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 Quanto ao sujeito ativo

Os crimes se classificam, quanto ao sujeito ativo, em


comuns, próprios e de mão própria:

Crime comum: é aquele que não exige nenhuma qualidade


específica do sujeito ativo para sua prática.

São exemplos os delitos de homicídio, de furto e de estupro.

Crime próprio: é aquele que exige determinada qualidade


do sujeito ativo para sua prática. A doutrina admite a autoria
mediata, a coautoria e a participação nos crimes próprios.

São exemplos o peculato, no qual se exige a qualidade de


funcionário público (crime funcional); o autoaborto, que só
pode ser praticado pela própria grávida; e o delito de
entrega de filho menor a pessoa inidônea, o qual só pode
ser praticado pelos genitores.

Crime de mão própria: é aquele que somente pode ser


praticado pela própria pessoa, por si mesma. Só se admite a
participação em crime de mão própria, ressalvado o caso de
perícia assinada por dois profissionais, caso em que a
doutrina entende excepcionalmente cabível a coautoria.
Também denominado de delito de conduta infungível.

São exemplos o falso testemunho e a falsa perícia.

 Quanto à necessidade de resultado naturalístico


para sua consumação

Este critério leva em conta a necessidade de resultado


naturalístico para a consumação, distinguindo os delitos
em materiais, formais e de mera conduta.
Crime material: é aquele que prevê um resultado
naturalístico como necessário para sua consumação. São
exemplos o delito de aborto e o crime de dano. Há quem o
chame de crime de resultado.

Crime formal: é aquele que descreve um resultado


naturalístico, cuja ocorrência é prescindível para a
consumação do delito. Também denominado de delito de
tipo incongruente. É o caso da extorsão mediante sequestro
e o do descaminho.

Crime de mera conduta: é aquele cujo resultado


naturalístico não pode ocorrer, porque sequer há a sua
descrição. Podemos tomar como exemplo o crime de ato
obsceno, assim como o de violação de domicílio.

 Quanto à necessidade de lesão ao bem jurídico para


sua consumação

Se tomada como critério a necessidade ou não de efetiva


lesão ao bem jurídico, temos a classificação dos delitos em
crimes de dano e crimes de perigo. Esta forma de
classificação toma como base o resultado jurídico do
delito.

Crime de dano: é aquele em que se exige, para sua


configuração, a efetiva ocorrência de lesão ou de dano ao
bem jurídico protegido pela norma penal.

São exemplos o crime de dano, o crime de vilipêndio a


cadáver, o próprio crime de dano e o infanticídio.

Crime de perigo: é aquele que, para que se considere


consumado, exige apenas que o bem seja exposto a
perigo. Portanto, a efetiva ocorrência de dano ao bem
jurídico protegido pela lei penal é desnecessária para que o
crime se consume.

São exemplos os crimes de perigo de contágio venéreo, de


omissão de socorro e de tráfico ilícito de entorpecentes.

Os crimes de perigo podem ser subdivididos em:

 De perigo concreto: é o crime de perigo cuja


configuração requer a demonstração de que o bem
jurídico efetivamente foi posto em perigo. É exemplo o
crime de incêndio, em que o perigo deve ser
demonstrado.
 De perigo abstrato (ou puro):é o crime de perigo em
que a sua consumação não depende da demonstração
de que tenha colocado o bem jurídico em risco. O risco
é presumido, de forma absoluta, pela lei. É o caso do
crime de associação criminosa e crime de posse
irregular de munição de uso permitido ou restrito, dos
artigos 12 e 14 da Lei 10.826/2003[1].
 De perigo abstrato de “perigosidade” ou
periculosidade real: cuida-se de denominação nova
trazida por alguns doutrinadores. Seria o crime de
perigo em que deve ser demonstrado o risco, mas não
a pessoa certa e determinada. Não é uma
denominação utilizada pela maioria da doutrina, que
só distingue os crimes de perigo, quanto à
demonstração do risco, em concretos e abstratos. Este
Professor entende que esta classificação em nada se
diferencia como a seguinte, de crimes de potencial
perigo. Para muitos doutrinadores, seria uma mistura
indevida de categorias, relacionando o perigo comum
ao perigo concreto. Seria exemplo o crime de
embriaguez ao volante, em que bastaria a
demonstração de perigo ao tráfego de pessoas e
veículos, sem necessidade de se comprovar que
determinada pessoa foi colocada em risco.
 De perigo individual: é o delito que causa perigo a
uma pessoa ou a um grupo determinado de pessoas.
Pode-se apontar como exemplo o delito de perigo de
contágio de moléstia grave.
 De perigo comum ou coletivo: é aquele cujo perigo de
dano atinge um número indeterminado de pessoas.
Temos como exemplos o crime de fabrico,
fornecimento, aquisição posse ou transporte de
explosivos ou gás tóxico, ou asfixiante (artigo 253 do
CP) e o de incêndio (artigo 250 do CP).
 De perigo atual: é aquele cujo perigo causado é
contemporâneo à conduta do agente. O crime de
desabamento ou desmoronamento do artigo 256 do
CP tende a ser de perigo atual, pois o desabamento de
um prédio, no momento em que ocorre, já coloca em
perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de
outrem.
 De perigo iminente: é aquele cujo perigo está prestes
a acontecer. O abandono de incapaz, do artigo 133 do
CP, na prática, pode se mostrar um crime de perigo
iminente, já que, ainda que a pessoa sob cuidado não
fique em perigo imediatamente, pode ficar depois de
algum tempo sem cuidado.
 De Perigo futuro ou mediato: é aquele que produz
um risco futuro. Os exemplos são a associação
criminosa ou o porte de munição de uso permitido.

A doutrina mais consagrada se preocupa em classificar os


crimes de perigo do seguinte modo, sem misturar os
critérios:

 Crime de perigo abstrato;


 Crime de perigo concreto;
 Crime de perigo individual;
 Crime de perigo comum.

