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A Linguagem Jurídica

Brasília-DF.
Elaboração

Marcelo Whately Paiva

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 5

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7

UNIDADE I
A LINGUAGEM JURÍDICA........................................................................................................................ 9

CAPÍTULO 1
A IMPORTÂNCIA DO TEXTO NA ATIVIDADE JURÍDICA................................................................... 9

UNIDADE II
TIPOS DE TEXTOS.................................................................................................................................. 57

CAPÍTULO 1
A NARRAÇÃO E A ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA........................................................................ 57

CAPÍTULO 2
A PEÇA JURÍDICA.................................................................................................................... 71

PARA (NÃO) FINALIZAR...................................................................................................................... 83

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 84
Apresentação
Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

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Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Este talvez seja um dos Cadernos de Estudos e Pesquisa mais importantes para o nosso curso de pós-
graduação. Percebo que há uma dificuldade imensa em escrever textos jurídicos com a linguagem
que lhe é peculiar. Observo que muitas vezes a incapacidade linguística de expressar o entendimento
compromete o próprio pensamento do autor do texto. É muito comum o documento ficar aquém da
profundidade que o redator desejou expressar.

A linguagem jurídica é técnica. Ela se orienta pelas regras ortográficas, sintáticas e semânticas
de nosso idioma. No entanto, possui características únicas. Se no dia a dia usamos vocábulos
inadequados, que são compreendidos por nosso ouvinte ou leitor, isso não pode ocorrer no universo
jurídico. Os termos possuem sentido exato. As frases devem seguir uma construção objetiva e clara.
As normalizações devem ser extremamente respeitadas.

Esta disciplina, assim, desenvolverá em você a capacidade de aprofundar seus conhecimentos em


nosso idioma sob o aspecto prático da linguagem empregada em tribunais, escritórios e demais
órgãos relacionados ao Direito.

Marcelo Paiva

Objetivos
»» Desenvolver a capacidade de escrever textos com clareza, objetividade e correção
no universo jurídico.

»» Demonstrar a diferença de estrutura entre o texto narrativo e o argumentativo.

»» Estudar a estrutura da peça jurídica.

»» Debater sobre a linguagem jurídica.

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A LINGUAGEM UNIDADE I
JURÍDICA

CAPÍTULO 1
A Importância do Texto na Atividade
Jurídica

O desenvolvimento da técnica jurídica fez com que surgissem termos não usuais para
os leigos. A linguagem jurídica, no entanto, não é mais hermética para o leigo que
qualquer outra linguagem científica ou técnica. Aí estão, apenas para exemplificar,
a Medicina, a Matemática e a Informática com seus termos tão peculiares e tão
esotéricos quanto os do Direito. Ocorre que o desenvolvimento da ciência jurídica
se cristalizou em instrumentos e instituições cujo uso reiterado e cuja precisão
exigiam termos próprios. Servidão, novação, sub-rogação, enfiteuse, fideicomisso,
retrovenda, evicção, distrato, curatela, concussão, litispendência, aquestros (esta a
forma oficial) etc. são termos sintéticos que traduzem um amplo conteúdo jurídico,
de emprego forçado para um entendimento rápido e uniforme. O que se critica, e com
razão, é o rebuscamento gratuito, oco, balofo, expediente muitas vezes providencial
para disfarçar a pobreza das ideias e a inconsistência dos argumentos. O Direito deve
sempre ser expresso num idioma bem-feito, conceitualmente preciso, formalmente
elegante, discreto e funcional. A arte do jurista é declarar cristalinamente o Direito.

Adalberto Kaspary

Direito deriva do latim clássico directus, particípio passado de dirigere, formado de


regere, com a ideia de dirigir, conduzir, guiar.

Como adjetivo, significa justo, correto; como substantivo, justiça, razão.

O profissional ou quem atua na área jurídica deve ter conhecimento do Direito. Assim, deve estudar,
entre outras coisas, o funcionamento do ordenamento jurídico: leis, jurisprudência, doutrina etc.
Esse conhecimento é parte mais que relevante do instrumental intelectual a que o profissional é
obrigado a recorrer em suas atividades. A teoria jurídica, da mais simples à mais complexa, tem
valor prático inequívoco, porquanto virá a contribuir, direta ou indiretamente, no seu trabalho.

No entanto, não deve se limitar a tais aprendizados. O ato de escrever e de organizar ideias é técnica
essencial para o profissional demonstrar o domínio de sua capacidade. Não se trata de arte ou

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UNIDADE I │ A LINGUAGEM JURÍDICA

dom. É estudo, prática, técnica. Sem dúvida alguma, a inadequação na linguagem compromete o
pensamento jurídico.

O Superior Tribunal Militar recebeu, certa vez, um recurso assim redigido:

O alcândor Conselho Especial de Justiça, na sua apostura irrepreensível, foi


correto e acendrado no seu decisório. É certo que o Ministério Público tem o
seu lambel largo no exercício do poder de denunciar. Mas nenhum lambel o
levaria a pouso cinéreo, se houvesse acolitado o pronunciamento absolutório
dos nobres alvarizes de primeira instância.

Presume-se que um advogado, um juiz ou um desembargador conheça palavras complexas, apuradas


e, então, o léxico mais vasto será tanto símbolo de maior erudição quanto forma de contribuição
para uma expressão mais específica, com linguagem técnica característica do Direito. Em toda a
atividade forense, é evidente que se deve preferir a linguagem formal e culta. Palavras técnicas
e precisas inibem falhas de compreensão. Não se pode, no entanto, exagerar nos termos, como
ocorreu no recurso citado.

Observe, a seguir, trecho de circular redigida por servidor de um órgão público:

Os parentes consanguíneos de um dos cônjuges são parentes por afinidade


do outro; os parentes por afinidade de um dos cônjuges não são parentes
do outro cônjuge; são, também, parentes por afinidade da pessoa, além dos
parentes consanguíneos de seu cônjuge, os cônjuges de seus próprios parentes
consanguíneos.

Inúmeras são as vezes em que a má redação compromete o entendimento. O texto seguinte foi
escrito por um magistrado. Tratava-se de um pedido de habeas corpus. O delegado, ao receber,
entendeu exatamente o contrário do que desejava o magistrado.

Por determinação da egrégia segunda vice-presidência, comunico que a


colenda primeira Câmara Criminal, julgando habeas corpus 454.823-3/3
Proc. Crime 253/03, dessa Vara, em que é impetrante os bacharéis Roberto
Delmanto Júnior e paciente Gleison Lopes de Oliveira e corréus Michel Alves
de Souza, Edevaldo Pires e outros, proferiu a seguinte decisão: CONHECIDA
EM PARTE, NA PARTE CONHECIDA CONCEDERAM PARCIALMENTE A
ORDEM IMPETRADA, TÃO SOMENTE, PARA ANULAR O DEPOIMENTO
DAS TESTEMUNHAS PROTEGIDAS PELO PROVIMENTO CG 32/2000, COM
REINQUIRIÇÃO DAS MESMAS, APÓS AS PROVIDÊNCIAS CONSTANTES
DO V. ACÓRDÃO, FICANDO DENEGADA A PRETENSÃO FORMULADA NA
SUSTENTAÇÃO ORA DE CONCESSÃO DE ORDEM DE HABEAS CORPUS,
DE OFÍCIO, DEFERINDO LIBERDADE PROVISÓRIA AO PACIENTE,
RETIFICADA A TIRA DE JULGAMENTO ANTERIOR, NOS TERMOS DO
PEDIDO HOJE OFERTADO. V.U.

O delegado libertou o preso por não interpretar corretamente o texto.

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A LINGUAGEM JURÍDICA │ UNIDADE I

Vocabulário jurídico
O servidor de órgãos ou departamentos de atividade jurídica tem linguagem própria, peculiar à
atividade. Algumas palavras de nosso idioma, apesar de serem, em princípio, acessíveis a qualquer
leitor, são utilizadas no universo jurídico com sentido próprio.

A linguagem forense é, por excelência, uma linguagem técnica. Isso significa que muitos termos
utilizados em textos jurídicos, apesar de parecerem complexos e mesmo estranhos, têm função de
definir conceitos do Direito de que aquele que redige não se pode afastar. Observe o exemplo.

O advogado mostrou que o homicídio simples não constitui crime hediondo e


defendeu, em excelente tese, que mesmo o homicídio qualificado, por vezes,
não deve ser visto como tal.

É possível, sem conhecimento jurídico, entender o texto acima, mas, provavelmente, grande parte
do conteúdo da mensagem será perdida. Quando o advogado cita o termo hediondo, refere-se
à enumeração taxativa de lei específica e remete a todos os efeitos que ela determina. Um leitor
comum, mesmo com muita cultura geral, certamente não compreenderia o termo em sua amplitude
jurídica. A essas expressões de sentido técnico, crítica alguma merece ser feita. Esse vocabulário
busca expor com precisão os conceitos do Direito, cuja complexidade é inevitável.

Essa linguagem não pode, entretanto, ficar prisioneira de expressões arcaicas e rebuscadas,
que apenas prejudicam a boa comunicação. Respeita-se o aspecto técnico, mas condena-se
veementemente a prolixidade e o rebuscamento de muitos profissionais da área. Linguagem confusa
e arcaica contribui para a morosidade da justiça.

Lembre-se de que existe um leitor interessado em entender o que está escrito o mais rápido possível
e de forma precisa para dar sequência ao trabalho. Dessa forma, evite textos com vocabulário
inadequado como os enumerados a seguir.

»» Estribado no escólio do saudoso mestre baiano, o pedido contido na exordial não


logrou agasalho.

»» Os adjetivos podem vir, mas que se separem os adjetivos e os advérbios de modo,


para que fiquemos com o substantivo. E o Tribunal quer decidir substantivos, não
propriamente adjetivos, nem advérbios de modo. Vamos reduzir, digamos, a liturgia
da adverbiação para caminharmos para o compromisso da substantivação.

»» Ementa de Tribunal: Adultério. Para o flagrante de adultério, não é indispensável à


prova de seminatio in vas, nem o encontro dos infratores nudo cum nudo in eodem
cubículo. Basta que, pelas circunstâncias presenciadas, se possa inferir como
quebrada materialmente a fidelidade conjugal.

»» V. Ex.a, data máxima vênia, não adentrou as entranhas meritórias doutrinárias


e jurisprudenciais acopladas na inicial, que caracterizam, hialinamente, o dano
sofrido.

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UNIDADE I │ A LINGUAGEM JURÍDICA

»» Procura o réu escoimar-se da Jurisdição Penal, por suas pueris alegações.

»» E vem ora o querelante vestir-se com o cretone da primariedade, como se isso o


eximisse de responsabilidade.

»» A acusação enjambra-se em seus próprios argumentos.

Níveis de linguagem
A língua apresenta uma diversidade de expressão imensa. A maneira de expressar-se está relacionada
a inúmeras variáveis. Assim, usamos um tipo de linguagem em família, outra com amigos, outra,
ainda, no trabalho. Ao conversarmos com uma criança, falaremos de uma forma. Já ao proferirmos
uma palestra, falaremos de outra. Essa capacidade de expressão possui diversos níveis.

A linguagem empregada no ambiente jurídico e no serviço público deve ser formal e culta. No
entanto, isso não significa linguagem rebuscada, incompreensível. É comum encontrar textos
jurídicos com verdadeiras acrobacias linguísticas com desprezível conteúdo, em que se veem
verdadeiras acrobacias linguísticas.

Exemplo de linguagem rebuscada:

O vetusto vernáculo manejado no âmbito dos Excelsos Pretórios, inaugurado


a partir da peça ab ovo, contaminando as súplicas do petitório, não repercute
na cognoscência dos frequentadores do átrio forense. Ad excepcionem o
instrumento do Remédio Heróico e o Jus Laboralis, onde o jus postulandi sobeja
em beneplácito do paciente e do obreiro. Hodiernamente, no mesmo diapasão,
elencam-se os empreendimentos in Judicium Specialis, curiosamente primando
pelo rebuscamento, ao revés do perseguido em sua prima gênese (...).
(Fragmento do artigo “Entendeu?”, de Rodrigo Collaço,
presidente da AMB. Disponível em: <www.amb.com.br>).

Também não deve ser coloquial, com gírias, regionalismos etc.

Exemplo de linguagem coloquial:

E aí, doutor, vou ou não vou ganhar minha indenização?” – perguntou por e-mail
o cliente. O advogado prontamente respondeu: “O egrégio tribunal acolheu o
supedâneo de nosso arrazoado e reformou a sentença prolatada dando a lide
como transitada em julgado em prol do deprecante”. O cliente, perplexo, ficou
na mesma. Só entendeu o que o advogado quisera dizer quando, no final da
mensagem, viu um “parabéns”. Ou seja: vai ganhar, sim, a indenização (...).
(Fragmento do artigo “Falar difícil”, de Joaquim Falcão,
diretor da Escola de Direito da FGV. Disponível em: <www.amb.com.br>).

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A LINGUAGEM JURÍDICA │ UNIDADE I

Elementos normativos

Artigo
O artigo é a unidade básica para apresentação, divisão ou agrupamento de assuntos num texto legal.
Pode desdobrar-se “em parágrafos ou em incisos; os parágrafos em incisos; os incisos em alíneas e
as alíneas em itens”. (Lei Complementar no 95, de 26 de fevereiro de 1998, art. 10, II.).

Emprego da palavra artigo.

»» Na forma abreviada (art.), seguida do ordinal até o art. 9o, dispensando-se o ponto
entre o numeral e o texto. A partir do art. 10, emprega-se o cardinal, seguido de
ponto:

»» Art. 5o Nas eleições proporcionais (...).

»» Art. 10. Cada partido poderá registrar (...).

»» Por extenso, se vier empregada em sentido genérico ou desacompanhada do


numeral:

»» Fez referência ao artigo anterior da lei.

O texto de um artigo inicia-se por maiúscula e encerra-se por ponto-final. Quando se subdivide em
incisos, a disposição principal, chamada caput (do latim, cabeça), encerra-se por dois-pontos e as
subdivisões encerram-se por ponto e vírgula, exceto a última, que termina por ponto-final.

Parágrafos
Os parágrafos são divisões imediatas do artigo e podem conter explicações ou modificações da
proposição anterior. São representados pelo sinal gráfico §, forma entrelaçada dos esses iniciais da
expressão latina signum sectionis (sinal de seção, corte).

Uso do sinal gráfico §.

»» Antes do texto do parágrafo, quando seguido de número, emprega-se o ordinal até o


nono, dispensando-se o ponto entre o numeral e o texto. A partir do § 10, emprega-
se a numeração cardinal, seguida de ponto:

§ 1o Qualquer cidadão no gozo de seus direitos políticos poderá (...).

§ 11. A violação do disposto neste artigo sujeita (...).

»» Nas citações e nas referências bibliográficas:

Agiu nos termos do art. 37, § 4o, da Constituição Federal.

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UNIDADE I │ A LINGUAGEM JURÍDICA

Emprega-se o sinal gráfico duplo §§, quando seguido de número, indicando mais de um
parágrafo:

O art. 32 e seus §§ 4o e 5o esclarecem o assunto.

Uso da palavra parágrafo por extenso.

»» Quando o parágrafo for único:

Art. 43. É permitida (...).

Parágrafo único. A inobservância dos limites estabelecidos (...).

A forma p. único somente será usada nas referências, entre parênteses:

(art. 32, p. único, do Código Eleitoral).

»» Quando o sentido for vago, indeterminado, e estiver desacompanhado do número:

Isso se refere ao parágrafo anterior.

O texto de um parágrafo inicia-se por maiúscula e encerra-se por ponto-final. Quando se subdivide
em incisos, empregam-se dois-pontos antes das subdivisões, que se separam por ponto e vírgula,
exceto a última, terminada por ponto-final.

Incisos
Os incisos são usados como elementos discriminativos do caput de um artigo ou de um parágrafo.
Eles vêm após dois-pontos, são indicados por algarismos romanos, seguidos de travessão e separados
por ponto e vírgula, exceto o último, que se encerra por ponto-final. As iniciais dos textos dos incisos
são minúsculas.

“Art. 118. São órgãos da Justiça Eleitoral:

I. o Tribunal Superior Eleitoral;

II. os tribunais regionais eleitorais;

III. os juízes eleitorais;

IV. as juntas eleitorais” (Constituição Federal).”

Alíneas
As alíneas são desdobramentos dos incisos e vêm indicadas por letras minúsculas seguidas de
parênteses. Quanto às iniciais e à pontuação dos textos das alíneas, empregam-se as mesmas regras
dos incisos.

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A LINGUAGEM JURÍDICA │ UNIDADE I

“Art. 14. (...)

§ Io O alistamento eleitoral e o voto são:

I obrigatórios para os maiores de dezoito anos;

II facultativos para:

a) os analfabetos;

b) os maiores de setenta anos;

c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos” (Constituição Federal).

Itens
Os itens são desdobramentos das alíneas e vêm indicados por algarismos arábicos. As letras iniciais
e a pontuação dos textos dos itens seguem o padrão dos incisos.

“Art. 1o São inelegíveis:

(...)

II para presidente e vice-presidente da República:

a) até 6 (seis) meses depois de afastados definitivamente de seus cargos e


funções:

1– os ministros de Estado;

2– os chefes dos órgãos (...)” (Lei Complementar no 64, de 18 de maio de 1990).

Pontuação com elementos normativos


Ao citar referências de elementos articulados, geralmente surgem dúvidas em relação ao uso de
vírgulas.

»» Sequência em ordem direta crescente, ligada pela preposição “de”, não recebe
vírgula.

O processo está baseado nos incisos I e II do art. 226 do Código Penal.

O advogado recorreu com base na alínea “d” do inciso III do art. 593 do Código de
Processo Penal.

A autorização está fundamentada corretamente com base na al. “b” do inc. II do art. 10
da Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993.

Observe que, no último exemplo, a vírgula aparece somente por causa da data.

»» Sequência em ordem indireta, mesmo com a preposição “de”, é separada por vírgula

Tal situação é regulada no art. 302, inc. III, do Código de Processo Penal.

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UNIDADE I │ A LINGUAGEM JURÍDICA

O art. 5o, inc. XXXVI, da Constituição de 1988 repete a regra do art. 153, § 3o, da
Constituição de 1967.

Erros comuns:

O art. 14, “b” do Código de Processo Penal (faltou a vírgula após a alínea).

O art. 14, do Código de Processo Penal (não existe a vírgula após o número do artigo, pois
está na ordem crescente).

Pontuação com ideia explicativa ou restritiva


A regra de pontuação obriga o uso de vírgula com ideia explicativa (oração explicativa ou aposto
explicativo). No caso de a ideia ser restritiva, a construção não aceita vírgula. Observe.

»» O Ministro do STF Gilmar Mendes votou a favor.

Sem vírgula, pois existe mais de um ministro no STF. A ideia é restritiva.

»» O Presidente do STF, Gilmar Mendes, votou a favor.

Com vírgula, pois existe apenas um presidente no STF.

»» A jurisprudência do STF, que, ao julgar o caso, (...).

A jurisprudência do STF que foi publicada no dia 16 de maio de 2008 (...).

No primeiro caso, o pronome relativo “que” se refere ao “STF”, pois só existe um STF e é ele quem
julga no exemplo. A vírgula é obrigatória.

No segundo caso, o “que” se refere à “jurisprudência” e promove uma restrição. A vírgula não pode
ocorrer.

Outros exemplos.

»» O parecer no 123, que trata do assunto, foi claro.

