Você está na página 1de 5

SP 1.4 - Será que eu posso?

Ética, bioética, sigilo e código de ética médica.

O texto disparador traz a história de Mariana, aluna do 1º ano de medicina, que estagiava na
Unidade de Saúde da Família "Ponte Alta", aos cuidados da preceptora Marcela. Atenderam uma
jovem de 13 anos. A menina buscava fazer um teste de gravidez pois estava com a menstruação
atrasada há três meses.

Questões
• O QUE É, COMO FUNCIONA O SIGILO MÉDICO-PACIENTE E QUAIS SÃO OS LIMITES?

O sigilo médico é a segurança das informações confidenciais do paciente. Quando um paciente


compartilha um segredo para o profissional da saúde, seja por conta do resultado de um exame
clínico, seja por sentir a necessidade de desabafar sobre a sua vida privada, ele acredita no princípio
inicial de que o médico vai manter sua responsabilidade de sigilo. O segredo profissional, portanto,
foi contemporaneamente associado ao princípio ético da autonomia. Como diz respeito aos dados
pessoais do paciente, somente ele pode decidir a quem informá-los. Médicos, enfermeiros,
psicólogos e demais profissionais são como receptáculos desses dados, por força da profissão. Logo,
o sigilo profissional é um direito do paciente, sendo um dever do médico mantê-lo. Ele não deixa de
ser também um mecanismo de proteção. O segredo médico é a garantia de que todas as
informações fornecidas durante um atendimento, medicação ou qualquer outra situação particular
serão usadas apenas para o próprio tratamento do indivíduo. Somente a pessoa em questão é quem
deve ter a total liberdade para confidenciar esses dados para quem desejar. Imagine, por exemplo,
que nem sempre uma pessoa que acabou de receber o diagnóstico de uma doença (grave ou não)
desejará compartilhar esses dados com outros indivíduos.
Por ser um assunto de extrema importância, o sigilo médico não é tratado apenas pelo Código de
Ética Profissional, mas também pelo Código Penal Brasileiro e recordado no Juramento de
Hipócrates — que todo formando faz durante a cerimônia de diplomação. No capítulo IX, o tema é
tratado no Código de Ética Médica, que impede que o médico revele qualquer fato a que ele teve
acesso em virtude do exercício profissional, a não ser por causa justa, dever legal ou em casos em
que há o consentimento por escrito do paciente. No Código Penal, artigo 154, há a penalização com
detenção de três meses a 1 ano ou com multa para aquele que revelar, sem justa causa, assuntos
privados que tenham tido ciência devido o exercício da profissão ou ofício, caso a revelação
prejudique outra pessoa.
Há situações bastante específicas que permitem que o sigilo seja quebrado:
- Autorização expressa do paciente ou de seus responsáveis legais.
- Notificação compulsória de determinadas doenças transmissíveis.
- Suspeita de abuso a idosos ou ao cônjuge.
- Suspeita de abuso ou agressão infantil;
- Suspeita de que o ferimento foi causado por ato criminoso;
- Abortos criminosos;
- Ocorrência de ferimentos por arma de fogo ou similares.
• A DIFERENÇA ENTRE O CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA, CÓDIGO DE BIOÉTICA E O CÓDIGO DO
ESTUDANTE DE MEDICINA.

A Ética Médica diz respeito aos aspectos comportamentais que um médico deve adotar no exercício
de sua profissão. Ao passo que traz elementos normativos, regulando as condutas, prescrevendo
possíveis sanções – penalidades – para o descumprimento destas, a Ética Médica também tem uma
perspectiva principiológica, que exige do profissional da medicina uma visão humanística das
relações que estabelece com seus pacientes, familiares dos pacientes e até mesmo colegas de
profissão. Na prática, reflete-se como o dever de máximo respeito ao paciente e ao exercício da
medicina.

