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da Caracterização ao Tratamento
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
Apresentação.................................................................................................................................. 5
Introdução.................................................................................................................................... 8
Unidade I
Caracterização da DPOC............................................................................................................... 11
Capítulo 1
Definição e epidemiologia................................................................................................. 11
CAPÍTulo 2
Causas, sinais e sintomas.................................................................................................... 21
CAPÍTULO 3
Redução dos fatores de risco e estadiamento.............................................................. 29
Unidade iI
Patologia, Patogênese e Fisiopatologia da DPOC........................................................................ 38
CAPÍTULO 1
Patologia e patogênese...................................................................................................... 38
CAPÍTULO 2
Fisiopatologia..................................................................................................................... 44
Unidade iII
Conduta na DPOC............................................................................................................................ 47
Capítulo 1
Diagnóstico........................................................................................................................ 47
CAPÍTULO 2
Tratamento da DPOC estável.............................................................................................. 59
Capítulo 3
Tratamento das crises na DPOC........................................................................................ 81
Unidade iV
x Avaliação Clínica da DPOC......................................................................................................... 91
CAPítulo 1
Monitoramento e avaliações continuadas.................................................................... 91
CAPíTULO 2
Qualidade de vida, estado nutricional e sono............................................................... 95
CAPítulo 3
Capacidade de exercício................................................................................................. 121
Caro aluno
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
6
Saiba mais
Sintetizando
7
Introdução
Seja bem-vindo a apostila de estudos: Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica: da
caracterização ao tratamento.
Isso acontece devido a maioria das pessoas acreditarem que a DPOC é um problema
que assola somente idosos e, por isso, não se preocupam com ela, nem com os sintomas
iniciais. Porém, essa crença é totalmente errada, uma vez que a DPOC acomete sobretudo
indivíduos com 40 anos ou mais, podendo até mesmo ser diagnosticada em indivíduos
jovens. É normal acometer mais fumantes, mas, pessoas expostas a substâncias tóxicas
ou poluição também podem desenvolver a doença.
Para diagnosticar a DPOC, o método mais utilizado é a espirometria, que tem como
função medir a capacidade pulmonar, e por meio dela e de outros exames é possível
admitir a presença da doença. Quando o diagnóstico é confirmado precocemente e o
tratamento iniciado logo e seguido corretamente conforme indicação médica, é possível
que paciente consiga manter uma boa qualidade de vida.
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Dessa forma, o estudo e aprimoramento das técnicas cirúrgicas, bem como o diagnóstico
precoce, além dos tratamentos para minimizar os sintomas do paciente, ou ainda
melhorar sua condição, são essenciais para retardar a progressão da doença.
Objetivos
»» Aprender o que é Doença Pulomonar Obstrutiva Crônica e quais são as
principais comorbidades que afetam o paciente e entender como o grau
da doença é caracterizado.
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Caracterização Unidade I
da DPOC
Capítulo 1
Definição e epidemiologia
Definição
Normalmente, a limitação do fluxo aéreo é progressiva e tem relação direta com uma
resposta inflamatória irregular dos pulmões a gases ou substâncias tóxicas, uma vez que
resulta no acúmulo de macrófagos, linfócitos T, e neutrófilos no parênquima pulmonar
e no sangue. Além dá inflamação, há um desbalanço na quantidade de proteinases e
antiproteinases e do estresse oxidativo, levando a caquexia, redução da massa muscular,
mudança no tipo de fibra e alteração da atividade mitocondrial (PEREIRA, 2010).
Apesar dos fatores já citados, há ainda fatores de risco ligados ao próprio hospedeiro,
como, a deficiência de α-1 antitripsina, hiperresponsividade das vias aéreas, crescimento
pulmonar inadequado e atuação de outros genes (PEREIRA, 2010).
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UNIDADE I │ Caracterização da DPOC
Embora tanto os termos enfisema como bronquite sejam utilizados como definição de
DPOC, essa premissa não é tão correta, já que, a destruição do parênquima pulmonar é
apenas uma das várias alterações causadas nos pacientes com DPOC; e o aparecimento
de tosse e secreção de muco não demonstra o quão grande é o efeito da limitação do
fluxo aéreo na morbimortalidade dos portadores de DPOC.
Comorbidades
Por isso, a DPOC precisa ser abordada com atenção, já que um diagnóstico diferencial
cuidadoso é um grande passo para o sucesso do tratamento da doença, uma vez que
o desenvolvimento da DPOC ocorre de forma lenta e os sintomas só começam a
aparecer após ocorrer uma significante perda da função pulmonar, como quando o
volume expiratório forçado no primeiro minuto atinge valores próximos a 50% do
previsto (PEREIRA, 2010). Assim, a avaliação das comorbidades apresentadas por
cada paciente devem ser estudas em todos os indivíduos com limitação crônica do
fluxo aéreo.
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Caracterização da DPOC │ UNIDADE I
Estágio Classificação
VEF1/CVF < 0,70
I: Leve
VEF1 ≥ 80% do previsto
VEF1/CVF < 0,70
II: Moderado
50% ≤ VEF1 < 80% do previsto
VEF1/CVF < 0,70
III: Grave
30% ≤ VEF1 < 50% do previsto
VEF1/CVF < 0,70
VEF1< 30% do previsto
IV: Muito grave
VEF1< 50% do previsto mais insuficiência respiratória
crônica
VEF1: Volume expiratório forçado no 1 o segundo; CVF: Capacidade vital forçada; Insuficiência respiratória: pressão parcial
arterial de oxigênio (PaO 2) menor que 8,0 kPa (60mmHg) com ou sem pressão parcial arterial de CO 2 (PaCO 2) maior que 6,7
kPa (50mmHg) espirando ar ao nível do mar.
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UNIDADE I │ Caracterização da DPOC
Essa relação fixa é comumente utilizada, porém, deve haver certo cuidado, já que o
envelhecimento promove redução no volume dos pulmões, assim, o resultado desse
parâmetro pode levar a um diagnóstico falso positivo para DPOC na população idosa,
especialmente com estágio I da doença. “Usando os limites inferiores da normalidade
(LLN) para VEF1/CVF, que são baseados na distribuição normal e classificando os
5% mais baixos da população saudável como anormal, encontra-se uma maneira de
minimizar o erro em potencial da classificação” (GOLD, 2006).
Asma e DPOC
A DPOC e a asma podem coexistir em um mesmo paciente, uma vez que ambas
são doenças obstrutivas das vias aéreas e que apresentam inflamação delas.
Apesar dessa semelhança, a inflamação crônica das vias aéreas nessas doenças
é diferente (Figura 1) porém, pacientes com asma que estão mais expostos a
poluição, ou até mesmo a fumaça do cigarro, estão suscetíveis a apresentar
limitação do fluxo aéreo estável, além de uma combinação de inflamação “tipo-
asma” e “tipo-DPOC” (GOLD, 2006). Diante desse processo, há dificuldade em
estabelecer um diagnóstico fechado para alguns pacientes (LANGE et al., 1998;
CHANEZ et al., 1997). Na figura a seguir, pode-se verificar a diferença entra as
duas doenças.
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Caracterização da DPOC │ UNIDADE I
Epidemiologia
Prevalência
Para a determinação da prevalência, são utilizados diferentes métodos para a coleta
de dados. Dentre eles incluem-se relato médico confirmando o diagnóstico de DPOC,
espirometria com e sem broncodilatador, e questionários com perguntas sobre a
presença de sintomas respiratórios. Dentre esses métodos, os menores cálculos de
prevalência são normalmente a dos relatos de médicos (GOLD, 2006).
Por meio dessa forma de determinação de prevalência, foi concluído que menos de 6%
da população foi diagnosticada com DPOC (HALBERT et al., 2006). Isso demonstra o
que já é sabido, a DPOC infelizmente é sub-reconhecida e subdiagnosticada em todo o
mundo (VAN DEN BOOM et al., 1998). Além disso, pode-se deduzir que indivíduos no
Estágio I: DPOC Leve, podem não ter sintomas, ou ainda, podem apresentar sintomas
como tosse crônica ou expectoração e falta de ar, porém não são identificados como
sugestivos de DPOC. Alguns estudos realizados em vários lugares do mundo, por
meio de métodos padronizados, com a realização de testes espirométricos, calculam
que até 25% dos adultos de meia idade ou mais podem apresentar limitação do fluxo
aéreo classificada como DPOC Leve ou graus mais elevados (MENEZES et al., 2005;
CHAPMAN et al., 2006; LOPEZ et al., 2006; BUIST et al., 2005).
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UNIDADE I │ Caracterização da DPOC
Estudo PLATINO
Para saber um pouco mais sobre esse estudo, vocês podem acessar: <http://
www.platino-alat.org/docs/livro_platino_pt.pdf>.
Morbidade
Para as avaliações da morbidade, o banco de dados para análise da DPOC inclui,
normalmente, visitas médicas, visitas a emergências e internações hospitalares. Esses
resultados, quando comparados aos dados de mortalidade, costumam ser menos
acessíveis e geralmente menos confiáveis. Apesar disso, esses parâmetros indicam que
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Caracterização da DPOC │ UNIDADE I
Mas assim como para a prevalência, nesse banco de dados, infelizmente a DPOC nos
seus estádios I e II, geralmente não é determinada, portanto, não pode ser compreendida
como o diagnóstico do paciente, podendo ser analisada como outra doença.
Quase em todo o mundo, consultas relativas a DPOC, são sempre em maior quantidade
do que as consultas para outros tipos de doenças tão sérias quanto, como asma,
pneumonia, câncer de pulmão e de traqueia, e tuberculose (ERS, 2003). Nos Estados
Unidos, no ano 2000, houveram em torno de 8 milhões de consultas para diagnóstico da
DPOC, 1,5 milhões de visitas aos prontos-socorros e 673.000 internações hospitalares
(CDCP, 2002). Outra maneira de prever o impacto da morbidade da enfermidade é de
calcular os anos vividos com a doença (Years Living with Disability – YLD). O Global
Burden of Disease Study (Estudo Global do Impacto das Doenças) crê que a DPOC
resulta em 1,68 YLD em uma população de 1.000, representando 1.8% de todos os
YLDs, com maior custo para indivíduos do sexo masculino do que feminino (1,93% vs.
1,42%) (MURRAY et al., 1996; 1997).
Mortalidade
Assim como na morbidade, deve-se tomar cuidado na interpretação dos dados divulgados
pela Organização Mundial de Saúde, que divulga todo ano cálculos estimando da
mortalidade para todo o mundo, devido ao uso incorreto do termo DPOC. Isso ocorre
porque antes de 1968 e da oitava revisão da Classificação Internacional de Doenças –
CID, os termos “bronquite crônica” e “enfisema” eram empregados de forma errônea
para caracterizar também DPOC. Porém, nos anos 1970, o termo “DPOC” substituiu
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UNIDADE I │ Caracterização da DPOC
Já com as revisões seguintes da CID (nona e décima), a situação melhorou, uma vez
que as mortes por DPOC ou obstruções crônicas das vias aéreas foram compreendidos
em uma mesma categoria denominada: “DPOC e doenças associadas” (CID-9 códigos
490-496 e CID-10 códigos J42-46), facilitando um pouco a classificação das doenças.
Apesar disso, está mais do que estabelecido que a DPOC é uma das doenças que
mais causa morte no mundo todo. O Estudo Global de Impacto das Doenças (Global
Burden Disease Study) (MURRAY et al., 1996; 1997), projetado para 2020, projetou
que a DPOC será a terceira causa de mortalidade no mundo, sendo que, essa projeção
já foi concretizada antes do prazo. Essa mortalidade elevada foi planejada devido ao
aumento do tabagismo e da expectativa de vida em todos os países, bem como melhora
das condições de saúde devido ao avanço da medicina. Apesar disso, ainda há uma
tendência de aumentar a mortalidade por DPOC especialmente em mulheres.
Infelizmente ainda se espera que esses aumentos de mortes por DPOC se mantenham
no mundo todo, mesmo com os avanços médicos, além de existirem projeções tanto
otimistas quanto pessimistas para a mortalidade pela DPOC. Essas projeções levam em
consideração além do envelhecimento da população mundial e aumento do tabagismo,
a diminuição de outras causas de morte, como HIV.
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Caracterização da DPOC │ UNIDADE I
Como já se sabe, a DPOC é uma enfermidade com altos custos diretos, como o valor
dos cuidados clínicos no tratamento, além de custos indiretos, como, a necessidade do
paciente em parar de trabalhar e despesas para família (ERS, 2003). Quando ocorre
uma exacerbação da doença, esses custos, principalmente em países desenvolvidos, é o
que causa maior impacto nos gastos do sistema de saúde. Na União Europeia, o custo
total direto com enfermidades pulmonares é por volta de 6% do orçamento total com
saúde, com a DPOC correspondendo a 56% (Є$38,6 bilhões de Euros) das doenças
respiratórias (ERS, 2003). Já nos Estados Unidos em 2002, o custo direto com DPOC
foi de 18 bilhões de dólares e os custos indiretos chegaram a $14,1 bilhões (NHLBI,
2014). É claro que esses variam de acordo com a região, já que, os pacientes dependem
diretamente de como o sistema de saúde é viabilizado e financiado (CHAPMAN
et al., 2006). Além disso, há uma relação direta entre a gravidade da DPOC (estádio)
e as despesas médicas (JANSSON et al., 2002), além do que a repartição das despesas
depende do avanço da doença. Portanto, a DPOC aumenta expressivamente o custo dos
pacientes, principalmente os que estão internados.
