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PERDAS AUDITIVAS

E SUAS IMPLICAÇÕES
E INDICAÇÕES AO USO
DE PRÓTESES
AUDITIVAS
Elaboração

Julia de Souza Pinto Valente

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO....................................................................................................................................................................................... 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA.................................................................................................. 5

INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................................................................. 7

UNIDADE I
BASES TEÓRICAS DE SELEÇÃO E ADAPTAÇÃO DE PRÓTESES AUDITIVAS .............................................................................................. 9

CAPÍTULO 1
HISTÓRICO DA AMPLIFICAÇÃO SONORA ................................................................................................................................................. 10

CAPÍTULO 2
ETAPAS DA ADAPTAÇÃO DO APARELHO AUDITIVO............................................................................................................................. 15

CAPÍTULO 3
INTERPRETAÇÃO DE ACHADOS AUDIOLÓGICOS E NÃO AUDIOLÓGICOS DO INDIVÍDUO................................................... 18

UNIDADE II
BASES TEÓRICAS DE SELEÇÃO E ADAPTAÇÃO DE PRÓTESES AUDITIVAS II.......................................................................................... 29

CAPÍTULO 1
APARELHOS AUDITIVOS: COMPONENTES E CLASSIFICAÇÃO...................................................................................................... 30

CAPÍTULO 2
TIPOS DE PROCESSAMENTO DE SINAL.................................................................................................................................................... 46

CAPÍTULO 3
CARACTERÍSTICAS ELETROACÚSTICAS DO AASI................................................................................................................................ 51

UNIDADE III
BASES TEÓRICAS DE SELEÇÃO E ADAPTAÇÃO DE PRÓTESES AUDITIVAS III........................................................................................ 64

CAPÍTULO 1
CONFECÇÃO DOS MOLDES AURICULARES............................................................................................................................................ 65

CAPÍTULO 2
TIPOS E ESCOLHA DOS MOLDES AURICULARES................................................................................................................................. 73

CAPÍTULO 3
ADAPTAÇÃO ABERTA......................................................................................................................................................................................... 80

UNIDADE IV
SELEÇÃO E ADAPTAÇÃO DE AASI............................................................................................................................................................................... 83

CAPÍTULO 1
SISTEMAS OPCIONAIS E AUXILIARES....................................................................................................................................................... 83

CAPÍTULO 2
APARELHOS AUDITIVOS ANCORADOS AO OSSO................................................................................................................................ 89

CAPÍTULO 3
INDICAÇÃO, SELEÇÃO E ADAPTAÇÃO DE APARELHOS DE AMPLIFICAÇÃO SONORA INDIVIDUAL............................... 94

PARA (NÃO) FINALIZAR...................................................................................................................................................................... 97

REFERÊNCIAS......................................................................................................................................................................................... 98
APRESENTAÇÃO

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como
pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia
da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos


conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos
da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional
que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-
tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO
DE ESTUDOS E PESQUISA

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de
textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam
tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta
para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto
antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para
o autor conteudista.

Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma
pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em
seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas
experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para
a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar


Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do
estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam
para a síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa

Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/
conclusões sobre o assunto abordado.

Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando
o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar


Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a
aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo
estudado.

6
INTRODUÇÃO

Sempre que falamos sobre audição, reforça-se a importância que ela apresenta para o
ser humano em todas as fases da vida. Sabemos que ouvir bem é fundamental para o
pleno desenvolvimento do indivíduo e, independentemente da idade em que a perda
auditiva se instale, ela acarretará prejuízos importantes.

É baseado no entendimento de como a perda auditiva é prejudicial que, a cada dia


que passa, a necessidade do diagnóstico e da reabilitação precoce se mostra urgente.
Nesse sentido, observamos uma ampla evolução no diagnóstico e na reabilitação das
perdas auditivas. A obrigatoriedade da Triagem Auditiva Neonatal (TAN) reforça a
importância do diagnóstico precoce das alterações auditivas.

Porém apenas realizar o diagnóstico da perda auditiva não é suficiente. Tão ou até mais
importante do que saber que uma pessoa não ouve bem é reabilitá-la. O tratamento
ou reabilitação da perda auditiva depende de diversos fatores, porém as principais
alternativas são: medicamentos, cirurgias e o uso de dispositivos eletrônicos como o
aparelho auditivo ou implante coclear.

Até o ano passado, a indicação de qual seria o tratamento do paciente com perda
auditiva era exclusivamente médica. Era o médico que, ao analisar o histórico e os
exames do paciente, decidia se o paciente usaria um aparelho auditivo ou não. Porém, a
partir desse ano, o fonoaudiólogo também passou a ser reconhecido como profissional
habilitado para realizar a indicação de uso de aparelho auditivo.

O fonoaudiólogo sempre foi o profissional responsável pela seleção e adaptação


do aparelho de amplificação sonora individual (AASI), porém não era habilitado a
realizar sua indicação. Com essa mudança, agora podemos realizar todo o passo a passo
junto ao paciente: do diagnóstico à reabilitação completa, e isso nos traz uma grande
responsabilidade e aumenta a nossa necessidade de conhecimento; é nesse contexto
que este módulo foi construído.

Entender como os aparelhos auditivos se desenvolveram e evoluíram ao longo do


tempo, quais são os casos que o uso do aparelho auditivo é indicado e trará benefícios,
bem como qual o passo a passo para essa indicação, seleção e adaptação é fundamental
para as boas práticas do profissional que trabalha com reabilitação auditiva e, por isso,
será o tema da nossa primeira unidade.

Quando partirmos para a seleção e adaptação do aparelho auditivo propriamente


dito, o conhecimento sobre todos os aspectos que envolvem esse processo faz a

7
Introdução

diferença na hora da prática. Precisamos saber desde como os aparelhos auditivos são
confeccionados, passando por como eles funcionam, chegando à escolha de modelos e
formas de adaptação. Esse conhecimento técnico imprescindível será o foco das nossas
segundas e terceiras unidades.

Após esses conceitos bem estabelecidos, conseguir colocá-los em prática em uma


adaptação correta, muitas vezes com auxílios de sistemas opcionais e auxiliares, é o
ponto-chave para uma boa reabilitação. Todos esses tópicos serão abordados na nossa
quarta unidade.

Todos esses assuntos necessários para a realização da indicação, seleção e adaptação do


aparelho auditivo de amplificação sonora individual serão abordados neste módulo,
conforme objetivos abaixo.

Objetivos
» Compreender as características físicas e os componentes básicos dos aparelhos
de amplificação sonora individual (AASI).

» Compreender os princípios da indicação, seleção e adaptação dos aparelhos


auditivos.

» Analisar e correlacionar as informações audiológicas e não audiológicas


necessárias à indicação, seleção e adaptação dos aparelhos auditivos.

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BASES TEÓRICAS
DE SELEÇÃO E
ADAPTAÇÃO DE UNIDADE I
PRÓTESES AUDITIVAS
Quando nos propusemos a realizar indicação, seleção e a adaptação de um aparelho
auditivo em um indivíduo, diversos aspectos precisam ser levados em conta, pois
influenciam diretamente no sucesso da reabilitação auditiva. Muitas vezes, quando
não conseguimos o sucesso na reabilitação, este fato está relacionado com uma análise
errônea ou até a não análise de algum aspecto relacionado ao paciente que irá usar o
AASI. Nesse sentido, precisamos entender a evolução dos dispositivos que iremos utilizar
(no nosso caso, o AASI), além de saber analisar e interpretar os dados audiológicos
e não audiológicos desse paciente. Além disso, precisamos compreender o passo a
passo de todas as etapas envolvidas nesse processo. Todos esses pontos iniciais serão
abordados nesta unidade, sempre correlacionando com a prática clínica.
Muitas vezes, devido ao caráter extremamente técnico que envolve a adaptação
e seleção dos aparelhos auditivos, esquecemos que o uso do aparelho é apenas
uma parte de um processo maior: a reabilitação auditiva.

Todo o indivíduo que possui uma perda auditiva que traz prejuízos precisa ser
reabilitado auditivamente. A reabilitação com o uso de aparelhos auditivos vai
muito além da regulagem. É necessário levar em conta aspectos do indivíduo que
vão além da sua audição descrita na audiometria, pois esses fatores irão interferir
diretamente no sucesso da reabilitação. Precisamos lembrar que a audição é um
sentido extremamente pessoal, que depende muito do ambiente auditivo em que
o paciente vive. Podemos ter dois indivíduos com o mesmo exame de audiometria
e regulagens de aparelhos completamente diferentes e ambos bem adaptados.

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CAPÍTULO 1
Histórico da amplificação sonora

A audição é um dos sentidos mais importantes para o ser humano. É por meio dela
que nos inserimos na sociedade e pela qual a criança aprende a falar e se comunicar.
Por isso, desde os primórdios conseguimos observar tentativas de amplificação sonora,
no intuito de auxiliar aqueles que apresentavam dificuldade para ouvir. Na figura
abaixo, podemos observar essa evolução de forma bem ilustrativa:
Figura 1. Evolução dos dispositivos de amplificação sonora.

1800-1900 1900 -1920 1920-1940 1940-1960 1960-1980 1980-1990 1990-2000 2000- atual

Fonte: http://www.audiovital.pt/pdf/audioVital_historico.

A evolução dos aparelhos de amplificação sonora que iriam resultar nos aparelhos
auditivos de alta tecnologia que temos atualmente está estritamente ligada à evolução
da tecnologia em geral. A história da amplificação sonora começou com o uso de
dispositivos que nem eram eletrônicos, e hoje alcançou um patamar de processamento
de informação semelhante ao usado em computação. Abaixo observaremos como cada
era de novas descobertas tecnológicas influenciaram na evolução do AASI:
» Era acústica (sec. XVII e sec. XVIII): na era acústica, não existia a produção de
nenhum dispositivo eletrônico, então era feito o uso de cornetas acústicas e tubos
de fala. Esses dispositivos possuíam uma estrutura que naturalmente amplifica
o som (descoberta essa muitas vezes realizada de forma empírica) e tinham essa
característica aproveitada, conforme podemos observar na figura abaixo:
Figura 2. Exemplo de corneta acústica.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Corneta_ac%C3%BAstica.

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BASES TEÓRICAS DE SELEÇÃO E ADAPTAÇÃO DE PRÓTESES AUDITIVAS | Unidade I

Nessa época, não era possível regular ou escolher como o som seria
amplificado e enviado ao ouvido do paciente. A característica do objeto
utilizado determinava quais sons seriam mais ou menos amplificáveis.
Porém, devido ao caráter incapacitante e de isolamento social que a perda
auditiva apresenta, conseguir ouvir o som de forma mais alta, mesmo que
sem nenhuma regulagem, já se monstrava benéfico.

» Era do carbono (1900 -1930): essa era se inicia após o advento do telefone,
e nela podemos observar o primeiro aparelho auditivo elétrico, uma vez
que, com o advento do carbono, a eletricidade começou a ser produzida.
O dispositivo assemelhava-se muito a um telefone e não era portátil (como
podemos observar na figura 3), mas já apresentava uma evolução comparada
ao que era disponível em anos anteriores.

Figura 3. Exemplo aparelho auditivo elétrico.

Fonte: https://www.museudoaparelhoauditivo.com.br/acervo.php.

Apesar de apresentar praticamente nenhuma possibilidade de regulagem,


os aparelhos auditivos da era do carbono já nos permitiram ter um mínimo
controle sobre a quantidade de amplificação fornecida. Infelizmente, o fato
de não ser portátil ainda limitava muito o seu uso no dia a dia.

» Era da válvula (1930-1950): nessa época os aparelhos auditivos diminuíram


de tamanho e passaram a ser portáteis. Também foi possível fornecer
um ganho maior, com faixa de frequência mais ampla e distorção menor.
O amplificador a válvula começa a ser usado nos aparelhos auditivos. O nome
dado a esses aparelhos são “aparelhos de caixa”, pois eram fabricados dentro
de uma caixa, normalmente acoplada à cintura, que fazia uso de pilhas AA,
como podemos observar na figura a seguir:
11
Unidade I | BASES TEÓRICAS DE SELEÇÃO E ADAPTAÇÃO DE PRÓTESES AUDITIVAS

Figura 4. Exemplo de aparelho de caixa.

Fonte: https://www.museudoaparelhoauditivo.com.br/acervo.php.

Apesar de parecer estranho e impensável para quem olha atualmente, o uso


do dispositivo de caixa possibilitou que a amplificação sonora se tornasse mais
presente no dia a dia, sendo possível utilizá-lo o tempo todo, possibilitando
assim uma maior adaptação do paciente.

» Era do transistor (1950-1995): essa época é marcada por uma importante


redução no tamanho dos aparelhos auditivos. Isso foi possível com o
surgimento das baterias, dos microfones e dos transistores. Todas essas
estruturas substituem a válvula. É aqui que surgem o primeiro aparelho
retroauricular (colocado atrás da orelha) e os aparelhos colocados em haste
de óculos, como ilustrado na figura abaixo.

Figura 5. Exemplo de aparelho em haste de óculos.

Fonte: https://www.museudoaparelhoauditivo.com.br/acervo.php.

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BASES TEÓRICAS DE SELEÇÃO E ADAPTAÇÃO DE PRÓTESES AUDITIVAS | Unidade I

É a partir dessa época que passamos a ter os aparelhos auditivos como


conhecemos hoje, com os componentes básicos: pilha, microfone, amplificador
e receptor. Aqui se começa a ter o benefício da localização sonora, uma vez que
o microfone dos aparelhos auditivos está, agora, localizado perto da orelha.

» Era digital (1995 – dias atuais): a era digital é a era em que vivemos. Aqui
começaram a surgir os aparelhos em que era possível realizar programação e
o processamento de som não linear (que veremos mais para frente). Toda essa
evolução possibilitou regulagens mais precisas e um maior conforto auditivo
aos usuários. Especificamente nos anos 2000 surge uma nova tecnologia:
O aparelho receptor no canal. Ainda nessa época, também podemos observar
cada vez mais possibilidades de regulagens, como aparelhos cada vez mais
discretos (como podemos observar na figura abaixo). São esses aparelhos que
iremos nos debruçar neste módulo, uma vez que são os utilizados atualmente
na reabilitação auditiva de quem possui perda auditiva.

Figura 6. Exemplo de aparelho receptor no canal.

Fonte:https://audiocamp.com.br/aparelho-auditivo-receptor-no-canal-standart/.

Também é nessa era que surgem os aparelhos intra-aurais (colocados dentro do


ouvido), uma vez que há uma redução no tamanho dos componentes. Porém, mesmo
com a evolução tecnológica dos tempos atuais, esse tipo de aparelho não é indicado
para todos, como veremos mais adiante.

Diante do histórico feito acima, podemos concluir que os aparelhos auditivos se


beneficiaram muito da evolução tecnológica que aconteceu no decorrer dos tempos e
continuam a se beneficiar, além da evolução da ciência e do conhecimento da audição
humana. Atualmente, a busca pela audição mais natural possível, mesmo com o uso
do AASI, vem proporcionando evoluções tecnológicas incríveis, sempre aliadas a
dispositivos cada vez mais discretos e autônomos.
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Unidade I | BASES TEÓRICAS DE SELEÇÃO E ADAPTAÇÃO DE PRÓTESES AUDITIVAS

O estudo sobre a evolução dos aparelhos auditivos, além de ser bem interessante,
nos proporciona entender melhor como a tecnologia se desenvolveu. Por isso,
sugiro a visita ao site do Museu do Aparelho, que apresenta imagens e informações
bem interessantes sobre os aparelhos auditivos.

O site pode ser acessado por meio do link: https://museudoaparelhoauditivo.com.


br. Acesso em: 11 out. 2021.

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CAPÍTULO 2
Etapas da adaptação do aparelho
auditivo

Quando falamos em indicação, seleção e adaptação de aparelhos auditivos, faz-se necessário


entender como o processo se dá como um todo e todas as suas etapas. Cada passo é
importante, e entender quem é o indivíduo candidato ao uso do AASI é fundamental
para uma reabilitação auditiva de sucesso. Nesse sentido, abaixo veremos quais são essas
etapas e também discutiremos pontos-chave que precisam ser levados em conta.

Etapas da adaptação dos aparelhos auditivos


1. Avaliação do candidato – nem toda pessoa que possui perda auditiva
necessita do uso de AASI. Por isso, é necessário avaliar cada caso e então
determinar qual o melhor tratamento. Essa avaliação deve ser realizada
por uma equipe multidisciplinar. Para avaliar esse candidato, sugerem-se
as seguintes avaliações:
› Avaliação auditiva: desde anamnese, meatoscopia, avaliação audiológica
básica, pesquisa no nível de desconforto e, quando necessário, exames
complementares.
› Avaliação das necessidades de comunicação e desempenho: existem
questionários já bem estabelecidos que realizam a avaliação da necessidade
auditiva do indivíduo, como o questionário de autoavaliação HHIA.
› Avaliação das necessidades não auditivas: aqui estão envolvidos todos
os aspectos não auditivos, como cognição, destreza manual, saúde geral,
personalidade.

2. Aspecto técnico do tratamento – nessa etapa é quando acontece


efetivamente a seleção de qual aparelho se adequa às necessidades do
indivíduo. Após a escolha, é realizada a adaptação. Essa parte é fundamental
e exige conhecimento técnico do dispositivo eletrônico. Como uma guia,
listam-se abaixo tópicos importantes a serem avaliadas nessa etapa:
› Seleção do aparelho auditivo: atenção a características eletroacústicas
(ganho, saída máxima) e a outras características, como tipo de adaptação.
› Controle de qualidade: aqui é importante observarmos se as escolhas que
realizamos inicialmente foram corretas. Essa etapa evita que, no futuro,

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Unidade I | BASES TEÓRICAS DE SELEÇÃO E ADAPTAÇÃO DE PRÓTESES AUDITIVAS

após todo o processo realizado, se perceba que alguma escolha diferente


poderia ser melhor.

3. Verificação – essa etapa acontece após a adaptação e visa verificar se está


tudo bem e se a adaptação está acontecendo conforme planejado. Podemos
dividir essa verificação em duas:
› Verificação física: precisamos lembrar que usar AASI significa ter um objeto
em nossos ouvidos. O paciente precisa aprender a mexer com o dispositivo,
além de ter que se acostumar com ele em seus ouvidos. Por isso, a inspeção
física, para ver se está tudo bem, é fundamental. É importante checar se o
paciente consegue manusear de forma correta o aparelho.
› Verificação de desempenho: aqui verificamos se a regulagem em si está
fornecendo o som como o desejado. Aqui se observa o desempenho do
paciente para sons fracos, além de realizar medições objetivas.

4. Avaliação do resultado – aqui deve-se concluir, após a adaptação, se os


ajustes realizados estão bons. Isso é feito através da avaliação do uso, do relato
do paciente de medidas objetivas. Caso seja observado uma má adaptação,
deve-se realizar uma reavaliação de todo o processo a fim de determinar
mudanças que permitam uma reabilitação efetiva.

Todos os aspectos citados em todas as etapas são fundamentais quando falamos de


reabilitação com o uso de aparelhos auditivos, por isso, serão estudados detalhadamente
a seguir.

Equipe multidisciplinar
Acima, falamos sobre a necessidade de uma equipe multidisciplinar para avaliar o
candidato a AASI. Mas que equipe seria essa e qual o papel de cada profissional?

A equipe básica para a avaliação do indivíduo com perda auditiva é o otorrinolaringologista


(ORL) e o fonoaudiólogo. Alguns casos necessitam de psicólogos para um apoio ou
de assistentes sociais.

O ORL normalmente é o primeiro profissional a receber o indivíduo com queixa


de dificuldade de ouvir e normalmente faz o encaminhamento para o diagnóstico
audiológico. Ele é o responsável pelo diagnóstico biológico da audição. No contexto
do plano de saúde, precisamos lembrar que os procedimentos diagnósticos (exames

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BASES TEÓRICAS DE SELEÇÃO E ADAPTAÇÃO DE PRÓTESES AUDITIVAS | Unidade I

auditivos) só são cobertos pelo plano de saúde quando solicitados pelo médico, o que
acaba por reforçar essa necessidade, inicialmente, de ir ao ORL.

Como citado na introdução, até ano passado, o ORL era o único profissional habilitado
a indicar o uso do AASI como tratamento, ou seja, ele observa os exames, a história
clínica e as necessidades do paciente e decide pela melhor reabilitação. Atualmente, o
fonoaudiólogo também está habilitado para realizar a indicação do AASI.

Além dessa nova possibilidade de indicar o uso do AASI, no processo de reabilitação


auditiva o fonoaudiólogo exerce papel fundamental. Nós participamos do processo pré
e pós-adaptação do aparelho auditivo. O fonoaudiólogo é responsável pelo diagnóstico
funcional da audição, pela seleção de qual AASI será adaptado, pela adaptação e
regulagem desse dispositivo e também pela realização da terapia auditiva daqueles
que necessitam dela.

