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PSICOTERAPIA BREVE: EXPERIÊNCIA EM UMA CLÍNICA-ESCOLA¹

Viviane Aparecida Moreira Rocha²; Fabiana Teixeira³; Gláucia Mara de Souza


Arruda Neves4; Janice Cristina Rosa Miranda5; Natálya Martins Lopes6

Resumo: A Psicoterapia Breve (PB) é uma modalidade psicoterapêutica que tem


entre suas principais características a delimitação de um foco a ser trabalhado e
a delimitação do número de atendimentos. Atualmente, essa modalidade pode
ser vivenciada pelos alunos de Psicologia da Univiçosa/Esuv, em Viçosa, MG,
por meio do estágio de extensão oferecido pelo Curso. Os objetivos deste trabalho
foram elucidar os conceitos básicos utilizados nessa modalidade e apresentar um
estudo teórico fundamentado no processo de PB, no primeiro semestre de 2013
nessa Faculdade. Para isso, inicialmente foi feito um levantamento bibliográfico
e em seguida a teoria foi articulada com a prática. No primeiro semestre de 2013,
foram iniciados sete atendimentos, que se encontram na seguinte situação: um
concluído, três em andamento e três desistentes.

Palavras-chave: abordagens clínicas, estágio clínico, modalidades clínicas,


psicoterapia de tempo limitado

Introdução

A Psicoterapia Breve Psicodinâmica (PB) refere-se aos atendimentos


de tempo limitado embasados na Psicanálise. Tal modalidade psicoterápica
segue alguns critérios, como delimitação de foco, planejamento de estratégias,
disposição face a face e relação terapeuta/paciente ativos (SANTEIRO, 2008;
GILLIÉRON apud KAHTUNI, 2003).
Ainda não há entre os estudiosos da área um consenso em relação a
algumas características dessa abordagem no que diz respeito, por exemplo, ao
número de sessões a serem estabelecidas e aos critérios para delimitação do
foco a ser trabalhado.

1
Projeto de Pesquisa e Extensão em Psicoterapia Breve
Graduandas do Curso de Psicologia – UNIVIÇOSA – Viçosa, MG; email: vivianerocha_1907@
2456

yahoo.com.br
3
Professora do Curso de Psicologia – UNIVIÇOSA – Viçosa, MG; email: fabianacteixeira@hotmail.com

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Assim, este trabalho teve as finalidades de elucidar os conceitos básicos


utilizados nessa modalidade, apresentar um estudo teórico com base na vivência
do estágio extracurricular em Psicoterapia Breve e relatar a experiência dos
atendimentos nessa modalidade psicoterápica, oferecidos pela clínica-escola
da Univiçosa/Esuv, em Viçosa, MG, realizados no primeiro semestre de 2013.

Material e métodos

Este trabalho caracterizou-se como um estudo descritivo, que visou


delinear o funcionamento do estágio em Psicoterapia Breve, com base
psicanalítica, oferecido como projeto de extensão do Curso de Psicologia da
Univiçosa/Esuv, em Viçosa, MG.
Para alcançar os objetivos propostos, inicialmente foi feito um
levantamento bibliográfico a respeito do tema, buscando melhor compreender
a teoria que dá embasamento à prática.
Serão descritas, em linhas gerais, como se desenvolveram os atendimentos
dentro da modalidade Psicoterapia Breve, no primeiro semestre de 2013, e, por
fim, tecidas as considerações finais.

Resultados e discussão

A principal característica da Psicoterapia Breve é seu binômio crise-foco.


