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ESPÉCIES VEGETAIS

Elaboração

Maria Solange Francos

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO....................................................................................................................................................................................... 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA.................................................................................................. 5

INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................................................................. 7

UNIDADE I
CONHECIMENTO DAS ESPÉCIES VEGETAIS............................................................................................................................................................. 9

CAPÍTULO 1
A CLASSIFICAÇÃO BIOLÓGICA E AS REGRAS DE NOMENCLATURA BOTÂNICA..................................................................... 9

CAPÍTULO 2
MORFOLOGIA VEGETAL..................................................................................................................................................................................... 19

CAPÍTULO 3
FISIOLOGIA VEGETAL........................................................................................................................................................................................ 64

UNIDADE II
AS CATEGORIAS DE ESPÉCIES VEGETAIS UTILIZADAS NO PAISAGISMO E SUAS CARACTERÍSTICAS...................................... 81

CAPÍTULO 1
ÁRVORES E PALMEIRAS.................................................................................................................................................................................... 81

CAPÍTULO 2
ARBUSTOS E TREPADEIRAS........................................................................................................................................................................... 89

CAPÍTULO 3
HERBÁCEAS........................................................................................................................................................................................................... 96

UNIDADE III
AS NECESSIDADES BÁSICAS DE CULTIVO E REPRODUÇÃO VEGETAL.................................................................................................... 100

CAPÍTULO 1
AS NECESSIDADES BÁSICAS DE CULTIVO EM PLANTAS TERRESTRES E AQUÁTICAS.................................................... 100

CAPÍTULO 2
AS TÉCNICAS DE MULTIPLICAÇÃO NAS PLANTAS (PLANTIO POR SEMENTES E PROPAGAÇÃO
VEGETATIVA)........................................................................................................................................................................................................ 107

CAPÍTULO 3
MANUTENÇÃO DAS PLANTAS CULTIVADAS.......................................................................................................................................... 114

UNIDADE IV
IMPLANTAÇÃO DE PROJETOS COM ESPÉCIES VEGETAIS............................................................................................................................... 117

CAPÍTULO 1
HORTAS RESIDENCIAIS................................................................................................................................................................................... 117

CAPÍTULO 2
PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO CONVENCIONAIS (PANCS)............................................................................................................ 124

CAPÍTULO 3
PLANTAS PARA INFRAESTRUTURA VERDE (FITORREMEDIAÇÃO, FITOTECNOLOGIA)..................................................... 130

REFERÊNCIAS....................................................................................................................................................................................... 139
APRESENTAÇÃO

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como
pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia
da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos


conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos
da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional
que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-
tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de


modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal
quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO
DE ESTUDOS E PESQUISA

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas


em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio
de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que
visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes
de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto
antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente
para o autor conteudista.

Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma
pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em
seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas
experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida
para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar


Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do
estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o
caso.

Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam
para a síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa

Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/
conclusões sobre o assunto abordado.

Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo,
facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar


Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar
a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o
módulo estudado.

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INTRODUÇÃO

O conhecimento sobre as espécies vegetais é fundamental ao profissional da área


de paisagismo. Como essa é uma área ampla, que inclui profissionais de diferentes
formações, por exemplo, biólogos, arquitetos, engenheiros agrônomos, dentre
outros, é muito importante que todos compreendam aspectos básicos da botânica.

Quando um projeto começa a ser desenvolvido, muitas questões devem ser levadas
em consideração, tais como: luminosidade, temperatura, direção dos ventos,
características do substrato e escolha das plantas que mais se adaptam às condições
ambientais. Para que essa escolha seja realizada da forma mais correta, é de grande
importância que o profissional tenha conhecimentos sobre morfologia vegetal,
fisiologia vegetal e taxonomia (classificação e nomenclatura dos vegetais).

Diante da imensa biodiversidade vegetal presente em nosso país, torna-se também


necessário ao profissional da área de paisagismo compreender a complexidade da
classificação biológica e como essa diversidade tem sido organizada ao longo do
tempo, de modo a facilitar sua busca por literatura especializada.

Atualmente, dentro das áreas urbanas, é possível observar a necessidade


crescente de projetos que valorizem e ampliem os espaços verdes. O crescimento
populacional e a poluição tornaram as cidades locais com baixa qualidade de
vida. Nesse contexto, além das espécies de uso ornamental, tão importantes
no embelezamento paisagístico, o cultivo de plantas úteis tem sido bastante
apreciado. É o caso das hortas em pequenos espaços; das plantas alimentícias
não convencionais (PANCs); dos telhados verdes; de jardins verticais e outros
modelos dentro da chamada infraestrutura verde.

Objetivos
Para que possamos, como profissionais da área do paisagismo, compreender a
complexidade das plantas; as suas necessidades básicas; a capacidade de ajuste às
condições ambientais; as suas diferentes formas de propagação; a manutenção
da fitossanidade; e a enorme gama de espécies que podem ser utilizadas em
projetos paisagísticos diversos, torna-se de extrema importância atingir os
seguintes objetivos:

» Descrever os principais aspectos relacionados à classificação biológica,


às regras de escrita e de nomenclatura botânicas.
7
Introdução

» Identificar as estruturas formadoras dos seres vegetais e compreender


seu funcionamento.

» Discutir as diferentes técnicas de cultivo e propagação das plantas.

» Compreender a importância da implantação de projetos que utilizem


espécies vegetais, destacando exemplos positivos dentro das áreas
urbanas.

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CONHECIMENTO DAS
ESPÉCIES VEGETAIS UNIDADE I

CAPÍTULO 1
A classificação biológica e as regras de
nomenclatura botânica

A botânica é a área da ciência que estuda os organismos autótrofos


fotossintetizantes, com clorofila a. Para os alunos que são da área da biologia,
essa definição é muito simples de compreender. No entanto, para os alunos que
são de outras áreas de formação, vale uma rápida explicação.

Os organismos autótrofos fotossintetizantes são aqueles capazes de produzir o


seu próprio alimento por intermédio do processo da fotossíntese. Esse processo,
por sua vez, necessita, dentre outros constituintes, de um importante pigmento:
a clorofila a.

É comum as pessoas acreditarem que a botânica só estuda as plantas, porém é


importante esclarecer que, além das plantas, as algas também são incluídas nessa
área do conhecimento, por serem organismos autótrofos fotossintetizantes
em sua grande maioria. Nesse caso, na botânica, estão incluídas as plantas e
também as algas, que vivem em ambientes aquáticos continentais, marinhos ou
terrestres.

Histórico dos sistemas de classificação biológica

Por que classificar?

Quando se iniciam os estudos dentro da botânica, é comum que o profissional ou


aluno trabalhe com identificações, nomenclatura, classificação. Contudo, qual a
importância disso?

Na verdade, é comum aos seres humanos classificar e organizar as coisas, pois


isso facilita a vida e torna as tarefas diárias mais produtivas. Você certamente já

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Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

se viu organizando o seu guarda-roupa; os livros em uma estante; ou os CDs e


DVDs em uma prateleira, na tentativa de encontrar mais facilmente determinada
roupa, um livro ou o clipe favorito. Essa prática é muito antiga e torna-se
relevante para a troca de informações e correta identificação de exemplares
biológicos coletados pelo mundo. Isso pode proporcionar a descoberta de
novos princípios ativos utilizados na medicina; gerar novas culturas de
plantas de interesse econômico, como na agricultura; além de proteger espécies
ameaçadas de extinção. Segundo Nabors (2012), projetos dentro da taxonomia
vegetal poderão revelar, até mesmo com baixo investimento econômico, o
tamanho das populações ameaçadas de extinção, seus habitats e auxiliar em
projetos de conservação do patrimônio genético dentro de áreas naturais,
unidades de conservação e até mesmo em regiões urbanas, nas quais há uma
biodiversidade que deve ser reconhecida.

Dentro da ciência, não é tarefa fácil organizar a diversidade, pois a cada


ano espécies novas vão sendo descobertas. Além disso, muitos organismos
apresentam características que confundem os especialistas em relação à sua
classificação. Por exemplo, os fungos são seres vivos que apresentam algumas
características semelhantes aos vegetais, mas falta àqueles uma habilidade
específica destes, que é a capacidade de produzir o seu próprio alimento.
Nenhum fungo é capaz de realizar a fotossíntese, portanto isso os distancia das
plantas. No passado, no entanto, os fungos foram classificados junto às plantas e
foco de estudo dos botânicos durante muito tempo.

Para a análise das características morfológicas, anatômicas, bioquímicas e


moleculares presentes nos seres vivos, há necessidade de desenvolvimento
científico e tecnológico. Por essa razão, muitos diferentes sistemas de
classificação biológica surgiram ao longo dos séculos, cada qual utilizando
critérios que pareciam satisfatórios em sua época. Esses sistemas foram sendo
aperfeiçoados e hoje contam com ferramentas muito modernas.

Os sistemas artificiais

A classificação biológica teve início há muito tempo, na antiga Grécia.


Theophrastus (370-287 a. C.) foi discípulo de Aristóteles (filósofo e naturalista
grego, que viveu de 384 a 322 a. C.) e ficou conhecido como “Pai da Taxonomia”
(Figura 1). Ele trabalhava com plantas e foi responsável pela classificação de

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Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

muitas espécies em seu tempo (aproximadamente 500 plantas), utilizando como


critério o seu formato e hábito de crescimento. Esse e muitos outros sistemas
simples de classificação ficaram conhecidos como sistemas artificiais, baseados
apenas na análise de poucos caracteres, sem observar as relações de parentesco
evolutivo. Oliveira (2008) os define como sistemas nos quais os objetivos eram a
praticidade e a classificação rápida e fácil.

Figura 1. Theophrastus – Naturalista grego conhecido como “Pai da Taxonomia”.

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Theophrastus._Line_engraving._Wellcome_V0005785.jpg.

Durante a Era Cristã, o médico grego Pedanius Dioscórides, que viveu de


40-90 d. C., publicou a obra “De Materia Medica”, por volta de 70 d. C. Nessa obra,
descreveu o emprego terapêutico de muitas plantas que catalogou e ilustrou, as
quais eram utilizadas para fins medicinais (Figura 2). Essa obra foi considerada
como principal referência ocidental sobre plantas medicinais até o período
do Renascimento, que perdurou dos séculos XIV ao XVII. Dentre as várias e
interessantes informações contidas na obra, é possível citar o uso do ópio como
medicamento (MONTEIRO; BRANDELLI, 2017).

Figura 2. Capa da publicação de “De Materia Medica”, de Pedanius Dioscórides (1554).

Fonte: Monteiro e Brandelli, 2017.

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Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

Uma curiosidade: o ópio é extraído dos frutos imaturos da planta Papaver


somniferum (Papaveraceae), na forma de seiva leitosa. É constituído por compostos
químicos do grupo dos alcaloides, dentre eles a morfina, utilizada até hoje na
medicina como potente analgésico. No entanto, também pode levar à morte,
dependendo da dosagem (FELIPPE, 2009).

No século XV, descrições começaram a ser encontradas em livros impressos,


os chamados herbários, que concentravam seus esforços, principalmente, no
uso medicinal das plantas. Segundo Nabors (2012), muitos estudiosos medievais
e da época da Renascença acreditavam na chamada “Doutrina dos Sinais” ou
“Doutrina das Assinaturas”, a qual afirmava que todas as plantas possuem uma
característica ou assinatura que remete ao seu uso medicinal.

Campos e Santos (2015) explicam que essa doutrina, descrita na obra de Jacok
Böhme e Paracelso, propunha que todas as coisas carregavam um signo, o
qual revelava determinadas “qualidades invisíveis”, como uma assinatura de
Deus. No caso das plantas, acreditava-se que seria possível, por meio dessa
assinatura, identificar determinada parte específica destinada à cura. Essa
crença, no entanto, trazia com ela inúmeros riscos, pois muitas plantas,
cujas propriedades seriam “teoricamente” benéficas aos seres humanos, eram
altamente tóxicas e poderiam levá-los à morte.

Exemplo interessante é o da planta mandrágora (Mandragora officinarum,


Solanaceae), nativa do Mediterrâneo, cujas raízes possuem aspecto contorcido
e ramificado, que lembra o formato do corpo humano (Figura 3). Schultes et al.
(2000) afirmam que as referências à planta retrocedem às sagradas escrituras e a
antigos manuscritos orientais. Na Idade Média, segundo Martinez et al. (2009),
acreditava-se que seus frutos eram capazes de trazer fecundidade para mulheres
estéreis e o tema chegou a ser retratado na importante obra “A Mandrágora”, do
italiano Nicolau Maquiavel.

Estudos científicos comprovaram a existência de compostos químicos do grupo


dos alcaloides tropânicos, como a hiosciamina, com propriedades alucinógenas e
altamente tóxicas.

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Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

Figura 3. Ilustração de raiz da planta mandrágora, cujo formato lembra o corpo humano.

Fonte: https://pixabay.com/pt/mandr%C3%A1gora-planta-raiz-personagem-1692332/.

Os modernos sistemas de classificação biológica, mas ainda considerados sistemas


artificiais, tiveram como precursor o botânico sueco Karl von Linnaeus, que viveu
de 1707 a 1778, o qual ficou popularmente conhecido, na língua portuguesa,
como Lineu. Ele classificou muitas plantas, distribuindo-as em 24 classes, com o
chamado “Sistema Sexual”, o qual utilizava como critério o número e a disposição
dos estames de cada flor.

Lineu ainda foi responsável pelo desenvolvimento de um sistema de nomenclatura,


conhecido como “Sistema Binomial”, cujo intuito foi descrever o nome de uma
espécie utilizando apenas duas palavras, originadas do latim; uma representando
o gênero (ou epíteto genérico) e a outra, o epíteto específico. O gênero e epíteto
formariam, no conjunto, o nome da espécie. Esse sistema veio a substituir o antigo
sistema polinomial utilizado para designar as espécies até meados do século XVIII.

GÊNERO + EPÍTETO ESPECÍFICO = ESPÉCIE

Exemplos de nomes científicos de plantas conhecidas popularmente são: feijão


(Phaseolus vulgaris), arroz (Oriza sativa), milho (Zea mays), café (Coffea arabica),
pitanga (Eugenia uniflora), dentre outros.

Algumas regras estabelecidas por Lineu no século XVIII continuam válidas,


como o uso de termos em latim; o gênero escrito com apenas a primeira letra
maiúscula e o epíteto com todas as letras minúsculas, destacados em itálico.
Caso o nome científico seja manuscrito, gênero e epíteto devem ser grifados
separadamente. Vale ressaltar que não é correto fazer as duas coisas ao mesmo
tempo: ou escreve em itálico ou grifa.

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Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

Além do nome científico da planta, o nome do descritor da espécie também


deve ser colocado na sequência. Exemplo: Calendula officinalis L. (calêndula
ou malmequer), cujo L. representa a abreviatura de Linnaeus. É importante
destacar que o nome do descritor não deve ser escrito em itálico.

O uso do latim tem grandes vantagens do ponto de vista científico, pois permite
identificar uma espécie em qualquer lugar do mundo, proporcionando maior
facilidade de troca de informações entre os pesquisadores, diante da infinidade
de nomes vulgares existentes. Chama-se de nome vulgar o termo regional
utilizado para designar um exemplar de ser vivo (ex.: mandioca). No Brasil, assim
como em outros países, uma mesma planta pode apresentar diferentes nomes
vulgares. A mandioca, dada como exemplo, dependendo da região brasileira,
pode ser conhecida também como aipim ou macaxeira. O uso do nome científico
(Manihot utilissima) evita qualquer confusão.

Além da nomenclatura binomial, Lineu também propôs, no século XVIII, o uso


de categorias de classificação, as quais seguiam uma hierarquia. Estas atualmente
ainda são utilizadas, com inclusão de algumas novas categorias, como: reino, filo,
classe, ordem, família, gênero e espécie. O termo “filo” passou a ser utilizado
na botânica apenas a partir de 1993, o que foi estabelecido no XV Congresso
Internacional de Botânica, pois, até então, utilizava-se a categoria “divisão”.

Todas as regras de escrita dos nomes científicos de plantas, protistas


fotossintetizantes e fungos se encontram no chamado Internacional Code
of Botanical Nomenclature. Destaca-se que existem códigos específicos para
animais, protistas heterótrofos e demais microrganismos (RAVEN; EVERT;
EICCHORN, 2014).

Recentemente, uma nova proposta de classificação dos seres vivos foi


publicada, baseada nas relações de parentesco entre os organismos: é
o chamado PhyloCode, também conhecido como Código Internacional
de Nomenclatura Filogenética. Com essa nova proposta, as categorias
hierárquicas estabelecidas por Lineu no século XVIII, e utilizadas até a
atualidade, são substituídas por clados (agrupamentos que correspondem
apenas àqueles seres vivos relacionados pelo parentesco evolutivo,
descendentes de ancestral comum). Na biologia, esses grupos são
chamados de monofiléticos.

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Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

As classificações naturais
Apesar da enorme importância dos trabalhos de Lineu para a nomenclatura
e classificação biológica durante todo o século XVIII, ele era adepto de uma
corrente científica denominada Fixismo, pois não acreditava na evolução das
espécies, mas sim que estas permaneciam completamente inalteradas após a sua
criação.

Para Lineu e outros pesquisadores sucessores, o objetivo da taxonomia era


revelar o grande e imutável projeto da criação divina. Após a publicação da
famosa e conhecida obra de Charles Darwin (“A Origem das Espécies”), em 1859,
e dos trabalhos conjuntos com Alfred Wallace, durante o século XIX, a Teoria
da Evolução foi amplamente divulgada e pesquisadores passaram a reconhecer
a importância de utilizar a classificação biológica como um indicativo das
relações evolutivas entre os seres vivos. Desse modo, surgiram as chamadas
classificações naturais, baseadas na análise de caracteres que procuravam
expressar o máximo de afinidades entre os seres vivos.

Segundo Nabors (2012), na classificação dos seres vivos, os sistemas modernos


analisam uma série de características, tais como estruturas reprodutivas (sementes,
flores, frutos, estróbilos); forma e desenvolvimento de embriões; estrutura dos
órgãos vegetativos (raízes, caules e folhas); estruturas anatômicas; bem como
presença de enzimas e certos metabólitos de defesa.

No século XX, especialmente a partir de 1960, análises associadas ao estudo do


DNA e RNA e determinadas proteínas específicas foram utilizadas na classificação
biológica, trazendo a possibilidade de uma ferramenta mais eficaz na organização
da biodiversidade. Deve-se compreender, no entanto, que as análises moleculares
não são, por si só, suficientes para a correta classificação de uma planta ou
outro ser vivo. A análise de caracteres morfológicos, anatômicos e bioquímicos
sempre será necessária.

Souza e Lorenzi (2012) afirmam que o sequenciamento de trechos do DNA de


uma espécie é apenas uma das fontes de informação utilizadas na construção
dos sistemas de classificação filogenéticos, mas o peso de uma característica só
poderá ser determinado após análises filogenéticas.

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Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

Os modernos sistemas de classificação biológica: a


sistemática filogenética e a sistemática molecular

Durante o século XX, o entomólogo alemão Willi Hennig propôs uma


metodologia de classificação biológica na qual se estabeleciam as relações de
parentesco com base em ancestrais comuns. Esse método ficou conhecido como
sistemática filogenética ou cladística.

De acordo com Souza e Lorenzi (2012), o sistema de classificação filogenético


ganhou nova dimensão com o surgimento da cladística, e essa ferramenta de
análise foi inicialmente utilizada nos estudos da zoologia.

A partir das décadas de 1980 e 1990, passou a ser utilizada também nos estudos da
botânica, quando os botânicos perceberam que esta representava uma revolução
nos modelos tradicionais de classificação. Dessa forma, sistemas clássicos
de classificação botânica, sem uso da cladística, passaram a ser chamados de
gradistas (como os sistemas de Engler e de Cronquist, muito difundidos até o
final do século XX); e os métodos modernos filogenéticos foram chamados de
cladistas.

Segundo Raven, Evert e Eichhorn (2014), o resultado da análise em cladística


é chamado de cladograma, o qual fornece representação gráfica das relações
filogenéticas entre organismos próximos evolutivamente. Esse é o método mais
amplamente utilizado na atualidade, juntamente com a chamada sistemática
molecular, que utiliza técnicas modernas de biologia molecular para encontrar
semelhanças entre os seres vivos com base na análise de seu material genético.

Os cladogramas podem ser utilizados pelos professores em sala de aula para


mostrar aos alunos, de forma concisa e didática, as relações evolutivas entre
diferentes grupos de seres vivos (animais, vegetais, microrganismos), de modo
a trabalhar a filogenia dos grupos e permitir olhar mais aprofundado sobre a
evolução.

Um cladograma é elaborado com base em uma série de dados sobre os organismos


relacionados, ilustrado na forma de árvore filogenética com várias ramificações.
Cada ramo do cladograma recebe o nome de clado. Este consiste em um ancestral
e em todos os seus descendentes, que compartilham um ou mais caracteres
(NABORS, 2012).

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Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

Segundo Raven, Evert e Eicchorn (2014), cada clado representa um grupo


monofilético, isto é, que possui um ancestral comum, o qual apresenta
caracteres derivados compartilhados (as chamadas sinapomorfias), como a
presença de grãos de pólen com uma ou três aberturas, característica de muitas
plantas com flores.

O grupo das briófitas é o mais simples dentro do Reino Vegetal, dado que essas
plantas não apresentam determinadas estruturas vegetativas e reprodutivas
encontradas comumente em outros vegetais. Apesar de possuírem embrião em
seu ciclo de vida, não têm tecidos condutores de seiva. Se considerarmos o caráter
ausente como condição ancestral e presente como condição derivada, estão em
posição mais ancestral no cladograma do que plantas com tecidos condutores,
como samambaias, pinheiros e carvalhos. A presença de tecidos condutores,
bem como sementes, flores e frutos, representa a chamada condição derivada
(Figura 4).

Figura 4. Cladogramas que mostram as relações evolutivas entre diferentes grupos de plantas do Reino Vegetal.

Fonte: Raven et al., 2014.

Raven, Evert e Eichhorn (2014) afirmam que a sistemática molecular tem


trazido resultados surpreendentes na classificação biológica das plantas, desde
que combinada com estudos de características morfológicas. Esses estudos têm
contribuído para melhores e mais corretos posicionamentos das plantas com
flores por pesquisadores do Angiosperm Phylogeny Group (APG).

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Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

Outra novidade na classificação biológica é o uso do chamado código de barras


de DNA (Figura 5). Essa forma de classificação possibilita utilizar qualquer parte
de uma planta, em qualquer estágio de desenvolvimento, para identificá-la.
Assim, não seria mais obrigatória a presença de estruturas de reprodução, como
flores ou frutos.

Figura 5. Planta Fritilaria meleagris (Liliaceae) – Código de barras de seu DNA na lateral esquerda da imagem. Nessa
representação, cada uma das quatro bases nitrogenadas presentes na molécula de DNA possui uma coloração.

Fonte: Raven et al., 2014.

Diante de tantas tentativas de classificação biológica, de tamanha diversidade


de vida no planeta Terra, os esforços para catalogar espécies e identificá-las da
forma mais correta possível continuam, certamente com intenso trabalho nos
próximos anos. Projeto coordenado pela All Species Foundation pretende elaborar
um inventário com todas as espécies de vida presentes na Terra até 2025, mas,
até o momento, somente cerca de 2 milhões, das 100 milhões estimadas, foram
efetivamente catalogadas (NABORS, 2012).

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CAPÍTULO 2
Morfologia vegetal

Neste capítulo, abordaremos dois assuntos muito importantes para o conhecimento


das plantas: a organografia e a anatomia vegetal. A organografia é a área da
botânica que trata da morfologia externa dos diferentes órgãos vegetais. Além
da morfologia externa, no entanto, é importante que você também compreenda
como tais órgãos são formados internamente; diferenciando seus tecidos e suas
estruturas especializadas. Esse estudo compreende a chamada anatomia vegetal.

Começaremos o estudo morfológico pelos órgãos vegetativos das plantas: as


folhas, os caules e as raízes. Na sequência, trataremos das flores, dos frutos e das
sementes.

Morfologia externa e interna das folhas


A folha é um órgão vegetativo, em que se processa a elaboração dos compostos
orgânicos em presença de luz, fenômeno este conhecido como fotossíntese
(Figura 6). Geralmente, a folha apresenta uma superfície externa laminar,
que é especializada para o desempenho das funções de troca gasosa entre a
folha e o meio externo (entrada de oxigênio para a respiração e saída após a
fotossíntese; entrada de gás carbônico para a fotossíntese e saída pelo processo
de respiração; e liberação de vapor d’água na transpiração). As características
morfológicas das folhas tornam esse órgão capaz de realizar todas as funções
de maneira adequada.

Figura 6. As folhas e sua importância no processo da fotossíntese.

Fonte: https://socientifica.com.br/estes-incriveis-animais-podem-fazer-fotossintese/.

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Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

Quando observamos determinada espécie vegetal na natureza, é possível


estabelecer uma relação entre as características morfológicas e sua adaptação às
condições ambientais do local, pois as folhas variam muito em relação a formato,
espessura, dentre outros atributos estruturais. Folhas grandes, por exemplo,
geralmente são encontradas em espécies de ambientes úmidos; folhas espessas,
pilosas ou cerosas, por sua vez, são indicativas de ambientes quentes e secos.

Para o profissional da área de paisagismo, a diversidade de formas, tamanhos,


cores e texturas das folhas é fator de grande relevância no desenvolvimento de
projetos, pois permite enorme gama de variações estruturais e a possibilidade
de reunir espécies diferentes, mas com características adaptativas semelhantes
(Figura 7).

Figura 7. Diferentes formatos de folhas em espécies de importância ornamental.

Fonte: https://br.freepik.com/vetores-gratis/colecao-de-folhas-tropicais_1145951.htm.

Geralmente, a folha é compreendida por um limbo ou lâmina foliar, que é


a região assimiladora da folha, na qual ocorre a absorção da energia luminosa.
Geralmente, a folha é compreendida por um limbo ou lâmina foliar, que é a
região assimiladora da folha, na qual ocorrem a absorção da energia luminosa e
as trocas gasosas com o meio externo (Figura 8).

Figura 8. Folha de Bathysa sp. com amplo limbo foliar.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

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Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

O limbo se prende ao caule por uma estrutura cilíndrica e resistente denominada


pecíolo. A inserção do pecíolo no caule pode ocorrer diretamente ou por
intermédio de uma expansão, muito desenvolvida em algumas plantas: a bainha
(Figura 9).

Figura 9. Bainha foliar.

Fonte: https://search.creativecommons.org/photos/984889d2-aa91-48c1-b659-bc2558f92c05.

Nas gramíneas, ocorre o que chamamos de bainha invaginante. São aquelas


bainhas que envolvem o caule em grande extensão, protegendo gomos que dão
origem aos ramos laterais do caule.

Quando o pecíolo e a bainha estão ausentes, a folha é chamada de séssil e se


prende diretamente ao caule. Temos como exemplo a folha do tabaco (Nicotiana
tabacum) e a folha da espada-de-santa-bárbara (Figura 10).

Figura 10. Sansevieria trifasciata (Asparagaceae), conhecida como espada-de-santa-bárbara. Detalhe das folhas que não
possuem pecíolo.

Fonte: https://search.creativecommons.org/photos/b3bfdd53-c50b-49d7-aa57-018b450b89f0.

