1) A autora contratou os réus para tratamento de acnes no rosto com laser, mas o procedimento resultou em cicatrizes permanentes que desfiguraram seu rosto.
2) Os réus são responsáveis por danos morais e estéticos, já que a cirurgia plástica é uma obrigação de resultado e o médico deve agir com máximo zelo e capacidade para não causar dano ao paciente.
3) Faltou obter o consentimento informado da autora sobre os riscos do procedimento.
1) A autora contratou os réus para tratamento de acnes no rosto com laser, mas o procedimento resultou em cicatrizes permanentes que desfiguraram seu rosto.
2) Os réus são responsáveis por danos morais e estéticos, já que a cirurgia plástica é uma obrigação de resultado e o médico deve agir com máximo zelo e capacidade para não causar dano ao paciente.
3) Faltou obter o consentimento informado da autora sobre os riscos do procedimento.
1) A autora contratou os réus para tratamento de acnes no rosto com laser, mas o procedimento resultou em cicatrizes permanentes que desfiguraram seu rosto.
2) Os réus são responsáveis por danos morais e estéticos, já que a cirurgia plástica é uma obrigação de resultado e o médico deve agir com máximo zelo e capacidade para não causar dano ao paciente.
3) Faltou obter o consentimento informado da autora sobre os riscos do procedimento.
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA
CÍVEL DA COMARCA DE ____________
NOME E PRENOME, nacionalidade, estado civil, profissão,
portadora da Cédula de Identidade RG n. [...], devidamente inscrita no CPF/MF sob o n. [...], e-mail nome@prenome.com.br, residente e domiciliada na Rua [...], no bairro de [...], CEP [...], por intermédio de seus advogados e bastantes procuradores infra-assinados (instrumento de mandato em anexo), vêm, mui respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, propor AÇÃO INDENIZATÓRIA contra a CLÍNICA [...], com sede na Rua [...], n. [...], no bairro de [...], devidamente inscrita no CNPJ n. [...], e-mail clinica@clinica.com,br, e contra médico [...], CRM [...], Diretor Técnico, com os demais dados de qualificação ignorados, sediado também na [...] n. [...], no bairro de [...], CEP [...], pelos motivos de fato e de direito abaixo articulados:
I – DOS FATOS
1. A autora firmou contrato de prestação de serviço com os
réus a fim de tratar algumas acnes que a incomodavam há longos anos. Antes de iniciar o procedimento, a peticionária enviou ao médico as fotos do rosto, para que ele verificasse como estava a aparência dela. Depois, agendou-se PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA
data para o início do tratamento. Por fim, o facultativo afirmou que o
procedimento seria simples e que deveria fazer três sessões seguidas para obter excelentes resultados.
2. A primeira sessão foi realizada em meados de junho de
2016, e o réu disse para a autora retonar um mês depois para executar o segundo procedimento. A segunda sessão aconteceu em julho de 2016. O réu realizou o segundo procedimento, contudo o rosto da autora ficou com algumas cicatrizes. Ao realizar a terceira sessão, já no dia 23/09/16, o réu feriu o rosto da autora.
3. Os locais do rosto da autora, onde foram efetuados os
disparos do laser, não cicatrizaram, e muitas manchas apareceram no seu rosto. A autora enviou as fotos para o réu com o objetivo de ser orientada no que fazer, visto que as cicatrizes não estavam desaparecendo. O médico disse-lhe que as cicatrizes desapareceriam com o tempo.
4. O réu indicou à autora um creme para passar no rosto
com o objetivo de acelerar a cicatrização, afirmando que em 6 (seis) meses todas as cicatrizes desapareceriam definitivamente. Infelizmente não foi isso que aconteceu! As cicatrizes ainda permanecem no rosto da autora. Essas cicatrizes destacam-se, enfeando o rosto da autora.
