Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO................................................................................................................................... 5
INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 8
UNIDADE I
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)............................................................................................................. 9
CAPÍTULO 1
CONCEITO DE SUS................................................................................................................... 9
CAPÍTULO 2
FUNCIONAMENTO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)........................................................... 25
CAPÍTULO 3
DEFINIÇÃO DE CONSELHO DE SAÚDE..................................................................................... 28
UNIDADE II
PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS................................................................................................................. 34
CAPÍTULO 1
UNIVERSALIZAÇÃO, EQUIDADE E INTEGRALIDADE..................................................................... 34
UNIDADE III
PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS............................................................................................................... 43
CAPÍTULO 1
REGIONALIZAÇÃO E HIERARQUIZAÇÃO.................................................................................. 43
CAPÍTULO 2
DESCENTRALIZAÇÃO E COMANDO ÚNICO............................................................................. 46
CAPÍTULO 3
PARTICIPAÇÃO POPULAR....................................................................................................... 53
CAPÍTULO 4
PARTICIPAÇÃO DA UNIÃO, ESTADOS E MUNICÍPIOS E RESPONSABILIDADES................................ 58
UNIDADE IV
PRINCIPAIS LEIS................................................................................................................................... 66
CAPÍTULO 1
LEIS E PACTOS..................................................................................................................... 66
UNIDADE V
ATENÇÃO BÁSICA............................................................................................................................... 84
CAPÍTULO 1
POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO BÁSICA – PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA (PSF) E O
PROGRAMA AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE (PACS)......................................................... 84
REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 103
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
Atenção
6
Saiba mais
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
7
Introdução
Prezado aluno
O conhecimento na área de saúde coletiva está ganhando força e sendo cada vez mais exigido no
mercado de trabalho. Em busca rápida na literatura científica, podemos encontrar mais de 64 mil
artigos relacionados ao SUS, sendo, portanto, um assunto muito importante e de grande relevância
para vários profissionais como médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas,
educadores físicos, assistentes sociais, farmacêuticos, dentistas, terapeutas ocupacionais, biólogos,
biomédicos, fonoaudiólogos e outros interessados.
Dessa forma, convidamos a participar dessa disciplina do curso de pós-graduação, com o objetivo
de aprimorar sua conduta profissional no conhecimento da organização do Sistema Único de Saúde.
Objetivos
»» O objetivo dessa disciplina consiste em proporcionar aos alunos a capacidade
de compreensão da organização do Sistema Único de Saúde (SUS) perpassando
a história, os conceitos gerais, o funcionamento, os princípios organizativos e
doutrinários, as principais leis e pactos, além da política de atenção básica.
8
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE UNIDADE I
(SUS)
CAPÍTULO 1
CONCEITO DE SUS
O SUS é um sistema composto por muitas partes que, por mais diferentes que
pareçam, possuem uma finalidade em comum: cuidar e promover a saúde de toda a
população, melhorando a qualidade de vida dos todos os brasileiros.
9
UNIDADE I │ SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)
História do SUS
Nesse artigo, o autor estuda o processo da reforma sanitária brasileira e suas relações
com a produção de conhecimentos que influenciaram a aprovação do Sistema
Único de Saúde, na Constituinte de 1988, e sua implementação na década de 90. O
Movimento Sanitário incorporou conhecimentos desenvolvidos por pesquisadores
de Saúde Coletiva e orientou práticas técnicas que serviram de base para a
organização do SUS. O processo em curso na década de 1990 resultou em novos
conceitos relativos a Estado e mercado, no campo da saúde. Foram configuradas
novas questões que deverão influenciar a agenda de pesquisa em Saúde Coletiva,
dando conta dos temas da equidade, da qualidade em saúde e da democratização
do sistema brasileiro de saúde.
Desde suas origens, no início da década de 1970, foi explicitado que o campo denominado “Medicina
Social” diferenciava o que, na época, se denominava Higiene (denominação da antiga unidade
10
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) │ UNIDADE I
universitária) ou Saúde Pública, com a notável tradição dos sanitaristas, desde a Fundação Serviço
Especial de Saúde Pública, em meados dos anos 1940. A busca de alternativas que contemplassem
uma articulação entre as Ciências Sociais, a Epidemiologia com ênfase na determinação social
das doenças e as políticas de saúde tinha o mérito de buscar a superação entre as orientações
funcionalistas das ciências do comportamento, as visões tecnocráticas de determinadas correntes
do planejamento e da administração de saúde ou a determinação das doenças, como o resultado
multivariável e anistórico de fatores biopsicossociais.
Um conjunto de temas foi confluindo para linhas de pesquisa nem sempre com finalidades
teleológicas bem explícitas, pois os objetos foram demarcados pelos processos contraditórios do
saber e do poder. Temas como instituições de saúde, ordem médica e norma familiar, processos
normativos, práticas do saber popular e nova configuração das empresas médicas foram
pavimentando os outros campos teóricos a serem desbravados. Novos interlocutores apontavam
para os estudos socioeconômicos em saúde e para os estudos epidemiológicos e populacionais no
âmbito da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com Sergio Arouca e outros tantos pesquisadores,
não sem um certo grau de disfarçada competição.
Anos 1970
Os anos 1970, mais especificamente 1974, colocaram em questão a organização do Sistema Nacional
da Previdência e Assistência Social (SINPAS) no Governo Geisel, que iniciou um processo de
expansão da cobertura previdenciária. INAMPS, INPS, IAPAS, LBA, FUNABEM, DATAPREV são
siglas das políticas sociais desse período. É de 24 de outubro de 1974 o protocolo firmado entre
o Ministério da Educação (MEC) e o Ministério da Previdência e Assistência (MPAS), que gerou
o Convênio MEC-MPAS, estabelecendo novas bases para a relação entre hospitais universitários
e a Previdência Social (OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1985). A Lei no 6.229, de 17 de julho de 1975
criou o Sistema Nacional de Saúde, inspirada numa visão sistêmica, ordenando e consolidando
as mesmas funções, duplicações e superposições, que já mobilizavam o pensamento crítico das
políticas de saúde.
11
UNIDADE I │ SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)
A década de 1980 seria demarcada pela crise fiscal do sistema previdenciário, pois a extensão dos
benefícios ocorrida no período anterior não havia sido contemplada pela definição legal de novos
mecanismos de financiamento que viabilizassem o real acesso aos benefícios, principalmente das
populações rurais e dos novos contingentes de assalariados urbanos (autônomos, empregados
domésticos e setores informais). O debate sobre as medidas saneadoras envolvia a extinção da
assistência médica do escopo dos benefícios previdenciários, com sua substituição pelo seguro
saúde privado no molde chileno – o pagamento da assistência médica pelo segurado de acordo com
faixas de renda, a eliminação de determinados benefícios, incluindo a aposentadoria por tempo de
serviço com 35 anos de idade, entre outros.
Em janeiro de 1985, realizava-se a Reunião de Montes Claros, da qual participaram lideranças, que
se apresentavam para debater propostas para o governo, o qual deveria encerrar o ciclo autoritário
de presidentes da República com a candidatura de Tancredo Neves. A Carta de Montes Claros,
liderada por José de Saraiva Felipe, secretário municipal de Saúde à época, reafirmava os princípios
e postulados de 1979, do simpósio realizado na Câmara dos Deputados. A partir de Montes Claros,
sucedem-se reuniões para aprofundar e detalhar a futura operacionalização da proposta para a
denominada Nova República, principalmente quanto ao processo de unificação do Ministério da
Saúde e do INAMPS, e a passagem da Central de Medicamentos da Previdência Social para a Saúde.
12
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) │ UNIDADE I
Com a posse de José Sarney, em 15 de março de 1985, na Presidência da República, devido à doença
e ao trágico falecimento de Tancredo Neves, assumiu o Ministério da Previdência e Assistência
Social o ministro Waldir Pires, pessoa de notável trajetória política. O ministro manifestou, desde
o início de sua gestão, grande sensibilidade para as propostas de reforma da saúde e do sistema
de seguridade social. “A Previdência é viável” foi seu lema desde sempre. Na Saúde, José Saraiva
Felipe foi nomeado para a Secretaria de Assistência Médica do MPAS e Henri Jouval Jr. assumia
interinamente a presidência do INAMPS, até que se concluísse o processo de decisão a respeito do
novo presidente dessa Instituição.
Ao mesmo tempo, iniciou-se uma estratégia-ponte para a implantação do SUS, com a iniciativa, por
sinal, questionada por segmentos do Movimento Sanitário e do Sistema Unificado e Descentralizado
de Saúde (SUDS), de que o INAMPS transferiria seus hospitais, ambulatórios e superintendências
regionais para o âmbito dos estados (secretarias estaduais de Saúde) e municípios (secretarias
municipais de Saúde). O processo levava adiante as recomendações da VIII Conferência Nacional
de Saúde (CNS), para enfrentar o risco de um relativo imobilismo do Ministério da Saúde, que não
13
UNIDADE I │ SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)
abria seu orçamento aplicado nos estados e nos seus diversos programas, por conta da tradição
verticalista da instituição.
Os debates e recomendações que se seguiram à VIII CNS contribuíram para três níveis de ação
política e técnica da Reforma Sanitária: a luta pelo texto da saúde no capítulo da ordem social da
Nova Constituição, os movimentos táticos e a mobilização da sociedade para a ampliação das bases
sociais do Movimento Sanitário.
Ambos os projetos viriam a ser criticados pelos segmentos técnico-burocráticos que, desde 1985,
defendiam a “unificação pelo alto”, ou seja, a passagem imediata do INAMPS para o Ministério da
Saúde. De acordo com Paim (1990), esses segmentos teimavam em desconhecer, desqualificar ou
subestimar a relevância da estratégia das AIS. Isto se refletiu no relatório final da VIII CNS, que
incluía a advertência de que em nenhum momento a existência das AIS deveria ser utilizada como
justificativa para protelar a implantação do Sistema Único de Saúde. Logo após, segundo o relator
da Conferência, o Ministério da Saúde retomou sua política de campanhas, vertical e desintegrada,
adotando medidas episódicas para combate à epidemia de dengue, que ameaçava várias capitais e
cidades de médio porte do Sudeste e Nordeste.
As AIS foram expandidas pela direção-geral do INAMPS para cerca de 2.500 municípios,
correspondente à área geográfica onde viviam cerca de 90% da população do País. No entanto, a
relação entre os gestores de saúde e prestadores de serviços se realizava pela compra e venda de
serviços, esgotando o modelo institucional da AIS. Ao mesmo tempo em que se instalava a Comissão
Nacional da Reforma Sanitária, iniciou-se a implantação do Sistema Único Descentralizado de Saúde
(SUDS) por meio de convênios com secretarias estaduais de Saúde e destas com as municipais,
estabelecendo-se um novo campo de debates acadêmico e político que viria demarcar os passos e as
controvérsias da Reforma Sanitária, sob os riscos da “inampização da saúde”.
Os recursos definidos para cada estado pelo MPAS, em 1987, foram baseados na Programação
Orçamentária Integrada (POI), elaborada durante o segundo semestre de 1986 pela Secretaria de
Planejamento do INAMPS, e aprovada na Comissão Interministerial de Planejamento (CIPLAN).
