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Brasília-DF.
Elaboração
Produção
Apresentação.................................................................................................................................. 4
Introdução.................................................................................................................................... 7
Unidade i
programa saúde da família.............................................................................................................. 9
Capítulo 1
Antecedentes do Processo de Reorganização da Saúde Pública no Brasil................ 9
Capítulo 2
PSF: Princípios Fundamentais e Operacionalização....................................................... 14
Capítulo 3
Planejamento e Programação em Saúde........................................................................ 40
Capítulo 4
Políticas Públicas de Saúde no Brasil............................................................................... 47
Unidade ii
epidemiologia................................................................................................................................... 58
Capítulo 1
Introdução à Epidemiologia: Processo Saúde-Doença e História Natural
da Doença........................................................................................................................... 58
Capítulo 2
Vigilância e Investigação Epidemiológica...................................................................... 63
Capítulo 3
Análise da Ocorrência das Doenças: Endemias e Epidemias........................................ 77
Referências .................................................................................................................................. 84
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
4
organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
5
Atenção
Saiba mais
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
6
Introdução
7
A Atenção Integral à Saúde certamente implica a ampliação do leque de conhecimentos
e habilidades a serem apresentados pelos profissionais de saúde. Entendendo que o
acesso à informação e ao conteúdo teórico é atualmente grandemente facilitado pelo
avanço tecnológico, cabe em nossa disciplina promover a reflexão crítica sobre relatos e
vivências relativos à prática dos princípios da Promoção à Saúde pelas equipes do PSF,
enriquecendo, assim, a teoria. Para tanto, esperamos contar com a efetiva participação
de todos vocês, de maneira que sua contribuição possa nos auxiliar no aperfeiçoamento
do conteúdo oferecido.
Objetivos:
»» Compreender os princípios e as diretrizes básicas do Programa Saúde da
Família, no âmbito do SUS.
Capítulo 1
Antecedentes do Processo de
Reorganização da Saúde Pública
no Brasil
Para melhor compreensão dos caminhos que levaram à proposição da Estratégia Saúde
da Família vale a pena uma breve recapitulação da trajetória dos modelos de saúde no
Brasil.
A crise desse modelo de saúde foi qualificada por Mendes (1996) em quatro dimensões:
a ineficiência, a ineficácia, a iniquidade e a insatisfação da população, atribuindo-lhe
9
UNIDADE I │ programa saúde da família
Em meados dos anos 1970 teve início o processo de redemocratização política e social no
Brasil. A mobilização nacional pela luta cidadã se materializou na área da saúde, por meio
do ideário do Movimento da Reforma Sanitária. Integravam o Movimento professores
universitários, estudantes de medicina, profissionais da saúde, sindicalistas, militantes
partidários de esquerda e movimentos populares por saúde (Cohn, 1995). O objetivo
principal dos reformistas confundia-se entre uma oposição ao regime autoritário e a
transformação do Sistema Nacional de Saúde. Sua luta era direcionada à criação de um
sistema único de saúde gratuito e universal, essencialmente gerido pelo Estado, e que
atribuísse caráter complementar ao setor privado. Ficava claro que o modelo atual era
incapaz de impactar as diversas realidades de saúde vigentes no país.
Em resumo, segundo Silva (1983), o modelo de saúde criticado tinha como características:
As mudanças políticas e econômicas que se deram nos anos 1970 e 1980 determinaram
o esgotamento desse modelo sanitário.
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ProgrAmA SAúdE dA FAmíliA │ unidAdE i
Todo brasileiro passou a ter garantido por lei o acesso às ações de prevenção,
promoção e recuperação da saúde, propostas concretizadas no SUS – Sistema
Único de Saúde.
Dessa forma, o SUS rompeu com a trajetória de formação do Estado brasileiro assentada
na centralização e com uma concepção de cidadania que vinculava os direitos sociais à
inserção no mercado de trabalho. (SANTOS,1979).
Não foi suficiente, porém, dispor de uma base jurídico-formal ampla para resolver os
importantes problemas de saúde dos brasileiros.
É nesse contexto que a Estratégia Saúde da Família surge como elemento dinamizador
do SUS e como eixo estruturante rumo à reorientação do modelo de atenção à saúde
– a partir do primeiro nível do cuidar, da atenção básica, em conformidade com os
princípios do Sistema Único de Saúde.
