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Interpretação de Exames Bioquímicos

e a Interação Droga x Nutriente

Brasília-DF.
Elaboração

Daniela Martins da Silva

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO................................................................................................................................... 5

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA...................................................................... 6

INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 8

UNIDADE I
CONCEITOS......................................................................................................................................... 9

CAPÍTULO 1
FARMACOLOGIA E INTERAÇÃO ENTRE ALIMENTOS E NUTRIENTES................................................ 9

CAPÍTULO 2
FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA DAS INTERAÇÕES................................................. 15

UNIDADE II
MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS.................................................................................................. 21

CAPÍTULO 1
FÁRMACOS PARA O SISTEMA DIGESTÓRIO.............................................................................. 21

CAPÍTULO 2
ANTIDIABÉTICOS..................................................................................................................... 26

CAPÍTULO 3
ANTI-HIPERTENSIVOS E HIPOLIPIDEMIANTES............................................................................... 29

CAPÍTULO 4
ANTI-INFLAMATÓRIOS E ANTI-INFECCIOSOS............................................................................. 37

CAPÍTULO 5
ANTINEOPLÁSICOS................................................................................................................. 44

CAPÍTULO 6
ANSIOLÍTICOS E ANTIDEPRESSIVOS.......................................................................................... 50

UNIDADE III
TRATAMENTO DA OBESIDADE............................................................................................................... 55

CAPÍTULO 1
OBESIDADE E TRATAMENTO..................................................................................................... 55

UNIDADE IV
HORMÔNIOS SEXUAIS......................................................................................................................... 60
CAPÍTULO 1
REGULAÇÃO HORMONAL E MEDICAMENTOS.......................................................................... 60

UNIDADE V
MEDICAMENTOS E LEITE MATERNO...................................................................................................... 66

CAPÍTULO 1
LEITE MATERNO E FÁRMACOS................................................................................................. 66

UNIDADE VI
DROGAS DE ABUSO............................................................................................................................ 72

CAPÍTULO 1
INTERAÇÕES DROGAS DE ABUSO VERSUS ALIMENTO............................................................... 72

UNIDADE VII
DEFICIÊNCIA DE NUTRIENTES E EXAMES LABORATORIAIS........................................................................ 78

CAPÍTULO 1
DEFICIÊNCIA DE NUTRIENTES E EXAMES LABORATORIAIS........................................................... 78

PARA (NÃO) FINALIZAR....................................................................................................................... 88

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 89
Apresentação
Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

6
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Embora a interação alimento-medicamento desperte o interesse dos profissionais da saúde devido
a sua importância, é um assunto que ainda precisa ser estudado e pesquisado. As informações são
frequentemente contraditórias e algumas vezes inespecíficas. Embora essas interações raramente
ocasionem consequências fatais, é relativamente frequente o surgimento de efeitos adversos,
mais ou menos importantes, imprevisíveis ou que originam respostas farmacológicas diversas em
intensidade nem sempre esperadas para uma determinada dosagem.

Os alimentos podem modificar os efeitos dos fármacos, fundamentalmente por interferência no


seu comportamento farmacocinético, designadamente nos processos de absorção, distribuição,
metabolismo e excreção ou no seu comportamento farmacodinâmico, originando efeito contrário
ao esperado.

Desde a década de 1980, a Joint Commission on Accreditation of Hospital vem incentivando


profissionais como farmacêuticos e nutricionistas a monitorar as interações fármaco-nutriente que
ocorrem com pacientes internados, bem como a orientá-los a este respeito quando eles deixam o
hospital. Portanto, na equipe de saúde, esses profissionais desempenham um papel importante na
identificação dessas interações e na educação de pacientes em programas de aconselhamento.

Um maior conhecimento por parte dos profissionais da área da saúde acerca das interações conduz
a um controle mais efetivo de possíveis deficiências nutricionais e permite a intervenção com
estratégias para suplementar essas deficiências. Para que o profissional possa prescrever um plano
dietético de modo apropriado, é necessário o conhecimento e a correta avaliação da função de órgãos e
sistemas. Sendo assim, a solicitação e a correta interpretação dos exames complementares impõem-
se ao profissional de saúde que avalia o paciente. Os exames laboratoriais serão responsáveis por
detectar insuficiências orgânicas e alterações nas concentrações de nutrientes e/ou seus metabólitos.
Por essa razão, a prescrição de nutrição, seja oral, enteral e/ou parenteral, pressupõe a correta
solicitação e avaliação de exames laboratoriais.

Objetivos
»» Compreender as interações entre medicamentos e nutrientes.

»» Compreender a função dos medicamentos e como estes podem prejudicar a absorção


de alimentos.

»» Discutir a prevenção e o tratamento da deficiência de nutrientes causada por


medicamentos.

»» Fornecer noções sobre os exames laboratoriais necessários para identificação de


deficiência de nutrientes em pacientes utilizando medicamentos.

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CONCEITOS UNIDADE I

CAPÍTULO 1
Farmacologia e interação entre
alimentos e nutrientes

Conceitos em farmacologia
A farmacologia pode ser definida como o estudo dos efeitos das substâncias químicas sobre a função
dos sistemas biológicos. Foi reconhecida como ciência na segunda metade do século XIX, onde os
princípios científicos passaram a ser considerados no estabelecimento das práticas terapêuticas.
Tendo em vista que, desde as civilizações mais antigas, remédios com base em ervas ou outros
produtos naturais de origem vegetal, animal ou mineral eram amplamente utilizados para combater
as diversas enfermidades que acometiam o homem e os animais domésticos que com ele conviviam,
surgiu a necessidade de melhorar a qualidade da intervenção terapêutica dos médicos que, naquela
época, eram proficientes na observação clínica e diagnósticos, porém amplamente incompetentes
quando se tratava de terapia. O avanço de diversas ciências como a fisiologia e a química contribuiu
muito no sentido de esclarecer os mecanismos químicos e biológicos pelo qual os medicamentos
atuam e a estrutura química correspondente a cada substância. Hoje, a medicina moderna baseia-
se, em grande parte, em fármacos como principal instrumento de terapia, já que o estudo dos
medicamentos aperfeiçoou-se ao longo do tempo.

Ao falar de interações entre medicamentos e alimentos, é essencial compreender alguns conceitos


básicos acerca dos fármacos. Embora muito utilizados, os termos remédio, medicamento e fármaco
possuem significados diferentes.

»» Remédio: é uma palavra normalmente usada pelo leigo como sinônimo de


medicamento ou especialidade farmacêutica. Portanto, remédio pode ser tudo
aquilo que cura ou evita as enfermidades. Não só as substâncias químicas podem
ser consideradas remédios, mas também alguns agentes físicos como massagens,
duchas etc.

»» Medicamento: são utilizados para prevenção, alívio de sintomas, cura e


diagnóstico de doenças e são constituídos de princípio ativo ou fármaco adicionado
de veículo. Pode ser considerado o mesmo que fármaco, mas especialmente quando
se encontra na sua forma farmacêutica.

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UNIDADE I │ CONCEITOS

»» Fármaco: sinônimo de princípio ativo, é a substância química de constituição


definida que pode ter aplicação em farmácia como preventivo, curativo ou agente
de diagnóstico (Quadro 1).

»» Droga: este termo, também empregado em diversas situações, refere-se à matéria-


-prima mineral, vegetal ou animal da qual se podem extrair um ou mais princípios
ativos, sendo assim, os agentes terapêuticos de origem sintética não são drogas.

Quadro 1. Finalidade dos fármacos.

FINALIDADE DOS FÁRMACOS EXEMPLOS


Fornecimento de elementos carentes ao organismo Vitaminas, sais minerais, proteínas, hormônios.
Prevenção de uma doença ou infecção Soros e vacinas.
Combate a uma infecção Quimioterápicos, incluindo antibióticos.
Bloqueio temporário de uma função normal Anestésicos e anticoncepcionais orais.
Disfunção (insuficiência cardíaca): cardiotônicos;
Correção de uma função orgânica desregulada hipofunção (insuficiência na suprarrenal): hidrocortisona; hiperfunção
(hipertensão): metildopa.
Destoxificação do organismo Antídotos.
Agentes auxiliares de diagnóstico Radiopacos.

Os medicamentos costumam possuir nomes muito longos e complicados. Para facilitar a


compreensão, existem órgãos internacionais que definem um nome mais curto e simplificado para
os medicamentos, o que conhecemos como nome genérico. No Brasil, adotamos os nomes dados
pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e também pela Farmacopeia Brasileira.

O nome genérico é o nome da substância ativa, aquela que exerce a ação principal no
medicamento. Contudo, os medicamentos podem também possuir um nome comercial ou marca
comercial, que é um nome individual selecionado e usado pelo fabricante. Os medicamentos
com nome comercial podem ser divididos entre os similares e os de referência. A diferença
entre eles é que o medicamento considerado de referência pertence ao fabricante que introduziu
o medicamento no mercado e que tem direito a patente. Após o período de exclusividade da
patente, outros fabricantes podem comercializar esse mesmo medicamento e, se estes forem
registrados com nome comercial, passa a ser um similar. O medicamento genérico passa
por testes de bioequivalência e biodisponibilidade para comprovar que possui as mesmas
características e qualidade do medicamento referência ao qual se equivale e que os torna
intercambiáveis, diferentemente do medicamento similar, que não passa pelos testes e que,
embora possua mesmo princípio ativo e mesma concentração, não é idêntico ao de referência
(GUIA DE MEDICAMENTO, 2011; KOROLKOVAS; BURCKHALTER, 1988).

Os medicamentos são apresentados para comercialização em diferentes formas farmacêuticas.


A forma farmacêutica (Quadro 2) é a maneira como se apresenta um medicamento pronto para
ser administrado. É o estado final que se apresentam as substâncias medicamentosas depois de
submetidas a uma ou mais operações farmacêuticas, com o fim de facilitar a administração e obter
o efeito desejado.

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CONCEITOS │ UNIDADE I

Quadro 2. Tipos de preparações farmacêuticas.

PREPARAÇÕES FORMAS FARMACÊUTICAS

Líquida Soluções, suspensões, emulsões, xaropes, elixires, loções, linimentos.

Sólida Comprimidos, drágeas, cápsulas, pílulas, supositórios, óvulos.

Semissólida Pomadas, cremes, pasta, gel.

Os fármacos podem ser administrados por diferentes vias e estão disponíveis em diversas formas
farmacêuticas, adequadas a essas vias (Quadro 3). As vias de administração podem ser divididas
em enteral e parenteral. A enteral é relacionada ao aparelho digestório (via oral), onde ocorre o
efeito de primeira passagem, ou seja, biotransformação no fígado. A parenteral é aquela que não
está relacionada ao aparelho digestivo, pois não ocorre o efeito de primeira passagem como, por
exemplo, as vias subcutâneas, intramuscular, endovenosa, dérmica, retal, entre outras.

Quadro 3. Vias de administração x formas farmacêuticas.

VIAS FORMAS FARMACÊUTICAS


Oral Comprimidos, cápsulas, drágeas, xaropes e soluções.

Via aérea Aerossóis e soluções.

Via dérmica Pós, pomadas, géis, cremes, loções.

Via transvaginal Óvulos, pomadas e cremes.

Via retal Supositórios, pomadas e cremes.

Via oftálmica Colírios e pomadas estéreis.

Via auricular Soluções de gotejamento.

Vale ressaltar que alguns fármacos, na forma de soluções injetáveis, podem ser administrados pela
via intramuscular, subcutânea, endovenosa, raquidiana ou intratecal.

Entre as formas farmacêuticas existentes, destacam-se aquelas utilizadas por via oral, podem se
apresentar na forma líquida ou sólida.

As formas líquidas são de absorção mais rápida em relação às sólidas, pois não dependem da
dissolução do veículo que contém o fármaco, nem da solubilização deste nos líquidos intracelulares,
pois o fármaco já está livre e solubilizado. Entre as formas sólidas, as cápsulas são as mais
prontamente absorvidas, seguidas pelos comprimidos e drágeas. Isso ocorre pelo fato de a cápsula
ser constituída por uma matriz gelatinosa, facilmente dissolvida em contato com a água, enquanto o
comprimido necessita ser desintegrado para a liberação do fármaco (GOMEZ; VENTURINI, 2009).

A drágea é uma forma especial de comprimido utilizada para impedir que este entre em contato com
a mucosa do estômago, provocando lesão. É um comprimido normal, recoberto por uma camada
de polímero biodegradável, resistente à dissolução no estômago, sendo o fármaco liberado apenas
próximo ao intestino. A drágea pode ser comparada a um confete de chocolate que gradualmente
será dissolvido ao longo do sistema digestivo, sendo o fármaco liberado lentamente. A neosaldina®
é um exemplo desse tipo de medicamento (GOMEZ; VENTURINI, 2009).

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UNIDADE I │ CONCEITOS

Os medicamentos na forma sólida, cuja liberação e absorção são mais lentas, podem ser
considerados mais seguros, pois, além de existir uma possibilidade maior de reversão dos casos
de sobredose, contêm a dose exata a ser administrada, diferentemente dos líquidos cujos limites
do frasco dosador nem sempre são respeitados. Embora os comprimidos que não possuem
sulco não devam ser partido, para evitar erro de dosagem, é comum essa prática entre as
pessoas leigas.

Conceitos em interação entre medicamentos


e nutrientes
Todas as pessoas têm necessidades nutricionais, ou seja, devem ingerir diariamente certa quantidade
de nutrientes para que seu organismo funcione adequadamente. Essa quantidade varia de indivíduo
para indivíduo. Entretanto, a partir de muitos estudos em populações saudáveis, foi elaborada pelo
Food and Nutrition Board (FNB) uma tabela de recomendações nutricionais, chamada RDA, que
estabelece valores capazes de cobrir as necessidades da maior parte da população. Esses valores
são, então, utilizados como base para a adequação de nutrientes na dieta, o que só pode ser obtido
a partir de uma alimentação saudável e variada, ou seja, um indivíduo normal que se alimenta
corretamente, sem restrições alimentares, é capaz de obter todos os nutrientes necessários para
um bom funcionamento do organismo. Entretanto, existem algumas doenças ou alterações no
metabolismo que podem alterar a absorção de alguns nutrientes, como a anemia e a osteoporose,
exigindo assim uma suplementação. Outro fator considerável são as exigências da vida atual, que
levam os indivíduos a longas jornadas de trabalho, com curtos intervalos, gerando má alimentação
e estresse acentuado. A consequência muitas vezes é a obesidade, que corresponde a um excesso de
calorias e desnutrição.

Assim, os suplementos nutricionais ganharam popularidade rapidamente, visto que são preparações
destinadas a complementar a dieta e a fornecer os nutrientes como vitaminas, minerais, fibras, ácidos
graxos ou aminoácidos que podem estar faltando ou não podem ser consumidos em quantidade
suficiente na dieta de uma pessoa.

Da mesma forma, o significado das interações entre nutrientes e medicamentos também está
aumentando. Mulheres pós-menopáusicas tomam cálcio e vitamina D para prevenir a osteoporose;
muitos homens tomam betacaroteno e vitamina E para ajudar a prevenir ataques cardíacos. Um
grande número de pessoas conscientes das necessidades nutricionais estão tomando vitaminas
ou minerais por uma variedade de razões: ajudar a garantir uma gravidez saudável, fortalecer
o sistema imunológico, reduzir o risco de câncer. Embora mais estudos sejam necessários para
confirmar se esses benefícios para a saúde são significativos, os médicos e os pacientes já aceitam
que as interações droga-nutriente são consideráveis.

Em alguns casos, um mineral ou vitamina pode tornar um medicamento ineficaz, como, por exemplo,
a tetraciclina, que se liga fortemente ao cálcio, formando um complexo insolúvel; os pacientes que
fazem uso desse medicamento são frequentemente alertados a “evitar os laticínios”. Essa advertência
deve estender-se a suplementos de cálcio e até mesmo a antiácidos com carbonato de cálcio, mas
isso nem sempre é feito. Mesmo que o médico tenha conhecimento que a fenitoína perde 50% da

12
CONCEITOS │ UNIDADE I

sua eficácia na prevenção de convulsões quando tomadas com a vitamina B6, ele pode não saber
quando um paciente está se automedicando com essa vitamina para sintomas pré-menstruais ou
síndrome do túnel do carpo, por exemplo. Assim, a falta de informação sobre os medicamentos e
suplementos que o paciente está utilizando pode gerar consequências graves.

Certos medicamentos podem depletar o corpo de um nutriente específico, como drogas antilipêmicas
(colestiramina) podem interferir com a absorção de um número de nutrientes, incluindo vitaminas
lipossolúveis como A, D, K e, possivelmente, E. Um suplemento multivitamínico pode ser desejável,
mas não deve ser tomado associado ou logo após o medicamento.

Um pobre estado nutricional pode prejudicar o metabolismo de drogas. Pessoas que estão em maior
risco de interações droga-nutriente são aquelas que:

»» possuem alguma doença hepática, renal ou gastrointestinal;

»» são nutricionalmente comprometidas devido a doenças crônicas;

»» perderam peso recentemente ou estão desidratadas;

»» estão em terapia com múltiplas drogas ou tratamento prolongado;

»» estão nos extremos de idade, com alterações na massa corporal magra, fluidos
corporais e concentração de proteínas plasmáticas totais.

Mais informações sobre o efeito dos fármacos na nutrição podem ser encontradas
no artigo: ZYL, M. V. The effects of drugs on nutrition. South African Journal of
Clinical Nutritional, v. 24, n. 3, p. S38-S41, 2011. Disponível em: <http://www.ajol.
info/index.php/sajcn/article/view/69810/57893>.

Os medicamentos podem afetar o estado nutricional de várias formas; alguns produzem anorexia e
perda de peso, outros produzem aumento de peso. Podem diminuir a motilidade gastrointestinal ou
provocar diarreia, vômito e náuseas (Quadros 4, 5 e 6).

Quadro 4. Drogas que produzem alteração no peso.

ANOREXIA OU PERDA DE PESO GANHO DE PESO

Amantadina Antidepressivos tricíclicos (exceto nortriptilina).

Digoxina Valproato.

Fluoxetina Betabloqueadores.

Levodopa Contraceptivos orais.

Lítio Antipsicóticos.

Metformina Esteroides.

Topiramato Esteroides anabólicos.

Nortriptilina

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UNIDADE I │ CONCEITOS

Quadro 5. Drogas que diminuem a motilidade gastrointestinal.

OPIÁCEOS EFEITOS ANTICOLINÉRGICOS

Morfina Antidepressivos tricíclicos.

Codeína Oxibutinina.

Ondansentrona Propantelina.

Quadro 6. Drogas que provocam diarreia, vômito e náuseas.

NÁUSEA E VÔMITO DIARREIA

Quimioterápicos Eritromicina.

Potássio Metoclopramina e domperidona.

Preparações com ferro Misopristil.

Antibióticos Inibidor da bomba de prótons.

Anestésicos Antivirais e antirretrovirais.

Opiáceos Sais de magnésio.

Nicotina Ferro e lítio.

Levodopa Acarbose; digoxina e metformina.

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CAPÍTULO 2
Farmacocinética e farmacodinâmica
das interações

Farmacocinética
O fenômeno de interação fármaco-nutriente pode surgir antes ou durante a absorção gastrintestinal,
durante a distribuição e o armazenamento nos tecidos, no processo de biotransformação ou mesmo
durante a excreção. Assim, é importante compreender os fármacos cuja velocidade de absorção e/
ou quantidade absorvida pode ser afetada na presença de alimentos, bem como aqueles que não são
afetados. Por outro lado, muitos deles, incluindo antibióticos, antiácidos e laxativos podem causar
má absorção de nutrientes (MOURA; REYES, 2002).

A maioria dos fármacos administrados oralmente é absorvida por difusão passiva, enquanto os
nutrientes são absorvidos, preferencialmente, por mecanismo de transporte ativo. A primeira
resulta da difusão do fármaco pela membrana plasmática para dentro da célula epitelial e dali para
o sangue, enquanto o segundo envolve proteínas especializadas, inseridas na membrana plasmática
das células que, gastando energia, transportam o fármaco de fora para dentro da célula e dali para o
sangue (GOMEZ; VENTURINI, 2009). Quando se administra um fármaco por via oral, sua absorção
pelo tubo gastrintestinal e, consequentemente, sua concentração sanguínea são dependentes de
vários fatores (ROE; 1984) como pode ser visto no Quadro 7.

O alimento é indispensável à manutenção e à ordem da saúde e sua importância está associada


à sua capacidade de fornecer ao corpo humano, nutrientes necessários ao seu sustento. Para
isso, é fundamental a sua ingestão em quantidade e qualidade adequadas, de modo que funções
específicas como a plástica, a reguladora e a energética sejam satisfeitas, mantendo assim a
integridade estrutural e funcional do organismo. No entanto, essa integridade pode ser alterada
em casos de falta de um ou mais nutrientes, com consequente deficiência no estado nutricional e
necessidade de suplementação (MOURA; REYES, 2002).

Entretanto, os nutrientes também são capazes de interagir com fármacos, sendo um problema
de grande relevância na prática clínica, devido às alterações na relação risco/benefício do
uso do medicamento. Essas interações são facilitadas, pois os medicamentos, na sua maioria,
são administrados por via oral. Os nutrientes podem modificar os efeitos dos fármacos por
interferirem em processos farmacocinéticos, como absorção, distribuição, biotransformação e
excreção (YAMREUDEEWONG et al., 1995; OLIVEIRA, 1991), acarretando prejuízo terapêutico.
A absorção dos nutrientes e de alguns fármacos ocorre por mecanismos semelhantes e
frequentemente competitivos e, portanto, apresentam como principal sítio de interação o trato
gastrintestinal (TGI).

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UNIDADE I │ CONCEITOS

Quadro 7. Fatores que exercem influência sobre a biodisponibilidade.

ASPECTOS RELACIONADOS AOS FÁRMACOS VARIAÇÕES INDIVIDUAIS

Solubilidade Idade.

Tamanho da partícula Ingestão de alimentos.

Forma farmacêutica Tempo de trânsito intestinal.

Efeitos do fluido gastrintestinal Microflora intestinal.

Metabolismo pré-sistêmico Metabolismo intestinal e hepático.

pKa do fármaco Patologia gastrintestinal.

Natureza química (sal ou éster) PH gastrintestinal.

Liberação imediata ou lenta

Circulação entero-hepática

Como os alimentos em algumas circunstâncias podem tanto afetar a farmacocinética como


a farmacodinâmica dos medicamentos, o clínico deve estar atento em incluir no seu projeto
terapêutico os cuidados mínimos necessários em relação à dieta do seu paciente. De um modo
geral, mas nem sempre, os alimentos retardam o esvaziamento gástrico e diminuem o melhor
contato dos medicamentos com a mucosa absortiva, com a consequente diminuição da absorção
dos medicamentos. Os alimentos gordurosos e bebidas ácidas tendem a diminuir de maneira
mais intensa o esvaziamento com pKa mais ácido, diminuindo a absorção dos que apresentam um
pKa mais básico e que são absorvidos no intestino delgado de forma predominante. Os alimentos
grelhados na brasa produzem hidrocarbonetos policíclicos que são indutores das isoenzimas do
citocromo P450, podendo, na dependência das quantidades ingeridas e da frequência, aumentar o
metabolismo hepático dos medicamentos.

O chá e o café formam precipitados insolúveis com alguns medicamentos, entre os quais se destacam a
clorpromazina e o haloperidol, havendo significativa diminuição da absorção desses medicamentos.
Além disso, poderão antagonizar, por uma ação estimuladora direta no sistema nervoso central
(SNC), o efeito terapêutico dos ansiolíticos e, por uma ação diurética, poderão facilitar a excreção
renal do lítio e causar alguma diminuição do seu nível terapêutico. Obviamente, essa ocorrência
dependerá das quantidades e da frequência de ingestão dessas bebidas. Deve-se destacar que a
cafeína, especificamente, é capaz de bloquear os receptores de adenosina, os canais de cálcio e a
decomposição intracelular do Monofosfato cíclico de Adenosina (AMPc). Tais características poderão
conduzir a uma significativa estimulação do SNC, seguida, posteriormente e muito provavelmente,
em razão de seu uso prolongado e em grandes quantidades, de um déficit de memória.

A alta concentração de íons de cálcio presentes no leite poderá formar complexos menos solúveis e
diminuir a absorção dos medicamentos com pKa mais ácido quando ingeridos conjuntamente. Um
grande aporte de ingestão de ferro, principalmente nas apresentações multivitamínicas e nos sucos de
uva, poderá ligar-se aos grupos catecol da levodopa formando complexos insolúveis, com diminuição
da absorção da levodopa. A mais grave interação dos alimentos com medicamentos ocorre entre
os inibidores da monoamino oxidase (IMAO) e os alimentos contendo tiramina, principalmente os

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CONCEITOS │ UNIDADE I

fermentados, vinhos e queijos. Essa interação poderá aparecer precocemente, em torno de 3 horas
após a ingestão. Poderão ocorrer crises hipertensivas graves a ponto de conduzir ao óbito. Caso ocorra
essa interação com surgimento de hipertensão arterial, nos casos leves, deve-se utilizar a nifedipina
20 mg por via oral, e, nos casos mais graves, o medicamento de escolha é a fentolamina, na dose
aproximada de 5,0 mg por via intravenosa lentamente.

O clínico poderá utilizar, na dieta do paciente depressivo, alimentos ricos em serotonina, como a alface,
a banana, a ameixa e o peito de frango, a fim de potencializar o efeito terapêutico dos antidepressivos.
Poderá fazer uma dieta rica em fenilalanina, que é precursora da noradrenalina e dopamina,
encontrada de forma abundante na carne vermelha, para também potencializar os antidepressivos.
Poderá, ainda, retirar essa carne vermelha rica em precursores noradrenérgicos/dopaminérgicos dos
pacientes com transtorno de ansiedade em uso de ansiolíticos. Por fim, vale lembrar que o paciente
em estado de carência alimentar, por qualquer razão, apresenta menor taxa de albumina no plasma, o
que pode aumentar significativamente a fração livre circulante dos medicamentos, com possibilidade
maior de ocorrer efeitos indesejáveis e tóxicos não previstos (SUCAR, 2003).

O processo de absorção dos fármacos pode ser condicionado pelos alimentos ou por alguns dos
seus componentes, quer quanto à velocidade, quer quanto à quantidade de fármaco absorvida. Essa
influência poderá ser de natureza fisiológica, originando uma modificação do esvaziamento gástrico
ou um aumento da motilidade intestinal, ou de natureza físico-química, em que se destacam os
fenômenos de quelação e de adsorção (GOMEZ; VENTURINI, 2009).

