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Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE ÚNICA
ATENDIMENTO FAMILIAR......................................................................................................................... 9
CAPÍTULO 1
HISTÓRIA DA TERAPIA FAMILIAR ................................................................................................. 9
CAPÍTULO 2
TERAPIA FAMILIAR ................................................................................................................... 18
CAPÍTULO 3
AS ESCOLAS E A TERAPIA PÓS-MODERNA................................................................................ 26
CAPÍTULO 4
ATENDIMENTO PSICOLÓGICO FAMILIAR E O GENOGRAMA..................................................... 34
CAPÍTULO 5
TERAPIA FAMILIAR E TRANSGERACIONALIDADE......................................................................... 45
CAPÍTULO 6
RELAÇÕES FAMILIARES E TEORIA SISTÊMICA............................................................................. 48
REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 58
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
5
Atenção
Saiba mais
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
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Introdução
O Assistente Social, no exercício de suas atribuições, possui a necessidade do
conhecimento do atendimento familiar.
Objetivos
»» Conhecer a origem do atendimento familiar.
7
ATENDIMENTO UNIDADE ÚNICA
FAMILIAR
CAPÍTULO 1
História da terapia familiar
Na década de 1950 surgiu nos Estados Unidos a Terapia de Família. Inúmeros fatores
contribuíram para que o seu surgimento ocorresse nesse país e nessa época, dentre os
quais podemos citar como sendo um dos mais relevantes o pós-guerra. Nessa época de
transformações que ocorriam nos Estados Unidos em diversas áreas, como o aumento
da industrialização, a participação das mulheres no mercado de trabalho, novas
tecnologias, relações sociais modificadas, aumento do acesso à educação, entre outras,
foram as consequências da consolidação da expansão que já vinha ocorrendo desde a
Segunda Guerra Mundial.
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UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
Esses imigrantes levaram consigo suas histórias e experiências vividas durante a guerra
e esses acontecimentos tiveram efeito importante sobre as disciplinas relacionadas
com a saúde mental. Isso porque, em situações de guerras a capacidade que as pessoas
costumam ter de possuir o controle sobre as próprias vidas e destino parece ser posta
à mercê de forças sobre as quais elas não têm nenhum controle. Para Bloch e Rambo
(1998) a consciência da importância do contexto social sobre a vida dos indivíduos
nessa época aumentou rapidamente e adquiriu maior complexidade.
Neste contexto, de forma paralela ocorreu a união de psicanalistas judeus europeus com
psiquiatras militares norte-americanos parcialmente treinados que retornavam aos
Estados Unidos sem muita perspectiva profissional, o que resultou no crescimento do
movimento psicanalítico, e abriu as portas para terapias ativas que vieram suplantar a
psiquiatria biológica inicial. Em um curto período de tempo o movimento psicanalítico
dominou o cenário psiquiátrico norte-americano, ao mesmo tempo em que começaram
a surgir sinais de descontentamento com essa teoria.
Segundo Bloch e Rambo (1998), o descontentamento com esse modelo teve origem
em alguns pontos, sendo os principais, o caráter limitado do modelo freudiano de
desenvolvimento psicológico feminino; as mudanças dos paradigmas nas ciências sociais
e naturais, o que inclui a física pós-einsteiniana, a teoria da informação, a cibernética,
a linguística e a teoria geral dos sistemas; a consciência dos limites das noções de saúde
mental e a tomada de consciência em relação à importância do contexto, o que segundo
os críticos estaria em desacordo com a psicanálise, já que esta teria seu enfoque voltado
para a história passada, na experiência interna do indivíduo expressa em sequências
intrapsíquicas.
famílias com delinquentes tiveram seu marco inicial no projeto Wiltwick, realizado por
Minuchin, no início da década de 1960.
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ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
como a psicanálise, por exemplo, que tinha no seu início suas formulações centradas
em torno de um autor principal, esse novo campo começou a se desenvolver com muitas
influências, vindas de diversos campos e autores. As influências mais marcantes na
formação desse campo foram da Teoria Geral dos Sistemas e da Cibernética.
Na década de 1930 foi desenvolvida por Ludwig Bertalanffy a Teoria Geral dos
Sistemas, tendo por objetivo desenvolver leis que explicassem o funcionamento de
sistemas gerais, independentes de sua natureza. Era também, uma tentativa de aplicar
princípios organizacionais a sistemas biológicos e sociais (RAPIZO, 1996). Junto a um
biomatemático e um fisiologista, Bertalanffy criou o Centro de Estudos Superiores das
Ciências do Comportamento, que mais tarde se tornou a Sociedade de Pesquisa Geral
dos Sistemas, com o objetivo de desenvolver estudos sobre sistemas teóricos que fossem
aplicáveis a mais de uma das disciplinas tradicionais da ciência.
De acordo com essa teoria, existiam princípios e leis que se aplicam aos sistemas em
geral, independente de seu tipo particular, da natureza de seus elementos e das relações
que atuam entre eles. A busca por princípios universais aplicáveis aos sistemas em
geral, obteve como resultado três propriedades que estariam presentes em sistemas:
De acordo com Ponciano (1999) para definir essas propriedades, essa teoria operou o
deslocamento da ênfase no conteúdo para a estrutura.
A palavra cibernética vem do grego kybernetes, que significa piloto, condutor. Tal
palavra foi escolhida pelos criadores da cibernética, Wiener, Rosenblueth e Bigelow,
para nomear o campo do conhecimento que se ocupa da teoria do controle e da
comunicação na máquina e no animal. Ao escolherem esse nome, gostariam que fosse
associado às máquinas que pilotam os navios, por estas serem as primeiras e mais
bem desenvolvidas formas de feedback, conceito central de sua teoria. À medida
que suas ideias foram apresentadas, outros cientistas se interessaram e perceberam
claramente a analogia entre o funcionamento do sistema nervoso e o funcionamento
das máquinas de computação. Com o desenvolvimento de pesquisas e sua importância
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UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
para a guerra, visto que a construção de máquinas computadoras era essencial naquele
momento histórico, em 1946 aconteceu a primeira de uma série de conferências
dedicadas ao tema do feedback como promoção da Fundação Josiah Macy, em Nova
York (VASCONCELOS, 2003).
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ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
É importante ressaltar que a Terapia Familiar dos dias atuais, tem seus paradigmas
baseados na ciência pós-moderna e se apoia nos seguintes conceitos:
A Teoria Sistêmica nos ensina a olhar como a vida das pessoas é moldada pelas interações
tanto com seus familiares como pelos contextos nos quais estão inseridos. O contexto
familiar é compreendido de forma menos objetiva e mais complexa, na qual se vai em
busca dos diversos significados dos membros familiares e da família como um todo. O
terapeuta familiar deverá atuar como um facilitador, ajudando nesse processo de curar
feridas e também de mobilizar talentos e recursos.
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UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
Para tal é preciso que ao trabalhar no processo terapêutico familiar, o terapeuta possa
se aprofundar nos seguintes pontos significativos:
»» contexto relacional;
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ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
»» sabendo que não existe apenas uma realidade, o terapeuta precisa estar
consciente das suas ideias que tem acerca das patologias, estruturas
disfuncionais, seus preconceitos, das suas demandas, para que colocando
tudo isso em parênteses, possa estar aberto para visões alternativas;
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UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
Enquanto uma prática social transformadora esta terapia se organiza a partir dos
contextos locais e das histórias culturais de distintas comunidades linguísticas.
O respeito pela diversidade e multiplicidade de contextos com seus saberes locais
implica numa terapia construída a partir da aceitação da responsabilidade relacional
do terapeuta, legitimando os direitos humanos de bem-estar e de exercício da livre
escolha.
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ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
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CAPÍTULO 2
Terapia familiar
Minuchin
A Teoria Geral dos Sistemas é um modelo abstrato com um nível de generalização tal
que se pode aplicar a diferentes ciências. O que os psicoterapeutas familiares fizeram
foi tomar os seus conceitos básicos e utiliza-los ao campo da Terapia Familiar.
É uma procura de novas alternativas que não passa por resolver problemas e corrigir
erros, mas, principalmente, por colocar em evidência a competência da própria família,
ativando a sua participação na resolução dos seus problemas.
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ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
A Terapia Familiar, muitas vezes está associada à sua variante de terapia de casal,
e conhecida como terapia familiar sistêmica devido à sua origem no seio do modelo
sistêmico, é um tipo de terapia que se aplica a casais ou famílias, onde os membros
possuem algum nível de relacionamento. A terapia familiar sistêmica tende a
compreender os problemas em termos de sistemas de interação entre os membros de
uma família. Desse modo, os relacionamentos familiares são considerados como um
fator determinante para a saúde mental e os problemas familiares são vistos mais como
um resultado das interações sistêmicas, do que como uma característica particular de
um indivíduo.
Para se pensar de forma sistêmica é necessário ter uma nova forma de olhar o mundo
e o homem, além disso, também é exigida uma mudança de postura por parte do
cientista, postura esta que propicia ampliar o foco e entender que o indivíduo não é o
único responsável por ser portador de um sintoma, mas sim que existem relações que
mantém este sintoma.
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UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
O terapeuta familiar pode oferecer uma melhora das interações no interior do sistema
familiar e fazer um processo de recodificação de mensagens, onde possibilita a maior
compreensão nas suas comunicações. Também pode facilitar uma busca e descoberta
de novos caminhos de relação sistêmica, incitar a todos para atuarem e descobrirem
onde convém introduzir mudanças para favorecer uma evolução e um amadurecimento
ao paciente identificado e em todo sistema.
Na área “psi”, podemos ressaltar algumas postulações teóricas de autores que colaboram
para o surgimento da terapia familiar. Um importante precursor, sem dúvida, foi Adler
que enfatiza, na sua teoria do desenvolvimento da personalidade, a importância dos
papéis sociais e das relações entre estes papéis na etiologia da patologia. Influenciado
pelas teorias de Adler, Sullivan coloca que a doença mental tem origem nas relações
interpessoais perturbadas e que um entendimento mais completo do indivíduo só
pode ser alcançado no contexto de sua família e de seus grupos sociais. Sullivan coloca,
assim, a patologia na relação, na dimensão interacional. Paralelamente a Sullivan,
Frieda Fromm-Reichman estuda a relação mãe-filho como possível fonte de patologia
e formula o conceito de mãe esquizofrenogênica para explicar, em termos etiológicos, a
relação do paciente esquizofrênico com sua mãe.
