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NÃO VÁ ERRAR!
TEMA 04 / DIREITO PENAL

Aspectos importantes sobre fato típico


e a Teoria do Crime – PARTE 1

A doutrina majoritária conceitua crime como o fato típico, ilícito e culpável. Por sua
vez, o fato típico envolve o elemento subjetivo do tipo, que pode ser o dolo ou a culpa.
Sobre o tema, é correto afirmar que:

a. o agente que pretende causar determinado resultado e tem conhecimento de que, com sua
conduta, causará, necessariamente, um segundo resultado e, ainda assim, atua, responderá
por dolo eventual em relação ao segundo resultado;
b. os tipos culposos estão sujeitos ao princípio da tipicidade, somente podendo ser punidos
quando devidamente prevista em lei a punição a título de culpa;
c. o agente que não quer diretamente o resulto, mas o prevê e aceita sua ocorrência a partir
de sua conduta, poderá ser responsabilizado pelo tipo culposo;
d. o tipo culposo exige a previsibilidade objetiva, mas se houver efetiva previsão, haverá dolo,
ainda que eventual;
e. o tipo culposo próprio, se presentes todos os demais elementos, admite a punição na
modalidade tentada.

FGV. 2018. TJ-SC. Analista Administrativo.

Comentários à questão:
Os tipos penais culposos são excepcionais e obedecem ao princípio da tipicidade. Uma conduta
culposa só é punível quando houver expressa previsão legal. Sendo a alternativa correta a letra B,
conforme o art. 18, parágrafo único, do Código Penal:

Art. 18 do Código Penal:


Diz-se o crime:
Crime doloso
I. doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;
Crime culposo
II. culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou
imperícia.
Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato
previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.

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Dolo direto de 1º e 2º grau

Quanto à letra A, tal hipótese configura o denominado dolo direto de 2º grau ou dolo de
consequências necessárias. Para essa espécie de dolo, o agente quer um resultado principal, mas
admite os resultados típicos secundários decorrentes da sua conduta, considerados como
consequências necessárias.

O dolo de 2º grau, conforme ensina Fernando Capez, abrange os efeitos colaterais da prática
delituosa, ou seja, as suas consequências secundárias, que não são desejadas originalmente, mas
acabam sendo provocadas porque indestacáveis do primeiro evento. No dolo de 2º grau, portanto, o
autor não pretende produzir o resultado, mas se dá conta de que não pode chegar à meta traçada
sem causar tais efeitos acessórios.

Por exemplo: querendo obter fraudulentamente prêmio do seguro (dolo de 1º grau), o sujeito
dinamita um barco em alto-mar, entretanto acaba por tirar a vida de todos os seus
tripulantes, resultado pretendido apenas porque inevitável para o desiderato
criminoso (dolo de 2º grau).

Dolo eventual

A letra C está incorreta. Tal hipótese corresponde ao dolo eventual, segundo o qual o agente, apesar
de não querer o resultado, o prevê e o aceita. Em casos como este, o agente responde pelo crime na
modalidade dolosa. No tipo culposo, o agente não prevê e não aceita o resultado típico, ainda que
este seja previsível objetivamente.

Dolo eventual x Culpa consciente (culpa com previsão)

A letra D está incorreta. O crime culposo exige que haja a previsibilidade objetiva, aquela exigível
do homem médio. Nos casos em que o agente efetivamente prevê o resultado, mas não o quer e não
o aceita, haverá a chamada culpa consciente ou culpa com previsão. Veja a diferença:

- No dolo eventual o agente prevê o resultado mas não se importa que ele ocorra; e

- Na culpa consciente, embora prevendo o que possa vir a acontecer, o agente repudia essa
possibilidade.

Culpa própria e imprópria

A letra E também está incorreta, pois não se admite tentativa nos casos de crimes praticados por
culpa própria, já que o agente não tem vontade de alcançar o resultado típico.

