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Gestão de Resíduos e Meio Ambiente

Brasília-DF.
Elaboração

Prof. MSc. Márcio Luiz da Silva Gama

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO................................................................................................................................... 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA...................................................................... 5

INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 7

UNIDADE I
AMBIENTE............................................................................................................................................. 9

CAPÍTULO 1
CONCEITOS BÁSICOS.............................................................................................................. 9

UNIDADE II
IMPACTO AMBIENTAL........................................................................................................................... 12

CAPÍTULO 1
IMPACTOS AMBIENTAIS DIVERSOS............................................................................................ 12

UNIDADE III
AMBIENTE, SAÚDE E SEGURANÇA......................................................................................................... 18

CAPÍTULO 1
GESTÃO INTEGRADA.............................................................................................................. 18

UNIDADE IV
RESÍDUOS E MEIO AMBIENTE................................................................................................................ 25

CAPÍTULO 1
RELAÇÕES DE EVOLUÇÃO E ADAPTAÇÃO............................................................................... 25

UNIDADE V
SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL......................................................................................................... 38

CAPÍTULO 1
POLÍTICAS E PRÁTICAS DO SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL...................................................... 38

PARA (NÃO) FINALIZAR....................................................................................................................... 42

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 43
Apresentação
Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
A noção de desenvolvimento sustentável apresenta várias vertentes, que variam de acordo com o
interlocutor, os interesses e as partes interessadas em determinadas questões. Está atrelada aos
vários conceitos que avocam para si a capacidade de promover desenvolvimento sem comprometer
a capacidade de suporte do planeta e a possibilidade das futuras gerações perseguirem seus
próprios interesses.

Entender que a economia necessita dos processos ecológicos para se manter gerando bem-estar
é fundamental e tem sido reforçada nos últimos 20 anos, a partir da noção de desenvolvimento
sustentável e dos diversos movimentos que surgem na indústria, no comércio e na agricultura para
reduzir o impacto das cadeias produtivas sobre o ambiente.

A ideia de que os sistemas econômicos devem se adaptar aos conceitos ecológicos, especialmente
aos de interdependência entre sistemas e de capacidade de suporte do ambiente em prover bens
e serviços ambientais, exige abordagens inovadoras em termos de identificação de impactos e
mitigação dos efeitos, bem como da adoção de políticas e práticas produtivas que possam melhorar
o desempenho ambiental e social dos empreendimentos.

Uma abordagem técnica é necessária para que a atividade das empresas e outras instituições
implantem sistemas de gestão ambiental que propiciem a melhoria das condições ambientais e
sociais dos locais onde atuam e para que se adaptem às novas condições de mercado que exercem
pressões sobre o modo de produzir das empresas e instituições e sobre seus produtos e serviços que
entram no mercado.

Objetivos
»» Apresentar aos participantes os conceitos de Sistemas de Gestão Ambiental – SGA e
os impactos ambientais, especificando a importância das emissões para o ar, a água,
e a terra como impactos cruciais na identificação de aspectos e impactos ambientais
que afetam as atividades das empresas e instituições e sua relação com a sociedade.

»» Apresentar os conceitos de gestão ambiental para utilização nas empresas e


instituições.

»» Evidenciar a importância de mapear os impactos ambientais e sociais dos


empreendimentos.

»» Elaborar plano de ação da organização para reduzir, mitigar ou compensar os


impactos sobre o meio ambiente.

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AMBIENTE UNIDADE I

CAPÍTULO 1
Conceitos básicos

O impacto sobre o ambiente é inerente a toda atividade humana. O ambiente pode ser conceituado
como a soma das condições físicas, químicas e biológicas que, sob determinado tempo e espaço,
proporciona, a coevolução por meio de conexões das quais as espécies dependem para promover
a sua permanência em longo prazo. Das interações entre os seres vivos e seu ambiente surge o
conceito de ecossistema.

Ecossistema1 é o resultado das condições físico-química-biológicas com os indivíduos que


fazem parte e dependem dos recursos e promovem fluxos de energia, matéria e informação,
gerando também a diversidade e a capacidade de se adaptar às mudanças e às perturbações
do ambiente.

Este conceito remete à interdependência, uma vez que o comprometimento irreversível das
condições ambientais pode comprometer a capacidade deste ecossistema em sustentar as atividades
das espécies, com a disrupção2 da capacidade de gerar fluxos de matéria, energia e informação e
desmantelando as interações entre os componentes dos ecossistemas.

Na Figura 1, apresentada a seguir, observa-se que o Sistema Econômico está inserido no Sistema
Ecológico, retirando do ambiente os recursos que necessita e devolvendo os resíduos, os quais
podem comprometer a habilidade do sistema ecológico em manter as atividades econômicas das
quais a sociedade depende para manter seu bem-estar.

Note-se que as atividades humanas sempre ocorrem em função dos limites estabelecidos
pelos sistemas ecológicos. Esses limites são denominados capacidade de suporte, que se refere
especificamente à disponibilidade e à quantidade de recursos que podem ser retirados do ambiente
e à quantidade de resíduos que podem ser lançados sem o comprometimento irreversível da
capacidade deste ambiente de gerar mais recursos e manter um fluxo constante de material, energia
e informação.

1 Ecossistema é o resultado das interações do ambiente físico, do ambiente químico e dos componentes biológicos e sua
coevolução, cujas ligações entre componentes geram relações complexas e estabilidade.
2 Disrupção – Comprometimento irreversível do ambiente devido ao acúmulo de impactos ambientais em escala superior à sua
capacidade de suporte.

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UNIDADE I │ AMBIENTE

Figura 1. Interdependência entre o Sistema Econômico e o Sistema Ecológico.

Fonte: Sigrid e Stagl (2001).

O comprometimento do ambiente pode se dar pelo acúmulo de resíduos acima da capacidade de


assimilação do meio. Este acúmulo se dá quando se tem informação insuficiente sobre os efeitos
tóxicos da acumulação de determinados componentes e quando se tratam inadequadamente os
resíduos lançados sobre o ambiente, sem identificar seu potencial de produzir impactos indesejados.

Os seres humanos e seus processos econômicos são dependentes da integridade dos ecossistemas
e das condições adequadas de conservação destes para, como qualquer animal, produzir matéria,
energia e informação para sustentar suas atividades.

A acumulação de impactos ambientais sobre os ambientes tem sido responsável pela degradação
das condições ecossistêmicas, que em processo intensificado pode levar à alteração permanente das
disponibilidades de recursos e afetar irreversivelmente a capacidade dos ecossistemas de sustentar
a espécie humana.

Toda atividade produtiva causa impactos ambientais. Quando as emissões para o ar, as descargas
para a água e a contaminação de solos ocorre acima da capacidade de processamento natural do
ecossistema, ocorre a degradação e a perda de qualidade do ambiente, que passa a sinalizar a
necessidade de se recuperar, caso o impacto não seja irreversível.

Em cenário que aponta para aproximadamente 10 bilhões de pessoas vivendo no planeta Terra em
2050, com padrões de qualidade de vida e de consumo mais elevados do que os atuais e consumindo
e descartando grande parte de recursos, a gestão de resíduos passa a ser assunto estratégico para o
presente e para o futuro.

Daly sugere que o comportamento de um ambiente pode ser identificado por meio da seguinte
equação, denominada equação IPAT:

I=PxAxT

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AMBIENTE │ UNIDADE I

O Impacto I é diretamente proporcional à população existente, multiplicada pela afluência


(capacidade de consumo, dada pela renda per capita do país), multiplicada pelos padrões
tecnológicos adotados por determinadas sociedades para extrair e beneficiar tais produtos.

O que resulta da análise desta equação é que o crescimento indefinido da população humana, o
crescimento do acesso aos produtos devido ao aumento da renda e ao avanço das tecnologias para
produção resulta em impacto crescente sobre o meio ambiente, sugerindo que, ao menos para
os cenários que se desenham para os próximos 40 anos, os impactos ambientais referentes aos
processos econômicos das sociedades serão crescentes e que o esforço para reduzi-los é tarefa de
toda a humanidade.

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IMPACTO AMBIENTAL UNIDADE II

CAPÍTULO 1
Impactos ambientais diversos

Cada cadeia produtiva tem suas especificidades com relação aos impactos produzidos sobre a
sociedade e sobre a natureza, de acordo com a população, a afluência e os padrões culturais de
cada sociedade.

Estas especificidades traduzem-se em diferentes impactos ambientais, considerando a capacidade


institucional de cada sociedade, os mecanismos de comando e controle disponíveis para as
instituições, as rotas tecnológicas adotadas para reduzir impactos ambientais e a cultura de
gerenciamento de riscos sociais e ambientais.

As perspectivas atuais e as mais diferentes análises demonstram que os cenários para 2050 incluem
o aumento da população humana, a concentração dessa população em cidades, o aumento das
emissões de gases de efeito estufa, o aumento global da classe média, o aumento do número de
pessoas vivendo em áreas de estresse hídrico.

Todas estas mudanças exigem que a percepção sobre a relação entre o ambiente, os processos
econômicos e as pessoas seja alterada. A questão dos limites ao crescimento vem sendo abordada
desde a década de 1970 e deu origem, inclusive, a diversas vertentes da economia que incorporam
variáveis ecológicas às suas análises e debate a impossibilidade do crescimento econômico em um
sistema finito, devido justamente à equação que relaciona impacto ambiental crescente à população,
crescimento de renda e tecnologias utilizadas para produção.

A avaliação de impactos ambientais de projetos tem sido feitas desde a década de 1970, quando se
torna instrumento obrigatório de gestão ambiental pública em diversos países desenvolvidos e em
desenvolvimento.

O arcabouço básico de uma avaliação de impacto ambiental é a determinação prévia dos impactos
sobre o ar, a água, a terra e sobre a população incluindo os trabalhadores.

A avaliação deve ser apresentada para a população que sofrerá o impacto para mensurar se os
riscos e as oportunidades são razoáveis de serem assumidos. Após a aprovação da avaliação, há
necessidade do empreendedor elaborar um plano de ação para reduzir, compensar ou mitigar os

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IMPACTO AMBIENTAL │ UNIDADE II

impactos ambientais e sociais identificados, que devem ser acompanhados pelos órgãos ambientais,
pelo poder público, pelas entidades não governamentais e, cada vez mais, pela sociedade civil.

