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Acústica e Climatização

em Ambientes Comerciais

Brasília-DF.
Elaboração

Ayana Dantas de Medeiros

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 7

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 9

UNIDADE I
CONFORTO TÉRMICO.......................................................................................................................... 11

CAPÍTULO 1
QUESTÕES FUNDAMENTAIS...................................................................................................... 12

CAPÍTULO 2
CONCEITOS E GRANDEZAS..................................................................................................... 15

CAPÍTULO 3
NORMATIVAS.......................................................................................................................... 17

UNIDADE II
CLIMATIZAÇÃO PASSIVA........................................................................................................................ 20

CAPÍTULO 1
INÉRCIA TÉRMICA................................................................................................................... 22

CAPÍTULO 2
AQUECIMENTO SOLAR PASSIVO............................................................................................... 33

CAPÍTULO 3
SOMBREAMENTO.................................................................................................................... 36

CAPÍTULO 4
VENTILAÇÃO NATURAL............................................................................................................. 40

CAPÍTULO 5
RESFRIAMENTO EVAPORATIVO................................................................................................. 52

UNIDADE III
CLIMATIZAÇÃO MECÂNICA.................................................................................................................. 56

CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO À CLIMATIZAÇÃO MECÂNICA............................................................................ 57

CAPÍTULO 2
TIPOS DE INSTALAÇÃO............................................................................................................. 59
CAPÍTULO 3
ESTUDOS DE CASO................................................................................................................. 69

CAPÍTULO 4
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA......................................................................................................... 73

UNIDADE IV
ACÚSTICA............................................................................................................................................ 75

CAPÍTULO 1
CONFORTO ACÚSTICO E NATUREZA DO SOM.......................................................................... 75

CAPÍTULO 2
NORMATIVAS.......................................................................................................................... 82

CAPÍTULO 3
O PROJETO ACÚSTICO: TÉCNICAS E MATERIAIS....................................................................... 85

CAPÍTULO 4
ESTUDOS DE CASO................................................................................................................. 93

REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 95
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

7
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução

Olá, turma!

Chegamos ao módulo de Climatização e Acústica no Ambiente Comercial!

Você pode estar se perguntando qual a relação entre esses dois elementos e por que
vamos estudá-los juntos. A resposta é simples: ambos estão diretamente relacionados
com os clientes e/ou o público-alvo de seu projeto de uma forma indissociável: por
meio do entendimento da sensação de conforto ambiental.

Lamperts, Dutra e Pereira (2014) entendem que o conforto pode ser entendido como
um conjunto de condições ambientais que permitem ao ser humano sentir bem-estar
térmico, visual, acústico e antropométrico, além de garantir a qualidade do ar e o
conforto olfativo. A esse conjunto, dá-se o nome de conforto ambiental. Ainda assim,
o ser humano é biologicamente adaptável, capaz de se utilizar de mecanismos como
vestimenta, arquitetura e tecnologia para atingir condições ideais de permanência.

Ao contrário do que talvez popularmente esteja associado a seu conceito, conforto não
é uma condição de luxo, nem supérfluo, é essencial. Ao falarmos dele, estamos tratando
da relação de equilíbrio entre homem e meio.

Olgay (1963) discorre que, na complexidade do ambiente construído, os elementos


que o compõe (como luz, som e temperatura) agem diretamente sobre o corpo
humano, que, por sua vez, pode absorver ou tentar neutralizar seus efeitos. Mental
e fisicamente, essas reações são instintivas e visam alcançar um equilíbrio biológico.
O homem se esforça para o ponto em que encontra um gasto mínimo de energia para
se ajustar ao seu meio. Esse ponto, estado sob o qual ele consegue fazê-lo, é chamado
de zona de conforto, em que existem condições ideais para sensação de bem-estar,
garantindo, assim, o cenário perfeito para que consigamos desenvolver nossa melhor
performance.

Voordt e Wegen (2013) corroboram com esse entendimento e reforçam: uma edificação
climatologicamente insatisfatória não é agradável para o usuário. Quando os recursos
de projeto (como terreno, elementos e materiais) são usados com eficiência e a sua
disposição é eficaz e eficiente, ela – a edificação – alcança valor em diversos aspectos.
Portanto, em sentido mais amplo, pode-se definir a qualidade funcional de uma
edificação na medida em que ela oferece um nível adequado de apoio às atividades
desejadas, cria um clima positivo e contribui para o entorno favorável.

9
Para Voordt e Vrielink (1987) apud Voordt e Wegen (2013), a qualidade arquitetônica
de uma edificação, em sentido mais amplo, inclui as seguintes subqualidades: qualidade
funcional (ou valor de utilidade), qualidade estética (forma), qualidade técnica
(construção) e qualidade econômica (custo). Dentro do limiar da qualidade técnica,
está o componente físico, ou a capacidade da edificação em criar um clima interno
atraente, seguro e salubre, medido em termos de temperatura, umidade, acústica e
iluminação de maneira favorável tanto para o homem quanto para o meio ambiente, ao
economizar energia.

Dentro desse universo, deparamo-nos com questões como sustentabilidade e eficiência


energética. Edwards (2013) enfatiza que a sustentabilidade é cada vez mais considerada
o principal argumento para a arquitetura do século XXI. Para o autor, tendo em vista
a sustentabilidade do meio ambiente, nenhuma arquitetura será válida eticamente se
fugir desse problema. Nesse meio de projetar, a sustentabilidade possui uma dimensão
social e estética, e a função da tecnologia é conectar ambas, promovendo avanços sociais
e equilíbrio ecológico. Dessa união está surgindo uma nova ordem arquitetônica, uma
nova tipologia para vários tipos de edificações.

Com isso em mente, vamos ao nosso Módulo!

Inicialmente, será realizada uma análise das questões de Conforto Térmico (Unidade
I) para que possamos estabelecer uma base de entendimento e prosseguirmos
com a temática da Climatização (Unidades II e III). Vale salientar que aqui estão
informações gerais, então é importante trabalhar com uma equipe multidisciplinar
na hora de pensar seu projeto de instalações elétricas para fins de condicionamento
ou aquecimento de ar, ok?

Sequencialmente, falaremos sobre as questões relacionadas ao Ambiente Sonoro


(Unidade IV) a partir do entendimento das questões relacionadas ao Conforto Acústico
e às técnicas para garantir um isolamento ou tratamento eficaz em seu projeto.

Objetivos
»» Apresentar conceitos fundamentais de climatização e acústica.

»» Discorrer quanto ao comportamento e efeito de clima e som.

»» Tratar das diferentes fontes de climatização e ruído disponíveis no


mercado.

E, então, vamos começar?

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CONFORTO TÉRMICO UNIDADE I

Em nossa Introdução, fizemos uma breve discussão sobre questões relacionadas ao


Conforto Ambiental. Conforme visto, esse é um conceito abrangente, complexo e, de
algum modo, individual, já que cada ser humano interage com as condições próprias
de seu meio de forma particular.

Algo muito latente na ideia de conforto são as questões relacionadas ao universo


térmico. É comum a sensação de frio ou calor, por exemplo. No ambiente comercial,
é imprescindível estar atento a essa condição de conforto, o conforto térmico, para
garantir a produtividade de sua equipe e a satisfação de seu cliente.

Nesse sentido, vamos buscar analisar o que podemos entender como conforto térmico
para que, conscientes disso, possamos evoluir no assunto de climatização em si.

Vamos lá!

11
CAPÍTULO 1
Questões fundamentais

Como sabemos, o conceito de conforto é abrangente. Vamos, então, consultar algumas


renomadas referências para entender por onde conseguimos começar a destrinchar as
muitas variáveis envolvidas nesse tema.

Segundo a ASHRAE (Sociedade Americana de Engenheiros de Aquecimento,


Refrigeração e Ar Condicionado), conforto térmico pode ser entendido como um
estado de espírito que reflete a satisfação do usuário com o ambiente térmico que o
envolve. Se o balanço de todas as trocas de calor a que está submetido o corpo for nulo
e a temperatura da pele e o suor estiverem dentro de certos limites, pode-se dizer que
o homem sente conforto térmico. Em geral, a temperatura de conforto é definida à
medida que provoca uma sensação térmica neutra.

Givoni (1992) estabelece algumas métricas para alcançarmos esse estágio de conforto.
Uma delas é aplicada na Carta Psicrométrica pelo cruzamento entre temperatura e
umidade, sendo possível encontrar um intervalo satisfatório que indica as estratégias
bioclimáticas eficientes para uma determinada condição local, no decorrer dos meses
do ano. Para o autor, esses mapas facilitam a análise das características climáticas de
um determinado local pelo ponto de vista do conforto humano. Eles também podem
especificar diretrizes de projeto de construção para maximizar as condições de conforto
interno quando não há condicionamento mecânico.

Figura 1. Carta psicrométrica de Givoni.


T(°C)

UMIDIFICAÇÃO
VENTILAÇÃO
ZONA DE CONFORTO

SOMBRA
21°
SOL

UR%

INSOLAÇÃO
Fonte: Lamperts, Dutra e Pereira (2014).

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CONFORTO TÉRMICO │ UNIDADE I

A leitura da Carta Psicrométrica é específica para cada cidade. Por meio da leitura dos
dados locais, é possível verificar a condição de cada lugar.

Através da leitura dos arquivos climáticos de sua cidade (geralmente


disponibilizados pelo Instituto Nacional de Meteorologia – INMET), algumas
plataformas podem ajudar a sincronizar essas informações (que são muitas).

Uma delas é o Climante Consultant, um programa de computador baseado


em gráficos simples de usar que ajuda arquitetos, construtores, empreiteiros,
proprietários de residências e estudantes a entender o clima local. Ele usa dados
climáticos anuais do formato EPW de 8760 horas que são disponibilizados
gratuitamente (como os do INMET) e traduz esses dados climáticos brutos em
dezenas de exibições gráficas significativas.

No link abaixo, você consegue fazer gratuitamente o download do programa:

<http://www.energy-design-tools.aud.ucla.edu/climate-consultant/request-
climate-consultant.php

Como também analisamos em nossa Introdução, conforto não é luxo, é uma condição
que deve ser buscada para que consigamos estabelecer uma relação de equilíbrio com
o meio, para que, assim, possamos desenvolver nossa produtividade em seu nível
máximo.

Mas, afinal, como se dá essa relação entre anatomia e clima?

A anatomia humana
Fisiologicamente, chamamos de metabolismo o conjunto de transformações de matéria
e energia que se relacionam com os processos vitais.

A energia produzida pelo organismo humano, na unidade de tempo a qual pode ser
avaliada facilmente em função do oxigênio consumido na respiração, depende de vários
fatores, como: natureza, constituição corporal, raça, sexo, idade, saúde, nutrição,
clima local, ambiente e vestuário, dentre outros.

A energia mínima consumida pelo organismo humano por metro quadrado de


superfície – obtida com o indivíduo em jejum a 12 horas, deitado, em repouso absoluto,
normalmente vestido, sem agasalho, em um ambiente a uma temperatura tal que não
sinta nem calor nem frio – recebe o nome me metabolismo básico.

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UNIDADE I │ CONFORTO TÉRMICO

Olgay (1963) entende que os principais elementos do ambiente climático que afetam
o conforto humano podem ser catalogados como: temperatura do ar, radiação,
movimento do ar e umidade. Os efeitos no corpo humano em geral são: evaporação,
condução, convecção e radiação.

A epiderme participa, em primeiro lugar, dessa troca térmica (também como a respiração,
em menor grau), e podemos considerar que:

»» evaporação é o recobrimento de uma superfície (acontece em formato


de suor);

»» condução é a transferência de energia térmica;

»» convecção é a transmissão de calor para aquilo que se encontra fora de


equilíbrio térmico;

»» radiação é a incidência direta das superfícies.

Uma ferramenta muito eficaz nos estudos de climatização é o Projeteee, um


ambiente virtual desenvolvido pelo Laboratório de Eficiência Energética em
Edificações da Universidade Federal de Santa Catarina (Labeee/UFSC) que
apresenta dados de caracterização climática de mais de quatrocentas cidades
brasileiras, com indicação das estratégias de projeto mais apropriadas a cada
região e detalhamentos de aplicação prática.

Por meio da plataforma, é possível ter acesso ao programa Sol-Ar (também de


autoria do Labeee/UFSC), que permite a manipulação da carta solar e da rosa
dos ventos com dados da cidade selecionada.

É possível, ainda, consultar propriedades térmicas de uma variedade de


componentes construtivos e calcular a transmitância térmica de componentes
sugeridos pelo usuário.

Acesse: <http://projeteee.mma.gov.br/.

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CAPÍTULO 2
Conceitos e grandezas

Alguns conceitos de conforto térmico são essenciais para que consigamos prosseguir
em nossos estudos de climatização (Unidades II e III). Para tanto, vamos elencá-los:

»» Absortância térmica: quociente da taxa de radiação solar absorvida


por uma superfície pela taxa de radiação solar incidente sobre esta
mesma superfície. É a capacidade de o material absorver calor em relação
ao fluxo de energia térmica incidente sobre sua superfície. A absortância
está ligada à cor do material. Ou seja, quanto mais escuro for o material,
mais energia térmica será absorvida.

»» Amplitude térmica: diferença entre a temperatura máxima e a


temperatura mínima registradas num determinado período de tempo.

»» Atraso térmico: tempo transcorrido entre uma variação térmica em


um meio e sua manifestação na superfície oposta de um componente
construtivo submetido a um regime periódico de transmissão de calor.

»» Calor: energia produzida pelo movimento molecular. É o termo usado


para definir a quantidade de energia de calor em um objeto, enquanto
a temperatura observada em um termômetro indica a intensidade de
energia. A quantidade de calor é expressa em quilocalorias ou em BTU,
como no sistema inglês – que significa British Thermal Unit.

»» Capacidade térmica: é a quantidade de calor que um corpo necessita


receber ou ceder para que sua temperatura varie uma unidade. Um
material com grande capacidade térmica necessita de grande quantidade
de calor para variar a sua temperatura em 1 °C. Por meio da capacidade
térmica, podemos avaliar o quanto um determinado material pode
contribuir para a inércia térmica do ambiente/edifício.

»» Carga térmica: a carga térmica consiste na quantidade de energia


que deve ser retirada de determinado ambiente para promover conforto
térmico aos seus usuários.

»» Emissividade: emissividade de um material diz respeito à capacidade


de emissão de energia por radiação da sua superfície.

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UNIDADE I │ CONFORTO TÉRMICO

»» Inércia térmica: capacidade de um material armazenar o calor e de o


restituir pouco a pouco. A inércia térmica é a capacidade do material de
amortecer e retardar a passagem de calor do meio com maior temperatura
para o meio de menor temperatura – sendo quantificada em horas.

»» Neutralidade térmica: índice térmico interno que corresponde a um


voto neutro na escala de sensação térmica.

»» Resistencia térmica: é a capacidade dos materiais em “reter” o calor.


Quanto maior a resistência, melhor o desempenho térmico/isolação
térmica do material.

»» Sensação térmica: expressão subjetiva consciente da percepção


térmica de um ocupante em relação a um ambiente, expressa na escala
sétima de conforto térmico.

»» Transmitância térmica: capacidade de um material em transmitir


calor. É a variável mais importante para a avaliação do desempenho
térmico dos fechamentos opacos.

»» Zona de conforto: faixa de variação bidimensional (geralmente


representada sobre a carta psicrométrica) da temperatura operativa
e umidade relativa do ar na qual se prevê condições de aceitabilidade
térmica para valores particulares de velocidade do ar, taxa metabólica e
isolamento de vestimenta.

Uma ótima ferramenta para entender as questões relacionadas ao Conforto


Ambiental é o livro Eficiência Energética na Arquitetura do pesquisador brasileiro
Roberto Lamperts, em parceria com Pereira e ilustrações de Luciano Dutra. É um
material importantíssimo para as disciplinas de universidades de todo o país e
uma ótima indicação de leitura e consulta para você ter sempre por perto ao
projetar. Ele encontra-se disponível em uma publicação do Ministério de Minas
e Energia, que pode ser acessada pelo link:

<http://www.labeee.ufsc.br/publicacoes/livros.

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CAPÍTULO 3
Normativas

No âmbito nacional, existem algumas normativas que regulamentam questões relacionadas


ao conforto térmico, como veremos a seguir.

NBR 15.220
A ABNT NBR 15.220, de 2005, discorre sobre o Desempenho Térmico de Edificações
e apresenta o Zoneamento Bioclimático Brasileiro (Figura 2), dividindo o país em oito
zonas, estabelecendo diretrizes construtivas para cada uma delas. Essas instruções
auxiliam no aproveitamento do potencial local – que englobam aquecimento solar
passivo, inércia térmica (para aquecimento e resfriamento), resfriamento evaporativo,
sombreamento e ventilação natural.

Figura 2. Zoneamento Bioclimático Brasileiro.

Zona 1

Zona 2

Zona 3

Zona 4

Zona 5

Zona 6

Zona 7

Zona 8

Fonte: <https://www.rsdesign.com.br/espaco_arquiteto/arquitetura-bioclimatica-desafios-sustentaveis/>, com base no zoneamento


determinado pela NBR 15.220, parte 3.

NBR 16401
A ABNT NBR NBR-16401, norma brasileira criada em 2008, regulamenta a instalação
de sistemas de ar condicionado e cortinas de ar em todo tipo de ambiente. A diretriz
substitui a NBR-6401, publicada em 1980, e leva em conta as mudanças e os avanços,
principalmente tecnológicos, dos aparelhos.

