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RESPONSABILIDADE PENAL DO MÉDICO NOS CRIMES CONTRA A PESSOA

CRIMINAL LIABILITY OF THE PHYSICIAN IN CRIMES AGAINST THE PERSON

Ingryd Medeiros da Cruz1


Alexandre Knopfholz2

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo analisar a possibilidade de responsabilização penal por erro
médico nos crimes contra a pessoa, mais precisamente nos crimes de lesão corporal e homicídio.
Traz a discussão sobre a possibilidade da implicação de responsabilização por erro doloso, na
modalidade de dolo eventual, e não apenas por culpa, durante o exercício da profissão da medicina.
O erro médico está presente na história desde o início da pratica médica, havendo uma
responsabilização inicial, antes de quaisquer leis ou códigos, onde o médico era visto como uma
divindade e, logo em seguida, a responsabilização é mostrada de forma diferente. A
responsabilização penal médica é algo complexo de ser estudado, visto a grande importância e a
forma honrosa com a qual os profissionais são vistos. Alguns dos doutrinadores entendem que só é
possivel uma forma de responsabilização médica, entretanto, existem entendimentos diversos,
inclusive por parte dos julgadores brasileiros. Apresenta-se nesse trabalho a possibilidade de
responsabilização por erros dolosos do médico, na modalidade de dolo eventual, no exercício
profissional. Ampara-se como metodologia, em pesquisas bibliográficas doutrinárias, legislação,
artigos jurídicos e científicos, trabalhos acadêmicos (monografias) e dissertações de mestrado.

Palavras-chaves: Dolo eventual; Responsabilidade penal; Responsabilização médica; Erro médico;


Culpa consciente.

ABSTRACT

This paper aims to analyze the possibility of criminal liability for medical malpractice in crimes against
the person, more precisely in crimes of bodily injury and homicide. Bring the discussion about the
possibility of implying liability for malicious error, in the mode of eventual malice, and not only for fault,
during the exercise of the medical profession. Medical error has been present in history since the
beginning of medical practice, with an initial accountability, before any laws or codes, where the
physician was seen as a divinity, and soon afterwards, the accountability is shown in a different way.
The criminal responsibility of physicians is something complex to be studied, due to the great
importance and the honorable way in which these professionals are seen. Some of the doctors
understand that only one form of medical responsibility is possible; however, there are different
understandings, including on the part of the Brazilian judges. This work presents the possibility of
liability for intentional errors, in the form of eventual malice, of the physician in the exercise of medical
practice. The methodology is based on bibliographic research of doctrine, legislation, legal and
scientific articles, academic papers (monographs), and master's theses.

Keywords: Eventual malice; Criminal responsibility; Medical responsibility; Medical error; Conscious
guilt.

1
Acadêmica de Direito do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA).
2
Mestre em Direito e professor do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA).
2

1 INTRODUÇÃO

Este artigo versa sobre a matéria da responsabilização do médico nos crimes


contra a pessoa, tendo como enfoque principal a investigação sobre a possibilidade
de responsabilização por dolo eventual e culpa nos crimes de lesões corporais e
homicídios decorrentes de erros no exercício da pratica médica. Traz informações
acerca dos pressupostos e características para a responsabilização penal do médico
e a diferenciação e implicação sobre os erros médicos dolosos e culposos.
Inicialmente deve-se salientar que a demonstração artigo sobre a
possibilidade ou não da responsabilização penal decorrente de erros médicos no
exercício de sua profissão, de forma culposa ou dolosa - na modalidade de dolo
eventual -, não significa nenhum desprezo a respeito destes profissionais. Pelo
contrario, é de se admirar completamente o amor pelo que os médicos fazem em
sua profissão, salvando e buscando curas para as vidas dos seres humanos.
Começando com o estudo sobre o direito penal médico. Inicialmente trabalha-
se sobre o Direito Médico. Os primeiros indícios desse assunto no ordenamento
jurídico brasileiro ocorreram no ano de 1932, com o regulamento da prática da
medicina. Segue-se com o conceito de erro médico. Assim, começa a apresentação
e o estudo mais detalhado e especializado deste presente trabalho, mostrando que o
erro médico já está presente desde o código de Hamurabi, verificando que o
presente estudo não se trata de um tema novo e atual, pois vem apresentando
grandes incidências e relevância desde os tempos mais antigos. Diferencia-se o erro
médico de outros institutos, como o acidente imprevisível e o resultado incontrolável,
para que não haja maiores confusões acerca da definição de cada um deles.
Por fim, busca-se entender a responsabilização penal por eventos lesivos de
morte e lesões aos pacientes decorrentes do exercício da prática médica, pontuando
os erros médicos em modalidade culposa e dolosa – na modalidade de dolo
eventual - e a responsabilização decorrente de cada um deles.
Para que se alcance a finalidade deste artigo e poder responder a questão
inicial, ainda no último tópico, discorre sobre a responsabilidade penal do médico
frente às opiniões doutrinárias e às divergências decorrentes dessas opiniões.
Ainda, busca-se avaliar a existência ou não do erro médico doloso, na modalidade
de dolo eventual, trazendo alguns julgados da justiça brasileira sobre esse assunto e
a opinião de alguns julgadores sobre a possibilidade ou não da responsabilidade a
3

este título.

2 DIREITO MÉDICO

Direito Médico é a área do direito que trata de situações relacionadas à


função do médico, às práticas médicas, à relação entre médico-paciente e as
relações que decorrem delas, através de normas jurídicas.
Os primeiros indícios do Direito Médico no ordenamento jurídico brasileiro
surgiram com o Decreto n° 20.931 de 11 de janeiro de 1932, o qual regulamentou o
exercício da medicina. Ainda, a profissão médica está diretamente ligada com o
Direito à Vida e o Direito à Saúde, pilares fundamentais previstos na Constituição
Federal.
Por isso a responsabilidade por ocorrência de fatalidades ou por mau
procedimento pode ocorrer. Os termos e as penalidades serão especificados abaixo.

