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Medicina de Mamíferos

Brasília-DF.
Elaboração

Rafael Prange Bonorino

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 6

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8

UNIDADE I

ANATOMIA E SEMIOLOGIA DE MAMÍFEROS........................................................................................... 11

CAPÍTULO 1

EXAME GERAL E CURIOSIDADES ............................................................................................. 11

CAPÍTULO 2

CONTENÇÃO FÍSICA E ESTRESSE.............................................................................................. 15

UNIDADE II

MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS................................................................................. 19

CAPÍTULO 1

MARSUPIAIS ............................................................................................................................ 19

CAPÍTULO 2

CANÍDEOS.............................................................................................................................. 28

CAPÍTULO 3

FELÍDEO1................................................................................................................................ 34

UNIDADE III

MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS............................................. 47

CAPÍTULO 1

ROEDORES ............................................................................................................................ 47

CAPÍTULO 2

CLÍNICA.................................................................................................................................. 51

CAPÍTULO 3

LAGOMORPHOS .................................................................................................................... 68
UNIDADE IV
MANEJO E MEDICINA DE PRIMATAS...................................................................................................... 81

CAPÍTULO 1
BIOLOGIA E MANEJO.............................................................................................................. 81

CAPÍTULO 2
CLÍNICA E CIRURGIA .............................................................................................................. 86

UNIDADE V
RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES.............. 91

CAPÍTULO 1
RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES................................................................................. 91

CAPÍTULO 2
CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES............................................................... 104

UNIDADE VI
MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS...................................................................................... 123

CAPÍTULO1
ELEFANTES ........................................................................................................................... 123

CAPÍTULO 2
GIRAFAS............................................................................................................................... 129

CAPÍTULO 3
MEDICINA DE RINOCERONTES E HIPOPÓTAMOS.................................................................... 133

REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 142


Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

6
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Os animais silvestres vêm ganhando espaço nas residências como pets e, por essa razão,
a disciplina de animais silvestres vem crescendo nos cursos de medicina veterinária
pelo país.

As possibilidades na área são inúmeras; não somente em zoológicos, outros locais


também necessitam de profissionais veterinários, tais como centros de triagem,
biotérios, criadores conservacionistas, comerciais e científicos. É, pois, fato que o
mercado de animais silvestres e exóticos com finalidade pet expandiu-se nos últimos
anos.

Nesse universo amplo de espécies, temos os animais silvestres, (provenientes da


fauna brasileira) e os exóticos (provenientes da fauna exótica), os quais, dependendo
da espécie, podem ser comercializados ou não. Entre as os comercializados (alguns
legalizadas, outras não), há os pequenos primatas, por exemplo, o mico-estrela e o
macaco-prego; o ouriço pigmeu africano (hedge hog); os roedores de pequeno porte
(cobaias, hamster, mercol, topolino etc.), coelhos e muitos outros.

Neste módulo, algumas espécies serão tratadas como animais de zoológicos, dada a
impossibilidade de criação fora desses ambientes.

No presente trabalho, vamos nos ater aos mamíferos silvestres ou exóticos e suas
particularidades: manejo, semiologia, clínica e cirurgia.

O nosso intuito é não esgotar o assunto no tocante às inúmeras espécies de mamíferos.


É, na verdade, concentrar-nos nas espécies mais comuns e prováveis de serem atendidas
nas clínicas. Para isso, o presente texto traz informações de um compilado de inúmeros
artigos e livros dos principais profissionais da área de mamíferos silvestres, além da
experiência vivida pelo autor em zoológico.

Bons estudos!

Objetivos
Esta apostila tem o objetivo de:

» Demonstrar que a realidade de animais silvestres e exóticos não está


restrita aos zoológicos e centros de triagem.

8
» Atualizar o clínico veterinário em uma disciplina que teve, nos últimos
anos, uma demanda expressiva nas clinicas veterinárias.

» Abordar de forma direta, prática e objetiva, as principais enfermidades


clínico-cirúrgicas, apontando aspectos anatômicos e fisiológicos,
particularidades e curiosidades das espécies abordadas.

» Apresentar as enfermidades de várias espécies de mamíferos silvestres


e exóticos, ressaltando as patologias mais corriqueiras dos animais e
possíveis tratamentos.

» Estudar as espécies mamíferas mais atendidas nas clínicas como: coelhos,


roedores de pequeno porte, além de animais criados em zoológicos como
megamamíferos, canídeos e felídeos, ente outros.

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ANATOMIA E
SEMIOLOGIA DE UNIDADE I
MAMÍFEROS

O objetivo desta unidade é apresentar as particularidades da anatomia e fisiologia dos


animais silvestres correlacionando-os aos domésticos

CAPÍTULO 1
Exame geral e curiosidades

Biologia
Os mamíferos são estimados em 6000 spp. O que os difere das outras classes são
algumas características como presença de pelos e glândulas mamárias. Estão presentes
em todo o planeta. São sociáveis e apresentam a endotermia, assim como as aves, ou
seja, mantêm sua temperatura corporal independentemente de pequenas oscilações
térmicas do ambiente. Habitam regiões terrestres, aquáticas e aéreas.

Sem aprofundar-nos em grupos taxonômicos, os mamíferos são separados em um


primeiro grupo: os dos prototérios (monotremados), como o ornitorrinco e a équidna,
animais primitivos que têm alguma semelhança com as aves, como oviparidade,
ausência de gl. mamárias, bico com dentes e endorquidismo. No segundo grupo, temos
os metatherias, como os marsupiais, que, como o nome diz, apresentam o marsúpio sem
placenta, animais que nascem ainda em fase embrionária; neste grupo também pouco
evoluído e como representante brasileiro, temos o saruê, animal cosmopolita presente
em grandes cidades e que, em alguns casos, se torna dócil, sendo criado como animal
pet. O último grupo é mais evoluído e com o maior número de espécies: os eutherias,
(placentados), vivíparos e placentados. Este último será o foco de nosso estudo.

Outras características são:

1. sistema cardiovascular composto de coração tetracavitário, as hemácias


são anucleadas;
11
UNIDADE I │ ANATOMIA E SEMIOLOGIA DE MAMÍFEROS

2. presença de diafragma e, consequentemente, subdivisão em cavidade


abdominal e cavidade torácica com pressão negativa, auxiliando na
respiração (única classe a apresentar o diafragma);

3. esqueleto bem desenvolvido com quatro membros para locomoção e


sempre sete vértebras cervicais;

4. presença de arcada dentária bem desenvolvida, com exceção de alguns


edentatas (tamanduás).

Anamnese
Na anamnese, o ideal é realizar:

» perguntas relacionadas com o responsável pelo animal e o ambiente/


local no qual está o recinto/gaiola do animal;

» perguntas referentes ao recinto do animal;

» perguntas referentes ao animal;

» perguntas referentes à população;

» alimentação e mudanças de atividade do animal.

É importante alertar ao proprietário que, em uma população, em caso de suspeita de


alguma doença infecciosa, deve-se isolar esse animal dos outros até que se chegue ao
diagnóstico.

Uma curiosidade: Muitas das patologias têm o manejo nutricional ou ambiental


como causador; por isso, na anamnese, perguntas relacionadas a isso não podem
ser negligenciadas. Por exemplo: excesso de couve, pode levar a cálculos renais em
roedores. Muitos clientes acreditam que todos os animais são comedores de ração, o
que não é verdade para os coelhos, que têm como base alimentar principalmente o
material verde, como o feno, e verdes escuros.

Ainda em relação aos coelhos, é normal eles produzirem acidose lática pós-captura. Na
experiência deste autor que lhes fala, é comum relatos de animais da casa como cães
perseguirem esses herbívoros, o que lhes causas essa síndrome que lhes praticamente
fatal, cujo sintomas são torcicolo, olhar perdido, estado semicomatoso. Por isso, a
própria contenção deve ser rápida com pouco e estresse; caso contrário, produzirá os
mesmos efeitos da perseguição comentada.

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ANATOMIA E SEMIOLOGIA DE MAMÍFEROS │ UNIDADE I

Assim como nas aves, o ideal é realizar várias contenções, se for preciso, em vez de uma
contenção prolongada. Isso é válido para as aves, coelhos e animais de zoológico, como
cervídeos.

Vacinação geral em mamíferos


Quanto ao questionamento sobre a prática vacinal em mamíferos silvestres, isso
praticamente não é realizado. Ao longo dessa apostila, observar-se-ão os porquês:

1o A indústria não produz vacinas para esse grupo de mamíferos, com raras exceções,
como para o coelho (seu calendário profilático com vacinas contra hemorragia viral e
mixomatose não é encontrado facilmente no Brasil). Mesmo a vacina para a raiva, que
pode afetar qualquer mamífero, não se aplica em outros animais senão os domésticos.

2o Vacinas como cinomose para canídeos e tríplice felina para felídeos silvestres ainda
são polêmicas por causa da possível não produção de anticorpos, ou pior, por poder
induzir a doença no animal que se pretende proteger, ou mesmo lhes causar a morte!

Poderíamos pensar que, perante esse cenário, teríamos uma epidemia, o que não é
verdade. Embora doenças infectocontagiosas circulem entre animais domésticos e
silvestres, não se encontram com facilidade nesses últimos. Isso pode ser confirmado
em Centros de Triagem de Animais Silvestres e Zoológicos que atendem animais de
vida livre.

Inspeção local
Em casos de populações, realizar visita ao recinto dos animais é fundamental para
esclarecer e complementar a anamnese que possa ter sido incompleta pelo relato do
proprietário.

Inspecionar in locu: as grades, telas, pontos de fuga, piso do recinto, bebedouro e


comedouro (é comum a entrada de aves sinantrópicas, que causam patologias aos
animais cativos). Inspecionar os outros animais e a alimentação, animais segregados,
além de observação do animal à distância.

Observação quanto ao comportamento, interação ao ambiente; para isso, deixar o


animal à vontade. Estado nutricional e qualidade do pelo (uma das causas de pelo ruim
têm origem na má nutrição ou alimentação pouco variada).

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UNIDADE I │ ANATOMIA E SEMIOLOGIA DE MAMÍFEROS

Características dos pets estudados


Tem crescido a demanda nas clínicas veterinárias pelo atendimento de roedores em
geral, como hamster e porquinho da índia.

Esses são animais de baixa expectativa de vida e com metabolismo acelerado. O futuro
especialista de silvestres se espantará com a questão da farmacodinâmica e os cálculos
dos fármacos especificamente quanto às altas doses aplicadas a esse grupo de animais.
Acompanham essa dinâmica as aves de pequeno e médio porte.

Curiosamente, embora os pequenos roedores tenham metabolismo mais alto se


comparado aos mamíferos de porte médio, eles têm temperatura corporal mais baixa,
algo em torno de 35.5–37ºC.

A indústria de rações, que cresceu muito nos últimos anos, tem buscado captar o
mercado de pets exóticos e silvestres. Portanto, já temos ração para todos os roedores e
lagomorphos herbívoros (como a chinchila, coelho e hamster); onívoros, como os ratos
e camundongo. Também já se encontram ração para primatas, como macaco prego e
mico-estrela, que estão sendo comercializados de forma legal (e ilegal!).

Legislação
Mencionamos somente os animais legalizado... e os ilegais? Estes aumentam a variedade
de espécies atendidas nas clínicas. Os clientes ficam temerosos pela denúncia. E qual o
papel do médico veterinário neste caso?

Atender!

Segundo a Resolução no 829 de 25/4/2006 do CFMV, disciplina o atendimento


médico veterinário a animais silvestres/selvagens, em seu artigo 1o diz: “Os animais
silvestres/ selvagens devem receber assistência médica veterinária independente
de sua origem.”

(Seja legal ou não.)

O que é obrigatório ao profissional é elaborar o prontuário de atendimento, contendo


informações de identificação do animal e seu tutor. A normativa respalda o veterinário
e percebe que a prioridade é o atendimento do animal, sem necessidade de denúncia
posterior (o que não faria sentido!).

Porém, para o tutor do animal ilegal, é diferente: ele responde por posse ilegal e outros
artigos, segundo a Lei no 9605/1998 sobre Crimes Ambientais.

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CAPÍTULO 2
Contenção física e estresse

Objetivos
Os métodos de contenção física são os mais variados e têm a finalidade não só de
proteger a equipe envolvida, mas também o paciente de injúrias que o animal se
inflige ao tentar livrar-se da condição de captura, evento que desencadeia o estresse e
a miopatia de captura, fatal para muitos animais. O evento estressor pode ocorrer em
situações agudas e perdurar de forma crônica até o desfecho letal.

Orsini e Bondan (2006) citam em seus estudos três formas com as quais o organismo
animal pode responder aos agentes estressores: pelo sistema motor voluntário, no qual
o agente estressor causa impulsos nervosos que são transmitidos ao sistema nervoso
central e serão assimilados, gerando uma resposta por parte do animal que as expressa
com postura de fuga, defesa ou proteção. Pelo sistema nervoso autônomo, em que o
agente estressor age de modo a causar impulsos no sistema nervoso autônomo simpático
e este libera catecolaminas no sangue que atingirão órgãos alvo levando os animais a
um estado de alerta e os preparando para possíveis danos físicos.

Outro mecanismo é o do sistema neuroendócrino, empregado em situações de


estresse crônico, em que o hipotálamo é estimulado pelo agente estressor levando-o
à síntese de corticotropinam que atua sobre a adeno-hipofise, induzindo à liberação
de adrenocorticotrópico, hormônio que atua sobre o córtex adrenal intensificando, à
liberação de cortisol e corticosterona de modo a preparar o organismo a uma possível
agressão.

Equipamentos de contenção física


Na contenção física, os equipamentos são: luvas raspa de couro, puçás, redes, cambão,
pau de couro, tubos de pvc ou transparentes, além do cambeamento e da gaiola com
grade móvel.

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UNIDADE I │ ANATOMIA E SEMIOLOGIA DE MAMÍFEROS

Figura 1. Luvas de raspa de couro.

Fonte: Arquivo pessoal.

As luvas de raspa de couro são ideais para pequenos mamíferos e, em alguns casos,
amenizam a injúria.

Figura 2. Puçás, ideais para pequenos mamíferos.

Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 3. Cambão, usados para canídeos, tamanduás.

Fonte: Cubas, 2014.

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ANATOMIA E SEMIOLOGIA DE MAMÍFEROS │ UNIDADE I

Figura 4. redes, usadas para cervídeos.

Fonte: Arquivo pessoal.

As redes são usadas para cervídeos e outros animais que não permitem aproximação.

Cuidado! Não usar pau de couro/cambão para felídeos, pois podem fraturar a
cervical do animal!

Figura 5. Contenção com ouriço caixeiro em tubo.

Fonte: Cubas, 2014.

Figura 6. Caixa de transporte e puçá.

Fonte: Cubas, 2014.

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UNIDADE I │ ANATOMIA E SEMIOLOGIA DE MAMÍFEROS

Uso de puçá e caixa de transporte madeira com porta em guilhotina, a tendência é o


animal entrar de forma tranquila para a caixa.

O padrão das caixas de transporte e a entrada de cambeamento são feitos com portas
em guilhotina.

Figura 7. Gaiola com grade móvel, ideal para mamífeosferais de porte médio a grande. O sistema de manivela

movimenta a grade e restringe o movimento dos animais.

Fonte: Arquivo pessoal.

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MEDICINA DE
MARSUPIAIS,CANÍDEOS UNIDADE II
E FELÍDEOS

A presente unidade tem a finalidade de apresentar a biologia e medicina dos marsupiais,


particularmente o saruê, animal comum em centros urbanos.

CAPÍTULO 1
Marsupiais

Biologia
Os marsupiais neotropicais ocupam os mais diversos nichos e estão bem distribuídos,
desempenhando um papel importante no ecossistema. Ocupam biomas de florestas,
cerrado e a caatinga brasileira. Os representantes desse grupo, além do conhecido
canguru australiano: é a cuíca-de-quatro-olhos, as catitas e os saruês, estes últimos
bastante comuns nas cidades brasileiras. (EMMONS, 1997).

Em relação aos mamíferos, há algumas poucas diferenças, como os ossos epibúbicos, que
se projetam anteriormente à articulação do púbis e à musculatura ventral abdominal,
sendo os músculos oblíquos internos e externos aderidos a ele (DAWSON, 1989).

São pentadáctilos, o que facilita a escalada em árvores e obstáculos.


Movimentam-se por quadrupedalismo tanto terrestre como arborícola.
Quanto à alimentação são frugívoros/onívoros, sendo os saruês também
predadores, cosmopolitas e sinantrópicos.

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UNIDADE II │ MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS

Figura 8. Dedos pentadáctilos – Adaptados à escalada.

Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 9. Ossos epipúbicos de gambá-de-orelha-preta (Didelphis aurita), visualizados em radiografia lateral.

Fonte: Cubas, 2014.

Figura 10. Gambá de orelha preta (Didelphis aurita).

Fonte: Cubas, 2014.

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MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II

Figura 11. Cauda longa, preênsil e desnuda de cuíca lanosa (Calluromys philander).

Fonte: Cubas, 2014.

Reprodução
Uma das curiosidades nesse grupo que destoa dos mamíferos clássicos está na sua
reprodução. A gestação é dividida em 2 fases; a primeira etapa ocorre no útero do
animal; a final, no marsúpio, onde o feto termina seu desenvolvimento. Nos machos, o
pênis é bifurcado e a bolsa escrotal está localizada na frente do pênis. (GONÇALVES,
2009).

Figura 12. Pênis duplo de gambá de orelha preta (Didelphis aurita) posicionado caudalmente à bolsa escrotal.

Fonte: Arquivo pessoal.

Os marsupiais evolutivamente adotaram uma estratégia reprodutiva diferenciada dos


outros mamíferos: priorizaram a lactação, em vez da gestação prolongada. O gasto
energético durante a gestação é menor se comparado ao gasto energético da lactação e
da criação dos filhotes. Desse modo, é possível gerar um maior número de descendentes,
em um menor tempo e com gasto reduzido de energia. No caso de abortamento e morte
dos filhotes, a fêmea rapidamente poderá iniciar nova gestação.

Gestação: +/- 14 dias, maturidade sexual: 6-8 meses, poliestrais, 7 ciclos/ano em média
(HURLEY, 2000).

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UNIDADE II │ MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS

Após o parto, ainda imaturos, os fetos deslocam-se para a bolsa onde se grudam aos
mamilos. Aos 50 dias saem da bolsa e com 80 dias alimentam-se de sólidos e andam
nas costas da mãe. Longevidade de 3- 5 anos.

Figura 13. Filhotes no marsúpio de uma fêmea de Gambá de orelha preta (Didelphis aurita). Prole numerosa.

Fonte: Cubas, 2014.

Nutrição

Sistema digestório
O sistema digestório dos marsupiais varia de acordo com a dieta. Nos carnívoros, não há
ceco; o trato gastrintestinal é curto e simples, o que proporciona um trânsito alimentar
rápido pelo intestino. Já os animais com hábitos onívoros apresentam glândulas
salivares proeminentes, o ceco e cólon bastante desenvolvidos, com grande lubrificação
e microbiota bacteriana exuberante. (DAWSON, 1989).

Dieta
Sua dieta é bastante variada: desde frutos, flores, néctar até carniça e predação. Além
do cativeiro, deve levar-se em consideração a taxa metabólica basal baixa nessas
espécies, razão por que se evita a alimentação hipercalórica. O gasto ocorre para as
necessidades reprodutivas e termorregulação. Essa adaptação torna possível ao animal
reservar energia para sobreviver em condições adversas; desse modo, como exigem
uma baixa demanda alimentar, consequentemente exibem uma tolerância ambiental
maior. Algumas espécies podem entrar em estado de torpor para preservar energia
(DAWSON, 1989).

Um exemplo de dieta recomendada: 70% (1 parte de ração de gato, 1 parte de vegetais


frescos, 1/4 de iogurte), 20% de frutas variadas e 10% de proteínas diversas (frango,
codorna, peixe, ovos cozidos, iogurte, fígado de frango cozido). Devem ser oferecidos
insetos vivos.

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MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II

Instalações
Segundo Ibama, IN 3/2002 e IN 169/2008, as instalações para o Didelphis devem ser
pelo menos 4 m2, com altura de 2 m e piso de terra. Deve conter tanques de água e
uma toca para o animal esconder-se, repousar e procriar. Esta deve estar em local alto.
Para as espécies com hábito semiaquático, deve haver espelho d´água. Para as espécies
terrestres, a toca deve estar no substrato e ter no recinto troncos e galhos.

Para evitar a monotonia e o estresse do cativeiro, o enriquecimento ambiental deve ser


utilizado.

Com filhotes recém-nascidos, utiliza-se uma fórmula 1 gema de ovo crua, 100 ml de
leite (sucedâneo comercial de cães e gatos) e 1 colher (café) de mel. Para os filhotes
mais velhos, acrescenta-se ração de filhotes de gatos. Quanto aos filhotes pouco
desenvolvidos, é necessário amamentá-los com uma frequência inicial a cada hora,
aumentando o intervalo à medida que o animal cresce. Quando o filhote apresenta a
dentição, podem ser oferecidos os itens da dieta de um indivíduo adulto, intercalados
com a amamentação.

Figura 14. Filhote de gambá de orelha preta (Didelphis aurita) mamando em uma seringa com scalp adaptado.

Fonte: Cubas, 2014.

Clínica de marsupiais
A maioria dos marsupiais pode ser contida manualmente, embora também se utilizem
luvas e toalhas. Conter os animais pela cauda não é indicado, pois eles conseguem
flexionar seu corpo, alcançando a mão de quem os segura.

Os animais maiores, principalmente os do gênero Didelphis, podem ser capturados


com puçá ou cambão e contidos manualmente utilizando-se luvas de raspa de couro.
Apoiar a mão na base da cabeça e do pescoço.

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UNIDADE II │ MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS

Figura15. Contenção de marsupial.

Fonte: Cubas, 2014.

Anestesiologia

Quanto ao protocolo anestésico, os tranquilizantes fenotiazínicos têm baixa


metabolização em marsupiais e seus efeitos podem durar de dois a três dias. Por
essa razão, os tranquilizantes benzodiazepínicos, como o midazolam (0,2 mg/kg/
pela via intramuscular – IM), são considerados uma classe farmacológica segura para
a tranquilização dos animais; esses tranquilizantes podem ainda ser associados ao
cloridrato de cetamina.

Alternativamente para procedimentos não dolorosos, podemos utilizar cloridrato de


cetamina (20 mg/kg/IM) ou tiletamina/zolazepam (5 a 10 mg/kg/IM) ou a associação de
cloridrato de cetamina (20 a 25 mg/kg/IM), fentanila (0,75 a 1 mg/kg/IM) e droperidol
(20 mg/kg/IM) (CARPENTER, 2007).

Os didelfídeos são seguramente anestesiados com isoflurano (5% na indução e 1% a 3%


na manutenção) e sevoflurano. Os animais podem ser anestesiados diretamente com
câmara anestésica ou com máscara.

Outros protocolos para anestesia em procedimentos cirúrgicos são a associação de


cloridrato de cetamina (20 a 30 mg/kg/IM) e cloridrato de xilazina (5 mg/kg/IM)
e alfaloxona-alfadolona (3 a 6 mg/kg/IM ou 1 a 2 mg/kg/pela via intravenosa – IV.
(CARPENTER, 2007).

Semiologia e anamnese

Ao levar em consideração a baixa taxa metabólica, alguns de seus parâmetros fisiológicos


também acompanham essa queda, por isso a frequência cardíaca deve estar entre 70 e

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MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II

100 bpm; a frequência respiratória, entre 25 e 40 movimentos respiratórios por minuto


e a temperatura corporal, entre 32,5 e 35°C. O volume sanguíneo é de 5,7% do peso
corporal.

Diagnóstico

Para a colheita de sangue, a veia de predileção é a veia lateral caudal. Outros locais
de acesso: artéria coccígea ventral, veia e artéria femorais, veia metatársica medial
(safena), veia cefálica, veia jugular, sendo essas pouco frequentes.

Figura 16. Acesso venoso pela veia lateral coccígea em gambá da orelha preta (Didelphis aurita).

Fonte: Cubas, 2014.

Quadro 1. Valores de referência hematológica e bioquímica de gambá de orelha branca (Didelphis albiventris).

Hematologia
Eritrócitos (x 10 / mm3)
6
4,16 (+/-1)
Hematócrito 24,35 (+/-7,8)
Hemoglobina 10,3(+/-2,35)
Leucócitos (x 10 / mm )
3 3
9,48( +/- 2,2)
Bastonetes (%) 4,6 (+/-3,1)
Segmentados (%) 47,4(+/-14,8)
Linfócitos (%) 41,5 (+/-5,5)
Eosinófilos (%) 3,5 (+/- 0,8)
Monócitos (%) 3,2 (+/- 2,8)
Basófilos (%) 1 (+/- 0,56)
Bioquímicos
Albumina (g/dl) 2,75 (+/- 0,2)
AST (U/l) 83 (+/- 26,5)
Colesterol (mg/ dl) 213 (+/- 55,9)
Creatinina (mg/ dl) 0,5 (+/- 0,1)
Fosfatase alcalina (U/l) 11,9 (+/-4,2)
Glicose (mg/dl) 57,6

Fonte: Malta e Luppi, adaptado, 2007.

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UNIDADE II │ MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS

Clínica

Terapêutica

As afecções não infecciosas mais comuns são: os traumas, atropelamentos e ataques


por outros predadores como os cães, quando os marsupiais invadem seus territórios. O
protocolo terapêutico praticamente não difere dos carnívoros. São utilizados fármacos
como meloxican, tramadol e antibióticos nas mesmas doses. Considera-se que o
atendimento dos animais nessas condições elencadas, urgem cuidados de estabilização.
Aquecimento com bolsas de água quente, controle da temperatura e cuidados com
choque hipovolêmico são prioritários.

A manutenção de um acesso para fluidoterapia não é fácil; pode-se usar a veia coccígea,
outro acesso muito utilizado em aves e que funciona em todas as espécies é o intraósseo,
tão eficiente quanto o venoso. Praticamente todos os fármacos de uso venoso, exceto
os mielotóxicos, podem ser introduzidos por essa via. E em caso de choque, uma
abordagem interessante é a fluidoterapia morna glicosada que ajuda a restabelecer a
temperatura.

