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Estudo de Lógica Argumentativa

Brasília-DF.
Elaboração

Marcelo Whately Paiva

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

Apresentação.................................................................................................................................. 5

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa..................................................................... 6

Introdução.................................................................................................................................... 8

Unidade i
ARGUMENTO E TÉCNICAS DE ARGUMENTAÇÃO...................................................................................... 9

Capítulo 1
Argumento............................................................................................................................ 9

Capítulo 2
Competência textual.......................................................................................................... 15

Capítulo 3
Uso adequado da palavra................................................................................................. 20

Capítulo 4
Defeitos a serem evitados................................................................................................... 23

Unidade iI
ESTRUTURA DO TEXTO ARGUMENTATIVO................................................................................................ 26

Capítulo 1
A construção do período............................................................................................... 26

Capítulo 2
A construção do parágrafo........................................................................................... 30

Capítulo 3
Relação entre parágrafos............................................................................................... 33

Capítulo 4
Tipologia textual................................................................................................................. 40

Unidade iII
LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO.............................................................................................................. 43

Capítulo 1
Conceito de lógica de argumentação.......................................................................... 43

Capítulo 2
Operadores lógicos......................................................................................................... 49
Capítulo 3
Argumento dedutivo ou indutivo..................................................................................... 52

Capítulo 4
Argumentos retóricos...................................................................................................... 56

Unidade iV
ARGUMENTAÇÃO EM TEXTOS TÉCNICOS.............................................................................................. 61

Capítulo 1
Técnica de argumentação em textos técnicos............................................................. 61

Capítulo 2
Estruturas de argumentação........................................................................................... 64

Capítulo 3
Estrutura expositiva............................................................................................................ 68

Capítulo 4
Abordagem, fundamentação e consistência................................................................. 71

Referências................................................................................................................................... 74
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao
profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução
científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

6
Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução

Esse caderno de estudos apresenta técnicas eficazes e práticas para que você possa
dominar o conhecimento da argumentação, desde a Grécia antiga até os dias atuais, e
escrever de forma cada vez mais adequada e objetiva. Embora as qualidades e os defeitos
enumerados na obra sirvam para diversas estruturas dissertativas, nosso objetivo foi
organizar o conteúdo especificamente para quem deseja aprofundar seu conhecimento
na argumentação lógica.

Assim, abordamos conceitos de lógica, de qualidades e defeitos do texto, de estrutura


textual e diversos aspectos da argumentação e do pensamento lógico.

Objetivos
»» Desenvolver a capacidade de dominar conceitos de lógica, argumentação
e retórica.

»» Perceber a importância da estrutura argumentativa organizada.

»» Estimular o participante a praticar os conhecimentos adquiridos.

»» Desenvolver competências para observar diferentes possibilidades de


argumentação lógica.

8
ArguMEnto E
tÉCniCAS dE unidAdE i
ArguMEntAção
Não tenhas medo das palavras grandes, pois se referem a pequenas coisas.

Para o que é grande os nomes são pequenos: assim a vida e a morte, a paz e a
guerra, a noite, o dia, a fé, o amor e o lar.

Aprende a usar, com grandeza, as palavras pequenas. Verás como é difícil fazê-
lo, mas conseguirás dizer o que queres dizer. Entretanto, quando não souberes
o que queres dizer, usa palavras grandes, que geralmente servem para enganar
os pequenos.

Arthur Kudner.

CAPítulo 1
Argumento

O termo argumento (latim argumentum) geralmente indica raciocínio empregado para


demonstrar a validade de uma proposição. Sabemos que, em alguns idiomas, o termo
também indica roteiro de obra no cinema ou teatro. Nosso interesse nesse módulo é
abordar o significado no contexto de raciocínio lógico argumentativo, ou seja, organizar
fundamentos que justifiquem premissas em busca de uma conclusão.

Saber argumentar é competência muito valorizada na sociedade. Procurarei demonstrar


que, além dessa competência social e profissional, a arte de argumentar é o melhor
caminho para encontrarmos verdades essenciais em nossa vida.

A filosofia grega valorizou o uso adequado de argumentos, principalmente no início


da democracia. Saber argumentar era essencial nos diálogos e na exposição de ideias
a serem debatidas nas assembleias. O argumento lógico pode ser definido como
construção declarativa também chamada de premissa (ou proposição) com fundamentos
e conclusão. Em nosso estudo, abordaremos diversas formas de argumentar.

9
UNIDADE I │ ARGUMENTO E TÉCNICAS DE ARGUMENTAÇÃO

Anthony Weston, em sua obra “A Arte de Argumentar”, sintetiza a importância de saber


argumentar:

Os argumentos são essenciais, em primeiro lugar, porque são uma


forma de tentar descobrir quais os melhores pontos de vista. Nem todos
os pontos de vista são iguais. Algumas conclusões podem ser apoiadas
com boas razões; outras com razões menos boas. Mas muitas vezes
não sabemos quais são as melhores conclusões. Precisamos apresentar
argumentos para apoiar diferentes conclusões, e depois avaliar tais
argumentos para ver se são realmente bons.

Neste sentido um argumento é uma forma de investigação. Alguns


filósofos e ativistas argumentaram, por exemplo, que criar animais
só para fornecer carne, causa um sofrimento imenso aos animais,
portanto, isso é injustificado e imoral. Será que eles têm razão? Não se
pode decidir consultando os preconceitos que se têm. Estão envolvidas
muitas questões. Temos obrigações morais para com outras espécies,
por exemplo, ou é só o sofrimento humano que é realmente mau? Podem
os seres humanos viver realmente bem sem carne? Alguns vegetarianos
viveram até idades muito avançadas. Será que este facto mostra que
as dietas vegetarianas são mais saudáveis? Ou é esse facto irrelevante,
considerando que alguns não vegetarianos também viveram até idades
muito avançadas? (É melhor perguntar se uma percentagem mais
elevada de vegetarianos vive até idades avançadas.) Talvez as pessoas
mais saudáveis tenham tendência para se tornarem vegetarianas, ao
contrário das outras? Todas estas questões têm de ser consideradas
cuidadosamente, e as respostas não são, à partida, óbvias.

Os argumentos também são essenciais por outra razão. Uma vez


chegados a uma conclusão bem apoiada por razões, os argumentos são a
maneira pela qual a explicamos e defendemos. Um bom argumento não
se limita a repetir as conclusões. Em vez disso, oferece razões e dados
para que as outras pessoas possam formar a sua própria opinião. Se o
leitor ficar convencido que devemos realmente mudar a forma como
criamos e usamos os animais, por exemplo, terá de usar argumentos
para explicar como chegou a essa conclusão, é assim que convencerá
as outras pessoas. Ofereça as razões e os dados que o convenceram a si.
Ter opiniões fortes não é um erro. O erro é não ter mais nada.
Fonte: <https://filobaltar.wordpress.com/2011/12/03/a-importancia-da-argumentacao/>.

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ARGUMENTO E TÉCNICAS DE ARGUMENTAÇÃO │ UNIDADE I

Argumento e lógica serão temas bem explorados em nosso estudo. Eles caminham juntos
e se entrelaçam em diversas situações. Assim, abordaremos agora conceitos iniciais de
lógica e, depois, haverá um momento em que os tópicos iniciais serão aprofundados.

Lógica
A lógica é estudada em diversas áreas do conhecimento: filosofia, matemática, discurso
etc. A origem do termo (do grego logiké) mantém relação com “razão”, “palavra”,
“discurso” e geralmente significa o estudo do raciocínio adequado.

Diversos filósofos abordaram o assunto com ênfase em áreas específicas do


conhecimento. O discurso e a argumentação são os tópicos que nos interessam nesse
momento. Aristóteles destacou o tema com ênfase no conceito, juízo e raciocínio. Assim,
o estudo da lógica era a capacidade de julgar corretamente por meio de raciocínios
corretos e formalmente válidos.

Nosso enfoque no estudo da lógica será a capacidade de termos proposições válidas para
o bom texto argumentativo. Alguns conceitos são essenciais para o desenvolvimento do
assunto. É o que estudaremos neste início de curso.

Argumentação
Argumentação é uma estrutura que apresenta abordagem (ideia proposta), fundamento
(embasamento ou justificativa para a abordagem) e conclusão. Difere do texto narrativo,
do descritivo e do informativo. Texto argumentativo é aquele que propõe enunciado
com argumentos que o tornam coerente. O argumento, assim, é uma proposição válida
para justificar abordagem (enunciado).

É comum encontrarmos textos com excelentes abordagens (enunciado), mas com


argumentos incoerentes, inconsistentes ou irrelevantes. Nosso enfoque será encontrar
abordagem com argumentos que a contemplem com raciocínio lógico. Observe um
exemplo bem simples.

Abordagem José da Silva administrou muito bem a empresa no último ano.

Ele aumentou o volume de vendas, diminuiu dívidas, criou


Argumento condições de trabalho mais confortáveis aos funcionários e
melhorou a imagem da empresa na sociedade.

11
UNIDADE I │ ARGUMENTO E TÉCNICAS DE ARGUMENTAÇÃO

Observe que o argumento apresenta ideias que justificam a abordagem apresentada.


As características apresentadas embasam o que se espera de um bom administrador
de empresa. Um bom texto argumentativo é aquele que fundamenta de maneira clara e
convincente as ideias abordadas no enunciado. Imaginemos um tema para dissertação
relacionado à industrialização.

Observe parágrafo com falha de argumentação.

A industrialização é um fenômeno característico das sociedades modernas. Industrialização é


criação de indústrias. As indústrias produzem bens de consumo e bens de produção.

Análise: o texto apresenta uma abordagem (fenômeno característico das sociedades


modernas), mas não justifica a ideia nos períodos seguintes.

Observe outro parágrafo com falha de argumentação.

O Brasil está se industrializando. Existem países mais industrializados que o Brasil, como os
Estados Unidos, Japão, Inglaterra etc. Há outros atrasados, como o Paraguai e o Haiti, por
exemplo. Algumas indústrias poluem o meio ambiente. Mas as indústrias dão emprego a
muita gente. As indústrias se concentram nas regiões industriais. Enfim, a industrialização é a
alma do progresso.

Análise: o texto não deixa claro o enunciado (abordagem) e lança ideias soltas sobre
industrialização em cada período. Não há uma unidade de pensamento argumentativa.

Observe exemplo com boa argumentação.

O estímulo à industrialização promovido pelo mundo globalizado apresenta consequências


irrecuperáveis ao planeta e à sociedade. Se por um lado, é por meio do desenvolvimento
econômico industrial que os países obtêm recursos para financiar suas despesas e investir
para uma qualidade de vida melhor para seus habitantes. Por outro, o crescente ritmo
desorganizado de industrialização provoca danos ao meio ambiente que comprometem nosso
futuro.

Análise: percebe-se claramente o enunciado (o estímulo à industrialização apresenta


consequências irrecuperáveis). Depois, encontramos dois períodos com argumentos
lógicos relacionados com a ideia inicial. Certamente, o autor deverá detalhar as ideias
apresentadas no parágrafo acima com outros parágrafos.

O professor português Carlos Pires define argumento da seguinte forma:

As premissas são as informações, os dados que à partida temos sobre um


problema; a conclusão é uma consequência que, ao raciocinar, tiramos.
Assim, a conclusão corresponde à nossa opinião sobre o problema,
à nossa tese; e as premissas são a maneira que temos de justificar a

12
ARGUMENTO E TÉCNICAS DE ARGUMENTAÇÃO │ UNIDADE I

conclusão a que chegamos. Um argumento possui uma conclusão e uma


ou várias premissas.

Os argumentos são conjuntos de proposições, mas nem todos os


conjuntos de proposições são argumentos. Um argumento é mais
do que uma lista de proposições. Para se tratar de um argumento, as
proposições têm de estar organizadas de um modo tal que uma delas (a
conclusão) se apresente como a consequência das outras (as premissas).
Dito por outras palavras: as premissas devem apresentar-se como uma
justificação ou apoio da conclusão. Essa relação existe no exemplo A,
mas não no B. Por isso, esse não é um argumento.

Exemplo A:

Hoje estou cansado e, dado que amanhã tenho muito que fazer, devo
descansar. Por isso, não irei ao cinema.

Exemplo B:

A Cecília é simpática e vive em Loulé. Além disso, a Cecília quer ir para


a Universidade.

A expressão “Por isso” (usada no exemplo A) é um indicador de


conclusão. Normalmente diz-nos que a frase a seguir apresentada
constitui a conclusão. Há outras palavras e expressões que também têm
esse papel: “Logo”, “Portanto”, “Consequentemente”, etc.

A expressão “dado que” (usada no exemplo A) é um indicador de


premissa. Normalmente, diz-nos que a frase a seguir apresentada
constitui uma premissa. Há outras palavras e expressões que também
têm esse papel: “Pois”, “Porque”, “Devido a” etc.

Uma vez que num argumento a conclusão é uma consequência


das premissas, a forma mais clara e explícita (a forma padrão ou a
expressão canônica, como dizem os lógicos) de apresentar o argumento
é apresentar primeiro as premissas e depois a conclusão – antepondo-
lhe a palavra “Logo” para não restarem quaisquer dúvidas.

Todavia, no dia a dia, as pessoas pensam e falam de modo mais livre


e espontâneo e habitualmente não usam a expressão canônica dos
lógicos. Assim, além dos argumentos em que a conclusão surge no final,
podem-se encontrar argumentos em que a conclusão surge no início ou
mesmo no meio.

13
UNIDADE I │ ARGUMENTO E TÉCNICAS DE ARGUMENTAÇÃO

Exemplo C:

Todos os cidadãos com direito de voto devem votar, pois só votando


poderão ter uma palavra a dizer nas decisões políticas. Ora, numa
democracia os cidadãos devem ter uma palavra a dizer nas decisões
políticas.

Exemplo D:

Ler livros estimula a inteligência e melhora a capacidade de expressão,


como tal deves ler livros. Além disso, os livros não são caros.

No exemplo C a conclusão é “Todos os cidadãos com direito de voto


devem votar” e no exemplo D é “deves ler livros”. O que conta para
uma frase ser a conclusão de um argumento não é a posição que nele
ocupa, mas a relação que tem com as outras frases. As frases referidas
constituem a conclusão dos seus argumentos, pois derivam das outras
frases, são consequências delas e são por elas justificadas.

No dia a dia, também é frequente surgirem argumentos em que não


existem indicadores de premissa nem de conclusão. É o que sucede no
exemplo E, a seguir apresentado. A sua conclusão é “As guerras deviam
acabar”, pelas razões referidas no parágrafo anterior.

Exemplo E:

As guerras deviam acabar. Numa guerra morrem sempre inocentes e a


morte de inocentes é uma grande injustiça.

Outra situação frequente é surgirem argumentos contendo uma ou


mais premissas ocultas (implícitas, subentendidas). Esses argumentos
chamam-se entimemas. Como essas premissas omitidas podem dar
origem a confusões, ao reescrever o argumento para o “expressar de
modo canônico” devemos explicitar tais premissas. No exemplo F,
a seguir apresentado, a premissa oculta é: “As coisas que violam os
direitos humanos devem ser proibidas”. Note que, se essa ideia não
fosse subentendida, não se conseguiria justificar a conclusão – que é “A
mutilação genital feminina devia ser proibida”.

