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do Desenvolvimento - Cid 10
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
Apresentação.................................................................................................................................. 4
Introdução.................................................................................................................................... 7
Unidade I
A Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e os Transtornos Globais do
Desenvolvimento (TGD)..................................................................................................................... 10
Capítulo 1
A importância da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) para a
compreensão do grupo Transtornos Globais do Desenvolvimento (código F-84). 12
Unidade iI
Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil.............................................................................. 24
Capítulo 1
Diagnóstico Diferencial em um Sistema Multiaxial......................................................... 25
Unidade iII
A Avaliação dos Transtornos Globais do Desenvolvimento..................................................... 69
Capítulo 1
Como funciona o cérebro da pessoa com autismo?.................................................. 72
Unidade iV
Psicologia e o Autismo................................................................................................................... 78
Capítulo 1
Teoria da Mente................................................................................................................... 80
Referências .................................................................................................................................. 87
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
5
Saiba mais
Sintetizando
6
Introdução
Estamos percorrendo o Universo do TEA – Transtornos do Espectro Autista ou Autismo.
E chegamos a um tema de extrema importância dentro do escopo dessa condição de
diversidade neurológica: a CID-10.
Dentro da atuação na clínica ou na área hospitalar é comum ouvir: ‘O que é esse F-33
que você colocou no meu atestado?’, ‘O que representa essa letra e esse número?’.
Figura 1.
Para tanto, é de grande importância que as definições – tanto com relação à área médica,
quanto legislativa e regulamentar – apresentem consistência e coerência.
7
A cada dia que passa, as pessoas estão vivendo mais e exatamente por esse motivo os
critérios de mensuração e definição de doença, incapacidade e deficiência geram maior
interesse; afinal, esse aumento na expectativa de vida da população mundial teve como
consequência um aumento expressivo das doenças crônicas e suas comorbidades.
Figura 2.
Fonte: <https://prevencaoapaeguaramirim.wordpress.com/2016/03/31/informacoes-basicas-sobre-prevencao-de-
deficiencias/>. Acesso: 26/11/0217.
Desse modo, faz-se necessária uma definição clara sobre a deficiência, para que
possamos identificar pessoas que devem ser incluídas na definição de deficientes para
desenvolver, aprimorar e aplicar intervenções a suas necessidades específicas.
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classificação que abrangia todas as doenças e motivos de consultas médicas. Sendo,
portanto, de acordo com Laurenti (1991), utilizada para estatísticas de morbidade.
Objetivos
»» Habilitar o profissional no uso da Classificação Internacional de Doenças.
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A Classificação
Internacional de
Doenças (CID-10)
e os Transtornos Unidade I
Globais do
Desenvolvimento
(TGD)
Vocês já notaram que não existem números frios? Eles estão sempre ligados à emoção
e à vida humana, em geral.
Figura 3.
A figura abaixo, por exemplo, nos traz a memória dos atentados de 11 de setembro de
2001. Esses números marcaram a história, eles vão ficar para sempre em nossa mente
e na das gerações que estão por vir.
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A Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) │ UNIDADE I
Figura 4.
11
Capítulo 1
A importância da Classificação
Internacional de Doenças (CID-10) para
a compreensão do grupo Transtornos
Globais do Desenvolvimento (código
F-84)
Figura 5.
Maria Eduarda trabalha em um hospital público. Ela faz parte do grupo da morbidade.
Ou seja, sua função é transformar em códigos – formados por letras e números – o
diagnóstico final que o profissional médico escreve em um impresso, quando o paciente
recebe alta. Como demonstra a figura abaixo.
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A Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) │ UNIDADE I
Figura 6.
Fernanda trabalha no setor de estatística de uma Secretária de Saúde. Ela faz parte
do grupo da mortalidade. Ela recebe as notificações de óbitos vindas dos cartórios e
transforma em códigos as informações sobre as pessoas falecidas e as causas de óbito
registradas pelos médicos.
Viver muito ou viver pouco, ser afetado ou não por uma doença, tudo depende da classe
social, do sexo, da etnia, das condições de habitação, alimentação e trabalho. Sabendo
de tudo isso, a sociedade organizada e o governo podem interferir e tomar providências.
Como exemplo, podemos citar as campanhas – da década de 1980 – sobre o soro caseiro
e o incentivo ao aleitamento materno que reduziram, consideravelmente, os índices de
mortalidade infantil em alguns municípios brasileiros.
O sistema de informação uniforme é prioridade para que uma sociedade possa dar
conta das demandas de sua população. Não se planeja nada sem informação!
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UNIDADE I │ A Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD)
De acordo com Gerolomo e Penna (1999), a informação é vital para que se possa
fazer o planejamento de saúde, principalmente, levando em conta os fatores de risco
epidemiológico. Logo, a codificação internacional de doenças – utilizada para morbidade
e mortalidade – é fundamental.
Traduzida para 43 idiomas, a CID é o sistema mais utilizado quando nos referimos a:
»» cuidados clínicos;
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A Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) │ UNIDADE I
»» monitoramento de resultados; e
»» alocação de recursos.
Atualmente, a CID passa por um processo de revisão, fato muito positivo, pois longos
anos, desde 1993, quando entrou em uso na décima revisão da CID a CID-10 – utilizada
até hoje. Estima-se o lançamento da edição da CID-11 para 2018.
Figura 7.
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UNIDADE I │ A Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD)
Nós estamos, atualmente, ainda na décima revisão. Que foi extremamente importante
pois introduziu algumas doenças, tais como: AIDS ou Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida, que não existia, obviamente, nas revisões anteriores. Porque foi descrita na
vigência da nona revisão.
Outro problema, de acordo com Wechsler et al. (2003), era a letra do profissional.
Exatamente, para sanar esse problema, foi estabelecido, desde 1999, pelo Ministério da
Saúde, o PEP ou Prontuário Eletrônico do Paciente. A implantação do PEP mantém o
registro dos dados do paciente, que são atualizados a cada nova consulta, favorecendo a
organização do histórico do paciente, bem como a facilitando a geração do diagnóstico
de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e o acesso às tabelas
de procedimentos LOINC ou AMB.
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A Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) │ UNIDADE I
Figura 8.
Fonte: <http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2012/02/17/912815/montar-quebra-cabeca-e-bom-cerebro.html>.
Acesso: 2/12/2017.
Muitas vezes o médico coloca uma classificação que não condiz com o histórico
apresentado pelo paciente. E o codificador atento percebe o equívoco.
Os desafios existem para serem enfrentados. Assim começa o trabalho, propriamente dito, de
Maria Eduarda. Lembram dela? É a codificadora de informação de saúde do grupo de morbidade
que citamos anteriormente.
Exemplificando: em uma ficha de alta existem 3 (três) diagnósticos e o médico assinalou, como
o principal deles, Transtornos Mentais e Comportamentais devidos ao uso de álcool – transtorno
psicótico residual ou de instalação tardia (F10.7). Maria Eduarda questiona se o código F10.7
da CID-10 é mesmo o diagnóstico principal?
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UNIDADE I │ A Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD)
A ficha utilizada, como nosso exemplo, informa que o paciente foi internado no setor de
gastrologia. Maria Eduarda tem razão ao questionar se Transtornos Mentais e Comportamentais
devidos ao uso de álcool – transtorno psicótico residual ou de instalação tardia é mesmo o
diagnóstico principal.
Quando o codificador é atento e tem o hábito de sempre consultar o prontuário para conhecer
a história clínica do paciente, ele pode descobrir muitas questões. Maria Eduarda já observou
que esse paciente foi internado no setor de gastrologia e depois sofreu um transplante de fígado.
Surgem as hipóteses: psicose é um problema mental. Desse modo, o paciente foi tratado na
gastrologia que cuida dos problemas no aparelho digestivo, fez até um transplante de fígado.
Transtornos Mentais e Comportamentais devido ao uso de álcool – transtorno psicótico residual
ou de instalação tardia não pode ser a afecção principal. Pois não foi essa afecção que foi tratada.