A avaliação de impactos ambientais também vem sendo aplicada desde os anos 1990 sobre Políticas,
Planos e Programas. O instrumento utilizado denomina-se Avaliação Ambiental Estratégica e tem
como objetivo identificar os impactos ambientais da implementação de políticas públicas, visando
propiciar as correções necessárias para reduzir o impacto das políticas, os planos ou programas
sobre o meio ambiente.

Além disso, o instrumento de avaliação de impactos ambientais também pode servir como subsídio
para processos de produção mais limpos. A adequação de processos, o aumento da eficiência, o
tratamento de resíduos, efluentes ou emissões, o design de produtos eficientes, a avaliação de
ciclo de vida, a contabilização de emissões são todas informações que podem constar deste tipo de
instrumento e subsidiar tanto as decisões públicas quanto as decisões privadas de investimento.

Geração e acumulação de resíduos


A geração e a acumulação de resíduos sempre existiu na espécie humana e em seus processos
produtivos. O aumento populacional, a evolução tecnológica e a geração de necessidades de
consumo, com obsolescência de produtos cada vez mais rápida são fatores responsáveis pela escala
de produção de resíduos cada vez maiores e, proporcionalmente, de consequências ambientais da
exploração de recursos acima da capacidade de assimilação do ambiente.

Até meados do século XVIII, as principais fontes de energia utilizadas pelo homem eram a própria
força, a tração animal e a combustão de biomassa em volumes reduzidos. A partir da revolução
industrial, o homem passa a utilizar volumes crescentes de biomassa para gerar energia e realizar
trabalho por meio de máquinas, que geram retorno econômico por meio da comercialização e resulta
no aumento do consumo de energia e materiais per capita.

Vários produtos começam a surgir, fruto da inventividade humana e do estabelecimento da relação


entre produção de tecnologia e ciência e aumento das necessidades humanas.

O aumento da quantidade de produtos disponíveis aos seres humanos e a complexificação3 das


suas instituições de governança4 também gerou grande melhoria na qualidade de vida de parte das
populações humanas, ao tempo que também gerou aumento dos impactos ambientais relacionados
à exploração das fontes de energia e ao maior fluxo de matéria – produtos e serviços –, dentro da
economia global.

O surgimento de sociedades de consumo massificado, principalmente durante o século XX, em


especial após a década de 1950, possibilitou também o emprego de milhões e milhões de pessoas
em cadeias produtivas conectadas de forma global, que asseguram fluxos de recursos entre as
economias mundiais.

3 Complexificação – Tornar complexas as relações entre os indivíduos e suas instituições. Em relação à questão da gestão
ambiental pública e privada, a evolução das discussões e o aparecimento de problemas obedecem à relação pressão -> situação
-> resposta. Pressão gera alteração da situação que gera resposta de adequação.
4 Governança – Processo pelo qual se administram as instituições e a implementação de políticas e práticas.

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UNIDADE II │ IMPACTO AMBIENTAL

O crescimento econômico cuja fonte é o aumento do fluxo de mercadorias e serviço em todo o


mundo possibilita que um produto originado na China possa competir em condições de igualdade
com outro produto originado no México.

As consequências lógicas das atividades das sociedades de consumo de massa foram o aumento
do consumo de energia, o aumento das necessidades de integração global e de investimentos em
infraestrutura, a incorporação de mais e mais territórios nos fluxos globais de produtos, a pesquisa
de novos materiais e a percepção cada vez maior de que os mecanismos de gestão do uso de recurso
necessitavam de aprimoramento.

Durante a fase de maior crescimento da economia global nos países desenvolvidos, na década de
1960, a crescente produção também causou crescente degradação ambiental. A percepção sobre os
problemas ambientais globais começa a mudar.

Rachel Carson (1962), em seu livro Primavera Silenciosa, levantou a questão dos problemas
causados pelo uso de produtos químicos em lavouras e a eliminação de ligações entre os indivíduos
que compunham as redes tróficas em determinados ecossistemas.

Esta eliminação era causada pela acumulação de compostos tóxicos à medida que se subia de
nível trófico. Os insetos ingerem o agrotóxico, e esses insetos são ingeridos pelos pássaros que vão
morrendo pela acumulação de substâncias e, assim, a primavera torna-se silenciosa, pela ausência
do canto dos pássaros.

Além disso, o Clube de Roma, organização de cientistas, publica o relatório Limits to Growth,
ainda no final da década de 1960, e aponta que, de acordo com o conhecimento e com os dados
disponíveis de produção e consumo conhecidos na época, o cenário mais provável seria o colapso
da economia global por volta do ano 2000, em virtude do comprometimento irreversível da
qualidade ambiental.

Desde o início da década de 1970 se percebe a importância de conciliar o desenvolvimento econômico


e a proteção do ambiente. A Organização das Nações Unidas – ONU realiza a primeira Conferência
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em 1972, quando se evidencia a necessidade
de incluir a questão do meio ambiente dentre as necessidades institucionais.

Este primeiro encontro da ONU ocorreu para demonstrar que a ação humana estava causando
degradação na natureza e criando severos riscos para o bem-estar e para a sobrevivência
da humanidade.

Não por acaso, a reunião foi realizada durante a crise do Petróleo no início da década de 1970, e
desde então se afirma que a humanidade deve reduzir a dependência do petróleo e do consumo de
recursos naturais não renováveis, para evitar o colapso da humanidade.

A partir deste marco e com base nas condições políticas globais, diversas práticas foram
desenvolvidas, visando aproximar as necessidades econômicas das ambientais e sociais. Desde
então, a questão toma vulto e é definido um tipo de desenvolvimento em longo prazo que não
comprometa as futuras gerações.

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IMPACTO AMBIENTAL │ UNIDADE II

As décadas de 1970 e 1980 mostram que as preocupações com as questões envolvendo a qualidade
do meio ambiente evoluem para o aparecimento de diversas legislações ambientais em diversos
países, tendo em comum a aplicação de instrumentos para identificação de impactos ambientais e
elaboração de planos de contingência para reduzir tais impactos.

O mais conhecido instrumento surgido na década de 1970 foi o Estudo de Impacto Ambiental,
cuja origem está na Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos da América, que
tornou-se instrumento obrigatório na legislação de diversos países, incluindo a Política
Nacional de Meio Ambiente (Lei n o 6.938/1981) no Brasil. É um instrumento bastante
eficiente de identificação de impactos ambientais e sociais de empreendimentos e aponta para
a necessidade de evitar, compensar ou mitigar os impactos ambientais de empreendimentos
que envolvem consumo significativo de meio ambiente.

Ainda na década de 1980 é lançado o relatório da Comissão Brundtland, em 1987, onde se lança a
noção de desenvolvimento sustentável. Este tipo de desenvolvimento é denominado como aquele
que satisfaz as necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações
futuras em satisfazer suas próprias necessidades. Esta noção aponta para a necessidade de planejar
a produção e o consumo de recursos naturais não renováveis e renováveis para não comprometer a
base de recursos da qual a humanidade precisará no futuro.

Este relatório é considerado a pedra fundamental nas discussões futuras sobre desenvolvimento e meio
ambiente e tem como consequência uma série de novos eventos e iniciativas que institucionalizam o
investimento em desenvolvimento sustentável.

A evolução destas discussões iniciais resultou em diversas instituições governamentais,


intergovernamentais e não governamentais e encontros internacionais tipo a Conferencia Mundial
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1992, cujo principal objetivo foi definir políticas e
práticas com base no desenvolvimento sustentável, visando integrar a necessidade de melhorar
a qualidade ambiental nos assentamentos humanos, incentivar a eficiência no uso de materiais e
energia nos processos econômicos e atribuir um valor intrínseco ao ambiente, bem como reduzir
as pressões sociais causadas pela inadequada consideração do direito ao ambiente saudável para
as diversas populações humanas.

Organizações e instituições cujo pano de fundo são as preocupações ambientais surgem a partir
da percepção crescente de risco e da necessidade de gerar um corpo de profissionais para gerir
a situação, como por exemplo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA,
criado na década de 1970 e o Conselho Mundial Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável,
criado na década de 1990.

Outro fato que evidenciou a necessidade de uma maior preocupação com as condições ambientais foi
a percepção da necessidade de consideração de riscos associados à gestão inadequada dos impactos
ambientais. Esta percepção resultou também dos grandes acidentes em escala internacional que
afetaram a qualidade de vida das populações humanas e promoveram a degradação ambiental em
larga escala e de forma irreversível.

A catástrofe de Bophal, em 1984, na Índia, onde o vazamento de compostos químicos industriais da


Union Carbide causou a morte de 4.000 indivíduos e a contaminação de 200.000 pessoas; o acidente

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UNIDADE II │ IMPACTO AMBIENTAL

com o petroleiro Exxon-Valdez, em 1989, na costa do Alasca, onde o vazamento de 50.000.000


de litros de petróleo comprometeu os ecossistemas locais; o acidente em Chernobyl, na Rússia,
com a explosão do reator nuclear que provocou vazamento de compostos radioativos até os países
nórdicos e à Europa Ocidental, evidenciaram a necessidade de estabelecer um sistema de gestão de
riscos ambientais mais eficiente.

A Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, realizada no Rio de


Janeiro, teve por resultado compromissos genéricos, porém lançou as bases da Agenda 21 Global,
uma agenda de compromissos com o desenvolvimento econômico, social e ambiental, integrando,
em condições de igualdade, estes três pilares.

Desde 1992, os países têm desenvolvido suas próprias Agendas 21, visando integrar suas ações em
prol do desenvolvimento sustentável em suas sociedades. O Brasil desenvolveu sua Agenda 21 e
lançou-a em 1999. Neste documento estão descritas as bases do desenvolvimento sustentável do
país, em longo prazo.

A Conferência Mundial sobre Meio Ambiente de 2002, em Johanesburgo, África do Sul, entra
definitivamente e de forma profunda na questão da reorganização dos processos de produção e
consumo sustentáveis e na necessidade de construir nova matriz para a produção de energia, como
forma de reduzir o grande impacto ambiental representado pelas mudanças climáticas induzidas
pelo uso de combustíveis fósseis.