Ao propor o PSF, o Governo Federal teve dois grandes objetivos: o primeiro, foi,
sem dúvida, substituir o modelo assistencial curativo/hospitalocêntrico pelo modelo
preventivo, ou seja, pelo modelo de atenção primária à saúde, e com isso racionalizar
os altos custos da saúde pública no Brasil. O segundo grande objetivo foi descentralizar
as políticas de saúde, na intenção de tornar a saúde pública mais resolutiva, adotando
uma postura de parceria com o governo estadual e municipal.
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programa saúde da família │ UNIDADE I
Para que essa nova prática se concretize, faz-se necessária não só a implantação de
políticas públicas, mas também de mudanças no perfil dos profissionais de saúde. O
novo modelo demanda a presença de um profissional com visão sistêmica e integral
do indivíduo, família e comunidade, um profissional capaz de atuar com criatividade e
senso crítico, mediante uma prática humanizada, competente e resolutiva, que envolve
ações de promoção, de proteção específica, assistencial e de reabilitação. O profissional
adequado para o trabalho nas unidades do PSF é aquele que tem sensibilidade para
com as questões sociais aliada à disposição para as atividades em comunidade. Um
profissional capacitado para planejar, organizar, desenvolver e avaliar ações que
respondam às reais necessidades da comunidade, articulando os diversos setores
envolvidos na promoção da saúde. Para tanto, deve realizar uma permanente interação
com a comunidade, no sentido de mobilizá-la, estimular sua participação e envolvê-la
nas atividades. O fio condutor que desenha a prática dos integrantes das unidades do
Saúde da Família não é o conhecimento técnico, mas sim o saber humanitário e o agir
solidário.
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CAPítulo 2
PSF: Princípios Fundamentais e
operacionalização
dores, angústias, problemas e aflições, de uma forma tal que não apenas se produzam
consultas e atendimentos, mas que o processo de consultar e atender venha a produzir
conhecimento, responsabilização e autonomia em cada usuário.
Deve estar vinculada à rede de serviços, de forma que se garanta atenção integral
aos indivíduos e famílias. A responsabilidade pelo acompanhamento das famílias
coloca para as equipes de saúde da família a necessidade de ultrapassar os limites
classicamente definidos para a atenção básica no Brasil, especialmente no contexto do
SUS, buscando assegurar a referência e contrarreferência para clínicas e serviços de
maior complexidade, sempre que essa conduta se fizer necessária.
15
UNIDADE I │ programa saúde da família
2000-b). De acordo com os estudos de Stein (1998), o fácil acesso dos usuários aos
atendimentos primários de saúde chega a diminuir em até três vezes o atendimento de
casos não urgentes nos setores de emergência dos hospitais. Isso significa dizer que o
modelo de atenção primária integral à saúde, quando implantado numa região definida,
subtrai as consultas não urgentes dos centros hospitalares, desafogando o sistema de
maior complexidade e facilitando o acesso ao atendimento médico.
Além dos princípios gerais da Atenção Básica, a estratégia Saúde da Família deve:
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programa saúde da família │ UNIDADE I
17
UNIDADE I │ programa saúde da família
18
programa saúde da família │ UNIDADE I
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UNIDADE I │ programa saúde da família
Atribuições Específicas
Além das atribuições definidas, são atribuições mínimas específicas de cada categoria
profissional, cabendo ao gestor municipal ou do Distrito Federal ampliá-las, de acordo
com as especificidades locais.
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programa saúde da família │ UNIDADE I
Nota: É permitido ao ACS desenvolver atividades nas unidades básicas de saúde, desde
que vinculadas às atribuições acima.
Do Enfermeiro:
Do Médico:
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UNIDADE I │ programa saúde da família
Do Cirurgião-Dentista:
22
programa saúde da família │ UNIDADE I
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UNIDADE I │ programa saúde da família
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programa saúde da família │ UNIDADE I
ações de saúde demandadas, seja por cada um dos usuários em particular, seja pelo
coletivo de usuários de um serviço.
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unidAdE i │ ProgrAmA SAúdE dA FAmíliA
Para uma nova estratégia, faz-se necessário um novo profissional. Se a formação dos
profissionais não for transformada no aparelho formador, o modelo de atenção também
não o será na realidade do dia a dia.
