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A Construção do Campo da

Saúde Coletiva

Brasília-DF.
Elaboração

Profa. Ms. Marina Rodrigues Barbosa

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

Apresentação................................................................................................................................... 4

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa...................................................................... 5

Introdução...................................................................................................................................... 7

Unidade i
Definindo Saúde Coletiva................................................................................................................. 9

capítulo 1
Saúde coletiva: a nova saúde pública ou novo campo de paradigmas? ...................... 9

capítulo 2
Saúde coletiva: conceitos históricos da ideia e do conceito ................................... 21

capítulo 3
Integralidade e interdisciplinaridade em equipes multiprofissionais na
saúde coletiva .................................................................................................................. 26

capítulo 4
A construção do conhecimento em saúde coletiva................................................... 33

capítulo 5
O contexto ambiental e da saúde no processo de desenvolvimento do campo da
saúde coletiva................................................................................................................... 41

Unidade iI

capítulo 1
História do campo da alimentação e nutrição na saúde pública no Brasil............... 52

capítulo 2
A conjuntura atual da alimentação e nutrição em saúde coletiva e as políticas
nacionais .......................................................................................................................... 64

Unidade iII

capítulo 1
Saúde pública e saúde
coletiva – campo e núcleo ............................................................................................. 74

Para (não) Finalizar....................................................................................................................... 81

Referências..................................................................................................................................... 84
Apresentação
Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Saúde coletiva é uma expressão utilizada para se referir à saúde como evento social, tanto no campo
do saber como no prático, e de interesse público. Ao longo das últimas décadas, em particular,
o movimento de constituição do campo da saúde coletiva remonta ao trabalho teórico e político
despertado pelos docentes e estudiosos de departamentos e instituições universitárias e de escolas
de saúde pública da América Latina e do Brasil.

Aspectos problemáticos dos movimentos para reforma da saúde, como os da Saúde Pública e
Higiene, Medicina Preventiva, Medicina Comunitária, Medicina de Família e Atenção Primária
à Saúde, delinearam os objetivos das práticas e investigações em saúde coletiva que compreende
algumas dimensões abordadas abaixo.

O conceito de saúde coletiva inclui essencialmente questões relacionadas a: condições de saúde da


população em geral e de grupos específicos do ponto de vista demográfico, epidemiológico, cultural
e socioeconômico; serviços de saúde; estudos do processo do trabalho em saúde; organização social;
políticas de formulação e implantação em saúde, assim como tecnologias utilizadas em saúde.

As concepções e práticas populares de saúde, influenciadas pelas tradições, crenças e cultura de um


modo geral, e as investigações históricas, sociológicas e antropológicas também estão associadas à
produção de conhecimento no campo do saber em saúde.

Ao longo deste material, refletiremos, discutiremos e apontaremos aspectos relacionados a esses


determinantes e componentes do que chamamos de saúde coletiva e sua construção contínua.

Objetivos
»» Promover a compreensão dos conceitos de saúde coletiva e suas relações.

»» Analisar como ocorre a transdisciplinaridade entre as equipes multiprofissionais


na saúde.

»» Compreender sobre alimentação e nutrição em saúde coletiva e saúde pública.

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Definindo Saúde Unidade i
Coletiva

O diálogo é este encontro dos homens mediatizados pelo mundo, para


pronunciá-lo [...] o diálogo se impõe como caminho pelo qual os homens
ganham significado enquanto homens. [...] ele é o encontro onde se solidariza
o refletir e o agir. [...] Não é possível a pronúncia do mundo, que é um ato de
criação e recriação, se não há amor que a infunda.”
Paulo Freire (1983, p. 93)

capítulo 1
Saúde coletiva: a nova saúde pública
ou novo campo de paradigmas?

O que é a saúde coletiva? O movimento da saúde coletiva pode se apresentar como


um novo campo de paradigma científico? Quais perspectivas políticas, teóricas e
metodológicas devem ser atingidas para alcançar mudanças nestes paradigmas do
campo da saúde? Quais modelos de compreensão da situação de saúde poderão ser
produzidos? Quais serão os efeitos das transformações, sobre a retórica e a prática
no campo da saúde?

O movimento da saúde coletiva


A humanidade tem experimentado, na segunda metade do século XX, transformações rápidas e
profundas nas esferas econômica, cultural, social e política superiores a outros períodos da história
(BANCO MUNDIAL, 1993; FERREIRA, 1992; MACEDO, 1992; ZATTI; MENDES, 2007). Os avanços
das tecnologias de informação, juntamente com a internacionalização da produção, distribuição e
consumo, conduzem à globalização. A macroeconomia da globalização gera consequências como:
desterritorialização da força de trabalho, transnacionalização empresarial, desemprego estrutural,
entre outras. Junto a isso, é possível verificar o desrespeito aos direitos humano, aumento das
desigualdades, eclosão de movimentos nacionalistas, exacerbação dos conflitos étnicos, deterioração
do espaço urbano agressão ao meio ambiente e a intensificação da violência (FERREIRA, 1992;
MACEDO, 1992).

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UNIDADE I │ Definindo Saúde Coletiva

A década de 1960 foi um período marcado pelo debate sobre a saúde e suas relações com o
desenvolvimento social e econômico. O debate se ampliou na década de 1970, somando a extensão
de cobertura dos serviços, o reconhecimento da responsabilidade social em garantir os cuidados
básicos e o direito à saúde que possibilitaram o estabelecimento do célebre lema “Saúde para todos
no ano 2000” (SPT-2000) (WHO, 1995). Todavia, os centros hegemônicos da economia mundial,
revalorizados, são privilegiados pela alocação de recursos e questionavam a provisão de bens e
serviços para o atendimento de necessidades sociais, inclusive saúde, como dever estatal. Enquanto
a estratégia da atenção primária à saúde é difundida pela Conferência de Alma-Ata, a “nova ordem
mundial”, inspirada no neoliberalismo que se estabeleceu nos anos 1980, provoca um intenso
enfraquecimento do enfrentamento coletivo dos problemas de saúde. A saúde pública, no âmbito
institucional, foi bastante comprometida, principalmente, nos países dependentes da economia
capitalista pelo corte nos gastos públicos e pela opção do “estado mínimo” (PAIM et al., 1998).

Objetivando a superação dessa crise, vários esforços têm sido propostos, apontando, cada um
deles, para a necessidade da construção de novos paradigmas no “campo da saúde pública”
(AFIFI; BRESLOW, 1994). Iniciativas como as da Organização Panamericana da Saúde (OPS) de
reavaliar “a teoria e a prática da saúde pública” (PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION,
1992) e a renovação da estratégia “saúde pública para todos”, por meio do movimento “nova saúde
pública” (FRENK, 1992; WHO, 1995), assim como a iniciativa do Banco Mundial de debater as
“prioridades na pesquisa e desenvolvimento em saúde” (WORLD BANK, 1996), fazem parte dos
esforços para superação da crise no campo da saúde pública.

Nessa conjuntura, faz-se necessário e emergente discutir o campo da saúde na esfera pública, coletiva
e social e as propostas de ação decorrentes. No caso específico da América do Sul, a emergência
das duas últimas décadas de um campo nomeado como saúde coletiva (PAIM, 1992) permite a
identificação de pontos de conexão aos movimentos de interação da saúde pública institucionalizada,
seja no âmbito científico seja no campo de práticas. Nessa dimensão, as concepções de estabilidade
do campo da saúde como forma de superação da chamada “crise da saúde pública” podem significar
uma conjuntura para realmente incorporar o complexo “promoção-saúde-doença-cuidado” em uma
nova dimensão paradigmática, possibilitando as metas de saúde para todos por meio de políticas
públicas que tenham maior e mais efetiva participação da sociedade (PAIM et al., 1998).

Há a necessidade de elaboração de um marco teórico-conceitual capaz de reconstruir o campo social


da saúde, amodernando-o frente às evidências de esgotadura do paradigma científico que sustenta
as suas práticas. Paim e colaboradores (1998), no seu trabalho intitulado ‘Saúde coletiva: uma ‘nova
saúde pública’ ou campo aberto a novos paradigmas?” buscaram compreender este marco teórico-
conceitual a partir de um estudo exploratório da oratória paradigmática da saúde, vivenciadas nas
tramas produtoras e disseminadoras dos seus elementos ideológicos. Para realizá-lo, em primeiro
lugar, é necessário analisar os principais fundamentos de discurso dos movimentos ideológicos
que construíram, ao longo da história, o cenário social da saúde desde a II Guerra Mundial até
a conjuntura atual, pretendendo-se uma reforma dos alicerces da saúde pública. Em seguida,
sistematizaram como marco conceitual da saúde coletiva seu potencial, em implantação na América
Latina, de um conhecimento transdisciplinar.

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Definindo Saúde Coletiva│ UNIDADE I

Enfim, com as reflexões, práticas e investigações no campo da saúde, pretende-se propor que este
movimento de renovação da saúde pública pode melhor se associar a novos paradigmas científicos
capazes de discutir o objeto complexo saúde-doença-cuidado respeitando sua historicidade e
integralidade (PAIM et al., 1998).

Movimentos no campo social da saúde


Terris (1992), em seu texto sobre as tendências em saúde pública nas Américas, atualizou a definição
de saúde pública concebida por Winslow, na década de 1920, nos seguintes termos: “a arte e a
ciência de prevenir a incapacidade, prolongar a vida e promover a saúde física e mental mediante
os esforços organizados da comunidade”. A partir desse entendimento, Terris estabelece quatro
tarefas básicas para a teoria e a prática de uma “nova saúde pública”, são elas: prevenir as doenças
crônicas não infecciosas, prevenir as doenças infecciosas, promover a saúde, melhorar a atenção
médica e a reabilitação/tratamento.

Frenk (1992), em seu trabalho que apontando questões sobre uma “nova saúde pública”, considerou
como condições e respostas para um redimensionamento da saúde pública as bases científicas das
ciências biológicas e da saúde, ciências sociais e comportamentais, aplicando os conhecimentos nos
problemas e programas direcionados às populações. Para melhor definir o novo campo científico,
Frenk desenvolveu uma investigação em saúde que distingue os níveis de atuação individual e
específica que se concentram nas pesquisas celulares e biomédicas e na pesquisa clínica. Em relação
ao nível populacional, aponta como objeto de análise as condições, pesquisa epidemiológica, e
as reações sociais diante dos problemas de saúde, políticas e organização dos sistemas de saúde,
pesquisa em sistemas de saúde.

Testa, no seu trabalho de 1992, “Pensar em saúde”. Ao investigar as reações sociais no âmbito
da saúde pública, denomina o que é realizado em saúde como “atenção primitiva à saúde”; ou
seja, países que possuem serviços diferenciados conforme os diferentes grupos sociais e que se
preocupam, fundamentalmente, em diminuir os gastos em saúde com a organização de serviços
de segunda categoria para a população considerada inferior. Ainda, no mesmo estudo, a partir de
um olhar sobre as políticas sociais, busca o redimensionamento teórico da saúde como “âmbito de
força” e de emprego da ciência e reconhece a saúde pública como uma prática social e, portanto,
uma construção da história.

A saúde, fundamentalmente uma esfera coletiva, social e pública, passa ao longo da história por
frequentes movimentos de reconstrução das práticas sanitárias resultantes das diversas articulações
entre Estado e sociedade que determinam as reações sociais aos problemas e às necessidades de
saúde. Na segunda metade do século XVIII, as bases dos discursos sociais relacionados à saúde
afloram na Europa Ocidental em um progresso histórico de intervenções e sujeitos (FOUCAULT,
1966; 1979).

Segundo Rosen, a higiene, vista como um conjunto de normas e preceitos a serem seguidos no cunho
individual, produz um discurso da boa saúde limitado à esfera moral. Por outro lado, as propostas
das políticas médicas instituem a responsabilidade dos órgãos do Estado como designador de
regulamentos, leis e políticas relacionadas à saúde e como autor fiscalizador da sua prática social,

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UNIDADE I │ Definindo Saúde Coletiva

de tal modo que remete apenas as práticas e o discurso de saúde à esfera político-jurídica (ROSEN,
1980).

No século XIX, a maior parte dos países europeus teve um progresso social de relevância histórica:
a Revolução Industrial, que produziu um imenso impacto nas condições de vida e de saúde
da população. Devido à formação das classes trabalhadoras e ao aumento da sua participação
política, Inglaterra, França e Alemanha, países que atingiram um maior desenvolvimento das
relações produtivas, rapidamente vincularam temas relacionados à saúde na pauta das exigências
dos movimentos sociais do período. Entre 1830 e 1880, despertam nesses países propostas de
entendimento da crise sanitária como um processo essencialmente político e social que, em seu
conjunto, receberam a designação de Medicina Social (ROSEN, 1980; SILVA, 1973). Em suma,
pleiteia-se nesse movimento que a saúde, junto à Medicina, seja uma política aplicada no âmbito
da saúde individual, e que a política, neste caso, nada mais é que o emprego da Medicina no campo
social, curando-se os males da sociedade. A principal estratégia de transfiguração da realidade de
saúde é a política, na expectativa de que os movimentos populares deveriam resultar em democracia,
justiça e igualdade, princípios determinantes da saúde social. Embora derrotado no plano político, o
movimento da Medicina Social gera relevante produção conceitual e doutrinária, o que propicia as
bases dos esforços decorrentes de pensar a questão da saúde na sociedade (SILVA, 1973; AROUCA,
1975; DONNANGELO, 1976; PAIM, 1976; ROSEN, 1980; GAUMER, 1995; DESROSIERS, 1996).

Em paralelo, estrutura-se, principalmente na Inglaterra e nos Estados Unidos, uma reação a esta
problemática integrada à ação do Estado no campo da saúde, compondo um movimento conhecido
como sanitarismo (SILVA, 1973). Os sanistarista, em sua maioria, funcionários das agências oficiais
de saúde e bem-estar recém-implantadas, articulam um discurso e uma prática relacionados às
questões da saúde, executados nas aplicações de tecnologia e em preceitos de organização racional das
atividades preventivas, de imunização e saneamento destinados aos setores excluídos da população
(DONNANGELO, 1976; GAUMER, 1995; SILVA, 1973). O surgimento do modelo microbiano nas
ciências básicas de saúde representa um grande apoio ao movimento sanitarista que, no caminho
da primazia, já então batizado de saúde pública, praticamente reassume as diretrizes da teoria e da
prática no âmbito da saúde social no mundo ocidental (DESROSIERS, 1996).

No início do século XX, com o famigerado Relatório Flexner, estimula-se nos Estados Unidos uma
intensa reavaliação das bases científicas da Medicina, que contribui com a redefinição do ensino
e da prática médica caseados em princípios tecnológicos rigorosos. Focada no conhecimento
experimental proveniente da pesquisa básica realizada, na maioria das vezes sobre doenças
infecciosas, o modelo conceitual flexneriano reforça a separação entre privado e público, indivíduo
e coletivo, curativo e preventivo, biológico e social (RODRIGUES, 2008). É nessa conjuntura que
emergem as primeiras escolas de saúde pública, as quais contaram com intensos investimentos de
organizações, como a Fundação Rockefeller, sendo a primeira nos Estados Unidos e, em seguida,
em vários países, inclusive na América Latina (FEE, 1987). As referências do movimento da saúde
pública, de fato, não expressam desacordo algum com os fundamentos positivistas da do Relatório
Flexner, conforme os centros de formação de sanitaristas e epidemiologistas da época (FEE, 1987;
RODRIGUES, 2008).

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Definindo Saúde Coletiva│ UNIDADE I

Na década de 1940, conjunturas nacionais e internacionais – reflexos sociais da crise econômica


de 1929: o incremento de custos decorrentes do aumento da tecnologia, da especialização e da
prática médica – conduzem, nos Estados Unidos, à implementação de um sistema nacional de
saúde (AROUCA, 1975). Em decorrência da ação direta do potente lobby das corporações médicas
dos Estados Unidos, reconstruindo o setor da saúde no modelo da maioria dos países europeus,
foram propostas modificações no ensino médico, com a incorporação de uma ênfase na prevenção
(AROUCA, 1975; DESROSIERS, 1996).

Do ponto de vista organizacional, foi proposta a consolidação de departamentos de Medicina


Preventiva em substituição às tradicionais cátedras de higiene, sendo, então, capazes de atuar
como elementos de disseminação dos conteúdos de administração pública, ciências de conduta e
epidemiologia até o momento amparado nas escolas de saúde pública (LEAVELL, 1976; SILVA,
1973). O conceito de saúde, nessa proposta, é representado pelo processo saúde-doença, que
justifica o conceito de intervenções prévias à ocorrência de sinais e sintomas na fase subclínica
(LEAVELL, 1976). O conceito de prevenção é redefinido por conta da ampliação de seu sentido
primário, secundário e terciário, sendo incorporado à prática médica (AROUCA, 1975).

Organismos internacionais do campo da saúde adotam com entusiasmo e imediatamente o novo


conceito, tal fato contribuiu para a internacionalização da Medicina Preventiva já como movimento
ideológico (AROUCA, 1975). Na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina, realizam-se
encontros e congressos nos anos subsequentes, como os patrocinados pela Organização Mundial
da Saúde (OMS) na França, em 1952, e na Suécia, no ano seguinte; e os patrocinados pela OPS,
na América Latina, como: Seminários de Viña del Mar (Chile) em 1955 e no México, em 1956
(GRUNDY, 1958; AROUCA, 1975; DESROSIERS, 1996).

O sucesso desse movimento em seu país de origem é inquestionável. O único país industrializado
que, até hoje, não estruturou um sistema de saúde universal de assistência é os Estados Unidos.
Embora haja expectativas e apoio de fundações e instituições internacionais, na América Latina o
único efeito do movimento preventista parece ser a instituição de escolas e departamentos de estudo
e investigação em Medicina Preventiva em países que, já na década de 1960, passavam por processos
de reforma universitária (SILVA, 1973; AROUCA, 1975). Na Europa, em países que já possuíam
estruturas acadêmicas de longa tradição e que no pós-guerra fortaleceram sistemas nacionais de
saúde com acesso universal baseado na proposta da Medicina Preventiva, não há maior comoção,
nem sobre o ensino nem sobre o desenvolvimento da assistência à saúde (GRUNDY, 1958).

A famigerada década de 1970 marca nos Estados Unidos um cenário de intensa mobilização popular
e intelectual ao redor de questões sociais relevantes, como a Guerra do Vietnã, o racismo, os direitos
humanos e a pobreza urbana. Diferentes modelos de interferência são testados e implementados
como movimentos organizados no contexto local das comunidades urbanas, destinados ao
aumento do campo da ação social nos setores da educação, saúde, saúde mental e habitação
(DONNANGELO, 1982). Organiza-se neste momento, no âmbito da saúde, o movimento da saúde
comunitária, também conhecido como Medicina Comunitária, sedimentado na implantação de
centros comunitários de saúde, administrados por organizações não lucrativas e subsidiados pelo
governo federal, designados a prestar cuidados básicos à saúde da população e a desenvolver ações

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UNIDADE I │ Definindo Saúde Coletiva

preventivas em áreas delimitadas geograficamente (SILVA, 1973; AROUCA, 1975; DONNANGELO,


1982; NUNES, 2008).

O discurso da Medicina Preventiva é então recuperado pela proposta da saúde comunitária,


particularmente o foco não é somente em problemas físicos de saúde, mas também em questões
psicológicas, sociológicas e antropológicas. Contudo, o conhecimento dos métodos psicossociais
e socioculturais não está aqui destinado a facilitar a gestão e relação médico-paciente, como no
movimento anterior, mas sim com o objetivo de permitir a integração das equipes de saúde nas
regiões e comunidades com demanda maior, por meio dos programas de educação em saúde
(DONNANGELO, 1982).

Com a aprovação da Organização Mundial de Saúde, os preceitos dos programas comunitários


de saúde passam a dar maior ênfase à dimensão da assistência em saúde, visando ao aumento da
cobertura dos serviços para populações de áreas rurais, até então excluídas do cuidado à saúde.
Efetivamente, data de 1953 a definição dos “serviços básicos de saúde” da OMS (WHO, 1995)
cobrindo as seguintes atividades:

1. atenção à saúde da mulher e da criança;

2. controle de doenças transmissíveis;

3. saneamento ambiental;

4. manutenção de sistemas de informação;

5. educação em saúde;

6. enfermagem de saúde pública;

7. assistência médica de baixo grau de complexidade.

A revisão de 1963 da definição acima propôs incluir entre os “serviços básicos de saúde” da OMS a
participação da comunidade (MINAYO, 1992).

Na América Latina, principalmente no Chile, no Brasil e na Colômbia, os programas de saúde


comunitária são implementados com o patrocínio de fundações norte-americanas e OPS
(DONNANGELO, 1976). Há mais de 30 anos (1977) a Assembleia Mundial da Saúde lança o “Saúde
para todos no ano 2000”, com a proposta de ampliar e estender a cobertura dos serviços de saúde
básicos, ou seja, a assistência à saúde (PAIM, 1986; WHO, 1995). A Conferência Internacional
sobre Atenção Primária à Saúde, em Alma Ata (1978), promovida pela OMS, consolida a saúde
como direito do homem e responsabilidade política dos governos, e reconhece a sua determinação
intersetorialidade (WHO, 1995; 1995). Há também, como uma estratégia de operacionalização do
“Saúde para todos no ano 2000”, a Atenção Primária à Saúde, com incorporação dos elementos do
discurso da saúde comunitária. Já na década de 1980, os Sistemas Locais de Saúde (SILOS) surgem
com a ideia de hierarquização da atenção à saúde, e o discurso da saúde comunitária agrega-se com
as primeiras iniciativas da reforma setorial da saúde nos países subdesenvolvidos (PAIM, 1992).

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Definindo Saúde Coletiva│ UNIDADE I

Em 1974, no Canadá, o Relatório Lalonde (CANADA, 1974) define as bases de um movimento pela
promoção da saúde, consignando de maneira primordial não só “anos à vida”, mas “vida aos anos
dos indivíduos”. Neste momento, estabelece o modelo do “campo da saúde” composto por quatro
polos: a biologia, estudo dos sistemas internos complexos e herança genética; a administração e
organização dos serviços, concebendo os componentes de recuperação, curativo e preventivo;
o ambiente, envolvendo o físico, o social e o psicológico; e o estilo de vida. Neste contexto, é
importante considerar a prioridade dos tomadores de decisão, o agravo dos problemas de saúde, a
disponibilidade de soluções efetivas, os custos e as iniciativas do Estado com a promoção da saúde
na regulação, na pesquisa, na eficiência da atenção à saúde e no estabelecimento de objetivos.

Com base nesses preceitos e estratégias, implanta-se em várias províncias do Canadá uma rede de
núcleos comunitários de saúde e ações sociais integrados a um sistema de Medicina Comunitária,
representando uma reunião dos modelos de atenção precedentes. De acordo com Desrosiers (1996),
a reforma do sistema de saúde canadense teve como objetivos:

reunir serviços sociais e de saúde sob a alçada de um mesmo ministério:


Ministério dos Assuntos Sociais, e os Centros Locais de Serviços Comunitários,
na presença de uma equipe multidisciplinar composta de agentes sanitários
e sociais; favorecer a atuação de medicina global, através do estreitamento
de aspectos clínicos e especialistas da saúde pública no âmbito dos hospitais;
enfim, assegurar uma participação importante da comunidade na organização
e administração dos serviços de saúde.

Em 1986, a Organização Mundial de Saúde, no documento oficial Carta de Ottawa (WHO, 1986),
designa o modelo canadense e pontua os principais componentes do movimento de promoção da
saúde:

1. integração da saúde como parte de políticas públicas “saudáveis”;

2. atuação da comunidade na gestão do sistema de saúde;

3. reorientação dos sistemas de saúde;

4. ênfase na mudança dos estilos de vida.

No mesmo período, ocorrem outros projetos e estratégias com o mesmo intuito de promoção da saúde
pelos organismos internacionais, entre eles o Projeto Cidades Saudáveis, lançado em 1986 (WHO,
1995). Além disso, no âmbito da ECO-92, Conferência Mundial pelo Meio Ambiente, promovida
pela Organização das Nações Unidas no Rio de Janeiro, a saúde ambiental foi determinada como
prioridade para a promoção da saúde, dentro da célebre Agenda 21 (WHO, 1995; 1995).

Na contextualização histórica e econômica, o método neoliberal é adotado pelas instituições


financeiras internacionais e exigido aos países que pretendem se inserir na “nova ordem” do
capitalismo mundial. Neste mesmo âmbito, a OPS estimula, a partir de 1990, um debate sobre a
crise da saúde pública, focando em questões estruturais, conceitos, teorias, critérios, reverberações
operacionais e práticas de saúde, e as dimensões futuras para a saúde pública nas suas relações
com o Estado e a sociedade (FERREIRA, 1992; MACEDO, 1992; PAN AMERICAN HEALTH

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UNIDADE I │ Definindo Saúde Coletiva

ORGANIZATION, 1992; OPAS, 1994; OPAS, 1995). Em paralelo, a OMS custeia a reflexão vinculada
sobre as bases de uma “nova saúde pública”, por meio da organização de um conjunto de seminários
e reuniões sobre formação, institucionalização, construção de conhecimento e prática em saúde
pública (FRENK, 1992; NCAYIYAN et al., 1995; WHO, 1995).

A “nova saúde pública”


Na atualidade, diversos países realizam reformas administrativas, econômicas e políticas com o
objetivo de garantir espaço no novo molde dos mercados mundiais. Muitas das reformas no setor
de saúde, na América Latina, são patrocinadas por instituições financeiras internacionais, como o
Banco Mundial (BIBEAU; CORIN, 1995), cujas conjunturas e diretrizes se distanciam bastante dos
projetos originais de reforma sanitária. Por conseguinte, faz-se necessário discriminar os objetivos
de cada um dos projetos para que, entre outros aspectos, seja viável entender as especificações do
sistema de saúde do Canadá em comparação com o projeto Norte-Americano de atualização dos
serviços de saúde de Clinton, assim como se faz necessário avaliar as diferenças da logística dos
serviços de saúde cubanos, com foco na atenção primária, e a reconstrução do setor na Bolívia e na
Colômbia (PAIM et al., 1998).

Segundo Ferreira (1992), respostas objetivas, consideradas como “momento de verdade”, podem ser
verificadas. No caso da América Latina, o que foi proposto pelo Banco Mundial valorizou a eficácia e
eficiência, em desvantagem à isonomia, mediante políticas de reajuste econômico e por meio da cesta
básica de serviços no setor de saúde (OPAS, 1997; WHO, 1996). Dessa forma, muitas dessas reformas
do setor não chegam a ser encontradas e/ou discutidas nas escolas de saúde pública ou em instituições
semelhantes, nem nos próprios ministérios da saúde, sendo negociadas apenas e diretamente nas
dependências financeiras e na esfera econômica do governo (OPAS, 1997; WHO, 1996).

Nesse cenário, uma análise acerca da “nova saúde pública” que procura analisar, de modo crítico
e marcado, os determinantes da “crise da saúde pública”, passa a ser vista pejorativamente
como “assunto de sanitaristas”. O que isso significa? Assunto referente apenas às escolas e aos
pesquisadores do setor da saúde, assim como aos funcionários públicos com responsabilidades
operativas. A reciprocidade das forças institucionais e políticas vigentes mantêm-se distanciados do
cenário das reformas dos diferentes países, não só os trabalhadores do setor de saúde, como também,
e especialmente, os diferentes segmentos populacionais que serão o objetivo dessas reformas. As
vitórias democráticas obtidas pelos povos latino-americanos e caribenhos, especialmente a partir
dos anos 1980, ainda não foram suficientes para garantir a controle público das políticas e práticas
instituídas nos respectivos Estados e burocracias (PAIM et al., 1998).

A direção mais objetiva, intervencionista e prescritiva, seguida por um panorama convocado pela
OMS para discutir a “nova saúde pública” (WHO, 1996), em concordância com as intenções de
representações europeias e americanas da saúde pública, não aparenta dar conta das dificuldades
identificadas em particular na América Latina e no Caribe. Como compõem sistemas relativamente
estáveis nos quais as normas de jogo mudam de maneira lenta, para eles a crise não é estrutural,
representaria apenas a interpretação de sanitaristas. Pretendem assim agregar novos tópicos e
habilidades no âmbito da saúde pública ou ao seu campo de práticas e de instituições (NCAYIYANA,

16
Definindo Saúde Coletiva│ UNIDADE I

1995; WHO, 1995). No entanto, este enfoque resulta em reformas curriculares das escolas ou em
reformas administrativas nas organizações de saúde, isto, com segurança; é insuficiente suprir
uma política de saúde, solidariedade e equidade realizando o que propôs a OMS no final da década
de 1990 (WHO, 1995).

