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Saúde Pública e Meio Ambiente

Brasília-DF.
Elaboração

Márcio Luiz da Silva Gama

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO................................................................................................................................... 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA...................................................................... 5

INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 7

UNIDADE ÚNICA
SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS............................................................................................................. 9

CAPÍTULO 1
AMBIENTE – CONCEITOS BÁSICOS............................................................................................ 9

CAPÍTULO 2
SAÚDE PÚBLICA...................................................................................................................... 11

CAPÍTULO 3
QUESTÕES ESPECÍFICAS......................................................................................................... 14

CAPÍTULO 4
AMBIENTE, SAÚDE E SEGURANÇA............................................................................................ 24

CAPÍTULO 5
RESÍDUOS E MEIO AMBIENTE................................................................................................... 30

CAPÍTULO 6
SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL............................................................................................ 44

PARA (NÃO) FINALIZAR....................................................................................................................... 48

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 49

ANEXO............................................................................................................................................... 50
Apresentação
Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

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Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
A Organização Mundial da Saúde (OMS) conceitua saúde como o “estado de completo bem-estar
físico, mental e social”. Este bem-estar está diretamente ligado às condições ambientais adequadas
para que pessoas e sociedades desempenhem suas atividades.

A Saúde Pública e a Gestão do Meio Ambiente convergem quanto à necessidade de promover o bem-
estar e a qualidade de vida e evitar que a deterioração dos ambientes, onde o homem transita e vive,
reduza sua expectativa de vida.

Estima-se (OMS, 2009) que um terço das mortes e doenças em crianças tem origem em fatores
ambientais adversos e que, das 102 categorias de doenças listadas no relatório mundial de saúde, 85
tem como causa primordial o ambiente.

Muitas destas doenças poderiam ser evitadas por meio da melhoria das condições sanitárias das
habitações, água em qualidade adequada para uso das famílias, melhores medidas de educação
sanitária e combustíveis mais limpos e seguros. Além disso, o melhor controle das substâncias tóxicas
a que a humanidade tem contato também ajudaria a reduzir a incidência de doenças relacionadas
aos processos cancerígenos.

A cada ano, 13 milhões de mortes poderiam ser evitadas pela correta gestão ambiental pública
e privada. Um terço das mortes de crianças com idade inferior a 5 anos em todo o mundo são
causadas por fatores ambientais relacionados à baixa qualidade da água e poluição do ar e poderiam
ser evitadas pela universalização de sistemas de tratamento de água e esgotos e gestão ambiental
adequada de impactos ambientais.

A gestão ambiental pública, por meio de políticas públicas e práticas adequadas, e a gestão ambiental
privada, por meio de implementação de sistemas de gestão ambiental, poderiam evitar 40% das
mortes por malária, 41% das mortes por infecções respiratórias e 94% por diarreias, os três fatores
que causam a mortalidade infantil.

A história humana demonstra que a adaptação e ocupação de espaços pela nossa espécie foi o resultado
de desenvolvimento de diversas estratégias para assegurar o fornecimento de alimentos, defesa contra
intempéries, defesa contra inimigos externos e acumulação de conhecimento, entre outros.

A população humana aumentou na medida em que foram domesticadas plantas e surgiu a agricultura
e a pecuária. Os assentamentos humanos passaram a existir e as relações dentro das sociedades se
tornaram mais complexas e estratificadas.

Este crescimento da população se deu pela utilização de recursos locais, pela adaptação aos limites
de recursos, pela interação entre os humanos e pela geração de tradições e culturas, bem como pela
geração de excedentes transacionáveis com outras sociedades.

Nesta adaptação às condições locais e à vida em sociedade, surgem também problemas. A domesticação
de animais resulta tanto em maior segurança na disponibilidade de alimentos quanto na

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introdução de agentes patogênicos nas sociedades, tais como vírus, bactérias e outros vetores
de doenças.

A resposta a estes desafios ambientais é a pesquisa e investimento em soluções para proporcionar


mais saúde à humanidade. A longevidade aumentou, a mortalidade infantil diminuiu, mas é
necessário muito investimento em disseminação de informação cada vez mais disponível e aplicável.

A responsabilidade por melhorar as condições de vida das sociedades é nossa. Cada um de nós, em
nossas atividades, pode contribuir para a melhoria das condições ambientais e de saúde pública.

O trabalho que iniciaremos com este material visa apresentar conceitos básicos que possam ser
utilizados pelos profissionais para aproximar a saúde pública das condições ambientais onde
ocorrem as atividades humanas, realizando a confluência entre os assuntos de gestão ambiental e
de saúde pública.

Objetivos
»» Compreender os conceitos de Prevenção de doenças e promoção de saúde para
crianças e adolescentes

»» Compreender a importância do tema em Saúde da Família

»» Apresentar conceitos e instrumentos de atendimento multidisciplinar às crianças


e adolescentes

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SAÚDE E QUESTÕES UNIDADE ÚNICA
AMBIENTAIS

CAPÍTULO 1
Ambiente – Conceitos Básicos

Ambiente pode ser conceituado como a soma das condições físicas, químicas e biológicas que, sob
determinado tempo e espaço, proporciona a coevolução, por meio de conexões das quais as espécies
dependem para promover a sua permanência em longo prazo. Das interações entre os seres vivos e
seu ambiente surge o conceito de ecossistema.

Ecossistema1 é o resultado das condições físico-químico-biológicas com os indivíduos que fazem


parte e dependem dos recursos e promovem fluxos de energia, matéria e informação, gerando
também a diversidade e a capacidade de se adaptar às mudanças e perturbações do ambiente.

Este conceito remete à interdependência, uma vez que o comprometimento irreversível das
condições ambientais pode comprometer a capacidade deste ecossistema em sustentar as atividades
das espécies, com a disrupção2 da capacidade de gerar fluxos de matéria, energia e informação e
desmantelando as interações entre os componentes dos ecossistemas.

Na figura 1, apresentada a seguir, observa-se que o Sistema Econômico está inserido no Sistema
Ecológico, retirando do ambiente os recursos que necessita e devolvendo os resíduos, os quais
podem comprometer a habilidade do sistema ecológico em manter as atividades econômicas das
quais a sociedade depende para manter seu bem-estar.

Figura 1: Interdependência entre o Sistema Econômico e o Sistema Ecológico.

Fonte: SIGRID e STAGL (2001)

1 Ecossistema é o resultado das interações do ambiente físico, do ambiente químico e dos componentes biológicos e sua
coevolução, cujas ligações entre componentes geram relações complexas e estabilidade.
2 Disrupção: comprometimento irreversível do ambiente devido ao acúmulo de impactos ambientais em escala superior à sua
capacidade de suporte.

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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS

As atividades humanas sempre ocorrem em função dos limites estabelecidos pelos sistemas
ecológicos. Estes limites são denominados capacidade de suporte, que se refere especificamente
à disponibilidade e quantidade de recursos que podem ser retirados do ambiente e à quantidade
de resíduos que podem ser lançados sem o comprometimento irreversível da capacidade deste
ambiente de gerar mais recursos e manter um fluxo constante de material, energia e informação.

O comprometimento do ambiente e da saúde humana pode acontecer pelo acúmulo de resíduos


acima da capacidade de assimilação do meio e da proliferação de agentes patogênicos pelas
mudanças das condições ambientais locais, regionais, nacionais ou globais, o uso de produtos
químicos que produzem mutações genéticas ou alteram o metabolismo, a exposição às consequências
das mudanças climáticas, a depleção da camada de ozônio, contaminação de alimentos, efluentes,
radiação eletromagnética, dentre outros.

Muitas destas ameaças e exposições podem ser prevenidas por meio da identificação dos riscos e
impactos e pela adoção de planos para redução de riscos e vulnerabilidades.

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CAPÍTULO 2
Saúde Pública

A promoção e proteção da saúde são fundamentais para o bem estar humano, o desenvolvimento
social e o crescimento econômico. As condições ambientais onde as pessoas nascem, crescem,
vivem, trabalham e envelhecem são fundamentais para a manutenção da saúde.

Segundo a OMS (2003), saúde é o resultado das complexas inter-relações entre os processos
biológicos, ecológicos, culturais e socioeconômicos que acontecem na sociedade.

A interface com os processos ecológicos ocorrem ao se perceber que variações das condições
ambientais locais podem levar a processos de perda de qualidade de vida humana e que a degradação
ambiental pode causar aumento da frequência de doenças incidentes sobre os humanos.

O estudo da epidemiologia é fundamental para identificar relações de causa e efeito entre as doenças
e os fatores que facilitam sua disseminação. O conceito de epidemiologia remete ao estudo de como
as doenças incidem sobre a população e quais fatores são determinantes.

O objeto de estudo da epidemiologia é a população e não o indivíduo. O epidemiologista tem por


foco avaliar o impacto das doenças sobre a população, extraindo indicadores, tais como a frequência
da doença, a distribuição espacial e temporal entre outros.

Ao entender a maneira como a doença incide sobre a população e ao obter os dados, há o levantamento
de hipóteses sobre fatores determinantes e possíveis correlações, com a conclusão sobre as medidas
a adotar para reduzir o impacto sobre as populações.

Neste ponto, o trabalho do epidemiologista assemelha-se ao do gestor ambiental. A partir de um


diagnóstico claro dos aspectos e impactos ambientais de determinado projeto, adotam-se medidas
para reduzir os impactos negativos.

Voltando ao assunto da epidemiologia, os dados e as análises permitem concluir os fatores


determinantes das doenças e como adotar procedimentos para que o ambiente propício para que
seja enfrentada a ocorrência de epidemias.

Um exemplo claro são as epidemias cíclicas de dengue ou febre amarela. O enfrentamento se dá


sobre as causas da doença, ou seja, eliminando as condições ambientais favoráveis para proliferação
do mosquito, e sobre as consequências, com a disponibilização de tratamento para as vítimas.

Muito do combate às epidemias se resolve com informação, porém é insuficiente concentrar as soluções
somente na educação dos indivíduos. Há necessidade de infraestrutura adequada, água tratada e
gestão de resíduos com potencial para tornar-se ponto de criação de mosquitos, dentre outros.

A poluição do ar é outro problema ambiental que afeta diretamente a saúde das pessoas. A
epidemiologia identifica, por meio da análise dos dados de saúde, o impacto do gerenciamento
ambiental inadequado sobre a saúde das pessoas.

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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS

O lançamento de toneladas de poluentes na atmosfera, junto às inversões térmicas em grandes


cidades, aumenta a incidência de irritações em mucosas, problemas respiratórios, dentre
outros, que impactam as cidades, as atividades normais das pessoas e a capacidade de trabalho
dos indivíduos.

A percepção de que os efeitos ambientais têm efeitos diretos sobre a saúde serve como instrumento
de pressão para adoção de políticas públicas ambientais e de saúde integradas, interdisciplinares,
devido à multicausalidade de muitos dos transtornos que afetam a qualidade de vida das populações.

Outro ponto de destaque na relação saúde e meio ambiente é a questão do risco. Risco é a probabilidade
de ocorrência de determinado evento, tendo em vista determinadas condições ambientais, que pode
causar impacto.

Para causar um impacto, há necessidade que uma série de fatores determinantes, atuando
em determinado espaço e em determinado período de tempo. Sendo este impacto adverso, há
necessidade de identificar que tipo de impacto é esse, suas causas, as prováveis consequências e
as medidas para evitar ou reduzir a possibilidade de nova ocorrência destes eventos críticos, para
reduzir o risco ao qual se estaria exposta a sociedade ou os indivíduos.