O diagnóstico principal então, só pode ser insuficiência hepática crônica ou cirrose hepática,
código K72.1 da CID-10. Hepático é relacionado ao fígado, um órgão do aparelho digestivo.
As duas afecções mencionadas, portanto, dizem respeito ao fígado, mas qual delas deve ser
codificada como a principal? Ou seja, o codificador deve conhecer, pesquisar e dominar termos
específicos do vocabulário médico.
Em nosso exemplo, ao consultar o dicionário médico, Maria Eduarda chega à conclusão que
cirrose é a afecção que deveria ter sido marcada como o diagnóstico principal. Esse trabalho é
essencial para que possamos ter uma visão clara da situação da saúde mundial.
Os dados da codificação, além da área médica, também são utilizados na área jurídica.
O codificador, ao ler um prontuário ou uma ficha de alta médica, pode resselecionar essa
classificação. Isto faz parte de sua função. Então, é possível fazer uma classificação e recorrer
à CID-10 para ver qual o código que ele deve resselecionar e colocar o mesmo como o código
correto, de acordo com os conhecimentos que ele recebeu para o uso adequado da Classificação
Internacional de Doenças.
As regras de morbidade existem exatamente para casos como esse que apresentamos como
exemplo. Para sanar essa questão, existem cinco regras que auxiliam o codificador a selecionar
a afecção principal quando a ficha de alta não está bem preenchida e que estão no volume 2 da
CID-10 (2008).:
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A Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) │ UNIDADE I
Regra 4. Especificidade.
Vamos ver a que se aplica ao caso de Maria Eduarda: se uma afecção menos importante
foi registrada como afecção principal e a mais importante foi tratada como outra afecção,
resselecionar colocando como afecção principal a que foi classificada como outra afecção. Essa
que Maria Eduarda aplicou é uma das cinco regras que ajudam o codificador a selecionar a
afecção principal quando a ficha de alta não está bem preenchida.
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UNIDADE I │ A Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD)
Figura 9.
Fonte: <http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/2013/04/trastorno-global-do-desenvolvimento.html>.
Acesso: 2/12/2017.
A CID ainda assinala que na maior parte dos casos esse desenvolvimento anormal/
atípico está presente desde a infância. Pontuando que em raríssimos casos tais condições
surgem nos primeiros 5 (cinco) anos de vida. É comum a apresentação de graus de
comprometimento cognitivo, no entanto, os transtornos são classificados em termos
do comportamento que é incomum para à idade mental – quer a pessoa possua défice
intelectual ou não.
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A Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) │ UNIDADE I
Tabela 1.
Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) ou Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (TID) apontam o Autismo Infantil como uma
condição caracterizada por:
»» Desenvolvimento diferenciado ou alterado que surge antes dos 3 anos.
»» Alterações nas interações sociais, comunicação, comportamento focalizado e repetitivo.
Além disso, a criança pode apresentar condições associadas, tais como: fobias, perturbações do sono ou de alimentação, crises de
disruptura com agressividade (auto) ou heteroagressividade (dirigida ao outro).
Crianças com autismo infantil (F-84.0) podem apresentar o nível de aprendizagem alterado, sendo elevado (altas habilidades e
superdotação), bem como abaixo do esperado para sua idade cronológica. Essa alteração depende de alguns fatores, tais como:
»» Atraso ou ausência de intenção comunicativa.
»» Atenção dirigida ao contato visual, expressão facial, gestos e posturas corporais.
»» Falta de interesse em se relacionar com pessoas próximas ou estranhas (especial resistência às crianças da mesma idade).
»» Falta de vontade em compartilhar interesses, como não falar sobre um presente que deseja ganhar, um desenho que fez, como foi o dia
na escola.
»» Ecolalia ou repetição de frases ou da primeira/última palavra presente no discurso do outro.
»» Repetições do mesmo padrão de brincadeira ou movimentos.
»» Preocupação excessiva com a rotina, demonstrando sofrimento quando acontece alguma alteração.
»» Preocupações com partes de um objeto.
Outras manifestações do TGD ou TID são encontradas no grupo F-84 da CID-10:
F84.0 Autismo Infantil.
F84.1 Autismo Atípico.
F84.2 Síndrome de Rett
F84.3 Outro transtorno desintegrativo da infância.
F84.4 Transtorno com hipercinesia associada a retardo mental e a movimentos estereotipados.
F84.5 Síndrome de Asperger.
F84.8 Outros transtornos globais (ou invasivos) do desenvolvimento.
F84.9 Transtornos globais (ou invasivos) não especificados do desenvolvimento.
Fonte: <http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/2013/04/trastorno-global-do-desenvolvimento.html>.
Acesso: 2/11/2017.
Frente a essa complexa condição clínica, existe há necessidade de que as pessoas com
sinais de alerta (red flags), com características peculiares de autismo, sejam avaliadas
de forma criteriosa e minuciosa.
A CID-10 pode ser utilizada em conjunto com outros Manuais Diagnósticos, atualmente
o DSM-5 tem sido muito utilizado, mediante às mudanças dessa edição.
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UNIDADE I │ A Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD)
As características do grupo composto por TGD na CID-10 ainda conta com anormalidades
qualitativas voltadas ao funcionamento global do indivíduo em qualquer situação,
demonstrando um prejuízo severo e incapacitante, variando no grau de acometimento.
Figura 10.
Fonte: <http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/2013/04/trastorno-global-do-desenvolvimento.html>.
Acesso: 2/12/2017.
Ou seja, é claro que não basta ser graduado em Medicina, Psicologia, Fonoaudiologia,
Terapia Ocupacional, Pedagogia, Fisioterapia, entre outras áreas do conhecimento, os
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A Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) │ UNIDADE I
Figura 11.
A primeira indicação dada aos pais é: ao menor sinal de TGD, levem seu filho a um
neurologista ou geneticista para que sejam realizados exames que descartem outras
possibilidades de transtornos ou síndromes.
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Diagnóstico
Diferencial no Unidade iI
Autismo Infantil
Uma vez que percebemos algum dano, já levantamos hipóteses sobre qual a topografia
da lesão, qual o diagnóstico sindrômico e qual o diagnóstico etiológico (causa); pois
a etiologia vai nos ajudar a eleger o tipo de tratamento e intervenção. Casos clínicos
aprimoram nosso olhar com o passar do tempo.
Então, vamos imaginar como é importante hoje o conjunto de campos científicos. Sendo
um dos mais recentes e avançados: a neurociência. Nos últimos vinte e cinco anos, a
neurociência apresentou um progresso impressionante. Assim como, anteriormente,
tivera a psiquiatria. E sempre com debates de enorme importância para a humanidade.
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Capítulo 1
Diagnóstico Diferencial em um Sistema
Multiaxial
De acordo com Kaplan (1997), Kanner descreveu crianças que exibiam extrema solidão,
introversão, atraso na linguagem, ecolalia, inversão de pronomes (“você” utilizado no
lugar de “eu”), repetições monótonas de sons, e os sempre presentes maneirismos e
estereotipias – com excelente memória de repetição.
Ainda segundo Kaplan (1997), devemos ficar atentos aos principais diagnósticos
diferenciais como esquizofrenia de aparecimento na infância, transtornos mistos da
linguagem receptivo/expressiva, surdez congênita, privação psicossocial, retardo
mental com sintomas comportamentais, além de psicoses desintegrativas.
Figura 12.
25
UNIDADE II │ Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil
Os esquemas multiaxiais de diagnóstico auxiliam nessa função. Mas, o que são sistemas
multiaxiais?
Figura 13.
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Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil │ UNIDADE II
Fonte: <http://ipubufrj.blogspot.com.br/>.
A primeira é baseada em cinco passos que construí com base em minha atuação como
psicóloga em mais de 10 anos de experiência no atendimento a pessoas com autismo.
Na maior parte dos casos, realizando o diagnóstico dos sinais precoces e encaminhando
a criança a neurologistas e geneticistas especializados em TEA.