Assim,o campo da saúde coletiva, dada a complexidade de seu objeto, exige uma
formação transdisciplinar, frente às múltiplas determinações do processo saúde-
doença-cuidado.
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programa saúde da família │ UNIDADE I
A forma como as pessoas vivem seus problemas no interior dos serviços implica o
estabelecimento de canais de interação. Para o desenvolvimento de ações de saúde
na perspectiva da integralidade, faz-se necessária uma aproximação integral entre os
sujeitos que prestam o cuidado. Ou seja, estabelecer uma prática comunicativa como
estratégia para o enfrentamento dos conflitos significa romper com velhas estruturas
hierarquizadas, tão presentes no modelo de saúde hegemônico. Nessa realidade,
os profissionais de saúde desenvolvem o trabalho com relativa autonomia, mas com
subordinação ao fazer do médico, ao contrário do que acontece na ESF, em que as
relações de poder se enfraquecem quando se prioriza a escuta. A ação comunicativa
é contrária a qualquer tipo de repressão dos direitos à liberdade do sujeito. Torna-se
essencial que os profissionais se relacionem em um ambiente livre de coações, para que
juntos se comuniquem, estabelecendo interação, possibilitando assim a construção de
um novo modelo de saúde.
27
unidAdE i │ ProgrAmA SAúdE dA FAmíliA
dos outros membros, o que nos leva a problematizar esses procedimentos na perspectiva
das relações de poder no interior das equipes.
Por meio das visitas aos domicílios são identificados os componentes familiares, a
morbidade referida, as condições de moradia, saneamento e condições ambientais das
áreas onde essas famílias estão inseridas. Essa etapa inicia o vínculo da unidade de
saúde/equipe com a comunidade, a qual é informada da oferta de serviços disponíveis e
dos locais, dentro do sistema de saúde, que prioritariamente deverão ser a sua referência.
As tecnologias leves são as produtoras de relações de interação, aquelas que se dão nos
espaços de intercessão entre profissionais e usuários; como é o caso do acolhimento, do
vínculo e da autonomização com responsabilização. O cuidado à saúde da família não
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ProgrAmA SAúdE dA FAmíliA │ unidAdE i
pode prescindir dos elementos das tecnologias leves, pois são eles que favorecem uma
comunicação dialógica e a integralidade do cuidado.
Uma reflexão sobre a forma como vem sendo realizadas as visitas às famílias, inscreve a
preocupação com o direcionamento da visita por programas pré-estabelecidos, como o
de amamentação, hipertensão, cuidado preventivo com determinada doença endêmica
na região etc. Se por um lado a padronização facilita a expansão do Programa, por
outro, simplifica e empobrece o seu alcance por não considerar as manifestações locais
dos problemas de saúde e não trabalhar com elas. As tarefas pré-estabelecidas sem
relações vinculares mais amplas têm interferido na intervenção às reais necessidades de
saúde da população, sem impacto na mudança da qualidade de vida e humanização da
assistência que tem sido relacionada apenas ao atendimento domiciliar. Desse modo, o
enfoque família/comunidade fica completamente descaracterizado.
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UNIDADE I │ programa saúde da família
relações implicados nessas mudanças históricas das famílias, considerando que, onde
houver famílias na forma tradicional, a compreensão da dinâmica deste núcleo, mediante
a presença da equipe no domicílio, é potencialmente enriquecedora ao trabalho em
saúde, dada sua influência como “agente ativo de mudança social”.
Muitas práticas de saúde requerem práticas educativas. As ações de saúde não envolvem
somente a utilização do raciocínio clínico, do diagnóstico, da prescrição de cuidados e
da avaliação da terapêutica instituída. A saúde não se constitui apenas pelos processos
de intervenção na doença, mas processos de intervenção para que o indivíduo e a
coletividade disponham de meios para a manutenção ou recuperação do seu estado de
saúde, no qual estão relacionados os fatores orgânicos, psicológicos, sócio-econômicos
e espirituais. A prática de saúde pode ser exercida em qualquer espaço social (família,
escola, comunidade), visto que o campo da saúde é muito mais amplo do que o da doença.