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UNIDADE I │ Caracterização da DPOC
para serviços no lar, uma vez que esse custo pode ser subestimado, não representando
o custo fidedigno do serviço domiciliar.
Em países subdesenvolvidos, custos médicos diretos nem são tão relevantes, quando
comprados ao impacto da DPOC tanto no trabalho, quanto em casa. Uma vez que,
normalmente, o setor de saúde não consegue oferecer cuidados e serviços de apoio
a longo prazo, apenas no tratamento inicial, fazendo com que, não só o paciente com
DPOC, mas também algum parente, tenham que deixar o emprego para cuidar do
parente enfermo. Como o capital humano é o fator mais importante na economia de
países em desenvolvimento e capitalistas, os custos indiretos da DPOC representam
grandes problemas para a economia desses países (GOLD, 2006), uma vez que esse
custo indireto fica difícil de mensurar.
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CAPÍTulo 2
Causas, sinais e sintomas
Causas
Como já foi citado anteriormente, o tabagismo é a principal causa da DPOC no mundo.
Além disso, podem ser considerados também como fatores de risco: a genética, fumaça
do cigarro (fumante passivo), exposição a poeira e agentes químicos domésticos,
poluição tanto em grandes cidades como também em ambiente doméstico, derivado da
combustão de biomassa.
Apesar de todas as pesquisas referentes a DPOC, ainda se faz necessário mais estudos
na área para que se possa explorar os outros fatores de risco já citados, além é claro,
desvendar também suas causas, uma vez que a determinação dos fatores de risco é
determinante no desenvolvimento de medidas de atenção e tratamento de qualquer
tipo de doença.
Quadro 2.
Genes.
Exposição a partículas:
»» Fumaça do cigarro.
»» Poeiras ocupacionais, orgânicas e inorgânicas.
»» Poluição do ar doméstica proveniente de combustão de biomassa (lenha).
»» Poluição exterior.
Crescimento e desenvolvimento pulmonar.
Estresse Oxidativo.
Gênero.
Idade.
Infecções respiratórias.
Status socioeconômicos.
Nutrição.
Comorbidade.
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UNIDADE I │ Caracterização da DPOC
Genes
DPOC é uma doença poligênica que é caracterizada pela interação entre a genética e
o ambiente. Uma carência hereditária grave de alfa-1 antitripsina4, um dos principais
inibidores de protease sérica, é o fator de risco genético que está mais associado ao
desenvolvimento da DPOC. Os indivíduos com origem no norte europeu são os que estão
mais suscetíveis a ter essa característica (BLANCO et al., 2006). O desenvolvimento
rápido e acentuado de enfisema panlobular junto com a redução da função pulmonar
acontece em tabagista e não tabagistas com deficiência grave, apesar de o cigarro ajudar
de forma significativa no desenvolvimento da doença.
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Caracterização da DPOC │ UNIDADE I
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UNIDADE I │ Caracterização da DPOC
Estresse oxidativo
Os pulmões podem ser expostos a oxidantes produzidos de maneira endógena, por meio
de fagócitos ou outras células ou ainda por maneira exógena, por meio de poluentes do
ar ou de cigarro. Além disso, podem ser expostos por oxidantes intracelulares que fazem
parte de várias vias de sinalização para célula. Para todas essas formas de exposição
oxidativa, o pulmão está protegido, sendo que essa proteção é realizada por sistemas
enzimáticos e não enzimáticos (GOLD, 2006).
Gênero
Estudos anteriores mostraram uma alta prevalência e mortalidade da DPOC em homens
quando comparados a mulheres. Apesar disso, o gênero ainda não é uma questão
definitiva para promover a doença. Estudos recentes mostraram que a prevalência da
doença é praticamente equivalente entre os gêneros, nos países de primeiro mundo, o
que pode estar relacionado ao aumento de mulheres tabagistas e/ou redução de homens
fumantes. Além disso, outras pesquisas evidenciam que pessoas do sexo feminino estão
mais propensas aos efeitos do tabaco do que os indivíduos do sexo masculino (GOLD,
2011). Porém, mais estudos ainda são necessários para se definir a atuação do gênero
na DPOC.
Infecções respiratórias
Infecções respiratórias, tanto virais quanto bacterianas, podem ajudar na patogênese
e progressão da DPOC. A inflamação das vias aéreas também pode ser um fator
fundamental nas exacerbações da doença. Nota-se que pode haver uma relação da
diminuição da função pulmonar e da exacerbação dos sintomas respiratórios nos adultos
que quando crianças apresentaram alguma infecção grave. A pré-disposição a infecções
pode ter relação com o baixo peso ao nascer, relacionado ainda com a DPOC. O HIV
também acelera o início do enfisema relacionado ao tabagismo; a inflamação pulmonar
induzida pelo HIV pode ter um papel essencial neste processo. Por isso, é muito comum
uma pessoa infectada com HIV morrer por agravamento de doença respiratória.
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UNIDADE I │ Caracterização da DPOC
Nível socioeconômico
Nutrição
Asma
Estudos verificaram que adultos asmáticos tinham risco muito mais elevado de
desenvolver DPOC, do que indivíduos que não tinham asma. Além disso, outro estudo
determinou que 1/5 dos indivíduos asmáticos analisados desenvolveram sinais e
sintomas de DPOC, como limitações irreversíveis do fluxo aéreo (GOLD, 2006).
Sinais e sintomas
Dispneia
Os pacientes com DPOC relatam que a falta de ar tem relação como um enorme esforço
para respirar, sensação de grande peso, ou ainda de estar ofegante (SIMON et al., 1990).
Entretanto, a forma como caracterizam a sensação de dispneia varia de indivíduo para
indivíduo (ELLIOT et al., 1991). Pela forma como o paciente descreve suas sensações,
normalmente é possível diferenciar a falta de ar proveniente da DPOC e a falta de ar
devido a outras causas, embora haja descrições muito semelhantes entre a DPOC e a
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Caracterização da DPOC │ UNIDADE I
Quadro 3.
Tosse
A tosse, dependendo do paciente com DPOC, pode ser o primeiro sintoma a aparecer
(GEORGOPOULAS et al., 1991), porém, normalmente tende a ser ignorada pelo doente,
que costuma considerá-la apenas como um reflexo do tabagismo, poluição ou poeira,
sem sequer imaginar que pode ser alguma coisa mais grave. Essa tosse pode começar
intermitente, mas com o tempo passa a ser frequente, podendo ser improdutiva ou não
(BURROWS et al., 1965). Porém, não é raro haver significante limitação do fluxo aéreo
sem tosse.
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UNIDADE I │ Caracterização da DPOC
Expectoração
É comum pacientes com DPOC expelirem algum escarro do tipo viscoso quando há
tosse. Essa expectoração é muito importante para o diagnóstico, porém, nem sempre
o paciente tem costume de eliminar esse escarro e sim engoli-lo, uma vez que a
cultura e o gênero têm relação com esse hábito. Por meio da quantidade do material
eliminado é possível determinar a presença de bronquiectasias, além de determinar
um aumento dos mediadores inflamatórios quando o escarro é purulento (Hill et al.,
1999), e o início de uma exacerbação quando há desenvolvimento desses mediadores
(STOCKLEY et al., 2000).
Tanto os sibilos quanto as opressões no peito podem ser bastante variáveis e não
necessariamente são específicos a DPOC. São sintomas que podem ocorrer em todos
os estádios da doença, do mais leve ao mais grave, porém, são mais comuns nos casos
mais graves. Sibilos audíveis apresentam possibilidade de aparecer na laringe e nem
sempre o seu som é caracterizado por alguma anormalidade auscultatórias. Porém, no
tórax é possível identificar sibilos inspiratórios e expiratórios.
Com relação a opressão no peito, normalmente ocorre após esforço, não tem localização
definida, e pode aparecer através de contrações isométricas dos músculos intercostais.
Esses dois sintomas ausentes não eliminam o diagnóstico de DPOC, e a presença de
ambos também não determina o diagnóstico como asma (GOLD, 2006).
A redução da massa corporal e anorexia são situações que podem ocorrer já na DPOC
mais grave (SCHOLS et al., 1993). Elas podem ter relação importante ao prognóstico
(SCHOLS et al., 1998) mas podem ainda ser indicativo de outras enfermidades (ex.:
tuberculose, tumor brônquico), havendo sempre necessidade de investigação. Nos
ataques de tosse, há um aumento rápido da pressão intratorácica no acesso a tosse. Esse
acesso pode causar também fraturas de costela, que às vezes podem não ser notadas.
Pode ainda haver o desenvolvimento de cor pulmonar quando o tornozelo do paciente
incha. Depressão, ansiedade e outros problemas psiquiátricos são comuns nos estádios
mais graves da DPOC (CALVERLEY et al., 1996).
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CAPÍTULO 3
Redução dos fatores de risco e
estadiamento
Fumaça do tabaco
Prevenção do tabagismo
Esse tipo de legislação, que estabelece que, locais fechados estejam livres de fumaça
deveria ser implementada em todos os países do mundo, para reduzir e até mesmo
prevenir o tabagismo em todas as idades, principalmente crianças, mulheres grávidas,
adolescentes e jovens. Além disso, profissionais de saúde devem mostrar que são
adeptos a causa e que são a favor que mesmo em casa os tabagistas não fumem, para
não influenciar e nem prejudicar que não faz uso do tabaco (GOLD, 2006).
29
UNIDADE I │ Caracterização da DPOC
Essa medida deve ser sempre incentivada porque sabemos que é bastante comum
a exposição do cigarro por pessoas que não fumam (JINDAL et al., 2006). Pais e
parentes próximos precisam se conscientizar que não devem fumar perto de quem é
não fumantes, porque essa exposição, em longo prazo, principalmente em lares pouco
arejados e carros, aumenta o risco de fumantes passivos desenvolverem DPOC (EISNER
et al., 2005).
Outra população que precisa ser educada quanto ao tabagismo é a das mulheres grávidas,
que podem expor a fumaça do cigarro a seu bebê ainda no útero, o qual é exposto
através de metabólitos no sangue da mãe (TAGER et al., 1995). Assim, a necessidade de
campanhas de prevenção a essas mulheres podem minimizar os problemas não só para
os bebês, como também para as próprias mães ajudando em riscos que elas possam
vir a ter. Dessa forma, tanto filho quanto mãe reduzem a prevalência de infecções
respiratórias, bem como outros problemas pulmonares no decorrer da vida (COLLEY
et al., 1974).
A melhor e mais efetiva intervenção com relação ao tabaco é quando uma pessoa
abandona definitivamente o hábito de fumar. Isso resulta em uma menor exposição
aos fatores de risco para a DPOC e ajuda na prevenção ou adiamento de limitações das
vias aéreas, ou redução de sua progressão, refletindo na queda da taxa de mortalidade
(ANTHONISEN et al., 2005).
Com relação ao tratamento, os setores de saúde devem proporcionar aos fumantes, com
ou sem o indicativo da doença, a adesão ao tratamento para cessação do tabagismo. As
intervenções para extinção do hábito de fumar normalmente são promissoras tanto em
pessoas do sexo masculino quanto feminino, como para todas as etnias. As pessoas mais
jovens, normalmente tendem a não pararem de fumar, porém, é possível atingir um
bom resultado em todas as idades. Além disso, é muito mais vantajoso o investimento
nesse tipo de programa, em termos financeiros, médicos e sociais, por cada ano de vida
adicional devido ao fim do hábito de fumar.
30
Caracterização da DPOC │ UNIDADE I
A maior parte dos tabagistas atravessa muitos passos até conseguir parar com o
cigarro (FIORE et al., 1996). O mais importante antes de qualquer intervenção é
saber se o paciente está realmente disposto a cessação do fumo, sendo de grande
valia aos profissionais de saúde essa informação. A partir dessa afirmação, é possível
traçar um melhor plano de tratamento, uma vez que, para um melhor resultado, o
tratamento só deve ser iniciado quando o paciente estiver completamente pronto
a parar, pois esse aspecto é de extrema necessidade como forma de cooperação na
terapia. Quando o tabagista ainda não se mostra preparado para cessar o fumo é
melhor inicialmente realizar uma motivação a parar, antes de iniciar propriamente
o tratamento (GOLD, 2006).
Aconselhamento
Existe uma relação direta entre a forma e intensidade de como ocorre o aconselhamento
e o efetivo abandono do fumo (BIANCHI et al., 2004; BADGETT et al., 1993). Aumentar
a duração das sessões e até mesmo a quantidade de sessões e o tempo que essas sessões
ocorrem ao longo dos meses, são formas para melhorar o tratamento (KATZ et al.,2004).