O autismo não tem forma física, não tem marcador biológico, nem possui exames
específicos para serem solicitados – portanto o diagnóstico é baseado no que é
escrito. Desse modo, o diagnóstico do autismo depende da observação sistemática
do comportamento, do desenvolvimento da criança com seus pares (da mesma idade
cronológica) – por isso é importante fazer sessões em grupo, com as crianças – e
também com crianças maiores. Ou seja, existe um conjunto de informações que vamos
agregando ao longo do tempo e, que dependem de muitas variáveis.
27
UNIDADE II │ Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil
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Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil │ UNIDADE II
Nosso objetivo é fazer com que todos aprimorem sua atuação no reconhecimento dos
sinais, desenvolvimento de estratégias e uso dos métodos e intervenções que existem
para o trabalho com pessoas do espectro.
E conscientizar os pais sobre esses sinais e sintomas é muito importante, pois quanto
mais precoce for o início do acompanhamento com a equipe multidisciplinar, maiores
os progressos da criança. O TEA pode não ser curável ainda, mas é altamente tratável.
Transmitir conhecimentos por meio de via dupla, muitas vezes é essa nossa atuação ao
acolher famílias com a demanda do autismo. Em todo processo de atendimento à criança
com autismo, é importante a participação dos pais com suas dúvidas, questionamentos
e perguntas. Direcionando dessa forma, todo o movimento que esse assunto necessita.
Lógico que o tema autismo não é esgotável. A cada dia uma pesquisa nova é realizada
e aponta um novo caminho.
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UNIDADE II │ Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil
Tabela 2.
Existem algumas discordâncias em relação ao diagnóstico tão precoce. O que seria esse
“tão” precoce? Seria entre 12 e 18 meses. Os Doutores e Especialistas em Autismo Dr.
José Salomão Schwartzman, Dr. Carlos Gadia e Dr. Christian Gauderer concordam
com esse ponto de vista. Diagnosticar é importante? Sim. No entanto, o fundamental
é oferecer as intervenções em tenra idade. Até que o diagnóstico seja concluído e o
laudo finalmente fechado. Como falamos de uma condição complexa, não podemos
estabelecer um prazo. Outras condições do intragrupo do TGD devem ser descartadas e
isso demanda tempo e muito trabalho da equipe.
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Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil │ UNIDADE II
Figura 15.
Fonte: <http://www.bemsaudavel.blog.br/autismo-saiba-como-identificar-os-sintomas/>.
Destarte, na visão de Canguilhem (2000), na faixa etária dos 2 anos, entretanto, há uma
gama de habilidades que a criança já deve ter adquirido, permitindo, assim, a avaliação
mais concreta com base nos critérios de normalidade ou anormalidade.
De acordo com Gauderer (1993), fica claro que dentre um quinto dos casos de autismo,
o desenvolvimento da criança demonstra um curso normal até os 2 a 2 anos e meio.
De modo geral, ele aponta que o critério diagnóstico aceito para o TEA, coloca que a
situação tem que se manifestar até os trinta meses.
Essa é uma visão. Pois vimos anteriormente que há crianças que são diagnosticadas aos 5
anos. E essa questão não se refere ao despreparo dos profissionais, mas à complexidade
do quadro apresentado. Por essa e outras questões, abordar o autismo acaba sendo um
assunto que desperta vários pontos de vista.
O importante é focar no estudo contínuo, buscar literatura e atuar. Cada vez mais, e
com maior contato com pessoas do espectro, se constrói o ponto de vista acerca de
como intervir com o nosso atendido.
»» mutismo seletivo;
31
UNIDADE II │ Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil
»» privação psicossocial;
»» síndrome de Asperger;
»» síndrome de Angelman;
Antes de descrever estas condições, queremos sinalizar que o termo mutismo seletivo
foi introduzido na quarta versão do DSM – em substituição ao termo mutismo eletivo
que fora usado na segunda edição do DSM.
Mutismo seletivo
É o código F-94.0 da Cid-10, atinge a muitas crianças, mas ainda é pouco conhecido. O
mutismo seletivo não é uma doença e sim um transtorno, ou seja, algo que incomoda a
pessoa e a faz sofrer. Basicamente, a criança que tem o mutismo seletivo não consegue
falar, fica muda em determinados lugares, situações ou com pessoas. Mas, fala
normalmente com as pessoas da família ou somente com algumas delas, por exemplo
a mãe. Há crianças que falam com a mãe, mas não conseguem falar com o pai. E ficam
tão ansiosas que travam – demonstrando Transtorno de Ansiedade.
Mas, não há uma escolha uma intenção em falar com esta ou aquela pessoa; o que
ocorre é um bloqueio. Na realidade, elas querem falar, mas não conseguem. Já que
falam com a mãe e com outras pessoas, pode parecer estranho não falarem com todos.
E exatamente por esse motivo é um transtorno e, baseado, no nível ansiogênico.
Essa ansiedade faz com que as palavras não saiam da boca. A criança quer falar, sente
vontade; até decide falar, mas a boca não responde e voz não sai. Assim acabam ficando
muito tristes, sofrendo por não conseguir falar e retraindo-se ainda mais.
32
Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil │ UNIDADE II
Figura 16.
Fonte: <http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI139338-15326,00.html>.
Forçar a criança a falar, dar broncas, utilizar de castigos etc., tudo isso só vai piorar o
quadro apresentado, ou seja, o mutismo é agravado. Mutismo vem de mudo, e por esse
motivo chamamos de mutismo seletivo, e não apenas mutismo. Pois a criança consegue
falar. Não é muda! Fala muito bem, só não consegue em algumas situações, lugares e
com algumas pessoas – como já sinalizamos.
Código F-20 a F-29 na CID-10. Há mais pesquisas e estudos sobre autismo do que
sobre a esquizofrenia na infância, ou seja, abaixo dos 12 anos de idade. Mesmo assim,
buscamos reunir a compilação das principais pesquisas para oferecer-lhe dados de
extrema relevância sobre o quadro de esquizofrenia infantil.
33
UNIDADE II │ Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil
Tabela 3.
Figura 17.
Fonte: <http://pt.nextews.com/4d56150b/>.
34
Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil │ UNIDADE II
Para Kaplan, ainda existem outras diferenças, como o fato de o autismo iniciar antes
dos trinta e seis meses, e a esquizofrenia ser mais rara antes dos cinco anos. As
complicações pré e perinatais e disfunção cerebral são mais comuns no TEA e menos
na esquizofrenia. No autismo, pode-se observar fracasso para desenvolver conexões
sociais, ausência de fala ou ecolalia e compreensão da linguagem falha ou ausente,
comportamentos estereotipados, insistência na mesmice e frases repetitivas. Já na
esquizofrenia, podem aparecer alucinações, delírios e transtornos do pensamento. O
funcionamento adaptativo no autismo é sempre prejudicado, na esquizofrenia percebe-
se a deterioração no funcionamento.
35
UNIDADE II │ Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil
As crianças com autismo – em sua maioria – apresentam desde muito cedo, prejuízos
em diversas (ou todas) as áreas do funcionamento adaptativo. O quadro de autismo é
iniciado de forma precoce, diferentemente da esquizofrenia que tem seu início de forma
comum na adolescência ou começo da fase de vida adulta.
Desse modo, são raros os casos de esquizofrenia que se inicie antes dos 5 anos de
idade. Isso explica também o motivo de o material de pesquisa ser escasso, pois é uma
condição rara.
Outra questão relevante, e que devemos mencionar sobre a esquizofrenia com início
na infância, é a inexistência de critérios diagnósticos específicos para crianças. Desse
modo, as crianças com esquizofrenia apresentam alucinações, delírios e distúrbios no
curso de seu pensamento, típicos da esquizofrenia. Por outro lado, como avaliar essas
peculiaridades frente à imaturidade do desenvolvimento normal da linguagem e da
separação entre o real e o imaginário, o fato concreto e a fantasia – exatamente, em
função desses aspectos é difícil diagnosticar a esquizofrenia em crianças, especialmente
na faixa etária compreendida entre os 5 e 7 anos.
