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ROUBO (ARTIGO 157 DO CÓDIGO PENAL)

O delito sob essa denominação abrange duas formas de roubo simples:


roubo próprio (CP, art.157, caput) e impróprio (§1º), causas de aumento
de pena (§2º e §2°-A) e duas formas qualificadas (§ 3º).
Roubo – previsão legal
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça
ou violência à pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à
impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega


violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime
ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.

§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: (Redação dada pela Lei nº 13.654,
de 2018)
I – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018)
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal
circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro
Estado ou para o exterior; (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. (Incluído
pela Lei nº 9.426, de 1996)
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou
isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. (Incluído
pela Lei nº 13.654, de 2018)
VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma
branca; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): (Incluído pela Lei nº 13.654,
de 2018)
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de
fogo; (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo
ou de artefato análogo que cause perigo comum. (Incluído pela Lei nº
13.654, de 2018)
§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de
uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste
artigo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 3º Se da violência resulta: (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018)
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e
multa; (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e
multa. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)

• Roubo Próprio:

Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem,


mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-
la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa.


• Conceito:

O roubo, em princípio, possui os mesmos requisitos do furto:

a) subtração como conduta típica;

b) coisa alheia móvel como objeto material;

c) fim de assenhoramento definitivo para si ou para terceiro como elemento


subjetivo.

Acontece, entretanto, que constitui infração penal bem mais grave, uma
vez que para sua existência é necessário que o agente, para a efetivação
da subtração, tenha empregado um dos seguintes meios de execução:

a) Violência: Também chamada de vis absoluta.

Caracteriza-se pelo emprego de qualquer desforço físico sobre a vítima a


fim de possibilitar a subtração (socos, pontapés, facada, disparo de arma
de fogo, paulada, amarrar a vítima etc.)

Os violentos empurrões ou trombadas também caracterizam emprego de


violência física e, assim, constituem roubo. Já empurrões ou trombadas
“leves”, desferidos apenas para desviar a atenção da vítima, de acordo com
a jurisprudência, não caracterizam o roubo.

Por isso, se o agente puxa e arrebenta uma corrente grossa que está no
pescoço da vítima e a machuca, o crime é o de roubo, porém, se a corrente
é muito fina e a vítima praticamente nem sente quando ela é arrancada, o
crime é o de furto. Se o agente puxa e arrebenta a alça de uma bolsa que
estava no ombro da vítima, derrubando-a no chão, o delito também é o de
roubo.

Nas hipóteses de arrebatamento consistentes em arrancar objeto que


envolve alguma parte do corpo da vítima haverá roubo quando a força
empregada pelo agente lesionar a vítima, provocar-lhe dor ou, ainda,
derrubá-la ou desequilibrá-la.

Para que a violência implique a tipificação do roubo ela deve ter sido
empregada contra a pessoa (o dono do objeto ou terceiro) e nunca apenas
contra a coisa.

b) Grave ameaça: Também é conhecida por vis relativa. É a promessa


de um mal grave e iminente (de morte, de lesões corporais, de praticar
atos sexuais contra a vítima do roubo etc.). A simulação de arma e a
utilização de arma de brinquedo constituem grave ameaça porque têm
poder intimidatório. Tem-se entendido também que o fato de os
roubadores abordarem a vítima de surpresa gritando que se trata de
assalto e exigindo a entrega dos bens constitui roubo, ainda que não tenha
sido mostrada qualquer arma e não tenha sido proferida ameaça expressa,
já que, em tal situação, a vítima sente-se atemorizada pelas próprias
circunstâncias da abordagem.

c) Qualquer outro meio que reduza a vítima à impossibilidade de


resistência: Também é conhecida como violência imprópria. Temos aqui
a utilização de uma fórmula genérica cuja finalidade é possibilitar a punição
por crime de roubo em várias situações não abrangidas pelas expressões
“violência” ou “grave ameaça”, mas que também fazem com que a vítima
fique totalmente à mercê dos assaltantes, como, por exemplo, no caso de
uso de soníferos, hipnose, superioridade numérica etc.

A denúncia deve especificar em que constitui tal recurso que levou a vítima
à incapacidade de resistência. Não basta que a vítima não possa resistir. De
acordo com o texto legal, é necessário que o agente empregue um recurso
qualquer sobre a vítima que retire desta a capacidade de resistência.

Assim, se ele coloca sonífero na bebida de uma pessoa para subtrair seus
pertences enquanto ela dorme, o crime é o de roubo. Todavia, se a própria
vítima tinha tomado sonífero e o agente apenas se aproveita do fato de
estar ela dormindo, o delito é o de furto.

• Objetividade Jurídica:

O roubo é um crime complexo, pois atinge mais de um bem jurídico: o


patrimônio e a liberdade individual (no caso de ser empregada grave
ameaça) ou a integridade corporal (nas hipóteses de violência).

• Sujeito Ativo:

Pode ser qualquer pessoa, menos o proprietário do objeto, já que a lei


exige que a coisa seja “alheia”. Trata-se de crime comum. Na hipótese em
que um dos roubadores limita-se a segurar a vítima para que o outro
subtraia os bens, existe coautoria, já que ambos cometeram, ao menos em
parte, atos executórios descritos no tipo. O primeiro empregou a violência,
e o segundo efetuou a subtração, em uma autêntica divisão de tarefas.

• Sujeito Passivo:

O proprietário, possuidor ou detentor da coisa, bem como qualquer outra


pessoa que seja atingida pela violência ou grave ameaça. Assim, em se
tratando de delito complexo, torna-se possível a coexistência de várias
vítimas de apenas um roubo.

Ex: A empresta seu carro a B. Este vem a ser abordado por marginais
armados, que subtraem o veículo. A é vítima, pois seu patrimônio foi
lesado, assim como B, já que contra ele foi empregada a grave ameaça,
tendo sido, dessa forma, atingido pela ação delituosa. Houve, entretanto,
apenas um roubo.

• Concurso de crimes

a) Se o agente emprega grave ameaça concomitantemente contra duas


pessoas, mas subtrai objetos de apenas uma delas, pratica crime
único de roubo, já que apenas um patrimônio foi lesado. Não
obstante, esse crime possui duas vítimas.

b) Se o agente, em um só contexto fático, emprega grave ameaça


contra duas pessoas e subtrai objetos de ambas, responde por dois
crimes de roubo em concurso formal, já que houve somente uma
ação (ainda que composta de dois atos) e duas lesões patrimoniais.
Ex: assaltante que entra em ônibus, subjuga vários passageiros e
leva seus pertences. Entretanto, entende-se que há crime único
quando o agente entra em uma casa e rouba bens de membros de
uma mesma família, com o argumento de que o patrimônio, nesse
caso, é um só.

c) Se o agente aborda uma só pessoa e apenas contra ela emprega grave


ameaça, mas com esta conduta subtrai bens de pessoas distintas que
estavam em poder da primeira, comete crimes de roubo em concurso
formal. Essa regra, todavia, somente pode ser aplicada quando o roubador
tem consciência de que está lesando patrimônios autônomos, pois, caso
contrário, estaria havendo responsabilidade objetiva. Assim, o assaltante
que aborda o funcionário do caixa de um banco e leva dinheiro da
instituição, bem como o relógio de pulso do funcionário, tem total ciência
de que está lesando patrimônios distintos e, por isso, aplica-se o concurso
formal. Por outro lado, se o agente rouba um carro e, posteriormente, vem
a descobrir que no interior do porta-malas havia objetos que pertenciam a
outras vítimas, responde por roubo único, já que por ocasião da subtração
ele não sabia que estava subtraindo bens de mais de uma pessoa.

Observação: Não se tem admitido o reconhecimento de crime


continuado entre roubo simples e latrocínio, pois se entende que esses
delitos não podem ser considerados da mesma espécie (requisito da
continuidade delitiva), na medida em que o latrocínio atinge um bem
jurídico a mais que o roubo simples, qual seja, a vida. Por isso, entre esses
crimes aplica-se a regra do concurso material.

Há duas correntes acerca do momento consumativo do delito de roubo:

a) Como no crime de furto, o roubo somente se consuma quando a


res sai da esfera de vigilância da vítima e o agente obtém sua posse
tranquila, ainda que por pouco tempo. Mesmo para os seguidores
dessa corrente, ainda que o agente não consiga a posse tranquila, o crime
estará consumado caso o roubador desfaça-se da coisa ou venha a perdê-la
na fuga e a vítima não consiga recuperá-la. É que, nesses casos, houve
efetiva diminuição patrimonial, não se podendo, pois, cogitar de mera
tentativa. O roubo também estará consumado para todos os envolvidos se
um dos roubadores for preso no momento da subtração, mas algum
coautor conseguir fugir levando objetos da vítima.

b) O roubo consuma-se no exato instante em que o agente, após empregar


violência ou grave ameaça, consegue apoderar-se do bem da vítima, ainda
que seja preso no próprio local, sem que tenha conseguido a posse
tranquila da coisa. É esse atualmente o entendimento do STF e do STJ.
Assim, segundo essa orientação, se o agente aponta uma arma para a
vítima e tira o seu relógio, mas acaba sendo preso nesse exato instante,
responde por roubo consumado.

Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem, mediante


emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em
seguida a perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada,
sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada.

STJ. 3ª Seção. REsp 1.499.050-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado
em 14/10/2015 (recurso repetitivo) (Info 572).