Em consequência, as instituições do meio acadêmico e de serviços de saúde não podem desconsiderar


o movimento que se concebido em torno de uma política de saúde global como pilar da doutrina
elaborada e baseada na proposta de “Renovação da saúde para todos” (WHO, 1995). Assim,
atualizando as concepções e práticas em torno da saúde pública, estarão em condições de dialogar e
de construir alianças entre as instituições não governamentais e governamentais no enfrentamento
dos problemas de saúde. Todavia, mais do que dialogar e efetivar alianças, as organizações
acadêmicas e os serviços podem gerar novas concepções práticas e teóricas capazes de influenciar
os princípios da “Renovação da saúde para todos” (WHO, 1995) e a política de saúde a ser idealizada
na celebração dos 20 anos de Alma-Ata (PAIM, 1986).

Na década de 1990, iniciativas da OPS (OPAS, 1997), visando à formação em saúde pública e
liderança, permitiram uma discussão ampliada da indagação na América do Norte e Sul, incluindo
Canadá, Estados Unidos e países do Caribe. Por conta disso, entre 1987 e 1988 decorre-se a avaliação
da infraestrutura privilegiando as áreas criticas que seguem: sistemas de informação; princípios da
política pública; aperfeiçoamento econômico, epidemiológico, tecnológico; formação de recursos
humanos em saúde e serviços de saúde. Entre os anos de 1989 e 1990, seminários foram realizados
com o objetivo de analisar a prestação de serviços de promoção, recuperação da saúde e prevenção
(PAIM, 1995). No período entre 1991 e 1995, a OPS direcionou um ousado projeto para análise da
teoria e prática da saúde pública (OPAS, 1995) o que culminou na I Conferência Panamericana de
Educação em Saúde Pública (ASOCIACIÓN LATINOAMERICANA Y DEL CARIBE DE EDUCACIÓN
EN SALUD PÚBLICA, 1994), realizada no Rio de Janeiro em 1994.

A partir dessa nova prática, há necessidade de profissionais renovados, com capacidade de cumprir
distintos papéis, desde uma função política e histórica contextualizada, sendo capazes de somar valor
na gestão e na produção do conhecimento tecnológico e científico, podendo ser no gerenciamento,
nas estratégias de utilização de recursos escassos, na resolução de problemas de saúde e decisões
políticas e até na utilização do conhecimento como equipamento de mobilização da social em saúde,
despertando assim o potencial de luta e conquistas do direito de cidadania (PAIM; ALMEIDA
FILHO, 1998; RODRIGUES, 2008).

Nessa dimensão, as escolas de saúde pública devem fortalecer sua autonomia em relação às escolas
médicas. Esse aprofundamento da discussão sobre a transformação da organização estrutural
das escolas foi proposto na I Conferência Panamericana sobre Educação em Saúde Pública
(ASOCIACIÓN LATINOAMERICANA Y DEL CARIBE DE EDUCACIÓN EN SALUD PÚBLICA,
1994). Nesse contexto, o conceito de atuação transdisciplinar tende a extinguir a organização da
faculdade ou escola como autossuficiente, surgindo a proposta de criação dos espaços e organizações
que funcionem como agregadoras de valor na construção do conhecimento e da prática em saúde
(ASOCIACIÓN LATINOAMERICANA Y DEL CARIBE DE EDUCACIÓN EN SALUD PÚBLICA, 1994;
PAIM; ALMEIDA FILHO, 1998; RODRIGUES, 2008). O intuito fundamental é o desenvolvimento
sistemático, criativo e inovador da formação e capacitação mediante fundamentos dos serviços de

17
UNIDADE I │ Definindo Saúde Coletiva

saúde investigativos e articulados. O propósito básico das novas instituições acadêmicas passa a ser
a produção de liderança nos diferentes setores e instituições.

A liderança no setor de saúde representa a capacidade de transformar o setor da saúde no aspecto


básico da formulação de todas as outras políticas públicas. A política de saúde regulariza não só
condutas individuais, mas também as ações políticas, sociais e coletivas. A liderança organizacional
é definida como a capacidade que possui uma instituição de disseminar valores, promover
compromisso com esses valores e gerar conhecimento, tanto das populações como das instituições.
Conforme descrito pela OPS (1994):

[...] Capacitar-se para a liderança é, portanto, um produto de aquisição de


novos valores e habilidades, como o desenvolvimento de novos significados da
missão e da filosofia institucionais. Como o objetivo da liderança é promover
compromissos públicos com ideais básicos, o setor ou a instituição líder
se reconhece não só pela qualidade de suas ações, mas principalmente pelo
compromisso que gera nos setores, instituições ou atores que lidera.

Na década de 1990, destaca-se o desenvolvimento da saúde pública e o seu caráter de movimento


ideológico, com a utilização dos aspectos acadêmicos (Associação Latino-Americana de Escolas
de Saúde Pública), acionando seus aspectos ideológicos e políticos (OPS, 1994; 1995). Assim, a
discussão da incorporação de novos conceitos consigna-se não integralmente no campo das políticas
de saúde. Os dobramentos produzidos no âmbito do saber se encontram submetidas às alterações no
campo das práticas, ainda que novidades conceituais e desenvolvimentos científicos, tecnológicos e
disciplinares tenham a capacidade de interferir na formulação e na implantação de algumas dessas
políticas. Não se trata de uma definição automática das políticas sobre o campo, mas em avaliação,
influência, já que é possível admitir situações em que resultados desse campo do saber operam
alterações, ainda que parciais, na organização das práticas de saúde (PAIM et al., 1998).

As alterações no panorama social e político da situação de saúde mundial questionam as premissas


e previsões dos antigos modelos. Ou é possível que o problema seja mais profundo, não no
nível dos modelos utilizados e sim nos fundamentos científicos deste campo de prática social e
técnica (ALMEIDA, 1989; ALMEIDA, 1997; PAIM; ALMEIDA FILHO, 1998) face aos discursos
e extradiscursivos vinculados à constatação de um esgotamento dos paradigmas vigentes,
desafiados pela “crise da saúde pública” (FERREIRA, 1992; MACEDO, 1992; NCAYIYANA, 1995).
Especificamente, entre os elementos do discurso, cabe ressaltar os pressupostos do aperfeiçoamento
da saúde supondo a exclusão dos processos de doença e que os conhecimentos científicos e técnicos
possuem de um potencial inesgotável para superar a enfermidade. Como elementos externos ao
discurso desse debate, encontram-se as ressalvas econômicas que comprometem a potencialidade
das instituições governamentais de suportar o custeio crescente da atenção à saúde, em particular
a assistência médico-hospitalar. Nesse aspecto, é importante comentar o fato de que a assistência
médico-hospitalar não garante melhor condição de bem-estar ou produtividade social. Distingui-se,
ainda, a crescente potencialidade dos determinantes da saúde (WHO, 1995), relativa à qualidade
do meio social, ou geral, referente à discrepância da distribuição de renda e do poder da população
(PAIM et al., 1998).

18
Definindo Saúde Coletiva│ UNIDADE I

Porém, cessar os paradigmas atuais não significa recusá-los pura e simplesmente. Discuti-se a
construção no plano teórico ao tempo em que se incitam vontades no campo das reflexões e da ação.
Almeja-se que, ao se discutir a reforma do campo da saúde, no contexto da “Reforma da saúde para
todos”, seja implementada uma prática voltada aos determinantes de saúde. A convergência das
três temáticas – reforma do setor da saúde, reforma da saúde para todos e a “nova saúde pública”
– se consolida pela necessidade de uma programação política comum, que contemple os planos
conceitual e metodológico-prático (PAIM et al., 1998).

Nessa concepção, faz-se necessário revisar as propostas de ação, objetivando estabelecer parâmetros
sobre a questão da saúde no setor coletivo. É fundamental a reflexão sobre a sistematização do marco
conceitual da saúde coletiva, em elaboração na América Latina, localizando as suas potencialidades
de composição do conhecimento inter e transdisciplinar. Os propósitos e as propostas desse
movimento podem implementar, respeitando aspectos históricos e integrais, melhorias científicas
capazes de abordar o objetivo principal: o cuidado saúde-doença (PAIM et al.,1998).

Saúde coletiva: campo aberto a novos paradigmas


A saúde coletiva se firma como âmbito científico e campo de práticas aberto à assimilação de propostas
inovadoras, muito mais do que qualquer outro movimento similar no contexto da saúde pública
mundial. Partindo destas reflexões, conclui-se a afirmação de um setor interdisciplinar bastante
dinâmico e renovado, segundo uma produção teórica consistente e ousada que enfrenta ainda
questionamentos e dilemas. Na realidade, a soma das crises cientifica, econômica, política e social do
setor de saúde lança desafios heterogêneos para a saúde coletiva em relação ao que fazer para articular
efetivamente os novos paradigmas no âmbito da saúde para o século XXI (PAIM et al., 1998).

No campo da geração de conhecimento, o passo mais relevante será certamente reajustar o objeto-
foco: saúde. Esse reajuste deverá suceder uma preocupação prática do objeto, não apenas no
contexto imediato, e sim na conjuntura de que este deve alimentar uma prática em vez de compor
a mera produção e incorporação de tecnologia. Será absolutamente legítimo perseguir a superação
da prática desta saúde pública preventiva e preditiva, no aspecto aplicado individual e coletivo,
direcionando a uma saúde coletiva de previsão e idealista, quer dizer, uma saúde coletiva capaz de
não só predizer algumas poucas medidas e seus efeitos, mas também de propor cenários, formas e
figuras (PAIM et al., 1998).

No nível teórico, muitos estudiosos já identificam a importância estratégica da reconstrução do objeto


da saúde coletiva. Adiciona-se que este objeto faz parte de uma nova família de objetos científicos,
construído enquanto objeto totalizado e complexo. Para tornar essa ideia mais clara, Almeida
(1996) define como o objeto da saúde coletiva a promoção do cuidado em saúde-enfermidade de
uma maneira integral.

Em uma perspectiva dualista, a prática da saúde coletiva será focada, localizada, “minimalista” e
ao mesmo tempo holística, integral e globalizante. Por outro lado, em uma perspectiva formativa, a
saúde coletiva enquanto campo de práticas se cria em um contínuo processo de autocriação, balizada
pelos seus frutos concretos na realidade de saúde (PAIM et al., 1998). Nesse sentido, as ações de
produção e reprodução deste campo conseguirão cumprir a seguinte pauta de ação:

19
UNIDADE I │ Definindo Saúde Coletiva

5. qualificar o conjunto de necessidades sociais em saúde, compreendendo-as não


apenas como carências, mas como ideias em saúde ou como alternativas de “projetos
de vir a ser”; isso significa tomar a saúde como “meta a ser conquistada, como um
bem que se adquire por meio dos conflitos e da luta de classe” (MYNAIO, 1991);

6. refletir sobre os diferentes meios e as atividades e trabalhos necessários para atender


as necessidades, mesmo que não se limitam ao conhecimento técnico e científico da
saúde coletiva e da Medicina (MENDES GONÇALVES, 1995);

7. instituir novas relações técnicas e sociais orgânicas a tais práxis no âmbito social
da saúde, a exemplo dos componentes da distribuição nos distritos e municípios,
como processos educativos, comunicação social, organizações não governamentais,
produtores culturais, entre outros (PAIM, 1994);

8. investir política e tecnicamente nos espaços institucionais abertos, para que, à


medida que as demandas de saúde sejam determinadas socialmente, as práxis
em saúde coletiva sejam redefinidas, considerando o desempenho dos seus
instrumentos de trabalho e a institucionalização de novas relações internas no setor
da saúde (PAIM, 1992).

Esses aspectos implicam o desenvolvimento de programas de educação continuada e permanente


em saúde coletiva nas organizações que prestam serviços de saúde, com vistas a reconstruir e
atualizar continuamente os braços das práticas de saúde. Tais aspectos vão além da produção dos
objetos de investigação e de práticas, considera-se ainda a criação de ambientes institucionais e
de encontros e momentos pedagógicos para a sedimentação de novos sujeitos sociais dentro dos
serviços de saúde (PAIM et al., 1998).

No plano sociocultural e político de composição do âmbito da saúde coletiva, será pertinente


explorar meios de elaboração dos sujeitos sociais, não só partidários e sindicatos, capazes de dar
vida às idealizações da criação das civilizações baseadas no afeto, na solidariedade, na liberdade e
na justiça.

Habermas (1990) ressalta a necessidade de conciliação dos aspectos subjetivos e socais por meio de
uma ação política emancipatória, considera ainda que este aspecto possa ser um dos importantes
desafios para a prática da saúde coletiva nos tempos atuais. A operação coordenada dos grupos
sociais, assim como o reconhecimento e o esforço das iniciativas sociais e comunitárias arraigadas
na solidariedade, compõe possibilidades de reconstrução de relações sociais que auxiliarão na
diminuição do sofrimento humano, na ascensão da consciência sanitária e ecológica, na manutenção
da saúde e na defesa da vida (PAIM et al., 1998).

20
capítulo 2
Saúde coletiva: conceitos históricos da
ideia e do conceito

Refletir a saúde coletiva como âmbito de saber e prática requer necessariamente o resgate das bases
históricas, dos conceitos e dos momentos que deram subsídios para seu surgimento em um passado
não muito remoto (NUNES, 1994). Na América Latina, a saúde coletiva tem como data inicial de
referência a segunda metade do século XX; na segunda metade da década de 1950, entretanto a
trajetória foi distinta nos países latino-americanos (NUNES, 1994; ABRASCO, 1982).

No Brasil, o caminho da saúde coletiva é bastante específico e pode ser delimitar, para fins didáticos,
em três fases que historicamente serão apresentadas a seguir. Para Nunes (1994) a primeira fase vai
até a década de 7190 e é determinada por conceitos preventivistas e pré-saúde coletiva. Menendéz
(1992), ao analisar a emergência de um projeto de característica preventiva na América Latina no
período, relata que o que já se definia era a adversidade da Medicina, na teoria e na prática. A
transformação defendida visava à inserção de disciplinas, como administração dos serviços de saúde
e epidemiologia, nos planos de curso e nos projetos pedagógicos dos cursos médicos, procurando
assim criticar a formação focada apenas nos conceitos biológicos do ensino baseado em práticas
individualistas, curativas e hospitalocêntricas. Foi a tentativa de integrar o conceito biopsicossocial
com a Medicina Integral Norte-Americana em uma versão Latino-Americana. Havia espaço para
as abordagens antropológicas, sociais, demográficas e ecológicas no plano do conhecimento. Já
no plano ideológico e político, o projeto preventivista encontrou expressão na chamada Medicina
Comunitária. Nessa conjuntura, estabelece-se a alternativa de discussão acerca de um projeto
alternativo para a saúde (NUNES, 1994; BARBOSA; AZEVEDO, 2009).

O período era particular para se refletir as mudanças: intensas eram as transformações sobrevindo
do fim da segunda Grande Guerra, somadas à ampliação econômica e ao crescimento industrial. As
organizações governamentais aumentavam sua interferência no processo de agregar acumulação e
se assistiu à implantação de um novo modelo econômico. Na Medicina, ocorriam o aperfeiçoamento
de técnicas cirúrgicas e a intensa utilização dos antibióticos, além do aumento da segurança na
atenção médica individualizada (NUNES, 1994; ABRASCO, 1982).

Esse era o contexto no qual se buscava implementar o conceito de um campo de práticas e saberes,
chamado de Medicina Preventiva e Social. Tal denominação foi criticada por Arouca (1975) em
1975, baseado no reconhecimento da fragilidade de tratar sem distinção o preventivo e o social. Para
Arouca (1975) a Medicina Preventiva executa um emprego de demarcação, por um lado confirma
a identidade e se diferencia da Medicina e também estabelece a distinção com a saúde pública e a
Medicina Social. Era um primeiro passo não suficiente e frágil, mas um passo rumo a uma importante
mudança nos conceitos e práxis em saúde que se consolidaria muito mais tarde no Brasil.

Refletindo sobre a conjuntura, Nunes (1994, p. 9) faz algumas afirmações:

Sem dúvida, o repensar do que havia até então sido proposto e realizado
foi decorrência de diversos atores, e que podem ser vistos nos diversos

21
UNIDADE I │ Definindo Saúde Coletiva

posicionamentos relacionados não somente à formação de profissionais, mas


aos conteúdos dessa formação, às funções que estavam sendo preenchidas, que
se apresentavam como extremamente racionalizadoras, e pelos problemas que
a sociedade civil enfrentava naquele momento.

Até o final da década de 1970, caracterizada como a segunda etapa do curso rumo à saúde coletiva,
não há isolamento das estratégias preventivistas, mas uma intensificação na concepção de uma
Medicina Social. A expressão “Medicina Social” não era desconhecida, sua origem foi europeia e se
ampliou desde a segunda metade do século XIX, quando foi amoedada na França,. É importante
ressaltar o ano de 1948 como de maior relevância, pois se iniciava uma nova fase relacionada aos
cuidados com a saúde, determinada com a criação do Nacional Health Service. A ideia ressurgiu em
1952 em um encontro proposto pela OMS (NUNES, 1994; ABRASCO, 1982).

Em 1976, a Organização Panamericana de Saúde (OPAS, 1976) emitiu um documento acerca da


Medicina Social, com argumentos sobre o seu objeto entendido como campo de práticas e investigações
relacionado à saúde, como foco principal, e também investigar as questões sociais, analisar as
maneiras habituais de análise dos problemas de saúde e da prática médica. Compreendemos que
a OPAS utiliza o termo “campo” de maneira diferente da concepção de alguns estudiosos, como
Bourdieu (1983). Para a OPAS, o termo “campo” representa a tentativa de determinar o espaço e as
especificações da Medicina Social dentro da área médica e da saúde, desconsiderando, entretanto,
o âmbito da Medicina Social como criação das relações entre os indivíduos ou organizações que
buscam o mesmo objetivo (BOURDIEU, 1983).

É possível afirmar que a década de 1970 foi marcada pelo abundante debate sobre as relações entre
a saúde e a sociedade. As inquietações teóricas que havia e as próprias organizações internacionais,
como a OPAS e a OMS, promoveram encontros e seminários que se caracterizaram em ambientes
de férteis reflexões e novos paradigmas. No Brasil, esse período foi marcado por uma conjuntura
de contenção, repressão e agravamento crescente dos indicadores sociais, econômicos e de saúde,
o que, aos poucos, contribuiu para o ganho de força do campo de práticas e saberes. A busca de um
novo padrão/modelo se fez necessário à superação da crise estabelecida. Nesse caminho, a reflexão
realizada por Arouca (1975, p. 83) sintetiza e sintoniza a proposta da Medicina Social:

[...] uma tentativa de redefinir a posição e o lugar dos objetos dentro da


Medicina, de fazer demarcações conceituais, colocar em questão quadros
teóricos, enfim, trata-se de um movimento ao nível da produção de
conhecimentos que, reformulando as indagações básicas que possibilitaram
a emergência da Medicina Preventiva, tenta definir um objeto de estudo nas
relações entre o biológico e o psicossocial. A Medicina Social, elegendo como
campo de investigação estas relações, tenta estabelecer uma disciplina que se
situa nos limites das ciências atuais.

O contexto de crise não só exigia a ultrapassagem da atmosfera do conhecimento, mas, especialmente


o que se via era a instalação de novas práticas no campo da saúde. A OPAS (1976) aponta uma
proposta publicada em 1975 com o termo: Formulação de políticas de saúde. Era a possibilidade
de uma outra maneira de pensar a elaboração de um projeto em saúde que influenciaria de maneira
direta as práxis em saúde e a forma de concebê-las. Estava aberta a trajetória para que fosse possível

22
Definindo Saúde Coletiva│ UNIDADE I

redefinir, no campo da formação, a sedimentação de cursos que pudessem consolidar um avanço na


qualidade do ensino e da pesquisa nos modelos acadêmicos, semelhantes aos já existentes em outros
campos da Medicina, com a formação de mestres e doutores em Medicina Preventiva, Saúde Pública
e Medicina Social. Devido a isso, aspectos estruturais e contextuais se relacionavam à urgência do
repensar a saúde em uma atmosfera ampliada. Já a partir dos anos 1980 se estruturou, segundo a
divisão histórica que Nunes adotou, a terceira fase – aqui denominada de Saúde coletiva: origem
da saúde coletiva (NUNES, 1994; BARBOSA; AZEVEDO, 2009).

Conforme a descrição cronológica, a conceito de um campo denominado saúde coletiva é trabalhada


em 2 momentos históricos do ano de 1978: no I Encontro Nacional de Pós-Graduação em Saúde
Coletiva, em Salvador, e na Reunião Sub-regional de Saúde OPAS/Associación Latino Americana
de Escuelas de Salud Pública (OPAS/ALESP), em Ribeirão Preto. Os 2 eventos apresentaram como
objetivo reconstruir a formação de pessoal para atuar no âmbito da saúde. Contudo, observou-
se a necessidade da existência de uma organização que conseguisse congregar, por meio de uma
conjugação, os interesses das organizações formadoras, da saúde pública tradicional e a da Medicina
Social. Essa congregação se concretizou em dezembro de 1979, quando foi instituída a Associação
Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO) (ABRASCO, 1982).

O objetivo principal para a criação da ABRASCO foi o de operar como instrumento de suporte e
junção entre os centros de práticas, pesquisa e ensino na área de Saúde Coletiva; assim como buscar o
fortalecimento e a ampliação das discussões entre as organizações governamentais, os serviços de saúde,
a sociedade e as questões científicas e técnicas (ABRASCO, 1982). A soma das experiências e o exercício
reflexivo e político formavam a base da ideia que se fortaleceu na medida em que as práticas teóricas se
fundamentavam. Mais do que os distintos programas das organizações formadoras que sustentavam os
seus referenciais de saúde pública, medicina social e preventivistas, a saúde coletiva se estrutura com
efetividade no campo do saber e da prática (NUNES, 1994; BARBOSA; AZEVEDO, 2009).

A reforma do campo da saúde já era evidenciada a partir da segunda metade da década de 1970
e já era vista por Cecília Donnangelo (1982), que em seu último trabalho procurava estabelecer
as delimitações do campo não por meio de definições formais e sem considerar as especificações
que se adquire na sociedade brasileira, mas sim determinando o conjunto de práticas relacionadas
à questão da saúde. A questão que despertou maior indagação na autora era como delimitar
esse campo da saúde e de prática (DONNANGELO, 1982, p. 13). Abaixo trago os argumentos de
Donnangelo para tal indagação:

Essa multiplicidade de objetos e de áreas de saber correspondentes – da ciência


natural à ciência social – não é indiferente à permeabilidade aparentemente
mais imediata desse campo às inflexões econômicas e político-ideológicas. O
compromisso, ainda quando genérico e impreciso, com a noção de coletivo,
implica a possibilidade de compromissos com manifestações particulares,
histórico-concretas desse mesmo coletivo, dos quais a medicina “do indivíduo”
tem tentado se resguardar através do específico estatuto da cientificidade dos
campos de conhecimento que a fundamentam.

23
UNIDADE I │ Definindo Saúde Coletiva

O surgimento e a urgência da saúde coletiva foram influenciados pela autonomia adquirida em


relação à Saúde Pública, à Medicina Preventiva e à Medicina Social, ampliando seu foco de estudo
e redefinindo suas fronteiras. Autores importantes do campo reconhecem a imensa contribuição
que as reflexões e debates nas fases anteriores para a configuração da saúde coletiva. É importante
ressaltar também que o coroamento da saúde coletiva como um campo de saber e prática foi
inspirado por todos os fatores intrínsecos ao campo, como foi apontado anteriormente, mas foi
incentivado extraordinariamente pelos fatores externos e históricos, como o movimento sanitário e
a busca pela democratização do Brasil (NUNES, 1994; BARBOSA; AZEVEDO, 2009).

A formação do campo
O progresso de estabilização do projeto da saúde coletiva decorreu a partir de 3 linhas de força:
organização dos profissionais de saúde, investigações e produção de conhecimento em saúde,
esforço de formulações de políticas públicas (NUNES, 1994; BARBOSA; AZEVEDO, 2009).

Para Montagner (2008), a confecção de uma divisão real na soma de questões sociais que
influenciaram o surgimento da saúde coletiva no Brasil, embora impossível definir certamente, pode
ser explicada pela influência de três linhas: questões externas, internas e influências ideológicas,
respectivamente apontadas abaixo: os movimentos da sociedade; suas mudanças históricas; o
desenvolvimento do conhecimento e de instrumentos técnicos; políticas públicas e organizacionais.
A divisão apontada por Montagner (2008) no seu trabalho “Sociologia Médica, Sociologia da Saúde
ou Medicina Social? Um Escorço Comparativo entre França e Brasil” inclui de maneira satisfatória
fatores que se mostraram relevantes na origem e na criação da saúde coletiva e nos fornece um
ensaio categorizado dessa questão. Cabe salientar que saúde coletiva é denominada como um espaço
social, concebido por meio das correntes e contracorrentes dos movimentos e momentos sociais, e
é contextualizada socialmente (BOURDIEU, 1983; MONTAGNER, 2008).

As questões externas que influenciaram a consolidação das batalhas encadeadas no campo são
fortemente marcadas pelos movimentos sociais e pelas mudanças históricas das sociedades.
Podemos verificar que a conjuntura histórica que possibilitou a gênese da saúde coletiva no Brasil foi
marcada pelas grandes modificações que a sociedade estava experimentando. A saúde coletiva surge
dos embates conceituais e de práticas no âmbito da saúde. A crise surgiu e gerou a necessidade de
mudança, ela se deu inicio na Medicina Preventivista, com o intuito de superar o modelo biomédico,
aperfeiçoou-se na Medicina Social e objetiva fragilizar o conceito preventivista. Bourdieu (1983),
em seu livro: “Questões de sociologia”, destaca a dialética da pretensão e da distinção que origina as
transformações do campo, discuti ainda que: “o contexto social tem um fundamento que é o produto
de sua história anterior e o princípio de sua história posterior. A luta permanente no interior do
campo é o motor do campo”.

Em relação à presença ideológica contemplada pela formulação de políticas públicas e pela


instituição corporativa, Bourdieu (1983) acentua que o caráter político das lutas no interior do
campo pela sua delimitação e pela definição do que é cientificamente legitimo ou ilegítimo já está
presente no próprio conceito de campo. As influências internas e conceituais, como o conhecimento
e os instrumentos técnicos que influenciaram a gênese da saúde coletiva, dá-se pelos produtos

24
Definindo Saúde Coletiva│ UNIDADE I

do trabalho de intelectuais, estudiosos, artistas e criadores, produtos esses inseridos dentro de


um universo simbólico; instrumentos gerados pela sociedade e que determina uma coerência
contextualizada dentro de um âmbito ideológico entre indivíduos com intuito, conhecimento e
práticas bastantes semelhantes (BOURDIEU, 1989).

Vale ressaltar, no entanto, que proposições iniciais quanto ao objeto da saúde coletiva alteraram-
se no decorrer do tempo. Quando na sua gênese, o objeto foi demonstrado como uma disciplina
científica bem-delimitada. Posteriormente, a definição inicial do objeto muda. Conforme Paim e
Almeida Filho (1998), o estudo conceitual e teórico construído nos tempos mais recente conduz a
saúde coletiva como um campo multi, pluri e interdisciplinar e não apenas como uma disciplina,
muito menos uma ciência ou especialidade médica.

Pode-se então afirmar que a saúde coletiva constitui-se como um conjunto de aspectos relacionados
à saúde em geral, contando com aspectos ideológicos, teóricos e conceituais, elaborados pensando
em saúde, com utilização de instrumentos das ciências sociais ligados aos recursos dos saberes da
Medicina Preventiva e da saúde pública (BARBOSA; AZEVEDO, 2009).

O campo da saúde coletiva é interdisciplinar e em combate contínuo com outros atores e organizações
da área médica pela definição autêntica de seu objeto científico. Entretanto, a saúde coletiva, como
um grande campo de conhecimentos e práticas inserido no campo intelectual está subjugado em
maior ou menor grau, conforme autonomia relativa ao âmbito de poder, a partir da correlação de
forças historicamente dadas pela organização hospitalocêntrica da saúde (NUNES, 1994; BARBOSA;
AZEVEDO, 2009).