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ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
Esta situação postergou a divulgação do trabalho clínico inicial com famílias e tornou
a pesquisa, neste período, o modo mais facilmente aceitável de se atenderem famílias,
facilitando a aprendizagem sobre seu funcionamento e sobre as possibilidades
terapêuticas de atendimento conjunto. Assim, os primeiros autores importantes na
área da terapia familiar, produziram conceitos teóricos relevantes sobre estrutura e
dinâmica da família, ao longo do desenvolvimento de grandes projetos de pesquisa.
Esta pesquisa inicial foi realizada com a população esquizofrênica, tendo em vista ser a
esquizofrenia uma doença frequente, de longa duração, com alto índice de reincidência,
e muito resistente aos métodos terapêuticos vigentes. O problema social dela decorrente
justificou a aplicação de verbas públicas na investigação desta patologia, o que ocorreu,
neste momento, sobretudo nos Estados Unidos e na Inglaterra.
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UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
O enfoque sistêmico
A família é vista como um sistema equilibrado e o que mantém este equilíbrio são
as regras do funcionamento familiar. Quando, por algum motivo, estas regras são
quebradas, entram em ação meta-regras para restabelecer o equilíbrio perdido.
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ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
Atendimento familiar
A terapia familiar não é uma terapia da família, mas com a família, isto é, diz respeito,
sobretudo a um modelo de trabalho familiar, não estando nos seus propósitos adaptar
famílias a uma definição preestabelecida.
No que diz respeito à psicologia e psiquiatria não ha dúvida que a formulação da teoria
geral dos sistemas por Bertalanffy em 1967 marcou um avanço decisivo. Essa teoria
postula que os isomorfismos estruturais se encontram na estrutura formal dos diferentes
sistemas e analisa a estrutura de organização dos sistemas físicos, biológicos e outros,
de modo a atingir uma teoria geral que possa explicar em longo prazo o conjunto
do mundo e dos seus fenômenos. É a partir de Bertallanfy que surge o princípio da
equifinalidade, que nos diz que diferentes sistemas atingirão o mesmo fim mesmo com
pontos diferentes de partida, desde que a sua organização seja idêntica.
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UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
Neste momento já não é possível aceitar, a luz dos progressos atrás resumidos, uma
explicação monocausal para um determinado comportamento patológico; dizer que a
causa daquilo que observamos é uma deficiência enzimática ou uma fraqueza do eu
é continuar, em psicologia, um reducionisrno monocausal que as outras ciências já
puseram de parte. Estarmos em pleno paradigma sistêmico, na medida em que nos
confrontamos com um novo modelo de pensamento no qual surgem novas teorias
gerais de conhecimento – trata-se de urna nova epistemologia.
A explicação dos fenômenos psicológicos tem que ser procurada não a partir de um
fato único, mas através da análise de uma série de fatores, agindo conjuntamente, que
segundo o seu modo de organização vão atingir a probabilidade suficiente para provocar
um determinado comportamento. Corno resume Guntern o comportamento patológico
é descrito como o resultado de um campo de transação complexo em que os fatores
genéticos, os processos de aprendizagem e os modos de comunicação conduzem a uma
determinada constelação que finalmente leva a esse comportamento.
A família deve ser protagonista da sua mudança e o terapeuta tem como função
primordial criar alternativas para que essa mudança seja possível. Whitaker compara a
terapia familiar a uma viagem, em que os terapeutas têm a função de guias.
Dado que a terapia familiar sistêmica corresponde a um novo olhar sobre a realidade da
perturbação psicológica, diremos que está indicada sempre que houver uma perturbação
no sistema biopsicossocial humano (casal, família, empresa, grupo de trabalho etc.).
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ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
A prática da terapia familiar exige um treino prolongado dos terapeutas e uma ética
rigorosa: há que respeitar totalmente as características de uma família e, sobretudo
procurar que esta acredite na sua capacidade de resolução da crise. O tempo acabou
para os terapeutas messiânicos, que através de sessões onde ninguém sabia o que se
passava, curavam individualmente pessoas (se bem que ao longo de muitos anos).
Todos os técnicos que trabalham com famílias utilizam conceitos e métodos que
aprenderam com várias escolas de Terapia Familiar ou mais numa perspectiva
transgeracional, estrutural ou estratégica, ou relacionadas com o modelo psicanalítico
ou comportamentalista.
O modelo escolhido deverá ser aquele que melhor resulte na sua aplicação prática e que
melhor se adéqua à personalidade do técnico.
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CAPÍTULO 3
As escolas e a terapia pós-moderna
A família poderia assim se constituir de uma instituição normalizada por uma série
de regulamentos de afiliação e aliança, aceitos pelos membros. Alguns desses
regulamentos envolvem: a exogamia, a endogamia, o incesto, a monogamia, a
poligamia, e a poliandria. (MINUCHIN, 1990).
Escola estrutural
Na década de 1950 a Teoria Estruturalista tornou visível o conflito entre as Teorias
Clássica e das Relações Humanas. A primeira considerava a organização formal sob
uma visão de que para as empresas serem eficientes, deveria ter o foco na estrutura e na
forma. Já a última valorizou a teoria informal, as pessoas e os grupos internos.