No âmbito de atividades nas escolas, deve-se observar a Lei Federal no 9.394/96, que
possibilita a estruturação de conteúdos educativos em saúde, sob uma ótica local, com
apoio e participação das equipes das unidades de saúde.
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programa saúde da família │ UNIDADE I
O fato de que os profissionais da área de saúde transitam em grande parte do seu tempo
pelo campo da educação em saúde não traz em si o conceito de que estejam plenamente
preparados para tal exercício. Para tanto, parte-se da premissa que educar não significa
simplesmente transmitir/adquirir conhecimentos.
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unidAdE i │ ProgrAmA SAúdE dA FAmíliA
Pedagogia Crítica: no final dos anos 1970 e início dos 1980, a abertura política no final
do regime militar coincidiu com intensa mobilização de educadores para buscar uma
educação crítica, a serviço das transformações sociais, econômicas e políticas, tendo
em vista superar as desigualdades sociais. Destacamos a Pedagogia libertadora ou da
problematização por possibilitar uma prática educativa em saúde mais participativa,
direcionada tanto à população, na educação em saúde, quanto a profissionais de saúde,
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programa saúde da família │ UNIDADE I
Embora haja críticas a cada uma delas, é indiscutível que a prática educativa norteada
pela pedagogia da problematização é mais adequada à pratica educativa em saúde.
Além de promover a valorização do saber do educando e instrumentalizá-lo para a
transformação de sua realidade e de si mesmo, possibilita a efetivação do direito da
clientela às informações de forma a estabelecer sua participação ativa nas ações de
saúde. Contribui ainda para o desenvolvimento contínuo de habilidades humanas e
técnicas no trabalhador de saúde, fazendo com que este exerça um trabalho criativo.
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UNIDADE I │ programa saúde da família
Entretanto, nem sempre existe uma relação tão harmoniosa entre a população
usuária e o serviço de saúde. Nem os profissionais nem os indivíduos são iguais. Ao
contrário, portam distintas vontades e detêm diferentes projetos de vida, agindo ética e
politicamente de modo diversos. O trabalho educativo-participativo é demorado e exige
investimento na formação do profissional. O papel do profissional não é de somente
repassar informações, mas sim de estimular a problematização, o “saber pensar”
criticamente, fazendo com que o usuário se torne o sujeito da ação, ou seja, um ser
autônomo com seu próprio conhecimento. A prática educativa deve ser entendida como
um espaço em construção, no qual as mudanças vão ocorrendo de acordo com o desejo,
o tempo e o limite de cada um. Para isso, é fundamental o trabalho baseado na troca, no
respeito, no diálogo e na escuta.
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programa saúde da família │ UNIDADE I
Grupos de sala de espera: dirigido aos usuários que estão aguardando a hora da
consulta. É um grupo formado espontaneamente, sem história temporal e com um
único encontro. Este grupo é muitas vezes a única alternativa viável nos serviços de
saúde que não dispõem de espaço físico para atividades coletivas no próprio centro de
saúde.
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UNIDADE I │ programa saúde da família
A escolha por um desses modelos vai depender da demanda, dos objetivos propostos
para a criação do grupo, da infraestrutura e do tempo disponível para o desenvolvimento
desta atividade.
Lembre-se que nessas atividades não só o educando está sendo modificado, mas também
o educador se modifica: os dois movimentos ocorrem ao mesmo tempo. Desta forma,
a equipe de saúde necessita também de formação, de espaços de troca, de discussão,
de diálogo, de repensar sua prática profissional. Para isso, faz-se necessário construir
espaços de educação permanente, investir nos profissionais, destinar carga horária ao
trabalho de planejamento e avaliação contínua na busca da qualidade do cuidado em
saúde.
Respeitar uma pessoa como agente autônomo significa, no mínimo, acatar seu direito
de ter opiniões próprias, de fazer suas escolhas e de agir segundo seus valores e crenças
pessoais. Isto envolve uma ação respeitosa e não meramente uma atitude respeitosa,
requerendo mais do que uma não interferência nos assuntos alheios e incluindo,
especialmente em certos contextos, as obrigações de construir ou manter a capacidade
dos outros para procederem às escolhas autônomas por meio da mitigação de medos e
demais condições destrutivas ou rompedoras das decisões autônomas. Nesta perspectiva,
o respeito abrange a aceitação dos direitos de tomada de decisão e a capacitação das
pessoas para agirem autonomamente, enquanto o desrespeito inclui atitudes e ações
que ignoram, insultam ou aviltam os direitos de autonomia dos indivíduos.
