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Ambientes de Tratamento,Elaboração

e Execução de Projetos para


Dependência Química

Brasília-DF.
Elaboração

Juliana de Almeida Castro Marinho Meirelles

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO................................................................................................................................... 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO
DE ESTUDOS E PESQUISA...................................................................................................................... 5

INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 7

UNIDADE I
AMBIENTES DE TRATAMENTO.................................................................................................................. 9

CAPÍTULO 1
ABORDAGENS E TRATAMENTO EM DIVERSOS SETTINGS TERAPÊUTICOS...................................... 11

UNIDADE II
ELABORAÇÃO E EXECUÇÃO DE PROJETOS PÚBLICOS E PRIVADOS DEPENDÊNCIA QUÍMICA................... 59

CAPÍTULO 1
PROJETOS PÚBLICOS E PRIVADOS, RASTREIO, DIAGNÓSTICO E ADESÃO................................... 60

UNIDADE III
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR NO TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA............................................... 69

CAPÍTULO 1
PERFIL DOS PROFISSIONAIS, DISCUSSÃO PERIÓDICA, INDIVIDUALIZAÇÃO DE FUNÇÕES E
COLETIVIZAÇÃO DE CONDUTAS............................................................................................. 70

PARA (NÃO) FINALIZAR....................................................................................................................... 74

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 75
APRESENTAÇÃO
Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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ORGANIZAÇÃO DO CADERNO
DE ESTUDOS E PESQUISA
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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INTRODUÇÃO
Segundo o Ministério da Saúde, 3% da população mundial apresentam transtornos mentais graves
e persistentes, necessitando de cuidados contínuos, e 9 a 12% apresentam transtornos mentais
leves, também necessitando de cuidados eventuais (FAVARO, 2012; Secretaria de Atenção à Saúde,
2009). E em torno de 6% apresentam uso prejudicial do álcool e de outras drogas, execto tabaco.
(FAVARO, 2012; MCAVOY, 2000).

O Relatório Mundial de Drogas faz uma estimativa de 18 e 38 milhões de usuários entre 15 e 64


anos, de substâncias psicoativas de forma problemática, uma estimativa bastante alta e com grande
impacto sobre a saúde pública. (FAVARO, 2012; MARQUES, 2004).

Não existe uma fórmula única no tratamento da dependência química. Os pacientes usam substâncias
diferentes em quantidade e maneiras diferentes e o tratamento, portanto, não pode ser igual. Alguns
poderão se tratar ambulatorialmente em Centros de Atenção Psicossocial ou Ambulatórios Médicos
Especializados, outros precisarão de internação.

Devido à complexidade dos casos, dos níveis de gravidade da dependência, dos fatores que influenciam
a continuidade do uso de álcool e /ou drogas e da dificuldade de cessação desse consumo, existem
diferentes ambientes de tratamento para cada indivíduo em específicos momentos do tratamento,
visando a sua dificuldade no autocontrole, ao suporte social e/ou familiar, a comorbidades etc.

Após a segunda metade do século XX, surgiram os novos modelos de tratamento contemporâneos,
com a concepção de dependência química como uma doença de natureza biológica, psicológica e
social. (RIBEIRO, 2010; GRANT, 1999).

E como saber qual o melhor tipo de tratamento para cada paciente?

Nesta disciplina você irá conhecer cada ambiente de tratamento e suas especificidades. Um
tratamento para ser efetivo deve conduzir o paciente a reduzir ou interromper o consumo de
substâncias psicoativas e melhorar a saúde clínica, prevenir danos e aumentar seu desenvolvimento
social.

É uma tarefa difícil organizar esse tipo de serviço, pois envolve muitas variáveis. Deve ser
interdisciplinar, construído com base nas necessidades dos pacientes, ter parcerias locais e envolver
familiares nos cuidados oferecidos. (RIBEIRO, 2010).

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Objetivos
»» Conhecer diferentes ambientes de tratamento para a dependência química.

»» Conhecer os tipos de tratamento indicados para cada paciente.

»» Capacitar elaboração e execução de projetos públicos e privados para dependência


química.

»» Atualizar-se sobre os instrumentos atuais de rastreio para a dependência química


e diagnóstico.

»» Refletir sobre a adesão ao tratamento e a equipe multiprofissional – a importância


das discussões periódicas, das condutas individuais e coletivas.
AMBIENTES DE UNIDADE I
TRATAMENTO

Uma das dúvidas mais frequentes de familiares de dependentes químicos é se a


internação é melhor que o tratamento ambulatorial, entre os modelos de ambiente
de tratamento existentes.

Nem sempre. Não existe nenhuma garantia que o paciente internado terá melhor evolução se ficar
internado. A internação pode ser muito útil para pacientes que não conseguem iniciar a abstinência,
para fazer a desintoxicação e perceberem os problemas relacionados à dependência química.

Quanto maior o tempo de internação melhor para o paciente?

Não! O tempo de internação mais prolongado tanto pode ser útil quanto pode ser prejudicial para o
paciente. O tempo, apenas pelo tempo, em nada muda a evolução da doença do paciente internado.
Alguns pacientes internados por muito tempo saem e voltam ao vício. Mais importante que o tempo
de internação é o que é feito pelo paciente enquanto este estiver internado.

O ambiente, a composição da equipe profissional e o tipo de tratamento constituem o enquadramento


terapêutico. Essa organização interna determina o programa de atendimento. (RIBEIRO, 2010;
OPAS, 2000).

Para iniciarmos o assunto, vamos entender os níveis de atenção, avaliação e competência para o
tratamento da dependência química. (RIBEIRO, 2010; NHS, 2006).

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UNIDADE I │AMBIENTES DE TRATAMENTO

NÍVEL TIPO DE AVALIAÇÃO COMPETÊNCIA AMBIENTES


1 Identificação simples Encaminhamento Centros médicos de
da presença do a serviços outras especialidades
uso de substâncias especializados. – unidades de doença
psicoativas. do fígado, UTI, centro
cardiológico etc.
2 Triagem inicial. Encaminhamento Unidade primária de
a serviços saúde.
especializados.
Centros psicológicos
Intervenções em empresas, escolas,
motivacionais breves. prisões e albergues.
3 Avaliação clínica, Elaboração do plano Unidades de
motivacional, de cuidados. atendimento
psiquiátrica e ambulatorial.
neuropsicológica. Gerenciamento de
caso por profissional Hospital-dia/Hospital
de referência. noite.

Intervenções
psicossociais
estruturadas.
4 Avaliação clínica, Internações para Unidades
motivacional, desintoxicação. hospitalares para
psiquiátrica e desintoxicação.
neuropsicológica. Internações
estruturadas de longa Comunidades
Intervenções em duração. terapêuticas.
ambiente fechado.
Programas de apoio à Clínicas de
moradia. tratamento.

Moradias assistidas.
(RIBEIRO, 2010; HD 2007).

Importante ressaltar que a avaliação clínica geral é fundamental em qualquer ambiente de


tratamento, pois o paciente expõe-se a diversas complicações físicas decorrentes do consumo, como
doenças pulmonares, cardiovasculares, desnutrição, infecções, contusões devido a acidentes ou
brigas. O autocuidado prejudicado em detrimento do consumo de álcool e outras drogas exige uma
investigação de seu estado clínico.

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CAPÍTULO 1
Abordagens e tratamento em diversos
settings terapêuticos

Abordagens e tratamento em unidade básica


de saúde (ubs)
A rede primária de atendimento é, cada vez mais, valorizada por tratar, de maneira eficiente,
indivíduos com problemas relacionados ao consumo de álcool e drogas. Atualmente, as intervenções
breves são efetivas na motivação para a mudança, podendo ser um importante centro diagnóstico,
motivador e terapêutico para os dependentes químicos. (RIBEIRO, 2010).

Um pouco de história
A conferência da Alma Ata, realizada em 1978, simbolizou o início de um processo de redirecionamento
do modelo assistencial, reafirmando a saúde como um direito fundamental na organização das
políticas de saúde no mundo. Esse marco histórico criou a Atenção Primária à Saúde (APS) como
estratégia para atingir a equidade e a universalidade no âmbito dos sistemas de saúde, por responder
às necessidades de saúde da população, realizando serviços preventivos, curativos, reabilitadores e
de promoção de saúde. (FAVARO, 2012; ANDRADE et. al., 2005).

Em 1990, na formação do Sistema Único de Saúde no Brasil, ocorreram formulações de políticas


públicas de saúde que culminaram com a Implantação do Programa Saúde da Família (PSF). Com
os princípios de atuação voltados para a pessoa na interlocução com seu contexto, a intenção
era de agir não só apenas sobre a doença, mas incentivar a promoção de saúde, a prevenção e a
reorganização da demanda, não iria se esperar mais que as pessoas buscassem os serviços e sim que
os serviços buscassem as pessoas. (FAVARO, 2012; CONILL, 2008; VIANA, 1998).

Para CAMPOS (1999), segundo Favaro (2012), uma equipe de PSF é formada pela seguinte formação.

»» Um médico generalista ou médico de família.

»» Um enfermeiro.

»» Um a dois auxiliares de enfermagem.

»» Quatro a seis agentes comunitários de saúde.

Em uma UBS, pode haver várias equipes de PSF, que são divididas por regiões. Cada equipe é
responsável por, aproximadamente, 800 a mil famílias cadastradas. Os profissionais de referência
na equipe devem ser como gerentes de caso, aplicar projetos terapêuticos individuais, de grupo ou
coletivas.

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UNIDADE I │AMBIENTES DE TRATAMENTO

“Os ACS são o elo entre a equipe e a comunidade, em geral, é alguém que se destaca na comunidade,
pela capacidade de se comunicar e pela liderança que exerce”. (FAVARO, 2012; BORNSTEIN, 2010).

A atenção primária diferencia-se da secundária e da terciária por se dedicar aos problemas mais
frequentes, que estão em fases iniciais. Segundo Duncan e colaboradores (2004), citado por Favaro
(2012), são quatro os principais princípios dessa atenção à saúde, assim definidos.

PRIMEIRO CONTATO: “porta de entrada” para o sistema de saúde, identificada pela população
e pela equipe como primeiro recurso.
LONGITUDINABILIDADE: responsabilidade pelos indivíduos ao longo do tempo,
independentemente da presença de doenças.
INTEGRALIDADE: capacidade de atender a todos os tipos de necessidades de saúde, incluindo
o encaminhamento para cuidados secundários e terciários e para serviço de suporte essencial,
como internação domiciliar ou serviços comunitários.
COORDENAÇÃO: capacidade de coordenar os cuidados às necessidades dos indivíduos, de suas
famílias e da comunidade.

A demanda
O aumento do consumo de substâncias fez crescer a procura por tratamento, que não é apenas
suprida pelos centros de tratamento especializado. A população costuma procurar ainda mais o
clínico do que o especializado, e é nesse ambiente da rede primária que as intervenções breves são
efetivas na motivação dos usuários de álcool e drogas para a mudança.

A assistência
Os casos mais simples são tratados por médicos generalistas que são capacitados para a aplicação da
intervenção breve e para a medicação desses pacientes. E os casos mais complexos são encaminhados
para um ambulatório especializado. (RIBEIRO, 2010).

Entre os casos mais simples, as intervenções breves são muito utilizadas nas Unidades Básicas de
Saúde (UBSs), que auxiliam na identificação de problemas do uso de substâncias psicoativas ou de
riscos associados por meio de instrumentos de rastreamento.

Por exemplo, o Alcohol Use Disorder Identification Test – AUDIT oferece orientações,
aconselhamento e, em algumas situações, realiza monitoramento periódico das metas assumidas
voluntariamente pelos pacientes. Essas intervenções podem ser inseridas nas consultas médicas, de
enfermagem e de técnicos em enfermagem, assim como de Agentes Comunitários de Saúde (ACS).
(FAVARO, 2012; MARQUES, 2004).

Na atenção primária, os ACS são os profissionais que garantem uma intervenção antes que o padrão
de uso cause danos à saúde ou progrida para a dependência – intervenção breve. (FAVARO, 2012;
MINTO et. al., 2007).

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AMBIENTES DE TRATAMENTO│ UNIDADE I

A intervenção breve é uma técnica de tratamento em curto prazo, ou seja, de orientação breve e
focal, dirigida às pessoas que fazem uso nocivo de álcool em níveis que podem causar riscos à saúde
ou à vida social, mas que ainda não desenvolveram dependência.

Segue o AUDIT, instrumento muito utilizado na atenção primária.

Teste para avaliação de consumo de bebidas alcoólicas

1. Com que frequência você consome bebidas alcoólicas (cerveja, vinho, cachaça etc.)?

(0) Nunca

(1) Uma vez por mês ou menos

(2) 2 a 4 vezes por mês

(3) 2 a 3 vezes por semana

(4) 4 ou mais vezes por semana

2. Quantas doses, contendo álcool, você consome num dia em que normalmente bebe?

(1) 1 a 2

(2) 3 a 4

(3) 5 a 6

(4) 7 a 9

(5) 10 ou mais

3. Com que frequência você consome 6 ou mais doses de bebida alcoólica em uma única ocasião?

(0) Nunca

(1) Menos que mensalmente

(2) Mensalmente

(3) Semanalmente

(4) Diariamente ou quase diariamente

4. Com que frequência, durante os últimos doze meses, você percebeu que não conseguia parar de
beber uma vez que havia começado?

(0) Nunca

(1) Menos que mensalmente

13
UNIDADE I │AMBIENTES DE TRATAMENTO

(2) Mensalmente

(3) Semanalmente

(4) Diariamente ou quase diariamente

5. Com que frequência, durante os últimos doze meses, você deixou de fazer algo ou atender a um
compromisso devido ao uso de bebidas alcoólicas?

(0) Nunca

(1) Menos que mensalmente

(2) Mensalmente

(3) Semanalmente

(4) Diariamente ou quase diariamente

6. Com que frequência, durante os últimos doze meses, você precisou de uma primeira dose, pela
manhã, para sentir-se melhor depois de uma bebedeira?

(0) Nunca

(1) Menos que mensalmente

(2) Mensalmente

(3) Semanalmente

(4) Diariamente ou quase diariamente

7. Com que frequência você se sentiu culpado ou com remorso depois de beber?

(0) Nunca

(1) Menos que mensalmente

(2) Mensalmente

(3) Semanalmente

(4) Diariamente ou quase diariamente

8. Com que frequência, durante os últimos doze meses, você não conseguiu lembrar-se do que
aconteceu na noite anterior porque havia bebido?

(0) Nunca

(1) Menos que mensalmente

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AMBIENTES DE TRATAMENTO│ UNIDADE I

(2) Mensalmente

(3) Semanalmente

(4) Diariamente ou quase diariamente

9. Você ou outra pessoa já se machucou devido a alguma bebedeira sua?

(0) Nunca

(2) Sim, mas não nos últimos 12 meses

(4) Sim, nos últimos 12 meses

10. Algum parente, amigo, médico ou outro profissional de saúde mostrou-se preocupadocom seu
modo de beber ou sugeriu que você diminuísse a quantidade?

(0) Nunca

(2) Sim, mas não nos últimos 12 meses

(4) Sim, nos últimos 12 meses

ESCORE TOTAL _______

Para obter o resultado, deve-se somar os pontos de cada questão respondida.

A soma de oito (8) ou mais pontos indica uso excessivo de bebida alcoólica, com alto
risco para a saúde.

O quadro a seguir exemplifica o tipo de intervenção que deve ser realizada conforme o resultado de
acordo com os problemas decorrentes do uso.

Identificação/Classificação do nível de risco

Nível de risco Tipo de intervenção Pontuação no AUDIT

Zona I Educação para o uso de álcool 0-7


Zona II Aconselhamento simples 8-15
Zona III Aconselhamento simples mais 16-19
psicoterapia breve e monitoramento
contínuo
Zona IV Encaminhamento para especialista para 20-40
avaliação diagnóstica e tratamento

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UNIDADE I │AMBIENTES DE TRATAMENTO

Orientações para planejar as sessões na prática, de acordo com cada tipo de resultado. Na minha
prática profissional, trabalho com seis sessões estruturadas, que podem ter duração de 30 minutos
cada.

1a sessão

»» Resultado da pontuação no AUDIT ao cliente, esclarecer o seu significado e qual a


carga de risco associada àquela pontuação obtida.