Conceito de estruturalismo
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UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
As escolas anteriormente estudadas tinham visão parcial dos elementos que compunham
uma organização. E é impróprio considerarmos que o Estruturalismo constitui por si
só um corpo teórico com inovações conceituais sobre a administração, mas não o é
considerá-lo a forma organizada de analisar os mesmos problemas já abordados de
maneira fragmentada.
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ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
Escola estratégica
Escola de milão
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UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
A neutralidade é a posição de que o sistema deve ser visto em todas as suas partes,
e todas têm a mesma importância na sua expressão. Na prática é fazer aliança com
todos os membros da família. Além do valor da equipe como um importante recurso no
atendimento, a Escola de Milão trouxe questionamento sobre intervalo entre as sessões,
como um outro recurso terapêutico (BOSCOLO; CECCHIN; HOFFMAN; PENN, 1993).
Nichols & Schwartz (2006/2007) consideram que a Escola de Milão pode ser vista
como estratégica (na origem de seus conceitos e prescrições) e com ênfase na adoção de
rituais, que são ações prescritas para dramatização da conotação positiva.
Escola construtivista
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ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
A Terapia Sistêmica de Família mudou juntamente com o mundo que já não é mais o
mesmo. As ideias pós-modernas, com contribuições dos aportes filosóficos abordando
as questões da linguagem, as teorias sobre a construção conjunta de significado, as
questões de gênero, a ética, as contribuições da nova física e os novos conhecimentos
sobre o funcionamento do cérebro e da mente formaram um pano de fundo para o
surgimento de novas escolas de Terapia de Família.
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UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
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ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
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CAPÍTULO 4
Atendimento psicológico familiar e o
genograma
De acordo com Minuchin (1999), as famílias são como sistemas sociais e, por essa
razão, é necessário prestar atenção nas características de qualquer sistema, pois
uma parte influência a outra e todo o sistema passa por períodos de estabilidade
e mudança, como também o poder dessas diferentes partes pode ser desigual
como em qualquer estrutura.
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ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
A família, então, é vista como recurso, como um sistema que tem competências.
Trabalhar em terapia sobre a competência supõe uma grande confiança na capacidade
do sistema familiar em resolver problemas. Ausloos (1995) coloca que todas as famílias
têm competências, mas em certas situações, elas não sabem as utilizar, não sabem que
as têm, estão impedidas de utilizá-las, ou ainda, impedem a si próprias de utilizá-las
por diferentes razões. O papel do terapeuta ou equipe terapêutica, como ativadora deste
processo de competência familiar. Sobre este aspecto Ausloos (1995) refere que o papel
do terapeuta é de trabalhar com a família para encontrar ou descobrir o que ela sabe
para reinventar soluções e para resolver seus problemas.
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UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
já que a identificação dos problemas com o abuso de drogas é tema recorrente e cada
vez mais crescente. A sociedade em constante processo de mudança aponta para
vivências e sofrimentos da coletividade que se alteram, cabendo a psicologia propor
novas estratégias de enfrentamento desta realidade.
Do mesmo modo, sua personalidade e comportamento são moldados pelo que a família
permite e espera dele. Para Minuchim (1999), o indivíduo é a menor unidade do sistema
familiar. O mesmo autor salienta que ele contribui para a formação de padrões familiares.
As diferentes temáticas que emergiram dos atendimentos familiares realizados
possuem desdobramentos a partir de um conflito central. O conflito que motivou o
atendimento familiar num primeiro momento é identificado em um dos membros da
família. Entretanto, no decorrer dos encontros realizados, a família começa a identificar
como os demais familiares envolvem-se na conflitiva apresentada inicialmente, assim
como, começam a perceber novas possibilidades de entendimento daquele conflito e a
possibilidade uma mudança nos padrões de funcionamento familiar.
Genograma
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ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
O genograma pode ser definido como um desenho gráfico da vida em família, sendo o
mesmo um instrumento de avaliação e intervenção que proporciona uma aproximação
com o tecido de transmissão familiar tramado de geração em geração. O genograma,
inserido na conversação terapêutica, transcende suas origens funcionalistas, para
transformar-se num recurso de compreensão colaborativa.
Pode-se considerar, então, que a função limitadora dos sistemas sociais, por um lado,
contribui para o senso de continuidade dos indivíduos e comunidades, por meio do
reconhecimento do familiar, do sentimento de pertencer, de fazer parte. Por outro, em
função de não conseguir dar conta de significar todas as contingências que aparecem
na vida das pessoas, propicia o aparecimento de lacunas e inconsistências que geram
as contradições, das quais os sujeitos inventam e reinventam a suas histórias (WHITE,
1994), atualizando, também, as histórias que suportam a existência dos sistemas sociais
dos quais estes sujeitos participam.
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UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
O genograma pode ser algo mais, embora pareça ser simples, se olharmos apenas um
aspecto, mas um dos principais objetivos de sua realização é possibilitar uma (re)
conexão com a família de origem de cada um, revendo ou resgatando histórias perdidas
ao longo do tempo. E oferece um efeito especial quando realizado conjuntamente com
ou mais membros da família junto com um profissional.