De forma integrada, os recursos de investimento e de custeio deveriam ser programados com metas
aprovadas na base do sistema de saúde.
14
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) │ UNIDADE I
15
UNIDADE I │ SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)
Abaixo, esquema divulgado pelo Ministério da Saúde - SUS. Dados do ano de 2006.
Confira a apresentação
16
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) │ UNIDADE I
explica Padilha. O SUS não pode temer processo de avaliação do sistema e deve dar
publicidade às informações, pois se trata de uma ferramenta para aprimorar a gestão.
O IDSUS 2012 está disponível para consulta de toda a sociedade pelo endereço
< www.saude.gov.br/idsus>.
Avaliação
O índice avalia, com pontuação de 0 a 10, municípios, regiões, estados e o país com
base em informações de acesso, que mostram como estão a oferta de ações e os
serviços de saúde, e de efetividade, que medem o desempenho do sistema, ou
seja, o grau com que os serviços e ações de saúde estão atingindo os resultados
esperados.
Situação
De acordo com o índice, o Brasil possui IDSUS equivalente a 5,47. A região Sul teve
pontuação de 6,12, seguida do Sudeste (5,56), Nordeste (5,28), Centro-Oeste (5,26)
e Norte (4,67). Entre os estados, possuem índices mais altos os da região Sul - Santa
Catarina (6,29), Paraná (6,23) e Rio Grande do Sul (5,90). Na sequência, vêm Minas
Gerais (5,87) e Espírito Santo (5,79). As menores pontuações são do Pará (4,17), de
Rondônia (4,49) e Rio de Janeiro (4,58).
De acordo com o IDSUS 2012, as maiores notas por Grupo Homogêneo foram: 7,08
para Vitória (ES), no grupo 1, e 8,22 para Barueri (SP), no grupo 2. Na sequência, nos
grupos 3 e 4, vêm 8,18 para Rosana (SP) e 7,31 para Turmalina (MG). Nos grupos 5 e
6 os destaques foram Arco-Íris (SP) e Fernandes Pinheiro (PR), com IDSUS de 8,38 e
7,76, respectivamente.
Modelo
17
UNIDADE I │ SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)
O levantamento de dados para divulgação do IDUS 2012 será realizado a cada três
anos. Desde a idealização até a fase de finalização, o índice foi construído com a
participação de vários segmentos do governo, técnicos, acadêmicos e com a
participação e aprovação do Conselho Nacional de Saúde.
Resumindo
A 8a Conferência Nacional de Saúde (CNS) foi um marco na história do SUS por vários
motivos. Foi aberta em 17 de março de 1986 por José Sarney, o primeiro presidente
civil após a ditadura, e foi a primeira CNS a ser aberta à sociedade; além disso, foi
18
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) │ UNIDADE I
Segundo o manual do Ministério da Saúde - SUS princípios e Conquistas - o Sistema Único de Saúde
é formado pelo conjunto de todas as ações e serviços de saúde prestados por órgãos e instituições
públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta e das fundações
mantidas pelo Poder Público. À iniciativa privada é permitido participar desse Sistema de maneira
complementar.
O SUS pode ser considerado uma das maiores conquistas sociais consagradas na Constituição de
1988. Seus princípios apontam para a democratização nas ações e nos serviços de saúde que deixam
de ser restritos e passam a ser universais, da mesma forma, deixam de ser centralizados e passam a
nortear-se pela descentralização.
Na verdade, o SUS representa a materialização de uma nova concepção acerca da saúde em nosso
país. Antes a saúde era entendida como estado de não doença, o que fazia com que toda lógica
girasse em torno da cura de agravos à saúde. Essa lógica, que significava apenas remediar os efeitos
com menor ênfase nas causas, deu lugar a uma nova noção centrada na prevenção dos agravos
e na promoção da saúde. Para tanto, a saúde passa ser relacionada com a qualidade de vida da
população, a qual é composta pelo conjunto de bens que englobam a alimentação, o trabalho, o nível
de renda, a educação, o meio ambiente, o saneamento básico, a vigilância sanitária e farmacológica,
a moradia, o lazer etc.
19
UNIDADE I │ SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)
De acordo com essa nova concepção de saúde, compreende-se que os níveis de saúde da população
expressam a organização social e econômica do País, ou seja, há o acertado reconhecimento de que
os indicadores de saúde da população devem ser tomados para medir o nível de desenvolvimento do
país e o de bem estar da população.
Importante notar que a luta pela instituição do SUS parte da base da sociedade. As reivindicações
que nortearam o movimento que ficou conhecido por Movimento Sanitarista eram apresentadas,
fundamentalmente, por meio dos secretários municipais de saúde e foram catalisadas na 8ª
Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986. As resoluções dessa Conferência deram os
parâmetros que mais tarde viriam a ser inscritos na Constituição de 1988. Lei no 8.080, 19.9.1990,
art. 3o. (Essa lei será estudada com mais detalhes nas próximas unidades)
Antes disso, existia um duplo comando na área da saúde, pois o Ministério da Saúde cuidava das
ações preventivas e o Ministério da Previdência Social incumbia-se pela prestação dos serviços
médicos curativos. O acesso a esses serviços médicos curativos, até então não era um direito de
todos, universal, mas somente dos que contribuíam para o sistema de então, que era ligado ao
Ministério da Previdência Social. Somente os trabalhadores com carteira registrada, pois, faziam
jus aos serviços públicos de saúde. Sob outro aspecto, ações como as campanhas de vacinação eram
de competência do Ministério da Saúde, revelando a duplicidade e a fragmentação das ações e dos
serviços de saúde.
Aliás, o Ministério da Saúde assumiu, desde agosto de 1999, por intermédio da Fundação Nacional
de Saúde, a responsabilidade de estruturar e operacionalizar o Subsistema de Atenção à Saúde
Indígena, articulado com o Sistema Único de Saúde (SUS), passando, assim, a responder pela
totalidade das ações de saúde para os povos indígenas tanto preventivas quanto assistenciais e de
promoção à saúde. Esse fato faz com que atualmente toda a população brasileira, sem exceção, seja
beneficiária dos serviços e das ações prestadas pelo SUS o que concretiza em definitivo o princípio
da universalização.
Os avanços democráticos não param por aí. De uma gestão extremamente centralizada, passa-
se à descentralização como a melhor forma de garantir uma maior participação na formulação
e na implantação dos serviços e ações de saúde, ou seja, o município, enquanto o ente federado
mais próximo da realidade da população, ganha a atribuição fundamental, bem como os recursos
para tanto, de responsabilizar-se pela melhor política de saúde para a população local. Nada mais
acertado, considerando a diversidade e a disparidade de realidades locais espalhadas pelo Brasil.
O município é, por excelência, o melhor dos entes federados para tratar da saúde dada a sua maior
proximidade e, por isso mesmo, maior conhecimento da ordem de prioridades e das demandas da
população local.
20
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) │ UNIDADE I
No entanto, para além da descentralização dos serviços e dos recursos de saúde, a participação social
passa a ser condição essencial. Assim, a existência e o funcionamento de conselhos de saúde nos três
níveis de governo passam a ser obrigatórios visando garantir a participação social nas políticas de
saúde, tanto em sua formulação como em sua execução. Nesse sentido, o controle e a participação
social na área saúde pública paulatinamente vêm aumentando suas dimensões e aperfeiçoando seus
métodos.
É bem verdade que o SUS, como não poderia deixar de ser, está em constante processo de
aperfeiçoamento. Por um lado, a promoção da saúde à população nunca deixará de sofrer
transformações, pois, como as sociedades são dinâmicas, a cada dia surgem novas tecnologias que
devem ser incorporadas para a melhoria dos serviços e das ações de saúde. Da mesma forma, é
constante o surgimento de novos agravos à saúde que carecem de novas profilaxias e de novos
cuidados. Sob outro aspecto, não obstante todo o caminho já percorrido até aqui, o SUS ainda está
em estruturação.
Aliás, uma observação das normas que vêm estruturando o SUS desde sua origem permite que se
perceba o processo de constante aperfeiçoamento ao longo de sua curta história. Em outubro de 1988,
o SUS foi instituído constitucionalmente, sendo que a seção que trata da saúde na Constituição vai
dos arts 196 a 200. A consagração constitucional do SUS trouxe a previsão da necessidade de novas
leis para sua regulamentação. Isso ocorrera por meio das Leis no 8.080 e 8.142, ambas editadas em
1990, que conjuntamente formam a Lei Orgânica da Saúde.
A organização operacional do SUS, sob outro aspecto, evoluiu mediante a edição de três Normas
Operacionais Básicas (NOB), cada qual substituindo e aperfeiçoando a anterior. A primeira edição
ocorre em 1991, a segunda, em 1993 e a terceira, em 1996; esta última (NOB/96), apesar das
alterações e dos aperfeiçoamentos em relação a sua edição original, é a que está em vigor. Da leitura
dessas e de outras normas, como uma série de portarias do Ministério da Saúde e outras tantas
resoluções do Conselho e das Conferências Nacionais de Saúde, tem-se a perfeita compreensão que
se trata de um processo em constante aperfeiçoamento.
21
UNIDADE I │ SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)
As Normas Operacionais Básicas, por sua vez, de acordo com a avaliação do estágio
de implantação e desempenho do SUS, se voltam, mais direta e imediatamente, para
a definição de estratégias e movimentos táticos, que orientam a operacionalidade
deste Sistema.
Ao tempo em que aperfeiçoa a gestão do SUS, esta NOB aponta para uma
reordenação do modelo de atenção à saúde, na medida em que redefine:
22
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) │ UNIDADE I
Espaço para você, aluno, fazer uma síntese dos textos e enriquecê-los com sua
contribuição pessoal.
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
23
UNIDADE I │ SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
__________________________________________________
Conceitue SUS.
Descreva a NOB-SUS.
24
CAPÍTULO 2
Funcionamento do Sistema Único de
Saúde (SUS)
(Albert Einstein)
Funcionamento do SUS
25
UNIDADE I │ SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)
O funcionamento do SUS faz com que a área de saúde esteja entre as mais democráticas, pois, além
de comportar um alto grau de participação social, sua gestão é um dos modelos de descentralização
com maior êxito nos serviços públicos brasileiros. A participação social é expressa pela existência
e pelo funcionamento de conselhos de saúde nos três níveis de governo, como comentado adiante.
Já em relação ao modelo de descentralização adotado para o SUS, sua organização define como
gestores corresponsáveis os três níveis de governo com mecanismos previstos para negociação
e pactuação das políticas adotadas na saúde. Nesse aspecto existem as Comissões Intergestores
Bipartites (CIBs), no âmbito de cada estado, e a Comissão Intergestores Tripartite (CIT), que é o
fórum nacional.
As conclusões das negociações pactuadas na CIT e na CIB são formalizadas em ato próprio do
gestor respectivo.
Os gestores do SUS são os representantes dos três níveis de governo. Assim, a responsabilidade
para com a gestão do sistema é dos municípios, dos estados, do Distrito Federal e da União
solidariamente por meio de seus órgãos que são, respectivamente, as Secretarias Municipais de
Saúde (SMS), as Secretarias Estaduais de Saúde (SES) e o Ministério da Saúde. Isso na medida
que a direção do SUS é única em cada nível de governo, ou seja, ela é exercida por esses órgãos
em suas respectivas esferas.
