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gestão de
recursos humanos
JOHN M. IVANCEVICH
Gestão de Recursos Humanos
Tradução da décima edição
ISBN 978-85-86804-80-9
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CDU 005.96
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Capítulo
13
Treinamento e
Desenvolvimento
Objetivos de Aprendizagem Recursos de Internet/Web
Após a leitura deste capítulo, o estudante será Sites Gerais
capaz de:
www.breakthebarriers.com
1. Definir o que é treinamento e
www.unext.com
aprendizado.
2. Descrever as características de um www.traininghouse.com
programa de orientação. www.netg.com/interactnow/
3. Explicar o papel da análise de www.mindleaders.com/
desempenho na identificação das
www.trainlink.com
necessidades de treinamento do
funcionário. www.astd.org
4. Discutir as diferenças entre os programas Sites de Empresas
de desenvolvimento voltados ao indivíduo,
www.national.com
ao grupo e à organização como um todo.
www.ppg.com
5. Explicar a importância da avaliação do
treinamento e desenvolvimento e como www.dnb.com
aplicá-la em uma organização. www.ge.com/en/
6. Comparar as características distintas
www.mobil.com
entre definição de metas, modificação de
comportamento e formação de equipes. www.ralston.com
www.jcpenney.com
392
Capítulo 13 Treinamento e Desenvolvimento 393
Desafio Profissional
Harold Matthews está chateado. Ele acaba de receber uma desagradável visita do chefe, Bill Custer. Harold é
vice-presidente de operações da Young Enterprises, companhia que emprega cerca de 1.600 trabalhadores
na região de Los Angeles. A empresa fabrica peças para uma grande indústria de aeronaves da região.
Como a Young Enterprises atende basicamente a um cliente, os custos consistem no aspecto princi-
pal das suas negociações. Bill Custer disse a Harold que o novo contrato não era tão bom quanto o ante-
rior. É necessário reduzir os custos. Como os custos de mão-de-obra representam a maior porcentagem
do contrato total, Harold precisa começar a trabalhar nesse item. Ao mesmo tempo, o departamento de
compras está trabalhando na redução dos custos dos materiais, e o financeiro está tentando encontrar
alternativas para reduzir o custo de capital.
Harold decidiu procurar dois grupos para discutir a respeito do corte nos custos: o grupo de gestores
de RH e o grupo de seus próprios gestores. Primeiro, marcou uma reunião com os chefes de departa-
mento e os principais supervisores, e preparou os dados. Estes são os fatos:
• Os custos de mão-de-obra da Young Enterprises estão aumentando mais rápido que os custos
dos concorrentes e o custo de vida.
• Os custos são elevados, qualquer que seja o método de avaliação: número de funcionários por
unidade de produção, custo por unidade de produção e assim por diante. Além disso, a tendên-
cia é piorar.
Na reunião, Harold explicou a situação. Depois, pediu sugestões aos gestores. Ele incentivou-os a
gerir cada funcionário de perto para garantir à empresa um dia de trabalho justo em troca de uma
remuneração diária justa. Harold anotou os comentários dos gestores.
Sally Feldman (supervisora) Um dos meus problemas é que o nível de desempenho do pessoal
encaminhado pelo departamento de RH não é igual ao do pessoal que eu perdi por
demissão e aposentadoria.
Art Jones (chefe de departamento) Vamos examinar a situação. Se analisarmos os registros,
veremos que nossa recente produção não tem atingido os níveis que esperávamos
quando instalamos as novas máquinas.
Sam Jacobs (supervisor) O problema é o nosso grupo atual de funcionários. Eles não trabalham
mais como costumavam!
Harold tentou perceber se alguém estava procurando se esquivar das responsabilidades — ou se havia
algo de verdade nas reclamações. Ele chamou Gwen Meridith, vice-presidente de RH, para ajudá-lo.
Harold Gwen, os custos de produção estão altos, e a mão-de-obra é ineficaz. Os gestores culpam
os funcionários. Instalamos uma nova tecnologia para aumentar a produção. Ela melhorou,
mas não como deveria, levando em conta os investimentos. Em sua opinião, o que está
acontecendo?
Gwen Em parte, acho que tem algo de verdade no que eles alegam. Nos últimos tempos, o
mercado de trabalho está restrito. Na semana passada, eu estava com 20 vagas a serem
preenchidas e contava somente com 20 candidatos. Cerca de metade realmente apresentava
qualificações no limiar. E, temos de admitir, instalamos a nova tecnologia, mas preparamos
pouco os funcionários.
Harold O que vamos fazer? Temos sérios problemas de custos.
Gwen O mercado de trabalho ainda está limitado. Não vejo perspectivas de melhora no curto
prazo. Parece que teremos de implementar aquele programa de treinamento sobre o qual
temos conversado.
Harold Prepare um relatório para apresentar ao Bill. Depois, você e eu nos reunimos com ele para
conversar.
Treinamento e desenvolvimento são processos que têm como objetivo proporcionar aos funcio-
nários informação, capacitação e compreensão da organização e suas metas. Além disso, treina-
mento e desenvolvimento destinam-se a ajudar o funcionário a continuar contribuindo de forma
positiva, com um bom desempenho. A orientação destina-se a mostrar ao funcionário o rumo
compatível com a missão, as metas e a cultura da empresa. Em algumas empresas, antes de o
funcionário participar do programa de treinamento e desenvolvimento, é submetido a sessões de
orientação para conhecer melhor a organização e perceber o tipo de trabalho que se espera dele.
393
394 Parte Quatro Desenvolvimento dos Recursos Humanos
Objetivos da Orientação
O programa de orientação serve para transmitir mensagens claras e oferecer informações preci-
sas sobre a cultura, o emprego e as expectativas da companhia. Infelizmente, o que é claro para
alguns pode ser confuso para outros. Mensagens claras, compreendidas e aceitas atingem inúme-
ros objetivos do processo de orientação, como os seguintes.
