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Alimentação da Gestante

e Atividade Física

Brasília-DF.
Elaboração

Katherine Maria de Araújo Veras

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO................................................................................................................................... 4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA...................................................................... 5
INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 7
UNIDADE I
O PROCESSO DA GESTAÇÃO................................................................................................................ 9

CAPÍTULO 1
SAÚDE PRÉ-GESTACIONAL........................................................................................................ 9

CAPÍTULO 2
FISIOLOGIA E METABOLISMO DA GESTAÇÃO........................................................................... 12

CAPÍTULO 3
FATORES DE RISCO GESTACIONAL.......................................................................................... 17

UNIDADE II
ALIMENTAÇÃO DA GESTANTE............................................................................................................... 18

CAPÍTULO 1
NECESSIDADES E RECOMENDAÇÕES..................................................................................... 18

CAPÍTULO 2
PRINCIPAIS DOENÇAS GESTACIONAIS E DIETOTERAPIA............................................................. 28

CAPÍTULO 3
RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS ESPECÍFICAS: GESTANTE VEGETARIANA, GESTANTE HIV
POSITIVO, GESTANTE DESNUTRIDA E GESTANTE OBESA.............................................................. 34

CAPÍTULO 4
IMPACTO DA ALIMENTAÇÃO MATERNA NA SAÚDE DO BEBÊ...................................................... 39

UNIDADE III
ATIVIDADE FÍSICA NA GESTAÇÃO......................................................................................................... 42

CAPÍTULO 1
CRITÉRIOS E RECOMENDAÇÕES............................................................................................. 42

CAPÍTULO 2
AÇÕES E BENEFÍCIOS............................................................................................................ 43

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 47
Apresentação
Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Nos últimos anos, a expectativa de vida da mulher aumentou. O início precoce da menarca e o
estabelecimento mais tardio da menopausa ampliaram bastante o potencial reprodutivo da mulher.

Com a participação ativa da mulher no mercado de trabalho, aumentou-se, significativamente, o


número de primeiras gestações após os 30 anos, da mesma forma em que se reduziu o número de
filhos.

O acesso ao pré-natal levou à redução da mortalidade materna e neonatal. Neste sentido, a


alimentação adequada e a prática de atividade física supervisionada fazem parte de um conjunto
de estratégias para o bom desenvolvimento da gestação e têm impactos significativamente positivos
sobre a saúde do bebê.

O estado nutricional da gestante está intimamente relacionado ao bem-estar fetal. Se a


gestante apresentar carências nutricionais, há risco de o feto ter prejuízo em seu crescimento e
desenvolvimento, com deficit até mesmo no desenvolvimento cognitivo.

Desta forma, o estado nutricional e o adequado ganho de peso materno são fatores importantes
para o resultado positivo da gravidez, além de contribuir para a saúde, em longo prazo, da mãe
e da criança. A obesidade materna e o ganho de peso excessivo aumentam os riscos de diversas
complicações gestacionais, como diabetes gestacional, parto prolongado, pré-eclâmpsia, cesárea e
depressão. Para o recém-nascido, o excesso de peso materno representa maior morbidade neonatal
e maior incidência de desenvolver obesidade, sobrepeso e distúrbios metabólicos na infância e na
adolescência.

Por outro lado, o ganho de peso materno abaixo das recomendações ou a desnutrição materna
está associado ao maior risco de baixo peso ao nascer e recém-nascidos pequenos para a idade
gestacional (PIG).

Pode-se afirmar que o crescimento fetal é influenciado pelo estado nutricional materno. As principais
anormalidades nos padrões do crescimento fetal resultam em bebês grandes para a idade gestacional
(GIG) ou PIG. Ambas as condições representam maior risco de agravos na saúde, como baixos índices
de Apgar, aspiração de mecônio, convulsões, complicações respiratórias, hospitalização prolongada
e sequelas em longo prazo, incluindo a obesidade, a hipertensão arterial e a síndrome metabólica.

Torna-se imprescindível estudar a influência do estado nutricional materno nos resultados


gestacionais, a fim de compreender-se melhor a estreita relação entre o estado nutricional materno
e o crescimento fetal.

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Objetivos
»» Apresentar alterações envolvidas no processo da gestação.

»» Apresentar necessidades nutricionais e recomendações para a gestante.

»» Mostrar o impacto da alimentação materna e os efeitos da atividade física sobre a


saúde do bebê.

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O PROCESSO DA UNIDADE I
GESTAÇÃO

CAPÍTULO 1
SAÚDE PRÉ-GESTACIONAL

O ciclo vital feminino é constituído por diversas fases que vão desde a infância à velhice e,
entre estas, a possibilidade de gerar um novo ser. Esse período é cheio de mudanças físicas e
psicológicas.

O estado nutricional da mulher antes da concepção pode ter impacto sobre sua fertilidade, bem como
sobre a habilidade de gerar bebês saudáveis, mas também na saúde pós-parto e na fase posterior à
idade reprodutiva.

As alterações fisiológicas ocorridas durante a gravidez estão entre as mais acentuadas que o
corpo humano pode sofrer, devendo ser acompanhadas por uma assistência pré-natal.

A assistência pré-natal implica acompa­ nhamento de todo o período da gestação, não se


restringindo apenas aos aspectos biológicos, mas englobando as transformações físicas, sociais,
psicológicas, espirituais e culturais.

As medidas antropométricas são recomendadas e empregadas para o acompanhamento nutricional


de gestantes, devido à sua importância reconhecida na prevenção da morbi-mortalidade perinatal,
prognóstico do desenvolvimento fetal e na promoção de saúde da mulher. Características como fácil
aplicabilidade, baixo custo e caráter pouco invasivo reforçam a importância da antropometria na
avaliação do estado nutricional de gestantes.

Dados epidemiológicos mostram que a inadequação do estado antropométrico materno, tanto


pré-gestacional quanto gestacional, constitui-se em problema de saúde pública inquestionável,
pois favorece o desenvolvimento de intercorrências gestacionais e influencia as condições de
saúde do feto e da mãe no período pós-parto.

Devido às repercussões na saúde da mãe e do bebê, as alterações nutricionais necessitam ser


compreendidas e serem trabalhadas na atenção básica com medidas preventivas focando num
melhor resultado obstétrico, com redução dos índices de morbi-mortalidade materna, melhoria das
condições ao nascimento (peso e idade gestacional ao nascer) e redução da mortalidade perinatal.

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UNIDADE I │O PROCESSO DA GESTAÇÃO

Os países em desenvolvimento enfrentam duas situações extremas de má-nutrição: de um lado a


subnutrição e, do outro, o aumento do sobrepeso, da obesidade e das enfermidades crônicas. O
Brasil, em particular, encontra-se numa fase de transição epidemiológica, com alteração no perfil
de morbi-mortalidade populacional, na qual as doenças infecciosas e parasitárias estão dando lugar
às doenças crônicas não transmissíveis, como a obesidade.

Segundo dados de pré-natal do Sistema Único de Saúde (SUS), existe a prevalência de 19,2% de
mulheres com sobrepeso e apenas 5,7% de baixo peso pré-gestacional. O ganho ponderal ao longo
da gestação é um fator importante para o crescimento fetal e guias de recomen­dações para ganho de
peso adequado na gestação, baseadas no índice de massa corporal (IMC) pré-gestacional vem sendo
propostas ao longo da última década. Porém, podem ser encontradas diferenças na classificação do
estado nutricional pré-gestacional quando se utilizam pontos de corte de IMC diferentes.

Evidências anteriores também trazem à discussão que a diversidade dos pontos de corte varia de
acor­do com o grupo étnico, motivo pelo qual diferentes recomendações devem ser propostas. São
necessários estudos para classificar o estado nutricional materno e, em consequência, propor faixas
de adequação de ganho ponderal.

É unânime a associação entre o inadequado estado antropométrico pré-gestacional (baixo peso


materno) com o baixo peso ao nascer (BPN) do bebê. Dados dos Estados Unidos mostraram que o
IMC materno apropriado à concepção, seguido por um adequado ganho de peso durante a gestação,
pode ter uma substancial influência na redução do risco de BPN.

Existe consenso na literatura ao reconhecer a influência do estado nutricional materno


pré-gestacional e gestacional no resultado obstétrico, sobretudo no peso ao nascer, que é
considerado um importante indicador do crescimento e do desenvolvimento infantil.

Evidências ressaltam que o peso ao nascer é o fator isolado de maior impacto na determinação
da sobrevivência infantil, sendo o BPN preditor de maior vulnerabilidade de complicações no
período neonatal, aumentando os índices de mortalidade nos primeiros anos de vida. Entretanto,
diversos achados também demonstram que o BPN está asso­ciado a maior incidência de doenças
cardiovasculares e desordens metabólicas, trazendo repercussões para o desenvolvimento das
doenças crônico-degenerativas na idade adulta.

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O PROCESSO DA GESTAÇÃO │ UNIDADE I

Desvios no ganho ponderal materno, assim como IMC pré-gestacional inadequado, atuam como
marcadores do peso do recém-nascido, sendo que o acompanhamento da evolução ponderal
durante o pré-natal, visando a um melhor resultado obstétrico, é imprescindível. As metas a serem
priorizadas são a identificação das gestantes em risco nutricional e a proposta do aconse­lhamento
nutricional.

Apesar de as gestantes obesas e com sobrepeso apresentarem média de ganho de peso inferior as
eutróficas, essas gestantes obtiveram ganho ponde­ral médio acima do recomendado, segundo o
IMC pré-gestacional.

A avaliação nutricional pré-concepcional, não somente com enfoque nos desvios ponderais, mas no
combate às carências nutricionais específicas é de extrema importância.

