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Brasília-DF.
Elaboração
Colaboração
Produção
APRESENTAÇÃO................................................................................................................................... 5
INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 8
UNIDADE I
ORGANIZAÇÃO ESCOLAR COMO SISTEMA.......................................................................................... 11
CAPÍTULO 1
GESTÃO DE PROCESSOS: DEFINIÇÃO E CARACTERÍSTICAS....................................................... 12
CAPÍTULO 2
MAPEAMENTO DE PROCESSOS............................................................................................... 19
CAPÍTULO 3
GESTÃO DE PROCESSOS NA ESCOLA: SETORES ADMINISTRATIVO,
PEDAGÓGICO E FINANCEIRO................................................................................................ 24
CAPÍTULO 4
RECURSOS TECNOLÓGICOS NA GESTÃO DE PROCESSOS....................................................... 34
UNIDADE II
GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA.................................................................... 37
CAPÍTULO 1
DEFINIÇÃO E CARACTERÍSTICAS DE GESTÃO DE PESSOAS........................................................ 37
CAPÍTULO 2
GESTÃO DE PESSOAS POR COMPETÊNCIAS............................................................................. 47
CAPÍTULO 3
SELEÇÃO, RECRUTAMENTO E CAPACITAÇÃO DE PESSOAS NA ESCOLA..................................... 52
CAPÍTULO 4
DIFERENCIAÇÃO ENTRE GRUPOS E EQUIPES NA ESCOLA: BENEFÍCIOS DOS TRABALHOS
EM EQUIPES........................................................................................................................... 58
UNIDADE III
GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS..................................... 68
CAPÍTULO 1
FENÔMENOS SOCIAIS NOS GRUPOS...................................................................................... 68
CAPÍTULO 2
TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS............................................................................................. 91
UNIDADE IV
GESTÃO DE PESSOAS: AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO, DE COMPETÊNCIAS E DE RESULTADOS
NA GESTÃO ESCOLAR......................................................................................................................... 98
CAPÍTULO 1
AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO, DE COMPETÊNCIAS E DE RESULTADOS NA GESTÃO ESCOLAR.... 98
REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 119
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
Atenção
6
Saiba mais
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
7
Introdução
Por meio das leituras e das reflexões propostas no Caderno de Estudos da disciplina Gestão de
Pessoas e de Processos, almeja-se a percepção do aluno para o atual cenário social de tantas
diversidades e diferenças. Nesse ambiente é que gestor e o supervisor escolar enfrentam os desafios,
por um lado, decorrentes do novo formato das relações do homem com o mundo, especialmente no
que diz respeito à competitividade, e, de outro lado, das mudanças por que perpassa o mundo do
trabalho, impactado em sua natureza e nas relações de emprego.
O mundo está mudando com uma rapidez incrível e com intensidade cada vez maior. A mudança
sempre existiu, mas não com o volume, a aceleração e o impacto que ocorre hoje. No início do século,
falava-se que, na era da eletricidade e do vapor, o que ocorria em um século passou a acontecer em
uma década; hoje, na era da informática e das comunicações, podemos dizer que o que acontecia em
décadas passou a acontecer em segundos. O presente escapa das nossas mãos.
Nesse sentido, vamos refletir a partir das questões propostas neste caderno, que, em sua primeira
unidade, propõe a análise da organização escolar como sistema, estabelecendo que não se perca de
vista a totalidade social da qual o sistema educativo é parte.
Na segunda unidade, o foco de reflexão passa a ser os grupos e as equipes na gestão de pessoas na
escola, na qual o gestor/coordenador e os demais profissionais interessados em aprimorar o trabalho
em equipe possam aumentar a produtividade e o desempenho do grupo de trabalho, tornando as
atividades e as relações profissionais mais harmoniosas e a comunicação mais eficaz.
Assim, a terceira unidade direciona-se para uma reflexão do texto e do contexto de gestar uma escola
focalizando a gestão de pessoas: fenômenos sociais e temáticas contemporâneas e seus impactos
nos dias atuais, considerando os processos de humanização, como elementos indiscutíveis nesse
novo contexto organizacional.
Objetivos
»» Repensar a Gestão Educacional sob a visão dos conceitos relativos à Gestão
de Processos, reconhecendo a eficácia das novas tecnologias numa abordagem
integrada e interligada nas organizações.
8
ORGANIZAÇÃO ESCOLAR COMO SISTEMA│ UNIDADE I
9
ORGANIZAÇÃO
ESCOLAR COMO UNIDADE I
SISTEMA
Definir a organização escolar é uma tarefa árdua, na medida em que delimitar os
conteúdos a serem inseridos nesse conceito evoca a limitação e a polissemia dos
termos, além das diferentes perspectivas dos autores que constróem suas definições
de um lugar determinado, com bagagens e repertórios distintos, mais ou menos
próximo do universo escolar e de seus atores.
Nóvoa, 1992
<www.cosmo.com.br>
A chamada “crise da escola” ocorrida nos últimos vinte anos levou as organizações escolares a
ganhar progressiva visibilidade e a adotar critérios diferentes para revisitar a qualidade educativa,
em consequência das demandas contemporâneas.
E é nesse contexto que as diferentes reformas educacionais surgidas em todo o mundo apontaram
outras perspectivas, referentes aos currículos em cujo ápice há necessidade de modelos de gestão
democraticamente mais participativos, apontando para uma escola autônoma em relação aos
sistemas centralizadores. É nesse contexto que se entende o novo paradigma das organizações
escolares, alinhado às diversas inovações, incluindo as de cooperação técnica e de absorção
corporativa.
A escola, no momento atual, deixa de ser vista como organização racional e delineada, cumpridora
de objetivos burocráticos, e passa a ser considerada organização social, cultural e humana, na qual
podem ser tomadas importantes decisões educativas, curriculares e pedagógicas. Cada ator tem
significativa importância nas decisões a serem tomadas e tudo é construído por meio da participação
ativa na elaboração dos projetos a serem operacionalizados.Capítulo 1
11
CAPÍTULO 1
Gestão de Processos: Definição e
Características
Processo s.m; método; (no latim procedere é verbo que indica a ação de avançar, ir
para frente (pro+cedere)). É conjunto sequencial e peculiar de ações que objetivam
atingir uma meta. É usado para criar, inventar, projetar, transformar, produzir,
controlar, manter e usar produtos ou sistemas. (Houaiss, 1999).
Aproximadamente há duas décadas, tem havido grande conversação temática sobre a reengenharia
da gestão por processos. Por meio dessa gestão, as organizações têm procurado jeitos criativos
e qualitativos em suas atuações para coexistir com seus pares numa sociedade crescentemente
globalizada e disputada.
Ribeiro (2007) reflete esse fato afirmando que as instituições vêm promovendo mudanças em sua
cultura paulatinamente e introduzindo estratégias, com vistas à autonomia, à participação e ao
comprometimento das pessoas.
A ideia de melhoria nas atividades tem origem nos princípios da Administração Científica, haja vista
que, durante muito tempo, as atividades administrativas foram alvo de racionalizações, por meio
das técnicas de O&M (organização e métodos), observando a departamentalização com o foco nas
questões internas.
Na década de 1990, já se podia perceber um contexto que apontava para as grandes transformações
nos mercados, na competição e, principalmente, no interior das instituições, como também é o caso
das escolas.
A Gestão por Processos permitiu que fosse vislumbrado o funcionamento das instituições, focando
as atividades que faziam com que os produtos e os serviços chegassem aos clientes. No caso da
escola, o produto seria a aprendizagem e o principal cliente, o aluno.
Dessa forma deixou-se de privilegiar a divisão nos diversos departamentos como critério para
analisar a melhor forma para o desempenho das atividades. Assim é que os processos internos
foram redesenhados, possibilitando ganhos em eficiência, competência e equidade.
12
ORGANIZAÇÃO ESCOLAR COMO SISTEMA│ UNIDADE I
O texto a seguir, apresentado por Sordi (2008, apud FOLLETT, 1997), possibilita, por
meio de fundamentação teórica, melhor compreensão do tema. Leia-o, refletindo
sobre o significado da ação do gestor sob a visão apresentada pelo autor.
Follett, 1997
Sordi (2008) afirma que dois principais conceitos da TGS fundamentam a abordagem sistêmica da
administração, quais sejam: a) interdependência das partes e b) tratamento complexo da realidade
complexa. Conceituar interdependência das partes implica referir-se à composição institucional,
ou da entidade, tendo em vista que o todo de uma instituição é composto por partes de outras
instituições, e estas são interdependentes em relação ao todo. “O tratamento complexo da realidade
complexa é a afirmação da grande dificuldade da sociedade moderna, que exige técnicas específicas
para lidar com esse pensamento”.
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UNIDADE I │ORGANIZAÇÃO ESCOLAR COMO SISTEMA
Para exemplificar essa ideia de interdependência entre as partes de um todo (o sistema), abaixo
está transcrito um texto com algumas das muitas interrelações entre algumas partes que compõem
o sistema globo ocular humano.
De acordo com Sordi (2008), um sistema pode ser entendido como um conjunto de elementos
interligados, cuja transformação em uma de suas partes influencia todas as outras, podendo-se
afirmar que há relação de causa-efeito entre as partes que compõem o todo (sistema). Para esse
mesmo autor, sistema é uma palavra de origem grega que significa combinar, ajustar, formar um
conjunto.
Exemplifica-se essa informação, relacionando-a com o sistema globo ocular, em que são identificadas
várias partes, como a íris, a córnea, o cristalino, o nervo óptico, a esclera, a coróide, entre outras,
podendo, ainda, imaginar tantos outros sistemas de tamanhos distintos, como o sistema solar,
o sistema hidráulico de um veículo, o sistema financeiro de um país, o sistema contábil de uma
organização, o sistema educacional de um estado, município ou de uma escola.
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ORGANIZAÇÃO ESCOLAR COMO SISTEMA│ UNIDADE I
Entende-se com esse aporte que, dentro de uma instituição/organização há diferentes sistemas em
operação: planejamentos de controle, gestão de materiais, gestão por processos, gestão de pessoas,
gestão de finanças, entre outros.
Assim, forma compreende-se que um sistema responde a estímulos. No globo ocular, por exemplo,
o estímulo é a luz que ativa as células nervosas contíguas ao olho. No ambiente organizacional, são
vários os estímulos percebidos, que, nesse caso e de acordo com a TGS, precisam ser identificados,
considerando-se com ponderação o macroambiente
Sordi (2008, apud TORO, 1997) conceitua a gestão por processos como “uma estrutura gerencial
orientada a processos, em que o gestor e os grupos de trabalho são todos executores e pensadores,
na medida em que projetam, inspecionam resultados e redesenham os seus sistemas de trabalho, de
forma a alcançar melhores resultados.”
O que se depreende dessa reflexão é que a gestão por processos pode ser considerada uma
metodologia para o gerenciamento sistemático e centrado no cliente/aluno, objetivando melhoria
em todos os processos da instituição, por meio da organização de grupos (times) multifuncionais e
com autonomia nas ações delegadas.
Vale ressaltar a preocupação dos estudiosos desse assunto sobre a questão semântica de gestão de
processos e gestão por processos. A apreensão é explicada por Sordi (2008) como ocasionada por
expressões administrativas com nomes semelhantes, mas com significados diferentes.
Gonçalves (2000), por meio da Revista de Administração de Empresas (RAE), diz que, “embora
presente, o conceito de processo não tem uma interpretação única e a variedade de significados
encontrados tem gerado inúmeros mal-entendidos”. Explica, ainda, que o entendimento mais
comumente encontrado para o termo gestão de processos é o da engenharia industrial. As origens
dessa expressão datam do século XVIII, no início da Revolução Industrial, por meio da divisão do
trabalho em atividades sequenciais, objetivando sua mecanização.
O significado oposto – gestão por processos – é relativo ao seu emprego para designar a abordagem
administrativa da gestão. A “gestão de processos” tem abrangência reduzida, estilo de organização
e gerenciamento da operação de empresas.
15
UNIDADE I │ORGANIZAÇÃO ESCOLAR COMO SISTEMA
Essa modalidade de gestar tem sido vantajosa, porque, primeiramente, refere-se ao fato de
os processos e suas atividades ligarem-se diretamente aos objetivos da instituição. Depois, os
cooperadores e os recursos agrupam-se para apresentar um trabalho completo, gerando uma cultura
de negociação e de participação, o que é fundamental nas instituições desse século XXI.
Em tal contexto, uma terceira razão pode ser indicada como vantagem para a gestão por processos:
as informações geradas nos procedimentos seguem diretamente para onde são necessárias, o que
diminui os efeitos da burocracia e da estrutura hierárquica.
Segundo Gonçalves (2000), pelo fato de estarem ligadas à missão da organização, “as metas
adotadas nos processos não são as tradicionalmente estabelecidas pelas unidades organizacionais,
mas as dos próprios processos como um todo”. Sob essa gestão, a preocupação é a coordenadoria
das ações realizadas nos processos e não a coordenação das unidades. Esse dado pode significar a
otimização dos recursos institucionais em todos os seus sistemas, reduzindo custos operacionais e
proporcionando maior flexibilidade e agilidade à organização.
São muitas as definições aplicadas para a gestão de processos e empregadas pelos diferentes autores
e metodologias no atual contexto social e institucional. A mais comum é a da norma NBR ISO
9001:2000, que a coloca como um “conjunto de atividades inter-relacionadas que transformam
insumos (entradas) em produtos (saídas)”.
16
ORGANIZAÇÃO ESCOLAR COMO SISTEMA│ UNIDADE I
O que se percebe é que, embora esse segmento esteja crescendo, há carência de profissionais que
possuam experiência e perfil necessários para atuar como gestores por processos.
Essas conversações sobre gestão escolar tratam em dimensão e enfoque sobre atuação, mobilização,
organização e articulação das condições materiais e humanas que possam afiançar a melhoria dos
processos socioeducacionais, priorizando o conhecimento e as relações internas e externas da escola.
Assim, de acordo com Laurindo (2008), a gestão por processos tem as seguintes características
essenciais.
ELEMENTO CARACTERÍSTICAS
»» Definição clara da estratégia e sua formalização
Estratégia
»» Comunicação da estratégia às pessoas participantes
competitiva
»» Noção de agregação de valor nos produtos ou serviços oferecidos
»» Posicionamento objetivo da administração para a qualidade
Cultura »» Noção de cliente e fornecedor interno presente nas ações dos colaboradores
Organizacional
para a qualidade »» Trabalho em equipe realizado frequentemente
»» Preocupação com a integridade da informação de operação e gestão
Garantia de »» Definição e formalização do sistema de operações da organização
qualidade »» Definição e divulgação de metas e objetivos do sistema de operações
»» Identificação dos processos-chave da organização que contribuem com os objetivos competitivos
»» Participação efetiva das áreas administrativas e comerciais das funções de apoio e de operação na execução dos
processos
Qualidade do
processo »» Preocupação da gerência com a comunicação interna e as interfaces
»» Preocupação constante com aperfeiçoamento
»» Multifuncionalidade das ações de melhoria
»» Postura positiva frente às mudanças que ocorrem na empresa
Modernização
e mudança »» Agilidade na tomada de decisões e na implementação de ações
organizacional »» Organização matriarcal
»» Papel definido para cada colaborador
Ação dirigida para
»» Reconhecimento da alta direção pelos esforços de todos na melhoria e na busca de resultados
os indivíduos
»» Preocupação com as habilidades e os conhecimentos dos colaboradores
»» Disponibilização de recursos para a obtenção de resultados que afetem o cliente
Ação dirigida pela »» Disponibilidade de informação para as pessoas e nos locais em que serão utilizadas
informática »» Confiabilidade nas informações
»» Capacitação dos usuários na consulta e no uso de informações e de dados
»» Participação efetiva dos colaboradores nas ações da empresa
»» Delegação de responsabilidade e autoridade a colaboradores capacitados
Papel da gerência
»» Ações que direcionam a abordagem por processos em contraposição à simples execução funcional de papéis
»» Nomeação ou identificação dos donos do processo
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UNIDADE I │ORGANIZAÇÃO ESCOLAR COMO SISTEMA
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CAPÍTULO 2
Mapeamento de Processos
Mapear processos é uma das tarefas mais importantes na gestão por processos. Essa atividade
permite que sejam conhecidas detalhadamente e com profundidade, todas as operações que ocorrem
durante a fabricação de um produto ou a produção de um serviço. Por ela descobre-se a “fábrica
oculta”, afirma Laurindo (2008).
Rafael Scucuglia
Mas será que temos feito isso de forma a, efetivamente, agregar valor à gestão
organizacional? Será que tais identificações, nomenclaturas e definições de fato
contribuem para a administração das empresas? Será que essas teorias têm um
efeito significativo para a melhoria nos resultados organizacionais finais?
Estamos convictos de que sim, desde que a organização disponha de uma efetiva e
verdadeira gestão por processos. Conceitualmente, a gestão por processos significa
muito mais do que simplesmente mapear as atividades organizacionais. Significa
muito mais do que apenas nomear cada etapa de trabalho com um nome que a
identifique.
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UNIDADE I │ORGANIZAÇÃO ESCOLAR COMO SISTEMA
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ORGANIZAÇÃO ESCOLAR COMO SISTEMA│ UNIDADE I
Os fluxos mais detalhados a serem desenhados são os de atividades. Eles detêm todas
as características minimistas a serem consideradas para proposições de mudanças
e alterações de práticas. Os fluxos de subprocessos, processos e macroprocessos,
por suas vezes, têm um caráter gerencial: seus objetivos são apenas retratar, de uma
forma global, a lógica geral de funcionamento interno da organização, para geração
do serviço/produto. Em experiência com nossos clientes, observamos que, muitas
vezes, o fluxo de processos é o único realizado. A ISO série 9000 já o considera como
válido, como evidência da adoção da “abordagem por processos”. Mas, de fato, é
impossível, em nossa opinião, que somente essa ferramenta seja geradora de ações
efetivamente agregadoras de valor à melhoria das práticas de gestão.