Exemplo F:

A mutilação genital feminina devia ser proibida, porque constitui uma


violação dos direitos humanos.
Fonte: <http://duvida-metodica.blogspot.pt/2008/09/o-que-um-argumento_22.html>.

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Capítulo 2
Competência textual

O domínio da lógica argumentativa depende inicialmente em saber se expressar de


forma adequada. A Língua Portuguesa, de vocabulário extenso e gramática complexa,
permite ampla variação linguística. Expressar-se bem não significa texto rebuscado ou
incompreensível. Pode-se afirmar que deve ser justamente o contrário. Assim, nossa
primeira preocupação é apresentar qualidades fundamentais ao texto adequado.

Clareza
Habilidade de transpor com exatidão uma ideia ou pensamento. O texto deve ser
claro de tal forma que não permita interpretação equivocada ou demorada pelo leitor.
A compreensão deve ser imediata. É importante usar vocabulário acessível, redigir
orações na ordem direta, utilizar períodos curtos e eliminar o emprego excessivo de
adjetivos. Deve-se excluir da escrita ambiguidade, obscuridade ou rebuscamento.

O texto claro pressupõe o uso de sintaxe correta e de vocabulário ao alcance do leitor.


O Supremo Tribunal Federal, em seu Manual de Redação, recomenda, para obtenção
de clareza:

»» releia o texto várias vezes para assegurar-se de que está claro;

»» empregue a linguagem técnica apenas em situações que a exijam e


tenha o cuidado de explicitá-la em comunicações a outros órgãos ou em
expedientes voltados para os cidadãos;

»» certifique-se de que as conjunções realmente estabeleçam as relações


sintáticas desejadas; no entanto, evite o uso excessivo de orações
subordinadas, pois períodos muito subdivididos dificultam o
entendimento;

»» utilize palavras e expressões em outro idioma apenas quando forem


indispensáveis, em razão de serem designações ou expressões de uso
já consagrado ou de não terem exata tradução. Nesse caso, grafe-as em
itálico.

15
UNIDADE I │ ARGUMENTO E TÉCNICAS DE ARGUMENTAÇÃO

Concisão
Consiste em informar o máximo em um mínimo de palavras. No entanto, contenção
de palavras não significa contenção de pensamentos. Por essa razão, não se devem
eliminar fragmentos essenciais do texto com o objetivo de reduzir-lhe o tamanho. Os
itens que nada acrescentam ao que já foi dito é que necessitam ser eliminados. Mais
que curtas e claras, as expressões empregadas devem ser precisas. Para redigir um texto
conciso, é fundamental ter conhecimento do assunto sobre o qual se escreve. Seguem
recomendações:

»» Revise o texto e retire palavras inúteis, repetições desnecessárias,


desmedida adjetivação e períodos extensos e emaranhados. Não acumule
pormenores irrelevantes.

»» Dispense, sempre que possível, os verbos auxiliares, em especial ‘ser’, ‘ter’


e ‘haver’, pois a recorrência constante a eles torna a redação monótona,
cansativa:

›› o secretário-geral irá proporcionar (proporcionará) aos servidores (...).

»» Prefira palavras breves. Entre duas palavras opte pela de menor extensão.

»» Dispense, nas datas, os substantivos dia, mês e ano:

›› no dia 12 de janeiro (em 12 de janeiro);

›› no mês de fevereiro (em fevereiro);

›› no ano de 2016 (em 2016).

»» Troque a locução verbo + substantivo pelo verbo:

›› fazer uma viagem (viajar);

›› fazer uma redação (redigir);

›› pôr as ideias em ordem (ordenar as ideias);

›› pôr moedas em circulação (emitir moedas).

»» Use aposto em lugar de oração apositiva:

›› Inadequado: O contrato previa a construção da ponte em um ano, que


era prazo mais do que suficiente.

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ARGUMENTO E TÉCNICAS DE ARGUMENTAÇÃO │ UNIDADE I

›› Adequado: O contrato previa a construção da ponte em um ano, prazo


mais do que suficiente.

»» Empregue particípio para reduzir orações:

›› Inadequado: Agora que expliquei o título, passo a escrever o texto.

›› Adequado: Explicado o título, passo a escrever o texto.

»» Elimine, sempre que possível, os artigos indefinidos um e uma:

›› Dante quer (um) inquérito rigoroso e rápido.

›› Timor-Leste se torna (uma) terra de ninguém.

›› A cultura da paz é (uma) iniciativa coletiva.

Coerência e coesão
Coerência é ordenar e concatenar ideias de maneira lógica com objetivo de obter clareza
e unidade de sentido no texto. A organização lógica busca apresentar e relacionar,
principalmente, fatos relevantes, sequência cronológica, estrutura argumentativa
(dedutiva ou indutiva). Coesão é apresentar relação adequada entre orações, períodos e
parágrafos por meio de conectivos e termos que retomem ou antecipem ideias.

Formalidade e correção gramatical


A utilização do padrão formal de linguagem representa texto correto em sua sintaxe,
claro em seu significado, coerente e coeso em sua estrutura, elegante em seu estilo.
Ser culto não é ser rebuscado. As incorreções gramaticais desmerecem o redator e a
própria instituição. É comum encontrar textos com verdadeiras acrobacias linguísticas
e desprezível conteúdo. Também não deve ser coloquial, com gírias, regionalismos etc.
Como produzir texto formal e simples:

»» estude as regras gramaticais do idioma;

»» domine o sentido exato de expressões e vocábulos empregados em textos


técnicos;

»» evite coloquialismo, gírias, sentido figurado;

»» prefira a palavra simples quando for possível;

17
UNIDADE I │ ARGUMENTO E TÉCNICAS DE ARGUMENTAÇÃO

»» adote a ordem direta da frase, por ser a que conduz mais facilmente o
leitor à essência da mensagem.

Objetividade
A objetividade consiste em ir diretamente ao assunto, sem rodeios e divagações. Para
ser objetivo, é necessário escrever apenas as palavras imprescindíveis à compreensão
do assunto. Redigir com objetividade é evidenciar a ideia central a ser transmitida e
usar vocabulário de sentido exato, com referencial preciso, para facilitar a compreensão
do leitor. Observe exemplo de texto com falta de objetividade retirado de revista de
grande circulação.

Texto subjetivo Investigar as causas principais que fizeram desabrochar no meu espírito durante os anos tão distantes
da infância que não voltam mais e da qual poucos traços guardo na memória, já que tantos anos
se escoaram, a vocação para a Engenharia é tarefa que pelas razões expostas, me é praticamente
impossível e, ouso acrescentar que, mesmo para um psicólogo acostumado a investigar as profundezas
da mente humana, essa pesquisa seria sobremodo árdua para não dizer impossível.
Texto objetivo Investigar as causas principais que, na infância, despertaram em mim vocação para a Engenharia é tarefa
praticamente impossível, mesmo para um psicólogo.

Como produzir texto objetivo

»» Use frases curtas e evite intercalações excessivas ou inversões


desnecessárias.

›› Inadequado: O maior país da América Latina – apesar de ainda


desconhecer seu potencial imenso – parece ter encontrado o caminho
do progresso tão esperado pela população.

›› Adequado: O Brasil parece ter encontrado o caminho do progresso.

»» Elimine os adjetivos que não contribuam para a clareza do pensamento.

›› Inadequado: A maravilhosa cidade de Brasília, capital do Brasil,


representará nosso imenso país.

›› Adequado: Brasília representará o Brasil.

»» Corte os advérbios ou as locuções adverbiais dispensáveis.

›› Inadequado: Desde sempre e nos dias de hoje, há necessidade de


estudo.

›› Adequado: Há necessidade de estudo sempre.

18
ARGUMENTO E TÉCNICAS DE ARGUMENTAÇÃO │ UNIDADE I

»» Seja econômico no emprego de pronomes pessoais, pronomes possessivos


e pronomes indefinidos. Evite, por exemplo, ‘um tal’, ‘um outro’, ‘um
certo’, ‘um determinado’, pois termos indefinidos juntos não contribuem
para maior clareza; ao contrário, tornam o texto obscuro.

›› Inadequado: Um tribunal de São Paulo produziu um parecer contrário.

›› Adequado: Tribunal de São Paulo produziu parecer contrário.

»» Restrinja o uso de conjunções e de pronomes relativos (que, qual, cujo).

›› Inadequado: O processo que foi arquivado e que apresentava


informações que eram relevantes.

›› Adequado: O processo arquivado apresentava informações relevantes.

»» Não use expressões irrelevantes, pois tornam o texto artificial.

›› Inadequado: O STF, que fica em Brasília, decidiu assim.

›› Adequado: O STF decidiu assim.

»» Evite figuras de linguagem, frases ambíguas.

›› Inadequado: O tribunal é fogo para decidir.

›› Adequado: O tribunal é criterioso para decidir.

»» Se puder optar, escolha a voz ativa.

›› Inadequado: A decisão foi divulgada pelo Tribunal.

›› Adequado: O Tribunal divulgou a decisão.

»» Não externe opiniões subjetivas, reúna fatos e fundamentos lógicos.

»» Use palavras específicas, pertinentes ao assunto.

19
Capítulo 3
Uso adequado da palavra

O texto deve ser de entendimento fácil e imediato. É desaconselhável empregar palavras


ou expressões que produzem dúvidas ou pouco empregadas em nosso vocabulário. O
escritor canadense Alberto Manguel, em entrevista à Revista Veja, explica:

Ter acesso à palavra escrita significa a possibilidade de dominar um


instrumento de poder chamado linguagem formal. É nele que estão
escritos os códigos, as leis de um país. Manter parte da população no
analfabetismo é uma das maneiras utilizadas por governantes que
querem perpetuar-se no poder, sem sofrer ameaças.

Portanto, vemos nesta afirmação que o problema da deficiência informativa existente


na sociedade está no fato de que as pessoas que detém o poder da palavra temem que
a massa possa ficar informada e por isso se beneficiam da ignorância do povo para
causar uma desinformação camuflada, fazendo com que as pessoas achem que estão
informadas sem estar. O analfabetismo que Alberto fala também está associado ao fato
de que as pessoas não querem procurar ter o conhecimento da palavra, pois se deixam
ser influenciadas pela comunicação de massa, sem procurar interpretar e refletir sobre
o que elas passam para elas.

A solução para este problema está em entender o real valor da palavra e a sua importância
para compreender o mundo em que vivemos. “Salvar a palavra pode muito bem ser a
melhor forma de preservar a liberdade” (PINTO, 2006). Um grande passo que nós,
jornalistas, damos para buscar este entendimento é passar a ler mais, pois “a grandeza do
texto consiste em nos dar a possibilidade de refletir e interpretar” (MANGUEL, 1999) e
por meio da leitura conseguimos também escrever melhor, tendo assim a oportunidade
de utilizar a palavra de forma correta e justa, sem deixá-la perder seu espaço para as
imagens ou informações desnecessárias que nos rodeiam a cada segundo.

Observe exemplos de termos a serem evitados.

Aborígine (índio, indígena)


Aceder (concordar)
Aditar (acrescentar)
Adjacência (vizinhança)
Alcaide (prefeito)
Alhures (em outro lugar)

20
ARGUMENTO E TÉCNICAS DE ARGUMENTAÇÃO │ UNIDADE I

Alocução (discurso curto)


Amplexo (abraço)
Beneplácito (consentimento)
Bisar (repetir)
Bojo de, no (junto com)
Bordejar (andar ao redor)
Consentâneo (adequado, apropriado)
Data natalícia (aniversário)
Declinar (de convite, recusar, resistir)
Edil (vereador)
Escuso (escondido, suspeito)
Esmaecido (sem cor, desbotado)
Fazer colocação (argumentar, opinar)
Hodierno (atual)
Ilibado (sem mancha)
Impoluto (sem mancha)
Inaudito (incrível)
Incauto (imprudente)
Inquirir (perguntar)
Interregno (intervalo)
Intrépido (corajoso)
Jaez (qualidade, espécie)
Judicioso (sensato)
Loquaz (eloquente)
Múnus (função, cargo)
Nababo (milionário)
Perfunctório (superficial)
Pernóstico (pretensioso, pedante)
Porfia (disputa, debate)
Prócer (pessoa importante)
Refrega (luta)
Reprimenda (repreensão)
Trêfego (irrequieto, astuto, manhoso)

21
UNIDADE I │ ARGUMENTO E TÉCNICAS DE ARGUMENTAÇÃO

Evite o pleonasmo
Repetição de termos que, em certos casos, têm emprego legítimo, para conferir à
expressão mais força, mais vigor, ou mesmo por questão de clareza. Na frase ‘Conheça-
te a ti mesmo’, atribuída a Sócrates, a redundância (te = a ti) produz inegável efeito
retórico. À exceção desses casos, o pleonasmo constitui vício inadequado em textos
dissertativos.

Observe exemplo na expressão “nem tampouco”. O termo “tampouco” já tem sentido


negativo e equivale a também não. O emprego da segunda negativa (nem) é, portanto,
redundante. Observe lista de pleonasmos a serem evitados.

Acordo amigável Há dois anos atrás


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E nem Prosseguir adiante
Encarar de frente Reincidir novamente
Erário público Repetir de novo/outra vez
Exceder em muito Superávit positivo
Expectativa futura Supracitado acima/anteriormente
Experiência anterior Surpresa inesperada
Exultar de alegria, de felicidade Todos foram unânimes
Fato verídico Tornar a repetir
Frequentar constantemente Totalmente lotado
Ganhar grátis

22
Capítulo 4
Defeitos a serem evitados

Nosso assunto agora é evitar defeitos que comprometem a expressão e, assim, a


fundamentação.

Prolixidade
É importante que se eliminem as expressões supérfluas e os pormenores excessivos.
Muitas vezes, o autor acredita que, escrevendo bastante, utilizando frases de efeito,
tornará o texto mais rico. Na verdade, isso só atrapalha. Elimine as ideias sem
importância, as repetições, os exemplos demasiados, os adjetivos supérfluos.

Frases feitas
Os lugares-comuns e os clichês demonstram falha de estilo e linguagem limitada.

Porque o futuro é de todos nós.

Devemos unir nossos esforços.

Fechar com chave de ouro.

A nível de.

Chegar a um denominador comum.

Deixar a desejar.

Estourar como uma bomba.

Fortuna incalculável.

Inserido no contexto.

Levantar a cabeça e partir para outra.

A esperança é a última que morre.

Os jovens são o futuro da nação.

23
UNIDADE I │ ARGUMENTO E TÉCNICAS DE ARGUMENTAÇÃO

Falta de paralelismo
Quando se coordenam elementos (substantivos, adjetivos, advérbios, orações), é
necessário que eles apresentem estrutura gramatical idêntica. Observe:

»» Inadequado: Procuravam-se soluções para satisfazer os operários e que


agradassem aos empresários.

»» Adequado: Procuravam-se soluções para satisfazer os operários e agradar


aos empresários.