A expressiva quantidade de mulheres com desvio ponderal pré-gestacional reforça a importância


de serem instituídas ações específicas que promovam o estilo de vida saudável, destacando-
-se a orientação nutricional que favoreça o estado nutricional adequado e minimize os riscos de
intercorrências maternas e do recém-nascido.

A ocorrência de morbidade em gestantes está associada ao seu estado de saúde e nutrição.

De um lado pode ocorrer a desnutrição materna e a carência de micronutrientes específicos,


resultando em BPN, e, por outro lado, a obesidade materna facilita o desenvolvimento do diabetes
gestacional, síndrome hipertensiva (eclâmpsia), ambas com consequências negativas para saúde
materna e do bebê.

O pré-natal inclui o acompanhamento do estado nutricional da gestante, bem como a evolução


ponderal e as orientações nutricionais específicas que devem se estender até a amamentação.

A mulher em idade reprodutiva e que deseja engravidar deve realizar as seguintes ações.

»» Consumir uma dieta saudável, variada em alimentos e preparações.


»» Aumentar o consumo de alimentos fonte de vitaminas e minerais, como frutas,
verduras e legumes, além de carboidratos complexos.
»» Reduzir o consumo de gordura saturada, açúcar e sódio.
»» Aumentar o consumo de alimentos ricos em folato, como brócolis, feijões, lentilhas,
ervilhas, nozes e castanhas, além de frutas e verduras.
»» Controlar o peso.
»» Não fumar.
»» Ter cuidado com a higiene dos alimentos.
»» Moderar consumo de álcool e cafeína.
»» Manter uma rotina de exercícios físicos, como caminhada, natação e bicicleta.

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CAPÍTULO 2
Fisiologia e Metabolismo da Gestação

Após a fertilização do óvulo pelo espermatozoide, nas trompas de Falópio, ocorre o transporte do
ovo fertilizado até a cavidade uterina, o que leva de 3 a 5 dias. Após atingir o útero, esse ovo em
desenvolvimento permanece na cavidade uterina por 1 a 3 dias antes de se implantar no endométrio.
Após a implantação, as células do endométrio e do ovo fertilizado, proliferam-se rapidamente,
dando origem à placenta. A secreção constante de progesterona neste período garante que as células
endometriais armazenem nutrientes os quais servirão para o crescimento e para o desenvolvimento
do embrião. Na primeira semana após a implantação, esta é a única fonte energética do embrião;
após cerca de 16 dias da fertilização, a placenta começa a prover nutrientes. A placenta formada
produz hormônios como estrógeno e progesterona que são responsáveis pelas adaptações fisiológicas
iniciais da gestação. A placenta trata-se de um órgão altamente vascularizado e qualquer alteração
circulatória da mesma, pode comprometer o bem estar e desenvolvimento fetal.

A gestação pode ser percebida como um processo normal, porém com alterações que afetam os
órgãos e o metabolismo materno como um todo. É marcada por mudanças profundas na vida
da mulher, entre elas alterações fisiológicas e no metabolismo. Neste estágio, estão presentes
mudanças psicológicas e fisiológicas, repercutindo psíquica e socialmente na vida da mulher e de
seus familiares.

Entre as diversas alterações do organismo materno, diante do feto e do excesso de hormônios da


gravidez, encontra-se o aumento de tamanho dos órgãos sexuais. O útero aumenta de 50g para
1100g, as mamas quase dobram de tamanho, aumento da vagina, além da presença de edema, acne,
traços masculinos e acromegálicos em algumas mulheres.

Os ajustes fisiológicos da gestação são traduzidos por sinais e sintomas que permitem seu diagnóstico,
que é feito por meio da análise de parâmetros clínicos, hormonais e ultrassonografia.

Os parâmetros clínicos considerados são estes.

»» Amenorreia (ausência de ciclos menstruais) em mulher em idade reprodutiva.

»» Náuseas (mais característicos dos sintomas).

»» Congestão mamária e pigmentação areolar.

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O PROCESSO DA GESTAÇÃO │ UNIDADE I

»» Aumento do volume do útero e compressão da bexiga.


»» Ausculta do batimento cardíaco do bebê.
»» Percepção e palpação de movimentos do feto.
O parâmetro hormonal seria a presença da subunidade β do hormônio gonadotrofina coriônica na
urina e no sangue (β-hCG).
A ultrassonografia acompanha a evolução das diferentes fases da gestação.
»» 4 semanas: detecção do saco gestacional.
»» 6 a 7 semanas: identificação dos batimentos cardíacos do bebê.
»» 12 semanas: identificação da placenta.
»» 16 semanas: placenta bem-formada.
Fisiologicamente, as maiores mudanças são o aumento do volume plasmático em cerca de 50% com
consequente aumento da massa da hemoglobina e aumentos nos níveis hormonais, principalmente
de estrógeno, progesterona e gonadotrofina coriônica (hormônio produzido pela placenta).
A tabela 1 mostra a ação de alguns hormônios durante a gestação.

Tabela 1 – Ação dos hormônios sobre o organismo materno durante a gestação.

Hormônio Fonte Efeitos

Gonadotrofina Coriônica Humana


Placenta Permite o diagnóstico da gravidez e impede a rejeição do embrião.
(hCG)

Indispensável para implantação do embrião e para desenvolvimento da


Progesterona Placenta
placenta.

Estrógeno Placenta Favorece o crescimento uterino e o desenvolvimento das mamas.

Lactogênio Placentário Humano


Placenta Desenvolvimento das mamas.
(hPL)

Hormônio do Crescimento (GH) Hipófise Anterior Eleva a glicemia, estimula o crescimento ósseo.

Tireoxina Tireoide Regula a taxa metabólica basal.

Insulina Células ß do Pâncreas Reduz a glicemia, promove o anabolismo.

Glucagon Células α do Pâncreas Eleva glicemia por glicogenólise.

Cortisol Córtex Adrenal Eleva a glicemia por proteólise.

Aldosterona Córtex Adrenal Promove retenção de sódio e excreção de potássio.

Renina-Angiotensina Rins Estimula secreção de aldosterona, aumenta a sede.

Calcitonina Tireoide Inibe a reabsorção óssea de cálcio.

Fonte: Adaptado de Accioly, Saunders, Lacerda (2009).

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UNIDADE I │O PROCESSO DA GESTAÇÃO

A gestante engorda em média de 11 kg a 15 kg, e a maior parte deste ganho de peso ocorre no segundo
e terceiro trimestres. Deste ganho de peso, cerca de 3,5 kg são do feto e 2 kg do líquido amniótico e
placenta. O útero contribui com cerca de 1,3 kg e as mamas com 1 kg, o restante, de 3,4 kg a 7,8kg é
aumento de peso corporal. O liquido extra no sangue contribui com 2 kg e, geralmente, os 1,3 kg a
5,6kg restantes são acúmulo de gordura.

Os hormônios produzidos na gestação são responsáveis pelas alterações e permitem o


desenvolvimento fetal, o parto e a amamentação. Com relação aos hormônios, a gestação pode ser
dividida em duas etapas.

»» Etapa ovariana (até 8 a 9 semanas): produção de hCG.

»» Etapa placentária (a partir de 8 a 9 semanas): quando a placenta é responsável pela


produção de estrógeno e progesterona.

A alteração do volume plasmático leva à diminuição da concentração de diversas substâncias do


sangue, devido justamente a suas maiores diluições no plasma. Já as alterações hormonais, levam ao
aumento dos lipídios plasmáticos, porém ambas as situações tendem a normalizar-se após o parto.

Outras alterações fisiológicas incluem aumento do débito cardíaco, retenção hídrica, desconforto
respiratório, gastrintestinal e urinário. Essas adaptações acabam por interferir nos níveis plasmáticos
de vários nutrientes, sendo que os nutrientes hidrossolúveis têm suas concentrações reduzidas e os
nutrientes lipossolúveis suas concentrações aumentadas.

As alterações fisiológicas no organismo materno aumentam a necessidade de nutrientes essenciais, e


quando a ingestão não acompanha a demanda, pode ocorrer uma competição entre mãe e feto pelos
nutrientes. Desta forma, o estado nutricional materno tem impacto direto sobre a saúde do bebê.

A realização de dosagens bioquímicas ao longo da gestação é necessária e deve fazer parte de um


pré-natal bem-planejado.

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O PROCESSO DA GESTAÇÃO │ UNIDADE I

Toda alimentação fetal é fornecida pela mãe, através da placenta. Para garantir suprimento suficiente
ao feto, a mãe deve ter uma ingestão alimentar adequada, que é o mais desejável. Caso contrário,
as necessidades do feto serão supridas por meio da mobilização das reservas energéticas da mãe.

A transferência de nutrientes através da placenta ocorre da mesma forma que a absorção de


nutrientes no trato gastrintestinal:

»» difusão simples: O2, CO2 e vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K);

»» difusão facilitada: carboidratos;

»» transporte ativo: aminoácidos, ferro, cálcio, iodo, fósforo e vitaminas hidrossolúveis


(complexo B e vitamina C);

»» pinocitose ou endocitose: grandes proteínas, lipoproteínas, fosfolípides e


imunoglobulinas);

»» ultrafiltração: água e solutos.

Metabolicamente, ocorre um aumento da taxa de metabolismo basal da gestante em torno de


15% a 20%, a partir do 3o mês. Desta forma, a necessidade de carboidratos, lipídios e proteínas
também aumenta, já que o feto necessita de glicose e aminoácidos, mesmo durante o jejum materno
prolongado.