Determinado impacto em saúde ou doença se dá quando há desequilíbrio entre três categorias ou


partes de um sistema. Estas três partes são o agente, o hospedeiro e o ambiente.

Na categoria agente temos os fatores necessários para o desencadeamento do impacto. Os agentes


podem ser biológicos, químicos ou físicos.

Os agentes biológicos são os organismos vivos que podem causar doenças, tais como vírus, bactérias,
protozoários, helmintos e artrópodes e as doenças causadas por estes agentes são conhecidas como
doenças infecciosas.

Os agentes químicos são os produtos naturais ou artificiais que podem provocar danos à saúde
humana. Estão nesta categoria gases, herbicidas, fungicidas, conservantes, corantes, poluentes
químicos, efluentes líquidos, dentre outros.

Os agentes físicos estão representados pela luz, ruído, radiações, ondas eletromagnéticas e outros
fatores ambientais desencadeadores de doenças.

Na categoria hospedeiro está o ser humano e os fatores que podem resultar em predisposição à
doença. O sexo, a idade, a condição socioeconômica, as raças ou etnias e a ocupação são fatores que
podem desencadear o processo de doença.

Cada um destes tópicos pode influenciar decisivamente no aparecimento ou não do processo de


doença ou do acesso a causas que podem reduzir o risco ou a exposição a fatores que possam
desencadear processos adversos.

Na categoria ambiente existem os fatores de natureza física ou biológica. Os meios físicos são
propiciadores de condições que podem facilitar as epidemias ou intensificar doenças que teriam
menos impacto, no caso de ambientes mais salubres.

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SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS │ UNIDADE ÚNICA

O clima é um dos fatores que se enquadra nesta categoria. As variações de temperatura impactam
sobre o ciclo de vida de diversos agentes e determinam também os comportamentos dos hospedeiros.

A topografia também aparece como fator na categoria ambiente e refere-se ao tipo de terreno e
recursos presentes em determinada área geográfica. Um exemplo típico de como a topografia age
como fator determinante são as enchentes, onde, logo depois da subida repentina das águas e da
descida, ocorre o aumento dos episódios de diarreias e outras doenças associadas à ausência de
saneamento básico.

O meio biológico também tem correlação com saúde ou doença, tendo em vista que a preservação
da biodiversidade tem relação com a possibilidade de extrair princípios ativos que possam
enfrentar fatores perigosos, que diversas áreas biologicamente diversas são necessárias para
os processos ecológicos de ciclagem de nutrientes e de água que garantem a disponibilidade de
recursos para as sociedades.

Outro tópico essencial para entender a epidemiologia é a influência social sobre os episódios de
doença. Agregam-se à análise dos fatores agente, hospedeiro e ambiente as condições sociais onde
ocorrem as epidemias e os episódios de ausência de saúde.

Por exemplo, a mortalidade infantil é o problema mais grave em medida inversamente proporcional à
quantidade de recursos investida em saúde coletiva ou em equipamentos de saúde, em infraestrutura
urbana relacionada ao saneamento ambiental, à disponibilidade de água potável ou ao próprio
saneamento nas residências.

Concluindo, a associação entre as condições do meio ambiente e as condições de saúde visando


assegurar melhor qualidade de vida é necessária e urgente. Episódios ambientais extremos, como
enchentes, deslizamentos de encostas, assentamentos humanos em locais inadequados, dentre
outros absurdos de planejamento ambiental, são responsáveis diretos por milhares de mortes todos
os anos em virtude da ausência de visão integrada entre as políticas públicas.

O assentamento de pessoas em locais como lixões e aterros sanitários desativados, a ausência de


água potável nas torneiras das casas e a ausência de banheiros e de tratamento de esgoto, a ausência
de educação sanitária e ambiental são fatores que facilitam o surgimento de processos de doença e
que desencadeiam diminuição da qualidade de vida e de longevidade para muitas sociedades.

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CAPÍTULO 3
Questões Específicas

Mudança climática e saúde


A alteração dos padrões climáticos e o comprometimento irreversível dos sistemas naturais que dão
suporte à vida afetam e afetarão diretamente os recursos necessários para a saúde e o bem-estar.

Este comprometimento pode afetar o ar e a água, a qualidade e quantidade de alimentos disponíveis


para realizar as atividades humanas e relativas à manutenção da vida, os ecossistemas dos quais
dependemos e os abrigos para eventos extremos.

Alem disso, a frequência e intensidade de desastres naturais tendem a aumentar e a abordagem


inadequada destes riscos e vulnerabilidade, bem como a inexistência de sistemas de informações e
planos de contingência tendem a amplificar o dano provocado por eventos extremos.

Cinco temas principais tem sido apontados pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA) como riscos fundamentais das mudanças climáticas e que devem ser objeto de planos de
ação específicos. São eles:

1. Aumento da frequência e intensidade de desastres naturais, sem o necessário


levantamento de informações sobre riscos e vulnerabilidades nem a elaboração de
estratégias de enfrentamento e respostas ou planos de contingência.

2. Gestão inadequada de recursos hídricos afetando a disponibilidade e a qualidade da


água. O enfrentamento da questão se dá pela proteção de mananciais e ecossistemas
de suporte e investimento em tecnologias e infraestrutura.

3. Eventos extremos exacerbados pelas mudanças climáticas, incluindo o aumento


de temperatura e na intensidade de chuvas. Diversos estudos técnicos mostram
que as mudanças climáticas afetarão a distribuição de lavouras em todo o mundo,
ameaçando a disponibilidade de alimentos.

4. Vetores de doenças como a malária poderão ter sua distribuição afetada, uma vez que
a temperatura aumentada e as chuvas mais intensas poderão servir como ambiente
para expansão destes vetores. O enfrentamento desta questão exige que a saúde
pública e o saneamento sejam universalizados, com treinamento de profissionais
de saúde e das comunidades.

5. A qualidade do ar pode ser afetada também pelas mudanças climáticas, bem como
pelos problemas já existentes de queima de combustíveis fósseis de baixa qualidade.
As cidades já passam por episódios de qualidade do ar inadequada para respiração,
e este é um evento que precisará ser enfrentado pelo planejamento de ações de
adaptação e mitigação das mudanças climáticas.

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SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS │ UNIDADE ÚNICA

Desflorestamento
As florestas são componentes importantes para a regulação do clima global, pela regulação do ciclo
hidrológico, proteção contra a erosão e pela prevenção de desastres naturais. Além disso, as florestas
são fontes de produtos e serviços relacionados à alimentação, remédios, materiais de construção,
combustível, dentre outros.

A Organização Mundial de Saúde e o Programa das Nações Unidas identificam seis pontos principais
para abordagem da questão. São eles:

1. O desflorestamento afeta a disponibilidade e a produção de alimentos.

2. O desflorestamento impacta as bacias hidrográficas, compromete os níveis dos


aquíferos, intensifica os efeitos de alagamentos e secas, ameaça as fontes de água.

3. O desflorestamento resulta em erosão do solo e degradação das terras, que resultam


em assoreamento, inundações e desertificação.

4. O desflorestamento e as mudanças no uso da terra podem causar desequilíbrios


ecológicos e favorecer espécies de insetos que funcionam como vetores de doenças
como a malária. O enfrentamento destas questões exige que os profissionais de saúde
pública estejam acompanhando as comunidades sob o ponto de vista epidemiológico.

5. O desflorestamento afeta a mudança climática. É necessário considerá-las nos


planos de adaptação.

6. O desflorestamento pode causar indiretamente doenças respiratórias, tanto pela


poluição do uso de madeiras como combustível quanto pelas queimadas de florestas
para uso da terra.

Biodiversidade
O funcionamento dos ecossistemas sem o risco de sua disrupção é necessário para prover de
água, ar, alimentos e remédios, pois o comprometimento da produtividade dos ecossistemas pode
comprometer a produção de alimentos, aumentar a vulnerabilidade às doenças, a resiliência das
comunidades em adaptar-se a eventos extremos. O PNUMA identifica quatro pontos de preocupação
na relação biodiversidade e saúde:

1. A biodiversidade é a fonte primordial de recursos da humanidade e historicamente


permitiu aos seres humanos testar, descobrir e adaptar-se aos ambientes, seja pela
utilização de recursos locais, seja pelo aprendizado de como relacionar-se com as
condições locais. A conservação da biodiversidade melhora a segurança alimentar e
permite a manutenção da produtividade dos ecossistemas e dos sistemas produtores
de alimentos.

2. A purificação da água é um dos sistemas prestados pelos ecossistemas e sua relação


com a conservação da biodiversidade e a gestão de bacias hidrográficas resulta em

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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS

sua fundamental importância para prover de água em quantidades e qualidade


apropriadas.

3. A biodiversidade é fonte de diversos remédios utilizados pelas sociedades humanas


e a sua perda pode significar a perda de princípios ativos importantes para fazer
remédios.

4. A biodiversidade é essencial para reduzir a vulnerabilidade das comunidades. Um


exemplo claro é que os assentamentos humanos localizados em áreas desmatadas
indevidamente sofreram com inundações no Brasil.

Degradação da terra e desertificação


A degradação da terra e a desertificação afetam a capacidade das populações de produzir seu próprio
sustento, aumenta a incidência de doenças relacionadas à qualidade da água e do ar e apresenta
consequências devastadoras sobre a pobreza e os assentamentos humanos.

1. A degradação da terra compromete serviços ecossistêmicos, incluindo a


produtividade do solo, com consequências na produção de alimentos e na
nutrição. A gestão das terras, a recuperação de terras degradadas, a restauração
da produtividade, o sequestro de carbono são algumas das ações que o gestor
deve estimular para reduzir o risco de doenças ligadas à pouca disponibilidade de
alimentos para a população.

2. A escassez de água, a ausência de sistemas de gestão sanitária induz o uso de águas


poluídas no dia a dia das populações. A gestão de águas é necessária em locais de
escassez para evitar ameaças extremas às populações.

3. A degradação da terra e a desertificação também causam doenças do trato


respiratório, tendo em vista que aumenta a quantidade de partículas em suspensão
e podem causar infecções severas nos olhos, pele e pulmões.

4. A degradação dos solos e a desertificação representam grandes custos sociais,


também, pois acaba por exigir o deslocamento involuntário de milhares de pessoas.

Água
A água é fundamental para toda e qualquer atividade humana. O acesso à água em quantidades e
qualidade adequada é fundamental para que a qualidade de vida não seja comprometida.

Cerca de 884 milhões de pessoas em todo o mundo necessitam de melhor acesso aos recursos
hídricos, à água tratada e ao saneamento básico. O investimento em sistemas de tratamento de água
cortaria drasticamente as ameaças à vida humana causadas pelas doenças de veiculação hídrica.

Destacam-se quatro pontos principais que exigem atenção da saúde pública.

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SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS │ UNIDADE ÚNICA

1. Água contaminada causa doenças que podem levar à morte. Há cerca de 24.000
crianças com menos de 5 anos, morrendo a cada dia em virtude do consumo de água
contaminada.

2. O tratamento de água e a estocagem em locais limpos ajudariam a manter a


qualidade de água e reduziriam as mortes de crianças em 39%.

3. A água em casa libera tempo para as famílias procurarem alternativas econômicas


para viver, para educar-se e para trabalhar.

4. Em duas décadas estima-se que 47% da população global viverão em áreas sujeitas
a estresse hídrico e as mudanças climáticas podem intensificar os efeitos. O estado
da Califórnia, nos EUA, estima a perda de um terço do volume do Rio Colorado e o
comprometimento do abastecimento do sudoeste do estado.

