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ERRO MÉDICO: UMA ANÁLISE DA RESPONSABILIDADE DO


PROFISSIONAL PERANTE O CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR.

Aluno: Kelvin Vinicius Pereira1


Orientador: Luiz Alcione Gonçalves2

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Erro médico, uma questão de saúde pública e de direito privado
3. De que forma pode ser usado o código de defesa do consumidor de 1990. 4.
Jurisprudências e o código penal aplicados ao erro médico. 5. Conclusão. 6. Referências.

RESUMO

Esta pesquisa visa contribuir para a emancipação dos pacientes, considerando as crescentes
demandas legais movidas por pacientes contra médicos, especialmente após a implementação
da Lei nº 8.078/90. A partir desse momento, os médicos passaram a ser reconhecidos como
prestadores de serviços, enquanto os pacientes foram caracterizados como consumidores. Além
disso, o estudo tem o objetivo de analisar a natureza da obrigação de meio, na qual o médico
assume o compromisso de conduzir adequadamente, aplicar as melhores técnicas disponíveis e
agir da melhor forma em favor do paciente, sem assumir a responsabilidade de garantir um
resultado específico. Isso contrasta com a obrigação de resultado, na qual, de acordo com a
jurisprudência consolidada, o médico assume o dever de alcançar um resultado desejado. Dessa
forma, quando o julgador determina a aplicação da legislação consumerista, na prática, não há
diferença substancial entre as duas obrigações. Nesse contexto, o médico é desafiado a
comprovar que agiu com prudência, diligência e perícia. Além disso, a pesquisa busca destacar
a responsabilidade civil dos médicos, explorando o aspecto subjetivo na avaliação de erros
médicos com base na doutrina e jurisprudência nacional. O propósito final é ampliar o debate
sobre esse tema significativo, abordando os fundamentos jurídicos relacionados ao surgimento
do dever de indenizar, especialmente quando associado à culpa no exercício profissional.

Palavras – chave: Direito Médico; Responsabilidade civil do médico. Consentimento livre e

1
Estudante de Direito do Centro Universitário Dom Pedro
2
Mestre em Direito Público pela Universidade Federal da Bahia - UFBA
2

esclarecido; Código de Defesa do Consumidor.


ABSTRACT

This research aims to contribute to the empowerment of patients, considering the increasing
legal demands brought by patients against doctors, especially after the implementation of Law
No. 8,078/90. From this point forward, doctors have been recognized as service providers,
while patients have been characterized as consumers. Additionally, the study aims to analyze
the nature of the obligation of means, in which the doctor commits to conduct themselves
appropriately, apply the best available techniques, and act in the best interest of the patient,
without assuming the responsibility to guarantee a specific result. This stands in contrast to the
obligation of results, in which, according to established jurisprudence, the doctor assumes the
duty to achieve a desired outcome. Thus, when the adjudicator determines the application of
consumer protection legislation, in practice, there is no substantial difference between the two
obligations. In this context, the doctor is challenged to prove that they acted with prudence,
diligence, and expertise. Furthermore, the research aims to highlight the civil responsibility of
doctors, exploring the subjective aspect in the assessment of medical errors based on national
doctrine and jurisprudence. The ultimate purpose is to broaden the discussion on this significant
topic, addressing the legal foundations related to the emergence of the duty to compensate,
especially when linked to professional negligence.

Keywords: Medical Law, Physician's Civil Liability, Informed Consent, Consumer Protection
Code.

1. INTRODUÇÃO

Este artigo trata-se de uma revisão narrativa da literatura que busca sintetizar e analisar
informações de diferentes estudos e fontes para obter uma compreensão abrangente de um
determinado tópico de pesquisa. Ao conduzir uma revisão narrativa, o pesquisador realiza uma
busca abrangente da literatura sobre o tópico de interesse, seleciona os estudos relevantes e, em
seguida, extrai e sintetiza as informações relevantes de cada estudo. Essas informações são
então organizadas e apresentadas em forma de narrativa, geralmente seguindo uma estrutura
lógica, mas sem a necessidade de uma análise estatística formal.
O trabalho médico é essencial para a sociedade, pois promove a saúde, diagnostica e
trata doenças, fornece cuidados de emergência, colabora em equipes de saúde, contribui para a
pesquisa médica e oferece apoio emocional aos pacientes. Os médicos desempenham um papel
crítico na manutenção e no aprimoramento do bem-estar e da qualidade de vida da população.
Quando se trata de erros médicos, precisamos entender que essa é uma ação que
qualquer equipe médica pode cometer, não é exclusivo de médicos, enfermeiros e anestesistas,
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até o próprio hospital pode cometê-los. Quando falamos de erros médicos, a ênfase recai sobre
os próprios médicos, onde serão identificados crimes específicos na forma de negligência,
imperícia ou imprudência.
Para caracterizar o erro do médico, é necessário o uso de provas orais e escritas para
aponta-lo, sendo a manifestação do conhecimento profissional muito importante. A
responsabilidade civil nos traz um conjunto de mecanismos normativos para determinar o que
é cabível em cada caso. No que se refere à responsabilidade penal, a conduta dos profissionais
deve ser investigada e ponderada quanto ao dano, materialidade, autoria e nexo causal.
Ao discutirmos o erro médico, enfatiza-se a responsabilidade do próprio médico, sendo
avaliada a culpa específica nas formas de negligência, imperícia ou imprudência. A
caracterização desse erro exige a identificação do equívoco, com base em provas que podem
ser tanto orais quanto documentais, sendo a perícia um elemento de grande importância nesse
processo. No contexto da responsabilidade civil, normas específicas determinam as
consequências para cada situação.
No âmbito da responsabilidade penal, a conduta do profissional deve ser investigada,
considerando-se elementos como dano, materialidade, autoria e causalidade. Apesar dos
avanços significativos da medicina, impulsionados pela tecnologia, é crucial reconhecer que os
médicos, assim como outros profissionais, estão suscetíveis a cometer erros. No caso de erros
médicos, essas falhas podem resultar em danos irreversíveis à vida ou à saúde de terceiros.
Com base no código de defesa do consumidor, o erro médico está tipificado na ação da
responsabilidade perante o Art. 14, § 4 (BRASIL, 1997) no qual deixa claro que a
responsabilidade do profissional liberal será apurada somente mediante culpa. Em linhas gerais,
a jurisprudência tem entendido que a responsabilidade civil médica estará sujeita às normas
consumeristas, e a esse respeito não faltam julgados. Para os que defendem esse entendimento,
essa interpretação é plausível porque os médicos atuam como profissionais autônomos, e o
próprio CDC, também a responsabilidade pessoal do profissional autônomo, será apurada pela
verificação de culpa. Portanto, de acordo com o CDC, os médicos responderão pelos danos que
causarem aos pacientes durante o tratamento médico.
Erros cometidos por profissionais médicos são pautados por diversos aspectos
decorrentes de negligência, ou por imprudência e imperícia, principalmente pelo descaso com
os pacientes, e por ainda serem considerados superiores, a punição nesta profissão nem sempre
acontece, quando ocorre, acaba sendo mais branda, sendo assim, é de fundamental importância
pesquisar sobre o tema, pois o erro médico pode vim ocorrer com qualquer um de nós.
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Torna-se explicito a problemática de que o médico pode ser enquadrado no Artigo 14


