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Farmacoepidemiologia e Semiologia

Brasília-DF.
Elaboração

Juliana Meira Guedes

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 6

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8

UNIDADE I
SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA.......................................................................................................... 9

CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO À SAÚDE PÚBLICA E À EPIDEMIOLOGIA................................................................ 9

CAPÍTULO 2
CONCEITOS E TIPOS DE ESTUDOS............................................................................................ 14

UNIDADE II
OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA.............................................................................................. 25

CAPÍTULO 1
FARMACOEPIDEMIOLOGIA...................................................................................................... 25

CAPÍTULO 2
OUTROS ESTUDOS DE FARMACOEPIDEMIOLOGIA.................................................................... 43

UNIDADE III
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS................................................................. 46

CAPÍTULO 1
O MERCADO FARMACÊUTICO................................................................................................ 46

CAPÍTULO 2
REAÇÕES E EVENTOS ADVERSOS............................................................................................. 50

CAPÍTULO 3
RELAÇÃO DA FARMACOEPIDEMIOLOGIA COM RAM/EAMS..................................................... 61

UNIDADE IV
DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS......................................................................................... 64

CAPÍTULO 1
FARMACOLOGIA CLÍNICA....................................................................................................... 64

CAPÍTULO 2
FARMACOVIGILÂNCIA............................................................................................................ 70
CAPÍTULO 3
MEDICAMENTOS..................................................................................................................... 73

UNIDADE V
INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA...................................................................................... 76

CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA......................................................................... 76

CAPÍTULO 2
SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA.................................................................................................. 82

CAPÍTULO 3
MÉTODOS A UTILIZAR............................................................................................................... 93

PARA (NÃO) FINALIZAR.................................................................................................................... 101

REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 104
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

6
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Caro aluno,

Esta disciplina tem como objetivo fornecer uma pequena introdução à Saúde
Pública conceitos básicos de Farmacologia Clínica e Epidemiologia e Semiologia
Farmacêutica. Discutiremos questões referentes à farmacoepidemiologia e sobre as
diferentes fases de Desenvolvimentos de Novos Fármacos. Também abordaremos a
Segurança nas Etapas de Investigação. Será discutido o uso de Medicamentos e a
Farmacovigilância; Reações e Eventos Adversos na Administração de Medicamentos
e a Responsabilidade Sanitária. E apresentaremos a nova modalidade de atuação
profissional Farmacêutica: Semiologia.

Objetivos
»» Revisar os princípios básicos da Saúde Pública e sua relação com a
epidemiologia e metodologia.

»» Adquirir conhecimento em Farmacoepidemiologia.

»» Conhecer as características dos principais modelos de estudos


epidemiológicos aplicados ao estudo do medicamento.

»» Analisar e conhecer os conhecimentos básicos sobre a metodologia


epidemiológica aplicada ao estudo do risco e do benefício associado ao
uso do medicamento.

»» Compreender o racional de estudos de utilização de medicamentos.

»» Avaliar e interpretar criticamente os resultados de estudos


farmacoepidemiológicos.

»» Adquirir conhecimentos e discutir do sistema de notificação ao Sistema


Nacional de Farmacovigilância.

»» Conhecer os processos de identificação de reações adversas.

»» Conhecer e discutir questões importantes como erros na administração


de medicamentos.

»» Introdução ao conceito e métodos de semiologia farmacêutica.

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SAÚDE PÚBLICA E UNIDADE I
EPIDEMIOLOGIA

CAPÍTULO 1
Introdução à saúde pública
e à epidemiologia

Não é fácil obter uma única definição sucinta e clara sobre o conceito de
Saúde Pública. Durante anos, vários autores contribuíram com o seu estudo e
terminaram aportando cada um a sua definição. Seus conceitos e as suas visões
podem abordar desde um conceito mais político, como também um conceito de
serviços de saúde, ou então conceitos de saneamento básico e meio ambiente.

É importante entender que a Saúde Pública é uma disciplina que trata da


proteção da saúde em nível populacional. Nesse sentido, a Saúde Pública procura
melhorar as condições de saúde das comunidades por meio da promoção de
estilos de vida saudáveis, das campanhas de sensibilização, da educação e da
investigação.

Em resumo, ela surge de vários movimentos, tanto na Europa quanto nas


Américas, como forma de controlar as endemias e epidemias que ameaçavam
a ordem econômica vigente e, depois, como controle social, buscando a
erradicação da miséria, desnutrição e analfabetismo existentes na época.

Saúde Pública
Existem muitas definições sobre o que é a Saúde Pública, mas talvez a que mais se
identifica com sua verdadeira essência é a definição de Winslow (1920) e Terris (1991),
que conceituam a saúde pública como “a arte e a ciência de prevenir a doença e a
incapacidade, prolongar a vida e promover a saúde física e mental mediante os esforços
organizados da comunidade” (TERRIS apud PAIM, p.12).

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UNIDADE I │ SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA

Seu diferencial com a medicina é o conceito do coletivo e de comunidade, e entende-se


que é na população que se deve focar a solução de problemas e eventos de saúde.

São exemplos de preocupação com o conceito coletivo e o entorno: aleitamento materno,


hábitos da população, estilos de vida, se fumam, como é a dieta e o nível de nutrição,
as atividades físicas que realizam, a habitação e a existência de um saneamento básico,
cloacas, boas condições de trabalho, educação, apoio social para famílias, educação,
promoção, atenção materna infantil, prevenção e controle de doenças endêmicas, DST,
distribuição de medicamentos básicos, entre outros.

Em nossa Constituição Federal de 1988, a Saúde Publica e o direito à saúde são vistos
entre os artigos 196 e 200, que falam sobre as responsabilidades e direitos de cada
cidadão e reúnem um conjunto de ações voltadas à promoção, à proteção e à recuperação
da saúde.

Encontramos, no primeiro e no segundo artigos, o conceito do direito à saúde, em


que o dever do Estado é garantir não apenas serviços públicos de promoção, proteção,
assistência e recuperação da saúde, mas de adotar políticas econômicas e sociais que
melhorem as condições de vida da população. E com essa visão surge o Sistema Único
de Saúde ─ SUS, Sistema Público de Saúde brasileiro, ao qual e a outros setores da
Administração Pública é atribuído o dever de cuidar da população e de sua saúde.

Com a criação do SUS, toda a população brasileira passou a ter direito a saúde universal,
equitativa e gratuita, que deve ser fornecida pelos três órgãos federativos, e não somente
do Estado. Esses órgãos federativos são responsáveis também pela saúde da população:
União, Estados, Distrito Federal e os Municípios.

Esse novo conceito de saúde considera alimentação, moradia, saneamento, meio


ambiente, trabalho, educação, transporte etc. fatores determinantes; impõe aos órgãos
que compõem o Sistema Único de Saúde o dever de identificar esses fatos sociais e
ambientais, e ao Governo o de formular políticas públicas condizentes com a elevação
do estilo e modo de vida da população.

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido


mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de
doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e
serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo


ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação,
fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou

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SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA │ UNIDADE I

através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito


privado.

Fonte: (Constituição Federal – Artigos 196 a 200 – Seção II – DA SAÚDE).

Acessem o site da OMS e descubram quais são as funções essenciais da Saúde


Pública: <http://www.who.int/en/>. Você poderá escolher o idioma inglês ou
espanhol.

Aqui <http://www.conselho.saude.gov.br/14cns/docs/constituicaofederal.
pdf> podemos encontrar todos os artigos relacionados ao Direito à Saúde e à
Constituição Federal de 1988.

Epidemiologia
A Epidemiologia e a Saúde Pública sempre caminharam juntas e, por isso, foram se
definindo e fazendo sentido em conjunto desde muito tempo.

Para a Saúde Pública, seu elemento principal e diferencial de estudo é a saúde coletiva,
saúde e bem-estar da comunidade e da população.

No final do século XIX, houve uma explosão de doenças infecciosas, epidemias e


endemias que preocuparam e mobilizaram toda a área de saúde dessa época, e é justo
nesse momento que se inicia a produção de medicamentos em grande escala.

Com essa grande produção, tempos depois, surge o uso abusivo de medicamentos,
as reações adversas aos medicamentos, a resistência da ação medicamentosa e não
controle de doenças infecciosas na população.

É a medida que aumenta o número de medicamentos no mundo e também a preocupação


por parte dos profissionais da área de saúde em como utilizar devidamente esse
“recurso”. Por isso, a contribuição da epidemiologia ao estudo dos medicamentos nas
sociedades, apesar de ser um tema ainda pouco conhecido, é muito importante.

Vários acontecimentos no decorrer da história nos mostram que conhecer bem a


utilização de um medicamento é muito significativo.

Em 1937, mais de 100 crianças morreram nos Estados Unidos (EUA) ao utilizar um
dos primeiros antibióticos, que, em sua composição, continha uma base de elixir
de sulfanilamida e, como veículo, o dietilenoglicol. Apesar de o conhecimento
dos efeitos tóxicos do solvente serem bem estabelecidos naquela época, não
eram conhecidos pelo próprio fabricante do elixir.

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UNIDADE I │ SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA

Um ano depois desse incidente, uma lei nos Estados Unidos criou a Food
and Drug Administration (FDA), que previa que as indústrias farmacêuticas
deveriam, por lei e supervisão desse órgão, fornecer a eles todos os dados
clínicos sobre segurança de novos medicamentos antes da permissão para a sua
comercialização.

Depois, outro ocorrido marcante foi no início da década de 1950, quando casos
de uso terapêutico de cloranfeniclol, outro antibiótico de amplo espectro, eficaz
contra bactérias gram-negativas, gram-positivas e riquetsias, induziu em alguns
pacientes a anemia aplástica, tipo de anemia que ocorre quando a medula
óssea produz em quantidade insuficiente os três diferentes tipos de elementos
sanguíneos: glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e as plaquetas como efeito
adverso.

Em 1960, o FDA lançou um programa de notificação de efeitos adversos causados


pelos medicamentos. Nesse mesmo momento também publicou os primeiros
estudos de utilização de medicamentos, em que falava sobre a comercialização,
a distribuição, a prescrição, a dispensação e o uso de medicamentos em uma
sociedade, enfatizando especialmente as consequências médicas, sociais e
econômicas que resultam dessa utilização.

Relacionado ao uso de medicamentos, o fato mais marcante ocorreu em 1961


e foi conhecido como o surto de focomelia, que atingiu vários países onde o
produto era comercializado. Alguns dados nos mostram que mais de 10.000
crianças nasceram deformadas em consequência do uso da talidomida por mães
durante a gestação; aproximadamente 5.000 recém-nascidos sobreviveram a
esse fato. A utilização de um único comprimido já podia resultar em focomelia.

A Talidomida foi desenvolvida como um sedativo anti-inflamatório, mas seu efeito


adverso resultou na focomelia. Focomelia é uma síndrome caracterizada pela aproximação
ou encurtamento dos membros junto ao tronco do feto, tornando-os semelhantes aos
de uma foca. Ela provoca graves defeitos e más-formações visuais, auditivas, da coluna
vertebral e, em casos mais raros, do tubo digestivo e problemas cardíacos.

Quando finalmente se realizaram os estudos epidemiológicos do uso da talidomida,


comprovou-se que os seus efeitos eram teratogênicos, ou seja, podem gerar um defeito
congênito durante a gestação do feto.

Com o FDA nos Estados Unidos, o medicamento talidomida já havia sido retirado do
mercado com o alerta de alguns efeitos colaterais indesejáveis, como o hipotireoidismo

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SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA │ UNIDADE I

e neuropatia periférica, e praticamente não houve incidentes relacionados ao seu uso e


a focomelia.

E foi nesse cenário que se iniciaram os primeiros estudos com enfoque na utilização
racional de medicamentos, com base na necessidade de se conhecer e relatar os
problemas relacionados à medicação e à elevada morbidade e mortalidade associada ao
uso inadequado dos medicamentos.

Em 1965, o medicamento volta ao mercado brasileiro e hoje ainda faz parte dele, com
outras indicações. Mas, sabendo-se dos seus efeitos teratogênicos, a Talidomida é um
medicamento vigiado por nossa autoridade sanitária e por força da Portaria no 354,
de 15 de agosto de 1997, proibida para mulheres em idade fértil e grávidas em todo o
território nacional.

E para o sexo masculino, conforme a Resolução no 140/2003 da ANVISA, a bula do


medicamento informa que “os homens que utilizam a Talidomida e mantém vida sexual
ativa com mulheres em idade fértil, mesmo tendo sido submetidos à vasectomia, devem
ser orientados a adotar o uso de preservativo durante o tratamento” e ainda “sobre a
importância dos usuários não doarem sangue ou esperma”. E seu uso vem acompanhado
de uma notificação ao usuário e um termo de consentimento para seu uso.

Podemos citar outros vários casos, mas o mais importante foi aprender com esses
grandes sustos mundiais e, a partir de então, entender que a ideia do medicamento
como produto de qualidade e segurança absoluta deve ser questionada.

O avanço da farmacologia clínica e de seus conhecimentos sobre o efeitos dos medicamentos


nos permite compreender mais claramente a diferença sobre os efeitos terapêuticos e os
efeitos indesejáveis, ambos presentes durante o uso de um medicamento.

A indústria farmacêutica é um dos maiores complexos industriais no mundo. Por isso,


à medida que aumenta o número de medicamentos no mundo, e apesar dos novos
e sofisticados métodos para a produção, maior é a necessidade de estudá-los, e esse
também é um dilema da Farmacoepidemiologia.

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CAPÍTULO 2
Conceitos e tipos de estudos

Conceito de epidemiologia
A palavra Epidemiologia deriva de três vocábulos gregos:

EPI – que significa “sobre”;

DEMOS – que quer dizer “população”; e

LOGOS – que pode ser traduzido como “tratado”, “estudo”.

Ou seja, Epidemiologia é o ramo da Ciência de Saúde que estuda o que ocorre sobre
a população. Ela é considerada como uma disciplina básica da Saúde Pública, que se
ocupa de uma dimensão coletiva utilizando métodos de estudos biológicos.

A epidemiologia tem sido indicada, há quase meio século, para o uso diverso, como
a descrição de doenças em populações, identificação de grupos suscetíveis, além da
avaliação de serviços, programas e ações de saúde (MORRIS, 1975).

Tradicionalmente, é o estudo das relações dos diferentes fatores que determinam a


frequência e distribuição das doenças em uma comunidade, assim como o conhecimento
de dados para a intervenção orientada ao controle e erradicação dessas doenças.
Deve-se observar que a Epidemiologia preocupa-se com a saúde coletiva, e não somente
de um indivíduo. Também se preocupa com as condições que dizem respeito ao estado
de saúde do entorno da população.

Na prática da investigação epidemiológica, nos locais de saúde e nos institutos


sanitários, a epidemiologia desenvolveu primeiramente seu interesse em alguns eventos
ou problemas de saúde que, por diversas razões, foram classificadas como prioridade.

Devido a isso, desenvolveu-se a epidemiologia de doenças infecciosas, crônicas e


degenerativas, de acidentes, mentais e recentemente as doenças ambientais.

Tempos depois surgiu a epidemiologia clínica, que é a aplicação de princípios e métodos


epidemiológicos em problemas encontrados na clínica médica, analisando e medindo
as observações científicas em medicina.

A epidemiologia clínica procura responder essas questões e ajudar a tomar decisões


com a melhor evidência disponível. Tem sua derivação da epidemiologia porque foi

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SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA │ UNIDADE I

desenvolvida por epidemiologistas que utilizaram métodos que analisam os cuidados


administrados aos doentes individuais e os expõe ao contexto de um grupo maior da
população de que o doente faz parte.

Os objetivos principais desse tipo de modalidade são: definições de normalidade e


anormalidade, validade dos testes de história natural e prognóstico das doenças, a
efetividade do tratamento e prevenção na prática clínica, análise de riscos e benefícios
dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos e avaliação dos serviços de cuidados de
saúde (<http://whqlibdoc.who.int/publications/2010/9788572888394_por.pdf>).

E, por fim, surgiu a epidemiologia social, que analisa os determinantes sociais do


processo saúde-doença. O que distingue a epidemiologia social das outras abordagens
epidemiológicas é que aqui se analisa a evolução do processo de saúde com as condições
de seu entorno e a educação recebida pela população analisada. Analisam-se discussões,
questões locais, regionais, estaduais, nacionais e internacionais, os mercados financeiros,
o lixo, pobreza, as catástrofes ambientais, o desemprego, a desnutrição, a precariedade
do trabalho, o trabalho escravo e as condições de vida em escala mundial.

Todas essas informações e toda essa investigação dos cuidados de saúde podem ser
muito úteis para gestão, recomendações, melhores práticas etc.

A utilização efetiva da epidemiologia no planejamento das ações em saúde é um assunto


muito importante por sugerir uma tomada de decisão e por refletir na prevenção de
doenças e promoção da saúde de toda a população.

Estudos epidemiológicos
A investigação epidemiológica consiste na aplicação de estudos que relacionam fatores
e doenças, e também estratégias com a finalidade de analisar os dados obtidos, visando
à melhoria da saúde da população.

Praticamente os estudos Epidemiológicos se dividem e se fundamentam nos seguintes


métodos:

»» descritivos: estudos de simples descrição e da distribuição dos problemas e/


ou eventos de saúde em determinadas populações e/ou diferentes grupos
de uma mesma população, em que se identificam os grupos de risco, as suas
características e as suas necessidades. A epidemiologia descritiva examina a
incidência (casos novos) ou a prevalência (casos existentes);

»» analíticos: são estudos desenhados especialmente para examinar a


validade de algumas hipóteses e questões científicas que relacionam
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UNIDADE I │ SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA

eventos, como uma suposta “causa” e um dado “efeito”, ou “exposição”


e “doença”. Ou seja, ele pode começar em um estudo descritivo, em que
se selecionam grupos ou determinadas populações e se realizam estudos
que procuram esclarecer uma dada associação entre uma exposição, em
particular, e um efeito específico previamente já formulado. Sempre
haverá dois grupos, já que o estilo dos estudos analíticos é comparativo.
Com isso, haverá no mínimo dois grupos de indivíduos estudados: o
grupo “estudo” e o grupo de comparação, conhecido como “grupo
controle”;

»» experimental: são estudos em que se manipulam, modificações de


frequência, intensidade da suposta causa e resultados. Aqui o investigador
intervém, manipulando pequenos estímulos e possibilidades, e questiona
se a determinada intervenção funciona e qual é o seu efeito e resultado.
Portanto, podemos definir esse tipo de estudo como um teste ou até uma
comparação. A intervenção experimental pode ser uma nova droga a ser
testada ou uma nova conduta de tratamento. Como é o investigador quem
diz para quais indivíduos vai dar a intervenção e quais vão continuar
recebendo a antiga intervenção ou nenhuma, ele tem a possibilidade de
tornar os dois grupos estudados muito semelhantes entre si utilizando
uma escolha do tipo aleatória ou randomizada, que poderia ser por
sorteio ou escolha ao azar;

»» observacionais: nesse método, o investigador do estudo não intervém,


mas realiza as medições e as investigações necessárias na sua amostra.
São conhecidos como desenhos epidemiológicos, em que os grupos de
estudo e o de controle estão separados com as características já existentes
nos indivíduos de cada grupo que os diferenciam. Esses desenhos são
classificados como: Transversal, Coorte, Caso-Controle e Ecológico.

Em realidade, devido a algumas características de cada grupo, podemos observar que


um tipo de estudo tem uma próxima etapa que seria o outro tipo de estudo.

Em todos estudos se incluem critérios de observações, análises, pesquisa analítica e


experimentos. Analisam-se tempo, local e características dos indivíduos, e estes são
fatores determinantes, assim como os outros fatores analisados: físicos, biológicos,
sociais, culturais e comportamentais que já sabemos, entendendo o que é Saúde
Pública e Epidemiologia, que podem influenciar a saúde: condições relacionadas à
saúde incluem doenças, causas de mortalidade, hábitos de vida (como tabagismo,
dieta, atividades físicas, estilo de vida etc.), provisão e uso de serviços de saúde e
de medicamentos.

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SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA │ UNIDADE I

O esquema da divisão desses estudos e suas próximas etapas são:

»» descritivos;

»» analíticos:

›› experimentais;

›› observacionais:

·· transversal;

·· coorte;

·· caso controle;

·· ecológicos.

Estudos epidemiológicos: observacional transversal

O estudo transversal, também conhecido como estudo de prevalência, tem como


objetivo principal medir a prevalência de determinado evento. É o mais utilizado em
epidemiologia, já que apresenta muitas vantagens.

Para a realização de um estudo transversal, o investigador tem que, primeiro, definir a


questão a responder; depois, definir a população a estudar e selecionar um método de
escolha da amostra; e, por fim, definir os fenômenos a estudar e os métodos de medição
das variáveis de interesse.

Vantagens

A maior vantagem dos estudos transversais é que permitem tirar conclusões sem a
existência de um período de seguimento. Essas questões tornam os estudos transversais
mais baratos, mais rápidos, mais fáceis em termos logísticos e não sensíveis aos
problemas como as perdas de seguimento e outros, característicos de outros estudos,
como os estudos longitudinais. Esse tipo de estudo é a única maneira de calcular a
prevalência das doenças e dos fatores de risco. São também estudos adequados à análise
de redes de causalidade.

Desvantagens

A maior desvantagem é a impossibilidade de estabelecer relações causais, já que não


podem provar a existência de uma sequência temporal entre exposição ao fator estudado
e o subsequente desenvolvimento da doença.

17
UNIDADE I │ SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA

O fato de nos estudos transversais só se poder medir a prevalência, e não a incidência,


torna limitada a informação produzida por esse tipo de estudo no que diz respeito à
história natural das doenças e ao seu prognóstico.

Nos estudos transversais, temos a população-alvo e, a partir dela, a amostra a estudar:

1. expostos e doentes;

2. expostos e não doentes;

3. não expostos e doentes;

4. não expostos e não doentes.

Estudos epidemiológicos: observacional coorte

Nos estudos de coorte, o investigador forma os grupos de expostos e não expostos a


determinado fator de interesse, ou entre as pessoas que já apresentam cada uma das
condições que ele deseja analisar, e os segue durante algum tempo para verificar os
efeitos da exposição, por comparação dos dois grupos.