Saneamento
O saneamento permite a destinação adequada de dejetos humanos, a coleta e destinação adequada
de resíduos e a destinação adequada de águas residuais são cruciais para manter a saúde e proteger
os recursos naturais.

Estima-se que 2,6 bilhões de pessoas (WHO, 2010) não tenham acesso ao saneamento básico
adequado e que cerca de 1,1 bilhão lança seus dejetos diretamente na natureza. Doenças como cólera
e diarreia causam milhões de mortes que poderiam ser evitadas pelo investimento em saneamento
ambiental e destinação adequada de dejetos e resíduos.

As iniciativas necessárias, segundo o PNUD, para enfrentar as doenças causadas pela disposição
inadequada de dejetos são as seguintes:

1. Os dejetos devem ser adequadamente destinados, de forma segura, de forma a


reduzir o risco de contato com os indivíduos. O uso de sanitários promove a redução
do risco de contato e transmissão de organismos patogênicos.

2. A disposição inadequada de dejetos contamina as águas, que por sua vez funcionam
como meio de propagação de doenças. A disponibilização de sistemas de saneamento,
tratamento de água e educação sanitária podem reduzir a incidência destes riscos.

3. A educação sanitária deve começar nas escolas, para que as crianças funcionem
como indutores de mudanças de comportamento.

4. As políticas públicas de saneamento devem promover a educação das comunidades no


planejamento e construção de locais destinados a promover o saneamento ambiental.

5. A frequência e intensidade de inundações causadas pelas mudanças climáticas podem


resultar em maior risco de vazamentos de estações de tratamento. A infraestrutura
necessária para enfrentar este problema deve ser planejada, vislumbrando os riscos
futuros ligados às mudanças climáticas.

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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS

6. Os dejetos devem ser fisicamente separados das habitações humanas, das fontes de
água, comida e áreas de lazer para evitar que os patógenos presentes afetem a saúde
de terceiros e das comunidades.

Higiene
As boas práticas de higiene e o acesso ao saneamento ambiental precisam ser adequadamente
repassados à sociedade por meio de programas de mudança de comportamento.

1. A mudança de hábitos e crenças sobre higiene precisa ser objeto de campanhas de


educação específica.

2. O simples hábito de lavar as mãos com sabão e água antes de preparar alimentos,
depois de ir ao banheiro e antes de alimentar crianças. Estima-se que o hábito de
lavar as mãos reduz em 47% o risco de diarreias.

3. Os alimentos devem ser lavados antes do consumo com água potável ou cozidos. A
comida pronta deve ser estocada em locais apropriados.

4. Lavar o rosto e as mãos com sabão e água ajuda a prevenir doenças, diarreias e
infecções oculares.

Resíduos perigosos
A quantidade de produtos químicos utilizados no dia a dia e a habitação perto dos locais de descarte
de resíduos; bem como a destinação inadequada de resíduos perigosos tem potencial de causar
danos ou envenenamentos por meio dos pulmões, pele ou boca. Para reduzir o risco, algumas
iniciativas podem ser tomadas:

1. Disponibilizar informação adequada sobre locais com potencial para contaminação.

2. Elaborar planos adequados de gestão de resíduos perigosos.

3. Educação adequada para identificar riscos de exposição a resíduos perigosos para


crianças e adultos.

4. Melhorar a aplicação da legislação referente aos resíduos perigosos, especialmente


no que diz respeito ao monitoramento e auditorias.

Doenças infecciosas
Malária
A malária é uma doença que depende da proliferação do mosquito infectado. Esta proliferação
depende de programas de controle do ciclo reprodutivo do mosquito, o que necessita de participação
das pessoas que vivem no local.

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SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS │ UNIDADE ÚNICA

A mudança de ecossistemas pode alterar o equilíbro ecológico e resultar em ambiente favorável para
a reprodução do mosquito, expandindo sua população e o número de pessoas infectadas.

Para reduzir o risco da malária, há necessidade de se investir em:

1. Usar redes tratadas com inseticidas.

2. Controlar o vetor da doença por meio de mudanças de comportamento, gestão de


águas e do território, identificando a frequência de ocorrência da doença.

3. Aplicação de inseticidas, atentando para o fato de que a maioria dos inseticidas


apresenta produtos químicos sintéticos que podem afetar a saúde humana.

4. Controlar locais com águas paradas e limpar prováveis locais de reprodução


do mosquito.

5. Disponibilizar tratamento imediato caso seja identificado algum caso de malária.

6. Campanhas públicas de informação sobre a malária.

Dengue
A dengue é uma doença causada por vírus que se prolifera pela picada de mosquitos infectados.
Não há remédios específicos para a doença e é importante que se mantenha a hidratação. Um
terço da população global vive em áreas de risco de transmissão de dengue, com 50 milhões de
infecções ocorrendo a cada ano, 500.000 casos de dengue hemorrágica e, pelo menos, 18.000
mortes. A ação mais efetiva é a eliminação dos ambientes onde vive o mosquito para evitar a
conclusão de seu ciclo reprodutivo.

A dengue é transmitida por meio de picadas de mosquitos usualmente presentes em áreas urbanas
e a única maneira de controlar a doença é controlar o mosquito. O diagnóstico precoce pode evitar
piora no estado geral de saúde do paciente. É muito difícil enfrentar uma epidemia de dengue
depois do seu inicio. O investimento deve ser feito para controlar o mosquito. É necessário realizar o
gerenciamento ambiental das cidades, identificando áreas de ocorrência do mosquito e eliminando
os locais onde pode haver recursos para o mosquito completar seu ciclo de vida.

Poluição do ar

Em locais fechados
A poluição de locais fechados por fumaça e outras partículas é um fator de risco para o desenvolvimento
de pneumonia e outras infecções agudas do trato respiratório. O uso de combustíveis sólidos, como
madeira ou carvão, em locais fechados expõe os indivíduos à fumaça e possíveis agentes de irritação.
Para o caso da poluição causada por combustíveis sólidos, é eficiente uma ação de mudar a fonte de
energia para alguma mais limpa.

19
UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS

Em locais abertos
Um quarto da população local global está exposto à concentração perigosa de poluição do ar. Esta
poluição do ar está mais concentrada perto das fontes de emissão, porém pode ser carreada pelo ar
para outros locais.

Muito desta poluição é gerada por veículos e em algumas cidades há paralisação de atividades em
caso de poluição muito grande. As medidas para enfrentar este tipo de poluição são o investimento
em transporte de massa, redução das emissões por grandes veículos, o uso de combustíveis mais
limpos, veículos com maior eficiência e monitoramento mais eficiente das emissões de veículos.

Os contaminantes do ar são o ozônio, o material particulado, o monóxido de carbono, o chumbo,


o dióxido de enxofre e o dióxido de nitrogênio. Muitos destes compostos estão relacionados com
doenças respiratórias, redução da capacidade de respiração, ataques de asma. A presença de chumbo
na gasolina em alguns países resultou em níveis de chumbo maiores no sangue.

A queima de florestas também representa risco aumentado para doenças respiratórias e a redução
da exposição aos agentes patogênicos resulta em menos risco para a saúde e tal redução pode ser
conseguida por meio do controle e redução de emissões de muitos dos contaminantes presentes na
atmosfera por meio de ações de planejamento e gestão ambiental.

Ozônio
O ozônio atmosférico protege o planeta bloqueando a entrada de raios ultravioleta danosos à saúde
dos seres vivos. O consumo de produtos, cujos gases alteram e destroem a camada de ozônio, foi
proibido, porém persiste o passivo ambiental dos produtos ainda em uso e daqueles que necessitam
ser reciclados.

Enquanto o ozônio atmosférico protege os seres vivos dos efeitos deletérios das radiações
ultravioletas, o ozônio gerado na litosfera pode resultar em problemas de saúde permanentes.

O ozônio aparece em aparelhos refrigeradores antigos e em ar-condicionado. A gestão adequada deste


tipo de resíduo pode reduzir os riscos da exposição de indivíduos ao ozônio e aos efeitos deletérios.

Produtos químicos perigosos

Chumbo
O chumbo é um dos metais pesados mais perigosos para a saúde humana. A eliminação do chumbo
dos combustíveis foi uma das ações mais efetivas em saúde pública, para evitar seus efeitos deletérios
à saúde.

Apesar de ter sido retirado dos combustíveis, o chumbo persiste em diversos outros produtos
e é responsável por danos permanentes ao cérebro. Crianças são mais suscetíveis aos danos à
saúde permanentes.

20
SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS │ UNIDADE ÚNICA

O uso de chumbo em baterias de carros, pinturas, remédios e cosméticos deve ser controlado ou
proibido para evitar a contaminação e a doença. Planos de Gerenciamento Ambiental de resíduos
podem promover a destinação adequada de resíduos contendo chumbo para aterros controlados ou
para reciclagem.

Mercúrio
O mercúrio também é um elemento químico que pode promover contaminação e danos permanentes
ao cérebro de seres humanos, afetando sua capacidade produtiva e sua qualidade de vida.

O mercúrio está presente em termômetros e pode estar, também, disponível em alimentos à base de
peixe que sofreu contaminação por bioacumulação do composto em seus órgãos internos.

Como no caso do chumbo, é necessário um sistema eficiente de gestão de resíduos perigosos, o


comprometimento do órgão regulador no controle deste tipo de substância e do empreendedor para
evitar a contaminação por mercúrio.

Pesticidas
O uso de pesticidas tem levantado preocupação quanto à contaminação de alimentos e possíveis
efeitos deletérios sobre os ecossistemas. Os pesticidas podem acumular-se no ar, na água, no solo e
contaminar as águas utilizadas para abastecimento humano.

Os pesticidas devem ser deixados fora do alcance de quem não sabe manuseá-los e apresentar
rótulos explícitos quanto ao seu risco. Os produtos alimentícios, com risco de terem sido borrifados
com pesticidas, devem ser lavados antes do consumo, para evitar a contaminação e a acumulação
do pesticida no organismo.

O desenvolvimento de técnicas de produção e consumo de alimentos sem agrotóxicos colocou no


mercado diversos produtos que possuem pouco ou nenhum traço de agrotóxicos e podem representar
uma pequena revolução na produção de alimentos.

Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs)


Os poluentes orgânicos persistentes são produtos que tem uma vida útil muito alta e que seu
processo de degradação é muito lento. Estes POPs são tão persistentes que podem viajar longas
distâncias pelo ar, pela água, pelos seres vivos e são encontrados em áreas onde jamais foram usados
ou produzidos.

Concentram-se em tecido adiposo e bioacumulam-se em cadeias alimentares, acumulando-se no


indivíduo no topo da cadeia alimentar.

A Convenção de Estocolmo em Poluentes Orgânicos Persistentes foi assinada em 2001 e entrou em


ação em 2004, visando eliminar ou reduzir as emissões de POPs para o ambiente.

21
UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS

Para enfrentar o problema, é necessário identificar possíveis pontos de produção e consumo de POPs
e promover sistemas de gerenciamento ambiental para reduzir o risco de contato de populações de
seres vivos com os produtos.

A principal medida é a eliminação deste tipo de composto, tendo em vista que seu potencial de
contaminação e bioacumulação é muito alto e que os efeitos danosos de sua existência persistem no
ambiente e nas cadeias alimentares durante muito tempo.

Produtos de limpeza domésticos


A indústria química desenvolve milhares de compostos químicos anualmente e os coloca no mercado
de acordo com testes disponíveis para identificar riscos já conhecidos. No entanto, cerca de 20.000
crianças morrem por ano por causa de envenenamento e centenas de milhares ingerem produtos
venenosos com alto potencial de contaminação.