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UNIDADE I │ CONFORTO TÉRMICO

Além da evolução dos equipamentos, a nova norma acompanha o aumento das


exigências das empresas nos termos de Saúde, Medicina e Segurança no Trabalho
(SMS), as demandas das estações de trabalho, os sistemas de processamento de dados
e a preocupação com a ergonomia.

Elaborada com base em regulamentos internacionais, em especial o American Society


of Heating, Refrigerating and Air-Conditioning Engineers (ASHRAE), é dividida em
três partes:

»» Parte 1: projetos de instalações de condicionadores de ar.

»» Parte 2: parâmetros de conforto térmico (muitos deles apresentados no


capítulo anterior).

»» Parte 3: qualidade do ar interior.

NBR 15.575
A ABNT NBR 15.575/2013, popularmente conhecida como “Norma de Desempenho”,
foi chancelada em 2010 visando obrigatoriedade para novas edificações residenciais a
partir de 2013 e trata de requisitos para obtenção de desempenho em construções dessa
tipologia. Contudo, na ausência de outras normativas nacionais, pode ser estendida
em termos gerais, servindo como parâmetro útil para você que vai elaborar projetos
comerciais. Seu conteúdo discorre basicamente sobre três grandes eixos: segurança,
habitabilidade e sustentabilidade.

Ela trata basicamente das condições de desempenho esperadas de uma edificação


residencial. Apesar de não ter aplicabilidade no ambiente comercial, é muito válida sua
consulta, pois não há muitas normativas brasileiras que regulamentem essa tipologia.
A consulta também é recomendada já que esse documento deve embasar futuras
normativas brasileiras.

PBE EDIFICA

Desde os anos 90, após enfrentar um período de crise no sistema energético que
permanece assombrando a realidade, o governo brasileiro começou a investir em uma
série de processos que visam promover a eficiência energética. Um deles foi o Programa
Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), que estabelece métodos que
verificam a eficiência energética de equipamentos e projetos que entram no mercado
nacional, por meio de uma escala de “A” a “E” (em que “A” corresponde ao mais eficiente
energeticamente e “E” ao menos eficiente).

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CONFORTO TÉRMICO │ UNIDADE I

Dentro dos programas Procel, há o Programa Brasileiro de Etiquetagem de Edifícios


(PBE Edifica). Existente desde 2009 para novas construções comerciais (RTQ-C) e 2010
para residenciais (RTQ-R), engloba critérios como fachada e envoltória, iluminação
(com aproveitamento do potencial de iluminação natural) e condicionamento de ar,
além de garantidas bonificações a atribuídos que, caso tenham, cooperam para uma
melhor condição de desempenho energético do edifício.

Desde 2014, a Instrução Normativa nº 02 d Secretaria de Logística e Tecnologia da


Informação, de 4 de junho do mesmo ano, determina que todos os novos projetos
construídos pelo governo federal e aqueles que recebam retrofit devem obter etiqueta
nível “A” de eficiência energética.

Apesar da voluntariedade ainda garantida pelo programa, a etiquetagem tem uma


perspectiva promissora. Países europeus já investem em mecanismos semelhantes,
sendo, inclusive, um nicho de mercado para profissionais da área da Engenharias e
Arquitetura trabalhar com a consultoria técnica.

Além disso, para o cliente é um método de garantir o bom funcionamento energético


do edifício (e, consequentemente, redução de custos com consumo ao longo dos anos)
e uma boa estratégia de marketing.

Dentro do PBE Edifica, existem padrões exigidos para o desempenho dos aparelhos
de condicionamento de ar. Em linhas gerais, eles estão relacionados com o nível do
CoP (Coefficient Of Performance, em português Coeficiente de Desempenho) de cada
equipamento.

Conscientes das questões que envolvem o conforto térmico, sabe-se que a arquitetura
pode ser responsável, em grande parte, pelas condições físicas edificantes que garantem
ao usuário maior ou menos sensação de bem-estar.

Nesse sentido, a ventilação ou o aquecimento (climatização) dos espaços podem


acontecer de duas formas: de modo natural (passivo) ou artificial (mecânico). Nas
próximas unidades, vamos estudar cada uma dessas formas, bem como as principais
estratégias de alcance para obtenção de conforto térmico.

19
CLIMATIZAÇÃO PASSIVA UNIDADE II

Agora que compreendemos a base do Conforto Térmico, podemos tratar de climatização.

Basicamente, climatização é todo processo de controle do fluxo de ar de um recinto,


permitindo estabilizar a condição térmica de um ou mais ambientes. A climatização
passiva se dá por meio de estratégias arquitetônicas que garantem o resfriamento
ou aquecimento de um ambiente sem a necessidade da utilização de equipamentos
auxiliares (mecânicos).

Desde as primeiras civilizações, é possível verificar o cuidado de alguns povos com


essa questão, afinal isso se torna, muitas vezes, uma questão de sobrevivência. Imagine
sobreviver a altas temperaturas e a frio extremo sem qualquer aparato tecnológico. Isso
só é possível por meio de uma Arquitetura Vernacular inteligente e capaz de promover
conforto.

A Arquitetura Vernacular é aquela proveniente da experimentação empírica, de saberes,


percussora de qualquer uso da tecnologia ou comprovação científica.

Em questão de conforto térmico, o uso das pedras, por exemplo, é aplicado há centenas
de milhares de anos como uma estratégia para auxiliar na inércia e no atraso térmico e,
assim, provocar tanto resfriamento como aquecimento nas edificações de civilizações
milenares.

Figura 3. Edificação secular com estrutura em pedras.

Fonte: <https://www.vivadecora.com.br/pro/arquitetura/arquitetura-vernacular/>.

Outro clássico exemplo são os iglus, instalações feitas em regiões de frio extremo que
podem garantir um bom isolamento ao provocar uma diferença relevante de temperatura
interna em locais onde a média externa é de 20 graus abaixo de zero.
20
CLIMATIZAÇÃO PASSIVA │ UNIDADE II

Figura 4. Corte esquemático de um iglu.

Fonte: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-38970141>.

Vamos analisar agora as técnicas de climatização passiva com um levantamento das


principais estratégias de acordo com a plataforma Projeteee.

21
CAPÍTULO 1
Inércia térmica

Uma edificação de elevada inércia térmica proporciona a diminuição das amplitudes


térmicas internas e um atraso térmico no fluxo de calor. Isso ocorre devido a sua alta
capacidade de armazenar a energia calorífica, já que, ao atingir o ápice de temperatura
interna, ela é capaz de apresentar uma diferença substancial em relação à temperatura
média externa.

De fato, componentes de alta inércia térmica funcionam como uma


espécie de bateria: durante o verão absorvem o calor, mantendo a
edificação confortável; no inverno, se bem orientado, pode armazenar
calor ao longo do dia para liberá-lo à noite, ajudando a edificação a
permanecer aquecida. Essa característica é particularmente benéfica
em regiões de clima mais seco onde há uma alta amplitude térmica,
caracterizada pela grande diferença entre as temperaturas diurnas e
noturnas externas (acima de 7 ºC). (PROJETEE, Inércia Térmica)

A inércia térmica total da edificação depende das características da envoltória (piso,


parede e cobertura). Além dela, a admitância térmica do material vai influenciar na sua
capacidade de absorver e armazenar calor. Um material de alta admitância absorve e
libera o calor rapidamente.

O uso da estratégia de alta inércia no envelopamento do edifício só tem efeito se a


ventilação natural for restringida ao longo do dia, uma vez que, com a ventilação, a
temperatura interna aumenta e varia de acordo com o meio externo.

Deve-se ter cuidado, ainda, com os componentes de cobertura e de paredes a oeste


(orientação da tarde ao pôr do sol), pois a elevada exposição à radiação solar durante
a maior parte do ano pode transformar-se em acumuladores de calor, provocando
elevado desconforto interno no período de verão.

Esse tipo de estratégia deve ser aplicado com muito critério, procurando minimizar
os ganhos solares por meio de isolamento térmico externo ou sombreamento no
período diurno.

Essa forma de provocar a climatização de forma passiva – inércia térmica – pode


provocar tanto resfriamento e/ou o aquecimento de uma edificação.

22
CLIMATIZAÇÃO PASSIVA │ UNIDADE II

Estratégias para Inércia Térmica do Aquecimento

Inércia térmica através do piso

Nessa estratégia, o piso é o principal condutor de calor ao se utilizar materiais que


devem ser de alta capacidade térmica. Permita que o piso absorva calor durante o dia por
meio da exposição à radiação solar direta, oriunda das aberturas ou de fontes adicionais
de aquecimento ambiental, como radiadores a gás ou elétricos. O calor armazenado
poderá ser irradiado novamente para o interior da casa durante a noite. Quanto maior
for a inércia térmica do material utilizado, maior será o atraso térmico desse sistema.

Amplas janelas voltadas para o norte favorecem a incidência de radiação


solar sobre o piso no período de inverno, garantindo a eficácia dessa
estratégia. O ideal é que as janelas sejam de vidro duplo para aumentar
sua resistência térmica evitando grandes perdas noturnas. (PROJETEE)

Os pisos de madeira se destacam como uma boa opção para provocar inércia térmica.
Por apresentar características em ser um bom isolante térmico, a madeira propicia uma
condição favorável para sua aplicação nessas circunstâncias, o que não acontece com
pisos cerâmicos tradicionais (como porcelanatos).

EFEITO ESTUFA

Figura 5. Efeito estufa durante a manhã e noite.

Estrutura de vidro ou plástico Luz do sol

Fonte: <http://warlleydeus.blogspot.com/>.

No efeito estufa, há o ganho de calor indireto no ambiente por meio de um reservatório


térmico (geralmente espaço não ocupado) agregado à edificação. Esse reservatório
térmico é composto por superfícies envidraçadas que permitem a entrada da
radiação direta, mas não permitem a saída do calor (daí a origem do efeito estufa).
Cortinas internas reflexivas reduzem também a perda de calor do inverno, diminuindo
as perdas por radiação.

23
UNIDADE II │ CLIMATIZAÇÃO PASSIVA

Algumas observações sobre essa estratégia são:

»» Em associação com elemento de elevada inércia térmica (como uma


parede divisória entre o solarium e o ambiente que se quer aquecer), os
ganhos de calor são potencializados.

»» Utilizando aberturas inferiores e superiores nas paredes de maior


massa, aceleram-se as trocas térmicas por convecção. A colocação dessas
aberturas atende à necessidade de aquecimento diurno.

»» As paredes internas também podem ser isoladas termicamente e, assim,


as trocas térmicas ficam totalmente dependentes do mecanismo de
termocirculação passiva, pelas aberturas inferiores e superiores.

»» No verão, é necessário proteger o reservatório e permitir ventilação


adequada para minimizar o superaquecimento. Essa proteção pode ser
obtida pelo uso de vegetação de folhagem sazonal (que perdem as folhas
no inverno) ou de placas móveis de persianas externas.

Edificação Semienterrada
Figura 6. Edificação semienterrada.

Fonte: <https://www.archdaily.com.br/br/804790/casa-semi-enterrada-eneseis-arquitectura>.

Em edificações semienterradas, a massa térmica da terra diminui e


atrasa as flutuações de temperatura interna. Isso a torna uma estratégia
vantajosa tanto para o inverno quanto para o verão. Para edificações
enterradas, o potencial do aquecimento solar é uma questão de
orientação e projeto. Se bem orientada a fundação, o piso inferior e
a terra em contato com ela tornam-se uma bateria de armazenagem
térmica. (PROJETEE)

Para alcançar a efetividade dessa estratégia, recomenda-se que a edificação esteja em


contato com o solo de forma direta, principalmente durante os períodos de inverno –
24
CLIMATIZAÇÃO PASSIVA │ UNIDADE II

não é recomendado cobrir as superfícies internas em contato com a terra com materiais
isolantes. Caso haja elevada umidade na região de projeto, a condensação pode ser um
problema em potencial, sendo necessário pensar em soluções construtivas para evitar
o contato direto com o solo.

COMPONENTES INTERNOS COM AQUECIMENTO


SOLAR PASSIVO

Essa estratégia de inércia térmica trata, basicamente, de localizar os elementos de


maior atraso térmico no interior da edificação, de forma que sejam expostos a radiação
solar direta. Por meio desse posicionamento, o material serve como um irradiador de
calor desde que esteja exposto para aquecimento direto pela energia proveniente da
radiação solar.

Para edificações de um ou dois pavimentos essa solução pode ser


alcançada através de aberturas zenitais voltadas para norte (em
edificações no hemisfério sul) e a exposição da massa interna a fontes
de aquecimento adicionais (tais como painéis radiantes) pode ampliar
a carga térmica armazenada. (PROJETEE)

Estratégias para Resfriamento

ISOLAMENTO TÉRMICO
Figura 7. Sistema de envoltória com isolamento térmico.

Fonte: <http://projeteee.mma.gov.br/implementacao/isolamento-termico/?cod=asp>.

Os sistemas de isolamento térmico provocam a queda de temperatura interna durante


o dia ao mesmo tempo em que conservam calor para injetar levemente nos espaços
internos durante os períodos noturnos. Em geral, os materiais que compõem esse
sistema possuem baixa condutividade e elevada resistência térmica. Essas propriedades
combinadas atingem uma transmitância térmica global ainda menor do sistema.
25
UNIDADE II │ CLIMATIZAÇÃO PASSIVA

O efeito do isolamento térmico na temperatura interna está relacionado com o lugar de


inserção dos materiais e/ou técnicas isolantes, com a robustez (espessura) e cor externa
da superfície e depende, ainda, das variações de temperatura externa e interna do ar ao
longo do dia.

O próprio ar é um bom isolante térmico. Com isso, a maioria dos materiais isolantes
quase sempre tem em sua composição bolhas de ar.

Há uma grande variedade de térmicos no mercado. Diversos fornecedores


oferecem em seus catálogos opções de mantas e placas com resultados
eficientes. No vídeo do link abaixo você consegue verificar alguns dos principais
tipos de produtos:

<<https://www.youtube.com/watch?v=ZY9ofcopYBw>.

TUBOS ENTERRADOS COM AR


Figura 8. Esquema de tubos enterrados com ar para uma edificação.

Ar quente Ar frio

Solo frio

Fonte: <https://www.linkedin.com/pulse/resfriamento-e-aquecimento-geot%C3%A9rmico-solo-%C3%A9-usado-na-nilson/>.

Para resfriamento, o uso dos tubos enterrados pode proporcionar o controle e o


amortecimento das oscilações de temperatura diárias. Na ventilação passiva, o ar passa
pelo tubo sofrendo uma redução de temperatura em relação ao que trafega no ambiente
externo, fazendo com que haja diminuição da temperatura do ar interno (que sai do tubo).

Essa estratégia é aplicável em ambientes onde existe uma elevada ventilação natural,
uma vez que isso provoca a efetividade do processo passivo. Vale destacar, ainda,
a possibilidade de ocorrência de condensação no interior do tubo. Tal fenômeno
pode ser prevenido por meio do isolamento de sua superfície interna (do tubo) e a
complementaridade, se necessário, de um sistema de ventilação forçado.

26
CLIMATIZAÇÃO PASSIVA │ UNIDADE II

Tubos enterrados com água

Assim como os tubos enterrados com ar, para se explorar o potencial de resfriamento
do solo também podem ser utilizados os preenchidos com água. A temperatura da água
apresenta uma amortização em relação à temperatura do ar externo e é utilizada para
resfriamento do ar interno, por meio da passagem do tubo de água por trocador de
calor no interior da edificação. O ar ambiente é forçado pelo trocador de calor e reduz
sua temperatura ao entrar em contato com a tubulação de água a uma temperatura
inferior. A circulação da água pelo tubo deve ser forçada por bomba centrífuga simples.

Resfriamento radiante noturno

Em climas secos, onde há grandes variações de temperatura durante


o dia, as coberturas pesadas e bem sombreadas podem atuar como
receptor de calor proveniente do interior do ambiente no período diurno
e, no período noturno, como emissor do calor armazenado no decorrer
do dia. O sistema ideal de uso da estratégia de resfriamento radiante
indireto é conseguido com o uso de sistema móvel de isolamento
térmico ou proteção solar sobre a cobertura. Assim, consegue-se o
máximo resfriamento noturno com isolamento dos ganhos solares
diurnos. Pode ser aplicada a pátios externos, e terraços de descanso
sobre o teto. (PROJETEE)

Tanque de água na cobertura


Figura 9. Tanque de água na cobertura de uma edificação.

Fonte: <http://arquitetandonanet.blogspot.com/2010/03/teto-com-agua.html>.

A utilização de tanque de água na cobertura amplia sua capacidade


térmica, evitando ganhos excessivos de calor no período diurno. O uso

27
UNIDADE II │ CLIMATIZAÇÃO PASSIVA

de proteções solares sobre o tanque de água e sua exposição aos ventos


proporciona resfriamento pela evaporação da água e reduz os ganhos
de calor na cobertura. Utilizando uma proteção solar móvel, o tanque
de água também atua como uma estratégia de resfriamento radiante
indireto. Assim, a cobertura funciona como uma bateria térmica
absorvendo calor do ambiente interno, para liberá-lo no período
noturno. É necessário ventilar o espaço interno no período noturno
para acelerar o processo de eliminação da energia térmica armazenada.
(PROJETEE)

Vale destacar que não isolar o tanque d’água sob a cobertura pode comprometer sua
aplicabilidade nos períodos de inverno. É importante, ainda, considerar o crescimento
de algas e outras formas de vida no interior da superfície molhada. Para isso, é
recomendado impermeabilização e tratamento contínuo.