da Lei nº 8.078 de 11 de setembro de 1990, § 4º do Código de Defesa do Consumidor? Parte-
se do pressuposto que o direito do Consumidor, individualmente, não é suficiente para análise
de erros médicos e há casos que se enquadram na área cível e penal, podemos tratar dos erros,
os erros cognitivos ocorrem quando um médico toma uma decisão incorreta ou inadequada
devido a falhas nos processos de pensamento. Neste sentido, objetivou-se neste trabalho
analisar se individualmente o direito do consumidor é suficiente para o enquadramento de erros
médicos.
No direito privado, a responsabilidade civil é determinada por normas específicas,
exigindo a apresentação de provas, frequentemente por meio de perícia, para identificar e
atribuir a culpa ao profissional de saúde. Já na esfera da responsabilidade penal, a conduta do
profissional é avaliada em termos de dano, materialidade, autoria e causalidade. Mesmo diante
dos avanços tecnológicos na medicina, é crucial reconhecer a possibilidade de erro por parte
dos profissionais de saúde. Esses equívocos, quando ocorrem, podem resultar em danos
irreversíveis à vida ou saúde do paciente. A Organização Mundial da Saúde destaca que o
tratamento inadequado, resultados imprecisos e erros médicos representam obstáculos ao
progresso da medicina. Assim, a abordagem e correção dessas questões são fundamentais para
aprimorar continuamente a prática médica e promover a segurança do paciente.
No âmbito do Código Penal, as disposições relacionadas ao erro médico geralmente
estão vinculadas a questões de responsabilidade penal. A conduta do profissional de saúde é
avaliada à luz de elementos como dano, materialidade, autoria e causalidade. A relação entre
jurisprudências e o Código Penal no contexto do erro médico é de suma importância para a
análise legal e responsabilização dos profissionais de saúde. As decisões judiciais anteriores,
ou jurisprudências, estabelecem precedentes que podem influenciar casos semelhantes,
oferecendo diretrizes interpretativas. A jurisprudência, ao analisar casos anteriores de erro
médico, contribui para a interpretação e aplicação das leis. Ela auxilia os tribunais na definição
de padrões de conduta aceitáveis e na determinação de responsabilidades

2. ERRO MÉDICO: UMA QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA E DE DIREITO


PRIVADO

Desde tempos remotos, os seres humanos reconhecem a necessidade de regular as


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interações na sociedade, o que motiva a criação de normas para orientar a convivência e


estabelecer responsabilidades por eventuais danos causados por um indivíduo a outro.
O conceito de responsabilidade civil está intrinsecamente ligado ao conceito de ato
ilícito. A origem da responsabilidade civil reside no ato ilícito que resultou em dano, conforme
estipulado pelo artigo 186 do Código Civil Brasileiro de 2002:

"Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar um direito e causar dano a outrem, mesmo que exclusivamente moral, comete
um ato ilícito".