A gestação diminui a utilização periférica de glicose pela mãe, por meio da redução da sensibilidade
à insulina. Por outro lado, o estrógeno e a progesterona aumentam a massa de células β do pâncreas,
elevando a insulina plasmática. Os hormônios hPL e GH são contra reguladores, ou seja, têm efeitos
antagônicos à insulina, tudo isso leva ao quadro de resistência à insulina, comum em gestantes.

O aumento das necessidades de lipídios tem como função poupar a glicose para o uso do feto e as
necessidades de proteínas, além fornecer energia períodos de jejum prolongado. São essenciais para
a síntese proteica aumentada durante a gestação, além de manutenção das proteínas plasmáticas
como a albumina, que se encontram mais diluídas, devido ao aumento do volume plasmático e
consequente hemodiluição.

As modificações funcionais incluem alterações circulatórias e do equilíbrio hidroeletrolítico,


alterações urinárias e do trato gastrointestinal e alterações respiratórias que estão descritas na
tabela 2.

Tabela 2 – Modificações funcionais durante a gestação.

Alterações
Alterações circulatórias Alterações urinárias Alterações gastrointestinais
respiratórias

Fluxo urinário lento, pela


Aumento do débito cardíaco (30% Náuseas, enjoo e vômitos (1o
compressão dos ureteres, Aumento da ventilação
a 40%) – ocorre entre a 10a e 12a trimestre) –possivelmente pelo efeito
levando a maior predisposição a pulmonar.
semana. do estrógeno.
infecções urinárias.

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UNIDADE I │O PROCESSO DA GESTAÇÃO

Redução das pressões sistólica e Aumento da taxa de filtração Redução do pH salivar – levando
Aumento de movimentações
diastólica (2o trimestre) – normaliza glomerular (TFG) a partir do 2o a maior predisposição às cáries
do diafragma.
no 3o trimestre. mês de gestação. dentárias.

Aumento do volume sanguíneo Aumento da pressão de O2


Redução da secreção de ácidos no
(45% a 50%) – anemia fisiológica (pO2) e redução da pressão
estômago.
por diluição da hemoglobina. de CO2 (pCO2).

Retardo do trânsito intestinal –


possível efeito da progesterona,
compressão pelo útero, aumento da
reabsorção de água – constipação.

Fonte: Adaptado de Accioly, Saunders & Lacerda (2009).

Com relação à postura, a principal modificação é o desenvolvimento de lordose, devido à alteração


no centro de gravidade das gestantes.

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CAPÍTULO 3
Fatores de Risco Gestacional

As alterações fisiológicas durante a gestação são muitas. Entre as principais alterações, estão
as ponderais, relacionadas ao ganho excessivo de peso, ou, ainda, a presença de desnutrição na
gestação. O aumento excessivo de peso durante a gestação ou o sobrepeso pré-gestacional estão
associados ao maior risco de desenvolvimento de diabetes gestacional e síndromes hipertensivas na
mãe. O deficit de peso materno ou, ainda, a ingestão inadequada de nutrientes favorece um quadro
de desnutrição materna, muitas vezes, acompanhada de anemia ferropriva. A idade da gestante
também pode ser um fator de risco, já que gestantes adolescentes têm maior risco de desenvolver
desnutrição e anemia.

Todos os fatores de risco citados acima apresentam no final o mesmo impacto negativo: sobre o
bebê. A presença de um desses fatores ou a associação entre eles pode levar a desfechos gestacionais
desfavoráveis à mãe e ao feto, aumentando o risco neonatal e a morbi-mortalidade.

O acompanhamento pré-natal é de extrema importância para a mãe e para o feto. Ele possibilita
o diagnóstico de fatores de risco e promove a correção de condutas para alcançar uma gestação
adequada seguida de um parto seguro.

17
ALIMENTAÇÃO DA UNIDADE II
GESTANTE

CAPÍTULO 1
Necessidades e Recomendações

Durante a gravidez, a mulher, normalmente, tem mais fome, em parte como consequência do desvio
dos nutrientes do sangue materno para o feto e, em parte, devido às alterações hormonais. Sem o
pré-natal adequado, o ganho de peso gestacional pode ser excessivo e trazer prejuízos para a saúde
da mulher e do bebê.

Devido a maior secreção de hormônios como tiroxina, hormônios adrenocorticais e hormônios


sexuais, o metabolismo basal da gestante aumenta cerca de 15%, durante a segunda metade da
gravidez. Além disso, a carga extra que ela carrega, despende mais energia do que o normal para
atividade muscular.

A intervenção nutricional é eficaz na prevenção e no tratamento das intercorrências gestacionais


mais comuns, sendo o cuidado nutricional pré-natal um fator colaborador para o resultado
obstétrico positivo. A melhora do estado nutricional favorece as condições do parto e minimiza a
morbi-mortalidade Peri e neonatal, além de facilitar o aleitamento materno.

A avaliação do estado nutricional deve ser constituída de avaliação antropométrica, avaliação


dietética (consumo alimentar), avaliação clínica (sinais e sintomas), avaliação funcional (cegueira
noturna, por exemplo), avaliação bioquímica e exames complementares, para investigar estado de
saúde geral.

O maior crescimento fetal ocorre no terceiro trimestre da gravidez, portanto as necessidades de


nutrientes são maiores neste período. Se os nutrientes não estiverem em quantidades apropriadas
na dieta da gestante, pode ocorrer uma série de deficiências maternas, especialmente de cálcio,
fosfatos, ferro e vitaminas.

O cuidado nutricional começa após o levantamento das necessidades e o planejamento


individualizado.

18
ALIMENTAÇÃO DA GESTANTE │ UNIDADE II

As recomendações nutricionais são baseadas nas necessidades da gestação, garantindo o crescimento


e o desenvolvimento fetal, com resultado obstétrico positivo, ou seja, com bebê com peso e idade
gestacional adequados.

A boa nutrição é essencial ao crescimento intrauterino adequado. Segundo a Organização Mundial


da Saúde (OMS), o crescimento intrauterino reduzido muitas vezes é compensado pelo crescimento
pós-natal acelerado, o que aumenta o risco de doenças cardiovasculares, diabetes e hipertensão. Por
outro lado, a macrossomia (aumento do tamanho do feto) também está associada a maiores riscos
de desenvolvimento de diabetes, doenças cardiovasculares e resistência à insulina.

A recomendação de valor energético total (VET) para a gestante deve promove RO ganho de peso
gestacional, bem como o desenvolvimento fetal.

Para o cálculo das recomendações, é necessário calcular o VET. Existem diversas formas de calcular o
VET, calculando primeiramente o gasto energético basal (GEB) que é composto pela taxa metabólica
basal (TMB) e pelo nível de atividade física (NAF). Podemos calcular da seguinte maneira.

VET = (GEB x NAF) + 300 kcal (2a e 3a trimestres)

GEB (10 – 18 anos) = 12,2 x Peso (kg) + 746


GEB (18 – 30 anos) = 14,7 x Peso (kg) + 496
GEB (30 – 60 anos) = 8,7 x Peso (kg) + 829

NAF = 1,56 se atividade leve (Trabalho em escritório, professoras).

NAF = 1,64 se atividade moderada (Estudantes, lojistas, donas de casa sem aparelhos domésticos,
industriaria).

NAF = 1,82 se atividades intensas (Atletas, dançarinas, trabalho no campo, construção civil).

Uma outra forma seria somar ao GEB um adicional energético da gestação:

19
UNIDADE II │ ALIMENTAÇÃO DA GESTANTE

1o trimestre: 85 kcal/dia
2o trimestre: 285 kcal/dia
3o trimestre: 475 kcal/dia

Uma outra forma de cálculo do VET seria por meio do ganho de peso esperado (12 kg= 77000 kcal),
em que 1 kg = 6417 kcal. O peso a ser ganho deve ser distribuído pelas semanas da gestação e o valor
calórico distribuído pelos dias, como no exemplo:

1. Peso inicial: 57 kg

2. Peso atual: 59 kg

3. Idade gestacional: 15
semanas

4. IMC normal

5. Falta ganhar 10 kg em
25 semanas
10 kg/25 semanas: 0,4 kg/semana

1 kg = 6417 kcal

0,4 kg = 2566,8 kcal/semana ou 366 kcal/


dia

A distribuição do VET deve seguir as seguintes proporções.

»» 55 a 75% carboidratos – fibras > 25g/dia, açúcar < 10% VET

»» 10 a 15% proteínas

»» 15 a 30% lipídios - <1/3 saturada

20
ALIMENTAÇÃO DA GESTANTE │ UNIDADE II

Recomendação de proteínas
As proteínas são necessárias para síntese proteica, que está aumentada durante a gestação, além de
outras funções: formação de enzimas, hormônios, anticorpos, transporte de outras substâncias e
manutenção da pressão osmótica.

Na gestação, ocorrem adaptações a fim de conservar o nitrogênio para a síntese proteica aumentada
(1% no 1o trimestre, 15% no 2o trimestre e 25% no 3o trimestre).

A recomendação de proteínas normal é de 1 g/kg peso corpóreo/dia. A FAO – Food and Agriculture
Organization recomenda um adicional proteico para gestantes, nas quantidades de 1g no 1o trimestre,
9 g no 2o trimestre e 3 g no 3o trimestre/dia. No caso de gravidez gemelar, a recomendação passa
para 50g/dia a partir da 20ª semana. O IOM – Institute of Medicine recomenda 71 g/dia. Do total
de proteínas ingeridas, recomenda-se que 50% sejam de alto valor biológico.

As principais fontes são carne bovina, peixes, aves, ovos, leite e derivados, feijão e soja.