Momento consumativo do ROUBO


Súmula 582-STJ: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse
do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por
breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação
da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou
desvigiada.

Tendo em conta que o crime de roubo é cometido com emprego de


violência ou grave ameaça, prevalece o entendimento que não se aplica ao
ROUBO o princípio da insignificância, nem a figura do ROUBO DE USO.

ROUBO IMPRÓPRIO

Art. 157, § 1º, CP - Na mesma pena incorre quem, logo depois de


subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim
de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para
terceiro.

Esta modalidade difere do roubo próprio pelos seguintes aspectos:

a) No roubo próprio, a violência ou a grave ameaça são empregadas antes


ou durante a subtração, pois constituem meio para que o agente consiga
efetiva-la. No roubo impróprio, o agente inicialmente quer apenas praticar
um furto e, já se tendo apoderado do bem, emprega violência ou grave
ameaça para garantir a impunidade do furto que estava em andamento ou
assegurar a detenção do bem. Nessa hipótese, a caracterização do roubo
impróprio afasta o crime de furto que estava em andamento.

Ex: O agente entra em supermercado, se apossa de mercadorias e sai sem


pagar, sendo, em seguida, abordado por seguranças, e, nesse momento,
agride a pessoa que o abordara a fim de evadir-se.

O sujeito quebra o vidro de um carro e se apodera do aparelho de som,


mas, na sequencia, depara-se com um vigilante e o ameaça com uma faca,
com o intuito de permanecer na posse do bem.

No roubo IMPRÓPRIO, portanto, a violência ou grave ameaça ocorrem após


a subtração.

b) O roubo próprio pode ser cometido mediante violência, grave ameaça ou


qualquer outro meio que reduza a vítima à impossibilidade de resistência. O
roubo impróprio não admite a fórmula genérica por último mencionada,
somente podendo ser cometido mediante violência ou grave
ameaça.

QUANTO aos aspectos referentes ao sujeito ativo, passivo, objeto


material e elemento subjetivo, aplicam-se as mesmas regras do
roubo próprio.

Somente se pode cogitar em roubo impróprio quando o agente já se


apoderou de algum objeto da vítima, uma vez que o tipo expressamente
exige que a violência ou grave ameaça ocorram “logo depois de subtraída a
coisa”.

Dessa forma, torna-se importante salientar que, se o agente entra em uma


residência para praticar um furto e antes de apoderar-se de qualquer
objeto emprega violência ou grave ameaça contra alguém para poder fugir
(garantir a impunidade), responde por tentativa de furto em concurso com
crime de lesões corporais ou ameaça.

Quando alguém entra na casa com intenção de furtar e, antes de se


apoderar de qualquer objeto, depara-se com um morador e emprega
violência ou grave ameaça para subjugá-lo e, em seguida, subtrai seus
pertences, tipifica-se o crime de roubo próprio, já que, nesse caso, a
violência ou grave ameaça antecederam o efetivo apossamento do bem.

A violência ou grave ameaça devem ter sido praticadas logo depois


do apoderamento do objeto, ou seja, não pode ter havido o decurso
de um período prolongado após a subtração do bem.

Só há roubo impróprio quando a conduta do agente visa garantir a


impunidade do crime ou a detenção da coisa.

Em suma, o crime de roubo impróprio tem os seguintes requisitos:

1) O agente já deve ter-se apossado do objeto que pretendia


furtar;

2) O agente deve empregar violência ou grave ameaça;

3) A violência ou a grave ameaça devem ocorrer logo depois do


apoderamento do bem;

4) O agente ter por finalidade garantir sua impunidade ou a


detenção da coisa, para si ou para terceiro.

O roubo impróprio consuma-se no exato momento em que é empregada a


violência ou a grave ameaça, mesmo que o sujeito não consiga atingir sua
finalidade de garantir a impunidade ou assegurar a posse dos objetos
subtraídos.

TENTATIVA DE ROUBO IMPRÓPRIO

Duas correntes:

1) Damásio, Magalhães Noronha, Bento de Faria, entre outros, entendem


que ela é incabível, pois, ou o agente emprega violência ou grave ameaça e
o crime está consumado, ou não as emprega, havendo, neste caso, apenas
o crime de furto. Este é o entendimento amplamente majoritário na
jurisprudência.

2) Heleno Fragoso e Mirabete entendem ser possível, no caso de o agente,


após apoderar-se do bem, tenta empregar violência ou grave ameaça, mas
não consegue. Ex: uma pessoa apodera-se do objeto e, quando está saindo
da casa da vítima, esta chega. O agente, então, mune-se de um pedaço de
pau e parte para cima dela para agredi-la, mas é contido por outra pessoa,
que impede que seja desferido o primeiro golpe.

A crítica que se faz a esse entendimento é de que, no instante em que o


agente parte para cima da vítima com o pedaço de pau, ele já está
empregando grave ameaça, estando, assim, consumado o roubo impróprio.
Roubo x Extorsão:

ROUBO EXTORSÃO
Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia, Art. 158. Constranger alguém,
para si ou para outrem, mediante mediante violência ou grave ameaça, e
grave ameaça ou violência à pessoa, com o intuito de obter para si ou para
ou depois de havê-la, por qualquer outrem indevida vantagem econômica, a
meio, reduzido à impossibilidade de fazer, tolerar que se faça ou deixar de
resistência: Pena – reclusão, de quatro fazer alguma coisa: Pena – reclusão, de
a dez anos, e multa. quatro a dez anos, e multa.

No crime de roubo a vantagem é No crime de extorsão o mal prometido e


contemporânea e o mal iminente. a vantagem a que se visa são futuros.

Não há necessidade de comportamento Há a necessidade de um comportamento


da vítima. da vítima.

Concurso de crimes:  Assalto praticado em ônibus. Ou seja, várias vítimas e


uma única ação. Configura o concurso formal impróprio (art. 70, 2ª parte, CP).
(STF – HC – 91.615).

Roubo circunstanciado ou majorado (art. 157, §2º e §2°-A, do CP) 


Tecnicamente não é um roubo qualificado, mas sim, um roubo com causa de
aumento. Neste dispositivo existem 6 hipóteses em que a pena do roubo é
aumentada de 1/3 até a metade (§2°) e dois dispositivos em que a pena do roubo
é majorada de 2/3 (2º-A) .

Nestes parágrafos os institutos têm natureza jurídica de causa de aumento de


pena, porque a lei faz menção a um índice de acréscimo.

As qualificadoras do roubo, na realidade, estão previstas no §3º, e são lesão grave


e morte como consequência do roubo.

Art. 157 (...)

§ 2º A pena aumenta-se de um terço até metade:

I – revogado;

Até 23/4/2018, o crime de roubo possuía aumento de pena de 1/3 até a metade
quando houvesse emprego de arma, considerada tal como todo instrumento que
tem potencialidade lesiva (poder vulnerante), isto é, capacidade para matar ou
ferir.

Como o texto legal não fazia distinção, o aumento se aplicava tanto em caso de
arma própria, como no caso de arma imprópria. Armas próprias são aquelas feitas
para servir especificamente como arma, como instrumento de ataque ou defesa
(exemplos: armas de fogo em geral e punhais). Armas impróprias são objetos
feitos como outra finalidade qualquer, mas que também tem poder vulnerante
(exemplos: facas comuns, estilete, navalha, foice, garrafa quebrada, etc.).

Quando alguém simula que está armado, ele não está efetivamente empregando
arma, mas caracteriza crime de roubo.

Nos últimos anos, pacificou-se o entendimento, tanto no STJ quanto no STF, de


que não se aplica o aumento quando o agente emprega arma de brinquedo (arma
finta), porque esta não tem potencialidade lesiva, não se enquadrando no conceito
de arma. Pelo mesmo motivo (falta de potencialidade lesiva), também não se tem
aplicado o aumento quando se trata de arma defeituosa (quebrada) ou
descarregada.

Em resumo: uma arma de brinquedo não possui potencialidade lesiva, não


criando um risco para a tutela penal, desde então, não qualifica o crime.
O ladrão que joga a arma fora no momento da fuga  para o STF “a
incidência da causa de aumento de pena independe da apreensão da arma,
sobretudo quando o agente se livra da mesma”.

HC 81452 / SP . HABEAS CORPUS. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA


CONVOCADA DO TJ/MG).

HABEAS CORPUS. ROUBO MAJORADO PELO EMPREGO DE ARMA DE FOGO. ARMA


NÃO APREENDIDA. PERÍCIA. DESNECESSIDADE. EMPREGO DE ARMA
CARACTERIZADO POR OUTROS ELEMENTOS. ORDEM DENEGADA.

1. Não obstante a ausência de apreensão da arma de fogo empregada no iter


criminis, o seu efetivo uso restou devidamente comprovado, com respaldo do
conjunto fático-probatório produzido nos autos. 2. O entendimento firmado nas
vias ordinárias encontra-se em conformidade com a jurisprudência desta Corte,
orientada no sentido de que a ausência de apreensão da arma e a conseqüente
impossibilidade de realização de perícia não afastam a causa de aumento, se
existem outros elementos nos autos a comprovar a efetiva utilização da arma. 3.
Ordem denegada.

Em suma: STF – a ausência de apreensão da arma não representa obstáculo ao


reconhecimento da causa de aumento (posicionamento do Pleno e da 1ª Turma,
contudo há duas decisões da 2ª Turma em sentido contrário – ver informativo 541
e 543 STF). STJ – a ausência de apreensão da arma impossibilita a realização do
exame pericial, impedindo, portanto, a incidência da causa de aumento de pena,
salvo nas hipóteses em que a vítima e demais testemunhas confirmarem que
houve disparo de arma de fogo – ver informativo 333 do STJ).

