidade grande, há um quadro que se repete mil vezes ao dia, e que talvez já
diga tudo: o velhinho, no cruzamento perigoso, decide-se, enfim, a atravessar a
avenida, e o faz com aflição, um braço estendido em sinal de pare aos motoristas

47
UNIDADE III │ Prática de interpretação e produção

apressados, enquanto amiúda o que pode o próprio passo. Parece suplicar ao


tempo que diminua seu ritmo, que lhe dê a oportunidade de contemplar mais
demoradamente os ponteiros invisíveis dos dias passados, e de sondar com
calma, nas nuvens mais altas, o sentido de sua própria história.

Há, pois, velhices e velhices – até que chegue o dia em que ninguém mais tenha
tempo para de fato envelhecer.

(Celso de Oliveira)

8. A frase “Os velhos das cidadezinhas do interior parecem muito mais


plenamente velhos que os das metrópoles” constitui uma:

a. impressão que o autor sustenta ao longo do texto, por meio de


comparações.

b. impressão passageira, que o autor relativiza ao longo do texto.

c. falsa hipótese, que a argumentação do autor demolirá.

d. previsão feita pelo autor, a partir de observações feitas nas grandes e


nas pequenas cidades.

e. opinião do autor, para quem a velhice é mais opressiva nas cidadezinhas


que nas metrópoles.

9. Indique a afirmação incorreta em relação ao texto.

a. Roupas, canivetes, árvores e campanário são aqui utilizados como


marcas da velhice.

b. Autor julga que, nas cidadezinhas interioranas, a vida é bem mais


longa que nos grandes centros.

c. Hábitos como o de picar fumo de corda denotam relações com o


tempo que já não existem nas metrópoles.

d. Que um velhinho da cidade grande parece suplicar é que lhe seja


concedido um ritmo de vida compatível com sua idade.

e. Autor sugere que, nas cidadezinhas interioranas, a velhice parece


harmonizar-se com a própria natureza.

10. O sentido do último parágrafo do texto deve ser assim entendido:

a. Do jeito que as coisas estão, os velhos parecem não ter qualquer


importância.

48
Prática de interpretação e produção │ UNIDADE III

b. Tudo leva a crer que os velhos serão cada vez mais escassos, dado o
atropelo da vida moderna.

c. Prestígio do que é novo é tão grande que já ninguém repara na


existência dos velhos.

d. A velhice nas cidadezinhas do interior é tão harmoniosa que um dia


ninguém mais sentirá o próprio envelhecimento.

e. No ritmo em que as coisas vão, a própria velhice talvez não venha a ter
tempo para tomar consciência de si mesma.

11. Indique a opção em que se traduz corretamente o sentido de uma


expressão do texto, considerado o contexto.

a. “parecem muito mais plenamente velhos” = dão a impressão de se


ressentirem mais dos males da velhice.

b. “guardam alguma ansiedade no olhar” = seus olhos revelam poucas


expectativas.

c. “fora do compasso” = num distinto andamento.

d. “a conversa mole se desenrola” = a explanação é detalhada.

e. “amiúda o que pode o próprio passo” = deve desacelerar suas passadas.

Gabarito

1. V

2. F

3. F

4. F

5. V

6. V

7. V

8. a

9. b

10. e

11. c

49
Estruturação de Unidade iV
um texto

E por que é importante saber bem a nossa língua? Porque vivemos numa
sociedade letrada que exige o domínio da língua escrita. Se alguém quiser investir
numa carreira profissional, deve desenvolver essa capacidade. Sim, pois todos
podem aprender a escrever bem, isso não é questão de sorte ou talento. Não
se trata de aprender a ser poeta ou escritor, não estamos falando de literatura,
que exige outras qualidades de quem escreve. Estamos falando de alguém que
queira se expressar de modo claro, que queira redigir um relatório de trabalho,
uma correspondência comercial, um trabalho para a faculdade, uma redação
para o vestibular. Para esses casos, é claro que é possível aprender, em pouco
tempo, as técnicas básicas para escrever bem. Depois, é praticar bastante e ler
com atenção para ver como outras pessoas elaboram seus textos.

(Douglas Tufano)

Capítulo 1
O ato de redigir

Comunicar-se é ação de tornar comum uma ideia. Ela ocorre de várias formas. Em
contato direto com o falante, a língua falada é mais espontânea, mais viva, mais concreta,
menos preocupada com a gramática. Conta com vocabulário mais limitado, embora em
permanente renovação. Já na linguagem escrita, o contato entre quem escreve e quem
lê é indireto. Por isso, exige permanente esforço de elaboração, com maior preocupação
em relação à correção gramatical, clareza, objetiva e estrutura textual.