A Bioética é um ramo da ética que estuda os conflitos, controvérsias, pesquisas e práticas que visam
esclarecer e resolver questões éticas dentro da medicina e da biologia. O seu surgimento foi baseado
no impacto, por exemplo, das experiências feitas em seres humanos e animais e a utilização de
técnicas desumanas como a clonagem. O termo foi utilizado pela primeira vez na década de 70 pelo
professor e pesquisador norte-americano Van Rensselaer Potter, no livro “Bioética: Ponte para o
Futuro”, e significava a conduta da sociedade como participante da evolução cultural e biológica.
Hoje, esse conceito é bem diferente. Esse tema ganhou maior destaque quando os cientistas
decifraram o código genético humano, considerando a responsabilidade dos cientistas com relação
as suas pesquisas e práticas. Os temas mais polêmicos dentro dessa área são a eutanásia, os testes
em animais, o aborto, a fertilização in vitro e a clonagem.
Esses temas surgem devido aos avanços da ciência e é papel da sociedade ter uma posição sobre
eles, pois a partir desses debates, novos projetos de lei são reformulados e aprovados, devendo os
legisladores observarem sempre a bioética. Esses experimentos e descobertas podem beneficiar ou
não a sociedade e o planeta, e por isso, essas questões devem ser avaliadas por um comitê que
analise as desvantagens e vantagens da utilização dessa nova tecnologia. O comitê é formado por
profissionais de diversas áreas como direito, filosofia, teologia, medicina, veterinária, sociologia, etc.
Cinco princípios da Bioética:
 Princípio da Beneficência: consiste em assegurar o bem-estar dos indivíduos, a fim de evitar
danos e garantindo que sejam supridas suas necessidades e interesses.
 Princípio da Autonomia: o profissional deve respeitar as crenças, a vontade e valores morais
do sujeito e do paciente.
 Princípio da Justiça: igualdade da repartição dos benefícios e bens em qualquer área da
ciência.
 Princípio da Não Maleficência: assegura a possibilidade mínima ou inexistente de danos
físicos aos sujeitos da pesquisa (pacientes) de ordem psíquica, moral, intelectual, espiritual,
cultural e social.
 Princípio da Proporcionalidade: defende o equilíbrio entre os benefícios e os riscos, sendo
maior benefício às pessoas. O objetivo de estudo da bioética é a criação de uma ponte entre
o conhecimento científico e humanístico, a fim de evitar os impactos negativos sobre a vida.

CÓDIGO DE ÉTICA DO ESTUDANTE DE MEDICINA:


Apesar de os estudantes ainda não poderem ser alcançados pelo Código de ética médica, o Conselho
Federal de Medicina (CFM) e as entidades estudantis vinculadas ao ensino nessa área do
conhecimento entenderam ser oportuno elaborar uma carta de princípios universais, aplicáveis a
todos os contextos, para estimular o desenvolvimento de uma consciência individual e coletiva
propícia ao fortalecimento de uma postura honesta, responsável, competente e ética, resultando na
formação de um futuro médico mais atento a esses princípios básicos para a atividade profissional e
a vida em sociedade. Para tanto, o CFM criou a Comissão para elaboração do Código de ética do
estudante de medicina, em 25 de fevereiro de 2016. O grupo, composto por representantes de
diferentes organizações, se debruçou sobre esse desafio por quase dois anos, entregando ao final o
documento ora apresentado, o qual deve ser divulgado e adotado como orientador para a vida dos
alunos inscritos nas escolas médicas. No processo, médicos, professores e estudantes de medicina
do País, juntos, tiveram a oportunidade de participar de um importante processo que contribuirá
para a consolidação de valores fundamentais durante a formação acadêmica dos futuros médicos no
Brasil. Assim, surge o Código de ética do estudante de medicina, formado por 45 artigos organizados
em seis diferentes eixos, os quais, de maneira didática e clara, ressaltam atitudes, práticas e
princípios morais e éticos que, se observados na rotina das escolas e das relações humanas por esses
jovens, causarão reflexos positivos no ambiente acadêmico e também na vida de todos, nas esferas
pessoal e profissional. O Conselho Federal de Medicina (CFM), com o apoio dos Conselhos Regionais
de Medicina (CRM) – como intermediadores e facilitadores desse processo –, procurou estimular as
reflexões e os diálogos necessários para a formatação desse documento, que representa um novo
marco para o sistema de ensino médico

• ATENDIMENTO A MENORES DE IDADE: EXISTE DIFERENÇA SUS X SETOR PRIVADO,


CUIDADOS, REGRAS E ÉTICA?

O Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) traz em seu artigo 2º, que se considera criança, a pessoa
até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
Posteriormente, em seu art. 11, o ECA dispõe ser assegurado o acesso integral às linhas de cuidado
voltadas à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde, observado
o princípio da equidade no acesso a ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da
saúde. Nesse sentido, para que se assegure o acesso integral a saúde de crianças e adolescentes, o
Conselho Federal de Medicina elaborou o Parecer nº 25/2013, considerando as seguintes situações
para o atendimento à criança e ao adolescente sem o acompanhamento de seu responsável legal:
1) Em caso de urgência/emergência o atendimento deve ser realizado, cuidando-se para garantir a
maior segurança possível ao paciente. Após esta etapa, comunicar-se com os responsáveis o mais
rápido possível;
2) Em pacientes pré-adolescentes, mas em condições de comparecimento espontâneo ao serviço, o
atendimento poderá ser efetuado e, simultaneamente, estabelecido contato com os responsáveis;
3) Com relação aos pacientes adolescentes há o consenso internacional, reconhecido pela lei
brasileira, de que entre os 12 e 18 anos estes já têm sua privacidade garantida, principalmente se
com mais de 14 anos e 11 meses, considerados maduros quanto ao entendimento e cumprimento
das orientações recebidas;
4) Na faixa de 12 a 14 anos e 11 meses o atendimento pode ser efetuado, devendo, se necessário,
comunicar os responsáveis.
Diante disso, seguindo orientação emanada pelo CFM, este departamento jurídico orienta que os
menores de 12 anos, estejam sempre acompanhados de seus genitores ou de seu responsável legal,
no período de atendimento e internação. A orientação justifica-se, tendo em vista a autonomia
limitada do menor, em sua capacidade de entendimento e na tomada de decisões, necessitando de
um responsável legal para responder por seus interesses. No caso de comparecimento sem
acompanhamento, e na ausência de posterior contato com familiares, deve o Conselho Tutelar ser
acionado. Os adolescentes, aqueles entre 12 anos completos e 18 anos, podem ser atendidos
sozinhos, caso desejem, se reconhecida sua autonomia e individualidade pelo profissional,
garantindo o direito ao sigilo das informações obtidas durante o atendimento, e resguardadas as
situações previstas em lei e aquelas que guardem risco de vida ao paciente, podendo com isso,
assinar a ficha de atendimento. É importante que o profissional avalie o desenvolvimento cognitivo
do adolescente, para decidir sobre a necessidade ou não dos pais ou responsáveis, durante a
realização de consultas. Para os casos de internação desses adolescentes, recomenda-se que em
todos os casos, estejam sempre acompanhados dos pais ou responsáveis legais, devendo os
responsáveis assinarem os documentos do prontuário

• EM QUAIS CASOS O ABORTO É PERMITIDO? COMO DAR ASSISTÊNCIA E ORIENTAÇÃO?

De acordo com o Código Penal Brasileiro, o aborto é considerado crime contra a vida humana,
prevendo detenção de 1 a 3 anos para a gestante que o provocar ou consentir que outro o
provoque. Já para quem provoca o aborto com o consentimento da gestante, a pena é de 1 a 4 anos;
para quem provoca sem o consentimento da gestante, é de 3 a 10 anos. Vários outros países não
enxergam a questão como o Brasil, ou o aborto é descriminalizado ou legalizado, como no caso da
Argentina, Chile e Colômbia. No Brasil, existe o chamado aborto legal, que são os casos nos quais
não é qualificado como crime.
– Quando há risco de vida para a mulher causado pela gravidez.
– Quando a gravidez é resultante de um estupro.
– Se o feto for anencefálico (má formação cerebral do feto).

• POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NA ADOLESCÊNCIA (CONSELHO TUTELAR E ASSISTÊNCIA


SOCIAL).