O termo coorte é utilizado para designar um grupo de indivíduos que têm em comum
um conjunto de características e que são observados durante determinado período de
tempo com o intuito de analisar a sua evolução.

Em estudo de coorte é, inicialmente, agrupado um conjunto de indivíduos conhecidos


como coorte que não apresentam o resultado esperado outcome.

Dessa maneira, estudamos como a presença de determinada característica influencia


no aparecimento de determinada doença e comparamos os riscos de desenvolver a
doença daqueles que têm tal característica com o risco daqueles que não a têm.

Vantagens

Os estudos de coorte são a melhor alternativa aos estudos experimentais, que são muitas
vezes inviáveis em investigação.

Uma das principais vantagens desses estudos é ser o melhor método de estudar a
incidência e história natural das doenças.

Os estudos de coorte são estudos prospectivos que permitem uma medição das
variáveis, porque se determinam exposições no presente sem ter que recorrer à
memória dos indivíduos, ou outras fontes indiretas, o que poderia ser relevante
para determinação.
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SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA │ UNIDADE I

Com ele, as determinações são feitas antes de o resultado esperado, geralmente uma
doença, ter acontecido, evitando, assim, o enviesamento inerente à determinação da
exposição em um indivíduo que conhece o seu estado de doente.

Ainda relacionado com o carácter prospectivo dos estudos de coorte está o fato de estes
permitirem apresentar resultados com crescentes tempos de seguimento, aumentando,
assim, à medida que o tempo de seguimento se torna mais longo, o número de casos e o
poder estatístico do estudo, à custa de um modesto aumento no custo do estudo.

Desvantagens

Cientificamente falando, a maior desvantagem dos estudos observacionais de coorte é


estarem sujeitos aos erros sistemáticos dos estudos experimentais, uma vez que não se
controla diretamente a exposição ao fator em estudo.

Importante exemplo desse tipo de erro são os fatores de confusão que as pessoas que
são expostas a um determinado fator de risco, provavelmente, diferem do grupo de não
expostos com que são comparados em muitos outros fatores para além daquele que
se pretende estudar. Como exemplo de este tipo de erro, estão os fatores de confusão,
já que as pessoas que estão expostas a um determinado fator de risco, diferem do
grupo dos não expostos, em muitos outros fatores também. Se tais fatores estiverem
relacionados com a doença, poderão ser eles que figurarão nos resultados, e não o fator
que se pretende estudar.. A esses outros fatores que estão associados simultaneamente
à doença em estudo e ao fator em causa e que confundem a relação entre este e a doença
dá-se o nome de fatores de confusão.

Outro fator de desvantagem é que esse estudo podem tornar mais caro e mais difícil e
também a dificuldade no seguimento dos doentes nos estudos de coorte já que se deve
prolongar por um período de tempo suficientemente longo como para permitir que o
risco inerente à exposição se manifeste.

A principal limitação para o desenvolvimento de um estudo de coorte, além do seu custo


financeiro, é a perda de participantes ao longo do seguimento por conta de recusas para
continuar participando do estudo, mudanças de endereços ou emigração. Os custos e as
dificuldades de execução podem comprometer o desenvolvimento.

Estudos epidemiológicos: observacional


caso-controle
Nos estudos de caso-controle, o investigador forma dois grupos, o grupo de doentes e o
grupo de não doentes, entre as pessoas que já apresentam cada uma das condições para

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UNIDADE I │ SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA

estimar fatores de risco para a doença, comparando as exposições a que os dois grupos
estiveram sujeitos.

Os estudos de caso-controle e os estudos de coorte podem ser utilizados para investigar


a etiologia de doenças ou de condições relacionadas à saúde entre idosos, determinantes
da longevidade; e para avaliar ações e serviços de saúde. Os estudos de coorte também
podem ser utilizados para investigar a história natural das doenças.

Nos estudos caso-controle, primeiramente, identificam-se indivíduos com a doença


(casos) e, para efeito de comparação, indivíduos sem a doença (controles).

Os estudos caso-controle e os estudos de coorte podem ser utilizados para investigar a


etiologia de doenças ou de condições relacionadas à saúde entre idosos, determinantes
da longevidade; e para avaliar ações e serviços de saúde. Os estudos de coorte também
podem ser utilizados para investigar a história natural das doenças.

Vantagens

»» Rápidos e baratos quando comparados com outros desenhos;

»» Particularmente bons no estudo de doenças com períodos de latência


muito longos.

»» Ótimos para estudar doenças raras.

»» Pode estudar múltiplos fatores de risco de uma doença.

»» Promovem poucas perdas.

Desvantagens

»» Ineficiente para estudar exposições raras.

»» Não mede diretamente as incidências, a não ser que seja um estudo de


base populacional.

»» Em algumas situações, não se pode medir o tempo entre exposição e


doença.

»» Susceptível a erros, principalmente de seleção ou de aferição (recordatórios).

Quando falamos de exposição, entendemos: selecionam-se as pessoas com a doença


(são os casos); comparam-se com as pessoas sem a doença (são os controles); e se
analisam os fatores de risco (exposição).

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SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA │ UNIDADE I

Estudos epidemiológicos: observacional ecológico

Utilizam como unidade de observação grupos de indivíduos, e não indivíduos isolados.


Estudam a ocorrência de doença em um grupo de indivíduos em função das características
desse grupo. Servem essencialmente para levantar hipóteses para estudos analíticos.

Nos Estudos Ecológicos, as medidas usadas representam características de grupos


populacionais em que é possível analisar a frequência de uma enfermidade ou problema
de saúde com uma visão coletiva, bem limitada e definida.

Podemos analisar comunidades, municípios, cidades, regiões ou países. Mas sempre


tendo como princípio populações em que determinada exposição é mais frequente
terão maior incidência de doenças causadas por esta exposição.

Vantagens

»» Rapidez e baixo custo.

»» Úteis para levantar hipóteses e avaliar programas de saúde.

»» Constituem, às vezes, a única alternativa razoável quando há grande


homogeneidade populacional em relação à exposição (por exemplo:
poluição do ar e doenças respiratórias).

Desvantagens

»» Limitado às doenças que têm registro.

»» Falta controle na qualidade dos dados.

A limitação que ocorre nesse estudo é o que chamamos de falácia ecológica, ou seja,
pode surgir uma associação entre uma exposição e evento ao nível da população
que não permite afirmar que a exposição está mais presente naqueles que adquirem
a doença.

Esses estudos, no entanto, ajudam a identificar fatores que merecem uma investigação
mais detalhada por meio de estudo com maior capacidade analítica. Por exemplo, a
demonstração de uma relação entre venda de cigarros per capita e mortalidade de
doença cardiovascular (DCV) em estudos ecológicos motivou o planejamento de estudos
Caso-Controle e Coorte que vierem a demonstrar de forma bem mais convincente que
o hábito de fumar é um dos fatores determinantes de DCV, particularmente doença
coronariana e acidente vascular cerebral.

21
UNIDADE I │ SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA

Medidas de frequências
As medidas de frequências nos estudos epidemiológicos compreendem medidas
estatísticas (média, mediana, modo), as frequências absolutas e relativas, os coeficientes
e as taxas.

São as medidas básicas da ocorrência das doenças em determinada população e


período. Para o cálculo dos coeficientes ou taxas, considera-se que o número de casos
está relacionado ao tamanho da população que lhes deu origem. O numerador refere-se
ao número de casos detectados que se quer estudar (por exemplo: mortes, doenças,
fatores de risco etc.), e o denominador refere-se a toda população capaz de sofrer aquele
evento – é a chamada população em risco. O denominador, portanto, reflete o número
de casos acrescido do número de pessoas que poderiam tornar-se casos naquele período
de tempo. Às vezes, dependendo do evento estudado, é preciso excluir algumas pessoas
do denominador.

As taxas interessam particularmente a epidemiologia, porque são utilizadas para medir


o risco de saúde por meio de um coeficiente. É simplesmente a expressão matemática
da relação entre o numerador e o denominador comum em um determinado tempo.

 

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São exemplos de taxas: taxa de mortalidade, taxa de mortalidade por causa específica e
taxa de mortalidade infantil.

Algumas taxas particulares apresentam um maior valor em epidemiologia;

»» Taxa de Incidência ou Frequência: a incidência mede o número de casos


novos de uma doença, episódios ou eventos na população dentro de um
período definido de tempo e é um dos melhores indicadores para avaliar
se uma condição está diminuindo, aumentando ou permanecendo estável,
pois indica o número de pessoas da população que passou de um estado
de não doente para doente;

»» Incidência Cumulativa = número de casos no decorrer do


período/população exposta no início do período;

»» Taxa de Prevalência: a prevalência (P) mede o número total de casos,


episódios ou eventos existentes em determinado ponto no tempo. É

22
SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA │ UNIDADE I

o coeficiente da proporção de casos ou eventos em uma população


delimitada em um tempo determinado;

»» Coeficiente de Prevalência = número de casos existentes/número de


pessoas na população;

»» Taxa de Letalidade: número de pessoas falecidas durante um período.

»» Taxa de Mortalidade: o número de óbitos.

Medidas de efeito e associação


»» Risco Relativo (RR): expressa uma comparação matemática entre o risco
de enfermar-se em um grupo exposto a um fator qualquer e o risco em
um grupo não exposto ao mesmo fator.

»» RR = índice de incidência entre o grupo exposto/índice de incidência


entre os nãos expostos = (1,0 ausências de associação).

É de grande importância porque expressa o risco de um grupo com um


fator, por exemplo, homens hipertensos, fumantes etc., em comparação
a um grupo de referência sem esse fator, mulheres, não fumadoras,
pressão estável etc. Não indica a frequência, mas indica a medida que está
aumentando esse risco. Determina que um paciente talvez se encontre
em um grupo de alto risco para que assim possa se prevenir. É muito útil
para descobrir e estudar a etiologia de uma enfermidade.

»» Razão de Prevalência (RP): é um sucessor do RR, estimado a partir de


dados de estudos de tipo coorte transversal.

»» Razão de Produtos Cruzados ou Odds Ratio (OR): em inglês, Odds


significa chance e Ratio razão. Em estudos em que não podemos utilizar
RR, utilizaremos OR, ou quando a doença ou o evento é pouco frequente.

»» OR = probabilidade de não ocorrer/probabilidade de um acontecimento


ocorrer ou OR = odds de desenvolver a doença nos não expostos/odds de
desenvolver a doença nos expostos.

»» Risco Atribuído (RA): mede a magnitude de um risco absoluto (frequência)


que se pode atribuir a um fator particular, como o tabagismo.

23
UNIDADE I │ SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA

»» RA = índice de frequência entre os expostos – índice de frequência entre


os não expostos.

Análise de dados
A análise de dados de um estudo epidemiológico depende do tipo estudo de seu objetivo.

»» Obtenção de medidas de frequência:

›› em estudos transversais, obtêm-se estimações de prevalência;

›› em estudos experimentais e de coortes, obtêm-se incidências;

›› em estudos de casos e controles, obtêm-se odds de exposição para


casos e controles: odds de exposição dos casos: casos expostos/casos
não expostos; e odds de exposição de controles: controles expostos/
controles não expostos.

»» Obtenção de medidas de associação: medem a magnitude e o sentido da


relação de duas variáveis:

›› em um estudo de coorte experimental, calcula-se o RR a partir das


medidas de incidência;

›› nos estudos de casos e controles, calcula-se OR a partir da odds casos


e da odds controles.

Um dos aspectos fundamentais da Epidemiologia é a quantificação de problemas


relacionados com a saúde de uma população. A possibilidade de medir a frequência
absoluta de uma doença, assim como também suas variáveis, suas áreas geográficas
predominantes, são elementos básicos para a investigação e para as profilaxias de
distintas doenças.

24
OS MEDICAMENTOS UNIDADE II
E A SAÚDE PÚBLICA

CAPÍTULO 1
Farmacoepidemiologia

Os medicamentos essenciais são de fundamental importância no âmbito do


Sistema Único de Saúde.

Eles têm como objetivo principal satisfazer as necessidades prioritárias de cuidados


da saúde e são considerados como os mais seguros para responder às necessidades da
população

Se a população tem à disposição no SUS os medicamentos mais seguros e eficazes,


do ponto de vista das evidências científicas, isso diminui muito o risco de problemas
relacionados com a farmacoterapia.

Estão definidos em uma lista e passaram por uma seleção em que se analisaram critérios
embasados em evidências científicas, entre elas a melhoria da qualidade de
atenção à saúde, mais eficácia na gestão dos medicamentos e prescrições médicas
com mais qualidade.

Conheça mais a lista de Medicamentos RENAME no link abaixo: <http://


bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/relacao_nacional_medicamentos_
rename_2017.pdf>.

Conceito de farmacoepidemiologia
Quando um novo fármaco é lançado no mercado, minimamente devemos saber que
durante seu desenvolvimento e sua fabricação se observaram as seguintes características:

a. características físico-químicas;

25
UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA

b. perfil de atividades farmacológicas sobre modelos experimentais in vivo


e in vitro;

c. perfil de toxicidade experimental aguda, subaguda e crônica;

d. características farmacocinéticas;

e. atividade farmacológica e seus efeitos farmacológicos no homem;

f. dados de toxicidade aguda (e às vezes crônica) no homem e dados


comparativos com alternativas terapêuticas obtidas a partir de ensaios
clínicos controlados.

A farmacologia é uma disciplina que estuda os efeitos dos fármacos, suas aplicações,
benefícios, nova utilização em seres humanos por meio da Farmacologia Clínica, sendo
em grupos ou em pacientes individuais, como vimos anteriormente.

Podemos dizer que se trata de uma área de Ciências de Saúde que tem como objetivo
principal atingir o uso racional de medicamentos.

A farmacoepidemiologia é considerada como o resultado do casamento


entre a farmacologia e a epidemiologia. É definida como o estudo do
uso e dos efeitos dos medicamentos no conjunto das pessoas, sendo
sua principal preocupação os efeitos adversos identificados após a
comercialização dos produtos. (STROM, 1994)

Outra definição interessante de Farmacoepidemiologia é de Porta e Hartzema (1989): “é


uma nova disciplina no campo da pesquisa com fármacos; é definida como a aplicação
do conhecimento epidemiológico, dos métodos e da lógica dos estudos dos efeitos e dos
usos dos fármacos em populações humanas”.

E uma terceira definição: “é a vigilância da vida do medicamento na comunidade, que


é descrita mediante técnicas adequadas, padronizadas e comparáveis, aparecendo na
literatura farmacológica como o conjunto de fatos relevantes sobre a relação do fármaco
com a medicina, produzidos no cenário científico e com imagem pública” (LAPORTE;
TOGNONI, 1989).

O medicamento tem se convertido em elemento importante na recuperação e garantia


da qualidade de vida da sociedade. Sabemos que os progressos da terapêutica
medicamentosa têm sido notáveis, desde muito tempo. Com isso, os medicamentos se
converteram em elementos poderosos para diminuir o sofrimento humano, produzir a
cura, prolongar a vida e retardar o surgimento de complicações associadas a doenças,
facilitando, assim, o convívio entre o indivíduo e sua enfermidade.

26
OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II

Estudos Epidemiológicos de Medicamentos

Estudos de Utilização de Medicamentos – EUM


Abordar epidemiologicamente o uso de um medicamento impõe reconhecer que sua
utilização não é somente na busca de um resultado farmacoterapêutico, se não como a
sociedade o utiliza, e o que esse uso gera nessa sociedade.

A análise dessa prática deve buscar demonstrar como os padrões de condutas


individuais e coletivas se comportam e como são construídas perante esse grande
mercado farmacêutico.

Se o objeto de epidemiologia é entendido como estudar e conhecer as “doenças em


populações”, podemos entender a disciplina de farmacoepidemiologia como o consumo
dos medicamentos pela população do lugar.

A OMS define a utilização de medicamentos como “a comercialização, distribuição,


prescrição e uso de medicamentos em uma sociedade, com ênfase especial sobre as
consequências médicas sociais e econômicas resultantes” (OMS, 1977).

Os estudos relacionados a medicamentos e seu uso são conhecidos como EUM, “Estudos
de Utilização de Medicamentos”, e são aqueles que, independentemente do método e
do objetivo, buscam esclarecer tais aspectos. Esses estudos nos oferecem uma visão
geral, ou de particularidades, da questão do uso de medicamentos em uma sociedade.
Seria como entender esse consumo e seus impactos na sociedade.

Objetivos da EUM

»» Descrição do uso de medicamentos.

»» Valoração qualitativa do uso de medicamentos.

»» Intervenção para solucionar os problemas identificados.

»» Identificação e analises de problemas de uso de medicamentos.

»» Análises e desenvolvimento de ações para solucionar os problemas


encontrados.

»» Análises dos efeitos das ações encontradas.

Aspectos médicos

»» Benefícios: eficácia na prevenção, alívio e cura das doenças e de seus


sintomas e complicações;

27
UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA

»» Risco: efeitos adversos em curto e longo prazo; fatores especiais de risco


com provável determinação genética, doença e ambiente, nutrição, idade,
sexo, gravidez, amamentação etc.

»» Relação benefício/risco: como a prescrição e uso inapropriados reduzem


os benefícios e incrementam os riscos.

Aspectos econômicos

»» Preços e custos dos medicamentos; produção local versus importação;


custos de novos fármacos em comparação com os já existentes e com
medicamentos genéricos; custos do tratamento farmacológico.

»» Relação custo/eficácia/segurança em comparação com os aspectos


assinalados.

»» Destinação atual e futura dos recursos nacionais (capital, pessoal,


instalações) no orçamento dos setores de saúde e de medicamentos.

Aspectos sociais

»» Atitudes em relação aos fármacos e à saúde, tendências atuais na “cultura


do medicamento” versus a persistência ou ressurgimento da medicina
tradicional.

»» Abuso de fármacos e a dependência química (causas e consequências).

»» Uso inapropriado dos medicamentos (prescrição incorreta ou uso de


automedicação, de medicamentos recomendados por família, amigos,
vizinhos).

»» Discriminação e injustiça social (a falta de disponibilidade de medicamentos


para os que dele necessitam).

Problemas detectados na EUM

»» Oferta inadequada – excessiva ou insuficiente.

»» Uso de medicamentos ineficazes ou ineficientes.

»» Fraude ou falsificação de medicamentos.

»» Abuso ou excesso de utilização absoluta de medicamentos.

»» Abuso ou excesso de utilização relativa de medicamentos.


28
OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II

»» Mau uso na prescrição de medicamentos.

»» Mal uso de medicamentos.

Alguns exemplos de problemas detectados pela EUM

»» Nifedipina em lugar da clortalidona ou atenolol.

»» Betabloqueadores na prevenção de IAM (Infarto Agudo do Miocárdio).

»» Elevadas Doses de Benzodiazepínicos em pessoas idosas.

»» Alto índice de pessoas com hipertensão apesar de todas as opções de


tratamentos.

Muitos estudiosos e pesquisadores brasileiros vêm se dedicando cada vez mais a estudos
de utilização de medicamentos por meio da EUM, incorporando aspectos relevantes no
contexto da saúde pública.

Por isso, entender que saúde pública nos dias de hoje enxerga muito mais do que
doenças infectocontagiosas é muito importante.

Os estudos nascem de preocupações sanitárias que procuram gerar informações que


possam ser usadas para melhorias na realidade observada. Na área farmacêutica, é dada
mais ênfase aos estudos farmacoepidemiológicos que utilizam métodos quantitativos,
porém reconhecendo que a utilização de medicamentos é um fenômeno complexo,
resultado de abordagem qualitativa que pode colaborar na compreensão do fenômeno
“utilização de medicamentos”, possibilitando a geração de práticas profissionais, como
prescrição e atenção farmacêutica, culturalmente mais apropriada.
A farmacoepidemiologia é a ciência que estuda o uso e os efeitos benéficos
e adversos dos medicamentos em grandes populações a partir do
método epidemiológico. Detecta riscos associados ao uso generalizado
de medicamentos e sua efetividade, emprega conceitos da farmacologia
clínica e da epidemiologia e seu desenvolvimento está centrado no
estudo da segurança dos fármacos na etapa de pós comercialização e no
âmbito dos estudos de utilização de medicamentos (EUM).

Estudos farmacoepidemiológicos
Vamos relacionar os estudos epidemiológicos com a farmacologia.

Estudos descritivos

Esse tipo de estudo não tem como objetivo avaliar associações entre causas e efeitos,
mas muitas vezes esse tipo de estudo tem por base dados estatísticos de mortalidade.
29
UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA

Portanto, pode-se, nesse tipo de estudo, analisar dados como mortes por sexo, mortes
por idade, por grupos étnicos, por períodos (ano ou meses) condições climáticas ou até
por localização geográfica.

Em farmacoepidemiologia, esse tipo de estudo tem sido muito utilizado para conhecer
aspectos importantes da utilização de medicamentos por determinados grupos de
população ou regiões. Com isso, pode-se estudar a interação do uso de medicamentos
com a assistência sanitária que corresponde a essa localização, e como é a incidência
do uso de determinados medicamentos, como foram prescritos, ou como a cultura
da automedicação.

Por meio dessa análise, podemos estudar os medicamentos como indicadores da


prevalência de problemas médicos e da maneira como os profissionais de saúde
interagem com a comunidade utilizadora desse serviço na seleção de soluções que
envolvam a intervenção farmacológica.

Algumas estratégicas estudadas:

1. análise da oferta de medicamentos;

2. estudos quantitativos de consumo de medicamentos;

3. estudos sobre a qualidade de consumo de medicamentos;

4. estudos sobre as prescrições médicas e hábitos de prescrições;

5. estudos de cumprimento na utilização da prescrição;

6. vigilância orientada a problemas na utilização de medicamentos.

Para o desenvolvimento desses estudos, existe uma metodologia comum, com base em
uma classificação de medicamentos e no reconhecimento da existência de diferentes
técnicas para a quantificação e qualificação de consumo.

Drug Utilization Research Group (DRUG) é um grupo da OMS que recomenda


a classificação para esses tipos de estudos. Esse método recomendado chama-se
Classificação Anatômico-Terapêutico-Químico, ATC.