Segundo Biazzo (2000), entender um mapeamento de processo significa enfatizar, num molde, num
modelo ou num diagrama, a relação entre as atividades, o pessoal, as informações e os objetivos
envolvidos.
21
UNIDADE I │ORGANIZAÇÃO ESCOLAR COMO SISTEMA
De acordo com Vilela (2000, apud HUNT, 1996), o “mapeamento de processos é uma ferramenta
gerencial analítica e de comunicação que tem a intenção de ajudar a melhorar os processos existentes
ou de implantar uma nova estrutura voltada para processos”.
Muitas são as formas de representar a construção de um modelo de processos. Elas podem ajudar
nos diferentes tipos de mapas. Segundo Vilela, (2000, apud BIAZZO, 2000), essa montagem segue
os seguintes passos.
1. Definição das fronteiras e dos clientes do processo, dos principais inputs e outputs
e dos atores envolvidos no fluxo de trabalho.
Vilela (2000) entende que o mapeamento de processo fundamenta-se em uma tática objetiva para
reconstruir as ações organizacionais, focalizando a análise e a reconstrução, por meio de entrevistas
e do ciclo author-reader, embasada em várias informações mencionadas pelos diversos sujeitos
(atores), aqueles que racionalizam suas atividades e são diretamente envolvidos no processo.
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ORGANIZAÇÃO ESCOLAR COMO SISTEMA│ UNIDADE I
No atual cenário organizacional, criar uma orientação para processos é possibilitar que se
compreenda com acuidade o funcionamento de uma instituição, com seus estrangulamentos, suas
ambiguidades, suas redundâncias e outros problemas.
Como se pode ver, compreendendo como os processos são de fato executados, é possível aperfeiçoá-
los, de modo que a organização funcione qualitativamente melhor, com a diminuição de custos e a
melhoria da eficiência e da qualidade. Para isso, a modelagem de processos possibilita à instituição
entender suas atividades, avaliar a execução das tarefas e melhorar continuamente todo o seu
processo de trabalho.
<http://www.talentoseresultados.com/mapprocesso.htm>
Para isso tomou-se como base um dado do cotidiano, que é almoçar em um restaurante X. Aí são
verificados os subprocessos internos e externos ao restaurante. O ator cliente é o responsável pelo
subprocesso externo. Os atores garçom, cozinha e caixa são os responsáveis pelos subprocessos
internos. Cada espaço indica, por simulação, uma atividade praticada pelo respectivo ator/cliente.
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CAPÍTULO 3
Gestão de Processos na Escola: Setores
Administrativo, Pedagógico e Financeiro
Ideia não é ação. Mas a boa ação depende, pelo menos, de uma boa ideia. E, não
raro, educadores teem grandes e incontáveis ideias. Certas vezes são tão incontáveis
que eles não contam. Fico aqui pensando: quando entramos em contato com o
gestor escolar e dizemos “tenho uma ideia”, será que ele treme dos pés à cabeça,
sente um calafrio que lhe percorre a espinha e pensa lá vamos nós de novo ou o
contrário disso, desaba na cadeira emocionado em mente, coração e alma dizendo
a si próprio, “que bom! Vamos ao trabalho!”.
Superpoderes
Visão: líderes são pessoas de visão. Visão para ver e não apenas para enxergar. Visão
para enxergar e não apenas para ver. Ver além do alcance. Coisa de gestor habilitado.
Ver onde é que se vai chegar antes, bem antes, de se chegar lá. Quer superpoder
mais útil que esse? Ver é coisa de um reles mortal. Antever é coisa de gestor imbuído
da função.
Olfato: este é um superpoder indispensável para quem deseja liderar pessoas e fazer
prosperar espaços. Ninguém aí duvida que lugares têm cheiros. Até nossa memória
tem cheiro. Cheirinho do café também vale. Cheiro de infância. De chuva. E preste
atenção: cheirar situações fétidas com antevisão é superpoder de gestor escolar. Isso é.
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ORGANIZAÇÃO ESCOLAR COMO SISTEMA│ UNIDADE I
Paladar: este indispensável superpoder pode ser decisivo num cafezinho que
tomamos para ouvir outras opiniões. Aquela pausa com cafezinho que nos rende
uma boa conversa, para exercitar os superpoderes de ouvir e ver. Ouvir o inaudível.
Antever o que todos enxergarão em breve. E tem de provar, testar, tentar. Conhecer
o gosto. Realizar seus protótipos do que se deseja realizar. Conhecer o gosto
das dificuldades e das facilidades. Dos erros eventuais e dos erros prováveis. Até
mesmo, acertos inesperados ficam sob suspeição na “contabilidade de débitos”.
Superpoderes, ativar!
Ao final, percebemos que o gestor escolar exemplar será aquele que melhor
desenvolver tais percepções e sentidos. Tem de estar alerta para que as coisas
aconteçam. E não vale colocar medo naqueles que gerimos. Afinal, queremos geri-los
e não “ingeri-los”. Agora fica mais fácil responder à famosa pergunta da Chapeuzinho
Vermelho: “Para que servem estes olhos e estas orelhas enormes que você tem?”
Num grande desafio e historicamente, o momento sugere a busca e a compreensão sobre a temática
das teorias da administração escolar. Como afirma Oliveira (2004), “desafio, porque estamos vivendo
um período de quebra de paradigmas, no qual acontece a substituição da visão da gestão mais
centralizada e autoritária por uma mais aberta, democrática e focada em processos pedagógicos”.
25
UNIDADE I │ORGANIZAÇÃO ESCOLAR COMO SISTEMA
Referendadas pelo classicismo e pelos pressupostos de Taylor e Fayol, esses referenciais abalizaram
e ainda abalizam a Administração Escolar, cujas atitudes gestoras ainda são utilizadas nas escolas,
embora o conjunto normativo legal aponte para uma gestão democrática.
De certo modo e influenciadas pelas políticas autoritárias, as práticas educativas, quer em nível
de sistema, quer nas concepções e nos encaminhamentos de sala de aula, também têm dificultado
movimentos mais democráticos.
Devido ao autoritarismo ‘teimoso’ ainda incorporado nos diversos segmentos públicos, os preceitos
legais “passam a ser algo dado, acima das práticas sociais e sob os quais todos os comportamentos
devem ajustar-se”, (OLIVEIRA, 2004, p. 72), estabelecendo-se como normas e regras a serem
obedecidas. Daí a configuração de uma organização escolar dentro de princípios mais centralistas e
descontextualizados das necessidades dos indivíduos e das escolas.
Costa (1996) propõe seis modos de perspectivar esses modelos teóricos numa escola: como
democracia, como arena política, como empresa, como burocracia, como anarquia e como cultura.
Há, de acordo com as pesquisas apontadas por diferentes autores, fortes indicativos desses diversos
modelos teóricos, consciente ou inconscientemente existentes no funcionamento das escolas,
demonstrando a diversidade de paradigmas, confirmando a interferência nas relações e nas ações
gestoras.
Assim, quando a opção gestora é o respeito por essas características, ou seja, contribuir para a gestão
escolar, para a formação do professor e para um melhor encaminhamento das práticas pedagógicas,
o que se recomenda é a formação de um ambiente formativo e educativo. Contribuir para a mudança
dos professores e das escolas é “partir das suas culturas, coerentes com o que se faz, de “dar vez
e voz” aos professores e com a importância atribuída aos contextos para a compreensão da ação
formativa ou educativa. (ESTRELA, 2003, p. 54).
Nesse contexto, ao “dar voz e vez” aos educadores, a escola alia-se ao paradigma reflexivo de ação
e prática formativa, respeitando as características locais e, consequentemente, a própria cultura
escolar, isto é, gestar como um líder que atua de forma compartilhada e cooperativa, discutindo com
26
ORGANIZAÇÃO ESCOLAR COMO SISTEMA│ UNIDADE I
seus pares os melhores procedimentos e encaminhamentos para uma boa organização do espaço
escolar.
Muito se tem dito sobre o pensamento estratégico nas instituições escolares, mas, não se pode
desconsiderar que, no momento atual, a dimensão ética, valorativa, humana e interpessoal é
esquecida. “Em uma escola, essas dimensões não podem estar ausentes. A escola não pode fechar-se
em si mesma, mas abrir-se e pensar-se estrategicamente, assim como eticamente”. (ALARCÃO,
2001).
Libâneo (2003) aponta que a escola é uma “unidade social que reúne pessoas que interagem entre si
e que opera por meio de estruturas e processos organizatórios próprios, a fim de alcançar os objetivos
da instituição”. Criando seus próprios exemplos, a escola dirige-se para uma discussão política de
interação coletiva, de reflexão-ação e de avaliação constante, visando, com esse processo interativo,
ao alcance dos objetivos comuns. Desta forma, estudar uma organização escolar, sua administração
ou mesmo sua gestão escolar, envolve uma análise histórica dos processos, considerando todo o
movimento político nele embutido.
Portanto, a escola vista na atualidade clama por um gestor capaz de estabelecer uma relação de
dialogicidade com os outros gestores locais ou não, com os professores e alunos da escola, com os
demais funcionários e, essencialmente, com os pais. Os maiores interessados no sucesso dos alunos
devem ser as suas famílias e é desse modo que a escola de estática passa a atuar numa perspectiva
dinâmica, descentralizada e democrática.
27
UNIDADE I │ORGANIZAÇÃO ESCOLAR COMO SISTEMA
Desse modo é que a escola cria o ambiente participativo, permitindo que as pessoas, além de
acompanharem o próprio trabalho, possam fazer parte desse processo com maior envolvimento e
determinação, sustentando o que é estabelecido pela legislação atual, quanto ao processo de gestão,
denominado democrático.
Art. 206 – O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
28
ORGANIZAÇÃO ESCOLAR COMO SISTEMA│ UNIDADE I
Essa análise abre caminho para compreender a gestão de processos na escola nos seus setores
administrativo, pedagógico e financeiro, percebendo que a sustentação da gestão escolar requer
promoções dos gestores dos seguintes modos, como afirma Boechat (2008):
10. E que troquem a hierarquia tradicional por redes de comunicação aberta a todos.
(BOECHAT, 2008).
Como se pode ver, a autonomia escolar não deve ficar limitada à questão financeira dos recursos
que recebe, uma vez que é dependente das Secretarias de Educação do Estado e do Município, bem
como da própria comunidade no que está inserida.
Nesse caso, a autonomia deverá ser construída por meio da capacidade de tomar decisões
compartilhadas e comprometidas com a resolução rápida dos problemas surgidos, atentos
aos seguintes elementos: a existência de estrutura de gestão colegiada, que garante a gestão
compartilhada, a eleição de diretores e a ação em torno de um projeto político-pedagógico.
Vale ressaltar que a autonomia da escola, como um processo coletivo e participativo, não se constrói
com normas e regulamentos, mas com princípios e estratégias, largamente discutidos com todos que
fazem a escola, aplicados às circunstâncias do momento em que os fatos acontecem, considerando
a criatividade e a iniciativa na resolução dos problemas.
29
UNIDADE I │ORGANIZAÇÃO ESCOLAR COMO SISTEMA
No que concerne à autonomia da escola, algumas distorções históricas têm sido corrigidas. Por
meio da transferência de poder do estado para a comunidade, os órgãos públicos passam a exercer
a função de assessoramento e apoio, cabendo à escola deliberar coletivamente em suas áreas
administrativa, pedagógica e financeira.
A Gestão do Pedagógico tem uma meta lógica e clara, que é educar o aluno. Compreende as atividades
de coordenação pedagógica, orientação educacional ou psicopedagógica. A gestão pedagógica zela
pelo gerenciamento do processo de ensino-aprendizagem na escola, estabelecendo os objetivos para
o ensino por meio do seu Regimento Escolar e da elaboração do Projeto Político-Pedagógico ou
Educativo.
Respeitadas as exigências legais, cada unidade de ensino tem a liberdade para elaborar o próprio
calendário, definir os métodos e as técnicas de ensino, os recursos didáticos, bem como os critérios
do processo de avaliação e de enturmação. Entende-se, aqui, as condições para que cada escola
adeque seu currículo à realidade de sua região, estimulada para experimentar caminhos novos e
soluções inovadoras.
A Gestão do Financeiro incide sobre a gestão dos recursos financeiros da escola e pressupõe a
observância das regras e dos critérios relativos à captação e utilização de recursos e à sua devida
prestação de contas. De forma geral, recurso financeiro quer dizer o dinheiro disponível para o
financiamento das atividades de uma escola. Nesse aspecto, importa ater-se à legislação do Fundeb
publicada em janeiro 2007.
Assim, a responsabilidade, diferentemente de antes, não fica restrita à figura do diretor e à sua
equipe de coordenação. Todos os envolvidos são convocados a se responsabilizar pelo uso das verbas
destinadas à educação. Nesse sentido, pais, servidores administrativos, associações de bairros, ou
seja, comunidade local e escolar, têm o direito de participar, por meio dos Conselhos Escolares, das
discussões e decisões referentes aos projetos a serem desenvolvidos na escola, inclusive referentes
30
ORGANIZAÇÃO ESCOLAR COMO SISTEMA│ UNIDADE I
às verbas que serão empregadas para o desenvolvimento desses projetos e às possíveis parcerias a
serem implementadas.
31
UNIDADE I │ORGANIZAÇÃO ESCOLAR COMO SISTEMA
Tendo concluído suas reflexões até aqui, elabore suas conclusões no seguinte
questionamento:
O texto abaixo explicita bem a reflexão sobre o assunto. Leia-o, cogitando sobre o
questionamento levantado.
A pergunta que se faz com frequência é: até que ponto as técnicas de modelagem
e gestão de processos podem levar à melhoria da gestão educacional? E a resposta
é que, por meio da análise e do redesenho dos processos, podem-se conhecer os
pontos fracos da organização, suas competências e indicações claras sobre as
mudanças e melhorias que precisam ser feitas.
32
ORGANIZAÇÃO ESCOLAR COMO SISTEMA│ UNIDADE I
33
CAPÍTULO 4
Recursos Tecnológicos na Gestão de
Processos
Tecnologia, entendo, em linha direta com Harvey Brooks e Daniel Bell, “é o uso
de conhecimentos científicos para especificar as vias de se fazer as coisas de
uma maneira reproduzível”. Entre as tecnologias da informação, incluo, como
todos, o conjunto convergente de tecnologias em microeletrônica, computação
software e hardware),telecomunicações/radiodifusão e optoeletrônica. Além
disso, diferentemente de alguns analistas, também incluo nos domínio da
tecnologia da informação a engenharia genética e seu crescente conjunto de
desenvolvimentos e aplicações.
Estamos vivendo a era digital e, portanto, informação não precisa de átomos. É sabido que ela é
transmitida instantaneamente, porque não há necessidade de manuseio físico. Ao contrário, reduz-
se a necessidade do trabalho humano. Os custos são reduzidos e o benefício essencial está na
instantaneidade de transmissão das informações e na possibilidade de organização e facilitação de
sua recuperação.
Segundo Laurindo (2008), as tecnologias voltadas para o gerenciamento por processos provêm das
tradicionais técnicas de Organização e Métodos (O&M), bem como de Processamento de Dados em
áreas especializadas e cuja finalidade era instituir a estrutura organizacional de definir métodos e
fluxos de trabalho.
34
ORGANIZAÇÃO ESCOLAR COMO SISTEMA│ UNIDADE I
Além disso, como propõe Laurindo (2008), na chamada “administração científica”, já se percebia
certa dificuldade de ser uma atividade com resultados estáticos, ou seja, receitava-se o que as pessoas
deveriam realizar sem nenhum mecanismo de atualização e fiscalização.
O período dos programas de qualidade, que se expandiram nos anos 1980, inspirados na
administração japonesa, colocou em xeque essas práticas solidificadas. Tinham bom resultado para
as atividades rotineira e repetitivas mas, ainda assim, era comum encontrar atividades realizadas
que não condiziam com as respectivas descrições nos documentos.
Nas telecomunicações, o movimento foi similar, com a digitalização do parque alojado, modificando
os sistemas em uma grande rede de comunicação de dados, voz e imagem – a Rede Digital de
Serviços Integrados (RDSI). Na década de 1960, o processamento de dados, cujas aplicações
restringiam-se à atividade de tratamento de dados, foi modificado nas Tecnologias de Informação e
Comunicação (TICs), ainda mais conhecidas como TIs, resultantes da convergência tecnológica de
computação, comunicação, envolvendo dados, voz e imagem. E justamente nesse quadro inserem-
se as ferramentas de TI, que dão suporte à gestão por processos.
35
UNIDADE I │ORGANIZAÇÃO ESCOLAR COMO SISTEMA
As tecnologias da informação possibilitam algumas ferramentas que podem dar suporte às atividades
de gestão por/de processos, podendo ser percebidas como as que auxiliam no projeto dos processos
e as ferramentas que auxiliam na construção e na operação dos processos de trabalho.
No primeiro caso (auxiliam no projeto dos processos), estão incluídas as ferramentas de simulação e
de modelagem dos processos, que podem modelar o funcionamento de certas operações, utilizando
técnicas de modelagem matemática. Por exemplo: um balcão de atendimento pode ser simulado
com técnicas de teoria das filas, para se determinar o número de atendentes adequado para certo
tempo de espera do cliente.
Nesse raciocínio, as ferramentas auxiliares para a modelagem dos processos podem ser desenhadores,
pois permitem a representação por meio de símbolos, podendo ser até ferramentas mais sofisticadas,
com registro de características de cada atividade, o que vem a facilitar o desenvolvimento do
software.