O parecer que trata do assunto foi claro.

»» A Lei no 8.666/2000, que prevê o crime, aborda o assunto de maneira contraditória.

A lei que prevê o crime aborda o assunto de maneira contraditória.

»» Os Ministros, que concordaram com o Relator, confirmaram o voto (todos


concordaram).

Os Ministros que concordaram com o Relator confirmaram o voto (alguns concordaram).

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A LINGUAGEM JURÍDICA │ UNIDADE I

Pontuação com parênteses


O competente sinal de pontuação fica contido pelos parênteses quando eles abrangerem a proposição
inteira:

»» Geralmente ele sai para almoçar somente quando termina seu trabalho. (Há
semanas em que ele simplesmente não almoça).

»» As pessoas obsessivas fazem qualquer coisa para obter o que desejam. (Elas não
sabem perder).

Fica fora quando a expressão encerrada entre parênteses for apenas uma parte da proposição:

»» Três países estão com dificuldades nas exportações (Brasil, Argentina e Chile).

»» Estão ameaçando o abastecimento de água da cidade os loteamentos próximos à


barragem (muitos deles irregulares).

Pontuação no fim da frase, após abreviatura


Se a última palavra da frase for uma abreviatura, que, por natureza, tem ponto, não se usa outro
ponto para indicar o fim do período. Vale o ponto da abreviatura:

»» Vi os móveis nas Lojas Carmel Ltda.

»» Na feira, comprei laranjas, bananas, peras, abacaxis etc.

Remissão a texto legal


A primeira remissão a texto legal deve ser feita por extenso:

»» Lei no 8.177, de 1o de março de 1991. Nas seguintes, pode-se empregar a forma


reduzida:

»» Lei no 8.177, de 1991 ou Lei no 8.177/ 91.

»» Portaria no 10, de 20 de março de 2004. Nas seguintes: Portaria no 10/2004.

Expressões Inadequadas
As expressões vez que, de vez que, eis que, posto que, haja visto quase sempre são empregadas
de forma inadequada na linguagem jurídica.

»» Vez que, de vez que e haja visto não devem ser empregadas nunca. Estão inadequadas.

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UNIDADE I │ A LINGUAGEM JURÍDICA

Eis que indica surpresa ou tempo. Raramente, será empregada nesse sentido. Posto que não possui
valor de causa. O sentido correto da expressão é de concessão:

»» O Tribunal solicitou a cópia, vez que não a possuía. (inadequado).

»» O Tribunal solicitou a cópia, de vez que não a possuía. (inadequado).

»» O Tribunal solicitou a cópia, eis que não a possuía. (inadequado).

»» O Tribunal solicitou a cópia, posto que não a possuía. (inadequado).

»» O Tribunal solicitou a cópia, haja visto não a possuir. (inadequado).

»» O Tribunal solicitou a cópia, haja vista não a possuir. (adequado).

Data
As datas dos documentos oficiais devem ser grafadas com as seguintes normas.

»» A localidade não pode sofrer abreviatura.

»» A unidade da federação não é obrigatória.

»» O primeiro dia é sempre ordinal.

»» Não existe zero antes do número 2 ao 9.

»» O mês é minúsculo e por extenso.

»» Não existe ponto no meio de 2008.

»» Se a data não estiver centralizada, indica-se o uso de ponto-final:

Brasília, 1o de junho de 2008.

Brasília, 2 de junho de 2008.

Brasília-DF, 27 de junho de 2008.

»» No interior do texto, as datas e os anos devem ser escritos de forma plena. O primeiro
dia do mês é designado com ordinal também:

O Brasil proclamou a independência em 7 de setembro de 1822.

Entre 1986 e 1988, o Congresso elaborou a atual Constituição brasileira, assinada em 8


de outubro de 1988.

O Brasil foi campeão mundial de futebol em 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002.

O documento foi assinado em 1o de abril de 2004.

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A LINGUAGEM JURÍDICA │ UNIDADE I

Observações:

São admitidas certas grafias sintéticas consagradas, como: Opala 84/85, Safra 97, Lei 10.675/03,
Portaria 102/98. Também nos textos correntes em que for cabível o uso abreviado da data, não se
deve pôr zero à esquerda do número salvo quando referente ao ano. Assim, o correto é 5/6/08,
8-10-2007 e não: 05/06/08, 08-10-2007.

Datas que se tornaram efemérides são escritas por extenso:

»» O Sete de Setembro, o Quinze de Novembro, o Dois de Julho. Mas (dia 1o): o 1o de


Janeiro, o 1o de Maio.

As décadas devem ser mencionadas sem a referência ao século, salvo quando houver possibilidade
de confusão.

»» O milagre econômico da década de 70. Os anos 20 foram fortemente influenciados


pela Semana de Arte Moderna de 1922. Na década de 1850.

Referência de documentos jurídicos

Legislação (leis, medidas provisórias, decretos etc.)


BRASIL. Lei no 9.504, de 30 de setembro de 1997. Estabelece normas para as eleições.
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, no 189, p. 21.801, 1o de out.
1997. Seção 1.

BRASIL. Medida Provisória no 1.953-25, de 16 de novembro de 2000. Institui o auxílio-


transporte aos militares, servidores e empregados públicos da administração federal
direta, autárquica e fundacional da União e revoga o § 1o do art. 1o da Lei no 7.418, de 16
de dezembro de 1985. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo,
Brasília, DF, 17 nov. 2000. Seção 1, p. 9.

Jurisprudência (decisões judiciais: súmulas,


acórdãos, resoluções etc).
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Resolução no 20.263, de 1998. Disciplina os
procedimentos referentes às reclamações e representações de que cuidam os arts. 58 e 96
da Lei no 9.504/97. Jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, Brasília, DF, v. 10, p.
304-307, jul./set. 1999.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Súmula no 235. Importância recebida indevidamente


por servidor. Ressarcimento ao Erário. In: ____. Súmulas. 4. ed. Brasília: TCU, 1998. p.
231.

19
UNIDADE I │ A LINGUAGEM JURÍDICA

Referência jurídica em meio eletrônico


BRASIL. TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. Súmula no 7. É inelegível para o cargo de
prefeito a irmã da concubina do atual titular do mandato. Disponível em:

<http://intranet2.tse.gov.br/serviços/processos/index.htlm>. Acesso em 22 nov. 2000.

Expressões latinas empregadas em referências


bibliográficas e citações
Apud: citado por, conforme, segundo. Emprega-se para indicar a fonte de citação indireta
(reprodução de texto de fonte intermediária).

Et alli ou et al.: e outros.

Ibidem: no mesmo lugar, na mesma obra. Emprega-se para citar a mesma obra referenciada
imediatamente antes.

Idem: o mesmo, a mesma coisa, o mesmo autor, igual à anterior. Emprega-se quando o autor é o
mesmo da citação anterior.

Idem ibidem: o mesmo, no mesmo lugar. Emprega-se para citar o mesmo autor e sua obra imediata
e anteriormente referida.

Idem per idem: o mesmo pelo mesmo.

In: em, na obra de. Usa-se em citações extraídas de obras coletivas, seguida por dois-pontos e com
inicial maiúscula.

In fine: no fim. Expressão usada sobretudo em citações.

In verbis: nestas palavras, textualmente.

Ipsis litteris: textualmente, pelas mesmas letras.

Ipsis verbis: pelas mesmas palavras.

Loco citato ou loc. cit.: no lugar citado. Emprega-se para mencionar a mesma página de uma obra já
citada, havendo intercalação de outras referências bibliográficas.

Nota bene: note bem, observe bem. Serve para chamar a atenção para o que se segue.

Opus citatum ou op. cit.: obra citada. Emprega-se para mencionar uma obra já citada, quando há
intercalação de diferentes referências bibliográficas ou quando o autor é mencionado no texto.

Passim: aqui e ali. Emprega-se quando é impossível mencionar todas as páginas de onde foram
retiradas as ideias do autor. Neste caso, são indicadas as páginas inicial e final que contêm as
opiniões e os conceitos utilizados.

20
A LINGUAGEM JURÍDICA │ UNIDADE I

Sequentia: seguinte ou que se segue. Emprega-se quando não se deseja mencionar todas as páginas
da obra referenciada. Neste caso, indica-se a primeira página, seguida da expressão et seq.

Sic: assim, como impresso. Usa-se entre parênteses ou colchetes, ao final de uma citação ou inserida
nela, e significa dizer que o original é assim mesmo, por mais errado que esteja.

Sine loco: sem lugar.

Sine nomine: sem nome, sem editor. Abrev.: s. n.

Emprego correto de palavras ou expressões

Mesmo
Erro generalizado é o uso de mesmo como pronome pessoal. Observe os exemplos abaixo.

»» O desembargador recebeu o processo e analisará o mesmo rapidamente.


(inadequado).

O desembargador recebeu o processo e o analisará rapidamente. (adequado).

»» O relatório já chegou e o mesmo apresenta erros de conteúdo. (inadequado).

O relatório já chegou e apresenta erros de conteúdo. (adequado).

»» Receba de volta seu título e verifique se o mesmo está rubricado pelo diretor.
(inadequado).

Receba de volta seu título e verifique se está rubricado. (adequado).

»» (...) poderá fazer por escrito o seu protesto, em petição dirigida ao juiz, e requerer
que do mesmo se intime a quem de direito. (inadequado).

(...) poderá fazer por escrito o seu protesto, em petição dirigida ao juiz, e requerer que
dele se intime a quem de direito. (adequado).

O pronome pode ser utilizado adequadamente em várias situações.

»» Como pronome adjetivo

O juiz teve a mesma opinião.

Elas mesmas discutiram o assunto.

»» Como advérbio

Este julgamento é mesmo necessário.

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UNIDADE I │ A LINGUAGEM JURÍDICA

Minha casa fica lá mesmo.

Inadequado é o uso de mesmo como pronome pessoal, substituindo um substantivo já expresso:

»» Para analisar com calma o parecer, solicitou que o mesmo lhe fosse entregue
(inadequado).

»» Para analisar com calma o texto, solicitou que o relatório lhe fosse entregue
(adequado).

A princípio – Em princípio
A princípio tem o sentido de “inicialmente”, “no começo”.

Em princípio tem o sentido de “em tese”, “teoricamente”.

»» A princípio não gostei da cidade, porém, com o tempo, passei a me adaptar muito
bem.

»» Ela a princípio não gostava do namorado.

»» O campeonato ainda não terminou. Em princípio o São Paulo será campeão


novamente.

»» A princípio, ele agiu sem maldade. = No início, ele agiu sem maldade.

»» Em princípio, ele agiu sem maldade. = Teoricamente, ele agiu sem maldade.

Em que pese a – Em que pese(m)


Em que pese a, com o som fechado = pêse, tem o sentido de “ainda que contrarie a opinião de”,
“ainda que”. O verbo fica sempre no singular.

»» Falhou neste ponto, em que pese à sua dedicação.

»» Em que pese aos argumentos apresentados contra o acusado, ele será absolvido.

Em que pese(m), com o som aberto = pése, tem o sentido de “ainda que se leve em consideração”,
“embora”. O verbo concordará com o termo seguinte, que será sujeito da construção:

»» Em que pesem as opiniões do ministro, ninguém aceitou a explicação.

Enquanto
O vocábulo enquanto não apresenta sentido de condição profissional ou social. Seu uso deve se
limitar a tempo:

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A LINGUAGEM JURÍDICA │ UNIDADE I

»» Enquanto chovia, ele escrevia o artigo. (adequado).

»» Não gostava dele enquanto ministro. (inadequado).

Trata-se de
»» Não é possível, lógica e gramaticalmente, construção com o verbo tratar-se
para coisas. Trata-se somente pode ter por sujeito um ente humano, em acepções
específicas:

O caso trata-se de acusações. (inadequado)

Aqui todos se tratam por você.

Ele somente se trata com remédios caseiros.

»» Nos demais casos, trata-se de constrói-se impessoalmente:

Trata-se de processos novos.

Pertine/no que diz respeito a


A forma pertine não existe em nossa língua. Use, em seu lugar, no que diz respeito a, no que
respeita a, no tocante a, com relação a etc.:

»» No tocante a este aspecto legal, meu voto é favorável.

Em face de
Não existe a expressão face a. O correto é em face de.

»» Face o relatório apresentar erro... (inadequado).

»» Em face de o relatório apresentar erro... (adequado).

Deve de estar – Deve estar


Deve de estar tem o sentido de que há probabilidade:

»» Ele deve de estar em casa agora.

Deve estar indica obrigação, certeza:

»» Os advogados devem estar preparados para a atividade profissional.

O verbo dar funcionando como auxiliar manterá os sentidos acima com outros verbos também.

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UNIDADE I │ A LINGUAGEM JURÍDICA

Arquive-se ou arquivem-se – Cite-se ou citem-se – Intime-se ou intimem-se

O assunto pede atenção. Desde o tempo do vestibular, muitos tropeçam no uso do se. Ora ele
funciona como partícula apassivadora, ora como índice de indeterminação do sujeito. Para não
cometer erros, vale a pena se lembrar das vozes verbais.

Voz ativa: Lucas comprou o livro.


Voz passiva analítica: O livro foi comprado por Lucas.
Voz passiva sintética: Comprou-se o livro.

O último caso é o que nos interessa agora. Observe que a voz passiva pode ser escrita como analítica
(foi comprado) ou sintética (com o uso do se). Sempre que se conseguir fazer a substituição de uma
pela outra sem alterar o sentido, não existirá objeto direto na construção e a concordância será feita
entre os dois termos:

»» Comprou-se o livro. = O livro foi comprado.

»» Compraram-se os livros. = Os livros foram comprados.

Lembre-se da placas que encontramos em todas as cidades do Brasil:

»» Joga-se búzios. (inadequado).

»» Jogam-se búzios. (adequado).

»» Jogam-se búzios. = Búzios são jogados.

A regra vale para o caso citado:

»» Arquive-se o processo. = O processo seja arquivado.

»» Arquivem-se os processos. = Os processos sejam arquivados.

»» Cite-se a testemunha. = A testemunha seja citada.

»» Citem-se as testemunhas. = As testemunhas sejam citadas.

»» Intime-se o acusado. = O acusado seja intimado.

»» Intimem-se os acusados. = Os acusados sejam intimados.

Não confundir a regra com o se como índice de indeterminação do sujeito. No caso, a concordância
é outra:

»» Gosta-se de livro.

»» Gosta-se de livros.

Como se percebeu, o verbo ficou no singular, pois não se consegue realizar a voz passiva analítica.
Não é possível escrever com correção “De livros são gostados”.

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A LINGUAGEM JURÍDICA │ UNIDADE I

A posteriori – A priori
A posteriori não tem o sentido de “posteriormente” como muitos gostariam. A expressão latina deve
ser usada quando o raciocínio empregado está baseado em fatos, na experiência comprovada, em
dados concretos para alcançar uma conclusão indutiva. Mesmo não empregando a expressão, a ideia
a posteriori é muito empregada quando a argumentação não encontra fundamentos plenamente
claros na legislação.

A priori não tem o sentido de “principalmente”, “primeiramente” ou “antes de mais nada”. A expressão
latina deve ser empregada para demonstrar um pensamento que parte do geral para o particular.
Mesmo não empregando a expressão, a ideia a priori é empregada quando a argumentação encontra
fundamentos plenamente claros na legislação.

Habeas corpus – Hábeas-córpus


A expressão latina habeas corpus (sem hífen, sem acento e em itálico) é muito empregada no
universo jurídico. No entanto, sua forma aportuguesada “hábeas-córpus” (com hífen, com acento e
sem destaque itálico) está correta e é empregada em alguns tribunais.

Inobstante
O vocabulário ortográfico não registra a palavra inobstante, embora empregada com certa
frequência no meio jurídico. Melhor usar “não obstante” ou “nada obstante”.

Isso posto – Isto posto


O pronome isso retoma ideia já apresentada (termo anafórico), enquanto o pronome isto antecipa
ideia a ser apresentada ou retoma apenas a última ideia apresentada. Dessa forma, a expressão
adequada para o emprego seria “isso posto”, pois se está retomando ideia já mencionada. Consagrou-
se o uso de “isto posto”, no entanto tal uso se faz correto apenas quando o autor sintetiza toda a
argumentação antes de concluir a ideia.

A partir de – Com base


A expressão a partir de deve ser empregada em sentido temporal. Evite empregá-la no sentido de
“com base em”:

»» Ela prometeu iniciar o regime a partir do próximo mês.

»» O juiz proferiu a sentença a partir dos argumentos apresentados. (inadequado).

»» O juiz proferiu a sentença com base nos argumentos apresentados. (adequado).

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UNIDADE I │ A LINGUAGEM JURÍDICA

De cujus – Decujo
De cujus é redução de Is de cujus successione agitur, que tem o sentido de “cuja sucessão se trata”.
No Brasil, criou-se o neologismo “decujo” com o mesmo sentido.

Aresto – Arresto
Aresto é substantivo e significa “acórdão”, “decisão de tribunal”:

»» O aresto do TSE sobre inelegibilidade consta do parecer do ministro.

Arresto também é substantivo, mas significa “apreensão judicial”, “embargo”:

»» O arresto dos bens dos envolvidos no crime deu-se em janeiro.

Como sendo
Esta expressão é desnecessária e deve ser evitada:

»» Foi considerado (como sendo) o melhor funcionário do ano.

Ante
A forma correta é ante, porque não se trata de uma locução; consequentemente, não cabe a
preposição ‘a’ depois da também preposição ‘ante’, que se comporta como ‘perante’, com o mesmo
significado de “diante de, em presença de alguém ou algo”:

»» Ela se saiu bem perante o juiz.

»» Ante a juíza, ele vacilou.

»» Calou-se ante os argumentos apresentados.

Junto a
A locução junto a deve ser empregada no sentido de “ao lado de”, “perto de”, “adido a”:

»» O segurança posicionou-se junto ao réu.

»» O embaixador brasileiro junto a Portugal será homenageado.

Nos demais empregos, usa-se a preposição que o verbo pedir:

»» O sindicato mantém as negociações com (e não junto a) a diretoria.

»» Solicitou providências do (e não junto ao) ministério.

»» Entrou com recurso no (e não junto ao) Tribunal.

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A LINGUAGEM JURÍDICA │ UNIDADE I

Perante o juiz
Não se trata de uma expressão com preposição. Dessa maneira, o “a” está inadequado no caso. O
correto é “perante o juiz”:

»» Perante o juiz; perante o tribunal; perante a justiça; ante o juiz; ante o tribunal; ante
a justiça.

Que esta subscreve


O verbo subscrever pode ser transitivo direto no sentido de “aprovar”. Assim, a preposição torna-se
inadequada.

»» O desembargador que esta subscreve.

Que nem
Que nem é expressão popular, não encontrando espaço na linguagem formal:

»» Ele corre (que nem) uma lebre. (inadequando).

»» Ele corre como uma lebre.

À custa de – A expensas de – Em via de


À custa de tem o sentido de “à força de”:

»» Obteve o resultado favorável à custa de muito trabalho.

»» Sem recursos desde o ano passado, vive à custa da família.

A expensas de tem o mesmo sentido de “à custa de”. Não aceita o s ao lado do a inicial:

»» O prédio foi construído a expensas do governo local.

Em via de tem o sentido de “a caminho de” ou “prestes a”. Não aceita a palavra “vias” na expressão:

»» O processo está em via de ser encerrado.

