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na prática

4. Assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F) para as seguintes sentenças:

( ) não há estado de necessidade em casos de furto pela legislação brasileira.


( ) O crime de furto se consuma no momento em que o agente tiver a posse da
coisa, mesmo que essa posse se dê por um curto período de tempo, pois,
nestes casos, não há fala em tentativa.
( ) O crime de furto se consuma no momento em que o agente tiver a posse
tranquila da coisa, mesmo que essa posse se dê por um curto período de
tempo.
a) VFV.
b) FFV.
c) VFV.
d) VVF.
e) VVV.

5. Tício foi tentar bater a carteira de Caio. Em meio à ação, Caio percebeu e Tìcio
saiu correndo com a carteira. Posteriormente, foi preso e a carteira, recuperada.
Diante deste quadro de furto, assinale a alternativa correta:

a) Houve furto, mas não se pode falar em furto qualificado pela destreza de Tício,
posto que sua ação foi percebida.
b) Houve furto qualificado, a destreza é percebida e aplicada pela lei e pelo
histórico do agente e não por sua mera ação.
c) Houve apenas tentativa de furto, o fato de Tício ter sido capturado frustrou
a tipificação do delito.
d) Não houve furto ou tentativa, haja vista que por Tício ser flagrado e correr
com a coisa, está-se diante de outro delito que não o furto.
e) Só poderá falar em furto (independente da tentativa ou não), neste caso,
quando for apurado a quantidade de dinheiro na carteira de Caio.

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aprimore-se

UMA PERCEPÇÃO PECULIAR DO FURTO

A base elementar do furto (e, a partir desta, suas espécies e qualificadora)


é, também, um processo histórico, que remete aos romanos, chamados pós-
-clássicos (povos que viviam sob a autoridade e cultura romana a partir do
primeiro século da Era Cristã).
Interessante notar que a matéria (o delito contra patrimônio na forma fur-
tiva) era disciplinado pela legislação civil, tratado como uma obrigação nascida
da conduta. No entendimento dos romanos deste período, o furto seria um
“apossamento fraudulento de uma coisa, de seu uso, ou de sua posse”, ou
seja, o entendimento parecido ao do nosso Código Penal (ao menos na raiz da
conduta).
Apenas a título de ilustração, os romanos desta Era entendiam o furto de
duas formas: o manifesto (flagrante), no qual o agente era visto praticando a
conduta; e o não manifesto, no qual o sujeito ativo, por assim dizer, era, apenas,
descoberto com a coisa em sua posse, mas não flagrado na ação propriamente
dita. A pena deste era alta; daquele, dobrada (JUSTINIANO, 2000).
Por fim, os romanos consideravam o sujeito ativo do furto não apenas
quem lhe desse causa, mas aquele que o idealizou – o chefe, o mentor inte-
lectual do crime. E, como não havia apropriação indébita – a ser estudada em
unidade posterior –, a posse estendida intencionalmente e sem a autorização
do dono da coisa era considerada furto igualmente.

Fonte: adaptado de Greco (2017).

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eu recomendo!

livro

Curso de Direito Penal


Autor: Rogério Greco
Editora: Impetus
Sinopse: Rogério Greco aborda, com extrema precisão, a parte
especial do Código Penal brasileiro, mediante análise aprofun-
dada dos artigos 121 a 212 do estatuto repressivo. O texto foi
revisto de acordo com as mais recentes alterações legislativas, a
exemplo da Lei nº 13.654, de 23 de abril de 2018, que alterou o Código Penal para
dispor sobre os crimes de furto qualificado e de roubo quando envolvam explo-
sivos e do crime de roubo praticado com emprego de armamento de fogo ou do
qual resulte lesão corporal grave. Contempla, também, a Lei nº 13.771, de 19 de
dezembro de 2018, que alterou o Art. 121 do Código Penal, dentre outras editadas
em 2018, além de novas Súmulas do STJ. Trata-se, portanto, de uma poderosa
fonte para o operador jurídico e para o estudante de Direito. Diferenciais da obra:
atualizada pelas Leis nº 13.654, 13.715, 13.718, 13.721, 13.771, dentre outras. Au-
tor de grande renome no estudo do Direito Penal brasileiro.