A juventude, especialmente nos últimos dez anos, tem sido destinatária de diversas políticas
públicas, especialmente no que diz respeito à proteção social, à inserção profissional, ao combate à
violência e à participação cidadã. Essas políticas, antes fragmentadas e sem continuidade, hoje vêm
sendo costuradas e consolidadas de maneira firme, à medida que o segmento jovem ocupa cada vez
mais lugar na agenda pública do Brasil. Para que pudéssemos institucionalizar e dar relevo ao tema
no âmbito governamental, criamos em 2005 a Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) e o Conselho
Nacional de Juventude (Conjuve), com o principal objetivo de articular, formular e avaliar as ações
voltadas para os jovens. A ideia era que essas instâncias atuassem para promover o
desenvolvimento integral dos jovens, garantindo-lhes igualdade de acessos e oportunidades. De lá
para cá viemos desenvolvendo o esforço de construção de uma política nacional de juventude,
apoiando a execução e articulação de programas em diversas áreas do governo federal e
incentivando estados e municípios a criarem órgãos de gestão e conselhos de juventude e a
implementarem ações locais. Recentemente, em agosto de 2013, tivemos a satisfação de ver
sancionado o Estatuto da Juventude, fruto de quase dez anos de lutas e discussões do movimento
juvenil. Na ocasião, a presidenta Dilma Rousseff garantiu que a Lei (12.852/2013) seria utilizada para
assegurar o pleno exercício da cidadania para os jovens. Na prática, a sanção do Estatuto faz com
que os direitos já previstos em lei, como educação, trabalho, saúde e cultura, sejam aprofundados
para atender às necessidades específicas dos jovens, respeitando suas trajetórias e diversidades, ao
mesmo tempo em que assegura novos direitos, como o direito à participação social, ao território, à
livre orientação sexual e à sustentabilidade. Mas sabemos que não basta apenas criar leis, políticas
públicas e projetos. É preciso estabelecer mecanismos que assegurem sua implementação na ponta,
nos estados e municípios. Essa é a condição para que essas iniciativas se mantenham vivas, tenham
continuidade e possam ser aprimoradas. Nesse caminho, criamos o Plano Juventude Viva que, por
meio da integração de diferentes políticas públicas e forte parceria com estados e municípios,
pretende desconstruir a cultura da violência contra os jovens, especialmente contra a juventude
negra. A parceria entre governo e sociedade civil, particularmente os movimentos ligados à
juventude e à questão racial, também tem sido fundamental para o sucesso desse plano. O estímulo
à participação dos jovens também nos motivou a criar, em julho de 2013, o Participatório -
Observatório Participativo da Juventude. Além de favorecer debates e mobilizações, o ambiente –
que é virtual e interativo – também se propõe a divulgar conteúdos relacionados às políticas juvenis.
Com mais essa ferramenta, temos a oportunidade de ampliar o diálogo com a juventude brasileira.
Ainda no propósito de fazer de estados e municípios os protagonistas da concretização das políticas
públicas governamentais, lançamos também, como uma prioridade, o programa Estação Juventude,
composto por espaços que se propõem a oferecer informações sobre programas e ações para os
jovens, além de orientação, encaminhamento e apoio para que eles próprios tenham condição de
construir as suas trajetórias e buscar as melhores ferramentas para a sua formação. O interessante é
que cada Estação Juventude poderá somar as políticas públicas globais com a realidade e as
particularidades de cada local, incluindo iniciativas estaduais e municipais voltadas para os jovens.
Para nós, trata-se de uma estratégia que visa garantir, na prática, a autonomia e emancipação dos
jovens. É, também, mais uma forma que o Estado tem de reconhecer os direitos desse segmento. No
intuito de auxiliar a implantação do Estação Juventude, apresentamos este caderno de reflexões.
Trata-se de um conjunto de informações que dão um panorama das questões relativas à juventude e
ao desenvolvimento de políticas públicas para o segmento, desde sua contextualização histórica até
as demandas atuais, passando pelos principais desafios para a execução de políticas ancoradas no
território e visando a participação e a emancipação. Entendemos que quanto mais aprofundarmos e
difundirmos conhecimento, mais sucesso teremos em garantir que os jovens sejam plenamente
atendidos pelo poder público.

Você também pode gostar