O genograma é como uma foto que foi tirada já algum tempo e que nesse momento se
revela, dando oportunidade de falar do momento que a “foto” foi tirada e que significado
ela traz agora.
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ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
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UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
As noções que fundamentam esta abordagem propõem o diálogo como gerador de uma
ação compartilhada na prática do encontro terapêutico. No fluxo desta interação, os
participantes deste diálogo convidam um ao outro para interagir de certa maneira, por
meio de um silencioso e implícito entendimento, no qual as regras de conduta e de
expectativas são criadas na prática. As formas como o terapeuta e a família se encontram
neste diálogo é um reflexo das negociações sobre regras da conversação que, segundo
Rober (2005), constroem-se em torno de questões como: quem fala e quem mantém o
silêncio, o que é dito e o que fica sem ser dito, qual o propósito da conversação, quem
corre o risco de começar a falar sobre temas difíceis, quem se responsabiliza pelo
aumento da tensão, o que é aceitável e o que é inaceitável, entre outras. Todas estas
questões vão sendo respondidas, implicitamente, à medida que as pessoas vão lidando
com os significados que emergem na interação.
Assim como a família se apresenta ao diálogo trazendo consigo suas intenções, também
o terapeuta se coloca como alguém que deseja compreender o sistema de significados
que emerge nesta conversação dialógica. Terapeuta e família vão construindo caminhos
para inserirem-se no domínio de compreensão criado por eles, ou seja, buscam
transformar em familiar o não familiar. Na relação dialógica que se estabelece, a
linguagem da família e seus significados são precedentes à linguagem do terapeuta, o
que quer dizer que a linguagem da família é o substrato no qual os novos significados
serão gerados por meio do diálogo. Neste sentido, pode-se pensar que o terapeuta se
insere na conversação como um aprendiz (ANDERSON, 2005).
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ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
O genograma tem sido definido como um desenho gráfico da vida familiar com o
objetivo de levantar informações sobre os seus membros e suas relações, através de
gerações, constituindo-se numa ferramenta de avaliação muito utilizada pela terapia
sistêmica de família. A teoria sistêmica aborda os problemas humanos, considerando o
indivíduo como um ser em interação interpessoal, inserido num determinado contexto,
tendo produzido conhecimentos que auxiliaram no trabalho terapêutico com enfoque
nas inter-relações familiares. Grandesso (2000) expõe com propriedade um panorama
detalhado do desenvolvimento dos distintos modelos terapêuticos sistêmicos e da
história da terapia familiar ilustrando os diferentes conjuntos de ideias que resultaram
em distintas escolas.
Desde muitos anos, o genograma tem sido amplamente utilizado na área da saúde
como auxiliar na elaboração de hipóteses diagnósticas, mas somente na década de
1980, Murray Bowen (1978) e Jack Medalie (1987) viriam a definir, de forma mais
estruturada, os símbolos do genograma, que são amplamente utilizados na atualidade.
Os traçados básicos do genograma, identificados inicialmente por Gerson e McGoldrick
(1993), foram definidos utilizando figuras que representam as pessoas e linhas que
descrevem suas relações. As primeiras referem-se a símbolos para representação de
gênero (masculino e feminino), datas de nascimento e falecimento, gravidez e abortos
– espontâneo e provocado– conforme pode ser visualizado na Figura 1.
41
UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
A Figura 2 mostra como estes símbolos estão conectados por meio de linhas que
indicam as relações de parentesco. A conexão por linha horizontal contínua, com a
figura masculina à esquerda e a figura feminina à direita, indica indivíduos casados.
Quando esta linha aparece tracejada, indica união estável. A ruptura do vínculo
conjugal é representada por dois traços paralelos e inclinados sobre a linha horizontal.
Acima desta linha, coloca-se a letra “M” com a data de casamento/união e a letra “S”
ou “D” com a data da separação ou divórcio. A idade das pessoas é colocada dentro
das figuras; e o nome, na parte inferior. Os filhos são representados numa linha
abaixo, conectados com o traço horizontal do casamento por linhas verticais, sendo o
mais velho à esquerda. A representação é distinta para os filhos adotivos, com linhas
pontilhadas, e para filhos gêmeos, cujo ponto de conexão é um só. As diversas gerações,
ascendentes e descendentes, são representadas cada uma em um nível horizontal da
figura, podendo-se distinguir, ao olhar, a geração dos avós, dos pais, dos netos entre
outras. A linha pontilhada em torno de alguns símbolos representa os membros
da família que moram numa mesma casa e são de especial importância, no caso de
famílias reconstituídas, para localizar com quem vivem os filhos.
42
ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
Gerson e McGoldrick (1993) propõem que a construção do genograma seja realizada por
meio de entrevistas, cujo fluxo obedeça a uma dimensão temporal e a uma dimensão de
complexidade, partindo-se da situação atual para o passado; e de questões mais simples
e menos ameaçadoras, para as mais complexas que provocam maior desconforto e
ansiedade. Ao final, segundo estes autores, podem-se extrair do genograma informações
sobre a estrutura da família, sua adaptação às etapas do ciclo vital, repetição de pautas
interativas, pautas vinculares, capacidade de enfrentamento de eventos estressantes,
exploração de crenças e legados, viabilizando uma compreensão destes elementos
em interação. Recomendam, ainda, o genograma como recurso de intervenção para
o desenvolvimento de uma responsabilidade compartilhada sobre os rumos da vida
familiar, viabilizada através do envolvimento de todos com o que acontece com cada
um, tanto no passado, quanto no presente e futuro.