Na responsabilidade civil do médico há uma relação contratual entre o médico e o


paciente. Apresenta-se, dessa forma, como obrigação de meio, por não comportar o dever de
curar o paciente, mas de prestar-lhe cuidados, conforme os progressos da medicina. Nesse
sentido, Maria Helena Diniz (2005, p. 96) preceitua que:

Embora nosso Código Civil tenha regulado a responsabilidade médica no capítulo


atinente aos atos ilícitos, tal responsabilidade, a nosso ver, é contratual, disciplinado
pelo Código de Defesa do Consumidor. Realmente nítido é o caráter contratual do
exercício da medicina, pois apenas excepcionalmente terá natureza delitual, quando o
médico cometer um ilícito penal ou violar normas regulamentares da profissão.
Assim, se o médico operador for experiente e tiver usado os meios técnicos indicados,
não se explicando a origem da eventual sequela, não haverá obrigação por risco
profissional, pois os serviços médicos são, em regra, de meio e não de resultado. Se
nenhuma modalidade de culpa – negligencia, imprudência ou imperícia – ficar
demonstrada, não há risco profissional, independente de culpa, deixará de haver base
para fixação de responsabilidade civil, pois as correlações orgânicas ainda são pouco
conhecidas e surgem às vezes resultados inesperadose desconhecidos.
O médico, p. ex., responderá extracontratualmente quando: a) fornecer atestado falso;
b)consentir, podendo impedir, que pessoa não habilitada exerça a medicina) permitir
a circulação de obra por ele escrita com erros de revisão relativos a dosagem de
medicamentos, o que vem a ocasionar acidentes ou mortes; d) não ordenar a imediata
remoção do ferido para um hospital, sabendo que não será possível sua melhora nas
condições em que o cliente esta sendo tratado; e) operar sem estar habilitado para tal;
f)lançar mão de tratamento cientificamente condenado, causando deformação no
paciente.

E complementa a mesma autora Diniz (2005, p. 107):

Assim, sendo, se o paciente vier a falecer, sem que tenha havido negligencia,
imprudência ou imperícia na atividade do profissional da saúde, não haverá
inadimplemento contratual, pois o médico não assumiu o dever de curá-lo, mas de
tratá-lo adequadamente. É preciso lembrar que não haverá presunção de culpa para
haver condenação do médico; ele (CDC, art. 6º, VIII) é que deverá provar que não
houve inexecução culposa da sua obrigação profissional, demonstrando que o dano
não resultou de imperícia, negligencia ou imprudência sua. Tal prova poderá ser feita
por testemunhas, se não houver questão técnica a ser esclarecida, sendo necessário
que haja liame de causalidade entre o dano e a falta do médico de que resulta a
responsabilidade. Portanto, a responsabilidade civil dos médicos somente decorre de
culpa comprovada, constituindo uma espécie particular de culpa. Não resultando
provadas a imprudência ou imperícia ou negligência, nem o erro grosseiro, fica
afastada a responsabilidade dos doutores em medicina, em virtude mesmo da
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presunção de capacidade constituída pelo diploma obtido após asprovas


regulamentares.

Conforme estabelecido nos artigos 951 e seguintes do Código Civil (CC), a


responsabilidade civil também se aplica no caso de indenização devida por aqueles que, no
exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causem a morte
do paciente, agravem seu estado, provoquem lesões ou o incapacitem para o trabalho. Nesse
contexto, é requerida a apresentação de evidências que comprovem a culpa dos médicos, a fim
de configurar a responsabilidade civil. O artigo 927 do Código Civil estabelece claramente que
"aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo", sendo suficiente
a violação do direito para que a responsabilidade seja imposta, desde que sua responsabilidade
seja comprovada. Portanto, a responsabilidade civil surge com a violação direta ou indireta do
que foi acordado.
Para caracterizar o erro do profissional de medicina, é necessário apresentar uma prova
inequívoca de sua culpa, evidenciando que, se tivesse agido de maneira diferente, o erro que
resultou no dano não teria ocorrido. A comprovação de uma conduta inadequada que tenha
causado o dano é essencial para a configuração da responsabilidade civil. Essa situação é
frequentemente observada em casos nos quais um cirurgião plástico se compromete a atingir
um resultado específico desejado pelo paciente, o que representa um risco inerente à profissão.
É imperioso destacar que a responsabilidade civil preceituada nos arts. 186 e 187 do
Código Civil Brasileiro não se limitam apenas a danos de ordem material. O ordenamento
jurídico protege violações a intimidade da pessoa, vida privada, honra e imagem, bens jurídicos
tutelados pela Constituição Federal de 88, como dispõe o artigo 5º, inciso X:

Art. 5º, CF/88 – Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente
de sua violação.

Na definição de Simone Gomes Rodrigues Casoretti (2006, p.275):


O ato ilícito consiste conduta humana violadora do ordenamento jurídico, ou seja, é
um comportamento em desacordo com a ordem legal, ofensivo ao direito de outrem,
cujos efeitos jurídicos, impostos pela lei, consistem no dever de indenizar aquele que
suportou danos.

Ao examinar detalhadamente todos os elementos que fundamentam a responsabilidade


civil, é crucial destacar o elemento primordial delineado pelo artigo 186 do Código Civil de
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2002, a saber: a conduta.


A conduta humana constitui o primeiro fator que origina a responsabilidade civil,
podendo manifestar-se de forma comissiva ou omissiva. De acordo com a perspectiva de Silvio
Rodrigues (2007, p.15), a ação do agente que resulta em dano impõe a ele a obrigação de
reparação. Nesse sentido, pode-se concluir que a conduta humana refere-se ao comportamento
voluntário do indivíduo, sendo esse comportamento tanto positivo quanto negativo, que
eventualmente cause dano ou prejuízo. No entendimento de Maria Helena Diniz (2005, p. 43)
a conduta é:
A ação, elemento constitutivo da responsabilidade, vem a ser o ato humano, comissivo
ou omissivo, ilícito ou licito, voluntario e objetivamente imputável do próprio agente
ou de terceiro, ou o fato de animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem,
gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado.