Recomendação de carboidratos
Os carboidratos são a principal fonte de energia para o processo de gestação. O metabolismo dos
carboidratos e, consequentemente, a disponibilidade glicose para o feto está intimamente associado
ao crescimento fetal. Sendo que a deficiência de carboidratos pode restringir o crescimento
intrauterino.

21
UNIDADE II │ ALIMENTAÇÃO DA GESTANTE

A recomendação é que os carboidratos representem de 55% a 75% do VET, em que os açúcares


simples devem estar abaixo de 10%. As principais fontes são: pães, massas, batata, arroz, açúcares
e frutas.

Recomendação de lipídios
Os ácidos graxos essenciais (AGE) são aqueles que não podem ser sintetizados pelo organismo e,
por isso, devem ser obtidos por meio da dieta. Na dieta materna, antes da concepção, são de grande
importância, já que determinam o tipo de ácido graxo que se acumulará no tecido fetal. O transporte
dos AGE é realizado através da placenta e são depositados no cérebro e retina do concepto. Além
disso, ocorre um acúmulo simultâneo nas glândulas mamárias durante essa fase. Entre eles estão os
ω-3, ω-6 e ω-9. Estes ácidos graxos estão envolvidos na resposta imune, atuando como mediadores
químicos. Durante a gestação, são importantes para o desenvolvimento do sistema nervoso central
do feto, bem como da retina. O depósito de DHA (ω-3) na retina e no córtex cerebral ocorre,
principalmente, no último trimestre de gestação e nos primeiros seis meses de vida extrauterina,
podendo se estender até os dois primeiros anos de vida. As recomendações são em torno de 15% a
30% do VET, com menos de 10% na forma de gordura saturada, 13g/dia de ω-6 e 1,4g/dia de ω-3.
As principais fontes são: peixes de água fria, óleos vegetais e azeite e nozes/castanhas.

Recomendação de vitaminas e minerais


Durante a gestação, as concentrações de nutrientes circulantes estão geralmente diminuídas, devido
à expansão do volume sanguíneo. Portanto, as necessidades de vitaminas e minerais, assim como a de
macronutrientes estão aumentadas durante a gestação. O consumo inadequado de micronutrientes
está associado a desfechos gestacionais desfavoráveis.

Em geral, as vitaminas hidrossolúveis estão presentes em menores quantidades em mulheres


gestantes, o inverso ocorre com as vitaminas lipossolúveis.

As vitaminas, seus benefícios e fontes estão resumidos na tabela 3.

22
ALIMENTAÇÃO DA GESTANTE │ UNIDADE II

Tabela 3 – Funções das vitaminas na gestação e suas fontes.

Vitamina Função Carência Fonte

Aborto espontâneo, parto


Proliferação e diferenciação celular, prematuro, risco de morte Fígado bovino, leite integral, folhas
A desenvolvimento fetal, manutenção da neonatal e morte materna. verdes escuras, frutas alaranjadas.
placenta.
* Defeitos congênitos

Antioxidante, síntese de colágeno, função Prejuízo na síntese de Frutas cítricas, acerola, goiaba,
C
imune, facilita absorção do ferro. colágeno e parto prematuro. manga, tomate, brócolis.

Anemia megaloblástica,
aborto espontâneo, defeitos Levedura, fígado bovino, folhas
Crescimento normal, cooenzima na síntese tubo neural (DTN)
Folato verdes escuras, gérmen de trigo,
de DNA e RNA.
*OMS – suplementação oral suco de laranja.
preventiva (5mg/dia)

Hipocalcemia neonatal,
Metabolismo mineral, homeostase do cálcio Óleo de fígado de bacalhau, peixes,
D alteração do crescimento
e fósforo, crescimento ósseo. gema de ovo, fígado bovino
fetal.

Óleos vegetais, salmão, gérmen de


Antioxidante contra danos oxidativos do DNA Anemia hemolítica,
E trigo, fígado bovino, leite integral,
e peroxidação lipídica. problemas neuromusculares.
ovos.

Necessária para síntese de fatores de Perdas sanguíneas excessivas Folhas verdes escuras, fígado
K
coagulação. durante o parto. bovino.

Metabolismo de proteínas, lipídios e Prejuízo cerebral, cansaço, Levedura, carnes, vísceras, aveia,
B1 (tiamina)
carboidratos; DNA e RNA. cefaleia. sementes e oleaginosas, feijões.

Forma o FAD (flavina adenina dinucleotídeo)


Baixo peso ao nascer, Levedura, leite e derivados, ovos,
essencial à cadeia respiratória e produção
B2 (riboflavina) defeitos congênitos e morte carnes, vísceras, folhas verdes
de energia, formação de hemácias e
fetal. escuras, cereais integrais, feijões.
gliconeogênese.

Componente da NAD e NADP (nicotinamida


adenina dinucleotídeo e dinucleotídeo fosfato, Levedura, carnes, vísceras, cereais
Niacina
respectivamente), glicolise e respiração integrais, leite e derivados.
celular.

Coenzima do metabolismo proteico (triptofano),


Fígado bovino, cereais integrais,
B6 (piridoxina) desenvolvimento do SNC, formação de
banana, aveia.
neurotransmissores.

Presente apenas em alimentos de origem Lesão hematológica, anemia


Produtos de origem animal, leite e
B12 animal, essencial para conversão de megaloblástica, distúrbios
derivados, vísceras, carnes, frutos
(cianocobalamina) homocisteína em metionina e regeneração neurológicos, desmielinização
do mar, ovos.
do ácido fólico, formação do DNA. difusa e progressiva.

Fonte: Adaptado de Accioly, Saunders, Lacerda (2009).

A maioria das gestantes, tanto em países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento,


ingerem quantidades de folato menores que o recomendado para esse micronutriente. O folato é
essencial para a divisão celular e tem um papel importante durante toda a gestação, sendo que sua

23
UNIDADE II │ ALIMENTAÇÃO DA GESTANTE

deficiência resulta em anemia megaloblástica e sua prevenção é uma importante medida de saúde
pública. Além disso, no estágio inicial da gestação, o folato é crucial na fase de fechamento do tubo
neural do feto, sendo que a deficiência pode acarretar defeitos no tubo neural, como espinha bífida
e anencefalia.

Com relação aos minerais, a tabela 4 mostra um resumo das funções e fontes dos minerais.

Tabela 4 – Minerais, funções na gestação e respectivas fontes.

Mineral Função Carência Fonte


Prejuízo crescimento e
Cálcio Crescimento e desenvolvimento fetal. desenvolvimento, contração Leite e derivados, salmão e sardinha.
uterina prematura.
Essencial para funções metabólicas; constitui Prejuízo na ativação e Carne bovina, peixes, ovos, leite e
Fósforo
DNA, RNA e ATP. desativação de enzimas. derivados, nozes, cereais.
Fígado bovino, carnes, folhas verdes
Essencial para síntese de hemoglobina, Prematuridade e baixo peso ao
Ferro escuras, feijões (origem vegetal menor
reposição de perdas sanguíneas durante o parto. nascer (BNP).
biodisponibilidade).
Natimortos, abortos, anomalias
Essencial para hormônios tireoidianos –
Iodo congênitas, cretinismo Frutos do mar, peixes, sal iodado, ovos.
crescimento e desenvolvimento fetal e infantil.
(deficiência mental e nanismo).
Cofator enzimático, síntese de degradação de
Infertilidade, aborto, defeitos
DNA e RNA (ribossomos), metabolismo de Carnes, leite e derivados, frutos do mar,
Zinco congênitos, prejuízo crescimento
nutrientes, diferenciação e replicação celular, fígado bovino, cereais integrais, nozes.
e desenvolvimento.
transporte, função imune.
Cofator enzimático, função imune, maturação
de leucócitos e hemácias, contração cardíaca, Fígado bovino, nozes, cereais, frutos do
Cobre Infertilidade, aborto.
formação e resistência óssea, antioxidante e mar e frutas secas.
síntese de noradrenalina.
Metabolismo de nutrientes, DNA e RNA,
Sementes, nozes, cereais integrais,
Magnésio cicatrizante, anticonvulsivante, relaxante muscular, Má-formação
folhas verdes escuras.
ativação da vitamina D.
Fígado bovino, frutos do mar, castanha
Selênio Cofator enzimático, antioxidante.
do Pará.

Fonte: Adaptado de Accioly, Saunders & Lacerda (2009).

A tabela 5 mostra as recomendações de micronutrientes (vitaminas e minerais) para gestantes.

Tabela 5 – recomendações diárias de micronutrientes para gestantes dos 19 anos aos 50 anos.

Nutriente Recomendação Nutriente Recomendação


Vitamina A 770ug/dia Crômio 30ug/dia
Vitamina C 85mg/dia Cobre 1000ug/dia
Vitamina D 5ug/dia Flúor 3mg/dia
Vitamina E 15mg/dia Iodo 220ug/dia
Vitamina K 90ug/dia Ferro 27mg/dia
Tiamina 1,4mg/dia Magnésio 350mg/dia
Riboflavina 1,4mg/dia Manganês 2mg/dia

24
ALIMENTAÇÃO DA GESTANTE │ UNIDADE II

Niacina 18mg/dia Molibdênio 50ug/dia


Vitamina B6 1,10mg/dia Fósforo 700mg/dia
Ácido Fólico 600ug/dia Selênio 60ug/dia
Vitamina B12 2,6ug/dia Zinco 11mg/dia
Ácido Pantotênico 6mg/dia Potássio 4,7g/dia
Biotinha 30ug/dia Sódio 1,5g/dia
Colina 450mg/dia Cloro 2,3g/dia
Cálcio 1000mg/dia

Fonte: Adaptado de IOM, 2004.