Vitale (2004) lembra também que a introdução de vivências familiares anteriores pode
trazer consigo outras formas de encarar os problemas, abrindo possibilidades de novos
entendimentos sobre as experiências familiares, assinalando novas possibilidades para
o futuro. Para White (1994), “as pessoas vivem as suas vidas de acordo com as histórias
que contam e estas histórias têm efeitos reais e estruturam a vida das pessoas” (p.
29). Quando uma família recorre ao trabalho terapêutico, traz consigo uma história
para contar, que é uma seleção de aspectos (vividos) que se podem verbalizar e de
outros aspectos (vividos), que permanecem não ditos. A possibilidade de ajuda está,
sem dúvida, em criar um espaço para o não dito (ANDERSON, 2001). A experiência
presente de contar a história num contexto diferente (num espaço terapêutico) abre a
possibilidade de incluir aquelas partes do relato que haviam sido deixadas para trás.
Neste sentido, o trabalho com o genograma pode proporcionar um contexto estético
original para a família. Ver-se, através de uma história desenhada graficamente, num
espaço constituído entre o narrador e a história narrada, produz um estranhamento
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UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
capaz de abrir possibilidades para explorar outras ideias sobre si mesmo, podendo
incorporar novidades a suas vidas. Ao localizar elementos de suas histórias que foram
deixados para trás, abrem-se portas para “territórios alternativos” (WHITE, 1994, p.
35), revelando narrativas que estavam marginalizadas.
Com base nas idéias expostas, este trabalho apresenta o genograma como um recurso
terapêutico que auxilia na construção de um ambiente propício a introdução de novas
possibilidades para recontar as histórias familiares, ampliando assim, oportunidades
de enfrentamento dos problemas. O estudo insere-se num trabalho de investigação
mais amplo (apreciado e aprovado pelo Comitê de Ética da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul), que, por meio de uma intervenção sistêmica breve,
buscou tanto compreender a dinâmica familiar no contexto da crise suicida, como
a busca de alternativas para o enfrentamento da crise e encaminhar recursos
terapêuticos. Especificamente, este trabalho, desenvolvido com famílias que passaram
pela experiência da crise gerada pela tentativa de suicídio de um dos seus membros,
busca inserir a construção do genograma como recurso para o estabelecimento de um
contexto propício ao diálogo generativo.
44
CAPÍTULO 5
Terapia familiar e transgeracionalidade
(WHITAKER,1990, p.59)
Enfocaremos um terapeuta que baseia a sua prática, em uma posição narrativa, que
considera que os sistemas humanos são geradores de linguagens e sentidos, (incluindo
o sistema terapêutico), os quais são construídos socialmente dialogicamente, em uma
troca de mão dupla, na qual novos sentidos são criados. O terapeuta passa a ser um
observador- participante que exercita a sua “arte” ao fazer perguntas terapêuticas
a partir de uma posição de não saber, que objetiva a criação dialógica de uma nova
narrativa, que dá um novo sentido para a vida (MCNAMEE; GERGEN, 1998).
45
UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
forma a oferecer uma visão compreensiva dos complexos padrões familiares. A utilização
do genograma proporciona uma visão do quadro geracional de uma família e de seu
movimento através do ciclo de vida: “Os genetogramas são retratos gráficos da história
e do padrão familiar, mostrando a estrutura básica, a demografia e os relacionamentos
da família” (CARTER; MCGOLDRICK, 1985, p.144). As informações reunidas por
meio do genograma incluem nomes e idades de todos os membros da família; datas
exatas de nascimentos, casamentos, separações, divórcios, mortes, abortos e outros
acontecimentos significativos; indicações datadas das atividades, ocupações, doenças,
lugares de residência e mudanças no desenvolvimento vital; e as relações entre os
membros da família.
Por meio dos genogramas, ao acessar os principais mitos e crenças que norteiam a
vida da família atendida, que a acompanham há gerações e determinam os padrões de
relacionamentos é possível criação de hipóteses sobre o problema clínico da família.
Com isso, é possível fazer determinadas predições sobre os processos futuros que a
família vivenciará baseando-se na utilização do genograma. De acordo com Bowen
(apud WENDT; CREPALDI, 2007), passado e presente são examinados para se obter
possíveis informações sobre o futuro.
Outro método é impeli-los para frente, em direção às novas gerações. Ao supor que
os sintomas têm continuidade através das gerações, é possível acessar ao rico mundo
simbólico que percorre a família extensiva. Sequências comportamentais que formam
padrões tornam-se organizadas em torno de temas, que frequentemente servem
como metáforas para o tipo de sintoma que é escolhido. A palavra tema quer dizer
uma questão específica emocionalmente carregada, em torno da qual há um conflito
periódico. Visto que há muitos temas em toda a família, o terapeuta procura aquele
que é mais relevante para o sintoma. O entendimento destas crenças e temas serve
de base para a intervenção terapêutica (PAPP, 1992). A compreensão das crenças e
dos temas é deduzida, por meio da escuta da linguagem metafórica, no rastreamento
de sequências comportamentais. “O interesse primário do terapeuta é com o uso do
comportamento e em como a função de uma parte do comportamento está ligada
com a função de uma outra parte do comportamento, a fim de preservar o equilíbrio
familiar” (PAPP, Op. cit. p.22).