De modo que, há um caminho de pesquisas para a esquizofrenia infantil, por ser uma
condição rara, ao contrário do TEA que é uma condição de saúde pública mundial.
Existem poucos estudos sobre as intervenções medicamentosas e psicológicas em
crianças com esquizofrenia. Os estudos se voltam para a fase da puberdade, inclusive
mostrando a eficácia dos antipsicóticos.
Código F-70 a F-79 da CID-10. Aproximadamente 40% das crianças com autismo
apresentam nível de retardo moderado, severo ou profundamente severo. As crianças
com retardo mental podem apresentar alterações com aspectos de autismo.
Queremos lembrar que estamos utilizando o termo retardo mental, pois estamos
dando ênfase à Classificação Internacional de Doenças e na CID a nomenclatura é
RM. Mas é preciso fazer o diagnóstico diferencial entre retardo mental e autismo, pois
crianças apenas com retardamento podem apresentar sinais peculiares do TEA. Para
36
Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil │ UNIDADE II
fazer essa diferenciação, de acordo com Sauri (2001), precisamos observar aspectos
comportamentais, tais como:
Figura 18.
Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Paralisia_cerebral>.
37
UNIDADE II │ Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil
testes psicométricos (que vão medir o Q.I. da criança – verbal, executivo e total). Isso
faz com que possamos fechar o diagnóstico e a partir desse momento definir qual será
a estratégia em casa e na escola. O tratamento é estabelecido por meio da Abordagem
Cognitiva Comportamental, aliada ao ABA.
É preciso uma investigação minuciosa, pois precisamos que haja ocorrência de vários
sinais para que a suspeita ou hipótese diagnóstica de RM se confirme. Ou seja, no
diagnóstico, em geral, um único sintoma nunca será um parâmetro aceitável para se
diagnosticar. É necessário um conjunto de sinais e sintomas para iniciar o trabalho de
diagnóstico e, assim, aferir uma codificação.
Figura 19.
Fonte: <https://abanaescola.com.br/author/pedagogiaestruturada/page/2/>.
O ABA é utilizado nos mais diferentes contextos e por profissionais de diversas áreas,
inclusive pelos pais. Na verdade, o ABA é uma intervenção técnica que está ao acesso
de todos que precisam utilizá-la em casos de comprometimento severo. O analista
funcional do comportamento aplica a análise comportamental em todo e qualquer tipo
de transtorno.
É preciso deixar claro que o ABA não é unicamente utilizado em pessoas com autismo.
E que a indicação primeira será sempre o acompanhamento psicoterapêutico na
abordagem Cognitiva Comportamental, para depois serem traçadas outras estratégias.
38
Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil │ UNIDADE II
Figura 20.
Fonte: <https://veja.abril.com.br/saude/tomografia-pode-indicar-o-melhor-tratamento-para-cada-paciente-com-depressao/>.
O Manual também nos orienta que esse tipo de diagnóstico precisa acontecer antes dos
18 (dezoito) anos, exatamente para caracterizar essa incapacidade do desenvolvimento.
Exemplificando: no caso da Síndrome de Down ou SD, essa síndrome aconteceu já no
que definimos como causas pré-natais.
De acordo com Krynski et al. (1983), a criança ou adolescente precisa ter um escore –
dentro de uma bateria de testes e avaliações, provas, roteiros e escalas baseados nas
teorias de cunho psicogenético – inferior a 70.
39
UNIDADE II │ Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil
Figura 21.
Fonte: <http://www.mulherbeleza.com.br/empresas/testes-psicotecnicos-online/>.
Tabela 4.
Coeficiente Intelectual Denominação Nível Cognitivo segundo Piaget Idade Mental Correspondente
Desse modo, para Luckasson (1997), dentro da etiologia (causas) e fatores de risco, os
manuais de psiquiatria e psicopatologia, encontramos a classificação distribuída em:
pré-natais, periantos e pós-natais.
Dentro das causas ou fatores de risco, que são pré-natais, podemos afirmar que vão
desde a concepção até o parto. Entre essas causas podemos destacar:
40
Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil │ UNIDADE II
»» alcoolismo;
»» tabagismo;
»» consumo de drogas;
»» poluição ambiental;
»» genética:
As causas ou fatores pós-natais são compreendidos no período que vai do trigésimo dia
(primeiro mês de vida do bebê) até os 18 anos de idade. E podem ser:
41
UNIDADE II │ Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil
Seu código é F-80 da CID-10. Qual a diferença do Transtorno do Espectro Autista para
um Distúrbio Específico de Linguagem? Ou seja, do TEA para o DEL? Agora você
saberá o que diferencia essas duas condições. No autismo temos três características
muito presentes.
Sabemos que até os 3 anos a criança tem uma dificuldade para se identificar com as
outras crianças. Exatamente, por isso, esse comportamento fica mais evidente a partir
de 3 anos e meio – quando a criança já tem uma bagagem específica de linguagem – e
o TEA ou autismo, não apresenta isso.
Então, de acordo com Anache (2001), a questão da habilidade social está comprometida,
a questão da linguagem também está, quando falamos em crianças que não são Asperger
(F84.5 código da CID-10 para Síndrome de Asperger).
Link: <https://www.youtube.com/watch?v=jXkKKgIq4cA>.
Uma das grandes angustias dos pais diante da demanda de um(a) filho(a) é o não falar.
É algo aflitivo não saber o que o filho sente: fome, dor, frio... Não saber o que aconteceu
na escola e assim por diante. Bem, essa não é uma característica do Asperger. Contudo,
não é por não ser uma peculiaridade que não existem questões direcionadas à fala da
pessoa com a síndrome.
42
Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil │ UNIDADE II
Ambas as síndromes, autismo e Asperger, foram descritas por volta da década de 1940.
Hans Asperger descreveu a síndrome que leva seu nome em Viena, enquanto Leo
Kanner descreveu o autismo nos Estados Unidos. As duas condições de diversidade no
neurodesenvolvimento compartilham o problema da interação social e os maneirismos,
o comportamento repetitivo e restritivo. Então, ambas compartilham esses dois
fenômenos comportamentais.
Elas podem ser verbais, ou seja, ter um atraso na fala ou já ter identificado algum processo
de linguagem e depois não mais. Ou, uma criança não verbal, que realmente tem uma
linguagem receptiva adequada; ou seja, ela entende, porém, ela não promove essa fala.
E também pode ter uma apraxia de fala, ou seja, uma conduta motora extremamente
ineficiente. E as estereotipias que são os movimentos que essa criança pode ter, então
pode ser olho, pode ser boca, pode ser flap, pode ser movimentos de pés. Enfim, uma
série de comportamentos estereotipados que essa criança tem.
43
UNIDADE II │ Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil
Tabela 5.
Transtorno de Desenvolvimento da
Critérios Autismo Infantil
Linguagem Receptiva/Expressiva
Incidência 2-4 em 10.000 5 em 10.000
Proporção entre sexo (M:F) 3-4:1
Proporção entre os sexos igual ou quase igual
Seu código é F-80.3 na CID-10. O prefixo ‘a’ representa não, nada; e ‘fasia’ é um termo
que se usa para comunicação. Há dois tipos de afasia: a afasia de Broca e a Afasia
de Wernicke. São duas áreas do cérebro que são acometidas em várias condições
neurológicas, de síndromes e transtornos, passando por lesões até acidente vascular
cerebral (AVC).
Um marco importante para o estudo da afasia, de acordo com Azcoaga (1974), ocorreu
em 1874, quando Carl Wernicke (1848-1905) publicou um artigo no qual apresentava
a localização da área auditiva da fala na primeira circunvolução temporal esquerda.
Descrevendo que uma lesão nessa área ocasionaria a perda da compreensão da
linguagem.
44
Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil │ UNIDADE II
Figura 22.
Fonte: <http://jewelrymarketingguy.com/die-or-delight/>.
45
UNIDADE II │ Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil
Figura 23.
