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TÓPICO 2 — TIPOS DE

MEDICAMENTOS
Martha P. R. Balieiro
Atualmente, com a evolução em desenvolvimento e pesquisa, a indústria
farmacêutica produz, em larga escala e grande variedade, medicamentos alopáticos
para comercialização em farmácias, que são os mais utilizados e confiáveis para a
população.
Com a cultura da medicalização, em que o consumo de medicamentos nos dias de
hoje é alto, o farmacêutico deve conhecer todos os tipos de medicamentos
existentes, pois, como profissionais do medicamento, temos a obrigação de informar
e conscientizar a população. Desse modo, este tópico trata das definições sobre os
tipos de medicamentos que se encontram nas farmácias hoje em dia. Serão
abordados temas como alopatia, homeopatia, origem do princípio ativo e elementos
dos medicamentos, como embalagem, rastreabilidade, rótulos etc.
2 ALOPATIA (Você sabe o que são medicamentos alopáticos_)

Alopatia é uma medicina tradicional, que utiliza os medicamentos que irão produzir no
organismo do paciente uma reação contrária aos sintomas que ele apresenta,
diminuindo ou neutralizando os sintomas. Por exemplo, se o paciente tem febre, o
médico receita um medicamento para baixar a temperatura (BRASIL, 2010). Os
principais problemas dos medicamentos alopáticos são seus efeitos colaterais e sua
toxicidade. A fitoterapia entra na categoria de medicamentos alopáticos (BRASIL,
2010).
3 HOMEOPATIA ( vídeo - O que é o medicamento
homeopático_)
A homeopatia, sistema médico de caráter holístico, é baseada no princípio vitalista e
no uso da lei dos semelhantes, enunciada por Hipócrates no século IV a.C. (CRF-SP,
2019). A homeopatia é uma especialidade farmacêutica, médica, odontológica e
veterinária que foi fundada no início do século XIX pelo alemão Samuel Hahnemann,
ganhando popularidade no final do mesmo século. Entretanto, com o advento da
medicina moderna, a homeopatia foi vista como velha pelos praticantes da medicina
convencional e sua popularidade caiu. Essa tendência foi revertida e, desde 1980, ela
voltou a crescer em vários países (BRASIL, 2011a).
MEDICAMENTO HOMEOPÁTICO X MEDICAMENTO ALOPÁTICO

O tratamento homeopático não busca eliminar apenas os sintomas da


doença e sim estimular o organismo a se fortalecer. Logo, o tratamento
homeopático é eficaz para curar o doente, e não apenas aliviá-lo (BRASIL,
2011a). Já o tratamento alopático busca, por meio dos medicamentos de
ação química, eliminar os sintomas e manifestações da doença pelo
chamado princípio dos contrários. Por exemplo: uso de laxante para prisão
de ventre (BRASIL, 2011a). Essa anulação de sintomas normalmente não
combate a origem e as causas da doença. Na maioria dos casos, há grande
alívio, mas apenas durante o tratamento (BRASIL, 2011a).
ORIGEM DO PRINCÍPIO ATIVO

É importante sabermos qual a procedência dos medicamentos e a diferença de


um medicamento inovador, seu similar e seu genérico. Esse conhecimento é
necessário para seguirmos algumas legislações, que permitem a
intercambialidade de medicamentos, e também para a orientação correta à
população consumidora.
MEDICAMENTOS DE REFERÊNCIA E/OU
INOVADORES (Qual a diferença entre referência, genérico e similar_)

Um produto inovador é aquele registrado no órgão federal responsável pela


vigilância sanitária e comercializado no país, cuja eficácia, segurança e qualidade
foram comprovadas cientificamente junto ao órgão federal competente por ocasião
do registro. A empresa interessada em registrar medicamentos genéricos e/ou
similares deverá utilizar obrigatoriamente o medicamento de referência (BRASIL,
2020).
Medicamentos genéricos Contém o mesmo princípio ativo, na mesma dose e forma
farmacêutica, é administrado pela mesma via e com a mesma posologia e indicação
terapêutica do medicamento de referência, apresentando eficácia e segurança
equivalentes à do medicamento de referência e podendo, com este, ser
intercambiável. A intercambialidade, ou seja, a segura substituição do medicamento de
referência pelo seu genérico, é assegurada por testes de equivalência terapêutica, que
incluem comparação in vitro, através dos estudos de equivalência farmacêutica, e in
vivo, com os estudos de bioequivalência apresentados à Anvisa. Os medicamentos
genéricos podem ser identificados pela tarja amarela, na qual se lê “Medicamento
Genérico”. Além disso, deve constar na embalagem a frase “Medicamento Genérico Lei
nº 9.787/1999”. Como os genéricos não têm marca, o que você lê na embalagem é o
princípio ativo (BRASIL, 2020).
Vantagens dos medicamentos genéricos 20 anos dos
medicamentos genéricos)