Capítulo 13 Treinamento e Desenvolvimento 395
Redução da Ansiedade
Ansiedade neste caso significa medo de fracassar no emprego. É o medo normal do desconhecido,
centrado na capacidade de executar o trabalho. Esta ansiedade pode piorar se os demais funcio-
nários da empresa ignorarem o novo funcionário.
Redução do Índice de Rotatividade
Se o funcionário compreende-se como ineficiente, indesejado ou desnecessário, pode reagir a
esses sentimentos se demitindo. O índice de rotatividade é alto durante o período de adaptação, e
uma boa orientação pode reduzir essa onerosa reação.
Economia de Tempo
Mesmo o funcionário mal orientado precisa executar o trabalho, e para isso ele precisa de ajuda.
As pessoas mais adequadas para oferecer esse tipo de ajuda são os colegas e supervisores, que
terão de dedicar algum tempo para ajudar na adaptação do novo funcionário. Um bom programa
de orientação economiza o tempo de todos.
Criação de Expectativas Realistas
Em relação ao que os sociólogos chamam de profissões mais tradicionais (medicina, direito) ou ins-
tituições integrais (igreja, sistema prisional, exército), as expectativas quanto ao emprego são claras
porque foram desenvolvidas por longos anos de treinamento e educação. A sociedade criou um
conjunto de atitudes e comportamentos considerados próprios para esses trabalhos. Na maior parte
do universo profissional, no entanto, isso não ocorre. O funcionário novo precisa aprender de forma
realista o que a organização espera dele e, além disso, suas próprias expectativas em relação ao tra-
balho não devem ser nem altas nem baixas demais.3 Cada trabalhador deve incorporar o emprego e
seus valores profissionais a sua sua auto-imagem. A orientação ajuda nesse processo.
De acordo com os especialistas, um gestor de nível médio para contribuir muito mais com a competência coletiva
leva cerca de seis meses para conhecer os mecanismos e geral de uma organização. E isso tudo começa no crucial
a sistemática de trabalho do novo funcionário. Durante primeiro dia de trabalho.
esse período de observação e aprendizado, os colegas “A impressão que o funcionário tem no primeiro dia
estão reduzindo a capacidade adicional, e o ânimo deles é crítica no sentido de ele compreender e sentir-se bem-
vai enfraquecendo. A adaptação leva tempo, mas é parte recebido na cultura daquela organização”, afirma Lawson.
crucial para o funcionário tornar-se comprometido. “Quando bem conduzida, a orientação de um novo con-
Para qualquer funcionário novo, o primeiro dia no tratado transmite a filosofia, a finalidade e os valores da
emprego é sempre uma prova de fogo. Novas pessoas, companhia.” Ela também cria uma base sólida para o êxito
novas regras e novas expectativas — tudo muito preocu- do funcionário. Um bom programa de orientação, diz
pante. E, quando a poeira finalmente assenta, e o novo Lawson, confirma ao novo contratado que ele é uma aqui-
contratado entra na sua rotina diária, muitos — mais de sição importante para a equipe e que ele e a companhia
50% em alguns setores — decidem sair da empresa no formam uma boa combinação.
período de um ano. O dinheiro gasto no treinamento des- “Hoje, eles questionam mais”, ela comenta a respeito
ses novos funcionários é perdido e, nas companhias que do trabalhador de hoje. “Os novos contratados estão ques-
sofrem com esse tipo de desistência, mais investimento é tionando: ‘Como me enquadro nesta empresa? Será que fiz
gasto com o treinamento de substitutos, metade dos quais a escolha certa?’”. De acordo com Lawson, os mais jovens
também acaba deixando a empresa. são mais sensíveis a assuntos como a forma que a compa-
E, assim, segue o ciclo. nhia valoriza a diversidade da sua força de trabalho e como
Os altos índices de rotatividade parecem uma doença trata as pessoas enquanto indivíduos valiosos, e não apenas
crônica, mas, na verdade, são como uma infecção — têm como meios para obter lucros.
uma causa e podem ser tratados. Na realidade, muitas A providência fundamental para evitar a rotatividade
companhias estão descobrindo (ou, em alguns casos, crônica, declara Lawson, é criar um programa de orientação
redescobrindo) que um dos segredos do desenvolvimento misturando instruções on-line, interação em ambiente de
e da retenção de funcionários de qualidade está em sala de aula e diálogo interpessoal, para assim oferecer um
uma abordagem multifacetada da orientação dos novos programa completo, bem-elaborado e coerente, que insira
funcionários, que não se restringe apenas aos primeiros o novo funcionário na cultura da companhia e claramente
dias mais críticos. De fato, os programas mais ambiciosos defina seu papel no sucesso geral da organização. Na maio-
de orientação de novos contratados tratam as primeiras ria dos casos, diz Lawson, a compensação decorrente da
semanas e os primeiros meses como um período de permanência do funcionário na empresa e da sua lealdade
transição em que a cultura, a paixão, o orgulho e os pro- supera de longe o investimento inicial no programa.
cedimentos da organização são transmitidos usando uma A Randstad North America é uma empresa fornece-
variedade criativa de ferramentas e técnicas destinadas dora de mão-de-obra especializada, sediada em Atlanta,
a desenvolver e nutrir as teias delicadas de confiança e que treina até 800 representantes por ano e registra um
fé que unem boas empresas e seus funcionários por um índice de rotatividade em torno de 40% nessa posição. O
longo período. programa de orientação de funcionários da Randstad cos-
Evidentemente, tais programas custam muito mais do tumava incluir a remessa de uma carta de boas-vindas aos
que a simples sessão de tradicionais apresentações formais, novos contratados, um vídeo institucional da companhia e
mas esse custo deve ser comparado ao custo da repetição um pacote de pipocas. No entanto, desde então, a com-
do treinamento de vários novos contratados para a mesma panhia reestruturou totalmente o processo de orientação
posição. Se as primeiras impressões positivas não forem para melhorar o índice de retenção e, assim, melhorar os
reforçadas nas primeiras horas ou nos primeiros dias de resultados corporativos.