Análise da oferta de medicamentos

A análise da oferta de medicamentos tem como fonte de dados de registros nacionais,


os catálogos oficias de origem nacional e os catálogos oferecidos pela indústria
farmacêutica. Esses catálogos fornecem ao estudo informações sobre o consumo, a
oferta e a qualidade de ambos, ou seja, a qualidade do consumo e a qualidade da oferta.

30
OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II

Um exemplo desse estudo foi baseado no DEF, Dicionário de Especialidades


Farmacêuticas. Um exemplar do ano 1989/1990 foi analisado. Um total de 95
medicamentos foi analisado, dos quais 27,4% continham uma única substância ativa
e 69,5% eram constituídos por dois ou mais princípios ativos. Os medicamentos
utilizados para baixar o nível de estresse e ansiedade da vida (calmantes, tranquilizantes,
antidepressivos, ansiolíticos) contribuíram com quase 70% das associações encontradas
e representavam quase 50% do total de medicamentos indicados para tal fim (GOMES,
Maria Jose et.al. Ciências Farmacêuticas: “Uma abordagem em Farmácia
Hospitalar”. São Paulo. Editora Atheneu, 2000.).

Os autores desses estudos alertaram sobre a deficiência e algumas distorções contidas no


DEF quando comparadas com as leituras científicas de cada droga, o que ficou sugeriu
a omissão das indústrias farmacêuticas para não prejudicar a oferta e o consumo.

Estudos quantitativos de consumo

Os estudos quantitativos de consumo geram informações sobre tendências comparadas


de consumos de diversos produtos sobre as motivações dos médicos e permitem as
análises entre regiões e períodos.

Para esse estudo, utilizam fontes sobre as vendas privadas e para instituições como
hospitais, sanatórios e instituições públicas.

A quantificação do consumo pode enfocar diferentes aspectos, como preços, unidades


vendidas e unidades consumidas. A quantificação econômica do consumo expressa, por
exemplo, como se comporta a verba destinada à área de saúde de cada região, ou de
determinado sistema de saúde de um país.

Pode-se analisar também o consumo de determinado princípio ativo, ou grupo


terapêutico, unidades vendidas, comprar lugares de consumo, tipo de consumidor e
períodos de consumo.

Para enfrentar tais dificuldades em relação ao consumo abusivo e indiscriminado,


foi determinada a dose diária definida (DDD), que representa a dose média diária de
todos os medicamentos ou fármacos na sua dose ideal, indicada por literatura científica
de seu laboratório fabricante. Assim, a DDD é uma unidade técnica que permite as
comparações nesse tipo de estudo.

Não interferem nesse estudo os preços de cada medicamento, que podem variar, por
exemplo, em cada país.

31
UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA

Estudos sobre a qualidade de consumo

Os estudos sobre a qualidade de consumo enfocam amostras de medicamentos mais


vendidos, mais receitados, mais utilizados em hospitais e serviços de saúde. Informam
a qualidade de seu uso e a evolução do usuário.

Esse tipo de estudo pode ser utilizado também para identificar a necessidade de
intervenções específicas como o esclarecimento à população quanto a seu uso adequado,
a formação e educação continuada de profissionais de saúde para a prescrição racional,
identificação de populações em risco de consumo crônico de medicamentos inadequados.

É utilizado para avaliar a qualidade do uso de medicamentos por meio da análise do


padrão do uso, do grau de concordância com listas de medicamentos essenciais, do
valor terapêutico e das interações medicamentosas entre o uso.

Estudos de hábitos de prescrição médica

Os estudos de hábitos de prescrição médica utilizam as amostras de prescrições nas


comunidades, nos serviços de saúde e nos hospitais. Em geral, fornecem a prevalência da
prescrição médica em determinado grupo ou local. Podem também gerar informações
sobre a relação entre a indicação e a prescrição. Esse tipo de estudo pode servir para
que os planejadores, administradores, investigadores e docentes façam comparações
básicas entre diferentes estabelecimentos e em diferentes momentos:

a. descrever práticas atuais de tratamento;

b. comparar condutas prescritivas entre estabelecimentos de características


similares;

c. monitorar periodicamente e supervisionar as condutas na prescrição e


uso de fármacos;

d. avaliar o efeito de uma intervenção que tenha sido desenhada para mudar
práticas de prescrição.

Estudos de cumprimento da prescrição

Os estudos de cumprimento da prescrição apresentam técnicas indiretas ou diretas


para a obtenção desses dados, mas nunca foi fácil avaliar o cumprimento da prescrição
médica em qualquer tipo de estudo.

32
OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II

As principais informações obtidas nesses estudos são: a prescrição comparada com


o uso real; o grau de informação do paciente sobre sua doença e sobre os efeitos da
medicação, indicadores da qualidade da relação médico/paciente.

As técnicas indiretas incluem: curso clínico, detecção de marcadores fisiológicos,


impressão do médico, entrevistas estruturadas, controle de repetição de prescrições,
contagem de comprimidos, monitorização da medicação. E, nas técnicas indiretas, temos
a determinação do fármaco, um metabólito ou um marcador em líquidos orgânicos, dos
quais avaliaram os níveis plasmáticos do fármaco e dos seus metabólitos e analisam a
estabilidade dos coeficientes do nível/dose e os níveis sanguíneos constantes, partindo
do princípio de que os doentes que cumprem a prescrição apresentariam coeficientes
de nível/dose e níveis totais plasmáticos constantes.

Métodos simples como a contagem dos comprimidos ou da prescrição raramente são


exatos, e a monitorização plasmática ou a contagem eletrônica raramente são simples,
apesar de serem mais exatas. Tanto os próprios doentes como os médicos têm tendência
para sobrestimar o cumprimento da prescrição e, infelizmente, não existe nenhum
método 100% confiável para quantificar o cumprimento da prescrição.

A partir de fontes de informações como as histórias clínicas, os conhecidos como


pacientes-problema ou tratamentos-problema, pode-se obter uma descrição detalhada
de critérios de utilização de fármacos e de técnicas e protocolos terapêuticos.

Hoje em dia, existem aparelhos que registram o tempo preciso de abertura de um blister
de comprimidos para monitorizar se o doente cumpre a prescrição farmacológica.
No entanto, esse aparelho de alta tecnologia não é infalível, dado que não registra o
número de comprimidos retirados de cada vez e não podem inevitavelmente provar que
os comprimidos foram realmente.

Em outros estudos sobre cumprimento da prescrição médica, muitos fatores diferentes


influenciam o cumprimento da medicação, principalmente o fato de que as pessoas
que vivem sozinhas ou que tomam dois ou mais medicamentos evidencia a falta
de cumprimento da prescrição. Inclusive, podemos ressaltar também a falta de
cumprimento nos horários recomendados para tomar os comprimidos, por exemplo,
de 8 em 8 horas ou de 12 em 12 horas.

1. Estudos de consumo – descrevem quais medicamentos são


empregados e em que quantidade.

2. Estudos de prescrição-indicação – descrevem as indicações de


utilização de determinado fármaco ou grupo de fármacos.

33
UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA

3. Estudos indicação-prescrição – descrevem os fármacos utilizados em


uma determinada indicação ou grupo de indicações.

4. Estudos sobre o esquema terapêutico – descrevem características da


utilização prática dos medicamentos (doses, acompanhamento dos
níveis plasmáticos, duração do tratamento, observância).

5. Estudos dos fatores que condicionam os hábitos de prescrição


e dispensação – descrevem características dos prescritores, dos
dispensadores, dos pacientes e de outros elementos atinentes aos
medicamentos e sua relação com os hábitos de prescrição e dispensação.

6. Estudos das consequências práticas da utilização dos medicamentos –


descrevem benefícios, efeitos indesejáveis e custos reais do tratamento
farmacológico que podem expor sua ligação com as características da
utilização dos medicamentos.

7. Estudos de intervenção – descrevem as características da utilização dos


medicamentos vinculados a um programa de intervenção concreta
sobre seu uso.

Estudos ecológicos

Os estudos ecológicos podem ser chamados também de estudos de correlação e são


estudos de execução relativamente fácil e comparam indicadores globais de áreas
geográficas distintas ou de uma mesma área geográfica em diferentes períodos.

A unidade de análise são populações ou grupos de pessoas, fato que não permite fazer
a associação individual entre a exposição e a doença.

A associação observada entre variáveis de um grupo não representa necessariamente


a associação existente no nível individual, mas estudos ecológicos, entretanto, têm
frequentemente proporcionado um proveitoso início para pesquisas epidemiológicas
mais detalhadas.

Vejamos um exemplo da utilidade desse tipo de estudo em farmacoepidemiologia,


relatado por Stolley. Na Inglaterra, durante um século, antes de 1960, as taxas de
mortalidade por asma permaneceram muito estáveis e baixas, em torno de 0,5
mortes por 100.000 pessoas. A análise rotineira de estatísticas vitais mostrou a
ocorrência de uma epidemia. Em 1961, essas taxas de mortalidade começaram
a aumentar rapidamente, especialmente nas faixas etárias entre 5 e 34 anos.

34
OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II

Depois de 1967, essas taxas começaram a declinar, aproximando-se dos níveis


pré-epidêmicos nos anos de 1970.
Fonte: Stolley PD. The use of case-control studies in pharmacoepidemiology. In.: Strom BL, Velo
G. Drug epidemiology and post-marketing surveillance. New York, Plenum Press: 49-52, 1992.

Várias investigações epidemiológicas analisam o aumento de uma taxa de mortalidade


em determinado período ou em uma região.

Embora produzam informações úteis para a avaliação epidemiológica de medicamentos, os


estudos de correlação têm sérias limitações, particularmente se a proporção da população
que está usando a droga é pequena. Em geral, eles somente podem ser utilizados como uma
evidência auxiliar para estudos baseados em métodos mais rigorosos.

Estudos transversais
Esse tipo de estudo é muito comum na investigação epidemiológica. Também conhecidos
como estudos de prevalência, os estudos transversais medem, em uma população
previamente delimitada, a exposição a um ou mais fatores e o efeito da doença ou condição.

Operacionalmente são estudos fáceis de realizar e de custo relativamente baixo, e


informações obtidas são de muita utilidade na avaliação das necessidades de saúde
das populações e no planejamento das ações para enfrentá-las.

Dois autores, Rouquayrol e Almeida Filho, identificaram cinco subtipos de estudos


transversais:

Estudos de grupos de tratamento

Esses estudos utilizam registros institucionais e, a partir da procedência do paciente,


identificam a base populacional para o cálculo das prevalências. Suas estimativas são
influenciadas pela quantidade, qualidade e distribuição dos serviços, sendo difícil
operacionalizá-lo em locais em que a organização do sistema de saúde é incipiente
ou precária. Ademais, esse subtipo de estudo somente é eficaz quando as doenças são
graves, e o tratamento se impõe.

Estudos em populações especiais

Os estudos desse tipo desenvolveram um interessante estudo transversal que investiga


padrões de consumo de medicamentos em populações especiais.

Inquéritos na atenção primária

Os estudos desse tipo são viáveis do qual existem redes regionalizadas de atenção
primária organizada. A fonte de dados pode ser tanto os registros institucionais quanto

35
UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA

um instrumento de detecção de casos aplicado a uma amostra ou à totalidade dos


usuários do serviço em um período definido de tempo.

Inquéritos domiciliares de morbidade

Nesse estudo, é necessária a definição, por meio de amostragem ou recenseamento, de


uma base populacional para o estudo. Todos os indivíduos incluídos na investigação
são então examinados. Para minimizar a baixa confiabilidade do exame e da história
clínica, devem-se utilizar entrevistas estruturadas e procedimentos diagnósticos
padronizados.

Estudo transversal multifásico

Esse estudo constitui um aperfeiçoamento do subtipo anterior, melhorando a


relação custo-efetividade. Inicialmente, aplicam-se instrumentos simplificados
a toda a população ou amostra, triando para um exame mais completo aqueles
participantes suspeitos de serem portadores da condição enfocada, uma vez
que atingiram pontos de corte em instrumentos de detecção.

Fonte: ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA FILHO, N. Desenhos de pesquisa em epidemiologia. In.:


Epidemiologia e Saúde. 5.ed. Rio de Janeiro, Medsi: 149-170, 1999.

Estudos transversais realizados em populações usuárias de serviços específicos podem


fornecer informações importantes para a organização desses serviços.

Discutir resultados, alertar para o alto consumo de medicamentos sem uma necessidade
comprovada, os riscos para a saúde que estes podem causar, a alta taxa de disponibilidade
de medicamentos nos domicílios e risco de intoxicações que podem produzir quando
mal utilizados, o elevado consumo de analgésicos, assim como os medicamentos para o
aparelho respiratório e digestório, as distorções terapêuticas e às vezes a má distribuição
social da incidência desses problemas. Ainda pode-se citar a falta de informação a
respeito do uso de medicamentos.

Todas essas questões geram dados estatísticos em tipo de estudo. Esses dados
poderão ser utilizados para a organização do nosso sistema de saúde e da assistência
farmacêutica e, quando exemplificados, permitem conhecer melhor os determinantes e
o padrão de consumo de medicamentos na população. Desse modo, podem contribuir
significativamente tanto para o planejamento e organização das ações de saúde quanto
para reorientar as práticas assistenciais, na perspectiva de uma utilização mais racional
dos medicamentos em nosso país.

36
OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II

Estudos caso-controle

O desenho desse tipo de estudo possibilita a comparação entre dois grupos de pessoas.
Um dos grupos é composto por pessoas com determinada doença ou determinado
evento, e essas pessoas são denominadas casos. O outro grupo é composto por pessoas
com características semelhantes aos casos, exceto pelo fato de que não sofrem a doença
ou desse evento, e essas pessoas são denominadas controles.

A comparação entre os dois grupos tem por objetivo identificar diferenças de exposição,
no passado, a uma ou mais variáveis que possam ter contribuído para a ocorrência da
doença/evento.

Quando se comprova a associação estatisticamente significante entre uma variável e a


doença/evento, esta passa a ser denominada fator de risco para aquela doença/evento.
As principais vantagens desse desenho são: custo relativamente barato, facilidade
na execução e grande utilidade na investigação de causas de doenças/eventos,
especialmente quando se trata de casos raros.

Estudos caso-controle podem ser particularmente úteis quando o pesquisador procura


estudar várias possíveis causas de uma única doença, uma vez que ele pode estudar
qualquer número de exposições como potenciais fatores de risco usando os mesmos
casos e controles.

Os principais problemas relacionados a esse método incluem sua incapacidade de


estimar o risco, sua vulnerabilidade e sua complexidade analítica.

Para se obter a máxima similaridade entre casos e controles, deve-se considerar na


escolha dos controles:

»» área geográfica de origem;

»» fatores socioeconômicos;

»» fatores culturais da comunidade;

»» a instituição ou serviço de saúde em que tenham sido atendidos


previamente.

Em geral, a coleta de dados em estudos do tipo caso-controle é conduzida por meio


de entrevistas pessoais ou por consulta a registros médicos. Devem-se padronizar
rigorosamente os instrumentos, fontes de dados e critérios de atribuição de exposição
entre os grupos do estudo, com o objetivo de obter um dado de exposição válido e
confiável, tanto para os casos quanto para os controles.

37
UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA

Em farmacoepidemiologia, esse tipo de desenho tem sido muito utilizado em estudos


de reações adversas a medicamentos (RAM), podendo contribuir também, mas com
pequena intensidade, na avaliação dos benefícios de um medicamento.

Estudos de coorte

Nesse tipo de estudo, seleciona-se um grupo de pessoas de uma população que,


no início do estudo, não sejam portadoras da doença ou de um evento que se quer
estudar, e avalia-se se a exposição a uma determinada variável contribui para o
desenvolvimento dessa doença, por exemplo. Os participantes são classificados em
dois subgrupos, segundo a presença ou ausência de exposição a um potencial fator de
risco para a doença/evento.

As variáveis de interesse são especificadas e medidas, e o estudo de coorte é acompanhado


para ver se surge o desenvolvimento de novos casos da doença e se diferem entre os
grupos, conforme a presença ou não da exposição.

O grupo deve ser o mais homogêneo possível quanto às demais características, como a
faixa etária, local de residência ou de trabalho, atividade ocupacional etc.

O desenho é simples e não apresenta dificuldades para sua análise, e os estudos são
os que produzem a melhor informação sobre a etiologia das doenças e a medida mais
direta do risco para desenvolvê-la. Além disso, como recrutam pessoas saudáveis no
seu início, os estudos de coorte permitem investigar se os potenciais fatores de risco
enfocados estão relacionados a uma ampla variedade de desfechos (doenças/eventos) e
não apenas a um deles, como ocorre nos estudos caso-controle.

Por outro lado, uma vez que a doença pode ocorrer somente após longos períodos de
exposição, esse método pode requerer um período prolongado de acompanhamento, o
que resulta em um custo relativamente alto, e talvez até uma maior chance de perdas
durante o acompanhamento por diversos motivos.

Outro problema relacionado aos estudos de coorte é sua inadequação quando a


doença/evento é rara nos dois grupos (expostos e não expostos), situação em que
pode ser difícil garantir um número de participantes suficientemente grandes para
obter resultados válidos.

Por exemplo, é necessário monitorar uma coorte com mais de 8.000 pessoas para
garantir um poder estatístico de 80% na detecção de um evento (RAM) que ocorre uma
vez a cada 5.000 pacientes expostos a determinado medicamento.
38
OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II

Os participantes devem constituir um grupo o mais homogêneo possível quanto às


características de faixa etária, local de residência ou de trabalho, atividade ocupacional
etc.
Tal grupo homogêneo, assim definido, denomina-se coorte. O termo
“coorte” designava originalmente as unidades de combate das
legiões romanas, identificadas nos campos de batalha pelo uniforme
padronizado.(Rouquayrol MZ, Almeida Filho N. Desenhos de
pesquisa em epidemiologia. In.: Epidemiologia e Saúde. 5.ed. Rio
de Janeiro, Medsi: 149-170, 1999.)

Essa análise requer medidas de associação que serão comparadas: Risco Relativo
(Razão de Incidências) e o Risco Atribuível (Diferença de Incidências), e os dados dos
estudos serão comparados e também suas proporções entre indivíduos que desenvolvem
a doença/evento no período de estudo, entre expostos e não expostos, permitindo o
cálculo de medidas de incidência e de estimativas de risco.

A análise comparativa produz medidas de associação que expressam,


respectivamente, o Risco Relativo (Razão de Incidências) e o Risco
Atribuível (Diferença de Incidências). Como consequência do fato de
quais fatores de exposição e doença são considerados sequencialmente
durante o período de seguimento do estudo, seus resultados, em geral,
permitem o estabelecimento da sequência temporal da associação.
(Rouquayrol MZ, Almeida Filho N. Desenhos de pesquisa em
epidemiologia. In.: Epidemiologia e Saúde. 5.ed. Rio de Janeiro,
Medsi: 149-170, 1999)

Um estudo farmacoepidemiológico de coorte pode ser prospectivo quando for


desenvolvido simultaneamente com os eventos clínicos e observação. Os resultados nos
pacientes são desconhecidos no início do estudo; retrospectivos quando se estudam
exposições e eventos que ocorreram antes do início do estudo, mas é importante que
os pacientes sejam recrutados para o estudo com base na presença ou ausência de
determinada exposição, e os dois grupos devem ter uma doença ou condição clínica,
assim como outras características que proporcionem a cada grupo uma probabilidade
igual de exposição ao medicamento.

Uma boa leitura está disponível em:

<http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
311X2004000100017>.

39
UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA

Figura 1. Exemplo de estudo de coorte ambispectivo é um estudo multicêntrico de vigilância pós-


comercialização.

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Fonte:< http://200.145.142.234/Metodologia/f-aula_6/01-estudos_de_coorte.htm>. Acesso em: 7 abr. 2015.

Os estudos de coorte podem ser utilizados em farmacoepidemiologia para


avaliar:

1. o efeito de medicamentos em longo prazo;

2. efeitos cuja frequência seja muito baixa em uma população;

3. a efetividade de medicamentos na prática cotidiana, em situações reais;

4. os modificadores da eficácia do medicamento, como medicações


simultâneas, estilo de vida ou severidade da doença;

5. a eficácia de um medicamento para uma indicação para a qual


a droga não foi originalmente aprovada.

Ensaio clínico randomizado

É o desenho de estudo experimental utilizado para analisar uma nova forma terapêutica
ou preventiva. A população participante do estudo é distribuída aleatoriamente em dois
grupos, denominados grupo de tratamento e grupo controle. Os participantes do grupo
de tratamento são expostos a determinada intervenção, e os do grupo controle não sofrem
essa exposição. A intervenção estudada pode ser uma nova droga ou conduta médica.

Os estudos de ensaios clínicos randomizados constituem uma ferramenta essencial


na construção de evidências científicas para a prática clínica e para a saúde pública.
São diferentes dos estudos observacionais porque, nos ensaios clínicos, é feita uma
intervenção. Em geral, são estudados dois grupos: controle e tratado. Avaliam-se
prospectivamente os resultados comparando os dois grupos.

40
OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II

A randomização garante, se o tamanho da amostra é suficientemente grande, que


os determinantes conhecidos e desconhecidos do resultado estejam igualmente
distribuídos entre os grupos de tratamento e de controle.

Outro procedimento, o duplo-cego, tornou-se padrão nos ensaios clínicos de


medicamentos: o placebo recebido pelo grupo controle deve ser idêntico no tamanho,
na cor, consistência e sabor ao do medicamento recebido pelo grupo de tratamento.

O objetivo desse procedimento é assegurar que nem os pacientes nem os investigadores


saibam quem está recebendo tratamento ativo ou placebo, diminuindo a possibilidade
de introdução de vieses no estudo.

Além disso, uma precisa definição das medidas de resultado, a padronização de


técnicas de mensuração, seu teste e calibração visando garantir a reprodutibilidade da
mensuração são estratégias para minimizar o erro aleatório nesse tipo de estudo.

Esses tipos de estudos enfrentam problemas que, nos outros estudos, não foram falados.
São problemas éticos e logísticos, além de serem caros. Hoje em dia, existem comissões
de ética que regulamentam esse tipo de estudo.

Em farmacoepidemiologia, são frequentemente utilizados pela indústria farmacêutica


para demonstrar a eficácia de determinado medicamento e convencer as agências
reguladoras de que o produto pode ser comercializado.