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programa saúde da família │ UNIDADE I
Dessa forma, a equipe deve exercitar sua “atitude respeitosa” mediante sua postura no
dia a dia, que inclui as seguintes ações.
Jonsen (1999) ponderam que os profissionais de saúde por certo têm suas crenças
e valores que podem conduzir a julgamentos enviesados e discriminatórios contra
algumas pessoas ou grupos sociais, afetando, consequentemente, as decisões clínicas.
Entretanto, são contundentes ao afirmar que não é prerrogativa dos profissionais fazer
esses julgamentos no contexto da atenção à saúde, pois todos devem ser atendidos
em função de suas necessidades e não de seu valor ou mérito social. Alertam que
atualmente estes preconceitos são menos explícitos, mas não menos perigosos e devem
ser identificados para serem eliminados das decisões clínicas. Parece que a adoção
destes critérios, além de soar como culpabilização da vítima, desvia a discussão de seu
foco principal, os determinantes e condicionantes sociais do processo saúde-doença.
37
UNIDADE I │ programa saúde da família
Da mesma forma, internamente nas equipes de saúde, para concretização dos planos de
ação, os profissionais dependem de acordos para entendimento mútuo: nesse processo,
estão excluídas a imposição, a coerção e a extorsão. Atitudes de subordinação são
substituídas por práticas baseadas na solidariedade e na construção compartilhada.
Terminologia da Saúde
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programa saúde da família │ UNIDADE I
para outra. Ao trabalhar com essa visão, a equipe passa a entender a importância do
vínculo e do acompanhamento permanente e ativo dos indivíduos e famílias, ou seja, da
longitudinalidade da atenção, pois é assim que se conseguirá o entendimento de toda a
história natural e social de um agravo e se aumentará a resolutividade da equipe.
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CAPítulo 3
Planejamento e Programação em
Saúde
“Alice – Poderia me dizer, por favor, qual é o caminho para sair daqui?
Gato – Isso depende muito do lugar para onde você quer ir.
Gato – Nesse caso, não importa por qual caminho você vá.”
As diretrizes do modelo de atenção integral à saúde apontam alguns tópicos que podem
ajudar a organização dos serviços:
Essa definição implica em definir a área de abrangência dos serviços, o perfil demográfico
e sócio econômico da população atendida e o conjunto de equipamentos, profissionais e
instalações existentes. Esse território pode ser considerado como um sistema local, onde
estão presentes múltiplos fatores que influem no processo saúde-doença, especialmente
em suas conexões sociais, econômicas e culturais. O planejamento deve considerar
as condições de acesso aos serviços, o perfil epidemiológico e sócio-econômico das
populações, os mecanismos de controle comunitário sobre os recursos disponíveis e de
definição de prioridades.
Dessa forma, territorializar significa por um lado uma medida de racionalização político-
administrativa, mas por outro lado, associa-se à transformção das práticas sanitárias.
Território significa assim.
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UNIDADE I │ programa saúde da família
Sugere-se que se aponte dentro dos problemas a serem enfrentados aqueles que possam
ser classificados como críticos de acordo com os critérios de:
»» frequência do problema;
Nessa etapa, torna-se útil incorporar algum conhecimento sobre a situação de saúde
de outras localidades e grupos populacionais, bem como referências das instituições
responsáveis pelas políticas e ações (Município, Estado, União, organismos
internacionais), para organização da base da investigação.
42
programa saúde da família │ UNIDADE I
Assim, a árvore de problemas deve ser desenhada de maneira clara, sintética e precisa,
a partir da identificação das causas do problema e da forma como estão relacionadas
entre si.
43
UNIDADE I │ programa saúde da família
O conhecimento dos recursos de saúde disponíveis, bem como de toda a rede de apoio
não só da saúde, mas intersetorial, é tão importante quanto o conhecimento dos
problemas de saúde.