Também, neste caso, o ideal seria o desenvolvimento de produtos com menos potencial de
contaminação de seres humanos, caso ingeridos. A educação e a informação são cruciais, ao lado do
cuidado com as crianças, para reduzir os riscos de ingestão de produtos químicos danosos à saúde.

As informações que constam das etiquetas dos produtos também devem ser chamativas e protegidas
da manipulação de crianças. Mais testes rigorosos devem ser aplicados aos produtos químicos, para
que somente os produtos mais seguros sejam utilizados.

Emergências ambientais
As emergências ambientais representam desafios adicionais à saúde e ao gerenciamento de crises,
tenham elas origem natural, tecnológica ou deliberada: pode ocorrer em tais situações a exposição
a produtos tóxicos, doenças, dejetos, água contaminada e traumas psicológicos.

As grandes tragédias naturais ou causadas pela falta de gerenciamento adequado de cidades são
responsáveis pela morte de centenas de milhares de pessoas.

As tragédias anuais que aconteceram recentemente no Rio de Janeiro, por causa das chuvas
intensas são exemplos da ausência de gerenciamento de riscos e ausência de planos de
contingência em caso de desastres e mesmo a ausência de planejamento da ocupação de espaços
para assentamentos humanos.

Estas tragédias causam milhares de mortes, perda de propriedades e perda de produtividade


econômica, que poderiam ser evitadas pelo planejamento da ocupação do solo e pela dotação de
infraestrutura adequada aos assentamentos humanos.

Barulho excessivo
Apesar de ainda não ser percebido como fator de risco para a saúde como no Brasil, o barulho
excessivo pode influenciar a saúde mental em termos de hiperatividade e afetar as respostas ao
estresse e o sentimento de bem estar.

22
SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS │ UNIDADE ÚNICA

A exposição a níveis moderados de barulho pode causar estresse psicológico, inabilidade para
concentrar-se e sintomas como dor de cabeça, cansaço e irritabilidade, dependendo da natureza
do som.

A informação, educação, políticas de transporte público e de redução de tráfego podem contribuir


para um ambiente mais saudável.

23
CAPÍTULO 4
Ambiente, Saúde e Segurança

Neste tópico será tratado a saúde e segurança no ambiente do trabalho e se refere às condições
que levam à redução dos riscos e ao aumento da produtividade dos colaboradores. Esta redução de
riscos é precedida por uma adequada avaliação integrada dos aspectos, que podem gerar riscos de
perda para a instituição, empresa ou comunidade e reduzir tais riscos, por meio da gestão integrada
de saúde e segurança no trabalho.

Para gerir adequadamente um sistema deste porte, é necessário que os seguintes passos sejam
seguidos.

1. Identificação dos impactos referentes ao local, à atividade específica desempenhada


pelos trabalhadores em seu local de trabalho, ao produto, ao layout das estações de
trabalho e ao planejamento das atividades potencialmente arriscadas.

2. Treinamento de profissionais para analisar e gerir os impactos e riscos ambientais,


incluindo a preparação de projetos, planos e procedimentos que incorporem
as diferentes recomendações técnicas, emitidas por autoridades legais e
regulamentadoras das atividades produtivas.

3. Quantificação dos riscos da gestão de ambiente, saúde e segurança no trabalho


baseado na natureza das atividades, nas consequências potenciais sobre os
trabalhadores, comunidades ou ambiente.

4. Priorização das estratégias de gestão de riscos, com o objetivo de obter uma


redução efetiva das ameaças à saúde humana, com foco na prevenção de impactos
irreversíveis ou significantes.

5. Eliminação da causa das ameaças na fonte, pela análise da adequabilidade da


adoção de determinados materiais no processo produtivo.

6. Incorporação de soluções técnicas ou gerenciais para reduzir ou minimizar a


possibilidade e magnitude de consequências indesejáveis.

7. Preparação de trabalhadores e a comunidade para responder a acidentes, incluindo


a disponibilização de recursos técnicos e financeiros para controle de eventos
críticos, incluindo a recuperação do ambiente para condições seguras.

8. Melhoria do desempenho ambiental e de saúde e segurança no trabalho com o


monitoramento efetivo da gestão de saúde e segurança.

Passo no 1 – Análise de impactos


da atividade sobre o meio ambiente
Identificação dos impactos referentes ao local, a atividade específica desempenhada pelos trabalhadores
em seu local de trabalho, ao produto, ao leiaute das estações de trabalho e ao planejamento das
atividades potencialmente arriscadas.

24
SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS │ UNIDADE ÚNICA

As exigências de saúde e segurança no trabalho e da gestão de resíduos dependem diretamente da


atividade produtiva realizada. O trabalho em um hospital tem exigências diferentes do trabalho em
uma usina siderúrgica.

O primeiro passo para identificar as necessidades de saúde e segurança no trabalho é o levantamento


de informações de como o processo produtivo afeta o ambiente, as informações sobre a geração de
resíduos e as possibilidades de redução de impacto sobre o ambiente, por meio de ações gerenciais
e soluções técnicas adequadas a cada tipo de atividade.

As atividades econômicas são classificadas no Ministério do Trabalho e Emprego de acordo com


a exposição ao risco. Esta exposição gerou as normas regulamentadoras, cuja função principal é
determinar as regras aplicáveis às atividades econômicas e produtivas, visando resguardar a saúde e
segurança do trabalhador.

É essencial que o empreendedor conheça as regras aplicáveis à sua atividade, pois a gestão inadequada
dos aspectos relacionados à saúde e segurança no trabalho pode resultar em perdas econômicas por
multas, sanções ou até cancelamento da autorização de funcionamento.

Vale ressaltar que a gestão de resíduos é essencial para que haja conformidade com as legislações
relativas à qualidade ambiental, tais como as resoluções do CONAMA, ou à Política Nacional de
Resíduos Sólidos.

A identificação dos impactos e riscos é apenas o primeiro passo para a implantação de um sistema
de gestão de saúde e segurança.

Política Nacional de Meio Ambiente – Lei no 6.938/1981.

Política Nacional de Resíduos Sólidos – Lei no 12.305/2009.

Resoluções do CONAMA.

Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho.

Passo no 2 – Treinamento de profissionais para


analisar e gerir os impactos e riscos ambientais
A era da informação, como se convenciona denominar o atual estágio das atividades produtivas,
exige trabalhadores cada vez mais qualificados, especializados e treinados para desempenhar suas
atividades com o máximo de eficiência.

Para gerenciar um posto de saúde, um hospital ou uma padaria, é necessário estabelecer quais são
os responsáveis pela gestão de resíduos gerados pela atividade, identificando os pontos de entrada
e saída de materiais e qual a eficiência na transformação destes materiais em retorno econômico e
quanto de resíduos estão sendo gerados, impactando a sociedade.

25
UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS

O profissional treinado para gerir os aspectos relacionados ao ambiente deve fazer o controle dos
materiais de saída e propor alternativas para o aumento da eficiência produtiva.

Várias metodologias podem ser utilizadas para controle destas saídas, desde a elaboração de
planilhas de controle do consumo de materiais até o monitoramento da geração e destinação dos
resíduos da atividade.

Um hospital deve controlar a saída e a correta destinação dos seus resíduos, em função do potencial
de risco à saúde humana que tais materiais podem representar. A destinação de resíduo hospitalar
é regulada pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, bem como das resoluções específicas do
CONAMA e Ministério do Trabalho e Emprego com relação aos critérios para descarte e destinação
do material utilizado.

Informações sobre o tema: <http://www.saude.df.gov.br/003/00301009.asp?ttCD_


CHAVE=30754#>.

Passo no 3 – Quantificação dos riscos da


gestão de ambiente, saúde e segurança no
trabalho, baseado na natureza das atividades,
nas consequências potenciais sobre os
trabalhadores, comunidades ou ambiente
A gestão de ambiente, saúde e segurança depende da atividade da empresa, do porte, do local onde
ela está inserida, dos resíduos gerados no processo produtivo, dos insumos necessários para a
geração de retorno econômico e das relações desta com os diversos públicos de relacionamento que
compõem a teia de relacionamentos locais.

A quantificação dos riscos baseia-se na possibilidade de realizar um controle mais rigoroso


dos potenciais impactos da sua atividade produtiva sobre o ambiente e sobre os diferentes
públicos de relacionamento, aí incluídos os trabalhadores, fornecedores, clientes, governos
e concorrentes.

A identificação dos resíduos gerados é necessária para que sejam traçadas estratégias para gerir
este impacto. A gestão deste impacto representa necessidades de investimento em treinamento,
equipamentos e tratamento que devem estar incorporados desde os primeiros estágios do
estabelecimento das empresas.

Para empreendimentos relacionados no anexo I da Resolução CONAMA no 237/1997, há necessidade


de levantamento dos impactos ambientais e a elaboração de planos para compensar, mitigar ou
evitar impactos ambientais e sociais sobre o ambiente.

Em empreendimentos de grande porte, em geral relacionados à infraestrutura, exige-se, além do que


é necessário para assegurar a conformidade ambiental, social e econômica de empreendimentos,
um complexo sistema de gestão de saúde e segurança no trabalho.

26
SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS │ UNIDADE ÚNICA

Passo no 4 – Priorização das estratégias de


gestão de riscos com o objetivo de obter
uma redução efetiva das ameaças à
saúde humana, com foco na prevenção de
impactos irreversíveis ou significantes
Uma vez identificados os riscos da implantação de um projeto, há necessidade de hierarquizá-
los de acordo com o seu potencial de impacto. Aspectos relevantes de análise de impactos para
categorização são descritos no quadro a seguir:

Classificação Tipo

Benéficos ou prejudiciais.
Planejados ou acidentais.
Em relação aos impactos
Diretos ou indiretos.
Cumulativos ou simples.

Reversíveis ou irreversíveis.
Em relação ao tempo de duração Curto ou longo prazo.
Temporários ou contínuos.

Local.
Regional.
Em relação à área de abrangência
Nacional.
Internacional.

Em relação ao potencial de mitigação Mitigação ou não mitigação.

Gravidade.
Em relação a acidentes
Probabilidade.

Após identificar os impactos ambientais, há necessidade de hierarquizá-los para definir prioridades.


Parte-se do pressuposto que o planejamento de qualquer empreendimento deve identificar os
impactos positivos e negativos para conhecer os efeitos positivos sob a área de implantação e os
efeitos negativos que podem gerar necessidade de mitigação de impactos.

A geração de resíduos, dependendo da sua natureza, pode criar a necessidade de investimento


em treinamento e equipamento de saúde e segurança e em sistemas específicos de tratamento
de resíduos.

Vale ressaltar que a questão da gestão inadequada de resíduos e materiais inservíveis foi responsável
pelos impactos extremamente negativos causados pela abertura de cápsula com Césio 137, em
Goiânia, que vitimou muitas pessoas.

Se o empreendimento de onde saiu a cápsula tivesse um sistema de gerenciamento em saúde e


segurança combinado com um sistema de gestão ambiental, que houvesse identificado os riscos
associados às atividades da clínica, o problema não teria ocorrido.

27
UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS

Passo no 5 – Eliminação da causa das ameaças


na fonte, pela análise da adequabilidade
da adoção de determinados materiais no
processo produtivo
Uma vez identificados os riscos potenciais que podem ser causados pelos impactos da produção de
resíduos, há necessidade de desenvolver mecanismos de gestão para eliminá-los ou reduzi-los.

O investimento em treinamento, equipamento e medidas gerenciais de controle de resíduos


possibilita ao empreendimento quantificar, qualificar e gerar melhores planos de gerenciamento e
planos de contingência.