A crise é uma “ruptura temporária de um estado de equilíbrio”, que se coloca
como um obstáculo à vida saudável do paciente e provoca sofrimento psíquico;
e o foco implica em estabelecer um “assunto emergente e desencadeador da
crise a ser trabalhado no processo psicoterápico” KAHTUNI, 2003, p. 16).
As crises, pelas quais todos estão sujeitos, podem ser de desenvolvimento
ou circunstanciais. As primeiras são relacionadas às etapas previstas de
desenvolvimento da personalidade, como: adolescência, gravidez, casamento,
nascimento de filhos, entre outros (ERICKSON, 1965 apud KAHTUNI,
2003). Já as circunstanciais emergem em razão de situações inesperadas e
imprevisíveis: a morte de alguém próximo, doenças ou situações de mudança
repentina (CAPLAN, 1980 apud KAHTUNI, 2003).
Sabe-se que uma crise emocional bem solucionada contribui para o
crescimento e maturidade pessoal; entretanto, quando não, colabora para o

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surgimento de distúrbios adaptativos crescentes (SIMON & YAMAMOTO,


2008). Assim, partindo-se do pressuposto que a pessoa está passando por uma
situação de crise, e não encontra recursos psíquicos para amenizá-la, ocorre
um desequilíbrio.
O propósito da PB é compreender, a partir do discurso do sujeito, qual
seria o foco, ou seja, a questão central, para ajudá-lo a retomar seu equilíbrio
psíquico. Segundo Kahtuni (2003) e Gilliéron (2004), o foco é estabelecido por
meio de um recorte no conteúdo trazido pelo paciente, percebido logo nas
primeiras entrevistas, estabelecendo preferencialmente um assunto. A fim de
eliminar sintomas, Kahtuni (2003) estabeleceu três etapas para delimitar o foco
na PB, que são: entender psicodinamicamente a situação atual do paciente;
atender o ponto de emergência, quer seja a queixa manifesta ou a latente; e
delimitar a área de conflito a ser trabalhada.
Em relação à temporalidade, Chilelli e Enéas (2000) apontaram que a PB
consiste em um processo que tem começo, meio e fim. Dessa forma, tal técnica
permite o tratamento de ordem emocional de forma mais rápida, isto é, com
tempo definido. Para que isso ocorra, é necessário que o terapeuta e o paciente
sejam ativos, uma vez que, ao primeiro, cabe demarcar o material consciente
e inconsciente a ser trabalhado; e, ao segundo, se engajar em seu tratamento.
Em razão dessas características próprias, segundo Hegenberg (2010), a
indicação da PB deve ser realizada de forma cautelosa, uma vez que, nesse
caso, deve se focalizar em torno de uma problemática central e reconhecer
os limites do tempo de acordo com os objetivos propostos. Ressalta-se que
ao terapeuta cabe acreditar na capacidade de elaboração do paciente, mesmo
após o término da terapia. Chilelli e Enéas (2000) defenderam que deve ser
realizada uma avaliação do tipo de personalidade e condições egoicas do
indivíduo antes da indicação para tal modalidade psicoterápica.
Apesar das divergências em relação à técnica utilizada para delimitação
do foco, a perspectiva focal com objetivos delimitados é uma das características
da PB. O número de sessões necessárias para atender aos objetivos propostos
é outro ponto de diferentes opiniões, e a literatura não apresenta consenso
quanto à duração mais adequada para a PB.
Santeiro (2008) defendeu que a duração da PB em clínicas-escola
deve se situar entre nove e 10 sessões, obedecendo ao calendário letivo da
universidade. Já para Simon e Yamamoto (2008), essa pode ser feita em duas

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etapas. A primeira consiste na fase diagnóstica, em que por meio de entrevistas