21
Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

A base das folhas de algumas plantas pode, ainda, apresentar pequenas ou grandes
expansões, denominadas estípulas. Tanto as estípulas como as bainhas têm a
função de proteger os botões germinativos do caule (Figura 11).

Figura 11. Ramo de Hibiscus rosa-sinensis (Malvaceae) – Detalhe das estípulas foliares.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

As estípulas, assim como as bainhas, também podem desempenhar função


protetora. Elas são encontradas especialmente em folhas jovens. Geralmente,
quando as folhas se desenvolvem e os limbos desabrocham, essas estípulas
perdem sua função, secam e caem. Isso é perfeitamente observado na planta
popularmente conhecida como unha-de-gato. Em outras, como na ervilha,
as estípulas podem se desenvolver muito, exercendo a função do limbo e
tornando-se verdadeiras lâminas assimiladoras.

Na literatura, encontramos informação de que uma folha completa é aquela


formada por quatro partes: limbo, pecíolo, bainha e estípulas (FERRI, 1985) ou
apenas por três partes: limbo, pecíolo e parte basal, muitas vezes composta por
bainha e estípulas, como citado por Rawitscher, em sua obra clássica de 1951.
Consideraremos uma folha completa aquela que possui, no mínimo, três partes.
Qualquer uma das partes de determinada folha pode faltar, sendo menos frequente
a ausência do limbo.

Outro importante aspecto a ser observado na classificação das folhas é a chamada


filotaxia, que representa a disposição das folhas no caule. Considera-se o arranjo
das folhas ao longo do eixo caulinar, de modo a minimizar o sombreamento
de alguma folha por outra (GONÇALVES; LORENZI, 2007).

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Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

Segundo esse critério, é possível identificar na natureza, dentre outras, folhas


de filotaxia: alterna; alterna dística; alterna espiralada; oposta; oposta cruzada e
verticilada (PEREIRA; PUTZKE, 2010).

Na filotaxia alterna, ocorre apenas uma folha em cada nó do caule, a exemplo da


planta conhecida popularmente como pata-de-vaca (Figura 12).

Figura 12. Ramo que mostra a filotaxia alterna em Bauhinia variegata (Fabaceae), conhecida como pata-de-vaca.

Fonte: https://search.creativecommons.org/photos/2c04699a-ceb4-4c1a-898e-c622b2f2854f.

Na filotaxia alterna dística, as folhas estão inseridas no caule, uma por nó, porém
são distribuídas no mesmo plano. Na alterna espiralada, por sua vez, as folhas se
distribuem em planos diferentes, formando um espiral.

A filotaxia oposta as folhas nascem aos pares em cada nó do caule, a exemplo do


que observamos na goiabeira (Psidium guajava, Myrtaceae) (Figura 13).

Figura 13. Ramo de Psidium guajava (Myrtaceae) – Goiabeira com filotaxia oposta.

Fonte: https://search.creativecommons.org/photos/2ca7a34a-f520-4027-91ed-e26f0466bb85.

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Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

Quando as folhas se posicionam em sentidos diferentes, cruzadas em relação


ao par de folhas anterior, a filotaxia é denominada oposta cruzada. Como
exemplo, temos a quaresmeira-roxa, pertencente à espécie Tibouchina granulosa
(Melastomataceae) (Figura 14).

Figura 14. Tibouchina granulosa (Melastomataceae) – Conhecida como quaresmeira-roxa. Notar os ramos com filotaxia
oposta cruzada.

Fonte: https://search.creativecommons.org/photos/c77eb40b-62f2-4f22-838c-be1017edde24.

A filotaxia verticilada ocorre quando saem três ou mais folhas de cada nó do


caule, como visto na planta conhecida como espirradeira (Figura 15).

Figura 15. Folhas com filotaxia verticilada na planta Nerium oleander (Apocynaceae) – Espirradeira.

Fonte: https://search.creativecommons.org/photos/3bb2e80b-4255-40e0-81bd-36a0213e7795.

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As folhas podem ser ainda classificadas em simples ou compostas. As folhas


simples são aquelas cujos limbos são indivisos, isto é, inteiros, sem divisões. As
folhas da bananeira, da quaresmeira ou do café são alguns exemplos. As folhas
compostas, por sua vez, são aquelas que apresentam limbos divididos em folíolos,
como as folhas compostas pinadas; folhas compostas digitadas; folhas compostas
bipinadas, dentre outras.

Nas folhas compostas pinadas, os folíolos ou pinas crescem de ambos os lados


de um eixo, a raque, como uma pena. A raque é extensão do pecíolo. Exemplo:
roseira (Figura 16).

Figura 16. Folha composta pinada da roseira.

Fonte: https://search.creativecommons.org/photos/d6faace8-f6c3-43af-b6e2-bee64ed09ce0.

As folhas compostas digitadas não possuem raque e as folhas partem todas do


ápice do pecíolo. Ex.: folhas da cheflera ou da paineira (Figura 17).

Figura 17. Folhas compostas digitadas da planta Scheffera actinophylla (Araliaceae).

Fonte: https://search.creativecommons.org/photos/8e64557f-d88b-41d3-8c5b-fd1459cde70f.

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Além da morfologia externa, é também importante conhecer a estrutura interna


de determinada folha (anatomia), a qual pode ser observada por meio de diversos
planos de corte. O corte transversal de uma folha mostra a existência dos tecidos
formadores desse órgão (Figura 18).

Figura 18. Corte transversal de folha de lírio.

Fonte: https://search.creativecommons.org/photos/c87ec509-481a-4a45-983c-0141f54e051f.

Tanto a parte superior quanto inferior são revestidas por epiderme (tecido de
revestimento), a qual tem por finalidade proteger a folha de choques mecânicos,
permitir a ocorrência de trocas gasosas, bem como controlar a perda de água por
evaporação. Entre a epiderme superior e a inferior, encontra-se o parênquima
clorofiliano (tecido de assimilação da folha). Do lado superior, as células desse
tecido se dispõem lado a lado e são alongadas, formando o chamado parênquima
assimilador do tipo paliçádico. Do lado inferior, está o parênquima
assimilador do tipo lacunoso, composto por células sem formato definido,
as quais são delimitadas por grandes lacunas. Tanto nas células do parênquima
paliçádico como no lacunoso, encontramos numerosos cloroplastos. Tal fato
comprova que esse tecido é associado ao processo da fotossíntese. Encontramos,
ainda, em meio às duas epidermes, tecidos vasculares e tecidos de sustentação.

A epiderme das folhas apresenta algumas estruturas anexas, relacionadas às


trocas gasosas entre a planta e o meio externo, e ao controle da perda de água
pela transpiração. Tais estruturas são chamadas de estômatos. Os estômatos
são formados por duas células (células-guarda), providas de cloroplastos para a
fotossíntese. Essas células têm o formato de grãos de feijão e apresentam a face
interna da parede celular bastante espessada.

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Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

Entre uma célula-guarda e outra, encontra-se pequena abertura denominada


ostíolo (Figura 19). Por essa abertura, gases importantes entram e saem da
planta, como o gás carbônico e o oxigênio.

Figura 19. Imagem microscópica do estômato de folha de Tradescantia pallida (Commelinaceae).

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Na natureza, ainda encontramos diversas folhas modificadas, que assumem


funções das mais diversas e apresentam formatos, tamanhos e estruturas
internas diferenciadas para o exercício de tal função. Um desses exemplos é
o das chamadas brácteas, encontradas em plantas ornamentais conhecidas,
tais como lírio-da-paz; antúrio, copo-de-leite e primavera. Tais folhas atuam
na proteção das estruturas de reprodução e podem, ainda, atuar na atração de
agentes polinizadores, com cores vivas e chamativas.

No lírio-da-paz (a exemplo da espécie Spathiplyllum wallisii, Araceae) e no


copo-de-leite (Zantedeschia aethiopica, Araceae), as inflorescências eretas são
envoltas por brácteas brancas, denominadas espatas. Estas se destacam da
coloração verde-escuro das folhagens e as tornam muito ornamentais (Figura
20).
Figura 20. Lírio-da-paz, com detalhe da inflorescência envolta pela bráctea branca (espata).

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/spathiphyllum-l%C3%ADrio-da-paz-branco-4260803/.

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Morfologia externa e interna dos caules

Os caules são importantes órgãos vegetais, os quais exercem duas funções


principais nas plantas: condução de seiva e suporte para os ramos foliares.

Sabemos que as substâncias produzidas pelas folhas são transportadas através do


caule, via vasos condutores, para os locais de consumo, incluindo folhas, ramos e
raízes em crescimento, assim como flores, sementes e frutos em desenvolvimento.

Grande parte do material nutritivo presente nos caules é armazenado em células


do parênquima de reserva (tecido de armazenamento) das raízes, das sementes
e dos frutos, mas os caules também constituem importantes órgãos de reserva,
como o caule da conhecida batatinha-inglesa. A condução de água e sais minerais
no interior dos caules é realizada pelo tecido condutor denominado xilema.
Outro aspecto importante a ser lembrado é que as folhas são sustentadas pelos
caules, que as colocam em posição favorável à absorção de luz para a fotossíntese.

Em geral, o caule novo é verde e possui o mesmo pigmento que dá a coloração


às folhas (a clorofila), o que lhes permite produzir material orgânico pelo
processo da fotossíntese. À medida que o caule envelhece, a clorofila se degrada
e a cor verde é pouco a pouco substituída por coloração acinzentada ou parda
devido à impregnação dos tecidos por certas substâncias que a própria planta
elabora.

Os caules, na natureza, podem ser aéreos, subterrâneos ou aquáticos. Se fizermos


uma comparação entre caules e raízes, veremos que os caules são diferenciados
por apresentarem, além das folhas, gemas ou botões germinativos, os quais,
ao se desenvolverem, darão origem a novas folhas. A maioria dessas gemas
permanecem no estado de repouso e são chamadas de gemas dormentes.

Chamamos de sistema caulinar o conjunto formado pelo caule propriamente


dito e pelas folhas. Tal sistema inicia sua formação durante o desenvolvimento
do embrião da semente e pode ser inicialmente representado pela seguinte
estrutura: a plúmula, que pode ser considerada a primeira gema da planta.

A plúmula consiste em eixo caulinar (o epicótilo), um ou mais primórdios


foliares (folhas rudimentares) e meristema apical (tecido embrionário). O
meristema é um tecido formado por células ainda indiferenciadas, dotadas de
grande capacidade de divisão por mitose.

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Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

Quando o embrião da semente retoma seu crescimento (durante a germinação),


novas folhas passam a se desenvolver a partir do meristema apical do caule e
este se alonga, diferenciando-se em nós e entrenós. Aos poucos, primórdios de
gemas formam-se nas axilas das folhas e, eventualmente, seguirão uma sequência
de crescimento e diferenciação mais ou menos similar àquela da primeira gema
(Figura 21).
Figura 21. Ramo caulinar com nós, entrenós e gemas axilares.

Fonte: https://search.creativecommons.org/photos/14ed5bb2-db47-4b0e-9697-b889e7e98264.

Os caules aéreos são aqueles que se desenvolvem acima do nível do solo. Podemos
classificar os caules aéreos em: haste, tronco, estipe e colmo.

Haste é um termo utilizado para designar caules não lenhosos, de pequeno calibre,
encontrados em plantas herbáceas, como em hortelã, melissa, trapoeraba, zebrina,
rabo-de-gato, fitônia, pileia, dentre outras (GONÇALVES; LORENZI, 2007).

Na Figura 22, podemos observar o caule do tipo haste em plantas de manjericão


cultivadas em canteiro. Em segundo plano, mais ao fundo, verificam-se plantas de
trapoeraba-roxa, que também possuem caules do tipo haste.

O manjericão (Ocimum basilicum, Lamiaceae) é uma planta aromática nativa da


Ásia tropical, introduzida no Brasil pela colônia italiana. Possui crescimento
ereto, muito ramificado e pode atingir de 30 a 50 cm de altura (LORENZI;
MATOS, 2008).
Figura 22. Plantas de manjericão (Ocimum basilicum, Lamiaceae) – Caules do tipo haste.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

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Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

O caule do tipo tronco é robusto, lenhoso e apresenta maior desenvolvimento na


base e ramificações no ápice (Figura 23). Encontra-se na maioria das árvores e
dos arbustos.

Figura 23. Caule do tipo tronco – Ramificações ao longo de seu crescimento.

Fonte: https://search.creativecommons.org/photos/8b15d18a-7b59-40b8-86fb-7497df65f24e.

Estipe é um caule que também pode se desenvolver muito, atingir vários metros
de altura e tornar-se bastante resistente, mas, em geral, não se ramifica. Em seu
ápice, há presença de um tufo de folhas que a ele se prende diretamente. É o caso
típico das palmeiras, como a carnaúba do Nordeste brasileiro; o açaí; o jerivá,
dentre outras de importância ornamental. Nesses caules, a única ramificação que
aparece é quando a planta floresce (Figura 24).

Figura 24. Palmeiras-imperiais encontradas no Jardim Botânico do Rio de Janeiro – Caules aéreos do tipo estipe.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

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De modo geral, os colmos também não se ramificam. São diferenciados dos


estipes por se apresentarem divididos, em toda sua extensão, por gomos. Estes,
os chamados entrenós, são separados uns dos outros por discos transversais:
os nós. O colmo típico é o da cana-de-açúcar (colmo cheio). Seus gomos são
preenchidos por tecido rico em sacarose, formando a chamada medula. No
bambu, temos o chamado colmo oco ou fistuloso, pois a medula se desintegra
durante seu desenvolvimento, tornando-o oco (Figura 25).

Figura 25. Caules do tipo colmo oco do bambu (Bambusa spp., Poaceae).

Fonte: https://www.publicdomainpictures.net/pt/view-image.php?image=15650&picture=bambu.

Apesar desses quatro tipos serem comuns na natureza, sabemos que muitos
caules não se enquadram em nenhum deles. É o caso de plantas cujo caule não
é suficientemente forte para sustentar o peso das folhas. Exemplo desse caso
é o das trepadeiras, como o filodendro, o maracujá, as peperômias, a jiboia,
que apresentam caules volúveis. Estas, por apresentarem certa irritabilidade no
caule, ao entrarem em contato com um suporte, nele se enrolam, crescendo ao
seu redor com movimento em espiral (Figura 26).

Figura 26. Caule volúvel da planta popularmente conhecida como jiboia (Epipremnum pinnatum, Araceae) – Trepadeira
comum utilizada no paisagismo. Repare como a planta cresce verticalmente apoiada no suporte.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

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Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

Muitos caules, chamados de caules prostrados, podem se desenvolver rentes ao


chão, como é o caso do chuchu ou da planta conhecida como papo-de-peru. É
interessante lembrar que, no caso específico do chuchu, apesar de seu caule ser
classificado como prostrado, a planta desenvolve-se como trepadeira se tiver
suporte disponível.

Além dos caules prostrados, outro caso interessante é o dos caules do tipo
estolão. Nesse tipo de caule, a planta, ao crescer, desenvolve eixos caulinares
que rastejam à superfície do solo e que, de espaço em espaço, apresentam gemas.
Onde as gemas estiverem, pode ocorrer a formação de raízes e folhas ou de
uma planta inteira. Exemplo clássico é o morangueiro, mas plantas ornamentais
também possuem estolões, a exemplo do clerodendro-perfumado (Clerodendron
fragrans, Lamiaceae).

Com o crescente interesse pelo cultivo de plantas orgânicas, sem agrotóxicos e


mais naturais, tornou-se comum observarmos o cultivo de plantas frutíferas em
vasos. O morango é um desses exemplos, cuja planta pode ser até cultivada em
vasos pendentes, com utilidades ornamental e alimentícia (Figura 27).

Figura 27. Morango cultivado em vaso – Caule do tipo estolão.

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/frutas-morangos-folha-comer-jardim-3232282/.

Dentre os caules subterrâneos, podemos citar os rizomas. Segundo Gonçalves


e Lorenzi (2007), são caules que crescem horizontalmente e produzem folhas
e/ou ramos laterais, sendo o próprio eixo central da planta. Como exemplo,
temos o caule da íris, da banana, do gengibre, do açafrão-da-terra (cúrcuma),
do inhame, dentre outros. Na Figura 28, observamos uma planta ornamental
muito bonita, pertencente à família do gengibre tradicional (utilizado na
alimentação), cujo nome popular é gengibre-vermelho.

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Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

Figura 28. Gengibre-vermelho (Hedychium coccineum, Zingiberaceae) – Planta herbácea, rizomatosa. Foto tirada no Parque
Burle Marx, em São Paulo.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Outro tipo importante de caule é o chamado bulbo, o qual se caracteriza por


ser cônico e pequeno, com grande gema e numerosas folhas modificadas ligadas
a ele. As folhas, denominadas catafilos, têm formato de escamas e o alimento é
armazenado em suas bases espessadas. Raízes adventícias se originam da base
do caule. Exemplos familiares de plantas com caules do tipo bulbo são a cebola,
o alho, o gladíolo, a frísia, os lírios e a moreia (Figura 29). No caso do alho,
cada dente corresponde a um bulbo completo de cebola e todos os dentes ou
bulbilhos reunidos constituem a chamada “cabeça-de-alho”.

Figura 29. Moreia (Dietes bicolor, Iridaceae) – Planta herbácea bulbosa muito ornamental.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

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Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

Em regiões secas, o perigo da perda excessiva de água é constante para as plantas,


o que pode ameaçar seriamente a sua sobrevivência. Ocorre que, nessas regiões,
é comum encontrarmos caules especializados, os quais podem armazenar água
em seu interior (suculência) e também podem ser verdes e fotossintetizantes.
As folhas, nessas circunstâncias, ou desaparecem por completo (plantas áfilas
= sem folhas) ou se transformam em espinhos, como ocorre em muitos cactos,
reduzindo a perda de água por transpiração.

A presença de caules fotossintetizantes não é característica exclusiva de plantas


de regiões áridas, o que torna essas plantas muito interessantes para o uso
paisagístico, pois suas estruturas são verdes, produzem flores e frutos, mas não
possuem folhas, como a maioria das plantas. Exemplo é a Rhipsalis spp, cactácea
encontrada na Mata Atlântica.

Segundo Gonçalves e Lorenzi (2007), a espécie Rhipsalis baccifera (Cactaceae),


conhecida popularmente como cacto-macarrão ou ripsális, é uma herbácea
epífita, pois cresce apoiada em outras plantas. Ademais, possui ramos cilíndricos,
articulados e pendentes. Por sua graça e beleza, é muito utilizada em projetos
paisagísticos, inclusive é indicada para jardins verticais (Figura 30).

Figura 30. Rhipsalis baccifera (Cactaceae) – Cactácea encontrada em plena Mata Atlântica. Não apresenta folhas e seus
caules modificados são verdes e realizam a fotossíntese.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Na atualidade, percebemos um crescimento do mercado de plantas conhecidas


como suculentas, que se tornaram verdadeiras “queridinhas” dos jardinistas e
profissionais do paisagismo. Segundo Pereira e Putzke (2010), suculentas são

34
Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

plantas cujas partes se mostram carnosas e espessas em virtude da presença


abundante de parênquimas de reserva de água. Dentre as inúmeras vantagens
dessas plantas no paisagismo, podemos citar sua beleza, delicadeza, durabilidade e
facilidade de manutenção.

Muitas suculentas são cactáceas, como a Rhipsalis baccifera (Figura 29),


porém é importante esclarecer que nem todas as suculentas são cactos e nem
todas apresentam caules fotossintetizantes. Algumas apresentam folhas com
armazenamento de água, as quais atuam como órgãos fotossintetizantes. Exemplo
interessante de suculenta utilizada no paisagismo é a pertencente à espécie
Agave attenuata (Agavaceae), conhecida popularmente como agave-dragão ou
tromba-de-elefante (Figura 31).

Figura 31. Agave attenuata (Agavaceae).

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Além da morfologia externa, também é importante compreendermos a estrutura


interna do caule. A estrutura primária varia bastante, sendo mais complexa do
que a nas raízes. Dessa forma, tentarei explicar, da maneira mais simplificada
possível, como ocorre a disposição dos principais tecidos de um caule.

Considerando casos mais comuns, encontrados nas gimnospermas e


angiospermas, podemos verificar as seguintes situações: em alguns pinheiros,
por exemplo, e na maioria das ervas, arbustos e árvores conhecidas, o caule,
em corte transversal, mostra estrutura formada por epiderme; região cortical
ou córtex (tecido fundamental); cilindro vascular (formado pelos tecidos
vasculares) e medula interna. Em outras plantas, como o sabugueiro e a alfafa,

35
Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

os tecidos vasculares se desenvolvem como um cilindro de cordões isolados, ou


feixes, separados um do outro pelo tecido fundamental (o córtex).

Nos caules de plantas como palmeiras, orquídeas, bromélias, milho, entre outras,
verificamos que a estrutura interna do caule é um pouco diferente: os feixes
vasculares aparecem dispersos em meio ao tecido fundamental. Desse modo, não
há possibilidade de diferenciarmos nitidamente o córtex da medula.

Morfologia externa e interna das raízes

As raízes são órgãos vegetativos, cujas funções básicas são: fixar as plantas
ao seu substrato e absorver água/elementos minerais do solo. Outras funções
associadas às raízes são conduzir água, elementos minerais e compostos
orgânicos; armazenar substâncias de reserva; e realizar trocas gasosas. Quando
comparamos as raízes aos caules, verificamos que, apesar de diferenças em
sua estrutura, ambos possuem tecidos embrionários em suas extremidades,
responsáveis pelo crescimento da planta em extensão.

Todas as plantas possuem raízes? Não. Nem todas.

Quando estudamos a diversidade vegetal sob o ponto de vista evolutivo,


percebemos que algumas plantas possuem estrutura muito simples: são as
briófitas (Figura 32). Essas pequeninas plantas não são formadas por raízes
verdadeiramente diferenciadas, mas, sim, por órgãos menos complexos; os
rizoides, que cumprem funções semelhantes às raízes e que fixam essas plantinhas
ao substrato. No entanto, na maioria das vezes, tais plantas não ultrapassam
poucos centímetros.

Figura 32. Briófitas sobre o solo – Trilha do Parque Estadual de Campos do Jordão.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

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Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

É importante compreender que o crescimento de muitas raízes é, aparentemente,


um processo contínuo, que só cessa dentro de condições adversas do ambiente,
como períodos de seca ou de baixas temperaturas no solo. O crescimento segue
um padrão de procura por espaços já disponíveis no ambiente, por exemplo, o
espaço deixado por outras raízes que morreram e sofreram decomposição.

Você já parou para pensar quantas partes têm a raiz de uma planta?

Quando andamos em um parque ou jardim e nos deparamos com aquelas árvores


imensas, é comum pensarmos que suas raízes são também grandes e profundas.
Entretanto, será que todas as raízes são iguais? Será que todas têm o mesmo
tamanho e formato?

A diversidade de raízes na natureza é enorme, mas algumas partes básicas podem


ser encontradas em todas elas: é possível observar partes (zonas) a partir de sua
extremidade livre. Estas são descritas a seguir e mostradas na Figura 33.

Coifa – Massa de células vivas que se assemelham à estrutura de um dedal (aquele


usado pelas nossas avós para colocar a linha na agulha de costura e não furar o
dedo). Essa massa de células envolve externamente a ponta da raiz, protegendo-a
de choques mecânicos, amortecendo o choque entre essa extremidade delicada e as
partículas do solo; ajudando a raiz a penetrar no solo e controlando a resposta da
raiz à gravidade (as raízes, de forma geral, possuem gravitropismo positivo, isto é,
crescem a favor da gravidade).

A coifa é especialmente desenvolvida em raízes de plantas aquáticas, protegendo a


sua extremidade do ataque de possíveis microrganismos patogênicos.

Zona de elongação – É o nome que se dá à região logo acima da coifa, também


conhecida como zona de distensão, zona lisa ou zona de crescimento. Nessa
região, está presente o chamado meristema da raiz, um tecido composto por
células embrionárias com ativa capacidade de crescimento. Por isso, é nessa
região que se observa o maior crescimento da raiz.

Zona pilífera – Região na qual se encontram os chamados tricomas radiculares


ou absorventes. Tais estruturas desempenham a importante função de absorver
água e elementos minerais do solo adjacente.

Segundo informações extraídas de Raven, Evert e Eichhorn (2014), em estudo


feito com plantas de centeio de quatro meses de idade, estimou-se que a planta

37
Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

apresentava, aproximadamente, 14 bilhões de tricomas radiculares e área


de absorção em torno de 401 metros quadrados. Caso esses tricomas fossem
colocados em sequência espacial, ocupariam 10.000 quilômetros de extensão.

À medida que as raízes envelhecem, os tricomas radiculares morrem e caem, sendo


substituídos por ramificações da raiz. Essas ramificações são mais desenvolvidas
quanto mais distantes estiverem da ponta da raiz.

Zona de ramificação – Também conhecida como zona suberosa, é a região em


que estão se desenvolvendo as raízes laterais, secundárias ou terciárias. Essas
raízes ampliam a superfície lateral ocupada pelas raízes no solo.

Figura 33. Partes formadoras de uma raiz (Observar a região dos tricomas radiculares).

Raiz lateral

Raiz lateral Raiz lateral


emergindo

Pelos radiculares

Bainha de mucilagem

Coifa

Fonte: Raven, Evert e Eichhorn, 2014.

Quando um jardineiro pretende transplantar determinada espécie de um vaso


para outro, ou de um local do jardim para outro, é muito importante que tome
bastante cuidado com a região mais jovem da raiz, pois tais raízes jovens,
em crescimento, estão envolvidas na absorção de água e íons inorgânicos
do solo. Ao transplantar o exemplar, deve-se remover o máximo de solo
possível ao redor das raízes, de modo que as mais jovens sejam mantidas
junto à planta e não ocorra morte celular.

38
Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

De acordo com a sua origem, as raízes podem ser classificadas como primárias,
secundárias ou adventícias.

Raiz primária: é aquela originada do desenvolvimento do embrião da planta


durante a germinação da semente. É a primeira raiz da planta.

Raiz secundária: é o nome que se dá às raízes laterais da planta, originadas de


ramificações da raiz primária.

Raiz adventícia: é aquela originada do caule.

As raízes podem apresentar, basicamente, dois tipos principais de sistemas


radiculares: o sistema radicular axial ou pivotante e o sistema radicular
fasciculado ou em cabeleira.

Sistema radicular axial ou pivotante: aquele no qual a raiz primária cresce;


permanece durante toda a vida da planta e se desenvolve muito, apresentando
diversas raízes laterais. Nesse tipo de sistema radicular, há uma raiz principal
proeminente, formando o eixo central. Ex.: abacateiro, coentro e mostarda
(Figura 34).

Figura 34. Sistema radicular axial ou pivotante.

Fonte: https://www.pxfuel.com/es/free-photo-qnjsq.

Sistema radicular fasciculado ou em cabeleira: aquele no qual a raiz


primária tem vida curta e logo dá lugar a um emaranhado de raízes adventícias.

39
Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

Nesse tipo de sistema, nenhuma raiz é mais proeminente do que outra, o que
dá a aparência de cabeleira. É o tipo comum de sistema radicular encontrado
nas plantas “angiospermas” do grupo das monocotiledôneas, que também será
estudado mais adiante em nosso curso. Ex.: alho-porró e cebolinha.

Os sistemas radiculares axiais ou pivotantes, em geral, penetram mais


profundamente no solo do que os sistemas fasciculados ou em cabeleira. No
entanto, o fato de os sistemas cabeleira apresentarem-se mais superficiais e
firmemente agarrados às partículas do solo fazem com que sejam especialmente
apropriados à cobertura dos solos, a fim de prevenir a erosão causada pela chuva
ou pelo vento (Figura 35).