Nessas relações entre efetores e campos está presente o embate do poder entre grupos, por meio
de suas ideologias e propostas teóricas ou conceituais. Estão presentes os indivíduos, com suas
estratégias diferenciadas, investindo seus capitais sociais, simbólicos ou econômicos. Contudo,
apesar da disparidade entre esses efetores, todos se apoderam das regras do jogo e agregam-nas,
mesmo que para contestá-las e mudá-las (NUNES, 1994; BARBOSA; AZEVEDO, 2009).

As reflexões sobre o campo da saúde coletiva difundem ainda um objeto de estudo multifacetado,
em que disciplinas das diferentes áreas estão firmemente configuradas e apontam para fragmentos
institucionais, e a busca e a disputa pela definição desse objeto são o resultado, entre outras coisas,
das disputas internas pelo privilégio da prática autêntica da ciência. “Neste jogo é preciso fazer o
jogo” (NUNES, 1994; BARBOSA; AZEVEDO, 2009).

25
capítulo 3
Integralidade e interdisciplinaridade
em equipes multiprofissionais na
saúde coletiva

A saúde coletiva e a integralidade da atenção


Segundo Severo (2010), existe um contexto paradoxal no campo da saúde. Nesse campo, ocorre
a conexão entre distintos conceitos e raciocínios, como: processo saúde e doença, saúde pública e
saúde coletiva, patologias e normalidades, individual e coletivo, objeto e indivíduo, ação e reflexão,
prática e conceito, objetivo e abstrato, fatores biológicos e sociais, autonomia e dependência
institucional (SEVERO, 2010).

Diversos pesquisadores buscam a compreensão do trabalho coletivo em equipes multiprofissionais


no cenário complexo do modelo de sistema de saúde público brasileiro, denominado Sistema Único
de Saúde (SUS) (CAMPOS, 1997; 1998; 2000; PAIM; ALMEIDA FILHO, 1998, 2000; PEDUZZI,
1998, 2001; SCHRAIBER et al., 1999). Outros estudiosos do assunto buscam compreender as
diferentes maneiras da integração e atuação disciplinar (NICOLESCU, 2001; FAZENDA, 2002;
JANTSCH; BIANCHETTI, 2002; IRIBARRY, 2003; AZEVEDO E SOUZA et al., 2006; POMBO,
2006; SOMMERMANN, 2006). As diferentes formas de relacionamento entre as disciplinas
que abrangem o campo da saúde coletiva geram diferentes processos e logísticas do trabalho
multiprofissional em saúde (SEVERO, 2010).

A logística do processo de trabalho em unidades de saúde e hospitalares operantes na modalidade


ambulatorial se organiza, na maior parte das vezes, de uma maneira multi ou pluridisciplinar,
diferenciando-se do processo de trabalho realizado em equipes. Um exemplo bastante
representativo disso são as equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF) e dos Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS) que atuam sob uma perspectiva que exige o trabalho inter e transdisciplinar
(CAMPOS, 1997; 1998; 2000; PAIM; ALMEIDA FILHO, 1998, 2000; PEDUZZI, 1998, 2001;
SCHRAIBER et al., 1999).

O objetivo é refletir sobre o desafio de integrar as manifestações técnicas confeccionadas no


atendimento aos usuários que criam a demanda de ações dependentes entre si e com autonomia
dos trabalhadores das equipes multiprofissionais, focalizando a assistência nos atenção nos CAPS,
que focam o trabalho nas diretrizes do atendimento integral e psicossocial (SEVERO, 2010). Em
paralelo, cada profissional e especialista possui sua formação disciplinar específica e diferentes
bases conceituais em saúde e doença (CECCIM, 1998; PINHEIRO, 2001; COELHO, 2002).

Esse contexto paradoxal surgiu da tensão existente entre o desafio da integralidade (CECÍLIO,
2001; PINHEIRO, 2004), o trabalho em equipes multiprofissionais e a cobrança de um processo
interdisciplinar que produza reflexos em demandas, conhecimentos e ações, inter e transdisciplinares
em saúde coletiva (PAIM; ALMEIDA FILHO, 1998, 2000; PASSOS; BARROS, 2000; SPINK, 2003).

26
Definindo Saúde Coletiva│ UNIDADE I

Embora o termo “equipes multiprofissionais”, habitualmente utilizado no campo da saúde, conduza


a um pensamento acerca do agir lado a lado, ele reflete no trabalho interprofissional das inter-
relações e conjunções das disciplinas, assim como dos trabalhadores do campo da saúde mental
coletiva. A confecção do trabalho em equipe na área da saúde é um plano coletivo que vislumbra
reduzir o grande processo de especialização que tem sido demonstrado nas práticas em saúde e na
contemporaneidade (CAMPOS, 1997; 1998; 2000; PEDUZZI, 1998; 2001; IRIBARRY, 2003).

No momento atual, são denominados cursos formadores de profissionais da saúde pela Resolução
no 287/1998 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, Resolução no 287, 1998) os seguintes:
Assistência Social, Biologia, Biomedicina, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia,
Fonoaudiologia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Psicologia e Terapia
Ocupacional. Peduzzi (2001) discutindo a interação de diferentes profissionais observou a
predominância da abordagem estritamente técnica, caracterizada pela atuação fragmentada e não
articulada, uma vez que o profissional aprende a soma das atribuições, técnicas e atividades a serem
realizadas sem articulação dos trabalhos especializados (PEDUZZI, 2001).

A prática segmentada que aparece no processo de trabalho das equipes multiprofissionais colide
com a alternativa da integralidade, um dos princípios norteadores do SUS. A integralidade, como
eixo norteador, conceitual e uma diretriz central na confecção do SUS, significa uma organização que
abrange o fazer profissional, o processo de trabalho e da política pública em saúde (MATTOS, 2001;
2004). Ou seja, o processo de trabalho incorpora a confecção de uma política pública traduzida
como um sistema de cooperação entre os atores trabalhadores, usuários e gestores na efetivação das
diretrizes e ações coletivas baseadas em lógicas voltadas para a garantia dos direitos sociais (PAIM;
TEIXEIRA, 2006).

Nessa dimensão, a subjetividade e a intersubjetividade (CAMPOS, 2000; SCHRAIBER et al., 1999;


AZEVEDO, 2002) se efetivam sendo aplicadas conceitualmente, como escuta e cuidado em relação
ao profissional de saúde e à sociedade (CECÍLIO, 2001; PINHEIRO; LUZ, 2003; PINHEIRO;
MATTOS, 2004). Dessa forma, a construção de projetos, serviços e ações voltados à coletividade
e o processo de trabalho exige dos profissionais a vivência com diferentes saberes específicos às
relações interprofissionais, direcionados à alteridade. Portanto, a busca da integralidade reflete na
negação ao reducionismo e à visão do indivíduo como objetivo da ação, assim como a afirmação da
abertura para o diálogo (PINHEIRO; LUZ, 2003).

A ausência de análise e do diálogo nas equipes de diferentes profissionais conduz à repetição de


fazeres e lógicas baseadas na separação entre as disciplinas e seus diferentes objetos de estudo e
intervenção (SEVERO, 2010). A prática fragmentada das equipes multiprofissionais desagrega e
dissocia o profissional do usuário, uma vez o discurso é da integralidade. Segundo Pinheiro e Luz
(2003): “A concretização de um sistema integral não passa, portanto, pela aplicação exclusiva dos
saberes disciplinares já existentes, mas pela construção incessante de práticas eficazes” (PINHEIRO;
LUZ, 2003).

A elaboração dessas práticas dá-se, de maneira necessária, no campo da saúde coletiva – expressão
utilizada no Brasil, originada no fim da década de 1970, e constitui um paradigma que permite a
trama entre as diferentes organizações do campo da saúde (L’ABBATE, 1997; 2003).

27
UNIDADE I │ Definindo Saúde Coletiva

As análises sobre os planos de trabalho em saúde apresentam uma organização que é capaz de
produzir saúde ou adoecimento. A emancipação e incumbência organizacional dos trabalhadores
na condução à integralidade estão interligadas ao modo de gestão. Em um modelo de administração
verticalizada, com extinta abertura à participação dos profissionais, as ações integralizadoras em
saúde e com os sujeitos fica impraticável. Igualmente, modelos de gestão que contemplam colegiados
e espaços de coparticipação propiciam a inclusão e a valorização dos trabalhadores (SEVERO, 2010).

Definições e reflexões sobre interdisciplinaridade


Atualmente, os Ministérios da Saúde e da Educação mobilizam esforços integrados às políticas
públicas que vislumbram uma reorientação do modelo de assistência, conforme preconizado
pela Reforma Sanitária. Segundo Saupe e colaboradores (2005) o sucesso de estratégias como o
Programa Saúde da Família (PSF), a implementação de processos de educação permanente dos
profissionais da saúde e a nova leitura dada aos projetos pedagógicos dos cursos de graduação, com
a incorporação das premissas da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), conforme
estabelecem as Diretrizes Curriculares (DC), são alguns caminhos pensados hoje na busca das
consolidação do SUS.

Segue um trecho da obra de Saupe e colaboradores (2005):

[...] é de suma importância que se crie uma nova relação entre os profissionais
de saúde [...] diferentemente do modelo biomédico tradicional, permitindo
maior diversidade das ações e busca permanente do consenso. Tal relação,
baseada na interdisciplinaridade e não mais na multidisciplinaridade [...]
requer uma abordagem que questione as certezas profissionais e estimule a
permanente comunicação horizontal entre os componentes de uma equipe.

No campo das ciências sociais e biológicas, a interdisciplinaridade é, certamente, um dos requisitos


mais frequentemente citados, podendo ser até uma experiência imprescindível quando se trata da
abordagem dos problemas no campo da saúde pública e das questões relativas à saúde de indivíduos
e populações (RAYNAUT, 2002).

O tema vem ganhando notoriedade também no campo do ensino em saúde em consequência das
denúncias sobre a fragmentação do ensino: a grande distância entre os conteúdos curriculares; o
perfil de uma formação generalista dos profissionais de saúde e das demandas sociais no campo da
saúde; a falta de valorização das concepções éticas; a humanização do cuidado; a locação do aluno
na posição de receber de maneira passiva a informação; e a centralização do saber no professor
como fonte única e inesgotável do saber. São pontos reincidentes e ficam mais intensos frente ao
processo de consolidação e implementação das reformulações curriculares dos cursos de graduação
na área da saúde (BATISTA, 2006).

Partimos de um conceito de saúde em que o ser humano é visto como um sistema aberto e envolvido
numa rede de relações, portanto recortamos a ciência para nos especializarmos em parte dela; na
tentativa de entender cada uma dessas relações do ser humano com o ambiente, não conseguiria dar
respostas efetivamente à complexidade da vida. Entender a saúde nesse novo olhar requer enfrentar

28
Definindo Saúde Coletiva│ UNIDADE I

desafios do meio acadêmico, do serviço, dos usuários e dos gestores. Os profissionais ainda são
formados num contexto reducionista e fracionados da ciência, distanciando-se de uma proposta
de cuidado integral que inclui as diferentes dimensões da condição humana: política, econômica,
cultural, social e subjetiva, o que gera poucos e, muitas vezes, ineficazes resultados para a saúde da
população (SPAGNUOLO; GUERRINI, 2005).

Buscamos, portanto, interagir e trocar saberes com outras disciplinas na tentativa de construir
esse novo olhar à saúde, mais dinâmico e criativo. Essa é a perspectiva da interdisciplinaridade
(SANTOS, 2007). O conceito de interdisciplinaridade surgiu no século XX e, a partir dos anos 1960,
enfatizou-se como fator necessário para atravessar e ultrapassar o conhecimento fragmentado,
embora sempre tenha existido uma aspiração à unidade do saber (VILELA, 2003).

Historicamente, essa fragmentação do saber originou-se no período moderno, por volta do século
XVII, em resposta à necessidade de especialistas capazes de enfrentar os problemas e objetivos
específicos do processo de produção e comercialização decorrentes da industrialização emergente,
a qual possibilitou sua consolidação no século XIX (VILELA, 2003).

No campo das ciências, a expressão “interdisciplinaridade” passa a ser utilizada com destaque a
partir da década de 1970, sendo o ponto de partida o Seminário Internacional do Centro de Pesquisa
e Inovação do Ensino, na França, em 1970, o qual tratou da interdisciplinaridade (BATISTA, 2006).
Nesse seminário, especializações pautadas na fragmentação do conhecimento e que promovem
saber não comprometido com a integração cientifica foram discutidos pelos cientistas, assumindo
uma postura crítica e contrária a esse movimento (BATISTA, 2006).

Atualmente, essa compreensão para a superação de divisão do entendimento e da investigação


vem posicionando o ensino e a pesquisa como multiplicador dos saberes parcelados que muito se
reflete nas relações trabalhistas, na sedimentação das profissões e no rompimento do vínculo do
conhecimento do projeto social global (SIQUEIRA, 1995).

Segundo Pombo (2005), falar sobre interdisciplinaridade é hoje uma tarefa difícil, ou melhor, quase
impossível. A verdade é que não há nenhuma estabilidade relativa a esse conceito, inclusive dos
especialistas de interdisciplinaridade, entre os quais se encontram as mais díspares definições.
Apesar disso, a palavra tem uma utilização muito ampla e pode ser aplicada em muitos contextos.

Inicialmente, foi utilizada no vocabulário da investigação cientifica, criando um contexto


epistemológico, relativo às práticas de transferência de conhecimentos entre a disciplina e seus pares.
Depois, foi proclamada pela universidade e pela escola secundária, num contexto pedagógico ligado
às questões do ensino, às práticas escolares, às trocas de conhecimentos entre professores e alunos
que têm lugar no interior dos currículos escolares, dos métodos de trabalho, das novas estruturas
organizativas. Outros usos subsequentes também foram atribuídos ao termo (SANTOS, 2007).

Em seu estudo, Fazenda (2003) utiliza uma marca inicial para definir a interdisciplinaridade
como integração de disciplinas. Essa concepção parece denunciar a necessidade das disciplinas
estabelecerem canais de comunicação e de colaboração, possibilitando a construção de referenciais
teórico-metodológicos mais ampliando situações e problemas da realidade. Contudo, a integração
entre as disciplinas pode se dar em três níveis: multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e

29
UNIDADE I │ Definindo Saúde Coletiva

transdisciplinaridade (GIRARDELLI, 1999). Assim, é importante ressaltar as peculiaridades de


cada termo, a fim de melhor delimitar o assunto abordado.

Na multidisciplinaridade, empregamos o conhecimento de várias disciplinas para investigar um


determinado componente, despreocupados de interagir as matérias entre si (GIRARDELLI, 1999).

Na interdisciplinaridade, instaura-se a inter-relação entre as diversas disciplinas, proporcionando


uma aprendizagem muito mais estruturada e rica, pois os alicerces são estabelecidos em torno de
componentes coletivos embasados em conceitos e métodos de várias disciplinas (GIRARDELLI,
1999).

Na transdisciplinaridade, a colaboração entre as diversas disciplinas é tamanha que não dá mais para
separá-las. Há sempre a possibilidade de uma disciplina sobrepor-se às outras, este é o momento
mais difícil dessa atuação em conjunto disciplinar (GIRARDELLI, 1999).

O prefixo “inter” não indica apenas uma pluralidade, uma justaposição, evoca também um espaço
comum, um fator de coesão entre saberes distintos. Além disso, o termo interdisciplinaridade não
tem significado único, possui diferentes interpretações, mas em todas está implícita uma conduta
defronte do conhecimento, uma modificação de conduta em busca da unidade do pensamento. A
atitude interdisciplinar motiva o pensamento em direção à capacidade de desafiar conflitos que
sejam criados no decorrer do seu procedimento de elucidação, o que possibilita superação de
dicotomias tradicionais da visão de mundo mecanicista (FAZENDA, 2003; POMBO, 2005).

Como sinônimo de complexidade, essa não se ensina e está longe de ser apenas fusão de conteúdos ou
métodos. A complexidade não se prende nos componentes, busca continuamente as inter-relações,
ou seja, trabalha sempre com uma estrutura de relações. Não se realiza sob ordens/decretos,
tampouco tem etapas definidas que possam sem aplicadas indiscriminadamente, sendo um processo
que se desenvolve de acordo com as necessidades específicas de cada contexto (SIQUEIRA, 2003).

O aprofundamento sobre o torno provoca no interior da própria interdisciplinaridade outros


sentidos que se unem à ideia de integrar, aproximar, pôr em contato. O emergir de diversos e
simultâneos significados tem forte influência dos contextos culturais e científicos. Assim, assumir
a interdisciplinaridade como um caminho inovador no ensino requer reconhecimento de sua
polissemia e múltiplos enfoques, sendo recente o investimento de expansão e definição conceitual,
revelando-se como uma teoria em contrição (BATISTA, 2006).

Mas como atingir uma prática concreta de interdisciplinaridade? Raynaut (2002), em seu
trabalho intitulado “Interdisciplinaridade e promoção da saúde: o papel da antropologia. Algumas
ideias simples a partir de experiências africanas e brasileiras” afirma que há quem pense que a
interdisciplinaridade é alcançada com o extermínio de divisões entre disciplinas, com a formação
de novos cientistas interdisciplinares capazes de abarcar, cada um, a totalidade dos aspectos da
realidade. Mas, para ele, o segredo da interdisciplinaridade está na competência de cada profissional
especializado conscientizado sobre a representação limitante da realidade construída com sua base
conceitual, instrumental e metodológica. Profissionais conscientizados em relação à vontade de
ultrapassar os limites de seus conhecimentos, famintos de trocar questionamentos, informações e

30
Definindo Saúde Coletiva│ UNIDADE I

práticas em saúde com outros especialistas que possuam conceitos e instrumentos apropriados para
analisar outras facetas da realidade (RAYNAUT, 2002).

Assim, trabalhar a interdisciplinaridade não significa negar as especialidades e a objetividade de


cada ciência. O seu sentido reside na oposição da concepção do conhecimento como processo de
campos fechados em si, como se as teorias pudessem ser construídas em atmosferas fragmentadas
sem um objetivo comum e unificado e isoladas dos processos e contextos histórico-culturais. Deve-
se respeitar o território de cada campo do saber, assim como discernir os aspectos de união e quais
os diferenciam. Essa questão é intrínseca à capacidade de detectar os pontos em que se possam
estabelecer as conexões possíveis (SIQUEIRA, 1995).

Segundo Reynaut (2002), para viabilizar a construção de uma interdisciplinaridade realista e


eficiente é necessário:

1. consciência da relatividade e dos limites de cada campo disciplinar;

2. boa informação a respeito do que outras disciplinas possam contribuir na construção


do conhecimento mais aplicado à realidade e mais amplo;

3. vontade e capacidade de fazer trocas acima das fronteiras disciplinares

A prática da interdisciplinaridade é dinâmica e compõe o processo. Nem todos os momentos vividos


em uma unidade de saúde, por exemplo, são interdisciplinares. Conforme Saupe et al.e colaboradores
(2005, p.11), “Não se é interdisciplinar o tempo todo e não se é interdisciplinar sempre, com todos
os membros da equipe”.

Existem espaços e momentos em que há demanda para a participação cooperativa de todos os


membros de uma equipe. A interdisciplinaridade justifica-se a partir do contexto das práticas
cotidianas de uma equipe de saúde, afinadas com a realidade vivida, ou seja, inserida nas situações-
problema. Ser capaz de identificar cenários e situações interdisciplinares é consideradao uma
habilidade necessária para aplicá-la. Compreender o sentido da interdisciplinaridade traz à tona as
potencialidades de tal prática, como: resolutividade, efetividade, solidariedade, corresponsabilidade,
entre outras. Esses ganhos ao profissional e à equipe marcam o terreno da interdisciplinaridade e
apagam suas eventuais desvantagens (SAUPE, 2005).

Segundo Vilela e Mendes (2003, p. 527):

A interdisciplinaridade também é uma questão de atitude. É uma relação de


reciprocidade, de mutualidade, que prevê uma atitude diferente a ser assumida
diante do problema do conhecimento, ou seja, é a substituição de uma
concepção fragmentária para unitária do ser humano. Está também associada
ao desenvolvimento de certos traços da personalidade, tais como: flexibilidade,
confiança, paciência, intuição, capacidade de adaptação, sensibilidade em
relação às demais pessoas, aceitação de riscos, aprender a agir na diversidade,
aceitar novos papéis.

31
UNIDADE I │ Definindo Saúde Coletiva

O trabalho interdisciplinar envolve indagações a respeito do sentido e da pertinência das colaborações


entre as disciplinas. Trata-se de um processo e de uma filosofia de atuação aplicada ao ato de
encarar os problemas e conflitos que perturbam cada sociedade, sem o objetivo de requerer apenas
o conhecimento, e sim de conferir a batalha por alcançar, relacionar e integrar os conhecimentos
(JAPIASSU, 1976; TORRES, 1998).

“Enfim, a interdisciplinaridade não se ensina nem se aprender, apenas vive-se e


exerce-se.” (FAZENDA apud VILELA E MENDES, p. 527, 2003)

32
capítulo 4
A construção do conhecimento em
saúde coletiva

O pensamento não é apenas externamente mediado por signos, mas também


internamente por significados. A questão é que a comunicação direta de mentes
é impossível não só fisicamente, mas também psicologicamente. Ela só pode
ser conseguida através de meios indiretos, mediados. Esta estrada equivale
à mediação interna do pensamento primeiro por significados, depois por
palavras. Portanto, o pensamento nunca pode ser igual ao significado direto
das palavras. O verbal, ou seja, o caminho do pensamento para a palavra é um
caminho indireto, internamente mediado.
(VYGOTSKY apud VAN DER VEER; VALSINER,1991, p. 399)

Como os diferentes sujeitos da sociedade acatam à solicitação para esta importante


reflexão e como veem o âmbito social da saúde e o perfil dos profissionais que
atuarão nos distintos campos de ação? Considerando que o âmbito conceitual
da saúde pública incorpora uma grande variedade de saberes e práticas não
condizentes com um único profissional especializado para atuar nas instituições e
serviços, qual o núcleo básico de conhecimentos e habilidades que deverão compor
o novo perfil profissional num contexto que incorpora novos profissionais no campo
de ação, exigindo indivíduos negociadores, comunicativos e capazes de administrar
o conhecimento?

Refletir a construção do conhecimento em saúde implica pontuar o ensino, particularmente


no âmbito da graduação nas profissões dessa área. O aprendizado em graduação, na área da
saúde, ampliou uma tradição que caracterizou a formação centrada em conceitos e em processos
pedagógicos de transmissão, de desconexão entre núcleos temáticos; com carga horária excedida
em determinados temas e reduzida, ou nula, a oferta de disciplinas optativas; com falta de vínculos
entre ensino, pesquisa e extensão, orientada pela doença e reabilitação. No contexto das políticas
educacionais, os cursos de graduação em saúde, historicamente, não são orientados de maneira
integrativa entre a prática e o ensino, com formação conceitual, teórica, metodológica, que possa
potencializar a competência da integralidade. A capacidade de integralizar inclui o desafio de
enfrentar as necessidades sociais da saúde e de desenvolvimento do sistema de saúde (CECCIM,
2001; 2004; 2005; CECCIM; CARVALHO, 2006).

A universidade moderna foi configurada em disciplinas e departamentos. A visão histórica foi


tomada como conceitual, sendo a gênese do arranjo corporativo das especialidades e dos controles
burocráticos que dificultam as práticas interdisciplinares. Dos profissionais e das interelações
disciplinares que efetivam o vigor e a manutenção da perspectiva interdisciplinar, cedendo a
maneira fragmentada como modo organizador dos saberes e fazeres (CECCIM, 2001; 2004; 2005;
CECCIM; CARVALHO, 2006).

33
UNIDADE I │ Definindo Saúde Coletiva

Cabe à saúde coletiva sugerir outras maneiras de analisar a formação e a educação contínua em
saúde que possibilite o conjunto das áreas que compreendem as ciências da saúde; da mesma forma,
outras áreas e especialidades que caracterizam a prática do trabalho em saúde de forma ampliada
corrobora para que nos apossemos dos saberes e práxis que potencializam a alteração do contexto
atual, não restrito à atuação técnica ou científica, e aprecia a percepção do poder que nos leva à
elaboração de projetos de vida, de liberdade, de conquistas e de felicidade, com ensejos pessoais e
profissionais por saúde (AYRES, 2004; CAMPOS 2003).

Segundo Ceccim e Carvalho (2006) estamos escrevendo a partir e a respeito da área denominada
“saúde coletiva”, focando seus atributos de caracterização da epidemiologia, da organização,
da gestão e da política em saúde, mas também para a redefinição da prática clínica das equipes
multiprofissionais e dos conhecimentos interdisciplinares, das terapias diversas, das articulações
em redes da sociedade e dos serviços em saúde. A saúde coletiva é um contexto de geração de
saberes e de ações de profissionais especializados, mas também interdisciplinar, onde não ocorre à
concorrência por delimitações rígidas e precisas entre as diversas escutas e diferentes maneiras de
olhar, refletir e produzir saúde. As diversas práticas em saúde pautadas nos modos de levar a vida,
afiando as condições de existência dos indivíduos e das coletividades, demarcando a intervenção
e viabilizando as modificações nos modos de viver focam a promoção da saúde, a prevenção de
doenças e agravos, a reabilitação psicossocial e a proteção da capacidade de cidadão, assim como
outras práxis de proteção e recuperação da saúde. A distinção das amostras está no enfoque em
uma ou outra competência, no exercício da clínica individual e nas prescrições ou implementações
terapêuticas específicas. A prática clínica e a prática terapêutica se valem, de maneira predominante,
da prática individual de cuidado, mesmo que eficazmente incorporem o individuo e o coletivo e atuem
com as práticas de prevenção e promoção à saúde. Seguindo o mesmo raciocínio, a vigilância em
saúde utiliza a clínica para mediar a forma adequada, e assim por diante (AYRES, 2004; CAMPOS,
2003 CECCIM, 2001; 2004; 2005; CECCIM; CARVALHO, 2006).

Quatro focos de decisão são privilegiados pela saúde coletiva, como as políticas: maneiras de
distribuição do poder, prioridades eletivas, perspectivas de inclusão social, a viabilidade às culturas
e a produção de conhecimento; as técnicas: organização e regulação dos recursos e processos de
produção; e os meios para a intervenção. Segundo Nunes (1996) as ações da saúde coletiva possuem
como eixo direcionador as demandas em saúde da sociedade, dessa forma, preocupam-se com a
saúde dos indivíduos e das coletividades, como classes sociais, grupos étnicos e gerações, instigando
uma maior e mais efetiva cooperação dos indivíduos nas questões de vida, saúde e adoecimento no
contexto coletivo (NUNES, 1996).

Uma história dos movimentos de mudança na


graduação das profissões de saúde
Nota-se, ao longo da história, modificações nos cursos de graduação referentes ao registro dos esforços
de levar o ensino em saúde mais próximo das necessidades de saúde (CECCIM; CARVALHO, 2006).

Embora ocorra presença indiscutível da saúde coletiva na formação dos profissionais de saúde,
tradicionalmente ou de maneira inovadora, esta tem sido incapaz de gerar alteração na formação,

34
Definindo Saúde Coletiva│ UNIDADE I

possivelmente pela ação não associada à clínica, como tem sido proposta e sugerida nas estruturas
curriculares pela valorização apenas de seus aspectos mais tradicionais de ensino, como Bioestatística,
Epidemiologia, Demografia, Ambiente, Saneamento, Modelos Explicativos da Saúde e da Doença,
Educação para a Saúde e Gestão Política do Setor da Saúde. São, de maneira principal, as demandas
da saúde coletiva que se referem aos movimentos de modificação na graduação (CECCIM, 2001;
2004; 2005; CECCIM; CARVALHO, 2006).

No Brasil, na década de 1920, houve a reforma Carlos Chagas, hegemônica em relação à


anatomopatologia que inseria as instituições hospitalares como o lugar da doença e da cura e o
melhor ambiente de formação em assistência da saúde. A saúde pública incitava uma formação que
se dirigisse para as prioridades do País, tendo como objetivo a saúde da nação (SCHRAIBER, 1989;
MATTOS, 2003).