População-alvo

A população de interesse em um estudo é chamada de população-alvo. E essa


população-alvo pode ser: usuários de medicamentos, população-alvo do pesquisador,
população elegível, população de estudo, população da pesquisa ou população distribuída
no atributo. A definição deve ser clara, e a escolha da população deve ser eficiente.

A população de usuários de medicamentos compreende os usuários que são portadores


de determinada doença, dentro de uma região geográfica limitada e com características
que devem ser conhecidas, já que essas características são fatores importantes que
influenciam ou não nos resultados.

Essa população reflete a cultura sanitária e a qualidade do sistema de saúde local, por
exemplo: acesso do usuário ao sistema de saúde, suas noções de quais serviços deve
procurar, disponibilidade técnica de diagnóstico, entre outros.

Amostragem, coleta de dados, questionários, formulários e entrevistas são os meios de


realizar esses estudos.

41
UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA

A escolha do delineamento epidemiológico apropriado à avaliação da eficácia e da


segurança dos medicamentos depende dos objetivos do estudo. E cada desenho de
estudo epidemiológico tem um papel apropriado no progresso científico e a decisão
de desenvolver um estudo farmacoepidemiológico, que pode ser considerada como
semelhante à decisão regulatória sobre a aprovação de um medicamento para
comercialização ou a decisão clínica quanto à prescrição de um medicamento.

Em cada caso, a tomada de decisão envolve a ponderação dos custos e riscos da terapia e
seus benefícios. Os principais custos são obviamente os destinados ao desenvolvimento
do estudo. E entre os riscos de desenvolver um estudo farmacoepidemiológico estão as
possibilidades de identificar uma reação adversa associada ao medicamento, quando
de fato isso não ocorre, ou prover falsas garantias quanto à segurança do medicamento.

Esses riscos podem ser minimizados pelo desenho apropriado do estudo, por
pesquisadores capacitados e uma interpretação dos resultados obtidos.

Os benefícios dos estudos farmacoepidemiológicos envolvem a regularização do


medicamento no mercado, a área legal, clínica e comercial. Cada uma será de importância
para diferentes organizações e indivíduos envolvidos na decisão de iniciar um estudo.

42
CAPÍTULO 2
Outros estudos de
farmacoepidemiologia

Grupo de investigação da utilização


de medicamentos
A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu os EUM como o grupo que se ocupa da
comercialização, distribuição, prescrição e uso dos medicamentos em uma sociedade,
consequências médicas, sociais e econômicas resultantes. O grupo de especialistas
conhecido como Drug Utilization Research Group (DURG) propõe uma definição
menos geral: os trabalhos de investigação sobre os aspectos quantitativos e qualitativos
dos determinantes do uso de medicamentos e de seus efeitos em pacientes específicos
ou em uma população geral. A utilização dos medicamentos se considera um indicador
sociossanitário, sendo os EUM a ferramenta que nos permite sua avaliação e posterior
planejamento de estratégias de intervenção.

O processo de avaliação de qualquer medicamento inclui três passos complementares:

1. a avaliação dos benefícios dos medicamentos, por exemplo, a avaliação


quantitativa e qualitativa de sua eficácia;

2. o estudo do risco dos medicamentos, tanto em estudos controlados como


em condições normais de cuidado;

3. a avaliação do impacto dos tratamentos na história natural das doenças


na sociedade.

Juntamente com a EUM, a OMS e o DURG, surge o sistema ATC/DDD, que permite fazer
estudos comparativos de consumo de medicamentos no país em diferentes períodos
de tempo e estudos internacionais, independentemente de variações de preços, de
apresentações farmacêuticas e da procedência dos dados.

Algumas limitações do uso da DDD são os fármacos que possuem mais de uma
indicação com doses diferentes para cada indicação; não equivalem necessariamente à
dose média prescrita nem à dose média ingerida; pouco útil para expressar o consumo
de medicamentos quando as combinações em doses fixas de dois ou mais princípios
ativos constituem uma parte importante do mercado.

43
UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA

»» ATC: Anatomical Therapeutic Chemical (ATC), ou seja, Classificação


Anatômico terapêutica, em que os fármacos são classificados em 5 grupos:
1) grupo anatômico; 2) grupo terapêutico; 3) grupo farmacológico;
4) grupo químico; 5) grupo com o nome da substância química ou
princípio ativo. Exemplo: com a metformina (hipoglicemiante oral):
A = trato alimentar e metabolismo (anatômico); A10: drogas utilizadas
para diabetes (terapêutico); A10B: droga oral para redução da glicemia
(farmacológico); A10BA: Biguanida (grupo químico); A10BA02:
Metformina (substância química, princípio ativo).

»» A DDD é a dose média diária de manutenção de um medicamento


utilizada para sua indicação principal em adultos. Mais detalhes sobre
a DDD: cada fármaco possui uma DDD única dependendo da via de
administração; a DDD se baseia no uso em adultos com peso médio
de 70 kg; sendo a administração profilática a principal indicação do
fármaco, a DDD será correspondente à profilática; algumas preparações
não têm DDD listada; em preparações com mais de um fármaco, a DDD
será em relação ao componente mais importante na ação terapêutica; a
preparações associadas ou àquelas em que a DDD não pode ser expressa
pela unidade do principio ativo é atribuído o uso de uma Unidade de
Dose (UD), de acordo com a forma farmacêutica; a DDD não é uma dose
recomendada, mas uma unidade de medida.

Epi info
Epi info é um software de domínio público, cuja instalação pode ser baixada pela
Internet, criado pelo Centers for Disease Control and Prevention ─ CDC, para a área
da saúde, na parte de epidemiologia.

Tem como objetivo atender a uma necessidade do gerenciamento e da análise de


bancos de informações, utilizado por profissionais de saúde pública para conduzir
investigações epidemiológicas, administrar bancos de dados para vigilância de saúde
pública e outras tarefas, e aplicações gerais de bancos de dados e estatísticos. Embora
ele possa ser programado para produzir sistemas para uso permanente, também pode
ser usado interativamente para projeto rápido de um questionário, entrada de dados e
análise durante uma investigação.

A primeira versão do Epi Info foi lançada em 1985, ainda utilizando o sistema DOS,
e EPI2000 é a primeira versão para Windows, facilitando a compatibilidade com os
programas Access e Excel.

44
OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II

Foi desenhado por Andrew G. Dean, MD, MPH, THOMAS G. ARNER e PHD, na divisão
de Epidemiologia e Informática em Atlanta, Geórgia.

Nele podemos desenvolver estatísticas epidemiológicas, gráficos e tabelas com


comandos simples. E ainda um componente chamado Epi Map exibe mapas geográficos
com dados provenientes do Epi Info.

Nele podemos criar uma base de dados mediante tabelas que estão relacionadas entre
si, permitindo uma leitura simples e lógica para que se possa trabalhar com esses dados.

Em farmacoepidemiologia, é muito útil para organizar os questionários, os dados


dos pacientes, as reações detectadas anteriormente por determinado medicamento,
podendo incluir quantas variáveis queremos investigar. O desenho da base de dados
captura a informação, valida, codifica e elabora um informe.

Por exemplo, para criar um questionário, este pode ser:

»» história clínica;

»» perguntas;

»» formulários.

Fatores importantes:

»» descrever o questionário;

»» escolher o desenho da tabela;

»» estética da pesquisa.

Tipo de estudo:

»» quais são as fontes de informação;

»» quais são as variáveis incluídas;

»» quais são as unidades de análise.

45
USO RACIONAL DE
MEDICAMENTOS E UNIDADE III
REAÇÕES ADVERSAS

CAPÍTULO 1
O mercado farmacêutico

Medicamentos, no Brasil, são registrados na Anvisa por sua Gerência-Geral


de Medicamentos (GGMED). Esta inclui a Gerência de Medicamentos Novos,
Pesquisa e Ensaios Clínicos (GEPEC), a Gerência de Medicamentos Similares
(GEMES), a Gerência de Medicamentos Genéricos (GEMEG), a Gerência de
Medicamentos Isentos, Fitoterápicos e Homeopáticos (GMEFH), a Unidade
de Produtos Biológicos e Hemoderivados (UPBIH), a Unidade de Produtos
Controlados (UPROC) e a Unidade de Farmacovigilância (UFARM).

A avaliação de um dossiê de registro costuma ser dividida em três partes: análise


farmacotécnica, análise de eficácia e análise de segurança.

Fonte:< http://www.anvisa.gov.br/medicamentos/registro/registro_novos.htm>.

»» Cerca de 50% dos medicamentos se prescrevem, vendem-se ou se


administram de forma inapropriada, e cerca de 50% dos pacientes não
tomam os medicamentos de forma adequada.

»» 50 a 70% das consultas médicas geram prescrição medicamentosa.

»» De todos os pacientes que dão entrada em prontos-socorros com


intoxicação, 40% são vítimas dos medicamentos.

Fonte: dados retirados da OMS (2002). Promoción del USO racional de medicamentos:
componentes centrales. Perspectivas políticas de la OMS sobre medicamentos, no.5 de 2002.
Ginebra, Organización Mundial de la Salud.

Uso racional de medicamentos


Cadeia do Medicamento: processo que envolve as etapas do registro até
o uso do medicamento pela população, sendo que cada uma das etapas

46
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS │ UNIDADE III

é determinante do efeito final do fármaco. A cadeia do medicamento


envolve: os sistemas de saúde, indústria farmacêutica, universidades,
sociedades científicas, profissionais de saúde, usuários (pacientes),
registro do produto, comercialização, distribuição, prescrição,
dispensação e utilização (Portaria nº 802, de 8 de outubro de 1998 do
Ministério da Saúde).

Os pacientes recebem a medicação adequada a suas necessidades


clínicas, nas doses correspondentes aos seus requisitos individuais,
durante um período de tempo adequado e ao menor custo possível para
eles e para a comunidade (Definição da OMS).

Diversos fatores influenciam o uso não racional de medicamentos: a promoção


de medicamentos por parte da indústria farmacêutica, a falta de informação
independentemente das atitudes, crenças e práticas dos profissionais da saúde e dos
consumidores. E a taxa de uso de medicamentos e suas consequências na morbidade e
mortalidade é alta.

Em 1998, um grupo de Farmacêuticos se reuniu em Granada (Espanha) com a missão


de discutir conceitos e estabelecer critérios sobre Farmacoterapia. Nesse consenso
surgiu o conceito de Problemas Relacionados com os Medicamentos (PRMs), a partir
de 3 pontos importantes: indicação, efetividade e segurança.

Esse encontro representa um marco importante para os profissionais de saúde que


trabalham na área de farmacoterapia.

O conceito de dispensação é um ponto importante a se considerar quando se trata de


uso racional de medicamento, mas a preocupação ainda é maior quando falamos de
automedicação, e hoje sabemos que a automedicação é uma das grandes causas dos PRMs.

Tudo relacionado a efeitos adversos ou reações adversas medicamentosas (RAMs),


entre outros problemas e complicações clínicas que possam resultar de uma utilização
de medicamentos, é um PRM.

Problemas de saúde entendida como resultados clínicos negativos,


derivados da farmacoterapia que, produzidos por diversas causas,
conduzem ao não alcance dos objetivos terapêuticos ou ao surgimento de
efeitos não desejados (COMITÉ DE CONSENSO, 2004, p. 65; <http://
www.portaleducacao.com.br/farmacia/artigos/9720/problemas-
relacionados-com-medicamentos-prm#ixzz2Jsvzxp1P>).

Para alguns autores, PRM são basicamente falhas que surgem na farmacoterapia e que
resultam do não alcance dos objetivos terapêuticos ou que produzam efeitos não desejados.
47
UNIDADE III │ USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS

A atenção farmacêutica engloba todas as atividades realizadas pelo farmacêutico em


orientação ao paciente, com o objetivo de conseguir o máximo de benefício, assim
como a promoção de ações que proporcionem saúde e previnam doenças. A função do
farmacêutico na farmacoterapia consiste em identificar, prevenir e resolver os resultados
negativos associados à medicação e suas causas que podem ser prevenidas. A falha na
farmacoterapia existe quando não se conseguem os resultados terapêuticos desejados
e quando provoca danos adicionais. Essa falha tem um custo adicional à saúde dos
pacientes e sobre os recursos sanitários e sociais, o que a torna um verdadeiro problema
de saúde pública.

Figura 2: Necessidades, efetividade e segurança.

O primeiro Consenso de Granada estabelece uma classificação baseada nas 3 básicas


necessidades de farmacoterapia: necessidades, efetividade e segurança.

Necessidade de que os medicamentos estejam indicados


PRM 1: o paciente não usa o medicamento de que necessita.
PRM 2: o paciente usa os medicamentos de que não necessita.

Necessidade de que os medicamentos sejam efetivos


PRM 3: o paciente usa um medicamento que, indicado para a situação, está mal selecionado.
PRM 4: o paciente usa uma dose padrão e/ou duração inferior à necessária.

Necessidade de que os medicamentos sejam seguros


PRM 5: o paciente usa uma dose padrão e/ou duração superior à necessária.
PRM 6: o paciente usa um medicamento que provoca reação adversa (RAM).

Fonte: Comité de Consenso. Tercer Consenso de Granada sobre problemas relacionados con los medicamentos (PRM) y
resultados negativos asociados a la medicación (RNM). Ars Pharm 2007; 48(1):5-17

Mais recentemente, foram sugeridas algumas modificações para essa classificação: a


primeira eliminação do termo duração, dos PRM 4 e 5, por confusão com os 1 e 2. E a
modificação do enunciado do PRM 3, proposto por Díez Rodrigálvarez: a substituição
do termo por má seleção do medicamento, mudando para o paciente que não responde
ao tratamento.

A assistência farmacêutica compreende atitudes, ética, comportamentos, compromissos


e corresponsabilidades na prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde
de forma integrada à equipe de saúde. Deve assegurar um tratamento farmacológico
apropriado, efetivo, seguro e cômodo aos pacientes, satisfazendo suas necessidades em
relação aos medicamentos, a promoção do uso racional destes, a redução de custos com
a saúde e a melhoria contínua da qualidade de vida da população.

A sua ausência pode resultar em administração errada do medicamento, conservação


inadequada dos medicamentos, contraindicações, dose e duração de tratamento

48
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS │ UNIDADE III

equivocados, duplicidade, erros na dispensação, erros na prescrição, não cumprimento


da terapia, efeitos adversos etc.

Devido a esses erros e consequências, surgiram os resultados negativos associados à


medicação (RNM), que estão relacionados ao resultado dos PRMs.

O RNM está relacionado aos resultados do uso, especificamente os resultados negativos


sobre: sintomas, sinais, eventos clínicos exames laboratoriais e óbito.

O uso inadequado de medicamentos é um problema de Saúde Pública prevalente em


todo o mundo.

49
CAPÍTULO 2
Reações e eventos adversos

As reações adversas a medicamentos constituem um problema importante na prática


do profissional da área da saúde. O risco associado ao uso de medicamentos é
comum, apesar de existir uma série de normas para sua comercialização. São muitas
as reações adversas, e qualquer sistema pode ser alvo principal ou pode estar envolvido
simultaneamente.

O uso de medicamentos pode trazer, além dos efeitos benéficos de seu tratamento, as
reações adversas, e sabe-se que essas reações são causas significativas de hospitalização,
de aumento do tempo de permanência hospitalar e, até mesmo, de óbito.

Além disso, elas afetam a qualidade de vida do paciente, influenciam na perda de


confiança do paciente para com o médico, aumentam custos, atrasam tratamentos,
desenvolvem novos problemas. Em outras palavras, pode ocorrer na utilização de
determinado medicamento, de forma não intencional e inesperada pelo paciente,
caracterizando-se como um efeito nocivo.

O curso temporal do efeito adverso de algum fármaco algumas vezes são resultados da
administração, que em seguida pode-se realizar a interrupção dessa aplicação e cessar
os efeitos, porém, alguns podem aparecer meses, ou anos após o tratamento crônico,
por exemplo, ser iniciado.

Segundo a OMS, a definição de reação adversa a medicamentos (RAM) é: “qualquer


efeito prejudicial ou indesejável, não intencional, que aparece após a administração
de um medicamento em doses normalmente utilizadas no homem para a profilaxia, o
diagnóstico e o tratamento de uma enfermidade”.

De acordo com Laporte e Capellá, 1989, os termos “reação adversa”, “efeito indesejável”
e “doença iatrogênica” são equivalentes. No entanto, diversos termos são empregados
provocando confusões resultantes da própria dificuldade conceitual e de problemas de
traduções.

Independentemente do termo, deve-se diferenciar desse conceito o de evento


adverso, considerando que evento pode ser devido a vários fatores relacionados
com o tratamento, como dose do medicamento incorreta, dose omitida, via de
administração não especificada, horário de administração incorreto, apesar de que
RAM pode ser entendido como um evento adverso ao esperado quando se indica
essa terapêutica.

50
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS │ UNIDADE III

Evento adverso relacionado a medicamentos (EAM) é qualquer dano apresentado pelo


paciente que possa ser imputado a medicamentos. Os EAM podem decorrer da utilização
adequada, inadequada, ou mesmo da falta de acesso àqueles fármacos clinicamente
necessários (OMS, 2004; ROSA; PERINI, 2003).

Os EAM são subdivididos em dois grupos. O primeiro, denominado reações adversas


a medicamentos, diz respeito ao risco inerente diante da utilização adequada de
medicamentos, portanto, inevitáveis. O outro, definido como erros de medicação,
entendido como qualquer evento passível de prevenção decorrente do uso inadequado
ou não utilização de medicamentos necessários, portanto, possivelmente relacionado
com falhas nos procedimentos (ROSA; PERINI, 2003).

Classificação de reações adversas

Superdosagem relativa

É aquela que ocorre quando um fármaco é administrado em doses terapêuticas, porém


suas concentrações são superiores às habituais. São situações que se devem a alterações
funcionais e que podem aumentar o risco de concentrações elevadas do fármaco no
organismo.

Exemplo:

»» a maior incidência de surdez entre pacientes com insuficiência renal


tratados com antibióticos aminoglicosídeos;

»» intoxicação digitálica em paciente com insuficiência cardíaca tratados


com doses usuais de digoxina, uma vez que esse paciente pode apresentar
hipocalemia concomitante ou uma reduzida massa muscular, ou ainda
apresentar a função renal diminuída, o que diminui a excreção do glicosídeo.

Efeitos colaterais

São relativos à própria ação do medicamento, porém, o aparecimento é indesejável


em um momento determinado de sua aplicação. Na verdade, é considerado um
prolongamento da ação farmacológica principal do medicamento e resulta em um
efeito farmacológico menos intenso em relação à ação principal de determinada
substância.

Exemplo:

»» broncoespasmo produzido pelos bloqueadores b ─ adrenérgicos;

51
UNIDADE III │ USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS

»» bloqueio neuromuscular produzido por aminoglicosídeos;

»» sonolência pelos benzodiazepínicos;

»» arritmias cardíacas com os glicosídeos.

Efeitos secundários

São devidos não à ação farmacológica principal do medicamento, mas como consequência
do efeito buscado.

Exemplo:

»» a tetraciclina com ação bacteriostática poderá depositar-se nos dentes


quando utilizada na pediatria, e essas deposições podem descolorir o
esmalte dos dentes decíduos, assim como dos permanentes;

»» e poderá também depositar-se nos ossos, pode provocar redução do


crescimento ósseo.

Idiossincrasia

Reações nocivas, às vezes fatais, que ocorrem em uma minoria dos pacientes. Definida
como uma sensibilidade relativa a um determinado produto. Em geral, considera-se
que esse tipo de reação se deve ao polimorfismo genético, que é a variação no número e
no tipo de mutações estáveis do DNA.

Exemplo:

»» anemia hemolítica por deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase


(G6PD), um traço herdado na forma recessiva ligada ao sexo. Esse tipo
de anemia pode acontecer, por exemplo, em determinados indivíduos
que utilizam a droga antimalárica primaquina. Em 5 a 10% dos
indivíduos afrodescendentes, a droga causa hemólise (o rompimento
de uma hemácia que libera a hemoglobina no plasma), conduzindo a
uma anemia grave.

Hipersensibilidade alérgica

Para que ocorra uma hipersensibilidade alérgica, é necessária a sensibilização prévia


do indivíduo e a mediação de algum mecanismo imunitário. Relaciona-se a reação de
intensidade com a dose administrada.

52
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS │ UNIDADE III

Exemplo:

Tipo I ─ anafilaxia, uma resposta súbita e potencialmente letal provocada pela liberação
de histamina e de outros mediadores. As principais características incluem erupções
urticariformes, edema dos tecidos moles, broncoconstrição e hipotensão.

Tolerância

É fenômeno pelo qual a administração de doses repetidas, de forma contínua ou crônica


de um fármaco ou droga na mesma dose, diminui progressivamente a intensidade dos
efeitos farmacológicos esperados, sendo necessário aumentar gradualmente a dose
para poder manter os efeitos na mesma intensidade. É um efeito muito comum em
pacientes que se automedicam. A tolerância é um fenômeno que leva dias ou semanas
para acontecer.

Exemplo: a tolerância produzida entre pacientes que usam barbitúricos, já que seu uso
contínuo e crônico pode anular seu efeito anticonvulsivante.

Seguem alguns exemplos:

ANFOTERICINA B: calafrios, febre, dor no local da injeção, prurido, rash.

DICLOFENACO: rash, prurido, urticária, tontura, hipertensão, diarreia, vômitos,


náusea.

DIPIRONA: discrasias sanguíneas, urticária, rash, prurido.

DIGOXINA: agitação, cefaleia, tontura, vertigem, arritmias, náusea, vômitos,


diarreia.

FENOBARBITAL: síndrome de Stevens-Johnson, rash, urticária, náuseas, vômitos.

METOCLOPRAMIDA: reações extrapiramidais, tontura, náuseas.

PREDNISONA: síndrome de Cushing, edema, hipertensão, úlcera, insônia.

VANCOMICINA: síndrome do homem vermelho, calafrios, febre, náuseas.

WARFARINA: hemorragias, necrose, urticária, dermatites, náuseas.