filme

A qualquer custo
Ano: 2016
Sinopse: interior do Texas, Estados Unidos, Toby (Chris Pine) e
Tanner (Ben Foster) são irmãos que, pressionados pela pro-
ximidade da hipoteca da fazenda da família, resolvem assaltar
bancos para obter a quantia necessária ao pagamento. Com um
detalhe: eles apenas roubam agências do próprio banco que
está cobrando a hipoteca. Só que, no caminho, eles precisam li-
dar com um delegado veterano (Jeff Bridges), que está prestes a se aposentar.
Comentário: prezados, recomendo esse filme pois retrata não apenas a ação deli-
tiva contra bancos, mas também desperta uma análise acerca de aspectos socio-
lógicos do criminoso.

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CRIMES CONTRA O
PATRIMÔNIO
PRATICADOS
COM VIOLÊNCIA
e/ou grave ameaça
PROFESSORES
Esp. Cristian Rodrigues Tenório
Esp. Willian Samsel

PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Roubo • Roubo Impróprio •
Extorsão • Extorsão Mediante Sequestro.

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Apresentar os conceitos do delito de roubo, suas causas principais e as transversais na Lei Penal • Enten-
der o roubo impróprio e suas implicações na Lei penal brasileira • Conhecer a extorsão – sua diferença
para o roubo e suas características principais, quanto às intenções do agente • Compreender a extorsão
mediante sequestro, a conduta gravíssima, prevista na legislação brasileira, e que cumula, em seu tipo,
condutas que atentam contra a vida e a liberdade do indivíduo.
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), entre os crimes contra o patrimônio, destaca-se o rou-


bo, não apenas pela gravidade do ilícito, mas, principalmente, pela fre-
quência e consequências da referida prática. Observe que, no crime de
roubo, além do patrimônio, pode haver, inclusive, a violação da integri-
dade física ou psicológica, tendo a intimidação como requisito subjetivo
à sua prática.
Sabe-se que o índice de práticas dessa natureza tem aumentado a cada
dia, principalmente, contra empresas privadas. Não é pacífica a motiva-
ção para tal estatística, porém é evidente que a recessão econômica e a
desigualdade social contribuam para o aumento da criminalidade.
Como forma de preservação, o ente privado tem investido, cada vez
mais, em segurança para garantir sua integridade física e patrimonial,
tendo em vista a precariedade da segurança pública e, consequentemente,
a falta de segurança jurídica quanto à repressão e à aplicação da lei penal.
O próprio tipo penal possui suas ramificações, chamadas de qualifi-
cadoras, variações que, junto ao acréscimo na conduta, preveem deslo-
camento das penas mínima e máxima pela qual pode incorrer o agente
que pratica o delito, observando-se as circunstâncias do crime. Em suma,
as qualificadoras aumentam a perspectiva da pena quando da sentença
proferida pelo juiz da causa.
Nesse sentido, é primordial que saibamos diferenciar um instituto
penal do outro para que não venhamos a cometer equívocos em relação
à interpretação da conduta a ser reprimida. Conforme já demonstrado no
capítulo anterior, é notável a diferença entre roubo e furto, por exemplo.
O crime de extorsão, por sua vez, também a ser estudado neste ca-
pítulo, traz, em seus elementos, particularidades que o diferenciam dos
tipos penais apresentados anteriormente, como a coação com a intenção
de obter vantagem. Dessa forma, estudaremos a referida prática por agen-
tes públicos, que praticam outro crime, embora desempenhe a mesma
conduta.
É possível afirmar que esta unidade traz as práticas delitivas mais
comuns com que, rotineiramente, o profissional da área de segurança
irá se deparar.
Bons estudos!
UNICESUMAR
ROUBO

O roubo, previsto no Artigo 157 do Código Penal, refere-se à subtração de coisa


(móvel alheia, para si ou para outrem), da mesma forma que o furto, mas com a
adição da violência, grave ameaça ou qualquer outro meio que reduza a possibi-
lidade de resistência da vítima.