É importante registrar que o médico inglês Lord Bertrand Dawson, em 1920, por meio do Relatório
Dawson, um registro histórico para a administração e o planejamento dos serviços de saúde
coletiva como um todo, tinha como proposta a educação em saúde como integrante íntimo do
sistema de saúde e não de maneira exclusiva das instituições hospitalares para o ensino e como
campo de habilitação profissional. As características desse relatório, ao contrário do Relatório
Flexner, foi o enfoque para a incorporação das práxis do cuidado básico da saúde e não em relação
ao cuidado especializado, utilizando a rede habitual de serviços como escola e não como hospitais
universitários. O Relatório Dawson justificou e defendeu as instituições governamentais como
gestora e reguladora das políticas públicas de saúde, frente à gestão regionalizada e hierarquizada
dos serviços, com enfoque na integralidade das atividades preventivas e curativas, não apenas na
utilização do médico generalista e de um âmbito considerado como primeiro nível de atenção.
Suas orientações confrontaram a grande contrariedade dos médicos na restrição/limitação à
prática liberal-privatista e pela regulação das práticas profissionais. Devido às fortes resistências
apresentadas, as recomendações não são adotadas, mas elas influenciam a constituição do sistema
nacional de saúde inglês no final dos anos 1940, instituindo a universalização do cuidado primário
à saúde e à gênese do conceito de médico generalista (MARSIGLIA, 1995; FEUERWERKER, 2003;
CECCIM; CARVALHO, 2006).

No Brasil, manteve-se o modelo de cura do indivíduo como base do ensino da saúde e da formação
direcionada à ciência das doenças, na qual o corpo era entendido como o campo de evolução das
doenças e a clínica como um instrumento experimental de restauração da normalidade suposta na
saúde dos órgãos. Um esforço decrescimento da educação superior no Brasil identifica o ensino da
saúde com a pesquisa experimental emergente e aprofunda o modo biologicista de saúde. Nos anos
1940, houve presença acentuada da ciência na qualificação e expansão da educação superior dos
profissionais de saúde e sua especialização, incluindo a criação de departamentos nas universidades,
juntando as disciplinas de ensino como então existentes; o que justificou a construção, a reforma e a
ampliação dos laboratórios, o que definiu a gênese dos hospitais universitários ou então chamados
de hospitais escola, registrando um movimento que, isoladamente caminhou até o final da década
de 1970 com eixo na prática individual e na cura de doenças como eixo principal (MARSIGLIA,
1995; CECCIM; CARVALHO, 2006).

35
UNIDADE I │ Definindo Saúde Coletiva

Entre os anos 1950 e 1960, a saúde coletiva se constituiu como um movimento mundial, o
Movimento Preventivista, demonstrado por Sérgio Arouca, em sua tese de doutoramento sobre
o dilema preventivista (AROUCA, 1975; 2003). O Movimento Preventivista direciona a formação
dos profissionais como eixo estratégico à modificação das práticas de saúde e coloca em destaque
a demanda de reavaliar os objetivos dos cursos de graduação na saúde. Para o Movimento
Preventivista, as demandas da saúde das sociedades são apontadas como foco para as modificações
da educação dos profissionais de saúde. O movimento preventivista, somando as áreas da saúde
coletiva, provoca uma amplificação da visibilidade dos problemas de saúde da população (AROUCA,
1975; 2003; MERHY, 2002; 2003).

Nos anos de 1960, ocorreu uma reforma da educação que instigou a abertura de departamentos,
disciplinas e áreas de conhecimentos da saúde pública, o que incentivou principalmente o ensino
de conteúdos relacionados à prevenção em saúde, de maneira notória nos cursos de Medicina,
Enfermagem e Odontologia. Essa reforma na formação dos profissionais de saúde não integrou as
disciplinas da área da saúde coletiva à área clínica, embora tenha introduzido a ideia de mudança no
campo da educação dos profissionais de saúde como um movimento organizado. O fator relevante
às mudanças ocorridas na educação dos profissionais de saúde foi decorrente da atuação da OPAS
junto às instituições formadoras mobilizadas para o debate sobre o ensino da saúde pública, na
qual apontaram as demandas de uma mudança de comportamento dos professores, da integração
curricular e da integração do ensino com o sistema de saúde para a melhor formação dos profissionais
e adequação da participação na melhoria das condições de saúde da população (MARSIGLIA, 1995;
CECCIM, 2005; CECCIM; CARVALHO, 2006).

A área da saúde coletiva, seja como organização científica do conhecimento seja como participação
na organização dos sistemas de saúde, preocupa-se com a fragmentação da formação e da realidade
social no âmbito de atuação dos profissionais, de modo relevante o ensino em saúde. Distante
às acumulações da saúde coletiva, contudo, o sistema de educação se mostra impermeável às
necessidades de mudança. As reformas das universidades conduziram, e ainda conduzem, muito
mais em conta os aspectos internos às instituições de ensino o que implica a formação no contexto
da transformação no interior do mundo do trabalho (PINHEIRO, LUZ, 2003).

É importante ressaltar que o conceito de saúde da OMS, formulado em 1946, apontava que a saúde
significava “bem-estar físico, mental e social”. O ensino, em decorrência, deveria se desapegar da
biologia, como racionalidade científica à saúde, e estabelecer o intercruzamento com a psicologia,
as humanidades e as ciências sociais e humanas para uma reforma da educação não apenas
instrumental, mas de projetos políticos e pedagógicos (OPAS, 1997; 1995; CZERESNIA; FREITAS,
2003).

O interesse pelos aspectos pedagógicos do ensino na saúde iniciou-se ao mesmo tempo em que a
educação analisava a aplicação das tecnologias de ensino aprendizagem, com vistas à modernização
das escolas e do ensino e para a elaboração da didática aplicada às ciências da saúde. É nesse contexto
que se desencadeou o processo de articulação das escolas e culminara na constituição das associações
de escolas no país, na América Latina e no continente americano. A gênese das Associações e
Federações de Escolas, que mais tarde evoluiu em diversas profissões, para Associações de Ensino,

36
Definindo Saúde Coletiva│ UNIDADE I

tinha como objetivo a difusão de ideias relacionadas à mudança na educação dos profissionais de
saúde (SANTOS, 1997; FERLA, 2002).

Nos anos 1970, foram os projetos de ensino em saúde comunitária que despontaram a análise
acerca das mudanças na formação, resultantes da compreensão dos aspectos psicológicos e sociais,
retirando o contexto da cultura, da história, das políticas da vida em sociedade, das racionalidades
em cada setor da sociedade ou coletividade. Os programas de aprendizagem se direcionaram aos
territórios da vida, no sentido de compreender os contextos culturais locais. Historicamente, o país
estava no auge da ditadura e foi também o período que se introduziu o direito à educação popular
como projeto de cidadania, configuração da pedagogia segundo Paulo Freire (PEREIRA NETO,
2001; FEUERWERKER, 2003).

O movimento preventivista naturalizou o psicológico e o social, bem como as noções de corpo,


saúde, doença e terapêutica ficavam de maneira profunda na denominação do pensamento
militar que estava no poder, que chamava a Educação Física para transformá-la em disciplina
do movimento e da atividade física. O corpo saudável era considerado um corpo disciplinado,
comportado e sem emoção para o qual as práticas de educação física na escola, educação para
a saúde nas comunidades e intervenção medicamentosa para eliminação de todos os tipos de
sintoma eram direcionadas. As intervenções do corpo humano eram domínio das ciências da
saúde e não necessitavam de escuta e do diálogo dos profissionais de saúde (CECCIM, 2005;
CARVALHO, 2004; CECCIM; CARVALHO, 2006).

Nos anos de 1980, as posições inovadoras e de crítica aos modelos profissionais existentes, como
os modelos de assistência, de educação e de desenvolvimento social, reivindicaram inovadoras
experiências à integração do ensino e dos serviços que ultrapassassem o aprendizado nas instituições
hospitalares, valorizando o processo de ensino nas unidades básicas de saúde, e que pudessem
recuperar a integralidade e incorporassem de maneira mais intensa os conteúdos das ciências
sociais e humanas. Sem desconsiderar o conceito do hospital como o lugar de cura e de doença, as
novas visões de saúde e de corpo criaram disciplinas inovadoras, prestigiaram outras profissões e
distinguiram profissionais voltados para a comunidade e profissionais preparados para o hospital
(SOUZA, 1998; MATTOS, 2003). CECCIM, 2005; CARVALHO, 2004).

A trama de Integração Docente-Assistencial, com os projetos em toda a América Latina, trouxe


materialidade e história à área de ensino em saúde no sentido da integração ensino-serviço. O
complexo das experiências de integração ensino-serviço determinou a expansão dos conceitos de
atenção integral à saúde, da integração entre formação e do trabalho, do ensino e da pesquisa em
saúde coletiva e de invenção de projetos entre os diferentes profissionais na graduação, na extensão
e nas especializações em serviço sob supervisão. Surgiram iniciativas de construção de residências,
em especial na área de saúde mental. O conceito de integração docente-assistencial marcou a
possibilidade da interseção ensino-serviço, apontou para a possibilidade de tornar a rede de saúde
uma rede-escola, com capacidade de expansão dos serviços do sistema de saúde e programas de
residência em todas as áreas profissionais da saúde. A década de 1980, do ponto de vista do sistema
de saúde, foi marcada pelas Ações Integradas em Saúde, da VIII Conferência Nacional de Saúde,
da criação do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (Suds) e da Constituição Cidadã; e

37
UNIDADE I │ Definindo Saúde Coletiva

favoreceu a execução da reforma sanitária que contribuiu para a criação do SUS, regulamentado nos
anos 1990 (MARSIGLIA, 1995; CECCIM; CARVALHO, 2006).

Na década de 1990, os projetos de integração ensino-serviço incluem a representação da população


na discussão das mudanças na formação e no exercício das profissões para gerar serviços com
capacidade de acolhida e escuta aos usuários. Algumas iniciativas na educação dos profissionais
de saúde provocaram a união com a comunidade abrindo caminhos de mudança nas reformas
curriculares, o que desafiou a alteração de conteúdos para além da saúde pública preventivista, a
respeito da integração entre o ensino, os serviços e a comunidade. A ideia central dessa reforma
foi focada nos aspectos de formação, articulando os serviços fundamentais e os representantes da
população. Não se tratava de unidades-escola pertencentes à universidade, mas sim da atuação em
redes locais de saúde. E estas articulações foram fundamentais para divulgar o ideário da reforma
sanitária entre professores e ingressos da graduação (KISIL; CHAVES, 1994; SENA-CHOMPRÉ,
1998; CECCIM, 2005; CECCIM; CARVALHO, 2006).

Ainda na década de 1990, sistematizou-se e programou-se na América Latina a reunião dos projetos
de articulação ensino-serviço-comunidade (rede de projetos UNI) e dos projetos de integração
docente-assistencial (rede de projetos IDA), que refletiu na estruturação da rede UNI-IDA (depois
rede Unida), assim como na formulação de uma teoria acerca da mudança na educação dos
profissionais de saúde. A necessidade de ultrapassar uma profissão, um departamento; de definir a
multiprofissionalidade por meio de projetos de desenvolvimento da atenção integral; de melhorar
a gestão social e de ampliar a interação com o sistema de saúde e o processo de aprendizado
caracterizou os novos rumos (KISIL; CHAVES, 1994; SENA-CHOMPRÉ, 1998; CECCIM, 2005;
CECCIM; CARVALHO, 2006).

No início dos anos 2000, houve novidade na educação nacional, como o rompimento da noção
de currículo mínimo para a organização dos cursos de graduação. Aprovadas entre 2001 e 2004,
as Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de graduação em saúde, com exceção: Medicina
Veterinária, Psicologia, Educação Física e Serviço Social, afirmaram que a formação dos profissionais
de saúde precisava contemplar o sistema de saúde vigente no Brasil, o trabalho por equipe e o
cuidado integral à saúde, não somente a atuação do médico e sim dos biomédicos, fisioterapeutas,
fonoaudiólogos, odontólogos e terapeutas ocupacionais no cuidado à saúde. Para o curso de
graduação em Educação Física e Psicologia, o cuidado em saúde está definido como participação
na prevenção, promoção, proteção e reabilitação em saúde, segundo os referenciais das profissões;
Psicologia definiu a atenção à saúde como o seu objetivo específico; para o curso de graduação em
Medicina Veterinária, a saúde é definida como a intervenção de saúde pública; para a graduação
em Biologia, é a atuação a favor das políticas de saúde; para o Serviço Social não há referência
específica à saúde, suas diretrizes são pela cidadania, relações sociais e mercado de trabalho; para
o Conselho Nacional de Educação, a graduação em Economia Doméstica compõe o conjunto das
ciências da saúde e sua participação se faz pelo âmbito da promoção da saúde. A Agronomia, com
marcada atuação na área de saúde ambiental, pode intervir em saúde pública pela participação no
controle de alimentos de origem vegetal e controle dos mananciais de água, além da participação na
produção de fitoterápicos (SOUZA, 1998; FEUERWERKER, 2002; 2003; CECCIM; CAPOZZOLO,
2004; CECCIM, 2004; 2005; 2005).

38
Definindo Saúde Coletiva│ UNIDADE I

Em 2004, foi apresentada pelo Ministério da Saúde e aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde
uma política do SUS para dialogar com os cursos de graduação nas profissões da área da saúde:
“Aprender SUS”. A iniciativa despertou uma adesão intensa dos estudantes de graduação dos
vários profissionais da área de saúde, de amplos segmentos populares, principalmente organizados
em torno da Articulação Nacional dos Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde e
do conjunto das Associações de Ensino das Profissões de Saúde, que chegaram a criar o Fórum
Nacional de Educação das Profissões da Área da Saúde, assim como as executivas de estudantes
organizaram a Comissão de Representação do Movimento Estudantil da Área da Saúde (BRASIL,
2004; CECCIM; CARVALHO, 2006).

O “Aprender SUS” foi a primeira política do SUS voltada para a educação universitária. Ele apoiava
o Fórum das Associações de Ensino das Profissões de Saúde e a Comissão de Representação
do Movimento Estudantil da Área da Saúde; a cooperação e o envolvimento na organização do
componente saúde no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior, para a consideração
da implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais; a orientação dos cursos pela tematização
da integralidade em saúde; o suporte à pesquisa sobre o ensino da integralidade dos diferentes
profissionais da área da saúde, mobilizando o diretório de pesquisas do CNPq designado como
“Ensina SUS”, que foi direcionado à formação de ativadores de processos de mudança na graduação,
com mil vagas em curso de pós-graduação Latu sensu; o financiamento de projetos com autonomia
nas áreas provenientes das Associações de Ensino, Executivas de Estudantes e Instituições de
Educação Superior no âmbito da integralidade, trabalho em equipe e apropriação do SUS (CECCIM;
CARVALHO, 2006).

A construção das estratégias atuais decorre do processo de aprendizado com a história dos
movimentos de mudança, como a demanda de estabelecer inter-relações entre os estabelecimentos
de ensino e as organizações de gestão da saúde; as instituições de representação popular e os serviços
de cuidado à saúde (CECCIM; CARVALHO, 2006).

As Ciências da Saúde e o SUS


Para iniciar a discussão, é de suma importância apontar que não há consenso no meio acadêmico e
investigativo/científico a respeito da composição das “Ciências da Saúde” (CECCIM; CARVALHO,
2006). Paim e Almeida Filho (2000) enfatizam as várias ciências contemporâneas que se apresentam
como “da saúde”, mesmo que sejam ciências “da doença” ao passo que as disciplinas que constituem
o campo da saúde não elaboram modelos de saúde que possam considerar a complexidade dos
processos relacionados ao sofrimento, à dor, ao cuidado e à vida, ou seja, a base conceitual que rege
as áreas da saúde está distante daquele que padece.

Apesar disso, estruturadas como instituições, as Ciências da Saúde compõem a Grande Área da
Saúde, que é composta pelo conjunto de profissionais cujos núcleos de competências são baseados em
práticas de assistência e o outro conjunto de profissionais cujos núcleos de competências compõem
as práticas de promoção da saúde. Entre os núcleos de competências dos profissionais estão as
práticas de saúde prestadas aos indivíduos e às coletividades humanas. A falta de precisão acerca
dos limites entre os 2 grupos se relaciona com a amplitude que se objetiva designar ao conceito de
práticas de saúde ou de necessidades de saúde (PEREIRA NETO, 2001; CECCIM, 2004).

39
UNIDADE I │ Definindo Saúde Coletiva

A maneira hegemônica da atenção hospitalar, das especialidades e do modelo curativo individual


no ensino em saúde reflete no processo educativo em saúde marcada por uma ciência de doença,
um método experimental de restauração de uma normalidade da saúde dos órgãos, e corrobora,
sobretudo, com a precoce especialização que é possível perceber no trabalho em saúde no País,
bem como à utilização tecnológica de maneira excessiva por meio do uso de equipamentos de apoio
no diagnóstico e no terapêutico, de intervenções invasivas e medicamentosas (CUNHA, 2005;
CECCIM; FEUERWERKER, 2003; CECCIM, CARVALHO, 2006).

A presença marcada da saúde coletiva no processo de educação dos profissionais de saúde, além
da oferta das disciplinas tradicionais de ensino da área, precisaria transversalizar o conjunto da
formação; estruturar práticas intercursos; estabelecer permeabilidades multiprofissionais na
docência, na pesquisa e na extensão; instituir cruzamentos com as áreas sociais e de humanidades
e incentivar práticas criativas de inter-relação com os sistemas e serviços de saúde e com as redes
sociais por localidades. O desafio maior que se faz necessário ultrapassar é a presença da saúde
coletiva apenas no final dos cursos e não em seu início, o que propõe a implementação do conjunto
de saberes profissionais para descrever, avaliar e inovar nas realidades sociais, epidemiológicas e de
administração em saúde (CUNHA, 2005; CECCIM; FEUERWERKER, 2003).

O Brasil necessita de profissionais capacitados na gestão dos sistemas e serviços de saúde, não
porque se especializaram em administração, mas porque dominam o seu âmbito do trabalho no final
da graduação; profissionais capacitados à escuta ampliada aos problemas de saúde, não porque se
especializaram em planejamento, mas porque sabem o que é um projeto terapêutico singular; e de
profissionais acolhedores, não porque são bons classificadores de risco, mas porque estão imersos
no conceito de inclusão e, de suma importância, na responsabilidade do campo da saúde com a
saúde individual e coletiva (CECCIM, 2004; 2005; 2005).

O meio acadêmico e universitário, de maneira geral, depara-se com distintos dilemas, em decorrência
da necessidade de redimensionar as suas funções conforme a mudança social cada vez mais dinâmica
e complexa. Aspectos como a temporalidade, a globalização, as técnicas, a ciência e a informatização
são intensamente utilizados e, todavia, por si só, não conseguem explicar as transformação por
que passa a sociedade moderna. A universidade brasileira é um ator desse processo, em paralelo à
participação que sofre pressão para que acompanhe a velocidade dos acontecimentos e dos avanços
tecnológicos. Um dos caminhos que a universidade segue é o de atender às demandas e aos interesses
imediatos relacionados e vinculados ao mercado de trabalho, com ênfase nos conteúdos técnicos e
práticos isentos de reflexão, de crítica, de contextualização e, sobretudo, isento de autoria àqueles
para quem se destina (CECCIM; CARVALHO, 2006; CECCIM, 2004; 2005; 2005).

Os diferentes profissionais necessitam estar atentos ao fato de que para que as populações possam
alcançar os níveis adequados de saúde é necessário ir além do acesso aos serviços de assistência com
qualidade, é necessário lutar e envolver-se com políticas públicas comprometidas com a afirmação
da vida como elementar à saúde e viabilizar a comunicação e articulação entre a população e o
poder público. Não é possível interferir no processo saúde-doença se não estivermos preparados e
desenvolvido a escuta, o estudo, a análise e a avaliação ao que se pensa e se executa nas Ciências da
Saúde hoje (CECCIM; CARVALHO, 2006).

40
capítulo 5
O contexto ambiental e da saúde
no processo de desenvolvimento do
campo da saúde coletiva

Qual a relação entre saúde/ambiente/doença?

Como isso é entendido pela nossa sociedade?

Quais iniciativas estão envolvidas?

Aspectos históricos
A inter-relação do ambiente com o padrão de saúde de um grupo populacional designa o campo de
conhecimento referido como “saúde ambiental”. Segundo a OMS, esta relação incorpora todos os
componentes e aspectos que possuem um potente risco à saúde, com a inclusão da exposição aos
componentes específicos, como os químicos, biológicos ou os contextos que se relacionam ao estado
psicológico do indivíduo, assim como aqueles relativos aos aspectos negativos do desenvolvimento
social e econômico dos países (OPAS, 1990).

Aspectos institucionais, como as questões ambientais habitualmente relacionadas com a saúde,


eram durante muitos anos uma preocupação exclusiva de organizações relativas aos serviços de
saneamento básico, como água, esgoto, lixo etc., no País, o que configurou atuais propostas do
Estado e ligadas a diferentes espaços dentro do aparelho de estado, de maneira notável em alguns
Ministérios, como o da Saúde e do Interior, as Secretarias Estaduais e Municipais, além de algumas
Universidades. Nos anos 1970, houve o agravamento dos aspectos ambientais causados pelo
crescimento industrial e surgiram novas instituições, como a Companhia Estadual de Tecnologia
em Saneamento Ambiental (CETESB) e a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente
(FEEMA), as quais contribuíram para a criação das ações de controle da poluição, mas sem um
vínculo direto com o sistema de saúde. Por outro lado, no meio acadêmico houve um crescente
de criação de novas teorias e abordagens que renovavam seu caráter institucional, principalmente
associado a outras organizações civis no interior da luta pela redemocratização do País (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 1985).

Com o crescimento da área de saúde do trabalhador, a partir do fim dos anos 1970 e no decorrer
de toda a década de 1980, ficou explícita a ligação entre as questões acima citadas e o sistema
de saúde, o que abriu o trajeto de incorporação de uma saúde ambiental no setor (CÂMARA &
GALVÃO, 1995). O período que antecedeu a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), em 1992, no Rio de Janeiro, contribuiu de maneira
adicional ao emergente dos problemas de saúde relacionados com o ambiente. Aliás, este período
pode ser definido pelo crescimento dos movimentos ecológicos, como as Organizações não
Governamentais (ONGs) e outras formas organizadas de luta da sociedade civil pela preservação

41
UNIDADE I │ Definindo Saúde Coletiva

do ambiente que ganharam espaço na mídia. Tais aspectos explicitam os aspectos políticos e sociais
da relevância da questão ambiental em seus desdobramentos, inclusive para a saúde, em todo o
planeta (TAMBELLINI; CAMARA, 1998).

É possível afirmar que a ideia do meio ambiente como componente essencial no âmbito da saúde
é antiga, no entanto, a definição de suas características em sentido técnico e científico tem sido
bastante vaga e imprecisa para assumir as variadas maneiras e concepções na composição do
ambiente com a possível relação com a saúde propriamente dita. Inegavelmente, este ambiente é
visto ao longo dos anos como meio externo, na maioria das vezes considerado como, simplesmente,
o cenário (AROUCA, 1976; QUADRA, 1979).

A disciplina moderna da investigação cientifica, Epidemiologia, apresentou um papel de decisão


na composição das questões que abriram um campo de incorporação da relação da saúde com o
ambiente, nos termos atuais, no campo da saúde coletiva. A concepção epidemiológica da tríade
agente-hospedeiro-ambiente, que expressa a inter-relação dos componentes fundamentais na
origem das doenças, fornece a base para a elaboração de uma História Natural da Doença proposta
inicialmente por Leavell e Clark (1965). O que seria uma das tentativas de articulação de um raciocínio
contemporâneo, como o da Epidemiologia e sua aplicação na prática da Medicina Preventiva que
se desafiava no sentido integral de atenção ao paciente, pois supunha vários níveis de prevenção de
acordo com o avanço do processo de doença no doente. O modelo criado e extensamente difundido
nos anos de 1950 e 1960 pelos norte-americanos tornou-se, posteriormente, realidade no Brasil e
uma peça importante nas análises críticas pioneiras que contribuíram grandemente para a criação
de modelos alternativos em saúde (AROUCA, 1976; DONNANGELO, 1978; LAURELL, 1982).

Segundo Nunes (1986), o valor dado ao componente social como dimensão relevante na explicação
deste processo facilitou a entrada das Ciências Sociais, nos aspectos teóricos e metodológicos, na área
de saúde pública (NUNES, 1986), o que possibilita a discussão de outros conceitos de ambientes,
principalmente relacionadas à noção de “coletivo”, e com as categorias “população” ou “grupos
populacionais” tradicionalmente adotadas pela Epidemiologia. Apesar disso, ainda há a prevalência
do olhar de ambiente como externo ao sujeito, embora já analisada e criticada nas próprias áreas
que a adotavam. A própria urgência de uma saúde coletiva é reflexo, em parte, do desenvolvimento
do conhecimento enraizado na teoria de alterações do curso do raciocínio empírico, até então
dominante nessa área. Dessa forma, alterações conceituais e de metodologia tornaram obrigatória
a renomeação do próprio campo de preocupações. As diferenças no âmbito político, econômico
e social relativos aos países onde se produzia conhecimento e as próprias maneiras de conhecer
tornaram eminente a necessidade de um raciocínio original sobre a saúde que pudesse considerar,
do nosso ponto de vista, as dimensões políticas e econômicas e contribuir para a redefinição dos
conteúdos e das formas de intervenção concreta (TAMBELLINI; CAMARA, 1998).

Os conceitos de ambiente ficaram fora do foco central de preocupações de uma saúde coletiva
emergente, como, por exemplo, aquela que o compreendia no âmbito de um espaço definido
geograficamente que somente foi, em parte, recuperada e assumida posteriormente em trabalhos
recentes (SABROSA et al., 1992; SILVA, 1997). A dimensão ecológica desta abordagem está menos
desenvolvida na atualidade, mesmo que alguns esforços tenham sido feitos neste sentido, de maneira

42
Definindo Saúde Coletiva│ UNIDADE I

especial nas áreas que têm como objeto as doenças parasitárias e infectocontagiosas que já eram a
preocupação principal dos profissionais (TAMBELLINI; CAMARA, 1998).

Em outro sentido, intensamente desfocada dessa conjuntura, acontecia, marginalizada à recém-


nomeada saúde coletiva, um conceito de saúde ambiental com base nos modelos epidemiológicos
tradicionais. Em sua versão mais avançada, essa noção andava em paralelo aos fatores de risco
do ambiente e das doenças e agravos para a saúde dos grupos populacionais expostos aos agentes
químicos e físicos determinados em situações definidas como não ocupacionais. Porém, em outros
campos, a saúde ambiental avançava no campo das investigações, articulando as novas questões da
clínica representadas nos agravos à saúde, tendo como base a capacidade biológica de construção
de um repertório fisiológico que definiria os processos de morbidade, dada a interação do indivíduo
com o ambiente, reposicionando a Toxicologia nos termos modernos. É provável que esta forma
particular da área de saúde ambiental se desenvolveu cientificamente, sem levar em conta as
subjetividades e as explicações das Ciências Sociais acerca do afastamento e da quase exclusão
da saúde ambiental do âmbito da saúde coletiva, em seus primeiros momentos (TAMBELLINI;
CAMARA, 1998).

Além de alguns autores discutirem de forma eventual a possibilidade de que os efeitos adversos
sobre a saúde de processos produtivos investigados pudessem ultrapassar a área geográfica das
empresas, foram publicados artigos, dissertações e teses na área de saúde coletiva sobre os problemas
ambientais que foram originados dos ambientes de trabalho. Foi crescendo a conscientização da
importância da relação do trabalho com a saúde da população não trabalhadora, uma vez que são os
profissionais da área de saúde do trabalhador os que possuem o conhecimento dos métodos e das
tecnologias para avaliação e controle dos riscos originados a partir dos ambientes de trabalho. Tais
aspectos racionalizaram as instituições de pesquisa e ensino a definirem seu campo de atuação de
forma mais abrangente, sob a denominação de “produção/ambiente/saúde”; “trabalho, ambiente e
saúde”; “saúde e trabalho”, e que fortaleceu o desenvolvimento de uma área técnica de intervenção
nos serviços públicos sob a denominação de Saúde Ambiental dentro do Ministério da Saúde
(TAMBELLINI; CAMARA, 1998).