serviço de um novo funcionário, as probabilidades de o “Hoje adotamos um programa de 16 semanas que
novo contratado começar imediatamente a elaborar sua é monitorado, avaliado e totalmente apoiado pela lide-
estratégia de demissão aumentam substancialmente. rança executiva da companhia”, declara Vince Eugenio,
Karen Lawson, autora de New Employee Orientation diretor executivo de aprendizado e chefe de educação
Training (“Treinamento em orientação de novos funcioná- digital global. Hoje, o gestor direto entra pessoalmente
rios”, sem versão brasileira), declara que muitas empresas em contato com o novo funcionário antes de ele começar
estão começando a reconhecer que vale a pena investir na empresa, dando-lhe boas-vindas. Durante os dois pri-
em um programa de orientação de novos contratados meiros dias na empresa, o gestor distrital oferece o que
que não se restrinja a uma carta de boas-vindas e uma Eugenio chama de “mergulho nas profundezas da cultura
cópia do manual do funcionário. O retorno ocorre de da companhia”. O diretor regional, em outra etapa da
duas formas básicas: (1) um melhor índice de retenção cadeia, realiza visitas de acompanhamento a cada novo
representa menos novos contratados que precisam ser funcionário várias vezes durante as primeiras semanas
treinados desde o início, e (2) um funcionário mais leal e para manter o controle do funcionário. A Randstad
mais dedicado também é mais experiente e especializado também adota a orientação on-line para complementar
Capítulo 13 Treinamento e Desenvolvimento 397
o treinamento em sala de aula e a função cotidiana, e das dificuldades logísticas de deslocar o novo contratado
emprega o sistema de gestão do aprendizado para aju- por um longo período. “Tínhamos de encontrar uma
dar o gestor a acompanhar o progresso dos contratados, alternativa boa e econômica, que permitisse ao novo con-
cujo desempenho é verificado com vários instrumen- tratado participar do treinamento, respeitando a função
tos, inclusive testes, listas de verificação e outros tipos para a qual ele foi contratado”, ela explica.
de avaliação. Conhecer o produto — energia elétrica — e o sig-
Alison McIsaac, gestora nacional de desenvolvimento nificado do seu fornecimento ao consumidor é parte
curricular da Randstad, exerce papel fundamental no fundamental do treinamento. A PacificCorp é uma con-
processo de iniciação de novos contratados da Randstad. cessionária de participação privada que fornece energia
“Queríamos que fosse algo mais que uma simples sessão elétrica a 1,5 milhão de consumidores. Seus mais de 6
de boas-vindas da corporação”, ela explica. A idéia é for- mil funcionários fazem tudo, desde mineração de carvão
mar elos mais sólidos entre gestor e funcionário desde o e subida em postes de energia até o apoio às operações
início. Para assegurar o real interesse do gestor no sucesso de campo e gestão de programas educacionais sobre
de seus novos contratados, ele também é avaliado mensal- economia de energia.
mente, e incentivos são vinculados ao desempenho de suas No entanto, nem todos conhecem a indústria elé-
responsabilidades. As habilidades são construídas e incre- trica ou o serviço de fornecimento de energia elétrica;
mentadas em um período de quatro meses, e o progresso portanto o treinamento ajuda o novo contratado a se
geral é monitorado e avaliado praticamente em cada etapa lembrar da importância da energia elétrica para a vida
de todo o processo. cotidiana — e, assim, da importância de seu emprego
“É um processo bem-definido”, afirma McIsaac. “Não —, além de saber por que o cumprimento dos procedi-
se trata apenas de como o novo contratado tem de fazer mentos estabelecidos é tão vital para a manutenção da
e aprender, mas também das responsabilidades do gestor infra-estrutura elétrica.
em relação ao funcionário”. A Applied Materials, fornecedora de equipamentos de
A Randstad não é a única empresa a aperfeiçoar seu pro- semicondutores sediada em Santa Clara, Califórnia, recebe
grama de educação de novos contratados para enfrentar os os novos contratados com uma programação de um dia inti-
desafios de uma força de trabalho mais inconstante. Depois tulada “Bem-vindo à Applied”. Essa programação — reali-
de um ou dois meses no emprego, os novos funcionários da zada em duas localidades nos Estados Unidos, ou em âmbito
concessionária de energia elétrica PacificCorp — que partici- global por meio de videoconferência ou reunião por site da
pam de uma sessão-padrão de iniciação de um dia — tam- Internet — começa com um seminário básico de três horas
bém participam de um programa curricular de três partes sobre a visão, os valores e a missão da companhia, além
denominado Conexões, destinado a ajudar o funcionário a de informações sobre os recursos de TI, as ferramentas, os
entender melhor sua função como trabalhador de uma con- recursos humanos, os benefícios e o controle de qualidade
cessionária de energia elétrica regulada pelo governo. da empresa. “O novo contratado entende imediatamente
“O programa Conexões faz ligações entre a contri- a visão, a missão e os valores da Applied”, declara Diana
buição do funcionário para a companhia e as diferentes Hayden, diretora de gestão da Applied Global University.
partes da empresa, e a forma como eles trabalham em “O programa transmite a todos os contratados da
conjunto”, declara Janna Sondenaa, gestora de aprendi- empresa a mesma mensagem.”
zado da PacificCorp. “Todos” inclui trabalhadores temporários e também ter-
O processo de três etapas do programa Conexões ceirizados. “A visão da companhia atribui igual importância
começa assim que o participante chega em qualquer insta- ao funcionário temporário na realização de um bom traba-
lação da companhia, muitas vezes na matriz em Portland, lho, na obtenção de resultados e na conexão com outras
Oregon, e passa um dia aprendendo um currículo básico áreas da companhia”, afirma Hayden.