Telhado verde (ou teto jardim)


Figura 10. Esquema de teto jardim sob uma edificação.

Fonte: <http://blogaecweb.com.br/blog/ecotelhados-a-nova-tendencia/

Os telhados verdes são sistemas fornecem benefícios ao longo do ano, tanto no verão
quanto no inverno. Sua composição de terra amortiza as variações de temperatura
diárias e sua vegetação captura a maior parte da radiação recebida pela superfície ao
longo das horas de sol, o que provoca um ganho de calor interno consideravelmente
menor do que de um sistema de telhado convencional.

Além disso, em um teto jardim bem irrigado há dissipação de calor por meio do
fenômeno de resfriamento evaporativo durante o verão (como veremos mais à frente,
ainda nesta unidade). Desse modo, a camada de terra recebe um ganho de calor
significativamente menor.
28
CLIMATIZAÇÃO PASSIVA │ UNIDADE II

Mas atenção: o projeto de telhado verde (ou teto-jardim) deve incluir um bom sistema
de impermeabilização.

Paredes como isolante externo

Nessa estratégia, há o preenchimento de superfícies de parede com água. A água apresenta


uma boa capacidade de armazenamento de calor e uma capacidade térmica pelo menos
duas vezes maior que os materiais comuns de alvenaria comumente aplicados.

O preenchimento das superfícies com água acontece pelo armazenamento feito em


recipientes (tais como tambores, containers, colunas verticais e até garrafas) instalados
no sistema de envoltória da edificação.

Algumas considerações dessa estratégia são:

»» o material dos recipientes de armazenagem da água não pode ser isolante


térmico;

»» o sombreamento e o isolamento externo são recomendáveis para redução


dos ganhos solares;

»» as paredes de maior inércia térmica devem estar expostas às brisas noturnas


principalmente no verão quando as amplitudes térmicas diminuem.

Ventilação pelo piso


Figura 11. Casa em pilotis, na qual a ventilação pelo piso acaba sendo promovida.

Fonte: <http://www.vaievemdavida.com.br/noticia/casa-de-praia-elevada-tem-praca-coberta/>.

A ventilação pelo piso pode acontecer tanto por mecanismos já mencionados (por tubos
enterrados com ar) quanto pela elevação do nível da edificação por meio de pilotis (ou
estratégia semelhante).

29
UNIDADE II │ CLIMATIZAÇÃO PASSIVA

Para resfriamento, é importante percebermos que essa ação será efetivamente direta
para diminuir a temperatura dos ambientes internos do andar acima do térreo. Nele, é
possível ainda aplicar estruturas que permitam a captação do ar externo com infiltração
interna. Nesse modo, é preciso ter cuidado com o efeito reverso (para não injetar ar
quente no interior da edificação).

Nos andares subsequentes, a própria elevação de nível provocado (como pelo pilotis,
por exemplo) permite uma captação de ventilação natural otimizada.

Parede verde
Figura 12. Exemplo de parede verde como aliado da inércia térmica.

Fonte: <https://ecotelhado.com/sistema/ecoparede-jardim-vertical/>.

Assim como os telhados verdes, o uso de paredes verdes é bem comum no design eco
friendly atual. O uso de vegetação trepadeira pode atuar como um isolante natural da
envoltória das paredes, diminuindo os ganhos solares e reduzindo as temperaturas
superficiais externas pela evaporação da água presente na camada de vegetação.

Nos períodos de inverno, o limite da camada criada com vegetação funciona como
isolamento que restringe as perdas térmicas. As paredes de maior inércia térmica devem
estar expostas às brisas noturnas principalmente no verão, quando as amplitudes
térmicas diminuem.

A massa térmica não deve ser encoberta internamente (com a aplicação de materiais
isolantes térmicos, por exemplo). É preciso que ela esteja em exposição direta
internamente para permitir que interaja com o interior da edificação.

Envelopamento de alta inércia térmica

Aplicar componentes de elevada inércia térmica em toda a envoltória


da edificação auxilia na redução das flutuações térmicas diárias, onde
o calor armazenado durante o dia é irradiado novamente como energia

30
CLIMATIZAÇÃO PASSIVA │ UNIDADE II

térmica à noite. Quanto maior a inércia mais tempo o calor armazenado


levará para ser liberado, ou seja, mais tarde da noite, quando as
temperaturas são mais baixas. Para tanto é necessário que a edificação
seja fechada durante o dia para minimizar a entrada de calor, mantendo
o interior fresco durante o dia. Este tipo de edificação deve apresentar
número e dimensão reduzida de aberturas (portas e janelas) que são
elementos de menor resistência térmica. (PROJETEE)

Para o envelopamento da edificação com materiais de alta inércia térmica, é bem


relevante o uso da ventilação noturna para acelerar o processo de eliminação da energia
calorífica armazenada (principalmente no verão). Essa ventilação noturna pode ser
obtida com o uso de insufladores de ar externo, no caso de baixa incidência de ventos
no período noturno.

Edificação semienterrada

Ver Edificação Semienterrada em Estratégias para Inércia Térmica de Aquecimento.

Componentes internos sem exposição ao sol

Na contramão do que ocorre com a estratégia semelhante com fins de aquecimento,


bloquear componentes internos com alta inércia térmica à exposição solar representa
evitar o acúmulo de energia térmica nos ambientes internos de uma edificação.
Nesse caso, a envoltória da construção não precisa ser de elevada inércia, mas é
recomendável que seja bem sombreado e isolado externamente.

Espelho d’água interno sem exposição ao sol


Figura 13. Espelho d’água interno sombreado.

Fonte: <http://www.brandanidecore.com.br/ambientes/espelho-espelho-meu-a-beleza-refletida-na-agua/>.

31
UNIDADE II │ CLIMATIZAÇÃO PASSIVA

O uso de superfícies hídricas, como piscinas, aquários e/ou espelhos d’água internos,
tem potencial para reduzir as flutuações térmicas diárias por meio da troca de calor
entre a superfície molhada e as demais estruturas, o que permite uma melhor sensação
de resfriamento.

É possível, ainda, reduzir as temperaturas internas pelo efeito do resfriamento evaporativo


(conforme estudaremos ainda nesta unidade) por meio do processo de evaporação
da água, que pode ser acelerado pela criação de correntes de convecção (para tanto, é
recomendável que os tanques sejam expostos a ventilação natural ou forçada).

No entanto, esse tipo de solução não é recomendável para locais de umidade elevada, e
o material dos recipientes de armazenagem da água não pode ser isolante térmico.

32
CAPÍTULO 2
Aquecimento solar passivo

A segunda forma de provocar a climatização passiva que vamos estudar é o aquecimento


solar que consiste na utilização da radiação solar direta para aquecimento de uma
edificação. Essa forma de climatizar pode ser aplicada tanto de modo direto quanto indireto.

Vale destacar que essa é uma forma de projetar para localidades de clima frio ou que
apresentem, ao menos, elevada amplitude térmica entre os picos de verão e inverno
ao longo dos anos. Diante da diversidade de um país como o Brasil, esse recorte se faz
necessário.

Ao falarmos de aquecimento solar direto, trataremos em admitir a captação da energia


calorífica proveniente do sol diretamente no ambiente, acontecida por meio das
aberturas e/ou superfícies envidraçadas. Isso provoca efeitos imediatos no ambiente
interno. Nesses termos, a radiação é absorvida e refletida pelas superfícies internas na
forma de onda longa, permanecendo no interior da edificação. No período noturno,
quando as temperaturas externas caem, é preciso evitar a perda de calor.

Já o aquecimento solar indireto é utilizado junto com a estratégia de alta inércia térmica,
em que são utilizados componentes de elevada capacidade térmica, sujeitos a exposição
direta dos raios solares. Esses componentes retêm o calor absorvido, liberando-o
lentamente para o interior do ambiente quando as temperaturas internas se tornam
inferiores e devem ser sombreados e protegidos da exposição aos raios solares no verão
para evitar sobreaquecimento do ambiente interno.

Aquecimento solar passivo pelas paredes


Nessa estratégia, as paredes de elevada inércia térmica são expostas a radiação solar
direta. Aumentar a espessura do material das paredes amplia ainda mais a capacidade
e o atraso térmicos. Podem ser utilizados materiais como concreto, cascalho ou tijolos
de reúso para agregar inércia ao componente, e materiais cerâmicos não esmaltados
são ideais.

No hemisfério Sul, deve-se direcionar as paredes de maior capacidade térmica para


a orientação norte, que recebe a insolação de inverno, mas, dependendo da latitude,
é necessário prever proteções solares que impeçam a radiação direta em períodos
indesejáveis. Para potencializar os ganhos de calor, a superfície externa da parede pode
ser pintada com cores escuras, aumentando a absorção.

33
UNIDADE II │ CLIMATIZAÇÃO PASSIVA

As paredes de elevada inércia não devem ser cobertas internamente com materiais que
sejam isolantes térmicos.

Aquecimento solar passivo pelo piso


Ver Inércia Térmica pelo Piso em Estratégias para Inércia Térmica de Aquecimento.

Parede Trombe
Figura 14. Exemplo de Parede Trombe durante o verão e inverno.

parede de grande inércia térmica parede de grande inércia térmica
pála pála

calor
calor
válvula
válvula

exterior interior interior


exterior

frio frio

UTILIZAÇÃO NO VERÃO UTILIZAÇÃO NO INVERNO

Fonte: <http://astrorei.blogspot.com/2011/11/parede-de-trombe.html>.

Paredes Trombe são estruturas com alta inércia térmica orientada para a fachada com
maior insolação durante os períodos de inverno e protegidas externamente por uma
camada de vedação em vidro separada por uma câmara de ar sem ventilação.

Essa estrutura tem a função de captar e acumular energia da radiação solar direta.
A captação pode ser otimizada por meio da aplicação de cores escuras na face externa já
que, por exemplo, possuem maior absortividade térmica que as claras. Já o vidro com
opacidade impede a saída do calor.

A taxa de transferência térmica pela parede depende do material e da espessura


desta. Utilizando aberturas, aceleram-se as trocas térmicas por convecção e atende à
necessidade de aquecimento diurna.

34
CLIMATIZAÇÃO PASSIVA │ UNIDADE II

No verão, é necessário sombrear e ventilar a câmara de ar que separa o vidro, no


intuito de minimizar o superaquecimento. Isso pode acontecer, inclusive, com o uso de
vegetação de folhagem sazonal ou de placas móveis de persianas externas.

Esse tipo de estrutura (de paredes trombe) pode ser usado como paredes estruturais,
funcionando como barreira acústica devido a sua robustez.

Efeito estufa

Ver Efeito Estufa em Estratégias para Inércia Térmica de Aquecimento.

35
CAPÍTULO 3
Sombreamento

Diferentemente dos mecanismos provocados pelo aquecimento solar passivo, o


sombreamento é uma forma que prevê, predominantemente, redução dos ganhos
solares por meio da envoltória da edificação.

Uma proteção solar corretamente elaborada deve evitar os ganhos solares nos períodos
mais quentes do dia (e do ano) sem obstruí-los nos períodos de inverno e, ainda, sem
prejudicar o potencial de aproveitamento de iluminação natural proveniente das
aberturas projetadas.

Para isso, é necessário que o projetista entenda sobre a geometria solar do lugar de
implantação do edifício, pois, dependendo da localização do edifício, a própria sombra
provocada por áreas construídas (ou até mesmo o volume de projeção ou vegetação
vizinhas) pode minimizar a necessidade de sombreamento em algumas fachadas.

As estratégias para provocar sombreamento são:

Boa orientação e o que sombrear


Figura 15. A distribuição da planta-baixa de acordo com a orientação solar.

demais funções
brise horizontal

equipamentos e 
serviços

Fonte: Lamperts, Dutra e Pereira (2014).

A orientação das superfícies determina a intensidade da radiação


solar recebida e os respectivos tratamentos para proteção contra
radiação, ventos e ruídos externos. Considerando a radiação solar,
as janelas devem preferencialmente ser localizadas nas fachadas sob

36
CLIMATIZAÇÃO PASSIVA │ UNIDADE II

menor impacto da radiação (orientações norte e sul). Essa orientação é


geralmente conflitante com a direção dos ventos e por isso é necessário
ponderar quais as melhores opções e prioridades (deve-se destacar que
os ventos podem ser redirecionados através de elementos de projeto).
(PROJETEE)

Uma implantação assertiva é capaz de reduzir grandemente a necessidade de


resfriamento de uma edificação. Isso se dá nas primeiras etapas de projeto, buscando
entender da forma mais abrangente possível a situação de cada terreno.

No Hemisfério Sul, onde o Brasil predominantemente está inserido, a orientação norte


das janelas é boa para o inverno e o verão, por permitir a entrada de radiação solar
direta nos períodos mais frios e impedir a radiação direta nos períodos quentes de
verão. As orientações leste e oeste recebem grande intensidade de radiação solar, sendo
a orientação oeste sujeita ao pico de radiação.

Vegetação
Figura 16. Restaurante La Pergola, onde a vegetação auxilia no sombreamento e na cobertura.

Fonte: <https://www.tripadvisor.com.br/Restaurant_Review-g635892-d2177195-Reviews-La_Pergola-Santa_Susanna_Catalonia.html>.

Importante elemento de sombreamento, a vegetação pode ser utilizada não só sob


estrutura (conforme já mencionado), mas ainda servindo como eficiente componente
externo de proteção solar.

O sombreamento por meio da vegetação pode acontecer com a utilização de espécies


remanescentes do terreno, projetos otimizados de paisagismo ou, até mesmo, com
o auxílio de anteparos como pérgolas e pergolados. Árvores de copa larga auxiliam,
inclusive, no sombreamento dos telhados.
37
UNIDADE II │ CLIMATIZAÇÃO PASSIVA

Brises e/ou proteções horizontais e verticais


Figura 17. Exemplo de brises horizontais, formando uma pérgola.

Fonte: <https://www.vivadecora.com.br/pro/arquitetura/o-que-e-brise/>.

Muito presentes na Arquitetura Modernista, os brises são proteções horizontais ou


verticais que favorecem ao sombreamento. Quando instalados horizontalmente nas
fachadas norte e sul, prevalecem a proteção enquanto o sol se encontra mais alto.
Quando verticais, são eficientes para o sombreamento nos horários em que o sol está
mais baixo.

Alguns elementos clássicos de projeto, como beirais alongados ou projeções da cobertura


e a própria volumetria da edificação, podem funcionar como elementos de proteção
horizontal e vertical.

Uso de elementos vazados para sombreamento


e ventilação
Figura 18. Esquema explicativo da circulação de ar através de cobogós.

Fonte: <http://elloconstrutora.com.br/vida-longa-aos-cobogos/>.

A utilização de elementos vazados na Arquitetura é uma herança árabe. No Brasil, o


popularmente conhecido “cobogó” é um importante instrumento de grande aplicação
38
CLIMATIZAÇÃO PASSIVA │ UNIDADE II

no nordeste do país, em um exemplo de sistema misto em escala reduzida que, além de


proporcionar sombreamento, permite ventilação e iluminação, com a manutenção da
segurança e privacidade dos ambientes.

Por causa de suas formas, esse artifício permite instalar um jogo de luz e sombra, sendo
interessante tanto como elemento visual para envoltória quanto para instrumento
funcional que otimiza a interação do ambiente interno com o externo.

Elementos de sombreamento interno

Existe uma infinidade de elementos de proteção solar internos. Os elementos de


sombreamento interno de janelas incluem persianas móveis verticais e de enrolar,
venezianas e cortinas. Esses mecanismos de sombreamento apresentam a desvantagem
de não impedir a penetração da radiação solar direta, que é obstruída pela cortina após
ter passado pelo vidro, sendo refletida na forma de calor (onda longa), que permanece
preso no interior da edificação. É importante que os materiais utilizados nas proteções
solares sejam de baixa capacidade térmica para assegurar que irão resfriar rapidamente
ao anoitecer.

Vidros especiais e anteparos externos

Atualmente tem sido desenvolvida uma série de tipos de vidro com composição
modificada para uma transmitância seletiva de radiação que impeça a penetração do
calor, por meio da redução da transmitância. Porém, é preciso utilizar esse tipo de
tecnologia com muito critério, pois a redução da transmitância térmica é acompanhada
de um aumento na absortância.

Uma alternativa é a utilização de vidros especiais como anteparos externos. Com eles,
há o impedimento da radiação solar direta, e a radiação absorvida pelo anteparo de vidro
é resfriada com a ventilação externa. Vidros de baixa emissividade, que apresentam
transmitância seletiva por meio de reflexão seletiva, absorvem muito pouco calor,
apresentando melhor efeito na redução do ganho solar total.

39
CAPÍTULO 4
Ventilação natural

Em uma edificação, a qualidade do projeto dos sistemas passivos de ventilação está


intimamente ligada ao projeto dos espaços internos e do tamanho e colocação das
aberturas. Os sistemas passivos de ventilação baseiam-se em diferenças de pressão
para mover o ar fresco pelos edifícios.