É fundamental ressaltar que o elemento conduta é um conceito abrangente, do qual ação


e omissão são formas específicas. Pode-se caracterizar a conduta como comissiva quando se
manifesta por meio de um ato positivo, envolvendo a ação efetiva do indivíduo. Por outro lado,
a conduta omissiva ocorre por meio de uma ação negativa, de não fazer, resultando em um
evento danoso.
O direito médico é um elemento de ordem pública que se conecta à gestão da saúde
coletiva. Além disso, é importante e corretamente aplicado às relações privadas e contratuais.
É importante notar que a medicina é uma das áreas de maior preço e que sempre possui uma
posição de alta valorização em termos sociais. Ao tentar reconciliar a legislação e o ofício, o
direito surgiu como uma maneira de amenizar e prevenir as consequências desastrosas das
relações interpessoais, tornando-se uma ciência cada vez mais evidente em todos os polos de
trabalho. O médico é uma pessoa sumamente relevante e eminente, um exemplo de comparação
e empatia, porque é empregado na administração de cuidados de pessoas desconhecidas,
salvando vidas e restaurando a saúde, sem valorizar o indivíduo de cada um. Isso significa que
o médico, além de ser imparcial, deve considerar a vida humana como fator objetivo de peso
máximo e em posição ascendente de essencialidade.vida humana como fator objetivo de peso
máximo e em posição ascendente de essencialidade.
Um especialista em medicina precisa manter seu conhecimento atual e buscar táticas
mais atualizadas, aprimorando-se, apresentando-se em congressos, estudando e buscando
mecanismos de aproximação entre a cura e o surgimento das fatalidades biológicas. O trabalho
conjunto do advogado e do profissional da saúde, além do direito médico, tem o propósito de
garantir a cláusula de proteção ou , caso contrário , da não culpabilidade por evento dano
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(CARVALHO et al., 2006). É isso que estabelece um laço que estrutura a relação médico-
paciente, proporcionando segurança jurídica e atendendo à realidade de que tudo escrito em um
papel traz maior confiabilidade parambos as partes. O propósito de uma consultoria jurídica é
evitar uma ação judicial, não obstante a atuação repressiva do advogado, com o objetivo de
minimizar os contratos de trabalho , antes da assinatura de termos (como o de responsabilidade)
e outros documentos que tenham uma relevância com a área médica e pode ensejar uma ação
possível.
Erro médico é definido como uma falha na prestação de cuidados médicos que resulta
em danos ao paciente. Esse tipo de erro pode ser causado por uma variedade de fatores,
incluindo negligência, imprudência ou imperícia por parte do profissional de saúde, bem como
por falhas no sistema de saúde em que o paciente está sendo tratado (CAMPOS; SCAPIN,
2013). Causas comuns de erros médicos incluem diagnóstico incorreto, prescrição de
medicamentos errados, cirurgias mal executadas, falhas na comunicação entre profissionais de
saúde e falhas nos sistemas de monitoramento e controle de qualidade. Erros médicos podem
ter consequências graves, incluindo lesões permanentes, incapacidade ou até mesmo morte
(STOCO, 1999).
O erro médico é um erro que qualquer profissional de saúde pode cometer, por exemplo
enfermeiros, dentistas, clínicas, hospitais, veterinários, entre outros. Quanto ao termo “erro do
médico”, só pode ser cometido pelo próprio médico. A negligência médica é classificada como
qualquer deslize ou falha existente na prestação de serviços médicos. Estes incluem, mas não
estão limitados a, situações exorbitantes que levam ao uso inadequado de medicamentos pelos
profissionais de saúde, incidentes como erros técnicos durante procedimentos cirúrgicos ou
erros de diagnósticos
Para evitar erros médicos, os profissionais de saúde devem seguir as melhores práticas
de atendimento, manter-se atualizados com as últimas pesquisas e técnicas médicas, comunicar-
se efetivamente com seus pacientes e outros profissionais de saúde envolvidos no tratamento,
e estar sempre vigilantes para identificar e corrigir problemas antes que se tornem graves. Além
disso, os sistemas de saúde devem implementar protocolos de segurança rigorosos para
minimizar o risco de erros médicos e garantir a segurança do paciente (CAMPOS; SCAPIN,
2013).
Quando um erro médico ocorre e resulta em danos ao paciente, o paciente ou seus
familiares podem optar por entrar com uma ação judicial para buscar uma compensação pelos
danos sofridos. A ação pode ser movida contra o profissional de saúde ou a instituição de saúde
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em que o erro ocorreu. Para que o paciente tenha sucesso em uma ação judicial por erro médico,
é necessário provar que o profissional de saúde ou a instituição de saúde agiu com negligência,
imprudência ou imperícia na prestação dos cuidados médicos. Isso pode incluir a apresentação
de evidências que comprovem que o profissional de saúde não seguiu os protocolos de
tratamento adequados, não forneceu informações adequadas ao paciente sobre os riscos e
benefícios do tratamento ou prescrição de medicamentos, ou não tomou medidas para prevenir
o erro (CARVALHO et al., 2006).
O erro médico está intimamente relacionado ao direito privado, pois envolve a relação
entre o paciente (como consumidor) e o médico (como fornecedor de serviços de saúde).
Tratando de responsabilidade civil, O erro médico pode dar origem a uma ação de
responsabilidade civil, na qual o paciente busca a reparação pelos danos sofridos como
resultado do erro (CAMPOS; SCAPIN, 2013). A responsabilidade civil decorrente de erro
médico é baseada no princípio de reparação integral, ou seja, o médico pode ser
responsabilizado por ressarcir o paciente por danos físicos, emocionais, financeiros e morais
decorrentes do erro.
Do ponto de vista do direito privado, o erro médico pode gerar responsabilidades civil,
administrativa e penal. A responsabilidade civil do médico decorre do dano causado ao
paciente, podendo resultar em indenização por danos materiais, morais ou estéticos. A
responsabilidade administrativa do médico pode ser atribuída pelo Conselho Regional de
Medicina (CRM), que pode aplicar sanções, como advertência, censura, suspensão ou cassação
do registro profissional. A responsabilidade penal do médico pode ser atribuída pelo Ministério
Público, que pode denunciar o profissional ao Tribunal de Justiça, que poderá condenar o
médico a penas de prisão, multa ou interdição do exercício da profissão. É importante promover
uma cultura de segurança do paciente, que envolve a conscientização de todos os envolvidos
no processo de cuidado da saúde, incluindo pacientes, familiares, profissionais de saúde e
gestores.
A cultura de segurança do paciente é baseada na premissa de que erros são inevitáveis,
mas podem ser reduzidos por meio de ações preventivas. A adoção de medidas de segurança
do paciente é fundamental para garantir a qualidade do cuidado e a proteção da saúde da
população.
O consentimento informado é um elemento essencial na relação médico-paciente,
exigindo que o médico forneça informações adequadas e compreensíveis ao paciente sobre o
diagnóstico, o tratamento proposto, os riscos envolvidos, as alternativas disponíveis e os
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resultados esperados. Se um médico não fornecer as informações adequadas ou obter o