2.1 ERRO MÉDICO

O erro médico pode ser caracterizado como a conduta (omissiva ou


comissiva) controversa pelo profissional durante ou em face do exercício da prática
médica contra um paciente. Entretanto, a definição exata do que vem a ser o erro
médico ainda se encontra em debate, muito embora já se tenha vários aspectos
definidos em diversas áreas diferentes.
Baseando-se na teoria da culpa, segundo Júlio Cezar e Genival Veloso (1999,
p.25), o erro médico pode ser definido como: “conduta profissional inadequada que
supõe uma inobservância técnica, capaz de produzir um dano à vida ou à saúde de
outrem, caracterizada por imperícia, imprudência ou negligência”. Ainda, o Conselho
Regional de Medicina do estado de Santa Catarina, definiu o erro médico como:

Erro médico é a falha do médico no exercício da profissão. É o mau


resultado ou resultado adverso decorrente da ação ou da omissão do
médico por inobservância de conduta técnica, estando o profissional em
pleno exercício de suas faculdades mentais (GRISARD, 2000, p.66)

De acordo com o Conselho Federal de Medicina:


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Erro médico é a conduta (omissiva ou comissiva) profissional atípica,


irregular ou inadequada, contra o paciente durante ou em face de exercício
médico que pode ser caracterizada como imperícia, imprudência ou
negligência, mas nunca como dolo. (CORREIA, 2012, p. 19)

Não obstante este entendimento, diversos tribunais do Brasil consideram o


erro médico aquele também proveniente de condutas dolosas, onde o profissional
quis ou assumiu o risco de produzir o dano. Conforme mostra decisão a seguir:

APELAÇÃO CRIMINAL. LESÕES CORPORAIS GRAVES. ERRO


MÉDICO. DOLO EVENTUAL COMPROVADO. CONDENAÇÃO
IMPOSITIVA. 1) Assumindo o acusado o risco de produzir o resultado,
resta configurada a essência do dolo na sua modalidade eventual,
impondo a reforma da sentença absolutória. 2) Recurso conhecido e
provido. (TJ-GO - APR: 01192365420068090051 GOIANIA, Relator:
DR(A). LILIA MONICA C.B. ESCHER, Data de Julgamento: 23/04/2013,
2A CAMARA CRIMINAL, Data de Publicação: DJ 1295 de 03/05/2013)
(JUSBRASIL, 2013)

Assim, compreende-se que os danos decorrentes do erro médico, podem ter


origem em atos culposos ou dolosos do médico.

2.1.1 Acidente Imprevisível

A medicina compreende-se como uma profissão de risco, na qual devem ser


empregados todos os recursos disponíveis e possíveis para que o médico e o
paciente alcancem e supram suas expectativas. Porém, se o resultado esperado não
for alcançado e inexistindo dolo ou culpa por parte do profissional médico, não há o
que ser reclamado na seara penal.
Essas situações de expectativas de resultados decorrentes de algum
procedimento médico eximem deles algum tipo de responsabilidade, visto que o erro
médico é uma conduta inadequada do profissional, por inobservância dos seus
deveres profissionais.
De igual maneira ao erro médico, o acidente imprevisível também traz
resultado lesivo ao paciente, porém é um resultado que é incapaz de ser previsto
pelo médico, com os seus conhecimentos técnicos ou qualquer outra pessoa com
conhecimento comum.
Conforme traz Maria Helena Diniz (2011, p.746) a respeito do acidente
imprevisível:
5

No acidente imprevisível há um dano à integridade do paciente causado por


caso fortuito ou força maior durante a atividade médica, insusceptível de ser
evitado por não poder ser previsto.

Assim, compreende-se que a ocorrência do acidente imprevisível nada tem a


ver com a existência do erro médico, visto que o erro médico trata de condutas que,
em regra, poderiam ser evitadas pelo profissional se tivesse atuado com a cautela
que sua profissão exige, enquanto o acidente trata de situações inevitáveis.

2.1.2 Resultado Incontrolável

O resultado incontrolável decorre de uma situação em que possuiu o decurso


incontrolável, como o próprio nome diz. É próprio de uma evolução do quadro clínico
do paciente, visto que, embora todos os estudos, tecnologias e novas condições da
ciência, a medicina ainda não consegue oferecer uma solução ou um “remédio” para
essas situações.
Entende-se que a atuação médica que possa vir a causar um mau resultado,
um resultado lesivo ao paciente, decorrente da boa e adequada prática da medicina,
não pode ser considerada como um erro médico, visto que essas incertezas da
prática médica, não possuem relação com a má conduta de um profissional médico
que cause dano ao seu paciente.
Ante o exposto, de igual forma ao acidente imprevisível, o resultado
incontrolável diferencia-se do erro médico, pois inexiste uma situação de culpa lato
sensu, afastando a possibilidade de efetivar a responsabilidade médica.

2.2 RESPONSABILIDADE ÉTICA-PROFISSIONAL

A responsabilidade ética-profissional é atribuída ao médico em decorrência do


desrespeito às normas impostas pelo Conselho Federal de Medicina, resultando em
aplicação de punições estabelecidas pelo Código de Ética Médica, onde a mais
gravosa é a cassação do registro profissional.

II - Os médicos que cometerem faltas graves previstas neste Código e cuja


continuidade do exercício profissional constitua risco de danos irreparáveis
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ao paciente ou à sociedade poderão ter o exercício profissional suspenso


mediante procedimento administrativo específico.

O Código de Ética Médica possui uma série de princípios e deveres


norteadores da atividade médica, do exercício da medicina, onde cabe aos
profissionais médicos atingirem todos os princípios e deveres em seus aspectos
totais, utilizando de todos os recursos técnicos disponíveis, recursos cientificamente
aceitáveis e juridicamente corretos, para alcançar a cura do paciente, trabalhando
sempre sem medir seus esforços e com a prudência, competência e diligência
necessária, em prol da saúde e bem-estar humano.
A responsabilização do profissional médico surgiu com a inobservância do
dever de cuidado imposta pela sua profissão, o que acarreta a censura ético-
profissional por parte dos Conselhos de Medicina, tanto nos conselhos regionais,
como o federal. O legislador delegou a possibilidade da elaboração de um corpo de
normas e princípios pelo Conselho Federal de Medicina que regessem e norteassem
a profissão e realizou esta delegação com o intuito de conciliar a dignidade do
médico e o interesse da toda a sociedade.
O Estatuto Disciplinar dos Médicos Portugueses, segundo Álvaro da Cunha
Gomes Rodrigues (2007, p.28), traz um conceito de infração disciplinar:

Comete infração disciplinar o médico que, por ação ou omissão, violar


dolosa ou negligentemente algum ou alguns dos deveres decorrentes do
Estatuto da Ordem dos Médicos, do Código Deontológico, do presente
Estatuto, dos regulamentos internos ou das demais disposições aplicáveis.