II – se há o concurso de duas ou mais pessoas;

Já vimos hipótese semelhante no crime de furto, por isso não detalharemos.

Como o texto legal não faz distinção aplica-se tanto a casos de coautoria quanto
de participação. O aumento pode ser aplicado mesmo que o juiz condene uma só
pessoa, desde que haja prova do envolvimento de outra, que por algum motivo
não possa ser punida (por exemplo, por ser menor de idade, ter fugido ou
morrido, etc.).

Aplicam-se as mesmas regras gerais referentes ao furto. (haverá concurso com


um agente incapaz, não precisando o segundo estar “in loco” e etc.).

III – se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal


circunstância;

Só será cabível a causa de aumento se o agente conhecia que a vítima estava


transportando valores. (Exemplo: de pessoas que transportam valores: Carro
forte, cobradores, “office boy”).

São, portanto, dois requisitos:

· Que a vítima esteja trabalhando com transporte de valores; e

· Que haja dolo direto de roubar alguém que está trabalhando com transporte de
valores, porque a lei exige que o ladrão saiba disso.

Por isso, este instituto não admite dolo eventual.

Observações:

 Não existe instituto similar no crime de furto.


 Se o transporte de valores se dá em veículo comum, não há incidência
desta causa de aumento. “Na hipótese em que o agente, mediante ameaça,
aborda empresário que, em veículo comum, transporta dinheiro de seu
estabelecimento comercial para depositar em conta bancária, uma vez que,
não há tecnicamente, serviço propriamente dito de transporte de valores”.
(MIRABETE).

IV – se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para


outro Estado ou para o exterior;

Já vimos hipótese semelhante no crime de furto, por isso não detalharemos.

Lembre-se que o aumento está condicionado ao sucesso do ladrão em conseguir


cruzar a divisa ou a fronteira em poder do veículo.

V – se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade;

“Conhecido como sequestro relâmpago”.

Este dispositivo só se aplica quando os bandidos ficam pouco tempo, alguns


minutos com a vítima, porque o texto legal usa a expressão “restrição de
liberdade”. Por outro lado, quando os bandidos ficam por um período maior com a
vítima (algumas horas, por exemplo) tipifica-se o crime de sequestro do artigo
148, CP, em concurso material com o roubo (sem o inciso V).

Exemplo de aplicação deste inciso, ocorre quando os bandidos roubam a vítima,


levando o seu carro, mas somente a deixam sair quando chegam na estrada,
aproximadamente meia hora depois.

Alcance do §2º

As causas de aumento do §2º aplicam-se tanto ao roubo próprio quanto ao


impróprio, mas ficam absorvidas (não se aplicam) nas hipóteses de roubo
qualificado do §3º.

ROUBO CIRCUNSTANCIADO EM CASO DE SUBTRAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS


EXPLOSIVAS OU DE ACESSÓRIOS

Conforme já explicado, o § 2º do art. 157 prevê causas de aumento de pena para o


roubo.

Desse modo, se ocorre alguma dessas hipóteses, tem-se o chamado “roubo


circunstanciado” (também conhecido como “roubo agravado” ou “roubo majorado”).
A Lei nº 13.654/2018 acrescentou uma nova hipótese de roubo majorado no inciso VI.

Veja:
Art. 157 (...)
§ 2º A pena aumenta-se de um terço até metade:
(...)
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que,
conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou
emprego.

O agente, mediante violência ou grave ameaça, subtrai substância explosiva ou


acessório que, conjunta ou isoladamente, possibilite a sua fabricação, montagem ou
emprego. Ex: sujeito que, mediante violência ou grave ameaça, subtrai uma banana
de dinamite.

ROUBO CIRCUNSTANCIADO PELO EMPREGO DE ARMA BRANCA


Em sua redação originária, o § 2º, inciso I, do art. 157 do Código Penal
previa que a pena do roubo seria majorada de 1/3 (um terço) até a metade
quando a violência ou ameaça fosse exercida com emprego de arma.

Entendia-se majoritariamente que o substantivo “arma” abrangia não


apenas as armas próprias, ou seja, aquelas concebidas e fabricadas pelo
homem com a finalidade precípua de ataque ou defesa, mas também as
armas impróprias, vale dizer, os instrumentos que, embora não fossem
fabricados com finalidade lesiva, tivessem eventualmente seu uso
desvirtuado para este fim (ex.: caco de vidro, faca de cozinha, canivete,
navalha, estilete, barra de ferro, taco de basebol, chave de fenda, tesoura,
machado de lenhador, martelo, foice, etc), uma vez que ambas são idôneas
para amedrontar e ferir a vítima.

A Lei 13.654/2018, no entanto, revogou o referido dispositivo e


acrescentou ao art. 157 do Código Penal o § 2º-A, inciso I, prevendo
aumento de 2/3 (dois terços) na pena “se a violência ou ameaça é exercida
com emprego de arma de fogo”.

A referida lei, portanto, passou a contemplar aumento de pena apenas para


o emprego de armas de fogo, suprimindo a majoração da sanção nas
hipóteses de utilização de outras espécies de armas. O roubo com emprego
de armas que não fossem de fogo passou a ser considerado, portanto,
roubo simples (art. 157, caput ou § 1º, do CP), o que foi alvo de merecidas
críticas pela doutrina.

Recentemente, a Lei 13.964 (“pacote anticrime”), de 24/12/2019,


promoveu novas alterações no art. 157 do Código Penal. Primeiramente,
acrescentou ao § 2º do art. 157 do Código Penal o inciso VII, contemplando
a hipótese de a violência ou grave ameaça ser exercida com emprego de
arma branca. Além disso, incluiu o § 2º-B, determinando a aplicação da
pena do caput em dobro se a violência ou grave ameaça for exercida com
emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido.

O § 2º-B contém norma penal em branco heterogênea, uma vez que as


definições de armas de fogo de uso restrito e proibido encontram-se no art.
2º, II e III, do Decreto 9.845/2019. O § 2ºA, portanto, passa a abarcar
apenas o emprego de armas de fogo de uso permitido (art. 2º, I, do
Decreto 9.845/19).

A expressão “arma branca”, utilizada pelo legislador no inciso VII do § 2º


do art. 157 do Código Penal, por outro lado, não é conceituada pela
legislação, sendo de conteúdo um tanto incerto.

ROUBO CIRCUNSTANCIADO COM DESTRUIÇÃO OU ROMPIMENTO DE


OBSTÁCULO MEDIANTE EXPLOSIVO OU ARTEFATO ANÁLOGO
A Lei nº 13.654/2018 acrescentou um novo parágrafo ao art. 157 prevendo duas
novas hipóteses de roubo circunstanciado, com pena maior. Veja:
Art. 157 (...)
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de
explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.

Inciso I
O inciso I já foi analisado acima. O destaque para o inciso I é, repetindo, o fato de que
agora, para haver roubo circunstanciado pelo emprego de arma, é necessário que seja
arma de fogo. Arma branca, arma imprópria não é mais suficiente para caracterizar
causa de aumento de pena no roubo.

Inciso II
O inciso II traz uma hipótese nova.
Para que se caracterize esta causa de aumento de pena é necessário o preenchimento
de dois requisitos:
a) o roubo resultou em destruição ou rompimento de obstáculo;
b) essa destruição ou rompimento foi causado pelo fato de o agente ter utilizado
explosivo ou artefato análogo que cause perigo comum.

Concomitância das situações dos incisos I e II


Vale ressaltar que, como o § 2º-A do art. 157, por se tratar de roubo, exige
obrigatoriamente violência ou grave ameaça à pessoa, na grande maioria dos casos
essa violência ou grave ameaça será feita mediante emprego de arma de fogo. Isso
porque não é crível imaginar que uma organização criminosa que irá utilizar
explosivos para abrir um caixa eletrônico cometa o roubo sem utilizar arma de fogo.

Assim, o emprego da arma de fogo já seria suficiente para aumentar a pena em 2/3,
sendo “desnecessário” o inciso II para os fins do § 2º-A do art. 157.

Vou dar um exemplo sobre o que estou tentando dizer: João e seus comparsas entram
em uma drogaria e, portando arma de fogo, rendem os funcionários e clientes e os
trancam em uma sala. Com a utilização de uma dinamite, explodem o caixa eletrônico
para dali subtrair o dinheiro.

Neste exemplo, os agentes já responderiam pelo roubo com pena aumentada em 2/3
pelo simples fato de empregarem arma de fogo (inciso I do § 2º-A do art. 157 do CP).
Diante disso, a circunstância narrada no inciso II (destruição ou rompimento de
obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo
comum) será utilizada como agravante, nos termos do art. 61, II, “d”, do CP:

Art. 61. São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou
qualificam o crime:
(...)
II - ter o agente cometido o crime:
(...)
d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel,
ou de que podia resultar perigo comum;

Desta forma, é possível sumarizar as hipóteses de emprego de arma no


roubo após a Lei 13.964/19 da seguinte forma:

a) Emprego de arma que não se encaixe nos conceitos de “arma de fogo” e


“arma branca”: roubo simples (art. 157, caput ou § 1º, do CP), devendo a
utilização da arma ser valorada na primeira fase da dosimetria da pena;

b) Emprego de arma branca: roubo majorado de 1/3 a 1/2 (art. 157, § 2º,
VII, do CP);

c) Emprego de arma de fogo de uso permitido: roubo majorado em 2/3


(art. 157, § 2º-A, I, do CP);
d) Emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido: roubo com pena
duplicada (art. 157, § 2º-B, do CP).