»» Inadequado: As cidades paulistas e as cidades do Paraná apresentam


muitas afinidades.

»» Adequado: As cidades paulistas e as paranaenses apresentam muitas


afinidades.

»» Inadequado: Ocorrem distúrbios devido à revolta dos estudantes e porque


não atenderam suas reivindicações.

»» Adequado: Ocorrem distúrbios devido à revolta dos estudantes e ao não


atendimento de suas reivindicações.

Queísmo
O uso reiterado do “que” pode constituir erro de estilo e prejudicar a clareza do texto.
Observe exemplos a serem evitados.

»» O jornalista que redigiu a reportagem que apareceu no jornal receberá o


prêmio que todos desejavam.

»» Você tem que ter uma letra que todos possam entender o que está escrito.

»» O diretor afirmou que o relatório que foi escrito denuncia que tudo foi
feito errado.

»» Os amigos que ouvem o programa que você produz dizem que as notícias
que você comenta são falsas.

Ambiguidade
Ambiguidade, na frase, é a obscuridade de sentido. Frases ambíguas permitem duas
ou mais interpretações diferentes, devendo, por isso, ser evitadas em textos que devem

24
ARGUMENTO E TÉCNICAS DE ARGUMENTAÇÃO │ UNIDADE I

primar pela clareza e precisão, conforme é o caso dos textos legais e dos expedientes
administrativos. A ambiguidade é precioso recurso expressivo na linguagem poética, no
humorismo e na publicidade.

Exemplo de frase de sentido ambíguo:

O Deputado discutiu com o Presidente da Comissão o seu descontentamento com a


aprovação do projeto.

A ambiguidade dessa frase está no pronome possessivo seu: o descontentamento é do


Deputado ou do Presidente da Comissão? Para que o sentido fique claro, o pronome
deve ser eliminado.

»» Claro: O Deputado, descontente com a aprovação do projeto, discutiu o


assunto com o Presidente da Comissão.

»» Claro: O Deputado discutiu com o Presidente da Comissão o


descontentamento deste com a aprovação do projeto.

»» Ambíguo: O Líder comunicou ao Deputado que ele está liberado para


apoiar a matéria.

»» Claro: Liberado para apoiar a matéria, o Líder comunicou o fato ao


Deputado.

»» Claro: O Líder liberou o Deputado para apoiar a matéria.

Cacófato
Cacófato é o som desagradável ou palavra obscena que resulta da combinação de sílabas
de palavras vizinhas. Deve, na medida do possível e do razoável, ser evitado, sobretudo
quando demasiado flagrante e grosseiro. Não cabe, no entanto, suprimir da língua
combinações corriqueiras, como ‘da Nação’, ‘por cada’, ‘por razões’ etc.

Exemplos de cacófatos (e de como evitá-los):

Ele havia dado tudo de si à frente da Comissão. (Ele tinha dado...)

Ela tinha previsto tudo o que está ocorrendo. (Ela havia...)

Uma minha parente foi quem teve a ideia. (Uma parente minha...)

Com os acordos, a América ganha fôlego para retomar o crescimento econômico. (...a
América adquire...)

25
EStruturA
do tEXto unidAdE ii
ArguMEntAtiVo
figura 1.

fonte: <http://soumaisenem.com.br/redacao/coesao-e-coerencia/metodos-de-raciocinio-logico>.

CAPítulo 1
A construção do período

A apresentação de abordagens e fundamentos depende de construções claras, coerentes


e objetivas de períodos linguísticos. O pensamento e a linguagem devem apresentar
relação perfeita para que o argumento possa ser bem compreendido. Assim, abordaremos
etapas para que se possa elaborar períodos adequados no texto argumentativo.

Procure sempre frases curtas. Uma, duas ou, no máximo, três orações por período.
A frase curta tem diversas vantagens: torna o texto mais claro, objetivo e com menor
número de erros. Períodos longos geralmente estão associados a ideias incertas e
facilitam falhas na compreensão.
26
ESTRUTURA DO TEXTO ARGUMENTATIVO │ UNIDADE II

Qualidades de um bom período


»» seja direto ao apresentar a ideia;

»» busque ser claro;

»» procure usar a ordem direta (sujeito – verbo – complemento);

»» prefira voz ativa;

»» construa seu texto com afirmativas;

»» evite gerúndio;

»» use até três verbos para formar seu período.

Seja direto ao apresentar a ideia

O texto abaixo apresenta a primeira falha de um período: falta objetividade. O autor


escreveu de tal forma que o leitor tem dificuldade para entender o sentido exato.

É indispensável que se conheça o critério que se adotou para que sejam corrigidas as
provas que se realizaram ontem, a fim de que se tomem as providências que forem
julgadas necessárias, onde procuraremos solucionar os problemas que podem decorrer
daquilo que for considerado obscuro, desde que de difícil solução, no entanto, duvidosos.

Busque ser claro

O exemplo a seguir foi uma circular interna do Banco Central. Observe a falta de clareza
do autor ao desejar apresentar a ideia.

Os parentes consanguíneos de um dos cônjuges são parentes por afinidade do outro;


os parentes por afinidade de um dos cônjuges não são parentes do outro cônjuge; são
também parentes por afinidade da pessoa, além dos parentes consanguíneos de seu
cônjuge, os cônjuges de seus próprios parentes consanguíneos.

Procure usar a ordem direta (sujeito – verbo –


complemento)

A ordem direta facilita o entendimento. Certamente, você não a usará em todos os


períodos. Em alguns momentos, é importante intercalar uma ideia ou antecipar

27
UNIDADE II │ ESTRUTURA DO TEXTO ARGUMENTATIVO

um adjunto adverbial, por exemplo. No entanto, procure escrever em ordem direta,


principalmente no início do parágrafo.

Evite iniciar a redação com:

“Nos dias de hoje...”; “Atualmente...”; “No Brasil...”.

Evite também oração intercalada logo no início:

“O governo – como todos sabem – demonstra insegurança...”.

Prefira voz ativa

As construções em voz ativa demonstram que o sujeito é o agente da ação e dão firmeza
ao pensamento.

»» Adequado: O governo adotou a medida.

»» Inadequado: A medida foi adotada pelo governo.

»» Adequado: O cidadão deve combater a violência.

»» Inadequado: A violência deve ser combatida pelo cidadão.

Você deve usar voz passiva quando o sujeito paciente é mais importante do que o agente
da passiva.

»» Adequado: O Congresso foi invadido por manifestantes.

»» Inadequado: Manifestantes invadiram o Congresso.

»» Adequado: O Supremo decidiu o assunto.

»» Inadequado: O assunto foi decidido pelo Supremo.

Construa seu texto com afirmativas

Apresente sua ideia com afirmativas sobre o tema. Diga o que é. Não o que não é.

»» Inadequado: Ele não acredita que o ministro chegue a tempo.

»» Adequado: Ele duvida que o ministro chegue a tempo.

28
ESTRUTURA DO TEXTO ARGUMENTATIVO │ UNIDADE II

»» Inadequado: O presidente diz que não fará alterações na política


econômica.

»» Adequado: O presidente nega alterações na política econômica.

Evite gerúndio

Você consegue substituir o gerúndio por ponto em quase todas as situações. Observe o
exemplo a seguir:

Funcionários contratados pela empresa poderão cursar universidade no segundo


semestre podendo, se forem estudiosos, concluir o curso em quatro anos, fazendo em
seguida um curso de pós-graduação.

Use até três verbos para formar seu período

O período longo é o principal erro em redação. Acredito que com prática e dedicação
você perceberá como ele impede o bom texto. Observe o exemplo com período longo:

Mesmo fervidas diariamente, as lentes de contato gelatinosas ficam impregnadas de


sujeira, o que pode até causar conjuntivite, mas, desde o começo do ano, os míopes
da Califórnia podem resolver o problema jogando as lentes no lixo pois lá acabam de
ser lançadas lentes descartáveis que custam apenas 2,5 dólares cada, que só em julho
estarão disponíveis no Brasil.

29
Capítulo 2
A construção do parágrafo

A ideia e o texto devem seguir um processo de elaboração consistente e progressivo.


Uma boa redação pede planejamento, organização. Escrever um texto não significa
apenas preencher o papel com frases soltas. Escrever pressupõe uma série de operações
anteriores.

A professora Sabrina Vilarinho ensina a importância de observar a estrutura do


parágrafo em cada parte do texto argumentativo.

O texto dissertativo é composto por três partes essenciais:

»» Introdução: é um bom início de texto que desperta no leitor vontade


de continuar a lê-lo. Na introdução é que se define o que será dito, e é
nessa parte que o escritor deve mostrar para o leitor que seu texto merece
atenção. O assunto a ser tratado deve ser apresentado de maneira clara,
existem assuntos que abrem espaço para definições, citações, perguntas,
exposição de ponto de vista oposto, comparações, descrição.

»» Desenvolvimento: na dissertação, a persuasão aparece de forma


explícita, essa se faz presente no desenvolvimento do texto. É nesse
momento que o escritor desenvolve o tema, seja por meio de argumentação
por citação, comprovação ou raciocínio lógico, tomando sua posição a
respeito do que está sendo discutido.

»» Conclusão: é a parte final do texto, um resumo forte e breve de tudo o


que já foi dito, cabe também a essa parte responder à questão proposta
inicialmente, expondo uma avaliação final do assunto.

Fonte: <http://www.mundoeducacao.com/redacao/estrutura-texto-dissertativo.htm>.

O professor Anderson Ulisses do Nascimento destaca a importância da relação


argumentativa entre as ideias de um período no interior do parágrafo.

Todo e qualquer texto argumentativo visa ao convencimento de seu


ouvinte/leitor. Por isso, ele sempre se baseia em uma tese, ou seja, o
ponto de vista central que se pretende veicular e a respeito do qual se
pretende convencer esse interlocutor. Nos gêneros argumentativos
escritos, sobretudo, convém que essa tese seja apresentada, de maneira
clara, logo de início e que, depois, através duma argumentação objetiva

30
ESTRUTURA DO TEXTO ARGUMENTATIVO │ UNIDADE II

e de diversidade lexical seja sustentada/defendida, com vistas ao


mencionado convencimento.

A estrutura geral de um texto argumentativo consiste de introdução,


desenvolvimento e conclusão, nesta ordem. Cada uma dessas partes,
por sua vez, tem função distinta dentro da composição do texto:

Introdução: é a parte do texto argumentativo em que apresentamos o


assunto de que trataremos e a tese a ser desenvolvida a respeito desse
assunto.

Desenvolvimento: é a argumentação propriamente dita,


correspondendo aos desdobramentos da tese apresentada. Esse é o
coração do texto, por isso, comumente se desdobra em mais de um
parágrafo. De modo geral, cada argumentação em defesa da tese geral
do texto corresponde a um parágrafo.

Conclusão: a parte final do texto em que retomamos a tese central,


agora já respaldada pelos argumentos desenvolvidos ao longo do texto.

De modo geral, a relação entre tese e argumento pode ser compreendida


de duas maneiras principais:

Argumento, portanto, Tese (A → pt →T) ou Tese porque Argumento (T


→ pq→A):

(A→ pt→T)

“O governo gasta, todos os anos, bilhões de reais no tratamento das mais


diversas doenças relacionadas ao tabagismo; os ganhos com os impostos
nem de longe compensam o dinheiro gasto com essas doenças. Além
disso (Ainda, e, também, relação de adição → quando se enumeram
argumentos a favor de sua tese), as empresas têm grandes prejuízos por
causa de afastamentos de trabalhadores devido aos males causados pelo
fumo. Portanto (logo, por conseguinte, por isso, então → observem a
relação semântica de conclusão, típica de um silogismo), é mister que
sejam proibidas quaisquer propagandas de cigarros em todos os meios
de comunicação.”

(T→ pq→A)

O governo deve imediatamente proibir toda e qualquer forma de


propaganda de cigarro, porque (uma vez que, já que, dado que, pois
→ relação de causalidade) ele gasta, todos os anos, bilhões de reais no

31
UNIDADE II │ ESTRUTURA DO TEXTO ARGUMENTATIVO

tratamento das mais diversas doenças relacionadas ao tabagismo; e,


muito embora (ainda que, não obstante, mesmo que → relação de
oposição: usam-se as concessivas para refutar o argumento oposto) os
ganhos com os impostos sejam vultosos, nem de longe eles compensam
o dinheiro gasto com essas doenças.

Clareza e objetividade na abordagem inicial


A clareza depende, antes de mais nada, da apresentação do pensamento objetivo. Se
não conhecemos o assunto abordado, conseguiremos, no máximo, comunicar nossa
incompetência. Ao iniciar o texto, procure ir direto ao assunto. A abordagem inicial
é de muita importância para o entendimento do assunto a ser tratado. Evite iniciar o
texto com informações vagas e meramente informativas. Logo no primeiro período, já
apresente a sua ideia principal, a sua tese, a sua abordagem sobre o assunto da redação.

Conteúdo argumentativo adequado


A argumentação deve sempre fundamentar de maneira clara e convincente as ideias
apresentadas. Os argumentos devem ser coerentes e de fácil compreensão. A boa
estrutura de um parágrafo pede que os períodos estejam voltados a um objetivo
principal. Ao sair do parágrafo introdutório, deve-se acrescentar novas informações
baseadas em argumentos sólidos e coerentes. A coerência é a manutenção da mesma
referência escolhida pelo candidato no parágrafo inicial (a abordagem). Todas as partes
do texto devem estar relacionadas a ela. Isso torna o texto claro e compreensível.

Unidade coerente e coesa entre as ideias


Bom texto expressa boa relação entre as ideias. Observe que uma boa comunicação é
aquela em que o receptor reconhece com facilidade o assunto tratado e o posicionamento
do emissor. Para tal, o primeiro passo para uma boa redação é a unidade entre as
ideias. Todas as ideias devem estar relacionadas a um foco principal, a uma intenção
do comunicador.

32
Capítulo 3
Relação entre parágrafos

O texto argumentativo deve apresentar cuidados no uso da palavra, da construção do


período, da relação entre os períodos no parágrafo. Agora, abordaremos a relação entre
os parágrafos. Observe dois modelos bem utilizados.

Modelo A
Modelo básico muito aprendido durante os anos escolares e acadêmicos. O primeiro
introduz a ideia e apresenta dois fundamentos que serão desenvolvidos nos parágrafos
argumentativos. Logo após vem a conclusão.

A decisão do governo em negociar aumento de salário com os controladores de voo


por causa da paralisação nos aeroportos abre um precedente perigoso para o bom
funcionamento de serviços essenciais à população. Outras categorias podem se sentir
no direito de agir da mesma forma para exigir suas reivindicações. Também a hierarquia
em órgãos – como a Aeronáutica – que asseguram a estabilidade é comprometida com
atitudes precipitadas.

Diversos sindicatos ameaçam organizar greve em busca de melhores salários. É o


caso dos agentes e delegados da Polícia Federal. A classe, que já suspendeu suas
atividades por 24 horas na semana passada, se mobiliza para recorrer à operação
padrão ou mesmo paralisação total caso não obtenha reajuste salarial. Ao se dar conta
das consequências do acerto com os controladores, o governo enfraquece seu poder de
punição e compromete a segurança de setores fundamentais.