Fica bem claro o papel fundamental que o fonoaudiólogo desempenha desde o diagnóstico
até a reabilitação auditiva. Porém precisamos lembrar que outros profissionais podem
sim contribuir bastante nesse processo e devemos ter em mente que uma equipe
multidisciplinar alinhada pode contribuir bastante para uma boa adaptação.

Aqui gosto sempre de refletir e chamar atenção para o fato de que não podemos considerar
o outro profissional como um inimigo ou concorrente. Vejo muitas situações em que
não há uma boa relação ou até mesmo nem há conversa e troca de informações entre
os profissionais que atendem esse paciente (normalmente o ORL) e o fonoaudiólogo.
Quando isso acontece, a pessoa que mais sai perdendo é o paciente. Precisamos saber
da importância e entender o papel de cada um em uma equipe multidisciplinar, além
de estabelecer boas relações e estar disposto a discutir e, de forma conjunta, tomar
decisões para a melhor condução do caso apresentado.

Quem é candidato ao uso do AASI?

Todo indivíduo com perda auditiva!

Adultos – é importante medir o grau de sofrimento com a perda auditiva.

Crianças – toda criança com perda de audição permanente é candidata ao uso


de AASI.

Mesmo que só existam resíduos auditivos, as próteses deverão ser sempre testadas.

Qualquer melhora na comunicação do DA é sempre bem-vinda!

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CAPÍTULO 3
Interpretação de achados audiológicos
e não audiológicos do indivíduo

Como já falamos anteriormente, o processo de indicação, seleção e adaptação de


aparelhos auditivos é complexo e acontece a partir de algumas etapas. Diante disso,
vem o questionamento: o diagnóstico audiológico é suficiente?

A resposta é NÃO!

Diversos aspectos irão interferir nas escolhas a serem tomadas durante o processo, como
a motivação do paciente, a aceitação da perda auditiva, aspectos estéticos, expectativas
e até questões financeiras quando falamos da aquisição particular. Todos esses aspectos
podem ser classificados em audiológicos e não audiológicos, e neste capítulo iremos
abordá-los seguindo essa divisão.

Interpretação de achados audiológicos na


indicação, seleção e adaptação de aparelhos
auditivos
A avaliação auditiva é fundamental para uma boa indicação dos aparelhos auditivos e,
muitas vezes, exames complementares são necessários para uma melhor determinação
da etiologia da perda auditiva do paciente. É necessário lembrar que cada tipo de
perda auditiva apresenta uma característica específica e que, para algumas alterações,
o tratamento indicado é medicamentoso ou até cirúrgico e não o uso do AASI.

Com a possibilidade de a indicação do uso do AASI ser realizada por nós, fonoaudiólogos,
saber interpretar os achados audiológicos tornou-se ainda mais importante em nossa
prática clínica. Por isso, tornou-se fundamental o estudo dos tipos de perda auditiva,
suas possíveis causas e suas formas de reabilitação. A seguir, veremos como interpretar
os achados audiológicos segundo os tipos de perda auditiva que podemos encontrar
na avaliação audiológica básica.

Perdas auditivas condutivas


As perdas auditivas condutivas são o tipo de perdas auditivas que, em sua maioria,
apresentam indicação de reabilitações que não são o uso de aparelhos auditivos, sendo
mais do âmbito otorrinolaringológico. Muitos casos de perda auditiva são decorrentes de
otites no qual o tratamento deve ser medicamentoso ou de alterações estruturais (como
otosclerose ou perfuração timpânica), em que a indicação de tratamento normalmente
18
BASES TEÓRICAS DE SELEÇÃO E ADAPTAÇÃO DE PRÓTESES AUDITIVAS | Unidade I

é cirúrgica. Em ambos os casos, o tratamento é de caráter médico e o fonoaudiólogo


está inserido no diagnóstico audiológico pré e pós-tratamento.

Isso significa que nunca iremos adaptar aparelho auditivo em uma perda condutiva?
Claro que não.

Existem casos de otites de repetição em que a timpanoplastia não é indicada, pois,


ao fechar esse ouvido, a infecção retorna, sendo a melhor escolha terapêutica a
manutenção da perfuração timpânica para que se evite a recorrência de otites. Nesse caso,
a perfuração timpânica causará uma perda auditiva e será necessário o uso do AASI.
Aqui, é importante ter atenção à flutuação da audição, o que pode exigir regulagens
mais constantes, além de um cuidado a mais na confecção do molde e na escolha do
seu material.

Outra possibilidade de indicação de AASI em perdas condutivas são casos de otosclerose


onde a cirurgia não é realizada – seja por impossibilidade devido à saúde geral do
paciente, seja por uma decisão médica por avaliação de prognóstico ruim ou até por
escolha pessoal do paciente de não se submeter a uma cirurgia. Vale ressaltar que
outras patologias de orelha média podem ter condutas semelhantes.

Uma outra possibilidade nesses casos também é o uso do aparelho auditivo após
o tratamento, quando ele não consegue resolver totalmente o problema da perda
auditiva. Por exemplo, um paciente com uma otite pode, após seu tratamento, ter como
consequência uma lesão de células ciliadas, gerando uma perda auditiva sensorioneural
que pode necessitar de amplificação sonora. Por isso, precisamos sempre lembrar que
algumas alterações, que inicialmente acarretaria um problema de condução, podem
por fim gerar outro tipo de perda auditiva.

Independentemente do caso, o uso de aparelho auditivo em perdas auditivas condutivas


apresenta um ótimo prognóstico, uma vez que nesse tipo de perda auditiva não há
dificuldade de discriminação, sendo necessário apenas fornecer o som em maior
intensidade ao paciente. A integridade de células ciliadas observadas nesses casos
contribui para que o paciente tenha uma adaptação rápida ao uso da amplificação sonora.

Perdas auditivas condutivas normalmente exigem aparelhos com menos tecnologia


no processamento do som, pois não é necessário realizar muitas modificações no som
captado devido à discriminação mantida. Porém a tecnologia continua sendo necessária
no sentido de aparelhos mais discretos e no uso de conectividade (que veremos mais
adiante).
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Unidade I | BASES TEÓRICAS DE SELEÇÃO E ADAPTAÇÃO DE PRÓTESES AUDITIVAS

Perdas auditivas mistas


As perdas auditivas mistas, em sua maioria, decorrem de um processo crônico que,
inicialmente, gerava uma perda condutiva. Por isso, o raciocínio para o uso de AASI
nas perdas mistas assemelha-se muito ao das perdas condutivas descritas acima.
Precisamos sempre ter certeza de que o tratamento para a perda mista apresentada não
será medicamentoso ou cirúrgico. O colesteatoma é um exemplo clássico que gera uma
alteração mista ao final do tratamento que deve ser reabilitada com AASI. O tratamento
para essa alteração é a cirurgia, a timpanomastoidectomia. Nela, a orelha média e o
tímpano são completamente retirados, gerando uma grande alteração condutiva,
devido à ausência de orelha média que não tem como ser sanada, sendo necessário o
uso do AASI. A parte sensorial dessa alteração decorre das bactérias que inicialmente
encontravam-se na orelha média e migram para orelha interna, destruindo células
ciliadas. Aqui, a perda auditiva como consequência do tratamento é inquestionável e
precisa sim de reabilitação auditiva com o uso do AASI.

Outro caso muito presente em nossa prática clínica de perda mista que reabilitamos
com o uso do AASI é a otosclerose. Inicialmente, a alteração apresenta-se apenas
como uma alteração de condução, devido à rigidez da orelha média. Porém, com
a evolução, pode haver também a calcificação da cóclea, acarretando assim uma
perda auditiva mista. Caso o tratamento cirúrgico preconizado para essas situações
não seja possível, ou o paciente opte por não realizá-lo, o uso de AASI torna-se
fundamental.

Pode parecer contraditório falar de uma cirurgia que reverta uma perda sensorial
(uma vez que a perda auditiva mista é composta por uma alteração sensorial e outra
de condução). Mas em casos de otosclerose, por exemplo, o paciente com perda mista
apresenta muitas vezes melhora no componente sensorial após a cirurgia. Isso acontece
pois o aumento da pressão transmitida para a cóclea com o uso da prótese no lugar do
estribo contribui para um melhor deslocamento da endolinfa que estimula as células
ciliadas.

Quanto ao uso dos aparelhos auditivos na perda auditiva mista, sua indicação deve levar
a análise individualizada. Além da observação se é realmente um caso de reabilitação
com AASI, também precisamos observar a característica da perda auditiva. Casos onde
o componente condutivo é predominante tende-se a se comportar como uma adaptação
em componente condutivo como já explicado acima. Já em casos com predomínio do
componente sensoriais a reabilitação auditiva com uso do AASI será mais semelhante
às perdas sensorioneurais conforme será explicado a seguir.

20
BASES TEÓRICAS DE SELEÇÃO E ADAPTAÇÃO DE PRÓTESES AUDITIVAS | Unidade I

Perdas auditivas sensorioneurais

As perdas auditivas sensorioneurais são as mais presentes na prática clínica da reabilitação


auditiva com AASI, uma vez que não há medicamentos ou cirurgias que possam
reverter o quadro. Quando falamos de perda auditiva sensorioneural, precisamos ter
o cuidado de afastar comprometimentos retrococleares. Precisamos lembrar que o
termo “sensorioneural” engloba tanto alterações da cóclea (sensorial) como os após a
cóclea (neural). Essa diferenciação não é possível apenas com a avaliação audiológica
básica, sendo necessário, então, lançar mão dos exames ditos complementares: emissões
otoacústicas e potencial evocado auditivo de tronco encefálico.

O que observo muito no dia a dia da clínica é que muitas vezes essa diferenciação
não é realizada. Pelo fato da maioria das perdas auditivas sensorioneurais serem de
caráter sensorial, ao nos depararmos com esse tipo de perda auditiva já a declaramos
como coclear, e isso não é correto. Apesar de ser grande minoria, as perdas auditivas
retrococleares existem e apresentam uma reabilitação muito diferente das sensoriais.
Muitas vezes uma adaptação sem sucesso em que não entendemos o motivo acontece
por estarmos reabilitando como sendo uma perda auditiva sensorial enquanto na
verdade ela não é.

Alterações retrococleares, em sua maioria, não são beneficiadas com o uso do AASI,
uma vez que o problema não é o som baixo ou uma ausência de células ciliadas para
fazer a transformação do som em impulso nervoso; pelo contrário, em muitos casos
todo o sistema auditivo periférico está em perfeito estado. Nesses casos, o problema
não é periférico, mas sim na hora que o som é processado e, fazer uso de um aparelho
auditivo, que irá aumentar a quantidade de informações auditivas que esse sistema
recebe, não é interessante.

Nesses casos, o paciente apresenta dificuldade em processar o som que ele ouve
normalmente, então não precisamos aumentar mais ainda essa informação sonora,
gerando mais dificuldade. Casos de alterações retrococleares, como alteração do
processamento auditivo, se beneficiam mais da terapia auditiva especializada. Além disso,
precisamos lembrar que alterações retrococleares podem vir de tumores no nervo
acústico e é necessário realizar esse diagnóstico.

Quando a perda sensorioneural é de caráter sensorial, ou seja, lesões das células ciliadas
na cóclea, temos então a nossa principal perda auditiva reabilitada com o AASI.
Como em qualquer tratamento, quanto mais cedo iniciado melhor, pois teremos
um menor tempo de privação auditiva. A privação auditiva dificulta a adaptação do

21
Unidade I | BASES TEÓRICAS DE SELEÇÃO E ADAPTAÇÃO DE PRÓTESES AUDITIVAS

AASI, tornando-a mais demorada e, muitas vezes, fazendo o paciente perder algumas
habilidades auditivas que terão que ser resgatadas com o uso do AASI.

As perdas sensoriais, em sua maioria, apresentam dificuldade de discriminação e isso


deve ser levado em conta na escolha do aparelho auditivo. Quanto mais dificuldade em
discriminar, mais o paciente irá se beneficiar com um aparelho com mais tecnologia, uma
vez que a tecnologia nos proporciona realizar mudanças nos sons captados, oferecendo-o
ao paciente, após amplificação, de forma mais fácil de ser entendido. Aqui, muitas
vezes, o som chegar apenas mais alto na cóclea não é suficiente, uma vez que as células
ciliadas não estarão todas íntegras para realizar transdução mecano-elétrica do som.

Precisamos lembrar que o aparelho auditivo não substitui a função do ouvido, ele a ajuda.
É por esse motivo que perdas auditivas sensoriais com comprometimento importante
da cóclea apresentam benefício com o uso do AASI, porém alguma dificuldade auditiva
residual pode permanecer. Nesses casos, precisamos realizar uma orientação muito boa
ao paciente e aos familiares, explicando o seu caso e dando estratégias que facilitem a
comunicação, como falar de frente para o paciente. Nesses casos, precisamos ter cuidado
de não prometer o restabelecimento completo da audição, uma vez que sabemos que
não será possível.

Por fim, precisamos lembrar que as perdas auditivas sensorioneurais podem acometer
apenas algumas frequências ou, caso acometa todas, não as acometer de forma igual.
Quando a perda auditiva não envolve todas as frequências, precisamos avaliar o impacto
dela na vida do paciente para determinar se há a necessidade ou não do uso do AASI.
Por exemplo, uma perda auditiva sensorioneural isolada em 8 KHz provavelmente
não afetará a audição social desse paciente, não sendo necessário o uso do aparelho
auditivo. Precisamos que o paciente acredite e sinta a melhora com o uso do aparelho
auditivo, fazendo com que haja aderência ao tratamento. Isso só é possível com a
indicação correta de uso.

Outro ponto a ser considerado nesses tipos de perda auditiva é que em perdas auditivas
não planas, por exemplo, de configuração descendente, cada frequência precisará de
uma aplicação específica e isso acaba por necessitar do uso de aparelhos auditivos
capazes dessa amplificação por frequência, ou seja, com mais tecnologia. Podemos
já observar que em comparação a perdas auditivas condutivas, as perdas auditivas
sensorioneurais demandam mais de processamento sonoro.

Outro cuidado que devemos ter em mente quando vamos realizar a adaptação de um
aparelho auditivo, principalmente em perdas sensoriais, em que o recrutamento é bem

22
BASES TEÓRICAS DE SELEÇÃO E ADAPTAÇÃO DE PRÓTESES AUDITIVAS | Unidade I

presente, é realizar a pesquisa de limiar desconforto. Nessa pesquisa, estabelecemos


o limiar tanto para tom puro, bem como para fala. É pesquisado através da técnica
ascendente de 500 a 4000 Hz e com palavras, até o momento em que o paciente refira
desconforto. Essa intensidade então deve ser colocada no programa de regulagem do
AASI, a fim de evitar sons muitos altos que incomodem.

Como podemos observar, diversos são os fatores que devem ser levados em conta
quando realizamos uma adaptação de aparelho auditivo e até agora só falamos do
aspecto audiológicos. É fundamental saber analisar todos os pontos para realizar a
seleção correta do aparelho auditivo. Isso, na grande maioria das vezes, ditará se você
terá maior ou menor chance de sucesso na reabilitação auditiva.

Achados audiológicos para indicação de


aparelho auditivo
» Perda auditiva condutiva = boa discriminação, precisa apenas que som
seja mais alto e compense o componente condutivo. Em geral, exige menos
tecnologia.

» Perda auditiva sensorioneural = necessário diferencial a perda auditiva


sensorial da neural.

› Sensorial = discriminação prejudicada e configurações não planas exigem


mais tecnologias. Quando não se acomete todas as frequências, deve-se
analisar a necessidade do uso.

› Neural = a princípio o uso do AASI não é indicado. Deve-se realizar terapia


auditiva nos casos retrococleares.

» Perda auditiva mista: irá se comportar de acordo com o seu comprometimento


de maior predomínio (sensorioneural ou condutivo).

Interpretação de achados não audiológicos na


indicação, seleção e adaptação de aparelhos
auditivos
Os exames audiológicos são fundamentais para a escolha do aparelho auditivo, porém
diversos outros aspectos devem ser considerados, uma vez que o indivíduo vai muito além
daquela audição que queremos restabelecer e sabe-se que diversos fatores influenciam
na aderência e sucesso do tratamento. Vejo na prática clínica que muitas vezes esses
aspectos não são considerados e são sim a causa de uma adaptação mais difícil.

Esses diversos aspectos devem ser investigados na anamnese inicial, que deve ser
detalhada e clara para o paciente. Nesse momento, inicia-se o processo de criação de
23
Unidade I | BASES TEÓRICAS DE SELEÇÃO E ADAPTAÇÃO DE PRÓTESES AUDITIVAS

vínculo, onde será desenvolvido o ponto fundamental: a confiança do paciente no


trabalho a ser realizado. Na minha prática clínica, costumo dizer aos meus pacientes
que aqueles que têm um aparelho auditivo que faço acompanhamento criam um
relacionamento comigo, pois essa parceria é fundamental, é necessário que o indivíduo
acredite, confie e siga as orientações fornecidas pelo fonoaudiólogo. A seguir, veremos
esses principais aspectos.

Os aspectos não audiológicos a serem avaliados são:

Aceitação da perda auditiva

Só é possível reabilitar uma perda auditiva a partir do momento em que se aceita a


sua existência. É bem comum encontrarmos o paciente que está ali para fazer uso
do aparelho auditivo por pressão de familiares. Muitos relatam não achar que têm
dificuldade para ouvir (mesmo que ali durante a conversa inicial seja clara a dificuldade).

Nessas situações, é nosso papel explicar e mostrar que a dificuldade existe sim,
desmistificando a perda auditiva e demonstrando que a reabilitação auditiva é possível
sim e traz diversos benefícios. Além disso, precisamos demonstrar os benefícios da
amplificação sonora no dia a dia e na vida do paciente. Só conseguiremos dar exemplos
pertinentes à vida do paciente se tivermos conhecimento do seu dia a dia e das suas
dificuldades.

É preciso ter em mente que não é possível ter uma boa adaptação a um aparelho
auditivo quando não há aceitação do problema, uma vez que se o paciente crê que
não há problema, não vê o que há para reabilitar. Muitas vezes, essa aceitação não
acontece de forma rápida e no primeiro encontro. Às vezes é preciso deixar o paciente
refletindo sobre o que foi dito e observando no seu cotidiano as situações em que a
perda auditiva interfere.

Nos casos de maior resistência, é interessante poder fazer o uso de teste domiciliar
como uma forma de convencimento, uma vez que ao fazer uso do aparelho no dia
a dia, o paciente pode de forma efetiva observar os benefícios proporcionados.
Muitas vezes, em apenas um dia de teste domiciliar, o paciente já retorna relatando
como a qualidade de sua comunicação melhorou.

Motivação para o uso do AASI

O processo de adaptação ao uso do AASI depende do uso constante e de aderência à


reabilitação. Podemos realizar a escolha correta do aparelho e a regulagem perfeita
24
BASES TEÓRICAS DE SELEÇÃO E ADAPTAÇÃO DE PRÓTESES AUDITIVAS | Unidade I

do aparelho auditivo, mas se o paciente não fizer o uso constante, a adaptação não irá
acontecer. Por isso, precisamos conseguir analisar a motivação do nosso paciente e, caso o
paciente não esteja motivado, é nosso papel motivá-lo e fazê-lo acreditar na reabilitação.

Podemos então observar que a motivação para o uso está intimamente ligada com a
aceitação da perda auditiva e o entendimento de que o tratamento de escolha é o uso
do AASI. Nesse sentido, é importante destacar que todas essas etapas são anteriores à
seleção e à adaptação, mas nem por isso menos importantes.

Necessidade de comunicação

Um ponto bem importante a ser avaliado e muitas vezes deixado de lado é a demanda
auditiva do paciente. Precisamos investigar os ambientes que o paciente frequenta
(quanto mais desafiador o ambiente, mais tecnologia é necessária), bem como entender
o nível de dificuldade que cada ambiente apresenta para o paciente, além de quanto de
importância tem aquele ambiente no dia a dia. Um paciente que fica mais em casa, não
frequenta muitos lugares, necessita de uma tecnologia completamente diferente de um
paciente ativo, que trabalha em um ambiente ruidoso, que realiza diversas reuniões
ou até um estudante que assiste a aulas.

A seleção de um aparelho que não atende à demanda auditiva do paciente resultará


em uma má adaptação, ao passo que a escolha de um aparelho com muitos recursos
além dos necessários pode acabar por confundir o usuário.

Nesse ponto, vale destacar que a escolha da tecnologia não se dá somente com a análise
da necessidade de comunicação, mas que esse é um dos pontos importantes a serem
levados em conta. Ainda neste módulo, veremos quais outros aspectos indicarão a
necessidade da escolha de um nível de tecnologia maior.

Expectativas

Quando o paciente chega para realizar a adaptação do aparelho auditivo, ele chega cheio
de expectativas (muitas vezes acompanhado de familiares com expectativas também).
Precisamos sempre ter em mente que nós somos detentores do conhecimento e que,
na maioria das vezes, os pacientes não sabem como ocorre o processo de reabilitação.
É necessário avaliar a expectativa e, caso se observe que não é adequada ao caso,
deve-se então adequá-las.

Na prática clínica, é muito comum os pacientes e seus familiares acharem que o uso
do aparelho auditivo é igual ao de óculos, que basta colocar e já vai estar ouvindo
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Unidade I | BASES TEÓRICAS DE SELEÇÃO E ADAPTAÇÃO DE PRÓTESES AUDITIVAS

perfeitamente. Sabemos que o processo é longo e existe adaptação e que, a depender


da perda auditiva, o aparelho auditivo ajudará bastante, mas não será capaz de devolver
a audição normal. Logo no começo do processo de reabilitação, as expectativas devem
ser adequadas à realidade observada.

Outro ponto relacionado a expectativa se aplica no caso do atendimento particular.


Nesses casos, muitas vezes o paciente acha que o valor a ser pago será bem inferior ao
real, ou então, por estarem investindo um valor significativo, julgam que a audição
precisa voltar a ser perfeita, sendo que, a depender da perda auditiva, a audição como
dita normal não é possível de ser restabelecida.

Independentemente do caso, adequar a expectativa faz toda a diferença, até para que
o paciente saiba quais são suas possibilidades e o que deve ser feito para uma boa
adaptação.

Estética

A estética é um dos principais entraves na aceitação do uso do aparelho auditivo. Ainda há


muito preconceito e os pacientes muitas vezes relatam que o aparelho auditivo visível
é um atestado da sua deficiência.

É preciso avaliar se essa preocupação estética existe ou não. Caso exista, esse aspecto
terá que ser levado em conta no momento da escolha do aparelho. Porém, a depender
da perda auditiva, não é possível a escolha do melhor aparelho auditivo e aí é nosso
papel explicar e convencer o paciente sobre a melhor escolha para o caso.

Outra solicitação estética muito comum é o desejo do “aparelho dentro do ouvido”


na intenção de que seja mais discreto. Esse é um ponto bem sensível, uma vez que a
indicação do aparelho dentro do ouvido é bem específica, dependendo de aspectos como
tamanho do conduto auditivo, da perda auditiva e da destreza manual do paciente,
não sendo indicada na maioria dos casos. Uma solução para isso é demonstrar como
os aparelhos retroauriculares (fora do ouvido) atualmente são discretos e possibilitam
uma grande variedade de regulagem.

Todos esses aspectos abordados até aqui têm que ser discutidos e explicados para o
paciente de forma clara, na linguagem do paciente e com acolhimento. Temos que
tomar cuidado de não assumir a postura de detentor do conhecimento e acabar não
valorizando a opinião do paciente, mesmo que seja totalmente contrária ao que o
nosso conhecimento diz. Muitas vezes, mudar a opinião do paciente demanda tempo
e paciência.
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BASES TEÓRICAS DE SELEÇÃO E ADAPTAÇÃO DE PRÓTESES AUDITIVAS | Unidade I

Cognição

O uso do aparelho auditivo exige uma adaptação do dia a dia e um manuseio constante
do dispositivo. A população idosa é bem presente na clínica para reabilitação auditiva
devido à presbiacusia e devemos estar bem atentos ao cognitivo desses pacientes.
Sabemos que um decaimento da função cognitiva faz parte do envelhecimento e
precisamos levar em conta este fato, caso presente na escolha do aparelho auditivo.

Caso seja observado já um rebaixamento cognitivo não é indicado o uso de aparelhos


com muitos dispositivos (a exemplo, botão de volume ou troca de programas), além
de ser necessária uma maior atenção à orientação junto aos familiares e cuidadores.

Pacientes com dificuldade de compreensão se beneficiam com o auxílio de um material


escrito, com todas as orientações que já foram passadas. Isso permite que eles possam
consultar sempre que tiverem dúvida ou até que outra pessoa que não compareceu
à adaptação possa também conhecer todos os aspectos relacionados ao uso do AASI.
Na minha prática clínica, todos os pacientes receberam as orientações por escrito e
pacientes idosos são orientados a não irem sozinhos para revisão dos AASIs.

Destreza manual

Durante a avaliação inicial, precisamos avaliar a destreza manual do nosso paciente,


uma vez que ele irá manipular os aparelhos auditivos. Pacientes com destreza fina
comprometida não devem fazer uso de aparelhos muito pequenos.

Aqui vale um destaque importante, não é só pacientes mais idosos que apresentam
dificuldade de destreza manual, por isso, todo paciente deve ser sempre avaliado.
Precisamos mostrar o aparelho, o tamanho da pilha e de tudo que ele terá que manipular.
Além disso, problemas visuais podem também interferir na destreza manual.

Aspectos financeiros

Esse tópico normalmente é mais observado quando falamos da aquisição particular


do aparelho auditivo. Precisamos saber avaliar quanto o nosso paciente pode pagar
e, principalmente, quanto ele está disposto a pagar. Outro ponto importante a ser
lembrado é que os aparelhos auditivos apresentam um custo de manutenção (pilha e
desumidificador) e esse custo deve ser claro ao paciente.

Deve haver uma conversa franca com o paciente, a fim de determinar o quanto o
valor pode ou está disposto a pagar. Precisamos sempre valorizar o nosso trabalho e

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Unidade I | BASES TEÓRICAS DE SELEÇÃO E ADAPTAÇÃO DE PRÓTESES AUDITIVAS

o aparelho auditivo que escolhemos, mas caso o paciente só possa ou só queira fazer a
compra de um modelo inferior, devemos ser capazes de realizar uma boa adaptação.

Todos os tópicos acima são uma sugestão de aspectos importantes que não devem ser
deixados de lado. Porém, em toda nossa prática, é necessário termos um olhar crítico
sobre nossas práticas. Cada serviço possui uma demanda própria e um modo próprio
de se organizar. Por isso, é necessário avaliar se o serviço em que você trabalha não
há demanda de mais alguns aspectos importantes.

Um exemplo que acontece em minha prática clínica é o fato de atendermos muitas pessoas
do interior que vêm à capital para comprar seus aparelhos auditivos. Nesse contexto,
durante a escolha precisaremos levar em conta se o paciente tem possibilidade de vir
para revisão com mais frequência ou não, se tem como comprar pilhas e acessórios perto
de casa ou até se o local onde mora é mais úmido ou seco, gerando uma necessidade
diferente de manutenção dos AASIs.

Todas essas informações citadas acima devem ser obtidas durante a anamnese e a
avaliação inicial e são imprescindíveis de serem analisadas para a escolha correta do
aparelho auditivo.

A anamnese realizada para seleção do aparelho auditivo pode ser estruturada ou


não. Caso se opte por uma anamnese estruturada ela pode ser alguma retirada da
literatura ou pode ser criada pelo fonoaudiólogo ou pelo serviço onde trabalha,
sendo importante sempre abrir espaço para informações extras que não constem
na anamnese.

Caso a opção seja por anamneses mais abertas que fornecem uma maior liberdade,
muitas vezes facilitando a conversa fluida e a criação de vínculo, é interessante
ao menos que existam pontos que guiem a anamnese para que nenhum ponto
deixe de ser abordado.

28
BASES TEÓRICAS
DE SELEÇÃO E
ADAPTAÇÃO DE UNIDADE II
PRÓTESES AUDITIVAS II
Para realizarmos a escolha e a adaptação (regulagem inicial e as de acompanhamento
após a adaptação) do aparelho auditivo, é fundamental conhecer como ele funciona,
quais são seus componentes, como ele realiza a amplificação do som e suas características
físicas e acústicas. Precisamos ter em mente que há sim a necessidade de conhecer
profundamente o dispositivo do qual estamos fazendo uso para reabilitar o indivíduo.
Esse conhecimento nos proporciona uma maior possibilidade de atuação, uma vez que
nos permite realizar as modificações e ajustes necessários para atender a demanda do
nosso paciente, além de nos fornecer mais confiança na nossa prática clínica.

Devido à importância desse assunto, dedicaremos essa Unidade II a ele, procurando


sempre correlacionar com a prática clínica do fonoaudiólogo que trabalha com aparelho
auditivo.

Em muitos livros, aulas e conversas até hoje, ainda observamos o uso do termo
PRÓTESE auditiva quando nos referimos ao aparelho de amplificação sonora
individual (AASI). Como consequência, o termo PROTETIZAÇÃO ou PROTETIZADO
é também bastante utilizado.

Gostaria então de propor uma reflexão: o termo prótese refere-se a algo que
substitui a função perdida (exemplo: quando se amputa uma perna a prótese faz
a função dessa perna amputada).

Diante dessa definição, lhes questiono: o uso do termo prótese auditiva é correto,
uma vez que o aparelho auditivo não substitui a função do ouvido, mas sim o auxilia?

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CAPÍTULO 1
Aparelhos auditivos: componentes
e classificação

O conhecimento dos componentes básicos de um aparelho auditivo é fundamental


para o entendimento técnico de como a amplificação acontece e é indispensável
para o audiologista que irá trabalhar com o aparelho auditivo. Esse entendimento é
fundamental para o raciocínio clínico durante todo processo de seleção e adaptação
e serão esses componentes que iremos estudar agora.

Componentes do aparelho auditivo


Com a evolução da tecnologia, vários novos componentes foram sendo introduzidos no
AASI e quais componentes farão ou não parte do aparelho depende da tecnologia utilizada.
Porém existem quatro componentes que são os ditos básicos e serão eles que iremos estudar
agora, pois estarão presentes em qualquer aparelho, independentemente da tecnologia.
Na figura abaixo, podemos ver a distribuição dos três componentes responsáveis pelo
processamento do som, na ordem em que são ativados quando o som é captado pelo
aparelho auditivo:
Figura 7. Componentes do aparelho auditivo.

Microfone1Amplificador 2Receptor3

1- Microfone: capta o som do ambiente e transforma em sinal elétrico.


2- Amplificador: som (sinal elétrico) é amplificado e modificado conforme necessário.
3- Receptor: transforma o sinal elétrico em acústico e o fornece ao usuário.
Fonte: Elaborada pelo autor.

A seguir, veremos de forma detalhada cada um desses componentes.

Microfone
O microfone é um transdutor mecano-elétrico, ou seja, capta o som do ambiente e o
transforma em um sinal elétrico equivalente que será analisado e amplificado dentro
do aparelho. Muitos de nós temos a ideia errônea de que o microfone é o que capta
o som que será amplificado, porém se observamos em uma palestra, por exemplo, o
microfone está perto do falante, pois sua função será captar o som de quem fala, que
então será amplificado e distribuído ao ambiente pelas caixas de som.

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Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II | Unidade II

Quando estamos falando de aparelho auditivo podemos ter dois tipos de microfones:
os Direcionais e os Omnidirecionais. Vamos ver agora cada um deles e entender para
que caso cada um deles é indicado.
Omnidirecionais

Os microfones omnidirecionais captam de forma idêntica sinais vindos de todos os


ângulos (360°) do ambiente, não havendo foco em nenhuma direção. Dessa forma, eles
não conseguem priorizar uma fonte sonora e um determinado lado, porém proporciona
a audição de todos os sons do ambiente.
Podemos pensar que um paciente que possua uma situação auditiva que precise ouvir de
todos os lados necessita desse tipo de microfone, por exemplo, um vendedor de feira, ou
alguma função laboral que exija ter atenção a sons, como alguém que precise ouvir um sinal
sonoro de alerta em uma fábrica. Porém temos que lembrar que esse tipo de microfone
não valoriza nenhum som específico, muitas vezes amplificando também, de forma não
desejada, os sons ambientais. Devido a isso, esses microfones não são indicados para situações
de aula ou reunião, em que o som a ser escutado vem efetivamente em uma direção.
Pacientes que possuem dificuldade em realizar figura-fundo podem ter muita dificuldade
com o uso desse microfone, pois os sons ambientais também serão amplificados e
podem dificultar a inteligibilidade de fala.
Direcionais

Já os microfones direcionais captam de forma variável os sons vindos de diferentes ângulos,


dando prioridade de captação ao som vindo do ângulo selecionado. Durante a nossa adaptação
e regulagem, podemos mudar a direção que a captação acontece (frente, trás, direita e esquerda)
a depender de onde vem a fonte sonora. Essa mudança de direção pode acontecer mediante
um comando do paciente ou de forma automática, a partir da análise que o aparelho faz
do ambiente. Esse tipo de microfone é interessante para casos em que uma informação
vinda de uma direção apenas é a mais importante, como na sala de aula ou em palestras.
Os microfones direcionais conseguem enfatizar o som que vem de um determinado
ponto, pois ele analisa todos os sons captados e prioriza aqueles que chegam mais
rápido ao microfone (que estará direcionado para o ângulo que queremos captar). Se
prestarmos atenção, também é dessa forma (considerando o lado que o som chega
primeiro) que conseguimos realizar a localização sonora.
Na Figura 8, podemos ver claramente a diferença de captação de ambos os microfones
e precisamos, conforme exemplos dados acima, analisar quais situações auditivas
necessitarão de um ou do outro microfone.

31
Unidade II | Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II

Figura 8. Exemplo de ângulo de captação de microfones omnidirecionais e direcionais.

Omnidirecional Direcionail

Fonte: https://magroove.com/blog/pt-br/.

É importante ressaltar que o aparelho auditivo pode possuir apenas um tipo ou até os
dois microfones que serão ativados a depender da regulagem realizada. Além disso,
pode-se programar para que essa mudança de microfone aconteça de forma manual
(paciente aciona a mudança) ou de maneira automática.

Os aparelhos que possuem mais tecnologia chegam a ter dois microfones (um para fala
e um para o ambiente). Isso faz com o que indivíduo possa ter a fala priorizada, mas
ainda possa ouvir com clareza os sons dos ambientes. Muitos aparelhos com apenas
um microfone, para conseguirem focar na fala, tornam os sons ambientais confusos,
muitas vezes semelhantes ao ruído. Nesse caso, pacientes que apresentam dificuldade
em algumas habilidades auditivas, como figura-fundo, se beneficiam de forma efetiva
da tecnologia que faz uso de dois microfones.

Amplificador

O amplificador é o processador do aparelho auditivo, ou seja, é ele que tem a função


de aumentar a amplitude do sinal elétrico (ou seja, o som captado pelo microfone e
transformado em sinal elétrico), sendo responsável pelas características de ganho do
dispositivo, além das modificações que desejam ser realizadas no som. Esse ganho pode
ser alterado por sistemas específicos, que podem ser ajustados durante a adaptação
do paciente.

A tecnologia contida no receptor será considerada a tecnologia do aparelho auditivo e


pode ser classificada em três tipos de tecnologia: analógica, híbrida e digital. Devido à
importância que o conhecimento desses tipos de tecnologias tem, em breve veremos
cada uma de forma detalhada.
32
Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II | Unidade II

Receptor
O receptor faz o movimento contrário do microfone e transforma o som amplificado
em onda sonora e a transmite à orelha do indivíduo. A saída máxima gerada por cada
receptor acontece em função de seu tamanho: quanto maior um receptor, normalmente
maior é a saída possível, ou seja, mais alto o som será. Por esse motivo, ele condiciona
o tamanho do aparelho auditivo, uma vez que o microfone e o amplificador variam
muito pouco de tamanho). Uma saída para essa questão foi a criação de aparelhos
receptora no canal (que veremos à parte também em outro módulo).

Pilhas
Por fim, além de todos os componentes que processam o som e o modificam, há a
necessidade de uma fonte de energia que consiga fazer o aparelho auditivo funcionar,
uma vez que eles são um dispositivo elétrico. Por isso, dizemos que as pilhas são a fonte
de energia. Hoje são utilizadas pilhas confeccionadas especificamente com a finalidade
de serem usadas em aparelhos auditivos, diferente dos antigos aparelhos de caixa que
usavam pilha AA. Isso é de grande vantagem, uma vez que elas mantêm uma tensão
praticamente constante durante sua vida útil.
As pilhas usadas em aparelhos auditivos atualmente são do tipo zinco-ar, o que significa
que só funcionam com o contato com o ar, sendo possível armazená-las por mais tempo
sem desgaste. Isso acontece porque as pilhas são vendidas com um lacre que não permite o
contato com o ar. Esse lacre deve ser retirado apenas no momento em que a pilha for ser
utilizada, fazendo com que o ar entre em contato com a pilha e ela comece a funcionar.
A escolha do tamanho da pilha irá depender do tamanho do aparelho e quanto de potência
ele possui, uma vez que quanto menor a pilha, menor sua capacidade e quanto maior a
potência ou tecnologia dos aparelhos, mais energia é necessária para seu funcionamento.
Atualmente existem quatro tamanhos: 10, 312, 13 e 675 (ordem crescente de tamanho
e de potência), como observamos a seguir:
Figura 9. Exemplo de pilhas para aparelhos auditivos.

675
13

312 10
Fonte: https://cronicasdasurdez.com/quanto-tempo-dura-uma-pilha-de-aparelho-auditivo/.

33
Unidade II | Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II

A média de duração das pilhas é: pilha 10 entre 3 e 5 dias, pilha 312 entre 10 e 12
dias, pilha 13 entre 15 e 20 dias e pilha 675 entre 30 e 40 dias. Esse tempo médio de
duração das pilhas pode parecer pouco, mas precisamos lembrar- quanta tecnologia e
processamento o aparelho auditivo faz uso, além de ter em mente que a média de uso
ideal (utilizada para fazer a média de duração da pilha) é de 16 horas/dia, uma vez que
se deve usar o aparelho auditivo o tempo todo.

Outro fato que influencia diretamente o gasto da pilha é o manuseio correto dos
aparelhos e o uso de conectividade (o uso de bluetooth, por exemplo, aumenta bastante
o consumo de pilhas).

É muito importante reforçar para o paciente que ele precisa usar pilhas específicas
de aparelho auditivo, algumas pilhas de relógio apresentam formato semelhante e
alguns pacientes tendem querer usá-la. Porém o uso da pilha de relógio é prejudicial
ao aparelho. Também é necessário deixar claro que pilha é um custo de manutenção
constante, sendo sempre necessário comprá-las.

As pilhas são o outro dispositivo que, além do receptor, influenciam no tamanho do


aparelho auditivo. Aparelhos auditivos menores terão que fazer uso de pilhas menores,
que terão menos carga e, por consequência, irão durar menos. É por isso que aparelhos
que precisam ser muito potentes não podem ter pilhas pequenas, pois precisam de
muita energia.

Atualmente, existe a opção do aparelho recarregável, onde não é necessário a troca de


pilha constante, havendo apenas a necessidade de se carregar o aparelho, como fazemos
com nosso celular. Essa opção vem despertando bastante interesse dos usuários, mas
como tudo no AASI, também não é indicado para todo mundo e seu uso deve ser
avaliado.

Diante do que vimos até agora, podemos observar que conhecer os componentes nos
ajuda a ter o raciocínio clínico mais efetivo no momento da seleção e adaptação. Porém,
além de saber como os aparelhos auditivos funcionam e seus componentes, precisamos
saber como eles são classificados, a fim de compreender todas as possibilidades de
adaptação existentes.

Classificação dos aparelhos auditivos


Quando falamos em classificação, observamos que os AASIs podem ser classificados
de diversas formas, levando em consideração diversos parâmetros. Ao conhecer e

34
Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II | Unidade II

entender essas classificações, nós conseguimos determinar em quais situações ele é


indicado, além de saber quais recursos ele possui e o mais importante: sabemos todas
as possibilidades possíveis e para poder escolher a melhor para o nosso paciente.

Veremos a seguir as principais classificações que são utilizadas.

Classificação quanto à locação dos aparelhos auditivos

Essa é a classificação mais usada quando vamos falar de aparelhos auditivos. Eles podem
ser classificados de acordo com o local de uso, ou seja, posição em que o microfone
se encontra em relação ao corpo. Vejamos quais são cada uma dessas possibilidades:

1. Convencionais (ou caixa).

2. Retroauriculares (BTE):

› Retroauriculares.

› Minirretroauriculares.

› Microrretroauriculares.

3. Intra-aurais:

› Intra-auriculares.

› Intracanal.

› Microcanal.

Agora vamos falar um pouco sobre cada um deles, observando suas vantagens,
desvantagens e indicações.

Convencionais (ou caixa)

Neste tipo de aparelhos, todos os componentes eletrônicos estão localizados em uma


caixa, geralmente presos na roupa na altura do peito. A caixa é conectada através de
um fio a um receptor externo, que é acoplado à orelha por um molde auricular direto.
Esse modelo é normalmente usado, hoje em dia, em casos de adaptações por via óssea,
em que o receptor é do tipo vibrador (não permitindo a colocação dos dispositivos do
aparelho junto ao receptor que irá vibrar). Para casos de adaptação convencional por
via aérea, esses tipos são cada vez menos utilizados.

Podemos observar a seguir um exemplo de aparelhos auditivos de caixa.

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Unidade II | Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II

Figura 10. Exemplo de aparelho de caixa.

Fonte: https://www.museudoaparelhoauditivo.com.br/acervo.php.

Vantagens:

» Menor risco de realimentação acústica (aparelho com microfonia, apitando).

» Controles externos maiores e fáceis de manipular (indicados para pacientes


com dificuldades manuais).

» Pilhas convencionais – maior facilidade de acesso.

» Maior durabilidade e resistência.

Desvantagens:

» Localização sonora – o som é captado pela caixa, ou seja, distante dos ouvidos,
podendo, muitas vezes, passar uma falsa sensação de localização sonora.

» Resposta de frequências – por serem modelos menos tecnológicos, apresenta


uma limitação de regulagem.

» Estética.

Indicação:

» Pacientes com perda profunda – por possuir um tamanho maior, permite


um receptor de maior tamanho, possibilitando um maior ganho (porém até
para esse caso existem aparelhos menores atualmente).

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Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II | Unidade II

» Pacientes com limitações motoras importantes – por ter um maior tamanho,


apresenta uma fácil manipulação.

» Adaptação de aparelhos por vibração.

Retroauriculares (BTE)

Os aparelhos retroauriculares são o tipo de aparelho mais utilizado atualmente, uma


vez que permitem a adaptação de perdas de grau leve a profundo. Nessa categoria,
estão inclusas todas as próteses que ficam localizadas atrás do pavilhão auricular.
Com essa localização, o microfone fica em uma posição equivalente à parte superior
do pavilhão e um tubo contorna a parte frontal (une o aparelho ao MAE e transmite
o som), conforme podemos observar abaixo:

Figura 11. Exemplo de aparelho de BTE.

Fonte: https://www.direitodeouvir.com.br/aparelhos-auditivos/retroauricular.

Nesse modelo, todos os componentes (microfone, amplificador e receptor) estão dentro


do corpo do equipamento, com exceção dos receptores de canal (RIC), no qual, como
o nome já diz, o receptor se localiza na ponta do fio dentro do canal auditivo.

Uma subclassificação realizada dentro dos aparelhos BTEs acontece conforme o seu
tamanho e a pilha compatível, como observamos abaixo:

» Retroauriculares (pilha 675) maior

» Minirretroauriculares (pilha 13) ↓

» Microrretroauriculares (pilha 312) menor

Na figura 12, podemos observar a diferença de tamanhos entre os BTEs de acordo


com a classificação citada.

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Unidade II | Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II

Figura 12. Exemplo de aparelhos auditivos BTE.

Microretroauriculares Miniretroauriculares Retroauriculares


Fonte: https://otoclinic.com.br/qual-e-o-melhor-aparelho-auditivo/.

Vantagens:

» Menor risco de realimentação acústica (aparelho com microfonia, apitando).

» Controles externos maiores e fáceis de manipular (indicados para pacientes


com dificuldades manuais).

» Maior durabilidade e resistência.

» Pode ser adaptado em qualquer perda auditiva.

Desvantagens:

» Localização sonora (parcialmente) – o som é captado pelo microfone que


está atrás do pavilhão. Esse não é o local de captação natural do som (canal
auditivo externo), porém é bem próximo e na maioria das situações não
apresenta prejuízo.

» Estética – dependendo da perda auditiva e das necessidades de ajustes, o


aparelho e o molde precisarão ser maiores.

Indicação:

» Qualquer perda auditiva.

Atualmente, com o avanço tecnológico, desenvolveu-se um aparelho microrretroauricular,


cujo receptor está na ponta do tubo que conecta o aparelho ao canal auditivo, tendo, por
38
Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II | Unidade II

isso, o nome de receptor no canal (RIC). Nesses modelos, o principal componente que
era o responsável pelo tamanho (maior ou menor) dos aparelhos foi colocado na ponta
de um tubo, que é inserido dentro do ouvido e retirado do corpo do aparelho auditivo.
Com isso, o tamanho dos aparelhos diminuiu bastante e não está mais relacionado
com a potência de amplificação, apenas ao tamanho da pilha. Esses aparelhos são
considerados os mais evoluídos tecnologicamente.

Figura 13. Exemplo de aparelho auditivo receptor no canal.

Fonte: http://www.audioclean.com.br/aparelhos-auditivos/receptor-no-canal.

Como podemos observar acima, nesses aparelhos, o fio que possui o receptor está fora
do restante do aparelho, com isso, independentemente do grau da perda auditiva, o
tamanho do aparelho se mantém. O fio que conecta o aparelho ao receptor e ao canal
auditivo é bem fino, o que também contribui para que, mesmo sendo retroauricular, o
aparelho fique bem mais discreto. Além disso, em casos de piora importante da audição,
apenas o fio que possui o receptor é trocado para adequação à perda do paciente, uma
vez que o receptor é o componente responsável pela intensidade sonora apresentada.

Uma questão importante que deve ser observada na indicação de aparelhos RIC é a
destreza manual, habilidade de manuseio e cuidado do paciente. Esse é um aspecto mais
importante nesse modelo, pois temos que lembrar que um componente do aparelho (o
receptor) não está protegido dentro da estrutura do aparelho, mas sim mais exposto
na ponta do fio que inserimos no ouvido, protegido pela oliva, ou seja, o paciente irá
manipular. Além disso, pacientes com otorreia crônica ou muita descamação não têm
a indicação do uso desse modelo, pois tais alterações podem vir a danificar o receptor.
Por último, nesses pacientes é importante fazer um controle mais rígido da presença
de cera, uma vez que ela pode entrar em contato com o receptor, entupi-los ou até
danificá-los.

Na ponta do receptor há um dispositivo chamado protetor de cera, que, como o


nome já diz, possui a função de proteger o receptor de qualquer cera que haja no
meato acústico do paciente. A cera, em vez de entrar em contato com os dispositivos

39
Unidade II | Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II

internos do receptor, fica bloqueada no protetor. Quando o volume de cera é muito


grande, o receptor entope, a amplificação deixa de ser conduzida ao ouvido do paciente,
deixando o aparelho mudo. Porém basta a troca do protetor entupido por um novo
que o problema é solucionado.

Sempre que um paciente chegar com um aparelho RIC com queixa de que ele está
mudo ou parou de funcionar, além de checar se a pilha está com carga, devemos
conferir se o protetor não está entupido e, caso esteja, basta fazer a troca. Oriento
que a troca seja feita apenas pelo fonoaudiólogo, uma vez que delegar a função a
esse paciente pode acabar acarretando algum procedimento errado que danifique
o receptor.

Intra-aurais

Nos modelos de aparelho intra-aurais, todos os componentes estão dentro de uma


cápsula auricular inserida no ouvido do usuário (na área da concha e meato acústico
externo). Esse tipo de dispositivo pode ser adaptado em graus de perdas auditivas
de leve a moderadamente severo, sempre condicionado ao tamanho do ouvido do
paciente.

Aqui, é importante observar que, quanto menor for possível fazer esse aparelho,
mais interno no meato acústico externo ele será inserido, proporcionando maior
aproveitamento das funções acústicas da orelha, localização do som e ênfase nas
frequências altas. Porém esse tipo não é indicado em casos que há necessidade de
ventilação da orelha externa, como em perdas descendentes com graves preservados
e otite média de repetição.

Nesse modelo, da mesma forma que acontece com do BTEs, também há uma classificação
conforme seu tamanho, ou seja, conforme o espaço que ocupam na orelha externa,
conforme podemos observar abaixo:

» Intra-auricular (ITE) maior

» Intracanal (ITC) ↓

» Microcanal (CIC) menor

Na figura abaixo, podemos observar a diferença de tamanhos entre os BTEs de acordo


com a classificação citada.

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Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II | Unidade II

Figura 14. Exemplo de aparelhos auditivos intra-aurais.

ITC ITE CIC

Fonte: http://www.audiometracenter.com.br/faq/quais-sao-os-tipos-de-aparelhos-auditivos/.

Veremos agora cada um desses tipos de forma detalhada, para que possamos saber
escolher de forma certa cada um deles a depender das demandas do nosso paciente.

Intra-auricular (ITE)

Na sua confecção, os intra-auriculares irão ocupar parte do meato acústico externo e


do pavilhão auricular (concha). Por possuírem um maior tamanho e comportarem um
receptor maior, são indicadas para perdas auditivas leves a moderadamente severas
(maior espaço para colocação dos dispositivos). Na figura abaixo, podemos observar
de forma mais detalhada o ITE.

Figura 15. Exemplo de aparelhos auditivos intra-auriculares.

Fonte: http://www.audioclean.com.br/aparelhos-auditivos/intra-auricular.

Intracanal (ITC)

Os aparelhos intracanais localizam-se inteiramente no MAE, mas sua superfície


externa fica aparente na concha. Os menores podem ser chamados de minicanal.
Por serem já de um tamanho menor que os ITEs, sua indicação depende mais do
tamanho do ouvido do paciente. Casos em que o MAE é estreito podem inviabilizar
o uso de ITC em perdas auditivas acima de moderadas. Na figura a seguir, podemos
observar de forma mais detalhada o ITC.

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Unidade II | Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II

Figura 16. Exemplo de aparelhos auditivos intracanal.

Fonte: http://www.audioclean.com.br/aparelhos-auditivos/intra-auricular.

Microcanal (CIC)

Os aparelhos auditivos no modelo CIC são um dos mais solicitados pelos pacientes, pois
são os que menos aparecem no ouvido do paciente. Esse tipo localiza-se inteiramente
no MAE, com uma colocação mais profunda. Por esse motivo, para sua confecção é
necessária a presença de um fio conectado à prótese para facilitar a sua retirada. Nesse
modelo, o tamanho do ouvido do paciente é determinante para sua possibilidade de
uso ou não, sendo não viável seu uso em condutos estreitos. Também por conta do
seu tamanho, perdas auditivas que exigem mais ganho não são indicadas, sendo então
esse modelo mais utilizado em perdas auditivas leves.

Figura 17. Exemplo de aparelhos de microcanal.

Fonte: http://www.audioclean.com.br/aparelhos-auditivos/microcanal.

Como observado, a escolha do aparelho intra-aural dependerá de aspectos como anatomia


do ouvido do paciente, perda auditiva, destreza manual. Como qualquer tipo de aparelhos
auditivos, eles apresentam vantagens e desvantagens que podemos observar abaixo:
Vantagens:
» Estética.

» Localização sonora – som captado em posição natural.

» Menor risco de realimentação acústica (aparelho com microfonia, apitando).

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Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II | Unidade II

Desvantagens:

» Controles externos menores (mais difíceis de manipular) ou inexistentes.

» Menor resistência.

» Depende do tamanho do ouvido paciente.

» Não indicado para perdas auditivas em que não se orienta a oclusão do


ouvido (perdas auditivas descendentes e otites médias).

Indicação:

» Pessoas com destreza manual, perda auditiva e tamanho de MAE incompatíveis.

Por estarem inseridos dentro do meato acústico, os aparelhos intra-aurais também não
são indicados em caso de otorreia e de descamação excessiva, pois podem danificar o
dispositivo. Eles também possuem protetor de cera e todos os cuidados com o acúmulo
de cera que envolvem os aparelhos RIC também se aplicam aqui.

Foi possível observar a variedade de aparelhos auditivos quando classificamos por sua
localização. Entender quando cada um é indicado é um dos principais passos para a
adaptação de sucesso.

Classificação quanto ao modo de transmissão


Os aparelhos auditivos também podem ser classificados de acordo com a forma pela
qual transmitem o som, sendo por via aérea ou por via óssea. Os aparelhos que fazem
transmissão por via aérea (via natural pela qual ouvimos) são amplamente utilizados.
Já os que transmitem por via óssea, transmitem o som direto à cóclea do paciente,
através de um vibrador ósseo. Ele é indicado em casos específicos de malformações
de pavilhão auricular e do conduto auditivo.

Todos os aparelhos citados acima na classificação quanto à localização são de transmissão


por via aérea e, sempre que possível, esse deve ser o modo priorizado por ser a
transmissão que ocorre na audição natural.

Porém, em casos de malformações em que, por exemplo, não há pavilhão auricular ou


MAE, o uso da transmissão por via óssea permite que o paciente possa ouvir o som de
forma efetiva. Na figura 18, podemos observar como é um aparelho de transmissão
por via óssea.

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Unidade II | Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II

Figura 18. Exemplo de aparelho de transmissão por via óssea.

Fonte: http://portalotorrinolaringologia.com.br/pr%C3%B3teses-de-condu%C3%A7%C3%A3o-%C3%B3ssea.php.

Classificação quanto ao tipo de adaptação


A adaptação de um aparelho auditivo pode ser binaural ou unilateral. A adaptação
binaural é a desejada em todos os casos em que ela é necessária, ou seja, casos em que
existem dois lados com perda auditiva que se beneficiam com o uso do AASI. Isso
acontece, pois ela possibilita a reabilitação de funções auditivas, como por exemplo,
a somação binaural e a localização sonora.

Já o uso de aparelhos de maneira unilateral é indicado em casos de um lado normal


e outro lado com perda auditiva amplificável, ou lado com uma perda auditiva não
amplificável e outro lado amplificável. Nesse último caso citado, desenvolveu-se o
sistema CROSS/BICROSS a fim de tentar restabelecer a audição natural.

Como já dito anteriormente, algumas vezes o paciente com indicação de adaptação


bilateral só deseja usar em um lado, muitas vezes achando que dessa forma será mais
discreto ou até que usar dos dois não é necessário. Faz parte do nosso papel explicar de
forma clara e convincente a importância do uso bilateral para manutenção das funções
auditivas. Caso a questão seja financeira, nos casos de perda auditiva amplificável
bilateral, é melhor adaptarmos de forma bilateral um aparelho menos tecnológico do
que de forma unilateral um com mais tecnologia.

Existem três principais tipos de classificação para os aparelhos auditivos.

» Classificação quanto à localização = convencionais (ou caixa), retroauriculares


BTE (atenção ao receptor no canal) e os intra-aurais.

44
Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II | Unidade II

» Classificação quanto ao tipo de transmissão = por via aérea ou por via óssea.

» Classificação quanto ao tipo de adaptação = bilateral ou unilateral.

45
CAPÍTULO 2
Tipos de processamento de sinal

Um ponto muito importante durante o processo de adaptação e seleção do ASSI é saber


como o dispositivo processa o sinal sonoro. Com o avanço tecnológico, a grande maioria
dos aparelhos auditivos atuais possui um processamento de sinal digital. Porém, ainda
existem alguns raros com processamento analógico ou híbrido, principalmente aqueles
que já foram adaptados há algum tempo e, com um bom manuseio e manutenção por
parte do paciente, ainda estão em funcionamento.
O fonoaudiólogo que trabalha com aparelho auditivo pode se deparar com qualquer
uma dessas tecnologias, uma vez que não é rara a situação de termos que regular um
aparelho de um paciente já adaptado há muito tempo. Por isso, precisamos conhecer
e entender todas as tecnologias. A seguir, veremos cada uma delas de forma detalhada.

Tecnologia analógica
Os aparelhos auditivos analógicos, como o nome já diz, utilizam um sinal analógico, ou
seja, realizam um processamento analógico do sinal utilizando a eletrônica convencional
para converter a onda sonora em sinal elétrico. Como resultado disso, temos uma onda
elétrica, que será amplificada, muito semelhante à onda sonora captada, conforme
observado no esquema abaixo.
Figura 19. Exemplo esquemático de como acontece amplificação analógica.

ONDA SONORA ONDA ELTRICA


SEMELHANTES!!!

Fonte: elaborada pelo autor.

Nesse tipo de amplificação, não há a possibilidade de quase nenhuma modificação do som,


sendo basicamente realizado apenas o aumento da intensidade do som, que será fornecido
ao paciente com a mesma característica que foi captado, como demonstra a figura 20:
Figura 20. Exemplo esquemático de uma amplificação analógica.

Fonte: elaborada pelo autor.

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Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II | Unidade II

A amplificação com processamento analógico apresenta como vantagem o seu baixo


custo, baixo consumo de energia e grande potência, por isso era indicado para pacientes
com perdas profundas ou com muita restrição financeira para compra.
Já como desvantagens, tem a menor possibilidade de ajustes, tornando a maior parte
das adaptações e regulagens difícil e imprecisa, uma vez que são realizadas de forma
manual, através de controles externos, conforme observado na figura abaixo:

Figura 21. Dispositivo de regulagem dos aparelhos analógicos.

L
Trimmers
L Controle das frequências baixas
H
H Controle das frequências altas
MPO – Controle e saída máxima

MPO
Fonte: https://naoescuto.com/aparelhos-auditivos/e-essa-tal-de-tecnologia-dos-aparelhos-auditivos/.

Como observado na figura 20, os aparelhos analógicos são regulados com uma ferramenta
que gira o trimmer e nos permite controlar apenas saída máxima, amplificação de graves
e agudos. Outro problema é que a regulagem não pode ser salva e é perdida a cada
nova modificação. Uma possibilidade para “deixar registrada” a regulagem realizada é
desenhar a posição em que a chave que giramos ficou após regularmos.
Se formos pensar nas indicações desse tipo de amplificação, seriam ad perdas auditivas
profundas, em que o principal é uma amplificação com muita potência, e casos de
perdas auditivas condutivas, em que o que o paciente precisa apenas de ganho que
compense o condutivo, mas não precisa de tecnologia que o auxilie na discriminação,
pois não há lesão sensorioneural.
As principais vantagens dessa tecnologia são o custo. Aparelhos auditivos com
processamento analógico custam bem menos e exigem menos dispositivos para sua
adaptação. Além disso, possuem uma potência importante.

Tecnologia híbrida
Nesse tipo de tecnologia, a amplificação ainda é realizada de forma analógica, porém os
ajustes não são realizados de forma manual, mas sim através de programa no computador,
através de um chip colocado no aparelho auditivo, conforme observamos o esquema
abaixo. Essa possibilidade torna a regulagem mais precisa, além de possibilitar que os
ajustes realizados sejam salvos e, se necessário, acessados para um novo ajuste.

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Unidade II | Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II

Figura 22. Exemplo esquemático de como acontece a amplificação híbrida.

ONDA SONORA ONDA ELTRICA

Chip

Fonte: elaborada pelo autor.

Essa nova possibilidade de adaptação torna a regulagem mais precisa, além de possibilitar
que os ajustes realizados sejam salvos e, se necessário, acessados para um novo ajuste.
Na figura abaixo podemos observar, através do exemplo esquemático, que o som ainda
continua sendo o mesmo, porém já apresenta um pouco mais de rebuscamento no som final.
Figura 23. Exemplo esquemático de uma amplificação híbrida.

Fonte: elaborada pelo autor.

A partir dessa tecnologia, uma interface que faça a ligação entre o aparelho e o
computador se torna necessária. Há um equipamento de nome HIPRO, que podemos
observar na figura 24, que faz essa conexão, independentemente da marca utilizada.
Mas também existem marcas que possuem seu próprio dispositivo, principalmente
se essa conexão for realizada sem fio.
Figura 24. Exemplo de HIPRO.

Fonte: https://www.marcamedica.com.br/programador-hi-pro-2-para-aasi-aparelhos-auditivos/.

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Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II | Unidade II

Atualmente, com o desenvolvimento tecnológico, o processamento híbrido não é mais


tão usado, considerando que, apesar de apresentar o processamento igual à tecnologia
analógica, seu custo já é mais elevado, uma vez que necessita de um chip e de dispositivos
para conectar os aparelhos ao computador para poder realizar a regulagem. Dessa forma,
a principal vantagem do uso dos aparelhos que é baixo custo não está presente em
aparelhos auditivos híbridos.

Tecnologia digital
Na tecnologia digital, depois que o som é transformado em sinal elétrico, ele é filtrado
para limitar as frequências que entram no conversor, então é transformado em
sinal digital, processado e reconvertido em sinal elétrico. Ou seja, o sinal acústico é
transformado em sinal binário, processado e depois volta a ser transformado em sinal
acústico modificado, conforme podemos observar no esquema abaixo.

Figura 25. Exemplo esquemático de como acontece a amplificação digital.

ONDA ELTRICA DÍGITOS DO


ONDA SONORA MIOPROCESSADOR
11000111 11100010101
10011001 10001000100
11100010 1111000001

Fonte: elaborada pelo autor.

A grande vantagem dessa tecnologia são as possibilidades de regulagem e modificação


do som. Através dela, é possível realizar divisão e ajuste do sinal em um número quase
infinito de canais, transpor informações de uma região de frequências para outra e
fazer processos sofisticados de redução do ruído, por exemplo. Tudo isso possibilita
que o som oferecido ao paciente seja o som que ele tem a melhor possibilidade de
ouvir, conforme podemos ver no esquema abaixo:

Figura 26. Exemplo esquemático de uma amplificação digital.

Fonte: adaptada de: http://ego.globo.com/famosos/noticia/2012/06/ex-de-katy-perry-leva-mae-premiere-que-tambem-tem-tom-cruise.html.