Os processos de produção e consumo sustentáveis passam então a definir como as empresas, o poder
público e a sociedade consideram os impactos das suas atividades e quais prioridades políticas serão
consideradas, sempre de acordo com o processo de evolução destas sociedades diversas e com a
hierarquia das necessidades de cada uma delas.

Um ponto é claro: não há uniformidade de ações a serem tomadas ou sequer rotas já traçadas que
possam servir de parâmetro para o mundo todo, uma vez que cada sociedade possui um modelo
próprio para relacionar-se com seu ambiente, determinado por suas características culturais,
sociais e políticas, além da disponibilidade de recursos locais, porém existem práticas eficientes de
gestão integrada do ambiente que podem servir de modelo para as sociedades preocupadas com a
sustentabilidade. O primeiro passo é o conhecimento; o segundo é a ação.

O Brasil possui diversos fóruns de discussão e ação voltados para a implementação dos princípios
do desenvolvimento sustentável e da sua Agenda 21. Destacam-se na liderança destes processos de
desenvolvimento da consciência ambiental no Brasil as políticas definidas pelo Estado, tais como
o Plano Nacional de Mudanças Climáticas, o Plano Nacional de Consumo e Produção Sustentável,
as iniciativas de Eficiência Energética, e as políticas definidas pelas associações empresariais, tais
como o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável – CEBAS, o Instituto
ETHOS ou o Compromisso Empresarial para Reciclagem5, cuja principal ação é elaborar indicadores
para o desenvolvimento de políticas de responsabilidade socioambiental para empresas.

5 Consultar os sites do CEBDS, Ethos ou CEMPRE para saber mais: <www.cebds.org.br>, <www.ethos.org.br>, <www.cempre.
org.br>.

16
IMPACTO AMBIENTAL │ UNIDADE II

Há de se destacar, também, o papel político desempenhado pelas organizações não governamentais


globais e locais. Diversos estudos técnicos lançados com grande impacto por ONGs têm sido
responsáveis por uma reorganização de cadeias produtivas e agregam pressões para o desenvolvimento
de padrões de produção e consumo mais exigentes.

Um aspecto fundamental a se observar é o tipo de estratégia utilizada na gestão de resíduos.


Destacam-se fundamentalmente duas estratégias, que envolvem o conceito de resíduo e determinam
as vias que estes recursos tomarão na sociedade.

A primeira estratégia é a acumulação, que consiste na coleta e na destinação do resíduo para aterros
sanitários ou lixões ou o despejo de efluentes nos corpos d’água ou as emissões para o ar.

Esta estratégia depende da disponibilidade da terra para receber os resíduos e deixá-los estocados
permanentemente e tem uma capacidade de suporte e vida útil limitada, tendo em vista que a
acumulação chega a um limite máximo que exige a disponibilização de novos terrenos para uso
como aterro sanitário.

Como exemplo, destaca-se a cidade de Nova Iorque, nos EUA, que envia seu lixo para outro município
e paga caro por isso, uma vez que os valores imobiliários dos terrenos da cidade são suficientemente
caros para evitar que sejam utilizados como aterros sanitários, ou seja, a geração de resíduos pela
sociedade tem um custo que deve ser internalizado pela sociedade, por meio de impostos, para
coleta e destinação de resíduos.

No Japão, a pouquíssima disponibilidade de espaço para aterros sanitários obrigou o país a adotar
políticas avançadas de gestão ambiental pública e privada, com o objetivo de reduzir a quantidade de
resíduos produzidos pela sociedade. Outro exemplo é a proibição de utilização de garrafas plásticas,
em virtude do descarte deste tipo de material causar o acúmulo de volumes crescentes de plástico
e reduzir a vida útil dos aterros.

A outra estratégia que tem sido utilizada e ganha muita força tem sido a reciclagem dos resíduos
gerados pela sociedade, com a análise da logística reversa6. O design de produtos e embalagens é
feito de forma que permita a reciclabilidade7 total dos produtos descartados.

Estima-se que na Europa os carros sejam quase totalmente recicláveis. Cerca de 95% do peso total
do veículo é reaproveitável. Há países cujas políticas públicas visam tornar a sociedade o mais perto
possível dos conceitos de ciclos da natureza, onde tais políticas implicam considerar o resíduo como
fonte de recursos e não como fim de linha da vida útil deste recurso.

Isto posto, passa-se ao estudo de necessidades de um sistema de gestão ambiental e social de uma
instituição, visando reduzir os impactos de suas atividades sobre o ambiente.

6 Logística reversa é analisar todo o processo produtivo desde o túmulo ao berço e identificar pontos de melhoria em processos
produtivos que induzam à redução do impacto ambiental por unidade de produto produzida.
7 Reciclabilidade – Potencial de determinados materiais de serem reciclados, entrando em ciclos produtivos novamente.

17
AMBIENTE, SAÚDE E UNIDADE III
SEGURANÇA

CAPÍTULO 1
Gestão integrada

A saúde e a segurança no ambiente do trabalho referem-se às condições que levam à redução dos
riscos e ao aumento da produtividade dos colaboradores. Esta redução de riscos é precedida por
uma adequada avaliação integrada dos aspectos que podem gerar riscos de perda para a instituição,
a empresa ou a comunidade e reduzir tais riscos por meio da gestão integrada de saúde e segurança
no trabalho.

Para gerir adequadamente um sistema deste porte, é necessário que os seguintes passos sejam
seguidos.

1. Identificação dos impactos referentes ao local, à atividade específica


desempenhada pelos trabalhadores em seu local de trabalho, ao produto, ao
leiaute das estações de trabalho e ao planejamento das atividades potencialmente
arriscadas.

2. Treinamento de profissionais para analisar e gerir impactos e riscos ambientais,


incluindo a preparação de projetos, planos e procedimentos que incorporem
as diferentes recomendações técnicas emitidas por autoridades legais e
regulamentadoras das atividades produtivas.

3. Quantificação dos riscos da gestão de ambiente, saúde e segurança no trabalho


baseado na natureza das atividades, nas consequências potenciais sobre os
trabalhadores, as comunidades as ou o ambiente.

4. Priorização das estratégias de gestão de riscos com o objetivo de obter uma redução
efetiva das ameaças à saúde humana, com foco na prevenção de impactos irreversíveis
ou significantes.

5. Eliminação da causa das ameaças na fonte, pela análise da adequabilidade da


adoção de determinados materiais no processo produtivo.

18
AMBIENTE, SAÚDE E SEGURANÇA │ UNIDADE III

6. Incorporação de soluções técnicas ou gerenciais para reduzir ou minimizar a


possibilidade e magnitude de consequências indesejáveis.

7. Preparação de trabalhadores e da própria comunidade para responder a acidentes,


incluindo a disponibilização de recursos técnicos e financeiros para controle de
eventos críticos, incluindo a recuperação do ambiente para condições seguras.

8. Melhoria do desempenho ambiental e de saúde e segurança no trabalho com o


monitoramento efetivo da gestão de saúde e de segurança.

Passo no 1
Identificação dos impactos referentes ao local, a atividade específica desempenhada pelos
trabalhadores em seu local de trabalho, ao produto, ao leiaute das estações de trabalho e ao
planejamento das atividades potencialmente arriscadas.

As exigências de saúde e de segurança no trabalho e de gestão de resíduos dependem diretamente


da atividade produtiva realizada. O trabalho em um hospital tem exigências diferentes do trabalho
em uma usina siderúrgica.

O primeiro passo para identificar as necessidades de saúde e de segurança no trabalho é o


levantamento de informações de como o processo produtivo afeta o ambiente, as informações sobre
a geração de resíduos e as possibilidades de redução de impacto sobre o ambiente por meio de ações
gerenciais e soluções técnicas adequadas a cada tipo de atividade.

As atividades econômicas são classificadas no Ministério do Trabalho e Emprego de acordo com


a exposição ao risco. Esta exposição gerou as normas regulamentadoras, cuja função principal é
determinar as regras aplicáveis às atividades econômicas e produtivas, visando resguardar a saúde
e a segurança do trabalhador.

É essencial que o empreendedor conheça as regras aplicáveis à sua atividade, pois a gestão
inadequada dos aspectos relacionados à saúde e à segurança no trabalho pode resultar em perdas
econômicas por multas, sanções ou até cancelamento da autorização de funcionamento.

Vale ressaltar que a gestão de resíduos é essencial para que haja conformidade com as legislações
relativas à qualidade ambiental, tais como as resoluções do CONAMA, ou a Política Nacional de
Resíduos Sólidos.

A identificação dos impactos e riscos é apenas o primeiro passo para a implantação de um sistema
de gestão de saúde e segurança eficaz.

Política Nacional de Meio Ambiente – Lei no 6.938/1981

Política Nacional de Resíduos Sólidos – Lei no 12.305/2009

Resoluções do CONAMA.

Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho

19
UNIDADE III │ AMBIENTE, SAÚDE E SEGURANÇA

Passo no 2

Treinamento de profissionais para analisar e gerir


impactos e riscos ambientais

A era da informação, como se convenciona denominar o atual estágio das atividades produtivas,
exige trabalhadores cada vez mais qualificados, especializados e treinados para desempenhar com o
máximo de eficiência suas atividades.

Para gerenciar um posto de saúde, um hospital ou uma padaria, é necessário estabelecer quais os
responsáveis para gestão de resíduos gerados pela atividade, identificando os pontos de entrada e
saída de materiais e qual a eficiência na transformação desses materiais em retorno econômico e
quanto de resíduos estão sendo gerados, impactando a sociedade.

O profissional treinado para gerir os aspectos relacionados ao ambiente deve fazer o controle dos
materiais de saída e propor alternativas para o aumento da eficiência produtiva.

Várias metodologias podem ser utilizadas para controle dessas saídas, desde a elaboração de
planilhas de controle do consumo de materiais até o monitoramento da geração e destinação dos
resíduos da atividade.

Um hospital deve controlar a saída e a correta destinação de resíduos gerados pela sua atividade, em
função do potencial de risco à saúde humana que tais materiais podem representar. A destinação
de resíduo hospitalar é regulada pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, bem como resoluções
específicas do CONAMA e do Ministério do Trabalho e Emprego com relação aos critérios para
descarte e destinação do material utilizado.

Informações sobre o tema: <http://www.saude.df.gov.br/003/00301009.asp?ttCD_


CHAVE=30754#>.