Outro fato de relevante importância é o respeito às normas estabelecidas para o bom


funcionamento das instituições. As forças armadas consideram qualquer movimento
grevista por parte de seus membros – como é o caso dos controladores de voo –
como motim e julgam os participantes por legislação penal militar própria. Não cabe ao
governo interferir na forma como fez. Tal atitude enfraquece a autoridade militar diante de
sargentos, tenentes e tantos outros militares que esboçam movimentos civis.

A prudência nos orienta que o governo deve conduzir situações com mais rigor e
respeito. Se houve falhas anteriores aos fatos, essas devem ser solucionadas com
diálogo e negociação. Determinados serviços não podem ser paralisados em hipótese
alguma, como é o caso dos controladores de voo, da assistência médico-hospitalar e da
segurança.

33
UNIDADE II │ ESTRUTURA DO TEXTO ARGUMENTATIVO

Modelo B
O segundo modelo apresenta estrutura em que há preocupação em apresentar a
abordagem no parágrafo inicial e desenvolvê-la com progressividade de um parágrafo
para o outro. Nesse caso, deve-se tomar o cuidado de não fugir do tema abordado
inicialmente.

O resultado da Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização (Prova ABC) não


surpreende, mas preocupa – e muito. Ao testar os alunos do 3o ano do ensino básico,
série em que deveriam ter completado o período inicial da aprendizagem regular, o exame
demonstra que as deficiências vêm da base e vão se agravando à medida que a criança
avança nos estudos.

Nas duas disciplinas mais importantes, os resultados impressionam. Em matemática, 57%


dos estudantes são incapazes de fazer contas de adição e subtração. Tampouco sabem
ver as horas em relógio digital. Em português, 43% não correspondem às expectativas –
ler e entender textos simples e dominar as regras básicas da escrita.

A análise dos números comprova a manutenção de velhos desníveis. O desempenho


da escola pública mostrou-se inferior ao das particulares em 41,7 pontos percentuais
(as instituições privadas alcançaram média de 74,3%, contra 32,6% das mantidas pelo
governo). Observa-se, também, diferença regional marcante em relação ao desempenho
dos alunos entre Sul e Sudeste, de um lado, e Norte e Nordeste, de outro.

O Brasil, é verdade, apresenta melhoras nos indicadores educacionais, mas o processo


tem-se revelado lento, incapaz de acompanhar o dinamismo exigido pela era da internet e
da globalização. Impõe-se não só diminuir o descompasso na aprendizagem em relação
à capacidade de aprendizado, mas também equilibrar todas as regiões do país.

O professor e autor de diversos livros Othon Garcia apresenta organização bem


interessante para a relação entre parágrafos no texto argumentativo. Ele apresenta um
primeiro modelo chamado “argumentação formal” com a seguinte organização:

»» Primeira parte – proposição (tese): afirmativa suficientemente


definida e limitada; não deve conter em si mesma nenhum argumento.

»» Segunda parte – análise da proposição ou tese: definição do


sentido da proposição ou de alguns de seus termos, a fim de evitar mal-
entendidos.

»» Terceira parte – formulação de argumentos: fatos, exemplos,


dados estatísticos, testemunhos etc.

34
ESTRUTURA DO TEXTO ARGUMENTATIVO │ UNIDADE II

»» Quarta parte: conclusão.

O autor exemplifica o modelo de argumentação formal com o texto de Gilberto Scarton


a seguir.

• Pretende-se demonstrar no presente artigo que o estudo intencional da gramática não


traz benefícios significativos para o desempenho linguístico dos utentes de uma língua.

• Por “estudo intencional da gramática” entende-se o estudo de definições, classificações e


nomenclatura; a realização de análises (fonológica, morfológica, sintática); a memorização
de regras (de concordância, regência e colocação) – para citar algumas áreas. O
“desempenho linguístico”, por outro lado, é expressão técnica definida como sendo o
processo de atualização da competência na produção e interpretação de enunciados;
dito de maneira mais simples, é o que se fala, é o que se escreve em condições reais de
comunicação.

• A polêmica pró gramática x contra gramática é bem antiga; na verdade, surgiu com
os gregos, quando surgiram as primeiras gramáticas. Definida como “arte”, “arte de
escrever”, percebe-se que subjaz à definição a ideia da sua importância para a prática
da língua. São da mesma época também as primeiras críticas, como se pode ler em
Apolônio de Rodes, poeta Alexandrino do séc.II a.C.:

“Raça de gramáticos, roedores que ratais na musa de outrem, estúpidas lagartas que
sujais as grandes obras, ó flagelo dos poetas que mergulhais o espírito das crianças na
escuridão, ide para o diabo, percevejos que devorais os versos belos.”

• Na atualidade, é grande o número de educadores, filólogos e linguistas de reconhecido


saber que negam a relação entre o estudo intencional da gramática e a melhora do
desempenho linguístico do usuário. Entre esses especialistas, deve-se mencionar o nome
do Prof. Celso Pedro Luft com sua obra “Língua e liberdade: por uma nova concepção
de língua materna e seu ensino” (1995). Com efeito, o velho pesquisar apaixonado pelos
problemas da língua, teórico de espírito lúcido e de larga formação linguística, reúne
numa mesma obra convincente fundamentação para seu combate veemente contra o
ensino da gramática em sala de aula. Por oportuno, uma citação apenas:

“Quem sabe, lendo este livro muitos professores talvez abandonem a superstição da teoria
gramatical, desistindo de querer ensinar a língua por definições, classificações, análises
inconsistentes e precárias hauridas em gramáticas. Já seria um grande benefício.” (p.
99).

• Deixando-se de lado a perspectiva teórica do Mestre, acima referida suponha-se que


se deva recuperar linguisticamente um jovem estudante universitário cujo texto apresente

35
UNIDADE II │ ESTRUTURA DO TEXTO ARGUMENTATIVO

preocupantes problemas de concordância, regência, colocação, ortografia, pontuação,


adequação vocabular, coesão, coerência, informatividade, entre outros. E, estimando-lhe
melhoras, lhe fosse dada uma gramática que ele passaria a estudar: O que é fonética?
O que é fonologia? O que são fonemas? Morfemas? Qual é coletivo de borboleta? O
feminino de cupim? Como se chama quem nasce na Província de Entre-Douro-e-Minho?
Que é oração subordinada adverbial concessiva reduzida de gerúndio? E decorasse
regras de ortografia, fizesse lista de homônimos, parônimos, de verbos irregulares ...
e estudasse o plural de compostos, todas as regras de concordância, regências ... os
casos de próclise, mesóclise e ênclise. E que, ao cabo de todo esse processo, se voltasse
a examinar o desempenho do jovem estudante na produção de um texto. A melhora
seria, indubitavelmente, pouco significativa; uma pequena melhora, talvez, na gramática
da frase, mas o problema de coesão, de coerência, de informatividade – quem sabe os
mais graves – haveriam de continuar. Porque a gramática tradicional não dá conta dos
mecanismos que presidem à construção do texto.

• Poder-se-á objetar que a ilustração de há pouco é apenas hipotética e que, por


isso, um argumento de pouco valor. Contra argumentar-se-ia dizendo que situação
como essa ocorre de fato na prática. Na verdade, todo o ensino de 1o e 2o graus é
gramaticalista, descritivista, definitório, classificatório, nomenclaturista, prescritivista,
teórico. O resultado? Aí estão as estatísticas dos vestibulares. Valendo 40 pontos a prova
de redação, os escores foram estes no vestibular 1996/1, na PUCRS: nota zero: 10%
dos candidatos, nota 01: 30%; nota 02: 40%; nota 03: 15%; nota 04: 5%. Ou seja,
apenas 20% dos candidatos escreveram um texto que pode ser considerado bom.

• Finalmente pode-se invocar mais um argumento, lembrando que são os gramáticos e


os linguistas – como especialistas das línguas – as pessoas que conhecem mais a fundo
a estrutura e o funcionamento dos códigos linguísticos. Que se esperaria, de fato, se
houvesse significativa influência do conhecimento teórico da língua sobre o desempenho?
A resposta é óbvia: os gramáticos e os linguistas seriam sempre os melhores escritores.
Como na prática isso realmente não acontece, fica provada uma vez mais a tese que se
vem defendendo.

• Vale também o raciocínio inverso: se a relação fosse significativa, deveriam os melhores


escritores conhecer – teoricamente – a língua em profundidade. Isso, no entanto, não
se confirma na realidade: Monteiro Lobato, quando estudante, foi reprovado em língua
portuguesa (muito provavelmente por desconhecer teoria gramatical); Machado de
Assis, ao folhar uma gramática declarou que nada havia entendido; dificilmente um Luis
Fernando Veríssimo saberia o que é um morfema; nem é de se crer que todos os nossos
bons escritores seriam aprovados num teste de Português à maneira tradicional (e, no
entanto, eles são os senhores da língua!).

36
ESTRUTURA DO TEXTO ARGUMENTATIVO │ UNIDADE II

• Portanto, não há como salvar o ensino da língua, como recuperar linguisticamente os


alunos, como promover um melhor desempenho linguístico mediante o ensino-estudo da
teoria gramatical. O caminho é seguramente outro.

Othon Garcia apresenta o esquema da argumentação formal no texto anterior:

»» Primeira parte: o primeiro parágrafo apresenta a tese.

»» Segunda parte: o segundo parágrafo indica a análise e definição exata


da tese.

»» Terceira parte: os argumentos são apresentados do terceiro ao oitavo


parágrafo.

»» Quarta parte: a conclusão do autor.

O segundo modelo apresentado pelo professor Othon Garcia é a argumentação informal


e possui a seguinte estrutura:

»» Primeira parte: citação da tese contrária.

»» Segunda parte: argumentos da tese adversária.

»» Terceira parte: introdução da tese a ser defendida.

»» Quarta parte: argumentos da tese a ser defendida.

»» Quinta parte: conclusão.

O professor cita como exemplo de argumentação informal texto de Luís Alberto


Thompson Flores Lenz.

1. Hoje, floresce cada vez mais, no mundo jurídico e acadêmico nacional, a ideia de que
o julgador, ao apreciar os caos concretos que são apresentados perante os tribunais,
deve nortear o seu proceder mais por critérios de justiça e equidade e menos por razões
de estrita legalidade, no intuito de alcançar, sempre, o escopo da real pacificação dos
conflitos submetidos à sua apreciação.

2. Semelhante entendimento tem sido sistematicamente reiterado, na atualidade, ao


ponto de inúmeros magistrados simplesmente desprezarem ou desconsiderarem
determinados preceitos de lei, fulminando ditos dilemas legais sob a pecha de injustiça
ou inadequação à realidade nacional.

3. Abstraída qualquer pretensão de crítica ou censura pessoal aos insignes juízes que
se filiam a esta corrente, alguns dos quais reconhecidos como dos mais brilhantes do

37
UNIDADE II │ ESTRUTURA DO TEXTO ARGUMENTATIVO

país, não nos furtamos, todavia, de tecer breves considerações sobre os perigos da
generalização desse entendimento.

4. Primeiro, porque ele, além de violar os preceitos dos arts. 126 e 127 do CPC, atenta
de forma direta e frontal contra os princípios da legalidade e da separação de poderes,
esteio no qual se assenta toda e qualquer ideia de democracia ou limitação de atribuições
dos órgãos do Estado.

5. Isso é o que salientou, e com a costumeira maestria, o insuperável José Alberto


dos Reis, o maior processualista português, ao afirmar que: “O magistrado não pode
sobrepor os seus próprios juízos de valor aos que estão encarnados na lei. Não o pode
fazer quando o caso se acha previsto legalmente, não o pode fazer mesmo quando o
caso é omisso”.

6. Aceitar tal aberração seria o mesmo que ferir de morte qualquer espécie de legalidade
ou garantia de soberania popular proveniente dos parlamentos, até porque, na lúcida
visão desse mesmo processualista, o juiz estaria, nessa situação, se arvorando, de forma
absolutamente espúria, na condição de legislador.

7. A esta altura, adotando tal entendimento, estaria institucionalizada a insegurança


social, sendo que não haveria mais qualquer garantia, na medida em que tudo estaria ao
sabor dos humores e amores do juiz de plantão.

8. De nada adiantariam as eleições, eis que os representantes indicados pelo povo não
poderiam se valer de sua maior atribuição, ou seja, a prerrogativa de editar as leis.

9. Desapareceriam também os juízes de conveniência e oportunidade política típicos


dessas casas legislativas, na medida em que sempre poderiam ser afastados por uma
esfera revisora excepcional.

10. A própria independência do parlamento sucumbiria integralmente frente à possibilidade


de inobservância e desconsideração de suas deliberações.

11. Ou seja, nada restaria, de cunho democrático, em nossa civilização.

12. Já o Poder Judiciário, a quem legitimamente compete fiscalizar a constitucionalidade


e legalidade dos atos dos demais poderes do Estado, praticamente aniquilaria as
atribuições destes, ditando a eles, a todo momento, como proceder.

13. Nada mais é preciso dizer para demonstrar o desacerto dessa concepção.

38
ESTRUTURA DO TEXTO ARGUMENTATIVO │ UNIDADE II

14. Entretanto, a defesa desse entendimento demonstra, sem sombra de dúvidas, o


desconhecimento do próprio conceito de justiça, incorrendo inclusive numa contradictio
in adjecto.

15. Isto porque, e como magistralmente o salientou o insuperável Calamandrei, “a justiça


que o juiz administra é, no sistema da legalidade, a justiça em sentido jurídico, isto é, no
sentido mais apertado, mas menos incerto, da conformidade com o direito constituído,
independentemente da correspondente com a justiça social”.

16. Para encerrar, basta salientar que a eleição dos meios concretos de efetivação da
justiça social compete, fundamentalmente, ao Legislativo e ao Executivo, eis que seus
membros são indicados diretamente pelo povo.

17. Ao Judiciário cabe administrar a justiça da legalidade, adequando o proceder daqueles


aos ditames da Constituição e da Legislação.

Othon Garcia apresenta o esquema da argumentação informal no texto anterior:

»» Primeira parte: o primeiro parágrafo apresenta a tese adversária.

»» Segunda parte: o segundo parágrafo apresenta o argumento da tese


adversária.

»» Terceira parte: o terceiro parágrafo apresenta a tese a ser defendida.

»» Quarta parte: os argumentos da tese a ser defendida são apresentados


do quarto ao décimo quinto parágrafo.

»» Quinta parte: a conclusão é apresentada nos dois últimos parágrafos.

39
Capítulo 4
Tipologia textual

Abordaremos algumas estruturas de textos. Geralmente, o texto argumentativo ocorre


na dissertação. No entanto, o argumento pode estar presente também em textos
narrativos e descritivos.

Dissertação
Trata-se de um discurso lógico que apresenta uma tese (a abordagem dada por você em
relação ao tema solicitado), a argumentação (a comprovação com fatos que justificam
o porquê de sua ideia ser coerente) e a conclusão. Dissertar pressupõe, sempre,
conhecimento sobre o assunto. Não se aventure jamais a escrever sobre algo que você
não domina. Observe a estrutura de texto dissertativo.

