de Nível Técnico
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO................................................................................................................................... 5
INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 8
UNIDADE I
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE................................ 11
CAPÍTULO 1
RELAÇÃO EDUCAÇÃO-TRABALHO – AS RELAÇÕES DO ENSINO PROFISSIONALIZANTE COM
DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA NO BRASIL............................................................................. 11
CAPÍTULO 2
RELAÇÃO ENTRE TRABALHO PRODUTIVO E A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL – REPENSANDO A
FORMAÇÃO DO TRABALHADOR NO CONTEXTO DE MUDANÇAS GLOBAIS................................ 22
CAPÍTULO 3
UM POUCO DE HISTÓRIA – O ENSINO PROFISSIONALIZANTE NO CONTEXTO EDUCACIONAL
BRASILEIRO............................................................................................................................ 29
UNIDADE II
FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO............. 42
CAPÍTULO 1
A ESTRUTURA NORMATIVA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL – A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA,
A LDB E OUTROS NORMATIVOS............................................................................................... 42
CAPÍTULO 2
ASPECTOS ORGANIZACIONAIS E PEDAGÓGICOS ATUAIS – O PLANO DE CURSO....................... 58
CAPÍTULO 3
ASPECTOS ORGANIZACIONAIS E PEDAGÓGICOS ATUAIS – O PERFIL DO PROFISSIONAL
DO ALUNO............................................................................................................................ 71
CAPÍTULO 4
ASPECTOS ORGANIZACIONAIS E PEDAGÓGICOS ATUAIS – A CONSTRUÇÃO DE PROPOSTA
(MATRIZ) CURRICULAR............................................................................................................ 76
CAPÍTULO 5
OS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO ........................................................................................ 83
CAPÍTULO 6
A GESTÃO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL .............................................................................. 90
UNIDADE III
O ESPAÇO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL....................................................................... 100
CAPÍTULO 1
RELAÇÕES E ESPAÇOS DEMOCRÁTICOS NO AMBIENTE ESCOLAR – A CONSTRUÇÃO E A
IMPORTÂNCIA NO PROCESSO.............................................................................................. 100
CAPÍTULO 2
GESTÃO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: DA TEORIA À PRÁTICA, EM RELAÇÃO A ATORES
E OUTROS ........................................................................................................................... 104
CAPÍTULO 3
ESPAÇOS INTERNOS E EXTERNOS ......................................................................................... 109
UNIDADE IV
POLITICAS PÚBLICAS E DIRETRIZES NACIONAIS.................................................................................... 113
CAPÍTULO 1
IDEIAS E AÇÕES – ANÁLISE CRÍTICA...................................................................................... 113
UNIDADE V
PAPEL DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO NO BRASIL – CONTRIBUIÇÕES ATUAIS............ 126
CAPÍTULO 1
EDUCAÇÃO TÉCNICA A DISTÂNCIA ..................................................................................... 126
CAPÍTULO 2
O DESAFIO DA INCLUSÃO – SABERES
E PRÁTICAS ......................................................................................................................... 129
REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 139
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
Atenção
6
Saiba mais
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
7
Introdução
As transformações técnico-científicas e organizacionais verificadas no cenário internacional
indicam tendências peculiares em todos os setores. No setor educacional, são muitas as demandas
advindas e, neste, a Educação Profissional é vista como um dos fatores fundamentais para o
desenvolvimento.
Nesse sentido, a definição pela oferta de um curso de especialização em Educação Profissional tem
um significado institucional muito importante. A equipe acredita que precisamos nos situar, todos,
para sermos capazes de dirigir novos olhares para o novo mundo que aí está. Precisamos, então,
construir novas propostas, sob um novo paradigma.
Assim considerando, surgiu a proposta deste curso. A parte específica dele é composta por
quatro disciplinas – Fundamentos da Educação Profissional Técnica de Nível Médio,
Planejamento e Avaliação da Educação Profissional, Didática da Educação Profissional,
O Exercício do Magistério – estratégias de ensino e o Trabalho de Conclusão do Curso (TCC).
Se você já atua na área, possivelmente poderá considerar alguns conteúdos veiculados neste
trabalho desnecessários, mas preferimos incluí-los porque entendemos que uma reflexão sobre
eles é sempre indicada. Além disso, consideramos que algum aluno deste curso pode estar iniciando
sua atuação na Educação Profissional e, portanto, precisa da sistematização dos assuntos voltada
para a área. Assim, veteranos e novatos na área poderão oferecer suas contribuições e, juntos, re/
construir os conhecimentos.
Com a expansão que já se verifica e com a que se propõe para a Educação Profissional, a necessidade
de profissionais para atuação na área é muito grande – professores, gestores, orientadores,
coordenadores, assessores, pessoal para a Secretaria Escolar, laboratoristas etc. Esses profissionais
precisam estar preparados para, a partir do passado e do que é vigente, encontrar novos caminhos a
serem trilhados com capacidade técnica e, sobretudo, com compromisso social.
O programa proposto, permeando as quatro disciplinas do curso, constitui-se uma base para o
magistério e, até mesmo, para exercício de outras funções relativas a um curso de Educação Profissional.
8
Nada está apresentado como pronto. Você deverá construir a sua posição. Com esta proposta,
pretendemos ajudá-lo a encontrar soluções adequadas para um trabalho de muita satisfação pessoal,
em qualquer função que venha a desempenhar em um curso profissionalizante de qualidade.
Objetivos
»» Contribuir para a formação de professores com capacidades técnica, política e ética
para atuar na Educação Profissional, considerando peculiaridades desse campo de
atuação.
9
EDUCAÇÃO
PROFISSIONAL DE
NÍVEL TÉCNICO – UNIDADE I
DA CONCEPÇÃO À
ATUALIDADE
CAPÍTULO 1
Relação Educação-Trabalho – As
relações do ensino profissionalizante com
desenvolvimento capitalista no Brasil
Introdução ao tema
Uma atividade social é, quase sempre, norteada pela posição conceitual que orienta o grupo na
realização do fato ou assunto. Essa posição representa o compromisso do grupo. É aquilo que os
membros de uma comunidade partilham e, porque partilham, constituem-se uma comunidade. A
essa posição assumida pelo grupo dá-se o nome de paradigma.
Conforme Thomas Kuhn, o paradigma “[...] indica a constelação de crenças, valores, técnicas etc.
partilhadas pelos membros de uma comunidade”. É o corpo teórico maior que define e orienta ações
de um campo de atuação.
Muitas são as perguntas que precisam ser feitas e respondidas quando se trabalha com Educação
Profissional e essas – perguntas e respostas – pressupõem a compreensão relativa a determinados
conceitos comuns, usuais nessa área, dependentes da perspectiva política de quem os utiliza.
11
UNIDADE I │ EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE
Assim, antes de entrar no assunto objeto deste curso, serão destacados alguns termos e expressões
e explicitados os significados/conceitos dados a eles. Com as conceituações registradas a seguir,
pretende-se, portanto, apresentar o(s) significado(s) que alguns deles recebem entre áreas de atuação
e, também em diversas tendências filosóficas, destacando, quando for o caso, o quê corresponde à
orientação dada neste curso, na expectativa de que os textos sejam bem-entendidos.
Neste curso, profissionalizar não significa, apenas, a preparação para o exercício de uma profissão.
É muito mais que isso. Profissionalizar significa criar condições para a compreensão das dinâmicas
sociais e produtivas que se processam na sociedade, hoje globalizada, com as conquistas e com os
reveses e contradições que estas têm gerado. Conforme a legislação vigente, essa Educação se dá em
diferentes níveis, tipos e modalidades (que serão estudados em capítulo específico).
A Educação Profissional deve, pois, ser entendida nas suas diferentes dimensões – filosófica,
sociocultural, econômica, pedagógica, legal. Durante o curso, serão analisados aspectos relacionados
a essas dimensões.
Trabalho
A palavra trabalho tem origem no latim tripalïum, um instrumento de tortura, sustentado por três
paus, três estacas ou mourões. (HOUAISS)
Trabalhar, no sentido de ocupar-se de algum ofício, de uma profissão, na antiguidade, era tarefa para
servos, escravos, subalternos. Possivelmente, estes, não cumprindo suas tarefas, eram torturados
com o “tripalïum” e o nome dado ao castigo passou ser dado à tarefa, que para muitos significava a
mesma coisa, ou seja, tortura.
12
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE │ UNIDADE I
Atualmente, dentre outros sentidos, trabalho significa conjunto de atividades produtivas ou criativas
que o homem exerce para atingir determinado fim. Com o trabalho, o ser humano relaciona-se com
a realidade material e social existente e produz novos recursos, acrescenta novos elementos. Com o
trabalho, ele pode se apoderar da realidade e transformá-la.
Como síntese, esse é o conceito que será utilizado no desenvolvimento da disciplina. Mas o termo
assume conotações especiais, conforme o objeto da ação, os objetivos, tendências políticas de quem
o utiliza. Veja os seguintes exemplos.
»» Na filosofia hegeliana, processo por meio do qual o espírito humano, ao colocar nos
objetos externos todas as suas potencialidades, descobre e desenvolve a sua própria
realidade. (HOUAISS)
»» Na filosofia neoliberal (em Locke) – trabalho é o meio que a pessoa utiliza para
se apropriar da coisa pretendida. O homem apropria-se das coisas pelo trabalho,
que é o uso do seu corpo. Nesse caso, o trabalho é visto como mercadoria que pode
ser trocada.
Em determinados contextos, o termo trabalho é usado junto a outros, constituindo uma expressão,
que assume conotações específicas. Vejamos.
13
UNIDADE I │ EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE
Nos processos de ensino e de aprendizagem, a Prática trata-se de uma metodologia que contextualiza
e põe em ação o aprendizado. Ela se efetiva por meio de simulações, pesquisas e trabalhos de campo,
visitas técnicas, em laboratórios, em estágios e outros meios.
Relação educação-trabalho
[...] o que define a existência humana, o que caracteriza a realidade humana é
exatamente o trabalho. O homem constitui-se como tal à medida que necessita
produzir continuamente sua própria existência. [...]. Os animais também
agem, também exercem uma atividade, mas essas atividades não são guiadas
por objetivos. Eles não antecipam mentalmente o que vão fazer, mas o homem
sim. (SAVIANI, 2003)
14
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE │ UNIDADE I
Nessa perspectiva a pessoa busca formas que facilitem a aquisição e a manutenção dos meios
necessários. Muitas pessoas, além da própria sobrevivência, devem assegurar a de outras, sobretudo,
a dos seus dependentes. O principal meio utilizado para essa conquista é o trabalho, do qual retiram
os recursos para a manutenção devida.
No decorrer da história humana, essas relações foram se modificando, foram criadas novas
necessidades, outras formas de organização laboral, de divisão do trabalho entre os envolvidos.
Mas essa divisão nem sempre foi ou é igual, nem os produtos foram ou são distribuídos igualmente.
Houve período em que as formas de relação no trabalho admitiam o usufruto com igualdade. Mas,
depois, alguns membros da comunidade se arrogaram de direitos sobre os demais e determinaram
para si, seus asseclas, seus familiares um maior quinhão material, religioso, cultural, submetendo
a maioria à sua vontade. Surgiu, assim, nas relações sociais, a desigualdade econômica e de classes.
Esse fato determinou diferentes formas de relação social no trabalho, gerando castas e classes
sociais, em muitas culturas, entre muitos povos.
Nessa época, importante era ser dono da terra. As atividades produtivas aconteciam em torno dela.
Além da atividade escravista, que se dedicava à agricultura, à pecuária, à mineração, aconteciam
as atividades artesanais, manufatureiras, comerciais, financeiras desenvolvidas por homens livres,
mas dependentes do dono da terra – das lavouras, dos pastos, do extrativismo vegetal, das minas.
Mais tarde, com o advento da indústria, surgiram novas necessidades sociais, econômicas e,
consequentemente, novas formas de produção, novas relações de trabalho. Além dos fazendeiros,
15
UNIDADE I │ EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE
Com a impossibilidade de manter o escravismo nessa nova ordem econômica, os escravos, sem
uma base educacional, sem meios de produção, sem recursos para sobrevivência, sem condição de
reivindicação, ficaram libertos e entregues à “própria sorte”. Essa situação foi bem expressa em um
samba enredo da Escola de Samba da Mangueira, de 1998, que diz:
Estes foram substituídos por novos imigrantes que foram estimulados, pelo Governo, para vir viver
no País, com oportunidades de trabalho assalariado ou recebendo glebas de terras para produção
própria. Os negros que aqui viviam e que, com o seu trabalho, garantiram durante séculos a produção
econômica do País não foram contemplados com essas benesses.
A partir dessa nova ordem social, foi configurada a sociedade capitalista. Ocorreu a divisão entre
os proprietários privados dos meios de produção (empresas, máquinas, bancos, instrumentos de
trabalho) e os que vendem a sua força de trabalho para obter os meios de sobrevivência, ou seja, os
trabalhadores que vivem do salário.
Nesse contexto liberal, o trabalho é entendido como meio que a pessoa utiliza para se apropriar da
coisa pretendida. O homem se apropria das coisas pelo seu trabalho, que é o uso do seu corpo.
[...] então, para Locke, a troca é uma troca entre iguais, entre proprietários de
mercadorias. Do mesmo modo, a relação salarial: O trabalho de um homem,
sendo propriedade sua, pode ser vendido, ou melhor, trocado por um salário.
O trabalho, assim vendido, torna-se propriedade do comprador, que tem
direito de se apropriar, de fato, desse trabalho. Note-se que o comprador, ou
seja, o capitalista, compra o trabalho (a força de trabalho) e não o trabalhador
(BUFFA. P. 17).
Nesse caso, o trabalho é visto como mercadoria que pode ser trocada.
O sistema taylorista/fordista
No início do século XX, nos Estados Unidos da America – EUA, Frederick Taylor reorganizou o
processo produtivo capitalista, buscando extrair o maior aproveitamento possível da força de
16
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE │ UNIDADE I
trabalho. Esse modelo foi também implantado no Brasil. Nesse processo, o ambiente produtivo
tornou-se mecanizado, utilizando dois setores específicos.
»» O setor de execução, onde atuava a maioria dos trabalhadores, com pouca ou, até
mesmo, nenhuma habilitação profissional. Esses tinham como função as atividades
repetitivas, braçais e de operação do maquinário.
Esse modelo organizacional não permite que o trabalhador tenha a possibilidade de acompanhar a
produção como um todo, limitando-o a uma tarefa extremamente específica, controlado por uma
gerência que o supervisiona.
Em 1913, também nos EUA, Henry Ford introduziu ao processo criado por Taylor a produção
padronizada. Nesse modelo, a organização tornou-se verticalizada, ou seja, a fábrica desenvolvia
todo o processo produtivo – do tratamento da matéria-prima ao acabamento final do produto e,
muitas vezes, a comercialização. O processo era mecânico, com linha de montagem acoplada à esteira
de produção. As funções desenvolvidas pelos trabalhadores eram fragmentadas, repetitivas e de
simples execução – “o apertar do parafuso”. Essa medida reduziu custos, aumentou a produtividade,
incrementou, significativamente, a economia. Inicialmente, reduziu a resistência do trabalhador,
pela forma organizada da produção.
17
UNIDADE I │ EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE
Nesse sistema, o trabalho era otimizado, disciplinado, repetitivo e com o parcelamento das tarefas,
caracterizado pela padronização e pela produção em massa. Com ele o mercado consumidor
ampliou-se e o modelo perdurou durante décadas no Brasil.
No Brasil, durante a Segunda Guerra Mundial, o que não se podia mais importar passou a ser
produzido em diferentes regiões, especialmente em São Paulo. Este fato gerou o aumento da
urbanização, mas também, transformações econômicas importantes.
A economia nacional ganhou um grande impulso e o Governo Vargas soube aproveitar essas
condições que se apresentaram de forma favorável para o País. Foram promulgadas leis voltadas
para a regulamentação do mercado de trabalho e realizados investimentos em infraestrutura, com
isto, a indústria nacional cresceu significativamente. Nesta época, o país passou a contar com uma
legislação trabalhista, grande parte dela ainda em vigor na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).
Neste período, começou a era do emprego formal, da carteira assinada e da previdência social.
Para que os trabalhadores vendessem sua força de trabalho em troca de salário (mínimo), foram
criadas leis que obrigavam pessoas livres a trabalhar, em um mundo agora sem escravidão. Fez-se
necessário reprimir a ociosidade e a falta do que fazer, considerada, por muitos, como vagabundagem.
Desse modo, o trabalho no mundo capitalista ganhou cada vez mais a forma de emprego assalariado
e sua ausência recebeu o nome de desemprego.
Conforme Masi (apud RIBEIRO), a partir desse processo surgiram termos como bem-estar, consumo
e urbanismo e também conceitos como alienação, exploração e estresse.
Além das lutas trabalhistas, o desenvolvimento tecnológico que se impunha como necessário, a queda
na taxa de lucro, o aumento do preço da força de trabalho, o desemprego estrutural, a consequente
retração do consumo, provocaram o declínio do modelo taylorista/fordista que se mostrou incapaz
de solucionar os problemas vigentes e, consequentemente, foram buscadas novas alternativas.
Nessa época, a indústria japonesa começa a se destacar, com o modelo do toyotismo em detrimento
do modelo americano, sustentado por três pilares: qualidade, flexibilidade e integração.
Segundo Ribeiro (2000), nesse novo modelo, quem direciona a produção, é o consumidor. Na
produção baseada na venda o mais importante é a qualidade e a personalização do produto.
18
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE │ UNIDADE I
Neste processo, a produção cuida para que não haja desperdício, os estoques de matéria-prima
são reduzidos, as compras são realizadas a partir da necessidade, não há armazenamento ou
sobras. O cliente assume outro status, a ele deve ser propiciada qualidade no atendimento de suas
necessidades. Para tanto, torna-se essencial uma estrutura organizacional flexível. O processo
produtivo torna-se altamente mecanizado, composto por equipamentos de múltiplas funções e
trabalhadores polivalentes. Os níveis hierárquicos são reduzidos gerando uma maior eficácia nos
processos de comunicação e de tomadas de decisões. A atividade principal da empresa é priorizada
e as demais são terceirizadas ou subcontratadas.
Segundo Ribeiro (2000), o termo globalização, não deve ser restrito a questões econômicas, pois ele
tem importante relação com fatores sociopolíticos e complementa, citando Scherer, que
No campo da Educação Profissional novo desafio se fez presente, pois o comportamento geral do
mercado de trabalho, com a nova forma adotada para a produção reduz postos de trabalho e aumenta,
cada vez mais, os requisitos para a contratação de funcionários. Também promove a substituição
de muito trabalhadores por outros que se adéquem mais ao perfil profissional pretendido. Além
disso, algumas empresas estabelecem requisitos e exigências que, muitas vezes, não se justificam,
considerando-se o conteúdo do trabalho desenvolvido que não pressupõe a presença de um
profissional com a qualificação exigida.
Com essa substituição, o padrão generalizado e generalizante de produção foi substituído por
um modelo mais flexível e desregulamentado. Recursos tecnológicos – automação, robótica e
19
UNIDADE I │ EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE
Com o novo modelo foram introduzidos, novos paradigmas que pressupõem novas práticas
gerenciais e empregatícias, tais como Just-in-time, mais adequadas às exigências da nova ordem
do capitalismo mundial que se centram na racionalização do trabalho, em uma produção enxuta;
controle de qualidade total e engajamento estimulado, resultado de ação em equipe de técnicos com
multifunções e especialidades. Conforme Antunes (2000, pp. 181-182),
Os processos produtivos passaram a ser controlados pela informática, com capacidade de programar
todo o processo de automação que tem como eixo a tecnologia de informação.
A reestruturação do sistema produtivo, caracterizado pela utilização massiva das novas tecnologias
e pela renovação das técnicas gerenciais das empresas, exigiu um redimensionamento dos perfis e
níveis, cada vez mais sofisticados, no processo de formação da força de trabalho.