A maioria da doutrina não aceita, portanto, a classificação de


“crime abstrato de perigosidade real”.

Na Alemanha, há a denominação de crimes de aptidão, de


perigo hipotético ou de crime de perigo abstrato-concreto.
Referida teoria buscaria trazer uma nova classificação entre
os quatro tipos de delitos acima descritos. Crimes de
aptidão[2] seriam aqueles em que o perigo seria parte do
tipo, e não uma fundamentação da própria incriminação.
Por isso, seriam diferentes dos crimes de perigo abstrato.
Além disso, não exigiriam a demonstração de um perigo
concreto, razão pela qual se diferenciariam dos crimes de
perigo concreto. Referidos delitos seriam assim
denominados por exigirem a aptidão da produção do
resultado, ou seja, a potencialidade de causar o dano ao
bem jurídico. Exigir-se-ia, assim, a idoneidade para a
produção do resultado, sem exigir sua comprovação caso a
caso, mas a demonstração de que, pelo que ordinariamente
acontece, a conduta era idônea para colocar o bem jurídico
em risco.

 Quanto à forma da conduta

Leva em conta a forma da conduta, se positiva ou negativa,


separando os crimes em comissivos e omissivos.

Crime comissivo: é aquele que é praticado por um


comportamento positivo do agente, isto é, um fazer. São
comissivos os crimes de furto e de infanticídio.
Crime omissivo: é aquele que é praticado por meio de um
comportamento negativo, uma abstenção, um não fazer.

Os crimes omissivos se subdividem em:

 Omissivos próprios: é aquele previsto em um tipo


mandamental, ou seja, um tipo que já descreve um
comportamento negativo no seu núcleo. O dever
jurídico de agir, naquela situação, decorre do próprio
tipo penal, que é chamado, então, de mandamental,
por tornar criminosa uma abstenção (ou omissão) em
determinadas circunstâncias. O agente, no caso, não
tem o dever de evitar um resultado, mas
simplesmente o dever de agir para não incorrer na
prática do crime.

Exemplo é o crime de omissão de socorro (“Deixar de


prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco
pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa
inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente
perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade
pública”), em que a própria descrição do tipo penal é um
não fazer (deixar de prestar assistência ou não pedir o
socorro da autoridade pública). É também do caso dos
crimes do artigo 168-A, caput, e do artigo 359-F, ambos do
CP.

 Omissivos impróprios: também chamado


de comissivo por omissão, é aquele cujo dever
jurídico de agir decorre de uma cláusula geral, que, no
Código Penal Brasileiro, está previsto em seu artigo 13,
parágrafo segundo. O dever jurídico abrange
determinadas situações jurídicas e se refere a qualquer
crime comissivo. O sujeito tem o dever de evitar o
resultado naturalístico. Por isso, tais delitos são
chamados comissivos por omissão. A doutrina aponta
que só abrange crimes materiais, já que o agente deve
ter o dever de evitar o resultado.

São crimes naturalmente comissivos (praticados por um


comportamento positivo, uma ação), como é o caso do
homicídio, mas que podem ser praticados por uma conduta
omissiva, no caso de o sujeito ter o dever jurídico de agir
previsto na cláusula geral.

Os crimes omissivos impróprios possuem as seguintes


modalidades:

 Por dever legal: aquele que tenha por lei obrigação de


cuidado, proteção ou vigilância. É o caso dos pais em
relação aos filhos menores. Se deixarem de alimentá-
los, podem responder pelo homicídio, um delito, no
caso, omissivo impróprio.
 Por dever de garantidor: é o sujeito que, de outra
forma, assumiu a responsabilidade de impedir o
resultado. É o salva-vidas de um clube, que, por vínculo
de trabalho, se obriga a salvar uma criança que se
afoga e pode responder pelo resultado morte, caso se
abstenha de agir.
 Por ingerência na norma: é aquele que, com seu
comportamento anterior, criou o risco da ocorrência
do resultado. O sujeito que pôs fogo na mata, que se
alastrou e não avisa os seus empregados rurais, que
podem ser atingidos pelo fogo, responderá por sua
abstenção, no caso de sofrerem lesão corporal.

 Omissivos por comissão: parte da doutrina entende


existir uma terceira modalidade de delito omissivo, o
omissivo por comissão[3]. Cuida-se de crime tipicamente
omissivo, mas há uma ação, um comportamento
comissivo, que provoca a omissão. Daí decorre a sua
denominação (omissivo por comissão), de modo que
temos um delito naturalmente omissivo, mas que é
praticado em razão da conduta positiva de outrem.

Crime de conduta mista: é aquele cujo tipo prevê uma


ação, seguida de uma omissão, sendo que ambos os
comportamentos são necessários para a sua
configuração. Haveria, portanto, uma mistura entre o crime
comissivo e o omissivo. O exemplo é o crime de apropriação
de coisa achada, do artigo 162, inciso II, do CP. O tipo penal
é o seguinte: “quem acha coisa alheia perdida e dela se
apropria, total ou parcialmente, [conduta
comissiva] deixando de restituí-la ao dono ou legítimo
possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro
no prazo de quinze dias [conduta omissiva].”

Crime de esquecimento ou de “olvido”: é o crime omissivo


culposo, sem representação[4]. Em outras palavras, é o crime
omissivo praticado com culpa inconsciente, aquela em que o
agente sequer prevê o resultado, apesar de previsível.
Imaginem um pai que não cuida do filho de tão distraído
que está em seus vícios. Ele sequer se lembra de que o filho
está com ele, pois era o fim de semana em que ele cuidaria
da criança. Deixa o som alto, e a criança, sem supervisão,
sofre uma queda, grita por socorro e ele não ajuda, razão
pela qual ela falece. Ele agiu com culpa inconsciente, pois
sequer previu o resultado, em um crime omissivo. Os
autores usam como exemplo os casos de alguém que
esquece a válvula do gás aberta ou que não faz um sinal de
trânsito que era necessário.