31
UNIDADE I │ Caracterização da DPOC
Além disso, o aconselhamento tem bastante eficiência seja de forma individual como
em grupo. Diversos tópicos são abordados nessas conversas, desde ajuda em resolver
problemas e suporte no tratamento (FIORE et al., 1996). Dentre os principais tópicos
temos:
Farmacoterapia
Normalmente, produtos para repor nicotina, por si só, não são a melhor forma de
tratamento, quando utilizada de forma isolada, uma vez que estudos garantem que
qualquer forma de reposição de nicotina, como pastilha, adesivo, inalador, goma
ou spray, aumentam os índices de abstinência a longo prazo (LANCASTER et al.,
2000). Dessa forma, a reposição é mais indicada quando adjunta ao aconselhamento
(SCHWARTZ, 1987), já que estudos indicam que a utilização de várias modalidades de
tratamento é mais eficaz, quando comparada a utilização de formas únicas de terapia
(FIORE et al., 1994). Doença instável das artérias coronárias, infarto recente, derrame
ou úlceras pépticas são contraindicações para utilização da terapia de reposição de
nicotina (FIORE et al., 1996). Além disso, estudos indicam sua utilização por até 8
semanas, apesar de ser utilizada por mais tempo pelos pacientes por medo de recaídas.
Estudos confirmam que o placebo não apresenta grande eficiência quando comparado
a todas as terapias de reposição de nicotina. Normalmente, os pacientes preferem
utilizar o adesivo, por não necessitar de grandes ações por parte do indivíduo, pois basta
colocá-lo na pele. Porém, a escolha do método de reposição deve levar em consideração
o estilo de vida, cultura e hábitos da pessoa, para haver um melhor resultado. Além
disso, é indicado no tratamento, fazer uso de altas doses de nicotina, independente do
32
Caracterização da DPOC │ UNIDADE I
número de cigarros consumido por dia, já que não há relação entre o adesivo em si e a
quantidade de fumo.
Dessa forma, normalmente recomenda-se utilizar doses mais elevadas nas primeiras
semanas de tratamento e ir reduzindo de forma progressiva até doses mais baixas
ao final da oitava semana de tratamento, independente do tipo de adesivo utilizado
(GOLD, 2006).
Já quando o paciente faz uso da goma de mascar de nicotina, ele precisa mastigar
a goma durante um período e depois colocá-la na parede interna da bochecha para
ocorrer absorção e ainda uma maior duração na liberação da nicotina pela mucosa.
Se durante o tratamento o paciente mastigar continuamente a goma, sem mantê-la na
parede da mucosa, haverá pouca absorção da nicotina, pois a maior parte da nicotina
liberada será engolida, podendo haver náuseas. Além disso, para ajudar na absorção da
nicotina, bebidas ácidas, como café, sucos e refrigerantes, devem ser evitados. Assim,
recomenda-se esperar por pelo menos 15 minutos antes de comer ou antes e durante
a mastigação da goma. Essa forma de tratamento, apesar de ser eficiente, é um pouco
difícil de ser aderida, dependendo do paciente, nem sempre é considerada uma forma
fácil de tratamento, além de ter pouco aceitação devido ao sabor. Estudos indicam
ainda que pode trazer outros tipos de problemas, como síndrome da articulação
temporomandibular (SACHS et al., 1996).
Exposições ocupacionais
Estudos realizados nos Estados Unidos, averiguaram que em torno de 19% da DPOC em
tabagistas e em torno de 31% de DPOC em não tabagistas pode ser relação com poeiras
e produtos químicos ocupacionais (CELLI et al., 2005; ACKERMANN-LIEBRICH et
al., 1997; KUNZLI et al., 2000; OROCZO-LEVI et al., 2006), mas essa porcentagem
pode ser ainda maior em países em que há maior emissão de poluentes, bem como
maior exposição das pessoas a poeiras, substâncias tóxicas e gases, principalmente em
países subdesenvolvidos. Algumas profissões ou ocupações estão diretamente ligadas
a propensão de desenvolver DPOC, sobretudo aqueles que estão expostos a fumaça e
poeiras minerais e biológicas.
33
UNIDADE I │ Caracterização da DPOC
Ainda não se sabe qual a porcentagem de pessoas que possam estar em risco e
desenvolver doença respiratória devido a exposições ocupacionais, porém, grande
parte das desordens pulmonares proporcionadas pela ocupação do paciente podem ser
diminuídas ou controladas por meio de formas que objetivem diminuir a quantidade
de poluentes e substâncias inalados por esses indivíduos (CHAPMAN et al., 2005;
GHAMBARIAN et al., 2004; NICHTER, 2006). As principais formas de melhorar essa
situação são:
O objetivo principal deve ser eliminar ou pelo menos reduzir a exposição dos
empregados onde eles trabalham, ou seja, na prevenção primária a doença. Depois
disso, a atenção secundária deve ser obtida por meio do cuidado e da detecção de
casos que podem vir a aparecer. Tanto a prevenção primária quanto secundária são de
grande necessidade para melhora da circunstância recente e para diminuir o impacto
da DPOC (GOLD, 2006).
34
Caracterização da DPOC │ UNIDADE I
Regulamentos da qualidade do ar
35
UNIDADE I │ Caracterização da DPOC
Estadiamento
O esquema a seguir (quadro 4) oferece uma classificação dos estágios da doença, bem
como os sinais e sintomas existentes para ajudar a intervir no tratamento da doença.
Estádio Características
I: DPOC Leve Leve limitação do fluxo aéreo (VEF1/CVF < 0,70; VEF1 ≥ 80% do previsto). Principais sintomas: pode haver tosse
crônica e/ou produção de muco. Normalmente, a pessoa nem imagina que há alterações em sua função pulmonar.
II: DPOC Moderada Agravamento da limitação do fluxo aéreo (VEF1/ CVF < 0,70; 50% ≤ VEF1 < 80% do previsto), acompanhada de falta
de ar que normalmente ocorre aos esforços. Às vezes pode haver tosse e produção de muco. É nessa situação que os
pacientes buscam por atendimento médico.
III: DPOC Grave Grande agravamento da limitação do fluxo aéreo (VEF1/ CVF < 0,70; 30% ≤ VEF1 < 50% do previsto), aumento da
falta de ar, redução da capacidade de realizar atividade física, fadiga e crises frequentes resultando em baixa qualidade de
vida.
IV: DPOC Muito Grave Intensa limitação do fluxo aéreo (VEF1/ CVF < 0,70; VEF1 < 30% do previsto ou VEF1 < 50% do previsto).
Insuficiência respiratória crônica [PaO2 < 8,0 kPa (60 mmHg) com ou sem PaCO2 > 6,7 kPa (50mmHg)] podendo
haver cor pulmonale com aumento da pressão venosa jugular e edema no tornozelo.
Fonte: GOLD (2006).
Quando o paciente apresentar VEF1 > 30% do previsto, porém com complicações
pertinentes ao Estádio IV, ele é automaticamente classificado como Estádio IV: DPOC
Muito Grave, independente do valor da VEF1 ser maior que 30% do previsto.
»» Estádio I: nesse estádio é que se encontra a maior parte dos pacientes com
DPOC. Devido à pouca complexidade dos sintomas, normalmente o clínico
geral faz o acompanhamento, não sendo necessário encaminhamento ao
pneumologista ou outro especialista.
36
Caracterização da DPOC │ UNIDADE I
37
Patologia,
Patogênese e Unidade iI
Fisiopatologia
da DPOC
CAPÍTULO 1
Patologia e patogênese
Quando a fumaça do tabaco ou diversas partículas nocivas são inaladas pelo ser
humano, elas originam uma inflamação pulmonar, que seria uma resposta adequada
do organismo quando saudável, porém em indivíduos com DPOC essa resposta
parece estar mais exacerbada. Essa ação inflamatória mais acentuada pode destruir
o parênquima (causando enfisema pulmonar) e obstruir os mecanismos de defesa e
reparo que deveriam ocorrer, ocorrendo fibrose nas pequenas vias aéreas. Quando há
essas alterações anormais, o indivíduo pode ter aprisionamento de ar e limitação do
fluxo aéreo.
Patologia
Alterações patológicas estão presentes nas vias aéreas proximais, vias aéreas
periféricas, parênquima e vascularidade pulmonar nos doentes com DPOC
(HOGG, 2004). No Quadro 5, podemos observar essas principais mudanças.
38
Patologia, Patogênese e Fisiopatologia da DPOC │ UNIDADE II
Quadro 5.
Mudanças Estruturais: ↑ células caliciformes, glândulas submucosas aumentadas (ambos levando à hipersecreção do muco), metaplasia escamosa
do epitélio3.
Células Inflamatórias: ↑ macrófagos, ↑ linfócitos T (CD8+> CD4+), ↑ linfócitos B, folículos linfoides, ↑ fibroblastos, poucos neutrófilos ou eosinófilos.
Mudanças Estruturais: espessamento de parede das vias aéreas, fibrose peribrônquica, exsudato inflamatório na luz, estreitamento das vias aéreas,
(bronquiolite obstrutiva), aumento da resposta inflamatória e exsudato relacionado com gravidade da doença.
Mudanças Estruturais: destruição da parede alveolar, apoptose das células epiteliais e do endotélio
»» Enfisema centro lobular: dilatação e destruição dos bronquíolos respiratórios; mais comumente visto em fumantes.
»» Enfisema panacinar: destruição dos sacos alveolares bem como dos bronquíolos respiratórios; mais comumente observados na deficiência de
alfa-1 antitripsina.
Vasculatura Pulmonar
Mudanças estruturais: espessamento da íntima, disfunção de células endoteliais, ↑ músculo liso ↑ hipertensão pulmonar.
Patogênese
39
UNIDADE II │ Patologia, Patogênese e Fisiopatologia da DPOC
Células inflamatórias
A DPOC é marcada por um modelo particular de inflamação envolvendo neutrófilos,
macrófagos e linfócitos, que são caracterizados no quadro 6. Essas células são liberadoras
de mediadores inflamatórios e fazem interação com células estruturais das vias aéreas
e do parênquima pulmonar.
Quadro 6.
Neutrófilos: ↑ do escarro em tabagistas normais. Ampliação da gravidade da DPOC e sintomas relacionados. Baixa quantidade de neutrófilos
presentes nos tecidos. Essas células podem apresentar papel fundamental na hipersecreção do muco e na liberação das proteases
Macrófagos: ↑ considerável na quantidade presente no parênquima pulmonar, lúmen das vias aéreas e no líquido do lavado broncoalveolar. São
originários dos monócitos sanguíneos que sofrem diferenciação no interior do tecido pulmonar. Geram aumento dos mediadores inflamatórios e das
proteases em indivíduos com DPOC em consequência da fumaça do tabaco e pode proporcionar fagocitose anormal.
Linfócitos T: ↑ das células CD4+ e CD8+ no parênquima pulmonar e na parede das vias aéreas, além de ↑ da proporção CD8+:CD4+. ↑
células T CD8+(Tc1) e células Th1 que produzem intérferon-γ e expressa o receptor de quimocina CXCR39. Células CD8+ podem ser citotóxicas
para células alveolares, colaborando para seu aniquilamento.
Linfócitos B: ↑ no interior de folículos linfoides e nas vias aéreas periféricas, provavelmente como resposta da infecção das vias aéreas e
colonização crônica.
Eosinófilos: ↑ das proteínas eosinofilias no escarro e ↑ dos eosinófilos na parede das vias aéreas durante exacerbações.
Células epiteliais: podem ser acionadas devido a fumaça de cigarro para produção de mediadores inflamatórios.
40
Patologia, Patogênese e Fisiopatologia da DPOC │ UNIDADE II
Mediadores inflamatórios
Quadro 7.
Fatores quimiotáticos:
Citocinas Pró-inflamatórias: ex.: fator de necrose tumoral -α (TNF-α), IL-1β, e IL-6, promovem aumento do processo inflamatório e
contribuem para algumas complicações referentes à doença.
Fatores de crescimento: ex.: fator transformador de crescimento beta (TGF-β) pode causar fibrose nas pequenas vias aéreas.
Estresse oxidativo
Desequilíbrio protease-antiprotease
Quadro 8.
Catepsina B, K, L, S Cistatinas
42
Patologia, Patogênese e Fisiopatologia da DPOC │ UNIDADE II
Quadro 9.
43
CAPÍTULO 2
Fisiopatologia
44
Patologia, Patogênese e Fisiopatologia da DPOC │ UNIDADE II
Hipersecreção do muco
Hipertensão pulmonar
Na DPOC, pode haver tardiamente hipertensão pulmonar, que pode ser tanto de grau
leve como moderada pela vasoconstrição hipóxica das pequenas artérias pulmonares,
podendo levar a mudanças estruturais como hiperplasia da íntima e depois
hipertrofia/hiperplasia do músculo liso (BARBERA et al., 2003). Há uma inflamação
nos vasos semelhante a que ocorre nas vias aéreas e podendo resultar em uma disfunção
celular endotelial. O aumento da pressão da circulação pulmonar pode ocorrer devido
à perda do leito capilar pulmonar no enfisema, sendo que a progressão da hipertensão
pulmonar pode acarretar em hipertrofia ventricular direita até insuficiência cardíaca
direita (cor pulmonale) (GOLD, 2006).
Características sistêmicas
As principais características são: caquexia, depleção musculoesquelética, osteoporose,
depressão, anemia e doenças cardiovasculares, sendo que todas apresentam um
impacto muito importante na sobrevivência e comorbidades dos pacientes com DPOC
(WOUTERS et al., 2002; AGUSTI et al., 2003). A caquexia é mais comum em pacientes
com DPOC em estágio grave. Pode ocorrer redução de massa muscular, além de fraqueza,
devido ao aumento da apoptose e/ou desuso muscular. Já com relação a osteoporose,
depressão e anemia crônica (Similowsk, et al., 2006), altas concentrações de mediadores
inflamatórios, como o TNF-α, IL-6, e radicais livres derivados do oxigênio, podem
45
UNIDADE II │ Patologia, Patogênese e Fisiopatologia da DPOC
acarretar a esses problemas sistêmicos, que tem relação com o aumento de proteína
C-reativa (PCR) (GAN et al., 2004).