O protocolo ABC (airbreathcirculation): vias respiratórias, respiração, alteração da


circulação e controle da hemorragia, déficit neurológico, avaliação da dor e realização
de exames complementares.

Enfermidades

Entre as doenças metabólicas mais comuns está a obesidade. Esses animais costumam
aceitar guloseimas dos seus tutores, quando criados como animais pets, assim como
síndromes de stress de cativeiro.

Osteodistrofias fibrosas também são patologias comuns a essas e outras várias espécies
carnívoras, principalmente quando a alimentação é prioritariamente a base de carne
muscular ou visceral, o que pode levar ao desbalanceamento de Ca: P. Essa patologia
leva a deficiências hormonais e renais, fazendo o tecido ósseo ser substituído por
material fibroso, o que pode ser presenciado em animais com “mandíbula de borracha”,
ossos valgos, entortamento de coluna e estreitamento de pelve dificultando a evacuação
(LONG, 1975).

Em relação a doenças infecciosas e parasitárias, essa espécie (D. albiventris) é o mais


sinantrópico entre os marsupiais criados como animal de estimação na América do Sul,
podendo albergar alguns vírus, como: pseudorraiva, encefalomiocardite, estomatite

26
MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II

vesicular e várias outras encefalites. Inacreditavelmente, são resistentes ao vírus da


raiva.

Quanto às doenças bacterianas, são portadores assintomáticos da salmonella e podem


ter boa resistência à leptospira (FARIAS, 2008).

Os gambás podem albergar tanto os agentes da leishmaniose tegumentar como os


agentes da leishmaniose visceral, sendo potenciais reservatórios da doença.

Os gambás são considerados os mais comuns e antigos reservatórios selvagens


conhecidos para T. cruzi. O agente pode desenvolver, além das formas amastigotas no
sangue, formas epimastigotas nas glândulas anais ou acessórias de gambás -Didelphis
spp (DEANNE, 1984).

Uma gama de doenças parasitárias ecto e endoparasitas são atribuídas a essas espécies
diversas protozooses, como a toxoplasmose e muitos nematódeos.

Vias de administração

As vias escolhidas para administração de medicamentos são intramuscular,


intraperitoneal, subcutânea, oral e intraóssea, sendo essa última muito comum em
mamíferos pequenos eleves, dada a facilidade de atingir a cavidade medular de ossos
longos.
O local da administração pela via intramuscular é na região glútea, entre os músculos
semimembranoso e semitendinoso, e na região do tríceps, com volume de até 1 ml nas
espécies maiores e de 0,1 a 0,2 para as espécies menores. Pela via intraperitoneal podem
ser administrados de 10 a 20 ml nos gambás (Didelphis spp.) e 5 ml nos animais com
mais de 100 g. Pela via subcutânea podem ser administrados medicamentos na região
escapular e na área do flanco, entre 100 e 200 ml nas espécies maiores e de 6 a 10 ml
nas espécies menores.
A via endovenosa mais fácil é a ventral da cauda e a via intraóssea é usada quando não
se consegue acesso vascular, por exemplo, em casos de desidratação extrema. Essa via
faz com que o fluido alcance os sinusoides e condutos venosos medulares, apresentando
rapidamente a dispersão do fluido ou fármaco. O acesso melhor são os ossos longos
como tuberosidade da tíbia, fossa trocantérica do fêmur, asa do ílio e tuberosidade
maior do úmero.
Alguns autores utilizam as dosagens de cães e gatos para os marsupiais, porém levando-
se em consideração que seu metabolismo é mais baixo em relação aos outros mamíferos,
com T.retal de 37,7º, FC de 205 Bpm e FR 37 movimentos/m e longevidade de até 5
anos.

27
CAPÍTULO 2
Canídeos

Biologia
Há no Brasil seis espécies de canídeos silvestres, que serão chamados neste capítulo
de canídeos silvestres brasileiros, apesar de algumas delas viverem também em outros
países da América do Sul (BRASIL, 2003).

O cachorro vinagre (Speothos venaticus), o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus)


e o cachorro-do-mato-de-orelha-curta (Atelocynus microtis) são considerados pela
International Union for Conservation of Nature (IUCN) quase ameaçados de extinção.

Por estarem na mesma família do cão doméstico, apresentam muitas semelhanças, não
só físicas mas também em relação a doenças infecciosas que se intercambiam, valores
de referência hematológicas e bioquímicas e dosagens equivalentes de medicamentos.
Por isso, a conduta no tratamento de enfermidades é equivalente à que é realizada nos
cães domésticos, assim como as agentes infecciosos: cinomose, leptospirose, hepatite e
leishmaniose podem ocorrer com alto grau de morbidade e letalidade.

Figura 17. Lobo-guará.

Fonte: https://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/lobo-guara-e-destaque-em-tividades-do-zoologico-de-curitiba/53057.

Animais como esses, eventualmente são avistados em regiões urbanas do Cerrado


brasileiro, sendo vítimas frequentes de atropelamento, ataques de cães, incêndios e
doenças infecciosas dos cães domésticos como a cinomose, fatal para essa espécie.

Em sua maioria, são onívoros e têm uma alimentação variada de insetos, frutas e
pequenos vertebrados.

Assim como nos canídeos domésticos, os neotropicais selvagens apresentam a mesma


fórmula dentária I 3/3, C 1/1, P 4/4 e M 3/3 e têm cinco dedos nas patas dos membros

28
MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II

torácicos e quatro dedos nas patas dos membros pélvicos. As unhas não são retráteis.
Alguns estão em florestas como o cachorro-do-mato-de-orelha-curta (Atelocynus
microtis) e outros também no cerrado brasileiro como o cachorro-do mato (Cerdocyon
thous) (CUBAS, 2014).

Figura 18. Cachorro-do-mato-de-orelha-curta (Atelocynus microtis) obtida em armadilha fotográfica.

Fonte: Cubas, 2014.

Figura19. Raposa-do-campo (Lycalopex vetulus).

Fonte: Cubas, 2014.

Algumas outras características da ordem carnívora são: corpo longo, orelhas retas, o
que lhes confere uma excelente audição, e osso peniano. Hábitos crepusculares, em sua
maioria, e furtivos. Com expectativa de vida superior aos 10 anos são muito comuns em
zoológicos brasileiros, cuja intenção é estudá-los. Sua manutenção em cativeiro tem o
objetivo evitar a extinção de uma determinada espécie em seu meio, ou se ocorrer uma
drástica diminuição populacional. Por isso, há programas de reintrodução de indivíduos
criados em cativeiro com o objetivo de restabelecer populações viáveis in situ.

Para planejar e administrar os cruzamentos de animais em cativeiro, especialmente


de espécies ameaçadas de extinção, foram criados os Planos de Manejo de Fauna em
Cativeiro. Eles contêm recomendações de manejo reprodutivo baseadas no registro

29
UNIDADE II │ MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS

genealógico dos animais mantidos em cativeiro, denominado registro genealógico ou


Studbooks (CHIEREGATTO, 2006).

Essas informações são atualizadas periodicamente com os dados fornecidos pelas


instituições mantenedoras, por meio de questionários. Apenas com elas é possível
determinar quais indivíduos devem ou não ser reproduzidos e quais devem ser os
pareamentos. De modo geral, existem Studbooks internacionais, que incluem indivíduos
de determinada espécie mantidos em zoológicos do mundo todo, e Studbooks regionais,
que incluem a população de cativeiro de determinada região ou país. Lobos guarás e
cachorros vinagres têm Studbooks com informações de indivíduos dessas espécies em
zoológicos e criadouros brasileiros. (CHIEREGATTO, 2006).

Dieta e nutrição
Segundo Lima (2009), os canídeos silvestres brasileiros têm hábitos onívoros, com
exceção do cachorro-vinagre, classificado como exclusivamente carnívoro. A dieta do
lobo guará tem maior predominância de itens vegetais, além de frutas com os da lobeira
(ALLEN, 1995). Em cativeiro, alguns canídeos silvestres podem adquirir cistinúria,
devido a uma dieta com elevado teor de proteína animal, principalmente em lobos-
guarás, o que lhes compromete o sistema urinário com cálculos vesicais e uretrais,
causando obstrução nos machos em sua uretra peniana. Por isso, a dieta dessa espécie
é de moderada proteína animal, em torno de 20/25%, sendo as rações caninas cada vez
mais frequente no cardápio, além de uma boa oferta de frutas (MUSSART, 1999).

Contenção e anestesia
Na maioria das vezes, em recintos fechados, é suficiente o uso de cambão ou pau de
couro visto que o animal não costuma atacar o ser humano ao sentir-se acuado. Já
a contenção química, eventualmente é necessária em casos de animais que estejam
em espaço aberto em distâncias que não permitem a aproximação. Os dardos podem
ser disparados com armas adaptadas, rifles, pistolas ou zarabatanas, sendo os dois
últimos os mais indicados por causarem menos traumas nos animais. Os equipamentos
utilizados e os fármacos serão abordados no capítulo VIII, sobre contenção química.

30
MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II

Clínica

Exame físico e anamnese

O exame clínico externo em canídeos silvestres é bastante semelhante ao de cães


domésticos, com trº de 38/39º, FC de 70/100 Bpm e FR 35/45 min. As patologias
orais são comuns e envolvem: fraturas dentárias e cálculos periodontais. Os valores
de referência para hemograma e bioquímicos são semelhantes aos usados em cães
domésticos

Doenças infecciosas mais frequentes

Cinomose

Como já mencionado, a cinomose afeta os canídeos neotropicais de forma agressiva,


também podendo acometer outros mamíferos, como felídeos exóticos, mustelídeos
como o ferrets, furões e ariranhas e procionídeos como o quati e o guaxinim. É uma
enfermidade que tem o cão doméstico o seu principal disseminador, e que permite
classificá-la como uma das mais preocupantes enfermidades para a conservação das
populações de vida livre e de cativeiro.

Lembre! O vírus da cinomose é transmitido pela via oronasal por meio de aerossóis ou
pelo contato com secreção ocular, respiratória ou genital. Os sinais, assim como ocorre
nos cães domésticos, são: depressão, secreção mucopurulenta oculonasal, dermatites
e hiperqueratose dos coxins, febre, anorexia, vômitos e diarreia. Como o vírus tem
neurotropismo, rapidamente pode evoluir para encefalite, convulsões, ataxia, paralisia,
mioclonias, trismo mandibular e outros sinais neurológicos (nota do autor).

A vacinação em canídeos neotropicais com vacinas de cães domésticos apresentou


resultados variáveis, desde: reações vacinais, baixas taxas de imunidade até produção
de anticorpos. Na prática, pela inexistência de vacinas para animais silvestres,
circulação de cães errantes em zoológicos e o alto grau de letalidade da doença, usa-se
com cautela. O tratamento para essas espécies baseia-se no uso de fluidos, antibióticos,
anticonvulsivantes e tratamento de suporte (nota do autor).

Outras doenças infectocontagiosas

Outras enfermidades infecciosas são: a parvovirose e a raiva com a mesma sintomatologia


e letalidade conhecidas nos animais domésticos.

31
UNIDADE II │ MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS

Uma patologia emergente, tanto em canídeos domésticos quanto os silvestres


neotropicais, é a leishmania visceral (LV), causada pelo protozoário Leishmania chagasi
(também conhecido como L. infantum), transmitido pela picada do mosquito palha
(Lutzomyia longipalpis). O principal reservatório é o cão doméstico. Até pouco tempo,
o programa de controle era baseado na eutanásia de cães soropositivos e na aplicação de
inseticidas de efeito residual; porém com a não obrigatoriedade de eutanásia associada a
um tratamento que não cura e ainda mantém portadores assintomáticos, o protozoário
torna-se um problema para os canídeos silvestres (COURTENAY, 2002).

Pela circulação de cães errantes associada à proximidade das matas, alguns zoológicos
têm relatado canídeos soropositivos à doença, os quais desenvolveram sintomas
clínicos, o que os levou a óbito.

A notificação ao serviço de saúde oficial de diagnóstico positivo de canídeos silvestres de


cativeiro para infecção por Leishmania chagasi é compulsória, segundo o Decreto 123
no 51.838, de 1963; sendo assim, deve-se estabelecer a comunicação com o Ministério
da Saúde e com o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros
do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (CENAP/ICMBio) para
que o caso seja avaliado e as decisões sejam tomadas em conjunto.

Assim como nos animais domésticos, o protocolo é feito com milteforan, alopurinol e
cetoconazol, com resultados variáveis.

Doenças parasitárias

Os ectoparasitos são de grande importância, principalmente em animais de cativeiro,


como sarna sarcóptica e pulgas, muito frequentes em lobos guarás.

Na experiência deste autor, em zoológicos do Cerrado, em época de seca, é muito


comum esses animais encontrarem-se excessivamente infestados por esses parasitas.
Em muitos casos, os animais necessitam de transfusão sanguínea, antibióticos contra
hematozoários, além de tratamento convencional com parasiticidas orais e tópicos,
vaso sanitário nos recintos, uso de cal virgem e vassoura de fogo.

Profilaxia
Quarentena de pelo menos 30 dias para animais recém-chegados, exames clínicos,
sorologia para leishmaniose, vermifugação, exame dentário e de sangue como
hemograma e bioquímicos.

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MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II

A vacinação, como mencionado, tem efeitos variáveis, sendo ideal a utilização de


vacinas monovalentes recomendados pelos protocolos internacionais; no entanto, em
geral, essas vacinas não estão comercialmente disponíveis no Brasil, por não atenderem
aos interesses comerciais das empresas que as produzem, as quais são voltadas ao
mercado de proprietários de cães domésticos. Uma vacina polivalente contendo vírus
da cinomose atenuado por passagens em ovos embrionados de galinha e parvovírus vivo
modificado, que imuniza também contra leptospirose, hepatite e raiva (Eurican®), foi
testada em lobos-guará em zoológicos brasileiros. A vacina foi considerada segura para
todos os agentes e imunogênica para os vírus da cinomose e parvovírus (MAIA, 1999).

O protocolo de vacinação recomendado para canídeos em geral é: filhotes devem


receber três doses da vacina com intervalos de 21 a 30 dias, iniciando o protocolo em
animais com idade entre 45 e 60 dias; em adultos que não foram vacinados, devem ser
aplicadas duas doses com intervalo de 21 a 30 dias; adultos vacinados anteriormente,
devem receber anualmente uma dose da vacina; em fêmeas, deve-se aplicar a vacina
no período pré-cobertura para maximizar a chance de proteção passiva aos filhotes
(MAIA, 1999).

33
CAPÍTULO 3
Felídeo1

Biologia
Na Taxomomia, a família Felidae compreende 2 subfamílias (felinae e pantherinae), 13
gêneros e 36 espécies.

Das 10 espécies neotropicais, 8 encontram-se no Brasil; são eles:

Quadro 2. Felídeos neotropicais brasileiros.

Gênero Leopardus Leopardus pardalis Jaguatirica


Leopardus wiedii Gato-maracajá
Leopardus tigrinus Gato-do-mato-pequeno
Leopardus geoffroyi Gato-do-mato-grande
Leopardus colocolo Gato-palheiro
Gênero Puma Puma yagouaroundi Gato-mourisco
Puma concolor Suçuarana
Gênero Panthera Panthera onça Onça-pintada

Fonte: arquivo pessoal.

OBS.: No Gênero Panthera, estão incluídos os exóticos: leão (Panthera leo) e tigre
Panthera tigris).

Entre a maioria dos neotropicais, o gato-mourisco é o único que não se encontra em


extinção. As justificativas são várias, desde: o Declínio na natureza, ameaça de extinção
com a fragmentação do seu habitat, em consequência do desenvolvimento agropecuário,
mineração, hidrelétricas, além do tráfico ilegal. Consequentemente a diminuição da
variabilidade genética- endogamia (NASCIMENTO, 2010).

Esses animais têm pesagens que variam desde 1,5 até 300 Kg.

Outra característica dos felídeos é a presença das doenças infecto parasitárias


com a aproximação dos animais domésticos. Atualmente, há bancos genéticos
in vitro p/ a manutenção das espécies ameaçadas como em alguns zoológicos
brasileiros que mantém convênios com órgãos como a Embrapa.

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MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II

Jaguatirica

Esse animal, que pode pesar entre 7 a 16 Kg, tem pelagem em rosetas que se unem na
lateral do corpo, formando listras horizontais, correndo em cadeias paralelas. Animal
solitário e noturno, são escaladores. Expectativa de vida de 21 anos em cativeiro.

Estão localizados em todos os países da América Central e do Sul, ocupando cerrados,


caatinga, pantanal, pampas, florestas tropicais e subtropicais e matas ciliares
(OLIVEIRA, 2005).

Gato-maracajá

Encontra-se no mesmo grupo da jaguatirica, sendo semelhante a ela. De menor porte,


com peso médio de 3,3 kg, cauda comprida, focinho saliente, patas e olhos grandes.

Tem a pelagem muito parecida com à da jaguatirica e à do gato-do-mato-pequeno, com


coloração amarelo-dourada com rosetas escuras dispostas principalmente nas laterais
do corpo. No dorso as rosetas se fundem formando listras que vão do topo dos olhos à
base da cauda (CUBAS, 2014).

Suçuarana

Segunda maior espécie de felídeo no Brasil. Peso entre 34 a 72 Kg, coloração marrom
acinzentado claro ao marrom avermelhado. Adaptadas em vários ambientes e climas,
diurnas e noturnas, vivem acima dos 20 anos em cativeiro. Presentes em toda a América.

Figura 20. Suçuarana.

Fonte: http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/sussuarana.htm.

35
UNIDADE II │ MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS

Maturidade sexual de 2 para 3 anos. Gestação de 90 a 96 dias. Números de filhotes: de


01 a 04, nascem pintados com manchas escuras no corpo.

Hábitos: Crepuscular, noturno, arborícola e terrestre. Hábitos alimentares carnívoros


e ictiófago.

Habitat: campo, floresta e montanha. Comportamento solitário em par e sedentário.


Seu pelo é em geral bege rosado, mais pode ser cinza, marrom ou cor de ferrugem. O
comprimento do pelo varia conforme o habitat, vai de curto a muito longo.

Categoria/Critério: Espécie ameaçada de extinção de acordo com a lista oficial do


IBAMA. Apêndice I da CITES. Ameaçada criticamente em perigo-destruição de habitat,
caça, populações pequenas, isoladas e em declínio (CUBAS, 2014).

Gato-do-mato-pequeno

É o menor gato selvagem da América do Sul. A pelagem é similar à da jaguatirica e à do


gato-maracajá com presença de estrias transversais escuras circulares na porção lateral
do corpo.

São consideradas altamente ameaçadas devido à perda de habitat e à captura ilegal


para a comercialização de peles; apresenta-se como um animal solitário, noturno, que
se alimenta de pequenos roedores e aves, caçados preferencialmente durante a noite.
Utilizam como abrigo tronco de árvores caídas. O período de gestação dura entre 70 a
74 dias, tendo ninhadas de 2 a 4 filhotes. (CUBAS, 2014).

Onça-pintada

Figura 21. Onça-pintada.

Fonte: https://jornaldebrasilia.com.br/nahorah/cenas-fortes-peao-e-atacado-por-onca-pintada/.

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MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II

Maior felídeo neotropical; a característica marcante dessa espécie é ela não miar como os
felinos. Emite uma série de roncos muito fortes que são chamados esturro. Suas presas
naturais consistem de animais silvestres como catetos, capivaras, peixes, queixadas,
jacarés, veados, tatus. (OLIVEIRA, 2005).

A fêmea pode ter de dois a quatro filhotes, que nascem cegos e só abrem os olhos depois
de 13 dias. Filhotes permanecem com a mãe até 2,5 anos de idade e a maturidade sexual
é alcançada mais cedo pelas fêmeas (2 a 2,5 anos). Machos estão sexualmente maduros
entre três e quatro anos. Esses animais têm hábitos noturnos. Na onça-pintada, ocorre
também o fenômeno do melanismo, comum aos leopardos asiáticos (pantera-negra) e
outros felinos.

A coloração amarela, nesse caso, é substituída por uma pelagem preta ou quase preta.
Dependendo da incidência da luz, percebe-se o mesmo tipo de manchas oceladas
encontradas nas onças comuns.

O animal na forma melânica é chamado de onça-preta e em tupi-guarani recebe o nome


de Jaguará-pichuna. O melanismo é herdado por um gene dominante, o albinismo
também é relatado.

Pela sua raridade, a onça-preta é animal que desperta grande procura por parte dos
zoológicos de todo o mundo (OLIVEIRA, 2005).

Figura 23. melanismo em onça pintada. São a mesma espécie, muda a quantidade de melanina.

Fonte: esquerda: https://detvsites-ibama.webnode.com.br/products/on%C3%A7a-preta%20/; e direita: https https://www.


infoescola.com/wp-content/uploads/2008/05/onca-pintada-591459416.jpg.

Gato-palheiro (Leopardus colocolo)

Tem pelagem longa com coloração variando geograficamente do vermelho-alaranjado


ao cinza com listras irregulares nas laterais do corpo e das patas. Apresenta uma faixa

37
UNIDADE II │ MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS

de pelos mais longos que vai da cabeça à base da cauda, que se eriça quando o animal
se sente ameaçado.

É usualmente associado a habitats com vegetação aberta, mas também pode ser
encontrado em ambientes florestados. Tem hábitos crepusculares e noturnos.

Jaguarundi (Puma yagouaroundi)

Seu corpo é delgado e alongado. A cabeça é pequena e achatada, as orelhas curtas e


arredondadas, as pernas curtas e a cauda muito longa. Tem coloração variando do
preto ou castanho escuro ao avermelhado. Os indivíduos de coloração mais escura
estão comumente associados a florestas, enquanto que os mais claros são encontrados
em ambientes mais secos (OLIVEIRA, 2005).

Obs.: Em praticamente todos os seus representantes, o pouco conhecimento sobre


a biologia das espécies limita a possibilidade de estratégias de conservação eficazes.
Muitos são classificados pelo IBAMA como ameaçado de extinção. A destruição de
hábitats costuma ser a principal causa de ameaça desses animais. (ADANIA, 2005).

Características gerais/Manejo nutricional


Manejo nutricional é importante; oferecer a carne misturada a ração de gatos e presas
inteiras: cobaias, coelhos. Evitar oferecer animais abatidos sem inspeção: risco de
Toxoplama gondii. Oferta de presas vivas: enriquecimento e equilíbrio Ca:P, também
vitaminas e minerais.

OBS: Carne: muito P e pouco Ca: osteodistrofia e fraturas espontâneas, oferecer cálcio
extra. Ainda oferecer algum tipo de capimevita a liberação de bolas de pelo, a êmese.
Vivem longos anos em cativeiro, muitos chegam da natureza e abarrotam os zoos
(CUBAS, 2014).

Resumindo:

» maneira geral: aves, répteis, capim, insetos, anfíbios;

» quanto maior o felídeo, maior o animal ingerido;

» onça-pintada: antas, jacarés, queixada, veados;

» capins ingeridos: pé de galinha, fino, napiê e marmelada;

» êmese: liberação de pelos.

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MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II

Felídeos de porte grande alimentam-se a cada 2 dias; felídeos de porte médio e


pequeno, diariamente. Filhotes (1–20 dias) criados na mão, suscedâneo de leite Royal
Canin na mamadeira, após inserir carne com cálcio e banhos de sol. Em alguns casos,
há constipação: dar óleo mineral, caminhadas p/ estimular a evacuação, além de
probióticos. Mamadas a cada 2 horas nos 1os 10 dias, 20 – 40 ml/Kg. (CUBAS, 2014).

Em cativeiro: carne de gado, pintos, pescoço de frango. Ideal oferecer ração de gatos
(com melhores valores nutricionais), acostumar desde filhote. Animais de vida livre
inseridos ou não em cativeiro, não aceitam a ração. Misturar a ração – 30 a 40 % com
carne moída e suplemento de cálcio. As carnes devem ser congeladas em pequenos
pedaços por pelo menos 5 dias a 12° C negativos. Optar pela variedade: material vegetal,
evitar osteodistrofia e fraturas espontâneas (NOTA DO AUTOR).

Filhotes: durante a mamada, manter o animal em posição quadrúpede. Em seguida,


massagear o abdômen e ânus p/estimular a defecação. Com 1 mês, observar o
desenvolvimento motor e a dentição p/começar a inserir a dieta sólida (CUBAS, 2014).

Alimentação para filhotes:

» Pet milk®, Cálcio de ostra oscal® Aminomix®;

» 2 meses: coração bovino, aminomix, cálcio.

Exames sorológicos
Coleta de sangue: Toxoplasmose, Retrovirus (FIV e FELV), hemograma, ureia,
creatinina e perfil hepático.

Instalações
1. Animais grandes: fosso com cambeamento de grade móvel individual,
árvores de porte médio no centro do recinto, vegetação, tocas, cocho
de alimentação, piscinas com peixes para enriquecimento. Piso pouco
abrasivo, areia, troncos área de sombra e ponto de fuga.

2. Animais de porte médio e pequenos, os mesmos itens não precisando


manter em fossos: podem ficar em recintos envidraçados no horizonte do
visitante.

39
UNIDADE II │ MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS

Figura 24. Cama feita de mangueira de bombeiro.

Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 25. Fosso para grandes felinos/Zoo de Brasília.

Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 26. Recinto envidraçado para pequenos felídeos.

Fonte: Arquivo pessoal.

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MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II

Figura 27. Gaiola de restrição com grade móvel.

Fonte: Arquivo pessoal.

A grade móvel de restrição com portas tipo guilhotina localizam-se embaixo do fosso,
longe do público. Com isso, alguns exames clínicos podem ser feitos sem a necessidade
de anestesia, como também a coleta de sangue pela veia lateral da cauda.

Figura 28. Retirada de miíase em pálpebra superior em leão de 22 anos.

.
Fonte: Arquivo pessoal.

Medicina preventiva
Quarentena: 30 dias para adaptação, vermifugação, vacinação, aclimatação, biometria,
marcação, (microchip ou tatuagem). Coleta de material biológico. Exames sorológicos
FIV/ FELV.

41
UNIDADE II │ MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS

Controle parasitário: exames coproparasitológico e vermífugo a cada 6 meses, cuidar


ectoparasitos (NOTA DO AUTOR).