 Quanto ao tempo da consumação


Considera o momento em que o crime se consuma: se de
forma imediata; se há o prolongamento no tempo desta
fase do iter criminis; se, ainda que imediata, a consumação
produz efeitos permanentes; ou, por fim, se há um prazo
temporal para sua consumação.

Crime instantâneo: é aquele que se consuma


imediatamente, em um instante definido. Podemos
exemplificar com o furto.

Crime permanente: é aquele cuja consumação se protrai


no tempo, isto é, se prolonga. A fase da consumação
persiste enquanto desejar o agente. O sujeito ativo do
delito consegue prolongar no tempo a fase de consumação
do delito. É o caso da extorsão mediante sequestro.

Crime instantâneo de efeitos permanentes: é aquele que


se consuma imediatamente, em um momento determinado
no tempo, mas cujos efeitos se prolongam no tempo. É uma
subespécie do crime instantâneo. São exemplos o aborto e
o crime de parcelamento ilegal de solo[5].

Crime a prazo: é aquele que depende de determinado


prazo para sua consumação, como o de apropriação de
coisa achada (artigo 162, inciso II, do CP) e o de lesão
corporal de natureza grave com resultado de incapacidade
para as ocupações habituais, por mais de trinta dias (artigo
129, § 1º, inciso I, do CP).

Roxin, que não trata de crime instantâneo de efeitos


permanentes, traz uma outra categoria, a dos delitos de
estado. Seriam crimes que se consumam com o resultado,
mas não precisam de atuação do autor para manutenção do
estado criado pela conduta típica, mesmo que ele se
beneficie de tal estado. Exemplo seria o da bigamia, delito
em que o sujeito não precisa renovar os atos para se manter
casado de forma ilícita. O homicídio seria outro exemplo[6].

 Quanto à unicidade ou não do tipo penal

Este critério classificatório se fundamenta no fato de o tipo


penal ser único ou se ele resulta da fusão de mais de um
tipo penal:

Crime simples: é aquele que é formado por um único tipo


penal, não resultando da reunião de outros tipos. Exemplos:
infanticídio e furto.

Crime complexo: é aquele cujo tipo é resultante da junção


ou fusão de outros tipos penais, como o roubo, que decorre
do constrangimento ilegal, da ameaça ou do crime relativo à
violência e do furto. Temos, ainda, o latrocínio, resultante da
soma do furto e do homicídio. Por fim, podemos
exemplificar com a extorsão mediante sequestro, delito no
qual se fundem os tipos penais da extorsão e do sequestro.

 Quanto à dependência de outro crime para existir

Considera a relação entre os delitos, se há ou não a


dependência de outra infração para a sua configuração:

Crime principal: é aquele que existe independentemente


da ocorrência de outro delito. Se não possui ligação com
outro delito, pode ser chamado de independente. Exemplos:
furto, homicídio e estupro.

Crime acessório: é aquele cuja ocorrência depende de um


crime anterior. Exemplos: receptação, lavagem de capitais e
favorecimento real. No caso de lavagem de dinheiro, o
próprio agente pode ter cometido o crime anterior, pois se
admite a punição da chamada autolavagem.
Há ainda outra classificação:

De fusão, de conexão ou de anexação: os delitos de fusão


são aqueles que se relacionam a outro delito cometido
anteriormente por terceiro, como o favorecimento pessoal,
o favorecimento real e a receptação. É denominação
utilizada por Eugenio Zaffaroni e Nilo Batista[7]. Entendo que
não se confunde exatamente com o crime acessório, já que
os autores definem essa denominação como o crime
praticado por terceiro. No caso da lavagem de dinheiro, é
punível a autolavagem (crime acessório e delito principal
praticados pelo mesmo agente).

 Quanto à forma de utilização do princípio da


consunção

Cuida-se de classificação que simplesmente diferencia as


modalidades de aplicação do princípio da consunção ou
da absorção, um dos incidentes no chamado concurso
aparente de normas:

Crime progressivo: é aquele em que o agente, para atingir


o seu objetivo, precisa praticar um crime menos grave que é
o caminho para a prática de outro. Cuida-se de
condutas necessárias para a prática do crime desejado. É o
caso do homicida que se utiliza de uma faca para a execução
do crime. Ele pratica várias lesões corporais para se atingir o
homicídio, respondendo apenas por este último crime
(norma consuntiva). Para o entendimento atual do STJ, não
se deve adotar a regra de o mais grave absorver o menos
grave, mas de o crime-fim absorver o crime-meio.

Progressão criminosa: é aquele em que há modificação do


elemento subjetivo do agente, que passa pela realização
de dois ou mais tipos penais, ocorrendo a absorção pelo
crime-fim. É o caso do sujeito que vai até a casa da ex-
namorada para lhe dar uns socos e, lá chegando, resolve
matá-la. Neste caso, há uma modificação do dolo, sendo
que a prática das lesões corporais, previstas na norma
consunta, era o objetivo inicial do agente. Ele, então, o
modifica e, buscando a morte da vítima, torna sua conduta,
que inicialmente pretendia, mero meio de execução de um
resultado mais gravoso, a morte da vítima. A consequência é
que o crime de homicídio absorve o crime-meio, o de lesões
corporais.

 Quanto ao número de atos exigidos para sua


consumação

Este critério leva em conta a realização de um só ato ou de


uma pluralidade de atos, pelo sujeito ativo, para a
configuração do crime. O critério, mais tecnicamente, é de
fracionamento ou não da conduta, não se aplicando uma
diferenciação puramente mecânica:

Crime unissubsistente: é aquele que se realiza com um


único ato, como o desacato ou a injúria, ambos praticados
verbalmente. A conduta não pode ser fracionada. A
doutrina majoritária não admite tentativa deste tipo de
crime[8]. É o caso da injúria verbal e, para parte da doutrina,
o do crime do artigo 178 do CP.