Exacerbações
Nada mais são que uma ampliação da resposta inflamatória das vias aéreas do indivíduo
com DPOC, podendo ocorrer devido a infecção bacteriana ou viral, além de poluentes
ambientais. Em exacerbações leves e moderadas, existe uma elevada concentração
de mediadores como TNF-α, LTB4 e IL-8 e também de biomarcadores de estresse
oxidativo, que estão diretamente relacionados com aumento de neutrófilos eosinófilos
no catarro e na parede nas vias aéreas (WEDZICHA, 2002). Já nas exacerbações
graves, também há aumento de neutrófilos na parede das vias aéreas e aumento da
expressão de quimiocinas (DROST et al., 2005). Durante a exacerbação, há aumento
do aprisionamento de ar e da hiperinflação, com redução do fluxo expiratório, que é
diretamente responsável pelo aumento da dispneia (PARKER et al., 2005). Além disso,
há um agravamento das irregularidades na relação VA/Q causando hipoxemia grave
(GOLD, 2006).
46
Conduta na Unidade iII
DPOC
Capítulo 1
Diagnóstico
Quadro 10.
47
UNIDADE III │ Conduta na DPOC
Histórico médico
Sempre se deve avaliar o histórico médico de um indivíduo que esteja com suspeita de
DPOC (GOLD, 2006). Assim, deve-se ter em mente os principais tópicos apresentados
a seguir:
48
Conduta na DPOC │ UNIDADE III
Exame físico
O exame físico tem papel importante para o tratamento e cuidado do paciente, porém,
dificilmente ajuda no diagnóstico da DPOC. Normalmente, só alguma carência pulmonar
significante já ocorreu é que os sinais físicos vão realmente aparecer (KESTEN et al.,
1993; LOVERIDGE et al., 1986), sendo que a detecção de alguma anormalidade tem
baixa sensibilidade e especificidade para a doença. Além disso, sabemos que há muitos
sinais físicos que podem ou não estarem presentes nos pacientes de DPOC, porém,
quando eles estão ausentes não é possível excluir o diagnóstico de DPOC até a realização
de exames complementares (GOLD, 2006).
49
UNIDADE III │ Conduta na DPOC
Inspeção
Palpação e percussão
50
Conduta na DPOC │ UNIDADE III
Ausculta
Esses achados não concluem o diagnóstico. Outros exames precisam ser realizados para
o fechamento do diagnóstico.
Espirometria
51
UNIDADE III │ Conduta na DPOC
São necessários alguns preparativos iniciais para uma boa execução da espirometria.
Os aparelhos (espirômetros) devem ser calibrados com regularidade; devem permitir
a realização de impressões dos exames para detectar se há algum erro, devem ter um
relatório automático para identificar um teste ruim ou mal feito e todos os profissionais
que realizam o teste necessitam de treinamento prévio para que a realização do teste seja
correta. Já o paciente precisa ser conscientizado de como deve ser realizada a manobra
e que seu esforço deve ser máximo, para que assim não haja erros no diagnóstico e
consequente conduta, pois o esforço realizado pelo paciente durante o teste tem total
dependência para a conclusão da espirometria.
Além disso, durante a execução do teste, as técnicas devem estar de acordo com o que
é preconizado na literatura (MILLER et al., 2005); sendo assim, o traçado volume
pelo tempo de expiração precisa ser contínuo; o espirograma (curva) precisa durar
um tempo adequado para que o seja atingido um platô (estabilização do volume), que
pode chegar a 15 segundos ou mais em pacientes em estágio grave; os valores da CVF
e do VEF1 devem ser adquiridos por meio do maior valor mensurado em uma das 3
curvas que devem ser realizadas e devem apresentar um padrão satisfatório, condizente
com o que se espera do formato da curva. Além disso, os valores da CVF e do VEF1,
nessas três curvas, devem variar em torno de 5% ou 100 ml, o que for maior e a relação
VEF1/ CVF deve ser obtida por meio da curva tecnicamente correta e com maior soma
de CVF e VEF1 (GOLD, 2006).
52
Conduta na DPOC │ UNIDADE III
Figura 3. Espirograma normal comparado a de um paciente com DPOC grau leve a moderado.
Litros
0 VEF1
1
2
3
4
5
DPOC
CVF
Normal
CVF
1 2 3 4 5 6 Tempo (s)
Fonte: GOLD (2006).
Algumas vezes o pico do fluxo expiratório é usado como ferramenta para se determinar
limitação de fluxo aéreo, porém, quando utilizado na DPOC pode subestimar o grau de
obstrução das vias aéreas (KELLY et al., 1988). Apesar de alguns estudos indicarem que
o pico do fluxo expiratório tem boa sensibilidade, sendo capaz de identificar 90% dos
pacientes com DPOC, sua especificidade é fraca, não podendo ser confiável como único
teste diagnóstico (JACKSON et al., 2003).
Tipos de espirômetros
»» Turbinômetro: fluxo aéreo passa através do sensor e faz com que uma
lâmina ou hélice oscile ou gire. O fluxo é proporcional a velocidade de
oscilação ou giro.
»» Selo d’água: composto por uma campânula com volume entre 7 a 10 litros
em um reservatório de água com extremidade aberta abaixo da superfície
de água, com um sistema de tubos que dá acesso a campânula e promove
a medida de volume. Tem como vantagens ser simples e exato, porém,
tem como desvantagens serem pesados e de difícil transporte (MILLER
et al., 2005).
Grande parte das pessoas com DPOC leve identificadas em muitas pesquisas relatava
que tinha, ao menos, um sintoma respiratório, como tosse, chiado, produção de
expectoração, ou dispneia (KANNER et al., 1999; LOFDAHL et al., 1998). Esses
55
UNIDADE III │ Conduta na DPOC
Além do que foi descrito, o método BODE (Body mass index, Obstruction, Dyspnea
and Exercise) foi desenvolvido para identificar a gravidade da DPOC relacionando ao
índice de massa corpórea, com a obstrução do fluxo, dispneia e exercício, que configura
como um índice preditor de sobrevida (CELLI et al., 2004). Suas propriedades
como um instrumento para este tipo de medição estão sendo utilizados por diversos
pesquisadores.
Investigações adicionais
Pacientes que foram diagnosticados no Estádio II da doença, DPOC moderado ou mais
grave, precisam de investigações adicionais:
56
Conduta na DPOC │ UNIDADE III
57
UNIDADE III │ Conduta na DPOC
Diagnóstico diferencial
A asma crônica e a DPOC muitas vezes são difíceis de se distinguir utilizando as técnicas
citadas e pode-se supor que a DPOC e a asma coexistam no mesmo paciente. Em uma
situação como essa, o tratamento a ser seguido, tanto para DPOC quanto para a asma,
é semelhante. Em relação a outras doenças, essa dificuldade não ocorre e normalmente
o diagnóstico é mais fácil de distinguir da DPOC. No quadro 11, é possível atestar as
diferenças entre as doenças e as características de cada uma delas (quadro 11).
58
CAPÍTULO 2
Tratamento da DPOC estável
O tratamento para um paciente com DPOC estável deve ser realizado de forma
progressiva e ter como referência a seriedade da doença e o estado clínico do paciente.
Para o tratamento, sempre deve-se realizar uma avaliação individual para determinar
a gravidade da doença e a evolução do tratamento para manutenção ou mudança de
estratégia da terapia.
»» Presença de complicações.
»» Presença de comorbidades.
59
UNIDADE III │ Conduta na DPOC
ter como referência, quais são as necessidades, o ambiente de cada paciente, além de
ser dirigida de forma fácil e adequada a situação intelectual e social do doente e de sua
família.
Para o sucesso da terapia para a DPOC, é preciso haver uma comunicação aberta e direta
entre o doente e seu médico. Os profissionais precisam ser atenciosos e comunicativos
e ficarem alertas aos medos e angústias de cada paciente. Focalizar os objetivos mais
importantes, traçar estratégias de terapia para cada indivíduo, prever as sequelas do
decaimento funcional e otimizar as funcionalidades dos pacientes (GOLD, 2006).
Quando essas medidas são bem planejadas, a chance de o paciente aderir a terapia
é bastante grande. Na DPOC, a adesão do paciente não tem só relação com o fato do
doente tomar seu medicamento de forma correta, mas também realizar reabilitação
pulmonar com regularidade e ao final continuar com os exercícios físicos, deixar de
fumar e fazer uso de outras terapias recomendadas no tratamento.
Há vários tipos de programas educativos que podem ser desde uma simples distribuição
de folder explicativo impresso, passando por “aulas” programadas para comunicar
informações sobre a doença, até reuniões delineadas para habilitar os pacientes em
funções específicas, como por exemplo o auto manejo.
Os folders explicativos impressos são mais úteis quando utilizados como método
adjuvante ao tratamento, como por exemplo junto a dispersão de outras informações
educativas. Apenas a simples dispersão de papel impresso não traz alterações para
a melhora da saúde do paciente. A informação apresenta melhor resultado quando
é passada de forma pessoal por meio de reuniões específicas para compartilhar
conhecimento e ajudar nas dúvidas e angústias dos doentes. Essas abordagens,
60
Conduta na DPOC │ UNIDADE III
O sucesso dos programas educativos para os indivíduos com DPOC tem relação
dependente com fatores locais influenciando as despesas à promoção dos serviços
médicos variando conforme a região.
Tratamento farmacológico
O tratamento farmacológico tem papel complementar na prevenção e no controle dos
sintomas, na redução da frequência e na seriedade das exacerbações, na melhora da
qualidade de vida do paciente e na melhora na capacidade do indivíduo em realizar um
exercício físico. Até o momento, os remédios fabricados para o tratamento da DPOC
ainda não têm a capacidade de acabar com a doença, mas ajudam na manutenção
e/ou impedimento do avanço da doença (PAUWELS et al., 1999; VESTBO et al., 1999;
BURGE et al., 2003). Como a DPOC tem característica progressiva, há alguns conselhos
que devem ser seguidos para obter bons resultados frente ao tratamento farmacológico.
A seguir veremos essas principais recomendações.
61
UNIDADE III │ Conduta na DPOC
Broncodilatadores
Quando o paciente sofre com outros tipos de efeitos adversos que não estão previstos,
deve-se suspender o uso do medicamento. Porém, normalmente os pacientes com
DPOC são mais idosos estando mais propensos a ter outras comorbidades, havendo
maior risco de desenvolverem efeitos colaterais (GOLD, 2006).
62
Conduta na DPOC │ UNIDADE III
β-agonistas
63
UNIDADE III │ Conduta na DPOC
Efeitos adversos
Anticolinérgicos
Efeitos adversos
Os anticolinérgicos não são muito absorvidos o que causa limitação nos efeitos
sistêmicos desconfortáveis que ocorrem com a atropina. A extensa utilização desses
tipos de fármacos inalados em diferentes dosagens e estados clínicos têm indicado
segurança em sua administração. A boca seca acaba sendo o principal efeito colateral
64
Conduta na DPOC │ UNIDADE III
Metilxantinas
Efeitos adversos
65
UNIDADE III │ Conduta na DPOC
Corticoides
Os efeitos dos corticoides tanto utilizados via oral ou inalado na DPOC são muito
menores que na asma, e sua recomendação no manejo da DPOC estável é limitada a
situações particulares.
66
Conduta na DPOC │ UNIDADE III
Os efeitos colaterais, bem como a eficácia dos corticoides inalados para o tratamento
da asma são dependentes do tipo e da dose do corticoide, assim como na DPOC.
Dessa forma, pode ser recomendado para pacientes com DPOC mais avançada e nas
exacerbações repetidas o tratamento com corticoides inalados.
67
UNIDADE III │ Conduta na DPOC
indivíduos com DPOC acima dos 65 anos de idade. Além disso, foi
evidenciado que esta vacina diminui a incidência de pneumonia que pode
ser adquirida por doentes com DPOC com menos que 65 anos de idade e
com um VEF1< 40% do predito (ALFAGEME et al., 2006).
68
Conduta na DPOC │ UNIDADE III
Reabilitação
69
UNIDADE III │ Conduta na DPOC
diversas dificuldade que podem não ser tratadas pela terapia farmacológica na
DPOC. Estes problemas, que normalmente atingem pacientes nos Estádio II:
DPOC Moderada, Estádio III: DPOC Grave, e Estádio IV: DPOC Muito Grave da
doença, abrangem o sedentarismo, isolamento social, distúrbios do humor e até
depressão, diminuição da massa muscular e de peso. Essas adversidades estão
totalmente relacionadas e a melhora de pelo menos um desses problemas pode
cessar o que é conhecido como “círculo vicioso” da DPOC, trazendo resultados
positivos em todos os aspectos da DPOC.
»» Redução da dispneia.
»» Melhora da sobrevivência.
70
Conduta na DPOC │ UNIDADE III
Os fatores que compõem uma reabilitação pulmonar variam conforme cada tipo de
programa e dos objetivos do tratamento, dependendo dos sinais e sintomas de cada
doente, mas basicamente ela precisa conter treinamento físico, instrução do paciente,
além de acompanhamento nutricional.
Exercícios
O treinamento pode variar com relação a frequência de sessões, que podem ser diárias
ou semanais, com relação a duração, entre 10 a 45 minutos de tempo para cada sessão,
e em intensidade, que é baseada a partir do consumo máximo de oxigênio (VO2 máx.)
entre 50% até a intensidade máxima suportada pelo paciente. Ainda não há consenso
sobre a duração ótima do treinamento físico, mas grande parte dos estudos que envolvem
até 28 sessões de treinamento indicaram menores benefícios em relação a estudos que
realizaram mais sessões de tratamentos. Na prática, a duração está diretamente ligada a
existência de recursos nos locais onde o treinamento é realizado, durando normalmente
entre 4 e 10 semanas, havendo sempre a preferência na realização de exercícios durante
o maior número de semanas possíveis, devido aos melhores resultados obtidos (GOLD,
2006). Infelizmente, após esse período, há necessidade da manutenção dessa frequência
de exercícios, para manter os ganhos obtidos na reabilitação, além de proporcionar
novos benefícios.
71
UNIDADE III │ Conduta na DPOC
da forma como o tratamento é realizado, essa meta pode encontrar barreiras pela
presença da DPOC, uma vez que, programas, que realizam o treinamento em um
corredor, impede o atingimento dessa FC pré-determinada, dessa forma, o paciente
é aconselhado a caminhar até o máximo que aguenta, limitado por sinais e sintomas,
descansar caso necessário, e voltar a caminhar até atingir pelo menos 20 minutos de
exercício (GOLD, 2006).
Quando o paciente apresenta uma grave incapacidade, outros equipamentos podem ser
adicionados ao tratamento, como por exemplo, a utilização de um andador com rodas
para ajudar a aumentar a distância de caminhada e reduzir a dispneia (YOHANNES
et al., 2003). Ou ainda, o uso de cilindro de oxigênio durante o exercício físico (EMTNER
et al., 2003), com misturas de gás hélio (PALANGE et al., 2004), redução da carga dos
músculos respiratórios durante o exercício ou uso da respiração com lábios semicerrados
também podem ajudar na reabilitação. Além, é claro, da reabilitação pulmonar com
treinamento de força (SILVA et al., 2006).
72
Conduta na DPOC │ UNIDADE III
ergômetro específico para essa musculatura, como um ciclo, ou treinamento com anilhas
ou halteres, sendo indicados também para pacientes com músculos respiratórios fracos
(LOTTER et al., 2002). Dessa forma, acrescentar os exercícios dos membros superiores,
tanto de força como aeróbio é eficaz em melhorar força e endurance.
Acompanhamento nutricional
Suplementos alimentares isolados talvez não sejam uma estratégia suficiente. Há sempre
a necessidade de o aumento da ingestão calórica ser acompanhada por atividades físicas
com ação anabólica não específica, já havendo evidências científicas que essa estratégia
favorece também pacientes sem depleção nutricional grave. Suplementos nutricionais
específicos, como a creatina, podem aprimorar a composição corporal, porém mais
pesquisas com grande grupo amostral são imperativas para que esses suplementos
sejam recomendados cotidianamente. Os esteroides anabólicos aumentam o peso e a
massa magra de indivíduos com DPOC, mas pouco ajudam na melhora da performance
no exercício (WEISBERG et. al., 2002).
Oxigenoterapia
73
UNIDADE III │ Conduta na DPOC
Geralmente, os pacientes que estão classificados no Estádio IV: DPOC Muito Grave
utilizam a oxigenoterapia prolongada, sendo que esses indivíduos possuem:
»» PaO2 entre 7,3 kPa (55 mm Hg) e 8,0 kPa (60 mm Hg), ou SaO2 de
88 %, se houver indicação de hipertensão pulmonar, edema periférico
apontando para insuficiência cardíaca congestiva ou policitemia
(hematócrito > 55%).
75
UNIDADE III │ Conduta na DPOC
Suporte ventilatório
Na prática da VNI, são utilizadas as máscaras faciais totais, faciais e nasais, sendo que
as pressões inspiratórias usadas devem garantir um volume corrente em torno de 7
ml/ kg do peso teórico, e pressões expiratórias capazes de diminuir a hiperinsuflação
dinâmica, geralmente de 5 a 8 cmH2 O. Períodos de VNI entre 40 a 50 minutos
podem ser interpolados com a administração de oxigênio com a máscara de Hudson.
A ventilação com suporte de pressão (PSV) é bastante utilizada na VNI junto com a
ventilação com dois níveis de pressão (BIPAP) e a pressão positiva expiratória final
(PEEP) (CUNHA, 2013).
Para pacientes mais graves, principalmente nos casos em que não ocorre evolução após
1 hora de VNI, com redução nos níveis de consciência, incapacidade de mobilizar a
secreção respiratória, ou aqueles vinculados com instabilidade hemodinâmica, há
necessidade de intubação orotraqueal (IOT) e de ventilação mecânica invasiva (VM)
(CUNHA, 2013).
76
Conduta na DPOC │ UNIDADE III
O ventilador ainda pode ser utilizado em modo ciclado a tempo ou ciclado a volume. Para
a ventilação em modo ciclado a volume, é preconizado o aumento do limiar de ciclagem
de 25%, que é o parâmetro mais utilizado, para 35 a 45% do pico de fluxo e níveis médios
de pressão de suporte, uma vez que, há a possibilidade de haver comprometimento
no relacionamento paciente-ventilador, levando a uma hiperinsuflação e os esforços
musculares com assincronia ventilatória (GRAÇA, 2015).
O volume corrente (VC) deve permanecer nos valores de 6 a 8 ml/kg, com o objetivo
de conservar um volume minuto que promova um pH sanguíneo de 7,20 a 7,40,
independentemente dos valores de PaCO2. Esta condição só é aversa nos casos de
indivíduos com arritmias secundárias à acidose, com síndromes coronarianas ou
hipertensão intracraniana. A fração inspirada de oxigênio (FiO2) deve ser a menor
possível, para manter satisfatoriamente a SaO2 > 90%, não só neste caso, mas inclusive
para outras condições clínicas. Para a PEEP extrínseca, no caso da DPOC, sua utilização
tem como meta reduzir a hiperinsuflação dinâmica, não podendo atingir valore acima
de 85% do nível da auto-PEEP. A desinsuflação promovida pela PEEP extrínseca pode
ocorrer quando há queda da pressão de platô com o paciente no modo volume controlado,
ou pela elevação do VC no modo pressão controlada. O ajuste da sensibilidade do
ventilador ao doente deve ficar entre -1 e -2 cmH2 O, quando há controle por alteração
de pressão no circuito, ou 2l/min, quando por alteração de fluxo (CUNHA, 2013).
77
UNIDADE III │ Conduta na DPOC
Tratamentos cirúrgicos
Bulectomia
Além disso, a remoção das bolhas ajuda no alívio de alguns sintomas como infecção,
hemoptise, ou dor torácica, além de proporcionar a re-expansão da região pulmonar
quer está comprimida. Esta é a recomendação comum para indivíduos com DPOC.
Quando a cirurgia é definida como o melhor tratamento, é de extrema importância
prever a implicação da bolha no pulmão e o papel da área não bolhosa. Exames
complementares como TC do tórax, teste de função pulmonar e gasometria arterial são
necessários para a tomada de decisão a respeito da necessidade de remover uma bolha.
Alguns critérios para eleger a cirurgia e acreditar que ela trará benefícios ao paciente
são: capacidade de difusão normal ou pouco diminuída, redução regional de perfusão
em região específica, porém, com boa perfusão nas outras áreas do pulmão e ausência
de hipoxemia significante. Contudo, a presença de hipertensão pulmonar, enfisema
grave e hipercapnia não são necessariamente contraindicações para bulectomia; tudo
depende do estado de cada paciente. Há ainda indicação de ressecção quando as bolhas
ocupam mais de 50% do hemitórax e produzem perceptível deslocamento do pulmão
adjacente (GOLD, 2006).
78
Conduta na DPOC │ UNIDADE III
qualidade de vida. Porém, com relação a indivíduos que apresentam outros tipos de
enfisema ou uma boa capacidade física, antes de serem submetidos ao tratamento,
a benefício da cirurgia comparado ao tratamento clínico foi menos significante
(GOLD, 2006).
Transplante pulmonar
Considerações específicas
Cirurgia na DPOC
As cirurgias são sempre tratamentos que apresentam risco para os pacientes com DPOC,
podendo haver tanto complicações pulmonares quanto cardíacas no pós-operatório.
Tabagismo, saúde ruim, obesidade, idade e a gravidade da DPOC são fatores que
potencializam os riscos dos procedimentos cirúrgicos (GOLD, 2006). Com relação
as complicações pós-operatórias abrangem atelectasia, infecções pulmonares, piora
da obstrução do fluxo aéreo, podendo resultar em agravamento da DPOC e falência
respiratória aguda (SCHUURMANS et al., 2002).
79
UNIDADE III │ Conduta na DPOC
Por causa da função pulmonar comprometida, indivíduos com DPOC de alto risco
precisam ser submetidos a outras avaliações de função pulmonar como, testes de
distribuição regional de perfusão e da capacidade de exercício (CELLI et al., 2004).
Indivíduos com DPOC estável clinicamente, sintomáticos e/ou com capacidade de
exercício limitada precisam de um intenso tratamento pré-operatório, para evitar
complicações pulmonares pós-operatórias, com todas as medidas já bem adequadas a
indivíduos com DPOC estável que não passar pela cirurgia. Se houver alguma alteração
no estado geral do paciente ou alguma crise o procedimento cirúrgico precisa ser revisto.
80
Capítulo 3
Tratamento das crises na DPOC
Esses eventos são categorizados pelo número de sintomas e/ou utilização de recursos
de saúde. Os efeitos que as exacerbações podem causar são sempre muito significantes,
pois cada sintoma apresentado atua de forma a prejudicar a função pulmonar do
paciente, bem como sua qualidade de vida, podendo levar algum tempo para voltar aos
valores de base (SEEMUNGAL, et al., 2000).
As principais exacerbações que pode ocorrer na crise são: aumento da dispneia, que
pode ser acompanhada de desconforto torácico e chiado; aumento da expectoração e
tosse, mudança da cor e/ou viscosidade do escarro; febre; além de sintomas inespecíficos
como taquicardia; taquipneia; mal-estar; dificuldade para dormir; sonolência; cansaço
depressão e agitação. Pode ainda haver diminuição na tolerância a exercícios.
Em alguns casos, caso seja realizado exames novos de imagens radiológicas, esses
podem sugerir uma exacerbação da DPOC, podendo ter um papel preventivo. Além
disso, aumento no volume e purulência do escarro caracteriza a presença de infecção
bacteriana, assim como um histórico de expectoração crônica (MURPHY et al., 2005).
Quadro 12.
82
Conduta na DPOC │ UNIDADE III
Não respondem ao tratamento por volta de 10 a 30% dos pacientes com exacerbação
aparentemente causadas pela DPOC (ADAMS et al., 2000). Quando isso ocorre, o
indivíduo precisa de reavaliação para diagnosticar outras doenças que talvez possam
piorar os sintomas ou ainda se parecerem com uma exacerbação da DPOC. Como
exemplo temos: pneumotórax, pneumonia, derrame pleural, insuficiência cardíaca
congestiva, arritmia cardíaca e embolia pulmonar. Quando o paciente não segue a
prescrição medicamentosa, pode haver aumento dos sintomas que podem vir a ser
confundidos com uma exacerbação. Elevados níveis séricos de peptídeo natriurético
tipo cerebral adjuntos a outros dados clínicos, diagnosticam pacientes com falta de ar
aguda secundária à insuficiência cardíaca congestiva e aceita que os mesmos sejam
diferenciados de pacientes com exacerbações de DPOC (MUELLER et al.,2005).
Tratamento domiciliar
Cuidados domiciliares muitas vezes são preferíveis para indivíduos com DPOC em
estágio final, embora o custo do serviço sobre o serviço domiciliar possa ser caro,
sendo mais utilizados por pessoas com maior nível socioeconômico. Independente
disso, cuidados em domicílio conduzidos por enfermeiros parecem ser uma boa
e prática opção à hospitalização em pacientes seletos com exacerbações de DPOC
sem insuficiência respiratória acidótica. De qualquer maneira, o que sempre deve se
levar em conta é o estado do paciente e se realmente ele pode ser mantido em casa
(HERNANDEZ et al., 2003).
Para direcionar se o tratamento deve ser mantido em casa ou se o paciente deve ser
transferido para um hospital, inicialmente aumenta-se a terapia broncodilatadora
e reavalia-se o paciente dentro de algumas horas; caso o quadro não se estabiliz,e
inicia-se a terapia com corticoides e só se não houver melhora o paciente é internado
(GOLD, 2006).
Broncodilatadores
83
UNIDADE III │ Conduta na DPOC
Corticoides
Tratamento hospitalar
Caso a terapia domiciliar não seja suficiente e o paciente apresente: elevação importante
na intensidade dos sintomas, como grande dispneia no repouso; DPOC básico grave;
aparecimento cianose ou edema periférico; falha na resposta ao tratamento; presença
de arritmias; diagnóstico inconclusivo; idade avançada e apoio domiciliar insuficiente
são alguns dos critérios usados para considerar internação (GOLD, 2006).