Na culpa imprópria, também conhecida como culpa por assimilação, por equiparação ou por
extensão, o agente quer produzir o resultado típico, mas a sua vontade está viciada pelo erro quanto
às circunstâncias de fato que, se existissem, tornariam o conduta do agente legítima. Ocorre a culpa
imprópria nos casos de descriminantes putativas.

Para entender melhor...

Perceba que para discutir dolo e culpa a banca examinadora introduziu o tema fato típico. Portanto,
para um entendimento mais completo, vamos abordar melhor o tema fato típico e os substratos do
crime.

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Sobre a Teoria do Crime

Ela é a responsável por explicar a infração penal em si, englobando crime, delito e contravenção
penal.

Lembrando que infração penal é gênero das espécies crime (que, no Brasil, é sinônimo de delito) e
contravenção penal. Logo, a infração penal se subdivide em crime e contravenção. Sendo correto
afirmar que o Direito Penal brasileiro adotou o sistema binário de infração penal (teoria
dicotômica/dualista).

Resumindo:

Teoria dualista / CRIME (delito)


INFRAÇÃO PENAL dicotômica /
sistema binário CONTRAVENÇÃO PENAL

E qual a diferença entre crime e contravenção?

Não há diferença no conceito (ontológica). As diferenças estão nas consequências de cada infração
penal e estão previstas na Lei de Introdução ao Código Penal (DL 3.914/41) e na Lei de
Contravenções Penais (DL 3.688/41).

Art. 1º da LICP:
Considera-se CRIME a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção,
quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa;
CONTRAVENÇÃO, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão
simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.

Art. 2º da LCP:
A lei brasileira só é aplicável à CONTRAVENÇÃO praticada no território nacional.
Art. 4º:
Não é punível a tentativa de contravenção.

Esquematizando:

Pena Reclusão ou detenção (máximo de 40 anos)

Tentativa Em regra, é punível

CRIME Extraterritorialidade É possível

- Pública incondicionada;
Ação Penal Pode ser: - Pública condicionada; ou
- Privada

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Pena Prisão simples (máximo de 5 anos)

Tentativa Nunca será punível


CONTRAVENÇÃO
ou crime-anão
Extraterritorialidade Não é possível

Ação Penal É sempre pública incondicionada.

A lei diferencia as duas espécies de acordo com as consequências, é uma questão de política criminal.
O Estado que decide o que será crime e o que será contravenção, de acordo com a proteção que ele
quer dar aos bens jurídicos tutelados.

Sobre o crime

Ele pode ser explicado de diversas formas, a depender do conceito adotado:

É o conceito que está na lei.


Art. 1º da LICP:
Conceito Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de
LEGAL detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de
multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de
prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.

Crime é a violação da norma penal (a norma penal traz condutas vedadas).


Conceito
Havendo a prática de alguma das condutas (ação ou omissão), restará
FORMAL
configurado o crime sob o aspecto formal.

Conceito Crime é a conduta que ofende (crime de dano) ou expõe a perigo (crime de
MATERIAL perigo) bens jurídicos tutelados/protegidos pela norma penal.

Conceito Analisa o crime sob uma ótica dogmática, ou seja, sob uma ótica acadêmica. É o
ANALÍTICO conceito mais importante para nosso estudo.

Quanto ao conceito analítico de crime...

Ele varia conforme a teoria adotada:

Teoria
Crime é fato típico + ilícito (antijurídico) + culpável.
TRIPARTITE

Teoria
Crime é fato típico + ilícito (antijurídico).
BIPARTITE

Teoria
Crime é fato típico + ilícito (antijurídico) + culpável + punível.
QUADRIPARTITE

E qual teoria adotada pelo Código Penal?

A TEORIA TRIPARTITE. Sendo também a teoria majoritária na doutrina. Para fins de prova, você
precisa saber que:

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Composto por uma conduta humana, ligada a um resultado
FATO TÍPICO por um nexo causal, devendo tal conduta se ajustar material e
formalmente a um tipo penal, o que é chamado de tipicidade.

