Lee Shulman nasceu em 1938, em Chicago, sendo Licenciado em
Filosofia pela Universidade de Chicago, obtendo o grau de Mestre e Doutor pela
mesma instituição, em Psicologia da Educação. Iniciou sua atividade em 1963, como docente da Universidade do Estado de Michigan, tendo dedicado a maior parte do seu trabalho de investigação ao estudo da relevância do conhecimento disciplinar e pedagógico como dimensões do conhecimento profissional docente e à caracterização do conhecimento pedagógico do conteúdo, fazendo parte do discurso educativo intencional. Ao longo da sua carreira demonstrou sempre uma preocupação constante pela qualidade do ensino e da aprendizagem e pelo estudo da natureza da atividade docente. Shulman através de suas pesquisas denomina então a base de conhecimento da docência; seus estudos identificaram a existência de uma base de conhecimento para o ensino que não depende apenas do domínio do conteúdo, do estilo pessoal ou da boa comunicação docente. De acordo as propostas deste pesquisador e autor a base do conhecimento da docência envolve uma série de conhecimentos, ou seja, envolve o conhecimento do conteúdo, o conhecimento pedagógico do conteúdo, o conhecimento dos alunos e de suas características, o conhecimento dos contextos educacionais e o conhecimento dos fins, propósitos e valores da educação, como também da sua base histórica e filosófica. Em relação a todas as categorias de conhecimento propostas por Shulman, foi a categoria de Conhecimento Pedagógico do Conteúdo (CPC) que certamente mais influenciou o campo educacional, e foi definido por ele como “ a combinação de conteúdo e pedagogia no entendimento de como tópicos específicos, problemas ou questões são organizados, representados e adaptados para os diversos interesses e aptidões dos alunos, e apresentados no processo educacional em sala de aula”. Nesta definição, ele chama atenção para um aspecto muito importante da profissão docente, que é ir além do simples acúmulo de saberes sobre uma determinada área. Para ensinar é preciso refletir sobre as múltiplas formas pelas quais os conteúdos podem ser representados e aprendidos, assim como quais são as estratégias de ensino e experiências de aprendizagem mais produtivas para que todos os alunos desenvolvam uma compreensão e entendimento de fato sobre o conteúdo; além disso cabe ao professor identificar quais são as incompreensões recorrentes dos alunos, sabendo lidar com elas e, precisa saber articular as diversas identidades dos alunos, seus conhecimentos já existentes, ou seja, conhecimento prévio com o objeto do conhecimento em si. Podemos então entender que a base do conhecimento da docência está diretamente ligada a formação dos professores. Para Shulman é necessário que os docentes tenham uma formação acadêmica na área de ensino para compreenderem as estruturas da disciplina, seus conceitos e princípios, assim como para entenderem as ideias e habilidades importantes do campo, sendo assim o professor capaz de identificar as diferentes formas de acessar o conhecimento e construir a aprendizagem; porém estes conhecimentos devem também estar atrelados as experiências do processo de escolarização, ensino e aprendizagem. A formação e o conhecimento sobre as estruturas e os materiais educacionais são essenciais para se ter uma aproximação com o território de ensino, as instituições, organizações, contextos e currículos, mas a integração de todos esses aspectos da formação só ocorre na prática durante a formação dos professores, pois mediante a reflexão sobre o exercício docente na sala de aula é que ocorre a articulação e ligação entre os saberes teóricos e os saberes da prática. Esta reflexão ocorre por meios dos estágios supervisionados que estão cercados de artefatos da prática, como estudos de caso e atividades de alunos. Por meio do olhar sobre a prática especifica deste profissional, integrando os saberes do conteúdo (que é o objeto de conhecimento) e a prática de ensino, o professor aprofunda o conhecimento de como aquele conteúdo se transforma dentro da sala de aula, seleciona materiais específicos, desenvolve estratégias de ensino adequadas para que todos os alunos possam alcançar os objetivos, assegura um bom funcionamento do espaço da sala de aula, é capaz de avaliar os estudantes sobre a aprendizagem do conteúdo quanto a prática, e é capaz de revisar seus próprios procedimentos, repensando e reajustando o necessário. Em resumo podemos então observar que os benefícios que as ideias de Shulman trazem aos cursos e a formação de professores são: em