Níveis de linguagem
A eficiência da comunicação depende do uso adequado do nível de linguagem.
Certamente, você não escreveria da mesma forma um texto para um adulto e para uma

50
Estruturação de um texto │ UNIDADE IV

criança. São pessoas com capacidade de entendimento diferente. Também o seu texto
deve ser diferente para cada um deles. É necessário, assim, preocupar-se, e muito, com
quem receberá o seu texto.

»» Linguagem formal: utilizam-na as classes intelectuais da sociedade,


mais na forma escrita e, menos, na oral. É de uso nos meios diplomáticos
e científicos; nos discursos e sermões; nos tratados jurídicos e nas sessões
do tribunal. O vocabulário é rico e são observadas as normas gramaticais
em sua plenitude.

Exemplo:

O Supremo Tribunal Federal determinou o bloqueio imediato dos bens


de todos os diretores envolvidos no escândalo do Banco do Brasil. A
priori, a instituição deverá prestar contas dos gastos de seis diretorias
que foram aliciadas por meio de propina para a liberação de verbas a
agências publicitárias.

»» Linguagem coloquial: utilizada pelas pessoas que, sem embargo do


conhecimento da língua, servem-se de um nível menos formal, mais
cotidiano. É a linguagem do rádio, da televisão, meios de comunicação de
massa tanto na forma oral quanto na escrita. Emprega-se o vocabulário
da língua comum e a obediência às disposições gramaticais é relativa,
permitindo-se até mesmo construções próprias da linguagem oral.

Exemplo:

Brother, dentro dessa nova edição do Concurso 500 testes tem tudo para
que minha prova role na maior. Só de português são mais 800 questões.
Ah, tem uma lista de livros e dicas para todos ficarem por dentro do que
é moleza que caiu na prova. Vou encarar este estudo.

A escolha da palavra
A palavra é o início da expressão. Nosso objetivo é prepará-lo de forma adequada em
todos os sentidos. Não queira escrever textos longos de forma adequada sem antes
observar o uso dos termos em seu texto. A escolha da palavra é o início de um bom texto.

O termo exato a ser empregado deve levar em conta o leitor. Imagine o seu leitor.
Trata-se de um desconhecedor do assunto a ser escrito, um especialista, uma pessoa

51
UNIDADE IV │ Estruturação de um texto

com conhecimentos limitados de vocabulário etc. A palavra adequada depende da


capacidade de compreensão do leitor.

O primeiro passo para expressar uma ideia é a escolha do termo adequado para indicar
sua ideia de forma clara e objetiva. Dê sempre preferência ao termo menor e mais fácil
de ser compreendido pelo leitor.

Denotação e conotação
Saiba bem a diferença entre sentido denotativo e conotativo.

»» Sentido denotativo: é o uso de um termo em seu sentido primeiro,


real, do dicionário. Ao pensarmos em joia, logo nos vem ao pensamento
uma pedra preciosa ou algo semelhante.

»» Sentido conotativo: é o uso de um termo em seu sentido figurado. Ao


caracterizar alguém como uma pessoa “joia”, houve uma transferência de
sentido facilmente compreensível.

52
Capítulo 2
O período adequado

Procure sempre frases curtas. Uma, duas ou, no máximo, três orações por período
sintático. A frase curta tem várias vantagens. A primeira é diminuir o número de
erros, principalmente em pontuação. A segunda é tornar o texto mais claro. A terceira
é apresentar a ideia de forma mais objetiva. Vinícius de Moraes afirmava que “uma
frase longa não é mais que duas curtas”. Períodos longos geralmente estão associados a
ideias incertas e facilitam falhas na compreensão.

Qualidades de um bom período:

Seja direto ao apresentar a ideia


O texto abaixo apresenta a primeira falha de um período: falta objetividade. O autor
escreveu de tal forma que o leitor tem dificuldade para entender o sentido exato.

É indispensável que se conheça o critério que se adotou para que sejam


corrigidas as provas que se realizaram ontem, a fim de que se tomem
as providências que forem julgadas necessárias, onde procuraremos
solucionar os problemas que podem decorrer daquilo que for considerado
obscuro, desde que de difícil solução, no entanto, duvidosos.

Busque ser claro


O exemplo a seguir foi uma circular interna do Banco Central. Observe a falta de clareza
do autor ao desejar apresentar a ideia.