A modificação da velocidade de esvaziamento gástrico é o fator com maior implicação em relação à


absorção, e o efeito poderá ser de atraso, redução, aumento ou antecipação da absorção (SMITH;
BIDLACK, 1984).

Analgésicos e anti-inflamatórios, por exemplo, são com frequência administrados com alimentos. O
objetivo é diminuir as irritações da mucosa gástrica provocadas, principalmente, pela administração
desses medicamentos por tempo prolongado. De acordo com a maioria das pesquisas realizadas,
os nutrientes diminuem a velocidade de absorção dos fármacos, provavelmente por retardarem o
esvaziamento gástrico (SOUICH et al., 1992).

Entre os fármacos nos quais se verifica uma redução pronunciada no processo de absorção, por
interação com constituintes da dieta, podem-se destacar as tetraciclinas que formam quelatos não
absorvíveis com íons di ou trivalentes (MAIA et al., 2010), particularmente abundantes em alimentos
ou bebidas contendo cálcio e em alimentos fortificados com ferro. Outro exemplo clássico é o da
administração concomitante de fenoximetilpenicilina potássica, por via oral, com alimentos, o que
ocasiona uma notável diminuição na biodisponibilidade do fármaco. Fazendo com que a absorção
da penicilina ocorra, principalmente, no duodeno e no íleo, devido ao processo de decomposição no
estômago decorrente do pH ácido e da presença de enzimas digestivas, os alimentos que favorecem a
secreção ácida e o retardamento do esvazimento gástrico constituem importante fator de diminuição
da biodisponibilidade do medicamento (VILAPLANA, 2002; MARINÉ et al., 1986).

Existem, porém, alguns medicamentos cuja absorção ou biodisponibilidade é aumentada pela


presença de alimentos. Na maioria das situações, esse acréscimo na absorção está relacionado com
alterações no pH gástrico, na solubilidade do fármaco ou no esvazimento gástrico.

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UNIDADE I │ CONCEITOS

As interações que se repercutem no processo de distribuição são pouco relevantes clinicamente,


sendo que as interações que conduzem a alterações do metabolismo dos fármacos resultam,
principalmente, da interferência das enzimas de fase I, conhecidas como sistema enzimático
citocromo P450, que, ao sofrer influência dos constituintes da alimentação, pode resultar numa
inibição ou indução enzimática. Nesse âmbito, têm sido identificadas numerosas interações,
com significado clínico, entre o sumo de toranja e diversos medicamentos. Essas interações
traduzem-se num efeito inibitório provocado provavelmente por alguns flavonoides, como a
naringenina encontrada em frutas cítricas, como toranja, laranja, limão, mexerica e outras, sobre
o metabolismo dos fármacos metabolizados pelo CYP 3A4, o que ocasiona um aumento das suas
concentrações plasmáticas, com eventual risco para o doente. Nessas circunstâncias, as interações
conhecidas permitem contraindicar a ingestão das frutas citadas durante a terapêutica com, por
exemplo, terfenadina, diazepam, carbamazepina, lovastatina, atorvastatina e sinvastatina (KANE;
LIPSKY, 2000).

No que diz respeito à eliminação dos fármacos, esse processo pode ser condicionado ao pH urinário,
que influencia o processo de reabsorção tubular dos ácidos e das bases fracas por alteração do
grau de ionização das moléculas. Entre os medicamentos que acidificam a urina estão a carne de
aves, o peixe, as uvas, o pão e o queijo, sendo que os frutos (com exceção das uvas), os legumes
(com exceção do milho e da lentilha), o leite, as natas e a manteiga são alimentos suscetíveis de
alcalinizar a urina (MARINÉ et al., 1986).

Quando administramos um medicamento via endovenosa, não ocorre absorção, pois o fármaco
está totalmente disponível no sangue ao final da injeção, não necessitando atravessar nenhuma
membrana. Ao contrário, na via oral, o fármaco precisa atravessar várias membranas e nunca é
100% absorvido, sendo parte retida na mucosa e excretada com as fezes.

»» A absorção do fármaco pelo trato gastrintestinal pode ser influenciada por:

»» presença de alimentos no sistema digestório;

»» alteração da motilidade intestinal;

»» aumento da absorção de fármacos lipossolúveis;

»» variação do pH;

»» formação de complexos inativos ou não absorvíveis;

»» lesão de mucosa;

»» alteração da microflora intestinal;

»» alteração do fluxo sanguíneo.

A absorção dos fármacos ocorre, na sua maioria, já no estômago. Como o sistema digestivo está envolvido
nos processos de digestão e absorção de nutrientes, a presença de alimentos altera a biodisponibilidade
dos fármacos, reduzindo sua concentração plasmática por interferir na sua absorção pela mucosa
intestinal. Esse parâmetro farmacocinético sofre a maior interferência de alimentos e representa o
mais comum e clinicamente importante tipo de interação entre alimentos e medicamentos.

18
CONCEITOS │ UNIDADE I

Distribuição e metabolismo
Depois de administrada e absorvida, a droga é distribuída, isto é, transportada pelo sangue e outros
fluidos a todos os tecidos do corpo. Apesar de ser um todo funcional, o organismo divide-se em
diferentes compartimentos bem delimitados pelas membranas biológicas.

Inicia-se a análise da distribuição a partir do momento em que a droga chega ao sangue, e então são
estudados a concentração plasmática da droga, a permeabilidade do endotélio capilar, a ligação da
droga às proteínas plasmáticas e à biodisponibilidade e o volume de distribuição da droga.

No sangue, quase todas as drogas subdividem-se em duas partes: uma livre, dissolvida no plasma,
e outra que se liga às proteínas plasmáticas, especialmente à fração albumínica. A droga e a
proteína formam um complexo reversível, passível de dissociação. Do ponto de vista farmacológico,
somente a parte livre é que pode ser distribuída, além de atravessar o endotélio vascular e atingir
o compartimento extravascular. A parte ligada às proteínas plasmáticas constitui fração de reserva
das drogas e só se torna farmacologicamente disponível no momento em que se converte em porção
livre. Forma-se, no sangue, um equilíbrio entre a parte ligada e a parte livre da droga. À medida que
a parte livre é utilizada pelo organismo, a parte ligada vai-se desligando para substituir aquela parte
livre que é distribuída, acumulada, metabolizada e excretada (SILVA, 2002).

Muitos constituintes dos alimentos também se ligam à albumina e podem competir com fármacos
pelo seu sítio de ligação. Um exemplo disso é a competição que ocorre entre ácidos graxos livres,
cujos níveis estão aumentados após refeições ricas em gorduras, e alguns fármacos que, por se
ligarem aos mesmos sítios na albumina, são deslocados por competição, aumentando os seus efeitos
adversos (GOMEZ; VENTURINI, 2009).

As modificações químicas que ocorrem nos fármacos resultam de transformações enzimáticas que
quase sempre ocorrem em sequência e são denominadas reações de fase I e de fase II. As reações de
fase I consistem em reações de oxidação, redução ou hidrólise, que normalmente introduzem um
grupo funcional mais reativo na molécula, o qual serve de suporte para uma posterior conjugação,
sendo os produtos frequentemente mais reativos e mais tóxicos que as moléculas originais. As reações
de fase II consistem em reações de conjugação com ácido glicurônico, com sulfato ou com acetato
produzindo metabólitos menos reativos e consequentemente menos tóxicos. As reações de fase I e
de fase II normalmente ocorrem no fígado, com exceção de algumas drogas que são metabolizadas
no plasma, como alguns bloqueadores neuromusculares nos pulmões, como as prostaglandinas, ou
no intestino, como o salbutamol. Essas reações ocorrem pela ação de enzimas como, por exemplo, do
complexo enzimático do citocromo P450. Muitas dessas enzimas metabolizam também nutrientes
e têm como cofatores vitaminas e minerais. Isso significa que, de algum modo, dependendo do
fármaco ou do nutriente envolvido, pode haver competição pelas mesmas enzimas.

Excreção
A eliminação de substâncias, que consiste na sua perda irreversível do corpo, ocorre por meio
de dois processos: metabolismo e excreção. O metabolismo, como já citado, envolve a conversão
enzimática de um componente químico em outro, enquanto a excreção consiste na eliminação do

19
UNIDADE I │ CONCEITOS

corpo da substância quimicamente inalterada ou de seus metabólitos. As principais vias das quais
as substâncias e seus metabólitos são removidos do corpo são: os rins, o sistema hepatobiliar e os
pulmões (esse último importante para anestésicos voláteis/gasosos).

As substâncias são, em sua maioria, removidas do corpo pelos rins, em sua forma inalterada ou
como metabólitos polares. Algumas substâncias são secretadas na bile pelo fígado, porém, a maioria
é então reabsorvida pelo intestino (RANG et al., 2003).

Embora não existam estudos sobre a real interferência dos nutrientes sobre a excreção de fármacos,
o pH da urina pode ser influenciado por alimentos. Entre os alimentos que alcalinizam a urina estão
vegetais, amêndoas, castanhas, coco, frutas cítricas e produtos derivados do leite. Outros alimentos
tendem a acidificar a urina, como, por exemplo, pão, bacon, milho, lentilha, carnes, peixes, aves e
ovos. Assim, a taxa de excreção de alguns fármacos pode ser modificada.

Em contrapartida, fármacos como os diuréticos, por sua ação sobre transportadores renais, podem
influenciar a secreção de nutrientes de modo significativo. Esses medicamentos são utilizados não
só para tratamento de edema, mas também como anti-hipertensivos, sendo utilizados por longo
tempo. Diuréticos como os tiazídicos (hidroclorotiazida), os de alça (furosemida) e o ácido etacrínico
produzem depleção de potássio e aumentam a excreção de magnésio e zinco.

Farmacodinâmica
As interações de natureza farmacodinâmica, que são menos frequentes, ocorrem quando o efeito do
fármaco no seu local de ação é modificado pela presença do alimento ou concretamente de alguns
dos seus constituintes. Nesse tipo de interação, poderá ser constatado um efeito aditivo resultante da
administração concomitante de fármacos que atuam no SNC (como hipnóticos, anti-histamínicos)
com álcool, que apresenta, igualmente, uma atividade depressora.

Em outras situações, a interação origina um efeito do tipo antagônico. Por exemplo, como os
anticoagulantes prolongam o tempo de protrombina, seu efeito é antagonizado pela vitamina K,
muito abundante em certos alimentos como aveia, trigo, fígado ou espinafre (STOCKLEY, 1999).

Outro tipo de interação, de natureza farmacodinâmica, com consequências clinicamente relevantes,


está relacionada a alterações na atividade de várias enzimas. Na literatura, há muitas referências à
presença de tiramina em elevada quantidade em alguns alimentos e bebidas, quais sejam, bebidas
alcoólicas fermentadas (cerveja), queijos curados e fermentados, carnes defumadas e outros que
interferem no tratamento crônico com IMAOs, como já citado. Isso ocorre devido ao fato de a
tiramina ser geralmente metabolizada pelas monoaminoxidases intestinais e hepáticas que, ao
serem inibidas, dão origem a um aumento de tiramina na corrente sanguínea. Ao atuar como
simpaticomimético indireto, a tiramina pode originar graves crises hipertensivas que, em situações
limite, poderão culminar em hemorragia cerebral e coma. Em 1964, foram registrados 38 casos
de hemorragia cerebral, dos quais 21 revelaram-se fatais em doentes utilizando IMAOs, em que se
constatou serem consumidores regulares de queijos e outros alimentos e bebidas ricos em aminas
pressoras, como a histamina, que são passíveis de determinar a mesma síndrome. Entre esse tipo
de alimento estão o queijo gruyère, alguns peixes e molhos exóticos e o marisco (MARINÉ et al.,
1986).

20
MEDICAMENTOS UNIDADE II
VERSUS ALIMENTOS

CAPÍTULO 1
Fármacos para o sistema digestório

Antiulcerosos e antiácidos
O trato gastrointestinal tem como função armazenar, digerir e absorver nutrientes, eliminando os
resíduos que não são aproveitados pelo organismo. Tal função é regulada pelo sistema nervoso
central, sistema nervoso entérico e hormônios localizados no próprio TGI. Náusea, vômito e refluxo
podem inibir diretamente a ingestão de alimentos, enquanto há a recusa de alimento nos casos
de gastrite ou úlcera, pela dor associada ao aumento da secreção de ácido durante o processo de
digestão. A diarreia, por sua vez, está associada a perdas nutricionais tão importantes que podem
levar à morte (GOMEZ; VENTURINI, 2009).

Úlcera é o termo médico para uma ferida aberta. A úlcera péptica desenvolve-se dentro do
revestimento do estômago ou do intestino delgado. De 5% a 10% dos norte-americanos apresentam
uma úlcera péptica em alguma fase da vida. Há dois tipos de úlcera péptica. A que ocorre no estômago
é chamada de úlcera gástrica. Se a úlcera se desenvolve no intestino delgado, ela é denominada de
acordo com o local onde se apresenta. A mais comum é a úlcera duodenal, que se desenvolve no
duodeno, primeira porção do intestino delgado.

O estômago possui o muco secretado por células especializadas, que, além de secretar o bicarbonato,
formam uma camada inerte semelhante a um gel que protege a mucosa contra o suco gástrico. O
desequilíbrio entre a produção de muco e a secreção ácida pode resultar em lesão da mucosa, que se
manifesta como uma inflamação (gastrite), podendo progredir para a erosão (úlceras).

A bactéria Helicobacter pylori (H.pylori) é muito relacionada ao aparecimento da úlcera, embora se


deva verificar a possibilidade de algum distúrbio associado à hipersecreção de algumas glândulas.
Além disso, alimentos condimentados, cigarro, álcool, alguns medicamentos como o ácido
acetilsalicílico e fatores emocionais como estresse podem alterar a produção de muco e assim expor
a parede gástrica à ação do ácido clorídrico.

O refluxo também pode produzir dor e queimação semelhantes à gastrite e à úlcera, mas, neste
caso, a dor está localizada no esôfago. Isso pode ocorrer quando o indivíduo come excessivamente

21
UNIDADE II │ MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS

no jantar ou deita imediatamente após a refeição noturna. Quando o paciente apresenta azia e
refluxo frequentemente, pode ser o caso de doença do refluxo gastroesofagiano, cujo tratamento é
semelhante ao indicado para os pacientes com gastrite e úlcera.

As substâncias do trato gastrintestinal que regulam a secreção ácida gástrica podem ser liberadas na
corrente sanguínea como a gastrina, um hormônio local como a histamina ou um neurotransmissor
como acetilcolina liberada por neurônios.

O mecanismo de ação dos três secretagogos sobre a célula parietal não está bem esclarecido, mas
os farmacologistas apresentam a hipótese da célula única. De acordo com essa hipótese, a célula
parietal possui repectores H2 para a histamina, receptores M2 muscarínicos para a acetilcolina
e receptores de gastrina. A estimulação desses receptores estimula uma bomba de prótons que
secreta hidrogênio para o lúmen. O cloro utilizado para a formação de ácido clorídrico é ativamente
transportado para o interior de canalículos existentes na célula, que se comunicam com a luz das
glândulas gástricas e, portanto, com a luz do estômago.

Otratamentodaúlcera(Quadro8),quandocausadapelabactéria H.pylori,éumaassociaçãodeantibióticos
e antiácidos ou antiulcerosos, e, quando não é causada pela bactéria, utiliza-se apenas antiácidos
ou antiulcerosos.

Quadro 8. Medicamentos utilizados no tratamento de úlceras.

CLASSE FARMACÊUTICA AÇÃO NOME COMERCIAL NOME GENÉRICO


Antibiótico Amoxil ®
Amoxicilina

Antiácidos/Antiulcerosos

Antagonista de receptor H2 Tagamet® Cimetidina

Antak® Ranitidina

Famox® Famotidina

Inibidor da bomba de prótons Losec , vitrix


® ®
Omeprazol

Noprol®, zurcal®, Pantozol® Pantoprazol

Diprox®, lanzol®, prazol® Lanzoprazol

Antiácidos Neutralização do ácido Gastrol®, gelmax®, maalox plus®, gelmax®,


simeco plus®

A inibição da secreção gástrica por medicamentos como os inibidores de receptor H2 e inibidores


da bomba de prótons interfere na secreção do fator intrínseco, liberado com o HCl pelas células
parietais. O fator intrínseco é essencial para a absorção de vitamina B12 pelo nosso organismo.
Portanto, o tratamento crônico com esses medicamentos pode resultar em sintomas como fadiga,
anemia, formigamento das extremidades ou outros, relacionados à deficiência da vitamina B12,
sendo necessário monitorar seus níveis.

A vitamina B12 é absorvida no trato intestinal por mecanismos ativos ou de difusão


passiva, dependendo do fator intrínseco, que é uma enzima mucoproteica, presente
na secreção gástrica (OLIVEIRA; MARCHINI, 1998).

22
MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS │ UNIDADE II

A dosagem de B12 no sangue é o método padrão para diagnosticar a sua deficiência, definida quando
o valor está abaixo de 150 pg/ml. No entanto, já foi observada deficiência em pessoas com níveis
normais de B12 no exame, o que representa valores de 200 a 300 pg/ml.

O paciente deve ser orientado a realizar uma dieta rica em vitamina B12, sendo sugerida a ingestão
de ovos, leite e derivados, frutos do mar, fígado e peixe.

Em relação a uma possível suplementação ou tratamento farmacológico, em alguns casos, deve-se


considerar a necessidade de suplementação, como em pacientes idosos tratados cronicamente. O
tratamento farmacológico pode ser feito por injetáveis ou por dose oral.

Além da interferência na absorção de vitamina B12, também é importante analisar


que a redução da acidez gástrica produzida pelos medicamentos antiácidos e
antiulcerosos altera a digestão de proteínas e prejudica a perfeita digestão dos
alimentos. Assim, a indicação desses fármacos deveria ser restrita a situações
específicas de desconforto ou necessidade.

Como os antiácidos reduzem o conteúdo gástrico, disponibilizando menor


quantidade de solução para desintegração de comprimidos e dissolução do fármaco,
a velocidade de sua absorção é retardada.

Os antiulcerosos também alteram o pH urinário, modificando a taxa de excreção


de outros fármacos administrados concomitantemente. Além disso, a presença de
alimentos pode reduzir a aborção dos derivados da cimetidina, sendo recomendada
sua administração uma hora antes das refeições (GOMEZ; VENTURINI, 2009).

É muito comum a automedicação com antiácidos de venda livre devido a propagandas em diversos
veículos de comunicação, em que são recomendados para azia, má digestão e excessos cometidos
após as refeições. Entre os mais populares estão os sais de magnésio e alumínio e o bicarbonato de
sódio (Quadro 9).

Quadro 9. Antiácidos mais conhecidos.

NOME DO ANTIÁCIDO NOMES COMERCIAIS


Hidróxido de magnésio Leite de magnésia®, natusgel®, alca-luftal®, gastrol®, maalox plus®, gelmax®, mylanta plus®.

Hidróxido de alumínio Pepsamar®, alca-luftal®, engov®, maalox plus®, gastran®, gastrogel®, gelmax®, mylanta plus®.

Bicarbonato de sódio Alka-Seltzer®, estomazil®, sal de Andrews®, sonrisal®.

O hidróxido de magnésio é um sal presente em antiácidos em associação com o hidróxido de


alumínio, pois, se utilizado sozinho, produz diarreia.

O hidróxido de alumínio combina-se com o cálcio, o fosfato e o ferro presentes nos alimentos, formando
sais insolúveis e aumentando a excreção desses nutrientes nas fezes. Sendo assim, pacientes com
dieta deficiente em cálcio, fósforo ou ferro têm aumentado o risco de osteoporose, anemia, mialgia,
parestesia e fadiga pelo uso prolongado desse antiácido. Além disso, o alumínio, se absorvido, pode ser
tóxico para o sistema nervoso central, sendo os idosos e crianças mais suscetíveis a essa intoxicação.

23
UNIDADE II │ MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS

O bicarbonato de sódio produz gazes após a dissociação com o ácido clorídrico, relacionados aos
efeitos adversos de distensão estomacal e flatulência. O uso frequente e em altas doses produz
alcalose, uma vez que o cálcio presente pode ser absorvido. Quando ingerido com leite, pode gerar a
síndrome do leite álcali, caracterizada por náuseas, vômitos, dor de cabeça, confusão mental, perda de
apetite, hipercalcemia e cálculo renal. Pela presença de sódio, pacientes com insuficiência cardíaca ou
hipertensos, submetidos a dietas com restrição de sódio, devem evitar o uso desses antiácidos.

Laxantes
Um dos principais trabalhos que o cólon realiza é absorver água dos resíduos alimentares. À medida
que o resíduo alimentar permanece no cólon, ele perde progressivamente seu conteúdo de água.
Com o tempo, o resíduo fica muito seco e difícil de passar.

O tempo entre as evacuações pode variar de um indivíduo para outro. Algumas pessoas evacuam
duas ou três vezes por dia. Outras, somente três ou quatro vezes por semana. Entretanto, se for
apenas uma ou duas vezes por semana, já pode ser sinal de constipação.

A constipação pode ocorrer por muitas razões e tende a tornar-se mais comum com a idade. À
medida que a idade avança, os músculos do trato digestivo tornam-se menos ativos. O estilo de
vida também pode mudar. Os fatores que aumentam o risco de constipação incluem a ingestão
insuficiente de líquidos e de fibras, além de ser efetuado pouco exercício.

Além disso, certos medicamentos podem tornar a digestão mais lenta, produzindo constipação.
Entre eles estão os narcóticos e os antiácidos que contêm alumínio. Algumas pessoas com síndrome
do intestino irritável experimentam episódios alternados de diarreia e constipação.

Geralmente, a constipação é uma condição temporária que pode ser facilmente corrigida. Entretanto,
há ocasiões em que a constipação pode indicar um problema mais sério.

Estão bem estabelecidos os critérios clínicos para o tratamento da constipação


intestinal infantil no adulto ou no idoso. Contudo, o uso popular de laxativos
e purgativos sustentado por propagandas de cunho meramente comercial
veiculadas pela mídia e, às vezes, indevidamente sustentado por orientação
médica, persiste como forma de “tratamento” medicamentoso de escolha daquele
“sintoma”, com significante prejuízo para os pacientes. Os laxantes e purgantes
não se prestam para o tratamento de doença alguma e, em casos excepcionais,
sob orientação médica criteriosa, podem ser prescritos para a evacuação intestinal
abrupta, em geral, necessária como preparo pré-operatório, para procedimentos
radiológicos e endoscópicos intestinais, entre outros motivos. Excepcionalmente,
sob adequada orientação médica, os laxantes e congêneres serão aconselháveis,
como adjuvante inicial, no tratamento da constipação intestinal crônica (SANTOS
JUNIOR, 2003).

As interações com alimentos ocorrem principalmente com laxantes emolientes e estimulantes.

24
MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS │ UNIDADE II

Os emolientes lubrificam e amolecem as fezes, impedindo a sua dessecação, e diminuem a


tensão superficial das fezes. Essa classe é representada pelo óleo mineral (nujol®), glicerina e
óleo de rícino. O ducosato de sódio também pode ser classificado como emoliente, embora não
seja lubrificante, pois possui propriedade detergente, reduzindo a consistência das fezes. Esses
laxantes estão associados à deficiência de vitaminas lipossolúveis como caroteno e vitaminas A, D
e K, pois não são absorvidos e, como solubilizam essas vitaminas, elas são eliminadas nas fezes. O
uso crônico desses laxantes pode ocasionar o aparecimento de letargia, vômito, queda de cabelo,
hiperqueratose, queratomalácia, osteomalacia e até mesmo cegueira noturna.

Os laxantes estimulantes aumentam diretamente a motilidade do intestino, decorrente da irritação


da mucosa intestinal. São glicosídeos extraídos de várias espécies de plantas (sene, aloe, ruibarbo,
cáscara sagrada). O efeito laxativo depende da liberação dos compostos antraquinônicos, a partir de
enzimas bacterianas.

Óleo de rícino, que é obtido das sementes de Ricinus comunis, além de ser emoliente também
tem efeito estimulante, pois contém uma substância chamada ácido ricininoleico que irrita a
mucosa gástrica.

Outros laxantes que pertencem a essa classe são a fenolftaleína (agarol®), o bisacodil (lacto-purga®
e dulcolax®) e o picossulfato de sódio (guttalax®), muito usados na preparação para exames ou
cirurgia intestinal.

O uso crônico de laxantes estimulantes acarretam redução da absorção de glicose e das vitaminas D
e K, bem como de proteínas, cálcio e outros eletrólitos.

A agressão à mucosa gástrica produzida pelos laxantes estimulantes pode alterar a flora intestinal,
produzir inflamações da mucosa e prurido anal, além de cólicas, náuseas e vômitos. Seu uso crônico
está associado ao aparecimento de nefrite e de uma pigmentação melanótica benigna da mucosa
colônica, além do risco de diarreia crônica, esteatorreia, cólon catártico, hipoalbuminemia e
gastroenteropatia, com perda de capacidade da musculatura intestinal para evacuação.

O efeito inicial dos laxantes é a redução do peso por perda de líquido pelas fezes, e, como muitas
vezes os laxantes são utilizados com diuréticos em fórmulas para emagrecimento, ocorre maior
perda de água e eletrólitos como potássio e cálcio.

A hipopotassemia consequente do uso abusivo de laxantes estimulantes pode resultar em parestesia


progressiva e dolorosa, com fasciculação e perda do reflexo do tendão. A dor e a fraqueza muscular são
revertidas pela reposição de potássio encontrado na banana, no tomate, em vegetais de folha verde
e em cereais. O desequilíbrio eletrolítico pode ocasionar também distúrbios cardiovasculares como
arritmia cardíaca, além de fraqueza, cansaço e atonia da bexiga. Esses sintomas são agravados pela
perda de cálcio nas fezes que, associada à perda de vitamina D, está relacionada com o aparecimento
de osteoporose e osteomalacia em humanos.

Como os laxantes aceleram o tempo de esvaziamento gástrico, podem reduzir a absorção de nutrientes
e de alguns fármacos, influenciando assim a digestão e a absorção dos alimentos, podendo reduzir
a biodisponibilidade dos nutrientes.

25
CAPÍTULO 2
Antidiabéticos

O diabetes é um distúrbio metabólico caracterizado pela incapacidade do organismo de utilizar


adequadamente a glicose.

O organismo converte o açúcar dos alimentos em glicose, que, com a ajuda de outros fatores, como
a insulina (hormônio produzido no pâncreas), entra nas células, sendo utilizada como energia.
No organismo diabético, essa glicose não consegue penetrar nas células, acumulando-se na
corrente sanguínea.