Assim, as ferramentas que apóiam a automação dos processos diminuem as atividades manuais,
armazenando as ocorrências necessárias e automatizando as afazeres repetitivos. Deve ser observado
que, dada à grande variedade de processos nas organizações, não existe uma ferramenta universal
que atenda bem a qualquer tipo de processo.
Laurindo (2008) complementa essas informações apontando que o gestor atento aos processos e às
informações advindas deles pode perceber muitos e diferentes dados que necessitam ser gerenciados.
Vale ressaltar que, num processo de trabalho, são percebidas pessoas, informações e atividades. Os
primeiros objetos a serem identificados são as atividades que delineiam os passos a serem seguidos.
Esses objetos são os itens claramente identificados. As rotas são os caminhos a serem seguidos
para a realização das atividades, podendo ocorrer fluxos diferenciados, de acordo com a evolução
do processo. Operadores são as pessoas executoras do processo e, finalmente, os documentos
correspondentes às informações do conteúdo do trabalho em andamento.
36
GRUPOS E EQUIPES
NA GESTÃO DE UNIDADE II
PESSOAS NA
ESCOLA
CAPÍTULO 1
Definição e Características de Gestão
de Pessoas
Todas as coisas estão em constante andamento, em constante mudança, como afirmou Heráclito,
filósofo na Grécia Antiga, alguns séculos antes de Cristo. A canção de Lulu Santos e Nelson Mota
também afirma que: “Nada do foi será/de novo do jeito que já foi um dia/tudo passa, tudo sempre
passará”. Portanto, a mudança é intrínseca à condição humana na busca por mais conhecimento e,
dessa forma, não é característica do mundo moderno. Ela sempre existiu.
37
UNIDADE II │GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA
Não faz muito tempo que a tecnologia despontou como base diferenciadora nas instituições, levando-
as a uma posição de destaque. Atualmente, há uma relativa equiparação dos recursos tecnológicos
utilizados nas organizações, o que faz com que esse dado não seja mais suficiente para garantir,
sozinho, salto de crescimento ou posição de destaque.
As leituras sobre o assunto permitem refletir sobre outro dado diferenciado e destacado: o fator
humano. Vale ressaltar a inovação, a criatividade, a proatividade e a prontidão como elementos
essenciais para as instituições e que estão diretamente relacionados à capacidade do homem. O
desafio atual é saber se todo profissional tem o mesmo poder de contribuição em qualquer área e
consequentemente afirmar que cada indivíduo tem habilidades, competências e perfil próprios.
Como as organizações garantem que os profissionais que nelas atuam, com suas particularidades,
estão alocados nos cargos e nas funções que possibilitam o uso pleno de seu potencial?
Como explicar que uma grande organização seja formada por grandes profissionais,
porém que grandes profissionais não formem necessariamente uma grande
organização?
Os estudiosos do assunto dialogam a respeito, afirmando que os motivos para tal acontecimento
são reincidentes, podendo ocorrer em vários órgãos devido a problemas como: demora na compra
de equipamentos e materiais; contratação de profissional com perfil inadequado para determinada
função; atraso no envio de relatórios; passagem de informação incorreta ou incompleta para o
cliente, no caso o aluno ou o seu responsável; falha no cumprimento de prazos; enfim, problemas e
falhas repetitivas, de qualquer origem.
Nesse contexto, Chiavenato (2006, apud CARVALHO; FERREIRA, 2007) afirma que uma das
áreas que mais sofre modificações é a de Recursos Humanos, provocando, inclusive, mudanças nos
nomes. Nas organizações a Gestão de Recursos Humanos (RH) tem sido denominada por Gestão de
Talentos, Gestão de Parceiros ou de Colaboradores, Gestão do Capital Humano, Gestão do Capital
Intelectual ou, até, Gestão de Pessoas e Gestão com Pessoas.
Tudo isso, explica Carvalho e Ferreira (2007), teve início com a chamada Revolução Industrial,
chegando ao momento atual com muita eficácia, como podemos perceber o andamento da Gestão
de Pessoas:
38
GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA│ UNIDADE II
De 1950 a 1965 Gestão tecnicista Treinamento, recrutamento e seleção, cargos e salários, higiene e segurança no trabalho
De 1965 a 1985 Gestão administrativa Foco nos indivíduos e em suas relações (sindicatos, sociedade)
Foco no aumento do envolvimento dos colaboradores e na integração dos sistemas de
De 1985 à atualidade Gestão estratégica
suporte
De acordo com Chiavenatto (2005), a Gestão de Pessoas pode ser entendida como um “conjunto
de políticas e práticas definidas de uma instituição para orientar o comportamento humano e as
relações interpessoais no ambiente de trabalho.”
O contexto da Gestão de Pessoas é composto pelas pessoas e pelas organizações. É nesse espaço que
as pessoas passam um grande tempo de suas vidas e as organizações dependem das pessoas para
funcionar e alcançar sucesso; “são as pessoas que lhes dão vida, dinâmica, inteligência, criatividade
e racionalidade”. (CARVALHO; FERREIRA, 2007).
As pessoas dependem desse ambiente organizacional para trabalhar, visando a atingir as suas metas
e os seus objetivos pessoais e individuais. Crescer na vida quase sempre significa crescer dentro das
organizações. Há, portanto, “uma relação de duradoura simbiose entre pessoas e organizações”,
afirma Carvalho e Ferreira (2007).
Segundo Carvalho e Ferreira (2007), as organizações podem ser pequenas, médias e grandes; públicas
ou privadas, quanto à propriedade, escolares, bancárias, financeiras, hospitalares, prestadoras
de serviços, comerciais, entre outras. Desse modo, os indivíduos nascem nelas, aprendem nelas,
servem-se delas, trabalham e passam a maior parte de suas vidas nelas. Você já havia pensado sobre
isso?
Concordando com Teixeira (2006), são muitas as dimensões internas e externas que envolvem a
Gestão de Pessoas e que se destacam pela relevância, pelo mundo do trabalho, pelo mundo dos
negócios, pela cultura e pelo clima organizacional.
Pode-se afirmar que essas dimensões apontam para as transformações culturais e políticas, sociais,
econômicas e tecnológicas, que estão sendo processadas em todo o mundo e, logo, no mundo
organizacional.
Em Carvalho e Ferreira (2007), pode-se ler que um conjunto de variáveis age no mundo dos negócios,
operando sobre as organizações em um apressado ritmo. Com relação à Gestão de Pessoas, podem
ser assim enfatizadas:
39
UNIDADE II │GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA
Vergara (2006) pondera que, com tantas e rápidas mudanças, a tônica assenta-se sobre a tecnologia.
Engenharia genética, televisor de bolso, naves espaciais, robôs, mísseis inteligentes, computadores,
celulares com múltiplas funções, automação bancária, código de barras, produtos tailor made,
como, por exemplo, automóveis e calças jeans ao gosto do cliente, prospecção em águas profundas
e uma lista sem fim dá à tecnologia um lugar de destaque.
É tão grande esse lugar que, muitas vezes, deixamos de olhar para aquilo que os filósofos chamam
de “vida boa”, aquela que é sublinhada pela ética, pelo que dá significado à vida. Tecnologia é meio,
é o dedo que aponta; desenvolvimento é “vida boa”. Vale ressaltar que a tecnologia tem facilitado
nossas vidas, mas, por si, não tem sido capaz de aumentar o Índice de Desenvolvimento Humano.
MANUAL DO GESTOR
Programação de retorno
Caro gestor, que tal elaborar algumas novidades no segundo semestre? Programe
atividades culturais e de lazer a serem desfrutadas por todos os membros de sua
equipe. Vale sortear ingressos para o cinema, propor um jogo de futebol para o
final da tarde de sexta-feira ou trazer artistas de teatro de bonecos para uma rápida
apresentação na hora do recreio. Serve qualquer atividade mesmo, desde que seja
surpresa e consiga alegrar o ambiente.
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GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA│ UNIDADE II
Deu a louca na escola! Um importante treinamento que pode ser feito com sua
equipe é permitir que em apenas um dia, todos troquem de funções. A professora
de Química sempre reclama da falta de agilidade da secretária? O coordenador do
ensino médio não gosta do atendimento telefônico? Você se irrita com o atendimento
da Biblioteca? Pois então, troquem de funções!
Para responder essa pergunta, é preciso olhar para três áreas distintas: a escola,
o cliente e o funcionário. Nesse sentido, um bom gestor precisa ter as seguintes
características:
»» Ser visionário: saber para onde pode levar a empresa e se esse “poder”
está em concordância com o que quer a diretoria.
»» Ser fornecedor: dar informações à equipe, para que esta possa trabalhar
em conformidade com o que os clientes da escola realmente precisam.
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UNIDADE II │GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA
Processos cíclicos
Em alguns momentos, seja para crescer, seja para diminuir, seja para trocar de
endereço ou aumentar o público atendido, as escolas precisam se reorganizar.
Reorganização implica algumas mudanças. No entanto, nem sempre esses processos
– que deveriam ser naturais – são bem conduzidos. A falta de jeito para orientá-los
pode causar muitos transtornos. Previna quaisquer conflitos, atendo-se a seis passos
fundamentais para um processo de mudança saudável:
Além de tomar esses cuidados, é preciso estar aberto ao diálogo. Muitas dúvidas
povoarão a mente da sua equipe durante o processo e é importante que você esteja
preparado para dar explicações consistentes.
Gerenciando conflitos
Problemas entre pais e professores, entre professores e alunos, entre dois professores,
entre a coordenação e um professor específico. Por incrível que pareça, esses são
apenas alguns pontos de possíveis conflitos a serem vistos dentro da escola. Então,
como gerenciá-los?
Investigar: Converse com outras pessoas de dentro da escola para ouvir o que elas
sabem a respeito da situação. Mas seja discreto e peça discrição a seus ajudantes.
Resolver: Por fim, chame os participantes do conflito, converse com ambos, procure
resolver o problema de forma não-violenta e exponha pontos positivos daquele
conflito (o que cada um aprendeu com isso).
42
GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA│ UNIDADE II
Aceitar: Às vezes, por mais assertivo que você seja, o pai do aluno pode seguir
firme na decisão de tirá-lo da escola, por exemplo. E ele tem o direito de fazer isso.
Portanto, coloque sua opinião e dê-lhe opções para continuar dentro da escola, mas
não impeça a mudança.
Eu, meu aluno e a Internet: uma história a ser “teclada” com muitas mãos
Muito tem se falado sobre as tecnologias, seus impactos na sociedade, seus grandes
benefícios e também malefícios. Naturalmente, essa realidade tem se refletido na
escola, revelando uma grande diferença no nosso modo e no modo de nossos alunos
de pensar e agir. Há um divisor entre os nascidos antes e depois do computador
pessoal (anos 1980) e, principalmente, da internet gratuita e “hyperlincável” (anos
1990). Nossos alunos, segundo o educador americano Marc Prensky, são nativos
nesse mundo tecnológico e, nós, imigrantes.
E como fazer para diminuir essa distância com nossos alunos e passar a estabelecer
uma comunicação mais eficiente e produtiva com eles? Estabelecendo pontes! E
como se faz isso, meu colega? Permitindo-se ser imigrante ou, ao menos, turista nesse
mundo tecnológico. Temos de nos dispor a aprender o “tecnologês e o internetês”. É
fácil? Isso depende de cada um. Sabemos que aprendizagem é processo e que cada
43
UNIDADE II │GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA
um aprende no seu ritmo. E que todos aprendem. E por onde começar para ser, ao
menos, um turista no mundo tecnológico?
Depois, você pode montar um site pessoal ou blog. Os grandes portais oferecem
ferramentas bem simples e gratuitas para montar o seu espaço na web. Exercícios,
textos complementares, descritivos de pesquisas escolares, enfim, tudo fica
hospedado na página pessoal e é acessado diretamente por seus alunos.
O essencial é perceber, com bom senso, o que é mais adequado para o momento,
atentando-se ao perfil e às necessidades pedagógicas da turma, do conteúdo a ser
trabalhado, do tempo disponível e da aplicabilidade.
Se realmente quiser propor aos alunos uma pesquisa, delimite a busca, indicando
pelo menos cinco sites. Será produtivo e seguro para você e para o grupo. Cada
vez que realizar uma atividade pedagógica virtual, registre no caderno dos alunos.
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GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA│ UNIDADE II
Permita que os trabalhos dos alunos sejam apresentados em sites ou blogs. Há ainda
as webquests, uma metodologia específica para trabalho pedagógico na web. Você
também pode pesquisar lista de fóruns e debates em que se discutem assuntos de seu
interesse, inclusive os acadêmicos – um número enorme de professores se interessa
em contribuir e trocar experiências entre docentes. Ainda existe a possibilidade de
se desenvolver uma atividade colaborativa, envolvendo grupos de outras escolas e
cidades. Seja imigrante nesse maravilhoso mundo virtual e faça parte da realidade
do seu estudante.
Ainda há muita sensibilidade nas organizações, envolvendo a área de gestão de pessoas, tendo em
vista que circunstancialmente, ela depende da cultura e do negócio da organização, das características
do contexto ambiental, da tecnologia utilizada, dos processos internos e de uma infinidade de outras
variantes.
De acordo com Chiavenato (2005), a moderna gestão de pessoas reside na integralização de várias
atividades, entre muitas, a descrição e a análise de cargos, o planejamento de relações humanas,
o recrutamento, a seleção, a orientação e a motivação, além da avaliação de desempenho, da
remuneração, do treinamento e do desenvolvimento, das relações sindicais, da segurança, da saúde
e do bem-estar.
Gestar pessoas implica participar e cooperar, para que o gestor, como diretor, gerente, chefe ou
supervisor possa desempenhar funções administrativas que constituem o processo administrativo
de planejar, organizar, dirigir e controlar.
Na leitura de Chiavenato (2005), a função da gestão de pessoas pode ser detalhada por meio de
processos assim explicados.
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UNIDADE II │GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA
Além disso, todos eles são desenhados de acordo com as exigências das influências organizacionais
internas, para obter a melhor compatibilização entre si. Antigamente, relata Chiavenato (2005),
os órgãos da Administração de Recursos Humanos eram tradicionalmente estruturados dentro
de um esquema de departamentalização funcional, que predominava nas empresas. A estrutura
privilegiava a especialização de cada órgão e a cooperação intradepartamental, que produz duas
consequências indesejáveis.
Vale ressaltar que, sob a visão sistêmica, a velha tradição de dividir, segmentar e separar foi substituída
por uma nova maneira de organizar a instituição. A ênfase está em juntar e não mais em separar. O
foco não está mais nas tarefas, que são detalhes, mas nos processos, que transitam de ponta a ponta.
Não mais nos meios, mas nos fins e nos resultados. Não mais em cargos individualizados, separados
e confinados, mas no trabalho conjunto, realizado em equipes autônomas e multidisciplinares. É o
holismo: focar o todo e não as partes. E isso está ocorrendo, também, na Gestão de Pessoas.
A realidade é que o conhecimento passou a ser o diferencial entre as corporações. Esse conhecimento
está nas pessoas e as pessoas o expressam por meio de suas habilidades, de suas atitudes, de suas
competências.
46
CAPÍTULO 2
Gestão de Pessoas por Competências
A abelha é honrada, porque trabalha não só para ela, mas para todos.
Provérbio Grego
O uso frequente do temo competência, no ambiente de uma organização, fez com que ele adquirisse
diversas conotações, sendo, não raras vezes, empregado de diferentes modos, conforme relata
Carbone (2006, apud BRANDÃO, 2001). Autores norte-americanos entendem competência
como um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que possibilita ao indivíduo exercer
determinadas atividades. Por outro lado, autores franceses associam a competência às realizações
do indivíduo em determinado contexto, ou seja, àquilo que ele produz no trabalho.
Nos últimos anos, as organizações, cada vez mais conscientes de que seu sucesso será
determinado pelas habilidades, pelas aptidões, pelos talentos e pelas experiências
de seus empregados, passaram a atribuir maior relevância à gestão estratégica de
recursos humanos, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento de
competências profissionais. O interesse pelo assunto estimulou a realização de
pesquisas e estudos, dando origem a uma corrente teórica que propõe a gestão de
competências como mecanismo para gerar e sustentar vantagem competitiva.
A fala sobre gestão de pessoas tem sido permeada por temas como a gestão
estratégica e a gestão por competências nos últimos anos. Diversos trabalhos vêm
analisando os conceitos envolvidos nesses temas, nos seus diferentes aspectos
de entendimento e aplicação ao contexto organizacional e, nesse contexto, a
gestão de pessoas por competências é uma alternativa aos modelos gerenciais
tradicionalmente utilizados pelas instituições.
47
UNIDADE II │GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA
certas questões. Por extenso, o termo veio designar o reconhecimento social sobre
a capacidade de alguém pronunciar-se a respeito de determinado assunto e, mais
tarde, passou a ser utilizado, também, para qualificar o indivíduo capaz de realizar
certo trabalho (BRANDÃO, 2001, in CARBONE, 2006).
Gilbert (in CARBONE, 2006) ressalta que a competência humana é expressa em função
do desempenho da pessoa no trabalho, o que envolve não apenas o comportamento
que o indivíduo adota, mas também suas consequências, no tocante às realizações.
A frequente utilização do termo competência no campo da gestão organizacional
fez com que ele adquirisse muitas conotações, sendo, não raras vezes, empregado
de diferentes modos. É possível, no entanto, perceber a existência de duas grandes
correntes. A primeira, representada pelos autores norte-americanos, entende a
competência como um estoque de qualificações (conhecimentos, habilidades e
atitudes) que credencia a pessoa a exercer determinado trabalho.
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GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA│ UNIDADE II
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UNIDADE II │GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA
CARVALHO, Eliane Maria Cherulli; FERREIRA, Sandra Mara Bessa. Gestão de Pessoas para a
Diversidade. Módulo CETEB, 2007.