A quantidade de calor removido por determinada taxa de fluxo de ar depende da


diferença de temperatura entre o interior e o exterior. Por isso, a geração de calor
interna também é decisiva no desempenho do edifício naturalmente ventilado. A taxa
na qual o ar flui por um ambiente retirando o calor é em função da área de entrada e da
saída de ar, da velocidade do vento e da direção do vento em relação às aberturas. Os
objetivos e o projeto de sistemas passivos de ventilação devem variar de acordo com o
padrão de uso da edificação e com o clima local, considerando a variação das condições
de vento em função do relevo e das obstruções vizinhas.

A ventilação natural pode exercer três diferentes funções em relação ao ambiente


construído: renovação do ar, resfriamento psicofisiológico e resfriamento convectivo.
Contudo, vale destacar que a ventilação natural é ineficaz para reduzir a umidade do ar
que penetra no ambiente. Isso limita a eficiência da aplicação da ventilação natural em
climas de umidade relativa do ar muito elevada.

A ventilação natural ainda pode resfriar o edifício em si, retirando a carga de calor
absorvido durante o dia pela exposição à insolação, assim como os ganhos de calor
decorrentes da presença de usuários, equipamentos e iluminação artificial.

Ventilação natural ou espontânea é aquela que se verifica em virtude das diferenças de


pressão naturais, ocasionadas pelos ventos e gradientes de temperaturas existentes,
pelas superfícies que delimitam o ambiente considerado. A ventilação natural pode ser
provocada pela ação dos ventos. Esta, embora intermitente, ocasiona escalonamento
das pressões externas no sentido horizontal, por vezes apreciável. Diferenças de
pressão da ordem de 0,5 N/m² (0,05 mm H2O) já são suficientes para obtermos
correntes de ar satisfatórias, do ponto de vista da ventilação, desde que haja caminho
adequado para elas.

A relação entre o volume de ar de ventilação que penetra no ambiente (m³/h) e o volume


deste (m³) representa o número de vezes que o ar do recinto é renovado em uma hora e
toma o nome de índice de renovação do ar (n). Normalmente a ventilação natural tem

40
CLIMATIZAÇÃO PASSIVA │ UNIDADE II

um índice de renovação do ar da ordem de 1 a 2, embora disposições adequadas das


aberturas de ventilação possam aumentar muito esse valor. Na ventilação artificial, o
índice de renovação do ar atinge valores de 6 a 20. Para valores de renovação superior a
20, que podem ser considerados excepcionais, deve-se ter cuidados especiais, a fim de
se evitar deslocamento de ar com velocidades excessivas.

Vejamos as estratégias para promover a ventilação passiva em uma edificação:

Ventilação por pátios internos


Figura 19. Exemplo de projeto com pátios internos.

Fonte: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.063/436>.

Pátios internos são espaços provocados pela própria forma do edifício. Em um pátio
interno, a ventilação depende principalmente da proporção entre a altura da edificação
e a largura do pátio em uma seção normal ao vento.

Quando o pátio é orientado na direção dos ventos dominantes e a


razão altura pela largura é menor que 0,5 acontecem algumas zonas
de turbulência relativamente pequenas com fluxo livre através da
maior parte do espaço. A orientação do pátio 45° em relação aos ventos
predominantes é ideal para ventilação no pátio e ventilação cruzada dos
ambientes internos. (PROJETEEE)

Algumas considerações sobre essa estratégia são:

»» A velocidade do vento no pátio aumenta quanto maior suas dimensões


na orientação transversal e diminui quando menor é a altura no lado de
pressão positiva.

»» É necessário pensar no dimensionando do pátio em relação ao verão: ele


terá pouca proteção contra o sol, portanto devem-se empregar estratégias
alternativas para sombreamento das superfícies internas.
41
UNIDADE II │ CLIMATIZAÇÃO PASSIVA

»» Uma boa opção para climas quentes e secos é aplicar um espelho d’água.

»» Deve haver aberturas na edificação voltadas para esses dois pátios,


evitando obstáculos no seu interior para que o fluxo de ar percorra
livremente o ambiente.

Ventilação noturna

A ventilação pode fornecer resfriamento durante o dia, mas, em muitos edifícios, é


também usada durante a noite para aumentar o resfriamento potencial. Essa estratégia
é denominada “ventilação noturna” e já é aplicada em alguns exemplares da arquitetura.
Esse recurso é favorável aos climas quentes e secos, onde há grande amplitude térmica
(variação de temperatura entre as horas diurnas e noturnas ao longo do dia).

Figura 20. Esquema de ativação da ventilação noturna.

Saída do 
ar quente

Entrada do ar 
mais frio da 
noite

Ar frio resfria a 
estrutura

Ar frio resfria a 
estrutura (lajes, 
pilares...)
Fonte: Lamperts, Dutra e Pereira (2014).

Trata-se de casos em que há edificações de elevada capacidade térmica ventiladas


somente durante o período noturno (na ausência de radiação solar direta) e aberturas
que são fechadas durante o dia. Dessa maneira, o edifício é resfriado por convecção
durante a noite e torna-se capaz de absorver a penetração do calor durante o dia com
somente uma pequena elevação da temperatura interna. Essa é uma situação bem
pertinente aos edifícios

Para edifícios de elevada inércia térmica, bem isolados e sombreados,


fechados durante o dia e ventilados somente à noite, é possível, de
acordo com GIVONI (1992), uma queda no pico de temperatura interna
abaixo do pico externo em cerca de 45-55%. (PROJETEEE)

42
CLIMATIZAÇÃO PASSIVA │ UNIDADE II

Ventilação cruzada
Figura 21. Planta de ventilação determinado pelo posicionamento das esquadrias.

Fonte: Lamperts, Dutra e Pereira (2014).

A ventilação cruzada acontece pelo diferencial de pressão provocado pelo vento na


edificação. Exploram-se os efeitos de pressão negativa (sotavento) e positiva (barlavento)
que o vento exerce sobre a edificação ou qualquer outro anteparo. Para proporcionar uma
boa ventilação natural, é preciso posicionar as aberturas em zonas de pressão oposta.

A ventilação cruzada promove a remoção do calor por acelerar as trocas por convecção
e contribui para melhoria da sensação térmica dos ocupantes por elevar os níveis de
evaporação. Ao favorecer as trocas de calor por convecção e evaporação, contribui para
o conforto térmico dos usuários e minimiza a utilização de dispositivos mecânicos de
refrigeração, diminuindo, consequentemente, o consumo de energia nesses espaços

O volume de fluxo de ar que passa pela estrutura é determinado pelo tamanho das
aberturas. Um maior número de trocas de ar é obtido quanto maior o tamanho de
ambas as aberturas de entrada e saída de ar. A velocidade do ar é maximizada quando a
área das janelas de saída (pressão negativa) é maior que a área das aberturas de entrada
(pressão positiva).

A ventilação cruzada pode ser provocada por:

Janelas

As janelas devem direcionar o fluxo de ar através da área de abertura.


O fluxo de ar interno será determinado pela posição das aberturas de
entrada com relação ao exterior e das aberturas de saída com relação
a corrente de ar interna. Se o vento é obrigado a mudar de direção
dentro do ambiente, uma maior parcela do ambiente será ventilada.
A forma de abrir das janelas também é influente sobre o volume do fluxo
de ar. Existem 2 tipos de esquadrias operáveis de janela: pivotantes e

43
UNIDADE II │ CLIMATIZAÇÃO PASSIVA

dobráveis (provocam o redirecionamento da corrente de ar de entrada)


e de correr e de duplo deslizamento (que operam no plano da parede
e por isso não redirecionam o ar de entrada). A capacidade de rotação
de janelas pivotantes pode ser usada para direcionar as correntes de ar.
As janelas de pivôs horizontais apresentam uma maior capacidade de
ventilação, mas são inadequadas em edificações de múltiplos andares. As
janelas pivotantes verticais apresentam uma capacidade de ventilação
menor, mas podem ser apropriadas em faces paralelas a direção dos
ventos, atuando na sua captação e redirecionamento. (PROJETEEE)

Planta aberta

Além de considerar o fluxo de ar dentro e fora do edifício, é necessário


considerar o fluxo de ar no interior da edificação, entre os diversos
ambientes do edifício. A criação de espaços fluidos permite a circulação
de ar entre os ambientes internos e entre estes e o exterior. Uma
planta com o mínimo de divisórias é ideal. Para promover o fluxo, as
divisórias devem ser ajustáveis e localizadas em posições que ofereçam
menor resistência ao fluxo. É importante atentar-se às mudanças
provocadas na direção do fluxo de ar interno devido a posição das
divisórias e também aos efeitos de contração e expansão da corrente
de ar através dos espaços que possam causar turbulência (sua posição
pode anular a ventilação de determinados espaços, desviando o fluxo).
As paredes internas podem ser usadas para canalizar o movimento do
ar. Bandeiras e grelhas nas portas, janelas e paredes são exemplos de
sistemas que promovem o fluxo entre ambientes e ainda mantém a
privacidade. Divisórias móveis também são utilizadas onde o uso do
ambiente é variável. Corredores entre ambientes também são barreiras
à circulação do ar, mas é possível fazer uso de portas com bandeiras ou
tetos rebaixados para completar o fluxo. (PROJETEEE)

Volumetria

É possível usar a forma e orientação da própria edificação para interceptar


e desviar o fluxo de ar para o interior da edificação, quando a direção
predominante é conhecida. Uma planta em “L” será eficiente para
represar os ventos. Uma forma estreita e alongada é ideal para favorecer
a ventilação natural a uma maior parcela dos ambientes da edificação.
Uma maior área de fachada representará uma maior obstrução aos
ventos provocando uma maior pressão sobre a estrutura e melhor
movimento do ar através da edificação. Formas simples retangulares

44
CLIMATIZAÇÃO PASSIVA │ UNIDADE II

apresentam melhor aproveitamento da ventilação natural orientando


as maiores fachadas perpendicularmente ao fluxo de ar predominante
de verão. Estima-se que variações em até 40° da perpendicular dos
ventos predominantes não reduzem significativamente a ventilação.
Uma planta quadrada é favorável para condições em que não há
registro dos fluxos predominantes dos ventos, uma vez que ela permite
uma ventilação eficiente nos dois eixos, localizando as janelas de forma
que as aberturas existam nos lados frontais e opostos aos ventos. Uma
estratégia tradicional para maximizar a ventilação é elevar o edifício para
expô-lo a maiores velocidades do ar. Nas regiões tropicais e litorâneas,
de elevada umidade do ar é prática comum elevar o piso da edificação
para aumentar a exposição das superfícies aos ventos. (PROJETEEE)

Torres de vento

Figura 22. Torres de vento ao exemplo do que se usa no Oriente Médio.

Fonte: Lamperts, Dutra e Pereira (2014).

Torres de vento são, assim como os elementos vazados, herança da arquitetura


árabe vernacular. Essas estruturas captam os ventos acima do nível da cobertura,
redirecionando-os para o interior do edifício. São eficazes em edificações nas quais as
janelas têm pouco acesso à ventilação.

A velocidade média dos ventos aumenta com altura acima do solo,


assim as torres de ventos têm a vantagem ainda de receber velocidades
significativamente maiores e, portanto, suas aberturas podem ser
menores do que as janelas no nível térreo (recomenda-se que as
janelas de saída do ar tenham o dobro do tamanho das entradas de ar).
(PROJETEEE)

Uma vez que há menos anteparos no nível de captação dos ventos, as torres de vento
podem admitir qualquer direção, mas devem ser projetadas de acordo com a variação
da direção dos ventos predominantes em locais de verão.

45
UNIDADE II │ CLIMATIZAÇÃO PASSIVA

Se os ventos na região sopram constantemente da mesma direção (com pouca variação


anual), então a abertura dos coletores pode ser perpendicular à direção predominante.
Já quando os ventos variam entre direções opostas, é necessário adaptar o coletor com
dois lados opostos.

Torres de resfriamento

As torres de resfriamento utilizam elementos de ventilação para reduzir a temperatura


do ar, tornando-o mais denso e aumentando a pressão.

São utilizadas para fornecer ar frio sem a necessidade de ventiladores e vento. Se forem
projetadas com saídas de ar na parte superior, podem ser usadas para ventilação por
efeito chaminé durante períodos em que o ar exterior estiver a uma temperatura inferior
à interna. Para que o ar circule pela edificação, deve haver um percurso desobstruído da
torre de resfriamento pelos recintos e em direção às janelas de saída de ar.

A eficiência do resfriamento de uma torre se dá em função de duas variáveis: a


temperatura do ar e a taxa do fluxo de ar gerado pela torre. Quanto maior a queda
de temperatura, maior será a pressão criada para impulsionar o sistema. O aumento
da altura da torre e do tamanho das entradas de ar resulta em maior volume de ar
passando pelos umedecedores e descendo pela torre.

Sítio e orientação
Figura 23. Esquemas de ventilação urbana.

Fonte: Lamperts, Dutra e Pereira (2014).

As condições do microclima local podem ser influenciadas pela existência de


obstruções naturais ou edificadas, como a própria topografia local, a vegetação e os
edifícios circunvizinhos. Essas obstruções podem provocar alterações nas direções
predominantes e velocidade dos ventos interceptados pela edificação.
46
CLIMATIZAÇÃO PASSIVA │ UNIDADE II

No meio urbano, a velocidade dos ventos pode ser reduzida em menos da metade
em relação a velocidade do ar do entorno, embora ruas estreitas e edifícios altos
possam provocar efeitos de afunilamento duplicando a velocidade dos ventos.
Fortes turbulências podem acontecer no lado oposto às obstruções (edificações).
Com isso, os edifícios devem ser situados onde as obstruções aos ventos de verão
são mínimas.

Quebra-Vento
Figura 24. Redutor de ventilação com elemento vazado.

Redutor de velocidade 
de vento Fluxo de ar 
reduzido
Fonte: Lamperts, Dutra e Pereira (2014).

Nas épocas de inverno, cercas, muros e estruturas adjacentes ou


elementos de vegetação podem ser utilizados como quebra-vento,
se localizados como obstáculos aos ventos predominantes locais de
inverno. Quanto mais alta a barreira, maior o comprimento da chamada
sombra de vento no sentido vertical, e quanto mais larga a barreira,
maior o comprimento da sombra de vento no sentido horizontal. No
sentido horizontal, essa sombra de vento compreende uma área de meia
circunferência após a barreira. É preferível que as barreiras criadas
contra os ventos sejam permeáveis (árvores, arbustos, muros vazados,
cobogós) para impedir o efeito indesejável de turbulências no lado da
barreira oposto aos ventos, funcionando como redutores de velocidade.
(PROJETEEE)

47
UNIDADE II │ CLIMATIZAÇÃO PASSIVA

Efeito chaminé
Figuras 25 e 26. Representação da ventilação por diferença de temperatura “efeito chaminé”.

Fonte: <https://www.iau.usp.br/laboratorios/lca/wp-content/uploads/2018/01/cap2-rolim-relat%c3%b3rio-final.pdf>.

Pelo chamado efeito chaminé, o ar mais frio (mais denso) exerce pressão positiva, e
o ar mais quente (menos denso) exerce baixa pressão, havendo movimento e criando
correntes de convecção. Contudo, a própria geometria da abertura de saída deve
oferecer uma resistência mínima ao fluxo de ar ascendente, para permitir que o ar
flua livremente para fora do edifício e que o desempenho da saída de ar melhore se
posicionado em uma zona de sucção.

Nos períodos e climas nos quais não se pode contar com a presença dos ventos para
ventilação natural como estratégia de resfriamento, é possível tirar partido do efeito
chaminé para, justamente, promover a ventilação.

No caso de coberturas de pouca inclinação (<30º) tanto a face do telhado


voltada para os ventos quanto a face oposta aos ventos estão sujeitas
as sucções, onde na face voltada para os ventos o meio da cobertura
está sujeito a uma menor pressão e consequentemente a uma menor
sucção. Coberturas de maior inclinação estão sujeitas a pressão positiva
na parte inferior da face voltada para os ventos, dessa forma o lado da
cobertura voltado para os ventos não é um bom lugar para localização
de aberturas zenitais de saída ou exaustores eólicos. (PROJETEEE)

Se as aberturas são localizadas no lado da cobertura e voltadas para zonas com grande
fluxo de ventos, o efeito pode ser revertido, e as saídas de ar passam a agir como entradas
de ar de pouca eficiência.

Para independência da orientação dos ventos, a melhor localização das aberturas de


saída é na cumeeira. Em condições de inverno, porém, é favorável que essas aberturas
possam ser obstruídas e isoladas.

Edificações de pé-direito elevado e pavimentos com desníveis são mais favoráveis à


ventilação por efeito chaminé. Essas próprias condições edificantes já induzem o
movimento do ar de modo a provocar o efeito.
48
CLIMATIZAÇÃO PASSIVA │ UNIDADE II

Aumentando o diferencial de pressão

As projeções do edifício (tanto horizontais quanto verticais) podem ser utilizadas para
afetar o movimento do ar, assim como para provocar sombreamento, conforme visto
anteriormente. São modos de otimizar a ventilação natural: aumentando o fluxo de
entrada, interceptando ou aumentando a admissão de brisas oblíquas, canalizando a
direção da corrente dos fluxos de entrada e/ou criando ventilação cruzada artificial.