Crime plurissubsistente: é aquele cuja prática exige mais


de uma conduta para sua configuração. Em outras palavras,
a conduta do agente pode ser fracionada, possibilitando a
interrupção da execução, por circunstâncias alheias à
vontade do agente, e, com isso, a punição
do conatus (modalidade tentada do crime). É o caso do
homicídio, da extorsão mediante sequestro e do estelionato.
 Quanto à necessidade de mais de um sujeito ativo

Classificam-se os crimes quanto à necessidade ou não de


mais de um sujeito ativo para sua configuração:

Crime unissubjetivo, monossubjetivo ou de concurso


eventual: é aquele que pode ser praticado por apenas um
indivíduo. A doutrina aponta que este tipo de delito é que
torna importante o estudo do concurso de pessoas, por não
ser necessária a pluralidade de agentes para a própria
configuração do delito.

Crime plurissubjetivo ou de concurso necessário: é


aquele cuja realização típica exige mais de um agente.

O crime plurissubjetivo se subdivide em[9]:

 Crime plurissubjetivo de condutas convergentes ou


bilaterais: as condutas dos agentes devem se
direcionar uma em direção à outra. Exemplo é o delito
de bigamia.
 Crime plurissubjetivo de condutas paralelas: as
condutas dos indivíduos devem atuar paralelamente,
possibilitando a prática delitiva. É o caso da associação
criminosa.
 Crime plurissubjetivo de condutas contrapostas – as
condutas dos agentes devem ir de encontro umas às
outras, ou seja, se contraporem. É assim classificado o
crime de rixa.

 Quanto à exigência de forma específica para sua


prática

É o critério de a lei penal prever ou não uma forma


determinada para a prática da infração penal, sendo que
só se configurará o delito se o sujeito ativo agir daquele
modo específico para a realização típica:

Crime de forma livre: é aquele que não prevê uma forma


específica de realização do núcleo do tipo, como o furto e o
homicídio.

Crime de forma vinculada: é aquele que tem forma ou


formas de realização do núcleo do tipo especificamente
previstas em lei. É o caso do curandeirismo, que possui
algumas formas previstas nos incisos do artigo 284 em que
o núcleo do tipo pode ser realizado:

Curandeirismo

Art. 284 – Exercer o curandeirismo:

I – prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente,


qualquer substância;

II – usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;

III – fazendo diagnósticos:

Pena – detenção, de seis meses a dois anos.

Parágrafo único – Se o crime é praticado mediante


remuneração, o agente fica também sujeito à multa.

É também o caso do crime de redução à condição análoga à


de escravo.

 Quanto ao lugar

Há a classificação dos crimes para denominar aqueles


cujo iter criminis perpassam mais de um local, abrangendo
ou não mais de uma soberania:
Crime à distância ou de espaço máximo: é a infração
penal cujo iter criminis (caminho do crime, com suas fases de
cogitação, preparação, execução, consumação e, ao final,
eventual exaurimento) abrange mais de um país. Ou seja, é
aquela infração penal que, em seu desenvolvimento,
percorre mais de um território soberano. Referido tipo de
crime torna importante o estudo do local do crime que,
segundo o Código Penal, deve ser compreendido sob a ótica
da teoria da ubiquidade.

Crime plurilocal: é aquele que percorre, em sua prática,


mais de um lugar, mas dentro do mesmo território
soberano. Sua importância se volta ao processo penal,
especialmente para determinação da competência ratione
loci, ou seja, a territorial.

Há quem fale, ainda, em crime em trânsito, conceituando-o


como aquele que passa pelo território de mais de um país,
sem atingir bens jurídicos de todos eles[10]. Seria o caso de
uma mala de dinheiro recebida como suborno no Peru, que
passa pelo Brasil para ser objeto de lavagem de capitais no
Uruguai. Não parece uma classificação necessária,
considerando que a que possui relevância prática é a dos
crimes à distância, dada a necessidade de definir se a lei
brasileira é aplicável.

 Quanto aos vestígios

De maior interesse para o Direito Processual Penal, há a


classificação dos crimes quanto a deixarem ou não
vestígios:

Crime de fato transeunte (delicta facti transeuntis): é


aquele que não deixa vestígios, tornando desnecessária a
realização do exame de corpo de delito. É o caso da injúria
verbal e do ato obsceno.

Crime de fato permanente (delicta facti permanentis): é


aquele que deixa vestígios, tornando necessária a realização
do exame de corpo de delito. Classificam-se assim o delito
de estupro, de falsidade de documento público e o de lesão
corporal.

 Quanto à condição objetiva de punibilidade

Classificação de acordo com a necessidade ou não de


condição objetiva de punibilidade:

Crime condicionado: é aquele que depende de uma


condição objetiva de punibilidade, como no caso dos crimes
tributários do artigo 1º da Lei 8.137/90 (dependem da
constituição definitiva do crédito tributário) e dos crimes
falimentares (dependem da sentença que decrete a falência,
conceda a recuperação judicial ou homologue o plano de
recuperação extrajudicial).

Crime incondicionado: é aquele que não possui condições


objetiva de punibilidade para sua configuração e
consumação. De ordinário, é o que ocorre com o roubo e o
descaminho.

 Quanto à natureza dos crimes militares

Os crimes militares podem ser de dois tipos, os próprios e


os impróprios:

Crime militar próprio: é aquele que só possui tipificação no


âmbito militar, como é o caso de deserção, previsto no
artigo 187 do Código Penal Militar. Se um civil praticar
referida conduta, haverá fato penalmente atípico. A
condenação anterior por crime militar próprio não configura
a reincidência, nos termos do artigo 64, II, do Código Penal.

Crime militar impróprio: é aquele que está previsto na


legislação penal militar, mas possui tipificação também
como crime não militar. Se um cidadão civil praticar a
conduta, há crime; se o agente for militar, há crime previsto
na legislação especial. São exemplos o furto e o homicídio.