Protocolar – Protocolizar
Ambas as formas encontram-se registradas no Volp e em outros dicionários, portanto, são corretas,
embora se diga que protocolizar seja variante dispensável, pois são consagradas as formas protocolar,
protocolado(s), protocolada(s), protocolando etc.

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UNIDADE I │ A LINGUAGEM JURÍDICA

Quando do (da)
A expressão é galicismo, por isso deve ser substituída por “no momento de”, “no tempo de”, “por
ocasião de”:

»» Por ocasião da consulta, o tribunal estava de recesso. (e não “quando da consulta.)”

Seja da competência
O verbo competir “é pouco usado nas formas em que ao p se segue o i”, conforme o Moderno
Dicionário da Língua Portuguesa, de Michaelis. É recomendável empregar uma expressão
equivalente:

»» Ainda que seja de sua competência julgar o recurso, submeta o caso ao colegiado (e
não “Ainda que compita julgar”).

Apenar – Penalizar
Apenar significa “condenar à pena”, “castigar”, “punir”:

»» O Tribunal apenou o responsável pelo prejuízo.

Penalizar quer dizer “causar pena ou desgosto a”, “sentir grande pena ou desgosto”:

»» Também o penalizavam os resultados da fome em seu país.

»» Penalizou-se com o sofrimento do amigo.

Com vista a – Com vistas a


Ambas as expressões significam “a fim de”, “com o objetivo de”. Tanto faz utilizar uma ou outra:

»» Remeteu o processo ao Ministério Público com vista à (ou: com vistas à) elaboração
de parecer.

Custas – Custa
Para se referir a despesas em processo judicial, usa-se “custas”:

»» Foram bastante altas as custas do processo.

Nos outros casos, usa-se o singular:

»» As despesas foram feitas à custa (a expensas de) do pai.

»» O serviço foi feito a minha custa (a expensas de).

»» Faz concessões à custa (com sacrifício de) da honra.

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A LINGUAGEM JURÍDICA │ UNIDADE I

Dado – Visto – Haja vista

Os particípios dado e visto usados como adjetivo concordam em gênero e número com o substantivo
a que se referem:

»» Dados o interesse e o esforço demonstrados, optou-se pela permanência do servidor


em sua função.

»» Dadas as circunstâncias...

»» Vistas as provas apresentadas, não houve mais hesitação no encaminhamento do


inquérito.

Já a expressão haja vista, significa “uma vez que”, “seja considerado” ou “veja-se”:

»» O servidor tem qualidades, haja vista o interesse e o esforço demonstrados.

»» Na greve, ocorreram alguns imprevistos, haja vista o número de feridos.

Observação:

“Haja visto” com o sentido de “haja vista” é inovação oral brasileira, evidentemente descabida em
redação oficial.

De forma que – De forma a

De forma (maneira, modo) que usa-se nas orações desenvolvidas:

»» Fez a viagem de forma que se cansasse menos.

»» Deu recado de maneira que não deixasse dúvida.

»» Terminou o trabalho a tempo, de modo que pôde ir ao cinema.

De forma (maneira, modo) a usa-se nas orações reduzidas de infinitivo:

»» Deu amplas explicações, de forma (maneira, modo) a deixar tudo claro.

Observação:

As locuções “de forma que”, “de maneira que”, “de modo que”, “de sorte que”, “de molde que”, “de
jeito que” não possuem plural.

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UNIDADE I │ A LINGUAGEM JURÍDICA

Em via de – Em vias de
A expressão correta é em via de, que significa “no caminho de”, “prestes a”. Usa-se somente no
singular:

»» O senador está em via de (e não em vias de) terminar o segundo mandato.

»» O mico-leão-dourado está em via de (e não em vias de) extinção.

Erário
Algumas pessoas falam em erário público. Isso constitui redundância, assim como: habitat natural,
manter o mesmo, continuar ainda, conviver junto, encarar de frente, goteira no teto. Não existe
erário privado; erário é sempre público. Alguns o chamam de Tesouro; outros de Fazenda (daí
Ministério da Fazenda). Engloba os recursos econômicos e financeiros do Estado.

No sentido de
A expressão não demonstra finalidade:

»» Tomou tal atitude no sentido de evitar algo pior. (inadequado).

O significado correto está relacionado a “apresentar o sentido adequado”. Deve ser usado na
linguagem jurídica ao indicar uma interpretação de uma norma, por exemplo.

Opor veto
O correto é opor veto e não “apor veto”. Vetar é “opor veto”; apor é “acrescentar”; daí aposto (o)
que vem junto. O veto, a contrariedade são opostos, nunca apostos.

Pedir vista
O correto é pedir vista, no singular. Significa solicitar exame do processo:

»» O ministro pede vista. O presidente lhe concede vista.

Há que + infinitivo
Expressão típica de textos jurídicos, a expressão “há que + verbo no infinitivo” tem o sentido de “é
necessário”, “deve-se fazer”:

»» Há que examinar com detalhes os argumentos apresentados.

30
A LINGUAGEM JURÍDICA │ UNIDADE I

Emprego de iniciais maiúsculas


Empregam-se as iniciais maiúsculas nos seguintes casos.

»» Início de período, de verso ou de citação direta:

Diz o Código Eleitoral:

“São eleitores os brasileiros maiores de 18 anos (...)”.

Observação:

Emprega-se a minúscula em citações não coincidentes com início de frase:

A lei diz: “(...) a critério do juiz ou do Tribunal”.

»» Nomes próprios de qualquer espécie:

Barroso, Tocantins, Avenida São João, Senado Federal, Júpiter, Centro Educacional
Tiradentes...

»» Pronomes de tratamento ou reverência e nomes de cargos e profissões que os


seguem:

Excelentíssimo Senhor Presidente, Vossa Excelência, Magnífico Reitor, Senhor Chefe...

»» Nomes de ciências e disciplinas:

Filosofia, História do Brasil, Direito Administrativo...

Nomes dos pontos cardeais ou equivalentes, quando empregados absolutamente:

»» O falar do Nordeste, em lugar de o falar do nordeste do Brasil.

»» A cultura do Ocidente, em lugar de a cultura do ocidente europeu.

Escrevem-se esses nomes com inicial minúscula quando designam direção ou limite
geográfico:

Ele andou este país de norte a sul e de leste a oeste.

»» Nomes científicos dos seres vivos (somente a primeira letra do nome):

Homo sapiens, Trypanosoma cruzi...

»» Nomes de datas, épocas, eventos e fatos históricos:

Reforma Luterana, Descobrimento do Brasil, Sete de Setembro...

»» Nomes de publicações seriadas, conforme a designação registrada:

Revista de Comunicação, Jornal do Commercio...

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UNIDADE I │ A LINGUAGEM JURÍDICA

Os títulos de obras artísticas, literárias e científicas, bem como os de artigos de jornais e revistas,
escrevem-se com letra minúscula, exceto a inicial da primeira palavra e os substantivos próprios:

As melhores crônicas de Fernando Sabino, Dicionário prático de regência nominal, Os


retirantes (pintura de Portinari)

As crianças e a saúde (artigo do jornal Folha de São Paulo).

»» Nomes de órgãos públicos, instituições militares, políticas e profissionais,


unidades administrativas, comissões oficiais, coligações, empresas privadas e seus
departamentos:

Ministério Púlbico da União, Superior Tribunal de Justiça, Secretaria de Documentação


e Informação, Diretório Municipal do PSDB de Juiz de Fora, Prefeitura Municipal de
São Carlos, Juízo Eleitoral da 4a Zona do Estado do Rio Grande do Norte, Comissão
de Constituição e Justiça e de Redação, Coligação Trabalho e Moralização, Ministério
Público.

»» Simplificações de nomes de entidades ou instituições consagradas pelo uso:

Congresso por Congresso Nacional, Senado por Senado Federal, Câmara por Câmara dos
Deputados, Constituinte por Assembleia Nacional Constituinte, Supremo por Supremo
Tribunal Federal, Legislativo por Poder Legislativo, Executivo por Poder Executivo,
Judiciário por Poder Judiciário, Tribunal Superior por Tribunal Superior Eleitoral,
Tribunal Regional por Tribunal Regional Eleitoral, Tribunal de Contas por Tribunal de
Contas da União (de estado ou de município).

»» nomes designativos de cargos antepostos à autoria de atos oficiais e pospostos à


assinatura deles:

O Diretor-Geral da Secretaria do Supremo Tribunal Federal, no uso de suas atribuições


(...).

»» Elementos dos compostos hifenizados, pois mantêm autonomia:

Decreto-Lei no 200, Grã-Bretanha...

»» Nomes pelos quais as leis se tornam conhecidas:

Código Civil, Código Eleitoral, Lei Áurea...

»» Palavras empregadas em sentido especial.

Casa, significando local destinado a reuniões de interesse público:

O deputado encontra-se na Casa para votar.

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A LINGUAGEM JURÍDICA │ UNIDADE I

»» Constituição, no sentido de lei fundamental e suprema de um país e demais


sinônimos:

Constituição de 1988, Carta Magna, Lei Fundamental.

»» Corte, designando tribunal:

Esta Corte tem posição definida sobre o assunto.

»» Direito, no sentido de ciência das normas obrigatórias que disciplinam as relações


dos homens numa sociedade:

As regras do Direito; mas, juiz de direito.

»» Estado, no sentido de nação politicamente organizada:

O Estado responsabilizou-se pelo desaparecimento de presos políticos.

»» Estado e município, no sentido, respectivamente, de unidade da Federação e


circunscrição administrativa autônoma de um estado, seguidos dos nomes:

O Estado de Minas Gerais, o Município de Luziânia; mas, o município elegeu um


deputado.

»» Federação, no sentido de união política entre as unidades federativas, relativamente


autônomas, que se associam sob um governo central:

O projeto visa ao fortalecimento da Federação.

»» Igreja, no sentido de instituição:

A Igreja é contra o aborto.

»» Império, República, Monarquia, no sentido de regime político, período


histórico ou quando equivaler à palavra Brasil:

No Império houve muitas insurreições.

»» Justiça, no sentido de Poder Judiciário ou de seus ramos:

A Justiça começa a se modernizar. Isso é da competência da Justiça Eleitoral.

»» Leis, projetos, acórdãos, resoluções etc. acompanhados dos respectivos números:

Lei no 9.504, de 30 de setembro de 1997. Mandado de Segurança no 112, Of. no 10.

Mesa, no sentido de conjunto do presidente e dos secretários de uma assembleia:

A Mesa do Senado posicionou-se a favor das medidas.

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UNIDADE I │ A LINGUAGEM JURÍDICA

Plenário, no sentido de assembleia ou tribunal reunido em sessão:

O Plenário da Câmara rejeitou a proposta do governo.

»» União, no sentido de reunião de estados relativamente autônomos, mas


subordinados a um governo central, a um governo federal:

Cabe à União tomar medidas para o caso.

Emprego de iniciais minúsculas


Empregam-se as iniciais minúsculas nos seguintes casos.

»» Nomes de meses:

janeiro, fevereiro...

»» Nomes de festas populares:

carnaval, entrudo...

»» Nomes não integrados aos substantivos indicativos de acidentes geográficos:

rio Amazonas, oceano Atlântico, baía de Guanabara, serra da Mantiqueira.

Porém, se vierem integrados aos nomes oficiais dos topônimos, devem ser grafados com
a inicial maiúscula:

Rio de Janeiro, Costa Rica, Cabo Verde, Monte Alegre, Cabo Frio...

»» Nomes gentílicos:

baiano, inglês, alemão...

»» Artigos definidos e indefinidos, pronomes relativos, preposições, conjunções e


advérbios e suas locuções, bem como em combinações e contrações prepositivas,
quando no interior de substantivos próprios:

Ministério do Trabalho, Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento


(Bird), Imposto sobre Serviços

A Vitória que a Bahia Quer (coligação).

»» Nomes próprios, quando empregados no plural, exceto os nomes e sobrenomes de


pessoas:

os tribunais regionais eleitorais, os estados da Federação; mas, os Rodrigues, os Josés,


os Andradas...

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A LINGUAGEM JURÍDICA │ UNIDADE I

Maiúsculas e minúsculas em textos legais


Emprego de inicial maiúscula e minúscula em textos legais que fazem referência a leis, decretos,
portarias etc.

»» Utiliza-se a inicial maiúscula quando o nome dos atos estiver acompanhado do


respectivo número:

A Lei no 312, de 24-5-95, dispõe (...).

O Decreto no 312, de 5 de março de 1993, regulamenta (...).

A Portaria no 234, de vinte e cinco de julho de 1997, sofreu várias alterações.

Observação:

Não há consenso entre os gramáticos quanto ao uso de inicial maiúscula quando determinado ato,
após sua primeira citação no texto — no caso, acompanhado do respectivo número — é referenciado
em outras partes do texto, sem estar acompanhado do número. Neste curso, adotou-se o uso de
inicial maiúscula em tais casos, desde que fique subentendido que os referidos atos estejam
individualizados:

Art. 5 Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Conforme o disposto no art. 30 da citada Lei Complementar (...).

»» Remissão a artigos, parágrafos e incisos escreve-se com letra minúscula:

Refiro-me ao parágrafo único do art. 11 da Portaria no...

De acordo com o inciso I do art. 57 da Lei no...

»» Ganha a inicial maiúscula o nome de leis ou normas políticas e econômicas


consagradas pela importância de que se revestem:

Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei Áurea, Lei Afonso Arinos, Lei Antitruste, Código Civil,
Lei de Responsabilidade Fiscal.

»» Nome de moeda escreve-se com letra minúscula:

real, dólar, franco, peso, marco, libra...

O real está de cara e coroa novas.

Atenção: quando se fala do Plano Real, está-se falando de nome próprio.

Nesse caso, usa-se inicial maiúscula:

O (Plano) Real estabilizou a economia.

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UNIDADE I │ A LINGUAGEM JURÍDICA

»» Nomes que designam cargos ou postos se escrevem com inicial maiúscula:

A Presidente do Tribunal de Contas o DF concedeu a palavra ao Relator.

O Diretor-Geral autorizou a publicação do normativo.

»» Nomes de profissões são escritos com inicial minúscula:

advogado, contador, engenheiro, jornalista, médico, professor...

Observação:

Quando individualizados, emprega-se a inicial maiúscula:

o Advogado Rui Barbosa, o Poeta Camões...

»» Após o parêntese, inicia-se com maiúscula somente quando o texto constitui oração
à parte, completa, caso em que vem precedido de ponto. A oração que está entre
parênteses tem o ponto dentro, antes de fechar o parêntese, e não fora:

Na portaria da fábrica o ambiente era de absoluta calma. (A indústria não trabalha aos
sábados.).

Formas de referência e de tratamento

Substantivo Adjetivo
Acórdão Venerado Acórdão
Câmara Colenda Câmara
Defenso Nobre Defensor
Juiz Meritíssimo Juiz
Juízo Digníssimo Juízo
Julgado Ínclito Julgador
Patrono Culto Patrono
Promotor Nobre Promotor
Relator Culto Relator
Sentença Respeitável sentença

Grafia de horas
»» O símbolo de horas é “h”, o de minutos é “min” e o de segundos é “s”, sem ponto
nem “s” indicativo de plural, sem espaço entre o número e o símbolo.

»» Na menção de horas apenas, não se usa o símbolo, mas a palavra hora(s), por
extenso:

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A LINGUAGEM JURÍDICA │ UNIDADE I

Encontro você às 14 horas.

»» Na menção de horas e minutos, usa-se o símbolo de horas, mas não há necessidade


de incluir o símbolo de minutos:

Encontro você às 14h30.

»» Na menção de horas, minutos e segundos, usam-se os símbolos de horas e minutos,


mas não há necessidade de incluir o símbolo de segundos:

Encontro você às 14h30min22.

Observações:

Quando a referência for a período de tempo e não a hora, não se usa o símbolo, mas as palavras
hora(s), minuto(s), segundo(s), por extenso:

»» A reunião estendeu-se por quatro horas e vinte minutos.

»» A viagem dura dezoito horas.

»» As inscrições encerrarão em 24 horas.

»» O terremoto começou às 10h35min22 e durou 43 segundos.

»» Na linguagem formal, devem-se seguir as instruções anteriores, mesmo que a leitura


não corresponda exatamente à grafia:

A sessão terminou às 12h30 (na leitura: às doze horas e trinta minutos; às doze e trinta;
ao meio dia e meia).

As regras não se aplicam quando, em linguagem estritamente técnica, não corresponderem à praxe
ou às instruções específicas.

Gerúndio
O gerúndio é empregado com exagero nos textos jurídicos. Quase sempre de forma inadequada.

O emprego adequado está relacionado a ideia adverbial de:

»» Sendo ainda novo, não quis ir só (causa).

»» Não quis, sendo sábio, resolver as dúvidas por si mesmo (concessão).

»» Triunfarás, querendo (condição).

»» O carneiro defendia-se dizendo que... (meio).

37
UNIDADE I │ A LINGUAGEM JURÍDICA

»» Ele fala cantando (modo).

»» Proferindo o orador estas palavras, a assembleia deu vivas (tempo).

É incorreto o uso do gerúndio com sentido pontual, adjetivo ou aditivo:

Inadequado Adequado
Vou estar fazendo. Farei.
Texto contendo erros. Texto que contém erros.
O órgão analisou o caso, decidindo (...). O órgão analisou o caso e decidiu (...).

Linha pontilhada
Em textos legais que modificam outros textos legais, usam-se linhas pontilhadas para indicar a
omissão de texto do caput, de parágrafo, de inciso, de alínea ou de item de determinado artigo. Deve-
se usar uma linha pontilhada para indicar todo o texto suprimido, além da linha pontilhada que se
segue ao número do artigo modificado. Usa-se, ainda, uma linha pontilhada no final da emenda, se
o artigo modificado não encerrar no texto emendado.

Exemplos:

Emenda no caput:

Art. 1o O caput do art. 42 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias


passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 42. Durante 25 (vinte e cinco) anos, a União aplicará, dos recursos
destinados à irrigação: ...................................................................................”
(EC 43/04).

Emenda alterando partes do artigo:

Art. 1o Os arts. 48, 57, 61, 62, 64, 66, 84, 88 e 246 da Constituição Federal
passam a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 48. ....................................................................... .......................................


........

X – criação, transformação e extinção de cargos, empregos e funções públicas,


observado o que estabelece o art. 84, VI, b;

XI – criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública;

...................................................................................”

“Art. 57. ................................................................................................................


...

38
A LINGUAGEM JURÍDICA │ UNIDADE I

§ 7o Na sessão legislativa extraordinária, o Congresso Nacional somente


deliberará sobre a matéria para a qual foi convocado, ressalvada a hipótese
do § 8o, vedado o pagamento de parcela indenizatória em valor superior ao
subsídio mensal.

Abreviaturas
A abreviatura é a escrita reduzida de uma palavra ou locução. É expressamente proibido, na prática
forense, o uso de abreviatura nos autos e nos termos do processo (Código de Processo Civil, art. 169,
parágrafo único). No entanto, difícil encontrar um texto sem o uso delas.

»» Possui ponto, diagonal ou parênteses:

doc. = documento; S/A = sociedade anônima; (a) assinado, assinada...

»» Admite flexão de gênero, número e grau:

sr. ou sra.; prof. ou profs.; D. ou DD...

»» Para abreviar, sempre que possível, termine a abreviatura em consoante:

ac. (acórdão); rel. (relator) ...

»» Se a palavra é cortada em um grupo de consoantes, todas elas devem aparecer na


abreviatura:

inst. (instituição); secr. (secretaria) ...