A gestão de resíduos demonstra para o gestor as possibilidades de melhoria em processos produtivos,


possibilidades para redução de desperdícios e necessidades de investimento. Convém lembrar que
o gerenciamento de resíduos exige treinamento de equipes, investimento em equipamentos de
proteção individual e acompanhamento da geração dos resíduos.

Passo no 6 – Incorporação de soluções


técnicas ou gerenciais para reduzir ou
minimizar a possibilidade e magnitude de
consequências indesejáveis
Seguindo os passos de um processo de planejamento, a partir da identificação dos aspectos ambientais
e das entradas e saídas de material e as necessidades de destinação de resíduos, o gestor deve identificar
as alternativas técnicas e gerenciais aplicáveis à sua situação e ordenar os investimentos em termos
de prioridade, reduzindo o impacto ambiental do seu empreendimento, por meio de medidas com
a finalidade de evitar o impacto, reduzir o consumo, mitigar os efeitos negativos ou compensar os
impactos irreversíveis.

Passo no 7 – Preparação de trabalhadores e


a comunidade para responder a acidentes,
incluindo a disponibilização de recursos
técnicos e financeiros para controle de
eventos críticos, incluindo a recuperação do
ambiente para condições seguras
Qualquer empreendimento existe em relação com a comunidade que o circunda. Não é raro que
acidentes em empreendimentos afetem toda a comunidade e comprometa a capacidade destas
comunidades em gerar seus próprios processos econômicos.

Exemplos da interação entre empreendimento e comunidade estão descritos a seguir:

Abertura da cápsula de Césio 137, em Goiânia, foi causada pela gestão inadequada de riscos
ambientais referentes ao equipamento e à sua desmontagem, bem como da fiscalização inadequada

28
SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS │ UNIDADE ÚNICA

pelo estado e pela ormação insuficiente dos gestores do empreendimento. Após o acidente, diminuiu
a quantidade de pessoas que visitavam a cidade, impactando na capacidade de gerar processos
econômicos para ela.

O vazamento de petróleo no Golfo do México comprometeu a capacidade das comunidades que


viviam da pesca no golfo. Planos de contingência e treinamento de trabalhadores e de habitantes
das comunidades próximas para emergências são necessários para reduzir os riscos de exposição a
agentes ambientais perigosos que possam comprometer os processos econômicos e sociais locais.

O vazamento de resíduos tóxicos no rio Danúbio, na Hungria, afetou as atividades do


empreendimento, bem como a economia local e a saúde dos habitantes. A ausência de controles
da regularidade ambiental pelo estado, de planos de gestão ambiental pela empresa, de planos de
contingência para catástrofes e de treinamento dos trabalhadores foram determinantes para que o
impacto social e ambiental do desastre tenha sido muito maior.

A disponibilização de recursos técnicos e financeiros para controle de eventos críticos refere-se


ao investimento da empresa em equipamentos e treinamento, visando reduzir a possibilidade de
acidentes com funcionários e com a comunidade.

A comunicação do empreendimento com as comunidades e trabalhadores também é necessária


para que a informação sobre os riscos seja devidamente difundida. A consciência dos riscos deve
resultar em planos de contingência, com o objetivo de reduzir impactos em caso de acidentes.

Após o acidente, o empreendimento deverá recuperar o ambiente danificado, o que poderá impactar
grandemente a sua capacidade de gerar recursos e pode resultar em fechamento da empresa. Por isso
,entende-se que o investimento em sistemas de gestão de risco ambiental e social, o treinamento de
funcionários e a comunicação com a comunidade pode reduzir os custos que seriam muito maiores
da recuperação de áreas sujeitas a desastres.

Passo no 8 – Melhoria do desempenho


ambiental e de saúde e segurança no trabalho
com o monitoramento efetivo da gestão de
saúde e segurança
Não há gestão ambiental efetiva sem o monitoramento de dados sobre o consumo de material e da
geração e destinação adequada de resíduos produzidos nos processos produtivos.

A partir da informação levantada sobre os aspectos relevantes da gestão de resíduos é possível


construir planos elaborados de gestão com a premissa da melhoria constante do desempenho
ambiental da instituição gerida.

Explique como a implementação de um sistema de gestão ambiental em uma


instituição poderia resolver a questão do lixo hospitalar, lançado a céu aberto, citada
na parte um do texto. Elabore um plano de ação para mitigar os impactos ambientais
dos resíduos gerados em um posto de saúde. Considere a planilha disponível no
anexo I desta apostila.

29
CAPÍTULO 5
Resíduos e Meio Ambiente

As relações dos seres humanos com o meio ambiente são relações de coevolução3 e adaptação,
mediadas pela modificação das condições físicas, químicas, biológicas, sociais, culturais e
econômicas. O controle das condições ambientais é necessário para que não ocorram eventos
extremos que impossibilitem a manutenção da vida em determinados ambientes.

Dividiremos o estudo dos impactos em relação ao meio onde eles ocorrem: serão apresentados os
impactos sobre a água, o ar e os solos.

Água
A água compõe 60% do peso humano, chegando a 98% em alguns seres aquáticos. Ela é indispensável
em quantidade e qualidade adequadas para a manutenção dos processos metabólicos vitais para os
seres vivos.

O consumo de água nos processos econômicos concentra-se na área agropecuária, onde se consome
cerca de 70% do total. 22% do total são consumidos na indústria e 8% no consumo doméstico,
conforme mostra a figura a seguir:

Figura 2: Utilização da água no mundo.

Usos da água no mundo

Agricultura
Indústria
Uso doméstico
WORLD BANK - 2001

A agricultura e a pecuária são processos fundamentais para a sobrevivência humana. É necessário


agir de forma a aumentar a eficiência no uso de recursos hídricos nas cadeias produtivas para
diminuir o risco de escassez e de comprometimento da disponibilidade destes recursos.

3 Coevolução – Processo de evolução de espécies em consonância com as condições do ambiente onde existem.

30
SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS │ UNIDADE ÚNICA

A indústria consome 22% do total e descarta grande parte de seus efluentes em corpos d’água
com alto potencial de contaminação. Para reduzir os riscos de contaminação de recursos hídricos,
há necessidade de sistemas eficientes de tratamento de efluentes que levem em consideração as
especificidades de cada setor e da composição química destes efluentes.

O uso doméstico, apesar de uma porcentagem pequena em relação ao total, tem alto potencial
de contaminação, caso seja lançado sem tratamento nos cursos d’água. O aumento do tamanho
de assentamentos humanos tem sido responsável por quantidades crescentes de efluentes sendo
captados pelas redes de esgotamento sanitário e pelas necessidades crescentes de investimento em
tratamento destes efluentes.

A água é abundante no planeta, apesar da distribuição não uniforme. É reciclada pelo ciclo hidrológico
de evaporação e precipitação, com processos de infiltração e percolação e evapotranspiração4 em
plantas. A água precipitada também escoa pelos rios. A poluição deste recurso ocorre quando há
alteração das condições físicas, químicas ou biológicas de forma negativa, prejudicando os usos
deste recurso.

A gestão adequada das bacias hidrográficas é a base de qualquer política que vise o uso múltiplo
das águas. Para assegurar a manutenção da qualidade dos recursos hídricos é necessário que haja o
estudo integrado das bacias, levando em consideração as necessidades de todos os seus usuários e o
diagnóstico adequado da situação destes recursos.

Figura 3: Ciclo Hidrológico.

A água tem diversos usos, tanto para as necessidades humanas quanto para a preservação da vida,
e as alterações na sua qualidade podem impactar de forma irreversível os processos que asseguram
a vida no abastecimento público, para atividades industriais, agropastoris, preservação da fauna e
flora aquática, recreação, geração de energia elétrica, navegação, diluição e transporte de efluentes.

O uso da água para abastecimento público necessita de qualidade adequada, pois se refere ao uso da
água para consumo humano, para higiene pessoal, limpeza de utensílios, lavagem de roupas, pisos
e banheiros, cozimento de alimentos, irrigação de jardins e combate a incêndios.

A melhor prática de manutenção da qualidade necessária para o abastecimento público é a


captação centralizada por central de tratamento, que realiza a captação, o tratamento, a reserva e

4 Processo de perda d’água das plantas por meio de transpiração

31
UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS

a distribuição, sendo operada por órgão da administração municipal ou concessionária de águas


e esgotos.

O abastecimento industrial é o uso da água pela indústria para manter seus processos produtivos.
Esta utilização depende dos volumes envolvidos na produção e do setor de atividade.

As atividades agropecuárias são intensivas em uso de água. Corresponde a 70% do total de água
consumido no planeta. O recurso é utilizado para a dessedentação5 de animais e para a irrigação. A
água utilizada nestes processos não retorna em qualidade igual aos corpos d’água, mas em qualidade
inferior, com solo, resíduos de fertilizantes e agrotóxicos.

A preservação da fauna e flora é necessária para manter e proteger a biodiversidade. É um tema


relevante e transcende a questão econômica para chegar à necessidade de preservar outras espécies
e os serviços ecossistêmicos propiciados pelo ambiente. A contaminação de cursos d’água pode
causar eliminação de espécies, cuja vida depende de condições adequadas sob o ponto de vista
físico-químico-biológico da água.

O uso para recreação refere-se à prática de esportes ou atividades em águas, seja em rios, lagos ou
oceanos. A presença de microorganismos patogênicos pode causar a transmissão de doenças de
veiculação hídrica e a identificação deste tipo de contaminantes enseja o planejamento de iniciativas
que reduzam a quantidade destes organismos patogênicos.

A geração de energia elétrica também necessita de água com qualidade, pois água com contaminantes
físicos, químicos ou biológicos podem reduzir a vida útil das usinas hidrelétricas. Vale ressaltar que
a implementação de empreendimentos de usinas hidrelétricas provoca alteração nos ecossistemas
locais, com alteração da distribuição de espécies e das relações ecossistêmicas entre elas, podendo
causar inclusive a extinção de espécies chave para os ecossistemas.

A navegação também é um tópico importante para o uso múltiplo dos recursos hídricos. Boa parte
da produção econômica europeia e norte-americana é escoada por rios até chegar ao mar, em virtude
dos custos, que pode chegar a até um terço do valor do transporte por rodovias.

A diluição e o transporte de efluentes também é um dos usos de recursos hídricos. Grande parte das
águas é utilizada para receber os efluentes das atividades humanas e, portanto, a gestão integrada
de recursos hídricos é fundamental para manter e melhorar a qualidade destes recursos.

A Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei n0 9.433/1997) estabelece as diretrizes para a gestão
de recursos hídricos e as necessidades de assegurar que padrões de qualidade e quantidade mínimos
sejam assegurados pelos gestores e usuários destes recursos, com vistas a permitir os usos múltiplos
a que se refere esta lei.

É definitivamente importante que a gestão de impactos ambientais tenha por base o que estabelece a
legislação e no caso específico da água que o gestor conheça e aplique a legislação e os regulamentos
de forma adequada.

5 Dessedentação – disponibilização de água como insumo produtivo para manutenção do crescimento de animais

32
SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS │ UNIDADE ÚNICA

Fontes de poluição
A poluição das águas pode ocorrer de forma natural, por esgotos domésticos, efluentes industriais
ou drenagem de áreas agrícolas ou urbanas, com efeitos para cada um dos múltiplos usos.

Cada fonte de poluição depende do padrão de uso e ocupação do solo e dos usos predominantes que
os recursos hídricos têm, de acordo com a região ou atividade econômica predominante.