 Quanto ao sujeito passivo

No tocante ao sujeito passivo, alguns delitos possuem


algumas peculiaridades e, por isso, possuem nomenclatura
específica:

Crime vago: é aquele que possui sujeito passivo imediato


um ente sem personalidade jurídica, como a coletividade. É
o crime de ato obsceno e o de casa de prostituição.

Crime de dupla subjetividade passiva: é aquele que


possui mais de um sujeito passivo imediato. É o caso do
aborto sem consentimento da gestante (artigo 125 do CP) e
de violação de correspondência (artigo 151 do CP).

 Quanto ao número de bens jurídicos atingidos

Apesar de se tratar de classificação menos frequente na


doutrina criminalista, podemos dividir as infrações penais,
ainda, no tocante ao número de bens jurídicos ofendidos
com a realização típica. Seriam as espécies de crime,
segundo tal critério:

Crime mono-ofensivo: é aquele que atinge apenas um bem


jurídico, como furto, que ofende o patrimônio.
Crime pluriofensivo: é aquele que viola a mais de um bem
jurídico. Podemos exemplificar com o latrocínio, que atinge
o patrimônio e a vida.

 Quanto a elementos subjetivos impróprios:

Claus Roxin traz, em sua obra[11], uma subdivisão dos delitos


em razão do seu elemento subjetivo, preconizada por
Mezger. Como o tema tem sido cobrado em concursos, é
interessante compreender essa classificação:

Crimes de intenção: o tipo penal exige um elemento


subjetivo que ultrapasse, transcenda o tipo objetivo, para a
sua configuração. Para alguns autores, são os crimes que
exigem elemento subjetivo especial do tipo. No caso do
furto, exige-se a intenção de apropriação para além da mera
subtração. Pode ser subdividido em duas classes de crimes:

 De tendência interna transcendente de resultado


cortado (separado): Segundo Roxin, o segundo
resultado posterior deve ser produzido como
consequência da ação típica, sem uma conduta
adicional do sujeito ativo. Ele exemplifica com o
crime de envenenamento, previsto na lei alemã, com
resultado adicional de dano à saúde pública. É o caso
de o resultado naturalístico, apesar de ser a intenção
do agente (elemento subjetivo especial do tipo),
depender da conduta de um terceiro. Classifica-se
assim o delito de extorsão mediante sequestro.
 De tendência interna transcendente mutilado
(atrofiado) de dois atos: o agente pratica a conduta
para um resultado posterior, que não é necessário ser
obtido para sua configuração. O resultado naturalístico,
não exigido para a configuração do delito, depende da
vontade do agente, por meio de uma ação posterior.
Pode-se apontar o exemplo da moeda falsa, já que o
tipo não exige que seja colocada no mercado para que
o agente efetivamente se beneficie[12].

Crimes de tendência, também chamados de delitos de


interna peculiar ou intensificada: o delito possui um
elemento subjetivo que é inerente a um elemento típico ou
determina a classe do crime, segundo Roxin[13]. De forma
mais simples, a doutrina os conceitua como aqueles cuja
intenção do agente determina se o fato é típico ou atípico. É
o caso da injúria, em que se exige a intenção e, mais ainda,
o animus injuriandi, ou seja, que a intenção seja de ofender.
O crime não se configura se a ideia foi fazer uma piada, por
exemplo, ou uma crítica literária. Roxin exemplifica com os
crimes sexuais. Podemos pensar: o que diferencia uma
consulta séria de um ginecologista ou um urologista e um
crime contra a dignidade sexual pode ser a intenção do
agente ao tocar o paciente.

Crimes de expressão: são os crimes cuja conduta


expressam um processo interno ocorrido na mente do
autor. O agente recebe uma informação e a interpreta,
processa, praticando então a conduta típica. Roxin usa o
exemplo do falso testemunho, em que o agente tem ciência
de determinados fatos e, então, depõe de forma diversa. O
crime não está na contradição entre o que o agente disse e a
realidade (concepção objetiva), pois o agente pode ter
percebido a realidade de forma diversa, mas entre a sua
convicção íntima e sua manifestação ou entre o seu
conhecimento dos fato e sua atitude de calar-se (concepção
subjetiva).

 Quanto ao tratamento diferenciado da tentativa:


Há alguns crimes que possuem um tratamento
diferenciado quanto à tentativa e consumação:

Crimes que só admitem a forma tentada: são os de lesa-


pátria. É o caso do crime de abolição violenta do Estado
Democrático de Direito está previsto no artigo 359-L do
Código:

Art. 359-L. Tentar, com emprego de violência ou grave


ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo
ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais:

Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, além da pena


correspondente à violência.

O próprio núcleo do tipo é “tentar abolir”, de modo que só a


conduta tentada é punida.

Crimes de atentado ou de empreendimento: é aquele em


que o legislador equipara a forma tentada à forma
consumada do delito, prevendo a mesma pena para ambas
as modalidades. É exemplo o artigo 352 do CP, bem como o
do artigo 309 do Código Eleitoral:

Art. 309. Votar ou tentar votar mais de uma vez, ou em lugar de


outrem:

Pena – reclusão até três anos.

 Quanto ao Núcleo do Tipo:


É possível, ainda, classificar o delito quanto ao número de
núcleos do tipo e a necessidade ou não se sua realização
cumulativa para a sua configuração:

Crime de ação simples: é o crime que possui apenas um


núcleo do tipo, consistente no verbo principal que descreve
a conduta típica. É o caso do homicídio:

Art. 121. Matar alguém:

Pena – reclusão, de seis a vinte anos.