»» Introdução: apresenta a ideia inicial e algumas sugestões de assuntos a


serem tratados na argumentação.

»» Desenvolvimento ou argumentação: é a parte da dissertação que


comprova sua ideia inicial.

»» Conclusão: momento em que se retoma a ideia principal ou pode-se


apresentar uma solução (quando a abordagem permite). A conclusão
deve manter relação muito forte com o parágrafo inicial. Não se trata de
copiar a mesma ideia, mas retomá-la com embasamento.

Modelo de texto dissertativo sobre o tema “A


posição social da mulher de hoje”

Introdução

Ao contrário de algumas teses predominantes até bem pouco tempo, a maioria das
sociedades de hoje já começam a reconhecer a não existência de distinção alguma entre
homens e mulheres. Não há diferença de caráter intelectual ou de qualquer outro tipo que
permita considerar aqueles superiores a estas.

Argumentação

40
ESTRUTURA DO TEXTO ARGUMENTATIVO │ UNIDADE II

Com efeito, o passar do tempo está a mostrar a participação ativa das mulheres em
inúmeras atividades. Até nas áreas antes exclusivamente masculinas, elas estão presentes,
inclusive em posições de comando. Estão no comércio, nas indústrias, predominam no
magistério e destacam-se nas artes. No tocante à economia e à política, a cada dia que
passa, estão vencendo obstáculos, preconceitos e ocupando mais espaços.

Cabe ressaltar que essa participação não pode nem deve ser analisada apenas pelo
prisma quantitativo. Convém observar o progressivo crescimento da participação feminina
em detrimento aos muitos anos em que não tinham espaço na sociedade brasileira e
mundial.

Conclusão

Muitos preconceitos foram ultrapassados, mas muitos ainda perduram e emperram


essa revolução de costumes. A igualdade de oportunidades ainda não se efetivou por
completo, sobretudo no mercado de trabalho. Tomando-se por base o crescimento
qualitativo da representatividade feminina, é uma questão de tempo a conquista da real
equiparação entre os seres humanos, sem distinções de sexo.

Descrição
Descrever é apresentar aspectos físicos ou psicológicos. Consiste em retratar os
pormenores de um referente. Descreve bem uma situação quem é capaz de recriar
imagens sensoriais na mente do leitor. Observe uma descrição.

Lá está ele: figura arcada pelo trabalho pesado. Seus olhos são fundos, cansados,
cercados pela marca do tempo. Suas roupas são simples, surradas, suadas, tem
no bolso um volante da loto, a carteira de trabalho e alguns trocados. Nas mãos, ásperas
e grossas, traz uma marmita vazia, outrora cheia de quase nada.

Observe outro exemplo de texto descritivo.

Por cima da moldura da porta há uma chapa metálica comprida e estreita, revestida
de esmalte. Sobre um fundo branco, as letras negras dizem Conservatória Geral do
Registro Civil. O esmalte está rachado e esboicelado em alguns pontos. A porta é antiga,
a última camada de pintura castanha está a descascar-se, os veios da madeira, à vista,
lembram uma pele estriada. Há cinco janelas na fachada. Mal se cruza o limiar, sente-se
o cheiro de papel velho. É certo que não passa um dia sem que entrem papéis novos
na Conservatória, dos indivíduos de sexo masculino e de sexo feminino que lá fora vão
nascendo, mas o cheiro nunca chega a mudar, em primeiro lugar porque o destino de
todo papel novo, logo à saída da fábrica, é começar a envelhecer, em segundo lugar

41
UNIDADE II │ ESTRUTURA DO TEXTO ARGUMENTATIVO

porque, mais habitualmente no papel velho, mas muitas vezes no papel novo, não passa
um dia sem que se escrevam causas de falecimento e respectivos locais e datas, cada
um construindo com seus cheiros próprios, nem sempre ofensivos das mucosas olfativas,
como o demonstram certos eflúvios aromáticos que de vez em quando, subtilmente,
perpassam na atmosfera da Conservatória Geral e que os narizes mais finos identificam
como um perfume composto de metade rosa e metade crisântemo.

(José Saramago. Todos os nomes. São Paulo: Cia. Das Letras, 1997. p.11.)

Narração
Narrar envolve tempo, ação. É o texto que apresenta relato de fatos vividos por
personagens e ordenados em sequência. Observe um texto narrativo de Manuel
Bandeira.

Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade. Conheceu Maria Elvira na Lapa
– prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em
petição de miséria. Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio,
pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria.

Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado. Misael não
queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou
de casa. Viveram três anos assim. Toda vez que Maria Elvira arranjava um namorado,
Misael mudava de casa. Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General
Pedra, Olaria, Ramos... Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos
e de inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la em decúbito dorsal,
vestida de organdi azul.

42
lÓgiCA dE unidAdE iii
ArguMEntAção

Para Aristóteles, a lógica não é ciência e sim um instrumento (órganon) para o


correto pensar. O objeto da lógica é o silogismo.

Silogismo nada mais é do que um argumento constituído de proposições das


quais se infere (extrai) uma conclusão. Assim, não se trata de conferir valor de
verdade ou falsidade às proposições (frases ou premissas dadas) nem à conclusão,
mas apenas de observar a forma como foi constituído. É um raciocínio mediado
que fornece o conhecimento de uma coisa a partir de outras coisas (buscando,
pois, sua causa).
João Francisco Cabral

CAPítulo 1
Conceito de lógica de argumentação

A relação entre lógica e argumentação é a capacidade de observar a validade de um


enunciado (abordagem) por meio de proposições e conclusões. O silogismo desenvolvido
por Aristóteles (duas premissas e uma conclusão) é exemplo comum de lógica de
argumentação. Observe um exemplo clássico de silogismo.

» Premissa 1: Todo homem é mortal.

» Premissa 2: Sócrates é homem.

» Conclusão: Logo, Sócrates é mortal.

A característica básica do silogismo é apresentar duas premissas declarativas e chegar


a uma conclusão válida. Há diversos estudos sobre o silogismo. Como nosso interesse é
relacionar a lógica à argumentação, enfatizaremos os tópicos relevantes para nosso estudo.

43
UNIDADE III │ LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO

A lógica observa racionalmente o argumento das proposições e as considera válidas


ou inválidas. Diversas áreas da ciência e da filosofia são fortemente influenciadas por
essa análise.

Lógica aristotélica
Aristóteles é considerado o filósofo que melhor sistematizou o estudo da lógica. Sabe-se
que, antes dele, na própria Grécia, outros filósofos já ensinavam estruturas semelhantes.
Aristóteles, no entanto, desenvolveu a teoria lógica de forma mais abrangente e coerente.
Cientistas e pensadores questionaram em diversos momentos a lógica aristotélica
(Gottlob Frege, Bertrand Russel, Kant etc.), porém, ainda hoje, consideram a lógica
formal de Aristóteles a que apresenta resultados mais notáveis.

Os textos do filósofo sobre o tema aparecem em seis obras conhecidas como Organon.
Aristóteles afirmava que um termo (componente básico da proposição) não deve ser
considerado como verdadeiro ou falso. A ideia de “premissa” (do latim protasis) indicava
sentença com afirmação ou negação. As premissas eram apresentadas em sentenças.

Sentenças
Sentenças podem ser construções linguísticas com intenção apenas de expressar algo.
Observe exemplos.

Bom dia!

Você está bem?

Nas construções acima, não temos uma proposição. Assim, passaremos a tratar por
frase ou construção linguística.

As sentenças que apresentam proposição são aquelas em que se pode considerar como
válida ou inválida. Observe exemplos.

O Brasil é o melhor país do mundo.

Todo brasileiro gosta de futebol.

44
LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO │ UNIDADE III

Tipos de argumentos

Argumento categórico
Os brasileiros falam português.

Lucas é brasileiro.

Lucas fala português.

Argumento disjuntivo
Qualquer pessoa é honesta ou desonesta.

Isabela é honesta.

Logo, Isabela não é desonesta.

Argumento condicional
Se hoje é segunda-feira, eu trabalho.

Hoje é segunda-feira.

Logo, hoje é trabalho.

Argumento dedutivo
Todos os homens são mortais.

Ricardo é homem.

Ricardo é mortal.

Argumento indutivo
Segunda-feira, Pedro chegou atrasado.

Terça-feira, Pedro chegou atrasado.

Quarta-feira, Pedro chegou atrasado.

Quinta-feira, Pedro chegará atrasado.

Silogismo
Jogamos futebol no sábado ou no domingo.

Não jogamos no sábado.

Então, jogaremos no domingo.

45
UNIDADE III │ LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO

O professor Oscar Queiroz analisa alguns exercícios de lógica da argumentação para


entendermos de forma prática a estrutura do pensamento.

Exercício 1:

Suponha o argumento no qual as premissas sejam as proposições I e II abaixo.

I. Se uma mulher está desempregada, então, ela é infeliz.

II. Se uma mulher é infeliz, então, ela vive pouco.

Nesse caso, se a conclusão for a proposição “Mulheres desempregadas vivem pouco”,


tem-se um argumento correto.

Análise:

Se representarmos na forma de diagramas lógicos (ver artigo sobre diagramas lógicos),


para facilitar a resolução, teremos:

I. Se uma mulher está desempregada, então, ela é infeliz. = Toda mulher


desempregada é infeliz.

II. Se uma mulher é infeliz, então, ela vive pouco. = Toda mulher infeliz vive
pouco.

Figura 2.

Com isso, qualquer mulher que esteja no conjunto das desempregadas (ver boneco),
automaticamente estará no conjunto das mulheres que vivem pouco. Portanto, se a
conclusão for a proposição “Mulheres desempregadas vivem pouco”, tem-se um
argumento correto (correto = válido!).

46
LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO │ UNIDADE III

Argumento Inválido

Dizemos que um argumento é inválido, quando a verdade das premissas não é


suficiente para garantir a verdade da conclusão, ou seja, quando a conclusão não é uma
consequência obrigatória das premissas.

Exercício 2

Considere que as seguintes afirmações são verdadeiras:

I. Toda criança gosta de passear no Metrô de São Paulo.

II. Existem crianças que são inteligentes.

Assim, certamente é verdade que:

a. Alguma criança inteligente não gosta de passear no Metrô de São Paulo.

b. Alguma criança que gosta de passear no Metrô de São Paulo é inteligente.

c. Alguma criança não inteligente não gosta de passear no Metrô de São


Paulo.

d. Toda criança que gosta de passear no Metrô de São Paulo é inteligente.

e. Toda criança inteligente não gosta de passear no Metrô de São Paulo.

Análise:

Representando as proposições na forma de conjuntos, teremos:

I. Toda criança gosta de passear no Metrô de São Paulo.

II. Existem crianças que são inteligentes.

Figura 3.

47
UNIDADE III │ LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO

Pelo gráfico, observamos claramente que se todas as crianças gostam de passear no


metrô e existem crianças inteligentes, então alguma criança que gosta de passear no
Metrô de São Paulo é inteligente. Logo, a alternativa correta é a opção “b”.

Argumento Válido

Um argumento será válido quando a sua conclusão é uma consequência obrigatória de


suas premissas.

Em outras palavras, podemos dizer que quando um argumento é válido, a verdade de


suas premissas deve garantir a verdade da conclusão do argumento. Isso significa que,
se o argumento é válido, jamais poderemos chegar a uma conclusão falsa quando as
premissas forem verdadeiras.

48
Capítulo 2
Operadores lógicos

Operadores lógicos são componentes da estrutura linguística que indicam a coesão entre
ideias. A lógica da argumentação faz uso, principalmente, de conectivos e advérbios
para relacionar proposições. Vamos dominar os principais operadores lógicos nesta
lição.

»» Ideia de adição: e, nem, não só ... mas também, tanto ... como / quanto
etc.

»» Ideia de adversidade: mas, porém, todavia, contudo, no entanto,


entretanto, não obstante, nada obstante, a despeito de, apesar de, sem
embargo etc.

»» Ideia de alternância: ou, ou ...ou, ora ... ora, quer ... quer, seja ... seja,
nem... nem etc.

»» Ideia de conclusão: logo, pois, portanto, por conseguinte, por isso,


então, assim, consequentemente, dessa forma (maneira), desse modo,
destarte, dessarte, por essa razão, por esse motivo, em vista disso, ora
pois etc.

»» Ideia de explicação: porque, pois, porquanto etc.

»» Ideia de causa: porque, que, como, visto que, visto como, já que, uma
vez que, desde que, dado que, pois, pois que, por isso que, porquanto etc.

»» Ideia de concessão: embora, ainda que, ainda quando, mesmo que,


conquanto, posto que, posto, suposto, (se) bem que, sem que, nem que,
que, apesar de que, por mais que, por menos que etc.

»» Ideia de condição: caso, se, sem que, uma vez que, desde que, dado
que, contanto que, com a condição que, salvo se, exceto se, a menos que,
a não ser que etc.

»» Ideia de consequência: tal, tão, tamanho, tanto ... que, de tal maneira
que, de tal modo que, de tal forma que, de tal sorte que, de maneira que,
de modo que, de forma que, de sorte que, sem que etc.

»» Ideia de conformidade: conforme, consoante, segundo, como etc.

49
UNIDADE III │ LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO

»» Ideia de comparação: como, que, mais, menos, maior, menor, melhor


e pior ... que / do que, tal ... qual, tanto ... quanto / como, como, assim
como, bem como, como se etc.

»» Ideia de tempo: quando, antes que, depois que, até que, tanto que,
agora que, logo que, sempre que, assim que, desde que, todas as vezes
que, cada vez que, apenas, mal, que, enquanto, eis senão quando, eis
senão que, sem que etc.

»» Ideia de proporção: à proporção que, à medida que, ao passo que,


enquanto, quanto (ou tanto) ... mais (ou menos) etc.

»» Ideia de finalidade: para que, a fim de que, porque (no sentido de para
que).

Elementos de coesão

»» Indicar realce, inclusão, adição: além disso, além do mais, além


desse fato, ademais, demais, também, bem como, assim como, como,
vale lembrar, vale acrescentar, outrossim (=igualmente), por iguais
razões, inclusive, até, até mesmo, inclusive, é certo, é inegável, em outras
palavras etc.

»» Indicar negação ou oposição: não obstante, não obstante isso, de


outro modo, ao contrário disso, por outro lado, de outro lado, contudo,
porém, todavia, no entanto, entretanto, apesar de, a despeito de, sem
embargo, de outro ponto de vista etc.

»» Indicar concessão: embora, conquanto, ainda que, ainda quando,


mesmo que, posto, suposto, posto que, (se) bem que, sem que, nem que,
apesar de que, por mais que, por menos que etc.

»» Indicar afirmação ou igualdade: felizmente, infelizmente, ainda bem,


obviamente, em verdade, realmente, de fato, com efeito, efetivamente, de
igual forma, do mesmo modo que, da mesma sorte, semelhantemente,
bom é, interessante é etc.