Fonte: <http://1.bp.blogspot.com/-5xOgP-3PYLU/T6q1DE8PT3I/AAAAAAAAAvI/szgBlhXA14s/s320/548116_202586943186849_12520
7367591474_309552_1442370760_n.jpg>.
De acordo com Carrol (1972), para Wernicke a linguagem escrita é construída a partir
da linguagem oral (base do funcionamento geral da linguagem); com isto, ele aponta
não existirem centros visuais verbais independentes e que, quando ocorrem alterações
na escrita dissociadas das alterações verbais, isso provém de uma perda do uso dos
signos (assimbolia).
46
Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil │ UNIDADE II
Figura 24.
Fonte: <https://soumamae.com.br/wp-content/uploads/2017/09/conau.jpg>.
Desse modo, para Boyer (1982), o pensamento corresponde a uma representação das
coisas, configurando uma extração de conceitos, com base da percepção visual tátil da
realidade, sendo a assimbologia uma alteração dessa percepção. Exemplificando: o
surdo mudo pensa, porém, não fala.
Assim, para Geschwind (1970), os estudos de Wernicke aponta que o centro auditivo
verbal é o responsável pela integração das capacidades orais e gráficas, ainda que elas
sejam dependentes de um centro simbólico superior.
47
UNIDADE II │ Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil
48
Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil │ UNIDADE II
Figura 25.
Fonte: <http://www.reab.me/wp-content/uploads/2015/02/Captura-de-Tela-2015-02-25-%C3%A0s-18.52.22.png>.
A figura abaixo é uma foto de Jacob Barnett, diagnosticado com Síndrome de Asperger
aos 15 anos, estudando para concluir seu Mestrado em Física Quântica. Ele tem pesquisas
em Astrofísica que foram avaliadas por especialistas como estudos que podem ganhar
um Prêmio Nobel.
49
UNIDADE II │ Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil
Figura 26.
Fonte: <https://infopt-br.examtime.com/files/2013/09/jacob_genio8.jpg>.
Podemos dizer que é realmente difícil fazer a diferenciação entre o autismo, a afasia
adquirida com convulsões e a psicose desintegrativa.
50
Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil │ UNIDADE II
51
UNIDADE II │ Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil
Figura 27.
Fonte: <https://www.opopular.com.br/polopoly_fs/1.985418.1447172117!/image/image.jpg_gen/derivatives/landscape_800/
image.jpg>.
52
Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil │ UNIDADE II
Dentre as funções da linguagem, temos a de nos comunicar, o que ocorre por meio de
emitir, transmitir e receber informações por meio de métodos ou processos estruturados
que podem decorrer da linguagem verbal, escrita ou por símbolos (códigos, signos), que
dão acesso e possibilitam efetivar a comunicação.
Dessa forma, a comunicação que não é intencional não é expressiva e acaba por ser
interpretada pelos outros, podendo ter algum significado, sendo assertiva ou não. Mas,
é totalmente passiva, ou seja, as interpretações, os olhares são únicos. A mesma forma
de comunicação pode ser interpretada de modo diferente por 2 pessoas.
E esse é um fato que ocorre muito entre os pais de pessoas com autismo. Muitas vezes,
há um movimento de superproteção da mãe em relação ao filho e isso acaba por afetar
o relacionamento do pai e de outros familiares com a criança. Afetando também o
casamento.
»» aceitação do diagnóstico;
»» vivência do luto pelo filho que não nasceu (as mães não imaginam um
filho com autismo ou qualquer outro transtorno, há dor e é preciso falar
sobre, mas a maioria não consegue);
»» negação;
»» raiva;
Enquanto todas essas situações ficam no ar, a criança permanece sem fazer suas
intervenções?
53
UNIDADE II │ Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil
Exatamente, por isso esses pais precisam ser ouvidos. E não há um profissional, no
Brasil ou no exterior, Especialista, Mestre, Doutor ou PhD em TGD, que não assinale a
importância do afeto em relação à família.
Sintomas e sinais fazem parte, bem como métodos, intervenções comportamentais, mas
a grande magia em atender a demanda do autismo é ver mais do que uma psicopatologia,
transtorno, síndrome, é ver uma pessoa!
Seja qual for sua formação, o afeto vai ligar você ao seu atendido com autismo. As
técnicas da TCC, os métodos estruturados e a intervenção técnica através da Análise do
Comportamento Aplicada ao Autismo (ABA), são formas de auxiliar na autonomia, na
modulação, na qualidade de vida. Entretanto, nenhuma delas terá o resultado esperado
sem o afeto. Essa é a nossa maior ferramenta de trabalho.
»» Enxergar as habilidades.
O trabalho com o autismo não tem como pré-requisito o desejo egoico em ser o melhor.
Melhor? Existem vários profissionais excelentes, que não lançam livros, nem recebem
prêmios, mas que desfraldam, que alfabetizam, que auxiliam na ampliação do universo
da pessoa com TEA. O prêmio maior é esse!
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Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil │ UNIDADE II
Figura 28.
Fonte: <https://1.bp.blogspot.com/-UaKUvlyB7VM/U2oz_W-mdLI/AAAAAAAACiM/498vhYKwbhE/s1600/rotina+1.bmp>.
Figura 29.
Fonte: <http://portaldeextensao.wikidot.com/local--files/as-formas-de-desenhos-dos-homens-das-cavernas/cavernas>.
55
UNIDADE II │ Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil
Todo processo de comunicação se inicia no cérebro, então, vamos imaginar que ‘uma
pessoa sinta sede, porém não sabe onde saciar sua vontade e precisa perguntar onde
está o bebedouro’. Essa vontade se deu a partir de uma necessidade de líquido do corpo
que envia o comando para o cérebro, a ele cabe comandar um exército que entra em
ação. É o cérebro que dá para os pulmões o comando da quantidade certa de ar que
precisa ser enviada para que a fala seja articulada. O ar vibra a partir das cordas vocais,
então entram em ação o nariz, a boca e a língua que modifica o ar expelido formando as
ondas sonoras. Enfim, o cérebro é o maestro dessa sinfonia de um único instrumento,
a voz.
Figura 30.
Fonte: <http://www.chewchewmama.com/wp-content/uploads/2017/08/Apraxia-Tactile-Cue.jpg>.
56
Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil │ UNIDADE II
que não possuem qualquer capacidade de articular uma palavra sequer. São pacientes
que sabem o que querem dizer, tem a estrutura do pensamento preservada, mas não
conseguem se expressar, essas pessoas possuem síndromes genéticas com ausência
de fala; paralisia cerebral; e algumas doenças degenerativas que preservam a função
cognitiva, tais como a esclerose lateral e a Doença de Parkinson – então, essas pessoas
poderiam se utilizar da Comunicação Suplementar Alternativa para aumentar seu
repertório e, até mesmo, reproduzir algumas palavras e articular alguns vocábulos.
Por fim, vamos imaginar que a pessoa sedenta sabe que está com sede, dirige-se ao
interpelado, mas... “onde está a palavra?”. Ou seja, tem a intenção de se comunicar,
sabe se comunicar verbalmente, mas na sequência perde esse pensamento, perde o que
quer falar, um exemplo são as pessoas com Doença de Alzheimer.
A partir do momento que você se utiliza da CSA, você requer a memória para que
aquele símbolo seja significado e guardado na memória. Dessa forma, a Comunicação
Alternativa nem sempre, ou na maioria das vezes, é utilizada em casos onde a perda de
memória é muito evidente, muito acentuada.
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UNIDADE II │ Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil
Figura 31.
Fonte: <http://www.assistiva.com.br/CAA01.gif>.
Tem como código H-90 a 91 da CID-10. Como as crianças autistas podem ser não
verbais ou apresentar um desinteresse seletivo pela linguagem verbal, é comum que
os pais pensem que seus filhos são surdos. Mas, há diferenças: crianças surdas podem
apresentar episódios de balbucios relativamente normais que vão desaparecendo;
já as crianças com autismo muito raramente balbuciam. Crianças surdas mostram
reações a sons altos – provavelmente pela vibração que é sentida – já as crianças com
autismo podem ignorar sons altos e responderem ao estímulo de sons baixos e fracos.
