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¹ Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; ² Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul; ¹-² Curso de Pós-Graduação em Clínica Médica, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
RESUMO: A sociedade evolui em seus ditames referentes aos direitos civis e políticos do cidadão, requerendo que o
exercício profissional seja fundamentado em uma maior consciência ética e numa abordagem centralizada nos direitos
de cidadania. Para isto é necessário compreender as diferenças existentes entre a Ètica, a Moral e o Direito. Na
atualidade faz-se necessário abordar o exercício profissional de nova forma – por meio de parâmetros bioéticos, que
buscam fundamentar e justificar as ações que solucionem conflitos entre o avanço do conhecimento biológico e os
valores humanos.
ABSTRACT: ETHICS AND LAWFUL FEATURE OF PHARMACY PRACTICE. Society envolves in its dictates concerning
civil and political rights of citizens, requiring that professional practice be substantiated in a major ethical conscience
and an approach centered on citizenship right. For this, it is necessary to understand the differences among ethics,
moral and the law. In the present is also necessary to approach the professional practice in a new manner – through
bioethics parameters, which search to prove and to justify the actions that solve conflicts between the progress of
biological knowledge and human values.
em seu quadro funcional, sendo esta também a O Art. 1545 do Código Civil determina a
Responsável Técnica pela Farmácia Hospitalar. As obrigação dos farmacêuticos em satisfazer o dano,
condições de preparo das soluções de NPT não sempre que da imprudência, negligência ou
atendiam as Boas Práticas Farmacêuticas, bem imperícia, em atos profissionais, resultar morte,
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como as soluções, muitas vezes, eram preparadas inabilitação de servir ou ferimento .
por uma auxiliar. Além disso, para os finais de
semana, as soluções eram preparadas na sexta- Já o Código Penal no Art. 18, inciso II,
feira e armazenadas sob refrigeração. Não havia estabelece como crime culposo, quando este
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estudos prévios de estabilidade. Questionada a ocorre por imprudência, negligência ou imperícia .
profissional, relata que estas eram as condições E é considerado agravo se o crime resulta de
que o Hospital lhe oferecia para trabalho e que inobservância de regra técnica de profissão, arte
havia procedido segundo estas condições. ou ofício,... (§ 4 do Art. 121 do Código Penal),
sendo a pena aumentada em um terço.
Os principais fatos deixam antever:
Outro agravante na presente situação, é a
1. preparo e armazenagem de soluções infratora também ser a Responsável Técnica pela
parenterais de grande volume sem as devidas farmácia hospitalar. Nesta responsabilidade está
condições técnicas; inclusa a supervisão e coordenação de todos os
2. delegação de atividade eminentemente serviços técnicos do estabelecimento que a ele
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técnica para outrem não qualificado; ficam subordinados hierarquicamente , portanto
3. óbito de 11 pacientes; inexiste, salvo melhor juízo, negligência do hospital
4. subordinação dos preceitos técnicos básicos quanto as atividades lá exercidas, visto haver
e essenciais ao desempenho profissional a contratado preposto com qualificações adequadas
interesses puramente comerciais. para as atividades prestadas.
Como acima especificado, o presente caso No que tange a abordagem bioética pode-
apresenta a possibilidade de uma abordagem em se analisar a presente situação sobre dois
três dimensões, quais sejam: a deontológica, a aspectos, o do responsável técnico e o do
judicial e a bioética. Na abordagem deontológica profissional que executou a ação.
tem-se o desrespeito frontal a vários incisos do
Código de Ética Farmacêutica³. O inciso I, art. 16 Um dos deveres prima facie de um
determina como vedado ao profissional responsável técnico, talvez o mais importante, é de
farmacêutico, a prática de atos profissionais que as atividades sob sua supervisão sejam
danosos ao usuário do serviço, que possam ser realizadas no interesse do paciente, ou seja,
caracterizados como imperícia, imprudência ou prover benefícios e/ou prevenir e remover o mal
negligência. No inciso III do mesmo artigo veda-se que pode colocar em risco o paciente. Ao deixar
a permissão da interferência de leigos no trabalho ocorrer atividades profissionais fora do que
ou decisões de natureza profissional. determinam as Boas Práticas Farmacêuticas a
Responsável Técnica não agiu no interesse do
Os procedimentos da profissional paciente. A atitude correta seria a remoção dos
caracterizam imprudência e negligência pacientes para outro hospital que tivesse
farmacêutica, pois a mesma agiu sem a cautela condições técnicas de realizar o procedimento
necessária - imprudência e ocorreu a falta de prescrito, ou a contratação de um serviço
observância aos deveres que as circunstâncias terceirizado para o fornecimento da NPT.
exigem - negligência. Quanto a ocorrência de
imperícia farmacêutica obsta que o farmacêutico A permissão para que um auxiliar realize
habilitado - profissional e legalmente - não pode ato para o qual não está habilitado, associado a
ser considerado imperito, visto considerar-se não existência de preparo formal de auxiliares de
imperícia a falta de habilidade no exercício de uma farmácia no Brasil, deve ser considerada como
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tarefa, ou a ausência de conhecimentos contrária ao Princípio da Não-Maleficência , pois
necessários para desempenhar uma atividade. deliberadamente ocorreram danos aos pacientes.
Da mesma forma, a profissional ao preparar as
Na dimensão jurídica ocorreu infração soluções constantes da prescrição médica, sem as
tanto a Portaria nº 272/1998 da Secretaria de devidas condições, transgrediu o Princípio da Não-
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Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde , Maleficência. Quanto ao auxiliar, questiona-se sua
quanto ao Código Civil e ao Penal. A Portaria nº capacidade para identificar que estava praticando
272/1998 determina os procedimentos básicos a um ato para o qual não possui habilitação. Caso
serem realizados para o cumprimento das Boas fosse determinado que o mesmo sabia que estava
Práticas de Preparação de Nutrição Parenteral, praticando um ato deliberado, também o mesmo
sendo que no caso em tela não foram observadas, estaria transgredindo o princípio em tela.
cabendo então a suspensão imediata das
atividades (Item 5.10.4.1), sem prejuízo das A alegação de que aquelas eram as
penalidades cíveis e criminais. condições de trabalho ofertadas, não diminui em
nada a responsabilidade da profissional. Os
interesses conflitantes que pode-se alegar, de
Caderno de Farmácia, v. 15, n. 1, p. 19-21, 1999. 21
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