considerado essencial pelos profissionais de recursos huma- A segunda parte do treinamento de um dia trata
nos e treinamento e pelos executivos da companhia. A de informações específicas locais, centradas em aspec-
primeira metade do dia o funcionário passa com um ins- tos como registros, folha de pagamento, benefícios e
trutor, e a segunda metade destina-se ao aprendizado em segurança. Durante os seis primeiros meses na empresa,
ambiente experimental. “Ele efetivamente chega e aprende o funcionário participa de programas — oferecidos
no mesmo dia”, diz Sondenaa. Na segunda etapa, o fun- pessoalmente e on-line — com foco em recursos huma-
cionário retorna ao seu ambiente de trabalho em qualquer nos, informações confidenciais e proprietárias, ações
um dos seis estados, incorporando o aprendizado on-line antidiscriminatórias, negociações íntegras, propriedade
em sua programação de trabalho. Depois, o funcionário intelectual e segurança. Além disso, no prazo de 45 dias,
passa para a terceira etapa: mais um dia de treinamento o funcionário participa de outra programação de um dia
em sala de aula. para aprofundar as informações sobre estratégias e obje-
Sondenaa diz que a PacificCorp misturou aprendizado tivos corporativos e tornar ainda mais clara sua visão em
on-line e aprendizado com instrutor ao vivo em um pro-
grama de dois meses por causa da natureza do material e (continua)
398 Parte Quatro Desenvolvimento dos Recursos Humanos
relação à sua função e contribuição na companhia como precipitadas e oferecer ao funcionário um sentido para
um todo. A agenda engloba discussões sobre perspicácia aquilo que ele está apenas iniciando. É fundamental trans-
empresarial, estrutura organizacional, produtos, gestão mitir a idéia de que cada trabalho do funcionário serve à
de desempenho, gestão de autodesempenho, reunião e missão geral da companhia. “É fundamental que as
desenvolvimento de liderança em todos os níveis. pessoas entendam o que a companhia faz, em que ela
Para as organizações que estão estudando a possi-
atua, como ter êxito na empresa, como se adaptar a
bilidade de aperfeiçoar seu programa de orientação de
ela e como navegar pela sua cultura”, explica Hayden.
novos contratados, aquelas que já o realizaram alertam
para alguns elementos que não devem ser esquecidos. “A primeira coisa que o novo contratado gosta de saber
Em primeiro lugar, afirma a gestora de aprendizado da é que a companhia na qual está trabalhando valoriza suas
PacificCorp, Janna Sondenna, é necessário convencer a alta qualidades“, ela diz. Qualquer que seja o setor de atuação
administração da empresa — o que, na maioria dos casos, da empresa, o fato fundamental parece jamais mudar.
significa traduzir o investimento inicial no treinamento de
novos funcionários em economia nos resultados corporati- Fonte: GUSTAFSON, K. A better welcome mat, Training,
vos e em outros benefícios tangíveis para a empresa. jun. 2005, p. 34–39. MOSCATO, D. Using technology to
Depois de convencida a alta direção, Diana Hayden, get employees on board, HR Magazine, abr. 2005,
da Applied Materials, aconselha não tomar medidas p. 107-109.
Introdução ao Treinamento
O programa de treinamento é importante tanto para o funcionário novo quanto para aquele que já
trabalha na empresa. O treinamento é, em suma, uma tentativa de melhorar o desempenho atual
ou futuro. Estes são aspectos específicos importantes do treinamento:
• Treinamento é o processo sistemático de alteração do comportamento do funcionário, visando
a atingir as metas organizacionais. O treinamento está relacionado às habilidades e capacidades
atuais do funcionário. Sua orientação é atual e ajuda o funcionário a dominar habilidades e
capacidades específicas necessárias para o êxito no trabalho.5
• Programa de treinamento formal é a iniciativa do empregador de oferecer ao funcionário opor-
tunidades para adquirir habilidades, atitudes e conhecimentos relacionados ao trabalho.
• Aprendizado é o ato por meio do qual o funcionário adquire capacidades, conhecimentos e
habilidades que provocam mudanças relativamente permanentes no seu comportamento.
• Qualquer comportamento adquirido constitui capacitação. Portanto, o treinamento aperfeiçoa
as habilidades. Habilidade motora, habilidade cognitiva e habilidade interpessoal são alvos do
programa de treinamento.
Uma maneira de mostrar o significado e a abrangência do treinamento e desenvolvimento é
por meio de um modelo visual de seus desdobramentos dentro da organização. A fase de avalia-
ção das necessidades serve como formulação das decisões a serem tomadas nas fases posteriores.
É fundamental uma avaliação completa, oportuna e precisa das necessidades.
A avaliação das necessidades é um processo usado para determinar se o treinamento é
necessário e qual tipo de treinamento é necessário. Normalmente envolve uma análise da
organização, do pessoal e das tarefas. A análise organizacional envolve o estudo da missão,
dos recursos e das metas da empresa para determinar se o treinamento pode ser usado para
melhorar o êxito, o crescimento e a estratégia da empresa. A análise pessoal define quem pre-
cisa de treinamento e a disponibilidade dessas pessoas para o treinamento. A análise de tarefas
identifica as tarefas, os conhecimentos, as habilidades e os comportamentos a serem incluídos
no programa de treinamento.
Entrevistas, pesquisas, análise de registros, observação e discussões com a direção da
empresa e os especialistas em questão são métodos usados para avaliar as necessidades.
Essas técnicas de coleta de dados e informações proporcionam um perfil em termos de que
tipo de treinamento é necessário, quem deve ser submetido ao treinamento, quando deve ser
realizado o treinamento e se o treinamento seria a abordagem ideal.
Depois de concluída a avaliação das necessidades, os objetivos instrucionais permitem a
escolha e a elaboração de programas de instrução personalizados e específicos. A avaliação,
seleção e elaboração criteriosas dos programas permitem o monitoramento e a avaliação do trei-
namento e do desenvolvimento.
Objetivos do Treinamento
Assim como mostra a Figura 13-1, a avaliação fornece informações de quando são atingidos os
vários objetivos de treinamento. Estes são alguns objetivos importantes:
• Validade do treinamento Será que o participante do treinamento adquiriu aptidões, conheci-
mentos ou habilidades durante o treinamento?
• Validade de transferência Será que os conhecimentos, as aptidões ou as habilidades adquiri-
dos no treinamento levam à melhoria do desempenho no trabalho?