Para muitos autores, essa classificação não tem muita aplicabilidade clínica e
epidemiológica. Alguns efeitos de importância clínica e sanitária são difíceis de serem
enquadrados nessa classificação, como exemplo a teratogenia.

Para outros autores, a classificação proposta por Rawlins e Thompson é considerada


a mais adequada e tem sido a mais empregada. Segundo ela, as reações adversas

53
UNIDADE III │ USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS

produzidas por medicamentos poderiam subdividir-se em dois grandes grupos: as que


resultam de efeitos farmacológicos normais, ou seja, reações por meio do resultado
de uma ação e um efeito farmacológico exagerado de um fármaco administrado em
doses terapêuticas habituais (tipo A); e as reações que possuem efeitos farmacológicos
totalmente anormais e inesperados, ainda que considerando as propriedades
farmacológicas de um medicamento administrado em doses habituais (tipo B)
(RAWLINS,MD; THOMAS,SHL,1998).

As reações do tipo A são farmacologicamente previsíveis, geralmente dependem


da dose, têm alta incidência e morbidade, baixa mortalidade, e podem ser tratadas
ajustando-se as doses. São reações produzidas por mecanismos de superdosagem
relativa, efeito colateral, citotoxicidade, interações medicamentosas ou alterações na
forma farmacêutica.

As do tipo B não são farmacologicamente previsíveis nem dose-dependentes, têm


incidência e morbidade baixas, e sua mortalidade pode ser alta. Devem ser tratadas
com a suspensão do fármaco e são produzidas por mecanismos de hipersensibilidade,
idiossincrasia, intolerância e até mesmo por alterações na formulação farmacêutica.

Em resumo, podemos também dizer que as reações adversas podem ou não estar
relacionadas com a ação farmacológica principal do fármaco.

Segundo Rang e Dale, se a incidência de uma reação adversa é de 1 em 6000


pacientes expostos, aproximadamente 18.000 pacientes devem ter sido
expostos ao fármaco para três eventos que ocorrem e aproximadamente dobrar
esse número de eventos a serem detectados, com a possível relação do fármaco,
reconhecida e relatada, mesmo se não houvesse a incidência e o conhecimento
preciso do evento em questão.

RAM de acordo com a gravidade


De acordo com a gravidade das reações adversas a medicamentos, estas podem ser
classificadas como leve, moderada, grave ou letal.

»» Leve: não requer tratamentos específicos, e não é necessária a suspensão


da droga.

»» Moderada: exige modificação da terapêutica medicamentosa. Pode necessitar


da hospitalização e exigir tratamento específico.

54
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS │ UNIDADE III

»» Grave: potencialmente fatal, requer a interrupção da administração do


medicamento e exige tratamento específico da reação adversa. Resulta em
hospitalização ou prolonga a internação de pacientes já hospitalizados.

»» Letal: contribui direta ou indiretamente para a morte do paciente.

RAM de acordo com a casualidade


Para alguns autores, há cinco tipos de causa-efeito para medicamentos que causam
alguma reação adversa:

1. definida: uma reação que sabemos que pode ocorrer a partir da


administração do medicamento ou da obtenção de níveis séricos ou
tissulares resultados de exames bioquímicos; que segue uma resposta
padrão conhecida para o medicamento suspeito; e que é confirmada pela
melhora quando se suspende o medicamento e pelo reaparecimento da
reação ao se repetir a exposição;

2. provável: uma reação que surge a partir da administração do


medicamento ou da obtenção de níveis séricos ou tissulares por meio de
exames bioquímicos; que segue uma resposta padrão conhecida para o
medicamento suspeito; e que não pode ser razoavelmente explicada pelas
características conhecidas do estado clínico do paciente;

3. possível: uma reação que ocorre a partir da administração do medicamento


ou da obtenção de níveis séricos ou tissulares mediante exames bioquímicos;
que segue uma resposta padrão conhecida para o medicamento suspeito;
mas que pode ter sido produzida pelo estado clínico do paciente ou de outras
terapêuticas utilizadas em um mesmo período;

4. condicional: uma reação surge a partir da administração do medicamento


ou de níveis séricos ou tissulares obtidos por meio de exames
bioquímicos; que não segue uma resposta padrão conhecida para o
medicamento suspeito; mas que não pode ser razoavelmente explicada
pelas características conhecidas;

5. duvidosa: qualquer reação que não segue os critérios acima.

Grupos de população e RAM


Alguns grupos da população são particularmente suscetíveis ao aparecimento de RAM.
Qualquer uso de medicamentos por indivíduos que pertencem a esses grupos exige uma

55
UNIDADE III │ USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS

cuidadosa monitoração clínica e uma rigorosa avaliação da relação entre o benefício e


o risco de seu uso, mais uma avaliação de acordo com seu quadro clínico, considerando
as reações adversas do medicamento e o grau de comprometimento do paciente.

Grupo I – Extremos de Idade

Neonatos e crianças

As crianças podem sofrer variações farmacocinéticas e/ou farmacodinâmicas, além


de outras alterações que são próprias dessa faixa etária, alterando os padrões de
crescimento e diferenciação que refletem sobre o desenvolvimento. Um exemplo dessas
alterações em crianças são os transtornos do crescimento ósseo ocasionado por drogas
como as tetraciclinas, corticoides.

As alterações farmacodinâmicas podem levar a um aumento ou diminuição da


sensibilidade a algumas drogas. A absorção em neonatos pode estar alterada devido
à menor secreção de ácido e à redução da motilidade gastrointestinal, porém tais
variações não são uniformes e são dificilmente previsíveis. Também podemos falar
das vias de administração de fármacos que também apresentam limitações para
uso em crianças, particularmente em neonatos, que têm a via oral de administração
como uso limitado nos primeiros dias de vida. E, em crianças, a via oral é de difícil
aceitação. Muitas drogas ocasionam sensibilidade, irritação e vômitos frequentes. A
absorção tópica é elevada em relação aos adultos devido ao delgado extrato córneo, e
a via endovenosa é limitada pelo volume de diluição. Os neonatos apresentam massa
muscular e tecido adiposo desproporcionalmente reduzido, se comparado aos adultos.
A água corporal total é muito maior em neonatos, cerca de 75% do peso corporal,
afetando diretamente a distribuição das drogas. E a concentração das proteínas
plasmáticas está diminuída nos recém-nascidos. Consequentemente, ocorre uma
diminuição na taxa de ligação de drogas às proteínas, entre muitos outros exemplos,
a saber clinicamente, quando se decide utilizar determinada medicação nesse grupo.

Idosos

Os pacientes idosos estão predispostos às reações adversas por diversas razões, como:
a dificuldade de obediência ao regime de tratamento, seja por esquecimento, por
incompreensão do esquema terapêutico ou por dependência física, terapia com múltiplas
drogas, aumento das reações de hipersensibilidade e alterações farmacocinéticas e
farmacodinâmicas características dessa faixa etária.

A absorção pode encontrar-se diminuída devido à redução da liberação basal de ácido


com aumento do pH, o que pode afetar a ionização e a solubilização de drogas. Ocorre
56
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS │ UNIDADE III

diminuição do fluxo sanguíneo, redução do número de células de absorção, diminuição


do ritmo de esvaziamento gástrico. A distribuição encontra-se alterada com a diminuição
da massa muscular, aumento do tecido adiposo, e pode ocorrer ainda redução na
concentração de albumina. O envelhecimento também é preocupante porque sabemos
que há uma diminuição do número de células hepáticas, e há ainda a diminuição do
fluxo renal e da filtração glomerular, perda de função tubular e diminuição dos processos
de reabsorção.

Grupo II – Gênero

As mulheres são mais suscetíveis às reações adversas, possivelmente por uma associação
de fatores como as complicações obstétricas que ocorrem ao longo da vida fértil da
mulher, os episódios de dismenorreia que requerem o uso de medicamentos, às vezes
por vários anos, o uso de contraceptivos e uma maior concentração de tecido adiposo.
É possível, ainda, que exista um determinante hormonal que possa afetar o metabolismo.

Grupo III – Gestantes

O uso de medicamentos deve ser avaliado considerando-se as variações farmacocinéticas


que ocorrem durante a gravidez, as alterações fisiológicas das funções maternas e os
efeitos que estes possam ter sobre o feto. Todas as fases da gestação e até mesmo a
fase de amamentação são muito delicadas, e, por isso, devemos ter a maior atenção na
avaliação de risco e benefício.

Durante a gravidez, a mulher passa por alterações. Em geral, nesse período, ocorre
um aumento do volume sanguíneo de cerca de 50%, o que implica aumento do volume
de distribuição de drogas hidrossolúveis, por exemplo. A atividade metabolizadora
enzimática pode estar alterada devido aos fatores hormonais, tornando-se mais efetiva
para a biotransformação de algumas drogas e menos para outras.

Ainda aumenta a excreção urinária como consequência do maior fluxo renal. E


algumas drogas podem interferir com funções fisiológicas da mãe, prejudicando o
desenvolvimento do feto.

Contudo, a maior preocupação com o uso de medicamentos durante a gravidez é com os


efeitos que estes possam ter sobre o desenvolvimento e a constituição do feto.

A “barreira placentária”, que é constituída por tecidos que obedecem aos mesmos fatores
que controlam o transporte transmembrana, tem sua velocidade de transferência de
drogas dependente das características físico-químicas da droga e do seu gradiente
de concentração. No período embrionário que vai da terceira à décima semana de
57
UNIDADE III │ USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS

gravidez, aproximadamente, o embrião é mais suscetível às agressões químicas devido


às altas taxas de diferenciação celular, desenvolvimento funcional e crescimento que
ocorrem durante esse curto período de tempo. E é nessa fase que ocorre a maioria das
teratogenias, sendo considerado um período crítico para o consumo de medicamentos.

No estágio subsequente, período fetal, ocorre o desenvolvimento e maturação dos


órgãos e sistemas, e a exposição fetal a teratógenos comumente leva a lesões em áreas
mais restritas ou alterações funcionais.

O uso de medicamentos no período pré-parto também é preocupante, pois, nesse


período, a unidade fetoplacentária será desfeita, e a reduzida capacidade eliminadora
do neonato pode levar a um quadro de toxicidade.

E, por fim, durante o período de amamentação, a presença de drogas no leite materno


obedecerá aos parâmetros de transporte transmembrana e também pode levar ao
surgimento de toxicidade para o lactente.

Grupo IV – Patologias

Patologia Insuficiência Renal: o uso de medicamentos em pessoas portadoras dessa


enfermidade necessita de muita atenção, principalmente quando se faz necessário o
uso de doses múltiplas. Como se trata de um problema altamente complexo, o cuidado
é maior devido às alterações funcionais do rim, principal órgão excretor, e suas
implicações metabólicas, como: retenção de água e sódio, hiperpotassemia, acidose
metabólica e uremia, entre outros.

A seleção de medicamentos para esses pacientes deve levar em consideração as


propriedades do fármaco, como a biodisponibilidade, margem de segurança, via de
eliminação, atividade dos metabólitos e sobrecarga metabólica que esta possa vir a
desencadear.

Dada a complexidade do processo de insuficiência renal, o uso de medicamentos por


esses pacientes deve ser rigorosamente acompanhado.

Insuficiência Hepática: o fígado possui diversas funções metabólicas importantes


para a manutenção da homeostase corporal. Dessa forma, suas funções podem ficar
comprometidas quando esse órgão é lesado por patologias ou fármacos/compostos
químicos, e a insuficiência hepática pode levar a profundas alterações na farmacocinética
das drogas.

O grau de lesão hepática determinará alterações na formação e nos sítios de ligação


das proteínas plasmáticas. Poderá ocorrer decréscimo no nível sérico de albumina,

58
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS │ UNIDADE III

aparecimento de proteínas plasmáticas defeituosas, acúmulo de compostos endógenos


como a bilirrubina, fatores que alteram a taxa de ligação das drogas às proteínas
plasmáticas.

Para realizar um tratamento farmacológico, deverão ser realizados testes de função


hepática e ajuste das doses recomendadas.

Grupo V – Hipersensibilidade

Reação de hipersensibilidade é uma variação resultante da exposição a um alérgeno.

As reações alérgicas podem ser reconhecidas em função de algumas características:

»» exposição anterior ao agente sensibilizante;

»» independência da dose administrada;

»» recorrência;

»» reação não associada à atividade farmacológica da droga;

»» sintomas característicos.

Grupo VI –Variabilidade Genética

Respostas anormais a medicamentos incidentes em uma população específica podem


ser decorrentes de alterações farmacocinéticas ou farmacodinâmicas devido a um
polimorfismo genético.

Grupo VII – Polimedicação

As interações medicamentosas constituem um sério problema na prática médica


e farmacêutica. A incidência de reações adversas aumenta exponencialmente
com o número de drogas administradas, e isso é, em parte, devido às interações
medicamentosas.

O uso abusivo de drogas de venda livre, a automedicação, o uso de produtos naturais


e remédios caseiros são responsáveis por uma grande parte dessas interações, que
muitas vezes não são adequadamente identificadas e acabam sendo confundidas com
outras patologias devido à dificuldade de recuperar os dados da utilização de tais
práticas terapêuticas.

59
UNIDADE III │ USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS

A Polimedicação também pode resultar em uma anulação de determinada droga


quando utilizada concomitantemente com outra. Por exemplo, o uso excessivo
de antibióticos e os anticonceptivos orais. Os antibióticos que matam as bactérias
intestinais causarão uma diminuição do ciclo entero-hepático dos estrógenos,
facilitados por essa bactéria. Isso diminuirá a concentração de anticoncepcionais no
plasma, alterando sua efetividade.

Vocês podem encontrar na página do ISMP (Institute for Safe Medication Pratcies)
alguns dados de estudos Farmacoepidemiologicos sobre RAM e EAM. Alguns
exemplos são:

»» o não cumprimento do tratamento farmacoterápico por parte dos


idosos leva a problemas que colocam em perigo a vida desses pacientes;

»» estudo demonstra que metade dos pacientes que utilizavam seis


ou mais medicamentos teve prescrições de mais de três médicos,
sugerindo falta de comunicação entre eles;

»» em 65% das prescrições de pacientes idosos, recebidas em uma


farmácia ambulatorial nos Estados Unidos, havia um ou mais
medicamentos inapropriados prescritos, sendo 57% destes inefetivos,
não indicados ou terapeuticamente duplicados;

»» pediatria: medicamentos de 3 grupos farmacoterapêuticos (anti-


infecciosos, sistema nervoso central e respiratório) representam mais
de ¾ dos medicamentos prescritos;

»» as mulheres são mais consumidoras que os homens;

»» os indivíduos caucasianos utilizam mais medicamentos do que os


indivíduos de raça afrodescendente;

»» aumento progressivo de consumo continuado de medicamentos


psicotrópicos e antidepressivos;

»» aumento progressivo de utilização de betabloqueadores (52% para


76%) e aspirina (25% para 88%).

Fonte:<https://www.ismp.org/medication-safety-alerts?field_alert_type_target_
id%5B2%5D=2#alerts--alerts_list>.

Você encontra mais exemplos em: < http://www.ismp.org/>.

60
CAPÍTULO 3
Relação da Farmacoepidemiologia
Com Ram/Eams

As reações adversas podem limitar o uso de alguns fármacos em grupos de pacientes ou


ainda podem provocar a retirada de algum medicamento do mercado.

Alguns términos básicos nos ajudam a identificar, fármaco-epidemiologicamente,


outros fatores importantes na avaliação de um estudo, como a exposição excessiva a
um medicamento.

Conceitos importantes e exposição aos


medicamentos

Términos de exposição de medicamentos

»» Hazard Rate: permite, conhecendo a possibilidade de risco, prever a


mortalidade. Deste resultou o Hazard Ratio, o qual originou o Risco
Relativo, o ODDS Ratio, já comentado anteriormente.

»» Hazard Function: probabilidade individual do aparecimento de um efeito


(E) no momento t.

»» Temporal Tracking: utilização do fármaco ao longo do tempo.

»» Risk Window ou Time Window: é o tempo durante o qual se assume que


o efeito (risco) pode ocorrer relacionado com a exposição em estudo.
Avaliação de uma utilização recente, período de tempo após a exposição
a um medicamento durante o qual o indivíduo é susceptível de vir a
desenvolver um efeito adverso (EA).

»» Immortal Time: período em que se considera que a exposição ao


medicamento não foi relevante para o aparecimento do efeito.

Dinâmica da exposição ao medicamento

Dinâmica da exposição

»» Frequência (rara, comum).

61
UNIDADE III │ USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS

»» Duração (curta, intermitente, longa).

»» Ritmo (ocasional, intermitente, contínuo).

»» Processo de prescrição/utilização.

Período de risco

»» Immortal time.

»» Efeito durante o uso do medicamento.

»» Efeito depois da descontinuação do tratamento.

Parâmetros para a avalição da exposição ao


medicamento

1. Rigor e exaustividade.

2. Classificação não diferencial.

3. Taxa de resposta.

4. Utilização do fármaco ao longo do tempo (temporal tracking).

5. Populações especiais (crianças, idosos, gestantes, portadores de


enfermidades hepáticas, renais).

6. Informação detalhada sobre o medicamento.

7. Informação detalhada sobre a utilização.

8. Método epidemiológico disponível.

9. Eficiência.

Viés (erro sistemático ou tendenciosidade)

Erro sistemático que ocorre devido à utilização de um medicamento no momento em


que ocorre o efeito ou em um momento imediatamente anterior (medicamento usado
para tratar o efeito e não relacionado com o efeito).

Tipos de viés em Farmacoepidemiologia

»» Viés de seleção: traduz-se na distorção da estimativa de uma medida de


risco (efeito) devido à distribuição desigual e não usual entre a exposição
e o outcome entre os grupos em comparação (casos e controles).

62
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS │ UNIDADE III

»» Viés de autosseleção (self-selection bias): erro que afeta muito os


estudos de caso controle ou quando um doente decide não participar ou
abandonar um estudo. A razão pode estar relacionada com o seu “estado”
relativamente à exposição ou ao outcome.

»» Depletion of susceptibles: risco maior de ocorrência de um efeito adverso


nos indivíduos expostos ao medicamento pela primeira vez (incident
or first-time users) e em indivíduos que já utilizaram o medicamento
anteriormente (past users or prevalent users).

63
DESENVOLVIMENTO DE UNIDADE IV
NOVOS FÁRMACOS

CAPÍTULO 1
Farmacologia Clínica

Os fármacos são substâncias químicas que podem ter sua origem animal, vegetal,
mineral ou sintética. Essas substâncias químicas são utilizadas para prevenir,
diagnosticar e tratar doenças.

Com o desenvolvimento da indústria farmacêutica ao final do século XIX, a


descoberta de fármacos cresceu muito. Hoje, a maior parte de medicamentos
novos vem das grandes indústrias farmacêuticas, de medicamentos éticos,
genéricos e inovadores.

E prometem a seus tratamentos farmacológicos uma variedade de modalidades


que tem como objetivo remover os agentes causadores, aliviar sintomas, reduzir
sofrimento e levar a um resultado satisfatório e de bem-estar de seus usuários.

Conceito de Farmacologia Clínica


A tarefa de projetar e descobrir um novo fármaco nas indústrias farmacêuticas é
contínua. A busca da seleção do alvo, proteínas funcionais, receptores, que é onde
o fármaco atuará, encontrar as substâncias importantes, sua atividade funcional e
desenvolver e otimizar o protótipo.

Depois de passada a fase de descoberta de um fármaco, durante seu desenvolvimento e


a fase de testes de novas drogas, a segurança e a utilidade da droga em questão deve ser
determinada da seguinte maneira.

Ensaios pré-clínicos

Os ensaios pré-clínicos são obrigatórios antes de iniciar a Farmacologia Clínica.


Têm duração de 1 a 6 anos, podem ser in vitro ou in vivo, e podem ser divididos em
farmacológicos e toxicológicos.
64
DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS │ UNIDADE IV

In vitro é uma expressão do latim e significa “em vidro”, ou seja, processos biológicos
que são realizados em ambiente fechado, controlado, de um laboratório, normalmente
feitos em recipientes de vidro (exemplo: fertilização in vitro realizada por meio de
técnicas de reprodução assistida).

E in vivo significa “dentro do vivo”, ou seja, “que ocorre ou tem lugar dentro de um
organismo”. Em ciência, in vivo se refere a experimentos com animais (ratos, cães,
camundongos ou outras espécies) ou tecidos vivos de animais.

Os ensaios pré-clinicos in vitro podem ser do tipo: físico-químico (estrutura, peso


molecular, solubilidade, estabilidade) e celular, em que se realiza a cultura de células e
aplicação da nova droga química a estudar.

E os estudos farmacológicos nessa fase abordam os aspectos farmacocinéticos e


farmacodinâmicos básicos da droga e servem para detectar toxicidade aguda, subaguda e
crônica. O objetivo é detectar qualquer efeito tóxico que a droga possa ter sobre a célula, sobre
os tecidos e órgãos, e também seus efeitos carcinogênicos, mutagênicos e teratogênicos.

Farmacocinético: descreve a absorção, a distribuição, o metabolismo e a eliminação dos


fármacos.

Farmacodinâmico: descreve os efeitos fisiológicos que as drogas têm em células ou


organismos vivos (como o corpo humano) e mostra como as drogas influenciam
as funções corporais por meio das mudanças bioquímicas nos fluidos e nos tecidos
corporais. Descreve o mecanismo de ação e seus efeitos terapêuticos.

E os estudos toxicológicos deverão abordar ensaios de toxicidade aguda, toxicidade de


doses repetidas, toxicidade subcrônica e toxicidade crônica, além de mutagenicidade,
embriofetotoxicidade, alterações de fertilidade, carcinogenicidade, indução de dependência.

Nos ensaios pré-clínicos in vivo, os estudos toxicológicos mais comuns são por meio da
avaliação da dose letal de 50% (DL50), dose eficaz de 50% (DE50) e índice terapêutico
(IT), que chamamos de fase aguda.

DL50 é a concentração de uma substância química capaz de matar 50% da população


de animais testados em um experimento, por exemplo. A dose geralmente é medida
em miligramas (mg) de substância por quilograma (kg) de massa corporal do animal
testado. E depende do modo de exposição ao produto tóxico. Para cada caso, haverá
uma classificação de toxicidade.