Veja alguns artigos sobre diabetes, insulina, hipoglicemia e outros assuntos nos
seguintes sites:

<http://www.diabete.com.br/artigo/main.asp?cat=1>

<http://www.slideshare.net/1950/diabetes-431580>.

Insulinas
Há vários tipos de insulina, classificadas de acordo com o tipo de ação. As mais comuns são:

»» Insulina de curta duração: leva de 30 a 60 minutos para cair na corrente sanguínea


e tem ação de duas a seis horas.

»» Insulina de ação intermediária: depois de aplicada, tem ação de duas a doze horas.

»» Insulina de ação prolongada: demora cerca de duas horas para cair na corrente
sanguínea. Tem ação de até 24 horas.

»» Insulina de ação rápida: como o próprio nome diz, é rápida. Depois de injetada, leva
de 5 a 10 minutos para fazer efeito.

Medicamentos
Os hipoglicemiantes orais apresentam mecanismos de ações semelhantes, compartilhando a
propriedade de estimular a secreção de insulina pelas células β-pancreáticas e/ou sensibilizar
receptores periféricos de insulina. Eles pertencem basicamente a três diferentes classes
farmacológicas: sulfonilureias, biguanidas e tiazolidinedionas.

»» Sulfonilureias: estimulam o pâncreas a liberar a insulina armazenada e a


aumentar a quantidadde insulina na corrente sanguínea, além de aumentarem a

26
MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS │ UNIDADE II

sensibilidade dos receptores periféricos de insulina. Em excesso, podem ocasionar


hipoglicemia no usuário. Esse medicamento pode aumentar o apetite do paciente,
podendo causar aumento de peso.

»» Biguanidas: têm ação sobre os receptores da insulina, diminuindo a resistência


a ela. Podem causar efeitos colaterais como diarreia e ânsia de vômito, causando
efeitos complexos no fígado. A ingestão destes fármacos com as refeições ou a
redução da dosagem pode diminuir tais efeitos adversos, sendo estes transitórios
e diminuindo em algumas semanas de tratamento. O uso crônico pode produzir
depleção de vitamina B12. Pacientes com problemas hepáticos e renais não devem
tomar esse medicamento. Normalmente são receitados para obesos.

»» Tiazolidinedionas: agonista potente e seletivo para os receptores “gama” ativados


pelo proliferador de peroxissomo (PPARγ). Em seres humanos, os receptores
PPARγ são encontrados em tecidos-alvo, importantes para a ação da insulina, como
tecido adiposo, musculoesquelético e fígado, levando à redução das concentrações
de glicose no sangue. É contraindicado para indivíduos com insuficiência cardíaca.
Pode ocorrer aumento de peso devido ao uso dessa medicação. Entre os principais
efeitos adversos observados estão náuseas, vômito, urina escura, bem como, afora
hipoglicemia, anemia e ganho de peso.

»» Inibidor da alfaglicosidase: não são hipoglicemiantes orais, porém, são


utilizados como adjuvantes no tratamento do diabetes. É um medicamento que tem
atuação no nível do tubo digestivo. Inibe as enzimas alfaglicosidases que atuam
sobre os hidrocarbonetos dos alimentos, impedindo a absorção do açúcar produzido
por eles. Com a proliferação do excesso de glicose absorvida pelo intestino grosso,
há a ocorrência de diarreia e flatulência nos usuários dessa medicação.

Quadro 10. Hipoglicemiantes mais utilizados.

CLASSE NOME GENÉRICO NOMES COMERCIAIS


Sulfonilureia

Clorpropamida Diabinese

Glibenclamida Daonil

Glicazida Diamicron

Glipizida Minidiab

Biguanidas

Metformina Glifage

Inibidor da alfa glicosidase

Ascarbose Glucobay

Tiazolidinediona

Pioglitazona Actos

27
UNIDADE II │ MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS

Hipoglicemiantes e interação com alimentos


Entre os hipoglicemiantes orais e adjuvantes utilizados no tratamento do diabetes, a metformina é a
única que apresenta interação com nutriente (TRIPLITT, 2006), produzindo deficiência de vitamina
B12 em cerca de 30% dos pacientes (TOMKIN et al., 1971). Isso tem sido atribuído, em parte, à
alteração na motilidade intestinal ou ao excessivo crescimento bacteriano em função da redução da
absorção de glicose pela metformina. Também existe a hipótese de que haja redução na captação do
complexo vitamínico B12-fator intrínseco, pois esse hipoglicemiante atua sobre transportadores de
cálcio (BAUMAN et al., 2000). Como a captação desse complexo é dependente de cálcio, tem sido
sugerida a suplementação de cálcio para reduzir a deficiência de vitamina B12 pela metformina,
além do consumo de leite e derivados e alimentos como fonte de vitamina B12, como bife de fígado,
miúdos, mariscos e ostras.

Como o diabetes tipo 2 é caracterizado por vários distúrbios metabólicos que levam
a um quadro hiperglicêmico, os hipoglicemiantes orais representam a terapêutica
mais adotada, em adição às mudanças no estilo de vida. Farhat e colaboradores
(2007) realizaram um levantamento bibliográfico sobre as interações desses
medicamentos com alimentos e concluíram que apenas a nateglinida apresenta
interação clinicamente importante, ocorrendo redução de sua absorção.

Para saber mais sobre o tema, leia: FARHAT, F. C. L. G.; IFTODA, D. M.; SANTOS, P. H.
Interações entre hipoglicemiantes orais e alimentos. Saúde Rev., v. 9, n. 21, p. 57-62,
2007. Disponível em: <www.unimep.br/phpg/editora/revistaspdf/saude21art08.pdf>.

28
CAPÍTULO 3
Anti-hipertensivos e hipolipidemiantes

Anti-hipertensivos
A hipertensão arterial é um dos principais fatores de risco das doenças cardiovasculares, explicando
40% das mortes por acidente vascular encefálico e 25% daquelas por doença arterial coronariana
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2002). Embora no Estado de São Paulo a
mortalidade por doenças do aparelho circulatório venha apresentando uma tendência decrescente
nos últimos anos, elas ainda representam 30% do total de óbitos, constituindo-se no principal grupo
de causa de morte.

A hipertensão e suas complicações são, também, responsáveis por um grande número de


hospitalizações, a um custo alto para o sistema de saúde. Além dos custos diretos com o tratamento
dos doentes, a perda de produção decorrente da morbidade e da mortalidade por hipertensão gera
um custo econômico importante para a sociedade. A hipertensão é uma das principais causas de
aposentadoria por invalidez e de incapacidade temporária (SHIRASSU, 2002).

Tratamentos não medicamentosos e alterações do estilo de vida têm sido recomendados para o
controle da pressão arterial e outras doenças crônicas: abandono do tabagismo, controle do peso,
redução do consumo de bebidas alcoólicas, exercício físico, redução da ingestão de sal. Alguns
autores, entretanto, questionam a eficácia das intervenções educativas na mudança dos estilos de
vida e, consequentemente, na prevalência dos fatores de risco das doenças crônica (EBRAHIM;
SMITH, 1997). O que se observa é que, muitas vezes, torna-se necessário o tratamento do paciente
portador de hipertensão arterial com medicamentos anti-hipertensivos. Muitos estudos de
intervenção têm demonstrado que a terapia anti-hipertensiva reduz a morbidade e a mortalidade
por doenças cardiovasculares (MANCIA; GIANNATTASIO, 1996), até mesmo em pacientes idosos
com hipertensão sistólica isolada (MAKINO, 2000).

Os medicamentos para hipertensão são divididos em seis classes principais: diuréticos, inibidores
adrenérgicos, vasodilatadores diretos, inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA),
bloqueadores dos canais de cálcio e antagonistas do receptor AT2 da angiotensina II (AII). A
combinação de fármacos é frequentemente utilizada, já que a monoterapia inicial é eficaz em apenas
40% a 50% dos casos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2002).

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. IV Diretrizes brasileiras de hipertensão –


Capítulo 6: Tratamento medicamentoso. Revista Brasileira de Hipertensão, v. 17,
n. 1, p. 31-43, 2010.

Diuréticos
Os diuréticos geralmente são de primeira escolha no tratamento da hipertensão, sendo utilizados
também para redução de edemas. O emprego de diuréticos se justifica porque a diurese reduz a

29
UNIDADE II │ MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS

volemia (volume de sangue nos vasos) e, com isso, diminui a resistência periférica, resultando em
menor sobrecarga sobre o coração. Muitas vezes são utilizados em associação com outros anti-
hipertensivos como, por exemplo, os betabloqueadores (antagonistas β-adrenérgicos), com o
objetivo de aumentar a eficácia farmacológica e reduzir os efeitos adversos, uma vez que a associação
permite a redução da dose administrada para ambos. Como a hipertensão é uma doença crônica,
esses medicamentos serão utilizados por longos períodos e, no caso dos diuréticos, há um risco
elevado de produzir deficiência nutricional.

Os diuréticos aumentam a excreção de sódio e de água do corpo, por meio de uma ação sobre os rins.
O efeito primário consiste em diminuir a reabsorção de sódio e cloro filtrado, sendo o aumento da
perda de água secundário à excreção aumentada de cloreto de sódio.

Uma das consequências da inibição do transporte de sódio pelos diuréticos tiazídicos e diuréticos
de alça é a perda concomitante de potássio. Sendo assim, o paciente que utiliza esses diuréticos
apresenta hipocalemia (deficiência de potássio), além de outros efeitos adversos como hipotensão,
impotência, hiperglicemia e hiperlipidemia.

Entre os grupos de fármacos utilizados para hipertensão, os diuréticos são os que apresentam maior
efeito sobre o estado nutricional do paciente e, por isso, merecem um destaque maior. A perda de
nutrientes pelos rins está relacionada ao mecanismo de ação destes, pois, ao inibirem o transporte
do sódio, eles também inibem a reabsorção de outros íons que são também excretados pela urina.

A deficiência de potássio originada pelos diuréticos tiazídicos e de alça corresponde a níveis séricos
menores do que 3,5 mmol/L e está associada a náuseas, vômitos, paralisia muscular, câimbras,
arritmias, confusão, sonolência e fadiga. Nesse caso, recomenda-se a ingestão de alimentos como
banana, frutas cítricas e ameixa para reposição de íons como potássio.

Os diuréticos poupadores de potássio são menos potentes, mas apresentam a vantagem de não
eliminar o potássio. Contudo, existe o risco de hipercalemia (níveis séricos de potássio acima de 5,5
mmol/L), portanto, nesses pacientes, a recomendação é a redução desse mineral na alimentação. O
excesso de potássio manifesta-se sob a forma de alterações no ritmo cardíaco e paralisia flácida. Os
usuários desses diuréticos devem procurar enriquecer sua dieta com ácido fólico e cálcio, pois esses
nutrientes são excretados na urina de modo significativo, podendo resultar em anemia, depapilação
lingual, insônia, confusão, fadiga, câimbra, fratura óssea, entre outros.

Há dois tipos de diuréticos: os que atuam diretamente nos túbulos renais, modificando
a sua atividade secretora e absorvente, e aqueles que modificam o conteúdo do
filtrado glomerular, dificultando indiretamente a reabsorção da água e sal.

Grupos que atuam diretamente nos túbulos:

»» Diuréticos de alça: atuam na alça de Henle, porção ascendente. Os diuréticos


de alça removem uma grande quantidade de sódio dos rins, produzem o
aumento do fluxo urinário e são mais poderosos do que os tiazídicos. Eles
são frequentemente utilizados em pacientes com insuficiência cardíaca
congestiva e também são especialmente úteis em emergências. Embora os

30
MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS │ UNIDADE II

mais comuns sejam por via oral, em hospitais podem ser administrados por
via intravenosa para tratar pacientes com grande excesso de líquido.

»» Diuréticos tiazídicos: atuam no túbulo distal. Tratam a maioria de


pacientes com pressão alta e são os mais utilizados para os cardíacos.
Os tiazídicos aumentam moderadamente a eliminação de urina e são os
únicos diuréticos que também agem como vasodilatadores sanguíneos,
o que também ajuda a diminuir a pressão arterial.

»» Diuréticos poupadores do potássio: atuam nos receptores da aldosterona


nos túbulos distais. Previnem a perda de potássio, um problema dos
outros tipos de diuréticos acima. São frequentemente utilizados em
pacientes com insuficiência cardíaca congestiva e são quase sempre
prescritos em conjunto com os outros dois tipos de diuréticos acima.

Grupos que modificam o filtrado:

»» Diuréticos osmóticos: são compostos de substâncias hidrofílicas que


retêm água por pressão osmótica.

Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/


Diur%C3%A9tico>.

Podemos então verificar que os diuréticos, além de causarem deficiência nutricional, também
provocam efeitos gastrintestinais como vômito, náusea, anorexia e perda da sensibilidade gustativa
e olfativa, que pode inibir a ingestão de alimentos, aumentando ainda mais o risco de desnutrição.

Hidralazina
Entre os outros fármacos cardiovasculares que apresentam interação com nutrientes, encontramos
o vasodilatador hidralazina, que, além de sofrer redução na sua absorção em até 80% na presença
de alimentos, tem a capacidade de antagonizar a vitamina B6 e aumentar sua excreção renal,
produzindo sua deficiência no organismo (SEMPLE et al., 1991).

Como a vitamina B6 está presente na maioria dos alimentos, mas grande parte é perdida durante
o cozimento e processos industriais, recomenda-se a ingestão de alimentos cuja biodisponibilidade
dessa vitamina seja maior, como, por exemplo: banana, nozes, brócolis, couve-flor e, ainda, carnes,
em que a concentração do nutriente em 100 g de alimento é mais alta.

A hidralazina também aumenta a perda urinária de manganês, sendo importante sua reposição
por meio de alimentos como gérmen de trigo, soja assada e frutas oleaginosas (nozes, amendoim,
amêndoa, avelã).

Captopril, propanolol e clonidina


Segundo estudo realizado por Salvetti e colaboradores (1985), o captopril tem sua absorção
reduzida pela presença de alimento no estômago, por essa razão, é recomendado que esse
medicamento não seja tomado junto com as refeições, deve-se tomar pelo menos uma hora antes

31
UNIDADE II │ MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS

ou duas horas depois. Como o captopril diminui a produção de aldosterona, ocorre a elevação
de potássio sérico, sendo assim, deve-se evitar o consumo de alimentos ricos em potássio, como
banana, melão, laranja e tomate (LOURENÇO, 2001).

O propranolol tem a absorção retardada por alimentos ricos em carboidratos, enquanto refeições
ricas em proteínas aumentam sua biodisponibilidade. O aumento da biodisponibilidade do
propranolol pela dieta rica em proteínas resulta, provavelmente, da redução do seu metabolismo de
primeira passagem, uma vez que os aminoácidos absorvidos competem pelas enzimas hepáticas que
degradam esse fármaco (SEMPLE; XIA, 1995).

A clonidina é uma agonista central de alfa 2 com propriedade anti-hipertensiva. Por reduzir a
excreção de sódio pelos rins, é necessária sua restrição na dieta.

Hipolipidemiantes
Dislipidemia, hiperlipidemia ou hiperlipoproteinemia é a presença de níveis elevados ou anormais
de lipídios e/ou lipoproteínas no sangue. Os lipídios e o colesterol são transportados pela corrente
sanguínea na forma de complexos macromoleculares de lipídios e proteínas, conhecidos como
lipoproteínas. As lipoproteínas consistem num cerne central de lipídio hidrofóbico envolvido
por um revestimento mais hidrofílico de substâncias polares – fosfolipídios, colesterol livre e
apolipoproteínas associadas (RANG et al., 2003).

Existem quatro classes principais de lipoproteínas, que diferem na sua proporção relativa de
lipídios do cerne e no tipo de apoproteína. Além disso, diferem quanto a seu tamanho e densidade,
e esta última propriedade, que é determinada por ultracentrifugação, constitui a base de sua
classificação em:

»» lipoproteínas de alta densidade (HDL);

»» lipoproteínas de baixa densidade (LDL);

»» lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL);

»» quilomícrons.

As anormalidades nos lipídios e lipoproteínas são extremamente comuns na população geral e


são consideradas um fator de risco altamente modificável para doenças cardiovasculares devido à
influência do colesterol, uma das substâncias lipídicas clinicamente mais relevantes, na aterosclerose.
Algumas formas de dislipidemia podem também predispor à pancreatite aguda.

Existem as dislipidemias primárias, de causa genética, e as dislipidemias secundárias, provenientes


de outros quadros patológicos como, por exemplo, o diabetes mellitus.

Para o diagnóstico, são medidos laboratorialmente os níveis plasmáticos de colesterol total, LDL,
HDL e triglicerídeos.

32
MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS │ UNIDADE II

Os níveis dos lípidos existentes são avaliados por meio de análises de sangue, que deve ser colhido
em jejum. Um nível de colesterol total no soro inferior a 200 mg/dl é considerado um valor desejável
para os adultos, com as LDL abaixo de 130 mg/dl e as HDL acima de 35 mg/dl. Os níveis de colesterol
podem ser expressos como percentagem de HDL, ou seja, o quociente entre o colesterol total e o
colesterol HDL. Uma relação igual ou inferior a 4,5 é considerada desejável. Se os níveis de HDL
forem particularmente altos e os níveis de LDL correspondentemente baixos, um nível de colesterol
total no soro acima de 200 mg/dl pode não ser prejudicial.

A farmacoterapêutica para quadros de dislipidemia baseia-se em diversas classes de fármacos, como


resinas sequestrantes de ácidos biliares, fibratos, ácido nicotínico, inibidores seletivos da absorção
de colesterol e inibidores da 3-hidroxi-3-metilglutaril coenzima A (HMG-Coa) redutase (estatinas
ou vastatinas).

Mecanismo de ação e efeito hipolipemiante dos


inibidores da HMG-Coa redutase
Os inibidores da 3-hidroxi-3-metilglutaril coenzima A (estatinas ou vastatinas) são fármacos que
causam a inibição parcial e reversível da enzima HMG-Coa redutase, enzima-chave na rota da
síntese do colesterol endógeno. Os inibidores da HMG-Coa redutase possuem uma porção similar
ao ácido mevalônico, inibindo a conversão de HMG-Coa em mevalonato (GOLDSTEIN; BROWN,
1990). Em humanos, a biossíntese de colesterol a partir de acetil-Coa fornece cerca de 60% a 70%
do colesterol circulante, o que faz com que a inibição da via sintética seja uma forma bastante
eficiente de terapia hipolipemiante.

A redução de colesterol intracelular promove um aumento da expressão dos receptores de LDL


(LDL-R) na superfície dos hepatócitos e resulta em maior recaptação de LDL circulantes. Como
um mecanismo hipolipemiante adicional, os inibidores da HMG-Coa redutase reduzem os níveis
de lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL) por inibição da sua síntese e promoção de
seu catabolismo. As VLDL são precursores das LDL e a inibição de sua produção resulta em uma
redução adicional dos níveis de LDL. A inibição da formação de VLDL é secundária à inibição da
síntese do colesterol, por ser necessário para a formação da lipoproteína e pela redução dos níveis
de apolipoproteína B, a principal apolipoproteína presente em LDL.

Quadro 11. Hipolipemiantes mais conhecidos.

HIPOLIPEMIANTES NOME GENÉRICO NOME COMERCIAL


Inibidores da HMG-Coa redutase ou estatinas Lovastatina Mevacor®

Neolipid®

  Reducol®

Sinvastatina Androlip®

Clinfar®

Sinvastacor®

  Zocor®

33
UNIDADE II │ MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS

HIPOLIPEMIANTES NOME GENÉRICO NOME COMERCIAL


Pravastatina Mevalotin®

  Pravacol®

Torvastatina Citalor®

    Lipitor®

Resinas de ligação de ácidos biliares

Colestiramina Questran®

  Colestipol Colestid®

Fibratos

Genfibrozil Lopid®

Clofibrato Sinteroid®

  Lipofacton®

Fenofibrato Lipidil®

    Lipanon®

Atualmente, seis estatinas estão no mercado: atorvastatina, fluvastatina, lovastatina, pravastatina,


rosuvastatina e sinvastatina. Dados dos maiores estudos randomizados envolvendo esses fármacos
mostraram que as estatinas são as mais eficientes em baixar os níveis de colesterol total (18% a
25%) e LDL colesterol (25% a 55%). Além disso, reduzem moderadamente os níveis de triglicerídeos
(10% a 15%) e aumentam da mesma forma os níveis de HDL colesterol (5% a 10%). Esses estudos
também mostraram que a utilização de estatinas diminui os riscos de eventos cardíacos fatais e não
fatais independentemente de outros fatores como idade, sexo, tabagismo, diabetes ou hipertensão
(KREISBERG; OBERMAN, 2002; GOTTO, 2001; WATERS, 2001; BHATNAGAR, 1998).

A sinvastatina e a torvastatina são metabolizadas, inicialmente, no intestino por enzimas como a


CYP3A4. O uso concomitante de suco de toranja (pomelo, grapefruit), que inibe esta mesma enzima,
resulta num aumento da biodisponibilidade desses hipolipidemiantes em até 15 vezes, podendo
resultar no aumento dos efeitos adversos, particularmente miopatia e rabdomiólise (degradação do
músculo esquelético).

Segundo Morita e Silva (2008), a grapefruit é uma fruta muito utilizada nos Estados
Unidos da América para fazer sucos e bebidas não alcoólicas; no Brasil, é conhecida
como toranja ou pomelo. Essa fruta e seu suco podem interagir com alguns
medicamentos. É importante alertar os pacientes que fazem uso de medicamentos
que interagem com essa fruta que, no Brasil, existem alguns produtos que contêm
suco de toranja, como as bebidas Schweppes e Fanta Citrus. Assim, os pacientes
devem verificar se, na composição dos produtos, principalmente os cítricos, existem
as expressões: “suco de toranja”, “suco de grapefruit” ou “suco de pomelo”.

34
MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS │ UNIDADE II

Resinas de ligação de ácidos biliares


A colestiramina e o colestipol são resinas de troca aniônica. Quando administradas por via oral,
sequestram os ácidos biliares no intestino e impedem a sua reabsorção e circulação entero-hepática.
O resultado consiste em diminuição da absorção do colesterol exógeno e aumento do metabolismo
do colesterol endógeno em ácidos biliares no fígado. Essa situação resulta em maior expressão
dos receptores de LDL nos hepatócitos e, portanto, em remoção aumentada das LDL do sangue
e redução das concentrações plasmáticas de LDL colesterol. As concetrações de HDL colesterol
permanecem inalteradas, e pode haver aumento indesejável dos triglicerídeos (RANG et al., 2003).

Esses medicamentos impedem a absorção de drogas e vitaminas lipossolúveis como A, D, E e K


(SCHULZ, 2006), além de reduzirem a absorção de ácido fólico, cálcio, ferro e vitamina B12, esta
última, por inibição do fator intrínseco (MATSUI; ROSOVISKI, 1982; THOMAS et al., 1972).

Fibratos
Dispõe-se de vários derivados do ácido fíbrico (fibratos) incluindo bezafibrato, ciprofibrato,
genfibrozila, fenofibrato e clofibrato. Esses fármacos produzem acentuada redução das VLDL
circulantes e, por conseguinte, dos triglicerídios, com redução moderada (de cerca de 10%) nas LDL
e aumento de cerca de 10% nas HDL.

O mecanismo de ação dos fibratos é complexo. Essas substâncias atuam com agonistas no receptor
ativado pelo proliferador do peroxissoma alfa (PPARα), um receptor que pertence à superfamília dos
receptores nucleares, que estimula a degradação β-oxidativa dos ácidos graxos. Os fibratos estimulam
a lipoproteína lípase, com consequente aumento da hidrólise dos triglicerídios em quilomícrons
e partículas de VLDL, e liberam ácidos graxos livres para armazenamento no tecido adiposo ou
para metabolismo no músculo estriado. Além disso, essas substâncias provavelmente diminuem
a produção hepática de VLDL e aumentam a captação hepática de LDL. Além desses efeitos sobre
as lipoproteínas, os fibratos reduzem o fibrinogênio plasmático, melhoram a tolerância à glicose e
inibem a inflamação do músculo liso vascular ao inibirem a expressão do fator de transcrição NF-
кB. A exemplo dos efeitos das estatinas, que não reduzem as LDL, existe muito interesse nessas
ações, embora ainda não se saiba se elas são clinicamente importantes (RANG et al., 2003).

Os fibratos reduzem a absorção de caroteno, glicose, ferro, vitaminas E, K, B12 e eletrólitos como
o zinco. Alguns sintomas associados à deficiência desses nutrientes são: fadiga, úlceras linguais,
intumescimento e formigamento das extremidades, anemia, debilidade, letargia mental, redução do
paladar e olfato e da capacidade de cicatrização. A fim de reverter as carências nutricionais, devem
ser consumidos alimentos ricos em ferro e demais nutrientes, encontrados em carnes e leguminosas.
Recomenda-se também a ingestão de suco de frutas cítricas, ricas em vitamina C, nas refeições, para
aumentar a biodisponibilidade do ferro em controlar a anemia (GOMEZ; VENTURINI, 2009).

35
UNIDADE II │ MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS

Outros hipolipemiantes
O ácido nicotínico, também chamado niacina ou vitamina B3, inibe a lipase tecidual (hormônio-
sensível) nos adipócitos, reduzindo o fluxo de ácidos graxos livres ao fígado e limitando, assim,
a síntese de triglicérides. Outros efeitos descritos são a estimulação da síntese hepática de apoA1
(e, portanto, de HDL) e a promoção do catabolismo hepático da apoB100 (e, portanto, das LDL)
(LAURINAVICIUS, 2008). Um efeito colateral relatado é a hiperglicemia, contudo, há evidência
de que, com a formulação de liberação intermediária, as alterações da glicemia são discretas e
transitórias (SANTOS, 2005).

O probucol reduz os níveis plasmáticos de LDL e de HDL, além de apresentar atividade antioxidante.
O uso crônico de probucol está associado à redução do apetite e à alteração do paladar e do olfato,
resultantes da deficiência de zinco. Além disso, o uso desse medicamento está associado à redução
significativa da absorção de vitamina E, caroteno e vitamina A. Sendo assim, pode ser necessária
a suplementação ou o aumento da ingestão de alimentos fontes de zinco, como carnes, frutos do
mar, cereais integrais, castanhas, leguminosas, já que esse mineral é capaz de reverter a anorexia
provocada pelo medicamento (GOMEZ; VENTURINI, 2009).

Os ácidos graxos ômega-3 são derivados do óleo de peixes provenientes de águas frias e profundas,
que reduzem a síntese hepática dos triglicerídios. Os mais importantes são o eicosapentaenoico
(EPA) e o docosahexaenóico (DHA). Em altas doses (4 a 10 g ao dia), reduzem os triglicérides e
aumentam discretamente o HDLC. Podem, entretanto, aumentar o LDL-C. Em portadores de
doença arterial coronária, a suplementação de 1 g/dia de ômega-3 em cápsulas reduziu em 10% os
eventos cardiovasculares (morte, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral). Portanto, os
ácidos graxos ômega-3 podem ser utilizados como terapia adjuvante na hipertrigliceridemia ou em
substituição a fibratos, niacina ou estatinas em pacientes intolerantes (SPOSITO et al., 2007).

36
CAPÍTULO 4
Anti-inflamatórios e anti-infecciosos

Analgésicos e anti-inflamatórios
Os agentes anti-inflamatórios não esteroidais (AINE) possuem três ações principais
farmacologicamente desejáveis, todas basicamente resultantes da inibição da cicloxigenase do
ácido araquidônico nas células inflamatórias (isoenzima COX-2) e da consequente redução na
síntese de prostanoides. Essas ações incluem:

»» Ação anti-inflamatória: a redução das prostaglandinas vasodilatadoras (PGE2,


prostaciclina) está associada a menor vasodilatação e, indiretamente, a menos
edema. O acúmulo de células inflamatórias não é reduzido.

»» Efeito analgésico: a diminuição na síntese de prostaglandinas significa


menor sensibilização das terminações nervosas nociceptivas a mediadores da
inflamação, como a bradicinina e a 5-hidroxitriptamina. O alívio da cefaleia resulta,
provavelmente, de uma redução da vasodilatação mediada pelas prostaglandinas.

»» Efeito antipirético: deve-se, em parte, à diminuição da prostaglandina


mediadora (produzida em resposta ao pirógeno inflamatório, a interleucina-1, que
é responsável pela elevação do ponto de ajuste hipotalâmico para o controle da
temperatura, causando febre).

Alguns exemplos importantes incluem: aspirina, ibuprofeno, naproxeno, indometacina, piroxicam


e paracetamol. O celecoxib e o rofecoxib são agentes mais recentes com inibição mais seletiva da
COX-2 (e, portanto, menos efeitos adversos sobre o trato gastrintestinal).

Para saber mais sobre o tema, leia: MONTEIRO, E. C. A.; TRINDADE, J. M. F.; DUARTE,
A. L. B. P.; CHAHADE, W. H. Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs). Temas de
Reumatologia clínica, v. 9, n. 2, p. 53-63, 2008.

Anti-inflamatórios esteroides ou corticosteroides


Os hormônios corticoides são substâncias sintetizadas a partir do colesterol pelo córtex adrenal,
também chamado córtex suprarrenal, cuja atividade é controlada grandemente pelo hormônio
adrenocorticotrófico (ACTH) liberado pelo lobo anterior da hipófise (KOROKOLVAS; BURCKHALTER,
1988). No córtex adrenal, podem ser distinguidas três zonas ou camadas histológicas:

»» Camada glomerular externa: secreta mineralocorticoides, que atuam primariamente


como reguladores do balanço eletrolítico e aquoso; os mais representativos são a
aldosterona e desoxicortona (desoxicorticosterona).

37
UNIDADE II │ MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS

»» Camada fascicular média: sintetiza glicocorticoides, que estão primariamente


compreendidos no metabolismo dos carboidratos, mas também têm atividade
anti-inflamatória, corticotrofina-supressora e anabólica; os representantes
principais são cortisona e hidrocortisona.

»» Zona reticular interna: secreta hormônios sexuais.

Entretanto, somente os glicocorticoides apresentam atividade anti-inflamatória importante, além


de suprimir a imunidade.

Foram desenvolvidos vários fármacos derivados semissintéticos dos glicocorticoides e são divididos
de acordo com as potências, sendo assim, são classificados segundo o quadro a seguir:

Quadro 12. Classificação dos glicocorticoides semissintéticos de acordo com sua potência.

TEMPO DE AÇÃO NOMES GENÉRICO/COMERCIAL

Ação curta (8 a 12h) Cortisona – hidrocortisona (solu-cortef).

Ação intermediária (12 a 36h) Prednisolona (predsim), prednisona (meticorten), beclometasona (beclosol).

Ação longa (36 a 72h) Dexametasona (decadron), betametasona (celestone, diprospan).

Os corticosteroides apresentam ação anti-inflamatória e imunossupressora pela inibição da


enzima fosfolipase A 2. A inativação da fosfolipase A 2, logo após a lesão tecidual, faz diminuir a
disponibilidade de ácido araquidônico nas células do foco inflamado, o que acarreta a diminuição
da síntese de seus metabólitos pela via cicloxigenase -2 (RODRIGUES et al., 2008). Prado e
colaboradores (2001) alertaram que o uso prolongado de corticosteroides pode causar efeitos
metabólicos profundos e variados, modificando as respostas imunes do organismo aos diversos
estímulos, sendo contraindicado em várias situações clínicas como hipertensão, diabetes, úlcera
gastroduodenal e catarata.

Analgésicos utilizados corriqueiramente sem prescrição médica e que parecem inócuos como
o ácido acetilsalicílico (aspirina, AAS) podem ter consequências nutricionais. Há indícios
de que a interação entre o ácido acetilsalicílico e vitamina C possa ocasionar problemas
significativos. Alguns autores relatam que a vitamina não entra nas células, mesmo quando
não há aspirina ao redor. É recomendada a ingestão de alimentos ricos em vitamina C em pelo
menos duas refeições por dia, a fim de facilitar a absorção de maiores quantidades e melhorar
sua biodisponibilidade, já que o organismo não é capaz de armazená-la (TROVATO et al., 1991;
LOH et al., 1973). A aspirina pode também reduzir os níveis de outros importantes nutrientes
como tiamina, ácido fólico e ferro, além de depletar as reservas orgânicas de vitamina K e
aumentar a excreção urinária de aminoácidos. Pessoas que tomam aspirina regularmente
podem necessitar de suplementação extra. Por outro lado, uma nova teoria de doença cardíaca
sugere que o excesso de ferro pode ser um problema, e a aspirina forma uma proteção no
coração por manter baixos os níveis de ferro. É necessário o monitoramento por meio do
hemograma para detectar uma possível anemia ou deficiência em folato e cobalamina (TROVATO
et al., 1991).

38
MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS │ UNIDADE II

O uso crônico e doses elevadas do ácido acetilsalicílico podem resultar em sinais e sintomas como
anemia, hemorragia, redução da capacidade de cicatrização de ferimentos, petéquias, cãibras nas
pernas e nos pés, fadiga, apatia, entre outros.

Deve-se recomendar aos pacientes que fazem uso crônico desse analgésico como antiagregante
plaquetário que incluam na dieta alimentos integrais como fontes de vitaminas do complexo B.
Lembrando que a tiamina (vitamina B1) é perdida no processo de refino dos alimentos. Para reverter
a deficiência de vitamina K, vegetais devem ser consumidos crus devido a melhor biodisponibilidade
e preferencialmente acompanhados de óleo ou margarina para aumentar a absorção. As câibras
podem ser reduzidas com o consumo de alimentos ricos em cálcio, potássio e magnésio (GOMEZ;
VENTURINI, 2009; TROVATO et al., 1991; LOH et al., 1973).

Devido aos efeitos adversos gastrointestinais causados pelos anti-inflamatórios não esteroidais como
diclofenaco (voltaren, cataflan), cetoprofeno (profenid), ibuprofeno (advil, motrin), indometacina
(indocid), piroxican (feldene), aconselha-se que esses medicamentos sejam administrados com
alimentos. Não foram relatadas interações clínicas entre alimentos e AINEs (MOURA; REYES,
2002; VILAPLANA, 2002).

De acordo com algumas pesquisas realizadas, os nutrientes podem diminuir a velocidade de


absorção dos fármacos, provavelmente por retardarem o esvaziamento gástrico (SOUICH et al.,
1992). O retardo na absorção de certos fármacos, quando ingeridos com alimentos, nem sempre
indica redução da quantidade absorvida, mas, provavelmente, poderá ser necessário um período
maior para alcançar sua concentração sanguínea máxima, interferindo na latência do efeito.
Entretanto, substâncias que se complexam com nutrientes estão frequentemente indisponíveis para
absorção (GAI, 1992). Alguns tipos de alimentos podem interferir significativamente na absorção
de fármacos, especialmente aqueles ricos em fibras. Pelas suas propriedades químicas, as fibras
tendem a combinar-se com os fármacos, reduzindo sua biodisponibilidade. Isso é demonstrado
pela redução da absorção do paracetamol (tylenol) quando administrado com alimentos ricos em
pectina, presente em alguns alimentos como, por exemplo, geleia e casca de laranja (GOMEZ;
VENTURINI, 2009). Já o celecoxib (celebra) tem seu início de ação retardado pela presença de
alimentos no estômago, sua taxa de dissolução aumenta, representando um acréscimo de cerca de
10% na sua biodisponibilidade em humanos. Sendo assim, no caso do celecoxib, há uma interação
positiva entre alimentos e fármaco (PAULSON et al., 2001).

Os anti-inflamatórios esteroidais conhecidos como corticoides podem provocar a perda de vitamina


D3 e interferem na absorção e no metabolismo do cálcio. O uso crônico gera perda óssea. Esses
medicamentos podem também conduzir a uma diminuição na absorção de potássio, zinco e
vitaminas B6, B12 e ácido fólico. Assim, pode ser necessária a suplementação desses nutrientes
(TROVATO et al., 1991).

A penicilamina (cuprimine), anti-inflamatório utilizado para tratamento de inflamações crônicas


como doença de Wilson, artrite e cisteinúria, apresenta interação com alimentos. Segundo Trovato
(1991), a penicilamina não é bem absorvida quando administrada com ferro e magnésio. Como
os suplementos geralmente contêm esses nutrientes, devem ser ingeridos algumas horas antes ou
depois da administração da penicilamina. Esse medicamento também diminui a absorção de cobre,
zinco e vitamina B6.

39
UNIDADE II │ MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS

Antibióticos e antimicrobianos
O termo antibiótico foi designado por Paul Vuillemin em 1889 e vem do grego Anti+Bios, que
significa contrário à vida. Foi definido por Waksman em 1940 como uma substância produzida por
microrganismos e que tem a capacidade de inibir o crescimento e até destruir outros microrganismos.
Segundo Benedict e Langlykke (1947), é um composto químico derivado de organismo vivo ou produzido
por este e que é capaz, em concentrações baixas, de inibir os processos vitais de microrganismos.

Os antibióticos, em sua maioria, são produzidos por microrganismos, porém, alguns resultam de
modificação química de antibióticos conhecidos ou de metabólitos microbianos. De 3.100 antibióticos,
cerca de 2.400 são de origem microbiana. Somente algumas dezenas são empregadas na medicina
devido à maioria carecer de toxicidade seletiva: são tóxicos ao hospedeiro e ao microrganismo.

O uso indiscriminado produz inúmeros efeitos colaterais e interações medicamentosas, além de


favorecer a resistência bacteriana. Podem ser classificados de acordo com o seu mecanismo de ação:

»» inibição da síntese da parede celular;

»» inibição da síntese proteica;

»» inibição do metabolismo bacteriano;

»» inibição da síntese ou atividade do ácido nucleico;

»» alteração da permeabilidade da parede celular.

Inibição da síntese da parede celular


São os antibióticos β-lactâmicos que atuam inibindo as transpeptidases, que são enzimas que
catalisam a etapa da ligação cruzada final na síntese da peptideoglicana (constituinte da parece
celular bacteriana). Após a sua fixação a sítios de ligação na bactéria (denominados proteínas de
ligação da penicilina), os antibióticos β-lactâmicos inibem as enzimas autolíticas que degradam
peptideoglicanas. Nas bactérias que são tolerantes a esses antibióticos, as enzimas autolíticas não
são ativadas.

Pertencem a essa classe: as penicilinas (amoxicilina, ampicilina, benzatina belzilpenicilina e


procaína benzilpenicilina), cefalosporinas (cefalexina, cefadroxil, cefalotina, cefaclor, ceftriaxona),
carbapenens (imipenem) e os monobactâmicos (aztreonam).

O uso indiscriminado desses medicamentos fez com que as bactérias expostas produzissem uma
enzima conhecida como β-lactamase, que destrói o anel β-lactâmico existente na estrutura química
desses fármacos e responsável pela sua atividade bactericida.

Para saber mais sobre o assunto, leia: JUNIOR, M. A. S.; FERREIRA, E. S.; CONCEIÇÃO,
G. C. Betalactamases de espectro ampliado (ESBL): um importante mecanismo de
resistência bacteriana e sua detecção no laboratório clínico. Newslab, n. 63, 2004.
Disponível em: <http://www.newslab.com.br/ed_anteriores/63/ESBL61.pdf>.

40
MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS │ UNIDADE II

Inibição da síntese proteica


A essa classe pertencem as tetraciclinas (tetraciclina, oxitetraciclina, doxiciclina e minociclina),
cloranfenicol, os aminoglicosidios (gentamicina, tobramicina, amicacina, neomicina), os macrolídios
(eritromicina, clindamicina e azitromicina).

Tetraciclinas

Devido à presença de vários grupos capazes de formar diversas pontes de hidrogênio intramoleculares,
as tetraciclinas têm propriedade quelante. Formam complexos insolúveis com sais de ferro, cálcio,
magnésio e alumínio. Portanto, é recomendado não ingerir leite, laticínios, antiácidos e demais
produtos ricos desses sais com a tetraciclina.

Os efeitos indesejáveis mais comuns consistem em distúrbios gastrintestinais provocados, inicialmente,


por irritação direta e, posteriormente, pela modificação da microbiota intestinal. Pode ocorrer
deficiência das vitaminas do complexo B com o uso a longo prazo e vitamina K devido à diminuição da
síntese bacteriana no intestino. Por serem quelantes do cálcio, as tetraciclinas depositam-se nos ossos
e dentes em crescimento, causando manchas e, algumas vezes, hipoplasia dentária e deformidades
ósseas (COOK et al., 1993; NEUVONEN; PENTIKAINEM; GOTHONI, 1975). Por conseguinte, não
devem ser administradas a crianças, gestantes ou mulheres em fase de lactação.

É recomendado que o medicamento seja tomado com água e dentro de um intervalo de uma a duas
horas antes ou após a alimentação. Aconselha-se a suplementação com cálcio, ferro, magnésio e
zinco após três horas da administração do antibiótico para não reduzir sua absorção.

Cloranfenicol

O cloranfenicol liga-se à subunidade 50S do ribossoma bacteriano, no mesmo local que a eritromicina
e a clindamicina. Trata-se de um antibiótico de amplo espectro, bacteriostático e ativo por via oral.

Atualmente, tem sido indicado apenas para uso tópico, no tratamento de conjuntivites bacterianas.
Devido a sua grande toxicidade, outros antibióticos têm sido indicados para o tratamento de
outras patologias.

Aminoglicosídios

São administrados de forma injetável. Apresentam ação bactericida de amplo espectro (porém com
baixa atividade contra anaeróbios, estreptococos e pneumococos). A resistência a esses antibióticos
está aumentando. Os principais efeitos indesejáveis consistem em nefrotoxicidade e ototoxicidade
relacionadas com a dose. É necessário monitorizar os níveis séricos.

Macrolídios

Podem ser administrados por via oral ou parenteral. São bactericidas e bacteriostáticos. O espectro
antibacteriano é igual ao da penicilina. Os fármacos dessa classe ligam-se à subunidade 50S do

41
UNIDADE II │ MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS

ribossoma bacteriano, e o sítio de ligação é o mesmo que o do cloranfenicol e da clindamicina, de


modo que os três tipos de agentes podem competir se forem administrados concomitantemente. Na
atualidade, dispõe-se de vários antibióticos macrolídios e antibióticos relacionados, entre os quais
os dois mais importantes são a claritromicina e a azitromicina.

Os distúrbios gastrintestinais são comuns e desagradáveis, porém não são graves. Não apresentam
interações com alimentos. A claritromicina não deve ser ingerida com álcool, pois aumenta os
efeitos sedativos deste.

Inibição do metabolismo bacteriano


Os fármacos que representam essa classe são as sulfonamidas e a trimetoprima. As sulfonamidas
são bacteriostáticas; atuam ao interferir na síntese de folato e, portanto, na síntese de nucleotídios.
Os efeitos indesejáveis incluem hepatite cristalúria (precipitação dos metabólitos acetilados na
urina) e hipersensibilidade. A trimetoprima é bacteriostática. Atua por antagonismo do folato. Pode
ocasionar deficiência de folato, com consequente desenvolvimento de anemia megaloblástica, que
pode ser evitada mediante administração de ácido folínico (LAMBIE; JOHNSON, 1985).

Inibição da síntese ou atividade do ácido nucleico


Os fármacos que representam essa classe são rifampicina, metronidazol e fluoroquinolonas
(ciprofloxaxino, levofloxacino, ofloxacino, norfloxacino).

O metronidazol foi introduzido como antiprotozoário, mas também possui atividade contra bactérias
anaeróbicas, como Bacteroides, Clostridia sp e alguns estreptococos. O mecanismo de ação consiste
na inibição da síntese de ácido desoxirribonucleico e na degradação do DNA. Mostra-se eficaz no
tratamento da colite pseudomembranosa, uma infecção por clostrídios algumas vezes associada à
antibioticoterapia, sendo também importante no tratamento de infecções graves por anaeróbios
(como sepse secundária à doença intestinal).

A rifampicina é um poderoso agente ativo por via oral, que inibe a RNA-polimerase das
micobactérias. Trata-se de um dos mais ativos agentes antituberculose conhecidos. Penetra no
líquido cefalorraquidiano. Os efeitos indesejáveis são infrequentes (embora tenha ocorrido grave
lesão hepática). A rifampicina induz as enzimas hepáticas envolvidas no metabolismo de fármacos.
Acredita-se que esse fármaco induz a conversão hepática de vitamina D nos seus metabólitos inativos
e, em alguns estudos, demonstrou diminuir a concentração de vitamina D circulante acompanhada
de diminuição das concentrações dos níveis séricos de cálcio circulante. Pode-se verificar o rápido
desenvolvimento de resistência.

O ciprofloxacino é uma fluoroquinolona mais comumente utilizada, que serve como protótipo.
Interfere no superespiralamento do DNA. Tem amplo espectro, sendo eficaz contra microrganismos
tanto gram-positivos quanto gram-negativos. O seu uso simultâneo a produtos contendo ferro/
antiácidos e magnésio, alumínio ou cálcio reduz a absorção do fármaco. Deve-se evitar o consumo
de leite e iogurte. Por isso, esse medicamento deve ser tomado uma a duas horas antes ou, pelo
menos, quatro horas depois desses produtos.

42
MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS │ UNIDADE II

Alteração da permeabilidade da parede celular


Existem poucos compostos antimicrobianos que atuam na membrana celular, pois a semelhança
na estrutura e na composição química das membranas de células bacterianas e humanas dificulta a
toxicidade seletiva suficiente necessária. As polimixinas são uma família de antibióticos polipeptídicos
das quais o composto mais utilizado clinicamente é a polimixina E (colistina). A droga é ativa contra
bastonetes gram-negativos, especialmente P. aeruginosa. As polimixinas são peptídeos cíclicos
compostos de 10 aminoácidos, seis dos quais são o ácido diaminobutírico. Os grupamentos amino
livres, carregados positivamente, atuam como um detergente catiônico, causando distúrbios na
estrutura de fosfolipídios da membrana celular.

43
CAPÍTULO 5
Antineoplásicos

O câncer é uma enfermidade caracterizada pelo crescimento desordenado e descontrolado de


algumas células. Atualmente, está relacionada ao termo neoplasia maligna (ALMEIDA et al., 2005).
Pode afetar pessoas de todas as idades, mas o risco para a maioria dos tipos de câncer aumenta com
a idade, como demonstrado em estudos que mostram correlações entre números de novos casos de
câncer com idade e sexo dos pacientes (BRANDÃO et al., 2010; CÂNCER RESEARCH UK, 2011).

Os diferentes tipos de câncer correspondem aos vários tipos de células do corpo. Por exemplo,
existem diversos tipos de câncer de pele porque a pele é formada de mais de um tipo de célula. Se
o câncer tem início em tecidos epiteliais, como pele ou mucosas, ele é denominado carcinoma. Se
começa em tecidos conjuntivos, como osso, músculo ou cartilagem, é chamado de sarcoma. Linfoma
é o nome genérico usado para designar todo tipo de câncer do sistema linfático e leucemia refere-se
ao câncer nas células jovens sanguíneas que se acumulam na medula óssea (NACIONAL CANCER
INSTITUTE, 2011; ALMEIDA et al., 2005). Devido à relativa semelhança entre células malignas e
normais do corpo, o grande desafio para o tratamento de cânceres é a distinção entre essas células.
O tratamento da maioria dos casos de câncer consiste na combinação de diferentes técnicas como,
por exemplo, cirurgia e quimioterapia (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER – INCA, 2011). Esta
última baseia-se na busca por des­truição das células neoplásicas, que têm como característica o
fato de dividirem-se muito mais rápido que a maioria das células normais. Contudo, podem
ocorrer efeitos secundários importantes naquelas células normais de crescimento rápido, como
as gastrointestinais, capilares e as do sistema imunológico, causando diarreia, náuseas, vômitos,
alopecia e maior susceptibilidade às infecções (ALMEIDA et al., 2005).

As células normais de todo organismo vivo coexistem em perfeita harmonia citológica, histológica
e funcional, harmonia esta orientada no sentido da manutenção da vida. De acordo com suas
características morfológicas e funcionais, determinadas pelos seus próprios códigos genéticos, e
com sua especificidade, as células estão agrupadas em tecidos, os quais formam os órgãos.

Os mecanismos que regulam o contato e a permanência de uma célula ao lado de outra, bem como
os de controle do seu crescimento, ainda constituem uma das áreas menos conhecidas da biologia.
Sabe-se que o contato e a permanência de uma célula com outra são controlados por substâncias
intracitoplasmáticas, mas ainda é pouco compreendido o mecanismo que mantém as células
normais agregadas em tecidos. Ao que parece, elas se reconhecem umas às outras por processos de
superfície, os quais ditam que células semelhantes permaneçam juntas e que determinadas células
interajam para executarem determinada função orgânica.

Sabe-se também que o crescimento celular responde às necessidades específicas do corpo e é


um processo cuidadosamente regulado. Esse crescimento envolve o aumento da massa celular,
duplicação do ácido desoxirribonucleico (ADN) e divisão física da célula em duas células filhas
idênticas (mitose). Tais eventos se processam por meio de fases conhecidas como G1- S - G2 - M,
que integram o ciclo celular.

44
MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS │ UNIDADE II

Nas células normais, restrições à mitose são impostas por estímulos reguladores que agem sobre
a superfície celular, os quais podem resultar tanto do contato com as demais células como da
redução na produção ou disponibilidade de certos fatores de crescimento. Fatores celulares
específicos parecem ser essenciais para o crescimento celular, mas poucos deles são realmente
conhecidos.

O mecanismo de controle do crescimento celular parece estar na dependência de fatores


estimulantes e inibidores, e, normalmente, ele estaria em equilíbrio até o surgimento de um
estímulo de crescimento efetivo, sem ativação do mecanismo inibidor. Tal estímulo ocorre quando
há exigências especiais, como, por exemplo, para reparo de uma alteração tissular. As células
sobreviventes multiplicam-se até que o tecido se recomponha e, a partir daí, quando ficam em
íntimo contato umas com as outras, o processo é paralisado (inibição por contato).

Em algumas ocasiões, entretanto, ocorre uma ruptura dos mecanismos reguladores da


multiplicação celular e, sem que seja necessário ao tecido, uma célula começa a crescer e dividir-se
desordenadamente. Pode resultar daí um clone de células descendentes, herdeiras dessa propensão
ao crescimento e divisão anômalos, insensíveis aos mecanismos reguladores normais, que resulta na
formação do que se chama tumor ou neoplasia, que pode ser benigna ou maligna. A carcinogênese
refere-se ao desenvolvimento de tumores malignos, estudada com base nos fatores e mecanismos a
ela relacionados.

Para melhor compreensão sobre a fisiologia do câncer, estatísticas da incidência de


câncer no Brasil e bases do tratamento, consulte as seguintes referências:

INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER. Ações de enfermagem para o controle do


câncer: uma proposta de integração ensino-serviço. Fisiopatologia do câncer.
Capítulos 2 e 7. Rio de Janeiro: Inca, 2008. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/
enfermagem/index.asp>.

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER. Estimativa 2010: Incidência de câncer no Brasil.


Rio de Janeiro: Inca, 2009. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/estimativa/2010/
estimativa20091201.pdf>.

Existem três abordagens principais para o tratamento do câncer estabelecido: excisão cirúrgica,
irradiação e quimioterapia, e o papel de cada uma delas irá depender do tipo de tumor e do estágio
de seu desenvolvimento. A quimioterapia pode ser utilizada como terapia propriamente dita ou
como adjuvante de outras formas de tratamento.

A quimioterapia do câncer, quando comparada com a das doenças bacterianas, apresenta um difícil
problema. Em termos bioquímicos, os microrganismos diferem das células humanas tanto do ponto
de vista quantitativo quanto do qualitativo, enquanto as células cancerosas e as células normais, por
serem tão semelhantes em inúmeros aspectos, dificultam a identificação de diferenças bioquímicas
gerais e exploráveis entre elas.

Os agentes antineoplásicos são, em sua maioria, antiproliferativos; a maioria danifica o DNA e,


portanto, desencadeia o processo da apoptose. Além disso, afetam rapidamente as células normais em

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UNIDADE II │ MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS

rápida divisão e, por conseguinte, tendem a deprimir a medula óssea, a comprometer a cicatrização,
deprimir o crescimento, causar esterilidade e queda dos cabelos e ser teratogênica. A maioria provoca
náusea e vômito (RANG et al., 2003).

Os principais agentes antineoplásicos podem ser divididos nas seguintes categorias:

»» Agentes citotóxicos:

›› Agentes alquilantes e compostos correlatos: foram as primeiras drogas


utilizadas no tratamento do câncer e, apesar de sua toxidade, constituem a base de
qualquer tratamento quimioterápico. Os agentes alquilantes são extremamente
reativos e ligam-se facilmente a grupos fosfatos, aminos, hidroxilas e imidazólicos,
que são encontrados nos ácidos nucleicos. Esses agentes afetam tanto as células
cancerígenas como as sadias – eles podem quebrar a cadeia do DNA ou formar
pontes entre as cadeias do ácido nucleico, impedindo a duplicação do DNA e
causando a morte da célula (citotoxidade). Esses agentes causam vômitos,
diarreia e uma grande diminuição no número de glóbulos brancos e vermelhos
no sangue, deixando o organismo debilitado, incapaz de combater uma infecção
(FERDINAND; FERREIRA, 2009).

