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METODOLOGIA DO

ENSINO DE
CIÊNCIAS

Adriana Fernandes
Gonçalves
M593 Metodologia do ensino de ciência [recurso
eletrônico] / Organizadora, Adriana Fernandes
Gonçalves. – Porto Alegre : SAGAH, 2016.

Editado como livro impresso em 2016.


ISBN 978-85-69726-29-6

1. Educação. 2. Metodologia de ensino - Ciências.


I. Gonçalves, Adriana Fernandes.
CDU 37.022

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094


Aprendizagem da química e
da física
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
„„ Identificar os principais objetivos do ensino da química e da física
na escola.
„„ Apontar os problemas no ensino destas disciplinas.
„„ Construir propostas de trabalho destas disciplinas no ensino
fundamental.

Introdução
Neste texto, você vai analisar os principais objetivos do ensino
da química e da física na escola, além de identificar os principais
problemas encontrados no ensino dessas disciplinas.

Objetivos do ensino da química e da física


Verificam-se nos Planos de Curso do 9º ano do ensino fundamental que os ob-
jetivos do ensino de química e física contemplam a compreensão das origens,
processos de transformações e uso dos materiais no mundo natural e tecnoló-
gico, nas relações de mão dupla entre processo social e evolução tecnológica.
A obtenção desses conhecimentos se dá através das seguintes habilidades:
identificação dos fenômenos físicos e químicos encontrados no Universo; per-
cepção da organização geral da matéria e suas propriedades físicas, químicas
e biológicas; identificação dos estados físicos da matéria e a compreensão de
que as mudanças entre eles ocorrem por diferença de temperatura e pressão;
percepção da evolução do modelo atômico; a diversidade de elementos quí-
micos; e a necessidade de sua classificação. Como você pode perceber, é um
currículo extenso que contempla duas disciplinas condensadas em uma só
para serem trabalhados durante apenas um ano letivo.
Os alunos do 9º ano do ensino fundamental já estão mais próximos do
ensino médio do que do próprio ensino fundamental. É importante que você
deixe claro para eles que estão amadurecendo e que precisam de um certo
122 Metodologia do ensino de ciências

toque de responsabilidade, já que são os alunos do último ano. Abordar temas


como poluição, aquecimento global, destruição dos ecossistemas, problemas
de saúde causados pelo cigarro, álcool e drogas, entre outros assuntos atuais,
devem fazer sentido, ou seja, é necessário que eles percebam como essas al-
terações causadas pelo homem afetam a vida de toda a sociedade. Para isso,
além das leituras de sala de aula, é importante que você estimule a leitura
geral dos alunos, para que se tornem aptos a opinar e defender decisões que
interferem na vida de todos.

Mais do que em qualquer época do passado, seja para consumo, seja


para trabalho, cresce a necessidade de conhecimento a fim de interpre-
tar e avaliar informações, até mesmo para poder participar e julgar deci-
sões políticas ou divulgações científicas na mídia. A falta de informação
científico-tecnológica pode comprometer a própria cidadania, deixando
à mercê do mercado e da publicidade. (BRASIL, 1998, p. 22).

O estimulo à leitura é um aliado no ensino de ciências e de qualquer outra


disciplina. Como os textos de física e química são considerados complexos
pela maioria dos alunos, isso pode ter um impacto negativo no aprendizado
científico. É fundamental que o aluno desenvolva uma boa leitura e consiga
diferenciar o essencial do detalhe, para que a leitura não se torne algo desgas-
tante e cansativo.

Dificuldades no aprendizado da química e da


física
Quando o aluno chega ao 9º ano do ensino fundamental, se depara com a di-
visão da disciplina de ciências em química e física e seu conteúdo baseado na
matemática, álgebra e aritmética (conteúdos ainda não dominados), o que faz
com que a maioria dos alunos tenha uma aversão inicial a esses componentes
curriculares do ensino médio. Em geral, as escolas de ensino fundamental
costumam dividir a disciplina em dois semestres letivos, cada um contem-
plando um conteúdo (um para química e um para física). Acredita-se que a
falta de preparo do professor de ciências ou a má qualidade na elaboração
do seu plano de aula podem ser a causa da maioria dos casos de dificuldade
no aprendizado. Como são disciplinas mais dinâmicas, restringir a prática
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pedagógica apenas na utilização da lousa e giz torna o conteúdo cansativo e


desinteressante.
Segundo Bergmann e Wenzel (2014, p. 1), no artigo A química e a física no
ensino fundamental: reflexões acerca da prática docente,

[...] percebeu-se uma série de problemas existentes no ensinar Química e


Física em tal nível de ensino [...], dentre elas, pode-se citar a organização do
currículo como sendo disciplinar e fragmentado, no qual se apresenta a
Química e a Física somente no nono ano do Ensino Fundamental; o exces-
so de conteúdos, tanto de Química como de Física, o que ocasiona uma
abordagem dos conceitos de forma superficial, simplista e resumida, sen-
do que o principal objetivo consiste numa breve demonstração daquilo
que o aluno irá aprender durante o Ensino Médio e assim, pouco contribui
para uma maior compreensão.