Os parentes consanguíneos de um dos cônjuges são parentes por


afinidade do outro; os parentes por afinidade de um dos cônjuges não
são parentes do outro cônjuge; são também parentes por afinidade da
pessoa, além dos parentes consanguíneos de seu cônjuge, os cônjuges
de seus próprios parentes consanguíneos.

Recebi, há poucos dias, uma mensagem eletrônica com exemplos do assunto que
tratamos agora. Alguém coletou falhas de clareza na paróquia da cidade. Observe.

Para todos os que tenham filhos e não o saibam, temos na paróquia uma
área especial para crianças.

53
UNIDADE IV │ Estruturação de um texto

Quinta-feira, às cinco da tarde, haverá uma reunião do grupo das mães.


As senhoras que desejem formar parte as mães, devem dirigir-se ao
escritório do pároco.

Na sexta-feira, às sete, os meninos do Oratório farão uma representação


da obra Hamlet, de Shakespeare, no salão da igreja. Toda a comunidade
está convidada para tomar parte nessa tragédia.

Prezadas senhoras, não esqueçam a próxima venda para beneficência.


É uma boa ocasião para se livrar das coisas inúteis que há na sua casa.
Tragam seus maridos.

Por favor, coloquem suas esmolas no envelope junto com os defuntos


que desejem que sejam lembrados.

Procure usar a ordem direta (sujeito-verbo-


complemento)
A ordem direta facilita o entendimento. Certamente, você não a usará em todos os
períodos. Em alguns momentos, é importante intercalar uma ideia ou antecipar
um adjunto adverbial, por exemplo. No entanto, procure escrever em ordem direta,
principalmente no início do parágrafo.

Evite iniciar a redação com: “Nos dias de hoje...”; “Atualmente...”; “No Brasil...”. Evite
também oração intercalada logo no início: “O governo Lula – como todos sabem –
demonstra insegurança...”.

Dê preferência à voz ativa


As construções em voz ativa demonstram que o sujeito é o agente da ação e dão firmeza
ao pensamento.

Adequado: O governo adotou a medida.

Inadequado: A medida foi adotada pelo governo.

Adequado: O cidadão deve combater a violência.

Inadequado: A violência deve ser combatida pelo cidadão.

Você deve usar voz passiva quando o sujeito paciente é mais importante do que o agente
da passiva.

54
Estruturação de um texto │ UNIDADE IV

Adequado: O Congresso foi invadido por manifestantes.

Inadequado: Manifestantes invadiram o Congresso.

Adequado: O Supremo decidiu o assunto.

Inadequado: O assunto foi decidido pelo Supremo.

Construa seu texto com afirmativas


Apresente sua ideia com afirmativas sobre o tema. Diga o que é. Não o que não é. Evite
usar o “não” em redações.

Inadequado: Ele não acredita que o ministro chegue a tempo.

Adequado: Ele duvida que o ministro chegue a tempo.

Inadequado: O presidente diz que não fará alterações na política econômica.

Adequado: O presidente nega alterações na política econômica.

Evite gerúndio
Você consegue substituir o gerúndio por ponto em quase todas as situações. Observe o
exemplo a seguir:

Funcionários contratados pela empresa poderão cursar universidade no segundo


semestre podendo, se forem estudiosos, concluir o curso em quatro anos, fazendo
em seguida um curso de pós-graduação.

Observe como fica melhor:

A empresa contratou funcionários que poderão cursar universidade no segundo


semestre do ano. Se forem estudiosos, concluirão o curso em quatro anos e, em
seguida, fazer uma pós-graduação.

Use até três verbos para formar seu período


O período longo é o principal erro em redação. Acredito que com prática e dedicação
você perceberá como ele impede o bom texto. Observe o exemplo com período longo:

55
UNIDADE IV │ Estruturação de um texto

Mesmo fervidas diariamente, as lentes de contato gelatinosas ficam impregnadas de


sujeira, o que pode até causar conjuntivite, mas, desde o começo do ano, os míopes
da Califórnia podem resolver o problema jogando as lentes no lixo pois lá acabam de
ser lançadas lentes descartáveis que custam apenas 2,5 dólares cada, que só em julho
estarão disponíveis no Brasil.

Veja como fica melhor:

Mesmo fervidas diariamente, as lentes de contato gelatinosas ficam impregnadas de


sujeira, o que pode causar conjuntivite. Desde começo do ano, porém, os míopes da
Califórnia podem resolver o problema. Acabam de ser lançadas lentes descartáveis
que custam apenas 2,5 dólares cada. Em julho, elas estarão disponíveis também no
Brasil.