Sociedade de classes
As relações sociais no capitalismo são marcadas pela divisão de classes. A classe social proprietária,
dona dos meios de produção retira seus lucros, a partir da utilização do trabalho de seus operários/
empregados/funcionários, do proletário, da classe trabalhadora. A classe proletária troca a sua
capacidade de trabalho por um salário que, geralmente, não atende às suas necessidades vitais
– de sobrevivência, convivência e transcendência – e, por isso, fica privado de suas necessidades
culturais, de uma educação de qualidade.
20
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE │ UNIDADE I
A desigualdade social que tem origem na desigualdade econômica, no ambiente das relações que
se processam entre as classes sociais, determina as condições materiais e de trabalho das pessoas.
Essas condições determinam as diferenças que elas possuem para o acesso à cultura, à educação.
A classe que detém o poder econômico possui, também, os meios de comunicação, de produção
cultural e de difusão da cultura. A tendência é, portanto, a de colocar todos esses meios a serviço de
seus interesses. Desse modo, a classe minoritária, mas dominante, difunde e justifica a sua própria
concepção do mundo, suas ideias, seus valores e práticas que pretende para a vida, para o trabalho,
para as relações sociais. Esse modo de difundir e justificar ideias é a estratégia utilizada pelo
capitalismo que utiliza um sistema educativo constituído por escolas, igrejas, agências de formação,
clubes e pela mídia para repassar a sua ideologia.
Mas, se considerarmos o que ocorre nos países escandinavos, podemos depreender que existem
formas de o capitalismo ser desenvolvido, promovendo o desenvolvimento com igualdade social
e liberdade.
Como você se posiciona em relação a essas constatações? A que você atribui essas
condições?
21
CAPÍTULO 2
Relação entre trabalho produtivo e a
Educação Profissional – Repensando a
formação do trabalhador no contexto
de mudanças globais
Os meios utilizados para difusão e justificação de ideias de um sistema político possuem importante
influência sobre o modo de pensar de toda a sociedade, de todas as classes sociais que a compõem.
Assim, historicamente no Brasil, a educação que os trabalhadores recebem visa a prepará-los
para um trabalho alienado, para atitudes conformistas, para uma educação deficiente, de segunda
categoria. Tal fato pode ser verificado com a análise trajetória da Educação Profissional que será
feita no próximo capítulo.
Desenvolver uma educação alienada não é o papel de uma escola que cumpre a sua função de
educadora. A esta cabe a contribuição efetiva de formar o cidadão capaz de transformar a si próprio
e o seu meio. Educar para a cidadania deve significar, na realidade, o desenvolvimento de uma
práxis de Educação na cidadania (RUBEM ALVES, p. 15).
Tal forma de redução da cidadania, além de constituir um desvio, é um obstáculo à sua compreensão.
A cidadania não pode ser separada da questão do poder, que precisa ser socializado, pelo alargamento
das formas de participação. A educação para a cidadania se processa no exercício da cidadania, no
campo de conflitos, tais como a possibilidade ou não de democracia, na participação, no poder,
na igualdade política numa sociedade capitalista, baseada na desigualdade social e econômica
(ARROYO, p. 61).
Existe distância entre igualdade social e liberdade política e isso se deve à privatização do poder, em
todas as instâncias, inclusive na escola.
O exercício de uma cidadania real e geral não combina com esse tipo de controle. Faz-se necessário
equacionar a relação existente entre Educação, Cidadania e Democracia em um ambiente capitalista.
22
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE │ UNIDADE I
Não se pode mais vincular cidadania apenas à consciência, ao saber, aos valores culturais da elite.
A cidadania pressupõe, também, condições materiais de existência, formas de produzir a vida
material, relações sociais da produção de forma justa. E isso não é uma tarefa fácil.
À escola cabe assegurar o direito de todos a uma Educação de qualidade, desenvolvida de modo a
assegurar o domínio de conhecimentos, habilidades, atitudes, desenvolvidos com a formação de
capacidades intelectuais de um pensamento autônomo, independente e criativo.
A Educação Profissional, como política pública estratégica, desenvolve-se de forma articulada com
um conjunto de outras políticas de desenvolvimento econômico, desenvolvimento industrial, de
ciência e tecnologia, mas, geralmente, tem-se orientado, quase só, por demandas dessas áreas.
O lado perverso desse “modelo” é que ele gera expectativas de difícil alcance, fazendo com que
parcela considerável da população seja explorada e venda a sua força de trabalho de forma
desumana, sem dignidade.
O capitalismo privado ou o estatal (por exemplo, o Chinês) subsume tudo aos seus interesses,
determinando o quê e o como será feita a preparação dos futuros profissionais de modo a atender
seus interesses econômicos, quase sempre, em detrimento da dimensão individual e social do
trabalhador. Para garantir os lucros que pretende auferir, o capital estabelece os paradigmas, as
“competências” desejadas e as suas formas de relação com o trabalho, sem considerar necessidades
e interesses do trabalhador.
Assim, o capital apropria-se, de forma explícita e/ou implícita, dos novos conceitos educativos
e determina o quê e como deve ser feito, subordinando o trabalho de muitas escolas que agem
alienadamente.
Aos educadores cabe a tarefa de garantir uma Educação Profissional sem dicotomias, uma escola
que articule igualmente o conteúdo teórico e prático para que o aluno possa, no futuro, dispor de
conhecimentos, habilidades e atitudes diversas que lhe permitam, em melhores condições, exercer
a sua cidadania, na qual se inclui a participação produtiva, profissional. Quando se fortalece a
23
UNIDADE I │ EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE
O futuro profissional que se pretende formar não pode ser preparado apenas para a “realização de
tarefas produtivas”, para a “busca e permanência no emprego”, para a “busca de conquistas salariais
imediatas” a Educação Profissional deve aspirar a um cidadão consciente, um profissional crítico
autônomo, capaz de articular-se, de forma includente, com o modelo globalizado.
Para isso, a escola deve ser um lugar de socialização democrática dos conhecimentos historicamente
produzidos, uma resposta às investidas do capital, articulando meios, novas práticas educativas na
busca de cidadãos participantes, questionadores, sensíveis e comprometidos com o que se passa no
mundo e com as outras pessoas.
As dificuldades que se encontram para construir esse projeto não podem ser impeditivas para as
ações. Elas devem representar desafios na constituição de uma nova história.
É importante que se tenha clareza de que a oferta de Educação Profissional é uma atividade
complexa e, por isso, precisa ser crítica e muito consciente. Ela é complexa, sobretudo, quando são
consideradas as contradições e as controvérsias advindas de demandas do processo produtivo. Estas,
nem sempre, são compatíveis com o compromisso político da educação que busca a construção de
uma sociedade mais justa e igualitária, com a inclusão da parcela populacional, historicamente,
alijada das benesses produzidas.
Ao trabalho, são atribuídas muitas virtudes e efeitos benéficos, tais como, instrumento de cidadania,
de realização pessoal, de minimização da pobreza. Mas, a atual estrutura capitalista de produção
gera uma visão de trabalho como propulsor de riqueza, como acumulação de capital sem perspectiva
inclusiva e humanizadora.
O nosso compromisso deve ser refletido e muito consciente. Não podemos mais, de forma alienada,
contribuir para a subordinação da escola ao capital, mantendo e aprofundando as desigualdades
sociais.
O capitalismo já mostrou que não constrói uma sociedade eficiente, justa,
equilibrada e que preserve o meio ambiente. O socialismo mostrou que não
constrói uma sociedade utópica, nega a liberdade individual e destrói o meio
ambiente, também. A saída é o educacionismo, escola igual para todos. Para
mim, o que faz a revolução não é tomar o capital do capitalista e dar para o
trabalhador. É colocar o filho do trabalhador em uma escola igual à escola do
filho do capitalista (Senador Cristovam Buarque, em entrevista ao Correio
Braziliense do dia 18/9/2008).
A educação não tem poder para resolver os problemas econômicos decorrentes desse modo de agir
do sistema econômico, mas pode contribuir:
24
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE │ UNIDADE I
»» buscando meios de fazer com que o trabalho educativo guarde ou encontre condições
para incluir os que hoje são excluídos.
Enfim, podemos contribuir oferecendo, a todos, a mesma oportunidade educacional e que esta seja
uma escola de qualidade. Assim, faz-se necessário que estejamos sempre atentos.
O processo de mudanças por que vem passando a atual sociedade constitui-se uma realidade jamais
vista na história da humanidade. As mudanças decorrentes do avanço da ciência e da tecnologia
constituem-se fator que ameaça o indivíduo e os grupos e ao mesmo tempo provoca a necessidade
de uma permanente busca de renovação. Esse processo exige que o cidadão esteja constantemente
revendo e reformulando seus saberes, a sua forma de atuação social e, especialmente, a sua
contribuição produtiva para comunidade. Exige que o cidadão reconheça e pratique seus deveres e
direitos políticos, de forma consciente.
Nesse contexto, a educação precisa ressignificar o seu papel, em um processo dinâmico e interminável
de atualização permanente. Esse processo de ressignificação é uma atividade complexa porque
envolve mudanças de paradigmas de trabalho pedagógico.
No que se refere à Educação Profissional, esse processo é ainda mais complexo porque exige que
se passe de uma realidade dada como conhecida e certa para o desconhecido, para o imprevisível.
Pressupõe, portanto, a substituição da concepção de educação referenciada como produto acabado
e finito por um processo contínuo, orientado por outros paradigmas.
25
UNIDADE I │ EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE
O processo educativo, desenvolvido nessas escolas, está mais orientado por princípios pedagógicos
que guardam relação com um tempo em que as práticas laborais se identificam com rotinas
padronizadas, com a concepção de regularidade, diretividade, previsibilidade, inflexibilidade
dos processos produtivos. Esses processos educativos não satisfazem mais às necessidades do
indivíduo que deve atuar na sociedade atual. Atuar dessa forma é educar para uma realidade que
não mais existe.
Com as mudanças que se processam, os desafios educacionais são vários e constantes. A formação
profissional precisa deslocar-se da durabilidade para a fluidez; da permanência para a fugacidade;
da rigidez para a flexibilidade; da estabilidade para a instabilidade; da memorização para a
compreensão analítica e crítica (BAUMAN, 1999), da passividade para a inquietude e sensibilidade
em relação ao que ocorre no mundo e com as outras pessoas.
O capital está rompendo sua dependência em relação ao trabalho. Ele está se tornando extraterritorial,
não está mais funcionando intramuros. Usa diferentes serviços on-line, tem banda superlarga e
funcionários andando com notebooks leves e smarthphones 3G, tabletes.
Segundo Touraine, o capital viaja de bagagem na mão (pasta, computador portátil, telefone celular).
Na viagem do capital, a força de trabalho é uma consideração secundária.
Antes, as funções desempenhadas pelas instituições, pelo trabalho eram predeterminadas, baseadas
em representações sociais por normas e posturas do sistema. As categorias de descrição e de análise
das funções foram substituídas. As normas do sistema devem dar aos atores, ao sujeito da produção
a oportunidade de preparar-se, proteger-se, informar-se e orientar-se. Não se preparam para a
empresa, os atores se preparam para a nova sociedade.
26
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE │ UNIDADE I
A produção desses aportes tecnológicos foi fundamental para uma profunda reorganização
tecnológica e institucional dos diferentes setores da economia e, consequentemente, dos demais
setores da vida humana, nos quais se insere a educação e nesta, a profissional.
Mas, o mundo do trabalho não é só o que o capital oferece, não é só o que já está formalizado no
meio. O mundo do trabalho inclui, também, o que o próprio cidadão pode oferecer, como gerador
de ação produtiva e renda.
Assim, é importante uma redefinição de aspectos importantes que envolvam não só o cotidiano
do trabalho, mas, também outros aspectos relacionados à socialização, contribuindo para que os
trabalhadores se reconheçam e sejam reconhecidos como classe (FIDALGO, pp. 17 e 18).
Com essa orientação, a Educação Profissional assume um papel estratégico para o mundo empresarial
que consegue atrelá-la aos interesses do mercado e também para os trabalhadores que acreditam
que esta será suficiente para conseguir e manter-se no emprego.
O trabalho sempre existiu e existe em todas as sociedades. O que muda são os processos e as
relações sociais de produção e o modo de subordinação do trabalho em cada situação. Essas relações
27
UNIDADE I │ EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE
A linguagem, em todas as suas formas, é um importante instrumento nas relações sociais. Por meio
dela, é estabelecido o poder de dominação, de subordinação e, também, o poder de libertação. Basta
que ela seja aceita pelos interlocutores.
Será através de uma linguagem clara, honesta e explícita que poderemos ajudar os alunos no seu
processo de libertação. Será por meio de práticas educativas questionadoras da realidade, buscando
formar sujeitos participantes e sensíveis ao que acontece no mundo, o próximo e o remoto.
Cabe ao professor articular mecanismos de forma a garantir um ambiente escolar que promova a
socialização de conhecimentos produzidos e a empregar os mecanismos disponíveis para que os
alunos de todas as classes sociais tenham acesso ao maior conjunto de conhecimentos, habilidades
e atitudes/valores necessários à vida pessoal e profissional.
A Educação Profissional não precisa se colocar contra a abertura mundial da produção e dos
intercâmbios, mas deve contribuir para a existência de uma nova forma de mundialização que não
esmague o trabalhador, os interesses locais, as minorias, o meio ambiente em proveito apenas de
quem já detém a riqueza, o poder, a influência.
Diante dessas constatações, vários desafios se fazem presentes para nós que devemos decidir a
natureza da oferta de Educação Profissional.
Neste capítulo, afirmamos que cabe aos educadores estabelecer e oferecer condições
superadoras da alienação do trabalho. Você concorda com essa afirmação? Você
se sente capaz de, com liberdade, desenvolver o seu magistério orientando um
trabalho de socialização dos conhecimentos próprios da sua disciplina e a empregar
os diversos mecanismos disponíveis para que alunos, de todas as classes sociais,
tenham acesso ao maior conjunto habilidades e atitudes necessárias ao desempenho
autônomo, criativo, responsável na vida pessoal e profissional?
28
CAPÍTULO 3
Um pouco de História – O ensino
profissionalizante no contexto
educacional brasileiro
»» Leis e reformas
Propedêutico é o conjunto de estudos nas áreas humanas e científicas que, como fase preparatória
indispensável, precedem os cursos superiores de especialização profissional ou intelectual
(HOUAISS, 2001).
Historicamente, o ensino de nível médio, sob diversas denominações é marcado por indefinições,
no que se refere à sua identidade. Enquanto o Ensino Fundamental (também sob denominações
diferentes) caracteriza-se como um espaço unitário para apropriação de conhecimentos básicos e
comuns a um cidadão universal e o Ensino Superior (em sua diversidade), se caracteriza como um
espaço unitário voltado para a formação de profissional, o Ensino Médio oscila entre alternativas:
29
UNIDADE I │ EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE
A indefinição histórica da identidade do Ensino Médio gerou no meio educacional uma dualidade
entre conhecimento geral e específico, entre teoria e prática, ciência e técnica. A integração da
cultura geral e da cultura técnica na produção do conhecimento, na formação plena da informação,
até agora, não se fez sentida de forma convincente na oferta desse grau de ensino.
Por isso, quando se fala em Ensino Médio, são consideradas duas possibilidades: a continuidade
de estudos em nível superior e a preparação para o mundo do trabalho. Mas essa possibilidade é
um fato relativamente novo na história da educação brasileira. As duas alternativas caminharam
separadas até a metade do século passado.
A história demonstra uma dicotomia na oferta da educação propedêutica de nível médio (secundário)
e da profissional. A primeira destinada aos jovens da elite dominante e a outra ao restante da
população. O ensino propedêutico não guardava qualquer relação com a Educação Profissional.
As elites criaram para seus filhos as escolas secundárias preparatórias para um Ensino Superior
voltado para o mundo do trabalho, com profissões bem-definidas. Os jovens das camadas sociais
mais pobres eram encaminhados para as escolas exclusivamente profissionalizantes e de outro
nível. Para estes, os conhecimentos “humanísticos” eram considerados desnecessários.
Esse dualismo, fruto da herança colonial e escravista, influenciou de forma preconceituosa as relações
sociais entre as classes proprietárias e os trabalhadores, contribuindo também para o surgimento
e manutenção de privilégios e do poder, marginalizando e excluindo parcelas da população de
benesses sociais e, especialmente, de acesso à educação de melhor qualidade.
Assim, foi criada a imagem da Educação Profissional de nível técnico associado a pessoas pobres
ou a vadios ou a jovens com problemas de comportamento social ou a órfãos carentes de recursos
financeiros; todos esses com pouca base de educação fundamental.
Tal fato gerou um distanciamento entre os que sabiam e os que faziam. A única exceção a essa regra
refere-se ao Curso Normal (formação de professores), que era destinado a moças das famílias da elite.
A Educação Profissional de nível superior sempre foi muito valorizada. Para ela, eram encaminhados
os filhos das famílias de elite econômica.
A Educação Profissional de nível médio passou por muitas mudanças conceituais e, consequentemente,
por mudanças estruturais e de funcionamento.
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EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE │ UNIDADE I
Em Educação Profissional, o paradigma assumido pelo grupo indica como esta deve caminhar em
relação ao processo produtivo. A forma de conceber e orientar a oferta da educação decorre, assim,
da orientação, do paradigma que norteia o grupo responsável pela ação.
Pelo exposto e para efeito, eminentemente didático, alguns paradigmas percebidos na oferta de
cursos técnicos de nível médio podem ser caracterizados como de educação técnico-funcional,
educação compensatória, educação integral.
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UNIDADE I │ EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE
Muitas são as perguntas que precisam ser feitas e respondidas quando se trabalha com Educação
Profissional e essas – perguntas e respostas – pressupõem a compreensão dos propósitos,
dependentes da perspectiva política de quem os estabelecem e os desenvolvem.
Para melhor compreensão da atual Educação Profissional de nível técnico, no próximo capítulo,
serão apresentados aspectos da sua trajetória. Não se preocupe com as datas e com a sequência dos
fatos. Essas foram utilizadas para que você possa observar evidências que denotam comportamentos
como estes.
»» A Educação Profissional não era (mas em alguns grupos sociais continua não sendo)
vista como instrumento de cidadania, adequada aos jovens de todas as classes
sociais.
Julgue o que ocorreu no passado, pensando no interesse dos alunos que precisam
da Educação Profissional. Leia e tire as suas conclusões, defina a sua posição em
relação à trajetória da Educação Profissional. Construa uma posição.
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EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE │ UNIDADE I
Como consequência “[...] habituou-se o povo de nossa terra a ver aquela forma de ensino como
destinada somente a elementos das mais baixas categorias sociais” (FONSECA, p. 68, 1961). Ainda
segundo esse autor, como os trabalhos pesados, os ofícios e as profissões manuais foram sempre
entregues aos escravos criou-se então a ideia de que tais ocupações cabem aos deserdados da sorte,
aos infratores das leis. Tal comportamento foi reforçado pelo trabalho educativo desenvolvido pelos
jesuítas. Estes desenvolviam um tipo educação eminentemente intelectual com filhos dos senhores
da elite econômica que eram inteiramente afastados de qualquer trabalho físico ou manual.
Como já vimos, a preparação profissional, além de incipiente, destinava-se aos trabalhadores, aos
jovens pobres e aos vadios/vagabundos.
Com o início da extração do ouro, surgiram as fundições e a necessidade do ensino de ofícios para
aprendizes trabalharem nessas casas. A aprendizagem desenvolvida nesses locais era diferente
da realizada em outras atividades econômicas, pois se destinava aos homens brancos, filhos dos
empregados da própria casa de fundição. Garcia (2000) esclarece que o ensino para o trabalho
nos engenhos era assistemático e o trabalhador, quase sempre escravo, não precisava provar o seu
conhecimento. Nas casas de fundição e de moedas, os aprendizes, no fim do período de estudos,
tinham de demonstrar as suas habilidades perante uma banca examinadora para receberem um
certificado de aprovação, caso fossem considerados aptos ao ofício.