O ideal, no entanto, seria que o legislador tivesse redigido o inciso VII do §


2º do art. 157 do Código Penal, de modo a alcançar qualquer espécie de
arma que não seja de fogo, uma vez que todas possuem potencial
vulnerante. Poderia ter sido utilizada a seguinte redação: “VII – se a
violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma, própria ou
imprópria, com exceção das mencionadas nos §§ 2º-A, inciso I, e 2º-B
deste artigo”

Roubo qualificado pelas lesões grave ou pela morte “latrocínio” (art. 157,
§ 3º, do CP):

NOVA REDAÇÃO DO ROUBO QUE RESULTA LESÃO CORPORAL GRAVE OU


MORTE
A Lei nº 13.654/2018 alterou a redação do § 3º do art. 157 do Código Penal.
Duas mudanças foram verificadas:
1) melhorou a redação dividindo os dois tipos penais em incisos diferentes.
2) aumentou a pena do roubo com resultado lesão corporal grave => Antes era de 7 a
15 anos. Agora é de 7 a 18 anos.

Confira:
Antes da Lei 13.654/2018 Depois da Lei 13.654/2018
(atualmente)
Art. 157 (...) Art. 157 (...)
§ 3º Se da violência resulta lesão § 3º Se da violência resulta:
corporal grave, a pena é de reclusão, I – lesão corporal grave, a pena é de
de sete a quinze anos, além da multa; reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito)
se resulta morte, a reclusão é de vinte anos, e multa;
a trinta anos, sem prejuízo da multa. II – morte, a pena é de reclusão de 20
(vinte) a 30 (trinta) anos, e multa.

Neste ponto, a Lei nº 13.654/2018 é mais gravosa e, portanto, irretroativa.

Requisitos do roubo qualificado:

Fator temporal  a violência deve ser empregada durante o assalto.


Fator nexo  a violência deve ser empregada em razão do assalto.

ROUBO QUALIFICADO (ART. 157, §3º, I e II, CP)

Artigo 157, §3º, I:

Se da violência resulta lesão grave a pena será de 7 a 18 anos e multa. Esta


figura não é tida como crime hediondo por ausência de previsão a este respeito na
lei dos crimes hediondos que só conferiu tal natureza ao latrocínio consumado ou
tentado.

O roubo qualificado pela lesão grave pressupõe ausência de intenção de matar por
parte do roubador, porque quando ele tenta matar durante o assalto comete crime
mais grave que é o de tentativa de latrocínio.

Art. 157, §3º, II - se da violência resulta a morte (latrocínio)

O texto legal só permite a tipificação do latrocínio quando a morte é consequência


da violência empregada para roubar.
Caso a morte seja consequência exclusiva da grave ameaça utilizada pelo
roubador, ele responde por roubo (simples) em concurso formal com homicídio
culposo. Ex.: vítima que tem um ataque cardíaco em razão das ameaças
proferidas pelo roubador, ele responderá pelo roubo e pelo homicídio culposo.

Se a morte tiver sido consequência da violência utilizada para roubar teremos


sempre latrocínio, quer tenha havido dolo, quer tenha havido culpa em relação ao
evento morte, uma vez que o texto legal não faz distinção.

De acordo com a súmula 603 do STF o latrocínio é sempre de competência do


juízo singular, mesmo que a morte tenha sido consequência dolosa da violência
utilizada pelo roubador.

São exigidos, ainda, dois outros requisitos para a configuração do latrocínio:

 1º. Que a violência causadora da morte tenha sido


empregada durante o contexto fático do roubo;
 2º. Que tal violência tenha sido empregada em razão do
roubo em andamento.

Existe, portanto, latrocínio quando o agente mata para conseguir roubar, mas
também quando ele mata logo após a subtração ainda no contexto fático do
roubo, a fim de garantir sua impunidade ou a detenção da coisa. É que o latrocínio
pode ter por base um roubo próprio e também um roubo impróprio.

Quando o agente mata para garantir a impunidade de um roubo, duas situações


podem ocorrer:

a. Se a morte se deu durante o roubo é latrocínio;

b. Se a morte ocorreu em outro contexto fático posterior


temos roubo em concurso material com homicídio
qualificado.

Se durante um roubo num banco um dos assaltantes vê entre os clientes um


antigo inimigo que havia jurado matar em razão desta intenção anterior de matar
aquela pessoa, o execute durante o assalto o crime não é o de latrocínio, porque a
violência contra o desafeto ocorreu por outras razões e não em razão do roubo.

Presentes os requisitos acima o crime será o de latrocínio qualquer que tenha sido
a vítima fatal, ex. o dono do bem, alguém que o acompanhava, um funcionário da
empresa roubada, etc.

Não haverá, entretanto, latrocínio quando dois roubadores se desentendem e um


mata o outro durante o assalto, porque neste caso a vítima fatal era autora do
roubo. Neste caso, existe roubo em concurso material com homicídio contra o
comparsa.

=> Em um assalto a banco um dos bandidos aponta a arma para o segurança,


atira, mas acerta o seu comparsa. Há latrocínio?

Resposta: Sim. Aplica-se aqui a hipótese de erro na execução. Se a intenção era


matar o segurança, responderá pelo latrocínio.

Tício contrata Mévio para matar Seprônio. Mévio mata Seprônio e após matar
resolve levar o relógio que se encontrava com a vítima. Responde Mévio por qual
crime?

Resposta: Responderá por homicídio qualificado em concurso com furto.


Observação 1: o resultado morte ou lesão corporal grave pode resultar de dolo
ou culpa. (STF – HC – 84.217).

Observação 2: não pode ser imputado ao agente o sobredito resultado se o


agente não agiu, ao menos, culposamente.

Observação 3: Súmula 603, do STF. “A competência para o processo e


julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do Tribunal do Júri”.

Observação 4: Pluralidade de mortes com subtração única haverá crime de


latrocínio. “STF: Sendo o latrocínio um crime complexo, a pluralidade de vítimas
não implica a pluralidade de latrocínios”.

Observação 5: aplica-se ao roubo próprio e impróprio, mas não se aplica ao § 2°


do artigo 157 do CP.

O texto do artigo 157, §3º, II, CP, vincula a consumação do latrocínio ao evento
morte, ainda que os ladrões não consigam levar nenhum dos bens que
pretendiam. Por isso, teremos latrocínio consumado se a vítima morre, quer a
subtração seja também consumada, quer seja tentada.

Nesse sentido, existe a Súmula 610 do STF: “Há crime de latrocínio, quando o
homicídio se consuma, ainda que não se realize o agente a subtração de
bens da vítima.

Assim, se a morte ficar na esfera da tentativa, teremos latrocínio tentado, ainda


que o agente consiga efetivar a subtração.

Consumação e tentativa:

 Morte consumada e subtração consumada  Latrocínio consumado.


 Morte consumada e subtração tentada  Latrocínio consumado.
“súmula 610 - STF. Há crime de latrocínio, quando o homicídio se
consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da
vítima”.
 Morte tentada e subtração consumada  Latrocínio tentado.
 Morte tentada e subtração tentada  Latrocínio tentado.

EM SUMA: Ocorrendo morte, haverá latrocínio. Ocorrendo tentativa de morte,


haverá latrocínio tentado.

Imagine a seguinte situação hipotética:


Carlos e Luiza, casal de namorados, estão entrando no carro quando são rendidos por
João, assaltante armado que deseja subtrair o veículo.
Carlos acaba reagindo e João atira contra ele e Luiza, matando o casal.
João foge levando o carro.
Repare que, na situação concreta, houve a subtração do patrimônio de uma única
pessoa (carro de Carlos), mas ocorreram duas mortes.
Diante disso, o Ministério Público alegou que João deveria responder por dois
latrocínios em concurso formal. Além disso, para o Parquet, trata-se de concurso
formal impróprio, uma vez que o agente teria desígnios autônomos já que ele efetuou
dois disparos de arma de fogo, um contra cada vítima.
A defesa, por sua vez, alegou que houve um único crime de latrocínio.

Qual das duas teses é acolhida pela jurisprudência? Se há uma única


subtração patrimonial, mas com dois resultados morte, haverá concurso
formal de latrocínios ou um único crime de latrocínio?
STJ: concurso formal STF e doutrina:
um único crime de latrocínio
É pacífico na jurisprudência do STJ o (...) 7. Caracterizada a prática de
entendimento de que há concurso latrocínio consumado, em razão do
formal impróprio no latrocínio quando atingimento de patrimônio único. 8. O
ocorre uma única subtração e mais de número de vítimas deve ser sopesado
um resultado morte, uma vez que se por ocasião da fixação da pena-base, na
trata de delito complexo, cujos bens fase do art. 59 do CP. (...)
jurídicos tutelados são o patrimônio e a STF. 2ª Turma. HC 109539, Rel. Min.
vida. Gilmar Mendes, julgado em 07/05/2013.
STJ. 5ª Turma. HC 336.680/PR, Rel.
Min. Jorge Mussi, julgado em (...) Segundo entendimento acolhido por
17/11/2015. esta Corte, a pluralidade de vítimas
atingidas pela violência no crime de
Prevalece, no STJ, o entendimento no roubo com resultado morte ou lesão
sentido de que, nos delitos de latrocínio grave, embora único o patrimônio
- crime complexo, cujos bens jurídicos lesado, não altera a unidade do crime,
protegidos são o patrimônio e a vida -, devendo essa circunstância ser sopesada
havendo uma subtração, porém mais de na individualização da pena (...)
uma morte, resta configurada hipótese STF. 2ª Turma. HC 96736, Rel. Min.
de concurso formal impróprio de crimes Teori Zavascki, julgado em 17/09/2013.
e não crime único.
STJ. 6ª Turma. HC 185.101/SP, Rel.
Min. Nefi Cordeiro, julgado em
07/04/2015.