400 Parte Quatro Desenvolvimento dos Recursos Humanos
Avaliação das
necessidades
Análise organizacional
Análise de tarefas,
conhecimentos,
aptidões e habilidades
Análise pessoal
Uso de modelos
de avaliação Objetivos
intra-organizacionais
Diferença individual
Treinamento
Conteúdo
experimental
Validade
interorganizacional
Atividades de Treinamento
A publicação Training produz um relatório anual de treinamento nas indústrias. O relatório enfoca
basicamente empresas com cem ou mais funcionários; de acordo com a Dun & Bradstreet, existem
402 Parte Quatro Desenvolvimento dos Recursos Humanos
146.961 organizações desse porte nos Estados Unidos. O relatório industrial de 2001 indicou
o seguinte:
• Total orçado em dólares para treinamento nas organizações com cem ou mais funcionários
— US$ 51,4 bilhões.
• Grande parte do orçamento de treinamento, 38%, é usada para remuneração dos instrutores e
demais pessoal de apoio.11
O treinamento conduzido por instrutores continua a ser o método preferido e dominante.
A Figura 13-2 mostra a freqüência de uso dos vários métodos de treinamento.
A Figura 13-3 apresenta a mídia instrucional usada no treinamento. A Internet/Intranet/
Extranet continuam sendo cada vez mais usadas por ano durante os últimos cinco anos.
A Figura 13-4 mostra a mistura entre métodos de treinamento tradicionais e treinamentos
virtuais (e-learning). Assim como mostra a figura, treinamento em aplicações/sistemas de com-
putador, programação/sistemas de computador, conhecimento/habilidades tecnológicas e desen-
volvimento/habilidades de gestão, cada um desses usa muito os métodos tradicionais presenciais
e os virtuais.
O gestor percebe o grau da importância e do compromisso do treinamento para o futuro das
organizações. O modelo consensual de contabilidade da American Society for Training and
FIGURA 13-3 60
56,8
Divisão 54 54
Orçamentária 50 1999*
para Treinamento 43 2000
1999–2001 40 2001
37,5
Em bilhões
20
10 7,2 6,1
7 7
4,4
2,1 2,3 3,6 3,5 2,2 1,5 2,7
0
Orçamento Salários Seminários e Material Material Outros
Total Conferências Customizado Pronto Gastos
* Não inclui US$ 4,5 bilhões em instalações/custos adicionais; US$ 4,1 bilhões em equipamentos.
Capítulo 13 Treinamento e Desenvolvimento 403
6a Etapa Prática
7a Etapa Treinamento
Transferência
9ª Etapa ou demissão
Cada uma dessas categorias da avaliação é importante. No entanto, mais importante ainda é con-
centrar-se nas necessidades da pessoa. O treinamento é realizado em nível individual ou coletivo.
Existem quatro maneiras de determinar as necessidades de treinamento do funcionário:13
1. Observar o funcionário.
2. Ouvir o funcionário.
3. Perguntar ao supervisor quais são as necessidades de treinamento do funcionário.
4. Examinar as dificuldades do funcionário.
Na essência, qualquer divergência entre o resultado esperado e resultado real indica a necessi-
dade de treinamento.14 A solicitação ativa de sugestões dos grupos de treinamento, funcionários,
supervisores e gestores também proporciona idéias.
Observando, questionando e ouvindo, o gestor ou o especialista em RH está de fato realizando
uma análise de desempenho.15 São inúmeras etapas específicas na análise de desempenho para
determinar as necessidades de treinamento. A Figura 13-5 mostra resumidamente essas etapas.
Capítulo 13 Treinamento e Desenvolvimento 405
É muito mais fácil falar de uma “organização de aprendi- 2. Domínio Pessoal. Esta é a disciplina do esclareci-
zado” do que criar uma. Peter M. Senge sabia disso mesmo mento contínuo e do aprofundamento da visão pessoal
quando introduziu o seu conceito ao universo empresarial do indivíduo em relação ao que pode ou deve ser,
em seu famoso livro The Fifth Discipline: the art and practice mantendo claramente a distinção entre essa visão e a
of the learning organization (Doubleday/Currency). realidade. A divergência causa uma “tensão criativa”
Ao longo da década de 1990 e no início dos anos que motiva o indivíduo a buscar mudanças.
2000, a organização de aprendizado tem sido uma célebre 3. Modelos Mentais. Modelos mentais são pressupostos,
causa especial para muitos instrutores e especialistas em generalizações ou imagens profundamente arraigadas
desenvolvimento organizacional, não apenas por causa que influenciam o indivíduo na sua compreensão a
da palavra “aprendizado” no nome. Os instrutores são respeito do universo e na sua reação diante das várias
atraídos pela defesa de Senge dos valores humanos no situações enfrentadas. Todos temos modelos mentais. A
trabalho, pela sua visão de equipe como unidade básica de “disciplina” serve para compreendê-los e esclarecê-los
desempenho dentro das organizações e pela sua insistência e para distinguir entre os modelos que adotamos ou
em afirmar que a liderança ocorre em vários níveis da orga- aqueles que efetivamente usamos para orientar nossas
nização, não apenas no grupo de executivos. De fato, ele ações — a “teoria na prática”.
argumenta que o gestor de linha e mesmo os funcionários 4. Visão Compartilhada. Mais compreendida como
de outros níveis devem atuar como líderes para viabilizar competência coletiva do que capacidade individual,
qualquer mudança organizacional duradoura. esta é a prática de desenvolver uma visão de equipe ou
Estas são algumas opiniões e visões mantidas e promo- da organização como um todo. Ela está relacionada à
vidas por Senge a respeito das Cinco Disciplinas: descoberta de uma imagem compartilhada do futuro,
1. Sistemas de Pensamento. Esta é a “quinta disci- que propicia o verdadeiro compromisso e envolvi-
plina” a que se refere o título do livro, destacada porque mento, e não a simples obediência.
serve de base para as outras quatro. Ela é um processo 5. Aprendizado em Equipe. O segredo desta disciplina
que pode ser aprendido, um processo habitual de pen- é o fenômeno denominado “diálogo”, em que os
samento que permite ao indivíduo olhar para os acon- componentes de uma equipe abrem mão de seus
tecimentos dentro da organização — ou da vida — e próprios pressupostos e adotam um modo de “pensar
enxergar padrões complexos de inter-relacionamentos. coletivo”, visando ao bem coletivo e evitando o inte-
Com temas conceituais variando do ambientalismo resse próprio individual.