Diferentemente, o Código de Ética Médica Brasileiro, trata da infração


disciplinar, mas, não estabelecendo apenas um conceito e sim uma vedação a
causar dano ao paciente, seja por ação ou omissão. Agindo o profissional com
imperícia, imprudência ou negligência, ocorrerá a infração disciplinar do médico.

Art. 1º Causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como


imperícia, imprudência ou negligência.
Parágrafo único. A responsabilidade médica é sempre pessoal e não pode
ser presumida.

Dentre todas as sanções ética-profissionais, destaca-se a repreensão escrita,


multa, suspensão e inatividade profissional através da cassação do registro de
autorização do exercício da prática médica. Por óbvio a aplicação de tais
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penalidades depende do bem jurídico violado e da extensão do dano causado ao


paciente, não excluindo a possibilidade da aplicação da responsabilidade na esfera
penal.
Diante de todo exposto, conclui-se que a responsabilidade ética-profissional
aplicada pelos Conselhos de Medicina não se confundem com a responsabilidade
penal, pois estas são normas ditadas no próprio Código de Ética Médica realizado
pelos Conselhos, com o intuito de fiscalizar a atividade médica exercida fora dos
padrões aceitáveis e exigíveis.

2.3 RESPONSABILIDADE PENAL MÉDICA

A responsabilidade penal dos médicos, por atos que pratiquem no exercício


de sua profissão, possui origem histórica no Direito da Medicina (ESER, 2004, p. 11-
63), desde a legislação penal das antigas civilizações, que foram estabelecidas
penas especificas para médicos que causassem lesões corporais ou morte de seus
pacientes.
Atualmente o tema de responsabilidade penal do médico já está com maior
perspicácia no contexto jurídico brasileiro. Esta responsabilidade do médico é real e
está cada dia mais incluso em julgamentos de nossos tribunais. Há diversas ações
penais tramitando na apuração de lesão corporal e homicídio decorrente de atos
médicos.
Pode-se dizer que uma das maiores discussões atuais sobre o erro médico,
decorre justamente sobre a possibilidade da responsabilização do médico por erro
médico doloso, na modalidade de dolo eventual. Embora muitos juristas e
doutrinadores defendam a existência do erro médico doloso, alguns entendem que a
única forma de responsabilização do médico por erro médico seria na modalidade
culposa, argumentando que um médico que pratica uma conduta em que prevê que
resultados mais graves seriam gerados, não possui capacidade para exercer a
medicina, assim como outros autores entendem que o médico só poderia ser
responsabilizado penalmente se tivesse agido com dolo durante o momento do erro
médico, como é entendido por Hungria e M. Carrara citados por Antônio Evaristo de
Moraes Filho( 1996, p.290).
Cumpre verificar que a conduta médica, para que haja uma responsabilização
penal, deverá ser típica, antijurídica e culpável. Caso não estejam presentes nenhum
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dos pressupostos acerca da exclusão da ilicitude, como estado de necessidade,


estrito cumprimento do dever legal, entre outros previstos no artigo 23 do Código
Penal, poderá haver a responsabilização decorrente da ação médica.

2.3.1 Responsabilização Penal por Erro Médico Culposo

Os crimes culposos são possíveis e passíveis de responsabilização penal


quando previstos expressamente em lei. Caso contrário, o agente só poderá ser
punido a título de dolo. Assim, o crime culposo entende-se como uma modalidade
excepcional.
Conforme traz o Código Penal em seu artigo 18, inciso II: “diz-se o crime: II -
culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou
imperícia”.
Na maioria das vezes os erros médicos podem ensejar uma responsabilidade
penal de natureza culposa, gerando um dano ao paciente, e configurando os tipos
de homicídio e lesão corporal de natureza grave e gravíssima que podem resultar
também em incapacitação.
Analisando os elementos constitutivos do crime culposo, percebe-se que a
conduta praticada pelo agente é um ato voluntário que tem como destinação a
realização de um resultado lícito, porém, pela ausência do dever de cuidado, o
agente alcança um fim que não foi pretendido e nem esperado por ele. Há nesse
caso uma deficiência na execução, não importando o fim alcançado e sim o meio
utilizado.
A previsibilidade do resultado danoso dentro da conduta de um profissional
médico, pelo fato de este lidar com vidas humanas, é sempre exigível, por se
considerar a formação e experiência durante o exercício da prática médica para a
qual foi preparado, por um comportamento de homem mediano, que observa os
deveres de cuidado que a profissão lhe exige.
A ação do médico que provoca um dano tipificado em lei penal é culposa
quando este está agindo sem o dever de cuidado, atuando com imperícia,
negligência ou imprudência. Pode-se afirmar que a culpa em erros médicos é
desatada pela ausência de cuidado, atenção e zelo no desenvolver da prática da
medicina. Tanto o é que, como já exposto acima, está regulamentada no Código de
Ética Médica em seu artigo 1º.
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Como explica Miguel Kfouri (1990, p.66), “tratando-se de vida humana, não há
lugar para culpas pequenas”. Diante disso, entende-se que a conduta culposa do
profissional médico deve ser avaliada em todos os seus aspectos, o bem jurídico
lesionado, o dano causado, suas extensões e o momento do ato, a fim de ser
imputada uma sanção adequada e justa diante da análise do caso concreto.
De tal forma, para que se aplique a responsabilidade penal médica por crime
culposo ao agente, é de suma importância que o paciente, ou em caso de
impossibilidade deste ou morte, seus familiares, demonstrem o dano penalmente
relevante e que esse derivou da culpa do médico. Para a aplicação da sanção, não é
importante se a culpa foi consciente ou inconsciente, cabendo apenas a
demonstração de imprudência, negligência ou imperícia.