Com relação aos conteúdos estudados, Pozo e Crespo (1997) detalham


alguns que causam maior dificuldade de compreensão aos alunos do ensino
fundamental:
Física

„„ O movimento implica uma causa e, quando necessário, esta causa está


localizada dentro do corpo como força interna, que vai se consumindo até
que o objeto pare (VARELA NIETO, 1996).
„„ O termo energia é interpretado como sinônimo de combustível, como algo
“quase” material, que está armazenado e pode ser consumido e desaparecer
(HIERREZUELO; MONTERO, 1991).

Química

„„ O modelo corpuscular da matéria é muito pouco utilizado para explicar


suas propriedades e, quando se utiliza, são atribuídas às partículas, pro-
priedades do mundo macroscópico (CRESPO, 1996).
„„ Em muitas ocasiões, não se diferencia mudança física de mudança quími-
ca e podem aparecer interpretações do processo de dissolução em termos
de reações, e estas podem ser interpretadas como se fossem uma dissolu-
ção ou uma mudança de estado (CRESPO, 1996).

Ainda conforme Pozo e Crespo (2009), as dificuldades enfrentadas na


aprendizagem e compreensão de física são diferentes daquelas de química.
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Na química, há a descrição e explicação da estrutura íntima da matéria, ou


seja, de elétrons, átomos e moléculas, que não podemos ver e que são muito
difíceis de imaginar. Na física, há grande familiaridade do aluno com os con-
teúdos envolvidos, ou seja, ele já tem ideias e opiniões prévias que são úteis
para entender o comportamento da natureza, mas que às vezes competem com
a matéria ensinada na escola. A física ensinada no ensino médio recorre a re-
presentações idealistas e simplificadas, afastadas da realidade. Assim, o alu-
no expande sua estrutura lógica, aceita a existência de algo que não pode ver,
mas somente produz conceitos significativos se puder conferir sentido a eles.

Exercícios
1. “A química é uma das disciplinas inte- como os alunos aprendem.
gradas na área de ciências da natureza V. Nos ensinos fundamental e mé-
na educação secundária obrigatória. dio, o que se tenta com a química
Seu objetivo principal, dentro desse é que os outros compreendam e
nível educacional está centrado no analisem as propriedades e trans-
estudo da matéria, suas características, formações da matéria.
propriedades e transformações a par- Agora, assinale a alternativa
tir da sua composição íntima (átomos, CORRETA.
moléculas, etc.).” (POZO, 2009, p. 139) a) Estão corretas as afirmativas I, II,
A respeito do estudo da química, III e IV.
pode-se dizer: b) Estão corretas as afirmativas I, II
I. O que se busca é que os alunos e III.
cheguem a compreender algu- c) Estão corretas as afirmativas I, II,
mas das características do mundo IV e V.
que os rodeia. d) Estão corretas as afirmativas I, III,
II. Pretende-se ensinar o aluno a IV e V.
compreender, interpretar e anali- e) Estão corretas as afirmativas II,
sar o mundo em que vive. IV e V.
III. Existe um conjunto numeroso 2. “A física é uma das disciplinas que fa-
de estudos que confirmam a zem parte das chamadas ciências da
existência de fortes dificuldades natureza que, entre outros tem como
epistemológicas na aprendizagem objetivo [...]” (POZO, 2009, p.189).
dessa disciplina. O trecho que completa a citação
IV. Sob um ponto de vista muito anterior é:
geral, assim como para outras a) estudar os elétrons, átomos e
disciplinas, guarda relação com a moléculas.
interação entre as características b) explicar o comportamento da
específicas da disciplina e a forma ciência.
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c) estudar os conceitos relativos à b) V, V, F, F.