O volume do fluxo de ar admitido pelas aberturas pode ser aumentado


ampliando a área da fachada voltada para os ventos, represando o ar
em bolsões de pressão formados pelos beirais e pela forma do edifício,
“afunilando” o ar para o interior. Quando as aberturas não podem ser
orientadas diretamente para os ventos dominantes é possível criar zonas
de pressão positiva e negativa através do projeto de elementos externos,
incluindo o próprio paisagismo do entorno e projeções de parede,
para induzir a ventilação através das janelas paralelas às direções dos
ventos. Se depois de entrar pela janela o fluxo de ar é imediatamente
direcionado para o teto, a brisa trará pequeno conforto para os
ocupantes. Desta forma para proporcionar a circulação do fluxo de ar
no ambiente na altura dos ocupantes, podem ser utilizadas projeções
externas horizontais para desviar a corrente de ar. É preferível que as
projeções horizontais externas sejam afastadas em alguns centímetros
da fachada para não impedir a circulação do ar e a liberação do ar
quente. (PROJETEEE)

Captação com o uso de vegetação


Figura 27. Redução das perdas de calor por infiltração com bloqueio do vento com vegetação.

Perda de 
calor por 
infiltração

Barreira 
vegetal
Perda de 
calor por 
infiltração

Fonte: Lamperts, Dutra e Pereira (2014).

49
UNIDADE II │ CLIMATIZAÇÃO PASSIVA

Conforme verificamos nas estratégias de sombreamento, a vegetação é um importante


elemento de composição para climatização passiva. Para otimizar ou bloquear a
ventilação natural, árvores e arbustos podem ser usados para canalizar o ar pela
estrutura e podem ser utilizados para acelerar ou restringir a velocidade do ar por
corredores ou bloqueadores de vento.

Cercas, muros e estruturas adjacentes também podem criar represas que ampliam a
pressão do fluxo de entrada.

Figura 28. Circulação do vento sob a vegetação.

Vegetação permitindo 
corredores livres nos lados 
Vegetação 
da edificação, aumentando a 
direcionando os ventos 
velocidade do vento
para dentro da 
edificação 
Bolsão de 
ar parado

Vegetação 
formando um 
bolsão de ar parado 
e bloqueando o 
fluxo

Fonte: Lamperts, Dutra e Pereira (2014).

Cobertura e parede ventilada


Figura 29. Funcionamento da parede ventilada.

verão
água

vapor fluxo
ar térmico

externo interno externo interno

inverno
água

fluxo
vapor
ar térmico

externo interno externo interno

Fonte: <https://mondoarq.wordpress.com/2015/07/24/papo-na-laje-fachadas-01/>.

50
CLIMATIZAÇÃO PASSIVA │ UNIDADE II

A ventilação de cobertura e paredes externas é uma técnica favorável para redução


dos ganhos de calor, ao reduzir sensivelmente a transferência da energia calorífica aos
ambientes internos.

No caso da cobertura, é possível determinar aberturas nas laterais, entre a cobertura e


o forro, e no eixo dos ventos predominantes. Também podem ser projetadas aberturas
de entrada na base e exaustores eólicos ou saídas zenitais localizadas o mais próximo
possível da cumeeira. Se a saída zenital for somente uma abertura, deve estar orientada
para o lado oposto aos ventos predominantes.

Já nas paredes, quando uma parede pouco robusta com câmara de ar interna é exposta
ao sol, a coluna de ar é aquecida e tende a subir sua temperatura, por meio de convecção
natural. Se aberturas são colocadas tanto na base quanto mais ao topo, a parede otimiza
seu próprio fluxo de ar, liberando o excesso de ganho de calor.

Aberturas em apenas uma face

Ao provocarmos a instalação de aberturas em apenas uma face do ambiente, este fica


sujeito a uma mesma pressão, com pouca circulação de ar. Nesse caso, é possível criar
diferenças localizadas de pressão por meio de anteparos e aletas externas.

Onde as brisas dominantes forem paralelas ou oblíquas a fachada com


janelas, zonas de relativa baixa e alta pressão pode ser artificialmente
produzidas, induzidas através de aletas verticais colocadas em
lados adjacentes ou opostos das janelas, para tomada e saída do ar.
Porém, se as brisas dominantes forem perpendiculares às aberturas o
efeito da colocação de anteparos limita-se às janelas no lado de pressão
positiva e não tem efeito algum se colocadas no lado de pressão negativa.
O tamanho da projeção das aletas verticais deve ser no mínimo 0,5 a 1
vez a largura da janela. O espaçamento entre elas deve ser no mínimo
duas vezes a largura da janela. (PROJETEEE)

51
CAPÍTULO 5
Resfriamento evaporativo

O resfriamento evaporativo é um dos mais antigos e eficientes métodos de se refrigerar


de forma passiva uma edificação em climas secos. Baseia-se no processo de evaporação
da água que retira calor do ambiente ou do material sobre o qual a evaporação acontece.

O grau de resfriamento é determinado pela velocidade da evaporação: quanto mais


rápido o processo da evaporação, maior a queda de temperatura.

A taxa de evaporação em um espaço aberto será mais rápida quanto maior a área superficial
da água e a velocidade do ar, e menor for a umidade relativa do ar. Quanto mais seco for
o clima, maior será a aplicabilidade de tais sistemas. Quando o ar se torna saturado, o
processo de evaporação cessa e consequentemente há queda de temperatura.

O resfriamento evaporativo pode ser direto ou indireto:

»» No resfriamento direto, o ar é umidificado enquanto sua temperatura


é reduzida, e o objetivo do sistema é fazer com que a água evapore
controladamente dentro do ambiente, ou seja, adicionando a quantidade
correta de água para atingir resfriamento, umidade ou melhoria da
qualidade do ar no ambiente. A utilização desse sistema deve ser feita
em concordância com os sistemas de ventilação, pois a velocidade do ar é
responsável pelo aumento da velocidade de evaporação.

»» Já no sistema de resfriamento evaporativo indireto, o ar interno não é


umidificado. Ele pode ser resfriado evaporativamente e, depois de passar por
um trocador de calor resfriado, ser introduzido mecanicamente no ambiente.
Outro método é o resfriamento de um elemento do edifício por evaporação,
fazendo com que este elemento funcione como um captador de calor.

Alguns exemplos de estratégias de resfriamento evaporativo são:

Torre de resfriamento

Ver Torre de Resfriamento em Ventilação Natural.

Teto jardim

Ver Teto Jardim em Inércia Térmica para Resfriamento.

52
CLIMATIZAÇÃO PASSIVA │ UNIDADE II

Resfriamento evaporativo compacto


Figura 30. Esquema exemplificando o resfriamento evaporativo compacto.

distribuidor de água

Painel evaporativo

ventilador
AR
EXTERNO

AR RESFRIADO,
MAIS LIMPO E
MAIS ÚMIDO

bomba de recirculação de água

Fonte: <http://www.natuebrisa.com.br/como-funciona>.

Esse tipo de sistema não é essencialmente híbrido. Apresenta-se de forma compacta,


semelhante a um equipamento de ar condicionador de janela e pode ser instalado no
interior do ambiente a ser resfriado.

Ao atravessar sua superfície, o ar externo é insuflado e resfriado evaporativamente


por uma passagem com uma almofada de fibra de celulose umedecida pela circulação
de água por uma pequena bomba. Um pequeno reservatório é mantido no interior do
aparelho para recirculação de água. Com o auxílio do insuflador, o ar resfriado penetra
no ambiente interno.

Microclima local

Assim como no sombreamento e na ventilação natural, o local de implantação do


projeto também é essencial quando se trata de resfriamento evaporativo. A cobertura
vegetal do entorno da edificação pode reter água, que, por processos naturais de
convecção, é evaporada, provocando resfriamento pela diminuição da temperatura
do ar, contribuindo para geração de um microclima local. A diferença da temperatura
superficial entre grama e asfalto, por exemplo, pode facilmente exceder os 13 °C. Essas
condições irão influenciar na carga de resfriamento da edificação próxima.

Dê preferência para pavimentos externos permeáveis, como em áreas de acesso interno


e vias locais.

53
UNIDADE II │ CLIMATIZAÇÃO PASSIVA

Espelho d’água interno sem exposição direta ao sol


Figura 31. Espelho d’água interno.

Fonte: <https://casaeconstrucao.org/projetos/parede-de-vidro/>.

Utilizando fontes de água em pátios internos, o ar interno é resfriado


pelo processo de evaporação, tornando-se mais denso e aumentando
a pressão dentro do espaço fechado do pátio se este for sombreado,
o que potencializa as correntes de convecção forçando o ar resfriado
por aberturas voltadas para o pátio e a saída do ar quente através de
aberturas de saída para o exterior. Em alguns casos para acelerar as
correntes de convecção são criados dois pátios, de um lado um pátio
sombreado com fontes de água, para resfriar o ar, e no lado oposto,
um pátio exposto à radiação solar, promovendo o efeito de termossifão,
succionando o ar resfriado que entra pelo pátio sombreado. Deve
haver aberturas na edificação voltadas para estes dois pátios, evitando
obstáculos no seu interior para que o fluxo de ar percorra livremente o
ambiente. (PROJETEEE)

Água na cobertura

Diferentemente do resfriamento provocado por piscinas ou tanques d’água na cobertura,


tratados anteriormente, um modo eficaz de promover o resfriamento evaporativo nessa
estrutura edificante se dá por aspersão de água na superfície de topo.

Esse sistema de aspersores de água sobre a cobertura contribui para o resfriamento


da superfície sem formar uma camada de elevada inércia como nos tanques sobre a
cobertura; mantém a temperatura da superfície constante; e é operável somente quando
necessário. Como a transferência térmica entre o ar e um filme horizontal de água é
baixa, o potencial de resfriamento da superfície de cobertura é maior pela utilização de
pulverizadores ou microaspersores do que pela de tanques, que ampliam a capacidade
térmica da cobertura.

54
CLIMATIZAÇÃO PASSIVA │ UNIDADE II

Uma informação interessante é a de que as coberturas com telhas cerâmicas se


beneficiam do resfriamento evaporativo, por meio do processo de evaporação da água
contida no material cerâmico das telhas, que é um material poroso. É importante
considerar fatores como o crescimento de algas e outras formas de vida.

55
CLIMATIZAÇÃO UNIDADE III
MECÂNICA

Ao contrário do que vimos na Unidade II, a climatização mecânica acontece graças à


tecnologia e está, geralmente, conectada a uma fonte de energia elétrica. É o tipo de
condicionamento que necessita de recursos artificiais para provocar ou colaborar com
a sensação de bem-estar que se deseja obter em um recinto.

Essa área de conhecimento é domínio das engenharias elétrica e mecânica. Portanto,


aqui vamos tratar daquilo que circunda a competência do arquiteto projetista
comercial tanto no âmbito do projeto de arquitetura como, brevemente, do domínio
das ferramentas básicas para o entendimento dos sistemas de climatização mecânica.

É importante sempre ter na equipe alguém especializado na área para auxiliar na


tomada de decisões quanto a equipamentos, formas e melhor custo-benefício. O que
vamos estudar vai te ajudar a manter um debate de qualidade com os especialistas
da área, afinal você, como projetista de arquitetura comercial, precisa ser um grande
gerenciador de frentes de projeto.

Além disso, vamos falar predominantemente de climatização para fins de refrigeração,


já que, mesmo com toda sua grandeza, o Brasil é um país que, em sua maioria, necessita
de algum tipo de condicionamento de ar para diminuir temperaturas (e amenizar o
calor). Sendo assim, trataremos brevemente de alguns equipamentos de aquecimento.

56
CAPÍTULO 1
Introdução à climatização mecânica

Os primeiros ensaios para a mecanização do processo de refrigeração aconteceram em


1822, quando o francês Cagniard de la Tour realizou experiências com éter. No ano
seguinte, Humphrey Davy e seu assistente M. Faraday foram pioneiros em liquidificar
o gás de amônia. Os princípios básicos do ciclo de refrigeração foram desenvolvidos por
Carnot, também francês, em 1824, ano em que sua teoria termodinâmica foi publicada.
O que pode ser considerado o primeiro equipamento de condicionamento de ar foi
criado e patenteado em 1897 pelo americano Joseph McCreaty, e seu conterrâneo Dr.
Willis Haviland Carrier pode ser considerado como o primeiro a conseguir controlar a
temperatura e a umidade geradas por um equipamento, em 1906.

O condicionamento de ar efetua essencialmente o tratamento de ar pelo controle


simultâneo de temperatura e de umidade com o objetivo de satisfazer às necessidades
do espaço condicionado e, também, controlar a pureza e o fluxo de ar (YAMANE e
SAITO, 1986).

Esse condicionamento pode ser dividido em duas grandes finalidades:

»» para conforto do usuário; e/ou

»» para satisfazer condições impostas por um processo ou produto (como no


uso industrial).

Ao contrário do que ocorre com a climatização natural, não depende das condições
climáticas exteriores. É indispensável em:

»» processos de manufatura que exigem umidade, temperatura e pureza de ar


controlados, como fabricação de produtos farmacêuticos e alimentícios;

»» determinados ambientes de trabalho, visando aumentar o conforto


operário e, consequentemente, sua produtividade;

»» ambientes em que exige segurança, isto é, onde se operam inflamáveis e


produtos tóxicos;

»» ambientes onde se processam materiais higroscópicos;

»» etapas de produção que exigem controle das reações químicas, como


cristalização, corrosão de metais, ação de micro-organismos, entre outros;

57
UNIDADE III │ CLIMATIZAÇÃO MECÂNICA

»» locais onde é necessário eliminar a eletricidade estática para prevenir


incêndios ou explosões;

»» operações de usinagem com tolerância mínima;

»» laboratórios de controle e testes de materiais.

Segundo Torreira (1976), climatizar certos locais, não é apenar procurar conforto, o que
é essencial, mas garantir uma necessidade de salubridade (higiene). “Um bom ‘clima’,
no caso do ambiente hospitalar, acelera a cura dos doentes e intensifica a potência do
trabalho dos indivíduos.”

A climatização mecânica se faz necessária já que, expostos às condições naturais, nossos


corpos produzem uma série de processos orgânicos quando se encontram em condição
de desequilíbrio. O calor proveniente do metabolismo humano serve para manter
constante a temperatura do corpo, o que é indispensável para o desenvolvimento das
funções vitais. Uma parte desse calor é cedida ao ambiente. Com efeito, a temperatura
do corpo humano é geralmente mais elevada que a do ar que o envolve.

Quando a movimentação do ar de ventilação é obtida por diferenças de pressão criadas


mecanicamente, diz-se que a ventilação é artificial, forçada ou mecânica. Adota-se
a ventilação mecânica sempre que os meios naturais não proporcionam o índice de
renovação de ar desejado, ou, ainda, como elementos de segurança nas condições de
funcionamento precário da circulação natural do ar.

De acordo com o tipo de contaminação do recinto, a ventilação mecânica pode ser local
exaustora ou geral diluidora:

»» A ventilação mecânica local exaustora é quando o ar contaminado é


capturado antes de se espalhar pelo recinto, verificando-se, pela sua retirada,
a entrada do ar externo de ventilação. Trata-se de uma ventilação altamente
especializada, que só é adotada quando as fontes de contaminação são
locais, como ocorre comumente em ambientes industriais.

»» Na ventilação geral diluidora, o ar exterior de ventilação é misturado


com o ar viciado do ambiente. Consegue-se, com isso, uma diluição
dos contaminantes até limites higienicamente admissíveis. É o tipo
de ventilação normalmente adotado quando da impossibilidade de se
capturar o contaminante antes que ele se espalhe pelo recinto, como
ocorre nos ambientes em que a poluição é causada por pessoas ou fontes
esparsas de calor e poluentes.

58
CAPÍTULO 2
Tipos de instalação

Tipos de distribuição de condicionamento de ar


Conforme Costa (2005), a climatização mecânica se apresenta no mercado por algumas
formas comumente utilizadas em suas instalações. São alguns dos principais tipos de
distribuição existentes:

Figura 32.

Descrição Desenho esquemático

Distribuição do ar para baixo: o


ar é introduzido no recinto pela
parte superior e retirado pela
parte inferior; é insuflado longe
da zona de ocupação.

Distribuição do ar para cima:


o ar é insuflado no ambiente
lateralmente, logo acima dos
ocupantes, com saída de ar na
área superior. Solução adotada
em ambientes com a carga
térmica muito elevada.

Bocas de insuflamento de teto:


o ar é introduzido e retirado no
recinto pela parte superior.

Circulação do ar na distribuição
para baixo e para cima: a
entrada e saída de ar ficam
próximos. O ar é introduzido e
retirado no recinto pela parte
superior.

Sistema de distribuição
cruzada: insuflamento
horizontal do ar a velocidades
elevadas pela parte superior do
recinto. Indicado apenas para
pequenos ambientes.

Fonte: Costa (2005).

59
UNIDADE III │ CLIMATIZAÇÃO MECÂNICA

O ideal é que o sistema de refrigeração seja desenvolvido ainda quando o projeto


está no estudo preliminar. Quanto maior o cuidado com os pormenores, maior a
possibilidade de ser desenvolvido um projeto assertivo.

Os prédios comerciais vão exigir sistemas mais integrados, com controles


de climatização por andar e soluções de automação. Por mais que todos os
aparelhos possuam a mesma finalidade (resfriar ou aquecer o ambiente), há
algumas diferenças entre eles no momento de distribuir esse ar.

Sistemas gerais

Plug-in

Os sistemas do tipo Plug-in compreendem aqueles que utilizam unidades que reúnem
o evaporador, o compressor, o dispositivo de expansão e o condensador juntos, dentro
do gabinete da unidade, ou seja, é um circuito frigorífero completo pré-montado e
ajustado. Nesse sentido, ele é caracterizado por necessitar apenas de uma abertura em
uma das paredes laterais.