2.3.1.1 Imperícia médica

A imperícia se dá por um profissional médico quando este der causa a um


dano de seu paciente por haver atuado com falta de habilidade e/ou de técnica
necessária para a realização de sua atividade. Pelo fato de a imperícia ser um dos
elementos do crime culposo, os atos profissionais que causarem lesão corporal,
ferimento do paciente, a morte ou inabilitação para o trabalho, deverá ser reparado
penal e civilmente.
A imperícia é caracterizada como a falta de habilidade e a ausência de
conhecimentos técnicos exigidos pela profissão. O médico deve estar sempre atento
às normas técnicas para realizar quaisquer procedimentos em seus pacientes,
buscando, por isso, não causar quaisquer danos aos seus pacientes. Exemplo de
um cirurgião que ao realizar uma incisão no corpo de seu paciente, deverão atentar-
se as técnicas exigidas a fim de não causar lesões ao seu paciente.
Entretanto, compreende-se que um profissional médico, portador de diploma,
inscrito no Conselho Regional e com licença para exercer a medicina, que possui
conhecimentos técnicos para o desenvolvimento de sua atividade, é apto para o
desenvolvimento da prática da medicina. Por isso, julgá-lo como imperito seria algo
muito delicado, visto que em muitos casos essa alegação pode acabar envolvendo
instituições de baixa qualidade de Medicina.
Para Sérgio Coelho Cavalcante Júnior e Veloso (KFOURI, 1990, p.58) para
todo médico graduado em faculdade de medicina reconhecida pelo MEC (Ministério
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da Educação e Cultura) e devidamente inscrito nos Conselhos Regionais de


Medicina, não se pode falar em imperícia, seja essa em quaisquer circunstâncias,
pois esses requisitos presumem a qualificação técnico-cientifica necessária para o
desenvolvimento dessa profissão.
Maria Helena Diniz (2011, p.740) entende que a imperícia pode existir sim na
área médica, e seria decorrente de um despreparo técnico e intelectual do médico
quando este atua sem saber o que deveria ou ainda, deixando de observar normas
básicas para o sucesso do procedimento.
Clóvis Francisco Constantino (2008, p. 98) traz que a imperícia não pode ser
entendida simplesmente como o desconhecimento da capacidade técnica ou de
algum procedimento, mas também como a deficiência de conhecimento ou
inaptidão, sendo inaceitável o erro da arte médica.
É certo que a prática médica requer do profissional uma constante atualização
de conhecimentos específicos e de novas técnicas que surgem para tratamento de
enfermidades e curas de doenças no mundo científico. Porém, todas as profissões
necessitam de atualizações, pois caso contrário, os profissionais ficariam
estagnados no tempo e podem vir a realizar atos que causem dano ao paciente.
Para isso, todos os profissionais que tratam diretamente da vida humana possuem o
dever de renovar seus conhecimentos periodicamente, atualizando as informações
técnicas mais modernas e eficazes na cura ou tratamento dos problemas de saúde,
observando o dever objetivo de cuidado para com seus pacientes.

2.3.1.2 Negligência médica

A negligência, correspondente também a um dos elementos da culpa, refere-


se a uma omissão do dever de cuidado ou da conduta esperada pelo profissional
médico; é a inobservância de um dever de diligência diante de uma situação que
necessite de imprescindível cuidado do médico para impedir que de sua conduta
saia um resultado lesivo que venha a acontecer com o paciente.
Há um entendimento majoritário doutrinário que equipara a conduta
negligente a um ato omissivo. Porém, essa atuação omissiva do profissional médico
corresponderia a um desleixo na realização de um ato, e não em uma omissão no
agir ou uma omissão de socorro.
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Existe uma grande divergência de opiniões nos Tribunais Brasileiros no que


diz respeito à capitulação da infração penal de omissão. Em um dos lados do
entendimento, surge uma omissão do dever de atenção quando do profissional era
exigível atuar com a devida cautela, causando assim danos ao paciente. Muitos
juízes entendem que esse tipo de omissão seria uma negligência, podendo
responder o médico assim a título de culpa, trazendo como fundamento o artigo 13,
§2º, a do Código Penal:

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é


imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão
sem a qual o resultado não teria ocorrido:
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia
agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância.

Por outro lado, existe o crime de omissão pela ausência de conduta esperada,
assim configurada como a omissão de um atendimento médico quando lhe era
exigível atuar, estando diretamente relacionado com o crime de omissão de socorro,
cometido pelo profissional médico, tipificado no artigo 135 do Código Penal.

Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco
pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou
ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses
casos, o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta
lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.

Para Francisco Paulo Cerqueira Mota (1999, p.89-90) a forma mais comum
de negligência médica é a letra ilegível do médico, o que acaba por induzir o erro em
administração de medicamentos, em procedimentos realizados pelos enfermeiros,
que podem acabar causando danos em pacientes. Ou ainda, os casos em que
acontece de um cirurgião esquecer um objeto, uma gaze, dentro do corpo do
paciente, causando infecção generalizada e posteriormente a morte.

A dona de casa Cláudia Vicinança viveu quatro anos com uma gaze esquecida
na barriga após uma cesárea em um hospital particular de Campinas. Ela sentia
muitas dores, mas conta que só descobriu o problema quando resolveu ter um
segundo filho. "Eu sentia que eu tinha algum problema. Eu sentia muitas dores,
eu me sentia mal. Eu não tinha uma vida normal. O médico que procurei era
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especialista em reprodução e disse 'não vou te enganar', você não tem mais
condições de poder ter outro filho", relembra.
Cláudia conta que o estrago que o erro médico trouxe em sua vida nunca será
esquecido. "A gente nunca esquece. A gente não consegue superar porque a
gente fica com sequelas. Errar acontece, mas são muitos erros", desabafa.
O médico que atendeu a Cláudia perdeu uma ação na Justiça, teve que
indenizar a paciente, mas continua trabalhando. (G1, 2017)

Mulher dá entrada em hospital para dar à luz e permanece internada em


Instituto da Rede Municipal de Saúde, em estado grave, depois de médicos
esquecerem objetos cirúrgicos utilizados na cesariana dentro do seu corpo,
em João Pessoa, na Paraíba. A negligência médica, de acordo com
parentes, foi descoberta depois de mais de um mês do parto, quando a
paciente começou a sentir dores abdominais. [...]Após sete dias de
tratamento com remédios, sem resultados, foi realizado um ultrassom que
identificou objetos na barriga da paciente. Após a constatação, foi realizado
uma cirurgia para a retirada dos objetos cirúrgicos esquecidos na barriga de
Kelly, porém, o estado de saúde da paciente permanece grave. (SBT, 2019)

O Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) vai abrir sindicância


para apurar a morte Eduarda Giovana Kashimarki, de 22 anos, por infecção
generalizada no Hospital Estadual de Sumaré (SP). A infecção foi causada
depois que o médico ginecologista e outro cirurgião do Hospital Municipal e
Maternidade Doutor Acílio Carreon Garcia, de Nova Odessa (SP), esqueceram
uma compressa dentro do corpo da paciente ao fazerem uma cirurgia de
cesárea. [...] No hospital estadual, Eduarda passou por uma cirurgia abdominal,
mas não resistiu e morreu no fim da tarde desta quarta-feira (1) por choque
séptico provocado pela presença da compressa. Em nota, a unidade confirma o
fato e diz que isso causou a morte da paciente. (G1, 2017)

Na lição de Paulo Afonso Leme Machado (1976, p.246), “na negligência, o


médico omite precauções e cuidados tidos como necessários”, pode ser
demonstrado como o caso em que o médico esquece objetos no campo operatório,
quando o médico administra um medicamento diverso do qual seria correto, quando
o médico deixa de orientar pacientes sobre cuidados pós-operatórios. São as
condutas básicas, do dia a dia da prática médica, realizadas de forma indiferente.
No presente estudo abordamos a negligência decorrente da ausência do
dever de cuidado e falta de atenção do profissional médico enquanto está atuando
em procedimentos da medicina. A finalidade é discorrer sobre as atuações médicas
que venham a resultar lesão corporal ou homicídio do paciente.
Diante de todo acima exposto, pode-se observar que os casos de negligência
são os mais fáceis de serem identificados e os mais comuns na prática médica,
tendo em vista que a distração faz parte da natureza do homem. Entretanto, quando
se trata de um profissional que lida com vidas humanas, é inaceitável que tais
condutas permaneçam sem o devido controle e punição.
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2.3.1.3 Imprudência médica

A conduta imprudente pode ser definida como o agir de um sujeito sem


cautela, atuando de forma irresponsável, não se preocupando com o cuidado e zelo
para que o resultado lesivo que era previsível não viesse a ocorrer. É também
definida como a conduta positiva do médico, que age de forma precipitada em
realizar um procedimento sem respaldo técnico-científico e não analisando a
possibilidade da ocorrência do erro, onde ele coloca a vida do paciente em risco sem
que tenha vontade de praticar aquele resultado.
O agir cauteloso diante de uma vida humana é o elemento indispensável para
ser um bom profissional médico, porém, a imprudência que é realizada pelo
profissional médico o caracteriza de forma diversa. O médico possui a ciência do
risco que determinada prática resulta e, mesmo diante disto, age com a ausência de
cuidado.
Como um ponto do crime culposo, a imprudência é considerada uma
expressão muito ampla, abrangendo a imperícia e a negligência, porém, decorre de
um ato comissivo arriscado, desculpado, desleixado e vem a causar um dano ao
paciente.
Portanto, de acordo com as análises realizadas, entende-se que é
indispensável a preservação da vida do paciente, assim, agir de forma precipitada
ou destemida, sem a devida ponderação das consequências do ato que está sendo
praticado diante uma vida humana, de fato não é o papel de um médico mediano, o
qual deve possuir o dever de zelo, cuidado, atenção e de extrema responsabilidade
perante a vida que está em suas mãos.

2.3.2 Responsabilização Penal por Erro Médico Doloso

A responsabilidade penal por erro médico doloso, na forma de dolo eventual,


é algo extremamente complexo e que exige um maior e mais profundo estudo sobre
o assunto, a fim de entender se realmente pode se aplicar essa responsabilidade
sobre o profissional no exercício da prática médica, visto que o dolo eventual,
embora possua suas características únicas, é muito semelhante com a culpa
consciente.
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Tendo em vista a grande dificuldade em imaginar que um médico, no


exercício de sua profissão, por conta de sua vasta qualificação, exercendo uma
atividade que pode ser compreendida como atividade de risco, possua consigo a
consciência e vontade de lesionar o seu paciente, o paciente em que lhe deu
confiança diante da relação médico-paciente. Pode-se dizer que seria hediondo
pensar em um profissional que mesmo depois de toda sua dedicação, todo o seu
conhecimento, toda a sua experiência em concluir e praticar a tão honrosa medicina
e cuidar do bem jurídico mais importante, a vida humana, pratica tal ato.
Entretanto, para um maior entendimento acerca da responsabilização do
médico, devemos discorrer acerca do dolo eventual e da culpa consciente no erro
médico decorrente das falhas pessoais. Existe uma grande discussão doutrinária a
respeito da questão de responsabilização por dolo ou não do médico, visto que o
entendimento majoritário é que tal conduta somente se enquadra em crime culposo,
decorrente de imprudência, negligência ou imperícia. Porém, alguns outros
doutrinadores acreditam que existe sim o dolo eventual na atividade exercida pelo
médico, de forma que venham a ocasionar a lesão corporal e até a morte do
paciente.
A análise do enquadramento do tipo penal se dará apenas com uma busca
detalhada do caso concreto, analisando as provas de existência do fato e as
evidências de autoria do erro médico, demonstrando o nexo causal entre a conduta
praticada pelo profissional e o dano causado no paciente. Por isso, é de suma
importância que o prontuário médico se resuma em documento essencial para a
defesa de eventuais resultados em sede de ação penal, possuindo detalhadamente
todas as informações de procedimentos realizados pelo médico.
É correto afirmar que diante da seara médico-paciente, o médico atua
procurando as melhores soluções científicas vigentes, válidas e inovadoras, na
busca da cura da doença e de tratamento de doenças, cabendo ao profissional agir
com ética diante de todos os recursos que se encontram disponíveis e possíveis
para o seu uso. Agindo dessa forma, o profissional estará observando os princípios
que norteiam a atividade médica e também atuando dentro da licitude jurídica,
exercitando a medicina de forma regular com o direito que lhe foi conferido pelo
Conselho Federal de Medicina.
Por se tratar de uma atividade essencial para a vida humana, a medicina está
exposta às mais diversas falhas dos médicos, como lesões corporais, deformidades
15