natureza da matéria. c) V, V, V, V.
d) estudar as forças aplicadas de d) V, V, F, V.
ação e reação. e) F, V, F, V.
e) estudar o mundo e seus fenô- 4. “[...] mas é possível que os alunos
menos. cheguem a aprender alguma coisa de
3. Segundo POZO, 2009, partindo Química? A resposta é que aprendem
de uma perspectiva geral, um dos com muitas dificuldades e muito
grandes problemas da aprendizagem menos do que se espera ou se pre-
e da compreensão da química é tende. Mas também pensamos que,
justamente o oposto dos problemas conhecendo quais são as dificuldades
da aprendizagem e compreensão que eles têm e qual é sua origem mais
da física. provável, vamos poder melhorar essa
Analise as afirmativas e coloque V se aprendizagem.” (POZO, 2009, p.141).
forem verdadeiras e F se forem falsas. Baseando-se nas ideias do autor,
I. A química se ocupa em descrever marque a alternativa que NÃO apre-
e explicar a estrutura íntima da senta uma proposta didática onde é
matéria, aquilo que está além do evidenciado o cuidado em conferir
que podemos ver como elétrons, significado ao ensino da química:
átomos ou moléculas e são muito a) Uma professora trouxe para seus
difíceis de imaginar. alunos um texto falando sobre as
II. A física está relacionada à grande partículas da matéria. Em seguida,
familiaridade do aluno com os explicou e exemplificou, procu-
conteúdos envolvidos, o que faz rando dar significado ao texto.
com que ele tenha numerosas b) Uma professora do 4º ano do
ideias prévias e opiniões que ensino fundamental estava
sejam, de modo geral, úteis para trabalhando o gênero textual
compreender o comportamento receita culinária e, ao preparar um
da natureza, mas que competem, bolo com seus alunos, questio-
na maioria das vezes, com aquilo nou sobre o que acontecia com
que é ensinado na escola. o bolo para que ele crescesse.
III. A física no ensino médio busca Direcionou um processo investi-
recorrer a representações realistas gativo com seus alunos levando-
e simplificadas, bastante afastadas -os a descobrir a química no dia
da realidade. a dia. Construiu com eles uma
IV. O aluno amplia sua estrutura ló- explicação lógica com linguagem
gica, aceita a existência de coisas adequada à idade de seus alunos.
que não pode ver, mas está longe c) Uma professora do 3º ano pediu
de considerá-las como conceitos que seus alunos fizessem uma
que adquirem sentido. pesquisa sobre o que acontecia
Assinale a alternativa que apresenta a com a água que quando mistura-
sequência CORRETA em relação ao da ao sal fosse levada à geladeira.
julgamento das proposições anteriores: Os alunos relataram o resultado
a) F, V, V, F. de suas observações. A partir daí,
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ela os incentivou a pesquisar as professores de Química demons-


explicações científicas, aproxi- trarem dificuldades em relacionar
mando-os da química. conteúdos específicos com even-
d) Uma professora pediu que seus tos da vida cotidiana.” (ZANON;
alunos escrevessem ou desenhas- PALHARINI, 1995, p. 15).
sem o que pensavam sobre a b) “Muitos alunos e alunas demons-
palavra química. Depois que eles o tram dificuldades em aprender quí-
fizeram, ela apresentou uma série mica, nos diversos níveis de ensino,
de fenômenos e atividades diárias por não perceberem o significado
onde a química estava presente. ou a validade do que estudam.”
Eles ficaram espantados porque (ZANON; PALHARINI, 1995, p. 15).
imaginavam que a química era c) “Assim como quando aprende
muito difícil. a falar e nomeia o que a cerca, a
e) A professora sugeriu que seus alu- criança modifica suas ideias/lingua-
nos trouxessem suas curiosidades gem para tentar explicar as situa-
em relação à fotossíntese. Promo- ções apresentadas em contextos
veu a realização de experiências de problematização e interação.”
e pesquisas. Abriu espaço para a (ZANON; PALHARINI, 1995, p. 18).
troca de informações. Em seguida, d) “Aprender é relacionar: quanto
disse a seus alunos que o processo mais se relaciona, mais se apren-
da fotossíntese também era consi- de de forma significativa.” (ZA-
derado um processo químico. NON; PALHARINI, 1995, p. 18).
5. Segundo Paulo Freire, a escola silen- e) A escola desconsidera o fato de
cia o mundo das experiências vividas que os alunos já trazem conhe-
ao ensinar a ler apenas as palavras da cimentos de química do seu
escola, e não as palavras do mundo cotidiano e utilizam até mesmo
(ZANON; PALHARINI, 1995). alguns termos para os quais já
As afirmativas abaixo estão corretas. construíram significado, pois
Porém, apenas uma explica a frase. quando chegam à escola são
Assinale-a: bombardeados de conceitos e
a) “Preocupa o fato de mesmo os fórmulas sem aplicabilidade.
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Referências

BERGMANN, J. L.; WENZEL, J. S. A química e a física no ensino fundamental: reflexões


acerca da prática docente. In: SEMINÁRIO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO DA UFFS,
4., 2014; JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 4., 2014. Anais... [S.l.]: UFFS, 2014. Disponível
em: <https://periodicos.uffs.edu.br/index.php/SEPE-UFFS/article/viewFile/1594/1364>.
Acesso em: 17 jun. 2016.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: ciências


naturais. Brasília: MEC, 1998.

CRESPO, M. A. G. Ideas y dificultades en el aprendizaje de la química. Revista Alambique,


n. 7, p. 37-44, 1996.

HIERREZUELO, J.; MONTERO, A. La ciencia de los alumnos. Málaga: Editorial Elzevir, 1991.

POZO, J. I.; CRESPO, M. A. G. A aprendizagem e o ensino de ciências: do conhecimento


cotidiano ao conhecimento científico. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.

POZO, J. I.; CRESPO, M. A. G. ¿Qué es lo que hace difícil la comprensión de la ciencia?


Algunas explicaciones y propuestas para la enseñanza. In: CARMEN, L. (Ed.). Cuadernos
de formación del profesorado de educación secundaria: ciencias de la naturaleza. Barce-
lona: Horsori, 1997.

VARELA NIETO, M. P. Las ideas del alumnado en física. Revista Alambique, n. 7, p. 45-52,
1996.

ZANON, L. B.; PALHARINI, E. M. A química no ensino fundamental de ciências. Química


Nova na Escola, n. 2, p. 15-18, nov. 1995.

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