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Contrato de Franquia

Brasília-DF.
Elaboração

Cesar Augusto Leitão

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 5

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7

UNIDADE ÚNICA
CONTRATO DE FRANQUIA....................................................................................................................... 9

CAPÍTULO 1
CONCEITOS.............................................................................................................................. 9

CAPÍTULO 2
O QUE É UM CONTRATO DE FRANQUIA E PARA QUE SERVE...................................................... 11

CAPÍTULO 3
CLÁUSULAS QUE DEVEM ESTAR PRESENTES EM UM CONTRATO DE FRANQUIA........................... 15

CAPÍTULO 4
CUIDADOS A SEREM TOMADOS NA ELABORAÇÃO E NA ASSINATURA DE UM CONTRATO DE
FRANQUIAS (SEBRAE)............................................................................................................... 17

CAPÍTULO 5
LEI DE FRANQUIA 8.955/1994................................................................................................. 29

CAPÍTULO 6
RESPONSABILIDADE LEGAL DO FRANQUEADO E DO FRANQUEADOR....................................... 36

CAPÍTULO 7
UM MODELO DE CONTRATO DE FRANQUIA............................................................................. 54

CAPÍTULO 8
ANÁLISE DO CONTRATO DE FRANQUIA REALIZADA PELA SUBCOMISSÃO DE CONTRATOS
EMPRESARIAIS – OAB............................................................................................................... 59

REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 78
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

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Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Depois de muita perseverança, a regulamentação do contrato de franquia empresarial
passou a ser uma realidade. Realidade esta proporcionada pela Lei no 8.955, de 15 de
dezembro de 1994.

A partir desse momento, tornou-se o franchising, um contrato típico, apoiado na lei


brasileira e nominado franquia empresarial. Conforme a interpretação do art. 2o da
referida lei, “franquia empresarial” é o sistema pelo qual o franqueador “cede” ao
franqueado direito de uso de marca e patente, associado ao direito de distribuição
exclusiva ou semiexclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, também o direito
de tecnologia de implantação e administração de negócio ou sistema operacional,
desenvolvido ou detido pelo franqueador, mediante remuneração direta ou indireta,
sem que, no entanto, fique caracterizado vínculo empregatício. Cabe um comentário
sobre o termo “cede”, pois, na verdade, não cede e sim licencia. O ato de ceder significa
transferir definitivamente direitos, o que, neste caso, não acontece, uma vez que o
franqueador apenas transfere, temporariamente, direitos ao franqueado.

Após esta breve introdução, esperamos que o conhecimento embutido neste material
seja útil para todas as outras disciplinas relacionadas a esta e esperamos que você venha
a contribuir com sua participação: opiniões, práticas e vivências em diferentes âmbitos
— pessoal e profissional — neste processo de ensino-aprendizagem.

Objetivos
»» Apresentar o que é um contrato de franquia.

»» Mostrar como deve ser elaborado um contrato de franquia.

»» Destacar de que forma o contrato necessita ser apresentado, com vistas a


permitir a adequada gestão de franquias.

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CONTRATO DE UNIDADE ÚNICA
FRANQUIA

CAPÍTULO 1
Conceitos

Segundo o professor doutor Flávio Tartuce, em seu artigo O conceito de contrato


na contemporaneidade, disponível em <http://www.flaviotartuce.adv.br/index2.
php?sec=artigos&id=48>. O Código Civil Brasileiro de 2002, a exemplo do seu
antecessor, não tomou o cuidado de conceituar contrato. Em um primeiro momento,
pode-se pensar que agiu bem o novel legislador, pois não cabe a ele, e sim à doutrina, a
tarefa do conceituar as categorias jurídicas.

Todavia, cumpre assinalar que a atual codificação brasileira está baseada, entre outros,
no princípio da operabilidade, que tem um dos seus sentidos expressos na simplicidade
ou facilitação dos institutos civis. Consigne-se que o Código brasileiro conceitua algumas
figuras contratuais típicas, mas não chegou a conceituar o contrato, relegando, mais
uma vez, a tarefa à doutrina.

Em uma visão clássica, tem-se notado a prevalência do conceito do instituto que pode
ser extraído do art. 1.321 do Código Civil Italiano; segundo o qual, o contrato é o acordo
de duas ou mais partes para constituir, regular ou extinguir entre elas uma relação
jurídica de caráter patrimonial. Muitos autores brasileiros seguem essa conceituação,
caso de Orlando Gomes e Álvaro Villaça Azevedo.

Da construção, nota-se que o contrato, de início, é espécie do gênero negócio jurídico.


Sendo assim, há uma composição de interesses das partes — pelo menos duas —, com
conteúdo lícito e finalidade específica. Para a compreensão do contrato, é fundamental
o estudo estrutural do negócio jurídico, mormente os planos da existência, da validade
e da eficácia. Serve como norte o art. 104 do Código Civil Brasileiro, que aponta os
requisitos de validade do negócio jurídico:

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UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

a. agente capaz;

b. objeto lícito, possível, determinado ou determinável;

c. forma prescrita ou não defesa em lei.

Cumpre anotar que tal feição clássica do contrato limita o seu conteúdo às questões
patrimoniais ou econômicas. Trata-se da ideia de patrimonialidade, tão cara aos italianos.
Sendo assim, o contrato não pode ter uma feição existencial ou extrapatrimonial. A
título de exemplo, pela visão clássica, o contrato não pode ter como conteúdo os direitos
da personalidade, mesmo que indiretamente.

Na doutrina mais recente, há interessantes tentativas de ampliação ou remodelagem do


conceito de contrato, o que, sem dúvida, alarga a margem de incidência de conceito, ou
seja, a abrangência do mundo contratual. Nesse contexto, no Brasil, surge a construção
denominada como pós-moderna de Paulo Nalin, da Universidade Federal do Paraná.

Para o jurista, o contrato constitui “a relação jurídica subjetiva, nucleada na solidariedade


constitucional, destinada à produção de efeitos jurídicos existenciais e patrimoniais,
não só entre os titulares subjetivos da relação, como também perante terceiros”.

O contrato de franquia empresarial, formalmente, é um contrato de adesão ou por


adesão. A lei o nomeia de contrato-padrão. Conveniente é mencionar que o franqueador
não cede, mas, sim, licencia sua tecnologia.

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CAPÍTULO 2
O que é um contrato de franquia e
para que serve

Segundo o doutor Sebastião José Roque (Do Contrato de Franquia Empresarial, 2012),
o contrato de franquia é o acordo pelo qual o detentor de propriedade industrial dá
concessão a uma empresa para produzir e comercializar, diretamente ao público,
determinados produtos de marca já consagrada e vulgarizada.

Sob o ponto de vista empresarial, é um método adotado para a distribuição de produtos


e/ou serviços, consistente na parceria entre uma empresa e outras empresas, no qual a
primeira transfere às últimas a experiência ou competência por ela desenvolvida para a
produção ou distribuição de certos produtos.

Ainda sob o ponto de vista jurídico, a franquia é, geralmente, um complexo de contratos,


sendo um o principal e os outros acessórios ou dependentes.

A incidência desse contrato é, principalmente, na área propriamente comercial, na


distribuição de produtos. Aproxima-se ao contrato de distribuição e de representação
ou agência. Enquadra-se, entretanto, como contrato de transferência de tecnologia.

Características
Segundo Roque, trata-se de um contrato bilateral, consensual, oneroso, empresarial,
de execução continuada, internacional ou nacional, híbrido e complexo, de prestações
recíprocas (comutativo, informal), a saber: Bilateral — a bilateralidade desse contrato
manifesta-se sob diversas formas, a começar pela caracterização positiva das duas
partes, franqueador e franqueado, e pelas obrigações mútuas, em decorrência do
consenso entre as partes. O não cumprimento de obrigações por uma delas poderá
ensejar à outra o apelo ao princípio de exceptio non adimpleti contractus. Poderá dar
ainda à outra o direito à rescisão do contrato.

a. Consensual — aperfeiçoa-se o contrato pelo simples consentimento


das partes. Faz nascerem obrigações para as partes, antes mesmo do
início das operações e independentemente do fornecimento de qualquer
mercadoria. Assim, com o consensus, o franqueado já está obrigado
a pagar taxas iniciais e adquire o direito de colocar à frente do seu
estabelecimento a insígnia do franqueador.

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UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

b. Típico — é típico ou nominado, porque é regulamentado pela nossa lei.


O nome franchising faz supor a ausência de regras jurídicas próprias
para ele, pois nossa lei não admite denominações em idioma estrangeiro.
Entretanto, a Lei 9.855/1994, que lhe deu certos contornos, usa o nome
de franquia empresarial, que é o nome legal e que estabelece algumas
formalidades para a elaboração desse contrato, o que o torna um contrato
nominado, apesar de opiniões divergentes.

c. De execução continuada — é um contrato marcantemente de duração.


As prestações não se realizam em um só momento, mas de forma
continuada e permanente. Tanto as prestações como as contraprestações
são contínuas e vão se repetindo no tempo e no espaço.

d. Internacional — trata-se de contrato, geralmente, internacional, mas


não essencialmente. No Brasil, já está em desenvolvimento o sistema
com empresas brasileiras concedendo franquias a outras nacionais (O
Boticário, Água de Cheiro etc.).

e. Híbrido — é formado por elementos de variados contratos, como o de


fornecimento, de concessão, de prestação de serviços e outros.

f. Formal — é um ato jurídico solene, submetendo-se a formas precisas e


exigidas pela lei. Sua elaboração fica à vontade das partes, sem prender-
se a formalidades, não estando a descoberto da lei.

g. Empresarial — é estabelecido entre duas empresas, em que o franqueador


é uma empresa coletiva, embora não seja vedado que seja empresa
individual.

h. Comutativo — sendo empresarial e oneroso, implica a equivalência possível


da utilidade obtida pelas partes que conhecem, antecipadamente, seus
direitos e obrigações, procurando conciliá-los de forma a conseguirem
equivalência de valores.

Tipo de contrato
Formalmente, o contrato de franquia empresarial é um contrato de adesão. A Lei chama-o
de contrato-padrão. Perante o Direito italiano, o contrato de adesão, conforme previsto
no art. 1.332 do Código Civil italiano, é aquele que tenha que ser registrado e aprovado
pelo Poder Público. Por outro lado, o art. 1.340 do mesmo código registra “o contrato

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CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

celebrado mediante módulo ou formulário”, em que as cláusulas são predispostas no


módulo ou formulário para disciplinar determinadas relações jurídicas.

Sendo da modalidade do contrato de adesão, em que o franqueador impõe todas as


cláusulas ou as rejeita em bloco, a lei lhe impõe uma série imensa de obrigações. A oferta
de contrato deve ser clara e a mais minuciosa possível para evitar que o franqueado seja
induzido a erro. Sempre que o franqueador tiver interesse na implantação de sistema
de franquia empresarial, deverá fornecer ao interessado em tornar-se franqueado uma
Circular de Oferta de Franquia, por escrito e em linguagem clara e acessível, contendo
uma série de informações, modelo de contrato-padrão de franquia adotado por este,
com texto completo, inclusive dos respectivos anexos e prazo de validade.

Conforme o exposto, pode-se considerar o contrato de franquia como um contrato


tipicamente empresarial, consensual, de prestação contínua e recíproca, formal,
complexo ou principal, nominado, oneroso. É tipicamente empresarial por ser celebrado
entre duas empresas, tanto que a lei o chama, por vezes, de franquia empresarial.

O fato de constar “nível de escolaridade” do franqueado significa que pode ser uma
empresa individual, mas suas atividades são mercantis. É contrato consensual por
aperfeiçoar-se a entrega de coisas para sua celebração. Não é contrato de prestação
instantânea, mas continuada; pode ser por tempo indeterminado ou não, mas com
prestações contínuas.

É do modelo, por alguns chamado, de bilateral ou sinalagmático (são os contratos em que


existe uma reciprocidade entre as obrigações das partes), mas prefere-se a classificação
italiana de contrato de prestações recíprocas. Cria obrigações para ambas as partes e
de uma para com a outra, ou seja, o franqueador assume determinadas obrigações para
com o franqueado e este as assume para com o franqueador.

Por delinear a lei seus requisitos básicos, é um contrato formal. O formalismo previsto
pela lei implica que seja por escrito e na presença de duas testemunhas. A adoção legal
do contrato-padrão é um formalismo que o aproxima muito de um contrato de adesão.

Antes mesmo da celebração do contrato, a oferta e aceitação dele processa-se de


maneira formal, devendo constar a oferta da Circular de Oferta de Franquia e como tal
é reconhecido no país.

O contrato de franquia empresarial pode ser um contrato complexo, fundindo-se


em um único documento um complexo de contratos. É então, um contrato em que o
franqueador concede licença ao franqueado para utilizar o nome de fantasia, as marcas
patentes, o know-how e os direitos de propriedade industrial detidos pelo franqueador;

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UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

integram-se ainda nele o contrato de serviços de treinamento a serem prestados pelo


franqueador, a assistência técnica e outros serviços, bem diferentes um do outro.

Cláusulas diversas sobre pagamento de publicidade, sobre fornecimento de


equipamentos ou mesmo relacionamento com outras empresas integram-se no contrato
de franquia empresarial.

Às vezes, o contrato de franquia empresarial é um contrato principal, entrando-se nele


vários contratos acessórios, referentes aos serviços prestados; neste caso, o contrato de
franquia é o principal.

Com a Lei no 8.955/1994, passou a ser considerado um contrato nominado. Essa


modalidade de contrato, também conhecido como típico, não é apenas um contrato
a que a lei dá um nome, mas ao qual a lei traça as linhas básicas. Nesse aspecto, o
contrato de franquia é ultranominado, bastante tipificado pela lei que lhe dá contornos
bem definidos.

Finalmente, é um contrato oneroso, uma vez que provoca variação patrimonial de


ambas as partes. As duas auferem lucros e, ao mesmo tempo, aplicam recursos em suas
atividades.

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CAPÍTULO 3
Cláusulas que devem estar presentes
em um contrato de franquia

O franqueador, ao decidir atuar dentro deste sistema de negócios, deve inicialmente


preparar a sua empresa para isto, estruturando todas as suas operações no franchising.
Desse processo, ele sai com dois importantes documentos, que são a Circular de Oferta
da Franquia e o Contrato de Franquia.

Vejamos os pontos essenciais que devem constar no contrato:

a. a identificação das partes;

b. o objeto da franquia;

c. o início das operações;

d. os direitos do franqueador e do franqueado;

e. os bens e/ou serviços prestados ao franqueado;

f. as obrigações do franqueador e franqueado;

g. o detalhamento das condições financeiras da franquia;

h. a duração do contrato;

i. os fornecedores indicados, exclusivos ou não;

j. os aspectos da renovação do contrato;

k. as condições de cessão ou transmissão dos direitos;

l. a não concorrência;

m. o uso dos elementos identificadores da franquia;

n. a confidencialidade e sigilo;

o. os direitos de evolução da franquia;

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UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

p. a cláusula de rescisão;

q. a cláusula de recuperação, pelo franqueador, dos elementos que


pertencem a franquia, caso ocorra a cessação do contrato antes do termo
final e o foro competente.

Esses são os pontos indispensáveis e destacam outros valores dos contratos, dentre eles
a necessidade de ser consensual e harmonizar os interesses; trata-se de um contrato de
execução contínua, tem todo o projeto de assistência do franqueador. Caracteriza-se
também por ser um contrato de adesão.

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CAPÍTULO 4
Cuidados a serem tomados na
elaboração e na assinatura de um
contrato de franquias (SEBRAE)

A decisão por uma franquia exige do franqueador e do franqueado bastante conhecimento


empresarial e certas garantias entre as partes.

É preciso uma grande disposição de negociação, até se concluir pela assinatura do


contrato definitivo.

O novo paradigma de negociações centra-se no ideal do “ganha a ganha” para ambas as


partes, dentro de padrões éticos, voltados para maiores benefícios ao cliente final. Esses
benefícios revertem-se em lucros empresariais.

Para escolha de uma franquia, devem ser avaliados em conjunto todos os aspectos
técnicos do Plano de Negócio, a maturidade e força da marca, a ética e respeito de
padronização da rede, o potencial do negócio frente ao mercado; a adaptação à cultura
local e regional; o nível de rentabilidade comparativo, e, principalmente, a confiabilidade
entre as partes.

Veja a seguir, passo a passo, as etapas para uma franquia:

Passo 1 — Autoanálise do perfil empresarial


A capacidade para empreender exige algumas aptidões básicas, um perfil adequado
para o êxito nos negócios.

Antes de se iniciar no mundo empresarial, é importante que o empreendedor realize


uma autoavaliação, refletindo honesta e objetivamente sobre aspectos fundamentais de
sua personalidade.