Figura 35. Sistema radicular fasciculado ou em cabeleira do alho-porró (Allium ampeloprasum var. porrum, Alliaceae).

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Você já deve ter notado, ao observar um barranco de beira de estrada, que


é comum a presença de gramíneas que forram esse local. As gramíneas
possuem sistema radicular do tipo cabeleira e protegem o solo inclinado
da erosão, ocasionada especialmente pela água da chuva. Caso essas
plantas não estivessem ali, o solo exposto à chuva seria desagregado com
facilidade, provocando desmoronamentos de terra.

Além das funções básicas exercidas pelas raízes, é possível observar na


natureza muitas raízes especializadas, as quais apresentam estruturas e funções
diferentes da maioria, pois nem todas as raízes crescem no meio terrestre.

De acordo com Oliveira e Akisue (2005), as raízes terrestres constituem o tipo


mais comum e conhecido; algumas podem armazenar substâncias de reserva

40
Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

energética, como sacarose e amido. Algumas, como a cenoura, o nabo, o rabanete


e a beterraba (Figura 36), acumulam reservas em suas raízes primárias, enquanto
a dália-de-jardim, a mandioca e a batata-doce as acumulam em suas raízes
secundárias ou laterais.

Figura 36. Raiz tuberosa da beterraba (Beta vulgaris L.; Amaranthaceae).

Fonte: https://www.publicdomainpictures.net/pt/view-image.php?image=118440&picture=raiz-de-beterraba.

As raízes podem se desenvolver tanto no meio aéreo como no aquático. Dentre


as raízes aéreas, é possível citar alguns tipos bem especiais, a exemplo das
tabulares, grampiformes, apressórias e raízes de orquídeas epífitas.

As raízes tabulares são encontradas em plantas arbóreas tropicais e subtropicais;


desenvolvem- se junto à base do vegetal; crescem achatadas como “tábuas”;
ampliam a sua fixação ao substrato; e, ainda, contribuem para a oxigenação
das raízes subterrâneas (exemplo: figueiras). Na Mata Atlântica, o solo é rico
em microrganismos, porém estes competem com as raízes subterrâneas por
oxigênio do solo. A presença de raízes aéreas proporciona a ocorrência de trocas
gasosas que garantem a oxigenação do sistema subterrâneo (Figura 37).

Figura 37. Raízes aéreas do tipo tabular encontradas em figueiras da Mata Atlântica.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

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Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

As raízes grampiformes ocorrem nos nós e entrenós de caules rastejantes de


plantas, por exemplo, a hera, as quais podem escalar suportes como muros e
paredes devido à força preênsil dessas raízes aéreas (Figura 38).

Figura 38. Plantas que se fixam por meio de suas raízes grampiformes.

Fonte: https://pxhere.com/es/photo/965279.

Em ecossistemas tropicais, como na Mata Atlântica, é comum encontrarmos


planta epífita conhecida vulgarmente como imbé: o filodendro. Tal planta
apresenta raízes adventícias aéreas, conhecidas como raízes apressórias, as quais
partem do caule e se dirigem verticalmente para o solo, podendo atingir algumas
dezenas de metros. Quando atingem o solo, essas raízes o penetram e podem se
ramificar. Enquanto elas estão expostas ao ar, permanecem sem ramificações,
desde que não sejam danificadas (Figura 39).

Figura 39. Raízes apressórias do filodendro.

Fonte: https://sv.wikipedia.org/wiki/Philodendron_bipinnatifidum#/media/Fil:Bark1.JPG.

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Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

As orquídeas epífitas, aquelas que se desenvolvem sobre outras plantas, apenas


utilizando-as como substrato e sem ocasionar nenhum prejuízo, costumam
apresentar raízes aéreas características. Tais raízes, de aparência esbranquiçada
e muito delicada, apresentam epiderme múltipla, denominada velâmen, a qual
atua na proteção mecânica e na restrição da perda de água. Pode, ainda, funcionar
como estrutura de absorção de água (Figura 40).

Figura 40. Orquídea epífita Vanda sp. com suas raízes aéreas.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Apesar de a grande maioria das plantas realizar a fotossíntese e produzir o seu


próprio alimento, encontramos na natureza representantes vegetais que possuem
hábito parasita. Segundo Aoyama e Mazzoni-Viveiros (2006), as plantas parasitas
são aquelas que crescem ligadas a uma hospedeira por intermédio de estruturas
especializadas (os haustórios) que penetram no interior da planta e agem como
órgãos sugadores. Podemos classificá-las em hemiparasitas ou holoparasitas.

As plantas classificadas como hemiparasitas desenvolvem a parte aérea com


folhas que possuem clorofila e realizam o processo fotossintético. Contudo,
segundo Corrêa (2010), dependem da planta hospedeira para retirar água
e nutrientes minerais. As holoparasitas, por sua vez, são parasitas totais
devido à ausência de clorofila e à não realização de fotossíntese. Desse modo,
dependem completamente da planta hospedeira em relação a água, sais minerais
e matéria orgânica já pronta.

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Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

Nas chamadas ervas-de-passarinho, as sementes germinam sobre a casca de


outras plantas, sendo revestidas por substância adesiva. A primeira raiz dirige-se
para o caule suporte e forma uma estrutura chamada apressório, a partir da qual
sai o primeiro haustório, que penetra nos vasos condutores de seiva da planta
hospedeira. Esse tipo de raiz também ocorre em outras plantas parasitas, como o
cipó-chumbo (Figura 41).

Figura 41. Cipó-chumbo (Cuscuta sp.) crescendo sobre planta hospedeira.

Fonte: https://pixabay.com/es/photos/enredados-amarbel-2777693/.

Além da morfologia externa, é importante também compreendermos a estrutura


interna de uma raiz: a anatomia é relativamente simples. Ela é constituída por
tecido de revestimento, a epiderme; por tecido fundamental denominado
tecido cortical (comumente especializado no acúmulo de reservas nutritivas);
e pelos tecidos vasculares, os quais formam um cilindro central, que pode ser
sólido ou oco.

Sabemos que uma importante função associada às raízes é a absorção de água


e sais minerais do solo. Essa função é facilitada pela presença de tricomas
radiculares (ou absorventes) na estrutura da raiz. Tais tricomas são extensões
tubulares das células da epiderme (tecido de revestimento da raiz). Com a presença
desses tricomas, a superfície de contato com o solo é ampliada, facilitando a
absorção de água e íons inorgânicos, necessários ao crescimento da planta.

Apesar de a epiderme exercer importante papel no revestimento da raiz, o


tecido cortical é o que ocupa a maior parte do corpo primário de muitas raízes.
Esse tecido é composto por células armazenadoras de amido, sem cloroplastos,
e, entre elas, há numerosos espaços cheios de ar, o que é fundamental para a

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Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

aeração das células da raiz. Na Figura 42, podemos observar numerosos grãos de
amido (substância de reserva energética) nas células do tecido cortical.

Figura 42. Corte transversal da raiz de botão-de-ouro observada ao microscópio.

Fonte: https://search.creativecommons.org/photos/27a893b1-8f05-45de-b8dc-91545d59c764.

A camada mais interna do tecido cortical é chamada de endoderme. Tal camada é


constituída por células arranjadas de forma compacta, sem espaços intercelulares,
as quais são formadas, em muitas plantas, por poderosos reforços de lignina ou
suberina (substâncias impermeabilizantes). Provavelmente, a presença desses
reforços nas células da endoderme esteja relacionada a não permitir a saída ou a
entrada de substâncias estranhas, a não ser que estas atravessem o citoplasma, em
pontos especiais, nos quais as membranas celulares selecionariam o que pode ou
não entrar.

A terceira camada interna da raiz é formada pelo chamado cilindro central, o qual
consiste nos tecidos vasculares presentes na raiz (xilema e floema) e em uma ou
mais camadas de células não associadas ao transporte de seiva – o periciclo. Este
fica em contato com a endoderme.

O periciclo também apresenta a mesma origem que os tecidos vasculares


e desempenha vários papéis importantes na raiz, como dar origem às raízes
laterais (aquelas raízes que partem da raiz primária, vista anteriormente).

A parte mais interna do cilindro central (Figura 43) é ocupada pelo xilema primário
(tecido condutor de água e sais minerais da planta), o qual se distribui e forma
estrutura em formato de estrela. Entre os braços do xilema, forma-se um outro
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tecido condutor chamado floema primário (tecido condutor de água e substâncias


orgânicas).

Figura 43. Corte transversal de uma raiz que apresenta as diferentes camadas de tecidos. Observar que há células coradas
em vermelho no centro da imagem: são do xilema.

Fonte: https://search.creativecommons.org/photos/760ebfb8-df44-4e40-bee2-bf68d8743d39.

Morfologia externa e interna das flores típicas

A flor é o elemento de reprodução nas angiospermas (plantas com sementes,


flores e frutos), consideradas as mais abundantes e diversificadas da atualidade,
as quais dominam o ambiente terrestre.

A flor é compreendida, segundo Oliveira (2003), como um ramo de crescimento


determinado, provido, quando completo, de dois verticilos férteis (carpelo
e estame) e dois verticilos estéreis (sépalas e pétalas), além de pedúnculo e de
receptáculo floral (Figura 44).

Figura 44. Partes formadoras de uma flor.

Fonte: http://qual-significado.blogspot.com/2018/12/partes-da-flor.html.

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Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

O nome verticilo floral representa o conjunto de elementos semelhantes existentes


numa flor. Portanto, qualquer um dos verticilos presentes pode ser encontrado
sozinho ou em conjunto, sendo atribuída uma nomenclatura específica para o
agrupamento de tais estruturas.

Os carpelos são os verticilos férteis femininos da flor, formados por um ovário


na base (em que estão contidos os óvulos); por prolongamento (o estilete) e
porção terminal (o estigma), em que se aderem os grãos de pólen após o seu
transporte por polinização cruzada. O conjunto de carpelos de uma flor forma
o gineceu.

Os estames são formados por um pedúnculo fino, denominado filete, que


sustenta as anteras, no qual estão presentes os grãos de pólen. O conjunto de
estames de determinada flor constitui o chamado androceu. Na Figura 45, é
possível observar tais estruturas.

Figura 45. Flor de Chimaphila maculata – Estrutura: 5 pétalas, 10 estames que formam o androceu e o gineceu central,
esverdeado. Ao lado, um botão.

Fonte: https://search.creativecommons.org/photos/4d3aeee6-dafc-4d4e-9ec8-d2359ea4fe95.

As flores podem apresentar os dois verticilos férteis (carpelo e estame) na


mesma flor ou cada flor apresentar um dos verticilos. No primeiro caso, a flor é
denominada monoclina ou bissexual (situação muito comum e prevalecente
dentro do grupo das angiospermas). No segundo caso, a flor é denominada
díclina ou unissexual.

Segundo Raven, Evert e Eichhorn (2014), a maior parte das flores apresenta tanto
estruturas masculinas como femininas (monoclinas), mas há nomenclaturas

47
Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

especiais para aquelas que não possuem o androceu ou o gineceu: se a flor


apresenta apenas androceu, esta é chamada de flor estaminada; se apresenta
apenas gineceu, é chamada flor carpelada. Se estas forem encontradas em plantas
separadas, a espécie é denominada dioica, a exemplo das plantas de mamona.

Os verticilos estéreis da flor costumam estar presentes em conjuntos. O conjunto


de pétalas de uma flor é denominado corola e o conjunto de sépalas, cálice.
Desse modo, o conjunto cálice + corola é denominado perianto.

Nos representantes da família Liliaceae (figura 46), por exemplo, o cálice e a


corola quase não se distinguem, a não ser pela situação (o cálice é o invólucro
mais externo). Nesse caso, chamamos cada elemento estéril de tépala. O seu
conjunto é denominado perigônio.

Figura 46. Flores monoclinas de lírio com androceu e gineceu. Observe os verticilos estéreis que constituem um perigônio,
formado por seis tépalas.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

O cálice e a corola são considerados acessórios, pois não tomam parte direta na
reprodução. Entretanto, também desempenham, cada qual, funções importantes
na flor, por exemplo, as pétalas atuam na atração de agentes polinizadores, isto
é, auxiliam na atração de animais que possam transportar os grãos de pólen
da estrutura masculina de uma flor para a estrutura feminina de outra flor.
Por essa razão, geralmente, as pétalas podem apresentar variados padrões de
coloração, que as tornam atrativas aos animais, sejam insetos ou aves (Figura 47).

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Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

Figura 47. Flores de azaleia (Rhododendron simsii, Ericaceae). Essa espécie é formada por flores coloridas, com tonalidades
róseas, vermelhas e arroxeadas.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Por outro lado, é muito importante esclarecer que nem sempre as flores possuem
corola tão colorida ou chamativa no aspecto visual. Há inúmeras flores cujas
pétalas são pequenas, pouco coloridas ou esbranquiçadas.

Aí você pode perguntar: essas plantas não possuem agentes polinizadores para
auxiliar na reprodução? Sim, possuem. No entanto, a atratividade ocorre por
meio de outras estratégias, como odor marcante; abundância de néctar ou
presença de pólen comestível (Figura 48).

Figura 48. Borboleta se alimentando do néctar de uma pequena flor.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

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Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

A dama-da-noite (Cestrum nocturnum L., Solanaceae), cujas flores são pequenas


e de coloração creme-amarelada, abrem-se à noite e exalam intenso perfume; o
jasmim (Jasminum spp., Oleaceae), com suas flores brancas, de formato estrelado
e também muito perfumadas; e o manacá-de-cheiro Brunfelsia pauciflora (Cham.
& Schltdl.) Benth, Solanaceae, cujas flores são de coloração azul-violeta ao abrir,
tornam-se lavanda e, então, brancas, também muito perfumadas, são espécies
muito utilizadas no paisagismo e atraem diversos animais polinizadores.

As sépalas, por sua vez, que constituem o cálice, podem ser verdes ou
coloridas e envolvem as outras partes florais. Há situações, porém, nas quais
as sépalas tornam-se vivamente coloridas, exercendo a função de atratividade
desempenhada geralmente pelas pétalas. É o caso encontrado na planta chamada
de esporinha.

Em outros casos na natureza, folhas modificadas, denominadas brácteas, podem


atuar na atração de agentes polinizadores. Isso geralmente ocorre quando as flores
apresentam periantos muito pequenos e desprovidos de atratividade. Exemplos
comuns são encontrados no antúrio (Anthurium andraeanum Linden, Araceae),
na primavera (Bougainvillea spectabilis Wild., Nyctaginaceae), na asa-de-papagaio
(Euphorbia pulcherrima Willd. Ex Klotzsch, Euphorbiaceae), no lírio-da-paz
(Spathiphyllum wallisii Regel, Araceae); no copo-de-leite (Zantedeschia aethiopica
(L.) Spreng., Araceae), dentre outras plantas muito conhecidas e utilizadas no
paisagismo (Figura 49).

Figura 49. Primavera (Bounganvillea spectabilis Wild.). Observe as pequeninas flores de coloração creme envoltas por
brácteas vivamente coloridas e atrativas aos polinizadores.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

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Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

Não restam dúvidas de que as plantas com flores exercem enorme importância
no paisagismo, seja na decoração de festas e no preparo de arranjos com flores de
corte; seja no cultivo de plantas em vasos e na montagem de jardins residenciais
em condomínios. Suas cores, seus perfumes e sua variedade de formatos e
tamanhos proporcionam uso em diferentes projetos.

Lira Filho (2002) afirma que, no mundo criado pelo homem, as chamadas
paisagens construídas, a presença das cores é constante, assim como na natureza
encontramos imensa diversidade de padrões. Segundo o autor, a utilização
adequada das cores, seja em paisagismo, pintura, desenho, arquitetura, cinema
ou demais manifestações artísticas, é um precioso dom que deve ser explorado
em benefício de quem usufrui das obras de arte, dentre elas os jardins. As
flores, com suas belas formas e padrões de coloração, são elementos que
contribuem para a beleza e delicadeza de projetos paisagísticos.

Qualquer uma das partes florais pode faltar ou ser bastante reduzida. Também
pode ocorrer de os elementos da flor permanecerem unidos uns aos outros, até
mesmo quando são diferentes. Por exemplo, as sépalas podem estar fundidas,
como na flor de Hibiscus rosa-sinensis; ou os estames podem estar fundidos à
corola, como nas flores férteis do girassol.

O ovário, conforme é possível observar na Figura 50, é a parte basal do carpelo


(verticilo feminino da flor), no interior do qual estão presentes os óvulos. A
posição do ovário na flor pode variar em relação aos outros elementos florais.

Figura 50. Flor em corte e verticilos férteis: androceu, com numerosos estamos, e gineceu, formado por um carpelo. Observe
o detalhe do ovário na base do carpelo.

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Prunus_longitudinal_half_cut_flower_ovary_style_stamens_hypanthium.svg.

Quando não há soldadura do ovário com as outras partes florais, a flor é


chamada de hipógina e o ovário, de súpero. Quando o ovário é livre, mas há
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Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

soldadura da base das outras partes florais, formando estrutura denominada


hipanto, chamamos a flor de perígina; e quando o ovário aparece soldado ao
hipanto, a flor é chamada de epígina e o ovário, de ínfero. Uma planta que
apresenta ovário ínfero é a fúcsia ou brinco-de-princesa (Fuchsia hybrida Hort.
ex Siebert & Voss, Onagraceae) (Figura 51). Essa herbácea apresenta flores
pendentes muito visitadas por beija-flores (LORENZI; SOUZA, 2008).

Figura 51. Brinco-de-princesa com flores de ovário ínfero.

Fonte: https://search.creativecommons.org/photos/c8af209a-593d-4c51-a85a-e95a0f688a62.

O interior do ovário é preenchido por uma cavidade denominada lóculo. O


número de lóculos geralmente está associado ao número de carpelos, pois os
septos que dividem a cavidade do ovário se formam no ponto de união dessas
folhas. Por exemplo, quando fazemos o corte transversal do ovário de uma flor
de lírio, observamos claramente a estrutura trímera da flor (com elementos
presentes em múltiplos de três), isto é, a presença de três lóculos bastante nítidos.
Dentro de cada lóculo, encontramos óvulos (Figura 52).

Figura 52. Corte transversal do ovário de abóbora – Cucurbita pepo (Cucurbitaceae): óvulos no interior dos lóculos.

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cucurbita_pepo_%22zapallo_de_Angola%22_semiller%C3%ADa_La_Paulita_-_flor_
femenina_(AM10)_ovario,_corte_transversal,_etiquetas_(septos_%C3%B3vulos_exocarpio_mesocarpio_endocarpio).jpg.

52
Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

O número de óvulos no interior do ovário é bastante variável. Eles ficam presos


a uma determinada região da parede do ovário, denominada placenta. Por essa
razão, a disposição dos óvulos no interior do ovário pode ser importante para a
identificação de uma planta. Chamamos essa disposição de placentação (Figura
53).

Figura 53. Tipos de placentação encontrados nas flores.

Fonte: http://morfologiataxonomiavegetal.blogspot.com/2015/08/flor-tipos-de-placentacao-do-ovario.html.

É muito importante destacar que, para que a reprodução das plantas aconteça,
é necessária a ocorrência da polinização das flores e posterior fecundação dos
óvulos presentes no interior do ovário. O que significa a palavra “polinização”?

Polinização, segundo Pereira e Putzke (2010), é o nome dado à transferência


dos grãos de pólen dos estames para os estigmas. Quando esse processo de
transferência ocorre entre flores da mesma espécie, mas que se encontram em
plantas separadas, é denominado polinização cruzada. Esta pode ser realizada
pelo vento ou por animais polinizadores, como insetos, pássaros, morcegos,
dentre outros.

Raven, Evert e Eichhorn (2014) afirmam que a polinização por insetos


provavelmente auxiliou na evolução inicial das angiospermas. Com o tempo e
a maior diversificação desse grupo de plantas, as relações com os polinizadores
mais especializados foi se estreitando e muitas dessas plantas mostram, hoje,
padrões morfológicos bastante peculiares, a exemplo dos membros das famílias
Orchidaceae e Asteraceae.

A família Orchidaceae, de acordo com Souza e Lorenzi (2012), é de distribuição


cosmopolita, com cerca de 850 gêneros e 20.000 espécies (excluindo-se os
híbridos, obtidos por melhoramento e seleção artificiais, que computam mais de

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Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

60.000 registrados). É considerada a maior família de angiospermas, em número


de espécies. No Brasil, já foram catalogadas cerca de 2.500 espécies.

Como características morfológicas, as orquidáceas possuem flores vistosas,


monoclinas ou raramente diclinas, com corola formada por pétalas em múltiplos
de três (corola trímera), com uma das pétalas distintas das demais (labelo); um
único estame, fundido ao estilete, os quais formam a coluna ou ginostêmio,
com grãos de pólen agrupados em massas, denominadas polínias. Na Figura 54,
é possível observar um representante dessa família, com detalhe para o labelo
(pétala diferenciada e bastante chamativa aos agentes polinizadores, em especial
abelhas).

Figura 54. Flores de orquídea com as pétalas modificadas (labelos). Note que apresentam formato e coloração diferenciados
para a atração de agentes polinizadores.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

A família Asteraceae também possui distribuição cosmopolita, com cerca de


1700 gêneros e 30.000 espécies; 2.000 somente no Brasil. Muitas são cultivadas
para fins ornamentais, podendo-se destacar: margarida (Leucanthemum vulgare),
crisântemo (Dendranthema grandiflorum) e girassol (Helianthus annuus), assim
como variadas plantas aromáticas, medicinais e alimentícias, como camomila
(Matricaria recutita); guaco (Mikania spp.), alface (Lactuca sativa) etc.

Segundo Souza e Lorenzi (2012), as flores das asteráceas são reunidas em


inflorescências do tipo capítulo, as quais possuem as flores dispostas sobre
receptáculo em formato de disco. É comum diferenciarmos as chamadas flores do
raio, mais externas e altamente modificadas, que podem ser estéreis; e as flores

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do disco, mais internas e pequeninas, bissexuadas, com um único óvulo por


ovário. Na Figura 55, podemos observar a inflorescência do girassol.

Figura 55. Inflorescência do tipo capítulo do girassol (Helianthus annuus, Asteraceae).

Fonte: https://search.creativecommons.org/photos/22f68eff-5126-4525-82e1-1a4c6b8e1b78.

Raven, Evert e Eichhorn (2014) afirmam que a eficiência na reprodução das


asteráceas está justamente no capítulo. De modo geral, este tem a aparência de
uma grande flor, porém, ao contrário de muitas flores solitárias, amadurece em
apenas alguns dias. As flores férteis se abrem em série, com padrão espiralado,
e os óvulos podem ser fecundados por gametas masculinos provenientes de
diferentes doadores.

Somente as asteráceas possuem flores reunidas em inflorescências?

Na verdade, não. Muitas espécies de plantas também organizam suas flores em


conjuntos.

Oliveira e Akisue (2005) definem inflorescência como o conjunto de flores


agrupadas regularmente sobre ramos especiais da planta. Nesse sentido,
seu eixo é de origem caulinar e as estruturas presas a esse eixo são folhas
modificadas.

Muitas plantas que reúnem suas flores em inflorescências são importantes para
o paisagismo, além do girassol, da margarida e do crisântemo. Interessante
exemplo é o das hortênsias, as quais possuem inflorescências reunidas em
umbelas compostas (Figura 56).

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Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

Figura 56. Inflorescências de hortênsia (Hydrangea macrophylla, Hydrangeaceae) – Inflorescências compactas, com flores
estéreis brancas, róseas ou azuis. A variação nos padrões de coloração das flores está associada ao pH do solo. Note a
beleza das folhagens.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Sob o ponto de vista do paisagismo, Scace (2001) recomenda que as composições


florais sempre contenham flores principais, flores secundárias e folhagens de
corte, com cor, tamanho, linha, padrão, forma e textura capazes de representar
equilíbrio, proporção, contraste, ritmo, unidade e harmonia. Stumpf et al. (2009)
afirmam que as flores principais (a exemplo de rosas, crisântemos e gérberas)
constituem o foco de atenção, pois ficam em destaque; porém as flores secundárias
e as folhagens são capazes de promover o contraste de cores. Elas preenchem
espaços e agregam volume aos arranjos, proporcionando grande variedade de
composições ao florista (Figura 57).

Figura 57. Arranjo floral com girassóis.

Fonte: https://www.pikist.com/free-photo-syttv/pt.

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Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

Morfologia externa e interna de frutos e sementes

O fruto é um órgão da planta que, de maneira geral, é originado do


desenvolvimento do ovário ou de um conjunto de ovários de determinada
flor, com uma ou várias sementes em seu interior. Cada fruto pode, ou não,
conter outras partes florais em sua formação.

Quando falamos sobre os frutos na botânica, é comum que algumas pessoas


tenham dúvidas sobre determinados termos utilizados na linguagem popular
ou mesmo na literatura: são os termos “pseudofruto” e “fruta”. O que cada um
significa?

Segundo Lorenzi et al. (2006), chamamos de pseudofruto qualquer estrutura


acessória à semente que seja capaz de atrair dispersores, porém que não seja
originada do ovário da flor, a exemplo do caju (Figura 58).

Figura 58. Pseudofruto do caju, cujo fruto verdadeiro é a castanha. A parte carnosa é originada do pedúnculo floral
desenvolvido.

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/caju-frutas-maduro-porca-%C3%A1rvore-633918/.

Fruta, por sua vez, segundo Lorenzi et al. (2006), é o nome dado aos frutos e
pseudofrutos consumidos in natura pela espécie humana, no seu todo ou em parte
(casca, polpa ou semente), ainda que possam, eventualmente, ser consumidos
após algum tipo de preparo. Dessa forma, abóbora e azeitona são frutos, porém,
na botânica, não são popularmente chamadas de frutas, porque precisam ser
consumidas após algum tipo de preparo.

O único grupo de plantas que apresenta frutos é o das angiospermas, cujo nome
vem do grego angeion = urna, vaso, e sperma = semente. Significa “sementes
inseridas em uma urna”.

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Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

Geralmente, o ovário só se transforma em um fruto após a polinização e


consequente fecundação do gineceu da flor. Na literatura, admitem-se as
possibilidades de grãos de pólen carregarem um hormônio que determine o
desenvolvimento do ovário, e de a semente em formação liberar hormônios
que induzam o grande desenvolvimento da parede do ovário, formando o fruto.
Conhecem-se, no entanto, casos de formação de frutos sem a ocorrência dessa
fecundação. São os chamados frutos partenocárpicos (do grego: parthenos =
virgem; karpos = fruto), os quais não apresentam sementes. As bananas cultivadas
são exemplos familiares dessa condição excepcional de frutos que normalmente
se desenvolvem por partenocarpia.

No caso da bananeira, a reprodução natural assexuada (vegetativa) ocorre


por meio de brotos que surgem do grande rizoma (caule subterrâneo). Já o
limão-taiti e a laranja-baía, frutos que também não apresentam sementes, são
variedades selecionadas pelo homem, por técnicas de melhoramento genético, e
mantidas propagação vegetativa.

Os frutos podem apresentar em seu interior uma ou mais sementes, e, quando são
ingeridos, contribuem para a sua dispersão na natureza. Com isso, auxiliam na
propagação e na distribuição geográfica das variadas espécies de angiospermas.
Em muitas espécies, os frutos são extremamente leves e apresentam expansões
em forma de asas (frutos alados), que permitem seu transporte pelo vento,
a exemplo dos frutos da tipuana (Tipuana tipu, Fabaceae), tão utilizada no
paisagismo urbano (Figura 59).

Figura 59. Folhas e frutos alados de Tipuana tipu (Fabaceae).

Fonte: https://www.publicdomainpictures.net/pt/view-image.php?image=74675&picture=arvores-tipuana-folhas-verdes-e-semente.

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Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

Outras espécies possuem frutos dotados de ganchos, que se emaranham nos


pelos ou nas penas de animais e são por eles carregados. Certos frutos, por
serem vistosos e saborosos, são devorados por pássaros e por outros herbívoros,
como morcegos frugívoros, que os eliminam em locais distantes de onde são
produzidos. Exemplo interessante de adaptação à dispersão da semente é o
fruto do coco-da-baía, dotado de envoltório fibroso e cheio de ar que permite
sua flutuação. Desse modo, o coco é transportado pelas correntes marinhas até
praias onde possa germinar.

Um fruto é constituído de duas partes fundamentais, quais sejam, pericarpo e


semente. Na maioria dos frutos conhecidos, o pericarpo é constituído de três
partes, porém, em alguns frutos, ele apenas funciona como a casca do fruto,
sendo a parte comestível um arilo (envoltório carnoso da semente).

No maracujá (Figura 60), encontramos o pericarpo dividido em três partes


(epicarpo, mesocarpo e endocarpo), mas a parte amarela que fica ao redor das
sementes, e que é mais aproveitada na alimentação, é o arilo.

Figura 60. Frutos do maracujá.

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/maracuj%C3%A1-videira-verde-359494/.

O pericarpo origina-se do desenvolvimento da parede do ovário e é constituído de


três partes, em geral, a saber, epicarpo ou exocarpo; mesocarpo e endocarpo.

Epicarpo: originado da epiderme externa do carpelo. Pode conter estômatos e


tricomas protetores.

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Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

Mesocarpo: originado do mesófilo da folha carpelar. É quase sempre espesso e


acumula substâncias nutritivas.

Endocarpo: originado da epiderme interna das folhas carpelares. É a camada mais


interna do fruto, a qual envolve a semente. Também pode conter substâncias
nutritivas. Em muitos casos, é a parte comestível do fruto.

Em muitos frutos, uma ou mais camadas do pericarpo mantêm alto teor de água
durante o processo de amadurecimento. Dessa forma, são denominados frutos
carnosos. No entanto, aqueles que secam durante a maturação são chamados
de frutos secos, os quais podem ser classificados em frutos secos deiscentes e
frutos secos indeiscentes.

Segundo Nabors (2012), os frutos secos deiscentes são aqueles que se abrem
quando amadurecem, e os indeiscentes permanecem fechados no período de
maturação. Quando um fruto deiscente amadurece e se abre, as sementes se
dispersam com o fruto ainda preso à planta-mãe, a exemplo dos ipês, das carobas,
da pata-de-vaca (Figura 61) e da leucena, muito encontrados em ruas, praças
e parques das zonas urbanas. Tais frutos, ao se abrirem presos à planta-mãe,
podem apresentar diferentes tipos de semente: algumas aladas (transportadas
pelo vento); outras achatadas e comestíveis para animais.

Algumas vezes, o endocarpo é impregnado com lignina (substância


impermeabilizante que lhe confere rigidez). Então, entra na formação do caroço,
como no pêssego, na manga, na azeitona, na ameixa, entre outros. Vimos,
portanto, que caroço não é sinônimo de semente.

Figura 61. Frutos do tipo legume deiscente da pata-de-vaca (Bauhinia variegata, Fabaceae).

Fonte: http://www.cnip.org.br/banco_img/Pata%20de%20Vaca/bauhiniaforficata3.html.

60
Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

Afinal, o que é uma semente?

A semente pode ser considerada como a estrutura formada pela maturação do


óvulo nas plantas com flores após a fecundação. Uma semente é constituída por
casca ou tegumento, por reserva nutritiva e pelo embrião, que será desenvolvido
após o início da germinação para formar uma nova planta.

As sementes representam importante avanço na história evolutiva das plantas,


pois inserem um embrião em seu interior, protegido das variações bruscas do
ambiente. Oliveira (2003) as citam como o “embrião pronto para viagem”. Pelo
consumo de frutos, animais atuam como verdadeiros dispersores das sementes,
auxiliando na propagação das espécies de plantas na natureza.

Um profissional da área de biologia, agronomia, engenharia florestal e outros


profissionais que iniciem determinado empreendimento, de modo a construir e
comercializar mudas de plantas nativas, precisam de sementes de boa qualidade.
Segundo Guardia et al. (2018), a obtenção de sementes e mudas de espécies
nativas, que possuam boa qualidade, necessitam do uso de técnicas apropriadas,
de modo a garantir a integridade física, fisiológica e genética das sementes.
A partir de uma matriz, presente na natureza ou cultivada, é possível coletar
sementes na parte superior da copa (se for espécie arbórea) ou diretamente
do chão, mas a coleta não deve ser superior a 50% das sementes e dos frutos
produzidos pela árvore, de modo a garantir a reprodução natural do exemplar e
os recursos alimentícios para a fauna silvestre.

Lorenzi et al. (2006) afirmam que muitas plantas frutíferas podem ser cultivadas
em sítios, chácaras, quintais, áreas externas e até em pequenos espaços
residenciais, em vasos ou canteiros. Segundo os autores, a utilização de frutíferas
no paisagismo ainda é considerada tímida, com uso de poucas espécies (em
particular mirtáceas), porém uma possível justificativa para tal fato possa ser a
dificuldade de obter exemplares de frutíferas adultas nativas, como a grumixama
(Eugenia brasiliensis Lam., Myrtaceae) e a bacupari (Garcinia brasiliensis Mart.,
Clusiaceae), todas de grande beleza e valor ornamental (Figura 62).

61
Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

Figura 62. Bacupari (Garcinia brasiliensis Mart., Clusiaceae) – Exemplar adulto.

Fonte: https://www.arvores.brasil.nom.br/new/bacupari/index.htm.

Backes (2013) considera o termo “paisagismo produtivo”, o qual pode ser


definido como a criação de macro e micropaisagens com a finalidade de produzir
alimentos, plantas terapêuticas, combustíveis, dentre outros, sem perder a
“estética ecológica” de cada local. Plantas frutíferas constituem importante
grupo dentro do paisagismo produtivo, cujo planejamento deve levar em
consideração o espaço adequado ao crescimento da espécie e as condições de
insolação adequadas. Sua utilidade não se restringe somente à alimentação
humana, mas também ao seu aspecto ecológico, devido à capacidade de atração
de animais, particularmente abelhas melíferas e aves.

Gressler, Pizo e Morellato (2006) afirmam que a morfologia floral e a presença de


frutos exclusivamente carnosos possibilitam que as plantas da família Myrtaceae
(como a pitanga, a jabuticaba, a goiaba, dentre outras) sejam polinizadas por
abelhas, com grande interesse apícola. Por outro lado, a grande variedade de
seus frutos possibilita que essas plantas possuam muitos dispersores de sementes,
principalmente aves e macacos, o que as tornam muito importantes para os
projetos de paisagismo produtivo (Figura 63).

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Figura 63. Frutos da pitangueira (Eugenia uniflora, Myrtaceae).

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/pitangueira-pitanga-fruta-natureza-2499130/.

Silva (2008) cita que há complexa discussão sobre o uso de frutíferas na


arborização urbana, mas que muitas espécies arbóreas frutíferas possuem valor
paisagístico, a exemplo do araçá (Psidium cattleyanum Sabine, Myrtaceae) e
da corticeira (Erythrina falcata Benth, Fabaceae). O araçá, por exemplo, não
apresenta floração exuberante e possui frutos pequenos, atrativos às aves.
Apesar do período curto de frutificação, suas folhas e o tronco apresentam
beleza e textura peculiares. A corticeira, por sua vez, apresenta floração
exuberante, mas só é indicada para uso em praças e parques, em decorrência do
porte elevado.

63
CAPÍTULO 3
Fisiologia vegetal

Os conteúdos abordados na fisiologia vegetal têm como finalidade demonstrar


a complexidade das plantas e o seu funcionamento. De maneira alguma
detalharemos todos os processos fisiológicos que ocorrem nas plantas, mas
descreveremos alguns importantes aspectos básicos.

Na morfologia e anatomia, o intuito é descrever as estruturas formadoras dos


seres estudados pela botânica, desde as pequeninas células até o corpo das
plantas com flores; a diversidade de espécies é foco de estudo da sistemática; e a
fisiologia reúne todos esses conhecimentos e busca explicar como as estruturas
e os compostos químicos constituintes das plantas auxiliam na sua manutenção,
no seu crescimento e desenvolvimento.

Absorção de água e íons pelas raízes


A capacidade das plantas terrestres para absorver água e elementos minerais do
solo depende do seu sistema de raízes, cujo crescimento é contínuo, desde que as
condições do solo assim permitam.

Segundo Nabors (2012), a maior parte da absorção de água e elementos minerais


do solo ocorre através dos tricomas radiculares. Nas plantas que possuem sistema
radicular axial, os tricomas podem atingir maiores profundidades do que em
plantas com sistema fasciculado.

Que processo fisiológico explica esse mecanismo de absorção?

Os tricomas radiculares são projeções da epiderme da raiz, constituídos por


células vegetais, as quais apresentam anatomia característica dos organismos
eucariontes, com algumas peculiaridades: parede celular rígida que envolve
membrana plasmática e citoplasma com muitas organelas, dentre elas um vacúolo
de suco celular, o qual é capaz de regular a entrada e saída de água.

Na Figura 64 está representada uma célula vegetal, na qual é possível observar


membrana espessa que envolve a célula (parede celular). Logo abaixo da parede,
encontram-se a membrana plasmática, a qual envolve o citoplasma; a matriz
na qual se encontram diversas organelas; e o núcleo celular. O vacúolo de suco
celular (em azul) regula o equilíbrio osmótico da célula.

64
Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

Figura 64. Estrutura básica de célula vegetal.

Fonte: https://brainly.com.br/tarefa/27573360.

É possível verificar que devem ocorrer processos de osmose e difusão para


que aconteça a passagem de água do solo para o interior das raízes. Utiliza-se
o termo “potencial hídrico” para designar de que forma a água tende a ser
transportada entre uma célula vegetal e o meio extracelular, e também entre as
diferentes partes da planta, por exemplo, raízes e folhas. A água sempre tende a
fluir do ponto com maior potencial para o ponto com menor potencial hídrico.
O potencial hídrico dos tricomas radiculares indica se a planta necessita, ou não,
de água, e estes também competem pela água presente no solo (NABORS, 2012).

A água e os elementos minerais, ao passarem da solução do solo para o interior


das raízes, devem atingir o cilindro vascular, mais especificamente devem chegar
ao xilema. É a partir do xilema que a água e os nutrientes nela contidos serão
transportados da raiz em direção às partes aéreas da planta, chegando às folhas.

O xilema é um tecido vascular complexo. É formado, nas pteridófitas e


gimnospermas, por células denominadas traqueídes e, nas angiospermas,
pelos elementos de vaso, além de células do parênquima. As traqueídes e os
elementos de vaso são células mortas devido à impregnação de lignina, um
polissacarídeo que confere rigidez e impede a ocorrência de trocas metabólicas
com o meio externo.

Vias de transporte de água e elementos minerais


nas raízes
Nas raízes, os diferentes tecidos são formados por células pelas quais a água e os
elementos minerais podem circular, seja por dentro das células, seja no interior de
suas membranas ou, ainda, nos espaços intercelulares.

65
Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

Tanto nas raízes como nas partes aéreas das plantas, água e nutrientes podem ser
transportados pela via apoplasto e pela via simplasto (Figura 65). O apoplasto
é a via pela qual a solução vinda do solo se difunde pelas paredes celulares e pelo
espaço intercelular sem nunca atravessar as membranas e entrar nas células; o
simplasto, por sua vez, caracteriza-se pelo deslocamento da solução célula a
célula, por meio de conexões entre os protoplastos denominadas plasmodesmos
(KERBAUY, 2004).

Figura 65. Representação das vias apoplasto e simplasto para transporte de água e solutos no interior das raízes. A) via
apoplasto; B) via simplasto; e C) via conhecida como transcelular, a qual ocorre de célula a célula, por meio das membranas
plasmáticas e do tonoplasto – Membrana do vacúolo.

Epiderme

A. Apoplástico

B. Simplástico
Endoderme

Estria de Caspary
Pelo radicular Periciclo

C. Transcelular

Córtex
Elementos traqueais

Fonte: Raven, Evert e Eichorn, 2014.

Segundo Kerbauy (2004), os íons e solutos podem se deslocar passivamente


(sem consumo de energia da célula) pela via apoplasto até chegarem à barreira
principal, representada pela endoderme. Contudo, para prosseguir seu caminho
até o xilema, deve se deslocar pela via simplasto.

Transporte de nutrientes minerais e substâncias


orgânicas
Mesmo sabendo que a osmose e a difusão são processos físicos que fazem com
que a água e os elementos minerais sejam transportados do meio intracelular
para o meio extracelular, e vice-versa, esses mecanismos não seriam capazes de
impulsionar a solução das raízes para as folhas em plantas de grande porte.

66
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Em certas plantas, é possível observar a eliminação de pequenas gotículas de


água pela margem das folhas, fenômeno este denominado gutação (Figura
66). Pesquisadores explicam esse fenômeno com base na pressão positiva da
raiz, causada por conta do potencial hídrico muito baixo das células da raiz
em relação à solução do solo. Segundo Nabors (2012), no passado, acreditava-se
que essa pressão da raiz fosse responsável pelo transporte da água das raízes
até o topo de árvores altas, funcionando como uma bomba, mas atualmente
sabe-se que essa pressão só é capaz de movimentar a água por alguns centímetros,
preferencialmente ao amanhecer, em condições nas quais a água do solo seja
abundante e o ar esteja saturado de vapor de água (OLIVEIRA, 2008).

Figura 66. Fenômeno da gutação nas folhas da espécie Alchemilla vulgaris (Rosaceae).

Fonte: Raven, Evert e Eichhorn, 2014.

Se a pressão positiva da raiz permite que a água chegue às folhas em apenas


plantas pequenas, cuja distância das raízes até as partes aéreas é de algumas
dezenas de centímetros, como é possível que a água e os elementos minerais
retirados do solo pelas raízes cheguem às folhas de espécies arbóreas, como
eucaliptos ou grandes sequoias, com 100 m de altura (Figura 67)?
Figura 67. Eucalipto – Representante das angiospermas cujos indivíduos têm crescimento rápido e podem atingir 100 m de
altura.

Fonte: Raven, Evert e Eichhorn, 2014.

67
Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

Parece difícil acreditar que a água e os solutos consigam chegar às folhas nessas
árvores enormes, mas os fisiologistas vegetais encontraram uma explicação,
baseada em três características da molécula de água: a adesão, a coesão e a tensão.

Segundo Nabors (2012), a adesão pode ser definida como a atração entre
diferentes tipos de moléculas, como a existente entre as moléculas de água e as
moléculas constituintes das paredes celulares das plantas. Essa adesão permite
que a água seja transportada, no interior do xilema, como uma coluna que não
se rompe; a coesão é explicada como a atração que existe entre um mesmo tipo
de molécula. A molécula de água possui o que chamamos de polaridade, com
uma extremidade negativa e outra positiva. Essa polaridade faz com que uma
molécula atraia a outra, com força intensa, o que ajuda a sustentar a coluna de
água no transporte pelo xilema.

A tensão é a pressão exercida no interior das células do xilema quando a água é


puxada pelas folhas devido à transpiração. Imagine que você esteja bebendo suco
em um copo e utilize canudo. Este diminui um pouco o seu diâmetro quando o
líquido passa por ele. Desse modo, a água sai por pequenas aberturas presentes
nas folhas. Para isso, há uma sucção da água semelhante à subida do suco
pelo canudo, que ocasiona essa tensão dentro dos vasos condutores do xilema.

De acordo com estudos e evidências científicas, quando a água sai das folhas
na transpiração, essa quantidade de água perdida é imediatamente reposta
pela água vinda das células adjacentes (vizinhas). Estas, por sua vez, ganham
água de outras até que essa cadeia alcance o sistema vascular e exerça tensão
dentro das células do xilema. Segundo Raven, Evert e Eichhorn (2014), a
coesão entre as moléculas de água transmite essa tensão do caule até as raízes.
Como a água sai pelas folhas e é puxada das raízes, o potencial hídrico nas
raízes diminui muito e permite a entrada de mais água vinda do solo. Essa
explicação ficou conhecida como teoria da tensão e coesão ou teoria da
tensão-adesão-coesão.

Na Figura 68, é mostrado um experimento representativo da teoria da tensão


e coesão. Em “A”, um pote de argila poroso é preenchido com água e fixado a
um tubo longo e fino, também com água. O tubo é mergulhado em recipiente
com mercúrio. Como a água contida no pote evapora, sendo perdida para a
atmosfera, parte dessa água tem de ser reposta no interior do tubo. Então,
observa-se a subida do mercúrio. Em “B”, verifica-se a representação em planta
viva.
68
Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

Figura 68. Representação da teoria da tensão e coesão.

Fonte: Raven, Evert e Eichhorn, 2014.

No interior dos órgãos vegetativos das plantas vasculares (folhas, caules e raízes),
além do xilema, também está presente outro tecido condutor de seiva, a saber,
o floema. O floema está localizado na área mais externa do cilindro vascular
e suas células não contêm lignina, têm protoplasma vivo, não têm núcleo
nem membrana envolvendo o vacúolo de suco celular. Para a manutenção do
protoplasma, há uma íntima ligação das células do floema com as chamadas
células companheiras (KERBAUY, 2004).

As células companheiras são bem diferentes das células do floema, pois possuem
muitas organelas e um sistema de comunicação que permite a troca de substâncias
com o floema – os plasmodesmos. As células companheiras são capazes de
sintetizar diversos compostos, como o ATP (Adenosina Trifosfato, molécula rica
em energia), e os transfere para os elementos de tubo crivado (Figura 69).

Figura 69. Elementos de tubo crivado e células companheiras.

Placa crivada

Elementos de
tubo crivado

Células companheiras

Fibras

Proteína P

Fonte: Raven, Evert e Eichhorn, 2014.

69
Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

De forma diferente do que ocorre no xilema, o movimento da seiva no floema


não é unidirecional. A seiva é transportada, na maior parte das vezes, das áreas
de produção de compostos orgânicos pela fotossíntese (fontes) para os órgãos
de consumo e armazenamento da planta (drenos). Fonte pode ser definida
como qualquer órgão exportador capaz de produzir compostos orgânicos
(fotossintatos) em quantidade maior do que sua própria necessidade.
Dreno, por sua vez, pode ser definido como um órgão não fotossintetizante
que não produzem fotossintatos em quantidade suficiente para suas próprias
necessidades de utilização (crescimento ou reserva). Os principais exemplos de
fonte são: folhas maduras; e de dreno: frutos, sementes, folhas jovens, caules e
raízes tuberosas (TAIZ; ZEIGER, 2009).

A teoria do fluxo de pressão, inicialmente proposta como modelo por Ernst


Munch, em 1930, afirma que os fotossintatos são translocados das fontes para
os drenos por um fluxo governado pela diferença de concentração decorrente
do carregamento do floema pela solução de açúcares produzida na fotossíntese
e pelo descarregamento na região do dreno. Contudo, destaca-se que há certo
gasto de ATP.

Segundo Nabors (2012), o aumento de pressão em folha madura (fonte) e a


redução dessa pressão na raiz (dreno) permite o movimento dos fotossintatos no
floema. Quando os produtos da fotossíntese (fotossintatos) são transportados às
células do floema na fonte, o potencial hídrico no interior dessas células diminui.
Durante o trajeto dos fotossintatos em direção aos centros consumidores, há
fluxo de água entre as células do floema e do xilema. Ao chegar ao dreno, devido
ao descarregamento dos açúcares, o potencial hídrico aumenta dentro dos
elementos de tubo crivado.

Os açúcares são transportados ativamente para o interior dos elementos de


tubo crivado na fonte, diminuindo o potencial hídrico. Esses açúcares, ao serem
descarregados no dreno, promovem aumento do potencial hídrico nas células
do floema, de modo que há saída de água. O movimento da água permite que as
moléculas de açúcar sejam transportadas de forma passiva entre a fonte e o dreno.

Transpiração e perda de água em plantas


terrestres
O surgimento de um sistema de raízes eficiente e de tecidos condutores de seiva
especializados proporcionaram que as plantas terrestres absorvessem a água

70
Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

do solo e a transportasse das raízes em direção às partes aéreas. No entanto,


segundo Oliveira (2008), nenhum desses aspectos morfológicos seria suficiente
para manter uma planta viva no ambiente terrestre se não houvesse estruturas
capazes de restringir a perda excessiva de água.

Que estruturas são essas?

As plantas, de forma geral, são constituídas de tecidos de revestimento, tanto


primários (epiderme) como secundários (periderme). A epiderme é constituída
de células que possuem parede celular revestida por película denominada
cutícula. A cutícula é constituída de substância lipídica (gordurosa) chamada
cutina, capaz de impermeabilizar o tecido e deixar o órgão menos propenso à
perda excessiva de água.

Além da cutícula, em muitas plantas, as folhas e os caules são impregnados


com ceras, substância lipídica que também é impermeabilizante. A palmeira
conhecida como carnaúba, muito comum no Nordeste brasileiro, possui folhas
impregnadas com grande quantidade de ceras, utilizadas economicamente.

Nas folhas, em caules, flores e frutos também é possível observar a presença de


projeções epidérmicas chamadas tricomas (Figura 70). Os tricomas são extensões
celulares do tecido epidérmico e muitos deles (os tricomas tectores ou de
cobertura) têm como função restringir a perda de água. Você certamente já
observou os pequeninos tricomas presentes nas folhas de boldo ou de violeta.

Figura 70. Tricomas tectores presentes nas folhas da begônia cruz-de-ferro (Begonia masoniana Irmsch. ex Ziesenh.
Begoniaceae).

Fonte: arquivo pessoal da autora.

71
Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

A periderme é um conjunto de tecidos de revestimento encontrado em órgãos


vegetais com crescimento secundário, como os troncos de árvores (Figura 71). A
camada mais externa da periderme é formada pelo súber, tecido morto conhecido
popularmente como cortiça. O súber possui células cujas paredes são impregnadas
com suberina (lipídio impermeabilizante).

Figura 71. Fragmento do tronco de árvore – Grossa camada de tecidos de revestimento. A camada mais externa é
formada por tecido morto, o súber, constituído de células mortas, as quais são impregnadas com suberina, um composto
impermeabilizante.

Fonte: https://pixabay.com/pt/%C3%A1rvore-tronco-natureza-ambiente-576145/.

Em determinadas sementes, há presença de uma camada impermeável de


revestimento chamada testa, a qual protege o embrião da dessecação, caso
essa semente permaneça por determinado período em local muito quente e
ensolarado. Você já ouviu falar que, em algumas espécies, a semente precisa
passar por um processo chamado de escarificação para germinar? Pois é,
nesse processo, a semente precisa sofrer um atrito, de modo que essa camada
impermeável seja removida e a água possa entrar na semente. Assim, o embrião
pode germinar.

Dessa forma, muitas plantas são extremamente bem adaptadas à vida no ambiente
terrestre, mas, mesmo assim, ainda sofrem com o processo contínuo de perda
de água sob a forma de vapor, especialmente pela superfície das folhas. Esse
processo recebe o nome de transpiração.

Assim como os animais, as plantas transpiram e perdem grandes quantidades


de água, na forma de vapor, para a atmosfera. Do total de água que uma
planta absorve do solo, aproximadamente 95% desse volume é perdido pela
transpiração, e apenas 5% são utilizados para seu metabolismo e crescimento. As
plantas de cultivo agrícola são as que perdem maiores quantidades de água para
a atmosfera (KERBAUY, 2004). Como a água é muito importante e necessária à
sobrevivência, ao crescimento e à manutenção dos seres vivos, perda excessiva
pode comprometer muito as chances desse organismo no meio terrestre.

72
Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

A transpiração, segundo Taiz e Zeiger (2009), é a evaporação da água pela


superfície de folhas e caules. Pode ocorrer em qualquer órgão vegetal, porém
a maior parte da água sai na forma de vapor através de diminutas aberturas
presentes nas folhas, constituindo a transpiração estomática (KERBAUY, 2004).
É através dos estômatos que o dióxido de carbono (CO2) penetra nas folhas,
e que o oxigênio gasoso (O2) e o vapor de água saem. O CO2 é de extrema
importância para a planta, pois é matéria-prima fundamental ao processo de
fixação do carbono na fotossíntese. Em espécies aquáticas submersas, os gases
entram e saem da planta por difusão através de qualquer órgão vegetal. Nas
plantas terrestres, a única forma de obter o gás carbônico é a entrada pelos
estômatos.
Além das folhas, a planta também pode perder água na forma de vapor através da
superfície dos caules, de pequenas aberturas chamadas lenticelas (transpiração
lenticular) ou de aberturas na cutícula (transpiração cuticular). Taiz e Zeiger
(2009) explicam que a cutícula é uma barreira muito efetiva à transpiração e
apenas 5% (aproximadamente) da evaporação da água ocorre dessa maneira.
A abertura dos estômatos, segundo os fisiologistas vegetais, está associada,
primariamente, às alterações nas concentrações de K+ nas células-guarda, e o
fechamento está associado ao decréscimo nas concentrações de sacarose (TAIZ;
ZEIGER, 2009).
A Figura 72 mostra variações na abertura estomática em plantas de fava (Vicia
faba, Fabaceae) em resposta às concentrações de íons K+ e sacarose. O potássio
é o principal soluto envolvido na abertura das fendas estomáticas no período
da manhã, mas a sacarose está envolvida com o fechamento dessas fendas nos
períodos da tarde e noite.

Figura 72. Variações na abertura estomática em plantas de fava (Vicia faba, Fabaceae).

Fonte: Raven, Evert e Eichhorn, 2014.

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Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

A temperatura, segundo Kerbauy (2004), exerce influência direta sobre o


movimento estomático, pois afeta o metabolismo das células-guarda. De acordo
com Raven, Evert e Eichhorn (2014), temperaturas acima de 30°C e 35°C podem
ocasionar o fechamento dos estômatos. O aumento da temperatura eleva a taxa
respiratória em relação à fotossíntese e ocasiona elevação na concentração de
CO2 no interior das folhas, com consequente fechamento dos ostíolos. Além
disso, muitas plantas fecham seus estômatos ao meio-dia devido ao aumento na
concentração de CO2 e à elevação das taxas de transpiração pelo excesso de calor.

O CO2 é um gás eliminado durante o processo respiratório e também é uma


fundamental matéria-prima para a fotossíntese. No entanto, segundo Kerbauy
(2004), o verdadeiro mecanismo pelo qual esse gás regula o movimento
estomático ainda não está totalmente esclarecido. Entretanto, sabe-se que, na
maioria das espécies vegetais, o aumento na concentração de CO2 ocasiona o
fechamento dos estômatos (RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2014).

A umidade relativa do ar é outro fator ambiental associado ao controle de


abertura e fechamento dos estômatos. Quando a umidade relativa do ar é
elevada, isso significa que a quantidade de vapor de água é grande na atmosfera
circundante. Nessas circunstâncias, a água tende a ser perdida de forma mais
lenta pela planta, pois o ar está saturado em vapor de água. Por outro lado,
quando a umidade relativa do ar é muito baixa, ocorre justamente o contrário, e
o risco de perda de água pela planta se eleva muito. A perda de água, associada
à elevada temperatura do ar, tende a reduzir a turgência das células-guarda e
pode ocasionar o fechamento estomático.

Raven, Evert e Eichhorn (2014) também alertam para a questão das correntes
de ar (ventos) incidentes sobre as folhas. Os ventos deslocam o vapor de água
presente na superfície das folhas, acelerando a evaporação e, em dias quentes,
podem contribuir para o aumento das taxas de transpiração.

Fitorreguladores do crescimento e
desenvolvimento vegetais
Os fitorreguladores são substâncias orgânicas produzidas pelas plantas em
diferentes órgãos, as quais são associadas a diversas funções, tais como: crescimento
da planta; alongamento celular; germinação de sementes; floração; frutificação;
amadurecimento de frutos; queda de folhas e flores; resposta à luz e outros

74
Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

estímulos ambientais. Essas substâncias também são costumeiramente chamadas


de hormônios.

O termo hormônio vem do grego hormon = agitar-se, em decorrência da ideia


de que essas substâncias estimulam respostas nas plantas. Muitos hormônios
realmente são estimulantes, porém outros possuem efeito inibidor. Contudo,
todos são importantes para o sistema de comunicação das plantas com o ambiente
em que vivem (NABORS, 2012).

Segundo Oliveira (2008), os hormônios vegetais (fitorreguladores) são moléculas


sinalizadoras, cujas funções estão associadas à concentração, ao local onde são
produzidas e às condições ambientais. As plantas são capazes de sintetizar uma
variedade desses fitorreguladores, por exemplo, auxinas, citocininas, giberelinas,
etileno, ácido abscísico, brassinoesteroides etc. Neste capítulo, abordaremos aspectos
associados ao hormônio auxina.

A auxina é considerada como o primeiro fitorregulador descoberto pelos


pesquisadores, o qual exerce importantes funções no crescimento e
desenvolvimento vegetais (KERBAUY, 2004). Apesar de os primeiros estudos
envolvendo a auxina datarem do século XIX, apenas em meados de 1930 foi
determinado que a auxina mais abundante e de maior relevância nos estudos
fisiológicos é o ácido indol-3-acético (AIA); mas outros compostos também são
reunidos no grupo das auxinas. Os principais locais onde são sintetizadas são
ápices de caules e folhas jovens, sendo transportadas dessas extremidades para a
parte basal da planta (transporte basípeto), o que é chamado de transporte polar.

Dentre as inúmeras funções das auxinas, podem ser citadas:

» expansão e alongamento celular;

» diferenciação de tecidos vasculares;

» dominância apical; e

» crescimento de raízes adventícias.

Chama-se dominância apical o fenômeno no qual ocorre inibição do


desenvolvimento das gemas laterais do caule (aquelas gemas localizadas nas
axilas das folhas) pelos hormônios sintetizados no ápice caulinar. Dependendo
do tipo de crescimento da planta, esta pode apresentar diversos ápices

75
Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

caulinares nos diferentes ramos. O transporte polar das auxinas faz com que
sua concentração seja maior quanto mais próximo da gema apical.

Pesquisadores verificaram que, se a gema apical for danificada ou removida,


as gemas laterais começam a se desenvolver. Por essa razão, jardineiros têm
o hábito de cortar as gemas apicais de muitas plantas ornamentais, com a
finalidade de torná-las mais ramificadas ou mesmo estimular a floração. Essa
técnica é denominada poda (Figura 73). Você agora sabe que essa prática não é
feita por acaso. Tem explicação científica.

Figura 73. A poda de árvores e arbustos é prática comum aos jardineiros. Tem como finalidade inibir o efeito da dominância
apical sobre as gemas laterais do caule e promover a ramificação da planta.

Fonte: https://pixabay.com/pt/jardineiro-paisagista-jardineiro-409147/.

Técnica muito comum utilizada para a produção de mudas em plantas ornamentais


é a chamada estaquia. Uma estaca é constituída pelo fragmento do caule de
planta adulta, no qual constam algumas gemas laterais. A correta manutenção
desses caules, em contato com água e elementos minerais, promove a formação
de raízes laterais, originando verdadeiras mudas prontas para o plantio. Para
produtores de plantas ornamentais, o rápido enraizamento das estacas é fator
importante para seu ganho comercial. Nesse sentido, muitas auxinas naturais ou
sintéticas são usadas para estimular essa formação de raízes adventícias.

O processo da fotossíntese
A vida na Terra depende da energia proveniente do Sol, pois a distribuição das
diferentes formas de vida é reflexo da disponibilidade da luz e da intensidade da
radiação luminosa que atinge determinadas regiões do planeta.

76
Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

O Sol representa a fonte básica de energia que chega à Terra. Segundo Braga
et al. (2005), é considerado um gigantesco reator de fusão nuclear, cujo diâmetro
é 110 vezes maior do que o da Terra (aproximadamente). A energia solar chega
ao topo da atmosfera terrestre de forma contínua durante todo o ano (Constante
Solar) e o valor dessa energia é muito elevado. Contudo, a passagem pelas várias
camadas da atmosfera ocasiona sua atenuação e possibilita que ela atinja a
superfície terrestre sem prejudicar os seres vivos.

Apesar de a luz do sol representar aos seres humanos e demais animais


importante fonte de calor, nenhum animal é capaz de utilizar essa energia
diretamente para a produção de alimento. Essa capacidade é exclusiva de
algumas bactérias, algas e plantas. Tais seres possuem atributos que lhes
permitem converter essa energia radiante em moléculas orgânicas complexas,
liberando gás essencial à nossa sobrevivência: o oxigênio. Tal processo é
denominado fotossíntese.

O termo “fotossíntese” deriva do grego photos = luz; syn = junto e tithenai =


colocar. Pode ser definido, segundo Raven, Evert e Eichhorn (2014), como a
conversão da energia luminosa em energia química. De forma mais detalhada,
fotossíntese é a produção de compostos orgânicos, a partir do dióxido de
carbono e da água, na presença de clorofila, utilizando energia luminosa.

Na natureza, há grande diversidade de formas de vida. Muitas espécies, para


sobreviver, precisam investir parte de seu tempo na procura por alimento,
como é o caso dos animais. Contudo, alguns grupos de seres vivos, providos
de pigmentos especializados e de aparato bioquímico excepcional, conseguem
produzir o seu próprio alimento, sem precisar caçar ou dispor de seu tempo
para capturar presa ou assimilar uma partícula alimentar. Esses organismos
produtores de seu próprio alimento são chamados de autótrofos (do grego:
autos = próprio, sozinho + trophos = que se alimenta).

No interior das células vegetais, há organelas especializadas no armazenamento


de pigmentos e na absorção de energia luminosa, as quais contêm aparatos
enzimáticos capazes de desencadear o processo da fotossíntese – os cloroplastos
(Figura 74).

77
Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

Figura 74. Ilustração da estrutura de cloroplasto.

Fonte: https://www.biologianet.com/biologia-celular/celula-vegetal.htm.

Dá-se o nome de pigmento fotossintético às moléculas orgânicas coloridas,


geralmente presentes nos cloroplastos, capazes de absorver energia luminosa
no processo da fotossíntese. Todo processo fotobiológico envolve a presença
dessas moléculas fotorreceptoras, as quais podem funcionar como sensores ou
transdutores de energia (KERBAUY, 2004). Há diversas categorias de pigmentos:
as clorofilas, os carotenoides e as ficobilinas.

A fotossíntese ocorre em duas etapas, quais sejam, a etapa fotoquímica e a


etapa bioquímica. Essas etapas foram, durante muito tempo, denominadas
“etapa dependente da luz” e “etapa independente da luz”, ou até mesmo como
“fases clara e escura da fotossíntese”, mas, atualmente, prefere-se não utilizar
tais denominações. Por quê? Essas denominações decorrem do tratamento
experimental do processo, mas não refletem a realidade. Em condições naturais,
as duas etapas precisam da luz, pois a etapa bioquímica depende dos produtos
da fotoquímica para ocorrer.

Na etapa bioquímica, como será descrito adiante, a luz é fundamental para a


ativação de enzimas que reduzem o gás carbônico e, além disso, há necessidade
de moléculas de ATP (Adenosina Trifosfato) e NADP+ (Nicotinamida Adenina
Dinucleotídeo Fosfato) para a realização das diversas reações enzimáticas. Tanto
o ATP como o NADP+ são produzidos durante a etapa fotoquímica (Figura 75).
A molécula de água, em presença de luz, sofre uma quebra (fotólise da água),
liberando íons H+. Esses íons são incorporados ao NADP e formam NADPH.
Então, uma molécula de O2 é liberada.

78
Conhecimento Das Espécies Vegetais | Unidade i

Figura 75. Representação didática do fluxo de elétrons que ocorre durante a fotoquímica e a síntese de ATP.

Fonte: Reece et al., 2015.

A etapa fotoquímica se inicia quando os pigmentos absorvem luz, no interior dos


cloroplastos.

Quando determinado pigmento é iluminado por um feixe de luz, os fótons


presentes impulsionam os elétrons (partículas atômicas de carga negativa)
para orbitais com níveis de energia mais elevados, caracterizando o estado
excitado da molécula. Segundo Kerbauy (2008), a absorção de luz é um processo
ultrarrápido de excitação eletrônica, pois ocorre em escala de fentossegundos
(10-15 segundos). A duração do estado de excitação também é pequena. Em
uma fração de segundo, os elétrons retornam ao seu estado original e precisam
dissipar a energia acumulada. Parte dessa energia é dissipada na forma de calor
e o restante pode ser liberado na forma de luz vermelha (fenômeno conhecido
como fluorescência) ou transferido para moléculas capazes de desencadear o
fenômeno bioquímico da fotossíntese.

Qual o principal objetivo da fotossíntese para as algas e as plantas?

Apesar de a liberação de oxigênio ser tão importante para a sobrevivência dos


organismos aeróbios, os seres fotossintetizantes precisam produzir compostos
orgânicos fundamentais para a realização de suas atividades metabólicas.
Considerando que as plantas não se alimentam como outros seres vivos, elas
precisam atingir esse objetivo para sobreviver. Portanto, a etapa bioquímica
precisa acontecer. Essa etapa ocorre no estroma ou matriz do cloroplasto.

O mecanismo bioquímico que leva à síntese de compostos orgânicos na maioria


das plantas ficou conhecido como Ciclo de Calvin ou Ciclo C3. Em 1961,
resultou em Prêmio Nobel ao pesquisador (RAVEN; EVERT; EICHHORN,
2014).

79
Unidade i | Conhecimento Das Espécies Vegetais

É muito comum que os alunos que iniciam os seus estudos sobre a fotossíntese
pensem ser a glicose o principal produto da etapa bioquímica. No entanto,
pouca glicose livre é produzida. A maior parte dos carboidratos produzida
ao final dessa etapa é constituída de sacarose e amido. A sacarose é um
carboidrato classificado como dissacarídeo, formada por molécula de glicose
+ frutose. Já o amido é um carboidrato complexo, classificado no grupo dos
polissacarídeos. Cada molécula de amido é formada pela união de várias
moléculas de glicose.

Durante o dia, há formação de sacarose na célula clorofilada e, à noite, a


sacarose é formada após a quebra do amido. Em ambos os casos, a sacarose é
direcionada para as células do floema e transportada para os órgãos consumidores.

O amido é estocado nas folhas na forma de grãos. Assim, poderá ser quebrado e
convertido em glicose quando a planta necessitar de energia.

80
AS CATEGORIAS DE
ESPÉCIES VEGETAIS
UTILIZADAS NO UNIDADE II
PAISAGISMO E SUAS
CARACTERÍSTICAS

CAPÍTULO 1
Árvores e palmeiras

Na elaboração de um projeto paisagístico, é importante que o profissional escolha


os diferentes tipos vegetais que comporão a paisagem. Posteriormente a essa
etapa inicial, deverá definir as espécies que serão utilizadas, de acordo com as
características ambientais.

Salviati (1993) afirma que essa forma de organização do projeto facilita muito
a estruturação plástica e o ordenamento da paisagem. Na etapa de escolha das
espécies, o profissional levará em consideração aspectos como: tipo de solo,
umidade, iluminação, ciclos anuais de florescimento e frutificação, suscetibilidade
ou resistência a doenças e animais invasores. Além disso, deve ter profundo
conhecimento das espécies vegetais e de suas características.

Segundo Machado (2018), as plantas podem ser classificadas de diversas


maneiras, e uma dessas classificações se refere à estrutura e à função estética por
elas exercidas. Nessa categoria, é possível distinguir entre gramados, forrações,
herbáceas, arbustos, trepadeiras, palmeiras e árvores.

As árvores são plantas providas de um tipo de caule resistente e lenhoso,


que se ramifica a certa altura do nível do solo. Espécies arbóreas constituem
importante componente da paisagem, pois podem formar um verdadeiro
cinturão de moldura para tornar a vista de determinado local mais agradável;
ressaltar a beleza arquitetônica de uma construção; torná-la mais leve e próxima
da natureza; reduzir o calor ou mesmo atuar como barreira contra ventos fortes.

Menezes et al. (2015) afirmam que a seleção das espécies de porte arbóreo é um
desafio para os profissionais do paisagismo e que o sucesso dos projetos depende
da escolha adequada, tanto nas paisagens urbanas como rurais. Na atualidade,

81
Unidade ii | As Categorias De Espécies Vegetais Utilizadas No Paisagismo E Suas Características

projetos que optam pelo uso de espécies arbóreas apresentam a preocupação de


utilizar exemplares nativos e que desempenhem função ecológica no local, seja
pelo belo porte, seja pela floração exuberante ou atração da avifauna.

Lira Filho e Medeiros (2006) afirmam que o planejamento da arborização urbana


é fundamental para a conservação da avifauna, que pode ser muito favorecida.
Para isso, é necessário que se proceda ao manejo adequado da vegetação e da
biodiversidade, em especial de espécies arbóreas, que são importantes para
alimentação, abrigo e refúgio da fauna.

De acordo com informações contidas no Manual Técnico de Arborização Urbana


de São Paulo (2015), as árvores desempenham importantes funções dentro
de uma cidade, tanto aos cidadãos como ao meio ambiente. Prestam serviços
ecossistêmicos que compensam os custos da implantação do projeto, tais como:

» Elevar a permeabilidade do solo e controlar a temperatura e a umidade


do ar.

» Interceptar a água da chuva.

» Proporcionar sombreamento.

» Atuar como corredores ecológicos.

» Agir como barreira contra ventos, ruídos e alta luminosidade.

» Melhorar a qualidade do ar.

» Promover o sequestro e armazenamento de carbono.

» Promover o bem-estar psicológico dos cidadãos que convivem nesse


ambiente arborizado.

Na escolha dos exemplares arbóreos, no entanto, alguns cuidados devem ser


tomados, por exemplo, em relação às árvores caducifólias (decíduas), que perdem
suas folhagens em determinadas épocas do ano; às plantas com frutos carnosos;
às espécies que apresentem odor forte e enjoativo; ao tempo de crescimento e
maturação. Quando adquirir uma muda, procure sempre se informar sobre
essas características para que não tenha que sacrificar a planta posteriormente.
Com relação à função estética, é importante combinar espécies com variadas

82
As Categorias De Espécies Vegetais Utilizadas No Paisagismo E Suas Características | Unidade ii

características, como cores das flores; época de floração; e troncos de belo porte e
coloração, de modo que o ambiente seja dinâmico e possa sofrer transformações ao
longo do ano.

Salviati (1993) cita que as plantas arbóreas representam um verdadeiro clímax


dentro do mundo vegetal. Algumas espécies apresentam porte de mais de 100
metros de altura e são capazes de impressionar pela perfeição, pelas tonalidades e
pelos contrastes.

Backes (2013) afirma que é possível utilizar árvores frutíferas em projeto


paisagístico desde que sejam respeitadas as condições de espaço e insolação
mínimas. Estas representam um grupo importante no chamado paisagismo
produtivo, tanto por seus usos na alimentação humana, como na prestação de
serviços ecossistêmicos associados à dispersão de sementes. Frutos são capazes
de atrair diversos agentes dispersores, os quais contribuem para a propagação e
consequente preservação das espécies.

Nogueira e Righi (2003), em seu trabalho sobre o paisagismo em conjuntos


habitacionais de São Paulo, alertam para o fato de que as espécies de porte
mais elevado deverão ser usadas nas áreas verdes de maiores dimensões. Então,
é importante utilizar espécies frutíferas, as quais, além de atrair pássaros,
possibilitarão que os frutos sejam consumidos pelos moradores.

Segundo o Manual Técnico de Arborização Urbana de São Paulo (2015), o


Decreto n. 52.903/2012, em seu artigo 14, § 1o, exige que “Qualquer que seja
a largura do passeio público, deverá ser respeitada a faixa livre mínima de
1,20 metro destinada exclusivamente à livre circulação de pedestres” (Figura
76). Ademais, o plantio de espécies arbóreas nas áreas urbanas só poderá ser
realizado em passeios públicos com largura mínima de 1,90 metros.

Figura 76. Ilustração da largura mínima exigida para o plantio de árvores em zonas urbanas.

Fonte: Manual Técnico de Arborização Urbana, 2005.

83
Unidade ii | As Categorias De Espécies Vegetais Utilizadas No Paisagismo E Suas Características

Segundo informações da Prefeitura de São Paulo (PMSP, 2020), podem ser


construídas as chamadas “calçadas verdes” em ruas sem grande fluxo de pedestres,
sempre tomando o cuidado para que as faixas ajardinadas não atrapalhem a
passagem ou a visão dos pedestres. Então, o que é uma calçada verde?

Gengo e Henkes (2013) afirmam que as calçadas verdes são instrumentos eficazes,
dentro da infraestrutura urbana, as quais, além do aspecto estético, ainda são
capazes de proporcionar melhor aproveitamento da água das chuvas, aumentando
a sua infiltração no solo e atenuando riscos de alagamentos. Além desse grande
benefício, as calçadas verdes ainda contribuem para o sequestro de carbono,
reduzindo o calor dentro das áreas urbanas.

Machado (2018) ainda recomenda que árvores com raízes superficiais (raízes
aéreas) não sejam plantadas próximas a casas ou calçadas devido aos riscos
associados à estrutura e pavimentação, como é o caso das figueiras (Ficus spp.)
(Figura 77).

Figura 77. Exemplar de Ficus sp. plantado em área urbana.

Fonte: http://www.jcuberaba.com.br/estilodevida/casaedecoracao/2651/proteja-a-calcada-de-danos-causados-por-raizes-de-arvores/.

Lira Filho (2002) explica que as cores das plantas ornamentais são muito
importantes em um jardim, pois constroem um “clima psicológico”,
proporcionando movimentos que mudam ao longo do dia; no decorrer das
estações do ano; e em diferentes fases do ciclo de vida das plantas, com grande
variação de cores a ser explorada pelos paisagistas. Nas paisagens tropicais
brasileiras, a tonalidade amarela das cássias e dos ipês contrasta com o violeta
das quaresmeiras em períodos de floração dessas espécies.

84
As Categorias De Espécies Vegetais Utilizadas No Paisagismo E Suas Características | Unidade ii

Wielewski, Auer e Grigoletti Junior (2002) afirmam que o ipê-amarelo


(Handroanthus chrysotrichus (Mart. Ex DC) Mattos, Bignoniaceae) é uma espécie
arbórea que apresenta belíssimas flores amarelas. Ademais, é importante para
o cultivo em área urbana por causa do porte baixo e da aceitação pela população
(Figura 78).

Figura 78. Árvore de ipê-amarelo (Handroanthus chrysotrichus).

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Rossetti, Pellegrino e Tavares (2010) destacam que o plantio de árvores nas áreas
urbanas traz consigo a dificuldade de compatibilidade com outros equipamentos,
como fiações elétricas, postes de iluminação, sistema de águas pluviais e outras
construções, com riscos de plantio em locais totalmente inadequados. Por essas
razões, é importante que a escolha seja realizada de forma responsável e pertinente.

De acordo com o Manual Técnico de Arborização Urbana de São Paulo (2015),


é recomendado o plantio de novas mudas, intercaladas com os exemplares mais
velhos, pois, como todo e qualquer ser vivo, em algum momento as árvores
chegarão ao estágio senil e, dessa forma, é possível manter a qualidade ambiental
do local arborizado. Além disso, nas áreas urbanas, é possível verificar, com muita
frequência, exemplares com injúrias no tronco; inclinação excessiva; doenças;
infestação por animais invasores (a exemplo de cupins) ou até mesmo fungos
parasitas facultativos. Todos esses sinais devem ser observados e analisados com
atenção, pois, havendo risco de queda, as árvores precisarão ser isoladas ou até
suprimidas. No entanto, é muito importante saber que a supressão de árvores só
pode ser realizada com autorização dos órgãos públicos competentes.

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Unidade ii | As Categorias De Espécies Vegetais Utilizadas No Paisagismo E Suas Características

A quaresmeira-roxa (Tibouchina granulosa Cogn., Melastomataceae), segundo


Lorenzi (1998), é uma espécie nativa da Mata Atlântica, com grande potencial
ornamental, especialmente nos períodos de floração. Pode atingir 12 metros
de altura, com tronco de até 40 cm de diâmetro; suas flores apresentam
tonalidades que variam do róseo ao arroxeado. O autor afirma que essa espécie
é recomendada para projetos paisagísticos de arborização de ruas estreitas e sob
redes elétricas (Figura 79).

Figura 79. Flor da espécie Tibouchina granulosa (Melastomataceae).

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/quaresmeira-quaresmeira-roxa-836873/.

Agora, vamos falar um pouquinho sobre as palmeiras?

As palmeiras são muito comuns em projetos de paisagismo e jardinagem


devido à sua forma/resistência e podem ser plantadas isoladas ou em grupos
(MACHADO, 2018). Juntamente com outras plantas, formam elementos
característicos em praças e jardins, pois apresentam folhagens vistosas. São
amplamente comercializadas para fins de decoração de ambientes e uso na
arborização urbana (BATISTA; GUARIM NETO, 2015).

Souza e Lorenzi (2012) afirmam que as palmeiras são pertencentes à


família Arecaceae e que praticamente todas possuem potencial ornamental,
como a espécie nativa Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman, conhecida
popularmente como jerivá, jarivá ou coquinho. Esta se distribui da região
Norte até o Rio Grande do Sul, e é muito comum na Mata Atlântica.

Segundo informações da Embrapa Florestas (2010), o jerivá é uma espécie


que atinge de 10 m a 25 m de altura, com caule do tipo estipe único, anelado,
cujo diâmetro varia de 15 cm a 40 cm. A floração ocorre quase o ano todo,

86
As Categorias De Espécies Vegetais Utilizadas No Paisagismo E Suas Características | Unidade ii

especialmente nos meses de setembro a março; e a maturação dos frutos, nos


períodos mais quentes do ano, geralmente de novembro a janeiro. Seus frutos
servem de alimento para várias espécies de animais, o que torna seu plantio
recomendável em áreas degradadas de preservação permanente.

Em São Paulo, é possível observar alguns belos exemplares de jerivá na Alameda


Fernando Costa, no Jardim Botânico de São Paulo (Figura 80).

Figura 80. Palmeiras jerivás numa das alamedas do Jardim Botânico de São Paulo.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Dentre as exóticas, é possível citar as palmeiras-leque; palmeiras rabo-de-peixe;


palmeiras reais ou imperiais, as tamareiras e uma espécie bastante comum no
paisagismo – Dypsis lutescens, conhecida como areca-bambu ou palmeira-areca. A
areca-bambu é nativa de Madagascar, mas é a palmeira mais cultivada no Brasil,
utilizada tanto para plantio em vasos, touceiras ou livremente no jardim, com
altura entre 3 e 6 metros.

De acordo com Sodré (2005), determinadas palmeiras podem apresentar folhas


jovens com tonalidades avermelhadas, acobreadas, rosadas, marrom-claro,
azuladas, verde-acinzentadas, com curta duração, mas que causam efeito
surpreendente no jardim. Muitas delas são exóticas, como Pinanga kuhlii
(pinanga) e Dypsis decary, conhecida como palmeira-triângulo (Figura 81).

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Unidade ii | As Categorias De Espécies Vegetais Utilizadas No Paisagismo E Suas Características

Figura 81. Palmeira-triângulo Dypsis decary (Arecaceae).

Fonte: http://www.oficinadaspalmeiras.com.br/html/ofpdetprod.asp?p=18.

Uma das grandes vantagens das palmeiras, segundo Machado (2018), é que não
requerem cuidados especiais, somente a retirada de folhas secas ou ramos de
inflorescências velhas ou mortas.

Sodré (2005) afirma que, de forma geral, as flores das palmeiras não se destacam
sob o ponto de vista ornamental, pois são pequenas e discretamente coloridas.
De forma geral, as flores apresentam tonalidades branca, creme ou amarela,
com algumas exceções, a exemplo das palmeiras pertencentes ao gênero
Archontophoenix, conhecida como seafórtia, cujas flores apresentam tonalidade
lilás bastante decorativa (Figura 82).

Figura 82. Archontophoenix cunninghamiana.

Fonte: http://www.oficinadaspalmeiras.com.br/html/ofpdetprod.asp?p=71.

88
CAPÍTULO 2
Arbustos e trepadeiras

Os arbustos podem ser caracterizados, segundo Machado (2018), como espécies


vegetais lenhosas que contêm ramificações desde a base; atingem a altura de até
4 m e podem ser utilizadas na formação de cercas-vivas ou outras composições no
paisagismo. Segundo o autor, apresentam tamanhos e estruturas variados, com
folhagens de diferentes formas, texturas, tamanhos e cores, porém recomenda-se
cuidado em seu plantio, de modo que seu crescimento não seja inapropriado ao
local escolhido.

Segundo Menezes et al. (2015), a diferença entre arbustos e árvores está


principalmente no caule, pois, apesar de ambos apresentarem-se lenhosos, os
arbustos são ramificados desde a base e o porte é bem menor do que a maioria
das espécies arbóreas. Alguns arbustos se assemelham a pequenas árvores;
outros são mais estreitos; alguns apresentam belíssimas flores, enquanto
outros podem ser esculpidos e modelados por meio de uma técnica muito
antiga denominada topiaria.

Uma planta muito utilizada para a arte da topiaria é a buxinho (Buxus


sempervirens L., Buxaceae). É um arbusto lenhoso, originário do Mediterrâneo,
Oriente e China, de crescimento lento, o qual atinge de 2 a 5 m de altura.
Souza e Lorenzi (2008) afirmam ser uma espécie excelente para topiaria, pois
tem facilidade de ser esculpido e moldado no formato desejado (Figura 83).

Figura 83. Buxinho (Buxus sempervirens, Buxaceae).

Fonte: https://search.creativecommons.org/photos/2cfd69b7-1713-49f0-8438-21ebf8a26e4a.

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Unidade ii | As Categorias De Espécies Vegetais Utilizadas No Paisagismo E Suas Características

Bellé (2013) explica que os arbustos apresentam as seguintes vantagens em seu


uso nas composições paisagísticas:

» Podem ser usados em espaços reduzidos, pois necessitam de solos com


pequena profundidade.

» Possuem grande variedade de formas, cores, porte e texturas, com


muitas possibilidades de efeito estético.