Com relação ao consumo de alimentos segundo o número de porções por dia, recomenda-se o uso
da pirâmide de alimentos adaptada (PHILIPPI, et al., 1996).

Fonte: PhilippI, et al., 1996.

Algumas outras substâncias devem ter o consumo monitorado e, às vezes, restringido durante a
gestação.

A cafeína é um alcaloide farmacologicamente ativo que atua como estimulante do sistema nervoso
central e está presente em uma grande quantidade de alimentos, como café, guaraná, refrigerantes

25
UNIDADE II │ ALIMENTAÇÃO DA GESTANTE

à base de cola, cacau, chocolate, chás e, também, nos remédios do tipo analgésicos, medicamentos
contra gripe e inibidores de apetite. As gestantes, muitas vezes, desenvolvem aversão aos produtos
cafeinados, particularmente ao café, no primeiro trimestre de gestação, levando à interrupção ou à
redução do consumo de cafeína ao longo da gravidez. Existem indícios de que o consumo materno de
cafeína pode estar associado à redução do crescimento fetal, prematuridade, baixo peso ao nascer,
aborto espontâneo e má-formação. A Food and Drug Administration (2002) preconizava o não
consumo de cafeína por mulheres grávidas ou o consumo abaixo de 200 mg/dia.

O consumo de álcool durante a gestação é uma das principais causas evitáveis de defeitos ao
nascimento bem como alteração no desenvolvimento da criança. O uso frequente (sete ou mais
drinques por semana) tem aumentado significativamente, e tem-se observado o aumento da
evidência dos efeitos negativos do baixo ao moderado, durante a gestação. O álcool atravessa a
barreira placentária e faz com que o feto receba as mesmas concentrações da substância que a futura
mãe. Porém, a exposição fetal é maior, já que o metabolismo e a eliminação são mais lentos. Essa
situação é ocasionada pela ausência de enzimas em quantidade necessária para a degradação de tais
substâncias. Entre as complicações pré-natais, provocadas pelo consumo de álcool, identificam-se
anomalias físicas e disformismo no primeiro trimestre, aumento na incidência de aborto espontâneo
no segundo trimestre, intercorrências durante o parto, como risco de infecções, deslocamento
prematuro da placenta, hipertonia uterina, parto prematuro e líquido amniótico meconial. Entre as
consequências decorrentes do uso de álcool por gestantes, a mais conhecida é a Síndrome Alcoólica
Fetal (SAF), caracterizada por baixo peso ao nascer, hipotonia, incoordenação, irritabilidade, retardo
do desenvolvimento, anomalias craniofaciais e cardiovasculares, retardo mental leve e moderado,
hiperatividade e baixo rendimento escolar.

Os adoçantes são substitutos naturais ou artificiais do açúcar. O consumo de adoçantes e produtos


dietéticos aumentou nos últimos anos, e, em condições clínicas como diabetes mellitus e obesidade,
a restrição definitiva ou prolongada da ingestão de sacarose, frutose e glicose, pode ser necessária.
Durante a gestação, a escolha pelo adoçante deve ser cuidadosa. Existem poucas informações sobre
o uso na gestação e seus efeitos sobre o feto.

Outras substâncias que devem ser evitadas são as drogas ilícitas. Consumidas por via oral ou
endovenosas, alcançam o feto após 30 minutos do seu consumo. As drogas mais consumidas são
maconha, crack e cocaína, e seus efeitos são, principalmente, redução da capacidade de transporte
de oxigênio pela hemoglobina, aumento de frequência cardíaca e pressão arterial maternas, risco de
parto prematuro e baixo peso ao nascer.

26
ALIMENTAÇÃO DA GESTANTE │ UNIDADE II

Em toda a vida, bem como durante a gestação, existe o risco de ocorrência de algumas doenças
transmitidas por alimentos, como listeriose, salmonelose e toxoplasmose. Porém, durante a gestação,
alguns alimentos devem ser eliminados na alimentação, a fim de se evitar algumas infecções.

A listeriose é causada por uma bactéria, e pode levar à morte do feto. As gestantes devem evitar o
consumo de leite não pasteurizado e alimentos pré-cozidos, como flans e tortas. Já a salmonelose
é transmitida pela salmonela, levando à gastroenterite. Devem ser evitadas preparações à base de
ovos crus. No caso da toxoplasmose, a infecção é provocada por um parasita encontrado em fezes de
gato, no solo, em carnes cruas e no leite não pasteurizado. Durante a gestação pode levar a anomalias
fetais severas, como retardo mental e cegueira. As medidas preventivas são a higiene pessoal e com
alimentos, além do armazenamento adequado destes.

27
CAPÍTULO 2
Principais Doenças Gestacionais e
Dietoterapia

Hipertensão arterial sistêmica


As síndromes hipertensivas durante a gestação estão altamente associadas à morbi-mortalidade
materna e perinatal, e o controle dietético tem grande importância na prevenção e controle dessas
intercorrências.

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é a complicação materna mais comum em nulíparas e


gestantes de múltiplos, ela, frequentemente, leva ao BPN, asfixia e morte fetal.

Alguns fatores de risco estão associados ao desenvolvimento de HAS.

»» Constituição física: obesas e de baixa estatura.

»» História pessoal e familiar: HAS há mais de 4 anos ou em gestações anteriores.

»» Fatores mesológicos: distribuição geográfica e clima.

»» Patologias associadas: diabetes mellitus, resistência à insulina e obesidade.

»» Hereditariedade.

»» Raça: mais comuns em negros, árabes, hindus e judeus.

»» Tabagismo.

»» Grupo sanguíneo: mais prevalente em AB.

»» Paridade: primigestas e nulíparas (6 a 8 vezes maior).

»» Gestação múltipla.

»» Altitude.

28
ALIMENTAÇÃO DA GESTANTE │ UNIDADE II

A tabela 6 resume os tipos de síndromes hipertensivas que a gestante pode desenvolver.

Tabela 6 – Tipos de síndromes hipertensivas presentes na gestação e suas características.

Síndrome Hipertensiva Característica

HAS crônica Origem pré-gestacional, desenvolve-se até 20a semanas.

Pré-eclâmpsia Aumento gradual da pressão arterial acompanhado de proteinúria desenvolve-se após a 20a
semanas.

Eclâmpsia Aumento da pressão arterial, acompanhado de convulsões tônico-clônicas.

HAS gestacional Aumento da pressão arterial após a 20ª semana, podendo evoluir para pré-eclâmpsia.

HAS transitória Aumento da pressão arterial durante a gestação com retorno aos valores normais após o parto.

Fonte: Adaptado de Accioly, Saunders, Lacerda (2009).

O cuidado nutricional deve focar no ganho de peso gestacional, já que o ganho de peso excessivo é
sugestivo de HAS.

A recomendação de proteínas é para uma dieta hiperproteica (>2g/kg peso corpóreo/dia). Apesar
da preocupação com o ganho de peso, não se deve fazer restrição energética. A dieta deve ser
normoglicídica e normolipídica, com atenção especial aos ácidos graxos ω-3. A estes têm sido
atribuídos efeitos benéficos como: redução da prevalência de pré-eclâmpsia, redução da agregação
plaquetária e aumento da vasodilatação.

Quanto aos minerais, não se deve restringir o sódio. O cálcio parece reduzir o risco de pré-eclâmpsia,
numa dose de 1g/dia. O magnésio e o zinco também estão associados á prevenção de pré-eclâmpsia.

As vitaminas devem estar presentes de forma adequada, e, principalmente, as vitaminas A, C e E


estão associadas à prevenção da lesão endotelial.

Diabetes Mellitus
O diabetes mellitus (DM) é uma desordem metabólica caracterizada por hiperglicemia,
resultante de defeitos na secreção de insulina induzida pela glicose (SIIG), por sua ação ou
ambos os fatores. Sem tratamento o DM aumenta o risco de morbi-mortalidade perinatal,
macrossomia fetal e má-formação.

29
UNIDADE II │ ALIMENTAÇÃO DA GESTANTE

Cerca de 7% das gestantes desenvolve diabetes gestacional (DG), e isso representa 0,7% dos óbitos
maternos no Brasil. O diabetes prévio representa 0,5% das mortes.

Existem dois tipos de gestantes diabéticas: as portadoras de DM prévio (tipos I e II) e as que
desenvolvem DM gestacional com algum grau de intolerância à glicose.

Os principais fatores de risco para o desenvolvimento do DG seriam, respectivamente, estes.

»» História familiar de DM.

»» Mãe portadora de DM tipo II.

»» História de macrossomia (recém-nascido com mais de 4 kg).

»» Antecedentes obstétricos (restrição do crescimento intrauterino, má-formação


congênita, morte fetal tardia inexplicável).

»» Polidramnia (excesso de líquido aminiótico).

»» Glicosúria gestacional (glicose na urina).

»» Intolerância à glicose.

»» Idade materna maior de 25 anos.

»» Síndrome de ovários policísticos.

»» Obesidade ou ganho excessivo de peso.

»» HAS na gravidez.

O DG caracteriza-se pela presença de resistência periférica à ação da insulina, devido, principalmente,


às alterações nos receptores de insulina nos tecidos alvo. Ocorre redução de 40% a 70% da

30
ALIMENTAÇÃO DA GESTANTE │ UNIDADE II

sensibilidade à insulina, que é acompanhada de aumenta na secreção da mesma, a fim de manter a


glicemia. Outro fator é a presença de hormônios antagônicos à ação da insulina como hLP, cortisol
e estrógeno.