»» Indicar exclusão: só, somente, nem, sequer, nem sequer, nem ao


menos, não ... senão, apenas, à exceção de, com exclusão, fora, afora,
salvo, tão só, tão somente, pelo menos, ao menos etc.

50
LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO │ UNIDADE III

»» Indicar explicação, continuação, retificação ou ênfase: além


disso, aliás, de outro modo, de outra forma, a saber, assim, bem, com
efeito, de fato, efetivamente, como dizer, enfim, então, isto é, ou seja, no
mais, ou melhor, digo melhor, pensando bem, pois bem, pois sim, por
assim dizer, por exemplo, realmente, sim, em verdade, ou antes, melhor
ainda, como se nota, como se viu, como se observa, como vimos, daí por
que, por isso, pois, a nosso ver, portanto etc.

»» Indicar fecho, conclusão ou complementação: dessarte, assim,


dessa maneira, dessa forma, desse modo, em suma, em remate, em
resumo, resumidamente, enfim, afinal, finalmente, por conseguinte,
portanto, consequentemente, logo, assim, por isso, em última análise, em
derradeiro, por tais razões, do exposto, pelo exposto, em razão disso, em
síntese, posto isso etc.

»» Indicar dúvida ou hipótese: talvez, provavelmente, possivelmente


(possibilidade com incerteza), quem sabe, é provável, não é certo, se é
que, acaso, porventura etc.

»» Indicar certeza ou ênfase: decerto, por certo, certamente,


indubitavelmente, inquestionavelmente, sem dúvida, inegavelmente,
com toda certeza etc.

51
Capítulo 3
Argumento dedutivo ou indutivo

A argumentação técnica geralmente faz uso de estrutura dedutiva ou indutiva na


argumentação.

Argumento dedutivo
O argumento dedutivo é uma forma de raciocínio que geralmente parte de uma verdade
universal e chega a uma verdade menos singular. Essa forma de raciocínio é válida
quando suas premissas, sendo verdadeiras, fornecem provas evidentes para sua
conclusão. Observe exemplo.

»» Premissa 1 (argumento): Tudo que respira é um ser vivo.

»» Premissa 2 (fato): A planta respira.

»» Conclusão (pensamento dedutivo): Logo, a planta é um ser vivo.

O argumento dedutivo se baseia em ideias consagradas e plenamente aceitas como


verdade absoluta. Ao apresentar o argumento, a conclusão já aparece fundamentada
nele. Observe exemplos.

»» Argumento: Só há movimento no carro se houver combustível.

»» Fato: O carro está em movimento.

»» Pensamento dedutivo: Logo, há combustível no carro.

»» Argumento: Só há fogo se houver oxigênio

»» Fato: Na lua não há oxigênio.

»» Pensamento dedutivo: Logo, na lua não pode haver fogo.

O pensamento dedutivo é muito empregado ao defender argumento bem aceito


universalmente e com fato contemplado pelo argumento. O emprego de textos
normativos para justificar teses é excelente exemplo de uso.

52
LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO │ UNIDADE III

Imagine a seguinte situação: o candidato a presidente da República José da Silva fez


campanha eleitoral fora do prazo permitido por lei. Eis exemplo para empregar o
argumento por dedução.

»» Argumento: A Lei no X determina que candidatos só podem fazer


campanha eleitoral em tal prazo. Caso se comprove que houve campanha
em data não permitida, o candidato será apenado de tal forma.

»» Fato: O candidato fez campanha fora do prazo aceito.

»» Conclusão: O candidato deve ser apenado.

Observe parágrafo com estrutura com pensamento dedutivo.

O art. 13 do Código de Defesa do Consumidor dispõe que é dever do fabricante e do


comerciante a prestação de assistência técnica ou a troca do produto, caso o conserto
seja inviável, quando este apresentar vício de fabricação. O art. 14, por sua vez, prevê que
o consumidor poderá optar pela devolução do dinheiro ou pelo abatimento do preço do
produto. A geladeira comprada por José da Silva na loja Tal queimou logo na instalação,
apesar de todos os procedimentos recomendados terem sido seguidos. Assim, deve a
loja realizar a troca do produto ou a devolução do valor pago.

Outro parágrafo com estrutura de argumentação dedutiva.

O exame de corpo de delito é disciplinado no Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de


1941 – Código de Processo Penal e determina que tal exame seja realizado por médico
registrado no Conselho Médico do Brasil. O Código de Ética Médica determina, em
seu art. 16, que o médico plantonista deve ser profissional com a mesma capacidade
técnica mínima dos demais profissionais médicos do hospital. Assim, este profissional
(plantonista) possui as mesmas capacidades de analisar e realizar satisfatoriamente o
exame de corpo de delito como os demais médicos não plantonistas.

Texto com estrutura de argumentação dedutiva:

O art. 668 do Decreto-Lei no 1.608, de 18 de setembro de 1939, prevê que a retirada de


qualquer dos sócios, que não cause a dissolução da sociedade, dá ensejo à apuração
exclusivamente dos seus haveres.

Com efeito, a Súmula no 265 do Supremo Tribunal Federal estabelece:

Súmula no 265. Na apuração de haveres não prevalece o balanço não aprovado pelo
sócio falecido, excluído ou que se retirou.

53
UNIDADE III │ LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO

O autor, como mencionado anteriormente, não participou da elaboração do balanço,


tampouco o aprovou. Portanto, o balanço elaborado unilateralmente que apurou, como
patrimônio líquido da sociedade corré, o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais) não pode
ser utilizado para efeito de apuração dos haveres do autor.

Argumento indutivo

Argumentos indutivos apresentam premissas que conduzem a uma conclusão. Um


bom argumento indutivo terá uma conclusão altamente provável, mas geralmente não
aceita de forma universal. O argumento indutivo estrutura-se em apresentação de fato
singular em busca do convencimento por meio de raciocínio que vai além das premissas
para o caso. O autor busca convencer não por fundamentos plenamente consagrados,
mas por linha de pensamento específica que excede o próprio fato. Observe exemplos.

»» Premissa 1 (fato): A sala 1 da escola foi pintada de verde.

»» Premissa 2 (fato): As salas 2, 3, 4, 5, 6, também foram pintadas de


verde.

»» Conclusão indutiva: Todas as salas da escola foram pintadas de verde.

»» Fato: O ouro conduz eletricidade e é um metal.

»» Fato: O ferro, o zinco, o bronze, a prata também são metais e conduzem


eletricidade.

»» Conclusão indutiva: Todo metal conduz eletricidade.

Nota-se que a conclusão não decorre necessariamente das premissas. É uma


probabilidade de que a conclusão seja verdadeira. Do ponto de vista formal, o argumento
é correto. Contudo, diferentemente da dedução, um argumento indutivo, sendo ele
válido, pode admitir uma conclusão falsa, ainda que suas premissas sejam verdadeiras.

Na linguagem jurídica, o uso do pensamento indutivo é empregado para defender


pensamento que não está presente ou não está embasado claramente no ordenamento
jurídico.

Parágrafo com estrutura argumentativa indutiva.

O Supremo Tribunal Federal discute a questão dos embargos infringentes com a


importância merecida. Não se trata apenas de interpretar as ambiguidades possíveis
na norma jurídica. As questões sociais envolvidas no caso revelam-se superiores às

54
LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO │ UNIDADE III

omissões da Lei no 8.038 e do Regimento Interno no STF. Dessa forma, o clamor social
(in dúbio pro societate) deve ser o diferencial na decisão como já ocorreu nos acórdãos
X e Y, em 2012.

Parágrafo com estrutura argumentativa indutiva.

É oportuno ressaltar que o exame de corpo de delito é ato minucioso por sua natureza e
constitui peça fundamental no processo penal. Não é algo simples, que possa ser realizado
na emergência de um hospital público, cujas emergências funcionam em condições
precárias, conforme denunciado pelo CREMERJ. O médico plantonista de emergência
hospitalar não pode, e não deve, realizar exame de corpo de delito. A Súmula 361 do
Supremo Tribunal Federal dispõe que “no processo penal, é nulo o exame realizado em
situações excepcionais”.

Falácias
Deriva do verbo latino fallere (enganar). É o raciocínio falso com aparência de
verdadeiro. A falácia é um argumento logicamente inconsistente, sem fundamento,
inválido ou falho na tentativa de provar eficazmente o que alega.

Argumentos que se destinam à persuasão podem parecer convincentes para grande


parte do público apesar de conterem falácias.

Os argumentos falaciosos podem ter validade emocional, íntima, psicológica, mas não
validade lógica. Observe exemplos de falácia.

»» Os assassinos de crianças são desumanos. Portanto, os humanos não


matam crianças.

»» Acredite no que eu digo, não se esqueça de quem é que paga o seu salário.

»» Devemos seguir a Bíblia porque é um livro que atravessou os séculos


intacto.

»» Todas as peças deste caminhão são leves; logo, o caminhão é leve.

»» O Sol nasce porque o galo canta.

55
Capítulo 4
Argumentos retóricos

A retórica era tema muito frequente na filosofia grega antiga. Sócrates, Platão e Aristóteles
abordaram o assunto. Vamos esclarecer que a retórica, por esses filósofos, era analisada
de forma pura na arte de argumentar e convencer com elementos verdadeiros. Muitos
sofistas, por sua vez, aproveitaram-se da estrutura retórica para convencer usando
recursos falaciosos.

Aristóteles afirma que há três gêneros retóricos: o deliberativo (busca convencer,


persuadir); o judiciário (busca acusar ou defender); e o epidítico (busca elogiar ou
censurar). Observe o quadro a seguir preparado pelo professor português Álvaro Nunes.

Quadro 1.

Discurso deliberativo Discurso judicial Discurso epidíctico


Auditório membros da assembleia juízes espectadores no conselho
Tempo futuro passado presente
Intenção aconselhar/dissuadir acusar/defender elogiar/censurar
Objeto conveniente/prejudicial justo/injusto virtude/vício
Método exemplo entimema amplificação

Aristóteles aborda também o plano emocional na relação entre orador e auditório e


a inclusão de aspectos como amizade, inimizade, confiança, desconfiança, segurança,
medo e tantas outras emoções que influenciam o discurso e o poder da argumentação.
A argumentação, na visão do filósofo, deve se preocupar principalmente com o estilo do
discurso em sua forma e no uso de recursos metafóricos a fim de auxiliar a demonstração.

Os principais argumentos retóricos a serem analisados em nosso curso são:

Argumento de comprovação

Argumento baseado em evidências (estatística, relatório, testemunho). Trata-se de


argumentos bem eficientes, baseados em fatos.

Os homicídios no Brasil estão assumindo dimensão grave. De acordo com os mais


recentes dados divulgados pelo IBGE, sua taxa mais que dobrou ao longo dos últimos
20 anos, tendo chegado à cifra anual de 27 por mil habitantes. Entre homens jovens (de
15 a 24 anos), o índice sobe a incríveis 95,6 por mil habitantes.

56
LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO │ UNIDADE III

Argumento de autoridade (ab autoritatem)

Argumento que se vale da notória especialização e reconhecimento de autoridade em


determinada área para corroborar a afirmação. As citações de doutrina são os exemplos
mais claros do argumento de autoridade, que tem duplo efeito: primeiro, de fazer
presumir-se certa a conclusão, porque emanada de alguém de notório conhecimento;
segundo, de revelar que a conclusão é isenta de parcialidade.

Não há necessidade de que o fato definido como crime doloso seja objeto de sentença
condenatória transitada em julgado para possibilitar a regressão do condenado a
regime mais gravoso, nos termos do art. 118, inciso I, da Lei de Execução Penal (Lei no
7.210/1984).

Mirabete (2001, p. 37) ensina: “quando a lei exige a condenação ou o trânsito em julgado
da sentença é ela expressa a respeito dessa circunstância, como, aliás, o faz no inciso
II do art. 118. Ademais, a prática de crime doloso é também falta grave (art. 52 da LEP)
e, se no inciso I desse artigo, se menciona também a infração disciplinar como causa
de regressão, entendimento diverso levaria à conclusão final de que essa menção é
superabundante, o que não se coaduna com as regras de interpretação da lei”.

Deve-se entender, portanto, que, em se tratando da prática de falta grave ou crime


doloso, a revogação independe da condenação ou aplicação da sanção disciplinar.

Argumento por analogia (simili)

Argumento que pressupõe que a Justiça deve tratar de maneira igual, situações iguais.
As citações de jurisprudência são os exemplos mais claros do argumento por analogia,
que é bastante útil porque o juiz será, de algum modo, influenciado a decidir de acordo
com o que já se decidiu, em situações anteriores. Também ocorre no caso em que um caso
não previsto de modo direto por uma norma jurídica ser empregado por semelhança ao
um caso concreto previsto.

Ontem, em Roma, Adam Nordwell, o chefe índio da tribo Chippewa, protagonizou uma
reviravolta interessante. Ao descer do avião, proveniente da Califórnia, vestido com todo
o esplendor tribal, Nordwell anunciou, em nome do povo índio americano, que tomava
posse da Itália “por direito de descoberta”, tal como Cristóvão Colombo fizera quando
chegara à América. “Proclamo este o dia da descoberta da Itália.”, disse Nordwell. “Que
direito tinha Colombo de descobrir a América quando esta já era habitada pelo seu
povo há milhares de anos? O mesmo direito tenho eu, agora, de vir à Itália proclamar a
descoberta do vosso país.

57
unidAdE iii │ lÓgiCA dE ArguMEntAção

Muito se fala da importância – aliás enorme – de saber escrever. Afinal, uma


vírgula no lugar errado pode ser fonte de problemas e desentendimentos na
vida pessoal e profissional. Mas igualmente importante é falar bem. Um discurso
claro e no tom certo é uma verdadeira arma de persuasão. É a chamada lábia,
que garante o triunfo da paquera, a venda daquele projeto em uma reunião de
trabalho ou a conquista de um eleitorado. Não à toa, estudiosos se debruçam
sobre o assunto há mais de 2 mil anos. A primeira obra dedicada ao tema de que
se tem notícia, Retórica, foi escrita pelo grego Aristóteles, quatro séculos antes
de Cristo. Ali, ao longo de três volumes, o filósofo determinava as bases de um
bom discurso. Foi, aliás, na Grécia Antiga que teve origem a palavra “retórica”.
Que significa, literalmente, a arte de falar bem.

O estudo da arte de falar sobreviveu na Grécia e em Roma, e podia ser encontrado


nas universidades da Idade Média, onde fazia parte do trivium, os três temas que
eram ensinados nas instituições medievais – a retórica, a gramática e a lógica.
Na era moderna, porém, deixou de compor o currículo letivo, embora seja um
diferencial imprescindível em um mundo cada vez mais competitivo.

“É pela maneira como constrói um discurso, de acordo com os elementos


gramaticais e lógicos que utiliza, que uma pessoa pode conquistar a simpatia de
quem a escuta. Uma figura de linguagem pode comover o ouvinte ou entediá-
lo; pode convencê-lo ou confundi-lo. É para esses elementos que a retórica
atenta”, diz Marcos Martinho, professor de Letras Clássicas da Universidade de
São Paulo (USP).