primeiro lugar, ele propõe uma formação integrando conteúdo disciplinar e ensino que requer uma articulação de vários departamentos nas universidades; segundo: indica que os cursos de formação de professores também são espaços de construção do conhecimento da prática, sugerindo que a escola seja este espaço privilegiados da formação docente; terceiro: abre um novo caminho para as pesquisas sobre a formação dos professores, direcionando para os conhecimentos mas também ações necessárias para ser um professor; quarto: a ampliação de estudos empíricos e os usos de casos, vídeos e atividades dos futuros professores como artefatos importantes para a formação docente. Em uma entrevista com Lee Shulman, sobre profissionalismo docente e estratégias para o seu fortalecimento, feita por alunas da faculdade de educação da universidade de São Paulo, Shulman define o professor como alguém que usa o conhecimento, a experiência, a formação e a bagagem cultural que ele ou ela tem para mexer com os corações e mentes de pessoas jovens pelas quais é responsável. O mesmo ainda diz que o professor faz este processo ouvindo cuidadosamente os estudantes, falando com eles conforme a necessidade e sempre que preciso, criando experiências que eles não teriam se o professor com sua formação especifica, comprometimento e dedicação não estivessem presentes na instituição. Para ele o professor que mexe com o coração e mente dos seus alunos, deve reconhecer que se tornou responsável pela boa bagunça que está fazendo. Shulman também destaca que para preparar qualquer indivíduo para desempenhar sua profissão com inteligência e habilidade, é necessário desenvolver hábitos, sendo para ele três tipos de hábito. O primeiro é o hábito da mente, pensando como um membro do corpo profissional; o segundo são os hábitos de prática ou hábito das mãos, ou seja , é ter conhecimentos específicos e uma forma de pensar, bem como ter habilidades técnicas que também são muito especificas daquela profissão; o terceiro são os hábitos do coração, ou seja, é um profissional que tenha formas brilhantes de pensar e altos níveis de habilidade técnica, mas que também tenha integridade, valores morais, senso de responsabilidade, missão e comprometimento, esses três hábitos precisam estar juntos. A capacidade de aprender está presente em todos os seres humanos, somos seres capazes de ser ensinados e também ensinar, logo é claro que qualquer pessoa pode ensinar, porém há certos tipos de conhecimento que quase ninguém pode fazer. São os conhecimentos que necessitam de um enorme conhecimento tanto do conteúdo que vai ser ensinado, como das variadas formas em que as outras pessoas podem aprender, assim como as antecipações de problemas que podem acontecer no contato com o conteúdo a ser ensinado, além dos efeitos das variações culturais que podem transformar conteúdos aparentemente simples em complexos. Neste processo a habilidade de ensinar torna-se mais complexa e é algo que não se pode aprender da noite para o dia, e este profissional nem está preparado para mergulhar na prática no dia seguinte à sua formatura. Deve ser estabelecido um sistema que nos fizesse compreender completamente que quando se forma alguém, a responsabilidade não é de entregar para o mundo um profissional totalmente formado, mas sim um principiante bem iniciado, preparado para o começo. Entendemos que a construção ocorre a partir dos fundamentos, mas também que é apenas pelo exercício de lidar com os problemas e desafios, experimentando sucessos e frustações, que um profissional cresce, sendo este crescimento ilimitado e infinito. Shulman ainda nesta entrevista diz alguns conselhos para os pesquisadores: não evitem a prática mas mergulhem nela, valorizando, honrando, apoiando e recompensando a pesquisa centrada na prática; também diz aos professores para nunca parar de educar a si próprios de maneiras amplas, nunca se esquecerem do quão inteligentes são e quão vasto é o mundo, e que todo conhecimento aprendido pode ser utilizado; por último também diz aos formuladores de políticas públicas: políticas geralmente são realizadas pela alocação de recursos, ou seja, o dinheiro não é seu, sendo designadas democraticamente ou não para alocar estes recursos, mas não pertencendo as mesmas, e diz para se lembrarem de que ter o poder não é mesmo que ter inteligência. De forma resumida Shulman diz uma frase que compreende todo o seu trabalho e nos mostra a importância do professor para o ensino, bem como a prática na vida deste docente, a frase é: “ Quem sabe faz, quem compreende ensina”.