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A
o iniciar minhas atividades mento químico com que eu trabalhava escolar sobre a importância do ensino
como professora de química menos asséptico, que pudesse criar de química na formação do técnico
no nível médio — recém-for- inter-relações com as demais áreas e agrícola. A relação que logo sobressaiu
mada, cheia de sonhos e de vontade com os contextos de vida das pes- foi com os fertilizantes e pesticidas.
de realizá-los —, deparei-me com uma soas. Procurei bibliografia
realidade contraditória, que poderia até Trabalhei nos últi- Ao serem especializada em quí-
chamar de perversa. Os alunos e alu- mos três anos na Es- desenvolvidos estudos mica agrícola e perce-
nas mostravam ter muito mais sonhos cola Agrotécnica Fe- relacionados ao bi a priorização de
do que eu e expressavam expectativas deral de Sertão (RS), controle de pragas, abordagens relacio-
que eu não queria ver frustradas. Mas que forma anualmente sobressaía-se a visão nadas ao tema agro-
lembro-me que, apesar da vontade de cerca de 140 técnicos de que os agentes que tóxicos, suas formula-
fazer da química um instrumento de agrícolas. Na escola, o agridem o homem e o ções, princípios ativos
trabalho capaz de contribuir para a ensino de química faz ambiente eram etc. Embora fosse,
formação daqueles jovens e lhes per- parte do núcleo co- químicos, enquanto sem dúvida, parte da
mitir o exercício pleno da cidadania, mum. Considerando outros, que não química, angustiava-
sentia-me despreparada e insatisfeita. especialmente que es- agridem, eram me ver que somente
Diante de mim eu via os alunos, com se ensino está amea- considerados esse tema era valori-
seus mundos e seus sonhos, mas çado de ser extinto nas biológicos ou zado na abordagem
eram os livros didáticos que pareciam escolas técnicas, julgo alternativos. Os da química na agricul-
ditar o que eu deveria fazer. ser importante o pre- feromônios, por tura. Ao serem desen-
Algumas outras percepções foram sente relato da expe- exemplo, eram volvidos estudos rela-
me inquietando. Por exemplo, me an- riência que desenvolvi encarados como cionados ao controle
gustiava ver que os alunos e alunas — durante esses anos na produtos biológicos, de pragas, nos textos
e praticamente toda a sociedade — escola. não químicos e discussões, sobres-
consideravam a química muito difícil e Ao ingressar no en- saía-se a visão de que
a viam como causadora de efeitos pre- sino técnico, especificamente na área os agentes que agridem o homem e o
judiciais à saúde e ao ambiente. Essas agrícola, percebi que eu tinha um forte ambiente eram químicos, enquanto
preocupações me levaram a procurar, aliado no meu pensar acerca das outros, que não agridem, eram consi-
na minha prática pedagógica, cami- aprendizagens de química: a profissio- derados biológicos ou alternativos. Os
nhos que pudessem tornar o conheci- nalização — não por si só, mas pela feromônios, por exemplo, eram encara-