CRIME ILÍCITO Um ato ilícito é aquele que viola a norma jurídica.

A culpabilidade trata-se do juízo de reprovação que recai


CULPÁVEL sobre a conduta praticada pelo indivíduo. Analisa-se o quão
reprovável juridicamente é a conduta.

No que diz respeito ao fato típico


Ele é composto por uma conduta humana, ligada a um resultado por um nexo causal, devendo tal
conduta ter tipicidade.

Vamos tomar como exemplo o crime de furto:

Art. 155 do CP:


Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena: reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
§ 1º. A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
§ 2º. Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a
pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena
de multa.
§ 3º. Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor
econômico.

É “subtrair”, ou seja, qualquer ato capaz de subtrair o bem


CONDUTA
móvel

RESULTADO É a efetiva subtração


FATO TÍPICO
no crime de É o que liga a conduta ao resultado, ou seja, o que liga o ato
NEXO CAUSAL
FURTO: de subtrair à efetiva subtração

FORMAL É a adequação da conduta ao art. 155 do CP


TIPICIDADE
MATERIAL É o desvalor da conduta

Presentes estes elementos (CONDUTA + RESULTADO + NEXO CAUSAL + TIPICIDADE), fala-se


em fato típico.

Então para o fato ser típico é necessária a presença de todos esses 4


elementos?

Para responder, é importante fazer uma consideração em relação ao elemento RESULTADO.


Conforme a teoria adotada, ele pode ser naturalístico ou jurídico:

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É a violação da lei penal.
JURÍDICO Está presente
(Teoria Jurídica / Ex.: No crime de homicídio o resultado em todos os
Normativa) jurídico é a simples violação da norma crimes.
penal.
RESULTADO
Nada mais é do que o resultado
Há crimes que
previsto em lei. É a modificação que
NATURALÍSTICO não precisam
a conduta causa no mundo exterior.
deste
(Teoria Naturalística) resultado para
Ex.: No crime de homicídio o resultado
se consumar.
naturalístico é a morte.

Quanto ao resultado naturalístico


Os crimes podem ser classificados em:

Crimes materiais

Nestes crimes, para haver a consumação do delito, deverá haver a concretização do resultado
naturalístico. No homicídio (art. 121 do CP), por exemplo, a conduta é matar alguém. Logo, para
o crime se consumar, a vítima deve morrer. Se não ocorrer esse resultado, não há que se falar em
crime consumado.

Crimes formais

Nestes crimes, a consumação independe do resultado naturalístico. Este até é previsto em lei,
mas tal resultado é mero exaurimento do crime.

No crime de corrupção passiva (art. 317 do CP), por exemplo, há a conduta de solicitar vantagem
indevida. Para a consumação, basta que o agente público solicite tal vantagem (pouco importa se
houve recebimento).

Crime formal é o que descreve o resultado naturalístico, mas não o exige para a consumação. Por
isso, a doutrina chama os crimes formais de crimes de consumação antecipada.

Crimes de mera conduta (simples atividade)

A consumação também independe do resultado naturalístico. A diferença para os formais é que


aqui o resultado naturalístico sequer é previsto em lei.

Logo, nos crimes de mera conduta, sequer há resultado naturalístico a ser atingido, bastando a
prática da conduta (a mera conduta) para a consumação.

No crime de violação de domicílio, por exemplo, o verbo é entrar ou permanecer em domicílio


alheio. O simples ingresso já consuma o delito e o artigo sequer prevê um resultado a ser atingido.

Portanto...