Em suma:
• STJ: ocorrendo uma única subtração, porém com duas ou mais mortes, haverá
concurso formal impróprio de latrocínios.
• STF: sendo atingido um único patrimônio, haverá apenas um crime de latrocínio,
independentemente do número de pessoas mortas. O número de vítimas deve ser
levado em consideração na fixação da pena-base (art. 59 do CP). É a posição também
da doutrina majoritária.

MODIFICAÇÕES NA LEI 7.102/83


A Lei nº 7.102/83 institui normas de segurança para os estabelecimentos financeiros.
Em outras palavras, esta Lei prevê quais equipamentos de segurança as instituições
financeiras devem possuir a fim de garantir a incolumidade dos clientes, dos
funcionários e do dinheiro ali depositado. Ex: câmeras de segurança, porta giratória,
cabine blindada etc.
Vale ressaltar que esta Lei nº 7.102/83 não tem nada de Direito Penal. Ela é uma lei
que traz normas de poder de polícia administrativa a serem cumpridas pelos bancos e,
indiretamente, normas de proteção ao consumidor.

O que fez a Lei nº 13.644/2018?


Acrescentou um novo artigo a essa Lei prevendo um reforço para a segurança a fim
de evitar os assaltos que têm ocorrido mediante explosão dos caixas eletrônicos. Veja
o dispositivo que foi inserido:

Art. 2º-A As instituições financeiras e demais instituições autorizadas a


funcionar pelo Banco Central do Brasil, que colocarem à disposição do público
caixas eletrônicos, são obrigadas a instalar equipamentos que inutilizem as
cédulas de moeda corrente depositadas no interior das máquinas em caso de
arrombamento, movimento brusco ou alta temperatura.

§ 1º Para cumprimento do disposto no caput deste artigo, as instituições financeiras


poderão utilizar-se de qualquer tipo de tecnologia existente para inutilizar as cédulas
de moeda corrente depositadas no interior dos seus caixas eletrônicos, tais como:
I – tinta especial colorida;
II – pó químico;
III – ácidos insolventes;
IV – pirotecnia, desde que não coloque em perigo os usuários e funcionários que
utilizam os caixas eletrônicos;
V – qualquer outra substância, desde que não coloque em perigo os usuários dos
caixas eletrônicos.
§ 2º Será obrigatória a instalação de placa de alerta, que deverá ser afixada de forma
visível no caixa eletrônico, bem como na entrada da instituição bancária que possua
caixa eletrônico em seu interior, informando a existência do referido dispositivo e seu
funcionamento.

§ 3º O descumprimento do disposto acima sujeitará as instituições financeiras


infratoras às penalidades previstas no art. 7º desta Lei. Obs: advertência, multa ou
interdição do estabelecimento.

§ 4º As exigências previstas neste artigo poderão ser implantadas pelas instituições


financeiras de maneira gradativa, atingindo-se, no mínimo, os seguintes percentuais,
a partir da entrada em vigor desta Lei:
I – nos municípios com até 50.000 (cinquenta mil) habitantes, 50% (cinquenta por
cento) em nove meses e os outros 50% (cinquenta por cento) em dezoito meses;
II – nos municípios com mais de 50.000 (cinquenta mil) até 500.000 (quinhentos mil)
habitantes, 100% (cem por cento) em até vinte e quatro meses;
III – nos municípios com mais de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, 100% (cem
por cento) em até trinta e seis meses.

ATRIBUIÇÃO E COMPETÊNCIA PARA OS CRIMES DE FURTO E ROUBO


ENVOLVENDO EXPLOSÃO DE CAIXAS ELETRÔNICOS
De quem é a atribuição para investigar os crimes de furto e roubo envolvendo
a explosão de caixas eletrônicos?
• Regra: Polícia Civil.
• Exceção 1: será da Polícia Federal, se o caixa eletrônico for da Caixa Econômica.
• Exceção 2: será da Polícia Federal se houver indícios de que o furto, roubo ou dano
praticado contra a instituição financeira tiver praticado por associação criminosa que
atue em mais de um Estado da Federação, havendo, portanto, repercussão
interestadual que exija repressão uniforme.

Essa exceção 2 está prevista no art. 1º, VI, da Lei nº 10.446/2002:


Art. 1º Na forma do inciso I do § 1º do art. 144 da Constituição, quando houver
repercussão interestadual ou internacional que exija repressão uniforme, poderá o
Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça, sem prejuízo da
responsabilidade dos órgãos de segurança pública arrolados no art. 144 da
Constituição Federal, em especial das Polícias Militares e Civis dos Estados, proceder à
investigação, dentre outras, das seguintes infrações penais:
(...)
VI - furto, roubo ou dano contra instituições financeiras, incluindo agências bancárias
ou caixas eletrônicos, quando houver indícios da atuação de associação criminosa em
mais de um Estado da Federação. (Incluído pela Lei nº 13.124/2015)

De quem é a competência para julgar os crimes de furto e roubo envolvendo


a explosão de caixas eletrônicos?
• Regra: Justiça Estadual.
• Exceção: será da Justiça Federal se o caixa eletrônico for da Caixa Econômica,
considerando que se trata de empresa pública federal (art. 109, IV, da CF/88).

Obs1: se for um caixa eletrônico do Banco do Brasil (sociedade de economia mista


federal), a competência é da Justiça Estadual.
Obs2: o simples fato de a Polícia Federal ter sido chamada para investigar os crimes
(exceção 2) explicada acima, não desloca a competência para a Justiça Federal. Ex:
Polícia Federal investigou roubos que ocorreram contra caixas eletrônicos do Itaú e do
Bradesco em diversos Estados do país pela mesma organização criminosa. Apenas a
investigação de tais delitos é que será na esfera federal. Assim, a Polícia Federal
realiza o inquérito policial e depois o remete para o Juiz de Direito e o Promotor de
Justiça que irão dar início e prosseguimento no processo penal.

VIGÊNCIA
A Lei nº 13.654/2018 não possui vacatio legis, de forma que entrou em vigor em
24/04/2018, dia de sua publicação.

EXTORSÃO (ARTIGO 158, CÓDIGO PENAL)

Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave


ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida
vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer
alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com
emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade.
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto
no § 3º do artigo anterior.
§ 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da
vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem
econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além
da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as
penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente. (Incluído
pela Lei nº 11.923, de 2009)

O crime de extorsão consiste em constranger alguém, mediante violência


ou grave ameaça, e com o intuito de obter indevida vantagem econômica,
a fazer, não fazer ou tolerar que se faça algo. A pena é de 4 a 10 anos de
reclusão e multa (a mesma do roubo).

Neste crime, o agente também emprega violência ou grave ameaça. E,


quanto a estes aspectos, aplica-se o que foi estudado em relação ao roubo.

Nossa jurisprudência entende que constitui extorsão exigir dinheiro para


não divulgar gravações com imagens comprometedoras de alguém.

Na extorsão, a vítima é forçada:

1. A fazer algo (exemplos: a entregar dinheiro ou efetuar depósito


bancário; a assinar cheques em favor do agente; a fazer compras para ele;
pagar contas dele, etc.);
2. A não fazer algo (exemplos: a não ingressar com ação de cobrança ou
de execução; a não entrar em disputa econômica, concorrência; etc.); e
3. A tolerar que o agente faça algo (exemplo: a tolerar o uso de objeto de
sua propriedade).

Em razão da própria redação do artigo 158, são possíveis algumas


conclusões:

1. A extorsão consuma-se ainda que o agente não obtenha a vantagem


econômica por ele visada. É, inclusive, o que diz a Súmula 96 do STJ. É
também por essa razão que se diz que a extorsão é crime formal, ou seja,
aquele que possui resultado que, no entanto, não precisa ocorrer para que
se verifique a consumação do delito. (Súmula 96, do STJ). “96. O crime de
extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem
indevida”.
2. A extorsão se consuma no momento em que a vítima, coagida, faz ou
deixa de fazer o que o agente determinou que ela fizesse ou não fizesse.
Em suma, a consumação se dá no momento da ação ou omissão da vítima.

3. Se o agente emprega a violência ou a grave ameaça, mas não obtém a


ação ou omissão da vítima, temos tentativa de extorsão.

Observação: a pessoa que sofre a violência ou ameaça pode ser distinta


daquela que é constrangida a agir ou não agir.

DISTINÇÕES

EXTORSÃO X EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES


(ARTIGO 345, CP)

Quem emprega violência ou grave ameaça para obter vantagem devida,


incorre no artigo 345, mas, se a vantagem econômica visada for indevida,
incorre em extorsão.

Nos dois crimes, os pressupostos são os mesmos: existência de violência


ou grave ameaça para obtenção de vantagem econômica. O que os
diferencia é ser devida ou indevida tal vantagem.

