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PROF.

JOSEVAL MARTINS VIANA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA


CÍVEL DA COMARCA DE ____________

NOME E PRENOME, nacionalidade, estado civil, profissão,


portadora da Cédula de Identidade RG n. [...], devidamente inscrita no CPF/MF
sob o n. [...], e-mail nome@prenome.com.br, residente e domiciliada na Rua
[...], no bairro de [...], CEP [...], por intermédio de seus advogados e bastantes
procuradores infra-assinados (instrumento de mandato em anexo), vêm, mui
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, propor AÇÃO
INDENIZATÓRIA contra a CLÍNICA [...], com sede na Rua [...], n. [...], no
bairro de [...], devidamente inscrita no CNPJ n. [...], e-mail
clinica@clinica.com,br, e contra médico [...], CRM [...], Diretor Técnico, com os
demais dados de qualificação ignorados, sediado também na [...] n. [...], no
bairro de [...], CEP [...], pelos motivos de fato e de direito abaixo articulados:

I – DOS FATOS

1. A autora firmou contrato de prestação de serviço com os


réus a fim de tratar algumas acnes que a incomodavam há longos anos. Antes
de iniciar o procedimento, a peticionária enviou ao médico as fotos do rosto,
para que ele verificasse como estava a aparência dela. Depois, agendou-se
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data para o início do tratamento. Por fim, o facultativo afirmou que o


procedimento seria simples e que deveria fazer três sessões seguidas para
obter excelentes resultados.

2. A primeira sessão foi realizada em meados de junho de


2016, e o réu disse para a autora retonar um mês depois para executar o
segundo procedimento. A segunda sessão aconteceu em julho de 2016. O réu
realizou o segundo procedimento, contudo o rosto da autora ficou com algumas
cicatrizes. Ao realizar a terceira sessão, já no dia 23/09/16, o réu feriu o rosto
da autora.

3. Os locais do rosto da autora, onde foram efetuados os


disparos do laser, não cicatrizaram, e muitas manchas apareceram no seu
rosto. A autora enviou as fotos para o réu com o objetivo de ser orientada no
que fazer, visto que as cicatrizes não estavam desaparecendo. O médico
disse-lhe que as cicatrizes desapareceriam com o tempo.

4. O réu indicou à autora um creme para passar no rosto


com o objetivo de acelerar a cicatrização, afirmando que em 6 (seis) meses
todas as cicatrizes desapareceriam definitivamente. Infelizmente não foi isso
que aconteceu! As cicatrizes ainda permanecem no rosto da autora. Essas
cicatrizes destacam-se, enfeando o rosto da autora.

II – DO DIREITO

5. A prestação de serviço do médico cirurgião-plástico é


atividade fim, quando se trata de estética. A asserção proposta é verdadeira,
porque o paciente que se submete ao tratamento estético não está doente;
busca o embelezamento. Assim, o facultativo presta seus serviços com o
escopo de tornar a pessoa mais bela. Por Isso, repise-se, a obrigação é de
resultado. Nesse sentido é o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado do
Rio de Janeiro:

APELAÇÃO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. RESPONSABILIDADE


CIVIL DE PROFISSIONAL MÉDICO. Cirurgia plástica (Lifting
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Cervical). Erro médico. Laudo pericial conclusivo acerca da


caracterização do mesmo. A cirurgia estética é uma obrigação
de resultado, pois o contratado se compromete a alcançar um
resultado específico, que constitui o cerne da própria obrigação,
sem o que haverá a inexecução desta. Assim, sendo a obrigação
do médico, no caso da cirurgia estética, de resultado, o uso da
técnica adequada na cirurgia não é suficiente para isentar o
médico da culpa pelo não cumprimento de sua obrigação. Se,
mesmo utilizando-se do procedimento apropriado, o profissional
liberal não alcançar os resultados dele esperados, há a
obrigação de indenizar. Ocorrência de nexo de causalidade entre
a conduta do réu e o dano experimentado pela autora. Dano
moral caracterizado. Verba reparatória arbitrada em quantia que
se mostra necessária e suficiente para a reprovação e a
prevenção do dano, sem constituir-se em fonte de
enriquecimento indevido. Acerto da sentença. RECURSO NÃO
PROVIDO. 0211950-97.2012.8.19.0001 – APELAÇÃO. Des(a).
CLÁUDIO LUIZ BRAGA DELL'ORTO - Julgamento: 31/05/2017 -
DÉCIMA OITAVA CÂMARA CÍVEL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
RIO DE JANEIRO.