Crime de ação múltipla, de ação plurinuclear, de


conteúdo variado ou tipo misto[14]: é o crime que possui
mais de um núcleo do tipo, podendo ser dividido em
alternativo ou cumulativo:

 Crime de tipo misto alternativo: é o crime que possui


mais de um núcleo do tipo, sendo que a prática de
apenas um deles é suficiente para a sua consumação e
a prática de mais de um deles, no mesmo contexto,
configura crime único. É o caso do artigo 33, caput, da
Lei 11.343/06:

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir,


fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em
depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever,
ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda
que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:

Pena – reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos


e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos)
dias-multa.
 Crime de tipo misto cumulativo: é o crime que possui
mais de um núcleo do tipo, sendo que as condutas não
são fungíveis entre si. Estão no mesmo tipo penal por
opção do legislador, mas poderiam estar em tipos
penais diversos. A prática de cada um deles configura
um delito diverso. É o caso do crime do artigo 242 do
CP. Também se exemplifica com o atentado contra a
liberdade de trabalho e boicotagem violenta, previsto
no artigo 198 do CP:

Art. 198 – Constranger alguém, mediante violência ou grave


ameaça, a celebrar contrato de trabalho, ou a não fornecer a
outrem ou não adquirir de outrem matéria-prima ou
produto industrial ou agrícola:

Pena – detenção, de um mês a um ano, e multa, além da


pena correspondente à violência.

 Quanto à pena prevista

Em razão de benefícios previstos em lei para determinadas


faixas de pena previstas para os delitos, há a seguinte
classificação:

Infrações penais de menor potencial ofensivo: é a


infração penal de competência dos Juizados Especiais
Estaduais e Federais (salvo regras de conexão), com pena
máxima não superior a 2 anos, cumulada ou não com multa.
Para tais delitos, são cabíveis a transação penal e a
suspensão condicional do processo.

Infrações penais de médio potencial ofensivo: é a


infração penal com pena máxima superior a 2 anos, mas
cuja pena mínima seja igual ou inferior a um ano. Para tais
delitos, é cabível a suspensão condicional do processo,
razão pela qual a doutrina criou referida classificação.
Infrações penais de maior potencial ofensivo: é a infração
penal com pena máxima superior a 2 anos e pena mínima
superior a um ano. Em outras palavras, são os crimes para
os quais não são cabíveis a transação penal nem a
suspensão condicional do processo.

 Quanto à relação entre comportamento típico e


efetiva lesão ao bem jurídico: delitos de posse e de
pertencimento

Há uma classificação acadêmica que se refere a uma


estrutura peculiar do tipo penal, especialmente em se
considerando a distância das condutas tipificadas em
relação à efetiva lesão do bem jurídico tutelado.
Mencionam-se, nesse contexto, os delitos de posse e os
delitos de pertencimento ou de status. Seriam, em última
análise, crimes de crime abstrato, com algumas
especificidades[15].

Delitos de status ou de pertencimento: são as infrações


penais por meio das quais se pune um status do agente,
como pertencer a uma associação criminosa, uma milícia
privada, a uma organização criminosa ou a uma organização
terrorista. Não haveria uma descrição de conduta no tipo,
bastaria esse pertencimento. O fundamento da punição
seria uma disposição inequívoca de praticar infrações
penais.

Delitos de posse: crimes cujos tipos preveem condutas de


exercício de domínio real e efetivo de um objeto pelo sujeito
ativo, ou seja, basta que tenha esse poder efetivo sobre o
objeto para se justificar a punição. O que se critica é que
seria um adiantamento da lesão, pois bastaria o domínio do
objeto pelo agente para que sua conduta seja típica,
possibilitando a sua punição, caso presentes os demais
elementos do delito.

Esses crimes poderiam ser agrupados nos seguintes casos:

 Crimes que descrevem como típica uma posse que é


perigosa por si só, mas cuja lesão ao bem jurídico
exige outra conduta do agente: pode ser o
enquadramento da posse ilegal de armas, desde que o
haja crianças em casa e elas possam ter acesso aos
objetos. Também seria o caso de manter substâncias
radioativas de forma insegura, bastando que alguém,
de forma descuidada, tenha contato com o material
para um resultado lesivo, a exemplo do triste desastre
com Césio-137 em Goiânia.

 Crimes que descrevem como típica uma posse não


perigosa em si, mas que pode gerar lesão no
futuro: é o caso da posse ilegal de arma que fica bem
guardada, que não apresenta um risco inerente pelo
simples fato de possuir, mas pode gerar uma conduta
lesiva a partir dessa posse, como se ela for usada para
homicídio após uma discussão com o vizinho de
prédio. Seria o caso, ainda, do crime do artigo 277 do
CP. Ter em depósito uma substância que pode ser
usada para falsificação de alimentos não é uma posse
em si perigosa, mas ela pode ser usada posteriormente
para falsificar alimentos, fornecidos ao público. O
perigo é o de um comportamento criminoso futuro.
Para parte da doutrina, faltaria, aqui, um fundamento
legítimo para a pena. Seria uma manifestação de um
direito penal de mera suspeita.

 Crimes que descrevem como típica uma posse não


perigosa por si só, mas que compõe um plano
inequivocamente delitivo: é o caso da contravenção
penal, de duvidosa constitucionalidade, de portar
gazuas, chaves falsas ou alteradas, situação em que só
não haverá crime de comprovada destinação legítima,
ou seja, a posse é típica a depender da destinação,
conforme prevê o artigo 25 da Lei das Contravenções
Penais. Há a punição de uma preparação inequívoca de
um delito, havendo uma escolha do legislador pela
criminalização autônoma de atos preparatórios.

 Crimes que descrevem como típica a posse de


objetos especificamente aptos ao cometimento de
crimes: é o caso de petrechos de falsificação de
moeda, em que o legislador já tipificou a posse desses
objetos, não perigosa em si, se os objetos de destinam
especificamente à fabricação ou adulteração de moeda
corrente. Outro exemplo é o delito do artigo 294 do CP.