Ad antiquitatem
Em tradução direta do latim, é algo como “à antiguidade”. Bastante usado na
política, é aquele recurso em que o orador justifica um erro com o passado.
Em lugar de assumir a culpa por ter feito algo de um determinado jeito, ele
argumenta que as coisas sempre foram feitas daquela maneira. É semelhante à
argumentação tu quoque, em que o orador compartilha a responsabilidade por
algo dizendo que o seu oponente cometeu o mesmo erro que ele.

Ad hominem
Em latim, “Ao homem”. É quando o orador, por falta de argumentos suficientes
para demonstrar seu ponto de vista, em vez de atacar uma ideia ou uma ação se
volta contra aquele com quem discute.

58
LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO │ UNIDADE III

Ad ignorantiam
Um verdadeiro brinde “à ignorância”, como diz a expressão em latim. Recurso em
que o orador tira proveito do desconhecimento de seu interlocutor sobre um
determinado tema para encerrar o assunto.

Ad misericordiam
Em latim, algo como “à misericórdia”. É quando o orador lança mão de argumentos
capazes de provocar culpa ou piedade no interlocutor, como mencionar as
dificuldades enfrentadas pelas classes mais baixas ou por ele mesmo, no começo
da vida.

Metáforas
Ajudam o espectador a compreender questões novas ou que não lhe são
familiares, a partir de algo que já é bem conhecido. O presidente Lula ficou
famoso pelas suas metáforas, que aproximavam questões políticas complexas
do universo de seus eleitores.

Como melhorar? Para dominar a arte do discurso, é preciso treino. “Todo mundo
pode correr 100 metros, mas é preciso trabalho duro e muita técnica para ser
Usain Bolt”, diz Leith. Ele tem razão. Uma análise dos grandes mestres da retórica
(veja lista abaixo) comprova: um discurso brilhante raramente surge de improviso,
ele demanda suor. Estadistas como o britânico Winston Churchill escreviam os
próprios textos e os editavam até soar bem, depois liam em voz alta em frente ao
espelho, ensaiando também a linguagem corporal que daria ênfase ao que fosse
dito. Os argumentos utilizados também podem ser escolhidos de antemão. “É
possível compor o texto prevendo a recepção do ouvinte ou leitor”, diz Martinho.

Esforçar-se para melhorar o discurso vale a pena. “Uma argumentação coerente


e bem estruturada ajuda a alcançar os propósitos que se tem em mente”, diz
a professora Lineide Salvador Mosca, coordenadora de Estudos de Retórica e
Argumentação na FFLCH-USP. Segundo ela, é importante que o orador preste
atenção à impostação da voz e sua tonalidade, à gestualidade e à movimentação
no cenário em que se dá o discurso, assim como aos elementos da memória
coletiva – e afetiva – da audiência.

Para quem deseja se aprimorar, uma dica de leitura é o Sermão da Sexagésima,


do padre Antônio Vieira. “Para Fernando Pessoa, Vieira era o ‘imperador da língua

59
UNIDADE III │ LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO

portuguesa’. Esse sermão tem por matéria a arte mesma de discursar. Nele, o
padre diz que o pregador não deve preocupar-se em agradar nem em parecer
desagradável ao ouvinte, pois quem ouve não deve sair da igreja contente ou
descontente com o pregador, mas insatisfeito consigo mesmo”, finaliza Martinho.

Antônio Vieira viveu no século XVII e até hoje é considerado um dos oradores
mais influentes da Língua Portuguesa. A retórica, como se vê, é uma poderosa
arma de persuasão.

Fonte: <http://veja.abril.com.br/noticia/entretenimento/retorica-a-arte-de-vender-o-peixe-com-
elegancia/>.

60
ARGUMENTAÇÃO
EM TEXTOS Unidade iV
TÉCNICOS

Capítulo 1
Técnica de argumentação em textos
técnicos

Ser competente para produzir texto depende apenas de dedicação constante. Observação
aos detalhes e prática promovem melhora significativa no ato de redigir. Nosso objetivo
assim é que você adquira capacidade de expressar com competência ideias em textos
organizados, objetivos, claros e corretos gramaticalmente.

A argumentação visa persuadir o leitor acerca de uma posição. Quanto mais polêmico
for o assunto em questão, mais dará margem à abordagem argumentativa. Pode ocorrer
desde o início quando se defende uma tese ou também apresentar os aspectos favoráveis
e desfavoráveis posicionando-se apenas na conclusão. Agostinho Dias Carneiro afirma
que “argumentar é um processo que apresenta dois aspectos: o primeiro ligado à razão,
supõe ordenar ideias, justificá-las e relacioná-las; o segundo, referente à paixão, busca
capturar o ouvinte, seduzi-lo e persuadi-lo”.

Os argumentos devem promover credibilidade. Com a busca de argumentos por


autoridade e provas concretas o texto caminha para direção coerente, precisa e
persuasiva.

Othon M. Garcia afirma que “na argumentação, além de dissertar, procuramos formar
a opinião do leitor ou a do ouvinte, tentando convencê-lo de que a razão está conosco”,
isto é, a verdade. Argumentar é, em última análise, convencer ou tentar convencer
mediante a apresentação de razões em face da evidência das provas e à luz de um
raciocínio lógico e consistente.

61
UNIDADE IV │ ARGUMENTAÇÃO EM TEXTOS TÉCNICOS

Linguagem técnica
O Manual de Redação e Padronização de Atos Oficiais do Ministério Público Federal
recomenda que a estrutura de texto técnico seja dividida em três partes: introdução,
desenvolvimento e conclusão.

A sequência do texto deve atender a uma ordenação lógica, levando o leitor a compreender
todas as considerações formuladas e induzindo-o à conclusão, que deve constituir o
fecho do documento. Antes de iniciar a redação do texto, é recomendável elaborar um
roteiro básico com todos os assuntos que deverão ser incorporados, preparando-se,
portanto, a itemização geral do documento.

A parte textual dos documentos técnicos deve conter as seguintes seções:

»» Introdução: parte em que se identifica a autoridade que efetuou a


solicitação, se justifica o motivo ou necessidade do trabalho e na qual
cada assunto é apresentado como um todo, sem detalhes. Também deve
ser informada, caso necessário, a metodologia de trabalho ou análise
utilizada.

»» Desenvolvimento: parte mais extensa, que visa descrever a análise ou


estudo, levantamentos realizados, metodologias empregadas e técnicas
utilizadas, assim como os resultados da leitura crítica dos documentos
ou o que foi visto/registrado durante o evento. Nesta seção, devem ser
esclarecidas as dúvidas ou respondidos os questionamentos da autoridade
que demandou a atividade técnica. Esta parte deve ser itemizada caso
a caso, podendo conter um, dois ou vários itens de desenvolvimento/
análise e receber os títulos apropriados.

»» Conclusão: parte integrante de pareceres e laudos que consiste na


comunicação, de forma sintética, dos resultados obtidos, ressaltando o
seu alcance ou suas consequências. Também pode apresentar sugestões
de ações a serem adotadas.

O Tribunal de Contas da União recomenda que textos técnicos argumentativos


apresentem os requisitos resumidos no termo CERTO – Clareza, Concisão, Convicção,
Exatidão, Relevância, Tempestividade e Objetividade.

»» Clareza: textos de fácil compreensão. Evitar a erudição, o preciosismo,


o jargão, a ambiguidade e restringir ao máximo a utilização de
expressões em outros idiomas, exceto quando se tratar de expressões
que não possuam tradução adequada para o idioma português e que já

62
ARGUMENTAÇÃO EM TEXTOS TÉCNICOS │ UNIDADE IV

se tornaram corriqueiras. Termos técnicos e siglas menos conhecidas


devem ser utilizados desde que necessários e devidamente definidos em
glossário. Quando possível, complementar os textos com ilustrações,
figuras e tabelas.

Usar palavras e expressões em seu sentido comum com frases curtas


e concisas. Construir orações na ordem direta, preferencialmente na
terceira pessoa, e evitar preciosismos, neologismos e adjetivações
dispensáveis.

»» Convicção: expor os argumentos com firmeza. Não utilizar expressões


que denotem insegurança como “parece que” ou “entendemos”.

»» Concisão: ir direto ao assunto. Não utilizar comentários complementares


desnecessários nem fugir da ideia central. Intercalações de textos devem
ser utilizadas com cautela, de modo a não dificultar o entendimento pelo
leitor. A transcrição de trechos de doutrina e/ou jurisprudência deve
restringir-se ao mínimo necessário.

»» Exatidão: apresentar as necessárias evidências para sustentar o


argumento, conclusões e propostas. Procurar não deixar espaço para
contra-argumentações.

»» Relevância: expor apenas aquilo que tem importância dentro do


contexto e que deve ser levado em consideração. Não discorrer sobre
ocorrências que não resultem em conclusões.

»» Tempestividade: cumprir os prazos sem comprometer a qualidade.

»» Objetividade: comunicar de forma justa e não enganosa. Interpretações


devem ser baseadas no conhecimento e compreensão de fatos e condições.

63
Capítulo 2
Estruturas de argumentação

Alguns textos apresentam estrutura técnica. Em alguns casos, temos a simples estrutura
dissertativa. Em outros casos, deve-se dominar bem outras técnicas. Observe modelos.

Modelo 1 - enfoque no conceito


O autor conceitua, fundamenta e, por último, interpreta. Ao encontrar tema sobre
assunto específico e técnico, o candidato opta por, primeiro, conceituar o assunto.
Demonstra, assim, que domina o conteúdo. Depois, posiciona-se. Observe a pergunta
e o modelo de reposta.

Questão: Discuta a validade jurídica de um ato administrativo consoante com a lei e


incompatível com a moralidade administrativa.

Modelo de reposta

O princípio da legalidade se divide em sentido restrito e sentido amplo. No primeiro caso,


verifica a adequação do ato à lei em sentido formal, como ocorre nos atos que restringem
direitos dos cidadãos, conforme disposto no inciso II do artigo 5o da Constituição Federal.
Em sentido amplo, abrange não só a obediência à lei, mas também os princípios e
valores que estão na base do ordenamento jurídico.

A moralidade administrativa, elevada a princípio constitucional pelo artigo 37, “caput”, da


Constituição Federal/1988, refere-se à ideia de probidade na Administração Pública. Não
basta, no entanto, o respeito à legalidade formal, mas também aos princípios éticos de
lealdade, de boa-fé, de regras que assegurem a boa administração e a disciplina interna
na Administração Pública (DI PIETRO, 2004).

Portanto, é possível que um ato administrativo formalmente legal viole a moralidade.


No caso, deve ser anulado por vício de imoralidade (SILVA, 2005), pois a moralidade
administrativa constitui pressuposto de validade em todo ato da Administração Pública
(MEIRELLES, 1998). Enquadra-se, assim, em ato de impropriedade, passível de sanções
administrativas, civis e criminais, nos termos do parágrafo 4o do artigo 37 da Constituição
Federal e da Lei no 8.429/1992 (MORAES, 2006).

64
ARGUMENTAÇÃO EM TEXTOS TÉCNICOS │ UNIDADE IV

Trata-se de texto com excelente estrutura. O autor conceituou o assunto no primeiro


parágrafo. No segundo, ampliou o assunto e citou a doutrina. Apenas no final, houve o
posicionamento. Observe outro exemplo.

Questão: Em um presídio estadual, um detento assassinou um colega de carceragem.


No processo administrativo instaurado para se apurarem as causas do homicídio
bem como eventual culpa dos agentes penitenciários pelo ato criminoso, verificou-se
que o homicídio ocorrera em razão de desavença de ordem pessoal entre colegas de
carceragem e que não houve culpa dos agentes penitenciários na morte do detento.

Nessa situação, existe responsabilidade civil do Estado pela morte do detento? Justifique
a sua resposta.

Modelo de reposta

A responsabilidade civil do Estado pelos danos sofridos por pessoas sob sua guarda é
do tipo objetiva, com base no risco administrativo, isto é, independe da existência de
dolo ou culpa de agente público. Nesse caso, o Estado não produz diretamente o dano,
mas sua atividade propicia sua ocorrência, por expor alguém a risco. O comportamento
ativo estatal é mediato, porém decisivo, no nexo de causalidade. O Estado produz a
situação da qual o dano depende. Além disso, segundo o Supremo Tribunal Federal –
STF, é missão do Estado zelar pela integridade física do preso.

A responsabilidade estatal pela guarda de pessoas ou coisas perigosas se justifica


porque a sociedade não pode passar sem os estabelecimentos utilizados para tais fins
(presídios, depósitos de munição etc.), sendo natural que ninguém em particular sofra o
gravame de danos eventualmente causados pelas coisas ou pessoas que se encontram
sob custódia. Por isso, os danos eventualmente surgidos em decorrência dessa situação
de risco acarretam a responsabilidade objetiva do Estado.

Esclareça-se que a responsabilidade em tais casos deve estar relacionada ao risco


alegado. Se a lesão sofrida não guardar vínculo com tal pressuposto, não haverá que
se falar em responsabilidade objetiva. Por exemplo, se houver uma fuga da prisão e os
fugitivos vierem a efetuar roubos dias depois e em localidade diversa da fuga, estará
rompido o vínculo causal entre a situação de custódia dos presos e os danos sofridos
pelas vítimas.

Ressalte-se, por fim, que tampouco responderá o Estado se o dano for causado por força
maior ou caso fortuito, como um raio que mate um prisioneiro no pátio da prisão. Nesse
caso, poderá haver, no máximo, a responsabilidade subjetiva por culpa do serviço, caso
se constate, por exemplo, que a Administração não instalou para-raios no local.

65
UNIDADE IV │ ARGUMENTAÇÃO EM TEXTOS TÉCNICOS

Modelo 2 - enfoque na resposta direta

Outra possibilidade é a resposta direta já no início do texto. O autor agora prefere


já se posicionar desde o início. Assim, logo no primeiro período, o texto apresenta a
abordagem com a resposta esperada. Depois, a fundamentação justifica a opinião do
autor. Observe pergunta e modelo de resposta.

Questão: A empresa X auferiu receitas ao longo do exercício de 1999, tendo, conforme


determina a legislação tributária aplicável, declarado às autoridades fiscais os valores
devidos a título de PIS e de COFINS. Ocorre que, embora declarados, os respectivos
valores não foram recolhidos em favor da União Federal, porquanto a referida empresa
passava por sérias dificuldades financeiras. A Procuradoria da Fazenda Nacional, no
regular exercício de suas prerrogativas, inscreveu os citados débitos de PIS e COFINS em
Dívida Ativa da União Federal em 1o/1/2004. Em 5/7/2005 foi ajuizada execução fiscal
para cobrança da dívida, tendo a empresa sido citada em 6/7/2005. Neste contexto,
indaga-se se foi respeitado o prazo prescricional para a cobrança (ajuizamento da ação
de execução fiscal) em tela. Justifique a sua resposta indicando a base legal aplicável.