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Nos crimes
CONDUTA + RESULTADO + NEXO CAUSAL + TIPICIDADE
MATERIAIS

FATO Nos crimes Retira-se o resultado (pois ele não é necessário


TÍPICO FORMAIS para a consumação) e o nexo causal, pois este
CONDUTA +
elemento é que liga a conduta ao resultado.
Nos crimes TIPICIDADE
Se não há resultado, não precisa de uma ligação
DE MERA
entre ele e a conduta.
CONDUTA

Sobre o elemento conduta

Para nosso estudo, primeiro precisamos entender a Teoria Causalista (Naturalística) e a Teoria
Finalista:

Teoria Causalista ou Naturalística

Para esta teoria, conduta é um comportamento humano e voluntário que modifica o mundo
exterior. Para os causalistas, os elementos dolo e culpa estão na culpabilidade.

Teoria Finalista, de Hans Welzel (adotada pelo Código Penal)

Para esta teoria, dolo e culpa estão no fato típico (tipo).

Você pode se deparar com questões que afirmam que o dolo e a culpa estão na culpabilidade e
isso, para os finalistas, está errado.

Elementos centrais da conduta

Podemos apontar: comportamento humano, voluntário, consciente e dirigido a uma finalidade.

Logo, se o comportamento não for humano, não haverá conduta. Assim como, se não for voluntário,
consciente ou dirigido a uma finalidade.

E o que acontece se não houver conduta?

Não haverá fato típico e, consequentemente, não haverá crime.

Caso fortuito / Tais eventos são imprevisíveis e inevitáveis, não derivam


força maior de um comportamento humano.
Exemplos
de situações Estados de Tais estados são derivados de situações nas quais a pessoa
em que não inconsciência não está consciente. Ex.: sonambulismo e hipnose.
há conduta:
Coação física
O agente não pratica o fato de forma voluntária.
irresistível

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Dolo e culpa (elementos subjetivos da conduta)

Dolo e culpa, segundo a Teoria Finalista, são elementos que estão dentro da conduta – elementos
subjetivos.

Dolo

É importante que você entenda a diferença entre a Teoria da Vontade e a Teoria do Assentimento:

Para ter dolo, o agente deve querer efetivamente


Teoria da produzir o resultado ou praticar a conduta.
VONTADE
Ex.: Paulo quer matar Ricardo e o empurra de uma
ponte. Ricardo morre, havendo, assim, dolo de Paulo.
(Querer o resultado)
Temos aqui o DOLO DIRETO.

DOLO O agente não quer necessariamente produzir o


Teoria do resultado, no entanto, não se importa se ele ocorrer (é
ASSENTIMENTO ou o “tanto faz”).
CONSENTIMENTO
Ex.: Paulo quer empurrar Ricardo da ponte. Não
necessariamente matar Ricardo, mas, se ele morrer,
(Assumir o risco de pouco importa.
produzir o resultado)
Temos aqui o DOLO EVENTUAL.

O Código Penal adotou ambas as teorias:

Art. 18 do Código Penal:


Diz-se o crime:
I. doloso, quando o agente QUIS o resultado ou ASSUMIU O RISCO de produzi-lo; (...)

Sobre o dolo direto

Ele é dividido em dolo de 1º grau e dolo de 2º grau.

O agente quer efetivamente o resultado.

Ex.: Agora Ricardo quer matar Paulo. Para isso, ele envenena a
comida do restaurante que Paulo vai jantar.
1º GRAU
Paulo e outros clientes acabam falecendo.
DOLO
DIRETO Em relação a Paulo, houve dolo direto de 1º grau.

É uma consequência necessária do meio utilizado para atingir o


resultado.
2º GRAU
Conforme o exemplo, em relação aos demais clientes, houve dolo
direto de 2º grau.

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Sobre o dolo eventual

É espécie de dolo indireto. O dolo indireto engloba o eventual e o alternativo:

EVENTUAL É o ato de assumir o risco de produzir o resultado

DOLO
INDIRETO A conduta tem o objetivo de atingir um ou outro resultado,
ALTERNATIVO
não importando qual

Culpa

Remete aos elementos imprudência, negligência ou imperícia, que são chamadas de modalidades
de culpa.

Art. 18 do Código Penal:


Diz-se o crime: (...)
II. culposo, quando o agente deu causa ao resultado por IMPRUDÊNCIA, NEGLIGÊNCIA
ou IMPERÍCIA.