““
O crime de roubo é considerado complexo pois atinge mais de um
bem jurídico: o patrimônio e a incolumidade física ou a liberdade in-
dividual. Com efeito, como no roubo ocorre subtração de coisa alheia,
o patrimônio é bem jurídico sempre afetado. Além disso, quando a
subtração se dá mediante violência, afeta-se também a incolumidade
física da vítima, e quando é praticada mediante grave ameaça ou com
emprego de soníferos, atinge-se também a liberdade individual, ainda
que momentaneamente (GONÇALVES, 2018, p. 401).

Qualquer violência aplicada, fisicamente, contra a vítima (empurrão, trombada ou até


a retirada de objetos fixados no corpo da vítima) e que lhe causem lesões caracterizá
o crime de roubo. Já a grave ameaça (via compulsiva) é a promessa da prática de um
mal grave que gera situação de medo e pavor à vítima. O mal prometido pode ser
justo ou injusto e se dirigir à vítima ou a terceiros (parentes, amigos). Convém notar
que o simples porte de arma de fogo, desmuniciada ou de brinquedo, configura grave

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ameaça, assim como a simples simulação de porte de arma (CAPEZ, 2014).
UNIDADE 2

“Note-se que se exige a ameaça de um mal suficiente para produzir o


temor desejado, mas não a idoneidade” (VIVES ANTÓN, T. S. et al., 2017,
p. 405). A violência pode ser entendida, ainda, como direta ou imediata e
indireta ou mediata.

““
Direta ou imediata é a violência física exercida contra a pessoa
de quem se quer subtrair os bens. Assim, por exemplo, o agente
agride violentamente a vítima com socos, para que possa levar
a efeito a subtração de seu relógio; indireta ou mediata é a vio-
lência empregada contra pessoas que são próximas da vítima ou,
mesmo, contra coisas (GRECO, 2017, p. 665).

A violência imprópria também se configura como crime de roubo, que é qual-


quer meio empregado que reduza a potência da vítima de se proteger – como
no golpe de embriagar a vítima para depois roubá-la. Como explica Hungria:

““
Pressupõe-se que o outro ‘qualquer meio’, a que se refere o art.
157, caput, é empregado ardilosa ou sub-repticiamente, ou, pelo
menos, desacompanhado, em sua aplicação, de violência física ou
moral, pois, do contrário, se confundiria com esta, sem necessi-
dade da equiparação legal (HUNGRIA, 1955, p. 55-56).

O roubo requer dolo duplo: o primeiro, genérico, consistente na vontade livre


e consciente de subtrair, usando expediente de violência ou grave ameaça;
o segundo, elemento subjetivo especial do tipo, exige que a ação seja para o
agente ou para terceiro. O sujeito ativo no crime de roubo pode ser qualquer
um, exceto o proprietário da coisa.
O sujeito passivo é qualquer pessoa, mesmo que diferente do sujeito passivo da
subtração. A violência pode não ser aplicada contra o proprietário ou o possuidor da
coisa alheia, mas contra terceiro. Assim, haverá dois sujeitos passivos: um em relação
ao patrimônio e outro em relação à violência, ambos vítimas de roubo, sem, contudo,
dividir a ação criminosa, que continua única. As duas vítimas – do patrimônio e da
violência – estão, intimamente, ligadas pelo objetivo final do agente: subtração e
apossamento da coisa subtraída (BITENCOURT, 2017).

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O sujeito passivo, todavia, é o titular do direito da propriedade ou da posse, mes-

UNICESUMAR
mo que seja uma pessoa jurídica. Por exemplo, um ladrão entra no banco rende cinco
funcionários e leva uma soma significativa de dinheiro. Nesse caso serão sujeitos
passivos da ação os cinco funcionários e o banco (GONÇALVES, 2018), ou seja,
aqueles que sofreram a ameaça e a pessoa jurídica que sofreu o prejuízo, a perda.

explorando Ideias

Não confundir roubo com extorsão. Caso o agente venha a render alguma vítima e exija
que um terceiro lhe pague quantia em dinheiro para libertá-la, estaremos diante de um
caso de extorsão mediante sequestro. Para que se configure o roubo, o próprio agente
delitivo deve se empenhar em subtrair a coisa de acordo com o Art. 168 do Código Penal.
Fonte: Brasil (1940).