E então, o que você entende por competência, numa visão de mundo moderno?
Segundo Carbone (2006), muitas instituições adotam a gestão por competências como modelo
de gestão, visando a orientar seus esforços para planejar, captar, desenvolver e avaliar, nos
diferentes níveis da organização (individual, grupal e organizacional), as competências necessárias
à consecução de seus objetivos.
O modelo de gestão por competências começa a ganhar espaço dentro das instituições, principalmente
na área de gestão de pessoas, entre elas a subárea de desenvolvimento. É um modelo interessante,
pois confere a possibilidade da visualização do desenvolvimento, da aplicação e da mensuração
das competências por meio da realização de atividades e da resolução de problemas embasados em
fatos. Logo, esse modelo possui condições de autolegitimação.
Segundo Carvalho e Ferreira (2007), a definição de uma competência deve ser elaborada utilizando-
se um verbo e um objeto de ação, como, por exemplo “resolve problemas de álgebra”. A ele pode ser
acrescido, sempre que possível e conveniente, uma condição, na qual se espera que o desempenho
ocorra, como, por exemplo, “resolve problemas de álgebra, sem utilizar calculadora”.
Poderia, ainda, incluir um critério que indique um padrão de qualidade ou nível de desempenho
considerado satisfatório, como, por exemplo, “resolve problemas de álgebra, cada um deles em
menos de 10 min e com exatidão”.
50
GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA│ UNIDADE II
Para obter boas descrições de competências, Carbone (2006) sugere as seguintes ações.
»» Utilizar verbos que expressem uma ação concreta, ou seja, que representem
comportamentos passíveis de observação no ambiente de trabalho, como analisar,
organizar, selecionar, comunicar, avaliar, estabelecer, elaborar, desenvolver,
formular, entre outros.
Cada organização tem uma ideologia própria a respeito do papel das pessoas na
tarefa organizacional. E para você? Qual é o papel e a importância das pessoas numa
instituição? A escolar, por exemplo? Poste sua reflexão no Fórum 02.
51
CAPÍTULO 3
Seleção, Recrutamento e Capacitação
de Pessoas na Escola
As empresas que têm em mente que as pessoas garantem o seu sucesso conseguem
oferecer algo mais na guerra pelos
Na ótica de gestão de pessoas, recrutamento e seleção são atividades que estão de todo interligadas,
andam sempre lado a lado. É difícil fazer uma separação entre elas, embora refiram-se a resultados
finais distintos.
Mas como é possível alcançar tal resultado? Segundo Carvalho e Ferreira (2007), a resposta é
simples: “basta pensar que, para isso, é necessário, como em todo estudo, um bom planejamento de
pessoas para uma instituição”.
»» Como? A resposta está em como esse recrutamento deverá ser feito. De que forma,
de que maneira e em que circunstâncias as pessoas serão recrutadas?
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GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA│ UNIDADE II
O processo de seleção é essencial para o sucesso de uma escola, pois é por meio dele
que as instituições podem identificar pessoas competentes e talentosas para fazer
a diferença neste mercado tão competitivo. O grande desafio atual é a condução do
processo de seleção, que, na maioria das vezes, é muito falho. A falta de critérios e
de instrumentos adequados é um dos principais motivos do insucesso e pode gerar
grandes prejuízos financeiros, podendo causar perda de tempo e/ou de clientes, o
que seria fatal.
A intenção é boa, claro, mas eles não têm a formação adequada para recrutar e
selecionar seus colaboradores. Sem citar as inúmeras atividades diárias de que
precisam dar conta, pois, como é sabido, a rotina de uma escola é muito intensa. E,
então, o problema está instalado, significando:
53
UNIDADE II │GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA
No que diz respeito ao corpo docente, serei mais rigorosa ainda. É necessário verificar
a formação do candidato, que deve ser de boa qualidade, checar a procedência
desse profissional, buscar referências profissionais, analisar a atuação dele em sala
de aula. Proponha, por exemplo, uma “aula piloto” para um grupo de observadores,
com o objetivo de auferir o grau de conhecimento técnico e de atualização acerca
da disciplina que lecionará, bem como o nível de informação geral. É importante
verificar, também, o aspecto comportamental da pessoa, sua postura, sua forma de
falar, agir e se dirigir aos demais.
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GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA│ UNIDADE II
Ocorrido o recrutamento de modo eficaz, dá-se início ao processo de seleção. Como o nome sugere, os
indivíduos selecionados serão os que mais se adequarem à realidade e à necessidade da instituição.
É o momento de “escolher e classificar os candidatos adequados” às carências da organização. “Para
realizar o procedimento, existem três alternativas: – recrutamento interno – recrutamento externo
– recrutamento misto” (CHIAVENATO, 2006).
Esse é um processo por meio do qual podem ser notadas vantagens e desvantagens. Analise-as no
quadro a seguir.
»» Disponibilidade de investimentos em
»» Ausência de protecionismo, nepotismo processo
outras atividades
»» Manutenção da racionalidade no »» Dificuldade de se exercer protecionismo,
»» Segurança em relação aos seus recursos
processo nepotismo
humanos
»» Possível segurança em relação às
»» Motivação das pessoas
pessoas a serem contratadas
»» Maior necessidade de investimento a fim
»» Pessoas enraizadas com a cultura »» Volume de investimento de maior
de atrair o público-alvo
magnitude
»» Relacionamentos em conflito »» Insegurança em relação às pessoas a
LIMITAÇÕES
»» Demora no processo
»» Excesso de promoção serem contratadas
»» Possível insegurança em relação às
»» Protecionismo »» Demora no processo
pessoas a serem contratadas
»» Ausência de racionalidade no processo »» Desmotivação das pessoas da
»» Possível manutenção da subjetividade
organização
Carvalho e Ferreira (2007) apontam que, para atender à exigência de qualidade da mão de obra
implícita nas organizações, o gestor deve ser cuidadoso nas diferentes etapas do processo de busca
dessas pessoas e, posteriormente, em sua permanência, seu desenvolvimento e sua contínua
satisfação, enquanto permanecerem dentro das organizações.
Nesse caminho, entende-se que um momento qualquer, uma organização ou um sistema já existente
estarão funcionando com um certo número de pessoas. Ocorre que contingente é basicamente
dinâmico. Servidores adoecem, aposentam-se, morrem, mudam de emprego, são transferidos,
55
UNIDADE II │GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA
são despedidos ou, por quaisquer outros motivos, deixam de fazer parte do quadro funcional da
organização.
Deste modo, essas pessoas, num dado momento, deverão ser substituídas por outras. Além disso, o
crescimento de qualquer organização ou sistema irá exigir mais funcionários. Em qualquer das duas
situações, recorre-se ao mercado de trabalho pelo processo de recrutamento e seleção.
A primeira etapa do processo de procura de pessoas para integrar uma organização é o recrutamento.
Recrutar significa buscar no mercado de trabalho as pessoas que potencialmente poderão preencher
as necessidades de mão de obra de uma organização, num determinado momento. O processo de
recrutar almeja reunir um grupo de pessoas para que, na etapa seguinte da seleção, algumas delas
possam ser escolhidas para efetivamente ingressarem na organização.
Por meio de mensagens claras, com veículos e canais que permitam atingir o público alvo desejado
e para que as pessoas possam saber que uma organização está procurando candidatos com
determinadas características, é preciso, antes de tudo, difundir essa intenção.
De acordo com Carvalho e Ferreira (2007), com relação às organizações públicas, há necessidade
de que sejam obedecidas as normas legais específicas e reguladoras do processo de aprovação
no serviço público. Inicialmente, o recrutamento deve ser aberto aos cidadãos que detenham as
condições claramente explicitadas e amplamente divulgadas, com a antecedência exigida pelas
normas legais, nos diversos meios de comunicação. Isso prende-se ao fato de que o anúncio chegue
aos interessados, sem restrições, exceto as especiais e declaradas no edital do recrutamento.
Nesse caso, certas alternativas de baixo ônus atingem bons resultados: (a) divulgação em
universidades e escolas, (b) divulgação em associações de classe, e, mais recentemente, (c) divulgação
na Internet. Ressalta-se que as pessoas recrutadas serão submetidas à seleção e que, no caso do
serviço público, serão considerados, ainda, as provas e os títulos.
Assim, é considerado no serviço público, além das provas, o curriculum vitae dos candidatos por
meio de pontuação atribuída aos aspectos relevantes da vida profissional deles.
Ressalta-se, ainda, que a seleção de profissionais para vagas em instituições particulares de ensino
é realizada por meio das mais variadas formas, dependendo da estrutura da instituição ou mesmo
de suas concepções sobre o assunto. No contexto, podem ser citadas a análise do currículo, as
entrevistas, as provas teóricas ou práticas, bem como as recomendações de outras instituições.
Carvalho e Ferreira (2007) relatam que alguns tópicos exemplificam as abordagens nesses cursos,
quais sejam: apresentação dos recém-chegados aos seus locais de trabalho e fornecimento de todo o
material de que necessitarão para seu exercício funcional; apresentação dos recém-chegados aos seus
56
GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA│ UNIDADE II
chefes e aos colegas com os quais irão trabalhar; descrição sucinta da organização, de seus objetivos
e de sua filosofia; apresentação da rotina normal de trabalho a ser seguida pelo recém-chegado;
início à formação de um espírito de corpo, pela motivação dos recém-chegados, para que “vistam a
camisa” da organização; esclarecimento das principais dúvidas que todos os recém-chegados têm
em relação aos detalhes de seu novo ambiente de trabalho e aos seus direitos e deveres funcionais.
Quando houve a transição dos navios de madeira para os de metal, determinado almirante afirmou
que preferia “homens de ferro em navios de madeira, do que homens de madeira em navios de
ferro”. Atualmente, essa afirmativa ainda pode ser traduzida, se consideradas a capacitação e a
motivação dos profissionais da organização.
»» quais são os saberes necessários ao gestor capaz de lidar com essa realidade
de mudanças, que exige construção e reconstrução de competências
(saberes) dos professores e, consequentemente, do próprio gestor?
57
CAPÍTULO 4
Diferenciação entre Grupos e Equipes
na Escola: Benefícios dos Trabalhos
em Equipes
Nas organizações, os grupos existem como grupos de trabalho e consistem em mais de dois
indivíduos interativos e interdependentes que juntos visam a um determinado objetivo.
Lendo Reis (2006), entende-se que os grupos de trabalho podem ser formais ou informais. Os
primeiros definem-se pela estrutura organizacional, com missões e tarefas a eles atribuídas e
resultantes dos objetivos, das metas e da missão da organização. Ressalta-se que os comportamentos
dos integrantes são definidos pelos papéis que exercem, sendo consequência de suas atribuições.
Como grupos formais, a organização pode criar pelo menos três espécies, diferenciadas pelos padrões
de origem, que são denominadas grupo, força tarefa e tripulação. A primeira é formada quando a
organização seleciona pessoas e as treina para determinados conhecimentos e desenvolvimento das
habilidades, tornando-as aptas para desenvolver projetos de média e longa duração com o emprego
de tecnologia.
A força tarefa surge pela necessidade de viabilizar projetos específicos, com propósitos determinados,
com a designação das pessoas. Só depois disso é que se busca a seleção de ferramentas, de regras, de
recursos e de procedimentos para completar o projeto.
De acordo com Reis (2006), a terceira espécie de grupo surge quando a instituição tem como meta
uma tecnologia a ser desenvolvida ou difundida e, para isso, estrutura um sistema tecnológico ou
um projeto que precisa de indivíduos para ser operacionalizado.
Os grupos podem ser permanentes e temporários, em relação ao tempo. Permanentes são os comitês
e as equipes gerenciais e os que sobrevivem ao longo do tempo nas organizações. Os temporários
são aqueles que surgem para atender determinadas necessidades e são extintos quando elas deixam
de existir.
»» grupos têm poder forte nas organizações, e esse poder pode ser utilizado a favor dos
objetivos da organização ou contra eles.
58
GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA│ UNIDADE II
»» lidar com pessoas consiste em ser capaz de superar tensões comuns aos grupos,
canalizando-as para os objetivos grupais, mas ligados aos organizacionais.
Logo, é válido refletir sobre a interação entre o indivíduo e o grupo, na medida em que somos
consequência de nossas pessoalidades, somos produto da interação dessas características com o
ambiente, com as pessoas, com os grupos com os quais pertencemos e valoramos. Gestar pessoas
implica compreender que o grupo é maior do que os indivíduos, embora seja formado por eles.
Por isso é fundamental para a gestão de grupos uma comunicação aberta, em que o ouvir seja uma
questão de aprendizagem tal qual o falar.
As pesquisas com grupos reportam para o exemplo clássico de Helton Mayo, que, no período de
1927 a 1932, ao conduzir pesquisas em uma fábrica, buscando estabelecer relações entre as variáveis
– luminosidade, ambiente de trabalho e eficiência, concluiu que a integração social, o apoio do
grupo e os elementos emocionais deveriam receber mais atenção.
Em Reis (2006), a reflexão assenta-se sobre as equipes, podendo defini-las como “padrão complexo
de relações dinâmicas entre um conjunto de pessoas que utiliza determinados recursos para atingir
determinados propósitos comuns”. O que destaca numa equipe de trabalho é o esforço coletivo e a
responsabilidade compartilhada pelos resultados globais, pelos objetivos de trabalho compartilhado
e pelas unidades de trabalho semiautônomas ou autônomas.
Segundo Reis (2006), nos grupos são destacados o esforço individual, a responsabilidade por
resultados e objetivos de trabalhos individuais em unidades de trabalho dependentes, o que, a
primeira vista, pode ser confundido com o trabalho em equipe. Compete ao gestor eficaz compreender
as diferenças, favorecendo o trabalho cooperativo e conjunto, como modo de formar e concretizar
o trabalho em equipe.
»» Desintegração ou renovação.
Muitos fatores afetam uma equipe estruturalmente. Alguns elementos estruturais podem interferir
nas fases do desenvolvimento de uma equipe, como as normas (informalmente estabelecidas), os
papéis (nem sempre resultantes do processo de decisões) e o prestígio ou o status (reconhecimento
social dado a um membro ou a toda a equipe).
59
UNIDADE II │GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA
Alguns aspectos, como resultados produtivos do trabalho, satisfação dos membros, sobrevivência
da equipe, podem justificar a efetividade de uma equipe, considerando que determinados dados
podem responder pelo sucesso de uma equipe, tais como a correspondência entre a quantidade de
membros, a competência técnica dos membros, o suporte social com certa margem de liberdade, a
confiança e a autonomia em relação aos líderes da organização e o sistema de recompensas como
boa comunicação e feedbacks adequados.
E, falando em comunicação, Carvalho e Ferreira (2007) propõem refletir sobre o texto de Lya Luft.
Leia o que ela nos diz sobre o poder das palavras.
Palavras ofendem mais do que a realidade – sempre achei isso muito divertido.
Palavras servem para criar mal-entendidos que magoam durante anos:
Sou dos que optam pela palavra sempre que é possível. Olho no olho, às vezes, mão
na mão ou mão no ombro: vem cá, vamos conversar? Nem sempre é possível. Mas,
em geral, é melhor do que o silêncio crispado e as palavras varridas para baixo do
tapete. Não falo do silêncio bom em que se compartilham ternura e entendimento.
Falo do mal de um silêncio ressentido em que se acumulam incompreensão e
amargura – o vazio cresce e a mágoa distancia na mesma sala, na mesma cama, na
mesma vida. Em parte porque nada foi dito, quando tudo precisaria ser falado, talvez
até para que a gente pudesse se afastar com amizade e respeito quando ainda era
tempo.
Falar é também a essência da terapia: pronunciando o nome das coisas que nos
feriram, ou das que nos assustam mais, de alguma forma adquirimos sobre elas um
mínimo controle. O fantasma passa a ter nome e rosto e começamos a lidar com ele.
Há estudos interessantíssimos sobre os nomes atribuídos ao diabo, a enfermidades
consideradas incuráveis ou altamente contagiosas: muitas vezes, em lugar das
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GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA│ UNIDADE II
palavras exatas, usamos eufemismos para que o mal a que elas se referem não nos
atinja. A palavra faz parte da nossa essência: com ela, nos acercamos do outro, nos
entregamos ou nos negamos, apaziguamos, ferimos e matamos. Com a palavra,
seduzimos num texto: com a palavra, liquidamos – negócios, amores. Uma palavra
confere o nome ao filho que nasce e ao navio que transportará vidas ou armas.
“Vá”, “Venha”, “Fique”, “Eu vou”, “Eu não sei”, “Eu quero, mas não posso”, “Sim, eu mereço”
– dessa forma, marcamos as nossas escolhas, a derrota diante do nosso medo ou a
vitória sobre o nosso susto. Viemos ao mundo para dar nomes às coisas: dessa forma
nos tornamos senhores delas ou servos de quem as batizar antes de nós.
A forma como comunicamos o que pensamos e o que sentimos, bem como a forma
como as pessoas que fazem parte dos grupos a que pertencemos se comunicam
determinam não só o nível de interação entre os membros desses grupos, mas a
capacidade que têm de persuasão, ou seja, determinam a potencial e a real influência
social que uns exercem sobre os outros.
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UNIDADE II │GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA
Liderança – líder, geralmente, é a pessoa que melhor síntese faz das aspirações
do grupo. Mudando as aspirações, ou o líder muda com elas ou se muda o líder. A
maneira de lidar com pessoas, a capacidade de enfrentar obstáculos para defender
interesses do grupo ou a capacidade de correr riscos para cumprir metas, é o que faz
um líder.
Desta forma, a percepção do mundo pelas pessoas resulta do processo de interação e construção
coletiva de sua individualidade. Isso ocorre de forma inconsciente e em um processo de aprendizagem
contínuo. As normas estabelecidas em uma organização devem compor o processo interativo para
serem aceitas e incorporadas, aumentando o grau de satisfação profissional. Disso decorre que o
diálogo e a participação são fatores essências para que as pessoas se sintam integradas ao processo
decisório da organização.