Esses aspectos constituem-se em aptidões pessoais ou empresariais que vão influenciar


nas futuras decisões, no sucesso das iniciativas. Veja, a seguir, as qualidades de um
empreendedor, e como diagnosticar essas qualidades.

Inteligência Emocional

»» Você se relaciona bem com outras pessoas?

»» Tem muitos amigos? Está sempre fazendo novas amizades?

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UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

»» Consegue manter suas amizades?

»» Tem força psicológica para suportar decepções?

»» Gosta das pessoas, independentemente de suas opiniões pessoais?

Passo 2 — Optando entre a franquia e o


negócio independente
Antes de entrar no sistema de franquia, é importante que o novo empreendedor compare
as vantagens e desvantagens entre um negócio independente e uma franquia.

Franquia

No caso de franquia, o negócio já nasce completo, envolvendo a concessão e distribuição


e/ou transferência de:

»» marca, nome;

»» tecnologia;

»» consultoria operacional;

»» produtos ou serviços.

Há exigências de padrão da rede, o que significa para o empresário:

»» menor liberdade de ação;

»» menor margem de riscos.

Negócio Independente

No caso de negócio independente, existe necessidade de obter:

»» marca, nome;

»» tecnologia;

»» consultoria operacional;

»» produtos ou serviços.

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CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

Não há exigência de padrão de rede, o que significa para o empresário:

»» maior liberdade de ação;

»» maior grau de risco, em caso de inexperiência de mercado.

Em ambos os casos, há necessidade de se avaliar os detalhes básicos de cada componente


de uma empresa.

Analise os seguintes aspectos, em conformidade com o plano de negócios:

»» produto ou serviço;

»» localização;mercado;

»» tecnologia/metodologia;

»» administração de pessoal;

»» suprimento, máquinas e equipamentos.

Passo 3 — Identificando expectativas

É importante que franqueado e franqueador coloquem suas aspirações e expectativas


na negociação da franquia, identificando o papel de cada um na relação de negócios.

Franqueador e franqueado devem buscar em conjunto:

»» a identificação de perfis,

»» a definição de uma concepção diferenciada do empreendimento,

»» a solução e prevenção de eventuais e futuros problemas na relação


comercial,

»» a avaliação de situações não estabelecidas em contrato.

Veja, a seguir, as expectativas de franqueadores e franqueados.

Franqueador

»» Exige liderança nos rumos do negócio.

»» Espera que o franqueado seja seu distribuidor, ou multiplicador, em uma


filosofia ética de terceirização de serviços.

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UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

»» Deseja multiplicar a rede franqueada, reproduzir junto ao mercado os


conceitos e padrões obtidos pela experiência.

»» Espera que o franqueado seja um vendedor ativo, constante, assíduo,


comprometido com o sucesso no dia a dia da sua empresa.

Franqueado

»» Espera ser bem-sucedido, com todas as possibilidades de expansão do


mercado.

»» Confia no estágio e ciclo de vida do negócio.

»» Crê na força da marca registrada.

»» Deseja um bom nível de operacionalização, comercialização da rede.

»» Confia no potencial do empreendimento, na originalidade, tecnologia,


qualidade e segurança dos produtos/serviços.

»» Espera bom atendimento, consultoria, ética na relação comercial.

»» Espera rentabilidade, de acordo com seu investimento.

Passo 4 — Conhecendo as vantagens e riscos das


franquias

O fato de optar por uma franquia não significa que o negócio terá sucesso total.

Existem diferentes tipos de franquias, de franqueadores e de franqueados.

Na realidade, cada franquia exige um perfil diferenciado, como diz o velho ditado:
“Existe uma franquia certa para o franqueado correto”.

Há vantagens e riscos como em qualquer negócio.

Ao optar pelas franquias, tenha sempre em mente os riscos comuns de determinadas


franquias.

Para conhecê-los, siga as seguintes recomendações, em busca de referências.

»» Visite, consulte e analise os demais franqueados da rede, e, sobretudo


de outras redes, as diversas modalidades de franquias, as vantagens e
desvantagens.

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CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

»» Troque ideias com os demais franqueados e com seus amigos, verificando


a aceitação do negócio nestes universos de pesquisa.

»» Busque informações bancárias.

Passo 5 — Pesquisando as Melhores Franquias

A marca é de fundamental importância na escolha de uma franquia. Dela depende a


reputação dos produtos ou serviços junto ao Mercado.

O franqueado deverá, inicialmente, escolher um negócio com o qual se identifica,


analisar as melhores marcas existentes no mercado, seu estágio de aceitação, de
ascensão, maturidade ou declínio, antes de optar pela franquia.

Posteriormente, recomenda-se realizar a pesquisa propriamente dita, para conhecer


os demais componentes da Franquia — tecnologia adotada, consultoria operacional
oferecida, os produtos e/ou serviços. Veja como pesquisar:

Listando as melhores franquias:

»» Selecione as franquias que mais se identificam com você.

»» Não escolha apenas pelo produto, ou serviço, mas pelo composto geral da
franquia — marca, tecnologia, consultoria operacional.

»» Onde procurar: SEBRAE, Instituto Franchising, Associação Brasileira de


Franchising, cursos e literatura específica.

Entrando em contato com os franqueadores:

»» Escreva ou telefone para os franqueadores selecionados. Verifique seu


nível de atendimento. Não se esqueça: Você também está sendo avaliado.

»» Marque uma reunião. Solicite informações detalhadas e envio de material.

»» Prefira falar direto com o franqueador, ou responsável, e cuidado com


intermediários ou corretores. Pré-seleção de franquias:

»» Analise criteriosamente o material enviado.

»» Selecione os 3 melhores negócios.

»» Liste suas dúvidas. Marque novas entrevistas com os selecionados.

21
UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

»» Procure conhecer in loco a organização do franqueador e veja suas


referências.

»» Dê preferência em realizar as entrevistas na sede da organização.

Passo 6 — Analisando os Tipos de Franquias

Após receber o material das franquias, comece sua classificação e avaliação sobre o
estágio da franquia.

Para classificar o tipo de franquia, consulte: Tipos de Franquia.

A avaliação do tipo ou estágio da franquia envolve o seguinte aspecto: faça uma ficha
para cada franquia, anotando suas características, a seguir:

Tipo de Concessão:

»» Marca?

»» Produto ou serviço?

»» Revenda ou distribuição exclusiva?

»» Operação comercial do negócio?

»» Liberdade de ação para o franqueado?

»» Há contrato?

»» Investimentos do franqueador:

»» Tipo de assistência/consultoria:

»» Experiências-piloto:

Pilotos:

Atuais:

Desistentes:

Avaliação: Nível de profissionalização:

Tendência de mercado:

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CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

Grau de risco:

Verifique a geração da franquia:

primeira, segunda, terceira, quarta ou quinta?

Importante: busque referências da franquia junto aos franqueados-pilotos (iniciantes


ou modelos da franquia), franqueados atuais e franqueados desistentes.

Passo 7 — Analisando as Modalidades de Franquias

Uma análise das modalidades das franquias envolve os seguintes aspectos:

Modalidades de Negócio, Modalidades de Atuação Geográfica, Modalidades de


Remuneração.

Veja as classificações de cada modalidade e analise as franquias pré-selecionadas.

Analisando a modalidade do negócio, faça uma ficha para cada franquia. Classifique
cada franquia pela modalidade de negócio adotada: franquia individual, franquia de
conversão, franquia combinada, franquia shop in shop ou franquia de miniunidades.

Analisando a modalidade geográfica, faça uma ficha para cada franquia.

Classifique cada franquia pela modalidade de atuação geográfica adotada: franquia


individual, franquia múltipla, franquia regional, franquia de desenvolvimento de área,
franquia master ou franquia de representação.

Analisando a remuneração da franquia, f

aça uma ficha para cada franquia.

Classifique cada franquia pela modalidade de atuação geográfica adotada:

franquia de distribuição, franquia pura ou franquia mista.

Passo 8 — Analisando as taxas de franquia

A análise das taxas das franquias envolve os seguintes aspectos:

»» Taxa de Franquia.

»» Taxa de Royalties.

23
UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

»» Taxa de Propaganda e Promoção.

Veja os tipos de taxa e analise as franquias pré-selecionadas.

Analisando a taxa de franquia, faça uma ficha para cada franquia. Classifique cada
franquia pela taxa inicial adotada.

A taxa inicial remunera o direito de uso da marca.

Veja a potência e maturidade da marca e compare com outras franquias.

Analisando a taxa de royalties, classifique cada franquia pela taxa de royalties adotada.

Essa taxa remunera:

»» Tecnologia dos produtos/ou serviços;

»» Estudos de mercado, a curto, médio e longo prazos;

»» Cursos de aprendizagem na área do negócio;

»» Apoio na negociação e formalização do ponto comercial;

»» Projeto arquitetônico e padronização visual;

»» Projeto de inauguração e de promoções utilizados pela rede;

»» Manuais de operação de negócios.

Faça a projeção do faturamento bruto e compare.

Analisando a taxa de propaganda e promoção, classifique cada franquia pela taxa de


publicidade e promoções. Essa taxa remunera:

»» Custo de campanhas;

»» Custo de criação, custo de produção, custo de veiculação (opcional);

»» Periodicidade das campanhas; Participação na escolha de mídias;

»» Taxa de rateio.

Veja o percentual de participação e compare com campanha de negócio independente


e de outras franquias.

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CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

Passo 9 — Decidindo pela melhoria da franquia

Uma decisão pela melhor franquia envolve uma série de fatores básicos, que podem ser
aglutinados na fórmula do 5WH.

Essa fórmula, famosa em todo o mundo, racionaliza as questões para toda e qualquer
decisão, empresarial ou pessoal.

O 5WH — WHAT? HOW? WHEN? WHERE? HOW MUCH? — o quê? como? quando?
onde? quanto? — podem ser aplicados, oferecendo um resumo comparativo entre as
franquias, para facilitar a decisão.

»» O Quê — Tipo de franquia.

»» Como — Modalidade, Negócio, Geografia e Remuneração.

»» Quando — Vigência da Franquia, Tempo no Mercado, Vigência do


Pré-Contrato ou Vigência do Contrato.

»» Onde — Área(s) Específica(s), Área A, Área B ou Área C.

»» Quanto — Taxa Franquia, Royalties, Propaganda.

As informações anteriormente citadas são imprescindíveis e são compactas. Reserve um


local para detalhes específicos, observações e notas importantes. Adote pontuação para
todos os itens, observando sempre valores que mais se aproximam de suas expectativas.

Passo 10 — Avaliando a documentação

No Brasil, tornou-se obrigatória a Circular de Oferta de Franquia, a partir da Lei no


8.955, de 14/12/1994, que permite:

»» ao franqueado, conhecer a empresa franqueadora e seus sócios.

»» ao franqueador, conhecer suas referências.

Para o franqueador, todas as informações serão avaliadas, por meio de pesquisas junto
ao universo do franqueado. Pode ser exigido um termo de confidencialidade, para evitar
o vazamento de dados aos concorrentes.

O franqueado deve considerar o que o franqueador vai lhe oferecer e verificar a garantia
deste apoio.

25
UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

O franqueador deve considerar o mesmo, em termos da identificação de expectativas e


de responsabilidades contratuais entre as partes.

Para o franqueado e franqueador, haverá uma relação de negócios.

O que vale, perante as leis, é fundamentalmente o que está escrito em contrato.

É importante:

»» reunir toda a documentação possível, profissional e pessoal.

»» incluir a documentação de seus sócios, na empresa franqueada as de sua


família, não omitindo informações.

»» as referências pessoais, financeiras.

Observação: o franqueador pode descobrir informações incorretas, comprometendo os


passos futuros do franqueado em todas as redes de franquias.

Passo 11 — Avaliando a documentação

Todo e qualquer negócio deve ter um contrato comercial.

Os contratos, independentemente do tempo de vigência, devem ser analisados em todas


as minúcias e detalhes, de preferência com assistência e orientação jurídica, de forma a
descobrir pontos com dúbia interpretação ou não evidenciados.

No caso de franquia, é aconselhável o pré-contrato, ou Carta de Intenção.

Características do Pré-Contrato:

»» Ter 2 ou 3 páginas, no máximo.

Definir as condições básicas do negócio, para uma fase experimental, incluindo:

›› treinamento.

›› garantia da localização;

›› assistência técnica ao franqueado, na escolha do ponto comercial;

›› decoração.

Observação: é usual um depósito bancário (não restituível) de 20% do valor da taxa de


ingresso, por conta dos serviços prestados.

26
CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

Passo 12 — Assinando o Contrato Definitivo

Este é um passo decisório para o empresário, após analisar todos os aspectos que
envolvem os passos anteriores. Inclui, sobretudo, a decisão de não assumir a franquia.

O contrato definitivo inclui:

»» todas as cláusulas e condições operacionais e suas especificidades;

»» as partes críticas;

»» auditorias;

»» prestação de contas.

A experiência ocorrida no pré-contrato é fundamental para o contrato definitivo.

De acordo com a experiência e determinações legais, o contrato deve ser:

»» escrito por ambas as partes interessadas, assinado na presença de 2


testemunhas, registrado em cartório, para maior força de compromisso
entre as partes.

O novo empreendedor deverá analisar sua disposição e respeito aos compromissos


éticos e financeiros e os riscos do negócio, consciente que deverá pagar um preço final.

27
CAPÍTULO 5
Lei de Franquia 8.955/1994

Antes da Lei no 8.955/1994, o franchising no Brasil não dispunha de nenhuma legislação


específica para regulamentar a atividade. Por apresentar índices de crescimento
anuais muito acima dos índices de crescimento da economia nacional — e também por
ser mais seguro do que abrir um negócio por conta própria —, o franchising atraía
muitos investidores incautos. Pessoas que, na ansiedade de fazer um bom negócio, se
deixavam levar pela emoção e não analisavam o sistema de direitos e deveres a que
seriam submetidas.

Por outro lado, pessoas mais experientes deparavam com informações insuficientes
para tomar a decisão de adquirir, ou não, uma franquia. Essas pessoas, muitas vezes,
deixavam de fechar negócios muito bons por não se sentirem confortáveis com a
situação.

Assim, muitos franqueados desistiram de franquias por motivos dos mais variados e,  ao
saírem, não raro, pediram indenizações dos franqueadores alegando terem comprado
‘gato por lebre’. Nesses casos, coube aos franqueadores o ônus da prova.

Depois de muitas batalhas, as associações vinculadas ao franchising conseguiram


que se regulamenta-se o contrato de franquia empresarial pela Lei no 8.955, de 15 de
dezembro de 1994. Desta forma, passou a ser o franchising um contrato nominado com
suas linhas básicas traçadas na lei brasileira, com o nome de franquia empresarial. A
ementa da lei expõe sua finalidade: “...dispõe sobre o contrato de franquia empresarial
(franchising)”.

O Texto da Lei
LEI No 8.955, DE 15 DE DEZEMBRO DE 1994.

Dispõe sobre o contrato de franquia empresarial (franchising) e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e


eu sanciono a seguinte lei:

Art. 1o Os contratos de franquia empresarial são disciplinados por esta lei.

Art. 2o Franquia empresarial é o sistema pelo qual um franqueador cede ao franqueado


o direito de uso de marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva
28
CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

ou semiexclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, também ao direito de


uso de tecnologia de implantação e administração de negócio ou sistema operacional
desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante remuneração direta ou indireta,
sem que, no entanto, fique caracterizado vínculo empregatício.