A primeira informação que se tem de um esforço governamental para a oferta de curso profissionalizante
data de 1809. Por um decreto, o Príncipe Regente criou o Colégio das Fábricas, como decorrência da
suspensão da proibição vigente de funcionamento de indústrias manufatureiras em terras brasileiras.
Em 1816, foi criada a Escola de Belas Artes, com a finalidade de ensinar as ciências e o desenho para
os ofícios mecânicos.
Na década de 1840 (século XIX), foram construídas dez Casas de Educandos e Artífices em capitais
da província, sendo a primeira delas em Belém do Pará, para atender a menores abandonados,
objetivando a diminuição da criminalidade e da vagabundagem.
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UNIDADE I │ EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE
O Decreto Imperial no 1.331, de 1854, criou estabelecimentos especiais, as chamadas Casas Asilos.
Para estas, eram encaminhadas às oficinas públicas e particulares as crianças desvalidas, mediante
contratos fiscalizados pelo Juizado de Órfãos.
Em 1856, foi criado o Imperial Liceu de Artes e Ofícios, com a finalidade de desenvolver ensino
técnico profissional “para a classe operária ou para os menos favorecidos e para combater a
ignorância e assim defender a liberdade”. Também nesse ano, foram criadas várias sociedades
civis com a finalidade de amparar crianças órfãs e abandonadas, oferecendo-lhes instrução teórica
e prática e iniciando-as no ensino industrial. As mais importantes foram, também, denominadas
Liceus de Artes e Ofícios. Entre esses, destacaram-se o do Rio de Janeiro, criado em 1858; o de
Salvador, criado em 1872; o de Recife, criado em 1880; o de São Paulo, criado em 1882; o de Maceió,
criado em 1884; o de Ouro Preto, criado em 1886.
Em 1861, por Decreto Real, foi criado o Instituto Comercial do Rio de Janeiro. Os diplomados por
essa escola tinham prioridade no preenchimento de cargos públicos. Possivelmente esse decreto
represente a primeira iniciativa desprovida de tantos preconceitos relativos ao trabalho.
Até o final do século XIX e início do século XX, o ensino profissional manteve o mesmo traço
assistencialista e moralista, ou seja, o de um ensino voltado para os menos favorecidos socialmente,
para os “órfãos e desvalidos da sorte” e para os vadios.
Em 1909, o Presidente Nilo Peçanha criou, em vários estados, 19 (dezenove) Escolas de Aprendizes
e Artífices, voltadas para o setor secundário da economia e destinadas aos filhos dos funcionários da
indústria. Eram escolas similares aos Liceus de Artes e Ofícios, mas custeadas pelo governo federal.
Essas escolas deram origem às atuais Escolas Técnicas Federais e aos CEFETs, Institutos Federais.
Em 1910, foi reorganizado o ensino agrícola no País, objetivando formar “chefes de cultura,
administradores e capatazes”. Mais tarde foram instaladas várias escolas-oficina, destinadas
à formação profissional de ferroviários. Essas escolas, e as criadas em 1909, desempenharam
importante papel na história da Educação Profissional brasileira.
Em 1924, foi criada a Associação Brasileira de Educação (ABE), que acabou se tornando importante
polo irradiador do movimento renovador da educação brasileira, principalmente por meio das
Conferências Nacionais de Educação, realizadas a partir de 1927. Em 1932, a Associação lançou o
Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, que, dentre outras reivindicações, pedia:
34
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE │ UNIDADE I
Motivada por esse grupo, a Câmara dos Deputados criou uma comissão especial, denominada
Serviço de Remodelagem do Ensino Profissional Técnico, que promoveu uma série de debates sobre
a expansão do ensino profissional e propôs a sua extensão a todos – pobres e ricos – e não apenas
aos “desafortunados”.
Em 1930, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública e, com isso, previu-se como sua
competência cuidar do ensino propedêutico e do profissional. Naquela época, já se destacava a
importância da formação profissional dos trabalhadores para ocupar os novos postos de trabalho
que estavam sendo criados com os crescentes processos de industrialização e de urbanização. Nessa
reforma, destaca-se o Decreto Federal no 158/1931, que organizou o ensino profissional comercial e
regulamentou a profissão de contador.
Assim, a partir de 1942, começou a ser aprovado um conjunto de leis, as chamadas “Leis Orgânicas
do Ensino”, também conhecidas como Reforma Capanema, constituído por Decretos-Lei.
35
UNIDADE I │ EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE
Essas providências consolidaram o ensino profissional. Mas, embora consolidado, continuou sendo
considerado como educação de segunda categoria. No conjunto das Leis Orgânicas da Educação
Nacional, o objetivo do ensino profissional era o de oferecer “formação adequada aos filhos dos
operários, aos desvalidos da sorte e aos menos afortunados, àqueles que necessitam ingressar
precocemente na força de trabalho”. Com essas leis, a visão dualista existente entre o saber e o fazer
foi reforçada.
Em 1953, a Lei Federal no 821 estabeleceu as regras para a aplicação do regime de equivalência entre
os diversos cursos de grau médio. A Lei só foi regulamentada no final do ano e seus efeitos só foram
verificados a partir de 1954.
A Lei Federal no 4.024/1961, a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, equiparou
o ensino profissional, do ponto de vista da equivalência e da continuidade de estudos, para todos
os efeitos, ao ensino acadêmico. Encerrava-se, pelo menos do ponto de vista formal, a dualidade
entre ensino para “elites condutoras do país” e ensino para “desvalidos da sorte”. Não havia mais
necessidade de exames e provas de conhecimentos. Todos os ramos e modalidades de ensino
passaram a ser equivalentes, para fins de continuidade de estudos em níveis superiores.
36
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE │ UNIDADE I
Na década de 1960, sob o regime militar, foram difundidas as ideias do “Milagre Brasileiro” e da
formação do “Capital Humano”, passando a vincular-se a educação ao planejamento econômico,
como forma de contribuir para o desenvolvimento do País. Sob esse ideário, houve uma profunda
reformulação da estrutura da educação brasileira e, notadamente, na Educação Profissional. Dele
resultou, em 1971, a segunda Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
A Lei Federal no 5.692/1971 significou uma iniciativa marcante na história da Educação Profissional.
Grande parte do quadro atual da Educação Profissional pode ser explicada pelos efeitos dessa
Lei. Ela extinguiu os cursos secundários– Científico e Clássico – de caráter apenas acadêmico e
generalizou a profissionalização, que se tornou obrigatória no ensino de segundo grau. Ela gerou
falsas expectativas em relação à Educação Profissional e desorganizou a oferta do ensino secundário.
Entre os efeitos negativos percebidos na época, vale destacar os seguintes.
»» Foi criada uma falsa ideia de que formação profissional seria solução para os
problemas de emprego, possibilitando a criação de muitos cursos profissionalizantes
sem investimentos apropriados.
37
UNIDADE I │ EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE
A partir de 1982, esses efeitos foram atenuados pela Lei Federal no 7.044/1982, que alterou a Lei
no 5.692/1971. Com essa Lei, foi extinta a obrigatoriedade da profissionalização. Embora não fosse
essa a sua finalidade, com ela a formação profissional ficou restrita às antigas escolas técnicas.
Muito rapidamente as escolas de segundo grau, estaduais e particulares, reverteram suas grades
curriculares e passaram a oferecer apenas o ensino propedêutico.
Em 1994, a Lei no 8.948 estabeleceu que Escolas Técnicas Federais fossem transformadas em
Centros Federais de Educação Tecnológica e estendeu essa possibilidade às Escolas Agrotécnicas,
integrantes do Sistema Nacional de Educação, após processo de avaliação de desempenho a ser
desenvolvido sob coordenação do MEC § 4o da Lei no 8.948/1998. Como Centro de Educação
Tecnológica, essas instituições, além da Educação Profissional de nível técnico, podiam oferecer,
também, a tecnológica, de nível superior.
Desde a sua criação, a formação profissional baseava-se na preparação do aluno voltado para a
incorporação ao mercado de trabalho, para a produção em série e padronizada, para o desempenho de
tarefas simples, rotineiras e previamente delimitadas, com pouca margem de autonomia. Até a década
de 1980, a baixa escolaridade dos trabalhadores não era considerada entrave à expansão econômica.
Na década de 1990, com um novo cenário social e econômico globalizado, a qualificação profissional
ganhou novo significado e importância. Novas políticas públicas de qualificação profissional,
orientadas pelos Ministérios da Educação e do Trabalho e Emprego tornaram-se relevantes pela
necessidade de formação e capacitação de trabalhadores para assumirem os novos postos de
trabalho que pressupunham inovações tecnológicas e um novo perfil profissional. Essa necessidade,
orientada pelo ideário neoliberal, trouxe consigo os pressupostos do modelo de competências e
empregabilidade, necessários a um mercado competitivo e globalizado. Outra vez, sob novo
paradigma, difundiu-se a ideia de vincular a educação ao planejamento econômico, como forma de
contribuir para o desenvolvimento do País, mas com exigências mais amplas e complexas. O nível de
formação profissional verificado nas empresas e orientado pelas agências de formação profissional
não atendia, absolutamente, o dinamismo econômico e industrial necessário pretendido pelo País.
Constatou-se, então, a necessidade de minorar os efeitos negativos decorrentes da modernização a
ser assumida, buscando formas alternativas de geração de emprego e renda, ao mesmo tempo em
que se preparavam os trabalhadores para um possível reaproveitamento que possibilitasse a sua
reinserção ou inserção no mercado de trabalho mais formalizado. (ALMEIDA, 2003)
A Lei no 9.394/1996, em vigor, deu nova configuração ao setor educacional. No que se refere à Educação
Profissional estabeleceu que esta – de forma integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho,
à ciência e à tecnologia – deve conduzir ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida
produtiva. Tal concepção, em princípio, parece representar a superação dos enfoques assistencialista
e economicista da Educação Profissional, bem como do preconceito social que a desvalorizava.
38
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE │ UNIDADE I
Na implantação desse processo, a Educação Profissional técnica de nível médio enfrentou grandes
desafios, mas o compromisso com a qualificação profissional dos jovens e adultos, reforçado pelas
reformas demandadas pelo mercado de trabalho globalizado, indicava a adequação desta modalidade
como necessária para as transformações pretendidas no mundo produtivo.
Nesse sentido, o Ministério da Educação (MEC) iniciou a reforma na Educação Profissional, por meio
da promulgação do Decreto no 2.208/1997 e sob responsabilidade do Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE), em 1995 foi implantado o Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador (PLANFOR).
O Decreto no 2.208/1997 foi revogado pelo Decreto no 5.154/2004 que passou a regulamentar a
Educação Profissional. Atualmente o estabelecido neste último decreto está consagrado na própria
LDB/1996 com a alteração feita, para este fim, pela lei no 11.741/2008.
Em síntese, pode-se afirmar que a aplicação da Lei no 9.394/1996, no que se refere à Educação
Profissional, apresenta dois momentos distintos:
A regulamentação feita pelo Decreto no2.208/1997, mais uma vez, dicotomizou a educação de nível
médio como ensino acadêmico e ensino profissional, quando, no artigo 5o, definiu que “Educação
Profissional de Nível Técnico teria organização curricular própria e independente
do Ensino Médio, podendo ser oferecida de forma concomitante ou sequencial a este.” Com
esse dispositivo, o Decreto retirou da escola a possibilidade de desenvolver os dois aspectos de
forma integrada.
Como se pode depreender, essa regulamentação estabeleceu, sem dúvida, a separação entre o Ensino
Médio e profissional, gerando sistemas e redes distintas, caracterizando a dualidade estrutural –
escolas de ensino propedêutico e escolas (cursos) de ensino profissional. Com essa orientação deixou
de reconhecer o Ensino Médio como aspecto fundamental para a formação científico-tecnológica
sólida que deve permear, de forma integrada, toda a formação dos jovens e adultos trabalhadores.
Dessa forma, a Politecnia pretendida tornou-se vulnerável, sob o risco de significar apenas múltiplas
técnicas, multiplicidade de diferentes técnicas fragmentadas, autonomamente consideradas, quando
eliminou a possibilidade de aquisição simultânea e de forma integrada dos “fundamentos científicos,
dos princípios que asseguram as condições de desenvolvimento das diferentes modalidades de
trabalho, com a compreensão do seu caráter, da sua essência”. (SAVIANI, s/d)
39
UNIDADE I │ EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE
Durante o seu período de vigência, o Decreto contribuiu para que sistemas de ensino em todo o
Brasil promovessem a desarticulação entre formação para o trabalho e a elevação dos níveis de
escolaridade. Os sistemas estaduais de ensino passaram a se omitir no seu dever de profissionalizar
os seus alunos.
»» a ampliação da oferta de cursos profissionais pela rede privada, nem sempre com a
qualidade requerida, onerando as famílias que não dispõem de recursos para arcar
com essas despesas, mas necessitam dessa formação;
O Decreto no 5.154/2004
A regulamentação determinada pelo Decreto no 2.208/1997 provocou uma reação entre os estudiosos
do assunto, que consideram que o Ensino Médio integrado à Educação Profissional é possível e
recomendada. Tal reação originou a modificação pretendida com o Decreto no 5.154/2004.
Com este foi permitida a oportunidade de desenvolvimento de um currículo que integre a educação
geral como parte inseparável da Educação Profissional em todas as áreas em que se dá a preparação
para o trabalho.
Com esse Decreto, tornou-se possível a existência de uma escola que, no dizer de Gramsci, seja
de “cultura desinteressada”. Uma escola humanista de elevada cultura associada à transformação
técnica e artística da matéria e da natureza, que não hipoteque o futuro do aluno. Uma escola de
liberdade e livre iniciativa individual com as habilidades necessárias à forma mais produtiva e mais
eficiente para a humanidade (NOSELLA, p. 50). Uma escola em que cultura, ciência e trabalho
estejam organicamente integrados.
40
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO – DA CONCEPÇÃO À ATUALIDADE │ UNIDADE I
observando as diretrizes definidas pelo Conselho Nacional de educação, será desenvolvida por
meio de cursos e programas de:
No que se refere à articulação entre a Educação Profissional técnica de nível médio e o Ensino
Médio, a Educação Profissional passou a ser desenvolvida nas formas:
Além disso, o Decreto introduziu o conceito de itinerário formativo como o conjunto de etapas
que compõem a organização da Educação Profissional em uma determinada área, possibilitando o
aproveitamento contínuo e articulado dos estudos.
Em síntese, essa Lei introduziu as modificações feitas pelo Decreto no 5.154/2004, suprimiu aspectos
constantes na redação anterior e inseriu outros. A principal alteração foi a inclusão de uma seção no
Capítulo II – Da Educação Básica, a Seção IV-A que trata especificamente da Educação Profissional
Técnica de Nível Médio. Esta seção é composta por 4 (quatro) novos artigos: 36-A, 36-B, 36-C, 36-D.
Além dos dispositivos constitucionais e da Lei de Diretrizes e Bases, comuns a todas as áreas
educacionais, a Educação Profissional é regida por uma legislação própria – a Seção IV-A da LDB,
outras leis, decretos e resoluções do Conselho Nacional de Educação. Essa legislação será analisada
no capítulo 4 quando será tratada a estrutura desta modalidade de ensino.
41
FUNDAMENTOS DO
PROCESSO EDUCATIVO
NA EDUCAÇÃO UNIDADE II
PROFISSIONAL DE
NÍVEL TÉCNICO
CAPÍTULO 1
A Estrutura normativa da Educação
Profissional – A Constituição Brasileira, a
LDB e outros normativos
A definição de um currículo escolar deve sempre ser precedida por investigações fundamentais.
A primeira delas diz respeito às finalidades da educação para que se tenha clareza sobre o que se
pretende, sobre onde se quer chegar com o trabalho. Ela é necessária à definição do marco doutrinal,
do paradigma do trabalho, isto é, para conhecer e expressar os ideais – do grupo e da nacionalidade.
42
FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
Embora os textos pareçam claros, o conteúdo que expressam pode ter significados diferentes entre
as pessoas. Surge, então, a primeira necessidade de reflexão, de análise. Essa análise precisa ser
crítica, radical e total.
»» Essa verificação/análise não pode ser superficial; deve ser radical, interrogando
quais são as causas e os princípios do fato ou coisa. Deve ir à raiz do problema.
Na definição de um currículo escolar, a análise precisa ser coletiva. Não basta uma consideração
individual. A análise coletiva pode iniciar-se com perguntas, tais como:
»» O que é liberdade? – Esse valor é respeitado em nosso meio (na escola)? – Que
evidências existem e podem ser destacadas? – Como o nosso trabalho pode
concorrer para o respeito e a preservação da liberdade?
43
UNIDADE II │ FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
Esta seleção poderá se constituir, posteriormente, um manual legislativo para seu uso. Vamos
iniciar pela Constituição Brasileira: o maior instrumento de orientação.
Conforme a Constituição Brasileira (art. 205), a educação, direito de todos e dever do Estado e da
família, será promovida, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para
o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Para cumprir o seu dever, o
Estado cria escolas que ministram os diferentes níveis e modalidades de ensino. Essas escolas são
públicas. Dessas, muitas são gratuitas, mantidas pelo erário público, e outras são mantidas por
diferentes entidades de direito privado, com a participação financeira dos pais ou responsáveis, de
ONGs ou de outras instituições. Nesse contexto, nós professores somos os principais agentes
para o cumprimento desse dever do Estado Brasileiro.
44
FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
“Nunca participei de uma ação como esta” ou “Que perda de tempo! Para que isto?”
ou outras ideias semelhantes. Espero que não seja o seu caso e que você tenha
consciência de que um trabalho dessa natureza é fundamental para o trabalho
em equipe, para a interdisciplinaridade, para a existência de compromisso com a
qualidade da educação que se pretende, com o SUCESSO dos ALUNOS.
A Constituição Brasileira, em seus arts. 3o e 205, já analisados anteriormente, e nos 206, 210 e
214, expressa compromissos que devem orientar a prática pedagógica de um curso Técnico de
Nível Médio:
Art. 206 – O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
(I [...]e II[...]).
45
UNIDADE II │ FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
Seção IV-A
46
FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
Capítulo III
47
UNIDADE II │ FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
Além desses artigos específicos de Educação Profissional, a LDB apresenta outros dispositivos que
precisam ser observados na oferta de um curso de habilitação de nível técnico, desenvolvido de
forma integrada, concomitante ou subsequente ao Ensino Médio. Essas definições se referem
ao Ensino Médio e a aspectos organizativos da proposta de um curso, portanto
necessárias, considerando-se a exigência legal de articulação entre a abordagem
propedêutica e a profissionalizante na oferta de uma habilitação profissional de nível
técnico. Esses dispositivos estão expressos nos arts. 2o, 3o, 12, 13, 22, 23, 24, 26, 27, 28 (educação
rural), 33, 35, 36, 39, 80; 81, 82.
A seguir, são destacadas as disposições constantes nesses artigos. Procure relacioná-las aos
conteúdos já tratados nos capítulos anteriores. Vejamos:
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FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
O art. 22, no que se refere ao currículo, estabelece que o ensino poderá se organizar em séries
anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados,
com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização,
sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar.
De acordo com o art. 24, a Educação Básica, nos níveis fundamental e médio, deve ser organizada,
observando-se, no que se refere à definição e desenvolvimento do currículo:
»» a carga horária mínima anual será de oitocentas horas, distribuídas por um mínimo
de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames
finais, quando houver;
»» nos estabelecimentos que adotam a progressão regular por série, o regimento escolar
pode admitir formas de progressão parcial, desde que preservada a sequência do
currículo, observadas as normas do respectivo sistema de ensino;
»» poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos de séries distintas, com níveis
equivalentes de adiantamento na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras,
artes, ou outros componentes curriculares;
Esse artigo estabelece, ainda, que a verificação do rendimento escolar observará os seguintes
critérios:
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UNIDADE II │ FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
Nota – O texto refere-se à “recuperação paralela”. Eu sempre uso “recuperação simultânea”, pois
desejo que resultado obtido nesse processo encontre-se com as reais necessidades do Aluno.