e até mesmo a morte. Esta é uma análise muito difícil de ser feita, sobre a
responsabilização, visto que não envolve apenas o médico, envolve também o
paciente e seus familiares. Além da dificuldade na realização de provas, pela
chamada “máfia de branco”, em razão do corporativismo entre os profissionais da
área médica.
Não se tratando dos acidentes imprevisíveis e resultados incontroláveis, os
crimes decorrentes de erro médico podem ser na modalidade culposa ou dolosa,
ensejando uma responsabilidade penal. Ainda, existem alguns crimes próprios do
profissional médico tipificados no Código Penal, entretanto, não são objeto do
presente estudo. São denominados desta forma por conta da definição que a própria
lei trouxe para esta categoria profissional, como é o caso da violação do segredo
profissional, crime de falsidade de atestado médico e o exercício ilegal da medicina.
Conforme já foi exposto, a atividade médica que provoca um mau resultado
ao paciente, no exercício legal da medicina, e que atinja um bem jurídico-
penalmente tutelado, torna-se um ilícito penal, determinante de uma coação pessoal.
O grau de coação deverá ser determinado de acordo com o tipo penal que ensejou a
responsabilidade criminal pelo exercício da profissão de forma diversa da esperada
pelo paciente, e até mesmo pelo médico, visto que os crimes dolosos possuem
penas muito mais ofensivas e rigorosas do que os crimes culposos.
O certo é que quando o médico escolheu a profissão da medicina, cursou
anos de estudos para a preparação efetiva da prática da medicina e fez o registro no
respectivo Conselho de Medicina. Ele possui a consciência de que os resultados
indesejáveis podem acontecer se não agir com a devida cautela, diligência e
prudência que a profissão exige. Assim, se o profissional não se comportar de tal
maneira, é claro que resultados diversos do pretendido poderão ocasionar lesões e
a morte do paciente. O médico estará assumindo o risco de errar ao tratar das vidas
humanas, ensejando uma responsabilidade penal a título de culpa, mas podendo ser
perfeitamente configurável tal prática na modalidade dolo eventual (PARENTONI,
2012).
Ainda, Roberto Parentoni:

Podemos dizer até que o dolo é inerente à esta profissão, pois ao realizar
uma cirurgia, por exemplo, um corte em local errado, uma veia ou uma
artéria lesada, um procedimento inadequado pode levar o médico ao
resultado negativo. Ele paga o preço por desempenhar sua tarefa,
assumindo o risco de produzir um resultado negativo que ele não deseja,
16

mas que é perfeitamente possível de acontecer, e que é de seu


conhecimento.

Diante da distinção entre o dolo eventual e a culpa consciente, Antonio


Evaristo de Moraes Filho (1996, p. 290) ressalta que o delito que é cometido pelo
profissional médico durante sua profissão, na maioria das vezes está inserido em
torno de problemas envolvendo erros culposos, mas, que não se pode descartar a
hipótese de uma responsabilização decorrente de erros culposos, devendo-se
avaliar cada caso concreto minuciosamente.
Cezar Roberto Bitencourt (2009, p.382) traz ainda:

Há culpa consciente, também chamada culpa com previsão, quando o


agente conhece a perigosidade da sua conduta, representa a produção do
resultado típico como possível (previsibilidade), mas age deixando de
observar a diligência a que estava obrigado, porque confia convictamente
que ele não ocorrerá. Quando o agente, embora prevendo o resultado,
espera sinceramente que este não se verifique, estar-se-á diante da culpa
consciente e não de dolo eventual.

Nesse conceito, podemos notar que, na culpa consciente, o médico, embora


pudesse prever o resultado danoso de seu paciente, não o aceito como possível,
acredita fielmente de que não irá acontecer e, no dolo eventual, o médico prevê o
resultado danoso, e pratica a conduta não se importando se o resultado ocorreria ou
não.
Maria Helena Diniz (2011, p.740), em sua obra, não faz menção da
possibilidade do erro doloso na atividade médica. Ela descarta esta possibilidade e
somente aborda as condutas que são decorrentes de imperícia, imprudência ou
negligência ou condutas decorrentes de falhas técnicas resultem em erro médico.
Já o entendimento de Antônio Aurélio Santos (2003, p. 61-62) se dá no
sentido de que a responsabilidade penal do médico decorre de condutas praticadas
com culpa. Para ele, o erro poderia e conseguiria ser evitado se o médico agisse
com o dever de cuidado necessário, e não menciona a possibilidade de dolo
eventual. Ainda, ele traz que os erros médicos podem ser por uma administração
errada de medicamentos, uso indevido de fórceps em partos, dentre outros motivos.
Pois bem, se um médico, durante o exercício de sua profissão, comete um
erro médico que ocasione lesões corporais ou até mesmo a morte de seu paciente,
em um primeiro momento não importa se foi de forma proposital ou não, ele estará
cometendo um crime, o qual poderá ser configurado também como dolo eventual.
17

Pode-se notar que, se um médico for condenado por homicídio culposo, sua
pena será de detenção de um a três anos que, ainda, poderá ser aumentada em 1/3,
conforme prevê o § 4° do artigo 121 do Código Penal, “no homicídio culposo, a pena
é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica
de profissão”. Por outro lado, se o médico for condenado por homicídio doloso, na
modalidade de dolo eventual, sua pena seria de reclusão de seis a vinte anos.
Verifica-se que a pena é muito maior para os crimes dolosos. Porém, verificamos
que na maioria das decisões judiciais, após a efetiva condenação do médico em
processos movidos pelo Ministério Público, pacientes ou seus familiares, as penas
são mais moderadas, decorrentes de crimes culposos.
Ao analisar algumas das decisões dos tribunais, nota-se que o entendido no
sentido de que o erro médico está relacionado, em sua grande maioria das vezes, à
condutas culposas. Muitas das decisões inadmitem que um profissional que tenha
se empenhado tão arduamente e durante tantos anos para o aperfeiçoamento e
exercício de sua profissão, venha a desempenhar condutas tão desumanas e
repugnantes no intuito de não se preocupar com o resultado danoso da vida do
paciente.
Analisando as vastas ações a respeito de erros médicos, verifica-se que, em
grande maioria, a responsabilização imputada ao profissional médico se dá em
caráter culposo, afirmando os julgadores que, na maior parte das vezes, as condutas
dos profissionais são negligentes frente aos seus pacientes. Não se poderia falar em
dolo eventual em tais situações, pois os profissionais médicos, apesar de assumirem
o risco de tais resultados, não consentiam com eles.
Ainda, a maioria dos doutrinadores entende que o erro médico decorre da
culpa do próprio profissional. Por isso, é importante apontar algumas das decisões já
realizadas pelos tribunais acerca do erro médico e sua responsabilização por culpa.