Muitas vezes, o período longo fragmenta o pensamento. Sem perceber, o autor acaba por
tratar de diversos assuntos diferentes e sem continuidade. Veja um exemplo a seguir.

Quando paramos para pensar sobre quem foi o responsável por todas as mazelas
que sofremos nos últimos anos no Brasil, gerando desordem na área da saúde e da
educação principalmente e poucos resultados eficientes na área do crescimento,
aquele que permitiu que toda esperança se perdesse e fosse por água abaixo, deixando
escapar uma oportunidade para o Brasil ocupar um assento permanente na ONU e
em diversas representações internacionais importantes e não dando prosseguimento
ao projeto de exportação de nossos produtos agropecuários, perdendo o foco do que
realmente interessa para o povo brasileiro.

Bom texto é texto objetivo e claro. O período curto facilita o entendimento rápido por
parte do leitor. O texto a seguir foi editorial do jornal Correio Braziliense. Observe a
separação das ideias nos períodos.

A União Europeia completa 50 anos hoje como a mais bem-sucedida experiência de


integração regional do planeta. Quando a Guerra Fria começava a mergulhar Estados
Unidos e União Soviética numa era de autossuficiência e competição, os europeus
concretizavam sua aposta na cooperação como diferencial para enfrentar desafios do
século 21. Os problemas do bloco são vários, mas os benefícios inegáveis dão a outros
países duas importantes lições sobre desenvolvimento.

56
Capítulo 3
O parágrafo adequado

A ideia e o texto devem seguir um processo de elaboração consistente e progressivo.


Uma boa redação pede planejamento, organização. Escrever um texto não significa
apenas preencher o papel com frases soltas. Escrever pressupõe uma série de operações
anteriores.

Já comentamos sobre o vocabulário e sobre o período. Chegou o momento do parágrafo.


As qualidades de um parágrafo podem ser agrupadas em quatro características:

Clareza na abordagem inicial


O escritor Miguel de Unamuno afirmava já em 1895 que “escreve claro quem concebe
ou imagina claro”. A mensagem deve primeiramente indicar ao leitor o pensamento
básico e os argumentos sobre a ideia principal. Quem lê uma redação não pode se irritar
e ficar procurando reler várias vezes para compreender uma simples ideia.

A clareza na redação depende, antes de mais nada, da apresentação do pensamento


inicial: não se podem transformar ideias confusas em mensagens claras. Se não
conhecemos o assunto abordado, conseguiremos, no máximo, comunicar nossa
incompetência. Observe o texto a seguir com falta de clareza.

Investigar as causas principais que fizeram desabrochar no meu espírito durante os


anos tão distantes da infância que não voltam mais e da qual poucos traços guardo na
memória, já que tantos anos se escoaram, a vocação para a Engenharia é tarefa que
pelas razões expostas, me é praticamente impossível e, ouso acrescentar que, mesmo
para um psicólogo acostumado a investigar as profundezas da mente humana, essa
pesquisa seria sobremodo árdua para não dizer impossível.

Ao iniciar o texto, procure ir direto ao assunto. A abordagem inicial é de muita


importância para o entendimento do assunto a ser tratado. Evite iniciar o texto com
informações vagas e meramente informativas. Logo no primeiro período, já apresente
a sua ideia principal, a sua tese, a sua abordagem sobre o assunto da redação.

57
UNIDADE IV │ Estruturação de um texto

Conteúdo argumentativo adequado


A argumentação deve sempre fundamentar de maneira clara e convincente as ideias
que apresentou na introdução. Sustentam-se os argumentos por meio de duas
formas: evidência ou raciocínio. Imaginemos um tema para dissertação relacionado à
industrialização. Deve-se posicionar-se frente ao tema. Observe a seguir com falha de
argumentação.

A industrialização é um fenômeno característico das sociedades modernas.


Industrialização é criação de indústrias. As indústrias produzem bens de consumo e
bens de produção.

O Brasil está se industrializando. Existem países mais industrializados que o Brasil,


como os Estados Unidos, Japão, Inglaterra, etc. Há outros atrasados, como o
Paraguai e o Haiti, por exemplo. Algumas indústrias poluem o meio ambiente. Mas
as indústrias dão emprego a muita gente. As indústrias se concentram nas regiões
industriais. Enfim, a industrialização é a alma do progresso.

Veja como o texto poderia ser bem argumentado.