• Disponibilizar medicamentos de menor preço, uma vez que o medicamento


genérico deve ser, no mínimo, 35% mais barato que o medicamento de referência.
• Reduzir os preços dos medicamentos de referência, com a entrada de
medicamentos concorrentes (genéricos).
• Contribuir para aumento do acesso a medicamentos de qualidade, seguros e
eficazes. Desde a criação da lei dos medicamentos genéricos, o registro desses
medicamentos pela Anvisa teve um número significativo por ano
Medicamentos similares Contêm o mesmo ou os mesmos princípios ativos e
apresentam mesma concentração, forma farmacêutica, via de administração,
posologia e indicação terapêutica, que são equivalentes ao medicamento
registrado no órgão federal responsável pela vigilância sanitária, podendo
deferir somente em características relativas a tamanho e forma do produto,
prazo de validade, embalagem, rotulagem, excipiente e veículo, devendo
sempre ser identificado por nome comercial e marca (BRASIL, 2020).
Medicamentos manipulados (Medicamento Manipulado ou
Industrializado_)

Os medicamentos manipulados são aqueles preparados diretamente na farmácia,


pelo profissional farmacêutico, a partir das fórmulas inscritas no Formulário
Nacional ou Internacional reconhecidas pela Anvisa, ou ainda a partir de uma
prescrição de profissional habilitado, que estabeleça em detalhes sua composição,
forma farmacêutica, posologia e modo de usar (BRASIL, 2012).
Intercambialidade de medicamentos
• Bioequivalência, os produtos farmacológicos são considerados equivalentes
farmacêuticos se tiverem os mesmos ingredientes ativos e forem idênticos em potência
ou concentração, apresentação e via de administração. Em termos farmacêuticos, dois
fármacos equivalentes são considerados bioequivalentes quando as taxas e amplitudes
da biodisponibilidade do ingrediente ativo em dois produtos não forem
significativamente diferentes sob condições experimentais adequadas (BRUNTON;
LAZO; PARKER, 2006). Consiste na demonstração de equivalência farmacêutica entre
produtos apresentados sob a mesma forma farmacêutica, contendo idêntica
composição qualitativa e quantitativa de princípio(s) ativo(s), e que tenham comparável
biodisponibilidade, quando estudados sob um mesmo desenho experimental (BRASIL,
2009).
• Biodisponibilidade: indica a velocidade e a extensão de absorção de um princípio
ativo em uma forma de dosagem, a partir de sua curva concentração versus tempo na
circulação sistêmica ou sua excreção na urina (BRASIL, 2020).
• Denominação Comum Brasileira (DCB): denominação do fármaco ou princípio
farmacologicamente ativo aprovado pelo órgão federal responsável pela vigilância
sanitária (Lei nº 9.787/1999; BRASIL, 2020).
• Denominação Comum Internacional (DCI): denominação do fármaco ou princípio
farmacologicamente ativo recomendado pela OMS (BRASIL, 2020)
• Produtos farmacêuticos intercambiável: equivalente terapêutico de um
medicamento de referência, comprovados, essencialmente, os mesmos efeitos
de eficácia e segurança (BRASIL, 2020). Quando o medicamento é um
equivalente, ele deverá obrigatoriamente vir com o símbolo (EQ; Figura 15)
A seguir, vamos observar na Figura 16 uma
representação das principais diferenças entre os
medicamentos.
Por que existem diferentes tipos de comprimidos_ _ Coluna
#74
ELEMENTOS DO MEDICAMENTO

Há uma infinidade de embalagens diferentes de medicamentos no mercado, as


quais devem ser resultado de compromisso do fabricante com a qualidade,
representada por alguns fatores, como a função física de manuseio e proteção do
produtor, consumidor e meio ambiente, a função competitiva de comunicação e a
função econômica, relacionada ao custo total do produto (FIORENTINO et al., 2008).
As funções das embalagens podem ser resumidas em:
• Acondicionamento: conter o produto acondicionado, isto é, em uma embalagem capaz de
resistir a qualquer reação devido às substâncias contidas no produto.
• Proteção: proteger o produto do manuseio, da ação de agentes externos, como oxigênio,
temperatura etc., que podem danificar o produto.
• Comunicação: informar de forma inequívoca todas as características, formas de uso,
manuseio e cuidados, bem como o número do lote e prazo de validade.
• Utilidade: função na qual o tipo de embalagem, formato, tamanho e apresentação estão
diretamente relacionados ao uso que será dado.
Por exemplo, um blister, uma seringa, um gotejador (AULTON, 2016).
EMBALAGEM