A hiperinsulinemia, acompanhada da menor sensibilidade à insulina, leva a um estado diabetogênico.

A insulinemia fetal pode ser detectada a partir da 12a semanas e é dependente da glicemia materna.
No DG descontrolado, grandes quantidades de glicose são transferidas para o feto através da
placenta, levando à hipertrofia da célula β fetal, hiperinsulismo e aumento dos depósitos de tecido
adiposo no feto. Ácidos graxos aumentados na mãe, também são transferidos ao feto e favorecem
a macrossomia. Outros fatores que contribuem são alteração do metabolismo proteico e lipídico e
síntese aumentada de glicogênio. Os bebês macrossômicos apresentam órgãos aumentados, porém
imaturos.

Outros fatores associados ao hiperinsulinismo fetal a ser considerados são estes.

»» Imaturidade pulmonar (deficiência de surfactante).

»» Hipoxemia crônica (aumento da necessidade de O2, devido à hemoglobina


glicosilada aumentada).

»» Insuficiente oxigenação fetal pela placenta (redução de 40%).

»» Incidência de má-formação (6 a 7 vezes maior) e risco de aborto.

Para a mãe, as principais complicações do DG são: maior incidência de HAS, polidramnia, infecção
urinária e pielonefrite, candidíase, cetoacidose, parto prematuro e risco de aborto.

O diagnóstico do DG deve ser feito já na primeira consulta pré-natal, a partir do rastreamento de


sintomas como: poliúria, polidipsia, polifagia, perda de peso, fadiga e fraqueza. Deve-se avaliar
a glicemia de jejum e realizar um teste de tolerância à glicose (TTG) oral, em que a repetição dos
exames, confirmará o diagnóstico. A presença de sintomas associada à glicemia de jejum >126mg/
dL ou associada à glicemia após TTG > 200mg/dL, confirma a presença do DG. A tabela 7 mostra os
valores glicêmicos para diagnóstico de DG.

Tabela 7 – Valores glicêmicos para diagnóstico de diabetes gestacional

Controle glicêmico Glicemia jejum Glicemia após TTG


Normal < 110mg/dL < 140mg/dL
Alterado 110 a 125mg/dL 140-199mg/dL
DG confirmado > 126mg/dL > 200mg/dL

Fonte: Adaptado de Accioly, Saunders, Lacerda (2009).

O cuidado nutricional tem o objetivo de manter a normoglicemia, favorecer o nascimento à termo


com peso adequado e com menor risco de complicações respiratórias e más-formações. O controle
glicêmico envolve monitoramento da glicemia de jejum e da hemoglobina glicada. A insulinoterapia

31
UNIDADE II │ ALIMENTAÇÃO DA GESTANTE

é recomendada em casos de DM prévio, em casos de DM tipo II com uso de hipoglicemiantes sem


resultado, e, em casos de DG, sem obtenção de controle glicêmico após a dieta.

A avaliação nutricional deve ser composta de avaliação antropométrica e de ganho de peso, avaliação
dietética e clínica, avaliação funcional, sociodemográfica e obstétrica, além da realização de exames
bioquímicos complementares.

A elaboração da dieta deve considerar hábitos alimentares e condição socioeconômica.

Gestantes obesas (IMC > 30) com DG devem ter restrição energética de 30%, ou distribuição calórica
de 25 kcal/kg peso corpóreo/dia.

A distribuição de macronutrientes deve ser da seguinte maneira.

»» Carboidratos: 45% a 65% ou 175 g/dia (20 a 35g/dia de fibras).

»» Proteínas: 15% a 20% ou 71 g/dia.

»» Lipídios: 20% a 35% (7% de gordura saturada e colesterol < 200mg/dia) – aumentar
consumo de gordura ω-3.

O consumo de vitaminas e minerais deve seguir o recomendado para gestantes normais. Deve-se
desencorajar o consumo de álcool e o consumo moderado de cafeína.

O índice glicêmico (IG) dos alimentos é uma forma de classificação segundo o efeito que determinado
alimento exerce sobre a glicemia pós-prandial quando comparado ao alimento de referência (pão
branco ou glicose) com mesma quantidade de carboidrato disponível. O teste é feito com 25 g a 50g
do alimento a ser testado e a glicemia monitorada.

O consumo de fibras (10 g/dia) está associado à redução em 26% do risco de DG, da mesma forma
em que de dietas com alto IG e baixa em fibras estão associadas ao maior risco de DG.

A contagem de carboidratos, recomendada pela American Diet Association (ADA) é usada desde
1935, na Europa, e pode ser eficiente para o controle glicêmico. Porém, dietas com menos de 130 g/
dia de carboidratos não devem ser recomendadas.

32
ALIMENTAÇÃO DA GESTANTE │ UNIDADE II

Os edulcorantes, que são substâncias com alto poder adoçante, devem ser utilizados com cautela,
atentando-se para os valores máximos, conforme tabela 8.

Tabela 8 – Valor calórico e ingestão diária máxima de alguns edulcorantes.

Edulcorante Kcal Ingestão diária máxima (mg/kg/dia)

Acesulfame K 0 15
Aspartame 4 40
Sacarina 0 5
Sucralose 0 5

Fonte: Adaptado de Accioly, Saunders, Lacerda (2009).

33
CAPÍTULO 3
Recomendações nutricionais
específicas: gestante vegetariana,
gestante HIV positivo, gestante
desnutrida e gestante obesa

Gestante Vegetariana
O vegetarianismo é uma escolha alimentar, cujo interesse e adesão têm aumentando nos últimos
anos. É baseado no alto consumo de vegetais, frutas, cereais, legumes e nozes, com exclusão parcial
ou total de alimentos de origem animal. A opção por tornar-se vegetariano têm muitas vertentes,
como: caráter religioso, ética, direitos dos animais, economia, meio ambiente e busca pela saúde.

No vegetarianismo, existem variadas práticas dietéticas que incluem o seguinte.

»» Vegetariano – não consome nenhum tipo de carne.

»» Vegetariano puro ou vegano – não consome nenhum alimento de origem animal.

»» Semivegetariano – consome carne menos de 1 x/semana.

»» Vegetariano ovo-lacto – não consomem carne, mas derivados animais (ovos e leite).

A questão da saúde é responsável pela maior parte das adesões ao vegetarianismo, já que existem
evidências de que os vegetarianos apresentam menor risco de desenvolverem doenças crônicas,
como doenças cardiovasculares e câncer. Isso devido ao menor consumo de gordura saturada e
do maior consumo de gordura insaturada (mono e polinsaturada) e fibras. A tabela 9 mostra os
alimentos e seus nutrientes, baseados na dieta vegetariana.

34
ALIMENTAÇÃO DA GESTANTE │ UNIDADE II

Tabela 9 – Alimentos fonte dos principais nutrientes em uma dieta vegetariana.

Nutrientes Fontes
Carboidratos Cereais, pão e farinhas, frutos secos.
(nozes, avelãs, amendoins, amêndoas, castanha de caju, castanhas), bananas,
açúcares, leguminosas (feijão, soja, ervilhas, lentilhas e grão), batatas.
Fibras Maçãs, batatas, ervilhas, feijões,
brócolos, cenouras e em todos os
alimentos vegetais e não refinados
(sobretudo cereais integrais)
Proteinas Frutos secos (nozes, amêndoas, amendoins, avelãs, castanha de caju,
castanhas) sementes (sésamo, abóbora, girassol), leguminosas (ervilhas, feijão,
soja, lentilhas e grão), cereais (arroz, milho, aveia, centeio, trigo) farinhas
vegetais, massas, pão, millet, seitan, produtos derivados da soja (tofu, molho
de soja, leite de soja, tamari, tempeh), cogumelos, algas, fruta.
Vitamina A Frutos e vegetais vermelhos, cor de laranja e amarelos, como, por exemplo, os
tomates e morangos, cenouras, laranjas, alperces e Pêssegos, limões e
carambolas (respectivamente), vegetais de folha escura.
Vitaminas do complexo B Cereais e farinhas integrais, frutos secos (nozes, avelãs, amêndoas, pinhões,
(exceto B12)
castanhas, castanhas de caju, amendoins), frutas frescas, sementes,
leguminosas (grão, feijão, soja, lentilhas e ervilhas), todos os vegetais verdes.
Vitamina B12 A vitamina B12 pode ser suplementada com um acompanhamento profissional
ou pode ser encontradas em alimentos enriquecidos. Alimentos como: tofu,
tempeh, tamari e miso, algas wakame e hiziki não são fontes seguras de
vitaminas B12. Estudo comprovam que nem todas as fontes contém a vitamina
ativa.
Vitamina C Pepinos, morangos, citrinos, uvas, papaias, brócolos, espargos, couves de
Bruxelas, alface, batatas e em vegetais de folha escura.
Vitamina D Sésamo e cogumelos e também pode ser sintetizada no organismo humano
por meio de exposição solar.
Vitamina E Gérmen de arroz e trigo, milho, cereais integrais, óleos vegetais, vegetais de
folha escura, sementes, frutos secos e legumes.
Vitamina K Vegetais frescos e de folha escura, óleo de soja, cereais. A vitamina K e é sintetizada por bactérias no intestino
Ácidos Graxos Essenciais Amendoins, cerveja, farinha, pão, arroz, soja, levedura e vagens.
Cálcio Agriões, ruibarbo, beterraba, espinafres, brócolos, couve chinesa, couve
portuguesa, cebola crua, couve crua, pepinos, feijão verde, salsa, aipo cru,
nabo, zucchini, alcachofras e vegetais de folha escura.
Cobre Frutos secos, feijões e outras sementes, ervilhas, trigo integral, melaço,
cogumelos e brócolos.
Ferro Ameixas, cereais integrais, passas, vegetais de folha escura, melaço,
sementes de sésamo, farinha de soja, coco, caril, frutas secas (especialmente
figos e alperces) e em vagens.