Chiavenato (2005) explica as diferenças entre o trabalho em grupo e o trabalho em equipe. Leia o
artigo a seguir e anote suas reflexões pessoais.
Idalberto Chiavenato
Com todas as mudanças organizacionais que estão ocorrendo na grande maioria das
empresas, seja por programas de qualidade total, desenvolvimento organizacional,
reengenharia, downsizing e coisas do gênero, o certo é que está havendo uma forte
tendência para o fortalecimento de grupos e de equipes de trabalho em detrimento
do antigo enfoque formal, departamental ou divisional que existia nas empresas.
62
GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA│ UNIDADE II
Obviamente, por trás disso, os gerentes estão participando das atividades de muitos
e diferentes grupos em suas empresas e liderando-as. Existem grupos formais e
informais. Um grupo formal é um grupo oficialmente designado para atender a
um específico propósito dentro de uma empresa. Algumas unidades de grupo
são permanentes e até podem aparecer nos organogramas de muitas empresas
na figura de departamentos (como departamento de pesquisa de mercado), de
divisões (como divisão de produtos de consumo) ou de equipes (como equipe de
montagem de produtos). Um grupo permanente pode variar de tamanho, indo
desde um pequeno departamento ou uma equipe de poucas pessoas até grandes
divisões com centenas de pessoas envolvidas.
O presidente de uma empresa pode solicitar uma força tarefa para estudar a
viabilidade de adotar horário flexível para o pessoal de nível gerencial da empresa.
Alguns grupos temporários requerem muito mais um líder ou orientador do que um
gerente para alcançar bons resultados.
Por outro lado, muitas empresas utilizam grupos informais que emergem
extraoficialmente e que não são reconhecidos como parte da estrutura formal da
organização. São grupos amigáveis, que se compõem de pessoas com afinidades
63
UNIDADE II │GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA
naturais entre si e que trabalham juntas com mais facilidade. Os grupos de interesses
são compostos de pessoas que compartilham interesses comuns e que podem ter
interesses relacionados com o trabalho, como serviços comunitários, esportes ou
religião.
Tanto as empresas quanto seus gerentes têm muito a ganhar com a adequada
utilização de grupos de trabalho. Os grupos permitem à empresa alavancar o ganho
de resultados no cumprimento de importantes tarefas, especialmente quando sob
as seguintes condições.
64
GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA│ UNIDADE II
A utilização do termo equipe está sendo cada vez mais crescente para referir-se a
vários tipos de grupos formais. No ambiente de trabalho, a equipe é um pequeno
grupo de pessoas com habilidades complementares e que trabalham em conjunto
para alcançar um propósito comum pelo qual são coletivamente responsáveis.
Uma equipe gera sinergia positiva por meio do esforço coordenado. Os esforços
individuais são integrados para resultar em um nível de desempenho que é maior
do que a soma de suas partes individuais. Assim, o que difere uma equipe de um
grupo de trabalho são basicamente quatro aspectos fundamentais.
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UNIDADE II │GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA
»» Equipes que fazem coisas – como grupos (ou mesmo órgãos) funcionais,
como departamentos de marketing e propaganda, são equipes
que desempenham tarefas permanentes para a organização e são
relativamente estáveis e permanentes.
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GRUPOS E EQUIPES NA GESTÃO DE PESSOAS NA ESCOLA│ UNIDADE II
Para poder gerenciá-la e liderá-la e dela obter eficiência e eficácia, o gerente precisa
selecionar, desenhar cargos, treinar, liderar, motivar, avaliar e remunerar seu pessoal.
E lidar com pessoas é uma tarefa altamente complexa e desafiante. Mas sobretudo
gratificante para quem souber fazê-la de forma a enaltecer o trabalho e a dignificar o
ser humano. Daí, a nossa velha e obstinada pregação aos gerentes: mandem menos
e liderem mais, mandem menos e motivem mais, mandem menos e desenvolvam
equipes de trabalho. Os resultados serão impressionantes.
Não há uma receita pronta de como trabalhar em equipe, apenas indicativos gerais.
Basta-nos constatar que as equipes são formadas por pessoas e que cada pessoa é
singular, diferente das outras. Tendo em vista que nenhum de nós é igual ao outro,
não há como prever como se constituirá cada equipe com a qual trabalharemos,
que características terá, quais serão suas características e peculiaridades. A partir
das diferenças individuais, o gestor deve construir a unidade de trabalho, que não
significa uniformidade, para alcançar de forma positiva os resultados que se deseja.
Por essa razão, o gestor tem de conhecer de perto os membros de sua equipe,
analisando cada participante (observando qualidades mais que defeitos), e achar as
melhores condutas para motivar cada um ao comprometimento com o alcance dos
objetivos comuns.
67
GESTÃO DE
PESSOAS:
FENÔMENOS UNIDADE III
SOCIAIS E
TEMÁTICAS
CONTEMPORÂNEAS
CAPÍTULO 1
Fenômenos Sociais nos Grupos
A abelha é honrada, porque trabalha não por ela, mas para todos.
Provérbio Grego
Esse é um conceito adotado por você? Para quem você trabalha? A partir de quais valores sociais
você pauta suas ações neste mundo?
Sem nenhuma dúvida falar de Gestão de Pessoas exige refletir sobre os parâmetros sociais que
definimos como assertivos ou não. Tais definições envolvem a convivência entre humanos, sofrendo
interferências positivas e negativas e determinando muitas vezes os nossos propósitos pessoais. Por
isso, as relações estabelecidas por nós são, às vezes, íntimas, às vezes autoritárias; às vezes solitárias,
às vezes, espontâneas, dependendo das diferentes oportunidades de engajamento, o que possibilita
aliarmos, àqueles com os quais temos ideias, valores ou objetivos semelhantes. Ser consciente de
que nossas ações podem impactar o outro é o que nos obriga a tentar, de algum jeito, ser abelha....
68
GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS│ UNIDADE III
Os grupos sociais que são formados na escola são determinados por diversos elementos, tais como
afinidades diversas (recreativas, esportivas, intelectuais, cooperativas), status; grau de escolaridade;
função social ocupada (direção, professores, alunos, funcionários, pais); idade; sexo; entre outros.
Normalmente esses grupos se entrecruzam, tendo em vista a dinâmica da sociedade, que, por não
ser estanque, possibilita a circulação de um grupo social para outro, partindo da multiplicidade de
interesses que formam nossas vivências.
Desta forma, a partir das interações entre os indivíduos, entre os grupos e entre os indivíduos e os
grupos, a Psicologia Social tem estudado a importância e a influência dos processos psicológicos
originados no grupo. Determinados fenômenos sociais compõem esses estudos tais como a
negociação, o conflito, o estresse ocupacional na escola, a percepção e a atitude sociais, o estigma, o
estereótipo e o preconceito, assim como a liderança. A importância dada ao tema é justificada desde
que nascemos, tendo em vista o lugar social que ocupamos na família e considerando que, por meio
dele, ocorre nossa integração com outros grupos sociais. Assim, são estabelecidas as relações de
afinidade com aqueles que tenham padrões comportamentais comuns ou almejados por nós.
Segundo Araújo (2006), entende-se por grupo social o conjunto de duas ou mais pessoas interagindo
regularmente com base em expectativas comuns sobre o comportamento dos outros, sobre seu status
e os papéis inter-relacionados. Esse conceito de grupo ressalta a importância da interação e da
interdependência entre os elementos do grupo e a necessidade de um objetivo comum: a satisfação
das necessidades desses indivíduos.
O texto a seguir – traz reflexões propostas por Eugênio Mussak. Leia-o e reflita sobre
como o gestor é capaz de lidar com tanta diversidade Anote suas conclusões.
Somos sociais não apenas porque dependemos de outros para viver, mas porque
os outros influenciam na maneira como convivemos com nós mesmos e com
aquilo que fazemos. O homem é um ser social, e o ambiente de trabalho é o local
em que esse conceito é mais testado durante nossa vida adulta. Praticamente já
não existem profissões exercidas isoladamente, como faziam os antigos artesãos.
A maioria das funções atualmente é executada por equipes. E, muitas vezes, haja
paciência para tolerar a convivência dentro da empresa, que já foi definida como
um campo minado, em que, a qualquer momento, podemos pisar no lugar errado
e detonar um sentimento até então escondido. A raiva, o ciúme, a frustração, o
medo passam muito tempo escondidos antes de se mostrarem em sua plenitude
destrutiva. É também no grupo, por outro lado, que vive a afetividade, a capacidade
de compartilhar sentimentos positivos, de aprender e de colaborar.
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UNIDADE III │GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS
É tudo uma questão de saber cutucar as moitas certas. Pense um pouco em seu
ambiente de trabalho e faça uma pequena análise. Você perceberá que está
relacionado de forma permanente com dois fenômenos: com o trabalho em si e com
as relações interpessoais.
A ligação com a tarefa engloba a aptidão que você tem, se gosta ou não do que está
fazendo, o resultado financeiro, o volume de trabalho e seu projeto pessoal de vida
do qual este trabalho faz parte. Nas relações interpessoais entram a dependência
funcional que as pessoas têm entre si e também, a relação propriamente dita, o seu
lado humano.
Pois bem, o resultado e a qualidade do trabalho que você faz depende desses dois
fatores e ainda depende da interação entre eles. Gostar do trabalho, mas viver em
um ambiente ruim, não é muito diferente de não ter aptidão para a tarefa apesar de
estar entre amigos. A tendência em ambos os casos é não durar muito seu estoque
de energia para trabalhar. A mediação entre esses dois fatores foi estudada pelo
psicólogo social Kurt Lewin e foi chamada por ele de “campo de forças”. Nosso
desempenho depende da interação dessas forças. O ambiente é fundamental,
inclusive porque a percepção do valor e da beleza do trabalho pode ser influenciada
por ele. Somos sociais não apenas porque dependemos de outros para viver, mas
porque os outros influenciam na maneira como convivemos com nós mesmos e
com aquilo que fazemos. Complexo, não é mesmo?
O homem é um ser social, porque é frágil demais para viver sozinho. No entanto,
sua maior desgraça reside no fato de que ele ainda não aprendeu bem a viver em
sociedade. Ainda está acordando para o fato de que conviver significa levar em
consideração o semelhante, com todas as suas características pessoais. Conviver
significa compartilhar, repartir, confiar, tolerar, ajudar, entender.
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GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS│ UNIDADE III
Percepção Social
O homem é um ser que interage com seu meio. As informações externas são captadas por seus
sentidos e reorganizadas em sua mente. Essa “realidade” capturada não é ingênua. O homem está
inserido em uma teia sócio-cultural da qual ele não pode se ver desprendido (CONTIER e LOBO
NETTO, 2007).
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UNIDADE III │GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS
conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com
quem convive, que experiências tem, em que trabalha, que desejos alimenta,
como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso
faz da compreensão sempre uma interpretação. Sendo assim, fica evidente
que cada leitor é co-autor. Porque cada um lê e relê com os olhos que tem.
Porque compreende e interpreta a partir do mundo que habita. <http://www.
gentecuidandodasaguas.org.br>.
Leonardo Boff reflete a leitura de mundo ou como percebemos a vida e as pessoas que fazem parte
dela. A percepção implica, nesse sentido, julgamento de valor, porque, constitui um processo que
vai desde a recepção do estímulo pelos órgãos dos sentidos até a atribuição de significado a ele.
Percebemos não só a existência do outro, mas as suas características, o que nos permite “ter uma
impressão” dele.
Atitude Social
O processo segundo o qual a consciência individual determina a real ou possível atividade do
indivíduo no mundo social denomina-se atitude social. Para alguns autores, é ainda a intenção de
agir de modo coerente com referência a certo objeto.
Fica claro que, sem compreender o conceito de atitude, parte dos procedimentos humanos não
poderiam ser explicados, sobretudo a conduta social, que na Psicologia Moderna recebe diferentes
interpretações. O americano Gordon Allport definiu a atitude como “uma disposição nervosa e
mental, fruto da experiência, que exerce uma influência dinâmica e orientadora sobre todos os
objetos e as situações com os quais guarda alguma relação”.
A atitude é uma forma de motivação social (portanto, de caráter secundário em relação à motivação
biológica, de tipo primário), que impulsiona e orienta a ação para determinados objetivos ou metas.
Além dos processos motivacionais, é possível encontrar na atitude componentes cognitivos e
afetivos.
O que fica compreendido é que as atitudes são formadas durante o processo de socialização,
como respostas às características de personalidade e a outros indicativos sociais. Essas, por sua
vez, indicam as atitudes presentes das pessoas, que, associadas com a situação atual, apontam o
comportamento da pessoa.
A atitude social por sua vez é definida como uma organização de confiança e cognições em geral,
com dados afetivos a favor ou contrários ao objeto social definido, propensos para uma ação coesa
com as condições e afetos relativos a este objeto. As atitudes são formadas por três componentes:
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GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS│ UNIDADE III
Os componentes cognitivos e afetivos das atitudes tendem a ser coerentes entre si. Nem sempre pode
ser verificada absoluta coerência entre os três componentes (ex. concepções teóricas – discurso;
ação de alguns gestores – prática).
[...] quando te encarei frente a frente, não vi o meu rosto; chamei de mau gosto o que
vi, de mau gosto, mau gosto; é que Narciso acha feio o que não é espelho [...].
Caetano Veloso
Muitos autores consideram que um estigma pode ser causador de preconceito. Fato é que estigma
significa marca, sinal ou atributo que caracteriza, torna diferente dos demais e desclassifica – é uma
decorrência natural.
Em Carvalho e Ferreira (2007, apud ARANHA; MARTINS 2005), o preconceito é uma opinião
ou um conceito formado antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos.
É impossível não se ter preconceito algum, pois, sem nos darmos conta, internalizamos, sem
discussão, muito da nossa herança cultural. Já o estereótipo, segundo as mesmas autoras, é uma
opinião preconcebida a respeito das coisas e das pessoas; imagem simplificada que retira as nuances
da individualidade. Normalmente, consiste numa ideia ou expressão muito utilizada, num conjunto
de características presumidamente partilhadas pelos membros de um grupo social.
O homem vive o cotidiano e age sobre ele. [...] Essa ação é fragmentada, já que
o ser humano não dá conta da totalidade de acontecimentos ao seu redor; há
um recorte do que lhe é apresentado. [...] A formação de juízos provisórios
é necessária para atender às demandas da vida social cotidiana, mas podem
cristalizar-se em preconceitos, ultrageneralizações negativas, podendo resultar
desse processo a alienação dos sujeitos. As características do comportamento
cotidiano, seja espontaneidade, pragmatismo, economia, julgamentos
provisórios baseados em precedentes, analogias, imitações, são os elementos
que tornam a vida cotidiana a esfera da realidade. Pode-se afirmar que temos
os estereótipos e em seu extremo, o preconceito. [...]. (KOSIK, 1989, p. 69).
73
UNIDADE III │GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS
Neste sentido, refletem Carvalho e Ferreira (2007), nas organizações escolares, em função da
diversidade de características de seus atores sociais, estão presentes muitos estigmas (alguns
até mesmo em função do processo de inclusão que vem se disseminando há alguns anos),
muitos preconceitos (tantas vezes voltados às minorias) e muitos estereótipos (frutos da cultura
internalizada).
Gilberto Freyre retrata com sabedoria a diversidade brasileira. Reflita sobre os percursos a serem
trilhados em busca de uma gestão para a diversidade.
Gilberto Freyre
Eu ouço as vozes.
eu vejo as cores.
O mapa desse Brasil em vez das cores dos Estados terá as cores das produções e dos
trabalhos.
Os homens desse Brasil em vez das cores das três raças terão as cores das profissões
e regiões.
As mulheres do Brasil em vez das cores boreais terão as cores variamente tropicais.
Todo brasileiro poderá dizer: é assim que eu quero o Brasil, todo brasileiro e não
apenas o bacharel ou o doutor, o preto, o pardo, o roxo e não apenas o branco e o
semibranco.
ânimo de viver pelo Brasil, mãos para agir pelo Brasil, mãos de escultor que saibam
lidar com o barro forte e novo dos Brasis, mãos de engenheiro que lidem com
ingresias e tratores europeus e norte-americanos a serviço do Brasil, mãos sem anéis
(que os anéis não deixam o homem criar nem trabalhar).
mãos livres.
74
GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS│ UNIDADE III
mãos criadoras.
mãos desiguais que trabalham por um Brasil sem Azeredos, sem Irineus, sem
Maurícios de Lacerda.
de operários.
de lavradores.
de pastores.
de lavadeiras lavando.
de pedreiros edificando.
de doutores curando.
de cozinheiras cozinhando.
Eu ouço as vozes eu vejo as cores, eu sinto os passos desse Brasil que vem aí.
Quais as implicações de todos esses conceitos para a gestão das organizações, entre
elas, a escola? O texto a seguir vai ajudá-lo a refletir sobre isso. Boa leitura!
“Enfrentar os desafios e conviver num ambiente em que a cada dia se torna mais
complexo prever ou mapear comportamentos e reações entre os indivíduos faz
75
UNIDADE III │GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS
Pensar nas relações dos indivíduos e das organizações entre si, o comportamento
que cada um apresenta, como parte de sua personalidade, sua concepção de mundo,
como ser-em-relação, é pensar em adaptação e, consequentemente, em relação, em
mudança e em aprendizagem. [...] A organização pode ter os mais bem desenhados
processos e os mais sofisticados sistemas do mundo, mas se o relacionamento entre
as pessoas não for saudável, nada irá funcionar, significando, assim, que é necessário
que cada um, além de conhecer-se bem, saiba compartilhar e conviver em grupo.