»» Independentemente de a abreviatura terminar em vogal ou consoante, coloque


sempre o ponto final:

ago. (agosto); téc. (técnica) ...

»» Há palavras cujas abreviaturas podem ser formadas pela combinação de suas


consoantes ou de suas iniciais e suas últimas consoante e vogal:

dz. (dúzia); vl. (valor); atte. (atenciosamente) ...

»» Se, na parte constante da abreviatura, aparece o acento gráfico da palavra, deve ele
permanecer:

pág. (página); déb. (débito) ...

»» Em palavras compostas ligadas por hífen, deve ele ser mantido na abreviatura.

secr.-ger. (secretaria-geral); proc.-ger. (procurador-geral) ...

39
UNIDADE I │ A LINGUAGEM JURÍDICA

»» A inicial poderá ser maiúscula ou minúscula de acordo com as normas da ortografia


oficial em relação à palavra por extenso:

R. (Rua) das Laranjeiras; Dr. (Doutor) Albert Einstein; tel. (telefone); fl. (folha) ...

»» O ponto abreviativo, quando coincide com o ponto-final, acumula a função deste,


por isso deve-se evitar a repetição:

Foram convidados para o debate: políticos, professores, engenheiros etc.

»» Os meses são abreviados com as três letras iniciais. Se forem escritos em letras
maiúsculas, dispensa-se o ponto. Se forem escritos apenas com a inicial maiúscula
ou todo em letras minúsculas, deverá aparecer o ponto abreviativo. Não se abrevia
o mês de maio.

JAN; Jan. ...

»» Existem abreviaturas que podem ser reduzidas com variações:

a.C. ou A.C. (antes de Cristo); f., fl. ou fol. (folha) ...

»» Existem abreviaturas que representam mais de uma palavra:

p. (página, pé, palmo) ...

»» A Conferência de Geografia estabeleceu que “não serão usadas abreviaturas nos


nomes geográficos”. Portanto, nome algum de cidade pode ser abreviado. Excetuam-
se as siglas dos estados.

»» Por praticidade, as abreviaturas podem ser grafadas sem sobrelevação, seguidas de


ponto (Cia., Dra., V. Exma.), desde que não formem palavras inadequadas, como
profa. (professora), amo. (amigo), no. (número) ...

»» Também não se abreviam palavras com menos de cinco letras. Exceções: h (hora),
id. (idem), S. (São), t. (tomo), v. (ver, veja, vide), S (Sul), conforme normas da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Siglas
Salvo nos casos em que a sigla é bastante vulgarizada, ou seja, quando a instituição a que ela se
refere é mais conhecida pela própria sigla do que pelo nome completo (Petrobras, SBT etc.), o nome
da instituição deve ser escrito por extenso, antes da sigla, que deve vir a seguir, entre parênteses, na
primeira menção, usando-se apenas a sigla nas menções seguintes.

O Mercado Comum e Comunidade do Caribe (Caricom) é um bloco de


cooperação econômica e política, criado em 1973, formado por catorze países
e quatro territórios da região caribenha. Em 1998, Cuba foi admitida como
observadora do Caricom.

40
A LINGUAGEM JURÍDICA │ UNIDADE I

Observações:

No caso de a sigla não se referir a uma instituição, só se escreverá o seu significado por extenso se o
contexto o exigir:

A Aids (do inglês Acquired Immunodeficiency Syndrome) é conhecida em


Portugal como Sida (de Síndrome de Imunodeficiência Adquirida).

Não se usam aspas nem pontos de separação entre as letras que formam a sigla.

Com sigla empregada no plural, admite-se o uso de s (minúsculo) de plural, sem apóstrofo:

»» os TREs (Tribunais Regionais Eleitorais), 300 UPCs, 850 Ufirs (não: TRE’s, Ufir’s)
...

Essa regra não se aplica à sigla terminada com a letra s, caso em que o plural é definido pelo artigo:
os DVS (Destaques para Votação em Separado).

Emprego de maiúscula e minúscula em siglas


»» Siglas formadas por até três letras são grafadas com maiúsculas:

ONU, PIS, OMC...

»» Siglas formadas por quatro ou mais letras cuja leitura seja feita letra por letra são
grafadas com maiúsculas:

PMDB, INPC, INSS...

»» Siglas formadas por quatro ou mais letras que formem palavra pronunciável são
grafadas preferencialmente como nomes próprios, ficando apenas a primeira letra
maiúscula:

Otan, Unesco, Inamps, Petrobras...

»» Siglas em que haja leitura mista (parte é pronunciada pela letra e parte como
palavra) são grafadas com todas as letras em maiúsculas:

DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), HRAN (Hospital


Regional da Asa Norte) ...

»» No caso de siglas consagradas que fogem às regras acima, deve-se obedecer à sua
grafia própria:

CNPq (Conselho Nacional de Pesquisas); MinC (Ministério da Cultura), UnB


(Universidade de Brasília) ...

41
UNIDADE I │ A LINGUAGEM JURÍDICA

»» Siglas que não mais correspondam com exatidão ao nome por extenso também
devem ser acatadas, se forem as siglas usadas oficialmente:

Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo); MEC (Ministério da Educação) ...

Símbolos
Constituem símbolos as abreviaturas fixadas por convenções, quase sempre internacionais, por
isso, não se subordinam às regras de abreviatura nem de ortografia.

Os símbolos são empregados na indicação de unidades de medida, elementos químicos e pontos


cardeais. Não recebem ponto abreviativo, não admitem plural nem são escritos com letra maiúscula:

»» 200g (200 gramas); 5km (5 quilômetros); 2min (dois minutos) ...

Escrevem-se com letras maiúsculas:

»» os símbolos que se originam de nomes próprios:

W (watt), N (newton) ...

»» os prefixos gregos:

M (mega), G (giga), MHz (megahertz) ...

»» os símbolos dos elementos químicos:

O (oxigênio), Au (ouro), Ag (prata) ...

»» os símbolos dos pontos cardeais:

N (norte), S (sul), L (leste), O (oeste) ....

Nomenclatura dos feitos


Em sentido genérico, as iniciais devem ser minúsculas:

»» O mandado de segurança é o remédio adequado para (...)

Deverão ser usadas iniciais maiúsculas quando se tratar de um julgado específico:

»» Agravo de Instrumento no 89.01.07582-6/MG. Habeas Corpus 90.01.02123-7/RO.

42
A LINGUAGEM JURÍDICA │ UNIDADE I

Numerais

Cardinais em algarismos
»» Quantias, grandezas e medidas:

R$10,00, 25kg, 30m...

»» Horários:

8h35min20s...

»» Datas, décadas e decênios:

A reunião realizou-se no dia 20 de agosto de 1998.

Publicado no DJ de 24-5-96. Década de 1960.

»» Endereços:

Rua 15 de Novembro, Casa 7.

»» Páginas e folhas de publicações:

página 23, folha 14...

»» Porcentuais:

30% dos votantes...

»» Idade:

Ele tem 45 anos.

»» Artigos e parágrafos de lei a partir do número 10: art. 10, art. 25.

Ordinais em algarismos
»» Zonas, sessões, distritos e regiões:

15ª Zona Eleitoral, 10 Distrito

»» Pimeiro dia do mês:

Hoje é 10-4-98

»» Artigos e parágrafos de leis, decretos etc. até o número 9:

art. 10, art. 90

43
UNIDADE I │ A LINGUAGEM JURÍDICA

»» Numerais antecedendo substantivos:

3 capítulo, 50 andar

Observação:

Por brevidade, trocam-se os ordinais pelos cardinais:

»» Trigésima primeira folha por folha trinta e um, primeira casa por casa um.

Nesse caso, usam-se os cardinais sem flexão de gênero e de número por ficar subentendida a palavra
número:

»» A prova encontra-se a folhas (n.) 22 do processo. (significando que ela se encontra


na 22a folha do processo). Se houver mais de um número de folha, a regra é a
mesma: ...a folhas (n.) 22 e 25...

Algarismos romanos
»» Nomes de papas, soberanos:

Papa João Paulo II, Luís XV...

»» Dinastias reais:

II Dinastia...

»» Séculos:

Século XX...

»» Divisões das Forças Armadas:

I Comando do Exército, IV Distrito Naval...

»» Congressos, seminários, simpósios e eventos correlatos:

V Bienal do Livro...

»» Partes de uma obra:

Título III; Capítulo II; Seção I...

»» Incisos de leis:

inciso V...

Observação:

44
A LINGUAGEM JURÍDICA │ UNIDADE I

Quando o algarismo romano vier após o nome, até o X, lê-se como ordinal e, a partir daí, como
cardinal: Século III (lê-se século terceiro); século XII (lê-se século doze). Vindo antes do nome, lê-se
como ordinal: XII Bienal (lê-se décima segunda bienal).

Grafia por extenso


Os casos, a seguir, normalmente se escrevem por extenso.

»» Os cardinais e os ordinais de um a dez, cem e mil:

três dias, segundo turno, cem pessoas...

»» Se houver números acima e abaixo de 11 na mesma frase, prefira os algarismos:

Chegaram 3 revistas e 22 questionários.

»» Os cardinais e os ordinais em início de frases:

Trinta e dois votos foram anulados.

»» Os fracionários, quando os dois elementos estiverem entre um e dez:

Três quintos dos votos...

»» Nos demais casos, empregam-se algarismos:

1/12 dos eleitores...

Observação:

A Lei Complementar no 95, de 26 de fevereiro de 1998, em seu art. 11, II, f, determina que se deve
grafar por extenso quaisquer referências feitas, no texto [legal], a números e porcentuais.

Grafia mista
»» Usa-se grafia mista (algarismos e por extenso) na classe dos milhares, se não
houver número na classe inferior: 32 mil votos. Caso contrário, empregue apenas
algarismos: 32.420 votos. A partir da classe dos milhões, há dois procedimentos, se
não houver número na classe inferior:

15 milhões e 438 mil eleitores; R$4 bilhões...

15,4 milhões de eleitores. (Com aproximação do número fracionário).

Observações:

»» Caso haja número nas classes inferiores, empregam-se apenas algarismos:

15.438.302 eleitores...

45
UNIDADE I │ A LINGUAGEM JURÍDICA

»» Emprega-se o ponto para separar as classes dos numerais:

3.004.987...

Exceções: ano e CEP: janeiro de 1998; CEP 70833-060.

»» Nas datas, separam-se o dia, o mês e o ano por ponto separativo, dispensando-se o
zero à esquerda:

3.5.98...

»» O número em algarismo, quando em final de linha, não deve ser dividido.

»» Na indicação de quantia, grandeza, medida e horário, não se usa espaço entre os


numerais e os símbolos ou as abreviaturas:

2h35min15s; 80km...

Números cardinais compostos


A escrita do cardinal, conforme sua composição, faz-se da seguinte maneira.

»» Dois algarismos, põe-se a conjunção e entre os algarismos:

86 =oitenta e seis...

»» Três algarismos, põe-se a conjunção e entre cada um dos três:

654 = seiscentos e cinquenta e quatro...

»» Quatro algarismos, omite-se a conjunção e entre o primeiro algarismo e os restantes:

4.455 = quatro mil, quatrocentos e cinquenta e cinco. Se o primeiro algarismo da centena


final for zero, aparecerá, então, o e:

3.048 = três mil e quarenta e oito...

»» Aparecerá, ainda, o e quando os dois últimos ou os dois primeiros da centena forem


representados por zeros:

1.400 = mil e quatrocentos...

1.001 = mil e um; R$ 4.005,28 = quatro mil e cinco reais e vinte e oito centavos...

»» De vários grupos de três algarismos, omite-se o e entre cada um dos grupos:

3.444.225.528.367 =três trilhões, quatrocentos e quarenta e quatro bilhões, duzentos e


vinte e cinco milhões, quinhentos e vinte e oito mil, trezentos e sessenta e sete...

46
A LINGUAGEM JURÍDICA │ UNIDADE I

Assinatura
O traço que serve de suporte para a assinatura em documentos não é obrigatório e não deve ser
empregado em órgãos públicos. Não há necessidade de destacar o nome e a função com negrito ou
todas as letras maiúsculas.

Trata-se de palavra de uso antigo e significa “acima”, “anteriormente”, “antes”, “atrás”.

»» O acórdão suso mencionado traz a posição desta Corte sobre o caso.

A linguagem constitui o caminho essencial


para a efetividade da comunicação entre os
homens.
Perquirindo-se a sua essência, é possível se estabelecer uma tipologia das
linguagens, classificando-as em naturais (ordinárias) ou científicas (técnicas, formais).
A linguagem natural nasce de maneira espontânea no seio da sociedade, fruto da
formação cultural e histórica de cada povo.

A linguagem técnica, por sua vez, é aquela empregada pelo cientista para a
construção de uma linguagem especializada, que rompe com o senso comum
e requer precisão e rigor técnico-lógico, com o escopo de escapar dos vícios da
linguagem natural: vagueza, ambiguidade e incerteza.

A linguagem jurídica é científica, pois instrumentaliza e potencializa os mais diversos


institutos da Ciência Dogmática do Direito, permitindo ao operador do Direito, além
do seu mais perfeito manuseio, alcançar o verdadeiro sentido das normas jurídicas.

Nem por isso, contudo, está isenta a linguagem jurídica da possibilidade da incidência
dos vícios da linguagem, próprios da linguagem natural. E para escaparmos dessa
armadilha, não basta que os textos normativos sejam formulados com a maior
clareza e precisão, sendo necessária, fundamentalmente, a interpretação jurídica
elaborada pelo operador do Direito. E assim é que os vícios da linguagem jurídica
somente serão sanados a partir da interpretação realizada pelo operador do Direito,
tratando-se de elementar atividade de reelaboração do Direito e permitindo
diminuir a distância entre o incerto e o certo, o indeterminado e o determinado e,
enfim, entre a injustiça e a justiça.

Carlos Eduardo Nicoletti Camillo

Eis um trecho de sentença, que absolveu um acusado de estupro:

“O estupro realiza-se quando o agente age contra a vontade da vítima, usando


coação física capaz de neutralizar qualquer reação da infeliz subjugada. No

47
UNIDADE I │ A LINGUAGEM JURÍDICA

presente processo, a vítima alegre e provocante passou a assediar o acusado, que


se encontrava nas areias do rio Poty, mostrar-lhe o biquini, que almofadava por
trás, o incognoto estimulado. A vítima e o acusado trocaram olhares imantados,
convidativos e depois se juntaram numa câmara de ar nas águas do rio Poty, onde
se deleitara de prazer, oriundo do namoro, amassando o entendimento do desejo
para findar numa relação sexual, sob o calor do sol, mergulhando no império dos
sentidos até o cansaço físico, disjunciando-se os dois, o acusado para um lado e a
vítima para outro, para depois esta aparentar um simulado do ato do qual participou
e queria que acontecesse, numa boa e real, como aconteceu. Não há configuração
do crime de estupro. Há, sim, uma relação sexual, sob promessas de namoro fácil
para ser duradouro, que se desfaz na primeira investida de um ato sexual desejado
entre o acusado e a dissimulada vítima, que com lágrima nos olhos fez fertilizar a
mesma terra onde deixou cair uma partícula de sua virgindade, como um pequena
pele, que dela não vai mais se lembrar, como também não esquece o seu primeiro
homem, que a metamorfoseou mulher.”

Dr. Joaquim Bezerra Feitosa, juiz da 2a Vara Criminal e de

Execuções Penais de Teresina

Contra o anacronismo Linguagem com


expressões rebuscadas deve ser repensada.
Hélide Maria dos Santos Campos

Ainda hoje, muitos operadores do Direito utilizam expressões arcaicas e rebuscadas.


A população acaba não entendendo nada. Penso que isso ocorre porque o Direito é
uma ciência que ainda mantém, por causa de suas tradições, muitas formalidades.
Uma delas está relacionada com a linguagem. Alguns juristas ainda acreditam que
falar e escrever difícil demonstra cultura.

Diante desse fato, insistem em utilizar termos arcaicos, rebuscados, a meu ver,
desnecessários, quando deveria ser o contrário. O falar difícil é resultado de uma
postura antiga dos advogados, que assim garantiam seu papel de “doutores”
na sociedade. Além disso, o próprio “uniforme” do advogado já lhe garante
um certo status; a formalidade de um terno já impõe um certo respeito e um
distanciamento maior.

É inegável a ideia de que o mundo tem caminhado para uma comunicação rápida e
eficaz. A Internet é prova disso. Então, a linguagem jurídica, para muitos, parou no
tempo, esqueceram-se de que a língua é um código social, em uso, “vivo”, que está o
tempo todo sofrendo alterações.

O que tenho questionado é: como, num mundo informatizado, imagético, rápido


como este em que estamos vivendo, pode perdurar uma linguagem jurídica que
poucos entendem? Muito temos lido sobre o acúmulo de processos existentes e o

48
A LINGUAGEM JURÍDICA │ UNIDADE I

volume que muitos deles têm. Ora, se podemos expressar uma ideia com duas ou
com cinco palavras, por que não expressamos com duas?

Convém salientar que escrever muito não significa escrever bem. A prolixidade é um
defeito e não uma qualidade. Ser prolixo no mundo atual é estar desatualizado, é
retroceder. Uma das minhas prioridades no Ensino Superior tem sido fazer com que
meus alunos sejam capazes de escrever textos claros e objetivos, pois a objetividade
é uma das principais características da comunicação eficiente, tanto oral quanto
escrita. “Uma grande história não precisa ser uma história grande”.

Não estou, com isso, fazendo apologia da vulgaridade ou da banalidade da


linguagem jurídica, pois compreendo que, em alguns momentos, os termos técnicos
não podem ser dispensados, afinal versamos sobre uma ciência cujas palavras
devem expressar conceitos precisos e definidos.

Em 1998, comecei a lecionar Linguagem Jurídica no curso de Direito da UNIP de


Sorocaba, cidade em que moro. Passei, então, a observar que os livros de redação
forense mencionavam, como modelos de texto, peças processuais cujo linguajar
estava desatualizado. Exemplo: “O cônjuge varão deixou para a cônjuge varoa...”. Por
encontrar dificuldade em trabalhar com esse tipo de material didático, passei a criar
o meu próprio conteúdo, utilizando os modelos contidos nos livros, mas refazendo-
os do começo ao fim.

Além disso, discutia com os alunos em aula. A essência permanecia, mas o conteúdo
era modificado, muitas vezes, pelos alunos, sem a minha interferência. Tenho em
meu “corpus” textos belíssimos que foram construídos em sala de aula. Nesse
ínterim, eu estava cursando o mestrado, numa linha de pesquisa completamente
distante desse tema. Ao concluir o mestrado, desenvolvi um projeto de pesquisa
para o doutorado sobre o rebuscamento da linguagem jurídica, com base nesse
trabalho todo que eu já estava desenvolvendo.

Só não passava pela minha cabeça que, ao divulgar minhas ideias, as pessoas
manifestariam tanto interesse por elas. Tenho sido procurada, em especial, pelos
próprios juristas (promotores, desembargadores, juízes, entre outros). Isso é
estimulante, fundamental para que a minha pesquisa dê frutos. Quero salientar o
papel do ministro Ruy Rosado Aguiar (ministro aposentado do STJ) como meu maior
incentivador, pois, foi a partir de um e-mail que recebi dele, que passei a desenvolver
o meu projeto.

Como professora de Linguagem Jurídica procuro fazer com que meus alunos de
Direito fiquem livres do rebuscamento exagerado, do arcaísmo e da prolixidade,
comuns nos textos jurídicos. Para isso, levo-os a ter consciência de que o ponto mais
importante num processo comunicacional é se fazer entender.

Um dos ruídos existentes nesse processo é não falarmos a mesma língua. Apresento-
lhes uma peça processual recheada de arcaísmos, de termos rebuscados e com

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UNIDADE I │ A LINGUAGEM JURÍDICA

abuso do latinismo e vou reconstruindo esse texto, juntamente com eles, trocando
por sinônimos, por termos mais acessíveis e próximos da nossa época, sem que essas
substituições interfiram no sentido jurídico do texto. Além disso, analiso parágrafo
por parágrafo e tudo o que está a mais, que não acrescenta em nada à tese a ser
defendida, é eliminado. Enfim, um texto prolixo torna-se um texto exato, conciso,
mais enxuto. Essa técnica é simples e pode ser utilizada também pelos juristas,
desde que estejam dispostos a repensar o uso da linguagem.

Publicações:

PAIVA, Marcelo. Português Jurídico – Prática Aplicada. 5. ed. Brasília: Fortium, 2008.

DAMIÃO, Regina Toledo; HENRIQUES, Antônio. Curso de Português Jurídico. 4. ed.


São Paulo: Atlas, 1996.

NASCIMENTO, Edmundo Dantes. Linguagem forense. São Paulo: Saraiva, 1974.

SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 5. ed. Rio de janeiro: Forense, 1978.

XAVIER, Ronaldo Caldeira. Português no Direito. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1991.

Endereços eletrônicos:

http://www.portuguesjuridico.org

http://www.tj.rs.gov.br/noticias/comsoc/entendendo.pdf

http://www.amb.com.br/?secao=campanha_juridiques

http://mauricionardini.vilabol.uol.com.br/lgjur.htm

http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=dicas_portugues

Praticando 1
Com base em um dos textos prospostos, expresse sua opinião a respeito.

Praticando 2
Procure ampliar os conhecimentos adquiridos nesta unidade, realizando os
exercícios em questão.

Nas construções, a seguir, marque certo ou errado em relação ao uso adequado da


Língua Portuguesa e da padronização para o texto jurídico.

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A LINGUAGEM JURÍDICA │ UNIDADE I

1. O processo está baseado nos incisos I e II, do art. 226, do Código Penal.

2. O advogado recorreu com base na alínea “d” do inciso III do art. 593 do
Código de Processo Penal.

3. A autorização está fundamentada corretamente com base na al. “b” do


inc. II, do art. 10, da Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993.

4. Tal situação é regulada no art. 302, inc. III, do Código de Processo Penal.

5. O art. 5o, inc. XXXVI da Constituição de 1988 repete a regra do art. 153, §
3o, da Constituição de 1967.

6. A art. 14, “b” do Código de Processo Penal.

7. O art. 14, do Código de Processo Penal.

8. O Ministro do STF Gilmar Mendes votou a favor.

9. O Presidente do STF Gilmar Mendes votou a favor.

10. A jurisprudência do STF que, ao julgar o caso, (...).

11. A jurisprudência do STF que foi publicada no dia (...).

12. O parecer no 123 que trata do assunto foi claro.

13. O parecer que trata do assunto foi claro.

14. A Lei 8.666/00 que prevê o crime aborda o assunto.

15. A lei que prevê o crime aborda o assunto.

16. Os Ministros, que concordaram com o Relator, votaram.

17. Os Ministros que concordaram com o Relator votaram.

18. O Tribunal solicitou a cópia, vez que não a possuía.

19. O Tribunal solicitou a cópia, de vez que não a possuía.

20. O Tribunal solicitou a cópia, eis que não a possuía.

21. O Tribunal solicitou a cópia, posto que não a possuía.

22. O Tribunal solicitou a cópia, haja visto não a possuir.

23. O Tribunal solicitou a cópia, haja vista não a possuir.O desembargador


recebeu o processo e analisará o mesmo rapidamente.

51
UNIDADE I │ A LINGUAGEM JURÍDICA

24. O relatório já chegou e o mesmo apresenta erros de conteúdo.

25. Poderá fazer por escrito o seu protesto, em petição dirigida ao juiz, e requerer
que do mesmo se intime a quem de direito.

26. Em princípio não gostei da cidade, porém com o tempo passei a me


adaptar muito bem.

27. Em princípio, viajarei no Natal, mas nada está confirmado.

28. A princípio, ele agiu sem maldade.

29. Em princípio, ele agiu sem maldade.

30. Em que pese aos argumentos apresentados contra o acusado, ele será
absolvido.

31. Em que pesem as opiniões do ministro, ninguém aceitou a explicação.

32. Em que pese aos argumentos apresentados contra o acusado, ele será
absolvido.

33. Em que pesem as opiniões do ministro, ninguém aceitou a explicação.

34. Não gostava dele enquanto ministro.

35. Sendo ainda novo, não quis ir só.

36. Triunfarás, querendo.

37. O acusado defendia-se dizendo que (...).

38. Proferindo estas palavras, a assembleia deu vivas.

39. Vou estar fazendo.

40. Texto contendo erros.

41. O órgão analisou o caso, decidindo (...).

42. O órgão analisou o caso e decidiu (...).

43. Tratam de ações trabalhistas.

44. No que pertine a este aspecto legal, meu voto é favorável.

45. Conforme se lê à fl. 15.

46. Conforme se lê às fls. 12 e 13.

52
A LINGUAGEM JURÍDICA │ UNIDADE I

47. Segundo consta da fl. 27 do processo.

48. Segundo consta nas fls. 27 e 28 do processo.

49. Segundo consta à fl.27.

50. Face o relatório apresentar erro.

51. Dentre os processos, tirou apenas um.

52. Dentre os candidatos, saiu vitorioso o mais comunicativo.

53. Dentre as autoridades estava o presidente da República.

54. O dignitário foi homenageado durante a cerimônia.

55. O juiz proferiu a sentença a partir dos argumentos apresentados

56. A opinião popular mudava à medida que se aproximava a eleição

57. À medida que foi constatada a sua inconstitucionalidade, o projeto foi


arquivado.

58. O amigo envelhecia a olhos vistos.

59. Houve entendimento, pois a opinião da maior parte dos estudantes ia de


encontro das propostas da direção.

60. Houve divergência, pois a opinião da maior parte dos estudantes ia de


encontro às propostas da direção.

61. Foi considerado como sendo o melhor funcionário do ano.

62. Ela se saiu bem perante ao Juiz.

63. Ante ao Juiz, ele vacilou.

64. O segurança posicionou-se junto ao réu.

65. O sindicato mantém as negociações junto a diretoria.

66. Solicitou providências junto ao Ministério.

67. Entrou com recurso junto ao Tribunal.

68. O desembargador que a esta subscreve.

69. Quando da consulta, o tribunal estava de recesso.

70. Quando do ocorrido, a legislação (...).

53
UNIDADE I │ A LINGUAGEM JURÍDICA

71. Não compareceu à sessão eleitoral, tampouco se justificou.

72. O curso começa a partir do dia 16 de junho.

73. O Tribunal apenou o responsável pelo prejuízo.

74. Remeteu o processo ao Ministério Público com vista à elaboração de


parecer.

75. O Ministro pediu vistas.

76. Visto as provas apresentadas, não houve mais hesitação no


encaminhamento do inquérito.

77. O processo epigrafado acima não traz a informação.

Tem-se observado que a linguagem jurídica recorrentemente praticada com


excessivo preciosismo, arcaísmo, latinismo e polissemia contribui para o
afastamento da própria sociedade em relação ao Direito, sendo que do fundamento
ontológico deste ramo do conhecimento, infere-se que a linguagem jurídica deveria
se apresentar mais diáfana aos olhos dos cidadãos, como verdadeiro instrumento
a serviço da sociedade e de busca pela excelência da prestação jurisdicional.
Relevante é a ressalva de que o acesso ao conhecimento do Direito constitui uma
das modalidades de acesso à Justiça, na lição clássica de Cappelletti.

A propalada indissociabilidade entre linguagem e Direito nos indica que os


aplicadores do Direito devem investir em uma melhor comunicação jurídica e
primar pela depuração da linguagem jurídica e pelo controle do rigor técnico
formal excessivo, por vezes frutos de egoística afeição ao vernáculo, todavia tão
prejudicial aos jurisdicionados e à sociedade de forma geral, que quedam alijados
de conhecimentos sequer rudimentares do Direito.

Observam-se muitas vezes sentenças cujo teor não é possível que as partes
conheçam sem a interferência de seu advogado, porque a leitura da peça é de total
incompreensão, haja vista o abuso de termos jurídicos obsoletos, em manifesta
exacerbação estilística. Assim sendo, a liberdade das partes litigarem em sede de
Juizado Especial sem constituir advogado, respeitando o limite legal do valor da
causa, pode restar frustrada no campo da efetividade, diante do alheamento dos
cidadãos em relação às especificidades da linguagem jurídica.

Variadas e insurgentes são as possíveis soluções práticas para a maior afinidade da


população com informações basilares sobre cidadania e direito, dentre as quais a
realização de cursos de capacitação promovidos pelos tribunais e pelos diversos
órgãos públicos, no sentido de qualificar os integrantes de seus quadros a destinarem
tratamento condigno aos cidadãos. Por exemplo, em prol de melhor atendimento sobre

54
A LINGUAGEM JURÍDICA │ UNIDADE I

os direitos e informação nos Juizados Especiais, Procons etc., todos quantos atestadores
do primado da ética e da igualdade material nas atribuições do serviço público.

Também de premente importância é o exercício do direito social da educação, com a


confecção de cartilhas a serem elaboradas pelos tribunais e órgãos públicos, inclusive
em parcerias com a pesquisa e a extensão das universidades, e depois distribuídas à
população, juntamente com a realização de campanhas com o apoio da mídia, bem
como a implantação obrigatória de disciplina de noções elementares de cidadania
e direito nos currículos escolares, para fomentar a educação cidadã. Trata-se, ao que
se depreende, de modestos exemplos de iniciativas simples a serem tomadas para
a inclusão dos cidadãos ao conhecimento do Direito a partir da integração com a
linguagem jurídica.

Os aplicadores do Direito, em seu múnus, enfim, devem dignificar a humanização das


leis, tornando-as socialmente mais úteis e apreensíveis ao conhecimento primário
da população como um todo.

A educação apresenta-se como direito social da cidadania ou direito público


subjetivo que, incorporado nas cartas políticas atuais, revela o caminhar dos direitos
humanos para a necessidade natural de evolução do ser humano e de sua integração
à instrução e ao conhecimento, devendo o Estado equiparar-se com políticas
públicas adequadas para a institucionalização e o desenvolvimento da educação
como forma de inclusão às vicissitudes do Direito por meio da linguagem jurídica,
mitigando o seu hermetismo sem fronteiras.

Nalini, na esteira de tantos outros juristas, manifesta-se oportunamente sobre o


dever ético do juiz na divulgação do Direito e na facilitação do discurso jurídico
veiculado na linguagem jurídica:

“Além dessa divulgação operacional, as entidades promoveriam a divulgação


institucional, propiciadora de informações sobre o funcionamento do Judiciário no
Brasil. Não se pode nutrir afeição por aquilo que não se conhece. Isso explica os
índices de comprometimento afetivo demonstrado pela população brasileira a seu
Judiciário, em qualquer pesquisa realizada nesta década (...) a assessoria de mídia,
anexa a cada organismo, deve desempenhar sua parte e fazer a aproximação entre
mediática e Justiça, decodificando o hermetismo da linguagem e o distanciamento
que o Judiciário só nutrir em relação aos mass media”.

Em tempo, mais producente seria se os juristas se aliassem ao poeta Manuel Bandeira


(in Azevedo, 1996, p. 86), cuja maturidade e inspiração compreendeu a importância
social de se evitar o hermetismo no fazer versos: com maior simplicidade e clareza
das palavras deverá ser o fazer justiça, para a segurança dos cidadãos e sua real
participação no modus vivendi do Estado Democrático de Direito.

Ante o exposto, sem a pretensão de exaurir o rico tema posto em discussão, forçoso
concluir que o hermetismo da linguagem jurídica se justifica pelo tecnicismo desta,

55
UNIDADE I │ A LINGUAGEM JURÍDICA

sendo necessário um engajamento dos aplicadores do Direito para em diversas e


criativas medidas tornar mais acessível a linguagem jurídica ao conhecimento da
sociedade, tendo em vista o conhecimento do Direito como acesso à Justiça e direito
fundamental dos cidadãos.

Vivianne Rodrigues de Mel

Publicações:

BITTAR, Carlos Eduardo Bianca. Curso de Filosofia do Direito. Eduardo C. B. Bittar,


Guilherme Assis de Almeida. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

KASPARY, Adalberto. Linguagem do Direito. In: Vital Artigos. 30 jun. 2003. Disponível
na internet: www.fesmp.org.br. Acesso em: 20/12/05.

Endereços eletrônicos:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/manual/manual.htm.

http://apache.camara.gov.br/portal/arquivos/Camara/internet/publicacoes/
manualredacao/ManualRedacao.pdf.

http://www.ana.gov.br/acoesadministrativas/resolucoes/resolucoes2005/101-
2005-anexoI.pdf.

http://www.saberjuridico.com.br/portugues.php.

http://www.marcelopaiva.com.br.

http://www.portuguesjuridico.org org.

56
TIPOS DE TEXTOS UNIDADE II

CAPÍTULO 1
A Narração e a Argumentação Jurídica

Ninguém se apodera da língua e dela faz uso exclusivo.

Ronaldo Caldeira Xavier

A redação de um texto jurídico prioriza clareza, correção, linguagem formal (sem rebuscamentos),
objetividade e cortesia. Além das qualidades já citadas, o autor de um texto forense deve possuir
uma técnica profissional no uso da linguagem aplicada à redação.

A comunicação é peça-chave na missão de aproximar cada vez mais o Poder


Judiciário da sociedade. Para que isso aconteça, a Justiça deve ser compreendida
em sua atuação por todos e, especialmente, por seu destinatário final: o cidadão.
Quanto mais distante for a linguagem usada nos atos judiciais, menos a sociedade
compreenderá a atuação do Judiciário. Afinal, ninguém valoriza o que não entende.

Rodrigo Collaço

O operador do direito, ao escrever, expõe sua técnica profissional. Assim, deve dominar diferentes
linhas de raciocínio lógico (dedução, indução etc.) a fim de poder fundamentar com a necessária
consistência o seu pensamento. Ministro cursos a diversos órgãos públicos e encontro inúmeros
participantes que transmitem ideias aquém da sua capacidade real de pensar. Percebo que eles
sabem o assunto, interpretam adequadamente a legislação, mas o texto final apresenta uma distância
entre o pensamento e o sentido expresso literalmente.

57
UNIDADE II │ TIPOS DE TEXTOS

Narração jurídica
A Lei Complementar no 95, de 26 de fevereiro de 1998, estabeleceu regras para redação de atos
normativos e serviu de base para os documentos jurídicos como um todo.

Art. 11. As disposições normativas serão redigidas com clareza, precisão e


ordem lógica, observadas, para esse propósito, as seguintes normas:

I – para a obtenção de clareza:

a)usar as palavras e expressões em seu sentido comum, salvo quando a norma


versar sobre assunto técnico, hipótese em que se empregará a nomenclatura
própria da área em que se esteja legislando.

(...)

c)construir as orações na ordem direta, evitando preciosismo, neologismo e


adjetivações dispensáveis.

Ideias iniciais para um bom texto na área jurídica


»» A seleção vocabular é imprescindível ao bom texto.

»» Os vocábulos selecionados devem ser, antes de tudo, claros ao leitor. Para determinar
essa clareza, é necessário que se conheça um mínimo de características do leitor
potencial do texto.

»» As palavras servem tanto para exteriorizar quanto para apreender conceitos.

»» No âmbito forense, deve-se sempre preferir a linguagem culta. Ocasiões há,


entretanto, que se deve preferir a linguagem mais coloquial, quando o receptor é
leigo.

»» O vocabulário jurídico deve procurar, sempre, a objetividade. Nele, deve-se


distinguir entre linguagem técnica e jargão. A primeira é a terminologia adequada
para os fins jurídicos; o segundo deve ser evitado nos textos.

»» No âmbito forense, as formas de referência e tratamento devem ser usadas.

»» As expressões e brocados latinos são importantes em seus aspectos argumentativos


e em sua característica de enunciar princípios incontestáveis.

Como fazer uma boa narração


Quando se faz um texto narrativo, primeiramente se deve selecionar o que é fundamental contar:

»» fatos que são juridicamente relevantes;

58
TIPOS DE TEXTOS │ UNIDADE II

»» fatos que contribuem para a compreensão dos juridicamente relevantes;

»» fatos que satisfazem a curiosidade do leitor ou lhe despertem o interesse.

Observe o texto a seguir.

Nossa história começa na madrugada do dia 27 de outubro de 2005. Dois colegas de faculdade
estavam em uma confraternização de conhecidos. Estavam lá há pelo menos cinco horas, e a festa já
estava caminhando para o seu final. Fábio sabia que devia estudar no dia seguinte e procurou carona
para voltar. Encontrou Pedro, que morava próximo a sua casa, e lhe perguntou sobre a possível
carona. Pedro concordou e apenas pediu a Fábio que esperasse um pouco. Após quase uma hora de
espera, Pedro, então, chamou Fábio para irem embora. Este agradeceu e entrou no carro. No entanto,
no caminho de volta, Pedro tornou-se uma pessoa irreconhecível: corria desesperadamente, ria sem
parar e dizia que, antes de ir para casa, passaria, ainda, em um barzinho próximo, para beber mais
um pouco. Fábio lhe pediu que o deixasse ali então, pois desejava realmente ir embora. Pedro não
só não parou o carro como acelerou mais ainda o veículo até que este se chocou contra uma árvore,
causando vários danos em Fábio, que se encontra ainda no hospital.

Quais fatos são os mais relevantes?

___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
______________________________________

Quais fatos contribuem para a compreensão do fato mais relevante?

___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
____________________________________________________

Ao escrever uma narrativa jurídica, procure sempre responder às seguintes perguntas.

»» O que aconteceu?

»» Quem são os envolvidos?

»» Como ocorreu?

»» Quando ocorreu?

»» Onde ocorreu?

»» Por que ocorreu?

»» As consequências do fato.

59
UNIDADE II │ TIPOS DE TEXTOS

Observe o final do texto com alguns retoques.

Poucas horas antes do amanhecer, então, o réu chamou o autor para que ambos fossem embora. O
autor, já cansado, agradeceu a atitude e dirigiu-se ao carro, tomando assento no banco da carona.
Para seu espanto, o réu, ainda muito animado pelo ensejo da festa, saiu em alta velocidade. O vizinho
convidou o autor para que ambos fossem a um bar próximo, mas este se negou a acompanhá-lo,
dizendo estar cansado. O réu continuou, enquanto pilotava, a insistir, afirmando que haveria no
bar mulheres bonitas e que seria proveitoso para ambos. O autor, entretanto, expôs claramente
sua vontade de ir para casa, dizendo que deveriam se lembrar de que teriam prova na faculdade
na semana seguinte e que por isso seria bom descansar para poder estudar. O réu persistia no seu
intento de persuadir o autor a acompanhá-lo e, aparentemente descontrolado, fazia curvas em
alta velocidade, rangendo os pneus, atravessando semáforos fechados. O autor, por várias vezes,
pediu para que a velocidade do veículo fosse abrandada, mas não foi atendido. O acidente parecia
premente: o carro era dirigido no limite do controle humano, com freadas ríspidas e acelerações
repentinas, que faziam o veículo atingir velocidade absolutamente incompatível com as vias por
que passava. O descontrole mental do réu, talvez por causa de algum elemento alterador do humor
consumido na festa, aflorava naquele momento. Ao se aproximarem da curva que finaliza o eixo
monumental, o autor previu o pior. Percebendo que era por conta da sorte que até o momento não
se haviam acidentado, clamou para que a velocidade fosse retomada ao normal. Foi então que o réu
acelerou ainda mais e perdeu o controle do carro, que seguiu seu curso indo de encontro, em alta
velocidade, a uma árvore.