›› Agentes antimetabólitos: são antineoplásticos estruturalmente semelhantes


aos compostos naturais encontrados em nosso organismo, como aminoácidos,
precursores do DNA, vitaminas etc. Bloqueiam ou subvertem as vias na síntese
de DNA (RANG et al., 2003).

›› Antibióticos: substâncias de origem microbiana que impedem a divisão das


células dos mamíferos. Os antibióticos antitumorais produzem seus efeitos
principalmente por meio de uma ação direta sobre o DNA (RANG et al., 2003).

»» Hormônios: cânceres de mama e de órgãos genitais são tratados com hormônios.


Esses tecidos requerem hormônios, tais como androgênios, progestinas e
estrogênios, para crescimento e desenvolvimento. Os antineoplásticos hormonais
limitam a ação desses hormônios naturais. São extremamente específicos e somente
funcionam com certos tipos de câncer.

»» Compostos vegetais: dezenas de produtos vegetais apresentam atividades


antineoplásicas. Tomando a definição de antibióticos no seu sentido lato, esses
produtos podem ser considerados antibióticos. São eles: os alcaloides da vinca;
a podofilotoxina e análogos; a colcinina e derivados; derivados fenantrênicos;
elipticina e compostos relacionados; alcaloides benzilisoquinolínicos; alcaloides da
aporfina; camptotecina e outros alcaloides quinolínicos; antibióticos pirrolizidínicos;
naftoquinonas; proteínas; alcaloides diversos e outros produtos vegetais (BRANDÃO
et al., 2010; KOROKOLVAS; BURCKHALTER, 1988).

46
MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS │ UNIDADE II

Quadro 13. Principais antineoplásicos.

CLASSE TIPO DE AGENTE NOMES GENÉRICO/COMERCIAL


Agente alquilante Mostarda nitrogenada Ciclofosfamida (genuxal®);
clorambucil (leukeran®).
Nitrosureias Lomustina (citostal®);
carmustina (becenum®).
Derivados da cisplatina Carboplatina (neoplatine®, platicarb®);
dacarbazina (faulding®, dacarb®);
bussulfam (myleran®).
Antimetabólitos Antagonistas do ácido fólico Metotrexato (metrotex®, metotrexin®);
citarabina (citab®, alexan®, aracytin®);
Antagonistas das pirimidinas Citarabina (citab®, alexan®, aracytin®);
fluoruracil (efurix®).
Antagonistas das purinas 6-mercaptopurina (puri-nethol®);
azatioprima (imuran®).
Antibióticos Actinomicina (dactinomicina®, cosmegen®);
doxorrubicina (doxina®, rubex®);
bleomicina (blenoxane®).
Hormônios Antiestrogênio Tamoxeno (nolvadex®, tamoxin®).
Antiandrogênio Flutamida (eulexin®, tecnoflut®);
ciproterona (androsteron®).
Compostos vegetais Alcaloides da vinca Vincristina (oncovina®);
vimblastina (velban®).
Taxanos Paclitaxel (paxel®, itaxcel®, taxol®).
Podofilotoxina e análogos Etopósido; tenipósido; podofilotoxina

Orientações ao paciente com câncer


As drogas quimioterápicas geralmente causam irritação nas paredes do estômago e do intestino,
provocando enjoos e vômitos. Esses sintomas ocorrem principalmente no dia da infusão, podendo-
se prolongar por até quatro dias. A intensidade varia de acordo com o organismo do paciente e com
o tipo de quimioterapia utilizada. Algumas mudanças nos hábitos alimentares auxiliam o paciente
no controle desses sintomas, tais como:

»» preferir alimentos com rápida digestão;

»» não encher o estômago de uma só vez, preferindo fazer várias alimentações ao longo
do dia, em pequenas quantidades;

»» evitar alimentos gordurosos e frituras;

»» comer devagar, mastigando bem os alimentos;

»» preferir alimentos frios ou em temperatura ambiente.

47
UNIDADE II │ MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS

Outras recomendações importantes são: evitar odores fortes; procurar não exercer atividades que
exijam esforço físico e procurar vestir roupas leves (LIMA, 2011).

Alguns quimioterápicos podem provocar aparecimento de aftas, irritação nas gengivas, na garganta
e até feridas na boca. Isso pode causar muita dor e ainda dificultar a alimentação. Para evitá-las ou
minimizar o sofrimento causado por elas, algumas medidas podem ser seguidas (LIMA, 2011):

»» manter a boca sempre limpa, escovando os dentes com maior frequência;

»» cuidar para não ingerir alimentos duros, quentes, ácidos e condimentados;

»» procurar usar cremes dentais mais suaves, fazendo bochechos quando necessário
com produtos indicados pelos médicos;

»» ingerir maior quantidade de líquidos (água, chás e sucos).

Alguns dias após a quimioterapia há uma diminuição temporária das defesas do organismo, que fica
predisposto a contrair mais facilmente infecções por vírus, bactérias e fungos. A febre é um sinal de
alerta para a existência de infecções no organismo.

Algumas drogas quimioterápicas podem causar diarreia em maior ou menor intensidade,


dependendo da reação do organismo. Se ela persistir por mais de 24 horas, o paciente deverá obter
orientação médica. Nos casos menos intensos, algumas medidas podem ajudar a diminuir esses
efeitos como procurar manter uma alimentação mais líquida (água, chás e sucos); evitar tomar leite
e derivados; fazer pequenas refeições, evitando alimentos gordurosos e frituras.

Normalmente, os quimioterápicos atingem o crescimento e a multiplicação das células que dão


origem ao cabelo, podendo provocar sua queda de forma total ou parcial. Não se pode prever
exatamente como e em que proporção os cabelos serão afetados, porém, é importante lembrar que a
queda é geralmente temporária. O processo de nascimento do cabelo se reinicia logo após o término
da quimioterapia e, em alguns casos, ainda durante a quimioterapia (INCA, 2011). Dependendo do
tipo de quimioterapia, o paciente pode apresentar alterações na pele, como vermelhidão, coceira,
descamação, ressecamento e manchas. As unhas também podem apresentar escurecimento e
rachaduras. Alguns desses efeitos podem ser amenizados pelo próprio paciente, que deverá manter
a pele limpa, fazer uso de hidratante e evitar a exposição ao sol (INCA, 2011).

Segundo estudo realizado por Ferreira e colaboradores (2008), uma avaliação física em pacientes com
câncer em tratamento com quimioterápicos revelou alopecia, esclerótica ictérica, unhas manchadas,
pele descorada, mucosa oral desidratada, língua saburrosa, alteração nas capacidades físicas para
o trabalho e perda de peso na maioria deles. As pessoas referiram baixa ingesta hídrica, redução na
ingesta alimentar, intolerância a carne e feijão, aumento no consumo de frutas, vegetais, legumes
e sucos.

Alimentação do paciente com câncer


Não há necessidade de grandes modificações na alimentação. No entanto, o paciente deve incluir
nas refeições diárias frutas, verduras, cereais, carnes etc., para que possa obter todos os nutrientes

48
MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS │ UNIDADE II

de que o organismo precisa. É importante que o paciente esteja sempre bem alimentado para ter
melhores condições de reagir aos efeitos colaterais, ficando também menos predisposto a infecções
(SASSE, 2006). As bebidas alcoólicas devem ser evitadas, tendo em vista que o álcool pode interagir
com os medicamentos utilizados no tratamento, podendo, assim, reduzir os efeitos esperados e
aumentar a intensidade dos efeitos colaterais (INCA, 2011). Durante o período de tratamento não há
contraindicação à prática de exercícios físicos ou modalidades esportivas, porém, o indivíduo pode
ficar menos disposto. Por essa razão, o paciente deve estar atento para não forçar suas condições
físicas. A maioria dos pacientes pode e deve continuar trabalhando durante o tratamento. Não há
indicação para que as atividades habituais sejam paralisadas, a menos que sejam bastante pesadas
e exijam muita condição física. Na maioria das vezes, o paciente precisa apenas ajustar os dias das
sessões e os dias em que os efeitos colaterais estejam mais fortes, para que possa entrar em acordo
e ser dispensado do trabalho (LIMA, 2011).

Interações entre alimentos e antineoplásicos


Os quimioterápicos alteram a proteína intracelular, a síntese de DNA da célula e o funcionamento
do sistema gastrointestinal, portanto, promovem aumento do catabolismo proteico, depleção ou
diminuição da absorção de cálcio, magnésio, zinco, fósforo, ferro, ácido fólico, vitaminas A, B1, B12,
C, aumentam o ácido úrico e a creatina.

O fluoracil aumenta a sensibilidade ao doce e altera a sensibilização ao amargo e ao azedo.

Os antineoplásicos bleomicina, fluoruracil, cisplatina, vincristina e doxorrubicina podem interferir


na absorção no metabolismo, na distribuição e na excreção de macro e micronutrientes.

A ciclofosfamida e a vincristina induzem a secreção inadequada do hormônio antidiurético e


promove a eliminação de sódio.

O metrotexato gera deficiência aguda de ácido fólico e diminuição da renovação da mucosa intestinal,
gerando má absorção de vitamina D e cálcio.

A dieta dos pacientes fazendo uso desses medicamentos deve ser ajustada às alterações do trato
gastrointestinal, deve ser hipervitamínica, hiperminerálica, hiperprotídica. É importante repor os
eletrólitos e fornecer quantidade de líquidos suficiente para equilibrar a hidratação do paciente.

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CAPÍTULO 6
Ansiolíticos e antidepressivos

Ansiolíticos
Os distúrbios da ansiedade, quando clinicamente reconhecido, incluem: distúrbio da ansiedade
generalizada, distúrbio do pânico, fobias e distúrbio do estresse pós-traumático.

O transtorno de ansiedade generalizada (TAG) é um estado contínuo de excessiva ansiedade,


sem nenhuma razão ou foco claros. Está entre os transtornos da ansiedade e, consequentemente,
transtornos mentais, mais frequentemente encontrados na clínica. Embora visto inicialmente
como um transtorno leve, atualmente se avalia que o TAG é uma doença crônica, associado a uma
morbidade relativamente alta e a altos custos individuais e sociais. Por exemplo, cerca de 24%
dos pacientes classificados como grandes usuários de serviços médicos ambulatoriais apresentam
diagnóstico de TAG (SCHWEIZER et al., 1995).

Conceitos relacionados ao transtorno de ansiedade generalizada

»» Distúrbio do pânico: são ataques de medo opressivo que ocorrem


associados a sintomas somáticos marcantes como sudorese, taquicardia,
dores no peito, tremores, asfixia etc. Tais ataques podem ser induzidos,
mesmo em indivíduos normais, pela infusão de lactato de sódio. A
condição parece ter um componente genético.

»» Fobias: são medos duradouros de coisas ou situações específicas como


cobras, espaços abertos, voar ou interações sociais.

»» Distúrbio de estresse pós-traumático: é um estado de ansiedade disparada


por lembrança insistente de experiência estressante passada.

Os sintomas mais comuns no indivíduo com distúrbio de ansiedade são agitação, inquietação,
distúrbios do sono e/ou gastrintestinais, taquicardia e sudorese.

A ansiedade pode ser originada de temor e/ou de fonte imprecisa, levando a um estado de
apreensão ou tensão denominado estado de ansiedade, podendo ocorrer com ou sem sintomas
físicos. O distúrbio do pânico corresponde ao estado de ansiedade em que ocorre episódio de medo
insuportável associado a sintomas somáticos mais intensos, como o tremor, a dor torácica e a
sudorese, até mesmo interferindo nas atividades produtivas.

Enquanto nos episódios de ansiedade moderada comuns na vida moderna, muitas vezes, não existe
a necessidade do uso de fármacos, quando ocorrem sintomas de ansiedade grave e crônica, incluindo
debilitante, sem melhora com aconselhamento médico e/ou terapias de comportamento, torna-se
necessário o tratamento farmacológico (RANG et al., 2003).

50
MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS │ UNIDADE II

Os psicofármacos mais usados pertencem às seguintes classes: ansiolíticos e hipnóticos, antipsicóticos


(também chamados neurolépticos), antidepressivos, fármacos para a sintomatologia neurovegetativa.

Os fármacos ansiolíticos e hipnóticos são também conhecidos como hipnóticos-sedativos (alguns


autores chamam de tensiolíticos ou ansiolíticos, ou tranquilizantes menores), pois o mesmo fármaco
pode exercer ambas as funções (sedativa e hipnótica), dependendo do método de uso e da dose
empregada. Em doses elevadas, são utilizados também para induzir a anestesia cirúrgica.

Os principais grupos de fármacos utilizados como ansiolíticos e hipnóticos são (ARGYROPOULOS


et al., 2000):

»» Benzodiazepínicos (diazepam, bromazepan, clonazepam, alprazolam, lorazepam,


entre outros): são agonistas dos receptores GABAérgicos que produzem inibição
generalizada do sistema nervoso central. Representa o grupo mais importante
usado como ansiolítico e hipnótico.

»» Buspirona: agonista do receptor 5-HT1A é ansiolítico, mas não indicado como


sedativo.

»» Antagonistas do receptor β-adrenérgico (como propanolol): também usados


para tratar algumas formas de ansiedade, particularmente em que os sintomas
físicos, como sudorese, tremor e taquicardia, são incômodos. Sua eficácia depende
do bloqueio das respostas simpáticas periféricas, e não de quaisquer efeitos centrais.
São algumas vezes usados por atores e músicos para reduzir os sintomas do medo,
mas seu uso em algumas modalidades do esporte, para minimizar o tremor, é
proibido, como não esportivo.

Leia o seguinte artigo: ARGYROPOULOS, S. V.; SANDFORD, J. J.; NUTT, D. J. The


psychobiology of anxiolitic drug. Part 2: pharmacological treatments of anxiety.
Pharmacology & Therapeutics, v. 88, p. 213-227, 2000.

O uso de suplementos alimentares tem aumentado na última década. Estudos epidemiológicos


sugerem que os pacientes recorrem a suplementos alimentares devido a certa relutância
em tomar medicamentos prescritos ou à insatisfação com os resultados. Muitas vezes, eles
percebem que os suplementos dietéticos podem ser uma alternativa mais segura ou mais natural.
Pacientes com problemas de saúde mental, incluindo depressão, ansiedade e distúrbios do
sono, estão entre aqueles que usam suplementos alimentares. A Erva de São João é usada para
tratar a depressão. Estudos clínicos comparando suplementos alimentares com doses baixas de
antidepressivos (maprotilina, amitriptilina, imipramina ou menos que 75 mg/dia) com altas
doses de antidepressivos (imipramina, 150 mg/dia) não encontraram diferença significativa entre
os tratamentos. A erva kava kava é usada para tratar a ansiedade; ensaios clínicos demonstram
que o efeito dela é superior ao placebo e aproximadamente equivalente a oxazepam 15 mg/dia ou
bromazepam 9 mg/dia. Os agentes estudados para uso em distúrbios do sono incluem melatonina,
valeriana, 5-hidroxitriptamina, camomila, l-triptofano, lavanda, maracujá, entre outros. As
informações técnicas baseadas em estudos científicos apresentam evidências que orientam o uso
e os possíveis riscos dele resultantes, o que pode ajudar os profissionais de saúde a tomarem

51
UNIDADE II │ MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS

as decisões acerca de o paciente fazer ou não uso de suplementos dietéticos (CAUFFIELD;


FORBES, 1999).

O suco de grapefruit aumenta a concentração plasmática de buspirona. O provável mecanismo


dessa interação é o retardamento do esvaziamento gástrico e a inibição do citocromo P450 3A4
mediada pelo metabolismo de primeira passagem de buspirona causada por sumo de toranja
(grapefruit). O uso concomitante de buspirona com o sumo de toranja deve ser evitado (LILJA
et al., 1998). Estudos também relataram que o sumo de grapefruit aumenta as concentrações
plasmáticas de benzodiazepínicos como o diazepam (OZDENIER et al., 1998). A inibição da
enzima intestinal CYP3A4 por substâncias presentes nessa fruta resulta num aumento de até 1,5
vez dos níveis plasmáticos do diazepam, potencializando seus efeitos adversos, principalmente
de sedação.

Os agentes psicotrópicos devem ser sempre evitados com o uso concomitante de bebidas alcoólicas,
já que o etanol é um depressor do SNC (BRUNTON et al., 2007). A interação do etanol com
outros depressores, como os benzodiazepínicos, pode ocasionar depressão central importante,
aumentando a possibilidade de depressão respiratória, falência cardiovascular, hipotermia e
coma (TANAKA, 2002; BRUNTON et al., 2007).

Antidepressivos e estabilizadores do humor


A depressão é o mais comum dos distúrbios afetivos (distúrbios do humor ao invés de distúrbio do
pensamento ou cognição); pode variar de uma condição muito branda, beirando a normalidade,
a uma depressão severa (psicótica), acompanhada de alucinações e delírios. No mundo inteiro, a
depressão é a principal causa de incapacidade e morte prematura.

Os sintomas da depressão incluem componentes emocionais e biológicos:

»» Sintomas emocionais: indigência, apatia, pessimismo, baixa autoestima, sentimentos


de culpa, de inadaptação e de feiúra, indecisão, perda da motivação.

»» Sintomas biológicos: retardo de pensamento e de ação, perda da libido, distúrbio do


sono e perda do apetite.

A principal teoria bioquímica da depressão é a hipótese das monoaminas proposta por Schildkraut,
em 1965, que afirma que a depressão é causada por um déficit funcional das monoaminas
transmissoras em certos locais do cérebro, enquanto a mania resulta de um excesso funcional. As
monoaminas subdividem-se em catecolaminas: dopamina, noradrenalina e serotonina (MUNOZ,
F. L.; ALAMO, C., 2011).

Quadro 14. Categorias de fármacos antidepressivos.

AÇÃO PRINCIPAL CATEGORIA NOMES GENÉRICO/COMERCIAL


Inibidores da captação de monoaminas Antidepressivos tricíclicos Imipramina (tofranil);
Amitriptilina (tryptanol).

52
MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS │ UNIDADE II

AÇÃO PRINCIPAL CATEGORIA NOMES GENÉRICO/COMERCIAL


Inibidores seletivos da captação de 5-HT Fluoxetina (prozac);
(serotonina)
fluvoxamina (luvox);
paroxetina (pondera);
sertralina (zoloft).
Outros inibidores semelhantes aos Maprotilina (ludiomil);
antidepressivos tricíclicos
reboxetina (prolift).
Inibidores da monoamino oxidase (MAO) Fenelzina (nardil);
tranilciprimina (parnate);
moclobemida (aurorix).
Antidepressivos variados Mianserina (tolvon);
bupropiona (zetron);
trazodona (donaren).

Saiba mais sobre a depressão com a leitura do seguinte texto: SOUZA, F. G. M.


Tratamento da depressão. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 21, p. SI18-SI23,
1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbp/v21s1/v21s1a05.pdf>.

Os antidepressivos inibidores da MAO apresentam interação com alimentos contendo tiramina,


como queijos, vinhos e algumas frutas – como abacate, banana e figo maduros –, peixes, frutos
do mar e carnes armazenados por longo tempo, principalmente na forma de patês (RAPPAPORT,
2007). A tiramina é uma amina simpatomimética que é rapidamente inativada no intestino pela
MAO, que, quando inibida pelos antidepressivos como fenelzina e moclobemida, possibilita
o surgimento de crises hipertensivas pelo efeito vasoconstritor da tiramina (BRUNTON et
al., 2007). Certamente, essa importante interação levou à substituição de inibidores da MAO
por outros antidepressivos mais eficientes e com menor índice de interações possíveis, como
inibidores seletivos da recaptação de serotonina (SANTOS et al., 2009).

O ganho de peso é comum entre indivíduos utilizando antidepressivos tricíclicos (BERKEN et


al., 1984), enquanto a anorexia é ocasionada pelo uso dos inibidores seletivos de recaptação da
serotonina.

Estudos demonstraram que antidepressivos tricíclicos como imipramina, amitriptilina e


clorpromazina prejudicam a biodisponibilidade de vitamina B2 (PINTO; HUANG; RIVLIN,
1981). Recomenda-se que a administração de antidepressivos tricíclicos deve ser feita longe das
refeições ricas em fibras, pois estas diminuem significativamente sua absorção. Transtornos
gastrintestinais, como náuseas, vômitos, constipação ou diarreia, flatulência, estomatite e dor
abdominal, além de problemas gengivais e dentários são pouco frequentes, mas podem acontecer
pelo uso desse medicamento (GOMEZ; VENTURINI, 2009). Já a fluoxetina prejudica a absorção
de aminoácidos como metionina, leucina, fenilalanina e tirosina em até 30%, podendo representar
efeito antinutricional se administrada por longo tempo (URDANETA; IDOATE; LARRALDE,
1998). É aconselhado para esses pacientes o consumo de proteínas encontradas em alimentos de
origem animal ou alguns cereais e leguminosas.

53
UNIDADE II │ MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS

A paroxetina induz hiponatremia, isto é, transtorno em que a concentração de sódio é menor que
os valores normais (menor que 135 mmol/L). Isso pode acarretar náuseas, vômitos, cefaleia, mal-
estar, confusão, reflexos diminuídos, convulsões, estupor e coma (GHOSH; DEKA, 2007). Assim, é
aconselhada a substituição por outro antidepressivo como amitriptilina.

A paroxetina está associada à anemia, recomendando-se suplementação com ferro. Outros


antidepressivos do mesmo grupo, como a sertralina, têm seus níveis aumentados em cerca de 1,5
vez quando ingeridos com um único copo de suco de grapefruit.

54
TRATAMENTO DA UNIDADE III
OBESIDADE

CAPÍTULO 1
Obesidade e tratamento

Centro da fome e da saciedade


A obesidade é hoje tão comum na população mundial que está começando a substituir a desnutrição e
doenças infecciosas como a contribuição mais significativa para problemas de saúde. Em particular,
a obesidade está associada com diabetes mellitus, doenças cardíacas, certas formas de câncer e
transtornos do sono. É definida por um índice de massa corporal (peso dividido pelo quadrado da
altura) de 30 kg/m2 ou superior, mas isso não leva em consideração a morbidade e a mortalidade
associadas com graus mais modestos do excesso de peso, nem o efeito prejudicial da gordura
intra-abdominal. A epidemia global de obesidade resulta de uma combinação de susceptibilidade
genética, aumento da disponibilidade de alimentos ricos em energia e diminuição da necessidade
de atividade física na sociedade moderna. Obesidade não deve mais ser considerada simplesmente
como um problema estético, afetando certos indivíduos, mas uma epidemia que ameaça o bem-
estar global (KOPELMAN, 2000).

Os principais centros neurais responsáveis pela regulação da ingestão dos alimentos são os
núcleos laterais do hipotálamo (centros da fome ou da alimentação) e os núcleos ventromediais do
hipotálamo (centros da saciedade).

Em 1953, Kennedy propôs que um fator humoral, produzido por adipócitos, interferia negativamente
na ingestão energética, em proporção ao grau de adiposidade corporal, agindo de forma direta no
hipotálamo para modulação do balanço de energia. Entretanto, as bases moleculares dessa hipótese
lipostática não foram estabelecidas até o descobrimento, em 1994, do gene ob e da sua proteína
codificada, denominada leptina, do grego leptos (magro)..

A leptina tem sido implicada na regulação de vários sistemas, incluindo o sistema imune,
respiratório, reprodutivo, hematopoiético e ósseo, além de seu papel no balanço energético, via
sistema nervoso central. Em relação ao balanço energético, tem como ação primária os neurônios
no núcleo hipotalâmico arqueado (NHA), no qual estimula a expressão de neurotransmissores
e hormônios ligados aos mecanismos de inibição da ingestão alimentar e aumento do gasto
energético total, via ativação do sistema nervoso simpático. Ao mesmo tempo, inibe expressão

55
UNIDADE III │ TRATAMENTO DA OBESIDADE

do neuropeptídeo Y (NPY) e Agouti related peptide (AgRP), considerados orexigênicos, ou


seja, envolvidos nos mecanismos de aumento da ingestão alimentar e de ação redutora no gasto
energético (HERMSDORFF; VIEIRA; MONTEIRO, 2006).

Regulação do apetite
A descrição das inúmeras substâncias envolvidas na regulação do apetite e no controle do peso,
a identificação dos centros envolvidos e as evidências de suas inter-relações demonstram a
complexidade do comportamento alimentar e da homeostase energética.

A leptina e a insulina são hormônios secretados em proporção à massa adiposa e atuam, perifericamente,
estimulando o catabolismo.

No SNC, a insulina e a leptina interagem com receptores hipotalâmicos favorecendo a saciedade.


Indivíduos obesos têm maiores concentrações séricas desses hormônios e apresentam resistência à
sua ação.

A leptina parece atuar ainda na homeostase energética. Observou-se que, com um balanço energético
positivo, tem-se discreto aumento dos níveis de leptina, independentemente de alterações prévias
no tecido adiposo. Essa alteração parece ser responsável por um aumento do consumo de oxigênio
tissular e por um aumento da termogênese. Estudos experimentais demonstraram que a insulina
tem uma função essencial para também aumentar o gasto energético e regular a ação da leptina.

Os peptídeos intestinais, combinados a outros sinais, podem estimular (grelina e orexina) ou inibir
(colecistoquinina e oximodulina) a ingestão alimentar. Todos atuam nos centros hipotalâmicos, que
é o grande responsável pelo comportamento alimentar.

No hipotálamo há dois grandes grupos de neuropeptídeos, os orexígenos (NPY e AgRP) e os


anorexígenos (MSH e CART).

Evidências demonstram que a saciedade prandial é atribuída predominantemente à ação da


colecistocinina (CCK), que é liberada pelo trato gastrointestinal em resposta à presença de gordura
e proteína. Juntamente com a distensão abdominal, a CCK é a maior responsável pela inibição
da ingestão alimentar em curto prazo. Parece que a ação da CCK é potencializada pela distensão,
indicando um sinergismo entre seus receptores (além dos receptores de outros moduladores)
e os mecanoceptores do trato gastrointestinal. Esse peptídeo é expresso pelas células da mucosa
intestinal e sugere-se que a regulação é neural, já que seus níveis plasmáticos aumentam quase que
imediatamente após a ingestão alimentar.

Obesos apresentam menor elevação dos níveis de PYY pós-prandial, especialmente em refeições
noturnas, levando a maior ingestão calórica.

A oxintomodulina (OXM) foi recentemente identificada como um supressor da ingestão alimentar.