EXTORSÃO X CONSTRANGIMENTO ILEGAL (ARTIGO 146, CP)

Nestes dois delitos, o agente usa violência ou grave ameaça para forçar a
vítima a fazer ou não fazer algo. A diferença é que na extorsão ele quer
obter vantagem econômica, enquanto no constrangimento ilegal a intenção
é qualquer outra coisa (exemplo: forçar a vítima a não ir a uma festa).

EXTORSÃO X ESTELIONATO

No estelionato, a vítima entrega bens ou valores ao agente, em razão de


uma fraude, enquanto na extorsão, se ela entrega os bens ou valores, o
faz em razão de violência ou grave ameaça.

Existem muitos casos em que o agente emprega fraude e grave ameaça


para obter uma mesma vantagem econômica. E, em tais casos, ele
responde por um só crime, que é o de extorsão.
Exemplo: o filho e um amigo simulam o sequestro do filho e o amigo,
fazendo voz de sequestrador, exige resgate. Eles respondem por extorsão.
Este caso, o filho não tem direito a imunidade, porque o artigo 183 do
Código Penal exclui o benefício do filho (art. 181 CP) quando o delito é o de
roubo ou extorsão.

EXTORSÃO X ROUBO

No roubo o agente subtrai o bem ou por comodidade, manda a vítima


entregá-lo de modo que esta o faz por não ter opção, porque em caso de
recusa o ladrão poderia subtrair o objeto. Ex. existe roubo quando o ladrão
ameaça a vítima e ele próprio subtrai o relógio do braço dela ou quando ele
manda a vítima entregar o relógio.
Ocorre extorsão se o agente manda a vítima entregar o bem, mas caso
esta se recuse ele não tem como naquele momento concretizar uma
subtração, ex. por meio de um telefonema exigir que a vítima faça uma
transferência bancária.

Outro exemplo de extorsão, mas agora entre pessoas presentes, é o do


sequestro relâmpago, em que a vítima é obrigada a fornecer a senha do
cartão para o bandido efetuar saques em caixa eletrônico. Em tal caso, se a
vítima recusasse a fornecer a senha poderia até ser morta, mas o ladrão
não teria como subtrair os valores.

Em suma, se o bem é subtraído o crime é o de roubo. Se é a vítima que


efetua a entrega pode ser roubo ou extorsão. Será roubo se o ladrão podia
subtrair de imediato mas mandou a vítima entregar e será extorsão quando
a subtração imediata não era possível, de modo que na extorsão a
colaboração da vítima é imprescindível.

CORRUPÇÃO X EXTORSÃO

Extorsão e não corrupção passiva: “A presença de grave ameaça quando a


vítima é compelida a entregar dinheiro a outrem configura crime de
extorsão, impedindo o reconhecimento de mera corrupção passiva, pois
nesta o agente solicita ou recebe vantagem indevida, enquanto que
naquele, a entrega de qualquer numerário é realizada em decorrência do
temor do ofendido de sofrer um mal injusto”.

CONCUSSÃO X EXTORSÃO

A concussão é uma espécie de extorsão, porém sem o emprego de


violência ou grave ameaça, na concussão o agente “exige”, além do mais o
agente se vale do cargo que ocupa para exigir a vantagem, enquanto ele
utilizar o seu cargo como forma de exigir estará configurado a concussão,
no entanto, se ele sai da sua órbita de atuação funcional, estará
configurado o crime de extorsão.

CAUSAS DE AUMENTO DE PENA – ART. 158, §1º, CP

Haverá aumento de 1/3 até ½ se houver emprego de arma e se o crime for


praticado mediante concurso de duas ou mais pessoas.

QUALIFICADORAS QUANTO AO RESULTADO – ART. 158, §2º, CP

Aplicam-se ao crime de extorsão todas as regras estudadas em relação ao


roubo qualificado pela lesão grave ou morte.

SEQUESTRO RELÂMPAGO – ART. 158, §3º, CP

Trata-se de um crime de extorsão qualificado pelo fato de os agentes


restringirem a liberdade da vítima como forma de conseguir a vantagem
almejada.

A pena é de seis a doze anos de reclusão e multa.


E a hipótese mais comum é de forçar a vítima a fornecer a senha do cartão
bancário, enquanto um dos bandidos fica com a vítima o outro faz saques,
transferências ou até compras com o referido cartão.

Comentários:

Como o sequestro relâmpago está no §3º e já tem pena maior, entende-se


que ao sequestro relâmpago não se aplica as causas de aumento do
parágrafo primeiro, emprego de arma e concurso de agentes.

Se além de efetuar saques com a senha que forçaram a vítima a fornecer,


os bandidos também subtraírem seu carro, seu celular, etc., o agente
responde por sequestro relâmpago em relação aos saques e por roubo em
relação aos bens que foram tirados da vítima. Nos tribunais superiores o
entendimento é de que se trata de concurso material.

Na parte final do art. 158, §3º, CP está dito que se os bandidos matarem
ou causarem lesão grave na vítima a pena será a do art. 159, §§ 2º e 3º,
CP que tratam da extorsão mediante sequestro qualificada pela lesão grave
ou morte.

EXTORSÃO MEDIANTE SEQÜESTRO – ART. 159 CP

Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem,
qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Vide Lei nº 8.072,
de 25.7.90 (Vide Lei nº 10.446, de 2002)
Pena - reclusão, de oito a quinze anos. (Redação dada pela Lei nº 8.072,
de 25.7.1990)
§ 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o
sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou
se o crime é cometido por bando ou quadrilha. Vide Lei nº 8.072,
de 25.7.90 (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
Pena - reclusão, de doze a vinte anos. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de
25.7.1990)
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Vide Lei nº
8.072, de 25.7.90
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. (Redação dada pela
Lei nº 8.072, de 25.7.1990)
§ 3º - Se resulta a morte: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. (Redação dada pela Lei
nº 8.072, de 25.7.1990)
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar
à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena
reduzida de um a dois terços. (Redação dada pela Lei nº
9.269, de 1996)

INTRODUÇÃO

Trata-se de crime hediondo em todas as suas figuras e consiste em


capturar alguém e entrar em contato com outras pessoas, em regra
familiares a fim de exigir resgate em troca da vida e da libertação da
pessoa sequestrada. Trata-se de um crime permanente, ou seja, aquele
que se prolonga no tempo. Além do mais, por ser um crime permanente
admite a prisão em flagrante delito, a qualquer hora do dia
independentemente de autorização judicial. Todas as suas formas
constituem crime hediondo.

LEI N. 8072/90 (LEI DOS CRIMES HEDIONDOS)

Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados


no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou
tentados: (Redação dada pela Lei nº 8.930, de 1994) (Vide Lei nº 7.210, de 1984)

I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de


extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, §
2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII); (Redação dada pela Lei nº 13.964, de
2019)

I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão
corporal seguida de morte (art. 129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou
agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema
prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até
terceiro grau, em razão dessa condição; (Incluído pela Lei nº 13.142, de
2015)

II - roubo: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º, inciso


V); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou


pelo emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-
B); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, §


3º); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

III - extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de


lesão corporal ou morte (art. 158, § 3º); (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

IV - extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lo,


2 e 3o);
o
(Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994)

(...)

Art. 5º, XI, da CF. “XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém
nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de
flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial”.

Súmula 711, do STF. “711. A lei penal mais grave aplica-se ao crime
continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à
cessação da continuidade ou permanência”.

MODALIDADE SIMPLES – ART. 159, “CAPUT”, CP


A pena é de reclusão de oito a quinze anos.
Antigamente havia pena de multa no art. 159, mas a LCH (lei dos crimes
hediondos) ao reescrever tal pena omitiu a pena de multa.

TIPO PENAL
Sequestrar pessoa com o fim de obter qualquer vantagem como condição
ao preço do resgate.
A vítima do sequestro deve ser um ser humano, por isso quem captura um
animal de estimação para exigir dinheiro em troca da libertação, incorre na
extorsão do art. 158, CP.

ALCANCE DA EXPRESSÃO “QUALQUER VANTAGEM”

Como o art. 159 esta dentro do título dos crimes contra o patrimônio, a
vantagem visada deve ser patrimonial. Se o agente captura uma pessoa e
exige de outra uma vantagem não patrimonial há desmembramento em
dois delitos que são o sequestro do art. 148, CP e outro que depende do
caso concreto. Ex. sequestrar uma criança para exigir contato sexual em
troca de futura libertação do filho, configura sequestro do art. 148 em
relação ao filho e estupro em relação a mãe que foi forçada mediante grave
ameaça a manter relação sexual.

Na realidade a expressão qualquer vantagem quer esclarecer que o art.


159 se configura quer a vantagem econômica visada seja indevida, quer
seja devida.

OBJETIVIDADE JURÍDICA
Trata-se de crime complexo, que atinge mais de um bem jurídico, quais
sejam: patrimônio e liberdade.

CONSUMAÇÃO
De acordo com a redação do artigo 159, fica claro que o crime se consuma
com o sequestro, com a captura da vítima. Trata-se de crime formal porque
se consuma independentemente do resultado, isto é, mesmo que os
sequestradores não recebam o resgate.

O recebimento do resgate é mero exaurimento do crime, que já estava


consumado desde o sequestro.

Cuida-se, ainda, de crime permanente, cuja consumação se prolonga no


tempo, de modo que a prisão em flagrante é possível enquanto a vítima
estiver sequestrada.