A função argumentativa da narração


A narrativa jurídica traz em si forte argumentação para o ponto de vista defendido por quem a
redige. É esse ponto de vista que faz com que, ao narrar qualquer fato, de acordo com sua intenção,
o autor procure convencer a respeito de sua interpretação pessoal dos fatos narrados. Em resumo, é
impossível, na atividade forense, uma narração imparcial.

Observe este exemplo.

Revoltados porque a Prefeitura resolveu retirá-los das ruas do centro da cidade, camelôs fizeram
ontem manifestação agressiva, destruindo vitrines de lojas, tumultuando o centro da cidade e
ferindo transeuntes. A polícia foi obrigada a agir para evitar tumulto maior.

Camelôs, que foram expulsos de seu local de trabalho nas ruas do centro da cidade, fizeram ontem
manifestação na região central. A tropa de choque foi chamada para reprimir violentamente a
manifestação. Vários camelôs, que queriam apenas continuar trabalhando, saíram feridos.

Observe outro exemplo.

O réu ameaçava a vítima que, aos gritos, clamava por não ser morta. Ele pediu as joias e, ao ouvir a
negativa da vítima, que dizia não possuir nenhuma, não teve dúvida: com frieza desumana, puxou o
gatilho do revólver encostado à cabeça da vitimada, prostando-a no chão, sem vida, de forma cruel,
por motivo absolutamente fútil.

60
TIPOS DE TEXTOS │ UNIDADE II

O réu, no intento de roubar, pediu à vítima joias e dinheiro. Assustado, temeroso e alterado, pois
não era um bandido profissional, e estava incidentalmente cometendo aquele equívoco, ouviu a
ríspida negação da vítima. Supondo que ela tinha chance de reação, o que por certo poria sua vida
em risco, em um ímpeto de emoção e medo apertou o gatilho, temendo por sua sobrevivência.

Ambos os textos trazem a narração da mesma cena, cada um com um ponto de vista implícito. O
vocabulário e os fatos selecionados por cada um dos narradores mostram o intento acusatório ou
defensivo.

Assim, a seleção dos fatos da narrativa, principalmente aqueles que dizem respeito ao reforço
ou às circunstâncias dos juridicamente relevantes, deve ser feita de acordo com as intenções da
argumentação daquele que a redige.

Argumentação jurídica
Direta ou indiretamente, o texto jurídico tende a ser argumentativo. Uma ideia sempre está presente
ao lado de argumentos (racionais ou emocionais) que procuram comprová-la ou justificá-la. Observe
os textos propostos e responda às questões sobre os argumentos presentes que confirmam a ideia
do autor.

Texto 1

É comum e procedente o comentário de que a justiça e o povo estão separados por um grande
abismo, o que torna praticamente impossível ao cidadão leigo, mesmo aquele com grau de instrução
superior à média do País, compreender os assuntos inerentes ao Judiciário.

Uma das razões que contribuem para esse triste distanciamento – que se confunde com seus
próprios efeitos e, por isso, engendra um círculo vicioso – reside na falta de cultura jurídica do povo
brasileiro. Falta de cultura jurídica não no sentido de que as pessoas leigas não têm o desejável
tirocínio para entender os meandros, o tecnicismo e os termos próprios do Direito, o que realmente
não têm. Refiro-me ao fato de que o brasileiro não tinha o costume de se interessar por assuntos
relativos à função judiciária do Estado.
Rogério Schietti Machado Cruz. Direito e Justiça, in: Correio Braziliense

Com relação às ideias do texto, julgue os itens abaixo.

1. Mesmo os cidadãos com formação específica em Direito têm dificuldade de


compreender os assuntos relativos ao Judiciário.

2. A falta de cultura jurídica do povo brasileiro é razão, e também efeito, do


distanciamento entre a justiça e o cidadão.

3. Os leigos não têm experiência prática suficiente para entender os procedimentos, o


tecnicismo e os termos próprios dos trâmites judiciários.

61
UNIDADE II │ TIPOS DE TEXTOS

4. É lamentável que o brasileiro não desenvolva o costume de se interessar pelos


assuntos referentes à função judiciária do Estado.

5. O judiciário cria, voluntariamente, um círculo vicioso entre as pessoas leigas e os


meandros do tecnicismo.

6. Procedentes (primeiro parágrafo) significa frequente, antigo.

7. Leigo (primeiro parágrafo) significa alheio a um assunto, desconhecedor.

8. Inerentes (primeiro parágrafo) significa prioritários, especializados.

9. 9Engendra (segundo parágrafo) significa gera, produz.

10. Tirocínio (segundo parágrafo) significa vaticínio, tiromancia.

Analisando a argumentação do texto:

1.Qual é a ideia principal do texto? ____________________________________________


___________________________________________________________________
________________________

2.Como o autor argumenta sua ideia? _________________________________________


___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
________________________________________

Texto 2

Chegar ao posto mais alto de uma empresa não é tarefa para acomodados. Exige talento, dedicação,
persistência e principalmente uma boa dose de sacrifício. Segundo consultores de Recursos
Humanos, é justamente esse empenho e espírito de liderança que as empresas valorizam nos
ocupantes de cargos mais altos. “A pessoa deve ter iniciativa, capacidade de tomar decisões, fazer as
coisas acontecerem”, diz o diretor da Top Human Resources, de São Paulo.

A qualificação profissional também é um dos principais aspectos para se alcançar o posto mais alto.
“Qualquer executivo tem de investir sempre em sua educação”, enfatiza outro diretor de Recursos
Humanos. “Senão você será um computador sem software”, completa.

Traçar metas profissionais é outro aspecto fundamental para quem quer chegar ao topo. Nesse caso,
a ambição acaba sendo uma boa aliada.

A intuição também é uma boa arma na hora de dar um palpite em uma reunião. E, quem sabe, pode
valer aquela promoção esperada.

Conhecer passo a passo cada etapa do processo de produção da empresa e do setor é um dos
principais fatores que levaram M.C.P. a uma carreira bem-sucedida.

62
TIPOS DE TEXTOS │ UNIDADE II

Ele aponta ainda a importância de valorizar os colegas. “Ninguém consegue as coisas sozinho. É
fundamental reconhecer a participação do grupo e sempre motivá-lo.”

A primeira regra da cartilha daqueles que anseiam alcançar um alto cargo em uma corporação, de
acordo com esses consultores, é não permanecer estagnado em uma função ou empresa por um
longo período.

1.Qual a ideia principal? __________________________________________________


___________________________________________________________________
________________________

2.Como o autor argumenta sua ideia? _________________________________________


___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
_____________________________________________

No Direito não prevalece a lógica formal, mas a lógica argumentativa, aquela em que não existe
propriamente uma verdade universal, não existe uma tese aceita por todos a todo o momento, como
ocorre em Matemática. Isso é notório para todo profissional que milita no Direito: alguns juízes
aceitam determinadas teses; outros não.

Observe o poder da boa argumentação.

Conta-se que, em um plenário do júri, um promotor exibia aos jurados as provas processuais.
Mostrava a eles, com muita propriedade, que o laudo elaborado pela polícia técnica concluía que
havia 99% de chance de que o projétil encontrado no corpo da vítima fatal houvesse sido disparado
pelo revólver de propriedade do réu. Ser-lhe-ia impossível, então, diante de tal prova concreta,
negar a autoria do crime.

Diante desse fortíssimo argumento, o defensor, em tréplica, formulou aos jurados a seguinte
pergunta retórica: “suponhamos que eu tivesse um pequeno pote com cem balinhas de hortelã e que
eu, então, pegasse uma delas, tirasse do papel celofane que a envolve e, dentro dela, injetasse uma
dose letal de um veneno qualquer. Em seguida, eu a embrulhasse novamente e colocasse dentro
do pote, misturando-as. Teria algum dos jurados coragem de tirar do pote uma bala qualquer e
saboreá-la? Certamente que não. Pois, se ninguém se arrisca à morte, ainda que haja noventa e nove
por cento de chance de apenas se saborear uma bala, ninguém tem o direito de condenar o acusado
por noventa e nove por cento de chance de haver disparado sua arma contra a vítima”.

Iniciando a argumentação: o leitor como alvo do


texto
A aceitação de uma ou de outra tese, de um ou de outro argumento tem relação com cada leitor, ou
seja, não se pode conseguir a adesão de todas as pessoas a uma argumentação por melhor que ela
seja. A experiência pessoal e o conhecimento do assunto determinam a aceitação ou não de uma
argumentação.

63
UNIDADE II │ TIPOS DE TEXTOS

Selecionando os elementos: os tipos de argumentos


Tal qual na narração, o primeiro passo na argumentação é o de selecionar os elementos que devem
ser expostos, ou seja, os próprios argumentos.

Quando se faz um texto a respeito de uma tese, deve-se partir da narração dos fatos completos. A
função narrativa é a de fazer o leitor compreender os fatos, ainda que expostos do ponto de vista do
autor. Ao entrar na parte argumentativa propriamente dita, fazem-se duas pretensões: a primeira
é a de que sejam comprovados os fatos narrados; a segunda é a de que, desses fatos, advenham
algumas consequências jurídicas determinadas. A argumentação aparece no Direito com essas duas
pretensões: comprovar os fatos e comprovar as consequências jurídicas que advêm desses mesmos
fatos. Entende-se, assim, que dois são os tipos distintos de argumentação no mundo jurídico.

Ordenando os argumentos
Para montar a argumentação, principalmente as mais complexas, é necessário que o profissional
faça um breve esboço das ideias que vai apresentar em seu texto.

Depois de narrar os fatos, deve-se proceder à elaboração da tese ou das teses. Com a tese elaborada,
procuram-se os argumentos que podem vir a fundamentá-la.

Os argumentos devem ser expostos de maneira ordenada, procurando-se que as ideias venham
encaixadas em um percurso.Por isso, é importante elaborar um esboço.

O texto a seguir é uma narração feita por um cliente, contando um caso que lhe ocorreu e que,
supostamente, teria algumas consequências jurídicas. Algumas vezes os fatos foram narrados
fora da ordem cronológica. Muitos deles são aproveitáveis para uma peça jurídica, mas outros são
absolutamente dispensáveis. Colha os fatos que entender relevantes para propor uma peça jurídica.

Proceda da seguinte maneira:

»» selecione os fatos que entender relevantes;

»» ponha-os na ordem em que pretende narrá-los;

»» exponha-os, em uma petição, fazendo o devido encaminhamento, indicando o


número dos autos e a referência e construindo um parágrafo inicial;

»» depois do parágrafo inicial, abra o subtítulo “Dos Fatos” e narre-os de forma


compreensível e persuasiva.

Texto 3

Meu avô tinha deixado para minha avó uma casa em Sobradinho. Tinha deixado, porque meu avô
morreu, e isso já faz bem uns quinze anos. Mais um pouco, talvez. Sei que minha avó herdou tudo
do velho, inclusive essa casa de que estou falando. Bem, a velha ficou morando lá depois da morte do
marido e não demorou mais que oito ou dez meses, quem sabe um ano, para que ela fosse encontrar

64
TIPOS DE TEXTOS │ UNIDADE II

o vovô, lá no andar de cima. Saudades, você sabe. Foi aí que minha mãe contratou advogado, para
saber dos bens da mãe dela. Eu sei que foi feito tudo nos conformes, e a minha mãe agora é dona
legítima da casa em Sobradinho. A irmã dela, minha tia, aceitou ficar com um apartamento bem
pequeno na Asa Sul, em um prédio velho. É trouxa a titia, a casa em Sobradinho é tão melhor.
Mais longe, tudo bem, mas com três quartos, uma cozinha novinha e um quintal imenso. A casa
tinha uma cozinha novinha, comprada na melhor loja da cidade. Do apartamento no Plano Piloto
ninguém cuidava, também, pudera, já foi comprado caindo aos pedaços. Mas acontece que naquela
casa, como ninguém foi morar lá, mamãe colocou um caseiro. No começo, bom menino, ele, a
esposa e um filhinho. Eu joguei muita bola com o filho, hoje grandão, o desgraçado, foi criado com
leite Ninho à custa do dinheiro que deveria ser meu. Mas o pai dele, seu Assis, diz hoje que não vai
sair de lá não. Diz que está lá há mais de dez anos e ninguém foi ver o imóvel, o que é mentira, eu
bem lhe disse que eu jogava com o filho, faz no máximo sete anos, e era no campo de futebol do
quintal da própria casa. Bom, eles não querem mais sair de lá, alegando que a casa agora é deles.
Meu pai pagava o salário deles todos os meses, depois parou e os deixou morando por lá em troca
de vigiar a casa. Ficamos meio sem dinheiro, mas pagamos os impostos. Acho que o fato de não
termos dinheiro não justifica ele querer ficar com a casa. Na verdade, o vizinho diz que ele usa a casa
para fazer uns cultos estranhos e incorpora uns espíritos do além. Mas isso não importa: eu quero
tirar todos eles da casa porque vou morar lá, eu e a minha futura esposa. Eu me caso mês que vem
e não posso adiar o casamento. O doutor sabe, essas coisas precisam ser rápidas, me precipitei e...
Esquece, tem como me ajudar? Eu já disse que estou meio desprevenido.

1.Quais são os fatos relevantes a serem narrados?

___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
________________________________________

2.Qual a melhor ordem para narrá-los?

___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
_____________________________________________

Iniciando a argumentação.

1.Escolha uma tese principal.

___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________

65
UNIDADE II │ TIPOS DE TEXTOS

2.Quais seriam os argumentos?

___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
____________________________________________

Quanto ao rigor formal, tem-se que é inerente ao procedimento jurídico. A área


do Direito é revestida de formalidades e solenidades que a própria lei determina.
Condena-se, porém, o excesso. Este, infelizmente é comum na linguagem jurídica.
Há o caso sabido de uma petição inicial contendo cento e vinte páginas. Apesar
de estar bem encadernada, foi devolvida pelo juiz com um pedido para ser mais
sucinta. Refeita, ficou com setenta páginas. Por se tratar de uma simples reclamação
trabalhista, o juiz novamente devolveu o pedido, exigindo mais objetividade. Por
fim, o advogado entregou a petição com catorze páginas. É exemplo que demonstra
o excesso na linguagem e o alto custo dele nas veredas jurídicas. Veja o tempo que
o autor dessa peça gastou.

Da mesma forma, a maioria das petições advocatícias está recheada de citações e


repetições desnecessárias. Há transcrição exagerada de textos de leis, doutrinas e
jurisprudências. Desconsidera o advogado que um par de teses favoráveis ao seu
pedido já é suficiente. O juiz nunca lerá integralmente uma petição extensa. Para
conseguir despachar inúmeros processos diariamente, é obrigado a dispensar o
supérfluo e ater-se apenas ao essencial. Ao exagerar em citações, o peticionário
estará somente desperdiçando tempo e engrossando os autos processuais. A
economia textual é palavra de ordem na órbita da justiça e elemento mor para a
celeridade dos processos. Ater-se ao formalmente necessário é meia causa ganha
pelo profissional do direito.

Além do aspecto gramatical observado no uso de um trio pronominal quando do


endereçamento da peça, nota-se também um exagerado respeito no tratamento da
autoridade judiciária. Destarte a importância do magistrado na locução da justiça
pretendida, não há motivo para se fazer pedante um apelo a essa autoridade. Tal
reverência frente o poder público é de origem política e remonta época já ultrapassada
pela nossa sociedade. A importância do Juiz, seja pelo cargo ou pelo polo que ocupa
na relação jurídica, é sacramentada na palavra “Excelência”, dispensando-se outros
termos da mesma classe gramatical, para ensejar maior cortesia ou dignidade no
tratamento.

Mais do que respeito no tratamento, demonstra-se certo temor diante da autoridade,


ignorando-se que um despacho favorável ou não por parte dela, independerá
da quantidade de pronomes elencados na inicial. Porém, esse padrão gramatical
forçado ocorre por vezes de forma fortuita, apenas por fazer parte do vocabulário

66
TIPOS DE TEXTOS │ UNIDADE II

jurídico tradicional. É uma prática herdada de outros tempos, arraigada nos liames
forenses, cujo emprego corrente parece justificar qualquer inadequação gramatical.
Vem esse maneirismo da mesma época em que a autoridade devia ser temida em
vez de respeitada. Ou seja, é algo superado.

Fica difícil dissociar o padrão linguístico jurídico de sua embalagem arcaica.


Justamente numa época em que os meios de comunicação se mostram cada vez
mais rápidos, em que a informação chega a vários lugares ao mesmo tempo, não
prescindindo de uma linguagem de equivalente eficácia, vê-se, no âmbito da justiça,
a estagnação da língua ancorada em uma maneira arcaica de se pronunciar.

O uso do “Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz” é mera ilustração. Podemos citar


outros exemplos de excesso e exagero retirados de peças jurídicas: “V. Exa, data
máxima vênia, não adentrou às entranhas meritórias doutrinárias e jurisprudenciais
acopladas na inicial que caracterizam, hialinamente, o dano sofrido.” Ou então:

Com espia no referido precedente, plenamente afincado, de modo consuetudinário,


por entendimento turmário iterativo e remansoso, e com amplo supedâneo na
Carta Política, que não preceitua garantia ao contencioso nem absoluta nem
ilimitada, padecendo ao revés dos temperamentos constritores limados pela
dicção do legislador infraconstitucional, resulta de meridiana clareza, tornando
despicienda maior peroração, que o apelo a este Pretório se compadece do
imperioso prequestionamento da matéria abojada na insurgência, tal entendido
como expressamente abordada no Acórdão guerreado, sem o que estéril se
mostrará a irresignação, inviabilizada ab ovo por carecer de pressuposto essencial
ao desabrochar da operação cognitiva. (Disponível no site < http://conjur.estadao.
com.br/static/text/39501,1>, acesso em 10.5.2007).

Tais exemplos demonstram o tipo de linguagem ainda usada pela maioria dos
operadores do Direito em nossos dias. Rebuscamento e preciosismo norteiam a
escolha das palavras; frases demasiado longas e parágrafos cansativos tornam o
texto prolixo em detrimento da comunicação eficaz.

A despeito da rapidez característica da comunicação atual, pode-se dizer que,


infelizmente, a linguagem jurídica não prosperou.

O modus expressandi dos operadores do Direito enseja uma revisão. A maneira


como se redige um texto jurídico deve ser repensada. Não é apenas uma necessidade
formal, no tocante ao uso da língua consoante à gramática ou segundo técnicas
de redação; impõe-se uma necessidade de ordem prática, tendo em conta toda a
sociedade juridicamente assistida. O destinatário da mensagem não é apenas o juiz,
o desembargador ou o ministro, mas também o bancário, o mecânico, o comerciante,
enfim, todos que precisam ser amparados pela justiça. Poucos conseguem entender,
sequer, a procuração que assinam para o advogado.Tanto menos será compreensível
uma petição ou um recurso, também carecendo de tradução o despacho ou a
sentença expedida pelo magistrado.