DE50 é a dose “eficaz” para 50% da população. Sendo assim, depende da medida de
eficácia usada.

65
UNIDADE IV │ DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS

Para o cálculo do Índice Terapêutico (índice que indica a margem de segurança dos
fármacos), consideram-se as doses letal e eficaz. Isso significa que quanto maior o IT,
maior a sua segurança.

Índice Terapêutico IT= DL50/DE50

Ensaios clínicos
Ensaio clínico é o delineamento, com maior poder, para delimitar eficácia de um
fármaco ou outro tratamento. O ensaio clínico consiste no principal método utilizado
pela Farmacologia Clínica. Nele, o tratamento é administrado a um grupo de indivíduos
(grupo intervenção), sendo seus resultados comparados com os verificados em outro
grupo (grupo controle), que recebe substância desprovida de efeito próprio (placebo)
ou tratamento convencional. A definição da OMS é: “um experimento planejado ética
e cuidadosamente com o objetivo de responder a algumas perguntas precisas e bem
delineadas”.

Os princípios cinéticos e dinâmicos e o perfil tóxico de uma droga continuam sendo


investigados durante as fases clínicas, com supervisão médica e de uma equipe
interdisciplinar sempre que necessário.

Durante a Fase 1, em que a droga é testada em um pequeno número de indivíduos


voluntários e saudáveis, essas pesquisas se propõem a estabelecer uma evolução
preliminar da segurança e do perfil farmacocinético e, quando possível, um perfil
farmacodinâmico. Farmacocinética no ser humano (metabolismo e biodisponibilidade).

Fase l: tolerância em voluntários saudáveis.

»» Maior dose tolerável.

»» Menor dose efetiva.

»» Relação dose/efeito.

»» Duração do efeito.

»» Efeitos colaterais.

Na fase 2, administra-se a droga a um número seleto de pacientes doentes para


demonstrar a efetividade potencial da medicação. É conhecido como Estudo Terapêutico
Piloto, que tem como objetivos demonstrar a atividade e estabelecer a segurança em
curto prazo do princípio ativo em pacientes afetados por determinada enfermidade ou

66
DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS │ UNIDADE IV

condição patológica. As pesquisas realizam-se em um número limitado e reduzido de


pessoas e frequentemente são seguidas de um estudo de administração.

Fase ll: (Estudo Terapêutico Piloto).

»» Indicação da eficácia.

»» Confirmação da segurança.

»» Biodisponibilidade e bioequivalência de diferentes formulações.

Na Fase 3, são conduzidos testes extensivos de significância estatística. Exploram-se


nessa fase o tipo e o perfil das reações adversas mais frequentes, assim como características
especiais do medicamento e/ou especialidade medicinal, como: interações clinicamente
relevantes, principais fatores modificatórios do efeito, tais como idade etc.

Fase lll: estudos internacionais, de larga escala, em múltiplos centros, com diferentes
populações de pacientes para demonstrar eficácia e segurança (população mínima
aprox. 800).

»» Conhecimento do produto em doenças de expansão.

»» Estabelecimento do perfil terapêutico.

»» Indicações.

»» Dose e via de administração.

»» Contraindicações.

»» Efeitos colaterais.

»» Medidas de precaução.

»» Demonstração de vantagem terapêutica (ex.: comparação com competidores).

»» Farmacoeconomia e qualidade de vida.

»» Estratégia de publicação e comunicação (ex.: congressos e workshops).

Fase III: Estudo Terapêutico Ampliado.

São estudos realizados em grandes e variados grupos de pacientes, com o objetivo de


determinar:

»» Resultado do risco/benefício em curto e longo prazos das formulações do


princípio ativo.

»» Maneira global (geral) e valor terapêutico relativo.

67
UNIDADE IV │ DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS

Depois de iniciada a comercialização da droga, uma nova fase, conhecida como


farmacovigilância, começa, e os efeitos colaterais, as indicações adicionais, a eficácia e
a tolerância podem ser investigadas por completo.

Fase IV: após aprovação para comercialização do produto.

»» Detectar eventos adversos, pouco frequentes ou não esperados (vigilância


pós-comercialização).

»» Estudos de suporte ao marketing.

»» Estudos adicionais comparativos com produtos competidores.

»» Novas formulações (palatabilidade, facilidade de ingestão).

Fase IV: são pesquisas realizadas depois de comercializado o produto e/ou especialidade
medicinal.

Essas pesquisas são executadas com base nas características com que foi autorizado
o medicamento e/ou especialidade medicinal. Geralmente, são estudos de vigilância
pós-comercialização para estabelecer o valor terapêutico, o surgimento de novas
reações adversas e/ou confirmação da frequência de surgimento das já conhecidas, e as
estratégias de tratamento.

Nas pesquisas de fase IV, devem-se seguir as mesmas normas éticas e científicas
aplicadas às pesquisas de fases anteriores.

Os testes clínicos são cuidadosamente planejados, projetados e controlados. Os testes


randomizados são os mais frequentes. São diferentes dos estudos observacionais, pois
nos ensaios clínicos é feita uma intervenção. Em geral são estudados dois grupos, o de
controle e o tratado.

Os ensaios controlados são aqueles em que se compara o teste com o controle (placebo:
“ativo” ou “inativo”). Podem ser divididos em abertos (tratamento conhecido) e cegos
(uma ou ambas as partes desconhecem o tratamento).

Placebo: são substâncias farmacologicamente inativas ou ativas com o fundamento


de que é um tratamento inerte que apresenta efeitos fisiológicos desencadeados pela
crença do paciente de que está sendo tratado.

Placebo ativo: um comprimido de Vitamina C pode aliviar a dor de cabeça de quem


acredite estar ingerindo um analgésico, sendo um exemplo clássico de que o que cura é
não apenas o conteúdo do que inferimos, mas também a forma.

68
DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS │ UNIDADE IV

Placebo inativo: por exemplo, no uso de cápsulas desprovidas de substâncias terapêuticas


ou contendo produtos conhecidamente inertes e inócuos, que são administrados a
grupos de pacientes para comparar o efeito da sugestão no tratamento de doenças.

As fases da resposta terapêutica

Importante princípio em farmacologia que nos mostra que a resposta terapêutica da


grande maioria dos fármacos depende fundamentalmente da interação entre suas
moléculas com receptores farmacológicos específicos.

Entretanto, é totalmente conhecido que a relação existente entre dose e efeito dos
fármacos é muito variável entre os indivíduos. Tais variações dependem não somente
da dose, mas também da gravidade da doença, das funções cardiológicas, hepatológicas,
renais e da motilidade gastrintestinal, da atividade hormonal e da farmacocinética do
princípio ativo. Assim, várias fases estão envolvidas na resposta terapêutica do fármaco:
fase farmacêutica; fase farmacocinética; fase farmacodinâmica.

69
CAPÍTULO 2
Farmacovigilância

Farmacovigilância é definida como a ciência e atividades relacionadas à detecção,


avaliação, compreensão e prevenção dos efeitos adversos ou qualquer outro problema
relacionado aos medicamentos e ferramenta no cuidado ao paciente, e é essencial para
a organização de sistemas de relatos de reações adversas, monitoramento de fármacos,
vigilância de produtos pós-comercialização e programas nacionais de saúde pública.

A boa farmacovigilância identificará os riscos e os fatores de risco em tempo reduzido


para evitar ou minimizar os danos.

Seus objetivos são a melhoria no uso dos medicamentos para tratamento e prevenção
de doenças.

O medicamento, antes de entrar em comercialização, tem que demonstrar a sua eficácia,


qualidade e segurança. E a “vigilância pós-comercialização de medicamentos” também
deve ser mantida.

No Dicionário de Epidemiologia dirigido pela International Epidemiological


Association, o procedimento posterior à autorização do registro de um novo fármaco
é criado e desenhado para procurar informação sobre o uso real do fármaco indicado
para determinada patologia e assim verificar a aparição de efeitos indesejáveis.

Farmacovigilância é o método para o estudo epidemiológico das reações adversas aos


medicamentos. Isso corresponde aos procedimentos da farmacologia clínica nas fases
IV e V, sendo uma necessidade complementar aos ensaios clínicos das fases I, II e III.

Na farmacovigilância, como em qualquer sistema de vigilância epidemiológica, deve-se


combinar a seleção de eventos para notificação, a definição das variáveis que serão
trabalhadas e a identificação e o envolvimento das fontes de informação.

A definição dos eventos a serem trabalhados deve corresponder à capacidade de


assimilação e resposta do sistema. E a seleção de eventos pode partir da consideração de
possíveis reações adversas, tomadas de uma forma geral ou de acordo com uma relação
de ocorrências estabelecida previamente, ou da definição de alguns medicamentos,
cujo uso será acompanhado. Em uma perspectiva ampla, portanto, o acompanhamento
do uso de medicamentos pode ser objeto das ações de farmacovigilância, desde que
tal acompanhamento seja atividade fundamental para a prevenção da ocorrência de
reações adversas.

70
DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS │ UNIDADE IV

Segundo a OMS, “um reporte de casos em farmacovigilância pode ser definido como:
uma notificação relativa a um paciente com um evento adverso médico (ou teste de
laboratório anormal) suspeito de haver sido induzido por um medicamento”. As ações
de farmacovigilância estão voltadas para a detecção precoce de reações adversas
desconhecidas ou interações medicamentosas e para a detecção de aumentos na
frequência de ocorrência de reações adversas conhecidas.

Tal para a vigilância epidemiológica de rotina, a notificação em farmacovigilância é


quase sempre de suspeita a ser posteriormente confirmada ou não.

As ações constituem, assim, um ponto de partida ou um alerta para a necessidade


de desenvolvimento de estudos epidemiológicos mais apurados, voltados para o
estabelecimento de relações de causa e efeito. Esses serão estudos farmacoepidemiológicos
tipos caso-controle, coorte ou mesmo transversal. Os estudos transversais propiciam
informações importantes sobre o uso de medicamentos que são especialmente úteis
em países como o Brasil, em que as políticas de regulação de medicamentos ainda não
alcançaram a eficácia e o nível de organização desejados.

São diversas as fontes de informação em farmacovigilância: são os boletins, que


chamamos também de notificações espontâneas, temos os estudos ou publicações em
jornais científicos e sites como a Anvisa.

A informação proveniente do notificador é inicialmente colhida em um nível local,


transmitida a uma estrutura central, em que ela será avaliada e classificada de acordo com
um índice restrito, depois, se necessário, é difundida para uma ou várias administrações
regionais, sendo que cada uma tem seus métodos de tratamento e conduta.

O instrumento principal de um sistema de farmacovigilância é o boletim de notificação,


que é simples e objetivo, em que encontramos informações básicas sobre a identificação
do paciente, o uso de medicamentos e a suspeita reação adversa.

No boletim, devem constar as iniciais dos pacientes, sexo e data de nascimento,


os nomes dos medicamentos envolvidos, o motivo do seu uso, a dosagem diária
administrada, as datas de início e fim do período de uso, o uso concomitante de outros
medicamentos, a descrição da reação suspeita observada, a identificação e o endereço
do notificador.

Informações sobre o comportamento da reação suspeita após a retirada ou reintrodução


do medicamento em questão, a situação clínica dos pacientes no que diz respeito a
patologias importantes preexistentes e resultados de exames laboratoriais realizados
também podem constar no boletim.

71
UNIDADE IV │ DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS

Para encontrar e agrupar as anomalias próximas ou semelhantes do ponto de vista


médico, foram propostas terminologias para as reações indesejáveis, sendo que a da
OMS é a mais difundida. Trata-se de listas de términos sem definição, porque existem
inúmeras definições, por exemplo, se compararmos as definições de vários dicionários
médicos, notaremos essas variações. Mas a ideia é não rejeitar nenhuma informação
com o objetivo de melhorar o conhecimento de um medicamento e de identificar os
dados imprecisos ou incoerentes.

72
CAPÍTULO 3
Medicamentos

Utilização segura de medicamentos


O método de conciliação de medicamentos tem grande impacto na prevenção de eventos
adversos relacionados a medicamentos, sendo eficiente na redução das discrepâncias
encontradas entre as prescrições hospitalares e os medicamentos utilizados em casa,
promovendo, assim, a redução dos erros de medicação em cerca de 70%.

Para essa organização, deve haver uma equipe multidisciplinar para o desenvolvimento
e avaliação da conciliação de medicação.

Recomenda-se elaboração de questionário para obtenção de informações dos


medicamentos usados pelos pacientes nos pontos de transição (hospital, clínicas,
consultórios, farmácias). Verificação minuciosa do histórico de utilização dos
medicamentos, conferindo-os, conversando com os pacientes e familiares, entre outras
medidas que devemos considerar para uma boa assistência e tratamento farmacológico
correto ao paciente.

Para pensar algumas medidas seguras na utilização de medicamentos:

»» uso de medicamentos em idosos: problema de saúde pública;

»» disponibilizar assistência farmacêutica integral e racional aos idosos é


um desafio;

»» a conciliação é parte do uso racional de medicamentos;

»» a conciliação é uma ferramenta sistematizadora e auxiliar;

»» medidas não farmacológicas devem ser incentivadas.

Responsabilidade sanitária e medicamentos


Uma das estratégias da Anvisa são as ações de Farmacovigilância. Para a Organização
Mundial da Saúde, a farmacovigilância é “a ciência e atividades relativas à identificação,
avaliação, compreensão e prevenção de efeitos adversos ou qualquer problema possível
relacionado com fármacos”.

73
UNIDADE IV │ DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS

De acordo com a Anvisa, esse campo de atividade tem se expandido e, recentemente,


incluiu novos elementos de observação e estudo, como:

»» plantas medicinais;

»» medicina tradicional e complementar;

»» produtos derivados de sangue;

»» produtos biológicos;

»» produtos médico-farmacêuticos;

»» vacinas.

A contribuição dos profissionais da saúde é fundamental, sobretudo na função de


notificação voluntária de reações adversas.

Método Dáder
Esse método de Seguimento Farmacoterapêutico (SFT) foi elaborado em Granada
(Espanha), em 1999, pelo grupo de Investigação em Atenção Farmacêutica. Trata-se
de um sistema simples que nos permite realizar esse seguimento a qualquer paciente,
em qualquer tipo de assistência sistematizada, documentada e contínua. É permitido
registrar, monitorar e avaliar os efeitos da farmacoterapia.

Ele funciona a partir da obtenção de informação sobre os problemas de saúde e da


farmacoterapia do paciente e na elaboração de sua história farmacoterapêutica.

O método propõe um procedimento concreto, no qual se elabora um estado de situação


objetivo do paciente. Deste derivam-se as intervenções farmacêuticas correspondentes,
nas quais cada profissional clínico, conjuntamente com o paciente e seu médico, decide
o que fazer em função dos conhecimentos e condições particulares que afetam cada caso.

O procedimento de AFT consta das seguintes fases:

»» oferta do serviço;

»» primeira entrevista;

»» estado de situação;

»» fase de estudo;

»» fase de avaliação;

74
DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS │ UNIDADE IV

»» fase de intervenção;

»» resultado da intervenção;

»» novo estado de situação;

»» entrevistas sucessivas.

Você pode encontrar MÉTODO DÁDER “MANUAL DE ACOMPANHAMENTO


FARMACOTERAPÊUTICO” Grupo de Investigação em Atenção Farmacêutica (CTS-
131) Universidade de Granada no site <http://www.pharmanet.com.br/atencao/
metododader.pdf>.

A entrevista farmacêutica consiste em:

a. desde quando? Há quanto tempo toma a medicação? Serve para estabelecer


relações de causalidade entre os problemas e os medicamentos;

b. quanto? A posologia do medicamento dá indícios da relação dose-efeito,


se existe efeito dose-dependente;

c. como toma? A maneira de tomar durante o dia, com alimento, antes ou


depois das refeições, em hora determinada;

d. até quando? Por quanto tempo deve tomar a medicação;

e. como se sente? Como o efeito é percebido pelo paciente;

f. algo estranho? Relaciona-se algum efeito indesejável quando toma o


medicamento.

75
INTRODUÇÃO
À SEMIOLOGIA UNIDADE V
FARMACÊUTICA

CAPÍTULO 1
Introdução à semiologia farmacêutica

Definição e história
Semiologia é o ramo da medicina que estuda os sinais e os sintomas da doença, e por
meio desse estudo se pode interpretar o que o paciente está sentindo para chegar a um
diagnóstico.

Segundo o pai da medicina, Hipócrates (500 anos A.C.), o exame físico era o momento
em que se realizava a inspeção e a palpação em um paciente. Hipócrates, nessa época,
desmistificou as funções sacerdotais mitológicas que até então predominavam e
introduziu o conceito de que a interpretação da doença somente seria possível pela
observação e pelo controle do paciente, formando assim o caminho inicial de medicina.

A semiologia pode ser dividia em:

1. Semiótica: é o conjunto de métodos de pesquisa utilizados para obter ou


apreciar os sinais e sintomas. É, sem dúvida, a parte mais importante
para construir um diagnóstico correto e inclui os materiais e métodos
clínicos complementares;

2. Semiogenesis: esse ramo lida com o estudo da origem dos sinais e


sintomas;

3. Semiografía: corresponde ao sinal de escrita ou sintoma de uma


transcrição e nos possibilita estudar as características desses próprios
sinais utilizando gráficos. Exemplo: curva febril;

4. Propedêutica Clínica: interpreta, recolhe e classifica o conjunto de sinais e


sintomas integrados em um quadro clínico para chegar a um diagnóstico.

76
INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA │ UNIDADE V

Sintomas e sinais como língua de diagnóstico


Sabemos que o corpo humano usa a linguagem de sinais e sintomas para se comunicar,
e a expressao dessa comunicação ocorre da seguinte maneira.

Sintomas: desconforto ou sensações são consideradas subjetivamente a doença (por


exemplo, dor, náuseas, tonturas). São todas as manifestações da doença que o paciente
relata, mas que não podem ser estabelecidas objetivamente. Ele pode fingir, modificar
ou alterar o sintoma durante a descrição.

São sempre relatados pelo paciente como um incômodo que só ele consegue perceber.

A dor só é sentida pelo paciente, e o examinador conhecerá a sua característica, exceto


pela própria história do paciente.

Alguns exemplos de sintomas incluem: acidez gástrica, dispneia, disfagia, zumbidos,


parestesias etc.

Sinais: são dados que são vistos, tocados, medidos etc. pelo profissional. São objetivos.

Será possível verificar por qualquer outro examinador. Não aparecem relacionados
pelo paciente. São extraídos dos exames.

Exemplos clássicos de sinais são: pressão, pulso, respiração e temperatura, conhecidos


como sinais vitais.

Os sinais são sintomas inúteis quando considerados isoladamente. Agora se, por outro
lado, são considerados em conjunto, forma-se um quadro clínico. Às vezes, esse
quadro clínico é exclusivo para uma causa. Quando isso acontece, já começamos a falar
de doença.

Poder definir sinais e sintomas que se desenvolvem ao mesmo tempo é definir um


quadro clínico cuja etiologia (causa) é única.

Síndrome: é um conjunto de sintomas e sinais que pode ter diferentes causas. A síndrome
pode ser causada por várias doenças, por exemplo: síndrome febril, síndrome do
hipertireoidismo, síndrome meníngea.

Quando falamos em síndromes, falamos sobre as condições clínicas que podem ter
diferentes causas, mas cujo quadro clínico é sempre o mesmo.

Se você estuda em profundidade o paciente, geralmente pode estabelecer a síndrome


de origem. Por exemplo, você pode determinar se uma síndrome lombociatalgia foi
produzida por um tumor ou uma hérnia de disco.
77
UNIDADE V │ INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA

A doença tem as suas próprias características e, em geral, tem uma causa específica,
é uma alteração ou desvio de estado fisiológico em uma ou mais partes de corpo, que
geralmente é devido a uma etiologia específica e manifesta-se por sintomas e sinais
característicos, cuja evolução é mais ou menos previsível.

Terminologia
Terminologia em um Processo Patológico:

ETIOLOGIA = Causa

Conhecendo a causa primária, sobre ela podemos realizar o diagnóstico, entender seu
mecanismo de ação e pensar em um tratamento.

Fatores ou agentes etiológicos:

»» intrínsecos, congênitos ou adquiridos;

»» genéticos ou ambientais;

»» epigenéticos: refere-se à denominação que recebem as características


de organismos unicelulares e multicelulares (como as modificações de
cromatina e DNA) que são estáveis ao longo de diversas divisões celulares,
mas que não envolvem mudanças na sequência de DNA do organismo.

PATOGENIA = Mecanismo de desenvolvimento da doença.

Sequência de acontecimentos na resposta celular e do tecido diante do agente etiológico,


desde seu início até a expressão final da doença.

MODIFICAÇÕES MORFOLÓGICAS E BIOQUÍMICAS = São as alterações estruturais e


moleculares que sofrem os tecidos e as células; são as lesões e disfunções que vão sofrer
nosso organismo.

SIGNIFICADO CLÍNICO = São as consequências funcionais que resultam das


modificações morfológicas e bioquímicas que sofre nosso organismo diante de uma
etiologia que pode ser externa ou interna.

Mudanças morfológicas e bioquímicas

Mudanças morfológicas e bioquímicas nos mostram alguma alteração estrutural e


molecular que sofrem as células e os tecidos devido à própria característica da patologia

78
INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA │ UNIDADE V

enfrentada. Envolve a histopatología, a fisiologia, a biologia molecular, a bioquímica, a


imunologia, matrizes do DNA e de proteínas.

Cuidado clínico
A História Clínica de um paciente é um documento no qual são listados em ordem
cronológica todos os dados relativos ao seu estado de saúde ou doença. Ela pode ser
coletada em um consultório médico, em uma sala de emergência, em um quarto de
hospital ou até na própria casa do paciente, e consiste em dois componentes primários:
o interrogatório e exame físico.

Para Hipócrates, o objetivo de uma história clínica, ou prontuário médico, era agrupar
informações, que pudessem auxiliar na reflexão sobre o curso da doença, indicando
possíveis causas e encontrando, por meio da análise comparativa e empírica, a melhor
forma de tratá-las.