Por fim, é desejável a adequação das ações aos oito elementos essenciais da programação
da atenção básica:
Muitos autores fizeram largas digressões sobre essa coisa tão simples,
porque, obviamente, o jogo de forças, interesses e ideologias faz com
que não seja sempre fácil definir esse ‘norte’ e tampouco as formas
de chegar lá. O melhor ‘método’ é aquele que melhor ajudar numa
determinada situação. [...] Em suma, é pouco provável que na prática
alguém siga ipsis litteris um determinado método; é mais provável que
na sequência do trabalho vá incorporando diversos instrumentos de
trabalho retirados de muitas partes”. (TANCREDI, 1998).
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unidAdE i │ ProgrAmA SAúdE dA FAmíliA
A superação dos limites dos programas verticais tradicionais pode ser alcançada desde
que observadas as conexões sociais do processo saúde-doença. Isto significa atuar
de maneira diferenciada, seja recorrendo ao enfoque epidemiológico, à participação
da comunidade e às práticas interdisciplinares. Em outras palavras, combinar o
atendimento às necessidades individuais por meio da intervenção clínica sobre o
adoecer humano, com a intervenção coletiva.
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CAPítulo 4
Políticas Públicas de Saúde no Brasil
Controle da Hanseníase
O Brasil registrou no final de 2005 um coeficiente de prevalência de hanseníase de 1,48
casos/10.000 habitantes (27.313 casos em curso de tratamento em dezembro de 2005)
e um coeficiente de detecção de casos novos de 2,09/10.000 habitantes (38.410 casos
novos em dezembro de 2005). Apesar da redução na taxa de prevalência observada
no período compreendido entre 1985 e 2005 de 19 para 1,48 doentes em cada 10.000
habitantes, a hanseníase ainda constitui um problema de saúde pública no Brasil, o que
exige um plano de aceleração e de intensificação das ações de eliminação e de vigilância
resolutiva e contínua.
Os estados que ainda têm uma alta carga de doença são: Pernambuco, Goiás, Espírito
Santo, Pará, Tocantins, Maranhão, Mato Grosso, Rondônia e Roraima.
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UNIDADE I │ programa saúde da família
Controle da Tuberculose
O Brasil ocupa o 15o lugar entre os 22 países responsáveis por 80% do total de casos de
tuberculose no mundo. Estima-se uma prevalência de 50 milhões de infectados com
cerca de 111.000 casos novos e 6.000 óbitos ocorrendo anualmente.
48
programa saúde da família │ UNIDADE I
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UNIDADE I │ programa saúde da família
Diabetes e Hipertensão
O acompanhamento e controle da Hipertensão Arterial – HA e Diabetes Mellitus – DM
no âmbito da atenção básica poderá evitar o surgimento e a progressão das complicações,
reduzindo o número de internações hospitalares devido a estes agravos, bem como a
mortalidade por doenças cardiovasculares.
A hipertensão arterial e a diabetes Mellitus são fatores de risco importantes que estão
associados à ocorrência das doenças do sistema cardiovascular, grupo de causas
responsável pelo maior número de óbitos na população total; as estimativas apontam
uma prevalência de 8% de diabetes Mellitus, e de 22% de Hipertensão Arterial nos
indivíduos acima de 40 anos de idade; e a reorganização da atenção aos segmentos
populacionais expostos ou portadores de hipertensão arterial e de diabetes Mellitus na
rede pública de serviços de saúde é, diante desse quadro, uma necessidade.
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programa saúde da família │ UNIDADE I
Saúde da Criança
Principais Eixos
Nascimento Saudável
»» Menor de um ano:
›› Acompanhamento do RN de risco.
›› Triagem neonatal.
›› Aleitamento materno.
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UNIDADE I │ programa saúde da família
»» 7-10 anos:
»» Linhas de cuidado:
›› Imunização.
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programa saúde da família │ UNIDADE I
Saúde do Idoso
É a política que objetiva, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), garantir atenção
integral à saúde da população idosa, enfatizando o envelhecimento familiar, saudável e
ativo e fortalecendo o protagonismo dos idosos no Brasil, segundo a Portaria no 2.528,
de 19 de outubro de 2006.
53
UNIDADE I │ programa saúde da família
54
programa saúde da família │ UNIDADE I
Saúde Bucal
As ações de saúde bucal devem se inserir na estratégia planejada pela equipe de saúde
numa inter-relação permanente com as demais ações da Unidade de Saúde.