Art. 3o Sempre que o franqueador tiver interesse na implantação de sistema de


franquia empresarial, deverá fornecer ao interessado em tornar-se franqueado uma
circular de oferta de franquia, por escrito e em linguagem clara e acessível, contendo
obrigatoriamente as seguintes informações:

I — histórico resumido, forma societária e nome completo ou razão social do franqueador


e de todas as empresas a que esteja diretamente ligado, bem como os respectivos nomes
de fantasia e endereços;

II — balanços e demonstrações financeiras da empresa franqueadora relativos aos dois


últimos exercícios;

III — indicação precisa de todas as pendências judiciais em que estejam envolvidos


o franqueador, as empresas controladoras e titulares de marcas, patentes e direitos
autorais relativos à operação, e seus subfranqueadores, questionando especificamente
o sistema da franquia ou que possam diretamente vir a impossibilitar o funcionamento
da franquia;

IV — descrição detalhada da franquia, descrição geral do negócio e das atividades que


serão desempenhadas pelo franqueado;

V — perfil do franqueado ideal no que se refere à experiência anterior, nível de


escolaridade e outras características que deve ter, obrigatória ou preferencialmente;

VI — requisitos quanto ao envolvimento direto do franqueado na operação e na


administração do negócio;

VII — especificações quanto ao:

a) total estimado do investimento inicial necessário à aquisição, implantação e entrada


em operação da franquia;

b) valor da taxa inicial de filiação ou taxa de franquia e de caução; e

c) valor estimado das instalações, equipamentos e do estoque inicial e suas condições


de pagamento;

29
UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

VIII — informações claras quanto a taxas periódicas e outros valores a serem pagos pelo
franqueado ao franqueador ou a terceiros por este indicados, detalhando as respectivas
bases de cálculo e o que as mesmas remuneram ou o fim a que se destinam, indicando,
especificamente, o seguinte:

a) remuneração periódica pelo uso do sistema, da marca ou em troca dos serviços


efetivamente prestados pelo franqueador ao franqueado (royalties);

b) aluguel de equipamentos ou ponto comercial;

c) taxa de publicidade ou semelhante;

d) seguro mínimo; e

e) outros valores devidos ao franqueador ou a terceiros que a ele sejam ligados;

IX — relação completa de todos os franqueados, subfranqueados e subfranqueadores


da rede, bem como dos que se desligaram nos últimos doze meses, com nome, endereço
e telefone;

X — em relação ao território, deve ser especificado o seguinte:

a) se é garantida ao franqueado exclusividade ou preferência sobre determinado


território de atuação e, caso positivo, em que condições o faz; e

b) possibilidade de o franqueado realizar vendas ou prestar serviços fora de seu território


ou realizar exportações;

XI — informações claras e detalhadas quanto à obrigação do franqueado de adquirir


quaisquer bens, serviços ou insumos necessários à implantação, operação ou
administração de sua franquia, apenas de fornecedores indicados e aprovados pelo
franqueador, oferecendo ao franqueado relação completa desses fornecedores;

XII — indicação do que é efetivamente oferecido ao franqueado pelo franqueador, no


que se refere a:

a) supervisão de rede;

b) serviços de orientação e outros prestados ao franqueado;

c) treinamento do franqueado, especificando duração, conteúdo e custos;

d) treinamento dos funcionários do franqueado;

e) manuais de franquia;

30
CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

f) auxílio na análise e escolha do ponto onde será instalada a franquia; e

g) layout e padrões arquitetônicos nas instalações do franqueado;

XIII — situação perante o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) das


marcas ou patentes cujo uso estará sendo autorizado pelo franqueador;

XIV — situação do franqueado, após a expiração do contrato de franquia, em relação a:

a) know how ou segredo de indústria a que venha a ter acesso em função da franquia; e

b) implantação de atividade concorrente da atividade do franqueador;

XV — modelo do contrato-padrão e, se for o caso, também do pré-contrato-padrão


de franquia adotado pelo franqueador, com texto completo, inclusive dos respectivos
anexos e prazo de validade.

Art. 4o A circular oferta de franquia deverá ser entregue ao candidato a franqueado no


mínimo 10 (dez) dias antes da assinatura do contrato ou pré-contrato de franquia ou
ainda do pagamento de qualquer tipo de taxa pelo franqueado ao franqueador ou a
empresa ou pessoa ligada a este.

Parágrafo único. Na hipótese do não cumprimento do disposto no caput deste artigo,


o franqueado poderá arguir a anulabilidade do contrato e exigir devolução de todas as
quantias que já houver pago ao franqueador ou a terceiros por ele indicados, a título
de taxa de filiação e royalties, devidamente corrigidas, pela variação da remuneração
básica dos depósitos de poupança mais perdas e danos.

Art. 5o (VETADO).

Art. 6o O contrato de franquia deve ser sempre escrito e assinado na presença de 2


(duas) testemunhas e terá validade independentemente de ser levado a registro perante
cartório ou órgão público.

Art. 7o A sanção prevista no parágrafo único do art. 4o desta lei aplica-se, também, ao
franqueador que veicular informações falsas na sua circular de oferta de franquia, sem
prejuízo das sanções penais cabíveis.

Art. 8o O disposto nesta lei aplica-se aos sistemas de franquia instalados e operados no
território nacional.

Art. 9o Para os fins desta lei, o termo franqueador, quando utilizado em qualquer de
seus dispositivos, serve também para designar o subfranqueador, da mesma forma que
as disposições que se refiram ao franqueado aplicam-se ao subfranqueado.

31
UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

Art. 10. Esta lei entra em vigor 60 (sessenta) dias após sua publicação.

Art. 11. Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 15 de dezembro de 1994;

173o da Independência e 106o da República.

ITAMAR FRANCO

Ciro Ferreira Gomes

Mensagem de veto ao Art. 5o

Mensagem no 1.154

Senhor Presidente do Senado Federal,

Comunico a Vossa Excelência que, nos termos do parágrafo 1o do artigo 66 da Constituição


Federal, decidi vetar parcialmente o Projeto de Lei no 318, de 1991 (no 2/92 no Senado
Federal), que «dispõe sobre o contrato de franquia empresarial (franchising) e dá
outras providências”.

Ouvido, o Ministério da Fazenda assim se manifestou quanto ao seguinte veto:

Art. 5o «Art. 5o As despesas de royalties, de publicidade, de aluguel de marca,


de utilização pelo uso de marca, de sistema de know how e quaisquer outras pagas
periodicamente ao franqueador serão consideradas despesa operacional dedutível
para fins de apuração de lucro real do franqueado ou de empresa que o franqueado
constitua para operar a franquia, observado o disposto no art. 71 da Lei no 4.506, de 30
de novembro de 1964, e legislação superveniente.»

Razão do veto

Objetiva o art. 5o regular em que situações as despesas realizadas pelas empresas


franqueadas com royalties, publicidade, aluguel de marca e outras são dedutíveis na
apuração do lucro real.

A legislação do imposto de renda dispõe que são dedutíveis na apuração do referido


lucro as despesas necessárias, pagas ou incorridas para a realização das transações ou
operações exigidas pela atividade da empresa.

32
CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

Particularmente, o art. 71 da Lei no 4.506/1964 regula em que situações as despesas


com royalties e aluguel são admitidas como dedutíveis na apuração do lucro real.

Como se observa, a matéria de que trata o art. 5o do projeto de lei já se encontra albergada
pela legislação do imposto de renda, sendo ele, portanto, desnecessário, razão pela qual
se impõe o seu veto.

Estas, Senhor Presidente, as razões que me levaram a vetar parcialmente o projeto em


causa, por contrariar o interesse público, as quais ora submeto à elevada apreciação dos
Senhores Membros do Congresso Nacional.

Brasília, 15 de dezembro de 1994.

Interpretação da lei disciplinadora da franquia


empresarial

O art. 2o apresenta o conceito de contrato, evidenciando as duas partes intervenientes


e incluindo o que já foi enfatizado anteriormente sobre o que foi coletado no direito e
nas práticas internacionais.

O referido artigo aponta que o franqueador “cede”, mas na verdade “licencia”. Não há
uma transferência definitiva de direitos, mas sim temporária. A lei não se afasta das
práticas mercantis internacionais, mas é interessante apresentar alguns vieses das
disposições legais.

Três tipos de contrato de licenciamento inserem-se no contrato da franquia empresarial:

a. Direito de uso de marca ou patente — o franqueado vai produzir e


comercializar produtos com marca consagrada e divulgada. Como
exemplo, cita-se a rede de lanchonetes McDonald´s. O franqueado
trabalha com marcas como “Big Mac” que é marca registrada no
Instituto Nacional de Propriedade Industrial — INPI para ter caráter de
exclusividade. Várias patentes entram nesse licenciamento como a do
uniforme a ser usado pelos funcionários do franqueado.

b. Direito de distribuição exclusiva ou semiexclusiva de produtos e


serviços — por esse contrato, o franqueado poderá vender os produtos
patenteados, com exclusividade. Convém ressaltar que produtos
franqueados são de venda passiva, ou seja, de forte comercialização.

33
UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

c. Direito de uso de tecnologia de implantação de negócio ou sistema


operacional — ou seja, o know-how do trabalho e da organização da
empresa do franqueado desenvolvidos ou detidos pelo franqueador.
Neste, estão incluídos um layout e padrões arquitetônicos nas instalações
do franqueado, a utilização dos equipamentos, fórmulas de composição
de insumos de fabricação, como por exemplo, na fabricação de sorvetes;
enfim, o que chama o Código de Propriedade Industrial de segredos de
indústria.

34
CAPÍTULO 6
Responsabilidade legal do franqueado
e do franqueador

O ponto da relação legal entre franqueador x franqueado define-se como: uma relação
jurídica contratual, com base na lei de franquia e também nas demais previsões
aplicáveis baseadas no Código Civil. Há direitos e obrigações para ambas as partes,
como qualquer outro contrato, atendidas as disposições mínimas e específicas da Lei no
8.955/1994. Geralmente, nele é previsto que as partes são pessoas jurídicas autônomas
e distintas, sem vínculo trabalhista ou de cunho societário.

Sob o prisma trabalhista, a própria lei de franquia deixa muito claro que inexiste vínculo
de emprego entre o franqueador e franqueado. A distinção das pessoas jurídicas, sua
independência e trabalho sob a forma de franquia deixam bem patente a situação jurídica
trabalhista entre as partes: empregados do franqueado são de sua responsabilidade, não
havendo o que se perquerir sob responsabilidade solidária ou subsidiária. A questão da
supervisão e fiscalização do franqueador se traduz aos limites de controle e gerência
de sua marca e métodos, monitorando se o franqueado está cumprindo com seu dever
contratual e seguindo os padrões da franquia, nada mais. Sendo a realidade fática de
um contrato de franquia genuíno, nenhuma responsabilidade poderá ser imposta ao
franqueador.

Contudo, havendo simulação ou real ingerência do franqueador, poderá ser caracterizado


como atuação de mesmo grupo econômico, trazendo para si a aplicação do art. 2o , §2o
da CLT:

Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade
jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra,
constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade
econômica, serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente
responsáveis a empresa principal e cada uma das subordinadas,

acarretando na responsabilidade solidária. E há também a hipótese de se reconhecer a


responsabilização subsidiária do franqueador nos casos de terceirização dos serviços de
forma dissimulada, participando da relação trabalhista existente entre empregados do
franqueado e este, trazendo a aplicação do item IV do Enunciado 331 do TST.

No campo civil e consumerista, a franquia, como inerente a qualquer outro negócio, está
sujeita a possíveis problemas oriundos da relação com seus clientes, em situações em

35
UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

que tenham se sentido lesados pela falta de atendimento ou má prestação dos serviços.
Nestes casos, em uma eventual disputa judicial, poderão acionar além do franqueado
também o franqueador para ser corresponsável em uma ação judicial. Novamente,
cremos na isenção do franqueador, já que o franqueado será o único responsável com a
relação havida entre ele e seus clientes, não podendo o franqueador ser responsabilizado
por atos de que não participe e que não tenha nenhuma relação jurídica ou gerência
direta, devendo ser observada a distinção clara e separação de personalidades jurídicas
a que alude a lei de franquia.

No entanto, o tema pode evoluir para outras situações mais complexas, podendo ocorrer,
por exemplo, a má informação de um serviço ou produto em que o franqueador tenha
desenvolvido e posto na franquia, repassando ao franqueado para operacionalização.
Nesse caso, nos parece correta a responsabilidação solidária inscrita no art. 12 e
seguintes do Código de Defesa do Consumidor (CDC), sendo uma situação totalmente
distinta do parágrafo anterior.

Deste modo, nos parece que a lei de franquia está apta a realizar toda a operação
jurídica contratual entre o franqueador e franqueado, encerrando entre eles deveres
e obrigações muito bem delimitados. A par disso, há a operacionalização da franquia
pelos franqueados, assumindo seus negócios e riscos inerentes, como qualquer outra
empreitada, possuindo total e distinta relação com o franqueador de cunho trabalhista,
societário, civil e consumerista.

É primordial para a segurança jurídica do business plan a real instituição de uma


franquia, traduzindo-se em um contrato sólido entre as partes, com toda a análise jurídica
devida, para que a lei possa oferecer todo o amparo legal devido (tanto ao franqueador
como ao franqueado), além de ser primordial analisar cada situação para se identificar
se há a isenção de qualquer tipo de responsabilidade, ou se há a caracterização da
responsabilidade subsidiária ou solidária entre franqueador e franqueado.

Os elementos caracterizadores da franquia no Brasil, descrito na norma, permite dizer


que há duas empresas envolvidas em um negócio, no qual, uma mais forte e estabelecida
no mercado cede, mediante pagamento estabelecido no contrato (que nesse momento
é atípico), a sua marca, para exploração e, mais que isso, também cede e assessora no
modus operandi do negócio, que deverá ser o mesmo da empresa-mãe, para que todos
os procedimentos sejam padronizados e a marca reconhecida em qualquer lugar.

Observa-se também que é exigida a distribuição exclusiva ou semiexclusiva dos


produtos ou serviço, tendo em vista que, caso o franqueado optasse por vender mais de
uma marca, em forma de franquia, não haveria como seguir duas ou mais diretrizes de

36
CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

como operar seu negócio, pois acabariam sendo incompatíveis e descumprindo algum
dos contratos ou algumas das exigências postas por alguns dos franqueadores.

Visualiza-se um último aspecto dessa lei, que merece um pouco mais de atenção, e que
estabelece que não haverá vínculo empregatício entre franqueado e franqueador, o que
nos parece por demais cristalino: por se tratar de duas empresas; portanto, não pode
ser empregada a empresa franqueada, por ser pessoa jurídica.

No Direito do Trabalho brasileiro, para que possa haver o vínculo empregatício,


necessário se faz que o empregado seja uma pessoa física e, dessa forma, não jurídica.
É ainda imprescindível que haja a pessoalidade no desempenho do trabalho, bem como
que seja habitual, que haja subordinação entre os contratantes e que haja pagamento
pela prestação laboral.

Na relação entre franqueado e franqueador, como já visto, há um pagamento de


royalties, que está previsto contratualmente pelas partes quando da avença do pacto da
franquia. Não se trata de uma contraprestação por qualquer trabalho executado como
em uma relação trabalhista existente entre empregado e empregador, mas uma parcela
do lucro auferido com a marca já estabelecida no mercado pelo franqueador, com seu
esforço e sua metodologia de trabalho, e da qual o franqueado usufrui livremente a
partir do início da franquia.

Apesar de o franqueador prestar uma assessoria ao franqueado para garantir o êxito


do negócio, e também, o fortalecimento da empresa-mãe, o pagamento se dá como
uma contraprestação pelo uso da marca e não como uma contraprestação pelo que se
poderia indicar como um serviço prestado.

A pessoalidade está presente somente na relação empregatícia, pois se exige a execução


do trabalho a ser feito pelo empregado, exclusivamente, não podendo ser desempenhado
por outra pessoa, e, jamais por uma pessoa jurídica, como ocorre no caso entre
franqueado e franqueador, devendo ser o empregado sempre pessoa física, como já
dito, sendo esse outro requisito para configurar uma relação laboral empregatícia.

A habitualidade poderá ser visualizada em ambas as modalidades de contrato, pois


tanto a relação empregatícia quanto a relação existente entre franqueado e franqueador
não se exaurem em um único ato, mas se renovam dia a dia, com execução de novas
tarefas por parte do empregado ou com a concessão e usufruto da marca por parte do
franqueado.

O que deveremos observar, entretanto, é a subordinação entre franqueado e franqueador,


que jamais poderá ser parecida com aquela existente na relação entre empregado e
empregador.

37
UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

Quando de um vínculo empregatício, o empregador determina como e o que deverá


ser feito pelo empregado, configurando insubordinação a não execução ou mesmo a
execução de forma diversa daquela determinada pelo empregador, o que poderá gerar
a demissão motivada.

Já na relação existente na franquia, o franqueador determina ou dá as diretrizes de


como deverá ser ministrada a empresa do franqueado, lhe passando a expertise já
adquirida com a marca e até exigindo a implementação de alguns procedimentos para
que haja a padronização da marca, mas jamais a gestão do franqueado na sua empresa
poderá ser de forma engessada, que tolha a autonomia do franqueado, podendo esse
escolher seus fornecedores e a maneira como quer pagar-lhes, por exemplo, devendo
interessar ao franqueador que o resultado seja o esperado, ou melhor, que a empresa
franquia forneça o produto ou o serviço que remeta sempre à marca do franqueador,
fortalecendo-a.

Em outras palavras, o franqueador poderá exigir o cumprimento de determinados


procedimentos sempre com o fim de preservação e qualidade da marca, mas jamais
de maneira a intervir ou mascarar o poder de gestão do franqueado em relação à sua
empresa.

Acerca dessa autonomia do franqueado e do perigo em caracterizar um possível vínculo


empregatício, caso ocorra uma intervenção incisiva por parte do franqueador, tem-se a
explanação de Pestana de Vasconcelos (2010, p.21):

O poder de controle tem como limite a própria independência do franqueado.


Apesar de ter que cumprir escrupulosamente o conjunto de prescrições
estabelecidas pelo franqueador, submetendo-se nessa medida ao seu controle, o
franqueado mantém-se autônomo na sua gestão. Caso a atividade, em concreto,
do franqueador ultrapasse esse limite, aproximando-se do poder de direção da
entidade patronal, aí já estaremos perante um contrato de trabalho.