6. Além de a obrigação ser de resultado, responde o


esculápio por erro no tratamento do paciente em razão de negligência,
imprudência e imperícia. O médico sabe que “O alvo de toda a atenção do
médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o
máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional.” (Resolução CFM
n. 1.931/2009 – CEM – Capítulo I – Princípios Fundamentais: II).

7. Note-se que o CEM exige do profissional o “máximo de


zelo e o melhor de sua capacidade profissional”. O professor de Língua
Portuguesa Evanildo Bechara define o vocábulo zelo desta forma: “Cuidado
especial dedicado a alguém”. Minidicionário da Língua Portuguesa. Rio de
Janeiro : Editora Nova Fronteira, 2009, p. 924.

8. É dever de o médico cuidar de seu paciente, aplicando


todo o seu conhecimento a fim de obter o melhor resultado no tratamento. Em
outras palavras, aplicar “toda a sua capacidade profissional”, conforme as
diretrizes do Código de Ética Médica.
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9. O Código de Ética Médica, no Capítulo III, artigo 1º,


dispõe que: “É vedado ao médico: Causar dano ao paciente, por ação ou
omissão, caracterizável como imperícia, imprudência ou negligência.” Esse
artigo coaduna-se com o artigo 186 do Código Civil que assevera o seguinte:
“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete
ato ilícito.”

10. O médico que, no exercício da profissão, for negligente,


imprudente ou imperito, deverá indenizar o paciente, quando lesioná-lo em
razão da má-prática médica. Trata-se da caracterização do dano moral que é
formado pela ação/omissão, nexo de causalidade e dano efetivo.

11. A relação médico-paciente é redigida pela Lei n.


8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor). Esta lei afirma peremptoriamente
que são direitos básicos do consumidor, segundo o artigo 6º, inciso VI, que:
“São direitos básicos do consumidor: a efetiva prevenção e reparação de danos
patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos”.

12. A medicina tem diversas especialidades, dentre elas, a


cirurgia geral. A cirurgia plástica é um ramo específico da cirurgia geral. Trata-
se de especialidade regulamentada pela Resolução CFM n. 1.621/2001 cujo
artigo 1º explicita que: “A Cirurgia Plástica é especialidade única, indivisível e
como tal deve ser exercida por médicos devidamente qualificados, utilizando
técnicas habituais reconhecidas cientificamente.” Isso significa que o réu só
pode realizar o procedimento na autora se for especialista na área. Se não for,
não pode exercer essa especialidade médica.

13. Outro aspecto importante a ser considerado é Termo de


Consentimento Informado (TCI). O médico deve obter do paciente o TCI para a
realização de qualquer procedimento médico, inclusive o estético. A função
desse documento é informar os riscos e as reações do organismo. O capítulo
IV, Direitos Humanos, artigo 22 do Código de Ética Médica, esclarece que: “É
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vedado ao médico: Deixar de obter consentimento do paciente ou de seu


representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado,
salvo em caso de risco iminente de morte.”

14. O TCI é o documento explicita ao paciente o tipo de


cirurgia que deverá ser feita, seus benefícios e, principalmente, os riscos.
Trata-se, inclusive, da aplicação de dois princípios básicos no tratamento de
pacientes: o primeiro, tem-se o princípio da informação ou da transparência
tipificado no artigo 6º, inciso III, do Código de Defesa do Consumidor Explicita
que: “São direitos básicos do consumidor: III - a informação adequada e clara
sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de
quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço,
bem como sobre os riscos que apresentem”.

15. O segundo princípio é um dos pilares da Bioética; é o


princípio da autonomia do paciente. Esse princípio permite ao paciente decidir
sobre questões relacionadas ao seu próprio corpo e à sua vida. Quaisquer atos
médicos devem ser autorizados pelo paciente. A simples ausência desse
documento gera indenização, ainda que não haja erro do médico. Nesse
sentido:

ERRO MÉDICO - Tratamento dermatológico a laser para


clareamento de manchas e vasos ("telangiectasias") nas pernas
- Ocorrência de queimaduras na pele da paciente - Piora do
quadro estético - Obrigação de resultado - Falha na prestação
dos serviços - Responsabilidade objetiva da clínica ré - Falta de
esclarecimentos acerca da aplicação do procedimento a laser,
da intensidade recomendada para o tipo de pele da autora e dos
riscos que a técnica envolvia - Ausência do direito de informação
à paciente - Dever anexo decorrente da boa-fé objetiva inerente
às relações contratuais - Danos morais configurados -
Indenização devida - "Quantum" que comporta majoração para
R$ 20.000,00 (vinte mil reais), de modo que melhor atenderá às
finalidades compensatória e pedagógica - Atualização monetária
a contar do arbitramento (Súmula 362 do C. STJ) - Juros
moratórios desde a citação, aspecto que comporta adequação
de ofício - Honorária sucumbencial que comporta moderada
redução - Sentença reformada em parte - RECURSO DE
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APELAÇÃO DA AUTORA E RECURSO ADESIVO DA RÉ


PARCIALMENTE PROVIDOS. (Relator(a): Elcio Trujillo;
Comarca: São Paulo; Órgão julgador: 10ª Câmara de Direito
Privado; Data do julgamento: 25/04/2017; Data de registro:
27/04/2017).

16. Em síntese, o exercício da medicina exige alguns


elementos essenciais, para que ele não seja compelido a indenizar seus
pacientes: deve agir com zelo, apresentar capacidade profissional, não atuar
com negligência, imperícia ou imprudência e obter do paciente o termo de
consentimento para o tratamento. A ausência de qualquer um deles faz com
que o médico seja compelido a indenizar o paciente.

III – DA EXIBIÇÃO DO PRONTUÁRIO MÉDICO E DO TCI

17. A autora solicitou cópia do prontuário médico à clínica,


contudo, a colaboradora da ré, Sra. Lara, auxiliar administrativo, disse que não
poderia entregar esse documento. Essa informação é equivocada, pois o
paciente tem direito a acessar o prontuário médico que, na verdade, deve ser
chamado de “prontuário do paciente”.

18. Os réus têm obrigação de entregar cópia do prontuário


médico à autora, sobretudo para que ela entregue aos médicos que estão
tentando minimizar o grau das cicatrizes deixadas no rosto dela pelo
facultativo.

19. O médico deverá entregar à autora cópia do Termo de


Consentimento Informado, segundo exigência do Código de Ética Médica a fim
de se comprovar que todos os requisitos legais e éticos foram cumpridos antes
do tratamento.

20. Deverá também o médico apresentar título de


especialista na área de cirurgia plástica ou dermatocosmiatria a fim de provar
que tem habilitação para o exercício dessa especialização médica.

21. O artigo 396 do Código de Processo Civil dispõe que:


“O juiz pode ordenar que a parte exiba documento ou coisa que se encontre
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em seu poder.” Caso não haja prontuário médico nem Termo de


Consentimento Informado, o médico deverá ser condenado a indenizar a
autora.

V – DOS PEDIDOS

Isto posto, a autora requer a Vossa Excelência que se


digne de condenar os réus a indenizá-la no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil
reais) a título de danos morais, materiais e estéticos, além das custas e
despesas processuais e honorários advocatícios, tudo acrescido de juros e
correção monetária.

Requer que Vossa Excelência se digne de determinar ao


hospital e ao médico que entreguem cópias do prontuário médico, do Termo de
Consentimento Informado (TCI), e do título de especialização em cirurgia
plástica ou dermatocosmiatria ou qualquer outro título acadêmico que lhe
confira autorização para atuar na área de cirurgia plástica ou estética.

Caso o médico não apresente esses documentos, requer


que ele seja condenado no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) por não ter
cumprido as determinações éticas e legais da categoria, ainda que não haja
erro no procedimento, devendo então indenizar a autora por essa negligência.

Requer a Vossa Excelência que se digne de conceder à


autora Justiça Gratuita, de acordo com os artigos 98 e 99 do Código de
Processo Civil, porque ela está desempregada e não pode arcar com as custas
e despesas processuais.

Por fim, requer a inversão do ônus da prova, conforme o


artigo 6º, inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor, ficando o encargo
dos réus a produção das provas que se fizerem necessárias ao deslinde da
demanda.
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A autora não opta pela audiência de conciliação ou de


medicação, nos termos do artigo 390, inciso VII, do Código de Processo Civil,
requerendo, portanto, a citação dos réus, nos termos do artigo 246, inciso I, do
Código de Processo Civil, a fim de apresentar sua defesa, no prazo legal, sob
pena de revelia da matéria de fato.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova


admitidos em direito, inclusive pela oitiva da parte contrária, oitiva de
testemunhas, laudo pericial e juntada de documentos.

Dá-se à causa do valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais)


para fins de alçada.

Termos em que

pede deferimento.

Local e data.

Assinatura, nome e OAB.

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