» Quando plantados de forma isolada, funcionam como esculturas no


jardim.

» Atuam como delimitadores de espaços; conforme o seu porte mais alto


ou mais baixo.

Segundo a autora, os arbustos altos possuem, em média, 1,5 m de altura e são


indicados para utilização como cercas-vivas; para vedar muros e pequenas
construções; nas vias expressas, em canteiros centrais; em calçadas; e para
delimitar espaços que não devam ser ultrapassados. Arbustos ainda podem ser
utilizados na arborização de ruas mais estreitas, pois, como vimos na primeira
parte do capítulo, há regras que limitam o plantio de árvores quando as ruas são
muito estreitas e não apresentam a largura mínima exigida pela prefeitura.

Salviati (1993) explica que os arbustos constituem, no paisagismo, elementos


fundamentais para a organização de exteriores, particularmente como barreiras
vegetais, porém, quando mal planejados, podem ocasionar prejuízos, destruir
o visual do local ou obstruir trechos que seriam necessários como espaço de
livre trajeto. Segundo o autor, arbustos de porte baixo, com altura de até 1
m, podem servir como barreira física e, ao mesmo tempo, não são capazes de
obstruir o campo visual de forma considerável. Exemplos dessa categoria de
arbustos: Thumbergia erecta (Benth.) T. Anderson, Acanthaceae, conhecida
como tumbérgia-azul; e Salvia splendens Sellow ex Wied-Neuw, (Lamiaceae),
conhecida como alegria-dos-jardins.

Determinados arbustos são, na verdade, variedades anãs de exemplares maiores,


que possuem maior valor paisagístico, a exemplo da Tibouchina mutabilis
“nana” (Melastomataceae), conhecida como manacá-da-serra-anão; as azaleias
(Rhododendron spp., Ericaceae) (Figura 84), com muitas variedades anãs; e a
romanzeira (Punica sp.).

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As Categorias De Espécies Vegetais Utilizadas No Paisagismo E Suas Características | Unidade ii

Figura 84. Azaleia (Rhododendron simsii Planch., Ericaceae).

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Carvalho (2010) afirma que arbustos aromáticos podem proporcionar boa


cobertura do solo; contribuem para reduzir os riscos de erosão; e liberam
substâncias voláteis (óleos essenciais) que são repelentes de insetos e pequenos
vertebrados, apesar de atrativos para a avifauna, como a lavanda (Lavandula
dentata, Lamiaceae) (Figura 85).

Figura 85. Exemplares de Lavandula dentata L., Lamiaceae – Touceira em jardim residencial.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Há determinadas espécies arbustivas, no entanto, que podem ser inadequadas ao


plantio em vias públicas ou residenciais, pois apresentam compostos tóxicos, com

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Unidade ii | As Categorias De Espécies Vegetais Utilizadas No Paisagismo E Suas Características

riscos à saúde pública, em especial à saúde de crianças e idosos. Alguns exemplos


são os teixos (Taxus spp., Taxaceae); a espirradeira (Nerium oleander, Apocynaceae)
(Figura 86) e a orelha-de-elefante (Alocasia macrorrhizos, Araceae).

Figura 86. Nerium oleander L. (Apocynaceae).

Fonte: https://search.creativecommons.org/photos/ac521a2c-14cf-4a81-a345-f0a659d3d536.

Vamos, agora, falar um pouquinho sobre as trepadeiras?

Chamamos de trepadeira a planta que cresce sobre outra, apoiando-se, enrolando-se


ou prendendo-se a alguma estrutura preênsil (PEREIRA; PUTZKE, 2010).

De acordo com Machado (2018), as trepadeiras podem apresentar variedade


de formas, cores e texturas. São utilizadas no paisagismo em composições
com árvores e palmeiras ou sobre suportes artificiais, a exemplo de cercas,
pergolados, treliças e muros, importantes para sombreamento e criação de áreas
mais privativas; bem como são usadas para a criação de jardins verticais etc.

Bellé (2013) afirma que as trepadeiras podem ser utilizadas no paisagismo para
muitas finalidades, dentre elas:

» Plantio em espaços pequenos, nos quais não é possível o uso de árvores


para fornecimento de sombra.

» Para revestir muros e paredes.

» Na vedação e ornamentação de grades ou cercas de arame.

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As Categorias De Espécies Vegetais Utilizadas No Paisagismo E Suas Características | Unidade ii

» Na ornamentação de pergolados.

» Para ornamentação de floreiras em janelas ou sacadas.

» Para ocultar alguma vista que não seja agradável.

Recomenda, porém, que o profissional escolha a espécie adequada, dependendo


do local e objetivo, pois essas plantas podem apresentar diferentes hábitos de
crescimento.

Salviati (1993) alerta para o fato de que as trepadeiras podem ter seus próprios
dispositivos de fixação ao suporte, com folhas e caules modificados que podem
se enrolar em apoio próximo e nele encontrar fixação para seu crescimento
(gavinhas). Esse tipo de trepadeira pode ser usado para cobrir muros e só precisa
de uma superfície para subir. São as trepadeiras sarmentosas, a exemplo da
hera (Figura 87), da unha-de-gato, dentre outras, as quais apresentam raízes
especializadas na fixação, denominadas raízes grampiformes.

Figura 87. Hedera helix L. (Araliaceae).

Fonte: https://search.creativecommons.org/photos/29e19cc2-5abf-478f-a86d-04f436816e85.

As trepadeiras volúveis se enrolam em qualquer estrutura. Servem para


contornar arcos, subir em troncos de árvores e estacas. Ex.: flor-de-cera (Hoya
carnosa (L. f.) R Br., Apocynaceae) (Figura 88) e lágrima-de-cristo (Clerodendron
thomsonae Balf, Lamiaceae).

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Unidade ii | As Categorias De Espécies Vegetais Utilizadas No Paisagismo E Suas Características

Figura 88. Hoya carnosa, Apocynaceae, conhecida como flor-de-cera (detalhe da inflorescência).

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/flor-de-cera-jardim-flor-natureza-1058460/.

As trepadeiras escandentes, por sua vez, precisam ser educadas com amarrilhos
para subirem em alguma estrutura. Servem para se apoiar em arcos, pergolados,
telhados e treliças, mas lembre-se de que é preciso amarrar para que a planta suba.
Ex.: primavera (Bounganvillea spectabilis, Nyctaginaceae) e brinco-de-princesa
(Fuchsia hybrida Hort. ex Siebert & Voss, Onagraceae). Esta última tem exemplares
que podem chegar a 2 m de altura e flores pendentes, cultivadas a pleno sol
(Figura 89). Tais flores, segundo Lorenzi e Souza (2008), são muito visitadas por
beija-flores.

Figura 89. Flores de Fuchsia hybrida (Onagraceae).

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/fúcsia-botão-de-flor-flor-planta-785274/.

As trepadeiras-cipó representam um tipo intermediário entre as trepadeiras e


os arbustos. Em alguns casos, são de natureza lenhosa. Ex.: jasmim-dos-açores

94
As Categorias De Espécies Vegetais Utilizadas No Paisagismo E Suas Características | Unidade ii

(Jasminum azoricum L., Oleaceae), a qual cresce como trepadeira semilenhosa,


muito ramificada, com folhagem ornamental e inflorescências brancas, com odor
intenso, que surgem no verão e outono (Figura 90). Essa espécie é muito utilizada
em pergolados e, à noite, exalam um delicioso aroma.

Figura 90. Jasminum azoricum L. (Oleaceae).

Fonte: https://search.creativecommons.org/photos/d835fcd7-5648-4552-9401-1fc0f4e6f2cc.

95
CAPÍTULO 3
Herbáceas

As plantas herbáceas, segundo Machado (2018), são espécies vegetais não


lenhosas, de caule macio e mais frágil do que os arbustos e árvores, com altura
geralmente inferior a 2 metros. Assim como os arbustos, as herbáceas podem
apresentar variadas estruturas, folhagens, inflorescências, com colorações muito
diferentes e de importância ornamental. São costumeiramente cultivadas em
vasos e jardineiras; e em canteiros, como forrações ou junto a arbustos, compondo
a estética de jardins.

Salviati (1993) afirma que as plantas herbáceas possuem um meristema


(tecido embrionário) que garante o desenvolvimento acentuado no sentido
longitudinal, o que lhes permite explorar o espaço ao seu redor e produzir,
desde o início de seu desenvolvimento, muitos ramos para a produção de flores.

O mesmo autor também ressalta que é comum classificarmos as plantas


herbáceas em três grupos distintos, cada qual cumprindo funções diferentes na
composição estética do paisagismo: herbáceas propriamente ditas; forrações
e pisos vegetais (gramíneas). As herbáceas propriamente ditas são aquelas que
atingem até 1 m de altura, apropriadas para a composição de maciços vegetais
isolados ou em grupos, com diferentes alturas e formas. Forrações são plantas
rasteiras, adequadas à formação de verdadeiros tapetes vegetais, as quais
podem recobrir áreas extensas. Por fim, os pisos são aqueles constituídos por
plantas que crescem horizontalmente; com diferentes graus de resistência
ao pisoteio e cujas podas são realizadas rente ao solo.

Muitas espécies herbáceas são utilizadas em projetos paisagísticos pela beleza


de suas folhagens; em composições com outras plantas; e para garantir uma
variedade maior de tonalidades de cor no jardim. No entanto, há uma variedade de
espécies floríferas que também são classificadas dentro da categoria de herbáceas,
a exemplo de begônias, orquídeas, calêndulas, centáureas, cosmos-de-jardim,
malmequer, crisântemo-do-japão; gérbera; girassol-de-jardim; cinerária;
beijo-pintado; maria-sem-vergonha; lírio-do-amazonas; açucena; amarílis;
narcisos; crista-de-galo, dentre outras que também possuem belas flores,
solitárias ou reunidas em inflorescências.

Bellé (2013) afirma que as floríferas anuais podem ser consideradas como
forrações quando utilizadas para proporcionar colorido ao jardim, na forma de

96
As Categorias De Espécies Vegetais Utilizadas No Paisagismo E Suas Características | Unidade ii

canteiros, porém seu uso deve ser em menor quantidade do que as que possuem
bela folhagem, dado que o custo de manutenção é maior para garantir que as
plantas permaneçam bonitas, mesmo no período pós-floração. Muitas precisam
ser substituídas a cada estação.

Uma herbácea muito linda, de folhagem ornamental e nativa do Brasil,


é a maranta-variegada, Ctenanthe oppenheimiana (E. Morren) K. Schum.,
Maranthaceae, a qual atinge 90 cm de altura; possui folhas eretas, coriáceas,
lisas, de tonalidade verde-escura, com faixas laterais prateadas e arroxeadas
na face inferior. Segundo Lorenzi e Souza (2008), é uma espécie apropriada
para cultivo em vasos, jardineiras e ambientes de meia-sombra. Podem formar
renques que acompanham paredes, muros, muretas e grades (Figura 91).

Figura 91. Maranta-variegada (Ctenanthe oppenheimiana, Maranthaceae) em vaso decorativo.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

De forma geral, as herbáceas ornamentais costumam ser utilizadas como


bordaduras ou forrações, mantidas em seu porte natural ou orientadas pelas
podas. Dá-se o nome de bordadura aos contornos feitos com vegetais nas divisões
ou canteiros de um jardim (PEREIRA; PUTZKE, 2010). Forração, por sua vez,
é o termo utilizado para designar plantas não resistentes ao pisoteio, as quais
possuem crescimento horizontal mais acentuado do que o vertical.

As forrações, de forma geral, necessitam, para sua implantação, de local onde a


circulação de pessoas seja pequena e acabam por apresentar algumas vantagens
em relação aos gramados, porque crescem em ambientes sombreados, de difícil

97
Unidade ii | As Categorias De Espécies Vegetais Utilizadas No Paisagismo E Suas Características

adaptação pelas gramíneas. Além disso, quebram a monotonia geralmente


relacionada aos gramados, em razão de sua variedade de tonalidades, texturas e
flores.

Os gramados, segundo Bellé (2013), constituem verdadeiros tapetes verdes,


geralmente utilizados na cobertura do solo e criação de áreas verdes para
descanso, lazer e prática de esportes. Funcionam como fundo para a paisagem
e realçam os elementos formadores do jardim, como arbustos, palmeiras e
árvores.

Algumas vezes, os termos populares podem nos confundir, pois a planta


utilizada para cobrir determinada área verde tem o nome de grama, mas não é
uma gramínea. Nesse caso, temos dois exemplos: a grama pelo-de-urso (também
chamada de grama-preta) e a grama-amendoim, as quais pertencem a famílias
botânicas diferentes.

A popular grama-amendoim (Arachis repens Handro) é também chamada


de amendoim-rasteiro ou amendoinzinho e pertence à família Fabaceae
(Leguminosae). Tal forração, segundo Lorenzi e Souza (2008), trata-se de
herbácea perene, nativa do Brasil, que atinge 20 cm de altura e é muito utilizada
nos jardins, em canteiros a pleno sol. Sua importância ornamental deve-se à
folhagem, sempre verde-escura, que, a certa distância, lembra um gramado. No
entanto, além da delicadeza de suas folhas, que não suportam o pisoteio, possui
numerosas flores amarelas, formadas na primavera e no verão (Figura 92).

Figura 92. Grama-amendoim (Arachis repens Handro, Fabaceae).

Fonte: https://search.creativecommons.org/photos/f549ba32-b674-467d-9b53-cf2946e38924.

98
As Categorias De Espécies Vegetais Utilizadas No Paisagismo E Suas Características | Unidade ii

Outro exemplo muito interessante de herbácea ornamental é Pilea cadierei


Gagnep. & Guillaumin (Urticaceae), conhecida popularmente como
piléa-alumínio; planta-alumínio; ou simplesmente alumínio. Tal espécie tem
esse nome devido às folhas com tonalidade verde-brilhante, com manchas
prateadas. Segundo Lorenzi e Souza (2008), pode ser cultivada em vasos e
jardineira, formando canteiros em locais de meia-sombra. Apesar de muito
comum no Brasil, não é uma espécie nativa, mas, sim, originária do Vietnã.
Chegam a atingir 30 cm de altura (Figura 93).

Figura 93. Pilea cadierei (Urticaceae) – Conhecida como alumínio.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

99
AS NECESSIDADES
BÁSICAS DE CULTIVO
E REPRODUÇÃO UNIDADE III
VEGETAL

CAPÍTULO 1
As necessidades básicas de cultivo em
plantas terrestres e aquáticas

Quando pensamos em um projeto na área do paisagismo, diversos aspectos


precisam ser considerados, tais como a dimensão do local; o gosto do cliente;
a escolha de espécies que possam compor um ambiente bonito e agradável,
dentre outros fatores. Contudo, mais importante do que os aspectos estéticos,
é extremamente importante que o profissional do paisagismo se preocupe com
os aspectos biológicos das plantas. Nesse sentido, é preciso estudar as condições
do terreno e utilizar espécies que sejam bem adaptadas às condições de luz e
temperatura locais.

Como estudado na Unidade I, as plantas apresentam diferenças morfológicas, mas


realizam, de forma geral, os mesmos processos fisiológicos: todas necessitam de
água; elementos minerais; CO2 e O2 para que possam crescer, desenvolver-se e
realizar seus processos bioquímicos (como a fotossíntese e a respiração).

Aspecto muito importante e necessário é verificar o tipo de solo no qual as plantas


serão cultivadas. Apesar de inúmeras plantas aquáticas apresentarem importância
paisagística, a maioria das espécies utilizada nos projetos de interiores e exteriores
possui hábito terrícola.

Segundo Machado (2018), o solo é constituído de diversos componentes


físicos e orgânicos, de modo que é importante a identificação do tipo de solo
disponível no local onde será implantado o jardim. Ademais, deve-se considerar
as formas de manejo do solo, para que se possa corrigir possíveis problemas, e
adequá-lo ao correto plantio das espécies escolhidas.

Tupiassú (2008) afirma que, no primeiro momento, deve ser realizada a análise
do solo a olho nu, levando-se em consideração a sua aparência. Segundo

100
As Necessidades Básicas de Cultivo e Reprodução Vegetal | Unidade iii

a autora, solos escuros indicam que há maior quantidade de húmus (solo


humífero); enquanto a coloração mais clara indica maior proporção de areia. Por
fim, a tonalidade avermelhada indica solo argiloso.

A granulometria do solo é fator importante para projetos de jardinagem e


paisagismo. Dependendo desse conhecimento, é possível escolher corretamente
as espécies mais adequadas ao tipo de solo ou realizar manejo, de modo a obter as
características desejadas às espécies que serão ali cultivadas (como utilização de
corretivos, condicionantes do solo e fertilizantes).

Solos humíferos, segundo Machado (2018), são aqueles que possuem mais de
10% de húmus, isto é, são compostos por material orgânico em decomposição, o
que resulta em maior fertilidade. Quanto maior a quantidade de húmus no solo,
maior a sua capacidade de retenção de água e melhor a sua estrutura física. Solos
arenosos, por sua vez, são aqueles que contêm mais de 70% de areia; são mais
pobres em nutrientes minerais, menos estruturados e retêm pouca água devido
ao espaçamento entre as partículas. Os solos argilosos possuem mais de 30% de
argila e apresentam grande capacidade de retenção de água, sendo também mais
férteis. No entanto, solos argilosos tendem a ser mais duros e mais compactados
com o passar do tempo (Figura 94).

Figura 94. Canteiro de solo bem compactado.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

101
Unidade iii | As Necessidades Básicas de Cultivo e Reprodução Vegetal

Além da análise física, é também importante que se proceda à chamada análise


química do solo. Tupiassú (2008) recomenda a análise de pH (potencial
hidrogeniônico), indicativo de disponibilidade de nutrientes às plantas.
Geralmente, solos muito ácidos são mais pobres e necessitam de correção de
pH com uso de calcário dolomítico. A análise de pH pode ser realizada de forma
simples, mediante equipamento chamado de pHmetro.

De acordo com Niemeyer (2019), a maioria das plantas ornamentais tem faixa
de tolerância de pH do solo entre 6,0 e 6,5 (ligeiramente ácido). O autor cita
exemplos com suas respectivas preferências em relação ao pH:

» espécies que preferem solos ácidos (pH abaixo de 6,0): açucena


(Amaryllis belladona), antúrio (Anthurium andreanum), azaleia
(Rhododendron indicum), begônia (Begonia tuberosa), filodendro
(Philodendron andreanum), camélia (Camellia japonica), hortênsia
(Hydrangea hortensis macrophylla); e

» para solos alcalinos (pH acima de 7,5): buxo (Buxos sempervireus), cravo
(Dianthus cariophyllus), gerânio (Pelargonium sp.), lírio (Lilium sp),
petúnia (Petunia sp.), pinheiros, sálvias (Salvia splendens).

No preparo do solo para plantio, é muito importante revolver o substrato, de


modo que possa se tornar mais arejado (com maior quantidade de oxigênio). Dessa
forma, o processo de decomposição da matéria orgânica por microrganismos
do solo será facilitado (o que trará ao solo maior disponibilidade de nutrientes),
e as raízes e os animais presentes no solo (como as minhocas) terão oxigênio
para a sua respiração. As minhocas são animais muito importantes para o solo,
pois contribuem para sua aeração e ainda o fertilizam com os seus excrementos
(Figura 95).

Figura 95. Minhocas – Importantes para a aeração e fertilização do solo.

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/minhoca-solo-sujeira-macro-686592/.

102
As Necessidades Básicas de Cultivo e Reprodução Vegetal | Unidade iii

A adubação é outra etapa importante para o preparo do solo que receberá as


plantas. Apesar de encontrarmos facilmente adubos químicos (minerais) em
lojas de plantas, home centers e supermercados, é muito importante compreender
que, para um paisagismo mais sustentável que não altere significativamente as
características do solo, recomenda-se o uso de adubos orgânicos.

Por quê?

Tupiassú (2008) afirma que os adubos orgânicos são obtidos do processo


de decomposição de restos de plantas ou fezes de animais, realizado por
microrganismos do solo (bactérias e fungos) e pequenos animais, como as
minhocas. São úteis para melhorar as condições físicas do solo, deixando-o
mais solto; com melhor retenção de água e com aspecto mais adequado ao
desenvolvimento das raízes das plantas.

Os adubos químicos (minerais), os quais geralmente são comercializados sob a


sigla NPK, são produzidos pela indústria com base em atividades de mineração
de rochas. Já os adubos orgânicos são provenientes de fontes mais sustentáveis
(como tortas vegetais, húmus de minhoca, adubo orgânico proveniente de
compostagem, esterco de galinha, dentre outros). O uso de adubos orgânicos,
além de proteger o meio ambiente, apresenta algumas vantagens, tais como: são
absorvidos gradativamente pelo solo e pelas plantas, apresentam maior segurança
em relação aos possíveis excessos; são liberados lentamente e demoram cerca
de 15 dias para serem degradados e absorvidos pelas plantas, porém têm ação
prolongada.

Se o profissional optar pelo uso de adubo mineral, Fermino e Bellé (2001)


recomendam que as folhagens necessitam de maiores proporções de N e K; as
floríferas e frutíferas, por sua vez, já necessitam de maiores teores de P. O período
correto de adubação, no entanto, depende da exigência de cada tipo vegetal: as
plantas com baixa exigência de nutrientes geralmente necessitam de 0,5 a 1,0 g
de sais por litro de água, a exemplo das orquídeas, azaleias, antúrios e bromélias
(Figura 96); as plantas de médio grau de exigência, como gloxínia e gérbera,
necessitam de 1 a 3 g de sais por litro de água; e as de alto grau de exigência, como
hortênsias e gerânios, já necessitam de 3 a 6 g de sais por litro de água.

103
Unidade iii | As Necessidades Básicas de Cultivo e Reprodução Vegetal

Figura 96. Bromélias crescendo como epífitas em tronco de árvore, em seu habitat natural.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Importante forma de contribuir para a preservação do meio ambiente e, ao mesmo


tempo, produzir adubo orgânico de excelente qualidade, é utilizar o método da
compostagem.

A compostagem, segundo Oliveira (2005), é considerada um processo de


transformação de resíduos orgânicos em adubo. O composto é feito mediante
a sobreposição dos resíduos orgânicos, com formação de pilhas ou leiras, cuja
montagem tem como base alternar os diferentes tipos de resíduos e formar
camadas com material úmido (matéria orgânica, fonte de N), com matéria seca
(restos de grama, folhas secas, palha, serragem, fontes de C). Esse é o modelo
básico para a montagem de uma composteira de chão (ou composteira aberta)
(Figura 97). Em pequenos espaços, no entanto, é possível montar composteiras
com caixas plásticas, baldes ou caixotes de madeira com minhocas (processo este
conhecido como vermicompostagem). O composto produzido por esse método é
um adubo de excelente qualidade.

Figura 97. Leiras de compostagem no pátio da Prefeitura Regional da Lapa, em São Paulo.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

104
As Necessidades Básicas de Cultivo e Reprodução Vegetal | Unidade iii

Vários fatores influenciam as taxas fotossintéticas das plantas, como a


disponibilidade de água; intensidade luminosa; concentração de CO 2 e
temperatura. Como as plantas conseguem driblar esses fatores e manter o seu
crescimento e desenvolvimento?

Vimos que a disponibilidade de água é fator muito importante para as espécies


fotossintetizantes terrestres, porque os estômatos podem permanecer abertos
por mais tempo, com trocas gasosas facilitadas (lembrar que os estômatos
são estruturas presentes nas folhas, pelas quais a planta pode perder água sob
a forma de vapor). Além disso, há mecanismos morfológicos e fisiológicos
que ajudam as plantas a economizar água, tais como folhas mais espessas ou
transformadas em espinhos; caules armazenadores de água; ceras que recobrem
superfícies expostas ao ar; folhas com tricomas na superfície, dentre outras
estratégias.

Bellé (2008) afirma que as condições ambientais são determinantes para as


perdas de água por transpiração e evaporação da superfície do solo. São eles
a radiação solar; a temperatura do ar; a umidade relativa do ar e os ventos. Se o
produtor conhecer essas condições e monitorá-las com frequência, será capaz de
definir a quantidade de água a ser reposta pela irrigação das plantas.

Segundo Machado (2018), a rega é de extrema importância para a manutenção


das plantas em um jardim ou projeto paisagístico. Sempre devemos nos lembrar
de que o excesso de água pode trazer problemas para a saúde das plantas
tanto quanto a sua falta. Isso ocorre porque nem todas as plantas possuem
as mesmas requisições em relação ao regime de regas. O excesso de água, no
caso de suculentas, por exemplo, pode ocasionar apodrecimento das raízes e
consequente morte da planta.

Segundo Niemeyer (2019), plantas de interior, de forma geral, necessitam


de regime de rega e umidade mais ajustados: avencas, samambaias, musgos
e plantas dos gêneros Camelia, Dieffenbachia, Dracaena, Gardenia e Maranta
devem ser cultivadas em substratos com umidade constante, bem drenados e
não encharcados, com maior espaçamento entre as regas nos dias mais frios.
Cactáceas, suculentas e algumas plantas pertencentes aos gêneros Begonia e
Euphorbia não necessitam de regas tão frequentes, de modo que é suficiente
uma a três vezes por mês. O autor orienta que, para os demais gêneros, deve-se
adotar regime intermediário.
105
Unidade iii | As Necessidades Básicas de Cultivo e Reprodução Vegetal

Determinadas plantas ornamentais são especializadas à vida no meio aquático


e costumam ser classificadas em três grupos, quais sejam, aquáticas flutuantes;
aquáticas submersas e parcialmente flutuantes. As flutuantes permanecem com
suas folhas emersas e as raízes não atingem o solo, a exemplo do aguapé e
da alface-d’água. As submersas permanecem todo o tempo dentro da água, a
exemplo da elódea. As parcialmente flutuantes se desenvolvem na superfície,
mas suas raízes chegam ao sedimento; é o caso das ninfeias, do lótus e da
vitória-régia. Muitas plantas dessa categoria têm sido utilizadas em projetos
paisagísticos, com a composição em bacias e quedas de água.

A luz é fator essencial para o desenvolvimento das plantas e, em especial, para


a floração. Algumas espécies vegetais, como as do grupo das samambaias, não
suportam luz direta e, quando expostas, têm suas folhagens amareladas. Se
compararmos, no entanto, com o girassol ou o cosmo-de-jardim, é possível
perceber que nestas últimas há uma nítida adaptação a ambientes ensolarados.

Altos níveis de radiação incidente, acima da capacidade de utilização na


fotossíntese, destacam-se como um dos fatores que podem provocar danos às
moléculas de clorofila, levando a uma situação de estresse, conhecida como
fotoinibição. Isso reduz a produtividade das plantas (ARAÚJO; DEMINICIS,
2009).

Taiz et al. (2017) explicam que a luz é fundamental para a fotossíntese, mas que
seu excesso pode ser muito prejudicial. Plantas que vivem em locais com excesso
de luz geralmente apresentam adaptações anatômicas capazes de diminuir a
absorção em 60%.

Os ventos também podem ocasionar muitos transtornos às plantas, em especial


às que possuem folhagens ou flores muito delicadas, a exemplo da samambaia
renda-portuguesa; da primavera, do brinco-de-princesa e das petúnias. Ventos
fortes podem provocar queda prematura das flores antes de serem polinizadas;
perda de água por evapotranspiração; choques mecânicos e transporte de
sementes de plantas invasoras.