Programa de vacinação:

» tríplice felina (fel- o – vax, Fort Dodge) – panleucopenia, calicivirose e


rinotraqueíte felina, 3 doses em filhotes e uma dose anual - 45, 75, 105
dias;

» raiva anual (acima de 4 meses de idade); vacinar em áreas endêmicas –


vacinas inativadas;

» Felv – evitar vacinar.

Quadro 3. Características reprodutivas dos felídeos neotropicais brasileiros.

Parâmetros/ Gato Gato do Gato do


Gato Gato
jaguatirica mato mato Suçuarana onça
Espécie maracajá palheiro mourisco
pequeno grande
Longevidade (a) 20 13 20 - - - 20 22
Início da vida
36-
Reprodutiva Macho 30 24-36 - 24 18-24 24-36 36
48
–meses
Início vida
24-
Reprodutiva 18-22 24-36 18-24 18 18-24 24-36 30
36
Fêmea – meses
Maturidade 36-48
2- 3 anos 11 m 12-15 m 36 m
Sexual m

Estro – dias 32- 36 16,4 +-1,2 20 55 28 22-65

Gestação ( dias) 70-85 81-84 73-78 72-76 80-85 72-75 84-98 90-111
Ninhada 1-2(1,5) 1-2 1-4(1,1) 1-3 1-3 1-4 1-6 1-4

Peso ao nascer 160-170 90-130 90-120 130 220-440 850

Abertura dos olhos 12 14

Desmame –semanas 3-9 7-8 5-7 8-10 3-4 6meses 5-6m

Fonte: Cubas, 2014.

Contenção física e química


Marcação de felinos, com tinta de impressora e microship interescapular em
mamíferos.

42
MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II

Figura 29. microchip, aplicador e leitor.

Fonte: http://www.animalltag.com.br/includes/exibeProduto.php?item=8&language=pt-br.

Figura 30. Contenção de gato maracajá em puçá.

Fonte: Cubas, 2014.

Puçá: Enrolar o animal. Usado para animais com o porte limite de uma jaguatirica.

Obs.: Não se usam puçás para animais maiores, e sim a anestesia em gaiolas de restrição
ou dardo à distância.

Evitar o uso de cambão ou pau de couro em felídeos menores, risco de traumas


com fratura de pescoço.

O assunto referente à anestesia será abordado em capítulo próprio.

Estresse e itens de enriquecimento


Estresse: conjuntos de reações de um organismo em face de estímulos externos de
ordem física, psíquica, infecciosa ou outras capazes de perturbar a homeostase; esse
é um fenômeno adaptativo, cumulativo, resultante da interação do organismo como
meio por meio de receptores.

43
UNIDADE II │ MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS

Comportamentos estereotipados: andar em rotas fixas, arrancar os próprios pelos,


lamber excessivamente as patas e cauda, automutilação (CUBAS, 2014).

Itens de enriquecimento: picolé de carne, ração espalhada, trilhas de odores, estímulo


olfativo com pimenta ou canela, caixa com algum conteúdo, animais vivos, cama de
capim, cama feita com mangueira de bombeiro etc.

Análises de cortisol: resposta ao estresse em felídeos selvagens em cativeiro a partir da


análise dos metabólitos em amostras do plasma sanguíneo e amostras fecais. Alguns
estudos com saliva em pedaços de pano (CUBAS, 2014).

Clínica
Locais de punção de sangue jugular, safena, cefálica, cauda. Esta última é usada em
grandes felídeos quando contidos em gaiolas de restrição.

Temperatura retal, em média de 38-39 ºC, sendo maior em felídeos menores e maior
em felídeos menores.

Doença periodontal em felídeos

Patofisiologia:

» formação da placa bacteriana;

» gengivite;

» mineralização da placa bacteriana;

» afecção do ligamento periodontal e do osso alveolar;

» exfoliação dentária.

Doenças infecciosas em felinos neotropicais

Virais

» Rinotraqueíte: contagiosa, infecção respiratória.

Sinais: rinite, úlceras orais, conjuntivite, traqueíte, salivação, espirros e


febre.

44
MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II

Evolução: geralmente autolimitante, raramente evolui para pneumonia e


peritonite. Trat: antibiótico, fluidoterapia. O gato doméstico é transmissor.

» Panleucopenia

Vacinação felina protege. Doença semelhante à parvovirose canina,


com rápida desidratação. Propicia infecção bacteriana secundária
Sinais: vômitos, diarreia hemorrágica, desidratação Trat: sintomático:
fluidoterapia, atbs, suporte nutricional.

» Retrovirus: FIV e FELV (vírus da imunodeficiência felina e vírus da


leucemia felina.

» Transmissão: saliva, mordidas. Leões de circo/gatos domésticos

› Fiv: distúrbios neurológicos e hematológicos.

› Diagnóstico: PCR, sorológico sangue/teste rápido, hemograma e


bioquímicos.

› Sem vacinação. Cuidar com fômites.

Felv: Manifestações neoplásicas (linfomas).

Prevenção: vacinação – Tetra felina (com ag felv). Trat: cirúrgia? Eutanásia?

Diag: PCR, sorológico, hemograma e bioquímicos. Prevenção: cuidar com


fômites.

Outros vírus: cinomose, raiva, peritonite infecciosa felina, calicivirose.

Bacterianas: Salmonelose, leptospirose.

O vírus da cinomose afetou felídeos em zoológicos norte-americanos (tigres,


leões, leopardos e onças-pintadas). Esses animais manifestaram os mesmos
sintomas dos canídeos. (KENNEDY STOSKOPF, 1999)

Doença não infecciosas

Osteometabólica

Comum em animais em crescimento principalmente carnívoros que se alimentam


basicamente de tecido muscular e visceral. Neles, estão presentes altas quantidades de

45
UNIDADE II │ MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS

fósforo, podendo produzir uma desproporção de CA:P no sangue, quando o normal é de


2 :1. Para compensar, haverá retirada de cálcio do osso para equilíbrio sanguíneo, o que
tornará os ossos frágeis, tortos e fraturáveis com aumento de volume das articulações. O
diagnóstico é radiográfico, sendo que valores sanguíneos deCA:P podem estar normais.
O tratamento está na correção alimentar ofertando presas inteiras, aporte de cálcio e
radiação solar para a conversão da vitamina D.

Figura 31. Ossos valgos em felídeo com doença osteometabólica.

Fonte: Arquivo pessoal.

intussuscepção

Outra patologia comumente relatada em felídeos de zoológicos é a intussuscepção; suas


causas são inúmeras: a dieta normalmente constipativa a base de tecidos musculares
e ossos, pouco exercício, típico de animais cativos, em espécies maiores como o leão e
tigre, além das habituais lambeduras e ingestão de pelos e, por fim, recintos pequenos
e inadequados sem enriquecimento ambiental.

Os sinais variam desde vômitos, inapetência a constipação. O tratamento é com


óleo mineral e correção da causa. Ofertar ração e material verde misturados à carne.
Aumentar o espaço, o que muitas vezes é difícil em muitos zoos. Em alguns pontos do
recinto, poderá ser plantado capins que são costumeiramente ingeridos pelos animais
como: napiê, marmelada e pé de galinha. Em alguns casos, é necessária cirurgia de
gastro/enterotomia.

Piometra e insuficiência renal também ocorrem com certa frequência em razão da idade
avançada que esses animais atingem.

46
MEDICINA E
MANEJO DE
ROEDORES DE UNIDADE III
COMPANHIA E
LAGOMORPHOS

CAPÍTULO 1
Roedores

Características
São os mamíferos de pequeno porte como as cobaias (porquinho da Índia), chinchilas,
ambos cavimorfos e os mimimorfos: os ratos (mercol), camundongos, gerbil e hamster
de várias espécies. Esses roedores exóticos foram utilizados há muito tempo como
animais em laboratório ou em criações comerciais, tendo sido consequência natural
deste vínculo o surgimento de laços de afetividade entre pessoas e animais. Essa
popularização dos roedores exóticos de companhia trouxe demanda para as clínicas
veterinárias.

Os cavimorfos têm as seguintes características: são espécies originárias das planícies


elevadas do deserto andino. Apresentam longo período de gestação em relação aos
outros roedores. Suas crias são recobertas de pelos e nascem com os olhos abertos. Os
dentes incisivos, molares e pré-molares têm crescimento contínuo. Frequentemente
são sujeitos à patologia dentária (QUINTON, 2005).

Anatomia e fisiologia
A capacidade de abertura da boca é restrita na maioria dos pequenos roedores de
estimação, particularmente na chinchila e no porquinho da índia. Esta capacidade é
limitada devido às pregas grossas de mucosa que invadem a cavidade oral e que são a
continuação dos lábios inferior e superior: por isso a entubação traqueal para anestesia
ou emergências torna-se muito difícil.

47
UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS

Os dentes incisivos, características que os define, têm crescimento contínuo, o que


os faz procurar sempre uma superfície para desgaste, portanto não existem nessas
espécies dentes decíduos, além de terem diastema, ou seja, um espaço entre os incisivos
e os molares. Este espaço é perceptível e grande o suficiente a ponto de possibilitar
a movimentação das bochechas dentro dele e efetivamente fechar a porção caudal
da cavidade oral. Isso torna possível que mastiguem sem consumir o material que
estão roendo. Ainda nesse espaço, alguns roedores iniciam uma pré-fermentação dos
alimentos.

Fisiologia digestiva

Os caviomorfos são herbívoros estritos que praticam cecotrofagia; isso é comum nas
espécies exóticas e possibilita a absorção de vitaminas do complexo B e aumenta a
digestibilidade da dieta. Apresentam trato digestivo muito longo, comparado ao de
outros roedores (cerca de 2,5m, na cobaia!). O trânsito digestivo é lento (de 13h a 30h,
em média; eventualmente pode demorar até uma semana). É adaptado à digestão de
alimentos pouco energéticos e ricos em celulose. Um aporte insuficiente de celulose na
alimentação desses animais causa, rapidamente, estase intestinal (QUINTON, 2005).

Mamíferos herbívoros têm intestinos mais comprido do que os carnívoros; quanto


aos onívoros, apresentam tamanho intermediário. O ceco, muito volumoso, é o
principal órgão de digestão da celulose.

A microbiota digestiva é composta principalmente por bactérias anaeróbicas


Gram-positivas (cocos e Lactobacillus spp.). A população de bacilos Gram-negativos,
como E. coli, é muito pequena. (QUINTON, 2005).

Essa flora cecal faz toda a diferença na decisão de ministrar antibióticos orais que
possam comprometer essa flora e provocar enterites. O mesmo acontece nos
coelhos, que serão estudados na próxima unidade.

48
MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III

Quadro 4. Em anexo, dados biomédicos mais importantes das espécies de roedores exóticos.

Preá chinchila Camundongo Rato hamster Gerbil


Síro:3
Expectativa de vida 3-8 8-10 1-3 2-4 2- 5
Chinês:2
F:600/900 F:400/600 400 S: 80/150 F: 55/100
Peso adulto (g) 20/40
M:400/500 400/500 800 C:35/40 m: 65/120
FC (bat/min) 230/300 100/150 300/750 250/450 300/600 200/360
70/
FR (mov/min) 40/80 100/250 70/150 75 90/140
130
TRº (C) 38,5 38 37,5 38 36/37.5 38
Vol. Sangue(ml) 24 a 45 24 a 45 2,5 a 3 25 a 35 7 7
Maturidade F:2 a 3 m F:12/14 s
7a9m 6 a 7 semanas 6 a 10 semanas 45 a 75 dias
Sexual M:3 a 4 m M:10/12s
Ciclo (dias) 16 24 a 45 4a5 4a5 3a4 4a6
Cio (horas) 50 1a2 12 12 6 12 a18
1o cio pós-parto < 24 h 24 a 48 h 18 a 24 h 18 a 24 h 4 a 6 dias 24 a 48 h

Idade limite p/ F: 18 m
3 anos 10 anos 12 a 18 meses 12 a 16 meses 10 a 18 meses
reproduzir M; 24 m
Sírio:15/17 24 a 26 42(cio
Gestação (d) 63 a 68 105 a 111 19 a 21 21 a 24
C:21 pós-parto)

No filhotes 2a4 1a4 4 a 12 6 a 14 4 a 12 4a7


Peso ao nascer 70 a 100 30 a 40 1a2 5 a 10 2a5 1a3
Abertura de olhos (d) _ _ 12 a 14 10 a 16 10 a 14 10 a 12
Desmame 21 a 45 d 6 a 8 sem. 20 dias 20 a 30 d 20 a 25 d 21 a 28 d

Fonte: Banks, 2010.

49
UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS

Figura 32. Espécies de roedores exóticos mantidos como animais de estimação. O Camundongo (Mus musculus).

B. Rato (Rattus rattus). C.Hamste rsírio(Mesocricetus auratus). D. Hamster chinês (Cricetulus griseus). E. Gerbilo

(Meriones unguiculatus). F. Porquinho-da-índia (Cavia porcellus). G. Chinchila (Chinchilla lanigera).

Fonte: Pessoa, 2014.

*Obs.: Nota-se claramente uma elasticidade muito grande entre os valores mínimos
máximos de muitas enzimas. É provável que o número de amostras analisadas tenha
sido pequeno, o que comprometeu o valor final. Esse quadro serve apenas de referência
para o clínico (NOTA DO AUTOR).

50
CAPÍTULO 2
Clínica

Valores biológicos

Bioquímica sanguínea

Na cobaia, há discreta atividade de ALT nos hepatócitos. Portanto, essa enzima não é
considerada um indicador de lesão hepática nessa espécie. Como nos outros roedores,
os constituintes do sangue dos caviomorfos diferem daqueles de carnívoros pela
predominância da população de linfócitos. Quanto à urina, essa se apresenta com
pH alto entre 8,5 a 9 nos roedores herbívoros e mais neutro nos roedores onívoros
(QUINTON, 2005).

Quadro 5. Parâmetros hematológicos e bioquímicos.

Preá Chinchila camundongo Rato Hamster gerbil


Hematócrito % 32 a 50 25 a 54 42 a 44 39 a 55 45 a 50 35 a 45
Hemáceas 10 /mm 6 3
3.2 a 8 6.6 a 10,7 8,7 a 12 ,5 6 a 10 5.5 a 9 7.5 a 9
Hemoglobina 10 a 17 11.7 a 13,5 10 a 16.2 11 a 19,5 14.5 a 18 13 a 15
Leucócitos 10 6/mm3 5, 5 a 17,5 7,6 a 11.5 5 a 12 6 a 15 6 a 10 9 a 12
Neutrófilos% 22 a 48 23 a 45 7 a 40 * 9 a 34 * 18 a 40 20 a 25
Linfócitos % 39 a 72 51 a 73 55 a 95 65 a 85 56 a 80 75
Monócitos% 1 a 10 1a4 0,1 a 3, 5 0a4 1,4 a 2,5 0a4
Eosinófilos% 0a7 0a3 0a4 0a3 0a1 0a3
Basófilos % 0a3 0a1 0 a 1,5 0 a 1,2 0a1 0a1
Plaquetas 260 a 740* 254 a 298 100 a 1000* 500 a 1300 300 a 500 400 a 600
(10 /mm )
3 3

Glicose (mg/dl) 60 a 125 60 a 125 73 a 183 80 a 300* 60 a 160 47 a 135


Uréia(mg/dl) 9 a 31,5 10 a 40 18 a 31 15 a 21 14 a 27 17 a 31
Creatinina 0,6 a 2,2 0,8 a 2,3 0,48 a 1.1 0,2 a 0,8 0,4 a 1 0,5 1.4
Mg/dl
ALT (ul/l) 25 a 99 10 a 35 44 a 87 17 a 224 * 21 a 134 _
AST(ul/l) 26 a 68 15 a 100 55 a 251 39 a 92 53 a 124 --
Prot total (g/dl) 4.2 a 6.8 5a8 42 a 103 5,6 a 7,6 5.5 a 7.2 4.3 a 14

Fonte: Quinton, 2005.

*Obs.: Nota-se claramente uma elasticidade muito grande entre os valores mínimos
máximos de muitas enzimas. É provável que o número de amostras analisadas tenha

51
UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS

sido pequeno, o que comprometeu o valor final. Esse quadro serve apenas de referência
para o clínico (NOTA DO AUTOR).

Alimentação

Cobaia/porquinho-da-índia

As cobaias não têm enzima necessária para a síntese de vitamina C.A carência dessa
vitamina é responsável por afecções dentárias, musculares e cutâneas. Mesmo nas
rações destes animais, a vit C é volátil no processo de produção e armazenamento do
pacote de ração, por isso a necessidade de suplementar com vit, pode ser ofertada em
gotas na água de beber ou direto na boca do animal. Também pode-se colocar de 50 a
100 mg/kg na água de bebida (GIRLING, 2003).

Dieta: 3 a 4 colheres de sopa de ração para cobaia (20% de proteínas e 16% de fibras),
Quantidade generosa de verduras e legumes, feno de boa qualidade, à vontade, pois é o
alimento que mais ingere e água fresca em bebedouro adaptado (tipo niple).

O vegetal grosseiro (feno) faz gastar o dente, mantém a flora mutualística gastro/
intestinal viva e funcional e é a base da alimentação de roedores herbívoros. Outros
verdes ofertados, (inclusive para outros roedores herbívoros) como o coelho e hamster
são: espinafre, salsinha, cebolinha, cenoura, chicória e outros verdes escuros.

Chinchila

É um pouco semelhante à alimentação das cobaias: evita-se verduras frescas, porém se


mantém a ração e o feno. O excesso de proteína para esse animal provoca alteração do
pelame da chinchila, que se torna fraco e ondulado (síndrome do pelame de algodão).
As fibras grosseiras estimulam o peristaltismo e auxiliam na prevenção de disfunções
digestivas, como amolecimento de fezes, acúmulo de tricobezoares no estômago e estase
intestinal (GIRLING, 2003).

Ratos e camundongos

São onívoros, ração peletizada específica, frutas, verduras e legumes.

A importância da fibra para os roedores herbívoros é porque ela é essencial para


estímulo da motilidade intestinal. Essas espécies são fermentadoras intestinais e
dependem de microbiota, que auxilia na quebra da celulose. A fibra é convertida

52
MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III

pela microbiota em ácidos graxos voláteis, que diminuem o pH do ceco e do


intestino grosso, prevenindo a superpopulação de bactérias indesejáveis e
minimizando os problemas de enterite. Sem a quantidade suficiente de fibras,
as espécies que têm ceco fermentador desenvolvem enteropatia mucoide com
constipação intestinal intermitente, diarreia e cólica (CUBAS, 2014).

Contenção física
Toalhas e luvas como materiais para contenção são desejados, pois diminuem o estresse,
amplia a área de captura e evita mordidas indesejadas. Camundongos e ratos podem
morder quando não familiarizados. Os camundongos devem ser inicialmente seguros
pela cauda, próximo à sua inserção, e então são posicionados em uma superfície não
escorregadia. Enquanto se segura a cauda, a prega do pescoço é contida firmemente
entre o polegar e o indicador da mesma mão.

Figura 33. Contenção física de camundongo (Mus musculus). Após suspender o animal pela base da cauda, ele

pode ser colocado sobre uma superfície não escorregadia.

Fonte: Pessoa, 2014.

Já os ratos são contidos adequadamente se forem segurados ao redor do peito,


imediatamente atrás dos braços com o polegar e o indicador de uma das mãos e
suportando os membros pélvicos com a outra mão. Ratos mais agressivos podem ser
contidos temporariamente segurando a prega do pescoço com o polegar e o indicador e
a base da cauda com a outra mão.

Sob nenhuma circunstância ratos e camundongos devem ser contidos pela ponta da
cauda, pois lesão e avulsão podem ocorrer.

53
UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS

Se o hamster for relativamente dócil, pode-se formar uma concha com a mão e colocá-
lo na palma da mão. Alguns animais são mais agressivos e, neste caso, recomenda-se
colocar o animal em superfície lisa e firme e com pressão gentil, mas firme, segurar a
prega do pescoço com o polegar e o indicador. Deve-se ter cuidado ao segurar apenas a
prega da pele, pois hamsters podem ter os globos oculares prolapsados. Outra maneira
é conter o animal com uma das mãos, pondo os dedos indicador e médio atrás de cada
lado da cabeça e apoiando o dorso do animal na palma da mesma mão.

Figura 34. Contenção física de hamster sírio (Mesocricetus auratus). O animal é suspenso pela prega do pescoço

entre o indicador e o polegar do manipulador.

Fonte: Pessoa, 2014.

Figura 35. Contenção física de gerbilo (Meriones unguiculatus).

Fonte: Cubas, 2014.

As chinchilas podem estressar-se com facilidade e a redução da luz e do barulho


facilitam a captura. Não devem ser contidas pela prega da nuca, pois pode ocorrer
perda de pelos, que levam semanas para crescer. As chinchilas perdem pelos durante o
estresse da contenção, mesmo que não sejam seguras pela pele.
54
MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III

Figura 36. Contenção física de porquinho-da-índia (Cavia porcellus).

Fonte: Pessoa, 2014.

Figura 37. Contenção física de chinchila (Chinchilla lanigera).

Fonte: Cubas, 2014.

Observações:

1. A maioria desses roedores respira pelas narinas com os palatos moles


permanentemente fechados ao redor da epiglote. Dessa maneira, se
o paciente estiver com as narinas obstruídas por secreção, sangue ou
tumor, pode ocorrer parada respiratória.

2. Esses pequenos mamíferos são propensos à hipotermia durante o


procedimento anestésico. Os gases anestésicos reduzem a temperatura
corporal e a atividade muscular, aumentando o risco anestésico para o
paciente que se apresenta hipotérmico (QUINTON, 2005).

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UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS

Contenção química
A contenção química pode ser necessária para colheita de amostras (citologia, biopsia,
sangue e urina), realização de procedimentos (diagnóstico por imagem e cirurgias) e
exame clínico (até mesmo da cavidade oral).

A pesagem é fundamental para cálculos farmacológicos e, principalmente, anestésicos,


uma vez que erros de pesagens podem ser fatais aos animais

Diferentemente dos mamíferos de porte médio, o jejum pré-anestésico é curto. Para


porquinhos da índia e chinchilas, recomenda-se jejum de 3h a 6h antes da cirurgia.
Para gerbilos e hamsters, o tempo de 45min costuma ser suficiente.

A indução pode ser realizada por fármacos injetáveis ou em câmaras anestésicas com
anestesia inalatória, usando-se principalmente o isoflurano.

A colocação de um tubo endotraqueal requer prática. Abaixo, uma lista de pré-


anestésicos e anestésicos mais utilizados (TEIXEIRA, 2014).

Quadro 6. Doses anestésicas usados para pequenos roedores de estimação em mg/kg.

Preá Chinchila camundongo Rato hamster Gerbil


Acepramo
0,5 a 1,5 0,5 a 1 0,05 a 2,5 0,5 a2,5 0,5 a 5 Não usar
Mazina
Diazepan 1a5 2,5 3a5 3a5 3a5 3a5
Meperidina 10 a 20 10 a 20 10 a 20 10 a 20 10 a 20 10 a 20
Xilazina 1a5 2 a 10 10 a15 10 a 15 8 a 10 5 a 10
Acepram+ 2,5 a 5 +50
0,5 +20/40 0,5 +20/40 5 + 150 2,5 a 5 +50 /150 Não usar
Cetamina /150
3 a 5+
Diazepan+ cetamina 3 a 5 +20/40 1 a 5 +20/40 2 + 70 3 a 5 + 40/100 5 + 40/150
40/150
Xilazina + 3a5+
4 a 8 + 30/ 40 10 + 200 5 a 10 +50 /150 5 a 10 50/150 2 a 3 +50/70
Cetamina 20 /40
Tiletamina +zolazepan 20 a 40 20 a 40 50 a 80 50 a 80 50 a 80 50 a 80

Fonte: Quinton, 2005.

Obs.: Notam-se as altas doses de alguns fármacos, como a cetamina, xilazina e a


tiletamina /zolazepan em função do alto metabolismo desses animais.

Alguns cuidados devem-se ter em relação à anestesia, pois os gases anestésicos esfriam
o paciente rapidamente pelas mucosas orais e respiratórias, efeito que é agravado
em procedimentos prolongados, aumentando assim, a hipotermia, por isso algumas
sugestões a serem tomadas:

56
MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III

1. realizar antissepsia sem molhar excessivamente o animal;

2. depilar apenas a área da cirurgia e não usar álcool, que causa rápido
esfriamento da pele;

3. manter a temperatura da sala confortavelmente aquecida;

4. posicionar o paciente sobre um colchão aquecido ou improvisado


com luvas de látex ou garrafas e bolsas cheias de água morna, mas
evitar contato direto com a pele, pois se a água estiver muito quente
pode provocar queimadura;

5. o uso de papel laminado ou plástico bolha para enrolar o paciente


inibe a perda de temperatura;

6. administrar fluidos isotônicos aquecidos por via subcutânea antes e


durante a cirurgia. (TEIXEIRA, 2014).

A reposição hidroeletrolítica pré, trans e pós-cirúrgica é muito importante em pequenos


mamíferos, mesmo para cirurgias de rotina, e a razão entre área de pele e volume
corporal favorece uma rápida desidratação. A administração de fluidos de manutenção
para pequenos mamíferos durante ou imediatamente após a cirurgia de rotina aumenta
os níveis de segurança da anestesia.

Em função de pequeno tamanho e os aparelhos que mensuram a função cardiovascular


em animais de porte médio não servirem a esses animais, lança-se mão de algumas
sugestões: Acompanhamento da função cardiovascular pode ser feito de maneira
convencional, com estetoscópio e avaliação do pulso femoral. Como em cães e gatos, o
aumento da frequência cardíaca e respiratória pode indicar superficialização do plano
anestésico.

Equipamentos mais sofisticados, como oxímetros de pulso, podem ser usados para
monitorar a frequência cardíaca e a saturação da hemoglobina. Sondas lineares
podem ser usadas no aspecto ventral da cauda, quando possível. Outras maneiras
incluem eletrocardiograma, adaptado para minimizar o traumatismo com pinças, que
são substituídas por agulhas. Um aparelho de monitoramento extremamente útil é o
doppler, que pode detectar o fluxo de sangue em vasos menores.

Caso seja necessário o uso de doxapram, a dose preconizada é 10 mg/kg em hamster


(RICHARDSON, 2003).