à filosofia Zen, os sistemas de pensamento adotam a Fonte: SCHETTLER, J. Learning by doing. Training, abr.
doutrina da interconectividade de todos os elementos e 2002, p. 38–43. ZEMKE, R. Why organizations still aren’t
é aplicado na vida organizacional. learning, Training, set. 1999, p. 40–9.
A Young Enterprises não possuía um departamento de treinamento. Assim, Gwen, com a ajuda de
Bob McGarrah, diretor de treinamento e desenvolvimento, começou a pensar em um programa de
treinamento para ajudar Harold Matthews a atingir sua meta. Talvez o programa não fosse necessário
se o mercado não estivesse tão escasso. Mas como havia tão poucos candidatos disponíveis, o programa
de treinamento era muito importante nesse momento.
Gwen Bob, precisamos determinar que programas de treinamento devemos adotar agora. Tem
alguma sugestão?
Bob A abordagem típica é adotar a análise organizacional, a análise operacional e a análise
pessoal. Além disso, precisamos realizar alguma análise de custo–benefício para verificar
se vale a pena o esforço do treinamento. Isso tudo nos dará um conjunto de objetivos
de treinamento para um programa ou um conjunto de programas. Depois, preparamos
o conteúdo do programa e escolhemos o método com base nesse conteúdo. Depois de
implementado o programa, podemos avaliá-lo.
Gwen Agora, vamos definir os objetivos e elaborar o programa. Depois, voltamos a conversar com
Harold para ver se ele tem outras sugestões.
solução para as discrepâncias comportamentais identificadas. Se esse for o caso, outras soluções
vão surgindo conforme a análise for conduzida.16
Se, no entanto, a análise de desempenho identificar a necessidade de treinamento, é necessário,
então, estabelecer objetivos específicos e mensuráveis de treinamento. Os objetivos do treina-
mento devem ser expressos em termos comportamentais, se possível. Por exemplo, os objetivos
comportamentais do treinamento de um programa de treinamento em liderança da Pritex são:
• Formar um grupo seleto de líderes para assumir posições de responsabilidade nos próximos
três anos.
• Demonstrar capacidade de ouvir e emitir opiniões para melhorar a resposta do funcionário ao
programa de desenvolvimento pessoal oferecido pela empresa.
• Aumentar a satisfação do funcionário com as práticas de gestão identificadas no levantamento
anual do ambiente da empresa.
Com objetivos baseados no comportamento, é possível identificar a intenção do programa
de treinamento. Em alguns casos, é difícil especificar os objetivos comportamentais. Por
exemplo, às vezes, um novo cargo não tem objetivos definidos porque o gestor ainda está
tentando identificar mais claramente os comportamentos necessários. No entanto, na impos-
sibilidade de identificar o comportamento, sempre pode haver um questionamento quanto à
razão do treinamento. Uma resposta vaga e ambígua pode indicar a falta de importância do obje-
tivo do treinamento.
FIGURA 13-6
Métodos de Estas são orientações de preparação para ensinar o trabalho:
Treinamento 1. Definir o que o funcionário em treinamento precisa aprender para executar o trabalho de forma eficaz,
segura, econômica e inteligente.
Instrucional
na Função 2. Estar munido das ferramentas, dos equipamentos, dos suprimentos e dos materiais apropriados.
3. Manter organizado o ambiente de trabalho, assim como o trabalhador deve mantê-lo.
Em seguida, instruir o funcionário em treinamento nestas quatro etapas básicas:
Etapa I — Preparação (do Funcionário)
1. Fazê-lo sentir-se à vontade.
2. Descobrir o que ele já conhece do trabalho.
3. Fazer o funcionário interessar-se pelo trabalho e ter vontade de aprendê-lo.
Etapa II — Apresentação (das Operações e Informações)
1. Informar, mostrar, exemplificar e questionar para expor as novas informações e operações.
2. Passar as informações devagar, com clareza, completas e com paciência, uma de cada vez.
3. Verificar, questionar e repetir.
4. Confirmar se o funcionário realmente entendeu.
Etapa III — Testar o Desempenho
1. Testar o funcionário, fazendo-o executar o trabalho.
2. Perguntar por quê, como, quando e onde a respeito das informações apresentadas.
3. Observar o desempenho, corrigir os erros e repetir as instruções, se necessário.
4. Continuar o procedimento até ter certeza de que o funcionário aprendeu.
Etapa IV — Acompanhamento
1. Deixar o funcionário atuar por conta própria.
2. Verificar sempre se o funcionário segue as instruções passadas.
3. Reduzir gradualmente a supervisão extra e o acompanhamento de perto até o funcionário estar
qualificado para trabalhar sob supervisão normal.
Lembre-se – se o aprendiz não aprendeu, o professor não ensinou.
Capítulo 13 Treinamento e Desenvolvimento 409
Jogos de Empresa
Basicamente, os jogos de empresa descrevem as características operacionais de uma com-
panhia, uma indústria ou um empreendimento. Essas descrições tomam a forma de equações,
manipuladas depois de tomadas as decisões. Os jogos de empresa enfatizam o desenvolvimento
da capacidade de solucionar problemas.
Em um procedimento típico de jogo de empresa computadorizado, as equipes devem tomar
uma série de decisões operacionais (ou de nível executivo). Em um jogo, por exemplo, o partici-
pante deve decidir questões como definição de preço de produto, compra de materiais, programa-
ção da produção, tomada de empréstimo, marketing e gastos com pesquisa e desenvolvimento.