consentimento válido do paciente, isso pode resultar em uma violação do direito do paciente.
O Art. 15 da Lai n 10.406 deixa claro qu “ Ninguém pode ser constrangido a submeter-
se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica”, ou seja, com base no
referido artigo a informação de procedimentos médicos é indispensável, para que assim a
relação entre médico-paciente seja o mais transparente possível.
A análise da responsabilidade do profissional perante o Código de Defesa do
Consumidor (CDC) está intrinsicamente conectada à abordagem do erro médico como uma
questão de saúde pública e de direito privado. Ao considerar as disposições do CDC, que visam
proteger os consumidores, percebe-se que pacientes são equiparados a consumidores de
serviços de saúde. Nesse contexto, a complexidade do erro médico ganha destaque, pois vai
além da esfera individual do paciente para se tornar um problema de interesse público.
Diante disso depreende-se que a responsabilização do profissional de saúde, quando
necessário, não apenas busca reparar danos individuais, mas também promover a segurança e a
qualidade dos serviços de saúde para toda a sociedade, alinhando-se aos princípios de defesa
do consumidor previstos no código. Portanto, a interseção entre a responsabilidade profissional
e o CDC destaca a relevância de considerar não apenas o impacto singular do erro médico, mas
também suas implicações mais amplas no contexto social e jurídico.

3. A APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR DE 1990.

O artigo 14 do CDC trata da responsabilidade civil pelo fato de serviço, apresentando


em seu § 4º a culpa como requisito para a responsabilização dos profissionais liberais, no caso
em estudo, os médicos.
Para tratar desta matéria Rui Stoco (2011, p. 625) preceitua que:

(...) o legislador, ao dispor no artigo 14, § 4º, do CDC, que a responsabilidade pessoal
do profissional liberal é apurada mediante culpa e, ao mesmo tempo, no caput do
artigo 14, prever que o fornecedor de serviço responde independentemente da
existência de culpa, pela reparação dos danos causados, teve o propósito deliberado
de retirar da regência do Código os profissionais liberais.

Em relação à responsabilidade geral estabelecida pelo Código de Defesa do Consumidor


(CDC), a norma adotada é a responsabilização objetiva. Conforme essa abordagem, basta
comprovar a conduta, o dano e o nexo causal entre eles, dispensando assim a necessidade de
verificar a culpa. Esta diretriz é claramente expressa no texto do caput do artigo 12:
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O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador


respondem independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos
causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação,
construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de
seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
utilização e riscos.

Consolidando o entendimento mencionado anteriormente, o artigo 14 estabelece:

O fornecedor de serviços responde independentemente da existência de culpa, pela


reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativosà prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição
e riscos.

Dessa maneira, compreende-se que o Código de Defesa do Consumidor (CDC) adotou


a responsabilidade objetiva nas relações de consumo. O tipo de responsabilidade exerce
influência sobre o ônus da prova. Na responsabilidade objetiva, cabe à parte que alega indicar
a conduta, o resultado e o nexo causal, enquanto a outra parte é encarregada de comprovar que
não causou o dano. No entanto, há uma exceção a essa regra, conforme estabelecido no artigo
14, §4º do CDC, que determina que "a responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será
apurada mediante a verificação de culpa".
No Brasil, a ação judicial por erro médico é regida pelo Código de Defesa do
Consumidor (BRASIL, 1997) e pela Lei nº 13.987/2020 (BRASIL, 2020), que dispõe sobre o
uso da telemedicina durante a pandemia do COVID-19. O Código de Defesa do Consumidor
(CDC) é uma lei brasileira que estabelece as normas de proteção e defesa do consumidor em
relação a produtos e serviços, incluindo os serviços médicos. Dessa forma, quando um paciente
contrata um serviço médico, ele se enquadra como consumidor e detém direito à proteção
prevista pelo CDC.
O artigo 14, parágrafo 4º da Lei 8.078/90, trata da responsabilidade pessoal dos
profissionais liberais mediante a verificação de culpa. O profissional médico se enquadra em
tal dispositivo pois, sua responsabilidade é subjetiva. Por outro lado, o caput do mesmo artigo,
atribui aos fornecedores de serviços como hospitais, clínicas, casas de saúde e similares, a
responsabilidade objetiva, a qual independe da verificação da culpa. A política nacional das
relações de consumo é regulamentada pelo Código de Defesa do Consumidor, determinado as
ações para defendê-los. Tal política tem como objetivo o atendimento às necessidades dos
consumidores, o respeito, a dignidade, a saúde e segurança, a proteção de seus interesses
econômicos, a melhoria da qualidade de vida, bem como a transparência e equilíbrio das
relações de consumo, atendidos os princípios de vulnerabilidade e ação governamental no
sentido de proteger efetivamente o consumidor (CAMPOS; SCAPIN, 2013).
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O artigo 14, parágrafo 4º da Lei 8.078/90, aborda a responsabilidade pessoal dos