Assim, resta realmente esclarecido que pelo texto da lei não há vínculo empregatício
na relação entre franqueado e franqueador, a menos que esse último imponha suas
regras de tal forma que reste visível a relação de subordinação do franqueado como
se um empregado fosse, caracterizando o contrato avençado, uma fraude à legislação
trabalhista, e esse é o único meio de se caracterizar um contrato de trabalho entre
franqueado e franqueador.

38
CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

O contrato de trabalho na franquia e a


responsabilidade por débitos trabalhistas
Diante dos primeiros conceitos já aqui trazidos sobre o contrato de franquia e dos
esclarecimentos de inexistência de vínculo empregatício entre franqueado e franqueador,
a menos que seja uma fraude à legislação obreira, passaremos a analisar a relação do
franqueado e do franqueador com os contratos de trabalho realizados pela franquia,
ou seja, a responsabilidade de ambos pelos débitos trabalhistas adquiridos quanto aos
contratos de trabalho realizados pela empresa franqueada.

Nessa linha, faz-se mister que se analise o que seria um contrato de trabalho nas palavras
de Martinez (2011, p.124):

É negócio jurídico pelo qual uma pessoa física (o empregado)


obriga-se de modo pessoal e intransferível, mediante o pagamento
de uma contraprestação (remuneração), a prestar trabalho
não eventual em proveito de outra pessoa, física ou jurídica
(empregador), que assume os riscos da atividade desenvolvida e
que subordina juridicamente o prestador.

Já no que diz respeito à legislação, à luz do direito do trabalho brasileiro, verifica-se na


Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), a definição, no art. 442, que diz que: “

o contrato individual do trabalho é o acordo tácito ou expresso, correspondente à relação


de emprego” e complementado pelo art. 443 no qual se vê que “o contrato individual
do trabalho poderá ser acordado tácita ou expressamente, verbalmente ou por escrito e
por prazo determinado ou indeterminado”. (BRASIL, 1943).

Já no Código do Trabalho Português, encontramos que:

Contrato de trabalho é aquele pelo qual uma pessoa singular se


obriga, mediante retribuição, a prestar a sua atividade a outra ou
outras pessoas, no âmbito de organização e sob a autoridade destas.
(PORTUGAL, 2009).

Um fato chama a atenção na definição elencada na legislação brasileira que seria a


possibilidade de se ter um contrato de trabalho celebrado de forma tácita, qual seja,
de maneira não escrita, mas podendo ser firmado por mera conversa informal, na qual
restariam designados os termos que iriam reger aquela relação de emprego.

A comprovação da realização de contrato de trabalho nessa modalidade tácita


dá-se, simplesmente, com base nos fatos ocorridos, ou seja, como se dava a

39
UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

prestação do serviço em todos os seus termos, remuneração, jornada de trabalho


e tudo o que concerne a uma relação de emprego.

Da mesma forma, convém ressaltar para o nosso estudo que a legislação portuguesa não
criou formalidade ao contrato de trabalho, não exigindo, portanto, que seja realizado
apenas de forma expressa, escrita.

Em ambos os países, pode-se afirmar que o contrato de trabalho poderá se dar de forma
casual, ao ponto em que se poderá configurar uma relação empregatícia mesmo com
quem não se tenha firmado o contrato de trabalho.

Significa, então, que o contrato laboral, mesmo que não tenha sido avençado de maneira
escrita, formal, poderá ser declarado como configurado, o que gerará o respectivo
pagamento de débitos porventura existentes, especialmente, quando analisado pelo
Poder Judiciário, em um julgamento de uma reclamação trabalhista.

Assim sendo, e diante dessa possibilidade, veremos, então, como pode o franqueador
responder por débitos trabalhistas dos empregados da franquia, mesmo diante da não
realização do contrato por sua parte.

Solidariedade trabalhista – art. 2o , parágrafo 2o da CLT

O contrato de franchising, assim como outros contratos, vincula as partes que


o realizam e o que nos causa curiosidade para esse estudo é o que poderá gerar de
obrigações ao franqueador, no que concerne aos débitos trabalhistas adquiridos pela
empresa franqueada, ou seja, para com terceiros não envolvidos no contrato de franquia
avençado.

Na legislação trabalhista brasileira, art. 2o da Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT,


vê-se: “considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os
riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço”.

O mesmo artigo ainda explana em seu § 2o que quando uma ou mais empresas, ainda
que tenham personalidade jurídica própria, se estiverem sob a direção, controle ou
administração de outra, constituirão grupo industrial, comercial ou de qualquer
outra atividade econômica, e serão, todas, para os efeitos da relação de emprego,
solidariamente responsáveis.

O ministro do TST e doutrinador Godinho Delgado (2007, p. 399) explica grupo


econômico como sendo:

A figura resultante da vinculação justrabalhista que se forma entre


dois ou mais entes favorecidos, direta ou indiretamente pelo mesmo

40
CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

contrato de trabalho, em decorrência de existir entre esses entes laços


de direção ou coordenação em face de atividades industriais, comerciais,
financeiras, agroindustriais ou de qualquer outra natureza econômica.

A doutrina portuguesa colabora com o mesmo entendimento, nas palavras de João Leal
Amado (2011, p. 29):

De todo o modo, importa sublinhar que o contrato de trabalho não se


define por aquilo que se promete fazer, isto é, pelo tipo de atividade
em questão, mas sim pelo modo como se promete fazer, isto é, pela
circunstância de essa atividade ser prestada sob a atividade e direção
do empregador. Ora, assim sendo, compreende-se que tanto o operário
têxtil como o empregado bancário, o jornalista como o futebolista, a
empregada doméstica como a caixa de um hipermercado, o médico como
o escriturário, o professor como o ator teatral, o operário metalúrgico
como o treinador desportivo ou o advogado possam assumir as vestes
de trabalhador subordinado por conta de outrem, sendo destinatários
das normas juslaborais.

O que se constata diante do artigo e doutrinas aqui citados é que ainda que o
contrato de trabalho tenha sido celebrado entre empresa franqueada e empregado,
há a possibilidade de a empresa franqueadora ser responsável, na mesma proporção,
pelo referido contrato e consequências, pois será equiparada a empregador, porque
configurado grupo econômico, por força da aplicação da legislação apontada.

O franqueado, em um primeiro momento, é aquele que seleciona e contrata os


empregados que lhe prestarão serviços, acertando as diretrizes do contrato de trabalho,
tais como: valor e data de pagamento da remuneração, jornada de trabalho, função a
ser desempenhada, entre outros aspectos.

Por se tratar de uma franchising, é óbvio que todos os acertos do contrato de trabalho
celebrado deverão estar de acordo com a finalidade do instituto da franquia, ou seja,
dar lucro, obtendo êxito no negócio, mas, também, fortalecendo a marca.

Isso tudo acaba levando sempre ao estrito cumprimento das diretrizes passadas pela
empresa franqueadora, mas que deverá ser por via de consequência, e nunca de forma
direta. No contrato de trabalho, não deverá ter a intervenção de forma imediata pelo
franqueador, visto que a esse não compete a ingerência da empresa franqueada, mas
somente a assessoria da gestão no que diz respeito à padronização dos procedimentos.

A franqueadora poderá até requerer a jornada de trabalho de “x” horas semanais, por
exemplo, mas jamais poderá punir o empregado que não a esteja cumprindo, pois

41
UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

essa função é da empresa empregadora, que deverá exigir o devido cumprimento dos
horários e, em caso de desobediência, deverá aplicar as penas de advertência oral ou
escrita, suspensão ou demissão, exercendo, assim, seu poder de gestão.

Martinez deixa claro que (2011, p.198) “para fins trabalhistas, a coligação de duas ou
mais empresas beneficiárias de um mesmo contrato de emprego produz para todas elas
uma situação de responsabilidade solidária”.

Caso ocorra a intervenção de forma objetiva e imediata por parte do franqueador,


restará caracterizado o grupo de empresas previsto no art. 2o, §2o da CLT, pois será uma
empresa sob o controle e administração de outra, conforme elencado no referido artigo
legal, o que também lhe trará o ônus de responder por possíveis débitos trabalhistas.

A ingerência do franqueador no cotidiano da franqueada não deverá transcender,


portanto, o intuito de proteção e divulgação da marca, evidenciando o controle da
franqueada por parte do franqueador e, assim, tolhendo a liberdade de gestão por parte
do franqueado, sob pena de configurar o grupo econômico e, portanto, sendo solidárias
as empresas para pagamento de débitos.

Para Martins (2011, p.10):

A relação que deve haver entre as empresas do grupo econômico é de


dominação, mostrando a existência de uma empresa principal, que é a
controladora, e as empresas controladas. A dominação exterioriza-se pela
direção, controle ou administração. O requisito principal é o controle de
uma empresa sobre outra, que consiste na possibilidade de uma empresa
exercer influência dominante sobre outra.

O controle é um dos fundamentos da direção, ou seja, é sua efetivação. Nem sempre


a propriedade determinará a direção, pois, muitas vezes, nas empresas modernas, há
clara diferenciação entre a propriedade e o controle, pois acionistas minoritários podem
dirigir a sociedade.

Some-se essa previsão legal de solidariedade das empresas ao princípio da informalidade


que norteia o direito do trabalho, que se traduz na possibilidade de ser reconhecido um
contrato de trabalho com base nos fatos ocorridos, e se tem que, facilmente, poderá ser
vislumbrada a relação do empregado com a franqueadora.

A maior parte da doutrina e jurisprudência brasileiras entende, como se conclui,


que, apesar de duas empresas distintas, com personalidades jurídicas próprias e com
contrato civil formal, ficando clara a intervenção da empresa franqueadora na gestão da

42
CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

empresa franqueada e, portanto, também nos contratos de trabalho avençados, restará


configurada o grupo econômico, com responsabilidade solidária a ambas as empresas.

O egrégio Tribunal Superior do Trabalho vem decidindo que constatada a interferência


de forma incisiva por parte da franqueadora na gestão da empresa franqueada, ambas
deverão responder de forma solidária. Caso não haja a intervenção, adota-se como
legítimo o contrato de franquia celebrado, existindo somente uma relação comercial
entre as empresas, repercutindo nos contratos de trabalho celebrados, senão veja-se o
exemplo:

Processo: RR 564007820035150101 56400-78.2003.5.15.0101

Relator(a): Horácio Raymundo de Senna Pires

Julgamento: 5/8/2009 Órgão Julgador: 6ª Turma, Publicação: 21/8/2009

Ementa: RECURSO DE REVISTA. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA/


SUBSIDIÁRIA. CONTRATO DE FRANQUIA.

A partir da análise dos contratos de franquia – juntados pela própria reclamante – e da


prova testemunhal, o Colegiado a quo concluiu que o posto Petromax não estava sob a
direção, controle e administração da Shell, como exige o § 2o do artigo 2o da CLT. Aliás,
aquela Corte foi incisiva ao reconhecer a autonomia e independência do franqueado
no desenvolvimento de sua atividade comercial. Não há como reconhecer, portanto,
a responsabilidade solidária pretendida. Incidência da Súmula 126/TST. Por sua
vez, patente que não há como reconhecer a responsabilidade subsidiária, porquanto
a própria reclamante confirma que havia um contrato de franquia entre as empresas
Shell e o posto Petromax. É que, ao contrário do que entende a reclamante, contrato
de franquia e responsabilidade subsidiária não se compatibilizam. Isso porque, por
definição, a relação jurídica formada entre franqueador e franqueado é meramente
comercial, decorrendo das peculiaridades inerentes ao próprio contrato de franquia,
que não admite a interferência direta do franqueador sobre as atividades da empresa
franqueada. Dessa forma, não havendo no contrato de franquia sub judice registro de
interferência de uma empresa na atividade da outra, como ocorre de praxe, não há
como cogitar de terceirização dos serviços e, em consequência de responsabilidade
subsidiária. Recurso de revista não conhecido.

Em sentido contrário, Cassar (2012) exclui a responsabilidade do franqueador


por débitos trabalhistas dos empregados da franqueada, independentemente da
interferência daquela na gestão da empresa franqueada.

43
UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

Súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho – subsidiariedade

A outra possibilidade que se mostra no Direito brasileiro de haver a responsabilização


do franqueador pelo pagamento de débitos laborais dos empregados da empresa
franqueada será se a relação existente entre franqueado e franqueador for considerada
terceirização.

Nessa hipótese, diferentemente da primeira aqui elencada, a empresa franqueadora não


será responsável pelos débitos laborais solidariamente, mas, sim, subsidiariamente,
ou seja, deverá arcar com o pagamento somente na hipótese de não cumprimento
das obrigações por parte da empresa interposta. E esse requisito é essencial para que
se chegue ao tomador de serviços como devedor, ou seja, deverão ser exauridas as
possibilidades de cobrança da dívida pela empresa interposta.

A dúvida então consiste: a relação franqueado x franqueador poderia ser considerada


como uma espécie de terceirização? Passaremos a ver.

Sobre o subcontrato, no direito comum, o jurista português Pedro Romano Martines


(2006, p.188) tem como definição:

O negócio jurídico bilateral, pelo qual um dos sujeitos, parte em outro


contrato, sem deste se desvincular e com base na posição jurídica que
daí lhe advém, estipula com terceiro, quer a utilização total ou parcial,
de vantagens de que é titular, quer a execução, total ou parcial, de
prestações a que está adstrito.

Já para a doutrinadora Cassar (2012, p.492), terceirização é:

Relação trilateral formada entre trabalhador, intermediador de mão


de obra (empregador aparente, formal ou dissimulado) e o tomador
de serviços (empregador real ou natural), caracterizada pela não
coincidência do empregador real com o formal. [...]. A empresa
prestadora de mão de obra coloca seus trabalhadores nas empresas
tomadoras ou clientes. Ou seja, a tomadora contrata mão de obra
através de outra pessoa, que serve de intermediadora entre o tomador
e os trabalhadores, sendo que o liame empregatício se estabelece com a
colocadora de mão de obra.

O que há no Ordenamento Jurídico brasileiro acerca da terceirização é a Súmula 331 do


TST – Tribunal Superior do Trabalho, que prevê a possibilidade de vínculo empregatício
entre o empregado e a tomadora de serviços, quando constatada a subordinação direta
com a tomadora ou a responsabilidade subsidiária da empresa tomadora dos serviços

44
CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

relativamente aos direitos trabalhistas não adimplidos pela empresa prestadora de


serviços.

Sobre a Súmula no 331, VI, do TST, Ives Gandra Martins Filho diz:

RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA – CONTRATO DE FRANQUIA –


INAPLICABILIDADE DA SÚMULA No 331, IV, DO TST

O contrato de franquia é entabulado entre o franqueador (aquele que concede


o direito de uso e distribuição de marcas, serviços ou tecnologias de sua
propriedade e remuneração) e franqueado (aquele que adquire essa concessão,
assumindo os riscos de uso desses direitos), estabelecendo-se entre as partes uma
relação jurídica empresarial que tem por objetivo, de uma lado o fortalecimento
da atividade econômica pela aplicação de menores investimentos e, de outro, o
acesso a um mercado que não exige maiores esforços de conquista. Portanto, não
pode ser caracterizado grupo econômico por coordenação, nem como grupo por
subordinação, nem terceirização de mão de obra, não havendo responsabilidade
do franqueador pelos direitos trabalhistas dos empregados do franqueado, nem
dos franqueados entre si. (4ª Turma, DJ 12/8/2005).

Respeitando a opinião da doutrinadora, convém deixar claro que comungamos com


o entendimento da legislação em que restando clara a gestão da empresa franqueada
pelo franqueador, a esse último caberá responder pelos ônus da franqueada, incluindo-
se nesses os débitos trabalhistas porventura existentes, referentes aos empregados da
empresa.

Quanto à possibilidade de se ver o vínculo empregatício diretamente formado entre


empregado e tomadora de serviços, aqui no caso, franqueadora, novamente se tem que,
havendo a subordinação direta entre esses dois componentes da relação trilateral, haverá
o vínculo laboral com suas consequências de pagamento, como já visto exaustivamente
no item anterior.

Restará caracterizada a fraude do contrato de prestação de serviços e será, exatamente


por conta da fraude, que haverá o vínculo. Para tanto, prevê o art. 9o celetista que
«serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir
ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação”.

Martins (2011, p.153), com total brilhantismo, elucida que:

Para que a terceirização seja plenamente válida, no âmbito empresarial


não podem existir elementos pertinentes à relação de emprego no
trabalho do terceirizado, principalmente o elemento subordinação. O

45
UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

terceirizante não poderá ser considerado como superior hierárquico do


terceirizado, nem poderá haver controle de horário, e o trabalho não
poderá ser pessoal, do próprio terceirizado, mas por intermédio de
outras pessoas. O controle deverá ser feito pela empresa interposta.