[...].
As atitudes fazem parte das características adquiridas por meio de diversas formas
de aprendizagem. Deste modo, embora sejam estáveis, é possível mudá-las. A
mudança de atitudes depende da mudança de crenças e sentimentos a respeito
dos estímulos (outras pessoas, objetos, grupos, a própria pessoa) e, mudando o que
você sabe a respeito de um estímulo ou de seus sentimentos, seu comportamento
também poderá mudar. O ser humano é relacional, sendo que o indivíduo dentro
da organização é membro de um grupo e seu desempenho não é produto de suas
capacidades físicas, mas está claramente correlacionado à sua capacidade social e
76
GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS│ UNIDADE III
Eis o desafio: aprender a olhar para o outro sem querer encontrar no outro o espelho de nós mesmos,
sem narcisismo. Estamos preparados, como líderes, para lidar com a diferença?
O que interessa à sociedade, atualmente, são os profissionais que aprendem a aprender, que
sejam capazes de pesquisar, atualizando os conhecimentos, para adaptá-los à sua realidade. Nos
ambientes de mudanças contínuas, há necessidade de algo mais que pessoas que só sabem como
fazer funcionar os sistemas existentes. É preciso pessoas capazes de mudar os sistemas para melhor.
Nessa perspectiva, a educação é compreendida e tem sido vista como uma possibilidade,
atribuindo-se a ela um papel de relevância, para que, além da equidade social, possa ser buscado o
desenvolvimento para a produtividade e a competitividade.
De acordo com Carvalho e Ferreira (2007), estabelecer estratégias e observar pré-condições que
propiciem a transformação, implica ações conscientes e sistemáticas, o que, consequentemente,
implica gestão. Ressalta-se que a efetivação das mudanças requer não apenas o gerenciamento das
organizações escolares, mas a mobilização de esforços para sensibilizar as pessoas em direção à
mudança.
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UNIDADE III │GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS
Isso só é possível se, em vez de gerentes da educação, tenhamos líderes, pessoas capazes de imprimir
ritmo adequado ao processo de mudança. Gestores preparados para tal desafio, sem dúvida,
percebem, com maior clareza, as resistências, os obstáculos, as possibilidades e os significados do
contexto escolar. (CARVALHO e FERREIRA, 2007).
Você é um líder?
Rogério Martins
Você já deve ter lido diversas vezes sobre estilos de liderança. Os tantos estudiosos
que se aventuraram a pesquisar e escrever sobre liderança já traçaram um número
incalculável de perfis e estilos de liderança. Para exemplificar: liderança servidora,
liderança transformadora, liderança delegadora, liderança transpessoal, liderança
baseada em princípios etc. No livro O Guia dos Gurus, Joseph e Jimmie Boyett, fazem
uma compilação bastante didática sobre muito do que já se produziu a respeito. Em
meio a tudo isso fica a grande dúvida: qual é o meu estilo de liderança. Ou ainda:
qual estilo de liderança eu devo utilizar?
Sem querer trazer mais um estilo ou perfil ideal afirmo: seja você mesmo! Simples
assim. Existe entre alguns teóricos e muitos profissionais o grande mito do líder
ideal. Isso simplesmente não existe. Peter Drucker, um dos maiores pensadores
sobre gestão de pessoas e empresas, dizia que é impossível traçar o perfil ideal de
um líder. Ele mesmo já havia trabalhado com pessoas com características totalmente
diferentes daquelas propostas por diversos estudiosos e ainda assim teve lições de
liderança.
Acredito que o maior desafio da liderança no momento não é saber qual a melhor
técnica ou o melhor estilo a adotar. Mas, diante das constantes transformações do
comportamento das pessoas no mundo corporativo e social, o grande desafio é
saber como agir eficazmente neste novo tempo. Como lidar com a diversidade, as
motivações, as expectativas e as exigências das pessoas.
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GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS│ UNIDADE III
O segundo aspecto é conhecer sua equipe. Mais do que dominar a técnica é preciso
entender de gente. Cada vez mais as pessoas têm acesso a informações e com
isso aumenta o senso crítico. Até meados dos anos 80, era comum as empresas
contratarem funcionários aptos tecnicamente ou com grande agilidade e força.
Observe:
Não há receita pronta para se ser ou se tornar um líder. Pode-se contar com indicativos úteis,
para ajudá-lo a aprender a ser um líder. Entre as competências a serem buscadas, destacam-se:
a capacidade de desenvolver a aprendizagem continuada; o auto conhecimento; a comunicação
autêntica e aberta; o comportamento ético; a autonomia; o trabalho em equipe e a assunção de
responsabilidades partilhadas; a criatividade; o questionamento; a possibilidade de se relacionar e
de intervir de modo ativo, humano e eficaz em sua realidade.
Desta forma, entende-se que liderança não é um dom, mas competência a ser desenvolvida, cuidada,
adquirida e, principalmente, conquistada. Além disso, não é exclusividade de cargos de chefia, pois
qualquer um pode mobilizar as energias de seu grupo social para alcançar os objetivos que se quer.
Quando as habilidades são experimentadas, surgem as possibilidades de se desenvolver como líder
que assume as responsabilidades que lhe cabem no contexto organizacional, hoje tão diversificado.
Assim, refletem Carvalho e Ferreira (2007), há que se ressignificar a liderança, sob a ótica da
proatividade, observando os conceitos de autoridade e poder. Culturalmente, desde a infância,
acreditamos que líder é quem manda e aquele que manda é, muitas vezes, aquele que tem o poder
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UNIDADE III │GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS
instituído para tanto: é o mais esperto; é o mais forte; é o mais hábil no jogo; o dono da bola; é,
enfim, aquele que consegue, por qualquer que seja a justificativa, impor suas vontades.
O poder de gerar comprometimento, especialmente nas instituições escolares, é uma visão do que
é ser líder na atualidade. Graziele Nazaré Moreira, em seu texto – Liderar ou gerenciar? –, faz
reflexões bastante significativas. Leia-o a seguir.
Liderar ou gerenciar
Cada pessoa pode, conforme a possibilidade, ser líder por determinado período e
retornar ao seu lugar de seguidor. Líder, contudo, cria oportunidades para que os
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GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS│ UNIDADE III
seguidores atuem na liderança. Isso pode ocorrer em virtude dos traços de cada
líder, da característica dos subordinados e das características do contexto interno
e externo e, inclusive, os prepara para um dia darem prosseguimento às atividades
organizacionais. Ele não retém o conhecimento e a prática da liderança, dividindo-a
com os demais.
Por outro lado, a liderança estratégica, cujo foco está nas pessoas, é observada pela
criação de visão e de estratégias, pela geração de cultura e de valores comuns, pela
colaboração quanto ao crescimento, à inspiração e à motivação dos colaboradores
e pela criação das mudanças. Essa distinção clara entre liderança e gerenciamento
tem causado dificuldade exacerbada quanto a sua prática cotidiana. Afirma-
se que a liderança deve substituir o velho modelo de gestão gerencial, pautado,
agora, em um modelo coletivo e isso se torna, muitas vezes, impossível, haja vista a
necessidade de se manter as vistas voltadas para o resultado. Cria-se um impasse:
focar as pessoas por meio da liderança ou dos resultados? A liderança não é capaz
de substituir o gerenciamento, ela deve ser agregada a ele. É um desafio. Percebe-
se que muitos gerentes já possuem algumas habilidades e qualidades, mas outras
podem ser desenvolvidas, para exercer uma liderança eficiente. A questão deve
passar pelo alinhamento entre a liderança e o gerenciamento. Deve-se rever e
avaliar essas habilidades e qualidades, compartilhar valores, dar aos empregados
o incentivo para trabalhar por mais tempo, desenvolvendo o trabalho com mais
afinco e cuidado. Compartilhar valores até pode diminuir custos como compreensão
financeira e recompensa física. A situação de trabalho estaria, assim, transformando-
se em fonte verdadeira de satisfação, como naturalmente as pessoas esperam que
ocorra, somando pessoas e resultados.
Assim, na área escolar, o grande desafio para gestores é reconhecer e despertar qualidades humanas,
como a cooperação e o respeito à pluralidade. A diversidade entre os seres humanos se dá em duas
dimensões.
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UNIDADE III │GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS
Nesse sentido, Dante e Tiné (2004) nos fazem refletir que: A escola não
é um espelho da comunidade. A escola não é um retrato da comunidade. A
escola não é salvadora da comunidade. A escola participa da comunidade e é
participada por ela. Poderíamos, nesse instante de nossas leituras, conceber
a possibilidade de uma relação alternativa, pautada pela simetria. A partir
dela, as competências e os conhecimentos de líderes e liderados seriam apenas
diferentes, residindo nessa diferença a sua maior força. A escola seria um
espaço de encontro entre esses diversos conhecimentos e competências, um
espaço no qual as mais díspares ideias seriam confrontadas, surgindo daí um
novo conhecimento, construído na própria relação dialógica estabelecida.
(CARVALHO; FERREIRA, 2007).
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GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS│ UNIDADE III
Negociação e conflito
Ainda há um conceito incorreto sobre o que é o conflito e o consenso nos diversos grupos sociais.
Quanto maior o conhecimento e a criticidade sobre a diversidade, melhores oportunidades de
conviver harmoniosamente, respeitando as minorias e as diversas formas de discriminação. O
pluralismo é o caminho evolutivo natural para a convivência com os desiguais, pois solidifica o
conceito de dialogismo e de abertura dialética entre a comunidade educativa.
As discordâncias numa organização escolar nunca deixarão de existir e o fato de percebê-las como
parte integrante e positiva no processo de aprendizagem não implica desconsiderar que o consenso
e a unanimidade sinalizam a convivência fraterna e, como tais, devem ser buscados a qualquer
preço.
Mas pense bem... Quando você se encontra numa sala de aula, numa sala de
bate-papo ou mesmo num círculo de amigos e todos concordam com alguma
afirmativa feita, a discussão segue adiante? Normalmente, isso não acontece.
E não acontece tendo em vista o esgotamento do assunto antes de ser consolidado como argumento.
No entanto, se, à primeira afirmação, são juntadas outras afirmativas contrárias, a argumentação
acontece, a discussão é ampliada e as pessoas ficam inflamadas para defender as suas teses.
Como refletem Carvalho e Ferreira (2007), “essa é uma demonstração prática de que é no discenso,
na discordância, no conflito, que crescemos, aprimoramos nossas ideias e nossa capacidade
argumentativa e alteramos paradigmas”. Nossa percepção de mundo é uma entre muitas e a
diversidade traz implicações para nós, sujeitos do processo. O importante é o que fazemos diante
das diferenças: se elas nos acrescentam valor ou se elas são motivo de divisão e isolamento.
Logo, para que o gestor fique envolvido cada vez mais nesse processo, ele deve incentivar a participação,
permitir plena oportunidade de compartilhamento de ideias, desenvolver a cooperação e criar um
sentido de responsabilidades partilhadas. E para criar a cultura de negociação, é fundamental que
todos os participantes do grupo compreendam que as necessidades da coletividade se sobrepõem
aos interesses individuais.
Entre os recursos mais utilizados nas organizações educacionais, para que se estabeleça a negociação,
está a reunião, que, antes de mais nada, deve ser planejada adequadamente, pensando-se nos
propósitos e na melhor maneira para efetivá-los. Além disso, ao final, deve ser avaliada, para se
verificar se o objetivo proposto inicialmente foi alcançado a contento.
Moran (2003) afirma que é consenso que a capacidade comunicativa do gestor é determinante para
o sucesso das atividades por ele mediadas. Nessa direção, pessoas abertas, sensíveis, humanas, que
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UNIDADE III │GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS
valorizem mais a busca que o resultado pronto, o estímulo que a repreensão, o apoio que a crítica,
são as mais capazes de estabelecer formas democráticas de pesquisa e de comunicação.
Leila Navarro
O que é melhor para o líder de uma equipe de trabalho: que seus integrantes se
entendam tão bem que quase se comuniquem por telepatia ou que tenham ideias e
atitudes muito diferentes, gerando conflitos de pontos de vista?
Muitos líderes enxergam o conflito como algo indesejável, uma erva daninha que
precisa ser a todo custo combatida, quando, na verdade, ele é o combustível da
criatividade e da quebra de paradigmas. Não falo do conflito agudo, que coloca a
equipe em pé de guerra, mas daquele que surge do questionamento de ideias e do
debate de opiniões. Será que existe algo mais saudável para o trabalho em equipe
do que uma boa discussão, em que pontos de vista divergentes são colocados e
criticamente analisados?
É no calor do conflito que, muitas vezes, surgem ideias que quebram paradigmas.
Afinal, se elas não fossem ousadas e inovadoras, não provocariam resistências nem
discussões. E para que as discussões aconteçam, é preciso valorizar a diversidade de
tipos humanos que compõem as equipes, pois cada um tem o seu papel e todos os
papéis são importantes.
Todo grupo tem aquele integrante que fala mais que os outros. Nas reuniões, ele
contribui com muita informação e ideias, algumas até estapafúrdias, mas não se
inibe em falar tudo o que lhe vem à cabeça. Muitas ideias do falante são criticadas
pelo objetivo, aquele que não brinca em serviço e não perde o foco. Enquanto o
objetivo e o falante polemizam, o metódico tenta pôr uma ordem no trabalho da
equipe e avaliar todas as sugestões, pois só com uma boa análise se pode decidir o
que é válido e o que pode ser descartado. Então, o apressado começa a pressionar o
grupo para ser mais produtivo, pois, pelo andar da carruagem, o prazo para concluir
o projeto irá estourar. Vem o cauteloso criticar o apressado, dizendo que ninguém
encontra boas soluções sem ponderar muito bem os prós e contras de cada ideia. O
questionador pede a palavra e coloca com muita clareza o que pensa, mesmo que
isso signifique criticar a conduta ou as ideias dos colegas.
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GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS│ UNIDADE III
Por outro lado, se o líder fica muito preocupado em manter a harmonia do grupo e
não permite que as pessoas conflitem, todos são induzidos a concordar uns com os
outros e reprimem opiniões valiosas. A reunião fica muito fluída e cheia de gentilezas,
mas pobre em discussões e ideias que quebram paradigmas. Nesse mundo de quase
7 bilhões de pessoas, não há um só ser humano igual ao outro. Ninguém é igual
a você! A diversidade de comportamentos, visões de mundo, ideias, experiência e
atitudes é que faz o planeta ser tão cheio de possibilidades. Compreender esse fato
e ser capaz de lidar com ele é uma das coisas que fazem diferença numa equipe,
numa empresa, num negócio ou mesmo numa carreira individual, proporcionando
a sementeira para as ideias inovadoras que movimentam o mundo.
<http://www.eca.usp.br/prof/moran /educar.htm>
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UNIDADE III │GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS
Essa é uma situação iniciada, por exemplo, quando as pessoas são requisitadas além de seus
limites quanto às responsabilidades no trabalho. Entre as causas, os mais decisivos são os fatores
internos, em que nossas disposições mentais e posturas internas nos levam a reagir mais ou menos
intensamente aos fatores externos do cotidiano. Ressalta-se que essas posturas internas, adquiridas
ao longo da vida, são ensinadas na comunidade em que o indivíduo habita e em que ele precisa
sobreviver.
Quando os desejos internos não se adequam às imposições sociais, isso gera um conflito que, se não
for identificado, tratado e modificado, pode evoluir para sintomas físicos, tais como: irritabilidade,
cansaço intenso, frequência de gripes e resfriados, dores pelo corpo, distração, sonolência, tristeza,
desânimo excessivo, crises de pânico, medos diversos e esquecimento.
Percebe-se que jovens, até mesmo crianças, sofrem quando se sentem rejeitados pelos grupos,
ao passarem por avaliações, ao se enquadrarem a regras disciplinares excessivamente rígidas,
ao tentarem agregar modelos de comportamento impostos de forma autoritária, ao sofrerem de
problemas como bullying, ao ficarem diante de vestibulares ou outros processos competitivos.
Para os professores, a realidade não é menos sofrida: baixo rendimento das turmas, indisciplina,
violência escolar, problemas de aprendizagem dos alunos, instabilidade funcional, entre tantos
outros. Lidar com todas essas realidades é um desafio para o gestor.
Sobre esse aspecto a atenção do gestor deve recair. Ele é o responsável direto pelo clima
organizacional da organização escolar. Os estudos indicam que o desgaste emocional a que as
pessoas são submetidas nas relações de trabalho é fator expressivo na determinação de transtornos
relacionados ao estresse, como é o caso das depressões, da ansiedade patológica, do pânico, da
fobias, das doenças psicossomáticas etc.
São muitos os estímulos estressantes. A ansiedade soa como um alarme frente aos desentendimentos
com colegas, com alunos ou diante da sobrecarga e da corrida contra o tempo, diante da insatisfação
salarial, diante de resultados negativos, entre outros.
Gilberto Dimenstein, no artigo abaixo, nos faz pensar sobre inúmeros fatores que influenciam no
estresse do professor. Leia com atenção e reflita sobre as possibilidades...
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GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS│ UNIDADE III
Muitos desses fatores resultam da ação do gestor ou têm impacto nela. Pense e faça suas anotações:
quais são esses fatores e como você poderia ajudar a solucioná-los ao exercer o papel de gestor?
Gilberto Dimenstein
Todos falam em inúmeros fatores por trás dessa “morte”: classes superlotadas, falta
de estrutura das escolas, pais desinteressados, alunos violentos, poucos estímulos
para premiar o mérito etc. Há, porém, um fator pouquíssimo comentado, que, na
minha opinião, é um dos piores, porque se associa ao mau desempenho nas notas e
favorece comportamentos violentos.