67
UNIDADE II │ TIPOS DE TEXTOS

Duas coisas devem ser consideradas na hora de escrever: técnicas básicas de redação
e destinatário da mensagem. No tocante ao destinatário da peça judicial, trata-se
de qualquer um, seja a autoridade judiciária ou o cidadão comum, o cliente, que
deseja e tem o direito de acompanhar o serviço contratado e a evolução do seu
processo junto à justiça competente. Para que o destinatário da mensagem logre
êxito na decodificação, o melhor meio é valer-se o profissional de algumas técnicas
de redação muito úteis na construção de qualquer texto.

No tocante às técnicas de elaboração textual, deve-se considerar algumas qualidades


características da boa escrita, como clareza, concisão, objetividade, precisão, leveza,
elegância e correção. O principal é a clareza e a objetividade. Como disse Luiz Fernando
Veríssimo, respeitadas algumas regras básicas de gramática, para evitar os vexames
mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de
princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo:
dizer escrever claro não é certo, mas é claro, certo? (O GIGOLÔ DAS PALAVRAS, 1993).
Quando a clareza se revela em um texto, ele é de imediato compreendido. Quando
o texto é compreendido, a comunicação atinge o seu objetivo: é eficaz e completa.

A propósito da comunicação, o seu núcleo, é a palavra, elo fundamental entre emissor


e receptor da mensagem. Por isso, a palavra requer um cuidado muito particular
quanto a sua escolha, a sua significação e colocação dentro de uma composição
textual. Esse cuidado na escolha da palavra pode ser verificado com o uso de uma
regra prática: entre duas palavras, escolha a mais fácil; entre duas palavras fáceis,
escolha a menor. O uso de palavras fáceis simplifica o entendimento, contribui
para a clareza do texto, e o emprego de palavras curtas propicia a objetividade de
quem escreve. Essa regra deve ser exercitada sem economia por aqueles que usam
a palavra como instrumento de trabalho. O resultado obtido será uma peça leve,
concisa e dotada da precisão indispensável para quem busca a justiça em qualquer
instância.

A exemplo do cuidado na aplicação das palavras, também se deve usar de cautela


na construção da frase. Aqui outra técnica simples pode ser usada com resultado
sempre positivo. Trata-se do seguinte:

»» REGRA DE BRONZE: frases curtas;

»» REGRA DE PRATA: frases muito curtas;

»» REGRA DE OURO: frases curtíssimas.

A frase é um dos galhos da árvore textual, cujo fruto é a comunicação. Quanto mais
longa, mais frágil; poderá dar muitos frutos, mas quebrará ao se tentar apanhá-los. Frases
breves ou curtas, ao contrário, dão maior consistência à estrutura do texto e resistem
mais facilmente às forças que atuam sobre a comunicação. Sejam essas forças oriundas
do calor na discussão de uma lide ou da argumentação em torno de uma sentença que
se deseja mudar, as chances de êxito no resultado serão maiores com o uso eficiente
de frases menores. Uma frase breve ajuda quem escrever a dar continuidade às ideias

68
TIPOS DE TEXTOS │ UNIDADE II

de forma lógica, sem riscos de se perder no contexto. Ou seja, permite a coordenação


e concatenação de ideias, facilitando o ato de escrever. Uma disposição lógica de
pensamentos, por sua vez, permite o rápido entendimento de quem lê.

Além da palavra e da frase, outra célula que compõe o texto é o parágrafo. O parágrafo
deve ser muito bem planejado, uma vez que é parte integrante de toda redação
jurídica e responde pela estética e pela efetiva qualidade do texto. A respeito do
parágrafo, a melhor lição que se pode aplicar é a que ensina o Professor Othon M.
Garcia, no seu livro “COMUNICAÇÃO EM PROSA MODERNA” (13 ed., p. 206).

Em geral, o parágrafo-padrão, aquele de estrutura mais comum e mais eficaz – o


que justifica seja ensinado aos principiantes –, consta, sobretudo na dissertação e
na descrição, de duas e, ocasionalmente, de três partes: a introdução, representada
na maioria dos casos por um ou dois períodos curtos iniciais, em que se expressa
de maneira sumária e sucinta a ideia-núcleo, que passaremos a chamar daqui por
diante de tópico frasal; o desenvolvimento, isto é, a explanação dessa ideia-núcleo;
e a conclusão, mais rara, mormente nos parágrafos pouco extensos ou naqueles em
que a ideia central não apresenta maior complexidade.

Constituído habitualmente por um ou dois períodos curtos iniciais, o tópico frasal


encerra, de modo geral e conciso, a ideia-núcleo do parágrafo. (...) Pesquisa que
fizemos em muitas centenas de parágrafos de inúmeros autores, permite-nos afirmar
com certa segurança que mais de 60% deles apresentam tópico frasal inicial. (...).

Se a maioria dos parágrafos apresenta essa estrutura, é natural que a tomemos


como padrão para ensiná-la aos nossos alunos. Assim fazendo, haveremos de
verificar que o tópico frasal constitui um meio muito eficaz de expor ou explanar
ideias. Enunciando logo de saída a ideia-núcleo, o tópico frasal garante de antemão
a objetividade, a coerência e a unidade do parágrafo, definindo-lhe o propósito e
evitando digressões impertinentes.

O tópico frasal é a lição dada pelo Professor Othon M. Garcia. Consiste em se


apresentar uma ideia sintetizada em uma frase no início do parágrafo e desenvolver
este parágrafo apenas com ideias pertinentes àquela frase. Nova ideia será motivo
de novo parágrafo. Essa organização evita a dispersão comum na hora de escrever. É
uma técnica que permite ao texto maior objetividade e que facilita o ato de escrever.

Em suma, montar um texto é como embalar um conjunto de porcelana: deve-se


tomar cada uma das peças (palavras) com cuidado, dispô-las de forma adequada
(frases), alinhando-as em pilhas uniformes (parágrafos), para que fiquem bem firmes
dentro da caixa (texto) e possam chegar perfeitas ao destino. Para confeccionar
adequadamente essa embalagem, usam-se algumas técnicas básicas, como enrolar
as peças em papel separadamente e dividir as camadas ou unidades com papelão.
O uso de uma técnica sempre se mostra eficiente em qualquer profissão, para a
conclusão de qualquer tarefa. Quanto melhor for a técnica empregada, melhor será
o desempenho.

69
UNIDADE II │ TIPOS DE TEXTOS

Para o operador do Direito, recomenda-se evitar os excessos e exageros, usar


palavras de fácil compreensão, compor frases curtas e empregar a técnica do tópico
frasal na construção dos parágrafos. São métodos simples e eficientes na construção
textual, que trarão benefícios a todas as partes envolvidas na comunicação jurídica.
Ganha o profissional, logrando maior desenvoltura na elaboração do seu trabalho, e
ganha o usuário de seus serviços, integrado na busca da justiça por ele pretendida.

É preciso ter em conta que a linguagem jurídica faz parte de um contexto maior,
está inserida no âmbito de toda a sociedade. Além dos sagazes profissionais que
a ventilam, atinge a massa social, que recorre à esfera judicial incessantemente.
Tendo em mente o cidadão comum, que busca socorro na justiça, é possível facilitar
a linguagem e, com pequeno esforço, será cada vez menos difícil escrever o direito.
Ainda vale o que disse Padre Antônio Vieira (1608 – 1697):

“Aprendemos no céu o estilo da disposição e também o das


palavras. As estrelas são muito distintas e muito claras. Assim,
há de ser o estilo (...) muito distinto e muito claro. E nem por isso
temais que pareça o estilo baixo; as estrelas são muito distintas e
muito claras, e altíssimas. O estilo pode ser muito claro e muito
alto; tão claro que o entendam os que não sabem e tão alto que
tenham muito que entender os que sabem.”

Roger Luiz Maci

Publicações:

PAIVA, Marcelo. Português Jurídico – Prática Aplicada. 5. ed. Brasília: Fortium, 2008.

DAMIÃO, Regina Toledo; HENRIQUES, Antônio. Curso de Português Jurídico. 4. ed.


São Paulo: Atlas, 1996.

NASCIMENTO, Edmundo Dantes. Linguagem forense. São Paulo: Saraiva, 1974.

SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1978.

XAVIER, Ronaldo Caldeira. Português no Direito. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1991.

Endereços eletrônicos:

http://www.portuguesjuridico.org.

http://www.tj.rs.gov.br/noticias/comsoc/entendendo.pdf.

http://www.amb.com.br/?secao=campanha_juridiques.

http://mauricionardini.vilabol.uol.com.br/lgjur.htm.

http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=dicas_portugues

70
TIPOS DE TEXTOS │ UNIDADE II

CAPÍTULO 2
A Peça Jurídica

Os profissionais da área realmente precisam escrever com tecnicismo. Entretanto,


muitas vezes exageram e transformam a linguagem em instrumento de manipulação
e dominação, contrariando o fim precípuo de promover interação e harmonia sociais.
É preciso que todos a entendam. A liguagem é universal, devendo informar os leigos
e convencer os técnicos.

Nizaldo P. Costa

Dez regras gramaticais para melhorar a linguagem forense

Joseval Viana

1. Não use a expressão senão, vejamos. Tanto a contestação quanto a


petição inicial são redigidas em terceira pessoa. A expressão senão
está na primeira pessoa do plural, pois a expressão completa é senão,
vejamos nós. A permuta de pessoas do discurso, na produção textual
jurídica, é considerada erro gramatical. As peças processuais devem ser
redigidas em terceira pessoa. Expressões do tipo vejamos, pois/senão,
vejamos estão incorretas. Tais expressões precisam ser corrigidas para
veja-se, pois/senão, veja-se/pode-se perceber etc.

2. A expressão infra-assinado escreve-se com hífen, enquanto abaixo


assinado escreve-se sem hífen. A regra é clara: usa-se hífen depois do
prefixo infra somente após vogais iguais e palavras iniciadas por h. O
termo abaixo-assinado é o nome dado ao documento e a pessoa que o
assina é um abaixo assinado, sem hífen.

3. As palavras anexo, incluso, apenso são adjetivos e devem variar


de acordo com o substantivo a que se referem. Exemplos: Seguem os
documentos anexos. A procuração ad judicia encontra-se anexa. As cópias
reprográficas inclusas devem ser juntadas ao processo. Os documentos
apensos foram enviados a Vossa Excelência. Pode-se substituir anexo
(adjetivo) pela expressão em anexo (advérbio). Nesse caso, o advérbio não
deve variar. Exemplos: Seguem os documentos em anexo. A procuração
ad judicia encontra-se em anexo etc. As palavras “anexo” e “em anexo” são
sinônimas. Ambas são corretas na linguagem jurídica e não há diferença
de significado.

4. Não se pode confundir foro com fórum. Foro é o lugar em que o


Poder Judiciário desempenha suas funções, isto é, lugar competente para

71
UNIDADE II │ TIPOS DE TEXTOS

conhecer e julgar determinada causa. Fórum é o prédio onde funcionam


os órgãos do Poder Judiciário.

5. O pronome de tratamento Vossa Excelência exige o verbo


na terceira pessoa. O pronome possessivo correspondente é seu e
sua. Por isso, não construa a frase “Vossa Excelência resolveu o vosso
problema?” Corrija para: “Vossa Excelência resolveu o seu problema?”
Da mesma forma, é incorreto elaborar a seguinte oração: “O autor vem,
mui respeitosamente, à vossa presença.” Corrija para: “O autor vem, mui
respeitosamente, a sua presença” ou “O autor vem à presença de Vossa
Excelência”, requerer o julgamento antecipado da lide.

6. O verbo elencar não existe na Língua Portuguesa. Os dicionários


não o registram. Existe apenas o substantivo elenco. Substitua elencar
pelos verbos enumerar, indicar etc. A oração “Os requisitos da petição
inicial estão elencados no art. 282 do CPC está incorreta.” Corrija para: “Os
requisitos da petição inicial estão enumerados no art. 282 do CPC.”

7. Os verbos ter e vir fazem o plural, acrescentando-se o acento


circunflexo (^) no primeiro e, sem dobrá-lo. Por exemplo: “Os opostos vêm,
mui respeitosamente, à presença de Vossa Excelência.” Assim, deve-se
formar o plural correto dos verbos ter e vir: ele tem, eles têm; ele vem, eles
vêm. Os compostos desses verbos levam acento agudo – no singular – e
circunflexo – no plural. Por exemplo: manter – ele mantém, eles mantêm;
ele convém – eles convêm.

8. Os verbos dar, crer, ler e ver fazem o plural dobrando o e Exemplos:


crer – ele crê, eles creem; ler – ele lê, eles leem; ver – ele vê, eles veem; dar
– ele dê, eles deem.

9. Usa-se senão, quando a palavra puder ser substituída por do


contrário, mas sim, a não ser, de outro modo. Por exemplo: “A oposição
precisa ser oferecida antes da audiência, senão ela será processada como
procedimento autônomo.” “Razão assiste ao opoente, senão vejam-se os
arestos colacionados.” “Ao usar o se não separado, deve-se observar que
seu significado equivale a caso não, pois equivale a incerteza, a condição,
a precisão.” Por exemplo: “Se não chover, o opoente irá ao fórum. A
resposta está correta? Se não, vejamos.”

10. Escreve-se separadamente a locução a fim de. Trata-se de uma conjunção


subordinativa adverbial final. Por exemplo: “Ajuíza-se a oposição, a fim
de o opoente litigar em face dos opostos sobre o mesmo objeto da lide
em que estes demandavam.” O termo afim é um adjetivo e significa
semelhante, por afinidade. Por exemplo: “O opoente e o oposto não
possuem ideias afins.”

72
TIPOS DE TEXTOS │ UNIDADE II

A redação de um texto jurídico segue princípios já estabelecidos por uma padronização. É linguagem
técnica. Não se escreve uma peça ou parecer para se tornar um grande escritor. O próprio CPC
apresenta regras básicas para a confecção da petição inicial na forma de silogismo. Assim, o art. 282
do CPC prescreve os requisitos da inicial, entre eles:

1. o fato;

2. os fundamentos jurídicos do pedido;

3. o pedido, com as suas especificações.

Requisitos da petição inicial: art. 282 do CPC


São requisitos da petição inicial:

»» o juiz ou tribunal a que é dirigida;

»» os nomes, os prenomes, o estado civil, a profissão, o domicílio e a residência do


autor e do réu;

»» o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;

»» o pedido, com as suas especificações;

»» o valor da causa;

»» as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;

»» o requerimento para a citação do réu.

Observação:

Além desses requisitos, a petição inicial deverá ser instruída com os documentos indispensáveis à
propositura da ação (art. 283 do CPC).

Encaminhamento
Para efeitos didáticos, o endereçamento poderá ser da seguinte forma:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DA COMARCA


DE ABCD.

Se na Comarca houver varas especializadas, o endereçamento poderá ser da seguinte forma:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA DA FAZENDA PÚBLICA


DA COMARCA DE ABCD.

O endereçamento para os Foros Regionais poderá ser da seguinte forma:

73
UNIDADE II │ TIPOS DE TEXTOS

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DO FORO


REGIONAL DE ABCD, COMARCA DE ABCD.

Na hipótese de endereçamento ao tribunal, poderá ser da seguinte forma:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE ABCD.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ PRESIDENTE DO EGRÉGIO PRIMEIRO TRIBUNAL


DE ALÇADA CIVIL DO ESTADO DE ABCD.

Nomes e qualificações das partes


O CPC estabelece, como requisito da peça, a indicação dos nomes, dos prenomes, do estado civil,
da profissão, do domicílio e da residência do autor e do réu. Apesar de a lei processual não exigir
o número de RG e CPF ou CNPJ, é praxe no meio forense o fornecimento das informações. Para
provas e concursos, principalmente exame da ordem, é recomendável que o candidato não utilize
abreviaturas. Em alguns casos, não será possível a qualificação completa do(s) réu(s). É o que ocorre,
por exemplo, em ações possessórias em que, muitas vezes, o autor não tem condições de qualificar
adequadamente o réu.

Fatos e fundamentos jurídicos do pedido


O texto deverá apresentar os fatos de forma sucinta e clara.

Exemplo:

1. O autor celebrou, em 23-11-2005, com o réu, contrato de locação por prazo


indeterminado, do imóvel localizado na Rua abcd, nº 111, bairro Centro, nesta
Capital, e pagou aluguel de R$ 500,00 (quinhentos reais), com vencimento todo dia
20 de cada mês.

Logo em seguida, o advogado deverá demonstrar que houve violação ou ameaça de violação ao
direito do autor.

Exemplo:

2. O réu deixou de pagar os aluguéis dos meses de março, abril e maio de 2006 e
totalizou um débito de R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais).

Observe que, no corpo do texto, basta identificar as partes como autor e réu, sem necessidade de
repetir nomes e prenomes.

74
TIPOS DE TEXTOS │ UNIDADE II

Pedido e suas especificações


Pedido é sinônimo de objeto, pretensão, mérito ou lide. Deve haver coerência entre a causa de pedir
com o pedido do autor, sob pena de inépcia da petição inicial (art. 295, parágrafo único, II, do CPC).

O pedido deve ser claro e objetivo. É possível, no entanto, fazer pedido genérico (em ações universais,
quando o autor não puder individuar no texto os bens demandados; quando não for possível
determinar, de modo definitivo, as consequências do ato ou do fato ilícito; quando a determinação
do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu).

Exemplo:

Isso posto, requer-se a decretação do despejo do réu, com o consequente pagamento dos aluguéis
vencidos e acessórios até a data da efetiva desocupação do imóvel.

Os juros legais, a correção monetária, os honorários advocatícios e as custas judiciais não precisam
constar do pedido, pois são devidos por força de lei (arts. 20 e 293 do CPC).

Valor da causa
O valor da causa deverá constar na petição, mesmo que o pedido não contenha conteúdo econômico
imediato (art. 258 do CPC). O valor refletirá nas custas judiciais, no ônus da sucumbência, na fixação
de competência e pode influenciar no tipo de procedimento da ação: ordinário ou sumário (art. 275,
I, do CPC).

Exemplo:

Dá à causa o valor de R$ 6.000,00 (seis mil reais).

Protesto pelas provas


A prova documental indispensável à propositura da ação deverá acompanhar a petição.

Exemplo:

Protesta provar o alegado por todos os meios permitidos em direito, em especial pela juntada de
documentos, depoimento pessoal do réu, oitiva de testemunhas e perícia técnica

Apolo, Teseu e Hércules eram os únicos sócios da sociedade por quotas de


responsabilidade limitada denominada “Indústria de Bebidas Flor da Hélade Ltda.”,
detendo participação no capital social, respectivamente, de 35%, 35% e 30%. Apolo
e Teseu, após pequenas desavenças com Hércules, resolveram celebrar alteração do
contrato social para o excluir da sociedade e ofereceram-lhe o pagamento de seus
haveres proporcionais ao patrimônio líquido da sociedade, tal como constante do
último balanço elaborado, no valor total de R$ 100.000,00 (cem mil reais). Hércules

75
UNIDADE II │ TIPOS DE TEXTOS

não exercia funções de gerência, que cabiam exclusivamente aos outros dois sócios,
e, portanto, não participou da elaboração do balanço, nem o aprovou. Não havia
cláusulas contratuais disciplinando os critérios para a apuração dos haveres, nem
estabelecendo quorum especial para alterações do contrato social. Ao mesmo
tempo, sabe-se que a sociedade é detentora de ativo imaterial valioso, consistente
na titularidade da marca “Caninha Flor da Hélade”, avaliada no mercado em R$
500.000,00 (quinhentos mil reais). A sociedade tem sede em São José dos Campos,
local de domicílio dos três sócios.