O art. 26 prevê que os currículos do Ensino Fundamental e Médio devam ter uma base nacional
comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte
diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e
da clientela. Portanto, além dos componentes curriculares decorrentes da base comum, o currículo
do Ensino Médio deve ser complementado por outros (disciplinas, práticas pedagógicas, projetos)
definidos pela comunidade escolar, visando ao atendimento de peculiaridades locais, a diferenças
individuais de alunos, aos planos da Escola – necessidades e possibilidades concretas. Ainda nos
parágrafos do art. 26, sempre em consonância com a Constituição, a Lei, estabelece que:
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FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
III. que estiver prestando serviço militar ou que, em situação similar, estiver
obrigado à prática de educação física. (Redação dada pela Lei no 10.793/2003)
De acordo com o art. 27, os conteúdos curriculares da Educação Básica observarão, ainda, as
seguintes diretrizes:
O Ensino Médio, no art. 35, é definido como etapa final da Educação Básica, com duração mínima
de três anos e que deve ter como finalidades:
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UNIDADE II │ FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
Na Educação Básica de Nível Médio, a concessão desses títulos varia conforme a natureza dos
estudos realizados. Assim:
»» A pessoa que cursa apenas o Ensino Médio (propedêutico) faz jus a um Certificado
de conclusão de curso que lhe dá o direito de prosseguir seus estudos em Nível
Superior. Mas se ela, de forma concomitante ou subsequente ao propedêutico, faz
uma habilitação profissional de nível técnico recebe também um Diploma de Técnico
de Nível Médio na profissão objeto de seus estudos. No decorrer desse curso, ao
completar um bloco de estudos correspondentes a uma atividade profissional, ela
pode, a critério do estabelecimento de ensino, receber um Certificado de Qualificação
Profissional na área correspondente aos seus estudos.
»» A pessoa que desenvolve seus estudos na modalidade integrada faz jus a um Diploma
de Técnico de Nível Médio; documento único que o habilita para o exercício da
profissão e para o prosseguimento de estudos em Nível Superior.
Atualmente, no que se refere à profissionalização de nível técnico existem duas formas de o indivíduo
receber a certificação de sua habilitação (de técnico) e ou qualificação (como auxiliar, assistente).
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FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
Nessa última forma, o documento (diploma ou certificado) que habilita ou qualifica um profissional
resulta de um processo de certificação profissional diferente, estabelecido pela atual LDB.
Para regular os processos de certificação profissional no Brasil, foi instituído o Sistema Nacional de
Certificação Profissional (SNCP).
Como princípios do SNCP, tem-se o desenvolvimento socioeconômico com inclusão social, o diálogo
tripartite e a transversalidade governamental, de modo a prever mecanismos que promovam:
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UNIDADE II │ FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
Muitas vezes acreditamos que sabemos tudo sobre educação e ao ler ou reler a
legislação, com mais atenção, nos surpreendemos com possibilidades pedagógicas,
com estratégias administrativas que, ainda, não tínhamos nos dado conta. Aconteceu
isto, enquanto você lia as informações contidas neste capítulo?
A proposta articulada com o Ensino Médio pode ser desenvolvida da seguinte forma.
A Educação Profissional Técnica Integrada ao Ensino Médio (EPTIEM) ou Ensino Médio Integrado
à Educação Profissional (EMIEP) ou, simplesmente, Ensino Médio Integrado – EMI é uma inovação
no sistema de ensino brasileiro. Esta integração/articulação é uma nova forma de relacionamento
entre essa modalidade e esse nível de ensino. Nesta forma de organização, não é mais adotada a
divisão do currículo entre as partes educação geral, própria do Ensino Médio, e a formação especial,
como ocorria sob a orientação da Lei no 5.692/1971. Ela não significa uma volta simplista à referida
lei. Essa modalidade de oferta deve assegurar, simultaneamente, o cumprimento das finalidades
estabelecidas para a formação geral e as condições de preparação para o exercício de profissões
técnicas, sob uma nova e atual concepção.
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FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
O Ensino Médio integrado à Educação Profissional (ou a Educação Profissional integrada ao Ensino
Médio) não é um somatório de dois cursos distintos, é um
Diagrama 1: Currículo estruturado, conforme a Lei no 5.692/1971 e a Lei no 9.394/1996, nas modalidades
concomitante e subsequente.
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UNIDADE II │ FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
Nessa estruturação:
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Os conteúdos objetos da Ciência e da Cultura correspondem aos conhecimentos específicos que são
desenvolvidos considerando o direito do aluno de dar prosseguimento de estudo em Nível Superior,
exigidos pelo exame vestibular, para ingresso no curso superior.
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CAPÍTULO 2
Aspectos organizacionais e
pedagógicos atuais – o plano de curso
O planejamento é uma função gerencial muito importante, mas nem sempre assumida com
objetividade no ambiente escolar. Muitas vezes, a escola não possui um planejamento institucional.
Nela existem planos diversos, muitos sem a devida conexão entre eles. Algumas escolas até possuem
um planejamento, mas, nem sempre, as estratégias previstas são desenvolvidas com objetividade.
Este plano se constitui de uma estratégia que precisa ser formulada por meio de um processo
analítico e intencional, com visão de futuro, e, quando bem estabelecida, reduz incertezas, facilita
o desenvolvimento do curso, e pode minimizar e/ou evitar imprevistos, mudanças inesperadas
no processo.
Quando bem formulado e orientado, o Plano, por ser intencional, contribui para o alcance dos
objetivos pretendidos e, consequentemente, para o sucesso almejado.
O plano de curso
Para que o diploma de um processo de habilitação profissional tenha validade, deve ser desenvolvido
conforme Plano do Curso elaborado pela escola e aprovado pelo órgão competente do correspondente
sistema de ensino – Federal, Estadual, Distrital. Em uma escola do sistema Federal, cada Curso
oferecido deve ter o seu Plano aprovado pelo colegiado maior da Instituição. Nos estabelecimentos
de ensino dos sistemas estaduais essa competência é do Conselho Estadual de Educação ou por
delegação deste a um determinado órgão da administração da educação.
Para a formulação desse Plano, existem diretrizes estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação
e, outras complementares, pelos Conselhos Estaduais.
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FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
Estabelece, ainda, que os Planos de Curso, coerentes com os respectivos projetos pedagógicos, serão
submetidos à aprovação dos órgãos competentes dos sistemas de ensino, contendo:
I. justificativa e objetivos;
Etapas
1. Processo de seleção do curso, considerando as demandas dos cidadãos, da sociedade
e do mundo do trabalho e considerando o Catálogo Nacional de Cursos Técnicos e
outros referenciais.
7. Implantação da Proposta.
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UNIDADE II │ FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
A seleção do curso a ser oferecido é uma atividade muito importante, nem sempre considerada de
forma objetiva. É comum a definição acontecer “ao gosto do freguês”, ou seja, pela preferência de
quem detém o poder. Nesse sentido, existem cursos definidos porque a escola dispõe de condições
materiais e ou humanas; para atender ao pedido/necessidade do mercado de trabalho; porque
existe “dinheiro” (embora seja raro); porque a profissão está “na moda”; porque a comunidade
pede e tantos outros motivos. Numa consideração preliminar, esses motivos podem parecer justos,
mas não é tão simples assim. Além da associação que deve existir entre esses, outras considerações
devem ser feitas.
No processo de seleção, é comum decidir-se na incerteza, mas se faz necessário agir com competência.
Isso implica a ideia de que se deve valorizar e aproveitar o instante e mobilizar os recursos em favor
dos objetivos e das propostas educativas pretendidas. Conhecer esse contexto – suas potencialidades
e limitações – é muito importante porque orienta o que deve ser feito e a quem cabe cada tarefa.
A Educação Profissional deve ser de alta qualidade. O processo de seleção é uma atividade complexa
que pressupõe uma análise criteriosa de vários fatores. Os alunos não podem ser diplomados
em cursos oferecidos sem a qualidade requerida, para áreas que não oferecem oportunidade de
ingresso. Oferecer um curso de Ensino Médio sem qualidade é muito ruim, mas oferecer um curso
profissionalizante que conduza ao nada é uma irresponsabilidade maior, ainda. Planejar e oferecer
um bom curso de Ensino Médio, além da infraestrutura, depende da existência de alunos e de uma
proposta pedagógica de qualidade. Planejar e oferecer um bom curso profissional depende
também desses aspectos, mas requer conhecimentos/pesquisas relacionadas ao mundo produtivo e
decisões relativas a outras características pedagógicas, filosóficas e políticas.
A decisão sobre o curso que será oferecido deve ser precedida por um diagnóstico da região e da
escola. Esse diagnóstico deve acontecer, a partir de uma pesquisa-ação para conhecimento da
realidade, no que se refere à oferta e à demanda de Educação Profissional na região e também para
conhecer expectativas dos principais agentes – ofertantes e beneficiários. Nessa ocasião, devem ser
captadas e analisadas percepções e atitudes deles por meio de diversos olhares e valores quanto às
ações presentes e planos futuros da Educação Profissional na região.
Antes da realização da pesquisa deve ser definido, se for o caso, o Arranjo Produtivo Local (APL)
da região na qual a escola se insere e ao qual deve atender. Em muitas regiões esses arranjos
produtivos já estão definidos. Normalmente, o Plano de Desenvolvimento do Estado/Distrito
Federal, refere-se a ele.
Para relembrar o que foi dito na Unidade I, o Arranjo Produtivo Local (APL) é um agrupamento
de agentes, econômicos, políticos e sociais, localizados em uma mesma região que apresenta perfil
produtivo, de cooperação e de aprendizagem. Relaciona-se com o conceito de planejamento regional.
Busca resolver problemas que prejudicam o desenvolvimento, a capacidade produtiva local. Prevê
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FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
»» De que tempo os candidatos ao curso dispõem para estudo? Tempo integral? Apenas
de um turno? Qual turno?
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UNIDADE II │ FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
Relativos à Escola
»» Que bases históricas do currículo (se for o caso) relacionam-se com a possibilidades
de mudanças e a necessidades do aluno e da comunidade?
Com os dados e as informações coletados podem ser mapeadas as tendências regionais, bem como
as perspectivas de profissionalização futura do público-alvo.
Com os resultados obtidos será possível avaliar o quê e o quantum deve ser oferecido, estimar o
tempo de permanência do curso, considerando-se a possibilidade de excesso de pessoas habilitadas
para a mesma área; a capacidade da escola para formar jovens profissionais etc. Este é um dado
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FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
importante porque não de pode habilitar um número excessivo de técnicos, muito além do que o
mundo do trabalho requer. A margem de segurança é recomendável, mas sem excesso, sem saturação.
O relatório final da pesquisa deve conter três vertentes de análises: na primeira podem ser observadas
as especialidades e vocações socioeconômicas da região; na segunda uma análise das tendências dos
professores, gestores participantes do grupo; na terceira podem ser demonstradas as vocações dos
alunos e interesses de suas famílias.
O resultado da análise relativa às três vertentes precisa ser compatibilizado com o Catálogo
Nacional de Cursos Técnicos para que se possam identificar os eixos tecnológicos e respectivos
cursos que atendem aos interesses e às possibilidades verificadas. A relação dos cursos é ampla,
bem diversificada e, geralmente, atende ao que se pretende. Mas, o Catálogo não impede que se
proponha e se inclua nova habilitação, desde que bem fundamentada em suas diversas dimensões,
sobretudo, socioeconômica e pedagógica. Há regiões que apresentam projetos de desenvolvimento
econômico que, por sua especificidade, carecem de técnicos formados em curso com perfil muito
diferente dos constantes no Catálogo atual. Assim, existe a possibilidade de inclusão de outro curso
em um dos eixos tecnológicos.
Os cursos de Educação Profissional de Nível Técnico são organizados por eixos tecnológicos,
possibilitando a construção de diferentes itinerários formativos. Algumas atividades profissionais
são desenvolvidas com base nas mesmas ciências, utilizam os mesmos métodos; operam os mesmos
ou semelhantes instrumentos operacionais. Essa similitude aproxima essas atividades formando um
agrupamento de ações, de aplicações científicas à atividade humana. Em Educação Profissional, os
fatores que caracterizam o tipo de agrupamento de determinada área de trabalho são considerados
o seu Eixo tecnológico. Esse eixo constitui-se como matriz para a definição dos cursos de uma
mesma área de atividade econômica.
Esses eixos tecnológicos são descritos no Catálogo Nacional de Cursos Técnicos (CNCT). O CNCT
é um importante instrumento de trabalho no processo de oferta da Educação Profissional. Ele foi
aprovado, inicialmente, pela Resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE) no 3, de 9 de julho
de 2008, que dispôs sobre a sua instituição e implantação e foi revisto (ampliado) pela Resolução
CNE no 4/2012. Segundo o expresso na apresentação desse instrumento, feita em 2008, tem-se:
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UNIDADE II │ FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
A atualização feita pela Resolução no 4/2012 resultou de demandas procedentes dos sistemas e redes
de ensino, de entidades representativas de classes, de educadores e de estudantes conhecidas por
intermédio de chamada pública, feita pelo MEC. Por esta Resolução foram incluídos, no CNTC, 35
novos cursos. Outras nove formações, previstas na versão anterior, tiveram a nomenclatura alterada.
É o caso do Curso Técnico em Biblioteconomia que passou a denominar-se Técnico em Biblioteca.
Com as modificações feitas, o Catálogo apresenta 220 possibilidades de formação. Houve também
alteração nos eixos tecnológicos. O eixo tecnológico antes denominado ambiente, saúde e segurança
foi desmembrado nos de ambiente e saúde e de segurança. Tem-se atualmente 13 eixos. A maioria
das inclusões refere-se às áreas militar e de controle e processos industriais. Além desses, dentre as
inclusões feitas estão profissões como a de técnico em cuidados de idosos e de técnico em tradução e
interpretação de Língua Brasileira de Sinais (libras). O de apoio educacional e o de hospitalidade e
lazer tiveram a nomenclatura alterada para as de Desenvolvimento Educacional e Social e Turismo,
Hospitalidade e Lazer, respectivamente.
O catálogo contém importantes informações relativas a cada habilitação de nível técnico, tais como:
atividades principais desempenhadas pelo técnico, possibilidades de temas a serem desenvolvidos,
possíveis locais de atuação, infraestrutura recomendada e carga horária mínima, que se constituem
subsídios fundamentais para o planejamento e o acompanhamento dos cursos. Serve também de
apoio ao estudante na hora da escolha do curso técnico ideal.
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FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
O documento significa uma importante referência para a oferta dos cursos técnicos de nível médio
nos diferentes sistemas de ensino Federal, Estadual/Distrital e Municipal do País. Direciona-se,
portanto, a todos os estabelecimentos de ensino das redes públicas e aos particulares.
Segundo o MEC:
Essa Base constitui-se parâmetro que deve ser considerado em todas as etapas do planejamento
curricular – quando se define o currículo, durante o seu desenvolvimento e nos momentos de avaliação.
Os Parâmetros Curriculares do Ensino Médio, conhecidos pela sigla PCNEM foram elaborados
sob a coordenação do MEC e aprovados por Resolução no 3/1998 – CNE/CEB, a partir do Parecer
no 15 do mesmo ano e da mesma Câmara. Geralmente, as escolas de Ensino Médio dispõem desses
documentos. Eles estão disponíveis na área específica no Portal do MEC.
Os Parâmetros traçam um perfil para o currículo. Eles se apoiam em comportamentos básicos para
a inserção dos jovens na vida adulta, destacando o significado do conhecimento escolar quando
contextualizado e a importância da interdisciplinaridade.
Segundo as orientações dos PCNEM, o currículo está sempre em construção e deve ser compreendido
como um processo contínuo que influencia positivamente a prática do professor. Com base nessa
prática e no processo de aprendizagem dos alunos, os currículos devem ser estabelecidos ou revistos
e sempre aperfeiçoados.
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UNIDADE II │ FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
Essas, por sua vez são desdobradas em disciplinas. Mas a divisão em “disciplinas potenciais” não
significa que elas são obrigatórias ou mesmo recomendadas. O que é obrigatório pela LDB ou pela
Resolução no 3/1998 são os conhecimentos que essas disciplinas incluem e as competências e
habilidades a eles referidos e mencionados nos citados documentos.
A Base Nacional Comum não pode constituir uma camisa de força que tolha a capacidade dos
sistemas, dos estabelecimentos de ensino e do educando de usufruírem da flexibilidade que a lei não
só permite, como estimula. Essa flexibilidade deve ser assegurada, tanto na organização dos conteúdos
mencionados na lei, quanto na metodologia a ser desenvolvida no processo de ensino-aprendizagem
e na avaliação. (Parecer CNE/CEB no 15/1998).
É muito importante que se ressalte o seguinte: enquanto no Ensino Médio, de caráter apenas
propedêutico, os componentes curriculares são desenvolvidos com essa abordagem, na modalidade
integrada, eles assumem outro caráter que é o de preparação para o Trabalho.
A proposta pedagógica do Ensino Médio integrado à Educação Profissional tem como referência a
continuidade dos estudos, o exercício da cidadania, o mundo do trabalho em seu aspecto produtivo.
A partir dessa referência, depreende-se que os conteúdos da modalidade se originam da cultura, da
ciência, e do trabalho. Assim considerando, o currículo deve ser concebido e planejado a partir dessas
fontes que se constituem, portanto, os princípios estruturantes da modalidade. Nessa perspectiva,
esses princípios têm os seguintes significados:
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FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
›› como categoria econômica, como práxis produtiva – com base nos conhecimentos
existentes (científicos e culturais), a sociedade produz novos conhecimentos
e outros produtos necessários aos processos produtivos. O trabalho é princípio
educativo na medida em que coloca exigências específicas para o mundo produtivo.
Por educação integral entende-se a formação completa, que não falta nada essencial, desenvolvida
sem restrição, sem qualquer diminuição – a parte e o todo. A integração é uma articulação
de partes e envolve aspectos materiais, sociais e afetivos. A educação integral é básica para o
complemento necessário à vida do educando. O complemento constitui-se uma constante na vida
do ser humano e é facilitado quando ocorre fundamentado por sólida educação de base, por uma
educação integral. (CIAVATTA, 2005)
O Ensino Médio integrado à Educação Profissional possui objetivo e outras especificidades, nem
sempre focalizadas pelo ensino profissionalizante nas modalidades concomitante e subsequente ou
por curso unicamente propedêutico.
A formação integrada sugere tornar integro, inteiro o ser humano dividido pela divisão social do
trabalho entre a ação de executar e a ação de pensar, dirigir ou planejar. (CIAVATTA, 2005)
O quê integrar?
No caso de uma formação integrada, o conjunto é constituído pelas especificidades de determinada área
de produção (caráter profissionalizante), outros conteúdos universais que permitem a continuidade
de estudos, e outros elementos necessários à vida cidadã. A integração faz-se com a inclusão de cada
elemento educativo que se pretende incorporar, integralizar para formar o todo coerente.
Convém ressaltar que a maior parte dos conteúdos necessários a um profissional tem como
fundamento os conteúdos habitualmente desenvolvidos nos tradicionais componentes curriculares,
do Ensino Médio propedêutico – Português, Matemática, Língua Estrangeira, Física, Química,
Biologia, Geografia, História e nos componentes recentemente reintegrados, Filosofia e Sociologia.
Assim, muito pouco restará para os componentes específicos da área profissional que, por sua vez,
serão também integrados ao conjunto das especificidades profissionais.
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UNIDADE II │ FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
Nessa perspectiva, o que se denomina educação geral torna-se parte inseparável da Educação
Profissional. As especificidades de cada área profissional constituem-se, assim, os conjuntos nos
quais devem ser incorporados, integralizados os diferentes conteúdos dos diversos componentes
curriculares comuns e dos específicos.
A implantação do Ensino Médio Integrado à Educação Profissional não se constitui tarefa simples.