De fato, os indicadores que existem, de maneira especial os de mortalidade e letalidade, evidenciam


que as condições de trabalho no país, e em consequência o padrão de saúde das pessoas que
trabalham, sejam preocupantes. É também indiscutível o crescimento da área de saúde do
trabalhador nos últimos 25 anos. Os sindicatos passaram a incluir entre suas prioridades as questões
da saúde relacionadas ao trabalho (UNITRABALHO, 1997). Nas universidades, esse fato pode ser
comprovado pela participação expressiva no campo do conhecimento e na produção científica
apresentada em publicações especializadas, nos congressos e em outros eventos da área de saúde
coletiva (LACAZ, 1996). Relacionadas aos serviços, destacava-se a importância da implantação dos
Programas de Saúde do Trabalhador por meio do expressivo aumento do número de doenças
ocupacionais notificadas, que teve um crescimento de 5.217 casos em 1990 para um total de 20.967
em 1995. Segundo Trindade (1997), em um estudo a respeito de notificação em saúde, até abril de
1997 haviam sido cadastradas 3.600 consultas somente no Ambulatório de Doenças do Trabalho da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Dias (1994), em sua tese de doutorado intitulada “A
atenção à saúde dos trabalhadores no setor saúde (SUS) no Brasil: realidade, fantasia ou utopia?”
buscou compreender a criação e a elaboração das práticas de atenção à saúde dos trabalhadores no

43
UNIDADE I │ Definindo Saúde Coletiva

sistema de saúde, organizou um cadastro destas atividades na rede pública que compreendia 161
programas ou atividades indicadas como de saúde do trabalhador. Estes programas oferecem o
acesso dos trabalhadores a serviços, antes inexistentes, que podem contribuir para a comprovação
causal entre a produção e o processo de adoecimento (TAMBELLINI; CAMARA, 1998).

No momento atual, a área de saúde ambiental, com sua estrutura inovada, aparece com certa
densidade institucional nas universidades e nos centros de investigação, nos projetos educacionais e
nas áreas de intervenção dos serviços públicos de saúde, desde o nível municipal até o federal, assim
como está presente em entidades da sociedade civil, tais como as já citadas ONGs. Recentemente, um
relevante aporte de conhecimentos e técnicas está sendo fornecido pela saúde ambiental ao campo da
saúde coletiva por meio de organizações da área, como a OMS e a Environmental Protection Agency,
entre outras. Trata-se das propostas de administração de risco ambiental que envolve a tecnologia
ambiental e os estudos das legislações e normas, bem como das políticas econômicas demográficas
e de saúde se utilizando de equipamentos de gestão dos bens e serviços objetivando a promoção de
mudanças ambientais relativas à manutenção da saúde (TAMBELLINI; CAMARA, 1998).

Aspectos teórico-conceituais
Segundo Tambellini (1996), em seu estudo sobre as relações da saúde com o seu ambiente intitulado
“Notas provisórias sobre uma tentativa de pensar a saúde em suas relações com o ambiente”, a
saúde coletiva como um campo de práticas teóricas e de intervenção concreta na realidade tem
como objeto os processos de saúde e de doença nas coletividades. Consequentemente, o autor
assume duas funções principais:

1. a geração do conhecimentos e das tecnologias acerca da saúde e da doença humana,


bem como seus determinantes em termos coletivos, embasados na natureza que
integra as dimensões ecológicas, biológicas, sociais e psíquicas, articulando as
experiências e as vivências coletivas do acontecimento “doença”;

2. a intervenção objetiva no coletivo, no indivíduo ou em qualquer componente da


conjuntura compõe o complexo dos determinantes e condicionantes dos processos
de saúde/doença, tendo por base a produção científica sobre o particular.

Em outra obra de Tambellini (1995), intitulada “A relação produção/ambiente/saúde vista do


ângulo da saúde coletiva”, ele define, conforme a visão de saúde construída a partir da saúde
coletiva, que as dimensões biológicas, sociais, psíquicas e ecológicas trabalham e articulam a face
individual e coletiva que se referem, respectivamente, com a doença e o processo saúde-doença.
Consequentemente, procura-se olhar a saúde a partir de uma Medicina Social e entende esse
processo analisando a produção e distribuição dos agravos à saúde em suas diversas maneiras,
dimensões e conteúdos presentes na sociedade. É possível propor que os agravos sejam decorrentes
das próprias estruturas sociais, sendo resultantes dos processos históricos, vale dizer, datados e
singulares (TAMBELLINI; CAMARA, 1998).

Neste âmbito da saúde coletiva, o conceito fundamental é categorizado e analisado do ponto de


vista científico como processo saúde-doença com seus determinantes e condicionantes históricos,

44
Definindo Saúde Coletiva│ UNIDADE I

biológicos, psíquicos, sociais e ecológicos que neste processo se manifestam. Dessa maneira, ao
interagirem com o seu próprio alvo (indivíduo/coletividade) e no interior de um processo de
alta complexidade, ocorre sua particularização na dependência dos elementos em jogo e suas
características específicas (capacidade de produzir dano/lesar, capacidade de se defender/
responder), obedecendo a determinadas normas biológicas e sociais e produzindo o doente/a
doença. Portanto, o processo-objeto de estudo considerado pela saúde coletiva é aquele que constitui
a doença tal qual é encontrada nas coletividades sob estudo (TAMBELLINI; CAMARA, 1998)

Em outro trabalho compartilhado entre Tambellini e colaboradores (1998), consideram a saúde


como um bem em si, um valor humano desejado, uma meta e, portanto, distante das contingências
do ambiente ou do sistema social. Mas também fica explicito que os graus de saúde vistos nas
coletividades são consequências da complexa rede de interações que se desenvolvem no interior de
formações sociais definidas. E é neste contexto que o grau de saúde de uma sociedade é complementar
aos aspectos ambientais e sociais e estão intimamente relacionados à geração e à dinâmica em se
submeterem os indivíduos e sua coletividade a exposições diferenciadas de agentes, cargas e riscos,
fase pretérita-iniciante dos processos mórbidos. Assim, a questão da saúde passa a apontar para o
plano das relações entre produção, ambiente e saúde (TAMBELLINI; CAMARA, 1998).

É no campo ambiental definido em termos de uma nova ecologia que são articuladas as duas
lógicas: a da natureza e a da sociedade (BECKER, 1992). Dessa forma, um ambiente antes natural,
assim considerado pela suposição natural por ser inatingível pelas sociedades humanas, torna-se
corrompido em sua naturalidade ao ser permeado e utilizado pelos processos produtivos. Estes
procedimentos estabelecem as relações sociais e técnicas as quais são submetidas as coisas, a natureza
e seus vínculos às designações econômicas e sociais, desconsiderando seus limites de sobrevivência.
O ambiente natural ou social é, pois, o elemento interativo, por excelência, das relações produção/
ambiente/saúde (TAMBELLINI, 1996).

Atualidade dos problemas e estudos


Relevantes questões da conjuntura mundial são hoje discutidas com ênfase no relacionamento
das características do ambiente com a saúde, muitas das quais foram incorporadas na luta pela
cidadania, destacando-se: as alterações terrestres e do ecossistema aquático, modificando as
condições específicas relacionadas aos agravos à saúde particulares e/ou gerais; a crescente
prevalência dos cânceres de pele; as modificações temporais no planeta e suas influências em larga
escala na dispersão de contaminantes; bem como a ocorrência, magnitude e distribuição de várias
patologias, com enfoque na emergência das doenças infecto-contagiosas, entre outras, causadas
pela interferência ambiental da presença de vetores e patogenicidade (EPSTEIN et al., 1995). O
quadro 1 nos mostra alguns exemplos de categorias de variáveis relacionadas a exposições e efeitos
por poluentes ambientais.

45
UNIDADE I │ Definindo Saúde Coletiva

Quadro 1 – Exemplos de categorias de variáveis relacionadas a exposições e efeitos por poluentes ambientais.

Casos selecionados de epidemias por poluentes ambientais


Quase totalidade masculino
Sexo Masculino e feminino Predomínio masculino
Predomínio de adolescentes
Faixa etária Todas as idades Predomínio de adultos
e adultos jovens
Predominantemente baixas
Condições Variadas Tendendo à homogeneidade
socioeconômicas
Morbidade elevada por
Níveis de saúde Variados Aparentemente sadios
doenças infecciosas
Necessita convencimento de estudos
Colaboração para a
Necessita convencimento Necessita colaboração
realização
Exposição: poluente/exposição
Difícil: fontes numerosas e dispersas
Identificação de fontes Difícil: fontes variadas e Factível: fontes restritas ao interior da
de poluição dispersas empresa
Altas doses por tempo prolongado
Tipos de exposição a Baixas doses por tempo Altas doses por tempo variado
substâncias prolongado
Difícil: atividade informal e consumo não
Identificação de Difícil: situações diversificadas Fácil: trabalhadores contratados
regulado
expostos
1ª Respiratória
Vias de penetração de 1ª Digestiva 1ª Respiratória
substâncias 2ª Digestiva
2ª Respiratória 2ª Dérmica

Efeitos: abordagem epidemiológica


Nenhuma ou informais (privadas)
Acesso a dados de Sistema público de saúde Serviços médicos ocupacionais
morbidade
Difícil: mobilidade populacional sem controle
Possibilidade de Difícil: factível em situações Fácil: população sob contrato de
seguimento particulares empresa

Adaptado de Câmara, 1997.

Mesmo que as populações sejam afetadas por desastres naturais, como erupções vulcânicas ou
elevados acúmulos naturais de substâncias de alta toxicidade, praticamente todas as situações de
poluição ambiental de grandes proporções têm como principal origem os processos produtivos. A
relação acima citada entre os processos de produção e a saúde ambiental são mais bem compreendidas
pela análise de quatro casos de epidemias importantes causadas por poluentes químicos no mundo,
como metilmercúrio em Minamata, Japão; metilmercúrio no Iraque; PCB (difenilpoliclorados) no
Japão; e Chumbo nos Estados Unidos e na Austrália (WHO, 1994).

Segundo Harada (1991), o caso da Baía de Minamata pode servir como um melhor exemplo da inter-
relação de processos produtivos, ambiente e saúde da população. Processos de biomagnificação
nas águas da Baía de Minamata transformaram dejetos industriais de um sal de mercúrio, lançado
a partir de 1932, em uma forma metilada, mais agressiva ao homem. Este processo de metilação
atingiu pela cadeia biológica os peixes, uma importante fonte alimentar da população que residia na
região (HARADA, 1991).

O caso de Minamata demonstrou duas lições importantes e inter-relacionadas, como a persistência


ambiental e a biomagnificação dos poluentes e sobre a população mais afetada. Quanto à persistência
e ao poder de biomagnificação, vale observar que, embora os resíduos tenham sido lançados a partir

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Definindo Saúde Coletiva│ UNIDADE I

dos anos 1930, apenas na década de 1960 configurou-se um o quadro epidêmico por intoxicação de
metilmercúrio que ocasionou, aproximadamente, 1.000 mortes; levou ao nascimento de crianças
com defeitos congênitos; causou abortos e deixou sequelas graves por lesões neurológicas (HARADA,
1991; TAMBELLINI; CAMARA, 1998).

Outra relevante epidemia por metilmercúrio ocorrera no Iraque, entre 1971 e 1972, decorrentes
de uma elevada quantidade de semente de trigo que foi tratada com um fungicida mercurial e
enviada como doação internacional para uso no plantio e inadvertidamente utilizada diretamente
na produção de alimentos. Mais de 600 pessoas foram hospitalizadas, das quais, 460 foram a óbito.
Outro caso foi o número incontável de pessoas, principalmente crianças, atingidas pelo chumbo
utilizado na fabricação de tintas. O número de crianças intoxicadas foi elevado devido ao costume
de colocarem objetos e coisas impróprias para o consumo alimentar na boca e também pelo fato
de constantemente levarem a mão à boca, assim acabam por ingerir quantidades relevantes de
poluentes (HARADA, 1991; TAMBELLINI; CAMARA, 1998).

No Brasil, a principal questão ambiental relativa às condições de saúde da população inclui a


elevada poluição da atmosfera das grandes cidades e suas relações com a morbidade e mortalidade,
de maneira notável nos idosos (SALDIVAR et al., 1995). A acelerada penetração e instalação das
produções capitalista e a modernização destas na Amazônia caracterizam a expansão econômica,
as quais trouxeram alterações intensamente pronunciadas no ambiente característico da região de
modo a determinar agravamentos do quadro endêmico e epidêmico de determinadas morbidades
(MEIRELLES, 1987), como exemplicado por Sawyer (1987) em seu estudo sobre a mudança dos
padrões de malária e os novos projetos de colonização, e Couto (1996), em relação ao desflorestamento
e queimadas na Amazônia; os depósitos de lixo urbano e de resíduos perigosos que contaminam o
solo por metais pesados (SISSINO; MOREIRA, 1996); a utilização de substâncias químicas de elevada
toxicidade, tais como pesticidas na agricultura, chumbo e benzeno e outros na indústria e mercúrio
em atividades de mineração, que levam a quadros sanitários com agravos de diferentes gravidades
(AUGUSTO, 1995; CÂMARA et al., 1997; CARVALHO et al., 1986; GALVÃO, 1992; HACON, 1996;
HOFMEISTER et al., 1993; MENDES, 1996; PORTO; FREITAS, 1997; TRAPÉ, 1997).

No Rio de Janeiro, uma população aproximada de 1.000 pessoas de uma localidade denominada
“Cidade dos Meninos” se expôs a resíduos de hexaclorociclohexano (HCH) abandonados por uma
fábrica de pesticidas. Foram identificados resíduos de *-HCH (0,16-15,67 µg/L) e ß-HCH (1,05-
207,3 µg/L) em amostras de sangue de 184 crianças (OLIVEIRA, 1994; BRILHANTE & OLIVEIRA,
1996). Também na localidade de Samaritá, Baixada Santista, estado São Paulo, habitada em média
por 42 mil pessoas, uma indústria química despejou resíduos contendo hexaclorociclohexano. A
média dos níveis de HCB no sangue dos moradores deste local foi de 4,095 µg/L, enquanto no
restante da região variou entre 0,341 a 0,414 µg/L (SILVA, 1994).

Em relação à contaminação por mercúrio, sua aplicação como amálgama na produção de ouro
alcançou taxas elevadas até o início dos anos 1990. Estimou-se cerca de 500 mil garimpeiros
expostos durante o período ocupacional ao mercúrio, em paralelo às projeções sobre o número de
expostos não fora do ambiente de trabalho ao metilmercúrio, ou seja, as populações ribeirinhas
que consumiam peixes e os habitantes de centros urbanos onde existiam lojas que comercializavam
ouro variavam entre 1 a 5 milhões de pessoas. Exemplificando a possibilidade de exposição da

47
UNIDADE I │ Definindo Saúde Coletiva

população a este metal, cita-se que populações ribeirinhas da bacia hidrográfica do Rio Tapajós,
estado do Pará, e que foram expostas ao metilmercúrio apresentaram teores de mercúrio no cabelo
que alcançaram, para um valor de referência de 6 µg/g, até 90,4 µg/g (SANTOS, 1997). Quanto à
poluição dentro do domicílio por este metal, segundo Câmara e colaboradores (1997) verificaram
em populações urbanas da cidade de Poconé, Mato Grosso, e não ocupacionalmente expostas, teores
de mercúrio na urina que atingiram até 102 µg/L. Nas casas das mesmas pessoas que apresentavam
concentrações elevadas do metal na urina, foram obtidos também os maiores valores de mercúrio
em solos (9,8 µg/g) e em poeira da casa (100,8 µg/g).

Situações de risco e efeitos: como reluzi-las?


Do conjunto de experiências de que se tem conhecimento, é possível deduzir que é inexistente
um modelo científico determinado para esse enfoque. Todas as pessoas que estão atuando são
consideradas construtoras dessa fase de legitimação da proposta ecossistêmica (MINAYO, 2006).
Aliás, Forget e Lebell (2001), dois dos formuladores, consideram a ênfase ecossistêmica de saúde
uma comparação à ação teórica e prática muito mais do que um novo paradigma da ciência.

As condições de risco ambiental interferem na morbidade e mortalidade das populações, são


complexas e exigem, no plano de intervenção objetiva da realidade, um trabalho integrado
e mecanismos de cooperação entre as instâncias governamentais das diferentes instituições
relacionadas à questão, tais como o Sistema Único de Saúde e os Ministérios, como os da Saúde,
Meio Ambiente, Seguridade Social e Trabalho (TAMBELLINI; CAMARA, 1998).

Levando em consideração que as situações de risco têm sua origem de forma hegemônica, segundo o
ponto de vista de muitos autores (TAMBELLINI; CAMARA, 1998; SILVA, 2001; BARRETO, 2001),
nos ambientes de trabalho devem ser priorizadas as ações voltadas para os processos produtivos.
Segundo alguns autores, entre os elementos que compõem estratégias para reduzir os riscos e efeitos
adversos à saúde proveniente de poluentes ambientais originados a partir dos processos produtivos,
destacam-se (TAMBELLINI; CAMARA, 1998; SILVA, 2001; BARRETO, 2001):

1. Implantação de Sistemas de Vigilância que possam gerar dados referentes aos


agentes poluentes, aos grupos expostos ao risco, às características do ambiente e aos
fatores específicos que contribuem com o risco e que, na decorrência da análise e do
processamento das informações obtidas, disseminem as informações e produzam
práticas objetivas que incluam, entre outras, o tratamento de pessoas acometidas e
medidas corretivas, preventivas, educativas e legislativas.

2. Desenvolvimento de redes de monitoramento de emissões ambientais, de fatores


biológicos e clínicos dos agentes poluentes que criam informações corretas para a
análise das práticas de prevenção e controle dos programas de vigilância.

3. Criação de programas específicos de atenção à saúde na rede pública de serviços.

4. Implantação de Centros de Informação Toxicológica e fomento à criação de


laboratórios toxicológicos com controle de qualidade analítica.

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Definindo Saúde Coletiva│ UNIDADE I

5. Formação e capacitação de recursos humanos.

6. Incentivo à realização de avaliações e gerenciamento de risco que contribuam ao


estabelecimento de normas ambientais acerca dos níveis seguros de exposição.

7. Desenvolvimento de avaliações de impacto ambiental associadas aos projetos de


desenvolvimento e instalação de empresas.

8. Realização de avaliações periódicas dos riscos por resíduos de elementos químicos


que ofereçam capacidade de resposta a locais contaminados e a indivíduos expostos
a estes produtos perigosos.

9. Elaboração e execução de plano para combater emergências químicas.

10. Desenvolvimento de programas de educação ambiental voltados para a saúde.

A abordagem ecossistêmica da saúde humana é uma ciência antiga. Porém, é necessário e urgente
que seja implementado no plano das ações concretas um programa e uma programação de projetos,
ações e de realizações que levem em conta uma política ambiental que dê privilégio a questões
relativas à geração de práticas, saúde e ambiente (TAMBELLINI; CAMARA, 1998; SILVA, 2001;
BARRETO, 2001). Nessa conjuntura, deseja-se que haja uma abordagem acerca das questões
ambientais que consiga reunir todos os setores sociais envolvidos em intervenções apropriadas a
um desenvolvimento saudável (FUNTOWICS; RAVETZ, 1997).

Há vários conceitos de saúde coletiva, mas talvez o mais amplo seja o de Winslou,
que em 1920 já dizia que: saúde coletiva é a ciência e a arte de prevenir doenças,
prolongar a vida e promover a saúde física e a eficiência do indivíduo por meio
de esforços organizados da comunidade, visando ao saneamento do meio
ambiente; ao combate das doenças transmissíveis que ameaçam a coletividade;
ao ensino dos princípios de higiene individual: às organizações dos serviços
médicos e de enfermagem para diagnóstico precoce; ao tratamento preventivo;
e ao estabelecimento de condições de saúde que assegurem a cada membro da
coletividade um nível de vida favorável à manutenção da vida e à promoção da
saúde como base das ações em enfermagem em saúde coletiva.

A saúde coletiva surgiu na década de 1970 contestando os atuais paradigmas de saúde


existentes na América Latina e buscando uma forma de superar a crise no campo da
saúde. A saúde pública é entendida tanto na Europa quanto nas Américas como a
forma de controlar as endemias que ameaçavam as ordens econômicas vigentes
e depois como controle social, buscando a erradicação da miséria, desnutrição e
analfabetismo. Desta forma, muitos programas de saúde pública endossados pela
Organização Mundial da Saúde ficaram reduzidos à assistência médica simplificada,
isto é, aos serviços básicos de saúde para uma população pobre um serviço pobre.

Atualmente podemos perceber, em diversas situações, que a crítica dos serviços


volta-se prioritariamente para uma atuação curativa que envolve ações relativas

49
UNIDADE I │ Definindo Saúde Coletiva

somente e principalmente a queixas específicas e pontuais. Ex.: preocupa-se em


solucionar o que está acontecendo com o paciente naquele momento.

A saúde e a doença são manifestações das formas de viver em sociedade, e não


um acaso no destino das pessoas. Saúde e doença decorrem da qualidade de vida
das populações. As possibilidades de adoecimento e morte dependerão, em última
instância, de como se vive em sociedade, sendo distintas em função da classe ou
grupo social, da cultura, da raça, da geração e do gênero. A definição de saúde que
originou o Sistema Único de Saúde (SUS) destaca a importância de que, para se ter
um nível melhor de saúde na sociedade, faz-se necessário investir em melhorias
na habitação, na construção, na renda, no consumo de alimentos, no aumento da
escolaridade e na construção de ambientes saudáveis. Ou seja, não basta investir
apenas em serviços de saúde voltados para atender às doenças das pessoas, é
preciso ampliar espaços de promoção da saúde.

O art. 196 da Constituição de 1998 estabelece que: “A saúde é direito de todos e


dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à
redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário
às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.”

Aprofundamento das discussões

Filmes

História da saúde pública no Brasil.

Vale à pena conferir este filme feito pela Organização Panamericana de Saúde e pelo
Ministério da Saúde.

O link para baixar o filme completo é

<http://www4.ensp.fiocruz.br/biblioteca/home/exibedetalhesBiblioteca.
cfm?ID=11133&tipo=B>.

Quem preferir assistir pelo Youtube, segue o link do primeiro episódio <http://www.
youtube.com/watch?v=4kfXcSLAbOg>; ao lado do primeiro estão “linkadas” todas
as outras 6 partes.

Confiram!

A Onda

Rainer Wegner, professor de ensino médio, deve ensinar seus alunos sobre
autocracia. Devido ao desinteresse deles, propõe um experimento que explique
na prática os mecanismos do fascismo e do poder. Wegner se denomina o líder
daquele grupo, escolhe o lema “força pela disciplina” e dá ao movimento o nome

50
Definindo Saúde Coletiva│ UNIDADE I

de “A Onda”. Em pouco tempo, os alunos começam a propagar o poder da unidade


e ameaçar os outros. Quando o jogo fica sério, Wegner decide interrompê-lo. Mas
é tarde demais, e “A Onda” já saiu de seu controle. Este filme é baseado em uma
história real ocorrida na Califórnia em 1967. Direção: Dennis Gansel. Roteiro: Dennis
Gansel, Peter Thorwarth; baseado em obra de Todd Strasser, 2008.

Revista Ciência & Saúde Coletiva

O periódico foi criado no final do ano 1996. Editada pela Associação Brasileira de
Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), a Revista Ciência & Saúde Coletiva
é um periódico bimestral que tem como objetivo precípuo veicular artigos sobre
resultados de pesquisa, debates e revisões sistemáticas na área de Saúde Pública/
Saúde Coletiva. Sua singularidade, em comparação com os outros periódicos da área
é ser TEMÁTICA. A ideia de fazer uma revista temática vem do propósito da Abrasco
de promover e socializar o aprofundamento científico, as discussões acadêmicas
e os debates interpares de assuntos considerados importantes e relevantes,
acompanhando o desenvolvimento histórico da saúde púbica do País. Seus Editores
Científicos são Maria Cecília de Souza Minayo e Romeu Gomes, ambos pertencem à
Fundação Oswaldo Cruz.

Reflita sobre nosso modelo assistencial privatista individualizado e a impotência


dos serviços de saúde pública, que funcionavam como “corpo de bombeiro”
(MERHY,1989:94) correndo atrás dos prejuízos causados pela desigualdade social
e pela inoperância destes modelos; descreva como a saúde coletiva contribui com
modificações nesse aspecto e responda como os profissionais de saúde podem
contribuir com esse processo.

51
Alimentação
e Nutrição em Unidade iI
Saúde Coletiva

Há necessidade de serem feitas reflexões sobres algumas questões:

Como é a atuação e presença da Nutrição na saúde coletiva? Há impacto na saúde da


população? Como e o quanto a saúde se visualiza no âmbito da segurança alimentar
e nutricional? Como e o quanto a segurança alimentar e nutricional vê o campo
da saúde como parceira autêntica, como se organizam esses ambientes políticos e
institucionais? Como os dois sistemas, Sistema Único de Saúde e Sistema Nacional
de Segurança Alimentar e Nutricional, articulam-se em suas prioridades, agendas e
processos? Como a Política Nacional de Alimentação e Nutrição e a futura Política
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional se articulam e se coordenam?

capítulo 1
História do campo da alimentação e
nutrição na saúde pública no Brasil

A alimentação é, para o homem, um processo voluntário e consciente, influenciado por fatores


culturais, econômicos e psicológicos. É ainda o elo fundamental dos seres humanos com o seu
ambiente físico e seu habitat social. Nesse sentido, a alimentação e a nutrição configuram, com
sensibilidade, a expressão do ajustamento de indivíduos e comunidades ao ecossistema do qual
participam (BATISTA FILHO, 1999; 2002).

A alimentação não é condição única para definição do estado nutricional, mas é um requisito
necessário, uma vez que não se pode alcançar ou manter um estado nutricional satisfatório sem
uma alimentação suficiente, completa, harmoniosa e adequada (BATISTA FILHO, 1999; 2002).

A alimentação e a nutrição constituem princípios básicos para a promoção e a preservação da


saúde, a fim de possibilitar a confirmação plena do poder de crescimento e desenvolvimento do ser
humano, com qualidade de vida e cidadania (STEFANINI, 2000).

Individualmente e na atmosfera coletiva, essas condições ficam consignadas na Declaração Universal


dos Direitos Humanos, publicada há 60 anos, as quais foram reafirmadas no Pacto Internacional

52
Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva │ UNIDADE II

sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966) e incorporados à legislação nacional em 1992
(BRASIL, 2003).

Até a década de 1930, os problemas relacionados à nutrição e à alimentação ficavam intrinsecamente


relacionados ao provimento e à oferta de alimentos para a população. Os resultados do estudo
desenvolvido por Josué de Castro, em 1932, sobre as condições de vida das famílias operárias do
Recife, tiveram ampla divulgação nacional, provocando o desenvolvimento de semelhantes estudos,
inclusive o que foi utilizado como base para a regulamentação da lei do salário mínimo. É possível
assegurar que os primeiros instrumentos específicos de uma política social de alimentação e nutrição
foram instituídos ao longo da ditadura Vargas (1937-1945) (VASCONCELOS, 2005).

O caráter social e econômico da fome, demonstrado nas décadas de 1940 e 1950, teve como marco
histórico nacional os livros “Geografia da Fome”, de 1946, e “Geopolítica da Fome”, de 1951, ambos
de Josué de Castro. Foi criada em 1945 a Comissão Nacional de Alimentação, modificada para o
Ministério da Educação e Saúde em 1949. Somente em 1951, foi regularizada como instância
responsável por prestar assistência ao governo na construção da Política Nacional de Alimentação.
Ao longo da existência da Comissão Nacional de Alimentação (1945-1972), destacam-se os seguintes
objetivos: estudar e propor normas da Política Nacional de Alimentação; estudar o estado nutricional
e os hábitos alimentares da população brasileira; realizar o acompanhamento e a estimulação aos
estudos e às pesquisas relacionadas a questões e problemas de alimentação; trabalhar pela correção
de deficiências e inadequações da dieta brasileira, estimulando e acompanhando as devidas
campanhas educativas; e concorrer para o desenvolvimento da indústria de alimentos no Brasil
(VASCONCELOS, 2005).

Na década de 1960, tem início uma crise alimentar no país provocado pela crise no abastecimento
decorrente da crescente inflação do período. Nessa época, teve destaque a Merenda Escolar e a
distribuição, por exemplo, de leite em pó e desengordurado, por meio dos programas internacionais
de ajuda alimentar, tornando-se evidente o objetivo econômico. Ou seja, não havia ajuda financeira,
fato que teria condições de estimular a aquisição e a produção local de alimentos in natura ou
processados, mas como valor de utilização, por meio do escoamento do excedente de produção que
não conseguiu realizar-se como mercadoria ou se transformar em capital (VASCONCELOS, 2005).