profissionais liberais mediante a verificação de culpa. Como já discutido, o profissional médico
está sujeito a esse dispositivo, uma vez que sua responsabilidade é subjetiva. Em contraste, o
caput do mesmo artigo estabelece a responsabilidade objetiva para fornecedores de serviços,
como hospitais, clínicas, casas de saúde, e entidades similares, independente da verificação da
culpa. Quanto ao ônus da prova, segundo o direito processual brasileiro, a regra é que o ônus
da prova recaia sobre quem alega. Portanto, normalmente seria responsabilidade do paciente
provar a culpa (BORGES; MOTTIN, 2015). No entanto, alguns estudiosos da doutrina
defendem a inversão do ônus da prova, argumentando que o paciente é frequentemente uma
pessoa com recursos limitados e menor nível de instrução em comparação ao médico.
A jurisprudência, em certos casos, tem inclinando-se para a inversão do ônus da prova,
em desacordo com o parágrafo 4º do artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor. Essa
inclinação é justificada pelo entendimento de que, em situações de vulnerabilidade do
consumidor, especialmente diante de profissionais de saúde, a inversão do ônus da prova é mais
justa e equitativa assim, em circunstâncias especiais, o juiz tem a prerrogativa de inverter o
ônus da prova, transferindo ao médico a responsabilidade de comprovar que agiu sem culpa.
Essa decisão se fundamenta na facilidade do profissional em produzir documentos como
prontuários e fichas de atendimento, bem como em demonstrar o uso de todas as técnicas
disponíveis e conhecimentos ao seu alcance. Ao paciente, por sua vez, resta o encargo de provar
o nexo causal e o dano. A alocação do ônus da prova é uma via para alcançar os objetivos do
processo, sendo atribuída à parte mais apta a oferecer a contribuição mais eficaz para a
persuasão do juiz
O erro médico é o vício na prestação de serviços devido à atuação do médico ou a
circunstâncias comuns que deveriam estar sob seu controle, tendo como consequências
jurídicas a culpa em uma de suas três modalidades e a obrigação de reparar o dano sempre que
possível, ou ao paciente. A obrigação de compensar os atos ilícitos praticados, uma vez que
todo dano material ou extrapatrimonial constitui ato ilícito e, portanto, tem cobertura jurídica
voltada à proteção dos direitos fundamentais dos consumidores. Todo erro médico abre
precedente para a aplicação das leis de defesa do consumidor, sendo impossível falar de um
assunto e silenciar outro. . O médico caminha ao lado do Código de Defesa de Consumidor na
relação contratual entre médico, o paciente é considerado consumidor.
O CDC prevê que, em casos de erro médico, o paciente pode buscar reparação pelos
danos sofridos, seja material ou moral. Além disso, o Código estabelece que é responsabilidade
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do prestador de serviços a garantia da segurança e qualidade dos serviços prestados. O artigo


14 do CDC dispõe que o prestador de serviços responde objetivamente pelos danos causados
aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços. Isso significa que, em caso de
erro médico, o paciente não precisa provar a culpa do profissional de saúde ou da instituição de
saúde para ser indenizado, bastando provar a existência do dano e do nexo de causalidade entre
o erro e o dano. É importante destacar que o CDC é uma ferramenta importante para garantir
os direitos dos pacientes em casos de erro médico, mas também é necessário que os
profissionais de saúde sigam as melhores práticas e adotem medidas preventivas para evitar
erros e danos aos pacientes (BRASIL, 1997).
Tanto o Código de Defesa do Consumidor quanto o Código Civil tratam da
responsabilidade civil em casos de erro médico, estabelecendo que o profissional de saúde ou
a instituição de saúde é responsável pelos danos causados ao paciente, desde que fique
comprovada a culpa do profissional ou instituição.
O Código de Defesa do Consumidor de 1990 desempenha um papel crucial na análise
da responsabilidade do profissional de saúde. Este instrumento legal estabelece diretrizes
específicas para a proteção dos direitos dos consumidores, e, no contexto da prestação de
serviços médicos, os pacientes são considerados consumidores. A relação entre a
responsabilidade do profissional e o Código de Defesa do Consumidor se destaca na medida
em que o CDC oferece ferramentas jurídicas para garantir a segurança e qualidade desses
serviços. Por meio do CDC, pacientes têm o respaldo legal para buscar reparação por danos
decorrentes de práticas inadequadas, negligência ou imperícia médica. Além disso, o código
estabelece a responsabilidade objetiva do fornecedor de serviços, incluindo profissionais de
saúde, quando há falhas na prestação do serviço.
Assim, a análise da responsabilidade do profissional de saúde à luz do Código de Defesa
do Consumidor não apenas protege os direitos individuais dos pacientes, mas também contribui
para a construção de um ambiente de saúde mais seguro e responsável.