Já no que se refere à terceirização legítima, tem-se doutrinadores e entendimentos


jurisprudenciais (já que não há preceito legal sobre o assunto) que divergem sobre o
assunto, como podendo o contrato de franquia ser considerado ou não uma terceirização,
no que resultará no pagamento ou não de forma subsidiária por parte do franqueador
pelos débitos laborais.

Aqueles que entendem que o contrato de franquia deverá ser considerado como uma
terceirização alegam que o franqueador elege o franqueado, escolhe-o para ser seu
representante na franquia e, para isso, deverá realizar uma seleção bastante criteriosa.
A partir desse momento, com sua escolha, é como se tivesse elegido seu preposto, seu
representante e, portanto, na falta dele, responderá por dívidas.

Também deverá ser criterioso o contrato de franquia no sentido de haver troca de


informações leais e verdadeiras do franqueado para com o franqueador, como no caso
de haver débitos trabalhistas de empregados.

A esses dois institutos, chamamos o primeiro de culpa in iligendo e o segundo, culpa


in vigilando. Aos doutrinadores que entendem que a responsabilidade subsidiária
da terceirização deverá ser aplicada ao franqueador, cabe o entendimento de que o
franqueador deverá responder por aplicação desses dois institutos.

Se ao franqueador coube a escolha de seu franqueado, deveria tê-lo feito com base em
critérios bastante objetivos, entre eles o patrimônio firme e suficientemente abastado,
capaz de sanar todas as dívidas da franquia. Se não o fez, deverá responder pelos
prejuízos advindos de sua negligência.

Da mesma forma, deveria ter vigiado o seu franqueado o suficiente para que esse não
realizasse dívidas sem que pudesse pagá-las. A culpa in vigilando traduz-se no dever
do franqueador estar sempre alerta e, como consequência por ter deixado de conferir as
atividades do franqueado, deverá quitar suas dívidas laborais.

Acresçam-se esses dois institutos ao fato de que a Constituição Federal brasileira elevou
a princípio fundamental a dignidade da pessoa humana, em seu art. 1o, III, e os valores
sociais do trabalho, também no art. 1o, mas inciso IV, ao ainda princípio da proteção,
que é norteador do direito do trabalho, e teremos que o trabalhador não poderá ficar
sem a devida quitação das verbas e débitos laborais atinentes ao contrato de trabalho
realizado.

46
CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

Se o franqueado não quita as verbas laborais de seus empregados, ao franqueador


caberia, subsidiariamente, o pagamento referido, sob pena de se ver total descaso aos
trabalhadores e aos princípios fundamentais constitucionais.

Em corrente contrária, entende-se que o contrato de franquia é um contrato de origem


civil e comercial, no qual duas empresas com personalidades jurídicas distintas firmam
negócio de origem distinta de uma prestação de serviços.

Na realidade, essa corrente afirma que a empresa-mãe, ou seja, a franqueadora é


quem presta serviços à franqueada, quando lhe assessora na gestão, transferindo seu
know-how e lhe dando assistência nos procedimentos de padronização, não podendo,
dessa forma, ser caracterizada como tomadora de serviços.

O contrato de franquia traz intrinsecamente um controle do franqueado por parte


do franqueador, mas como parte do ajuste existente entre ambos, ou seja, o controle
referente à manutenção do prestígio da marca, uma preocupação e vigilância por parte
do franqueador que não poderá deixar de existir jamais.

Assim, sendo tal controle parte do contrato civil de franchising ajustado, não poderá
ser considerado como contrato de prestação de serviços e, portanto, o franqueador não
deverá responder por quaisquer danos ou prejuízos do franqueado, sendo esse último,
o único responsável por suas dívidas contraídas.

O entendimento majoritário do Tribunal Superior do Trabalho no Brasil tem sido de que


a relação entre franqueado e franqueador é meramente comercial, a menos que haja a
intervenção direta do franqueador na gestão da empresa franqueada, caracterizando,
assim, uma terceirização dos serviços e não uma franquia propriamente dita.

Veja-se:

Processo: RR 1440405820085030108 144040-58.2008.5.03.0108

Relator(a): Horácio Raymundo de Senna Pires

Julgamento: 3/8/2011 Órgão Julgador: 3ª Turma Publicação: DEJT 12/8/2011

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA.


RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA/SUBSIDIÁRIA. CONTRATO DE FRANQUIA.
ECT.

Arestos que adotam tese contrária à v. decisão regional autorizam o provimento do


agravo de instrumento e consequente processamento do recurso de revista. (Incidência
da Súmula 296, I, do TST). Agravo de Instrumento provido. RECURSO DE REVISTA.

47
UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA/SUBSIDIÁRIA. CONTRATO DE FRANQUIA.


ECT. Não há como reconhecer a responsabilidade subsidiária, porquanto registrado no
v. acórdão regional que havia um contrato de franquia entre as empresas reclamadas.
É que, ao contrário do que entendeu o Tribunal Regional, contrato de franquia e
responsabilidade subsidiária não se compatibilizam. Isso porque, por definição, a
relação jurídica formada entre franqueador e franqueado é meramente comercial,
decorrendo das peculiaridades inerentes ao próprio contrato de franquia, que não
admite a interferência direta do franqueador sobre as atividades da empresa franqueada.
Dessa forma, não havendo no contrato de franquia sub judice registro de interferência
de uma empresa na atividade da outra, como ocorre de praxe, não há como cogitar de
terceirização dos serviços e, em consequência, de responsabilidade subsidiária. Recurso
de revista conhecido e provido.

Os Tribunais Regionais do Trabalho, ao analisarem as provas, em algumas vezes,


entendem pela caracterização da terceirização, por terem vislumbrado a fraude ao
contrato de franquia:

Processo: RO 3482420105040004 RS 0000348-24.2010.5.04.0004

Relator(a): Marçal Henri dos Santos Figueiredo

Julgamento: 23/11/2011 Órgão Julgador: 4ª Vara do Trabalho de Porto Alegre

Ementa: RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. CONTRATO DE FRANQUIA.

O contrato de franquia isenta a franqueadora de responder pelas obrigações trabalhistas


a cargo da franqueada quando regular a situação. Se constatada, entretanto, a existência
de irregularidades no suposto sistema de franchising, a hipótese é de prestação de
serviços por empresa interposta, impondo-se à tomadora, na forma da Súmula no 331, IV,
do TST, a responsabilidade subsidiária pelo inadimplemento do terceiro intermediador
de mão de obra. Recurso desprovido. [...].

Entende-se forçoso tirar quaisquer das conclusões acerca da caracterização de


terceirização na relação entre franqueado e franqueador. Inicialmente, não há qualquer
indício de terceirização nessa relação, por tratar-se o contrato de franquia de um
contrato de ordem civil e no qual o franqueador passa seus conhecimentos e exige uma
condução dentro dos parâmetros estabelecidos e se põe a distância a vigia-los, não
podendo o franqueador responder pelos débitos do franqueado, somente pela presença
das culpas in iligendo ou in vigilando.

Entretanto, deverá ser analisado caso a caso, uma vez que havendo a subordinação
direta do empregado ao franqueador ou mesmo a intervenção direta do franqueador na

48
CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

gestão da empresa, poderá ser caracterizado o vínculo ou a terceirização, apesar de não


ser esse o intuito do contrato de franquia.

Debruçamo-nos nesse simplório estudo a verificar o contrato de franquia e a


responsabilidade do franqueador pelos possíveis débitos laborais adquiridos pela
empresa franqueada.

Inicialmente, após trazermos algumas definições desse tipo de contrato, traçados pela
doutrina, foi possível verificar que a Lei no 8.955/1994 também traz o seu conceito e
neste prevê que não há vínculo empregatício entre franqueado e franqueador porque
não preenchidos os requisitos do vínculo empregatício, dentre eles que o empregado
deverá ser pessoa física e na relação da franquia ambos são pessoas jurídicas.

Já o contrato de trabalho traduz-se pela informalidade, podendo ser realizado de forma


tácita, fazendo com que muitos sejam avençados mediante conversa rápida e pela
própria repetição cotidiana e permitindo que o Magistrado possa declará-lo existente,
inclusive naquelas relações em que não se previa qualquer vínculo.

Restou claro, então, que mesmo diante da não realização do contrato de trabalho
entre franqueador e empregado/trabalhador, essa relação poderia gerar um liame
empregatício, bastando que se verificasse a subordinação entre ambos, até pelo próprio
princípio da informalidade que norteia o direito do trabalho.

Elucidado que não há vínculo empregatício entre franqueado e franqueador e que o


direito do trabalho é pautado no princípio da proteção, analisamos as possibilidades
que poderiam, de acordo com legislação e jurisprudência brasileiras, acarretar, de
alguma forma, no pagamento, por parte da franqueadora, de débitos de empregados
da franqueada.

O art. 2o, § 2o, da CLT prevê a possibilidade de formação de grupo econômico quando
duas ou mais empresas, ainda que tenham personalidade jurídica própria, estiverem
sob a direção, controle ou administração de outra, sendo, assim, todas, para os efeitos
da relação de emprego, solidariamente responsáveis.

Isso significa que ainda que a empresa-mãe esteja ligada à franqueada pelo contrato
de franquia, lhe permitindo uma assessoria técnica e exigência de padronização de
procedimentos, não poderá extrapolar na condução dessa relação, atuando diretamente
na gestão da empresa franqueada, sob pena de se ver obrigada ao pagamento solidário,
ou seja, juntamente com a franqueada, dos débitos trabalhistas dos empregados da
franquia, entre outras dívidas.

49
UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

É claro que o contrato de franquia lhe permitirá realizar treinamentos dos empregados
da franqueada, assessorar a franqueada inicialmente na gestão de assuntos tais como
logística, compra e venda de produtos e outros, mas jamais poderá gerir diretamente
a empresa franqueada, pois estará configurado o art. 2o, § 2o, da CLT, e, portanto,
responderá o franqueador por tais débitos.

O Tribunal Superior do Trabalho deixa claro seu entendimento de que o contrato de


franquia realizado não permite que a franqueadora responda solidariamente pelo
contrato de trabalho avençado entre franqueada e empregado, a menos que haja a
ingerência diretamente da franqueadora nas atividades da franqueada, assumindo os
riscos da atividade econômica conjuntamente com aquela.

Há parte da doutrina brasileira, mas bem minoritária, que entende que, pelo
simples avençamento do contrato de franchising, já haverá a necessária intervenção
da franqueadora na gestão da franquia, tornando, assim, o contrato de franquia
incompatível com a responsabilidade solidária ou subsidiária da empresa-mãe e não
havendo vínculo direto ou mesmo terceirização da franqueadora e não respondendo
pelos contratos de trabalho realizados pela franqueada para com seus empregados.

A outra possibilidade de haver responsabilidade do franqueador por possíveis débitos


da franqueada, sendo dessa vez de maneira subsidiária, é quando caracterizada a
terceirização.

Sem previsão na legislação brasileira que verse sobre o assunto, a Súmula 331 do TST
é a única norteadora da matéria, fundamentando que a terceirização ocorrerá quando
houver uma relação entre o trabalhador, uma empresa tomadora de serviços e outra que
figurará de intermediária, agindo como real empregadora do trabalhador, enquanto ele
presta serviços à tomadora.

Na referida Súmula, há a previsão de que em havendo a subordinação direta do


trabalhador à tomadora, esse será considerado seu empregado, devendo a empresa
tomadora responder diretamente pelo vínculo empregatício e suas consequências.
Nesse caso, por força do art. 9o da CLT, restará nulo o contrato de prestação de serviços,
uma vez caracterizada fraude ao contrato de trabalho.

Ainda que não se vislumbre a fraude ao contrato de trabalho e se trate de uma


terceirização legítima, parte da doutrina entende que o franqueador deverá responder
pelos débitos da franqueada de forma subsidiária, tendo em vista que a elegeu para ser
a representante de sua marca e deveria ter sido criteriosa o suficiente para escolher um
franqueado que não oferecesse riscos financeiros, sendo essa, a culpa in iligendo.

50
CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

Essa mesma corrente entende que a obrigação da franqueadora não finda na escolha
de um bom franqueado, mas que, por força do contrato de franquia realizado, a
franqueadora deverá sempre estar preocupada com o bom andamento da franquia,
fiscalizando a saúde financeira da empresa, incluindo-se nisso os débitos realizados
com os empregados e, portanto, tendo que responder de maneira subsidiária pela culpa
in vigilando.

Por fim, ainda se diz que, caso a empresa franqueada não quite seus débitos laborais e
não seja caracterizada a terceirização, os trabalhadores restarão sem seus pagamentos
realizados, o que ferirá, frontalmente, o princípio da proteção, mola mestra do Direito
do Trabalho e o princípio fundamental dos valores sociais.

Por outro lado, a corrente doutrinária majoritária, juntamente com o entendimento do


Tribunal Superior do Trabalho (TST) pregam que o contrato de franquia realizado é
incompatível com o instituto da terceirização, por se tratarem, franqueado e franqueadora,
de empresas distintas, com personalidades jurídicas próprias e, especialmente, porque
a intervenção da franqueadora que poderia lhe causar a subordinação do empregado é
natural e fruto do contrato realizado.

Reforça sua teoria no fato de que a franqueada não presta serviços à franqueadora, mas,
ao contrário, por força do próprio contrato de franquia, é a franqueadora quem lhe dá
assessoria técnica em um primeiro momento, passando-lhe o conhecimento técnico
e expertise adquiridos ao longo dos anos, tanto na produção do produto ou serviço
franqueado, como na melhor forma de comercializá-lo.

Parece-nos que, até pelo princípio da especialidade da norma, o contrato de franquia


deverá ser, inicialmente, levado em consideração com todas as particularidades que lhe
cabem, tal qual a interferência da franqueadora na montagem e gestão da franqueada,
não podendo ser a franqueadora penalizada pelo pagamento dos débitos dos empregados
da franqueada, pelo argumento, por exemplo, de que o empregado deverá receber tais
valores de “alguém”, mas não poderá ficar sem receber o que lhe é devido.

Aceitar esse argumento seria penalizar aquele que não incorreu em qualquer instante
para a realização do débito, no pagamento deste, somente pelo fato de que o empregado
deverá receber seus valores, independentemente de quem seja o eleito a quitá-los. É
inadmissível que um trabalhador se doe e não receba a contraprestação pelo seu
trabalho, mas também o é, que se atribua esse pagamento ao franqueador se a esse
não coube reger a relação empregatícia, não aplicando as sanções disciplinares, por
exemplo, quando coubessem, no decorrer do contrato de trabalho.

51
UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

Contudo, se há a ingerência da empresa-mãe na relação cotidiana do franqueado para


com o trabalhador, deverá responder solidariamente pelos débitos trabalhistas, por
força do 2o, § 2o, da CLT, ou mesmo caracterizando a terceirização, na qual se tem o
vinculo direito com o tomador, mas não se permitindo que o franqueador fique somente
a observar o trabalhador sem receber o que lhe gerou o contrato de trabalho, sem que o
franqueado lhe salde os débitos oriundos dessa relação empregatícia.

52
CAPÍTULO 7
Um modelo de Contrato de Franquia

Contrato de Franquia

PARTES CONTRATANTES

FRANQUEADOR:

SABOR DE MANAUS PRODUTOS ALIMENTÍCIOS S.A., sociedade brasileira


estabelecida em Manaus, na Rua Alcina 281 – CEP 82003-456, inscrita no CNPJ sob
o número 043.364.657-00 e I*E. 5.324.657, por representante legal, Eurico Dutra,
brasileiro, casado, empresário, residente à Rua Domingos Lopes, 322 – CEP. 345420-
512, portador do RG. 02978.567.8.

FRANQUEADO:

COMES & BEBES LTDA, sociedade brasileira estabelecida em Manaus, na Rua Padre
Manso 182 – CEP 82573-265, inscrita no CNPJ sob o número 057.642.667-20 e I*E.
7.564.832, por representante legal, Vinicius Torres, brasileiro, casado, empresário,
residente à Rua Mal Miguel Salazar, 4572 – CEP. 825220-322, portador do RG.
07456.368.3.

Têm entre si, justo e celebrado este CONTRATO DE FRANQUIA, que se regerá pelas
condições abaixo transcritas.

OBJETO DO CONTRATO

1. O franqueador é titular dos direitos de marcas, logotipo, técnicas de trabalho,


manuais técnicos, técnicas de produção e de distribuição à clientela e outros elementos
de propriedade intelectual, para o fornecimento de refeições prontas, em pratos
formatados e uniformizados, preparados com equipamentos previstos.

2. O franqueador concede licença ao franqueado para o uso dessa tecnologia para


fabricar e distribuir ao público consumidor os produtos de sua marca, estritamente
em sua sede na Rua Presidente Vargas – 333, com exclusividade em seu território, que
abrange todo o bairro do Sudoeste, em Manaus, não podendo o franqueador conceder
franquia a outrem nesse território.