Sistema central

Esse sistema é indicado para grandes projetos por causa do seu alto custo, sendo que,
em longo prazo, são mais eficientes no uso de energia. É muito fácil identificar esse
sistema, pois utiliza um conjunto de máquinas de grande porte.

Geralmente as torres de refrigeração ficam localizadas no topo ou ao lado de edifícios.


O condensador fica integrado à torre de arrefecimento, recebendo água à temperatura
ambiente ao gás refrigerante, diminuindo a temperatura antes de passar pelo
compressor. Sem o condensador, o compressor teria de trabalhar muito para comprimir
gás refrigerante quente, gerando maior consumo de energia e, por sua vez, mais gastos.

Esse sistema utiliza bastante ao ar dutado. Este, inclusive, juntamente com a rede de
dutos, deve ser projetado no projeto executivo, caso contrário as obras serão extensas.

60
CLIMATIZAÇÃO MECÂNICA │ UNIDADE III

Equipamentos e mecanismos de funcionamento

Aparelho de janela

Figura 33. Esquema de posicionamento e funcionamento de um ar-condicionado de janela.


Ar 
condicionado Aparelho

Fonte: Lamperts, Dutra e Pereira (2014).

Sua instalação compreende uma abertura na parede voltada para o ambiente externo,
preferencialmente no centro da parede de menor largura. Para instalação, é necessária
uma abertura na parede voltada para o ambiente externo, e essa orientação (na parede
de menor largura) busca uniformizar a temperatura interna do ambiente. Aconselha-se
uma altura média de 1,70m. Sempre que possível, deve ser colocado um ponto de dreno
para água condensada.

Esse aparelho é simples e compacto com condensador e evaporador no mesmo invólucro.


O ar interno é puxado pela unidade, é condicionado e imediatamente entregue ao
ambiente interior novamente.

Em virtude de o rendimento do aparelho estar associado a trocas


térmicas, sua exposição à radiação solar, seu encapsulamento ou outra
forma de estagnação do fluxo de ar comprometem muito (até 30%) sua
capacidade de refrigeração, gerando desgaste e consumo excessivo.
Os últimos lançamentos apresentam compressores rotativos, ao invés
dos alternativos. A vantagem está na redução do consumo de energia e
peso. (LAMPERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014, p. 250)

Figura 34. Ar-condicionado de janela.

Fonte: <https://www.unicaarcondicionado.com.br/ar-condicionado-janela-fontaine-12000-btus-eletronico-frio-110v.html>.

61
UNIDADE III │ CLIMATIZAÇÃO MECÂNICA

São os mais tradicionais disponíveis no mercado e concentram todos os componentes


de uma máquina de refrigeração em sua composição: condensador, compressor,
evaporador e ventilador. Por sua limitação, normalmente é usado em escritórios
menores e também em edificações não muito novas, onde não há possibilidade de
instalação de um sistema de ar condicionado central.

Split ou minicentrais de pequeno porte


Figura 35. Minicentrais de pequeno porte.

TUBULAÇÃO DE AR 
REFRIGERADO EVAPORADOR
CONDENSADOR

AR 
CONDICIONADO

amb.1
amb.2

DRENO

Fonte: Lamperts, Dutra e Pereira (2014).

Esse sistema leva esse nome porque possui um ou mais de uma unidade. São silenciosos
e econômicos. Em áreas comerciais, o sistema split é utilizado em prédios antigos que
precisam passar por processo de climatização mecânica. Alguns empreendimentos
também adotam a utilização de minicentrais de pequeno porte (multi-splits), podendo
ter duas ou mais evaporadoras com apenas um condensador.

Conforme Lamperts, Dutra e Pereira (2014), esse tipo de aparelho (splits) consegue
atender espaços sem paredes voltadas para o exterior, pois possui as unidades
evaporadoras e condensadoras separadas, podendo estar distanciadas até 30 metros
entre si. As principais vantagens desse tipo em relação aos de janela é o baixo nível de
ruído e a possibilidade de condicionar espaços interiores sem paredes externas. Quanto
às desvantagens, são basicamente o custo mais elevado e a manutenção mais complexa,
que requer profissionais especializados.

A condensadora deve ser alocada em lugar ventilado e sem exposição á


radiação solar. Como é a principal fonte de ruído, sua posição deve ser
bem estruturada. O evaporador, instalado no interior do ambiente que
quer ser condicionado, se interliga ao condensador por uma tubulação

62
CLIMATIZAÇÃO MECÂNICA │ UNIDADE III

de gás refrigerante que implica na abertura de um orifício na parede


de apenas 8 centímetros de diâmetro. Faz-se necessário também um
ponto elétrico monofásico e um ponto de dreno para o evaporador.
(LAMPERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014, p. 251)

Figura 36. Aparelho Split.

Fonte: <https://www.dufrio.com.br/ar-condicionado-split-hi-wall-springer-midea-9000-btus-frio-220v-42maca09s5.html>.

Multi-split
Figura 37. Esquema do funcionamento de uma central multi-split.

TUBULAÇÃO DE AR 
EVAPORADOR
REFRIGERADO
CONDENSADOR

amb.1 amb.2 amb.3

DRENO

Fonte: Lamperts, Dutra e Pereira (2014).

Com capacidade de refrigeração bem superior à das minicentrais de pequeno porte, o


multi-split é o equipamento de menor porte projetado para trabalhar de forma ambiente
ou dutado. Para espaços maiores, podem-se combinar várias unidades dispostas
estrategicamente, reduzindo o custo de instalação de redes de dutos.

Figura 38. Equipamentos multi-split.

Fonte: <https://www.leveros.com.br/ar-condicionado/multi-split-parede>.

63
UNIDADE III │ CLIMATIZAÇÃO MECÂNICA

Sistemas self ou self-contained


Figura 39. Equipamento self contained.
Ar
Dutos de ar Condicionado
Self

Expansão
Ambientes

Fonte: Lamperts, Dutra e Pereira (2014).

De acordo com alguns técnicos, o sistema Self ou Self-Contained (tudo contido em uma
só máquina) é o mais eficaz dos mecanismos de climatização mecânica Isso porque é
capaz de reunir a condensadora e a evaporadora em um único gabinete, sendo capaz de
promover o resfriamento de um pavimento inteiro.

Este é um equipamento orientado para rede de dutos, ainda que


também possa ser usado com grelha difusora diretamente no ambiente.
É essencialmente trifásico. A principal desvantagem desse sistema é
não possuir ciclo reverso. Entretanto, pode produzir aquecimento no
ambiente mediante adaptação de resistência elétrica que, no entanto,
apresenta eficiência energética baixa. (LAMPERTS; DUTRA; PEREIRA,
2014, p. 252)

Figura 40. Exemplo de um equipamento de self-contained (para seu funcionamento, é preciso estar acoplado a
dutos de distribuição).

Fonte: <https://www.searcon.com.br/ar-condicionado-self-contained/tuiuti>.

64
CLIMATIZAÇÃO MECÂNICA │ UNIDADE III

Existem disponíveis no mercado os seguintes modelos:

»» self com condensadora de ar incorporada, que é disposta como um grande


aparelho de janela;

»» self com condensadora de ar remota, que é disposta de modo semelhante


às minicentrais;

»» self com condensação a água, que requer uma linha alimentadora de água.

Sistemas com chiller e fan-coil


Figura 41. Equipamento com sistema chiller e fan-coil.

RETORNO FAN‐COIL

REFRIGERAÇÃ
ÁGUA
GELADA AR COND.

CONVECÇÃO 
CHILLER FORÇADA

Fonte: Lamperts, Dutra e Pereira (2014).

Os sistemas compostos por chillers estão associados a uma rede de


distribuição de água gelada para unidades conhecidas por fan-coil.
O fan-coil é análogo à unidade evaporadora, tendo a função de forçar
a passagem de ar pelos tubos de água gelada, jogando ar frio para o
interior do ambiente. Estes sistemas normalmente apenas refrigeram.
O aquecimento implica no emprego de caldeiras associadas aos
fan-coils. Em regiões onde a tarifa de energia é diferenciada para cada
período do dia, o chiller pode ser usado para acumular água gelada
ou gelo nos horários em que a energia é mais barata (à noite) para
posterior uso durante o dia e, principalmente, nos horários de pico,
reduzindo assim a demanda a ser contratada. (LAMPERTS; DUTRA;
PEREIRA; 2014, p. 252)

A água gelada que sai do sistema é distribuída pelo edifício dentro de tubulações.
Em cada andar existe uma ou mais máquinas (fan-coil). Por dentro do fan-coil, além
de tubos em forma de serpentina, há um ventilador que joga o ar por essas tubulações.

65
UNIDADE III │ CLIMATIZAÇÃO MECÂNICA

Figura 42. Equipamentos Chiller e Fan Coil.

Fonte: <https://firmadearcondicionado.com/industrial/instalacao-fancoil/>.

Esse ar perde calor, fica frio e é conduzido à rede de dutos espalhada pelo escritório.
Entre as vantagens do sistema central está a concentração da grande carga elétrica no
chiller, o que dispensa tomadas especiais em outros pontos da edificação. Ele é o mais
adequado para projetos que preveem o insuflamento de ar pelo piso ou o chamado “teto
frio”, geralmente utilizado em shoppings.

Sistema VRV

Muito semelhante ao multi-split, o Sistema Refrigerante Variável apresenta uma


capacidade de comportar mais equipamentos – até 64.

Esse sistema é caracterizado pela versatilidade e flexibilidade, em que é possível


sincronizar mecanismos de inteligência de comandos eletrônicos, permitir que o gás
refrigerado seja direcionado para os locais onde há maior demanda.

Figuras 43 e 44. Esquema de distribuição de equipamentos através do sistema VRV.

Fonte: <https://www.webarcondicionado.com.br/saiba-tudo-sobre-vrv> e <https://sistemavrv.com.br/o-que-e-vrv-ou-vrf/>.

Esse sistema possui um grande poder de expansão e adaptação. Escritórios de pequeno e


médio porte que não se utilizem dele podem optar por adotá-lo, já que é de fácil adaptação.

66
CLIMATIZAÇÃO MECÂNICA │ UNIDADE III

VAV

O sistema de Volume de Ar Variável (VAV) é um mecanismo composto por válvulas


de vazão que possuem um termostato individual. Quando ligadas eletronicamente a
um computador central para controle do fluxo de ar, as válvulas conseguem dirigir a
temperatura de cada ambiente.

O sistema VAV é usado em uma variedade de locais, incluindo lojas de varejo, auditórios,
espaços de escritórios e algumas casas maiores. É recomendado para projetos em que
há possibilidade de abrigar salas fechadas.

Cortinas de ar
Figura 45. Esquema de funcionamento de uma cortina de ar.

AMBIENTE INTERNO AMBIENTE EXTERNO
bandeira de ar

AR QUENTE

AR FRIO

AR LIMPO E 
INSETOS E IMPUREZAS
CLIMATIZADO

Fonte: Adaptado de <https://climatizacaolumertz.com.br/2017/04/27/o-que-e-cortina-de-ar/>.

A cortina de ar deve ser instalada em ambientes com grande fluxo de pessoas, geralmente
em locais que possuem portas automáticas ou que ficam com a porta sempre aberta.
No caso do ônibus, a cortina funcionará somente enquanto as portas estiverem abertas
para os passageiros. Apesar de ser mais comum em ambientes comerciais, pode ser
instalada em casa.

Figura 46. Equipamento de cortina de ar instalado sob estrutura de vidro.

Fonte: <http://www.komeco.com.br/blog/consumidor/cortina-de-ar-o-que-e-e-quais-as-vantagens-deste-equipamento.html>.

67
UNIDADE III │ CLIMATIZAÇÃO MECÂNICA

Câmaras frigoríficas
Figura 47. Câmara frigorífica.

Fonte: <http://www.cotanet.com.br/camaras-frigorificas/camara-frigorifica-pequena>.

As câmaras são ambientes usados geralmente para armazenar grandes quantidades de


alimentos ou produtos químicos, podendo ser denominadas grandes freezers. São muito
utilizadas em supermercados, hotéis, restaurantes, açougues, indústrias etc. Conforme
as necessidades, são fabricadas em alvenaria ou em painéis pré-moldados. Podem ser
fixas ou desmontáveis. De acordo com o produto, a estocagem e as temperaturas de
conservação (armazenagem), a câmara pode possuir antecâmara ou cortina de ar; as
temperaturas de conservação definirão se é uma câmara de resfriados ou uma câmara
de congelados.

As necessidades da antecâmara devem-se a dois fatores importantes:

»» evitar a entrada de calor externo conduzido pelo ar exterior;

»» obter uma temperatura média entre as temperaturas da câmara e do ar


externo.

Independentemente de qual será a opção desejada, o bom sistema/equipamento de


condicionamento de ar é aquele que atinge a eficiência térmica, promovendo conforto.

Por mais controverso que seja seu uso, é um aparelho de refrigeração indispensável em
determinadas condições climáticas, e, em escritórios e prédios comerciais, é necessário
cautela e prudência na hora de discriminar o tipo escolhido.

A temperatura ideal para ambientes de trabalho é entre 22 ºC e 24 ºC.

68
CAPÍTULO 3
Estudos de caso

Para concluir essa unidade, preparamos alguns estudos de caso da Arquitetura


Comercial para levantar questões importantes na hora de pensar a forma como será
desenvolvido o projeto de climatização mecânica de seu cliente.

Escritórios e ambientes corporativos


Figuras 48 e 49. Exemplo de climatização mecânica em ambiente corporativo.

Fonte: <http://www.climafrio.com.br/climatizacao-comercial.php/> e <http://climaxengenharia.com.br/ar-condicionado-para-industria/>.

Na climatização de ambientes corporativos, é preciso ter muito cuidado ao pensar o


projeto de climatização já são espaços geralmente densamente ocupados e, conforme
vimos, a questão relacionada ao conforto térmico é algo sensorial e individual. Assim, é
imprescindível conhecer o layout do espaço para evitar ao máximo a exposição direta do
usuário ao fluxo de ar latente produzido pelos equipamentos de condicionamento de ar.

É importante, também, garantir autonomia aos usuários. Isso evita situações de


desconforto físico e comportamental, já que muitas vezes a vontade de uma minoria
pode se sobrepor ao grupo em um momento de decidir, por exemplo, a temperatura
ideal para o ambiente. Com uma divisão que proporcione autonomia, essas diferenças
internas são substituídas por escolhas individuais (ou em pequenos grupos).

Lojas
Figuras 50 e 51. Exemplo de climatização mecânica em lojas.

Fonte: <http://ecotempclimatizacao.com.br/portfolio/ar-condicionado-belo-horizonte-savassi/> e <https://vecair.com.br/blog/cortina-


de-ar/loja-climatizada-como-montar/>.

69
UNIDADE III │ CLIMATIZAÇÃO MECÂNICA

Comumente, quando pensamos no projeto de lojas, vem à mente a intenção de agradar


o cliente. Contudo, além dele, é preciso pensar nas pessoas que trabalharão diariamente
no local.

Geralmente, tanto o calor excessivo quanto a sensação de muito frio espantam os


clientes. Por isso, vale a pena investir em um bom projeto de climatização de modo a
preservar uma temperatura em torno de 23 ºC internos.

Bares e restaurantes
Figuras 52 e 53. Exemplos de climatização mecânica em bares e restaurantes.

Fonte: <https://www.pingodoce.pt/servicos-loja/restaurante/> e <https://icehousebrasil.com.br/projetos-climatizador-evaporativo/


climatizacao-para-restaurantes.html>.

O projeto de climatização para bares e restaurantes deve evitar o condicionamento


direto sobre o topo das mesas. Por ser um espaço que tem como maior característica
a exposição e ingestão de alimentos, é imprescindível não haver ventilação mecânica
direta incidindo nos pratos ou nos balcões expositores.

Na cozinha desses ambientes, é essencial o uso de sistemas de exaustão, que, para fins
de cumprimento das normativas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa),
acontece preferencialmente por meio de exaustão artificial.

Supermercados
Figuras 54 e 55. Exemplo de climatização mecânica em espaços com grandes vãos, como supermercados.

Fonte: <https://icehousebrasil.com.br/projetos-climatizador-evaporativo/climatizacao-para-home-centers.html> e <https://


icehousebrasil.com.br/projetos-climatizador-evaporativo/climatizacao-para-supermercados.html>.

70
CLIMATIZAÇÃO MECÂNICA │ UNIDADE III

Os projetos de supermercados precisam de atenção especial devido a fator muito


peculiar: a utilização de balcões e expositores frigoríficos.

Os balcões e expositores frigoríficos podem ser independentes e usar uma unidade


condensadora ou pertencer a um sistema de balcões chamado “ilhas”. Os balcões
e expositores independentes são mais encontrados em pequenos estabelecimentos
comerciais, já as “ilhas” são um conceito de sistema de refrigeração utilizado em um
grande supermercado.

Nos grandes supermercados, há uma central de refrigeração que coleta o fluido


refrigerante do evaporador de todos os balcões e expositores e envia o fluido refrigerante
líquido dos condensadores da central para todos os dispositivos de expansão dos balcões
e expositores. Nesse tipo de sistema, quem retira calor dos alimentos é o próprio fluido
refrigerante.