4. JURISPRUDÊNCIAS E O CÓDIGO PENAL APLICADOS AO ERRO MÉDICO

O Código Penal brasileiro não trata especificamente do tema de erro médico, mas pode
haver situações em que o erro médico configura crime, como nos casos em que há dolo
(intenção) ou culpa grave (negligência, imprudência ou imperícia) por parte do profissional de
saúde (BRASIL, 1940). Casos em que o erro médico configura crime, podem ser aplicadas as
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penas previstas no Código Penal, que podem incluir detenção ou reclusão, além de multa. Um
exemplo de situação em que o erro médico pode configurar crime é o caso de um médico que
prescreve uma dose excessiva de medicamento sabendo que isso pode causar a morte do
paciente. Nesse caso, o médico pode ser acusado de homicídio doloso (com intenção de matar)
ou culposo (sem intenção, mas com culpa grave) e responder criminalmente pelo crime
(BRASIL, 1940).
O Código Penal é um conjunto abrangente de regulamentos que podem ser
implementados de forma rápida e eficaz quando se aborda a violação de normas que violam o
direito à vida e qualquer aspecto da esfera social, no que se refere às situações mencionadas no
seu âmbito. Por exemplo, um homicídio pode ter sua pena principal aplicada de forma universal,
sem diferenciação entre indivíduos. No entanto, uma avaliação individual pode ser necessária
na aplicação da pena secundária, o que envolve retirar a pena da mera abstração ao
estabelecimento. Esses artigos podem ter consequências diretas e indiretas nas quatro áreas:
administrativa, criminal, civil e ético-profissional, como demonstram os estudos realizados por
profissionais da área. Embora existam responsabilidades inter-relacionadas, elas existem
independentemente umas das outras. Esta autonomia pode levar a um resultado bem ou mal
sucedido, dependendo se beneficia ou prejudica o mesmo autor ou réu. Por exemplo, se o autor
A iniciar um processo criminal e civil contra o arguido B, é possível que o pedido seja aceito
no tribunal civil, mas rejeitado no tribunal criminal. Durante o processo do caso, o juiz avalia
cada caso separadamente, sendo possível que a decisão de um tribunal não se alinhe com a do
outro. Portanto, a pena atribuída num tribunal não tem necessariamente de ser consistente com
a decisão tomada no outro tribunal.
No entanto, é importante ressaltar que a grande maioria dos casos de erro médico não
configura crime, mas sim responsabilidade civil, ou seja, o profissional de saúde ou a instituição
de saúde podem ser responsabilizados pelos danos causados ao paciente e serem obrigados a
indenizá-lo pelos prejuízos sofridos. É fundamental que os profissionais de saúde sigam as
normas éticas e legais que regem a prática médica e adotem medidas preventivas para evitar
erros e danos aos pacientes, garantindo a segurança e a qualidade dos serviços de saúde
prestados.
A jurisprudência, ou seja, o conjunto de decisões dos tribunais, tem se debruçado sobre
diversos casos de erro médico e tem estabelecido critérios para avaliar a responsabilidade civil
dos profissionais de saúde ou instituições de saúde nos casos de erro médico. Uma linha da
jurisprudência brasileira em relação a erro médico é: O profissional de saúde ou instituição de
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saúde é responsável pelos danos causados ao paciente em decorrência de erro médico, desde
que haja nexo causal (relação de causa e efeito) entre o erro e o dano sofrido pelo paciente
(BORGES; MOTTIN, 2015).
Outras linhas apontam que a responsabilidade do profissional de saúde ou instituição de
saúde pode ser afastada se ficar comprovado que o dano foi causado por culpa exclusiva do
paciente ou de terceiros; A obrigação de indenizar é objetiva, ou seja, independe da
comprovação de culpa do profissional de saúde ou instituição de saúde nos casos em que a
atividade exercida envolve risco para a vida ou saúde das pessoas (GOMES; SÁ, 2017).
A indenização deve ser proporcional ao dano sofrido pelo paciente, levando em conta
aspectos como a extensão do dano, o tempo de duração da lesão, a idade do paciente. Cabe
destacar que cada caso de erro médico é avaliado de forma individual, levando em conta as
circunstâncias específicas envolvidas. Por isso, é importante buscar orientação jurídica para
avaliar a viabilidade de uma ação judicial e os direitos e possibilidades de indenização.
A responsabilidade profissional pode manifestar-se de diversas formas através das três
modalidades. Cada modalidade representa uma forma de infração penal merecedora de
culpabilidade, mas que permite uma interpretação mais branda quando o juiz determina as
penas cabíveis. Quando um médico é considerado negligente, significa que agiu de forma
descuidada e não cumpriu os procedimentos médicos descritos no Código de Ética Profissional.
A negligência implica sempre uma falta, como o incumprimento dos deveres e obrigações, o
que vai contra o juramento prestado para o exercício da medicina. Por exemplo, se um médico
abandonasse o seu paciente, isso seria considerado uma forma de negligência
A jurisprudência sobre erro médico no Brasil tem se desenvolvido ao longo dos anos,
tendo em vista a crescente demanda por reparação de danos decorrentes de condutas
negligentes, imprudentes ou imperitas por parte dos profissionais de saúde ou instituições de
saúde. Decisões do Poder Judiciário em casos de erro médico têm estabelecido critérios para a
responsabilização civil dos profissionais de saúde e instituições de saúde.
Entre os critérios estabelecidos, podemos destacar: A obrigação de prestar informações
claras e precisas ao paciente sobre as condições de seu tratamento, riscos envolvidos e possíveis
complicações; A necessidade de cumprimento das normas éticas e técnicas que regem a prática
médica (BORGES; MOTTIN, 2015).
Outro critério seria a existência de nexo causal entre a conduta do profissional de saúde
ou instituição de saúde e o dano causado ao paciente. Da mesma forma, ainda podemos citar a
avaliação do dano sofrido pelo paciente, levando em consideração aspectos físicos,
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psicológicos e sociais (GOMES; SÁ, 2017).