objetivam-se obter dados desde a infância do paciente, além de realizar o
planejamento e determinar o número de sessões necessárias de acordo com o
caso. Posteriormente, efetuam-se até 12 sessões semanais, sendo caracterizadas
pela fase terapêutica.
De acordo com Franchetti (2007), o processo da PB tem duração de três
meses a um ano, sendo uma sessão por semana, intervalo necessário para que
o paciente possa elaborar melhor o que foi trabalhado.
Apesar das divergências entre os autores, em relação à duração do
processo, Hegenberg (2010) defendeu que o número de sessões não define a
PB, mas ressaltou que o fator tempo limitado interfere na relação terapeuta-
paciente, quando comparado com a terapia em longo prazo. Assim, ambos
precisam se comprometer com a delimitação do tempo.
Segundo Franchetti (2007), o fato de a PB ter um tempo delimitado,
imagina-se que o período proposto não seja suficiente para atingir as condições
satisfatórias para um bom atendimento. Entretanto, as terapias de longa
duração não são garantias de progresso ou profundidade no tratamento. A
diferença está então em oferecer qualidade no tratamento, independentemente
do número de sessões.
O estágio em PB é oferecido como um projeto de extensão e visa
proporcionar aos alunos a vivência de outra modalidade psicoterápica. Entre
os objetivos propostos, destacam-se os atendimentos clínicos conforme
essa orientação; a supervisão dos atendimentos; o aprofundamento do
conhecimento teórico sobre o tema; e a elaboração de um artigo concernente
às práticas do estágio. Os atendimentos realizados em PB na clínica-escola
seguem o modelo psicanalítico; são feitas 12 sessões com cada paciente, sendo
o foco estabelecido na quarta sessão.
No primeiro semestre de 2013, foram iniciados sete atendimentos, que
se encontram na seguinte situação: um concluído, três em andamento e três
desistentes.
Embora a maior parte dos atendimentos ainda esteja em curso, percebeu-
se que mudanças significativas podem ocorrer em um período de tempo
delimitado. Além disso, o número de desistências é baixo, se comparado
proporcionalmente a outras modalidades oferecidas pela clínica-escola.

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Considerações finais

Apesar das discordâncias entre os estudiosos quanto ao emprego das


técnicas típicas da PB, percebeu-se grande número de teóricos que validam
o uso dessa modalidade psicoterápica, reconhecendo a eficácia terapêutica
dessa.
As técnicas usadas em PB aumentaram a acessibilidade de muitas pessoas
em sofrimento psicológico. No entanto, esse não é o seu objetivo principal. O
intuito dessa modalidade psicoterápica é ampliar as potencialidades egoicas do
indivíduo, a fim de capacitá-lo a conscientizar-se de seus conteúdos reprimidos
e, consequentemente, restabelecer o equilíbrio, estabelecendo atitudes mais
produtivas perante a vida.

Referências bibliográficas

CHILELLI, K. B.; ENÉAS, M. L. E. Desistência em psicoterapia breve: pesquisa


documental e da opinião do paciente. Boletim de Iniciação Científica em
Psicologia, São Paulo, v. 1, n. 1, 2000. Disponível em: <http://www.mackenzie.
com.br/fileadmin/Graduacao/CCBS/Cursos/Psicologia/boletiNs/1/artigo5.
pdf>. Acesso em: 25/04/2013.

FRANCHETTI, S. H. A. Psicoterapia breve: uma possibilidade de trabalho


psicanalítico na instituição. Anais da II Jornada de Psicanálise da Criança e
do Adolescente do Núcleo de Psicanálise de Campinas e Região, 2007.

GILLIÉRON, E. Introdução às psicoterapias breves. 3.ed. São Paulo: Martins


Fontes, 2004.

HEGENBERG, M. Psicoterapia Breve - clínica psicanalítica. 3ª ed. São Paulo:


Casa do Psicólogo, 2010 .

KAHTUNI, H. C. Psicoterapia Breve Psicanalítica: compreensão e cuidados


da alma. 3ª ed. São Paulo: Escuta, 2003
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SANTEIRO, T. V. Psicoterapia breve psicodinâmica preventiva: pesquisa


exploratória de resultados e acompanhamento. Psicologia em Estudo,
Maringá, v. 13, n. 4, p. 761-770, 2008.

SIMON, R.; YAMAMOTO, K. Psicoterapia Breve Operacionalizada em


situação de crise adaptativa. Mudanças – Psicologia da Saúde, v. 16, n. 2,
p.144-151, 2008.

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