Esse peptídeo é secretado na porção distal do intestino e parece agir diretamente nos centros
hipotalâmicos para diminuir o apetite, diminuir a ingestão calórica e diminuir os níveis séricos de
grelina. A OXM atua principalmente em condições especiais, tais como após cirurgia bariátrica.

56
TRATAMENTO DA OBESIDADE │ UNIDADE III

A grelina é um dos mais importantes sinalizadores para o início da ingestão alimentar. Sua
concentração mantém-se alta nos períodos de jejum e nos períodos que antecedem as refeições, caindo
imediatamente após a alimentação, o que também sugere um controle neural.

Esse peptídeo também está envolvido na secreção do hormônio de crescimento (GH) e no depósito
de gordura.

A ação no controle do apetite e dos depósitos energéticos depende da ação hipotalâmica e do


estímulo para secreção do neuropeptídeo Y e do peptídeo agouti (AgRP).

As orexinas A e B, como a grelina, são secretadas pelo trato gastrointestinal e elevam-se nos períodos
de jejum. Atuam estimulando receptores vagais e reduzindo a descarga de CCK.

Em humanos, doses fisiológicas de grelina e orexinas estimulam o apetite, enquanto a leptina, o PYY
e a OXM, o inibem.

Para regulação da ingestão de alimentos e de armazenamento de energia, uma série de fatores


neuronais, intestinais, endócrinos e adipocitários atuam e interagem, e a identificação de todos
os centros envolvidos e as evidências de suas inter-relações demonstram a complexidade do
comportamento alimentar e da homeostase energética (HALPERN; RODRIGUES, 2005).

Fármacos na obesidade
As principais abordagens terapêuticas para a obesidade consistem em dieta cuidadosamente
controlada e exercício físico; entretanto, um número crescente de pacientes também pode necessitar
de agentes contra a obesidade. Esses agentes poderiam atuar ao suprimir a ingestão de alimentos,
aumentar o consumo de energia ou aumentar a lipólise. A indústria farmacêutica tem-se empenhado
muito em desenvolver agentes eficazes contra a obesidade.

No momento atual, apenas duas substâncias conseguiram reduzir o peso corporal de indivíduos
obesos: o orlistat (que diminui a absorção de gordura ao impedir a degradação de gordura dietética
no trato gastrointestinal) e a sibutramina (que atua principalmente como inibidor nos locais do SNC
que estimulam a ingestão de alimentos). Nenhum deles é ideal, e muitos outros encontram-se em
vários estágios de desenvolvimento, conforme indicado adiante (RANG et al., 2003).

O uso de medicamentos no tratamento da obesidade deve sempre ser aliado ao processo de mudança
de estilo de vida, facilitando a adaptação às mudanças dietéticas. Assim, a farmacoterapia deve servir
apenas como auxílio ao tratamento dietético, e não como estrutura fundamental do tratamento da
obesidade, embora muitas vezes seja isso o que ocorre.

Os fármacos para o combate da obesidade dividem-se em 3 grupos principais, de acordo com o seu
principal modo de ação, atuando:

»» Sobre o sistema nervoso central, modificando o apetite ou a conduta alimentar:

›› Catecolaminérgico: fentermina, fenproporex, anfepramona (dietilpropiona),


mazindol, fenilpropanolamina.

57
UNIDADE III │ TRATAMENTO DA OBESIDADE

›› Serotoninérgico: fluoxetina, sertralina.

›› Serotoninérgico + catecolaminérgico: sibutramina.

»» Sobre o metabolismo, incrementando a termogênese (com produção de calor e


maior consumo de calorias):

›› Efedrina.

›› Cafeína.

›› Aminofilina.

»» Sobre o sistema gastrointestinal, diminuindo a absorção de gorduras

›› Orlistat.

Medicamentos que diminuem a fome ou


modificam a saciedade
Os medicamentos que modificam a ingestão de alimentos aumentam a disponibilidade de
neurotransmissores (principalmente noradrenalina, adrenalina, serotonina e dopamina) no
SNC. Os agentes catecolaminérgicos incluem anfepramona (inibex®), fenproporex (desobesi®)
e mazindol (absten®, fagolipo®), que, apesar de serem aceitos como tratamento da obesidade,
não têm seu uso recomendado especialmente pelo risco de abuso e de efeitos colaterais, além
da recuperação do peso após a interrupção do uso. Mesmo com um aumento na perda de peso
quando comparados com placebo, os efeitos colaterais como insônia, boca seca, constipação
intestinal, euforia, taquicardia e hipertensão são muito comuns e importantes.

Inibidores específicos da recaptação de serotonina podem ser utilizados no tratamento da obesidade


e estão indicados quando a obesidade está associada à depressão, ansiedade ou compulsão alimentar.
A fluoxetina (prozac®) demonstra eficácia na perda de peso em doses que podem chegar a 60 mg ao
dia. A sertralina (zoloft®) e a bupropiona (zyban®) também podem ser utilizadas no tratamento de
compulsão alimentar (YANOVISKI; YANOVISKI, 2002).

A sibutramina (reductil®, plenty®) é um inibidor da recaptação de serotonina, noradrenalina e


dopamina utilizada no tratamento da obesidade. Não está associada à doença valvar cardíaca por
não induzir a liberação de serotonina. Em doses entre 5 a 20 mg associada à dieta hipocalórica, a
sibutramina induz a perda de 5% a 8% de peso corporal inicial em um período de seis meses.

Estudos têm mostrado segurança do uso de sibutramina por períodos de até 18 meses consecutivos.
Apesar de auxiliar no tratamento da obesidade, a sibutramina também tem efeitos colaterais como
taquicardia, elevação da pressão arterial, boca seca, cefaleia, insônia e constipação intestinal, porém,
mais brandos e de duração menor que os associados aos medicamentos noradrenérgicos (JAMES;
ASTRUP; FURNER, 2000).

58
TRATAMENTO DA OBESIDADE │ UNIDADE III

Medicamentos que reduzem a digestão e a


absorção de nutrientes
A esta categoria encontramos apenas o orlistat, aprovado em 1998. É um derivado parcialmente
hidratado de lipestatina endógena produzida pela Streptomyces toxytricini. É um inibidor da
lipase gástrica e pancreática que reduz em até 30% a absorção de gorduras da dieta. Tem uma
absorção sistêmica reduzida e sofre um metabolismo de primeira passagem, apresentando uma
biodisponibilidade de 1%. Assim, a maior parte do fármaco administrado é excretada pelas fezes. O
uso de 120 mg ao dia de orlistat é suficiente para reduzir a oferta de gordura e calorias aos tecidos
corporais. O tratamento com esse fármaco por um ano aumenta a perda de peso em cerca de 4%
quando comparado ao placebo. Na literatura, podemos encontrar relatos que, com o orlistat, verifica-
se uma redução de 1,8 a 1,6 mmHg na pressão arterial sistólica e diastólica, respectivamente. O
colesterol LDL também é reduzido em 0,27 mmol/l e a glicose em jejum em indivíduos diabéticos
diminuiu 0,8 mmol/l.

Seus efeitos colaterais incluem flatulência, urgência fecal, esteatorreia, incontinência fecal e redução
na absorção de vitaminas lipossolúveis. Esse último efeito adverso pode ser contornado com a
ingestão de suplementos dessas vitaminas duas horas antes ou depois do uso do medicamento
(BORGES et al., 2006; LI et al., 2005).

Recentemente, um novo medicamento para o tratamento de diabetes surgiu como nova opção para
o tratamento da obesidade. A liraglutida – comercializada sob o nome de victoza – medicamento
recém-lançado no Brasil vem surpreendendo os endocrinologistas com seu efeito emagrecedor e os
efeitos colaterais brandos, muitas vezes imperceptíveis. A substância é fabricada pelo laboratório
dinamarquês Novo Nordisk e está no mercado internacional desde 2009. Já no Brasil, ela foi lançada
em 2011, e o estoque enviado ao país teve de ser reposto já na primeira semana.

Seu mecanismo de ação é semelhante ao do hormônio GLP1, secretado pelo intestino delgado distal
e cólon. Quando ativado pela ingestão de alimentos, aumenta a secreção de insulina, diminui o
glucagon, retarda o esvaziamento gástrico, aumenta a saciedade e reduz o apetite. A droga também
melhora os níveis de pressão arterial e colesterol.

A liraglutida tem oito vezes mais hormônio do que o produzido normalmente. Seu efeito estende-se
por 24 horas na corrente sanguínea, enquanto o GLP1 age por apenas três minutos.

O victoza ainda não foi liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para
o uso em pacientes que não têm diabetes, segundo o presidente da Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Airton Golbert. O médico, porém, explica que existem
pesquisas clínicas que estão sendo finalizadas com o intuito de liberar o uso da medicação apenas
com o objetivo de emagrecer.

O diabetes tipo 2 é causado, principalmente, pela obesidade. O victoza atua diminuindo o apetite
e controlando os níveis de açúcares no sangue. Por isso, além de tratar o diabetes, o medicamento
também tem efeito emagrecedor. Ressalta-se que o seu uso, porém, só deve ser feito sob orientação
e prescrição médica e que, por enquanto, não é liberado para não diabéticos.

59
HORMÔNIOS UNIDADE IV
SEXUAIS

CAPÍTULO 1
Regulação hormonal e medicamentos

Regulação da secreção hormonal


e concepção
O controle hormonal do sistema reprodutor em ambos os sexos envolve os esteroides sexuais
das gônadas, os peptídios hipotalâmicos e as gonadotropinas glicoproteicas da adeno-hipófise.
Os esteroides sexuais estrogênicos são responsáveis pela maturação dos órgãos reprodutores
e pelo desenvolvimento das características sexuais secundárias, assim como por uma fase de
crescimento acelerado, seguida de fechamento das epífises dos ossos longos. A partir desse
momento, os esteroides sexuais estão envolvidos na regulação das alterações cíclicas expressas
no ciclo menstrual e são importantes durante a gravidez.

O hormônio regulador da liberação de gonadotrofina (GnRH) é secretado de modo pulsátil por


neurônios peptidérgicos do hipotálamo. Esse hormônio estimula a hipófise a secretar o hormônio
folículo estimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH). Esses dois hormônios gonadotróficos
estimulam a produção de testosterona no homem, enquanto, na mulher, são liberados em diferentes
concentrações, de acordo com a fase do ciclo menstrual, sendo responsáveis pela liberação de
estrógeno e progesterona.

O ciclo menstrual começa no primeiro dia da menstruação, cuja duração é de 3-6 dias e durante
a qual a camada superficial do endométrio uterino é eliminada. Ocorre a liberação do hormônio
FSH que estimula o desenvolvimento de um folículo presente no ovário. Ele se desenvolve pelo
aumento do número de células foliculares que ficam em volta do ovócito que é liberado na ovulação
e estimula a migração desse folículo para a periferia do ovário, preparando esse folículo para
liberar o ovócito que está dentro dele.

À medida que esse folículo se desenvolve, ocorre a liberação do estrogênio, que é responsável
pelo espessamento do endométrio para proliferação de glândulas e capilares sanguíneos; ele faz
o feedback negativo com o FSH, isto é, conforme o folículo se desenvolve, aumenta o nível de
estrogênio e diminui o de FSH. Quando o folículo está maduro, há um pico de estrogênio e de
LH que induz o processo de ovulação. Ocorre a liberação de ovócito, não de óvulo, pois, para que
haja amadurecimento do gameta, é necessário que ocorra a meiose, dividida em meiose primária

60
HORMÔNIOS SEXUAIS │ UNIDADE IV

e meiose secundária. Até então foi descrito o processo até a meiose primária, que é a etapa onde
o ovócito passa de primário para secundário. Assim, na ovulação, ocorre a liberação do ovócito
secundário, não do óvulo.

O óvulo só será formado se o ovócito for fecundado. Assim, a segunda divisão meiótica é
estimulada. O pico de LH, acompanhado de um pico de FSH, induz a ovulação e, a partir do
momento que ocorre a liberação do ovócito secundário, ele permanece com as células foliculares
no ovário, formando um corpo cicatricial (ou corpo lúteo, ou corpo amarelo). O corpo lúteo
secreta progesterona e estrogênio, hormônios necessários para a manutenção da gravidez, as
progesteronassão responsáveis pelo espessamento do endométrio, também pela proliferação
de glândulas e capilaresEnquanto o corpo lúteo estiver ativo, os hormônios serão liberados e
ocorrerá o espessamento do endométrio. Caso não haja fecundação, não há estímulo para o corpo
lúteo ficar ativo e a tendência é que suas células foliculares morram. À medida que esse corpo
lúteo degenera, reduzem-se as taxas dos hormônios estrógeno e progesterona e, ao fim do ciclo,
com a baixa dos hormônios, ocorre a descamação do endométrio.

Vídeo recomendado:

Ciclo menstrual, ovulação e maturação do ovócito. Disponível em: <http://www.


youtube.com/watch?v=yuc1pSogmC8>.

Contracepção
Existem dois tipos principais de contraceptivos orais:

»» combinações de estrogênio com progestogênio (a pílula combinada);

»» progestogênio isoladamente (a pílula apenas com progestogênio, chamada de


minipílula).

Os anticoncepcionais orais combinados são extremamente eficazes, pelo menos na ausência de


doença intercorrente e de tratamento com fármacos com potencial de interação. As combinadas
dividem-se ainda em monofásicas, bifásicas e trifásicas. Nas monofásicas, a dose dos esteroides é
constante nos 21 ou 22 comprimidos da cartela. As bifásicas contêm dois e as trifásicas três tipos de
comprimidos com os mesmos hormônios em proporções diferentes.

O estrogênio, na maioria das preparações combinadas (pílula de segunda geração), é o etinilestradiol,


embora algumas preparações contenham, em seu lugar, mestranol. O progestogênio pode ser a
noretiesterona, o levonorgestrel, o etinodiol ou, nas pílulas de “terceira geração”, o desogestrel ou
o gestodeno, que são mais potentes, exibem menos ação androgênica e provocam menos alterações
no metabolismo das lipoproteínas, mas que provavelmente estão associados a um maior risco de
tromboembolia do que as preparações de segunda geração.

O conteúdo de estrogênio é, em geral, de 20-50 microgramas de etinilestradiol ou seu equivalente, e


escolhe-se a preparação com o menor conteúdo de estrogênio e progestogênio que seja bem tolerada
e proporcione um bom controle do ciclo na mulher.

61
UNIDADE IV │ HORMÔNIOS SEXUAIS

A pílula combinada é tomada durante 21 dias consecutivos, seguidos de um período de sete dias,
provocando sangramento por suspensão. Em geral, os ciclos normais de menstruação começam
logo após a interrupção do tratamento, sendo rara a perda permanente de fertilidade. As pílulas
combinadas com menor quantidade de hormônio são tomadas por 24 dias consecutivos, seguidos
de um período de quatro dias de intervalo.

O mecanismo de ação ocorre da seguinte forma:

»» o estrogênio inibe a secreção de FSH por meio de retroalimentação negativa sobre a


adeno-hipófise e, portanto, suprime o desenvolvimento do folículo ovariano;

»» o progestogênio inibe a secreção de LH e, portanto, impede a ovulação; além disso,


torna o muco cervical menos apropriado para a passagem dos espermatozoides;

»» o estrogênio e o progestogênio atuam em conjunto, alterando o endométrio de


modo a não favorecer a implantação.

As substâncias utilizadas nas pílulas apenas com progestogênio incluem noretisterona,


levonorgestrel, etinodiol ou desogestrel. A pílula é tomada diariamente sem interrupção. Essa
forma de contracepção atua primariamente sobre o muco cervical, que se torna inóspito aos
espermatozoides. O progestogênio provavelmente impede também a implantação pelo seu efeito
sobre o endométrio, bem como sobre a motilidade e a secreção das tubas uterinas.

A minipílula cerazette contém o desogestrel e, ao contrário de minipílulas normais, previne a


ovulação tal como as pílulas combinadas. As minipílulas normais não param a ovulação e dependem
apenas da alteração do muco cervical e do revestimento do útero, o que a torna uma das mais eficazes
minipílulas no mercado. A pílula cerazette é tão eficaz como os contraceptivos orais combinados, mas
não contém o estrogênio artificial, o que a torna mais segura para uso por mães que amamentam,
assim como mães acima dos 35 anos e que fumam.

A aprovação de um novo contraceptivo oral com a nova progesterona, drospirenona, traz uma
nova opção, embora os riscos e benefícios da nova pílula combinada só agora começaram a ser
mais bem elucidados. A pílula yasmin contém 0,03 mg de etinilestradiol e 3 mg de drospirenona e
outra similar chamada yas contém 0,02mg de etinilestradiol e 3 mg de drospirenona, esse ultimo
princípio ativo citado é uma progestina sintética quimicamente relacionada à espironolactona. As
3 mg da drospirenona são equivalentes a 25 mg da espironolactona. Assim, essa progesterona tem
uma ação antimineralocorticoide.

Recentes estudos demonstraram que existe um risco maior de trombose nas mulheres que utilizam
anticoncepcional contendo drospirenona em comparação às que tomam contraceptivos mais
antigos, a base de levonorgestrel.

Quadro 15. Minipílulas.

NOME COMERCIAL COMPONENTE DOSE APRESENTAÇÃO


Exluton Linestrenol 0,5mg 28 comprimidos

MIcronor Noretisterona 0,35mg 35 comprimidos

Nortrel Levonorgestrel 0,03mg 35 comprimidos

Cerazette Desogestrel 0,075mg 28 comprimidos

62
HORMÔNIOS SEXUAIS │ UNIDADE IV

Quadro 16. Pílulas combinadas monofásicas.

NOME COMERCIAL COMPONENTE DOSE APRESENTAÇÃO


Diane 35 Etinilestradiol 0,035mg 21 comprimidos
Selene Acetato de Ciproterona 2mg
Evanor Levonorgestrel 0,25mg 21 comprimidos
Neovlar Etinilestradiol 0,05mg
Femiane Gestodeno 0,075mg 21 comprimidos
Harmonet Etinilestradiol 0,02mg
Diminut
MInulet Gestodeno 0,075mg 21 comprimidos
Gynera Etinilestradiol 0,03mg
Mercilon Desogestrel 0,15mg 21 comprimidos
Femina Etinilestradiol 0,02mg
Primera20
MIcrodiol Desogestrel 0,15mg 21 comprimidos
Primera30 Etinilestradiol 0,03mg
Siblima Gestodeno 0,06mg 24 comprimidos
Mirelle Etinilestradiol 0,015mg

Quadro 17. Pílulas combinadas bifásicas.

NOME COMERCIAL COMPONENTE DOSE APRESENTAÇÃO

0,025*
Desogestrel
0,125** 22 comprimidos:
Gracial
0,04* 7 comprimidos contendo * e 15 comprimidos contendo **
Etinilestradiol
0,03**

Quadro 18. Combinadas trifásicas.

NOME COMERCIAL COMPONENTE DOSE APRESENTAÇÃO

0,050mg*
Levonorgestrel 0,075mg**
21 comprimidos
Triquilar 0,125mg***
6 comprimidos contendo * , 5 comprimidos contendo ** e 10
Trinordiol 0,03mg*
comprimidos contendo ***
Etinilestradiol 0,04mg**
0,03mg***

Métodos contraceptivos
Os avanços em contracepção têm aumentado o número de opções para mulheres sexualmente ativas
que desejam evitar a gestação.

63
UNIDADE IV │ HORMÔNIOS SEXUAIS

Entre as diversas opções, podemos citar:

»» adesivos contraceptivos;

»» anel contraceptivo vaginal;

»» dispositivo intrauterino com liberação de levonorgestrel endoceptivo;

»» contraceptivo injetável com acetato de medroxiprogesterona/cipionato de estradiol;

»» implante de etonogestrel;

»» diafragma;

»» cremes e géis espermicidas;

»» preservativos.

Anticoncepcionais e interações com alimentos


Muitas pesquisas têm focado a questão da necessidade de suplementação de vitaminas e minerais
em pacientes que fazem uso de anticoncepcionais. As vitaminas que são afetadas são vitamina B6,
ácido fólico, riboflavina, vitamina C e vitamina A, e os minerais são ferro, zinco e cobre (ANDERSON,
2010; THORP, 1980; PRASAD et al., 1976).

Estudos indicam que o metabolismo da vitamina B6 é diferente em mulheres que utilizam


contraceptivos orais. Esses achados são baseados em análises de sangue e em medidas do quanto
a vitamina B6 é perdida na urina. Contudo, mesmo com a perda da vitamina, o consenso científico
atual não garante que essas mulheres necessitam ingerir quantidade de vitamina B6 maiores do que
aquelas recomendadas a mulheres que não utilizam o medicamento.

A deficiência de vitamina B6 pode alterar o metabolismo de triptofano e está associada ao


aparecimento de sintomas como irritabilidade, nervosismo, anemia, insônia, náuseas matutinas,
pele seca e piora no quadro de síndrome pré-menstrual.

É recomendado para mulheres em idade fértil que não utilizam anticoncepcionais o consumo diário
de 1,3 mg de vitamina B6, quantidade que pode ser alcançada em uma refeição balanceada. As
maiores fontes dessa vitamina são as carnes como a de fígado e a banana.

Há muitos casos de mulheres utilizando anticoncepcional que possuem deficiência de ácido fólico,
mas isso está associado também ao seu baixo consumo e a problemas com a absorção intestinal. É
recomendado que essas mulheres incluam na alimentação boas fontes de ácido fólico, o que também
é importante no caso de mulheres que engravidam após interromper o uso de contraceptivos orais.
A recomendação de folato para adultos é de 400 microgramas por dia e para gestantes é de 600
microgramas por dia (PRASAD et al., 1976).

Se a mulher tiver deficiência de riboflavina (vitamina B2) antes de iniciar o uso de contraceptivos
orais, existe uma tendência a agravar o problema com o uso dos anticoncepcionais. A deficiência dessa

64
HORMÔNIOS SEXUAIS │ UNIDADE IV

vitamina é comum em mulheres de baixa renda que não têm acesso a uma boa alimentação como
carne, leite e vegetais.

A deficiência de vitamina C também é observada, embora ainda não seja bem entendida; tem sido
relacionada a mudanças no metabolismo do cobre. Sendo assim, é recomendada a ingestão de
alimentos contendo essa vitamina. A recomendação diária de vitamina C para adultos, em geral, é
de 75 a 90 mg.

Alguns trabalhos têm relatado que a taxa de vitamina A é mais alta em mulheres que utilizam
anticoncepcionais. Aparentemente, isso é benéfico, mas alguns estudos em animais indicam que a
vitamina A pode ser estocada no fígado, gerando uma hipervitaminose.

Como algumas mulheres que utilizam anticoncepcionais orais perdem menos sangue menstrual,
os pesquisadores têm sugerido menor quantidade de ferro em mulheres que tomam pílula.
A recomendação diária de ferro nas mulheres em idade fértil é de 18 mg/dia. De acordo com o
Instituto de Medicina, a recomendação para mulheres que tomam anticoncepcional é de 10,9 mg/
dia. Entretanto, não é necessário que essas mulheres reduzam a ingestão de alimentos com ferro.

Muitas pesquisas indicam mudanças na saúde geral e necessidades nutricionais em mulheres que
utilizam pílulas anticoncepcionais, porém, ainda não há provas conclusivas de que a pílula altera
o estado nutricional. Em geral, os estudos indicam que essas mulheres têm uma alimentação
adequada. Aquelas cuja dieta não é adequada só irão agravar problemas nutricionais com o uso de
pílulas anticoncepcionais (ANDERSON, 2010; THORP, 1980).

Devido ao potencial para retenção de potássio, as pílulas contendo drospirenona devem ser evitadas
em mulheres com doença hepática ou renal e insuficiência adrenal. É necessário checar o nível
sérico de potássio durante o primeiro mês de terapia se a paciente utiliza outras drogas que podem
elevar os níveis de potássio, como diuréticos poupadores de potássio, suplementos de potássio,
inibidores da enzima de conversão da angiotensina, anti-inflamatórios não hormonais, heparina ou
antagonistas dos receptores da angiotensina (BAZOTTE; SCHLEICHER; MARCON, 2005).

65
MEDICAMENTOS E UNIDADE V
LEITE MATERNO

CAPÍTULO 1
Leite materno e fármacos

Leite materno
O leite materno é fundamental para a saúde das crianças nos seis primeiros meses de vida
por ser um alimento completo, fornecendo componentes para hidratação (água) e fatores de
desenvolvimento e proteção como anticorpos, leucócitos (glóbulos brancos), macrófago, laxantes,
lipase, lisozimas, fibronectinas, ácidos graxos, gama-interferon, neutrófilos, fator bifidus e outros
contra infecções comuns da infância, isento de contaminação e perfeitamente adaptado ao
metabolismo da criança. Já foi demonstrado que a complementação do leite materno com água
ou chás é desnecessária, até mesmo em dias secos e quentes. Recém-nascidos normais nascem
suficientemente hidratados para não necessitar de líquidos além do leite materno, apesar da
pouca ingestão de colostro nos dois ou três primeiros dias de vida. O leite humano, em virtude
das suas propriedades anti-infecciosas, protege as crianças contra infecções desde os primeiros
dias de vida. Além de diminuir o número de episódios de diarreia, encurta o período da doença
quando ela ocorre, diminui o risco de desidratação (UNICEF), evita infecções respiratórias,
diminui o risco de alergias. Há evidências de que o aleitamento promove benefícios a longo prazo;
a Organização Mundial de Saúde publicou evidências de que diminui o risco de hipertensão,
colesterol e diabetes, reduz a chance de obesidade, contribui para o desenvolvimento cognitivo,
promove melhor desenvolvimento da cavidade bucal. Para a mãe que amamenta, promove
proteção contra o câncer de mama e evita uma nova gravidez nos primeiros seis meses após o
parto (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).

O leite humano é fonte completa de nutrientes para o lactente amamentado exclusivamente no


seio até os seis meses de vida. A composição química do leite materno atende também às condições
particulares de digestão e do metabolismo nesse período de vida do recém-nascido.

Vários são os fatores que podem determinar variações na composição do leite materno, como:
estágio de lactação, parto prematuro, tempo de gestação, esvaziamento da mama, hora e
intervalo entre as mamadas, grau de pressão utilizado para extrair o leite, método e horário de
coleta das amostras, técnicas de análise laboratorial, intervalo entre as gestações e a ingestão
de álcool ou drogas.

66
MEDICAMENTOS E LEITE MATERNO │ UNIDADE V

O leite humano fornece em torno de 70 Kcal/100ml. Os lipídios fornecem 51% da energia total do
leite, os carboidratos, 43%, e as proteínas, 6%. Os lipídios, além de fornecerem energia, também
apresentam importantes papéis fisiológicos e estruturais, sendo ainda o veículo para a entrada das
vitaminas lipossolúveis do leite.