Referência: SUS princípios e Conquistas - Ministério da Saúde, Secretaria Executiva, Brasília, DF,
2000.
26
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) │ UNIDADE I
27
CAPÍTULO 3
Definição de Conselho de Saúde
O Controle Social não deve ser traduzido apenas em mecanismos formais e, sim,
refletir-se no real poder da população em modificar planos, políticas, não só no
campo da saúde.
Pode-se definir um conselho de saúde como o órgão ou instância colegiada de caráter permanente
e deliberativo, em cada esfera de governo, integrante da estrutura básica da secretaria ou
departamento de saúde dos estados e municípios, com composição, organização e competência
fixadas em lei. O Conselho consubstancia a participação da sociedade organizada na administração
do SUS, propiciando e melhorando o controle social do Sistema.
Importante lembrar que o funcionamento dos conselhos de saúde é condição essencial e obrigatória
ao funcionamento do SUS. A participação comunitária é enfatizada na legislação, tornando os
28
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) │ UNIDADE I
Desta forma, um conselho de saúde deverá ser composto por representantes do governo, de
profissionais de saúde, de prestadores de serviços de saúde e usuários, sendo o seu presidente eleito
entre os membros do conselho, em reunião plenária.
Os representantes dos usuários deverão ser indicados impreterivelmente pelas suas entidades.
Em relação aos Conselhos Municipais de Saúde, a composição é semelhante à dos conselhos
estaduais, adaptada ao município. Geralmente, não será necessária a presença de representante
do governo federal, a não ser em casos especiais, que serão definidos localmente. Os usuários terão
representação semelhante à dos conselhos estaduais. O governo estadual e o governo municipal
também terão seus representantes nos conselhos municipais. Do mesmo modo, os trabalhadores da
área da saúde e os prestadores de serviços de saúde de entidades filantrópicas e não filantrópicas.
Nenhum conselheiro poderá ser remunerado pelas suas atividades, sendo estas consideradas de
relevância pública.
Fonte: Estas definições acerca dos conselhos de saúde são dadas por meio da Resolução 33, de
23.12.1992, do Conselho Nacional de Saúde.
29
UNIDADE I │ SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)
»» Deliberar sobre:
»» Decidir sobre:
30
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) │ UNIDADE I
Resumindo:
31
UNIDADE I │ SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)
32
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) │ UNIDADE I
Espaço para você, aluno, fazer uma síntese dos textos e enriquecê-los com sua
contribuição pessoal.
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
33
PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS UNIDADE II
CAPÍTULO 1
Universalização, equidade e
integralidade
E da equidade e integralidade?
34
PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS │ UNIDADE II
Universalização
A universalização, todavia, não quer dizer somente a garantia imediata de acesso às ações e aos
serviços de saúde. A universalização, diferentemente, coloca o desafio de oferta desses serviços e
ações de saúde a todos que deles necessitem, todavia, enfatizando a ações preventivas e reduzindo
o tratamento de agravos.
Não obstante o acesso universal, eficiente, eficaz e efetivo aos serviços e às ações de saúde ser um
processo em construção, onde há muito trabalho a ser feito, a cobertura e a oferta desses serviços
e dessas ações vêm ampliando-se rapidamente. Prova disso são indicadores que dão conta de um
considerável aumento na oferta de consultas médicas, cujo número ultrapassa 2 (duas) consultas
por habitante/ano; de internações hospitalares, que chegam a média de 7 (sete) para cada grupo de
100 (cem) habitantes/ano; dos atendimentos hospitalares para o parto que já beiram os 100%; da
mesma forma são as vacinações, cada vez mais variadas e com maior cobertura.
Equidade
O ensaio procurou responder a seguinte pergunta: o SUS é uma política pública de promoção
da equidade? Nesse sentido, apresenta alguns delineamentos prévios sobre certas noções
presentes na pergunta, especialmente sobre as concepções de eqüidade e do SUS. Realiza uma breve
revisão sobre reformas setoriais em contraponto com a Reforma Sanitária Brasileira e um sumário
do perfil de desigualdades em saúde no país. Conclui examinando alguns esforços para a redução
dessas desigualdades levantando a hipótese de que o SUS pode promover eqüidade no sentido de
justiça sem comprometer o seu caráter universal e igualitário.
35
UNIDADE II │ PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS
As reformas nos sistemas de serviços de saúde na América Latina têm sido analisadas considerando-
se doze eixos temáticos: marco jurídico; direito aos cuidados de saúde; aumento da cobertura;
função reitora dos Ministérios da Saúde; descentralização; participação e controle social; oferta
de serviços; separação de funções, modelo de gestão; recursos humanos; qualidade; avaliação de
tecnologias. Na avaliação dos seus resultados têm-se tomado como atributos a eqüidade, eficiência,
efetividade, sustentabilidade, qualidade, participação e controle social (Infante e col., 2000).
Desde a realização da 11ª Conferência Nacional de Saúde, realizada no ano 2000, o Conselho
Nacional de Saúde tem formulado proposições e estratégias reunidas em onze compromissos
apresentados aos candidatos das eleições presidenciais de 2002, entre os quais “a construção da
eqüidade” destaca-se em primeiro lugar (CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, 2002, p.297).
Assim, a equidade vem sendo reiterada como uma das principais referências para a avaliação das
reformas setoriais e para a reorientação de políticas e de sistemas de saúde. Daí a pertinência e
oportunidade da pergunta que orientou a elaboração do presente texto: O SUS é uma política
pública de promoção da equidade?
Equidade
Do ponto de vista semântico e etimológico a palavra equidade está próxima da igualdade. Ambas
são consideradas contrapontos para as desigualdades socioeconômicas e de saúde (PINHEIRO
et al. 2005). No caso da saúde, haveria que distinguir inicialmente as necessidades de saúde e as
necessidades de serviços de saúde, o que remeteria para a separação, com fins analíticos, entre
36
PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS │ UNIDADE II
(OPS, 1997:16).
Tal entendimento legitima o pagamento de serviços de saúde pelos que podem fazê-lo, justificando e
restringindo a atuação dos serviços públicos para os pobres. Inspira-se em um texto muito divulgado
pelo Escritório Regional da OMS na Europa (WHITEHEAD, 1990) cuja abordagem de equidade
em saúde contempla “diferenças evitáveis e desnecessárias e que também podem ser consideradas
injustas” (PINHEIRO et al., 2005 p. 451), sugerindo que as desigualdades inaceitáveis e injustas
mereceriam correções.
Segundo esses autores o termo equidade não aparece na base de dados MEDLINE como descritor e
sim na do LILACS, referido-se à cobertura, distribuição e uso de recursos, acesso e estado de saúde.
(PINHEIRO et al., 2005 p. 451). Portanto, embora a maioria dos textos técnicos e doutrinários que
tratam da questão da eqüidade não tenha como preocupação uma precisão conceitual, é possível
identificar dois enfoques subjacentes que tentam distingui-la da noção de igualdade: o econômico
e o da justiça.
No enfoque econômico trata-se de buscar uma distribuição mais eficiente dos recursos, recorrendo
a estudos de análise econômica, a modelos matemáticos e estudos econométricos. Tem sido objeto
privilegiado da Economia da Saúde, na qualidade de disciplina acadêmica (Andrade et al., 2004).
Parte dos autores realiza incursões reflexivas quanto à justiça distributiva, buscando referências
na obra de Amartya Sen, que ganhou o Prêmio Nobel (SEN, 2002). Todavia, no plano das políticas
patrocinadas por organismos internacionais, esse enfoque apresenta-se sob uma postura aparente
de Robin Hood, defendendo políticas de focalização em contraposição às políticas universais, além
da concentração de recursos nos mais necessitados - Pro-Poor Programs - (SOARES, 1999), sejam
regiões, estados, municípios, distritos, bairros, grupos ou pessoas.
Já o enfoque centrado na ideia de justiça recorre à filosofia de Aristóteles e Platão a Rawls e Sen,
passando por Hobbes, Rousseau, Kant, Hume, Marx e Engels - para demonstrar que a igualdade
pode não ser justa (Ribeiro, 2005; Siqueira-Batista e Schramm, 2005). Embora no presente texto
não caiba uma revisão detalhada deste enfoque, as referências citadas podem indicar a pertinência
de aprofundar a reflexão sobre o conceito de eqüidade. Assim, “a noção de equidade se associa
de modo diverso à igualdade e, sobretudo, à justiça, no sentido de propiciar a correção daquilo
em que a igualdade agride e, portanto, naquilo que a justiça deve realizar. Tomada nesse sentido,
a equidade requer igualdade para produzir efeitos, pois se constitui justamente em corretora da
situação de igualdade, na medida em que a adoção deste recurso se revele imperfeita diante dos
37
UNIDADE II │ PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS
objetivos da promoção da justiça” (ELIAS, 2005, p.291). Ao se debruçarem sobre tais princípios e
diretrizes, disciplinas como Ética e Política de Saúde passam a devotar certa atenção para a questão
da eqüidade. Nessa perspectiva, indaga-se, por exemplo, “em nome de que padrão de justiça social
as distintas racionalidades de distribuição de recursos utilizadas pelas políticas setoriais ou pelos
níveis de governo são formuladas?” (COHN, 2005, p.287).
Conclusões
Dada a natureza e a complexidade da pergunta inicialmente formulada que orientou as reflexões
do presente texto, as conclusões são obviamente parciais e provisórias. A própria ambiguidade
do termo equidade, as diferentes concepções do SUS presentes no processo político de saúde e
as diversificadas formas de sua apresentação em municípios e estados brasileiros, mais ou menos
próximas aos dispositivos legais e ao projeto da Reforma Sanitária, impõem que a resposta seja “em
termos”, ou seja, o SUS como política pública foi formulado na perspectiva do acesso universal, da
igualdade e da justiça social no que diz respeito às necessidades de saúde da população brasileira. Na
medida em que a equidade foi concebida na perspectiva ética e da justiça, esta política pública tem
um grande potencial de alcançá-la, não obstante as históricas iniquidades presentes na sociedade
brasileira, agravadas pelas novas versões do capitalismo em tempos de globalização.
De qualquer modo, trata-se de uma expressiva política pública de inclusão, já que desde a transição
realizada pelas AIS e o SUDS foram incorporados milhões de brasileiros no sistema público de
saúde. Estima-se que um terço da população foi incluído no SUS a partir da Constituição de 1988.
Programas como o PACS/PSF, além de ampliarem a cobertura de serviços, têm possibilitado
reorientações do sistema no sentido da integralidade e da equidade.
O princípio da equidade reafirma que essa necessidade deve dar-se também por
meio das ações e dos serviços de saúde. Ainda são grandes as disparidades regionais
e sociais do Brasil. No entanto, há uma sinergia e uma série de externalidades
positivas geradas a partir da melhora das condições de saúde da população o que
faz concluir que de fato a saúde é fundamental na busca de uma maior equidade.
38
PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS │ UNIDADE II
Esse é um trabalho que também deve ser encarado como um desafio permanente,
mesmo porque a saúde diz respeito a uma série de fatores ligados à qualidade
de vida como um todo, como dito inicialmente. É curioso observar, por exemplo,
que entre regiões como a nordeste a expectativa de vida, bem como a taxa de
mortalidade infantil, são piores do que em regiões mais ricas do país, como a sul e a
sudeste. Por outro lado, essas regiões mais ricas padecem de maneira mais aguda de
outros males como são os índices por mortes violentas ou em decorrência da AIDS.