O estímulo à industrialização promovido pelo mundo globalizado apresenta


consequências irrecuperáveis ao planeta e à sociedade. Se por um lado, é por meio do
desenvolvimento econômico industrial que os países obtêm recursos para financiar
suas despesas e investir para uma qualidade de vida melhor para seus habitantes.
Por outro, o crescente ritmo desorganizado de industrialização provoca danos ao
meio ambiente que comprometem nosso futuro.

Falha comum é a pessoa produzir um texto complexo em que o leitor perde a linha do
raciocínio facilmente. Observe o exemplo a seguir.

Para além das razões de método, pode-se aduzir à tolerância uma razão moral: o
respeito à pessoa alheia. Também nesse caso, a tolerância não se baseia na renúncia
à própria verdade, ou na indiferença a qualquer forma de verdade. Creio firmemente
em minha verdade, mas penso que devo obedecer a um princípio moral absoluto: o
respeito à pessoa alheia.

As boas razões da tolerância não nos devem fazer esquecer que também a intolerância
pode ter suas boas razões. Todos nós já nos vimos, cotidianamente, explodir em
exclamações do tipo “é intolerável que...”, “como podemos tolerar que ...”, etc.

Nesse ponto, cabe esclarecer que o próprio termo “tolerância” tem dois significados,
um positivo e outro negativo, e que, portanto, também tem dois significados

58
Estruturação de um texto │ UNIDADE IV

respectivamente negativo e positivo, o termo oposto. Em sentido positivo, a tolerância


se opõe à intolerância em sentido negativo; e, vice-versa, ao sentido negativo de
tolerância se contrapõe o sentido positivo de intolerância. Intolerância, em sentido
positivo, é sinônimo de severidade, rigor, firmeza, qualidades que se incluem todas
no âmbito das virtudes; tolerância em sentido negativo, ao contrário, é sinônimo
de indulgência culposa, de condescendência com o mal, com o erro, por falta de
princípios, por cegueira diante dos valores. É evidente que, quando fazemos o elogio
da tolerância, reconhecendo nela um dos princípios fundamentais da vida livre e
pacífica, pretendemos falar da tolerância em sentido positivo.

Tolerância em sentido negativo se opõe a firmeza nos princípios, ou seja, à justa


ou devida exclusão de tudo o que pode causar dano aos indivíduos ou à sociedade.
Se as sociedades despóticas de todos os tempos e de nosso tempo sofrem de falta
de tolerância em sentido positivo, as nossas sociedades democráticas e permissivas
sofrem de excesso de tolerância em sentido negativo, de tolerância no sentido de
deixar as coisas como estão, de não interferir, de não se escandalizar, nem se indignar
com mais nada.

Todas as partes de um texto devem estar voltadas a um objetivo principal. Ao sair do


parágrafo introdutório, deve-se acrescentar novas informações baseadas em argumentos
sólidos e coerentes. A coerência é a manutenção da mesma referência escolhida no
parágrafo inicial (a abordagem). Todas as partes do texto devem estar relacionadas a
ela. Isso torna o texto claro e compreensível.

Busque em sua argumentação:

»» manter relação com a abordagem do texto;

»» apresentar informações novas, claras, corretas e coerentes;

»» não exemplificar apenas suas ideias;

»» ser objetivo;

»» lembre-se de que na argumentação é que fundamentamos nossa ideia.

Unidade coerente e coesa entre as ideias


Um bom texto expressa uma boa relação entre as ideias. Observe que uma boa
comunicação é aquela em que o receptor reconhece com facilidade o assunto tratado
e o posicionamento do emissor. Para tal, o primeiro passo para uma boa redação é a

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UNIDADE IV │ Estruturação de um texto

unidade entre as ideias. Todas as ideias devem estar relacionadas a um foco principal,
a uma intenção do comunicador.

Definindo o primeiro período:

O primeiro período é fundamental para um bom parágrafo. Lembre-se de que o primeiro


passo para que o parágrafo tenha unidade é a formulação de uma ideia inicial clara e
objetiva. Se a primeira ideia não ficar clara, certamente as demais ficarão comprometidas
ou sem relação entre si ou com a ideia central.

Exemplo:

Brasília é a capital do Brasil. A cidade é muita seca e alguns moradores reclamam


disso. A cidade foi construída por um presidente que muita gente sente saudade dele.
A cidade tem um lago e muitos parques, mesmo assim existe pouca área de lazer. Os
principais órgãos do poder público estão em Brasília. Sendo assim, a cidade agrada
a uns e não a outros.