»» Estabelecimento uma meta de tratamento em acordo com o cliente.

»» Estabelecimento de contrato (horário, número de consultas e frequência).

»» Aconselhamento/sugestão de redução do consumo do álcool, em frequência e/ou


quantidade em acordo com o cliente.

2a Sessão

»» Negociação da meta de tratamento de acordo com o nível de risco que o cliente


apresentar.

Zona I

»» Avaliação da tentativa de redução do consumo do álcool desde a última sessão.


Avaliar se o cliente conseguiu cumprir as metas e trabalhar as dificuldades
encontradas.

»» Avaliação de padrão de consumo atual.

»» Avaliação do estágio motivacional segundo o modelo de Prochascka (utilizar


técnicas da entrevista motivacional).

»» Reavaliação das metas de tratamento em acordo com o cliente.

»» Educação sobre o uso de álcool. Oferecer informações sobre uso, abuso, dependência
e riscos para saúde.

»» Ênfase no que já foi atingido.

»» O quadro de Vantagens e Desvantagens (para ser preenchido e entregue na próxima


sessão ou realizar com o próprio paciente na sessão).

Modelo de Prochaska e DiClemente (Edwards et. al., 2005) sobre os Estágios de


Motivação para a mudança.

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AMBIENTES DE TRATAMENTO│ UNIDADE I

Avaliação das Vantagens e Desvantagens do Consumo

NOME: ___________________________________________________________
DATA:___/____/____

VANTAGENS DESVANTAGENS

BEBER

»» Material didático informativo sobre o uso do álcool.

»» Agendamento do retorno para a semana seguinte.

Zona II e III

»» Avaliação da tentativa de redução do consumo do álcool desde a última sessão.

»» Verificação se o cliente conseguiu cumprir as metas e trabalhar as dificuldades


encontradas.

»» Avaliação de padrão de consumo atual.

»» Investigação sobre a representação que o consumo de álcool tem para ele, o que
entende sobre esse consumo.

»» Avaliação do estágio motivacional segundo o modelo de Prochaska.

»» Educação sobre o uso noviço de álcool. Oferecer informações sobre uso, abuso,
dependência e riscos para saúde.

»» Aconselhamento simples. Trabalhar a meta de uso nocivo para um beber controlado.

»» Reforço positivo diante das metas de redução/abstinência alcançadas.

»» Situação das metas de tratamento em acordo com o cliente.

»» Estímulo do cliente em relação a atividades em que possa se engajar para o bem


estar físico, mental e espiritual (instituições referenciadas).

17
UNIDADE I │AMBIENTES DE TRATAMENTO

»» O quadro de Vantagens e Desvantagens a ser preenchido e entregue na próxima


sessão.

»» Material didático informativo sobre o uso do álcool.

»» Agendamento do retorno.

Usar Técnicas da
Sempre lembrar de: Entrevista Motivacional

Sobre os Princípios da Entrevista Motivacional, assistindo à aula segundo os autores


MILLER & ROLLNICK <http://www.uniad.org.br/desenvolvimento/index.php/
ensino/material-didatico>

3a Sessão – Técnicas de modificação de comportamento (tanto para Zona I para Zona II e Zona III).

»» Avaliação da tentativa de redução do consumo do álcool desde a primeira sessão.

»» Verificação do cumprimento das metas e trabalho com as dificuldades encontradas.

»» Avaliação de padrão de consumo atual.

»» Reforço positivo diante das metas de redução/abstinência alcançadas e ganhos com


o tratamento desde a primeira sessão.

»» Conteúdo preenchido no quadro de Vantagens e Desvantagens, compreendendo a


percepção do cliente sobre os riscos e benefícios do uso do álcool.

»» Estimulação do cliente para atividades em que possa se engajar para o bem estar
físico, mental e espiritual (instituições referenciadas).

»» Identificação de alguém próximo do cliente que possa ajudá-lo a evitar as situações


que o faz beber (familiar/amigo). Usar quadro de FATORES PROTETORES E
MANTENEDORES e, após essa atividade, agendar retorno.

LISTE OS FATORES PROTETORES E MANTENEDORES DO CONSUMO

NOME:_____________________________________________________________
DATA:_____/_____/____

PROTETORES MANTENEDORES

18
AMBIENTES DE TRATAMENTO│ UNIDADE I

4a Sessão – Avaliação e sensibilização das discrepâncias (tanto para Zona I, quanto para Zona II e
Zona III).

»» Avaliação das dificuldades encontradas em cumprir com as metas estabelecidas


durante o tratamento.

»» Avaliação de padrão de consumo atual.

»» Ênfase nas metas alcançadas.

»» Feedback das escolhas de atividades em que se enganou para o bem estar físico,
mental e espiritual (sugeridas na última sessão).

»» Avaliação do conteúdo preenchido no quadro de Fatores Protetores e Mantenedores.

»» Trabalho com as discrepâncias encontradas e discussão de estratégias para enfrentá-


las.

»» Avaliação da percepção que o cliente teve do tratamento e estímulo da motivação


para o seguimento da manutenção das mudanças alcançadas.

»» Avaliação do progresso das intervenções até o momento e verificação da necessidade


de encaminhamento para seguimento com outro profissional para manejo de
quadros comórbidos.

Usar Técnicas da
Sempre lembrar de: Entrevista Motivacional

5a Sessão – Seguimento de Zona I, Zona II e Zona III (de 30 e 60 dias pós-intervenção breve)

»» Escuta reflexiva sobre a condição atual do cliente (biopsicossocial).

»» Avaliação de padrão de consumo atual (QUADRO II).

»» Estímulo da autoeficácia do paciente em relação à abstinência/redução alcançada.

»» Sugestão de tratamento especializado, em caso negativo de redução do uso do álcool


e/ou aumento deste.

6a Sessão – Seguimento de Zona II e Zona III

»» Escuta reflexiva sobre a condição atual do cliente (biopsicossocial).

»» Avaliação de padrão de consumo atual (QUADRO II).

»» Estímulo da autoeficácia do cliente em relação à abstinência/redução alcançada.

»» Sugestão de tratamento especializado, em caso negativo de redução do uso do álcool


e/ou aumento deste.

19
UNIDADE I │AMBIENTES DE TRATAMENTO

Vale ressaltar que o foco da entrevista, seja por um médico generalista ou especialista, deve ser
pautado na aliança terapêutica, pois muitos pacientes chegam ao serviço de saúde levados pela
família e tendem a minimizar o padrão de uso e sintomas. Devem ser feitas perguntas abertas
e não confrontativas.

Um recurso da própria comunidade são os de grupos de mútua ajuda próximos ao seu bairro, tais
como Narcóticos Anônimos (NA), Alcoólicos Anônimos (AA), Amor‑Exigente e Nar‑Anon. Os
pacientes e familiares podem ser encaminhados para participar.

Em resumo, de maneira geral, caso não siga o protocolo sugerido, na primeira consulta, pode-se
realizar avaliação clínica e abordagem terapêutica inicial, com os seguintes objetivos.

»» Tratar qualquer emergência relacionada à intoxicação aguda ou a abstinência de


substâncias.

»» Realizar um diagnóstico precoce sobre o consumo de drogas.

»» Identificar complicações clínicas e possíveis prejuízos sociais.

»» Investigar comorbidades psiquiátricas.

»» Motivar os indivíduos para a mudança.

»» Estabelecer vínculo com o paciente.

»» Determinar o nível de atenção especializada de que o paciente necessitará.

(FAVARO, 2012)

O autor cita ainda alguns modelos que sugerem o atendimento comparti­lhado entre profissionais
ou entre serviços.

»» Acompanhamento mais intensivo de paciente que saiu recentemente de internação.

»» Atendimento multidisciplinar no contexto da atenção primária.

»» Encaminhamento para serviços de referência, de acordo com as necessidades


clínicas do paciente.

»» Supervisão da equipe por profissional ou serviço especializado (matriciamento).

»» Atenção para grupos de maior vulnerabilidade (pessoas em situação de rua,


trabalhadores do sexo, imigrantes etc.).

As intervenções possíveis feitas pela equipe mul­tiprofissional na atenção primária, baseadas nesses
modelos, incluem o seguinte.

1. Informações e orientações

»» Informações sobre o uso e os efeitos do álcool e das diferentes drogas.

20
AMBIENTES DE TRATAMENTO│ UNIDADE I

»» Complicações clínicas, psiquiátricas e gestacionais.

»» Orientação para parar o uso indevido de substâncias.

»» Informações sobre como reduzir o potencial de risco.

»» Informações sobre como e onde procurar ajuda para o problema relacionado com o
uso de substâncias.

»» Informações sobre como e onde procurar ajuda para outros problemas, como saúde
sexual.

»» Informações para parceiros e familiares sobre uso indevido de substâncias e


tratamento.

»» Aconselhamento sobre comportamento sexual de risco.

»» Informações sobre grupos de apoio, como os grupos com base nos 12 passos.

2. Intervenções relacionadas à redução de danos

»» Tratamento de complicações clínicas, como abscessos relacionados às vias de


acesso.

»» Orientações sobre risco de overdose.

»» Aconselhamento e testagem para HIV e hepatites virais.

»» Vacinação para hepatite B.

A avaliação clínica nesse contexto


A avaliação clínica deve ser uma anamnese clínica geral e uma anamnese específica, direcionada
para o consumo de substâncias (realizada pelo médico clínico geral).

Deve-se investigar quais as vias utilizadas, qual o ambiente de consumo e qual o intervalo máximo
que consegue ficar sem utilizar a substância.

Alguns desses dados podem ser indicado­res de maior gravidade, tanto pelo consumo quanto pela
exposição a fatores de risco, sintomas clínicos relacionados à abstinência ou a complicações do uso
crônico, como, por exemplo:

»» tremores matinais e alterações na pressão arterial associados à abstinência de


álcool;

»» irritação das conjuntivas, sugestivo do uso de maconha;

»» irritação nasal, sugestivo do uso de cocaína inalada.

21
UNIDADE I │AMBIENTES DE TRATAMENTO

Avaliar se há algum tipo de prejuízo decorrente do consumo de substâncias, como problemas


conjugais e familiares, problemas financeiros, perda do emprego ou mudança frequente de emprego,
acidentes de trânsito e envolvimento em situações de violência, é outra abordagem necessária.

Investigar ainda se existem antecedentes pessoais e fami­liares de comorbidades psiquiátricas e se


os transtornos psiquiátricos existentes são secundários ao uso de subs­tâncias.

Averiguar se existem problemas sociais ou familiares que reforcem o uso da substância. Também é
importante questionar se já houve tentativa previa de interromper o uso ou se já realizou tratamentos
anteriores. (FAVARO, 2012; DUNCAN et. al., 2004; LARANJEIRA, 2003).

1. Prescrições médicas, sob supervisão de equipe espe­


cializada ou em
atendimento compartilhado (matri­ciamento)

»» Prescrição para síndrome de abstinência de álcool leve ou moderada.

»» Prescrição para síndrome de abstinência de benzodiazepínicos leve.

»» Prescrição de sintomáticos para usuários de estimulantes.

»» Prescrição de medicamentos do tratamento supervisionado feito na UBS.

»» Investigação e acompanhamento de complica­ções clínicas relacionadas ao uso


indevido de substâncias.

»» Investigação de comorbidades psiquiátricas e encaminhamento para serviços de


referência.

2. Outras intervenções psicossociais

»» Estas intervenções podem ser feitas individualmente ou em grupos – de preferência


por profissionais com treinamento no assunto.

»» Grupos de famílias de usuários.

»» Grupos de acolhimento.

»» Grupos de motivação.

»» Grupos de prevenção de recaída.

»» Grupos educacionais.

»» Grupos para atividade física.

»» Grupos de terapia comunitária.

22
AMBIENTES DE TRATAMENTO│ UNIDADE I

Os pacientes que já tiveram várias tentativas de se manter abstinentes e não


obtiveram sucesso e/ou com comorbidades psiquiátricas devem ser encaminhados
para serviço de referência na rede ou para especialista. A equipe deve sempre se
capacitar, participar de treinamentos para poder estabelecer uma rede eficiente de
serviços integrados como retaguarda da atenção secundária e terciária. (FAVARO,
2012).

MARQUES, Ana Cecília Petta Roselli; FURTADO, Erikson Felipe. Intervenções breves
para problemas relacionados ao álcool. Rev. Bras. Psiquiatr. São Paulo, 2010.

BABOR TF; HIGGINS-BIDLLE, JC; SAUNDERS, JB; MONTEIRO, M. The alcohol use
disorders identification test: guidelines for use in primary care: AUDIT. 2nd ed.
Geneva: World Health Organization; 2001.

SILVA, Cláudio Jerônimo; CASTRO, Luís André P. G.; LARANJEIRA, Ronaldo.


Diagnóstico e tratamento da dependência e uso nocivo do álcool. UNIAD. Unidade
de Pesquisa em Álcool e Drogas Departamento de Psiquiatria. Universidade Federal
de São Paulo/Escola Paulista de Medicina UNIFESP/EPM.

RONZANI, Telmo; MOTA et. al. Implantação de rotinas de rastreamento do uso de


risco de álcool e de uma intervenção breve na atenção primária à saúde: dificuldades
a serem superadas. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21, no. 3, junho 2005.

1. Aplique o questionário AUDIT em um paciente que você imagine estar abusando


de bebidas alcoólicas ou treine com um colega, caso não esteja atendendo, no
momento, e a partir do escore total, planeje seu atendimento com as devidas
intervenções, seguindo as zonas citadas.

2. Imagine-se desenvolvendo uma atividade ou evento de prevenção ou promoção


de saúde em sua região, ou da região onde trabalha. Que problema de saúde e para
que população você se direcionaria?

Escreva um pequeno texto de como seria essa ação.

Abordagens e tratamento em Centro de


Atenção Psicossocial (CAPS – álcool e drogas)

Conceito e história
“O CAPS é uma instituição destinada a acolher pacientes com transtornos mentais, estimular sua
integração social e familiar, apoiar suas iniciativas de busca pela autonomia e oferecer atendimento
médico e psicológico”. (MARQUES, 2011)

23
UNIDADE I │AMBIENTES DE TRATAMENTO

A principal característica desse tipo de tratamento é integrar os pacientes a um ambiente social e


cultural, onde se desenvolve sua vida quotidiana e de sua família.

Os CAPS foram a principal estratégia do processo de reforma psiquiátrica na década de 1980. Em


São Paulo, o primeiro foi a CAPS Itapeva, como instância intermediária entre o hospital psiquiátrico
e o ambulatório de saúde mental.

Em 1989, um projeto de lei do deputado Paulo Delgado chegou ao Congresso Nacional.

Os CAPS que atendem dependentes químicos são chamados CAPS AD (álcool e drogas). Mesmo nos
CAPS AD existem diferentes tipos de tratamento: alguns pacientes comparecerão poucas vezes ao
mês; outros, com frequência menor, e alguns participam do hospital dia.

Tanto o atendimento nos CAPS AD quanto nas unidades ambulatoriais


de álcool e drogas são de tratamento multidisciplinar. Os profissionais
são capacitados para o diagnóstico e manejo de casos difíceis e atuam com
abordagens mais especializadas na sua área de atuação. São referências para
as unidades primárias de saúde e hospitais gerais e psiquiátricos. Importante
ressaltar que, podem estar preparados para promover atividades de pesquisa,
ensino, capacitação e prevenção. (RIBEIRO; 2010, P. 592)

ENRIQUECENDO INFORMAÇÕES

Livro base para quem se interessa em desenvolver pesquisa, ensina epidemiologia e


metodologia. Ótima ferramenta para que seu estudo tenha um desenho adequado
para o os objetivos que você determinou.

Fletcher RH; Fletcher SW. Epidemiologia clínica: elementos essenciais.


4 ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. p. 154-178.

Para implantação de um serviço de atendimento ambulatorial, devem ser


considerados alguns aspectos importantes, como saber diferenciar os ambulatórios
especializados dos ambulatórios gerais.

O enquadre terapêutico é composto pela equipe, pelas estratégias e metas


terapêuticas e as intervenções de apoio.

A dependência química por ser uma doença complexa, exige um tratamento


personalizado e também complexo, sendo mais apropriada a organização de
ambulatórios específicos, para atender os usuários de maconha, álcool, cocaína e
as populações especiais (mulheres, adolescentes). Abordaremos esse assunto da
inclusão das populações especiais num próximo caderno de estudos.