É o excesso na conduta. O agente age de forma afoita,


IMPRUDÊNCIA
precipitada.

É a omissão na conduta. O agente deveria agir de uma


NEGLIGÊNCIA
MODALIDADES forma e não agiu. Falamos em omissão do agente.
DE CULPA
É a inobservância das regras técnicas de determinada
profissão. O profissional deve realizar algum
IMPERÍCIA
procedimento de acordo com normas técnicas, mas
deixa de utilizá-las.

Os tipos penais culposos são excepcionais

Conforme estabelece o art. 18, parágrafo único do CP, os crimes só podem ser punidos a título de
culpa se houver previsão na lei. Trata-se do princípio da excepcionalidade/tipicidade:

Art. 18 do Código Penal:


Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto
como crime, senão quando o pratica dolosamente.

REGRA Punição por DOLO

EXCEÇÃO Punição por DOLO e CULPA. nos casos expressos em lei

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Elementos do crime culposo

Para se falar em crime culposo, é necessário haver alguns elementos:

Conduta inicial
O agente pratica a conduta de forma voluntária.
voluntária

Violação do dever
O agente não tomou o cuidado que deveria tomar.
objetivo de cuidado

Resultado O resultado não deve ser o objetivo do agente. Se for,


involuntário teremos o dolo, não a culpa.
ELEMENTOS
DO CRIME Nexo causal Nexo causal é o que liga a conduta ao resultado.
CULPOSO
Previsibilidade O resultado deve ser previsível. O homem médio deve
objetiva ser capaz de prever o resultado como possível.

Ausência de
O agente não prevê o resultado que era previsível.
previsão

A conduta deve ser adequada ao tipo penal – deve ser


Tipicidade
previsto como crime na modalidade culposa.

Espécies de culpa

São espécies de culpa: inconsciente, consciente, própria e imprópria. Vejamos:

Culpa
O autor não prevê o resultado.
INCONSCIENTE

Culpa O autor prevê o resultado, mas acredita que será capaz


CONSCIENTE de evitá-lo.

É aquela em que o agente não quer o resultado e não


Culpa
assume o risco de produzi-lo.
ESPÉCIES PRÓPRIA
Trata-se da imperícia, negligência e imprudência.
DE CULPA
É a que decorre do erro inescusável (art. 20, § 1º, do CP):
Descriminantes putativas
Culpa É isento de pena quem, por erro plenamente justificado
IMPRÓPRIA pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se
existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de
pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível
como crime culposo.

Sobre o dolo eventual e sua diferença quanto à culpa consciente e


inconsciente...

No caso do DOLO EVENTUAL ocorre a indiferença do autor, é o descaso. O autor sabe/prevê que o
resultado criminoso pode ocorrer e não se importa com isso.

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Crime preterdoloso ou preterintencional

O crime preterdoloso é o dolo na conduta e a culpa no resultado (dolo no antecedente + culpa no


resultado consequente).

Segundo ensina Alexandre Salim, ocorre o crime preterdoloso ou preterintencional quando o agente
quer produzir um resultado (age com dolo), mas, além deste, causa um resultado mais grave que não
havia pretendido. Esse resultado mais grave é causado a título de culpa, ou seja, o agente não quis
nem assumiu o risco de produzi-lo, mas deu causa a ele por imprudência, negligência ou imperícia.

Há dolo no antecedente (conduta e resultado menos grave pretendido) e culpa no consequente


(resultado qualificador não pretendido, mas previsível).

Exemplo: art. 129, § 3º, do CP. O agente possui dolo apenas de ferir a vítima, mas esta, em face das
lesões, vem a falecer, sendo que as circunstâncias evidenciam que o agente não quis nem assumiu o
risco de matá-la, embora tal resultado fosse previsível.