Se a vítima é capturada em uma cidade e mantida em cativeiro em outra, a


ação penal pode ser proposta em qualquer delas, devendo ser utilizado o
critério da prevenção, uma vez que se trata de crime permanente que
percorreu o território de duas cidades distintas (artigo 71, CPP).

A tentativa só é possível se os bandidos iniciaram o ato de abordagem, mas


não conseguiram levar a vítima por razões alheias à sua vontade.

Observação: segundo (PRADO, 2007, p. 581), na hipótese em que a


própria vítima colabora com a realização do sequestro, com vistas, por
exemplo, a extorquir dinheiro dos pais, desclassifica-se o delito para
extorsão simples, respondendo aquela em concurso com os supostos
sequestradores.

FORMAS QUALIFICADAS
Existem qualificadoras nos parágrafos 1º, 2º e 3º do artigo 159 (da mais
branda para a mais grave).

QUALIFICADORAS DO §1º
Pena de 12 a 20 anos de reclusão.
a) Se o sequestro dura mais de 24 horas
b) Se a vítima é menor de 18 ou maior de 60 anos
c) Se o crime é praticado por quadrilha ou bando

QUALIFICADORA DO §2º
a) Se do fato resulta lesão grave
Pena será de 16 a 24 anos.

QUALIFICADORA DO §3º
a) Se resulta morte
Pena de 24 a 30 anos. (Maior pena em abstrato do CP)

As qualificadoras dos parágrafos 2º e 3º só têm incidência quando a lesão


grave ou morte recai na própria vítima do sequestro (pessoa sequestrada).
Se ocorrer, por exemplo, a morte de um segurança para viabilizar o
sequestro do patrão, tal morte constitui crime autônomo de homicídio e
não qualificadora do artigo 159, CP.

DELAÇÃO EFICAZ
A natureza jurídica é de causa de diminuição de pena.
A pena será reduzida de 1/3 a 2/3 se o delito for praticado mediante
concurso e qualquer dos envolvidos delatar o fato às autoridades,
facilitando a libertação da vítima.
Chama-se delação eficaz, porque a pena só é diminuída se a informação
prestada pelo delator realmente colaborar com a libertação da vítima. O
índice de redução será maior, quanto maior a colaboração na libertação da
vítima. Título II
Dos Crimes Contra o Patrimônio
Capítulo III
Da Usurpação
Alteração de Limites

Art. 161 - Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro sinal


indicativo de linha divisória, para apropriar-se, no todo ou em parte, de
coisa imóvel alheia:
Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e multa.
Com esse dispositivo visa a lei resguardar a posse e a propriedade dos
bens imóveis.

Apesar da discussão existente a respeito, predomina o entendimento de


que se trata de crime PRÓPRIO, pois somente pode ser praticado pelo
vizinho do imóvel alterado.
O delito pode ser cometido de duas maneiras, ou seja, através da
supressão, retirada do marco divisório ou por meio do deslocamento deste,
evidentemente com a finalidade de se apropriar, ao menos em parte, do
imóvel.

A infração penal consuma-se quando ocorre a efetiva supressão ou


deslocamento do marco, ainda que o agente não atinja sua finalidade de
apropriar-se do imóvel alheio. Trata-se de CRIME FORMAL. A tentativa é
admissível.

USURPAÇÃO DE ÁGUAS
ART. 161, §1º, CP
§ 1º - Na mesma pena incorre quem:
I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de outrem, águas alheias;
• Visa a lei resguardar as águas públicas ou particulares que passem
por um determinado local, evitando que o dono do terreno sofra
prejuízo caso alguém queira desviar o seu curso ou represá-las.
• O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, e a vítima é a pessoa que
pode sofrer o dano em decorrência do desvio ou represamento.
• O crime consuma-se no exato instante em que o agente efetua o
desvio ou represamento, ainda que não consiga obter o proveito
próprio ou alheio a que o texto legal se refere. Trata-se também de
CRIME FORMAL. A tentativa é possível.

ESBULHO POSSESSÓRIO
Art. 161, §1º, II, CP.
II - invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante
concurso de mais de duas pessoas, terreno ou edifício alheio, para o fim de
esbulho possessório.

Trata-se de infração penal que pressupõe a invasão de propriedade


imóvel alheia, edificada ou não, desde que o fato se dê mediante o
emprego de violência ou grave ameaça contra a pessoa ou, ainda,
mediante concurso de mais de duas pessoas. É desnecessária a presença
física de todos no momento da invasão. Prevalece o entendimento que tem
ser 4 pessoas (o autor e mais três).

A infração penal somente existe quando a conduta ocorre “para fim de


esbulho possessório” (elemento subjetivo do tipo), ou seja, desde que o
agente queira excluir a posse do sujeito passivo, para passar a exercê-la
ele próprio.

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, exceto o dono do imóvel.

Sujeito passivo é o proprietário do imóvel invadido.

A consumação dá-se no momento da invasão, e a tentativa é possível.

Trata-se de crime formal.

Art. 161, §2º - Se o agente usa de violência, incorre também na pena a


esta cominada.
Assim, se, por ocasião do esbulho, o agente provocar lesões corporais na
vítima, ainda que leves, responderá por aquele e por estas, com as penas
aplicadas cumulativamente.

Art. 161, §3º - Se a propriedade é particular, e não há emprego de


violência, somente se procede mediante queixa.

Essa regra aplica-se para todos os crimes descritos no art. 161 do Código
Penal. Dessa maneira, não havendo emprego de violência, a ação penal
será privada, caso contrário, pública incondicionada. Além disso, se a
propriedade for pública, a ação também será pública incondicionada.

SUPRESSÃO OU ALTERAÇÃO DE MARCA EM ANIMAIS

Art. 162 - Suprimir ou alterar, indevidamente, em gado ou rebanho


alheio, marca ou sinal indicativo de propriedade:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.

Esse delito visa proteger a propriedade e a posse dos animais semoventes,


tendo como sujeito ativo qualquer pessoa e como vítima o dono do animal.
A conduta típica consiste em modificar ou apagar a marca ou qualquer sinal
indicativo de propriedade em gado ou rebanho alheios. Quando a lei se
refere a “gado”, está protegendo a propriedade em relação a animais de
grande porte, como bois ou cavalos, e, ao mencionar “rebanho”, o faz em
relação aos de menor porte, como porcos, ovelhas etc.

A infração penal apenas existe se o fato ocorre “indevidamente”(elemento


normativo do tipo). Assim, é obvio que quem compra os animais tem o
direito de alterar a marca destes sem que cometa o delito.

A consumação ocorre com a simples supressão ou alteração da marca,


ainda que o fato se dê em relação a apenas um animal. A tentativa é
admissível.

Esse delito fica absorvido pelo crime de furto do animal, sendo, portanto,
raramente aplicado na prática.

DANO
ART. 163, CAPUT, CP
“Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia”
Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa.

Trata-se de crime sui generis no título dos crimes contra o patrimônio, uma
vez que para sua configuração não é necessário que o agente vise a
obtenção de lucro, ao contrário do que ocorre, por exemplo, no furto, no
roubo, na extorsão, na apropriação indébita, no estelionato etc.

Tipo Objetivo

a) DESTRUIR – Nesta modalidade, que é a mais grave em relação ao


objeto atingido, este deixa de existir em sua individualidade, é
eliminado, extinto. Exemplos: colocar fogo em livros, matar um
animal, pôr abaixo uma casa, um muro, etc.
b) INUTILIZAR – Nesta modalidade o objeto continua existindo, mas
sem poder ser utilizado para a finalidade a que se destinava. Ex:
quebrar os ponteiros de um relógio, quebrar as hélices de um
ventilador etc.
c) DETERIORAR – Trata-se de fórmula genérica que abrange qualquer outra
forma de dano que não esteja englobada pelas duas hipóteses anteriores.
Ex: quebrar o vidro de um carro ou de uma casa, amassar ou riscar a
lataria de um veículo.

A conduta de pichar, grafitar ou por outro meio conspurcar edificação


ou monumento urbano atualmente configura o crime do art. 65, caput, da
Lei n. 9.605/98, cuja pena é de detenção de três meses a um ano e multa.
Se o ato, entretanto, for realizado em monumento ou coisa tombada em
virtude de seu valor artístico, arqueológico ou histórico, a pena é de seis
meses a um ano de detenção e multa (art. 65, parágrafo único, da Lei n.
9.605/98)

Objeto material: A coisa móvel ou imóvel que tenha dono.

Sujeito Ativo: Qualquer pessoa, exceto o proprietário do bem danificado.


Em se tratando de dano provocado por condômino, haverá crime apenas se
o bem for infungível ou, se fungível, quando o valor do prejuízo exceder ao
montante da quota-parte do agente. EX: se duas pessoas são donas de
um quadro valioso (bem infungível) e uma delas danifica intencionalmente
uma pequena parte da obra de arte, já está configurado o delito. Se,
todavia, elas são donas de 100 quilos de arroz (bem fungível) e uma delas
danifica somente sua metade, não há crime por não ter havido prejuízo
financeiro à outra.

O proprietário que destrói ou danifica objeto que se encontra em poder de


terceiro por razão de contrato (aluguel, p. ex.) ou por determinação judicial
(penhora, p. ex.) incide no delito do art. 346 do Código Penal.

Art. 346. Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria, que se acha
em poder de terceiro por determinação judicial ou convenção:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
Sujeito Passivo: O titular do direito de propriedade.