Referência: SUS princípios e Conquistas - Ministério da Saúde, Secretaria Executiva, Brasília, DF,
2000.
Integralidade
Esse princípio é um dos mais preciosos em termos de demonstrar que a atenção à saúde deve levar
em consideração as necessidades específicas de pessoas ou grupos de pessoas, ainda que minoritários
em relação ao total da população, ou seja, a cada qual de acordo com suas necessidades, inclusive
no que diz respeito aos níveis de complexidade diferenciados. Colocá-lo em prática é um desafio
permanente e dinâmico.
Vem-se caminhando nesse sentido. Tentativas, projetos e ações nessa direção vêm sendo
constantemente testados de modo que um sem-número de grupos específicos da sociedade vem
recebendo atenção especial. Dessa forma há projetos e ações direcionadas especificamente aos
jovens, às mulheres, aos idosos, aos portadores do HIV e de outras moléstias e enfermidades, às
gestantes, aos consumidores de drogas, aos portadores de distúrbios mentais; a partir de 1999, à
saúde indígena e a tantos outros grupos carentes de atenção específica.
Nesse mesmo sentido, vem-se trabalhando na estruturação de redes de maneira hierarquizada, com
níveis crescentes de complexidade dos serviços. As centrais de regulação de vagas têm contribuído
sobremaneira para esse intento. Assim, as ações de baixa, média e alta complexidades buscam
articular-se para racionalizar o sistema, para aumentar o seu nível de resolutividade e sua capacidade
de atendimento da demanda. A permissão de constituição de consórcios é um facilitador para esse
intento.
Há que se notar que esses serviços e ações de saúde destinados a grupos específicos da sociedade e
com níveis diferenciados de complexidade vêm contando, cada vez mais, com esforços no sentido
da capacitação profissional daqueles que prestam tais serviços. Da mesma forma, equipamentos
39
UNIDADE II │ PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS
40
PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS │ UNIDADE II
41
UNIDADE II │ PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS
Espaço para você, aluno, fazer uma síntese dos textos e enriquecê-los com sua
contribuição pessoal.
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_________________________________________________
Universalidade
Equidade
Integralidade
42
PRINCÍPIOS UNIDADE III
ORGANIZATIVOS
CAPÍTULO 1
Regionalização e hierarquização
Regionalização e hierarquização
Como não são todos que precisam, por exemplo, de cirurgias no coração, um hospital com essa
capacidade pode atender a toda uma região ou mesmo a um estado. Para tanto as palavras-chave
são organização, união e parceria.
43
UNIDADE III │ PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS
Referência: SUS princípios e Conquistas - Ministério da Saúde, Secretaria Executiva, Brasília, DF,
2000.
Para melhor fixar o conteúdo vamos realizar a leitura do estudo extraído de: CUNHA
J.P.P., CUNHA ROSANI R. E. Sistema Único de Saúde - SUS: princípios. In: CAMPOS, F.
E., OLIVEIRA JÚNIOR, M., TONON, L. M. Cadernos de Saúde. Planejamento e Gestão
em Saúde. Belo Horizonte: COOPMED, 1998. Cap. 2, p. 11-26.
Regionalização e hierarquização
A regionalização e a hierarquização de serviços significa que os serviços devem ser
organizados em níveis crescentes de complexidade, circunscritos a uma determinada
área geográfica, planejados a partir de critérios epidemiológicos, e com definição
e conhecimento da clientela a ser atendida. Como se trata aqui de “princípios”, de
indicativos, este conhecimento é muito mais uma perspectiva de atuação do que
uma delimitação rígida de regiões, clientelas e serviços.
44
PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS │ UNIDADE III
dos recursos disponíveis numa dada região. Deve ainda incorporar-se à rotina do
acompanhamento dos serviços, com fluxos de encaminhamento (referência) e
de retorno de informações do nível básico do serviço (contra-referência). Estes
caminhos somam a integralidade da atenção com o controle e a racionalidade dos
gastos no sistema.
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
45
CAPÍTULO 2
Descentralização e comando único
Quanto mais perto tiver a decisão, maior a chance de acerto. No SUS a responsabilidade
pela saúde deve ser descentralizada até o município. Isto significa dotar o município
de condições gerenciais, técnicas, administrativas e financeiras para exercer esta
função.
A decisão deve ser de quem executa, que deve ser o que está mais perto do problema.
A descentralização, ou municipalização, é uma forma de aproximar o cidadão das
decisões do setor e significa a responsabilização do município pela saúde de seus
cidadãos. É também uma forma de intervir na qualidade dos serviços prestados.
46
PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS │ UNIDADE III
A descentralização, desde a Constituição Federal de 1988, tem sido uma das diretrizes
organizacionais mais enfatizadas no processo de construção do Sistema Único de Saúde (SUS) no
Brasil. A implantação da descentralização opõe-se à tradição centralizadora da assistência à saúde
no Brasil e vem promovendo a noção de que o município é o melhor gestor para a questão da saúde,
por estar mais próximo da realidade da população do que as esferas estadual e federal. Embora a
municipalização tenha avançado bastante no Estado de São Paulo nos últimos anos, o processo
suscita novas questões acerca do sistema público de saúde. A consecução de alguns dos princípios
do SUS, tais como a universalidade do sistema, a integralidade e a eqüidade da assistência, também
dependem da implementação, hoje ainda precária, dos princípios de regionalização e hierarquização,
bem como de uma melhor definição do papel do gestor estadual e da divisão de responsabilidades
entre ele e os gestores municipais no atendimento às demandas do sistema de saúde.
Nesses moldes, a descentralização também seria uma solução para outro problema
herdado do sistema de saúde anterior ao SUS: direções múltiplas e desintegradas,
cuja situação exemplar era o duplo comando decorrente da divisão de funções e
recursos entre os serviços do Ministério da Previdência Social, de um lado, e do
Ministério da Saúde, de outro.
47
UNIDADE III │ PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS
Logo a seguir, em 1983, surgiu o programa AIS, ou Ações Integradas de Saúde, destinado a promover
a integração dos serviços públicos acompanhada de discussões e movimentos sociais, desencadeados
no período de redemocratização do país, que passavam a exigir saúde como direito do cidadão. Tais
fatos propiciaram o surgimento de propostas mais amplas de descentralização das ações de saúde
e mudanças na sua operacionalização, como foi o caso do Sistema Unificado e Descentralizado de
Saúde (SUDS), em 1987.
No período de 1987 a 1994, a maioria das unidades de saúde estaduais que prestavam serviços de
atenção primária, como as UBS e os laboratórios locais, foi repassada à gerência dos municípios do
interior do Estado e da Grande São Paulo, com exceção da Capital.
Embora o processo de municipalização dos serviços de atenção primária estadual já tivesse ocorrido
na maior parte do Estado, o desenvolvimento da gestão municipal de saúde chegou mais tarde e
de forma mais lenta, iniciando-se apenas em 1993, quando o Ministério da Saúde editou a Norma
Operacional Básica.
A NOB-SUS 1993 criou as formas alternativas de gestão: incipiente, parcial e semiplena. Apenas
neste último nível, os municípios assumiam responsabilidades e tinham maior controle da gestão
do sistema. A norma também estabeleceu as comissões intergestoras (tripartite e bipartite) e previu
as transferências de recursos fundo a fundo, conforme o tipo de gestão.
A política de descentralização foi reforçada após a edição, em 1996, de uma nova norma operacional
básica, a NOB-SUS 1996, que atribuía ao gestor municipal a responsabilização pela situação de
saúde de sua população e pela organização e desenvolvimento das ações no sistema municipal de
48
PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS │ UNIDADE III
saúde, estabelecendo a Gestão Plena de Sistema de Saúde Municipal (GPSM) e a Gestão Plena de
Atenção Básica de Saúde para os municípios.
No Estado de São Paulo, desde 1995, foi grande o avanço do processo de descentralização coordenado
pela Secretaria de Estado da Saúde em parceria com o Conselho de Secretários Municipais de Saúde
(COSEMS). Em 2003, já eram 161 municípios gestores plenos de saúde e 482 gestores plenos de
atenção básica, restando apenas dois municípios não habilitados.
A Capital permaneceu sem habilitação até o final de 2000. Em 2001, pleiteou e conseguiu a sua
classificação na Gestão Plena de Atenção Básica em Saúde, após comprovar as condições de acesso
a essa categoria, marcando seu pleno retorno ao SUS. Até meados de 2002, todas as unidades de
atenção primária, inclusive as do Qualis/PSF, foram transferidas para a gestão municipal. Hoje,
podemos afirmar que, no Estado, a atenção primária é totalmente gerida pela esfera municipal.
Por outro lado, os municípios que se habilitaram na gestão plena de sistema passaram a assumir o
controle de todos os serviços de saúde que atendiam a sua população, recebendo, diretamente para
o Fundo Municipal de Saúde, os recursos federais (tetos financeiros) destinados a esses serviços,
rompendo com a lógica de pagamento por serviços prestados.
Contudo, a descentralização traz novos desafios, a serem levados em conta, para que o
desenvolvimento do sistema possa atingir o seu objetivo de garantir o acesso universal e eqüitativo
da população à saúde.
De fato, no próprio texto da NOB-SUS 1996, menciona-se, ao lado das vantagens da responsabilização
dos gestores municipais, “o elevado risco de atomização desordenada dessas partes do SUS,
permitindo que um sistema municipal se desenvolva em detrimento de outro, ameaçando, até
mesmo, a unicidade do SUS”.
49
UNIDADE III │ PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS
Os conflitos do gestores municipais entre si e com o gestor estadual, muitas vezes limitados à
discussão sobre a divisão de tetos financeiros do SUS (insuficientes para o Estado de São Paulo),
refletem, entre outros pontos, a imprecisão na definição do papel do gestor estadual e a ausência de
um desenho de regionalização do sistema. Tais fatos dificultam a atribuição de responsabilidades
sobre as ações de saúde regionais, inclusive aquelas prestadas por um município com gestão plena,
destinadas não só a seus munícipes, mas, também, aos cidadãos de municípios vizinhos.
Assim, pode-se dizer que o avanço na regionalização e na hierarquização da rede de serviços do SUS
não acompanhou, adequadamente, o processo de municipalização no Estado, tal como ocorreu no
país.
O problema foi reconhecido pelo Ministério da Saúde e tornou-se objeto principal da Norma
Operacional da Assistência a Saúde, a NOAS-SUS 2001, republicada em 2002, que propôs, para
o aprimoramento do processo de descentralização, uma estratégia de regionalização mediante a
elaboração e implementação de um Plano Diretor de Regionalização. Esse plano define as áreas
geográficas (módulos), os fluxos e pactuações entre os gestores - Programação Pactuada Integrada,
ou PPI -, para organizar, efetivamente, uma rede hierarquizada e regionalizada.