APELAÇÃO CRIME. HOMICÍDIO CULPOSO. ERRO MÉDICO.


CONDENAÇÃO MANTIDA. O acervo probatório confortou a narrativa da
denúncia, uma vez que a negligência e imprudência médica consistiram,
inicialmente, em não prever o que era previsível se adequado fosse o
atendimento, liberando ou dando alta a uma criança de um ano e um mês
de idade que sofrera uma queda de mais de dois metros de altura, vindo a
bater a cabeça contra o solo, máxime em paciente que, pela idade, ainda
não tinha as suturas cranianas bem formadas. Em um segundo momento,
o réu agiu culposamente por haver sido comunicado pela enfermeira, que
a criança havia retornado ao hospital, no final da manhã, em estado grave,
e o acusado haver comparecido para atendimento somente à noite. O
depoimento prestado pelo médico que recebeu a criança no serviço de
18

plantão, desacordada, com edema de face acentuado, indagando as


razões por que dita criança não lhe havia sido encaminhada antes, bem
como o depoimento prestado por outro médico quando esclarece que não
se tratava de uma queda corriqueira e normal, motivo por que tratou de
encaminhar a vítima ao médico especialista, no caso, o réu, demonstram o
seu agir culposo. Além disso, há relato nos autos também de profissional
da medicina, indicando a obrigatoriedade da investigação tomográfica nas
hipóteses de traumatismo craniano.Não é possível, da mesma forma, o
afastamento da causa especial de aumento de pena, prevista no § 4º do
art. 121 do Código Penal, sob o argumento de que não há previsão pelo
Conselho Federal de Medicina, de regra técnica quanto à providência
médica, que depende de caso a caso. Ora, o Conselho trazido à colação
não dispõe de autoridade para legislar ou criar regras de atendimentos a
pacientes. E, como afirma a própria Defesa, a adequação do atendimento
há de variar de caso para caso. Assim, a adequação do atendimento irá
exigir do profissional da medicina a necessária dedicação e aplicação de
seus conhecimentos técnicos, justamente o que não foi observado pelo
réu no caso concreto. Daí por que incide na espécie o disposto no § 4º do
art. 121 do CP. APELAÇÃO IMPROVIDA. (TJ-RS - ACR: 70065191827
RS, Relator: Victor Luiz Barcellos Lima, Data de Julgamento: 10/09/2015,
Segunda Câmara Criminal, Data de Publicação: 23/09/2015) (JUSBRASIL,
2015)

EMBARGOS - HOMICÍDIO CULPOSO QUALIFICADO POR


INOBSERVÂNCIA DE REGRA TÉCNICA DE PROFISSÃO, ARTE OU
OFÍCIO - RESPONSABILIDADE PENAL DO MÉDICO - NEGLIGÊNCIA -
INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA. 1. 2º Tenente Médico que realiza cirurgia
no joelho direito da vítima e esquece faixa de Esmarch. 2. Resultado
morte decorrente de violação de dever de cuidado. 3. Concurso de
concausas supervenientes que não tem o condão de interromper o nexo
causal entre a negligência do médico e a morte do paciente. 4.
Imprescindível ficar demonstrada a conduta principal, que violou o dever
de cuidado, e a descrição fática que implique inobservância da regra
técnica, sob pena de se incorrer em "bis in idem", quando da aplicação do
§ 1º do artigo 206 do Código Penal Militar. 5. A inobservância do critério
trifásico de individualização da pena constitui cerceamento de defesa e
fere o dever de fundamentação das decisões judiciais contido no artigo 93,
inciso IX, da Constituição Federal e tem como sanção a nulidade que pode
ser suprida pela redução da pena ao seu mínimo legal. 6. Acolhimento dos
embargos, por maioria, para cassar o Acórdão recorrido e aplicar a pena
mínima ao embargante. (STM - Embfo: 50310 RJ 2007.01.050310-6,
Relator: FLAVIO FLORES DA CUNHA BIERRENBACH, Data de
Julgamento: 18/12/2007, Data de Publicação: Data da Publicação:
26/05/2008 Vol: Veículo:) (JUSBRASIL, 2007)

Deve-se dar maior ênfase à decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do


Sul, referente à negligência, à imprudência médica, ainda com a devida atenção que
o médico, réu do referido caso, deveria ter tomado frente a todos os fatos e não
apenas seguir com o protocolo clínico do hospital, o que ocasionou a conduta
penalmente reprovável e relevante conforme trecho abaixo:

[...] A questão fundamental a ser levada em consideração é a de que o


menino KAUÃ havia sofrido uma queda do piso de uma varanda localizada
a dois metros e seis centímetros do chão composto por lajotas, como se
19

pode ver do levantamento fotográfico realizado e inserto nos autos,


batendo com a cabeça no solo. Fato reconhecidamente grave e incomum
registrado no nosocômio local e que, em razão disso, não recomendava
simples exame clínico e paracetamol, dez gotas, de seis em seis horas.
De acordo com a realidade dos fatos, a vítima, quando encaminhada ao
atendimento médico, logo depois da queda, já apresentava lesão capaz de
produzir-lhe a morte, e que não foi devidamente detectada, o que era
possível através de equipamentos médicos mais sofisticados, como é o
caso específico do exame de tomografia computadorizada.
A negligência e imprudência médica consistiram, inicialmente, em
não prever o que era previsível se adequado fosse o atendimento,
liberando ou dando alta a uma criança de um ano e um mês de idade que
sofrera uma queda de mais de dois metros de altura, vindo a bater a
cabeça contra o solo, máxime em paciente que, pela idade, ainda não
tinha as suturas cranianas bem formadas. Em um segundo momento, o
réu agiu culposamente por haver sido comunicado pela enfermeira
MICHELE DE MARCO, que a criança havia retornado ao hospital, no final
da manhã, em estado grave, e o acusado haver comparecido para
atendimento somente à noite. (JUSBRASIL, 2015)