Existem outros sistemas de refrigeração para supermercados, em que o evaporador do


circuito frigorífero da central de refrigeração resfria um “fluido” que é bombeado para
as serpentinas dos balcões e expositores. Nesse caso, quem retira calor dos alimentos
nos balcões e expositores é o “fluido”, que cede calor ao fluido refrigerante que está no
evaporador da central de refrigeração.

Figura 56. Balcões e expositores em supermercados.

Fonte: <http://www.aisberg.com/en/photogallery/supermarketingeorgia>.

Deve-se ter muito cuidado para não provocar um hiper-resfriamento nas áreas de
circulação próximas aos balcões e expositores frigoríficos. Com o dimensionamento e a
disposição devida dos climatizadores no ambiente, é possível evitar tal fenômeno.

Academias

Mesmo em espaços nos quais a intenção é suar a camisa, é possível prever um sistema
de climatização assertivo. Para espaços como academias, salas de dança ou lugares onde
há atividades que exigem muito de nosso metabolismo é importante haver uma forma
71
UNIDADE III │ CLIMATIZAÇÃO MECÂNICA

de garantir a saída do ar quente. Essa exaustão pode acontecer por aberturas que, por
pelo menos algum período do dia, sejam abertas ou por exaustores mecânicos, desde
que não sejam ligados no horário de funcionamento desses espaços. Uma boa opção é
a compatibilização entre climatização passiva e mecânica com equipamentos à base de
resfriamento.

Figura 57. Academia com climatização mecânica.

Fonte: <https://www.dufrio.com.br/blog/ar-condicionado/ar-condicionado-em-academias-o-que-voce-precisa-saber/>.

72
CAPÍTULO 4
Eficiência energética

Já que estamos tratando de climatização mecânica, é importante que tenhamos em


mente o quanto esse artifício resulta no consumo de energia e no gasto de altos valores
(ainda mais nos ambientes comerciais).

Segundo o Balanço Energético Nacional de 2017, as edificações são responsáveis por


51,1% do consumo total de energia elétrica no Brasil, sendo que os edifícios residenciais
consomem 25,6%; os comerciais, 17,2%; e os públicos, 8,3%. As edificações de uso
comercial e público apresentam os sistemas de ar condicionado e iluminação como os
maiores consumidores (BEN, 2017).

O crescimento populacional e econômico, bem como a maior prosperidade e os padrões


de consumo associados, contribui para um aumento constante na demanda por energia
no Brasil. Seguindo as tendências atuais, estudos apontam que até 2025 o país terá que
praticamente duplicar sua produção de energia elétrica para atender à procura solicitada.

Assim, a meta é que esse aumento venha acompanhado de esforços que minimizem
as emissões de gases de efeito estufa por meio da promoção de ações de eficiência
energética e da substituição de equipamentos de tecnologia obsoleta por dispositivos
inovadores, a fim de remediar a aceleração das mudanças climáticas.

Nesse limiar, além do foco global pela produção de energias renováveis, sociedade
e cidade energeticamente sustentáveis produzem mais energia limpa e consomem
menos. Torna-se, então, um grande desafio contemporâneo associar o uso de edifícios
que foram construídos até o final do século XX, período de abundância na produção de
energia por baixo custo, com a temática da eficiência energética.

Muito do que se tem construído no parque edificado brasileiro não atende à demanda
de desempenho ambiental exigida dos tempos atuais. Além disso, muitas alterações
inadequadas incidiram sob esses prédios pela necessidade do mercado em dar vazão
aos novos usos. Concomitantemente, a adaptação desses espaços às novas tecnologias
e mudanças marcantes na composição de muitas edificações foram drásticas – por
exemplo, a instalação de equipamentos de condicionamento de ar ineficazes como dos
tipos SPLIT e VRFs (Fluxo de Refrigerante Variável), que potencializa o poder de alto
consumo energético.

Também internamente, devido a transformações recorrentes, os sistemas de iluminação,


envoltória e ventilação inicialmente pensados para as edificações foram alterados.

73
UNIDADE III │ CLIMATIZAÇÃO MECÂNICA

Além disso, geralmente por causa da falta de gestão de recursos para manutenções
preventivas e processos de retrofit regular nas últimas décadas, a maioria dos edifícios
não possui equipamentos e sistemas com tecnologias de última geração, energeticamente
mais eficientes.

Lamberts, Dutra e Pereira (1998) entendem que a modernidade exigiu que a tríade da
arquitetura de Vitruvius (firmitas, utilitas e venustas) fosse elevada a um polígono de
quatro pontas no qual o quarto elemento se dá pela eficiência energética. Os autores
sustentam que, nesse meio, a eficiência energética pode ser entendida como um atributo
inerente à edificação representante de seu potencial em possibilidade de conforto
térmico, visual e acústico aos usuários por meio de um baixo consumo energético.
É a condição de, energeticamente, fazer-se mais com menos.

Um grande aliado dos sistemas de climatização mecânica são as ações de


automação e controle. Automação e controle são processos complementares,
mas diferentes. Enquanto automação trata da capacidade de um circuito em ser
acionado ou desligado de modo independente (por meio de uma programação
pré-definida), o controle é um mecanismo que está diretamente relacionado
com o manuseio do usuário a alguma ferramenta de gerenciamento de um
sistema.

Vamos exemplificar:

»» controle é a capacidade que o usuário tem de acionar, desligar ou


aumentar/diminuir a temperatura de um ambiente por meio do
manuseio direto de um equipamento digital. Cada vez mais entram
no mercado aplicativos que permitem a interação dessa interface via
celulares e tablets por meio de tecnologia wireless ou bluetooth;

»» já automação é uma ferramenta de controle que detém autonomia,


dispensando o manuseio direto do usuário ao se fazer uma
programação prévia que determina o funcionamento de um sistema.
Nesse modo, por exemplo, ao haver constatação de uma determinada
temperatura, são automaticamente mantidas as condições de
condicionamento ou, até mesmo, desligadas.

O controle e a automação são capazes de garantir a racionalização no uso e


na demanda de energia elétrica, provocando, por consequência, reduções
significativas com custos operacionais no dia a dia do ambiente comercial.

74
ACÚSTICA UNIDADE IV

CAPÍTULO 1
Conforto acústico e natureza do som

Barulho em excesso é desagradável em qualquer lugar, e a Organização Mundial


da Saúde (OMS) reconhece a poluição sonora como um problema de saúde pública
global. Desconforto, estresse, dificuldade de concentração, incidência de erros e baixa
produtividade são algumas das consequências vividas no dia a dia de um ambiente
comercial exposto a ruídos incômodos. Por essa razão, o isolamento e/ou tratamento
acústico para os ambientes precisam ser uma das prioridades de qualquer projeto
arquitetônica comercial.

Nesta unidade, vamos entender sobre conceitos fundamentais da arquitetura


acústica, ver alguns documentos importantes para regulamentar projetos acústicos
(normativas), bem como ter contato com algumas técnicas que vão te ajudar na hora
de fazer o projeto de arquitetura comercial, pensando sempre na sensação de bem-
estar provocada no cliente.

Conforto acústico
Conforme já discutido, a ideia de conforto é algo abrangente e complexo, contudo
sempre relacionada ao bem-estar do usuário. Assim sendo, podemos entender o
conforto acústico como o estado de equilíbrio sonoro em um ambiente no qual é
possível desenvolver as atividades fins para as quais ele foi projetado (ou se dispõe a
servir) com a manutenção da qualidade de entendimento auditivo e preservação da
saúde sonora. Investir em revestimentos acústicos é investir em saúde e bem-estar
dos usuários dos espaços.

Em média, os seres humanos são capazes de escutar sons com frequências que vão de
20 [Hz] e 20000 [Hz], o que implica uma faixa com variação de cerca de 1.000 vezes.
Sons com frequências baixas são entendidos como sons graves (como o bumbo de uma

75
UNIDADE IV │ ACÚSTICA

bateria, o baixo em uma orquestra, as notas à esquerda de um piano ou um trovão


relativamente distante). Sons com frequências altas são entendidos como sons agudos
(como o chimbal de uma bateria, o violino de uma orquestra ou as notas à direita de um
piano). Claramente, grave e agudo são definições subjetivas até certo ponto, já que não
há um valor de frequência fixo para a transição. Tais faixas também podem ser definidas
em comparação uma com a outra. A voz de um homem é, em geral, considerada mais
grave que a voz de uma mulher, por exemplo.

Distinguimos dois tipos de som, pela agradabilidade ou pelo desconforto: o som e o


ruído. Essa distinção é feita inconscientemente por suas características físicas (vejamos
a diferença de oscilação da onda sonora na figura a seguir). O som é compreensível,
lógico, codificado por nosso cérebro (mesmo que não compreendido completamente).
Já os ruídos incomodam (percepção subjetiva) e podem, até mesmo, danificar imediata
e irreversivelmente o ouvido, conforme o tempo e a intensidade de exposição.

Figura 58. A diferença entre som e ruído.

Som musical simples

Ruído

Fonte: <http://www.fec.unicamp.br/~luharris/galeria/ic042_05/TIDIA-ae_TopicoA_mat-apoio_S03_C-Acustico.pdf>.

Existem diversas fontes de ruído que interferem no ambiente e conforto acústico das
edificações. Podemos classificá-las como:

Quadro 1. Principais fontes de ruído.

Fontes internas Fontes externas


»» Conversação »» Tráfego rodado
»» Passos »» Atividades comerciais e industriais
»» Eletrodomésticos »» Serviços
»» Instrumentos musicais »» Trens
»» Instalações: ar condicionado, elevadores, instalações »» Tráfego aéreo
elétricas (subestação, geradores) e hidráulicas, passagem de
canalizações, bombas de recalque »» Animais

Fonte: Procel (2011).

Familiarizados com essa primeira análise acústica, vamos fazer agora imaginar uma
situação na qual o estado de conforto sonoro não é alcançado. O que fazer nesse caso?

76
ACÚSTICA │ UNIDADE IV

Especialistas recomendam três passos fundamentais para tratar da questão acústica:

»» A primeira estratégia é tentar encontrar a fonte de ruído e trabalhar com


a possibilidade de diminuir ou aumentar a propagação do som emitido,
de acordo com o necessário. Essa alternativa, apesar de ser a mais
simples, normalmente não é viável para a maioria dos sons que afetam
uma edificação, pois eles costumam emanar de fontes fora do controle do
projetista (como o barulho do trânsito de uma avenida ou as atividades
de um vizinho). A exceção seria as fontes de ruído associadas ao projeto
da edificação (casas de máquinas, equipamentos, sistemas de ventilação).
Nesse caso, a seleção de equipamentos, máquinas e instalações adequadas
reduziria a probabilidade de reclamações geradas pelos ruídos.

»» A segunda é a alteração do percurso de transmissão sonora, método mais


usual de redução de um ruído gerado por uma fonte. Isso pode ser visto
no uso de pesadas janelas com vidros duplos para a redução do barulho
do trânsito ou na especificação de paredes internas de montantes leves e
duplos. Quando variamos e/ou alteramos os materiais e as propriedades
de uma fachada, piso ou parede, conseguimos modificar a maneira como
o som é transmitido e propagado.

»» A terceira opção é alterar a acústica do espaço ou cômodo, com tratamento


acústico de fato, no qual o receptor se encontra. Embora isso tenha um
efeito limitado no incômodo provocado pelas fontes externas, ao menos
tem o efeito de alterar o ambiente acústico do recinto. Isso também é
importante quando consideramos questões como a inteligibilidade da
fala ou a adequação dos ambientes auditivos.

Você pode estar se perguntando se a segunda e a terceira estratégia não são semelhantes.
Perceba: quando falamos em alterar o percurso da transmissão sonora, estamos falando
de inserir barreiras já que, conforme vamos estudar adiante, o som tem a capacidade de
se deslocar por onde houver espaço. Já quando alteramos a acústica do espaço, estamos
falando de trabalhar o isolamento ou tratamento acústico do ambiente.

Para prosseguir, precisamos entender um pouco mais sobre a natureza do som, seu
comportamento e peculiaridades.

A natureza do som
Existem várias maneiras de se estudar cientificamente o fenômeno sonoro. Todas
elas estão interligadas, mas cada uma enfoca em um aspecto específico do fenômeno.

77
UNIDADE IV │ ACÚSTICA

A acústica física estuda a parte material, enquanto a psicoacústica trata da percepção


do fenômeno sonoro pelos sentidos. Essas duas disciplinas são as mais relevantes para
o estudo que iremos desenvolver. Intimamente ligada e subordinada a elas, há também
uma parte do estudo da fisiologia que trata das estruturas dos aparelhos fonador e
auditivo dos seres vivos.

O som é uma qualidade perceptiva que é resultado da percepção de distúrbios das


moléculas de um meio em um certo espaço de tempo. Esses distúrbios, por sua vez,
apresentam-se em forma de ondas em sua propagação. Para que esse fenômeno
aconteça, é preciso haver três elementos relacionados em um sistema: Emissor – Meio –
Receptor. O emissor tem a função de produzir um distúrbio no meio, que será percebido
pelo receptor. É importante notar que o meio tem influência na qualidade do distúrbio,
pois afeta a maneira como este se propaga. A emissão sonora causa o movimento das
moléculas, caracterizados por compressões e rarefações (descompressões, expansões)
– essas são as ondas sonoras.

As ondas sonoras são do tipo longitudinal, que se propagam por uma série de
compressões/descompressões em um meio, normalmente o ar (o som não se propaga
no vácuo, ele precisa de um meio sempre). As ondas transversais são usualmente
encontradas nas vibrações de partes de certos instrumentos musicais, como nas
membranas (instrumentos de percussão) e cordas.

Façamos mais um exercício mental: imagine um diapasão (instrumento de extensão


de qualquer voz ou instrumento). Quando golpeado, suas pontas vibram, e as
partículas do ar ao redor são deslocadas. Essas partículas do ar, por sua vez, deslocam
outras partículas do ar contíguas, e assim indefinidamente, criando um movimento
em onda pelo ar. É essa onda forçada que nossos sentidos interpretam como um som
ou ruído.

O movimento forçado das partículas forma padrões de ondas e, portanto, permite que
o som seja deslocado pelo ar. Esse movimento de onda permite que o som ou ruído seja
difratado, propague e se curve como qualquer outro movimento ondulatório, motivo
pelo qual pode ser ouvido dobrando esquinas ou atravessando pequenas frestas em
uma edificação.

A onda sonora tem uma característica muito própria: a difração. Difração acústica (ou
sonora) é a capacidade que uma onda tem de contornar obstáculos. A dimensão do
orifício por onde a onda passará deve ser da mesma ordem de comprimento da onda
para que isso aconteça. Por isso, no caso de uma difração sonora, diz-se que um orifício
pode variar de 1,7cm a 17m para que ocorra a difração do som.

78
ACÚSTICA │ UNIDADE IV

Figura 59. A criação do som.

Diapasão Partículas de ar

Fonte: Buxton (2017).

A onda sonora é caracterizada pela sua frequência (f), que corresponde ao número de
vibrações por segundo (medida em hertz, Hz), e pelo seu comprimento de onda (λ),
que é a distância entre a crista de uma onda e a da seguinte. A relação entre f, λ é a
velocidade do som (v) é: Onda sonora v = λf

A característica que distingue um som musical de um ruído é a periodicidade. As


qualidades de um som musical são sua intensidade, altura e timbre:

»» Altura (tom): é a qualidade que permite ao ouvido diferenciar sons


graves de sons agudos. Ela depende apenas da frequência do som.

»» Timbre: é a qualidade que permite ao ouvido diferenciar sons de mesma


altura e intensidade, emitidos por fontes diferentes. O timbre nos permite
identificar a voz das pessoas e identificar uma mesma nota musical tocada
por diferentes instrumentos. Ele representa uma espécie de “coloração”
do som.

»» Intensidade: é a qualidade que permite ao ouvido diferenciar os sons


fracos dos fortes. A experiência mostra que o nível de intensidade sonora
varia aproximadamente com o logaritmo de intensidade do som.

Efeitos sonoros

A propagação do som pode ocasionar uma série de efeitos que vamos destrinchar abaixo:

Reflexão

O som, ao se propagar em um ambiente, é refletido em suas diversas superfícies


(paredes, portas, janelas etc.), permanecendo no local até que não possua mais energia.
O fenômeno acústico causado por essas reflexões combinadas que mantêm o som no

79
UNIDADE IV │ ACÚSTICA

recinto é conhecido reverberação. Tal efeito causa uma continuação sonora mesmo
após terminada sua emissão.

Outro fenômeno que pode acontecer devido à reflexão do som é o eco. A principal
diferença entre ele e a reverberação é o tempo que o som leva até ser refletido e retornar
a quem ouve. Enquanto na reverberação o som é percebido como prolongamento ou
continuidade, como se a emissão não tivesse terminado, no eco a percepção é de novas
emissões sonoras, ou seja, repetição da emissão.

Ambos os efeitos de reflexão podem dificultar o entendimento do som, pois as reflexões


prolongadas acabam por se sobrepor às novas emissões de som original. Por outro lado,
em alguns casos a reverberação pode ser útil. Em espaços de apresentação musical, a
reverberação pode ser bem-vinda para dar efeito à voz e aos instrumentos.

Refração

A densidade do ar varia como resultado da variação da temperatura. A velocidade do


som é maior no ar quente. Como a frequência do som não se altera, o comprimento de
onda aumenta. Assim, a frente de onda se inclina e altera a direção de propagação.