53
UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

3. Faz parte dessa cessão o nome do franqueador, a marca, o logotipo e os demais sinais
identificadores da franquia, o nome dos produtos, manuais de operação, técnicas de
trabalho, desenhos, uniformes dos funcionários e demais elementos de propriedade
intelectual pertinentes à franquia.

OBRIGAÇÕES DO FRANQUEADO

4. Pagar regularmente a taxa de manutenção da franquia no seu vencimento mensal,


sob pena de ser colocado em mora.

5. Adotar o padrão de qualidade devidamente estabelecido, usando os ingredientes


escolhidos para os produtos e seguindo os métodos de trabalho pactuados. Deverá
utilizar os equipamentos recomendados pelo franqueador e mantê-los em boas
condições de uso, de tal forma que os produtos conservem a mesma característica,
qualidades e mesmo padrão comuns a todos os franqueados.

6. Manter quadro de funcionários treinados e aprovados pelo franqueador, devendo usar


trajes uniformizados pelo franqueador e executar suas tarefas nos métodos de trabalho
por ele traçados, adaptando-se a possíveis modificações que possam ser introduzidas.

7. Conservar a exclusividade da franquia, não podendo manter outro franqueador ou


produtos de outros e utilizar na produção os insumos aprovados pelo franqueador e
pelos fornecedores previamente autorizados.

8. Conservar absoluto sigilo sobre a tecnologia licenciada pelo franqueador, não


divulgando o sistema de trabalho, composição de produtos e relações contratuais. Seus
funcionários receberão somente informações sobre a execução de seu trabalho. Deverá
manter os manuais de operações fora do alcance de terceiros.

9. Zelar pelo bom nome do franqueador, de seus produtos e da franquia, evitando


desgaste e desprestígio deles, garantindo sempre a aceitabilidade e a credibilidade
perante o público consumidor e terceiros que tenham relacionamento com o franqueado.

10. Manter sua empresa sempre em situação legal, registrando-se nos órgãos públicos
obrigatórios e averbando neles, devidamente, todas as modificações societárias e
estatutárias do contrato social.

11. Manter seguro obrigatório de suas instalações, estoques e contra riscos das atividades,
sempre em vigor.

12. Observar os preços e condições de venda dos produtos colocados à disposição


da clientela, não podendo modificá-los nem realizar promoções, descontos e outras
modificações das bases anteriormente combinados.
54
CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

13. Submeter-se às inspeções técnicas e administrativas do franqueador, permitindo-


lhe acesso à contabilidade e locais de trabalho e demonstrar que as atividades seguem
as condições firmadas no contrato de franquia. Manterá, para esse fim, um sistema
uniforme de contabilidade estabelecido com o franqueador.

OBRIGAÇÕES DO FRANQUEADOR

14. Garantir o fornecimento constante dos insumos necessários à produção do


franqueado, responsabilizando-se por quaisquer prejuízos que lhe causar pelo atraso
dos suprimentos.

15. Dar treinamento aos funcionários do franqueado, mantendo-os aptos para o


exercício de suas funções.

16. Realizar, sempre que necessário ou nos prazos previstos, orientação e controle das
atividades do franqueado, corrigindo as falhas e distorções que forem constatadas.
Para tanto, deverá entregar ao franqueado, na celebração do contrato, os manuais de
operação e atualizá-los.

17. Conservar os produtos principais em linha e facultando ao franqueado operar com


novos produtos que forem introduzidos na pauta do franqueador e mantendo a mesma
linha de produtos dos outros franqueados.

PUBLICIDADE

18. Encarregar-se-á o franqueador da publicidade institucional e dos produtos


distribuídos, campanhas publicitárias e promoções. O franqueado poderá, entretanto,
fazer promoções e divulgações de sua franquia, no seu território, encarregando-se das
custas, mas com autorização do franqueador. Poderá ainda haver trabalho conjunto de
divulgação, estabelecido de comum acordo entre as partes.

PRAZO DO CONTRATO

19. Este contrato terá validade pelo prazo de 60 (sessenta) meses, iniciando-se na data
de sua celebração e terminando em 31/3/2019. Poderá ser reformado por igual período,
por acordo comum entre as partes.

REMUNERAÇÃO DA FRANQUIA

20. O franqueado pagará mensalmente ao franqueador, como royalties, 15% (quinze


por cento) de seu faturamento bruto, vencendo-se a primeira em 1o de março de 2015 e
as demais no último dia dos meses subsequentes, e uma taxa de filiação da franquia de

55
UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

R$25.000,00 (vinte cinco mil reais). Haverá tolerância de 5 (cinco) dias úteis além do
vencimento, findo a qual o franqueado será colocado em mora.

TRANSFERÊNCIA DO CONTRATO

21. O franqueado poderá transferir sua empresa a terceiros, submetendo antes a


proposta com prazo de 30 (trinta) dias à apreciação do franqueador que deverá
aprová-la. Reserva-se o franqueador, em casos justificados, o direito de pedir
garantias do cumprimento do contrato pelo novo franqueado.

CLÁUSULA DE NÃO CONCORRÊNCIA

22. Após o término do contrato, o franqueado se compromete a não dar divulgação


dos elementos de propriedade intelectual pertencentes ao franqueador, nem fazer uso
deles em qualquer situação. Não deverá exercer atividade semelhante e concorrente ao
franqueador no território em que antes exercia a franquia, no prazo de 5 (cinco) anos,
responsabilizando-se por perdas e danos causados ao franqueador pela infração desta
cláusula.

RESOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS

23. As partes deste contrato, se tiverem dúvidas ou divergências, deverão submeter a


resolução delas à mediação e arbitragem, escolhendo o fórum da Comarca de Manaus
como árbitro. Os fundamentos legais aplicados no julgamento serão os termos deste
contrato, a COF – Circular de Oferta de Franquia, a Lei no 5.955/1994 e demais normas
da legislação brasileira. Integra também este contrato, a COF – Circular de Oferta de
Franquia, entregue ao franqueado pelo franqueador e assinado por ambas as partes.

INDEPENDÊNCIA DAS PARTES

24. Franqueador e franqueado serão empresas sem subordinação entre elas, não
podendo haver participação no capital de um pelo outro ou sócio e representante
legal comum entre elas. As relações entre franqueador e franqueado somente serão as
decorrentes do contrato de franquia.

RESCISÃO DO CONTRATO

25. Este contrato poderá ser resilido por mútuo consentimento entre as partes,
formalizando-se a resilição por instrumento particular a ser registrado em cartório
público.

Encerrar-se-á por resolução no caso de haver decorrido o prazo de 5 (cinco) anos e as


partes não tiverem se interessado na sua renovação.

56
CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

Poderá ser rescindido se houver grave lesão de uma das partes às obrigações contratuais.
A parte faltosa poderá, no caso de lesão, responder por perdas e danos causados, ou
lucros cessantes da outra parte.

A falência do franqueado acarretará a rescisão do contrato, a menos que tenha sido


declarada pela justiça a continuação dos negócios na falência, com a aprovação e
responsabilidade do administrador judicial da empresa franqueada falida.

O contrato será rescindido nas mesmas condições se houver a falência do franqueador.

Será considerada grave lesão ao contrato, ensejando sua rescisão o atraso de mais de
trinta dias de pagamento.

E, por estarem assim certos e ajustados, assinam o presente instrumento, em 2 (duas)


vias de igual teor e forma, na presença de duas testemunhas instrumentais.

FRANQUEADOR FRANQUEADO

________________ _________________

Testemunhas

________________ _________________

RG: RG:

57
CAPÍTULO 8
Análise do Contrato de Franquia
realizada pela Subcomissão de
Contratos Empresariais – OAB

Apresentamos, no presente material, o resultado final das discussões e estudos travados


internamente na Subcomissão, compilados em forma de minuta comentada.

A Subcomissão de Contratos Empresariais é coordenada pelo advogado Leonardo


Honorato Costa e participaram da confecção do material os seguintes membros: Daniel
Augusto Pereira Netto, Eduardo Rizzo Enéas Jorge, João Paulo Daher Alves e Miriam
Jaqueline Alencastro Veiga.

Análise de Contratos Empresariais


CONTRATO DE FRANQUIA EMPRESARIAL

De um lado, (NOME EMPRESARIAL – SOCIEDADE EMPRESÁRIA OU


EMPRESÁRIO INDIVIDUAL OU EIRELI), com sede na Rua/Av. (xxx), no
(xxx), Bairro/Setor (xxx), Cidade (xxx) – Estado (xxx), CEP (xxx), inscrita no CNPJ
sob o no (xxx), com I.E. no (xxx), devidamente representada neste ato por (Nome do
representante legal), (Cargo ou função que exerce na franqueadora), (Nacionalidade),
(Profissão), (Estado civil), (Documentos de Identificação – Carteira de Identidade e
CPF), doravante denominada simplesmente FRANQUEADORA, e de outro;

(NOME EMPRESARIAL – SOCIEDADE EMPRESÁRIA OU EMPRESÁRIO


INDIVIDUAL OU EIRELI), com sede na Rua/Av. (xxx), no (xxx), Bairro/Setor (xxx),
Cidade (xxx) – Estado (xxx), CEP (xxx), inscrita no CNPJ sob o no (xxx), com I.E. no
(xxx), devidamente representada neste ato por (Nome do representante legal), (Cargo
ou função que exerce na franqueadora), (Nacionalidade), (Profissão), (Estado civil),
(Documentos de Identificação – Carteira de Identidade e CPF), doravante denominada
simplesmente FRANQUEADA.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS (OU PREÂMBULO)

I – A FRANQUEADORA, sociedade empresária / empresário individual / empresa


individual de responsabilidade limitada (industrial/comercial/prestação de serviços) no
ramo de (descrever o ramo), detém, na sua área de atuação, não só avançada tecnologia,

58
CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

mas também grande experiência de produção, comercialização e distribuição dos seus


produtos e/ou serviços;

II – A FRANQUEADORA é titular da marca (NOME DA MARCA), com nome


comercial, logotipo distintivo e o desenho e símbolo comercial identificador registrados
no INPI – Instituto Nacional da Propriedade Industrial, sob o no 000.000.000, obtido
em DD/MM/AAAA

OU

II – A FRANQUEADORA possui pedido de registro da marca (NOME DA


MARCA), nome comercial, logotipo distintivo e o desenho e símbolo, junto INPI –
Instituto Nacional da Propriedade Industrial, protocolado em DD/MM/AAAA, sob o no
00000000, ainda em trâmite perante aquele órgão;

III – A FRANQUEADORA goza, devido ao alto padrão de qualidade de seus produtos


e/ou serviços, de excelente conceito junto ao consumidor, de tal forma que uma valiosa
reputação está incorporada à sua Marca;

IV – A FRANQUEADA está interessada na utilização da Marca e do sistema de


comercialização e/ou prestação de serviços desenvolvido(s) pela FRANQUEADORA;

V – A FRANQUEADORA prestou todas as informações sobre a sua franquia:


obrigações, métodos de conhecimento, limites etc., fornecendo todos os esclarecimentos
à FRANQUEADA, para que possa desenvolver seu negócio satisfatoriamente,
formalizados através de CIRCULAR DE OFERTA DE FRANQUIA.

Diante das considerações acima, pelo presente instrumento particular de CONTRATO


DE FRANQUIA EMPRESARIAL, as partes acima qualificadas têm entre si, justo e
acertado, o que segue:

DO OBJETO

Cláusula 1a. O presente instrumento tem como OBJETO o licenciamento para a


FRANQUEADA do uso e comercialização de produtos (ou “dos seguintes produtos”,
caso queira descrever, ou “de serviços”, caso seja esse o ramo de atuação) da marca
XXXX (NOME DA MARCA) e demais sinais distintivos (logo, nome fantasia etc.),
de propriedade da FRANQUEADORA, durante a vigência deste contrato, mediante
a transferência de tecnologias e modelo de negócio, seguindo padrões de qualidade,
especificações técnicas e processos produtivos, desenvolvidos pela FRANQUEADORA
em seu ramo de atividade.

59
UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

Parágrafo único. Outros produtos/serviços que venham a ser fabricados,


desenvolvidos, criados, comercializados ou licenciados pela FRANQUEADORA, ainda
que relacionados aos fins previstos neste contrato não integram a presente franquia,
podendo ser licenciados e fornecidos à FRANQUEADA, conforme condições a serem
discutidas e que dará origem a um termo aditivo ao presente.

DA ÁREA DE AUTUAÇÃO (E DA EXCLUSIVIDADE)Cláusula 2ª. Os direitos


ora concedidos à FRANQUEADA estão estritamente adstritos ao desenvolvimento
das atividades de comercialização dos produtos/serviços aqui tratados, exclusivamente
no estabelecimento comercial sediado na Rua/Av. (endereço completo), Cidade de
XXXX (Nome da Cidade), no Estado de (Nome do Estado), CEP 00.000-000.

Parágrafo único. Fica terminantemente vedada à FRANQUEADA o uso ou a


instalação de outro estabelecimento com a marca da FRANQUEADORA, sem
autorização prévia e expressa desta.

OU

Cláusula 2a. A FRANQUEADA terá direito de comercialização dos produtos/serviços


aqui tratados estritamente no estabelecimento comercial com sede na Rua (xxx), no
(xxx), bairro (xxx), Cidade (xxx), CEP (xxx), no Estado (xxx), sendo tal licença a ela
conferida em caráter de exclusividade dentro da Cidade e no raio de XX km
(ou do Estado).

REFERÊNCIA JURISPRUDENCIAL

“Em primeiro lugar, a alegada EXCLUSIVIDADE territorial não restou provada nos
autos. O CONTRATO firmado pelas partes não estabeleceu esse direito à fraqueada
e, especificamente em relação aos dealers, bem de ver que o CONTRATO em tela foi
firmado em 31/5/1999 (f.111/130), e o dos dealers foi em 20/4/1999 (conforme laudo
pericial à f. 412). Assim, não vislumbro a alegada concorrência desleal nem qualquer
omissão lesiva aos negócios da apelante, haja vista que a apelada não se colocou
impedida de encetar outros negócios em razão do CONTRATO de dealers, ainda que
a atuação destes se desse na mesma região.” (Relator Luciano Pinto; Apelação Civil no
1.0024.01.586811-0/001; TJMG; data do julgamento: 23/3/2006; data da publicação:
20/4/2006).

O primeiro e principal ponto de se reconhecer, à evidência, a violação contratual por


parte da Ré é quanto à indispensável necessidade de a franqueadora ter preservado
a territorialidade e exclusivamente das Autoras, mormente quando vários gastos

60
CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

e investimentos ocorreram pelas Suplicantes para fins de execução do contrato,


padronização de pontos de vendas e o mais conexo, como apontado no vestibular.

Restou incontroverso, tanto que nem a Ré nega tais fatos, que, mesmo havendo contrato
com as autoras, ultimou por concretizar vendas porta a porta, além de autorizar a
negociação de seus produtos pelas cadeias de loja Sloper.

Em momento algum, ficou comprovado nos autos que havia para tanto uma autorização
expressa das franqueadoras e/ou eventual mudança no sistema contratual e cediço que
tais procedimentos a franqueadora poderia agir em desconformidade com as cláusulas
contratuais, o que foi preponderante para encerramento das atividades da autora.
Aplicável, assim, o art. 1092, Parágrafo único do CC, que autoriza a condenação nas
perdas e danos e, per viam cosequentiae, não há como se admitir a reconvenção com
cobrança de multa contratual quando a inadimplência e da Ré Reconvinde.

Reconhecido, pois, o direito indenizatório das autoras, resta estabelecer sua


quantificação. (TJMG; Relator: Reinaldo Pinto Alberto Filho; Apelação no 22477/2002;
4ª Câmara Civil; julgamento em 11/3/2003).

COMENTÁRIOS

O primeiro julgado registra claramente a necessidade de que a restrição territorial e a


exclusividade constem expressamente no contrato, como cláusula, para que tenham
validade e aplicação. Em sendo assim, caso seja de interesse da FRANQUEADORA
limitar a área de atuação da FRANQUEADA e impossibilitar que essa comercialize
produtos de concorrentes, deverá registrar tal restrição no contrato.

Tal registro, em regra, não configurará prática restritiva à ordem econômica, desde
que não produza qualquer dos efeitos do caput do artigo 36 da Lei no 12.529/2011.
Até porque, mormente, “[...] a exclusividade territorial é de profundo interesse do
franqueado porque delimitará o campo de sua ação e limitará o acesso de outros
integrantes da rede à zona concedida. Protege-se, desta forma, a possibilidade de uma
concorrência danosa sobre o franqueado e racionaliza o processo distributivo, evitando-
se a saturação de pontos de mercado, quando bem aplicada”.