106
CAPÍTULO 2
As técnicas de multiplicação nas
plantas (plantio por sementes e
propagação vegetativa)

A multiplicação de espécies vegetais é um processo relativamente simples e pode


ser realizada de duas maneiras: por sementes ou de forma vegetativa.

Para que uma planta seja multiplicada por sementes, antes de mais nada,
ela precisa ter a capacidade de produzi-las (somente as gimnospermas e
angiospermas produzem sementes e são, por essa razão, classificadas como
espermatófitas). Outra questão importante: para que haja a produção de
sementes, é imprescindível que a planta tenha gerado elementos de reprodução
sexuada; tenha sido polinizada e fecundada.

O que é a semente?

A semente, segundo Pereira e Putzke (2010), é a estrutura vegetal que contém


o embrião e pode estar contida no interior de algum fruto. É constituída de
tegumento (ou envoltório da semente); reserva nutritiva e embrião (massa
de células provenientes das divisões celulares que ocorrem no zigoto após a
fecundação da planta).

Tupiassú (2009) explica que as sementes podem permanecer em estado de


dormência por vários anos antes de germinar (e daí ocorrer o ressurgimento
da capacidade de crescimento do embrião após a ruptura do tegumento e
emergência da plântula). É, portanto, necessário ao profissional da jardinagem
conhecer quais são as condições favoráveis para que as sementes quebrem
essa dormência. Em alguns casos, a semente poderá necessitar de variações
de temperatura; de atrito (escarificação do tegumento) ou até mesmo ser
mergulhada em solução ácida.

É muito importante compreender que a semente contém um embrião, que


carrega consigo o patrimônio genético daquela espécie e representa fator
de sobrevivência. As plantas que se desenvolvem a partir da germinação
de sementes, no entanto, não são idênticas às plantas-mães, pois ocorre
variabilidade genética durante a formação dos gametas para a reprodução
sexuada e, consequentemente, do zigoto e do embrião.

Quais as vantagens do plantio por sementes?

107
Unidade iii | As Necessidades Básicas de Cultivo e Reprodução Vegetal

Determinadas espécies só se reproduzem por sementes, como muitas palmeiras.


Esse método é o mais indicado para plantio de exemplares arbóreos e garante
variabilidade genética aos descendentes da planta-mãe. Com isso, possuem
melhores condições de resistir a doenças e intempéries ambientais.

Muitos produtores optam por fazer um banco de sementes (por exemplo, banco
com sementes de plantas nativas e posterior produção de mudas). As sementeiras
podem conter, por exemplo, areia grossa lavada, vermiculita ou terra vegetal.
Como o embrião está envolto por reserva nutritiva, não há necessidade de um
solo rico e adubado para a germinação, pois a própria reserva supre o embrião até
que as folhas nasçam, desenvolvam-se e possam realizar a fotossíntese (Figura
98).

Figura 98. Semente germinando e formando o primeiro par de folhas.

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/germinação-rebento-sementes-crescer-5473511/.

Além da multiplicação por sementes, há também inúmeras possibilidades de o


jardineiro obter novas mudas em seu jardim por meio de técnicas de propagação
vegetativa. Os órgãos vegetativos das plantas são as raízes, os caules e as folhas.

Como é realizado esse processo?

Na multiplicação vegetativa, fragmentos de folhas, ramos e raízes podem ser


utilizados como elementos de propagação, dando origem a clones da planta-mãe.

Quais são as principais técnicas?

Existem variadas técnicas de propagação vegetativa, porém destacaremos as mais


utilizadas e conhecidas:

» estaquia;

108
As Necessidades Básicas de Cultivo e Reprodução Vegetal | Unidade iii

» divisão de touceiras;

» enxertia;

» reprodução por órgãos de reserva subterrâneos.

Uma das técnicas mais conhecidas de propagação vegetativa é a estaquia. Esta


permite que uma planta nova seja produzida a partir de fragmento do caule, da
folha ou da raiz. Segundo Machado (2018), esse método é muito utilizado quando
o produtor deseja conservar belas flores, folhagens ou frutos, ou após longo
período de desenvolvimento de variedades botânicas (como as decorrentes do
melhoramento genético), para propagar os híbridos da forma como foram gerados,
sem variabilidade em aspectos morfológicos de interesse paisagístico.

As estacas podem ser produzidas a partir de brotos jovens, de ramos mais


velhos, de folha ou do fragmento de raiz, dependendo da planta. Em plantas de
Thumbergia sp., as estacas são semilenhosas, como as mostradas na Figura 99.

Figura 99. Estacas de romãzeira.

Fonte: Ferreira, 2017.

As estacas devem ter, em média, entre 15 e 20 cm de comprimento e devem


conter gemas (botões vegetativos do caule). Quando recolhidas, primeiro
devem ser plantadas em vasos menores, de 2 a 10 cm do solo, bem irrigados,
protegidos do sol pleno até formarem raízes adventícias. Em seguida, podem
ser transferidas para o local definitivo.
109
Unidade iii | As Necessidades Básicas de Cultivo e Reprodução Vegetal

Em cada estaca, não é aconselhável manter todas as folhas, pois a planta


continuará realizando o processo de transpiração e perderá toda a água que
ainda resta nos tecidos do vegetal. Pode-se proceder à retirada das folhas ou
somente cortar cada uma delas ao meio. Plantas herbáceas e arbustos podem ser
reproduzidos por estacas, a exemplo do antúrio; da azaleia; da pingo-de-ouro;
da primavera; da roseira; e da tumbérgia.

A propagação vegetativa também pode ser realizada a partir de uma folha inteira,
separada em partes, a exemplo da espada-de-são-jorge (Sansevieria trifasciata
var. laurentii, Ruscaceae). Cada parcela é enterrada para que possa formar raízes
adventícias.

Além da espada-de-são-jorge, outras plantas também podem ser propagadas


somente por meio das folhas, como é o caso da lança-de-são-jorge (Sansevieria
cylindrica Bojer, Ruscaceae); begônia (Begonia rex Putz., Begoniaceae) e de muitas
espécies de suculentas, dentre elas a Sedum morganianum E. Walther, Crassulaceae,
conhecida popularmente como rabo-de-burro; Sedum burrito Moran, Crassulaceae,
conhecido como dedinho-de-moça e Sedum rubrotinctum RT Clausen, Crassulaceae,
popularmente chamada de dedinho-de-moça-rubro (Figura 100).

Figura 100. Sedum rubrotinctum.

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/sedum-rubrotinctum-sedum-planta-2763593/.

A divisão de touceiras é considerada uma técnica simples, na qual são separados


ramos entouceirados, mediante a separação das raízes ou rizomas da planta
mãe, porém só pode ser utilizada quando a planta escolhida tiver crescimento
em touceiras, a exemplo de moreias, helicônias (Heliconia spp., Heliconiaceae);
clorofitos [Chlorophytum comosum (Thunb.) Jacques Agavaceae], lírio-de-são-josé
[Hemerocallis flava (L.) L., Hemerocallidaceae], dentre outras (Figura 101).

110
As Necessidades Básicas de Cultivo e Reprodução Vegetal | Unidade iii

Figura 101. Heliconia sp. no Parque Burle Marx (São Paulo).

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Dependendo do tamanho da planta, a técnica consiste em retirar o torrão


cuidadosamente, separando as mudas, uma a uma, manualmente ou com
auxílio de tesoura. Para plantas de porte maior, como as moreias (Dietes bicolor
Sweet ex Klatt, Iridaceae); as clívias (Clivia miniata Regel, Amaryllidaceae); os
lírios-zefirantes (Zephyranthes rosea Lindl., Amaryllidaceae); e ave-do-paraíso
(Figura 102), deve-se separar as touceiras com auxílio de uma enxada, pá ou
chibanca.

Figura 102. Ave-do-paraíso (Strelitzia reginae Aiton, Strelitziaceae).

Fonte: https://www.publicdomainpictures.net/pt/view-image.php?image=98975&picture=strelitzia-na-calcada.

111
Unidade iii | As Necessidades Básicas de Cultivo e Reprodução Vegetal

A enxertia, segundo Machado (2018), é um método de reprodução que se


caracteriza por diversas técnicas. O princípio básico é retirar um fragmento
do caule de determinada planta adulta e unir esse fragmento ao caule de outra
planta, cujas raízes estão crescendo no solo. A planta que recebe o fragmento é
chamada de “porta-enxerto” ou “cavalo”; enquanto o fragmento é denominado
“enxerto” ou “cavaleiro”. O autor explica que esse método é comumente utilizado
em frutíferas e roseiras, e recomenda a utilização de plantas com tecidos jovens e
graus de maturação equivalentes. O “porta-enxerto” deve sempre ser uma planta
saudável e vigorosa, de modo que o “enxerto” encontre ambiente fortalecido
para seu crescimento.

Peil (2003) afirma que, para que o resultado da enxertia seja satisfatório, deve
haver afinidade entre o “enxerto” (Figura 103) e o “porta-enxerto”, tanto
em aspectos morfológicos como fisiológicos, especialmente em relação à
constituição dos tecidos, pois os vasos condutores das duas plantas precisam
ter diâmetros semelhantes e em igual número. Além disso, sob o ponto de vista
da fisiologia, é também muito importante haver semelhanças na composição
da seiva. Em seu artigo, a autora descreve que a enxertia em hortaliças (em
especial das famílias Solanaceae e Cucurbitaceae), apesar de exigir mão de obra
qualificada, tem como finalidade obter maior resistência a doenças do solo.
Desse modo, é adequada àquelas culturas com elevado valor de mercado.

Figura 103. Enxerto de uma videira. Observe a gema caulinar.

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/enxerto-godello-vinha-tensão-parra-2707830/.

112
As Necessidades Básicas de Cultivo e Reprodução Vegetal | Unidade iii

A multiplicação de uma planta pode ainda ser realizada por meio de órgãos de
reserva subterrâneos, tais como rizomas, tubérculos e bulbos, os quais podem
ser divididos e depois replantados até surgirem brotos.

Leal e Biondi (2007), as quais trabalharam com propagação vegetativa por rizomas
de Gloxinia sylvatica (H. B. & K.) Wiehler (Gesneriaceae), explicam que esse tipo
de método de propagação proporciona lotes de plantas bastante uniformes e
produtivos quando as condições climáticas e do solo são favoráveis.

O narciso (Narcissus x cyclamineus DC. (Amaryllidaceae) pode ser propagado


facilmente por bulbos. Lorenzi e Souza (2008) recomendam o plantio no outono,
pois a planta floresce no final do inverno e início da primavera. A amarílis
(Hippeastrum spp., Amaryllidaceae) também é uma herbácea bulbosa muito
utilizada no paisagismo devido à beleza de suas inflorescências terminais.

Dentre as plantas que podem ser propagadas pela divisão de rizomas, pode-se
citar o açafrão-da-terra (Curcuma longa L., Zingiberaceae), também conhecido
como cúrcuma (Figura 104), cujos rizomas amarelos são utilizados na alimentação
como condimento e corante. Também é possível citar outras plantas da mesma
família, como Hedychium coccineum Buch. Ham. Ex Sm., conhecido como
gengibre-vermelho.

Figura 104. Açafrão-da-terra (Curcuma longa L., Zingiberaceae).

Fonte: https://search.creativecommons.org/photos/387c5b1e-3954-45bf-8cb8-a6858b255743.

113
CAPÍTULO 3
Manutenção das plantas cultivadas

Após a implantação do projeto de paisagismo, torna-se necessário que o local seja


cuidado de forma adequada, para que as plantas ali cultivadas se desenvolvam
bem e saudáveis, de modo que substituições raramente sejam necessárias, o que
encareceria o projeto. Dessa forma, a manutenção é fundamental, e é muito
importante que o profissional esclareça bem aos clientes sobre a responsabilidade
de acompanhar o jardim, de modo a tornar essa obrigação algo prazeroso e
corriqueiro.

Quais cuidados serão necessários?

Niemeyer (2019) afirma que, dentre as atividades relacionadas à manutenção


periódica do jardim, os seguintes aspectos devem ser levados em consideração:

» Regas diárias nos dias quentes, e espaçada nos demais.

» Adubação periódica para reposição dos nutrientes do solo.

» Poda da grama sempre que necessário.

» Podas de conformação ou limpeza de arbustos e árvores.

» Reposição anual das forrações e dos gramados com terra adubada e


peneirada (repor cerca de 1cm de terra).

» Manutenção do tutor quando a espécie ainda estiver frágil ao vento.

» Limpeza geral das espécies (retirada de galhos e ramos defeituosos).

» Se for o caso, aplicação de inseticidas (preferencialmente caseiros) para


controle de doenças e animais invasores.

Machado (2018) explica que se um jardim não tiver manutenção, dificilmente


manterá suas características originais da época de implantação do projeto, e terá
chances de não sobreviver. Os cuidados, por sua vez, devem ser diários, semanais
ou mensais, dependendo da requisição das plantas escolhidas. O autor cita que
os cuidados diários envolvem verificação da necessidade de água e remoção de
folhas secas, deterioradas e manchadas, bem como de flores secas e murchas.
Os cuidados semanais se relacionam ao regime de regas; aparecimento eventual
de alguma doença ou animalzinho invasor; reposicionamento dos vasos etc. A

114
As Necessidades Básicas de Cultivo e Reprodução Vegetal | Unidade iii

observação é fundamental! Os cuidados mensais envolvem produção de mudas;


podas de contenção; limpeza das folhas; replantio de alguns vasos; e remoção de
plantinhas invasoras, caso existam.

A ocorrência de doenças e animais invasores é possível em qualquer jardim, até


mesmo em ambientes internos, porém é muito importante destacar que, quando
uma planta está em local adequado, com regimes de luz, regas e adubação de
acordo com suas requisições básicas, dificilmente será alvo de doenças e pragas.

Nos jardins, estão presentes muitos seres vivos, os quais convivem harmoniosamente
com as plantas. No entanto, há situações nas quais um organismo, aparentemente
inofensivo, traz algum risco potencial devido ao acréscimo populacional acima
do esperado. Qualquer espécie pode se tornar uma “praga” quando sua população
cresce desordenadamente, mas isso não significa que essa espécie deixa de exercer
o seu papel na natureza. Por exemplo, as joaninhas (Figura 105) são insetos
que, em um jardim, exercem importante papel no controle de pulgões, vespas e
cochonilhas. Tatuzinho-bola e centopeias participam da degradação da matéria
orgânica no solo, auxiliando na sua fertilização.

Figura 105. Joaninha (Cryptolaemus montrouzieri) importante no controle biológico de pulgões, vespas e cochonilhas em
plantas.

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/joaninha-macro-inseto-besouro-4108031/.

Pitta (1995) afirma que doenças são alterações decorrentes da associação entre
determinado patógeno e a planta (hospedeira), em interação com o meio
ambiente. Podem ocasionar danos à estrutura e função da planta, levando à
perda da beleza estética e redução da produtividade.

115
Unidade iii | As Necessidades Básicas de Cultivo e Reprodução Vegetal

As doenças são ocasionadas por microrganismos, em especial bactérias e


fungos, presentes no solo, na água, no ar e em utensílios de jardinagem,
como as ferramentas, desde que estas não tenham sido limpas e higienizadas
corretamente. Nem sempre é fácil reconhecer o sintoma causado por uma
doença, e a prática profissional traz maior experiência.

Para que se possa chegar ao diagnóstico correto, é sempre recomendado que


se procure um especialista, porém é possível detectar que algo está errado
com as plantas por meio de olhar atento e acompanhamento rigoroso de seu
desenvolvimento. Pitta (1995) explica que o diagnóstico direto pode ser realizado
com observação de sintomas visíveis, como manchas em folhas e caules, bem
como áreas de necrose de tecidos; perda da coloração verde das folhas; e presença
de substâncias pulverulentas ou pegajosas sobre os ramos e as folhagens.

O uso de inseticidas, fungicidas e outros defensivos químicos deve ser


considerado caso a planta sofra risco de morte, porém ações de prevenção, com
utilização de caldas orgânicas e óleos, como o de neem (inseticida natural), não
trazem riscos à saúde do profissional, do cliente e nem de animais domésticos.

Para finalizar este capítulo, deixarei o parágrafo de um artigo sobre paisagismo


sustentável, que diz:

Utilizar espécies nativas para o paisagismo não se trata de ir até


a planta in loco e retirá-la para seu uso, é primordial a realização
de pesquisas para a produção vegetal, de forma que resguarde as
existentes e multiplique espécies, numa tentativa de manter a espécie
existente.
Fonte: Vieira e Oliveira, s.d.

116
IMPLANTAÇÃO DE
PROJETOS COM UNIDADE IV
ESPÉCIES VEGETAIS

CAPÍTULO 1
Hortas residenciais

De acordo com Piaszenski (2016), nas regiões metropolitanas, muitas pessoas


têm optado por ampliar as áreas verdes em suas residências para, de alguma
forma, recuperar o contato com o mundo natural. A falta de segurança nas áreas
populares e abertas ao público é um dos fatores que, segundo a autora, vem
estimulando projetos de arquitetura paisagística que levem em consideração o
meio ambiente e que proporcionem locais de lazer para as famílias, tanto nas
residências como nas empresas.

Siviero et al. (2011) afirmam que a produção de alimentos sempre foi atividade
relacionada às áreas rurais, pois os centros urbanos eram associados a locais de
consumo de produtos agrícolas provenientes do campo. Atualmente, essa ideia
está se modificando, pois, a cada dia, observam-se mais quintais domésticos e
hortas urbanas produzindo alimentos dentro das áreas metropolitanas.

Branco e Alcântara (2011) relatam que o cultivo de hortaliças em residências e


o surgimento de hortas comunitárias se tornaram importantes como política
alternativa para a redução da pobreza e para a melhoria das condições alimentares
de muitas famílias aqui no Brasil, desde o final do século XX. No entanto, a
manutenção desses projetos em longo prazo, como forma de sustentabilidade
social, econômica e ambiental, pode não ser tão garantida quando se pensa na
questão da posse da terra, pois os autores observaram que a maioria dos projetos
apresentavam menos de três anos, sendo raros aqueles em longo prazo.

Alguns dos fatores citados como restritivos aos projetos foram:

» Hortas cultivadas em áreas particulares ou públicas necessitam de


regulamentação, especialmente no que se refere a terrenos não
direcionados para esse fim.

» Dependência da vontade política momentânea dos governantes nos


casos em que há subsídios governamentais envolvidos.

117
Unidade iv | Implantação De Projetos Com Espécies Vegetais

» Pressões provenientes da expansão urbana desordenada dos municípios,


o que afeta a área disponível para cultivo.

» Dificuldades para a formação de parcerias, o que prejudica o acesso a


recursos financeiros para custeio e/ ou investimento.

» Dificuldades de acesso ao crédito oficial.

Comelli (2015) afirma que o termo “hortas urbanas” representa um espaço


multiuso, que não se restringe à produção de alimentos, mas também espaços
de lazer, pois possibilita que as áreas urbanas se tornem espaços sustentáveis e
que atendam às necessidades dos habitantes locais. A autora explica que as hortas
domésticas ou caseiras são pequenas parcelas de terra cultivada, geralmente o
próprio quintal da residência, as quais normalmente são destinadas à produção
de hortaliças, plantas aromáticas e medicinais, sejam para consumo próprio ou
de toda a família. Tais espaços não se restringem ao meio rural e podem estar
inseridos nas áreas urbanas.

Segundo Coutinho e Costa (2011), a criação de hortas caseiras tem apresentado


um crescente avanço, com iniciativas desde a década de 1980, na busca por
melhores rendimentos domésticos, produção de alimentos e nutrição familiar.
Isso contribuiu para a diversidade de alimentos produzidos de maneira saudável.

Millard (2016) afirma que cultivar hortas em casa é uma atividade extremamente
prazerosa, apesar de trabalhosa, pois a recompensa de ter ervas, brotos, alfaces
e flores em sua cozinha supera todas as dificuldades. No entanto, recomenda
que é muito importante compreender o motivo pelo qual se inicia o plantio de
determinado vegetal; se irá utilizá-lo no futuro; qual a sua produtividade; ou
se há chance de ter muito desperdício em sua cultura. Todos esses fatores são
importantes ao planejar uma horta caseira.

Clemente e Haber (2012) argumentam que o cultivo de hortas em residências


e pequenos espaços dentro das áreas urbanas é uma excelente opção para quem
está interessado em produzir hortaliças para seu próprio consumo, por exemplo.
Segundo as autoras, é possível aproveitar corredores, varandas, sacadas e quintais
para produzir alimentos saudáveis e livres de agrotóxicos, e, dessa forma, oferecer
alimentos saudáveis para toda a família.

Quais plantas podem ser cultivadas em espaços residenciais ou coletivos nas


áreas urbanas e quais cuidados devem ser tomados? Freitas et al. (2013) fornecem

118
Implantação De Projetos Com Espécies Vegetais | Unidade iv

diversas recomendações para que o plantio de uma horta seja realizado com
sucesso:

» As espécies devem ser escolhidas de acordo com a sua época de cultivo,


a exemplo da alface de folhas lisas, cujo plantio é adequado aos períodos
mais frios. A de folhas crespas, porém, é mais indicada para períodos
quentes do ano.

» Com relação às formas de cultivo, recomenda-se que nem todas as


hortaliças sejam cultivadas como espécies isoladas, mas, sim, juntas,
associadas ou consorciadas, a exemplo da salsinha, cebolinha, cenoura,
alface e beterraba. Essa associação possibilita melhor aproveitamento
da área de cultivo, redução no consumo de água e diminuição do ataque
de animais invasores.

» A propagação pode ser realizada por sementes ou por propagação


vegetativa. Para a semeadura, é recomendado utilizar bandejas
de isopor ou abrir sulcos na terra, com 2 cm de largura x 1 cm de
profundidade, nos quais serão colocadas 3 a 4 sementes, cobertas com
terra ou esterco curtido. Isso ajudará o solo a se manter mais úmido e
evitará a formação de crosta sobre as sementes. Após uma semana da
emergência (aparecimento da planta posteriormente à germinação da
semente), é necessário fazer o desbaste e deixar apenas uma plântula
por cova.

» A irrigação é fator importante para o cultivo de hortaliças, pois


estas geralmente precisam ser cultivadas em solos bem úmidos.
Recomenda-se que as irrigações sejam realizadas bem cedo, por volta
das 6h às 8h da manhã ou, preferencialmente, no final da tarde, por
volta das 16h ou 17h, com regadores que não sejam muito fortes.
Esse cuidado está relacionado à intensidade da radiação solar, pois
regar as plantas em horários de sol forte pode ocasionar danos às
folhagens e estresse fisiológico, além de parte da água não ser retida
pelo solo e evaporar rapidamente. O uso de regadores com menor
pressão de água tem como finalidade simular chuva leve.

» Outro fator importante é o controle de plantas “daninhas” nos canteiros.


Recomenda-se que esse controle seja realizado de forma manual e com
auxílio de enxadas, quando as plantas tiverem tamanho máximo de 5
cm, pois as hortaliças não crescem bem em locais com muitas plantas
competidoras.

119
Unidade iv | Implantação De Projetos Com Espécies Vegetais

» Para manter uma horta com plantas saudáveis e nutritivas, não é


aconselhável utilizar produtos químicos para controle de animais
invasores e doenças. Para isso, soluções estratégicas e naturais devem
ser priorizadas. Na horta, nada melhor do que a prevenção, ao invés
do controle. Torna-se, portanto, muito necessário o uso de caldas e
extratos para prevenir o desenvolvimento de fungos, bactérias, insetos
e afins, como o extrato de alho; caldas à base de canela e; óleo de neem
(extraído das sementes da planta Azadirachta indica, Meliaceae).

Mossini e Kemmelmeier (2005) afirmam que, no óleo de neem, o composto


que atua com atividade inseticida é a azadiractidina, cuja maior concentração
se encontra nas sementes e caracteriza a planta como um biopesticida. Esse
composto se concentra aumenta com o seu desenvolvimento e amadurecimento
dos frutos.

Costa (2017) recomenda o plantio de algumas espécies na horta para que os


animais invasores não se desenvolvam com facilidade. Tais plantas atuam como
verdadeiros “inseticidas naturais”. São elas: Plectranthus ornatus (Lamiaceae),
conhecida popularmente como boldinho; Tropaeolum majus (Tropaeolaceae),
conhecida como capuchinha; e Tagetes erecta (Asteraceae), conhecida como
tagetes.

A boldinho possui aroma que evita a permanência de baratas, formigas e


pernilongos; a capuchinha atrai borboletas, que preferem depositar os seus ovos
nessa planta, em vez de depositá-los nas hortaliças; e a tagetes tem o potencial
de espantar animais invasores, em especial os pulgões. Devido ao seu forte
odor, é também conhecida como cravo-de-defunto (Figura 106).

Figura 106. Tagetes erecta (Asteraceae), conhecida como cravo-de-defunto.

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/flor-cal%C3%AAndula-tagetes-erecta-anual-4951488/.

120
Implantação De Projetos Com Espécies Vegetais | Unidade iv

Aspecto muito importante que deve ser levado em consideração quando se


decide iniciar o cultivo de uma horta é a escolha das espécies de acordo com
a finalidade do local: é possível realizar o cultivo de plantas alimentícias,
aromáticas e medicinais. Além disso, muitas plantas alimentícias, além de seus
benefícios nutricionais, também auxiliam na prevenção de doenças e muitas
plantas aromáticas são comestíveis e medicinais.

Millard (2016) afirma que um dos projetos mais satisfatórios que uma pessoa
que gosta de plantas pode desenvolver é a manutenção de vasos com ervas à sua
disposição. Segundo a autora, há muitas possíveis combinações, a exemplo de
orégano, tomilho e manjericão. É aconselhável cultivá-los em vasos separados,
de modo que se possa isolá-los caso alguma doença ou animal invasor os infecte.
De forma geral, há muitas ervas que se adaptam bem a espaços pequenos, desde
que fiquem em local bem iluminado. É importante, porém, evitar locais muito
quentes.

As ervas aromáticas são muito úteis na gastronomia e sempre foram muito


apreciadas. Apesar de muitas não serem espécies nativas do Brasil, adaptaram-se
muito bem ao nosso clima e podem ser cultivadas para uso culinário com sucesso.

A seguir, deixarei informações sobre algumas espécies comumente utilizadas


em hortas residenciais, as quais possuem inúmeros benefícios à saúde humana.
Dentre as plantas aromáticas alimentícias e medicinais costumeiramente
encontradas em hortas residenciais, podemos citar o manjericão e o alecrim,
cujas informações foram extraídas de Lorenzi e Matos (2008).

O manjericão (Ocimum basilicum L., Lamiaceae) é subarbusto ereto; muito


ramificado; que atinge o comprimento de 30 a 50 cm; e possui folhas com 4 a
7 cm de comprimento, com flores reunidas em inflorescências terminais. Planta
muito aromática e utilizada como condimento, especialmente em molhos
para massas. A infusão de suas folhas tem sido recomendada para o alívio de
espasmos abdominais, febre digestão, infecções bacterianas e parasitárias do
intestino. O óleo essencial presente em suas folhas é constituído de timol,
metil-chavicol, linalol, eugenol, cineol e pireno (Figura 107).

121
Unidade iv | Implantação De Projetos Com Espécies Vegetais

Figura 107. Manjericão (Ocimum basilicum L., Lamiaceae).

Fonte: arquivo pessoal da autora.