35
UNIDADE II │ ALIMENTAÇÃO DA GESTANTE

Iodo Algas marinhas, feijões, espargos, vegetais verdes e em ananás. O iodo


pode ser encontrado nos vegetais, porém a quantidade vai variar de acordo
com o solo em que o vegetal foi criado.
Magnésio Legumes, sementes, frutas, chá, alfafa, gérmen de trigo e cereais integrais.
Zinco Frutos secos, gérmen de trigo, levedura da cerveja, cereais integrais, vegetais
verdes e amarelos, frutas amarelas, abóbora e sementes de sésamo, lentilhas.

Fonte: Adaptado de Silva, et al., 2010.

Vegetarianos restritos (veganos) não consomem nenhum alimento de origem animal e, por isso,
devem ficar atentos às possíveis carências nutricionais.

O principal problema da dieta vegetariana é com relação à biodisponibilidade de nutrientes e a


interação entre eles, que ocorre nos produtos de origem vegetal. As principais interações, que podem
prejudicar a biodisponibilidade de determinados nutrientes ocorrem com proteínas, ferro, cálcio,
zinco, vitamina B12 e ácidos graxos ω-3.

Gestantes, normalmente, possuem necessidades aumentadas de alguns nutrientes, para suprir a


demanda do feto. Gestantes vegetarianas, muitas vezes necessitam de suplementação, principalmente
de ferro, cálcio, vitamina D e vitamina B12. No caso dos veganos, a ausência de vitamina B12 por
fonte dietética torna necessária a suplementação desta vitamina ou, ainda, o consumo de alimentos
enriquecidos por ela.

O recomendado é planejar as refeições, combinando os nutrientes com intuito de otimizar sua


biodisponibilidade, aumentando sua absorção. Algumas recomendações podem ser seguidas pelos
seguintes passos.

»» Variar a dieta, incluindo alimentos ricos em micronutrientes (vitaminas e minerais).

»» Incluir leguminosas, inclusive na forma de brotos.

»» Consumir alimentos fermentados à base de soja.

»» Optar por frutas secas como sobremesa.

»» Evitar consumir alimentos ricos em cálcio e ferro na mesma refeição.

»» Consumir frutas frescas e folhas verdes.

»» Consumir alimentos ricos em vitamina C, junto às refeições.

»» Avaliar regularmente, a ingestão de ferro, zinco, cálcio e fitato.

»» Se necessário, usar alimentos fortificados com zinco e ferro, sob recomendação de


médico ou nutricionista.

36
ALIMENTAÇÃO DA GESTANTE │ UNIDADE II

Gestante HIV positivo


A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) ou Acquired Immunodeficiency Syndrome
(AIDS) é uma epidemia mundial, sendo um problema de saúde pública no Brasil.

A infecção pelo HIV vem crescendo entre as mulheres, sendo que estas têm menor acesso aos
serviços de saúde, fazendo com que o diagnóstico e o tratamento ocorra, muitas vezes, apenas em
estágios avançados da doença.

A ocorrência da gravidez e a contaminação pelo HIV podem ocorrer durante a mesma relação sexual,
assim como ocorre com as outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs).

No Brasil, mulheres HIV positivo podem ter filhos e, no estado de São Paulo, é obrigatório o
fornecimento, pelos serviços públicos de saúde, do teste anti-HIV a todas as gestantes no pré-natal.
Quando as gestantes são diagnosticadas positivamente para o HIV, têm acesso ao tratamento.

O cuidado nutricional para gestantes HIV positivo visa a manter o bom estado de saúde da mãe e do
bebê. Não existem recomendações específicas, e estas irão variar conforme a fase de desenvolvimento
da doença.

As recomendações de energia estão aumentadas da seguinte maneira.

»» Fase assintomática: adicional de 10% em calorias.

»» Fase sintomática inicial: adicional de 20% em calorias.

»» Fase sintomática: adicional de 30% em calorias.

As necessidades de proteínas e micronutrientes são as mesmas das gestantes que não são HIV
positivo, apenas estão aumentadas em condições específicas como gestantes adolescentes, com
baixo peso ou ganho de peso gestacional inadequado.

Os parâmetros bioquímicos e o estado geral de saúde devem ser monitorados frequentemente nas
gestantes HIV positivo.

Gestante obesa
Atualmente, a obesidade tornou-se um problema de saúde pública no mundo. O Brasil, apesar de
estar em desenvolvimento, exibe algumas regiões com realidade socioeconômica diferente, como a
cidade de São Paulo, em que o consumo de alimentos processados, ricos em gorduras e açúcares,
tem crescido espantosamente.

A obesidade é uma doença metabólica, caracterizada pelo aumento do peso corporal, principalmente
aumento de tecido adiposo. Sua origem é multifatorial e está intimamente relacionada ao aumento
de morbidade.

37
UNIDADE II │ ALIMENTAÇÃO DA GESTANTE

A gestação é um processo que, por si só, já coloca a mulher em risco, quando associada a outros
fatores como obesidade, pode predispor a gestante e o bebê a maior mortalidade materno-fetal. A
gestação pode atuar como desencadeante ou agravante de um quadro de obesidade pré-existente.

O excesso de peso materno tem sido associado a problemas durante o trabalho de parto, cesariana,
maior ocorrência de macrossomia fetal (bebê maior que o esperado), nascimentos pós-termo e
alteração da coloração do mecônio (primeiras fezes) do feto.

A mortalidade entre gestantes obesas tem sido associada às complicações por síndromes
hipertensivas ou diabetes gestacional, além de aumento do risco de hemorragias durante o parto.

Gestante desnutrida
A gestação é um processo de intensas alterações fisiológicas, como visto anteriormente. As
necessidades de nutrientes estão aumentadas, a fim de fornecer substratos para crescimento
e desenvolvimento de órgãos e tecidos do feto. A mãe é a única fonte de nutrientes para o feto,
transmitindo-os pela placenta.

Se a ingestão nutricional da mãe não acompanhar o aumento de suas necessidades, o fornecimento


de substratos para o feto ficará prejudicada. A partir daí, este deverá abrir mão de suas próprias
reservas energéticas.

A desnutrição energético-proteica da gestante está intimamente associada ao baixo peso do bebê,


devido ao crescimento intrauterino prejudicado. Além disso, a criança pode estar mais suscetível às
infecções e pode apresentar alterações cognitivas associadas à carência de nutrientes.

É importante realizar avaliação do estado nutricional, a fim de corrigir, o mais rápido possível
tanto o excesso de peso, quanto a desnutrição da gestante, minimizando, desta forma, os impactos
negativos sobre o bebê.

38
CAPÍTULO 4
Impacto da alimentação materna na
saúde do bebê

No Brasil, a taxa de mortalidade infantil vem apresentando tendência de declínio. A importância da


identificação dos fatores de risco associados à morte neonatal precoce, tais como os nascimentos de
pré-termo, baixo peso ao nascer e presença de intercorrências na gestação e no parto, é inegável e
contribuiu para este declínio. Porém, esses fatores envolvem características biológicas maternas e
do recém-nascido com condições de vida da família, da atenção à saúde e seu contexto social. Além
dos fatores de risco que expressam as condições biológicas do desenvolvimento da gestação e dos
recém-nascidos, é importante considerar variáveis que expressam a dimensão socioeconômica, a
escolaridade materna e as condições de assistência pré-natal e no parto.

A saúde da gestante e a saúde do bebê dependem, entre outras coisas, de uma nutrição adequada.
Os nutrientes no 1o trimestre são importantes para a diferenciação celular e no 2o e 3o trimestre, são
essenciais para o desenvolvimento cerebral do feto.

O acompanhamento nutricional deve fazer parte do pré-natal, contribuindo com um resultado


obstétrico satisfatório.

Outra questão que deve ser acompanhada é o estado emocional da mãe durante a gestação. Existe
uma relação direta entre estresse materno e baixo peso ao nascer, prematuridade e retardo do
crescimento intrauterino, isso porque a maior liberação de catecolaminas resulta em menor fluxo
sanguíneo placentário, com consequente restrição de oxigênio e nutrientes ao feto. O aumento dos
hormônios envolvidos no estresse, também, está relacionado a maior vulnerabilidade às infecções,
maior grau de reatividade neuromuscular e aumento na secreção de ocitocina, o que explicaria o
parto prematuro.

39
UNIDADE II │ ALIMENTAÇÃO DA GESTANTE

O período pós-parto também é importante, pois, com a prática do aleitamento materno, as


necessidades do bebê serão supridas a partir da alimentação equilibrada da mãe. O aleitamento
materno é recomendado devido aos inúmeros benefícios à saúde da mãe e da criança. A nutriz
possui necessidades nutricionais específicas devido ao processo de lactação.

O volume de leite secretado pelas mulheres saudáveis nos primeiros 4 a 6 meses é cerca de 750 a
800 ml/dia. A ingestão de líquidos pela nutriz deve ser adequada, a fim de garantir o volume de
leite necessário. A deficiência de alguns micronutrientes pode afetar a qualidade nutricional do leite
materno, levando à subsequente depleção nutricional do bebê.

Outro fator que deve ser considerado no período pós-parto é a retenção de peso oriundo da gestação.
Algumas evidências mostram que a prática do aleitamento materno, ingestão nutricional adequada
e prática de atividade física, contribuem para a perda de peso pós-gestacional.