Registrada no contrato a referida cláusula, o seu descumprimento ensejará


responsabilização civil, nos exatos moldes demonstrado pelo segundo precedente
colacionado na referência jurisprudencial. São incompatíveis com o contrato sub
exame, como se fez registrar, pelas considerações doutrinárias acima transcritas.

61
UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

Bem elucida a R. Sentença, à fl. 1858, segundo parágrafo, in litteris:

Do inadimplemento contratual surgiram consequências danosas para


as autoras, que confiaram na segurança apresentada pela ré, quando da
contratação, crédulas que teriam o respaldo do grupo de Eike Batista,
bem como a divulgação da marca por Luma de Oliveira, conhecida
atriz e modelo. Cônscias dos riscos do negócio, nunca imaginariam
que a franqueadora poderia agir em desconformidade com as cláusulas
contratuais, o que foi preponderante para encerramento das atividades
da autora.

DO USO DA MARCA

Cláusula 3a. O direito de propriedade da marca (NOME DA MARCA), logotipo e


sinais visuais é exclusivo da FRANQUEADORA, proibida sua utilização em faturas,
notas fiscais e impressos fiscais de qualquer tipo ou natureza.

Cláusula 4a. A marca, logotipo e demais sinais distintivos poderão ser usufruídos pela
FRANQUEADA em caráter de licença temporária, podendo ser rescindido o presente
contrato caso a FRANQUEADORA se sinta prejudicada em relação ao mau uso de seu
nome, fazendo que os consumidores deixem de reconhecê-la como fonte dos produtos/
serviços.

DO PRAZO

Cláusula 5a. O presente contrato terá validade por prazo indeterminado.

OU

Cláusula 5a. O presente contrato terá validade pelo prazo de XX (XX) meses/anos, a
contar da data de assinatura, podendo, ao final, ser renovado se assim for a vontade das
partes, sem ônus para FRANQUEADOR ou FRANQUEADO, desde que cumpridas
as demais cláusulas e exigências contratuais.

Cláusula 6a. Durante a validade do contrato, bem como nos XX (XX) anos subsequentes
a sua rescisão (ou no prazo previsto no art. 1.147, do Código Civil), a FRANQUEADA,
seus titulares e representantes legais, se comprometem a não explorar nenhuma
atividade que, direta ou indiretamente, seja considerada concorrente ao ramo de
atividade, objeto da franquia ora concedida.

62
CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

REFERÊNCIA JURISPRUDENCIAL

“PROCESSO CIVIL. AÇÃO CAUTELAR. RESCISÃO DE CONTRATO DE FRANQUIA E


USO DE MARCA. CONCESSÃO DE LIMINAR DETERMINANDO A SUSPENSÃO DO
EXERCÍCIO DA ATIVIDADE. FIXAÇÃO DE ASTREINTES. CABIMENTO.

I – Em certos casos, ainda que no regime anterior à alteração dos artigos 273 e 461 do
Código de Processo Civil pela Lei no 8.953/1994, é de ser reconhecida a possibilidade de
as obrigações de fazer e não fazer serem reforçadas pela imposição de multa (astreintes)
visando forçar o cumprimento da ordem. E o próprio artigo 798 outorga ao juiz o poder
geral de cautela, de forma suficientemente ampla, a conferir-lhe a faculdade de impor
esse tipo de sanção tendente à implementação e cumprimento de suas ordens.

II – Havendo obrigação sem sanção por seu descumprimento, sem o poder de coerção
do destinatário do provimento judicial, o que resta é uma obrigação natural, inexigível
judicialmente, com a possibilidade de malferimento de princípios, como do acesso à
justiça e da utilidade das decisões. E, na hipótese em análise, é de se ter presente que,
mesmo após ser intimada para suspender imediatamente suas atividades, a empresa
ré permaneceu atuando ilegalmente no ramo de alimentação por alguns meses, por
certo, auferindo lucros. Logo, a entender-se pela ilegalidade da imposição da multa,
estaremos, em última análise, endossando um injustificável enriquecimento ilícito por
parte da recorrente, situação que deve ser sempre repelida pelo direito.

Recurso especial não conhecido.” (REsp 159.643/SP – 3ª Turma – STJ).

COMENTÁRIOS

No tocante a proibição de exploração pelos franqueados de forma direta ou indireta


de atividade correlata à desenvolvida pela franqueadora (cláusula de barreira), visa-se
à proteção à imagem e ao nome; embora mesmo que no caso concreto não se tenham
detectados danos inequívocos, a franqueada atua sem a fiscalização e sem a padronização
de sabores e qualidade típicas da franqueadora – com inegável prejuízo ao seu nome ao
menos em relação aos fregueses que, iludidos pela semelhança, se viram surpreendidos
por eventual queda de qualidade ou atendimento.

De logo, percebe-se que a cláusula de não concorrência ajustada no Contrato de Franquia


não ofende o disposto nos artigos 5o, XIII (liberdade de exercício de trabalho), e 170,
IV, da Carta Magna de 1988 nem tampouco a legislação infraconstitucional, uma vez
que encontra amparo no art. 3o, XIV, alínea a e b da Lei no 8.955/1994. Igualmente, a
referida cláusula visa tão somente resguardar o direito do franqueador no tocante aos
segredos de seu negócio, por um período de tempo limitado após a rescisão do contrato

63
UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

de franquia, impedindo o enriquecimento sem causa do franqueado. Da mesma


forma, o descumprimento acarreta configuração de concorrência desleal. (TJ-SP.
583.00.2004.054891-4/000000-000).

O descumprimento de disposição contratual, por si só, não enseja reparação por dano
moral, entretanto caso fique comprovado nos autos que a exploração pela franqueada
atinja a imagem da franqueadora junto aos seus consumidores, colocando em cheque
a qualidade de seus produtos, serviços e atendimento, é totalmente plausível a
indenização extrapatrimonial já que esta ataca a saúde financeira da pessoa jurídica
que repassou mediante contrato comercial seu sistema e demais materiais inerentes ao
desenvolvimento da atividade empresarial. Neste esteio já decidiu o Superior Tribunal
de Justiça (REsp 818799-SP – Min. CASTRO FILHO – TERCEIRA TURMA).

Cláusula 7a. A cessão ou transferência dos direitos relativos a este contrato, assim
como as mudanças e alterações no quadro societário, ou qualquer outra alteração no
Contrato Social da FRANQUEADA, somente poderá se efetivar após prévio e expresso
consentimento da FRANQUEADORA.

DOS PREÇOS – TAXA DE FRANQUIA E ROYALTIES

Cláusula 8a. Em vista da realização do presente contrato, a FRANQUEADA pagará


a FRANQUEADORA as seguintes verbas:

I – TAXA DE FRANQUIA no valor de R$ ... (valor por extenso), relativa à licença


parcial do uso da marca; serviços prestados; elaboração de projetos; supervisão de
execução; plano de marketing; treinamento de pessoal; transferência de know-how,
fornecimento de manuais, diretrizes e assessorias integrais, até o funcionamento inicial
do estabelecimento;

II – ROYALTIES mensais no percentual de X% (xxx por cento) sobre o faturamento


bruto mensal da unidade franqueada, com garantia de um mínimo de R$... (valor por
extenso), para uso da marca franqueada, conforme previsto na Circular de Oferta de
Franquia.

REFERÊNCIA JURISPRUDENCIAL

Execução – Contrato de franquia – Royalties e taxa de propaganda – Título


executivo – Liquidez – Excesso de execução – Responsabilidade dos sócios da
franqueada – Legitimidade passiva – Julgamento em agravo decorrente de exceção
de pré-executividade – Coisa julgada. 1. Sendo os royalties e a taxa de propaganda
estabelecidos em percentuais e incidentes sobre as operações de compra de mercadoria
para revenda, sua apuração depende de simples operações aritméticas, revelando,

64
CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

pois, liquidez e dispensando análise em processo de conhecimento. 2. A solução da


questão da legitimidade passiva, em exceção de pré-executividade, faz coisa julgada,
a afastar nova apreciação em recurso de apelação. 3. O excesso de execução se revela
pela cobrança de valor superior ao devido, o que não ocorre se o devedor se apega ao
valor principal corrigido, sem considerar os encargos da mora previstos no contrato.
Embargos improcedentes. Recurso não provido.

(TJ-SP – APL: 991090595255 SP, Relator: Itamar Gaino, Data de Julgamento:


23/6/2010, 21ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 13/7/2010)

COMENTÁRIOS

Sugere-se a discriminação precisa dos royalties e demais taxas para que aufira liquidez
ao título executivo que será formado com a assinatura do instrumento por duas
testemunhas.

Isso, conforme demonstra o precedente jurisprudencial indicado, dispensa a


necessidade de instauração de um processo de conhecimento, auferindo celeridade
a eventual cobrança, que se dará mediante execução de título executivo extrajudicial
(líquido e certo).

Parágrafo primeiro. Para fins de apuração de receita e de desempenho das Unidades


Franqueadas, deverá ser enviado à FRANQUEADORA “Relatório Resumo de
Movimento”, até o 5o dia útil do mês subsequente.

Parágrafo segundo. Os pagamentos dos royalties mensais devidos deverão ser


efetuados até o dia XX (extenso) de cada mês, relativamente ao faturamento bruto do
mês anterior. O atraso no pagamento implicará multa de X% (X por cento) e incidência
de juros de mora na razão de 1% (um por cento) ao mês e correção monetária pelo INPC.

Parágrafo terceiro. A inadimplência por período superior a XX (extenso) dias dará


causa a rescisão do presente contrato.

III – CONTRIBUIÇÃO DE MARKETING – Além dos percentuais estipulados nos


itens acima, a FRANQUEADA pagará mensalmente à FRANQUEADORA X% (X
por cento) do valor do faturamento bruto, para a constituição de um fundo destinado
a promover a divulgação da marca NOME DA MARCA e dos produtos franqueados.
Esta parcela será sempre devida, independentemente de a FRANQUEADA ter ou não
despendido quaisquer quantias com publicidade de qualquer tipo.

65
UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

Parágrafo único. No mês de XX de cada ano, a FRANQUEADORA prestará contas


à FRANQUEADA das receitas recebidas e despesas feitas à conta do referido fundo
no ano anterior.

DOS DIREITOS E DEVERES DA FRANQUEADA

Cláusula 9a. Com da assinatura do presente contrato, a FRANQUEADA terá direito


a:

I – Receber os Manuais da Franquia, detalhando todos os procedimentos de montagem,


administração e operação da unidade franqueada ou outros, em conformidade com o
que está definido na Circular de Oferta da Franquia;

II – Utilizar a marca para todas as atividades inerentes à franquia, durante a vigência


do contrato;

III – Receber o treinamento para administração e operação de sua unidade franqueada;

IV – Receber apoio e orientação contínua da FRANQUEADORA.

Cláusula 10a. São deveres da FRANQUEADA:

I – Aplicar em sua unidade franqueada os conhecimentos repassados pelo franqueador,


por meio de treinamentos e manuais, seguindo sempre suas orientações;

II – Pagar pontualmente todas as taxas e royalties devidos à FRANQUEADORA;

III – Administrar e operar sua unidade franqueada com eficiência, utilizando-se da


marca desenvolvida pela FRANQUEADORA, seguindo rigorosamente as normas e
padrões estabelecidos para o uso da marca, administração, operação e divulgação da
franquia;

IV – Cumprir rigorosamente a política comercial da franquia, seguindo as normas


contidas nos manuais, circulares, contrato e demais diretrizes e procedimentos
definidos para a rede;

V – Manter absoluto sigilo em relação a toda e qualquer informação ou especificação


contida em treinamentos e/ou manuais que venha a receber, sob pena de incorrer em
multa correspondente a XX vezes o valor da taxa de franquia, prevista na Cláusula 8ª,
inciso I;

VI – Não explorar atividade que, direta ou indiretamente, seja considerada concorrente


ao ramo de atividade objeto da franquia concedida, durante a vigência do contrato, bem
como após a rescisão, pelo prazo previsto na Cláusula 5ª deste contrato;
66
CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

VII – Atender as convocações para convenções, treinamentos e reciclagens para gestão


da unidade franqueada, aprimoramento das técnicas de comercialização de produtos e
serviços, lançamento de novos produtos e demais assuntos inerentes à rede de franquias;

VIII – Fornecer documentos e prestar informações detalhadas e com clareza sobre o


desempenho da unidade franqueada, sempre que solicitado.

Cláusula 7a. A FRANQUEADA não poderá expor, divulgar ou comercializar produtos


ou serviços que não estejam arrolados no presente instrumento, salvo se devidamente
autorizado por escrito pela FRANQUEADORA.

DOS DIREITOS E DEVERES DA FRANQUEADORA

Cláusula 11a. São direitos da FRANQUEADORA:

I – Receber pontualmente o pagamento dos royalties mensais;

II – Reter o repasse de material publicitário à FRANQUEADA, caso esta não repasse


os valores dos ROYALTIES e das CONTRIBUIÇÕES DE MARKETING;

III – Deixar de fornecer mercadoria (ou know-how), em caso de atraso no pagamento


dos ROYALTIES;

IV – Inspecionar as instalações da FRANQUEADA sempre que desejar;

V – Ter acesso e auditar os balanços contábeis, livros, caixas, movimentação de caixa,


ou qualquer outro documento contábil da FRANQUEADA;

Cláusula 12a. São deveres da FRANQUEADORA:

I – Fornecer os Manuais da Franquia, detalhando todos os procedimentos de montagem,


administração e operação da unidade franqueada ou outros, em conformidade com o
que está definido na Circular de Oferta da Franquia;

II – Prestar assessoria integral na implantação e manutenção da unidade franqueada,


desde a seleção de ponto comercial, layout, projetos, instalações físicas, treinamento
de pessoal, marketing e em outras atividades necessárias à implementação e
operacionalização da empresa;

III – Dar apoio e orientação contínua da FRANQUEADORA;

IV – Produzir campanhas de marketing da MARCA;

67
UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

V – Supervisionar de forma periódica a unidade franqueada, informar os resultados


obtidos e apresentar propostas e ferramentas de melhorias;

VI – Prestar assistência técnica, científica, mercadológica e de recursos humanos,


para que a unidade FRANQUEADA obtenha desempenho e resultados adequados à
manutenção da empresa.

REFERÊNCIA JURISPRUDENCIAL

“No caso concreto, sem dúvida está comprovada conduta reprovável do franqueado, a
comprometer o valor da marca XXX.

[…]

Nesse sentido, os relatórios de fls. 85 e ss., a comprovar a aquisição, pela franqueada,


de produtos não autorizados pelo franqueador, assim como a inobservância de regras
básicas de higiene e venda de produtos vencidos, afora o tratamento desatencioso e
indelicado da clientela, estes comprovados mediante reprodução de e-mails do serviço
de atendimento ao cliente.

[…]

Ante o exposto, forte no art. 557, § 1o -A, do CPC, de plano dou provimento ao recurso,
para deferir antecipação de tutela requerida na inicial, a fim de que, de imediato, pena
pecuniária, a ré deixe de utilizar a marca franqueada XXX e suas variações ou outras
que com ela se possam confundir, assim como cesse imediatamente a utilização de
quaisquer elementos identificadores da marca e da rede XXX, como luminosos internos
e externos, cardápios e fotografias, devendo, ainda, nos termos do parágrafo quinto da
cláusula vinte e dois, do instrumento de contrato de fls., proceder à descaracterização
da loja, no prazo de trinta (30) dias, tudo sob pena de multa diária de R$ 3.000,00 (três
mil reais).” Agravo Interno no 70024878258/2008, Décima Oitava Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.

COMENTÁRIOS

É de relevante importância que todas as regras, direitos, deveres e procedimentos


de montagem, administração e operação, do franqueado e do franqueador, sejam
detalhados na Circular de Oferta de Franquia, que fará parte integrante do contrato,
para que ambas as partes tenham controle sobre a qualidade dos serviços e/ou
produtos franqueados.

O descumprimento de qualquer norma contratual, como por exemplo aquisição pelo


franqueado de material não autorizado pelo franqueador, queda na qualidade do
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CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

atendimento aos clientes, e outras inúmeras práticas irregulares, pode ensejar a rescisão
do contrato de franquia, conforme ilustra o trecho do julgado acima transcrito.