As embalagens têm como finalidade proteger os medicamentos de agentes externos, como


calor, luz e umidade, de forma a garantir a não ocorrência de degradação que comprometa a
qualidade do produto. Os tipos de embalagem de medicamentos são divididos em:
• Embalagem primária: tem contato direto com o produto e é a maior barreira de proteção;
como exemplos, podemos citar o blister e o frasco de vidro.
• Embalagem secundária: protege a embalagem primária, como cartuchos (caixinhas que
envolvem a embalagem primária).
• Embalagem terciária: contém a embalagem primária e secundária, para que haja melhor
transporte – caixa de papelão é o exemplo mais comum.
• Bisnaga: recipiente flexível para semissólidos e cremes.
Frasco: recipiente rígido para líquidos, geralmente de plástico ou vidro. Na
embalagem secundária, deve constar algumas informações importantes:
• Nome comercial do medicamento (ausente em genéricos). Em caso de
medicamentos fitoterápicos, deve ser apresentado o nome botânico da planta.
• Denominação genérica.
• Nome, endereço e CNPJ da empresa produtora.
• Nome do fabricante e local de fabricação do produto.
• Número do lote.
• Data de fabricação (mês e ano).
• Data da validade (mês e ano).
• Número do registro (MS seguido do número, constando 13 números).
• Composição do medicamento, quantidade e via de administração.
• Nome do farmacêutico responsável técnico e número de inscrição no Conselho
Regional de Farmácia (CRF).
• Telefone do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC).
• Lacre de segurança (toda embalagem deve estar lacrada).
• Tinta reativa que, quando raspada com metal, deve apresentar a palavra
qualidade e nome do laboratório ou selo de rastreabilidade.
MANHÃ TOTAL - Qual o significado de cada
cor nas tarjas de medicamentos_
Os medicamentos com tarja preta requerem maior risco de atenção, no que diz respeito
à segurança dos seus usuários. O potencial de risco associado ao uso desses produtos
obriga a apresentação de prescrição médica na farmácia, para a aquisição do produto. As
substâncias presentes nesse tipo de medicamento apresentam, além dos riscos de
reações adversas graves, o potencial de ocasionar dependência (ASCORFEJ, 2014). Assim,
cada cor de tarja tem sua receita correspondente:
• os medicamentos com tarja vermelha (ou amarela no caso dos genéricos) devem ser
vendidos somente com a apresentação da receita por profissional habilitado.
• os medicamentos com tarja preta exigem receita azul.
RÓTULO

Os rótulos devem apresentar informações adequadas para dispensação e uso de


medicamento, armazenamento correto e rastreamento, desde a sua fabricação até o
consumo. Em algumas situações, devem alertar sobre os riscos do uso do produto para
alguns grupos, como diabéticos, celíacos e alérgicos, podendo conter orientações
adicionais (BRASIL, 2010).
BULA

A bula é um documento legal sanitário que serve para obter informações


e orientações sobre medicamentos necessários para uso seguro e
tratamento eficaz. Ela pode ser de dois tipos: bula para o paciente (com
termos acessíveis e diretos) e bula para os profissionais de saúde (com
termos mais técnicos e informações mais complexas).
MEDICAMENTOS COM EXIGÊNCIA E
ISENTOS DE PRESCRIÇÃO
Os medicamentos isentos de prescrição (MIPs), também chamados de medicamentos
de venda livre ou over the conter (OTC, que significa sobre o balcão), são, segundo o
Ministério da Saúde, aqueles cuja dispensação não requerem receita de um profissional
prescritor habilitado (COSTA, 2005).