Nas intervenções psicossociais, as técnicas mais utilizadas no tratamento ambulatorial são estas.

»» Entrevista motivacional.

»» Terapia cognitivo comportamental (TCC).

24
AMBIENTES DE TRATAMENTO│ UNIDADE I

»» TCC das habilidades sociais e de enfrentamento de situações de alto risco.

»» TCC na prevenção da recaída.

AME PSIQUIATRIA
Desde 2010, em São Paulo, foi inaugurado o Ambulatório Médico de Especialidades em Psiquiatria
– Dra. Jandira Masur, localizado na cidade de São Paulo, na microrregião Vila Maria/Vila
Guilherme, com população de 294.387 pessoas. Os objetivos da unidade são otimizar o atendimento
a pacientes com transtornos mentais graves com perfil ambulatorial (não intensivo), complementar
e fortalecer o atual sistema de atendimento em saúde mental (CAPS), referência de atendimento
ambulatorial para UBS, CAPS, CECCO e NASF, e manter intercâmbio técnico com as universidades.
São cinco especialidades – linhas de cuidado: Psicogeriatria; Álcool e drogas; Psiquiatria infantil
e da adolescência; Transtornos psicóticos e Transtornos afetivos e de ansiedade. O atendimento é
oferecido à pacientes com perfil ambulatorial e quadros psiquiátricos de intensidade moderada a
grave e perfil ambulatorial, com manejo clínico difícil, necessitando estratégias terapêuticas mais
complexas, com dúvida diagnóstica, recém-saídos de internação psiquiátrica (PAI-ZN e Storopolli)
e com perfil ambulatorial.

Vou, agora, apresentar a vocês como funciona o serviço oferecido pelo Programa de Álcool e Drogas
do AME, que pode ser dividido em quatro fases:

Fase I: Diagnóstico, Psicodiagnóstico e Planejamento da Intervenção

Fase II e III: Intervenção

Fase IV: Alta/Encaminhamento

Fase I: Diagnóstico e Planejamento da


Intervenção
Após a triagem e o encaminhamento para a equipe de álcool e drogas, o paciente passa a receber
todas as avaliações necessárias para se alcançar um diagnóstico adequado. Assim, dependendo da
dificuldade de se estabelecer o diagnóstico correto, este processo pode ter uma duração variável de
1 a 4 semanas.

Obtido o diagnóstico, a equipe de álcool e drogas discute a estratégia de intervenção mais adequada
para aquele específico paciente bem como das metas a serem alcançadas com esse tratamento.
Esta decisão será tomada nas reuniões semanais da equipe onde todos os especialistas estarão
presentes. Isto significa que, embora a maior parte das intervenções seja estruturada em grupos
(para garantir um maior fluxo de pacientes na unidade), o planejamento de intervenção de cada
paciente é individualizado.

25
UNIDADE I │AMBIENTES DE TRATAMENTO

Os procedimentos que constituem a primeira fase são os seguintes.

1. Diagnóstico realizado pelo médico/enfermagem (1-2 encontros).

2. Psicodiagnóstico realizado pelos psicólogos e terapeutas ocupacionais. Avaliação do


histórico e do padrão de uso de substâncias. Aplicação do ASSIST, Fargestron e do
URICA (1-2 encontros).

3. Testes psicológicos complementares (quando necessário).

4. Desintoxicação alcoólica de enfermagem (quando necessário).

5. Reunião de equipe com planejamento individualizado de intervenção (dentro de


um leque de atendimentos pré-estabelecidos).

Duração dessa primeira fase: de 1 a 4 semanas.

Segue o grupo que compõe a primeira fase.

Grupo de apoio familiar


Adequado aos familiares desde a primeira consulta do paciente. Acontece concomitante ao
psicodiagnóstico. As famílias recebem acolhimento e apoio inicial, assim como orientações básicas
com o objetivo de melhor lidar com o paciente no início do tratamento e ajudá-lo a aderir ao mesmo.

Duração mínima de quatro semanas/sessão semanal. Após esse período, a família será encaminhada
para o Grupo de Orientação Familiar, assim que esse tenha vaga. Nesse momento, espera-se que o
paciente já esteja iniciando ou iniciado nos grupos pré-determinados pela equipe para ele.

Fase II e III: Intervenção


A segunda e terceira fase são constituídas pela intervenção terapêutica em si, caracterizada por um
leque de possibilidades de intervenções de caráter psicossocial e medicamentoso. Cada paciente
é encorajado a participar de intervenções específicas (previamente discutidas pela equipe na fase
um), consideradas as mais adequadas para o seu processo terapêutico.

Intervenções oferecidas pela AME-AD na fase II

Tratamento farmacológico
1. Tratamento farmacológico para intoxicação

2. Tratamento farmacológico para síndrome de abstinência

26
AMBIENTES DE TRATAMENTO│ UNIDADE I

3. Planejamento e acompanhamento medicamentoso

4. Medicação assistida

5. Grupo de aderência farmacológica

Intervenção breve
Adequado para pacientes com diagnóstico de uso nocivo de álcool. Esta intervenção possui um caráter
mais educativo em que se discutem os riscos agudos e crônicos ligados ao beber excessivo; situações
de maior risco; benefícios de reduzir o consumo de álcool; planejamento de redução do consumo
(quantidade e/ou frequência) de álcool em situações de maior risco. Coordenado pelas enfermeiras.

Duração: 4 encontros semanais.

Tratamento Psicossocial

Grupos de intervenção psicossocial

Todos os grupos psicossociais são semiestruturados e semiabertos. As sessões contêm temas


específicos a serem abordados. Estes temas não serão pré-requisito para a próxima sessão. Desta
forma, novos pacientes poderão entrar em grupos em andamento, desde que o número máximo
de pacientes não exceda 10. Os pacientes que entram em grupos em andamento (por exemplo, na
sessão 3), continuam até a sessão 2 do grupo seguinte.

Grupo de motivação e psicoeducação (Fase II)

Adequado para pacientes dependentes de qualquer substância ou com poli-dependência em estágios


motivacionais pré-contemplativo ou contemplativo (caracterizado pela indiferença ou negação dos
problemas causados por droga-dependência, resistência ao tratamento, ambiguidade de desejos
e condutas em relação ao consumo de drogas). Esta intervenção busca aumentar a motivação do
paciente para compreender os problemas decorrentes ao seu padrão de consumo de drogas, para
mudar seu comportamento em relação às drogas e para conseguir manter a abstinência. Coordenado
pelos psicólogos.

Duração: 8 encontros semanais.

Grupo de apoio às mulheres (Fase II)

Adequando para qualquer mulher dependente de qualquer substância ou com polidependência.


Este grupo busca oferecer tanto uma intervenção motivacional quanto de prevenção de recaída.
Temas ligados à violência física e sexual, gravidez, DSTs e prostituição também são abordados.
Coordenado pelos psicólogos.

Duração: 8 encontros semanais.

27
UNIDADE I │AMBIENTES DE TRATAMENTO

Grupo de adolescentes (Fase II, III, IV)

Adequado para pacientes adolescentes de 12 a 17 anos, com diagnóstico de abuso ou dependência


por qualquer substância. Este grupo visa a promover um espaço psicoeducativo, em que se promove
a abstinência e a redução do consumo de drogas, bem como a prevenção do uso de novas drogas
(mais nocivas, como o crack), e discutir e informar sobre os riscos e problemas ligados ao consumo
de droga na adolescência. Intervenções motivacionais e de prevenção de recaídas são utilizadas
quando consideradas pertinente. Sabendo que a aderência de adolescentes ao tratamento é ainda
menor do que a de adultos e que a aderência desses é um preditor importante de prognóstico
positivo, esses grupos dão grande importância à adesão dos adolescentes e, consequentemente, se
estruturam de forma a criar um ambiente o mais recreativo e divertido possível. Coordenado pelos
psicólogos.

Duração: de 12 a 20 encontros semanais.

Grupo de prevenção de recaída (Fase III)

Adequado a estágios motivacionais de determinação, ação e manutenção (pacientes conscientes dos


efeitos nocivos que o consumo de substância traz e motivados em alcançar ou manter a abstinência
continuada).

Como o próprio nome diz, esta intervenção busca prevenir a recaída. Visa a que os pacientes
aprendam a identificar situações de risco em que há maior probabilidade de recaída; aprendam
estratégias para evitar essas situações e, quando não for possível evitá-las, aprendam estratégias
que os ajudem a não recair.

Coordenado pelos psicólogos. Serão oferecidos três grupos específicos: para homens alcoolistas,
para homens dependentes de múltiplas substâncias e para mulheres.

Duração: 12 encontros semanais.

Grupo de orientação familiar (Fases II, III, IV)

Adequado para familiares e amigos envolvidos no processo terapêutico do paciente. Embora este
grupo permita um espaço de acolhimento para o sofrimento vivido pelos familiares, ele tem com
principal objetivo reconstruir a concepção de droga-dependência, removendo estigmas negativos
que não ajudam no processo terapêutico do paciente. Este atendimento visa, também, a ensinar aos
familiares a discriminar quais as situações de interação familiar que corroboram à recaída e outras
que promovem a abstinência, como modificar aquelas inadequadas e promover aquelas saudáveis.
Coordenado pelos psicólogos.

Duração: 8 encontros semanais.

28
AMBIENTES DE TRATAMENTO│ UNIDADE I

Atendimento Psicológico Individual


Alguns pacientes, por motivos diversos, podem necessitar de um atendimento mais individualizado.
Nestes casos, havendo disponibilidade, o paciente poderá receber um tratamento de terapia individual
(a participação nos grupos continuará sendo encorajada mesmo durante a terapia individual). Esta
terapia será breve, com, no máximo, 12 encontros, em que princípios da entrevista motivacional,
prevenção de recaída e treinamento de habilidades constituirão o alicerce do atendimento.

Em contextos adequados a terapia individual poderá ser substituída por uma terapia comportamental
de casal (quando o paciente é adulto) ou uma terapia comportamental de família (quando paciente
é adolescente). Em ambos os casos, o número máximo de consultas será 12.

Fase IV: Alta/Encaminhamento


Dependendo da evolução positiva do paciente, inicia-se o processo de alta e encaminhamento.
Geralmente, quando o paciente responde bem ao tratamento e o frequenta por certo período de
tempo, o processo de alta não é fácil. Junto a sentimentos e vivências positivas, o paciente também
experimenta sentimentos de luto, angústia e medo de se desligar do serviço.

No caso de pacientes com diagnóstico de transtorno por substâncias, essas experiências negativas
podem atuar como gatilhos para uma recaída. No mais, muitos pacientes acreditam que a recaída
em si é uma forma de mostrar que não estão prontos para se desligar do serviço. Daí a importância
de transformar e compreender essa transição como fruto de uma conquista, de mais uma etapa
importante alcançada, que leva o paciente em direção à abstinência continuada e/ou uma melhor
qualidade de vida. Para isso, é importante que ela seja menos abrupta e mais prolongada no tempo.
É importante atribuir significados saudáveis a esse processo e isto exige algum tempo.

Grupo de treinamento de habilidades sociais


Deficits de habilidades submetem o indivíduo a grandes riscos e essa falta de manejar as situações
de risco podem manter o problema com o consumo de substâncias, assim como à recuperação e ao
potencial de recaída. O objetivo deste grupo é fortalecer o enfrentamento e aumentar a autoeficácia
dos pacientes nessa etapa final do tratamento com exercícios que trabalham tanto as habilidades
interpessoais quanto as intrapessoais.

Duração: 6 encontros semanais.

Grupo pré-alta
Este grupo tem como objetivo abordar preocupações do paciente, estratégias de alto cuidado e
planejar atividades que o paciente deve desenvolver em outros serviços.

29
UNIDADE I │AMBIENTES DE TRATAMENTO

Na fase de desligamento e durante este processo, a equipe, junto ao paciente, discute o


encaminhamento ao serviço de referência mais adequado (CAPS, UBS ou NASF) e estabelece (ou
restabelece) o contato do paciente com o novo (ou antigo).

Grupos de terapia ocupacional (Fases II, III e IV)


O foco deste profissional é sobre a finalidade ocupacional e terapêutica das atividades e não
simplesmente sobre a atividade em si. Também contribuem em termos de aconselhamento e
trabalho psicoterapêutico. O dependente químico em recuperação necessita preencher o tempo
anteriormente ocupado com o uso da substância psicoativa.

O número de sessões para cada paciente pode variar. Fica a critério de cada
profissional responsável pelo grupo avaliar o processo de recuperação/motivação.
Da mesma forma acontece com relação ao apoio e à orientação ao familiar, no
sentido do enfretamento e da assertividade no lidar com o paciente, no seu próprio
cuidado pessoal e em saúde mental, geralmente, muito adoecido no continuum de
acompanhamento do paciente em sua história de uso e tratamentos.

ARAÚJO FILHO, GM; AMINO, D; YAMAGUCHI, LM; SILVEIRA, ASA; LARANJEIRA,


R; TAMAI, S. AME Psiquiatria: um ano de funcionamento. Revista debates em
psiquiatria. mar/abr, 2012.

Imagine-se atuando numa unidade ambulatorial, quais seriam suas atividades e


intervenções com a equipe em sua área de atuação?

Escreva um breve texto.

Abordagens e tratamento EM HOSPITAL-DIA

Hospital-Dia é um ambiente tradicionalmente utilizado para a dependência


química, o que varia é a intensidade do atendimento. Os pacientes podem ter perfil
para frequentar pouco ou muitos dias na semana ou mesmo todos os dias. É uma
opção de tratamento tanto para pacientes com quadros agudos quanto para casos
crônicos. Passam a maior parte do tempo no hospital e voltam para casa apenas para
dormir. Nem todos os pacientes irão precisar deste atendimento.

A American Psychiatric Association (APA) define Hospital-Dia como um programa de tratamento


ambulatorial que inclue o mais amplo diagnóstico psiquiátrico e psicosso­cial, para pacientes
com transtornos mentais graves que requeiram tratamento amplo, coordenado, intensivo e
multidisciplinar, não fornecido em um serviço ambu­latorial convencional.

30
AMBIENTES DE TRATAMENTO│ UNIDADE I

A American Association for Partial Hospitalization (AAPH) define hospitalização parcial como
um progra­ma que abrange o tratamento multidisciplinar, amplo e intensivo, não disponível nos
modelos ambulatoriais tradicionais, e que se utiliza de formas de tratamento me­dicamentosas,
psicoterápicas, sociais e pré‑vocacionais para pacientes com transtornos mentais graves. As
hospitalizações parciais devem contemplar os pacientes que possuam uma expectativa razoável de
melhoria ou, ainda, quando é necessário manter o nível funcional do paciente e evitar recaídas ou
internação total.

Segundo Pinheiro e Ratto (2011), estudos mostram que os Hospitais‑Dia são eficazes e possuem
menores custos quando comparados à internação integral, e que:

[...] existem alguns critérios a serem considerados na escolha desse tipo de


tratamento, tais como a estabilidade, ao menos relativa, das condições clínicas
e psiquiátricas, porém com necessidade de cuidados diários; o paciente ter um
sistema social capaz de proporcionar o nível necessário de apoio, como, por
exemplo, amigos, família e trabalho, entre outros.

Seguem as possibilidades de abordagem.

»» Intensiva: frequência diária e integral.

»» Intermediária: algumas vezes por semana, integral ou parcial (ou quase


ambulatoriais: com visitas semanais por período).

Esses diversos padrões de funcionamento que o Hospital-Dia pode adotar, sugerem modalidades
diferentes de tratamento, como Schene e colaboradores, citado por Pinheiro e Ratto, apontam.

»» Extensão ao tratamento ambulatorial.

»» Reabilitação e apoio aos pacientes crônicos, dando continuidade à internação


fechada.

»» Alternativos à hospitalização psiquiátrica.

»» Continuidade à internação fechada.

No hospital psiquiátrico da Santa Casa de São Paulo, há uma equipe multiprofissional que presta
atendimento em quatro níveis de atenção.

»» Ambulatório.

»» Emergência psiquiátrica.

»» Internação.

»» Hospital-Dia.

31
UNIDADE I │AMBIENTES DE TRATAMENTO

As características desse serviço são estas.

»» Acompanhamento clínico, psiquiátrico e de enfermagem.