Capítulo 13 Treinamento e Desenvolvimento 411
Quando cada jogador da equipe chega a uma decisão, e as interações baseadas nessa decisão são
computadas (manual ou eletronicamente) de acordo com o modelo. Por exemplo, se a relação
entre preço e volume for linear, uma redução de x% no preço afeta o volume, sujeito aos níveis
gerais de preço. Os participantes da equipe comparam suas próprias decisões com as dos demais
componentes antes de chegarem a uma decisão final. Depois, a decisão de cada equipe é com-
parada com as das demais equipes. Os resultados de todos os grupos são comparados em termos
de lucro, participação de mercado e assim por diante e determina-se o vencedor ou a equipe de
melhor desempenho.
Looking Glass é um jogo de empresa que permite ao funcionário participar como gestor na
simulação de uma hipotética companhia fabricante de vidros, com 4 mil funcionários e vendas
anuais de US$ 200 milhões.25 Os executivos da IBM, AT&T, Monsanto e Union Carbide têm
adotado este jogo para oferecer aos participantes uma visão do seu estilo de gestão. O jogo foi
criado no Center for Creative Leadership (Centro de Liderança Criativa), um grupo sem fins
lucrativos formado de especialistas altamente qualificados, de Greensboro, Carolina do Norte.
Outro jogo de empresa usado para desenvolver gestores é o Simmons Simulator, Inc.,
constituído por uma empresa multinacional de alta tecnologia, fictícia, com vendas anuais de
US$ 3 bilhões. Este jogo é usado para treinar altos executivos da IBM no processo de planeja-
mento corporativo da empresa.
O terceiro jogo é o Financial Services Industry; ele simula um dia útil em que os gestores são
envolvidos em várias decisões difíceis de planejamento, influenciadas por mudanças tecnológicas
e desregulamentação governamental do setor financeiro.
Há poucas evidências de que jogos como Looking Glass, Simmons Simulator ou Financial
Services produzam os resultados desejados. A principal preocupação consiste em avaliar rigoro-
samente se a participação em jogos de empresa faz com que o desempenho do gestor melhore na
situação de trabalho real.
Entre as vantagens dos jogos estão a integração de diversas decisões interativas, a possibili-
dade de experimentar as decisões, a disponibilização de feedback sobre as decisões e a neces-
sidade de tomar decisões com dados inadequados, o que normalmente simula a realidade. As
principais críticas contra a maioria dos jogos estão relacionadas à limitação da novidade ou da
capacidade de reação nas decisões, ao custo de desenvolvimento e administração, à surrealidade
de alguns modelos e à tendência perturbadora de muitos participantes de buscar o segredo para
vencer o jogo em lugar de concentrar-se em tomar boas decisões. Muitos participantes parecem
sentir que os jogos são “viciados” — que alguns fatores ou mesmo um único fator pode ser o segredo
para vencer.
Modelagem do Comportamento
Uma abordagem de desenvolvimento para aprimorar a capacidade interpessoal é a modelagem
do comportamento, também denominada gestão de interação ou imitação de modelos.26 O
segredo da modelagem do comportamento é aprender pela observação ou imaginação. Assim, a
modelagem consiste em um “processo de substituição” que enfatiza a observação.
Uma das abordagens de modelagem do comportamento começa identificando 19 problemas
interpessoais enfrentados por funcionários e, principalmente, por gestores. Os problemas comuns
são, por exemplo, ser aceito como o novo supervisor, lidar com reclamações de discriminação,
delegar responsabilidade, melhorar a assiduidade, aplicar medidas disciplinares, superar a resis-
tência contra mudanças, definir metas de desempenho, motivar o desempenho médio, lidar com
situações emocionais, reduzir os atrasos e adotar medidas corretivas.27
O processo envolve quatro etapas:
1. Modelagem do comportamento efetivo — muitas vezes, por meio de exibição de filmes.
2. Representação de papéis.
3. Reforço social — participantes e instrutores elogiam a boa representação de papéis.
4. Transferência do treinamento para o trabalho.
A modelagem do comportamento foi introduzida em organizações como AT&T, General
Electric, IBM, RCA, Boise Cascade, Kaiser Corporation, Olin e BF Goodrich. As evidências
412 Parte Quatro Desenvolvimento dos Recursos Humanos
das pesquisas em geral são positivas. Em uma série de estudos, grupos treinados em modelagem
do comportamento superaram o desempenho de grupos não submetidos a treinamento ou subme-
tidos ao treinamento tradicional de desenvolvimento em gestão.28
A modelagem do comportamento oferece inúmeras possibilidades promissoras para as organi-
zações.29 Uma das principais necessidades dentro da organização é o desenvolvimento de lideran-
ças eficazes. A modelagem parece promissora no desenvolvimento da capacidade de liderança, se
usada em conjunto com métodos de exibição de vídeos.30 Os participantes podem visualizar seus
estilos, comportamentos, pontos fortes e fracos e aprender com a experiência de observar a eles
próprios em primeira mão. As pessoas que se vêem em ação têm lembranças vívidas das quais
podem se beneficiar na prática.
Para alguns gestores, o aprendizado eletrônico é a onda do samento de informações e de comunicações para a
futuro e deve ser incorporado com satisfação — de forma aviação e a indústria de viagens, todo o treinamento em
inevitável, irresistível e inquestionável. Para outros, é um ISO hoje é realizado on-line via Intranet. De acordo com
passo temeroso para o futuro. Outros, ainda, avaliam se Tom Nickel, gestor de treinamento e desenvolvimento, a
não seria a última iteração de uma longa sucessão exibicio- medida do sucesso é simples: cada unidade de negócios
nista de tecnologias de ensino que, durante anos, supunha- envolvida no programa recebeu certificação nos padrões
se, transformariam o modo de ensinar dos professores e o ISO na primeira tentativa.