Tenho recebido uma série de estudos que revelam a altíssima incidência, nas escolas
públicas, de doenças e distúrbios psicológicos em estudantes. Falamos aqui em, no
mínimo, 30% dos alunos, alguns dos quais simplesmente não enxergam ou ouvem
direito. Só a dislexia pode estar atingindo 15%. Temos, na sala de aula, um desfile de
enfermos sem cuidados apropriados.
Isso significa que os governos deveriam ajudar as escolas a enfrentar problemas que
não podem ser resolvidos pelos professores, a começar pela saúde, chegando até a
assistência social. Filhos de famílias desestruturadas tendem a ter problemas em sala
de aula. Exige-se, assim, um olhar mais sofisticado diante da educação.
Como esse olhar não existe e cada repartição do governo trabalha isoladamente,
o professor acaba vítima de tensões que vão muito além da sala de aula. Esse é um
dos fatores que explicam o enorme absenteísmo e a rápida rotatividade em escolas
públicas, tanto de estudantes como de professores.
Nessa “morte” do professor, a maior vítima, claro, é o lado mais frágil o aluno, acusado
de ser culpado por não aprender. E, aí, quem “morre” é o aluno, que passa a não ter
interesse pelo conhecimento. Pensando ainda nesses fatores, muitas são as formas de
intervenção preventiva com relação ao estresse, no contexto educacional. Algumas
se relacionam diretamente ao professor, outras à equipe diretiva e pedagógica e
ainda outras à comunidade. Nas ações direcionadas ao professor, é preciso alertá-
lo, por meio de palestras, sobre os possíveis fatores de estresse relacionados ao
trabalho e a possibilidade de desenvolvimento desse tipo de estresse ocupacional
de caráter crônico, tendo em vista que ele só é percebido como transtorno em sua
fase final, quando sintomas psicossomáticos já se encontram consolidados.
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UNIDADE III │GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS
A você, como gestor, cabe mobilizar energias positivas para induzir a aprendizagem
do ser, estimulando professores e alunos a partir de propostas instigadoras, de
participação ativa e de oportunidades de análise do próprio fazer pedagógico. É
preciso que os grupos sociais que se encontram na escola enxerguem a possibilidade
de superação de suas deficiências e de suas limitações. As pessoas precisam
confiar em si mesmas e na própria organização para, a partir da aceitação de suas
virtudes e falhas, buscarem novas e criativas formas de aprender, agir e enfrentar
as dificuldades. Em síntese, cabe a você, meu amigo, seduzir as pessoas com quem
trabalha, para aprenderem a ser.
Assim é o ser humano. Tem tudo para dar certo, para ser feliz. Tem um horizonte
para ser descortinado e fica preso a coisas pequenas, a detalhes que não trazem
felicidade e nada significam na existência humana. Perdem a liberdade, o sonho, a
amizade, um grande amor por ignorância, por imaturidade, por falta de foco ou de
equilíbrio.
GABRIEL CHALITA
Você já ouviu falar em burnout? Quando não ocorre preventividade em relação ao estresse
ocupacional na escola, a tendência é que este se agrave. Tal síndrome alcança muitos professores,
além de outros profissionais. Leia o texto a seguir e reflita sobre como é importante prevenir, para
não chegarmos a esse estágio de desencantamento profissional.
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GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS│ UNIDADE III
Síndrome de Burnout
G. J. Ballone
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UNIDADE III │GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS
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CAPÍTULO 2
Temáticas Contemporâneas
A proposta a seguir é outro olhar sobre a gestão escolar, iniciando por temáticas contemporâneas,
como criatividade na gestão escolar, inclusão social e escolar, ética e ação na diversidade.
A preparação do gestor para agir na contemporaneidade e os temas que lhe são afeitos é de que seja
articulador entre a escola, a comunidade e as instituições sociais as mais diversas, como universidades,
entidades não governamentais, grupos artísticos, pessoas físicas e jurídicas, formando parcerias.
Além disso, devem ser promotores de uma educação de qualidade, priorizando as atividades e os
projetos a serem desenvolvidos, conforme decisões do coletivo da escola, integrando-a cada vez
mais à comunidade.
Para tamanho desafio, almeja-se um gestor pró-ativo, especialmente no sentido de buscar constante
atualização. Além da educação continuada, item previsto na legislação brasileira de educação, a
gestão da escola moderna atenta para um processo de gestão dinâmica socialmente e mobilizada
para uma liderança dos diversos atores que compõem a comunidade escolar.
Nesse caso o gestor passa a ser visto como o articulador da diversidade, imprimindo unidade e
consistência na construção de um ambiente educacional favorável e positivo, com vistas à formação
dos alunos. Diante disso, é preciso reconhecer a escola como um conjunto complexo, cuja função
não é apenas imediata, mas de repercussão futura.
De acordo com Carvalho e Ferreira (2007), gestar uma escola, implica a lida competente com os
conhecimentos pedagógicos indispensáveis na compreensão do processo educacional, além da
compreensão sobre a função da instituição escola, para articular políticas de formação com a política
de gestão, o que sugere a visão estratégica quanto à construção de um projeto político-pedagógico
como viabilizador da gestão democrática.
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UNIDADE III │GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS
São muitos os problemas em educação. Novos ou antigos exigem soluções inovadoras e é aí que a
criatividade favorece ao indivíduo enxergar o problema, visualizando aspectos novos ou prismas
diferenciados. Compete ao gestor incentivar a implantação e o desenvolvimento de um clima
propício à geração de ideias, ao trabalho em equipe e à resolução criativa de problemas relacionados
aos objetivos e às metas da escola, a partir da cooperação e do compartilhamento de ideias.
Outro aspecto interessante é o fato de que não basta somente criar, gerar ideias, é preciso analisá-las
e implementá-las. Nisso percebe-se a criatividade não somente como um instrumento de soluções
de problemas, mas também como processo de criação de novas possibilidades.
Armando Ribeiro
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GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS│ UNIDADE III
Um macaco, que havia visto a cena, sai correndo atrás do tigre e conta como ele
havia sido enganado. O tigre, furioso, diz:
O cachorrinho vê que o tigre vem atrás dele de novo e desta vez traz o macaco
montado em suas costas. “- Ah, macaco traidor! O que faço agora?”, pensou o
cachorrinho. Em vez de sair correndo, ele ficou de costas, como se não estivesse
vendo nada. Quando o tigre está a ponto de atacá-lo de novo, o cachorrinho diz:
Logo, uma gestão escolar que se quer criativa busca promover a organização
escolar, a mobilização e a articulação de todas as condições materiais e
humanas necessárias para garantir a qualidade dos processos educativos,
contextualizando-os à realidade, favorecendo a busca de soluções inovadoras
para problemas antigos. Entre as qualidades que o gestor deve ter, nesse
contexto de criatividade, destacam-se a versatilidade, a capacidade de rever
sistematicamente suas concepções, acompanhando as mudanças que ocorrem.
Para que todo o potencial humano criativo se desenvolva plenamente, é
essencial a participação de todos. Em resposta a essa demanda, é fundamental
que os profissionais da educação sejam capazes de gerar muitas ideias e de
aplicá-las nos mais diferentes cenários, reconhecendo novas oportunidades ou
soluções. (CARVALHO; FERREIRA, 2007).
Por meio de pequenas mudanças, é possível tornar sua vida mais criativa. A busca de
experiências e estímulos diferentes é fundamental para que você crie um repertório
capaz de gerar ideias inovadoras. O principal objetivo dessas sugestões é fazer com
que você descubra o novo, o tempo todo, e evite “teias de aranhas” no seu cérebro.
O caminho para a criatividade passa pelo hábito de buscar o novo e o diferente,
sempre. Depois, basta separar o joio do trigo, optar por ideias que tenham melhor
relação de custo e benefício e colocá-las em prática.
»» Todo mês, compre uma revista que você nunca leu – se você entrar com
calma em uma banca de jornal vai ficar chocado com a quantidade de
títulos que existem. Mensalmente, busque uma revista sobre algum tema
que não tem nada a ver com sua realidade profissional e mergulhe nesse
mundo diferente.
»» Vá a um restaurante diferente uma vez por mês – por que todo fim
de semana temos de pedir pizza no mesmo lugar? Esse tipo de
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UNIDADE III │GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS
»» Conheça uma localidade diferente pelo menos uma vez por ano. Se você
puder ir para outro país, ótimo! Viajar dentro do Brasil também é uma
delícia. Mas mesmo se o dinheiro estiver curto, deve ter alguma cidade
perto da sua que você ainda não visitou. Conheça esse outro mundo e
veja as diferenças e as semelhanças entre a sua comunidade e as demais.
»» Brinque com uma criança – pode ser filho, primo, sobrinho ou alguém
em uma creche em que você faz trabalho voluntário. Mas o importante
é manter contato com o ser mais criativo que existe em nossa espécie:
a criança. Um estudioso da criatividade chamado Maslow disse que
o homem adulto não é um ser que desenvolveu uma capacidade
extraordinária, mas sim uma criança na qual se acrescentou o menos
possível.
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GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS│ UNIDADE III
Elogio do Aprendizado!
Aponta o dedo sobre cada item, pergunta: como foi parar aí?
Bertold Brecht
O poema de Bertold Brecht atenta para a existência das diferenças e para a necessidade de o
indivíduo admitir um caráter pró-ativo diante do processo de aprendizagem, o que significa assumir
a direção da própria existência.
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UNIDADE III │GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS
suas limitações físicas ou cognitivas, sua escolha política, religiosa ou sexual, entre tantas outras
possibilidades.
Como você pode ver, os motivos que levam à exclusão social são os mais diversos. Fomos educados
desde crianças para aceitar padrões de normalidade que incorporamos e aos quais estivemos
submetidos histórica e culturalmente. Tais padrões preconizam modelos estéticos, de inteligência,
de linguagem, de condição econômica e cultural, a que devemos nos adaptar se não quisermos
correr o risco de fazer parte do grupo de excluídos socialmente.
Como gestor e promotor de um processo que viabilize a inclusão social, econômica, digital ou
cultural na escola, é coerente que seja reconhecida a lógica excludente própria dos atuais modos
de organização e produção social e, a partir desse reconhecimento, planejar o que se quer e como
reescrever uma realidade tão adversa.
A leitura de Mittler (2003) permitiu entender que, no contexto da inclusão social, a gestão deve
estar envolvida com a formação de um sujeito social, estimulando e construindo identidades locais,
à revelia do contexto social conflitante e adverso. Cabe à escola, nesse sentido, estabelecer formas
de contestação da realidade, trabalhando para criar espaços de problematização, com vistas à
superação dos problemas discutidos.
No momento atual, é necessário estar atento ao fato de que, ainda que a escola não detenha todos
os mecanismos para a transformação da sociedade, ela tem função primordial de educar para o
questionamento, para a busca de alternativas, para a reflexão sobre sua própria condição, bem como
para o fortalecimento da consciência da sua responsabilidade social na mudança desse cenário.
A inclusão educacional exige do gestor empenho e paciência, para esperar resultados que não
aparecerão a curto e a médio prazo. É um projeto gradativo, dinâmico e em transformação, cujo
sucesso pressupõe necessariamente uma gestão colegiada, dialética e dialógica por excelência, na
medida em que versa na mediação dos mecanismos de exclusão e de inclusão social.
A inclusão é uma visão, uma estrada a ser viajada, mas uma estrada sem fim, com
todos os tipos de barreiras e obstáculos, alguns dos quais estão em nossas mentes
e em nossos corações. Na escola a inclusão envolve um processo de reforma
e de reestruturação das escolas como um todo, com o objetivo de assegurar
que todos os alunos possam ter acesso a todas as gamas de oportunidades
educacionais e sociais oferecidas pela escola. Isso inclui o currículo corrente, a
avaliação, os registros e os relatórios de aquisições acadêmicas dos alunos, as
decisões que estão sendo tomadas sobre o agrupamento dos alunos nas escolas
ou nas salas de aula, a pedagogia e as práticas de sala de aula, bem como as
oportunidades de esporte, lazer e recreação. (MITTLER, 2003).
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GESTÃO DE PESSOAS: FENÔMENOS SOCIAIS E TEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS│ UNIDADE III
Reflita agora, como gestor, sobre a função da escola na formação de valores e sobre
qual é a sua responsabilidade nesse contexto de inclusão e aceitação da diversidade:
Saint-Exupéry
De acordo com Mittler (2003), o conceito inovador de inclusão envolve o repensar radical da política
e da prática, refletindo um jeito novo de pensar sobre as origens da aprendizagem e as dificuldades
de comportamento. Formalmente fala-se sobre uma mudança da ideia de defeito para um modelo
social.
O gestor da escola, governo e coordenadores de educação especial são, cada um ao seu modo,
responsáveis por assegurar que todos os alunos tenham acesso ao currículo global e a todas as
possibilidades de experiências ofertadas na escola.
Formar pessoas nessa perspectiva é um dos grandes desafios que se apresenta hoje à sociedade e,
em especial, à escola, lócus ideal de socialização e fortalecimento de valores humanos éticos. Para
tanto, esses valores, no âmbito da escola, não podem ser impostos, mas refletidos e ressignificados
continuamente.
(Mahatma Gandhi)
97
GESTÃO DE
PESSOAS:
AVALIAÇÃO DE
DESEMPENHO, DE UNIDADE IV
COMPETÊNCIAS E
DE RESULTADOS NA
GESTÃO ESCOLAR
CAPÍTULO 1
Avaliação de desempenho, de
competências e de resultados na
gestão escolar
Serão tratados os subtemas: O gestor como avaliador na instituição educativa, O gestor como
líder na manutenção de equipes e no controle da rotatividade de profissionais, Liderança e
contemporaneidade, Estratégias de Gestão, Avaliação do Desempenho, Avaliação de Competências
e Avaliação de Resultados.
Autoavaliação
Dentro de mim
mora um solidário
fora de mim
mora um mundano
(sem destino)
98
GESTÃO DE PESSOAS: AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO, DE COMPETÊNCIAS E DE RESULTADOS NA GESTÃO ESCOLAR│ UNIDADE IV
Cada segundo
uma infinidade
cada minuto
uma eternidade
minha impaciência
lesou minha idade
a trilha
a qual sigo
não tem sinalização
cada porto uma cidade
cada esquina uma nação
99
UNIDADE IV │GESTÃO DE PESSOAS: AVALIÇÃO DE DESEMPENHO, DE COMPETÊNCIAS E DE RESULTADOS NA GESTÃO ESCOLAR
A partir desta poesia, reflita sobre os elementos nucleares que nortearam a construção
da autoavaliação. SOLITÁRIO – NÃO ME INTERESSO PELO PRESENTE, POR ISTO
SOU SEM FUTURO – SIGO OS CAMINHOS DA VIDA FORA DO TRILHO DO TREM
– A TRILHA A QUAL SIGO NÃO TEM SINALIZAÇÃO.
Vivemos uma era de busca de excelência. Ela é absolutamente necessária neste mercado competitivo
que vivenciamos. Além da busca pelos porquês, é preciso uma exaustiva análise documental e de
procedimentos, depois uma ouvidoria entre os atores organizacionais, para, então, partir para uma
ação indutora de mudanças, ajustes e recomendações.
Morosini (1998) destaca que atualmente nas universidades não há mais muita certeza teórica e que
o elemento norteador desta era passa a ser o da qualidade de ensino, isto é, o ensino promove a
aprendizagem.
Cabe ao gestor sensibilizar toda uma comunidade educativa para uma mudança de rotinas
que viabilizem um projeto de atendimento tanto aos interesses pessoais como aos coletivos. O
instrumento abaixo deve ser utilizado pelos gestores educacionais.
100
GESTÃO DE PESSOAS: AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO, DE COMPETÊNCIAS E DE RESULTADOS NA GESTÃO ESCOLAR│ UNIDADE IV
Exemplo de instrumento para avaliação de reação dos profissionais que geram os serviços prestados
pela instituição, no caso, professores e demais componentes da equipe técnico-pedagógica.
1. insatisfação
2. pouca satisfação
3. média satisfação
4. satifação completa
101
UNIDADE IV │GESTÃO DE PESSOAS: AVALIÇÃO DE DESEMPENHO, DE COMPETÊNCIAS E DE RESULTADOS NA GESTÃO ESCOLAR
A palavra líder foi registrada pela primeira vez na Inglaterra, por volta de 1300, conforme consta
do Dicionário Oxford. Para Robbins (2002), liderança pode ser exercitada partindo-se da premissa
que uma habilidade pode ser adquirida ou exercitada. Outros autores compartilham da mesma
abordagem sobre a liderança adquirida, tais como: Gardner (1990), Bennis e Nanus (1988).
Liderar é ajudar um grupo a concretizar seus ideais e então atingir seus objetivos
finais. Liderar é exercitar a manutenção de pessoas reunidas em torno de uma
proposta nuclear.
102
GESTÃO DE PESSOAS: AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO, DE COMPETÊNCIAS E DE RESULTADOS NA GESTÃO ESCOLAR│ UNIDADE IV
O líder precisa apresentar alternativas com clareza e partir de um pressuposto definitivo para o
estabelecimento de relações eficazes – a ética, e assim, envolver o grupo num projeto, encantando sua
equipe e transformando-a em um grupo colaborador e comprometido, além de convencer com o apoio de
ideias sedutoras.
Para Drucker (2001), o líder não conduz à luz da ordem, mas da persuasão. Gerenciar sempre para
o desempenho, o qual deverá ser monitorado. É preciso checar o conhecimento do funcionário,
se a sua habilidade (saber fazer) está sendo exercitada e se a sua atitude (querer fazer) vem sendo
aprimorada.
Para executar estas tarefas, o gestor vai precisar assumir uma postura centrada na observação, no
acompanhamento e na validação do esforço despendido pelos funcionários. Será preciso checar os
resultados, levantar o grau de envolvimento dos trabalhadores, mensurar a rotatividade das equipes
e analisar como se encontra o processo de Gestão do Conhecimento.
