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NÃO VÁ ERRAR!
TEMA 04 / DIREITO PENAL
A doutrina majoritária conceitua crime como o fato típico, ilícito e culpável. Por sua
vez, o fato típico envolve o elemento subjetivo do tipo, que pode ser o dolo ou a culpa.
Sobre o tema, é correto afirmar que:
a. o agente que pretende causar determinado resultado e tem conhecimento de que, com sua
conduta, causará, necessariamente, um segundo resultado e, ainda assim, atua, responderá
por dolo eventual em relação ao segundo resultado;
b. os tipos culposos estão sujeitos ao princípio da tipicidade, somente podendo ser punidos
quando devidamente prevista em lei a punição a título de culpa;
c. o agente que não quer diretamente o resulto, mas o prevê e aceita sua ocorrência a partir
de sua conduta, poderá ser responsabilizado pelo tipo culposo;
d. o tipo culposo exige a previsibilidade objetiva, mas se houver efetiva previsão, haverá dolo,
ainda que eventual;
e. o tipo culposo próprio, se presentes todos os demais elementos, admite a punição na
modalidade tentada.
Comentários à questão:
Os tipos penais culposos são excepcionais e obedecem ao princípio da tipicidade. Uma conduta
culposa só é punível quando houver expressa previsão legal. Sendo a alternativa correta a letra B,
conforme o art. 18, parágrafo único, do Código Penal:
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Dolo direto de 1º e 2º grau
Quanto à letra A, tal hipótese configura o denominado dolo direto de 2º grau ou dolo de
consequências necessárias. Para essa espécie de dolo, o agente quer um resultado principal, mas
admite os resultados típicos secundários decorrentes da sua conduta, considerados como
consequências necessárias.
O dolo de 2º grau, conforme ensina Fernando Capez, abrange os efeitos colaterais da prática
delituosa, ou seja, as suas consequências secundárias, que não são desejadas originalmente, mas
acabam sendo provocadas porque indestacáveis do primeiro evento. No dolo de 2º grau, portanto, o
autor não pretende produzir o resultado, mas se dá conta de que não pode chegar à meta traçada
sem causar tais efeitos acessórios.
Por exemplo: querendo obter fraudulentamente prêmio do seguro (dolo de 1º grau), o sujeito
dinamita um barco em alto-mar, entretanto acaba por tirar a vida de todos os seus
tripulantes, resultado pretendido apenas porque inevitável para o desiderato
criminoso (dolo de 2º grau).
Dolo eventual
A letra C está incorreta. Tal hipótese corresponde ao dolo eventual, segundo o qual o agente, apesar
de não querer o resultado, o prevê e o aceita. Em casos como este, o agente responde pelo crime na
modalidade dolosa. No tipo culposo, o agente não prevê e não aceita o resultado típico, ainda que
este seja previsível objetivamente.
A letra D está incorreta. O crime culposo exige que haja a previsibilidade objetiva, aquela exigível
do homem médio. Nos casos em que o agente efetivamente prevê o resultado, mas não o quer e não
o aceita, haverá a chamada culpa consciente ou culpa com previsão. Veja a diferença:
- No dolo eventual o agente prevê o resultado mas não se importa que ele ocorra; e
- Na culpa consciente, embora prevendo o que possa vir a acontecer, o agente repudia essa
possibilidade.
A letra E também está incorreta, pois não se admite tentativa nos casos de crimes praticados por
culpa própria, já que o agente não tem vontade de alcançar o resultado típico.
Na culpa imprópria, também conhecida como culpa por assimilação, por equiparação ou por
extensão, o agente quer produzir o resultado típico, mas a sua vontade está viciada pelo erro quanto
às circunstâncias de fato que, se existissem, tornariam o conduta do agente legítima. Ocorre a culpa
imprópria nos casos de descriminantes putativas.
Perceba que para discutir dolo e culpa a banca examinadora introduziu o tema fato típico. Portanto,
para um entendimento mais completo, vamos abordar melhor o tema fato típico e os substratos do
crime.
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Sobre a Teoria do Crime
Ela é a responsável por explicar a infração penal em si, englobando crime, delito e contravenção
penal.
Lembrando que infração penal é gênero das espécies crime (que, no Brasil, é sinônimo de delito) e
contravenção penal. Logo, a infração penal se subdivide em crime e contravenção. Sendo correto
afirmar que o Direito Penal brasileiro adotou o sistema binário de infração penal (teoria
dicotômica/dualista).
Resumindo:
Não há diferença no conceito (ontológica). As diferenças estão nas consequências de cada infração
penal e estão previstas na Lei de Introdução ao Código Penal (DL 3.914/41) e na Lei de
Contravenções Penais (DL 3.688/41).
Art. 1º da LICP:
Considera-se CRIME a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção,
quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa;
CONTRAVENÇÃO, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão
simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.