Refração é o nome dado ao fenômeno que ocorre quando as ondas mudam de meio de
propagação, alterando sua velocidade. Um exemplo de refração do som é quando a onda
sonora incide na água, meio material mais denso que o ar. Nessa situação, de refração
sonora, a onda aumenta de velocidade e se afasta de seu comportamento normal.

Ressonância

Todas as estruturas mecânicas têm uma ou mais frequências naturais de oscilação. Se


a estrutura for submetida a uma força externa periódica cuja frequência coincida com
uma das frequências naturais, a amplitude da oscilação atingirá valores elevados que
podem levar ao colapso da estrutura. Esse fenômeno é denominado ressonância.

O fenômeno de ressonância é muito importante na compreensão das propriedades dos


instrumentos musicais e no modo como eles produzem seu som característico. O ar
contido numa cavidade possuirá uma série de frequências de ressonância associadas
aos modos normais de vibração, constituindo uma cavidade acústica ressonante. O som
que se origina das cordas vibrantes de um instrumento musical (violino ou piano) é
profundamente influenciado pela “caixa acústica” do instrumento.

Nos teatros antigos e nas igrejas da idade média, encontram-se cavidades chamadas de
vasos acústicos. Nos teatros, esses ressonadores servem para amplificar a voz dos atores.

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ACÚSTICA │ UNIDADE IV

Nas igrejas, tinham uma função de absorção, contribuindo para atenuar a reverberação
na região de baixas frequências (a frequência de ressonância desses vasos é da ordem
de 200 Hz).

81
CAPÍTULO 2
Normativas

Conforme um levantamento da Associação Brasileira para Qualidade Acústica (Pro


Acústica), as seguintes normativas são aplicáveis às questões de acústica no Brasil:

ABNT NBR 10151


Acústica – Medição e avaliação de níveis de pressão sonora em áreas habitadas –
Aplicação de uso geral

Essa norma estabelece os procedimento para medição e avaliação de níveis de pressão


sonora em ambientes externos às edificações, em áreas destinadas a ocupação humana,
em função da finalidade de uso e ocupação do solo; procedimento para medição e
avaliação de níveis de pressão sonora em ambientes internos às edificações provenientes
de transmissão sonora aérea ou de vibração da edificação, ou ambos; procedimento para
avaliação de som total, específico e residual; procedimento para avaliação de som tonal,
impulsivo, intermitente e contínuo; limites de níveis de pressão sonora para ambientes
externos às edificações, em áreas destinadas à ocupação humana, em função da finalidade
de uso e ocupação do solo e requisitos para avaliação em ambientes internos.

ABNT NBR 10152: 2017


Acústica – Níveis de pressão sonora em ambientes internos a edificações

Essa norma estabelece: procedimento para execução de medições de níveis de pressão


sonora em ambientes internos a edificações; procedimento para determinação do
nível de pressão sonora representativo de um ambiente interno a uma edificação;
procedimento e valores de referência para avaliação sonora de ambientes internos
a edificações, em função de sua finalidade de uso; valores de referência de níveis de
pressão sonora para estudos e projetos acústicos de ambientes internos a edificações,
em função de sua finalidade de uso.

ABNT NBR ISO 16283-1:2018


Acústica – Medição de campo do isolamento acústico nas edificações e nos elementos
de edificações.

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ACÚSTICA │ UNIDADE IV

Parte 1: Isolamento a ruído aéreo

Essa parte da ISO 16283 especifica procedimentos para determinar o isolamento a


ruído aéreo entre duas salas, em uma edificação usando medições de pressão sonora.
Esses procedimentos são destinados a salas de volume na faixa de 10 m3 a 250 m3, na
faixa de frequências de 50 Hz a5 000 Hz. Os resultados dos ensaios podem ser usados
para quantificar, avaliar e comparar o isolamento a ruído aéreo em salas mobiliadas
ou não, em que o campo sonoro pode ou não se aproximar de um campo difuso.
O isolamento a ruído aéreo medido é dependente de frequência e pode ser convertido
em uma classificação de valor único para caracterizar o desempenho acústico, usando
os procedimentos de classificação da ISO 717-1.

ABNT NBR ISO 3382-2:2017


Acústica – Medição de parâmetros de acústica de salas – Parte 2: Tempo de reverberação
em salas comuns

Essa parte da ABNT NBR ISO 3382 especifica métodos para a medição do tempo de
reverberação em salas comuns. Ela descreve o procedimento de medição, o dispositivo
necessário, o número de posições de medição requerido e o método para avaliar os
dados e apresentar o relatório de ensaio.

ABNT NBR 16313:2014


Acústica – Terminologia

Essa Norma estabelece termos e definições em acústica.

ABNT NBR 16425-1:2016


Acústica – Medição e avaliação de níveis de pressão sonora provenientes de sistemas de
transportes – Parte 1: Aspectos gerais

Essa parte da ABNT NBR 16425 estabelece: instrumentação eletroacústica a ser


utilizada em medições de níveis de pressão sonora provenientes de sistemas de
transportes; calibração e ajuste em campo da instrumentação eletroacústica; condições
gerais de medição; descritores sonoros para análise de sons provenientes de sistemas
de transportes (aeroviário, aquaviário, ferroviário, metroviário e rodoviário).

Infelizmente, em 2013 houve um grave acidente que ganhou enorme repercussão


e que foi originado, justamente, pelo fogo em um material isolante acústico de
fácil combustão. Trata-se do triste caso da boate Kiss, que deixou mais de 242

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UNIDADE IV │ ACÚSTICA

mortos na cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul. Ter prudência ao projetar
é entender as muitas variáveis envolvidas no processo. O conforto ambiental é
uma delas, mas a segurança do usuário é primordial!

Neste link, há dados interessantes sobre a reação de materiais isolantes acústicos


ao fogo: <<https://blog.owa.com.br/flamabilidade/>.

Com uma boa pesquisa e escolha de seus materiais isolantes acústicos


adequados, seu projeto conseguirá atender às demandas de um projeto com
qualidade e segurança.

84
CAPÍTULO 3
O projeto acústico: técnicas e materiais

Para tratarmos do projeto acústico, precisamos entender a diferença entre tratamento,


isolamento e absorção acústica:

»» Isolamento acústico é o “fechamento”, a vedação do local, inviabilizando


a passagem do som ou ruído entre os ambientes.

»» Tratamento acústico é o condicionamento do som dentro de espaço


com o objetivo de torná-lo adequado à sua finalidade e proporcionar
uma experiência auditiva agradável aos usuários. O tratamento acústico
desejado pode ser de baixa complexidade (como a de uma loja, em
condições “normais” de projeto) ou complexa, como quando é necessário
tratamento de absorção sonora, empregando materiais que conseguem
“aderir” o som – muito utilizado em estúdios de música.

Conforme vimos no capítulo de conforto acústico, antes de fazer um isolamento ou


tratamento sonoro pós-obra é preciso inicialmente verificar a possibilidade de alterar
a fonte de ruído para só então pensar no isolamento ou tratamento em si. Para tanto,
trazemos aqui um levantamento dos principais materiais disponíveis no mercado para
aplicabilidade de tratamento ou isolamento acústico.

Materiais acústicos
Figura 60. Funcionamento de materiais isolantes ou de tratamento acústico.
Energia dissipada

Energia transmitida

Fonte: <http://portalacustica.info/materiais-acusticos-o-que-sao/>.

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UNIDADE IV │ ACÚSTICA

Lã de vidro: material feito de longas fibras de vidro. Oferece ótima absorção


sonora e resistência ao fogo, além do isolamento térmico. É muito utilizado para o
condicionamento termo acústico das construções.

Lã de rocha: material feito de fibras de rocha basáltica e outros minerais, sendo mais
denso que a lã de vidro. Também oferece ótima absorção sonora, isolamento térmico e
elevada resistência ao fogo, sendo utilizado como base em sistemas corta-fogo.

Lã de pet: material produzido a partir de fibras de poliéster, sendo mais leve que as lãs
minerais. É muito utilizado para absorção sonora na forma de mantas e painéis, mas,
por ser um produto mais sensível ao calor, não deve ser utilizado em sistemas corta-fogo.

Estruturas de tratamento acústico

Painéis refletores

Figura 61. Painéis refletores acústicos.

Fonte: <https://www.ugreen.com.br/acustica/>.

Painéis refletores ou placas acústicas são estruturas fixadas diretamente no teto, forro
ou laje de um ambiente. São muito usados em intervenções pós-obra ou quando não há
possibilidade de implantação de um forro falso (devido ao pé direito reduzido do local).

O processo de instalação é limpo e prático, já que não exige a quebra de material ou a


fixação de uma estrutura metálica.

As placas são posicionadas uma ao lado da outra (justapostas) ou afastadas. Desse


modo, cria-se um desenho no ambiente conforme for indicado pelo projeto. Além da
funcionalidade, muitas empresas oferecem esse tipo de opção com um design atrativo.
Geralmente, já chegam pintadas e prontas para a instalação na obra, o que permite ao
arquiteto liberdade na criação de ambiente customizado.

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ACÚSTICA │ UNIDADE IV

O mercado oferece painéis acústicos que usam materiais como lã de vidro, lã de


rocha, espuma de poliuretano ou até mesmo lã de garrafa PET reciclada. Eles evitam a
propagação do som, contribuindo para um ambiente mais silencioso e produtivo.

Nuvens acústicas ou espelhos acústicos


Figura 62. Nuvens acústicas.

Fonte: <https://www.vibrasom.ind.br/produtos-acusticos/nuvem-acustica.html>.

Nuvens acústicas são estruturas pendentes e geralmente esféricas que podem causar
perturbações sonoras importantes ao atuar como espelhos acústicos, concentrando as
ondas sonoras refletidas. São painéis horizontais suspensos por cabos de aço fixados no
teto, encontrados em diversos modelos.

Se o arquiteto deseja criar um ambiente acusticamente tratado e decorativo, basta


escolher qualquer formato ou tom da uma cartela de cores. É possível, também,
determinar a altura de posicionamento de acordo com as demandas do projeto.
São usadas principalmente em locais com pé direito generoso, como foyers, salões de
festas, restaurantes, auditórios e hotéis.

Portas acústicas
Figura 63. Portas acústicas.

Fonte: <https://www.vibrasom.ind.br/produtos-acusticos/103/portas-ac%C3%BAsticas-detail.html>.

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UNIDADE IV │ ACÚSTICA

Uma porta acústica funcional faz com que o som fique do lado de fora do ambiente;
não deixa nenhum ruído sair. Pode estar associada às saídas de emergência desde que
também com tratamento acústico e em alinhamento com as normas de segurança de
combate a incêndio.

Piso acústico
Figura 64. Exemplo de instalação de sistema de piso acústico.

Piso flutuante

Fonte: <https://www.vibrasom.ind.br/produtos-acusticos/piso-acustico.html>.

O isolamento acústico do piso envolve o controle do ruído de impacto, além de vibrações


de máquinas e equipamentos.

Uma forma de garantir o tratamento ou isolamento acústico são os pisos flutuantes.


São uma solução de baixo custo e uma alternativa eficiente para eliminar ou atenuar
ruídos de impacto. O procedimento consiste na aplicação de um material resiliente
(ou mola, que recupera sua forma) disposto em um sistema sanduíche, conhecido
como massa-mola-massa. Na construção civil, esse sistema costuma ser composto
por laje, material resiliente e contrapiso com acabamento final, nessa ordem.
Essa combinação em que materiais de densidades, espessuras e pesos diferentes
executam diferentes funções contribui para a não propagação do som. Enquanto
a laje e o contrapiso devolvem o som à sua origem, o material resiliente amortece
vibrações. Esse material resiliente é qualquer tipo de manta acústica, que vai desde
a opções mais comuns no mercado (espuma, lã de vidro) até materiais ecológicos e
sustentáveis. Entre essas, estão mantas feitas a partir do reaproveitamento de pneus
ou garrafas PETs.

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ACÚSTICA │ UNIDADE IV

Paredes acústicas
Figura 65. Exemplo de parede acústica com lã mineral como preenchimento.

Fonte: <http://www.biola.com.br/isolamento-termico-e-acustico-quais-sao-melhores-opcoes/>.

O isolamento acústico em paredes serve basicamente para impedir a passagem do


som de um ambiente para outro. Pode ser utilizada tanto em paredes internas quanto
externas. Estão associadas a funcionalidade e privacidade e podem ser compostas por
uma infinidade de materiais isolantes.

Uma boa dica é associar o isolamento acústico e térmico. Muitas vezes um mesmo
material possui características interessantes para ambas as condições de conforto
ambiental.

Barreiras acústicas
Figura 66: Exemplo de barreira acústica em rodovia.

Fonte: <http://www.speeddry.com.br/preco-barreira-acustica>.

A barreira acústica tem o objetivo de diminuir os impactos da poluição sonora industrial


ou ambiental. Geralmente é utilizada por indústrias que possuem máquinas ruidosas
ou em aplicações na construção civil, como em estradas movimentadas

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UNIDADE IV │ ACÚSTICA

Vidros e janelas acústicas


Figura 67. Exemplos de vidros em esquadria com tratamento acústico.

Fonte: <https://www.vibrasom.ind.br/produtos-acusticos/visor-acustico.html>.

Os vidros e as janelas acústicas têm por objetivo proporcionar conforto acústico ao


ambiente, diminuindo consideravelmente os ruídos.

Antecâmara
Figura 68. Exemplo de antecâmara para fins acústicos.

Fonte: <https://www.vibrasom.ind.br/produtos-acusticos/portas-acusticas.html>.

A antecâmara é uma “sala” que é colocada entre o ambiente mais ruidoso e o ambiente a
ser protegido desse som. Ela receberá no mínimo duas portas de acesso, e, quando uma
for aberta, a outra deve estar fechada.

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ACÚSTICA │ UNIDADE IV

Jateamento acústico
Figura 69. Jateamento de celulose.

Fonte: <http://www.speeddry.com.br/jateamento-celulose>.

O jateamento acústico é o processo de aplicação de fibras de celulose. É indicado para


solucionar problemas derivados de ruídos.

Forros acústicos
Figura 70. Forro monolítico.

Fonte: <https://www.slideshare.net/kely23/forros-kely>.

Instalados abaixo da laje ou cobertura, foram desenvolvidos para esconder as instalações


de uma construção, como elétrica, hidráulica, iluminação, ar condicionado, sprinklers,
sonorização, entre outros – as placas do forro são parafusadas lado a lado numa
estrutura metálica própria. Podem ser acusticamente refletores, como os de gesso e
madeira, ou podem ser acústicos, como o modelo em fibra mineral, que reduz ruídos
e tem um preço um pouco mais elevado. Pode ser monolítico (quando tem as placas
acabadas em gesso ou qualquer material que permita ter a sensação visual de unidade)
ou removível (quando seccionado em pequenas partes, com as emendas visíveis).
Todos os seus componentes devem ser resistentes ao fogo.

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UNIDADE IV │ ACÚSTICA

Baffles
Figura 71. Baffles acústicos no teto.

Fonte: <http://www.audium.com.br/noticia/baffles-acusticos/>.

Eles são elementos suspensos, leves e que funcionam como um pergolado, porém estão
disponíveis com algumas opções de modulações e alturas. Já que os baffles não são
colados no teto, a manutenção se torna muito mais eficiente e simples. Também não há
necessidade de construir um forro para colocá-los, eles podem aproveitar a estrutura
existente como subestrutura de sustentação. De qualquer forma, é possível criar uma
estrutura auxiliar, que também serve de decoração do ambiente. Eles são pendurados
ou aparafusados, permitindo alternar cores, tamanhos e modelos.

Todos os materiais apresentados têm altíssimo nível de eficiência, boa relação


custo-benefício, altos índices de segurança e durabilidade. O que vai diferenciar um
do outro é o perfil da obra, o design, as exigências para áreas específicas – saúde, por
exemplo – e as particularidades que precisam ser supridas de cada projeto.

92
CAPÍTULO 4
Estudos de caso

Para finalizar nossa unidade sobre o ambiente acústico, veremos dois estudos de caso
comerciais.

El Negro, MAAI Arquitetura


Projeto desenvolvido pela MAAI Arquitetura, em parceria com a Síntese Arquitetura
(consultoria acústica). O espaço abriga um restaurante e tem o cuidado em utilizar
técnicas e materiais que permitem bom tratamento acústico.

Figuras 72, 73, 74 e 75. Mosaico de imagens internas do restaurante El Negro.

Fonte: <http://www.maai.com.br/projeto/el-negro-lago-sul/>.

Studio Sol, Guto Requena

Projeto desenvolvido por Guto Requena, esse espaço corporativo utilizou uma planta
de masterplan e provocou o tratamento acústico por formas inusitadas: volumes de
iluminação; escolha de elementos de decoração que acabam servindo como aparador e
impedem a reverberação; aplicação de tecidos em divisórias nas salas de reunião e nos
estofados de alguns mobiliários.

93
UNIDADE IV │ ACÚSTICA

Conforme a descrição do autor do projeto, “o conceito principal foi trazer as ondulações


de ondas sonoras por meio de elementos de forro, que são o ponto focal do espaço
central. Formado por caixas de madeira em diferentes tamanhos, o forro, além de
possuir propriedades acústicas, conta também com iluminação automatizada que se
transforma de acordo com o cenário desejado”

Figuras 76, 77, 78 e 79. Mosaico de imagens internas do Studio Sol.

Fonte: <https://egrspaces.squarespace.com/studio-sol>.

94
Referências
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Paulo: Edgard Blücher, 1986.

Endereços eletrônicos acessados apenas para


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