As ações de proteção à saúde podem ser desenvolvidas no nível individual e/ou coletivo.
Devem incluir a garantia de acesso a escovas e pastas fluoretadas, como também
procedimentos coletivos como as ações educativopreventivas realizadas no âmbito das
unidades de saúde (trabalho da equipe de saúde junto aos grupos de idosos, hipertensos,
diabéticos, gestantes, adolescentes, saúde mental, planejamento familiar e sala de
espera), nos domicílios, grupos de rua, escolas, creches, associações, clube de mães ou
outros espaços sociais, oferecidos de forma contínua, que devem compreender:
»» Ações de Reabilitação.
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UNIDADE I │ programa saúde da família
›› ampliação do acesso.
Promoção da Saúde
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programa saúde da família │ UNIDADE I
57
epidemiologia Unidade ii
Capítulo 1
Introdução à Epidemiologia: Processo
Saúde-Doença e História Natural da
Doença
Para prosseguir é fundamental que a saúde seja entendida em seu sentido mais amplo,
como componente da qualidade de vida. Assim, não é um “bem de troca”, mas um “bem
comum”, um bem e um direito social, em que cada um e todos possam ter assegurados o
exercício e a prática do direito à saúde, a partir da aplicação e utilização de toda a riqueza
disponível, conhecimentos e tecnologia desenvolvidos pela sociedade nesse campo,
adequados às suas necessidades, abrangendo promoção e proteção da saúde, prevenção,
diagnóstico, tratamento e reabilitação de doenças. Em outras palavras, é preciso
considerar esse bem e esse direito como componente e exercício da cidadania, que é um
referencial e um valor básico a ser assimilado pelo poder público para o balizamento e
orientação de sua conduta, decisões, estratégias e ações.
58
epidemiologia │ UNIDADE II
uma série de agravos à saúde. Já a partir dos meados deste século, uma série de estudos
e conhecimentos provindos principalmente da epidemiologia social esclarece melhor a
determinação e a ocorrência das doenças em termos individuais e coletivo. O fato é que
se passa a considerar saúde e doença como estados de um mesmo processo, composto
por fatores biológicos, econômicos, culturais e sociais. Desse modo, surgiram vários
modelos de explicação e compreensão da saúde, da doença e do processo saúde-doença,
como o modelo epidemiológico baseado nos três componentes – agente, hospedeiro e
meio – hoje objetos de análise no contexto da multicausalidade.
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UNIDADE II │ epidemiologia
Na atenção integral todos os recursos disponíveis devem ser integrados por fluxos
que são direcionados de forma singular, guiados pelo projeto terapêutico do usuário.
Estes fluxos devem ser capazes de garantir o acesso seguro às diferentes tecnologias
necessárias à assistência, conferindo maior resolutividade às ações, ao intervir no nível
de atenção adequado à resolução do problema. Trabalha-se com a imagem de uma linha
de produção do cuidado, que parte da rede básica para os diversos níveis assistenciais.
Para que isso aconteça, torna-se fundamental que se utilize os instrumentos da Ciência
da Epidemiologia, que será abordada.
60
epidemiologia │ UNIDADE II
Como vimos, para o planejamento das ações de uma equipe de Saúde da Família faz-se
necessário o conhecimento do diagnóstico coletivo da população atendida. Da mesma
forma que o diagnóstico clínico possui ferramentas próprias (história clínica, exame
físico e laboratorial), o diagnóstico coletivo também requer uma sequência organizada
de procedimentos, com ferramentas específicas de trabalho.
61
UNIDADE II │ epidemiologia
62
Capítulo 2
Vigilância e Investigação
Epidemiológica
Em 1975, em meio a uma grave crise sanitária no país, com epidemia de Meningite,
aumento da mortalidade infantil e grande aumento dos acidentes de trabalho, é
promulgada a Lei no 6.259, que dispõe sobre a organização do Sistema Nacional de
Saúde, estabelecendo um conjunto de princípios racionalizadores que define o papel
dos órgãos de saúde, suas atribuições e organização.