Art. 2º da LCP:
A lei brasileira só é aplicável à CONTRAVENÇÃO praticada no território nacional.
Art. 4º:
Não é punível a tentativa de contravenção.
Esquematizando:
- Pública incondicionada;
Ação Penal Pode ser: - Pública condicionada; ou
- Privada
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Pena Prisão simples (máximo de 5 anos)
A lei diferencia as duas espécies de acordo com as consequências, é uma questão de política criminal.
O Estado que decide o que será crime e o que será contravenção, de acordo com a proteção que ele
quer dar aos bens jurídicos tutelados.
Sobre o crime
Conceito Crime é a conduta que ofende (crime de dano) ou expõe a perigo (crime de
MATERIAL perigo) bens jurídicos tutelados/protegidos pela norma penal.
Conceito Analisa o crime sob uma ótica dogmática, ou seja, sob uma ótica acadêmica. É o
ANALÍTICO conceito mais importante para nosso estudo.
Teoria
Crime é fato típico + ilícito (antijurídico) + culpável.
TRIPARTITE
Teoria
Crime é fato típico + ilícito (antijurídico).
BIPARTITE
Teoria
Crime é fato típico + ilícito (antijurídico) + culpável + punível.
QUADRIPARTITE
A TEORIA TRIPARTITE. Sendo também a teoria majoritária na doutrina. Para fins de prova, você
precisa saber que:
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Composto por uma conduta humana, ligada a um resultado
FATO TÍPICO por um nexo causal, devendo tal conduta se ajustar material e
formalmente a um tipo penal, o que é chamado de tipicidade.
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É a violação da lei penal.
JURÍDICO Está presente
(Teoria Jurídica / Ex.: No crime de homicídio o resultado em todos os
Normativa) jurídico é a simples violação da norma crimes.
penal.
RESULTADO
Nada mais é do que o resultado
Há crimes que
previsto em lei. É a modificação que
NATURALÍSTICO não precisam
a conduta causa no mundo exterior.
deste
(Teoria Naturalística) resultado para
Ex.: No crime de homicídio o resultado
se consumar.
naturalístico é a morte.
Crimes materiais
Nestes crimes, para haver a consumação do delito, deverá haver a concretização do resultado
naturalístico. No homicídio (art. 121 do CP), por exemplo, a conduta é matar alguém. Logo, para
o crime se consumar, a vítima deve morrer. Se não ocorrer esse resultado, não há que se falar em
crime consumado.
Crimes formais
Nestes crimes, a consumação independe do resultado naturalístico. Este até é previsto em lei,
mas tal resultado é mero exaurimento do crime.
No crime de corrupção passiva (art. 317 do CP), por exemplo, há a conduta de solicitar vantagem
indevida. Para a consumação, basta que o agente público solicite tal vantagem (pouco importa se
houve recebimento).
Crime formal é o que descreve o resultado naturalístico, mas não o exige para a consumação. Por
isso, a doutrina chama os crimes formais de crimes de consumação antecipada.
Logo, nos crimes de mera conduta, sequer há resultado naturalístico a ser atingido, bastando a
prática da conduta (a mera conduta) para a consumação.
Portanto...
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Nos crimes
CONDUTA + RESULTADO + NEXO CAUSAL + TIPICIDADE
MATERIAIS
Para nosso estudo, primeiro precisamos entender a Teoria Causalista (Naturalística) e a Teoria
Finalista:
Para esta teoria, conduta é um comportamento humano e voluntário que modifica o mundo
exterior. Para os causalistas, os elementos dolo e culpa estão na culpabilidade.
Você pode se deparar com questões que afirmam que o dolo e a culpa estão na culpabilidade e
isso, para os finalistas, está errado.
Logo, se o comportamento não for humano, não haverá conduta. Assim como, se não for voluntário,
consciente ou dirigido a uma finalidade.
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Dolo e culpa (elementos subjetivos da conduta)
Dolo e culpa, segundo a Teoria Finalista, são elementos que estão dentro da conduta – elementos
subjetivos.
Dolo
É importante que você entenda a diferença entre a Teoria da Vontade e a Teoria do Assentimento:
Ex.: Agora Ricardo quer matar Paulo. Para isso, ele envenena a
comida do restaurante que Paulo vai jantar.
1º GRAU
Paulo e outros clientes acabam falecendo.
DOLO
DIRETO Em relação a Paulo, houve dolo direto de 1º grau.
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Sobre o dolo eventual
DOLO
INDIRETO A conduta tem o objetivo de atingir um ou outro resultado,
ALTERNATIVO
não importando qual
Culpa
Remete aos elementos imprudência, negligência ou imperícia, que são chamadas de modalidades
de culpa.