Essa integração não é tarefa fácil para uma escola acostumada a trabalhar com currículo definido
a partir de disciplinas tratadas de forma segmentada, com grade horária como o foco principal
do planejamento curricular e, muitas vezes, com conceitos de conteúdos e de competências
distorcidos.
o Ensino Médio Integrado não pode e nem deve ser entendido como um curso
que represente a somatória de dois cursos distintos, embora complementares
que possam ser desenvolvidos de forma bipolar, com uma parte de
Educação Geral e outra de Educação Profissional. Essa foi a lógica da Lei no
5.692/1971. Essa não é a lógica da atual LDB, a Lei no 9.394/1996, nem do
Decreto no 5.154/2004, que rejeitam a dicotomia entre teoria e prática, entre
conhecimentos e suas aplicações.
Para o trabalho de integração, a escola conta com os referenciais (PCNEM, CNCT), que podem
ajudar a todos que deverão estar envolvidos no processo de implantação.
Para que a proposta aconteça, de fato, na escola há de se modificar a conformação estrutural dos
currículos escolares. Nesta modalidade todos os componentes devem estar voltados para a formação
profissional. Elas devem ser integradas ao Eixo Trabalho. Cada componente deve ser organizado
respondendo à pergunta: em quê e de que forma ele contribui para a formação do profissional
pretendido. Todos os componentes desempenham um papel importante na formação profissional
do aluno.
Nesse sentido a Ciência (geralmente vista como cultura geral), converte-se em potência material no
processo produtivo. Assim a Física, a Química, a Biologia e a Matemática devem ser desenvolvidas
fundamentando esse entendimento; as disciplinas da área Cultura, História, Geografia, Filosofia
etc. permitem a compreensão dos fundamentos prévios que levaram os fenômenos estudados a
apresentarem o atual estágio de desenvolvimento. Da mesma forma, os componentes específicos
do eixo profissional contribuem para a Educação Básica uma vez que aprofundam os conteúdos, as
habilidade, as atitudes próprias desta.
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FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
Pode ser que deva aparecer algum aspecto curricular sem nenhuma integração com o eixo tecnológico.
Realmente, pode existir conteúdo que não se integra com outros, mas que devem ser desenvolvidos,
considerando o direito do aluno que pretenda realizar um exame vestibular.
A realização do projeto requer, senão a cooperação de todos no primeiro momento, pelo menos, a
conscientização e a participação progressiva da maioria dos que fazem a escola.
»» a interdisciplinaridade;
»» a flexibilidade;
»» a imaginação criativa;
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UNIDADE II │ FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
A concepção do projeto pedagógico do curso deve resultar de um trabalho coletivo das pessoas que
fazem a escola, incluindo-se representantes dos pais, dos alunos e da comunidade econômica e
administrativa do Município e ou da Região.
»» Que ser humano pretendemos ajudar a formar? Quais são suas características
morais, intelectuais, mentais, físico-biológicas, sociais, emocionais?
Concebido o paradigma do curso, construído o referencial teórico, a equipe poderá, então, definir o
Perfil Profissional pretendido para os alunos.
70
CAPÍTULO 3
Aspectos organizacionais e
pedagógicos atuais – o perfil do
profissional do aluno
O Aluno é o ponto central de todo o trabalho. A escola existe para ele. Ele é a razão da proposta
educativa. Como já visto, “nos últimos anos, a expansão da oferta do Ensino Médio tem sido um
desafio para os educadores. Ela representa decisões importantes porque significa a presença de
jovens que nunca tiveram acesso a esse nível de ensino, que sempre estiveram fora do sistema e a
necessidade de se garantir sucesso a eles e, principalmente, aos que, embora tenham conseguido
matrícula, nem sempre, desenvolvem um percurso bem-sucedido. A heterogeneidade do corpo
discente é uma realidade e diversas demandas se fazem presentes.”
O planejamento de um curso profissional para esses jovens precisa considerar esse desafio.
Possivelmente muitos alunos não dispõem de requisitos considerados importantes para a
aprendizagem dos conteúdos profissionalizantes e este fato precisa ser considerado com
responsabilidade. Assim, o planejamento deve prever – incluir e realizar – estratégias de verificação
desses requisitos, em relação a cada aluno, e de recuperação, quando for o caso. Essa recuperação
deve ser prévia, ou seja, acontecer antes de o professor encarregado pela disciplina profissionalizante
iniciar o seu programa de ensino. Isto não se constitui perda de tempo. O trabalho pode ser feito
com a monitoria de outro aluno que esteja bem no assunto. Essa medida, além de eficaz, tem a ver
com os princípios de solidariedade, de justiça estabelecidos para a educação nacional. Ela educa,
facilita o trabalho do professor e promove o SUCESSO de todos os alunos. Nós não temos o direito
de culpar o aluno pela sua falta de base. Precisamos fazer algo por ele. Um professor não tem o
direito de reprovar um aluno se nada fez para ajudá-lo.
Atualmente, o Mundo Produtivo demanda profissionais com novo perfil e este pressupõe uma
Educação Básica consistente, de qualidade. Se o aluno se apresenta sem essa característica,
precisamos ajudá-lo no processo de recuperação que se faz necessário.
Na realidade, é essa a imagem que orienta o trabalho de definição do currículo. Ela corresponde ao
Perfil do Profissional que se pretende formar. E esse perfil precisa ser definido e explicitado de
forma clara e objetiva.
Como foram mencionadas anteriormente, algumas especificidades de cada curso estão indicadas no
Catálogo Nacional de Cursos Técnicos.
Quando falamos de currículo escolar, nos referimos aos processos de ensino e de aprendizagem e
torna-se importante recordar alguns conceitos.
71
UNIDADE II │ FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
Desde que nascemos, aprendemos e ensinamos sempre: Começamos a vida aprendendo que o choro
é um importante meio de comunicar nossas necessidades e ensinamos a quem cuida de nós que
temos fome, frio, dor ou que queremos um colo. Na relação social, há sempre alguém que ensina – o
ensinante – e alguém que aprende – o aprendente. Ensinamos e aprendemos nas diversas situações
da nossa vida. Esses processos de ensino e de aprendizagem tornou-se tão importante que a
sociedade criou instituições – a escola – como responsável por alguns ensinamentos e consequentes
aprendizagens, consideradas como importantes. Nessa instituição, o ensino e a aprendizagem
ganharam especificidades:
A forma como a aprendizagem desenvolve-se e classifica-se é explicada por diferentes teorias e você,
neste curso e, possivelmente, em outros já estudou várias delas. Expressas de maneiras diferentes,
nós sempre encontramos nessas teorias referências a estas aprendizagens: ao conhecimento
(aspecto cognitivo), às habilidades (aspectos psicomotor e intelectual), às atitudes (aspecto afetivo).
A aprendizagem refere-se ao SABER: saber o quê, saber para quê, como saber, o porquê do saber,
saber fazer.
A habilidade refere-se ao saber fazer, ao como saber. Ela se manifesta pela condição física,
mental ou de caráter do indivíduo, de forma apta, apropriada, no momento em que ele realiza uma
atividade, desempenha papéis, resolve problemas.
As habilidades são componentes do saber fazer algo, do saber utilizar um conhecimento de forma
produtiva, de expressar um valor pessoal.
A atitude refere-se a aspectos afetivos, ao saber para quê, ao porque do saber, ou seja, aos
interesses e motivações do indivíduo.
A atitude é uma característica individual – é uma reação positiva, negativa ou indiferente de uma
pessoa em relação a alguma coisa ou fato. É um componente de motivação intrínseca que influencia
a pessoa a desempenhar determinado comportamento. Exemplos: Comportamento solidário;
72
FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
Além dos conhecimentos e das habilidades, as atitudes são muito importantes para a vida pessoal
e profissional. Elas correspondem à essência do ser, à busca do universo interior e a sua relação
com o ambiente, com o mundo exterior. Essas se manifestam como comportamentos emocionais.
Quando bem utilizados, esses comportamentos permitem à pessoa o domínio de suas energias mais
positivas e a da expansão de suas habilidades e potencialidades.
Exemplo:
Uma pessoa para habilitar-se a uma carteira de motorista precisa demonstrar condições, tais como:
Realizado o curso, comprovado o seu potencial, de posse da sua habilitação, o motorista enquanto
dirige deve mobilizar as condições que possui, operando um sistema mecânico/eletrônico complexo,
utilizando suas diversas habilidades, demonstrando atitudes próprias do comportamento no
trânsito. Se ele fizer uma mobilização correta das suas condições, pode-se dizer que ele dirige com
competência, que é um motorista competente.
Assim, quando se estabelece um curso de formação de motorista deve ser vislumbrado, conceituando
o que caracteriza, um motorista competente e definir os conhecimentos, as habilidades, as atitudes
de que ele necessita para quando solicitado a atuar como tal poder agir com competência, ser um
motorista competente. A mobilização dessas condições é uma capacidade individual, sujeita a
uma série de fatores ambientais e emocionais que ocorrem em situações práticas. Dependendo da
mobilização feita no momento da execução da tarefa a pessoa é competente ou não.
Esse é apenas um exemplo, mas isso ocorre em todos os cursos de formação profissional.
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UNIDADE II │ FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
Não se pode desconhecer o fato de que a forma como um motorista e todos os demais profissionais
agem depende, diretamente, de circunstâncias do ambiente e de motivação e disposições (atitudes)
pessoais no momento da ação.
Quando são definidos os padrões de aprendizagem em relação a determinado curso, deve ser
pensada a forma de avaliá-los. E no transcorrer do curso só pode ser avaliado o nível de apreensão
e a capacidade de aplicação dos conhecimentos, das habilidades e das atitudes manifestadas. No
entanto, com a metodologia de resolução de problemas, de projetos, com a realização de estágios
propõem-se situações que exigem desempenhos próximos ao de uma situação de trabalho que
indicam se aluno está ou não preparado para atuar com competência profissional, quando assim
for solicitado.
A Escola é influenciada por intenções políticas de diferentes instituições sociais. Essas intenções,
embora articuladas fora, penetram na escola e a modelam e a controlam. Ela é afetada pela mediação
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FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
das famílias e dos grupos que a cercam, por outras organizações locais e remotas, especialmente
pelo poder público organizado. Essas intenções precisam ser conhecidas, analisadas e em relação a
elas deve ser tomada uma posição crítica e responsável. O trabalho não pode ser incoerente com a
concepção, com o Perfil Profissional estabelecido. Por isso, é importante que se esteja sempre atento
ao que é proposto, independentemente das fontes. Uma vez definida a posição do grupo, esse deve
estar vigilante para que a sua prática seja objetiva e coerente.
A definição de um perfil profissional não pode incluir apenas o “modus operandi” das atividades
laborais próprias da profissão pretendida. O perfil deve caracterizar o profissional nas diferentes
dimensões necessárias à realização do trabalho – conhecimentos, habilidades e atitudes.
Rubem Alves nos fala da aprendizagem do ato de ver e sentir, da educação das
habilidades, da sensibilidade, da sabedoria. Aprendemos a palavra para melhorar
os olhos e as palavras só têm sentido se nos ajudam a ver um mundo melhor. Com
propriedade ele diz que: “Sem a educação da sensibilidade, todas as habilidades são
tolas e sem sentido. Os conhecimentos nos dão meios para viver e a sabedoria nos
dá razões para viver”.
Que haja sensibilidade e sabedoria para que possamos ver a educação como fonte
de esperança e de transformação.
75
CAPÍTULO 4
Aspectos organizacionais e
pedagógicos atuais – a construção de
Proposta (Matriz) Curricular
O currículo só se realiza na prática, mas esta deve planejada. Ser construída, progressivamente. Na
realidade, o planejamento do currículo é feito por quem o prescreve: – começa pelos legisladores e
conselheiros; passa por autores de livros didáticos; por especialistas em educação; pelos professores
que definem a programação. As decisões oriundas dessas fontes são somadas e dão forma à
prática, mas essa só se realiza durante os processos de ensino e de aprendizagem. Os momentos
do planejamento são aproximações sucessivas à forma prefigurada que a prática tem antes de
transformar-se em ação. (SACRISTAM, s/d, p. 281)
Já é hora, ou já passou da hora de nos posicionarmos frente às prescrições que nos apresentam.
Com certeza existem contribuições muito importantes que podem e devem ser aproveitadas. Mas,
todas devem ser “colocadas em crise” para a verificação relativa à conveniência e adequação ao
nosso projeto.
O planejamento curricular é um processo de conceitualização das relações que devem ocorrer entre
alunos, professores, materiais, conteúdos, tempos, resultados de aprendizagem. É um guia para
a instrução que organiza todos os fatores relacionados com a prática a fim de obter determinados
resultados. (SACRISTAM, s/d, p. 282)
Não existe uma forma rígida de definição desses objetivos. O importante é que eles sejam claros,
precisos e exequíveis. Não adianta colocar divagações irresponsáveis.
Chega, enfim, o momento de definição da Matriz Curricular, também conhecida como Grade
Curricular.
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FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
A Matriz Curricular é o esquema (o lugar) onde se organiza a estrutura do curso, ou seja, se este
será desenvolvido em regime seriado anual (convencional), em períodos semestrais, em ciclos; em
módulos ou por outras formas de organização. Dessa matriz constam os componentes curriculares
com a distribuição preliminar das horas de trabalho a eles atribuídos.
Como foi visto no art. 22 da LDB, no que se refere ao currículo, os processos de ensino e de aprendizagem
podem ser organizados em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos
de estudos, grupos não seriados, com base na competência e em outros critérios, ou por forma diversa
de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar.
Este dispositivo dá à escola uma grande liberdade e responsabilidade para formulação de uma
matriz curricular. Ela pode desenvolver o currículo com formatos bem diferentes. Por exemplo:
É importante destacar que o CNTC estabelece o mínimo de horas a ser observado em relação a cada
curso. É evidente que essas horas podem ser (e geralmente são) ampliadas.
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UNIDADE II │ FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
Na modalidade integrada
Na modalidade integrada, tem-se a oportunidade de desenvolvimento de um currículo que integre
a educação geral como parte inseparável da Educação Profissional.
Conforme foi tratado em capítulo anterior, no Ensino Médio Integrado à Educação Profissional
(EMIEP) a base comum do Ensino Médio propedêutico e os componentes específicos do curso
profissional (CNTC) são desenvolvidos de forma integrada para que esses aconteçam incorporando a
dimensão intelectual ao trabalho produtivo. Essa organização objetiva formar profissionais capazes
de atuar como executores de um processo laboral e de outros papéis em sua trajetória de cidadãos
conscientes e integrados à sociedade. Com a contextualização desses conteúdos, a aprendizagem
torna-se mais eficaz, preparando também o aluno para o sucesso nos processos de seleção utilizado
para o ingresso em cursos superiores.
Nesse sentido, a forma de apresentar a organização curricular de um curso integrado não pode
ser a mesma de um curso concomitante ou subsequente e, muito menos, não pode ser na mesma
forma que era utilizada sob a orientação da Lei no 5.692/1971, segundo as diretrizes emanadas dos
Pareceres CFE nos 45 e 853 e de outros decorrentes destes.
Em relação a esse aspecto, o Conselho Nacional de Educação, no Parecer no 39/2004 assim se expressa:
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FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
Por essas razões, o Ensino Médio integrado à Educação Profissional não possibilita saídas
intermediárias com a obtenção de certificados de qualificação profissional. Em relação a esse ponto,
o Conselho Nacional de Educação, no Parecer no 39/2004 assim se expressa:
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UNIDADE II │ FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
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FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
A Parte Diversificada é muito importante. Ela pode se constituir no eixo de projetos de interesse
da escola. Para essa parte, podem ser selecionados temas de interesse local, relacionados à natureza
do curso selecionado.
Conforme a Resolução CNE/CEB no 4/2009 que Dispõe sobre a instituição desse Sistema em
substituição ao Cadastro Nacional de Cursos Técnicos de Nível Médio, no art. 2o:
Parágrafo único. O SISTEC contempla todos os alunos com matrícula inicial nos cursos técnicos de
nível médio desde 2 de janeiro de 2009.
Educação Profissional
No processo de integralização curricular, a critério da escola, pode ser admitida a possibilidade de
aproveitamento de estudos e de experiências demonstradas por alunos. O aproveitamento de
estudos e de experiências anteriores é uma concessão excepcional que a escola faz a um aluno
que demonstra possuir conhecimentos ou experiência profissional, anteriormente adquiridos e
devidamente comprovados, numa determinada área do conhecimento, relacionado a um (ou mais)
componente curricular previsto para a efetivação do Curso.
É muito comum, por parte de alguns alunos, a demonstração de proficiência em determinadas áreas,
tais como, língua estrangeira, informática, educação física, desporto, técnicas laborais específicas.
Para que essa possibilidade ocorra, ela deve ser explicitada no Plano de Curso com o estabelecimento
dos critérios e da forma que serão usadas na avaliação do desempenho do aluno e para a concessão
do crédito.
Essas são normas básicas, de âmbito nacional, referentes à Educação Profissional de Nível Técnico.
Em seu estado e no Distrito Federal, essas normas são adequadas às expectativas e necessidades da
região e, para isso, surgem outras regulamentações que devem ser observadas. Normalmente, elas
são mais detalhadas.
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UNIDADE II │ FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
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CAPÍTULO 5
Os Profissionais da Educação
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UNIDADE II │ FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
A vida de uma escola depende dos recursos humanos. Não adianta dar prioridade à definição de
propostas, à organização e ao funcionamento dos espaços físicos se os profissionais não forem
capacitados e estiverem felizes e comprometidos com o projeto.
Abordagem Legal
Conforme a legislação vigente, a Educação Profissional é desenvolvida por meio de cursos e
programas de formação inicial e continuada.
A formação inicial corresponde à habilitação legal e primeira para determinada profissão, que se dá
como “técnica”, se de nível médio; como “tecnólogo”, “bacharelado” ou “licenciatura”, se de nível
superior. Licenciatura significa preparação de professor.
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FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
A formação do Professor
O Título VI da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) trata dos Profissionais da
Educação e estabelece que a formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em Nível
Superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de
educação. Admite, no seu art. 63, o desenvolvimento de programas de formação pedagógica para
portadores de diplomas de educação superior que queiram se dedicar à Educação Básica. Nesse
caso, são bacharéis ou tecnólogos que desenvolvendo a complementação pedagógica adquirem a
licenciatura para lecionar.
Mas muitos desses são apenas bacharéis, sem cumprimento da exigência legal para o exercício do
magistério. Essa e outras situações verificadas indicam a necessidade de uma gestão eficiente, em
todos os níveis de administração, capaz de promover ações que garantam uma formação inicial e a
continuada dos professores. Cabe, também, a estes procurar oportunidade para a complementação
exigida e um permanente processo de treinamento e aperfeiçoamento.
O ser humano é o mais importante recurso na Educação Profissional. Você é um deles. Sua
capacitação e seu aperfeiçoamento contínuo são muito importantes para o trabalho. Investindo em
seu aperfeiçoamento, você estará construindo o seu maior patrimônio que é o seu saber. A sua
valorização depende muito de você.
Por essa Lei, os sistemas de ensino devem promover a valorização dos profissionais da educação,
assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério público:
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UNIDADE II │ FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
O texto apresentado a seguir foi elaborado a partir do texto de Cleunice M. Rehem – “O Professor
da Educação Profissional: Que perfil corresponde aos desafios Contemporâneos?” Ele contém
algumas ideias e excertos do referido trabalho.
No mundo contemporâneo, formar o novo profissional com capacidades para enfrentar o complexo
mercado de trabalho requer professores com novo perfil que possibilite promover com efetividade
as aprendizagens necessárias. A Educação Profissional precisa de um novo professor que:
»» demonstre modos de saber fazer, saber ser ou viver e não de um professor ortodoxo
que apenas divulga e transmite o “seu saber” aos alunos; incentive a investigação, a
pesquisa (real) e não de um que enfatize a aula expositiva;
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FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
»» autonomia/independência;
»» ultrapassagem de limites;
»» imaginação;
»» autenticidade;
»» identidade cultural;
»» quebra de preconceitos;
»» prazer/alegria;
»» leveza;
»» ousadia/coragem;
»» inovação;
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UNIDADE II │ FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
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FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
›› Buscar meios de fazer com que o trabalho educativo guarde ou encontre condições
para incluir os que hoje são excluídos.