A taxa metabólica basal de nutrizes e o nível de atividade física após o primeiro mês do parto são
semelhantes às de não nutrizes. O gasto energético da amamentação depende do volume de leite
produzido. Com a introdução de novos alimentos para a criança, a produção de leite cai. O cálculo
da necessidade energética deve considerar a taxa metabólica basal e o nível de atividade física,
adicionando um valor extra para a lactação e descontando a energia necessária para a perda de peso.
O consumo de proteínas segue o mesmo conceito. Quanto aos micronutrientes, a ingestão deve ser
adequada para suprir as necessidades da mãe e do feto.

40
ALIMENTAÇÃO DA GESTANTE │ UNIDADE II

A ampliação do acesso ao pré-natal é de extrema importância, pois possíveis inadequações do estado


nutricional da gestante podem ser corrigidas neste momento, com um impacto positivo na redução
da mortalidade neonatal precoce, bem como no desenvolvimento e na saúde do bebê durante a
infância, a adolescência e a vida adulta.

41
ATIVIDADE FÍSICA NA UNIDADE III
GESTAÇÃO

CAPÍTULO 1
Critérios e recomendações

Atividade física consiste em qualquer movimento corporal, que envolve contração muscular e
aumento do gasto energético, acima dos valores basais.

A prática de atividade física leva ao aumento da força física, flexibilidade e resistência, com
consequente alteração da composição corporal. Faz parte, juntamente com outros hábitos, de um
estilo de vida saudável, levando à promoção da saúde e à prevenção de doenças. O seguimento de
um estilo de vida saudável é importante em qualquer fase do ciclo vital, inclusive durante a gestação.

A atividade física realizada durante a gestação vem sendo discutida devido aos seus efeitos benéficos
tanto para a saúde materna quanto para o crescimento fetal e desfechos gestacionais, porém ainda
são escassos estudos sobre o padrão de ati­vidade física neste período.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que a prática da atividade física associada à boa
nutrição têm impacto positivo na qualidade de vida, bem como podem ser aliadas no combate e na
prevenção da epidemia atual de obesidade.

A realização de atividade física durante a gestação, antigamente, era vista como maléfica,
podendo ser associada ao aumento no risco de partos prematuros. A partir da década de 1990, a
partir de pareceres do American College of Obstetricians and Gynecologists, essa visão mudou,
recomendando a prática de atividade física pela gestante, desde que esta apresente bom estado de
saúde e esteja fazendo acompanhamento pré-natal.

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CAPÍTULO 2
Ações e benefícios

Durante a gestação, a mulher sofre inúmeras mudanças que podem resultar em desconforto ou dor,
causando limitações durante a realização das atividades da vida diária e profissional. O crescimento
do útero é uma das principais causas dessas mudanças na estática e na dinâmica do esqueleto, além
do aumento no peso e no tamanho das mamas, que contribuem para o deslocamento do centro
de gravidade da mulher para cima e para frente, podendo acentuar a lordose lombar e promover
uma anteversão pélvica, que são tentativas de compensação de curvaturas da coluna vertebral
para a manutenção do equilíbrio. Sob a ação dos hormônios, existe um relaxamento crescente dos
ligamentos, além de um amolecimento cartilaginoso e um aumento no volume de líquido sinovial
e no espaço articular, resultando em mobilidade articular aumentada e articulações mais instáveis.
Na pelve, essas alterações levam à marcha gingada, um aspecto peculiar da gravidez, e na coluna
vertebral estas levam a uma queixa comum entre as gestantes: a dor lombar ou lombalgia.

O sedentarismo está direta ou indiretamente relacionado com dores na coluna. Juntamente à


deficiência no sistema musculoesquelético e sobrecargas na coluna, a inatividade física torna os
indivíduos propensos a ter dor lombar ou pélvica. Estudos mostram que a prática de exercícios
físicos específicos, de reabilitação e de prevenção da dor, promove melhora na intensidade da dor
lombar e pélvica em gestantes durante e após o parto.

Os benefícios da atividade física para a gestante são diversos, incluindo redução e prevenção de
lombalgias. O exercício melhora a postura e reduz, desta forma, as dores nas costas.

Além disso, minimiza as dores nos membros inferiores, que ocorrem principalmente pela retenção
hídrica aumentada. O exercício aumenta a circulação sanguínea local e reduz a retenção hídrica.
Desta forma, tem impacto positivo, também, em todo o sistema cardiovascular, com redução da
frequência cardíaca e da pressão arterial, maior circulação e oxigenação, prevenção de trombose e
varizes.

43
UNIDADE III │ATIVIDADE FÍSICA NA GESTAÇÃO

Outro benefício importante é auxiliar no controle do ganho de peso da gestante, reduzindo ou


controlando o IMC. Com o peso controlado, reduz-se o risco de outras doenças associadas ao
sobrepeso, como o diabetes gestacional. O exercício também melhora a tolerância à glicose pelos
tecidos periféricos, reduzindo a resistência à insulina e contribuindo para controle da glicemia.

Os aspectos emocionais também sofrem impacto positivo com a atividade física, como controle da
ansiedade, melhora da aparência e da autoestima.

A prática de exercício físico também pode ser crucial no momento do parto. Alterações como
aumento da flexibilidade de articulações e ligamentos, fortalecimento da musculatura pélvica e maior
tolerância à dor são observadas. Gestantes sedentárias apresentam 4,5 vezes mais predisposição
para realizar cesárea do que gestantes ativas.

O risco de aborto espontâneo ou parto prematuro estão associados à intensidade do exercício físico
e à intensidade da atividade ocupacional realizada pela gestante.

Recomendam-se atividades de intensidade regular e moderada, sempre considerando o estado de


saúde. Os exercícios mais recomendados são os na água, por não terem impacto e serem relaxantes.
Outros como caminhadas e bicicleta também podem ser realizados.

Atividades não recomendadas são aquelas que aumentam muito a demanda sobre o sistema
cardiovascular ou, ainda, que oferecem risco de trauma tais como.

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ATIVIDADE FÍSICA NA GESTAÇÃO │ UNIDADE III

»» Artes marciais, atividades competitivas e levantamento de peso.

»» Exercícios com movimentos repentinos ou saltos.

»» Flexão ou extensão profunda.

»» Jogos com bola, pelo risco de trauma abdominal.

»» Mergulho, devido ao risco de embolia fetal.

»» Ginástica aeróbica, corrida ou atividade de alta altitude.

»» Exercícios em posição supina.

Exercícios físicos excessivos estão associados à morbi-mortalidade infantil, devido às alterações no


peso do bebê e no parto prematuro.

As contraindicações para realização de atividade física durante a gestação são: perda de líquido
amniótico, dor no peito, sangramento vaginal, enxaqueca, dor abdominal, contrações uterinas e
redução de movimentos do feto.

No geral, as contraindicações podem ser divididas em absolutas e relativas, conforme tabela 10.

Tabela 10 – tipos de contraindicações para a prática de atividade física por gestantes.

Contraindicações absolutas Contraindicações relativas


Portadoras de doença cardiovascular com alterações hemodinâmicas Anemia
significativas
Doença pulmonar restritiva Arritmia cardíaca
Multípara com risco de parto prematuro Diabetes mellitus tipo I descompensado
Placenta previa depois de 26 semanas Bronquite crônica
Ruptura de membranas Obesidade mórbida
Sangramento no 2 e 3 trimestre
o o
Baixo peso (IMC < 12)
Cervix incompetente Restrição do crescimento intrauterino
Pré-eclâmpsia Hipertensão arterial descompensada
Tromboflebite Hipertireoidismo descompensado

Adaptado de Batista, et al., 2003.

Não existem recomendações específicas para prescrição do exercício físico para gestantes, o plano
deve ser baseado nas condições físicas e de saúde, bem como no período da gestação. A realização
de 150 minutos de atividades por semana, em intensidade moderada, parece ser adequada para a
maioria das gestantes. Grávidas ativas podem manter exercícios aeróbicos e resistidos moderados,
desde que a frequência cardíaca não ultrapasse 140bpm, de 3 a 4 vezes por semana.

Exercícios físicos de alta intensidade podem reduzir em até 50% do fluxo sanguíneo para a placenta
durante o esforço. O nível de aptidão física da mulher, o início do exercício, irá influenciar. Mulheres

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UNIDADE III │ATIVIDADE FÍSICA NA GESTAÇÃO

treinadas tem maior volume placentário. O exercício moderado na 1a metade da gestação está
associado ao aumento no crescimento placentário. Já a realização de exercícios intensos na 2a
metade da gestação estão associados à redução do peso corporal do feto, em torno de 370g e redução
do percentual de gordura corpórea de 12% para 8%. Isso porque os músculos necessitam de sangue,
reduzindo a circulação para a placenta e, desta forma, diminuindo a oferta de nutrientes para o feto.
Outro fator que deve ser considerado é a intensidade das atividades ocupacionais da gestante, que,
também, podem ter impacto negativo na saúde do feto.

Exercícios leves aumentam a sensibilidade à insulina e a tolerância à glicose, melhorando casos


de diabetes gestacional. Além disso, aumenta o volume plasmático da mãe o que aumenta a
disponibilidade de glicose para placenta e para o feto, levando ao crescimento intrauterino adequado.

Os exercícios reduzem o risco de doenças gestacionais, se praticados de forma sistemática com


acompanhamento médico e do educador físico, além de trazer efeitos positivos na mãe e no peso do
bebê ao nascer.

No surgimento de sintomas, o médico deverá ser consultado e o exercício suspenso ou reavaliado.

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