Conforme estabelece o art. 18, parágrafo único do CP, os crimes só podem ser punidos a título de
culpa se houver previsão na lei. Trata-se do princípio da excepcionalidade/tipicidade:
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Elementos do crime culposo
Conduta inicial
O agente pratica a conduta de forma voluntária.
voluntária
Violação do dever
O agente não tomou o cuidado que deveria tomar.
objetivo de cuidado
Ausência de
O agente não prevê o resultado que era previsível.
previsão
Espécies de culpa
Culpa
O autor não prevê o resultado.
INCONSCIENTE
No caso do DOLO EVENTUAL ocorre a indiferença do autor, é o descaso. O autor sabe/prevê que o
resultado criminoso pode ocorrer e não se importa com isso.
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Crime preterdoloso ou preterintencional
Segundo ensina Alexandre Salim, ocorre o crime preterdoloso ou preterintencional quando o agente
quer produzir um resultado (age com dolo), mas, além deste, causa um resultado mais grave que não
havia pretendido. Esse resultado mais grave é causado a título de culpa, ou seja, o agente não quis
nem assumiu o risco de produzi-lo, mas deu causa a ele por imprudência, negligência ou imperícia.
Exemplo: art. 129, § 3º, do CP. O agente possui dolo apenas de ferir a vítima, mas esta, em face das
lesões, vem a falecer, sendo que as circunstâncias evidenciam que o agente não quis nem assumiu o
risco de matá-la, embora tal resultado fosse previsível.
Segundo assenta parcela da doutrina, para que ocorra um crime preterdoloso não basta dolo no
antecedente e culpa no consequente, pois deve ocorrer a lesão da mesma espécie ou gênero de bem
jurídico. Nesse sentido, a lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º) é um crime preterdoloso,
mas o roubo seguido de morte culposa (art. 157, § 3º, 2º parte) é apenas um crime qualificado pelo
resultado e não preterdoloso.
Conforme já destacamos, a tipicidade é dividia em formal e material. Se uma delas faltar, não haverá
fato típico e, portanto, não haverá crime.
Ex.:
Ex.:
MATERIAL
Roubar um carro é uma ofensa grave ao bem jurídico
(patrimônio). Há tipicidade material.
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Tipicidade conglobante (Zaffaroni)
Para Raúl Zaffaroni, o juízo de tipicidade deve ser analisado a partir do sistema normativo considerado em sua
globalidade.
Trata-se, segundo seu autor, de um dos aspectos da tipicidade penal, que se subdividiria em tipicidade legal
(adequação do fato com a norma penal, segundo uma análise estritamente formal) e tipicidade conglobante
(inadequação do fato a normas extrapenais). Por meio desta, deve-se verificar se o fato, que aparentemente
viola uma norma penal incriminadora, não é permitido ou mesmo incentivado por outra norma jurídica.
Como exemplo, destacam André Estefam e Victor Rios, imagine no caso das intervenções médico-cirúrgicas,
violência desportiva e o estrito cumprimento de um dever legal. Não teria sentido, dentro dessa perspectiva,
afirmar que a conduta do médico que realiza uma cirurgia no paciente viola a norma penal do art. 129 do CP
(não ofenderás a integridade corporal alheia) e, ao mesmo tempo, atende ao preceito constitucional segundo
o qual a saúde é um direito de todos (não seria lógico dizer que ele viola uma norma e obedece a outra, ao
mesmo tempo).
Em outras palavras, a tipicidade abrange a tipicidade formal e a tipicidade conglobante, que é composta pela
tipicidade material (elemento implícito) e pela antinormatividade (conduta não permitida ou não fomentada
pelas leis de um ordenamento jurídico considerado como um todo). Dessa forma, para esta teoria, quem age
em estrito cumprimento do dever legal ou em exercício regular de direito não pratica fato típico. Estas são
causas de exclusão da tipicidade penal.
Tipicidade
FORMAL (LEGAL)
+
TIPICIDADE =
Tipicidade MATERIAL
Tipicidade
CONGLOBANTE
ANTINORMATIVIDADE
Por meio da tipicidade conglobante (que resulta numa análise conglobada do fato com todas as normas
jurídicas, inclusive extrapenais), situações consideradas tradicionalmente como típicas, mas enquadráveis nas
excludentes de ilicitude (exercício regular de um direito ou estrito cumprimento de um dever legal), passariam
a ser tratadas como atípicas, pela falta de tipicidade conglobante. Com a adoção da teoria da imputação
objetiva, tais resultados (atipicidade de fatos então considerados típicos, porém lícitos) são atingidos sem
necessidade dessa construção, que se torna supérflua.
No entanto, entenda que independentemente da teoria adotada, não haverá crime por parte do médico que
faz a cirurgia ou do desportista que atua dentro das regras do esporte, embora divirjam os doutrinadores
acerca do fundamento.
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29.10.2020
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