As décadas seguintes foram marcadas por inquéritos nacionais, com o início do Estudo Nacional
da Despesa Familiar (ENDEF) desenvolvido entre 1974 e 1975, executado pela Fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e da Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN),
também realizada pelo IBGE entre junho e setembro de 1989. Resumidamente, são inquéritos
domiciliares realizados sobre amostra probabilística das famílias brasileiras, em que, entre outras
informações, foram obtidos dados antropométricos que permitiram avaliar o estado nutricional da
população e, em particular, estabelecer a prevalência nacional e regional da desnutrição infantil
(MONDINI; MONTEIRO, 1994).

Os inquéritos aplicados e os estudos subsequentes sempre foram valorizados, pois o estado


nutricional de um indivíduo ou de uma população é um bom indicador de seu estado de saúde e,
por conta disso, os aspectos nutricionais são intrínsecos à saúde e ao bem-estar das populações
(LEAL; BITTENCOURT, 1997).

53
UNIDADE II │ Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva

No cenário internacional, a questão da fome ressurgiu com grande intensidade a partir da


contestada crise mundial de alimentos. A partir dessa conjuntura, organismos internacionais,
como a Organização Mundial de Saúde (OMS), Food and Agriculture Organization of the United
Nations (FAO) e o United Nations Children’s Fund (Unicef), defenderam a necessária incorporação
da organização e do planejamento dos aspectos nutricionais na organização econômica dos países
subdesenvolvidos, particularmente, dos países latino-americanos (VASCONCELOS, 2005).

A conformação atual da organização pública da saúde, íntegra, gratuita e universal, começou a ser
reformulado no processo de democratização do País. O marco dessa reforma foi a VIII Conferência
Nacional de Saúde, em 1986, que congregou acadêmicos ligados à saúde pública, profissionais de
saúde e setores da sociedade (NEGRI, 2002).

A Constituição de 1988, em seu art. 196, apontou que: “A saúde é direito de todos e dever do Estado,
garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção
e recuperação” (BRASIL, Constituição de 1988 – , 2006, p. 33), e a Lei Orgânica da Saúde (Lei no
8.080/1990), que cria o Serviço Único de Saúde (SUS), em seu art. 3o , diz que: “A saúde tem como
fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação e moradia [...]” (BRASIL, Lei no
8.080, 1990). Percebe-se que ambas condensaram o surgimento de uma nova organização política
e institucional para o reordenamento dos serviços e das ações de saúde (NEGRI, 2002; YUNES,
1999).

Os temas relacionados à alimentação e à nutrição do Sistema Único de Saúde mostram-se de


fundamental importância, uma vez que constituem requisitos básicos para alcançar o objetivo do
sistema. A constatação dessa evidência e a consideração da dimensão que envolve a alimentação e
a nutrição tornaram-se consenso, fazendo surgir e se aprimorar o conceito de Segurança Alimentar
e Nutricional (SANTOS, 2007).

Conhecendo o conceito de Segurança Alimentar e


Nutricional (SAN)
A discussão acerca da SAN tem orientado a agenda de governos e de organizações sociais, além
de trazer à tona reflexões de políticas intersetoriais mundiais por razoes que vão desde a questão
ética do direito à alimentação até a preocupação quanto às questões relativas ao abastecimento de
produtos alimentícios (DOMENE, 2003; RIBAS, 2006).

Tem-se assim a Segurança Alimentar e Nutricional como uma temática planejada para o campo
das Políticas Sociais, dos Direitos Humanos e da Economia, assim como no âmbito das discussões
da sociedade, do país e locais (RIBAS, 2006). Sua discussão ganha importância ao ser considerada
essencial para a afirmação plena dos potenciais de desenvolvimento físico, mental e social de todo
ser humano (BRASIL, 2003).

Os programas de Segurança Alimentar e Nutricional e as Políticas Compensatórias surgiram na


década de 1940, objetivando a redução da fome e os riscos de desnutrição das populações carentes.

54
Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva │ UNIDADE II

Contudo, sem se preocupar com a ideia de equidade, mas voltados à prática de solidariedade, esses
programas e políticas foram pensados e instituídos com base no assistencialismo (DA DALT, 2006).

Com início na Europa, a partir da I Guerra Mundial, o conceito de Segurança Alimentar e Nutricional
assumiu a concepção de segurança nacional, em relação ao dever dos países de se garantir nos
estoques estratégicos de produtos alimentícios como forma de, pela autossuficiência, tornarem-se
menos vulneráveis em caso de adversidades de caráter político ou militar que possam propiciar
restrições à comercialização e ao abastecimento. De maneira geral, o conceito limitava-se às
perspectivas de potencial produtor, abastecedor e donativo na quantidade apropriada (DOMENE,
2003; Ministério da Saúde, 2004; MONTAÑA, 2003).

Com o acontecimento da II Guerra Mundial, esse conceito foi recuperado, agregando a visão e o
conceito do direito humano à alimentação no contexto da definição expressa nas ações “representadas
na Conferência sobre a Alimentação e Agricultura em Hot Springs, EUA, em 1943 “ de libertação
de todas as pessoas da terra da miséria. Essa concepção progrediu com o idealismo que configurou
a política adepta do pós-guerra, com a gênese da FAO e com a urgência da Declaração dos Direitos
Humanos em 1948 e com a Declaração da Organização das Nações Unidas (ONU) a respeito dos
Direitos Econômicos e Sociais em 1966 (MONTAÑA, 2003).

Na década de 1970, por ocasião da I Conferência Mundial de Segurança Alimentar, a constatação


da escassez de alimentos em várias partes do mundo levou à compreensão sobre a necessidade
de haver maior disponibilidade de alimentos, vinculando a Segurança Alimentar à capacidade de
produção agrícola, com enfoque na segurança e na adequação da disponibilidade dos produtos
alimentícios “ em relação à produção, ao armazenamento e à oferta” e pouco no direito humano
(MONTAÑA, 2003).

Nos anos 1980, a conceituação do termo Segurança Alimentar foi expandido no momento em que
a FAO mostrou uma definição de oferta adequada de Segurança Alimentar que se baseava em três
objetivos: alimentos, estabilidade da oferta e dos mercados de alimentos e segurança no acesso aos
alimentos ofertados (CONSEA/PR, 2007). Nessa direção, o Banco Mundial, em 1986, estabeleceu
Segurança Alimentar como: o acesso por parte de todos, por todo o tempo, a quantidades suficientes
de alimentos para levar uma vida ativa e saudável. Como consequência disso, as discussões e os
debates consideraram que a Segurança Alimentar não é apenas uma decorrência da autossuficiência
em termos alimentares. Ela garante o poder aquisitivo da sociedade, a redução da pobreza, o
crescimento da economia e a redistribuição de renda (CONSEA/PR, 2007).

No Brasil, ainda em 1986, o tema foi retomado no momento da I Conferência Nacional de Alimentação
e Nutrição, que foi um desenvolvimento da 8º Conferência Nacional de Saúde, na qual foi proposta a
gênese do Conselho Nacional de Alimentação e Nutrição (CNAN) e do Sistema de Segurança Alimentar
e Nutricional (SSAN), o primeiro sob a responsabilidade do Instituto Nacional de Alimentação e
Nutrição/Ministério da Saúde (INAN/MS) e o segundo ligado ao Ministério do Planejamento, ambos
contando com a participação de setores da sociedade civil (CONSEA/PR, 2007).

O conceito de Segurança Alimentar ampliava-se, incorporando a alimentação como um direito básico


e também a necessidade de se garantir o acesso aos alimentos em quantidade e qualidade suficientes.
Dessa forma, o conceito abrangia as esferas da produção agrícola, da aquisição de alimentos, das

55
UNIDADE II │ Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva

deficiências nutricionais e da qualidade dos alimentos. Começava-se a falar de Segurança Alimentar


e Nutricional (CONSEA/PR, 2007).

A década de 1990 é reconhecida como um marco em relação à questão da Segurança Alimentar no


Brasil. O conceito de segurança alimentar se ampliou e passou a ser utilizado como norteador das
políticas nas várias instâncias das organizações públicas no Brasil, tanto nas instituições estaduais
como nas municipais, relacionadas à agricultura e ao abastecimento (MALUF et al., 1996).

No ano de 1991, foi divulgada a proposta da Política Nacional de Segurança Alimentar, a qual teve
um impacto inicial restrito, sendo aceita no início de 1993 como uma das instituições de instalação
do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA) e para a introdução definitiva das
questões agrícola, alimentar e dos déficits de consumo alimentar e fome como temáticas prioritárias
na programação da política nacional (MALUF et al., 1996).

O CONSEA foi criado em abril de 1993, a partir da proposta do governo paralelo do Partido dos
Trabalhadores, como um instrumento de articulação entre governo e sociedade na proposta das
normas às práticas no campo da alimentação e nutrição. Esse Conselho tem caráter consultivo e
assessor ao Presidente da República na construção de políticas e nas recomendações de garantia do
direito à alimentação da humanidade (CONSEA, 2006).

No auge do movimento desencadeado pela Ação da Cidadania e, com o apoio do CONSEA, realizou-
se em 1994 a I Conferência Nacional de Segurança Alimentar. Ela foi resultante de um processo
de mobilização social no Brasil ao redor da alimentação e da disseminação da informação sobre
o agravamento da fome no País. Nessa conferência, foi elaborada uma declaração política e um
material documentado com a programação de situações e quesitos para a construção da Política
Nacional de Segurança Alimentar (MALUF et al., 1996).

Ainda na I Conferência Nacional de Segurança Alimentar, ocorrida em 1994, o conceito de


Segurança Alimenta elaborado em 1986 foi consolidado. Essa versão do conceito já não limita a
segurança alimentar à capacidade de abastecer e da questão de produção agrícola, mas incorpora
a garantia do acesso a alimentos seguro, de qualidade e em plenas condições de ser aproveitado e
consumido (MALUF et al., 1996).

Esse conceito exige a confluência de várias especialidades, o que o aumenta sua complexidade, porém
amplia sua temática, incluindo conjunturas de risco decorrentes das não adequações nutricionais,
não apenas determinadas por carência. Dessa forma, a abordagem da questão merece a articulação
de ações intersetoriais, relacionadas às áreas como a habitação, a educação, o saneamento básico e
acesso aos serviços de saúde (HOFFMANN , 1995; DOMENE, 2003;).

Sendo assim, o conceito de Segurança Alimentar e Nutricional, definido pelo Ministério da Saúde
(2004, p. 6), em vigor até o ano de 2004, consistia em:

Garantir a todos as condições de acesso a alimentos básicos seguros e de


qualidade, em quantidade suficiente para atender aos requisitos nutricionais,
de modo permanente e sem comprometer o acesso de outras necessidades

56
Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva │ UNIDADE II

essenciais, com base em práxis da alimentação saudável, o que contribui para


uma existência digna no âmbito do desenvolvimento integral do ser humano.

Com base nesse conceito, pode-se dizer que a SAN passou a envolver diversos horizontes
estratégicos, expressos em dois componentes básicos: questão da alimentação, relacionada à oferta,
geração e acesso aos alimentos e o nutricional, relativo às práticas alimentares, aos procedimentos
e a condições locais e culturais na alimentação dos indivíduos, assim como a escolhas, elaboração,
preparação, ingestão, biodisponibilidade, fatores que determinam o estado nutricional individual
(MENEZES, 2004).

Ao final de 1994, foram elaboradas as principais diretrizes de uma Política Nacional de Segurança
Alimentar (PNSA) por um grupo de trabalho técnico nomeado pelo CONSEA, com base nos
resultados da 1ª Conferência. O CONSEA funcionou por apenas dois anos (1993–1995), embora
tenha configurado uma inovação institucional, envolvendo os vários ministérios e segmentos da
sociedade, ficou fadado às restrições da economia, a qual prioriza a estabilidade da moeda deixando
à margem a política social. São apontados abaixo os escassos resultados atribuíveis ao CONSEA,
entre eles, a não centralização do Programa Nacional de Alimentação Escolar, a continuidade do
Projeto Social de Distribuição de Alimentos (PRODEA) e a prioridade ao Programa de Atendimento
ao Desnutrido e à Mulher Gestacional em Risco Nutricional e ao Programa Leite é Saúde, que
incluiu distribuição de leite como estratégia de combate à desnutrição materna e infantil (BRASIL.
CONSTITUIÇÃO, 1988, 2006).

Extinguido no governo de Fernando Henrique Cardoso, o CONSEA foi substituído pelo Conselho
Comunidade Solidária, um órgão consultivo e pouco executivo. A partir daí ocorreu a separação das
políticas públicas relacionadas à extinção da fome, resultando, em 1997, na supressão do Instituto
Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN), e na continuidade do projeto de distribuição de cestas
básicas de maneira não estável e na dependência do calendário eleitoral (BRASIL. CONSTITUIÇÃO,
1988, 2006).

Em decorrência da extinção do Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição, o primordial projeto


federal de combate às carências nutricionais à população de risco voltava-se ao fornecimento
de leite e óleo de soja, o que era efetivado por meio do Programa de Incentivo ao Combate às
Carências Nutricionais (ICCN), associado à Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN),
um programa do Ministério da Saúde, em adição ao provimento da multimistura destinadas às
crianças subnutridas, via Pastoral da Criança (BRASIL. CONSTITUIÇÃO, 1988, 2006).

Mesmo com a perda progressiva da capacidade de mobilização da Ação da Cidadania e a diminuição


da movimentação de massa na luta contra a fome, diversas organizações da sociedade mantiveram-
se trabalhando nas questões relativas à segurança alimentar. Segundo o CONSEA (2004), no referido
período ocorreu prosseguimento significativo na construção de conceitos e no estabelecimento de
ações e políticas com essas diretrizes. Destaca-se do grupo de trabalho com especialistas a Cúpula
Mundial de Segurança Alimentar, realizada em Roma, em 1996 (CONSEA, 2004).

Em 1998 aconteceu o Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricional (FBSA), um marco


do processo de articulação das organizações sociais envolvidas com a SAN. Foi esse fórum que
propiciou um avanço conceitual ao incorporar o conceito de segurança nutricional à questão

57
UNIDADE II │ Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva

alimentar (CONSEA, 2004). Esse fórum, presente na maioria dos estados e de forte participação em
eventos nacionais e internacionais, chama a si a missão de lidar com os vários setores relacionados
ao tema, configurando-se como representante e na comunicação do entendimento da estratégia da
Política Nacional de Alimentar e Nutricional (CONSEA, 2004).

No governo federal, depois de extintos alguns programas, uma das únicas áreas que mantiveram
uma discussão efetiva da alimentação e nutrição dentro da perspectiva da segurança alimentar foi
a Área Técnica de Alimentação e Nutrição (ATAN), do Ministério da Saúde. Em 1999, após ampla
reflexão social, foi ratificada pelo Conselho Nacional de Saúde a recente política de Alimentação e
Nutrição configurada dentro do conceito de promoção dos Direitos Humanos e da Alimentação, que
aponta para a necessidade de construção de uma política abrangente de SAN (VALENTE, 2002).

Diversas iniciativas e eventos sucederem-se até 2003, quando no novo governo o combate à fome foi
declarado prioridade, retomando o objetivo de construir e programar uma política de SAN, com o
Programa Fome Zero (CASTRO, 1995). O CONSEA foi recriado com a incorporação do nutricional
em seu nome, com novos desafios à participação social diante dos programas e das diferentes ações
relacionadas com a SAN (CONSEA, 2004; VALENTE, 2002). A partir daí, a nova conceituação do
CONSEA, as argumentações sobre a Segurança Alimentar e Nutricional, passam a reconhecer de
forma mais efetiva a relevância do aspecto nutricional na concepção da perspectiva nutricional
(SANTOS, 2007).

No ano de 2003, ocorreram, no Brasil, o seminário sobre segurança alimentar e a população negra,
o qual reivindicou a garantia de participação para as organizações negras nas instancias de controle
social relacionadas com a SAN, e o Fórum para a Constituição de Política de Segurança Alimentar
e Desenvolvimento Sustentável dos Povos Indígenas do Brasil, que determina a preparação
de mentores indígenas, visando ao exercício de sua competência legal e ao desenvolvimento de
estratégias que reduzam os obstáculos e favoreçam a participação das lideranças indígenas nas
atividades dos conselhos de SAN em nível local e nas instâncias estadual e federal (CONSEA, 2004).

Em 2004 ocorreu a II Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, na qual foram


propostas diretrizes para o Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e a definição de
realocar a participação da Política Nacional de SAN na agenda política do País. Estas mostram-se de
fundamental importância, especialmente quando definidas no contexto da promoção da realização
do direito humano à alimentação (CONSEA, 2006; VALENTE, 2002). A mais relevante deliberação
que ocorrera neste evento foi a criação da lei sobre o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional (CONSEA, 2006).

Em setembro de 2006, essa lei foi aprovada e denominada: Lei Orgânica de Segurança Alimentar e
Nutricional (LOSAN) (BRASIL. Lei no 11.346, 2006). Esta institui o Sistema Nacional de Segurança
Alimentar e Nutricional (SISAN) e estabelece suas definições, objetivos, princípios, diretrizes e
composição, por meio do qual o poder público e as organizações sociais, formularam e programaram
propostas, leis, planejamentos e ações visando a garantir o direito humano à alimentação adequada
(CONSEA, 2006).

Em julho de 2007, ocorreu a III Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, com o
objetivo de propor: diretrizes para a incorporação da SAN nos eixos estratégicos de desenvolvimento

58
Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva │ UNIDADE II

do País e da sua inserção internacional; diretrizes e preferências da Política Nacional de Segurança


Alimentar e Nutricional e a base conceitual da efetivação do Sistema Nacional de Segurança
Alimentar e Nutricional (CONSEA, 2006).

Além da atuação do CONSEA, atualmente existem múltiplas ações relativas à SAN desenvolvidas
por organizações sociais em todo o Brasil. Há um número significativo de organizações que
desenvolvem projetos com ações diretas junto às comunidades, em todas as regiões do país.
Geralmente, são pequenos sindicatos, organizações não governamentais, associações comunitárias
ou grupos religiosos, não articulados em redes, que precisam reconhecer sua atuação no âmbito da
SAN assim como analisar a temática (CONSEA, 2004). A cooperação social na confecção, execução
e fiscalização das políticas públicas, em todos os níveis, sobretudo no nível local, é um dos requisitos
para o alcance da SAN (MALUF et al., 1996).

Também vela ressaltar a importância do desenvolvimento econômico do País, desde que esse seja
orientado por objetivos sociais e por uma visão pautada na ética e na equidade, na sustentabilidade
ambiental, na universalização da cidadania e na radicalização da democracia para a busca da SAN.
Somado a isso, faz-se necessária a ampliação dos serviços básicos de educação, saúde, habitação e
saneamento (MALUF et al., 1996; SANTOS, 2007).

A Política Nacional de Alimentação e Nutrição


A intenção de se ter uma Política Nacional de Alimentação e Nutrição foi perseguida durante anos. Em
1972, a gênese do Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN), do Ministério da Saúde. Tem-
se o primeiro Programa Nacional de Alimentação e Nutrição (PRONAN) entre 1973 e 1974, o qual era
baseado na suplementação alimentar para gestantes, nutrizes e crianças até sete anos e os escolares de
sete a quatorze anos; ele foi prejudicado por dificuldades administrativas (CASTRO, 1995).

O Programa Nacional de Alimentação e Nutrição II, entre 1976 e 1979, composto por programas
de suplementação alimentar, amparo às pequenas propriedades rurais, combate às carências
nutricionais específicas à nutrição do trabalhador e suporte à efetivação de pesquisas, estudos e
preparação de profissionais (CASTRO, 1995).

Nos anos seguintes, as atividades do INAN ficaram restritas, praticamente, ao Programa Leite é
Saúde, sendo extinto em 1997 muito enfraquecido e sem condições políticas e técnicas de operação
(VALENTE, 2002).

No ano de 1998, respeitando a nova estrutura institucional do Ministério da Saúde, foi criada a
Área Técnica de Alimentação e Nutrição, subordinando-se à Secretaria de Políticas de Saúde. Nesse
contexto, em 1990, o Ministério da Saúde programa uma série de medidas fundamentais para o
setor que culminou na Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), aprovada formalmente
pela Portaria no 710 de 10/6/1999, publicada no Diário Oficial da União (BRASIL. PORTARIA Nº
710, 1999).

A PNAN foi resultado de experiências, estudos, análises e debates no campo da nutrição nas últimas
décadas, portanto, os conceitos e pressupostos balizaram as definições das competências do setor

59
UNIDADE II │ Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva

saúde, no que se refere à Alimentação e Nutrição. Participaram desse debate diferentes setores do
governo, segmentos da sociedade e especialistas no assunto, contando ainda com a concordância da
Comissão de Intergestores Tripartite e do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2003).

A acolhida da Política Nacional de Alimentação e Nutrição pelo setor representa um momento


de extrema relevância, devido à alimentação e à nutrição comporem condição fundamental para
promover e proteger a saúde. No âmbito da alimentação e nutrição, o Brasil coexiste realidades
extremas: em algumas regiões a subnutrição e as carências especificas de micronutrientes essenciais
ainda são recorrentes e incidentes; em outras regiões ocorrem taxas elevadas de sobrepeso e
obesidade (BRASIL, 2003).

A Política Nacional insere-se no contexto da segurança alimentar e nutricional e possui como eixos:
garantir a qualidade dos produtos alimentícios disponibilizados para ingestão no Brasil, promover
a ingestão de alimentos saudáveis, prevenir e controlar as alterações nutricionais, assim como
estimular as atividades entre os setores envolvidos que possam propiciar o acesso universal aos
alimentos (SECRETARIA DE POLÍTICAS DE SAÚDE, 2000).

Para que o propósito da PNAN seja alcançado, foram estabelecidas sete diretrizes essenciais:

1. Estimular as atividades dos setores envolvidos, objetivando o acesso universal aos


alimentos;

2. Garantir a oferta de alimentos seguros e de qualidade na prestação de serviços da


área de alimentos;

3. Monitorar a situação alimentar e nutricional;

4. Promover as práticas alimentares de estilos de vida saudáveis;

5. Prevenir e controlar as alterações nutricionais e as doenças associadas à alimentação


e nutrição;

6. Promover o desenvolvimento de linhas de investigação;

7. Desenvolver e capacitar recursos humanos (BRASIL, 2003).

A implementação da PNAN é de responsabilidade dos gestores do Sistema Único de Saúde nos


três setores governamentais: federal, estadual e municipal – buscando estabelecer parceiras nos
diversos setores da sociedade, assim como a articulação interinstitucional que possibilite consolidar
compromissos multilaterais e garantir a consecução dessa política (BRASIL, 2003).

Para a implementação dessa política, foram investidos milhões de reais e algumas das ações
desenvolvidas pelo Ministério da Saúde foram: o Programa de Incentivo ao Combate das Carências
Nutricionais (1998-2001), o Bolsa Alimentação (2001-2003), a implementação do Sistema
Nacional de Vigilância Nutricional (VAN), o Programa Nacional de Suplementação de Ferro e o
Programa de Suplementação de Vitamina A. Vários manuais e informes técnicos foram publicados
e entre eles podemos citar: Guia alimentar para crianças menores de 2 anos de idade, Dez passos

60
Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva │ UNIDADE II

para a alimentação saudável, Guia alimentar para a população brasileira, Manual de vigilância
alimentar e nutricional, Álbum de Antropometria, Alimentos regionais brasileiros e Tabela de
Composição de Alimentos (TACO) (BRASIL, 2003).

O setor de saúde tem funções muito específicas e importantes para o contexto da PNAN, pois cabe
a ele o diagnóstico individual e coletivo da situação de saúde e dos possíveis condicionantes dessa
situação; o princípio e a expansão das ações específicas para intervir sobre a situação, objetivando
a solução dos problemas identificados – promoção, prevenção, assistência e reabilitação – e
o monitoramento e acompanhamento dos resultados obtidos com as intervenções propostas
(Secretaria de Políticas de Saúde, 2000; SANTOS, 2007).

Vigilância alimentar e nutricional


O monitoramento da situação alimentar e nutricional da população é um das prioridades da Política
Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN). Essa ação foi preconizada na década de 1970, na
Conferência Mundial de Alimentação, em 1974, recomendada pelos organismos internacionais:
ONU, Organização Panamericana de Saúde (OPAS), FAO e Unicef, objetivando o monitoramento
das condições dos grupos menos favorecidos da sociedade e populações de risco, proporcionando
um critério para avaliar de maneira contínua e menos onerosa os amplos aspectos que interferem
nos paradigmas da ingestão alimentar e no perfil nutricional (FAO, 1974 apud FAO 1993).

O documento elaborado a partir da conferência continha instruções acerca do processo de vigilância


nutricional, sua organização e os princípios para sua operacionalização. Assumiu-se como tema central
a vigilância de agravos nutricionais em países não desenvolvidos, para os quais a disponibilidade
de produtos alimentícios e o estado nutricional dos grupos de risco e baixa renda é marginal, a
subnutrição tinha condições de ser endêmica e oscilações dos aspectos do meio ambiente poderiam
levar a desnutrição a proporções endêmicas. Nessa conjuntura, o Sistema de Vigilância Alimentar e
Nutricional – (SISVAN) foi apresentado como um sistema intersetorial (CASTRO, 1995).

O Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional reflete um mecanismo para coletar, processar


e analisar continuamente os dados sociais, o que possibilita diagnosticar de maneira atualizada
a situação nutricional e os componentes determinantes dessa situação. O SISVAN colabora com
o conhecimento da natureza e a relevância dos obstáculos nutricionais. É possível também,
caracterizar populações em risco nutricional e subsidiar a configuração de políticas, projetos e
possíveis intervenções (MASON, 1984; BRASIL, 2003; OPAS, 1997).

No Brasil, em 1976, houve uma proposta de implantação do Sistema Nacional de Alimentação e


Nutrição feita pelo INAN, que norteou a elaboração, institucionalização e sistematização das
informações, configurando a vigilância nutricional focada na desnutrição infantil, mediante um
sistema. Porém, o processo de implantação do SISVAN no país alcançou auge na década de 1990,
momento em que foi institucionalizado pelo Ministério da Saúde (BRASIL, PORTARIA no 1.156,
1990) e ainda com a inclusão da Vigilância Nutricional na lei do Sistema Único de Saúde (BRASIL.
LEI no 8.080, 1990) e nas Normas Operacionais Básicas do SUS (STEFANINI, 2000).

61
UNIDADE I │ Definindo Saúde Coletiva

No ano de 1998, decorrente da criação do projeto Incentivo de Combate às Carências Nutricionais


(ICCN), os SISVANs municipais (BRASIL, PORTARIA Nº 709,1999) passaram a serem requisitos
essenciais no repasse financeiro pela instância federal por meio do Piso Assistencial Básico (PAB)
(ENGSTROM, 2002).

Durante todo esse período, o SISVAN, na maioria dos municípios, era alimentado manualmente
e encaminhado para a esfera estadual e federal via papel. No ano de 2001, o Programa Bolsa
Alimentação substitui o Programa Incentivo de Combate às Carências Nutricionais, o que
possibilitou a ampliação no número de beneficiários, propondo ações de vigilância nutricional de
gestantes e crianças (BRASIL. MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.206, 2001).

Nessa época, o Estado de São Paulo desenvolveu um aplicativo para a vigilância nutricional de
crianças menores de cinco anos. Os dados eram coletados nas Unidades Básicas de Saúde (UBS)
dos municípios, registrados em planilhas, digitados no sistema e encaminhados mensalmente
ao Instituto de Saúde/Secretaria do Estado de São Paulo para a consolidação regional e estadual
(STEFANINI, 2002).

Em 2004, o Programa Bolsa Família foi criado com o objetivo de unificar os processos gestacionais
e de efetivação das ações de transferência de renda do Governo Federal. Nesse mesmo ano, foi
desenvolvido um aplicativo denominado de Vigilância Alimentar e Nutricional (VAN) sob o
gerenciamento da Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN/MS) e a
responsabilidade de informatização do DATASUS. Esse sistema deveria ser implantado em todos
os municípios, objetivando acompanhar as famílias favorecidas pelo Programa Bolsa Família
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).

Segundo o Ministério da Saúde (2004), o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional foi concebido
a partir de três eixos, de modo a fomentar as seguintes ações:

1. elaborar políticas públicas, estratégias, programas e projetos sobre alimentação e


nutrição;

2. planejar e avaliar os programas sociais nas áreas alimentar e nutricional;

3. a operacionalização e o ganho de eficácia das ações de governo .

Entre 2005 e 2006, foram realizadas capacitações em todos os estados brasileiros para a implantação do
aplicativo VAN, assim como orientações elementares para coletar, processar e analisar as informações
em serviços de saúde. A população-alvo passa a ser a clientela assistida pelo SUS, em qualquer fase da
vida – criança, adolescente, adulto, idoso e gestante (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).

Apesar de todo o esforço desenvolvido e das diversas pactuações realizadas com a Comissão
Intersetorial de Alimentação e Nutrição (CIAN) e o Conselho Nacional de saúde (CNS), na Comissão
Intergestores Tripartite (CIR) e, ainda, no Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
(CONSEA) os resultados se mostraram insuficientes com uma cobertura muito pequena da
população-alvo (SANTOS, 2007).

62
Definindo Saúde Coletiva│ UNIDADE I

Para reforçar o compromisso do SISVAN, foi publicado o Decreto no 5.209 de 17/9/2004 que dispõe
sobre as atribuições e normas para a oferta de monitoramento das ações de saúde relacionadas às
condições das famílias favorecidas pelo Programa Bolsa Família (BRASIL. DECRETO No 5.209) e
a Portaria no 2.246 de 18/10/2004 que institui e divulga a implementação das práxis da Vigilância
Alimentar e Nutricional no contexto das atividades elementares do SUS (MINISTÉRIO DA SAÚDE.
PORTARIA no 2.246, 2004).

Cabe destacar que, ao longo da história, o papel do SISVAN ficou restrito às políticas sociais
e fundamentalmente como instrumento de triagem e acompanhamento de beneficiários de
programas de suplementação alimentar. Além disso, tem cobertura geográfica e populacional
restrita, exceto em algumas regiões. Porém, a importância do SISVAN não deve ser esquecida,
uma vez que o conhecimento do perfil nutricional e as condições de saúde de uma população
são informações valiosas, pois auxiliam principalmente os gestores a avaliarem e realizarem o
planejamento de ações em função da problemática da população visando à promoção e prevenção
da saúde (STRUFALDI, 2003).

O SISVAN tem obrigação de obter informações e dados da população assistida nos distritos sanitários
e nas unidades básicas de saúde para sustentar as melhorias das práticas de assistência individuais
e coletivas prestadas aos usuários dos serviços (ENGSTROM, 2002). Dessa forma, os serviços
de saúde são essenciais no sistema por serem o local de atuação de um conjunto de programas e
ações de saúde e nutrição. Além disso, têm a possibilidade estratégica de ser um dos espaços de
diagnóstico, monitoramento da situação alimentar e nutricional das coletividades, contribuindo
com a geração de informações confiáveis para a formulação de programas públicos de promoção à
saúde em alimentação e nutrição (ENGSTROM, 2002).

Nesse sentido, é necessário que os gestores e profissionais da área de Saúde tenham conhecimento de
suas funções e difundem a vigilância, ou seja, que tenham uma visão diferenciada a cada indivíduo,
ao grupo, à fase da vida. Os profissionais devem utilizar a informação gerada rotineiramente para
repensar a práxis em saúde, para dar qualidade à assistência fornecida àqueles indivíduos que no
dia a dia são atendidos na rede de saúde. Precisam dar valor ao estado nutricional do indivíduo
e da coletividade e empenhar-se no enfoque promocional da saúde em concordância à realidade
epidemiológica local (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).

É dessa forma que a construção do SISVAN nacional pode contribuir para melhorar as condições de
saúde da população.

63
capítulo 2
A conjuntura atual da alimentação
e nutrição em saúde coletiva e as
políticas nacionais

A PNAN hoje
As políticas nacionais desempenhadas, as quais envolvem as perspectivas da alimentação e nutrição,
adquiriram nova direção a partir da LOSAN – Lei no 11.346, 2006, que instituiu o Sistema Nacional
de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN) (BRASIL, LEI no 11.346, 2006).

A PNAN reposicionou, na época, a questão alimentar e nutricional na programação das políticas


públicas da área da Saúde, a PNAN (BRASIL, PORTARIA no 710, 1999). Levantamento realizado
pelo Ministério da Saúde referente ao desenvolvimento da Política Nacional de Alimentação e
Nutrição demonstrou seu papel de referência regulatória, política, sobre a aplicação técnica e ética
do setor da alimentação que atuam no campo da saúde coletiva. São considerados méritos: arranjar
e desempenhar a vigilância alimentar e nutricional; produzir os dados acerca do estado nutricional
por meio de pesquisas populacionais; promover a alimentação saudável e a formação de recursos
humanos. Ainda são desafios relevantes a institucionalização do campo, o gerenciamento dos
procedimentos de trabalho, o investimento financeiro e a participação e controle social (BRASIL,
PNAN, 2009).

No campo da vigilância alimentar e nutricional, o aprimoramento e a expansão do SISVAN (BRASIL,


PORTARIA no 1.156, 1990) respondem aos esforços de programar um sistema operativo no dia a
dia das unidades de saúde que favoreçam a gestão racional de ações locais, o que contribui para a
efetivação da PNAN (BRASIL, PNAN, 2009). As medidas sensíveis da fome e seus determinantes,
da desnutrição, da deficiência nutricional que refletem distintas causas, da alteração do padrão
de ingestão alimentar e fatores conseguintes, como o sobrepeso e a obesidade, indicam como as
populações ultrapassam as fases do desenvolvimento da sociedade, da economia e incorpora ou
abandona o perfil de consumo de alimentos e práticas de saúde (RECINE; VASCONCELLOS, 2011).

A monitoração do cenário de saúde, alimentar e nutricional, de modo sistematizado, revela


desigualdades entre regiões geográficas, grupos populacionais e populações desfavorecidas e
fornecem os subsídios dos programas e das práticas direcionadas à prevenção e ao domínio das
desnutrições e alterações orgânicas associadas à alimentação e nutrição, assim como à promoção
de comportamentos alimentares e estilos de vida saudáveis (BRASIL, PNAN, 2009). Para isso, o
principal desafio que ainda permanece é a confecção de indicadores que contenham informação
incorporadora das dimensões das iniquidades em saúde (MAGALHÃES, 2007).

O SISVAN tem sua estrutura baseada em informações originadas no dia a dia da atenção básica
de saúde, especialmente, das equipes do programa de saúde da família, e é, na conjuntura atual,

64
Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva │ UNIDADE II

utilizado como indicador dos alcances avaliados pelos administradores de saúde nas instâncias
estadual e municipal para a execução das metas de alimentação e nutrição apontadas no Pacto
Nacional de Saúde. As informações geradas pelo SISVAN fornecem o padrão nutricional de um
grupo social vinculado de maneira geográfica a uma determinada unidade de saúde, consolidando
sua vocação como programa sistematizado de informação local à segurança alimentar e nutricional
(BRASIL, PORTARIA no 1.156, 1990; ENGSTROM, 2007).

A aplicação de levantamentos nacionais periodizados constitui o sistema de monitoramento


alimentar e nutricional. Recine e Vasconcellos (2011) apontam que foram realizadas pesquisas
relevantes na área da alimentação e nutrição em saúde coletiva, nos últimos cinco anos. A Pesquisa
Nacional de Demografia e Saúde institui o primeiro estudo no Brasil acerca da prevalência da
anemia e da hipovitaminose A; as Pesquisas de Orçamento Familiar (POFs) dos anos de 2008
e 2009 incorporaram, de maneira inovadora, um item referente à ingestão de alimentos, o que
atualizou, após trinta anos, nacionalmente, informações sobre consumo. A Pesquisa Nacional de
Avaliação do Impacto da Adição do Iodo no Sal, elaborada nos moldes propostos pela OMS, poderá
incluir o Brasil na relação de países que eliminaram as doenças por carência de iodo (RECINE;
VASCONCELLOS, 2011).

A programação de promoção da alimentação saudável é capacitada com a gênese do Guia alimentar


para a população brasileira (BRASIL, 2008), tal guia incorpora a base conceitual da alimentação
saudável como fator resultante da interação dos aspectos biológicos e socioculturais. A concepção
multifocada direcionada às famílias, aos administradores, aos profissionais de saúde, aos indivíduos
que formulam as políticas públicas e ao setor de produção e abastecimento de alimentos atua nos
aspectos determinantes da alimentação, explicitando as responsabilidades dos diferentes setores da
sociedade, o que indica que só as ações de educação em saúde não são consideradas suficientes para
alcançar impacto na promoção da alimentação saudável. São estabelecidas medidas para regulação
relacionadas com a rotulação dos alimentos e com a produção de propagandas de alimentos com altos
teores de açúcar, gordura e sal; o que norteia o eixo de alimentação saudável apontado na Política
Nacional de Promoção da Saúde (BRASIL, 2006), bem como as atividades de avaliação nutricional
e de promoção da saúde do Programa Saúde na Escola (BRASIL. DECRETO PRESIDENCIAL no
6.286, 2007), programa conjunto do Ministério da Saúde e do Ministério da Educação.

Estudo realizado por Silva e colaboradores (2002) mostra o quanto o setor de saúde pode, baseado
no procedimento de alteração dinâmica de dados sobre alimentação e nutrição, contribuir à
formação da opinião confiante sobre os princípios e recomendações da alimentação saudável. E,
nesta conjuntura, o cuidado básico se configura em um ambiente privilegiado para se alcançar a
promoção dos hábitos alimentares saudáveis (VASCONCELOS et al., 2008).

Os conceitos e recomendações do guia (BRASIL, 2008) foram referidos como proposta de Programa
Intersetorial de Promoção da Alimentação Adequada e Saudável apontado pelo Conselho Nacional
de Segurança Alimentar e Nutricional (BRASIL, 2007). Esta consonância ao redor da programação
de promoção da alimentação adequada e saudável configura-se como conteúdo de diálogo ostensivo
entre os movimentos sociais de SAN e da saúde coletiva (RECINE e VASCONCELLOS, 2011).

65
UNIDADE II │ Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva

A gênese dos Centros de Apoio à Saúde da Família (NASF) (BRASIL, PORTARIA no 154, 2008),
objetivou a ampliação da abrangência das atividades de atenção básica, assim como a sua capacidade
resolutiva é marco importante na impulsão da instituição das atividades de nutrição nos serviços de
saúde. Entre as atribuições do nutricionista no NASF, encontram-se: atenção ao aspecto nutricional
nas diferentes fases de vida; aplicações direcionadas às demandas mais relevantes, como as
deficiências alimentares e desnutrições; planos terapêuticos nas doenças crônicas; desenvolvimento
e estimulo à produção e ao consumo dos alimentos saudáveis; organização intersetorial para
possibilitar hortas e pomares comunitários; gestão da referência e contrarreferência no atendimento
(BRASIL, PORTARIA no 154, 2008).

Historicamente, o processo para capacitar profissionais se deve aos Centros Colaboradores de


Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde. Estes centros são compostos por dez universidades
federais, tais como a Universidade Federal de Pernambuco, Universidade Federal do Paraná,
Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Federal da Bahia, Escola Nacional de
Saúde Pública Sérgio Arouca, Universidade de São Paulo, Fundação Oswaldo Cruz/Ministério da
Saúde, Universidade Federal do Pará, Universidade Federal de Pelotas, Universidade de Brasília
e Universidade Federal de Goiás. Segundo Racine e Vasconcellos (2011) as dez universidades
configuram uma trama de suporte para as ações de alimentação em nutrição nas regiões brasileiras,
buscando integrar ensino, pesquisa e serviço (RECINE; VASCONCELLOS, 2011). Estes centros
atuam com autonomia e contribuem com a disseminação dos preceitos e princípios do Sistema
Único de Saúde e da Política Nacional de Alimentação e Nutrição na atenção primária em saúde;
compõem os projetos de investigação multicêntrica em saúde e nutrição, colaboram na avaliação das
informações dos estudos nacionais e produzem o conhecimento e a análise dos projetos e políticas
de segurança alimentar e nutricional (RECINE; VASCONCELLOS, 2011).

O suporte às áreas de pesquisa e investigações nas áreas estratégicas do conhecimento em nutrição


foi possibilitado pelo lançamento de dois editais nacionais. No edital referente à Alimentação e
Nutrição, lançado em 2004 pelo Ministério da Saúde em conjunto com o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a temática é direcionada às diretrizes da PNAN;
ele financiou 85 estudos e teve um investimento superior a R$ 4 milhões, evento desconhecido
até então no campo da alimentação e nutrição no Brasil (KAC; SERRUYA, 2008). O outro edital
foi lançado em 2005, também pelo Ministério da Saúde e CNPq, foi o Alimentação, Nutrição e
Promoção da Alimentação e Modos de Vida Saudáveis; ele financiou 97 estudos nas distintas linhas
temáticas, incluiu as intervenções em nutrição e saúde coletiva e consolidou um modelo de fomento
à pesquisa (KAC; SERRUYA, 2008). A análise do processo apontará em que direção os centros de
estudo e escolas superiores do Brasil trarão tecnologia e inovação; possibilitarão a consolidação
destas; farão o diálogo entre as universidades e as políticas públicas de alimentação e nutrição
em saúde para criar oportunidades tanto no campo acadêmico quanto nos serviços de saúde; e
possibilitarão a investigação para aprimorar os passos da nutrição nas políticas públicas do país de
forma mais abrangente e intersetorial (BRASIL, 2009; 2007; RECINE; VASCONCELLOS, 2011).

66
Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva │ UNIDADE II

A futura política nacional de segurança alimentar e


nutricional
Com a ratificação da LOSAN, em 2006, o SISAN é instituído e tem como objetivos:

1. a elaboração da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN)


nas diferentes esferas de governo;

2. a agregação dos preceitos e diretrizes de segurança alimentar e nutricional nas


políticas relacionadas às temáticas abrangidas pela definição de SAN adotada no
Brasil.

O LOSAN, em seu art. 6o, trata de forma explícita a SAN em um aspecto que abrange: “a promoção
da saúde, da nutrição e da alimentação da população, incluindo-se grupos populacionais específicos
e populações em situações de vulnerabilidade social” (BRASIL, LEI no 11.346, 2006).

A partir da III Conferência Nacional de SAN, em 2007, o CONSEA instituiu um processo de


elaboração, baseado nas resoluções definidas no encontro, condicionado em um documento que
definiu os princípios e diretrizes que deverão compor a PNAN (BRASIL. CONSEA, 2007). As
resoluções finais da CNSAN (BRASIL. CONSEA, 2007) foram organizadas em três eixos temáticos:
segurança alimentar e nutricional nas estratégias nacionais de desenvolvimento; Política Nacional
de Segurança Alimentar e Nutricional; e Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.
Segundo o CONSEA (2007), no 2o eixo foram propostas 6 diretrizes:

1. promover o acesso universal à alimentação adequada;

2. criar sistemas estruturados, embasados em aspectos sustentáveis de produção,


extração, processamento e distribuição de alimentos;

3. definir e estabelecer procedimento contínuos de educação e capacitação em


segurança alimentar e direito humano à alimentação adequada;

4. estender e coordenar as práticas de segurança alimentar e nutricional voltadas para


povos indígenas e comunidades tradicionais;

5. consolidar as ações de alimentação e nutrição em todos as esferas do cuidado, de


maneira articulada com as outras políticas de segurança alimentar e nutricional;

6. fomentar a autonomia e a segurança alimentar e nutricional no contexto


internacional (BRASIL. CONSEA, 2007).

O documento foi enviado à Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (CAISAN)


(BRASIL 2009; 2009), em 2009. A CAISAN, que é formada pelos ministros de 19 áreas distintas das
organizações governamentais, propõe e articula as propostas da PNSAN.

No documento, “Subsídios para a construção da Política Nacional de Segurança Alimentar e


Nutricional” (BRASIL. CONSEA, 2007), está proposto que o objetivo geral da PNSAN é:

Assegurar o direito humano à alimentação adequada a todas e todos os


habitantes do território brasileiro, promovendo a soberania e a segurança

67
UNIDADE II │ Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva

alimentar e nutricional de modo que tenham acesso contínuo e permanente


a produtos alimentícios com qualidade, em quantidade suficiente, sem
comprometer o acesso a outras demandas essenciais, baseados nas práticas
alimentares que possam promover saúde e que respeitem a diversidade
cultural e que seja ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentável.

Outra diretriz bastante relevante e referente ao âmbito da alimentação e nutrição no campo da saúde
é “Fortalecer as ações de alimentação e nutrição nos diferentes níveis de cuidado à saúde, articulado
às demais políticas de Segurança Alimentar e Nutricional”. Ela reitera aspectos de promoção da
alimentação saudável como eixo norteador das práticas implementadas pela PNSAN (BRASIL.
CONSEA, 2007), entendendo que a promoção da alimentação saudável incorpora desde a produção
até o consumo do alimento e deve ser consolidada nas diferentes fases de vida e níveis de cuidado
em saúde, articulada aos distintos setores do governo e da sociedade.

As ações decorrentes dessa diretriz deverão causar impacto nas nove esferas de ação:

1. promover o acesso à nutrição adequada e saudável;

2. qualificar higiênico, sanitária e nutricionalmente os alimentos;

3. integrar programas que possibilitem melhoria do acesso à alimentação;

4. acompanhar a situação alimentar e nutricional da população brasileira;

5. auxiliar na produção do conhecimento sobre alimentação e nutrição;

6. viabilizar, valorizar e fortalecer o campo da nutrição no SUS;

7. elaborar políticas de alimentação e nutrição para povos e comunidades tradicionais;

8. conceber os programas as pessoas com anemia falciforme e outras necessidades


alimentares especiais;

9. implementação e ampliação do controle social.

Levando em consideração a “Promoção da Alimentação Saudável” como eixo de base da PNSAN


e os reflexos que essa decisão conduzirá as áreas relativas à SAN, a consolidação das ações de
alimentação e nutrição no SUS adquire uma importância estratégica. A 3ª CNSAN destacou a Política
Nacional de Alimentação e Nutrição (BRASIL, 2009) como componente estruturante na elaboração
dessa trajetória em consequência da articulação das ações que confirmam a segurança alimentar
e nutricional e o direito humano à nutrição com qualidade adequada e condição de essencialidade
da promoção da saúde e da cidadania. Assim sendo, é de extrema importância que tais conceitos
ultrapassem as ações de promoção, atenção e vigilância à saúde e mostrem-se também como
estratégia a divulgação de informações no âmbito da nutrição saudável, na formação dos recursos
humanos qualificados e específicos para atuação no campo da nutrição e saúde coletiva (BRASIL,
2009; RECINE; VASCONCELLOS, 2011).

68
Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva │ UNIDADE II

Nessa conjuntura, destaca-se como imprescindível a consolidação e a institucionalização do campo


e das práticas em alimentação e nutrição no SUS, recuperando os eixos da PNAN (BRASIL, 2009)
e incentivando sua capacidade de construir diálogos intra e intersetoriais. Ressalta-se ainda que
a sedimentação necessária e concreta da PNAN deve se retratar no fomento adequado para a
implementação de suas diretrizes. Com a adição, a regulamentação e a institucionalização das ações
de nutrição em todos os níveis do cuidado à saúde, o setor terá condições de atuar com qualidade
na abordagem de uma atenção nutricional abrangente, inclusive relativa com a promoção da saúde,
o que contribuiu para a mudança de paradigma do formato de atenção à saúde como um todo e
efetivou a garantia da SAN (BRASIL, 2009; RECINE; VASCONCELLOS, 2011)

Consequentemente, a CAISAN confeccionou uma proposta de projeto de lei sobre a PNSAN


(BRASIL, 2009). A proposta foi analisada pelo CONSEA em 2009 e está em fase de aperfeiçoamento
e nos trâmites para encaminhamento ao Congresso Nacional (BRASIL, 2009; RECINE;
VASCONCELLOS, 2011).

O cenário futuro
A PNAN completou 10 anos e agregou importantes conquistas, assim como desafios apontados
no documento de subsídio (BRASIL, 2010). Ela foi constituída em decorrência das evidências
epidemiológicas importantes – que direcionaram a argumentação e a definição de suas diretrizes.
Embora não compôs uma fase de consolidação das justificativas do “estado mínimo”, deu valor
à intersetorialidade, criou conjuntura de contribuição da SAN e adotou o Direito Humano à
Alimentação Adequada como princípio (BRASIL, 2010). Apesar dos vários pontos de vista, a política
previu um conjunto de recomendações presentes na Estratégia Global para a Atividade Física e
Dieta, proposta posteriormente (WHO, 2004).

No campo da saúde, não devem ser adiáveis a expansão e a qualificação das práticas de alimentação
e nutrição no SUS, o que possibilita que a área da Saúde preencha e responda pelos compromissos
assumidos no desafio de promover a SAN da população brasileira. Uma intensa reflexão deve
acompanhar o esforço e a adequação da formação dos profissionais que trabalham em nutrição em
saúde coletiva caso se coloquem em uma posição de formulação e liderança (BRASIL, Resolução nº
01, 2009; BRASIL, 2009; 2010).

É clara a confluência da programação das prioridades que garantem a SAN e os avanços


necessários para a efetivação da implantação e atualização das ações de alimentação e nutrição
no SUS – representadas pela PNAN (BRASIL. PORTARIA no 710, 1999; BRASIL, 2009; RECINE;
VASCONCELLOS, 2011).

Enfim, o emprego político e toda a programação na área da alimentação e nutrição em saúde coletiva
congregam-se como uma porta de oportunidades relevantes em um contexto de explicações da
realidade e da caça de desfechos abrangentes para corresponder às complexidades da nutrição e da
inserção da alimentação na esfera dos direitos humanos na atualidade (RECINE; VASCONCELLOS,
2011).

69
UNIDADE II │ Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva

Aprofundamento das discussões


Grupos e discussões da ABRASCO: GT alimentação e nutrição em saúde coletiva.

»» Diretrizes Nacionais da Vigilância em Saúde:


<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/volume13.pdf>.

»» DRIS, Recomendações de Ingestão Dietética, USA. Disponível em: <www.


nap.edu>.

»» BUSS, P. M. Promoção da saúde e qualidade de vida. Ciência e saúde


coletiva. V. 1, n. 5, p. 163 – 177, 2000.

»» MAHAN, L. K.; ARLIN, M. T. Krause alimentos, nutrição e dietoterapia.


Tradução de Alice Regina de Almeida et al. 9. ed. São Paulo: Roca, 1998.
981 p.

»» SUTHERLAND, R. W.; FULTON, M. J. Health promotion, In: SUTHERLAND &


FULTON. Health care in Canada. Otawa, 1992, p. 161-181.

Reflexões e considerações do Manual operacional para profissionais de saúde e


educação: promoção da alimentação saudável na escola. Ministério da Saúde,
Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.

A promoção da alimentação saudável no


ambiente escolar
A concepção ampliada de saúde e a necessidade de criação de políticas públicas
para apresentá-la a partir da obrigatoriedade da participação da sociedade são
bases para a elaboração e sedimentação do Sistema Único de Saúde (SUS) e da
Política Nacional de Saúde, que caracterizam a não possibilidade do setor sanitário
de refletir sozinho a modificação dos aspectos definidores e condicionantes da
saúde. Dessa forma, promover saúde é desenvolver com qualidade de vida e
redução da fragilidade aos riscos para a saúde relativos aos seus determinantes e
condicionantes, entendendo que, para tal, é imprescindível aumentar a autonomia
dos indivíduos e das coletividades no cuidado integral à saúde, o que minimiza e
extingue as desigualdades de toda e qualquer ordem (BRASIL, 2008).

O fomento da alimentação saudável leva em consideração o peso multiplicado


das alterações de saúde, o que entende que as políticas e os projetos brasileiros de
alimentação e nutrição necessitam das orientações às práticas que levem a promoção
da saúde e previna as doenças relacionadas à alimentação, tais como a subnutrição
e as deficiências de micronutrientes, como a anemia ferropriva, hipovitaminose
A e a carência de iodo, que continuam sendo desafios da saúde pública no Brasil,
assim como as doenças crônicas não transmissíveis, como obesidade, hipertensão,

70
Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva │ UNIDADE II

diabetes e doenças cardiovasculares e câncer, que aumentam de maneira vertiginosa


e precoce, processo caracterizado como transição nutricional (BRASIL, 2008).

Nesse contexto, estão associadas as modificações econômicas, sociais e


epidemiológicas que ocorreram nas últimas décadas em decorrência da crescente
modernização e urbanização que acarretaram modificações no estilo de vida dos
indivíduos e, em particular, dos hábitos alimentares. É conhecida a predominância
da alimentação ocidental composta de produtos alimentícios de alta densidade
calórica, alto teor de açúcar, gordura saturada e gordura trans e dieta deficiente em
carboidratos complexos e fibras, o que aumenta a incidência de obesidade e das
DCNT (MONTEIRO, 2000). Associado à modificação do perfil alimentar da população
aconteceu o aumento do sedentarismo, em decorrência das modificações dos perfis
de trabalho e lazer da população. A prevenção e o controle das DCNT e seus fatores
de risco são imprescindíveis para conter a epidemia e as consequências na qualidade
de vida da população. Em adição, as DCNTs são as doenças que mais demandam
ações, procedimentos e serviços de saúde, onerando em 70% do total dos custos do
SUS, excluídos os custos indiretos (BRASIL, 2005). A questão também vem afetando
a população infantil, no momento, as DCNTs corresponde ao problema alimentar
mais recorrente nesta fase do curso da vida dos países desenvolvidos (GARCIA et
al., 2004), assumindo também grande proporção no Brasil (DAVANÇO; TADDEI;
GAGLIONE, 2004).

A obesidade na infância é mais relevante que a adulta, porque em média 50% das
crianças que são obesas aos 6 meses de vida e 80% das crianças obesas aos 5 anos
de idade permanecerão com esta condição (ABRANTES; LAMOUNIER; COLOSIMO,
2002). Ademais, quanto mais acentuado e precoce é a sua eclosão, maior o risco de
subsistência na vida adulta, sendo mais graves as comorbidades a ela relacionadas
(MAGALHÃES; AZEVEDO; MENDONÇA, 2003). Dessa forma, os hábitos alimentares
possuem um relevante papel, porque são aliciados durante a infância, sedimentados
na adolescência e diretamente embrenhados ao risco na desenvoltura dessas
doenças crônicas na vida adulta (CAROLI; LAGRAVINESE, 2002).

Os casos cada vez mais presentes e alarmantes, as DCNTs levaram a aprovação


da Estratégia Global para Promoção da Alimentação Saudável, Atividade Física e
Saúde, pela OMS durante a 57ª Assembleia Mundial de Saúde em 2004. Um dos
aspectos mencionados no documento foi a demanda de estimular modificações
socioambientais, no âmbito coletivo, para sustentar as escolhas saudáveis no âmbito
individual, o que contribui para a restituição deste quadro alarmante (WHO, 2004).
O compromisso repartido entre a sociedade, a produção e as políticas públicas é
o trajeto à elaboração de hábitos de vida que objetivem a promoção da saúde e
a prevenção das doenças. Dessa maneira, faz-se necessário elaborar estratégias
entre os setores de proteção à saúde e à vida, com estímulo e desencadeamento de
práticas favorecedoras do comprometimento da sociedade de retomar as práticas
saudáveis de maior acesso a todos (BRASIL, 2008).

71
UNIDADE II │ Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva

A escola contextualiza um ambiente favorável às práticas de promoção de hábitos


e alimentação saudável devido ao seu ambiente facilitador de saúde, autoestima,
comportamentos e desempenho de competências à vida de todos os indivíduos da
comunidade escolar: alunos, docentes, pais e funcionários. Efetua intensa dimensão
na constituição de crianças e adolescentes e compõe, em decorrência, um espaço
de relevância à promoção da saúde, predominantemente na incorporação do
conhecimento do cidadão integral, estimulando a autonomia e as escolhas mais
saudáveis de condições de saúde e qualidade de vida (BRASIL; OPAS, 2006).

Está claro que os projetos de promoção da saúde no ambiente escolar ampliam


os conhecimentos às famílias e à sociedade, melhora a situação de saúde das
populações, previne hábitos inadequados de saúde, reduz o absenteísmo na escola
e dos professores, aumenta o conhecimento acerca dos serviços de saúde e estimula
os professores no ambiente de trabalho (WHO, 1997; OPAS, 1997). As escolas
conseguem fazer mais do que outras organizações para a formação de atitudes
saudáveis do viver hoje e no futuro (BRASIL, 2008).