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CAPÍTULO 6
A Gestão da Educação Profissional
Conceitos e características
Gestão é uma atividade comum em todas as áreas, mas possui especificidades próprias de cada uma.
Além disso, dentro de uma mesma área podem existir diferenças entre os vários setores, como em
educação, que apresenta especificidades entre níveis e entre modalidades de ensino.
Em educação, quando se fala em gestão, a tendência é que o pensamento se volte para o processo
que se realiza na escola como um todo. Mas, além desse alcance, a gestão educacional pode referir-
se à administração Federal, Estadual/Distrital, Municipal e, também, a setores da própria escola e
de outras instituições que compõem o sistema.
Gestão é uma palavra de origem latina gestio onis (Houaiss) e significa ato ou efeito de gerir, de
administrar, de gerenciar, de dirigir algo. A utilização dessa palavra e de derivados (gestor, gestora,
gerir) é, relativamente, nova em educação. Antes, usava-se apenas direção, diretor, diretora ou
administração da escola. Essa troca de termos coincide com o período de busca de mudança de
concepções na educação, de inovações das práticas pedagógicas e, sobretudo, na busca da qualidade
do processo educativo (LÜCK, 2006). Antes o termo era restrito à pessoa de quem dirigia a escola;
atualmente, há uma ampliação do termo para o processo de gerir a dinâmica do sistema educativo,
em um processo mais democrático.
Importante destacar que a mudança de termos pode facilitar a adoção de novos significados para
a ação, mas não é suficiente para garantir o que se pretende porque a mudança pressupõe a real
compreensão da importância e das suas implicações no modo de ser e agir.
Segundo Lück (2006), adotamos o conceito de gestão na forma pretendida, quando assumimos
uma mudança de concepção a respeito da realidade e na maneira de compreendê-la e
de atuar.
No presente trabalho, serão focalizados aspectos genéricos da Gestão, mas especialmente voltados
para o Ensino Médio e neste para Educação Profissional.
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FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
Entes Federados
O Estado Brasileiro é composto por um conjunto harmônico de entes federados autônomos entre
si – Estados, Distrito Federal e Municípios. A Constituição Brasileira, ao definir esse conjunto,
determina os limites de poderes, atribuindo a cada ente as suas competências, ou seja, a faculdade
jurídica para emitir decisões e realizar suas funções. A divisão de poderes é o ponto principal do
pacto federativo. A autonomia que os entes federados detêm decorre da Carta Magna, que consolida
e harmoniza o equilíbrio federativo.
No que se refere à Educação, inicialmente, tal medida é estabelecida pela LDB que, no art. 8º,
determina que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizem, em regime de
colaboração, os respectivos sistemas de ensino, cabendo à União a coordenação da política nacional
de Educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e exercendo função normativa, redistributiva
e supletiva em relação às demais instâncias educacionais. Nesse processo, é assegurado aos sistemas
de ensino liberdade de organização nos termos da Lei.
O art. 9o determina que a União, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
deve elaborar o Plano Nacional de Educação. Na área de Educação, esse plano é o principal elemento
de integração e de articulação entre os entes federados.
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UNIDADE II │ FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
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FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
O art. 15 estabelece que “Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de
Educação Básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e
de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público”.
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UNIDADE II │ FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
A União deve aplicar, anualmente, nunca menos de dezoito por cento da receita resultante de
impostos. Os estados, o Distrito Federal e os municípios, vinte e cinco por cento ou o que consta nas
respectivas Constituições ou Leis Orgânicas, compreendidas as transferências constitucionais na
manutenção e no desenvolvimento do ensino público.
Até 2006, a maioria dos recursos destinados à Educação Profissional procedia de acordos
internacionais. Historicamente, esses acordos nunca foram constantes e muitos foram inconsistentes
e inadequados à realidade nacional.
Atualmente, prevê-se que a Educação Profissional, oferecida pela rede pública de ensino será
mantida com recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB).
94
FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
Essa demanda, associada às outras necessidades educacionais, gerou a proposta de ampliação desse
fundo para que ele pudesse financiar também a Educação Infantil, o Ensino Médio e a Educação
Profissional de Nível Técnico, proporcionando a elevação e uma nova distribuição dos investimentos
em educação.
Assim surgiu o FUNDEB. O que significa o FUNDEB, como fonte de financiamento da Educação
Profissional?
Esse fundo foi criado com o objetivo de eliminar os problemas existentes e o descompasso verificado
no atendimento dos três níveis de ensino que compõem a Educação Básica, na rede pública. Tal
descompasso decorre da ausência de uma política que promova a universalização indistinta do
atendimento, sustentada por mecanismos que assegurem a melhoria qualitativa do ensino oferecido,
com valorização dos profissionais da educação.
O FUNDEB terá vigência de 14 anos, contados a partir do primeiro ano da sua implantação.
O desafio relativo à distribuição dos recursos é responsabilidade de comissão composta
por representantes de estados, município e do governo federal que terá a responsabilidade
de definir, a cada ano, os valores mínimos a serem investidos em cada uma das etapas –
Ensino Infantil, Fundamental, Médio, Educação Profissional, Educação de Jovens e Adultos
e Ensino Especial. Possivelmente, essa partição dos recursos provoca discordâncias entre
os dirigentes responsáveis por essas etapas. Contemplar a todos com um único fundo é
tarefa complexa e pode estar vulnerável a prestígios pessoais e, nem sempre, atende às
necessidades reais de todos. Essa distribuição é feita entre as prefeituras, os Estados e o
Distrito Federal.
Ressalte-se que o autor se referiu a toda oferta nacional que inclui o sistema federal de ensino,
as redes estaduais/Distrito Federal, o Sistema S, centros de formação mantidos por empresas e
por órgãos públicos, as escolas municipais, as escolas particulares que desenvolvem Educação
Profissional e, também, cursos oferecidos com recursos públicos e outros provenientes de famílias
e dos próprios alunos que arcam com custos de seus estudos.
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UNIDADE II │ FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
O Sistema S – Esse sistema é constituído por nove entidades (SENAI, SESI, SENAC, SESC,
SEST, SENAT, SENAR, SEBRAE, SESCOOP). Essas entidades mantêm programas de Educação
Profissional em diversos e variados cursos. Elas não são instituições estatais, são privadas, mas o
grande montante de recursos que os mantêm são públicos, porque estão embutidos no custo dos
produtos e serviços que a sociedade utiliza (GRABOWSKI, 2006). Os recursos são oriundos de
fontes específicas, recolhidos e repassados pelo governo federal. Além desses recursos, os sistemas
contam com outros recursos oriundos de convênios firmados com instituições públicas estaduais,
municipais, de empresas privadas, de ONGs e do FAT.
O Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), anualmente, destina considerável soma de recursos para
a Educação Profissional, em convênio com ONGs, com o Sistema S e outras instituições, geralmente
via Secretarias de Trabalho das diversas unidades da federação.
Em nível estadual e Municipal – Geralmente o que se verifica em nível federal ocorre, também,
nos estados e em muitos municípios.
Secretarias de Educação – Os estados, o Distrito Federal e muitos municípios mantêm escolas que
desenvolvem Educação Profissional.
Secretaria do Trabalho e outras dos Estados, do Distrito Federal e de alguns municípios, muitas
vezes, celebram acordos com ONGs, com instituições do Sistema S e com outras instituições e para
esses são alocados recursos específicos para o desenvolvimento de projetos de Educação Profissional.
ONG – É grande o número dessas instituições voltadas para a Educação Profissional. Normalmente,
elas são financiadas com recursos públicos, de outras instituições da sociedade civil organizada, de
fundos. É comum a verificação de denuncias e, até, a existência de CPIs relacionadas à malversação
desses recursos por algumas dessas instituições, sobretudo com recursos do FAT.
Setor privado – Algumas empresas, além de serem sócias do Sistema S, mantêm centros de
treinamento. Além dessas, existe uma rede de estabelecimentos de ensino privados que também
oferecem Educação Profissional.
Não pode ser desconsiderado o esforço que as famílias/pessoas fazem, atualmente, para financiar
com recursos próprios os estudos na rede Aprivada de Educação Profissional que vem crescendo a
cada ano.
Não se tem um diagnóstico preciso que demonstre a soma dos recursos financeiros e de outra
natureza aplicados na Educação Profissional, mas pode-se depreender que é alta.
96
FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
Talvez, esta se constitua uma das medidas de mais difícil implantação. Ela pressupõe renúncia de
poder econômico e político das instituições envolvidas.
Para uma política correta, devem ser potencializadas as ações existentes, expandindo a oferta de
vagas, qualificando as redes de ensino, otimizando estruturas e recursos públicos com vistas à
ampliação da oferta do Ensino Médio integrado à Educação Profissional. Garantir uma educação de
qualidade é difícil porque a sociedade ainda não reconheceu a sua importância.
Um trabalho desenvolvido a partir dos “Arranjos Produtivos Locais” e/ou regionais pode constituir-
se uma oportunidade de integração e racionalização de recursos e de esforços.
Assim considerando, a gestão dos recursos deve desenvolver-se segundo metas bem definidas e
coerentes com as finalidades e os objetivos estabelecidos.
A eficiência em educação tem relação com a utilização e atuação técnica adequadas dos
recursos disponíveis; a efetividade tem relação com a capacidade de produzir os resultados
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UNIDADE II │ FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO
Um professor selecionou e organizou uma atividade para ensinar determinado conteúdo. Ele a
desenvolveu e alguns alunos aprenderam e outros não. Para os que não aprenderam, ele programou
e desenvolveu outra atividade e eles tiveram sucesso. O professor desenvolveu as duas atividades
com muita eficiência técnica, mas a primeira só apresentou efetividade para o primeiro grupo.
(É possível que a segunda fosse efetiva para os dois grupos ou não.) A eficácia da aprendizagem
resultante depende da validade que ela apresenta para cada aluno.
Não existem estratégias tecnicamente eficientes, efetivas e eficazes, capazes de, por si, garantirem
os resultados esperados, mas podemos prever combinações de materiais, tempo e custos na busca
de determinados objetivos com menos dispêndios humanos e materiais.
Em Economia, a eficiência técnica tem relação com o volume de insumos utilizados e a quantidade
resultante de produtos.
Em educação, nossos critérios são outros; não falamos em custo benefício, mas precisamos
considerar a maximização dos recursos disponíveis e necessidade de economizar, de reduzir
dispêndios possíveis, sobretudo daqueles que significam um compromisso com o meio ambiente.
Isso, além de positivo, é educativo.
A partir dessas estimativas, o orçamento pode ser construído. Quando se tem dificuldade em definir
prioridades para alocação de recursos, torna-se conveniente realizar várias opções orçamentárias,
identificando comprometimentos em itens de despesas insubstituíveis.
A escola deve elaborar um delineamento das suas necessidades, incluindo-se a manutenção das
ações, por setor. A partir daí, estabelecer seguinte.
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FUNDAMENTOS DO PROCESSO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO │ UNIDADE II
Aqui, vale novamente a ressalva para questões de ordem moral, no que se refere à
utilização dos recursos financeiros de forma compromissada com as necessidades
dos alunos, de maneira responsável e honesta.
99
O ESPAÇO
EDUCATIVO NA UNIDADE III
EDUCAÇÃO
PROFISSIONAL
CAPÍTULO 1
Relações e espaços democráticos no
ambiente escolar – a construção e a
importância no processo
A partir dessas considerações, pode ser depreendida a importância dos contextos no desenvolvimento
do indivíduo. Transpondo para a o ambiente escolar e, especificamente para a sala de aula, podemos
concluir que poucos acontecimentos podem aí ocorrer sem uma relação direta com a aprendizagem.
A vida nas salas de aulas tem características muito próprias que significam um processo sistêmico
de comunicação. A forma como o ambiente é percebido pelo aluno tem uma relação direta com
a aprendizagem. Se o ambiente lhe parece agradável, o seu interesse e conquistas serão muito
diferentes do que é realizado em um ambiente que lhe é desagradável.
100
O ESPAÇO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL │ UNIDADE III
Mas, na realidade, o que se percebe é que não se verificam os devidos cuidados com a gestão e
organização da sala de aula, com os seus aspectos particulares, para que eles sejam ambientes
agradáveis e adequados aos interesses e necessidades dos adolescentes, como ocorre com os
espaços dedicados às crianças. No Ensino Médio, focalizam-se mais as facilidades administrativas
do que a qualidade e efetividade das estratégias de ensino aí desenvolvidas. Isso é um reflexo
da desconsideração que se tem com as características do aluno, do paradigma que norteia o
processo educativo.
Faz-se necessário que a gestão escolar investigue sobre modos de gerir e (re)organizar os ambientes
de ensino-aprendizagem e busque, não só o modo como a ordem é estabelecida e mantida, mas,
sobretudo, sobre os processos educativos que pretende desenvolver e de como tornar o ambiente
adequado ao aluno.
Educação
Com certeza, é na sala de aula que se desenvolve a maior parte dos processos de ensino e de
aprendizagem e esse apresenta duas tarefas estruturais:
»» aprendizagem e
»» ordem.
A “ordem” realiza-se pela função de gestão do ambiente pelo professor, isto é, pela organização, pelo
estabelecimento de regras e procedimentos. (DOYLE, 1986, p. 395)
Essas duas tarefas estruturais são indissociáveis. No seu quotidiano, o professor lida com elas,
simultaneamente, instruindo e gerindo o comportamento dos alunos. Assim, a boa gestão e
organização da sala de aula é uma condição para que a aprendizagem possa ocorrer, dado que o
envolvimento dos alunos no trabalho está relacionado com a forma como os professores operam
essas estruturas da sala de aula.
Assim considerando, tem-se que o comportamento dos alunos é muito influenciado pela forma de
organização e de gestão do ambiente destinado ao processo educativo; é uma resposta aos níveis
estruturais e exigências do ambiente, nas salas de aula, interligadas às atividades e tarefas realizadas.
Essa organização implica a consideração do fluxo de atividades previstas e esse tem um formato físico
(matérias e arranjo dos participantes no espaço), uma duração temporal (duração das atividades,
por período), um programa de ação (o que aí deve ser desenvolvido), o conteúdo temático (o que
deve ser ensinado e espera-se que seja apreendido).
Essas atividades são a unidade básica da organização do ambiente e devem ser consideradas na
perspectiva do processo de ensino-aprendizagem e da ordem necessária, mas não podem ser motivo
de desculpa para uma organização imprópria às características, necessidades e interesses dos alunos.
101
UNIDADE III │ O ESPAÇO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
A ordem deve ser buscada muito mais, como uma forma de cooperação dos alunos, sendo essa o
requisito mínimo para o bom funcionamento das atividades. A cooperação reflete a necessidade de
atividades educativas serem construídas pelos participantes, que assumem, assim, uma atitude de
envolvimento ativo na estratégia de ensino prevista e desenvolvida.
O envolvimento dos alunos nas tarefas acadêmicas pode também ser influenciado pela organização
e gestão do ambiente.
Os diferentes membros da comunidade escolar constroem seus ambientes conforme suas percepções.
Quando limitados às suas funções, eles não se sentem responsáveis pelos resultados. Quando
possuem uma visão empreendedora, proativa, de busca de sucesso, apresentam compromisso com
a superação das limitações individuais, grupais, institucionais. A construção do entendimento
institucional empreendedor se faz de modo interativo entre os vários membros da comunidade
escolar, constituindo-se a unidade social, consciente ou não.
Educação Profissional
A democracia e a descentralização de decisões são indicações do compromisso com a efetivação
de mudanças necessárias. Princípios democráticos valorizam as pessoas envolvidas no processo,
norteiam ações cooperativas/colaborativas, promovem a crença de que a corresponsabilidade é
capaz de produzir mudanças significativas.
102
O ESPAÇO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL │ UNIDADE III
ambiente democrático. Nesse ambiente, o conjunto é muito maior do que a soma das partes. Resulta
da sinergia que se verificam entre os componentes do grupo. Esse ambiente deve ser constantemente
construído. Ele não se realiza por uma decisão solitária, por uma ordem hierárquica decisória. Ele
depende de uma gestão inteligente e estratégica.
Você é um elemento fundamental no processo de gestão, não importa qual seja a sua função.
O sucesso do setor em que você trabalha (ou vai trabalhar) depende da sua participação. Não tenha
receio de manifestar suas ideias e opiniões. Contribua sempre. Sua participação e sua criatividade
podem contribuir para questões que há muito tempo estão sem solução.
103
CAPÍTULO 2
Gestão na Educação Profissional: da
Teoria à Prática, em Relação a atores
e outros
Ergonomia é uma palavra de origem grega ERGO (trabalho) + NOMOS (normas) e significa o
estudo do homem em suas relações com o trabalho. Trata da interação das pessoas com a máquina,
com o trabalho e o ambiente para torná-lo mais seguro, confortável, agradável.
Essa tarefa deve promover a convergência ergonômica, buscando a adaptação do ambiente ao aluno,
em contraposição à adaptação do aluno ao ambiente. Mas torna-se mais complexa porque, além da
adaptação aos alunos, deve, também, adaptá-los ao trabalho, minimizando, ao máximo, a carga
física e mental desnecessária e aumentando a produtividade.
O foco do trabalho de gestão escolar é o processo de ensino aprendizagem que aí se desenvolve. Para
isso a Escola existe.
Portanto, todo investimento pessoal e material deve ser feito para a criação e a manutenção das
condições físicas e sociais necessárias à vida escolar. A organização e a gestão dos recursos
devem ter relação com as atividades de estudo individuais e grupais de qualidade que promovam
o sucesso do aluno. A produção da qualidade do trabalho da Escola só é verdadeira se tem
relação com a individualização e com significação social do/para o aluno.
O espaço físico e social existente em uma escola reflete o cuidado que as pessoas que aí trabalham
têm com os alunos, com o seu processo de aprendizagem. Dificilmente ocorre um bom ensino e
consequentemente a aprendizagem requerida, em uma escola mal cuidada/suja.
104
O ESPAÇO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL │ UNIDADE III
Todos gostam de trabalhar e de estudar em uma escola limpa, bonita, clara, bem conservada, bem
instalada e aparelhada.
Frago (1998, p. 69) diz que o espaço físico de uma escola não apenas contribui para os processos de
ensino e de aprendizagem,
As condições da estrutura física e material da escola devem ser uma preocupação constante para o
bem-estar e o bom desenvolvimento de todas as ações educativas, para que alunos, professores e
demais pessoas que trabalham na escola possam ocupá-la e frequentá-la de forma agradável, alegre
e prazerosa.
»» a acadêmica e a
»» administrativa.
As duas incluem recursos físicos, humanos e tecnológicos. Para que a infraestrutura possa ser
considerada como indicador de qualidade em educação, deve ser suficiente, de boa qualidade,
bem aproveitada (Sítio do INEP), possuir padrões mínimos, conforme especificidades do
curso ministrado.
105
UNIDADE III │ O ESPAÇO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
De modo geral, a escola que oferece Educação Profissional deve dispor do seguinte.
»» Auditório.
»» Laboratórios de Ciências.
Foi feito um destaque com um (*) diante de sala aula com a intenção de apresentar uma proposta à
sua consideração. Precisamos lutar para a extinção das salas de aula na forma como são utilizadas
atualmente. Salas desse tipo são necessárias, mas não como base física constante e de continuidade
diária para atividades de ensino-aprendizagem. Com as características que possuem, elas são
contraproducentes porque limitam os adolescentes à realização de atividades em mobiliários
impróprios a suas idades. Precisamos ser mais compromissados com nossos alunos e criativos em
nossa maneira de ensinar; mais objetivos no aproveitamento de outros espaços existentes e que
geralmente são subutilizados.