84
Conduta na DPOC │ UNIDADE III
(PaO2 < 5,3 kPa, 40 mm Hg), e/ou hipercapnia grave/piorando (PaCO2 > 8,0 kPa,
60 mmHg), e/ou acidose respiratória grave/piorando (pH < 7,25), necessidade de
ventilação mecânica invasiva, mesmo com a administração de oxigênio suplementar
e/ou ventilação não invasiva; e necessidade de vasopressores por instabilidade
hemodinâmica (GOLD, 2006).
Pronto-socorro ou hospital
Quando um paciente chega na emergência, os primeiros passos no atendimento primário
são: fornecer oxigenoterapia e fazer a avaliação sobre o risco de vida dele naquele
momento. Caso necessário, o paciente precisa de internação na UTI prontamente. Caso
não seja tão grave, o paciente tem possibilidade de tratamento no setor de emergência
ou hospitalar.
Oxigenoterapia controlada
Terapia broncodilatadora
Corticoides
Tanto os corticoides intravenosos quanto os orais são indicados como terapia adjuvante
a outros tratamentos no hospital durante as exacerbações da DPOC (NIEWOEHNER
et al., 1999). A dose correta que precisa ser indicada é desconhecida, porém, dosagens
85
UNIDADE III │ Conduta na DPOC
Antibióticos
»» Indivíduos com exacerbações da DPOC com pelo menos dois dos sintomas
anteriores citados, considerando que um dos sintomas é o aumento da
purulência do escarro.
Soler et al., (1998) verificaram que algumas estruturas, como bacilos gram-negativos
entéricos e P. aeruginosa, podem estar presentes em indivíduos com DPOC grave
que requerem ventilação mecânica. Outros estudos concluíram que a gravidade da
DPOC é um fator decisivo do tipo de micro-organismo que é diagnosticado no paciente
(MIRAVITLLES et al., 1999). S. pneumoniae é predominante em indivíduos com DPOC
leve que apresentam exacerbações. Já quando há redução da VEF1 e pacientes possuem
exacerbações e/ou comorbidades mais frequentes, H. influenzae e M. catarrhalis são as
bactérias mais presentes. Além disso, P. aeruginosa pode ser encontrada em indivíduos
com limitação grave do fluxo aéreo (SCHUURMANS et al., 2002), além de poderem
surgir devido a internação hospitalar recente, exacerbações nas DPOC em estádio mais
grave, uso frequente de antibióticos, em torno de 4 durante o último ano e isolamento
86
Conduta na DPOC │ UNIDADE III
Estimulantes respiratórios
Suporte ventilatório
Quadro 13.
87
UNIDADE III │ Conduta na DPOC
Quadro 14.
88
Conduta na DPOC │ UNIDADE III
Outras medidas
Outros tratamentos podem ser usados, dentre eles: administração fluida; nutrição;
profilaxia para trombose venosa profunda em pacientes policitêmicos, imobilizados ou
desidratados com ou sem história de doença tromboembólica; e eliminação de escarro. A
percussão mecânica ou manual do tórax e a drenagem postural podem trazer benefícios
em indivíduos produzindo mais de 25 ml de escarro por dia ou com atelectasia lobar.
A reabilitação pulmonar não é recomendada nas exacerbações da DPOC, mas pode ser
benéfica em indivíduos depois dos eventos agudos (GOLD, 2006).
Quadro 15.
»» Terapia com β2 agonista inalado com frequência não maior que a cada 4 horas.
»» O paciente deve ser capaz de caminhar pelo quarto.
»» O paciente deve ser capaz de comer e dormir sem ter dispneia com muita frequência.
»» O paciente deve estar clinicamente estável por mais de 12 horas.
»» A gasometria arterial deve ser estável por pelo menos 12 horas.
»» O paciente e os familiares devem compreender inteiramente a forma correta da administração dos medicamentos.
»» O acompanhamento e a preparação para os cuidados domiciliares devem ser passados ao paciente e aos cuidadores.
»» O médico deve ter certeza que o paciente pode fazer o tratamento em casa com sucesso.
89
UNIDADE III │ Conduta na DPOC
90
Avaliação Unidade iV
Clínica da DPOC
CAPítulo 1
Monitoramento e avaliações
continuadas
Função pulmonar
91
UNIDADE IV │ Avaliação Clínica da DPOC
Gasometria arterial
Uma forma benéfica para eleger indivíduos para realizar a gasometria artéria é mensurar
a oximetria de pulso e apenas submeter pacientes a gasometria, quando apresentarem
dessaturação da hemoglobina (SaO2) abaixo de 92%. Contudo, não é possível obter
informações sobre a pressão parcial do CO2 através da oximetria de pulso. Valores de
PaO2 <60 mm Hg (8,0 kPa) indicam insuficiência respiratória com ou sem PaCO2 > 50
mm Hg (6,7 kPa) na gasometria arterial feita ao nível do mar durante a respiração.
Cianose central, elevação da pressão venosa jugular e inchaço do tornozelo são sinais
clínicos de insuficiência respiratória ou falência ventricular direita. Porém, sinais
clínicos de hipercapnia são muito inespecíficos quando não há exacerbações (GOLD,
2011).
TC e cintilografia de ventilação-perfusão
Hematócrito
acreditava antigamente, afetando quase 25% dos indivíduos com DPOC em grupo
de pacientes hospitalizados. Um hematócrito baixo adverte um prognóstico ruim em
indivíduos com DPOC que fazem uso de oxigênio de longo prazo (GOLD, 2006).
Estudos do sono
Estudos sobre sono devem ser propostos quando a hipoxemia ou falência ventricular
direita progridem na presença de limitação relativamente leve do fluxo de ar ou quando
o indivíduo tem sintomas que sugerem a presença de apneia do sono (GOLD, 2006).
Testes de esforço
Muitos tipos de testes são possíveis de mensurar a capacidade de exercício, como teste
em cicloergômetro, esteira, teste de caminhada de seis minutos ou shuttle teste, porém,
eles são habituais sobretudo em conjunto com programas de reabilitação pulmonar,
como já foi visto na unidade anterior.
93
UNIDADE IV │ Avaliação Clínica da DPOC
Monitorar comorbidades
94
CAPíTULO 2
Qualidade de vida, estado nutricional
e sono
Qualidade de vida
Porém, não existe concordância sobre os fatores que têm influência sobre a qualidade
de vida nos indivíduos com DPOC. Contudo, a conclusão sobre esses fatores pode ajudar
na melhor abordagem que aponte na promoção de uma boa qualidade de vida desses
pacientes (DOURADO et al., 2004).
A partir disso, muitos estudos têm sido feitos para melhorar a qualidade de vida do
indivíduo com DPOC, uma vez que a DPOC atinge vários aspectos da vida de cada
pessoa, sendo esse assunto cada vez mais pesquisado. Formas de mensurar a qualidade
de vida têm sido adicionadas na avaliação das intervenções e na decisão por diferentes
tratamentos (DOURADO et al., 2004).
95
UNIDADE IV │ Avaliação Clínica da DPOC
podem promover uma degradação mais acelerada de sua qualidade de vida (SILVA
et al., 2006).
Dessa forma, vários questionários têm sido criados para ajudar na avaliação da qualidade
de vida, sendo que a maioria tem como foco, aferir o estado de saúde e os reflexos
que a doença proporciona, além de convirem como ferramenta de comparação para
determinar o sucesso de alguma terapia, sendo um dos mais utilizados, o questionário
do Hospital Saint George (Anexo 1).
O Questionário Respiratório do Hospital Saint George (SGRQ) foi criado em 1991. Ele
é bastante simples, uma vez que o próprio paciente pode respondê-lo sem ajuda de
outras pessoas. É composto de três partes: sintomas, atividades e impacto da doença.
Em média, o paciente leva em torno de 12 minutos para respondê-lo. Esse questionário
comprovou ser uma ferramenta legítima para constatar qual o impacto da doença na
vida desses pacientes.
Estudos realizados no Brasil encontraram, como era de supor, que a qualidade de vida
tem relação direta com o estádio da doença em que o paciente se encontra, isso quando
o paciente entra em crise. Já quando está estabilizado, Oliveira et al. (2009) verificaram
em idosos que não importa em que estádio estão, não há diferença independente do
grau severidade da DPOC, na análise do SGRQ.
96
Avaliação Clínica da DPOC │ UNIDADE IV
Estado nutricional
A elevação da taxa de metabolismo basal ocorre mais em pacientes com DPOC grave
e tem como consequência a redução do peso corporal. Procedimentos cirúrgicos e
infecções tendem a causar anorexia e um maior catabolismo, resultando na perda de
massa muscular.
97
UNIDADE IV │ Avaliação Clínica da DPOC
Consequências da desnutrição
Os malefícios da desnutrição sobre o sistema respiratório resultam em uma redução
na elasticidade e na função dos pulmões, diminuição da massa muscular respiratória,
diminuição da força e resistência e modificações nos mecanismos imunológicos de
defesa pulmonar e controle da respiração.
Na condição de célula, o papel dos músculos é capaz de ser danificado pelos níveis
baixos de fósforo, magnésio, potássio e cálcio. Além disso, a tarefa do surfactante fica
comprometida devido a menor quantidade de proteínas e fosfolipídios, colaborando para
o colapso alveolar e por consequência aumentando o trabalho respiratório. Ademais, o
muco das vias aéreas respiratórias é constituído por eletrólitos, glicoproteínas e água,
sendo que a hipoproteinemia acarreta na progressão de edema pulmonar, pela redução
da pressão coloidosmótica, permitindo aos fluidos corporais se conduzirem para o
espaço intersticial (FERNANDES et al., 2006).
A inanição pela escassez grave de calorias e proteínas causa também elevação nos
níveis séricos do fator de necrose tumoral, que pode ter relação com a anorexia, efeito
pirogênico, degradação muscular e modificação do metabolismo de lipídeos pela
inibição da lipase lipoprotéica tecidual (DEBIGARÉ et al., 2001).
98
Avaliação Clínica da DPOC │ UNIDADE IV
com DPOC traz menores valores da pressão inspiratória máxima, justamente pela
fraqueza dos músculos inspiratórios.
99
UNIDADE IV │ Avaliação Clínica da DPOC
Esta metodologia é de grande utilidade, uma vez que permite adotar medidas que tem
por função impedir que o indivíduo tenha seu estado nutricional agravado ou que evolua
para alguma forma de desnutrição no tempo em que está hospitalizado (FERNANDES
et al., 2006).
Algumas formas para avaliar esse consumo alimentar são: o método do recordatório
alimentar por um período de 24 horas e o inquérito semiquantitativo de frequência de
consumo de alimentos. O recordatório alimentar informa detalhadamente o consumo
atual, a quantidade de refeições realizadas pelo indivíduo, bem como em qual horário
elas foram feitas, sempre no período de 24 horas, no dia anterior ao da entrevista
nutricional. Já o inquérito semiquantitativo de frequência de consumo alimentar indica
quais tipos de alimentos o paciente consome e com que frequência.
Em uma pesquisa, dois grupos foram avaliados, sendo o primeiro de pacientes pulmonares
e o segundo de pessoas saudáveis. Os pesquisadores concluíram que pela utilização
de recordatório alimentar de 24 horas, os dois grupos consumiram mais alimentos
ricos em carboidratos, necessitando de orientação nutricional, principalmente para o
grupo com doença pulmonar, uma vez que eles devem dar preferência ao consumo de
alimentos rico em fibras (BARROS, 2003).
100
Avaliação Clínica da DPOC │ UNIDADE IV
Antropometria
O índice de massa corporal (IMC) – peso corporal (kg) /altura (m)2 – também tem sido
bastante usado como indicador do estado nutricional. Porém, deve-se ter cuidado com
seu resultado, uma vez que ele não retrata as diferenças individuais da composição
corporal, como grande quantidade de massa muscular, para um atleta ou uma pessoa
bastante ativa, por exemplo.
Em alguns estudos, foi mostrado que há relação entre baixos valores de IMC com a
gravidade das doenças pulmonares, sendo que um IMC abaixo dos valores normais
está associado com um alto risco de mortalidade para indivíduos com DPOC grave.
Além disso, em um estudo com o objetivo de avaliar quais os fatores que trazem
influência na qualidade de vida dos doentes com DPOC, foi constatado que o IMC, de
forma independente, desempenha papel significativo sobre a qualidade de vida desses
indivíduos (FERNANDES et al., 2006).
Diferentemente do que tem sido aplicado para indivíduos saudáveis, a American Dietetic
Association, a American Academy of Family Physicians e o Nutrition Screening
Initiative, sugerem como intervalo de corte para indivíduos com DPOC valores de IMC
entre 22 e 27 kg/m2 para eutrofia, IMC < 22 kg/m2 para desnutrição e IMC > 27 kg/m2
para obesidade.
101
UNIDADE IV │ Avaliação Clínica da DPOC
Essas medidas das pregas cutâneas tornam-se muito úteis para verificar as alterações
que podem ocorrer a longo prazo nos estoques de gordura. Com a soma das medidas
das pregas cutâneas bicipital, tricipital, subescapular e suprailíaca, é possível estimar a
composição corporal de um indivíduo.
Bioimpedância
A técnica da bioimpedância tem como objetivo medir as propriedades condutoras
de uma pessoa com a finalidade de determinar a composição corporal, o volume e a
distribuição dos tecidos e líquidos. Atualmente, essa técnica tem sido bastante utilizada
pela praticidade e aplicabilidade, além de não ser um método invasivo.