O Ministério da Saúde estabelece cooperação financeira com órgãos das três esferas
e com entidades públicas e privadas mediante três formas de descentralização de
recursos:
Em seu bojo não está somente a descentralização das ações de saúde, consoante os
princípios do federalismo, e a hierarquização do SUS. Figura também a participação
social no processo de definição de prioridades, de adequação do modelo
50
PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS │ UNIDADE III
Referência: SUS princípios e Conquistas - Ministério da Saúde, Secretaria Executiva, Brasília, DF,
2000.
A decisão deve ser de quem executa, que deve ser o que está mais perto do problema.
A descentralização, ou municipalização, é uma forma de aproximar o cidadão das
decisões do setor e significa a responsabilização do município pela saúde de seus
cidadãos. É também uma forma de intervir na qualidade dos serviços prestados.
Fonte: CUNHA J.P.P., CUNHA ROSANI R. E. Sistema Único de Saúde - SUS: princípios. In: CAMPOS,
F. E., OLIVEIRA JÚNIOR, M., TONON, L. M. Cadernos de Saúde. Planejamento e Gestão em Saúde.
Belo Horizonte: COOPMED, 1998. Cap. 2, p. 11-26.
51
UNIDADE III │ PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
52
CAPÍTULO 3
Participação popular
Os Conselhos de Saúde, que devem existir nos três níveis de governo, são órgãos
deliberativos, de caráter permanente, compostos com a representatividade de toda
a sociedade. Sua composição deve ser paritária, com metade de seus membros
representando os usuários e a outra metade, o conjunto composto por governo,
trabalhadores da saúde e prestadores privados. Os conselhos devem ser criados
por lei do respectivo âmbito de governo, onde serão definidas a composição do
colegiado e outras normas de seu funcionamento.
Hoje existem quase todos os conselhos de saúde que são possíveis existir, ou seja, o Conselho
Nacional de Saúde existe e nunca esteve tão atuante; os conselhos estaduais de saúde também
existem todos e cada vez mais inserem-se e qualificam-se para melhorar a participação, o controle e
a harmonização das políticas de saúde. Da mesma forma é o caso do Distrito Federal.
53
UNIDADE III │ PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS
Já no que tange aos municípios, constata-se que mais de 98% destes contam com conselhos
formados e atuantes. Até por serem em maior número e por estarem em contato com realidades
extremamente diversas, é no nível municipal que se deve trabalhar com prioridade para qualificação
dos conselheiros de saúde para o exercício de suas atribuições. Somados, os conselheiros de saúde
formam um exército de pessoas, representantes dos mais diversos setores da sociedade, atuantes na
área da saúde. Há, assim, o aumento e o constante aperfeiçoamento do controle e da participação
social no âmbito do SUS.
Referência: SUS princípios e Conquistas - Ministério da Saúde, Secretaria Executiva, Brasília, DF,
2000.
Introdução
No caso brasileiro, o desafio que se coloca é o de materializar em práticas as conquistas
estabelecidas no plano legal. Toda reflexão que será aqui desenvolvida sobre a
questão do direito à saúde, a exemplo dos demais direitos sociais, pressupõe que
sua conceituação deriva de “um processo dinâmico e histórico onde estes direitos
emergem gradualmente de lutas que o homem trava por sua própria emancipação
e das transformações das condições de vida que estas lutas produzem” (Bobbio,
1992:32).
54
PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS │ UNIDADE III
Metodologia
Nosso estudo desenvolveu-se junto aos usuários que freqüentam as Unidades de
Saúde pertencentes à Área Programática 3.1 (AP-3.1) do Município do Rio de Janeiro.
Esta área envolve a região da Ilha do Governador e Leopoldina, abrangendo, à época
do estudo, um total de 38 bairros e 84 favelas - população que representa 14,5% da
população total do Município do Rio de Janeiro, sendo a terceira área em densidade
demográfica no município (Carvalho, 1991).
55
UNIDADE III │ PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS
torno do que se poderia considerar quatro grandes temas, por meio dos quais
procuramos apreender nosso objeto: o conceito de saúde, a consciência sanitária, o
cotidiano do atendimento, a transformação do quadro atual.
Conclusão
Por meio deste estudo, constatamos, mais uma vez, a falta de correspondência entre
o discurso legal e a realidade concreta a que se referem. No caso específico do setor
saúde, há ainda um longo caminho a ser percorrido até que se conquiste a eqüidade.
A despeito dos avanços obtidos no plano legal, a realidade dos serviços oferecidos
à população em muito se distancia da garantia do direito à saúde, tão almejada em
nosso País.
Para tanto, há que se considerar o papel dos usuários em sua relação com os
profissionais e serviços, diante do desafio de construção de uma consciência
sanitária; por outro lado, reafirma-se aqui a necessidade de estudos fundamentados
na abordagem qualitativa, a fim de inserir a subjetividade dos atores - dimensão, em
geral, esquecida nos planos e programas do setor.
Por último, cabe ressaltar o papel estratégico das relações estabelecidas no cotidiano
dos serviços para o processo de mudança social e construção dos direitos, em
especial, no campo da saúde.
56
PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS │ UNIDADE III
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
57
CAPÍTULO 4
Participação da União, estados e
municípios e responsabilidades
Você precisa fazer aquilo que pensa que não é capaz de fazer.
(Eleanor Roosevelt)
Sendo o município o ente federado ideal para a prestação e o desenvolvimento dos serviços e das
ações de saúde, sua responsabilidade para com o SUS é grande. Para tanto, cada vez mais, os
municípios passam por um constante processo de aperfeiçoamento e de capacitação para assumir a
total responsabilidade pela saúde.
O processo está em curso. Há dois níveis de habilitação, com níveis diferentes de prerrogativas e
de responsabilidades: a gestão plena da atenção básica e a gestão plena do sistema municipal. No
primeiro caso, o município assume as responsabilidades e recebe recursos fundo a fundo para com
a atenção básica à saúde. No segundo, responsabiliza-se pela totalidade dos serviços de saúde, o que
pressupões alta capacidade técnica e administrativa, sendo que os recursos devidos também são
transferidos fundo a fundo.
58
PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS │ UNIDADE III
A realidade objetiva do poder público, nos municípios brasileiros, é muito diferenciada, caracterizando
diferentes modelos de organização, de diversificação de atividades, de disponibilidade de recursos e
de capacitação gerencial, o que, necessariamente, configura modelos distintos de gestão.
O caráter diferenciado do modelo de gestão é transitório, uma vez que todo e qualquer município
pode ter uma gestão plenamente desenvolvida, levando em conta que o poder constituído, neste
nível, tem uma capacidade de gestão intrinsecamente igual e os seus segmentos populacionais
dispõem dos mesmos direitos.
Essa relação, mediada pelo Estado, tem como instrumento de garantia a programação pactuada e
integrada na Comissão Intergestores Bipartite (CIB) regional ou estadual e submetida ao conselho
de saúde correspondente. A discussão de eventuais impasses, relativos à sua operacionalização,
deve ser realizada também no âmbito dessa comissão, cabendo, ao gestor estadual, a decisão
sobre problemas surgidos na execução das políticas aprovadas. No caso de recurso, este deve ser
apresentado ao Conselho Estadual de Saúde (CES).
Outro aspecto importante a ser ressaltado é que a gerência (comando) dos estabelecimentos ou
órgãos de saúde de um município é da pessoa jurídica que opera o serviço, sejam estatais (federal,
estadual ou municipal) sejam privados. Assim, a relação desse gerente deve ocorrer somente com o
gestor do município onde o seu estabelecimento está sediado, seja para atender à população local,
seja para atender à referenciada de outros municípios.
O gestor do sistema municipal é responsável pelo controle, pela avaliação e pela auditoria dos
prestadores de serviços de saúde (estatais ou privados) situados em seu município. No entanto,
quando um gestor municipal julgar necessário uma avaliação específica ou auditagem de uma
entidade que lhe presta serviços, localizada em outro município, recorre ao gestor estadual.
Os recursos destinados ao pagamento das diversas ações de atenção à saúde prestadas entre
municípios são alocados, previamente, pelo gestor que demanda esses serviços ao Município sede do
prestador. Este município incorpora os recursos ao seu teto financeiro. A orçamentação é feita com
base na programação pactuada e integrada entre gestores, que é mediada pelo estado e aprovada na
CIB regional e estadual e no respectivo conselho de saúde.
Quando um município, que demanda serviços a outro, ampliar a sua própria capacidade resolutiva,
pode requerer, ao gestor estadual, que a parte de recursos alocados no município vizinho seja
59
UNIDADE III │ PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS
realocada para o seu município. Esses mecanismos conferem um caráter dinâmico e permanente ao
processo de negociação da programação integrada, em particular quanto à referência intermunicipal.
O segundo papel é promover as condições e incentivar o poder municipal para que assuma a gestão
da atenção a saúde de seus munícipes, sempre na perspectiva da atenção integral.
As necessidades reais não atendidas são sempre a força motriz para exercer esse papel, no entanto,
é necessário um esforço do gestor estadual para superar tendências históricas de complementar
a responsabilidade do município ou concorrer com esta função, o que exige o pleno exercício do
segundo papel.
O exercício desses papeis pelo gestor requer a configuração de sistemas de apoio logístico e de
atuação estratégica que envolvem responsabilidades nas três esferas de governo e são sumariamente
caracterizados como de:
a. informação informatizada;
b. financiamento;
60
PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS │ UNIDADE III
Referência: SUS princípios e Conquistas - Ministério da Saúde, Secretaria Executiva, Brasília, DF,
2000.
61
UNIDADE III │ PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS
Responsabilidade da União
No que diz respeito ao gestor federal, são identificados quatro papéis básicos, quais sejam:
Da mesma forma que no âmbito estadual, o exercício dos papéis do gestor federal requer a
configuração de sistemas de apoio logístico e de atuação estratégica, que consolidam os sistemas
estaduais e propiciam, ao SUS, maior eficiência com qualidade, quais sejam:
a. informação informatizada;
b. financiamento;
62
PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS │ UNIDADE III
d. a definição e a explicitação dos fluxos financeiros próprios do SUS, frente aos órgãos
governamentais de controle interno e externo e aos conselhos de saúde, com ênfase
na diferenciação entre as transferências automáticas a estados e municípios com
função gestora;
h. a adoção, como referência mínima, das tabelas nacionais de valores do SUS, bem
assim a flexibilização do seu uso diferenciado pelos gestores estaduais e municipais,
segundo prioridades locais e ou regionais;
63
UNIDADE III │ PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS
Referência: SUS princípios e Conquistas - Ministério da Saúde, Secretaria Executiva, Brasília, DF,
2000.
64
PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS │ UNIDADE III
Espaço para você, aluno, fazer uma síntese dos textos e enriquecê-los com sua
contribuição pessoal.
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_______________________________________________________________
65
PRINCIPAIS LEIS UNIDADE IV
CAPÍTULO 1
Leis e pactos
66
PRINCIPAIS LEIS │ UNIDADE IV
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e
ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação.
Nessa unidade você vai aprender as principais leis e pactos que regem o Sistema
Único de Saúde.
Principais leis
A legislação básica do SUS é:
§ 1o O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com
recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, além de outras fontes.
67
UNIDADE IV │ PRINCIPAIS LEIS
§ 3o Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos,
estabelecerá:
68
PRINCIPAIS LEIS │ UNIDADE IV
Disposição Preliminar
69
UNIDADE IV │ PRINCIPAIS LEIS
Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por força do
disposto no artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade
condições de bem-estar físico, mental e social.