O importante a ser sinalizado é que os exames de audiograma apontam para a perda
auditiva em crianças. Diferente do que acontece com os resultados de exames em
crianças com autismo.
Privação psicossocial
58
Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil │ UNIDADE II
Síndrome de Asperger
Figura 32.
Fonte: <https://abrilsuperinteressante.files.wordpress.com/2017/02/044.jpg?quality=70&strip=info&w=1000&h=666&crop=1>.
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UNIDADE II │ Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil
A síndrome de Asperger é um tipo de autismo de grau muito leve a leve, e com algumas
peculiaridades leves na linguagem – a voz robotizada, por exemplo pode ser encontrada
em algumas pessoas com Asperger –, entretanto, essa característica da voz não é uma
regra entre os Aspergers ou Aspie.
Para que uma pessoa possa ser diagnosticada com Síndrome de Asperger, ela não
poderá apresentar retardo mental associado, porque traz sérios prejuízos cognitivos e
intelectuais e também não pode apresentar atraso importante na fala. Ou seja, na época
da aquisição da fala não pode ter ocorrido atraso importante na fala.
A pessoa com Asperger apresenta outros sinais do autismo, tais como: isolamento social,
falta de filtro para se relacionar com pessoas, fala coisas que não deve – em locais e
ocasiões erradas. Podem preferir ficar sozinhas e isoladas, sendo retraídas socialmente
e ter um relacionamento social diferenciado do padrão – ou rotulado pela sociedade,
como padrão.
A pessoa com Asperger tem seu transtorno denominado e reconhecido como autismo
de alto funcionamento, pois podem apresentar um Q.I. acima da média. Embora, não
seja uma regra.
Pesquisas mostram que algumas habilidades são mais aprimoradas em pessoas com
autismo do que em pessoas com desenvolvimento típico, tais como a memória e
habilidades visuais. Alguns começam a ler sozinhos, falam outras línguas sem fazer
qualquer curso de idioma, tocam piano brilhantemente sem ter tido uma aula. Algumas
pessoas falam que grandes gênios da humanidade como Isaac Newton e Albert Einstein
tinham a chamada Síndrome de Sábio ou savantismo (do francês savant).
Pessoas com autismo possuem o que chamamos de hiperfoco, ou seja, gostam de fazer
repetidamente as mesmas coisas, ou demonstram um grande interesse em uma coisa
só. Esse hiperfoco favorece grandes conhecimentos, mas apenas 10% das pessoas com
60
Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil │ UNIDADE II
Figura 33.
Fonte: <http://1.bp.blogspot.com/-5H6YBo5ynjw/UOIreAsjX7I/AAAAAAAADnM/j84oSRuaKJ4/s1600/rain+man.jpg>.
Segundo Kaplan (1997), o médico austríaco Hans Asperger, em 1944, descreveu uma
síndrome a qual deu o nome de psicopatia autista. A descrição inicial dizia respeito a
indivíduos com inteligência normal, que demonstram um comprometimento qualitativo
na interação social recíproca, ou com estranhezas no seu comportamento, sem atrasos
no andamento da linguagem.
61
UNIDADE II │ Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil
Embora, haja uma certa dificuldade na interação social, por meio da psicoterapia,
visando ao treino das habilidades sociais, conseguem desenvolver um ritmo de vida
normal – desenvolvendo assim relacionamentos amorosos satisfatórios, apresentando
reciprocidade social e emocional e sim, eles reconhecem os sentimentos dos outros.
Bem como expressam seu prazer e felicidade. Tudo depende das intervenções. Tudo
depende do olhar de afeto que vamos dedicar a eles.
As capacidades e habilidade surgirão a cada dia e haverá uma superação. Pois buscam
a excelência.
Fonte: <https://i0.wp.com/autismoconsejospracticos.com/wp-content/uploads/2017/03/S%C3%ADndrome-de-Rett-sus-
descubridores.png?w=782&ssl=1>.
deficiência da enzima que metaboliza a amônia. Entretanto, essa evidência não foi
encontrada na maioria dos casos, somente em alguns, fato que fez com que não pudesse
ser usado como fator determinante para o diagnóstico da síndrome.
Podem também ocorrer movimentos estereotipados como lamber os lábios, bater com
as mãos e morder. O crescimento encefálico desacelera, resultando em microcefalia.
Todas as habilidades sociais e de linguagem começam a ficar gravemente prejudicadas,
tanto a linguagem expressiva como a receptiva. Há um desenvolvimento fraco da
coordenação motora, com uma qualidade instável e rígida.
Figura 35.
Fonte: <https://2.bp.blogspot.com/-i-mW96KGA10/WTWYfS4w3xI/AAAAAAAA0Ew/NHAdyaBWd-Qffux6Xbke7iFzC82sccdvwCLcB/
s320/1.jpg>.
63
UNIDADE II │ Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil
Uma respiração irregular acontece na maioria dos casos enquanto estão acordadas,
durante o sono, no entanto, a respiração normaliza. Várias crianças com síndrome de
Rett apresentam escoliose. À medida que a síndrome progride, o tônus muscular parece
passar de uma condição de hipotonia inicial para espasticidade e rigidez.
Muitas crianças podem viver por muito tempo de maneira mais independente, mas
outras crianças, após dez anos da síndrome, estão confinadas a uma cadeira de rodas,
pois apresentam desgastes musculares, rigidez e muitas vezes nenhuma capacidade de
linguagem. As manifestações que envolvem a comunicação social receptiva e expressiva
e a socialização em longo prazo permanecem em um nível evolutivo inferior a um ano
de idade.
Na síndrome de Rett, por exemplo, o paciente apresenta uma deterioração nos marcos
evolutivos, perímetro encefálico e crescimento geral, já no Autismo o desenvolvimento
normal está presente desde muito cedo.
64
Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil │ UNIDADE II
Figura 36.
Fonte: <http://www.infobarrel.com/media/image/126315_max.jpg>.
65
UNIDADE II │ Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil
O tratamento busca uma intervenção nos sintomas. A fisioterapia tem sido de grande
relevância no que se refere aos problemas de disfunção muscular, e o tratamento com
anticonvulsivantes se faz necessário quando há quadros associados de convulsão.
»» Quarto: deterioração motora tardia, com início mais ou menos aos dez
anos. Observa-se: sinais combinados de lesão do neurônio motor central
e periférico; mobilidade diminuída; retardo no crescimento; melhora no
contato visual; escoliose; atrofia muscular e rigidez progressiva; olhar
fixo e intenso; linguagem expressiva e receptiva, praticamente ausente, e
melhora nas manifestações epilépticas.
As informações mais consistentes são obtidas por meio da necropsia, onde se encontra
uma atrofia cortical moderada e uma diminuição da massa encefálica nos casos mais
avançados.
66
Diagnóstico Diferencial no Autismo Infantil │ UNIDADE II
Alguns critérios podem ser utilizados para excluir o quadro, tais como:
»» microcefalia ao nascimento;
Síndrome de Angelman
É um transtorno que pode ser confundido com a síndrome de Rett. Essa condição foi
descrita, em 1965, à comunidade científica, como sendo caracterizada pela presença de
um quadro atáxico com movimentos bruscos. O andar das crianças com essa síndrome
assemelha-se ao de marionetes.
O retardo mental está presente, assim como os ataques de riso. Como na figura a seguir,
podemos notar que tem uma expressão sindrômica.
Figura 37.
Fonte: <http://image.excite.es/vidayestilo/guide/angelmannn-default.jpg>.
67
UNIDADE III │ A Avaliação dos Transtornos Globais do Desenvolvimento
Os prognósticos desses casos, Rett e Angelman, podem não ser muito bons. A sobrevida
das pessoas com essas síndromes pode ser limitada por algumas complicações. O
tratamento busca minimizar as perdas e melhorar a qualidade de vida.