modo de aprender dos alunos. “Oferecer o treinamento on-line permitiu-nos gerir o
Qualquer uma dessas visões pode estar certa. Talvez tempo com mais eficácia”, ele afirma. “Os funcionários
todas elas. Mesmo assim, fica evidente que algumas inscritos no curso normalmente seguem em ritmo con-
organizações já estão profundamente comprometidas fortável para eles, e realizam os trabalhos do curso no
com o treinamento on-line. Elas criaram novos programas período conveniente, conforme seus horários. Também
informatizados de treinamento, transformaram os existen- constatamos que, uma vez aprendido o conceito ou
tes, adquiriram aplicações sob encomenda ou já existentes, a habilidade via treinamento on-line, o tempo entre
carregaram os resultados nos sites da Internet ou configu- aquisição e implementação do conhecimento é bem
raram espaços de servidores nas Intranets. Elas começaram menor. Creio ser este um resultado direto do treinamento
a verificar quem está usando esses cursos e a que custo ou on-line elaborado para apresentar blocos compactos
com que resultados. de informações que o estudante consegue assimilar
Por exemplo, a DuPont usa o aprendizado eletrônico com muito mais rapidez do que em ambiente de apren-
para ensinar cumprimento de legislação e ética a 55 mil dizado tradicional.”
funcionários trabalhando em 70 países. A companhia quer No entanto, nem toda aventura de iniciação em um
que todos levem a sério a questão da ética e do cumpri- curso on-line é livre de dificuldades. Na Liberty Bank em
mento da legislação. Middletown, Connecticut, foram tantos os participantes
Ao mesmo tempo, em virtude das variadas circunstân- que não conseguiram completar a fase inicial dos progra-
cias, outras organizações estão aguardando, até mesmo mas de treinamento em PC, seguindo o próprio ritmo,
resistindo a uma mudança no oceano tecnológico que tem que um fornecedor externo foi contratado para fornecer
potencial de desorientar, igualmente, instrutores e aprendi- treinamento convencional aplicado por instrutor.
zes, e, ao mesmo tempo, estourar orçamentos e criar novos “Embora os cursos fizessem parte da certificação”, diz
problemas — desde disputas constantes por banda larga Judy Dockery, gestora de treinamento e desenvolvimento
à extensão do quadro de treinamento além das fronteiras organizacional, “ninguém usou o laboratório para termi-
tradicionais da empresa. nar essas partes”.
Por ora, os primeiros passos dados pela maioria das Mesmo assim, diz Dockery, o banco logo irá implemen-
organizações na direção do aprendizado on-line são experi- tar alguns treinamentos obrigatórios on-line sobre cumpri-
mentais. Elas não estão nem na via expressa e nem no acos- mento de legislação. A intenção, ela explica, é “atingir uma
tamento da rodovia da informação, mas se locomovendo parte maior da população. Trabalhando com a Intranet, o
no ritmo imposto pelas condições do entorno. programa lhes proporcionará acesso muito mais fácil”.
A julgar pela análise inicial, o aprendizado on-line ainda Independentemente da sua experiência até hoje,
é uma fatia mínima do bolo geral de treinamento. As quando o instrutor recorre à sua “bola de cristal” para ver
estimativas da quantidade de programas de treinamento o futuro nos próximos anos, o que ele vê inevitavelmente
que passaram ao sistema on-line até hoje variam de frações é o aumento da quantidade de treinamento oferecido
minúsculas a até um terço do total; tipicamente, um pouco on-line. “O treinamento on-line representa até 70% ou
abaixo de 10%. mesmo 80% do que é feito internamente na empresa”,
No entanto, independentemente de onde está o pon- diz Sue Dence, agente de treinamento da Naval Undersea
teiro do velocímetro, ele parece destinado a mover-se sig- Warfare Center Division em Newport, Rhode Island, um
nificativamente nos próximos anos. “Hoje, temos apenas laboratório de pesquisa e desenvolvimento naval do
um curso on-line usando nossa Intranet, o curso obrigatório Ministério da Defesa com cerca de 3 mil funcionários.
de ética. Mas temos planos de acrescentar mais um este Uma fatia significativa disso será de treinamento compul-
ano”, afirma Elaine Voci, gestora de treinamento da USA sório, ela observa: treinamento sobre diversidade, assédio
Group, uma companhia de financiamento estudantil com sexual, ética governamental e orientação para novos fun-
sede em Indianápolis. cionários. Hoje, quase 20% do treinamento realizado no
“NEO, nosso programa de orientação a novos funcio- centro está disponível on-line.
nários, é oferecido on-line”, afirma Kathryn Perkins, gestora
de programa da Kindred Communications de Bellevue, Fonte: KARR, S. S. Sarbanes-Oxley training gets web
Washington. “Até aqui, encaminhamos 15 funcionários, e enabled”, Financial Executive, nov. 2004, p. 24–6.
o feedback tem sido positivo.” SHANK, P. No more yawns. Online Learning, maio 2002,
Na ARINC Inc., companhia de Anápolis sediada em p. 22–3. FLANIGAN, M. Good science. Online Learning,
Maryland que desenvolve e opera sistemas de proces- maio 2002, p. 32./
Capítulo 13 Treinamento e Desenvolvimento 417
agências federais não precisam “reinventar a roda”; os órgãos compartilham os recursos e revi-
sam análises e estudos por meio da Government Alliance for Training and Education — GATE
(Aliança Governamental para Treinamento e Educação). Os cursos, materiais e programas criados
são, assim, disponibilizados aos órgãos governamentais por meio da Government Education and
Training Network — GETN (Rede Governamental de Treinamento e Educação).
Um bom exemplo do funcionamento da GETN é o curso de treinamento em ética oferecido a todos
os órgãos governamentais via aprendizado a distância na época em que este texto foi escrito. Todos
os funcionários públicos federais são obrigados a passar pelo treinamento em ética; os órgãos podem
estabelecer uma conexão para transmissão do curso nos próprios escritórios federais. O curso de
treinamento em ética foi criado em um esforço conjunto por meio do GATE. A Secretaria da Receita
Federal dos Estados Unidos cedeu criadores de programas instrucionais para elaborar o conteúdo cur-
ricular do curso, enquanto outro órgão ofereceu o espaço físico para o local original do curso.43