»» Grupos operativos pela equipe da enfermagem.

»» Orientação familiar diariamente, se necessária, no horário da visita, com a


enfermagem, ou semanalmente, em horário marcado, com os médicos.

»» Terapia ocupacional conforme indicação para o paciente.

»» Psicologia conforme indicação para o paciente.

»» Assistência social.

»» Oficinas.

Atividades terapêuticas
»» Grupos de terapia cognitivo‑comportamental breve com entrevistas motivacionais
para o manejo da fissura e a manutenção da abstinência; atendimento individual;
projeto individualizado para a demanda do paciente.

»» Terapia ocupacional focalizando o lazer e a reinserção no trabalho; projeto


individualizado para a demanda do paciente.

»» Intervenções individuais, se necessário, para recaídas, intervenção em crise ou


quadros disfuncionais globais detectados (comorbidades).

»» Orientação familiar

»» Ambiente protegido, com horários individualizados.

Importante ressaltar que pode haver adequações para populações especiais adolescentes, mulheres,
pacientes com comorbidades como depressão maior, transtorno bipolar, esquizofrenia e, em casos
agudos, que necessitam do manejo da abstinência. (RIBEIRO, 2010; RAIMUNDO et. al., 1994).

Os quadros agudos evoluem positivamente e com rapidez, e a grande vantagem desse modelo é não
excluir o indivíduo de seus grupos de convívio. (RIBEIRO, 2010; MARSHALL, 2003).

Quando o dependente continua seu tratamento após alta, em regime ambulatorial, por exemplo,
a recidiva dos sintomas é menor (RIBEIRO, 2010; MCKAY, 1994). Devemos sempre estimular
o paciente a seguir o tratamento em regime ambulatorial após a internação, seja CAPS AD,
Ambulatórios Médicos Especializados ou a própria rede básica, decisão esta tomada pela equipe
multiprofissional após a discussão dos casos específicos para facilitar o sucesso do tratamento,
visando à manutenção da abstinência.

32
AMBIENTES DE TRATAMENTO│ UNIDADE I

Sobre a história do surgimento do Hospital-Dia no capítulo: Hospital-Dia, de


PINHEIRO e RATTO (2011).

A experiência do Hospital-Dia do hospital psiquiátrico da Santa Casa de São Paulo


com a estrutura de manejo de caso. Irmandade da Santa Casa de Misericórdia São
Paulo. Centro de atenção integrada à saúde mental. São Paulo, 2010. Disponível em:
<http://www.santacasasp.org.br/caism.html>

Abordagens e tratamento EM HOSPITAL GERAL


O hospital geral é um espaço onde se pode promover a motivação do paciente para o tratamento
do abuso ou da dependência química. Geralmente, estão procurando tratar complicações clínicas
relacionadas ao consumo de álcool, tabaco e outras drogas. Uma importante ação de saúde pública,
ainda carente no Brasil, é o corpo clínico se sensibilizar para realizar o diagnóstico, realizar ações
motivadoras e manejar casos menos graves, e a equipe de enfermagem pode aconselhar esse
paciente.

Casos comuns em prontos-socorros são pacientes acometidos da síndrome de abstinência do álcool


e delirium tremens. Casos de acidentes automobilísticos ou de trabalho, decorrentes do uso de
álcool e outras drogas, quadros ansiosos agudos, angina e infartos decorrente de estimulantes.

As enfermarias visam à desintoxicação, que se objetiva em remover os sintomas de abstinência. O


período de permanência é em média de 2 semanas. A sensibilização do paciente é fundamental para
que ele possa seguir o tratamento em regime ambulatorial ou internação prolongada. (RIBEIRO,
2010).

Azevedo (2011) salienta os seguintes pontos-chave para o tema.

»» A prevalência de transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas é


elevada entre pacientes internados em hospital geral.

»» As taxas de detecção e orientação a esses pacientes são baixas.

»» A internação em um hospital geral é um momento privilegiado para intervenção em


seu padrão de consumo.

»» As intervenções breves para usuários de risco de substâncias psicoativas internados


em hospital geral devem ser incluídas na abordagem cotidiana dos pacientes.

»» As unidades de internação psiquiátrica são um espaço privilegiado para a abordagem


do tabagismo entre seus pacientes.

33
UNIDADE I │AMBIENTES DE TRATAMENTO

Há prevalência global de 30% de morbidade psiquiátrica; os transtornos mais frequentes


relacionados são tabagismo e uso/abuso/dependência de álcool.

A população brasileira tem alto índice de uso de álcool. O consumo de bebidas alcoólicas eleva
as taxas de traumas, acidentes, suicídios e homicídios, além de aumentar as taxas de patologias
associadas, como hipertensão arterial e problemas gastrointetinais.

Laranjeira, R; Pinsky, I; Sanches, M; Zaleski, M; Caetano, R. Padrão de uso de álcool em


brasileiros adultos. Rev bras psiquiatr. [pe­r iódico online] 2009. Disponível em:
<http://www.uniad.org.br/images/stories/publicacoes/outros/padrao_de_uso_de_
alcool_em_brasileiros_adultos.pdf >.

Para consultar e aprofundar-se na epidemiologia, também está disponível no


site da UNIAD <www.uniad.org.br> o segundo levantamento de uso de álcool na
população brasileira.

Pesquisas têm apontado que a internação em um hospital geral representa uma


boa oportunidade para estratégias de intervenção no tabagismo. Em ge­ral, os
tabagistas são receptivos à orientação, devido à situação de vulnerabilidade
imposta pela internação, além de já estarem abstinentes, uma vez que o
hospital é área livre de tabaco. (AZEVEDO, 2011; RIGOTTI, 2007; ONG et. al.,
2005. LACASSE et. al.,2008).

Esse ambiente de tratamento deveria constituir um “espaço de abordagem ao comportamento-


problema, visando à interrupção de um ciclo de repetição e agravamento, situação que não tem sido
demonstrada até o momento”. (AZEVEDO, 2011)

Um exemplo de estudo com tabagistas

Um estudo nacional realizado com tabagistas em hospital geral universitário comparou intervenção
de alta intensidade (iai) (entrevista motivacional de 30 a 40 minutos, seguida de 8 telefonemas,
duran­te 6 meses), intervenção de baixa intensidade (ibi) (15 minutos de aconselhamento sobre os
benefícios da cessação do tabagismo) e tratamento usual (tu) (ausência de intervenção realizada
pela equipe de pesquisa) em pacientes internados em diversas enfer­marias do hospital de clínicas
da UNICAMP e em pais que acompanhavam crianças internadas na enfermaria de pediatria. Na
avaliação após 6 meses da interven­ção, houve taxa de cessação de 44,9, 41,7 e 26,3% entre os
pacientes que estiveram internados e 50, 20,7 e 17% entre os pais acompanhantes da pediatria para
IAI, IBI E TU, respectivamente.

As intervenções breves nesse ambiente de tratamento têm resultado em pequenas reduções no


consumo de indivíduos não dependentes e que exis­tem ganhos nas medidas de redução de uso
diário de álcool, do uso de risco, na ocorrência de traumas rela­cionados ao uso de bebidas alcoólicas
e na utilização de hospitais. (AZEVEDO, 2011; FREYER et. al., 2008).

34
AMBIENTES DE TRATAMENTO│ UNIDADE I

A internação em um hospital geral deve ser percebida como um momento


oportuno de abordagem do con­sumo de SPA. As atuais evidências sobre a eficácia
das intervenções nesse setting apontam resultados positivos modestos e requerem
aprimoramento e detalhamento para que possam ser implementadas de forma
mais am­pla e sistemática. (AZEVEDO, 2011).

Abordagens e tratamento em hospital


psiquiátrico
Com toda a história da reforma psiquiátrica e das leis em saúde mental houve mudanças, ao longo
do tempo até hoje, sobre o atendimento em hospitais psiquiátricos.

»» Restrições severas à prática clínica

»» Leitos psiquiátricos sem recursos fechados são fechados.

»» Investimento exclusivo em CAPS I E II.

»» Grande demanda por atendimento ambulatorial especializado.

»» Cuidados primários ineficazes.

Internações poderiam ser evitadas se houvesse boa assistência psiquiátrica. Há muito


estigma (preconceito) sobre esse ambiente de tratamento, porém, por vezes, ele é
indicado para casos agudos e de crises, nos quais o paciente se encontra psicótico,
heteroagressivo e/ou autoagressivo.

No Brasil, alguns hospitais psiquiátricos disponibilizam leitos para a desintoxicação de pacientes


dependentes químicos. As enfermarias especializadas ainda são raras e baseadas na internação
voluntária. As poucas existentes não possuem uma equipe organizada, principalmente, na questão
de segurança, para atender pacientes com comorbidades graves, como quadros esquizofreniformes,
depressão maior e transtornos bipolares. As complicações como ímpetos agressivos e tentativas de
suicídio exigem cuidados mais intensivos e protegidos.

Em resumo, a principal indicação para uma internação de paciente dependente químico em hospital
psiquiátrico com setting mais seguro é para os casos graves citados acima.

Quadros agudos de abstinência pode ser inadequados para esse ambiente, sendo mais indicado
tratar em hospital geral ou enfermaria especializada. (RIBEIRO, 2010, p.593)

A Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD), desde março/2009, tem conduzido internação
em enfermaria de dependência química em um hospital psiquiátrico. A proposta, embora pareça
estar na “contramão” das políticas públicas nacionais de tratamento deste transtorno – por estar
inserida em uma instituição psiquiátrica – vem sendo procurada por profissionais de diversos locais
do país buscando instrumentalização para aprimorarem seus serviços a partir desta experiência.

35
UNIDADE I │AMBIENTES DE TRATAMENTO

O modelo propõe o gerenciamento de caso individualizado em um “cardápio de estratégias


terapêuticas de reconhecia evidência científica” ao oferecer uma ampla gama de combinação de
recursos necessários, para atender as demandas específicas e múltiplas de usuários de substâncias
psicoativas. A internação combina farmacoterapia, abordagens comportamentais (entrevista
motivacional, prevenção de recaída, manejo de contingência etc.), intervenções de grupo 12 passos,
espiritualidade e terapia complementares (relaxamento, educação física, oficina de dança de ritmos
caribenhos etc.). O modelo dessa enfermaria é organizado como unidade dentro de um hospital
psiquiátrico.

Abordagens e tratamento em enfermarias


especializadas
Não há critérios objetivos muito estabelecidos para a internação. Esta é indicada para situações que
os pacientes necessitem de prontos cuidados de maneira intensiva como: controle medicamentoso,
manejo de sintomas comórbidos agudos, risco evidente de recaída. (RIBEIRO, 2010; ZUSMAN,
1995).

As atividades individuais e em grupo devem utilizar os referenciais teóricos e práticos de maior


evidência científica.

»» Dependência repercutindo alterações em diferentes setores da vida do paciente.

»» Multidisciplinaridade – englobar cada “deficiência” (cada profissional intervir na


sua área e discutir o caso periodicamente) visando a uma reestruturação global.
(FIGLIE et. al., 2004).

A principal proposta terapêutica visa combinar várias estratégias terapêuticas de reconhecida


evidência científica em um mesmo ambiente, no caso, o de internação.

Terapia individual x terapia de grupo


O grupo misto pode oferecer o seguinte ao paciente.

»» A Terapia do Espelho (identificação), por exemplo, gera uma reflexão de que “não
sou o único com este problema”. Além de encontrar a solução de problemas por meio
dessa interação, perceber a maneira que o outro lida e enfrenta sua dependência
química e recuperação.

»» Inclui um maior número de pacientes.

»» Otimiza o número de profissionais.

Espaço para atendimento individual na enfermaria é limitado (pode acontecer de haver poucas
salas disponíveis para técnicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, com a rotina do clínico médico,
psiquiatra e equipe de enfermagem com suas rotinas).

36
AMBIENTES DE TRATAMENTO│ UNIDADE I

Encontrar um espaço para o paciente se sentir a vontade e propiciar o acolhimento de sua demanda
é fundamental para oferecer uma assistência mais personalizada e ser possível trabalhar algumas
conflitivas psicológicas e ter um profissional referência ou gerente do caso para ações mais pontuais
e acompanhamento constante. (FIGLIE et. al., 2004).

A admissão do paciente na enfermaria

»» geralmente, é realizado por um psiquiatra da equipe.

»» será levantada uma hipótese diagnóstico relacionado à dependência química.

»» será feito diagnóstico de comorbidades, caso houver.

»» são prescritas as medicações necessárias.

»» são realizadas orientações quanto as regras e rotinas da unidade.

No tratamento em si:

»» o paciente é avaliado pelos psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistente social,


educador físico etc.

Sobre a terapia medicamentosa:

»» medicações são elementos muito importantes no tratamento da dependência


química, mas devem ser combinadas com abordagens psicoterápicas.

As abordagens psicoterápicas com evidências científicas que apoiam a efetividade


de uma variedade de intervenções psicológicas são:

»» técnicas da Terapia Cognitiva Comportamental; e

»» psicoterapias de apoio e aconselhamento com abordagens humanistas e


centradas no cliente.

O atendimento psicológico individual, fundamentalmente, baseia-se na Entrevista motivacional,


utilizando muito a empatia, o apoio e o suporte psicológico e a mediação de conflitos. (CAROLYN
et. al., 2002).

ZANELATTO, Neide; LARANJEIRA R. O tratamento da dependência química e as


terapias cognitivo-comportamentais: um guia para terapeutas. São Paulo: Artmed,
2013. p.568.

37
UNIDADE I │AMBIENTES DE TRATAMENTO

Grupo de orientação familiar

»» A família necessita de orientação na maioria dos casos. A falta de informações


sobre a dependência química dificulta o relacionamento com o familiar que faz o
tratamento. É importante trabalhar com a psicoeducação, elucidando sobre temas
importantes e tirando dúvidas dos participantes.

»» Os temas relacionados à dependência química: critérios diagnósticos, comorbidades


psiquiátricas, fissura, gatilhos, efeitos das drogas de abuso, consequências do uso
crônico etc.

Grupo de prevenção de recaída

»» Ênfase no alcance e manutenção da abstinência.

»» Participação ativa do paciente o qual aprende a prever e lidar com o problema da


recaída.

»» Mudança de estilo de vida e treinamento de habilidades.

(MARLATT, 1993)

Recair é a regra! A técnica de prevenção de recaída ensina como lidar com estados emocionais
negativos, conflitos interpessoais, pressão social, identificação de situações de riscos.

Atendimento nutricional individual

»» Vários quadros de desnutrição.

»» Perda de peso.

»» Pacientes com restrições alimentares.

Cuidado em enfermagem

»» Cuidados gerais.

»» Administração de medicamentos.

»» Grupos específicos (oficinas de autocuidado e de beleza).

»» Importante função – são os profissionais que ficam mais tempo com os pacientes.

»» Observação do funcionamento do grupo.

38
AMBIENTES DE TRATAMENTO│ UNIDADE I

Terapia ocupacional individual X em grupo

A Terapia Ocupacional na clínica da dependência química vem contribuir como um dos norteadores
na construção de “histórias alternativas” por meio da realização de atividades, as quais têm no
cotidiano o seu eixo de intervenção. (TEDESCO, 2002)

As atividades possibilitam a cada um “ser reconhecido e se reconhecer por outros fazeres’’.


(CASTRO, 2001)

Espiritualidade

Pode-se promover um “momento” de espiritualidade, como por exemplo, um encontros semanal


com a participação de representantes de diversas religiões acompanhados por um profissional da
equipe. (LORI et. al., 2008).

LORI K. HOLLERAN STEIKER; PATRICIA A. PAPE. Spirituality and Substance Abuse


Treatment Journal of Social Work Practice in the Addictions. Volume 7, Issue 4
January 2008, pages 117 – 126.

Sexualidade: um exemplo de grupo sobre


sexualidade e afetividade
SAÚDE SEXUAL ESTANDO EM RECUPERAÇÃO – Repensar em como têm vivenciado
sua vida afetiva e sexual sob a influência dos efeitos de álcool e outras drogas.
ABORDAGENS COMBINADAS: REDUÇÃO DE DANOS + Entrevista Motivacional + TCC +
Psicoeducação.

Por que é importante abordar esse tema com os pacientes dependentes químicos
no período da internação?