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ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
A ação terapêutica pode ser em si pode ser considerada um ritual, que provoca
uma estrutura espacial e rítmica aos encontros, e pode prescrever rituais singulares
adaptados a cada contexto familiar, os quais permitem que sejam abordadas situações
que seriam explosivas se abordadas de frente. A ritualização terapêutica poderá
apoiar-se em diversos suportes mediáticos, bem como nas suas hibridações recíprocas
(palavras, desenhos, cartas, “objetos metafóricos”, equipamentos técnicos – registros,
sala equipada com um espelho unidirecional, pessoas dos terapeutas, jogos relacionais,
jogos interinstitucionais etc.) (M. SELVINI apud MIERMONT, 1994).
Culturalmente, na época em que os pais eram crianças, não havia uma proteção social
em relação às crianças como existe hoje, acumulando neles então, sofrimentos e
experiências destrutivas para a construção de um eu positivo, em meio a muita solidão.
É necessário que terapeuta fale sobre este tema para proteger a criança maltratada que
existe dentro do adulto. O adulto que comete uma violência é responsável por seus atos
e ao mesmo tempo uma vítima que tem urgente necessidade de proteção e respeito. O
terapeuta deve saber como proteger a criança, vítima atual, sem maltratar mais uma
vez o adulto e sua criança interna.
Para Byng-Hall (1998), o papel do terapeuta então seria propor um modelo de mudança
no qual, ele ajudará a família se sentir segura o suficiente para arriscar a improvisar nos
relacionamentos inseridos nos scripts familiares. A terapia serve desta forma, como
uma base segura que facilita a mudança de um padrão inseguro para um seguro, na
qual novos scripts podem ser criados.
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CAPÍTULO 6
Relações familiares e teoria sistêmica
Nas correntes modernas, mais liberais, realçam-se mais os sentimentos, o que interessa
são os afetos, não interessa a biologia, secularizam-se as crianças. Segundo estas
tendências deve promover-se a diversidade e a pluralidade; não deve haver padrões
públicos; o Estado deve afastar-se de regulamentos, deve tratar de forma igual as
diferentes formas de socialização, a pluralidade ao enquadramento das crianças. O
Estado não deve colocar os seus poderes ou normas que privilegiam a família tradicional.
Tendo em conta estas realidades, a família não deixa de ser um sistema e ao mesmo
tempo um processo de interação e de integração dos seus membros. A comunicação é
o elo de ligação que constitui condição de convívio e de sustentação de todo o sistema,
baseando-se na igualdade ou na diferença. A análise destas tendências explica-se pelo
fato de a família ter vindo a enfrentar um processo de profundas transformações ao
longo dos tempos no sistema (GIDDENS, 2004, parte 4).
Seja qual for o modelo de família ela é sempre um conjunto de pessoas consideradas
como unidade social, como um todo sistêmico onde se estabelecem relações entre os
seus membros e o meio exterior. Compreende-se, que a família constitui um sistema
dinâmico, contém outros subsistemas em relação, desempenhando funções importantes
na sociedade, como sejam, por exemplo, o afeto, a educação, a socialização e a função
reprodutora. Ora, a família como sistema comunicacional contribui para a construção
de soluções integradoras dos seus membros no sistema como um todo.
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ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
Pelo fato de o conceito não ser unívoco para todas as épocas e culturas, tornando-se
difícil encontrar valores absolutos, as dificuldades associadas às várias dimensões
familiares, relacionadas com a estrutura, com a funcionalidade e com as relações de
cada modelo, leva-nos a pensar numa certa relatividade na definição do conceito de
família.
A família, no sentido a que o nosso senso comum se refere, é uma construção social,
uma vez que representa um modo de agir e de pensar coletivo, que evoluiu ao longo do
tempo em relação com a organização e o funcionamento da sociedade (SILVA, 2001).
Uma vez que as interações são várias, as relações familiares assentes em processos de
comunicação permitem o equilíbrio do sistema familiar. Por outro lado, encarando
a família como sistema ela permite através do processo de socialização interiorizar
valores e as normas sociais para a sua formação e desenvolvimento (RELVAS, 1996).
Sendo um sistema aberto está sujeito a apreciações e influências em todo o processo
comunicativo. Havendo relações familiares equilibradas o próprio processo sistêmico
permitirá o equilíbrio do sistema como um todo, ao mesmo tempo em que estabelece
uma ligação com a sociedade, contribuindo desta forma para o equilíbrio social.
