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Erro médico e suas consequências jurídicas |


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A atuação do médico é vista como algo em que se exige do profissional ao


empregar técnicas adequadas, seguindo aos ditames da ciência médica.
É preciso observar que, nem todo e qualquer resultado na atuação do profissional
será caracterizado por erro, sendo necessária cautela para que seja responsabilizado
em três esferas independentes. Vejamos quais são:

• Responsabilidade Administrativa/Ética: Perante o Conselho Regional de


Medicina decorrente de denúncia, para abertura de processo ético disciplinar em
face do médico visando eventual punição administrativa.

• Responsabilidade Criminal: por meio de Inquérito Policial, Denuncia do


Ministério Público e a consequente Ação Penal em face do médico.

• Responsabilidade Civil: por ação indenizatória decorrente de dano material e/ou


moral, se constatado.
Trataremos apenas as questões relacionadas à responsabilidade civil, em linhas a
seguir.
Importante salientar que, a responsabilidade do profissional liberal é subjetiva, de
acordo com grau de culpa a ser apurada pela prática de seus atos, aplicando-se ao
disposto no art. 14, § 4º, do Código de Defesa do Consumidor:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de
culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos
à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas
sobre sua fruição e riscos.
§ 4º A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante
a verificação de culpa.
Adentrando ao tema proposto, podemos afirmar que, para que seja imputada a

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culpa do médico, deverá conter situações específicas, como:

• Imperícia

• Imprudência

• Negligência.
Vejamos cada um destes elementos essenciais detalhadamente:
A Imperícia médica indica falta de competência, de experiência e habilidade no
exercício habitual das atividades médicas. Por exemplo, um médico especialista em
clínica médica, porém, realiza cirurgia em pacientes para colocar prótese de
silicone.
Há duas situações distintas que precisam ser observadas acerca da imperícia
médica.
1. Exercer especialidade não registrada é infração ética: pois, o Código de Ética
Médica (CEM), em seu capítulo XXI, proíbe ao médico:
“anunciar títulos científicos que não possa comprovar, especialidade ou área de
atuação para a qual não esteja qualificado e registrado no Conselho Regional de
Medicina” (Art. 115), bem como, a Resolução do Conselho Federal de Medicina
(CFM) nº. 1845, de 2008.
Atualmente, existem duas formas de se obter o título de especialista na área
médica:

• Por meio de concurso ou avaliação da respectiva Sociedade de Especialidade


Médica, realizada após o profissional ter concluído um curso, estágio ou outra
forma de capacitação;

• Ser titulado como especialista após frequentar um programa de Residência Médica


(RM) reconhecido pelo MEC.
2. Para fins de responsabilidade civil do médico somente se constituirá a
imperícia médica por meio de laudo médico e que seja constatado o dano de
sua conduta [1].
Retomaremos com mais detalhes adiante quando tratarmos sobre o dano aplicado
em todos os casos de responsabilidade por culpa.
A Imprudência médica se caracteriza quando o profissional age sem cautela
necessária, não se preocupando com as futuras consequências de seu ato.

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Por exemplo:

• Médico que realiza um determinado procedimento cirúrgico sem o


acompanhamento de uma equipe profissional, pode culminar em sua
responsabilidade.

• Médico que dá alta médica sem as devidas cautelas necessárias, ocorrendo o óbito
logo após a alta [2].
A Negligência médica é o ato de descuido, desatenção profissional, com descaso,
inclusive, de seus deveres éticos.
Podemos citar alguns exemplos práticos, dentre tantos:

• Médico que esquece material cirúrgico dentro do corpo do paciente. Trata-se de um


erro comum, mas que poderia muito bem ser evitado durante o procedimento.

• Médica plantonista que não identificou a fratura no fêmur do autor e deu alta
médica. Requerente que, após alguns dias da alta, compareceu ao consultório de
um médico especialista que identificou a fratura e realizou cirurgia. Prova pericial
que atestou que a médica não solicitou os exames necessários para o diagnóstico da
fratura do autor. Negligência. Responsabilidade das requeridas configurada [3].

• Médica que não se dignou examinar pessoalmente o bebê, a despeito das inúmeras
advertências da equipe de enfermagem [4].

• Demora no diagnóstico do médico de apendicite aguda que culminou em cirurgia


invasiva com a responsabilidade parcial de outros órgãos, gera indenização [5].
A Justiça tem entendido que, deve estar presente o nexo causal entre o serviço
prestado e o dano para que se caracterize a responsabilidade civil do médico
decorrente de sua conduta negligente.
Podemos citar o caso do paciente que perdeu parte do dedo em razão de
negligência médica, por falta de solicitação de exames para verificação do diabetes.
Nesta situação, o Tribunal de Justiça de São Paulo entendeu que, constatada a
diabetes pelo hospital, foi ofertado tratamento ao paciente e remédios para a
infecção no dedo, inclusive, com a evolução da infecção que resultou em
amputação e desta forma, é ausente de prova de negligência médica ou de falta de
prestação de assistência médica pelo ente público [6].
É interessante observarmos que, o caso apresentado é característico de Iatrogenia
[7], pois, a amputação do dedo do paciente é a consequência do seu estado de

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saúde, não havendo direito à indenização.