A poluição natural ocorre com o arraste de partículas orgânicas e inorgânicas do solo, de resíduos
de animais silvestres e de folhas e galhos de árvores e vegetação, bem como pelo solo carreado pelas
águas superficiais ou subterrâneas, causando aumento da carga orgânica, porém ainda não é crítica,
pois considera-se dentro dos padrões ecológicos de ciclagem de nutrientes e a água é passível de uso
após tratamento simples, conforme mostra a figura 4.

Figura 4: Rio com mata ciliar preservada e ciclagem de nutrientes naturais.

A poluição por esgotos domésticos altera as características físico-química-biológicas da água, sendo


que a intensidade de alteração dependerá do tratamento que o esgoto doméstico recebe, assim como
as qualidades do corpo receptor do esgoto e do tamanho dos assentamentos humanos.

Quanto maior o assentamento humano, maior o potencial de contaminação dos recursos hídricos
pela poluição doméstica e maior a necessidade de investimento público ou privado em sistemas
que garantam a qualidade dos recursos hídricos, conforme mostra a figura 5.

Figura 5: Poluição por efluentes domésticos.

33
UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS

Os contaminantes que demandam preocupação são aqueles relacionados com o aumento da matéria
orgânica, microorganismos patogênicos e concentrações de fósforo e nitrogênio. A ausência de
sistemas de coleta e tratamento de esgotos é responsável por problemas diversos nos corpos d’água
de diversas cidades brasileiras.

A poluição por efluentes industriais é muito diversificada, dependendo da natureza da indústria,


pode conter matéria orgânica em altas concentrações – como no caso de frigoríficos –, sólidos
em suspensão, metais pesados, compostos tóxicos, microorganismos patogênicos e substâncias
teratogênicas, mutagênicas e cancerígenas.

Também é necessário, num sistema adequado de gestão ambiental, caracterizar os efluentes de acordo
com a atividade e buscar alternativas tecnológicas para reduzir o potencial de poluição destes efluentes.

Figura 6: Lançamento de efluentes industriais na água.

A poluição produzida por drenagens de áreas agrícolas e urbanas são aquelas que se depositam na
superfície e são carregadas pelas chuvas, acumulando os materiais em valas e bueiros e são carreados
para os corpos d’água pelas galerias de águas pluviais ou, no caso de áreas agrícolas, podem causar
carreamento de material de processos erosivos, comprometendo os rios que recebem o impacto.

O desmatamento de matas ciliares ocasiona a diminuição da proteção do solo e o aumento do


carreamento de material para os corpos d’água. Este fenômeno chama-se assoreamento e a ausência
da gestão dos solos vem ocasionando a perda de qualidade e quantidade de água para processos
produtivos que dela dependem, conforme mostra a figura 7.

Figura 7: Assoreamento de rio.

34
SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS │ UNIDADE ÚNICA

Os efeitos na constituição destas águas pelos diferentes tipos de poluição podem ser tratáveis
dependendo da natureza, da persistência, ou do potencial de contaminação.

Os efeitos da poluição sobre o abastecimento público são a contaminação microbiológica, as


variações rápidas e imprevisíveis na qualidade das águas do manancial, a presença de produtos
químicos orgânicos e inorgânicos que causam alterações nas características físico-química-
biológicas nos recursos hídricos ou o encarecimento do tratamento da água, uma vez que quanto
mais poluída maior o custo de recuperação da água.

Para o abastecimento industrial, há a possibilidade de limitar o uso da água em função da sua


qualidade e a presença de substâncias químicas pode causar acidentes diversos nos processos
produtivos.

A indústria da pesca pode ser afetada em virtude do comprometimento dos ecossistemas que dão
suporte à produção pesqueira ou pela contaminação dos peixes com os contaminantes advindos dos
recursos hídricos não gerenciados de forma integrada. A navegação pode ser comprometida pela
presença de carga orgânica alta, elevada concentração de produtos químicos ou do assoreamento de
cursos d’água. A recreação pode ser comprometida pela contaminação por patógenos e prejudicar a
possibilidade de realização de atividades recreativas no local.

Para combater a poluição das águas, são necessárias medidas para mitigar ou diminuir o aporte
de poluentes e assegurar patamares de qualidade apropriados para os usos identificados dos
recursos hídricos.

Os métodos para tratamento dependem fundamentalmente das características locais, dos processos
econômicos regionais, da disponibilidade de tecnologias apropriadas para tratar os efluentes e da
disponibilidade de recursos para investimento nos sistemas de tratamento.

É importante ressaltar que a qualidade inadequada de recursos hídricos causa problemas de saúde
na população que impactam diretamente o desenvolvimento de atividades produtivas, muitas vezes
de forma definitiva, no município, estado ou país.

A gestão em saúde e segurança específica para o setor público ou privado é fundamental para que
haja a manutenção da produtividade e a qualidade dos recursos hídricos pode ser um fator limitante
para as atividades produtivas.

Relacione a gestão de recursos hídricos e a qualidade da água com base nos


objetivos da Lei no 9433/97. Comente como a consideração da água como recurso
dotado de valor econômico pode contribuir para a gestão adequada de efluentes.

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9433.htm>.

Ar
A poluição do ar está associada a diversos tipos de enfermidades humanas, bem como à deterioração
das condições de vida. A partir da revolução industrial, o uso cada vez maior de combustíveis

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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS

fósseis tem contribuído tanto para o crescimento econômico quanto para o fenômeno das
mudanças climáticas.

Figura 8: Cidade submetida à poluição do ar.

A atmosfera possui capacidade finita de assimilação e as medições das concentrações de


substâncias demonstram que há acúmulo de gases cujo efeito maior será a alteração das condições
físico-química-biológicas de diversos ecossistemas, incluindo os ecossistemas humanos.

O movimento de poluentes na atmosfera é influenciado pelas condições meteorológicas, pela


turbulência causada pelo vento e pela turbulência térmica, bem como pela topografia dos terrenos,
causando diferentes impactos dependendo das condições naturais que ocorrem localmente
ou regionalmente.

Os poluentes atmosféricos são quaisquer formas de matéria sólida, líquida ou gasosa e de energia
que pode torná-la poluída e podem ser divididas em materiais particulados ou gases e vapores.

O material particulado são partículas sólidas ou líquidas emitidas por fontes de poluição do ar e
podem ser classificadas como poeiras, fumos, fumaça ou névoas. As poeiras têm por fonte o cimento,
o amianto, o algodão e a sujeira da rua. Os fumos originam-se da queima de chumbo, alumínio,
zinco ou cloreto de amônia. A fumaça origina-se da queima de combustíveis fósseis, biomassa e
outros materiais combustíveis e a névoa refere-se às partículas líquidas em suspensão.

Figura 9: Poluição causada por veículos.

36
SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS │ UNIDADE ÚNICA

Cada um destes componentes tem uma dinâmica própria quando inalados e podem causar danos
irreversíveis à saúde humana, desde inflamações do trato respiratório até a morte por intoxicação.

Os gases e vapores são poluentes na forma molecular e são classificados em poluentes primários e
secundários. Os primários são poluentes per se, não necessitando de outras combinações químicas
para serem nocivos. Os secundários são formados por reações químicas ou fotoquímicas entre
componentes atmosféricos, resultado em elementos nocivos à saúde.

Qualquer processo, equipamento, sistema, máquina ou empreendimento que possa liberar ou emitir
matéria ou energia que polua a atmosfera pode ser considerada fonte de poluição e são classificadas
em fixas ou móveis, naturais ou antrópicas6.

As naturais são originadas de erupções vulcânicas, decomposição de vegetais e animais, ação do


vento, ação biológica de microorganismos, formação de metano, descargas elétricas na atmosfera,
incêndios florestais naturais e são muito significativas quando comparadas com as antropogênicas.

As fontes antropogênicas referem-se às emissões oriundas de atividades econômicas humanas.


Constituem tais fontes os processos industriais, a queima de combustível na indústria, os modais
de transporte, o aquecimento e cozimento de alimentos, as queimadas de florestas provocadas, a
queima de lixo, a movimentação de veículos, as poeiras de demolições, dentre outros.

Os veículos são a principal fonte de emissão de poluentes para a atmosfera em centros urbanos.
Grandes aglomerados urbanos com frotas significativas de veículos tem adotado estratégias para
redução de emissões potencialmente danosas à saúde humana, tal como o rodízio de veículos em
São Paulo.

Os veículos movidos a álcool e gasolina são emissores de monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio
e hidrocarbonetos, enquanto aqueles movidos a diesel emitem óxidos de enxofre, óxidos de
nitrogênio e material particulado.

A introdução de tecnologia nos veículos tem sido responsável pela redução do volume de emissões
de veículos, sendo que padrões de emissões cada vez mais restritos têm sido adotados no Brasil,
tendo em vista a necessidade de reduzir os impactos da poluição do ar sobre os ecossistemas e
as pessoas.

Os efeitos da poluição do ar podem ocorrer em nível local, regional, nacional ou global e manifestam-se
na saúde, no bem-estar da população, nas alterações na vegetação e na fauna, no desgaste de materiais
e na deterioração da qualidade da atmosfera, na redução da visibilidade, alteração da acidez das águas
da chuva (chuva ácida), no aumento da temperatura da Terra (potencial de aquecimento global), na
modificação da intensidade da radiação solar (destruição da camada de ozônio).

Os problemas da poluição do ar com relação à saúde humana são fartamente documentados e


encontrados em publicações científicas. Os problemas oftalmológicos, doenças dermatológicas,
gastrointestinais, cardiovasculares, pulmonares e alguns tipos de câncer estão ligados à deterioração
da qualidade ambiental.

6 Fontes antrópicas ou antropogênicas de poluição são aquelas que se originam dos processos econômicos humanos.

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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS

Além disso, as alterações das condições dos ecossistemas afetam a distribuição de espécies de
determinados biomas e podem causar o aumento descontrolado de doenças transmitidas por
vetores que em condições naturais estariam sujeito a controle biológico.

Os efeitos da poluição do ar sobre os materiais estão ligados à deposição de partículas, a corrosão


de partes metálicas, ao ataque aos materiais de construção não metálicos, dentre outros que
comprometem o patrimônio e a infraestrutura das edificações, podendo também causar danos
irreversíveis em patrimônio histórico, cultural e artístico.

Os danos globais causados pela poluição são objeto de diversos tratados internacionais. Como
exemplo, tem-se a diminuição da camada de ozônio causada pela emissão de Clorofluorcarbono
(CFC’s), que destrói o ozônio e libera a passagem de raios ultravioletas que podem causar catarata e
doenças de pele, bem como efeitos negativos à vegetação, à agricultura, reduz a fotossíntese.

Outro dano global são as mudanças climáticas, causada pela intensificação dos efeitos da emissão de
Gases de Efeito Estufa. Os gases de efeito estufa são emitidos em virtude das atividades econômicas
humanas, baseadas em consumo de combustíveis fósseis para produção de energia.

As mudanças climáticas elevam o risco de perdas econômicas, distúrbios sociais, desabastecimento


e deterioração das condições de vida. Este risco já qualifica a questão como uma das mais sensíveis
a serem resolvidas nos próximos anos sob o ponto de vista ambiental.

Os maiores emissores globais de Gases de Efeito Estufa são a China, os EUA e a União Europeia,
nesta ordem. Esforços têm sido despendidos para gerar iniciativas globais de redução das emissões
por meio do investimento em tecnologias e energias limpas, como o esforço político em atribuir
metas para a redução de emissões.