DAS CLÁUSULAS SOCIAIS – ANTICORRUPÇÃO E COMPLIANCE

Cláusula 13a. As partes declaram e se comprometem, sob as penas de lei, que:

I – não possuem em seu quadro funcional menores de dezoito anos em trabalho


noturno, perigoso ou insalubre, e nem menores de dezesseis anos em qualquer atividade,
salvo na condição de aprendiz a partir de 14 anos, nos termos da Lei no 9.854/1999,
regulamentada pelo Decreto no 4.358 de 5/9/2002, observando o disposto no inciso
XXXIII do artigo 7o da Constituição Federal;

II – que não possuem, em sua cadeia produtiva, empregados executando trabalho


degradante ou forçado, observando o disposto nos incisos III e IV do artigo 1o e no
inciso III do artigo 5o da Constituição Federal;

III – que respeitam e continuarão a respeitar a legislação ambiental, bem com obtêm
(ou obterão) todas as licenças exigidas para a atividade atinente ao presente contrato;

IV – que procederão de acordo com os preceitos éticos e legais previstos na legislação


pátria, sobretudo em respeito a Lei no 12.843/2013 – Lei Anticorrupção, não incidindo
em nenhum ato ilícito, de corrupção, ou que possa caracterizar uma vantagem indevida
na relação com os órgãos públicos nacionais ou internacionais, bem como em práticas
lesivas à concorrência.

Cláusula 14a. As partes devem manter práticas de compliance, para fazer cumprir as
normas legais e regulamentares, as políticas e as diretrizes estabelecidas para o negócio
e para as atividades da instituição ou empresa, bem como evitar, detectar e tratar
qualquer desvio ou inconformidade que possa ocorrer.

Cláusula 15a. A parte que desrespeitar os incisos acima e vier a ser responsabilizada
pelas autoridades arcará sozinha com as penalidades decorrentes do ato praticado.
Caso uma das partes venha a ser condenada por ato praticado pela outra, terá o direito
de ser ressarcida das perdas, danos e prejuízos sofridos.

REFERÊNCIA JURISPRUDENCIAL

“LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DA FRANQUEADORA. Presente no caso


concreto, pelo contexto que se extrai dos autos, notadamente, em face das cartas de
cobrança com ameaça de negativação pela dívida inexistente. Responsabilidade solidária
da franqueadora com consumidores da franqueada por danos causados por esta em

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UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

razão e no exercício do escopo da franquia. Relação de consumo evidente na relação


jurídica aferida nestes autos; SPC – Dívida inexistente – Negativação ilícita. Relação
de consumo. Dano moral configurado. Indenização mantida – Recurso da autora, em
parte, provido e desprovido o da corré franqueada.” (TJ/SP, APL 9133387172007826
SP 9133387-17.2007.8.26.0000, 20ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des. CUNHA
GARCIA, em 13/2/2012).

COMENTÁRIOS

Apesar do disposto no caput da Cláusula 15ª em comento, a situação jurídica ali trazida
tem relevância apenas para as partes contratantes do sistema de franquia, ou seja,
traduz obrigação inter partes.

Conforme têm decidido os Tribunais Pátrios, não se opõem aos consumidores os termos
da contratação entre franqueador e franqueado, em relação à responsabilidade por atos
praticados por este em face daqueles.

Nos dizeres de Rui Stoco, a “relação entre franqueador ou franqueado e o consumidor


final encontra proteção no Código de Defesa do Consumidor. A responsabilidade
de ambos em face do consumidor final é objetiva, nos termos dos artigos 12 a 14 do
CDC”, sendo que a responsabilidade daquele advém do fato de integrar a cadeia no
fornecimento de produtos e/ou serviços, fazendo incidir o disposto no art. 7o, parágrafo
único, e art. 25, ambos do Código de Defesa do Consumidor.

Ademais, considerando que o franqueador, ao ceder a marca e o know-how para


uso da franqueada, se beneficia com essa prática e, por isso, deve ser solidariamente
responsável pelos atos ilícitos daquela, especificamente praticados em razão e no
exercício do objeto da franquia, excluindo-se aqueles atos cujas responsabilidades são
consideradas subjetivas pela lei, v.g., assunção de dívidas etc.

Não obstante, quando se visualiza tal hipótese de responsabilização solidária, ou que


seja subsidiária, é possível estabelecer o direito de regresso ao franqueador, em face
do franqueado, ou vice-versa, para reaver os prejuízos sofridos em decorrência de ato
praticado pelo outro, tal como prescreve o parágrafo único da cláusula acima.

DAS HIPÓTESES DE RESCISÃO

Cláusula 16a. São motivos para rescisão do presente contrato:

I – o uso inadequado da marca;

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CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

II – o cumprimento irregular de cláusulas contratuais, especificações, projetos e prazos,


após esgotadas as possibilidades de correção e ultrapassado o prazo então concedido
pela FRANQUEADORA;

III – o atraso injustificado no pagamento dos royalties previstos na Cláusula 8ª;

IV – a paralisação das atividades pela FRANQUEADA sem aviso prévio e sem


autorização da FRANQUEADORA;

V – a suspensão das compras e/ou das vendas (ou prestação de serviços), sem
autorização da FRANQUEADORA;

VI – o não atingimento pela FRANQUEADA das metas de desempenho descritas na


Circular de Oferta de Franquia anexa, por XX meses subsequentes;

VII – a restrição do acesso de preposto da FRANQUEADORA, pela FRANQUEADA,


ao estabelecimento e demais dependências;

VIII – a falência, insolvência, pedido de recuperação judicial, intervenção,


liquidação ou dissolução de qualquer uma das partes, ou ainda configuração
de situação pré-falimentar ou pré-insolvência, inclusive com títulos vencidos
e protestados, ou ações de execução, que comprometam a solidez financeira e a
manutenção dos negócios.

Parágrafo único. Nas hipóteses de rescisão elencadas acima, haverá incidência de


multa rescisória, fixada, desde já, em XX% (XX por cento) sobre a média de royalties
pagos (ou devidos) nos últimos XX (XX) meses.

Cláusula 17a. O presente contrato poderá ser rescindido por comum acordo entre as
partes, mediante distrato, assegurando a FRANQUEADA o direito aos royalties e
demais taxas, que fizer jus até a data.

Cláusula 18a. Configuradas as hipóteses de rescisão, a FRANQUEADA deverá, de


imediato, deixar de utilizar a MARCA e demais itens objetos do presente contrato, sob
pena de multa fixada nos termos do parágrafo único da Cláusula 16ª.

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Cláusula 19a. A FRANQUEADORA em nenhum momento fez qualquer tipo de


promessa e garantia quanto a resultados ou rentabilidade do negócio. Apenas coube a

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UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

FRANQUEADORA, a título de informação do negócio, a apresentação de planilhas


de rentabilidade a partir de vendas hipotéticas de uma unidade operacional. Esses
resultados desenvolvem metas de vendas a serem atingidas.

Cláusula 20a. As disposições deste instrumento contratual, em nenhum momento,


serão elididas por quaisquer outros preceitos que, por ventura, fizerem referência à
franquia ora concedida, ou que não tenham sido ajustados expressamente entre as
partes, ressalvados os preceitos legais.

Cláusula 21a. As partes firmam o presente instrumento obrigando a si e seus sucessores


a honrar com as obrigações deste.

Cláusula 22a. A tolerância, por qualquer uma das Partes, quanto ao inadimplemento
das obrigações contratuais não implica novação ou modificação das cláusulas aqui
ajustadas, constituindo mera liberalidade.

Cláusula 23a. O presente contrato poderá ser alterado por comum acordo entre as
partes, sendo feito por meio de aditivo.

Cláusula 24a. A FRANQUEADORA poderá ceder este contrato a terceiros, desde que
aos mesmos sejam transferidos os direitos de licença de uso da marca, de distribuição
dos produtos e do sistema de metodologia objeto deste contrato.

Cláusula 25a. A FRAQUEADA se compromete a, no prazo de XX (XX) dias, promover


a averbação e o registro do presente contrato no Instituto Nacional da Propriedade
Industrial (INPI).

COMENTÁRIOS

A inserção dessa cláusula tem demonstrado, na prática, resultados positivos e bastante


atrativos. Podemos citar como benefícios:

(I) com essa averbação, pode se fazer dedução fiscal dos royalties do lucro líquido
sem que haja o risco de, por conta do não registro, sofrer algum tipo de processo de
fiscalização da Receita Federal;

(II) a averbação do contrato de franquia no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual


(INPI), cujo objeto é a exploração de uma marca, serve como um meio de prova, de
modo a inviabilizar eventual caducidade do seu registro;

(III) a averbação do contrato viabiliza transferências financeiras, dele decorrente,


para o pagamento dos royalties no exterior, mediante comprovação dos privilégios
concedidos; e

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CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

(IV) a dedutibilidade nas declarações de renda do montante efetivamente pago (artigo


12, parágrafo 1o, parágrafo 2o, parágrafo 3o da Lei no 4.131/1962 c/c artigo 50 da Lei no
8.383/1991).

Para estudo das normas relativas a esse registro, vide ATO NORMATIVO INPI
N o 135/1997.

DOS ANEXOS

Cláusula 26a. Constituem anexos, que passam a fazer parte integrante e indissociável
do presente instrumento, a serem rubricados pelas partes:

I – Circular de Oferta de Franquia, com todas as exigências do art. 3o, da Lei no


8.955/1994 (ANEXO I);

II – Certidões Negativas e de Regularidade da FRANQUEADA (ANEXO II).

DO COMPROMISSO ARBITRAL (OU CLÁUSULA DE ELEIÇÃO DE FORO)

Cláusula 27a. As partes, de comum acordo, convencionam a presente cláusula


compromissória, comprometendo-se em submeter à Arbitragem os litígios que possam
vir a surgir, relativamente a este contrato, elegendo para tanto, A (NOME DA CORTE
ARBITRAL), inscrita no CNPJ sob o no 01111111/0001-11, com sede em (Nome da
Cidade, Estado de XXXX, Endereço Completo), na forma do seu regulamento interno e
nos preceitos da Lei no 9.307/1996.

Parágrafo primeiro. A lei aplicável a controvérsia será a 8.955/1994 – Lei de


Franquias, podendo, ainda, o Arbitro julgar pela equidade.

Parágrafo segundo. A Arbitragem será conduzida no idioma Português e a


sentença será proferida e executada, caso necessário, na Comarca de (Nome da
Cidade – Estado XX).

Parágrafo terceiro. Fica convencionado que a parte derrotada arcará com os


honorários do árbitro e com as despesas decorrentes.

______________________ ____________________

FRANQUEADORA FRANQUEADA

ou

Cláusula 27ª. As partes elegem o foro da Comarca de (Nome da Cidade – Estado XX),
para dirimir eventuais dúvidas oriundas do presente contrato, com renúncia expressa
de qualquer outro por mais privilegiado que seja.

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UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

REFERÊNCIA JURISPRUDENCIAL

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA. AÇÃO DE


REPARAÇÃO DE DANOS. RESPONSABILIDADE CONTRATUAL. FORO DE ELEIÇÃO.
CONTRATO DE FRANQUIA. LOCAL DO DADO. LOCAL DO DOMICÍLIO DO RÉU.
COMPETÊNCIA TERRITORIAL RELATIVA. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
JULGAMENTO CONJUNTO COM O RESP 930.875/MT.

1. A competência para a ação que visa à reparação de danos, fundada em responsabilidade


contratual ou extra contratual, deve ser proposta no local onde se produziu o dano
não no domicílio do réu.Trata-se, no entanto, de competência territorial relativa que,
portanto, pode ser derrogada por contrato, de modo a prevalecer o foro de eleição.

2. Não desfaz a validade do foro de eleição a circunstância do ajuizamento da ação,


decorrente de contrato de franquia, como ação indenizatória, porque esta sempre tem
como antecedente a lide contratual.

3. Inaplicável o Código de Defesa do Consumidor ao contrato de franquia, não se admite


a alegação de abusividade da cláusula de eleição de foro ao só argumento de tratar-se
de contrato de adesão.

4. Recurso especial provido, com determinações e imediata remessados autos ao Juízo


do foro de eleição (Rio de Janeiro), realizado o julgamento em conjunto com o REsp
930.875/MT.

(STJ – REsp: 1087471 MT 2008/0209367-0, Relator: Ministro SIDNEI BENETI,


Data de Julgamento: 14/6/2011, T3 – TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe
17/6/2011)

EMENTA: AGRAVO INTERNO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. CLÁUSULA DE


ELEIÇÃO DE FORO. CONTRATO DE ADESÃO. FRANCHISING. INAPLICABILIDADE
DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. DECISÃO MANTIDA.

1. Inaplicável o Código de Defesa do Consumidor ao contrato de franquia, pois não há


relação de consumo entre o franqueador e o franqueado, já que este não é destinatário
final de produtos ou serviços do primeiro, mas, sim, intermediador destes junto a
terceiros, mediante desenvolvimento de uma atividade nitidamente empresarial.

2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é assente no sentido de que o fato


de o contrato de franquia ter sido celebrado por contrato de adesão é insuficiente, por
si só, para tornar abusiva a cláusula de eleição de foro.

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CONTRATO DE FRANQUIA │ UNIDADE ÚNICA

3. Não comprovada a abusividade de tal cláusula, há que se privilegiar o foro de eleição


estabelecido pelas partes, mormente em respeito ao princípio do pacta sunt servanda.

4. Como o agravo interno não trouxe nenhum argumento novo capaz de modificar a
conclusão proposta, a decisão atacada deve ser mantida por seus próprios fundamentos.
Agravo interno desprovido.

(TJGO, AGRAVO DE INSTRUMENTO 153928-28.2012.8.09.0000, Rel. DES.


ZACARIAS NEVES COELHO, 2A CAMARA CIVEL, julgado em 25/9/2012, DJe 1164
de 11/10/2012)

COMENTÁRIOS

Importante saber a competência para a ação que visa à reparação de danos, fundada
em responsabilidade advinda do descumprimento parcial ou total do contrato. O STJ
possui precedentes no sentido de que a regra do local do dano é especial em relação à
regra do local do domicílio do réu, razão pela qual deve prevalecer a competência do
foro do local do dano.

Em alguns julgados entendeu-se que essa prevalência deveria ser observada em


qualquer hipótese (art. 100, inciso v, a, do CPC), mesmo quando o dano cuja reparação
se persegue fosse decorrente de responsabilidade contratual, porém, precedentes mais
recentes apontam na direção contrária, isto é, no sentido que, quando se tratar de
reparação de danos decorrentes de descumprimento contratual, não há aplicação do
art. 100, inciso v, a, do CPC.

Com efeito, ante as hipóteses levantadas sobressai-se a presença de um terceiro elemento:


o foro de eleição. A presença de tal cláusula interfere de modo decisivo em eventual
conflito de competência. Tanto o foro do local do dano quanto o foro do domicilio do
réu constituem hipótese de competência territorial, que é, em regra, relativa, podendo
ser modificada pelas partes (Súmula 335/STF – “É válida a cláusula de eleição de foro
para os processos oriundos do contrato”).

Não obstante, os contratos de franquia, via de regra, se tratar de verdadeiros contratos


de adesão, não permitindo a discussão da cláusula de eleição pelo franqueado, o
entendimento adotado pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, acompanhando
orientação do Superior Tribunal de Justiça, é de que deve haver outros elementos, tais
como efetivo prejuízo para defesa do aderente, ou ocorrência de fatos em local diverso
do eleito, para ensejar a nulidade da mesma, por abusividade.

É de se observar ainda que inviável a incidência dos dispositivos do Código de Defesa


do Consumidor às relações entre franqueado e franqueador, uma vez ausente a

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UNIDADE ÚNICA │ CONTRATO DE FRANQUIA

relação de consumo, sendo que o contrato de franquia possui vínculo nitidamente


comercial. Precedentes da própria corte.

Assim, por estarem as partes, justas e acordadas em tudo quanto consta, assinam o
presente contrato em 2 (duas) vias de igual teor e forma, para um só efeito, na presença
de 2 (duas) testemunhas, que terá validade independentemente de ser levado a registro
perante cartório ou órgão público, nos termos do art. 6o da Lei no 8.955/1994.

Nome da Cidade – SIGLA DO ESTADO, DD de MM de AAAA.

NOME EMPRESARIAL (SOCIEDADE EMPRESÁRIA OU EMPRESÁRIO


INDIVIDUAL OU EIRELI)

CNPJ 00.000.000/0001-00

Nome do Representante

CPF 000.000.000-00

FRANQUEADORA

TESTEMUNHAS

_____________________ ______________________

Nome: Nome:

RG: RG:

CPF: CPF:

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Referências

Associação Brasileira de Franchising – ABF. Análise do Pré-Contrato de Franquia


e quando e como formalizá-lo. Disponível em: <http://www.portaldofranchising.
com.br/artigos-sobre-franchising/analise-do-pre-contrato-de-franquia-e-quando-e-
como-formaliza-lo>.

GOMES, Williane. A responsabilidade do franqueador perante débitos


trabalhistas adquiridos pela empresa franqueada: breve comparativo entre
legislação brasileira e legislação portuguesa. Disponível em <www.migalhas.com.br>.

ROQUE, Sebastião José. Do Contrato de Franquia. São Paulo: Ícone Editora, 2012.

SEBRAE. Contrato de Franquias e de Licenciamento. Disponível em: <http://


www2.rj.sebrae.com.br/boletim/contratos-de-franquias-e-de-licenciamento/>.

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