Elemento subjetivo: É o dolo, direto ou eventual. NÃO EXISTE PREVISÃO


LEGAL DE CRIME DE DANO CULPOSO.

Por sua vez, para que exista o crime em estudo é necessário que o dano
seja um fim em si mesmo. Assim, se constitui meio para a prática de outra
infração penal, fica por esta absorvida. Ex: a destruição de um obstáculo
para a subtração de objetos constitui crime de furto qualificado, não sendo
possível a acusação por delito de dano.

REPARAÇÃO DO DANO

Como o dano simples é de ação privada e enquadra-se no conceito de


infração penal de menor potencial ofensivo, a composição civil entre as
partes, no que se refere à reparação do prejuízo causado, se homologada
pelo Juiz na audiência preliminar do Juizado Especial Criminal, implica
renúncia ao direito de queixa, gerando a extinção da punibilidade do agente
(art. 74, parágrafo único, da Lei n. 9.099/95)
Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e,
homologada pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título
a ser executado no juízo civil competente.
Art. 87 desta Lei.
Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação
penal pública condicionada à representação, o acordo homologado acarreta
a renúncia ao direito de queixa ou representação.
DANO QUALIFICADO

Nas hipóteses de dano qualificado, previstas no art. 163, parágrafo


único, do Código Penal, a pena é de detenção, de seis meses a três anos, e
multa, ficando afastada, pois, a possibilidade de transação para a aplicação
imediata de pena de multa ou restritiva de direitos (art. 76 da Lei n.
9.099/95), uma vez que não se trata de infração de menor potencial
ofensivo, conceito que abrange apenas os crimes cuja pena máxima não
seja superior a dois anos.

Veja-se que no dano qualificado a pena de multa é aplicada


cumulativamente com a privativa de liberdade, enquanto no dano simples
são penas alternativas.

Dano Qualificado
Parágrafo único - Se o crime é cometido:
I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o
fato não constitui crime mais grave;
III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito
Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa
pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária
de serviços públicos; (Redação dada pela Lei nº 13.531,
de 2017);
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a
vítima:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa,
além da pena correspondente à violência.
Art. 163, parágrafo único, I

“com violência à pessoa ou grave ameaça”

Essa qualificadora somente se aplica quando a violência ou a grave ameaça


constituem meio para que o agente consiga danificar o objeto alheio.
Assim, se o agente já praticou o dano e, posteriormente, ao ser abordado
pela vítima, vem a agredi-la de forma a lhe causar lesões, responde por
dano simples em concurso material com delito de lesões corporais.

Por outro lado, mesmo quando ocorre o dano qualificado (violência ou


grave ameaça como meio para o delito), se a vítima vier a sofrer lesões,
ainda que leves, em decorrência da agressão contra ela perpetrada, haverá
aplicação autônoma das penas do dano qualificado e das lesões corporais,
em razão de previsão expressa nesse sentido do próprio art. 163, parágrafo
único, do CP, que, ao cuidar da pena, estabelece detenção, de seis meses a
três anos, e multa, ALÉM DA PENA CORRESPONDENTE À VIOLÊNCIA.

É indiferente que a violência tenha sido provocada contra o próprio


dono do objeto ou contra terceiro. Ex: A quer danificar o veículo de B que
se encontra no estacionamento de um restaurante e o manobrista do
estabelecimento tenta impedir o crime mas acaba sendo agredido por A.

Art. 163, parágrafo único, II, CP

“com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o


fato não constitui crime mais grave”.

Temos aqui uma infração penal expressamente subsidiária, que fica


absorvida quando o fato constitui crime mais grave, como, por exemplo,
homicídio qualificado pelo emprego de fogo ou explosivo (CP, art. 121, §2º,
III), crime de incêndio (art. 250), crime de explosão (art. 251) etc.

Art. 163, parágrafo único, III, CP

“ contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município


ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de
economia mista ou empresa concessionária de serviços
públicos”; (Redação dada pela Lei nº 13.531, de 2017)

A finalidade desse dispositivo é dar uma especial proteção aos bens


públicos, que estão mais expostos à ação de vândalos, pois, conforme se
pode verificar facilmente, são incontáveis os casos de dano em telefones
públicos, lâmpadas de postes, estádios municipais de futebol, ônibus e
metrôs, bancos de praças públicas etc.

Se o objeto é totalmente particular e está apenas alugado, por exemplo, ao


Município, não se aplica a qualificadora, pois o texto da lei exige que o
crime seja contra o “patrimônio da União, do Estado, Município etc”.

Obs: a subtração de telefone público caracteriza crime de furto e não de


dano.

O preso que danifica sua cela para fugir comete o delito de DANO
QUALIFICADO?

DUAS CORRENTES

1) Uma primeira corrente entende que o crime de dano exige um dolo


específico, que corresponde à intenção de causar prejuízo à vítima.
Assim, a conduta do preso seria atípica, já que sua finalidade é a
fuga e não a provocação de prejuízo ao Estado;
2) Para a segunda corrente, o crime de dano contenta-se com o fato de
o agente ter ciência de que está danificando bem alheio,
independentemente de intenção específica de gerar prejuízo a
outrem. Por isso, o preso responde pelo dano qualificado.

Art. 163, parágrafo único, IV, CP

“por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima”.

Temos duas qualificadoras nesse inciso.

A primeira delas refere-se ao motivo egoístico, ou seja, ao dano praticado


por quem, com ele, visa conseguir algum benefício de ordem econômica ou
moral.
A segunda tem como razão da maior punição o fato de o agente ter
causado um prejuízo patrimonial elevado à vítima. Essa situação deve ser
analisada de acordo com o patrimônio específico de cada sujeito passivo e
somente será aplicável quando ficar demonstrado que o agente queria
causar tal prejuízo considerável.

Ação penal

Conforme art. 167 do CP, a ação penal é PRIVADA no DANO SIMPLES


e no DANO QUALIFICADO DO INCISO IV (motivo egoístico ou prejuízo
considerável à vítima).

Nas demais formas de DANO QUALIFICADO (ART. 163, PARÁGRAFO


ÚNICO, I, II e III, CP), a ação é PÚBLICA INCONDICIONADA.

INTRODUÇÃO OU ABANDONO DE ANIMAIS EM PROPRIEDADE


ALHEIA
Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia,
sem consentimento de quem de direito, desde que o fato resulte
prejuízo:
Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses, ou
multa
As condutas típicas são introduzir ou deixar animais em propriedade alheia.
A primeira delas é comissiva, pois o agente coloca o animal na propriedade
de outrem. A segunda conduta é omissiva, já que o agente não retira o
animal que livremente entrara em propriedade alheia, quando era sua
obrigação fazê-lo.

Nesse dispositivo a lei protege o imóvel rural ou urbano.

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, proprietário ou não do animal. É


evidente, entretanto, que o dono do imóvel não pode ser autor do delito
em tela. Sujeito passivo é o proprietário ou o possuidor do imóvel.

Apesar de a lei mencionar a palavra “animais” (no plural), entende-se que


ela foi utilizada como gênero, bastando a introdução ou abandono de um
único animal para a configuração do ilícito penal.

Para que exista o crime, todavia, o tipo exige que da conduta advenha
algum prejuízo financeiro para a vítima. Por isso, pode-se concluir que o
crime é MATERIAL, já que a consumação somente ocorre no instante em
que se materializa o prejuízo da vítima. Além disso, por se tratar de delito
cuja existência está condicionada à produção de algum prejuízo, pode-se
deduzir que a tentativa não é admissível, ou seja, o fato será considerado
atípico se o agente introduzir ou abandonar animais em sítio alheio e disso
não decorrer qualquer prejuízo à vítima.

É claro, também, que não haverá delito na hipótese de existir prévio


consentimento do proprietário ou possuidor (elemento normativo do tipo).

Nos termos do art. 167 do CP, a ação penal é privada.

DANO EM COISA DE VALOR ARTÍSTICO, ARQUEOLÓGICO OU


HISTÓRICO
Art. 165 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela
autoridade competente em virtude de valor artístico, arqueológico
ou histórico:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Revogado pelo art. 62, I, da Lei n. 9.605/98, que pune com reclusão de um
a três anos e multa a pessoa que destruir, inutilizar ou deteriorar bem
especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial.

Art. 62. Destruir, inutilizar ou deteriorar:


I – bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão
judicial;
II – arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou
similar protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial:
Pena – reclusão, de um a três anos, e multa.
Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena é de seis meses a um ano
de detenção, sem prejuízo da multa.

ALTERAÇÃO DE LOCAL ESPECIALMENTE PROTEGIDO

• Art. 166 - Alterar, sem licença da autoridade competente, o


aspecto de local especialmente protegido por lei:
• Pena - detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa

Revogado pelo art. 63 da Lei n. 9.605/98:

Art. 63. Alterar o aspecto ou estrutura de edificação ou local especialmente


protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial, em razão de seu
valor paisagístico, ecológico, turístico, artístico, histórico, cultural, religioso,
arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade
competente ou em desacordo com a concedida:

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

Art. 63. Alterar o aspecto ou estrutura de edificação ou local especialmente


protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial, em razão de seu
valor paisagístico, ecológico, turístico, artístico, histórico, cultural, religioso,
arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade
competente ou em desacordo com a concedida:
Pena – reclusão, de um a três anos, e multa.

Ação penal

Art. 167 - Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu parágrafo e do art. 164,
somente se procede mediante queixa.

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