 Crimes que descrevem a posse de objeto


proveniente de prática de crime anterior: são, por
exemplo, os delitos de guarda ou armazenamento de
pornografia infantil, que decorrem, como se presume,
de anterior crime sexual contra vulnerável. Também se
encaixam nessa categoria os crimes de posse de
drogas, já que se presume a anterior produção ou
importação, que constituem delitos da Lei n.
11.343/2006. De todas as categorias, essa seria a única
de tipificação de posse pós-consumativa, com uma
configuração próxima à de outros delitos cometidos
após a prática de outra infração, como a receptação e o
favorecimento real.

 Outras classificações
Neste tópico, seguem outras classificações efetuadas pela
doutrina, em que há algumas denominações utilizadas em
relação às infrações penais:

Crime subsidiário: um crime é subsidiário em relação a


outro quando descreve um grau menor de violação do
bem jurídico. A análise, este caso, é feita em concreto,
relação de minus e de plus, ou seja, de maior ou menor
intensidade. Neste caso, havendo conflito aparente de
normas, é levada em conta a análise do fato.

O crime pode ser expressamente subsidiário, como ocorre


com o artigo 132 do Código Penal, que prevê o crime de
perigo para a vida ou a saúde de outrem:

Art. 132 – Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto


e iminente:

Pena – detenção, de três meses a um ano, se o fato não


constitui crime mais grave.

Também é expressamente subsidiário o crime de


importunação sexual.

Crime multitudinário: é aquele cometido por uma reunião


de pessoas, no clima de tumulto ou histeria coletiva, que
torna os limites éticos dos indivíduos, temporariamente,
menos rígidos. São, por exemplo, os casos de linchamentos
de pessoas acusadas da prática de um crime que causa
comoção na comunidade.

Crime de opinião (ou de palavra): é o crime que se


configura com o abuso da liberdade de expressão ou de
pensamento, como o caso da difamação.
É diferente do crime de expressão, analisado acima, que a
conduta delitiva deriva da expressão pelo autor, mas após o
uso de sua atividade intelectual. O exemplo é o falso
testemunho.

Crime habitual: é o crime que exige uma reiteração de atos


para sua consumação, sendo que a doutrina aponta ser
necessária a demonstração do estilo de vida do agente. São
exemplos o rufianismo e a casa de prostituição.

Crime profissional: é o crime habitual, realizado com


intuito de lucro, para parte da doutrina[16]. Para outra
parcela, é o crime cometido por meio da profissão lícita do
agente, como meio para realizar uma conduta criminosa[17].

Crime mercenário: é o crime cometido com intuito de


lucro.

Crime de ímpeto: é aquele cometido no calor da emoção,


sem premeditação. É o que ocorre no caso de homicídio
cometido sob o domínio de violenta emoção, logo após
injusta provocação da vítima.

Crime funcional: é o que é cometido pelo funcionário


público. Se for funcional próprio, só pode ser cometido
pelo funcionário público, como a prevaricação. Por sua vez,
o funcional impróprio consiste em conduta tipificada tanto
para o particular (exemplo: apropriação indébita) quanto
para o funcionário público, de forma especial (por exemplo:
peculato-apropriação).
Crime de ação violenta: é aquele praticado com emprego
de força física ou com grave ameaça. Os exemplos podem
ser o estupro e o crime de lesão corporal.

Crime de ação astuciosa: é o crime praticado por meio de


astúcia, de uma fraude ou um engodo. É o caso do
estelionato.

Crime de circulação: é o crime praticado na condução de


veículo automotor.

Crime internacional ou mundial: é o crime que o Brasil se


obrigou a reprimir no Direito Internacional, por meio de
tratado ou convenção, como o tráfico internacional de
entorpecentes e o tráfico internacional de pessoas para fins
de exploração sexual. Entretanto, há quem utilize para se
referir aos crimes de lesa-humanidade, de competência do
Tribunal Penal Internacional. É usado, ainda, por alguns,
para definir o crime à distância[18].

Crime obstáculo: é o que se antecipa para determinar a


punição do que seriam atos meramente preparatórios,
trazendo punição autônoma. Exemplos são os crimes de
associação criminosa e de petrechos para falsificação de
moeda. Para Zaffaroni e Batista, cuida-se de previsão de
constitucionalidade duvidosa, por violação do princípio da
lesividade e por falta de legitimidade baseada em evitar o
risco ao bem jurídico tutelado[19]. O STJ já usou o termo “tipo
penal preventivo” para um crime obstáculo, o de porte de
arma de fogo[20].

Crime remetido: é o delito cuja definição faz remissão ou


referência a outro tipo penal. É o caso do crime de uso de
documento falso:
Uso de documento falso

Art. 304 – Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou


alterados, a que se referem os arts. 297 a 302:

Pena – a cominada à falsificação ou à alteração.

Não confundam com norma penal em branco, que pede


complemento do tipo penal por outra norma, e não por
outro tipo penal.

Delito de acumulação: são crimes em que, ainda que a


ofensa ao bem jurídico possa ser ínfima naquele caso, a
soma de várias condutas torna o bem jurídico lesado e,
assim, justifica a sua punição. Blanco Cordero, jurista
espanhol, cita a classificação, mencionando seu uso por Silva
Sanchez, para justificar a punição de pequenas quantias
submetidas à lavagem de dinheiro, caso se defenda que o
bem jurídico protegido é a ordem econômica. Ainda que a
lavagem de R$ 10.000,00 não ofenda a ordem econômica, o
conjunto de todo o valor “lavado” tem a capacidade de
ofender o bem jurídico[21]. Pode-se usar, ainda, em delitos
ambientais, em que condutas somadas levam à perda da
qualidade do ambiente apto a nos proporcionar sadia
qualidade de vida.

Existe crime eleitoral, que se traduz em infração contra o


processo eleitoral e que coincide com a competência geral
da Justiça Eleitoral (independentemente de regras de
conexão ou continência). Alguns autores falam, assim,
em crimes federais e crimes estaduais. Apesar de se
tratar de nomenclatura usual, há quem defenda sua
impropriedade, já que haveria, no Brasil, crimes
de competência da Justiça Federal e os de competência
da Justiça Estadual, em razão de, como regra, a
competência para legislar sobre direito penal ser apenas da
União. É diferente o sistema dos EUA, em que a União legisla
sobre os crimes federais, enquanto os Estados promulgam
suas leis com os crimes estaduais.