Tais metas dependem fundamentalmente de negociações políticas entre múltiplos atores, cada qual
defendendo suas partes interessadas internas face às pressões globais para redução de emissões, o
que dificulta a construção de consensos.

Há consenso, no entanto, de que se deve investir mais em adaptação, tendo em vista que o consumo
continua a aumentar nos mais diversos países, há crescimento populacional e que o sistema econômico
tende a crescer continuamente para satisfazer as necessidades de consumo destas populações.

Apesar das negociações anuais, os esforços para a concretização de limites para emissões em
países desenvolvidos não tem sido efetivos e estima-se que a evolução da questão atribua limites,
também, para os países em desenvolvimento, com o investimento em transferências de tecnologia
de produção, visando reduzir as emissões provenientes de seus processos produtivos.

O Brasil contribui com parte das emissões globais devido principalmente às queimadas
de florestas. Há diversas iniciativas brasileiras que visam reduzir emissões causadas pelas
queimadas, entre elas destacam-se o Plano Nacional de Mudanças Climáticas, o Plano de Ação
para Produção e Consumo Sustentáveis.

A Chuva Ácida origina-se da emissão de óxidos de enxofre e nitrogênio e a posterior reação química
com as águas atmosféricas, que formam ácidos que alteram o pH das chuvas. O pH ácido das chuvas

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SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS │ UNIDADE ÚNICA

compromete processos metabólicos e ecossistêmicos e podem causar a morte de florestas e da


distribuição de espécies em corpos d’água, comprometendo muitas vezes a capacidade das populações
em manter processos econômicos e sociais e de manutenção da própria qualidade de vida.

Tendo em vista os diversos impactos que a contaminação do ar causa para a saúde e o ambiente
foram desenvolvidas estratégias para prevenção e controle da poluição do ar. A prevenção significa
evitar a geração de poluentes por meio de processos industriais e combustíveis menos poluentes,
redução de consumo de produtos poluidores e de energia. O controle significa mitigar os efeitos das
emissões de poluentes para a atmosfera.

A prevenção e controle da poluição do ar envolvem a identificação dos poluentes e dos impactos


referentes e do investimento em processos de gestão ambiental adequados. O investimento em
tecnologias apropriadas, o estudo e aplicação de processos produtivos mais limpos, o design de
produtos mais eficientes e a elaboração de padrões de produção mais exigentes pelo mercado.

Explique como a utilização de sistemas eficientes de transportes públicos pode


reduzir a emissão de poluentes atmosféricos.

Resíduos sólidos
Os resíduos sólidos resultam das atividades econômicas e sociais da humanidade e podem ter
origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. A geração
de resíduos é um dos maiores problemas que afetam a humanidade, tendo em vista que a expansão
da sociedade do consumo causa o aumento da exploração de recursos naturais e o consequente
descarte de materiais na natureza.

Os resíduos industriais variam entre 65 e 75% do total de resíduos gerados em regiões mais
industrializadas. A responsabilidade pelo manejo é da empresa geradora e o resíduo pode ser
destinado a um aterro. Em função da periculosidade, os resíduos são classificados pela NBR
10004 como:

CLASSES CATEGORIA PERICULOSIDADE


podem representar riscos à saúde pública e ao
meio ambiente por causa de suas características de
Classe I Resíduos perigosos
inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e
patogenicidade.

incluem-se nesta classe os resíduos potencialmente


Classe II Resíduos não inertes
biodegradáveis ou combustíveis

Classe III Resíduos inertes Resíduos considerados inertes e não combustíveis.

Dependendo da classificação do resíduo, o seu tratamento é diferenciado, bem como as exigências


para a sua correta destinação. Tendo em vista que a principal estratégia adotada pelo poder público
é a acumulação dos resíduos, cada vez mais áreas têm sido demandadas para promover esta
acumulação, conforme mostra a figura 10.

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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS

Figura 10: Acumulação de pneus.

Os resíduos urbanos são produzidos em menor escala que os resíduos industriais e incluem-
se nesta categoria os resíduos domiciliares, o resíduo comercial, os oriundos da limpeza pública
urbana. A gestão destes resíduos é de responsabilidade das prefeituras.

Os entulhos são considerados resíduos de construção civil: demolições, restos de obras, solos
de escavações e materiais afins e a responsabilidade da remoção destes resíduos, desde que em
quantidades pequenas, é das prefeituras municipais.

Os resíduos de serviços de saúde são produzidos em hospitais, clínicas médicas e veterinárias,


laboratórios de análises clínicas, farmácias, centros de saúde, consultórios odontológicos, entre
outros, e podem ser agrupados em:

1. Resíduos comuns – restos de alimentos, papéis, invólucros, entre outros.

2. Resíduos sépticos – constituídos de restos de materiais cirúrgicos e de tratamento


médico. O potencial de contaminação exige um tratamento diferenciado para este
tipo de resíduo.

O descarte inadequado de resíduos de saúde é um fator de risco para a população que vive das
cadeias produtivas de resíduos, pois pode causar efeitos devastadores para a saúde.

O Brasil tem casos de que resíduos de saúde inadequadamente descartados causam


problemas de saúde e necessitam de estratégias adequadas para serem recolhidos.
(http://blogs.diariodepernambuco.com.br/meio_ambiente/?p=4615)

<http://www.gestaoderesiduos.com.br/residuo-servico-saude.php?id=268>.

Os resíduos de portos, aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários são uma categoria em


separado porque podem trazer organismos patogênicos e possuem capacidade de veicular diversas
doenças de outras cidades, estados e países e comprometer a saúde pública ou contaminar plantações
e animais.

Os resíduos agrícolas são aqueles resultantes das atividades da agricultura e pecuária, tais como
embalagens de adubos, de defensivos agrícolas e de ração, restos de colheita e esterco animal. As
embalagens de agroquímicos estão sujeitas à regulamentação específica e há obrigatoriedade do

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SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS │ UNIDADE ÚNICA

recolhimento das embalagens, em virtude do potencial de contaminação e risco para a saúde que
estas representam.

Link <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res03/res33403.xml>.

Os resíduos radioativos são aqueles provenientes de fonte radioativa e de equipamentos que usam
elementos radioativos. O controle da produção, utilização e descarte é de responsabilidade da
Comissão Nacional de Energia Nuclear. No Brasil, a falha no controle do descarte de material e
equipamentos radioativos resultou no acidente com o Césio 137, em Goiânia.

A situação dos resíduos sólidos no Brasil não é adequada sob o ponto de vista do saneamento
básico. A situação ideal seria aquela onde 100% dos resíduos fossem destinados a aterros
sanitários ou onde a reciclagem seria estimulada por instrumentos econômicos que permitissem
que o material a ser reciclado tivesse valor de mercado semelhante à extração do material primário
do ambiente.

O descarte de resíduos em lixões causa riscos de poluição do ar e de contaminação do solo, de


águas superficiais e de lençóis freáticos, riscos à saúde pública pela proliferação de diversos tipos de
doenças, agravamento de problemas socioeconômicos em virtude da existência de garimpeiros do
lixo, poluição visual da região, mau odor e desvalorização imobiliária na região.

Ressalte-se que a produção de resíduos em municípios com mais de 500 mil habitantes era de
0,7 kg/habitante/dia em 2001, quantidade que tende a aumentar com o crescimento econômico
e a disponibilização de mais bens de consumo industrialização a mais pessoas, pressionando a
capacidade dos gestores públicos e privados em enfrentar o problema do volume de lixo produzido
nas cidades, conforme mostra a figura 11.

Figura 11: Lixão – observar a prevalência do plástico.

Fonte: <http://juniormascote.spaceblog.com.br/177869/LIXAO-POE-EM-RISCO-ACIDADE-DE-ITAGI/>.

A estrutura dos resíduos gerados é importante para determinar quais tipos de rotas tecnológicas
serão utilizadas para o tratamento deste material. No Brasil, prevalece na constituição do lixo
produzido a matéria orgânica, com cerca de 52,5% do volume total gerado diariamente, enquanto
nos EUA o valor é de 13,6% e na Europa é de 28%, segundo dados de 2001.

41
UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS

O passo precedente para a instalação de um sistema eficiente de gestão de resíduos sólidos é


justamente o levantamento da composição dos resíduos gerados. O Gerenciamento de Resíduos
Sólidos envolve procedimentos normativos, operacionais, financeiros e de planejamento para gerir
a coleta, o tratamento, a disposição e a reciclagem dos resíduos sólidos no município.

A partir do conhecimento da composição de resíduos, estratégias adequadas devem ser geradas


para cada tipo de resíduo. O exemplo dado da composição dos resíduos nos EUA, no Brasil ou
na Europa diz muito em relação à quantidade de produtos industrializados que entra na cesta de
consumo de famílias e empresas e resulta que as condições locais com relação à disponibilidade de
aterros, de energia ou as pressões culturais que influenciarão na tomada de decisão das empresas e
municipalidades com relação aos procedimentos a adotar para a gestão de resíduos.

A evolução das sociedades também diz muito sobre como tratar seus resíduos. Em locais como
o Japão ou a Holanda, onde a disponibilidade territorial é pequena, exige procedimentos mais
complexos para a gestão de resíduos, tais como a incineração de plástico para gerar energia ou a
utilização de compostagem de resíduos orgânicos para diminuir a necessidade de terras com usos
mais nobres.

Outro caso emblemático é que em Nova Iorque a escassez de terras para serem usadas como aterro
sanitário exigiu que a cidade exportasse seus resíduos para outros municípios, o que gerou custos
acessórios aos cidadãos para gerir seus resíduos.

Com a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos em 2010 (Lei no 12.305/2010)


objetiva-se estruturar um sistema de gestão de resíduos no Brasil, que agregue racionalidade na
disposição e tratamento deste material e promova incentivos econômicos para que as empresas
invistam em tecnologias produtivas de menor impacto ambiental, visando reduzir a quantidade
de resíduos gerada pela sociedade brasileira e aumentar a quantidade de material reciclado de
forma considerável.

Link <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>.

O Plano Nacional de Mudanças Climáticas também funciona como uma pressão adaptativa sobre
as empresas e sobre o poder público, pois há a necessidade de internalizar nos custos de produção o
valor do carbono emitido para gerar o fluxo econômico positivo, o que pode alterar a percepção do
valor econômico atribuído pelo cliente aos produtos que consome.

Link <http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/77650.html>.

A percepção do valor econômico do resíduo, também influencia na qualidade das políticas públicas
voltadas para a questão. Há locais onde a coleta e a disposição em aterros sanitários é considerada
suficiente, desperdiçando o potencial de geração de renda dos resíduos recicláveis.

42
SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS │ UNIDADE ÚNICA

Em sociedades complexas, as necessidades de gestão também se tornam mais complexas. Passa a


não ser aceitável, por exemplo, não separar o lixo reciclável do não reciclável ou utilizar trabalho de
pessoas em situação de risco social para tratar os resíduos da sociedade moderna.

Este é um processo que está no cerne da discussão sobre o desenvolvimento e a gestão de resíduos
e onde as pressões do poder público e da sociedade.

43
CAPÍTULO 6
Sistemas de Gestão Ambiental

Conceitua-se como sistema de Gestão Ambiental as políticas e práticas de uma instituição visando:

1. Desenvolver e publicar uma política de gestão ambiental.

2. Preparar um plano de ação para reduzir, mitigar ou compensar os impactos


ambientais.

3. Organizar a empresa e seu pessoal ao alocar recursos adequados.

4. Investir em mitigação, redução ou compensação de impactos.

5. Educar e treinar os colaboradores.

6. Monitorar, fazer auditoria e relatar os ganhos com a gestão ambiental para seus
públicos de interesse.

Os Sistemas de Gestão Ambiental estão normatizados na ABNT ISO14001, onde estão descritos os
procedimentos para implementação de um sistema desta natureza.