57
UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS

Exame físico
Temperatura retal em torno de 37-38 ºC para a maioria das espécies, estetoscópio
neonatal, de preferência, sendo para essas espécies a FR entre 60/70 movimentos
respiratórios e FC entre 180/250 BPM. Alguns animais utiliza-se uma caixa para
pesagem.

Examina-se a cavidade oral, pois, em muitas vezes, a inapetência tem como causa dentes
quebrados. O uso de otoscópio auxilia a visualizar os molares dos animais. Abscessos
são comuns na cavidade oral devido à cama e ao alimento que pode ter inoculado
alguma bactéria. Qualidade da pelagem é muito importante e suas falhas têm como
causas distúrbios nutricionais ou doenças sistêmicas quando essas vêm acompanhada
de outras sintomatologias.

Coleta de sangue
A coleta de sangue em pequenos roedores é um pouco trabalhosa, sendo o local mais
indicado as veias laterais da cauda. Em ratos, pode ser tentado a veia femural. Para
acesso da veia jugular, em função do pequeno espaço e profundidade da veia, o animal
deve ser sedado, para evitar o estresse de uma contenção demorada. A veia safena lateral
pode ser usada em porquinhos da índia e chinchilas. O volume de retirada sanguínea
é calculado de acordo com o peso do animal, podendo retirar-se de 1 a 2 % de volume
deste peso (LYON, 2010; HUDSON, 2010).

Figura 38. Pesagem do animal, descontando-se a caixa.

Fonte: Teixeira, 2014.

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MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III

Figura 39. Coleta de sangue pela veia safena lateral em chinchila (Chinchilla lanígera).

Fonte: Cubas, 2014.

Lembre! Vias de administração de fármacos (TEIXEIRA, 2014).

» Via oral: via útil para a maioria das medicações administradas,


particularmente fácil em chinchilas que aceitam ingerir espontaneamente
a maioria dos medicamentos.

» Via subcutânea: é a principal via de administração de fármacos e fluidos,


pois suporta grandes volumes.

» Via intramuscular: a musculatura dos membros pélvicos e torácicos


suporta pequenos volumes injetados. É muito frequente ocorrer dor
após a aplicação e necrose muscular após a administração de fármacos
irritantes como enrofloxacino, sulfa e tetraciclina.

» Via intravenosa: são usadas as veias safena e cefálica, principalmente


após contenção química. O acesso intravenoso pode ser muito difícil em
animais hipotensos.

» Via intraperitoneal: é usado o quadrante caudal esquerdo, com risco de


perfuração de vísceras.

» Via intraóssea: com as mesmas características da via intravenosa, são


usados o fêmur ou a crista da tíbia.

Fluidoterapia
A perda de líquidos pelo suor é pouco evidente porque os roedores têm poucas ou
nenhuma glândula sudorípara e não conseguem ofegar. O equilíbrio hidroeletrolítico
está relacionado com as altas taxas metabólicas e, consequentemente, com a alta taxa
59
UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS

de filtração glomerular. Como os roedores de companhia são pequenos e têm grande


superfície pulmonar em relação ao volume corporal, grandes quantidades de fluidos
são perdidas durante a respiração. Essas características fazem com que as necessidades
diárias de fluido por quilograma sejam próximas do dobro do indicado para animais
maiores (QUINTON, 2014).

Quadro 8. terapêutica em roedores (mg/kg).

Preá chinchila camundongo Rato Hamster gerbil


Amicacina 10a 15 1xdia 2 10 2a5 5 a 10 5 a 10
3x dia 2x dia 2x dia 2 x dia 1 x dia
ampicilina Não usar Não usar 20 a 50 50 a 150 Não usar Não usar
3 x dia
Cloranfenicol 50 50 50 a 200 50a 200 50a 200 50a 200
2 x dia 2 x dia 2 x dia 2 x dia 2 x dia 2 x dia
Doxiciclina 2,5 50 5 5 2,5 2,5
2 x dia 2 xdia 2 x dia 2 x dia 2 x dia 2 x dia
Enrofloxacina 5 a 15 2.5 a 15 2 x dia 5 a 10 2.5 a 10 2 x dia 5 a 15 5 a 10
2 x dia 2 x dia 2 x dia
Gentamicina 5a8 2a4 5 a 10 5a8 3a5 5
1x dia 3 x dia 2 x dia 1x dia 3 x dia 1 x dia
metronidazol 20 10 a 25 10 a 40 20 a 60 20 a 60 20 a 60
2 x dia 2 x dia 1 xdia 2 xdia

Fonte: Quinton, 2005.

Obs.: Para pesquisa de outros fármacos, consultar o Guia Bretas, disponível em: https://
www.vetarq.com.br/2017/05/pdf-guia-terapeutico-veterinario.html.

Enfermidades
Em cobaias, um motivo de consulta comum é a anorexia, sintoma com frequência
relacionado à má oclusão bucal ou à estase digestiva. A vida do animal corre risco a
partir do momento em que ele para de alimentar-se, pois, nessa condição, a lipidose
hepática instala-se rapidamente. As infecções pulmonares requerem tratamento de
longa duração e, no caso de cobaias, o prognóstico é sempre reservado.

Com frequência, as cobaias estão sujeitas à dermatofitose e, em geral, são parasitadas


por um parasita específico, o Trixacarus caviae.

Hipovitaminose C

Como mencionado, as cobaias e hamster não sintetizam a enzima que permite a


transformação de glicose em ácido ascórbico. Sem o ácido ascórbico, torna-se impossível

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MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III

a síntese de colágeno pelo organismo. O colágeno é indispensável para a formação


e manutenção da integridade dos vasos sanguíneos. Ele participa na formação dos
ligamentos das articulações e dos ligamentos que mantêm os dentes presos à gengiva.
Portanto, carência de ácido ascórbico na dieta ocasiona desorganização progressiva
dessas estruturas. Em animais jovens, ocorre uma dificuldade de deambular devido às
articulações estarem doloridas e edemaciadas. Além disso, os dentes podem amolecer
e a abertura da boca pode ser dolorosa. Já os sintomas em animais adultos são mais
inespecíficos. É possível notar animais letárgicos, com anorexia e secreção ocular
e nasal. As fezes podem estar amolecidas e fétidas em razão da deficiência de ácidos
biliares. Má oclusão dentária e pododermatite também são sintomas de carência
de vitamina C. O tratamento consiste na administração diária de 50 a 100mg/kg de
vitamina C (VO ou SC), durante 7 dias e manter em doses menores diariamente ad
eternun (RICHARDSON, 2003).

Patologias respiratórias

São comuns e têm como fatores predisponentes: épocas de seca, quedas na temperatura,
superpopulação, má ventilação uso de maravalha ou serragem e excesso de amônia no
substrato. As bactérias mais comumente descritas são: Streptococcus spp., Mycoplasma,
Pseudomonas e Pasteurella. Os sinais respiratórios são espirros, rinite e conjuntivite
que pode evoluir para pneumonia quando apresenta dispneia, sibilos, corrimento muco
purulento, letargia e inapetência (QUINTON, 2014).

O tratamento consiste em antibióticos orais ou injetáveis e tratamento de suporte.


Uma alternativa é usar um nebulizador ultrassônico com antibiótico geralmente
enrofloxacina. Coloca-se o animal em uma caixa de tupperware e o nebulizador dentro,
ou na gaiola, veda-se com plástico e fixa-se a máscara do aparelho, com isso, a fumaça
de nebulização se espalha pelo interior do ambiente fechado. O animal costuma não se
incomodar com essa terapia (NOTA DO AUTOR). Limpeza das narinas com solução
fisiológica e oxinenoterapia são necessárias.

Quanto à inapetência, deverá ser usada alimentação forçada, um alimento de fácil


assimilação, digestão e administração são os queijos pettit suisse, que passam com
facilidade na seringa e são aceitos pelos animais. Para os roedores herbívoros ainda
podem ser administrados papinha de bebês sem carne; no caso dos roedores onívoros,
a mesma papinha com carne (NOTA DO AUTOR).

As cobaias são muito sensíveis às infecções respiratórias causadas por Bordetella


bronchiseptica e Streptococcus pneumoniae. O coelho, com o qual acobaia
costuma coabitar, em geral é portador sadio da Bordetella. O prognóstico sempre é

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UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS

reservado; o tratamento é demorado e nem sempre é efetivo. Sintomas de anorexia,


dispneia, sibilos respiratórios, secreção naso-ocular. Antibióticos mais utilizados:
oxitetraciclina (50mg/kg, VO, duas vezes ao dia), tetraciclina (10 a 20mg/kg, VO,
duas vezes ao dia) – medicamentos geralmente eficazes, porém podem induzir
enterotoxemia em cobaias –, fluoroquinolonas (por exemplo, 2 a 5mg/kg/dia de
marbofloxacina), sulfonamida-trimetoprim (30mg/kg, VO, duas vezes ao dia),
tilosina (10mg/kg, duas vezes ao dia). E, em alguns casos, usa-se medicamentos em
aparelhos de nebulização com razoáveis resultados (RICHARDSON, 2003).

Dermatologia

Dermatite

Uma das lesões mais comuns em roedores é pododermatite, que não costuma ser uma
doença bacteriana primária de pele. Aumentos de volume ocorrem nos calcanhares
de animais mais velhos, comprometendo o suprimento sanguíneo para os locais de
pressão e possibilitando infecção bacteriana secundária. As causas incluem osteoartrite,
obesidade e substrato inadequado, particularmente em ambientes com higiene precária,
além de deficiência de vitamina C. Gaiolas com grades podem lesionar os calcanhares de
porquinhos da índia; Um ou mais membros podem estar afetados, sendo mais comum
nos membros pélvicos. As superfícies palmares e plantares tornam-se inicialmente
eritematosas, podendo evoluir para edema, ulceração, sangramento e necrose dos
tecidos moles das extremidades dos membros. Se o processo evoluir pela persistência
dos fatores predisponentes, aliados à infecção bacteriana, haverá a complicação óssea e
articular (GIRLING, 2003).

A patologia não fica restrita à pele, podendo tornar-se crônica responsável por amiloidose
e falência de múltiplos órgãos, tais como fígado: rins, adrenais e pâncreas. As bactérias
mais comuns são: E. coli, Staphylococcus aureus e Streptococcus spp. O tratamento
consiste em mudar o substrato das gaiolas com fundo macio, sólido, sem grades, sem
substrato abrasivo e com boa higienização (TEIXEIRA, 2014).

Em casos graves de pododermatite, nos quais a terapia com a mudança do ambiente e


antissépticos tópicos não surte efeito, o desbridamento cirúrgico pode ser necessário,
além de analgesia (meloxicam ou carprofeno), gel hidratante e melhoria das condições
higiênicas da gaiola e dos substratos. A forma inflamatória e não ulcerada pode ser
tratada com uma pomada que associe antibióticos e corticóides (Cortanmycetine
pomada, por exemplo). Pode-se instaurar antibioticoterapia parenteral (por exemplo,
10mg/kg de tilosina, VO, duas vezes ao dia). A perda de peso é recomendável em animais
obesos. O prognóstico é reservado, em especial quando há ulceração (HUDSON, 2010).

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MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III

Figura 40. Lesões na superfície palmar de um porquinho da índia (Cavia porcellus) com pododermatite,

mostrando calosidade e necrose de tecidos.

Fonte: Teixeira, 2014.

Lembre! Uma das causas mais comuns de pododermatite é o piso gradeado ou sujo.

Alopecia

Alopecia não pruriginosa pode ter, essencialmente, duas origens:

» Comportamental:

› os animais dominados são obrigados a comer os pelos por seus


congêneres dominantes;

› os filhotes não desmamados tendem a engolir os pelos de sua mãe;

› o animal ansioso pode ter um comportamento de automutilação.

» Hormonal:

› Alopecia transitória em fêmeas no final da gestação. - Alopecia bilateral


simétrica em fêmea idosa, secundária ao hiperestrogenismo induzido
por cistos ovarianos. Indica-se ovariectomia. Também é possível
aplicar duas injeções de HCG (1.000UI, IM), com intervalo de 7 dias,
ou administrar acetato de clormadinona -10mg/kg de Luteran, VO, a
cada 6 meses (QUINTON, 2014).

Dermatofitose

Trichophyton mentagrophytes é o fungo mais comum; o Microsporum canis também


pode ser isolado. A dermatofitose é uma infecção frequente em porquinhos da índia
jovens mantidos em condições ambientais inadequadas. Em geral, as lesões iniciam-
se na cabeça e nas orelhas, na forma de pequenas áreas de alopecia, com escamas e
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UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS

crostas. Complicações como hipersensibilidade e infecções bacterianas secundárias são


frequentes; nesses casos, as lesões tornam-se pruriginosas.

Diagnóstico por citologia ou cultura para identificação do agente. O tratamento


consiste em griseofulvina (25mg/kg/dia, VO, durante 3 semanas). O lufenuron
(Program) é uma alternativa interessante. Pode ser utilizado por via oral, na dose de
80 a 100mg/kg, durante 3 dias consecutivos e, em seguida, com intervalos de 15 dias.
O itraconazol tem sido usado com êxito, na dose de 5 mg/kg, 1 vez/dia durante 30
dias (JEPSON, 2010).

As chinchilas podem apresentar os pelos roídos por contactantes ou por automutilação.


Esse fenômeno é mais comum em animais estressados e agitados, e os locais mais
afetados são áreas atrás dos ombros e na lateral do corpo. Os pelos ficam com aspecto
quebrado e pode haver áreas de exposição de pele. As causas não são completamente
elucidadas, porém considera-se um componente hereditário relacionado com o
comportamento mais estressado dos animais.

Quando não se consegue descobrir a causa, considera-se que seja vício ou


comportamento obsessivo compulsivo. Como prevenção, deve-se cuidar do ambiente
para reduzir o estresse, possibilitando o exercício, oferecendo esconderijo, manutenção
do ciclo circadiano, temperatura e umidade em níveis aceitáveis para a espécie, além
de oferecer dieta adequada com altos níveis de fibra. Se for constatado que o problema
é comportamental, sugere-se terapia com fluoxetina na dose de 5 a 10 mg/kg, 1 vez/
dia até o crescimento dos pelos, porém pode haver necessidade de terapia contínua.
(RICHARDSON, 2003).

Ácaros e outros ectoparasitas

A sarna é um dos principais ectoparasitas em roedores, atingindo pescoço e escápulas,


abdome e pernas. Ocorre prurido intenso e o animal pode causar lesões traumáticas
pela coceira, e, em cobaias, a intensidade do prurido pode provocar-lhes convulsões.
No raspado de pele, eventualmente não são encontrados os agentes, pela profundidade
em que se encontram. O tratamento consiste em ivermectina (0,5 mg/kg, SC) ou
selamectina na forma de spot-on. A doramectina também pode ser usada. Piolhos e
pulgas também podem ser visualizadas e o tratamento é o mesmo (QUINTON, 2014).

Doenças do trato digestório

São muito frequentes as causas que produzem afecções digestórias. As doenças dentárias
são mais comuns em chinchilas e raras nos outros roedores. Nas chinchilas, o problema

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MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III

está relacionado com a má oclusão dos dentes posteriores, que ocorre principalmente
pela falta de alimentos abrasivos na dieta e possivelmente combinado com a falta de
cálcio e vitamina D3 durante o crescimento. Esse quadro é conhecido como síndrome
da doença dentária progressiva adquirida - SDDPA (RIGGS, 2009).

O alongamento das coroas dos dentes maxilares ocorre lateralmente e eles penetram
na mucosa das bochechas, com as coroas dos dentes mandibulares se alongando
medialmente formando uma ponte sobre a língua.

O diagnóstico desses problemas pode ser realizado pelos sinais clínicos e radiografia.
Clinicamente, a chinchila é vista com salivação e pode apresentar anorexia, perda de
peso e preferência por alimentos mais macios. É necessário alterar a dieta para verduras
abrasivas e desgastar os molares a cada 6 a 8 semanas, sob anestesia.

Tratar as infecções orais com base na sensibilidade da cultura. Analgesia com meloxicam
(0,1 mg/kg, por via oral, 1 vez/dia durante no máximo 3 dias) ou tramadol (7,5 mg/kg
por via oral ou injetável, 3 vezes/dia) (TEIXEIRA, 2014).

Figura 41. Ponte sobre a língua de um porquinho da índia (Cavia porcellus) causada pelo alongamento coronal

dos dentes posteriores em consequência da SDDPA.

Fonte: Teixeira, 2014.

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UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS

Figura 42. Vista ventral da cavidade abdominal de rato aberta. 1. fígado, 2. estômago, 3. ceco, 4. baço, 5.

pâncreas, 6. Jejuno.

Fonte: https://pt.slideshare.net/gustavofarias562114/atlas-de-anatomiadorato.

Figura 43. Radiografia lateral do crânio de uma chinchila (Chinchilla lanigera) com SDDPA. Alongamento dos

ápices dos dentes posteriores mandibulares e maxilares, ultrapassando a linha da tábua óssea da mandíbula e

dos seios nasais; contato entre os ápices dos dentes posteriores com os tecidos oculares; perda da linha oclusal

entre os dentes posteriores; afastamento entre a mandíbula e maxila pelo alongamento das coroas de reserva e

perda do ângulo oclusal dos incisivos inferiores.

Fonte: Teixeira, 2014.

Deve-se ter cuidado em estabelecer a antibioticoterapia oral em roedores. Flora


bacteriana é composta de bactérias gram-positivas e, uma vez administrados antibióticos
orais contra essas bactérias como eritromicina, penicilina, lincomicina, cefalosporina
e estreptomicina, poderá alterar a microbiota intestinal possibilitando a proliferação
de Clostridium difficile; haverá, assim, redução de pH, enterite fatal e diarreia e
consequentemente absorção de enterotoxinas e o animal pode entrar em choque e óbito
(RICHARDSON, 2003).

Por isso, o ideal para uso oral são os antibióticos de amplo espectro como enrofloxacino,
tetraciclina, metronidazol e neomicina. Quando se usa antibióticos, recomenda-se a
administração de probióticos e vitamina B. Nesses casos, fluidoterapia e carvão ativado
(HEATLEY, 2009).

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MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III

Neuropatias

Quanto às doenças neurológicas nos roedores, algumas particularidades: O gerbil


tem uma predisposição genética à epilepsia com tratamento à base de fenobarbital e a
síndrome vestibular do rato geralmente está relacionada à infecção da bolha timpânica
por micoplasma. Síndrome vestibular geralmente está relacionada à infecção do
ouvido interno (infecções da bolha timpânica por micoplasma são frequentes em ratos)
(QUINTON, 2014).

67
CAPÍTULO 3
Lagomorphos

Características
Coelhos, lebres, tapitis e lebres assobiadoras pertencem à família Leporidade, ordem
Lagomorpha. O coelho doméstico (Oryctolagus cuniculus) teve seus ancestrais
provenientes do oeste da Europa e nordeste da África. Existem mais de 50 raças de
coelho (ALVES, 2008).

Diferentemente dos roedores, que contam com um par superior de incisivos e outro
par inferior, os lagomorfos têm dois pares de incisivos superiores (PESSOA, 2008). Os
leporídeos têm 28 dentes (2× I 2/1, C 0/0, P 3/2, M 3/3).

Além da função óbvia das orelhas na captação de sons emitidos por predadores,
desempenham função importante no controle térmico corpóreo, graças à vasodilatação
e vasoconstrição periférica. Portanto, o animal não deve ser segurado pelas orelhas, que
não devem ser obstruídas durante a contenção física.

Comparando-se a massa óssea de um coelho com a de um gato, a do coelho é


consideravelmente menor, o que o torna mais predisposto a fraturas. (PESSOA, 2014).

Figura 44. Toca natural (a). Gaiola inadequada o piso gradeado - Provoca pododermatite severa (b).

a b

Fonte: Pessoa, 2014.

Diferenças entre roedores e lagomorfos: (QUINTON, 2014).

» Dois incisivos superpostos em cada hemiarcada superior nos Lagomorfos;


um único incisivo por hemiarcada nos Roedores.

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MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III

» Maxilar mais largo que a mandíbula, nos Lagomorfos (o crânio do coelho


pode lembrar o de um cavalo miniatura); maxilar menos largo que a
mandíbula, nos Roedores.

» Movimento látero-lateral natural dos maxilares, nos Lagomorfos;


movimento anteroposterior dos maxilares, nos Roedores.

Figura 45. Coelhos 2 pares de dentes incisivos superiores.

Fonte: Cubas, 2007.

Fisiologia
A expectativa de vida dos coelhos, em média, é de 6 a 8 anos. Os recordes de longevidade
não ultrapassam 12 anos.

Um adulto de raça anã pesa de 1 a 2kg, sendo a variedade anã do coelho Belier
ligeiramente mais pesada (2 a 3kg). As raças gigantes (Belier, Gigante de Flandres)
podem facilmente atingir 6kg.

Quadro 9. Constantes fisiológicas dos coelhos.

Temperatura corporal (°C) 37,8 – 39,5


Freqüência cardíaca (batimentos/min) 180 – 300
Freqüência respiratória (movimentos/min) 30-60
Volume sanguíneo total (ml/kg) 55-70
Número de cromossomos 44
Longevidade 6–13 anos

Receptividade sexual 14–16 dias


Gestação 30–33 dias
Ninhada 4–10 filhotes
Desmame 4/6 semanas
Puberdade 4/8 meses

Fonte: Arquivo pessoal.

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UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS

Há três glândulas odoríferas: submentonianas, perianais e inguinais, situadas nas


pregas cutâneas de ambos os lados do orifício genital.

Algumas particularidades anatômicas como:

» O esqueleto do coelho é frágil, mas sua massa muscular é vigorosa.


Durante um exame, o coelho pode fraturar a coluna vertebral cravando
violentamente seus membros posteriores na mesa.

» O timo persiste por toda a vida do animal.

» O coelho é monogástrico; o órgão digestivo mais volumoso é o ceco.

» O útero tem dois cornos e dois colos bem distintos.

» A conformação anatômica do coelho o obriga a respirar apenas pelo


nariz. Um coelho que tenta respirar pela boca apresenta uma patologia
respiratória cujo prognóstico é, em geral, reservado.

» A audição e o olfato são bem desenvolvidos. As orelhas também auxiliam


na termorregulação (QUINTON, 2014).

Em lagomorfos e roedores, o sistema urinário está envolto no metabolismo do cálcio.


Nessas ordens, o cálcio sérico está diretamente relacionado com o cálcio existente na
dieta, não sendo regulado pela vitamina D ou pelo paratormônio. O sistema urinário
faz a excreção de cálcio e magnésio, o que torna a vesícula urinária e os rins órgãos
favoráveis à formação de cálculo. Por isso, dietas com altos teores de cálcio podem
causar calcificação ou mineralização do arco aórtico e da aorta torácica (MITCHELL,
2009). Como exemplo, excesso de couve.

O coelho produz tanto as fezes quanto os cecotrófos (alimentos processados no ceco


a partir da celulose). A microbiota cecal, formada por Bacteroides sp., estreptococos,
colibacilos, Clostridium perfringens, protozoários ciliados e Cyniclomydes guttulatulus,
é responsável pela fermentação da ingesta. Os cecótrofos são ricos em nutrientes
essenciais como ácido fólico, vitaminas C, B e K e aminoácidos.

A cecotrofagia é necessária, pois a síntese bacteriana desses nutrientes ocorre nas


porções finais do intestino, local com pouca absorção de nutrientes. Por outro lado,
as fezes são o subproduto da digestão e absorção dos nutrientes e não é o mesmo que
cecótrofos. (QUINTON, 2014).

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MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III

Portanto, lagomorfos realizam cecotrofagia e não coprofagia!

Figura 46. fezes à esquerda e cecotrófos à direita.

Fonte: http://coelhomaniajlle.blogspot.com/2012/08/cecotrofia_16.html.

Nutrição
Verduras escuras devem compor o cardápio principal, grande quantidade de grama
(capim elefante, pangola etc.), ração peletizada de excelente qualidade (1% a 2% do
peso vivo/dia). Frutas devem ser fornecidas apenas como petiscos, pois a frutose pode
causar disbiose.

Lembre! A ração em excesso pode ser prejudicial a flora cecal e provocar diarreias

Instalações
Podem ser criados em ambiente interno ou externo. Utiliza-se como recintos caixas
plásticas grandes; os aquários grandes têm o inconveniente de ter ventilação inadequada.
As gaiolas com piso telado podem causar pododermatites, por isso usar cama de feno
ou chapa metálica como fundo.

Animais territorialistas agem agressivamente à introdução de outros animais.

Substrato para cama: feno, palha, jornal grama sintética, evitar serragem e maravalha
pelo risco de problemas respiratórios e ingestão causando obstrução.

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UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS

Figura 48. Sistema de criação interno com gaiolas (D) e a coelheira (A),

suspensa do chão para evitar ataques de predador.

Fonte: Pessoa, 2014.

Figura 49. Contenção dos coelhos.

Contenção ideal de coelho

Fonte: Cubas, 2007.

Figura 50. Outras formas de contenção A. Por “hipnose”, mantendo a cabeça fora da mesa B. Contenção

pela região lombar. D. Apoiando os membros pélvicos, torácicos e cabeça no antebraço do manipulador. E.

“Hipnose” com a cabeça apoiada sobre a mesa.

Fonte: Pessoa, 2014.

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MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III

Nunca tentar segurar os membros pélvicos, risco de fraturas e luxações! Os


coelhos têm ossos de cortical fina!

Deve-se ter cuidado, pois os coelhos são extremamente sensíveis ao estresse, sendo
relatado problemas até em animais que são banhados em pet shops. Nessa situação,
inicialmente há liberação de catecolaminas, com reações fisiológicas que podem ser
deletérias ao paciente, em que os animais se mostram em estado de estupor, tomam a
posição de decúbito lateral, olhos “vidrados” e torcicolo evidenciando um prognóstico
desfavorável apesar da terapêutica instituída (NOTA DO AUTOR).

Clínica

Imunoprofilaxia

Vacinam-se os coelhos contra doença hemorrágica viral (VHD) e mixomatose, vacina


mista contra as duas doenças, (Dercunimix, 0,2mL, ID) na prega da orelha somente
para coelhos com acesso a ambientes externos. Na prática, para coelhos criados em
ambientes internos, não se vacina, pois é rara a incidência da doença; além disso, a
referida vacina é pouco encontrada no Brasil (QUINTON, 2014).

Vermifugação com mebendazol 10 mg/kg 1 x dia por 5 dias (BRETAS, 2007).

Anestesia

Dependendo do estado de ansiedade do animal, a contenção química é necessária para


evitar o estresse e fraturas por contenção inadequada e realizar exame físico criterioso
e cavidade oral. O piloro muito estreito não permite que o coelho vomite. Realiza-se
jejum de 4h a 5h, mantém-se um pouco de feno porque o ceco não pode ficar totalmente
vazio de alimentos.

O coelho, assim como os roedores, é muito sensível à hipotermia durante a cirurgia;


por isso, o aquecimento é fundamental, usando luvas, colchão térmico e salas com
temperatura amena. O aquecimento pode ser atingido via fluidoterapia aquecida.

73
UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS

Quadro 9. Fármacos anestésicos mais utilizados em coelhos.

Fármaco Dose (mg/ kg) Frequência


acepromazina 0,5 a 2 Sc --
Butorfanol 0,1 a 1 A cada 4h
Carporfeno 2a4 1 a 2 x dia
Cetamina 0 a 50 ---
Cetamina + diazepan 20 a 40 + 1 a 5 ---
Cetamina + medetomidina 5 + 0,25 ou 25 + 0,5 __
Cetamina + xilazina 0 a 50 + 3 a 10 --
Cetprofeno 1a3 1 a 2 x dia
Diazepan 0,5 a 10 ---
Flunixin meglumine 1a2 2 x dia por 3 dias
Haloperidol* 0,2 a 0,2 2 x dia
Tiletamina +zolazepan 10 --

Fonte: Pessoa, 2014.

*Obs.: O haloperidol, além de tranquilizante préoperatório, também é usado para


animais com distúrbios psicopáticos, como agressões gratuitas, automutilação e outras
psicopatias.

Intubação

Pela comissura labial ser estreita, a intubação é difícil, devendo ser utilizados em alguns
casos, um videoendoscópio para acessar a traqueia. Em alguns casos, pode se proceder
a aplicação de anestésico intranasal. Pelo porte pequeno, é possível utilizar o sistema de
baraka para anestesia volátil (PESSOA, 2014).

Coleita de sangue
Acesso pelas veias: marginal da orelha (a mais utilizada), jugular – difícil; o animal
deve ser sedado. A cefálica tem calibre pequeno e a safena lateral. O mesmo não se
procede para fluidoterapia, visto que não se consegue manter um cateter nesses locais,
com exceção da veia auricular.

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MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III

Figura 51. Colheita de sangue na veia marginal da orelha.

Fonte: Arquivo pessoal.

Exame clínico

Particularidades

» O coelho respira obrigatoriamente pelo nariz; qualquer movimento


respiratório oriundo da boca é patológico.

» O estado de hidratação não se avalia pelo beliscamento da prega cutânea,


mas sim pelo grau de retração do globo ocular na órbita.

» Não há reflexo ocular de piscar frente a uma ameaça.

» Assim como nos gatos, a anorexia leva a lipidose.

Para aplicação de injeções:

» Via subcutânea: Entre a escapula ou sobre o flanco.

» Via muscular: O local de preferência são os músculos lombares. Na coxa,


risco de lesão do ciático.

» Via intraperitoneal; para filhotes, 1cm acima do umbigo.

» Via venosa: Veia marginal da orelha.

» Via intraóssea: Em emergência, animais debilitados.

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UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS

Clínica e Terapêutica
Para reidratação, usa-se o ringer lactato na dose de 75 a 150mL/kg. A medicação oral
usa-se por suspenção, bem aceita pelos coelhos. Se precisar de alimentação forçada:
papinhas de legumes para bebês e purê de abobrinha cozida no forno de micro-ondas
10mL, três vezes ao dia.

A antibioticoterapia em coelhos deve ser feita com cautela, pois os coelhos têm ceco
e uma flora bacteriana presente e importante; assim como em alguns roedores, o uso
de determinados antibióticos pode levar a enterotoxemia fatal pela morte bacteriana,
como os betalactâmicos que são absorvidos pelo ceco. Os fármacos orais tolerados
são os mesmos usados para roedores: fluorquinolonas, sulfas, metronidazol. Não há
restrição para o uso de qualquer antibiótico injetável.

Abscessos

Odontopatias, subnutrição, animais criados de maneira intensiva (corte), ventilação


inadequada, substrato impróprio, condições sanitárias insatisfatórias e feridas
traumáticas são os principais fatores predisponentes.

Abscessos internos podem ser diagnosticados como massas abdominais (palpáveis),


torácicas ou faciais (retrobulbar). Muitas vezes, pode ser necessário realizar uma
incisão para drenar a abscessos caseoso. As bactérias envolvidas são as Pasturelas e
Bordertelas (JEPSON, 2010).

Má oclusão

As causas são múltiplas e associadas. Têm origem genética, traumática, alimentar e


metabólica. Uma das causas mais comuns é o desgaste insuficiente dos dentes: a
dieta que privilegia mistura de grãos e ração granulada, em detrimento ao feno e à
verdura fresca, induz à rápida sensação de saciedade que não incita o coelho a mastigar
continuamente,como é necessário para o desgaste dos dentes.

O Desgaste incorreto dos dentes: os movimentos mastigatórios efetuados para ingerir


as rações são incompletos em relação aos necessários para a ingestão de alimentos
fibrosos. O tratamento é cirúrgico, desgastando ou retirando o dente problemático
(QUINTON, 2014).

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MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III

Figura 51. Exame de cavidade oral, mostrando dentes incisivos disformes e não gastos.

Fonte: Pessoa, 2014.

Ácaros em ouvido de coelhos – otite externa por


ectoparasitos
Psoroptes Cuniculi é o ectoparasito mais comum em coelho. Lesões confinam-se à
superfície epitelial interna das orelhas. Começam na concha auditiva e estendem-se
p/ a superfície interna do pavilhão auricular com Crostas espessas, secas floculentas de
coloração cinza e castanho e pruriginosas. Normalmente não têm infecção secundária.
Os animais balançam a cabeça e coçam com os pés. O diagnóstico é por exame direto
ao microscópio. Tratamento é realizado com: ivermectina 1% 0,2 – 0,4 mg/kg semanal.
Parar quando houver remissão das lesões. Limpeza das orelhas com substâncias
otológicas: neomicina e dexametasona e soro. No local: vassoura de fogo, limpeza e
higienização dos fômites.

Figura 52. Lesões crostosas, floculentas. O ácaro é visível a olho nu treinado - Psoroptes Cuniculi.

Fonte: Á esquerda: Cubas, 2007, à direita; http://www.vevet.com.br/2014/02/psoroptes-cuniculi-em-coelhos.html.

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UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS

Figura 53. Ácaro ao microscópio.

Fonte: Cubas, 2007.

Enfermidades virais

Mixomatose

Causada por um Mixomavirus, a mixomatose é endêmica em lagomorfos em países


da América do Sul. É uma doença fatal para o coelho europeu. A transmissão ocorre
principalmente por insetos hematófagos. O tempo de incubação da doença em coelhos
varia de 5 a 14 dias.

Na forma aguda, os animais apresentam formações edematosas ao redor dos olhos,


na base das orelhas e áreas genitais; blefaroconjuntivite, que progride para cegueira,
hiporexia progressiva até anorexia e infecção secundária concomitante, ocorrendo a
morte.

Na forma crônica ou nodular, podem aparecer pseudo-tumores, principalmente nas


orelhas, nariz e patas, 15 dias após a infecção, podendo haver resolução espontânea.

Os sinais clínicos incluem nódulos cutâneos, sem edema palpebral. Tais pacientes
respondem bem ao tratamento de suporte e à antibioticoterapia, podendo levar até 10
semanas para a completa recuperação.

O diagnóstico é feito pelos sinais clínicos, microscopia eletrônica, ELISA, fixação de


complemento e PCR. Em surtos graves, a taxa de mortalidade pode chegar a 100%, e
nas formas graves deve-se entrar com tratamento de suporte intensivo e antibióticos
para o controle de infecções secundárias (experiência do autor). Okerman, (1988)
recomenda que coelhos infectados sejam submetidos à eutanásia para eliminar a
fonte de infecção. O prognóstico é ruim, pois não há tratamento específico, portanto
tratamento conservativo ou eutanásia são as opções indicadas. A vacina confere boa
imunidade, a 1a dose é feita a partir de 6 semanas (RICHARDSON, 2000).

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MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III

Figura 54. Mixomatose em coelhos: blefaroconjuntivite e edema de face.

Fonte: Cubas, 2007.

Quadro 10. Dosagens de alguns antibióticos em coelhos.

Antibiótico Doses (mg/ kg) Frequência


Amicacina 10 2/3 x dia
Cefalexina 15 /20 1 x dia
Cefalotina 13 4 x dia
Ciprofloxacina 40/ 50 3 x dia
Doxiciclina 2,5 2 x dia
Enrofloxacina 5/ 10 1/2 x dia
Metronidazol 20 2 x dia
Oxitetraciclina 15/ 30 1 3 x dia
Peniclina procaínica 40.000/60.000ui/kg A cada 7 dias
Sulfadiazina+ trimetropim 40 2 x dia
Sulfadimetoxina 12.5 a 100 1/ 2 x dia
Tetraciclina 20 2 x dia
Tilosina 10 2 x dia
Vancomicina 50 3 x dia

Fonte; Bretas, 2014.

Obs.: Para pesquisa de outros fármacos, consultar o Guia Bretas, disponível em: https://
www.vetarq.com.br/2017/05/pdf-guia-terapeutico-veterinario.html.

Procedimentos cirúrgicos

Orquiectomia e histerectomia

O acesso aos testículos pode ser pela bolsa escrotal caudal, medial ou cranial e por
acesso abdominal. A técnica pode ser aberta ou fechada; a síntese pode ser com fio não
absorvível monofilamentar, absorvível ou com grampo vascular (hemoclip); e a sutura

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UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS

de pele é feita em um, dois ou mais planos, com pontos simples interrompidos, sutura
contínua ou intradérmica (PESSOA, 2014).

A ovariosalpingo – histerectomia segue o padrão das gatas. Recomenda-se não colocar


bandagem; a coelha pode ingeri-la, automutilar-se e tornar-se incomodada. É preferível,
por segurança, efetuar um padrão de sutura intradérmica com fio absorvível e, em
seguida, utilizar pontos simples separados cutâneos, externamente (JEPSON, 2010).

Outros procedimentos
Outra possibilidade cirúrgica é a produção de urólitos pela não metabolização adequada
do cálcio que podem ser renais ou vesicais.

Problemas ortopédicos também podem ocorrer como fraturas de membros pélvicos,


muito comuns pela fragilidade óssea já relatada. Há relatos do estresse associado à má
contenção produzirem lesões de coluna cujo tratamento é cirúrgico.

Obs.: Coelhos não costumam permitir roupas cirúrgica, o mesmo acontece com
implantes ortopédicos externos como fixadores, o que torna o tratamento muitas vezes
um desafio (NOTA DO AUTOR).

Figura 55. Visualização do ceco nos coelhos.

Fonte: Pessoa, 2014.

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MANEJO E
MEDICINA DE UNIDADE IV
PRIMATAS

CAPÍTULO 1
Biologia e manejo

Características
Existem 2 grupos principais de primatas: os platirrinos, ou primatas neotropicais, e
os catarrinos, ou velho mundo. Os primeiros são animais de porte pequeno a médio,
apresentam as narinas voltadas para baixo em um focinho longo e cauda preênsil,
ou não; os platirrinos apresentam as narinas voltadas para os lados, em um focinho
mais curto, sem cauda como os: babuínos, gorilas, chipanzés, mandris, orangotangos
(LOOMIS, 2003).

Os platirrinos, que serão estudados neste capítulo, são animais em que há interesse
pelos programas de conservação in situ e ex situ visto a sua vulnerabilidade e status no
meio ambiente; como o exemplo, a conservação do mico-leão-dourado. Atualmente, é
permitido o comércio legal em alguns locais, mas é necessário consultar a secretaria do
meio ambiente estadual e conferir quais são os estabelecimentos e espécies autorizados.

Esses animais são separados, entre outras, em 2 famílias, segundo alguns autores:
os cebidae e os callitrichidae. Nos primeiros, temos p macaco-prego e o saimiris; nos
segundos, os micos, o callimico, o aotus e outros (BECK, 1972).

Aspectos biológicos

» maior volume cerebral;


» visão estereoscópica;
» habilidade de uso com as mãos e pés;
» cauda preênsil;
» maior movimentação com os braços com a braquiação.

81
UNIDADE IV │ MANEJO E MEDICINA DE PRIMATAS

Assim como peso altura entre as famílias cebidae e caliitriquidae podem variar os
parâmetros biológicos também o podem.

Quadro 11. parâmetros fisiológicos de pequenos primatas.

Callithrix
Leontopithecus Sp Saguinus sp Cebus Sp Allouatta Sp Ateles Sp
jacchus
1200 5800 a
Peso Médio (g) 261/323 600 a 800 510 a 450 3500 a 11100
a 4500 8000
TRº 35,4 a 39,7 37.2 a 39.6 39.3 a 40.1 37 a 38.5 37 a 38 36 a 39.4
F.C 240 a 350 180 a 260 __ 165 a 225 __ 160 a 210
F.R 20 a 50 20 a 50 __ 30 a 50 __ 18 a 30
Estimativa de vida(anos) 12 17 13 46 15 20

Fonte: Verona, 2014 (adaptado).

Obs.: Nota-se, no quadro, a alta expectativa dos macacos pregos.

Como representantes dos primatas, temos: o callithrix (mico-estrela ou sagui ), ateles


(macaco-aranha), alouatta (bugio) cebus (macaco-prego).

Quadro 12. Parâmetros reprodutivos de primatas neotropicais.

Gestação(d) Peso ao Desmame Maturidade


Nascer (g) (Meses) Sexual (m)
Cebuella 140 15 2 18 a 24
Callithrix 125 a 130 30 2 14 a 18
Saguinus 130 a 135 40 a 45 2a3 16 a 20
Leontopithecus 125 a 130 40 a 55 2a3 16 a 20
Callimico 155 50 3 14
Aotus 126 a 133 90 a 105 5 a 12 24
Callicebus 136 70 5 36 a 60
Saimiri 152 a 172 72 a 144 5 a 10 36 a 60
Cebus 180 220 10 36(f)48(m)
Pithecia 163 a 176 120 4a6 48(f)84(m)
Chiropotes 150 115 6 a 12 48
Cacajao 160 90 13 a 22 36(f)72(m)
Alouatta 190 125 18 a 24 60(f)84(m)
Ateles 210 a 225 340 18 a 25 48 a 60
Lagothrix 207 a 211 125 12 48 a 60
Brachyteles 230 320 12 48 a 60

Fonte: Verona, 2014 (adaptado).

82
MANEJO E MEDICINA DE PRIMATAS │ UNIDADE IV

Nutrição
A alimentação em cativeiro de primatas ainda deixa a desejar, em razão do
desconhecimento e da variedade alimentar de cada espécie. Enquanto os calitrichideos
necessitam de uma dieta rica em proteína, os cebídeos e atelideos alimentam-de de
uma variedade de formas vegetais maduras. Já os bugios (Alouatta sp.) são animais
folívoros e frugívoros. Os pequenos primatas como os Sanguinus, Leontopithecus,
Callithrix e Cebuella tendem à predação além de buscar vários tipos de alimentos como
gomas e exsudatos como alimento (LOWENSTINE, 1992).

Em termos práticos, os zoológicos brasileiros oferecem uma variedade de alimentos,


mantendo um aporte maior de proteína para os pequenos, como também frutas e
verduras para os bugios e macaco aranhas: tubérculos, verduras, frutas com alguma
proteína animal.

Atualmente, temos ração para primatas herbívoros de cativeiro (macaco-prego, guariba,


macaco-aranha).

Instalações
Para os primatas, devido a seu alto grau de complexidade, o recinto deve mimetizar
o ambiente, com: troncos, folhagens, arbustos, casinhas, cordas giral, árvores etc. O
risco do estresse de cativeiro deve ser minimizado com enriquecimento ambiental seja
com garrafas de plástico com alimento escondido, brinquedos dos mais diversos que
despertam a curiosidade dos animais. O estresse ou o tédio de cativeiro podem ser
notados por brigas, apatia, falta de interesse em interagir, inapetência, automutilação,
coprofagia e muitas outras formas. Essas manifestações podem ter como consequências:
gastrite, úlceras e óbito de forma crônica (NOTA DO AUTOR).

Lembrando que a própria visitação é um fator estressante, que pode ser atenuado com
algumas recomendações:

» colocar janelas para a visualização dos recintos em locais altos, de modo


que apenas a cabeça e ombro dos visitantes possam ser visíveis pelos
animais;

» aumentar a altura das paredes dos recintos e, desse modo, a arrumação


interna dos poleiros, de modo a simular condição arbórea;

» colocação de passagens dos visitantes em posições bem baixas, de modo


que pareçam pequenos para os primatas (VERONA, 2014).

83
UNIDADE IV │ MANEJO E MEDICINA DE PRIMATAS

Figura 56. Recinto para pequenos primatas (micário): cordas, mangueira, casinhas, rede, troncos.

Fonte: Arquivo pessoal.

Pequenos primatas podem-se ser colocados em micários, conforme o da figura acima,


onde há aproximação de pessoas e o risco de fuga é baixo. Para animais de porte médio,
existe a opção das ilhas, pois, em regra, os primatas não nadam. Isso já foi contestado
em alguns zoológicos brasileiros onde ocorreram fugas a nado em lagos onde o animal
consegue ficar em pé; portanto, ao pensar em colocar primatas em ilhas, o lago deve ser
profundo. Para animais grandes como gorilas e chipanzés, o ideal é o fosso, o mesmo
onde se colocam os grandes felinos, devido ao risco da segurança pública ser maior.

Figura 57. Ilhas para primatas de porte médio no Zoo de Brasilia.

Fonte: Arquivo pessoal.

Deve-se evitar colocar animais sozinhos porque os primatas são muito sociais, embora
eventualmente haja o isolamento de algum membro do bando. Também se deve instalar
cordas, galhos, giral para a escalada dos animais.

84
MANEJO E MEDICINA DE PRIMATAS │ UNIDADE IV

Figura 58. Corredor de segurança é fundamental para evitar fugas de animais.

Fonte: Arquivo pessoal.

Em animais criados em casa como o sagui ou macaco-prego, legalizado ou não, o ideal


é a colocação desses animais em viveiros adaptados para pássaros.

85
CAPÍTULO 2
Clínica e cirurgia

Captura, contenção e anestesia


Indivíduos em vida livre são capturados por armadilhas (modelo Tomahawk); os
decativeiro, com puçás, redes e luvas. Já os maiores, pelo risco de agressão, com
zarabatanas, pistolas e rifles anestésicos. Em alguns casos, a gaiola de contenção
poderá ser usada, porém há um risco grande de estresse e lesões a esse equipamento
(VERONA, 2014).

Lembrar que o local de aplicação do dardo só poderá ser feito na musculatura da coxa
e escápula; visto que os primatas são muito ágeis e rápidos, isso se torna uma tarefa
às vezes difícil e perigosa para esses animais. Não são incomuns aplicações erradas
no tórax e abdome causando lesões severas e até a morte. Há relatos de primatas que
conseguem retirar o dardo de sua musculatura antes do medicamento ser inoculado
(NOTA DO AUTOR).

Figura 59. Contenção física em pequenos primatas.

Fonte: https://www.researchgate.net/figure/Figura-25- Contencao-fisica-de-primatas-de-medio-porte_fig11_305562039.

Coleta de material biológico e exame clínico


A coleta de sangue nos primatas é realizada geralmente no plexo arteriovenoso,
inguinal, sendo, muitas vezes, de difícil visualização; normalmente o animal precisa

86
MANEJO E MEDICINA DE PRIMATAS │ UNIDADE IV

estar sedado. É conveniente lembrar da regra do 1% do peso vivo para coleta de sangue,
ou seja, em um animal de 150 g, pode-se retirar tranquilamente, sem risco de choque,
1,5 ml de sangue.

Quarentena
A quarentena para animais recém-chegados é fundamental. Entre outros exames,
como os de sangue para hemograma e bioquímicos, o exame de cavidade oral pode ser
revelador. Primatas padecem com doenças periodontais, cáries, fraturas e má oclusão.
Outra patologia oral, relevante zoonótica e fatal, é a herpes.

Teste de tuberculina também deve ser realizado na chegada dos animais ao novo
cativeiro, visto ela ser, assim como a herpes, fatal ao primata, além de zoonótica. O
teste é feito com aplicação de tuberculina ppd (aviária e bovina) intradermopalpebral
com resultados entre 24/72 horas. O resultado positivo revela edemaciamento e rubor
de pálpebras, além de necrose, corrimento purulento e febre. Não há vacinação, pois a
vacina humana confere poucos meses de imunidade, além de anular a tuberculinização.
Os animais podem ser tratados com isoniaziada por até 2 anos, ou eutanasiados,
o que normalmente acontece. As lesões podem atingir: pulmão, fígado, baço, rins e
mesentério.

Figura 60. Colheita de sangue artéria femoral.

Fonte: Cubas, 2014.

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UNIDADE IV │ MANEJO E MEDICINA DE PRIMATAS

Figura 61. (A) Bugio após aplicação intradermopalpebral e chipanzé no momento da aplicação (B).

A B

Fonte: A (arquivo pessoal), B ( Cubas, 2014).

Figura 62. Animal positivo à tuberculização: edema palpebral (A), intestinais mesentéricas (B), lesões esplênicas(C)

E intestinais (D).

A B

D
C

Fonte: Cubas, 2014.

Contenção anestésica e cirurgias


O diazepam é utilizado na forma oral, oferecido em suco de laranja, o que é aceito pelos
primatas e, assim, facilita manejos sem estresse. A cetamina é o neuroléptico mais

88
MANEJO E MEDICINA DE PRIMATAS │ UNIDADE IV

utilizado, visto que pode ser usada por qualquer via, assim como a tiletamina-zolazepan
(VERONA, 2014).

Procedimentos cirúrgicos mais corriqueiros são as vasectomias, que reduzem a


população e mantêm a liderança do macho alfa sem o risco de reprodução indesejada.
É importante lembrar que as suturas de pele, de preferência, devem ser invaginantes
ou intradérmicas, uma vez que, na curiosidade, o animal poderá soltar os pontos (Nota
do autor).

Quadro 11. Doses de fármacos mais usados em primatas do novo mundo.

Nome genérico Doses Via de administração


Aminofilina 25 a 100/mg animal v.o
Atropina 0 2 a 0,05 mg/ kg IM, SC, IV
aptopril 1 mg/kg VO
Carporfeno 2 a 4 mg/ kg VO
dexametasona até 2 mg/kg IV
Furosemida 2 mg/kg VO
ibuprorfeno 20 mg/ Kg VO
Cetoporfeno 5 mg/kg IM
prednisolona 1 a 15 mg/kg VO

Fonte: Verona, 2014 (adaptado).

Obs.: Para pesquisa de outros fármacos, consultar o Guia Bretas, disponível em:

https://www.vetarq.com.br/2017/05/pdf-guia-terapeutico-veterinario.html.

Enfermidades
As mais frequentes enfermidades em primatas de pequeno porte de cativeiro são as
orais: cáries, cálculos, fraturas dentais, má oclusão, entre outras, algo que não costuma
ocorrer com animais de vida livre. Isso ocorre justamente pela oferta de alimentação
errada, doces e outras guloseimas que são aceitas pelos animais e acabam funcionando
como uma premiação.

Esses animais padecem de vários parasitas protozoários, como a malária, a tripanossoma


e a toxoplasmose, além de doenças infecciosas humanas como: febre amarela, raiva,
sarampo e herpes.

A febre amarela tem impacto importante, causando mortalidade em animais de vida


livre, assim como é endêmica em zoológicos brasileiros principalmente quando eles
estão próximos à mata, causando-lhes perda de alguns indivíduos. Os animais do velho
mundo são imunes ao agente viral. Ela é causada por um flavivirus, sendo carreada

89
UNIDADE IV │ MANEJO E MEDICINA DE PRIMATAS

pelo aedes aegypti. Os gêneros Alouatta, Callithrix e Ateles são muito sensíveis ao vírus
e apresentam taxa de letalidade elevada, porém o gênero Cebus, apesar de infectar-
se facilmente, apresenta baixa taxa de letalidade e geralmente desenvolve imunidade.
Para humanos, existe a vacinação obrigatório, para os primatas não. Netes, ocorre CID,
icterícia, esteatose hepática e hepatite necrótica. Não há tratamento. As medidas são
preventivas com o uso de tela nos recintos e de forma empírica; alguns veterinários
estão usando os repelentes top spot como vectra®. sob a pele. A vacinação de antígenos
utilizados em seres humanos não confere imunidade aos primatas (KALTER, 1971).

Quanto à toxoplasmose, esta também grassa de forma intermitente em primatas,


sendoesses sensíveis ao agente, o que não ocorre na maioria dos animais e no homem.
Nas infecções em que a imunidade não é adequada, os taquizoítas continuam a
multiplicar-se destruindo um número excessivo de células e produzindo lesões em
múltiplos órgãos, sendo a pneumonia, a hepatite e encefalite as principais causas da
doença e morte.

Em zoológicos, alguns desses animais tiveram morte súbita sem sinais clínicos.
Os achados post-mortem mais comuns foram congestão e edema pulmonares,
esplenomegalia e linfadenite mesentérica. Os achados histopatológicos mais comuns
foram hepatite necrótica multifocal, linfadenite, pneumonia intersticial e esplenite
necrótica (CATÃO DIAS, 2013).

Os ectoparasitas são raros nessas espécies por conta de os animais terem o hábito da
catação.

90
RADIOLOGIA
DE MAMÍFEROS
SILVESTRES E
CONTENÇÃO UNIDADE V
QUÍMICA DE
MAMÍFEROS
SILVESTRES

CAPÍTULO 1
Radiologia de mamíferos silvestres

Particularidades
Diferente de répteis e aves de porte não muito grandes, na maioria das vezes, as tomadas
radiológicas em mamíferos são restritas a algumas partes dos animais, havendo a
possibilidade de realizar imagens radiológicas em todo o seu corpo, o que só é possível
em animais de porte médio/pequeno. Projeções em grandes animais se restringem aos
dedos, como no caso dos elefantes.

Figura 63. Tomada radiológica de falanges de elefante.

Fonte: Reprodução / Wildlife SOShttps://noticias.r7.com/internacional/fotos/india-inaugura-seu-primeiro-hospital-veterinario-


para-elefantes-18112018.

91
UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES

As necessidades de radiografias nos dedos desses animais devem-se às possibilidades de


pododermatite por problemas de piso em zoológicos como também o não casqueamento
periódico, o que leva às ostoemielites nas falanges. Essas lesões de pododermatites
também ocorrem em porquinhos da índia e coelhos por causa de pisos úmidos e sujos,
assim como pisos gradeados.

Em Ferrets, o abdome é maior e a visualização das estruturas abdominais é mais fácil.


O baço apresenta-se também visualizável com tamanho maior se comparado a outros
roedores.

A radiologia em mamíferos silvestres e exóticos, além das espécies de zoológicos,


popularizou-se entre os roedores, lagomorphos e os mustelídeos como os ferrets, que
eventualmente são comercializados no Brasil.

Radiografias em roedores e lagomorphos


Para podermos interpretar uma imagem, devemos conhecer da anatomia radiológica
do grupo que a espécie pertence. Por exemplo, nos roedores, o tórax apresenta-se
largo, mas curto no seu eixo craniocaudal, com silhueta cardíaca globosa e larga em
comparação à largura do tórax (diferente do que vemos em felídeos e canídeos, que têm
silhueta cardíaca piriformes). Margem cranial da silhueta cardíaca, bem como parte do
mediastino cranial, sofrem a sobreposição da musculatura dos membros torácicos, e o
ápice cardíaco sobrepõe-se ao diafragma (SILVERMAN, 1993, p. 1287).

O abdômen oferece-se pobre quanto a detalhes radiográficos. Na maioria, o estômago


apresenta uma quantidade de gás, a depender da espécie estudada.

Lembre! Em espécies como coelhos e outros animais que têm ceco, haverá uma produção
de gás maior do que o normalmente conhecido.

Em espécies monogástricas e sem o ceco, é aceitável fisiologicamente encontrar na


imagem uma quantidade de gás gastrointestinal em torno de 15- 20% (NOTA DO
AUTOR).

Outra particularidade anatomo-radiológica está na chinchila e seu crânio, cujas bulas


timpânicas apresentarem-se de 4 a 5 vezes maiores se comparadas às de outros roedores
como hamster e porquinho-da-índia. Lembre-se de que a visualização de bula timpânica
permite a percepção de otite média interna devido à opacidade que esta apresenta;
além de espessamento da parede, opacificação e mineralização, eventualmente essa
infecção pode estender-se para os ossos do crânio, mandíbulas e maxilas, estendendo
a infecção nesses ossos, produzindo um aspecto lítico com reação periostal exuberante
(SILVERMAN, 1993).
92
RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V

Figura 64. Radiografias em projeções laterolateral (A) e dorsoventral (B) de um coelho (Oryctolagus cuniculus),

verificando-sereação osteolítica e osteo proliferativa expansiva com aumento de volume de tecidos moles em

região mediorrostral do corpo da mandíbula esquerda, sugestivos de osteomielite.

Fonte: Cubas, 2014.

Devido às frequentes patologias respiratórias, digestórias e ortopédicas em coelhos e


roedores, as tomadas radiológicas são fundamentais para diagnóstico e prognóstico das
enfermidades.

Figura 65. Fixador externo em coelho.

Fonte: Quinton, 2005.

93
UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES

Em coelhos e chinchilas, em função de terem ossos com cortical fina, é comum


ocorrerem fraturas de membros que podem ocorrer também na contenção
inadequada ao segurar os animais pelos membros pélvicos. Essa mesma
contenção poderá provocar traumas irreversíveis de coluna.

Figura 66. Radiografia em projeção laterolateral da coluna torácica de um porquinho-da-índia (Cavia porcellus),

na qual se observa fratura/luxação entre T8T9, com deslocamento dorsal de T8 em relação à T9.

Fonte: Cubas, 2014.

Figura 67. Íleo cecal em coelhos.

Fonte: Quinton, 2005.

Como mencionado, os coelhos padecem com certa frequência de alterações digestórias


que lhes ocasionam diarreia. As causas são variadas, sendo as mais comuns não as
infecto-parasitárias como se imagina, mas sim as de origem metabólica, entre elas:
excesso de ração, antibióticos orais, que matam flora gram-positiva, e alface como dieta
principal.

É comum, de forma inadvertida, proprietários ministrarem antibióticos orais sem


conhecimento dessas espécies, o que lhes provoca íleo cecal paralítico com alta produção
de gases como mostra a figura 5. As dilatações de alças intestinais por gases são

94
RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V

aspectos radiográficos que costumam caracterizar um processo obstrutivo ou enterite,


independentemente da espécie avaliada; todavia, tendo em vista a grande variação de
aspectos associados a processos não obstrutivos em mamíferos de porte intermediário,
às vezes é impossível a diferenciação entre doença gastrintestinal obstrutiva e não
obstrutiva, devendo, para tanto, ser realizado exame contrastado. O ceco, quando se
apresenta distendido de forma significativa, ocupa a maior parte da porção ventral
direita do abdome. Deve-se suspeitar de processo obstrutivo intestinal quando se vê,
ao exame radiográfico, dilatação de alças e ceco ou cólon sem dilatação (SILVERMAN,
1993).

Quanto a imagens abdominais em roedores, em cobaias, os rins são observados de forma


incompleta, enquanto o estômago e segmentos das alças intestinais exibem moderada a
pequena quantidade de gás, respectivamente. Os coelhos mostram uma variedade muito
grande de aspectos radiográficos normais para a cavidade abdominal, por exemplo, um
tricobezoar gástrico pode ser considerado normal em coelhos saudáveis (SILVERMAN,
1993).

Roedores em função do crescimento de seus dentes de forma contínua podem produzir


diversas lesões orais como; má oclusão, fraturas dentárias, abscessos dentários o que
os leva a parar de se alimentar e se tornarem prostrados. Radiografias de crânio são
essenciais para examinar o plano oclusal.

Autores propõem, por meio das projeções laterolateral e dorsoventral, o uso de linhas
de referência anatômica para a determinação da extensão de más oclusões em pequenos
mamíferos. (BOEHMER, 2009, pp. 250/260).

95
UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES

Figura 68. Radiografias em projeção laterolateral (A e B) do crânio de chinchilas (Chinchilla laniger). Nota-se

alteração de oclusão dentária devido ao crescimento exagerado dos dentes.

Fonte: Cubas, 2014.

Figura 69. Radiografia de ferret sadio; notar coração globoso e deitado Tórax estreito. Animal sem alteração

radiológica.

Fonte: Quinton, 2005.

96
RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V

Figura 70. Osso epipúbico em marsupiais.

Fonte: Arquivo pessoal.

Curiosidades! O saruê (marsupial) apresenta ossos epipúbicos que sustentam as


musculatura e pregas de pele do marsúpio, como visto na figura 70.

Figura 71. Membro torácico de macaco prego, sem alteração.

Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 72. Imagem de tatu peba; nota-se ao fundo as placas dérmicas.

Fonte: Arquivo pessoal.

97
UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES

Em Alguns animais, é interessante realizar uma sedação leve ou relaxante


muscular para proceder às imagens radiológicas, evitando fraturas ou estresse,
muito comuns em coelhos. Neles, pode ocorrer fraturas da 7a vértebra torácica
ao segurá-lo de forma errada.

Patologias radiológicas

Doença osteometabólica

Com grande frequência, doenças osteometabólicas, que afetam inúmeras espécies em


seu crescimento, são observáveis com maior nitidez no exame radiológico. Avalia-se,
nesses casos, a quantidade de fraturas espontâneas, assim como desvios de coluna e
entortamento de pelve que leva à dificuldade de eliminação das fezes. As alterações
radiográficas abrangem:

» diminuição generalizada da radiopacidade óssea;

» adelgaçamento de corticais ósseos;

» deformidades angulares de ossos longos ou, mais raramente, de costelas e


coluna vertebral, e/ou fraturas patológicas das metáfises (SILVERMAN,
1993).

Pode-se observar a perda da radiopacidade ao comparar-se a densidade de tecidos


moles ao tecido ósseo.

Figura 73. Doença osteometabólica em mustelídeo, entortamento de ossos longos; nota-se ossos valgos.

Fonte: Arquivo pessoal.

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RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V

Figura 74. Doença osteometabólica em mustelídeo, entortamento de coluna vertebral.

Fonte: Arquivo pessoal (Zoológico de Brasília).

Artrites
Nas artrites, que podem ocorrer em qualquer animal, principalmente com o avançar da
idade, o exame se revela:
» fase aguda; pouca evidência radiográfica de artrite: Efusão articular;
» fase crônica: diminuição da interlinha articular, osteólise e reação do
periósteo nas regiões epifisária e metafisária, esclerose subcondral e
aumento de volume de tecidos moles.

Osteomielite
» Pode atingir diversos ossos do sistema esquelético, sendo mais frequente
nas extremidades dos membros.
» Ossos do crânio: resultado infecções crônicas localizadas no trato
respiratório superior, como rinite e sinusite.
» Rx: Aumento de radiopacidade nas cavidades nasais e seios infraorbitários
estágio avançado: reação osteolítica nos ossos adjacentes.

Figura 75. Fratura em maxilar de lobo-guará.

Fonte; Arquivo pessoal.

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UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES

Figura 76. Fratura de cabeça de fêmur em cachorro do mato.

Fonte; Arquivo pessoal.

Diferente dos cães, em que se mensura as dimensões cardíacas pelo exame radiológico,
com as dimensões das cervicais, nos mamíferos silvestres, essa avaliação é muito
subjetiva, uma vez que existem animais de diferentes ordens com diferentes tamanhos
e particularidades. Porém, para canídeos e felídeos silvestres, pode-se extrapolar essa
avaliação, pelo o que se conhece da radiologia de cães e gatos domésticos.

Para espécies multíparas, a avaliação radiológica é melhor que a ultrassonográfica para


observação de quantitativo fetal; uma vez que algumas espécies como roedores costuma
conceber ninhada numerosa, o exame radiológico permite dizer a quantidade de fetos.
Em casos de morte fetal, a radiologia também é útil, pois há produção de gases em volta
do feto morto.

Ainda como possibilidades radiológicas: piometra, comum em coelhas, canídeos e


felídeos, testículos ectópicos, massas sugestivas de neoplasias; em coelhas, os carcinomas
uterinos podem estar mineralizados, com visibilidade ao RX (FEENEY, 2003).

Em alguns lagomorfos, é possível observar o hemipênis em projeção dorsoventral,


como duas estruturas calcificadas localizadas caudalmente à pelve, uma de cada lado
da coluna vertebral (SILVERMAN, 1993).

Lembre-se de que, assim como em cães e gatos, os cálculos da vesícula urinária, também
presentes em porquinhos-da-índia, têm sua radiopacidade observada por imagem
radiológica. (FARROW, 2009).

O exame radiográfico auxilia em muito a avaliação do sistema digestório, oferecendo


informações importantes sobre localização, radiopacidade, dimensões do lúmen,
conteúdo, distribuição das alças intestinais etc. A indicação a animais exóticos dá-
se especialmente para pesquisa de corpos estranhos, dilatações gástricas, enterites e
processos intestinais obstrutivos ou para exclusão de envolvimento do trato digestório
(SILVERMAN, 1999).

100
RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V

Radiologia odontológica em mamíferos

Indicações

Entre as indicações para confecção de radiológicas: avaliação geral, fratura dentária,


doença periodontal, troca dentária, crescimento dentário, abscesso periapical,
endodontia, exodontia, neoplasia, edema facial e fraturas mandibulares e maxilares
(GIOSO, 2007).

Os procedimentos odontológicos em animais selvagens são sempre realizados com os


animais anestesiados ou sedados, para que permaneçam imóveis e para assegurar a
segurança do paciente e da equipe veterinária.

Os aparelhos usados para confecção da radiologia odontológica são os mesmos usados


em odontologia humana: aparelhos com 70 kV e 7, 10 ou 15 mA, com capacidade de
variação no tempo de exposição. Os modelos atuais têm seus comandos em mostrador
digital, no qual o operador determina o ajuste conforme o objeto a ser radiografado.
(GIOSO, FECCHIO, MARTINEZ, 2014).

Com braços articulados possibilitando angular em todas as direções, os equipamentos


podem ser de dois tipos: analógicos e digitais, permitindo estes últimos uma melhor
visualização e qualidade da imagem.

Figura 77. Aparelho de radiografia odontológica fixado à parede sendo usado em chimpanzé (Pan troglodytes).

Fonte: Cubas, 2014. Laboratório de Odontologia Comparada da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da
Universidade de São Paulo.

101
UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES

Filmes e técnica intraoral


Os filmes intraorais têm diferentes tamanhos: periapical (nos 0, 1, 2), interproximal (no
3) e oclusal (no 4). Os mais utilizados na prática veterinária são os periapicais número
0 (odontopediatria), indicados para pequenos felídeos e pequenos primatas; o número
2, utilizados em animais de médio porte, como canídeos e felídeos de porte médio; e o
número 4 (oclusal), adequados para grandes felídeos e ursídeos (LASCALA, 2006).

Figura 78. Imagem radiográfica de pré-molares e molares mandibulares de bugio (Alouatta caraya). Note as

setas indicando lise óssea alveolar decorrente de doença periodontal.

Lise Óssea.

Fonte, Gioso, Fecchio, Martinez, 2014.

Lembrete! Respeitar técnicas de projeção e posicionamento.

1. Paralelismo: O filme é posicionado paralelamente ao eixo longitudinal


do dente e o feixe de raios X incide em sentido perpendicular ao longo eixo
do dente e ao filme, possibilitando uma imagem radiográfica isométrica
do dente radiografado

Ângulo da bissetriz

Devido à forma do crânio nos carnívoros, não é possível, para a maioria dos dentes,
o posicionamento do filme em paralelo ao seu eixo longitudinal. Recorre-se, então, à
imagem que se forma no eixo da bissetriz do ângulo entre o longo eixo do dente e o
plano do filme. A fonte de raios X deve ser posicionada perpendicularmente à linha da

102
RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V

bissetriz (ângulo médio entre o longo eixo do dente e o plano do filme odontológico)
para obter-se uma imagem isométrica do dente. (NIEMIEC, 2004).

Figura 79. Técnica radiográfica da bissetriz. Plano do dente (a), plano do filme (b) e a bissetriz (c), ilustrados em

crânio de cão (Canis familiaris). Note que o feixe de raios X é perpendicular (90°) à bissetriz.

Fonte: Gioso, Fecchio, Martinez, 2014.

103
CAPÍTULO 2
Contenção química de mamíferos
silvestres

Analgésicos em silvestres

Reconhecimento da dor em pequenos mamíferos

Há um desconhecimento sobre a terapêutica analgésica em pequenos animais se


comparados aos cães e gatos. Leva-se em consideração a elevada taxa metabólica dos
pequenos animais em relação aos grandes, o que os faz receber maiores dosagens de
fármacos, e, por sua vez, anestésicos por kg/peso vivo.

Atenção! Pequenos animais, maiores taxas metabólicas, maiores dosagens de fármacos!

A avaliação da dor em animais é cercada de um grau de subjetividade e conta com


diferenças de espécies e tamanhos e particularidades individuais, o que exige experiência
e tempo para reconhecimento.

Alguns sinais clínicos são associados à dor são universais em quaisquer animais, tais
como: alterações de temperamento (tanto agressivo como passivo), agitação, redução
da mobilidade ou relutância em ficar de pé, letargia, posicionamento arqueado,
constipação intestinal/redução na defecação, estase gastrintestinal, aumento da
frequência respiratória e claudicação. Redução no consumo de alimentos e/ou de água
pode ocorrer em animais com dor.

Coelhos, furões e alguns roedores muitas vezes rangem os dentes quando apresentam
dor abdominal. Como acontece com outras espécies, animais exóticos podem apresentar
tensão abdominal, ficando em posição curvada ou arqueada quando apresentam dor
abdominal (HAWKIN, 2014). Ainda naqueles que costumam se assear arrumando os
pelos, diminuem essa atividade o que provoca uma pelagem sem brilho e gordurosa.

Analgésicos

Opioides

Esses fármacos são mais utilizados nos animais para dor moderada a grave e nas
situações ortopédicas. São usados para todos os animais levando-se em consideração
104
RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V

dosagens maiores para pequenos animais. Efeitos adversos foram relatados como
depressão cardiorrespiratória, constipação ou diminuição da motilidade intestinal, o
que pode ser evidenciado pela produção exacerbada de gás principalmente em espécies
com ceco como o coelho e o porquinho-da-índia, que produzem timpanismo pela
diminuição de trânsito (HAWKIN, 2014).

Os efeitos dos opioides podem variar entre as espécies; efeitos melhores ocorrem quando
ministrados parenteralmente, pois, por via oral, para esses medicamentos ainda não se
tem conhecimento dos efeitos para espécies silvestres.

Na dúvida, prefira administrar medicamentos por via injetável.

Para aprofundamento, consulte o guia terapêutico veterinário Bretas.

Em furões, estudos com buprenorfina mostraram resultados razoáveis, como


hidromorfona e oximorfona, os quais também foram usados em coelhos. Esses opioides
são muito eficazes para dor pós-operatória -, porém em furões podem produzir sedação
profunda. Deve-se monitorar o apetite pois é comum episódios de inapetência pelo uso
de opioides em alguns animais (JOHNSTON, 2005).

Fentanil

Esse fármaco tem ação curta quando aplicado de forma intravenosa, por isso seu uso é
melhor em infusão contínua durante o transoperatório e, nesse caso, é preciso manter
acesso seguro das vias respiratórias pela possibilidade de depressão respiratória que
pode ocorrer na aplicação deste fármaco. O uso de fentanila transdérmica por adesivos
também foi testada mantendo animais sedados (FOLEY, 2001).

Tramadol

Recentes estudos apontam doses acima de 4 mg/kg para cães para um melhor efeito
analgésico a depender da intensidade da dor. Seguindo essa linha raciocínio, os
pequenos silvestres exigem doses maiores para suprimir suas dores. Houve relatos em
que dose de 10 mg/kg de tramadol VO não proporcionou analgesia suficiente para ratos
após incisão cirúrgica (MCKEON, 2011). Em ratos, o tramadol promoveu analgesia em
casos de osteoartrite, o que, porém, não ocorreu em casos de dor aguda.

105
UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES

Quadro 12. dosagens de analgésicos em pequenos mamíferos exóticos (doses em mg/kg).

Fármaco Coelho Ferret Cobaia Chinchila Rato Camundongo Comentários


1,5 a 5 2a5 2a5 2a5 2a5 2a5
Carpro Feno -
12 ou 24h 12 ou 24h 12 ou 24 h 12 ou 24 h 12 ou 24 h 12 ou 24 h
1a3 1a3 1a2 1a2 2a5 2a5
Cetoprofeno -
12 ou 24 h 12 24 h 12 ou 24 h 12 ou 24 h 12 ou 24 h 12 ou 24 h
0,1 a 0,3 0,5 a 2 1a5
Meloxican 0,1 a 0,3 24h 0,1 a 0,3 24h 0,1 a 0,3 24h -
24h 24 h 24 h
0,01 a 0,05 0,01 a 0,03 0,01 a 0,05 0,01 a 0,05 0,05 a 0,1 0,05 a 0,1
Bubrenorfina -
6 a 12h 6 a 12h 6 a 12h 6 a 12h 6 a 12h 6 a 12h
0,2 a 2 2 a 0,05 a 0,4 0,2 a 0,5 a 1a2 1a2
Butorfanol 0,2 a 2 2 a 4 h -
4h 2a4h 4h 2a4h 2a4h
Fentanil
- - - - - 0,025 a 0,2 -

0,025 a 0,2 0,1 a 0,2 0,2 a 0,5 0,2 a 0,5 0,2 a 0,5 0,2 a 0,5
Hidromorfona
6a8h 6a8h 6a8h 6a8h 6a8h 6a8h
0,2 a 2 2a5 2a5 2a5 2 a 10 Usada como dose
Morfina 0,2 a 2 4 h
2h 2a4h 4h 4h 4h única
1a2 0,5 a 1,5 1a2 1a2 2a4
Nalbufina - -
2a4h 2a4h 2a4h 2a4h 2a4h
0,001 a
Naloxona 0,001 a 0,1 0,001 a 0,1 0,001 a 0,1 0,001 a 0,1 0,001 a 0,1
0,1
0,05 a 0,2 0,05 a 0,2 0,2 a 0,5 0,2 a 0,5
Oximorfona 1,2 a 1,5 0,2 a 4
6 a 8h 6 a 8h 6 a 8h 6 a 8h
2a5
Tramadol - - - 5 a 20 5 a 40
4a8h

Fonte: Hawkin, 2014.

Buprenorfina

Tem ação prolongada e de eleição para analgesia pós-operatória. Efeitos adversos


no TGI são os mais comumente relatados com a buprenorfina. Hábito alimentar
pervertido (pica) pode ocorrer quando ratos são alojados em ambientes com
certos tipos de substratos, particularmente maravalha e madeira. A buprenorfina
transmucosa oral é usada em gatos e empiricamente em furões. A buprenorfina
administrada como pré-anestésico pode não fornecer analgesia adequada para
procedimentos cirúrgicos e pode prolongar a recuperação; assim, é geralmente
administrada para tratar a dor pós-operatória (SHARP, 2003).

Butorfanol

É comumente utilizado em pequenos mamíferos para contornar distúrbios


gastrintestinais potenciais e, geralmente, não produz depressão respiratória

106
RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V

dose-dependente. Em coelhos, 0,4 mg/kg de butorfanol por via SC prolongou a


anestesia cetamina/medetomidina. (HEDENQVIST, 2002). Também podem ser
usados com infusão continua.

Aines (anti-inflamatório não esteroidal)


Efeitos adversos são relatados como úlceras gastrointestinais e lesões renais em todas
as espécies de mamíferos estudadas, sendo o meloxican o anti-inflamatório universal
para todas as espécies com menores efeitos adversos. Esse AINE e outros podem ser
manipulados visando a ministrar doses orais por cápsulas ou comprimidos. É possível
que as doses tenham que ser ajustadas caso a caso devido à insuficiência de estudos e
variações individuais entre as espécies, portanto não é incomum o aumento de doses
para determinadas situações.

Analgesia epidural
Muito comum para mamíferos de grande porte, diminui a dose de anestésicos gerais e
assim aumenta a segurança e custo dos procedimentos anestésicos gerais. Atualmente,
popularizou-se em mamíferos pequenos, embora com um certo grau de dificuldade
como também de experiência (MORIMOTO, 2001).

O local de junção lombossacral é o mais comumente utilizado e a técnica de administração


é semelhante às realizadas em cães e gatos.

A morfina é o opioide mais utilizado, pois apresenta elevado potencial de ação e efeito
de longa duração analgésica (18 a 24 h); no entanto, a oximorfona e a buprenorfina
apresentam efeitos e durações semelhantes. Bupivacaína epidural em ratos promoveu
potentes efeitos antinociceptivos por apenas 20 a 30 min. Bupivacaína epidural em
ratos promoveu potentes efeitos antinociceptivos por apenas 20 a 30 min (MORIMOTO,
2001). Há um sinergismo do espaço epidural entre analgésicos locais e opioides: a
combinação dos medicamentos reduz as doses e minimiza os efeitos adversos potenciais
de cada medicamento.

Infusão contínua
Microdoses de cetamina já foram usadas produzindo uma boa analgesia, além de
opioides como a fentanila, que pode ser usada em associação com a cetamina. Alguns
veterinários usam o butorfanol, embora não haja relatos científicos, e o propofol, muito

107
UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES

comum em infusões contínuas em cães e gatos, já foram relatados óbitos em coelhos


(ROZANSKA, 2009).

Anestesia injetável e inalatória

Farmacodinâmica

Anestésicos dissociativos, como cetamina e tiletamina, devem ser usados com cautela,
pois são eliminados por via renal de forma inalterada; portanto, em pacientes nefropatas,
poderá provocar períodos longos de recuperação anestésica, ou mesmo a morte deste.

Uma boa anestesia propicia: inconsciência ou hipnose, relaxamento muscular e


analgesia. Para uma breve contenção, sem produção de dor, a analgesia pode ser
suprimida do protocolo anestésico.

Os anestésicos podem ser aplicados sem associações, o que não é o mais indicado, ou vir
acompanhado por fármacos que promovam tranquilização ou sedação, possibilitando
uma série de procedimentos médicos e de manejo, principalmente em animais pequenos.
Quando associados a anestésicos, incrementam a qualidade da contenção química ou
anestesia (VILANI, 2014).

Em alguns animais doentes, idosos ou neonatais, alfa2 agonistas (xilazina),


fenotiazínicos (acepromazina) e butirofenonas (azaperona) devem,
preferencialmente, ser substituídos por benzodiazepínicos (midazolam), que
promovem menos efeitos adversos.

Benzodiazepínicos

Agem modulando a neurotransmissão mediada pelo ácido gama-aminobutírico (GABA),


o principal neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central (SNC). A ativação
dos receptores benzodiazepínicos promove tranquilização ou sedação, conforme a
espécie. Produzem uma pequena alteração no comportamento e na ansiedade, sendo
indicada no estresse de captura, além de promover um razoável efeito de relaxamento
muscular e agem como anticonvulsivantes (TANELIAN, 1993).

Pouco indicados para nefropatas, aumentando o tempo de anestesia, porém são raros
os efeitos adversos. No universo veterinário, temos: diazepam, midazolam e zolazepam.

O diazepam é muitas vezes associado à cetamina, ao propofol, ao etomidato e a


opioides para indução anestésica. Midazolam tem efeitos mais interessantes para ser

108
RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V

introduzido em protocolos anestésicos para animais selvagens. Tem potência para


promover analgesia superior ao diazepam, além de não ter efeito irritante quando
administrado por via intramuscular, ser absorvido mais rapidamente e ter duração
menor. O zolazepan é geralmente associado com outros anestésicos e tem o mesmo
efeito do midazolan (VILANI, 2014).