Como você pôde observar, as ideias estão relacionadas a Brasília, porém não apresentam
uma ideia central, uma unidade. Encontram-se apenas informações soltas e não dando
suporte a um posicionamento maior.

60
Capítulo 4
Estruturas textuais

Competência textual é a capacidade que alguém adquire pela prática constante e


persistente em busca de uma expressão adequada. Escrever bem é questão técnica.
Talvez seja necessário ter dom para produzir literatura ou poesia. No entanto, não é o
caso para a maioria dos textos.

Uma boa redação é dividida em ideias relacionadas entre si ajustadas a uma ideia central
que norteia todo o pensamento do texto. Em uma livraria, encontramos um local todo
dividido em áreas de interesse. Em um supermercado, há diversas divisões. Em uma
escola, há espaço reservado para diretoria, para os alunos etc. Mesmo em nossa vida,
temos horário para trabalho, descanso, alimentação. Também um bom texto necessita
ter ideias bem divididas em parágrafos independentes entre si. Leia atentamente o
texto abaixo.

A política afina o espírito humano, educa os povos no conhecimento de si mesmos,


desenvolve nos indivíduos a atividade, a coragem, a nobreza, a previsão, a energia,
apura, eleva o merecimento.

Não é esse jogo da intriga, da inveja e da incapacidade, a que entre nós se deu a
alcunha de politicagem. Esta palavra não traduz ainda todo o desprezo do objeto
significado. Não há dúvida que rima bem com ladroagem. Mas não tem o mesmo
vigor de expressão que os seus consoantes. Quem lhe dará com o batismo adequado?
Politiquice? Politicaria? Politicalha? Neste último, sim, o sufixo pejorativo queima
como um ferrete, e desperta ao ouvido uma consonância elucidativa.

Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com
a outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam mutuamente. A política é a arte de
gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições
respeitáveis. A politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses pessoais.

(Rui Barbosa)

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UNIDADE IV │ Estruturação de um texto

Indique a ideia central de cada parágrafo do texto acima. Trata-se de exercício


importante para organizar ideias na estrutura textual.

Primeiro parágrafo:

_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
______________________________________________

Segundo parágrafo:

_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
____________________________

Terceiro parágrafo:

_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
____________________________

Dissertação
Trata-se de um discurso lógico que apresenta uma tese (a abordagem dada por você em
relação ao tema solicitado), a argumentação (a comprovação com fatos que justificam
o porquê de sua ideia ser coerente) e a conclusão. Dissertar pressupõe sempre
conhecimento sobre o assunto. Não se aventure jamais a escrever sobre algo que você
não domina.

A dissertação é um texto opinativo, isto é, um texto em que devem predominar suas


opiniões sobre o tema que escolheu.

Estrutura de uma dissertação de trinta linhas aproximadamente.

»» Introdução: apresenta a ideia inicial e algumas sugestões de assuntos


a serem tratados na argumentação. Procure dividir a introdução em

62
Estruturação de um texto │ UNIDADE IV

dois ou três períodos. O segundo período deve lançar as ideias a serem


explicitadas no desenvolvimento. Lembre-se de que os argumentos
estarão detalhados apenas no desenvolvimento.

»» Desenvolvimento ou argumentação: é a parte da dissertação


que comprova sua ideia inicial. Procure apresentar fatos objetivos que
servem de base para sua abordagem. Desenvolvimento sem fundamento
certamente é superficial.

O primeiro parágrafo apresenta a ideia. Os próximos argumentam. É


aqui o espaço para demonstrar conhecimento sobre o assunto e para
relacionar com outros aspectos interessantes ao tema, sem fugir do
assunto principal.

»» Conclusão: momento em que se retoma a ideia principal ou se apresenta


uma solução (quando a abordagem permite). A conclusão deve manter
relação muito forte com o parágrafo inicial. Não se trata de copiar a
mesma ideia, mas retomá-la com embasamento.

Modelo de texto dissertativo acerca do tema “A posição social da mulher de hoje”

Introdução

Ao contrário de algumas teses predominantes até bem pouco tempo, a maioria das
sociedades de hoje já começam a reconhecer a não existência de distinção alguma
entre homens e mulheres. Não há diferença de caráter intelectual ou de qualquer
outro tipo que permita considerar aqueles superiores a estas.

Argumentação

Com efeito, o passar do tempo está a mostrar a participação ativa das mulheres em
inúmeras atividades. Até nas áreas antes exclusivamente masculinas, elas estão
presentes, inclusive em posições de comando. Estão no comércio, nas indústrias,
predominam no magistério e destacam-se nas artes. No tocante à economia e à
política, a cada dia que passa, estão vencendo obstáculos, preconceitos e ocupando
mais espaços.