Lactose é o carboidrato predominante do leite. Sua presença no leite humano auxilia a proliferação
dos Lactobacillus bifidus, que, por inibir o crescimento de microrganismos gram-negativos, impede
o aparecimento de infecções intestinais.

O leite humano é o que contém o menor teor de proteínas, sendo o teor maior no colostro – primeira
secreção da glândula mamária (15,8 g/l). As proteínas do leite são divididas em caseína e proteínas
do soro. A maior quantidade de proteínas do leite de vaca (82%) está na forma de caseína, enquanto,
no leite humano maduro, o teor de caseína não ultrapassa 25% das proteínas totais. A caseína é uma
proteína importante como provedora de aminoácidos livres ao lactente, além de cálcio e fósforo, que
são constituintes de suas micelas. Já as proteínas do soro do leite (lactoferrina, imunoglobulinas)
são essenciais para a proteção do recém-nascido.

A maioria das vitaminas está presente em quantidades adequadas no leite humano. Apesar de o leite
de vaca conter algumas vitaminas em quantidades superiores ao leite materno, o aquecimento e a
exposição à luz e ao ar inativam e destroem a maioria delas.

O teor de eletrólitos do leite de vaca é três a quatro vezes superior ao do leite materno e, associado
ao alto teor de proteínas, pode provocar uma sobrecarga renal que pode levar à retenção de sódio,
hiperosmolaridade e aumento da sensação de sede. Essa sede pode ser interpretada como fome, e
mais leite é oferecido à criança.

O ferro está presente em concentrações semelhantes no leite humano e no leite de vaca, porém,
apresenta melhor disponibilidade no primeiro. A lactoferrina, proteína que se liga ao ferro no leite
humano, reduz a quantidade de ferro livre, inibindo a multiplicação bacteriana.

Quadro 19. Composição do leite materno (100 ml).

VITAMINAS MINERAIS OUTROS


A – 190 mcg Cálcio – 34 mg Água – 87,1 ml

D – 2,2 mcg Fósforo – 14 mg Energia – 70 Kcal

E – 0,18 mg Ferro – 0,05 mg Proteína – 1,1 g

K – 1,5 mcg Zinco – 0,3 mg Caseína:Albumina 40:60

C – 4,3 mg Sódio – 0,7 mEq Lipídeos – 4,2 g

B12 – 0,03 mcg Cloro – 1,1 mEq Carboidratos – 7 g

Tiamina – 16 mcg Potássio – 1,3 mEq

Riboflavina – 36 mcg

Niacina – 147 mcg

Piridoxina – 10 mcg

Folato – 5,2 mcg

67
UNIDADE V │ MEDICAMENTOS E LEITE MATERNO

Fármacos versus leite materno


Segundo Hale (2006), os medicamentos são classificados em categorias de risco para uso na
lactação. Os de nível 1 (L1) são os mais seguros, enquanto os de nível 5 (L5) são contraindicados. Os
níveis 2 (L2), 3 (L3) e 4 (L4) são considerados, respectivamente, seguros, moderadamente seguros
e possivelmente perigosos.

Durante a amamentação, a prescrição de medicamentos deve ser feita somente se estritamente


necessário. É imprescindível o conhecimento dos fatores que determinam a segurança para
uso nesse período. Tais fatores podem estar relacionados com os aspectos meta­bólicos e
fisiológicos do leite humano, com a mulher, com o lactente ou com o fármaco. A composição
do leite materno varia conforme a fase da lactação (colostro versus leite maduro) ou até mesmo
durante uma mamada (leite anterior versus leite posterior). Tais alterações influenciam
na extensão da transferência de fármacos do plasma para o leite, causando variações
em sua concentrações no leite materno (BEGG et al., 2002). Os fármacos transferem-se
mais facil­mente para o leite materno durante os primeiros dias de lactação (colostro), pois as
células alveolares são menores e o espaço intercelular largo. A partir da segunda semana pós-
parto, há a redução dos níveis de progesterona segui­da de crescimento das células alveolares e
estreitamento dos espaços intercelulares. Assim, ocorre redução da transferência de fármacos
para o leite materno. Porém, a dose absoluta dos fármacos recebida pelo recém-nascido é baixa
devido ao pequeno volume de colostro ingerido (50 a 60 mL/dia) (CHAVES; LAMOUNIER;
CESAR, 2007; HALE, 2004).

Efeitos dos fármacos sobre o lactente


A exposição do lactente ao fármaco pode ser estimada quantitativamente por meio de algumas medidas.
As mais utilizadas são a razão leite-plasma e a dose relativa no lac­tente. Essas medidas tornam-se mais
importantes quando as mulheres fazem uso de fármacos por longos períodos (CHAVES; LAMOUNIER,
1994) ou quando o fármaco em questão apresenta risco de dano à saúde da criança, mesmo após
única exposição.

A razão leite-plasma foi muito usada para estimar a quan­tidade do fármaco transferido para
o leite. Ela consiste na razão entre concentrações do fármaco no plasma e no leite em estado
de equilíbrio:

Razão leite/plasma = concentração do fármaco no leite/concentração do fármaco no plasma

Assim, uma razão leite-plasma igual a quatro significa que a concentração da medicação no leite
é quatro vezes maior que a concentração plasmática (MARKS; SPATZ, 2003). No entanto, essa
medida tem pouco valor prático, pois não leva em consideração o potencial tóxico do fármaco. Razão
maior que um não traz preocupação quando a concentração do fármaco no plasma materno é muito
baixa ou se o fármaco não é absorvido pelo lactente (ITO, 2000). Embora as concentrações de
muitos fármacos no plasma e no leite sejam flutuantes, são utilizadas medidas fixas para o cálculo
da razão (BEGG et al., 2000).

68
MEDICAMENTOS E LEITE MATERNO │ UNIDADE V

Recomendações
O Quadro 20 contém algumas considerações e recomendações atualizadas sobre o uso de fármacos
durante a lactação. São descritas as principais classes de medicamentos, ressaltando-se os mais
indicados e aqueles que devem ser evitados ou usados com cuidado durante a amamentação.
Informações e observações referentes a lactantes em tratamento que podem ser importantes na
prática para o profissional de saúde foram descritas por diversos autores e compilada por Chaves e
Lamounier (2004).

Em razão do uso cada vez mais frequente de implante de próteses de silicone para aumento ou
correção de mama, algumas informações podem ser úteis. Segundo a Academia Americana de
Pediatria – AAP (2001), o silicone utilizado para aumento do volume das mamas foi implantado
em cerca de 1 milhão de mulheres norte-americanas até o ano de 2001. No entanto, apenas um
estudo relatou disfunção esofagiana em 11 crianças amamentadas cujas mães receberam implantes.
Outros estudos não confirmam esses achados. Assim, a AAP classifica o implante de silicone como
compatível com a amamentação (CHAVES; LAMOUNIER, 2004).

Quadro 20. Recomendações sobre uso de fármacos na amamentação.

GRUPO FARMACOLÓGICO FÁRMACOS RECOMENDADOS EVITAR USO/USAR COM CUIDADO


Benzodiazepínicos Lorazepam, midazolam, diazepam, nitrazepam Alprazolam
Neurolépticos Sulpiride Clorpromazina, clozapina, haloperidol,
prometazina
Antidepressivos Sertralina, paroxetina, citalopram, Fluoxetina, bupropiona, lítio
Antiepiléticos Fenitoína, carbamazepina, ácido valproico Fenobarbital
Opioides Codeína, propoxifeno, morfina Meperidina, metadona
Analgésicos e anti-inflamatórios não esteroides Paracetamol, ibuprofeno, cetorolaco, celecoxib Naproxeno, ácido acetilsalicílico
Corticosteroides Prednisona, hidrocortisona, dexametasona
Anti-histamínicos Loratadina, fexofenadina, terfenadina Prometazina, clemastina
Broncodilatadores Aminofilina, teofilina, salbutamol
Anti-hipertensivos Nifedipina, nimodipina, metildopa, captopril,enalapril, Atenolol, acebutolol, diuréticos, reserpina,
propranolol, hidralazina telmisartan
Antiarrítmicos Digoxina, verapamil, lidocaína, procainamida, quinidina Amiodarona
Antiácidos Hidróxido de alumínio, hidróxido de magnésio, Bicarbonato de sódio
cimetidina, lansoprazol, rabeprazol
Antieméticos Domperidona, dimenidrinato Metoclopramida
Antiparasitários Albendazol, mebendazol, levamisol, praziquantel Ivermectina
Antibióticos Betalactâmicos, macrolídeos, aminoglicosídeos, Fluorquinolonas, tetraciclinas, cloranfenicol
sulfonamidas, metronidazol, clindamicina
Antituberculosos Isoniazida, rifampicina, pirazinamida, etambutol, Etionamida
estreptomicina
Antifúngicos Nistatina, miconazol, fluconazol, cetoconazol Griseofulvina, anfotericina
Antivirais Aciclovir Demais antivirais
Antitireoideanos Propiltiouracil Iodeto de potássio
Antidiabéticos Insulina, glibenclamida Metformina
Contraceptivos hormonais Levonorgestrel, medroxiprogesterona, noretisterona Etilnilestradiol
Anticoagulantes Heparina, warfarim Fenindiona
Imunossupressores Azatioprina, ciclosporina

69
UNIDADE V │ MEDICAMENTOS E LEITE MATERNO

Existem medicamentos que podem alterar o volume do leite materno, aumentando ou diminuindo
sua produção. Denomina-se “galactagogo” o fármaco que possui efeito potencial de aumentar o
volume de leite pela nutriz. Esses fármacos atuam como bloqueadores de dopamina na hipófise.
Entretanto, não há evidências de que tais medicamentos es­timulem a produção láctea em mulheres
com níveis elevados de prolactina ou com tecido mamário inadequado à lactação. Contudo, em
mães de crianças pré-termo, tais medicamentos podem ser eficazes (HALE, 2003). Apesar de
numerosos fármacos apre­sentarem efeito potencial para aumentar o volume de leite ou induzir
a lactação, somente a metoclopramida e a domperidona são utilizadas algumas vezes na prática
clínica (GABAY, 2002).

Vários são os fármacos com relato de supressão da produção láctea. A maioria deles age como
agonista dopaminérgico, suprimindo a liberação de prolactina. O uso de qualquer um desses
fármacos pode representar risco potencial de déficit ponderal, principalmente durante o puerpério
imediato, período mais sensível para a supressão da lactação. Deve-se, portanto, retardar ao
máximo a sua introdução. Na vigência do uso desses fármacos, o cres­cimento do lactente deve ser
rigorosamente acompanhado.

As drogas que devem ser evitadas são:

»» estrógenos;

»» bromocriptina;

»» cabergolida;

»» ergotamina;

»» ergometrina;

»» lisurida;

»» levodopa;

»» pseudoefedrina;

»» álcool;

»» nicotina;

»» bupropiona;

»» diuréticos;

»» testosterona.

Embora o conhecimento a respeito dos fármacos na lactação tenha sido muito ampliado, ainda
não se conhecem os efeitos colaterais de muitos medicamentos utilizados pela nutriz para as
crianças amamentadas.

Existe uma discordância entre as informações contidas em bulas com as informações científicas
sobre o tema. A modificação da compo­sição das fórmulas infantis, como a introdução dos ácidos

70
MEDICAMENTOS E LEITE MATERNO │ UNIDADE V

graxos poli-insaturados de cadeia longa, só foi aprovada após numerosos estudos que comprovaram
a sua segurança para o lactente. Assim, seria esperada a mesma preocupação quando a composição
do leite materno é modificada pela introdução de fármacos ingeridos pela mãe. Contudo, os efeitos
de muitos fár­
macos, novos ou não, ainda não foram devidamente estudados ou apresentam
divergências na literatura, quando utilizados na lactação. Na última revisão da Academia Americana
de Pediatria sobre o tema foram incluídos 233 fármacos. Já a maior revisão acerca do assunto em
questão inclui 774 fármacos. Se considerarmos que, no Brasil, são comercializados aproximadamente
1.500 fármacos, faltam informações sobre aproximadamente 45% do total. Os anti-inflamatórios
não hormonais estão entre os fármacos mais utilizados no mundo, inclusive pelas nutrizes, porém,
entre os 27 anti-inflamatórios dessa classe comercializados no Brasil, foram encontradas referências
sobre a segurança para uso durante a amamentação em apenas 14 (52%) (CHAVES; LAMOUNIER;
CESAR, 2007).

Algumas drogas são bem conhecidas por reduzirem a produção de leite. Devido ao fato de o
crescimento do lactente estar diretamente relacionado à produção e ingestão do leite materno, o uso
de qualquer uma dessas drogas pode representar risco potencial de déficit ponderal, principalmente
durante o puerpério imediato, época mais sensível para a supressão da lactação. Portanto, o
profissional de saúde deve estar atento caso o uso de qualquer uma dessas drogas seja realmente
necessário, devendo retardar ao máximo sua introdução (semanas ou meses) (HALE, 2003).

71
DROGAS DE ABUSO UNIDADE VI

CAPÍTULO 1
Interações drogas de abuso
versus alimento

Drogas de abuso e dependência


As drogas de abuso são substâncias que causam dependência e incluem tanto drogas lícitas como
ilícitas. Droga é toda e qualquer substância, natural ou sintética que, introduzida no organismo,
modifica suas funções. As drogas naturais são obtidas por meio de determinadas plantas, de animais
e de alguns minerais, por exemplo, a cafeína, a nicotina, o ópio e o tetra-hidrocanabinol (THC)
(princípio ativo da maconha). As drogas sintéticas são fabricadas em laboratório, exigindo para
isso técnicas especiais. O termo droga pode ser utilizado em várias situações, mas normalmente
passa a ideia de uma substância proibida, de uso ilegal e nocivo ao indivíduo, modificando-lhe as
funções, as sensações, o humor e o comportamento. As drogas estão classificadas em três categorias:
estimulantes, depressoras e perturbadoras das atividades mentais (despersonalizantes). O termo
droga envolve analgésicos, estimulantes, alucinógenos, tranquilizantes e barbitúricos, além do
álcool e de substâncias voláteis. As psicotrópicas são aquelas que afetam o sistema nervoso central,
modificando as atividades psíquicas e o comportamento. Essas drogas podem ser absorvidas de
várias formas: por injeção, inalação, via oral ou aplicadas via retal (supositório).

72
DROGAS DE ABUSO │ UNIDADE VI

Nas sociedades ocidentais, as três substâncias não terapêuticas mais utilizadas são a cafeína, a
nicotina e o etanol, todas legalizadas e livremente disponíveis. Muitos fármacos são administrados
em grandes quantidades, embora sua produção, venda e consumo sejam declarados ilegais na
maioria dos países ocidentais, exceto quando está sob a direção de um profissional médico.
A lista não inclui os fármacos usados ilicitamente por esportistas para aumentar o seu
desempenho físico.

Inicialmente, os fármacos de abuso formam um grupo farmacológico extremamente heterogêneo;


existe pouca semelhança molecular e celular entre morfina, cocaína e benzodiazepínicos, mas as
pessoas acham seu efeito agradável e tendem a procurá-los para repeti-lo, uma ação que reflete o
efeito muito comum a todos os fármacos que produzem dependência pela ativação dos neurônios
dopaminérgicos mesolímbicos.

Esse efeito agradável conhecido como efeito hedônico torna-se um problema quando: a necessidade
torna-se tão insistente a ponto de dominar o estilo de vida do indivíduo e prejudicar sua qualidade
de vida; o próprio hábito causa dano real ao indivíduo ou à comunidade.

A dependência dos fármacos é definida como um desejo compulsivo que se desenvolve como
resultado da administração repetida do fármaco. O termo mais antigo vício aos fármacos não é
claramente definido, mas implica o estado de dependência física.

O abuso dos fármacos e o abuso das substâncias são termos mais gerais, significando qualquer uso
recorrente de substâncias que são ilegais ou que causam dano ao indivíduo, incluindo os fármacos
no esporte.

Interação com alimentos

Álcool x Alimento
A incidência do alcoolismo é maior entre homens do que entre mulheres. Acomete de 10% a 12% da
população mundial e 11,2% dos brasileiros que vivem nas 107 maiores cidades do país. A incidência
é maior entre os mais jovens, especialmente na faixa etária de 18 a 29 anos, declinando com a idade.

Segundo pesquisa realizada pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas –
Cebrid, entre os estudantes do 1o e 2o grau, as bebidas alcoólicas são consumidas por mais de 65%
dos entrevistados, estando bem à frente do tabaco. Entre esses, 50% iniciaram o uso entre 10 e 12
anos de idade. Isso é preocupante, pois, de acordo com pesquisa realizada pelo Departamento de
Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco, o consumo das substâncias nessa fase da vida
leva à redução da ingestão de alimentos e repercute negativamente no desenvolvimento nutricional
(RIMAS, 2008).

A desnutrição desenvolve-se como resultado das calorias vazias do álcool, apetite reduzido e má
absorção (absorção inadequada de nutrientes pelo trato intestinal). A desnutrição contribui para a
doença hepática.

73
UNIDADE VI │ DROGAS DE ABUSO

A ingestão de álcool pode interferir na gliconeogênese, contribuindo para a desnutrição. Em


sua metabolização, há formação de Dinucleotídeo de adenosia e nicotinamida (NADH). Uma
concentração alta dessa coenzima ativa a enzima e desloca a reação catalisada pela lactato
desidrogenase no sentido da formação de lactato. Assim, a via não segue seu caminho normal de
formação de glicose. Dessa forma, uma pessoa que ingeriu muito álcool e com baixa ingestão de
alimentos poderá atingir um estado de hipoglicemia e desnutrição.

A alta concentração de lactato interfere na enzima que catalisa a reação de síntese de colágeno,
aumentando-a, além de interferir na excreção de ácido úrico.

Recentemente, em uma revisão da literatura científica voltada para as interações entre o álcool


e alguns alimentos, verificou-se um aumento significativo do número de nutrientes que sofrem a
interferência do álcool.

O álcool pode prejudicar a absorção intestinal e aumentar a excreção renal de folato. Outras
vitaminas, como, por exemplo, a niacina, vitamina B6, vitaminas A e C também têm sua absorção
prejudicada pelo seu consumo.

Minerais como magnésio, cálcio, zinco e ferro polivalente (Fe+3) diminuem sua concentração no
organismo à medida que se consome álcool.

Esses efeitos ocorrem principalmente pela sobrecarga hepática decorrente do uso abusivo do álcool.
Os produtos formados durante a transformação do álcool para sua eliminação decorrem de intensa
atividade das células hepáticas.  Tal atividade prejudica a absorção de outras substâncias, como
nutrientes importantes para o organismo do indivíduo (McCABE, 2004).

As deficiências de micronutrientes ocorrem, com frequência, em pacientes com


doença hepática alcoólica ou em alcoolistas sem evidências de doença hepática,
estando, neste caso, relacionadas ao consumo do álcool. Como consequência dessas
deficiências, esses pacientes apresentam, usualmente, anemia, esteatose hepática,
estresse oxidativo e imunossupressão (MAIO; DICHI; BURINI, 2000).

No sistema gastrintestinal, o etanol pode causar câncer, principalmente nas regiões do esôfago e do
estômago. A ação irritativa da mucosa pelo etanol pode resultar em gastrites e úlceras estomacais e
duodenais, além de pancreatite aguda e crônica.

Quanto ao fígado, o que ocorre mais comumente é a esteatose, hepatite alcoólica e cirrose.

A síndrome alcoólica fetal é um conjunto de sintomas ocasionados pelo consumo de etanol


durante a gravidez, até mesmo efeitos após o parto da criança. É caracterizada pela combinação
de inúmeros fatores, incluindo abortos espontâneos, retardo mental, malformações no corpo,
dificuldade de aprendizagem, fissuras palpebrais, lábio leporino, recém-nascidos de baixo peso,
entre outros problemas.

Os fatores de maior peso nessa síndrome é a capacidade do álcool de atravessar a barreira placentária
e atuação em qualquer parte do organismo humano.

74
DROGAS DE ABUSO │ UNIDADE VI

No indivíduo diabético, a associação de hipoglicemiantes orais e álcool pode produzir crise


hipoglicêmica severa, resultando em fraqueza, confusão mental e coma. Outra interação que pode
ser fatal é a associação do álcool com outros depressores do SNC, como é o caso de ansiolíticos
benzodiazepínicos.

Nicotina
Embora as consequências do uso do cigarro sejam conhecidas, o tabagismo continua matando
milhões de pessoas anualmente pelo mundo. Somente no Brasil, cerca de 200 mil pessoas morrem
a cada ano devido às doenças relacionadas ao cigarro. Atualmente, o tabagismo é a maior causa
evitável de morte no mundo. Apesar disso, a Organização Mundial da Saúde estima que 1,2 bilhão
de pessoas sejam fumantes. Sabe-se que 1/3 da população adulta mundial é fumante e que 5 milhões
de pessoas no mundo morrem por ano por causa do tabagismo, o que corresponde a seis mortes a
cada segundo (OMS, 2000).

Cerca de 90% dos fumantes iniciam o hábito entre 5 e 19 anos de idade, ou seja, em idade escolar.
A OMS, em conjunto com o Centro de Controle de Doenças, promoveu uma pesquisa mundial para
acompanhar e monitorar a prevalência do tabagismo entre jovens de 13 a 15 anos de idade. Os
dados coletados entre 1999 e 2002 mostraram que 15% dos jovens do sexo masculino e 6,6% do
sexo feminino fumaram em pelo menos um dia dos 30 dias anteriores à pesquisa. Esses dados,
comparados com os dados do mesmo estudo dos anos de 1995 e 1999, mostraram aumento da
prevalência do tabagismo.

A nicotina, amina terciária volátil, é composta de anéis de piridina e pirolidina; é o componente ativo
mais importante do tabaco. Quando a temperatura da brasa do tabaco atinge cerca de 800ºC, surgem
formas racêmicas da nicotina, as quais formam quatro nitrosaminas com potencial cancerígeno.
Todavia, cerca de 35% da nicotina são destruídos no momento da combustão do cigarro, mais 35%
são perdidos com a fumaça não inalada e 8% com a porção não fumada. Assim, cada cigarro contém
7-9 mg de nicotina, dos quais pouco mais de 1 mg é absorvido pelo fumante (ROSEMBERG, 2007).

Ainda segundo o autor, a absorção da nicotina pelas membranas celulares depende do pH. Se o pH
é ácido, a nicotina é ionizada, não atravessando facilmente as membranas. O pH fisiológico (pH ~
7.4), 31% da nicotina não é ionizada, passando facilmente pelas membranas.

Na sua forma básica, a nicotina é fortemente alcalina e facilmente solúvel tanto em água como em
lipídeos. Na sua forma ionizada, a nicotina é mais difícil de ser absorvida. Por isso, nos estados
alcalinos, nos quais a nicotina é menos ionizável, aumenta a biodisponibilidade. Nos fumadores, a
nicotina é administrada por via oral. Nas pessoas que não inalam o fumo do tabaco, a principal via
de administração da nicotina é pela mucosa nasal. No entanto, a absorção por essa via é altamente
dependente do pH.

A nicotina é rapidamente absorvida pelos alvéolos pulmonares e atinge o cérebro em cerca de 10


segundos. Sua meia-vida é de, aproximadamente, duas horas, e a maior parte da metabolização
é hepática, por meio do citocromo P450. A principal enzima envolvida nesse metabolismo é a
CYP2A6. Estudos de biologia molecular mostram que há variação individual da capacidade de

75
UNIDADE VI │ DROGAS DE ABUSO

metabolização da nicotina. Portadores dos alelos CYP2A6*2 e CYP2A6*3 têm menor probabilidade
de serem fumantes e, se o forem, tenderão a consumir menos tabaco do que os portadores do alelo
CYP2A6*1 (ROSEMBERG, 2007).

O metabólito mais importante da nicotina é a cotinina, que pode ser detectada na urina, na saliva e
no sangue. Apenas 5% da nicotina são excretados de forma inalterada pelos rins.

A molécula da vitamina C termina aniquilada pela nicotina do cigarro, quando as duas se esbarram
na corrente sanguínea. De 1/3 a 100% de toda a vitamina ingerida pode terminar inutilizada desse
jeito. A falta de vitamina C é uma das explicações para a incidência de aterosclerose, as placas de
gordura nas artérias, comuns nos fumantes. Dentro dos vasos sanguíneos, a vitamina C, a E e uma
família de moléculas protetoras chamadas fenóis (presentes nas uvas vermelhas) formam uma
barreira para impedir a reação dos radicais livres com o colesterol que, depois da reação, depositam-
se com facilidade nas paredes das artérias, criando placas que crescem até o sangue não conseguir
mais passar.

Em fumantes, devido ao estresse oxidativo provocado pelo uso do fumo, pode-se observar elevada
concentração plasmática de IL-6, uma citocina pró-inflamatória que promove a síntese de ácidos
graxos e suprime a ação da lipase lipoproteica elevando a concentração de triglicerídeos (YASSUE et
al., 2006). Portanto, os valores superiores de triglicerídeos observados nos fumantes pesados podem
estar relacionados com a ação da IL-6, devido ao maior número de cigarros consumidos por dia.

Como os fumantes estão mais susceptíveis ao processo de peroxidação lipídica, a manutenção de níveis
elevados de antioxidantes torna-se imprescindível para a prevenção das doenças cardiovasculares.
Apesar de todos os indivíduos terem apresentado nível adequado de vitamina C e vitamina E, os
valores de referência são determinados como os níveis que podem evitar a deficiência, não levando
em consideração a ação antioxidante.

Ao comparar a ação do tabagismo sobre o sistema antioxidante de fumantes adolescentes e adultos,


estudos verificaram que, de modo similar aos adultos, o tabagismo causa efeitos negativos no
sistema antioxidante de adolescentes (KIM et al., 2003; Kim et al., 2004).

O mecanismo pelo qual o tabagismo diminui as concentrações plasmáticas de vitamina C ainda


não foi bem estabelecido. O fumo poderia causar menor absorção (PELLETIER, 1968) e aumento
no turnover dessa vitamina (KALLNER; HARTMANN; HORNING, 1981). O aumento no turnover
poderia ser atribuído ao aumento do estresse oxidativo pelo uso do cigarro, necessitando, assim, de
uma quantidade maior de vitamina C para combater os radicais livres formados.