Existem espaços em muitas escolas, alguns dispendiosos, pouco utilizados. Nossos alunos contam
com ambientes especiais para as aulas de Educação Física, de Artes, de Informática, Ciências
em Laboratório (às vezes), mas deveriam contar, sempre, para aulas de Literatura na biblioteca,
de Matemática, de Geografia, de História com salas-ambiente montadas para esse fim. Cada
sala-ambiente, como reduto dos professores, estimula a diversificação de estratégias de ensino
e a utilização de tecnologias. Os alunos, dirigindo-se para as salas-ambiente, movimentam-se
e arejam o espírito. Dá muito trabalho? Com certeza, dá trabalho diferente do relativo à sala
convencional. Mas, é mais produtivo e agradável. Além disso, quem disse que educar não é
tarefa trabalhosa?
106
O ESPAÇO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL │ UNIDADE III
A boa organização e utilização dos espaços físicos, da infraestrutura escolar deve ser objeto de estudo
e reflexão nas ações de formação continuada de professores e de outros profissionais da educação.
A organização e a instalação dos espaços físicos não é uma tarefa simples. Envolve decisões
importantes e, nem sempre, todos estão preparados para tomá-las. Um dos problemas enfrentados
nos momentos de decisão sobre a destinação de recursos refere-se à ausência de conhecimentos
para a especificação necessária, ou seja, para o detalhamento das características que o equipamento,
o mobiliário, o espaço físico devem apresentar.
A especificação dos recursos físicos não pode ser uma ação solitária. Requer a participação de quem
vai utilizar o equipamento, de quem compra e de quem vende, em ação conjunta. É muito comum,
em Educação Profissional, encontrar-se equipamentos em desuso, sucateados e alunos sem o
equipamento necessário. Quase sempre, esses são especificados de forma equivocada, ou por quem
não conhece as necessidades do ensino ou por quem não sabe fazer os detalhamentos devidos. A
especificação mal elaborada, superfaturada é um mal que precisa ser combatido, evitado de todas as
formas. Além disso, em se tratando de escola pública, qualquer ato de improbidade administrativa
que cause lesão ao erário, qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda
patrimonial, desvio de utilização, apropriação ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades
públicas, serão punidos na forma da Lei no 8.429/1992. Estão também sujeitos às penalidades dessa
Lei os atos de improbidade praticados contra o patrimônio de entidade que receba subvenção,
benefício ou incentivo, fiscal ou crédito, de órgão público, bem como daquelas para cuja criação ou
custeio o erário haja concorrido.
Para efeito dessa Lei, é considerado agente público todo aquele que exerce, ainda que
transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer
outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades públicas
ou subvencionadas com recursos do erário.
107
UNIDADE III │ O ESPAÇO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
No campo educacional, possivelmente, a profissionalização seja a área mais vulnerável a esse tipo de
problema, porque, além da infraestrutura material comum a todos os níveis e modalidades, envolve
equipamentos e materiais específicos, conforme o tipo de curso desenvolvido.
108
CAPÍTULO 3
Espaços internos e externos
O Estágio Curricular
»» A legislação específica
Prática educativa profissional é uma metodologia de ensino que contextualiza e põe em ação o
aprendizado construído. Ela se efetiva através de simulações, pesquisas e trabalhos de campo,
visitas técnicas, projetos, práticas de laboratórios e outros meios.
109
UNIDADE III │ O ESPAÇO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
II. Estágio profissional não obrigatório por exigências externas, mas incluído no
Plano do Curso por decisão da escola, o que o torna obrigatório para o aluno, como
componente curricular, também regulado pela Lei no 11.788/2008;
Em síntese alguns cursos profissionalizantes exigem o Estágio Supervisionado para que o Diploma
possa ser registrado no órgão de classe, outros não. Mas mesmo sem essa exigência, em alguns
cursos o Estágio é indicado em função da natureza da habilitação profissional e, como tal, deve
integrar a proposta curricular. O estágio deve ser oferecido sempre que necessário e em consonância
com o perfil profissional estabelecido para o curso.
O Estágio deve ser desenvolvido ao longo do curso, permeando o desenvolvimento dos diversos
componentes curriculares e não deve ser etapa desvinculada do currículo.
O estágio, de qualquer tipo, não cria vínculo empregatício de qualquer natureza. Como ato educativo
escola, deverá ter acompanhamento efetivo e comprovado pelo professor orientador da instituição
de ensino e por supervisor da parte concedente.
110
O ESPAÇO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL │ UNIDADE III
As instituições de ensino podem recorrer a serviços de agentes de integração públicos e privados, tais
como, o CIEE, o IEL. Cabe aos agentes de integração: identificar oportunidades de estágio; ajustar
suas condições de realização; fazer o acompanhamento administrativo; encaminhar negociação de
seguros contra acidentes pessoais; cadastrar os estudantes.
As instituições de ensino, em relação aos estágios dos seus alunos, têm as seguintes obrigações:
A jornada de atividade em estágio será definida pela unidade de ensino, a parte concedente e o
aluno estagiário ou seu representante legal e deve ser compatível com as atividades escolares e
não ultrapassar:
A duração do estágio, na mesma parte concedente, não poderá exceder 2 (dois) anos, exceto quando
se tratar de estagiário portador de deficiência.
O estagiário poderá receber bolsa ou outra forma de contraprestação que venha a ser acordada,
sendo compulsória a sua concessão, bem como a do auxílio-transporte, na hipótese de estágio não
obrigatório. A concessão de benefícios relacionados a transporte, alimentação e saúde, entre outros,
não caracteriza vínculo empregatício.
É assegurado ao estagiário, sempre que o estágio tenha duração igual ou superior a 1 (um) ano,
um período de recesso de 30 (trinta) dias, a ser gozado preferencialmente durante suas férias
escolares. O recesso deverá ser remunerado quando o estagiário receber bolsa ou outra forma de
contraprestação.
111
UNIDADE III │ O ESPAÇO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
Para a oferta do estágio essa lei e as normas do sistema estadual de ensino devem ser consideradas.
Ao se definir o Plano de Curso, há necessidade de verificação das exigência estabelecidas e essas
devem ser cumpridas.
Em relação ao estágio, pretendo destacar um cuidado necessário e que se constitui um grande desafio
a ser assumido com responsabilidade pela escola. É o seguinte: muitas vezes, sob o nome de estágio,
o que se verifica é uma flagrante exploração de mão de obra. Empresas e, até mesmo, instituições
públicas, deixam de contratar profissionais para postos de trabalhos, para cargos necessários,
colocando nesses lugares alunos, sem compromisso com o itinerário formativo deles. Muitas vezes,
eles são transformados em office boy e os cedentes do estágio nem sabem que curso desenvolvem.
Felizmente existem exceções, mas essas não são muitas.
Monografia é um texto acadêmico, elaborado a respeito de um único assunto, tem como objetivo a
demonstração de ideias do aluno.
Artigo científico refere-se a uma apresentação sintética de resultados de uma investigação, a respeito
de uma questão selecionada pelo aluno.
Esses trabalhos possuem normas próprias, mas são parecidos. Você vai receber instruções sobre
este assunto quando for elaborar o seu trabalho de conclusão deste curso.
Pense no que você acabou de ler. Se for o caso, acesse o portal do MEC, e leia a Lei de
Estágio no 11.788/2008. Converse com pessoas ligadas à área e depois escreva o que
você pensa em relação à seguinte questão.
Nem sempre, nossos alunos desenvolvem atividades relacionadas ao curso quando estagiando em
algumas empresas e mesmo em órgãos públicos, inclusive, educacionais. Eles são usados como
“mão de obra” barata e nada aproveitam no que se refere ao curso. Mas, ficamos calados, porque
tememos tirar a oportunidade de renda para o aluno e, até, para a família. Você já pensou nisso?
Qual a sua opinião a respeito?
Implantação da proposta
Definidas as formas de ornanização; a Proposta Pedagógica; asseguradas as condições materiais
estruturais – espaços, mobiliário, equipamentos convenientes; os recursos financeiros e, sobretudo,
os Recursos Humanos, o curso pode então ser implantado.
A disponibilização desses recursos pressupõe uma previsão correta e responsável dos planejadores.
Ela deve ser realizada a partir das características pedagógicas, das estratégias de ensino que
serão desenvolvidas.
112
POLITICAS PÚBLICAS
E DIRETRIZES UNIDADE IV
NACIONAIS
CAPÍTULO 1
Ideias e ações – análise crítica
Segundo Houaiss, “Política é a arte ou ciência de governar [...]. Arte da ciência da organização,
direção e administração [...]. Arte de guiar ou influenciar o modo de governo, pela organização de
um partido, pela influência da opinião pública [...]”.
Política Pública é a arte de administrar a coisa pública. Tratam-se de ações governamentais e/ou a
suas omissões que exercem influência na vida das pessoas.
Uma política pública acontece em todas as esferas administrativas (Federal, Estadual, do Distrito
Federal e municipal), em instituições públicas específicas de forma isolada ou de forma integrada,
articulada. Nem sempre uma política pública acontece de forma explícita. Nem sempre ela é expressa
de forma clara e objetiva. Muitas vezes, ela se traduz de forma implícita, camuflada e, até, enganosa.
É importante que toda política pública seja apresentada de forma honesta, comprometida, clara e seja
estabelecida e desenvolvida a partir de necessidades e interesses do grupo que será atingido por ela.
O exame da trajetória da Educação Profissional evidencia alguns tipos de políticas públicas brasileiras
presentes nessa área educacional em diferentes momentos da nossa história. Se observarmos, com
atenção, elas podem ser assim caracterizadas:
»» o descaso com os jovens das classes populares, o desprestígio com que sempre
foram tratados;
113
UNIDADE IV │ POLITICAS PÚBLICAS E DIRETRIZES NACIONAIS
A partir da segunda metade do referido século evidenciam-se movimentos importantes que tiveram
forte impacto sobre a Educação Profissional.
Com o final da Segunda Guerra Mundial, os dois grandes vencedores – Estados Unidos e União
Soviética – deflagraram acirrada luta pela conquista de áreas de influência e consequentemente
de mercados, levando o mundo a viver a chamada “Guerra Fria”. Nessa perspectiva, os Estados
Unidos criaram, em 1949, o Programa de Cooperação Técnica do Governo com o objetivo de prestar
assistência técnica aos “países amigos”, dando início a um processo de cooperação com a América
Latina, por meio da Good Neighbor Policy do Presidente Roosevelt. Este programa, conhecido
como Ponto Quatro, teve forte repercussão no Brasil.
Segundo Noam Chomsky, os Estados Unidos propuseram uma estratégia econômica para o
continente americano, baseada na eliminação de todas as formas de nacionalismo econômico e na
insistência em que o desenvolvimento da América Latina fosse “complementar” ao dos Estados
Unidos. (CHOMSKY, 1997, p.74)
Em 1961, durante uma conferência da Organização dos Estados Americanos (OEA) foi assinado o
Tratado da Aliança Para o Progresso e o Congresso norte-americano aprovou o Foreign Assistance
Act encarregado de reorganizar os programas de assistência e desenvolvimento social dos demais
países. Para isso, criou-se a United States Agency for International Development (USAID).
A USAID estabeleceu sedes em vários dos países da América Latina, implantando em todos eles
um mesmo organograma e agenda. No Brasil, instalou a sua sede no Rio de Janeiro, “realizando
levantamentos e fazendo projetos” e distribuindo representantes em “áreas da administração
pública federal, estadual e municipal” (TAVARES, 1980, p.16).
A educação e a agricultura foram duas áreas privilegiadas nos acordos de cooperação entre o Brasil
e os Estados Unidos. O acordo firmado na área de educação ficou conhecido como programa MEC/
USAID e, dentre outros objetivos, visava à contratação de assessores americanos para auxiliar nas
reformas da educação pública, em todos os níveis de ensino.
114
POLITICAS PÚBLICAS E DIRETRIZES NACIONAIS │ UNIDADE IV
forte influência nas formulações que orientaram o processo de reforma da educação brasileira no
Governo Militar. Destacam-se a reforma universitária (Lei nº 5.540/1968) e a reforma do ensino de
1º e 2º graus (Lei no 5.692/1971).
Na execução das medidas decorrentes, diversos agentes participaram dos novos delineamentos
realizados na área de educação. No que se refere à Educação Profissional, destacou-se o Banco
Mundial que atuou mais de 20 anos, em coparceria com o Ministério da Educação e Ministério do
Trabalho em três frentes principais: na realização de eventos, nos financiamentos da infraestrutura
e na cooperação técnica. Foram desenvolvidos três Projetos. O primeiro, relacionado à Educação
Profissional (1971-1978) teve como finalidades a melhoria e a expansão do ensino técnico de
2º grau, industrial e agrícola; o segundo projeto (1974-1979) priorizou a cooperação técnica às
secretarias estaduais de educação do Norte e Nordeste, com objetivo de desenvolver o sistema de
planejamento e de gestão, em reforço à reforma educativa advinda da Lei no 5.692/1971; o terceiro
(1983-1990) objetivou a melhoria do ensino Técnico de Nível Médio. Esses projetos seguiram
à risca os direcionamentos pontuados pelo Banco Mundial, em vasta documentação produzida
à época.
Nesse conjunto de políticas educacionais, algumas prescrições ficaram evidentes: a integração dos
objetivos dos projetos educacionais à política de desenvolvimento do Banco para a comunidade
internacional e o caráter compensatório, entendido como meio de alivio à situação de pobreza no
terceiro mundo, especialmente em período de ajustamento econômico. (FONSECA, 2003, p. 231).
Assim, os projetos foram implantados em perfeita sintonia com as prescrições para a Educação
Básica emanadas por esse Banco.
Ao analisar as políticas públicas, devemos procurar identificar a concepção de escola e ensino que
está norteando suas diretrizes e princípios, que lógica as fundamenta. É importante que se faça
uma reflexão para que se possa ir além dos discursos que colocam a educação como estratégia de
desenvolvimento do País. Muitas vezes, esse discurso se evidencia de forma contraditória, pois
em suas previsões orçamentárias desconsideram os recursos imprescindíveis ao desenvolvimento
de uma educação verdadeiramente inclusiva e de qualidade, notadamente no que se refere ao
reconhecimento do trabalho do professor.
115
UNIDADE IV │ POLITICAS PÚBLICAS E DIRETRIZES NACIONAIS
Precisamos lutar para que a Educação Profissional siga uma trajetória histórica diferente da que
vem sendo traçada, em uma tentativa audaciosa para ir além do capital.
As medidas verificadas foram importantes no que se refere á expansão e melhoria do ensino, mas
representaram, em muitos aspectos, um retrocesso da Educação Profissional, porque:
116
POLITICAS PÚBLICAS E DIRETRIZES NACIONAIS │ UNIDADE IV
Como medidas adotadas para concretização do ideário expresso no pacto de valorização, o governo
federal, dentre outras ações:
117
UNIDADE IV │ POLITICAS PÚBLICAS E DIRETRIZES NACIONAIS
»» criou e está implantando o Sistema Escola Técnica Aberta do Brasil – e-Tec Brasil;
No contexto dos temas tratados em capítulos anteriores foram feitas referências e, até mesmo,
análise das atuais políticas públicas, mas para uma melhor compreensão e sistematização destas,
registram-se, a seguir, as principais.
118
POLITICAS PÚBLICAS E DIRETRIZES NACIONAIS │ UNIDADE IV
A partir dos índices encontrados são estabelecidas metas nacionais, estaduais/distrital, municipais
e por escola. As metas referem-se aos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental e ao Ensino
Médio. Essas metas são estabelecidas em uma escala que vai de zero a dez. Para fixar as metas
nacionais iniciais, o MEC considerou a média 6 que é a apresentada pelos países desenvolvidos.
Para o Brasil, a meta do índice, que vai de zero a dez, é estabelecida para um período bianual que
deverá atingir, em 2021, o índice 6, ou pelo menos próximo desse. Atualmente, a projeção desses
índices e, também os apresentados por instituição de ensino de qualquer município brasileiro podem
ser acompanhadas, continuamente. Esses índices estão disponíveis na internet, no Portal do MEC.
O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) – foi criado em 1988 e estruturado a partir
dos conceitos expressos na atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O principal
objetivo do ENEM é a avaliação de habilidades e competências dos estudantes do Ensino Médio.
Para muitos jovens, o ENEM é uma oportunidade importante porque facilita o ingresso no Ensino
Superior. As notas das provas são aproveitadas nos processos seletivos de centenas de instituições
de Ensino Superior do País. Além disso, os resultados da prova podem valer uma bolsa no Programa
Universidade para Todos (ProUni).
Esses exames constituem-se possibilidade dos alunos e seus professores avaliarem o desempenho,
comparando-os ao de outros estudantes do País inteiro.
As questões utilizadas no ENEM não possuem “pegas”. Elas são contextualizadas e interdisciplinares,
exigindo do candidato menos memorização e mais demonstrações de sua capacidade de colocar
em prática os conhecimentos adquiridos nesse nível de ensino. O objetivo do ENEM é verificar
se os alunos sabem ler e interpretar textos, relacionar conteúdos, criar soluções para problemas
apresentados. Ao contrário da exigência do excesso de memorização, comum na maioria dos exames
vestibulares, as questões das provas do ENEM exigem que o aluno pense, raciocine e formule
respostas de acordo com o que aprendeu e vivenciou. Assim, os organizadores procuram avaliar as
habilidades dos candidatos no que diz respeito às funções da linguagem humana, à compreensão de
119
UNIDADE IV │ POLITICAS PÚBLICAS E DIRETRIZES NACIONAIS
Conforme informações do MEC, as provas do ENEM, ao longo da existência, vêm utilizando questões
que se referem muito mais a conceitos gerais do que a detalhes e conhecimentos específicos. As
questões que avaliam conteúdos de Matemática e Física, considerados muito teóricos, aparecem cada
vez menos e são desenvolvidas, principalmente, as que exigem a interpretação de tabelas e gráficos,
porcentagem, regra de três e probabilidade. Aspectos da atualidade são cobrados, não só na redação,
mas em muitas questões. Por isso a importância de manter-se informado com a ajuda de jornais,
revistas e demais veículos de comunicação que permitam ao candidato saber de tudo o que acontece
a seu redor. Temas como Ecologia e Preservação do Meio Ambiente também são muito recorrentes.
Desde a criação até hoje, o número de participantes do ENEM aumenta gradativamente e, com isso,
o reconhecimento do exame como importante ferramenta avaliativa também cresce. É considerado
como a maior avaliação do gênero da América Latina e uma das maiores do mundo.
No que se refere aos resultados, até então verificados, é importante destacar que existem diferenças
regionais e entre escolas. E quando vamos analisar esses resultados, precisamos adotar uma postura
crítica e muito objetiva. Não se pode aceitá-los de forma passiva e muito menos pessimista. É
importante que se considere os reais motivos das desigualdades existentes entre as escolas e os
alunos avaliados.
É evidente que os conteúdos desenvolvidos pelas escolas e avaliados pelo MEC são importantes
quando contribuem para a construção de uma sociedade mais livre, mais justa, mais solidária. Esses
não podem ser estruturados e desenvolvidos materializando as relações capitalistas. Se assim o for, o
ensino desse conteúdos muito pouco ou nada contribuem para a construção da sociedade almejada.
Sistema Escola Técnica Aberta do Brasil ENEM – e-Tec Brasil – foi criado pelo Decreto
nº 6.301, de 12 de dezembro de 2007, com vistas ao desenvolvimento da Educação Profissional
técnica na modalidade de educação a distância, com a finalidade de ampliar a oferta e democratizar
o acesso a cursos técnicos de nível médio, públicos e gratuitos no País. Conforme esse Decreto, são
objetivos do e-Tec Brasil:
120
POLITICAS PÚBLICAS E DIRETRIZES NACIONAIS │ UNIDADE IV
Os objetivos do e-Tec Brasil serão alcançadas com a colaboração entre a União e os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios, cujas ações contemplarão:
121
UNIDADE IV │ POLITICAS PÚBLICAS E DIRETRIZES NACIONAIS
A adaptação de escola pública selecionada, para ser utilizada como estabelecimento de apoio
presencial, deverá garantir a infraestrutura e recursos humanos adequados às fases presenciais dos
cursos e projetos do e-Tec Brasil.
O Ministério da Educação poderá celebrar convênios com os Estados, Distrito Federal e Município
para o oferecimento de cursos de Educação Profissional Técnica de Nível Médio, na modalidade de
Educação a Distância, observado o disposto no art. 5º do Decreto.
122
POLITICAS PÚBLICAS E DIRETRIZES NACIONAIS │ UNIDADE IV
Expansão da Oferta – segundo dados oficiais do Censo Escolar, em 2010, o País tinha 1,1 milhão
de jovens na Educação Profissional, enquanto em 2002 eles somavam 652.073. No mesmo período,
a rede federal de Educação Profissional passou de 77.190 alunos para 165.355, o que representa
crescimento de 114%. A trajetória de expansão da Educação Profissional também pode ser vista entre
2007 e 2010. Em 2007, as matrículas eram 780.162. Ao alcançar 1.140.388, em 2010, o crescimento
foi de 46% no intervalo.
Além da expansão da rede, o governo federal lançou em 2008 o programa Brasil Profissionalizado,
para aumentar a oferta de escolas e matrículas de Educação Profissional nos estados e municípios.
Os recursos são aplicados na construção ou reforma de escolas públicas de Ensino Médio e
Profissionalizante e na formação de professores na área de ciências. O financiamento também
pode ser usado na aquisição de mobiliário, equipamentos e laboratórios e também na compra e
implementação de acervo bibliográfico
123
UNIDADE IV │ POLITICAS PÚBLICAS E DIRETRIZES NACIONAIS
Além dessas medidas, o governo federal assinou um Decreto que prevê a expansão da oferta de
cursos gratuitos no SENAI, SENAC, SESC e SESC. Esse Decreto resultou de acordo firmado entre o
Governo e essas instituições.
Estágio Supervisionado – foi reorientado pela Lei no 11.788/2008 que dispõe sobre o estágio de
estudantes, conforme foi visto em capítulo anterior.
124
POLITICAS PÚBLICAS E DIRETRIZES NACIONAIS │ UNIDADE IV
Para que haja a sustentabilidade das políticas públicas destacadas, alguns aspectos
precisam ser considerados, tais como: real engajamento com o que se pretende;
sintonia de cada instituição com o projeto nacional; compromisso com o rompimento
da cultura pedagógica tecnicista que compromete qualquer possibilidade de
oferecer uma educação de qualidade.
A política adotada tem sucesso se pertence aos atores dos diversos segmentos da
educação e por eles é implantada. Para a construção do sucesso, é preciso considerar
especificidades do aluno e, consequentemente, redefinir currículos, desenvolver um
intenso processo de preparação dos profissionais da educação, rever a materialidade
e os tempos escolares; valorizar os professores, com planos de cargos e salários justos
e compatíveis e criar mecanismos eficientes de prestação de contas à sociedade.
125
PAPEL DA EDUCAÇÃO
PROFISSIONAL DE NÍVEL UNIDADE V
TÉCNICO NO BRASIL –
CONTRIBUIÇÕES ATUAIS
CAPÍTULO 1
Educação Técnica a Distância
Assim, foi criada a imagem da Educação Profissional de Nível Técnico associada a pessoas pobres, com
pouca base de educação fundamental. Sempre existiu e, ainda, existe muito preconceito em relação
à Educação Profissional. Acontece que o desenvolvimento do Brasil e as pessoas, individualmente,
necessitam do trabalho e esse pressupõe capacidades técnicas de que eles nem sempre dispõem.
As escolas profissionais, além de todo o rito preconceituoso que as envolve, são raras, em número
muito aquém da necessidade.
126
PAPEL DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO NO BRASIL – CONTRIBUIÇÕES ATUAIS │ UNIDADE V
No entanto, tem-se que essas instituições, embora consideradas como ofertantes de ensino
a distância, sempre estiveram presentes na vida de milhões de brasileiros e brasileiros,
transformando suas vidas e de suas famílias e da comunidade em que residem. Eles estiveram e,
ainda, estão presentes nos mais diferentes e longínquos rincões do País, ajudando às pessoas a
se tornarem capazes de realizar uma atividade profissional com mais facilidade e competência.
Ajudaram a muitas comunidades do interior brasileiro, levando até lá serviços, anteriormente, de
impossível realização.
A Educação a Distância não pode ser vista, apenas, como resolução de problemas e fracassos
educacionais e nem como estratégia de ensino voltada, somente, para adultos. Ela se constitui uma
alternativa para a educação continuada e deve ser vista como um instrumento de ensino formal. Do
aluno, ela requer maior responsabilidade, dedicação e energia na construção do conhecimento, do
professor, requer uma atuação, também responsável, ética, comprometida com a dimensão humana.
Conforme já foi tratado anteriormente, pelo Decreto no 6.301, de 12 de dezembro de 2007 foi
criado o Sistema Escola Técnica Aberta do Brasil – E-Tec Brasil, com vistas ao desenvolvimento da
Educação Profissional Técnica na modalidade de Educação a Distância.
Com esse programa, dentre outros objetivos, pretende-se: expandir e democratizar a oferta
de cursos técnicos de nível médio, especialmente para o interior do País e para a periferia das
áreas metropolitanas; permitir a capacitação profissional inicial e continuada para os estudantes
matriculados e para os egressos do Ensino Médio, bem como para a educação de jovens e adultos;
contribuir para o ingresso, permanência e conclusão do Ensino Médio pelos jovens e adultos.
127
UNIDADE V │ PAPEL DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO NO BRASIL – CONTRIBUIÇÕES ATUAIS
Existem muitos modelos de Educação a Distância. Os programas podem ser apresentados com
diferentes modos de organização e múltiplas combinações de linguagens e recursos educacionais
e tecnológicos.
Embora a modalidade a distância possua características próprias no que se refere ao seu desenho
pedagógico, ao acompanhamento, avaliação, recursos técnicos, tecnológicos, de infraestrutura
e administrativos, essas características só terão significado, fundamentados por uma concepção
filosófica e política, estabelecida no contexto da ação educativa.
A seleção e o uso da tecnologia devem estar apoiados em uma filosofia de aprendizagem que
proporcione aos estudantes a oportunidade de interagir, de desenvolver projetos compartilhados,
de construir o conhecimento. É imprescindível a existência de profissionais habilitados para as
diferentes funções: professores responsáveis pela elaboração dos materiais, tutores, profissionais
da área de informática.
É importante ressaltar que para atuar no ensino a distância não basta ter experiência em cursos
presenciais. Um curso a distância de qualidade requer a produção de materiais impressos e suportes
tecnológicos específicos e adequados. Os objetos destinados ao ensino e a aprendizagem e outros,
para uso a distância, apresentam diferentes lógicas de concepção, produção, linguagem, estudo e
controle de tempo. Para isso, faz-se necessário que os docentes responsáveis pela produção dos
conteúdos trabalhem integrados a uma equipe multidisciplinar, contendo profissionais especialistas
em desenho instrucional, diagramação, ilustração, desenvolvimento de páginas web, entre outros.
A educação a distância representa um grande desafio. A legislação abriu as portas para um trabalho
regular, sistemático e de reconhecimento como possibilidade educativa. O exemplo da viabilidade
pedagógica está demonstrado nos mais de 50 anos de realização das instituições que oferecem
cursos profissionalizantes no País, em que recursos financeiros estão disponíveis.
128
CAPÍTULO 2
O desafio da inclusão – saberes
e práticas
Na nossa sociedade, existem muitos excluídos socialmente: pessoas com necessidades especiais
sem atendimento adequados, pessoas desempregadas sem oportunidades no mundo produtivo; os
desabrigados – crianças, adolescentes e adultos “de rua”, os sem-teto; os famintos que não possuem
alimentos para a sua sobrevivência; os desprovidos de reconhecimento social; crianças e jovens sem
escolas e também aqueles que, estando matriculados como alunos, são fadados ao insucesso. Para
estudar qualquer um desses tipos de exclusão, precisamos analisar as condições que os levaram a
essa situação.
O medo, a apatia, o conformismo, a insegurança geram a separação de grupos que se excluem e são
excluídos das benesses produzidas pela sociedade.
Ao longo da nossa história, a exclusão dos mais pobres sempre esteve presente. Ela é tão comum
que até nos acostumamos com ela e nos tornamos permissivos em relação a ela, incapazes de nos
indignarmos com a injustiça.
Em relação ao nosso trabalho, vamos analisar, embora sucintamente, o que gera a exclusão educacional.
›› ao processo educativo que não possui a qualidade requerida para que todos
tenham sucesso escolar;
129
UNIDADE V │ PAPEL DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO NO BRASIL – CONTRIBUIÇÕES ATUAIS
A política correta contra a exclusão, para a busca da inclusão será a que quebra a perversa lógica
de acumulação de capital e de nossa parte da perversa lógica de que muitos alunos não apresentam
condições de aprender e por isso oferecemos a eles um ensino de baixa qualidade.
Só com o despertar de consciência, de desalienação é que poderemos garantir o direito que o aluno
tem de uma escola de qualidade. Com ação solidária e não discriminatória poderemos tornar a
escola não excludente, oferecendo práticas e recursos que favoreçam o desenvolvimento de uma
educação que promova o sucesso de todos.
Talvez essa tarefa seja a que dependa mais de nossas ações. Nesse sentido a exclusão pode ser
atribuída a vários fatores: a deficiência em nossa formação profissional que se caracteriza pelo
desconhecimento das necessidades do aluno e das possibilidades do nosso trabalho; pela falta
de compromisso, de vontade de contribuir para o sucesso de nossos alunos – há professores que
sentem prazer em reprová-los, que se acham melhores, sem perceber que por não saberem ensinar
a todos, muitos alunos seus não aprendem.
A escola de Ensino Médio sempre foi seletiva e esteve vulnerável à desigualdade social existente. A
escola profissionalizante sempre esteve mais comprometida com o mercado de trabalho do que com
os interesses e potencialidades do aluno. Ela prepara o aluno para empregos e pouco ou nada faz no
sentido de preparar o aluno para o empreendimento. Falta um sistema de valores para que possa
assumir uma política de desenvolvimento pedagógico e social.
Transpondo a ideia de Celso Furtado (2001) sobre economia reflexa, a maioria das escolas oferece
um tipo de educação ‘reflexa’. Isso ocorre porque a administração do sistema – nas diferentes esferas
delimitam o espaço e a forma na qual a escola pode ou deve mover-se. A partir das normas, de
forma passiva, a escola modela o seu currículo e fica carente de dinamismo próprio. A sua dinâmica
depende das normas externas e ela cresce para dentro de si mesma.
Tal modelo impede que a escola amplie seus horizontes e, assim, ela age abaixo da sua capacidade,
permanecendo com o seu potencial subtilizado.
Como explicar essa dificuldade, esse tipo de educação reflexa, essa passividade diante da demanda
existente, da expansão da oferta verificada, dos recursos tecnológicos adotados, da profusão de
reflexões, de referenciais teóricos produzidos?
Geralmente, a escola repassa a visão dos grupos que têm a hegemonia social. Ela assume essa função
sob a aparência de um meio neutro. Assim, ela tem preparado os alunos das diferentes classes sociais
para a sujeição à ação de outros interesses que, geralmente, não são os da comunidade na qual está
inserida, gerando tipos diferentes de escola:
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PAPEL DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO NO BRASIL – CONTRIBUIÇÕES ATUAIS │ UNIDADE V
Nesse segundo tipo de escola uma parcela maior da população tem acesso, mas nem sempre tem
sucesso. Essa escola também é excludente porque nega ou limita a permanência do aluno ou porque
não oferece a ele a educação com a qualidade que ele espera e precisa.
Ao longo da nossa história, a exclusão dos mais pobres sempre esteve presente e os educadores,
“acostumados” com essa realidade, sempre foram permissivos.
Já é hora (ou já passou da hora) de se estabelecer e manter um diálogo sobre as causas geradoras
e mantenedoras desse processo, buscando meios e formas para minimizar a exclusão do jovem
na escola, por falta de oportunidade ou por insucesso.
Faz-se necessário que se crie a cultura do sucesso. Precisamos pesquisar, buscar saberes e práticas
de inclusão. Para isso é preciso uma reflexão profunda que leve à mobilidade de conscientização e
identificação de ações da sociedade e da escola enquanto espaço destinado à inclusão do aluno como
construtor de um processo. (PEREIRA SANTOS, 2006)
A perspectiva de inclusão não pode ser dissociada da realidade do contexto. No que concerne às
atividades curriculares, as modificações introduzidas pelas escolas são lentas. O quadro conceitual
tem sido insuficiente para que se possa empreender uma rápida transformação e parece faltar
espaço para vigor adequado, para a manifestação de uma vontade política de acertar.
A Educação Profissional precisa ser assumida com compromisso e objetividade. Muitos jovens
podem/precisam deixar a busca pelo Ensino Superior para outra etapa de suas vidas. Eles necessitam
de uma educação integral que os prepare também para atuação no mundo produtivo. Eles precisam
ser preparados para o trabalho. Eles desejam essa preparação.
Um número crescente de jovens clama por educação e por uma oportunidade de profissionalização.
Muitos, sem uma perspectiva de profissionalização e, especialmente, de trabalho são levados a
compor grupos considerados nefastos pela sociedade. Isso ocorre porque essa mesma sociedade
não lhes oferece oportunidade para colocar em prática o seu potencial de criatividade, chegando a
desconhecer a sua realidade.
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UNIDADE V │ PAPEL DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO NO BRASIL – CONTRIBUIÇÕES ATUAIS
por altos índices de criminalidade, pois só aí conseguem expressar a sua capacidade de liderança,
iniciativa e criatividade.
O mais grave é que, normalmente, tal fato se dá com os mais inteligentes que, não encontrando
oportunidade para se expressarem, são levados à integração com grupos “marginais” e, até mesmo,
a liderá-los.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
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PAPEL DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO NO BRASIL – CONTRIBUIÇÕES ATUAIS │ UNIDADE V
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne a aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
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UNIDADE V │ PAPEL DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO NO BRASIL – CONTRIBUIÇÕES ATUAIS
Essa mudança não significa apenas uma troca de nomenclatura, mas uma
revisão conceitual, que gera uma mudança de ação. As duas palavras dizem
respeito ao movimento de manter alunos com necessidades especiais na
escola regular, porém na Integração, a criança deve estar preparada para a
escola regular, já na Inclusão é a escola que deve se preparar para o aluno.
[...]. O papel da escola passou a ser amplamente discutido, concluindo-se pela
necessidade de mudanças consideráveis em sua qualidade para a promoção do
sucesso escolar de todos, inclusive das Pessoas com Necessidades Educativas
Especiais. (MURARO, s/d., p. 32)
Nessa perspectiva, devemos assegurar condições para que todos os portadores de necessidades
educativas especiais sejam incluídos e tenham sucesso. Para cumprir essa exigência, a escola deve
ser adaptada a cada aluno com alguma necessidade especial e dispor de profissionais habilitados
para receber todos os que a procuram, seja ele cego, surdo, para/tetraplégico. Essa adaptação refere-
se à adaptação física do espaço, adaptação curricular e, sobretudo capacitação dos professores e
outras pessoas que irão lidar com ele.
Conforme o tipo de atendimento a ser prestado, a escola deve também contar com um serviço de
apoio para atender os que apresentam dificuldade de aprendizagem em que os professores regentes,
bem como os alunos possam ser atendidos em suas especificidades.
A escola deve estar preparada para lidar e extinguir qualquer tipo de discriminação existente.
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PAPEL DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO NO BRASIL – CONTRIBUIÇÕES ATUAIS │ UNIDADE V
Essas informações significam que se houver aluno que necessite de atendimento especial, a escola
deve organizar-se para atendê-lo junto aos demais alunos, garantindo condições para o sucesso.
O que é o Proeja?
“O Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na
Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA) abrange cursos que, como o próprio nome
diz, proporcionam formação profissional com escolarização para jovens e adultos.
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UNIDADE V │ PAPEL DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO NO BRASIL – CONTRIBUIÇÕES ATUAIS
1. Educação Profissional Técnica de Nível Médio com Ensino Médio, destinado a quem
já concluiu o Ensino Fundamental e ainda não possui o Ensino Médio e pretende
adquirir o título de técnico.
Os cursos podem ser oferecidos de forma integrada ou concomitante. A forma integrada é aquela em
que o estudante tem matrícula única e o curso possui currículo único, ou seja, a formação profissional
e a formação geral são unificadas. Na forma concomitante, o curso é oferecido em instituições
distintas, isto é, em uma escola o estudante terá aulas dos componentes da Educação Profissional
e em outra do Ensino Médio ou do Ensino Fundamental, conforme o caso. As instituições que
optarem pela forma concomitante devem celebrar convênios de intercomplementaridade, visando
ao planejamento e ao desenvolvimento de projetos pedagógicos unificados.
A idade mínima para ingresso em cursos do PROEJA é de 18 anos na data da matrícula e não há
limite máximo.
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PAPEL DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO NO BRASIL – CONTRIBUIÇÕES ATUAIS │ UNIDADE V
Existem muitos alunos que por serem profissionais de determinada área, demonstram condições,
em termos de conhecimentos, habilidades e atitudes adquiridas/desenvolvidas no trabalho que
desenvolvem e/ou em outras experiências. Muitos são autodidatas. Para tanto, a instituição ofertante
de cursos e programas do PROEJA poderão, mediante avaliação individual, aferir, reconhecer e
certificar essas condições. Com eles poderá ser utilizado o processo de Certificação Profissional,
mencionado em capítulo anterior.
Todos os cursos e programas do PROEJA devem prever, em sua organização essas possibilidade
de conclusão.
Acredito que, enquanto você desenvolveu esta disciplina, muitas ideias e informações
lhe afloraram à mente. Estas podem se referir a um projeto, a uma curiosidade, a
uma crítica, a uma dúvida relativa ao trabalho. Imagino que você, até mesmo, sentiu
vontade de partilhá-las comigo, mas, por falta de tempo ou outro fator, nada fez nesse
sentido. Sei que essas ideias e informações colhidas são importantes para o nosso
trabalho e eu gostaria de conhecer alguma ou mais de uma delas. Assim, coloco este
espaço para que você faça o registro. Escreva o que julgar conveniente. Eu darei um
retorno. O que for considerado pertinente será, com a sua anuência, integrado ao
Caderno para que colegas desta turma e das próximas possam conhecer.
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Para (não) Finalizar
A Nação brasileira é protagonista e expectadora de uma realidade social marcada por contrastes
profundos e pelos conflitos deles decorrentes. O Brasil apresenta enormes discrepâncias entre seus
indicadores econômicos e seus indicadores sociais. Uma parcela da população opera uma sociedade
industrial moderna automatizada e nela vive integrada, mas a parte majoritária vive à margem dos
benefícios dessa sociedade industrial. Existem profundas diferenças entre o global e o local. Essa
condição na mesma medida que encanta, deslumbrando os cidadãos beneficiados, também provoca
insegurança, receios por parte dos cidadãos marginalizados. E na escola que se pretende, deverão
estar todos – os beneficiados pela modernidade global e os dela excluídos. A heterogeneidade dessas
condições materiais se constitui grande desafio quando se pretende a oferta de uma educação
comprometida com justiça social, com a igualdade de oportunidade.
As relações econômicas e culturais que precisam ser encaradas e desmistificadas são muito
complexas. Por isso, o projeto pedagógico deve encarar as benesses tecnológicas, o acúmulo de
informações produzidas pela sociedade não como modelo de reprodução do perfil daqueles que
se autointitulam desenvolvidos/competentes/donos da verdade, mas como algo que pode ser
apropriado para satisfação das necessidades fundamentais do conjunto da população local.
É hora de se apostar na esperança e sair em busca da realização. Não basta saber como deve ser, é
preciso fazer com que as coisas sejam.
A Autora
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Referências
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