Curiosidades!

Tanto o midazolan quanto o zolazepan podem ser concentrados em estufa, sem


perder sua eficácia anestésica, com o propósito de aumentar suas concentrações
e assim poderem ser aplicados em poucos dardos em animais de grande porte.

Mais detalhes sobre concentração, neste capítulo!

Fenotiazínicos e butirofenonas
Em doses terapêuticas, promovem tranquilização, efeito ansiolítico e relaxamento
muscular, observando-se também efeitos antiarrítmicos cardíacos e anti-histamínicos.
Pode promover hipotensão e hipotermia pela perda do controle termorregulatório.
Também podem facilitar convulsão em animais predispostos (REDMAN, 1973).

O tempo de duração dependerá do fármaco, no caso, a acepromazina tem efeito curto de


1 hora, já o azaperona e o lactato de haloperidol apresentam ação normalmente maior
que 6 h. Com o decanoato de haloperidol, a diminuição da ansiedade e a tranquilização
podem perdurar por 30 dias. Tal fármaco é muito usado em animais com comportamento
maníaco – compulsivo que se automutilam ou que têm graves distúrbios mentais.

A acepromazina é normalmente utilizada com anestésicos, o que reduz a dose desses


para indução a anestesia. Haverá redução da pressão arterial. Assim, a acepromazina
deve ser evitada em pacientes com grave comprometimento hemodinâmico e não deve
ser aplicada isoladamente em procedimentos dolorosos.

A azaperona é uma butirofenona ainda pouco utilizada na anestesia de animais selvagens


no Brasil, porém bastante difundida em outros países. Tem efeitos cardiovasculares e
respiratórios semelhantes quando comparados à acepromazina (LEMKE, 2007).

α - 2 agonistas adrenérgicos

São os adjuvantes anestésicos mais utilizados na medicina veterinária de selvagens. Eles


inibem a liberação de catecolaminas na fenda sináptica e a neurotransmissão. Apesar

109
UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES

de seu interessante efeito clínico, promovem acentuada hipotensão por bradicardia e


inotropismo negativo, depressão respiratória e hipotermia.

Fármacos deste grupo: Xilazina, detomidina e medetomidina podem ser utilizadas


isoladamente para promover sedação ou então associadas à anestesia dissociativa,
incrementando o grau de inconsciência e conferindo analgesia e relaxamento muscular.
Para procedimentos de uma única aplicação, não costumam causar problemas, o que
não ocorre em procedimentos prolongados quando usados em doses repetidas o que
leva a uma insuficiência renal aguda.

Esses fármacos, por terem afinidade por receptores α1, podendo promover excitação,
hipertensão, aumento da atividade motora e convulsão.

Pacientes estressados, com grande liberação de catecolaminas, podem ser refratários ao


efeito sedativo, como relata o autor desta apostila, que, ao aplicar dardos com xilazina
em um cervídeo com alto nível de estresse, não conseguiu atingir o resultado, o que o
levou a mudar protocolo anestésico (LEMKE, 2007).

A medetomidina, ainda indisponível no mercado brasileiro, e a detomidina são mais


potentes que a xilazina, promovendo efeito analgésico mais prolongado. São mais
indicadas para uso em carnívoros e perissodátilos, respectivamente.

Uma vantagem do uso dos α - 2 agonistas é a possibilidade de reversão dos seus efeitos
com a tolazolina e a ioimbina já o atipamezol é indicado para a medetomidina. O único
comercializado no Brasil por manipulação é a ioimbina.

Opioides

Podem ser utilizados na pré-anestesia ou com anestesia dissociativa para promover


analgesia e potencializar o efeito sedativo de outros medicamentos, como por infusão
contínua intravenosa transoperatória. Promovem analgesia, sedação, efeito ansiolítico,
sensação de bem-estar e depressão respiratória.

Alguns opioides, como morfina, podem ainda ter efeito emético e induzir liberação de
histamina.

Entre os opioides, temos: a morfina, a meperidina, a metadona e o butorfanol. Os


opioides utilizados na anestesia intravenosa total são fentanila e seus derivados
alfentanila, sufentanila e remifentanila.

110
RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V

A morfina, entre os outros opioides, tem grande potência analgésica e duração, atuando
por 4 -6 h, diferente da meperidina, que atua por 2 horas e tem potência menor, porém
produz melhor sedação e diminuição dos vômitos, comum no uso da morfina.

A metadona é cada vez mais utilizada em animais selvagens devido à sua longa duração,
potência analgésica e capacidade de sedação adequada, porém, como a maioria dos
opioides, produz bradicardia e hipotensão (VILANI, 2014).

O butorfanol é uma alternativa para aves, além de produzir pouca alteração respiratória,
obtém pequeno efeito analgésico, e com curta duração, porém boa sedação

Etorfina e carfentanila são muito usados em megamamíferos zoológicos de fora do Brasil,


com relevante sedação e em volumes muito baixos, mas com efeitos cardiorrespiratórios
relevantes e por isso seu uso está proibido no Brasil.

O antagonista dos opioides é a naloxona.

A anestesia dissociativa
São as mais empregadas para contenção de animais selvagens e muitas vezes usadas
na manutenção anestésicas em bolus ou em infusão quando não se disponibiliza de
anestésicos inalatórios.

Os fármacos mais usados, dada a sua facilidade em encontrar no mercado, é cetamina


e tiletamina, ambas podem ser associadas com outros fármacos na mesma seringa ou
dardo disparado por arma quando se deseja aplicar por via muscular.

Outra vantagem, já mencionada, é a possibilidade de concentrar o sal (cloridrato) quando


colocados em estufa de secagem ou micro-ondas, transformando as apresentações
comerciais de 100 mg/ml em 250 mg/ml, sem perder sua eficácia (experiência do autor).

Tanto cetamina quanto tiletamina nunca podem ser usadas sozinhas, em razão da
possibilidade de não produzir uma boa sedação e relaxamento.

Curiosidades!

Anestésicos/sedativos que têm o sal como cloridratos como: xilazina, midazolan,


tiletamina e cetamina; podem ser desidratados até a formação do sal puro, o
que eleva a sua concentração sem perda de efeito anestésico e, assim, pode-se
diminuir o volume para uso em poucos dardos.

111
UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES

A dissociação anestésica promove inconsciência e analgesia e rápido início de ação.


Catalepxia com olhos abertos e fixos. Sua ação ocorre por depressão seletiva da função
neuronal do eixo neocórticotalâmico e do núcleo central do tálamo, com estimulação
concomitante de partes seletivas do sistema límbico, incluindo o hipocampo.

A utilização de cetamina em infusão intravenosa, além da aplicação intramuscular, é


amplamente utilizada. Em bolus, pode provocar convulsão, principalmente em animais
com histórico convulsivo (LIN, 2007).

Anestesia inalatória
Normalmente usada como manutenção após a indução anestésica por fármacos
dissociativos. Promovem a inconsciência, analgesia e relaxamento muscular sendo
dose-dependente. Como os anestésicos inalatórios, necessitam ser administrados de
forma contínua, conferem maior praticidade na manutenção do plano anestésico,
podendo ser superficializado ou aprofundado rapidamente conforme necessário, sendo,
portanto, agentes seguros e objetivos.
Várias espécies podem usar dos agentes voláteis inalatórios como indução anestésica,
sendo por máscara ou caixas transparentes (câmaras anestésicas) em pequenos
roedores, por exemplo.
As vantagens da anestesia inalatória na rápida recuperação anestésica devem-se às
características farmacocinéticas. O anestésico, após ser inspirado, alcança concentrações
alveolares, é absorvido por vasos sanguíneos e atinge o SNC, promovendo seu início de
ação. Após a interrupção da administração, o anestésico atinge novamente os alvéolos
e é eliminado pela expiração.
Os fármacos mais utilizados são: halotano, isoflurano, sevoflurano e óxido nitroso. Esse
último não promove inconsciência e devem ser usados sempre associado com outro
fármaco halogenado. Quanto a esses, o isoflurano, tem substituído o halotano, por esse
fármaco ser potencialmente hepatotóxico, promotor de arritmias cardíacas e redutor
de pressão arterial (STEFFEY, 2007).
O sevoflurano é mais caro do que o isoflurano e confere maior consumo pela baixa
potência anestésica.
Em face desses fatos, o isoflurano popularizou-se pelo custo benefício e pela experiência
de vários anestesistas. Tem menor capacidade de propiciar arritmias quando comparado
ao halotano e boa estabilidade cardiovascular em concentrações adequadas, sendo um
fármaco relativamente seguro (REILLY, 1985).
Técnicas de bloqueio de membros, anestesia local ou quando associados a uso de opioides
diminuem em muito o uso de anestésicos voláteis/dissociativos o que interessante pela
diminuição de custo e do risco.
112
RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V

Anestesia intravenosa total


A administração contínua dos medicamentos por via intravenosa é realizada por meio
de bombas de infusão. Apesar de ser possível seu uso por diluição em frascos de fluidos,
há muitas situações que podem variar a velocidade de infusão, não sendo aconselhável
essa forma de administração.

A cateterização venosa é necessária para manutenção, seja por aplicação em bolus


anestésico, que não é muito indicada, seja por infusão contínua de fármaco.

Em particular aos mamíferos, animais como a roedores, ou outro animal muito pequeno,
a via intraóssea é uma opção de manutenção de fluido e aplicação de fármaco.

Propofol

Pode-se usar pela via intraóssea o propofol, embora sua indicação inicial seja por
uso venoso. Sua natureza lipofílica confere rápido início de ação. A duração de seu
efeito é curta após uma única aplicação em bolus e a recuperação é rápida e suave. O
retorno anestésico, que na maioria dos mamíferos acontece entre 12 e 15 min após sua
administração, ocorre pela redistribuição do medicamento para outros tecidos. Pode
ser observado apneia transitória e diminuição da pressão arterial por vasodilatação
periférica (MURPHY, 1992).

Em procedimentos cirúrgicos prolongados, após medicação pré-anestésica constituída


de um opioide, como morfina ou meperidina, associada a um medicamento neuroléptico
(fenotiazínico, butirofenona ou benzodiazepínico) ou então, após captura com anestesia
dissociativa, a anestesia pode ser induzida e mantida, respectivamente, com bolus e
infusão contínua de propofol. Ele não promove analgesia o que torna necessário o uso
de um opioide (ENGELHARD, 2004).

Anestesia em mamíferos

Felídeos

A anestesia nesse grupo pode ser administrada tendo como base o gato doméstico com
os mesmos resultados. Há de se considerar os diferentes tamanhos (1.5 kg-300kg) e por
isso é fundamental que se aumente as doses nos pequenos e se diminua nos grandes.
Leva-se em consideração, por questões óbvias, que pelo risco de segurança, os animais
grandes devem estar profundamente anestesiados.

113
UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES

Normalmente, os menores são inicialmente capturados com um puçá para posterior


aplicação por seringa intramuscular; já os grandes estarão cambeados por gaiola de
restrição e a aplicação poderá ser intramuscular ou intravenosa na cauda. Nesses,
também são disparados dardos à distância por rifles ou pistola própria.

Associações mais usadas: grandes: cetamina 6- 8 mg/kg + xilazina 1-1.5 mg/kg, cetamina
6- 8 mg/kg + midazolan 1mg/kg ou detomidina a 0,5 mg/kg.

Felídeos toleram bem jejum de 12h a 24h.

Alguns autores, por experiência própria, usam uma associação de cetamina 10 mg/kg +
midazolan 1 mg/kg por via oral para animais irascíveis, produzindo uma leve sedação,
o que facilita uma captura, porém não indicado para grandes animais, preferindo para
estes a aplicação parenteral.

Figura 80. Captura de leão (Panthera leo) com anestesia dissociativa por meio de dardo anestésico artesanal.

Fonte: Cubas, 2014.

Associações farmacológicas

Cetamina + α - 2 agonistas

A cetamina isolada não é uma boa alternativa, pois promove efeito cataléptico com
rigidez muscular, além de excessiva salivação, possibilidade de convulsão e recuperação
traumática, ela deve ser sempre associada a benzodiazepínicos, α2 agonistas
adrenérgicos ou opioides (VILANI, 2014).

A associação mais comum, como já mencionado: cetamina + xilazina. A primeira nas


doses que podem variar de 3 a 10 mg/ kg e a segunda oscilando de 0,3 a 1.5 mg/ kg a
depender do tamanho, idade e condições de saúde, como doenças renais e hepáticas
prévias.

114
RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V

Lembre! Animais mais tranquilos recebem doses menores, o que lhes confere
uma boa profundidade anestésica e analgesia.

Figura 81. Dardo caseiro: há uma câmara de ar/ gás pressurizado (G) e uma câmara com medicamento (H).

Fonte: Arquivo pessoal.

Legenda:

A – êmbolo fixo;

B – estabilizador de voo;

C – êmbolo móvel;

D – orifício lateral da agulha;

E – capa para orifício lateral;

F – ponta da agulha obstruída;

G – câmara de ar;

H – câmara de medicamentos.

Como se observa na figura 3, o bisel da agulha é lacrado (F), ex: cola epóxi abre-se
com uma lima pequena e triangular, um orifício lateral (D), coloca-se uma borracha,
apertada na agulha (E). No corpo da seringa de 3/ 5 ml, usam-se duas borrachas do
êmbolo (C e A). Fixa-se a borracha (A) com agulhas atravessadas em cruz
para fixá-la, enquanto a borracha (C) está livre. Coloca-se o anestésico/fármaco na
câmara (H). Acopla a agulha com a borracha (E) sobre o orifício (D). instila-se ar ou
gás comprimido de isqueiro na câmara (G). Com isso, o fármaco estará sobre pressão.
Penachos em fio de lã serão colocados na parte posterior do dardo (NOTA DO AUTOR).

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UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES

O dardo penetrará na musculatura do animal, a borracha se deslocará e liberará o


conteúdo da câmara (H). Existem os dardos prontos que são comercializados.

A xilazina vem sendo substituída pela medetomidina (difícil encontrar no Brasil)


promovendo indução e recuperação mais suaves, com menor volume de aplicação e
contenção mais prolongada, porém mantendo os efeitos adversos, com doses que
podem variar de 0,02 a 0,08 mg/kg, a depender do porte do felídeo. Associação com
midazolan (pode-se colocar os 3 fármacos no mesmo dardo/ seringa), são usadas para
minimizar os efeitos convulsivos e a depressão causada pela xilazina (GUNKEL, 2007).

A romifidina, costumeiramente usada para equinos, também já foi usado em felídeos e


antílopes (PACHALY, 2006). Tanto a romifidina quanto a xilazina, ambas α - 2 agonistas
adrenérgicos, podem ser revertidas pela ioimbina, atipamezol e tolazolina. Doses de 0,1
e 0,15 mg/kg de ioimbina foram utilizadas com sucesso para reverter a ação da xilazina
na associação cetamina e xilazina em grandes felídeos.

Flumazenil pode ser utilizado na dose de 0,01 a 0,2 mg/kg para reverter benzodiazepínicos
e para opioides a naloxona (0,002 a 0,04 mg/kg), porém reverte os efeitos desejáveis
da analgesia.

Tiletamina/zolazepan

Ambas vêm associadas; O período de metabolização dos dois medicamentos é maior,


conferindo tempo de recuperação mais prolongado. São utilizadas doses de 2 a 5
mg/kg para grandes felídeos e 5 a 12 mg/kg para pequenos (GRASSMAN, 2004).
Em tigres, há uma polêmica no uso deste fármaco, o que causaria convulsões e
mioclonias, porém outros estudos mostraram que os efeitos adversos estão na mesma
intensidade que em outros felídeos (KREEGER, 2010).

Canídeos

Segue a mesma regra dos cães domésticos; nesse caso, a oscilação de dose é menor
se comparado aos felídeos, dada a diferença entre os portes não serem tão grandes.
Contudo, o uso de dardos é restrito quando se quer capturar à distância, sendo que, na
maioria das vezes, a contenção é realizada por puçás ou pau-de-couro.

Os mesmos fármacos e associações de felídeos podem ser utilizados em canídeos, além


do uso da acepromazina para efeito sedativo na dose de 0,05 mg a 0,1 mg / kg. Há casos
de hipertermia pelo uso desse fármaco.

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RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V

As associações também são as mesmas, porém com um aumento das doses de xilazina,
(pode chegar a 3 mg/kg), lembrando de seus efeitos deletérios cardiorrespiratórios.
Tiletamia-zolazepan nas doses que variam de 4 a 8 mg/Kg. Cetamina (3 /10mg/ kg) +
xilazina (0,5 /1 mg/ kg) propiciam um bom efeito anestésico-relaxante (experiência do
autor).

Mustelídeos (Furão, ferret, ariranha, lontras) e


procionídeos (guaxinim, quati, jupará)
Protocolos com acepromazina (0,1 mg/kg) e morfina (0,5 mg/kg), meperidina (2 a
5mg/kg) ou butorfanol (0,2mg/kg) promove sedação suficiente para cateterização
da veia cefálica. A veia da cauda é outra alternativa. Quanto à anestesia dissociativa,
usam-se as mesmas doses e associação dos felídeos (VILANI, 2014).

Resumindo: Carnívoros (felídeos, canídeos, procionídeos, mustelídeos) têm


basicamente o mesmo protocolo anestésico, tanto em relação a doses quanto a
associações.

Primatas

Considerações anestésicas

Restrição alimentar de 6h a12h para grandes e de 3 horas para pequenos.

Uma grande preocupação para a anestesia de grandes primatas é o nível de estresse


a que o indivíduo está submetido antes do procedimento. O animal deve ser avaliado
previamente e o procedimento planejado no dia anterior à contenção. A administração de
tranquilizantes, especialmente benzodiazepínicos, por via oral, antes da indução diminui,
a ansiedade, facilita a administração do agente indutor por via intramuscular e promove
amnésia. Isso impede que o animal reconheça a equipe médica como agressora, o que
facilita contenções futuras. Em alguns casos, quando possível, o animal vem sendo
tranquilizado com haloperidol dias antes da anestesia.

Primatas de médio e pequeno porte podem ser capturados fisicamente com rede ou
puçá para administração intramuscular direta. Anestesia dissociativa aplicada por via
intramuscular é uma opção para a contenção (VILANI, 2009).

Medicação pré-anestésica

Diferentemente do uso em cães e gatos, em que pouco ou nenhum efeito tranquilizante


é observado, os benzodiazepínicos em primatas chegam a produzir sedação ou até sono
leve. Promovem também grande relaxamento muscular com mínimas alterações nas

117
UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES

funções cardiovascular e respiratória. Diazepam (0,2 mg/kg) e midazolam (0,2 a 0,4


mg/kg) são administrados para grandes primatas previamente à captura. Xilazina
também pode ser utilizada, na dose de 0,25 a 0,5 mg/kg (VILANI, 2009).

Dissociativos

Tiletamina–zolazepan de 4 a 6mg/kg para procedimentos clínicos e entre 8 e 15 mg/kg


para planos anestésicos profundos (VILANI, 2009). Essa dose aumenta para 20 mg/kg
para primatas pequenos.

Cetamina (10 a 15 mg/kg) e diazepam (0,2 a 0,36 mg/kg) ou midazolam


(0,6 mg/kg) possibilitam contenção de primatas de pequeno e médio
portes, suficientes para procedimentos clínicos e colheita de material biológico, com
curta duração ou indução anestésica.

Importante! Ao levar o animal para viveiro para retorno anestésico, retirar cordas
e outros objetos altos que possa estimular o animal escalar e manter o animal
afastado dos outros e deixá-los em ambiente quieto.

Figura 82. Anestesia intravenosa total com infusão contínua de propofol em exemplares de macaco verde

africano (Chlorocebus aethiops) (A) e mico de cheiro (Saimiri sciureus) (B) e com uso de máscara facial.

A B

Fonte: Vilani, 2014.

Para animais menores que 2 kg, a capnometria para avaliação do estado ventilatório
pode ser dificultada assim como a possibilidade de hipotermia, por isso o uso de bolsa
de água quente, colchões térmicos e fluido aquecido.

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RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V

Roedores e lagomorphos

Considerações

Animais com alta taxa metabólica e grande consumo de oxigênio. Jejum máximo de 30
minutos. Lembrar de retirar os alimentos que permanecem na cavidade oral em suas
bochechas para evitar aspiração na anestesia. Procedimentos longos podem promover
hipoglicemia, por isso o controle transoperatório (aplicações durante a anestesia/
cirurgia são recomendáveis). Essa aplicação pode ser por via endovenosa ou mucosa
oral (HEARD, 2007).

Obs. 1: A hipotermia também é relatada nesse grupo e deve ser monitorada, mantendo
a sala aquecida ou uso de colchões aquecidos.

Obs. 2: A fluidoterapia aquecida é muito benéfica!

Anestesia dissociativa

Em roedores, Cetamina (50 mg/kg) + xilazina (5 mg/kg) são razoáveis para indução
anestésica – embora alguns autores prefiram doses maiores!

Em coelhos essas doses são menores, em torno de 20/40 mg/kg de cetamina e 3/5 mg/
kg xilazina. Podem ser associados também o midazolan – 2 mg/kg e o butorfanol (0.5
a 2 mg/kg).

A tiletamina zolazepan também pode ser usada nesse grupo, com doses que variam de
10 mg/ kg para os ratos, cobaias e hamster - a 50/80 mg/kg, chinchila 20/40 mg/kg
(Bretas, 2007).

Anestesia inalatória

A dificuldade da intubação pode ocorrer pela pequena abertura de boca musculatura


mandibular desenvolvida, excesso de secreção salivar e respiratória, por isso muitos
anestesistas preferem o uso da máscara ao traqueotubo. A visualização direta da glote
pela laringoscopia só é possível em animais grandes roedores. Caso se prefira entubar
pequenos roedores e coelhos, pode-se usar sonda uretrais e às cegas, entubar o animal
– ao tato, sentir se o tubo embaça à respiração e se o mesmo não está percorrendo o
esôfago; são métodos que auxiliam na rotina (HEARD, 2007).

119
UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES

Marsupiais

Gambá e cuíca são os mais comuns. Esses animais apresentam temperatura corporal
mais baixa e menor habilidade termorregulatória. Eles não têm capacidade de produzir
calor pela gordura, mas tremendo o corpo. Podem perder temperatura com respiração
ofegante e lambendo o corpo. Assim, deve-se dar atenção especial para a manutenção
da temperatura corporal e o controle da temperatura ambiente. Hipotermia pode
prolongar desastrosamente a duração da anestesia. Associação de cetamina (10 a
40 mg/kg) e xilazina (5 a 10 mg/kg) ou medetomidina (0,1 mg/kg) (NUNES, 2007).
Assim como tiletamina/ zolazepan na dose de 15 mg/kg. A anestesia inalatória, nessas
espécies, também com bons resultados (HOLZ, 2007).

Equipamentos para contenção farmacológica

Equipamentos

Para aplicação a uma certa distância, pode-se utilizar de zarabatanas, pistolas ou rifles
anestésicos. As zarabatanas produzem menor potência, maior segurança e alcançam
curtas distâncias (5 a 8 m). No mercado (zoottech®), já existem zarabatanas pneumáticas
com manômetros e acopladas a uma bomba de bicicleta, o que aumentam o alcance
do dardo. Indicado para animais menores, porém o disparo pode ser impreciso, daí a
sugestão que seja realizado de perto do animal.

Pistolas e rifles são fabricados no mercado com intuito de projetar os dardos; eles
alcançam distâncias mais longas, com maior pressão e precisão de disparo, porém têm
menor segurança e são normalmente usados para animais maiores, devido à força de
penetração do dardo. Dependendo da pressão calculada no dardo – pela possibilidade
de regular o manômetro, pode-se infligir danos teciduais e ósseos, além de necrose,
principalmente quando o dardo não foi autoclavável, uma vez que eles são reutilizados.

Poucos são os locais de aplicação, sendo restrito à musculatura da coxa, braços e


alguns animais maiores, como antílopes, pode-se aplicar no pescoço e glúteos.

120
RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V

Figura 83. Zarabatana pneumática, manômetro Bomba de pedal, dardo, líquido de isqueiro e gatilho.

Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 84. Rifle anestésico: dardo duralumínio, cápsulas de gás.

Fonte: Arquivo pessoal.

Conforme se observa na figura 5, há outro tipo de dardo, mais resistente de duralumínio,


normalmente usado para grandes mamíferos. Nesse dardo, a eliminação do conteúdo
líquido é feita mediante uma pequena explosão que ocorre internamente no dardo, por
uma cápsula de pólvora. À frente da cápsula, um anel de borracha que empurrará o
liquido para fora. Não há uma pressão prévia como ocorre no dardo de plástico.

Monitoração do paciente anestesiado a campo:

Registro anestésico, frequência cardíaca. Frequência respiratória. Temperatura


corporal Resposta a estímulos Mucosas e tpc. Outros: estetoscópios, ECG,
pressão sanguínea.

121
UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES

Lembrando!

Reversores

Atropina

» prevenção de bradicardia e hipotensão;

» evita sialorreia e excesso de secreção em nível pulmonar;

» preventivo na bradicardia colinérgica (estresse de captura);

» pode ser usado no mesmo dardo/injeção com outras drogas;

» doses: mamíferos 0,05 mg/kg.

Antagonistas

Flumazenil (Antagoniza efeitos dos


benzodiazepínicos)

» can/fel: 0,1 mg/kg ev;

» equ: 0,005- 0,015 mg/ kg ev;

» pri: 0,025 mg/Kg EV.

» 12.2 Lombina (Reversor dos efeitos da xilazina, detomidina e amitraz)

» can: 0,11 mg/kg ev;

» equ: 0,075 mg/kg ev;

» fel: 0,25 – 0,5 mg/ kg ev;

» rum: 0,125 mg/kg ev.

122
MANEJO E
MEDICINA DE UNIDADE VI
MEGAMAMÍFEROS

CAPÍTULO1
Elefantes

Introdução
Ao falar de megamíferos, incluímos os elefantes (asiáticos e africanos), rinocerontes,
girafas e hipopótamos. Todos os animais, de particular interesse em alguns
zoológicos que os mantém. É uma clínica muito peculiar e de pouco conhecimento
entre os veterinários de silvestres/exóticos pela dificuldade de acesso, assim como os
desafios de se realizar um exame clínico adequado. Muitos zoos não têm um sistema
de contenção/bretes adequados a essas espécies, o que torna o exame arriscado.