Etapas do Cuidado Clinico

Em 1978, Elstein, juntamente com outros colaboradores, apresentou um trabalho sobre


um método voltado à resolução de problemas clínicos em que, a partir de um problema
apresentado ao médico, ocorre a formulação e o teste de hipóteses, a tomada de decisão
e o planejamento, seguido do acompanhamento médico.

Esse método ficou conhecido como a teoria das hipóteses diagnósticas (definidas como
soluções intuitivas para o problema), baseados em abordagem geral do paciente, em
alguns sinais e no contexto percebido.

Em 1984, o autor Pendleton investigou a prática centrada no paciente, definindo cinco


tarefas do médico:

1. averiguação da razão que levou o paciente à consulta (incluindo o


problema e as ideias que ele tem sobre isso);

2. considerar outros problemas e fatores de risco;

3. escolha, em colaboração com o paciente, de uma atuação adequada a


cada problema;

4. alcançar uma compreensão compartilhada dos problemas com o paciente;

5. envolver o paciente na gestão dos problemas e encorajá-lo a aceitar a


responsabilidade adequada.

79
UNIDADE V │ INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA

Até então, os métodos eram utilizados previamente com cada médico, que tinha seu
próprio método de anotações de acordo com a condição do paciente e de acordo com
a sua especialidade. Essas notas informavam o estado desse paciente no momento e,
em caso de se realizar um procedimento, anotava-se qual era, o resultado obtido e
nada mais.

Lawrence Weed, a partir dos anos de 1960, publicou seus estudos tratando o método
clínico, os registros médicos e a avaliação da qualidade que apresenta uma abordagem,
conhecida pela sigla PORM, que significa Problem-Oriented Medical Record, e propôs
as quatro fases da ação médica:

1. coleta de dados;

2. identificação de problemas;

3. planejamento;

4. seguimento.

A história clínica, defendida por Weed, é um método lógico de documentar o


atendimento prestado ao paciente, o que permite uma melhor comunicação entre
diferentes profissionais ao cuidar do paciente, ao longo dos seus processos patológicos
e sua evolução.

Atualmente, a maioria dos centros de saúde e hospitais segue esse método para
a realização das histórias clínicas médicas, sendo um documento obrigatório que
estabelece a elaboração de um prontuário médico para cada paciente. Esse prontuário
pode ser elaborado tanto no papel como de forma eletrônica.

O principal componente da história clínica orientada por problemas é estabelecer uma


base de dados, lista de problemas e notas SOAP.

No quadro a seguir, podemos observar como estão desenvolvidas essas quatro fases,
em uma descrição realizada em 1971:

Quadro 1. Quatro fases da ação médica.

Fase 1. Coleta de dados – Organização do conjunto de dados do paciente incluindo história clínica, exame físico e resultados laboratoriais.

Fase 2. Identificação de problemas – Formulação de uma lista completa dos problemas do paciente identificados pelo médico.

Fase 3. Plano – Desenvolvimento de planos de ação para cada problema identificado.

Fase 4. Seguimento – Acompanhar o progresso das ações realizadas e a evolução dos problemas abordados.

Fonte: <http://leg.ufpi.br/subsiteFiles/lapnex/arquivos/files/metodos_clinicos_mc.pdf>. Acesso em: 26/4/2019.

80
INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA │ UNIDADE V

E assim se define o significado de SOAP:

S: subjective (dados subjetivos).

O: objective (dados objetivos).

A: assessment (valoração).

P: plan (plano a seguir).

Esses registros de dados descrevem como o paciente se sente, como ele explica e o que
o profissional de saúde observa. São dados descritivos, não são confirmados por testes.
São obtidos observando como o paciente se comporta e escutando como ele descreve
seus sintomas.

Séculos se passaram, e os registros médicos enriqueceram-se com dados que


complementavam o histórico do indivíduo: exames, evolução clínica, cirurgias,
medicamentos e tratamentos aplicados.

A história clínica (H.C) deve ser um documento único, integrado e com toda a informação
para cada paciente no hospital, tendo que ser um sistema de recuperação eficaz da
informação clínica.

Sua principal função é assistir o paciente, permitindo o registro por equipes diferentes.
Outras características são: ensino, permitindo estudos para investigação e epidemiologia,
avaliação da qualidade e potencial profissional, planejamento e saúde gestão e utilização
em casos legais nessas situações jurídicas, se necessário.

81
CAPÍTULO 2
Semiologia Farmacêutica

Em 2013, o Conselho Federal de Farmácia ─ CFF dispôs que os farmacêuticos podem


prescrever medicamentos sem a necessidade de receita médica. Por meio da Resolução
nº 585, passou a fazer parte das atribuições clínicas do farmacêutico “prescrever,
conforme legislação específica, no âmbito de sua competência profissional”.

Conceitualmente, a prescrição farmacêutica é definida como o ato pelo qual o profissional


farmacêutico seleciona e documenta terapias farmacológicas e não farmacológicas. Com
essa definição, o farmacêutico deve atuar em outras intervenções relativas ao cuidado
à saúde do paciente.

Esse ato surge como um novo ramo na busca pela saúde da população, com o objetivo
de promover, proteger e recuperar a saúde, além de prevenir doenças, nas farmácias
principalmente.

Com o surgimento da Farmácia Clínica, entre as décadas de 1960 e 1970, nos Estados
Unidos, estimulou-se a participação do farmacêutico em programas de uso seguro
de medicamentos em hospitais, e somente nos anos 2000 chegou ao Brasil. Mais de
uma década depois, sabemos que hoje é uma prática que pode ser desenvolvida em
hospitais, ambulatórios, unidades de atenção primária à saúde, farmácias comunitárias,
instituições de longa permanência e domicílios de pacientes, entre outros, e esse
conceito se relacionará muito com a Semiologia Farmacêutica.

Em 1998, a Farmácia Clínica ganhou força com a ajuda da OMS e da Federação


Interacional de Farmacêuticos ─ FIP, que preconizaram a atuação do farmacêutico na
automedicação e no autocuidado.

A expansão das atividades clínicas do farmacêutico ocorreu, em parte,


como resposta ao fenômeno da transição demográfica e epidemiológica
observado na sociedade. A crescente morbimortalidade relativa às
doenças e agravos não transmissíveis e à farmacoterapia repercutiu
nos sistemas de saúde e exigiu um novo perfil do farmacêutico.
(RESOLUÇÃO NO585/2013 CRF)

Prescrição farmacêutica ─ Ato pelo qual o farmacêutico seleciona e


documenta terapias farmacológicas e não farmacológicas e outras
intervenções relativas ao cuidado à saúde do paciente, visando à

82
INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA │ UNIDADE V

promoção, proteção e recuperação da saúde, e a prevenção de doenças


e outros problemas de saúde. (RESOLUÇÃO NO585/2013 CRF)

A Semiologia Farmacêutica, ou Propedêutica, aprovada em 2015, consiste na aplicação


de conhecimentos farmacêuticos e técnicas sobre sinais e sintomas, principalmente
aqueles relacionados aos transtornos/distúrbios menores relatados pelo paciente,
ajudando a terapêutica já aplicada em questão, contribuindo para a verificação da
indicação, da efetividade e segurança do tratamento, e se a adesão do paciente está
sendo realizada.

O importante é não esquecer que essa prática profissional não deve ser confundida com
diagnóstico, que é uma atividade realizada pelo médico, mas sim saber que é uma nova
ferramenta na dispensação ativa de medicamentos de venda livre.

Essa atividade passou a ser uma das atribuições clínicas do profissional farmacêutico e
deve apresentar como objetivo as necessidades de saúde do paciente, sempre baseada
nas melhores evidências científicas, nos princípios éticos, e estar em conformidade com
as políticas de saúde vigentes. O exercício deve estar fundamentado em conhecimentos
e habilidades que garantem a sua autonomia técnica.

O sucesso do tratamento farmacológico depende da participação ativa dos


pacientes, que exigirá a cooperação máxima dos farmacêuticos para obter o
máximo benefício terapêutico e evitar os efeitos colaterais. Hoje sabemos que
também depende do nosso esforço, essa adesão do paciente e o sucesso do seu
tratamento.

Nos últimos tempos, o farmacêutico vem buscando uma participação ativa diante de
uma integração multidisciplinar, para garantir a eficácia e a eficiência do tratamento,
fazendo-se presente a equipe de atenção à saúde, com o surgimento da farmácia clínica
e, posteriormente, com atenção farmacêutica, depois com a farmacoepidemiologia e a
farmacovigilância, para desenvolver uma prática focada no paciente, com a prevenção
de problemas farmacoterapêuticos, como observamos nas unidades estudadas
anteriormente e agora com a Semiologia.

Para o autor Marcelo Bisson (2007, p. 24), o termo semiologia farmacêutica se refere
“à utilização dos métodos de semiologia adaptados à prática farmacêutica e voltados à
prevenção e a condutas tomadas para problemas relacionados a medicamentos”.

A abordagem direcionada ao cuidado dos pacientes pelo farmacêutico se instalou


quando os conhecedores do método PORM, Kishi e Watanabe, em 1974, utilizaram a
mesma abordagem, em conjunto com os farmacêuticos (KISHI, M.; HORIGUCHI Y;

83
UNIDADE V │ INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA

WATANABE, S.; HAYASHI, M.). O método que eles utilizaram foi avaliar a utilização
em estudantes de farmácia sobre o desenvolvimento de habilidades de raciocínio clínico.

Em 1988, Strand, Morley e Cipolle propõem um método chamado Pharmacist Workup


of Drug Therapy ─ PWDT (Análise da Farmacoterapia pelo Farmacêutico). (Strand
LM, Cipolle RJ, Morley PC. Documenting the clinical pharmacist’s activities:
back to basics. Drug Intell Clin Pharm 1988; pp.22:63-6.).

Eles se baseiam no sistema POMR, para desenvolver um raciocínio clínico e sistema de


documentação adaptado à prática farmacêutica.

Em realidade, eles enxergaram que a necessidade da farmácia era desenvolver ou


adaptar um método clínico de atendimento a pacientes, um sistema de documentação
e uma lista de problemas farmacoterapêuticos.

Nos dias de hoje, e nessa etapa de nossa carreira como profissional de saúde, observamos
claramente que o uso indiscriminado de drogas é uma das causas que gera o aumento
da expectativa de vida, mas que também traz riscos e falhas na farmacoterapia.

Quando um paciente não pergunta ao farmacêutico sobre uma dúvida que tem sobre
seu tratamento, pode ser um problema, e pior, não significa que essa questão, problema
ou dúvida não exista, porque o paciente pode às vezes nem saber o que está por vir,
afinal não foi ele quem estudou para isso. Nós, sim, podemos avaliar toda a situação,
paciente e medicamento, e compreender o que está se passando.

Aproveitemos para revisar os conceitos de Assistência e Atenção Farmacêutica, por


meio de uma versão interessante citada em de 2008, na 20º ExpoFarmácia.

1. Assistência Farmacêutica tem sido concebida como um conjunto


amplo de ações com características multiprofissionais, destinadas a
apoiar as ações de saúde demandadas por uma comunidade, sendo,
portanto, responsabilidade de todos e de cada um dos membros da
equipe de profissionais envolvidos direta ou indiretamente com o uso de
medicamentos na sociedade. A Assistência Farmacêutica é, portanto, uma
atividade essencial que possibilita que os vários processos que envolvem
o fármaco, desde sua pesquisa até sua utilização, ocorram de forma
segura e racional, beneficiando individual e coletivamente os usuários de
medicamentos no país.

2. O conceito de Atenção Farmacêutica direciona o exercício


profissional do farmacêutico para o atendimento das necessidades
farmacoterapêuticas do paciente, e esse passa a ser o seu foco principal

84
INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA │ UNIDADE V

de atenção. Dessa forma, o farmacêutico assume a responsabilidade


de buscar que o medicamento esteja produzindo no paciente o efeito
desejado pelo médico que o prescreveu e, ao mesmo tempo, que, ao
longo do tratamento, não apareçam, ou apareçam de modo mínimo,
problemas indesejados possíveis e, em caso de manifestação desses
problemas, que eles sejam solucionados. Portanto, a atividade de Atenção
Farmacêutica faz também parte do conceito de Assistência Farmacêutica,
como atividade especializada, realizada pelo farmacêutico, que passa a
compartilhar os resultados de seu exercício profissional clínico com os
demais profissionais envolvidos no atendimento ao paciente.

Fonte: <http://semanaracine.blogspot.com.ar/2008/04/qual-diferena-entre-ateno-
farmacutica-e.html>.

Como começar
O farmacêutico, quando atuar em semiologia, deverá saber realizar o exame físico do
paciente, e isso pode incluir os seguintes procedimentos: inspeção, palpação, percussão
e auscultação. E esses conceitos se verão a seguir, quando tratarmos de Exames Físicos.

O ato de identificar sinais e sintomas menores em farmácias durante a prática da atenção


farmacêutica é necessário para avaliação da efetividade e segurança de medicamentos
em uso. E isso, para o paciente, ajudará a resolver os seus problemas de saúde.

Em relação ao médico, ajudará a complementar e auxiliar nos cuidados de saúde


prestados ao seu paciente. Além de tudo, profissionalizará o ato de dispensação.

A semiologia Farmacêutica não substitui uma consulta médica nem exames de


diagnósticos, sejam bioquímicos, imunológicos etc. E ainda vale ressaltar que o
paciente pode optar ou não pela adesão.

O farmacêutico, para poder identificar um possível PRM, deverá apresentar habilidades


e conhecimentos em:

»» Farmacologia/Farmacoterapia;

»» Farmacotécnica;

»» Farmacocinética e Farmacodinâmica;

»» Fisiologia;

»» Interpretação de Exames Laboratoriais;

85
UNIDADE V │ INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA

»» Epidemiologia e Etiologia;

»» Monitorização Clinica;

»» Adesão ao tratamento;

»» A prevenção da doença;

»» Seleção de Drogas (apenas situações e nomes DCI).

Já vimos que os Grupos de Risco, segundo a terminologia médica, indicam a uma


população sujeita a determinados fatores ou com determinadas características que ela
é mais propensa a ter ou adquirir determinada doença, por exemplo:

»» maiores de 65 anos;

»» doentes com patologias crônicas;

»» imunodeprimidos;

»» residentes em casas de repouso;

»» pacientes grávidas.

Dentro dos sintomas e sinais menores que podemos identificar em farmácias, estão:

»» problemas cutâneos;

»» alergias de leves a moderadas;

»» distúrbios respiratórios (resfriados, gripes, sinusites, rinites);

»» distúrbios digestivos (constipação, hemorroidas);

»» problemas odontológicos;

»» oftalmológicos;

»» náuseas, vômitos;

»» cefaleia;

»» dismenorreia.

Segundo a Resolução no 586, de 29 de Agosto de 2013, do CFF, o farmacêutico habilitado


pode:

Art. 3o ─ para os propósitos desta resolução, define-se a prescrição


farmacêutica como ato pelo qual o farmacêutico seleciona e documenta
terapias farmacológicas e não farmacológicas, e outras intervenções

86
INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA │ UNIDADE V

relativas ao cuidado à saúde do paciente, visando à promoção, proteção


e recuperação da saúde, e à prevenção de doenças e de outros problemas
de saúde.

Art. 4o ─ O ato da prescrição farmacêutica poderá ocorrer em diferentes


estabelecimentos farmacêuticos, consultórios, serviços e níveis de
atenção à saúde, desde que respeitado o princípio da confidencialidade
e a privacidade do paciente no atendimento.

Art. 5o ─ O farmacêutico poderá realizar a prescrição de medicamentos


e outros produtos com finalidade terapêutica, cuja dispensação não
exija prescrição médica, incluindo medicamentos industrializados
e preparações magistrais ─ alopáticos ou dinamizados ─, plantas
medicinais, drogas vegetais e outras categorias ou relações de
medicamentos que venham a ser aprovadas pelo órgão sanitário federal
para prescrição do farmacêutico.

Leiam por completo: Resolução no 586, de 29 de agosto de 2013, e a Resolução


no 585/2013 do CFF.

É necessário saber que a semiologia farmacêutica não veio para que toda a população
realize consultas nas farmácias ou substitua diagnósticos médicos, mas para que, quando
um paciente chegue à farmácia e necessite, seja possível investigar sintomas e sinais
para identificar o melhor medicamento para ele ou se o seu caso necessita de consulta
médica, por exemplo, além de realizar o cuidado clínico ou um acompanhamento de
seu tratamento.

Não esquecer:

a. postura diante do prontuário:

1. sob guarda em instituições, profissionais da saúde;

2. informações são de caráter sigiloso;

3. uso exclusivo relacionado ao tratamento e acompanhamento do paciente;

4. proteger do acesso de terceiros não autorizados;

5. ética no acesso às informações;

b. cuidados:

87
UNIDADE V │ INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA

1. aspectos legais e éticos envolvidos;

2. habilidade para desenvolver a prática documentada em harmonia com a


equipe multiprofissional;

3. qualidade nas informações registradas;

4. registro fidedigno das ações prestadas ao paciente, na análise realizada.

Medicamentos Isentos de Prescrição (MIP)

Os MIPs são os medicamentos que podem ser dispensados sem exigência de prescrição
médica, utilizados para tratar sintomas e males menores com segurança e eficácia.

A ANVISA oferece uma lista em sua página que contempla apenas os grupos terapêuticos
e indicações terapêuticas: <http://portal.anvisa.gov.br/mip/lista-de-medicamentos>.

O uso de medicamentos isentos de prescrição causa impactos positivos na saúde


pública. O balanço favorável faz com que os MIPs sejam considerados como pilares
fundamentais, diminuindo custos e demandas no Sistema de Saúde devido à sua
facilidade de acesso e segurança. Evidencia-se em estudos de Farmacoeconomia em
vários países e no Brasil também.

O compromisso do farmacêutico termina sendo um importante papel social. Aqui seu


trabalho é evidente: só ele conhece a posologia, mecanismos de ação, reações adversas,
contraindicações e interações, e compete a ele ainda orientar a procurar um médico no
caso de os sintomas persistirem.

A Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) no 98/2016 definiu alguns critérios para


classificar medicamentos como Isentos de Prescrição.

1. Tempo mínimo de comercialização do princípio ativo ou da associação de


princípios ativos.

2. Segurança – baixo potencial de: danos à saúde, intoxicação e interação


medicamentosa ou alimentar; reações adversas com causalidades
conhecidas e reversíveis após suspensão.

3. Indicação para o tratamento, prevenção ou alívio de sinais e sintomas de


doenças não graves.

4. Utilização por curto período de tempo ou por tempo previsto em bula,


exceto para uso preventivo, fitoterápicos e indicados para doenças de
baixa gravidade.

88
INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA │ UNIDADE V

5. Ser manejável pelo paciente ou o cuidador.

6. Baixo potencial de risco ao paciente em consequência de mau uso ou


abuso e intoxicação.

7. Não apresentar dependência química.

O exame físico na farmácia


O procedimento de realizar um exame físico na Farmácia tem como fundamento ajudar
a identificar sinais e sintomas.

Os procedimentos básicos que podemos realizar na Farmácia são:

1. Inspeção: é um processo de observação, investigação panorâmica e


localizada, cujos aspectos relevantes são: odor, higiene, hidratação,
alimentação, entre outros;

2. Palpação: pode ser dividida em dois métodos: Tato (superficial) e Pressão


(profunda). É realizada em áreas delicadas e sensíveis para verificar
resistência, elasticidade, mobilidade;

3. Percussão: deve ser realizada pelas pontas dos dedos, e se avaliam


tamanho, limites e consistência de órgãos, sensação de edema e densidade
de estruturas;

4. Ausculta: é realizada a monitoração de sons produzidos pelo corpo


(estetoscópio) e a análise do som: pulmão, coração, abdômen versus
frequência, volume, qualidade e duração.

Esses quatro procedimentos podem ou não ser seguidos de indicação de medicamentos


de venda livre para tratamentos de curta duração.

E é necessário mais um conjunto de ações sob os princípios de atenção básica, como:

»» escutar o paciente e questioná-lo;

»» tomar decisão: que pode levar a um tratamento medicamentoso ou não e


ao encaminhamento ao médico;

»» dispensação e orientação.

89
UNIDADE V │ INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA

O farmacêutico não substitui os outros profissionais de saúde, mas tem sua função
como atuação complementar, combatendo a automedicação, o consumo abusivo de
medicamentos e prevenindo a morte por intoxicação de medicamentos.

Normativas que devemos conhecer:

»» regulamento técnico de Boas Práticas de Farmácia RES no 357/2001, CFF;

»» enquadramento na categoria de venda de medicamentos, RES, RDC


no 138/2003.

Comitê de Consenso. Tercer Consenso de Granada sobre problemas


relacionados con los medicamentos (PRM) y resultados negativos asociados
a la medicación (RNM). Ars Pharm 2007; 48(1):5-17

CORRER, C.J.; PONTAROLO, R.; MELCHIORS, A. C.; SOUZA, R. A. P.; ROSSIGNOLI,


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WANNMACHER, L.; FUCHS, F. D. Conduta terapêutica embasada em evidências.


Rev. Assoc. Med. Bras 2000; 46(3): pp.237-241.

Conhecendo um pouco mais sobre PRM


Já vimos anteriormente que qualquer desvio dos efeitos benéficos dos medicamentos
provoca problema relacionado a medicamentos (PRM) e são a causa de morbidade e
mortalidade relacionada medicamentos. Por isso, devemos entendê-los e implementar
estratégias para fazer uma abordagem adequada a esse problema.

Os problemas mais comuns podem incluir duplicidades terapêuticas, exclusão de


medicamentos, omissão de medicamentos e diferenças em doses, em formas farmacêuticas
ou em posologias. O conceito de PRM vem junto com os seguintes critérios:

1. necessidade do medicamento;

2. efetividade do medicamento;

3. segurança do medicamento.

E a sua identificação pode se dar mediante a etapas:

»» coleta de dados do paciente:

90
INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA │ UNIDADE V

›› Nome – Idade – Sexo – Patologia;

»» identificação do problema:

›› relação entre a droga e a indicação;

›› seleção adequada;

›› recomendação de regime posológico;

›› duplicação de medicamentos (com o mesmo efeito/indicação);

›› alergias e intolerância;

›› reações adversas;

›› interações droga-droga, droga-doença;

›› dependência;

›› as informações do paciente em relação à sua farmacoterapia;

›› falta de terapia;

›› custos de terapia;

»» seguimento farmacoterapêutico:

›› fármaco utilizado;

›› doses;

›› via de administração;

›› início;

›› fim;

›› observações.