Dosagens bioquímicas
103
UNIDADE IV │ Avaliação Clínica da DPOC
A partir dos resultados obtidos pela avaliação do estado nutricional, os indivíduos com
DPOC são separados conforme a gravidade de sua saúde. Eles podem ser divididos
em pacientes que têm alto risco de complicações nutricionais devido à exacerbação
da doença ou indivíduos que sofrem de desnutrição associada ou não a falência
respiratória. No primeiro caso, a terapia deve impedir que ocorra desnutrição proteica,
além de outras intercorrências, fornecendo uma nutrição apropriada. Já no segundo
caso, o objetivo do tratamento é reverter o estado de inanição por uma alimentação que
reponha todos os macros e micronutrientes que estão deficientes.
A adequação da inanição nos indivíduos com DPOC promove uma melhora da função
imunocelular, dos neutrófilos e do complemento, melhorando o sistema de defesa frente
a infecções. Nota-se, ainda, um progresso da função muscular respiratória e melhora
da resposta ventilatória, bem como a regularização das forças de superfície devido a
correção dos índices de fosfatidilcolina no tecido pulmonar e no líquido de lavagem
alveolar.
104
Avaliação Clínica da DPOC │ UNIDADE IV
105
UNIDADE IV │ Avaliação Clínica da DPOC
estimado. Por outro lado, há outros que aconselham valores entre 30 e 50% do valor
calculado, quando há insuficiência respiratória.
Apesar disso, sabe-se que o consumo de lipídeos em excesso pode ter relação com
uma menor capacidade de difusão pulmonar, bem como aumento dos triglicerídeos,
sobretudo quando há hipercatabolismo e infecção. Um dos fatores que pode ter
papel fundamental no mau funcionamento do metabolismo lipídico é a diminuição
da concentração de carnitina, ocasionando uma hipertrigliceridemia. A literatura
demonstra que a suplementação de L-carnitina junto ao exercício físico pode promover
maior tolerabilidade ao exercício em indivíduos com DPOC. A partir disso, acredita-se
que se deve evitar a ingesta exagerada de lipídeos (FERNANDES et al., 2006).
Como já foi citado, o tabagismo é o fator de risco mais importante que pode causar a
DPOC.
Assim, admite-se que uma forma de reduzir a destruição do tecido pulmonar por
proteases e preservar o organismo contra a progressão da DPOC é pela ingestão de
antioxidantes como a vitamina C e retinóis.
106
Avaliação Clínica da DPOC │ UNIDADE IV
Outra característica comum dos pacientes com DPOC é a osteoporose, que ocorre
principalmente nas fases mais avançadas da doença, fazendo com que os indivíduos
estejam mais suscetíveis a quedas e consequentes fraturas, proporcionando
debilidade. A etiologia da doença está diretamente ligada ao sedentarismo, ao uso de
glicocorticoides, a carência de vitamina D, ao hábito de fumar e ao IMC reduzido.
Por isso, a suplementação de cálcio e de vitamina D no tratamento desses indivíduos
tem trazido bons resultados, sobretudo quando os pacientes também fazem uso de
corticoides (BISKOBING, 2002).
Além da quantidade, a temperatura dos alimentos também deve ser uma preocupação.
No geral, pacientes com DPOC são idosos e, devido ao envelhecimento, uma das
alterações fisiológicas que acontecem é a redução da espessura dos tecidos da mucosa
da boca e da língua. Por conta disso, a sensibilidade a temperatura é mais aguçada
na mucosa oral, fazendo com que esses pacientes sejam menos tolerantes a alimentos
muito quentes. Assim, é recomendado a estes indivíduos que os alimentos estejam em
temperaturas mornas, evitando prejuízos a mucosa oral.
107
UNIDADE IV │ Avaliação Clínica da DPOC
Suporte nutricional
Quando a dieta alimentar não é suficiente para garantir todos os nutrientes que o paciente
precisa, há necessidade de suplementar a terapia nutricional, que pode acontecer por
meio de método oral, enteral ou parenteral.
108
Avaliação Clínica da DPOC │ UNIDADE IV
Hidratação
Sono
Durante o sono, a fisiologia respiratória apresenta diferente comportamento quando
comparada ao período em alerta havendo alterações do controle respiratório, do
trabalho neuromuscular e da resistência das vias aéreas. As alterações fisiológicas não
acarretam nenhum problema para indivíduos saudáveis, porém, podem trazer prejuízo
na função respiratória em pacientes portadores de DPOC.
Muitos fatores promovem modificações dos gases arteriais durante a noite em indivíduos
com DPOC. Contudo, a hipoventilação noturna é a principal explicação da hipoxemia
do decorrer do sono na fase REM em indivíduos portadores de DPOC. Além da
hipoventilação, também tem participação nessas alterações a diminuição da capacidade
residual funcional e irregularidades na relação ventilação/perfusão. Esses elementos
sofrem grandes alterações quando o paciente se encontra na posição supina durante o
109
UNIDADE IV │ Avaliação Clínica da DPOC
sono na fase REM. A apneia obstrutiva do sono também é uma característica que pode
ser observada em alguns poucos indivíduos com DPOC, que acaba contribuindo com
diversas anomalias respiratórias associadas ao sono (KRIEGER, 2005).
Indivíduos com DPOC têm uma pior qualidade de sono comparada a indivíduos
saudáveis, além de terem mais dificuldade para dormir, e ter o sono fragmentando pelo
fato de acordaram devido à falta de ar, independente da seriedade da limitação do fluxo
aéreo, mas condicionado a presença de apneia obstrutiva do sono. O motivo disso tem
característica de ser uma combinação de múltiplos fatores que podem abranger tosse
noturna, falta de ar, medicamentos, e hipoxemia periódica.
110
Avaliação Clínica da DPOC │ UNIDADE IV
111
UNIDADE IV │ Avaliação Clínica da DPOC
A apneia obstrutiva do sono é uma condição clínica que afeta muitos indivíduos, sendo
que pode haver uma relação dela com a DPOC. Há estudos que indicam uma frequência
média de apneia obstrutiva do sono com a coexistência da DPOC em 11% de indivíduos
diagnosticados primeiramente com apneia do sono. Quando as duas características
são concomitantes o padrão de dessaturação noturna é diferente quando comparado
a portadores exclusivos de DPOC. A dessaturação noturna apresenta maiores
reduções durante a fase REM do sono. Porém, nessa fase REM, a apneia obstrutiva
estava presente e a hipoventilação sustentada foi determinada como a causa principal
da dessaturação. A combinação da DPOC com a apneia do sono, é conhecida como
Síndrome de Superposição (CATTERALL et al., 1985).
Pelo fato da polissonografia não poder ser realizada em todos os portadores de DPOC,
faz-se necessário identificar aqueles que podem ser favorecidos com o estudo do padrão
do sono. Ainda não há um consenso sobre quais exames que promovem o diagnóstico do
sono precisam ser realizando, sempre variando entre a polissonografia completa, como
exames mais simples, como mensuração da oximetria e monitoramento respiratório
pela determinação do movimento torácico e abdominal. Apesar disso, é muito difícil
prever quais indivíduos poderão desenvolver dessaturação no período noturno, por
meio das características clínicas, dos exames de função pulmonar diurna, ou medidas
diurnas da pressão parcial de oxigênio e da saturação. A monitorização do padrão do
sono durante a noite com finalidade terapêutica, como titulação de oxigênio noturno,
uso da pressão positiva contínua de ar nas vias aéreas e ventilação com pressão positiva
não invasiva é também são de extrema importância, já que esta monitorização pode ser
um instrumento para auxiliar a oximetria noturna, garantindo mais informações em
relação as modificações da ventilação durante a noite (CABRAL et al., 2010).
112
Avaliação Clínica da DPOC │ UNIDADE IV
Dessaturação noturna pode ser definida como: valor maior do que 30% do tempo total
gasto dormindo abaixo de 90% de saturação de oxigênio; ou redução da saturação de
oxigênio abaixo de 90% por mais do que 5 minutos, chegando a valores em torno de
85% ou menos. Connaughton et al., (1985) avaliaram 97 portadores de DPOC durante
o sono. Nesse estudo, os pesquisadores concluíram que havia uma maior mortalidade
nos indivíduos com baixos níveis de saturação de oxigênio durante o sono. Além disso,
prognósticos equivalentes foram realizados pela mensuração dos níveis de oxigênio
e da capacidade vital durante o período diurno, que apresentaram relação com uma
reduzida sobrevida após 7 meses com essas comorbidades, independente dos valores
da saturação de oxigênio durante a noite.
Alternativas terapêuticas
A principal característica a ser considerada no acompanhamento de portadores de DPOC
é realizar um bom gerenciamento da doença. A partir disso, intervenções adicionais no
tratamento devido a alterações ocorridas durante o sono serão apresentadas a seguir.
Oxigênio
A partir desse pressuposto, outro estudo concluiu que, a partir de 7.700 pacientes
portadores de DPOC, em torno de 18% apresentavam uma pressão parcial de
oxigênio estável com valores acima de 60 mmHg. Além do mais, não houve diferenças
significativas na sobrevida destes indivíduos com pressão parcial de oxigênio estável
quando comparados com pacientes com pressão parcial de oxigênio estável acima
ou abaixo de 60 mmHg. Sendo assim, os resultados apresentados não indicariam a
necessidade de oxigenoterapia noturna ou por um período de 24 horas em indivíduos
com hipoxemia moderada.
115
UNIDADE IV │ Avaliação Clínica da DPOC
oxigênio é adequado. Além disso, o que vai determinar a utilização contínua da terapia
são os resultados dela sobre a qualidade de vida do paciente (KRIEGER, 2005).
Medicamentos
Acetazolamida
Bismesilato de almitrina
Broncodilatadores
116
Avaliação Clínica da DPOC │ UNIDADE IV
Medroxiprogesterona
Protriptilina
Teofilina
Outros fármacos
117
UNIDADE IV │ Avaliação Clínica da DPOC
118
Avaliação Clínica da DPOC │ UNIDADE IV
Com relação aos tipos de equipamentos que apresentam uma melhor indicação para
portadores de DPOC, ainda não há consenso na literatura, porém há estudos que
concluem não haver diferença na correção da hipoventilação entre instrumentos de
pressão ou de fluxo predeterminados. Na clínica, são mais utilizados dispositivos a
pressão, pelo fato de serem mais confortáveis, além de compensarem vazamentos com
aumento do fluxo. Como desvantagens temos a variabilidade do volume corrente e da
fração inspirada de oxigênio ministrado (KRIEGER, 2005).
No geral, pressões inspiratórias abaixo de 20 cm H2O são mais que adequadas para um
melhor volume corrente, promovendo uma boa assistência ventilatória nos portadores
de DPOC, além causarem menor risco de hiperinsuflação. “Uma frequência respiratória
predeterminada pode ser necessária em alguns casos para garantir uma ventilação
mínima” (Krieger, 2005). Esta técnica pode ser realizada por meio do modo assistido
ou controlado. Caso os pacientes não sejam capazes de desengatilharem o ventilador,
uma frequência predeterminada idêntica as frequências respiratórias medidas durante
o sono, será aplicada pelo aparelho (KRIEGER, 2005).
119
UNIDADE IV │ Avaliação Clínica da DPOC
120
CAPítulo 3
Capacidade de exercício
Sabendo que somente por tratamentos clínicos, a função ventilatória dos indivíduos
com DPOC tende a sofrer uma discreta melhora, o exercício físico tem função primordial
visando diminuir a demanda respiratória e a falta de ar (NEDER, 2001).
121
UNIDADE IV │ Avaliação Clínica da DPOC
Reabilitação respiratória
O American Thoracic Society Statement determina que a reabilitação respiratória ou
reabilitação pulmonar, caracteriza-se como um programa multidisciplinar que tem como
principal objetivo tratar pacientes que são portadores de alguma doença respiratória
crônica, de forma individual esboçado e adequado para melhorar a performance física,
a vida social e a independência de cada indivíduo (LINDA et al., 2006).
122
Avaliação Clínica da DPOC │ UNIDADE IV
Exercício aeróbio
É um tipo de exercício preconizado para praticamente todos os pacientes com DPOC,
uma vez que ele traz benefícios, independentemente da fase da doença a qual o paciente
esteja. O treinamento aeróbio é recomendado por elevar a concentração de enzimas
oxidativas mitocondriais, aumentar a circulação sanguínea da musculatura treinada,
melhorar o limiar anaeróbio e o consumo de oxigênio, bem como a capacidade aeróbia;
e diminuir o tempo de recuperação da creatina fosfato, promovendo benefícios na
performance. Além disso, há aumento da distância percorrida no teste de caminhada de
seis minutos (TC6), melhora na qualidade de vida, quando mensurada por questionários
específicos e maior tolerabilidade aos esforços.
Apesar de todos os benefícios promovidos pelo exercício aeróbio, ele tem um efeito
ínfimo em relação à fraqueza e atrofia muscular. Além disso, já é sabido que as melhorias
do treinamento aeróbio para membros inferiores estão diretamente relacionadas à
intensidade com que ele é feito; sendo assim, treinos entre 60 e 80% da carga máxima
de trabalho de cada indivíduo, trazem maiores benefícios, quando comparados a
exercícios feitos em baixas intensidades. A partir de um treinamento bem feito, é possível
perceber claramente como a musculatura conseguiu apresentar adaptação ao treino,e
isso é notado pelo menor acúmulo de lactato e produção de dióxido de carbono, maior
resistência do músculo do quadríceps e aumento da capacidade oxidativa mitocondrial
(ANTONIO et al., 2010).