68
A Avaliação dos
Transtornos Unidade iII
Globais do
Desenvolvimento
Figura 38.
Segundo Fuentes (2008), a avaliação busca categorizar um transtorno por meio das
descrições de sintomas e comportamento. No entanto, a utilização de diferentes formas
e classificação diagnóstica e a maneira como a informação é obtida podem causar
variações nos diagnósticos. Dessa forma, a avaliação dos pacientes com hipótese de
autismo requer uma equipe multidisciplinar e o uso de escalas objetivas. Técnicas
estruturadas existem e devem ser utilizadas para a avaliação tanto do comportamento
social, como de sua capacidade de imitação.
»» etiologia,
»» neuropsicologia,
»» sintomas e comportamentos.
69
UNIDADE III │ A Avaliação dos Transtornos Globais do Desenvolvimento
Acredita-se que existe uma correlação direta entre os défices nas funções executivas e a
rigidez dos comportamentos estereotipados e rotineiros no autismo.
Além dos sintomas como perseverações, respostas inadequadas aos padrões sociais,
dificuldade em se adaptar a mudanças, além da falta de iniciativa, esses aspectos do
autismo podem ser esclarecidos pelos défices na função executiva.
Figura 39.
Fonte: <https://static.tuasaude.com/media/article/2c/99/angioma-venoso_3953_m.jpg>.
70
A Avaliação dos Transtornos Globais do Desenvolvimento │ UNIDADE III
Mioto et al. (2007) explicam que de 1945 a 1996 foram realizados 14 trabalhos científicos
e desses, 13 demonstraram diferenças significativas entre autistas e controles em pelo
menos uma medida de função executiva (FE). Embora um dos testes mais executados
tenha sido o WCST (Teste Wisconsin de classificação de cartas), o que demonstra mais
eficácia discriminativa entre as pessoas com autismo e típicas é a Torre de Hanói.
Figura 40.
Fonte: <http://3.bp.blogspot.com/-HZav4F3YqRE/UBfonUc6lfI/AAAAAAAAAdA/rW8a7nXd578/s320/torre-de-hanoi2.gif>.
71
Capítulo 1
Como funciona o cérebro da pessoa
com autismo?
O cérebro da pessoa com autismo é um pouco diferente das pessoas típicas. A pessoa
com TEA possui um cérebro mais hiperexcitado. Funciona assim: nosso cérebro faz uma
atividade de cada vez, então, toda vez que fazemos uma atividade nos desligamos da
atividade anterior. Assim, quando estamos fazendo duas atividades ao mesmo tempo,
na realidade estamos fazendo uma de cada vez bem rápido. A pessoa com autismo não!
Por ter um cérebro hiperexcitado, ela liga uma atividade sem desligar a atividade
anterior. Desse modo, ao longo do dia, às vezes, a pessoa está fazendo 100, 200,
300...1000 atividades ao mesmo tempo em seu cérebro. E isso ela faz desde que nasceu.
Ou seja, o cérebro da pessoa com autismo é assim!
Então tentamos, por meio da intervenção em nossa área, fazer com que ele funcione do
modo como um cérebro parecido com o nosso funcione. No entanto, se o autista tentar
funcionar da mesma forma que pessoas típicas – ele irá se desorganizar – entrando em
crise.
Vamos nos colocar no lugar de uma pessoa com autismo, por alguns instantes. E diante
de todas as informações que vocês tiveram acesso, respondam: como se sentiria nesse
ambiente?
Figura 41.
Fonte: <https://desenvolver.files.wordpress.com/2016/05/tea-0011.jpg?w=663>.
72
A Avaliação dos Transtornos Globais do Desenvolvimento │ UNIDADE III
Então desde pequenos, eles vão criando métodos para se organizar. O padrão de
comportamento repetitivo é a tentativa do cérebro em se organizar.
Eles voltarem sempre ao mesmo start faz com que continuem funcionando de forma
adequada em meio ao mar de estímulos que lhes é apresentado diariamente. Então eles
têm que buscar seguir uma linha reta nesse mar de estímulos.
O cérebro mais imaturo é mais sensorial e mais motor, por isso vamos ter predomínio de
comportamentos repetitivos motores (estereotipias) e sensoriais (hipersensibilidades
tátil, gustativa, olfativa, visual e auditiva). Conforme ele amadurece esses padrões
de comportamento repetitivo vão mudando – para comportamentos repetitivos que
chamamos de ordem superior – que são comportamentos mais maduros.
Figura 42.
Fonte: <http://3.bp.blogspot.com/-bMOuWQngrko/TgXVBNq68jI/AAAAAAAACrY/e5ZQjqp4eow/s1600/images%253B.jpg>.
Desde o primeiro dia de vida, todos nós fazemos, durante o dia, criamos redes neuronais
e durante a noite memorizamos essas redes neuronais. No dia seguinte, nós reativamos
73
UNIDADE III │ A Avaliação dos Transtornos Globais do Desenvolvimento
As pessoas com autismo possuem redes de preferência que fazem com que eles se
organizem. Nós temos que atrelar as novas informações do dia a essas redes neuronais
de interesse. Então se um paciente, está super interessado em dinossauros e em fazer
desenhos e que – como profissional – quero que ele se interesse por outras coisas,
podemos, através dos dinossauros, ampliar o conhecimento sobre outras áreas.
Então, se queremos que ele aprenda sobre o céu. Eu vou usar o exemplo de um
dinossauro que voava. Vou falar, então, sobre os pterossauros que dominavam os céus.
Muito provavelmente, meu paciente autista, como conhecedor dos dinossauros vai
dizer: “mas, os pterossauros não eram dinossauros e sim répteis que voavam”. Com
essas informações eu saberei quanto ele realmente sabe sobre os dinossauros e, ao
mesmo, vamos introduzir o tema céu, indicando inclusive que muitas pessoas não têm
essa informação que ele me deu. Ou seja, vamos entender como esses répteis voadores
viviam, quais eram seus predadores e, ao mesmo tempo, ampliar informações sobre o
céu. Para que o interesse pelos dinossauros seja agora dirigido para astrologia.
Figura 43.
Fonte: <http://blog.abaratadizqtem.com.br/wp-content/uploads/2015/12/Por-que-os-dinossauros-fascinam-tanto-as-criancas-
620x405.jpg>.
74
A Avaliação dos Transtornos Globais do Desenvolvimento │ UNIDADE III
por exemplo, e sabendo do interesse específico do seu atendido. Ela vai optar por
materiais estruturados que abordem essa temática.
Figura 44.
Fonte: <https://i.pinimg.com/736x/46/e2/46/46e2465ebd0bdf3c4973cefbc7c38b0f.jpg>.
Ou seja, a equipe precisa se comunicar. Quer seja por relatórios, por whatsapp, ligações,
e o mais importante, ter uma interação pelo menos a cada 4 a 6 meses (dependerá do
grau do TEA do nosso paciente) para traçar estratégias.
Atender de forma isolada, sem o conhecimento do que o profissional de outra área faz
e como faz é extremamente contraproducente para o nosso atendido e para as famílias
– que ficam perdidas. É como uma orquestra, todos os instrumentos têm que estar
alinhados. Não há um profissional mais importante ou uma área de maior valor dentro
desse atendimento. Todos estão trabalhando e investindo seus esforços na melhora
do paciente. E a contribuição em equipe, as parcerias, os atendimentos em dupla de
profissionais são altamente benéficos.
75
UNIDADE III │ A Avaliação dos Transtornos Globais do Desenvolvimento
Por isso, precisamos estar atentos aos gostos, vontades e desejos de nosso paciente.
Voltando ao céu – vamos falar sobre as nuvens, o sol, a chuva etc. Estamos falando do
céu e, paralelamente, deixando os dinossauros de lado. Mas, estamos usando as mesmas
redes neuronais. Então, nós temos que usar o comportamento repetitivo ao nosso favor
e fazer com que ele amplie o escopo de conhecimento em cima desses conhecimentos e
dessas situações específicas.