A Vigilância Epidemiológica tem como fontes de informação básica para seu sistema a
notificação compulsória de doenças; as declarações de atestados de óbitos; os estudos
epidemiológicos realizados pelas autoridades sanitárias; as notificações de agravos
inusitados e as das demais doenças que, pela ocorrência de casos julgados anormais,
sejam de interesse para a tomada de medidas de caráter coletivo. Os dados alimentam
o Sinan, importante sistema de informação eletrônico, desenvolvido entre 1990 e 1993
para melhorar a qualidade do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica, e que
tem como objetivo coletar, transmitir e disseminar dados gerados na rotina do sistema
de vigilância epidemiológica das três esferas de governo, fornecer informações para
63
unidAdE ii │ EPidEmiologiA
64
epidemiologia │ UNIDADE II
adicionar à lista outras patologias de interesse regional ou local, desde que justificada a
sua necessidade e definidos os mecanismos operacionais correspondentes.
7. botulismo
8. carbúnculo ou “antraz”
9. cólera
10. coqueluche
11. dengue
12. difteria
22. hanseníase
23. hantaviroses
65
UNIDADE II │ epidemiologia
28. leptospirose
29. malária
31. peste
32. poliomielite
35. rubéola
37. sarampo
43. tétano
44. tularemia
45. tuberculose
46. varíola
São agravos de notificação imediata via fax, telefone ou e-mail, além da digitação
e transferência imediata, por meio magnético, por meio do Sinan.
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»» agravos inusitados;
»» difteria;
»» doença meninocócica;
»» influenza humana.
4. Confirmar o diagnóstico.
»» fazer comparações;
Por ser muito difícil mensurar a saúde, mede-se a “não saúde”, ou seja, as doenças
e agravos (morbidade), as mortes (mortalidade), as incapacidades físicas e mentais
(sequelas); mede-se, também, as variáveis relacionadas a processos fisiológicos (como a
gravidez), hábitos e estilo de vida (exercícios físicos, dietas saudáveis etc.), entre outros.
Coeficiente ou taxa
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Proporção
Razão
»» Indicadores de mortalidade
Além disso, há, geralmente, um longo período de tempo entre o início da doença
e a morte, com exceção de algumas doenças infecciosas agudas e de acidentes
ou violências. Outro fator limitante é que as estatísticas de mortalidade
trabalham, geralmente, como uma única causa de morte (causa básica),
quando, na realidade, a morte é um fenômeno causado por múltiplos fatores.
Finalmente, é importante salientar que os diagnósticos de causa de morte
dependem de diversos aspectos, como a disponibilidade de pessoal preparado,
recursos para diagnósticos precisos e acesso adequado aos serviços de saúde,
o que nem sempre acontece, principalmente em países subdesenvolvidos.
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»» Indicadores de morbidade
›› Taxa de Incidência
›› Taxa de Prevalência
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Essa taxa, sempre expressa em percentagem, nada mais é do que uma forma
especial de incidência.
Alguns desses dados (morbidade e eventos vitais) são gerados a partir do próprio
setor saúde, de forma contínua, constituindo sistemas de informação nacionais,
administrados pelo Ministério da Saúde. No Brasil, há, atualmente, seis grandes
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»» atuação intersetorial;
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Capítulo 3
Análise da Ocorrência das Doenças:
Endemias e Epidemias
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›› nascimentos;
›› migrações; ou
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Uma análise sensata, ainda que sujeita a críticas, mostra que as endemias para as quais
se dispõe de medidas de intervenção eficazes e de custo acessível, que não dependam
da melhoria dos indicadores sociais e de qualidade de vida, sofreram uma redução
significativa do impacto causado sobre a sociedade. Exemplo disso é a Doença de
Chagas, controlada mediante uma ação coordenada e sustentada. A esquistossomose
é um interessante exemplo, ao mesmo tempo em que deixou de representar um
papel negativo sobre a população, graças à medicação específica, de custo acessível
e altamente eficaz, continua a expansão da área de transmissão da doença, agora já
atingindo todas as unidades da federação, inclusive os estados sulinos do Rio Grande
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Para (não) Finalizar
Para Boff (1999), o cuidado revela-se numa “atitude de colocar atenção, mostrar
interesse, compartilhar e estar com o outro, não numa atitude de sujeito-objeto, mas
de sujeito-sujeito, numa relação não de domínio sobre, mas de com-vivência, não de
intervenção, mas de interação.”
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Referências
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Referências
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