A jurisprudência também tem se debruçado sobre casos específicos de erro médico,
como os casos de cirurgias estéticas mal sucedidas, negligência no parto, erro no diagnóstico
de doenças graves. A jurisprudência brasileira tem muitos casos que tratam do tema de erro
médico e responsabilidade civil.
No julgamento do Recurso Especial nº 1.251.993 (BRASIL, 2017) o Superior Tribunal
de Justiça (STJ) decidiu que, em casos de erro médico, a responsabilidade civil é objetiva, ou
seja, não é necessário comprovar a culpa do profissional ou instituição de saúde para ser
indenizado, bastando provar o dano e o nexo de causalidade entre o erro e o dano.
Em outro caso, o STJ decidiu que a responsabilidade civil do profissional de saúde ou
da instituição de saúde não se limita à obrigação de reparar o dano causado, mas também inclui
a obrigação de indenizar o paciente por todos os prejuízos sofridos, inclusive os danos morais,
Resp. 1.342.396 (BRASIL, 2010). Esses são apenas alguns exemplos de casos que tratam de
erro médico na jurisprudência brasileira.
As jurisprudências e do Código Penal no contexto do erro médico evidencia a
complexidade jurídica dessa questão sensível. Contudo, ao considerarmos o tema central desta
análise, a responsabilidade do profissional perante o Código de Defesa do Consumidor (CDC)
percebemos uma interconexão crucial. A jurisprudência, ao orientar as decisões judiciais
anteriores, contribui para a interpretação e aplicação do CDC em casos de erro médico. O
Código Penal, por sua vez, desempenha um papel na esfera penal, mas o CDC oferece uma
perspectiva específica voltada para o consumidor de serviços de saúde.
Assim, ao concluir essa análise, fica evidente que a responsabilidade do profissional de
saúde, quando examinada à luz do CDC, não apenas protege os direitos do paciente como
consumidor, mas também reflete a necessidade de uma abordagem integral que contemple tanto
as implicações legais quanto a dimensão ética inerente à prestação de serviços médicos. Essa
perspectiva integrada reforça a importância de garantir não apenas a responsabilização, mas
também a segurança e a qualidade dos cuidados de saúde fornecidos aos consumidores-
pacientes.

5. CONCLUSÃO

Conclui-se que o erro médico consiste essencialmente em uma conduta profissional


inadequada, na qual o médico age com imprudência, imperícia ou negligência. Diante do
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exposto, compreende-se que a responsabilidade legal do médico abrange as esferas penal, civil
e administrativa.
De maneira sucinta e objetiva, podemos entender que, ao abordar a responsabilidade
penal, o dano afeta a ordem social, enquanto na responsabilidade civil as repercussões são de
natureza privada. Já na esfera administrativa, o dano repercute na atividade médica e na
instituição que a representa.
Nesse contexto, compreende-se que o médico pode ser sujeito a punições tanto no
sistema judiciário quanto nos Conselhos Regionais de Medicina, podendo inclusive chegar
aos Conselhos Federais de Medicina.
A análise do nexo de causalidade ocorre por meio da dilação probatória, que envolve
a produção de provas nos autos, incluindo a oitiva das partes e a análise de documentos.
Destaca-se a relevância da análise do prontuário médico nesse processo, sendo essa uma forma
crucial de avaliar a existência de uma ligação de causalidade entre a conduta do médico e o
dano sofrido pelo paciente.
Quanto ao erro do médico nas atividades por ele desempenhadas, entende-se que a
conduta inadequada impactará apenas o próprio profissional no exercício irregular de suas
funções. No entanto, quando a conduta inadequada se configura como erro médico, pode
abranger todos os profissionais da área da saúde e até mesmo a instituição hospitalar.
A análise do erro médico sob a ótica da responsabilidade do profissional perante o
Código de Defesa do Consumidor revela a intricada teia de normativas e considerações éticas
que permeiam essa complexa questão. Ao enquadrar os pacientes como consumidores, o CDC
oferece uma abordagem jurídica específica, proporcionando direitos e proteção frente a
práticas inadequadas na prestação de serviços médicos. A interação entre jurisprudências, o
Código Penal e o CDC destacam a necessidade de uma compreensão holística da
responsabilidade do profissional de saúde, englobando tanto as implicações legais quanto as
considerações éticas inerentes à prática médica. Essa abordagem integrada busca não apenas
a responsabilização, mas também a promoção da segurança e qualidade nos cuidados de saúde,
alinhando-se aos princípios fundamentais de proteção ao consumidor-paciente.
Assim, a análise desta temática ressalta a importância de um equilíbrio entre a justiça
legal e a excelência ética para assegurar um ambiente de cuidados de saúde responsável e
centrado no bem-estar do paciente.
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