1. O consumo de álcool e de outras drogas aumenta a frequência de parcerias sexuais


e a chance de uma prática sexual de risco.

2. Existe associação entre disfunções sexuais e abuso de substâncias.

3. Existe associação entre atividade sexual durante tratamento e risco de recaída.

(Harvey DB. Sexual health in drug and alcohol treatment. Springer publishing
company, 2009).

39
UNIDADE I │AMBIENTES DE TRATAMENTO

O que é discutido no grupo? Alguns temas abordados:

»» O que é uma relação sexual satisfatória e o que são disfunções sexuais?

»» O que é transtorno sexual?

»» Compulsão sexual.

»» DST – AIDS.

»» Camisinha.

»» Métodos contraceptivos.

»» Planejamento familiar.

»» Gravidez indesejada.

»» Órgãos reprodutores.

»» Ciclo menstrual.

»» Hormônios (masculino e feminino).

Todas as pessoas não são como você, nem como seus amigos e vizinhos, inclusive,
seus amigos e vizinhos podem não ser tão semelhantes a você como você supõe.
(HAVELOCK ELLIS).

Alertar sempre o paciente que o HIV/AIDS e as DSTs não são doenças apenas dos
outros, e que se não se prevenirem podem contraí-las. A redução do consumo ou
abstinência total favorecem o autocuidado e o uso de preservativo.

Poder ser uma enfermaria (ou qualquer um dos ambientes de tratamento que
estamos estudando) que acolhe a diversidade sexual e contra a homofobia, pois
temos pacientes GLBTT!

Podemos trabalhar o tema: contra a homofobia em treinamento da equipe e


psicoeducação. Muitos de nós pode carregar preconceito em relação a essas pessoas,
o que atrapalha totalmente o atendimento e a empatia.

Vamos lembrar sempre deste assunto tão em voga no cotidiano profissional. Muitas
vezes, é pela falta desse olhar das equipes e pela falta de acolhimento que esses pacientes
não aderem ou nem chegam aos serviços de tratamento e ficam mais vulneráveis.

Videoterapia: dependência química e o cinema. Podemos trabalhar assuntos


relacionados na própria internação, tirar dúvidas e estimular a reflexão, lidar com a
fissura, entre outros através dos filmes.

40
AMBIENTES DE TRATAMENTO│ UNIDADE I

Exemplos de filmes:

“28 dias”, “Leaving Las Vegas”, “Garrincha”, “Gia”, “Ray”, “Meu nome não é Johnny”,
“Requiem for a dream”, “Profissão de risco”, “Cazuza”, entre outros.

Grupo de mulheres: são trabalhadas temáticas específicas, como, violência doméstica, filhos,
autocuidado, estigma, entre outros.

ASHLEYC OS, MARSDEN M, BRADY T. Effectiveness Of Substance Abuse Treatment


Programming For Women: A Review.The American Journal of Drug and Alcohol
Abuse. 2003, Vol. 29, no 1, Pages 19-53.

Grupo de orientação do serviço social.

Em geral as dúvidas são sobre estes assuntos.

»» Benefícios e previdência.

»» Pensão alimentícia.

»» Banco de empregos.

»» Questões trabalhistas.

»» Questões judiciais pendentes.

Grupo de Leitura

É realizado um grande grupo com os pacientes internados, com algum assunto atual, por meio de
jornais e revistas. Também poesia, literatura etc.

Grupo de 12 passos

Realizado por conselheiros em dependência química. São discutidos os seguintes assuntos.

»» Importância dos 12 passos.

»» Continuidade no tratamento: “Vinculação ao serviço”.

»» Padrinhos.

»» Retroalimentação aos domingos.

É necessário reconhecer a grande colaboração dos AA/NA como um forte recurso no tratamento
das adicções.

Existe evidência consistente apontando a tendência da participação dos grupos de mútua-ajuda


(principalmente o modelo 12 passos) como uma estratégia efetiva de manutenção de abstinência.
(MOOS, 2001; LAUDET, 2003; HUMPRHETYS, 2001).

41
UNIDADE I │AMBIENTES DE TRATAMENTO

Acredita-se que cerca de 40% das abstinências estáveis são intermediadas pelo AA. (GEORGE
VAILLANT, 2004).

12 passos é um programa espiritual que qualquer crença religiosa pode participar.

Winzelberg, Andrew; Humphreys, Keith. Should patients’ religiosity influence


clinicians’ referral to 12-step self-help groups? Evidence from a study of 3,018
male substance abuse patients. Journal of Consulting and Clinical Psychology. Vol
67(5), Oct 1999, 790-794.

N= 3.018 homens internados

Após alta encaminhavam menos aqueles pacientes que não tinham qualquer
envolvimento com religião.

Aqueles que foram encaminhados para “12 passos” ao longo de um ano tinham
melhores desfechos com relação ao maior número de participação nas reuniões,
melhores taxas de abstinência, menor número de recaídas.

Grupo de orientação familiar

Auxiliar a família a desenvolver seu papel no processo de tratamento de seu familiar e resgata a
esperança para uma nova possibilidade de vida para todos (SKINNER et. al., 1983)

O objetivo principal é mobilizá-los a buscar ajuda para si próprio.

Assuntos abordados

»» O que é dependência?

»» Dinâmica familiar do dependente químico.

»» Tipos de tratamentos do dependente químico.

»» Orientação e tratamento para família.

»» Fatores de risco de proteção.

»» Comorbidades.

As terapias complementares
Educação física: realizar com a maior frequência. Objetivo: Resgatar qualidade de vida,
desenvolver hábitos e fatores protetores saudáveis. (OMS, 1994).

42
AMBIENTES DE TRATAMENTO│ UNIDADE I

Visa ao seguinte.

»» Coordenação motora e equilíbrio.

»» Outros prazeres.

»» Dançar sem estar “chapado”.

»» Outros conhecimentos.

»» “Aprender a rir de si”.

Relaxamento: é realizado sob a orientação de um profissional da equipe visando baixar a ansiedade


e a fissura, entrar em contato consigo mesmo.

Horas livres...

Instrumentos musicais: podem ser disponibilizados de forma organizada com os pacientes para
tocarem nas horas livres. Propiciam integração e motivação.

Jogos: evita-se os jogos de tabuleiro ou de azar, que remetem ao ambiente de uso, como exemplo
o bar.

WINKELMAN. M. Complementary Therapy for Addiction:”Drumming out of Drugs”

American Journal of Public Health, 2003 - ajph.aphapublications.org

DIEHL, A; CORDEIRO, D.C.; RODRIGUES, M.R.; MARINHO, J.A.C.; LARANJEIRA, R. O


Modelo da Enfermaria UNIAD SBC. In: DIEHL, A.; CORDEIRO, D.C.; LARANJEIRA, R. R.
Dependência química: prevenção, tratamento e políticas públicas. 1. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2011.

Quais os tipos de internação?

»» Voluntária: o paciente aceita a internação.

»» Involuntária: o paciente vai internado mesmo contra a sua vontade.


Geralmente isto ocorre com o aval de um médico e devido a problemas
diversos, como colocar sua vida ou de outras pessoas em risco.

»» Judicial: um juiz determina a internação. Ela é independente da


necessidade médica e ninguém a não ser o juiz poderá dar alta para o
paciente.

O tipo de internação influenciará o comportamento, a motivação e o desfecho da evolução do


paciente no tratamento.

43
UNIDADE I │AMBIENTES DE TRATAMENTO

Nos casos dos pacientes motivados, o tratamento tende a fluir sem resistência e com melhor
prognóstico, com algumas exceções, que devem ser bem avaliadas, caso a caso.

Os profissionais, gerentes de caso, devem auxiliar tanto o paciente quanto sua família a lidar
com a ansiedade, os conflitos durante a hospitalização, nos casos de internações involuntárias e
compulsórias.

ABORDAGENS E TRATAMENTO EM COMUNIDADES


TERAPÊUTICAS

Quando as comunidades terapêuticas são úteis?

Alguns pacientes necessitarão de internações mais prolongadas. As comunidades


terapêuticas podem ser úteis para que estas pessoas fiquem mais tempo distantes
de fatores que predispõem a recaídas (amigos, trabalho ou mesmo família). As
comunidades funcionam como internações de longa duração.

Um pouco de história
As CTs começaram na segunda década do século XX. Os transtornos mentais e o alcoolismo, embora
não fossem o foco principal, eram contemplados pelas preo­cupações do movimento por serem sinais
de destruição espiritual.

Ao longo do tempo foram surgindo outras comunidades com a influência do A.A.

A primeira comunidade terapêutica psiquiátrica prototípica foi desenvolvida, a princípio, na unidade


de reabilitação social do Belmont Hospital (mais tarde chamado de Henderson), na Inglaterra, na
metade da década de 1940. (FRACASSO, 2011; LEON, 2003).

A natureza terapêutica do ambiente total (moti­vação geral das CTs de Maxwell Jones) foi precursora
do conceito fundamental de comunidade como método no tratamento da D.Q.

Características passadas da comunidade


terapêutica psiquiátrica
1. Considerava‑se a organização como um todo responsável pelo resultado terapêutico.

2. A organização social era útil para criar um ambiente que maximizasse os efeitos
terapêuticos, em vez de constituir mero apoio administrativo ao tratamento.

3. Um elemento nuclear era a democratização: o ambiente social proporcionasse


oportunidades para que os pacientes participem de forma ativa dos assuntos da
instituição.

44
AMBIENTES DE TRATAMENTO│ UNIDADE I

4. Todos os relacionamentos eram potencialmente terapêuticos.

5. A atmosfera qualitativa do ambiente social era terapêutica, no sentido de estar


fundada em uma combinação equilibrada de aceitação, controle e tolerância a
comportamentos diruptivos.

6. Atribuía‑se um alto valor à comunicação.

7. O grupo orientava‑se para o trabalho produtivo e para o rápido retorno à sociedade.

8. Usavam‑se técnicas educativas e a pressão para propósitos construtivos.

»» A autoridade difunde‑se entre funcionários, responsáveis e pacientes.

Características atuais da abordagem de


comunidade terapêutica
1. Deve ser aceita voluntariamente.

2. Não se destina a todo tipo de dependente. Isso ressalta a importância fundamental


da triagem, como início do processo terapêutico. Muitas vezes, algumas CTs, por
meio de suas equipes, se sentem onipotentes e “adoecem”, acreditando que, se o
residente não quer ficar, é porque não quer recuperação. Não consideram que o
residente tem o direito de escolher como e onde quer se tratar.

3. Deve reproduzir, o melhor possível, a realidade exterior para facilitar a reinserção.

4. Deve fornecer um modelo de tratamento residencial altamente estruturado.

5. Atua por um sistema de pressões provocadas de modo artificial.

6. Estimula a explicação da patologia do residente, diante dos pares.

7. Os pares servem de espelho da consequência social de atos do residente.

8. Há um clima de tensão afetiva.

»» O residente é o principal ator do próprio tratamento. A equipe oferece apenas apoio


e ajuda.

Segundo Azevedo, no Brasil, existe um enfrentamento com a área da Saúde, devido ao


desconhecimento de toda essa evolução da abordagem de comunidade terapêutica e de seu não
reconhecimento na política do Ministério da Saúde para a atenção integral a usuários de álcool e
outras drogas, mesmo diante do fato de as CTs estarem contempladas no eixo de tratamento da
política nacional sobre drogas da Secretaria Nacional sobre Drogas (SENAD).

Muito desse enfrentamento se deve ao fato de grande parte das CTS, embora regulamentadas
desde 2001 pela RDC 101/2001 da ANVISA, ainda não se te­rem adequado às normas mínimas de

45
UNIDADE I │AMBIENTES DE TRATAMENTO

funcionamento e também de seu nome estar sendo utilizado indevida­mente, o que prejudica os
usuários e seus familiares. Porém, não é correto que as CTS que estão cumprindo a regulamentação
da RDC 101/2001, procurando prestar um serviço de qualidade, não sejam reconhecidas, incluídas
e respeitadas na rede de serviço de álcool e outras drogas, já que o mapeamento das instituições
governa­mentais e não governamentais de atenção às questões relacionadas ao consumo de álcool e
outras drogas no Brasil, em 2006/2007, apresenta os seguintes dados.

»» Dos 1.642 questionários validados, 1.256 referem‑se às atividades ligadas ao


tratamento.

»» Das 1.256 organizações governamentais e não gover­namentais relacionadas ao


tratamento, 596 foram em comunidades terapêuticas.

»» Das 789 internações para o tratamento de depen­dência química (em hospital


psiquiátrico e CTS), 596 foram em CTS. (fracasso, 2011; Agência Nacional de
Vigilância Sanitária, 2001; Secretaria Nacional Antidrogas, 2007).

Critérios para o tratamento de pessoas com trans­tornos decorrentes de uso ou


abuso de SPA na CT, segundo Azevedo (2011).

As dimensões envolvidas para a definição do padrão de comprometimento de


dependência são as seguintes.

»» Adesão: grau de resistência ao tratamento de acordo com o


comprometimento da pessoa em avaliação.

»» Manutenção: grau de resistência à continuidade do tratamento.

»» Comprometimento biológico.

»» Comprometimento psíquico.

»» Comprometimento social, familiar e legal.

»» Critérios de elegibilidade: as pessoas em avalia­ção que apresentarem grau


de comprometimen­to grave no âmbito biológico e/ou psíquico não são
elegíveis para tratamento nesses serviços, devendo ser encaminhadas a
outras modalida­des de atenção.

Procedimentos do serviço de tratamento a pessoas


com transtornos decorrentes do uso ou abuso de
substâncias psicoativas.
A equipe deve receber treinamento e supervisão. Algumas CTS contam com equipe multiprofissional;
outras seguem uma filosofia religiosa ou de “doze passos”, em que o tratamento é conduzido por
conselheiros em D.Q.

46
AMBIENTES DE TRATAMENTO│ UNIDADE I

Atualmente as CTS têm ganhado visibilidade e estão lutando para serem


reconhecidas e apresentar resultados de seu modelo de tratamento. Infelizmente,
ainda ouvimos muito os relatos de familiares e os pacientes que não gostaram do
tratamento oferecido em algumas CTs, e que não sentiram resultado esperado.

A FEBRACT é uma federação que organiza e visa à qualidade das CTS. Oferece
treinamento e cursos para pacientes familiares. Conheça mais sobre o assunto no
site: <www.febract.org.br>

FRACASSO, Laura. Comunidades terapêuticas. In: DIEHL, A.; CORDEIRO, D.C.;


LARANJEIRA, R. R. Dependência química: prevenção, tratamento e políticas públicas.
1. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

Abordagens e Tratamento em Internações


Domiciliares
A internação domiciliar apresenta-se como uma alternativa no tratamento da dependência química,
em que o paciente permanece em sua residência com uma intervenção articulada junto com sua
família e com a rede de atenção básica de sua região, visando, assim, ao processo de descentralização
do atendimento a saúde mental.

É uma alternativa de serviço a fim de ampliar e descentralizar o atendimento a saúde mental


contando com o envolvimento dos técnicos especializados em uma proposta interdisciplinar, em
conjunto com o paciente e aqueles que com ele estão envolvidos, trabalhando em uma perspectiva
de construção de rede social de apoio ao dependente químico. (SCHWERZ, 2002).

Esse tipo de tratamento requer certo nível de motivação, o paciente precisa aceitar
a proposta de internação e comprometer-se com ela, deve possuir também um
bom suporte social e familiar. Neste período ele fica em sua própria casa, sem sair, o
paciente só sai de lá com familiar ou acompanhante terapêutico.

Um técnico especializado para auxiliar o paciente nesse modelo de tratamento é o acompanhante


terapêutico.

Um pouco de história
O acompanhamento terapêutico (AT) é uma ferramen­ta clínica que surgiu
como consequência do movimento antimanicomial, ocorrido na década de
1950, nos Estados Unidos e na Europa, chegando ao Brasil no final dos anos
1970. Qualifica‑se como modalidade clínica, sob a perspectiva da lógica da
reabilitação psicossocial e pro­porciona a extensão dos cuidados para além dos
limites institucionais, sejam eles públicos ou privados. Sua indicação é para

47
UNIDADE I │AMBIENTES DE TRATAMENTO

a clínica da dependência química que se dá por dificuldades psicossociais


associadas ao abuso e dependência de álcool e outras drogas. (DUAILIBI,
2011; MAUER, 1987).