Modelo de reposta

O prazo prescricional não foi respeitado. A inscrição em dívida ativa suspende o prazo
prescricional por 180 dias (artigo 2o, § 3o, Lei 6.830/80). A execução foi ajuizada quase um
ano e meio após a inscrição em dívida ativa (5/7/2005), o que significa que a contagem
do prazo prescricional voltou a ocorrer 180 dias após a data de inscrição em dívida ativa,
ou seja, 7/2004.

Portanto, tomando-se as datas de ocorrência dos fatos geradores até a distribuição da


ação de execução fiscal, descontados os 180 dias de suspensão, terá sido consumada
a prescrição, de acordo com o artigo 174 do Código Tributário Nacional.

Modelo 3 - relação entre ideias

Autores necessitam, em alguns casos, abordar dois ou mais assuntos e relacioná-los.


Nunca misture as ideias no mesmo parágrafo. Observe o exemplo.

Questão: Qual a diferença entre perdão judicial e perdão tácito?

Modelo de resposta

O perdão tácito é uma causa extintiva de punibilidade prevista no artigo 107, inciso V,
do Código Penal, configurando-se na ação penal exclusivamente privada, em face de

66
ARGUMENTAÇÃO EM TEXTOS TÉCNICOS │ UNIDADE IV

um ato do querelante para com o querelado, denotando incompatibilidade e continuar


o processo-crime, vez que o ato da vítima denota que perdoou o querelado, existindo
apenas quando já recebida a queixa-crime por parte do juiz, não devendo ser confundida
com a renuncia tácita que é sempre antes de iniciar o processo, devendo o perdão tácito
para extinguir a punibilidade ser aceito por parte do querelado, porquanto o perdão é
sempre bilateral.

Já o perdão judicial constitui providência exclusivamente do Poder Jurisdicional


derivada de medida de Política Criminal, havendo previsão expressa em situações de
homicídio culposo e outras culposas expressas em lei, quando as consequências da
infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne
desnecessária, destacando que o artigo 120 do Código Penal é expresso ao afirmar
a natureza declaratória do instituto do perdão judicial ao afirmar que “a sentença que
conceder perdão judicial não será considerada para efeitos de reincidência”.

67
Capítulo 3
Estrutura expositiva

No texto expositivo, o autor se preocupa em demonstrar que conhece o assunto. Não


se deseja abordar um posicionamento direto. Diversos autores não consideram o texto
expositivo no estudo da argumentação. No entanto, em muitos casos, a exposição revela
por si só a intenção de demonstrar ideia sobre o assunto. Observe exemplos a seguir.

Questão: Disserte sobre o CNJ, abordando os seguintes tópicos:

»» posicionamento na estrutura dos Poderes;

»» composição;

»» competências.

Modelo de texto
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) é um importante órgão público, inserido na
estrutura do Estado Brasileiro pela Emenda Constitucional 45/2004. A sede do Conselho
fica na Capital Federal.

Embora não exerça atividade jurisdicional, o CNJ pertence ao Poder Judiciário, como
demonstra o art. 92 da Constituição Federal. Sua missão consiste em exercer o controle
da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres
funcionais dos juízes.

O CNJ é composto por quinze membros com mandato de dois anos, admitida uma
recondução. Entre eles, temos o Presidente do Supremo Tribunal Federal, que preside o
Conselho, um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, um Ministro do Tribunal Superior
do Trabalho, um desembargador de Tribunal de Justiça, além de outros magistrados,
membros do Ministério Público, advogados indicados pela Ordem dos Advogados do
Brasil e dois cidadãos indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado
Federal.

Entre as competências do CNJ, destacam-se: zelar pela autonomia do Poder Judiciário


e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura; receber e conhecer das reclamações
contra membros ou órgãos do Poder Judiciário; e rever processos disciplinares de juízes
e membros de tribunais.

68
ARGUMENTAÇÃO EM TEXTOS TÉCNICOS │ UNIDADE IV

Assim, nota-se que o CNJ é um órgão do Judiciário de grande importância na atuação


do controle administrativo e financeiro desse Poder.

Questão: Discorra sobre os Poderes da República no Brasil.

Modelo de resposta

Os três poderes da República são o Executivo, exercido pelo Presidente da República,


auxiliado pelos Ministros de Estado; o Legislativo, exercido pelo Congresso Nacional, que
se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal; e o Judiciário, do qual fazem
parte o Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça, o Superior Tribunal de
Justiça, os Tribunais Regionais Federais, os Tribunais do Trabalho, os Tribunais Eleitorais,
os Tribunais Militares e os Tribunais dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.

Alguns assuntos exigem do autor conhecimento de procedimentos dentro do órgão e


apresentam textos informativos.

Modelo de texto
O processo legislativo de Medida Provisória federal (MP) é delineado, em seus aspectos
gerais, por normas constitucionais (art. 62, 150, 153, 154, 195, 246, CF/88) e, nos
particulares, por normas regimentais (Res. no 1, de 2002-CN, art. 163, I, RISF, entre
outros). No caso em tela, contribuições sociais podem ser criadas por medida provisória
(art. 195, CF; ADI 2010/DF, 30/9/1999), uma vez que tal matéria é veiculada por lei
ordinária, condição jurídica a que se equipara a MP. Sem embargo, o trecho do enunciado
apresenta equívoco ou imprecisão quanto à oportunidade e instância para apresentação
de emendas, procedimento de instrução do projeto de lei de conversão (PLV) e prazos
constitucionais e regimentais para sua apreciação.

As emendas ao PLV, oferecidas tanto por senadores quanto por deputados federais,
devem ser apresentadas exclusivamente perante a Comissão Mista temporária do
Congresso Nacional designada para a instrução de MP (CM-MP), nos seis dias seguintes
à edição da MP no Diário Oficial da União (DOU). Ademais, têm de ser protocoladas na
Secretaria-Geral da Mesa do Senado. A CM-MP emitirá parecer sobre o projeto (quanto
ao atendimento dos pressupostos de urgência e relevância, adequação financeiro-
orçamentária, constitucionalidade, juridicidade, regimentalidade, técnica legislativa, e
mérito) e emendas (mesmos aspectos, além da pertinência ao texto original) até o 14º
dia da publicação da MP. O parecer pode concluir pela manutenção do texto original,
rejeição da MP ou sua alteração.

69
UNIDADE IV │ ARGUMENTAÇÃO EM TEXTOS TÉCNICOS

Na Câmara dos Deputados — CD (15o ao 28o dia) e no Senado Federal — SF (29o ao


42o dia), a deliberação se orientará tanto pelo parecer da CM-MP, que será publicado
nos respectivos diários (DCD e DSF) e distribuído em avulsos, quanto pela exposição do
relator, que será de uma Casa, e relator-revisor, da outra Casa, designados na CM-MP,
alternadamente a cada nova MP. Os Plenários da CD e SF poderão acatar ou rejeitar
emendas apresentadas perante a CM-MP e propor destaques ao projeto ou às emendas,
inclusive para votação em separado. Também podem manter o texto original da MP.
Qualquer alteração pelo SF no tratamento conferido ao PLV e às emendas será apreciada
pela CD nos 3 dias restantes, após o que o PLV passará a sobrestar a pauta da Ordem
do Dia da Casa em que estiver (a partir do 46o dia). Aprovado PLV com texto de mesmo
teor que a MP, deverá ser promulgado e publicado pelo Presidente da Mesa do CN.
Aprovado PLV com alteração de mérito, deverá ser encaminhado à sanção presidencial.
Rejeitada a MP pelo CN, esta será desfeita retroativamente, com publicação de Ato
do Presidente da Casa em que ocorrer a rejeição no DOU e envio de mensagem ao
Presidente da República.

Constitucionalmente, o Congresso Nacional (CN) dispõe de 60 dias, prorrogáveis por


mais 60 dias, para apreciar o PLV, prazo esse que é suspenso durante os recessos
parlamentares. O SF só pode votar o PLV quando a CD o houver feito, e esta Casa só
poderá apreciar emenda do SF depois da manifestação da Casa revisora. Após 120 dias
sem deliberação, a MP é desfeita retroativamente por decurso de prazo, preservando-se
regidas pelos seus termos as relações jurídicas constituídas durante sua vigência, seja
por força do §11 do art. 62 da CF, seja por força de decreto legislativo editado pelo CN
até 60 dias da perda de eficácia. A edição de decreto legislativo também é necessária
quando o CN aprova projeto de lei de conversão com alteração de mérito em relação ao
texto da MP.

Por fim, quando a CM-MP não for instalada, caberá ao relator designado em Plenário
apresentar relatório durante a discussão da matéria, quer na CD, quer no SF. Se essa
Comissão exceder seu prazo, o relator e o relator-revisor deverão fazer o mesmo no
Plenário da respectiva Casa. Portanto, mesmo nesses dois casos, a matéria não irá a
comissões permanentes nem receberá emendas conforme procedimento ordinário.

70
Capítulo 4
Abordagem, fundamentação e
consistência

Texto técnico (principalmente jurídico) apresenta, por natureza, boa fundamentação com
domínio do embasamento legal. Não basta apenas conhecer o assunto. Há necessidade
de organizar bem a ideia e fazer uso de recursos retóricos para fundamentar bem a
análise jurídica. Observe a questão jurídica em prova da OAB e o primeiro parágrafo de
uma possível resposta com fundamentação.

Foi publicada no Diário Oficial do Estado do Ceará uma portaria do Governador com a
seguinte redação:

Resolve EXONERAR, de ofício, AMANDA FEITOSA, agente pública ocupante de cargo


vitalício. Identifique e explique o vício contido no ato.

A vitaliciedade é garantia concedida na Constituição Federal a determinados agentes


públicos, que só perdem o cargo em virtude de sentença judicial transitada em julgado
ou a pedido. O art. 73, § 3o, combinado com o art. 95, I, e com o art. 128, § 5o, I, “a”,
determina que são vitalícios os membros dos Tribunais de Contas, os magistrados e
os membros do Ministério Público. No caso de juízes, promotores e procuradores da
República aprovados em concurso público, a vitaliciedade somente será adquirida após
dois anos de exercício.

Amanda Feitosa, ocupante de cargo vitalício, apenas poderia deixar o cargo em virtude
de sentença judicial transitada em julgado ou a pedido. Portanto, a exoneração só seria
válida se decorresse de pedido.

Percebe-se claramente a abordagem (interpretação dos fatos apresentados à luz


da legislação) e o fundamento (embasamento legal). Outro aspecto importante é a
consistência. Ela é a capacidade de ampliar a fundamentação com citação de autores
consagrados ou decisões relativas à abordagem proposta. Observe o texto citado com
fundamento e consistência.

A vitaliciedade é garantia concedida na Constituição Federal a determinados agentes


públicos, que só perdem o cargo em virtude de sentença judicial transitada em julgado
ou a pedido. O art. 73, § 3o, combinado com o art. 95, I, e com o art. 128, § 5o, I, “a”,
determina que são vitalícios os membros dos Tribunais de Contas, os magistrados e
os membros do Ministério Público. No caso de juízes, promotores e procuradores da

71
UNIDADE IV │ ARGUMENTAÇÃO EM TEXTOS TÉCNICOS

República aprovados em concurso público, a vitaliciedade somente será adquirida após


dois anos de exercício.

Carvalho Pinto (2005, p. 515-516) explica que a exoneração de ofício será possível
nos seguintes casos: a) se o servidor ocupar cargo em comissão, a juízo da autoridade
competente; b) se o servidor tomar posse e não entrar em exercício no prazo legal; c) se
forem insuficientes providências administrativas que visam adequar despesas de pessoas
aos limites fixados na Lei Complementar no 101/2000; d) se o servidor estiver em estágio
probatório e não corresponder às exigências do cargo – sendo imprescindível, neste
caso, a garantia do contraditório e da ampla defesa, conforme Súmula no 21 do Supremo
Tribunal Federal.

Amanda Feitosa, ocupante de cargo vitalício, apenas poderia deixar o cargo em virtude
de sentença judicial transitada em julgado ou a pedido. Portanto, a exoneração só seria
válida se decorresse de pedido.

O texto agora está mais completo em sua estrutura. Houve abordagem, fundamentação
e consistência.

Menezes (2000, p. 86) detalha a importância da estrutura do texto argumentativo e


modelos de fundamentação: “uma argumentação eficaz é a que consegue aumentar a
intensidade de adesão, de forma que se desencadeie nos ouvintes a ação pretendida
(ação positiva ou abstenção) ou, pelo menos, crie neles uma disposição para a ação que
se manifestará no momento oportuno”. Menezes complementa (2000, p. 90):

Esses argumentos de ligação dividem-se em 3 (três) classes, a saber:

1) argumentos quase lógicos: aqueles que, pela sua estrutura,


lembram os raciocínios formais; apoiam-se na identidade e definição,
analiticidade, reciprocidade, transitividade, inclusão da parte no todo,
divisão do todo em suas partes, comparação, sacrifício, probabilidades,
etc.

2) argumentos baseados na estrutura do real: valem-se da sua


estrutura para estabelecer uma solidariedade entre juízos pelo auditório
e outro que se procuram promover; apoiam-se em: ligações de sucessão
(como a relação de causa e efeito): argumento pragmático, argumento
do desperdício, argumento da direção, argumentos de superação etc.
ligações de coexistência (como a relação de pessoas com seus atos):
argumento de autoridade, argumento de hierarquia, argumentos
concernentes às diferenças de grau e ordem, argumentos concernentes
ao ethos.

72
ARGUMENTAÇÃO EM TEXTOS TÉCNICOS │ UNIDADE IV

3) argumentos que fundam a estrutura do real: generalizam


aquilo que se aceita acerca de um caso particular (ser, acontecimento,
relação) ou colocam em um outro domínio que se admite em um domínio
particular. Exemplo: busca a formulação de uma lei (ou pelo menos a
possibilidade de repetição ou restrição) a partir de casos particulares; os
fatos poderão ser aceitos sem discussão. Modelo: busca a identificação
com algo/alguém a seguir ou, no anti-modelo, algo (alguém) a se evitar.
Analogias e metáforas (como analogias condensadas): desempenham
papel semelhante ao modelo.

Argumentos de dissociação: baseiam-se na dissociação no âmbito


das noções. Eles denunciam uma incompatibilidade entre aspectos do
real, que serão qualificados de aparência ou ilusão. Em geral permitem
a elaboração de pares opostos como o protótipo aparência/realidade.
Servem para exprimir uma visão do mundo: relativo/absoluto;
estabelecem hierarquias: particular/geral etc.

Para finalizar, a argumentação tem como finalidade alinhar os fatos


e as ideias, numa progressão, a fim de persuadir o leitor. Usam-se
justificativas e argumentos que possuem coerência com o tópico-frasal
inicial e que colaborem para a conclusão.

73
Referências

ARISTÓTELES. Organon - Vol. V. Tópicos. Lisboa: Guimarães Editores, 1987.

ARISTOTLE. On Rhetoric. New York: Oxford University Press, 1991.

CHARAUDEAU, P. Linguagem e discurso: modos de organização. São Paulo:


Contexto, 2009.

GARCIA, Othon Moacir. Comunicação em prosa moderna. 22a ed. Rio de Janeiro:
Editora FGV, 2002.

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