A implementação de um Sistema de Gestão Ambiental envolve o diagnóstico da situação ambiental


da empresa, com a identificação de aspectos e impactos ambientais que afetam a relação da
empresa com o ambiente, com fornecedores, com a comunidade, com os concorrentes e com o
poder público.

O levantamento de aspectos e impactos ambientais constitui a base do SGA, pois visa municiar de
informações estratégicas os formuladores da estratégia de gestão ambiental da empresa, bem como
as alternativas para redução de impactos ambientais negativos na atividade de uma empresa.

Inicialmente, é necessário identificar a localização, os processos de transformação envolvidos


na implantação e operação, os recursos ambientais consumidos, a mão de obra exigida, etapas e
cronograma de implementação do projeto, dentre outros aspectos relevantes.

O levantamento dos impactos deve levar em conta os impactos sobre a água, incluindo seu consumo
e seu descarte, os impactos sobre as emissões aéreas, da geração e disposição de resíduos e da saúde
e segurança dos trabalhadores.

O levantamento dos aspectos ambientais refere-se à legislação local, regional, estadual ou nacional
aplicável ao empreendimento, as características físico-químico-biológicas locais, a presença de
sítios arqueológicos, populações tradicionais. Após o levantamento dos impactos e aspectos, é
necessário elaborar um plano de ação visando mitigar, compensar ou evitar tais impactos, com
responsabilidades, prazos e orçamento definidos.

O diagnóstico é a primeira fase da implementação de um SGA. Após o diagnóstico, é necessário que


se defina uma política ambiental da empresa, com procedimentos claros para a gestão dos aspectos

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SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS │ UNIDADE ÚNICA

e impactos ambientais do empreendimento, seguidos do planejamento com responsáveis, prazos,


orçamentos e indicadores adequados à atividade fim da empresa.

A implementação do SGA deve realizar as atividades para compensar, mitigar ou evitar tais
impactos, levando sempre em consideração os múltiplos públicos interessados e a necessidade de
conciliar diversos interesses diferentes.

A implementação também deve ser acompanhada sempre da avaliação dos resultados obtidos com o
SGA baseado em indicadores de desempenho que traduzam os impactos ambientais e promovam um
gerenciamento dinâmico do ambiente onde a empresa promove suas atividades. Este gerenciamento
dinâmico deve permitir a readequação de objetivos, se for o caso, e promover a melhoria contínua
dos planos de controle ambiental definidos na fase de planejamento.

Os ajustes no SGA são a última fase. Tendo em vista que as ciências ambientais experimentam grande
avanço nas últimas três décadas, diversos indicadores de desempenho vêm sendo incorporados
nos sistemas de gestão das empresas, bem como tecnologias para aumentar a eficiência do uso de
recursos para diminuir o impacto ambiental e aumentar o retorno financeiro.

É adequado incorporar ao SGA a necessidade de reavaliar se os indicadores de desempenho medem


a eficiência dos processos produtivos empresariais e apontar as necessidades de investimento com
base na melhoria do desempenho ambiental.

Por fim, há necessidade de relatar ao mercado e à sociedade em geral os resultados obtidos com
a implementação do SGA, como forma de promover um diálogo com os múltiplos públicos que se
beneficiam das atividades da empresa.

Diversos tipos de relatórios ambientais e sociais tem sido publicados, com critérios cada vez mais
restritivos de desempenho, que calculam até a quantidade de CO2 gerado por unidade monetária
como medida de eficiência da gestão de aspectos e impactos ambientais.

Outro tipo de indicador que tem sido utilizado pela sociedade é a Avaliação de Ciclo de Vida de
produto, metodologia que avalia e compara alternativas de uso de processos, materiais e tecnologias
para apontar melhores práticas para a gestão de impactos ambientais.

Por fim, a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei no 6.938/1981) como uma das principais regras
a seguir para levantar impactos e aspectos ambientais e propor-se a mitigar, compensar ou evitar
impactos ambientais. O Estudo de Impacto Ambiental é um instrumento usualmente utilizado para
levantamento de aspectos e impactos que podem ocorrer quando da implantação de projetos de
investimento e da elaboração de Planos de Controle Ambiental para reduzir tais impactos.

O ponto de partida para uma correta gestão ambiental é a identificação dos aspectos e impactos
ambientais. A implementação de planos de ação para redução de efeitos ambientais negativos e para
diminuir os efeitos negativos sobre a saúde humana são necessários para diminuir o impacto das
atividades econômicas e sociais sobre o ambiente.

Em virtude do conceito de melhoria constante, ao iniciar-se um SGA, o processo continua sendo


constantemente monitorado. As instituições incorporam diversas necessidades e tais necessidades
revertem-se em investimentos e monitoramento cada vez mais complexos de suas atividades.

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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS

O investimento em Sistemas de Gestão Ambiental permite que sejam identificados os impactos


positivos e negativos das atividades econômicas, analisadas e adotadas tecnologias apropriadas para
redução das emissões aéreas, de efluentes líquidos e resíduos e que o resultado global da operação
seja a gestão ambiental adequada a cada realidade.

As pressões sobre as empresas e instituições para reduzir os impactos ambientais são tangibilizadas
pela evolução do mercado, pela ação dos organismos estatais responsáveis pela qualidade
ambiental e exige uma postura mais ativa destas empresas e instituições visando qualificar seus
processos produtivos.

As certificações ambientais tem sido utilizadas para construir uma diferenciação de mercado
com relação aos processos de gestão que cada empresa possui. Percebe-se que nos diversos países
do mundo, especialmente nos países desenvolvidos, o direcionamento da sociedade em escolher
produtos, a partir do impacto ambiental de seus processos produtivos. Nos produtos disponíveis
nas gôndolas dos supermercados europeus, por exemplo, as certificações ambientais são comuns e
são utilizados como critério de diferenciação e escolha entre produtos semelhantes.

Figura 12: Emissões calculadas de suco de fruta.

Fonte: <http://c1.redgreenandblue.org/files/2009/03/carbon-label.jpg>.

Outras iniciativas promovem a gestão ambiental e social como estratégia empresarial e institucional
de geração de valor. As grandes empresas são avaliadas periodicamente com relação às suas políticas
e práticas voltadas para o fomento de uma economia sustentável, especialmente porque o mercado
internacional tem utilizado as políticas e práticas socioambientais de empresas para diferenciá-las
em mercados mais exigentes.

Fica evidente na etiqueta mostrada na figura 12, que os países desenvolvidos e seus cidadãos-
consumidores tem adotado estratégias para escolha de produtos a serem consumidos que remetem
diretamente ao impacto ambiental gerado no seu processo produtivo.

Não só os cidadãos e consumidores, mas a comunidade científica também demonstra claramente


que não é possível postergar a adoção de padrões de produção e consumo mais limpo, sob pena

46
SAÚDE E QUESTÕES AMBIENTAIS │ UNIDADE ÚNICA

de comprometer de forma irreversível as condições de vida humanas e das outras espécies que
dividem o planeta com a humanidade.

Ao analisar novamente a figura 1 (p. 11), percebe-se que há limites para a acumulação de resíduos na
atmosfera, águas ou solos. Há limites inclusive para a saúde humana. A Gestão Ambiental permite
que tais acumulações de resíduos sejam quantificadas e que uma abordagem técnica seja utilizada
para reduzir, evitar ou compensar tais acumulações.

Percebe-se que ao aumentar demais o “quadrado” das emissões para o ambiente, menos espaço
sobra para os demais “quadrados”, inclusive para o “subsistema econômico”. A diminuição de todos
os demais espaços em virtude do aumento das emissões pode comprometer o futuro da humanidade.

47
Para (não) finalizar

Ao final deste Caderno de Estudos e Pesquisas, esperamos ter apresentado alguns conceitos e
categorias úteis para que o aluno entenda a interrelação entre saúde e meio ambiente.

A Gestão Ambiental apresenta ferramentas para gestão de impactos ambientais das atividades
humanas e estes impactos, quando usualmente não adequadamente identificados e mitigados,
podem ter responsabilidade direta sobre a saúde das pessoas.

A responsabilidade do poder público, das empresas e dos indivíduos, a educação, o investimento


adequado em infraestrutura são ações que devem seguir-se ao diagnóstico de qualquer política
pública.

A um país que espera ser desenvolvido, não se justifica que ainda haja municípios sem água tratada
para todos seus cidadãos ou sem saneamento ambiental.

A gestão ambiental deixa de ser uma opção para as empresas e instituições e tornou-se uma
necessidade em virtude do amadurecimento crescente das sociedades, das pressões que a sociedade
exerce e da incorporação crescente da qualidade do meio ambiente como régua para medir o
desenvolvimento de uma sociedade.

O caderno Saúde e Meio Ambiente teve por objetivo apresentar os conteúdos mais relevantes sobre
o assunto, de forma introdutória, para que os profissionais que participam do curso entendam a
importância de gerenciar os impactos de suas ações e instituições sobre o ambiente e que a qualidade
ambiental está diretamente ligada à qualidade de vida e à saúde pública.

Houve toda uma evolução na questão da gestão da saúde pública e da gestão de impactos ambientais
ao longo do tempo. Esta evolução continua a ocorrer. Para uma população crescente, com a geração
de riquezas e necessidades diversas, as aglomerações urbanas cada vez maiores, os processos
industriais cada vez mais sofisticados, as necessidades de alimentos para alimentar mais de 6 bilhões
de humanos exigem uma postura de antecipação dos possíveis impactos ambientais e sociais e a
adoção de iniciativas e tecnologias para redução do impacto ambiental das cadeias produtivas que
garantem os processos econômicos e o bem estar das sociedades.

Há carência de profissionais tenham a visão de que a saúde pública é diretamente afetada pelos
impactos ambientais das atividades humanas. Espera-se que com este material os profissionais se
sintam estimulados a procurar mais e mais qualificação na área de gestão ambiental e saúde pública,
pois a implementação destes sistemas assegura maior qualidade de vida da população e é um sinal
de evolução da sociedade brasileira.

48
Referências
ALLENBY, Braden R. Industrial Ecology: Policy Framework and Implementation. 1. ed. New
Jersey, US: Prentice-Hall, Inc., 1999. 308 pp.

BRASIL, Lei no 6.938/1981. Política Nacional de Meio Ambiente.

_____. Lei no 9.433/1997. Política Nacional de Recursos Hídricos.

_____. Lei no 12.305/1981. Política Nacional de Resíduos Sólidos.

COMMON, Michael; STAGL, Sigrid. Ecological Economics: An Introduction. 1. ed. New York,
US: Cambridge University Press, 2005.

DALY, Herman E.; FARLEY, Joshua. Ecological Economics: Principles and Applications. 1. ed.
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GRUBER, Arnulf. Industrialization as a Historical Phenomenon. In: Socolow, R, ANDREWS, C,


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PHILIPPI JR. Arlindo; ROMERO, Marcelo de Andrade; BRUNA, Gilda Collet. Curso de Gestão
Ambiental. 1. ed. São Paulo: Manole, 2004.

49
Anexo

Plano de Ação de Melhoria


Analise a situação atual da sua empresa e elabore um plano de ação, definindo metas, objetivos,
ações, responsáveis e prazos para o atingimento das mesmas.

PLANO DE AÇÃO DE MELHORIA


Meta:

AÇÃO OBJETIVO ONDE RESPONSÁVEL QUANDO COMO CUSTO

50

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