Passo no 3

Quantificação dos riscos da gestão de ambiente,


saúde e segurança no trabalho, baseado na natureza
das atividades, nas consequências potenciais sobre os
trabalhadores, as comunidades ou o ambiente

A gestão de ambiente, saúde e segurança depende da atividade da empresa, do porte, do local onde
ela está inserida, dos resíduos gerados no processo produtivo, dos insumos necessários para a
geração de retorno econômico e das relações desta com os diversos públicos de relacionamento que
compõem a teia de relacionamentos locais.

A quantificação dos riscos baseia-se na possibilidade de realizar um controle mais estrito dos
potenciais impactos da sua atividade produtiva sobre o ambiente e sobre os diferentes públicos de
relacionamento, aí incluídos trabalhadores, fornecedores, clientes, governos e concorrentes.

20
AMBIENTE, SAÚDE E SEGURANÇA │ UNIDADE III

A identificação dos resíduos gerados é necessária para que sejam traçadas estratégias para gerir
este impacto. A gestão deste impacto representa necessidades de investimento em treinamento,
equipamentos e tratamento que devem estar incorporados desde os primeiros estágios do
estabelecimento das empresas.

Para empreendimentos relacionados no Anexo I da Resolução CONAMA no 237/1997, há necessidade


de levantamento dos impactos ambientais e elaboração de planos para compensar, mitigar ou evitar
impactos ambientais e sociais sobre o ambiente.

Em empreendimentos de grande porte, em geral relacionados à infraestrutura, exige-se, além do que


é necessário para assegurar a conformidade ambiental, social e econômica de empreendimentos,
um complexo sistema de gestão de saúde e segurança no trabalho.

Passo no 4

Priorização das estratégias de gestão de riscos com o


objetivo de obter uma redução efetiva das ameaças à
saúde humana, com foco na prevenção de impactos
irreversíveis ou significantes

Uma vez identificados os riscos da implantação de um projeto, há necessidade de hierarquizá-los de


acordo com o seu potencial de impacto. Aspectos relevantes de análise de impactos para categorização
são descritos no quadro a seguir.

Quadro 1.

Classificação Tipo
Benéficos ou prejudiciais

Planejados ou acidentais
Em relação aos impactos
Diretos ou indiretos

Cumulativos ou simples
Reversíveis ou irreversíveis

Em relação ao tempo de duração Curto ou longo prazo

Temporários ou contínuos
Local

Regional
Em relação à área de abrangência
Nacional

Internacional
Em relação ao potencial de mitigação Mitigação ou não mitigação
Gravidade
Em relação a acidentes
Probabilidade

21
UNIDADE III │ AMBIENTE, SAÚDE E SEGURANÇA

Após identificar os impactos ambientais, há necessidade de hierarquizá-los para definir prioridades.


Parte-se do pressuposto que o planejamento de qualquer empreendimento deve identificar os
impactos positivos e negativos que causam os efeitos negativos que podem gerar necessidade de
mitigação de impactos e os efeitos positivos sob a área de implantação.

A geração de resíduos, dependendo da sua natureza, pode criar a necessidade de investimento


em treinamento e equipamento de saúde e segurança e em sistemas específicos de tratamento
de resíduos.

Vale ressaltar que a questão da gestão inadequada de resíduos e materiais inservíveis foi responsável
pelos impactos extremamente negativos causados pela abertura de cápsula com Césio-137 em
Goiânia, que vitimou várias pessoas.

Se o empreendimento de onde saiu a cápsula tivesse um sistema de gerenciamento em saúde e


segurança combinado com um sistema de gestão ambiental, que houvesse identificado os riscos
associados às atividades da clínica, o problema não teria ocorrido.

Passo no 5

Eliminação da causa das ameaças na fonte, pela


análise da adequabilidade da adoção de determinados
materiais no processo produtivo

Uma vez identificados os riscos potenciais que podem ser causados pelos impactos da produção
de resíduos, há necessidade de desenvolver mecanismos de gestão para eliminá-los ou reduzi-los.

O investimento em treinamento, o equipamento e as medidas gerenciais de controle de resíduos


gerados pelas atividades possibilita ao empreendimento quantificar, qualificar e gerar melhores
planos de gerenciamento e planos de contingência.

A gestão de resíduos demonstra para o gestor as possibilidades de melhoria em processos produtivos,


as possibilidades para redução de desperdícios e as necessidades de investimento. Convém lembrar
que o gerenciamento de resíduos exige treinamento de equipes, investimento em equipamentos de
proteção individual e acompanhamento da geração dos resíduos.

Passo no 6

Incorporação de soluções técnicas ou gerenciais para


reduzir ou minimizar a possibilidade e magnitude de
consequências indesejáveis

Seguindo os passos de um processo de planejamento, a partir da identificação dos aspectos


ambientais e das entradas e saídas de material e as necessidades de destinação de resíduos, o
gestor deve identificar as alternativas técnicas e gerenciais aplicáveis à sua situação e ordenar os

22
AMBIENTE, SAÚDE E SEGURANÇA │ UNIDADE III

investimentos em termos de prioridade, reduzindo o impacto ambiental do seu empreendimento


por meio de medidas que visem evitar o impacto, reduzir o consumo, mitigar os efeitos negativos ou
compensar os impactos irreversíveis.

Passo no 7

Preparação de trabalhadores e da própria comunidade


para responder a acidentes, incluindo a disponibilização
de recursos técnicos e financeiros para controle de
eventos críticos, incluindo a recuperação do ambiente
para condições seguras

Qualquer empreendimento existe em relação com a comunidade que o circunda. Não é raro que
acidentes em empreendimentos afetem toda a comunidade e comprometa a capacidade de essas
comunidades em gerar seus próprios processos econômicos.

Exemplos da interação entre empreendimento e comunidade estão descritos a seguir.

Abertura da cápsula de Césio-137 em Goiânia, foi causada pela gestão inadequada de riscos
ambientais referentes ao equipamento e sua desmontagem, bem como da fiscalização inadequada
pelo estado e pela formação insuficiente dos gestores do empreendimento. Após o acidente, diminuiu
a quantidade de pessoas que visitavam a cidade, impactando na capacidade de gerar processos
econômicos para a cidade.

O vazamento de petróleo no Golfo do México comprometeu a capacidade das comunidades


que viviam da pesca no golfo. Planos de contingência e treinamento de trabalhadores e de
habitantes das comunidades próximas para emergências são necessários para reduzir os riscos de
exposição a agentes ambientais perigosos que possam comprometer os processos econômicos e
sociais locais.

O vazamento de resíduos tóxicos no rio Danúbio, na Hungria, afetou as atividades do


empreendimento, bem como a economia local e a saúde dos habitantes. A ausência de controles
da regularidade ambiental pelo estado, a ausência de planos de gestão ambiental pela empresa, a
ausência de planos de contingência para catástrofes e a ausência de treinamento dos trabalhadores
foram determinantes para que o impacto social e ambiental do desastre tenha sido muito maior.

A disponibilização de recursos técnicos e financeiros para controle de eventos críticos refere-se


ao investimento da empresa em equipamentos e treinamento, visando reduzir a possibilidade de
acidentes com funcionários e com a comunidade.

A comunicação do empreendimento com as comunidades e trabalhadores também é necessária


para que a informação sobre os riscos seja devidamente difundida. A consciência dos riscos deve
resultar em planos de contingência, com o objetivo de reduzir impactos em caso de acidentes.

Após o acidente, o empreendimento deverá recuperar o ambiente danificado, o que poderá impactar
grandemente a sua capacidade de gerar recursos e pode resultar em fechamento da empresa. Por isso

23
UNIDADE III │ AMBIENTE, SAÚDE E SEGURANÇA

entende-se que o investimento em sistemas de gestão de risco ambiental e social, o treinamento de


funcionários e a comunicação com a comunidade pode reduzir os custos que seriam muito maiores
da recuperação de áreas sujeitas a desastres.

Passo no 8

Melhoria do desempenho ambiental e de saúde e


segurança no trabalho com o monitoramento efetivo da
gestão de saúde e de segurança

Não há gestão ambiental efetiva sem o monitoramento de dados sobre o consumo de material e da
geração e destinação adequada de resíduos produzidos nos processos produtivos.

A partir da informação levantada sobre os aspectos relevantes da gestão de resíduos é possível


construir planos elaborados de gestão com a premissa da melhoria constante do desempenho
ambiental da instituição gerida.

24
RESÍDUOS E MEIO UNIDADE IV
AMBIENTE

CAPÍTULO 1
Relações de evolução e adaptação

As relações dos seres humanos com o meio ambiente são relações de coevolução8 e adaptação,
mediadas pela modificação das condições físicas, químicas,biológicas, sociais, culturais e econômicas.
O controle das condições ambientais é necessário para que não ocorram eventos extremos que
impossibilitem a manutenção da vida em determinados ambientes, como a água, o ar e o solo.

Água
A água compõe 60% do peso humano, chegando a 98% em alguns seres aquáticos. Ela é indispensável
em quantidade e qualidade adequadas para a manutenção dos processos metabólicos vitais para os
seres vivos.

O consumo de água nos processos econômicos concentra-se na área agropecuária, onde se consome
cerca de 70% do total; 22% do total são consumidos na indústria e 8% no consumo doméstico,
conforme mostra a Figura 2.

Figura 2. Utilização da água no mundo.

70%

22%

8%
Agricultura
Indústria
Uso doméstico
Fonte: World Bank, 2001.

A agricultura e a pecuária são processos fundamentais para a sobrevivência humana. É necessário


agir de forma a aumentar a eficiência no uso de recursos hídricos nas cadeias produtivas para
diminuir o risco de escassez e de comprometimento da disponibilidade destes recursos.

8 Coevolução – Processo de evolução de espécies em consonância com as condições do ambiente onde existem.

25
UNIDADE IV │ RESÍDUOS E MEIO AMBIENTE

A indústria consome 22% do total e descarta grande parte de seus efluentes em corpos d’água
com alto potencial de contaminação. Para reduzir os riscos de contaminação de recursos hídricos,
há necessidade de sistemas eficientes de tratamento de efluentes que levem em consideração as
especificidades de cada setor e da composição química destes efluentes.