O ambiente escolar não pode ser visto somente como um método eficiente para
gerar educação, e sim como uma identidade do ser humano preocupado com os
aspectos de saúde dos indivíduos que o compõem, bem como dos indivíduos que
se relacionam com a escola. Uma escola saudável necessita, consequentemente, ser
compreendida como um contexto essencial na geração de indivíduos autônomos,
participativos, críticos e criativos, que permita o escolar desenvolver suas
potencialidades físicas e intelectuais (SECRETARIA DISTRITAL DA SAÚDE DE SANTA
FÉ DE BOGOTÁ, 1997 apud PELICIONI; TORRES, 1999).

Ao considerar a escola como condutor de hábitos alimentares saudáveis e a análise de


suas consequências e efeitos no longo, médio e curto prazo, a promoção de hábitos
alimentares saudáveis no ambiente escolar se trabalha com os seguintes aspectos
norteadores, segundo Abrantes e colaboradores (2002): Práticas e programas de
Educação Alimentar e Nutricional relacionados à alimentação regional; o esforço
para a criação de hortas na escola; confecção de projetos com os alunos e a utilização
dos alimentos produzidos na alimentação escolar; esforço à implementação das
boas práticas na manipulação dos alimentos nos serviços que ofertam alimentação
escolar; restrição do comércio de produtos alimentícios e preparações com elevadas
taxas de gordura saturada, gorduras trans, açúcar simples e sal; bem como o
incentivo ao consumo de frutas, verduras e legumes; e o monitoramento da situação
nutricional dos escolares (BRANTES; LAMOUNIER; COLOSIMO, 2002).

Com o intuito de propiciar a adesão da sociedade escolar e facilitar a implantação de


estratégias, os eixos apresentados são incorporados no documento do Ministério da
Saúde: “Dez passos para a promoção da alimentação saudável nas escolas”, consiste
nos aspectos básicos para uma boa alimentação do escolar e serem aplicáveis,
dando permissão à estruturação práticas conforme a realidade de cada local.

72
Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva │ UNIDADE II

1o passo: A escola é obrigada a definir estratégias, junto à comunidade escolar, para


favorecer escolhas saudáveis.

2o passo: Corroborar com as percepções da promoção da saúde e da alimentação


saudável nas atividades curriculares da escola.

3o passo: Elaborar estratégias informativas para as famílias das crianças e dos alunos
na promoção de alimentos saudáveis no ambiente escolar, com ênfase na sua
atribuição e relevância da participação neste processo.

4o passo: Comover e capacitar os profissionais de saúde na área de nutrição e


alimentação nas escolas para a produção e oferta de alimentos mais saudáveis, com
adequação dos locais de produção e fornecimento de refeições às boas práticas para
serviços de alimentação e garantia de oferta de água potável.

5o passo: Reduzir a oferta, a propaganda comercial e a venda de alimentos ricos em


gorduras, açúcares e sal.

6o passo: Elaborar opções de alimentos e refeições saudáveis na escola.

7o passo: Ofertas mais e estimular a ingestão de frutas, legumes e verduras, com


ênfase nos alimentos regionais.

8o passo: Dar auxílio aos serviços de alimentação da escola na divulgação de


sugestões saudáveis por meio de estratégias que estimulem essas escolhas.

9o passo: Anunciar a experimentação da alimentação saudável para outras escolas,


trocando informações e vivências.

10o passo: Desempenhar um programa de ação contínua de promoção de hábitos


alimentares saudáveis, levando em conta o acompanhamento do estado nutricional
dos escolares, com enfoque nas ações de diagnóstico, prevenção e controle dos
distúrbios nutricionais.

SUGESTÃO DE ATIVIDADE: Tempestade de ideias: O que eu entendo por “alimentação


saudável”?

73
Saúde Pública e Unidade iII
Saúde Coletiva

capítulo 1
Saúde pública e saúde
coletiva – campo e núcleo

O campo da saúde
Segundo Campos (2000), existe um raciocínio dialético em que a saúde coletiva é vista como um
pedaço do campo da saúde. Pode-se projetar o âmbito da saúde como uma fonte, na qual a saúde
coletiva seria uma parte, em distintos planos de inserção. Desses, pelo menos dois são comentados
neste artigo: a saúde coletiva, como movimento intelectual e moral; e a saúde coletiva como um eixo,
uma soma dos núcleos de saberes e práticas. Um eixo produzido em cooperação e inter-relações
com o contexto completo (CAMPOS, 2000).

A partir disso, Campos (2000) faz algumas reflexões: Qual seria o núcleo da saúde coletiva? O
suporte aos sistemas de saúde, à construção de políticas e à construção de modelos; a produção
de explicações para os processos saúde/enfermidade/intervenção; e, um traço mais pontual, a
produção de práticas de promoção e prevenção de doenças. Qual o sinal de identificação as saúde
coletiva? Possivelmente o seu foco em demandas da saúde com reflexos na saúde coletiva? Ou,
talvez, definir como uma práxis predominante, uma maneira de intervenção centrada na promoção
e na prevenção? (CAMPOS, 2000).

De qualquer modo, não o todo, mas uma parte. Um fragmento dinâmico e inserido que interfere no
campo da saúde em pelo menos dois planos. Horizontalmente, no aspecto que os saberes e práxis
integrariam parcela dos saberes e práxis dos profissionais da área e indivíduos da sociedade. Dessa
forma, os profissionais de saúde, os profissionais da clínica da reabilitação, do cuidado, todos, de
alguma forma, devem agregar em sua formação e em sua prática componentes da saúde coletiva.
Segundo Donnangelo (1976), há quase duas décadas se pode dar destaque ao movimento cultural
que ocorreu durante o movimento de reforma sanitária. Nessa visão, o objetivo da saúde coletiva é
causar influências às modificações dos saberes e das práticas de outros agentes, colaborando para
as mudanças do modo de cuidado e do raciocínio do funcionamento dos serviços de saúde em geral
(DONNANGELO, 1976).

74
Saúde Pública e Saúde Coletiva │ UNIDADE III

A outra inserção seria de forma verticalizada: a saúde coletiva ou também chamada de saúde
pública, como um campo específico de intervenção. Uma área específica, distante da clínica ou de
outras áreas de intervenção. Um campo institucionalizado e necessário de descrições formais, como
formação pública e privada dos núcleos de trabalho, meios corporativos, todo o acervo necessário
de uma área mais relevante do que o requerido por um movimento ideológico (CAMPOS, 2000).

O seu agente, quem seria e como operaria? Na saúde pública convencional o profissional sanitarista
é especialista solitário, que desempenhava intensamente seu trabalho em um sistema vertical e
autoritário. A principal característica do sanitarista, segundo a OPAS (1994), é a competência de
liderança, considerando que os cursos de formação devam desenvolver líderes para o setor de saúde.
Muitos autores apontam, inclusive, a supressão dos profissionais e das especialidades, visto que os
governos, as parcelas da sociedade e as equipes de saúde efetuariam as responsabilidades da saúde
coletiva (NUNES, 1998)

Uma possibilidade é refletir que o profissional da área de saúde coletiva, como o agente de saúde
pública, os profissionais com liderança, de acordo com os problemas e demandas em questão,
realize o trabalho em equipes multiprofissionais, mas com papel específico. Capazes de atuar tanto
em programas verticais, direcionados à promoção e à prevenção, e coordenados por eles, quanto
outros de estrutura matricial, intersetor; em que o sanitarista poderia ser um entre outros agentes.

No nosso país, ressalta-se o enfraquecimento da linha da saúde pública pensada como especialidade.
O instrumento formador em saúde coletiva tem dado privilégio à pós-graduação stricto sensu e a
cursos de extensão direcionados à equipe de trabalhadores em saúde em geral (NUNES, 1996),
em desvantagem da formação de especialistas e de residentes. Os critérios são indefinidos para os
distintos níveis e há controvérsia acerca dos conteúdos e, consequentemente, falta de controle sobre
a qualidade dos profissionais que são habilitados a atividades de saúde coletiva. Na situação de se
considerar o primeiro entendimento, a saúde coletiva, levando em conta sua inserção horizontalizada,
a qual é contrária a especialização, a efetuação da saúde coletiva e dos seus conceitos seria trabalho
de todos os profissionais de saúde e mesmo de toda a sociedade.

Na realidade, seria importante combinar as duas perspectivas: a questão da socialização dos saberes
e das práticas, assim como garantir a existência de especialistas potentes em produzir conhecimentos
mais elaborados sobre saúde pública e de intervir em situações mais complexas. (NUNES, 1996; 1998)

O núcleo de saberes e práticas da saúde


coletiva: a defesa da vida
Segundo Campos (2000), em um primeiro momento, é preciso assumir de maneira explícita que
a saúde pública é, histórica e socialmente fundamentada, devido a isso, é dependente de valores,
ou seja, é resultado da assunção e da luta de alguns valores contra outros (CAMPOS, 2000). Nesse
contexto, sugere-se que os profissionais de saúde que atuam na saúde coletiva assumam uma
postura sedimentada na defesa da vida das pessoas com as quais trabalhem. Tal aspecto tem como
consequência a busca pela elaboração de condições sociais que deem possibilidade ao especialista
em saúde coletiva de trabalhar de maneira autônoma em relação às instituições governamentais, às

75
UNIDADE III │ Saúde Pública e Saúde Coletiva

organizações partidárias, ideologicas e outras racionalidades técnicas. Dessa maneira, concede-se ao


sanitarista colocar-se em relação à existência ou não de conhecimentos e práticas de enfrentamento
das demandas e problemas em saúde, denunciando os economistas e políticos em defesa da vida de
grupos expostos a riscos (CAMPOS,1991; OPAS, 1994).

Há um segundo aspecto a ser reforçado, reconhecer que a saúde é um valor de uso com o sentido
original que Marx (1985) concebeu ao conceito, no 1o volume de “O capital” (Marx, 1985). Pode-se
entender por “valor de uso” a utilização de bens ou serviços que tenham os indivíduos que vivem em
situações específicas. Nenhum individuo ou organização conseguiria comercializar uma mercadoria
sem valor de uso. O campo da saúde, mesmo no conceito de bem público, ou seja, quando é extinto o
aspecto mercantilizado, conforme ocorre no SUS, uma vez que se produz como direito universal e não
como valor de troca, mantém o caráter de valor de uso (MARX, 1985; BRASIL. LEI no 8.080, 1990).

A capacidade de utilização de um bem ou serviço não é um definido intrinsecamente a ele, mas é


socialmente construída. Assim, o valor da vida varia conforme a época, a classe e o contexto social:
expressa-se sob a forma de necessidades sociais. Demandas sociais designam os bens e os serviços
que cada segmento social aponta alguma utilidade (MINAYO, 1991; NUNES, 1996; NUNES, 1998).
Segundo Foucault (1995) era possível afirmar que um dos reflexos do poder era a capacidade de
produzir verdades. Em coerência, é possível afirmar que a produtividade social é uma manifestação
objetiva do poder dos diferentes grupos e segmentos sociais (CAMPOS, 2000). Nesse contexto,
tanto as equipes de saúde como a sociedade precisavam ter cuidado na produção de valores de uso e
de sua significância pública sob as demandas sociais. Confundem-se aqueles que conferem ao poder
dominante a condição exclusiva de sempre produzir necessidades sociais. Por mais poderosas que
sejam as instituições governamentais e o mercado, de maneira nenhuma conseguiram desconsiderar
a dinâmica social que resulta na construção de necessidades. Mesmo ao afastarem os interesses dos
indivíduos sociais, ou o discurso da saúde coletiva, esses componentes acabam por demonstrar sua
lógica (NUNES, 1996; 1998).

O que se discute é que concerniria aos trabalhadores e aos usuários, a partir de seus interesses,
levando-se em conta os embasamentos teóricos da produção de saúde, tratar de construir projetos e
de levá-los à prática; objetivar a sedimentação dos determinados valores de uso, demonstrados sob a
forma das demandas, assim como os caminhos necessários para atendê-las. Uma luta sem resultados
prévios assegurados é contrária à razão dialética à racionalidade ou ao poder hegemônico. Os
submetidos interferem na dinâmica social, em particular ao tratar da alteração de valores. Uma vez
que os valores serão os pontos centrais das estruturas e as estruturas são produtoras e garantidoras
de valores, as modificações dos valores ressaltam as inadequações da sociedade e da história das
estruturas ultrapassadas, o que aumenta as condições de mudança (NUNES, 1996; 1998; CAMPOS,
2000; VALLA, 1999; VASCONCELOS, 1999).

A saúde coletiva e o fortalecimento dos


sujeitos
A coparticipação da produção das demandas da sociedade obriga haver a iniciativa política e o
potencial de reflexão crítica. De que maneira a saúde coletiva conseguiria contribuir para a redução

76
Saúde Pública e Saúde Coletiva │ UNIDADE III

do coeficiente de alienação das pessoas? (PAIM, 1992; TESTA, 1993; CAMPOS, 2000). Sartre (1963)
apontava serialidade aos grupos que repetiam comportamentos condicionados por estruturas
ou valores hegemônicos. Contudo, citou a capacidade de construção dos grupos sujeitos, com
potencialidade de se relacionar a definições e condicionamentos de forma mais livre e, dessa forma,
levar em conta os fatores limitantes do contexto, o que criaria situações mais justas e democráticas.
Mas e a saúde coletiva produziria relações com isso? (TESTA, 1993; CAMPOS, 2000). Segundo
estudiosos relevantes da área, os focos não são mais os processos de cura, e sim os processos de
saúde e de reprodução social do paciente (PAIM, 1992; TESTA, 1993; CAMPOS, 2000).

A dimensão é retirar o objeto de definição da Medicina, as alterações da saúde, e dar vazão a um


individuo ou sujeito. No caso da clínica, o doente; no caso da saúde coletiva, uma coletividade
específica. Segundo Basaglia (1985), os aspectos do processo saúde-doença não se referem ao doente
em geral, e sim ao sujeito, à sociedade e à subjetividade do ser (BASAGLIA, 1985). Já Campos
(2000) apoia a saúde coletiva que tivesse a pretensão construtiva e afirma que seria mais coerente
trabalhar com grupos concretos, social e culturalmente constituídos. Toda a ênfase seria colocada
em relação à existência objetiva dos indivíduos e na possibilidade de se criar a saúde para esses
enfermos, no caso da clínica; e para os grupamentos expostos aos riscos de adoecer-se, para a saúde
pública (CAMPOS, 2000).

Criar saúde para Basaglia (1985) implica a reprodução social do paciente, mais do que invenção
técnica, entendimento do exercício de cidadania e de participação social. No contexto da saúde
pública, pode-se trabalhar com o conceito de modificação das estruturas, do seu processo de
democratização e dos direitos, assim como da capacidade de refletir e da iniciativa dos sujeitos
individuais e coletivos. A reforma da saúde coletiva desloca a ênfase na valorização dos indivíduos e da
coletividade. Apesar disso, deslocar o foco ênfase não significava o abandono das outras dimensões.
De qual maneira produzir indivíduos saudáveis desconsiderando as doenças ou a possibilidade de
enfermar-se? Ou, ainda, sem analisar os aspectos estruturais, como o meio ambiente, as leis e os
contextos que os indivíduos estão inseridos?(PAIM, 1992; TESTA, 1993; CAMPOS, 2000).

É necessário investir não apenas na dimensão física/corporal dos indivíduos de acordo com
a tradição da saúde pública, como, por exemplo, a vacinação gratuita, mas também refleti-los
como indivíduos com direitos e proprietários do potencial de crítica, reflexão e eleição com maior
autonomia, relacionados aos modos de levar a vida (CAMPOS, 2000).

Nessa conjuntura, a ênfase dada na atualidade à saúde pública no combate aos determinados estilos
de vida (WHO, 1991), ainda que aparente reconheçam a presença dos cidadãos, não possibilita a
forma moralista e normativa da abordagem, uma vez que os setores a quem se direcionam essas
intervenções não sejam incorporados na construção ativa de modos de vida. Fazer a escolha entre
longevidade e prazer é um direito inalienável da pessoa humana, por exemplo. A coparticipação
no gerenciamento da inter-relação dos desejos, interesses e demandas das sociedades é status
essencial/vital à democratização e à construção de sujeitos saudáveis (CAMPOS, 2000).

77
UNIDADE III │ Saúde Pública e Saúde Coletiva

Reflexões de Maria Alice Amorim Garcia em sua tese de doutoramento intitulada:


O ensino da saúde coletiva na PUC-Campinas: a construção da história e seu repensar.

“O que pensávamos e fazíamos e o que ainda tínhamos por fazer. O ‘porquê’, o ‘o que’ e o ‘como’
de nossas ações. Buscava compreender esta realidade, contemplando as ações cotidianas e os
significados destas ações para os sujeitos. Queria ter ‘um como’ que permitisse uma compreensão
mais sistematizada das relações entre a prática e a teoria, entre o discurso e o que se realiza, entre
o instituído e o instituinte, entre a educação e a escolarização e entre o sujeito e o objeto [...].
Assim, buscando compartilhar minhas dúvidas, questionamentos e observações, e dialogar com os
envolvidos no projeto, priorizei o estudo das ‘falas’ destes sujeitos. Uma preocupação que perpassou
esta construção foi a relativa ao meu papel como sujeito/objeto desta investigação e à própria análise
qualitativa. Reconhecia o “caráter aproximado do conhecimento social”, em que se constrói a partir
de outros conhecimentos por meio da apreensão, da crítica e da dúvida, e que este conhecimento
era interessado, ou seja, ‘condicionado historicamente pela posição social do cientista e pelas
correntes de pensamento em conflito na sociedade’ (MINAYO,1993, p. 89). Identificava a questão da
‘inacessibilidade do objeto’, pois as ‘ideias que fazemos sobre os fatos são sempre mais imprecisas,
mais parciais, mais imperfeitas que ele’, e que então, sempre se teria uma ‘representação feita sob
determinado ponto de vista’ (MINAYO,1993, p. 90). Considerava, também, ser o conhecimento
‘fruto de um exercício de cooperação onde trabalhamos sobre as descobertas uns dos outros’ e de
que se tratava de problemática surgida de ‘interesses e circunstâncias socialmente condicionadas,
fruto de determinada inserção no real, nele encontrando suas razões e seus objetivos’. Ou, como
referido por Minayo (1993, p. 90), ‘nada pode ser intelectualmente um problema, se não tiver sido,
em primeira instância, um problema da vida prática. [...]’”.

Aprofundamento das discussões

Documentário: Políticas Públicas na Saúde: um


século de luta pelo direito à saúde

O documentário “Políticas de Saúde no Brasil: um século de luta pelo direito à


saúde” relata a história das políticas de saúde no Brasil, apontando as articulações
da história política do País. Destaca os caminhos para a implantação, desde as Caixas
de Aposentadorias e Pensões até a implementação do SUS.

Sua explanação é centrada no modo como a saúde foi considerada, no início do


século XX, um dever da população, mostrando as práticas sanitárias implantadas de
maneira autoritária pelas organizações governamentais, articulando os interesses do
capital, como ao longo do século, por meio da luta popular. Tal situação se inverteu
a partir da Constituição de 1988, tornando-se um direito do cidadão e um dever
do Estado. A trajetória toda é mostrada por meio de uma ficção, com elementos e
reconstrução da época, embasada nos materiais de arquivo.

78
Saúde Pública e Saúde Coletiva │ UNIDADE III

O documentário é formado por cinco capítulos, os quais podem ser vistos


sequencialmente com sessenta minutos de duração, ou separadamente; cobrindo
os seguintes períodos: 1900 a 1930; 1930 a 1945; 1945 a 1964; 1964 a 1988; e 1988
a 2006. Além disso, o documentário em DVD conta com os seguintes Extras: Making
of: a construção do filme. Entrevistas: Agenor Álvares, Ministro da Saúde; Antônio
Alves de Souza, Secretário de Gestão Estratégica e Participativa; José Luiz Riani
Costa, Departamento de Monitoramento e Avaliação da Gestão do SUS; Ana Maria
Costa, Departamento de Apoio à Gestão Participativa Memórias do Movimento de
Saúde da Zona Leste de São Paulo. Roteiro e direção: Renato Tapajós Consultores:
João Palma, Emerson Merhy e Túlio Franco.

A iniciativa da realização do filme foi da Secretaria de Gestão Estratégica e


Participativa, do Ministério da Saúde, com a parceria da OPAS e da Universidade
Federal Fluminense (UFF). O documentário tem fundamentos formativos, distribuição
gratuita em todo o Brasil, direcionada aos Conselhos de Saúde, a organizações de
ensino e a grupamentos da sociedade relacionados à saúde. Uma versão legendada
em espanhol e inglês está sendo discutida com a OPAS para divulgação junto aos
países da América Latina, Caribe e África que procuram o SUS como referência.
Para receber este filme, escreva para: sgep.dema@saude.gov.br. Departamento de
Monitoramento e Avaliação da Gestão do SUS. Secretaria de Gestão Estratégica e
Participativa – Ministério da Saúde.

Documentário: Sicko – $.O.$ Saúde

O documentário aponta o que afeta não somente os milhões de cidadãos que


não possuem seguro e plano de saúde, mas milhões de indivíduos que pagam as
parcelas e de maneira frequente lutam pelas regras burocratizadas oficiais obscuras.
Com o objetivo de mostrar que nem tudo está perdido, o cineasta faz a comparação
com outros sistemas de saúde, principalmente o canadense, o inglês, o francês e o
cubano, nos quais os indivíduos recebem um bom atendimento médico de forma
gratuita. Direção e roteiro: Michael Moore, 2007.

Site

<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/CadernoVER_SUS.pdf#page=8>.
Articulação com o segmento estudantil da área da Saúde: uma estratégia de
inovação na formação de recursos humanos para o SUS (acesso em: 3/11/2012).

Livros

Gestão do trabalho e da educação em saúde.

Celia Regina Pierantoni, Tania França, Ana Claudia Garcia, Maria Ruth, Thereza Varella
e Karen dos S. Cepesc/IMS/UERJ/Observarh. 155 p. 2012. Brasil, Recursos Humanos
na Saúde, Mercado.

79
UNIDADE III │ Saúde Pública e Saúde Coletiva

Ensinar a saúde – a integralidade e o SUS nos cursos de graduação na área da


Saúde.

Roseni Pinheiro, Ricardo Burg Ceccim, Ruben Araujo de Mattos (Orgs) Ims / Uerj /
Cepesc / Abrasco 333p. – 2011 Brasil SUS -Educação Médica, Saúde Pública.

Assistir aos documentários: Políticas públicas na saúde: um século de luta pelo


direito à saúde e Sicko – $.O.$ saúde e refletir e escrever sobre a contextualização da
saúde coletiva e da saúde pública no Brasil e no exterior. Quais os impactos para a
qualidade de vida da população? Como isso se relaciona às demandas na formação
dos profissionais de saúde?

80
Para (não) Finalizar

Partindo do que foi exposto ao longo deste Caderno de Estudos e pensando no marco
conceitual exposto, seria pertinente levantar alguns questionamentos:

Qual a identidade da saúde coletiva no Brasil? Quais seus eixos de conhecimentos e de práticas?
Em que campo de interinfluência a saúde coletiva estaria inserida? Quem é o agente que faz saúde
coletiva? Haveria um agente especializado? Ocorreria um núcleo de conhecimento especializado
e um profissional/agente especializado encarregado de produzir ações de saúde pública? Haveria
necessidade social de formar um núcleo de saber? Não há dúvida de que os profissionais de saúde,
as instituições governamentais e a sociedade potencialmente produzem saúde coletiva. Todos os
que se relacionam com o processo e o cuidado em saúde se constituiriam agentes da saúde coletiva
ou saúde pública?

Reflexões de Morin, E. (1921). Os sete saberes necessários à educação do futuro. 2. ed.


São Paulo: Cortez. Brasília, DF: Unesco, 2000.

A educação em saúde
Segundo Morin (1921):

O âmbito de ação considerado vital à melhoria da saúde dos indivíduos e das


coletividades, apoiado na produção de qualidade de vida e estímulo à autonomia
dos indivíduos e grupos. A Educação em Saúde compõe um espaço privilegiado
para ampliação da consciência político-sanitária. Educação em Saúde pode
ser compreendida como um conjunto de práxis que corrobora ao aumento da
autonomia das pessoas no seu cuidado e debate com profissionais de saúde e
gestores. A Educação em Saúde é a combinação de múltiplos determinantes,
conhecimentos e intervenções do comportamento humano, de experiências
sobre o processo de aprendizagem com o objetivo de facilitar ações voluntárias
que conduzam à saúde.

Ao longo da história, as ações se configuram no âmbito da Medicina Social, Medicina Preventiva e,


no momento atual, na saúde coletiva e no âmbito da promoção da saúde. Dessa forma, a contribuição
vital da educação em saúde é a de conscientização e formação de profissionais e indivíduos capacitados
a participarem efetivamente da vida política e social. Toda prática educativa relaciona os indivíduos
portadores das vivências subjetivas e objetivas, com distintas interpretações destas, de acordo com
sua cultura e inserção social. Entretanto, há distintas estratégias e recursos que dão suporte a esse
processo, eles não ignoram o diálogo, que é o fundamento da prática pedagógica. Dessa maneira,
faz-se necessário a compreensão da educação como condicionante essencial ao questionamento do
mundo e a avaliação da nossa inserção nesse mundo. Segundo a definição de Paulo Freire (1996),

81
Para Não Finalizar

“a prática pedagógica da participação é uma prática que acolhe o outro como sujeito capacitado
de condições objetivas (que o fazem viver de determinado modo) e de representações subjetivas
(que o fazem interpretar o seu lugar no mundo)”. Alguns pressupostos são relevantes nessa base
conceitual: a curiosidade e vontade crítica; o diálogo, a autonomia e a afetividade.

Refletindo e analisando esses aspectos, Edgar Morin (2010) aponta componentes vitais e ainda atuais
para o contexto de ensinar e aprender. Referenciais definidos como “Sete saberes fundamentais” que
dão qualificação e orientação à definição de princípios para a ação educacional, conforme seguem
abaixo:

1. As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão: salienta que o conhecimento


não é uma ferramenta pronta, deve ser construída. Para construir a educação se
deve visar à transmissão de conhecimentos, não deve ser “cega” em relação ao
conhecimento do ser humano, seus dispositivos, enfermidades e dificuldades. É
essencial colocar e desenvolver o estudo dos aspectos neurais, mentais e culturais
dos conhecimentos humanos, de seus processos e modalidades.

2. Os princípios do conhecimento pertinente: é fundamental promover o


conhecimento capacitado de apreender demandas globais e necessárias e desse
modo inserir os conhecimentos. A primazia dos fragmentos de conhecimento
impossibilita a operação do vínculo entre as partes e a totalidade.

3. Ensinar a condição humana: a complexidade da natureza do ser humano não


permite ser desintegrada na educação por meio das disciplinas. Sua totalidade
física, mental, cultural, biológica, social e histórica é sedenta de respeito e este deve
ser restaurado para se tornar o objetivo central de todo o ensino.

4. Ensinar a identidade terrena: é necessário entender a complexidade da crise


do nosso planeta, apontando que os seres humanos estão submetidos a problemas
de vida e de adoecimento ou morte, todos compartilham e é o fim comum. É
conveniente ensinar a historicidade com a avaliação da inter-relação de todos os
continentes.

5. Enfrentar as incertezas: a educação tem o dever de ensinar as incertezas que se


iniciaram nas Ciências Físicas, da evolução biológica e histórica. É relevante ensinar
os preceitos das estratégias que possibilitem o enfrentamento dos imprevistos, das
situações inesperadas e das incertezas, e assim alterar seu desenvolvimento, em
virtude das informações adquiridas ao longo do tempo.

6. Ensinar a compreensão: o entendimento é o caminho e o objetivo comunicação


humana. O desenvolvimento da compreensão pede a reforma das mentalidades.
Investigar as raízes da falta de compreensão e seus reflexos é de relevância para
focar as causa e não os sintomas, compondo-se como um dos eixos mais seguros da
educação à pacificação.

82
para não finalizar

g. A ética do gênero humano: a educação deve considerar a condição humana


como três aspectos básicos: o indivíduo, a sociedade e a espécie. A postura ética não
pode ser aprendida por meio de lições de moral. Deve-se desenvolver mediante a
compreensão da autonomia individual, da participação social e da consciência de
pertencer à espécie humana.

83
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