II – DO DIREITO
5. A prestação de serviço do médico cirurgião-plástico é
atividade fim, quando se trata de estética. A asserção proposta é verdadeira, porque o paciente que se submete ao tratamento estético não está doente; busca o embelezamento. Assim, o facultativo presta seus serviços com o escopo de tornar a pessoa mais bela. Por Isso, repise-se, a obrigação é de resultado. Nesse sentido é o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro:
APELAÇÃO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. RESPONSABILIDADE
CIVIL DE PROFISSIONAL MÉDICO. Cirurgia plástica (Lifting PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA
Cervical). Erro médico. Laudo pericial conclusivo acerca da
caracterização do mesmo. A cirurgia estética é uma obrigação de resultado, pois o contratado se compromete a alcançar um resultado específico, que constitui o cerne da própria obrigação, sem o que haverá a inexecução desta. Assim, sendo a obrigação do médico, no caso da cirurgia estética, de resultado, o uso da técnica adequada na cirurgia não é suficiente para isentar o médico da culpa pelo não cumprimento de sua obrigação. Se, mesmo utilizando-se do procedimento apropriado, o profissional liberal não alcançar os resultados dele esperados, há a obrigação de indenizar. Ocorrência de nexo de causalidade entre a conduta do réu e o dano experimentado pela autora. Dano moral caracterizado. Verba reparatória arbitrada em quantia que se mostra necessária e suficiente para a reprovação e a prevenção do dano, sem constituir-se em fonte de enriquecimento indevido. Acerto da sentença. RECURSO NÃO PROVIDO. 0211950-97.2012.8.19.0001 – APELAÇÃO. Des(a). CLÁUDIO LUIZ BRAGA DELL'ORTO - Julgamento: 31/05/2017 - DÉCIMA OITAVA CÂMARA CÍVEL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO DE JANEIRO.
6. Além de a obrigação ser de resultado, responde o
esculápio por erro no tratamento do paciente em razão de negligência, imprudência e imperícia. O médico sabe que “O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional.” (Resolução CFM n. 1.931/2009 – CEM – Capítulo I – Princípios Fundamentais: II).
7. Note-se que o CEM exige do profissional o “máximo de
zelo e o melhor de sua capacidade profissional”. O professor de Língua Portuguesa Evanildo Bechara define o vocábulo zelo desta forma: “Cuidado especial dedicado a alguém”. Minidicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro : Editora Nova Fronteira, 2009, p. 924.
8. É dever de o médico cuidar de seu paciente, aplicando
todo o seu conhecimento a fim de obter o melhor resultado no tratamento. Em outras palavras, aplicar “toda a sua capacidade profissional”, conforme as diretrizes do Código de Ética Médica. PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA
9. O Código de Ética Médica, no Capítulo III, artigo 1º,
dispõe que: “É vedado ao médico: Causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como imperícia, imprudência ou negligência.” Esse artigo coaduna-se com o artigo 186 do Código Civil que assevera o seguinte: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
10. O médico que, no exercício da profissão, for negligente,
imprudente ou imperito, deverá indenizar o paciente, quando lesioná-lo em razão da má-prática médica. Trata-se da caracterização do dano moral que é formado pela ação/omissão, nexo de causalidade e dano efetivo.
11. A relação médico-paciente é redigida pela Lei n.
8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor). Esta lei afirma peremptoriamente que são direitos básicos do consumidor, segundo o artigo 6º, inciso VI, que: “São direitos básicos do consumidor: a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos”.
12. A medicina tem diversas especialidades, dentre elas, a
cirurgia geral. A cirurgia plástica é um ramo específico da cirurgia geral. Trata- se de especialidade regulamentada pela Resolução CFM n. 1.621/2001 cujo artigo 1º explicita que: “A Cirurgia Plástica é especialidade única, indivisível e como tal deve ser exercida por médicos devidamente qualificados, utilizando técnicas habituais reconhecidas cientificamente.” Isso significa que o réu só pode realizar o procedimento na autora se for especialista na área. Se não for, não pode exercer essa especialidade médica.
13. Outro aspecto importante a ser considerado é Termo de
Consentimento Informado (TCI). O médico deve obter do paciente o TCI para a realização de qualquer procedimento médico, inclusive o estético. A função desse documento é informar os riscos e as reações do organismo. O capítulo IV, Direitos Humanos, artigo 22 do Código de Ética Médica, esclarece que: “É PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA
vedado ao médico: Deixar de obter consentimento do paciente ou de seu
representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco iminente de morte.”
14. O TCI é o documento explicita ao paciente o tipo de
cirurgia que deverá ser feita, seus benefícios e, principalmente, os riscos. Trata-se, inclusive, da aplicação de dois princípios básicos no tratamento de pacientes: o primeiro, tem-se o princípio da informação ou da transparência tipificado no artigo 6º, inciso III, do Código de Defesa do Consumidor Explicita que: “São direitos básicos do consumidor: III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem”.