O uso doméstico, apesar de uma porcentagem pequena em relação ao total, tem alto potencial
de contaminação, caso seja lançado sem tratamento nos cursos d’água. O aumento do tamanho
de assentamentos humanos tem sido responsável por quantidades crescentes de efluentes sendo
captados pelas redes de esgotamento sanitário e pelas necessidades crescentes de investimento em
tratamento destes efluentes.

A água é abundante no planeta, apesar da distribuição não uniforme. É reciclada pelo ciclo hidrológico
de evaporação e precipitação, com processos de infiltração e percolação e evapotranspiração9 em
plantas. A água precipitada também escoa pelos rios. A poluição deste recurso ocorre quando há
alteração das condições físicas, químicas ou biológicas de forma negativa, prejudicando os usos
deste recurso.

A gestão adequada das bacias hidrográficas é a base de qualquer política que vise ao uso múltiplo
das águas. Para assegurar a manutenção da qualidade dos recursos hídricos, é necessário que haja
o estudo integrado das bacias, levando em consideração as necessidades de todos os seus usuários e
o diagnóstico adequado da situação destes recursos.

Figura 3. Ciclo Hidrológico.

A água tem diversos usos, tanto para as necessidades humanas quanto para a preservação da vida,
e as alterações na sua qualidade podem impactar de forma irreversível os processos que asseguram
a vida no abastecimento público, para atividades industriais, agropastoris, preservação da fauna e
flora aquática, recreação, geração de energia elétrica, navegação, diluição e transporte de efluentes.

O uso da água para abastecimento público necessita de qualidade adequada, pois refere-se ao uso
da água para consumo humano, higiene pessoal, limpeza de utensílios, lavagem de roupas, pisos e
banheiros, cozimento de alimentos, irrigação de jardins e combate a incêndios.

9 Processo de perda d’água das plantas por meio de transpiração..

26
RESÍDUOS E MEIO AMBIENTE │ UNIDADE IV

A melhor prática de manutenção da qualidade necessária para o abastecimento público é a captação


centralizada por central de tratamento, que realiza a captação, o tratamento, a reserva e a distribuição,
sendo operada por órgão da administração municipal ou concessionária de águas e esgotos.

O abastecimento industrial é o uso da água pela indústria para manter seus processos produtivos.
Esta utilização depende dos volumes envolvidos na produção e do setor de atividade.

As atividades agropecuárias são intensivas em uso de água. Corresponde a 70% do total de água
consumido no planeta. O recurso é utilizado para a dessedentação10 de animais e para a irrigação.
A água utilizada nesses processos não retorna em qualidade igual aos corpos d’água, mas em
qualidade inferior, com solo, resíduos de fertilizantes e agrotóxicos.

A preservação da fauna e da flora é necessária para manter e proteger a biodiversidade. É um


tema relevante e transcende a questão econômica para chegar à necessidade de preservar outras
espécies e os serviços ecossistêmicos propiciados pelo ambiente. A contaminação de cursos d’água
pode causar eliminação de espécies cuja vida depende de condições adequadas sob o ponto de vista
físico-químico-biológico da água.

O uso para recreação refere-se à prática de esportes ou atividades em águas, seja em rios, lagos ou
oceanos. A presença de micro-organismos patogênicos pode causar a transmissão de doenças de
veiculação hídrica e a identificação deste tipo de contaminantes enseja o planejamento de iniciativas
que reduzam a quantidade destes organismos patogênicos.

A geração de energia elétrica também necessita de água com qualidade, pois água com contaminantes
físicos, químicos ou biológicos podem reduzir a vida útil das usinas hidrelétricas. Vale ressaltar que
a implementação de empreendimentos de usinas hidrelétricas provoca alteração nos ecossistemas
locais, com alteração da distribuição de espécies e das relações ecossistêmicas entre elas, podendo
causar inclusive a extinção de espécies chave para os ecossistemas.

A navegação também é um tópico importante para o uso múltiplo dos recursos hídricos. Boa parte
da produção econômica europeia e norte-americana é escoada por rios até chegar ao mar em virtude
dos custos, que pode chegar a até um terço do valor do transporte por rodovias.

A diluição e o transporte de afluentes também é um dos usos de recursos hídricos.

Grande parte das águas é utilizada para receber os efluentes das atividades humanas, portanto, a gestão
integrada de recursos hídricos é fundamental para manter e melhorar a qualidade destes recursos.

A Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei no 9.433/1997) estabelece as diretrizes para a gestão
de recursos hídricos e as necessidades de assegurar que padrões de qualidade e de quantidade
mínimos sejam assegurados pelos gestores e usuários destes recursos, com vistas a permitir os usos
múltiplos a que se refere esta lei.

É definitivamente importante que a gestão de impactos ambientais tenha por base o que estabelece a
legislação e, no caso específico da água, que o gestor conheça e aplique a legislação e os regulamentos
de forma adequada.

10 Dessedentação – Disponibilização de água como insumo produtivo para manutenção do crescimento de animais.

27
UNIDADE IV │ RESÍDUOS E MEIO AMBIENTE

Fontes de poluição
A poluição das águas pode ocorrer de forma natural, por esgotos domésticos, efluentes industriais
ou drenagem de áreas agrícolas ou urbanas, com efeitos para cada um dos múltiplos usos.

Cada fonte de poluição depende do padrão de uso e ocupação do solo e dos usos predominantes que
os recursos hídricos têm, de acordo com a região ou atividade econômica predominante.

A poluição natural ocorre com o arraste de partículas orgânicas e inorgânicas do solo, de resíduos
de animais silvestres e de folhas e galhos de árvores e vegetação, bem como pelo solo carreado pelas
águas superficiais ou subterrâneas, causando aumento da carga orgânica, porém ainda não é crítica,
pois considera-se dentro dos padrões ecológicos de ciclagem de nutrientes e a água é passível de uso
após tratamento simples, conforme mostra a Figura 4.

Figura 4. Rio com mata ciliar preservada e ciclagem de nutrientes naturais.

A poluição por esgotos domésticos altera as características físico-química-biológicas da água, sendo


que a intensidade de alteração dependerá do tratamento que o esgoto doméstico recebe, assim como
as qualidades do corpo receptor do esgoto e do tamanho dos assentamentos humanos.

Quanto maior o assentamento humano, maior o potencial de contaminação dos recursos hídricos
pela poluição doméstica e maior a necessidade de investimento público ou privado em sistemas que
garantam a qualidade dos recursos hídricos, conforme mostra a Figura 5.

Figura 5. Poluição por efluentes domésticos.

Os contaminantes que demandam preocupação são aqueles relacionados com o aumento da matéria
orgânica, micro-organismos patogênicos e concentrações de fósforo e nitrogênio. A ausência de

28
RESÍDUOS E MEIO AMBIENTE │ UNIDADE IV

sistemas de coleta e de tratamento de esgotos é responsável por problemas diversos nos corpos
d’água de diversas cidades brasileiras.

A poluição por efluentes industriais é muito diversificada, dependendo da natureza da indústria,


pode conter matéria orgânica em altas concentrações, como no caso de frigoríficos, sólidos em
suspensão, metais pesados, compostos tóxicos, micro-organismos patogênicos e substâncias
teratogênicas, mutagênicas e cancerígenas.

Também é necessário, num sistema adequado de gestão ambiental, caracterizar os efluentes de


acordo com a atividade e buscar alternativas tecnológicas para reduzir o potencial de poluição
destes efluentes.

Figura 6. Lançamento de efluentes industriais na água.

A poluição produzida por drenagens de áreas agrícolas e urbanas são aquelas que se depositam na
superfície e são carreadas pelas chuvas, acumulando os materiais em valas e bueiros e são carreados
para os corpos d’água pelas galerias de águas pluviais ou, no caso de áreas agrícolas, podem causar
carreamento de material de processos erosivos, comprometendo os rios que recebem o impacto.

O desmatamento de matas ciliares ocasiona a diminuição da proteção do solo e o aumento do


carreamento de material para os corpos d’água. Este fenômeno chama-se assoreamento e a ausência
da gestão dos solos vem ocasionando a perda de qualidade e quantidade de água para processos
produtivos que dela dependem, conforme mostra a Figura 7.

Figura 7. Assoreamento de rio.

29
UNIDADE IV │ RESÍDUOS E MEIO AMBIENTE

Os efeitos na constituição destas águas pelos diferentes tipos de poluição podem ser tratáveis
dependendo da natureza, da persistência ou do potencial de contaminação.

Os efeitos da poluição sobre o abastecimento público são a contaminação microbiológica, as variações


rápidas e imprevisíveis na qualidade das águas do manancial, a presença de produtos químicos
orgânicos e inorgânicos que causam alterações nas características físico-química-biológicas nos
recursos hídricos ou o encarecimento do tratamento da água, uma vez que quanto mais poluída
maior o custo de recuperação da água.

Para o abastecimento industrial, há a possibilidade de limitar o uso da água em função da sua qualidade
e a presença de substâncias químicas pode causar acidentes diversos nos processos produtivos.

A indústria da pesca pode ser afetada em virtude do comprometimento dos ecossistemas que dão
suporte à produção pesqueira ou pela contaminação dos peixes com os contaminantes advindos
dos recursos hídricos não gerenciados de forma integrada. A navegação pode ser comprometida
pela presença de carga orgânica alta, pela elevada concentração de produtos químicos ou pelo
assoreamento de cursos d’água. A recreação pode ser comprometida pela contaminação por
patógenos e prejudicar a possibilidade de realização de atividades recreativas no local.

Para combater a poluição das águas, são necessárias medidas para mitigar ou diminuir o aporte de
poluentes e assegurar patamares de qualidade apropriados para os usos identificados dos recursos
hídricos.

Os métodos para tratamento dependem fundamentalmente das características locais, dos processos
econômicos regionais, da disponibilidade de tecnologias apropriadas para tratar os efluentes e da
disponibilidade de recursos para investimento nos sistemas de tratamento.

É importante ressaltar que a qualidade inadequada de recursos hídricos causa problemas de saúde
na população que impactam diretamente o desenvolvimento de atividades produtivas, muitas vezes
de forma definitiva, do município, estado ou país.

A gestão em saúde e segurança específica para o setor público ou privado é fundamental para que
haja a manutenção da produtividade e a qualidade dos recursos hídricos pode ser um fator limitante
para as atividades produtivas.

