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Envelhecimento Cerebral e

Patologias Relacionadas

Brasília-DF.
Elaboração

Camila Linhares Taxini

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO................................................................................................................................... 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA...................................................................... 5

INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 7

UNIDADE I
BASES TEÓRICAS DO ENVELHECIMENTO................................................................................................. 9

CAPÍTULO 1
O QUE É ENVELHECER?............................................................................................................ 9

CAPÍTULO 2
ANATOMIA E FISIOLOGIA DO ENVELHECIMENTO...................................................................... 16

UNIDADE II
NEURODEGENERAÇÃO....................................................................................................................... 33

CAPÍTULO 1
PROCESSOS MOLECULARES................................................................................................... 33

CAPÍTULO 2
ALZHEIMER............................................................................................................................ 39

CAPÍTULO 3
PARKINSON........................................................................................................................... 51

CAPÍTULO 4
ATEROSCLEROSE................................................................................................................... 59

CAPÍTULO 5
CUIDADO COM PACIENTES IDOSOS E OU COM DOENÇAS DEGENERATIVAS............................ 67

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 73
Apresentação
Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

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Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
O envelhecimento da população ocorre com o declínio das taxas de fecundidade e o aumento da
longevidade. A longevidade é o reflexo do desenvolvimento proprocionado pelas melhorias nas
condições sanitárias, avanços da medicina, cuidados com a saúde, melhoria na nutrição e bem-estar
econômico. O envelhecimento é observado em todas as regiões do mundo, independente dos
níveis de desenvolvimento do país. O crescimento do número de idosos gera preocupações sobre a
capacidade dessas sociedades em lidar com os desafios associados com essa evolução demográfica,
uma vez que a população em envelhecimento causa desafios econômicos, sociais e culturais para
os próprios indivíduos idosos, as famílias, sociedade e para a comunidade em geral (Fundo de
população das Nações Unidas, 2012).

Segundo dados do Fundo de população das Nações Unidas (2012), 46% das pessoas, com 60 anos ou
mais, apresentam incapacitações, ou seja, mais de 250 milhões de pessoas idosas têm incapacitação
de moderada à grave. Há aproximadamente 35,6 milhões de pessoas portadoras de demência no
mundo e esse número subirá para 65,7 milhões em 2030. O número crescente aponta a necessidade de
políticas de promoção de estilo de vida saudável, tecnologia assistida, pesquisas médicas e cuidados
de reabilitação, para que além de promover uma vida saudável, haja prevenção ou retardamento
de doenças e/ou incapacidades proporcionando ao idoso independência e tratamentos disponíveis.

O envelhecimento é um processo natural que afeta todos os seres vivos, ocorre a degradação
progressiva das células, tecidos, órgãos e sistemas, a velocidade e a gravidade variam de estrutura
para estrutura e de indivíduo para indivíduo. No envelhecimento há de se levar em conta a idade
biológica, social e psicológica que podem ser diferentes entre si e diferente também da idade
cronológica. Desde o nascimento até a morte os seres vivos passam por alterações notáveis como
mudanças comportamentais, físicas, no desempenho cognitivo e aparecimento de demências
características, mas também outras nem tão visíveis como por exemplo alterações neurobiológicas
estruturais, funcionais e químicas (CANCELA, 2007). Não apenas os fatores endógenos estão
relacionados com o envelhecimento, os exógenos como os fatores ambientais e socioculturais
também interferem no envelhecimento sadio ou patológico (SANTOS et al., 2009).

Todo o organismo passa por alterações neurobiológicas, neurofisiológicas, neuroquímicas e


estruturais. O envelhecimento normal, conhecido como senescência, é o processo responsável por
essas alterações (orgânicas, funcionais e psicológicas) e não são sinais de doença, já quando há
afecções que acometem indivíduos idosos frequentemente é chamado de senilidade (MACEDO,
2006). É importante saber diferenciar senilidade de senescência para uma intervenção precoce
(SANTOS et al., 2009).

Com o avançar da idade, principalmente em torno dos 60 anos, há um aceleramento nas alterações
moleculares e celulares que envolvem a apoptose, radicais livres, mudanças proteicas, mudanças
neuroquímicas que alteram a transmissão colinérgica, diminuição de neurotransmissores e depósito
de proteína amiloide. Em relação às alterações estruturais e neurofisiológicas do cérebro, o indivíduo
idoso apresenta atrofia cerebral, redução do volume do córtex, dilatação de sulcos e ventrículos,

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espessamento das meninges, diminuição do número dos neurônios e da plasticidade, presença de
placas neuríticas e emaranhados neurofibrilares (Protocolo de Atenção à Saúde do Idoso, 2006;
SANTOS et al., 2009).

As alterações, supracitadas, que ocorrem no processo de envelhecimento dos órgãos e sistemas


podem originar as síndromes geriátricas. Os problemas neurológicos mais comuns são Alzheimer,
Parkinson, demências, distúrbio do sono, e os problemas cardiovasculares mais comuns observados
são a hipertensão, cardiopatias e aterosclerose (CARDOSO, 2009). A demência é a síndrome crônica
que mais afeta as pessoas idosas, ela causa um declínio funcional progressivo e acarreta a perda
gradual da autonomia e independência do paciente. São observadas perturbações de diversas funções
cognitivas que atrapalham o controle emocional, comportamento social e motivação, e acabam
interferindo nas atividades diárias como higiene pessoal, atividades fisiológicas, alimentação entre
outras (Ministério da Saúde, 2007).

A velhice tem que ser pensada e valorizada pelo próprio idoso, pelos familiares, profissionais da
saúde e da pesquisa e pela sociedade em geral. Uma assistência adequada pode controlar problemas
comuns na saúde do idoso, proporcionando uma perspectiva de vida melhor. As motivações
demográficas e socioeconômicas têm promovido nas políticas atuais o investimento na área
saúde durante o envelhecimento (ASSIS, 2005). Profissionais da área da saúde vêm estudando e
discutindo conceitos como autonomia, independência e dependências de idosos. A importância do
diagnóstico precoce se dá pela possibilidade de tratamento medicamentoso e/ou neuropsicológico
que diminuam, estabilizem ou adiem a progressão do processo degenerativo (SANTOS et al., 2009).

Objetivos
»» Promover uma visão holística sobre o envelhecimento e as patologias relacionadas,
dando ao aluno subsídios para transpor o conhecimento científico para a sociedade.

»» Analisar a neuroanatomia e as doenças neurodegenerativas que mais afetam os


idosos.

»» Compreender desde a gênese, o desenvolvimento, sintomas até os possíveis


diagnósticos e tratamentos para que o aluno possa tratar cada assunto de uma
forma mais crítica e embasada na literatura.

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BASES
TEÓRICAS DO UNIDADE I
ENVELHECIMENTO

CAPÍTULO 1
O que é envelhecer?

Definições sobre envelhecimento

Há várias visões e formas diferentes para definir envelhecimento, especialistas estão tentando
abranger todas as vertentes possíveis para uma melhor compreensão da velhice. Como envelhecer
bem? Quais as diferenças biológicas, psíquicas e ambientais quem influenciam no envelhecimento
individual? Como todos esses fatores podem estar relacionados e como tentar controlá-los de forma
que possamos ter uma vida longa e saudável?

Segundo o geriatra Adriano Gordilho, na entrevista dada ao programa Aprovado da Globo TV no


dia 04 de Agosto de 2012,

[envelhecer] é viver [...] é uma etapa da vida como outra qualquer [...] A
Organização Mundial de Saúde define envelhecimento a partir dos 65 anos
[...] mas você não fica velho na véspera do seu aniversário de 65 anos, é um
processo [...] do nascimento até os 30-35 anos a gente não tá envelhecendo,
a gente tá na fase de crescimento, depois tem um platô onde as forças de
crescimento e as forças de diminuição da função vão se equilibrando, e depois
dos 35 há um declínio em todas as funções [...] Envelhecer é perder função lenta
e progressivamente seria o envelhecimento bem sucedido, e aceleradamente o
envelhecimento mal sucedido [...].

O envelhecimento afeta todos os seres vivos, cujo processo de degradação progressivo e diferencial
culmina na morte do organismo (CANCELA, 2007). Fontaine (2000) enfatiza que os indivíduos
envelhecem de formas muito diversas, pois tem a idade biológica, a idade social e a idade
psicológica que podem ser muito diferentes da idade cronológica.

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UNIDADE I │ BASES TEÓRICAS DO ENVELHECIMENTO

Assim, envelhecer é inevitável e diferenciado, é um processo natural dos seres vivos. Na sequência
veremos alguns dados e estimativas que têm despertado o interesse de profissionais da área de
saúde sobre o envelhecer bem sucedido.

População idosa e saúde pública


A Organização Mundial da Saúde utiliza a faixa etária como critério para a classificação de
envelhecimento, porém envelhecer não leva em consideração apenas os aspectos biológicos e
fisiológicos, mas também o estado emocional, condições socioeconômicas e culturais, o que torna o
envelhecimento um processo único para cada indivíduo (TELLES; GROISMANN). Assim,

[envelhecer] é um processo sequencial, individual, acumulativo, irreversível,


universal, não patológico, de deterioração de um organismo maduro, próprio
a todos os membros de uma espécie de maneira que o tempo o torne menos
capaz de fazer frente ao estresse do meio-ambiente e portanto aumente sua
possibilidade de morte.
(Organização Pan-Americana da Saúde).

O envelhecimento populacional é uma questão de saúde pública. Em 1960 o Brasil tinha mais de 3
milhões de idosos (≥ 60 anos de idade), em 15 anos essa população dobrou, e em 2002 passou para
14 milhões o que significa um aumento de 500% em quarenta anos. A estimativa é que em 2020
essa população estará em torno de 32 milhões (LIMA-COSTA; VERAS, 2003). A previsão é que o
número de idosos em 2050 atinja 64 milhões, por essas previsões, a proporção de pessoas mais
velhas no total da população brasileira passaria de 10%, em 2012, para 29%, em 2050 (BBC Brasil,
2012), dados representados no gráfico 1.

Gráfico 1. Número, em milhões, de idosos com idade igual ou superior à 60 anos de idade, ilustrando o
crescimento populacional no Brasil ao longo de 42 anos (1960-2002) e a estimativa para os próximos 37 anos
(2013-2050).

Fonte: BBC Brasil, 2012

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BASES TEÓRICAS DO ENVELHECIMENTO │ UNIDADE I

Hoje, cerca de 66% população acima de 60 anos vivem em países em desenvolvimento. Em 2050,
essa proporção subirá para quase 80% (BBC Brasil, 2012). Dados do Fundo de População das Nações
Unidas (uma agência ligada à ONU) relata que em 2022 a estimativa é que o número de pessoas com
mais de 60 anos no planeta supere a marca de um bilhão de pessoas, e em 2050 chegarão a dois
bilhões, ou seja, 20% da população mundial.

Com o aumento do tempo de vida, as doenças do envelhecimento tem uma maior expressão na
sociedade, aumentando o interesse pela pesquisa na área da Saúde Pública e Envelhecimento
(LIMA-COSTA; VERAS, 2003). Como exemplo, o estudo do sequenciamento do DNA de uma idosa
que viveu até os 115 anos de idade sem apresentar nenhum sinal de demência, o estudo tinha por
objetivo esclarecer algumas associações entre variações genéticas, saúde e longevidade. O trabalho
desenvolvido na Holanda pela pesquisadora Henne Holstege do Departamento de Genética Clínica
da VU University Medical Center, em Amsterdã, indica que a idosa apresentava algumas variações
genéticas raras em seu DNA que a protegiam contra doenças associadas à velhice (BBC Brasil, 2011).

Pesquisadores da Universidade de Atenas também investigam a longevidade de 8 mil moradores da


Ilha de Ikaria, na Grécia. Os moradores com mais de 65 anos apresentam doenças cardiovasculares
e câncer mais tardiamente, e vivem em média dez anos a mais do que a maioria dos europeus,
afirma a cardiologista Christina Chrysohoou. Alguns hábitos comuns na comunidade ajudam no
índice baixo de depressão e demência, como número baixo de fumantes, o hábito de sestear, ritmo
de vida lento, reunião familiar e com os amigos, dieta rica em peixe, legumes e verduras. Áreas onde
as pessoas têm uma vida mais longa são chamadas de “zonas azuis” (Fig.1) pelo autor Dan Buettner,
que escreve para a revista National Geographic, a ilha de Ikaria é uma delas, assim como Ilha de
Okinawa no Japão, a província italiana de Luoro, na Ilha da Sardenha na Itália, e a cidade de Loma
Linda na Califórnia (Fig 1.) (BBC Brasil, 2013).

Figura 1. Mapa mostrando os pontos da longevidade, as “zonas azuis”, definidas por Dan Buettner: Loma Linda,
Califórnia nos Estados Unidos; Península de Nicoya, Costa Rica na América Central, Ilha de Sardenha, Itália na
Europa; Ilha de Ikaria, Grécia na Europa e Ilha de Okinawa, Japão na Ásia. As lições de vida das “zonas azuis” são:
mover naturalmente, perspectiva, viver em comunidade e comer sabiamente.

Fonte: <http://bluezonesup.com/?page_id=596>.

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UNIDADE I │ BASES TEÓRICAS DO ENVELHECIMENTO

Nessa parte introdutória da aula vimos que “envelhecer” vai além de uma definição, de uma
idade fixa ou um fator apenas, envelhecer não é um processo simples, nem tão pouco igual para
todos. Envelhecer envolve um conjunto de fatores: genéticos, ambientais, sociais, psíquicos e de
qualidade de vida, e todos esses fatores são decisivos no envelhecimento neural, assunto que
veremos em outro capítulo.

Teorias do envelhecimento

Envelhecimento Biológico e Psíquico


Uma forma didática de separar o envelhecimento é abordar os aspectos biológicos com os efeitos
que o tempo causa no organismo (envelhecimento somático), e os aspectos psicológicos que
tratam do envelhecimento psíquico.

Envelhecimento Biológico

O envelhecimento biológico é multifatorial e de natureza genética, ocorre a nível celular-molecular.


As áreas afetadas podem sobrecarregar os mecanismos de controle, a fim de manter um nível dentro
dos padrões fisiológicos. O aparecimento de disfunções manifestam sinais discretos no início, não
prejudicando o idoso, até quando se faz necessária a utilização de reservas homeostáticas, que no
idoso já são mais fracas (MORAES, 2010).

É uma teoria baseada apenas em fatores genéticos, a velocidade com que uma determinada espécie
envelhece é pré-determinada por seus genes, ou seja, os genes determinam quanto tempo as células
viverão. Nessa teoria, as nossas células morrem após um determinado número de divisões celulares
(mitose). Conforme as células vão morrendo, o funcionamento dos órgãos é comprometido até não
conseguirem manter as funções biológicas necessárias para a manutenção da vida.

O Sistema Nervoso Central (SNC) é a estrutura onde acumulamos toda informação presente,
lembranças do passado e a formulação de novos conceitos. Com o tempo, o envelhecimento causa
a perda celular, que por sua vez não atinge as regiões corticais igualmente, já que os neurônios
da mesma região têm fenótipos moleculares únicos e, portanto, diferentes vulnerabilidades aos
processos deletérios (córtex pré-frontal é mais sensível às mudanças do envelhecimento). Os
neurotransmissores também são alterados, principalmente os sistemas dopaminérgico e colinérgico
ficam diminuídos (MORAES et al., 2010).

O SNC, apesar de não ser capaz de recuperar seus neurônios, tem propriedades
que podem diminuir o impacto das alterações do envelhecimento, como:
redundância (existem muito mais neurônios no cérebro que o necessário);
mecanismos compensadores (surgem em situações de lesão cerebral e são mais
hábeis conforme o centro atingido); plasticidade (habilidade de neurônios
maduros, com sua rede de dendritos, desenvolverem e formarem novas
sinapses, levando à formação de novos circuitos sinápticos).

(TALLIS; FILLIT, 2003 apud MORAES et al., 2010).

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BASES TEÓRICAS DO ENVELHECIMENTO │ UNIDADE I

Durante o envelhecimento é possível verificar algumas alterações no SNC, em geral as funções


cognitivas não são afetadas. São observadas algumas alterações como:

»» redução do peso encefálico (10%);

»» redução do fluxo sanguíneo cerebral (15-20%);

»» redução do volume ventricular;

»» redução do número de neurônios;

»» redução do depósito neuronal de lipofuscina (pigmento constituído por fosfolipídeos


e proteínas resultante da digestão incompleta de restos celulares, quanto mais
lipofuscina, mais velha é a célula, é um parâmetro usado para detectar o tempo de
vida celular).

Em contrapartida há:

»» aumento de placas senis;

»» aumento da degeneração neurofibrilar comprometendo a neurotransmissão


dopaminérgica e colinérgica;

»» aumento da lentificação da velocidade de condução nervosa.

As regiões que mais são afetadas ao longo dos anos estão localizadas no lobo temporal medial, e
no lobo frontal (Fig. 2), e a porção ventromedial do lobo frontal não apresenta alterações, ela é
responsável pela regulação do comportamento social e emocional (MORAES, 2010). Há de ressaltar
que as alterações dos órgãos dos sentidos, como a visão e audição dificultam o acesso às informações
e o aprendizado (CANÇADO; HORTA, 2006).

Figura 2. Corte sagital de um encéfalo humano mostrando o lobo frontal, lobo parietal, lobo occipital e lobo
temporal.

Fonte: <http://virtualpsy.locaweb.com.br/adm/img2/Lobo_Frontal.jpg>

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UNIDADE I │ BASES TEÓRICAS DO ENVELHECIMENTO

Envelhecimento Psíquico

Em relação aos aspectos neuropsicológicos, durante a velhice de idosos saudáveis sem limitações
físicas, não é comum alterações no funcionamento mental. A maior dificuldade no envelhecimento
é o limite entre as alterações cognitivas (percepção, atenção, memória, raciocínio, tomada de
decisões, solução de problemas e formação de estruturas complexas do conhecimento) normais e
patogênicas.

O esforço pessoal na busca do autoconhecimento e do sentido da vida é indispensável para que


a pessoa atinja independência psíquica, e permite também a superação dos preconceitos e a
participação ativamente na evolução das pessoas e dos grupos aos quais esteja ligado (MORAES, et
al., 2010).

Moraes (2010) define o idoso segundo o Centro de Psicoterapia Analítico-Fenomenológico


Existencial (2002), o idoso “entrega-se à existência com a pureza das crianças, mas sem a sua
ingenuidade, com o vigor do adolescente, mas sem a sua pugnacidade, com a sensatez do homem
maduro, mas sem o seu orgulho. Torna-se cidadão do Universo com a astúcia da raposa e a malícia
da serpente, o que faz dele um sábio”.

Teoria dos Radicais Livres

Atualmente é a teoria mais aceita, surgiu em 1954 e foi proposta pelo Dr. Denham Harmon. Ela
postula que as células envelhecem em consequência dos danos acumulados devido às reações
químicas que liberam toxinas (radicais livres) no interior das células. Vejamos melhor como isso
acontece:

Os radicais livres são substâncias tóxicas que possuem um número ímpar de elétrons e por isso
procuram ligar-se a outras moléculas para estabilizar o elétron livre (Fig. 3a), danificando a célula
(por causar danos à sua estrutura) até atingir seu mau funcionamento e chegar à morte celular.
Assim, os radicais livres oxidam quase todas as moléculas e podem gerar novos radicais livres,
formando um ciclo.

Um alvo dos radicais livres são as células nervosas, e por não se reproduzirem, acabam diminuindo
cada vez mais e acarretando cada vez menos conexões sinápticas, conduzindo a uma perda da
capacidade funcional.

A melhor forma de atenuar os efeitos dos radicais livres é fornecer ao organismo antioxidantes (Fig.
3b). O principal antioxidante endógeno é a melatonina produzida pela glândula pineal durante o
sono e os principais antioxidantes exógenos são as vitaminas C e E.

Os radicais livres estão envolvidos, em grande parte, nas doenças típicas da idade, como doenças
neurodegenerativas, arteriosclerose, doenças coronárias, catarata, cancro, hipertensão entre outras,
tornando essa teoria uma forte evidencia científica.

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BASES TEÓRICAS DO ENVELHECIMENTO │ UNIDADE I

Figura 3a. Fatores influenciando o átomo a perder um elétron, tornando-se um radical livre.

3b. Antioxidante doando um elétron para o radical livre para neutralizá-lo.

Fonte: <http://loja.bioaulas.com.br/images/antioxidantes01.jpg>; modificado de <http://www.infoescola.com/wp-content/


uploads/2010/05/antioxidante.gif>

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UNIDADE I │ BASES TEÓRICAS DO ENVELHECIMENTO

CAPÍTULO 2
Anatomia e fisiologia do
envelhecimento

Anatomia e Organização do Sistema Nervoso


O Sistema Nervoso pode ser didaticamente dividido baseando-se em critérios anatômicos: Sistema
Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso Periférico (SNP). Várias partes estão intimamente
relacionadas do ponto de vista morfológico e funcional.

O Sistema Nervoso é o responsável pelas funções orgânicas bem como as interações dos seres vivos
com o ambiente, é ele quem controla todo o organismo e identifica, interpreta e modula qualquer
resposta frente a um estímulo detectado no corpo do animal. O funcionamento do SN é baseado
em estímulo-reação (estímulo reflexo), ou ainda estímulo-interpretação-reação (dependente da
vontade).

Sistema Nervoso Central

O Sistema Nervoso Central está localizado no esqueleto axial (coluna vertebral e encéfalo) é
constituído pela medula espinhal e encéfalo (Fig. 4).

Figura 4. Esquema representativo do Sistema Nervoso Central de humano, formado pelo encéfalo (cérebro +
cerebelo + tronco encefálico) e pela medula espinhal.

Fonte: <http://fisioterapiaesaude.com/sistema-nervoso-central-processamento-perfeito/>

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BASES TEÓRICAS DO ENVELHECIMENTO │ UNIDADE I

Como observado na figura acima, as subdivisões do encéfalo são:

»» cérebro: formado pelo telencéfalo e diencéfalo;

»» tronco encefálico: formado pelo mesencéfalo, ponte e o bulbo; e

»» cerebelo.

A maior parte do encéfalo corresponde ao cérebro, que pode ser dividido também de acordo com o
nome do osso do crânio que tem relação, como lobo frontal, occipital, parietal e temporal (Fig. 5).

Figura 5. Visão lateral comparando os ossos do crânio com lobos cerebrais que recebem o mesmo nome pro
sua localização: 1). frontal, 2). parietal, 3). temporal e 4). occipital.

Fonte: Modificado de <http://www.pixelatedbrain.com/images/draw/composit/drcom_1_1a.html>

Em um corte encefálico podemos observar áreas mais claras e outras mais escuras correspondentes
à substância branca e substância cinzenta, respectivamente (Fig. 6.). A diferença de cor é de acordo
com a estrutura, onde a parte mais clara são fibras nervosas mielínicas e a cinza os corpos dos
neurônios.

17
UNIDADE I │ BASES TEÓRICAS DO ENVELHECIMENTO

Figura 6. Corte coronal de encéfalo humano indicando a substância branca e a substância cinzenta, além da
fissura dos hemisférios e outras regiões como tálamo, hipocampo, ponte, cerebelo e bulbo.

Fonte: <http://www.guia.heu.nom.br/images/Cortex2.jpg>

A substância cinzenta no tronco encefálico é toda fragmentada no sentido longitudinal, ântero-


posterior e látero-lateral, formando os núcleos celulares. Do tronco encefálico originam 12 pares
de nervos, denominados nervos cranianos (Fig. 7). No cérebro e no cerebelo pode-se reconhecer
uma massa branca revestida externamente por uma fina camada de substância cinzenta chamado
de córtex cerebral (Fig. 6) e córtex cerebelar, respectivamente. No centro encontra-se a massa de
substância cinzenta conhecida como núcleos da base (no cérebro), e núcleos centrais (no cerebelo).

Figura 7. Representação dos 12 pares cranianos e local de atuação.

Fonte: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/capas/corpo-humano/sistema-nervoso.php>

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BASES TEÓRICAS DO ENVELHECIMENTO │ UNIDADE I

Já na medula a substância cinzenta forma um eixo central revestida na sua extremidade pela
substancia branca, que lembra uma borboleta. Da medula também saem nervos, são 32 pares de
nervos espinhais (Fig. 8). Alguns processos semelhantes recebem nomes diferentes dependendo
de onde acontecem, o acúmulo de corpos celulares dos neurônios no SNC é chamado de núcleo,
quando esse acúmulo ocorre fora do SNC, são chamados de gânglios.

Figura 8a. Corte transversal da medula espinhal para visualização da substância branca, mais externa e da
substância cinzenta, mais interna, e algumas inervações.

8b. Os 31 pares de nervos espinhais sendo que os 8 pares superiores são cervicais, logo em seguida 12 pares de
nervos torácicos, na sequência 5 pares de nervos lombares e por último 5 pares de nervos coccígeos.

Fonte: NETTER, Frank H. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

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UNIDADE I │ BASES TEÓRICAS DO ENVELHECIMENTO

Meninges

O SNC é protegido por três membranas de tecido conjuntivo chamadas meninges, são elas:

»» dura-máter, mais externa e espessa;

»» aracnoide; e

»» pia-máter, mais interna e fina, está intimamente ligada ao encéfalo e à medula


espinhal.

O espaço capilar que separa a dura-máter da aracnoide chama-se subdural, e o espaço entre
aracnoide e a pia-máter é o subaracnoide, onde circula o líquido cérebro-espinhal ou liquor. (Fig.
9). O líquido cérebro-espinhal protege o encéfalo de choques mecânicos, age como amortecedor, seu
estudo pode diagnosticar várias doenças que atingem o sistema nervoso central como hemorragias
e infecções.

Figura 9. Desenho de um corte sagital do sistema nervoso central identificando as meninges, dura-máter,
aracnoide e pia-máter, e o espaço entre as meninges como o subaracnoide onde está o fluido cérebro-espinhal.

Fonte: Modificado de <http://blog.corewalking.com/wp-content/uploads/2012/10/Meninges_1.jpg>

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BASES TEÓRICAS DO ENVELHECIMENTO │ UNIDADE I

Sistema nervoso periférico

Formado por nervos cranianos e espinhais, gânglios e terminações nervosas.

As fibras de um nervo são classificadas de acordo com a estrutura que inervam, ou seja, conforme
sua função. Dessa forma, fibras que ativam ou estimulam a musculatura são denominadas de fibras
motoras e as que conduzem estímulos para o SNC de sensitivas (Fig. 10).

Figura 10. Via do arco reflexo. As fibras sensoriais levam a informação ao neurônio de associação pós ganglionar
na medula que levará a resposta via fibra motora até a placa motora. Por ser uma via reflexa, a informação não
ascende até o SNC.

Fonte: SILVA, César; SASSON Sezar. Biologia, Editora Saraiva.

As fibras motoras que levam informação do SNC são fibras eferentes e as que ascendem informações
ao SNC são aferentes (Fig. 11). As terminações nervosas estão presentes nas extremidades das
fibras sensitivas, que recebem principalmente estímulos químicos e físicos internos e externos, e
nas fibras motoras como a placa motora.

21
UNIDADE I │ BASES TEÓRICAS DO ENVELHECIMENTO

Figura 11. Via reflexa, indicando a fibra aferente e a fibra eferente.

Fonte: Modificado de <http://www.med.ufro.cl/Recursos/neuroanatomia/archivos/13_sistematizacion_archivos/image4131.


jpg>

Os nervos são fibras nervosas por onde passam os impulsos nervosos, levando ou trazendo
“informação” do SNC. São unidos por tecido conjuntivo, e como já visto, são divididos em cranianos
e espinhais. Dos 12 pares cranianos, 10 se originam no tronco encefálico, alguns são puramente
sensitivos, outros apenas motores e ainda tem os sensitivos e motores, já os 31 pares de nervos
espinhais, sua fibra é sempre mista (sensitiva/aferente e motora/eferente).

Além da divisão anatômica supracitada, o SN pode ser dividido de acordo com os critérios funcionais:

»» somático: é aquele que relaciona o organismo com o meio ambiente, o componente


aferente conduz aos centros nervosos impulsos nervosos originados nos receptores
periféricos e o componente eferente leva aos músculos estriados esqueléticos a
resposta para movimentos voluntários.

»» visceral: é aquele que está ligado com a inervação e controle das vísceras, também
é constituído de componentes aferentes e eferentes, e são importantes para a
integração das diversas vísceras;

›› sistema nervoso autônomo é o componente eferente do sistema nervoso


visceral, é subdividido em:

·· simpático e parassimpático, leva os impulsos originados em certos


centros nervosos até as vísceras, terminado em glândulas, músculos lisos ou
músculo cardíaco.

22
BASES TEÓRICAS DO ENVELHECIMENTO │ UNIDADE I

Assim, o Sistema Nervoso pode ser dividido anatomicamente:

ou funcionalmente:

Tecido Nervoso
Após uma visão geral, é hora de aprofundar um pouco mais no nosso sistema nervoso.

O tecido nervoso é constituído basicamente de dois tipos celulares, os neurônios e as células gliais
ou neuroglia. Os neurônios são fundamentais para receber, processar e enviar informações, e

23
UNIDADE I │ BASES TEÓRICAS DO ENVELHECIMENTO

as glias para sustentar, revestir e isolar, modular a atividade neural e para defesa. Geralmente,
após a diferenciação, as células neuronais não se dividem, ou seja, aquelas que morrem não são
substituídas por novos neurônios, salvo algumas exceções como os neurônios sensoriais primários
que são gerados durante toda a vida a partir de células indiferenciadas. Vejamos:

Neurônios
Os seres vivos estão cercados de diferentes estímulos durante toda a vida, e precisam reajustar
os sistemas fisiológicos para sobreviverem. Neurônios são células especializadas que detectam,
transmitem e modulam as respostas autonômicas, motoras e/ou comportamentais.

O SNC contém mais de 100 bilhões de neurônio, e a cada minuto recebe milhões de bytes de
informações vindas de órgãos e nervos sensoriais (GUYTON; HALL, 2006).

Podem ser classificados grosseiramente em três grupos:

1. sensitivos ou aferentes;

2. motores ou efetores;

3. neurônio de associação.

Os neurônios são formados por corpo celular, axônio e dendritos (Fig. 12). Para cada tipo de
neurônio pode ter algumas centenas até 200.000 conexões sinápticas aferentes. Já o sinal eferente
deste mesmo neurônio é conduzido por um único axônio e daí a importância das ramificações, para
que as respostas se dirijam para outras regiões do sistema nervoso (GUYTON; HALL, 2006).

Figura 12. Esquema de um neurônio multipolar típico de vertebrado.

Modificado de Ham e Lesson, 1961, segundo Hoar, 1966.

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BASES TEÓRICAS DO ENVELHECIMENTO │ UNIDADE I

»» No corpo celular estão presentes o núcleo e o citoplasma com organelas


citoplasmáticas. É o centro metabólico do neurônio, responsável pela síntese de
todas as proteínas neuronais, parte do processo de degradação e renovação dos
constituintes celulares. Os corpos celulares, como os dendritos, são locais de
recepção de estímulos através das sinapses.

»» A maioria dos neurônios possuem um axônio longo e fino que se origina no corpo
celular ou no dendrito, e é capaz de gerar no seu segmento inicial (zona gatilho)
alteração do potencial de membrana chamado de potencial de ação, ou impulso
nervoso, que é a despolarização do tipo “tudo ou nada” ao longo de toda a
membrana. Assim, os axônios são especializados em gerar e conduzir potencial de
ação (onda de descarga elétrica).

»» Os dendritos geralmente são curtos, ramificados e especializados em receber


estímulos determinando a entrada ou saída de íons (Fig. 13):

›› Despolarização (excitatória): redução da carga negativa do lado citoplasmático


da membrana;

›› Hiperpolarização (inibitória): aumento da carga negativa do lado de dentro da


célula ou aumento da carga positiva do lado de fora.

Os neurônios tem seu potencial de membrana de repouso em torno de -70 a -90mV, indicando que
no seu interior há mais cargas negativas em relação ao meio extracelular. Quando um estímulo
chega ao potencial limiar da célula, ou seja, a célula se torna menos negativa (despolarização) a
ponto que o estímulo é conduzido por toda membrana no processo “tudo ou nada”, então os canais
voltam ao seu estado de repouso repolarizando as células.

Note que apenas a despolarização é capaz de conduzir o potencial de ação, por esse motivo dizemos
que quando um estímulo chega ao neurônio e ele hiperpolariza a célula, é um estímulo inibitório,
não há transmissão de potencial de ação.

Figura 13. A sequência da abertura dos canais voltagem-dependentes de Sódio e Potássio gerando o potencial
de ação.

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UNIDADE I │ BASES TEÓRICAS DO ENVELHECIMENTO

Modificado de: KANDEL. Principles of Neural Science, 4ª Edição, McGraw-Hill Companies, 2000.

As ramificações dos dendritos e dos axônios são variáveis, e por isso recebem diferentes classificações,
como: multipolares que tem vários dendritos e um axônio, bipolares com dois prolongamentos
que deixam o corpo celular (dendrito e axônio), entre outros. O tamanho das estruturas dos
neurônios também é variável.

Células gliais
As células da glia se relacionam com os neurônios tanto no SNC quanto no SNP (Fig. 14).

No SNC a glia compreende os astrócitos, oligodendrócitos, microgliócitos e células ependimárias.

»» Astrócitos: têm expansões chamadas pés saculares que se apoiam em capilares


sanguíneos e entram também em contato com os neurônios, envolvendo as sinapses
e isolando-as. Tem por papel sustentação e isolamento de neurônios. Quando
uma área é lesada, os astrócitos se aumentam no local de maneira que forme cicatriz,
e quando há degradação axônica os astrócitos fagocita ao nível das sinapses.

»» Oligodendrócitos: de tamanhos menores e com menos prolongamentos também


podem formar pé vasculares, são responsáveis pela formação da bainha de
mielina dos axônios do SNC.

»» Microgliócitos: são células pequenas e alongadas e possuem poucos alongamentos.


Seu papel é fagocitar e aumentam em caso de injuria e inflamação.

»» Células ependimárias: revestem a parede dos ventrículos cerebrais, do


aqueduto cerebral e do canal central da medula espinhal, com sua face luminal com
microvilosidades e ciliada.

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BASES TEÓRICAS DO ENVELHECIMENTO │ UNIDADE I

No SNP as glias são as células satélites ou anfícitos e as células de Schwann derivadas da crista
neural.

»» Células satélites: envolvem os corpos celulares dos neurônios dos gânglios


sensitivos do sistema nervoso autônomo.

»» Células de Schwann: circundam os axônios, formando seus envoltórios,


chamado de bainha de mielina e em caso de injuria dos nervos são as células
de Schwann que desempenham papel de regeneração dessas fibras, além da sua
ação fagocítica.

Figura 14. As principais células glias do Sistema Nervoso Central: oligondendrócitos e astrócitos; e do Sistema
Nervoso Periférico: células de Schwann.

Fonte: Modificado de: KANDEL. Principles of Neural Science. 4ª Edição, McGraw-Hill Companies, 2000.

Sinapses e neurotransmissão
As sinapses são comunicações entre neurônios, ou entre neurônios e células musculares, que
ocorrem principalmente através das terminações axônicas. Elas podem ser sinapses elétricas ou
sinapses químicas.

Sinapses elétricas

As sinapses elétricas são exclusivamente interneurais. As membranas plasmáticas dos neurônios


entram em contato com um espaço mínimo entre elas (2-3nm), os canais iônicos projetam-se no
espaço intercelular justapondo-se de modo que estabelecem comunicações intercelulares (gap
junction), formando uma ponte entre o citoplasma da célula pré e pós-sináptica (Fig. 15). Assim
íons de uma célula podem passar para a outra. Essa comunicação se faz nos dois sentidos e não é
polarizada.

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UNIDADE I │ BASES TEÓRICAS DO ENVELHECIMENTO

Figura 15. Impulso nervoso no neurônio pré-sináptico, e em maior aumento a sinapse elétrica com as gap
junctions.

Neurônio
Pré-sináptico Membrana
Pré-sináptica

Impulso
nervoso

Neurônio
Pós-sináptico Canal formado
Membrana por poros de cada
Pós-sináptica membrana

Modificada de: <http://dc247.4shared.com/doc/QhQQAris/preview006.png>.

A sinapse elétrica é extremamente rápida porque é resultado do fluxo direto da corrente elétrica,
certamente importante para resposta de escape. A sinapse elétrica também é vantajosa para conexão
de grande número de neurônios, já que a corrente flui pela membrana de todas as células acopladas
ao mesmo tempo, assim várias células pequenas podem ser ativadas coordenadamente como uma
célula grande.

Nas células da glia também foram encontradas as gap junctions mediando tanto a comunicação
intra como intercelular. No encéfalo tem se observado que os astrócitos estão conectando-se por
gap junctions formando um network de células da glia, indicando que a glia também pode ter papel
na sinalização central.

Sinapses químicas
A maioria das sinapses interneurais e todas as neuroefetuadoras são químicas, dependente da
liberação de neurotransmissor.

Os neurotransmissores são substâncias químicas e estão armazenados nas vesículas sinápticas dos
neurônios pré-sinápticos que os liberam na fenda sináptica (20-30nm) para encontrar os receptores
específicos na membrana dos neurônios pós-sinápticos. A perfeita função da sinapse exige que o
neurotransmissor seja recapturado rapidamente da fenda sináptica para que não ocorra uma
excitação ou inibição do neurônio pós-sináptico o tempo todo.

Durante a descarga do potencial de ação pré-sináptico há o influxo de Ca2+, o aumento da


concentração de Ca2+ intracelular causa a fusão das vesículas com a membrana pré-sináptica e então
o neurotransmissor é liberado na fenda sináptica por exocitose (Fig. 16)

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BASES TEÓRICAS DO ENVELHECIMENTO │ UNIDADE I

Figura 16. Transmissão de sinapse química. O potencial de ação ao chegar ao terminal pré-sináptico abre os
canais de Ca2+ voltagem-dependentes. O influxo de íons de cálcio intracelular causa a fusão das vesículas
sinápticas com a membrana da célula pré-sináptica e por exocitose as moléculas de transmissores são liberadas
na fenda sináptica. Ao encontrarem os receptores na membrana pós-sináptica, os canais iônicos abrem ou
fecham (dependendo se o neurotransmissor é inibitório ou excitatório) que mudará a condutância e o potencial
de membrana da célula pós-sináptica.

Fonte: Modificado de: KANDEL. Principles of Neural Science. 4ª Edição, McGraw-Hill Companies, 2000.

Embora a transmissão química não tenha a mesma velocidade da elétrica, há uma propriedade
importante na amplificação do sinal. Com a descarga de apenas uma vesícula sináptica são liberadas
milhares de moléculas de neurotransmissores. Normalmente, poucas moléculas de transmissores
são necessárias para abrir um canal iônico pós-sináptico, portanto, a ação de uma vesícula sináptica
pode abrir milhares de canais iônicos na célula pós-sináptica, e também despolarizar um grande
número de célula pós-sináptica.

Existem mais de 50 substâncias químicas sugeridas como neurotransmissores, elas podem ser
moléculas pequenas e de ação rápida ou neuropeptídeos de tamanho maior e de ação mais lenta.
Podem ter efeitos excitatórios ou inibitórios, dependendo do lugar que estiver agindo e do tipo de
receptor que se ligar. Alguns neurotransmissores:

»» acetilcolina;

»» alguns aminoácidos como a glicina, o glutamato, o aspartato, o ácido gama-


aminobutírico (GABA);

»» as monoaminas como a dopamina, a noradrenalina, a adrenalina e a histamina.

»» outras substâncias como peptídeos (substância P e insulina), e também o ATP são


neurotransmissores.

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UNIDADE I │ BASES TEÓRICAS DO ENVELHECIMENTO

Para ser classificado como neurotransmissor, a substância química tem que seguir alguns critérios:

»» ser sintetizada no neurônio;

»» estar presente no terminal pré-sináptico e ser liberado em uma quantidade suficiente


que exerça ação no neurônio pós-sináptico ou no órgão efetor;

»» quando administrado exogenamente (como uma droga) em determinadas


concentrações, deve ter ação que imita exatamente a ação da liberação endógena;

»» a existência de um mecanismo específico para removê-lo do seu local de ação.

Também, há sinapses que envolvem os axônios dos nervos periféricos, elas podem ser divididas em:

1. Sistema Motor Somático: conexão com as células musculares estriadas


esqueléticas, compreendendo a placa motora e apenas um neurônio (Fig.17a e b);

Figura 17a. Neurônio motor inervando uma fibra muscular, formando a junção muscular (placa motora).

Fonte: Modificado de: KANDEL. Principles of Neural Science. 4ª Edição, McGraw-Hill Companies, 2000.

2. Sistema Motor Visceral: conexão com as células musculares lisas ou


cardíacas, ou glandulares, compreendendo os gânglios autonômicos (simpático e
parassimpático), cadeia de dois neurônios (Fig. 17b).

30
BASES TEÓRICAS DO ENVELHECIMENTO │ UNIDADE I

Figura 17b. Sistema Motor Somático e Visceral, inervando o músculo esquelético e músculo liso/cardíaco/
glândulas, respectivamente.

Fonte: Modificado de <http://dc318.4shared.com/doc/rZ6b47P1/preview007.png>

Nervos em geral
Os nervos são percorridos longitudinalmente por vasos que se anastomosam. Eles são altamente
vascularizados e irrigados.

A fibra nervosa é formada pelo axônio e quando presente, pelo envoltório de origem glial, chamada
de bainha de mielina, que funciona como um isolante elétrico. A bainha de mielina é formada
pelas células de Schwann no SNP e pelos oligodendrócitos no SNC.

Quando as fibras nervosas apresentam a bainha de mielina são chamadas de mielínicas, e quando
ausente de amielínicas. A bainha de mielina permite que a condução do impulso nervoso seja mais
rápida (Fig. 18).

31
UNIDADE I │ BASES TEÓRICAS DO ENVELHECIMENTO

Figura 18. Função da célula de Schwann no isolamento das fibras nervosas. (A) Revestimento da membrana da
célula de Schwann, em torno um axônio calibroso para formar a bainha de mielina da fibra nervosa mielinizada.
(B) Revestimento parcial da membrana e do citoplasma da célula de Schwann em torno de várias fibras nervosas
amielinizadas (corte transversal).

Fonte: Modificado de: LEESON T.S., LEESON R. Histologya. Philadelphia: WB Saunders, 1979.

Lesões no SNP podem se regenerar, porém não se um axônio motor crescer em um


tubo que antes continha neurônio sensitivo, ou vice-versa, ele não irá estabelecer
conexão funcional.

Ao contrário, lesões nas fibras nervosas do SNC de mamíferos não se regeneram, o


que dificulta a recuperação de muitos casos neurológicos.

Essa “incapacidade” de regeneração das fibras do SNC se deve a inexistência de um


substrato adequado que permita o crescimento dos axônios, substância que no
SNP está presente nas lâminas basais e são sintetizadas pelas células de Schwann,
diferentemente das células do SNC onde os oligodendrócitos sintetizam substâncias
que inibem o crescimento dos axônios.

32
NEURODEGENERAÇÃO UNIDADE II

CAPÍTULO 1
Processos moleculares

Processos intracelulares
Durante o envelhecimento várias modificações celulares são observadas, não apenas nas células
neuronais, como também em outras. Os cromossomos sofrem encurtamento das extremidades, o
que provoca um desequilíbrio entre a perda e a renovação das populações celulares, assim, os órgãos
e sistemas entram em falência até que o organismo morra; há também modificações no sistema
imunológico, chamada imunossenescência, aumentando o risco de infecções; e como previamente
visto em aulas anteriores, o aumento da morte celular provocada por radicais livres decorrentes da
diminuição da síntese de enzimas antioxidantes (RATTAN, 1995).

O próprio envelhecimento pode desencadear Desordens Neurodegenerativas (DN), devido às


alterações celulares, como o acúmulo de danos no DNA nuclear de neurônios do neocórtex e
do hipocampo. A produção de espécies reativas do oxigênio geradas na respiração mitocondrial
aumenta e causa danos oxidativos, além de distúrbios na regulação da expressão gênica e erros
na codificação de proteínas. Essas alterações celulares aumentam também a liberação de citocinas
inflamatórias, desenvolvendo uma resposta inflamatória crônica (BEST, 2009).

Assim, durante o envelhecimento, distúrbios na fisiologia de neurônios em certas regiões do


cérebro podem desencadear um declínio progressivo nas funções cerebrais, surgindo dessa forma
as desordens neurodegenerativas (BRASNJEVIC et al., 2008).

Estresse oxidativo
Quando há um desequilíbrio entre a geração de compostos oxidantes e a atuação dos sistemas de
defesa antioxidante, ocorre o chamado estresse oxidativo.

33
UNIDADE II │ NEURODEGENERAÇÃO

O resultado do metabolismo do oxigênio é a geração de radicais livres e/ou espécies reativas não
radicais. Os danos causados pela ação deletéria dos radicais livres e/ou espécies reativas não radicais
são inibidos ou reduzidos pelo sistema de defesa antioxidante. A principal fonte geradora de radicais
livres é a mitocôndria, através da cadeia transportadora de elétrons.

O aumento do estresse oxidativo é um dos principais fatores envolvidos com o envelhecimento do


SNC e surgimento das DNs (TOMOBE; NOMURA, 2009), já que durante o envelhecimento há uma
hipoperfusão cerebral que aumenta a produção das espécies reativas do oxigênio e causa distúrbios
mitocondriais, levando ao aumento do estresse oxidativo (AALIEV et al., 2009).

Durante o envelhecimento cerebral também ocorre mutações que comprometem os genes


codificadores das enzimas de reparo que protegem o DNA nuclear neuronal da oxidação e
metilação, e essas mutações são acumuladas com o tempo (BEST, 2009; BRASNJEVIC et al., 2008),
prejudicando ainda mais o organismo a se defender do estresse oxidativo.

Os neurônios com os DNA nuclear e mitocondrial danificados acumulam-se, principalmente no


hipocampo e no neocórtex, sendo responsáveis pelo declínio cognitivo e déficits de memória espacial
(WEISSMAN et al., 2007).

O acúmulo das biomoléculas danificadas provocam distúrbios na expressão gênica e síntese proteica,
e aumentam ainda mais a produção de radicais livres induzindo uma resposta neuroinflamatória
crônica. Estudo feito com ratos senescentes mostrou que os altos níveis de danos oxidativos nas
proteínas do córtex cerebral e do cerebelo diminuíram a capacidade de reconhecimento espacial e
de coordenação motora (FORSTER et al., 1996).

Segundo Lucas e Szweda (1998), o excesso de radicais livres e espécies reativas de oxigênio,
nitrogênio ou cloro, podem induzir a falência mitocondrial e, consequentemente, liberar radicais
livres intensamente, diminuindo o conteúdo citoplasmático do antioxidante glutationa (GSH) e o
aumentando a apoptose neuronal. Esse processo está associado à injuria isquêmica do miocárdio e
ao envelhecimento celular, assim como a Doença de Alzheimer e de Parkinson (MERAD-BOUDIA
et al., 1998).

Em pacientes com Doença de Alzheimer foi observado uma grande liberação de ferro no cérebro,
ele é responsável pela morte de neurônios por meio de reações de radicais livres, conhecido como
Fenton/Haber Weiss (SMITH et al., 2000), o zinco e o cobre também estão aumentados nas
placas senis e patológicas do cérebro desses pacientes (CUAJUNGCO et al., 2000).

De acordo com estudos, foi visto que em centenários saudáveis os níveis de vitaminas A e E no
plasma estavam elevados, sugerindo que a longevidade está relacionada com o sistema de defesa
antioxidante (MECOCCI et al., 2000). Da mesma forma, o envelhecimento celular está associado
à diminuição das defesas antioxidantes e falência mitocondrial, isto é, o organismo ao envelhecer
perde progressivamente a capacidade de metabolizar e remover substâncias tóxicas (MERAD-
BOUDIA et al., 1998)

34
NEURODEGENERAÇÃO │ UNIDADE II

Resposta inflamatória
O envelhecimento do SNC é acompanhado de resposta inflamatória como supracitado. Essa resposta
inflamatória crônica deve-se à hiperativação dos astrócitos e das microglias que produzem
citocinas inflamatórias, como os TNFα (Tumor Necrosis Factor-alpha), IL-1β (interleucina-1β)
e interferon-γ principalmente no neocórtex, hipocampo e cerebelo (BLASKO et al., 2004). Infecções
sistêmicas também aumentam a ativação da microglia elevando os níveis de citocinas inflamatórias
no cérebro (GODBOUT et al., 2008).

O excesso de citocinas neurotóxicas liberadas pela neuroinflamação crônica estimula a síntese do


peptídeo β-amiloide, e a produção de agregados proteicos prejudicam a fisiologia celular, sendo um
fator de risco para a doença de Alzheimer (BLASKO et al., 2009; SASTRE et al., 2006).

Estudos mostraram que ratos velhos com citocinas inflamatórias no hipocampo prejudicam a
consolidação da memória e portadores da doença de Alzheimer também apresentam citocinas
inflamatórias no hipocampo (MINOGUE et al., 2007). Lesões oxidativas do DNA nuclear e
disfunções mitocondriais são observadas também em neurônios dopaminérgicos nigro-estriais de
pacientes com a doença de Parkinson (NAKABEPPU et al., 2007). Assim, observamos a relação de
DNs e processos inflamatórios em determinadas regiões encefálicas.

Processos anatômicos e anomalidades


Ao longo de aproximadamente 80 anos o cérebro reduz cerda de 5 a 10% (Fig. 19) do seu peso
devido à:

»» atrofia das circunvoluções corticais e aumento dos sulcos entre elas;

»» dilatação ventricular reduzindo o volume do tecido e também diminuindo o número


de neurônios e a arborização dendrítica, principalmente no córtex pré-frontal e
algumas zonas do hipocampo;

»» redução da substância branca, chamada de leucoaraiose (ANDRADE, 1988).

Figura 19. Imagem de ressonância magnética comparando um corte transversal do córtex de um adulto jovem
na primeira imagem com um adulto de 94 anos de idade sem demência.

Adulto Jovem. Adulto com 94 anos de idade, não demente.

Modificado de <http://www.emeraldinsight.com/fig/7012_10_1016_S0731-2199_08_20009-9.png>

35
UNIDADE II │ NEURODEGENERAÇÃO

Concomitantemente aparecem algumas anormalidades como:

»» degenerações neurofibrilares, que são resíduos do metabolismo celular que a


célula não consegue expulsar e, portanto vai acumulando em seu interior e acaba
matando-a, esses restos celulares se unem à proteína amiloide e formam as placas
neuríticas ou senis (Fig. 20) que ocuparão espaço entre os neurônios impedindo a
comunicação neuronal, diminuindo a capacidade de aprendizagem;

»» diminuição do metabolismo energético com o acúmulo neuronal de


lipofuscina (pigmento que indica o tempo de vida celular);

»» diminuição dos níveis de neurotransmissores, como alguns colinérgicos, e


de suas enzimas metabólicas. (ANDRADE, 1988; CANCELA, 2007).

Figura 20. Corte histológico do córtex cerebral mostrando a formação da placa senil.

Fonte: <http://anatpat.unicamp.br/alzheimer5++.jpg>

Como já citado na primeira unidade, o lobo frontal não apresenta alterações na sua porção
ventromedial (Fig. 21A) que é responsável pelo comportamento social e emocional, já a porção
dorsolateral da região pré-frontal (Fig. 21B) apresenta alterações anatômicas e funcionais mais
proeminentes, observadas na dificuldade em realizar tarefas relacionadas à memória de trabalho.

O comprometimento está na atenção e resgate das informações previamente estocadas,


nas tarefas da memória de trabalho (informações apreendidas) e na consolidação de
informações mais recentes. Não há alteração da memória semântica (MacPHERSON, et al.,
2002).

Quando dizemos que a memória de trabalho é afetada, não estamos dizendo que as informações
estocadas (memória de longo prazo) são afetadas, mas sim a análise e comparação das memórias
que chegam constantemente ao cérebro, com as memórias explícitas e implícitas estocadas no
neocórtex posterior (CANÇADO; HORTA, 2006).

36
NEURODEGENERAÇÃO │ UNIDADE II

Figura 21. (A) Corte sagital do encéfalo indicando a região ventromedial do lobo frontal. (B) Visão lateral indicando
a porção dorso lateral da região pré-frontal.

Fonte: Modificado de <http://www.shockmd.com/2009/11/23/the-functional-neuroanatomy-of-depression/>

Clinicamente, também é notado a lentificação do processamento cognitivo, como:

»» redução da atenção;

»» dificuldade com detalhes (memória contextual);

»» redução no “lembrar-se de lembrar” chamado de memória prospectiva.

Outra capacidade afetada no idoso é a de dividir a atenção entre vários estímulos, a fim de
apreender uma situação, e também a capacidade de resolução de novos problemas tende a declinar
gradualmente (CANÇADO; HORTA, 2006).

Processos cognitivos
Até chegar aos 50-60 anos, o desempenho intelectual e aptidões cognitivas estão estáveis, a partir
dai começam a diminuir, segundo Spar e La Rue citado por Cancela (2007), pessoas idosas têm
maior dificuldade em compreender mensagens longas ou complexas, e recuperarem e reproduzirem
rapidamente nomes ou termos específicos, o discurso tende a ser mais repetitivo.

Idosos apresentam uma maior dificuldade nas tarefas de raciocínio que envolvem análise lógica e
organização de algo abstrato ou não familiar, são mais lentos nas percepções e cognições assim como
nas funções motoras. Porém, eles mantêm capacidade de reconhecer os lugares e rostos familiares,
apesar de apresentarem dificuldades em dividir atenção para tarefas múltiplas ou desviar a atenção
de um aspecto para o outro, a atenção continua pouco afetada. O vocabulário, a capacidade de
acesso à informação e a compreensão não são muito prejudicados com a passagem dos anos, em
idosos saudáveis.

37
UNIDADE II │ NEURODEGENERAÇÃO

Das alterações cognitivas que ocorrem com o avançar da idade podemos destacar:

»» velocidade do processamento;

»» memória de trabalho (retenção em curto prazo e manipulação da informação


registrada no consciente, por exemplo, recordações);

»» capacidade sensorial e perceptual.

De todas as alterações, a mais perceptível é a diminuição da velocidade de processamento da


informação e da resposta que pode influenciar também o desempenho de tarefas que não têm
requisitos de velocidade óbvios.

A combinação de todas as alterações cognitivas limita os recursos que pessoas idosas podem utilizar
em determinadas circunstâncias que anteriormente eram fáceis. Na velhice, atividades básicas
como manter o controle postural e andar se tornam menos automáticas.

38
CAPÍTULO 2
Alzheimer

Após uma visão detalhada de como nosso sistema nervoso é organizado e, principalmente saber
como acontecem as modificações no SNC durante o envelhecimento, você está preparado para
entender como as doenças degenerativas agem.

Primeiras descobertas
Muitas pessoas idosas permanecem intelectualmente intactas, e algumas fizeram contribuições na
fase tardia da vida, como Eleanor Roosevelt, Picasso, Rebecca West e Richard Strauss. No entanto
pessoas idosas podem apresentar declínio na memória e nas habilidades cognitivas, e até desenvolver
demência. Apenas com o exame clínico é difícil saber se a perda de memória relacionada com a
idade permanecerá estável ou se agravará com o passar dos anos, é preciso um diagnóstico em longo
prazo.

Anormalidades em circuitos neuronais específicos relacionadas com a idade podem ter o mesmo
resultado dos sinais clínicos do envelhecimento: alterações na memória, na atividade motora,
humor, sono, apetite e funções neuroendócrinas.

Em 1907 Alois Alzheimer descreveu o primeiro caso de demência que hoje leva seu nome. Uma
mulher de meia-idade tinha desenvolvido déficits de memória e perda progressiva das capacidades
cognitivas. A sua memória tornou-se cada vez mais prejudicada, ela não podia mais orientar-se,
mesmo em sua própria casa e, às vezes, ela acreditava que as pessoas tinham intenção de matá-la. Ela
foi internada em um hospital psiquiátrico e morreu em menos de cinco anos após o início da doença.
Uma autópsia revelou a patologia clássica da doença de Alzheimer, emaranhados neurofibrilares e
placas senis no neocórtex e no hipocampo, agora reconhecidos. Após esse relato, o termo doença de
Alzheimer foi dado a este tipo de demência pré-senil.

A doença de Alzheimer é a causa mais comum de demência nos idosos. Ela afeta cerca de 7% das
pessoas com mais de 65 anos e, talvez, 40% das pessoas com mais de 80 anos de idade. Assim, a
doença de Alzheimer é um dos principais problemas de saúde pública da sociedade. A precisão
dos diagnósticos clínicos de causas específicas de demência, especialmente doença de Alzheimer,
tem melhorado muito nas duas últimas décadas. Em 1970 o erro de diagnóstico era mais de 30%.
Centros clínicos especializados relatam por meio da autópsia a confirmação do diagnóstico clínico
da doença de Alzheimer em mais de 90% dos casos.

A maioria dos pacientes com doença de Alzheimer apresentam os primeiros sinais clínicos em
torno dos setenta anos, mas como no caso descrito por Alzheimer, às vezes se desenvolve na vida
média (adulta), nesses casos pode haver uma história familiar da doença. Em ambas as formas
(esporádica e familiar) da doença de Alzheimer os pacientes apresentam anormalidades de
memória, resolução de problemas, linguagem, cálculo, percepção visual-espacial,

39
UNIDADE II │ NEURODEGENERAÇÃO

de julgamento e comportamento. Alguns pacientes desenvolvem sintomas psicóticos, como


alucinações e delírios. Em todos os pacientes as funções mentais e atividades da vida diária tornam-
se prejudicadas progressivamente, nos estágios finais os enfermos estão mudos, incontinentes e
acamados, e acabam morrendo de outras doenças.

Exceto pela biópsia cerebral, não há testes que estabelecem definitivamente o diagnóstico da doença
de Alzheimer em indivíduos vivos. Para fazer o diagnóstico da doença de Alzheimer e excluir outras
demências os médicos contam com:

»» histórias de pacientes e parentes ou amigos;

»» exames neurológicos, psiquiátricos e físicos;

»» testes neuropsicológicos;

»» exames de laboratório, e uma variedade de outros testes diagnósticos, incluindo


neuroimagem;

»» a tomografia computadorizada e ressonância magnética são realizadas na maioria


dos pacientes com suspeita de doença de Alzheimer;

»» alterações de níveis de proteínas específicas no soro ou fluido cerebrospinal tais


como os peptídeos amiloides e Tau, podem revelar-se úteis no diagnóstico.

Quando a proteína Tau está anormal, formam-se emaranhados neurofibrilares no cérebro de


pacientes com doença de Alzheimer, Parkinson e outras doenças degenerativas do cérebro,
classificadas genericamente como “taupatias”.

Na reportagem “Alzheimer, Parkinson e a proteína Tau” no site da revista Veja do dia 09/02/2012,
Mayana Zatz, geneticista que escreve para a revista, fala sobre a pesquisa publicada na revista
PlosOne afirmando que o comportamento anormal da proteína Tau no cérebro, estudada em
camundongos, causaria a doença de Alzheimer. Adicionalmente outro estudo divulgado pela
Nature Medicine mostra que a deficiência da forma solúvel, e não da proteína Tau normal, seria
a responsável pelo acúmulo de ferro, ocasionando a morte de neurônios na doença de Alzheimer
e na de Parkinson com demência, e com essas descobertas há perspectiva de uma abordagem
terapêutica.

Anormalidades
A doença de Alzheimer é uma doença degenerativa caracterizada por uma série de anormalidades
no cérebro que afeta determinados neurônios em regiões específicas (Fig. 22), particularmente no
neocórtex, córtex entorrinal, hipocampo, amígdala, núcleo basal, tálamo anterior e vários núcleos
monoaminérgicos (como o Locus Coeruleus e núcleo da rafe).

40
NEURODEGENERAÇÃO │ UNIDADE II

Figura 22. Sistemas neuronais específicos têm sido identificados vulneráveis nas análises morfológicas e
neuroquímicas na doença de Alzheimer. Na figura, apenas um sistema cortical (neurônios do córtex entorrinal)
é mostrado, mas muitos neurônios do neocórtex são afetados. O envolvimento destas regiões do cérebro e dos
sistemas neuronais na doença de Alzheimer é refletido nos sinais clínicos da doença.

Fonte: Modificado de: KANDEL. Principles of Neural Science. 4ª Edição, McGraw-Hill Companies, 2000.

Estas lesões têm consequências clínicas significantes. Anormalidades do córtex entorrinal,


hipocampo e outros circuitos no córtex temporal medial são consideradas fatores críticos na perda
de memória na doença de Alzheimer. Anormalidades nas áreas de associação do neocórtex, que se
acredita estar relacionada com alterações nos sistemas colinérgicos do prosencéfalo basal, também
podem contribuir para as dificuldades de memória e déficits de atenção da doença. Os distúrbios
comportamentais e emocionais que ocorrem em alguns pacientes podem ser reflexo de alterações
do córtex límbico, da amígdala, do tálamo e de vários sistemas monoaminérgicos do tronco cerebral,
que se projetam para o córtex do hipocampo.

Anormalidades no citoesqueleto dos neurônios


Geralmente, o citoesqueleto das células nervosas afetadas é alterado, o mais comum são alterações
nos emaranhados neurofibrilares, compostos de isoformas hiperfosforiladas pouco solúveis de Tau,
uma proteína de ligação de microtúbulos que normalmente é solúvel (citado anteriormente).

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UNIDADE II │ NEURODEGENERAÇÃO

O citoesqueleto é indispensável para manter a estrutura celular e tráfego intracelular de proteínas e


organelas, incluindo o transporte ao longo dos axônios. Portanto, as perturbações do citoesqueleto
podem prejudicar o transporte no axônio comprometendo as funções sinápticas
e, eventualmente, a viabilidade dos neurônios. As células nervosas afetadas acabam por morrer
e os emaranhados neurofibrilares extracelulares são deixados para trás como lápides das células
destruídas pela doença.

Depósito de amiloide
As regiões do cérebro afetadas pela doença de Alzheimer também contem placas neuríticas ou
senis, em que os depósitos extracelulares de amiloide (peptídeos fibrilares) são rodeados por
axônios distróficos, bem como os processos de astrócitos e microglia (células inflamatórias). A
proteína precursora de amiloide (PPA) está presente nos dendritos, nos corpos celulares e axônios
dos neurônios, e PPA neuronal é provavelmente a fonte da maior parte da amiloide
depositado no sistema nervoso central em pacientes com doença de Alzheimer. A
PPA é sintetizada no retículo endoplasmático rugoso, glicosilada no aparelho de Golgi, e entregue à
superfície da célula, como uma proteína de membrana integral. As funções de PPA neuronais ainda
não são conhecidas.

Mutações genéticas
Vários fatores de risco genético têm sido identificados, são as mutações nos genes:

»» PPA no cromossoma 21;

»» presenilina 1 (PS1);

»» presenilina 2 (PS2), proteínas de membrana celular.

O gene da PS1 é responsável por cerca de 40% dos casos familiares e de acometimento precoce da
doença de Alzheimer.

O gene da ApoE4, envolvido no metabolismo da beta-amiloide, é fator de risco em cerca de 50% dos
casos de doença de Alzheimer esporádicos e de acometimento tardio.

Em suma, as mutações em vários genes (PPA, presenilina 1, presenilina 2) foram identificadas como
centrais para a patogênese de alguns casos de doença de Alzheimer familiar, e um alelo de um outro
gene (apoE4) pode influenciar no aparecimento da doença de início tardio esporádica e familiar.
Um progresso significativo foi feito na compreensão da biologia dos genes/proteínas envolvidos
na patogênese de depósitos de amiloide e anormalidades do citoesqueleto em neurônios. Regiões
específicas do cérebro e de populações específicas de neurônios são seletivamente vulneráveis à
doença, além disso, as vias que conduzem à morte das células têm de ser melhor esclarecidas.

42
NEURODEGENERAÇÃO │ UNIDADE II

Regiões afetadas
Com o passar dos anos, na velhice, o córtex encolhe e danifica as regiões envolvidas com os
pensamentos, planos e lembranças. Esse encolhimento é principalmente grave no hipocampo, uma
região do córtex que exerce papel importante na formação de novas lembranças. Os ventrículos
ficam maiores. O tecido com Alzheimer possui um número bem menor de células nervosas e de
sinapses do que um cérebro saudável (Fig. 23). Os depósitos anormais de fragmentos de proteína,
as placas senis, se agrupam entre as células nervosas (Fig. 24).

Figura 23. Imagem comparando um cérebro saudável e um cérebro com Alzheimer em estágio avançado.

Fonte: <http://www.alz.org/brain_portuguese/09.asp>

Figura 24. Placas senis formadas entre os neurônios no tecido com Alzheimer.

Fonte: <http://www.alz.org/brain_portuguese/10.asp>

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UNIDADE II │ NEURODEGENERAÇÃO

Nas regiões saudáveis, o sistema de transporte intracelular é organizado em filamentos paralelos


ordenados como os trilhos dos trens, onde moléculas de nutrientes e outros materiais essenciais
trafegam nesses “trilhos.” Como já estudado, a proteína Tau ajuda os “trilhos” a permanecerem
retos, ela é responsável por manter essa estrutura.

Porém em algumas regiões, a Tau se converte em filamentos torcidos chamados de emaranhados.


Os trilhos não conseguem mais se manter retos, eles se rompem e se desintegram. Nutrientes e
outros suprimentos essenciais não conseguem mais se movimentar através das células, que acabam
morrendo.

As placas senis (Fig. 25) são formadas por grupamentos de pedaços da proteína beta-amiloide. As
beta-amiloides vêm de uma proteína encontrada na membrana gordurosa que envolve
as células nervosas. A beta-amiloide é quimicamente “pegajosa” e se junta aos poucos formando
as placas.

Figura 25. Pedaços da proteína beta-amiloide formando a placa senil.

Fonte: <http://www.alz.org/brain_portuguese/11.asp>

As formas mais nocivas de beta-amiloide são dos grupos de pequenos pedaços e não as placas em si,
porque os pequenos agrupamentos podem bloquear a sinalização entre as células nas sinapses. Eles
também podem ativar as células do sistema imunológico que causam inflamações e matam células
deficientes.

As placas e emaranhados tendem a se espalhar por todo o córtex em um padrão previsível de acordo
com o avanço da doença de Alzheimer.

Estágios da doença
A progressão da doença e seu curso são muito variáveis, e depende da idade da pessoa quando a
doença foi diagnosticada e se há outros problemas de saúde. Em média, pessoas com Alzheimer
vivem oito anos, mas algumas sobrevivem por até 20 anos.

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NEURODEGENERAÇÃO │ UNIDADE II

Estágio em que a descoberta da doença é feita versus Sobrevivência:

»» Estágio inicial: as mudanças podem começar 20 anos ou mais antes do diagnóstico.

»» Estágio leve a moderado: indivíduos geralmente vivem de 2 a 10 anos.

»» Estágio grave: indivíduos podem viver de 1 a 5 anos.

Estágios iniciais: as placas e emaranhados começam a se formar nas regiões do cérebro envolvidas
na aprendizagem e memória, pensamento e planejamento, antes que os sintomas possam ser
detectados.

Estágios de leve a moderado: desenvolvem mais placas e emaranhados do que os que já estavam
presentes nos estágios iniciais, como resultado os indivíduos desenvolvem graves problemas de
memória e de pensamento, a ponto de interferir no trabalho e na vida social. Muitas pessoas com
Alzheimer são diagnosticadas durante estes estágios.

Eles também podem ficar confusos, ter dificuldades ao lidar com dinheiro, ao se expressar e organizar
os pensamentos. As placas e os emaranhados também se espalham para regiões envolvidas com a
fala, compreensão do discurso e percepção de onde o corpo está em relação aos objetos ao seu
redor. Conforme a doença avança, os indivíduos podem passar por alterações na personalidade e no
comportamento, e apresentar dificuldades para reconhecer amigos e familiares.

Estágio avançado: o cérebro encolhe muito em função da morte de células em todo o órgão, a
maior parte do córtex está muito danificada. As pessoas perdem a capacidade de se comunicar, de
reconhecer a família e as pessoas queridas, e de cuidar de si mesmas.

A doença de Alzheimer é uma das doenças mais complexa e desconcertante encontrada na medicina
clínica, e é a causa mais comum de mortalidade na população idosa. Nos últimos anos, no entanto,
grandes avanços na compreensão da doença foram feitos: novas abordagens e instrumentos
que melhoraram a precisão do diagnóstico. Além disso, houve avanços significativos na
compreensão da fisiopatologia da doença de Alzheimer. No momento não há cura para a doença
de Alzheimer. Terapias atuais se concentram em tratar os sintomas associados, como depressão,
ansiedade, distúrbios do sono, alucinações e delírios.

Casos e casos
Após o estudo teórico mais detalhado, você será apresentado a casos práticos diversificados
divulgados na mídia e poderá analisá-los com outra visão e de forma crítica.

“Sabemos que ela é especial, sabemos que seu cérebro tinha absolutamente nenhum sinal de
Alzheimer [...] Talvez houvesse algo no seu corpo que a protegesse contra a demência. Achamos que
existem genes que talvez assegurem vida longa e protejam contra Alzheimer” disse Holstege à BBC.
O trabalho dos pesquisadores holandeses foi divulgado na American Society of Human Genetics em
Montreal, no Canadá, e sugere que a mulher que viveu até os 115 anos (W115), sem sinal algum de
demência, tinha genes que a protegiam contra doenças associadas à velhice. A idosa foi submetida

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UNIDADE II │ NEURODEGENERAÇÃO

ao teste de capacidade mental aos 113 anos e seu desempenho foi de uma mulher com a idade entre
60 e 75 anos, além dos exames após sua morte não terem apresentado qualquer sinal de demência
ou endurecimento das artérias associado a doenças do coração. Mas casos como o da W115 são raros
na mídia, os mais comuns são entrevistas e reportagens de idosos com algum tipo de demência,
nesse caso, doença de Alzheimer.

Em contrapartida, na revista de psiquiatria da Clínica da USP, Truzzi e Laks relataram um caso de


um indivíduo do sexo masculino com de 46 anos, branco, casado, terceiro grau completo, tendo
queixas iniciais de “falhas de memória”. Aos 30 anos, o paciente começou a apresentar um declínio
da memória de curto prazo ou “distrações” frequentes, foi acometido por um episódio depressivo
leve, com insônia, perda do interesse e prazer especialmente para com seus familiares e sensação
de angústia. Aos 44 anos, iniciou avaliação diagnóstica e tratamento no Centro para Pessoas com
Doença de Alzheimer e outros Transtornos Mentais da Velhice do Instituto de Psiquiatria da UFRJ.
Este é um relato de caso de Doença de Alzheimer provável esporádico com início muito precoce. O
déficit de memória foi o primeiro sintoma percebido em casa e no trabalho daí evoluindo para os
sinais clínicos típicos da doença.

“Minha mãe começou a apresentar os primeiros sintomas de Alzheimer, com


50 anos. Desde então, os médicos nunca diagnosticaram a doença e a trataram
como depressão. Até hoje, já no estágio avançado da doença, a medicina ainda
é cautelosa em confirmar a mesma. Por que os médicos não ditam à população
que Alzheimer não se liga apenas a perda de memória e sim a outros fatores,
dentre eles, a perda cognitiva, coordenação motora e dificuldade de fala?”

Dúvida enviada por Daniel Panobianco de Oliveira ao professor titular de Bioquímica e Neurociência
da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Sérgio Ferreira. Sabemos que, embora exames possam
ser feitos o diagnóstico preciso da doença de Alzheimer é dado apenas após a morte do paciente.

É importante a população estar ciente e atenta para os sinais os quais idosos venham apresentar para
proporcionar qualidade de vida ao paciente. A história de amor e dedicação em cuidar da esposa
com doença de Alzheimer, e fazer uma cartilha para conscientizar a população sobre a doença tem
feito o diferencial na história do Seu Jorge. No programa Encontro com Fátima Bernardes da TV
Globo no dia 07/08/2012, seu Jorge, esposo de Dona Maria, conta: “Eu costumo dizer que perdi
a Maria que tinha, mas ganhei outra para cuidar [...] Em primeiro lugar, é importante a aceitação
do problema e depois socializar o paciente ao máximo. É preciso tratá-lo como majestade e criança
ao mesmo tempo. Nós não deixamos a Maria se sentir uma pessoa doente em momento nenhum”.
Veja o vídeo em <http://tvg.globo.com/programas/encontro-com-fatima-bernardes/O-Programa/
noticia/2012/08/historia-de-amor-supera-o-alzheimer-e-emociona-os-convidados.html>

Os 10 sinais
Conhecer os 10 sinais é uma maneira de alertar a população em procurar um profissional qualificado.
São eles:

46
NEURODEGENERAÇÃO │ UNIDADE II

1. A perda de memória que atrapalha a vida diária. Um dos sinais mais comuns
da doença de Alzheimer, especialmente nas fases iniciais, é o esquecimento de
informações apreendidas recentemente. Outros incluem esquecer datas importantes
ou eventos, necessitando da mesma informação várias vezes.

2. Desafios no planejamento ou resolver problemas. Algumas pessoas podem


mudar sua capacidade de desenvolver e seguir um plano ou trabalhar com números.
Elas podem ter dificuldade em seguir uma receita conhecida ou manter o controle
das contas mensais. Elas podem ter dificuldade de concentração e levar muito mais
tempo para fazer as coisas que eles faziam antes.

3. Dificuldade em completar tarefas familiares em casa, no trabalho ou


no lazer. As pessoas com doença de Alzheimer muitas vezes têm dificuldade para
completar as tarefas diárias. Às vezes, as pessoas podem ter problemas para dirigir
um local familiar, fazer gestão de um orçamento no trabalho ou lembrar as regras
de um jogo favorito.

4. Confusão com o tempo ou lugar. Pessoas com Alzheimer podem perder a noção
de datas, estações do ano e da passagem do tempo. Elas podem ter dificuldades para
entender alguma coisa, se não estiver acontecendo imediatamente. Às vezes, elas
podem se esquecer de onde são ou como chegaram lá.

5. Problemas em compreender imagens visuais e relações espaciais. Para


algumas pessoas, ter problemas de visão é um sinal de doença de Alzheimer. Elas
podem ter dificuldade em ler, em julgar a distância e determinar a cor ou o contraste.
Em termos de percepção, podem passar por um espelho e achar que alguém está no
quarto, podem não reconhecer o seu próprio reflexo.

6. Novos problemas em falar ou escrever palavras. Pessoas com Alzheimer


podem ter dificuldade para seguir ou participar de uma conversa. Elas podem parar
no meio de uma conversa e não ter ideia de como continuar, ou podem se repetir.
Elas podem ter dificuldades com o vocabulário, ter problemas em encontrar a
palavra certa ou chamar coisas pelo nome errado.

7. Perder coisas e perder a capacidade de refazer os passos. Uma pessoa com


a doença de Alzheimer pode pôr as coisas em lugares inusitados. Elas podem perder
as coisas e serem incapazes de voltar seus passos para encontrá-los novamente. Às
vezes, elas podem acusar os outros de roubar. Isto pode ocorrer com mais frequência
ao longo do tempo.

8. Diminuição ou falta de bom senso. Pessoas com Alzheimer podem sofrer


alterações no julgamento dificultando assim a tomada de decisão. Por exemplo,
elas podem usar o julgamento pobre quando se trata de dinheiro, dando grande
importância ao telemarketing.

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UNIDADE II │ NEURODEGENERAÇÃO

9. Retirada do trabalho ou de atividades sociais. Uma pessoa com a doença de


Alzheimer pode começar a retirar-se de passatempos, atividades sociais, projetos de
trabalho ou esportes.

10. Alterações de humor e personalidade. O humor e a personalidade das


pessoas com Alzheimer pode mudar. Elas podem tornar-se confusas, desconfiadas,
deprimidas, com medo ou ansiosas. Elas podem ficar facilmente chateadas em casa,
no trabalho, com amigos ou em locais onde eles estão fora de sua zona de conforto.

Tratamentos
Embora os medicamentos atuais não possam curar a doença de Alzheimer ou impedi-la de
avançar, eles podem ajudar a diminuir os sintomas, como perda de memória e confusão. Todos
os medicamentos prescritos atualmente, aprovados para o tratamento de sintomas de Alzheimer,
no início de estágios moderados são de uma classe de medicamentos chamados inibidores da
colinesterase. Os inibidores da colinesterase são prescritos para tratar os sintomas relacionados
com a memória, pensamento, outros processos de pensamento, linguagem e julgamento.

Um segundo tipo de medicação, a memantina (Namenda) é utilizada para o tratamento no estágio


moderado a grave da doença de Alzheimer. É prescrito para melhorar a memória, a atenção,
a razão, a linguagem e a capacidade de realizar tarefas simples, pode ser usado sozinho ou com
outros tratamentos da doença de Alzheimer. A memantina regula a atividade do glutamato, um
neurotransmissor envolvido na aprendizagem e na memória.

Os médicos às vezes prescrevem a vitamina E para tratar os sintomas cognitivos do Alzheimer.


Ninguém deve tomar a vitamina E para tratar a doença de Alzheimer, exceto sob a supervisão de um
médico. A vitamina E é um antioxidante, uma substância que pode proteger as células do cérebro e
outros tecidos do corpo a partir de certos tipos de desgaste químico.

Atualmente, existem cinco medicamentos aprovados que tratam os sintomas da doença de


Alzheimer, ajudando (cerca de 50% das pessoas que tomam), temporariamente, nos problemas
de memória e raciocínio. Mas esses medicamentos não tratam as causas subjacentes da doença
de Alzheimer. Em contraste, muitas das novas drogas em desenvolvimento objetivam modificar o
processo de doença, através do impacto de uma ou mais das muitas alterações cerebrais que causa
a doença de Alzheimer. Muitos pesquisadores acreditam que o sucesso do tratamento acabará por
envolver um “coquetel” de medicamentos destinados a vários alvos, similar aos tratamentos atuais
para muitos tipos de câncer e AIDS.

Alguns pontos de ação:

»» Beta-amiloide: pesquisadores estão desenvolvendo medicamentos destinados a


praticamente todos os pontos de processamento da proteína amiloide, incluindo a
atividade das enzimas bloqueio que impedirá que os fragmentos de beta-amiloide
se aglomerem em placas, ou até mesmo utilizando anticorpos contra beta-amiloide
para “retirá-los” do cérebro.

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NEURODEGENERAÇÃO │ UNIDADE II

»» Proteína Tau: os pesquisadores estão investigando estratégias para manter


moléculas de proteína tau sem colapso e emaranhados, um processo que destrói
um sistema de transporte célula vital.

»» Inflamação: os cientistas estão trabalhando para compreender melhor aspectos


específicos da inflamação mais ativa no cérebro. Essas ideias podem apontar para
tratamentos com novos anti-inflamatórios para a doença de Alzheimer.

»» Resistência à insulina e a forma como as células do cérebro processam


a insulina pode estar ligado à doença de Alzheimer: os cientistas estão
explorando o papel da insulina no cérebro e relacionando questões de como as
células cerebrais usam o açúcar para produzir energia.

»» Medir o impacto do tratamento com imagens cerebrais e biomarcadores:


muitos ensaios clínicos em andamento incluem vários estudos de imagens
cerebrais, testes de sangue ou fluido espinhal. Os pesquisadores esperam que essas
técnicas, um dia forneçam métodos para diagnosticar a doença de Alzheimer em
seus primeiros estágios, possivelmente até mesmo antes dos sintomas aparecerem.
Biomarcadores também podem oferecer melhores métodos para monitorar a
resposta ao tratamento.

»» Terapias dirigidas à indivíduos com mutações genéticas raras


relacionadas com casos de Alzheimer na família, antes mesmo de
apresentarem sintomas: retardar ou prevenir o aparecimento da doença de
Alzheimer nesses membros da família poderia oferecer evidências convincentes
para a promessa de um alvo terapêutico. O objetivo é detectar alterações físicas ou
mentais que possam distinguir aqueles que herdam uma mutação daqueles que não
o fazem.

Há um número crescente de remédios fitoterápicos, suplementos alimentares e alimentos


“médicos” para melhorar a memória ou tratamentos para atrasar ou prevenir a doença de Alzheimer
e demências relacionadas. Reclamações sobre a segurança e eficácia destes produtos, no entanto,
são amplamente baseados em depoimentos, tradição e um pequeno corpo de pesquisa científica. A
eficácia, segurança, pureza dos tratamentos alternativos são desconhecidos, reações adversas não
são monitoradas, e podem ter interações com medicamentos prescritos.

Alguns tratamentos alternativos são:

»» Ácido caprílico (testado como Ketasyn (AC-1202), comercializado como um


“alimento medicinal” chamado Axona ®) e óleo de coco: triglicérides de cadeia
média, utilizado como fonte de energia.

»» Coenzima Q10 ou ubiquinona: antioxidante.

»» Coral de cálcio: suplemento de cálcio de uso diário.

»» Ginkgo biloba: antioxidante e anti-inflamatório.

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UNIDADE II │ NEURODEGENERAÇÃO

»» Huperzina A: extrato de musgo, tem propriedades semelhantes às dos inibidores da


colinesterase.

»» Ômega-3: ácido graxo poli-insaturado, tem efeitos anti-inflamatórios e de proteção


das membranas das células nervosas.

»» Fosfatidilserina: lipídio ou gordura, é o principal componente das membranas que


envolvem as células nervosas. Sustenta as células e as protege da degeneração.

»» Tramiprosate (testado como Alzhemed, comercializado como um “alimento


medicinal” chamado VIVIMIND ™): é uma forma modificada de taurina, um
aminoácido encontrado naturalmente na alga.

Muitos estudos têm sido feitos para testar genes relacionados, mutações, vias neurais,
neurotransmissores e proteínas para um maior entendimento e eficiência no tratamento, e uma
possível prevenção da doença de Alzheimer.

50
CAPÍTULO 3
Parkinson

A doença de Parkinson também é conhecida como paralisia agitante. A degeneração de neurônios


localizados na substância negra do mesencéfalo diminui a liberação do neurotransmissor dopamina
na região do corpo estriado (núcleo caudado e putâmen) (Fig. 26). Não há cura, porém é uma das
doenças neurológicas crônicas com um dos melhores índices de sucesso terapêutico.

Figura 26. Secção coronal mostrando os gânglios da base em relação às estruturas que os circundam.

Fonte: Modificado de: KANDEL. Principles of Neural Science. 4ª Edição, McGraw-Hill Companies, 2000.

Primeiras descobertas
James Parkinson, um médico inglês, descreveu pela primeira vez a doença que leva seu nome
em 1817 a partir da observação de pacientes tanto em seu consultório quanto na rua. É um dos
distúrbios do movimento mais comun, mais estudado e mais compreendido. A falta da dopamina
em determinadas regiões do SNC acarreta em tremores nas mãos quando estas estão paradas, sem
realizar nenhum movimento, tremor de repouso (4-5 por segundo); lentidão dos movimentos, sem
paralisia, e desequilíbrio ao andar.

51
UNIDADE II │ NEURODEGENERAÇÃO

A doença de Parkinson é o primeiro exemplo de um distúrbio cerebral resultante de uma


deficiência de um único neurotransmissor. Em meados de 1950, Arvid Carlson mostrou que
80% da dopamina do cérebro estão nos gânglios basais. Em seguida, Oleh Horynekiewicz descobriu
que o cérebro dos doentes com Parkinson são deficientes em dopamina no corpo estriado, mais
severamente no putâmen. No início de 1960 a doença de Parkinson mostrou ser o resultado da
degeneração dos neurônios dopaminérgicos da substância negra.

A Doença de Parkinson é um distúrbio neurodegenerativo que compromete as funções motoras


relacionadas ao sistema extrapiramidal e também produz sintomas cognitivos, autonômicos e
sensitivos.

Alguns sintomas semelhantes à Doença de Parkinson podem ser causados por doenças e alguns
medicamentos, nesses casos, nos referimos a esses sintomas como parkinsonismo. Esses, quando
secundários a determinadas medicações, podem ser reversíveis e quando associados a outras doenças
neurológicas respondem pouco à medicação. Nem todo paciente com parkinsonismo ou Doença de
Parkinson tem tremor e, nem todo paciente com tremor é parkinsoniano. A doença conhecida como
tremor essencial tem como único sintoma o tremor, que aparece ao se fazer um movimento.

Regiões afetadas e anormalidades


Além do córtex cerebral, o cerebelo e os núcleos da base também são essenciais para a função
motora normal. Os núcleos da base ajudam a planejar e controlar padrões complexos de movimento
muscular, são chamados de sistema motor acessório, eles têm estreita relação com o córtex
cerebral e com o sistema de controle motor corticoespinhal.

Os núcleos da base são bilaterais, são eles: núcleo caudado, putâmen, globo pálido, substância negra
e núcleo subtalâmico. Estão localizados principalmente lateralmente e em torno do tálamo (Fig. 27).

Figura 27. Relações anatômicas dos gânglios da base com o córtex cerebral e o tálamo.

Fonte: Modificado de: GUYTON; HALL, 12ª Edição, Elsevier, 2011.

52
NEURODEGENERAÇÃO │ UNIDADE II

A substância negra está localizada no tronco encefálico e envia projeções dopaminérgicas para o
núcleo caudado e para o putâmen (Fig. 28). A dopamina funciona como neurotransmissor inibitório
na maior parte do encéfalo, assim, a destruição dos neurônios dopaminérgicos na substância negra
do paciente parkinsoniano torna o núcleo caudado e o putâmen ativos constantemente, enviando
sinais excitatórios para o sistema de controle motor corticoespinhal. Acredita-se que somente após
a perda de mais de 85% dos neurônios da parte compacta da substância negra do mesencéfalo é que
começam a surgir os sintomas motores da doença de Parkinson.

Figura 28. Vias neurais que secretam diferentes tipos de substâncias neurotransmissoras nos gânglios da base
como a acetilcolina (Ach) e o ácido gama-aminobutírico (GABA).

Modificado de: GUYTON; HALL, 12ª Edição, Elsevier, 2011.

O tremor ocorre durante a vigília, é um tremor involuntário. Na verdade, os pacientes com doença
de Parkinson, que perderam os neurônios dopaminérgicos, não só têm um distúrbio motor, mas
também a falta de motivação e têm afeto e espontaneidade reduzida, anomalias que podem ser
reflexo da diminuição na transmissão nas vias mesocortical dopaminérgica. Da mesma forma, lesões
que destroem a área tegmental ventral, que dá origem ao sistema dopaminérgico mesolímbico e
causam demência e sintomas psicóticos.

Deficiência de Tau e acúmulo de ferro

A proteína Tau em sua forma solúvel foi encontrada em níveis menores no cérebro de pacientes que
haviam falecido com a doença de Parkinson. Adicionalmente, outras pesquisas já haviam divulgado
o acúmulo de ferro na substância negra no cérebro de pacientes com doença de Parkinson, assim
como no córtex de pacientes com doença de Alzheimer e em outras regiões cerebrais em outras formas
de taupatias. A relação despertou interesse em estudar se a deficiência da Tau seria responsável pelo
acúmulo de ferro.

53
UNIDADE II │ NEURODEGENERAÇÃO

Para tal, foram utilizados camundongos transgênicos deficientes para a proteína Tau. Aos 12 meses,
já idosos, os animais transgênicos apresentavam perda cognitiva, tinham alterações severas na
locomoção e em todos os testes funcionais quando comparados com os camundongos controles.
Além disso, eles tinham acúmulo de ferro no cérebro e 40% menos neurônios dopaminérgicos em
comparação aos controles normais. Assim, além de formar agregados tóxicos no cérebro na sua
forma anormal, a Tau também é necessária para prevenir danos associados ao envelhecimento.
Portanto novas abordagens terapêuticas que mantenham a solubilidade da Tau e sua abundancia
poderão ser muito promissoras para as taupatias.

Casos e casos
Embora seja mais comum ocorrer aos 50 anos de idade, a doença de Parkinson pode apresentar
os primeiros sintomas em diferentes faixas estarias. Vejamos alguns depoimentos de pacientes
parkinsonianos portugueses.

“Tudo começou aos 45 anos, com um ligeiro tremor do lado esquerdo do corpo
quando, em repouso, mudava de posição. Por essa altura foi me também
diagnosticada Vertigem Posicional Paroxística [...] Comecei a ter perda de
equilíbrio, rigidez no dedo anelar esquerdo e dificuldade na motricidade fina,
como segurar uma régua, fazer um traço com régua, dobragens [...] Consultei
um neurologista, no Hospital da Horta, Açores, que em 15 minutos de consulta
me referiu que eu tinha Parkinson em fase inicial. Fiquei aborrecida com a
forma como me comunicou a situação, porque considerei que apenas com
meia dúzia de exames de manipulação das articulações, observação de marcha
e com base numa rápida realização da minha história clínica, não era possível
fazer um diagnóstico tão concreto [...] Claro que me sinto um pouco limitada
em certas situações do quotidiano, mas nunca deixei de fazer nada do que
fazia até agora. Tenho algumas dores ósseas nas pernas caso me mantenha
muito tempo sentada ou em pé, tenho mesmo é de aprender como contornar
as situações que me possam conduzir ao desconforto.”
(Maria José Biscaia, 47 anos, Açores, Portugal, 14 de Maio de 2012).

“Eu, Paulo de Sousa Moreira, tenho atualmente 64 anos. Apareceram-me os


primeiros sintomas da doença com 42 anos. Comecei por sentir uma ligeira
diferença na mão direita passando depois para o braço, foi nessa altura que me
foi feito o verdadeiro diagnóstico [...] Os movimentos começaram a ser afetados.
Desenvolver atividades minuciosas com as mãos tornou-se uma tarefa árdua.
A higiene diária era uma tarefa muito demorada e realizada com esforço. [...] A
nível profissional a situação desenrolou-se da mesma forma [...] a dificuldade
em escrever era grande e a caligrafia era muito má [...] Sentia que ao passar
dos dias ia piorando o meu estado saúde. Agora já eram as deslocações que
por si só se tornaram impossíveis. As pernas pesavam, arrastava os pés, havia
cada vez mais momentos em que a marcha bloqueava não me permitindo sair

54
NEURODEGENERAÇÃO │ UNIDADE II

do sitio. [...] Com muitos momentos de grande tristeza tentei sempre dar a
volta, não me deixando abater pela depressão. Quando estava com o melhor
efeito da medicação saia o mais possível, agora, sempre acompanhado. Tudo
se tornava um problema não conseguia virar-me na cama, tinha distúrbios
urinários, vestir e despir sozinho era muito difícil, para comer precisava que
me partissem os alimentos e segurar os talheres por vezes era impossível, a
condução tornou-se impraticável, para passear tinha que me limitar a andar
o mínimo e procurar restaurantes com estacionamentos muito perto [...] Dia
7 de Setembro de 2006 dei entrada neste hospital para a preparação cirúrgica
que se realizou a 12 do referido mês [...] Tudo decorreu dentro da normalidade,
fui-me apercebendo do desenrolar da cirurgia pois estava acordado e pude ver
e ouvir o que lá se passava. O tempo cirúrgico foi difícil. [...] O primeiro mês foi
de fato o mais difícil devido às necessidades de ajuste da estimulação. Agora
sinto me um homem rejuvenescido, autônomo capaz de ter uma vida social
antes perdida.[...] simples fato de sair para ir ao restaurante, às compras ou
simplesmente passear, deixou de ser uma prática planeada ao pormenor, já
não tenho limitações de marcha [...]”
(Paulo de Sousa Moreira, 5 anos depois da cirurgia, Hospital de S. João – Porto, Portugal, 11 de
Abril de 2007).

Os depoimentos nos chamam atenção por alguns pontos em comum, os primeiros sinais que
despertam desconforto e procura profissional especializada foram os tremores em um dos membros
superiores, após o diagnóstico e a debilitação com o passar do tempo e o desenvolver da doença, há
um período de abalo psicológico pela incapacidade de fazer coisas antes rotineiras, até que aconteça
o momento de aceitação e estabilidade com o tratamento.

“Durante muito tempo receei encontrar-me com outros doentes de Parkinson.


Seria a “hora da verdade”, o momento em que iria ser confrontada com a
realidade da doença e com o que, certamente, me espera no futuro. Durante
muito tempo achei que não estava preparada para enfrentar os meus receios
e a vergonha da degradação física […] Tinha a certeza que ia encontrar um
grupo de pessoas cabisbaixas, tristes, zangadas com a vida e eu mal podia
com as minhas desgraças […] No dia 11 de Abril de 2007 encontrei-me, pela
primeira vez com outros doentes e seus familiares […] Ao contrário de tudo o
que eu estava à espera, foi uma experiência extremamente enriquecedora. Pela
primeira vez encontrei gente que falava a mesma linguagem, que percebia os
sintomas e os efeitos secundários. Pela primeira vez não tive que disfarçar […]
E, ao em vez de gente cabisbaixa, deparei-me com lutadores. Gente que chora,
que ri, que se entusiasma, que vive uma realidade difícil mas que se agarra às
pequenas vitórias como se ganhasse a guerra [...].”
(Desconhecido)

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UNIDADE II │ NEURODEGENERAÇÃO

Sinais
A síndrome parkinsoniana ou parkinsonismo é um complexo de sinais e sintomas que podem ser
produzidos por uma variedade de situações, incluindo a doença de Parkinson, também conhecida
como parkinsonismo idiopático.

A síndrome parkinsoniana é caracterizada pela combinação do que chamamos de quatro sinais


cardiais: tremor de repouso, rigidez muscular, acinesia e alteração dos reflexos de manutenção da
postura. A combinação de dois, dos quatros sintomas já é suficiente para diagnosticar a síndrome
parkinsoniana. A doença de Parkinson tem como manifestações clínicas a tétrade clássica da
síndrome parkinsoniana (tremor, rigidez, acinesia e alteração dos reflexos posturais).

»» Tremor de repouso: aparece quando o indivíduo está relaxado ou distraído,


podendo ser diminuído frente a uma ação ou quando o paciente põe ação ao tremor.
Pode afetar as mãos, pernas e o mento.

»» Rigidez muscular: aparece em qualquer parte do corpo, hipertonia está ligada


à insuficiência de relaxamento dos músculos quando estes não participam em
nenhum movimento.

»» Acinesia: também conhecida como bradicinesia, é a dificuldade do paciente em


iniciar um movimento, acompanhado de uma redução na velocidade e amplitude
do movimento.

»» Reflexos posturais: são alterados e se manifestam pela dificuldade de manter o


equilíbrio durante a marcha e na dificuldade do paciente em equilibrar-se quando
desestabilizado.

A doença costuma ter início aos 50 anos de idade, embora haja casos precoces frequentes. A doença
tem início lento e gradual, e as manifestações clínicas estão limitadas a metade do corpo. Com o passar
do tempo, os sintomas tomam as duas metades do corpo, mas geralmente o quadro é assimétrico
durante toda sua evolução. A face de um paciente com doença de Parkinson é característica por
causa da lentidão dos movimentos, quase não pisca e há pouco movimento dos músculos da face.

Na fase tardia aparece o envolvimento da doença com o equilíbrio, o paciente tende a assumir uma
postura encurvada para frente e a marcha tende a manifestar-se com passos curtos, muitas vezes
arrastando os calcanhares no chão.

Tratamento
Não é conhecida a causa da doença de Parkinson, mesmo não sendo incomum encontrar mais de
uma pessoa na mesma família acometida pela doença, ela não é hereditária. Os medicamentos
existentes para o tratamento dos pacientes são para melhorar os sintomas da doença, como o tremor
e a lentidão dos movimentos, e além dos medicamentos orais, fisioterapia e terapia ocupacional, há
o tratamento cirúrgico em alguns casos mais avançados, mas não há cura, ainda.

56
NEURODEGENERAÇÃO │ UNIDADE II

O tratamento mais eficaz é a reposição da dopamina através de seu precursor, a levodopa.


A enzima dopa-descarboxilase converte a levodopa em dopamina, estimulando o receptor
pós-sináptico do corpo estriado, restaurando o equilíbrio normal entre excitação e inibição
no núcleo caudado e putâmen. Walter Brikmayer e Horynekiewicz descobriram que
administração intravenosa de L-dihidroxifenilalanina (L-DOPA), o precursor da dopamina,
proporciona uma breve reversão dos sintomas. George Cotzias demonstrou que os aumentos
graduais na administração oral de L-DOPA pode proporcionar benefícios significativos e
contínuos, começando assim a era moderna da terapia farmacológica. A administração da
própria dopamina não permite que ela atravesse a barreira hematoencefálica, não surtindo o
mesmo efeito do L-DOPA. Mesmo com o desenvolvimento de novos e mais efetivos fármacos
antiparkinsonianos, os benefícios da terapia geralmente começam a diminuir aproximadamente
após cinco anos, e os efeitos secundários desenvolvem flutuações nas respostas motoras e
discinesias relacionadas com a droga. Até hoje a levodopa tem sido recomendada em doses
baixas especialmente para pacientes com menos de 65 ou 70 anos de idade, devido aos
efeitos colaterais.

Há outros medicamentos que podem ser utilizados nas fases iniciais da doença. Porém não são tão
eficientes quanto à levodopa, como:

»» os anticolinérgicos: biperideno e triexifenidila (atuam no tremor e na rigidez, mas


pouco na acinesia);

»» selegilina;

»» amantadina;

»» inibidores COMT (combinado com levodopa): tolcapona e entacapona;

»» agonistas dopaminérgicos: bromocriptina, pergolida, piribedil e pramipexol;

»» L-deprenil: inibe monoamina oxidase que destrói a dopamina após ser secretada.
Dopamina liberada permanece mais tempo nos tecidos dos gânglios da base por um
período maior de tempo. Torna a destruição dos neurônios que secretam dopamina
na substância negra mais lenta.

Em pacientes mais idosos, os anticolinérgicos podem produzir alucinações e delírios e são


contraindicados para pacientes com prostatismo e glaucoma.

Além das drogas supracitadas, há os procedimentos cirúrgicos:

»» Tratamento com células dopaminérgicas fetais transplantadas:


transplante de células secretoras de dopamina, obtida do cérebro de fetos abortados,
feito diretamente nos núcleos caudados e putâmens. As células vivem por alguns
meses.

57
UNIDADE II │ NEURODEGENERAÇÃO

»» Estimulação cerebral profunda: introdução de eletrodos, através de um


aparelho para a localização correta da região – equipamento estereotáxico, em dois
possíveis alvos: globo pálido ou núcleo subtalâmico, podem também ser implantados
no núcleo ventral-intermédio do tálamo quando o tremor é a principal manifestação.
Quando a cirurgia é bem indicada e atinge resultado técnico satisfatório, é possível
obter melhora de até 60% das discinesias e permite a redução das dosagens
anteriores de levodopa. Também podem melhorar com as medicações, nessa nova
situação a rigidez, o tremor e a lentidão de movimentos.

Vários estudos têm sido realizados a cerca de medidas preventivas e/ou para melhorar os sintomas
de secundários da doença.

Um estudo realizado pelo grupo de pesquisa do professor William J. Marks Jr. da Universidade da
Califórnia, São Francisco, publicado na edição de dezembro de 2010 do The Lancet Neurology, tem
mostrado que, embora a terapia genética tenha falhado em relação ao desfecho primário do estudo –
a função motora em 12 meses – os pesquisadores descobriram evidências suficientes para continuar
a testar a abordagem da terapia genética. As autópsias feitas em cérebro de dois pacientes, tratados
com terapia gênica (que morreram de causas não relacionadas com o estudo) sugerem que uma
maior dose do medicamento e a adição de um segundo local de segmentação pode ser útil.

Outro estudo de igual importância é acerca dos sintomas psicológicos. Além dos problemas físicos,
a doença de Parkinson pode também causar sintomas psicológicos – cerca de metade das pessoas
com doença de Parkinson sofrem de depressão. Certos antidepressivos parecem diminuir depressão
de pessoas com doença de Parkinson, sem efeitos colaterais (piorar os problemas motores) de
acordo com um estudo publicado em 11 de abril de 2012, edição on-line de Neurology ®, o jornal
médico da Academia Americana de Neurologia. Em um estudo foram testados dois antidepressivos,
a paroxetina e a venlafaxina, as pessoas que receberam paroxetina tiveram uma melhora de 59%,
e os que receberam venlafaxina tiveram 52% de melhora na escala de Hamilton para depressão. As
pessoas que receberam o placebo tinham um 32% de melhoria. As drogas foram, geralmente, bem
toleradas e não levou a qualquer agravamento no funcionamento motor. A autora da pesquisa é
Irene H. Richard, da Universidade Centro Médico Rochester em Nova York e membro da Academia
Americana de Neurologia. (Good News for Parkinson’s Patients: Drugs May Ease Depression
without Worsening Motor Problems. American Academy of Neurology, 2012).

58
CAPÍTULO 4
Aterosclerose

A aterosclerose é uma doença inflamatória, aproximadamente 300 mil óbitos/ano no Brasil são
causados por doenças cardiovasculares associadas à arteriosclerose. Nos Estados Unidos as doenças
cardiovasculares são responsáveis por cerca de 80% das mortes de pessoas com mais de 65 anos de
idade (GIROLDO et al., 2007; MACHADO et al., 2003), e nas sociedades ocidentais a aterosclerose
é causa primária de 50% de todas as mortes relacionadas com infarto do miocárdio e acidente
vascular cerebral (LUSIS, 2000).

Para um melhor entendimento do que veremos nesse capítulo, veja os vídeos a


seguir:

1. No vídeo: <http://www.youtube.com/watch?v=75FZCnJ6Vd0>

Observe os seguintes pontos destacados:

»» lesão das paredes das artérias;

»» colesterol (LDL)/oxidação/estrias de gorduras;

»» placa de gordura;

»» cápsula fibrosa; e

»» diminuição do fluxo sanguíneo.

2. No vídeo: <http://www.youtube.com/watch?v=BIQtntZZGqI>

Vamos detalhar mais um pouco para começar nossos estudos, observe também:

»» espaço subendotelial;

»» monócitos/macrófagos/células espumosas;

»» tecido fibroso;

»» angina estável;

»» trombose

»» plaquetas/trombo/coágulo sanguíneo;

»» angina instável.

Agora que você já tem uma visão prévia do que vamos estudar nesse capítulo, podemos seguir com
mais detalhes.

59
UNIDADE II │ NEURODEGENERAÇÃO

Como começa?
Em 1970 estudos experimentais e clínicos mostravam uma relação entre hiperlipidemia e formação
de ateroma, então havia a ideia da existência de uma relação direta entre lipídeos e aterosclerose
(ROSS, 1976). Atualmente a ciência tem demonstrando que a gênese da aterosclerose é complexa
e envolve componentes genéticos, ambientais e respostas inflamatórias (HACKAM; ANAND, 2013;
LIBBY, 2002; STEIN et al., 2002; HULTHE; FAGERBERG, 2002).

Segundo Hackam e Anand (2013) a aterosclerose resulta de uma série de respostas celulares e
moleculares altamente específicas, é uma doença progressiva, lenta e multifatorial. As
placas ou estrias gordurosas são formadas por acúmulos de lipídeos, elementos fibrosos e
células inflamatórias que se depositam na parede das artérias (como visto no vídeo no início da
aula) o que acaba provocando a obstrução da artéria (LIBBY, 2002).

Qualquer artéria pode ser afetada, mas os principais alvos da doença são a aorta, e as artérias
coronárias e cerebrais, tendo como principais consequências o infarto do miocárdio, a isquemia
cerebral e o aneurisma aórtico (FUSTER, 1994; BADIMON et al., 1993). Assim, principais doenças
ateroscleróticas incluem: doença cardíaca coronária, acidente vascular cerebral e doença arterial
periférica.

Napoli et al. (1997) postulam que a aterosclerose pode iniciar na vida intrauterina, progredir
lentamente na adolescência e apresentar manifestações clínicas na vida adulta. Alguns estudos
mostram que o processo aterosclerótico pode ocorrer precocemente já que há uma prevalência de
placas ateroscleróticas superior à 40% nas autópsias de adultos jovens (McGILL et al., 2000). Em
geral, a doença aterosclerótica é a principal representante dos processos patológicos cardiovasculares
ligados ao envelhecimento, ela se manifesta em indivíduos adultos e a sua incidência aumenta
exponencialmente a partir dos 45 anos de idade (HAZZARD, 1989).

Alguns estudos separam a evolução da doença aterosclerótica em duas fases interdependentes


(FUSTER, 1994; BADIMON et al., 1993):

»» Fase aterosclerótica: é a primeira fase, há formação anatômica da lesão


aterosclerótica, sua formação é lenta e gradual podendo levar décadas para evoluir,
geralmente não apresenta manifestações clínicas dramáticas.

»» Fase trombótica: formação aguda de trombo sobre a placa aterosclerótica está


diretamente relacionado com os eventos agudos coronarianos (infarto do miocárdio,
angina instável e morte súbita), geralmente são desencadeados pela desestabilização
da placa aterosclerótica, a formação do trombo reduz a luz do vaso.

60
NEURODEGENERAÇÃO │ UNIDADE II

Figura 29. Evolução da aterosclerose. 1) Artéria normal. 2) A lesão aterosclerótica (fase inicial, lenta e gradual) se
inicia com o acúmulo de lipídios na camada mais interna da artéria. 3) Evolução para estágios iniciais da placa.
4) Formação de uma placa complexa, limitada por uma capa fibrótica. Eventos agudos ocorrem com a ruptura
da capa. 5) Ruptura da placa aterosclerótica, provoca uma trombose da artéria ocasionando a uma oclusão ou
suboclusão imediata. 6) A reabsorção do trombo pode ser seguida por sua organização e aumento do volume
da placa.

Fonte: <http://www.pedrofarsky.med.br/Colesterol.html>

Os fatores de riscos para a aterosclerose são diretamente relacionados à incidência de coronariopatia.


Entre os fatores de risco podemos citar o tabagismo, hipertensão arterial, hipertrigliceridemia,
hipercolesterolemia e excesso de peso, além de cardiopatia isquêmica no histórico familiar
(GERBER; ZIELINSKY, 1997; SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2001).

Fatores de risco
Os fatores de risco podem ser divididos em Subjacentes (implícito), Principais e Emergentes.

»» Fatores de Risco Subjacentes:

›› Dieta aterogênica: consiste um uma alimentação com alto consumo de gordura


e baixa ingestão de fibras. A globalização do mercado de alimentos introduziu
alimentos aterogênicos em todas as nações, hábitos alimentares tradicionais que
protegiam muitas nações contra doenças cardiovasculares estão desaparecendo.

›› Sobrepeso/Obesidade: a mudança no estilo de vida e, principalmente a


urbanização produziram uma epidemia mundial de sobrepeso e obesidade. Esta
epidemia é mais evidente nos Estados Unidos, mas a prevalência da obesidade
aumenta em um ritmo alarmante em muitas partes do mundo, especialmente
na Ásia.

›› Inatividade Física: mais de 60% da população mundial é sedentária e não é


fisicamente ativa o suficiente para obter os benefícios do exercício na saúde. A
inatividade física contribui ainda mais para sobrepeso e obesidade.

61
UNIDADE II │ NEURODEGENERAÇÃO

»» Principais Fatores de Risco:

›› Tabagismo: a Organização Mundial de Saúde estima que o tabagismo é a


causa de 4 milhões de óbitos por ano, e no ritmo atual de fumante em todo o
mundo esse número aumentará para 10 milhões ao longo da próxima década.
Só na China, 2.000 pessoas morrem a cada dia por doenças provocadas pelo
tabagismo. Pelo menos um terço de toda a doença cardiovascular aterosclerótica
é o resultado do tabagismo.

›› Hipertensão: aproximadamente 690 milhões de pessoas no mundo têm


hipertensão. A hipertensão é a causa de morte, diretamente, de pelo menos
3 milhões de pessoas por ano, além de contribuir para muitas outras mortes.
A prevalência da hipertensão arterial aumenta com a idade, na verdade, em
algumas populações até a metade da população com mais de 60 anos de idade
tem pressão arterial elevada. A hipertensão é um importante fator de risco para
acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca, doença cardíaca coronária
e insuficiência renal. Cerca de 30 milhões de pessoas no mundo tiveram um
acidente vascular cerebral relacionado com hipertensão, e entre eles, 5 milhões
morrem a cada ano. Graças à melhoria da detecção e tratamento da hipertensão
arterial, a hipertensão tem sido melhor controlada e a incidência de acidente
vascular cerebral diminuiu em alguns países. Mesmo assim, sete em cada 10
pessoas com hipertensão não estão sendo tratadas adequadamente.

›› Colesterol LDL elevado: o LDL (do inglês Low Density Lipoprotein) é uma
lipoproteína de baixa densidade e faz parte da família das lipoproteínas, ela
transporta o colesterol e os triglicerídeos do fígado e intestino delgado às células
e tecidos que estão necessitando destas substâncias. Uma elevação dos níveis
séricos de colesterol LDL é um fator de risco para doença arterial coronariana,
qualquer elevação dos níveis séricos de LDL é suficiente para iniciar e manter
a aterogênese. Populações que têm níveis muito baixos de colesterol LDL
geralmente têm baixas taxas de doença cardíaca coronária, mesmo quando
outros fatores de risco cardiovascular presentes.

›› Níveis baixos de colesterol HDL: o HDL (do inglês High Density


Lipoprotein) é uma lipoproteína de alta densidade que transporta colesterol dos
tecidos do corpo humano ao fígado, chamado de transporte reverso do colesterol,
isso diminui a quantidade de colesterol no sangue ou naquele presente em
células. Em populações de maior risco, baixo nível sérico de colesterol HDL está
consistentemente associado com risco aumentado para doença coronariana.
Pelo menos três mecanismos têm sido indicados para esta associação: primeiro,

62
NEURODEGENERAÇÃO │ UNIDADE II

um HDL baixo reflete geralmente a presença de lipoproteínas aterogênicas


remanescentes; segundo, um baixo HDL ocorre tipicamente na presença de
fatores de risco não lipídicos da síndrome metabólica; terceiro, o HDL pode
proteger diretamente contra a aterosclerose e um nível baixo pode permitir para
aterogênese acelerada.

›› Diabetes Mellitus: mais de 90% de todos os casos de hiperglicemia (glicose


plasmática ≥ 126 mg/dL; ≥ 7,0 mmol/L) estão presentes em uma condição
chamada diabetes do tipo 2. De acordo com as estimativas, em 2025 mais de 300
milhões pessoas no mundo terão diabetes do tipo 2 por causa da epidemia global
de obesidade. Há várias complicações clínicas da diabetes: doença cardíaca
coronária, acidente vascular cerebral, doença arterial periférica, cegueira,
insuficiência renal e amputações.

›› Histórico familiar de doença cardiovascular aterosclerótica


prematura: a história familiar positiva pode ser definida como a presença
da doença cardiovascular aterosclerótica em um parente de primeiro grau,
masculino antes dos 60 anos, ou parente de primeiro grau antes dos 65 anos.
Pelo menos dois fatores contribuem para o risco de uma pessoa que tem
uma história familiar positiva. Primeiro, a família pode ser geneticamente
predispostas à doença cardiovascular isquêmica precoce e, segundo, a doença
cardiovascular aterosclerótica muitas vezes ocorre em famílias por causa de um
ambiente aterogênico compartilhado, ou seja, os hábitos familiares de tabagismo,
obesidade, sedentarismo e consumo de uma dieta aterogênica. Por estas razões,
deve ser dada uma atenção especial às pessoas que têm uma história familiar
de doença cardiovascular prematura. Eles devem ser cuidadosamente testados
para a presença de fatores de risco genéticos, por exemplo, hipercolesterolemia
familiar e outras dislipidemias, hipertensão arterial, resistência à insulina e
glicemia de jejum alterada e distúrbios trombóticos. Além disso, essas pessoas
devem ser cuidadosamente questionadas sobre estilo de vida que podem
predispor a doenças cardiovasculares.

›› Envelhecimento: o avanço da idade é um fator de risco para a doença


cardiovascular aterosclerótica, isto se deve, em grande parte, ao dano
cumulativo de outros fatores de risco. O controle dos fatores de risco, como da
pressão arterial elevada ou na redução do LDL, pode reduzir grandes “eventos”
vasculares em indivíduos mais velhos, mesmo quando a aterosclerose está
avançada. A prioridade para a terapia é para as pessoas que se enquadram nas
categorias de alto risco, que incluem pessoas com doença cardíaca coronária,
outras formas de doenças clínicas de aterosclerose, diabetes e vários fatores de

63
UNIDADE II │ NEURODEGENERAÇÃO

risco estabelecidos, e não para pessoas idosas. Em pessoas não consideradas de


alto risco, uma abordagem pode intervir sobre os fatores de risco estabelecidos
– tabagismo, hipertensão, hipercolesterolemia e diabetes. Em todos os casos, é
necessária a avaliação clínica quando intervir nos fatores de risco em pessoas
mais velhas que têm comorbidades que afetam a qualidade de vida e que pode
reduzir a expectativa de vida.

»» Fatores de Risco Emergentes/Síndrome Metabólica:

Com o aumento mundial de sobrepeso / obesidade e hábitos de vida sedentária um padrão de fatores
de risco está emergindo. Este padrão consiste de vários fatores de risco metabólicos e é designado
como síndrome metabólica.

Os fatores de risco que compõem a síndrome metabólica são:

›› dislipidemia aterogênica (triglicérides elevado, pequenas partículas densas LDL,


baixo colesterol LDL);

›› pressão arterial elevada;

›› resistência à insulina/glicose elevada;

›› estado pró-inflamatório; e

›› estado pró-trombótico.

A síndrome metabólica, por si só, não é considerada como uma condição de alto risco. A avaliação
de risco em pessoas com a síndrome metabólica deve, primeiro, ser baseada nos fatores de risco
principais, já que a relação da síndrome metabólica com doenças cardiovasculares não é bem
estabelecida quanto aos principais fatores de risco. No entanto, há evidências crescentes de que
a síndrome metabólica representa um importante fator de risco comum em muitas populações
e merece maior atenção no contexto clínico. Os pacientes com a síndrome metabólica merecem
intensas mudanças no estilo de vida para reduzir a gravidade da síndrome.

De uma forma geral, os principais fatores de risco cardiovascular (tabagismo, hipertensão arterial,
distúrbios lipídicos séricos e diabetes) são comuns em muitas populações, no entanto, em alguns
indivíduos os fatores de risco ocorrem nas formas grave ou incomum, precisando, assim, de uma
investigação mais cuidadosa.

Do processo inflamatório à formação da


placa aterosclerótica
A aterosclerose não é uma simplesmente uma consequência degenerativa do envelhecimento, mas
sim uma condição inflamatória que pode se converter em um evento clínico e agudo ocasionado pela
ruptura da placa e formação de trombos (LUSIS, 2000).

64
NEURODEGENERAÇÃO │ UNIDADE II

Sob condições anormais, sais de cálcio podem se precipitarem em tecidos não ósseos, como
nas paredes das artérias na condição chamada arteriosclerose, transformando as artérias em
tubos semelhantes à ossos.

Na aterogênese as respostas inflamatórias são mediadas por mudanças funcionais das células
endoteliais, dos linfócitos T, dos macrófagos que são derivados de monócitos, e das células do
músculo liso (LIBB, 2002; NICOLLETTI et al. 2000). Quando essas células são ativadas há a
uma interação de citocinas, moléculas de adesão, fatores de crescimento, acúmulo de lípideos e
proliferação de células do músculo liso (ROSS 1999).

O estresse oxidativo também pode induzir uma resposta inflamatória, principalmente pela oxidação
do colesterol LDL (HULTHE; FAGERBERG, 2002; KUNSCH; MEDFORD, 1999).

Como já vimos em aulas anteriores, doenças inflamatórias têm sido relacionadas a um desbalanço
redox e efeitos do excesso de espécies oxidantes nos organismos. Os radicais livres são produzidos
naturalmente, já que a oxidação é fundamental na via aeróbica do metabolismo, ou, por alguma
disfunção biológica.

No organismo podemos encontrar radicais livres envolvidos na fagocitose, regulação do crescimento


celular, sinalização intercelular e síntese de substâncias biológicas importantes, porém, seu
excesso gera efeitos prejudiciais, como a lipoperoxidação de membranas e oxidação de proteínas
(BARREIROS et al., 2006; HUSAIN et al., 1987).

No organismo dos mamíferos encontramos as espécies reativas de oxigênio que são naturalmente
produzidas na cadeia respiratória das mitocôndrias com a redução de um elétron do oxigênio
molecular. NAD(P)H oxidase, xantina oxidase, mieloperoxidase, cicloxigenase e lipoxigenase são
grandes fontes enzimáticas de espécies reativas de oxigênio. A radiação UV representa um exemplo
de um fator ambiental de geração de espécies reativas de oxigênio. Em altas concentrações podem
danificar macromoléculas celulares como o DNA, proteínas e lipídios, podendo levar à morte celular.

No entanto, as células possuem mecanismos de defesa e sistemas antioxidantes, bem como a


reparação de modificações oxidativas deletérias sobre as estruturas celulares. O estresse oxidativo
é o resultado do desequilíbrio entre moléculas antioxidantes e oxidantes, que pode ser causado
por distúrbios na produção, distribuição ou por uma grande quantidade de espécies reativas de
oxigênio, a partir de fontes endógenas ou fatores ambientais. Assim, várias doenças cardiovasculares,
neurodegenerativas, alguns tipos de câncer, e o processo de envelhecimento têm sido relacionados
com o estresse oxidativo, as espécies reativas podem ser ao mesmo tempo causa e consequência de
patologias humanas associadas ao estresse oxidativo (SIES, 1991; VASCONCELOS et al., 2007).