Portanto, em todos os casos de culpa médica (negligência, imprudência ou
imperícia) acima tratados, deve haver o liame causal entre a conduta da equipe
médica profissional (negligência), e as lesões físicas do paciente, que implicam o
reconhecimento do dano e o dever de indenizar [8], caso contrário, não pode ter
cunho indenizatório.
Em relação ao dano proveniente de erro médico, (aplicável em todos os casos)
podemos classifica-los em:

• Dano material: também denominado como dano patrimonial, é o prejuízo que


ocorre no patrimônio da pessoa, ou seja, perda de bens ou coisas que tenham valor
econômico, podendo ter: Lesão permanente/Temporária (art. 402, CC/02).

• Existe a possibilidade do pagamento de salário mínimo decorrente da perda


patrimonial à vítima ou a seus familiares (art. 951, CC).

• Dano estético: configura-se por lesão à saúde ou integridade física de alguém, que
resulte em constrangimento. São lesões que deixam marcas permanentes no corpo
ou que diminuam sua funcionalidade como: cicatrizes, sequelas, deformidades ou
outros problemas que causem mal estar ou insatisfação (base legal: art. 186,
CC/02).

• Dano moral: é a violação da honra ou imagem de alguém. Resulta de ofensa aos


direitos da personalidade (intimidade, privacidade, honra e imagem).art. 1º, II, CF,
art. 186, CC, art. 12 e 14, CDC.
Frisa-se, haja indenização, tanto o erro de diagnóstico, quanto o erro de
prognóstico devem gerar dano ao paciente.
Assim, em toda e qualquer situação decorrente de erro médico, a prova pericial é
essencial para constatar se houve ou não a conduta culposa do médico e não
somente imputar tal responsabilidade, cabendo também ao profissional da saúde o
direito ao contraditório e a ampla defesa, independentemente se for processo civil,
penal ou administrativo (ético).
Cumpre ao paciente estar atento quanto à mesma lógica, pois, conforme trazido
aqui, deverá provar que houve erro médico, também por meio de laudo e demais
documentos.
Podemos elencar algumas provas essenciais do erro médico para eventual ação ou

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defesa judicial, como:


a) Prontuário médico: são informações registradas a respeito de um paciente.
b) Termo de consentimento informado (TCI): documento assinado pelo paciente
quando vai receber uma cirurgia ou tratamento.
c) Termo de Consentimento Esclarecido: (TCLE): participante de pesquisa
científica (Resp. 466/12, CNS)
d) Relatório/anotação da enfermagem.
Importante frisar que, cabe ao médico ter atenção redobrada quanto aos
documentos acima descritos, pois tais provas também podem ser úteis para a sua
defesa em um eventual processo, seja de qualquer natureza for.
Além disso, é preciso ter atenção não somente as provas em si, como também o
prazo para ingressar com ação judicial por erro médico.
O Superior Tribunal de Justiça entende que a ação proposta para cobrança de
indenização por erro médico está submetida ao prazo prescricional de cinco anos,
conforme estabelecido no art. 27 do Código de Defesa do Consumidor [9].
Assim temos uma dupla visão:
1. Cabe ao paciente lesado ou seus familiares promover ação por erro médico em até
05 (cinco) anos, a contar do fato ocorrido;
2. No aspecto técnico, se o paciente promove ação por erro médico além do prazo
previsto em lei (05 cinco anos), o médico não terá mais o dever de indeniza-lo.

[1] Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul TJ-MS - Apelação Civel: AC 621
MS 2008.000621-9;
[2] TJ-PR - processo cível e do trabalho recursos apelação apl
00083710720138160056 pr 0008371-07.2013.8.16.0056 (acórdão) (tj-pr).
[3] TJPR - 10ª C.Cível - AC - 1639188-7 - Ponta Grossa - Rel.: - Unânime - J.
11.05.2017 .
[4] TJ-SP - Apelação APL 40033701420138260114 SP
4003370-14.2013.8.26.0114 (TJ-SP)
[5] TJ-SP - Apelação Cível AC 10310899420178260562 SP
1031089-94.2017.8.26.0562 (TJ-SP)

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[6] TJ-SP - Apelação Cível AC 10145015120148260001 SP


1014501-51.2014.8.26.0001 (TJ-SP).
[7] O termo iatrogenia deriva do grego (iatros = médico / gignesthai = nascer, que
deriva da palavra genesis = produzir) e significa qualquer alteração patológica
provocada no paciente pela má prática médica 1,2. O termo doença cardíaca
iatrogênica é usualmente definido como doença do coração induzida pelo médico.
[8] TJ-SP - Apelação Cível AC 00067710820118260002 SP
0006771-08.2011.8.26.0002 (TJ-SP)
[9] STJ, AgRg no AREsp n. 626.816/SP.
TEXTO SOBRE O TEMA: https://drluizfernandopereira.blogspot.com/2022/11
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