Conforme foi visto, no crime de furto é possível o reconhecimento da atipicidade


da conduta nos casos em que o agente se apossar do bem com o animus apenas
de uso momentâneo. Entretanto, no caso do roubo, isso não se aplica, porque
mesmo que o patrimônio da vítima não seja ferido, sua integridade física será
pelo emprego da violência ou grave ameaça.
Destaque-se que os objetos presos ao corpo, tais como brinco, corrente, re-
lógio, pulseira etc., que são arrancados pelo sujeito ativo da conduta, fazem com
que o roubo se tipifique. Quando soltos como boné, óculos, bolsa, celular etc., o
crime será de furto (GONÇALVES, 2018).
Não se aplica no roubo o princípio da insignificância, haja vista que a conduta do
agente revela maior periculosidade e atinge não apenas o patrimônio do ofendido,
mas também a sua integridade física, sua saúde e até sua vida em caso de latrocínio
(GONÇALVES, 2018).

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Tentativa e Consumação
UNIDADE 2

A tentativa, no roubo, configura-se quando fatores alheios à vontade do agente o


impedem de subtrair a coisa. Presente a grave ameaça e a violência, há a tentativa
porque o roubo é crime contra o patrimônio (classificado no Código penal) e não
contra a pessoa (de forma direta). Para reforço desse ponto, leia a Súmula do Superior
Tribunal de Justiça:

““
Súmula nº 582. Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse
do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que
por breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e recu-
peração da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica
ou desvigiada (BRASIL, 2016b, on-line).

Conclui-se que o crime de roubo restará consumado quando houver a inversão da


propriedade da coisa, mesmo que seja por pouco tempo.

Concurso de Crimes

Há situações nas quais o agente poderá cometer mais de um crime de roubo, por
exemplo, na hipótese em que o agente rouba uma casa e a casa vizinha, tipificando
dois crimes de roubos.
A doutrina menciona o exemplo típico de grandes centros urbanos, os chamados
“arrastões” em edifícios nos quais os agentes, após conseguirem entrar em um prédio
e dominar os funcionários (porteiro, zelador), passam a aguardar a chegada de mora-
dores na garagem, ou invadir apartamentos. Nesses casos, a ação por ser sequencial,
será ratada continuado – consideração dos crimes e aplicação com aumento de pena
(Art. 71, CP) (GONÇALVES, 2018).

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UNICESUMAR
ROUBO
IMPRÓPRIO

Nessa variação do roubo, temos a inversão da dinâmica: ocorre a subtração e,


depois, a violência contra a pessoa é aplicada, como se fosse uma escalada da
violência. Como em tudo deve haver um porquê, a razão elementar do roubo
impróprio é ferir a vítima para dificultar ou impossibilitar uma futura identifi-
cação do agente que pratica o crime.
Como explica Hungria (1955, p. 55-56),

““
o agente é surpreendido logo depois (isto é, antes de se pôr a bom
recato) e vem a empregar violência (física ou moral) para assegurar
a impunidade do crime (evitar a prisão em flagrante ou ulterior
reconhecimento ou indigitação etc.) ou a detenção da res furtiva.

Greco analisa a finalidade de praticar um delito de furto, que

““
acaba se convertendo em roubo depois de selecionados os bens, ou
mesmo quando já os retirava do lugar de onde estavam sendo sub-
traídos, deverá ser considerado impróprio, entendendo-se a expres-
são logo depois no sentido de já ter o agente selecionado os bens, ou
seja, já estar praticando atos que podiam ser compreendidos como
início da prática do núcleo subtrair (GRECO, 2017, p. 671).

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