Estudos relacionados ao metabolismo das lipoproteínas de baixa densidade (LDL) têm ganhado
grande destaque no entendimento da aterosclerose. A formação de ateromas resulta em uma
lesão endotelial, a qual permitirá a entrada de mais LDL na parede do vaso sanguíneo seguido
pelo desenvolvimento de macrófagos na parede do vaso. Os macrófagos secretam citocinas que
estimulam o aumento da resposta inflamatória local, havendo aumento de citocinas e quimiocinas,
ambas responsáveis pelo recrutamento dos leucócitos. Atraídos pelas citocinas, os linfócitos também
podem entrar na parede do vaso estimulando a formação de anticorpos, isto pode manter e modificar

65
UNIDADE II │ NEURODEGENERAÇÃO

as lipoproteínas localizadas no endotélio vascular, aumentando a sua fagocitose em macrófagos,


causando a produção de citocinas como o fator de necrose tumoral (TNF) - alfa, interleucina (IL)
-1 beta, IL-4, IL-6, IL-12 e IL-18, entre outros fatores. A secreção de citocinas ativa as células T,
gerando linfócitos T (Th1) capazes de reconhecer o LDL oxidado como antígenos, amplificando a
resposta inflamatória. As metaloproteínas presentes (hemoglobina, mioglobina) podem danificar a
“cápsula” fibrosa formada e enfraquecer a placa de ateroma.

Os macrófagos ocupam um papel central na doença porque são importantes reguladores do


processo inflamatório da aterosclerose, eles não conseguem limitar a quantidade de colesterol
absorvida, assim, a acumulação é evitada apenas com a saída do colesterol, o que produz a formação
das estrias gordurosas. Esse é o primeiro passo para a aterosclerose. Estudos mostram que os
fatores de risco clínico convencionais estão significativamente relacionados à presença de cálcio
coronariano. A idade, o tabagismo e antecedentes de hipercolesterolemia, diabetes e hipertensão
estão significativamente associados aos níveis de cálcio.

Desafio clínico
Em diferentes países e regiões do mundo, a prevalência da incidência de aterosclerose e as
manifestações são variadas. Essas diferenças dependem tanto da suscetibilidade racial quanto do
estilo de vida da nação.

Foi feita a autopsia das artérias cerebrais (carótidas comum, carótida interna, vertebral, cerebral
média e artéria basilar) em um grupo de 1.547 pessoas de cinco países (Noruega, Guatemala, Estados
Unidos, Jamaica e Chile) e constatou-se que os homens apresentam um índice mais elevado de
lesões ateroscleróticas do que as mulheres.

Os caminhos pró-oxidativos e pró-inflamatórios no endotélio vascular têm sido implicados na


iniciação e progressão da aterosclerose. No processo inflamatório, a aterosclerose é o resultado da
disfunção endotelial em função do estresse oxidativo relacionado a fatores de risco.

A identificação e modificação do processo patológico nos estágios iniciais e subclínicos permitiria


estratégias como a modificação da dieta, exercício físico, intervenção farmacológica reduzindo
o risco cardiovascular. O diagnóstico precoce, entendimento da predisposição genética, e o
desenvolvimento farmacológico podem modificar a progressão da doença.

66
CAPÍTULO 5
Cuidado com pacientes idosos e ou
com doenças degenerativas

O aumento da expectativa de vida da população, aliado à redução da taxa de fecundidade registrada


nas últimas décadas, resulta no aumento significativo na proporção de indivíduos idosos no Brasil,
as pessoas estão vivendo mais e envelhecendo de maneira mais sadia (CHAIMOWICZ, 1998).
No entanto, com a idade mais avançada aumenta a incidência de doenças neurodegenerativas,
denominadas demências (de: partícula privativa; mência: do latim mens: mente. Ou seja,
literalmente, “perda da mente”). As demências recebem esse nome porque comprometem de forma
significativa a memória e também outras funções cognitivas, com intensidade suficiente para
produzir perda funcional (SQUIRE; KANDEL, 2000).

Senescência e senilidade
Segundo o dicionário Aurélio, senescência significa caráter do que é senescente, envelhecimento,
decrepitude, senilidade, decadência; e a senilidade é uma das últimas etapas do processo chamado
envelhecimento, a senilidade ocorre quando o envelhecimento acarreta um esmorecimento da
memória e das funções físicas. Discutiremos essas definições literárias.

A senescência é um processo natural do envelhecimento o qual compromete progressivamente


aspectos físicos e cognitivos. Como visto nas primeiras aulas, envelhecer é um conjunto de fatores
biológicos, psíquicos e sociais. Um organismo em condições normais sobrevive adequadamente
durante seu envelhecimento, mas caso seja submetido a situações de estresse físico, emocional ou
qualquer outro fator que possa alterar sua saúde física ou psíquica terá dificuldades em manter
seu “equilíbrio” e manifestará uma sobrecarga funcional resultando em processos patológicos
(FIRMINO, 2006).

Embora o organismo envelheça como um todo, cada órgão, tecido ou célula têm envelhecimentos
diferenciados. O envelhecimento perceptivo é muito diferenciado, enquanto algumas modalidades
sensoriais quase não são afetadas, como gosto e olfato, outras são prejudicadas, como audição,
visão e equilíbrio. Essas alterações têm consequências importantes e às vezes graves no aspecto
psicológico e social do indivíduo (MORAIS et al., 2010).

Assim, o envelhecimento pode ser considerado biologicamente como uma involução morfofuncional
que afeta os sistemas fisiológicos, porém essa “involução” não impede que o indivíduo se mantenha
ativo, independente e feliz. A velhice bem-sucedida – física e mental – modifica a relação do homem
com o tempo, com o mundo e com a sua história (MORAIS et al., 2010).

Quando aparecem os sinais de deficiências funcionais, chamamos de senescência. Não é um


processo considerado doença, não compromete relações nem gerência de decisões, o idoso fica mais
vulnerável. Idosos saudáveis podem ser muito produtivos, o idoso não deve ser tratado como um

67
UNIDADE II │ NEURODEGENERAÇÃO

ser limitado cognitivamente, apenas requer adaptação dos estímulos ambientais (MORAIS et al.,
2010).

Rosa (1983) diferencia senescência e senilidade:

»» Senescência: é o declínio físico e mental lento e gradual; fase normal da vida de


um indivíduo sadio. Geralmente se inicia após os 65 anos.

»» Senilidade: é o declínio físico acentuado e acompanhado da desorganização


mental; é conhecida como demência, onde por sua vez, o idoso perde algumas
capacidades físicas, psíquicas e motoras.

Com o passar dos anos, as alterações nas funções fisiológicas podem ocasionar o aumento do risco
de desenvolvimento de Desordens Neurodegenerativas (DNs) como a doença de Alzheimer (DA),
Doença de Parkinson (DP), Doença de Huntington (DH), Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA),
entre outras. As alterações celulares que ocorrem ao longo do envelhecimento estão associadas a
essas doenças.

Como já visto nos capítulos anteriores, essas alterações celulares são ocasionadas por acúmulo
de danos no DNA nuclear (DNAn) de neurônios do Neocórtex e do Hipocampo, como também,
o aumento da produção de espécies reativas do oxigênio e citocinas inflamatórias, causando
danos oxidativos de biomoléculas e desenvolvimento de resposta inflamatória crônica.

Figura 30. Diferença entre senescência e senilidade.

Fonte: <http://ageriatra.blogspot.ca/2010/11/senescencia-senilidade-e-envelhecimento.html> <http://www.sanar.org/files/


sanar/demencia-senil.jpg>

Agora você já está apto para diferenciar senescência e senilidade e como elas estão relacionadas ao
assunto tratado até o momento.

O envelhecimento e a doença não são intimamente dependentes ou interligados, porém nos idosos
existe maior vulnerabilidade de adoecer, pois a qualidade de vida é influenciada por múltiplos
fatores – físicos, psicológicos, sociais e culturais – mais facilmente do que em qualquer outra faixa
etária.

A assistência ao idoso deve prezar pela manutenção da qualidade de vida, considerando o processo
de perdas próprias do envelhecimento e as possibilidades de prevenção, manutenção e reabilitação
do seu estado de saúde, numa atuação interdisciplinar e multidimensional.

68
NEURODEGENERAÇÃO │ UNIDADE II

Síndromes geriátricas

Incapacidade cognitiva
A cognição é o conjunto de funções cerebrais, são elas (VILELA et al., 2008):

»» memória: é a capacidade de armazenamento de informações;

»» função executiva: é a capacidade de planejamento, antecipação, sequenciamento


e monitoramento de tarefas complexas;

»» linguagem: é a capacidade de compreensão e expressão da linguagem oral e


escrita;

»» praxia: é a capacidade de executar um ato motor;

»» gnosia: é a capacidade de reconhecimento de estímulos visuais, auditivos e táteis;

»» função visuo-espacial: é a capacidade de localização no espaço e percepção das


relações dos objetos entre si.

Essas funções juntas e integradas permitem a interação entre as pessoas e o mundo, nos capacita
a resolver problemas cotidianos, tomar decisões e ter motivação, que são fundamentais para a
autonomia (VILELA et al., 2008).

O envelhecimento fisiológico não afeta a cognição significativamente, há, apenas, uma maior
lentificação no processo cognitivo e diminuição da atenção, aumentando a dificuldade no resgate
das informações apreendidas, reduzindo a memória prospectiva e a memória contextual. Embora as
alterações aconteçam em vários pontos, o resultado não causa um prejuízo na execução das tarefas
cotidianas, contrário do que quando as alterações ocorrem nos órgãos dos sentidos que dificultam o
acesso às informações e ao aprendizado (VILELA et al., 2008).

Demência
O diagnóstico de demência deve ser dado após a detecção de múltiplos déficits cognitivos que
comprometem a memória e outra função cognitiva, resultando em alterações na relação social e
nas atividades diárias, segundo o DSM IV-TR, Manual de Classificação de Doenças Mentais da
Associação Americana de Psiquiatria (2002).

A perda de memória é gradual, iniciando na memória episódica recente, intermediária e por fim na
memória remota.

Existem diversas causas de demência, podendo ser causas reversíveis/potencialmente


curáveis ou causas irreversíveis/degenerativas.

69
UNIDADE II │ NEURODEGENERAÇÃO

As demências reversíveis são inferiores a 5% dos casos de demência. Pacientes portadores de


demência irreversível podem ter a superposição de doenças reversíveis, as demências irreversíveis
podem ser subdivididas em demência de Alzheimer e não Alzheimer.

As principais causas de demência irreversível não Alzheimer incluem:

»» Demência vascular: resulta da presença de doença cerebrovascular isquêmica


ou hemorrágica, assim como da injúria cerebral resultante do hipofluxo cerebral.
O termo “esclerose” foi muito utilizado para descrever a importância das doenças
cerebrovasculares como principais causas de demência associada ao envelhecimento.

»» Demência por corpos de Lewy: as manifestações centrais da doença resultam na


presença de parkinsonismo precoce e espontâneo, flutuação cognitiva e alucinações
visuais recorrentes e complexas, e alterações do sono REM. A sintomatologia
cognitiva, comportamental, motora, autonômica e os distúrbios do sono respondem
bem ao uso de anticolinesterásicos e apresentam grande hipersensibilidade aos
antipsicóticos, podendo induzir complicações potencialmente fatais.

»» Demência fronto-temporal (doença de Pick): o quadro clínico se relaciona à


síndrome frontal com predomínio da sintomatologia comportamental (desinibição,
comportamentos antissociais, impulsividade, hipersexualidade).

»» Outras demências: são causas mais raras de demência e são representadas


pela demência associada à doença de Parkinson, como degeneração corticobasal,
paralisia supranuclear progressiva, doença de Huntington e doença de Creutzfeldt-
Jakob, entre outras.

Quedas
Há várias definições para queda, porém para nosso curso o importante é a definição da Associação
Médica Brasileira (2000). Queda é o deslocamento não intencional do corpo para um nível inferior
à posição inicial, onde o indivíduo é incapaz de corrigir em tempo hábil.

Aproximadamente 30% a 75% das quedas são acompanhadas de lesões, mas metade dos feridos
não procura atendimento médico. As fraturas mais comuns são as vertebrais, do fêmur, do
úmero, do rádio distal e das costelas. Quedas de maior gravidade ocorrem geralmente longe de
casa, provavelmente por serem mais ativos e estarem mais sujeitos a lesões mais graves. A morte
acidental é a quinta causa de óbito na população idosa e as quedas representam dois terços destes
acidentes. Alguns pacientes que são hospitalizados após a queda vão a óbito por pneumonia, infarto
do miocárdio ou tromboembolismo pulmonar (SUDARSKY; TIDEIKSAAR, 1997).

Além disso, as quedas podem provocar sintomas de ansiedade e depressão. Após a queda, o idoso
pode diminuir sua atividade por precaução, dor ou até mesmo por incapacidade funcional. A
reabilitação após a queda pode ser demorada e pode resultar num acamamento prolongado, levando
a complicações como tromboembolismo venoso, úlceras por pressão e incontinência urinária.

70
NEURODEGENERAÇÃO │ UNIDADE II

Podemos classificar os fatores contribuintes para as quedas como:

Intrínsecos

Relacionados ao próprio indivíduo, levando à instabilidade postural. São responsáveis por mais da
metade dos incidentes de queda.

Os idosos tem uma diminuição da velocidade da integração central com os mecanismos envolvidos
no reflexo postural, ou seja, a resposta neurológica (motora aos estímulos) está lentificada.

Outras alterações ligadas à idade que predispõem o indivíduo idoso a quedas, como a diminuição
da visão e da audição, distúrbios vestibulares, distúrbios da propriocepção, aumento do tempo de
reação, hipotensão postural, degeneração articular, diminuição da massa muscular, sedentarismo,
deformidades dos pés, perda da massa muscular, aumento de colágeno muscular (fibrose muscular)
e perda das fibras nervosas de condução rápida. Estas alterações caracterizam a marcha da pessoa
idosa (diminuição do balanço dos braços, postura encurvada, flexão de quadril e joelhos, dificuldade
para retornar, passos curtos, lentidão).

Então como esse assunto está relacionado ao nosso curso?

Pois saiba que há uma forte relação entre distúrbio de equilíbrio, marcha e quedas. Doenças
neurológicas (demência, doença de Parkinson, acidente vascular encefálico, neuropatia periférica,
epilepsia, traumatismo cranioencefálico, tumores do sistema nervoso central) podem afetar o
equilíbrio, e consequentemente a marcha predispõe a queda.

Além disso, algumas doenças podem ocasionar diretamente as quedas como: doença coronariana,
insuficiência cardíaca, síncope de origem cardiogênica, hipertensão arterial, arritmia, insuficiência
vertebrobasilar, hipotensão ortostática, desidratação, insuficiência renal por deficiência de vitamina
D, síndrome vaso-vagal, sangramento oculto, hipo e hiperglicemia, hipo e hipertireodismo, distúrbios
hidroeletrolíticos, infecções, depressão, anemia, hipotermia, alcoolismo, incontinência urinária,
doença pulmonar e embolia pulmonar. Qualquer doença aguda pode diminuir temporariamente a
perfusão cerebral e aumentar a possibilidade de perda de consciência e quedas.

Outro fator que pode causar quedas são as medicações. Além dos efeitos propriamente ditos dos
remédios (intrínsecos) há alteração da farmacocinética e da farmacodinâmica causada pela idade
(alteração da gordura corporal – aumento de 35% – diminuição do metabolismo renal e hepático).
Alguns medicamentos são estudados por aumentarem o risco de quedas são as drogas psicoativas,
cardiovasculares, vasodilatadores, o uso de mais de quatro medicações, benzodiazepínicos e
neurolépticos. É importante estar atento aos efeitos colaterais das medicações.

Extrínsecos

São relacionados ao ambiente que cerca o indivíduo, podendo ser riscos ambientais ou tipo de
movimentação executada pelo indivíduo. A grande maioria das quedas ocorre em casa, devido à
iluminação inadequada, tapetes soltos, degraus estreitos, obstáculos no caminho, piso irregular,
cama com altura inadequada, telefone pouco acessível, piso escorregadio, entre outras.

71
UNIDADE II │ NEURODEGENERAÇÃO

Além das síndromes geriátricas supracitadas temos a síndrome da imobilidade, incontinência


urinária e incontinência fecal.

Geriatria
A geriatria é uma ciência médica [...] o geriatra é um indivíduo que procura
atender o seu paciente, seu cliente, para ter uma visão sistêmica, holística de
todas suas funções para programar um envelhecimento bem sucedido para ele,
a gente sabe que você pode envelhecer bem ou pode envelhecer mal [...]
(GORDILHO, 2012).

Esta aula será desenvolvida por você, aluno. Será baseada em textos complementares e atividades
para uma visão ampla da importância dessa especialidade médica.

72
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Você também pode gostar