Vamos a eles:
76
A Avaliação dos Transtornos Globais do Desenvolvimento │ UNIDADE III
77
Psicologia e o Unidade iV
Autismo
Rutter (1983) foi um dos pioneiros em relação à análise crítica do autismo e um dos
primeiros pesquisadores a considerar o autismo como um quadro de desordem do
neurodesenvolvimento relacionado a doenças que acometem o SNC. A hipótese do
défice cognitivo em crianças com autismo foi desenvolvida por ele.
De acordo com Rutter, não deveria haver défice no processamento de estímulos sensoriais
e sim dificuldades no entendimento do símbolo (signo/significante) emocional e/ou
social de tais estímulos.
O que é perceptível é: as pessoas com autismo apresentam défice no manejo das pistas
emocionais e sociais.
A Teoria da Mente para o autismo foi desenvolvida pelos pesquisadores Uta Frith e
Simon Baron-Cohen. Através de seus estudos, juntamente, com seus colaboradores,
concluíram que crianças com autismo – mesmo as de alto funcionamento – encontram
dificuldades para atribuir estados de intencionalidade aos outros.
Figura 45
Fonte: <https://i.pinimg.com/564x/df/40/ec/df40ecec6f5c7a927a72a1d353ce57ca.jpg>.
78
Psicologia e o Autismo │ UNIDADE IV
Dessa forma, as pesquisas dos precursores da Teoria da Mente apontam que crianças
com autismo não apresentam habilidade para reconhecer e atribuir estados mentais.
79
Capítulo 1
Teoria da Mente
Como vimos a Teoria da Mente é a capacidade que nos possibilita deduzir o que o outro
pensa e sente. Ou seja, criar uma teoria, mais corretamente uma hipótese, sobre o
que passa pela mente dos outros. Isso permite que ajustemos nossas relações sociais,
nossas interações cognitivas e escolhamos os comportamentos mais adequados a cada
situação. Tentamos, portanto, adivinhar qual é a intenção do nosso interlocutor e agir
de acordo com essa hipótese. Às vezes dá certo, às vezes não.
Ou seja, autistas não mentem! É um fato. Não conseguem. Pois para mentir precisamos
desenvolver a habilidade para pensar como as outras pessoas.
Essa é a história de como aprendemos a ler e a manipular as mentes das outras pessoas
e, então, vemos o que acontece. Assim, ler a mente poderia parecer algo saído da ficção
científica, mas não é. É uma habilidade que todos nós possuímos – ou melhor, quase
todos. O fato é que sem ela, os relacionamentos humanos seriam impossíveis.
Embora, a maioria de nós sequer tenha a consciência de que podemos fazer isso.
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Psicologia e o Autismo │ UNIDADE IV
Figura 46.
Fonte: <https://dimensaosuperior.files.wordpress.com/2015/07/read-minds-2.jpg?w=490&h=309>.
Essa habilidade nos permite penetrar no pensamento das pessoas, imaginar o que estão
pensando e sentindo. Os psicólogos chamam essa habilidade de Teoria da Mente, em
geral, a desenvolvemos por volta dos 5 anos de idade.
Por isso, crianças na faixa dos 2 anos de idade, quando reunidas, geralmente apresentam
um comportamento caótico, pois uma não tem ideia do que a outra criança está
pensando. Então surgem as brigas por brinquedos, atenção etc.
Sem a Teoria da Mente, portanto, tomar, gritar e pegar seria a única forma das pessoas
se relacionarem.
Figura 47.
Fonte: <http://www.mamaetagarela.com/eu-deixo-meu-filho-tirar-brinquedos-das-outras-criancas/>.
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UNIDADE IV │ Psicologia e o Autismo
Existe uma jornada longa e frustrante até as crianças aprenderem como entrar nas
mentes das outras pessoas.
A questão é: se é difícil para as crianças típicas, qual é o grau dessa dificuldade para
crianças com autismo? Simplesmente, não há a possibilidade desse desenvolvimento
sem que haja intervenções que lhes proporcionem sinais e dicas de como o outro se
sente. Mesmo assim, nunca será 100%, ou 80%... será sempre abaixo da média.
Pois eles simplesmente falam, sem a menor censura, sobre suas impressões. Sem na
verdade criar uma sintonia empática com as demais pessoas.
Tentar imaginar o que os pais pensam, o que os colegas de escola, o que as terapeutas,
enfim, criar uma hipótese para indícios comportamentais, expressões faciais é muito
complicado para uma pessoa com autismo.
‘Saber aquilo que as pessoas dizem por dentro, sem que precisem falar,
é algo impossível para mim’
(Fala de um paciente de 14 anos, com autismo leve)
Observem uma maternidade, um berçário – os bebês não só não sabem o que os outros
bebês estão pensando, como sequer os enxergam como outros bebês. Nas mentes dos
bebês os limites entre eles próprios e as outras pessoas ainda precisam ser estabelecidos.
É como se fossem parte de uma grande mente comunal, na qual os pensamentos e
sentimentos pertencem a todos. Por isso alguns sentimentos podem ser contagiantes.
Exemplificando: quando um bebê chora, os demais começam a chorar também. E nesse
ponto, já podemos notar a imitação e a empatia instintiva pelos pares. Se uma dessas
crianças não chorar por exemplo, abre uma interrogação em seu comportamento – pois
foge ao que é normal. Podendo estar dentro de alguma situação que descrevemos em
nosso Caderno de Estudos.
Encerramos nossa disciplina por aqui. Espero que seja um grande momento de
aquisição de informações. Lembrem-se de nossa interação pelo AVA e dos vídeos que
são postados no portal.
Sucesso!!!
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Para (Não) Finalizar
Figura 48.
Fonte: <https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/736x/02/52/37/02523738f1fc25c9b870931364736f9e--sons-app.jpg>.
É importante que as pessoas vejam o autista como ele realmente é! E não tentem
transformá-lo em uma pessoa típica. Afinal, quando conseguimos oferecer a eles uma
estrutura, ou seja um mundo necessário ao seu desenvolvimento, eles vão apresentar
um excelente desenvolvimento.
Pesquisas mais avançadas, assim como as mais antigas, mostram uma diferença
muito grande entre as pessoas com autismo e, principalmente, entre os meninos e
as meninas com autismo. As meninas com autismo tendem a apresentar um quadro
clínico diferente, na teoria estudamos que o quadro de meninas com TEA é mais
grave, entretanto na prática essa diferença é muito relativa. Quando trabalhamos as
dificuldades da pessoa com autismo, sem nos atermos a gênero e graus, vemos que
eles darão saltos expressivos no desenvolvimento, apresentando melhoras incríveis. O
entrave é encontrar a dificuldade que o paciente tem, por isso a demora na melhora e
por isso a importância da análise individual, pois sem ela não conseguiremos fazer uma
leitura adequada.
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Para (Não) Finalizar
Você é assim
Eu penso em você
Desde o amanhecer
Eu gosto de você
É o meu amor
E a gente canta
E a gente dança
De ser criança
A gente brinca
Você é assim
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para (não) finalizar
Eu penso em você
Desde o amanhecer
Eu gosto de você
É o meu amor
E a gente canta
E a gente dança
De ser criança
A gente brinca
Você é assim
Você é assim
Você é assim
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Para (Não) Finalizar
Você é assim
Você é assim
Você é assim
Você é assim
Eu penso em você
Desde o amanhecer
Eu gosto de você
É o meu amor
Autoria: Tribalistas
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Referências
AIELLO, Ana Lúcia Rossito. Identificação precoce de sinais de autismo. In: GUILHARDI,
Hélio José (org.). Sobre comportamento e cognição – contribuições para a
construção da teoria do comportamento. vol. 9. Santo André: Esetec, 2002.
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Referências
GESCHWIND, N. The organization of language and the brain. Science, 1970, vol. 170,
no 3961, pp. 940-944.
KRYNSKI, S. et. al. Novos rumos da deficiência mental. São Paulo: Sarvier, 1983
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Referências
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