Para pacientes mais estáveis, que já não necessitam ficar o período integral em internação domiciliar,
o “espaço da rua” é um dos setting terapêuticos do AT, proporcionando uma “clínica em movimento”
capaz de ampliar o espaço físico e terapêutico.

É importante a ampliação do repertório social e das habilidades sociais cotidianas, que foram
negligenciadas, quando a prioridade era o uso de substâncias.

O AT, como um dispositivo da reabilitação psicossocial, fun­


ciona como um mantenedor da
abstinência, bem como auxiliar na prevenção de recaídas.

A boa prática terapêutica na clínica da de­pendência procura disponibilizar medidas de suporte ao


paciente em seu domicílio, visando a uma recuperação mais rápida, confortável e segura. Busca‑se,
com o au­xílio do AT e da equipe multidisciplinar de tratamento, cumprir o ideal de modificar a
vida cotidiana, criando, modificando e ampliando repertórios sociais, produzin­do um máximo de
impacto nas rotinas existenciais e pragmáticas. (DUAILIBI, 2011)

Outras funções específicas importantes da atuação


desse profissional
»» Manejar situações agudas (sintomas de abstinência).

»» Auxiliar in loco a resolução de conflitos familiares e sociais.

»» Favorecer o processo de retomada e/ou a aquisição de espaços de convívio social de


maneira saudável.

»» Ser um interlocutor entre a equipe terapêutica e o ambiente de convívio do


dependente.

»» Estimular o estabelecimento de hábitos saudáveis e melhora no estilo de vida dos


pacientes a partir da conquista de maior autonomia, autoestima e autocon­fiança
dos pacientes.

»» Assegurar pontualidade nos compromissos do paciente. Zelar pela segurança e


evitar recaída.

»» Apoiar o paciente em suas iniciativas de reintegração social e de autonomia.

»» Auxiliar o paciente a monitorar o processo de absti­nência.

(DUAILIBI, 2011; LARANJEIRA, NICASTRI, 1996).

48
AMBIENTES DE TRATAMENTO│ UNIDADE I

Em relação à família, o papel do AT consiste em orientá‑la no sentido de facilitar o convívio entre


os membros, buscando a reorganização de papéis e a aqui­sição de novos repertórios. (DUAILIBI,
2011).

A reabilitação psicossocial tornou‑se um paradig­ma de sucesso terapêutico no âmbito das políticas


de saúde mental contemporâneas. O acompanhamento terapêutico desempenha um papel
fundamental nesse processo.

Existe um ambiente de tratamento, chamado Moradia Assistida, que vem sendo


ampliado para pacientes cujas famílias são desestruturadas ou disfuncionais, e isso
atinge diretamente sua recuperação, ou para paciente que tem falta de suporte
social, necessita de estimulação, ambiente protegido, entre outras razões. Pode ser
encaminhado para a Moradia após uma internação – geralmente é o caso.

DIEHL, A.; ELBREDER, M.F; LARANJEIRA, R. 2011. Moradias assistidas para dependência
química. In: DIEHL, A.; CORDEIRO, D.C.; LARANJEIRA, R. R. Dependência química:
prevenção, tratamento e políticas públicas. 1. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

A prática do AT e seus resultados são elementos para reforçar o tratamento no sentido


de uma mudança no tratamento tradicional, porém, infelizmente, na rede pública
não há investimento, ou quem faz esse papel similar é o agente comunitário de
saúde do PSF e outros profissionais da equipe. “Sua realização deve ser incentivada e
patrocinada pelos recursos da saúde, para que componha o quadro de profissionais
existentes”. (DUAILIBI, 2011).

SCHWERZ, Cláucia Ivete. Internação domiciliar para dependentes químicos: uma


nova alternativa em saúde pública. Porto alegre; s.n. 2005. 22 p.
Disponível em: <http://bases.bireme.br/>

ABORDAGENS E TRATAMENTO EM CONSULTÓRIO


PARTICULAR
Muitas são as abordagens que podem ser utilizadas para o tratamento da dependência química,
porém os com maior evidência científica com resultados eficazes são estes.

»» Manejo de Contingência.

»» Modelo Matrix.

»» 12 passos+ TCC+ MC + Entrevista Motivacional+ Educação Familiar.

»» Aconselhamento.

(RAWSON; LING, 2008).

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UNIDADE I │AMBIENTES DE TRATAMENTO

Definição de entrevista motivacional


A Entrevista Motivacional propõe-se a auxiliar na resolução de situações em que a pessoa se encontre
ambivalente, com dúvidas. Alguns exemplos típicos: “Preciso parar de fumar, mas é difícil”; “Preciso
fazer exercícios físicos, mas não tenho tempo”; “Mantenho o meu relacionamento ou me separo”;
“Tenho que emagrecer, mas não consigo”, entre outros.

Essa abordagem envolve um espírito de colaboração, participação e autonomia tanto do cliente


quanto do profissional. Ambos vão construindo alternativas em que a motivação para a mudança é
construída de forma natural e espontânea.

As principais características da Entrevista Motivacional são as seguintes.

»» Entrevista breve, não confrontativa e semiestruturada.

»» De duração limitada, não confrontativa e estruturada em metas que o cliente


identifica.

»» Identifica e trabalha com a motivação do cliente.

»» Abordagem centrada nas necessidades e experiências do cliente.

»» Estimula a autoeficácia do cliente a partir do momento em que ele consegue realizar


as mudanças propostas.

»» Gera um forte impulso para mudar hábitos e estilo de vida.

A Entrevista Motivacional é uma evolução no campo das psicoterapias aplicadas ao consumo de


álcool, tabaco e drogas, pois até então vários tipos de tratamento pregavam que só poderiam ajudar
o cliente se o mesmo desejasse. Para pessoas que resistem em mudar algum comportamento de
risco, a Entrevista Motivacional almeja a reabilitação enquanto pessoa e não apenas a abstinência
do consumo de álcool, tabaco e outras substâncias. No entanto, vale ressaltar que essa abordagem
pode ser utilizada para qualquer problema de saúde mental, dificuldades de relacionamento,
desenvolvimento de comportamentos sadios como a prática de dietas saudáveis, adoção de práticas
esportivas, educação e promoção de saúde, entre outros.

Definição de Terapia Cognitiva


A Terapia Cognitiva baseia-se na suposição pressuposta de que os afetos e os comportamentos de
uma pessoa são determinados pelo seu modo de pensar. A experiência pessoal leva-nos a formar
conceitos sobre nós mesmos e sobre o mundo, formando um sistema de valores e crenças que
influenciarão os comportamentos e as atitudes na vida de uma pessoa.

Quando essa conceituação não é funcional, ou seja, traz sofrimento para a pessoa, formam-se as crenças
disfuncionais, que estão associados a emoções desagradáveis. Estes pensamentos interferem nas
interpretações de experiências atuais, previsões sobre eventos futuros ou lembranças de fatos passados.

50
AMBIENTES DE TRATAMENTO│ UNIDADE I

A Terapia Cognitiva tem como objetivo corrigir esses padrões distorcidos de pensamentos e crenças,
fazendo com que as pessoas modifiquem suas emoções e comportamentos de forma a atingirem seu
bem-estar.

Alguns princípios da Terapia Cognitiva

»» A terapia cognitiva requer uma aliança terapêutica segura: cordialidade, empatia,


atenção, respeito genuíno e competência.

»» A terapia cognitiva enfatiza colaboração e participação ativa: a terapia deve ser vista
como um trabalho em equipe, sendo o terapeuta mais ativo, apenas no princípio do
tratamento.

»» A terapia cognitiva é orientada em metas e focalizada em problemas: nas sessões


iniciais, enumeramos os problemas e estabelecemos metas e submetas específicas
para cada um deles.

»» A terapia cognitiva enfatiza o presente. A atenção volta-se para o passado em três


circunstâncias: quando o cliente mostra forte predileção; quando o trabalho voltado
para os problemas atuais produz pouca ou nenhuma mudança cognitiva; e quando
o terapeuta julga importante compreender como e quando ideias disfuncionais se
originaram e como afetam o presente.

»» A terapia cognitiva é educativa: visa a ensinar o cliente a ser seu próprio terapeuta
e enfatiza a prevenção da recaída.

»» As sessões de terapia são estruturadas, independentemente do diagnóstico ou do


momento do tratamento. Seguir um formato estabelecido torna o processo mais
compreensível para o cliente e aumenta a propensão de que ele será capaz de fazer
autoterapia no futuro.

»» A terapia cognitiva utiliza uma variedade de técnicas para mudar pensamento,


emoção e comportamento.

Por que a junção das duas abordagens?

A Entrevista Motivacional tem como premissa resolver um conflito e motivar para a mudança.
Tomada essa decisão, surge a importância de trabalhar as crenças – pensamentos da pessoa com o
intuito de que eles não interfiram nessa mudança. Por exemplo: Um dependente de álcool motiva-
se a parar de beber. Se ele pensar que não é capaz de ter uma vida social ativa sem beber, esse
pensamento pode colocar em detrimento a sua motivação para a mudança.

A rede de apoio social também é fundamental nesse processo, no qual o paciente deve buscar sua
reabilitação psicossocial.

51
UNIDADE I │AMBIENTES DE TRATAMENTO

Por que uso a terminologia cliente e não paciente?

Porque, nessas abordagens, a pessoa tem um papel ativo na mudança e um paciente é aquele que
apenas recebe a ação de um agente.

A psicoterapia facilita a pessoa ter o controle de sua vida, aumentando sua autoeficácia e autoestima.

(FIGLIE, 2010).

Como colher uma boa história clínica?

Em qualquer ambiente de tratamento, é necessário, para melhor planejar o


seguimento do caso e o planejamento terapêutico, uma boa coleta de dados.
Seguem os tópicos que devem constar para esse fim, na história clínica do cliente.

Dados de identificação

»» Nome, sexo, endereço, data de nascimento, idade, telefone, estado civil, naturalidade,
religião, escolaridade e profissão.

»» Entrevistador(a), data da entrevista. Encaminhado por quem? Razão para o


encaminhamento.

»» História Familiar (Pais, irmãos e outros parentes): alguém já morreu? Por qual
motivo? Alguém tem/teve problemas com álcool ou drogas? Quais as atitudes dos
familiares diante do problema do paciente? Como é o ambiente familiar?

Genograma

Representação gráfica que registra informações dos membros da família por 3 gerações. Permite
mapear a estrutura da família.

LEGENDA:

masculino:

feminino:

CASAL: -------

CASAL SEPARADO: --- ----

CONFLITO:

BOM RELACIONAMENTO =

52
AMBIENTES DE TRATAMENTO│ UNIDADE I

História Pessoal

»» Nascimento: (complicações); Infância: doenças (ambiente familiar, separação


dos pais, pobreza, traumas, lembranças); Educação (até que série estudou; se
parou antes de terminar o ensino fundamental e por quê; se já foi expulso ou teve
problemas disciplinares).

»» História Marital/Sexual: Tem parceiro? É casado? Já se separou por causa


da bebida/droga? O parceiro também tem problema com álcool ou drogas? Qual
a atitude do parceiro e familiares perante o problema? Como é a qualidade do
relacionamento?

»» Filhos: Quantos? Quais as idades e estados civis? Algum deles tem problemas com
álcool/drogas? Qual a atitude deles diante do problema? Como é o relacionamento?

História Ocupacional

»» Ocupações: todos os empregos que já teve, demissões, relacionamento com chefia


e colegas; promoções; advertências relacionados ao uso de álcool/drogas. Trabalhou
no último ano? Período integral ou parcial? Trabalho formal ou informal? Estado
atual no trabalho.

»» História Social: Moradia; empregado ou não; situação social; passatempos; lazer;


amigos não usuários; contato com outros usuários de drogas.

»» História Médica e Psiquiátrica: Doenças; internações médicas e psiquiátricas;


tratamentos ambulatoriais, remédios.

»» História de Atendimento para Problemas com Álcool/Drogas: Inclui


atendimento ambulatorial, enfermaria, pronto-socorro, clínicos gerais, psiquiatras,
grupos de autoajuda, ONGs, religiosos, AA/NA. Duração /local /tipo /objetivos.
Ficou abstêmio após o tratamento? Por quanto tempo? Que fatores se relacionaram
à recaída?

»» História Forense: Delitos criminais. Já foi apreendido ou preso? Por qual motivo?

53
UNIDADE I │AMBIENTES DE TRATAMENTO

Linha Evolutiva do Consumo de Substâncias Psicoativas (EXEMPLO)

Linha da Vida (ASSOCIAR AS IDADES DE EVOLUÇÃO NO USO DE SUBSTÂNCIAS COM


PROBLEMAS RELACIONADOS).

História do Beber

»» Início: primeira vez que bebeu álcool; primeira vez que comprou para si uma
bebida alcoólica; idade/circunstância.

»» Evolução: quando começou a beber? Quando começou a tomar bebidas destiladas?


Quando começou a beber quase todos os dias? Quando começou a beber no padrão
atual? Quando começou a perceber que seu hábito de beber estava causando
problemas? Quando foi a primeira vez que teve sintomas de abstinência (tremores,
náuseas, ânsia de vômito, sudorese) especialmente pela manhã? Em que períodos
parou de beber completamente por alguns dias/semanas/meses? O que motivou a
abstinência? Qual foi a última vez que bebeu?

Padrão de Consumo durante um Dia Típico

Quantidade de álcool ingerida, calculada em unidades. Uma unidade = 10 a 12 g de álcool puro.

Onde, Quantidade, Unidades de álcool: Quando acorda, Antes ou com o café da manhã, Durante a
manhã, Na hora do almoço, A tarde, Após o trabalho, No jantar, A noite, Antes de dormir / Durante
a noite.

54
AMBIENTES DE TRATAMENTO│ UNIDADE I

O Beber Normal corresponde A:

Homens

REFERÊNCIA DE Unidades de álcool:

21 U / semana 50 U / semana

Baixo risco Uso nocivo/ dependência

Mulheres

14 U / semana 35 U / semana

Referência de unidades de álcool

Bebida Concentração de álcool/ Unidades de álcool


gramas de álcool
1 lata de cerveja – 350 ml 5% = 17 gramas de álcool 1,5
1 dose de aguardente – 50 ml 50% = 25 gramas de álcool 2,5
1 copo de chope – 200 ml 5% = 10 gramas de álcool 1
1 copo de vinho – 90 ml 12% = 10 gramas de álcool 1
1 garrafa de vinho – 750 ml 12% = 80 gramas de álcool 8
1 dose de destilados (uísque, 40/50% = 20/25 gramas de
2/2,5
pinga, vodca) – 50 ml álcool
1 garrafa de destilados – 750 40/50% = 300/375 gramas de
30/37
ml álcool

55
UNIDADE I │AMBIENTES DE TRATAMENTO

História Clínica – DROGAS

MANHÃ TARDE NOITE




4ª.
5ª.
6ª.
SAB.
DOM
História Clínica – ÁLCOOL

QUANTIDADE/ ONDE E COM NÚMERO DE


TIPO QUEM UNIDADES


4ª.
5ª.
6ª.
SAB.
DOM
História Clínica

»» Consumo nas últimas 24 horas; último mês; pico de consumo.

»» Problemas Relacionados ao Álcool.

›› Físicos: embriaguez, amnésia, colapso, vômitos, gastrite, úlcera, hepatite,


cirrose, convulsões, acidentes, feridas etc.

›› Psicológicos: depressão, ideias ou tentativas de suicídio, agressão, ansiedade,


delírio tremens, mentiras etc.

›› Sociais: problemas com cônjuge, com a família, com os amigos, polícia, trabalho,
financeiros, escolares.

»» História de Uso de Drogas

›› Já usou? Qual? Idade na primeira e Última vez que usou.

›› Padrão de Consumo de Cada Droga no Decorrer dos Anos.

»» Droga(s) Principal(ais) de Uso

›› Evolução do Problema e o Envolvimento da Pessoa com Drogas.

56
AMBIENTES DE TRATAMENTO│ UNIDADE I

›› Com quem usa? Onde usa? Quem a compra? Onde a compra? Como financia seu uso?

›› Padrão de Uso da(s) Droga(s) Preferida(s) num Dia Típico

›› Quando usa? Com que frequência e que quantidade? Usa todos os dias? Já
chegou a usar direto, por dias, sem dormir ou comer?