Geralmente, os MIPs são indicados para doenças com alta morbidade e baixa gravidade
e são considerados de elevada segurança de uso, eficácia comprovada cientificamente
ou de uso tradicional reconhecido, de fácil utilização e baixo risco de uso abusivo; são
exemplos os antiácidos, os analgésicos e os antieméticos (CRF-SP, 2010).
MEDICAMENTOS ISENTOS DE PRESCRIÇÃO

No Brasil, a questão de medicamentos é paradoxal: por um lado, a população sofre


com a falta de acesso aos medicamentos, por outro, há o consumo irracional
estimulado pela automedicação e pela concepção errônea de medicamento como
simples mercadoria, isenta de risco. A automedicação é uma realidade evidente,
devido às carências e aos hábitos da população, à propaganda abusiva de
medicamentos, aos medicamentos disponibilizados ao consumidor
(autoatendimento) e também pelo fato de o usuário, muitas vezes, não solicitar
orientação do profissional farmacêutico quando vai à farmácia (CRF-SP, 2010).
Para que ocorra o uso correto, seguro e racional de medicamentos, os farmacêuticos
precisam se conscientizar da importância dos MIPs, pois essa classe terapêutica está
sob sua responsabilidade e deve ser usada como a principal ferramenta para
tratamentos de sintomas menores de baixa gravidade, passíveis de orientação
farmacêutica e automedicação (CRF-SP, 2010).

A dispensação de medicamentos, isentos ou não de prescrição, deve ser entendida


como um processo de atenção à saúde. Quando a dispensação é acompanhada de
orientação adequada, os riscos relativos ao medicamento diminuem, contribuindo
para que os estabelecimentos farmacêuticos sejam um verdadeiro estabelecimento
de saúde (CRF-SP, 2010).
MEDICAMENTOS COM PRESCRIÇÃO

O farmacêutico deve ter conhecimento sobre os tipos de receitas para a


prescrição de medicamentos controlados.

Essa prescrição só pode ser feita por profissionais habilitados, sendo eles
médicos, dentistas e veterinários. O farmacêutico é responsável por avaliar as
receitas antes da dispensação.
O que significa cada tipo de Receita médica!

Branca,

azul e

amarela
TIPOS DE PRESCRIÇÃO
Existem leis específicas que o farmacêutico deve seguir, como a Portaria nº 344/1998 e todas as suas
atualizações, que tratam dos medicamentos controlados, e a Resolução nº 20/2011, que trata dos
medicamentos antimicrobianos que, a partir do ano de 2011, também fazem parte da lista de
medicamentos controlados.

A Portaria nº 344, de 12 de maio de 1998, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde


(SVS/MS) é a principal legislação nacional sobre o comércio de medicamentos sujeitos a controle especial.
Nela, as substâncias estão distribuídas em listas que determinam a forma como devem ser prescritas e
dispensadas (Figura 20). Essas listas são atualizadas por meio de Resoluções de Diretoria Colegiada (RDC)
da Anvisa e devem ser acessadas por todos os profissionais que trabalham com substâncias sujeitas a
controle especial (CRF-PR, 2015)
Para facilitar o entendimento das informações da Figura 20, as siglas
apresentadas correspondem a: notificação de receita (NR); apresentação
injetável (Inj); balanço de substâncias psicoativas e outras sujeitas a controle
especial (BSPO); balanço de medicamentos psicoativos e outros sujeitos a
controle especial (BMPO); relação mensal de notificações de receita A
(RMNRA); relação mensal de notificações de receita B2 (RMNRB2).
Já em caso de substâncias sujeitas a controle especial, os medicamentos
devem ser guardados sob chave ou outro dispositivo que ofereça segurança,
em local exclusivo para esse fim e sob a responsabilidade do farmacêutico.

Sua dispensação deve ser feita exclusivamente por farmacêuticos, sendo


proibida a delegação da responsabilidade sobre o controle dos medicamentos
a outros funcionários (CRF-PR, 2015). As prescrições de medicamentos, tanto
controlados quanto antimicrobianos, valem em todo território nacional.
O receituário é o papel utilizado para a prescrição de medicamentos. Já a receita é a prescrição escrita de
medicamentos, contendo orientação de uso para o paciente, efetuada por profissional legalmente
habilitado.
• Receituário simples: é utilizada para a prescrição de medicamentos anódinos e de medicamentos de tarja
vermelha, com os dizeres venda sob prescrição médica, e segue as regras descritas na Lei nº 5.991/1973.
• Receita branca: receituário de controle especial, é utilizada para a prescrição de medicamentos à base de
substâncias contidas na lista C1. Os medicamentos dessa lista contêm tarja vermelha (Figura 21).
• Receita azul: também conhecida como receita B, é um impresso padronizado de cor azul, utilizado para a
prescrição de medicamentos que contenham substâncias da lista B1 e B2. Terá validade por 30 dias a partir
da emissão (Figura 22).
• Receita amarela: a notificação de Receita A é um impresso de cor amarela para os medicamentos da lista
A1, A2 e A3 (Figura 23). • Notificação de Receita Especial de Retinoides: receita de cor branca, específica
para prescrição de retinoides de uso oral (Figura 24).

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