CAPÍTULO I
70
PRINCIPAIS LEIS │ UNIDADE IV
I - a execução de ações:
a) de vigilância sanitária;
b) de vigilância epidemiológica;
c) de saúde do trabalhador; e
71
UNIDADE IV │ PRINCIPAIS LEIS
CAPÍTULO II
72
PRINCIPAIS LEIS │ UNIDADE IV
73
UNIDADE IV │ PRINCIPAIS LEIS
CAPÍTULO III
I - alimentação e nutrição;
IV - recursos humanos;
V - ciência e tecnologia; e
74
PRINCIPAIS LEIS │ UNIDADE IV
VI - saúde do trabalhador.
Parágrafo único. Cada uma dessas comissões terá por finalidade propor
prioridades, métodos e estratégias para a formação e educação continuada dos
recursos humanos do Sistema Único de Saúde - SUS, na esfera correspondente,
assim como em relação à pesquisa e à cooperação técnica entre essas
instituições.
TÍTULO III
CAPÍTULO I
Do Funcionamento
CAPÍTULO II
Da Participação Complementar
75
UNIDADE IV │ PRINCIPAIS LEIS
Art. 1° O Sistema Único de Saúde (SUS), de que trata a Lei n° 8.080, de
19 de setembro de 1990, contará, em cada esfera de governo, sem prejuízo das
funções do Poder Legislativo, com as seguintes instâncias colegiadas:
76
PRINCIPAIS LEIS │ UNIDADE IV
Art. 3° Os recursos referidos no inciso IV do art. 2° desta lei serão repassados
de forma regular e automática para os Municípios, Estados e Distrito Federal,
de acordo com os critérios previstos no art. 35 da Lei n° 8.080, de 19 de
setembro de 1990.
77
UNIDADE IV │ PRINCIPAIS LEIS
Art. 4° Para receberem os recursos, de que trata o art. 3° desta lei, os
Municípios, os Estados e o Distrito Federal deverão contar com:
78
PRINCIPAIS LEIS │ UNIDADE IV
Principais pactos
Para melhor entender o pacto da Saúde vamos utilizar o material elaborado pelo CEAP em 2007,
logo depois da construção do Pacto pela Saúde, que teve um papel importante junto aos conselheiros,
profissionais, estudantes, gestores e lideranças sociais que atuam em saúde. Com linguagem
simples e ilustrações leves, ela aproximou seus leitores as várias portarias do Ministério da Saúde
que instituíram o Pacto.
É fundamental reafirmar que o Pacto pela Saúde busca preservar os princípios do SUS previstos na
Constituição e nas Leis Orgânicas da Saúde (Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990, e 8.142, de 28
de dezembro de 1990). O próprio Pacto prevê estratégias que afirmam esses princípios. Com base
neles que se construiu uma pactuação que contempla três dimensões:
No início, o debate estava centrado somente na gestão do SUS. Entretanto, as discussões posteriores
indicavam a importância de se ampliar o processo e a pactuação para uma visão mais integral. Em que
pese o Pacto pela Saúde contemplar três dimensões, elas não podem ser tratadas separadamente,
pois se correlacionam.
O Pacto pela Vida tem como foco central estabelecer um conjunto de prioridades a serem assumidas
pelos gestores das três esferas. As prioridades estão expressas em objetivos, metas e indicadores,
que são definidas nacionalmente, mas que permitem que os gestores indiquem situações a partir da
realidade local. Até 2006, o Pacto pela Vida era constituído por indicadores do Pacto da Atenção
Básica, da Programação Pactuada e Integrada da Vigilância (PPI-VS), e pelos indicadores do Pacto
79
UNIDADE IV │ PRINCIPAIS LEIS
Essas prioridades buscam enfrentar os principais problemas de saúde que assolam o país, os
estados, as regiões e os municípios. Por isso, o objetivo do Pacto é eleger prioridades nacionais e
incentivar que estados e municípios elejam as suas a partir da realidade local e regional. Entretanto,
é importante que as prioridades não sejam ações que já estão incluídas no cotidiano do sistema,
como, por exemplo, a vacinação. Elas devem continuar sendo feitas com qualidade, mas não
necessariamente precisam constar como prioridade, porque já fazem parte da cultura dos gestores,
conselheiros e cidadãos.
A importância do Pacto pela Vida é olhar para o contexto da saúde (lugar onde as pessoas moram
e suas condições de vida) e definir prioridades que incidem progressivamente para a melhoria da
situação de saúde dos brasileiros. No entanto, uma vez definida, se acordadas, é preciso estabelecer
recursos orçamentários para que elas não sejam apenas boas intenções.
Para que essas prioridades expressem a realidade nacional, estadual, regional e municipal, elas
devem estar em profunda consonância entre si. Isso não significa, por exemplo, que as metas
nacionais sejam uma imposição ao município e/ou ao estado. Um dos objetivos do Pacto é
exatamente eliminar este formato. Mas o município deve atentar para as prioridades das outras
esferas e discutir como elas podem responder às suas necessidades. É preciso também definir as
próprias prioridades que dizem respeito especificamente ao seu território. O documento que deve
guiar o estabelecimento dessas metas é o Plano de Saúde.
Vale destacar que o alcance das metas e objetivos do Pacto pela Vida está relacionado à implementação
do Pacto pela Saúde.
O Pacto em Defesa do SUS objetiva discutir o sistema a partir dos seus princípios fundamentais.
Repolitizar o debate em torno do SUS, para reafirmar seu significado e sua importância para a
cidadania brasileira, retomando seus princípios declarados na Constituição Federal. O SUS é parte
do processo democrático do país e tem como primeira finalidade a promoção e a efetivação do
direito à saúde. Embora esse propósito muitas vezes seja desvirtuado por interesses diferentes, é
fundamental que a sociedade compreenda a importância da política pública para a efetivação dos
seus direitos. As diretrizes operacionais do Pacto em Defesa do SUS recomendam:
80
PRINCIPAIS LEIS │ UNIDADE IV
Para garantir a defesa dos princípios do SUS e assegurá-lo como política pública, foram definidas
como fundamentais três frentes de ação:
2. A segunda frente de ação é mobilizar a sociedade para que tenhamos mais recursos
para a saúde. A perspectiva é que, em curto prazo, a Emenda Constitucional no 29
seja regulamentada e, em longo prazo, que a saúde tenha aumentados seus recursos
orçamentários e financeiros
3. A terceira grande frente que diz respeito à ampliação do diálogo com a sociedade,
será abordada no quarto capítulo.
O Pacto de Gestão é outra dimensão do Pacto pela Saúde. Suas diretrizes dizem respeito à
Regionalização, ao Financiamento, ao Planejamento, à Programação Pactuada e Integrada da
Atenção à Saúde (PPI), à Regulação da Atenção à Saúde e da Assistência, à Participação e Controle
Social, à Gestão do Trabalho e à Educação na Saúde. Seu foco é radicalizar os princípios da
regionalização, hoje um dos maiores desafios do SUS. O sistema ainda convive, em muitos casos,
com uma lógica velha, centralizada, e que não permite o pleno e qualificado acesso dos cidadãos às
ações e aos serviços de saúde.
81
UNIDADE IV │ PRINCIPAIS LEIS
O Pacto de Gestão do SUS definiu melhor as responsabilidades de cada esfera de governo. Essa
definição é importante para que a política do SUS funcione a partir da gestão participativa. O que
vemos hoje é o chamado “empurra-empurra” (descumprimento de pactuações) entre os gestores,
que aumentam cada vez mais as tensões entre si para ver de quem é a responsabilidade na saúde. E
o cidadão fica no meio, sem saber ao certo a quem deve recorrer para garantir o seu direito. Com a
nova pactuação as responsabilidades e o processo de monitoramento e avaliação da gestão do SUS
ficaram mais claros.
Outro aspecto que deve ser ressaltado no Pacto de Gestão do SUS é reconhecer que a participação
da comunidade tem importância estrutural na gestão do SUS. Já passou o tempo em que o gestor
centralizava todas as decisões sobre a saúde.
Para que a participação da comunidade tenha melhores condições de atuação, o Pacto propõe um
conjunto de ações e reconhece o dever dos gestores de destinar orçamento, cooperando técnica e
financeiramente para sua qualificação.
Essa medida poderá resolver uma das maiores dificuldades atuais dos conselhos que é ter estrutura
para realizar seu trabalho. Ainda hoje, muitos gestores desrespeitam as deliberações e inviabilizam
a atuação dos conselheiros quando não apóiam ações formativas, negam recursos para viagens,
não viabilizam sala com telefone para o conselho trabalhar, ou não cedem veículos para ações de
fiscalização.
No entanto, fica ainda uma crítica sobre o processo de construção do Pacto pela Saúde. Apesar
da proposta potencializar a participação da comunidade, os gestores envolvidos na sua construção
não conseguiram dialogar com os representantes da comunidade. Embora o texto final tenha sido
aprovado pelo Conselho Nacional de Saúde, poucos foram os debates públicos que possibilitaram
aos movimentos, às organizações e aos conselhos do país inteiro colocar em pauta suas idéias,
posições e perspectivas sobre um assunto tão importante.
O CEAP é um Centro de Educação Popular fundado há 20 anos por lideranças sociais empenhadas
com a construção de uma sociedade democrática, justa e solidária. Desde o início doa nos 1990, o
Centro vem atuando em políticas públicas sociais – especialmente de saúde – contribuindo para
fortalecer e qualificar a participação da comunidade na proposição e no controle das políticas
públicas, com o objetivo de efetivar o direito humano à saúde.
O Pacto se constitui a partir de uma unidade de princípios que buscam: respeitar as diferenças locais
e regionais; reforçar a organização das regiões sanitárias (regionalização) instituindo mecanismos
(colegiados) de cogestão e planejamento regional; qualificar o acesso ao direito humano à saúde;
redefinir instrumentos de regulação, programação e avaliação; valorizar a cooperação técnica entre
os gestores; unificar os diversos pactos existentes; estimular o financiamento tripartite com critérios
de equidade nas transferências fundo a fundo e fortalecer o controle social.
82
PRINCIPAIS LEIS │ UNIDADE IV
O Pacto também é composto por diversos temas. Sem desmerecer a importância de nenhum, vamos
priorizar aqueles que, ao nosso ver, mais se relacionam com as demandas e lutas dos sujeitos sociais
populares pelo direito humano à saúde. São eles: Atenção Básica, Regionalização e Financiamento.
Espaço para você, aluno, fazer uma síntese dos textos e enriquecê-los com sua
contribuição pessoal.
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_________________________________________________
83
ATENÇÃO BÁSICA UNIDADE V
CAPÍTULO 1
Política Nacional de Atenção Básica
– Programa Saúde da Família (PSF) e
o Programa Agentes Comunitários de
Saúde (PACS)
Você precisa fazer aquilo que pensa que não é capaz de fazer.
(Eleanor Roosevelt)
84
ATENÇÃO BÁSICA │ UNIDADE V
Atenção Básica
A Atenção Básica tem a Saúde da Família como estratégia prioritária para sua organização de acordo
com os preceitos do Sistema Único de Saúde. A Atenção Básica tem como fundamentos:
85
UNIDADE V │ ATENÇÃO BÁSICA
II. UBS com ou sem Saúde da Família que, de acordo com o desenvolvimento de suas
ações, disponibilizem:
III. equipe multiprofissional composta por médico, enfermeiro, cirurgião dentista, auxiliar
de consultório dentário ou técnico em higiene dental, auxiliar de enfermagem ou técnico
de enfermagem e agente comunitário de saúde, entre outros;
86
ATENÇÃO BÁSICA │ UNIDADE V
V. área de recepção, local para arquivos e registros, uma sala de cuidados básicos de
enfermagem, uma sala de vacina e sanitários, por unidade;
Para Unidade Básica de Saúde (UBS) sem Saúde da Família em grandes centros urbanos, recomenda-
se o parâmetro de uma UBS para até 30 mil habitantes, localizada dentro do território pelo qual tem
responsabilidade sanitária, garantindo os princípios da Atenção Básica.
Para UBS com Saúde da Família em grandes centros urbanos, recomenda-se o parâmetro de uma
UBS para até 12 mil habitantes, localizada dentro do território pelo qual tem responsabilidade
sanitária, garantindo os princípios da Atenção Básica.
87
UNIDADE V │ ATENÇÃO BÁSICA
Devem compor o financiamento da Educação Permanente recursos das três esferas de governo
acordados na CIT e nas CIBs.
Fontes: SAÚDE PÚBLICA INFORMAÇÃO EM SAÚDE: FHEMIG, 2009: Prof. Clarissa Duarte.
Trechos de: POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO BÁSICA. Série Pactos pela Saúde. Volume 4,
2006
Responsabilidades
a. Elaboração de programação municipal dos serviços básicos, inclusive domiciliares
e comunitários, e da proposta de referência ambulatorial especializada e hospitalar
para seus munícipes, com incorporação negociada à programação estadual.
88
ATENÇÃO BÁSICA │ UNIDADE V
h. Autorização, desde que não haja definição em contrário da CIB, das internações
hospitalares e dos procedimentos ambulatoriais especializados, realizados no
município, que continuam sendo pagos por produção de serviços.
Requisitos
a. Comprovar o funcionamento do CMS.
89
UNIDADE V │ ATENÇÃO BÁSICA
f. Formalizar junto ao gestor estadual, com vistas à CIB, após aprovação pelo CMS, o
pleito de habilitação, atestando o cumprimento dos requisitos relativos à condição
de gestão pleiteada.
90
ATENÇÃO BÁSICA │ UNIDADE V
Gestão
O Departamento de Atenção Básica (DAB), estrutura vinculada à Secretaria de Atenção à Saúde, no
Ministério da Saúde, tem a missão institucional de operacionalizar essa política no âmbito da gestão
federal do SUS. A execução dessa política é compartilhada por estados, Distrito Federal e municípios.
Ao DAB cabe, ainda, desenvolver mecanismos de controle e avaliação, prestar cooperação técnica a
estas instâncias de gestão na implementação e organização da estratégia Saúde da Família e ações de
atendimento básico como o de Saúde Bucal, de Diabetes e Hipertensão, de Alimentação e Nutrição,
de Gestão e Estratégia e de Avaliação e Acompanhamento.
Saúde da Família
A Saúde da Família é entendida como uma estratégia de reorientação do modelo assistencial,
operacionalizada mediante a implantação de equipes multiprofissionais em unidades básicas de
saúde. Estas equipes são responsáveis pelo acompanhamento de um número definido de famílias,
localizadas em uma área geográfica delimitada. As equipes atuam com ações de promoção da saúde,
prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais freqüentes, e na manutenção da
saúde desta comunidade. A responsabilidade pelo acompanhamento das famílias coloca para as
equipes saúde da família a necessidade de ultrapassar os limites classicamente definidos para a
atenção básica no Brasil, especialmente no contexto do SUS.
A Saúde da Família como estratégia estruturante dos sistemas municipais de saúde tem provocado
um importante movimento com o intuito de reordenar o modelo de atenção no SUS. Busca maior
racionalidade na utilização dos demais níveis assistenciais e tem produzido resultados positivos nos
principais indicadores de saúde das populações assistidas às equipes saúde da família.
Equipes de Saúde
O trabalho de equipes da Saúde da Família é o elemento-chave para a busca permanente de
comunicação e troca de experiências e conhecimentos entre os integrantes da equipe e desses com
o saber popular do Agente Comunitário de Saúde. As equipes são compostas, no mínimo, por um
médico de família, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e 6 agentes comunitários de saúde.
Quando ampliada, conta ainda com: um dentista, um auxiliar de consultório dentário e um técnico
em higiene dental.
91
UNIDADE V │ ATENÇÃO BÁSICA
Cada equipe se responsabiliza pelo acompanhamento de cerca de 3 mil a 4 mil e 500 pessoas ou de
mil famílias de uma determinada área, e estas passam a ter corresponsabilidade no cuidado à saúde.
A atuação das equipes ocorre principalmente nas unidades básicas de saúde, nas residências e na
mobilização da comunidade, caracterizando-se: como porta de entrada de um sistema hierarquizado
e regionalizado de saúde; por ter território definido, com uma população delimitada, sob a sua
responsabilidade; por intervir sobre os fatores de risco aos quais a comunidade está exposta; por
prestar assistência integral, permanente e de qualidade; por realizar atividades de educação e
promoção da saúde.
O Programa de Agentes Comunitários de Saúde é hoje considerado parte da Saúde da Família. Nos
municípios onde há somente o PACS, este pode ser considerado um programa de transição para
a Saúde da Família. No PACS, as ações dos agentes comunitários de saúde são acompanhadas e
orientadas por um enfermeiro/supervisor lotado em uma unidade básica de saúde.
Os agentes comunitários de saúde podem ser encontrados em duas situações distintas em relação
à rede do SUS:
a. ligados a uma unidade básica de saúde ainda não organizada na lógica da Saúde da
Família;
92
ATENÇÃO BÁSICA │ UNIDADE V
Valorização profissional
O Ministério da Saúde reconhece e valoriza a formação dos trabalhadores como um componente
para o processo de qualificação da força de trabalho no sentido de contribuir decisivamente para
a efetivação da política nacional de saúde. Essa concepção da formação busca caracterizar a
necessidade de elevação da escolaridade e dos perfis de desempenho profissional para possibilitar o
aumento da autonomia intelectual dos trabalhadores, domínio do conhecimento técnico-científico,
capacidade de gerenciar tempo e espaço de trabalho, de exercitar a criatividade, de interagir com
os usuários dos serviços, de ter consciência da qualidade e das implicações éticas de seu trabalho.
Desafios institucionais
Como desafios institucionais para expandir e qualificar a atenção básica no contexto brasileiro
destaca-se:
2. contínua revisão dos processos de trabalho das equipes de saúde da família com
reforço as estruturas gerenciais nos municípios e estados;
93
UNIDADE V │ ATENÇÃO BÁSICA
Desempenho
»» Modelo de Atenção à Saúde do Brasil é referência internacional.
Estadual
94
ATENÇÃO BÁSICA │ UNIDADE V
Municipal
Transparência do SUS
Está em curso um projeto do Governo Federal chamado “Brasil Transparente”, visando
à preparação de medidas que delineiam um plano integrado de aperfeiçoamento
da gestão de recursos públicos e de combate à corrupção e ao desperdício. Tal plano
compreende as seguintes etapas das políticas públicas: planejamento, orçamento,
execução financeira, administração dos contratos e controle da utilização dos
recursos públicos.
95
UNIDADE V │ ATENÇÃO BÁSICA
Programa Saúde da Família; Piso de Atenção Básica Parte Fixa; Combate às Carências
Nutricionais; Controle de Endemias; Controle do Câncer do Colo do Útero; Assistência
Farmacêutica; Qualidade do Sangue; Humanização do Parto; Vacinação; SUS
Descentralização Agentes Comunitários de Saúde; Saúde Indígena; Gestante de Alto
Risco Urgência e Emergência; e Estruturação do PPA: Visão do Planejamento Setorial
da Saúde. Essas cartilhas também podem ser consultadas pela Internet na Biblioteca
Virtual do Ministério da Saúde. Para tento basta acessar a página do Ministério
da Saúde <www.saude.gov.br>, em seguida clicar na Biblioteca e consultar suas
publicações.
Referência: SUS princípios e Conquistas – Ministério da Saúde, Secretaria Executiva, Brasília, DF,
2000.
96
ATENÇÃO BÁSICA │ UNIDADE V
97
Para (não) Finalizar
O SUS nos seus 20 anos: reflexões num contexto de mudanças. Georgia Costa de Araújo
Souza e Iris do Céu Clara Costa. Saúde Soc. São Paulo, v.19, n.3, p.509-517, 2010. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v19n3/04.pdf >. Acesso em: 4.7.2012.
A partir de uma breve retrospectiva sobre o direito à saúde conquistado pelo cidadão brasileiro, este
artigo tem como objetivo discorrer sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) ao longo da sua trajetória
de 20 anos, destacando em forma de análise crítica os avanços conquistados na saúde e os desafios
a serem superados. São discutidas as temáticas do direito à saúde como responsabilidade do Estado
a partir da Conferência de Alma-Ata, da Constituição Federal e das Leis Orgânicas da Saúde; as
diretrizes do SUS envolvendo as competências da União, do Estado e do Município. Discute ainda
a importância da Estratégia Saúde da Família na consolidação da Atenção Básica no Brasil, as
dificuldades do processo de regionalização e o papel da gestão e da participação social como bases
para a construção do SUS que queremos.
Introdução
Conforme descrito, a Constituição Federal de 1988 consagrou a saúde como “direito de todos e dever
do Estado, garantida mediante políticas sociais e econômicas que visam à redução do risco de doença
e de outros agravos e possibilitando o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção,
proteção e recuperação” (Brasil, 1988). Essa definição conceitual adquire sua versão prática com a
instituição formal do SUS, quando no Capítulo II, artigo 198 da mesma Constituição, é relatado que
as ações e os serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada, hierarquizada e constituem
um sistema único, organizado de acordo com as diretrizes: descentralização, atendimento integral
e participação da comunidade. Assim, estava criado o Sistema Único de Saúde, resultado de uma
política social e universalista, que tem a Constituição Federal e as Leis no 8.080 e no 8.142, ambas de
1990, como sua base jurídica, constitucional e infraconstitucional (Brasil, 2007a).
98
PARA NÃO FINALIZAR
A Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990 – Lei Orgânica da Saúde –, dispõe acerca das condições
para a promoção, proteção e recuperação da saúde, organização e funcionamento dos serviços
correspondentes, mostrando de forma clara os objetivos do SUS, suas competências e atribuições,
assim como as funções da União, dos Estados e dos Municípios (Brasil, 1990a). A Lei no 8.142, de
28 de dezembro de 1990, dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e sobre as
transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde (Brasil, 1990b). Tais
leis consolidam o papel do município como o principal executor das ações de saúde, caracterizando
ampliação do processo de descentralização que já havia sido exposto desde a 8a Conferência de
Saúde e que significava um avanço e contraposição ao modelo ditatorial vigente naquele momento.