»» Problemas Relacionados às Drogas

›› Físicos, Psicológicos, Sociais, História de Risco de Contaminação por HIV.

›› Já injetou drogas? Já compartilhou seringas ou agulhas? Já trocou sexo por


drogas ou dinheiro (se prostituiu)? Já fez sexo com prostitutas? Faz ou fez sexo
sem preservativo com parceiros fixos ou casuais? Já fez tatuagem? Usou drogas
na prisão? Fez sexo na prisão?

»» Situação de Vida

›› Apoio familiar e social (amigos que não bebem ou usam drogas; atividades de
lazer e ocupacionais alternativas; aspectos financeiros).

»» Comobidade Psiquiátrica

›› Depressão

›› Ansiedade

›› TDAH

›› Psicose/Esquizofrenia

›› Transtorno de Personalidade

›› Dano Cerebral pelo uso de Drogas

›› TAB

›› Outras drogas

»» Plano de Tratamento

›› Hipótese Diagnóstica:

›› Fatores de Risco:

›› Fatores de Proteção:

›› Plano de Trabalho:

LARANJEIRA, R. Dependência Química. Avaliação e diagnóstico. História clínica para alunos.


UNIFESP. Disponível no site da UNIAD: <www.uniad.org.br>

57
UNIDADE I │AMBIENTES DE TRATAMENTO

EXEMPLO DE CASO
M.J., 46 anos, sexo feminino, divorciada, vem ao tto., porque está bebendo mais que gostaria e
pensa em parar. Quase sempre bebe com amigos num bar perto de seu trabalho. Bebe às terças,
quartas e quintas-feiras 3 a 5 cervejas; aos fins de semana 10 a 12 cervejas. Sabe enumerar
várias consequências negativas e prevê outras, isto a deixa pensativa. No entanto, ainda não está
“queimada” e seus relacionamentos poderiam ser prejudicados se ela deixasse a bebida: “excluída”.
Não sabe o que quer fazer e o que precisa fazer.

O plano, desenvolvido com o cliente, é endereçado a estabelecer metas. Organiza e prioriza as


informações colhidas na abordagem inicial.

As metas são reconhecidas em curto e longo prazo, sendo variáveis conforme a gravidade do quadro,
o comprometimento, o suporte social e o tempo planejado para o tratamento.

O plano de tratamento deve ser visto como mutável e flexível. Deve ser significativo, exequível,
específico e atender à diversidade de clientes.

Imaginar como poderiam ser as metas com essa paciente e descrevê-las.

»» PLANO TERAPÊUTICO I: Metas em curto prazo.

»» PLANO TERAPÊUTICO II: Metas em longo prazo.

Como forma de resumir a ampla gama de assuntos que estudamos sobre os


ambientes de tratameno e as intervenções específicas, convém ler essa apresentação,
disponível no site da UNIAD: <http//:www.uniad.org.br>

Seminário de Carolina Costa Fernandes. Definição do tratamento e de seus objetivos.


(Ronald M. Kadden, Pamel M. Skerker)

Para atender de maneira efetiva o paciente dependente químico, deve-se contar


como uma equipe capacitada. Caso não atenda de maneira conjunta num mesmo
espaço físico, com psiquiatras, terapeutas ocupacionais, enfermeiros, é importante
ter como o encaminhar para esses colegas, principalmente para o médico psiquiatra,
para atender de maneira mais integral possível, contemplando as necessidades de
cada paciente.

PADIN, M.F.R; MITSUHIRO, SS.; PAULA, D.M.B. Modelo de Tratamento do Alamedas. In:
DIEHL, A.; CORDEIRO, D.C.; LARANJEIRA, R. R. Dependência química: prevenção,
tratamento e políticas públicas. 1. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

58
ELABORAÇÃO
E EXECUÇÃO
DE PROJETOS
PÚBLICOS E UNIDADE II
PRIVADOS PARA
DEPENDÊNCIA
QUÍMICA
Quanto tempo dura o tratamento da dependência química?

Assim como qualquer outra doença crônica, a dependência química não tem
cura. O tratamento é contínuo. Não necessariamente precisarão de médicos ou
psicológicos, mas necessitarão de algum tipo de acompanhamento. É sugerido
que esses pacientes continuem frequentando salas de Narcóticos Anônimos ou de
Alcoólicos Anônimos. Esta é uma ótima forma de mudar o convívio social, ter algum
tipo de espiritualidade e apoio tanto para o paciente quanto para a família. É papel
da família apoiar esses pacientes a continuarem se tratando e frequentando as salas.
Com frequência, familiares por desconhecerem a doença ou por não quererem
encará-la, acabam minimizando seus efeitos, e, mesmo que indiretamente, pedindo
para o paciente não frequentar grupos de mútua ajuda (12 passos), deixar de tomar
os remédios, pois acreditam que o familiar está curado.
CAPÍTULO 1
PROJETOS PÚBLICOS E PRIVADOS,
RASTREIO, DIAGNÓSTICO E ADESÃO

Há serviços suficientes para o número de pessoas com abuso e dependência química


no Brasil?

Dados do Levantamento Nacional sobre Álcool e outras Drogas (LENAD) podem ser visualizados
no site da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas. É alto o número de dependentes químicos no
Brasil, e são escassos os projetos e serviços de atendimento para essa população. Os recursos são
disponibilizados pelo governo raramente e a utilização dos mesmos nem sempre é adequada ou
realmente dirigida para esses fins.

Em um mundo ideal, o planejamento dos serviços voltados aos problemas com álcool
sempre se iniciaria com uma avaliação da necessidade dos pacientes. (EDWARDS,
2010; MARSHALL, 2001).

Projetos públicos e privados


Além de conhecer o local e a demanda, faz-se necessário considerar e responder algumas perguntas
das gerais para o planejamento de um serviço.

1. Quais são os principais objetivos do serviço a ser estruturado?

2. Qual é o público-alvo que esse serviço deseja alcançar?

3. Existe algum subgrupo em especial nesse público-alvo que se deseje alcançar?

4. Qual é o contexto socioeconômico e cultural que esse público-alvo vivencia?

5. Já existe algum dado ou levantamento traçado sobre o perfil desse público? Em


caso positivo, como ele poderá ser mais bem explorado para nortear as ações de
implantação do serviço?

6. Quais os critérios de inclusão e exclusão do serviço?

7. Qual é a demanda do serviço a ser organizado?

8. Qual é a caracterização da região a ser atendida?

9. Qual é a facilidade e o acesso ao serviço e às possibilidades de transporte?

60
ELABORAÇÃO E EXECUÇÃO DE PROJETOS PÚBLICOS E PRIVADOS PARA DEPENDÊNCIA QUÍMICA│ UNIDADE II

10. Existem outros serviços similares ao que se deseja organizar? Em caso positivo,
são próximos ao serviço a ser estruturado? Como esses serviços podem trabalhar
juntos?

11. Qual é o diferencial desse serviço?

12. Existem outros serviços de saúde na região que possam trabalhar em rede?

13. Quais são os equipamentos de saúde da região com os quais o serviço a ser
estruturado poderá contar? Qual é o fluxo geral desses outros equipamentos?

14. Quais serão a filosofia, a missão, a metodologia e as estratégias de intervenções que


o serviço utilizará?

15. Essa estratégia já foi utilizada por outros colegas? Tem respaldo científico?

16. A equipe envolvida na organização já visitou outros serviços semelhantes em outros


municípios, estados e/ou países?

17. É possível visitar o modelo voltado à realidade local?

18. Qual é o recurso humano disponível?

19. Qual é a motivação desse recurso humano para trabalhar com dependentes
químicos? Ou seja, por que exatamente eles querem estar ali?

20. Esse recurso é capacitado para tal função? Existe a possibilidade de capacitação,
treinamento e educação continuada?

21. Existe relato de como cada setor/equipe/profissional envolvido no serviço a ser


organizado pretende exercer suas ações terapêuticas? Qual o modelo teórico e
prático que norteará as intervenções?

22. Qual é o fluxograma geral do serviço a ser organizado, desde o acesso até o dia da
alta do serviço?

23. Qual é o tempo estimado para que esse fluxograma aconteça?

24. Quais serão as normas gerais de funcionamento?

25. Como se darão os níveis de coordenação do serviço a ser organizado? Quem e como?

26. Qual é o recurso material disponível?

27. É necessário adaptar o recurso material existente?

28. Existe financiamento, patrocínio ou investimento?

29. Quais são as necessidades do serviço para adequar a esse público?

61
UNIDADE II │ELABORAÇÃO E EXECUÇÃO DE PROJETOS PÚBLICOS E PRIVADOS PARA DEPENDÊNCIA QUÍMICA

30. Quais são os limites desse serviço?

31. Como o serviço pretende se organizar em curto, médio e longo prazo?

32. Existem fins lucrativos nessa atividade? Como eles serão empregados?

33. Quais são os custos envolvidos com atividades, equipe, bens perecíveis e recursos
duráveis?

34. Existe uma rede de apoio?

35. Quais são as responsabilidades individuais e conjuntas dessa equipe de organização?

36. Com que frequência a equipe pretende se reunir? Existem formas mais dinâmicas
de comunicação entre uma reunião e outra (p.ex., e-mail)?

37. Qual o órgão de saúde, organização ou entidade em que o serviço irá se cadastrar?

38. Qual é o cronograma de atividades de planejamento até a abertura do programa de


atendimento?

(DIEHL ET.AL, 2011; RIBEIRO, 2010; THE NATIONAL TREATMENT AGENCY FOR SUBSTANCE
MISUSE, 2006).

Muitos projetos podem ser oferecidos para empresas em prevenção e tratamento com a população
geral e com populações especiais, como mulheres, adolescentes e idosos. Estes serão discutidos em
outra disciplina.

Mídia advocacy é o uso estratégico da mídia para conseguir apoio público e de


legisladores para aceitação social, criação de sistemas de apoio para um objetivo
específico de saúde ou um programa consolidando políticas públicas. Existem várias
maneiras de conseguir atenção da mídia: por meio de uma história controversa, de
uma data relevante ou de um assunto interessante da atualidade. Advocacy tem a
possibilidade de educar, mudar a opinião pública e influenciar aqueles que estão no
poder. (GOMES, 2011).

Essa é uma estratégia interessante de se atingir o que deseja chamando a atenção


para um problema de saúde, com uma população específica por meio da mídia. Essa
atitude pode conduzir a parcerias e desenvolvimento de projetos.

GOMES, Luca. 2011. Mídia Advocacy: estratégias de comunicação, articulação e


empoderamento. In: DIEHL, A.; CORDEIRO, D.C.; LARANJEIRA, R. R. Dependência
química: prevenção, tratamento e políticas públicas. 1. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2011.

62
ELABORAÇÃO E EXECUÇÃO DE PROJETOS PÚBLICOS E PRIVADOS PARA DEPENDÊNCIA QUÍMICA│ UNIDADE II

Uma sociedade mais desenvolvida já busca pelos seus direitos junto aos legisladores.
O Brasil, como um país em desenvolvimento, no campo, ainda caminha em
passos lentos. Cabe a nós, profissionais de saúde e que atuamos na área ter esse
compromisso ético e social na nossa prática, participando de fóruns, de conselhos,
sites e mídia em geral para chamar a atenção dos gestores.

Rastreio
Deve-se conhecer muito bem a região onde desenvolverá o projeto, “mapeá-la”, entender o perfil
sociodemográfico daquela população, as principais doenças, epidemiologia local, principais
problemas, entre outros, para, a partir daí, traçar uma meta, um objetivo, mais amplo ou mais
específico.

Conhecer o perfil do paciente, a gravidade da dependência para planejar o tipo de tratamento, mais
ou menos intensivo, orientação familiar etc.

Existem vários instrumentos de avaliação validados no Brasil para auxiliar no diagnóstico diferencial,
complementar a Hipótese Diagnóstica geral, já vista por vocês. Seguem alguns para conhecimento.

Diagnóstico
Os diagnósticos devem ser realizados com base na CID-10 ou DSM –IV. Importante investigar
também as comorbidades associadas, encaminhar para um clínico médico ou outros especialistas
caso o paciente possua queixas médicas diversas e, quando houver um neuropsicólogo, realizar
avaliação dos prejuízos cognitivos, nos casos que haja essa dúvida. Um diagnóstico diferencial é
fundamental para um bom planejamento terapêutico e escolha das intervenções para cada caso.

O plano terapêutico é essencial no processo de tratamento e baseia-se nas informações colhidas


durante a entrevista inicial.

Tal plano organiza, integra e determina prioridades, servindo como plano de ação para atingir as
metas estabelecidas.

Identifica prioridades em curto e longo prazo, bem como as barreiras a serem ultrapassadas.

Serve, também, como referência para monitorar o trajeto já percorrido.

O plano de tratamento

É, enfim, a agenda que surge do processo de avaliação inicial, logo, é pessoal e intransferível.

A dupla terapeuta-cliente deve desenvolver a lista de metas terapêuticas e ordená-las prioritariamente.

Em muitos casos, a prioridade inicial é a redução ou cessação do consumo de uma dada substância.

63
UNIDADE II │ELABORAÇÃO E EXECUÇÃO DE PROJETOS PÚBLICOS E PRIVADOS PARA DEPENDÊNCIA QUÍMICA

Outras prioridades podem ser melhorar a situação familiar, no trabalho, retornar à escola etc.

Quando a atenção está focada é melhor a capacidade de resolução do problema, o que encoraja a
enfrentar desafios futuros.

Metas em curto e longo prazo

Metas em curto prazo são aquelas que podem ou devem ser alcançadas nos primeiros 6 meses de
tratamento.

Tal diferenciação é importante para tornar viável e menos frustrante o processo quando as metas
são de execução mais complicada ou exigem mais tempo.

Prioridade

Qualquer avaliação pré-tratamento, para qualquer espécie de tratamento oferecido,


necessita, antes de mais nada, da verificação da gravidade da dependência e da
abordagem inicial para desintoxicação ou exclusão de qualquer outra urgência ou
emergência médica!

Estágio de motivação

Tal procedimento vai permitir ao cliente obter insights sobre o quanto está preparado para embarcar
no processo de mudança.

A definição do estágio de motivação não define, per se, o plano de tratamento, mas tem implicação
em como as metas são definidas e perseguidas.

Importante: definir e buscar metas plausíveis!

Problemas maiores, quando possível, devem ser subdivididos. Isto é preferível a desencorajar os
pacientes.

Setting, tempo de tratamento, frequência

Pacientes internados x pacientes ambulatoriais.

Definir o tempo do contrato terapêutico.

Definir a frequência das sessões.

Os planos devem ser flexíveis, mas é importante reportar-se ao plano inicial. Logo, o plano de
tratamento não se esgota nas sessões iniciais, é sempre reformulado.

64
ELABORAÇÃO E EXECUÇÃO DE PROJETOS PÚBLICOS E PRIVADOS PARA DEPENDÊNCIA QUÍMICA│ UNIDADE II

Metas individualizadas

Quaisquer forem escolhidas pela dupla, devem ser feitas claramente: “parar e manter-se sem usar
crack” x “deixar de ficar no grau”.

Parte-se do princípio que uma substância pode causar danos em cascata na biografia do cliente, logo,
abster-se pode ser o primeiro nó a ser desatado, além de que facilita o tratamento de ou minimiza
outros transtornos.

Qualidades de um programa de metas bem desenvolvido

»» Metas significativas para o cliente.

»» Concretas, específicas, voltadas para o comportamento.

»» Focado em otimizar comportamentos desejáveis.

»» Metas realistas e atingíveis.

»» Passos progressivos.

»» Empenho para sua realização.

»» Apropriada para o período pré-estabelecido.

Seguem os elementos fundamentais para a boa prática do tratamento da


dependência química.

»» As demandas dos pacientes devem ser avaliadas considerando quatro


eixos: consumo de substâncias, saúde física e mental, funcionamento
social e envolvimento criminal.

»» Avaliar a situação de risco dos filhos de pais dependentes químicos que


procuram ajuda.

»» Todo paciente necessita de um plano de tratamento estruturado e


constantemente revisado.

»» O tratamento da dependência envolve uma série de intervenções e não


apenas prescrição de medicamentos e internação.

»» Um profissional responsável – entre todos os envolvidos – deve gerenciar


os cuidados e o planejamento das ações.

