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2. No caso em concreto verificamos que teremos de apurar a aplicação do art.291 CC. Para que
se aplique a proteção conferida pelo art.291º é necessário que o negócio diga respeito a bens
imoveis ou a bens moveis sujeitos a registo. No caso em concreto foi feita a venda de um
prédio urbano inscrito na matriz predial sob o art.1212 fraçao 1 da união de freguesias de são
mamede em festa e senhora da hora. Exige o art.291º que o terceiro, neste caso a Carlota
tenha registado a sua aquisição, o que esta fez a 02/02/2019. A lei exige ainda que se trate de
um negocio oneroso, requisito este que tambem se verifica pois, conforme decorre do
enunciado carlota pagou o preço. Decorre ainda da lei que é necessário que tenha passado 3
anos sobre a celebração do negocio invalido imediatamente anterior. De acordo com o caso
pratico o negocio invalido foi celebrado no dia 01/01/2018, nestes termos não decorreu ainda
o prazo de 3 anos sobre a celebração do negocio inválido. A lei exige ainda que durante esse
período de 3 anos não tenha sido instaurada uma açao com vista á declaração de nulidade ou
anulação do negocio inválido, requisito este que de igual forma não se verifica porquanto a
açao de declaração de nulidade foi instaurada a 02/03/2020, ou seja, antes do decurso do
prazo de 3 anos. Carlota registou a sua aquisição antes da data do registo da açao de
invalidade do negocio e a mesma estava de boa fé na medida em que desconhecia sem culpa o
vicio que afetava o negocio inválido.
3. no presente caso pratico verificamos que o mario rui construiu um prédio em propriedade
horizontal. Decorre do art.1418º qual o conteúdo do titulo constitutivo da propriedade
horizontal. No nº1 do art.1418º são identificadas as menções obrigatórias, sendo que destas
não é feita a alusão ao fim a que se destinam as frações autónomas. A definição do fim das
frações é, deste modo um conteúdo facultativo do titulo como aliás decorre da alínea a) do
nº2 do art.1418º. No entanto sendo determinado o fim, o mesmo tem de ser coincidente com
o que foi fixado no projeto aprovado pela entidade publica sob pena de nulidade parcial,
art.1418º nº3. No caso concreto temos de verificar o que é que prevalece: se aquilo que
resulta do titulo ou se aquilo que resulta do contrato de compra e venda. O conteúdo do titulo
constitutivo define o estatuto do direito real pelo que goza de eficácia erga omnes não
podendo nessa medida ser alterado pela vontade do alienante. A clausula constante do
contrato de compra e venda em que consta que a fração pode ter como objeto o comercio
tem apenas eficácia inter partes. Assim as frações do edifício construído pelo mario rui apenas
podem ser usadas para fins habitacionais devendo por isso zélia cessar a sua atividade
comercial. Isto resulta ainda do disposto na c) nº1 do art.1422º quando dispõe que os
condóminos não podem dar á fração um uso diferente daquele a que ela se destina,
condicionando assim o exercício da propriedade em regime da propriedade horizontal que
cabe a cada um dos proprietários sobre a fração que compraram art.1420 nº1. Nada impede
porém que o próprio titulo constitutivo seja modificado sendo, no entanto obrigatório que
todos os condóminos estejam de acordo conforme o art.1419 CC. Assim e em conclusão
assiste razão aos condóminos em insurgir-se contra a situação.
A aquisição da propriedade do apartamento por Guilherme devia ter sido registada, segundo o
art 2º nº1 a) e 8-A nº1 a) do CRPredial, pois é obrigatório. Liliana adquiriu o apartamento sem
saber que este já tinha sido vendido a Guilherme por isso tanto um como o outro adquiriram o
direito de propriedade do dito apartamento e ambos o adquiriram de João, logo este praticou
uma dupla disposição ou alienação. Mas estamos perante direitos incompatíveis, pois só um
deles é que pode ter o direito.
No caso em concreto João vendeu o apartamento a Liliana sem ter legitimidade para o fazer,
então este ato é considerado nulo, estamos perante uma venda de bens alheios, art 892º CC.
Como ela não sabia desta situação, segundo o art 5º nº1 e nº4 CRPredial, é terceira para efeito
de registo, mas como o direto de propriedade de Guilherme não foi registado este não produz
nenhum efeito contra Liliana, pois caso ele o tivesse registado, esta já não poderia ignorar esse
registo. Por isso considera-se que Liliana estava de boa fé, como era o nome de João que
figurava no registo ela não fez nada incorreto. Posto isto, sabemos que quando o negócio
jurídico registado pelo terceiro for oneroso, como é o caso da compra e venda, art 874º CC,
este deve ser protegido. Por isso penso que guilherme não terá sucesso, pois Liliana adquiriu a
propriedade do bem segundo o disposto no art 5º do CRPredial.
O disposto no art 5º do CRPreadial é uma exceção ao princípio do nemo plus iuris, pois que
por intervenção da lei, Liliana recebeu um direito de propriedade de quem já não o detinha, e
de igual modo estamos perante um efeito atributivo do registo. Como é obvio, se guilherme
tivesse registado com prioridade o seu direito real, naturalmente eficaz erga omnes teria
consolidado a sua oponibilidade nos termos do efeito consolidativo do registo e assim o deu
direito iria prevalecer sobre “o não direito” de Liliana. Nesse caso, caso guilherme tivesse
registado a sua aquisição com prioridade poderia exercer o direito de sequela instaurando
uma ação de reivindicação nos termos do art 1311º CC, pedindo o reconhecimento do direito
de propriedade e a restituição da coisa.