Por do contato com as pessoas em seu ambiente familiar, o assistente social consegue
aproximar-se do vivido e do cotidiano do usuário, observando as interações familiares,
a vizinhança, a rede social e os recursos institucionais mais próximos. Essa prática
supera, em diversos aspectos, a entrevista feita na instituição, pois quando metodologias
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UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
A entrevista é muito utilizada quando o profissional precisa obter dados da família. Para
Souza (1998), um dos maiores problemas da utilização da entrevista na área social é a
questão da objetividade, de conseguir separar as informações dos sentimentos que surgem
durante a abordagem. O entrevistador, na “busca pela objetividade, ‘esforça-se’ por
ignorar as sensações, a imaginação, a arte e o lúdico, ao realizar e analisar a entrevista,
deixando na maioria das vezes de abordar ou mesmo de referir-se à ‘arte’ e ao ‘sentir’
como processos de ação – reflexão – ação” (SOUZA, 1998, p.30).
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ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
Nessa direção, a prática dos assistentes sociais está pautada sob duas perspectivas: a
prestação de serviços (concessões de benefícios e auxílios) e as ações socioeducativas
(orientação, prevenção, fortalecimento do grupo familiar).
Ademais, verificamos um certo ecletismo por parte dos profissionais na condução de suas
ações. Neste estudo evidenciamos que muitas vezes os profissionais têm dificuldade em
explicitar o referencial que guia suas ações, o que indica um desafio para o Serviço Social
na medida em que o conhecimento, elemento constitutivo do trabalho profissional, é
necessário para que o assistente social decifre a realidade e indique as possibilidades nela
contidas. Entendemos que o assistente social precisa estar munido de um referencial
teórico metodológico cuja direção aponte para o compromisso de transformação da
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UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
atual ordem societária, da luta por direitos, pela qualidade dos serviços prestados e
para o fortalecimento das famílias. No que concerne ao instrumental técnico operativo,
observamos que o assistente social lança mão de diferentes instrumentos e técnicas
que o auxiliam no trabalho com famílias e nas situações que exigem a sua intervenção.
Alguns instrumentos não são específicos da profissão, como a entrevista, a reunião
de grupo, o prontuário, entre outros, porém, são adaptados dentro dos objetivos do
Serviço Social. Já o parecer social e o estudo social constituem o instrumental próprio
do assistente social. Enfatizamos que este parecer deve ser elaborado com base num
referencial teórico e não nos juízos de valores do profissional.
Para finalizar, os serviços também desenvolvem suas ações sob a lógica da incapacidade
e da falência das famílias em seus papéis sociais, atendendo às situações limites e às
solicitações mais emergentes trazidas pelas mesmas, ao invés de atuar no sentido
de prevenir os conflitos e as crises. Essa forma de atendimento é fruto do contexto
político-econômico vigente, no qual as políticas públicas sociais são pontuais e visam,
prioritariamente, à resolução do problema aparente, e não das questões que o motivaram
(MIOTO, 2001).
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ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
Assim um profissional que atua com famílias, jamais pode cair no erro de considerar
que há uma única forma ou modelo de organização desta, uma vez que sua formação se
dá pela diversidade de cultura e vivências. É preciso compreender que a família não se
limita a uma instituição estática e inalterável, ela é construída socialmente ao longo da
história e passa por constantes transformações, onde incidem determinantes sociais,
culturais, políticos e religiosos.
São esses determinantes que muitas vezes contribuem para um processo de exclusão
social, onde quando estas não atingem as expectativas impostas sobre ela são
penalizadas pela sociedade, pelo sistema capitalista e por um Estado mínimo, que
castiga e culpabiliza esta instituição formadora da sociedade.
Verifica-se, portanto, que o Estado não deve ser um agente que caminha de forma oposta
a realidade e transformações que acontecem na família contemporânea brasileira. A
função do Estado é de proteger as famílias brasileiras, possibilitando seu fortalecimento
e desempenho de suas responsabilidades.
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UNIDADE ÚNICA │ ATENDIMENTO FAMILIAR
[...] Eles sentem confiança para estar vindo, aí a gente esclarece e eles
buscam o local certo [As famílias sentem que] podem contar com o
Serviço Social, sabem que é um setor que está aberto ao apoio mesmo.
(SERVIÇO 9)
Entretanto tem-se constatado que ações com o foco em “parte” da família não alteram
significativamente sua realidade e vislumbra-se mais que em qualquer outro momento
a necessidade de um trabalho compartilhado entre o Estado e toda a sociedade na
construção de uma nova realidade brasileira.
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ATENDIMENTO FAMILIAR │ UNIDADE ÚNICA
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Para (não) Finalizar
Nas últimas décadas o potencial do trabalho em rede tem alcançado maior abrangência,
com caráter multidisciplinar orientado por um conjunto de atores de diversas instituições
com o mesmo foco temático voltado ao atendimento à família.
Nesse sentido, utiliza-se o termo de “rede” como conceito que nos permite compartilhar
objetivos, obtendo as interações necessárias com outras instâncias institucionais e
construindo, assim, vínculos horizontais de interdependência e complementaridade.
Isso muda a percepção das instituições como órgãos centrais e hierárquicos e, dessa
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PARA (NÃO) FINALIZAR
Neste caderno de estudos, procuramos fazer com que você tenha um conhecimento
sobre a atuação do assistente social e esperamos que você esteja apto a identificar a
relevância sobre o atendimento familiar no que compete ao profissional da área de
serviço social!
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Referências
ELKAÏM, Mony. Panorama das terapias familiares. São Paulo: Summus, 1998,
v.2.
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REFERÊNCIAS
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