Pelletier (1981) sugere que fumantes apresentam menor absorção dessa vitamina que os não
fumantes, por demonstrarem menor excreção urinária de vitamina C, quando ambos os grupos
foram suplementados com a mesma quantidade de vitamina. Ainda não se sabe como o tabagismo
afeta a absorção de vitamina C. Assim, os fumantes devem consumir uma quantidade adicional de
35 mg/dia a mais do que os não fumantes. A recomendação diária de vitamina C para adultos não
fumantes é estimada em 75 mg/dia e 90 mg/dia para mulheres e homens, respectivamente. Essa
quantidade pode ser alcançada consumindo-se um copo de 200 ml de suco de laranja natural,
preparado no momento do consumo (GOMEZ; VENTURINI, 2009).

76
DROGAS DE ABUSO │ UNIDADE VI

No que se refere às concentrações plasmáticas de vitamina E, alguns autores relatam concentrações


mais baixas entre os fumantes do que entre os não fumantes (ELLICKSON; TUCKER; KLEIN,
2001). Bruno et al. (2005) verificaram que, em fumantes suplementados com vitamina E marcada,
essa vitamina desaparece mais rapidamente do plasma em relação ao que ocorre no plasma dos não
fumantes, indicando aumento na sua utilização, que pode ser atribuído ao aumento dos processos
oxidativos causados pelo fumo. Porém, outros autores relatam concentração similar entre os grupos
(BATISTA et al., 2009; ROSS et al., 1995; FARUQYE, 1995).

Concentrações reduzidas de selênio foram detectadas em fumantes (ELLINGSEN et al., 2009) e,


como o selênio é um potente antioxidante, cofator da enzima glutationa peroxidase, exercendo
efeito protetor contra o acúmulo de radicais livres, os fumantes têm um risco aumentado em
desenvolver câncer de pulmão, esôfago e bexiga. O selênio pode exercer efeito protetor por meio de
mecanismos inibitórios que regulam a proliferação celular descontrolada no câncer; é importante
que os fumantes consumam alimentos ricos nesse mineral como, por exemplo, castanhas, vegetais,
carnes e pescados.

Segundo pesquisa realizada por Mohs e colaboradores (1990), o uso de drogas que causam
dependência, como cocaína e maconha, afeta o comportamento alimentar e a ingestão de líquidos,
o paladar e o peso corporal. Podem-se desenvolver alterações no metabolismo de nutrientes
específicos; vício em heroína pode causar hipercalemia e uso de morfina pode resultar na inibição de
cálcio. Aspectos fisiológicos relacionados com a nutrição como a liberação de gastrina prejudicada,
hipercolesterolemia, hipotermia e hipertermia também são percebidos com o uso de morfina.
Condições relacionadas com a nutrição podem afetar a sensibilidade e dependência de drogas e
seus efeitos. Diabetes diminui a sensibilidade e dependência em morfina, a privação de proteína
produz utilização de gordura preferencial com o uso de cocaína baixo, e deficiência de vitamina D
desacelera dependência de morfina.

Durante o uso e/ou retirada da heroína, maconha e cocaína, ocorrem grandes mudanças na seleção
e ingestão de alimentos, o que resultará em ganho ou perda de peso.

77
DEFICIÊNCIA DE
NUTRIENTES E EXAMES UNIDADE VII
LABORATORIAIS

CAPÍTULO 1
Deficiência de nutrientes e
exames laboratoriais

Deficiência de nutrientes
A dieta influencia todos os estágios do ciclo da vida, fornecendo nutrientes necessários ao sustento do
corpo humano. Alterações de ordem funcional e/ou estrutural, provocadas por doenças e infecções
agudas ou crônicas, levam à utilização de medicamentos, cujo objetivo é restaurar a saúde. A via
preferencial escolhida para a sua administração é a oral, entre outras razões, por sua comodidade e
segurança (MOURA; REYES, 2002).

Fármacos ou bebidas como a cafeína e o álcool podem produzir lesão de mucosa gástrica, reduzindo
sua capacidade absortiva. Essa interação reduz a absorção de nutrientes e, dependendo do grau
da lesão, ocorre deficiência nutricional importante. Em função disso, recomenda-se aos pacientes
suscetíveis a administração de fármacos com as refeições e a redução da ingestão de álcool ou bebidas
contendo cafeína.

O uso de antibióticos, de modo geral, reduz a microflora intestinal, podendo, com isso, diminuir
a produção de vitamina B12 pelas bactérias. Como a principal fonte de vitamina B12 do nosso
organismo é proveniente da síntese pelas bactérias intestinais, o uso de antibióticos por longo tempo
pode produzir sinais de sua deficiência. Alguns médicos já recomendam reposição do complexo B
para os pacientes que necessitam de longos tratamentos, como é o caso de pacientes com AIDS ou
câncer (GOMEZ; VENTURINI, 2009).

A microflora intestinal também pode interferir na ação de fármacos como o metotrexato, um


medicamento utilizado para o tratamento de câncer e artrite reumatoide, cuja absorção é aumentada
após metabolização intestinal pelas bactérias. Pacientes que utilizam metotrexato são orientados
a ingerir alimentos ricos em proteínas e fibras, pois estes favorecem o crescimento da microflora
intestinal, aumentando a biodisponibilidade do medicamento.

A interação entre medicamentos e alimentos pode ocasionar a desnutrição do paciente, desde a


deficiência de uma vitamina ou mineral específico até a deficiência de uma série de vitaminas e

78
DEFICIÊNCIA DE NUTRIENTES E EXAMES LABORATORIAIS │ UNIDADE VII

minerais. Por outro lado, um paciente que possui uma deficiência decorrente de uma má alimentação
ou devido a alguma patologia também pode ter um distúrbio de absorção de medicamentos ou
possuir albuminemia, uma diminuição na taxa de albumina plasmática, e, assim, correr o risco de
sofrer efeitos indesejados e tóxicos decorrente do uso do medicamento.

Em alguns casos, é realmente necessária a realização de exames laboratoriais para verificar a real
deficiência de albumina, vitaminas ou minerais, porém, em algumas situações, apenas a anamnese
do paciente e observações de sintomas são suficientes para avaliação e determinação de uma dieta
e/ou suplementação.

A albumina (ALB) é a proteína mais abundante do plasma sanguíneo; devido ao seu baixo custo, é
hoje o parâmetro bioquímico mais utilizado para a avaliação do estado nutricional. Essa proteína é
responsável pela manutenção da pressão coloidosmótica e funciona como proteína transportadora
de zinco, magnésio, cálcio, ácidos graxos, enzimas e hormônios. Sua síntese depende de uma
função hepática íntegra.

A avaliação dos níveis plasmáticos de ALB no diagnóstico da fase aguda da desnutrição apresenta
como principal fator limitante sua meia-vida biológica relativamente longa (aproximadamente 20
dias), podendo transcorrer vários dias para que ocorra uma resposta bioquímica à diminuição da
ingestão dietética (LIMA; REIS, 2012; SOEJIMA; MATSUZAWA, 2005).

Metodologia e interpretação do exame laboratorial


para determinação de albuminemia
Material utilizado: soro, líquido pleural ou ascítico.

Preparo do paciente: jejum de quatro horas.

Método: colorimétrico automatizado.

Valores de referência:

Adultos: Nutrido 3,5 a 4,8 mg/dL


Leve 3 a 3,5 mg/dL
Moderada 2,4 a 2,9 mg/dL
Grave <2,4 mg/dL
Crianças: 0 a 5 dias (< 2,5 Kg) 2,0-3,6 mg/dL
0 a 5 dias (> 2,5 Kg) 3,6-3,6 mg/dL
1 a 3 anos 3,4-4,2 mg/dL
4 a 6 anos 3,5-5,2 mg/dL

A disponibilidade de vitaminas e minerais pelo organismo é avaliada por determinações bioquímicas,


o que será descrito no capítulo a seguir. Os sinais e sintomas da deficiência de vitaminas e minerais
podem ser vistos no Quadro 21.

79
UNIDADE VII │ DEFICIÊNCIA DE NUTRIENTES E EXAMES LABORATORIAIS

Quadro 21. Sinais e sintomas de deficiência de vitaminas e minerais.

NUTRIENTE SINAIS E SINTOMAS DE DEFICIÊNCIA


Vitaminas
A e Caroteno Cegueira noturna, queratomalácia (córnea).
B6 Anemia, insônia, cálculo renal, náuseas matutinas, síndrome pré-menstrual, erupções cutâneas, pele
seca, nervosismo, convulsões infantis.
B12 Fadiga, cardiopatias, anemia perniciosa, úlceras linguais, intumescimento e formigamento das
extremidades, debilidade.
C Escorbuto, dificuldade na cicatrização, perda de dentes, gengivite, anemia, fraqueza muscular.
D Raquitismo, osteomalacea.
E Anemia, miopatia, debilidade, alteração dos reflexos, oftalmoplegia, retinopatia, lesão permanente do
tecido nervoso com transtorno psicomotor.
Folato Anemia megaloblástica, depapilação lingual, transtornos nervosos, déficit de memória, insônia,
confusão, anorexia e fadiga.
Minerais
Cálcio Câimbras musculares, fratura óssea, osteopenia.
Cobre Neutropenia, anemia microcítica hipocrômica, despigmentação da pele e cabelos.
Cromo Intolerância a glicose, fadiga, alteração do humor.
Ferro Anemia, fadiga, palidez, taquicardia, apatia, dispneia de esforço, sensação de ardor na língua,
depapilação lingual.
Magnésio Arritmia, palpitação, cãibras, espasmos musculares, nervosismo, ansiedade, hiperatividade.
Potássio Náuseas, vômito, debilidade e paralisia muscular, retenção de líquidos, confusão, sonolência e fadiga.

Exames laboratoriais

Avaliação hematológica do sangue


O sangue periférico é constituído por três diferentes linhagens celulares:

»» glóbulos vermelhos, eritrócitos ou hemácias;

»» glóbulos brancos ou leucócitos;

»» plaquetas ou trombócitos.

Os principais exames hematológicos compreendem o hemograma e o coagulograma, conjunto de


exames capazes de avaliar as três linhagens de células sanguíneas, em número e funcionalidade
(BURTIS; ASHWOOD; BRUNS, 2008).

Fazem parte do hemograma os parâmetros de contagem de hemácias, dosagem de hemoglobina,


determinação do hematócrito, índices hematimétricos (volume corpuscular médio, hemoglobina
corpuscular média, concentração de hemoglobina corpuscular média, distribuição do tamanho das

80
DEFICIÊNCIA DE NUTRIENTES E EXAMES LABORATORIAIS │ UNIDADE VII

hemácias), leucometria global e específica e exame microscópico do esfregaço de sangue corado.


Apesar de não fazer parte do hemograma, a contagem de reticulócitos também pode auxiliar em sua
avalição e interpretação. O coagulograma compreende os exames de tempo de sangramento, tempo
de coagulação, tempo de protrombina, tempo de tromboplastina parcial e contagem de plaquetas
(LIMA; REIS, 2012).

O hemograma deve ser realizado com sangue total, utilizando-se o anticoagulante EDTA, por
ser considerado o que melhor preserva as células sanguíneas. Os tubos e vácuo para a coleta
de sangue com EDTA apresentam a tampa com coloração roxa. O jejum não é obrigatório, mas
recomendam-se pelo menos quatro horas de jejum para eliminar as interferências da turvação
do plasma após as refeições, pois pode interferir na análise do exame. O êxito do exame depende
de vários fatores, entre estes a qualidade da amostra sanguínea a ser analisada. Nesse sentido,
torna-se necessário considerar o profissional bem treinado; as veias do paciente; o instrumental
utilizado; a identificação correta da amostra (etapa pré-analítica); a relação sangue-anticoagulante;
a antissepsia; o tempo de garroteamento; a homogeneização da amostra e as condições
de biossegurança.

A análise quantitativa das hemácias, dos leucócitos totais e das plaquetas, e o cálculo dos índices
hematimétricos são realizados, atualmente, utilizando-se equipamentos automatizados, o que
permite resultados mais precisos.

O hemograma também pode ser realizado por métodos manuais, com uso do espectrofotômetro
para a dosagem de hemoglobina e a câmara de Neubauer para as contagens celulares.

Métodos comuns de diagnóstico em pacientes


com distúrbios gastrointestinais
I. Hemograma completo: este exame mede um conjunto de dados sanguíneos, incluindo
a quantidade de glóbulos vermelhos e brancos. Uma redução nos glóbulos vermelhos
(anemia) pode estar associada com sangrameto gastrointestinal. Também chamados
de eritrócitos ou hemácias, os glóbulos vermelhos estão presentes no sangue em
cerca de 4,5 a 6,5 x 106/mm3. Uma elevação nos glóbulos brancos pode indicar uma
infecção ou inflamação (gastrite ou úlcera, por exemplo). Um adulto normal possui
entre 4.000 a 11.000 mil leucócitos (glóbulos brancos) por microlitro de sangue.

II. Dosagem do caroteno, vitamina B12 e ácido fólico: os níveis anormais desses
nutrientes no sangue sugerem que o intestino pode não estar absorvendo os
nutrientes dos alimentos e, no caso de pacientes utilizando inibidores da bomba
de prótons, estes apresentam alteração na liberação do fator intrínseco, afetando a
absorção de vitamina B12.

III. Dosagem de minerais: vômitos ou diarreia intensos podem causar uma anormalidade
nos níveis de sódio e potássio no sangue. Um nível muito baixo de potássio pode
acarretar riscos cardiovasculares, sendo assim, para pacientes apresentando
diarreia devido ao uso de laxantes, por exemplo, pode ser necessária a dosagem de
potássio e cálcio.

81
UNIDADE VII │ DEFICIÊNCIA DE NUTRIENTES E EXAMES LABORATORIAIS

IV. Endoscopia digestiva alta (esofagogastroduodenoscopia): procedimento que


permite olhar diretamente o interior do esôfago, estômago e duodeno. Pode
ajudar a determinar o que deve estar causando sintomas como dificuldade de
deglutir, azia, náuseas, vômitos, dor torácica, sangramento ou dor no abdômen
superior. Esse exame é importante para avaliar a real necessidade da utilização de
medicamentos antiulcerosos.

Exames laboratoriais em pacientes fazendo


uso crônico de laxantes
Monitorar as vitaminas A, D e K (Quadro 23).

Exames laboratoriais em diabéticos utilizando


hipoglicemiantes orais
I. Dosagem de vitamina B12: valores normais podem ser vistos no Quadro 23.

II. Dosagem de cálcio: valores normais podem ser vistos no Quadro 23.

Exames laboratoriais em pacientes utilizando


anti-hipertensivos
Exame de sangue para:

I. Monitorar se os níveis de potássio estão normais em pacientes utilizando diuréticos


de alça e tiazídicos, que podem apresentar esses níveis diminuídos, e em pacientes
utilizando captopril, propanolol e clonidina, pois podem apresentar os níveis de
potássio aumentados.

II. Monitorar os níveis de ácido fólico e cálcio em pacientes utilizando os diuréticos


poupadores de potássio.

III. Monitorar os níveis de vitamina B6 em pacientes utilizando hidralazina.

Exames laboratoriais em pacientes


utilizando antilipêmicos
Exame de sangue para:

I. Dosar vitaminas A, D, E, B12, K e folato; minerais cálcio e ferro em pacientes


utilizando resinas de ligação de ácidos biliares como colestiramina e colestipol.

II. Dosar caroteno, vitaminas E, K, B12; minerais zinco, ferro e monitorar glicemia em
pacientes utilizando fibratos.

III. Dosar vitaminas A, E e caroteno em pacientes utilizando probucol.

82
DEFICIÊNCIA DE NUTRIENTES E EXAMES LABORATORIAIS │ UNIDADE VII

Exames laboratoriais em pacientes


utilizando analgésicos
Tendo em vista que pacientes fazendo uso contínuo de ácido acetilsalicílico podem apresentar
redução na biodisponiobilidade da vitamina C e na absorção de tiamina, ácido fólico, ferro e vitamina
K, devem-se monitorar os níveis dessas substâncias no sangue.

Exames laboratoriais em pacientes


utilizando antibióticos

Tetraciclina

Influência em exames laboratoriais: o uso desse antibiótico pode produzir falsas elevações das
catecolaminas urinárias e pode alterar a concentração de ureia sérica por seu efeito antianabólico.
Concentrações séricas de transaminase glutâmico pirúvica (TGP), fosfatase alcalina, amilase,
transaminase glutâmico oxalacético e bilirrubinas podem estar aumentadas, com a administração
de tetraciclinas.

Exames recomendados: hemograma para monitorar alterações a longo prazo. Avaliação da função
renal e hepática também é importante. Determinação das concentrações de vitamina B12 e ácido
fólico no sangue. Em pacientes utilizando insulina, monitorar a glicose sanguínea (Quadro 22).

Cloranfenicol

Exame laboratorial: hemograma para monitorar possíveis alterações sanguíneas em tratamentos


prolongados (acima de 10 dias).

Trimetoprima e sulfametoxazol

Exame laboratorial: hemograma, determinação de ácido fólico, monitoramento da glicemia


principalmente em pacientes diabéticos, urinálise para controle de liberação de cálculos e cristais
pela urina.

Rifampicina

Exame laboratorial: monitorar os níveis de vitamina D e cálcio.

Quadro 22. Valores de referência da glicemia (mg/dL).

Diagnóstico Jejum 2h após 75g de glicose Casual

Glicemia normal <100 <140 -

Pré-diabetes ≥100 e <126 ≥140 e <200 -

Diabetes melito ≥126 ≥200 ≥200 com sintomas clássicos

83
UNIDADE VII │ DEFICIÊNCIA DE NUTRIENTES E EXAMES LABORATORIAIS

Exames laboratoriais em pacientes


utilizando antineoplásicos
Monitorar níveis plasmáticos das vitaminas A, B1, B12, C, folato e os minerais cálcio, magnésio,
zinco, fósforo, ferro que se apresentam reduzidos nesses pacientes e dosar ácido úrico e creatinina
que se encontram elevados.

Alguns critérios são recomendados para aplicação da quimioterapia com intuito de


reduzir os efeitos tóxidos dos antineoplásicos. Veja no site do INCA: <http://www.
inca.gov.br/conteudo_view.asp?ID=101>.

Metodologia e interpretação do exame laboratorial de


ácido úrico

O principal produto do catabolismo dos nucleosídeos purínicos (adenosina e guanosina) é o ácido


úrico. As purinas do catabolismo dos ácidos nucleicos alimentares são transformadas diretamente
em ácido úrico. Dessa maneira, a dieta tem uma contribuição considerável na concentração
plasmática desse analito. Alguns pacientes com hiperuricemia podem desenvolver o quadro de gota.
Esta ocorre quando o urato monossódico se precipita nos líquidos corporais supersaturados, o que
origina uma resposta inflamatória e causa dor intensa.

»» Material utilizado: soro.

»» Preparo do paciente: jejum de 8 horas.

»» Conservação da amostra: até 5 dias entre 2oC e 8oC.

»» Valores de referência:

›› Homens: 3,5 a 7,2mg/dL

›› Mulheres: 2,6 a 6mg/dL

Metodologia e interpretação do exame laboratorial


de creatinina

Devido à creatinina ser de produção endógena e ser liberada nos líquidos corporais a uma taxa
constante, sendo seus níveis plasmáticos mantidos em valores dentro de limites estreitos, sua
depuração pode ser determinada como um indicador de taxa de filtração glomerular (BURTIS et
al., 2008).

»» Material utilizado: soro.

»» Preparo do paciente: jejum não obrigatório.

»» Conservação da amostra: até 5 dias entre 2oC e 8oC.

»» Valores de referência:

84
DEFICIÊNCIA DE NUTRIENTES E EXAMES LABORATORIAIS │ UNIDADE VII

»» Homens: 0,7 a 1,6mg/dL

»» Mulheres: 0,6-1,1mg/dL

Exames laboratoriais em pacientes


utilizando antidepressivos
Pacientes utilizando paroxetina: exames de sangue e urina para determinação da concentração
de sódio.

Exames laboratoriais em pacientes utilizando


pílula anticoncepcional
Deve ser realizado exame de sangue para determinação das concentrações de vitamina B6, ácido
fólico, riboflavina, vitamina C e vitamina A e de minerais ferro, zinco e cobre. Pacientes utilizando
drospirenona: determinação de potássio.

Avaliação bioquímica do sangue

Ferro

O metabolismo do ferro lembra o de um elemento vestigial, uma vez que pouquíssimas quantidades
estão presentes no plasma ou em outros compartimentos celulares. As reservas de ferro são
controladas de forma muito rigorosa e há, no organismo, a troca dinâmica entre medula óssea,
hemácias, plasma, líquido extracelular, ferritina e transferrina (BURTIS et al., 2008). Apesar de
ser um dos minerais mais abundantes da crosta terrestre, a deficiência de ferro é um dos problemas
nutricionais mais comuns, que atinge populações em todo o mundo, até mesmo em países
desenvolvidos. Valores elevados de ferro estão relacionados à hemacromatose hereditária, um
distúrbio genético no qual ocorre um excesso de absorção de ferro. Da mesma maneira, o excesso
de ferro pode ocorrer na anemia sideroblástica, cuja causa do excesso é de origem desconhecida.
Em um tipo hereditário desse distúrbio, há a deficiência de ácido delta-aminolevulínico sintase nos
precursores das hemácias. O ferro se acumula nas mitocôndrias por causa do gargalo metabólico.
Nos casos de deficiência do ferro, é um distúrbio que pode ocorrer em todas as faixas etárias. Nas
crianças, geralmente, ocorre devido à deficiência alimentar, ao passo que, nos adultos, muitas vezes
indica a perda de sangue (LIMA; REIS, 2012).

Vitaminas

Vitaminas são compostos orgânicos indispensáveis para o crescimento e desenvolvimento normais


do organismo. Conforme sua solubilidade, podem ser classificadas em lipossolúveis e hidrossolúveis.
Como as células não dispõem de sistemas enzimáticos para sua síntese nas taxas necessárias, o
organismo depende de dietas balanceadas para a sua obtenção. A detecção de deficiências limiares
em geral é difícil, porém, importante, visto que os estados carenciais comprometem a eficiência de
várias vias metabólicas vitamina-dependentes.

85
UNIDADE VII │ DEFICIÊNCIA DE NUTRIENTES E EXAMES LABORATORIAIS

Existem vários fatores que favorecem o aumento ou a redução dos níveis desejados das vitaminas
no organismo, além da influência das quantidades ingeridas na alimentação, um indivíduo pode
ingerir quantidades suplementares por meio de complexos vitamínicos, por exemplo, ou pode utilizar
medicamentos e substâncias que alterem os seus níveis. Em geral, a avaliação do estado vitamínico é
feita de duas maneiras: pelos seus níveis plasmáticos e/ou pela medida da atividade enzimática que
tem a vitamina como cofator. Os níveis normais de cada uma podem ser vistos no Quadro 23.

Minerais

Os minerais são elementos com funções orgânicas essenciais que atuam tanto na forma iônica
quanto como constituintes de compostos (enzimas, hormônios e proteínas do tecido orgânico).
São nutrientes vitais, que compõem cerca de 4% do peso corporal. Podem ser encontrados sob a
forma não solúvel (como constituintes estruturais de certas partes do corpo) ou sob a forma solúvel
(dissociados em seus íons constituintes). Recebem o nome de micronutrientes, pois são necessários
em quantidades mais reduzidas do que as proteínas, os lipídios e os carboidratos, porém, são
essenciais para uma boa nutrição.

Na avaliação do estado nutricional, as determinações bioquímicas são usadas como complemento


dos dados de história clínica e exame físico. Vários fatores interferentes devem ser considerados,
por exemplo, biodisponibilidade do nutriente, função renal e estados hipercatabólicos (LIMA;
REIS, 2012). Os níveis normais dos minerais que podem ser alterados nas interações citadas podem
ser vistos no Quadro 23.

Quadro 23. Valores de referência de vitaminas e minerais em adultos.

NUTRIENTE MATERIAL VALORES NORMAIS


Vitaminas
Caroteno Plasma 0,5-1,5 mg/dL
Soro <0,2 mg/dL = deficiência
Vitamina A Soro 1,05-3,32 mmol/ml
Vitamina D Soro 25-Hidroxivitamina D: 10-55ng/ml
1,25-dihidroxivitamina D: 24-65pg/ml
Vitamina C Plasma 11-114 mmol/ml
Vitamina B1 Plasma 0 a 2 mcg/dL
Vitamina B2 Plasma 4 a 24 mcg/dL
Vitamina B6 Plasma 0,5-3 mcg/dL
Sangue
Urina
B12 Plasma 200-1000 ng/dL
100pg/ml = deficiência
Folato Soro 3-10ng/ml
Hemácias Hemácias > 160 ng/ml
<40 mg/ml = deficiência

86
DEFICIÊNCIA DE NUTRIENTES E EXAMES LABORATORIAIS │ UNIDADE VII

NUTRIENTE MATERIAL VALORES NORMAIS


Vitamina K Plasma 0,13-1,19ng/ml
Vitamina E Plasma 0,5-1,8 mg/dL
Minerais
Cálcio Soro 9-11 mg/dL
Potássio Plasma 3,5-5,0 mEq
Sódio Soro Inferior a 5 mg/dL
Magnésio Soro 1,8-3 mEq/L
Ferro total/sérico Soro Homens: 59 a 158 mcg/dL
Mulheres: 37 a 145 mcg/dL
Ferritina Soro Homens: 18 a 370 ng/ml
Mulheres: 9 a 120 ng/ml
Zinco Soro 80-140 mcg/dL
Cobre Soro 90-125 mcg/dL

87
PARA (NÃO) FINALIZAR

Neste Caderno, discutimos a questão da interação entre medicamentos/drogas e alimentos e como


os medicamentos podem prejudicar a absorção de nutrientes, alertando o profissional acerca das
medidas que devem ser tomadas para evitar uma possível desnutrição.

Foi destacado o conhecimento da interpretação de exames que podem ser importantes na anamnese,
de forma a identificar os nutrientes com absorção prejudicada devido ao uso crônico de determinado
fármaco. No entanto, na prática clínica, a solicitação de exames é dificultada devido aos planos de
saúde muitas vezes não os autorizarem.

Deve-se utilizar o bom senso e procurar avaliar caso a caso, identificando quando o exame é
realmente importante e quando é possível a identificação de deficiências nutricionais pelos sintomas
apresentados e características do paciente.

O assunto interação droga-nutriente é recente e suas informações são escassas. Nos últimos anos,
porém, podemos observar que as informações estão crescendo, mas ainda há necessidade de mais
estudos sobre o assunto. Com o surgimento de drogas novas, outras interações surgem. Sendo
assim, o profissional da área deve procurar sempre a atualização das informações em literatura de
referência como revistas e artigos científicos ou livros.

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