Algumas perguntas poderão nos ajudar:

1. esse paciente necessita desse medicamento nesse momento?

›› se a resposta anterior for sim:

2. esse medicamento é efetivo e traz resultados?

›› se a resposta anterior for sim:

3. esse medicamento é seguro?

91
UNIDADE V │ INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA

4. de quais medicamentos o paciente está fazendo uso no momento?

5. data em que iniciou a utilização;

6. posologia utilizada;

7. o paciente não está usando a medicação de que necessita?

8. o paciente está utilizando um medicamento selecionado erroneamente


para sua condição?

9. o paciente usa uma posologia menos eficiente?

10. o paciente usa uma posologia superior à necessária?

11. o paciente não está utilizando corretamente o que está prescrito?

12. o paciente tem uma reação adversa impedindo eficiência?

13. O paciente sofre interação entre drogas e diminui a eficácia ou aumentou


o efeito tóxico (STRAND, L. M., 1990)?

A partir delas, o farmacêutico começará a realizar o processo de Atenção Farmacêutica


e o processo de Semiologia Farmacêutica/Propedêutica, e a partir daqui serão inúmeras
as perguntas que poderão surgir.

Para concluir, devemos:

»» coletar dados e organizar a história clínica;

»» identificar os possíveis PRM;

»» revisar a terapêutica;

»» elaborar um plano de cuidado juntamente com o paciente;

»» realizar o seguimento do progresso, dos resultados, de novos possíveis


problemas.

De acordo com o Conselho Federal de Farmácia, a documentação deve ser realizada


em prontuário próprio para cada paciente, organizado de forma a manter o registro de
atendimentos, ou seja, a história farmacoterapêutica e clínica do paciente.

92
CAPÍTULO 3
Métodos a utilizar

Os métodos a seguir são bem parecidos. Todos contam com etapas, nas quais o
profissional tem total contato com o paciente. Ambos conversam muito e definem
práticas de como manter e seguir o tratamento aplicado.

Método de Dadér
O método de Dadér, desenvolvido pelo grupo de pesquisa em Atenção Farmacêutica
da Universidade de Granada, do qual falamos em capítulos anteriores, também está
presente na semiologia. O método segue o modelo orientado por problemas de Weed.

Revisar: Unidade IV – Desenvolvimento de Novos Fármacos.

Já sabemos que ele funciona a partir da obtenção de informação sobre os problemas de


saúde e da farmacoterapia do paciente, e na elaboração de sua história farmacoterapêutica.

O método Dáder é amplamente utilizado na Espanha e na América Latina, incluindo


o Brasil, e tem a finalidade de promover o registro de informações durante o
desenvolvimento do seguimento terapêutico. É considerado ponto essencial e a base do
desenvolvimento da história farmacoterapêutica.

É o conjunto de documentos, produzido e/ou compilado pelo farmacêutico


durante todo o processo de atendimento ao paciente, contendo dados, exames e
informações de qualquer natureza, projetado para monitorar e avaliar os efeitos do
uso de drogas por parte do paciente (<http://scielo.sld.cu/scielo.php?pid=S0034-
75152012000200010&script=sci_arttext>).

Aproveitem para ler uma proposta baseada no método de Dáder:

<http://scielo.sld.cu/scielo.php?pid=S0034-75152012000200010&script=sci_
arttext>.

Pharmacotherapy Workup – PWDT


E agora vamos conhecer o método “Pharmacotherapy Workup”, desenvolvido por
Cipolle, Strand e Morley.

93
UNIDADE V │ INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA

Em 1988, esses autores propõem um método chamado PWDT – Pharmacist Workup of


Drug Therapy (Análise da Farmacoterapia pelo Farmacêutico) e se baseiam no sistema
PORM para desenvolver um raciocínio clínico e no sistema de documentação adaptado
à prática farmacêutica, a ser utilizado na identificação e resolução de problemas
relacionados com medicamentos específicos dos pacientes.

Mais tarde, um conceito e a classificação de PRM são propostos, e se aprofunda a


construção da base do que viria a ser conhecido como atenção farmacêutica (Cipolle, R.
J.; Strand, L. M.; Morley, P. C. Pharmaceutical Care Practice – The Clinician’s
Guide. 2a. Ed. New York: McGraw-Hill, 2004).

Esse método é também conhecido como modelo Minnesota porque, após a publicação
do conceito de atenção farmacêutica por Hepler e Strand, foi desenvolvido um projeto
na Universidade de Minnesota denominado Minnesota Pharmaceutical Care Project
(CIPOLLE, R. J.; STRAND, L. M.; MORLEY, P. C. Pharmaceutical Care Practice
– The Clinician’s Guide. 2a. Ed. New York: McGraw-Hill, 2004).

Nesse caso, o projeto foi coordenado pelo Instituto Peters de Atenção Farmacêutica,
e se estudou aplicação prática do PWDT por 54 farmacêuticos em 20 farmácias.
Os resultados desse projeto, com duração inicial prevista de três anos, foram publicados
em 1998 e traziam dados de 5.480 pacientes atendidos durante os últimos doze meses
do projeto (CIPOLLE, R. J.; STRAND, L. M.; MORLEY, P. C. Pharmaceutical Care
Practice – The Clinician’s Guide. 2a. Ed. New York: McGraw-Hill, 2004).

O estudo evidenciou as características da prática e seus resultados econômicos,


demonstrando sua viabilidade e desenvolvendo um programa informático de suporte.
Em 2000, foram divulgados resultados semelhantes e, recentemente, foi publicado
em livro estudo descritivo com resultados da atenção farmacêutica em outros 5.136
pacientes, atendidos em 26.238 encontros, por 95 farmacêuticos (CIPOLLE, R. J.;
STRAND, L. M.; MORLEY, P. C. Pharmaceutical Care Practice – The Clinician’s
Guide. 2a. Ed. New York: McGraw-Hill, 2004).

O método consiste no raciocínio clínico, nas necessidades e nos problemas terapêuticos


apresentados pelo paciente, e no processo de atenção.

Tem como base os seguintes pontos:

1. avaliação;

2. desenvolvimento de um plano de cuidado;

3. acompanhamento do paciente e sua evolução e adesão ao tratamento.

94
INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA │ UNIDADE V

Na primeira fase, o farmacêutico pode realizar uma entrevista para coletar informações
do paciente para posterior avaliação. Nesse momento, obtém-se quais medicamentos
estão sendo utilizados por ele, seus hábitos de vida e informações clínicas (<http://
www.ufpi.br/subsiteFiles/lapnex/arquivos/files/metodos_clinicos_mc.pdf>).

Durante a análise da indicação, analisam-se o produto farmacêutico, a posologia e os


resultados de saúde do paciente obtidos, e são nesses quatro pontos que devemos ter
em conta em relação aos sinais e sintomas dos pacientes.

Com respeito à efetividade e à segurança, são conceitos que são tomados como dimensões
dos resultados que nos traz a farmacoterapia. E, por fim, a adesão do paciente somente
deve ser considerada após essa análise.

Logo após, concluída essa fase de avaliação, o farmacêutico deve elaborar um


plano de cuidado com o objetivo de resolver cada um dos problemas encontrados,
além de promover o alcance das metas terapêuticas e prevenir novos problemas
farmacoterapêuticos que podem surgir.

Com isso, será formulado um plano de cuidado para cada tratamento, havendo ou não
presença de PRM, e cada plano é registrado em um formulário próprio de uma página
ou de um arquivo.

Em seguida, é necessário monitorar a evolução do paciente a fim de observar se as


metas do plano de cuidado foram atingidas ou se novos problemas podem ter surgido.
O acompanhamento de cada problema de saúde é registrado separadamente em um
formulário, também de uma página.

Assim, do ponto de vista do registro, o prontuário de um paciente atendido sob


esse método constará de um formulário de avaliação inicial e tantos formulários de
plano de cuidado e monitorização quantos forem os problemas de saúde presentes
ou tratamentos em curso (<http://www.ufpi.br/subsiteFiles/lapnex/arquivos/files/
metodos_clinicos_mc.pdf>).

Os autores do Pharmacotherapy Workup propõem um método muito interessante.


Além de ser um método universal de atenção farmacêutica, muitos profissionais de
saúde podem utilizá-lo como base e pôr em prática sua atuação.

Therapeutic Outcomes Monitoring – TOM


A sigla TOM faz referência ao método Therapeutic Outcomes Monitoring, que, em
português, significa monitoração dos resultados terapêuticos.

95
UNIDADE V │ INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA

É um método que deriva do PWDT e se baseia em 10 passos:

1. coleta de informações;

2. identificação dos objetivos explícitos de cada prescrição;

3. avaliação do plano terapêutico;

4. desenvolvimento do plano de monitoração;

5. dispensação do medicamento;

6. entendimento do paciente;

7. implantação do plano terapêutico;

8. agendamento da nova visita/consulta;

9. avaliação do uso de medicamento em relação aos resultados;

10. resolução do PRM e/ou realização do plano adotado.

Então, os quatro métodos de seguimento e acompanhamento farmacoterapêutico que


podemos utilizar são:
1. SOAP;

2. PWDT;

3. TOM;

4. DÁDER.

Luz! Câmera e Ação!


Já sabemos que, para iniciar, o profissional deve estar atento aos seguintes pontos:

»» história de fatos clinicamente relevantes;

»» evitar interromper o paciente;

»» demonstrar interesse e empatia;

»» observar pequenos detalhes;

»» abordar história familiar e socioeconômica;

»» confirmar a história clínica;

»» manter sigilo profissional;

»» ser ético.
96
INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA │ UNIDADE V

A consulta pode ser considerada um ato demandado pelo paciente, ou seja, por sua própria
vontade, ou pela equipe de saúde em que o farmacêutico busca prevenir e resolver os
problemas relacionados à saúde e à farmacoterapia do paciente que foi à sua procura.

No hospital, por exemplo, o farmacêutico clínico deve ser capaz de interpretar a H.C. e,
a partir dela, obter a informação que pode relacionar ou influenciar na farmacoterapia
que, nesse momento, o paciente esta recebendo. Por isso, é importante conhecer o que
é uma História Clínica e seu conteúdo.

Em uma farmácia ou em um estabelecimento de saúde, devemos optar pelo mesmo


modelo e pelo conhecimento. Portanto, o primeiro passo no processo de momento na
farmacoterapia é a coleta de informação para criar um banco de dados ou uma História
Clínica Farmacêutica.

A história clínica farmacêutica será o motivo da consulta: a história da doença atual, a


história médica pregressa, histórico familiar e hábitos sociais. E o motivo é o porquê
de o paciente estar buscando o profissional, consistirá em um ou dois sintomas e será
descrito pelo próprio paciente.

Existem quatro tipos de História Clínica farmacêutica.

I. História da doença atual: tempo, início, frequência, localização, quantidade


e característica, entre outros, por exemplo, fatores que influenciam e
sintomas associados.

II. História médica pregressa: descrição breve dos problemas e ocorrências


anteriores, ocorrências médicas, que incluem hospitalização, consultas,
injúrias, obstetrícia no caso de mulheres, alergias, vacinas, doenças
comuns da infância, traumatismo.

III. Histórico Familiar: descrição breve de enfermidades na família, em


familiares diretos, câncer, diabetes, hipertensão arterial, problemas
psiquiátricos.

IV. Hábitos Sociais: uso de álcool, tabaco, drogas ilícitas, alimentação,


atividades físicas, meio sociais.

A adesão ao tratamento vai depender do paciente, de sua confiança e do seu interesse


no método.

Ela pode se apresentar de duas maneiras:

»» não adesão involuntária (não intencional) do paciente, que ocorre quando


o paciente apresenta dificuldade em cumprir o tratamento ou o segue de
forma inconsistente com as instruções do prescritor;
97
UNIDADE V │ INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA

»» não adesão voluntária do paciente, situação na qual o paciente decide


racionalmente não utilizar seus medicamentos ou o faz de forma diferente
das instruções do prescrito.

Pode-se perceber, com o relato do paciente, suas dificuldades para tomar os medicamentos,
quantas vezes esqueceu-se de tomar nesses últimos dias. Analisa-se mediante:

»» contagem dos comprimidos;

»» histórico de compra;

»» falha na resposta terapêutica.

Além da facilidade ou dificuldade de acesso aos medicamentos, condições


socioeconômicas e culturais, conhecimento sobre os medicamentos, capacidade
cognitiva, complexidade da farmacoterapia, aspectos religiosos, expectativas e medos
ligados ao tratamento, melhora ou agravamento da condição clínica, entre outros.

Todos esses fatores podemos utilizar para avaliar adequadamente como o paciente
faz uso dos medicamentos e de sua experiência de medicação. A responsabilidade
do profissional nesse caso será compreender a dimensão da adesão do paciente ao
tratamento e trabalhar a fim de que ela não seja um problema.

Finalmente, na relação “Farmacêutico-Paciente”, o objetivo da atuação do profissional


farmacêutico é atuar diante de:

»» metas terapêuticas;

»» intervenções terapêuticas;

»» prazo para retorno;

»» SOAP;

»» identificar PRM;

»» plano de cuidado.

Às vezes, será necessário o contato com o médico, que pode não ser simples, mas,
sempre que surgir essa necessidade, deverá ser realizado.

Como devemos realizar esse contato?

Muitas vezes, é inadequado pedir ao paciente que relate ao médico sugestões adquiridas
na farmácia, pois a informação pode chegar distorcida e gerar desentendimento.

98
INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA │ UNIDADE V

O ideal é realizá-la por meio de:

»» contato pessoal ou telefônico;

»» envio de carta escrita ao médico.

Quando o contato telefônico com o médico não estiver disponível ou for inoportuno,
a sugestão é elaborar um informe escrito, que também é conhecido como informe
terapêutico e é uma ferramenta poderosa de comunicação.

O paciente deve entregar o informe ou a carta ao médico, preservando a relação médico-


paciente.

Seu objetivo será apresentar um parecer farmacêutico, com a identificação de problemas


do paciente, e propor alternativas de resolução, deixando clara a responsabilidade
e o comprometimento do farmacêutico com a continuidade do cuidado e o trabalho
multidisciplinar.

Definir a volta e a nova consulta farmacêutica


Um medicamento pode ser considerado seguro quando não causa um novo problema
de saúde no paciente nem agrava um problema de saúde já existente. <http://www.
saude.sp.gov.br/resources/ipgg/assistencia-farmaceutica/otuki-metodoclinicoparaate
ncaofarmaceutica.pdf>.

Agendar o seguimento do paciente é um padrão de qualidade da atenção farmacêutica


e deve ser feito ou revisado sempre como parte do plano de cuidado, ao final da
consulta farmacêutica (<http://www.saude.sp.gov.br/resources/ipgg/assistencia-
farmaceutica/otuki-metodoclinicoparaatencaofarmaceutica.pdf>).

O tempo entre uma consulta e outra dependerá de muitos fatores, mas o principal é
esperar para observar resultados se é esse o objetivo.
Quadro 2.Tipos de intervenções farmacêuticas realizadas na Atenção Farmacêutica.

Modificar dose do medicamento


Modificação na quantidade do medicamento Modificar a frequência ou a duração do tratamento
Modificar os horários de uso do medicamento
Iniciar novo medicamento
Modificação na estratégia farmacológica Suspender um medicamento
Substituir um medicamento
Educar no uso do medicamento, facilitando a adesão
Educação do paciente Trabalhar nas atitudes do paciente
Educar sobre medidas não farmacológicas

Fonte: SABATER, FERNANDEZ-LLIMÓS; PARRAS, M.; FAUS, M. J. Tipos de intervenciones farmacêuticas em seguimento
farmacoterapeutico. Seguimiento Farmacoterapeutico 2005; 3(2):90-97.

99
UNIDADE V │ INTRODUÇÃO À SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA

Links interessantes:

<www.pharmaceutical-care.org>.

<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/PropostaConsensoAtenfar.pdf>.

<http://www.cff.org.br/sistemas/geral/revista/pdf/138/pb86web.pdf>.

100
Para (não) Finalizar

Epidemiologia, medicamentos e atuação


farmacêutica por meio da semiologia
Segundo a Anvisa, a definição de farmacoepidemiologia é aplicação do método e
raciocínio epidemiológico no estudo dos efeitos ─ benéficos e adversos ─ e do uso
de medicamentos em populações humanas. Foi reconhecida por meio da Portaria nº
3.916/MS/GM, de 30 de outubro de 1998.

Surge com a necessidade de avaliar os riscos associados ao emprego generalizado de


medicamentos e a vigilância de sua eficácia em condições normais de uso, efetividade
e uma junção de farmacologia clínica e da epidemiologia. Seu desenvolvimento está
centrado no estudo da segurança dos fármacos, sobretudo durante a etapa pós-
comercialização, e no âmbito dos estudos de utilização de medicamentos.

No Brasil, teve seu início quando Carlos da Silva Lacaz, médico, cientista e professor,
formado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, destacou-se no estudo
da medicina de doenças tropicais e, juntamente com seus colaboradores, publicou o
livro “Doenças Iatrogênicas”, no início da década de 1970, com o objetivo de alertar os
profissionais de saúde quanto ao risco relacionado ao uso dos medicamentos. Assim
podemos considerar o início das discussões relativas ao assunto farmacoepidemiologia.

Doenças Iatrogênicas para farmacologia são doenças ou alterações patológicas


resultantes de efeitos adversos dos medicamentos, que podem ocorrer devido a um erro
médico, uma negligência, ou imprudência e imperícia de algum profissional da área de
saúde, ou ainda devido ao uso inadequado de antibióticos e demais medicamentos por
diagnóstico equivocados, por automedicação, uso excessivo de medicamentos ou por
desinformação de como administrar a medicação, entre outros.

Observamos que os ensaios clínicos não são feitos sobre um número suficiente de
pacientes tratados durante um período suficientemente longo para permitir detectar
todos os efeitos indesejáveis do produto estudado e necessitam, às vezes, de muitos
recursos para sua realização, que infelizmente nem sempre está disponível. Os estudos
intensivos ou os estudos de coorte têm um custo muito elevado e nunca conseguem
pacientes suficientes para descobrir e finalizar um estudo com segurança, por exemplo,
de reações indesejáveis cuja incidência seja inferior a 1 para 5000 ou 10000 pacientes.

101
PARA (NÃO) FINALIZAR

Devido a esse motivo, é indispensável completar os conhecimentos de um medicamento


após sua comercialização.

A metodologia epidemiológica deve estar vinculada desde o começo a todos os processos


de planificação da saúde, a fim de conhecer as necessidades e as demandas da população,
mediante a uma nova análise e avaliação de necessidades básicas.

Seja em hospitais, clínicas, centros de unidades básicas, farmácias, assim como todas as
organizações relacionadas à atenção de serviços de saúde, necessitam de ferramentas
essenciais de epidemiologia.

A Farmacologia, como vimos, é essencial para a Saúde Pública, e a farmacovigilância


ocupa um lugar cada vez mais importante na avalição da relação risco/benefício de um
medicamento.

A notificação espontânea é uma fonte insubstituível de informações para esses objetos


de estudos. A equipe deve ser multidisciplinar, já que os médicos nem sempre são
formados ou sensíveis a essa atividade, não sendo o caso transformar todos os médicos
em especialistas da avalição de um medicamento.

Vale lembrar que as reações podem começar antes mesmo da utilização de um


medicamento. Por isso, ela deve ser estudada. Algumas surgem minutos ou horas
depois de seu primeiro uso. Sua evolução cronológica é muito importante: uma reação
que desaparece quando o tratamento é continuado tem poucas chances de decorrer do
produto utilizado, e uma reação que reaparece de forma idêntica sem a retomada da
administração do medicamento, vários dias depois, também tem poucas chances de ser
devido ao medicamento. Se reaparece após a volta da administração do medicamento,
tem grandes chances de ser devido ao seu uso.

Uma boa avaliação requer tempo, com dados bem precisos, como datas, horários
início e términos da administração do medicamento, e o tempo em que surge o efeito
indesejável ou a anomalia.

Hoje contamos com sistemas on-line de notificação. A Primeira Portaria é a Portaria CVS
4, publicada em 7 de maio de 2005, que atualiza e institui os formulários de notificação
de suspeita de RAM e desvio de qualidade, dispõe sobre seus fluxos e providências
correlatas.

Com respeito à Semiologia Farmacêutica e à Segurança no Uso Racional de


medicamentos, sabemos que muitos são os fatores que desencadeiam o uso irracional
de medicamentos. Vão desde o desconhecimento por parte do usuário, pelo acesso de
muitos medicamentos que não necessitam de receita médica sem orientação, até a falta

102
PARA (NÃO) FINALIZAR

de profissionais farmacêuticos habilitados ou a falta de atuação de Atenção e Assistência


Farmacêutica. Esses fatores permitem o uso de medicamentos desnecessários de forma
inadequada e propiciam uma terapêutica duvidosa.

Sabemos que, no Brasil, o cenário da assistência médica no setor público às vezes não é
fácil, e muitas vezes há uma sobrecarga na atenção particular.

Muitos recorrem à automedicação, buscando nas farmácias a resolução para os


seus sintomas mais comuns. No entanto, a automedicação, quando é realizada sem
a orientação adequada de um profissional da saúde, pode provocar agravos e muitos
efeitos indesejáveis.

Com a implantação de dispensação ativa, da qual o usuário recebe orientação


farmacêutica adequada quanto ao uso seguro dos medicamentos, como a indicação e
forma correta de administração, os benefícios seriam muitos maiores, englobando o tão
esperado tratamento de saúde efetivo e adequado, até o fator econômico. Aproveitemos
que os olhos estão voltados à Semiologia Farmacêutica.

Aproveitemos para criar e crescer nessa prática profissional, e utilizemos a participação


do profissional na dispensação de medicamentos de venda livre para ajudar o paciente
a obter sucesso no seu tratamento e manter a sua saúde.

Assim, ele agradece, a população agradece (não passa a ser um problema generalizado),
e nós, outros profissionais farmacêuticos, também agradecemos.

103
Referências
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