Pessoal, espero que a classificação tenha sido útil. Sempre


há muitas divergências doutrinárias quanto ao tema, mas
procurei trazer o posicionamento mais consolidado da
doutrina e da jurisprudência.

Bons estudos,

Michael Procopio Avelar

_______________________________________________________________
___

[1] STF, RHC 146081 AgR, Primeira Turma, Julgamento:


10/11/2017 e HC 148801 AgR, Segunda Turma, Julgamento
07/08/2018.

[2] ROXIN, Claus. Derecho Penal. Parte General. Tomo I.


Traducción de la 2ª edición alemana. Madrid: Thomsom
Reuters, 2017, p. 411.

[3] CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 17 ed. São


Paulo: Saraiva, 2013, p. 165.

[4] ZAFFARONI, Eugenio Raul. PIERANGELI, José Henrique.


Manual de direito penal brasileiro. 13 ed. São Paulo:
Thomson Reuters Brasil, 2019, p. 489.

[5] STJ, RHC 65785/RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, 5ª Turma, DJe
27/04/2018.
[6] ROXIN, Claus. Ibidem, p. 411.

[7] ZAFFARONI, Eugenio Raúl; Batista, Nilo; ALAGIA,


Alejandro; SLOKAR, Alejandro. Direito Penal Brasileiro,
volume 2, tomo 2. 1 ed. Rio da Janeiro: Revan, 2017, p. 469.

[8] Em sentido contrário: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito


Penal. 17 ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 270.

[9] Classificação também adotada por Rogério Sanches


Cunha (Manual de Direito Penal. Parte Geral (arts. 1º ao 120).
Salvador: JusPODIVM, 2020, p. 225. Cleber Masson usa outra
denominação, que parece minoritária. Chama os crimes
plurissubjetivos, em sua subdivisão e na mesma ordem
acima mencionada, de crimes bilaterais ou de encontro;
crimes de condutas coletivas ou de convergência de
condutas paralelas e de crimes de condutas coletivas ou de
convergência de condutas paralelas (MASSON, Cleber.
Ibidem, p. 170-171). Na obra Direito Penal Brasileiro, de Juan
Carlos Olivé e outros, a subdivisão é feita entre os
plurissubjetivos de convergência ou coincidência, em que a
atuação de todos é uniforme para atingir um mesmo
objetivo, como no constrangimento ilegal por coautoria, e
plurissubjetivos de encontro, em que a intervenção de cada
um é independente, como na advocacia administrativa (2 ed.
São Paulo: Saraiva, 2017, p. 259).

[10] SANCHES, Rogério Cunha. Manual de Direito Penal.


Parte Geral (arts. 1º ao 120). Salvador: JusPODIVM, 2020, p.
229.

[11] ROXIN, Claus. Derecho Penal. Ibidem, p. 316-318.

[12] Rogério Sanches Cunha define os crimes de intenção


como aqueles que possuem um tipo subjetivo “composto
pelo dolo e por elemento subjetivo especial”, mas usa como
exemplo de crime mutilado de dois atos, “espécie de crime
de intenção”, o de petrechos para falsificação de moeda
(Manual de Direito Penal, Parte Geral. Salvador: JusPODIVM,
2020, p. 230-231). Entretanto, ao analisar o crime de
petrechos para falsificação de moeda, assevera que “Não se
exige finalidade especial por parte do agente” (Manual de
Direito Penal, Parte Especial. Salvador: JusPODIVM, 2020, p.
292), o que, data venia, se mostra contraditório. Por isso,
optou-se, aqui, pelo exemplo do crime de moeda falsa que,
segundo Bitencourt, exige elemento subjetivo especial
(Tratado de Direito Penal, vol 4, 4 ed., 2010, p. 393), ainda
que seja entendimento minoritário.

[13] Para o autor, há uma difícil delimitação entre os delitos


de intenção propriamente ditos e os crimes de tendência,
mas o jurista entende faltar relevância prática na definição
dessas fronteiras conceituais.

[14] PRADO, Luiz Régis. Curso de direito penal brasileiro:


parte geral e parte especial. 18 ed. Rio de Janeiro: Forense,
2020, p. 157. Rogério Sanches Cunha não faz a subdivisão,
usando o tráfico de drogas como exemplo de crime de ação
múltipla (Manual de Direito Penal. Parte Geral (arts. 1º ao
120). Salvador: JusPODIVM, 2020, p. 227).

[15] PASTOR MUÑOZ, Nuria. Abordagem dos delitos de


posse e dos delitos de pertencimento. In: LOBATO, José
Danilo Tavares; SAAD-DINIZ, Eduardo; FALCONE, Andrés
(org.). Delitos de posse: drogas, porte de armas e
pornografia. São Paulo: LiberArs, 2016, p. 57-68. O estudo da
penalista, professora na Universitat Pompeu Fabra, foi
utilizada como base principal para esse tópico.

[16] CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 17 ed. São


Paulo: Saraiva, 2013, p. 292.
[17] CUNHA, Rogério Sanches. Ibidem, p. 227.

[18] CUNHA, Rogério Sanches. Ibidem, p. 237-238.

[19] ZAFFARONI, Eugenio Raúl; Batista, Nilo; ALAGIA,


Alejandro; SLOKAR, Alejandro. Direito Penal Brasileiro,
volume 1, 4 ed. Rio da Janeiro: Revan, 2011, 3ª reimp., 2017,
p. 502.

[20] HC 211.823-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado


em 22/3/2012. Informativo 493.

[21] BLANCO CORDERO, Isidoro. El delito de blanqueo de


capitales. 4ª ed. Navarra: Arazandi, 2015, p. 310-311.

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