Em particular, os elefantes estão em risco de extinção na natureza, devido à sua pequena


distribuição africana, associada à rivalidade de tribos humanas, assim como o tráfico
pelo marfim que dizima muito essa espécie. A dificuldade ainda é maior quando se trata
do elefante africano, animal não domesticado, imprevisíveis e extremamente perigoso
ao homem, o que lhes deu a pecha de ser o animal de cativeiro que mais matou seres
humanos. Quanto ao elefante asiático, esse se torna mais calmo e semidomesticado
(FOWLER, 1993).

Anatomia e fisiologia
Os elefantes são proboscídeos, ou seja, o músculo da narina estende-se e assim se torna
um meio de sucção e apreensão de objetos. A ponta da tromba do elefante asiático
tem uma única projeção (funciona como um dedo). Já o elefante africano tem
duas projeções na tromba, o que lhes permite apreender objetos muito pequenos
(FOWLER, 1993).

123
UNIDADE VI │ MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS

Os marfins, presentes nos machos de ambos grupos (africano e asiático) e na fêmea


africana, são dentes modificados compostos de dentina sem o esmalte. Os dentes
crescem na parte caudal da maxila e vão migrando no sentido cranial, substituindo
esses.

Elefantes são paquidermes (pele grossa) e seu estômago é simples e a fermentação


ocorre no ceco e cólon.

Problemas de dilatação gástrica são frequentes em animais de zoo! As causas são:


cambeamento prolongado e alimentos excessivamente fermentativos.

Têm pés com dígitos e com base solar cornificada, flexível e macia (coxim), o que
faz amortecer seu grande peso. Problemas relacionados a seus pés são relevantes,
devido à possibilidade de pododermatites.

O elefante asiático (Elephas maximus) pode atingir 4 ou 5 toneladas nos machos e


fêmeas até 4t, enquanto nos africanos (Loxodonta africana) são maiores, machos
passando de 6t e fêmeas até 4t. Existe um terceiro membro, o elefante africano da
floresta (Loxodonta cyclotis).

Com gestação que pode durar 22 meses, o elefante macho pode produzir o musth,
que é uma modificação de comportamento quando manifesta agressividade e
hipersecreção de glândulas nas têmporas, gotejamento de urina, e vocalização
intensa. Mesmo em animais de cativeiro, quando os animais estão sob esse efeito,
há relatos de ataques aos tratadores com os quais estão acostumados (LENHARD,
2006).

Para um adulto, a alimentação desse animal fermentador é composta por 50kg feno,
tubérculos, frutas e ração de equinos em pequena quantidade. Cuidar com a ração,
pois é comum episódios de cólica, assim como vegetais que possam produzir gases.
Esse fenômeno também está presente em animais que ficam estabulados por muito
tempo (FOWLER, 2014).

As instalações compreendem um espaço de terra, com fosso ao redor de 3m


profundidade X 3m largura, piscinas e ambiente com lama, árvores, cabeamento
com barras de vigas de trem.

A caça predatória diminui consideravelmente a população: africanos: pelo marfim;


asiáticos: adestramento, turismo, zoológicos, lazer, atividades circenses.

124
MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS │ UNIDADE VI

Exame clínico
Pulso arterial em artéria de orelha, tr 36/37ºC. Essa mensuração pode ser feita por
intermédio da inserção do termômetro em bolo fecal recém-eliminado. A colheita
sanguínea é feita pela orelha ou veia safena, bem pronunciada nos membros pélvicos.

Contenção física e farmacológica

Física

Evita-se ao máximo o contato direto entre os profissionais e o elefante, mesmo que se


conheçam. Elefantes asiáticos são mais previsíveis e o acesso é mais tranquilo, porém
em relação aos africanos, como já mencionado, deve-se ter uma barreira entre animal
e o tratador ou veterinário. Esse aprendizado deve ser iniciado na infância por meio de
técnicas de condicionamento, em que se estimula o reforço positivo. Visto que se trata
de um animal com uma memória extraordinária e uma capacidade de aprendizado
muito superior a muitos animais, o convívio com o animal se torna facilitado, assim
como seu exame clínico.

Figura 85. Elefante condicionado a mostrar o pé para exame e aparamento de unhas.

Fonte: Fowler, 2014.

Ainda como forma de contenção, temos o comando de voz, útil quando o animal já se
acostumou ao treinamento/condicionamento e também a corrente presa a membros
superiores. Outra forma de contenção é a ERD, (elephant restraint device), este é um
tronco de imobilização que mantém o animal suspenso por um elevador hidráulico
apresenta várias janelas de acesso ao animal (OLSON, 2005).

125
UNIDADE VI │ MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS

Contenção química
Grandes animais sempre são mais arriscados de anestesiar. O tempo de anestesia,
associado ao decúbito, faz com que o animal produza isquemia do órgão pressionado. Por
isso, a decisão de ministrar anestésicos gerais em megamamíferos deve ser consensual
entre todos os envolvidos.

Algumas particularidades devem ser observadas, como: pele grossa (6 a 8 cm), necessita
de dardos compridos. Esses serão aplicados nos membros pélvicos e toráxicos. Abaixo a
tabela de doses anestésicas:

Quadro 13. Fármacos empregados para sedação em pé em elefantes.

Fármacos Dose/via
Acepromazina 30 mg em adultos 10/20 mg em jovens (total)
Azaperone 0,017/0,09 mg /kg
Haloperidol Asiático 40/100 mg (dose total)
Africano 40/120mg
Butorfanol 0,01 a 0,12 mg/kg
Xilazina 0,04 a 0,08 mg/ kg
Medetomidina 0,005 mg/kg
Detomidina 0,0055mg/kg

Fonte: Fowler, 2006.

Quadro 14. Fármacos usados para imobilização de elefantes.

Asiático: 0,002/0,004 mg/ kg


Etorfina
Africano: 0,0015/0,003 mg/ kg
Carfentanila Mesma dose etorfina
Asiático 0,12 +0,12 mg/kg
Xilazina + quetamina
Africano 0,2 mg/kg + 1 mg/kg
Medetomidina + cetamina 0,005 mg/kg + 1 mg/kg

Fonte: Fowler, 2006.

Quadro 15. Fármacos reversores.


Narcóticos opioides
Diprenorfina 2 x dose de etorfina
Naloxona -
Naltraxeno 15 x dose de etorfina
Antagonistas a 2 – agonistas
Loimbina 0,2 mg/kg
Tolazolina 2 mg por mg de xilazina
Atipamezol 0,1 mg por mg de xilazina
Benzodiazepínicos
Flumazenil -

Fonte: Fowler, 2006.

126
MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS │ UNIDADE VI

OBS.: Notam-se as baixas doses de fármacos quando comparados aos mamíferos


de porte médio em virtude de uma relação de uma pequena superfície corpórea
com uma grande massa corporal.

Etorfina: opiáceo analgésico 10.000 vezes mais potente que a morfina.

Fármaco perigoso! Cuidado ao manipular, provoca depressão dos centros


respiratórios!

Cirurgia
Procedimentos cirúrgicos são raramente descritos em elefantes. Os poucos relatos
mencionam a necessidade de instrumental em equinos, assim como um padrão de
sutura similar como as suturas de tensão como as de colchoeiro vertical e horizontal
para aproximar as margens da grossa epiderme (FOWLER, 2006).

Em elefantes, procedimentos cirúrgicos como: castração, problemas dentais, abscessos,


pododermatite. Sendo essas últimas as mais comuns por piso não adequado que gera
rachaduras nas unhas, falanges infeccionadas, abscessos nos coxins. Nos problemas
dentais, ocorre a pulpite no marfim.

Nos procedimentos em que seja necessário manter o animal em decúbito prolongado


(de 1 a 3 h), é necessário colocar um colchão sob a cabeça, o corpo e os membros.
Camas de água devem ser confeccionadas exclusivamente para elefantes. O animal
deve ser treinado para ficar de pé em uma cama de água vazia e então deitar-se. Quando
a anestesia é iniciada, o colchão é inflado com água de rede hidráulica doméstica
(FOWLER, 2014).

Terapêutica
Medicamentos orais são facilmente aceitos por meio de frutas como melão e mamão e
calculados por alometria. O enriquecimento facilita manejo e procedimentos clínicos e
indolores.

Patologia
Doenças por bactérias gram, como pasteurelose, salmonelose e colibacilose já forma
relatadas em filhotes de elefantes. Além de outras como o botulismo, leptospirose e

127
UNIDADE VI │ MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS

tuberculose. Observa-se que patologias comuns aos equinos e aos ruminantes também
grassam nos paquidermes, como o tétano, aftosa, raiva, carbúnculo hemático, e outras
que afetam muitos animais de sangue quente como a encefalomiocardite, sendo essa
uma doença viral que pode causar morte súbita em várias espécies de animais de
zoológico (FOWLER, 2006).

Tuberculose

Relatos dessa patologia em animais de cativeiro, sendo isolados os M. tuberculosis,


M. bovis, M. africanum. A transmissão da TB entre elefantes é feita por aerossóis de
secreções respiratórias, que são produzidos durante a vocalização ou quando borrifam
água uns nos outros ou quando se cumprimentam. Apesar de não tossirem, os elefantes
apresentam espirros, roncos, grunhidos e respiração ofegante. Os animais apresentam
a perda de peso como sintoma mais comum. Diagnóstico por injeção intradérmica
de tuberculina não é confiável nos elefantes. O método primário de diagnóstico é
por isolamento do organismo em secreção do trato respiratório colhido da tromba. A
amostra é enviada a um laboratório para cultura por técnica microbiológica padrão
(MIKOTA, 2006).

Assim como em outros animais (ex., primatas), o tratamento pode levar de meses a
anos. Com isoniazida 4/5 mg/kg e rifampicina 10 mg/kg. Não há um protocolo de
vacinação para essa espécie (FOWLER, 2014).

128
CAPÍTULO 2
Girafas

Introdução
Os quatro grandes: hipopótamos, girafas, rinocerontes e elefantes. Para qualquer um
desses, o desafio cirúrgico – anestésico ainda requer cuidados, em face da dificuldade
de conseguir os fármacos (proibido no Brasil), seja pelo risco em manter-se animais
desse porte deitados por mais de 40 minutos sem comprometimento de sua saúde.

Biologia
Mamíferos artiodáctilos (dedos pares, pisam no 3o e 4o dedos), as girafas pertencem
à subordem ruminantia; é de vital importância conhecer sua alimentação, fisiologia e
patologias muito similares aos dos ruminantes domésticos.

Embora altos, os machos não passam dos 1000 KG; quanto as fêmeas, 700 kg. A
frequência cardíaca varia de 40 a 50 bpm, a frequência respiratória de 12 a 20 rpm, e
a temperatura retal de 38 a 38,8°C. A longevidade em zoológicos alcança os 30 anos.

As girafas, como a maioria dos mamíferos, apresentam sete vértebras cervicais, porém
muito longas, compondo o longo pescoço do animal. Em função do comprimento do
pescoço, as girafas têm pressão sanguínea carotídea elevada, na faixa de 300 mm/Hg.
A ocorrência de isquemia cerebral é evitada por valvas localizadas na veia jugular, da
mesma forma que valvas na artéria carótida evitam hipertensão cerebral quando o
animal baixa a cabeça.

Tanto os machos quanto as fêmeas apresentam projeções ósseas cranianas cobertas de


pele.

As manchas pardas têm um padrão único para cada indivíduo e o auxilia a se mimetizar
por entre as sombras das árvores onde habita. Essas manchas também concentram,
debaixo da pele, vasos sanguíneos e são responsáveis pela manutenção da temperatura
corporal adequada das girafas (PACHALY; LANGE, 2014).

129
UNIDADE VI │ MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS

Figura 86. Projeção corneana óssea, dentição semelhante às dos ruminantes domésticos.

Fonte: Pachaly, 2014.

Curiosidades: O pescoço longo da girafa apresenta 7 vértebras cervicais. As


fêmeas têm gestação de 420/568 dias.

Nutrição

Se alimentam de folhas e brotos de leguminosas arbóreas; devem receber feno de alfafa


como complemento alimentar. Os alimentos devem ficar suspensos no alto, em posição
elevada mimetizando o ambiente natural.

Figura 87. Comedouros e bebedouros Suspensos.

Fonte: Pachaly, 2014.

Contenção e anestesia
O condicionamento desses animais em bretes costuma ser fácil, desde que iniciados
na infância, o que facilita para procedimentos simples como exame clínico, coleta de
sangue, apara de casco e pequenas intervenções sem necessidade de anestesia geral.

130
MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS │ UNIDADE VI

Na experiência do autor, foi realizada lavagem com tergenvet ® e curetagem uterina


pós-aborto natural e retenção de placenta. No procedimento, foi aplicado somente
xilazina em doses alométricas.

As associações anestésicas usadas são as mesmas dos elefantes, com doses um pouco
maiores, visto o seu menor peso. Dada a frequência de óbitos dos grandes animais pelo
uso de anestesia, é sempre recomendado usar aqueles que tenham o reversor como os
opioides, α 2 agonistas e benzodiazepínicos (Pachaly, 2000).

Patologias
Transtornos podais, fraturas de ossos longos e distocias. Relatos de morte súbita em
zoológicos brasileiros. A tuberculose, assim como nos elefantes, afeta as girafas e o
exame realizado é o de tuberculinização. Pestivírus e aftosa já foram isolados (PACHALY;
LANGE, 2014).

Para animais domésticos, não há permissão de tratamento para tuberculose,


porém, em animais selvagens, o IBAMA não produziu regulamentação específica
para essa e para outras doenças zoonóticas.

Para raiva e clostridioses, aplicam-se vacinas de ruminantes de forma empírica, sem


comprovação científica.

Figura 88. Lesão de casco em girafa.

Fonte: Cubas, 2014.

131
UNIDADE VI │ MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS

Figura 89. Lesão traumática na articulação metatársica falangeana e tratamento com unguento.

Fonte: Cubas, 2014.

132
CAPÍTULO 3
Medicina de rinocerontes e
hipopótamos

Rinocerontes
São perissodáctilos, que têm 1 dígito (equídeos) ou 3 (rinocerontes e antas). A família
Rhinocerothidae tem cinco espécies, sendo duas africanas e três asiáticas. As africanas
são rinocerontes pretos (Diceros bicornis) e brancos (Ceratotherium simum). As
asiáticas são rinocerontes indianos (Rhinoceros unicornis), de Java (Rhinoceros
sondaicus) e de Sumatra (Dicerorhinus sumatrensis) (NOWAK, 1999).

As populações estão ameaçadas pela pressão de caça, pouca proteção e área inadequada,
o que fez diminuir drasticamente suas populações. Estima-se que haja 25.000 destes
animais e 1250 em cativeiro. (I.R.F, 2019). Sendo 18.000 para os rinocerontes-branco,
preto :4240, para os indianos: 2800, os de Sumatra:200 e de 40 a 50 indivíduos de
Java.

Anatomia e fisiologia

Animais com corno atípico e ausência de núcleo córneo na região frontal, derivado de
base epidérmica composta por células queratinizadas embebidas em matriz amorfa.
Essas células crescem a partir de uma camada germinativa, o stratum germinativum; e
após a queratinização completa, as células morrem, portanto todo o crescimento ocorre
na direção da base para o ápice (HIERONYMUS, 2006). Essa estrutura justaposta
queratinizada e com presença de pelos, dá uma aparência óssea e dura.

Embora pertença ao mesmo grupo dos equídeos, os rinocerontes têm ceco reduzido
praticamente afuncional, ou seja, sem funcionalidade fermentativa (ENDO, 1999).

Reprodução

Os rinocerontes são monomórficos e poligâmicos. Normalmente dão à luz apenas um


filhote após 15 a 16 meses de gestação e acredita-se que a vida reprodutiva vá até os 30
a 35 anos e que vivam dos 30 aos 50 anos, conforme a espécie.

O ciclo reprodutivo das fêmeas dura em média 25 dias, podendo variar em alguns
indivíduos. De maneira geral, o estro dura 24 h. O filhote recém-nascido pesa em média
133
UNIDADE VI │ MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS

35kg, desmama por volta dos 2 anos de idade e pode permanecer com a mãe até os 3 ou
4 anos de idade, quando normalmente nasce outro filhote (MALTA, 2014).

Nutrição

Em vida livre, esses animais consomem uma grande quantidade de material vegetal,
o que muitas vezes é difícil oferecer em cativeiro. Os rinocerontes são herbívoros
monogástricos, com intestino grosso, especialmente cólon, bem desenvolvido,
portanto, sua digestão baseia-se em fermentação posterior (MILLER, 2003). O modelo
baseado para equinos domésticos é válido para os rinocerontes que se alimentam de
gramíneas, como os rinocerontes brancos e indianos. Entretanto, as demais espécies de
rinocerontes alimentam-se exclusivamente de arbustos, folhas e ramos, e por isso, são
chamados de browsers (MALTA, 2014).

Instalações

Segundo o IBAMA, o recinto deve ter no mínimo 600 m2 com tanque e lamaçal para o
animal proteger-se de ectoparasitos e controle de temperatura. Área de cambeamento.
Piso de terra e grama e outra vegetação que mimetize o ambiente savânico. Vegetação
arbórea para sombra e como ponto de fuga do animal.

Os rinocerontes são animais que aceitam o condicionamento, o que facilita


procedimentos simples sem necessidade de contenção. Para isso, usa-se brete
de ferro com janelas para ter acesso ao animal com segurança.

Figura 90. Recinto amplo e adequado para rinocerontes, no Zooparque Itatiba/SP. Note a existência de tanque

d’água, apreciado pelos animais para banhos.

Fonte: Cubas, 2014.

134
MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS │ UNIDADE VI

Figura 91. Área de abrigo e cambiamento para rinocerontes no Zooparque Itatiba/SP. Note que as estruturas de

construção devem ser sólidas para suportar a força e o peso dos animais.

Fonte: Cubas, 2014.

Há relatos sobre a sensibilidade à luz pelo rinoceronte-de-Sumatra, podendo-


lhes ocasionar cegueira e, por isso, esses animais devem ter local bem sombreado
(KRETZSCHMAR, 2009).

Contenção e anestesia

Contenção

Existe a preocupação de evitar contenção em dias com temperaturas acima de 30°C, já


que a hipertemia é uma condição comum em animais induzidos com opioides. Nesses
casos, banhos e/ou enemas com grandes quantidades de água fria serão necessários
para equilibrar a temperatura corporal. Alguns animais podem passar por uma fase
de excitação durante a indução anestésica, por isso é recomendado que as pessoas se
afastem no momento de aplicação de anestesia. A sugestão é que se treine o animal
conforme mencionado para aceitar perfurações por agulhas, uma vez que a aplicação
de dardos à distância poderá irritar o animal. Jejum hídrico de 12 h, pois há relatos de
regurgitação e 24h dos sólidos.

Como todo megamamífero, evitar o decúbito prolongado, em função da miosite e


compressão de órgãos.

135
UNIDADE VI │ MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS

Fármacos

Como já mencionado, fármacos como etorfina são proibidos no Brasil, porém associações
como tartarato de butorfanol (52 a 80 mg/kg) e o azaperone (70 a 107 mg/kg), foram
bem razoáveis. O butorfanol é um opioide 3 a 5 vezes mais potente que a morfina, com
efeitos cardiorrespiratórios colaterais menos pronunciados que outros opioides. Para
a manutenção dessa sedação, infusão contínua intravenosa de tartarato de butorfanol
(0,6 a 18 mg/min) pode ser utilizada de acordo com a reposta do animal. O tartarato
de butorfanol (120 mg) com detomidina (80 mg) é amplamente utilizado quando se
almeja sedação em estação (RADCLIFFE, 2000).

Clínica

Nos rinocerontes, a colheita de sangue pode ser feita pela punção das veias auricular,
coccígea, cefálica, radial ou metatársica dorsal. A colheita deve ser feita de preferência
realizada em brete.

Doenças virais como cowpox, que causam lesões pustulares em zoológicos fora do
Brasil. Entre as bacterianas: salmonela, leptospira e tuberculose.

Babésia e theileria já foram associados à morte de rinocerontes-pretos, causando-lhes


hemoglobinúria (NIJHOF, 2003).

Entre as doenças não infecciosas nesses animais, já foi observado dermatopatia vesicular
e ulcerativa, além de pododermatite.

Vacinação

Entre as doenças cuja vacinação pode ser recomendada na região e na


ocasião, estão: tétano, raiva, herpesvírus equino tipo1, antraz, clostridiose, leptospirose,
influenza equina, encefalomielite equina, garrotilho, botulismo, encefalite equina
oriental e ocidental (MALTA, 2014).

Lembrar que a vacina usada em animais silvestres tem efeitos variados nos silvestres!

136
MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS │ UNIDADE VI

Figura 92. Punção da veia metatársica dorsal esquerda em rinoceronte branco. A. Evidenciação dos vasos (seta).

B. Punção venosa com agulha hipodérmica 40 × 12 (18G 1 1/2), com o animal no brete de contenção. C.

Colheita por gotejamento em tubo seco.

Fonte: Cubas, 2014.

Cirurgia

Descorna do chifre é um procedimento comum para evitar traumas por brigas ou


fraturas. O procedimento é realizado por serra em arco ou moto serra com a devida
anestesia (KOCK, 1993).

Úlceras de córnea costumam ser frequente, assim como o prolapso da glândula de


Hardner vem sendo tratado com terapia conservativa no Zoológico de Brasília (nota do
autor).

Medicina de hipopótamos

Introdução

A família Hippopotamidae compreende duas espécies: o hipopótamo comum


(Hippotamus amphibius, também chamado de hipopótamo do Nilo, e o hipopótamo
pigmeu (Hexaprotodon liberiensis), bem menor e muito raro. São mamíferos
artiodátilos não ruminantes da família Hippopotamidae, que a classificação zoológica
tradicional agrupa na subordem Suiformes, juntamente com as famílias Suidae e
Tayassuidae (PACHALY, 2014).

137
UNIDADE VI │ MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS

Anatomia e Fisiologia

Animais que nascem entre 27 e 50 kg e atingem até 2 toneladas para machos e 1700 Kg
nas fêmeas. Sua longevidade atinge os 40 anos. Fórmula dentária: 2 × (I 2/2, C 1/1, PM
3 a 4/3 a 4, M 3/3) = 36 a 40. Os dentes incisivos e caninos têm crescimento contínuo o
que torna um problema em zoológicos porque obriga a serem cortados periodicamente,
quando os animais não conseguem desgastá-los naturalmente.

As extremidades dos membros dos hipopótamos são providas de quatro dedos,


finalizados por unhas em vez de cascos, com coxins palmares e plantares macios.

A Temperatura retal é baixa e varia entre 35 a 35.8°C. Sua epiderme é composta de uma
espessa camada de gordura que atua como isolante térmico. Os animais têm hábito
semiaquáticos e precisam ficar boa parte do dia dentro da água para evitar a dessecação.

Figura 93. (A) Extremidade do membro torácico e (B) Extremidade do membro pélvico.

Fonte: Pachaly, 2000.

Os hipopótamos não têm glândulas sebáceas como outros mamíferos, mas têm glândulas
profundas que liberam uma secreção viscosa de tonalidade marrom avermelhada, com
propriedade bactericida e fungicida, e atua na termorregulação e na proteção da pele
contra os efeitos do sol.

O estômago desses animais é compartimentado em quatro câmaras, sendo duas


anteriores habitadas por microbiota diversificada, em que ocorre fermentação, uma
câmara média, e uma câmara final, glandular, em que acontece a digestão química. Por
isso, são elevados à categoria de pseudorruminantes, o que justifica a grande ingestão
de material vegetal (HASHIMOTO, 2007).

138
MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS │ UNIDADE VI

Figura 94. Área da orelha direita de um hipopótamo adulto com a secreção.

Fonte: Cubas, 2014.

Instalações
O tanque deve ser grande e o bastante para o animal submergir. Se possível de uma
fonte corrente, uma vez que os animais os usam para evacuar e urinar. Uma rampa deve
dar acesso a água.

Contenção e anestesia
Hipopótamos podem ser sedados em estação pelo uso isolado de xilazina ou detomidina,
azaperone ou butorfanol, pela associação de dois desses fármacos ou de todos. Uma
indicação bastante comum na literatura para a sedação suave em estação é o uso isolado
de azaperone, em doses totais de 400 a 800mg para um animal adulto. Assim como
associação de cetamina e xilazina (ou midazolan), sempre por alometria.

Alguns cuidados devem ser tomados durante o procedimento anestésico, pois


deve-se distanciá-lo do tanque de água para evitar afogamentos, assim como:
o dardo, caso seja aplicado para anestesia, deve ser longo, pois o fármaco deve
penetrar a musculatura, caso contrário, a indução poderá levar mais de 30
minutos. Preferencialmente uma duração anestésica curta em função dos efeitos de
esmagamento, típico dos grandes animais, da hipertermia e do ressecamento pelo
sol (o procedimento anestésico-cirúrgico deve ser realizado em local sombreado).
Por isso, panos molhados e banhos deverão ser ministrados enquanto o animal
estiver deitado (PACHALY, 2014).

139
UNIDADE VI │ MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS

Figura 95. Hipopótamo adulto apresentando três dardos metálicos cravados na face externa do membro

torácico direito durante procedimento de contenção farmacológica.

Fonte: Pachaly, 2000.

Clínica e cirurgia
Os mesmos pontos de colheita de sangue dos rinocerontes, servem para os hipopótamos,
sendo as veias da cauda, face caudal do carpo e femural direita as mais utilizadas.

Problemas dentais são os mais comuns, sendo o crescimento exacerbado do canino, o


que obriga, na maioria das vezes, o corte com anestesia.

Figura 96. Colheita de sangue em hipopótamo adulto na linha média ventral da cauda.

Fonte: Pachaly, 2000.

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MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS │ UNIDADE VI

Figura 97. (A) animal com dentição normal (B) canino inferior esquerdo. Nota-se o crescimento excessivo do dente

e seu trajeto em direção à perfuração do lábio superior ipsilateral.

Fonte: Pachaly, 2000.

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