123
UNIDADE IV │ Avaliação Clínica da DPOC
Treino de força
Além do exercício aeróbio, o treinamento de força é uma alternativa para um programa
de reabilitação respiratória, uma vez que, como já vimos nos tópicos anteriores, os
portadores de DPOC apresentam grande fraqueza muscular que têm como consequência
reduzir a tolerabilidade ao exercício (COOPER, 2001). Atualmente, ainda o treino de
força não é realizado em todos os protocolos de treinamento, justamente por existir
poucos estudos na área, quando comparados aos estudos com treinos aeróbios; e
também por receio de alguns profissionais da saúde que são mais conservadores ao
tratamento, não indicando o exercício resistido para pacientes com DPOC.
Mesmo assim, já é sabido que portadores de DPOC apresentam maior redução na força
dos músculos do quadríceps do que dos músculos peitorais e dos grandes dorsais. Já
para os membros superiores, os músculos proximais do ombro são os que mais sofrem
perda da força (GOSSELINK, 2000).
Apesar desse receio na prescrição do treino resistido, estudos na área foram bastante
significativos. Simpson et al. (1992) realizaram treinamento de força em 34 indivíduos
portadores de DPOC por um período de oito semanas. O treinamento era feito três
vezes por semana, composto por três exercícios, em três séries de dez repetições, na
intensidade de 50% de uma repetição máxima (1RM), que foi aumentada de forma
progressiva até 85% 1RM. Após o protocolo, foi verificado aumento da força de 16 a
44%, além de melhora da qualidade de vida, quando avaliada por questionário e
melhora da resistência muscular. Já Troosters et al., (2005) avaliaram 100 indivíduos
com DPOC grave e após seis semana de treino de força encontraram melhora no
124
Avaliação Clínica da DPOC │ UNIDADE IV
Como já é sabido, os treinamentos de força têm por finalidade ganho de massa muscular
e não promovem alterações significativas na parte aeróbia, não ocorrendo modificações
nos parâmetros de consumo máximo de oxigênio e no limiar anaeróbio. Dessa forma, o
treinamento resistido deve acontecer de forma associada a um treino aeróbio também.
Como ainda há necessidade de mais estudos na área, as recomendações do treinamento
de força para indivíduos portadores de DPOC, ainda não estão totalmente fechadas;
porém, o maioria dos treinamentos sugeridos pelos pesquisadores do tema são: de
dois a três dias de atividade por semana, uma a três séries para cada grupo muscular
escolhido, com oito a 12 repetições, e intervalo de dois a três minutos entre cada série;
intensidade de 50 a 85% de 1RM e com adequação da intensidade determinada para
cada paciente a cada três ou quatro semanas (DOURADO et al., 2004).
Treino combinado
Bernard et al., (1999) aplicaram dois tipos de treinos a alguns pacientes com
DPOC: um treinamento aeróbio em cicloergômetro e um segundo treino que
associava o exercício em cicloergômetro com exercício de força. A partir dos
resultados, concluíram que a combinação dos dois exercícios não promoveu
diferenças significantes em relação ao consumo máximo de oxigênio, ao teste de
caminhada de seis minutos e aos indicadores de qualidade de vida, em relação
ao treinamento aeróbio sozinho. Porém, perceberam que os pacientes relatavam
menos falta de ar durante o treinamento resistido do que quando realizavam o
exercício em cicloergômetro, havendo maior tolerância para executar o treino de
força. Dessa forma, podemos concluir que a cada exercício promove benefícios
diferentes, sendo necessário a combinação de ambos para um melhor resultado.
125
UNIDADE IV │ Avaliação Clínica da DPOC
Outras tendências
Administração de andrógenos
O ganho de massa muscular está diretamente ligado ao apropriado fornecimento
hormonal. Porém, quando há diminuição da quantidade de hormônios do tipo anabólicos,
há por consequência, deficiência muscular. Por conta disso, alguns pesquisadores
sugerem a suplementação desses hormônios, contudo, os efeitos dessa suplementação
de hormonal nos músculos de indivíduos com DPOC ainda estão sendo avaliados. Para
pacientes do sexo masculino, há ressalvas na administração desses hormônios porque
pode ocorrer hiperplasia, câncer de próstata, redução dos níveis de HDL colesterol, além
de eventual toxicidade. Apesar disso, não há evidências claras que a administração de
andrógenos possa causar esses problemas. Além disso, a suplementação de testosterona
em homens idosos com deficiência hormonal não promove alterações significativas os
níveis de HDL colesterol. Já para o público feminino, as principais preocupações devido
a suplementação de hormônios são a “masculinização”; reações de pele, como acne ou
alergias; alterações nas concentrações dos lipídios plasmáticos e as modificações de
humor e comportamento.
126
Avaliação Clínica da DPOC │ UNIDADE IV
Além dos resultados apresentados, houve ganho de peso tanto no grupo com déficit
na composição corporal, quanto no grupo controle, porém, o ganho de peso foi maior
nos desnutridos. Porém, o terceiro grupo, que recebeu a nandrolona, tiveram ganho
de peso somente de massa magra, sem modificações na porcentagem de gordura, já os
outros grupos não tiveram modificações na massa magra, ganhando apenas gordura.
Dessa forma, neste caso a administração de andrógenos melhorou o estado nutricional
dos indivíduos portadores de DPOC, trazendo uma grande alternativa para o ganho de
massa magra para esses pacientes.
127
UNIDADE IV │ Avaliação Clínica da DPOC
Neder et al. (2002) avaliaram 15 portadores de DPOC grave, que foram divididos
em dois grupos: o primeiro grupo recebeu estimulação elétrica neuromuscular em
domicílio durante seis semanas e o segundo grupo foi controle. A força e a resistência
do quadríceps, a capacidade física e a qualidade de vida forma avaliadas, sendo que
houve melhora significativa de todos os parâmetros mensurados no grupo que recebeu
a estimulação elétrica. Dessa forma, a estimulação elétrica trouxe benefícios aos
pacientes, com DPOC grave e disfunção muscular esquelética. Esses benefícios são de
extrema importância aos indivíduos que sentem grande falta de ar, principalmente ao
realizaram atividades de vida diária. Nestes casos, a estimulação elétrica neuromuscular
pode reduzir os malefícios da disfunção muscular, fazendo com que o paciente tenha
a possibilidade de participar de programas de reabilitação respiratória com prática de
atividade física.
Suplementação de creatina
A forma mais comum e rápida para obter energia é através do sistema ATP-CP:
CP+ADP⇒creatina quinaseATP+C. Porém, mesmo através desse mecanismo, as células
musculares armazenam quantidades pequenas de creatina fosfato, sendo limitada
a energia produzida por esse sistema, uma vez que ele fornece energia durante a
contração muscular para iniciar um exercício ou na realização de exercícios de explosão
e pouquíssima duração (POWERS et al., 2000).
128
Avaliação Clínica da DPOC │ UNIDADE IV
Considerações finais
Não há dúvidas, que o exercício físico é a ferramenta mais efetiva na reabilitação
pulmonar, englobando sempre todos os tipos de exercícios: como os aeróbios, resistivos
e respiratórios, não esquecendo que a combinação deles promove maiores benefícios.
Hoje em dia, nota-se a necessidade de desenvolver novas pesquisas com a finalidade
de propor novos tratamentos complementares aos já existentes para trazer mais
qualidade de vida à essa população. Dessa forma, tratamentos com hormônios, com
eletroestimulação e com creatina, são apenas algumas outras terapias que tendem a se
consolidar na reabilitação pulmonar, trazendo novos estratégias para o tratamento de
pacientes portadores de DPOC.
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160
Apêndices e Anexos
Este questionário foi desenvolvido para nos ajudar a saber mais sobre os problemas
que sua respiração tem lhe causado e a maneira como isto afeta sua vida. Usamos o
questionário para saber quais aspectos de sua enfermidade lhe causam mais problemas.
PARTE 1
Marque com um X somente uma resposta em cada Quase todos os Vários dias da Poucos dias Só em caso Nunca
pergunta. dias da semana semana no mês de infecções
respiratórias
1. Durante os últimos 3 meses, tem tossido: (4) (3) (2) (1) (0)
2. Durante os últimos 3 meses, houve expectoração:
3. Durante os últimos 3 meses, teve falta de ar:
4. Durante os últimos 3 meses, teve crises de sibilos
(chiados) no peito:
5. Durante os últimos 3 meses, quantas vezes teve Mais de 3 vezes 3 vezes 2 vezes 1 vez Nenhuma vez
problemas respiratórios que foram graves ou muito
desagradáveis? (4) (3) (2) (1) (0)
6. Quanto tempo durou a pior das suas crises Uma semana ou 3 dias ou 1 ou 2 dias Menos de um dia
respiratórias? (Passe à pergunta 7casoi não tenha mais mais
havido nenhuma crise grave) (1) (0)
(3) (2)
7. Durante os últimos 3 meses, em uma semana Nenhum dia bem 1 ou 2 dias 3 ou 4 dias Quase todos os dias Todos os dias
normal, quantos dias tem passado bem (com pouco bem bem estive bem estive bem
problema respiratório)? (4)
(3) (2) (1) (0)
8. Se seu peito chia, é pior pela manhã quando se Não Sim
levanta?
(0) (1)
161
anexos
PARTE 2
Como descreveria sua É meu problema Causa muitos Causa poucos No me causa problema
enfermidade respiratória? mais importante problemas problemas nenhum
Marque com um X
somente uma resposta (3) (2) (1) (0)
Se alguma vez houve Meu problema Meu problema Meu problema respiratório não afeta (ou não
Seção 1 um trabalho remunerado, respiratório me respiratório afetou) meu trabalho
marque com um X uma obrigou a deixar interfere (ou
de trabalhar por interferiu) no
das seguintes opções:
completo meu trabalho ou (0)
me fez trocar de
emprego
(2)
(1)
Estas perguntas se relacionam com as atividades que atualmente lhe causam falta de ar. Para cada opção marque
com um x verdadeiro ou falso, segundo seu caso.
Verdadeiro Falso
(1) (0)
Canso ao tossir
Seção 3
Falta o ar ao falar
Falta o ar ao me agachar
Minha tosse ou minha respiração me
incomodam quando durmo
Canso facilmente
162
anexos
Estas perguntas se relacionam com outros efeitos que seu problema respiratório pode estar lhe causando atualmente. Para cada opção
marque com um X verdadeiro ou falso, segundo seja o caso:
Tenho vergonha de tossir ou da minha respiração quando Verdadeiro Falso
estou com outras pessoas
(1) (0)
Meu problema respiratório é um incomodo para minha
família, amigos ou vizinhos
Assusto ou sinto pânico quando não posso respirar
Seção 4
Sinto que não posso controlar meu problema respiratório
Não creio que meus problemas respiratórios vão melhorar
Por causa de meu problema respiratório, me tornei uma
pessoa frágil ou inválida.
Fazer exercícios é arriscado para mim
Tudo o que faço me custa muito trabalho
Estas perguntas se referem a sua medicação. Se você não toma nenhuma, passe diretamente à Seção 6.
Para cada opção marque com um X verdadeiro o falso, segundo seu caso
A medicação que tomo não me ajuda muito Verdadeiro Falso
Seção 5
(1) (0)
Tenho vergonha tomar meus remédios diante de outras
pessoas
Tenho efeitos secundários desagradáveis provocados pela
medicação
A medicação que tomo interfere muito em minha vida
Estas são perguntas sobre como suas atividades podem ser afetadas por sua respiração. Em cada pergunta marque com um X
Seção 6 verdadeiro a opção de verdadeiro, se uma ou mais partes da pergunta se aplicam a você devido a seu problema respiratório, do
contrário, marque-a como falsa.
Levo muito tempo para higiene pessoal e para me vestir Verdadeiro Falso
(1) (0)
Não posso tomar banho ou levo muito tempo para faze-lo
Caminho mais lentamente que outras pessoas ou preciso
parar para descansar
Levo muito tempo para terminar os afazeres domésticos ou
preciso parar para descansar
Caso queira subir um andar pelas escadas, tenho que ir
lentamente o parar para descansar
Se me apresso ou caminho mais rápido, tenho que diminuir
a velocidade ou parar para descansar
Minha respiração, torna mais difícil subir ladeiras, escadas
carregando coisas, regar as plantas, jogar bola, dançar com
meus filhos.
Minha respiração, torna mais difícil carregar coisas pesadas,
trabalhar no campo, caminhar rápido (8 km/h) ou jogar
futebol
Minha respiração, torna difícil fazer trabalho manual muito
pesado, correr, andar de bicicleta ou praticar esportes
dinâmicos
163
anexos
Gostaríamos de saber de que forma seu problema respiratório afeta sua vida diária.
Seção 7 Por favor, marque com um X a opção de verdadeiro ou falso. (Lembre-se que deve marcar a opção verdadeiro somente nos casos em
que sua respiração lhe impedir de realizar essa atividade)
Não posso praticar esportes ou fazer exercícios Verdadeiro Falso
(1) (0)
164