Ar

A poluição do ar está associada a diversos tipos de enfermidades humanas, bem como à deterioração
das condições de vida. A partir da revolução industrial, o uso cada vez maior de combustíveis fósseis
tem contribuído tanto para o crescimento econômico quanto para o fenômeno das mudanças
climáticas.

30
RESÍDUOS E MEIO AMBIENTE │ UNIDADE IV

Figura 8. Cidade submetida à poluição do ar.

A atmosfera possui capacidade finita de assimilação e as medições das concentrações de


substâncias demonstram que há acúmulo de gases cujo efeito maior será a alteração das condições
físico-química-biológicas de diversos ecossistemas, incluindo os ecossistemas humanos.

O movimento de poluentes na atmosfera é influenciado pelas condições meteorológicas, pela


turbulência causada pelo vento e pela turbulência térmica, bem como pela topografia dos terrenos,
causando diferentes impactos dependendo das condições naturais que ocorrem localmente
ou regionalmente.

Os poluentes atmosféricos são quaisquer formas de matéria sólida, líquida ou gasosa e de energia
que pode torná-la poluída e podem ser divididas em materiais particulados ou gases e vapores.

O material particulado são partículas sólidas ou líquidas emitidas por fontes de poluição do ar e
podem ser classificados como poeiras, fumos, fumaça ou névoas. As poeiras têm por fonte o cimento,
o amianto, o algodão e a sujeira da rua. Os fumos originam-se da queima de chumbo, alumínio,
zinco ou cloreto de amônia. A fumaça origina-se da queima de combustíveis fósseis, biomassa e
outros materiais combustíveis e a névoa refere-se às partículas líquidas em suspensão.

Figura 9. Poluição causada por veículos.

Cada um destes componentes tem uma dinâmica própria quando inalados e podem causar danos
irreversíveis à saúde humana, desde inflamações do trato respiratório até a morte por intoxicação.

31
UNIDADE IV │ RESÍDUOS E MEIO AMBIENTE

Os gases e os vapores são poluentes na forma molecular e são classificados em poluentes primários
e secundários. Os primários são poluentes per se, não necessitando de outras combinações químicas
para serem nocivos. Os secundários são formados por reações químicas ou fotoquímicas entre
componentes atmosféricos, resultado em elementos nocivos à saúde.

Qualquer processo, equipamento, sistema, máquina ou empreendimento que possa liberar ou emitir
matéria ou energia que polua a atmosfera pode ser considerada fonte de poluição e são classificadas
em fixas ou móveis, naturais ou antrópicas11.

As naturais são originadas de erupções vulcânicas, decomposição de vegetais e animais, ação do


vento, ação biológica de micro-organismos, formação de metano, descargas elétricas na atmosfera,
incêndios florestais naturais e são muito significativas quando comparadas com as antropogênicas.

As fontes antropogênicas referem-se às emissões oriundas de atividades econômicas humanas.


Constituem tais fontes os processos industriais, a queima de combustível na indústria, os modais
de transporte, o aquecimento e o cozimento de alimentos, as queimadas de florestas provocadas, a
queima de lixo, a movimentação de veículos, as poeiras de demolições, dentre outros.

Os veículos são a principal fonte de emissão de poluentes para a atmosfera em centros urbanos.
Grandes aglomerados urbanos com frotas significativas de veículos tem adotado estratégias para
redução de emissões potencialmente danosas à saúde humana, tal como o rodízio de veículos em
São Paulo.

Os veículos movidos a álcool e a gasolina são emissores de monóxido de carbono, óxidos de


nitrogênio e hidrocarbonetos, enquanto aqueles movidos a diesel emitem óxidos de enxofre, óxidos
de nitrogênio e material particulado.

A introdução de tecnologia nos veículos tem sido responsável pela redução do volume de emissões de
veículos, sendo que padrões de emissões cada vez mais restritos têm sido adotados no Brasil, tendo
em vista a necessidade de reduzir os impactos da poluição do ar sobre os ecossistemas e as pessoas.

Os efeitos da poluição do ar podem ocorrer em nível local, regional, nacional ou global e manifestam-se
na saúde, no bem-estar da população, nas alterações na vegetação e na fauna, no desgaste de materiais
e na deterioração da qualidade da atmosfera, na redução da visibilidade, alteração da acidez das águas
da chuva (chuva ácida), no aumento da temperatura da Terra (potencial de aquecimento global), na
modificação da intensidade da radiação solar (destruição da camada de ozônio).

Os problemas da poluição do ar com relação à saúde humana são fartamente documentados


e encontrados em publicações científicas. Os problemas oftálmicos, doenças dermatológicas,
gastrointestinais, cardiovasculares, pulmonares e alguns tipos de câncer estão ligados à deterioração
da qualidade ambiental.

Além disso, as alterações das condições dos ecossistemas afetam a distribuição de espécies de
determinados biomas e podem causar o aumento descontrolado de doenças transmitidas por
vetores que em condições naturais estariam sujeito a controle biológico.

11 Fontes antrópicas ou antropogênicas de poluição são aquelas que se originam dos processos econômicos humanos.

32
RESÍDUOS E MEIO AMBIENTE │ UNIDADE IV

Os efeitos da poluição do ar sobre os materiais estão ligados à deposição de partículas, a corrosão


de partes metálicas, ao ataque aos materiais de construção não metálicos, dentre outros que
comprometem o patrimônio e a infraestrutura das edificações, podendo também causar danos
irreversíveis em patrimônio histórico, cultural e artístico.

Os danos globais causados pela poluição são objeto de diversos tratados internacionais. Como
exemplo, tem-se a diminuição da camada de ozônio causada pela emissão de Clorofluorcarbono
(CFC’s) que destrói o ozônio e libera a passagem de raios ultravioletas que podem causar catarata e
doenças de pele, bem como efeitos negativos à vegetação, à agricultura reduz a fotossíntese.

Outro dano global são as mudanças climáticas, causada pela intensificação dos efeitos da emissão de
gases de Efeito Estufa. Os gases de efeito estufa são emitidos em virtude das atividades econômicas
humanas baseadas em consumo de combustíveis fósseis para produção de energia.

As mudanças climáticas elevam o risco de perdas econômicas, os distúrbios sociais, o


desabastecimento e a deterioração das condições de vida. Este risco já qualifica a questão como uma
das mais sensíveis a serem resolvidas nos próximos anos sob o ponto de vista ambiental.

Os maiores emissores globais de gases de efeito estufa são a China, os EUA e a União Europeia,
nesta ordem. Esforços têm sido despendidos para gerar iniciativas globais de redução das emissões
por meio do investimento em tecnologias e energias limpas, como o esforço político em atribuir
metas para a redução de emissões.

Tais metas dependem fundamentalmente de negociações políticas entre múltiplos atores, cada qual
defendendo suas partes interessadas internas face às pressões globais para redução de emissões, o
que dificulta a construção de consensos.

Há consenso, no entanto, de que se deve investir mais em adaptação, tendo em vista que o consumo
continua a aumentar nos mais diversos países, há crescimento populacional, e que o sistema econômico
tende a crescer continuamente para satisfazer as necessidades de consumo dessas populações.

Apesar das negociações anuais, os esforços para a concretização de limites para emissões em
países desenvolvidos não têm sido efetivos e estima-se que a evolução da questão atribua limites
também para os países em desenvolvimento, com o investimento em transferências de tecnologia
de produção, visando reduzir as emissões provenientes de seus processos produtivos.

O Brasil contribui com parte das emissões globais devido principalmente às queimadas de florestas.
Há diversas iniciativas brasileiras que visam reduzir emissões causadas pelas queimadas, dentre
elas destacam-se o Plano Nacional de Mudanças Climáticas, o Plano de Ação para Produção e
Consumo Sustentáveis.

A Chuva Ácida origina-se da emissão de óxidos de enxofre e nitrogênio e a posterior reação química
com as águas atmosféricas, que formam ácidos que alteram o pH das chuvas. O pH ácido das
chuvas compromete processos metabólicos e ecossistêmicos e podem causar a morte de florestas
e da distribuição de espécies em corpos d’água, comprometendo muitas vezes a capacidade das
populações em manter processos econômicos e sociais e de manutenção da própria qualidade
de vida.

33
UNIDADE IV │ RESÍDUOS E MEIO AMBIENTE

Tendo em vista os diversos impactos que a contaminação do ar causa para a saúde e o ambiente,
foram desenvolvidas estratégias para prevenção e controle da poluição do ar. A prevenção significa
evitar a geração de poluentes por meio de processos industriais e combustíveis menos poluentes,
redução de consumo de produtos poluidores e de energia. O controle significa mitigar os efeitos das
emissões de poluentes para a atmosfera.

A prevenção e o controle da poluição do ar envolvem a identificação dos poluentes e dos impactos


referentes e do investimento em processos de gestão ambiental adequados. O investimento
em tecnologias apropriadas, o estudo e a aplicação de processos produtivos mais limpos, o
design de produtos mais eficientes e a elaboração de padrões de produção mais exigentes
pelo mercado.

Resíduos sólidos
Os resíduos sólidos resultam das atividades econômicas e sociais da humanidade podem ter origem
industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. A geração de
resíduos é um dos maiores problemas que afetam a humanidade, tendo em vista que a expansão
da sociedade do consumo causa o aumento da exploração de recursos naturais e o consequente
descarte de materiais na natureza.

Os resíduos, industriais variam entre 65% e 75% do total de resíduos gerados em regiões mais
industrializadas. A responsabilidade pelo manejo é da empresa geradora e o resíduo pode ser
destinado a um aterro. Em função da periculosidade, os resíduos são classificados pela NBR
10004 assim.

Quadro 2.

CLASSES CATEGORIA PERICULOSIDADE


Podem representar riscos à saúde
pública e ao meio ambiente por causa de
Classe I Resíduos perigosos suas características de inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxicidade e
patogenicidade.
Incluem-se nesta classe os resíduos
Classe II Resíduos não inertes potencialmente biodegradáveis ou
combustíveis
Resíduos considerados inertes e não
Classe III Resíduos inertes
combustíveis.

Dependendo da classificação do resíduo, o seu tratamento é diferenciado, bem como as exigências


para a sua correta destinação. Tendo em vista que a principal estratégia adotada pelo poder público
é a acumulação dos resíduos, cada vez mais áreas têm sido demandadas para promover esta
acumulação, conforme mostra a Figura 10.