»» O teste de drogas pode ser uma ferramenta útil para avaliar


qualitativamente a adesão e o prognóstico do tratamento. (RIBEIRO, 2010;
DH, 2007).

65
UNIDADE II │ELABORAÇÃO E EXECUÇÃO DE PROJETOS PÚBLICOS E PRIVADOS PARA DEPENDÊNCIA QUÍMICA

EDWARDS G., MARSHAL E.J., COOK C.C.H. Identificação e screnning de casos. In:
EDWARDS G., MARSHAL E.J, COOK C.C.H. O Tratamento do Alcoolismo. 4. ed. Porto
Alegre: Artmed. 2005.

Adesão
Como consequência do aumento do consumo das substâncias, temos o aumento da demanda da
procura por tratamento especializado em dependência química, e a necessidade de compreender
melhor o usuário, melhorar sua adesão e aumentar as chances de sucesso das intervenções. O
problema do abandono é, usualmente, visto no contexto de doenças crônicas, exigem tratamento
prolongado e não é raro encontrarmos taxas de abandono acima de 50% no primeiro mês de
tratamento. (STARK, 1992).

Para que possam valer-se dos benefícios do tratamento, os pacientes devem permanecer vinculados
ao serviço por um período de tempo mínimo, e este tempo é um critério de sucesso para atingir um
padrão estável de abstinência e fatores de proteção para o período pós-alta. (RIBEIRO, 2011, p. 19).

A adesão pode ser mais difícil se o programa de tratamento for mais comportamental que
medicamentoso, ou quando não há sofrimento evidente e as consequências da não adesão não
parecem ser graves e quando não há orientações. (DIMATTEO, 2004).

O tratamento ambulatorial da dependência de substâncias agrega vantagens, como: custo inferior


às internações hospitalares, atendimento a um número maior de pacientes e permanência deles por
mais tempo aderido ao serviço, possibilitando uma participação maior no programa. (ZANELATTO,
2010).

Na rotina de acompanhamento dos pacientes, existem sinais de alerta quanto à iminência ou


presença de recaídas.

»» Sessões em atraso ou perdidas, faltas sem justificativa. O papel do terapeuta: agir


rapidamente, entrar em contato com o paciente no intervalo da sessão, telefonando
ou enviando cartas e telegramas para ele e familiares. Essa atitude pode aumentar
a chance de adesão na próxima consulta em 50%, melhorando o engajamento do
paciente.

»» Mudanças no humor e no comportamento, como repentina irritabilidade,


questionamento sobre a atuação do profissional, atitudes acusatórias, piora da
articulação cognitiva, labilidade afetiva, sinais de intoxicação aguda. O papel do
terapeuta: não partir para argumentação ou confronto, entender essas manifestações
como parte do processo de recaída abre a possibilidade de conversar sobre o assunto,
para juntos pensarem na maneira de superar a crise iminente.

»» Relatos de “quase recaída”. Os pacientes têm dificuldade de falar de suas recaídas,


mas falam de situações próximas.

66
ELABORAÇÃO E EXECUÇÃO DE PROJETOS PÚBLICOS E PRIVADOS PARA DEPENDÊNCIA QUÍMICA│ UNIDADE II

Nesses momentos difíceis vividos pelos pacientes, assim como em todo o processo de tratamento
o manejo de caso, é muito importante, para evitar um abandono, o modelo da Santa Casa de
Misericórdia, que tem os seguintes princípios.

»» Manutenção da continuidade e da cobertura do plano de tratamento que é definido


pela equipe multidisciplinar.

»» Planejamento, com maior qualidade, e apoio entre os membros da equipe.

»» Alocação de recursos na rede social.

»» Elaboração de um programa de intervenção detalhado e individualizado a cada


paciente.

»» Centralização de informações, problemas, entre outras questões pertinentes à


eficiência do programa de reabilitação psicossocial do paciente.

(PINHEIRO, RATTO, 2011; Irmandade da Santa Casa de Misericórdia São Paulo, 2010).

Esses aspectos, se trabalhados adequadamente, podem facilitar a adesão.

A intervenção motivacional demonstra maior eficácia, maior aderência ao tratamento e maior


redução da ambivalência dos pacientes. (RESENDE, 2005).

Em todo o processo, a Entrevista Motivacional é importante na abordagem da equipe multiprofissional


com o paciente, para auxiliá-lo no processo de mudança, desde a utilização da técnica “remover
barreiras”, para o tratamento, como fluir com a resistência, em alguns casos. (MILLER, ROLLNICK,
2001).

RESENDE, G.L.O.; AMARAL, V.L.A.R.; BANDEIRA, M.; GOMIDE, A.T.S.; ANDRADE, E.M.R.
Análise da prontidão para o tratamento em alcoolistas em um centro de
tratamento. Rev. Psiq. Clín. 32 (4); 211-217, 2005.

MILLER, WR; ROLLNICK, S. Entrevista Motivacional: preparando as pessoas para


a mudança de comportamentos adictivos. Tradução Andrea Caleffi e Cláudia
Dornelles. Porto Alegre: Artmed; 2001. 296p.

Já pensamos no tema de maneira geral, mas um dilema que não podemos deixar de refletir e que
nos deparamos cotidianamente em nossa prática profissional é a dificuldade que muitos pacientes
apresentam em não aceitarem a medicação ou não tomá-la de forma adequada.

Os pacientes nos questionam... Por que tomar remédios? Isso não é trocar uma
droga por outra?

Doenças físicas e mentais surgem com frequência nos pacientes com dependência
química. O consumo de substâncias não apenas muda o organismo, como também
o funcionamento cerebral. O uso de medicamentos tenta amenizar o desconforto

67
UNIDADE II │ELABORAÇÃO E EXECUÇÃO DE PROJETOS PÚBLICOS E PRIVADOS PARA DEPENDÊNCIA QUÍMICA

da falta da droga ou tratar as sequelas geradas por esse consumo. Alguns pacientes
vão precisar de remédios por pouco tempo, outros por tempo indeterminado. Os
remédios psiquiátricos apenas são perigosos se tomados sem acompanhamento
médico. Não tomar remédios quando estes são indicados é aumentar a chance de
recaídas.

FIGLIE; NELIANA, BUZI; LARANJEIRA, R. Gerenciamento de caso aplicado ao


tratamento da dependência do álcool. Rev. Bras. Psiquiatr. São Paulo, 2012. Rev.
Bras. Psiquiatr. vol.26 suppl.1 São Paulo May 2004. Disponível em: <www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462004000500016&lang=pt>.

Peixoto, C.; Prado, C.H.O.; Rodrigues, C.P.; Cheda, J.N.D.; Mota, L.B.T.; Veras, A.B.;
Impacto do perfil clínico e sociodemográfico na adesão ao tratamento de
pacientes de um Centro de Atenção Psicossocial a Usuários de Álcool e Drogas
(CAPSad). J Bras Psiquiatr.; 59(4):317-321, 2010.

Escreva sobre um caso que você atendeu que teve difícil manejo e refletiu em baixa
ou não adesão ao tratamento. Caso não atenda ainda não atenda pacientes, escreva
um breve texto do que mais o assunto lhe chama atenção.

68
EQUIPE
MULTIDISCIPLINAR
NO TRATAMENTO UNIDADE III
DA DEPENDÊNCIA
QUÍMICA
Como um único profissional poderia suprir todas as necessidades relacionadas à
dependência química?

A dependência leva a alterações em diferentes setores. A multidisciplinaridade é necessária para


englobar cada “deficiência” visando a uma reestruturação global. (Figlie et. al., 2010)

O recurso humano para esta função é o grande diferencial de qualquer serviço de


dependência química que se deseja organizar (OLIVEIRA; TEDESCO, 2006). Já pensou
nisso?
CAPÍTULO 1
Perfil dos profissionais, discussão
periódica, individualização de funções
e coletivização de condutas

Perfil dos profissionais

Formação da equipe
No atendimento a dependência química, por ser um problema de saúde complexo e atingir as várias
áreas da vida do paciente, a equipe deve ser multiprofissional, dentro do possível, com os mais
variados profissionais, para atender as diversas demandas, por exemplo, no modelo da enfermaria
UNIAD SBC.

»» 3 psiquiatras (1 deles clínico geral).

»» 1 médico diretor administrativo.

»» 2 assistentes sociais.

»» 2 terapeutas ocupacionais.

»» 1 professora de Educação Física.

»» 3 psicólogos.

»» 5 enfermeiros.

»» 16 auxiliares de enfermagem.

»» 1 professor de dança.

»» 3 conselheiros em dependência química.

»» 1 nutricionista.

»» 1 secretária.

Trabalhar com dependentes químicos, em geral, é uma atividade que exige dos profissionais
envolvidos capacidade de acolher, de receber, de estar aberto para a vivência do outro.

Exige capacidade de tolerar frustrações, grau elevado de reafirmação interna e externa de regras e
de limites. (OLIVEIRA; TEDESCO, 2006).

70
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR NO TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA│ UNIDADE III

Escolher as pessoas certas não garantirá, por si só, os resultados esperados.


É necessário fomentar boa comunicação por meio de reuniões de trabalho,
revisões clínicas, grupos de discussão e supervisão individual. O ingrediente
final é a liderança clínica, sem a qual mesmo a melhor equipe pode tornar-se
ineficiente e perder a visão de seus objetivos.

(EDWARDS et. al., 2005).

O que a evidência científica fala sobre equipes e dependência química?

»» Equipes que trabalham com coesão de grupo, demonstrando satisfação em suas


atividades diárias, e promovem adequação da comunicação em rede são mais
assertivas.

»» O maior engajamento do paciente no tratamento (rapport, satisfação e participação)


tem relação com aquelas equipes que possuem maiores atributos relacionados a
uma atmosfera acolhedora e empática. (GREENER et. al., 2007).

A equipe multidisciplinar também pode adoecer?

Profissionais da saúde, assistência ou educação passam por desafios constantes, colocando‑se, com
certa assiduidade, em si­tuações de limite físico, emocional e mental. (PAYÁ, PROENÇA; 2011).

Muitas vezes, o estresse é um aliado na superação de desafios, mas, cronicamente, pode causar
danos im­portantes para a saúde física e mental. (PAYÁ, PROENÇA; 2011; SARDÁ et. al., 2004).

Para evitar a síndrome de Burnout, deve-se implantar medidas preventivas, como


estratégias de mudanças para o bem‑estar do profissional. Devem ser implantadas
e garantidas na organização do serviço, no planejamento de carga horária e na
promoção de suporte e apoio à equipe e a seus membros. (PAYÁ, PROENÇA, 2011).

O profissional deve cuidar de sua qualidade de vida, buscar terapia pessoal e momentos de lazer,
para evitar o esgotamento mental e emocional.

Discussão periódica
A discussão periódica mantém todos os profissionais que atendem determinado caso atualizados
sobre a situação dele. Há necessidade de gerenciamento; os princípios componentes do manejo de
caso são: responsabi­lidade, atividade e autoridade.

Responsabilidade refere‑se à supervisão do caso por um membro da equipe a quem todo o trabalho
fei­to com o paciente deve ser reportado. Já atividade, diz respeito à identificação, eleição e inserção
dos pacien­
tes nos projetos terapêuticos, conforme a demanda de cada caso. Inclui, ainda, a

71
UNIDADE III │EQUIPE MULTIDISCIPLINAR NO TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA

reavaliação e a discussão terapêutica diante da evolução do quadro. Por fim, a autoridade está ligada
à autonomia do gerenciador do caso no que tange aos recursos a serem disponi­bilizados para cada
paciente. Assim, esse componente do modelo de manejo de caso envolve desde fatores de ordem
técnica e financeira a questões burocráticas e administrativas.

(PINHEIRO, RATTO, 2011; TAMAI, SANCHES, 2009).

Princípios do modelo de manejo de caso do CAISM

»» Manutenção da continuidade e da cobertura do plano de tratamento que é definido


pela equipe multidisciplinar.

»» Planejamento, com maior qualidade e apoio entre os membros da equipe.

»» Alocação de recursos na rede social.

»» Elaboração de um programa de intervenção detalhado e individualizado a cada paciente.

»» Centralização de informações, problemas, entre outras questões pertinentes à


eficiência do programa de reabilitação psicossocial do paciente.

(PINHEIRO; RATTO, 2011; Irmandade da Santa Casa de Misericórdia São Paulo 2002).

Individualização de funções e coletivização


de condutas

A conduta irá variar conforme a gravidade da dependência, os tipos de problemas


relacionados, os suporte familiar e social de cada paciente, entre outros.

Cada profissional atuará na sua expertise, a fim de contribuir com a evolução positiva do caso.

Os pacientes que chegam ao serviço primário, como UBS, pronto-socorros, são avaliados e
encaminhados, quando mais graves, para os serviços secundários, como CAPS AD e AME. Lá, após
a avaliação da equipe, terá seu tratamento direcionado.

É oferecido atendimento individual e/ou em grupo, alguns são estimulados para atividades na rede
de apoio, como em centros de convivência comunitária (CECCOS), clubes escola. Com o serviço
social, é reorganizada a área vocacional e laboral e encaminhamentos para os grupos de mútua-
ajuda, como AA, NA; para a família Amor Exigente, Naranon e Alanon.

Sobre a importância da Rede Social de Apoio fica o convite para conhecerem mais
sobre o tema.

MARINHO, J.A.C.; SILVA, I.F.; FERREIRA SL. Terapia de rede social e de 12 passos. In:
DIEHL, A.; CORDEIRO, D.C.; LARANJEIRA, R. R. Dependência química: prevenção,
tratamento e políticas públicas. 1. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

72
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR NO TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA│ UNIDADE III

A coletivização das condutas é o consenso dos profissionais, geralmente, feito em reuniões da equipe
semanais sobre os manejos de casos. Muitos protocolos são criados, para aprimoramento, desde as
avaliações, como os tipos de grupos e conteúdo/temas das sessões para cada tipo de dependência.

Os casos atuais de dependentes de crack têm exigido uma discussão constante e requerem um
tratamento mais específico, muitas vezes, sendo indicada a internação como uma primeira etapa,
para uma imediata desintoxicação e proteção dos riscos que o paciente se expõe. Auxílio e orientação
aos familiares também é fundamental.

RIBEIRO, M.; LARANJEIRA, R. (org). O tratamento do usuário de crack. 2ª ed. Porto


Alegre: Artmed, 2012.

»» Como você poderia avaliar se sua equipe (caso esteja atuando em um


serviço de atendimento ao dependente químico) está se comunicando
bem e se as tomadas de decisão são realizadas com sucesso? Explique sua
resposta com um exemplo de caso.

»» Caso não esteja atuando na área, como vê a relação da adesão com o


funcionamento da equipe e organização do serviço?

73
PARA (NÃO) FINALIZAR

O problema de uso/abuso e dependência de substâncias psicoativas é um atual problema de saúde


pública no Brasil.

O contexto geral que se oferecem tratamentos é o de uma comunidade que é um sistema complexo,
dinâmico e adaptativo. Os serviços sociais e de cuidados com a saúde devem ser considerados como
um componente de um subsistema de consequências sociais, econômicas e de saúde, em interação
com vários outros subsistemas, inclusive consumo, normas sociais e sanções legais. (EDWARDS,
2010; HOLDER, 1998).

Devemos ter sempre em mente os treze princípios do tratamento para a dependência química. Um
guia baseado em pesquisas do National Institute on Drug Abuse, que há três décadas investiga
cientificamente a prática clínica, ] produziu como resultado uma variedade de enfoques efetivos
para tratar a dependência química.

<http://www.nida.nih.gov>

<http://www.drugabuse.gov/>

74
REFERÊNCIAS
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D.C.; LARANJEIRA, R. R. Dependência química: prevenção, tratamento e políticas Públicas. 1. ed.
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DIEHL, A.; CORDEIRO, D.C.; LARANJEIRA, R. R. Dependência química: prevenção, tratamento


e políticas públicas. 1. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

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D.C.; LARANJEIRA, R. R. Dependência química: prevenção, tratamento e políticas públicas. 1. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2011.

DIEHL, A.; CORDEIRO, D.C.; LARANJEIRA, R. R. Tratamentos Farmacológicos para


Dependência Química – Da evidência científica à prática clínica. Porto Alegre: Editora
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REFERÊNCIAS

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