O alecrim (Rosmarinus officinalis L., Lamiaceae) é uma planta de hábito


subarbustivo, ereta, pouco ramificada, que chega a até 1,5 m de altura, com folhas
lineares, de pequena espessura, e pequenas flores azuladas. Folhas, flores e frutos
podem ser utilizados na alimentação para dar sabor aos mais variados pratos,
como excelente condimento. As folhas contêm óleo essencial constituído por
cineol, alfa-pineno e cânfora, com muitas propriedades benéficas, dentre elas
a atividade antimicrobiana, cicatrizante e estimuladora do couro cabeludo. A
infusão de suas folhas tem sido utilizada na medicina popular para o tratamento
de má digestão, gases, dores de cabeça, fraqueza etc. (Figura 108).

Figura 108. Alecrim (Rosmarinus officinalis L., Lamiaceae).

Fonte: arquivo pessoal da autora.

122
Implantação De Projetos Com Espécies Vegetais | Unidade iv

Dentre as alimentícias com excelente valor nutricional, que podem ser


cultivadas em pequenos espaços, podemos citar a beterraba, a cenoura, diversas
variedades de pimentas, pimentão, chuchu, abóboras, tomate, alface, couve,
rúcula, almeirão, dentre outras. O almeirão-roxo (Figura 109) pertence à espécie
Lactuca canadensis L., Asteraceae e é uma planta com diversas propriedades
nutricionais, cujas folhas costumam ser utilizadas na alimentação humana,
crua ou cozida. É rica em fibras vegetais; vitaminas A, B e C; sais minerais,
como o cálcio e o fósforo; e propriedades antioxidantes. Essa variedade é
menos conhecida e consumida do que o almeirão comum e, por essa razão, é
classificada como planta alimentícia não convencional (PANC). Falaremos mais
sobre essas plantas no nosso próximo capítulo.

Figura 109. Lactuca canadensis L. (Asteraceae) – Conhecida como almeirão-roxo.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

123
CAPÍTULO 2
Plantas alimentícias não convencionais
(PANCs)

As plantas alimentícias não convencionais (PANCs) incluem, segundo Kinupp e


Lorenzi (2014), frutos, frutas, folhas, flores, rizomas, sementes e outras estruturas
ou partes vegetais que podem ser consumidas pela espécie humana, tanto in
natura como após algum tipo de preparo na culinária. Os autores explicam que
o conceito de PANCs inclui as “partes de plantas não convencionais” e “partes
não convencionais” de plantas comumente conhecidas e já utilizadas pela espécie
humana na alimentação.

Neste capítulo, abordaremos alguns importantes aspectos relacionados às plantas


alimentícias não convencionais, mas de forma alguma pretendemos esgotar o
assunto, pois inúmeros trabalhos ainda estão sendo realizados na abordagem sobre
PANCs e a cada dia mais conhecimento é incorporado, com novos livros e artigos.

Segundo informações da Organização das Nações Unidas para Alimentação


e Agricultura (FAO, 2010), embora haja cerca de 30.000 espécies de plantas
comestíveis, mais da metade de toda a energia global é atendida por apenas quatro
culturas, quais sejam, arroz, batata, trigo e milho, o que representa uma lacuna
quanto à biodiversidade de alimentos vegetais utilizados pela espécie humana.

As PANCs representam a possibilidade de encontrar soluções para os problemas


enfrentados pelos sistemas alimentares sustentáveis, porém dependem de
estudos sobre a composição alimentar de plantas utilizadas regionalmente e
da aproximação das culturas regionais com o conhecimento científico. Busca
relacionar a ciência da nutrição aos aspectos sustentáveis e agroecológicos,
visando à soberania alimentar (JACOB, 2020).

A utilização de PANCs tende a aproximar a produção de alimentos do


consumo, estabelecendo uma ponte entre o urbano e o rural; a valorização da
agrobiodiversidade dos alimentos in natura e regionais; o respeito pelas tradições
de comunidades tradicionais; e o resgate das identidades, memórias e culturas
alimentares (MMA, 2010).

Apesar de, muitas vezes, serem relatadas como plantas “daninhas”, as hortaliças
não convencionais têm mostrado grande potencial de uso em hortas residenciais.

124
Implantação De Projetos Com Espécies Vegetais | Unidade iv

De acordo com Kinupp e Barros (2007), apresentam grande importância


ecológica e econômica, com recursos genéticos de potencial ainda inexplorado.

Azevedo (2018) afirma que, no território brasileiro, estudos etnobotânicos


buscam identificar espécies vegetais importantes para a alimentação local. Tais
estudos sugerem que as PANCs são componentes consideravelmente relevantes
para a provisão de alimentos à população.

Kinupp (2007) explica que as hortaliças, de forma geral, não têm sido valorizadas
da forma que merecem: as frutas são chamativas por conta de suas cores,
doçura e suculência, mas as hortaliças são referidas como “matos”, sem sabores
característicos a elas associados. Será que as hortaliças são somente mato?

As hortaliças nativas (chamadas de hortaliças regionais ou não convencionais)


podem ser chamadas de “matos” enquanto não são cultivadas e usadas com
regularidade; outras podem ser tratadas como “daninhas” na agricultura. Contudo,
a partir do momento que a ciência descobre propriedades nutricionais, estas
passam a ser chamadas de PANCs.

Bezerra et al. (2017) afirmam que as hortaliças consideradas PANCs constituem


boas fontes de fibras, assim como as hortaliças convencionais. As fibras são
importantes para a prevenção e o tratamento de constipação e inúmeras doenças
crônicas intestinais.

Os estudos relacionados às substâncias biologicamente ativas, com benefícios


à saúde e efeitos fisiológicos desejáveis, têm levado ao resgate de espécies que
não são tão consumidas na atualidade, mas que apresentam grande potencial
alimentício. Campos et al. (2008) alertam que as hortaliças não convencionais
já estiveram presentes na alimentação humana, mas foram sendo esquecidas e
desvalorizadas em decorrência da migração da população das áreas rurais para
as áreas urbanas e pelo menor valor comercial. Cita como exemplos o caruru
(Amaranthus deflexus L., Amaranthaceae); a bertalha [Anredera cordifolia (Ten.)
Steenis, Basellaceae]; o peixinho-da-horta (Stachis byzantina K. Koch; Lamiaceae);
a vinagreira (Hibiscus sabdariffa L., Malvaceae); e a azedinha (Rumex acetosa L.,
Polygonaceae), conhecidas como não convencionais ou negligenciadas.

A peixinho-da-horta (Figura 110) é uma herbácea perene, nativa da Turquia,


Ásia e Cáucaso, que inicia seu crescimento como roseta basal, mas, depois,
torna-se ereta. Atinge 20 a 40 cm de altura, ramificada na base e revestida com

125
Unidade iv | Implantação De Projetos Com Espécies Vegetais

indumento lanoso esbranquiçado. Essa planta, segundo Kinupp e Lorenzi


(2014), é muito cultivada aqui no Brasil, que parece ser o maior consumidor em
todo o mundo, tanto para fins ornamentais como na alimentação, em razão de
suas propriedades nutricionais. Seu consumo é tradicionalmente associado às
folhas, que podem ser empanadas e fritas, com sabor de peixe frito (daí o nome
peixinho-da-horta), mas também pode ser utilizada no preparo de outros pratos,
como omeletes e molhos.

Figura 110. Stachis byzantina K. Koch (Lamiaceae) – Conhecida popularmente como peixinho-da-horta ou orelha-de-coelho.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Vuuren et al. (2017) explicam que o peixinho-da-horta tem obtido mais


atenção por parte de um público preocupado com alimentação mais saudável.
Aparentemente, o aumento do consumo dessa planta parece estar relacionado
à procura por alimentos de origem vegetal que tragam benefícios à saúde e
também por questões ambientais, dado que o consumo de alimentos de origem
vegetal tende a emitir menos CO2 quando comparado aos produtos de origem
animal.

Segundo Pereira et al. (2013), o peixinho-da-horta é uma planta ainda dificilmente


encontrada em feiras de produtos agroecológicos aqui no Brasil. Dessa forma,
o cultivo é a melhor solução. Quanto aos benefícios nutricionais associados
ao consumo de peixinho-da-horta, Azevedo (2018) afirma que as folhas da
planta apresentam carboidratos, fibras, proteínas, potássio e ferro, servindo

126
Implantação De Projetos Com Espécies Vegetais | Unidade iv

como fonte de aminoácidos essenciais e contribuindo consideravelmente para


a ingestão diária recomendada. A autora, porém, recomenda mais pesquisas
para conhecimento sobre as formas mais adequadas de consumo, preparo e
processamento de alimentos à base de folhas de peixinho.

Franzen et al. (2016) citam que as flores comestíveis são matérias-primas viáveis
para alimentação humana e podem ser consumidas com outros alimentos ou
como ingredientes em variados pratos. As pétalas possuem significativo valor
nutricional, com teores recomendados de proteínas e fibras, muitos minerais,
baixo teor de lipídios e baixo valor calórico, o que permite seu consumo mesmo
por pessoas que necessitam de dietas restritivas.

Segundo Souza et al. (2020), na gastronomia as flores tendem a ser usadas


principalmente na decoração de pratos. No entanto, os benefícios dessas flores
vão além, dada a riqueza em compostos bioativos.

Dentre as plantas com flores comestíveis e classificadas como PANCs, é possível


citar a capuchinha (Tropaeolum majus L., Tropaeolaceae), também conhecida
como chaguinha ou nastúrcio. Essa planta, segundo Kinupp e Lorenzi (2014),
é uma herbácea anual, nativa do México e do Peru, que pode chegar a 1m40cm
de altura, com folhas longo-pecioladas, de formato orbicular peltado e flores
solitárias, de coloração vermelha, alaranjada, branca ou amarela, as quais
produzem frutos verde-claros. As folhas jovens podem ser utilizadas em saladas
cruas e outros pratos, com sabor picante. Os pecíolos, ricos em fibras, podem
ser cozidos em sopas, refogados ou bolinhos. Botões florais e frutos imaturos
podem ser usados em conservas, conhecidos como “alcaparra-dos-pobres”.

Em artigo publicado recentemente, Souza et al. (2020) concluíram que os três


tipos de capuchinhas (amarelas, alaranjadas e vermelhas) são capazes de trazer
benefícios à saúde em decorrência de sua atividade antioxidante, em especial
a vermelha. Os antioxidantes são substâncias capazes de inibir a oxidação de
radicais livres por meio da diminuição da concentração destes ou da quelação
de íons metálicos, com prevenção da oxidação lipídica. A capuchinha é
mostrada na Figura 111.

127
Unidade iv | Implantação De Projetos Com Espécies Vegetais

Figura 111. Tropaeolum majus L., Tropaeolaceae – Conhecida como capuchinha.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

As hortaliças, de forma geral, segundo Campos et al. (2008), são importantes


fontes de compostos antioxidantes, a exemplo da vitamina C, compostos fenólicos,
carotenoides, dentre outros. Os carotenoides são moléculas de pigmentos com
muitas funções importantes para a fisiologia das plantas e, quando nos referimos
à dieta dos seres humanos, atuam como precursores da vitamina A, em especial o
beta caroteno.

Viana (2013) afirma que as hortaliças não convencionais analisadas em seu


trabalho apresentaram potencial nutricional e antioxidante e podem ser utilizadas
como fontes de compostos fenólicos, taninos e carotenoides. A autora explica
que o consumo regular de vegetais com essas propriedades, associado a uma dieta
saudável, pode contribuir para a saúde humana e, ao mesmo tempo, resgatar
antigos conhecimentos e usos culturais.

É importante frisar que, certamente, são PANCs todos os alimentos ou as plantas


que demandam grandes explicações sobre seus nomes, suas formas de consumo
e seu preparo, sobretudo quando é necessário mostrar fotos para trazer alguma
lembrança de qual planta seja ou de seu uso (KINUPP; LORENZI, 2014). Elas
não se restringem às hortaliças, sendo encontradas com variados hábitos, a saber,
herbáceas, arbustos, árvores e trepadeiras.

Interessante exemplo de PANC arbustiva é Vernonanthura phosphorica (Vell.)


H.Rob., Asteraceae, conhecida popularmente como assa-peixe ou cambará-guaçu.
Tal planta é nativa do Brasil e é um arbusto ereto, pouco ramificado, que
chega a 1-3 m de altura. É considerada como “planta daninha”, porém possui

128
Implantação De Projetos Com Espécies Vegetais | Unidade iv

importantes propriedades medicinais e interesse apícola (atrai abelhas para


polinização). Kinupp e Lorenzi (2014) explicam que as folhas jovens podem ser
consumidas na alimentação por causa de suas propriedades antioxidantes, mas
seu principal uso é no preparo de xaropes para tosses ou chás para diarreias,
com atividade anti-inflamatória. A Figura 112 mostra um exemplar de
assa-peixe na Horta das Flores, localizada no bairro da Mooca, em São Paulo.

Figura 112. Vernonanthura phosphorica (Vell.) H.Rob, Asteraceae – Popularmente chamada de assa-peixe.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

129
CAPÍTULO 3
Plantas para infraestrutura verde
(fitorremediação, fitotecnologia)

O termo “infraestrutura verde”, segundo Franco (2010), é atualmente de uso


frequente e possui diferentes significados, dependendo do contexto no qual for
empregado, desde o plantio de árvores que possam trazer benefícios ecológicos
dentro das áreas urbanas até estruturas de engenharia que visem tornar um
projeto mais ambientalmente planejado (como no manejo de enchentes ou
tratamento de águas residuais).

Por que a infraestrutura verde é importante para o planejamento municipal?

Nas áreas urbanas, muitos problemas podem ser observados, como


impermeabilização do solo; ilhas de calor; dificuldade no escoamento das águas
das chuvas; desperdício das águas pluviais; poluição de ar, solo e água, dentre
outros tantos exemplos que não somente reduzem a qualidade de vida das
pessoas que estão nas cidades, como também inviabiliza a manutenção da fauna,
a exemplo de aves dispersoras e insetos polinizadores. Técnicas baseadas no
conceito de infraestrutura verde podem ser desenvolvidas com a finalidade de
solucionar tais problemas e trazer mais sustentabilidade às cidades.

Ahern (2007) explica que a infraestrutura verde tem sido incorporada a


planejamentos sustentáveis em muitos países do mundo e não se trata de um
conceito novo. Em decorrência dos conhecimentos técnico-científicos, tem sido
empregada de forma mais abrangente e utiliza ferramentas digitais de última
geração, o que tem propiciado às cidades não somente aspecto de sustentabilidade,
mas também de resiliência frente às mudanças climáticas.

Herzog e Rosa (2010) afirmam que a infraestrutura verde é importante no


sentido de contribuir para que as áreas urbanas se tornem mais adaptadas para
enfrentar mudanças climáticas. Também é capaz de proporcionar benefícios reais
à população ao aliar natureza, arte e cultura, e transformar a paisagem urbana em
áreas vivas. Segundo os autores, com projetos de infraestrutura verde, as áreas
urbanas conseguem transitar para uma economia de baixa emissão de carbono,
priorizando transportes “limpos”, pedestres e bicicletas.

A implantação de projetos de infraestrutura verde nas áreas urbanas segue uma


tendência mundial, pois permite o cumprimento dos chamados Objetivos de

130
Implantação De Projetos Com Espécies Vegetais | Unidade iv

Desenvolvimento Sustentável (ODSs), recomendados pela Organização


das Nações Unidas (ONU) desde 2015, cuja meta é que sejam completamente
atingidos até 2030 (AGENDA 2030). Os ODSs representam apelo global para
acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as
pessoas possam desfrutar de paz e de prosperidade.

Segundo Solera (2020), com o crescimento da população urbana, as cidades


enfrentarão inúmeros desafios para que possam atender às suas necessidades.
É de extrema importância que as áreas urbanas sejam planejadas e capazes de
integrar elementos naturais aos construídos, com a finalidade de melhorar
a qualidade de vida das pessoas. Dessa forma, na gestão de um município, a
sustentabilidade de seus recursos é item obrigatório, com inserção de mais
áreas verdes e permeáveis, e redução e aproveitamento de resíduos. Quando
áreas sensíveis, como os mananciais, com paisagens naturais e vegetação, são
implantadas ou protegidas, os serviços ecossistêmicos essenciais são garantidos
e, consequentemente, ocorre melhoria na qualidade da água, manutenção da
fauna silvestre, oportunidades de recreação e lazer para a população.

Dentre os benefícios da infraestrutura verde, é possível destacar os seguintes


serviços ecossistêmicos:

» melhoria da qualidade do ar;

» sequestro de carbono da atmosfera;

» regulação do balanço climático no microclima urbano entre dias e


noites, e entre as estações do ano;

» proteção, conservação e recuperação da flora e da fauna em áreas


urbanas;

» contenção de processos erosivos;

» promoção de atividades contemplativas, esportes e lazer para a


comunidade;

» melhoria da estética urbana;

» aumento da permeabilidade do solo urbano, com maior percolação de


água e redução de enchentes;

131
Unidade iv | Implantação De Projetos Com Espécies Vegetais

» conexão entre espaços verdes;

» seguridade urbana;

» proteção das áreas de maior fragilidade ecológica; e

» promoção de sítios urbanos (FRANCO, 2010).

Braga (2006) explica que a preservação da cobertura vegetal em áreas urbanas


é de suma importância quando se visa à segurança ambiental e à prevenção
da degradação, pois a vegetação é recurso natural básico, mas também atua
como suporte para a biodiversidade da fauna. É protetora natural da poluição
atmosférica e atua na regulação de mudanças microclimáticas. Segundo a
autora, a compreensão da sustentabilidade urbana é fundamental para que
se encontrem formas de torná-la operacional e mensurável, sendo muito
importante o estabelecimento de indicadores. Indicadores de cobertura vegetal
podem ser utilizados a partir da relação entre a cobertura vegetal remanescente
em determinada área e o domínio da cobertura original. Isso é possível com a
utilização de imagens de satélite e estudos realizados por instituições como a
Fundação SOS Mata Atlântica.

Solera (2020) afirma que a infraestrutura verde opera dentro do princípio da


chamada multifuncionalidade, em diferentes escalas, sendo capaz de responder,
de forma simultânea, a diferentes funções e benefícios atribuídos aos espaços
verdes. Entretanto, quais são essas escalas? Segundo a autora, podemos destacar:

» Escala de paisagem: a qual maximiza a cobertura florestal local,


priorizando a conexão da vegetação com a vida silvestre dentro da área
urbana.

» Escala local: associada à cobertura das copas das árvores, às condições


de sanidade de arborização urbana, florestas ripárias, conexão entre os
parques da cidade, estradas verdes, jardins comunitários, pavimentos
permeáveis e outras práticas que possibilitem a infiltração da água de
chuva.

» Escala particular: relativa à instalação de jardins verticais, telhados


verdes e jardins particulares.

132
Implantação De Projetos Com Espécies Vegetais | Unidade iv

Franco (2010) cita que a estrutura dos sistemas ambientais está sujeita a
forças externas, que afetam o equilíbrio ao qual os ecossistemas naturais estão
adaptados. Reforça a importância da resiliência, a qual pode ser definida como
a capacidade que o ecossistema possui para manter suas condições originais
após uma perturbação ambiental provocada por agentes naturais ou antrópicos.

Pinheiro (2017) explica que os projetos baseados na infraestrutura verde utilizam


técnicas de design da paisagem em tipologias paisagísticas que têm a finalidade
de realizar o manejo das águas pluviais dentro de bacias hidrográficas urbanas.
Nesses projetos, as plantas escolhidas e os microrganismos associados às suas
raízes atuam sobre a matéria orgânica, degradando os poluentes e tratando a
água.

Segundo Comier e Pellegrino (2008), as principais tipologias paisagísticas


utilizadas na infraestrutura verde são:

» Jardins de chuva: também chamados de sistemas de biorretenção ou


bacias de infiltração, que se caracterizam por depressões topográficas
que recolhem água da chuva e atuam no tratamento da poluição difusa
por mecanismos de biorretenção.

» Fitorremediação: consiste na utilização de plantas e microrganismos


com a finalidade de diminuir a poluição. Algumas espécies são capazes
de absorver poluentes do solo, da água e do ar, e funcionam como
verdadeiros filtros biológicos.

Comier e Pellegrino (2008) ainda citam:

» Canteiros pluviais: são considerados como versões mais compactas dos


jardins de chuva e possuem o intuito de promover a infiltração da água
das chuvas e remediação da poluição.

» Biovaletas: são canais ou trincheiras com vegetação e solo, que


aumentam o tempo de escoamento da água da chuva e podem remediar
a poluição difusa retida nas raízes das plantas e no substrato.

» Lagoas pluviais (também chamadas de bacias de retenção): úteis para


reter parte das águas das chuvas entre períodos de precipitação.

133
Unidade iv | Implantação De Projetos Com Espécies Vegetais

» Wetlands (alagados construídos): são construções nas quais plantas do


grupo das macrófitas aquáticas possam ser utilizadas para o tratamento
da água, por fitorremediação, constituindo habitat adequado para a
fauna silvestre e aquática.

» Telhados verdes: locais de cobertura vegetal com a finalidade de


absorver água das chuvas, reduzir as ilhas de calor e ampliar a eficiência
energética de edificações, criando local adequado à vida silvestre.

As wetlands, para tratamento de águas residuais, foram empregadas pela primeira


vez na Alemanha, em 1950, por Kathe Seidel, do Instituto Max Planck. O intuito
foi a remoção de fenol e redução da carga orgânica de um efluente de laticínio,
porém, no Brasil, esses métodos começaram a ser utilizados somente a partir
de 1980. Foram ampliados durante os anos de 1990 e intensificados a partir do
século XXI, com formas diferentes, por meio de variados materiais filtrantes,
juntamente com macrófitas aquáticas (SEZERINO et al., 2005).

As macrófitas aquáticas, segundo Esteves (1998), são plantas que habitam desde
brejos até ambientes verdadeiramente aquáticos, sendo distribuídas em diversos
grupos, dependendo do seu hábito:

» Macrófitas aquáticas emersas: enraizadas no sedimento, cujas folhas


ficam fora da água, a exemplo dos gêneros Thypha, Pontederia, Sagittaria e
Polygonum.

» Macrófitas aquáticas com folhas flutuantes, a exemplo de Nymphaea


(Figura 113).

» Macrófitas aquáticas submersas e enraizadas no sedimento, a exemplo


de Elodea e Egeria.

» Macrófitas aquáticas submersas que permanecem flutuantes em locais de


baixa turbulência, a exemplo de Utricularia.

» Macrófitas aquáticas flutuantes na superfície da água, a exemplo de


Eichornia, Pistia e Salvinia.

134
Implantação De Projetos Com Espécies Vegetais | Unidade iv

Figura 113. Nymphaea sp. Nymphaeaceae – Macrófita aquática com folhas flutuantes.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

As wetlands são áreas de pântanos, alagados, brejos, manguezais de água doce e


salgada, e várzeas, cuja vegetação tende a se aglomerar, modificar e controlar
a qualidade da água, com a degradação da matéria orgânica e redução da
concentração de nutrientes. Wetlands construídos são alternativas já utilizadas
em várias partes do mundo, assim como no Brasil, para tratamento de águas
residuais.

Apesar de ainda não ser uma metodologia usual no Brasil, o tratamento de


águas residuais com wetlands construídos tem grande perspectiva futura,
apresentando bons resultados em alguns projetos já implantados. Determinados
municípios brasileiros, como Analândia, Piracicaba, Pederneiras, São Paulo
(SP) e Alagoinha (BA), já desenvolveram sistemas de construção artificial
de ambientes que atuam como verdadeiras wetlands, e os resultados foram
promissores. O processo se baseia na construção de um tanque, escavado no
solo, o qual é preenchido com material mineral (pedras ou areia grossa), sobre
o qual são colocadas plantas que toleram grandes concentrações de matéria
orgânica. Uma espécie de planta bastante utilizada é a Typha domingensis Pers.,
Thyphaceae, conhecida popularmente como taboa. A água residual entra por
um lado do tanque, passa por toda a sua extensão e entra em contato direto
com as raízes das plantas, as quais desenvolvem microbiota aeróbia, capaz de
degradar os componentes do esgoto, Assim, a água sai praticamente limpa do
lado oposto ao tanque (INFRAESTRUTURA URBANA, 2018). A Figura 114
mostra uma wetland construída no Instituto de Engenharia de São Paulo.

135
Unidade iv | Implantação De Projetos Com Espécies Vegetais

Figura 114. Wetland construída no Instituto de Engenharia de São Paulo.

Fonte: https://www.institutodeengenharia.org.br/site/events/wetlands-construidos-para-tratamento-de-esgoto/.

Pinheiro (2017) cita um exemplo de infraestrutura verde implantada no


município de São Paulo, na Praça Dr. José Ória, localizada na Vila Sônia,
zona oeste da cidade. Moradores do entorno da praça se mobilizaram para
a recuperação de uma nascente do rio Pirajuçara, em 2015, com abertura de
pequenos lagos na praça. Nesses lagos, foram cultivadas espécies de macrófitas
destinadas à fitorremediação de poluentes orgânicos e inorgânicos, como alface
d’água, pinheirinho-d’água, wedelia e papiro (Cyperus sp., Cyperaceae) (Figura
115), além de peixes predadores de larvas do inseto Aedes aegypti, transmissor
de dengue, zika vírus e chikungunya.

Figura 115. Cyperus sp., Cyperaceae – Conhecida como papiro.

Fonte: https://search.creativecommons.org/photos/3f8f6cc2-2595-4a29-8b4a-108e18a9b4c6.

136
Implantação De Projetos Com Espécies Vegetais | Unidade iv

Os telhados verdes, segundo Rangel, Aranha e Silva (2015), também chamados


de coberturas verdes, telhados vivos ou jardins suspensos, não são técnicas
novas, porém ainda são pouco utilizadas. Podem ser considerados como um
sistema construtivo, o qual consiste em cobertura vegetal que utiliza gramíneas
ou outros grupos vegetais, instalados em lajes ou sobre telhados convencionais,
proporcionando conforto térmico e acústico. A principal função associada aos
telhados verdes é reduzir os impactos das ilhas de calor nas grandes cidades, com
melhoria da qualidade do meio (Figura 116).

Figura 116. Primeiro telhado verde, com plantas nativas da Mata Atlântica, construído no Edifício Gazeta (São Paulo).

Fonte: http://www.ecodesenvolvimento.org/posts/2016/posts/fevereiro/sao-paulo-ganha-primeiro-telhado-verde-com-plantas.

Estudos realizados com projetos de telhados verdes extensivos ou coberturas


verdes leves demonstraram que algumas plantas conhecidas como ornamentais
foram adequadas a esses projetos, a exemplo de onze-horas (Portulaca grandiflora),
trapoeraba-roxa (Tradescantia pallida) (Figura 117), aspargo (Asparagus spp.), dentre
outras. Laar (2001) afirma que plantas como cebolinha, louro, jasmim-amarelo,
magnólia, azaleia, amor-perfeito, begônia etc. também podem ser cultivadas em
telhados verdes.

Figura 117. Tradescantia pallida – Conhecida popularmente como trapoeraba-roxa.

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/tradescantia-pallida-vagando-jew-1509780/.

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Unidade iv | Implantação De Projetos Com Espécies Vegetais

De modo geral, podemos perceber a grande importância associada aos projetos


de infraestrutura verde nas cidades brasileiras e no mundo. De forma alguma
pretendemos esgotar o assunto aqui neste capítulo, mas, sim, explanar alguns
pontos relevantes desse assunto tão amplo e tão atual.

138
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