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RESÍDUOS E MEIO AMBIENTE │ UNIDADE IV

Figura 10. Acumulação de pneus.

Os resíduos urbanos são produzidos em menor escala que os resíduos industriais e incluem-se nesta
categoria os resíduos domiciliares, o resíduo comercial, os oriundos da limpeza pública urbana. A
gestão desses resíduos é de responsabilidade das prefeituras.

Os entulhos são considerados resíduos de construção civil: demolições, restos de obras, solos
de escavações e materiais afins e a responsabilidade da remoção desses resíduos, desse que em
quantidades pequenas, é das prefeituras municipais.

Os resíduos de serviços de saúde são produzidos em hospitais, clínicas médicas e veterinárias,


laboratórios de análises clínicas, farmácias, centros de saúde, consultórios odontológicos, dentre
outros, e podem ser agrupados em comuns e sépticos.

1. Resíduos comuns – restos de alimentos, papéis, invólucros, entre outros.

2. Resíduos sépticos – restos de materiais cirúrgicos e de tratamento médico. O potencial


de contaminação exige um tratamento diferenciado para este tipo de resíduo.

O descarte inadequado de resíduos de saúde é um fator de risco para a população que vive das
cadeias produtivas de resíduos, pois pode causar efeitos devastadores para a saúde.

O Brasil tem casos de que resíduos de saúde inadequadamente descartados


causam problemas de saúde e necessitam de estratégias adequadas para serem
recolhidos <http://blogs.diariodepernambuco.com.br/meio_ambiente/?p=4615,
<http://www.gestaoderesiduos.com.br/residuo-servico-saude.php?id=268>.

Os resíduos de portos, aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários são uma categoria em separado
porque podem trazer organismos patogênicos. Possuem capacidade de veicular diversas doenças
entre cidades, estados e países e comprometer a saúde pública ou contaminar plantações e animais.

Os resíduos agrícolas são aqueles resultantes das atividades da agricultura e de pecuária, tais como
embalagens de adubos, de defensivos agrícolas e de ração, restos de colheita e esterco animal.

As embalagens de agroquímicos estão sujeitas à regulamentação específica <http://


www.mma.gov.br/port/conama/res/res03/res33403.xml> e há obrigatoriedade do
recolhimento das embalagens em virtude do potencial de contaminação e risco
para a saúde que estas representam.

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UNIDADE IV │ RESÍDUOS E MEIO AMBIENTE

Os resíduos radioativos são aqueles provenientes de fonte radioativa e de equipamentos que usam
elementos radioativos. O controle de produção, utilização e descarte é de responsabilidade da
Comissão Nacional de Energia Nuclear. No Brasil, a falha no controle do descarte de material e de
equipamentos radioativos resultou no acidente com o Césio-137, em Goiânia.

A situação dos resíduos sólidos no Brasil não é adequada sob o ponto de vista do saneamento básico.
A situação ideal seria aquela onde 100% dos resíduos fossem destinados a aterros sanitários ou
onde a reciclagem seria estimulada por instrumentos econômicos que permitissem que o material
a ser reciclado tivesse valor de mercado semelhante à extração do material primário do ambiente.

O descarte de resíduos em lixões causa riscos de poluição do ar e de contaminação do solo, de


águas superficiais e de lençóis freáticos, riscos à saúde pública pela proliferação de diversos tipos de
doenças, agravamento de problemas socioeconômicos em virtude da existência de garimpeiros do
lixo, da poluição visual da região, do mau odor e da desvalorização imobiliária na região.

Ressalte-se que a produção de resíduos em municípios com mais de 500 mil habitantes era de
0,7 kg/habitante/dia, em 2001, quantidade que tende a aumentar com o crescimento econômico e
a disponibilização de mais bens de consumo a mais pessoas, pressionando a capacidade dos gestores
públicos e privados em enfrentar o problema do volume de lixo produzido nas cidades, conforme
mostra a Figura 11.

Figura 11. Lixão – observar a prevalência do plástico.

Fonte: <http://juniormascote.spaceblog.com.br/177869/LIXAO-POE-EM-RISCO-ACIDADE-DE-ITAGI/>.

A estrutura dos resíduos gerados é importante para determinar quais tipos de rotas tecnológicas
serão utilizadas para o tratamento do material. No Brasil, prevalece, na constituição do lixo
produzido, a matéria orgânica, com cerca de 52,5% do volume total gerado diariamente, enquanto
nos EUA o valor é de 13,6% e na Europa é de 28%, segundo dados de 2001.

O passo precedente para a instalação de um sistema eficiente de gestão de resíduos sólidos é


justamente o levantamento da composição dos resíduos gerados. O Gerenciamento de Resíduos
Sólidos envolve procedimentos normativos, operacionais, financeiros e de planejamento para gerir
a coleta, o tratamento, a disposição e a reciclagem dos resíduos sólidos no município.

36
RESÍDUOS E MEIO AMBIENTE │ UNIDADE IV

A partir do conhecimento da composição de resíduos, estratégias adequadas devem ser geradas


para cada tipo de resíduo. O exemplo dado da composição dos resíduos nos EUA, no Brasil ou na
Europa diz muito com relação à quantidade de produtos industrializados que entra na cesta de
consumo de famílias e empresas e resulta as condições locais, com relação à disponibilidade de
aterros, de energia, ou as pressões culturais que influenciarão na tomada de decisão das empresas e
municipalidades com relação aos procedimentos a adotar para a gestão de resíduos.

A evolução das sociedades também diz muito sobre como tratar seus resíduos. Em locais como
o Japão ou a Holanda, onde a disponibilidade territorial é pequena, exige procedimentos mais
complexos para a gestão de resíduos, tais como a incineração de plástico para gerar energia ou a
utilização de compostagem de resíduos orgânicos para diminuir a necessidade de terras com usos
mais nobres.

Outro caso emblemático é que em Nova Iorque a escassez de terras para serem usadas como aterro
sanitário exigiu que a cidade exportasse seus resíduos para outros municípios, o que gerou custos
acessórios aos cidadãos para gerir seus resíduos.

Com a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos em 2010 (Lei no 12.305/2010 <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>, objetiva-se estruturar um
sistema de gestão de resíduos, no Brasil, que agregue racionalidade na disposição e no tratamento
do material e promova incentivos econômicos para que as empresas invistam em tecnologias
produtivas de menor impacto ambiental, visando reduzir a quantidade de resíduos gerada pela
sociedade brasileira e aumentar a quantidade de material reciclado de forma considerável.

O Plano Nacional de Mudanças Climáticas também funciona como uma pressão adaptativa sobre
as empresas e sobre o poder público, pois há a necessidade de internalizar nos custos de produção o
valor do carbono emitido para gerar o fluxo econômico positivo, o que pode alterar a percepção do
valor econômico atribuído pelo cliente aos produtos que consome. <http://www.mct.gov.br/index.
php/content/view/77650.html>.

A percepção do valor econômico do resíduo, também influencia na qualidade das políticas públicas
voltadas para a questão. Há locais onde a coleta e a disposição em aterros sanitários é considerada
suficiente, desperdiçando o potencial de geração de renda dos resíduos recicláveis.

Em sociedades complexas, as necessidades de gestão também se tornam mais complexas. Passa a


não ser aceitável, por exemplo, não separar o lixo reciclável do não reciclável ou utilizar trabalho de
pessoas em situação de risco social para tratar os resíduos da sociedade moderna.

Este é um processo que está no cerne da discussão sobre o desenvolvimento e a gestão de resíduos e
onde as pressões do poder público, da sociedade e do mercado estão levando as empresas a adotar
novos procedimentos e tecnologias para reduzir o impacto ambiental por unidade de produto e por
retorno financeiro gerado.

37
SISTEMAS DE UNIDADE V
GESTÃO AMBIENTAL

CAPÍTULO 1
Políticas e práticas do Sistema
de Gestão Ambiental

Conceitua-se como sistema de Gestão Ambiental as políticas e práticas de uma instituição visando
às seguintes ações.

1. Desenvolver e publicar uma política de gestão ambiental.

2. Preparar um plano de ação para reduzir, mitigar ou compensar os impactos


ambientais.

3. Organizar a empresa e seu pessoal ao alocar recursos adequados.

4. Investir em mitigação, redução ou compensação de impactos.

5. Educar e treinar os colaboradores.

6. Monitorar, fazer auditoria e relatar os ganhos com a gestão ambiental para seus
públicos de interesse.

Os sistemas de Gestão Ambiental estão normatizados na ABNT ISO14001.

A implementação de um Sistema de Gestão Ambiental envolve o diagnóstico da situação ambiental


da empresa, com a identificação de aspectos e impactos ambientais que afetam a relação da empresa
com o ambiente, com os fornecedores, a comunidade, os concorrentes e o poder público.

O levantamento de aspectos e impactos ambientais constitui a base do SGA, pois visa municiar de
informações estratégicas os formuladores da estratégia de gestão ambiental da empresa, bem como
as alternativas para redução de impactos ambientais negativos na atividade de uma empresa.

Inicialmente, é necessário identificar a localização, os processos de transformação envolvidos na


implantação e na operação, os recursos ambientais consumidos, a mão de obra exigida, as etapas e
o cronograma de implementação do projeto, dentre outros aspectos relevantes.

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SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE V

O levantamento dos impactos deve levar em conta os impactos sobre a água, incluindo seu consumo
e seu descarte, os impactos sobre as emissões aéreas, da geração e disposição de resíduos e da saúde
e segurança dos trabalhadores.

O levantamento dos aspectos ambientais refere-se à legislação local, regional, estadual ou nacional
aplicável ao empreendimento, às características físico-química-biológicas locais, à presença de
sítios arqueológicos, às populações tradicionais. Após o levantamento dos impactos e aspectos, é
necessário elaborar um plano de ação visando mitigar, compensar ou evitar tais impactos, com
responsabilidades, prazos e orçamentos definidos.

O diagnóstico é a primeira fase da implementação de um SGA. Após o diagnóstico, é necessário que


se defina uma política ambiental da empresa, com procedimentos claros para a gestão dos impactos
ambientais do empreendimento, seguidos do planejamento com responsáveis, prazos, orçamentos
e indicadores adequados à atividade fim da empresa.

A implementação do SGA deve realizar as atividades para compensar, mitigar ou evitar tais impactos,
levando sempre em consideração os múltiplos públicos interessados e a necessidade de conciliar
diversos interesses diferentes.

A implementação também deve ser acompanhada sempre da avaliação dos resultados obtidos com o
SGA baseado em indicadores de desempenho que traduzam os impactos ambientais e promovam um
gerenciamento dinâmico do ambiente onde a empresa promove suas atividades. Este gerenciamento
dinâmico deve permitir a readequação de objetivos, se for o caso, e promover a melhoria contínua
dos planos de controle ambiental definidos na fase de planejamento.

Os ajustes no SGA são a última fase. Tendo em vista que as ciências ambientais experimentam grande
avanço nas últimas três décadas, diversos indicadores de desempenho vêm sendo incorporados
nos sistemas de gestão das empresas, bem como tecnologias para aumentar a eficiência do uso de
recursos para diminuir o impacto ambiental e aumentar o retorno financeiro.

É adequado incorporar ao SGA a necessidade de reavaliar se os indicadores de desempenho medem


a eficiência dos processos produtivos empresariais e apontar as necessidades de investimento com
base na melhoria do desempenho ambiental.

Por fim, há necessidade de relatar ao mercado e à sociedade em geral os resultados obtidos com
a implementação do SGA, como forma de promover um diálogo com os múltiplos públicos que se
beneficiam das atividades da empresa.

Diversos tipos de relatórios ambientais e sociais têm sido publicados, com critérios cada vez mais
restritivos de desempenho, que calculam até a quantidade de CO2 gerado por unidade monetária
como medida de eficiência da gestão de aspectos e impactos ambientais.

Outro tipo de indicador que tem sido utilizado pela sociedade é a Avaliação de Ciclo de Vida de
Produto, metodologia que avalia e compara alternativas de uso de processos, materiais e tecnologias
para apontar melhores práticas para a gestão de impactos ambientais.

Por fim, a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei no 6.938/1981) como uma das principais regras
a seguir para levantar impactos e aspectos ambientais e propor-se a mitigar, compensar ou evitar

39
UNIDADE V │ SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL

impactos ambientais. O Estudo de Impacto Ambiental é um instrumento usualmente utilizado para


levantamento de aspectos e impactos que podem ocorrer quando da implantação de projetos de
investimento e da elaboração de Planos de Controle Ambiental para reduzir tais impactos.

O ponto de partida para uma correta gestão ambiental é a identificação dos aspectos e dos impactos
ambientais. A implementação de planos de ação para redução de efeitos ambientais negativos e para
diminuir os efeitos negativos sobre a saúde humana são necessários para diminuir o impacto das
atividades econômicas e sociais sobre o ambiente.

Em virtude do conceito de melhoria constante, ao iniciar-se um SGA, o processo continua sendo


constantemente monitorado. As instituições incorporam diversas necessidades e estas se revertem
em investimentos e monitoramento cada vez mais complexos de suas atividades.

O investimento em Sistemas de Gestão Ambiental permite que sejam identificados os impactos


positivos e negativos das atividades econômicas, analisadas e adotadas tecnologias apropriadas para
redução das emissões aéreas, de efluentes líquidos e resíduos e que o resultado global da operação
seja a gestão ambiental adequada a cada realidade.

As pressões sobre as empresas e as instituições para reduzir os impactos ambientais são tangibilizadas
pela evolução do mercado, pela ação dos organismos estatais responsáveis pela qualidade ambiental
e exige uma postura mais ativa destas empresas e instituições visando qualificar seus processos
produtivos.

A certificações ambientais tem sido utilizadas para construir uma diferenciação de mercado com
relação aos processos de gestão que cada empresa possui. Tem-se, nos diversos países do mundo,
especialmente nos países desenvolvidos, o direcionamento da sociedade em escolher produtos a
partir do impacto ambiental de seus processos produtivos. Nos produtos disponíveis nas gôndolas
dos supermercados europeus, por exemplo, as certificações ambientais são comuns e são utilizados
como critério de diferenciação e escolha entre produtos semelhantes.

Figura 12. Emissões calculadas de suco de fruta.

Fonte: <http://c1.redgreenandblue.org/files/2009/03/carbon-label.jpg>.

40
SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE V

Outras iniciativas promovem a gestão ambiental e social como estratégia empresarial e institucional
de geração de valor. As grandes empresas são avaliadas periodicamente com relação às suas
políticas e suas práticas voltadas para o fomento de uma economia sustentável, especialmente
porque o mercado internacional tem utilizado políticas e práticas socioambientais de empresas para
diferenciá-las em mercados mais exigentes.

Nas bolsas de valores, empresas com práticas consistentes de gestão socioambiental são diferenciadas
em fundos, como o Dow Jones Sustainability Index, da Bolsa de Valores de Nova Iorque, que promove
uma análise pormenorizada e documentada dos procedimentos adotados por estas empresas, ou o
Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bolsa de Valores de São Paulo. Tais análises permitem ou
não às empresas compor o grupo daquelas consideradas mais sustentáveis ou com políticas e práticas
mais consistentes e representam uma pressão adicional sobre as empresas realizada pelo mercado das
iniciativas de sustentabilidade empresarial.

Como fica evidente na etiqueta mostrada na Figura 12, os países desenvolvidos e seus cidadãos
consumidores têm adotado estratégias para escolha de produtos a serem consumidos, que remetem
diretamente ao impacto ambiental gerado no seu processo produtivo.

Não só os cidadãos e os consumidores, mas a comunidade científica também demonstra claramente


que não é possível postergar a adoção de padrões de produção e consumo mais limpo, sob pena de
comprometer de forma irreversível as condições de vida humanas e das outras espécies que dividem
o planeta com a humanidade.

Ao analisar novamente a Figura 1, percebe-se que há limites para a acumulação de resíduos na


atmosfera, águas ou nos solos. A Gestão Ambiental permite que tais acumulações de resíduos
sejam quantificadas e que uma abordagem técnica seja utilizada para reduzir, evitar ou compensar
tais acumulações.

Percebe-se que, ao aumentar demais o “quadrado” das emissões para o ambiente, menos espaço
sobra para os demais “quadrados”, inclusive para o “subsistema econômico”. A diminuição
de todos os demais espaços em virtude do aumento das emissões pode comprometer o futuro
da humanidade.

41
Para (não) Finalizar

A Gestão de Resíduos das atividades humanas deixou de ser uma opção para as empresas e as
instituições e tornou-se uma necessidade em virtude do amadurecimento crescente das sociedades,
das pressões que o ambiente de negócios exerce e da incorporação crescente da qualidade do meio
ambiente como critério de avaliação pelo mercado de seus processos de gestão.

O caderno de Gestão de Resíduos teve por objetivo apresentar os conteúdos mais relevantes sobre
o assunto, de forma introdutória, para que os profissionais que participam do curso entendam a
importância de gerenciar os impactos de suas instituições sobre o ambiente.

Houve toda uma evolução na questão da gestão de impactos ambientais ao longo do tempo. Desde
os primeiros sinais detectados por pesquisadores na década de 1960 até os dias de hoje, houve um
grande caminho de aprendizagem percorrido, que resultou em pressões crescentes pelo mercado,
pela sociedade e pelos governos.

A população crescente, a geração de riquezas e de necessidades, as aglomerações urbanas cada vez


maiores, os processos industriais cada vez mais sofisticados, as necessidades de alimentos para
alimentar mais de 6 bilhões de humanos exigem uma postura de antecipação dos possíveis impactos
e a adoção de iniciativas e tecnologias para redução do impacto ambiental das cadeias produtivas
que garantem os processos econômicos e o bem estar das sociedades.

É importante frisar que a adoção de padrões produtivos mais eficientes depende da formação
contínua de profissionais que entendam a importância da gestão ambiental, bem como que saibam
analisar e implementar estratégias para que os produtos e os serviços de suas instituições tenham
um potencial menor de impactar negativamente o ambiente e prejudicar assim a sociedade.

Não só os processos devem ser mais limpos, como a preocupação com o impacto ambiental deve
existir desde o planejamento do produto ou serviço até a implementação e o descarte, preparando
a instituição ou a empresa, inclusive, e se for o caso, para receber de volta o produto e reciclá-lo.

Ao pesquisar iniciativas em outros países, percebe-se uma evolução natural da Gestão Ambiental.
A primeira onda foi a de identificar as fontes de contaminação e adotar estratégias para reduzir os
impactos ambientais das emissões. A próxima onda é de reduzir o impacto desde o desenvolvimento
dos produtos e preparar a empresa para receber as cobranças da sociedade.

Há carência de profissionais no mercado que possam implementar processos de gestão ambiental.


Espera-se que com este material os profissionais se sintam estimulados a procurar mais e mais
qualificação na área de Gestão Ambiental, pois a implementação destes sistemas assegura maior
qualidade de vida da população e é um sinal de evolução da sociedade brasileira.

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Referências
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Jersey, US: Prentice-Hall, Inc., 1999, 308 pp.

BRASIL. Lei no 6938/1981. Política Nacional de Meio Ambiente.

BRASIL. Lei no 9433/1997. Política Nacional de Recursos Hídricos.

BRASIL. Lei no 12305/1981. Política Nacional de Resíduos Sólidos.

COMMON, Michael E STAGL, Sigrid. Ecological economics: an introduction. 1. ed. New York,
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DALY, Herman E.; FARLEY, Joshua. Ecological economics: principles and applications. 1. ed.
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GRUBER, Arnulf. Industrialization as a Historical Phenomenon. IN: Socolow, R, ANDREWS, C,


BERKHOUT, F.; THOMAS, V. Industrial ecology and global change. 1. ed. New York, US:
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LE PRESTE. Philippe. Ecopolítica internacional. 1. ed. São Paulo: SENAC, 2000.

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PETTS, Judith. Handbook of environmental impact assessment. Volume 1 –


Environmental Impact Assessment: Process, Methods and Potential. 1. ed. Oxford. US: Blackwell
Science Ltd, 1999.

PHILIPPI JR, Arlindo; ROMERO, Marcelo de Andrade; BRUNA, Gilda Collet. Curso de gestão
ambiental. 1. ed. São Paulo: Manole, 2004.

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