49
Unidade II | Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II

A amplificação digital também necessitará de um dispositivo que faça ligação do AASI


com o computador, como o HIPRO, como já exemplificado. Além disso, também há
a possibilidade de salvar as regulagens.
Como vantagens da tecnologia digital, podemos listar a melhor capacidade de
processamento do sinal, sendo fundamental em pacientes recrutantes, com perdas auditivas
de configurações descendentes, além de casos com baixo índice de reconhecimento de
fala. O controle automático de feedback também previne a microfonia e o controle de
ruído auxilia que a fala seja enfatizada. Por fim, muitos aparelhos também conseguem
realizar ajustes automáticos para se adaptar ao ambiente auditivo. Infelizmente, toda
essa tecnologia tem um custo e, por isso, aparelhos digitais possuem um preço mais
elevado quando comparados às demais tecnologias.
A tecnologia digital é amplamente utilizada nos dias atuais e compõe a grande maioria
dos aparelhos adaptados atualmente. Apesar da grande evolução tecnológica que esses
tipos de aparelhos já passaram, o estudo e a evolução dos AASIs continuam a acontecer.

Diante do que já vimos, precisamos nos perguntar: qual tecnologia escolher?

Atualmente, podemos dizer que até os aparelhos mais básicos são digitais, o
que é muito bom, pois podemos oferecer ao nosso paciente uma amplificação
com muito mais recursos. Porém precisamos lembrar que existem pessoas que
usam aparelho há 20, 30 anos e que, quando começaram a fazer uso, a tecnologia
existente era só a analógica e é a essa tecnologia que eles são adaptados.

Claro que muitos pacientes aceitam testar a tecnologia digital e se adaptam a


ela, porém existe aquela parcela que necessita ou quer ouvir como sempre com
seus aparelhos analógicos. Então, como fazer?

Nesses casos, é interessante lançar mão de ajustes menos rebuscados, com


regras prescritivas, tornando o aparelho digital “mais analógico possível”, afinal
o importante é que o paciente esteja bem adaptado!

São por essas situações e por existirem pessoas no mercado com uso de aparelhos
antigos ainda analógicos que, mesmo só sendo produzidos aparelhos digitais
atualmente, precisamos ter conhecimento de todos os tipos de processamento
de sinal.

50
CAPÍTULO 3
Características eletroacústicas do AASI

Após entendermos melhor quais tecnologias estão envolvidas no processamento do som


em um aparelho auditivo, precisamos agora compreender as principais características
eletroacústicas que fazem parte dessa amplificação, para que então possamos entender
os dois tipos de amplificação que podemos utilizar: a linear e não linear. As três
principais características eletroacústicas são ganhos acústicos, resposta de frequência
e saída máxima e serão elas que iremos detalhar agora.

Durante o processo de adaptação ou regulagem de um AASI, às vezes é necessário


mexer em suas características eletroacústicas e, para que possamos fazer isso
de forma correta, precisamos entender cada uma de forma individual e quais
queixas podem estar relacionadas a elas, além de ter em mente qual modificação
será necessária.

Ganho acústico
O ganho acústico pode ser definido com a quantidade de amplificação fornecida por
uma prótese auditiva. Ele tem também como definição a diferença de intensidade
em decibéis (dB), entre o som que sai e o som que entra na prótese auditiva. Por
estar ligada à quantidade de som que será acrescida ao som captado, o ganho acústico
apresenta relação direta com o grau da perda auditiva do indivíduo (quanto maior a
perda auditiva, maior será a amplificação/ganho).

O aparelho auditivo, em seu manual, tem descrito quanto de ganho possui. Essa
informação está relacionada ao receptor utilizado. Com isso, temos aparelhos auditivos
com ganho para serem usados para perdas auditivas leves, outros com ganho para
perda auditiva moderada, outras para severa e outra para profunda. Lembrando que os
modelos RIC podem ter qualquer ganho necessário para a perda auditiva apresentada,
sendo necessária apenas a troca do receptor pelo que forneça o ganho necessário ao
paciente.

Abaixo podemos observar dois exemplos de como podemos pensar em ganho acústico
quando falamos de aparelhos auditivos:

Exemplo 1:

Ganho acústico = 40 dB
Fornece ao usuário após processamento = 100dB
Som ambiente = 60 dB

51
Unidade II | Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II

No exemplo acima, podemos calcular quanto de intensidade o som ambiente será


apresentado no ouvido do paciente levando em conta o ganho que o AASI apresenta.
Esse cálculo é importante, pois precisamos analisar se o som apresentado após o
processamento poderá ser ouvido pelo paciente de acordo com a perda auditiva.

Som ambiente = 30dB


Fornece informação sobre o ganho = 40dB
Som após processamento = 70dB

Exemplo 2:

O exemplo acima, apesar de não ser muito corriqueiro, nos ajuda a pensar sobre o
que realmente significa o ganho acústico, uma vez que é uma das características mais
importantes do AASI.

Vale a pena ressaltar que sempre que escolhemos um aparelho para determinada perda
auditiva, não escolhemos com o ganho igual ao que o paciente precisa. Sempre precisamos
escolher um AASI com ganho um pouco a mais que o necessário, pois precisamos
levar em conta que a perda auditiva pode piorar e que audição é muito individual;
um paciente pode precisar de mais ganho que o inicialmente pensado e outro pode
precisar de menos. É devido a isso que nos ajustes podemos alterar o ganho do aparelho.

A seguir, veremos exemplos de queixas relacionadas a problemas com ganho e como


poderíamos resolvê-las:

» “Parece que tudo está estrondando”.

» “Não vou me acostumar com tanto barulho”.

» “O shopping mais parece um campo de guerra”.

As queixas acima estão, normalmente, relacionadas a ganhos muito altos,


além do que o paciente necessita. Uma característica importante é que o
paciente não refere que o som baixo ou o alto estão incomodando, mas sim
os de todas as intensidades. Nesses casos, o ganho deve ser diminuído aos
poucos, sempre conferindo se o paciente refere melhora para que não corra
o risco de reduzir demais o ganho e o aparelho acabe ficando baixo demais.

» “Está a mesma coisa ouvir com e sem AASI”

Já a queixa acima se refere a um ganho acústico insuficiente, cuja amplificação


ainda não compensa a perda auditiva existente. Da mesma forma que a sua

52
Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II | Unidade II

diminuição deve ser gradativa, o seu aumento, que seria o ajuste indicado
para queixa, também deve.

Resposta por frequência


Resposta de frequência pode ser definida com a resposta do sistema de amplificação
para cada frequência dentro da faixa de frequência do aparelho. Aparelhos
auditivos que possuem esse recurso possuem um ganho específico para cada
frequência, em vez de apenas um ganho para qualquer frequência captada.
Essa característica possui relação direta com a configuração do audiograma,
permitindo um ajuste mais detalhado, levando em conta cada limiar pesquisado na
audiometria.

Esse tipo de características tem que estar presente em aparelhos quando o paciente
não possui uma perda auditiva plana, como é o caso das perdas auditivas de
configuração descendente, em que os graves muitas vezes são normais e não precisam
de amplificação e os agudos já possuem uma alteração maior, precisando assim de
amplificação.

Atualmente, os aparelhos auditivos apresentam uma amplificação por canal, o que


significa que o som é dividido em diversos canais, sendo cada canal composto por uma
ou mais frequência e, então, cada canal realiza uma amplificação própria. Quanto mais
canais o aparelho possui, mais tecnologia ele contém.

Abaixo veremos algumas queixas relacionadas à necessidade de ajuste na resposta por


frequência:

» “A voz da minha mãe está parecendo voz de homem” – nesses casos os sons
graves estão muito amplificados e os agudos pouco, sendo apenas ouvidas
as frequências graves do som.

» “Como o barulho do papel está forte! Está tudo estalando” – essa situação
acontece quando a amplificação do som agudo está acima do necessário.
Podemos observar pela queixa que apenas os sons agudos incomodam.

Da mesma forma que acontece quando vamos realizar um ajuste no ganho, os ajustes
levando em conta a resposta por frequência também deve ser de forma gradativa e
cautelosa, sempre checando se ficou bom a cada modificação.

53
Unidade II | Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II

Saída máxima
A saída máxima pode ser definida como o maior nível de pressão sonora que a
prótese deve ou é capaz de produzir. Está relacionado ao quanto de amplificação
é necessária para o caso. Essa característica possui relação direta com o nível de
desconforto do paciente (limite a partir do qual qualquer som mais forte se torna
desconfortável).

Um paciente que necessita de atenção especial são aqueles com recrutamento objetivo
de Metz (que possuem perda auditiva sensorioneural). Sua adaptação deve ter bastante
atenção à sua saída máxima. Nesses casos, é orientado colocar no software de adaptação
os limiares de desconforto.

É muito importante que o paciente descreva suas queixas de forma mais precisa possível
e, caso julgue necessário, precisamos fazer perguntas para conseguir identificar qual
é o real problema.

Realizar a pesquisa do limiar de desconforto é importante para a adaptação do


AASI, pois evita que o aparelho amplifique o som além da intensidade que se
torna desconfortável. Para compreender melhor sobre essa pesquisa, sugiro a
leitura do artigo da “Pesquisa do limiar de desconforto auditivo em pacientes com
hipersensibilidade auditiva”, disponível em: https://revistas.pucsp.br/dic/article/
view/11896. Acesso em: 19 out. 2021.

A seguir, vemos uma queixa que normalmente está relacionada à saída máxima,
lembrando que durante a regulagem o fonoaudiólogo pode determinar quanto de som
máximo pode ser fornecido ao ouvido do paciente:

» “Nem me chame para uma festa, se tiver muito barulho eu vou sem aparelho”.

Uma última característica acústica importante, talvez a mais importante, na


amplificação do som é o tipo de amplificação que esse aparelho auditivo irá realizar.
Veremos detalhadamente cada uma das duas formas: a amplificação linear e a não linear.

Amplificação linear
Quando falamos que o aparelho possui uma amplificação linear, queremos dizer que seu
ganho é constante até a saturação de amplificação, independentemente da intensidade
em que o som é captado do ambiente.

Na figura 27, podemos ver um exemplo desse tipo de amplificação:

54
Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II | Unidade II

Figura 27. Exemplo de amplificação linear.

Som Fraco Som Médio Som Forte

50 dB GANHO
FIXO
Fonte: elaborada pelo autor. https://www.istockphoto.com/br/foto/tocando-flauta-gm182780892-12866093; https://br.depositphotos.com/
stock-photos/professor-dando-aula.html;https://pt.vecteezy.com/arte-vetorial/269406-bomba-prestes-a-explodir.

O ganho linear era o encontrado nos aparelhos analógicos e híbridos, justamente


pela limitação de tecnologia que restringia a forma como o som podia ser modificado.
Atualmente, os aparelhos digitais possuem amplificação não linear, porém existem
regras prescritivas que tornam a amplificação linear e são necessárias para casos de
pacientes que, por algum motivo, precisem desse tipo de amplificação.

Abaixo, podemos observar o gráfico correspondente a esse padrão de amplificação.


Nele vemos que o ganho se mantém o mesmo, independentemente da intensidade
captada até o limite de amplificação, onde encontramos um platô.

Figura 28. Gráfico da amplificação linear.

SISTEMAS LINEARES

Saída máxima
Saída/dB

Entrada/dB

Fonte: elaborada pelo autor.

A amplificação linear não nos fornece muitas possibilidades de ajustes, não nos
permitindo auxiliar o paciente que apresenta, por exemplo, uma maior dificuldade
de discriminação ou um desempenho ruim nas habilidades auditivas. Por esse motivo,
55
Unidade II | Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II

pacientes com perdas auditivas sensoriais apresentam mais dificuldade de adaptação


com essa amplificação. Observamos que pacientes com aparelhos lineares relatam que
ele é um aparelho mais potente, porém mais barulhento, uma vez que amplifica todos
os sons de forma igual (seja som da fala ou ruído de fundo).
Se fossemos pensar em indicações do uso de uma amplificação não linear, pensaríamos
nas mesmas indicações dos aparelhos analógicos: perdas auditivas profundas e condutivas.

Amplificação não linear


Quando falamos que o aparelho possui uma amplificação não linear, nos referimos
àquele cuja amplificação não é constante, ela varia de acordo com a intensidade de
som captado até a saturação de amplificação.

Na figura abaixo podemos ver um exemplo desse tipo de amplificação:

Figura 29. Exemplo de amplificação não linear.

Som Fraco Som Médio Som Forte

70 dB 50 dB 30 dB

GANHO VARIÁVEL

Fonte: elaborada pelo autor. https://www.istockphoto.com/br/foto/tocando-flauta-gm182780892-12866093; https://br.depositphotos.com/


stock-photos/professor-dando-aula.html; https://pt.vecteezy.com/arte-vetorial/269406-bomba-prestes-a-explodir.

O ganho não linear se tornou possível com o uso da tecnologia digital, uma vez que é
necessário que o AASI analise a intensidade do som captado e então aplique o ganho
configurado para aquela intensidade. Esse tipo de amplificação possibilita um maior
conforto, principalmente naqueles pacientes com recrutamentos, pois permite que sons
mais altos não se tornem tão altos, mas que os baixos sejam amplamente amplificados.

Abaixo, podemos observar o gráfico correspondente a esse padrão de amplificação.


Nele vemos que o ganho se mantém o mesmo até um ponto e, a partir de então, o

56
Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II | Unidade II

ganho passa a ser menor até atingir a saída máxima. Esse ponto em que ocorre a
mudança de ganho é chamado de ponto joelho (esse nome foi dado porque, a partir
desse ponto, o gráfico muda um pouco de direção, ficando parecido com nossa perna
quando dobramos o joelho).

A depender da tecnologia, o aparelho pode possuir mais de um desses pontos. Na


maioria dos aparelhos existem dois pontos que determinam a mudança de ganho
para sons fracos, médios e fortes e podemos alterar o ganho para cada intensidade
separadamente. Outra opção de modificação que algumas marcas possuem é modificar
a intensidade com que essa mudança acontece, ou seja, modificar a intensidade em
que esses pontos joelhos acontecem. Dessa forma, podemos determinar a intensidade
em que será considerado som fraco, até qual intensidade será som médio e a partir de
qual será som forte.

Figura 30. Gráfico da amplificação não linear.

SISTEMAS NÃO LINEARES


Saída máxima
Saída/dB

Ponto joelho

Entrada/dB

Fonte: elaborada pelo autor.

Pacientes que usam aparelhos auditivos lineares e trocam para um não linear, de
início, se queixam de aparelho baixo, sem potência, mesmo quando o ganho escolhido
está condizente com a perda auditiva apresentada. Isso acontece pois o paciente está
acostumado a ouvir todos os sons altos, mesmo aqueles que não são necessários de
serem ouvidos alto, como o barulho do trânsito. Nesses casos, é interessante explicar
ao paciente a diferença de tecnologias e deixar claro que nem sempre ser mais alto fará
com que o som seja entendido. Em muitas situações, realizar apenas a amplificação
necessária (nem muito e nem pouco) traz a inteligibilidade de fala necessária. Por isso,
sempre proponho que o paciente vá para casa com o novo aparelho e teste. Caso ainda
não consiga entender os sons, no retorno eu realizo o aumento. Na grande maioria dos
casos, o paciente retorna referindo que continuou entendendo tudo ou até melhorou

57
Unidade II | Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II

seu desempenho e agora possui mais conforto auditivo, pois nem todos os sons ficam
muito alto.

O caso acima demonstra como é importante que nós entendamos cada tecnologia e
saibamos ter o raciocínio clínico, para entender o que está relacionado à queixa do
paciente. Além disso, precisamos ter a capacidade de explicar todos esses pontos ao
paciente de forma que ele entenda.

Um paciente que merece muita atenção e necessita muito do uso da amplificação não
linear são os pacientes com lesão de células ciliadas, ou seja, sensorial. Essa atenção é
necessária pois pode haver o recrutamento objetivo de Metz e, especialmente nesses
casos, os sons altos precisam ser menos amplificados, para não gerar intenso desconforto
ao paciente, impedindo muitas vezes o seu uso.

Se realizarmos uma análise do nosso sistema auditivo, podemos observar que


ele realiza uma amplificação não linear do som que ouvimos a todo o momento.
Quando o som é muito alto, o reflexo acústico acontece na orelha média para
evitar que o som já alto seja mais amplificado ainda. Quando o som é muito
baixo, temos um aumento da movimentação de contração das células ciliadas
externas, aumentando a movimentação da membrana tectoria e, por consequência,
aumentando a deflexão das células ciliadas internas.

Ou seja, nosso sistema auditivo de forma fisiológica não amplifica sons altos e
amplifica os sons baixos. Por esse motivo, o uso de amplificação não linear nos
aparelhos auditivos traz tanto benefício de inteligibilidade. A amplificação não
linear processa o som de forma parecida com o nosso sistema auditivo e, por isso,
auxilia na reabilitação auditiva do paciente.

Todas essas características observadas podem ser modificadas, de forma mais complexa
ou mais simples, a depender da tecnologia, mas podem ser encontradas tanto em
aparelhos analógicos quanto digitais. Sua modificação vai acontecer de acordo com
o algoritmo confeccionado por cada fabricante. Essas modificações são denominadas
ajustes básicos e são no total três: controle de ganho, controle de tonalidade e controle
de saída e se relacionam com as características já explicadas.

O controle de ganho ideal para cada indivíduo relaciona-se diretamente com sua
perda auditiva e deve ser determinada de acordo com as limitações especificadas no
catálogo do aparelho auditivo escolhido. Já o controle de tonalidade tem a função
de alterar o ganho em função da frequência do som, gerando um destaque para sons
agudos ou graves, de acordo com a necessidade do paciente. Por fim, o controle de
saída irá regular a pressão sonora máxima que será transmitida ao paciente, evitando,

58
Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II | Unidade II

assim, uma super amplificação. Ele deve sempre ser regulado abaixo do nível de
desconforto.
Para que essa modificação de ganho aconteça, de acordo com a intensidade do som
captado, um sistema chamado compressão é utilizado. A compressão é utilizada
tanto para modificar o ganho em amplificações não lineares (quando a partir de uma
intensidade é necessário fornecer menos ganho, esse menor ganho ocorre através da
compressão) como para limitar a saída máxima do som no AASI.
Para entendermos melhor o sistema de compressão, precisamos antes entender que
ela possui características estáticas e dinâmicas. Falaremos agora um pouco sobre cada
uma delas.
As características estáticas são o limiar de compressão, que já vimos acima com o
nome de “ponto joelho” (define o que será considerado um som fraco, médio ou forte)
e a razão de compressão. Esta última é responsável por definir quanto de ganho será
diminuído quando o som mais alto precisa ser menos amplificado.
Já as características dinâmicas são o tempo de ataque e o tempo de recuperação.
O primeiro refere-se ao tempo que leva para que o sistema de compressão seja ativado
e reduza o ganho e o segundo é o tempo em que o sistema leva para retornar ao ganho
inicial estabelecido.
Vistas essas características, podemos já imaginar que cada tipo de compressão irá
variar de acordo com o tipo, tempo de ativação e desativação e a quantidade de ganho
que será alterada quando ela for adaptada. Diante de tantas variáveis, a compressão se
torna um dos recursos mais difíceis de ser ajustado.
Veremos a seguir as principais formas de compressão existentes.
» Compressão corte de pico: esse tipo de compressão foi a primeira tentativa
desenvolvida e acontece quando a intensidade do som de saída excede de saída
do amplificador ou a de saída máxima determinada. Quando isso acontece,
a onda sonora é cortada, conforme observada abaixo, diminuindo, assim,
a intensidade do som.

Figura 31. Ilustração da compressão corte de pico.

CORTE DE PICO

Fonte: elaborada pelo autor.

59
Unidade II | Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II

A forma como o corte de pico acontece gera distorção do som, uma vez
que se perde um pedaço da onda sonora. Por esse motivo, é pouco utilizado
atualmente, sendo destinada a controle de saída máxima pela sua velocidade
na compressão.

» Compressão digital: esse tipo de compressão é o utilizado nos aparelhos


auditivos para realizar a compressão necessária para amplificação não linear,
sempre na tentativa de não se perder informação sonora. Existem alguns
tipos de compressões digitais e veremos algumas delas agora.

› Compressão de saída (AGC-O): sua função é evitar a amplificação de sons


muito intensos, sendo o sistema de compressão colocado após o controle
de volume do aparelho. Isso faz com que, mesmo que o paciente aumente
o som através do controle de volume, o som não será fornecido acima da
intensidade máxima programada. Seu tempo de ataque e de recuperação
são curtos e seu limiar e razão de compressão são altos, por isso é bem
interessante seu uso em indivíduos com área dinâmica da audição reduzida.

› Compressão de entrada (AGC-I): sua função é auxiliar na percepção


dos sons de baixa intensidade, melhorando o reconhecimento auditivo.
Sua ação depende da intensidade em que o som é captado, por isso está
posicionado antes da atuação do amplificador. Seus limiares e razão de
compressão já são menores e seu tempo de ataque e recuperação são
variáveis e podem ser ajudados. Esse tipo de compressão é indicado para
pessoas com área dinâmica da audição maior sem recrutamento.

» Wide Dynamic Range Compression (WDRC): esse tipo é uma evolução da


compressão de entrada, com a função de fornecer maior amplificação para
sons fracos e menor para sons fortes, substituindo essa função exercida
pelo sistema auditivo normal e que, com a perda auditiva, já não consegue
realizar de forma fisiológica. Esse sistema mantém a característica do som
e causa quase nenhuma distorção ou perda de informação. Esse sistema de
compressão possui alguns tipos e veremos quais são eles agora.

O primeiro tipo de compressão WDRC que podemos citar é a Bass Increase


at low levels (BILL). Sua principal característica é a maior amplificação para
sons de fraca intensidade e menor amplificação de sons fortes, porém só é
realizada em sons graves. Uma boa aplicação clínica é utilizá-lo para reduzir
ruído de fundo, uma vez que são os sons graves os mais presentes no ruído

60
Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II | Unidade II

ambiental. O seu uso é indicado para pacientes com dificuldade de percepção


ou que estejam mais expostos a ruídos no dia a dia.
Outro tipo existente é a Treble increase at low levels (TILL). Ela também
amplifica mais sons de fraca intensidade e menos os sons fortes, porém
realiza isso em sons agudos, em oposto ao que a BILL realiza. É indicada
para perdas auditivas de configuração descendente que precisam de maior
amplificação de sons fracos agudos e para aqueles pacientes que apresentam
desconfortos para sons fortes agudos.
Programmable increase at low levels (PILL) é um terceiro tipo de compressão
WDRC. A sua vantagem é que permite que as características de compressão
sejam programadas para faixa de frequências diferentes. Nesse caso, podemos
obter respostas diferentes para uma faixa de frequência alta, média e baixa,
de acordo com a necessidade auditiva do paciente. A única questão aqui é
que essa programação não é facilmente realizada e está disponível em poucos
aparelhos auditivos.
Outra possibilidade de compressão WDRC é a compressão curvilínea. Ela
apresenta uma razão de compressão que varia de forma contínua de acordo
com a intensidade do som captado, variando também o tempo de ataque e de
recuperação. Sua principal indicação é para perdas auditivas sensorioneurais
de grau leve a moderação com sensibilidade a sons intensos.
O penúltimo tipo de compressão WDRC é uma das mais utilizadas, a silábica. Esse
tipo se adapta às várias intensidades de sons captados, realizando compressão em
praticamente todos os sons. Sua característica é de limiar e razão de compressão
baixos de recuperação bem curta. Isso faz com que não se perca nenhuma
informação das palavras captadas, melhorando a inteligibilidade da fala.
Por fim, o último tipo de compressão WDRC é a adaptativa. Sua principal
característica é o tempo de ataque rápido e fixo e tempo de recuperação
variável de acordo com o som captado. Dessa forma, para sons repentinos
e intensos, o tempo de recuperação é curto e para sons de maior duração
é mais longo. Isso faz com que pacientes expostos a sons muito variáveis
apresentem um maior conforto auditivo com o seu uso.
Como podemos observar, existem alguns tipos de compressão digital que
podem ser utilizados, sendo os diversos tipos de WDRC os mais tecnológicos
e mais usados. Na prática clínica diária, observa-se que, no geral, os pacientes
em geral referem mais conforto com o uso da compressão adaptativa.
61
Unidade II | Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II

Porém pacientes idosos ou com importante dificuldade de discriminação


têm bastante ganho com o uso da compressão silábica.

Independentemente do tipo de compressão WDRC que se escolha utilizar,


o importante de observar é que em nenhuma delas se perde um pedaço da
informação sonora como acontece com o corte de pico. A informação, no
nosso caso a onda sonora, é mantida, sendo apenas comprimida em sua
amplitude, diminuindo assim a intensidade do som, conforme observamos
na figura 32:

Figura 32. Ilustração da compressão WDRC.

Fonte: https://pt.depositphotos.com/vector-images/fonoaudi%C3%B3logo.html.

» Compressão por frequência: a compressão por frequência é um outro tipo


de compressão utilizado nos AASIs que não está relacionada a sua intensidade,
mas sim à frequência do som apresentado ao paciente. Em algumas perdas
auditivas de configuração descendente, sons mais agudos estão prejudicados
de forma tão grande que não beneficiaram de amplificação. Nesses casos,
como observados na figura abaixo, os sons captados nas frequências que não
se beneficiariam são modificados para mais graves, de forma que possam
ser ouvidos pelo paciente.

Figura 33. Ilustração da compressão por frequência.

Fonte: adaptada de: http://www.audioclean.com.br/fabricantes/starkey.

62
Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas II | Unidade II

A compressão por frequência só está disponível na tecnologia digital, pois o som é


modificado antes de ser apresentado ao paciente. Durante a regulagem, podemos
determinar se haverá a compressão ou não, bem como quais frequências serão
convertidas em uma mais grave ainda passível de amplificação.

Na compressão por frequência, a característica do som é modificada, ou seja, se


torna mais grave, uma vez que sons agudos não audíveis são transformados em
graves. Apesar de ser uma modificação que, na teoria, traz uma grande vantagem
ao paciente, alguns apresentam dificuldade de adaptação, preferindo não ouvir os
sons agudos que não podem ser amplificados, em vez de realizar essa modificação.
Por isso, em casos em que a compressão por frequência é indicada, devemos
colocá-las e testar com o paciente, a fim de determinar se ele se adapta ou não.

63
BASES TEÓRICAS DE
SELEÇÃO E ADAPTAÇÃO
DE PRÓTESES UNIDADE III
AUDITIVAS III
Como já vimos até agora, a seleção e adaptação dos aparelhos auditivos dependem de
diversos aspectos, sendo um dos mais importantes a forma como o som será levado ao
ouvido do paciente depois de amplificado e modificado. Quando falamos sobre o tipo
de AASI com relação ao seu local de adaptação, vimos os aparelhos intra-aurais, que
serão adaptados em uma cápsula construída a partir do molde do ouvido do paciente
e os BTEs, que farão o uso de moldes (a exceção dos receptores de canais). Em ambos
os casos, é necessária a realização da pré-moldagem do ouvido do paciente e esse
procedimento deve ser realizado da forma mais precisa possível.

Todo o processo da pré-moldagem até a escolha do tipo de molde correto para cada
caso será abordado nesta unidade. Além disso, veremos também outro tipo de adaptação
possível, em que se encaixam os aparelhos RIC, chamada de adaptação aberta.

64
CAPÍTULO 1
Confecção dos moldes auriculares

Os moldes auriculares são dispositivos de suma importância na adaptação de um


aparelho auditivo; sua confecção errada ou uma escolha não pertinente do modelo
pode comprometer todo o processo de seleção e adaptação. Além de ligar o aparelho
ao pavilhão auricular, os moldes têm como objetivo:

» Promover vedação acústica satisfatória, modificar acusticamente o som


produzido.

» Ligar acusticamente o aparelho ao ouvido do usuário.

» Prover uma vedação acústica satisfatória.

» Reter o aparelho no pavilhão auditivo.

» Modificar acusticamente o sinal produzido pelo aparelho.

» Ser confortável para uso por um longo período de tempo.

» Ser esteticamente aceitável pelo paciente.

» Ser facilmente manuseado pelo paciente.

Veremos a seguir o passo a passo para uma confecção correta dos pré-moldes – o modelo
que o protético irá utilizar para confecção dos moldes ou das cápsulas intra-aurais.

Para realizar a pré-moldagem, os seguintes materiais serão necessários:

» Otoscópio: é fundamental a realização da meatosocopia antes da


pré-moldagem. Caso seja observada qualquer alteração, o paciente deve ser
encaminhado ao otorrinolaringologista e posterior retorno para confecção
do molde. Realizar a pré-moldagem com alguma alteração poderá resultar
em um molde de configuração diferente ao do ouvido paciente, acarretando
problemas na adaptação.

» Massa de pré-molde: é a massa de pré-molde que será inserida no ouvido


do paciente e, ao secar, formará o molde do formato do ouvido do paciente.
Abaixo podemos ver um exemplo dessa massa.

65
Unidade III | Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas III

Figura 34. Exemplo de massa de pré-molde.

Fonte: https://bernafon.com.br/produto_massa_para_moldagem.

Independente da marca de massa utilizada, sempre haverá o catalisador e a


massa que devem ser misturadas na mesma proporção, utilizando as colheres
apropriadas pois possuem a medida correta de cada. Ao misturarmos a massa
com o catalisador, o processo de endurecimento da massa começa levando
cerca de 5 minutos.

» Otoblock: os otoblocks podem ser comprados prontos ou confeccionados com


algodão e fio dental, basta apenas amarrar um pouco de algodão no fio.
Sua função é determinar o limite que a massa pode chegar ao ser colocada
no ouvido do paciente. Ele deve ser inserido tampando todo o conduto
auditivo. No momento de inserir a massa, devemos segurar bem o fio para
que o algodão não saia do local com a inserção da massa. Abaixo podemos
ver um exemplo de otoblock.

Figura 35. Exemplo de otoblock.

Fonte: https://sanibelsupply.com/impression-pads-cotton-otoblocktm-small-blue-bag-50-pcs/.

» Caneta lanterna: a caneta lanterna tem a função de auxiliar a inserção do


otoblock no canal auditivo do paciente. Na ponta da caneta há uma lanterna
que iluminará o meato acústico do paciente, tornando mais fácil o processo
de colocação do otoblock.

66
Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas III | Unidade III

Abaixo podemos ver um exemplo dessa caneta:

Figura 36. Exemplo de caneta lanterna.

Fonte: https://www.bernasonic.com.br/site/acessorios-aparelhos-auditivos/.

Seringa: a seringa tem a função de colocar a massa de molde pronta dentro do conduto
auditivo do paciente e, por isso, ela deve estar limpa e sem imperfeições para uma
boa pré-moldagem. Um cuidado importante que devemos ter ao escolher a seringa é
que ela não deve ter uma ponta muito pequena, o que dificultaria a injeção da massa
de molde no ouvido do paciente. Abaixo podemos observar um exemplo de seringa:

Figura 37. Exemplo de seringa.

Fonte: https://otosonic.com.br/produto_seringa_para_moldagem.

Agora que conhecemos todos os materiais necessários, vamos ver o passo a passo para
a realização de boa pré-moldagem:

Inspeção do MAE

A inspeção do MAE deve ser realizada antes da pré-moldagem para observar se há


condição para a realização do procedimento. Nessa inspeção inicial, devemos observar
o comprimento de diâmetro do canal auditivo do paciente, sua forma e contorno.
Também devemos analisar se há presença de algum problema que impeça a realização
do procedimento. Em nossa prática clínica, os problemas mais observados são a
presença de cera e inflamações. Quando há alguma questão, ele deve ser resolvido
para que depois seja realizada a pré-moldagem.

67
Unidade III | Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas III

Após a colocação do otoblock, para se assegurar que foi bem colocado e não há espaço
para passagem da massa, devemos realizar uma nova meatoscopia onde devemos
observar o MAE todo preenchido pelo algodão, garantindo assim que a massa não
passará do limite de inserção desejado.

Por fim, uma nova observação deve ser realizada após a retirada da massa endurecida,
para se assegurar de que não ficou resíduo de massa no MAE e que está tudo bem com
o ouvido do paciente.

Colocação do otoblock correto

A colocação do otoblock é fundamental e deve ser realizada de forma cuidadosa.


Sua inserção correta garante uma confecção segura do molde, e a profundidade da sua
inserção irá determinar a profundidade do molde e quanto de canal auditivo teremos
no molde confeccionado.
Figura 38. Colocação correta otoblock.

Fonte: Braga, 2003, p. 28.

Ainda sobre os otoblocks, um cuidado especial que devemos ter é em ouvidos que já
sofreram cirurgias. Nesses ouvidos, a cavidade da orelha média é muito maior e se inicia
antes. Por isso, devemos realizar uma pré-moldagem rasa e com bastante algodão. Na
imagem abaixo, podemos ter uma boa ideia da importância do maior cuidado.

Figura 39. Colocação de otoblock em ouvido operado.

Fonte: Braga, 2003, p. 28.

Caso o otoblock seja mal colocado e a massa de molde passe o limite desejado, principalmente
em um ouvido com cavidade cirúrgica, pode não ser possível a retirada do molde
68
Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas III | Unidade III

após endurecido, sendo sua retirada só possível através de um procedimento médico.


Por esse motivo, a inserção do otoblock é peça-chave para segurança da pré-moldagem.

Preparação da massa

A preparação da massa é o processo de misturar a massa e seu catalisador, em proporções


iguais. Quando compramos a massa, junto recebemos duas colheres de mesmo tamanho
para facilitar o processo. A medida de uma colher de massa mais uma colher de
catalisador é o suficiente para realizar o molde um ouvido. Já presenciei profissionais
usando uma quantidade menor de massa na tentativa de economizá-la, porém isso não
é recomendado, pois a falta de massa pode gerar uma pré-moldagem de baixa qualidade.

É importante observar que a mistura deve ser homogênea e o processo deve ser realizado
de forma rápida, uma vez que a massa irá endurecer após ser misturada ao catalisador.

Introdução na seringa

Após ser misturada, a massa final deve ser inserida na seringa. É necessário ter o cuidado
para não formar bolhas de ar, além de ter a certeza de que a seringa foi toda preenchida.

Introdução da massa dentro do MAE

Essa parte é uma das mais importantes, pois precisamos nos assegurar que todo o meato
acústico será preenchido por massa. Antes de começar a inserir a massa, precisamos
segurar o fio do otoblock, a fim de que ele fique no meio do molde em vez de em sua
borda, causando uma impressão não desejada. Quando a massa começar a ser inserida,
a seringa também deve ser inserida no conduto auditivo, sendo só retirada após a
massa preencher todo o espaço do conduto. A partir de então, devemos preencher
com passa todo o pavilhão auricular, inclusive a concha e a hélix. Esse cuidado de
preencher todo o pavilhão auricular deve ser realizado independentemente do molde
a ser confeccionado. Abaixo vemos uma imagem que ilustra esse processo:
Figura 40. Introdução da massa dentro do MAE.

Fonte: https://docplayer.com.br/51410071-Produtos-karina-souza-e-equipe-de-treinamento-resound-mini-microphone-increased-
understanding-in-many-situations.html.

69
Unidade III | Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas III

Após o preenchimento completo, a massa deve ser apertada de forma leve, a fim de
moldar a parte externa, bem como garantir que não houve bolhas de ar, conforme
figura abaixo.
Figura 41. Procedimento após colocação da massa.

Fonte: Braga, 2003, p. 28.

Algumas literaturas recomendam que o paciente faça movimentos na mandíbula de


falar ou de mastigar durante o tempo que se espera que a massa seque em seus ouvidos.
Essa orientação é dada para que a impressão obtida seja fiel. Na minha prática clínica
eu, particularmente, não realizo essa solicitação e não observo problemas de impressão
de má qualidade.

Retirada da massa endurecida

Após o teste da unha, quando passamos a unha na parte externa da massa e ela não
fica marcada, temos uma massa já endurecida e pronta para ser retirada. Esse processo
também deve ser de forma cuidadosa. Primeiro, deve ser retirada a parte de cima,
perto da hélix, para que a pressão formada na pré-moldagem seja retirada e, então, o
molde pode ser retirado. Esse processo se assemelha bastante a quando vamos abrir
potes de conservas, em que primeiro tiramos uma tampinha que “veda” o pote e então
fica mais fácil de abri-lo. Abaixo podemos ver um pouco esse processo de retirada:
Figura 42. Retirada do molde.

Fonte: Braga, 2003, p. 28.

70
Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas III | Unidade III

Essa etapa de retirada de pressão inicialmente garante a segurança do procedimento e


deve ser sempre realizada. Ao colocarmos a massa, pode ocorrer uma pressão negativa
dentro do ouvido e, caso retiremos os moldes sem aliviar a pressão antes, podemos
causar danos ao paciente.

Após a retirada do pré-molde, precisamos verificar se a qualidade está boa. Precisamos


realizar uma autocrítica do pré-molde que confeccionamos. Deve-se ter uma boa
impressão de todo o ouvido do paciente, sem rasuras ou marcas. Abaixo vemos alguns
exemplos de moldes defeituosos:

Figura 43. Pré-moldes defeituosos.

Fonte: https://xtremeears.com.br/pre-molde/.

Um pré-molde de qualidade deve ter impressão do conduto até o otoblock, de toda


a impressão do pavilhão auricular, além de não possuir marcas. Abaixo vemos um
exemplo de um de boa qualidade:

Figura 44. Pré-moldes defeituosos.

Fonte: próprio autor.

Caso, após a pré-moldagem, se observe que o pré-molde é de má qualidade, devemos


repetir o processo. Não estamos imunes à realização de pré-molde de má qualidade,
porém precisamos reconhecê-lo e repetir o processo.
71
Unidade III | Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas III

A partir da moldagem, será confeccionado o molde para o aparelho retroauricular, a


cápsula para o aparelho intra-aural, o micromolde para as adaptações abertas ou as
cápsulas para os RIC.

Um cuidado a mais que devemos ter após a confecção do pré-molde é como


armazená-lo e enviá-lo ao protético. Em muitas situações, esse envio é realizado
por pessoas que não têm conhecimento do que está sendo transportado e dos
cuidados necessários. Por isso, o sugerido é colocar esse pré-molde em recipiente
duro, para que esteja protegido e não se deforme. Em muitos locais, os pré-moldes
são enviados dentro de uma saboneteira, pois ela possui um espaço amplo e são
de materiais resistentes.

72
CAPÍTULO 2
Tipos e escolha dos moldes auriculares

Após uma pré-moldagem bem realizada, o próximo passo é definir qual tipo de molde
deverá ser confeccionado. Essa decisão vai desde qual material será utilizado até qual
tipo será. Todas essas opções de escolha serão vistas agora:

Material do molde
Os moldes podem ser confeccionados com acrílico ou com silicone. O silicone, por
ser menos rígido e vedar mais o conduto auditivo, é mais utilizado na prática clínica.
Em crianças, devido ao crescimento rápido e a se mexerem constantemente, devem fazer
uso do de silicone até para evitar que em algum movimento ou queda se machuquem
com o de acrílico, que é mais rígido. Porém pacientes com alergias a silicones e processos
recorrentes de infecção devem fazer uso do material acrílico (no qual podemos realizar
uma higienização mais efetiva).
Quando estamos com um paciente que nunca realizou o uso de aparelhos, a escolha
inicial (a exceção de otites) é o molde acrílico. Porém existem pacientes já usuários
que estão acostumados ao uso do acrílico e devemos respeitar isso.
A mangueira que liga o molde ao aparelho auditivo é padronizada, sendo igual para
todos os moldes e marcas de aparelhos. Sua troca deve ser feita de forma periódica,
sempre que elas estiverem ressecadas (normalmente a cada 3 meses). O fonoaudiólogo
pode fazer a troca em consultório, não sendo indicado que o paciente a realize. Porém
vale sempre observamos que molde de silicone apresenta uma troca de mangueira fácil,
já os de acrílico, algumas vezes a troca só pode ser feita pelo protético.
Na figura abaixo podemos observar um molde de silicone e um de acrílico:

Figura 45. Moldes de silicone e de acrílico.

Silicone Acrílico

Fonte: próprio autor.

73
Unidade III | Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas III

Além da escolha do material, devemos escolher o tipo de molde que queremos


confeccionar. Existem diversos tipos de moldes e sua escolha deve levar em conta a
perda auditiva do paciente e sua destreza manual. Veremos abaixo os principais tipos
de moldes:

Figura 46. Tipos de molde.

Concha escavada Concha Canal Invisível simples


Fonte: https://prohear.com.br/servicos/confeccao-de-moldes/.

Um bom parâmetro para a escolha de qual molde utilizar segundo a audiometria é a


seguinte:

» Aberto – esse molde consiste em um molde canal em menor proporção,


ou seja, seu diâmetro e comprimento são menores. Ele é indicado para
perdas auditivas com graves preservados, quando a ventilação não resolve
o problema da autofonia.

» Canal – ele é confeccionado removendo-se totalmente a concha e a hélix.


Tem uma grande vantagem de ser discreto e fácil de inserir, porém não
garante tanta vedação e, por isso, é indicado para perdas auditivas até 50dB.

» Invisível simples – assemelha-se bastante à indicação do molde canal,


porém apresenta um maior potencial de vedação. Apesar de fazer uso do
espaço da concha, apresenta esse espaço vazado, o que o torna mais discreto.
Pode ser utilizado em perdas auditivas até moderadas.

» Meia concha – é o molde intermediário entre o canal e concha, em que


apenas metade da concha é utilizada. Fornece mais vedação que o molde
canal e por isso é indicado para perdas de moderada a severas.

» Concha ou concha com hélix – esse é o molde que tende a apresentar menos
problemas e o que permite mais modificações. Ele deve ser utilizado quando
precisarmos ter certeza de que o ouvido está bem vedado, ou seja, quando
fazemos uso de grande potência, para perdas auditivas acima de severa.

74
Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas III | Unidade III

Abaixo, podemos observar um esquema que demonstra melhor qual tipo de molde
devemos escolher, nos baseando na perda auditiva do paciente.

Figura 47. Escolha do molde auricular de acordo com o grau da perda auditiva.

125 250 500 1k 2k 3k 4k 6k 8k (Hz)


0
10
20
30 canal Invisível simples
40
50
60
70
80 Meia concha

90
100
110
conchaa
120

Fonte: elaborada pelo autor.

Outro aspecto que devemos levar em conta na escolha do molde é a configuração da


perda auditiva. Em perdas auditivas com graves preservados ou muito melhores, não
podemos fechar o ouvido completamente, uma vez que geraríamos efeito de oclusão.
Na figura abaixo, podemos observar a escolha do molde de acordo com a configuração
da perda auditiva.

Figura 48. Escolha do molde auricular de acordo com a configuração da perda auditiva.

125 250 500 1k 2k 3k 4k 6k 8k (Hz)


0
10
20
30
40 Aberto
50
60
70
80 Invisível duplo
90
100
110
120

Concha com hélix

Fonte: elaborada pelo autor.

75
Unidade III | Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas III

Quanto ao manuseio, principalmente idosos e pessoas com problemas visuais, devemos


sempre avaliar a destreza manual. Se houver dificuldade no manuseio, um molde de
tamanho maior deve ser o escolhido.

Outra escolha que podemos realizar no molde é o uso de alguma modificação acústica
no molde. Essas modificações nos ajudam a realizar a amplificação de forma desejada
através de mudanças físicas no molde. Existem três tipos de modificações que podemos
fazer uso: a ventilação, os filtros acústicos e o efeito corneta. Veremos a seguir cada
uma delas.

Ventilação

A ventilação é o uso de uma modificação física no molde, em que solicitamos que seja
realizado um furo no molde, a fim de que se possa ventilar o ouvido. Essa modificação
é utilizada no caso de frequências graves preservadas ou em otites médias de repetição,
em que não é indicado um ouvido ocluído. Porém o seu uso deve ser feito com cuidado,
pois em perdas auditivas acima de moderado o risco de microfonia é grande.

Quando solicitamos que o molde possua ventilação, precisamos determinar de qual


tamanho ela deve ser. Essa escolha do tamanho da ventilação deve levar em conta a
audiometria do paciente e é uma das principais dúvidas de quem inicia o trabalho com
aparelhos auditivos. Na figura abaixo, podemos ver o tamanho da ventilação indicada
para cada caso:

Figura 49. Escolha do tamanho da ventilação baseada na audiometria.

125 250 500 1k 2k 3k 4k 6k 8k (Hz)


0
2,5mm
10
20
30
40
50
1,5mm
60
70
0,5mm
80
90
Não indicado
100
110
120

Fonte: elaborada pelo autor.

76
Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas III | Unidade III

Caso tenha dúvida em qual tamanho de ventilação solicitar, devemos sempre solicitar
o menor que achamos adequado. Caso depois seja preciso de uma maior, é possível
solicitar ao protético que aumente o seu tamanho. Porém, caso a ventilação tenha ficado
grande demais (e a principal característica para tal é a ocorrência de microfonia), não
é possível solicitar sua diminuição, sendo o problema sanado apenas com a confecção
de um novo molde.

Uma outra dúvida muito comum acontece quando temos uma ventilação grande e
retiramos a mangueirinha para fazer sua troca. Muitas vezes o furo da ventilação e
mangueira possuem o mesmo tamanho e ficamos na dúvida de qual é qual. Pois bem,
por convenção, a ventilação sempre será realizada na parte de baixo do molde, sendo
o furo superior por onde a mangueirinha deve ser encaixada.

A ventilação é a modificação acústica mais amplamente utilizada e faz parte do dia a


dia do fonoaudiólogo que trabalha com aparelho auditivo. Isso acontece pois ela é que
fornece resultados mais efetivos e perdas auditivas com graves preservados, ou seja,
de configuração decente, são bastante prevalentes.

Filtros acústicos

Os filtros acústicos, também conhecidos como atenuadores, conseguem reduzir a


amplificação em sons médios, sendo de forma mais efetiva entre 1000 e 3000 Hz.
Eles podem ser colocados no molde, na mangueira ou no gancho. No dia a dia não
são muito utilizados, pois a perda auditiva com sons médios preservados (ou seja, na
configuração de “U” invertido) não é comum e a regulagem do filtro, ou seja, quanto
ele irá atenuar, não é facilmente realizada.

Efeito corneta

Quando pensamos em acústica, sabe-se que o formato de corneta favorece o aumento


dos sons agudos, não é à toa que os primeiros objetos a serem utilizados como
amplificadores de som antes dos dispositivos eletrônicos surgirem tinham esse
formato. Normalmente, ao solicitar essa modificação acústica do molde, o que ocorre
é que o final do tubo do molde é aberto, gerando uma forma de sino, favorecendo
a amplificação dos agudos.

O que acontece com o efeito corneta é que ele deveria ser indicado, na maioria das
vezes, nos casos em que a ventilação também é indicada. Pois ele amplificar os agudos e
a ventilação aliviaria a amplificação dos graves, sendo ambos os processos pertinentes
de serem usados em uma perda auditiva de configuração descendente. No entanto,

77
Unidade III | Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas III

não é possível solicitar as duas modificações para o mesmo modo. Como a ventilação
apresenta uma eficiência maior em modificar o som, ela acaba sendo sempre solícita.

Podemos observar, durante a descrição das modificações acústicas, que elas são um
auxílio para nossa regulagem. Muitas vezes, por exemplo, o uso de ventilação fornece
muito mais alívio para o paciente do que se diminuíssemos a amplificação do grave
no programa de regulagem. Se pensarmos em tecnologia analógica, então, aí que
precisamos lançar mão dessas modificações devido às limitações que essa tecnologia
apresenta.

É importante lembrar que sempre que formos realizar a regulagem de um aparelho


através de um programa de computador, precisamos inserir a informação de qual
molde será realizado e se haverá alguma modificação acústica.

A pré-moldagem é muito conhecida por ser a partir dela confeccionada o molde


auricular. Porém, além dos moldes, como já dito acima, a pré-moldagem também é
utilizada para a confecção dos aparelhos intra-aurais e para a confecção de tampões de
natação. A cápsula dos intra-aurais deve ser feita no formato do ouvido do paciente e,
para isso, é necessário um pré-molde dele. Já os tampões, que têm a função de proteger o
ouvido principalmente de água, muito utilizado por crianças na natação, também serão
mais efetivos e vedarão mais os ouvidos se forem exatamente no formato do ouvido.

Quando realizamos a pré-moldagem para confecção de um aparelho intra-auricular,


precisamos ter em mente que todos os dispositivos terão que caber ali dentro. Por isso,
orienta-se a realização de uma impressão mais profunda, até o segundo terço do canal
auditivo, para garantir um aparelho bem fixado e com espaço para seus componentes.
A cápsula é confeccionada com um material próprio, diferente do acrílico e do silicone
utilizado na confecção dos moldes e, normalmente, apresenta uma cor bege.

Já quando a pré-moldagem é para confecção de tampão de natação, cujo objetivo é


proteger o ouvido da entrada de água, além de ter uma boa parte do canal auditivo na
pré-moldagem, precisamos ter atenção à impressão da orelha externa, principalmente
da hélix, pois ela tem papel fundamental na vedação do ouvido. Nos tampões temos
a possibilidade de confeccioná-los de diversas cores, o que o torna mais atrativo para
crianças (principal público que os utiliza) e é interessante que cada lado seja de uma
cor, facilitando assim a identificação dos lados. O material do tampão será sempre
silicone, para facilitar a vedação.

Diante de tudo isso, pode-se observar como a pré-moldagem é importante e como


realizá-la de forma correta faz diferença. E cabe aqui relembrar que, independentemente
78
Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas III | Unidade III

do que for ser feito ou do modelo de molde (molde, tampão ou cápsula), a pré-moldagem
deve ser completa, contemplando canal auditivo e pavilhão auricular e de qualidade.

Para a escolha do tipo e material de molde, deve-se levar em conta audiometria


e destreza manual.

Moldes de acrílico são indicados para otites de repetição, já os de silicone para


crianças e perdas de grande intensidade.

O tipo de molde varia de acordo com a audiometria –quanto maior a perda auditiva,
maior o molde.

O uso de ventilação é recomendado para quando há graves preservados ou otites


de repetição.

79
CAPÍTULO 3
Adaptação aberta

Com a evolução da tecnologia e o desenvolvimento dos aparelhos auditivos RIC, atualmente


pode-se fazer uso do que chamamos de adaptação aberta. Esse tipo de adaptação pode
ser utilizado para perdas auditivas até moderada. Sua grande vantagem é ser mais
discreta e não necessitar de uma pré-moldagem, podendo o paciente já sair adaptado
no primeiro dia de consulta (quando optamos pelo uso de molde, precisamos realizar a
pré-moldagem e enviar para confecção). Sua desvantagem é ser mais frágil e, por isso,
necessitam de mais cuidado no manuseio. Além disso, por ser um fio bem mais estreito,
perde-se um pouco de potência de amplificação e pode entupir de forma mais fácil.
Na adaptação aberta, é colocado um tubo mais fino com uma oliva na ponta do aparelho
BTE que fará o papel do molde. Nesses casos, um tubo de plástico substitui todo o
molde. Já nos aparelhos RIC nesse tubo, temos um fio que se liga na ponta, onde haverá
o receptor, onde também será acoplada uma oliva. Abaixo podemos ver um exemplo
de adaptação aberta em um aparelho BTE que poderia também fazer o uso de moldes.
Figura 50. Exemplo de adaptação aberta.

Fonte: https://www.medicalexpo.com/pt/prod/widex/product-84303-716047.html.

Quando falamos em adaptação aberta, independentemente de ser aparelhos BTEs ou


RIC, a nossa principal escolha é qual oliva utilizar. O tipo da oliva irá variar de acordo
com a audiometria e o tamanho com o diâmetro do ouvido do paciente.
» Oliva aberta – perdas auditivas com graves preservados.

» Oliva tulipa – perdas auditivas com graves melhores, porém com perda.

» Oliva fechada – perdas auditivas planas.

» Oliva fechada dupla – perdas auditivas planas que necessitam de maior vedação.

Em casos de perdas maiores, é possível colocar um molde menor na ponta do tubo fino
para uma melhor vedação, sendo necessária uma pré-moldagem. Essa opção também
pode ser escolhida nos casos de descamação, para proteger o receptor ou em casos em
que nenhuma oliva disponível se adapta bem ao conduto do paciente.
80
Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas III | Unidade III

Na figura abaixo, podemos observar a variação de olivas e de possibilidades que temos


quando falamos de adaptação aberta.
Figura 51. Exemplos de adaptação aberta.

Fonte: elaborada pelo autor.

Como podemos observar acima, existem diversas opções de olivas e sua escolha levará
em conta, como já dito anteriormente, a audiometria. Abaixo podemos ver como
escolher de acordo com o exame auditivo.

Figura 52. Escolha da oliva baseada na audiometria.

125 250 500 1k 2k 3k 4k 6k 8k (Hz)


0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110
120

Fonte: elaborada pelo autor.

81
Unidade III | Bases teóricas de seleção e adaptação de próteses auditivas III

Um cuidado – que na verdade é um detalhe – que devemos ter também é a escolha do


tamanho do tubo fino para os aparelhos BTEs e o tamanho do fio do receptor. Caso esse
fio seja maior ou menor do que o necessário, o aparelho não ficará bem ajustado e pode
cair. As diversas marcas de aparelho possuem diversos tamanhos de fios e precisamos
apenas escolher o pertinente a cada orelha.

Como observado durante este capítulo sobre adaptação aberta, podemos perceber
como sua adaptação torna o aparelho mais discreto. Além disso, a não necessidade
de uma pré-moldagem possibilita que o paciente já possa sair plenamente adaptado
no mesmo dia que realizar o teste do aparelho auditivo. Porém sua indicação deve
ser criteriosa, da mesma forma de todas as escolhas a serem realizadas durante uma
adaptação. Pacientes com destreza manual comprometida tendem a ter dificuldade com
a adaptação aberta, até pelo fato de sua limpeza ser mais difícil. Além disso, pacientes
com anos de adaptação estão acostumados ao uso de molde e se sentem mais seguros
com eles. Para esses casos, por exemplo, o uso de molde é o mais indicado.

O uso da adaptação aberta vem ganhando cada vez mais espaço e vem contribuindo
bastante para aceitação do uso do aparelho auditivo.

Diante disso, sugiro a leitura do trabalho “A qualidade vida em idosos usuários


de próteses auditivas com adaptação aberta e retroauriculares”, disponível em:
https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/115317. Acesso em: 19 out. 2021.

82
SELEÇÃO E
ADAPTAÇÃO DE AASI UNIDADE IV

Após o estudo de tantas características fundamentais para indicação, seleção e adaptação


do AASI, precisamos ter em mente que outros pequenos detalhes também são importantes
e, a depender do caso, sua observação faz toda a diferença. Serão esses detalhes que iremos
estudar nesta unidade. Começaremos falando sobre sistemas opcionais e auxiliares que,
como o nome já diz, auxiliam bastante na adaptação. Também abordaremos um tipo
específico de adaptação que vem crescendo bastante: a ancorada no osso. Finalizaremos
falando dos aspectos importantes para realizar uma seleção e adaptação de sucesso.

CAPÍTULO 1
Sistemas opcionais e auxiliares

Os sistemas opcionais e acessórios são dispositivos que não são classificados como
fundamentais para o processo de amplificação sonora, e muitas vezes não estão inclusos
no aparelho auditivo, porém podem ser adicionados, de forma a melhorar a adaptação
do paciente. Muitos desses dispositivos necessitam do uso de conectividade (bluetooth)
e, por isso, só são compatíveis com aparelhos que apresentem conectividade.

Na prática clínica, tenho observado que muitos pacientes aumentam sua aderência
quando fazemos uso de alguns desses dispositivos de forma acertada e de acordo com
suas necessidades diárias. A seguir, veremos os principais sistemas opcionais e auxiliares
e sua indicação clínica.

Botão de programa
O botão de programa está presente na maioria dos retroauriculares e não pode ser
adicionado apenas em aparelhos CIC. Ele foi a primeira forma de possibilitar ao
paciente realizar algumas modificações na regulagem do aparelho, dando assim mais
autonomia e possibilidade de adaptação a diferentes ambientes sonoros.

O design do botão de programa é bem variável de acordo com a marca e modelo.


Alguns aparelhos possuem apenas um botão, enquanto outros possuem dois botões

83
Unidade IV | Seleção e adaptação de AASI

que se assemelham ao do controle de volume de um controle remoto de televisão,


como podemos observar na figura abaixo:

Figura 53. Exemplo de botão de programa.

Botão de programa

Fonte: https://www.auditiv.com.br/aparelhos-auditivos.php.

Durante a nossa regulagem, o botão pode ser inativado (em pacientes que não desejam
ter a possibilidade de mexer) ou pode exercer a função que determinarmos. Abaixo
seguem as principais funções do botão de programa:

» Liga /desliga – muito utilizado em caso de aparelhos recarregáveis, uma vez


que não há a possibilidade de abrir a gaveta de pilha para desligar o aparelho.

» Controle de volume – permite que o usuário aumente ou diminua os aparelhos


auditivos dentro de uma margem pré-determinada pelo fonoaudiólogo.

» Utilizado para seleção de multiprogramas – podemos configurar um programa


para cada demanda auditiva do paciente e, ao apertar o botão, o programa
selecionando muda. Abaixo seguem alguns exemplos de programas.
› Geral: programa ser usado no dia a dia.
› Aula: programa que irá focar na fala do professor à frente.
› Telefone acústico: utilizado para conversa ao telefone.
› Restaurante: utilizado em ambientes com múltiplos falantes.

A escolha de qual programa adaptar para cada paciente deve ser realizada de forma
individual, observando as necessidades e dificuldades auditivas do paciente. Alguns
pacientes se mostram confusos com o botão, nesses casos devemos avaliar se o seu
uso é realmente indicado.

Controle remoto
O controle remoto é um dispositivo, que quando pareado com o aparelho, pode ser
utilizado para alternar entre os programas, aumentar ou abaixar o volume ou até ligar
e desligar. Ele exerce praticamente as mesmas funções do botão de programa, porém
84
Seleção e adaptação de AASI | Unidade IV

é mais indicado para pacientes que possuem dificuldade de destreza manual ou que
não se adaptaram em apertar o botão por qualquer outro motivo.

A depender da tecnologia utilizada, não é necessária a presença de conectividade


(bluetooth). Existem tecnologias cujo comando de modificação do aparelho é dado
através de um som de alta frequência, muitas vezes inaudíveis ao ser humano.
Ao emitir determinado som preestabelecido, o aparelho compreende qual mudança
deve ser realizada e a faz. Isso permite que aparelhos com menos tecnologia possam
também fazer uso do controle remoto. Abaixo vemos um exemplo de controle remoto.

Figura 54. Exemplo de controle remoto.

Fonte: https://www.alvitex.com.br/acessorio-rexton-propocket.html.

Celular
O celular também pode ser utilizado como acessório de um aparelho auditivo de
algumas formas. Em primeiro lugar, o aparelho tendo a tecnologia, e com o uso de um
aplicativo no smartphone, ele pode ser utilizado com o controle remoto em aparelhos
com ou sem conectividade. No que possuem conectividade, o aparelho será pareado
ao celular e as informações transmitidas via Bluetooth. Já os que não possuem, as
modificações serão realizadas via emissão de sons de altas frequências iguais ao que
acontece com o controle remoto.

Além disso, alguns aparelhos auditivos podem ser conectados via Bluetooth com o
celular e então fazer com que os áudios do celular sejam transmitidos diretamente aos
aparelhos, melhorando de forma significativa a qualidade desses áudios. Existe também
a possibilidade do uso de um dispositivo que faça a comunicação entre o celular e os
aparelhos nos casos em que a conexão direta entre os dois não seja possível.

Essa conexão com o celular é, sem dúvida, a mais usada e mais facilmente adaptada
ao paciente. Muitos, quando vêm para a primeira consulta, já chegam solicitando um
aparelho que possa se conectar ao celular, pois já observaram essa possibilidade na
internet.

85
Unidade IV | Seleção e adaptação de AASI

Conexão com a televisão


A televisão é um dos sons mais desafiadores para o usuário de AASI. Isso acontece pois
temos um som gerado de forma não natural (caixa de som) e em muitas situações não
é possível realizar a leitura labial. Além disso, por normalmente ser compartilhada
ao mesmo tempo com os demais familiares, ao ter que colocar a televisão em uma
intensidade mais alta para poder ouvir melhor, conflitos são gerados.

Quando observamos essa dificuldade, podemos lançar mão de um acessório que realizará
a conexão entre a televisão e o aparelho auditivo, fazendo com que o áudio da televisão
saia direto no aparelho ao mesmo tempo que as outras pessoas ainda podem ouvir
direto da TV. Abaixo podemos ver o exemplo de um desses dispositivos.

Figura 55. Exemplo de dispositivo para conexão do AASI com a TV.

Fonte: https://www.digsom.com.br/acessorios-de-aparelhos-auditivos-para-tv/.

Mesmo com advento da smart TV, atualmente ainda não é possível realizar a conexão
direta entre o AASI e a televisão, sendo necessária o uso do dispositivo para essa conexão.

Sistema FM
O sistema FM é um acessório que utiliza ondas de rádio para propagação do sinal
sonoro. Sua função principal é melhorar a recepção da mensagem, principalmente
em ambientes ruidosos. Para que isso aconteça, um dispositivo deve ser acoplado ao
AASI e outro dispositivo funciona como um microfone e deve ser conectado ao falante.
O som captado pelo microfone será enviado diretamente ao aparelho auditivo sem
interferência de todos os sons ambientais, que muitas vezes dificultam o entendimento
do que é dito.

O principal uso do Sistema FM é educacional, auxiliando o aluno com perda auditiva e


que, na maioria das vezes, está em uma sala com condições acústicas ruins. Nesse caso,
é importante ter em mente que o professor da escola ou o falante que irá fazer uso
desse microfone deve ser treinado para tal. A seguir, podemos ver o exemplo de um
sistema FM.

86
Seleção e adaptação de AASI | Unidade IV

Figura 56. Exemplo de sistema FM.

1.Microfone

2. Transmissor

3. Receptor acoplado ao aparelho auditivo

Fonte: https://sites.usp.br/auditivo/wp-content/uploads/sites/768/2016/05/Planfeto-FM-.pdf.

Como o uso do Sistema FM exige que um dispositivo seja acoplado no AASI, nem
todos os aparelhos auditivos são compatíveis com ele. Por isso, ao realizar a seleção de
um aparelho auditivo em que se observa a possibilidade da necessidade do uso desse
sistema, já devemos realizar a escolha de aparelho que seja compatível.

Hoje, com a evolução tecnológica, já existem dispositivos que fazem o mesmo papel
do Sistema FM, só que em vez de fazer a transmissão sonora via ondas de FM, realiza
via bluetooth. O microfone pode ser colocado no falante e o áudio é transmitido direto
ao aparelho com importante qualidade sonora.

Por último, uma questão que, apesar de não ser considerado um dispositivo opcional
ou auxiliar do aparelho, mas que faz muita diferença na sua adaptação, é o aparelho
que possui bobina de indução telefônica. Esse sistema foi criado diante da dificuldade
que os pacientes apresentam em entender o que era dito ao telefone quando faziam
uso da regulagem do dia a dia. Isso acontece porque a característica do som gerado
pelo telefone é muito diferente do que um falante.

A bobina de indução telefônica transforma as variações em um campo magnético (geradas


pelo som do telefone) em sinais elétricos equivalentes, que podem ser processados pelo
aparelho auditivo e então transformados em sons e fornecidos ao paciente. Esse novo
modo de processar o som vindo dos telefones torna a fala muito mais inteligível e com
menos ruído.

A ativação da bobina telefônica pode ser automática ou manual. Na ação manual, o


paciente precisa pressionar o botão de programa para que ela seja ativada, ou então
realizar esse comando através do controle remoto. Já nos casos de ativação automática,
o aparelho, ao captar um campo eletromagnético próximo, entende que o som advém
de um telefone e faz o acionamento da bobina.

87
Unidade IV | Seleção e adaptação de AASI

Quando a bobina é ativada, por ocorrer a mudança de como o som é processado, em


aparelhos com menos tecnologia o paciente deixa de ouvir os sons ambientais, tendo
apenas a informação sonora da ligação. Já em dispositivos com mais tecnologia, há a
amplificação do som do telefone por um tipo de processamento e dos sons ambientais
por outro e os dois acontecem ao mesmo tempo. A depender das possibilidades de
regulagem fornecidas pela marca, podemos até ajustar o volume de amplificação do
sons ambientais e do telefone de formas diferentes.

Os sistemas operacionais e auxiliares contribuem muito para adaptação, e


principalmente para a aderência do paciente à reabilitação auditiva. Porém,
principalmente quando falamos da aquisição dos AASIs na via particular, o seu
uso também envolve um custo a mais. Na prática clínica, o paciente não precisa
de todos os acessórios. Faz parte do nosso trabalho analisar cada caso de forma
individual e, a partir das necessidades observadas, selecionar qual acessório irá
contribuir de maneira efetiva para a adaptação e o uso dos aparelhos auditivos.

88
CAPÍTULO 2
Aparelhos auditivos ancorados ao osso

Os aparelhos auditivos ancorados ao osso são um tipo de reabilitação auditiva em que um


vibrador ósseo é implantado na cabeça da pessoa, fornecendo, assim, a informação sonora
via vibração, de forma bem parecida com o que o vibrado faz durante a audiometria.
No início deste módulo, vimos que um tipo de classificação dos AASI era como o som
era fornecido, podendo ser por via aérea (via convencional ou por via óssea).

Quando falamos em transmissão por via óssea, podemos pensar no aparelho auditivo
em BAHA, que foi o descrito acima, mas também podemos pensar nos ancorados ao
osso. O aparelho auditivo em BAHA está preso a uma haste semelhante a uma passadeira
e o paciente coloca e retira da mesma forma que pode ser feito com o convencional.
Porém, na prática clínica, observa-se que algumas pessoas referem interferência
na qualidade do som e reconhecimento de fala, conforme a mudança de posição de
colocação do vibrador ou até dor de cabeça e irritação, já que é necessário prender a
haste com considerável pressão na cabeça.

Já os ancorados ao osso, o vibrado é fixado ao osso e, então, através da vibração irá


estimular a cóclea para que o paciente ouça. Abaixo podemos ver um exemplo desse
implante.
Figura 57. Exemplo de prótese auditiva ancorada ao osso.

Fonte: http://portalotorrinolaringologia.com.br/pr%C3%B3teses-de-condu%C3%A7%C3%A3o-%C3%B3ssea.php.

Inicialmente, essas próteses, implantadas pela primeira vez no Brasil em 1977, tinham
o objetivo de atender a situações clínicas em que o uso do aparelho convencional não
seria possível, como nos casos de malformação da orelha externa ou média. Porém,
89
Unidade IV | Seleção e adaptação de AASI

com a evolução da tecnologia, esse tipo de adaptação também se beneficiou e teve seus
critérios de indicação amplificados também.

Em algum momento, pode parecer estranho pensar que o paciente ouça por vibração,
porém precisamos sempre lembrar da fisiologia da audição e que, no fim das contas,
o som é uma onda sonora que, ao chegar à cóclea, fará a endolinfa se movimentar a
partir da sua vibração e então despolarizar as células ciliadas internas, transformando
o som em informação nervosa que chegará ao cérebro.

Quando escolhemos fazer uso de aparelho auditivo que dará o estímulo por vibração
e não por via aérea, estamos na verdade apenas “pulando um pedaço do caminho”.
O som, em vez de percorrer a orelha externa e média através de vibração até chegar à
cóclea, chegará direto nela através da vibração no nosso crânio, proporcionada pelo
vibrador.

A adaptação com aparelho por via aérea será sempre a forma de adaptar preconizada,
porém, em alguns casos, seguindo critérios preestabelecidos, temos a indicação do
aparelho auditivo ancorado ao osso. Veremos agora quais são esses critérios.

» Pacientes com perda auditiva sensorioneural, condutiva ou mista unilateral


quando preenchidos todos os seguintes critérios:

› Condições anatômicas ou infecciosas de orelha média e/ou externa que


impossibilitem adaptação de aparelho de amplificação sonora individual
(AASI), ou má adaptação do AASI por intolerância ao molde auricular
ou problemas de microfonia.

Antes só era pensado em caso de malformações, agora o aparelho auditivo


ancorado ao osso também é indicado em casos diversos de má adaptação
ao AASI, não apenas para questões anatômicas.

› Limiar médio para via óssea melhor que 60 dB nas frequências de 0,5, 1,
2 e 3kHz na orelha a ser implantada.

Esse critério é importante, pois o estímulo sonoro será oferecido direto à


cóclea e é necessário que ela seja capaz de ouvir. Não podemos esquecer
que é um implante que exige um processo cirúrgico, então sua indicação
deve ser realizada quando há boas chances de um bom prognóstico.
Vale ressaltar também que esse limiar varia de acordo com o dispositivo
a ser implantado.

90
Seleção e adaptação de AASI | Unidade IV

› Índice de reconhecimento de fala em conjunto aberto maior que 60% em


monossílabos SEM aparelho de amplificação sonora individual.

Esse critério complementa o anterior, uma vez que reforça a avaliação de


que a cóclea possui, sim, capacidade de decodificar de forma satisfatória
o som que será apresentado via vibração.

» Paciente com perda auditiva neurossensorial unilateral de grau severo a


profundo para estimulação transcraniana de orelha contralateral.

Esse critério é bastante interessante, pois leva em conta a atenuação nula de


via óssea, o que possibilita que, caso a óssea contralateral tenha condições,
ouça o som apresentado através do vibrador do outro lado.

A questão da indicação é tão importante que as diretrizes gerais para atenção especializadas
às pessoas com deficiência do SUS, além de citar os critérios de indicação, também
falam sobre os critérios de não indicação e até de critérios relacionados a cirurgia e
não a audição do paciente.

Quanto aos critérios de não indicação, são citados dois:

1. Crianças abaixo de 5 anos – devido à imaturidade do osso craniano e ao


exponencial crescimento que existe até essa idade. Porém, apesar da não
indicação desse dispositivo específico, reforça-se a necessidade da reabilitação
auditiva o mais precoce possível (devendo ser realizada com o aparelho
BAHA até que haja a possibilidade de cirurgia).
2. Nos casos em que a estrutura óssea da calota craniana não possibilite a
osteointegração em tempo hábil, a cirurgia deverá ser realizada em 2 (dois)
tempos.

Também é abordada a necessidade, em alguns casos de reimplante, sendo indicado


nos seguintes casos:

1. Perda da osteointegração do implante de titânio.

2. Complicações que impeçam o acoplamento do audioprocessador ao pilar.

3. Complicações que levem à necessidade de explantação.

Por fim, ao avaliar o procedimento cirúrgico em si, orienta-se sempre que a avaliação
do paciente deve considerar os critérios de indicação e contraindicação da cirurgia,

91
Unidade IV | Seleção e adaptação de AASI

devendo ser realizada por equipe multiprofissional na Atenção Especializada. Além


disso, também são sugeridas as avaliações mínimas pelas quais o paciente deve passar
(podendo sempre serem adequadas às questões individuais), sendo elas:

» Avaliação do otorrinolaringologista.

» Avaliação audiológica completa com e sem AASI.

» Avaliação por exames de imagem.

» Avaliação do risco cirúrgico.

» Avaliação psicológica e social.

» Pareceres de outras especialidades quando necessário.

Por fim, antes da cirurgia, algumas orientações e preparos são sugeridos:

» Preparo da família e do paciente com relação às expectativas.

» Preparo clínico do paciente para o ato cirúrgico ao qual será submetido.

» Orientações para a reabilitação pós-operatória.

Comparados ao aparelho auditivo em BAHA, a prótese auditiva ancorada ao osso


possui uma melhor qualidade sonora, pois por estar fixado ao osso, a vibração é
mais bem absorvida pelo crânio e propagada até a cóclea. Além disso, não possui o
inconveniente de ter uma haste pressionando a cabeça. A sua principal desvantagem
quando comparado ao aparelho em BAHA é o fato de que esse pino é fixado no crânio
por meio de uma cirurgia (que não envolve a abertura do ouvido).

Os aparelhos ancorados ao osso são constituídos de duas partes, uma colocada


cirurgicamente ancorada ao osso, que constitui o vibrador, e outra, externa, que
constitui o processador de som. Podemos dividir essas próteses em dois tipos: as
percutâneas, cujo acoplamento com a unidade externa ocorre por meio de um pino
de titânio implantado ao osso; e as que são chamadas de transcutâneas, em que o
acoplamento com a unidade externa ocorre por meio de um ímã.

Como acontece na adaptação e seleção dos AASIs com transmissão por via aérea,
na adaptação de um aparelho auditivo ancorado ao osso, o fonoaudiólogo possui
papel fundamental, sendo essa atuação reconhecida pelo Conselho Federal.
Nosso papel está em participar das etapas de diagnóstico auditivo até a regulagem
do dispositivo.

92
Seleção e adaptação de AASI | Unidade IV

O conhecimento dos aspectos técnicos do aparelho, bem como os aspectos da demanda


auditiva do paciente, são de suma importância e são papéis do fonoaudiólogo, uma
vez que a regulagem do dispositivo depende dessas informações. Deve-se realizar
uma adaptação inicial e sempre que necessário os ajustes. Além disso, as avaliações
auditivas periódicas nos auxiliam a realizar uma regulagem mais precisa caso ocorra
alguma modificação nos limiares auditivos do paciente.

A reabilitação auditiva com o uso de aparelho auditivo ancorado ao osso é uma das
formas de reabilitação que mais exigem a ação multidisciplinar. O fonoaudiólogo
para diagnosticar e realizar a adaptação não consegue realizar a cirurgia. O médico
que realiza a cirurgia não terá validade alguma do seu procedimento se não houver
quem regule e acompanhe o paciente posteriormente. Além disso, se o paciente não
estiver socialmente e psicologicamente preparado para todos os procedimentos, o
insucesso é esperado. Por isso, como já dito, reforço aqui a importância da equipe
multidisciplinar que atue de forma conjunta e não cada um apenas realizando o seu
papel de forma isolada.

Até agora podemos observar a variedade de opções que existem quando falamos
de uso de aparelho auditivo para a reabilitação auditiva. Ter tantas opções é
muito importante e faz com que possamos escolher para cada paciente o que é
melhor para ele. Para realizar a escolha de forma correta (passo mais fundamental
durante o processo), nós precisamos conhecer e entender todas as possibilidades,
porém, mais importante que isso, precisamos realizar o raciocínio clínico.
Precisamos sempre lembrar que o que tem mais tecnologia, o que é menor ou o
que é mais caro, muitas vezes, não é o mais indicado para nosso paciente.

93
CAPÍTULO 3
Indicação, seleção e adaptação
de aparelhos de amplificação
sonora individual

Como podemos observar durante todo este módulo, o fonoaudiólogo está totalmente
inserido no processo de indicação, seleção e adaptação do AASI. Somos nós os
responsáveis pelo diagnóstico auditivo, pela indicação (junto com o médico), pela
seleção e pela adaptação. O diagnóstico será visto em outro módulo, mas gostaria de
discutir agora a indicação, a seleção e a adaptação.

Como já dito, a indicação foi a última etapa que nos foi permitida, antes ela era
exclusivamente médica. Sempre falo que o uso do AASI é um ótimo recurso para
reabilitar o paciente, porém precisamos sempre ter certeza de que não existe outra
possibilidade, como cirurgia ou medicação. Precisamos entender que o aparelho
reabilita auditivamente o paciente, mas não cura ou melhora a perda auditiva, por
isso, caso a possibilidade de um tratamento que cure ou melhore a perda auditiva seja
possível, ele deve ser levado em conta. Além disso, o uso do aparelho auditivo é eterno,
igual aos óculos, o paciente sempre terá que usá-lo, sendo esse mais um motivo para
avaliarmos sua real indicação.

Casos de perdas auditivas sensorioneurais que interferem na comunicação do indivíduo


são casos clássicos de indicação de AASI, uma vez que não há possibilidade de outros
tratamentos. Porém precisamos sempre lembrar que alterações retrococleares (em
que o uso de AASI não é indicado) também podem se manifestar como uma perda
auditiva sensorioneural. Então, ao indicar o uso do aparelho para uma pessoa com
perda auditiva sensorioneural, temos que ter certeza de que ela é de caráter sensorial.

Já quando falamos de perdas auditivas condutivas ou mistas, a nossa maior preocupação


é termos certeza que medicamentos ou cirurgias não são indicados. Lembrando que
existem casos em que se há a opção pelo tratamento cirúrgico, porém o paciente opta
em não o realizar, sendo então indicado o uso do AASI.

Com a certeza de que a conduta correta para aquele paciente é a reabilitação auditiva
com o uso do AASI, passamos então para a segunda etapa: a seleção, ou escolha de qual
aparelho auditivo é o indicado para aquele paciente. Como já vimos, nós fonoaudiólogos
realizamos, com o diagnóstico em mãos, a escolha de quais as características técnicas
do aparelho que mais se adaptam ao usuário. Para conseguir fazer isso, precisamos
entender muito sobre os aparelhos que temos a disposição e quais seus recursos, além

94
Seleção e adaptação de AASI | Unidade IV

de nos basearmos no exame auditivo, anatomia do ouvido, as queixas do paciente e


estilo de vida (quanto mais demanda auditiva um paciente tem, mais tecnologia ele
necessita).

Sempre digo que essa escolha do aparelho tem que ser feita em conjunto e comum
acordo entre o paciente e o fonoaudiólogo. Não podemos escolher um aparelho
que o paciente não gosta e não vai usar, mas também não podemos permitir que o
paciente faça a escolha de um que ele achou mais bonito, porém não serve para o seu
caso. Precisamos sempre lembrar que o conhecimento técnico é nosso, mas quem
usa é o paciente. Essa etapa exige muito jogo de cintura, convencimento e explicação.
O paciente deve saber tudo sobre seu problema e por que você fez a escolha daquele
aparelho para ele.

Aqui, nesse momento de escolha, também vale ressaltar um ponto importante quando
estamos falando no âmbito particular: o valor a ser pago. Cada paciente possui um
valor que pode pagar e, principalmente, que está disposto a pagar e isso tem que ser
respeitado. Claro que podemos mostrar, explicar e tentar convencer o paciente de que
um aparelho com mais tecnologia, e mais caro, por consequência, é o mais indicado
para o caso dele. Porém essa escolha final é do paciente. Outro ponto que influencia
bastante e que precisamos avaliar bem é quem vai fazer a compra, muitas vezes não é
o próprio paciente que paga pelo dispositivo e sim um familiar, o que acaba também
influenciando o valor.

Passada essa parte de seleção, ou seja, de escolha do modelo, entra-se então na fase de
adaptação. Essa parte envolve as regulagens, as orientações e o próprio uso constante.
Gostaria de destacar aqui a importância da orientação, passo muitas vezes deixado de
lado, ou realizado com pouca atenção. O paciente precisa entender como acontece o
processo de adaptação, a importância do uso constante e precisa se sentir seguro para
manipular o AASI, pois ele ficará durante todo o tempo fazendo uso dele. Muitas vezes,
é necessário realizar a orientação mais de uma vez e entregá-las por escrito também,
nos assegurando, assim, que o paciente entendeu bem.

Quanto à regulagem, a primeira realizada para que o paciente possa usar os AASI
chama-se regulagem inicial. Quando o paciente nunca fez uso de aparelhos antes, eu
oriento que se faça uma regulagem mais simples, sem tantos programas ou dispositivos.
Isso porque o paciente ainda está se adaptando, aprendendo. Nesse início, os retornos
precisam ser com pouco tempo, pois veremos no ambiente do paciente como o
aparelho está e, a partir das demandas relatadas, realizar ajustes. Com o decorrer da
adaptação, quando vemos que o som e os ajustes estão bons, espaçamos mais esses

95
Unidade IV | Seleção e adaptação de AASI

retornos, chegando ao máximo de acontecerem de 6 em 6 meses, quando conferimos


se o paciente está bem, se o aparelho está em pleno funcionamento e se é necessário
algum ajuste.

Não é incomum que o paciente, após estar bem adaptado, não retorne para as regulagens
e fique mais de um ano sem revisão. Isso não é indicado e precisamos deixar bem claro
ao paciente a importância do acompanhamento, pois é uma reabilitação auditiva.
Quando se passa muito tempo sem retornar, muitas vezes uma questão simples, fácil
de ser resolvida, torna-se complexa e demanda mais tempo e dinheiro.

Nesse processo todo, repito que é muito importante que o usuário tenha consciência que
a adaptação exige paciência, dedicação e empenho, porque o cérebro precisa se acostumar
a ouvir novamente. Ou seja, o paciente também exerce um papel fundamental. Porém,
em alguns casos, o paciente apresenta dificuldade nessa adaptação, sendo indicado
nestes o treinamento auditivo ou a terapia auditiva para auxiliar nessa adaptação.

Esse treinamento consiste em exercícios auditivos que estimulam as habilidades


auditivas e alteram as estruturas do cérebro, aumentando e fortalecendo as redes
neurais responsáveis pelo processamento auditivo. Esse treinamento também é feito
por nós fonoaudiólogos.

Como podemos observar em tudo estudado, a compra do aparelho ou a concessão


do aparelho pelo SUS (sistema único de saúde) é apenas o início do processo e o
fonoaudiólogo estará sempre presente para qualquer dúvida ou problema que possa
surgir. Portanto, a confiança do paciente e da família no fonoaudiólogo é fundamental
para a evolução do processo de adaptação.

Sabemos que a indicação, seleção e adaptação dos aparelhos auditivos é um


tema bastante extenso e complexo. Para um melhor aprofundamento do assunto,
sugiro a leitura do artigo “Protocolo de Seleção e Adaptação de Prótese Auditiva
para Indivíduos adultos e idosos”, disponível em: https://www.scielo.br/j/aio/a/
qVTCyZHc49RGJkXfP5FrpHp/abstract/?lang=pt#:~:text=COMENT%C3%81RI
OS%20FINAIS%3A%20O%20protocolo%20fonoaudiol%C3%B3gico,%2C%20
favorecendo%2C%20desta%20maneira%2C%20o. Acesso em: 19 out. 2021.

96
PARA (NÃO) FINALIZAR

Neste material, podemos ver o quão complexa é a reabilitação auditiva e que o uso do
AASI é uma das possibilidades para essa reabilitação. O fonoaudiólogo é o profissional
capacitado para realizar todo esse processo, que, se bem compreendido, pode ser
realizado de forma tranquila e segura, trazendo imensos benefícios ao paciente.

A audição é o sentido que permite às pessoas se comunicarem e aqueles que apresentam


dificuldade em ouvir acabam tendo diversas dificuldades no dia a dia. O isolamento social
é uma das principais consequências da perda auditiva e impacta de forma importante
na qualidade de vida. Por isso, reabilitar esse indivíduo é fundamental e contribui de
forma significativa na qualidade de vida.

Precisamos e devemos ter consciência da importância da nossa atuação, mas também


observar o privilégio que é poder devolver ao paciente a possibilidade de ouvir e se
comunicar.

97
REFERÊNCIAS

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98
Referências

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