Segundo assenta parcela da doutrina, para que ocorra um crime preterdoloso não basta dolo no
antecedente e culpa no consequente, pois deve ocorrer a lesão da mesma espécie ou gênero de bem
jurídico. Nesse sentido, a lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º) é um crime preterdoloso,
mas o roubo seguido de morte culposa (art. 157, § 3º, 2º parte) é apenas um crime qualificado pelo
resultado e não preterdoloso.

Sobre o elemento tipicidade

Conforme já destacamos, a tipicidade é dividia em formal e material. Se uma delas faltar, não haverá
fato típico e, portanto, não haverá crime.

Conduta humana prevista em lei como crime.

Ex.:

“Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel” é a


FORMAL
conduta prevista como crime de furto no art. 155 do CP.
Há tipicidade formal.

“Cantar desafinado no banheiro” não é uma conduta prevista


como crime. Não há tipicidade formal.
TIPICIDADE
Verificação se a conduta ofende de forma relevante o bem
jurídico. É o desvalor da conduta.

Ex.:
MATERIAL
Roubar um carro é uma ofensa grave ao bem jurídico
(patrimônio). Há tipicidade material.

Furtar uma rosa para o mozão não é uma ofensa grave ao


bem jurídico (patrimônio). Não há tipicidade material.

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Tipicidade conglobante (Zaffaroni)

Para Raúl Zaffaroni, o juízo de tipicidade deve ser analisado a partir do sistema normativo considerado em sua
globalidade.

Trata-se, segundo seu autor, de um dos aspectos da tipicidade penal, que se subdividiria em tipicidade legal
(adequação do fato com a norma penal, segundo uma análise estritamente formal) e tipicidade conglobante
(inadequação do fato a normas extrapenais). Por meio desta, deve-se verificar se o fato, que aparentemente
viola uma norma penal incriminadora, não é permitido ou mesmo incentivado por outra norma jurídica.

Como exemplo, destacam André Estefam e Victor Rios, imagine no caso das intervenções médico-cirúrgicas,
violência desportiva e o estrito cumprimento de um dever legal. Não teria sentido, dentro dessa perspectiva,
afirmar que a conduta do médico que realiza uma cirurgia no paciente viola a norma penal do art. 129 do CP
(não ofenderás a integridade corporal alheia) e, ao mesmo tempo, atende ao preceito constitucional segundo
o qual a saúde é um direito de todos (não seria lógico dizer que ele viola uma norma e obedece a outra, ao
mesmo tempo).

Em outras palavras, a tipicidade abrange a tipicidade formal e a tipicidade conglobante, que é composta pela
tipicidade material (elemento implícito) e pela antinormatividade (conduta não permitida ou não fomentada
pelas leis de um ordenamento jurídico considerado como um todo). Dessa forma, para esta teoria, quem age
em estrito cumprimento do dever legal ou em exercício regular de direito não pratica fato típico. Estas são
causas de exclusão da tipicidade penal.

Tipicidade
FORMAL (LEGAL)

+
TIPICIDADE =
Tipicidade MATERIAL
Tipicidade
CONGLOBANTE
ANTINORMATIVIDADE

Por meio da tipicidade conglobante (que resulta numa análise conglobada do fato com todas as normas
jurídicas, inclusive extrapenais), situações consideradas tradicionalmente como típicas, mas enquadráveis nas
excludentes de ilicitude (exercício regular de um direito ou estrito cumprimento de um dever legal), passariam
a ser tratadas como atípicas, pela falta de tipicidade conglobante. Com a adoção da teoria da imputação
objetiva, tais resultados (atipicidade de fatos então considerados típicos, porém lícitos) são atingidos sem
necessidade dessa construção, que se torna supérflua.

No entanto, entenda que independentemente da teoria adotada, não haverá crime por parte do médico que
faz a cirurgia ou do desportista que atua dentro das regras do esporte, embora divirjam os doutrinadores
acerca do fundamento.

Vale ressaltar, o STJ tem adotado a tipicidade conglobante em diversos julgados.

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29.10.2020

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