Cabe ressaltar que essa participação não pode nem deve ser analisada apenas pelo
prisma quantitativo. Convém observar o progressivo crescimento da participação
feminina em detrimento aos muitos anos em que não tinham espaço na sociedade
brasileira e mundial.

63
UNIDADE IV │ Estruturação de um texto

Conclusão

Muitos preconceitos foram ultrapassados, mas muitos ainda perduram e emperram


essa revolução de costumes. A igualdade de oportunidades ainda não se efetivou por
completo, sobretudo no mercado de trabalho. Tomando-se por base o crescimento
qualitativo da representatividade feminina, é uma questão de tempo a conquista da
real equiparação entre os seres humanos, sem distinções de sexo.

Descrição
Descrever é apresentar aspectos físicos ou psicológicos. Consiste em retratar os
pormenores de um referente. Descreve bem uma situação quem é capaz de recriar
imagens sensoriais na mente do leitor. Observe uma descrição.

Lá está ele: figura arcada pelo trabalho pesado. Seus olhos são fundos, cansados,
cercados pela marca do tempo. Suas roupas são simples, surradas, suadas, tem no
bolso um volante da loto, a carteira de trabalho e alguns trocados. Nas mãos, ásperas
e grossas, traz uma marmita vazia, outrora cheia de quase nada.

Observe textos descritivos.

Texto I

Por cima da moldura da porta há uma chapa metálica comprida e estreita, revestida
de esmalte. Sobre um fundo branco, as letras negras dizem Conservatória Geral do
Registro Civil. O esmalte está rachado e esboicelado em alguns pontos. A porta é antiga,
a última camada de pintura castanha está a descascar-se, os veios da madeira, à vista,
lembram uma pele estriada. Há cinco janelas na fachada. Mal se cruza o limiar, sente-
se o cheiro de papel velho. É certo que não passa um dia sem que entrem papéis novos
na Conservatória, dos indivíduos de sexo masculino e de sexo feminino que lá fora vão
nascendo, mas o cheiro nunca chega a mudar, em primeiro lugar porque o destino
de todo papel novo, logo à saída da fábrica, é começar envelhecer, em segundo lugar
porque, mais habitualmente no papel velho, mas muitas vezes no papel novo, não passa
um dia sem que se escrevam causas de falecimento e respectivos locais e datas, cada um
construindo com seus cheiros próprios, nem sempre ofensivos das mucosas olfactivas,
como o demonstram certos eflúvios aromáticos que de vez em quando, subtilmente,
perpassam na atmosfera da Conservatória Geral e que os narizes mais finos identificam
como um perfume composto de metade rosa e metade crisântemo.

(SARAMAGO, José. Todos os nomes. São Paulo: Cia. Das Letras, 1997. p.11)

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Estruturação de um texto │ UNIDADE IV

Texto II

Bossa nova – Movimento de música popular brasileira, iniciado em 1958, no Rio


de Janeiro, no sentido de renovar a forma rítmica, harmônica e melódica da música
popular da época e com nítida influência do jazz. Apareceu pela primeira vez num
long-play de Elizeth Cardoso, com o acompanhamento de João Gilberto ao violão.
A forma sincopada de acentuar os contratempos, utilizando acordes dissonantes de
passagem, que Gilberto usou nas músicas Chega de saudade e Outra vez, tornou-
se a marca registrada da bossa nova. Essa maneira de tocar deve muito às características
da música Rapaz de bem (1953), de Johnny Alf. Antonio Carlos Jobim e Vinícius
de Morais, Sérgio Mendes e o Tamba Trio foram outros expoentes do movimento. A
divulgação do novo gênero se deveu a um grupo de jovens que organizava shows para
estudantes, entre eles Carlos Lira, Ronaldo Bôscoli, Nara Leão e Roberto Menescal.

(Nova Enciclopédia FOLHA, 1996. p. 126-7)

Narração
Narrar envolve tempo, ação. É o texto que apresenta relato de fatos vividos por
personagens e ordenados em sequência. Observe um texto narrativo de Manuel
Bandeira.

Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade. Conheceu Maria Elvira na


Lapa – prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes
em petição de miséria. Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no
Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria.

Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado. Misael
não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso:
mudou de casa. Viveram três anos assim. Toda vez que Maria Elvira arranjava um
namorado, Misael mudava de casa. Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete,
Rua General Pedra, Olaria, Ramos... Por fim na Rua da Constituição, onde Misael,
privado de sentidos e de inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-
la em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.

Como se pode perceber, o texto narrativo apresenta algumas características no enredo:


apresentação, complicação, clímax, desfecho.

Observe outro texto narrativo.

Subi a escada com cautela, para não ser ouvido do mestre, e cheguei a tempo; ele
entrou na sala três ou quatro minutos depois. Entrou com o ar manso do costume, em

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UNIDADE IV │ Estruturação de um texto

chinelas de cordovão, com a jaqueta de brim lavada e desbotada, calça branca e tesa
e grande colarinho caído. Chamava-se Policarpo e tinha perto de cinquenta anos ou
mais. Uma vez sentado, extraiu da jaqueta a boceta de rapé e o lenço vermelho, pô-los
na gaveta; depois relanceou os olhos pela sala. Os meninos, que se conservaram de
pé durante a entrada dele, tornaram a sentar-se. Tudo estava em ordem; começaram
os trabalhos.

(ASSIS, Machado de. Conto de escola. In: Seus trinta melhores contos, cit., p. 217-28)

Textos técnicos
A elaboração de textos técnicos exige domínio do tema desenvolvido, de padronizações
da estrutura do parecer e de competência linguística. Ausência de organização do
pensamento ou do texto compromete a compreensão do assunto. Muitos são os casos
em que o texto fica aquém da capacidade do próprio autor. O despreparo na competência
de expressar e estruturar bem o documento técnico prejudica o conhecimento do
profissional.

O Manual de Redação e Padronização de Atos Oficiais do Ministério Público Federal


afirma que:

[...] a falta de precisão na linguagem acarreta problemas para o


desempenho de tarefas e, às vezes, prejudica as relações humanas,
gerando desentendimentos, discussões e até redução da produtividade.
[...] É preciso ser econômico nas ideias e conciso em sua exposição,
utilizando somente as palavras necessárias. Devem-se evitar as
explicações supérfluas e inúteis, tratar de um assunto por vez, ser
coerente e buscar alcançar o objetivo previamente traçado. E isso ainda
não é suficiente. A estética, a visualização do texto impresso no papel,
tudo deve ser feito tendo em vista atingir o leitor.

O Manual de Redação Oficial do Tribunal de Contas do Distrito Federal complementa:

A eficácia da comunicação oficial depende basicamente do uso de


linguagem simples e direta, chegando ao assunto que se deseja expor
sem passar, por exemplo, pelos atalhos das fórmulas de refinada cortesia
usuais no século passado. Ontem o estilo tendia ao rebuscamento,
aos rodeios ou aos circunlóquios; hoje, a vida moderna obriga a uma
redação mais objetiva e concisa.

Documentos técnicos apresentam estrutura padronizada e linguagem técnica adequada.

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Referências

ALMEIDA, Antonio Fernando de; ALMEIDA, Valéria Silva Rosa de. Português
Básico: Gramática, Redação, Texto. São Paulo: Editora Atlas, 2004.

______. Português Básico para Cursos Superiores. São Paulo: Editora Atlas,
1990.

BARROS, Enéas Martins de. Português para o Ciclo Universitário Básico. São
Paulo: Editora Atlas, 1982.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática. São Paulo: Editora Nacional,


2005.

FARACO, Carlos Emílio & MOURA, Francisco Marto de. Gramática. São Paulo:
Editora Ática, 1996.

FELIZARDO, Zoleva C. Teoria e Prática da Redação. São Paulo: Editora Nacional,


[s. d.].

MAZZAROTTO, Luiz Fernando; CAMARGO, Davi Dias de; SOARES, Ana Maria
Herrera. Manual de redação: guia prático da língua portuguesa. São Paulo:
Editora DCL, 2003.

MEDEIROS, João Bosco. Correspondência. São Paulo: Editora Atlas, 2004.

PIMENTEL, Carlos. Dicionário Prático de Oratória. Niterói: Editora Impetus, [s.


d.].

TERRA, Ernani. Curso Prático de Gramática. São Paulo: Editora Scipione, [s. d.].

TUFANO, Douglas. Michaelis Português Fácil: Tira-dúvidas de Redação. Editora


Melhoramentos, [s. d.].

Sites de pesquisa:
<www.marcelopaiva.com.br>
<www.português.com.br>
<www.linguaportuguesa.com.br>
<www.academia.org.br>
<www.filologia.org.br/viisenefil/10.htm>

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