É fundamental avaliar como se encontra a dinâmica das relações interpessoais que são os pilares
do clima organizacional, e, se possível, evitar a rotatividade, implementando estratégias que gerem
coalizões e cooperação entre as pessoas.
A rotatividade é uma quebra no ciclo ação-reflexão-ação, pois ela impede a criação de um corpo
pensante com unidade de ação, fruto de consenso. A rotatividade gera ainda quebra na unidade da
ação pedagógica, falta de credibilidade junto à comunidade e dificuldade de adaptação dos alunos
à rotina escolar tão necessária à formação de atitudes e hábitos educativos. A troca de professores,
por exemplo, provoca nos alunos um contínuo esforço de estabelecer vínculos e começar de novo,
promovendo uma quebra na trajetória rumo ao equilíbrio das relações.
Você lembra de, quando estudante, ter tido um professor substituto numa disciplina
escolar? Recorda-se de ter vivido algum transtorno com esta troca? É nisto que um
gestor deve focar. Manter uma equipe coesa e atuando de forma dinâmica é um
princípio equalizador do sucesso.
A rotatividade foi tema de estudo dos cientistas organizacionais desde a década de 1950, quando foram
encontradas evidências relacionando a insatisfação com a rotatividade. Os pesquisadores tentaram
levantar variáveis geradoras de estabilidade na profissão. Dentre eles podemos citar Simon, que
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Nos anos 1970, os estudos relacionaram um vínculo entre o ambiente de trabalho, a relação entre
as pessoas e as características de personalidade dos empregados para o estabelecimento ou não
da rotatividade. Price (1977) foi o maior estudioso da rotatividade de profissionais dentro de uma
organização.
Waterman (1983) também investigou esta área e concluiu que as pessoas têm necessidade de ver
um significado no exercício profissional e cabe às organizações oferecer isto ao trabalhador para
envolvê-lo na tarefa. Se o empregado não perceber uma causa na instituição para se identificar, ele
se evade. Waterman vai além quando sugere que estas causas sejam apresentadas ao trabalhador de
maneira humanizada e sejam agregadas ao social para que ele possa dar sentido e valor.
Peters (1989) caminhava também nesta proposição de Waterman quando insinuava que “o homem
tem necessidade de liberdade em todos os níveis, mas ao mesmo tempo precisa de significados
para a vida e, em particular, para o trabalho”. Isto se explica na medida em que a criação do
comprometimento não pode conflituar com a visão de liberdade que o trabalhador tem. É preciso
compatibilizar estas duas variáveis: liberdade e comprometimento.
Nos Estado Unidos, a taxa de renovação do quadro de pessoal é de 12% e no Brasil os índices de
turnover representam 40%, taxa considerada alta, provocando, na área de Recursos Humanos, uma
preocupação a mais em como selecionar procedimentos que promovam a retenção dos profissionais
nas organizações. Neste índice estão incluídas as áreas: industrial, comercial, construção civil e
de serviços. As consequências do turnover são várias, entre elas: a sobrecarga de trabalho para
os colegas que permanecem no grupo, o acúmulo de tarefas e a sensação de fracasso que inibe as
iniciativas dos demais colegas.
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para os dirigentes das organizações. E estes consultores acabaram concluindo que, para diminuir a
flutuação do quadro de pessoal, é necessário que haja uma mudança de mentalidade tanto por parte
da gestão de uma empresa quanto de seus próprios funcionários.
Wallon (1973) valorizava a emoção como ponto de partida para a integração e, consequentemente,
a cooperação entre pessoas que trabalham juntas. Cooperação e criação são retroalimentadas
no ambiente profissional pelo prazer que as pessoas gozam de estarem juntas. Existe alegria no
cumprimento de determinada tarefa quando as pessoas percebem que estão compartilhando o
conhecimento e o alcance de resultados. É preciso socializar as rotinas profissionais. No ambiente
escolar, a estratégia adequada para o atingimento desta socialização é a interdisciplinaridade em
que os professores extraem os elementos significativos de suas disciplinas e comuns a determinadas
temáticas. A utilização de projetos facilita esta organização de pessoas que atuam de forma
colaborativa no alcance de objetivos comuns.
A comunicação entre profissionais pode atenuar este problema e trazer novas formas de cooperação
entre as pessoas. Por meio do processo de comunicação com o outro o ser humano revela com
clareza seus conceitos e posicionamentos em relação à interpretação da realidade. Explicitam-se os
conflitos que acabam contornados após o estabelecimento da relação dual.
Blau e Scott (1979) vão mais além quando afirmam: “É impossível compreender a natureza de uma
organização formal sem investigar as redes de relações informais e as normas extraoficiais, assim
como a hierarquia formal de autoridade e as regras oficiais, pois os padrões formalmente instituídos
e aqueles que aparecem informalmente se entrelaçam inextricavelmente.”
Nas relações informais, os professores e demais agentes educativos começam a repensar sua prática
pedagógica e o sistema de gestão educativa e acabam por questionar o funcionamento da escola,
iniciando assim o processo de autonomia didática, em que passam a ser privilegiadas as falas dos
personagens que atuam no desenvolvimento e no fomento do ato educativo, no caso, professores e
demais especialistas. Bem oportuno que tenhamos um olhar especial para o clima organizacional das
instituições educativas, uma vez que o clima pode influenciar os comportamentos e as motivações
das pessoas que trabalham juntas. Segundo Véras (2007), a observação da dinâmica interpessoal é
fundamental para a percepção do clima de relacionamento de uma comunidade educativa:
Santos (1980) situa o clima como elemento que define como se darão as relações interpessoais
numa escola quando afirma: “O clima é um fator influenciador do desempenho dos professores e,
consequentemente, influencia os resultados de seu trabalho em sala de aula”.
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Liderança e contemporaneidade
O líder contemporâneo precisa ser inovador para lidar com um cenário de volatilidade, onde as oscilações
são imprevisíveis e o desafio se presume pelo novo e pela necessidade de uso da habilidade de criação.
Só o líder poderá conduzir a sua equipe pela trajetória adequada aos novos desafios, frente às mudanças
impostas.
Estratégias de gestão
Mais do que tomar iniciativas, o líder precisa acompanhá-las, por exemplo, as capacitações precisam
ser validadas, isto é, seis meses depois de promovida uma capacitação, esta precisa ser monitorada
para que se calcule o impacto gerado no desempenho do colaborador de uma instituição. Um processo
de gerenciamento de desempenho visa a garantir que as competências se tornem observáveis e
mensuráveis, além disso deve ser continuado e associado a objetivos e metas.
Você chegou a ler o livro O Monge e o Executivo, de James Hunter? Ele se encontra
digitalizado no seguinte link: <http://lillodahlan.multiply.com/journal/item/20?&show_
interstitial=1&u=%2Fjournal%2Fitem>. Divirta-se!
Este autor tornou-se um guru da liderança. Um dos pontos-chave de sua teoria se baseia na visão
da liderança por influência. Para o autor, liderar é a habilidade de inspirar as pessoas, isto é, o líder
conduz para o atingimento de metas por meio do convencimento. Para Hunter, dois terços dos
pedidos de demissão estão relacionados à falta de entrosamento com as lideranças. Isto significa
que é importante a função do líder escolar como mantenedor de equipes pedagógicas.
A partir desta convicção, é possível delinear algumas estratégias relativas a este processo de
desenvolvimento e avaliação de profissionais.
2. Sondar expectativas das equipes de trabalho acerca de temas para serem tratados
em capacitações.
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Avaliação de desempenho
Conceito de desempenho
(Dutra, 2006)
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permanência no setor produtivo. Devem ser elencados como elementos fundamentais na análise: o
conhecimento, as habilidades e as competências observáveis.
De acordo com Lotta (2002) a “avaliação de desempenho é um mecanismo que busca conhecer
e medir o desempenho dos indivíduos na organização, estabelecendo uma comparação entre o
desempenho esperado e o apresentado por esses indivíduos”.
Tão logo seja autorizada a avaliação de desempenho, será importante sensibilizar a equipe para o
projeto, e por meio de workshops será possível a criação de uma cultura de avaliação.
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Existem alguns fatores que podem influenciar o desempenho dos trabalhadores em equipe, vejamos
a seguir:
»» Cultura e clima.
»» Políticas de benefícios.
»» Imagem da organização.
»» Clareza de objetivos.
»» Motivações e expectativas.
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Responda às seguintes questões, conforme escala abaixo, que melhor representa a sua opinião.
1 – Discordo
2 – Discordo em parte
3 – Concordo
4 – Concordo em parte
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( ) Compreendo os fatores que afetam o trabalho a curto e longo prazo, permitindo traçar
ações consistentes para o futuro desejado pela organização.
Fonte/adaptação: <http://w3.ufsm.br/prrh/avaliacao/dados/programa.pdf>.
Avaliação de competências
Visualizamos a competência como um conjunto de qualificações inerentes a cada indivíduo. Saber
observá-las, acompanhá-las e propiciar o seu desenvolvimento é tarefa para os gestores educacionais.
Fleury (2001) nos apresenta um conceito simples que vai ao encontro do apresentado anteriormente.
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11. Interesse por conhecer e contribuir para o alcance das metas institucionais.
Já as competências organizacionais são aquelas alinhadas à visão, à missão e aos valores particulares
de cada organização, definidos previamente, registrados em documentos oficiais e legitimados pelos
mantenedores.
Observem este quadro extraído de Mills, Platts, Bourne e Richards (2002 apud FLEURY; FLEURY,
2004). Eles definiram níveis de competências organizacionais que incluem:
1. Competências essenciais
Competências e atividades mais elevadas, no nível corporativo, que são chave para a
sobrevivência da empresa e centrais para sua estratégia.
2. Competências distintivas
Competências e atividades que os clientes reconhecem como diferenciadoras de seus
concorrentes e que provêm vantagens competitivas.
3. Competências organizacionais ou das unidades de negócios
Competências e atividades-chave, esperadas de cada unidade de negócios da empresa.
4. Competências de suporte
Atividade que é valiosa para apoiar um leque de competências.
5. Capacidades dinâmicas
Capacidade de uma empresa de adaptar suas competências pelo tempo. É diretamente
relacionada aos recursos importantes para a mudança.
A análise entre estes elementos será capaz de indicar aos gestores novas ações que conciliem e
compatibilizem o esforço dos colaboradores na concretização das metas das instituições educativas.
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GESTÃO DE PESSOAS: AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO, DE COMPETÊNCIAS E DE RESULTADOS NA GESTÃO ESCOLAR│ UNIDADE IV
Esta investigação deve ser comunicada com antecipação para os envolvidos de forma que se possa
contar com a disponibilidade e a participação das pessoas. Os resultados deverão ser discutidos com
o grupo de forma a mobilizá-los para a geração de melhores desempenhos e aproveitamento das
competências e talentos detectados.
Organizacionais – Individuais
competências
Avaliação de resultados
Resgatando um pouco do que apresentamos até agora. Na Avaliação de Desempenho, os gestores
aplicam um instrumento de autoavaliação para os funcionários da instituição educativa de forma
que possam observar e criticar suas atuações. Além disso, sugere-se aos gestores que promovam
observações de alguns aspectos essenciais relativos à avaliação mediadora, isto é, aquela que ocorre
ao longo do desenvolvimento de um processo educativo. Anteriormente, indicamos um instrumento
para o professor avaliar a instituição. Na Avaliação de Competências, são analisados os diferentes
perfis de funcionários e as competências organizacionais essenciais.
Agora, na Avaliação de Resultados, serão ouvidos os clientes, no caso, os familiares dos alunos.
Segue mais um instrumento de pesquisa.
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Instrumento de avaliação dos resultados junto aos clientes, no caso, alunos e pais.
1 - Insuficiente
2 – Regular
3 – Bom
4 – Muito Bom
Alguns mecanismos de controle da qualidade educacional no Brasil estão sendo implantados desde
1995, o SAEB foi concebido para oferecer um retrato do resultado de aprendizagem das crianças
e adolescentes e levantamento de taxas de escolarização por região. Este sistema foi desenvolvido
pelo INEP e tem como meta avaliar a qualidade do ensino pelo sistema educacional brasileiro a
partir de testes padronizados e questionários socioeconômicos.
A partir destas informações, o MEC e suas secretarias estaduais podem definir ações voltadas ao
aprimoramento da qualidade do ensino ofertado, corrigindo distorções.
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GESTÃO DE PESSOAS: AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO, DE COMPETÊNCIAS E DE RESULTADOS NA GESTÃO ESCOLAR│ UNIDADE IV
Só desta forma será possível termos controle sobre o grau de promoção social que o ato pedagógico,
produzido no interior das instituições educativas, tem gerado às diferentes comunidades.
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»»
Para (não) Finalizar
A seguir estão transcritos dois textos para você refletir sobre a importância de reescrever a gestão
educacional numa visão multidisciplinar de gestar por meio de processos.
Texto 1
Contar grão-de-bico
Era uma vez – não se trata de uma história imaginária – um internato de crianças que
possuía, em torno do seu prédio, uma ampla e rica área de terra. Lá, os trabalhadores
agrícolas, ligados ao internato, teriam sabido fazer crescer toda uma variedade de
produtos próprios das diversas estações. Poderiam plantar alfaces e tomates, couves
e rabanetes, cenouras e aipos, feijões e berinjelas, pêssegos e uvas e até um pequeno
canteiro de salsa, onde a cozinheira previdente iria buscar o condimento dos seus
molhos.
No caso, não é só o valor intrínseco desses produtos que conta, mas, como dizem as
donas de casa, o uso e a comodidade. Mas o “agrônomo” oficial estava alerta. Aquela
produção anárquica, condicionada apenas pelas necessidades da comunidade,
não era nada do seu gosto, mesmo que os convivas e a cozinheira se declarassem
satisfeitos. O agrônomo é um “cientista”. Quer precisão e, portanto, medida. Tem
de ter, ao lado da coluna Despesas, uma Receita com todas as verbas, para a
majestade dos totais impressionar os controladores e os burocratas. Mandou plantar
beterrabas, nabos e grão-de-bico. Ninguém os queria, nem sequer o agrônomo, mas
a “escrita”, com os seus resultados de pesagens e de cálculos, estava salva. A carreira
do funcionário estava assegurada. O internato teria grão-de-bico.
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PARA NÃO FINALIZAR
Extraído de: FREINET, Celestin. Pedagogia do bom senso. Trad. J. Baptista. Lisboa, Portugal:
Martins Fontes, 1985.
Texto 2
Funilândia existe?
Existe! Fica próximo de Belo Horizonte. Fomos lá visitar uma escola municipal. A
primeira surpresa foi que o gramado e os jardins estavam impecáveis e o prédio,
bem-cuidado. Bom sinal. Entrando na sala de aula da 1ª série, a surpresa foi ainda
maior. Além dos cartazes de palhaços e bichos, as paredes estavam cobertas de
gráficos e tabelas.
Uma aluninha mostrou uma tabela com as presenças e ausências de cada um dos
alunos e disse que uma das metas era reduzir as faltas de um ou dois alunos mais
recalcitrantes. Um cartaz mostrava os pontos negativos: problemas de indisciplina
e excesso de conversas paralelas. E assim se seguiu a visita, um aluno após outro
completando o diagnóstico do que havia de certo e de errado na sua turma e mais
as medidas para consertar os problemas. O que quer que se diga acerca do que
foi encontrado, fica claro que os alunos de 1ª série sabem ler os textos na parede
e conseguem interpretar gráficos de barra. Estão todos mais do que alfabetizados.
Não é pouca coisa em uma escola de um município de 3.500 habitantes, com Índice
de Desenvolvimento Humano (IDH) na média mineira. No corredor estava um cartaz
com as metas do professor de religião, enfatizando o ecumenismo e a tolerância.
Também na Educação Física havia metas ligadas à obtenção de uniformes e tênis.
Havia metas para a limpeza da escola (que é feita pelos alunos) e para o uso das
cestas de lixo. Passamos à cantina, que igualmente tinha cartazes sobre as metas
a ser atingidas pelas merendeiras (sabor, limpeza etc.). Abaixo do nome de cada
funcionário da cantina estava pregado um copinho de papel. Embaixo de tudo,
três copinhos com canudinhos de refresco cortados em pedaços menores. Após
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PARA NÃO FINALIZAR
cada refeição, os professores escolhem a cor dos canudinhos para colocar no copo
da merendeira de turno: verde para bom serviço, amarelo para mais ou menos e
vermelho para deficiente.
As professoras são premiadas pelo seu bom desempenho (faltas dos alunos, limpeza
etc.). Como não há dinheiro, os prêmios são dados pelos comerciantes locais.
Visitamos a aula de uma professora premiada com uma galinha, um livro e um
serviço de manicure.
O que significa isso tudo, uma revolução gerencial? No fundo é isso mesmo. A escola
adotou as técnicas de gerenciamento das melhores empresas, já aclimatadas para
a educação. Ou seja, as técnicas mais bem-sucedidas para administrar empresas
foram adaptadas para as escolas. A Fundação <www.fundacaopitagoras.com.br>
implementou o plano na escola, em virtude de um dos sócios da empresa-mãe ser
proprietário de uma fazenda de gado leiteiro no município (aliás, na América Latina,
a única fazenda do ramo com ISO 9000).
que as boas empresas fazem. Isto é, definir prioridades para direção, professores,
alunos e funcionários. Depois, converter as prioridades em metas educativas
concretas, decidir como ensinar (a pedagogia) e medir se foram atingidas as metas,
avaliando assim o próprio desempenho. A gerência não substitui a pedagogia, mas
faz soar alarmes se esta falhar. O que há de errado nisso? Se uma escola em um
município diminuto consegue fazer isso, por que não outras mais aquinhoadas?
Extraído da Revista VEJA. Ponto de Vista de Cláudio de Moura Castro, 2003, p. 30.
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