Questão: Como advogado(a) de Hércules, exerça a medida pertinente à defesa


de seus interesses.

Pedido de citação
A regra geral da citação prevista na lei processual é via correio (art. 222 do CPC). No entanto, o autor
poderá requerê-la por oficial de justiça (art. 224 do CPC) ou por edital (art. 231 do CPC).

Endereço do advogado
Dispõe o art. 39, inciso I, do CPC, que compete ao advogado declarar, na petição inicial ou na
contestação, o endereço em que receberá as intimações. No exame da OAB, é recomendável que
conste na petição inicial o endereço do escritório do advogado, após o nome e a qualificação do
autor. Já na prática forense, esse requisito estará cumprido se o endereço constar na procuração.

Modelo de resposta apresentado por um candidato ao exame da OAB

(o texto abaixo poderia ser mais objetivo)

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __ VARA CÍVEL DA COMARCA


DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, ESTADO DE SÃO PAULO.

Hércules, nacionalidade, estado civil, profissão, portador da cédula de identidade Registro Geral n0
____, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas do Ministério da Fazenda sob n0 _____, residente
e domiciliado na Rua _________, n0___, bairro ______, São José dos Campos, CEP ______,
por seu advogado infra-assinado (instrumento de mandato anexo), com escritório na Rua ______,
n0______, bairro ______, cidade, CEP ____, vem respeitosamente à presença de Vossa
Excelência, com fundamento no artigo 668 do Decreto-Lei n0 1.608, de 18-9-1939, e nos artigos 282
e seguintes, combinados com o artigo 1.218, inciso VII, do Código de Processo Civil, propor AÇÃO
DE APURAÇÃO DE HAVERES, pelo rito ORDINÁRIO, em face de APOLO, nacionalidade, estado
civil, profissão, portador da cédula de identidade Registro Geral n0 ____, inscrito no Cadastro
de Pessoas Físicas do Ministério da Fazenda sob n0 ____, residente e domiciliado na Rua ____,
n0____, bairro São José dos Campos, CEP ____; TESEU, nacionalidade, estado civil, profissão,
portador da cédula de identidade Registro Geral n0 ____, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas
do Ministério da Fazenda sob n0 ____, residente e domiciliado na Rua ____, n0____, bairro São
José dos Campos, CEP _____; e INDÚSTRIA DE BEBIDAS FLOR DA HÉLADE LTDA., inscrita

76
TIPOS DE TEXTOS │ UNIDADE II

no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica do Ministério da Fazenda sob n0 ___, inscrição estadual
n0 _______, com sede na Rua _____, bairro São José dos Campos, CEP ______, pelos motivos
a seguir aduzidos.

DOS FATOS

1. O autor e os corréus eram os únicos sócios da sociedade co-ré. O autor detém


participação no capital social da sociedade corré de 30% (trinta por cento), enquanto
os dois sócios corréus detêm participação no capital social de 35% (trinta e cinco
por cento) cada um, conforme cópia de contrato social em anexo (documento n0 1).

2. Os sócios corréus, após pequenas desavenças com o autor, resolveram celebrar


alteração do contrato social para o excluir da sociedade co-ré e ofereceram-lhe o
pagamento de seus haveres proporcionalmente ao patrimônio líquido da sociedade
corré, tal como constante do último balanço elaborado, no valor de R$ 100.000,00
(cem mil reais), conforme cópia em anexo (documento n0 2), o que equivaleria ao
montante de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) a título de haveres.

3. O autor não exercia funções de gerência, que cabiam exclusivamente aos dois
sócios corréus, e, portanto, não participou da elaboração do referido balanço,
nem o aprovou. Ademais, não havia cláusulas contratuais que disciplinassem os
critérios para a apuração dos haveres, nem que estabelecessem quorum especial
para alterações do contrato social.

4. A sociedade corré é detentora de ativo imaterial valioso, consistente na titularidade


da marca “Caninha Flor da Hélade”, conforme documento comprobatório em
anexo (documento nº 3). Tal marca está avaliada pelo mercado em R$ 500.000,00
(quinhentos mil reais).

DO DIREITO

5. O art. 668 do Decreto-Lei n0 1.608, de 18-9-1939, prevê que a retirada de qualquer


dos sócios, que não cause a dissolução da sociedade, dá ensejo à apuração
exclusivamente dos seus haveres.

6. Com efeito, a Súmula n0 265 do Supremo Tribunal Federal estabelece:

“Súmula n0 265. Na apuração de haveres não prevalece o balanço não aprovado pelo
sócio falecido, excluído ou que se retirou.”

7. O autor, como mencionado anteriormente, não participou da elaboração do balanço,


tampouco o aprovou. Portanto, o balanço elaborado unilateralmente que apurou,
como patrimônio líquido da sociedade corré, o valor de R$ 100.000,00 (cem mil
reais) não pode ser utilizado para efeito de apuração dos haveres do autor.

77
UNIDADE II │ TIPOS DE TEXTOS

8. Cabe salientar que o valor do ativo imaterial da sociedade corré também deve
ser considerado na apuração dos haveres do autor, conforme entendimento
jurisprudencial predominante, in verbis:

“Sociedade por Quotas – Responsabilidade Limitada – Sócio – Apuração de


haveres – Critério – Balanço real e de determinação. Admissibilidade (...). Na
apuração de haveres de sócio retirante, a efetivação de balanço de determinação
(espécie particular) além do balanço real tem em vista a plena verificação física
e contábil dos valores do ativo (incluindo o fundo de comércio), de tal modo
que se atinja efeitos bem próximos da venda ou cessão de direitos sobre as
quotas” (TJSP, JTJ 146/188, in: COELHO, Fábio Ulhoa. Código comercial e
legislação complementar anotados. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, nota 2.319
ao art. 1.031 do Código Civil. P. 1101).

9. Portanto, para a apuração dos haveres do autor deve ser considerada a marca
Caninha Flor de Hélade, de propriedade da sociedade corré, avaliada em R$
500.000,00 (quinhentos mil reais), além de elaborado o balanço real para a plena
verificação física e contábil dos valores do ativo a ser apurado pelo senhor perito
judicial na fase de liquidação de sentença.

DO PEDIDO

Diante do exposto, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência requerer a citação dos
réus, por oficial de justiça, para que, caso queiram, apresentem resposta no prazo de 15 (quinze)
dias, sob pena de sofrerem os efeitos da revelia e, ao final, a procedência da ação a condenar os réus
ao pagamento dos haveres que forem apurados em liquidação de sentença na proporção da quota
parte de 30% (trinta por cento) pertencente ao autor, acrescidos de juros e correção monetária, na
forma da lei, bem como dos honorários advocatícios.

Requer que as diligências sejam realizadas com os benefícios previstos no art. 172, parágrafo
segundo, do Código de Processo Civil.

Protesta por todos os meios de prova em direito admitidos, em especial, depoimento pessoal do réu,
oitiva de testemunhas, perícia judicial e demais que se fizerem necessários.

Dá à causa o valor de R$ 150.000,00 (cento e cinqüenta mil reais).

Termos em que

Pede deferimento.

Local e data.

Advogado

OAB/SP n0 ______

78
TIPOS DE TEXTOS │ UNIDADE II

Alguns cuidados
»» Não usar abreviatura no cabeçalho.

»» Evitar o uso de “doutor”, já que não é obrigatório.

»» Evitar abreviaturas. Algumas são consagradas (art., p.), mas não abrevie os códigos,
a constituição ou as expressões de referência (r. sentença, v. acórdão).

»» Nas qualificações, usar o nome do autor e da ação a ser proposta em caixa alta.

»» Ao escrever “vem à presença”, lembrar do sinal indicativo de crase.

»» Ao fazer referência aos elementos normativos, observar a presença da vírgula ou


não. Construções em ordem direta com a presença da preposição de não possuem
vírgula.

»» Procurar narrar apenas os fatos relevantes. Ao organizar a sequência dos fatos,


procurar relacioná-los de forma coerente com a fundamentação posterior.
Apresentar primeiro o acordo e, depois, o desacordo.

»» Nos direitos, procurar apresentar abordagem e fundamentação de forma objetiva.


Não exagerar em citações desnecessárias.

»» Ao citar artigos, usar conectivos diferentes.

Segundo o comando inserto no artigo tal (...).

Conforme se depreende do alcance do artigo tal (...).

Consoante o artigo tal (...).

O artigo tal reza que (...).

»» Para citar doutrina, procurar fazer uso das seguintes construções.

Nesse sentido, necessário se faz mencionar o entendimento do ilustre Fulano, que


preconiza, in verbis(...).

A esse propósito, faz-se mister trazer à colação o entendimento do eminente Sicrano, que
assevera, ipsis litteris (...).

A corroborar o exposto acima, insta transcrever o entendimento do renomado Beltrano,


que preleciona, ad litteran (...).

»» Para citar jurisprudência, usar os seguintes elementos.

Nesse contexto, urge trazer à baila a respeitável ementa da judiciosa decisão proferida
pelo Egrégio Tribunal, cuja transcrição segue, in verbis (...).

79
UNIDADE II │ TIPOS DE TEXTOS

A jurisprudência pátria é assente nesse sentido, da qual se depreende que (...).

É necessário não perder de vista a posição que a jurisprudência pátria vem assumindo
diante da matéria sub examine, conforme se depreende da ementa abaixo transcrita (...).

»» Para mencionar o caso, utilizar formas coesivas.

No caso em tela, (...) .

Fórmulas a serem usadas na petição


Algumas construções consagradas no ambiente jurídico podem ser úteis na produção da peça.

»» Fica, portanto, cristalino que à Autora (...).

»» Não pode prosperar, in casu, a falaciosa argumentação (...) .

»» Com efeito, translúcida a agressão aos artigos em comento, não há que falar em (...).

»» Revela-se, no presente caso, descabida a exigência de se provar o irrefutável.

»» Com fulcro em tais considerações, pode-se afirmar que se faz merecedora a


Agravante da concessão dos efeitos da antecipação da tutela recursal.

»» Conforme é cediço, a violação ao direito apresenta-se irretorquível e não encontra


guarida em nosso ordenamento jurídico.

»» Conforme é cediço, o ordenamento jurídico é primado da Constituição (...).

»» É bem verdade que o Autor não logrou provar os fatos; no entanto, mais indubitável,
ainda, apresenta-se a falta de nexo na argumentação contida nos autos.

»» À guisa de exemplificação, urge trazer aos autos situações semelhantes à que se lhe
apresenta.

»» Manifestação visceralmente contrária à doutrina.

No vertente caso, (...).

No caso em comento, (...).

»» Ao concluir, não usar “sendo assim” ou “assim sendo”, pois são expressões que não
pertencem à linguagem culta e sequer possuem o sentido de conclusão. Procure
usar: posto isso, ante o exposto, em face do exposto, perante o exposto.

80
TIPOS DE TEXTOS │ UNIDADE II

Mais importante do que falar é se fazer entender. Aquilo que se fala só tem
relevância se dirigido a um interlocutor que assimile os conteúdos transmitidos.
Sob a perspectiva da norma jurídica positivada, bem como do discurso jurídico
verbalizado, o Direito é uma linguagem e, por esse motivo, precisa ser inteligível
para que esteja ao alcance de todos. É preciso que haja uma democratização do
discurso jurídico, pois só desse modo a sociedade poderá exercer mais efetivamente
a sua cidadania. É inadmissível que, numa sociedade que tem por sustentáculo a
igualdade, seja o Direito utilizado como instrumento de perpetuação do poder,
constituindo um discurso monopolizado.

A obscuridade do discurso jurídico coloca o cidadão comum numa posição de


desconhecimento frente a questões que compõem o seu cotidiano, na medida em
que o direito é basicamente a regulamentação das situações fáticas. Assim, não é
possível que os direitos de cada um sejam amplamente exercidos, pois, uma vez
que sejam desconhecidas as possibilidades jurídicas de condução de determinada
situação, não há que se falar em escolhas. Desse modo, a maioria das pessoas acaba,
por força das circunstâncias, ficando sem a possibilidade de dar a suas ações o
destino que entende mais adequado a seus interesses.

É claro que o discurso jurídico comporta certas expressões que têm a sua razão de
ser e, de si, essas expressões traduzem conceitos que determinam alguma categoria
ou algum instituto jurídico. Se não é possível a substituição de tais expressões por
outras mais compreensíveis, é preciso, pelo menos, que elas sejam claramente
explicadas. É preciso que, ao lado de cada expressão que integre o discurso jurídico,
haja uma explicação detalhada. Por não ser dessa forma, por haver essa “opacidade”
do discurso jurídico é que comumente as pessoas fazem escolhas pouco acertadas.
Se falta o conhecimento, não há como saber o que é melhor ou o que é pior. Essa
pouca transparência do discurso jurídico faz com que o cidadão comum fique de
mãos atadas frente às inúmeras situações com que se defronta no seu dia a dia.

Mesmo os operadores do Direito, que, em tese, têm domínio sobre o discurso jurídico,
muitas vezes esbarram no obstáculo da impossibilidade de uma transmissão efetiva
dos conteúdos que lhes são consultados. Essa dificuldade começa nos bancos
escolares, quando os conteúdos jurídicos são repassados aos estudantes de direito
recheados de expressões latinas e termos arcaicos, que só sobrevivem nos dias
atuais porque compõem justamente o rebuscado discurso dos juristas. Quantas
pessoas falam latim? É raríssimo alguém que conheça tal idioma. Na prática, a
inserção de expressões oriundas do latim acaba servindo, muitas vezes, de meio
para camuflar a fragilidade do discurso daqueles que têm um conhecimento jurídico
raso. Do mesmo modo, há certas expressões utilizadas apenas no discurso jurídico
que possuem sinônimos que as poderiam substituir e cujo emprego não afetaria
em nada a inteligibilidade daquilo que se pretendia expressar, muito pelo contrário,
a ampliaria, na medida em que o que antes estava ao alcance de poucos passaria a
estar ao alcance de muitos.

81
UNIDADE II │ TIPOS DE TEXTOS

Não é admissível que operadores do Direito se utilizem da linguagem pouco


acessível como meio de valorizar a sua atuação perante a clientela. Mesmo assim,
há quem prefira impetrar uma medida cautelar que exige o fumus boni iuris e o
periculum in mora a uma que tenha o perfume do bom direito e o perigo da demora
como requisitos. Mais desastroso é quando a obscuridade torna-se ferramenta para
camuflar a incompetência e os eventuais erros do operador na aplicação do direito
que lhe foi solicitada.

Yvana Savedra de Andrade Barreiros

Publicações:

PAIVA, Marcelo. Português Jurídico – Prática aplicada. 5. ed. Brasília: Fortium, 2008.

DAMIÃO, Regina Toledo; HENRIQUES, Antônio. Curso de Português Jurídico. 4. ed.


São Paulo: Atlas, 1996.

NASCIMENTO, Edmundo Dantes. Linguagem forense. São Paulo: Saraiva, 1974.

SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 5. ed. Rio de janeiro: Forense, 1978.

XAVIER, Ronaldo Caldeira. Português no Direito. 9. ed. Rio de janeiro: Forense, 1991.

Endereços eletrônicos:

http://www.portuguesjuridico.org.

http://www.tj.rs.gov.br/noticias/comsoc/entendendo.pdf.

http://www.amb.com.br/?secao=campanha_juridiques.

http://mauricionardini.vilabol.uol.com.br/lgjur.htm.

http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=dicas_portugues.

82
Para (não) Finalizar

Caro participante,

Chegamos ao fim desta disciplina e, como você deve ter percebido, é apenas o começo. A linguagem
jurídica mostra-se como necessidade urgente para o aprimoramento do exercício profissional e
acadêmico. Impossível não relacionar Direito e Linguagem.

Ministro curso aos principais órgãos jurídicos no Brasil e em Portugal e sempre encontro servidores,
desembargadores, ministros e diversos outros profissionais do Direito com dúvidas e ansiosos por
melhorar o texto jurídico. Espero que você também passe a ter essa vontade.

A linguagem jurídica pede constante estudo e dedicação.

Um abraço,

Marcelo Paiva\

83
Referências
ABREU, Antônio Suarez. Curso de redação. São Paulo: Ática, 1998.

ACQUAVIVA, M. C. Redação forense e petições iniciais. São Paulo: Ícone, 1983.

ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Dicionário de questões vernáculas. São Paulo: Caminho
Suave, s/d.

ARIOSI, Mariângela de F. Manual de redação jurídica. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000.
177 p. ISBN 8530911016.

BARBOSA, M. Aparecida. Língua e discurso. 2. ed. São Paulo: Global, 1981.

BARRETO, Celso de Alburquerque. Linguagem forense: estilo e técnica. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 1998.

CAMARGO, Margarida Maria L. Hermenêutica e argumentação: uma contribuição ao estudo


do Direito. Rio de Janeiro: Renovar, 1999.

CAMPESTRINI, Hildebrando. Como redigir ementas. Rio de Janeiro: Saraiva, 1994.

CASTELO BRANCO, Vitorino Prata. O advogado no tribunal do júri. São Paulo: Saraiva, 1991.

CHALITA, Gabriel. A sedução no discurso: o poder da linguagem. São Paulo: Maxlinonad, 1998.

DAMIÃO, R.; HENRIQUES, Antônio T. Curso de português jurídico. São Paulo: Atlas, 1999.

ECO, Umberto. Os limites da interpretação. São Paulo: Perspectiva, 1990.

ENGISCH, Karl. Introdução ao pensamento jurídico. 6. ed. Tradução Baptista Machado.


Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1988. 393 p.

FAGUNDES, Valda Oliveira (Org.). O discurso no júri: aspectos linguísticos e retóricos. São
Paulo: Cortez, 1987.

FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. São Paulo: Ática, 1993.

FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Direito, retórica e comunicação. 2. ed. São Paulo: Saraiva,
1997. 188 p.

GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: FGV, 1991.

JUNQUEIRA, Eliane B. Literatura e Direito: uma outra leitura do mundo das leis. Rio de Janeiro:
Letra Capital, 1998.

84
REFERÊNCIAS

KOCH, Ingedore Villaça. Argumentação e linguagem. São Paulo: Contexto, 1997.

MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas. São
Paulo: Atlas, s/d.

MENDONÇA, Paulo R. Soares. A argumentação nas decisões judiciais. Rio de Janeiro:


Renovar, 1997.

NASCIMENTO, Edmundo Dantés. Linguagem forense. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1980.

OLIVEIRA, E. D. N. Linguagem forense. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1974.

PAULIUKONIS, M. A. L. Comparação e argumentação. In: SANTOS, Leonor Werneck (Org.).


Discurso, coesão, argumentação. Rio de Janeiro: Oficina do Autor, 1996.

ROSA, Eliasar. Os erros mais comuns nas petições. 8.ed. rev. e aum. Rio de Janeiro: Freitas
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SAVIOLI, Francisco P.; FIORINI, José L. Para entender o texto. São Paulo: Ática, 1998.

XAVIER, R. C. Português no Direito. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1991.

Sites de pesquisa:

www.marcelopaiva.com.br.

www.portuguesjuridico.org.

www.academia.org.br.

www.planalto.gov.br/ccivil_03/manual/manual.htm.

www.tc.df.gov.br/Manuais/ManualRedacao2003.pdf.

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