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1 INTRODUÇÃO
Deoclécio e Gertrudes querem muito ter filhos, mas temem que a criança venha a
nascer com uma doença genética muito comum na família de Gertrudes. Por isso, decidiram
se submeter a técnica da reprodução assistida, mediante FIV, solicitando um diagnóstico
genético pré-implantacional. A técnica foi aplicada e o diagnóstico feito, indicando a
inexistência nos embriões do fator genético que poderia levar àquela específica doença. O
casal optou pela implantação dos embriões e veio a ter um menino. Para sua surpresa, a
criança foi diagnosticada com a doença antes pesquisada, ficando evidenciada uma falha no
diagnóstico. Referida doença não retirava da criança possibilidade de viver por muitos anos,
mas ensejaria cuidados especiais e despesas com o que casal não tinha condições de arcar. O
casal ajuíza uma ação contra a clínica e o médico pleiteando danos morais e materiais. Dê o
seu parecer jurídico.
2 PARECER
Antes que tudo, para que seja possível a responsabilização dos agentes médico e
instituição de saúde (clínica/laboratório), faz-se necessário identificar corretamente quais são
os bens jurídicos merecedores de tutela e quais danos são passíveis de serem reparados e
compensados. Nesse sentido, é importante ressaltar que a situação lesiva hora analisada, não
se deu pelo nascimento de uma vida humana e tão pouco por ter a criança concebida alguma
doença. Igualmente importante é esclarecer que não é o médico ou a instituição de saúde
(clínica/laboratório) que deram causa à doença com a qual a criança nasceu. Esta doença
derivou de uma causa natural ou estranha à conduta dos agentes. Estes, mediante falha no
diagnóstico pré-implantacional, seja técnica ou informacional, apenas não informaram aos
genitores sobre sua existência. Se por um lado, não existe relação entre a conduta do
médico/instituição de saúde e a patologia com a qual a criança nasceu, por outro, é possível
verificar que existe nexo de causalidade entre a conduta do médico/instituição de saúde e a
perda da chance dos genitores de terem realizado o exercício do direito ao descarte ou
intervenção no embrião em busca da cura. A ilicitude do ato causador da perda de uma
chance, pode ser caracterizada pela violação ao direito de um resultado seguro na realização
de exames, direito à informação e direito à liberdade de autodeterminação (art. 5º, CF e art. 13
e 15 do Código Civil) e planejamento familiar (art. 226, §7º, CF), com diversas consequências
no plano patrimonial e extrapatrimonial da família, como demonstra Paula Moura Francesconi
de Lemos Pereira:
REFERÊNCIAS
TEPEDINO, Gustavo. Fundamentos de Direito Civil: Responsabilidade Civil. 2ª. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2021. 424 p. v. 4. ISBN 978-85-309-9244-6.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil. 16ª. ed.
São Paulo: Saraiva, 2021. 608 p. v. 4. ISBN 9786555590593.