Entretanto, apesar de verificar que a maioria das decisões dos tribunais e


grande parte da doutrina acreditam apenas na modalidade de responsabilidade
penal por erro culposo do profissional médico, alguns julgadores brasileiros
acreditam e aplicam essa decisão de que é sim possível a responsabilização por
erro doloso, na modalidade de dolo eventual, para o profissional médico que venha a
cometer erros durante a sua atuação na profissão, in verbis:

APELAÇÃO CRIMINAL. LESÕES CORPORAIS GRAVES. ERRO


MÉDICO. DOLO EVENTUAL COMPROVADO. CONDENAÇÃO
IMPOSITIVA. 1) Assumindo o acusado o risco de produzir o resultado,
resta configurada a essência do dolo na sua modalidade eventual,
impondo a reforma da sentença absolutória. 2) Recurso conhecido e
provido. (TJ-GO - APR: 01192365420068090051 GOIANIA, Relator:
DR(A). LILIA MONICA C.B.ESCHER, Data de Julgamento: 23/04/2013, 2A
CAMARA CRIMINAL, Data de Publicação: DJ 1295 de 03/05/2013)
(JUSBRASIL, 2013)

Tribunal do Júri de Ananindeua condenou o médico Gercino Corrêa da


Costa a 10 anos de prisão, inicialmente em regime fechado, pelo homicídio
de Margarida Silva Ferreira. O júri reconheceu o dolo eventual, ou seja, que
o médico assumiu o risco de produzir o resultado. A vítima faleceu em
outubro de 2010 após procedimento cirúrgico realizado pelo médico. (TJPA,
2019)

Diante de todo o exposto, não se pode deixar de pontuar que muitos erros
médicos, atualmente, decorrem da inversão da relação médico-paciente, a falta de
proximidade do médico para o seu paciente, tendo em vista o grande número de
atendimento que esses profissionais realizam por dia, a sobrecarga dos médicos em
alguns hospitais pelas faltas de funcionários, os inúmeros plantões para buscar as
20

melhores remunerações, os protocolos de atendimentos pré-estabelecidos pelos


estabelecimentos para a maior agilidade e a falta de recursos. Porém, necessitam
de descanso por serem humanos, devendo ser a conduta realizada por eles limitada
e controlada.
Pensar na responsabilização por dolo eventual no erro médico, no exercício
de sua profissão, pode ser um pouco assustador, tanto para o paciente, para os
julgadores e até mesmo para os próprios médicos. É certo que sempre para que
essa responsabilização seja posta, deve-se analisar a culpa consciente, visto os
pequenos detalhes desta diferenciação. A busca para essa diferenciação deve
ocorrer pelo meio de provas, sejam periciais, documentais, testemunhais ou até
mesmo a confissão. Existe uma grande dificuldade probatória frente a esses
processos, visto eles serem extremamente delicados, já que em muitos casos o
paciente não se encontra presente e surge a questão do corporativismo onde a
maioria dos profissionais realizaram seus laudos e pareceres em favor do médico.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer deste artigo, buscou-se demonstrar a responsabilização penal do


médico por condutas contrárias ao que determina o Código de Ética Médica e, mais
precisamente, o ordenamento jurídico brasileiro nos denominados crimes contra a
vida.
O erro médico, causado pelo exercício da prática médica, trata-se de um tema
de importante interesse social, que caberia uma vasta e diferenciada abordagem,
porém, que focamos na responsabilização penal e a possibilidade da imputação de
penas mais graves por erros dolosos, em caso de dolo eventual.
Na atualidade, mostra-se que frente ao erro médico o poder judiciário
brasileiro não pode deixar de aplicar as cabíveis sanções por condutas penalmente
condenáveis e relevantes. A responsabilização penal deve sempre estar presente
por conta da má prática da atividade médica, uma vez que diante da conduta, todas
as configurações dos elementos constitutivos do crime estão presentes para que o
julgamento na justiça criminal possa ocorrer.
O que se busca demonstrar neste artigo é justamente a possibilidade da
responsabilização do médico por conta dos erros causados durante o exercício da
21

sua profissão, não apenas de forma culposa, mas também de forma dolosa, na
modalidade de dolo eventual. Porém, visto a grande dificuldade em torno da
diferenciação do dolo eventual e da culpa consciente, a distinção pode ser
encontrada justamente na vontade relativa ao resultado do ilícito, visto que no dolo
eventual, o agente (médico), aceita a consequência do resultado de sua conduta e
continua a praticá-la.
A mais difícil questão para a imputação do dolo eventual é a produção de
provas, visto que as provas são periciais, documentais e testemunhais e talvez
ainda, a confissão, porém essa última é a que possui a maior dificuldade, visto que
muito dificilmente uma pessoa irá produzir provas contra si mesmo. O médico não irá
admitir que soubesse da possibilidade de causar a morte de um paciente e, mesmo
assim, agiu de maneira a concordar com essa possibilidade. As testemunhas, na
maioria das vezes, são os profissionais de categoria do médico, podendo deduzir
que eles não prestariam um depoimento a fim de prejudicar um colega de profissão.
O que mais se averiguou é a falta de uniformidade entre as decisões judiciais
e doutrinárias a respeito da responsabilização do erro médico doloso, na modalidade
de dolo eventual, na situação que o julgador ao se deparar com um caso desses,
deverá analisar de forma distinta e buscar a fundamentação de sua possível
responsabilização dolosa, de acordo com a ocorrência do efetivo dano causado no
paciente.
Assim, pode-se demonstrar a existência da possibilidade da conduta dolosa -
dolo eventual - realizada pelo profissional médico, conforme entendimento de
doutrinadores e julgadores. Concordando que o médico, um ser humano, dispõe da
possibilidade e da vontade de conduzir-se de forma dolosa no exercício de sua
profissão. E é justamente por isso que se deve entender que o juízo para a
responsabilização penal do médico não se pode limitar apenas a culpa, devendo
levar em consideração a possibilidade da existência do dolo eventual, para fins de
atribuições de penas mais duras e incisivas, pelo elemento da vontade.
De nada adiantaria este artigo, se não fosse para a efetiva demonstração de
que o dolo eventual pode sim estar presente nos erros médicos, o que possibilita a
implicação e condenações nos crimes dolosos contra a vida, sendo aplicadas pelos
legisladores penas mais quantitativas e mais rigorosas.

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