A dificuldade dos gestores para promover a integração entre estados, municípios e as redes
assistenciais estatais com os serviços de abrangência nacional tem levado a problemas no acesso
aos serviços e ao comprometimento da universalidade e integralidade (Vasconcelos, 2005).
Assim, diversos usuários não usufruem do direito universal à saúde. A existência de gestores mais
preocupados com campanhas políticas eleitorais do que com a saúde dos seus cidadãos leva a falhas
graves no sistema e o mais prejudicado com isso é o próprio povo. Nesse sentido, a melhoria na
gestão reflete-se, consequentemente, num melhor aporte financeiro do setor, com um equânime
repasse de recursos, melhor utilização e aplicação desse investimento, maior remuneração salarial
para os profissionais da saúde, com o possível estabelecimento de vínculos, hoje ainda bastante
precarizados, gerando desmotivação e desestímulo entre os servidores.
99
PARA NÃO FINALIZAR
Não obstante, a precarização do trabalho dos os profissionais da rede que, por diversas razões, não
recebem salários justos, não têm vínculos empregatícios nem direitos trabalhistas. Essa situação
profissional pode culminar na realização de um trabalho sem compromisso com a comunidade, com
a ausência de vínculos profissionais-usuários tão preconizados pela Estratégia Saúde da Família
(ESF), gerando uma relação fantasiosa entre empregador/empregado, do tipo “você faz de conta
que me paga e eu faço de conta que trabalho”.
A Estratégia Saúde da Família como reestruturante da Atenção Básica responde por este nível de
atenção no SUS e pelo encaminhamento dos atendimentos que exijam média e alta complexidade
– sistema de referência – para os níveis de atenção Secundária e Terciária. Em diversos municípios
brasileiros, a ESF não funciona de forma integral e equitativa, o que acontece por diversos motivos,
dentre os quais podemos destacar: a contratação de profissionais sem perfil para esse nível de
atenção; a precarização do trabalho ou, ainda, a ineficiente administração de gestores que induzem
os profissionais a realizarem ações meramente curativas, visando atender o maior número de
pessoas para que isso seja mostrado à sociedade como uma atuação da política local, tendo em
vista as campanhas eleitorais. Tais ações ainda são muito valorizadas pela população em geral
que sempre “recebeu” a saúde na sua maneira assistencial-curativista, e que, portanto, ainda não
percebe o verdadeiro sentido da saúde como um bem-estar biopsicossocial garantido a partir de
ações de prevenção e promoção de saúde.
Nessa perspectiva, a formação dos profissionais da saúde compõe o conjunto das atividades que
precisam ser continuamente revistas, minimizando situações em que o profissional não tenha perfil
para o trabalho coletivo, integrado, interdisciplinar, entre outros, necessário para o SUS que queremos
construir. Segundo Amâncio Filho (2004), é indispensável construir um processo educacional que
articule a formação profissional com as necessidades e demandas da sociedade, como estratégia
para o desenvolvimento econômico, social e cultural. Por conseguinte, essa articulação deve ocorrer
desde o momento da graduação ou da formação técnica, até momentos posteriores à inclusão dos
profissionais no serviço, através de estratégias de educação permanentes.
Além da gestão, é necessária a qualificação do controle social, envolvendo as múltiplas ações que
as forças sociais desenvolvem para influenciar a formulação, execução, fiscalização e avaliação das
políticas públicas e dos serviços no campo da saúde (GAMARRA JÚNIOR, 2006). Nesse sentido,
Gamarra Júnior (2006) expõe como desafios a serem superados sobre o controle social os problemas
de formação dos conselheiros, a dificuldade dos cidadãos para conseguir acesso às informações
do sistema, a falta de cumprimento das deliberações dos conselhos por parte dos gestores, o
desconhecimento por parte da grande massa da população dos seus direitos como controladores
do SUS, entre outros. Dessa forma, fundamental se faz a qualificação dos conselhos de saúde,
ampliando-os em locais onde já existam e implantando-os em locais onde ainda não ocorrem.
100
PARA NÃO FINALIZAR
Essas e outras limitações que o SUS enfrenta merecem e precisam ser do conhecimento de to- dos
para que se busquem alternativas e sólidas resoluções, como sugere Campos (2007) através de um
movimento em defesa de políticas sociais e de distribuição de renda, da apresentação do SUS para a
sociedade como uma reforma social significativa com impactos sobre o bem-estar e a proteção social
e do seu desempenho concreto, capaz de melhorar as condições sanitárias e de saúde das pessoas.
Esse se configura no maior desafio com relação ao SUS.
As mudanças pelas quais o SUS está sendo conduzido representam potenciais desafios aos gestores
em todas as esferas de governo. O estabelecimento do Pacto pela Saúde, a Regionalização solidária
e cooperativa, a Política Nacional de Humanização, entre outras, constituem-se ações que buscam a
superação dos principais entraves do sistema.
No ano de 2006, foi estabelecido o Pacto pela Saúde, que introduz um sentido de gestão pública
por resultados e de responsabilização sanitária, aprofundando a descentralização para estados e
municípios, através de um acordo interfederativo articulado em três dimensões: o Pacto em Defesa
do SUS, que representa um movimento social em defesa do SUS; o Pacto pela Vida, que reforça o
movimento da gestão pública por resultados, com prioridades para a saúde do idoso, a redução
da mortalidade infantil e materna, o controle das doenças emergentes ou endemias, a redução
das vítimas por câncer de colo de útero e de mama, a promoção da saúde e o fortalecimento da
Atenção Primária; e o Pacto de Gestão que estabelece responsabilidades mais claras para cada ente
federado, com regionalização integrada das ações e serviços de saúde (BRASIL, 2007a, BRASIL,
2006b). O Pacto pela Saúde representa um compromisso público com perspectiva de superar as
dificuldades enfrentadas pelo SUS dando ênfase às necessidades de saúde da população. Constitui-
se num conjunto de reformas institucionais do SUS pactuado entre as três esferas de gestão (União,
Estados e Municípios) com o objetivo de promover inovações nos processos e instrumentos de
gestão, visando alcançar maior eficiência e qualidade das respostas do Sistema Único de Saúde.
101
PARA NÃO FINALIZAR
Com relação à Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão no Sistema Único de Saúde,
esta vem sendo entendida como um caminho favorável à superação de desafios na saúde, através
da ampliação do acesso com qualidade aos serviços e bens de saúde, da corresponsabilização entre
trabalhadores, gestores e usuários nos processos de gestão e atenção, do apoio à construção de redes
cooperativas, solidárias e comprometidas com a produção de saúde e com a produção de sujeitos
(BRASIL, 2008).
Entende-se, portanto, o SUS como uma política viva que se encontra em pleno curso de mudança e
construção voltadas para a efetivação da saúde da população brasileira por meio dos princípios da
universalidade, integralidade e equidade, e para o enfrentamento dos desafios vivenciados ao longo
de sua trajetória de 20 anos.
Conclusão
O Sistema Único de Saúde representa avanços e conquistas na saúde de todos os brasileiros e,
comemorando seus 20 anos de existência, conseguiu enfrentar muitas barreiras, o que resultou,
sobretudo, no direito da população brasileira de contar com um serviço de atenção à saúde. Sendo
um sistema de saúde que está em construção, passa por inúmeras mudanças para efetivação dos
seus ideários, tendo como pressupostos a promoção, proteção e recuperação da saúde.
O SUS está consolidado no nosso país, mas enfrenta desafios constantemente, dentre os quais,
a qualificação da gestão e do controle social, o fortalecimento e a qualificação da Atenção Básica
como estratégia organizadora das redes de cuidado em saúde, as dificuldades no acesso às ações
e serviços de saúde, a fragmentação das políticas e programas de saúde, a organização de uma
rede regionalizada e hierarquizada de ações e serviços de saúde, o reconhecimento da autonomia
dos entes federados, entre outros. Esses dilemas conjunturais desafiam os gestores e precisam ser
assumidos como responsabilidades para a concretização do SUS que queremos.
Ao longo desse tempo, vimos que não é fácil tornar práticos os seus princípios de universalidade,
integralidade e equidade. Vislumbra-se, assim, para o enfrentamento dos desafios, a articulação
entre os atores envolvidos, gestores, servidores e usuários, com o desejo de fazer o melhor para a
população brasileira, cabendo a todos os comprometidos trabalharem em prol do êxito do SUS, a
fim de que as políticas públicas sejam bem aplicadas e possam constituir meios que promovam a
qualidade de vida das pessoas.
102
Referências
BARATA. B. R. L. et al,. Por um processo de descentralização que consolide os princípios do Sistema
Único de Saúde. Epidemiologia e Serviços de Saúde v. 13, n. 1-jan./mar., 2004. Disponível em:
<http://scielo.iec.pa.gov.br/pdf/ess/v13n1/v13n1a03.pdf>.
BODSTEIN, R. Atenção Básica na agenda da saúde. Ciência e Saúde Coletiva, 7 (3): 401-412,
2002. Disponível em: < http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/630/63070302.pdf >
BOSI, M.L.M et al., Cidadania, participação popular e saúde: com a palavra, os usuários da
Rede Pública de Serviços: Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 14(2):355-365, abr./jun., 1998.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csp/v14n2/0113.pdf>
CAMPOS. S. W. G. Reflexões temáticas sobre equidade e saúde: o caso do SUS. Saúde e Sociedade
v. 15, n. 2, p. 23-33, maio/ago. 2006. Disponível: <http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v15n2/04.pdf >
CUNHA J.P.P. et al.,: Sistema Único de Saúde – SUS: princípios. In: CAMPOS, F. E., OLIVEIRA
JÚNIOR, M., TONON, L. M. Cadernos de Saúde. Planejamento e Gestão em Saúde. Belo
Horizonte: COOPMED, 1998. cap. 2, p. 11-26.
CORDEIRO, Hésio. O Instituto de Medicina Social e a luta pela reforma sanitária: Contribuição à
História do SUS. PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 14(2):343-362, 2004.
COSTA, C.C. I, et al,. O SUS nos seus 20 anos: reflexões num contexto de mudanças. Saúde Soc.
São Paulo, v.19, n.3, p.509-517, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v19n3/04.
pdf >.
GUIZARDI, F. L.et al.,: Dilemas culturais, sociais e políticos da participação dos movimentos
sociais nos Conselhos de Saúde. Ciência & Saúde Coletiva, 11(3):797-805, 2006. Disponível em:
< http://www.scielo.br/pdf/csc/v11n3/30994.pdf >
JESUS, A.L,W et al. Revisão sistemática sobre o conceito de acesso nos serviços de saúde:
contribuições do planejamento. Ciência & Saúde Coletiva, 15(1):161-170, 2010. Disponível em:
< http://www.scielosp.org/pdf/csc/v15n1/a22v15n1.pdf >
103
REFERÊNCIAS
MARTINS, et al. Conselhos de Saúde e a Participação Social no Brasil: Matizes da Utopia. Physis
Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 18 [ 1 ]: 105-121, 2008: Disponível em: <http://www.
scielo.br/pdf/physis/v18n1/v18n01a07.pdf >
RIBEIRO, M. J: Estado, conselhos de saúde e grupos de interesses. Cad. Saúde Pública., Rio de
Janeiro, 13(1):81-92, jan./mar., 1997. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csp/v13n1/0226.
pdf >
104