15. O segundo princípio é um dos pilares da Bioética; é o
princípio da autonomia do paciente. Esse princípio permite ao paciente decidir sobre questões relacionadas ao seu próprio corpo e à sua vida. Quaisquer atos médicos devem ser autorizados pelo paciente. A simples ausência desse documento gera indenização, ainda que não haja erro do médico. Nesse sentido:
ERRO MÉDICO - Tratamento dermatológico a laser para
clareamento de manchas e vasos ("telangiectasias") nas pernas - Ocorrência de queimaduras na pele da paciente - Piora do quadro estético - Obrigação de resultado - Falha na prestação dos serviços - Responsabilidade objetiva da clínica ré - Falta de esclarecimentos acerca da aplicação do procedimento a laser, da intensidade recomendada para o tipo de pele da autora e dos riscos que a técnica envolvia - Ausência do direito de informação à paciente - Dever anexo decorrente da boa-fé objetiva inerente às relações contratuais - Danos morais configurados - Indenização devida - "Quantum" que comporta majoração para R$ 20.000,00 (vinte mil reais), de modo que melhor atenderá às finalidades compensatória e pedagógica - Atualização monetária a contar do arbitramento (Súmula 362 do C. STJ) - Juros moratórios desde a citação, aspecto que comporta adequação de ofício - Honorária sucumbencial que comporta moderada redução - Sentença reformada em parte - RECURSO DE PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA
APELAÇÃO DA AUTORA E RECURSO ADESIVO DA RÉ
PARCIALMENTE PROVIDOS. (Relator(a): Elcio Trujillo; Comarca: São Paulo; Órgão julgador: 10ª Câmara de Direito Privado; Data do julgamento: 25/04/2017; Data de registro: 27/04/2017).
16. Em síntese, o exercício da medicina exige alguns
elementos essenciais, para que ele não seja compelido a indenizar seus pacientes: deve agir com zelo, apresentar capacidade profissional, não atuar com negligência, imperícia ou imprudência e obter do paciente o termo de consentimento para o tratamento. A ausência de qualquer um deles faz com que o médico seja compelido a indenizar o paciente.
III – DA EXIBIÇÃO DO PRONTUÁRIO MÉDICO E DO TCI
17. A autora solicitou cópia do prontuário médico à clínica,
contudo, a colaboradora da ré, Sra. Lara, auxiliar administrativo, disse que não poderia entregar esse documento. Essa informação é equivocada, pois o paciente tem direito a acessar o prontuário médico que, na verdade, deve ser chamado de “prontuário do paciente”.
18. Os réus têm obrigação de entregar cópia do prontuário
médico à autora, sobretudo para que ela entregue aos médicos que estão tentando minimizar o grau das cicatrizes deixadas no rosto dela pelo facultativo.
19. O médico deverá entregar à autora cópia do Termo de
Consentimento Informado, segundo exigência do Código de Ética Médica a fim de se comprovar que todos os requisitos legais e éticos foram cumpridos antes do tratamento.
20. Deverá também o médico apresentar título de
especialista na área de cirurgia plástica ou dermatocosmiatria a fim de provar que tem habilitação para o exercício dessa especialização médica.
21. O artigo 396 do Código de Processo Civil dispõe que:
“O juiz pode ordenar que a parte exiba documento ou coisa que se encontre PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA
em seu poder.” Caso não haja prontuário médico nem Termo de
Consentimento Informado, o médico deverá ser condenado a indenizar a autora.
V – DOS PEDIDOS
Isto posto, a autora requer a Vossa Excelência que se
digne de condenar os réus a indenizá-la no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) a título de danos morais, materiais e estéticos, além das custas e despesas processuais e honorários advocatícios, tudo acrescido de juros e correção monetária.
Requer que Vossa Excelência se digne de determinar ao
hospital e ao médico que entreguem cópias do prontuário médico, do Termo de Consentimento Informado (TCI), e do título de especialização em cirurgia plástica ou dermatocosmiatria ou qualquer outro título acadêmico que lhe confira autorização para atuar na área de cirurgia plástica ou estética.
Caso o médico não apresente esses documentos, requer
que ele seja condenado no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) por não ter cumprido as determinações éticas e legais da categoria, ainda que não haja erro no procedimento, devendo então indenizar a autora por essa negligência.
Requer a Vossa Excelência que se digne de conceder à
autora Justiça Gratuita, de acordo com os artigos 98 e 99 do Código de Processo Civil, porque ela está desempregada e não pode arcar com as custas e despesas processuais.
Por fim, requer a inversão do ônus da prova, conforme o
artigo 6º, inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor, ficando o encargo dos réus a produção das provas que se fizerem necessárias ao deslinde da demanda. PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA
A autora não opta pela audiência de conciliação ou de
medicação, nos termos do artigo 390, inciso VII, do Código de Processo Civil, requerendo, portanto, a citação dos réus, nos termos do artigo 246, inciso I, do Código de Processo Civil, a fim de apresentar sua defesa, no prazo legal, sob pena de revelia da matéria de fato.
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova
admitidos em direito, inclusive pela oitiva da parte contrária, oitiva de testemunhas, laudo pericial e juntada de documentos.
Dá-se à causa do valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais)